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UNIVERSIDADE LICUNGO

FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS

Licenciatura em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Comunitário


(GADEC) 2ºAno

Trabalho de Antropologia Cultural de Moçambique

Tradição e Identidade Cultural (Anomia e Processo das Identidades


Rebuscadas)

Quelimane
2022
2

Kelven Viriato Lourenço


Sérgio Celestino Lisboa
Laurinda Fonseca

Licenciatura em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Comunitário

Tradição e Identidade Cultural (Anomia e Processo das Identidades


Rebuscadas).

Trabalho de carácter avaliativo a ser submetido


na faculdade de ciências e Tecnologias na
cadeira de Antropologia Cultural de
Moçambique.
Orientador: dr. Janota Nativo

Quelimane
2022
3

Índice
Introdução ......................................................................................................................... 4
Objectivos ......................................................................................................................... 5
Metodologias .................................................................................................................... 5
Tradição e identidade cultural .......................................................................................... 6
Discursos de identidade nacional moçambicana .............................................................. 6
Anomia segundo Émile Durkheim ................................................................................... 7
Anomia segundo Merton .................................................................................................. 9
Tipos de comportamento dos indivíduos em face das regras sociais: .............................. 9
Conformidade: .................................................................................................................. 9
Inovação.......................................................................................................................... 10
Ritualismo: ..................................................................................................................... 10
Evasão: ........................................................................................................................... 10
Rebelião .......................................................................................................................... 10
Homossexualidade .......................................................................................................... 10
Relação entre anomia e Homossexualidade ................................................................... 11
Homossexualidade em Moçambique .............................................................................. 12
Identidade cultural Moçambicana .................................................................................. 12
O paradigma da Diversidade cultural em Moçambique ................................................. 16
Língua ............................................................................................................................. 16
Educação ......................................................................................................................... 17
Conclusão ....................................................................................................................... 18
Referencias Bibliográficas .............................................................................................. 19
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Introdução

O presente trabalho surgiu no âmbito de pesquisa com o intuito de compreender


os diferentes aspectos ligados a cultura, mas concretamente no que tange ao aspecto de
discursos de identidade nacional moçambicana tal como a anomia as identidades
rebuscadas.
Ao longo do trabalho, iremos dar algumas definições de conceitos concretamente a
identidade e tradição e desenvolvimento o ponto inicial que deu inicio da conquista das
nossas identidades e os desafios nele enfrentados para que este alcance fosse possível.
Ngoenha (1993) na sua obra Das Independências às Liberdades, fala-nos de um
percurso histórico, que visto no ângulo antropológico deslumbra a identidade cultural
africana (moçambicana). Segundo ele, o percurso que começa no fim do século passado,
quer ele se chame Pan- africanismo, Negritude, socialismo africano, etno-filosofia,
filosofia hermenêutica, são movimentos que vivem do mesmo espírito e tendem para a
mesma finalidade: a liberdade do homem negro, condição da sua historicidade, como
necessidade de afirmar uma humanidade negada. O facto colonial, como é o caso de
Moçambique, desapareceu oficialmente, mas ele permanece efectivamente entre nós,
através de uma cultura que se opõe e si impõe às culturas autóctones, oposição e
imposição que está na base da aspiração à liberdade. Os moçambicanos retomaram por
sua conta as diferentes iniciativas coloniais sobre o plano político, económico, cultural,
religioso. Assim, a nossa aspiração à liberdade deve assim realizar-se num conflito
permanente de culturas, onde em todos os planos a modernidade parece opor-se à
tradição. A questão é, qual é verdadeiramente a nossa identidade?
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Objectivos

Geral
 Compreender as tradições e identidade cultural.
Específicos
 Definir o conceito da tradição e identidade cultural;
 Definir os conceitos de Anomia segundo Merton e Durkheim;
 Conceituar a Homossexualidade em diversos ramos culturais;
 Descrever os discursos de identidade nacional moçambicana;
 Explicar os paradigmas e diversidade cultural Moçambicana.

Metodologias

No que tange a metodologia do trabalho é uma pesquisa bibliográfica, a qual


traremos alguns autores para dar alicerce no trabalho. Quanto a estrutura o presente
trabalho importa referir que este responde aos padrões de exigências de elaboração de
trabalhos científicos da Universidade Licungo.
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Tradição e identidade cultural


Segundo o dicionário Abbagnano (1982:106), “a identidade é algo único, distinto e
completo”.

Cultural é um adjectivo que se refere a saber. Logo, a juncão das duas palavras
produz o sentido de “saber de recolher”. Muitas sugestões contemporâneas sobre cultural
se relacionam com questões sobre identidade. A discussão sobre a identidade cultural
acaba influenciada por questões sobre: Lugar, género, raça, historia, nacionalidade,
idioma, orientação sexual, crença religiosa e etnia.

Discursos de identidade nacional moçambicana


A construção do nacionalismo moçambicano pode se divida, pelo menos, em três
períodos históricos: o primeiro momento (1910/20-1962), antes da eclosão da luta armada
pela independência, em que o associativismo e o jornalismo tiveram um papel importante
nas demandas socias e na luta anticolonial; Um segundo momento, marcado pelo conflito
armado e pela formação da FRELIMO, reunindo diversos movimentos, tendo como
objectivo comum a libertação nacional frente ao salazarismo colonialista português
(1962_1975); um terceiro, iniciado imediatamente apos a independência, tendo como
principal promotor o ideário da Frelimo (convertida de Frente Nacional ampla em Partido
único revolucionário, sendo esta a diferença entre a designação FRELIMO), sob a
liderança de Samora Machel (1975-1986).

A presença portuguesa no que corresponde ao actual território de Moçambique


data do seculo XV. Mas é só a partir do seculo XIX que a natureza dessa ocupação passa
a sofrer alterações que depois da conferência de Berlim deu-se o caso da ocupação
efectiva e dominação colonial da africa. As resistências das agressões do colonizador
foram constante em todas a etapas da dominação e repressão colonial, em todos os países
e por todas populações submetidas ao jogo imperialista.

Houve alguns acontecimentos que reforçaram os apelos pela libertação de Moçambique


e deram um novo impulso ao movimento internacional contra o colonialismo português.
Dentre outros, pode se destacar a importância da ressonância do massacre de Moeda, a
formação da União Democrática de Moçambique (UDENAMO), a Mozambique African
National Union (MANU) e a União Africana de Moçambique Independente (UNAMI), e
a vontade expressa por alguns países como Gana, Egipto, Marrocos, Argélia e Mali, na
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Reunião dos chefes de estados Africanos, de apoiar a liquidação do colonialismo em todo


o continente.

A cultura nacional é na verdade um discurso que constrói sentido, influencia e organiza


as ações do sujeito e as concepções que ele tem de si próprio. Quando os sujeitos podem
se identificar com os sentidos produzidos sobre a nação, estão construindo identidade.

Esses sentidos de que se fala podem estar contidos nas histórias que são contadas sobre
nação, nas memórias que ligam o passado com o presente e nas imagens que dela são
constituídas.

Anomia segundo Émile Durkheim

O conceito de anomia foi, na sociologia abordado por Émile Durkheim nas obras
da “Divisão social do trabalho” (1893) e “Suicídio” e depois utilizados na obra “ A
Educação Moral” (1902), onde abordou o papel da moral no combate ao estudo atómico.
Para Durkheim (2010:45), a anomia é “uma situação social produzida pelo
enfraquecimento dos vínculos sociais e pela perda da capacidade da sociedade regular do
comportamento dos indivíduos”. A anomia é “um estado de falta de objectivos e regras e
de perda de identidade, provocado pelas intensas transformações ocorrentes no mundo
social moderno (Ferreira, 1986:126) ”Entretanto, segundo Hall (1999:17), vivemos
atualmente numa crise de identidade que é decorrente do amplo processo de mudanças
ocorridas nas sociedades modernas. Tais mudanças se caracterizam pelo deslocamento
das estruturas e processos centrais dessas sociedades, abalando os antigos quadros de
referências que proporcionavam aos indivíduos uma estabilidade no mundo social. A
modernidade propicia a fragmentação da identidade. Conforme ele, as paisagens culturais
de classe, género, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade não mais fornecem “solidas
localizações” pra os indivíduos.

É importante ressalvar que a qualidade tem a função de distinguir, de marcar as diferenças


nas igualdades físicas emocionais e comportamentais, dos indivíduos. Para conseguir
fazer a identificação entre as diferenças ou igualdade existente no outro é preciso
identificar-se consigo mesmo, e perceber que não só o outro é diferente, mas que eu
também sou diferente.
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De uma forma geral, parece ser fácil definir identidade. A identidade é


simplesmente aquilo que se é: "sou Machuabo", sou Moçambicano", "sou Africano", "sou
Cristão", "sou Filósofo". A identidade assim concebida parece ser uma positividade,
“aquilo que sou", uma característica independente, autónoma. Nessa perspetiva, a
identidade só tem como referência a si própria: ele é auto- contida e auto-suficiente.
Identidade Cultural, sua natureza e problematização.

Meneses (1993) A raiz da palavra identidade é expressiva. O grego idios se refere a


“mesmo", "si próprio", "privado". O derivado "idiota", por exemplo, indica a
quintessência da mesmidade, a impossibilidade de um indivíduo compreender o que se
passa fora do quintal de sua experiência privada. Em consequência, a identidade
pressupõe, antes de mais nada, semelhanças consigo mesmo, como condição de vida
biológica, psíquica e social. Ela tem a ver mais com os processos de reconhecimento do
que de conhecimento. Assim, os conteúdos novos não são facilmente absorvidos quando
a identidade está em causa, pois o novo representa, aí, descontinuidade do referencial,
logo, ameaça e risco.

Araújo (1988) considera a identidade cultural é a produção de espaços próprios para


resistir, produzir e reproduzir de cada espécie e de cada grupo definindo as características
próprias e delas depende a sobrevivência do grupo. A definição do espaço pelo grupo
étnico evolui de acordo com o desenvolvimento sócio-económico- cultural e político dos
grupos que o produzem e surge como produto resultante da acção do mesmo grupo que
lhe confere as suas características por isso ele reflete a identidade da cultura.

Esta questão da identidade está sendo extensamente discutida na ciência


antropológica. Em essência, o argumento é o seguinte: que são identidades culturais,
que por tanto tempo estabilizaram o mundo cultural. Podemos também falar da crise
da identidade cultural ou das identidades culturais do nosso tempo.

Hall (1992) distinguiu três concepções de identidade. Identidade do sujeito do


Iluminismo; identidade do sujeito sociológico e identidade do sujeito pós-moderno. O
sujeito do Iluminismo estava baseado numa concepção da pessoa humana como um
indivíduo totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades de razão, de
consciência e de acção, cujo centro consistia num núcleo interior, que pela primeira
vez quando o sujeito nascia e com ele se desenvolvia, ainda que permanecendo
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essencialmente o mesmo. Assim, o centro essencial do eu era a identidade de urna


pessoa.

A noção de sujeito sociológico refletia a crescente complexidade do mundo


moderno e a consciência de que este núcleo interior do sujeito não era autónomo e auto-
suficiente, mas era formado na relação com outras pessoas importantes para ele, que
mediavam para o sujeito os valores, sentidos e símbolos. O próprio processo de
identificação, através do qual nos projetamos em nossas identidades culturais, tornou-se
mais provisório, variável e problemático. Esse processo produz o sujeito pós- moderno,
conceptualizado como não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente.

As identidades podem ser marcadas e diferentes. Uma identidade é sempre,


necessariamente, definida em relação a outra, depende de outra - na afirmação da
identidade, inscreve-se a diferença. Contudo, ainda que o carácter relacional seja
constituinte da representação de qualquer identidade, podemos notar que algumas delas
ocupam, culturalmente, uma posição central e servem de referência a todas as demais.
Essas identidades são representadas como "normais", básicas, hegemónicas. É por
contraponto ou comparação a elas que as outras são qualificadas como diferentes.

Anomia segundo Merton

Anomia significa a ausência de lei. A falta de normas que vinculem as pessoas num
contexto social.

Merton segue a linha teórica do funcionalismo. Afirma que em toda sociedade


desenvolvem-se metas culturais que expressam os valores que guiam a vida dos
indivíduos em sociedade. O insucesso em atingir as metas culturais devido à insuficiência
dos meios institucionalizados pode produzir o que Merton denomina de anomia, isto é,
um abandono das regras do jogo social. O indivíduo não respeita as regras de
comportamento que indicam os meios de ação socialmente aceitos. Surge então o desvio,
ou seja, o comportamento desviante.

Tipos de comportamento dos indivíduos em face das regras sociais:

Conformidade: o indivíduo busca atingir as metas culturais empregando os meios


estabelecidos pela sociedade, ele adere plenamente às normas sociais (comportamento
modal). A pessoa não demonstra nenhum problema de adaptação às regras estabelecidas
em determinada sociedade.
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Inovação: a conduta do indivíduo é condizente com as metas culturais, mas existe uma
ruptura com relação aos meios institucionalizados. Tenta atingir as mesmas metas
servindo-se de meios socialmente reprováveis, ou seja minimamente violação das regras
sociais (“os fins justificam os meios”.

Ritualismo: o indivíduo demonstra desinteresse em atingir as metas socialmente


dominantes. O medo do insucesso, do fracasso produz desencanto e desestímulo. A
pessoa acredita que nunca poderá atingir as “grandes metas”; continua, porém,
respeitando as regras sociais, apegando-se às mesmas como em uma espécie de ritual.
Trata-se de um comportamento anômico, porque o indivíduo não comparte as metas
sociais, limitando-se ao cumprimento de normas e regulamentos, sem sequer
indagaracerca da convivência e da finalidade das mesmas.

Evasão: caracteriza o abandono das metas e dos meios institucionalizados. Indica uma
falta de identificação com os valores e regras sociais; o indivíduo vive em determinado
meio social, mas não adere ao mesmo. Conduta extremamente minoritária e individual.

Rebelião: caracterizada pelo inconformismo e pela revolta. O indivíduo é negativo com


relação aos meios e as metas, ele propõe o estabelecimento de novas metas e a
institucionalização de novos meios para atingi-las.

Através da combinação destes modos de comportamento, Merton propõe uma definição


de sociedade anômica, o que seria uma anomia generalizada.

Homossexualidade

A homossexualidade é uma característica de quem sente atração física, emocional e


espiritual por outras pessoas do mesmo sexo. O termo homossexual foi criado por um
jornalista austro-húngaro chamado Karl-Maria Kertbeny em 1868, acredita-se que desde
a antiguidade já existiam pessoas com tal característica.

Em 1970, os psiquiatras afirmavam que a homossexualidade era uma doença mental


causada por processos fisiológicos, por desvios da orientação sexual e ainda por má
formação e identificação sexual. Em 1993, o termo foi mundialmente retirado da lista de
doenças mentais, já que não haviam provas que confirmassem a veracidade do
pronunciamento, e foi declarado que a homossexualidade era uma forma natural de
desenvolvimento sexual.
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Na atualidade existem vários estudos biológicos e psicológicos que buscam respostas


acerca da origem da homossexualidade. Ainda não há respostas definitivas para tais, mas
o doutor Dean Hamer, geneticista e diretor de uma unidade de estrutura e regulação
genética situada nos Estados Unidos, defende a existência de um gene responsável pela
característica homossexual, para esse, deu o nome de Gay1. Foi bem recebido e celebrado
por alguns cientistas e criticado por outros.

O Conselho Federal de Psicologia estabeleceu normas para os profissionais desta área,


esses devem esclarecer que a homossexualidade não é doença psicológica, mas se
porventura o homossexual apresentar algum desgaste ou distúrbio psicológico por não
aceitar sua condição ou por não aguentar o preconceito, esse deve ser tratado e orientado
com a finalidade de aceitar-se da forma como é, bem como buscar maneiras de viver de
forma positiva mesmo em face ao preconceito.

Existem ainda hoje inúmeras manifestações acerca da homossexualidade, mas ainda não
é possível estabelecer uma “causa” para esta, pois não há nenhuma comprovação
científica para tal característica.

Relação entre anomia e Homossexualidade

Historicamente é possível observar que as relações sociais estão em constante evolução,


sofrendo transformações significativas com o passar dos tempos. A normativa jurídica
surge para regular a vida em sociedade, e, desta forma, também está em constante
evolução, igualmente sofrendo transformações significativas com o passar dos tempos.

No entanto, é fato e cristalino o descompasso existente entre a evolução social e a


evolução legal. Tal descompasso acontece porquanto as relações sociais se modificam
com astronômica velocidade, principalmente no mundo globalizado do século XXI, ao
passo que o processo de adaptação legislativa é consideravelmente mais lento, gerando,
desta forma, as anomias.

No caso em testilha, a dificuldade de adaptação legislativa aliada aos grandes avanços


conquistados pela população homossexual a partir dos anos 1990 e, principalmente, dos
anos 2000 em diante, geraram omissões legais, que, por si só, ferem de forma latente os
princípios básicos dos seres humanos. Neste sentido Berenice Dias (2009, p. 132-133)
preceitua:
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A heterossexualidade não é a única opção de vida que existe. Assim, não assegurar
garantias nem outorgar direitos às uniões de pessoas com a mesma orientação sexual
infringe o princípio da igualdade, escancarando postura discriminatória ao livre
exercício da sexualidade. Os relacionamentos fundados na identidade de sexo do par
merecem regulamentação, sem que se possa confundir questões jurídicas com
questões morais ou religiosas. As uniões afetivas entre pessoas do mesmo sexo
existem e continuarão a existir, independentemente do reconhecimento positivo do
Estado. E se o direito se mantém indiferente, de tal atitude emergirá indesejada
situação de insegurança. Mais do que isso, a indiferença do Estado é apenas aparente
e revela, na verdade, um juízo de desvalor.

Homossexualidade em Moçambique

O projeto de revisão do Código Penal foi promulgado em dezembro de 2014 pelo então
presidente Armando Guebuza, mas o novo código só entrou em vigência no final de
junho, revogando duas leis do período colonial que criminalizavam relações “anti-
naturais”.

O Código Penal, que datava de 1886, apenas aplicava medidas de segurança contra
aqueles que se dedicassem à prática de atos contra a natureza, não se referindo
explicitamente à homossexualidade. É certo que, para o legislador, a prática sexual entre
pessoas do mesmo sexo poderia ser entendida como uma prática contra a natureza.

Homossexualidade na África ainda precisa vencer muitas barreiras. De acordo com a


Anistia Internacional, mais de 30 países condenam seus homossexuais à prisão. Os
governos africanos são muito conservadores em relação à homossexualidade. Como
exemplo, podemos citar o caso de Uganda. No país, os homossexuais são denunciados
com fotos expostas em jornais como se fossem criminosos e sujeitos à punição de 14 anos
de detenção.

Identidade cultural Moçambicana

O que é identidade cultural moçambicana? Primeiramente deveríamos falar da


identidade étnico-cultural pois, ao falarmos da identidade de uma cultura temos que
localizá-la num determinado tempo e no interior de um grupo étnico. Por sua vez, essa
identidade estaria articulada a uma identidade nacional determinada também
historicamente. Em Moçambique.
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Falar concretamente da identidade cultural em Moçambique é de certa maneira uma


aventura epistémica, quando se pretende trazer à luz conjunto de valores culturais comuns
que possam inferir tal identidade cultural. Embora existam elementos que justifiquem a
identidade cultural em Moçambique, como por exemplo, a língua, a bandeira nacional,
o mapa geográfico, o hino nacional, o emblema nacional, incluindo elementos da
cultura material e não material, constitui paradoxal na medida em que avaliamos a
cultura moçambicana pelo seu nível de multiplicidade cultural.

Um outro elemento que também interfere na reflexão sobre identidade cultural em


Moçambique associa-se ao fenómeno do passado histórico, somos um povo com um
dever histórico e político comum.

Cabaço (2010) a apresenta uma proposta de identidade que salvaguardava a idiossincrasia


do ‘ branco da colónia’ sem romper com sua história, a sua cultura, o seu idioma materno.
E neste quadro, a maior parte dos colonos não teria dificuldade em aceitar que o privilégio
fosse jogado num mercado de livre concorrência, consciente que este devia continuar a
viver num mundo governado por regras suas, onde o capital educacional e económico que
acumularam-lhe asseguraria a homogeneidade.

Em Moçambique, a construção sócio histórica é primordialmente europeia, a


identidade configurou-se como uma instância cultural multissecular, aparentemente
objecto de generalização em termos organizacionais, evidenciando importantes
elementos invariantes do ponto de vista antropológico. No entanto, mesmo apenas à
escala europeia, e não obstante a história partilhada e a longa duração do seu processo de
institucionalização, a identidade cultural moçambicana fixou e manteve inúmeros
elementos próprios, de natureza nacional ou regional, face a especificidades de ordem
cultural política, religiosa, económica, das quais resultaram na construção de uma
identidade.

Ainda na perspetiva histórica, é necessário destacar que a cultura moçambicana,


reveste de um projecto multiculturalista, pois, existem vários grupos étnicos em
diferentes pontos do País que vivem elementos particulares da sua cultura regional ou
local. Isto leva-nos a firmar que a identidade cultural moçambicana funda-se da
diversidade cultural.

Queiroz (1989) disse que ao encararem o seu próprio património cultural, os


pesquisadores da ciência da cultura desse período estão conscientes da grande
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heterogeneidade de traços culturais ligados a variedades dos grupos étnicos que


coexistem no espaço nacional que se distribuem diversamente conforme as camadas
sociais.

Os traços culturais não configuram de modo algum em conjunto harmonioso que unem
os habitantes, comungando nas mesmas visões do mundo e da sociedade, nas mesmas
formas de orientar seus comportamentos. Complexos culturais indígenas, e outros de
origem europeia, coexistem formando assim a identidade cultural moçambicana.

O argumento acima apresentado evidencia a complexidade do tema e ao mesmo tempo,


clarifica a dialética paradoxal na qual, nos permite afirmar axiologicamente que a
identidade cultural moçambicana encontra o seu fundamento existencial na diversidade
cultural. Por outras palavras, queremos dizer que a identidade cultural moçambicana
resulta dos traços comuns trazidos nos diversos grupos culturais (as subculturas nacionais
dos grupos étnicos Changana, Ronga, Makwua, Sena, Mandau, Lomwué, Magonde e
outros) e que constituem elementos essenciais e consistentes, tradicionais da cultura
moçambicana, se olhada numa perspetiva nacional

De um modo geral, para todos nós, a primeira coisa da nossa identidade é ainda o sermos
moçambicanos, Hoje em dia, porém, outras formas de pertença estão-se esboçando. Para
muitos de nós estão nascendo outras primeiras identidades. Pode ser uma identidade
racial, tribal, religiosa. Esse sentimento de pertença pode colidir com isso que chamamos
de “moçambicanidade”.

Com essa compreensão, a identidade toma-se como espaço institucional de produção e


de disseminação de valores culturais nacionais, de modo sistemático, do saber
historicamente produzido pela humanidade do passado. A importância dos diferentes
espaços e actores formativos da cultura nacional (a família, as tradições, sociedade,
ambiente de trabalho, a igreja, a mídia etc.), situam a discussão relativa à identidade
cultural a um nível de interesse comum, tendo por fim o objectivo de unificar e padronizar
a moçambicanidade.

No estudo da identidade cultural em Moçambique, quando surgem por exemplo questões


como: que conceito atribuímos a nossa identidade? Que representações ou concepções
justificam uma a identidade cultural moçambicana? Quais são os principais conceitos e
definições da cultura que são do domínio dos estudos, das práticas e das políticas étnicas,
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bem como as dimensões e os factores que apontam a construção de uma identidade


cultural realística? Tais questões revelam a complexidade e a importância temática.

Bhabha (1996) A identidade e a diferença são o resultado de um processo de


produção simbólica e discursiva, portanto, a identidade, tal como a diferença, é uma
relação social. Isso significa que sua definição - discursiva e linguística - está sujeita a
vetores de força, a relações de poder de um determinado grupo étnico. Elas não são
simplesmente definidas, mas impostas. Elas não convivem harmoniosamente, lado a lado,
em um campo sem hierarquias; elas são disputadas. Semelhança e Diferença na
Identidade cultural.

A afirmação da identidade e a marcação da diferença implicam, sempre, as operações de


incluir e de excluir. Como vimos, dizer "o que somos" significa também dizer "o que não
somos". A identidade e a diferença se traduzem, assim, em declarações sobre quem
pertence e sobre quem não pertence, sobre quem está incluído e quem está excluído.
Afirmar a identidade significa demarcar fronteiras, significa fazer distinções entre
o que fica dentro e o que fica fora. A identidade está sempre ligada a uma forte
separação entre "nós" e "eles". Essa demarcação de fronteiras, essa separação e
distinção, supõem e, ao mesmo tempo, afirmam e reafirmam relações de poder.

A identidade não é uma essência, um referencial fixo, apriorístico, cuja existência seja
automática e anterior às sociedades e grupos culturais - que apenas os receberiam já
prontos do passado. Ao mesmo tempo, podemos dizer que, a Perda da identidade, assim,
significa a crise de identidade, ou da perda de condições de formular e/ou reformular a
identidade. Muitas vezes, tal expressão apenas mascara o fenómeno da mudança sócio-
cultural.

Da mesma forma, "resgatar a identidade" é objectivo impossível de atingir. Como


recuperar algo que não é estático, não tem contorno definitivo, pronto e acabado,
disponível para sempre? Com efeito, não só a identidade é um processo incessante de
construção/reconstrução, como também ganha sentido e expressão nos momentos de
tensão e rutura. Carvalho (1983) A identidade não é, pois, fruto do isolamento de
sociedades ou grupos mas, pelo contrário, de suo interação. Ela é crucial quando
existem segmentos sociais que não se pensam como totalidades únicos. e se fundamenta
no presente, nas necessidades presentes.
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Diversidade cultural são os vários Aspectos que representam particularmente as


diferentes culturas, como a linguagem, as tradições, a culinária, a religião, os costumes,
o modelo de organização familiar, a política, entre outras características próprias de um
grupo de seres humanos que habitam num determinado território.

A universalidade da cultura Entre a diversidade de cultura é possível achar alguns traços


comuns. Neste ponto antropologia não só estuda as diferenças como também o que nos
faz a todos os ser humanos iguais. Quanto estes traços culturais existem em todas ou em
quase todas sociedades denominam-se universais culturais são aqueles que distinguem os
humanos das outras espécies:

 A unidade psíquica dos humanos, pois todos humanos têm a mesma capacidade
para a cultura;
 A linguagem;
 Viver em grupos sociais como a família e compartilhar alimentos;
 Isogamia e o tabu de incesto, regra que proíbe as relações sexuais e casamento
entre parentes próximos.Tylor 1975, a cultura é aquela toda complexa que incluí
conhecimentos, crenças, arte, moral, lei, costumes e toda a série de capacidades e
hábitos que o Homem adquire entanto que membro de uma sociedade dada.

O paradigma da Diversidade cultural em Moçambique

Língua

Muitas comunidades linguísticas encontram-se atualmente dispersas por diferentes


regiões nacionais como consequência das migrações, da expansão da guerra dos 16 anos
(guerra civil), dos deslocamentos de refugiados e da mobilidade profissional. À medida
que aumenta a variedade dos vínculos entre língua e lugar, os esquemas de comunicação
apresentam uma variedade crescente caracterizada por: Mudanças de códigos, Pelo
plurilinguístico, Aquisição de diferentes capacidades de compreensão e expressão em
idiomas e dialetos distintos, tendo, para além disso, como traçam distintivo.
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Educação

As políticas educacionais têm uma repercussão decisiva no florescimento ou no declínio


da diversidade cultural e devem promover a educação pela e para a diversidade. Assim se
garante o direito à educação, ao mesmo tempo em que se reconhece a diversidade das
necessidades dos educandos (especialmente daqueles que pertencem a grupos
minoritários, indígenas ou nómadas) e a variedade dos métodos e conteúdos conexos.

Em sociedades multiculturais cada vez mais complexas, a educação deve auxiliar-nos a


adquirir as competências interculturais que nos permitam conviver com as nossas
diferenças culturais e não apesar delas. Os quatro princípios de uma educação de
qualidade definidos em Moçambique sobre Educação rumo há diversidade cultural são:
Aprender a ser, Aprender a conhecer, Aprender a fazer e Aprender a viver em conjunto.
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Conclusão

As reflexões aqui desenvolvidas, com o objecto, a identidade cultural de


Moçambique em sua qualidade de ferramenta indispensável a consolidação da cultura são
de extrema importância. Na identidade cultural, actuam forças económicas e ideológicas,
numa realidade contraditória e fragmentária, muitas vezes marcada pela inadequação
entre discurso e acção, devido o pluralismo cultural, é também necessário o
estabelecimento de políticas públicas que possam contribuir para a fácil formação da
identidade cultural no País. O desenvolvimento cultural e afixação dos seus valores
pressupõem esse conjunto de pré-condições para seu crescimento, com vistas à
manutenção da identidade cultural moçambicana. A afirmação da identidade cultural é
imprescindível ao fortalecimento da comunidade em seu ambiente, possibilitando- lhe a
escolha das melhores soluções e, consequentemente, a condução do processo de
desenvolvimento cultural.

Como nós vimos ao longo da abordagem, a identidade não é uma essência, um referencial
fixo, apriorístico, cuja existência seja automática e anterior às sociedades e grupos
étnicos- que apenas os receberiam já prontos do passado, aliás, isto justifica-se quando se
julga evidente que a própria cultura é dinâmica através do processo de aculturação. A
identidade só pode ser identificada como uma convivência de conjuntura cultural, como
uma soma das diversas e pequenas identidades das culturas regionais de Moçambique. A
identidade não é, pois, fruto do isolamento de sociedades ou grupos étnicos mas, pelo
contrário, é fruto de interação cultural. Podemos falar da identidade cultural num contexto
da diversidade cultural. Ela surge porque os homens do mesmo grupo étnico, seja ele de
pequena, média ou grande escala, partilham entre si valores comuns que os identifica. Os
traços culturais são configurados em um conjunto harmonioso que unem os membros
integrantes dessa sociedade nas mesmas formas de orientar seus comportamentos,
formando uma consciência coletiva na sua convivência cultural.
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Referencias Bibliográficas

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Paulo: Hucitec, 1998.
 COUTO, Mia. Vinte e Zinco. 2ª Ed. Lisboa: Caminho, 1999.
 HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade.11ª ed. Rio de janeiro:
DP&A, 2006.
 PIRES LARANJEIRA. Literaturas africanas de expressão portuguesa. Lisboa:
Universidade aberta, 1995.
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