Você está na página 1de 4

Arte como forma de pensamento

Assim como o mito e a ciência são modos de organização da experiência humana – o primeiro
baseado na fé e na crença e o segundo na razão –, também a arte vai aparecer no mundo
humano como forma de organização, como modo de transformar a experiência vivida em
objeto de conhecimento, desta vez através do sentimento.

O entendimento do mundo, não se dá somente por meio de conceitos logicamente


organizados, estão longe do dado sensorial, do momento vivido. Ele também pode se dá
através da intuição, do conhecimento imediato, da forma concreta e individual, que não fala à
razão, mas ao sentimento e à imaginação.

E a arte é um caso privilegiado de entendimento intuitivo do mundo, tanto para o artista que
cria obras concretas e singulares quanto para o apreciador que se entrega a elas para
penetrar-lhes o sentido.

O verdadeiro artista intui a forma organizadora dos objetos ou eventos sobre os quais focaliza
sua atenção. Ele vê, ou ouve o que está por trás da aparência exterior do mundo. Por exemplo,
no filme Amadeus, de Milos Fortnan (Oscar de 1985), há uma cena que mostra didaticamente
esse processo. A sogra de Mozart, emocionada e muito irritada, conta ao compositor por que a
filha dela o abandonou. Mozart, que a princípio realmente procurava uma resposta para essa
questão, lentamente deixa de prestar atenção às palavras para sintonizar com a melodia e
ritmo do discurso. Ele ouve a musicalidade por trás do discurso inflamado e compõe uma ária
para A flauta mágica. Assim, como´todo artista, Mozart percebe, pelo poder seletivo e
interpretativo dos seus sentidos, formas que não podem ser nomeadas, que não podem ser
reduzidas a um discurso verbal explicativo, pois elas precisam ser sentidas, e não explicadas. A
partir dessa intuição, o artista não cria mais cópias da natureza, mas, sim, símbolos dessa
mesma natureza e da vida humana.

Esses símbolos, portanto, não são entidades abstratas, não são entes da razão. Ao contrário,
são obras de arte, objetos sensíveis, concretos, individuais, que representam por semelhança
de forma, a experiência vital intuída pelo artista. Essa "interpretação só é possível em termos
de intuição e não de conceitos, em termos de forma sensível e não de signos abstratos”.

A apreensão do concreto, do imediato, do vivido, é transportada para uma outra obra que, ela
também, é um objeto concreto para o espectador. Assim, quando apreciamos uma obra de arte,
fazemo-lo através dos nossos sentidos: visão, audição, tato, cinestesia e se a obra for
ambiental, até o olfato.

É a partir dessa percepção sensível que podemos intuir a vivência que o artista expressou em
sua obra, uma visão nova, uma interpretação nova da natureza e da vida. O artista atribui
significados ao mundo por meio da sua obra. O espectador lê esses significados nela
depositados.

Podemos dizer, então, que na obra de arte o importante não é o tema em si, mas o tratamento
que se dá ao tema, que o transforma em símbolo de valores de uma determinada época.

A luz, a cor, o volume, o peso, o espaço, enquanto dados sensíveis, não são experimentados
da mesma maneira na vida do dia-a-dia e na arte. No cotidiano, usamos esses dados para
construir, através do pensamento lógico, o nosso conceito de mundo físico. Em arte, esses
mesmos dados são usados para alargar o horizonte de nossa experiência sensível. Por
exemplo, pelo uso incomum de cores ou sons, pela organização inusitada de um espaço, pela
textura ou forma dada a um material, a nossa própria perspectiva da realidade é alterada. O
artista não copia o que é; antes cria o que poderia ser e, com isso, abre as portas da
imaginação.
Democracia grega x Democracia contemporânea

Os preceitos da democracia atual e grega se diferem na definição de seus cidadãos.


Ao falarmos do legado dos gregos para o mundo contemporâneo, percebemos que
muitos textos ressaltam como as experiências políticas experimentadas em Atenas
serviram de base para a construção do regime democrático. A luta pelo fim dos
privilégios aristocráticos e a consolidação de uma sociedade com direitos mais amplos
teriam sido os pilares dessa nova forma de governo. Contudo, não podemos afirmar
que a ideia de democracia entre os gregos seja a mesma do mundo contemporâneo.

Atualmente, quando definimos basicamente a democracia, entendemos que este seria


o “governo” (cracia) “do povo” (demo). Ao falarmos que o “governo pertence ao povo”,
compreendemos que a maioria da população tem o direito de participar do cenário
político de seu tempo. De fato, nas democracias contemporâneas, os governos tentam
ampliar o direito ao voto ao minimizar todas as restrições que possam impedir a
participação política dos cidadãos. Tomando o Brasil como exemplo, percebemos que
a nossa democracia permite que uma parte dos menores de 18 anos vote e que as
pessoas com mais de 70 anos continuem a exercer seu direito de cidadania. Além
disso, a nossa constituição não prevê nenhum empecilho de ordem religiosa,
econômica, política ou étnica para aqueles que desejem escolher seus representantes
políticos. Até os analfabetos, que décadas atrás eram equivocadamente vistos como
“inaptos”, hoje podem se dirigir às urnas.

Para os gregos, a noção de democracia era bastante diferente da que hoje


experimentamos e acreditamos ser “universal”. A condição de cidadania era
estabelecida por pressupostos que excluíam boa parte da população. Os escravos, as
mulheres, os estrangeiros e menores de dezoito anos não poderiam participar das
questões políticas de seu tempo. Tal opção não envolvia algum tipo de interesse
político, mas assinalava um comportamento da própria cultura ateniense.

Na concepção desta antiga sociedade, aqueles que não compartilhavam dos mesmos
costumes de Atenas não poderiam ter a compreensão necessária para escolher o
melhor para a pólis. Além disso, observando o modo como os atenineses viam a
mulher, sabemos que tal exclusão feminina se assentava na “inferioridade natural”
reservada ao sexo feminino. Por fim, os escravos também eram politicamente
marginalizados ao não terem o preparo intelectual necessário para o exercício da
política.

Dessa forma, não podemos dizer que a democracia ateniense era cingida por uma
estranha contradição. Ao contrário, percebemos que as instituições políticas dessa
cultura refletiam claramente valores diversos que eram anteriores ao nascimento da
democracia grega. Também devemos levar em conta que o nosso ideal democrático é
influenciado pelas discussões políticas dos intelectuais que defenderam os ideais do
movimento iluminista, no século XVIII.

A distância entre a democracia grega e a atual somente corrobora com algo que se
mostra bastante recorrente na história. Com o passar do tempo, os homens elaboram
novas possibilidades e, muitas vezes, lançando o seu olhar para o passado, fazem
com que a vida de seus próximos seja transformada pelo intempestivo movimento de
ideias que torna nossa espécie marcada pelo signo da diversidade.
https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/democracia-grega-x-democracia-contemporanea.htm

Aculturação
O fenômeno da aculturação se dá pelo contato de culturas diferentes e pela
adoção mútua de costumes pertencentes à cultura diferente.
É fato que todos nós possuímos aspectos de nossa vida que são ancorados na cultura que
compartilhamos, em partes, com o meio social em que nos desenvolvemos. A cultura é parte
do que somos e responsável por como vemos e entendemos o mundo em que existimos, de
modo que interfere como nos apresentamos aos outros indivíduos e como assimilamos a
imagem dos demais integrantes de nossa sociedade. Essa cultura que constituímos manifesta-
se em nossa aparência, na forma como nos vestimos e até em nossas refeições diárias, na
culinária que adotamos como usual. Mas esse aspecto tão amplo de nossas vidas não é
estático ou imutável, muito pelo contrário. Nossa cultura está em constante processo de
modelagem. Ao adotarmos costumes, valores ou mesmo símbolos diferentes, modificamos, por
exemplo, hábitos culturalmente construídos, de modo que os parâmetros culturais que
absorvemos de nossa família se alteram tanto no decorrer de nossa convivência social que
dificilmente serão exatamente os mesmos que transmitiremos aos nossos filhos.

Esse processo de “modelagem” pela qual nossa cultura passa é resultante do fenômeno
da aculturação. A aculturação é o nome dado ao processo de troca entre culturas diferentes a
partir de sua convivência, de forma que a cultura de um sofre ou exerce influência sobre a
construção cultural do outro. Esse processo, porém, não deve ser confundido com outros
fenômenos da interação entre culturas diferentes, como a assimilação cultural, processo em
que um grupo cultural assimila ou adota costumes e hábitos de uma outra cultura em
detrimento da sua. Nesse processo, a cultura “original” de um grupo é gradualmente substituída
e se perde no decorrer do tempo. Embora possa ser um catalizador para essa assimilação,
nem toda adoção de traços culturais diferentes resulta na substituição ou no abandono de outro
aspecto cultural. Como já vimos, a cultura não é imutável, mas o processo de aculturação não
é equivalente à mudança cultural, na medida em que a adoção de certas características
culturais, como por exemplo a mudança ou a adoção de uma forma diferente de se vestir, não
necessariamente implicará no abandono ou na mudança de outro aspecto cultural. Como
exemplo peguemos o caso da culinária oriental, que é amplamente apreciada ao redor do
mundo, passando a ser consumida por diversos indivíduos de culturas diferentes sem que, no
entanto, modifique seus hábitos ou a forma como pensam acerca de um ou outro aspecto de
seu mundo.

Aculturação equivale à destruição de outra cultura?

De fato, o processo de aculturação é visto por muitos como responsável pela destruição ou o
desgaste de culturas vistas como “originais”. Como a ideia inicial de Franz Boas (1858-1942),
um dos mais importantes autores na área de estudos culturais, que pautava o fenômeno da
aculturação pelo processo de mudança da cultura original. No entanto, autores como o
antropólogo brasileiro Gilberto Freyre, trabalhavam com a ideia de que o processo de
aculturação não é unilateral, de forma que as duas estruturas culturais que estão envolvidas no
processo estão sujeitas a absorver um ou outro aspecto da cultura diferente de forma mútua,
mesmo não sendo um processo simétrico. Uma das maiores preocupações da antropologia
brasileira é justamente a possibilidade da destruição das culturas indígenas que ainda resistem,
em certa medida, no país. O processo de aculturação, que de várias maneiras culminou na
mudança cultural e na assimilação dessas culturas indígenas, em certos aspectos pode ser
visto na mudança da forma como se vestem, na construção de suas casas ou no gradual
abandono de suas línguas. Mas a nossa sociedade urbanizada, por outro lado, adotou palavras
das línguas indígenas que hoje usamos comumente, ainda mantém costumes culinários como
o preparo de pratos como a tapioca e a mandioca, conhecimentos populares sobre medicina
natural, como uso de plantas medicinais (a Copaíba e o guaraná são alguns exemplos). Por
esse motivo, a total destruição da cultura de um grupo só ocorreria em situações extremas,
como por exemplo na instauração de um regime que priorize o genocídio cultural de uma etnia
específica, e em um enorme período de tempo. Em seu processo “natural”, a aculturação se dá
nos termos do grupo em questão, de acordo com suas necessidades. Levando em conta ainda
que o processo de aculturação se dá de forma mútua, onde as duas partes adotam
características culturais uma da outra, de forma que haverá sempre traços de outra cultura em
sociedades que a diversidade e o contato entre grupos de culturas diferentes estejam
presentes.

Você também pode gostar