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1
- - - - - CONSTRUÇÃO E FORMALIZAÇÃO DE
CASOS CLÍNICOS
Christian Dunker
Clovis Eduardo Zanetti
21
- E CASOS eL fNl cos EM PSICAN ÁLlSE
A CONSTR UÇAO D
Sei que há - ao menos nesta cidade_- muitos ,~édicos qu; (coisa bas-
tante repugnante) vão querer ler um caso chmco desta mdole como
uma novela destinada a sua diversão e não como uma contribuição à
psicopatologia das neuroses. (Freud, 1905/1989, p.8)
23
ICOS EM PSIC ANÁ LISE
A CON STRU ÇÃO OE CASO S CLfN
24
E â ê e1
26
(ORGS,)
TATIANA ASSADI
/ HELOISA RAMIREZ /
CHRISTIAN D ·UNKER
proc~d~ento :;::7e~
Baseados e . . , tal ara a produção de casos clínicos, que
tr!amento psicanalítico, que poderia ter
consistiu emldpo tanto em um contexto institucional (hospitais, am-
se desenro a ui , · · d Tal
bulatórios, clínicas-escola) quanto em um co_n~ tono pnva do.
tratamento se fazia acompanhar de superv1~ao por. ~arte e ~m
psicanalista, em geral mais experiente. Por hvre deasao de psica-
nalista e supervisor, 0 caso poderia ser _el:ito par~ ser exposto em
uma reunião de discussão coletiva. Redigia-se assim um ~exto, sob
0
qual se facultava liberdade estilística e se estimulav~ vanedade de
formas expositivas. A redação assim composta era bda oralm~nte
para um grupo de pesquisadores e psicanalistas. Durante a le1~-
ra, atentava-se particularmente às ilações, apostos e intrusões orais
acrescentadas ao material escrito. A experiência de leitura aberta,
com a evidenciação de problemas e incongruências narrativas, con-
ceituais e até mesmo ortográficas (lapsus calamz) precedia rodadas de
questões e perguntas que se dirigiam, principalmente, a um único
aspecto da situação, a saber a relação entre forma e exposição esco-
lhida e o conteúdo clínico colocado em pauta. Situa-se assim, me-
todologicamente, o que se pode chamar de uma questão: a questão
que organiza o caso, que força sua inteligibilidade, que se distribui
em uma rede ordenada de perguntas e temas. Saliente-se que o pr:o-
cedime~to não equivale a uma supervisão clinica, nem se dirige a
colher impressões ou opiniões sobre as escolhas levadas a cabo na
condução daquela cura. A construção do caso inclui a supervisão do
caso, mas a suplementa.
Voltemos aqui à distinção, antes mencionada, entre método de
~~n:o e m~toqo d_e_in':~stigaç-ªo, e vejamos o ponto ;m q~e- a
nstruç_aº_do_caso.supl~~~- ~ sup~vi~ão. Freud definiu o termo
11
Psychoanalyse" da seguinte forma:
27
CONS TRUÇ ÃO OE CASO S CLÍN
ICOS EM Psrc ANÁ . LJse
A
o ine ren te
A pesquisa em psic aná lise é tida com o alg
tamento,_..9_próp_rio__qat am ent o _es icanalítico é e~~ tra. um
. . te. ,,A psic- aná- - lisemo
- de pesquisa, Ees gm.sa d o mco
·ª nsc 1en - ..
tipo , l . b - con sti-
·- --- --- ~-:.- - ge nao ape nas um me' todo
tui um a combmaçao not áve , poIS a ran , ,
s, ma s tam b em um me tod o de tratame
de pesquisas das neurose nto)
· Iº&!· ª assr . m desc ob e rta " (Freu d, 1913/1989, p. 211
baseado na etio
Como já havíamos ass ina lad o em traf ia~ o ant erio r (Za nett i, Borges·
, , . . lus1. ve a gra nd e d esc obe rta: 0 mesmo
& Oliveira, 201 2), está 101 me
iza do par a investigar
procedimento e o me smo pro ces so que é util
tom as neu róti cos , esse
as causas inconscientes da form açã o dos sin
se trad uz simultanea-
mesmo processo, qua ndo lev ado a seu term o,
n~~ en~ o dos sintomas.
mente eJll efeitos tera pêu tico s e no sol ucJ~
Algo inédito (Nogueira, 1997; Du nke r, 201
1) e mu ito distfu.to do
se for mo u, em que a
que ocorre na prá tica méd ica da qua l Fre ud
liza das pel o médico,
pesquisa clinica das cau sas dos sin tom as rea
lme nte de seu s proce-
seus exames diagnósticos, se dis ting ue rad ica
sar a cau sa não implica
dimentos tera ~ut ico s. Em med icin a pes qui
ren tes exe cut ado s em
diretamente em trat ar o sint om a, são ato s dife
o. out ro. N_2. psicanálise
momentos diferentes, prim eiro um dep ois
c~! !_lb !fl~ _de l!l~ e½'a
não, o métodQ..d_~ ~sq uis a e trat am ent o se
_______
!!2~-~lc_Eois o me s~_pro ced ime nto_que enc
soluciona os sintomas.
__,
ont ra as cau sas alivia e
I) 2s
SA O I (O R G S. )
IR EZ / TA TI AN A AS
I.O IS A R A M
RI ST JA N DU NK ER / HE
CH
a ta m e n to e sp e á fi c o , a e sc u ta
u m tr
ê n d a s te ra p êu ti cas re fe re n te s a q u e re in a m so b e ra n a s
en-
b ão li v re ,
an te e a associaç rd e m su a fu n çã
o,
livremente fl u tu o tr at am en to , p e
técrúcos d u ra n te n to , tr a ta m e n -
q u a n to preceitos é a es cr it a. N e ss e p o
a técn ica q u e p a ss a a se r ex ig id a o m p ro p ó si to s ci en tí
fi co s
e e st u d o c
eçam a se Ofl'!!· O e n to técnico n ã
o
to e P-esquisal com so , u m p ro c e d im
, a escrita d o ca
~ li c a , p o rt an to .
m en d ad o d u ra n te o tr at am en to
re co am en -
at
m en te n u m ca so en q u an to o tr u
har cientifi ca
Não é bom trabal su a es tr ut ur a, te nt ar p re d iz er se
in ua nd o - re un ir u m q u ad ro d o es
ta d o
to ainda está co nt s em te m po s,
e ob te r, d e te m po exigiria. C as os q
u e sã o d e-
progresso futuro re ss e ci en tí fi co ,
atual da s coisas,
como o in te
os ci en tí fi co s, e as si m tr at ad os
ós it
p ri n ó p io, a pr op m ai s be m su ce di
do s sã o
dicados, de sd e o an to o s ca so s
sultado; en qu r, se m q u al q u er
in tu it o em
sofrem em seu re p o r as si m di ze va
aqueles em qu e se
avança,
o d e su rp re sa p o r q u al q u er n o
vista, em q u e se
permite se r to m ad co m li beralidade, se m
quais-
en fr en ta
e se m pr e se o
reviravolta neles, (F re ud , 1912/1988, p .114
)
si çõ es .
qu er pressupo
ó ri -
a q u e re n o v a o in te re ss e te
ã o cu id a ~ ica retrospectiva. k
'
Urna r ~ ~ n d a ç a d a pe sq ui sa cl ín
e a d im en sã o étic ,, · ·
co, o v ~ ~ ín ic o en d e N o g u ei ra (1 9 9 7 p ·1 3 6 ) d e u m a m v e stuig m
a-
a
o d ef p o st o
Trata-s· e,· co m " . .,_
ue te m co m o J p re ss u
- 1 b1to d a c1encia [q _
çao on~ma_ n o am tr e a experiência su a in v es ti g aç ao e su a tr a n s-
en
descon".tinwdade ,
missão im e n sõ e s li t , -
p a ra r as d e ra
s ag o ra re in te rp re ta r e dse .
:io
. ~ o d e,n d o caso clínico si tu a n
ca -o c o m o d if e re n te s p o si ci o -
n a e ae n ti fi ' " . o a es cr it a d e u m
n o in t · d a, q u e a n im a
namentos e n o r a transfer
enc1
caso.
s co m a his .
ter ia Freud d e1x
De sde seu s pri me iro s tra ba lho .,. . a
_ d teó ri-
expenenc1a pe la escrita
muito claro que a ~<;O!!SíT!IÇa~~
ca tem o objetivo de p~o~u_zir ev~
~ências_~qu e po de m se ap re s~ r
domínios: clínico
romõ piõvâsemfavor de suas teses, e isso em três -:
Jógico e terapê uti co. (Z an ett i, 200 §).
leva es; e es io ~~ e ab str açã o ao extremo, qu an do pri-
- - Lacan )
a "o nív el de tra nsm iss ão ma têmica, no qu al os sím bo los (...
vilegi
com o sim pli fic ad ore s da prá tic a clinica" (Checchia, 2004,
funcionam
p.330). 15
um mo de lo, um ensaio de sis-
Com esse intuito iremos pro po r
e for ma liz açã o do mé tod o a pa rti r de um a determina-
~matização r
o do An ali sta " desenvolvido po
da leitura do Materna do "Discurs
70/199 2). A esc olh a de ssa fór mu la lac an ian a se justifica
Lacan (19 69- -
(1) reu nir pa rte im po rta nte do con
pelo fato de qu e ela no s permite:
de op era çõe s im pli cad as na co nstrução do caso clínico em um
junto s
dis tin gu ir ca da um do s elemento
sistema de relações estáveis; (2)
o; e (3) sit ua r as dif ere nte s rel ações e lug are s oc up ad os po r
em jog ta
rso. A ma tri z dis cu rsi va pr o~
cada um na estrutura de um discu
ll. ~a be ]ec e gu atr os lug are s pelos qu ais cir cu Ja ;qu atr Õ
~! J•~ ffi ·- ·- -- - ----.
elementos.... ·
-- -
deve ao fato de
15
Uma das vantagens da opção de lacan pela lógica do significante se
estável, que permite correlacionar fe-
::::-se de ,u'.11ª linguagem simbólica, ~rtificial,
n~s chrncos, mantendo Esta a ambiguidade da fala, e, além disto'
é uma lógica que
• d
lita ope rar com restos & •
de lac an quando construiu a esc rita ~
possibi · 101 a sacada ,....
di
rm_ 1nteg ran do no discurso um resto que não é lin~uagem.
~cu
30
S OI (ORGS.)
HELOISA RAMIREZ/ TATIANA AS A
CHRISTIAN DUNKER /
Os Quatro Elementos
Os Quatro Lugares
outro/ Trabalho · a: objeto causa do desejo
Agente
--- =----- S: sujeito
Verdade Produção / Perda SI: significante mestre
S2: saber
Discurso do Analista: a $
o-=-o
S2 ◊ SI
31
f !COS EM PSICANÁLISE
A CONSTRUÇÃO DE CASOS CL N
PESQUISA
SUPERVISÃO RETROSPECTIVA
TRATAMENTO
i-··-·-·····-----...-•-··-···--··......,..---·--....-.................rÊsouis·A······· ... Agente PESQui"s:"....)
\ Agente PESQUlSA 1· Agcnt~ ~ Analista Caso Enigma ==> Analista ;
j Analista ==> Analisante Supervisor S rvisionando lnterlocutores Pesquisador Í
: 1 - ~ Verdade ProduçãÕ ,=,'
;; Verdade - - - ! Verdade
Produção Produção .
\ -·-··----·-··------..---·-··· --··-····-·-·..-............................... ···-
.l ; ....... ................ ........ . ....... ·
..................;
SUPERVISÃO PESQUISA
TRATAMENTO
Ética e Ético
FINALIDADE Ética e Científica
Terapêutica
Terapêutica
Associação Construção
MÉTODO
Associação Escrita
Livre Livre
Interpretações Texto e
PRODUÇÃO Interpretações e Transmissão
ConstnJções em e ConstnJÇÕCS
Analise em Analise
Transferência Transferência
CONDIÇÃO Transferência de Trabalho
32
I
f
ASSA .OI (OR GS.)
OISA RAM IREZ / TAT IANA
CHR ISTI AN 0UN KER / HEL
33
• C OS CLÍNICO S EM PSICAN ÁLISE
A CONSTA UÇAO OE AS
-
missão.
16
Como observou Rithée Cevasco (2014) em encontro de trabalho no IP - USP, trata-se
de uma indicação de Lacan para pensar o trabalho coletivo; é uma condição para o es-
tabelecimento de um laço produtivo entre pares. Alguns apontamentos da noção, en-
I contramos em Figueiredo (2005): ·se o movimento da transferência (de escolha) é do
sujeito, na transferênd!_de trabalho, o movimento é de cada um_pa ~quipe em direção
ªJUl'ª-bafho, tomando seus pares como parceiros da clínica• (p.48). Jimenez (1994) êsia-
I belece diferenças: "O trabalho de transferência se dirige ao sujeito suposto saber, lugar
ideal(_), ~sse lugar ideal é aquilo que efetivamente se liquida ao final da análise, já que
J transferencla ao analista não se liquida, mas é transformada em transferência de traba-
~ . ) no Final da análise (.:., à Outro, despido de sua consistência, se trãnsforma num
Interlocutor(...) passando a ocupar o lugar puramente simbólico das trocas. O motor da
transferência de trabalho é o desejo de saber, gue se nutre da impossibilidade do saber
---
absoluto• (p.130).
34
E
CHRISTIAN DUNKER / HELOISA RAMIREZ/ TATIANA ASSADI (ORGS . )
Conclusão
35
A
•
CONSTRUÇ AO
DE CASOS CLfNICOS EM PSICANÁL ISE
i
to ético e uma postura comple tamente sinto .
rtanto de um a .,. . , n1zad
PO . . d saber só se toma c1enc1a apos s e r ~ a
a 1de1a e que O - . , cado
com . te se completa quando se toma d1sporuveJ (i, ,e
"ºIler
a pesquisa somen - -
Sabadini & Sampaio, 2012). '
Referêndas
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Checchia, M. A•(200
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oa?1d=23 06 ól'
36
- ;a :r
37
A CONSTRUÇÃO oE CASOS CdNrc os EM PsrcAN ÁLrse l
.,. • Tese de Livre--docência. Instituto de Psicologia da Uni vers1da .
anova ae11c1a. d
de São Paulo, São Paulo. e
38
$
,
2
SUPERVISÃO COMO ÇONSTRUÇÃO DE
CASO CLINICO
Delia Maria C. De Césaris
Priscila N. David
Ser psicanalista é,
na enganad ora permanência de sua poltrona,
a cada instante, voltar a sê-lo novame nte
Serge uclaire (1971)