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os desafios DO MUNDO
CONTEMPORÂNEO
IMEA
João Pessoa - PB
2018
Instituto Medeiros de Educação
Avançada - IMEA
Editor Chefe
Giselle Medeiros da Costa One
Corpo Editorial
Beatriz Susana Ovruski de Ceballos
Giselle Medeiros da Costa One
Helder Neves de Albuquerque
Julianne Freitas Moreno
Roseanne da Cunha Uchôa
Revisão Final
Ednice Fideles Cavalcante Anízio
FICHA CATALOGRÁFICA
Dados de Acordo com AACR2, CDU e CUTTER
IMEA
CAPÍTULO 1 ________________________________________________ 18
A PROBLEMÁTICA DA VISÃO NA ESQUIZOFRENIA __________________ 18
CAPÍTULO 2 ________________________________________________ 39
FORMAÇÃO PSICOSSOCIAL DE PESSOAS EM ESPAÇOS PÚBLICOS: RELATO
DE EXPERIÊNCIA ____________________________________________ 39
CAPÍTULO 3 ________________________________________________ 57
BULLYING E SINTOMAS DEPRESSIVOS EM CRIANÇAS: EVIDÊNCIAS
EMPÍRICAS NO PIAUÍ _________________________________________ 57
CAPÍTULO 4 ________________________________________________ 76
ANÁLISE INTERACIONAL DO DISCURSO E COMUNICAÇÃO PROFISSIONAL-
CLIENTE EM CONTEXTOS DE SAÚDE: QUANDO A CONVERSA É PARTE DA
CURA _____________________________________________________ 76
CAPÍTULO 5 ________________________________________________ 93
ANSIEDADE-TRAÇO EM ESTUDANTES DE MEDICINA DE UMA INSTITUIÇÃO
PÚBLICA DE ENSINO DO ESTADO DA PARAÍBA_____________________ 93
CAPÍTULO 6 _______________________________________________ 110
AVALIAÇÃO DA ANSIEDADE EM PROFISSIONAIS DE NÍVEL SUPERIOR DOS
CAPS DO MUNICÍPIO DE SANTA RITA E BAYEUX- PB _______________ 110
CAPÍTULO 7 _______________________________________________ 125
CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA PARA A EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA ___ 125
CAPÍTULO 8 _______________________________________________ 144
EXPERIÊNCIAS E REAÇÕES FRENTE AO TRAUMA: ALTERNATIVAS PARA A
SAÚDE MENTAL ____________________________________________ 144
CAPÍTULO 9 _______________________________________________ 164
HOMENS, SAÚDE MENTAL E VULNERABILIDADES: ADOECIMENTO
PSÍQUICOEM CONTEXTOS RURAIS. ____________________________ 164
CAPÍTULO 10 ______________________________________________ 184
INFLUÊNCIA SOCIAL DA MÍDIA E A DITADURA DA BELEZA EM
ADOLESCENTES ____________________________________________ 184
CAPÍTULO 11 ______________________________________________ 209
INTERAÇÕES ENTRE EQUIPES DE SAÚDE E USUÁRIO DE SERVIÇOS
PSIQUIÁTRICOS ____________________________________________ 209
CAPÍTULO 12 ______________________________________________ 230
INVENTÁRIO DE DEPRESSÃO INFANTIL: VALIDAÇÃO E NORMATIZAÇÃO NO
LITORAL PIAUIENSE _________________________________________ 230
CAPÍTULO 13 ______________________________________________ 249
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO E O ATENDIMENTO PSICOTERÁPICO
HOSPITALAR: UM ESTUDO DE CASO ____________________________ 249
CAPÍTULO 14 ______________________________________________ 274
MEMÓRIA EPISÓDICA, HIPOCAMPO E DOENÇA DE ALZHEIMER ______ 274
CAPÍTULO 15 ______________________________________________ 291
O OLHAR DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM ACERCA DE
MEDIDASPREVENTIVAS DE ANSIEDADE EM AMBIENTE DE TRABALHO 291
CAPÍTULO 16 ______________________________________________ 309
PROCESSAMENTO VISUAL ESPACIAL ___________________________ 309
CAPÍTULO 17 ______________________________________________ 331
REFLEXÕES SOBRE A ACESSIBILIDADE NOS CENTROS DE ATENÇÃO
PSICOSSOCIAL NAS CIDADES DE JOÃO PESSOA E CABEDELO- PB. _____ 331
CAPÍTULO 18 ______________________________________________ 348
SAÚDE MENTAL E MEIO AMBIENTE: UM ESTUDO OBSERVACIONAL __ 348
CAPÍTULO 19 ______________________________________________ 367
SINTOMATOLOGIA DA SÍNDROME DEBURNOUT EM PROFISSIONAIS DE
ENFERMAGEM_____________________________________________ 367
17
A PROBLEMÁTICA DA VISÃO NA ESQUIZOFRENIA
CAPÍTULO 1
A PROBLEMÁTICA DA VISÃO NA
ESQUIZOFRENIA
Carla Rejane da Costa SANTANA 1
Pedro Emmílio de Lima MARINHO 2
Thiago Monteiro Paiva FERNANDES 3
1
Graduando em Medicina, UFPB; 2 Graduando em Ciências Biológicas, UFPB; 3 Mestre em
Neurociência Cognitiva e Comportamento, UFPB;
pedro.elm@hotmail.com
1 INTRODUÇÃO
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A PROBLEMÁTICA DA VISÃO NA ESQUIZOFRENIA
adjacentes (células horizontais), codificar propriedades como
polaridade, contraste e composição cromática (células
bipolares), modular a atividade dos neurônios (células
amácrinas) até receber e projetar as informações pelo nervo
ótico (MASLAND, 2012). A estimulação e modulação destes
neurônios ocorre através da liberação de sinais químicos, os
neurotransmissores, que mudam a permeabilidade da célula
receptora (CORNSWEET, 2012). Transtornos que causam
hiper- ou hipofunção de neurotransmissores afetando as
camadas tem influência direta no processamento visual.
A retina apresenta diversas camadas compostas por
fotorreceptores (cones, bastonetes e células ganglionares
intrinsecamente fotossensíveis), que são grupos de neurônios
sensíveis a comprimento de onda curto (S), médio (M) e longo
(L). Os bastonetes respondem a visão em baixa luminosidade,
e os cones modulam a visão em alta luminosidade e
participam na discriminação de cores. Do outro lado, as
células ganglionares intrinsecamente fotossensíveis
apresentaram inúmeras características como responder à luz
mesmo na ausência do funcionamento de cones e bastonetes.
Anormalidades e patologias do SVH tem permitido aos
pesquisadores realizarem dissecações não invasivas da
estrutura e funcionamento do SVH normal (ADELMAN, 2013).
Observar transtornos, em muitos casos, permite compreender
processos normais, uma vez que as doenças podem ser
consideradas uma versão 'reduzida' do funcionamento normal.
A forma mais conhecida de estudo de anomalias do sistema
visual é a cegueira de cores (color blindness). Indivíduos com
cegueira de cores apresentam baixo funcionamento dos
cones, estruturas importantes para estabelecer uma relação
logarítmica entre concentração de rodopsina e sensibilidade
visual normal. A progressão ou remissão de um transtorno
20
A PROBLEMÁTICA DA VISÃO NA ESQUIZOFRENIA
pode prover oportunidade rara de identificar e confirmar
relações entre locais e funcionamento de receptores
(DEVALOIS & DEVALOIS, 1990).
Bodis-Wollner e colaboradores (1990), observaram
redução da sensibilidade ao contraste devido à baixa de
dopamina. A terapia dopaminérgica recuperou a sensibilidade
visual, através da regulação do feedback nas células
horizontais alterando a configuração geral do campo receptivo
destas células. A ideia básica é que existem mecanismos
neurofisiológicos que alteram o desempenho visual. A
sensibilidade visual também podem ser utilizadas para avaliar
prejuízos na percepção provocados por doenças
degenerativas, desmielinização das vias visuais ou lesões
corticais (TROBE et al., 1996).
Como observado, a literatura aponta inúmeras
contribuições da visão 'anormal' para compreensão dos
mecanismos neurofisiológicos da visão normal. A
compreensão da interação entre processamento visual e
condições que afetam o SNC, como a esquizofrenia, permitem
descrever o funcionamento do SVH e das variáveis que
existem entre eles. O desequilíbrio dos neurotransmissores
e/ou a atuação de um fármaco influenciam diretamente no
processamento visual.
21
A PROBLEMÁTICA DA VISÃO NA ESQUIZOFRENIA
Durante as últimas décadas, muitos estudos tem
reportado alterações cognitivas na esquizofrenia, como
atenção (FIORAVANTI; BIANCHI; CINTI, 2012), memória
(FORBES et al., 2009), linguagem (POMAROL-CLOTET et al.,
2008), e nas funções executivas (KLUWE-SCHIAVON et al.,
2013). Mesmo sabendo que os prejuízos cognitivos são
melhores em prever o prognóstico da esquizofrenia do que os
sintomas clínicos (GREEN, 1996; HILL et al., 2010), a
percepção visual é uma das portas de entrada para cognição
(Hubel & Wiesel, 2004; Wurtz, 2009). Os prejuízos visuais
podem aumentar ou guiar os problemas cognitivos e sociais
(UHLHAAS; MISHARA, 2007).
Pacientes com esquizofrenia podem apresentar
prejuízos como apatia, depressão, distúrbios do sono,
demência ou disfunções sensoriais (YAZBEK et al., 2014). Os
prejuízos sensórios englobam disfunção oculomotora,
hiposmia, problemas auditórios e visuais. Problemas
envolvendo a percepção visual tem identificado prejuízos na
acuidade visual (BUTLER et al., 2005), sensibilidade ao
contraste (CADENHEAD et al., 2013; SLAGHUIS, 1998),
controle de ganho (BLAKE et al., 2015), visão de cores
(BLAKE et al., 2015; SHUWAIRI et al., 2002), movimento
ocular (LEVY et al., 2010) e em tarefas que envolve senso de
profundidade (KOETHE et al., 2009).
Prejuízos no processamento visual na esquizofrenia
incluem anormalidades em: sensibilidade ao contraste;
funções excitatórias e inibitórias, como as envolvidas no
mascaramento e supressão ; organização perceptual ;
reconhecimento de emoção facial e processamento de
movimento . Houve pouco trabalho no processamento de
cores até à data, mas os relatórios clínicos indicam descrições
frequentes de intensidade aumentada ou mudança de cores.
22
A PROBLEMÁTICA DA VISÃO NA ESQUIZOFRENIA
De relevância etiológica, as distorções visuais (que ocorrem
em mais de 60% dos pacientes) têm a maior sensibilidade
para conversão em transtorno psicótico entre todos os
sintomas básicos (KLOSTERKOTTER et al., 2001). Além
disso, deficiências visuais em crianças de pais com
esquizofrenia prevêem o desenvolvimento posterior do
transtorno (SCHIFFMAN et al., 2006) e as anormalidades
visuais em crianças na população geral estão mais fortemente
associadas ao desenvolvimento posterior de esquizofrenia do
que qualquer outra forma de deficiência sensorial
(SCHUBERT et al., 2005). Finalmente, deficiências visuais
aparentemente sutis contribuem para um funcionamento
diminuido do mundo real . Em suma, mudanças visuais (por
exemplo, distorções, alucinações) são comuns e têm
significado etiológico, fisiopatológico e funcional. Em alguns
casos, eles podem ser vistos como modelos de circuitos
neurais prejudicados que podem informar nossa compreensão
dos mesmos problemas de conectividade que ocorrem em
escalas maiores, como no lobo frontal, ou envolvendo
conexões entre regiões cerebrais.
Pacientes com esquizofrenia apresentam uma
percepção subjetiva distorcida da realidade. Cerca de 60%
dos pacientes com esquizofrenia apresentam prejuízos em
tarefas visuais (PHILLIPSON; HARRIS, 1985). Estudos
apontam que a percepção visual na esquizofrenia é
qualitativamente diferente, tendo piora em alguns pacientes e
melhora em outros (CADENHEAD et al., 1997; YOON et al.,
2010a, p., 2010b).
A disfunção neural na esquizofrenia estende-se para
áreas relacionadas com a percepção, como o córtex temporal
(TURETSKY et al., 1995), córtex visual (SCHULTZ et al.,
2013) e tálamo (CRONENWETT; CSERNANSKY, 2010)
23
A PROBLEMÁTICA DA VISÃO NA ESQUIZOFRENIA
sugerindo a existência de inúmeros prejuízos no
processamento visual. A dificuldade de estabelecer as
naturezas das anormalidades perceptuais faz com que seja
difícil correlacionar se estas as evidências são relacionadas a
fatores visuais ou não-visuais.
A grande questão por trás do processamento visual na
esquizofrenia é se as mudanças tem início nos olhos ou no
encéfalo. Caso tenha início nos olhos, poderiam estas
alterações servir de biomarcadores para a psicose?
Baseado nisso, este artigo objetivou descrever o estado
da arte sobre a questão do processamento visual em
pacientes com esquizofrenia.
2 MATERIAL E MÉTODOS
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Papel da Dopamina
26
A PROBLEMÁTICA DA VISÃO NA ESQUIZOFRENIA
redução na discriminação de cores (BRANDIES; YEHUDA,
2008; POPOVA; KUPENOVA, 2013).
Muito do que se sabe acerca da ação dopaminérgica
retiniana advém de estudos com doença de Parkinson (DP)
em animais (BODIS-WOLLNER, 1990; DJAMGOZ et al., 1997)
e humanos (BULENS et al., 1989; TIAN; ZHU; LIU, 2011),
onde este neurotransmissor apresenta-se em baixas
concentrações (TIAN; ZHU; LIU, 2011). O uso de
medicamentos agonistas dopaminérgicos causam melhora no
processamento visual, por exemplo (BODIS-WOLLNER,
1990).
Mas isto não se resume apenas a DP. Estudos mostram
que a aplicação de antipsicóticos, mesmo em dose única,
diminuíram os potenciais visuais evocados (PVE) em ratos
saudáveis. É um fato interessante, pois muitos pacientes ainda
são medicados com antipsicóticos típicos, apresentando maior
latência no PVE (BRANDIES; YEHUDA, 2008), problemas na
acuidade visual (VIERTIÖ et al., 2007), sensibilidade ao
contraste (BUTLER et al., 2005; SLAGHUIS, 1998) e visão de
cores (SHUWAIRI et al., 2002).
Outro exemplo é que, em resposta a estímulos em
movimento, os cones produzem uma espécie de borrão (blur),
que aumenta a informação que chega ao V1 sobre direção e
orientação do movimento, mudanças em regiões,
diferenciação de frequências espaciais e profundidade
(BLAKE et al., 2015). É importante mencionar que muito do
input que advém dos cones é dopaminérgico e, como
supracitado, anormalidade retinianas dopaminérgicas podem
contribuir para inúmeros prejuízos visuais na esquizofrenia. A
ideia básica é que as alterações retinianas resultam em um
sinal intensificado, degradado ou com ruídos que chegam ao
27
A PROBLEMÁTICA DA VISÃO NA ESQUIZOFRENIA
NGL e V1, dependendo da anormalidade (BLAKE et al., 2015;
BUTLER et al., 2005).
A grande questão, então, seria: Os prejuízos seriam
devido a doença ou do bloqueio de receptores pela
medicação? Baseado nessa ótima pergunta, pesquisadores
optaram por observar relação de antipsicóticos na acuidade
visual, sensibilidade ao contraste e visão de cores de
pacientes esquizofrênicos (BULENS et al., 1987;
CADENHEAD et al., 2013; CHEN et al., 2003; HARRIS et al.,
1990; KÉRI et al., 2002). Os pouco achados apontam que, em
geral, os pacientes que fazem uso de antipsicóticos típicos
apresentam menor desempenho no processamento visual.
Todavia, as metodologias apresentadas não são conclusivas.
Alguns estudos utilizam uma amostra reduzida, não excluem
variáveis intervenientes (como depressão, ansiedade,
presença de outros medicamentos, etc.) ou não apresentam a
possibilidade de replicabilidade.
Considerando as vias de projeção dopaminérgica, a
maior parte de atividade dopaminérgica restringe-se as vias
corticolímbicas, sede das alucinações, apesar da baixa
atividade dopaminérgica no córtex visual (BRANDIES;
YEHUDA, 2008). Sugere-se que os prejuízos visuais na
esquizofrenia tenham início, de fato, na retina ou NGL
(BRANDIES; YEHUDA, 2008). Todavia, a diminuição da taxa
metabólica no córtex visual devido a ao hipometabolismo
glutamatérgico (FUJISHIRO et al., 2012) pode ter gênese
através da depleção dopaminérgica nos núcleos da base.
Esta depleção, tal como no Parkinson, explica em parte
os prejuízos no processamento de movimento (BRANDIES;
YEHUDA, 2008; COOLS; D’ESPOSITO, 2011). A redução
dopaminérgica no sistema nervoso periférico pode contribuir
para prejuízos na reatividade pupilar, tendo um feedback
28
A PROBLEMÁTICA DA VISÃO NA ESQUIZOFRENIA
negativo com a atividade oculomotora (DE SOUZA,
KALLONIATIS, POLKINGHORNE, MCGHEE, & ACOSTA,
2012).
E o Glutamato?
Campo Visual
Sensibilidade Visual
33
A PROBLEMÁTICA DA VISÃO NA ESQUIZOFRENIA
Assim, Chen e colaboradores (CHEN et al., 1999)
encontraram ação dos antipsicóticos na percepção de
movimento através da detecção de contraste.
O uso de pacientes não medicados, mostrando maior
sensibilidade ao contraste, e medicados que mostraram
diminuição da sensibilidade ao contraste, permite traçar um
paralelo com a relação dos antipsicóticos com receptores
dopaminérgicos. Todavia, lapsos metodológicos indeterminam
a relação entre prejuízos nas vias M e P e sintomatologia da
esquizofrenia (SKOTTUN, 2000).
A ausência de estudos conclusivos sobre a visão de
cores na esquizofrenia torna difícil compreender a relação
entre transtorno, medicação e alterações perceptuais.
Todavia, o estudo de (SHUWAIRI et al., 2002) apontou que o
uso de antipsicóticos pode causar alteração global na
discriminação de cores.
4 CONCLUSÕES
34
A PROBLEMÁTICA DA VISÃO NA ESQUIZOFRENIA
generalização dos resultados e aumentar o nível científico do
conhecimento que se tem sobre o transtorno.
Deste modo, o presente trabalho apresenta-se como
uma descrição geral, porém crítica, do escopo da problemática
no estudo das funções visuais básicas em pacientes com
esquizofrenia.
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38
FORMAÇÃO PSICOSSOCIAL DE PESSOAS EM ESPAÇOS PÚBLICOS:
RELATO DE EXPERIÊNCIA
CAPÍTULO 2
39
FORMAÇÃO PSICOSSOCIAL DE PESSOAS EM ESPAÇOS PÚBLICOS:
RELATO DE EXPERIÊNCIA
1 INTRODUÇÃO
2 MATERIAS E MÉTODO
41
FORMAÇÃO PSICOSSOCIAL DE PESSOAS EM ESPAÇOS PÚBLICOS:
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Para tal estudo, o grupo se organizou em duplas, para
ter uma percepção mais ampla do espaço em questão,
seguidamente realizou-se visitas periódicas com duração de
três horas à praça supracitada em dois períodos (manhã e
tarde), ocorrendo sucessivamente o registro individual das
experiências em diários de campo. Para alcançar esse
objetivo foram realizadas observações naturalísticas, durante
três meses (setembro, outubro e novembro), totalizando seis
visitas.
Utilizou-se a técnica de observação naturalística, onde o
pesquisador vai a campo em busca de uma percepção natural
do objeto estudado. O objetivo, a priori foi descrever o
ambiente, seguidamente foi realizada a análise e interpretação
deste conteúdo fornecendo uma visão mais completa dos
fenômenos observados (COZBY, 2003; COOLICAN, 2014).
Salienta-se que as questões que foram percebidas nas
visitações foram discutidas durante supervisão sob orientação
de uma professora responsável e a partir disso elucidou-se
alguns pontos pertinentes a prática do psicólogo.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
42
FORMAÇÃO PSICOSSOCIAL DE PESSOAS EM ESPAÇOS PÚBLICOS:
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Sendo assim o ambiente da Praça da Graça se torna
extremamente propício ao desenvolvimento de atividades e
campanhas, visto a pluralidade de pessoas que circulam por
ela diariamente, com a potencialidade de se alavancar
discussões referentes às questões socioeconômicas e
políticas do local.
Ao que nos traz Lima e Dias (2008), há possibilidade de
se encontrar conhecimentos nos espaços de vivência, quando
ao se debruçar sobre a totalidade do sujeito e deste com o
contexto em que vive, e que estabelece relações, pode se
perceber que há contribuição para o desenvolvimento de sua
cidadania, bem como para a compreensão de sua identidade
como ator social e ser histórico.
Ao profissional psicólogo, tal produção de saberes,
serve de ancoragem para que se tracem intervenções e ações
emergentes, que evoquem conhecimentos e reflexões a quem
faz parte desses espaços públicos, função que pode ser
pautada, em conluio ao que traz o texto que homologa a
implantação das Diretrizes Curriculares para os cursos de
Psicologia no Brasil - Resolução nº 8 de 12/04/2004 do
Ministério da Educação-, que enfatiza um perfil de formação
para o psicólogo centrado no comprometimento competente e
histórico com demandas sociais, assim, a ação do psicólogo,
deve buscar uma inserção ativa e interativa de sujeitos
conscientes de seus papéis, priorizando o nível de ação
coletiva (BRASIL, 2004).
43
FORMAÇÃO PSICOSSOCIAL DE PESSOAS EM ESPAÇOS PÚBLICOS:
RELATO DE EXPERIÊNCIA
3.2 Afetividade, sentimento de comunidade e os espaços
na Psicologia
46
FORMAÇÃO PSICOSSOCIAL DE PESSOAS EM ESPAÇOS PÚBLICOS:
RELATO DE EXPERIÊNCIA
esportivos, bairros, e inclusive este pode ser a
própria comunidade (2009, p. 7).
47
FORMAÇÃO PSICOSSOCIAL DE PESSOAS EM ESPAÇOS PÚBLICOS:
RELATO DE EXPERIÊNCIA
comportamentais fundamentais para a interação entre
membros de uma sociedade (COPPETTI, 2016).
Esses espaços são de suma importância para o
cotidiano parnaibano tanto por favorecer um contato com a
natureza quanto por proporcionar as trocas de experiências
entre as pessoas. Salienta-se que a praça, há muito tempo,
vem se modificando estruturalmente e socialmente, no entanto
seu papel na sociedade continua tendo por finalidade facilitar
as relações pessoais e os laços socioeconômicos por ser um
local de reunião. Ela se torna palco para a construção de
relações, as quais ajudam na construção psicossocial do
indivíduo.
4 CONCLUSÕES
51
FORMAÇÃO PSICOSSOCIAL DE PESSOAS EM ESPAÇOS PÚBLICOS:
RELATO DE EXPERIÊNCIA
do futuro psicólogo com o ambiente fora de sala de aula e seu
crescimento como profissional.
Há um aprimoramento enquanto psicólogos, pois a
experiência colocou o grupo frente a observações que como
pedestres, não seriam percebidas. Além disso, o estudo
influenciou na aquisição de um maior conhecimento do local e
sua importância social.
Ressalta-se que a vivência do estágio na praça foi
enriquecedora em vários aspectos: cultural, social, econômico
e emocional. Proporcionando-nos visualizar a atuação do
profissional psicólogo em locais públicos e servindo para nos
conscientizar sobre questões sociais e políticas, que não
percebemos de forma nítida em sala de aula.
Através das percepções é possível apontar importância
de estudar diferentes espaços de desenvolvimento
psicossocial tendo em vista que a Psicologia se faz presente
em qualquer âmbito da vida do ser humano, principalmente
analisar as diferenças entre lugares públicos e seus possíveis
estímulos ao desenvolvimento do sujeito e sua relação com
tais espaços.
É ampliada discussões sobre o papel fomentador do
ambiente no desenvolvimento humano, ressaltando que na
contemporaneidade, é imprescindível que os considere sob
riscos, a vista das ameaças ao meio ambiente, que
diretamente afetam a saúde. Mas que há potencialidades a
serem desenvolvidas quando bem pensadas estratégias, que
trabalhem o sentimento de comunidade e o apego ao lugar.
Compreender essa relação deve acompanhar a
profissionalização dos psicólogos, que podem encontrar em
abordagens teóricas, fundamentações para práticas, mas em
52
FORMAÇÃO PSICOSSOCIAL DE PESSOAS EM ESPAÇOS PÚBLICOS:
RELATO DE EXPERIÊNCIA
contato com os espaços e seus aspectos biossociais, os
conceitos podem se tornar observáveis.
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56
BULLYING E SINTOMAS DEPRESSIVOS EM CRIANÇAS: EVIDÊNCIAS
EMPÍRICAS NO PIAUÍ
CAPÍTULO 3
57
BULLYING E SINTOMAS DEPRESSIVOS EM CRIANÇAS: EVIDÊNCIAS
EMPÍRICAS NO PIAUÍ
Além disto, esses achados podem ser utilizados para
implementar estratégias de apoio eficazes que ajudem os
escolares a superar o bullying e suas consequências, a
exemplo da depressão.
Palavras-chave: Bullying. Depressão Infantil. Correlação.
1 INTRODUÇÃO
58
BULLYING E SINTOMAS DEPRESSIVOS EM CRIANÇAS: EVIDÊNCIAS
EMPÍRICAS NO PIAUÍ
Na literatura se identificam distintos tipos de bullying: (1)
físico, (2) verbal e (3) relacional (OLWEUS, 2011), além do (4)
Cyberbullying, que emergiu com o advento da tecnologia da
informação, sendo característico do ambiente cyber (BUELGA;
CAVA; MISUTU, 2010; SANTOS et al., 2012), tendo como
atores, porém, os mesmos que dão início as agressões em
outros ambientes.
Neste último, os perpetradores objetivam utilizar a
grande rede como forma de dar continuidade às suas práticas.
Entretanto, os estudantes que participam simultaneamente em
ambos os fenômenos (tradicional e cyber) nem sempre
adotam o mesmo papel, podendo apresentar papéis opostos
ou múltiplos. Vítimas que possuem pouco poder em situações
de conflito no mundo real podem agir em retaliação ou realizar
contra-ataques no ambiente virtual, assumindo o papel de
agressor (ANTONIADOU; KOKKINOS 2015; TANRIKULU;
CAMPBELL, 2015).
Como anteriormente descrito, o termo Bullying engloba
atitudes agressivas, repetidas e intencionais dentro de uma
relação de poder entre quem pratica e quem recebe a ação,
causando dor e angústia à vítima. Esse tipo de
comportamento agressivo envolve sempre três critérios: (a)
intenção de causar dano; repetição por longo período de
tempo, (b) assimetria de forças, e (c) sendo sempre
direcionado ao indivíduo que não consegue defender-se
(OLWEUS, 1994, 2011; SMITH; BRAIN, 2000; SOCÍAS, 2005;
VOLK; DANE; MARINI, 2014).
Deste modo, os casos de Bullying sempre apresentam
quatro tipos de atores sociais, que são atribuídos de acordo
com sua atitude diante das situações: (1) agressor - autor do
59
BULLYING E SINTOMAS DEPRESSIVOS EM CRIANÇAS: EVIDÊNCIAS
EMPÍRICAS NO PIAUÍ
bullying, (2) vítima - alvo do bullying, (3) agressor/vítima -
simultaneamente agressor e alvo e (4) espectador -
testemunha dos atos de bullying (FANTE, 2005; IRELAND;
ARCHER, 2004).
Muitas são as consequências causadas por situações
de bullying, principalmente para: a) agressores apresentam
uma tendência a desenvolver condutas desviantes e
delinquentes na vida adulta (CARAVITA; COLOMBO, 2016;
OLWEUS, 1994; SOCÍAS, 2005); b) vítimas experimentam
mal-estar físico e psicológico, além de pensamentos
destrutivos, ideações e tentativas de suicídio (NETO, 2005;
OLWEUS, 1994; ROSA, 2010; ROLIM, 2008; SMITH; SHARP,
1994); enquanto que maior tendência ao desenvolvimento de
transtornos psiquiátricos são comuns a agressores/vítimas
(BALDRY, 2004; FEKKES; PIJPERS; VERLOOVE-
VANHORICK, 2005; NETO, 2005).
Ademais, visto as inúmeras consequências negativas
que o bullying pode trazer, principalmente para as vítimas,
este estudo tem como foco verificar a correlação entre a
depressão infantil e o bullying. Poucos são os estudos, no
Brasil, a respeito do fenômeno do bullying, mesmo que
atualmente, o bullying seja considerado um problema de
saúde pública (CRAIG et al., 2009; MONTEIRO, 2011).
Portanto, parece justificável conhecer se vítimas de bullying
apresentam sintomatologia depressiva.
Sendo a escola um local onde há maior interação entre
seus pares, a mesma tem sido classificada como um dos
lugares mais comuns na prática do bullying. Entretanto, os
profissionais da educação ainda têm dificuldades em distinguir
os alunos com comportamento agressivo daqueles que são
60
BULLYING E SINTOMAS DEPRESSIVOS EM CRIANÇAS: EVIDÊNCIAS
EMPÍRICAS NO PIAUÍ
indisciplinados e violentos, o que muitas vezes favorece um
diagnóstico precipitado (Medeiros et al., 2015). Para Nogueira
(2005), os educadores devem observar a constância das
agressões, a intencionalidade e a gravidade destas, a fim de
não rotular toda e qualquer brincadeira violenta e isolada de
seus alunos como prática de bullying, podendo incorrer em
generalizações (NOGUEIRA, 2005).
Portanto é de fundamental importância conhecer as
peculiaridades e manifestações do bullying com o intuito de
intervir nos casos instalados e prevenir consequências
negativas em âmbito escolar. Possivelmente, uma maior
interação e parceria entre a escola e as famílias dos
escolares, aliados a instrumentos adequados de avaliação,
funcionassem de forma mais eficaz na tentativa de identificar
os comportamentos de bullying, objetivando intervir nestes
(NOGUEIRA, 2005).
Há duas características importantes do bullying que
podem servir de norte para orientar os educadores e familiares
na identificação dos comportamentos agressivos: a repetição e
a assimetria de forças (BANDEIRA, 2009). Outros autores (DE
CARVALHOSA; LIMA; DE MATOS, 2002; OLWEUS, 2011)
consideram ainda a intencionalidade e a incapacidade de
defesa da vítima como características igualmente importantes
para esta identificação. A repetição refere-se a provocações
de caráter dominante e ofensivo; a assimetria de forças e a
capacidade de defesa da vítima referem-se à diferença de
idade, tamanho, fragilidade e incapacidade da vítima defender-
se; e finalmente, a intencionalidade refere-se à intenção de
causar dano físico ou moral à vítima. Vale ainda ressaltar que
61
BULLYING E SINTOMAS DEPRESSIVOS EM CRIANÇAS: EVIDÊNCIAS
EMPÍRICAS NO PIAUÍ
as agressões não são provocadas pela vítima (BANDEIRA,
2009).
Os quatro tipos de bullying estão incorporadas em
outras duas maiores, a saber: a forma direta, que engloba os
tipos físico e verbal, e indireta, que agrupa os tipos relacional e
virtual (BANDEIRA, 2009; MONTEIRO, 2011).
O tipo físico é o mais evidente e de fácil detecção, já
que deixa marcas corporais e sintomatologia visíveis na
vítima, incluindo-se, nesta categoria, o roubo de pertences
pessoais da vítima. O tipo verbal é caracterizado por insultos,
apelidos humilhantes, depreciações, comentários racistas,
homofóbicos e que firam as crenças religiosas do vitimizado.
Com o avançar da idade, o tipo verbal se torna mais
preponderante que o tipo físico (ROLIM, 2008; BANDEIRA,
2009). A frequência desses comportamentos de bullying são
mais comuns entre homens, enquanto que as mulheres
praticam mais a forma indireta (MONTEIRO, 2011).
A categoria indireta refere-se ao tipo relacional, no qual
a vítima é excluída do grande grupo, ignorada, tratada com
indiferença, afetando assim, suas relações sociais. O tipo
virtual ou cyberbullying é o meio pelo qual a vítima é atingida
através de mensagens de texto, e-mails, publicação de fotos e
postagens de comentários aviltantes na internet, o uso desses
meios eletrônicos, fazem com que esse tipo de agressão
tenha características distintas e próprias (BUELGA; CAVA;
MUSITU, 2010, SLONJE; SMITH, 2008). Há dois agravantes
que acompanham essa modalidade de bullying: o anonimato
do agressor e a propagação rápida das informações para um
número grande de pessoas (BANDEIRA, 2009; AMADO;
MATOS; PESSOA, 2009; BUELGA; CAVA; MUSITU, 2010).
62
BULLYING E SINTOMAS DEPRESSIVOS EM CRIANÇAS: EVIDÊNCIAS
EMPÍRICAS NO PIAUÍ
Fatores familiares e de estrutura da personalidade
influenciam no modo como a vítima enfrenta a violência
sofrida. Da mesma forma os contextos social e cultural jamais
devem ser deixados de lado quando se propõe um
entendimento dos casos de violência e isso vale não somente
para os casos de vitimização, mas, também aos agressores.
Várias são as consequências que acompanham as
vítimas de bullying, consequências essas que podem ser
perpetuadas para a vida adulta, tais como a solidão,
ansiedade, depressão e a ideação suicida (BODEN et al.,
2016; COSTA et al., 2015; MCVIE, 2014). Segundo Stapinski
et al (2015) os sintomas depressivos são um dos principais
resultados indesejáveis da vitimização do bullying. Sendo o a
vitimização do bullying um agente potencializador da
depressão (FORLIM; STELKO-PEREIRA; WILLIAMS, 2014).
De acordo com Dumas (2011), a depressão pode ser
desencadeada por acontecimentos estressantes e as pessoas
deprimidas apresentam comorbidades como regra. No
entanto, a intensidade de como estas se apresentam, varia de
pessoa para pessoa.
Ainda para Dumas (2011), o termo depressão refere-se
tanto a uma expressão popularmente usada, quanto a um
conceito científico. Descreve um sintoma que resume os
sentimentos de desespero, aflição e tristeza em seus
diferentes graus, compreendendo perda de energia para as
atividades as quais a criança e/ou adolescente tinha o hábito
de fazer, diminuição do valor individual, culpabilidade,
isolamento social e sintomatologia orgânica/psicológica como
perturbações do sono ou do apetite, por exemplo
(COUTINHO, 2005).
63
BULLYING E SINTOMAS DEPRESSIVOS EM CRIANÇAS: EVIDÊNCIAS
EMPÍRICAS NO PIAUÍ
A depressão é diagnosticada quando pontua os critérios
específicos elencados nos Manuais diagnósticos:
Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e o Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V).
Diante disso, a depressão pressupõe a existência de
sintomatologia afim com certa intensidade e periodicidade
(DUMAS, 2011). Assim, o episódio depressivo deve persistir
por duas semanas, pontuando negativamente para episódios
maníacos ou hipomaníacos.
Para a caracterização do estado depressivo deve haver
a presença de humor depressivo acentuado anormal para o
indivíduo, perda de interesse e prazer, dificuldades de
concentração, agitação ou desaceleração psicomotora,
pensamentos de morte recorrentes e ideação suicida, perda
ou ganho significativo de peso na ausência de dieta, insônia
ou hipersonia e irritabilidade (CID-10, 1993; DSM-V, 2014).
A depressão infantil, durante longos anos, não recebeu
a atenção devida, não suscitando, consequentemente,
estudos em âmbito científico. Atualmente, entretanto, sabe-se
que esta modalidade de depressão acarreta implicações
severas à função da mente da criança, distorcendo a forma
como esta percebe o mundo e, principalmente, a sua
realidade. As consequências na vida da criança acometida
não se restringem apenas à sintomatologia da doença, mas
também afeta as atividades associadas à cognição e à
emoção (COUTINHO; CAROLINO; MEDEIROS, 2008;
COUTINHO et al., 2003).
Especificamente no contexto escolar essa
sintomatologia traz diversas consequências negativas, que
podem afetar o rendimento acadêmico (CRUVINEL;
64
BULLYING E SINTOMAS DEPRESSIVOS EM CRIANÇAS: EVIDÊNCIAS
EMPÍRICAS NO PIAUÍ
BORUCHOVITCH, 2004), além de está associado a variáveis
que são características do contexto escolar, tais como o
bullying (FORLIM; STELKO-PEREIRA; WILLIAMS, 2014).
Dito isto, entende-se que o bullying e suas consequências,
sobretudo a depressão infantil, são problemas de saúde
pública que devem ser identificados e combatidos
precocemente, através de ações que envolvam esforços entre
pais, educadores e sociedade. Desta forma, os prejuízos
advindos deles poderão ser mais facilmente controlados e
solucionados, oferecendo, às crianças e adolescentes
vitimados, uma maior chance de reestruturação social e
psicológica (ALMEIDA; SILVA; CAMPOS, 2008; NETO, 2005).
Assim, considerando-se a relevância social de estudos
que forneçam informações que possam descrever mais
profundamente o fenômeno do bullying e suas consequências,
principalmente a Depressão Infantil, e a relativa escassez
destes no contexto brasileiro, torna-se fundamental o
desenvolvimento de pesquisas como esta aqui proposta, que
objetiva, primordialmente, verificar evidências empírica da
relação entre Bullying e Depressão em estudantes de uma
cidade do interior do Piauí, Brasil.
2 MATERIAIS E MÉTODO
65
BULLYING E SINTOMAS DEPRESSIVOS EM CRIANÇAS: EVIDÊNCIAS
EMPÍRICAS NO PIAUÍ
Como instrumentos da pesquisa utilizou-se a Escala de
Vitimização de Bullying (EVB), baseada na estrutura proposta
por Medeiros et al. (2015), composta por 16 itens distribuídos
igualmente em quatro fatores, a saber: a) Cyberbullying; b)
Verbal; c) Físico; d) Relacional. A EVB tem como frase
estímulo “em minha escola, ultimamente, tenho recebido ou
sou vítima de...”, e é respondida numa escala tipo Likert de 5
pontos que vai de 0 (zero) - Nenhuma vez a 4 (quatro) -
Quatro ou mais vezes por semana, referentes à frequência de
comportamentos, tipificados como de bullying, sofridos ou que
foi vítima na última semana.
Foi utilizado também o Inventário de Depressão Infantil
(CDI) normatizado e ajustado para população brasileira por
Gouveia et al. (1995). Este instrumento foi validado para
escolares piauienses por Coutinho, Oliveira e Pereira (2014), o
qual se mostrou como uma medida unifatorial, com 17 itens
medindo depressão infantil, que são respondidos com três
opções de resposta, que variam de 0 a 2 pontos (a=0, b=1,
c=2), sendo o somatório dos valores das respostas o escore
considerado. Das três opções, uma refere-se à normalidade,
outra à severidade dos sintomas e a outra à enfermidade
clínica mais significativa. Os participantes também
responderam a um questionário sócio demográfico que aborda
questões tais como idade, sexo, tipo de instituição (se pública
ou privada), com finalidade de caracterizar a amostra.
Inicialmente, após o contato inicial com diretores das
escolas, alguns autorizaram a realização da coleta. No
entanto, por se tratar de uma pesquisa envolvendo menores
de idade foi enviado também, para os pais ou responsáveis,
um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, as crianças
66
BULLYING E SINTOMAS DEPRESSIVOS EM CRIANÇAS: EVIDÊNCIAS
EMPÍRICAS NO PIAUÍ
que os responsáveis autorizavam sua participação ainda
tinham que assinar um Termo de Assentimento para serem
recrutados.
Assim, para os alunos que aceitaram participar, foram
dadas todas as informações sobre os fins gerais da pesquisa e
foi enfatizado a voluntariedade da participação, a inexistência
de respostas certas ou erradas, bem como a informação que
os dados seriam tratados coletivamente, mantendo-se todo
anonimato da participação. Aproximadamente 30 minutos
foram necessários para a aplicação dos questionários.
Destaca-se que esta pesquisa teve parecer favorável quanto
aos aspectos éticos (CAAE: 0097.0.045.000-11).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
67
BULLYING E SINTOMAS DEPRESSIVOS EM CRIANÇAS: EVIDÊNCIAS
EMPÍRICAS NO PIAUÍ
Tendo em conta a média dos participantes nos quatro
fatores do bullying, os resultados foram similares ao
encontrado na literatura, demostrando assim, que existe uma
prevalência dos sujeitos sofrerem com a forma verbal do
bullying. Segundo Moura, Cruz e Quevedo (2011) a utilização
de apelidos, muitas vezes de forma pejorativa, ressaltando
características físicas ou a fragilidade pode explicar a
predominância desse tipo de vitimação.
Posteriormente, buscou-se conhecer como os fatores
da vitimização que se relacionam com a depressão infantil.
Dessa forma, foram realizadas análises de correlação (r de
Pearson; teste uni-caudal) entre os construtos “Depressão
Infantil e vitimização de Bullying”. As análises apontaram para
uma correlação positiva entre vitimação de bullying e
depressão, corroborando com outros estudos de âmbito
internacional. (FLEMING; JACOBSEN, 2009; LUK; WANG;
SIMONS-MORTON, 2010, WANG et al., 2010). Assim, com a
finalidade de atender os objetivos propostos do presente
estudo, inicialmente, apresentam-se as estatísticas descritivas
das dimensões dos instrumentos. Os resultados sumarizados
podem ser vistos na Tabela 1.
68
BULLYING E SINTOMAS DEPRESSIVOS EM CRIANÇAS: EVIDÊNCIAS
EMPÍRICAS NO PIAUÍ
Como se poderia esperar, os resultados mostram uma
relação positiva entre Bullying e Depressão (r = 0,37). Obteve-
se este escore ao efetuar-se a correlação do valor total dos
quatro fatores da Escala de Vitimização de Bullying (EVB) com
o Inventário de Depressão Infantil (CDI). Ao se avaliar
individualmente cada fator da escala de Vitimização, os fatores
que mais fortemente se correlacionaram com a depressão
foram o bullying físico (r = 0,33) e o Relacional (r = 0,34),
seguidos dos fatores Verbal (r = 0,26) e Cyberbullying (r =
0,14). Todos os resultados foram considerados significativos
(p < 0,01).
Como pode ser observado, no presente estudo, as
análises apontaram para uma correlação positiva entre
vitimação de bullying e depressão. Essas evidências sugerem
que quando a criança é vitimada em qualquer uma das quatro
formas do bullying (cyber, verbal, físico e relacional),
possivelmente, ela pode apresentar sintomatologia da
depressão, sendo as formas física e verbal mais fortemente
relacionados a depressão. Esses dois fatores específicos,
anteriormente citados, correspondem às formas direta e são
indicados como os mais comuns dentro do ambiente escolar
(NETO, 2005). Crianças expostas a esses dois tipos de
bullying (Físico e Relacional), geralmente mostram-se mais
vulneráveis e com elevados riscos de desenvolverem
problemas comportamentais (WOLKE et al., 2000).
Ademais, Cyberbullying foi o fator que obteve uma
menor relação com a depressão. No entanto, o cyberbullying,
assim como o bullying tradicional, apresentam correlatos
semelhantes no que se refere ao prejuízo causado nos
envolvidos (SLONJE; SMITH, 2008). Entretanto, estudos tem
69
BULLYING E SINTOMAS DEPRESSIVOS EM CRIANÇAS: EVIDÊNCIAS
EMPÍRICAS NO PIAUÍ
demonstrado que existe uma maior prevalência das formas
tradicionais, quando comparados com o cyber (HERRERA-
LÓPEZ et al., 2017; ZYCH; ORTEGA-RUIZ; DEL REY, 2015).
4 CONCLUSÕES
70
BULLYING E SINTOMAS DEPRESSIVOS EM CRIANÇAS: EVIDÊNCIAS
EMPÍRICAS NO PIAUÍ
parnaibanos. Sendo o Bullying um velho problema da
Educação com um novo nome.
Ademais, preciso ressaltar que como todo
empreendimento cientifico, esse não está isento de limitações,
como especificamente a amostra, pois considerou-se apenas
estudantes de quatro escolas da cidade de Parnaíba. Dessa
forma, a generalização dos resultados não pode ser alcançada
plenamente. Dito isto, entende-se que os resultados da
presente pesquisa refletem e não podendo ser considerado
em todo o Estado ou ainda para todos os estudantes de
Parnaíba. Assim, recomenda-se que estudos similares sejam
replicados considerando amostras maiores e mais
heterogêneas, abrangendo um numero maior de escolas da
cidade de Parnaíba e/ou cidades do Piauí.
Apesar das limitações supracitadas, no entanto, esta
pesquisa também pode ser considerada como um convite para
a replicação desta em outras cidades do Piauí, quiçá em
outros estados brasileiros. Ademais, entende-se que estudos
futuros precisam ser realizados, para conhecer em que
medida ser vitima de bullying pode predizer comportamentos
depressivos em crianças.
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BULLYING E SINTOMAS DEPRESSIVOS EM CRIANÇAS: EVIDÊNCIAS
EMPÍRICAS NO PIAUÍ
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75
ANÁLISE INTERACIONAL DO DISCURSO E COMUNICAÇÃO PROFISSIONAL-
CLIENTE EM CONTEXTOS DE SAÚDE: QUANDO A CONVERSA É PARTE DA
CURA.
CAPÍTULO 4
76
ANÁLISE INTERACIONAL DO DISCURSO E COMUNICAÇÃO PROFISSIONAL-
CLIENTE EM CONTEXTOS DE SAÚDE: QUANDO A CONVERSA É PARTE DA
CURA.
verbais e não verbais e pistas de contextualização verbais e
não verbais que minimizam a distância profissional e
propiciam um maior grau de presença interacional. Postula-se
que a pesquisa possa ser útil para o treinamento e formação
pré e em-serviço de profissionais de saúde.
Palavras-chave:Incompetência adquirida. Satisfação
interacional. Presença no cuidado.
1 INTRODUÇÃO
77
ANÁLISE INTERACIONAL DO DISCURSO E COMUNICAÇÃO PROFISSIONAL-
CLIENTE EM CONTEXTOS DE SAÚDE: QUANDO A CONVERSA É PARTE DA
CURA.
É importante frisar que a assimetria mo discurso
institucionalizado é resultado não somente do discurso, mas
também de condições pré-existentes no mundo real. Em um
nível macro-sociolinguístico, a assimetria no discurso
institucionalizado resulta de diferenças de status
socioeconômico, papéis, obejtivos e expectativas, bem como
de valores e atitudes dos participantes. No discurso
institucionalizado, a assimetria pode ser mensurada por
parâmetros interacionais, discursivos e linguísticos. No nível
interacional, por exemplo, há o controle da organização tática
da interação.No caso da comunicação médico-paciente, assim
também como nas interações em sala de aula, médicos e
professores operam como diretores do discurso, mantendo o
controle durante o evento e conduzindo a interação,
sinalizando o começo, o meio e o fim dos diferentes estágios
ou atividades bem como o começo e o fim das falas.Ainda os
estudos de Gonçalves (1992, 2003), assim como os de
Zimmerman, em Drew e Heritage (1993), evidenciam como
médicos e pacientes operam em esquemas interacionais
conflitantes, onde ocorre um choque de estilos e estratégias
conversacionais e interacionais, fruto de experiências e
percepções divergentes do significado da interação para as
partes, resultando assim em alinhamentos diferentes dos
participantes em relação às atividades, representação de
problemas de footing, ou alinhamento (GOFFMAN, 1981),
desigual dos interactantes no contexto institucional.
É dentro deste contexto interacional que os
profissionais (e.g., o médico e o paciente e o professor e os
alunos) têm de negociar o significado, i.e., fazer sentido uns
para os outros, porque a fala é ambígua e vaga e deve ser
78
ANÁLISE INTERACIONAL DO DISCURSO E COMUNICAÇÃO PROFISSIONAL-
CLIENTE EM CONTEXTOS DE SAÚDE: QUANDO A CONVERSA É PARTE DA
CURA.
interpretada.Além do mais, a interpretação compartilhada
depende do contexto compartilhado, mutuamente constituído
pelos e para os participantes, e realizado interacionalmente.Os
participantes de interações institucionais constroem sua
conduta enquanto ela acontece, turno a turno, em atividades
de fala (ERICKSON, 1992), e progressivamente constituem, e
em consequência criam, conjunta e cooperativamente o
acontecimento de sua fala. Em outras palavras, os
participantes são contextos uns para os outros.
O conceito de interação social proposto pela
sociolinguística interacional (SCHIFFRIN, 1994) é de
fundamental importância para a análise dos encontros de
serviços, no sentido de ajudar os profissionais e os clientes a
entenderem que os processos de construção do sentido da
interação são resultantes de processos sociointeracionais.A
interação não se realiza em um vácuo. Pelo contrário, segue
uma organização conversacional (LODER e JUNG, 2008 ) e
se situa dentro de um contexto social macro (estruturas
sociais, instituições, etc) e dentro de um micro contexto social
imediato (os encontros interacionais do dia a dia) que são
determinantes, não apenas no processo de construção da
interação, como também na constituição dos papéis sociais
dos interlocutores envolvidos nos eventos de fala. Desta
forma, a distância entre médicos e os pacientes não é uma
mera questão de classe ou grupo, que a sociologia descreve à
exaustão, mas constitui uma questão crucial de enquadre,
alinhamento ou atitude interacionais dos profissionais em
relação aos seus clientes, nesse caso denominados, não por
acaso, de pacientes (GONÇALVES, 2013). Enquanto na
sociologia a perspectiva é macro e os sujeitos são históricos e
79
ANÁLISE INTERACIONAL DO DISCURSO E COMUNICAÇÃO PROFISSIONAL-
CLIENTE EM CONTEXTOS DE SAÚDE: QUANDO A CONVERSA É PARTE DA
CURA.
abstratos, na perspectiva sociolinguística interacional
(RIBEIRO e GARCEZ, 2002), os sujeitos são concretos e
encarnados no aqui e no agora de cada interação.)
Este trabalho visa descrever e caracterizar o macro e micro
contexto assimétrico das interações institucionalizadas da
comunicação no trabalho como setting das atividades de fala
que perfazem as interações entre médico e paciente. Para
fundamentar a abordagem, apresentam-se sumariamente os
fundamentos da abordagem sociolinguistica interacional e
discutem-se os conceitos de footing, enquadre e alinhamentos
como unidades de análise. Analisa-se o papel das pistas de
contextualização e das estratégias de aproximação para
minimizar a assimetria interacional entre os participantes.
2 MATERIAIS E MÉTODO
81
ANÁLISE INTERACIONAL DO DISCURSO E COMUNICAÇÃO PROFISSIONAL-
CLIENTE EM CONTEXTOS DE SAÚDE: QUANDO A CONVERSA É PARTE DA
CURA.
outros). Além dessas pistas, podem ocorrer também pistas
não verbais (direção do olhar, distância entre os interlocutores,
postura, gestos). Estas pistas possibilitam aos participantes
fazerem a inferência conversacional no discurso situado das
interações. Quais as pistas de contextualização características
dos profissionais e dos clientes?Geralmente os profissionais
não têm consciência dessas escolhas, no entanto são esses
aspectos da linguagem e do comportamento verbal e não
verbal que relacionam o que é dito às pressuposições
contextuais, ou seja, ao conhecimento prévio que permite
inferências situadas sobre o significado da interação para os
participantes.
Gumperz (1998) evidencia como essas pistas de
contextualização podem afetar o sentido básico das
mensagens. Compartilhar as pistas de contextualização é,
portanto, de crucial importância para o sucesso das
interações, pois a habilidade de reconhecer e entender as
pistas de contextualização faz parte da competência
comunicativa dos interlocutores. Essa competência, segundo a
sociolinguística interacional, é adquirida através de processos
e procedimentos interacionais (co-operação, ação conjunta em
nível micro); inclui o conhecimento linguístico e as respectivas
convenções comunicativas (domínio das regras interacionais)
que os participantes necessitam para manter a cooperação
conversacional. Assim, ser competente comunicativamente é
ter a habilidade para produzir e entender as pistas contextuais
enquanto elas ocorrem e compreender como elas são
determinadas pelo contexto local.
82
ANÁLISE INTERACIONAL DO DISCURSO E COMUNICAÇÃO PROFISSIONAL-
CLIENTE EM CONTEXTOS DE SAÚDE: QUANDO A CONVERSA É PARTE DA
CURA.
Entre as pistas de contextualização, as estratégias de
aproximação (GONCALVES, 2009) que constituem recursos
linguísticos verbais e não-verbais dos profissionais na direção
dos seus clientes, são ocorrências que estrategicamente
podem conduzir a uma diminuição do afastamento, da
distância e da diferença entre os interlocutores. Estratégias de
aproximação são instâncias de fenômenos de polidez
recorrentes em muitas línguas do mundo, como demonstram
os estudos de Brown e Levinson (1978).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
84
ANÁLISE INTERACIONAL DO DISCURSO E COMUNICAÇÃO PROFISSIONAL-
CLIENTE EM CONTEXTOS DE SAÚDE: QUANDO A CONVERSA É PARTE DA
CURA.
P- Um aninho hoje, né?
M- Exatamente, né?
P- Entãohoje temos festa?
M- Tem que fazer um bolinho hoje.
P- Tem. Fazê um doce, cantá parabéns. Vai levá um presente hoje,
daqueles presentinhosque a titia manda procês (pausa)
P- E como é que nós estamos?
85
ANÁLISE INTERACIONAL DO DISCURSO E COMUNICAÇÃO PROFISSIONAL-
CLIENTE EM CONTEXTOS DE SAÚDE: QUANDO A CONVERSA É PARTE DA
CURA.
retroalimentação do canal da comunicação através da escuta
atenta e da resposta facilitadora de continuidade narrativa.
86
ANÁLISE INTERACIONAL DO DISCURSO E COMUNICAÇÃO PROFISSIONAL-
CLIENTE EM CONTEXTOS DE SAÚDE: QUANDO A CONVERSA É PARTE DA
CURA.
observaram também Tannen e Wallat (1993), note-se que a
médica pediatra fala com a criança e depois se dirige à mãe
(como ouvintes ratificados), falando sobre a bolinha, ou
moleira da criança, revelando um alinhamento diferente de
interação, conforme a estrutura de participação. Note-se a
abundância de marcadores e linguagem avaliativa (adjetivos)
na fala direcionada à criança. No próximo excerto, tirado de
uma interação entre um paciente idoso, a fisioterapeuta e uma
assistente (de fisioterapia) se pode ver o uso de um outro
recurso frequente como estratégia de aproximação: o baby
talk, ou maternalês.
87
ANÁLISE INTERACIONAL DO DISCURSO E COMUNICAÇÃO PROFISSIONAL-
CLIENTE EM CONTEXTOS DE SAÚDE: QUANDO A CONVERSA É PARTE DA
CURA.
P- Agora vamos andar. Uma perna para frente e outra para trás.
P- Isso!
4 CONCLUSÕES
89
ANÁLISE INTERACIONAL DO DISCURSO E COMUNICAÇÃO PROFISSIONAL-
CLIENTE EM CONTEXTOS DE SAÚDE: QUANDO A CONVERSA É PARTE DA
CURA.
ainteração mais simétrica e menos coercitiva, reduzindo o
grau de imposição da fala dos profissionais. Entre os
resultados da pesquisa, Camargos (2005) evidencia como
diferentes enquadres e alinhamentos também ocorreram,
principalmente em consultas com crianças e idosos, que
geralmente têm a presença de co-participantes, na forma de
acompanhantes e/ou responsáveis. Pôde-se ver como os
profissionais de saúde podem sinalizar como a sua fala ora se
dirige a um ou a outro participante. No caso das crianças, a
fala muitas vezes tem as mães como interlocutoras, mesmo
quando dirigidas à criança como ouvinte ratificado.
Entre as estratégias de aproximação utilizadas pelos
profissionais de saúde no atendimento a seus clientes, as
estratégias linguísticas, tais como aumentativos, diminutivos,
adjetivos e formas de tratamento revelaram um uso altamente
produtivo na tarefa de criar solidariedade, demonstrar
afetividade, carinho, preocupação sincera com o bem-estar
dos pacientes e criar o rapport necessário para o sucesso do
trabalho e a satisfação interacional dos participantes.
Um outro recurso importante foi o papel primordial dos
marcadores conversacionais como pistas de contextualização
que os interagentes empregaram na explicitação do
significado das interações para os participantes. A análise
mostrou como os marcadores conversacionais exercem um
papel muito importante em todas as fases do ciclo de
atendimento.
Enfim, uma forma de o/a médico atenuar a diferença
discursiva existente entre ele/ela e o paciente, rompendo o
script da agenda interacional, é mediante estratégias de
aproximação, sintonizando e sincronizando os esquemas
90
ANÁLISE INTERACIONAL DO DISCURSO E COMUNICAÇÃO PROFISSIONAL-
CLIENTE EM CONTEXTOS DE SAÚDE: QUANDO A CONVERSA É PARTE DA
CURA.
operacionais entre eles. Para isso, é necessário ter a
consideraçãodo outro como verdadeiro sujeito, e não como
objeto ou corpo a ser tratado, isto é, fazer a medicina da
pessoa, e não a medicina da doença. E não se esquecer do
preceito de Hipócrates: “curar quando é possível, aliviar quase
sempre, consolar sempre”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
92
ANSIEDADE-TRAÇO EM ESTUDANTES DE MEDICINA DE UMA INSTITUIÇÃO
PÚBLICA DE ENSINO DO ESTADO DA PARAÍBA
CAPÍTULO 5
ANSIEDADE-TRAÇO EM ESTUDANTES DE
MEDICINA DE UMA INSTITUIÇÃO PÚBLICA
DE ENSINO DO ESTADO DA PARAÍBA
Henrique José Moreira de LACERDA
Lívia Maria Trindade de SOUZA1
Valdenise Pessoa COUTINHO1
Janaína Micaele dos Santos SILVA 2
Flávia Maiele Pedroza TRAJANO3
1Graduandos do curso de Enfermagem, UFPB, Membros do Laboratório de Pesquisa e
Extensão Saúde Mental e Neurociência - LAPESN; 2 Enfermeira, Membros do Laboratório de
Pesquisa e Extensão Saúde Mental e Neurociência; 4 Orientadora/Doutoranda pelo Programa
de Pós Graduação Modelo e Decisão em Saúde – PPGMDS, Membros do Laboratório de
Pesquisa e Extensão Saúde Mental e Neurociência.
Henriquejose-lacerda@hotmail.com
1 INTRODUÇÃO
96
ANSIEDADE-TRAÇO EM ESTUDANTES DE MEDICINA DE UMA INSTITUIÇÃO
PÚBLICA DE ENSINO DO ESTADO DA PARAÍBA
2 MATERIAIS E MÉTODO
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
99
ANSIEDADE-TRAÇO EM ESTUDANTES DE MEDICINA DE UMA INSTITUIÇÃO
PÚBLICA DE ENSINO DO ESTADO DA PARAÍBA
Neste sentido,estudos de Lantyer et al (2016), afirmam
que mudanças significativas como novos vínculos, dúvidas,
demanda de horas de estudos, ocorrem na vida dos
ingressantes nas universidades, explicando assim a
frequência de estudos na temática de estresse e ansiedade
relacionados a este grupo. No qual, estes estudos tem
demonstrado elevados níveos de ansiedade em universitários,
principalmente em estudantes da área da saúde.
Em relação ao estado civil a amostra estudada,
verificamos que 86,6% (n= 26) são solteiros e 6,7% (n=2) são
casados. De acordo com o estudo realizado por GAMA et al
(2008) comparando os níveis de ansiedade-traço em
estudantes universitários de Aracajú e São Paulo, os maiores
escores de ansiedade foram encontrados entre mulheres,
solteiros e estudantes com até 30 anos de idade, tais índices
corroboram com o presente estudo.
Em contribuição com esses dados, estudos realizados
com acadêmicos de Medicina da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte (UERN) e na Universidade do Mato
Grosso do Sul (UFMS), foi percebido a predominância de
acadêmicos solteiros. Dos 72 alunos que participaram do
estudo na UERN e dos 320 alunos da UFMS, 90,3% (n=65) e
96,6% (n=309) apresentaram estado civil solteiro,
respectivamente (ANDRADE, 2017; FILHO et al., 2014). Estes
números podem ser explicados pela predominância da faixa
etária adulto jovem no âmbito acadêmico, que nos dias de
hoje dão preferencia a realizar-se profissionalmente para
somente mais tarde constituir uma nova família (CLAUDINO &
CORDEIRO, 2006).
Os dados relacionados à renda familiar demonstram
que dos 30 sujeitos estudados, 23,3% (n=7) possuem de 1 a 2
100
ANSIEDADE-TRAÇO EM ESTUDANTES DE MEDICINA DE UMA INSTITUIÇÃO
PÚBLICA DE ENSINO DO ESTADO DA PARAÍBA
salários, 23,3% (n=7) de 5 a 10, 20% (n= 6) tem renda de 2 a
5 salários, 3,3% (n= 1) possuem renda de meio a 1 salário, 3
(10%) 11 a 20 , 2 (6,7%) apresentam renda familiar maior que
20 salários, como mostra o gráfico 1 abaixo.
Gráfico 1. Distribuição dos acadêmicos de medicina por renda
familiar
D i s t r i b u iç ã o d o s A c a d ê m ic o s d e
M e d i c i n a p o r R e n d a F a m ili a r
30
0 ,5 - 1
25 1 - 2
F r e q u ê n c ia ( % )
2 - 5
20
5 - 10
15
11 - 20
10 >20
N ão sabe
5
102
ANSIEDADE-TRAÇO EM ESTUDANTES DE MEDICINA DE UMA INSTITUIÇÃO
PÚBLICA DE ENSINO DO ESTADO DA PARAÍBA
Figura 1. Classificação dos acadêmicos de medicina por
níveis de ansiedade.
A p r e s e n t a ç ã o d o ID A T E - T d o s
A c a d ê m ic o s d e M e d ic i n a
80
70
ID A T E -T (e s c o r e )
60
50
40
30
20
103
ANSIEDADE-TRAÇO EM ESTUDANTES DE MEDICINA DE UMA INSTITUIÇÃO
PÚBLICA DE ENSINO DO ESTADO DA PARAÍBA
A predominância da ansiedade nos estudantes de
medicina pode ser motivada por diversos fatores como a
elevada carga horária de estudos, o alto volume de disciplinas,
o contato constante com pacientes portadores de várias
patologias e prognósticos, a cobranças da população e
instituição de ensino, como também a auto cobrança comum
destes cursos (VASCONCELOS, 2015)
As manifestações da ansiedade, depressão e estresse
podem refletir na qualidade de vida dos futuros profissionais
médicos. Também como efeito destas manifestações é
apresentado em estudos a prevalência do uso de drogas e
disfunções profissionais em médicos e acadêmicos de
Medicina que podem afetar negativamente na assistência e o
cuidado com o paciente. (BAMPI, 2013; ZONTA; ROBLES;
GROSSEMAN, 2006)
Mediante os resultados encontrados a partir do escore
do Inventário de Ansiedade Traço dos sujeitos pesquisados,
percebe-se que boa parte da amostra apresenta traço de alta
ansiedade ao atingir mediana de 46,5 pontos, com percentil
(25) de 32 pontos e percentil (75) de 58,2 pontos. Convém
destacar que o indivíduo que apresentou maior pontuação do
IDATE-T obteve 76 pontos, aproximando-se da pontuação
máxima de 80 pontos.
Estudos desenvolvidos no Brasil e internacionalmente,
com acadêmicos de Medicina, também evidenciaram a alta
porcentagem de estudantes com sintomas de ansiedade e
depressão. Na Universidade Federal de São Paulo, 38,2%
(n=184) dos estudantes de Medicina apresentaram sintomas
de depressão. Em Dubai, dos (n=165) alunos estudados
28,6% (n=47) apresentavam depressão e 28,7% (n=47)
demonstraram ansiedade. Na Estônia, 21,9% (n=90)
104
ANSIEDADE-TRAÇO EM ESTUDANTES DE MEDICINA DE UMA INSTITUIÇÃO
PÚBLICA DE ENSINO DO ESTADO DA PARAÍBA
apresentaram sintomas de ansiedade e 30,6% (n=126)
sintomas de depressão. Isso demonstra o alto índice de
prevalência da ansiedade nesta população independente da
área territorial. (VASCONSELOS et al, 2014; BALDASSIN;
ALVES; ANDRADE, 2008; AHMED et al, 2009; ELLER et al.,
2006) Para a assistência psíquica dos estudantes de medicina
um dos obstáculos enfrentados é os alunos não buscarem
ajuda médica para seus problemas. Pesquisas apontam que,
embora o alto nível de angústia que afeta os estudantes deste
curso, somente de 8% a 15% deles buscam assistência
psiquiátrica durante a formação médica. Neste sentido, o
acometimento de distúrbios de humor e ansiedade durante a
formação acadêmica, quando não identificada e corretamente
tratada, poderá persistir e agravar durante a residência médica
e no exercício da profissão. (VASCONCELOS et al, 2014)
Esses dados confirmam a vulnerabilidade do ambiente
universitário perante a saúde mental do aluno. Dessa forma,
pode-se ressaltar a importância de observar fatores
adaptativos do estudante de medicina em meio acadêmico e a
significância do desenvolvimento de ações que busquem
prevenir e tratar precocemente alterações psíquicas que
possam ocorrer durante a vida formativa em conjunto com a
observação dos fatores adaptativos do aluno em meio
acadêmico. Essas iniciativas podem contribuir diretamente na
promoção da saúde psicossocial e, consequentemente,
oferecer uma melhor qualidade de vida. (PADOVANI et al,
2014)
105
ANSIEDADE-TRAÇO EM ESTUDANTES DE MEDICINA DE UMA INSTITUIÇÃO
PÚBLICA DE ENSINO DO ESTADO DA PARAÍBA
4 CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
106
ANSIEDADE-TRAÇO EM ESTUDANTES DE MEDICINA DE UMA INSTITUIÇÃO
PÚBLICA DE ENSINO DO ESTADO DA PARAÍBA
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108
ANSIEDADE-TRAÇO EM ESTUDANTES DE MEDICINA DE UMA INSTITUIÇÃO
PÚBLICA DE ENSINO DO ESTADO DA PARAÍBA
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Med., Rio de Janeiro, RJ, v.30, n.3, p. 147-153, Dec, 2006.
109
AVALIAÇÃO DA ANSIEDADE EM PROFISSIONAIS DE NÍVEL SUPERIOR DOS
CAPS DO MUNICÍPIO DE SANTA RITA E BAYEUX- PB
CAPÍTULO 6
AVALIAÇÃO DA ANSIEDADE EM
PROFISSIONAIS DE NÍVEL SUPERIOR DOS
CAPS DO MUNICÍPIO DE SANTA RITA E
BAYEUX- PB
1 INTRODUÇÃO
112
AVALIAÇÃO DA ANSIEDADE EM PROFISSIONAIS DE NÍVEL SUPERIOR DOS
CAPS DO MUNICÍPIO DE SANTA RITA E BAYEUX- PB
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são
unidades de serviço que atuam em um novo modelo de
assistência à saúde mental, ofertando atividades terapêuticas
como: psicoterapia individual ou em grupo, oficinas, atividades
comunitárias, atividades artísticas, direcionamento e
acompanhamento da utilização dos medicamentos,
atendimento domiciliar e aos familiares, sendo a presença do
usuário fundamental. Esses serviços são compostos por uma
equipe multiprofissional e interdisciplinar que contém
psicólogos, assistentes sociais, médicos psiquiatras e clínicos,
enfermeiros, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos,
técnicos de enfermagem, trabalhadores administrativos e
outros (NORONHA et al, 2016; SILVA et al, 2015).
Os CAPS são divididos em categorias: CAPS I e CAPS
II, atribuídos para os atendimentos diários de sujeitos adultos
com transtorno mental grave e persistente; CAPS III designado
para os atendimentos diários e noturno de sujeitos adultos
com transtorno mental grave e persistente; CAPS infantil,
responsável pelo atendimento da população infantil e
adolescente que precisam de intervenções psiquiátrica; e
CAPS álcool e drogas, destinado aos usuários de álcool e
outras drogas com transtornos advindos do uso e dependência
de substâncias psicoativas,dispõem de leitos de repouso que
visam a terapêutica de desintoxicação (SILVA et al, 2015).
Estes serviços têm por finalidade prestar a assistência
clínica e acolhimento a indivíduos com transtornos mentais
graves e persistentes, e atuam na promoção da inserção
social, diferenciando-se das demais redes por seu caráter
descentralizador em suas ações, disponibilizando serviços
intermediários, isto é, entre o regime hospitalar e ambulatorial
(MENDES; LISBOA; PARTATA, 2015).
113
AVALIAÇÃO DA ANSIEDADE EM PROFISSIONAIS DE NÍVEL SUPERIOR DOS
CAPS DO MUNICÍPIO DE SANTA RITA E BAYEUX- PB
A saúde do trabalhador destes serviços é um eixo
importante e que exige atenção, pois, estudos de Glanzner,
Olschowsky e Kantorski (2011) relatam que a satisfação do
profissional de saúde reflete positivamente ou negativamente
na sua assistência ao próximo.
As atuais e constantes transformações na forma do
cuidado à saúde mental, geram impasses, incertezas, conflitos
e ansiedade na rotina do trabalhador. Neste sentido, os CAPS
detêm uma intensa demanda de cuidado que tem refletido na
saúde dos profissionais destes serviços. Pesquisas na área
tem apresentado com frequência relatos de sofrimento,
desgaste, medo, decorrentes destas demandas de cuidado
(RIBEIRO, 2015).
Diante deste contexto, questionou-se qual o nível de
ansiedade de profissionais que atuam nos Centros de Atenção
Psicossocial (CAPS) de municípios da região metropolitana de
João Pessoa-PB, Paraíba, e quais são os fatores relacionados
ao trabalho que contribuem para a elevação do nível de
ansiedade nos profissionais investigados.
2 MATERIAIS E MÉTODO
114
AVALIAÇÃO DA ANSIEDADE EM PROFISSIONAIS DE NÍVEL SUPERIOR DOS
CAPS DO MUNICÍPIO DE SANTA RITA E BAYEUX- PB
(IDATE). Este instrumento foi elaborado por Spielberger,
Gorsuch e Lushene (1970), traduzido e validado para a língua
portuguesa por Biaggio e Natalício (1979). Trata-se de um
teste composto por dois questionários de auto-avaliação: o
IDATE-Traço (IDATE-T) e o IDATE-Estado (IDATE-E):
a) IDATE – T, define o traço de ansiedade do indivíduo,
diferenciando a tendência de reagir a situações identificadas
como ameaçadoras (BIAGGIO; NATALÍCIO, 1979).
b) IDATE – E, identifica o estado de ansiedade frente a
uma situação considerada ansiosa ou de angústia
(BIAGGIO; NATALÍCIO, 1979).
Cada um dos testes é composto por 20 perguntas, com
quatro graus de intensidade de resposta possíveis, que variam
de 1 a 4, onde os escores somados por cada voluntário
oscilam entre 20 e 80 pontos.
Para aplicação dos instrumentos foram estabelecidos três
momentos: um primeiro denominado antes, no qual foi
aplicado o IDATE-T e IDATE-E; o segundo momento
denominado de durante, que correspondeu a aplicação do
segundo IDATE-E, após duas horas do início do turno de
trabalho; e o terceiro momento, depois, ao final do turno de
trabalho, quando foi aplicado o terceiro IDATE-E e o
questionário para identificação dos fatores ansiogênicos
ocupacionais.
Os resultados adquiridos através dos instrumentos
IDATE-T e IDATE-E correspondem ao nível de ansiedade
mensurado nos três momentos. Os profissionais que
apresentaram pontuação de 0 a 40 pontos foram classificados
como Baixa Ansiedade (BA), e aqueles escores acima de 40
pontos foram classificados como Alta Ansiedade (AA).
115
AVALIAÇÃO DA ANSIEDADE EM PROFISSIONAIS DE NÍVEL SUPERIOR DOS
CAPS DO MUNICÍPIO DE SANTA RITA E BAYEUX- PB
Para identificação de fatores relacionados à ocorrência
da ansiedade nos profissionais investigados foi utilizado um
questionário elaborado pelos investigadores, especificamente
para esta finalidade.
Para a análise estatística dos resultados, foiutilizado o
software GraphPadPrism (version 4.00, GraphPad Software
Inc., San Diego, CA, USA). Mediante os resultados,foram
definidos os testes estatísticos mais adequados para dados
paramétricos e não paramétricos. Foi considerado o nível de
significância de 95% (p< 0,05).
O estudo foi desenvolvido seguindo as diretrizes e
normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres
humanos, contida na Resolução de nº 466/2012 do Conselho
Nacional de Saúde (CNS). Antes de iniciar o estudo, os
profissionais foram informados sobre o objetivo e a natureza
do mesmo e assinaramum Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido em duas vias (uma do pesquisador e outra do
profissional), oficializando sua participação na pesquisa e
autorizando a publicação dos resultados obtidos. A
investigaçãofoidesenvolvida após obtenção da carta de
anuência dos serviços, e o projeto ser submetido e aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da
Saúde da Universidade Federal da Paraíba.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
116
AVALIAÇÃO DA ANSIEDADE EM PROFISSIONAIS DE NÍVEL SUPERIOR DOS
CAPS DO MUNICÍPIO DE SANTA RITA E BAYEUX- PB
na área da saúde, correspondendo a 70% de todo o
contingente e, se tratando de equipes de enfermagem, esta
feminilização está acima de 90%.
Quanto a idade dos profissionais dos CAPS, constatou-
se que 07 (54%) indivíduos possuem entre 31 e 40 anos.
Ainda que estes sujeitos tenham apresentado um baixo nível
de ansiedade, Brandtner e Bardagi (2009) relatam que os
transtornos ansiosos predominam comumente entre os 25 e os
44 anos, idade predominante entre os profissionais que
compuseram a amostra desta pesquisa.
Considerando que os CAPS possuem equipes
multiprofissionais, neste estudo avaliou-se a ansiedade de
profissionais das diversas áreas. Neste contexto, ressalta-se
que as equipes dos CAPS estudados está em conformidade
com a Portaria nº 336 de fevereiro de 2002, que menciona a
composição da equipe técnica mínima para atuação nos
CAPS, na qual, especificamente para o CAPS II, é
preconizado 01 médico psiquiatra, 01 enfermeiro com
formação em saúde mental, 04 profissionais de nível superior
(psicólogo, assistente social, enfermeiro, terapeuta
ocupacional, pedagogo ou outro profissional necessário ao
projeto terapêutico) e 06 profissionais de nível médio.
A Tab. 1 apresenta a distribuição dos profissionais de
acordo com o grau de Ansiedade-Traço. Os dados foram
agrupados segundo o município ao qual pertence o CAPS e o
nível de ansiedade dos profissionais (baixa ou alta).
117
AVALIAÇÃO DA ANSIEDADE EM PROFISSIONAIS DE NÍVEL SUPERIOR DOS
CAPS DO MUNICÍPIO DE SANTA RITA E BAYEUX- PB
Tabela 1 - Distribuição dos profissionais de nível superior
dos CAPS segundo os níveis de Ansiedade Traço e
respectivas medianas (percentis).
Baixa Alta Mediana
CAPS Ansiedade Ansiedade Geral
N N (Percentis)
CAPS II –
05 02 34 (28 – 31)
Cidade 1
CAPS II –
05 01 35 (31 – 39)
Cidade 2
Total 10 (77%) 03 (23%) 35 (30 – 40)
Fonte: Pesquisa Direta 2016/2017
120
AVALIAÇÃO DA ANSIEDADE EM PROFISSIONAIS DE NÍVEL SUPERIOR DOS
CAPS DO MUNICÍPIO DE SANTA RITA E BAYEUX- PB
além do ofertado pela academia, isto é, a prática profissional
(SILVA; KNOBLOCH, 2016).
Nesse sentido, entende-se que os profissionais
atuantes nas equipes dos serviços estudados, que comportam
duas modalidades, necessitam de investimentos densos em
relação à capacitação profissional contínua, de maneira a
prevenir o surgimento de estresse e ansiedade no trabalho.
Diante da demanda de atividades e atendimentos a
serem desenvolvidos nos CAPS, os fatores apontados pelos
profissionais como possíveis desencadeadores de ansiedade
tornam-se pertinentes, pois suas queixas se direcionaram à
estrutura inadequada, falta de recursos, falta de apoio da
família, demanda alta de usuários, resultando em superlotação
e necessidade de um maior número de profissionais, sendo
todas estas questões relacionadas ao processo de trabalho
nestes serviços. Dessa forma, percebe-se a necessidade da
busca por medidas que amenizem tais fatores, pois,
independente dos profissionais não apresentarem ansiedade
elevada, estas questões podem fomentar o surgimento de
insatisfação no processo de trabalho, contribuindo para o
adoecimento psíquico do profissional.
Dessa forma, a compreensão do trabalho em saúde
mental refere-se a relação de saberes e práticas, promovendo
o acolhimento, fortificando o vínculo, incentivando a
corresponsabilização e resolutividade. Ressalta-se, então, que
o processo de trabalho nesta área vai além do acolhimento
aos usuários e do gerenciamento, mas necessita da realização
do cuidar de maneira integral, com planejamento das
atividades, capacidade de criar e recriar as diferentes
maneiras de cuidar, sobretudo, observando a subjetividade do
121
AVALIAÇÃO DA ANSIEDADE EM PROFISSIONAIS DE NÍVEL SUPERIOR DOS
CAPS DO MUNICÍPIO DE SANTA RITA E BAYEUX- PB
indivíduo, atentando para que este cenário não interfira na
saúde física e mental do profissional (NUNES et al, 2014).
4 CONCLUSÕES
122
AVALIAÇÃO DA ANSIEDADE EM PROFISSIONAIS DE NÍVEL SUPERIOR DOS
CAPS DO MUNICÍPIO DE SANTA RITA E BAYEUX- PB
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AVALIAÇÃO DA ANSIEDADE EM PROFISSIONAIS DE NÍVEL SUPERIOR DOS
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124
CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA PARA A EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA
CAPÍTULO 7
CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA
PARA A EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM: REVISÃO
INTEGRATIVA DA LITERATURA
Laysa Karen Soares de LIMA1
Poliana Rafaela dos Santos ARAÚJO1
Humberto Hugo Nunes de ANDRADE1
Maíra Lopes da COSTA2
1
Mestrando(a) em Neurociência Cognitiva e Comportamento (PPGNeC) pela Universidade
Federal da Paraíba (UFPB). Membro do Laboratório de Pesquisa e Extensão em Saúde
Mental e Neurociências (LAPESN); 2Mestranda em Neurociência Cognitiva e Comportamento
(PPGNeC) pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Membro do Laboratório de
Neurociências e Comportamento Aplicados (LaNeC) da Universidade Estadual da Paraíba
(UEPB).
laysakarenpb@hotmail.com
1 INTRODUÇÃO
126
CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA PARA A EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA
década, o enorme crescimento na compreensão da
plasticidade cerebral criou uma maneira inteiramente nova de
considerar como a aprendizagem e a realização ocorrem na
educação das crianças (BRUNO-ROCHA, 2010).
Oliveira (2014) traz a definição de Tokuhama-Espinosa
(2008) para a aprendizagem, como sendo uma alteração
comportamental que envolve o cérebro, sendo assim gerada
por processos que incluem o pensamento, as emoções,
memória, as vias neurais, e os neurotransmissores.
Considerando-se o processo de aprendizagem, a
educação tem ganhado cada vez mais espaço na neurociência
e, de modo recíproco, nessa perspectiva tem se destacado
vertentes de como a união dessas duas ciências pode ajudar
no processo de aprendizagem. Portes (2015) destaca que há
um consenso entre pesquisadores de que as neurociências
podem auxiliar nas teorias e nas práticas educacionais.
Dentro da mesma perspectiva, Grossi, Lopes e Couto
(2014) reafirmam as contribuições da neurociência no
processo de educação, e ressaltam sua importância para a
formação dos professores. Os autores acreditam que a união
das duas ciências tem como objetivo principal oferecer aos
educadores um aprofundamento, para que consigam obter
melhores estratégias e resultados no processo de ensino-
aprendizagem, desde a educação básica.
A colaboração entre educadores e neurocientistas
poderá enriquecer as duas ciências, de modo que os
educadores podem projetar métodos de instrução baseados
nos resultados de pesquisas e os pesquisadores podem
avaliar se esses novos métodos influenciam a aprendizagem
dos alunos. Tais colaborações têm potencial para melhorar o
ensino e a aprendizagem e influenciar as práticas dos
127
CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA PARA A EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA
administradores escolares e as políticas dos conselhos de
educação (PORTES, 2015).
Dessa forma, um campo que estabelece de que
maneira as pesquisas em neurociências podem informar a
prática educacional e vice-versa, está se enraizando, sendo
este chamado de “neuroeducação”. É neste campo que está
inserido o mecanismo chave para a transformação de
paradigma em metodologias de ensino e um modelo de
aprendizagem reformado desde a infância até a idade adulta
(OLIVEIRA, 2014; PORTES, 2015).
Diante desse contexto, é relevante destacar que esta
parceria entre a neurociência e educação pode contribuir
significativamente para descobertas e transformações de
metodologias para processo de ensino e aprendizagem, ao
passo que a neurociência oriente os professores e educadores
a adequar os métodos utilizados e aplicá-los de acordo com a
necessidade de cada aluno.
Face ao exposto, a magnitude e a relevância dessa
temática para os profissionais envolvidos com as questões
advindas do processo de ensino e aprendizagem, o presente
estudo tem como objetivo analisar as contribuições da
neurociência para a educação no processo de ensino-
aprendizagem, presentes nas produções científicas publicadas
em periódicos online.
2 MATERIAIS E MÉTODO
128
CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA PARA A EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA
reunião de dados de distintas modalidades de delineamento
de pesquisas e a expansão das conclusões (MENDES;
SILVEIRA; GALVÃO, 2008).
Com a finalidade de proceder a essa revisão, foram
demarcadas as seguintes etapas metodológicas: identificação
do tema ou questão da pesquisa; realização da amostragem
(seleção dos artigos); categorização dos estudos; definição
das informações retiradas das publicações revisadas;
avaliação dos estudos selecionados; interpretação e
apresentação dos resultados da pesquisa (MENDES;
SILVEIRA; GALVÃO, 2008).
Para realizar os passos da pesquisa ora apresentados e
considerando-se que um estudo na modalidade de revisão
integrativa da literatura orienta-se por uma indagação ou
hipótese, este trabalho foi orientado pela seguinte questão
norteadora: Quais contribuições da neurociência para a
educação no processo de ensino-aprendizagemvêm sendo
apresentadas nas produções científicasem periódicos online?
Com a questão de pesquisa, procedeu-se ao
levantamento do corpus literário nas seguintes bases de
dados: Literatura Latino Americana e do Caribe de Informação
em Ciências da Saúde (LILACS); ScientificElectronic Library
Online (SciELO) e Medical LiteratureAnalysisandRetrieval
System Online (MEDLINE). Ressalte-se que, para a realização
de tal busca, utilizou-se os descritores “Neurociência”
disponível nos Descritores em Ciências da Saúde (DECs),
integrado aos descritores “Educação” e “Aprendizagem”, por
meio do operador booleano “and”.
Foram adotados como critérios de inclusão: artigos
publicados no período de 2012 a 2017, no idioma português,
inglês e espanhol, que contemplassem em seus títulos,
129
CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA PARA A EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA
resumos e/ou palavras-chave a temática proposta e
estivessem disponibilizados na íntegra, gratuitamente e online.
Como critério de exclusão considerou-se: estudos que não se
enquadrassem na temática sugerida.
A coleta de dados ocorreu durante o mês de outubro de
2017, com um instrumento que continha as variáveis: título,
base de dados, ano, idioma, periódico, modalidade de
pesquisa e referência.
Inicialmente foi encontrado um total de 72 artigos
científicos. Com a aplicação dos critérios de inclusão e
exclusão foram selecionados 30 artigos, que, após leitura
minuciosa dos títulos e dos resumos, foram reduzidos a oito
artigos, conforme apresentado na Fig(1) abaixo.
130
CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA PARA A EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA
Os oito estudos selecionados foram lidos na íntegra e
analisados de acordo o objetivo proposto para o estudo. No
momento seguinte, os dados foram agrupados considerando-
se a abordagem apresentada.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
131
CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA PARA A EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA
Perspectiva da Prática Educacional e Tema II: Contribuições
da Neurociência para a Formação e Atuação de Professores.
132
CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA PARA A EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA
que aprender envolve o corpo, a mente, os processos
cognitivos e possui uma forma particular em cada ser.
Neste direcionamento, um caminho para a
transformação da conjuntura apresentada por Fernandes et al.
(2015), pode estar associado ao que foi assinalado por Pereira
et al.(2013) em seu estudo, onde apontam que o
conhecimento do funcionamento cerebral e das diversas
estruturas relacionadas ao aprendizado das mais diferentes
competências, pode ajudar os docentes em suas tarefas de
ensinar, de forma mais efetiva e prazerosa, uma vez que pode
desenvolver mecanismos que estimulem a empatia e a
identificação com o objeto do trabalho.
Pereira et al. (2013) destacam ainda a existência de
evidências de que competências emocionais bem
desenvolvidas e equilibradas, interferem positivamente nos
processos de aprendizagem cognitiva e técnica. Neste
sentido, nota-se também um consenso com o que foi
apresentado por Ramos (2014) em sua publicação, ao
considerar que o aprendizado é estimulado pelo desafio e
inibido pelo estresse, envolvendo assim aspectos emocionais,
memória e motivação.
Levando em consideração o aspecto biológico da
aprendizagem apresentado nos estudos anteriormente
citados, é importante salientar que Sigman e colaboradores
(2014), elucidam a importância da adequação da neurociência
com os aspectos práticos e éticos educacionais, para
relacionar a biologia da aprendizagem e da memória à
educação formal humana, atentando para recomendações
sobre o que, quando e quanto da neurociência pode ser
relevante para a educação, integrando o conhecimento para
avançar em projetos que contribuam no entendimento das
133
CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA PARA A EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA
práticas pedagógicas, buscando a sala de aula como locus
experimental.
Tratando-se de práticas pedagógicas, Pereira et al.
(2013) afirmam que a relação estabelecida entre docentes e
discentes influencia o processo de aprendizagem. Em seu
estudo, os autores ilustram essa relação fazendo alusão à
existência de educadores que utilizam metodologias
mecânicas e valorizam a prática repetitiva, deixando de lado
as formas mais sensíveis ou emocionais de aprender, em
comparação com os docentes que apresentam uma maior
sensibilidade para as expectativas e medos dos alunos no
processo de aprender, e trabalham a motivação de forma
proativa, perfazendo assim um melhor o caminho para o
aprendizado ao considerar as adaptações que o cérebro é
capaz de fazer, quando estimulado, diante das dificuldades
para aprender.
Em consonância com os autores supracitados percebe-
se, nesta mesma perspectiva, o estudo de Ramos (2014)
quando este considera que para a conquista de bons
resultados na aprendizagem, é preciso a promoção de
atividades sociais em ambientes que favoreçam a formação do
ensino com estímulos contínuos, que provoquem a excitação
das emoções e da memória.
O referido autor dá seguimento à essas ideias,
afirmando ainda que nosso arcabouço cerebral se modifica de
acordo com a nossa vivência e assimilação do ambiente a
nossa volta sendo, para isso, necessário a utilização de
técnicas que modulem a neuroaprendizagem por meio de
nossas experiências e associe o que já sabemos com o que
podemos aprender. Levando em consideração que a
capacidade de aprender não para, entende-se através do
134
CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA PARA A EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA
estudo de Ramos (2014) que, quanto mais passamos por
desafios mais somos recompensados, ou seja, em atividades
mais complexas, que demandam maior desempenho das
funções executivas, nos tornamos progressivamente mais
eficientes, críticos e resolutivos.
Nesta mesma concepção, Gabriel, Kolinsky e Morais
(2016) discorrem acerca da importância da inserção dos
alunos nas práticas educacionais, pois esta possibilita o
desenvolvimento de metodologias, que através de atividades
lúdicas e reflexivas, decodificam estímulos do aprendizado e
expandem o conhecimento. Os autores sugerem que os
inúmeros métodos de ensino existentes, nos alertam sobre a
necessidade de considerar as particularidades dos estudantes,
com suas formas de pensar individuais, e da implementação
de um processo de ensino-aprendizagem que se utilize dos
conceitos da neurociência.
Para Fernandes e colaboradores (2015) o uso destes
conceitos inovadores das pesquisas neurocientíficas aplicadas
à educação, em benefício do ensino direcionado ao
aprendizado, devem levar em consideração o corpo e a mente
de forma integral para que através do potencial físico se
estabeleçam as possibilidades para as grandes conquistas
mentais, tendo em vista que separar o pensar e o agir,
deprecia as práticas pedagógicas, e, consequentemente, o
processo de aprendizagem.
Nesta configuração, compreende-se a importância do
que foi abordado por Sigman et al. (2014) acerca das práticas
educacionais. Em sua publicação, os autores afirmam que
teorias e conceitos referentes ao cérebro devem estar
presentes no programa profissional do professor, de modo a
muni-lo cientificamente para lidar com mitos, preconceitos e
135
CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA PARA A EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA
individualidades. Ressaltam ainda a importância de os
neurocientistas estarem conscientes de que a neurociência é
uma área com crescente apelo comercial, o que exalta a
responsabilidade de disseminar uma visão crítica e rigorosa
dos resultados da neurociência, de modo a apoiar firmemente
o diálogo com não cientistas no âmbito da educação.
136
CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA PARA A EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA
às estratégias que promovam e desenvolvam o pensamento
independente nos educandos.
Portes (2015) e Souza e Gomes (2015) consideram em
suas publicações que a funcionalidade de importantes regiões
do encéfalo contribui para o entendimento dos processos
mentais envolvidos na aprendizagem. A compreensão destes
processos, é um fator fundamental para que os professores
desenvolvam suas ações pedagógicas, nas quais, para a
abordagem neurocientífica, cada ser é considerado único, com
um modo de aprender singular, que acontece em tempo e
etapas específicas. Neste contexto, os autores destacam que
o estudo da forma como o cérebro aprende, permite ao
professor a aplicação no meio educacional que, quando
utilizada de modo correto, traz em suas novas descobertas na
maneira de ensinar e aprender, resultados satisfatórios para
todos os envolvidos.
Seguindo esta lógica da importância do conhecimento
da neurobiologia básica da aprendizagem, Roehriget al. (2012)
ressalta que a compreensão em nível de sinalização sináptica
e áreas responsáveis por respostas emocionais envolvidas no
processo de construção do conhecimento, fornece ao
educador a ajuda necessária ao entendimento das funções
cerebrais e das maneiras de como modulá-las para se obter
respostas no ensino. Desta maneira, essas informações
orientam os educadores sobre os pontos importantes
envolvidos no processamento da informação a nível neuronal,
para que estes possam se firmar efetivamente como
motivadores notáveis aos alunos.
É possível refletir a partir das publicações de Portes
(2015), Roehriget al. (2012) e Souza e Gomes (2015) a
existência de opiniões positivas dos professores a respeito das
137
CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA PARA A EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA
potenciais capacidades dos alunos relacionando-as com a
neuroplasticidade. Tal concepção parte do aprimoramento do
desenvolvimento profissional, reformulado ao longo de
determinado período, que instiga os educadores a acreditar
em suas competências, repensar suas práticas educacionais e
a manter o estudante em plena atividade de suas funções
neuronais, modificando, assim, a estrutura cerebral.
Para Roehriget al. (2012) os procedimentos
metodológicos inovadores, presentes no campo da
neurociência, para no avanço profissional do corpo docente,
permite o alcance de uma maior participação dos alunos na
execução de suas aptidões cognitivas. O que, por
consequência, gera ganhos significativos no ambiente de
aprendizagem para além do ensino mecanizado.
No entanto, Sousa e Gomes (2015) alertam que deve-
se ter em mente que o âmbito neurocientifíco não sugere uma
nova pedagogia, como também não dispõe de medidas
definitivas para superar as dificuldades da aprendizagem.
Suas particularidades estão voltadas para a contribuição da
fundamentação das práticas pedagógicas que já funcionam e
na sugestão de novas formas intervencionais, com o objetivo
de mostrar que as técnicas educacionais que relacionam-se
com as funções cerebrais estão mais propensas a eficiência
por utilizarem de uma abordagem mais científica que tem base
nos processos cognitivos.
Neste sentido, a neurociência e as concepções
pedagógicas fornecem aos professores a possibilidade de
reflexão de seus métodos, para, assim, apresentarem um
planejamento mais aperfeiçoado com discussões substanciais
de dados e conceitos, na finalidade de estabelecer
oportunidades de aprendizagem com uma compreensão
138
CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA PARA A EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA
aprofundada do conteúdo, e que produzem efeitos
verdadeiramente aditivos para o educando (ROEHRIG et al.,
2012).
Isto posto, Souza e Gomes (2015) instruem que o
educador, tendo como base os diferentes estilos de
aprendizagem dos educandos, e sabendo que, além de serem
todos passíveis de aprender, são agentes ativos do próprio
conhecimento, pode combinar o seu método com os fatores de
impulso ao aprendizado, funcionando como uma força de
apoio à escolarização que desenvolve as potencialidades dos
aprendizes. Para isso, é preciso que se estabeça um ambiente
que permita a estimulação e respeite o tempo de
desenvolvimento intelectual, utilzando-se de uma dosagem
adequada de atividades para os diferentes indivíduos.
Do ponto de vista de Roehriget al. (2012), a qualidade
do ensino e a educação dos conceitos de neurociência em
sala de aula, são resultados de um estudo sustentado da
ciência que favorecem o desenvolvimento profissional dos
professores. Estes, ao demonstrarem confiança nos
conhecimentos científicos acerca dos mecanismos neuronais
envolvidos na aprendizagem e na capacidade de transmiti-los
adequadamente, através da adoção de métodos de
acompanhamento do processo que se mostram eficazes com
melhoras contínuas da habilidade de ensinar, conseguem
expressar o crescimento técnico de suas práticas.
O autor aludido assinala ainda que transformar os
métodos profissionais dos professores em práticas
sustentadas de ensino causam impacto na educação, em tal
ponto que, é possível criar uma cultura de aperfeiçoamento. A
metodologia de reproduzir o conhecimento partindo-se de
técnicas intervencionais, resulta na obtenção de competências
139
CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA PARA A EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA
pedagógicas otimizadas e na habilidade de guiar a turma por
meio do caminho científico.
Considera-se relevante, nesta configuração, o que foi
explanado por Portes (2015) quanto a integração dos
conhecimentos neurológicos, psicológicos e educacionais
como sendo determinantes para o planejamento educacional.
Assim, para o autor, a introdução de saberes básicos da
neurociência nas normas curriculares da formação de
professores pode torná-los informados e críticos sobre as
estratégias de ensino com base no funcionamento cerebral.
4 CONCLUSÕES
140
CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA PARA A EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA
solução para as disfunções de aprendizagem e outros
processos da educação básica, mas como uma ferramenta de
direcionamento e formação de estratégias para os educadores
na experiência que vivem em sala de aula. Dentro dessa
perspectiva, ainda que já se percebam avanços, o que tem
sido apresentado pela literatura, através das pesquisas que
relacionam a neurociência com a educação, tem um grande
caminho a ser percorrido para chegar na prática educacional
com efetividade.
É importante ressaltar ainda, que os estudos atuais
despertam uma reflexão sobre a necessidade de interação na
formação dos educadores com os pesquisadores no âmbito da
neuroeducação, de maneira que se torne possível o acesso
factual às ferramentas de transformação da educação e assim
contribuir para o preenchimento das lacunas ainda presentes
no cenário educacional.
Destarte, espera-se que este estudo possibilite novas
reflexões acerca da interação entre a neurociência, educação
e aprendizagem e infere-se, nesta configuração, a
necessidade da inclusão desta temática desde a formação
destinada ao profissional de educação, com vistas a
disseminar o conhecimento acerca dos achados em
neurociência para esta área, além de garantir a sensibilização
dos profissionais para os avanços e, consequente mudanças
visando melhorias nas metodologias aplicadas no contexto de
ensino.
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143
EXPERIÊNCIAS E REAÇÕES FRENTE AO TRAUMA: ALTERNATIVAS PARA A
SAÚDE MENTAL
CAPÍTULO 8
144
EXPERIÊNCIAS E REAÇÕES FRENTE AO TRAUMA: ALTERNATIVAS PARA A
SAÚDE MENTAL
experiências traumáticas na amostra considerada, além de
ressaltar diferentes possibilidades de consequência após o
trauma. Pode-se chamar atenção para a vivência subjetiva do
evento traumático ao abordar as atuais classificações dos
transtornos relacionados as experiências estressoras e sugerir
que profissionais da área da saúde, para além da patologia,
não negligenciem a possibilidade de superação, novas
aprendizagens e adaptação saudável.
Palavras-chave:Eventos traumáticos. Transtornos.
Adaptação.
1 INTRODUÇÃO
147
EXPERIÊNCIAS E REAÇÕES FRENTE AO TRAUMA: ALTERNATIVAS PARA A
SAÚDE MENTAL
sentimento de não conseguir se desvencilhar da lembrança do
trauma (RIVERA, 2007).
Por outro lado, a concepção do ser humano como
capaz de transformar experiências adversas em
aprendizagens tem sido um tema muito tratado na literatura,
poesia, filosofia. No tocante ao interesse da Psicologia pelo
estudo do trauma, o que se deve salientar é que os estudos
realizados limitavam-se em focalizar na patologia observada
após a pessoa vivenciar um trauma, ou seja, apenas a
consequência negativa desta vivência, centralizando assim os
estudos, como menciona Fonseca (2011), na tentativa de
correção de danos adquiridos após o evento traumático e
levando em consideração apenas a necessidade de alívio dos
envolvidos.
Este cenário é percebido historicamente, e de acordo
com Seligman (2002) a negligência no estudo dos aspectos
positivos e virtuosos dos seres humanos pela ciência
psicológica tem como base o pensamento dominante da
psicologia, que é direcionado aos aspectos "anormais". Deste
modo, a questão mais interessante do comportamento
humano não era representada pela média da população, mas
pelo improvável e diferente, que se apresentava e se
enquadrava no contexto de buscar correções, sendo centrada
na visão equivocada de que a ausência de enfermidades
significa bom funcionamento psíquico (CARDOSO, 2013).
Além disso, outros motivos são apontados por Fonseca
(2011) e Paludo e Koller (2007), que justificam a desmotivação
pelos estudos dos aspectos positivos do ser humano.
Segundo esses autores, existe uma tendência aos temas que
afligem a humanidade, sendo as experiências negativas
responsáveis por grande parte desses conflitos. Ademais
148
EXPERIÊNCIAS E REAÇÕES FRENTE AO TRAUMA: ALTERNATIVAS PARA A
SAÚDE MENTAL
ressalta-se que as experiências promotoras da felicidade
passam despercebidas, entretanto, Seligman (2002; 2005)
sinaliza que a psicologia deve aumentar o seu campo de
estudo, reforçando o que há de melhor nas pessoas,
emergindo a necessidade de compreensão dos aspectos
positivos da personalidade, como por exemplo, a satisfação,
alegria, autoconfiança, esperança, humor, entre outros que
podem proporcionar o bem estar e a qualidade de vida.
Nessa linha, outra perspectiva acerca de vivenciar o
trauma é trazida por Lau et al. (2013), que aborda os eventos
traumáticos como oportunidades de crescimento por meio da
dor e para possibilitar novos horizontes, sendo que as pessoas
podem ser iluminadas para assumir uma nova perspectiva na
vida e desenvolver a perseverança através das dificuldades;
da mesma forma Cann et al., (2010) e Triplett, Tedeschi,
Cann, Calhoun e Reeve (2012) os quais comentam que a
vivência de um evento traumático pode levar ao reexame dos
principais elementos das crenças que definem a própria visão
de mundo. Assim, quanto maior a necessidade de reexaminar
as crenças, maior será a probabilidade de experienciar
crescimento após o trauma.
Vale destacar que, segundo Madeira (2013), os
acontecimentos, vivenciados universalmente, são tomados
como “potencialmente traumáticos”, pois a relação com o
trauma é encarada de forma subjetiva, na qual nem todas as
pessoas reagem de forma igual à situação e nem se
desestabilizam em situações extremas (VÁZQUÉZ et al.,
2008). Assim, uma situação que para uma pessoa é uma
experiência estressora, para outra pode não gerar
consequências negativas. Logo, o estudo do trauma deve ser
encarado individualmente, não devendo haver generalizações
149
EXPERIÊNCIAS E REAÇÕES FRENTE AO TRAUMA: ALTERNATIVAS PARA A
SAÚDE MENTAL
de níveis e gravidades, sendo a forma como as pessoas
processam o evento traumático determinante para que o
trauma se apresente ou não (RIVERA, 2007).
Segundo Maia e Resende (2008) a investigação tem
mostrado que a exposição traumática não é uma experiência
rara, e que ela aumenta a probabilidade de desenvolver
perturbações físicas e psicológicas. Esta constatação tem
impulsionado vários pesquisadores a desenvolverem
instrumentos que procuram avaliar a exposição a
acontecimentos potencialmente traumáticos. Ademais,
Fonseca (2011) mostra que as reações frente ao trauma
sempre estiveram sujeitas a controvérsias.
Nesse cenário, buscando disponibilizar um instrumento
adaptado para pesquisadores brasileiros e esclarecer as
controvérsias, reunindo diferentes possibilidades de respostas
frente ao trauma apontadas pela literatura, o presente trabalho
objetiva-se: (1) adaptar para o português brasileiro um
questionário que possibilita conhecer a prevalência das
experiências traumáticas; (2) identificar a frequência de
eventos traumáticos em moradores do estado do Piauí e; (3)
apresentar possibilidades de respostas frente ao trauma
apontadas pela literatura especializada na área.
2 MATERIAIS E MÉTODO
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
152
EXPERIÊNCIAS E REAÇÕES FRENTE AO TRAUMA: ALTERNATIVAS PARA A
SAÚDE MENTAL
Maia e Resende (2008), 80,5% da sua amostra vivenciou mais
do que um evento adverso durante o ciclo vital.
153
EXPERIÊNCIAS E REAÇÕES FRENTE AO TRAUMA: ALTERNATIVAS PARA A
SAÚDE MENTAL
A partir dos resultados, pode-se observar que todos os
acontecimentos, excetuando o evento: “ter sido tocado ou ter
tocado em alguém de forma sexual, devido a ameaças ou uso
de força, depois dos 16 anos”, foram apontados por pelo
menos um participante. Além de verificar que 47,02% dos
participantes relataram que vivenciaram mais de um evento
traumático.
Na amostra foi encontrado também maiores frequências
dos relatos para os eventos: “morte inesperada de um familiar
ou amigo próximo (79 vezes), morte de um familiar ou amigo
próximo (51 vezes), assistir a violência entre membros de
família (27 vezes), assistir a um acidente grave (25 vezes),
divórcio parental (25 vezes), problemas financeiros graves (25
vezes), experiência de abuso emocional (ex. ridicularizado,
ignorado) (25 vezes), ser assaltado ou sofrer um ataque físico
(23 vezes), além de outros acontecimentos traumáticos que
não constavam na lista (27 vezes) e relatar não ter vivenciado
algum evento diretamente, mas ter tido conhecimento de
ocorrência de acontecimentos com pessoas próximas (24
vezes).
Destacam-se assaltos, violência entre familiares e
problemas financeiros graves foram apontados
frequentemente pelos participantes, tais eventos podem
ilustrar e caracterizar o contexto em que a amostra se
encontra, região pouco abastarda financeiramente.
Especificamente, chama-se atenção que a frequência
calculada apontou que, assim como em estudo feito por Maia
e Resende (2008) dentre todos os eventos, o enfrentar uma
morte inesperada de um familiar ou amigo próximo, foi
relatado com maior frequência pelos participantes. Acerca
disto, Holmes e Rahe (1967), em seu estudo de referência, já
154
EXPERIÊNCIAS E REAÇÕES FRENTE AO TRAUMA: ALTERNATIVAS PARA A
SAÚDE MENTAL
reconheciam a morte de uma pessoa como um dos mais
severos desestruturastes da saúde mental na vida adulta.
É possível discutir que, de maneira geral, os resultados
dão suporte empírico para os estudos de Bonanno (2004) e
Ozer; Best; Lipsey e Weiss (2003), esses asseveram que a
maioria das pessoas é exposta a, pelo menos, uma situação
violenta ou potencialmente ameaçadora durante o seu ciclo
vital. Podendo acarretar em um trauma extremo, com dano
estrutural da organização do self, causando, por exemplo,
dúvida, culpa, vergonha, incerteza, vulnerabilidades,
tendências autodestrutivas e sentimentos de depressão
(TORRES BERNAL; MILLE, 2011). Estes mesmos autores
mencionam que o impacto do trauma pode ser muito forte e
multidimensional, pois afeta a estrutura individual da vítima,
ocasionando consequências negativas para sua saúde mental,
assim como as suas relações interpessoais e as dimensões do
funcionamento comportamental.
Atualmente, o DSM-5 estabelece diferentes
diagnósticos relacionados à exposição a um evento
considerado traumático ou estressante, que resulta em
sofrimento psicológico, prejuízo social, profissional e em
outras áreas importantes da vida. Ademais, a apresentação
clínica dos transtornos é caracterizada por sintomas de
ansiedade, medo, anedonia, disforia, externalizações da raiva,
agressividade e sintomas dissociativos (AMERICAN
PSYCHIATRIC ASSOCIATION, APA, 2013).
Por outro lado, pode-se incluir nessa discussão, a ideia
de vivência subjetiva de um evento adverso, considerado
como potencialmente traumático. Conforme mencionado por
Madeira (2013), uma experiência traumática não
necessariamente proporciona uma patologia. Nesse sentido,
155
EXPERIÊNCIAS E REAÇÕES FRENTE AO TRAUMA: ALTERNATIVAS PARA A
SAÚDE MENTAL
na literatura encontram-se diferentes consequências, mesmo
que antes o foco dos estudos estava nas consequências
negativas como padrão de reação, onde pessoas que não
sofreriam por vivenciar uma situação adversa eram
consideradas com uma força emocional excepcional ou
apresentavam alguma patologia por não apresentar sofrimento
após o evento traumático (BONANNO, 2004; MADEIRA, 2013;
VÁZQUEZ; CASTILLA; HERVÁS, 2008).
Não obstante, é possível encontrar na literatura
respostas positivas frente ao trauma. Especialmente com o
advento da Psicologia Positiva, movimento que não nega os
aspectos negativos da vivência do trauma, mas convida os
profissionais da saúde à terem uma percepção mais ampla e
diferenciada frente ao trauma, atentando-se às possibilidades
de reações frente ao mesmo, a exemplo do processo de
resiliência, encarado como habitual e presente no
desenvolvimento positivo de todos os indivíduos (CARDOSO,
2013; MADEIRA, 2013). Sendo a resiliência um conceito
original proveniente da física, ciência na qual este construto é
definido como a capacidade de um material absorver energia
sem sofrer deformação plástica. A área da saúde se apropria
do tema, tratando-o como a capacidade de manter o
funcionamento, físico e psicológico, durante situações críticas,
mantendo, assim, um equilíbrio relativamente estável no
processo psíquico (FONSECA, 2011; HERVÁS, 2009).
Para Madeira (2013), mesmo ainda não sendo possível
identificar os motivos para que uma pessoa seja resiliente,
considera-se uma adaptação positiva quando alcançam-se
expectativas sociais relativas à sua etapa de desenvolvimento,
ou quando não foram detectados sinais de desajuste, com
alterações leves e com pouca duração, características que
156
EXPERIÊNCIAS E REAÇÕES FRENTE AO TRAUMA: ALTERNATIVAS PARA A
SAÚDE MENTAL
diferenciam do processo de recuperação natural, muitas vezes
usado como sinônimo de resiliência.
Contudo, o que há no processo da recuperação natural
é um aumento moderado nos sintomas do transtorno que
acomete as pessoas, voltando gradualmente ao estado “pré-
trauma” ao longo do tempo, porém, diferentemente da
resiliência, os sintomas afetam o seu funcionamento normal.
Mas esta alteração não caracteriza a presença de uma
patologia. Corroborando isso, Fonseca (2011) afirma que após
a vivência de um trauma, a percentagem de pessoas que se
desenvolvem posteriormente uma patologia é mínima. Nessa
linha, Bonanno (2004) aponta, através de seus dados, que
85% das pessoas que passam por uma experiência traumática
segue um processo natural de recuperação e não desenvolve
nenhum tipo de transtorno.
Ainda na perspectiva de evidenciar aspectos positivos
das experiências da vida do ser humano, chama-se atenção
para o fenômeno crescimento pós-traumático. Denominado da
melhor maneira como crescimento pós-traumático, pois o
termo crescimento é devido ao nível atingido pela pessoa que
vai além do funcionamento anterior ao trauma, e pós-
traumático faz referência ao crescimento só acontecer depois
da vivência de um evento traumático (LINDSTROM; CANN;
CALHOUN; TEDESCHI, 2013).
Segundo Bluvtein, Moravchick, Sheps, Schreiber, e
Bloch (2012), Lau et al. (2013) e Tedeschi, Park, e Calhoun
(1998) esse fenômeno é conceituado como mudanças
psicológicas positivas que o indivíduo experimenta como
resultado de um processo de luta frente a vivência de grandes
crises ou eventos traumáticos. Tais mudanças foram
estudadas e organizadas originalmente por Tedeschi e
157
EXPERIÊNCIAS E REAÇÕES FRENTE AO TRAUMA: ALTERNATIVAS PARA A
SAÚDE MENTAL
Calhoun (1996) em categorias e a partir de investigações
recentes (CALHOUN; TEDESCHI, 2012; DUARTE, 2012;
OSEI-BONSU, et al., 2012; TAKU; KILMER; CANN;
TEDESCHI; CALHOUN, 2012) são identificadas mudanças na
apreciação de vida no geral, relações interpessoais mais
significativas, aumento do sentimento de força pessoal,
mudanças das prioridades e uma vida espiritual e existencial
mais abundante, caracterizando assim um constructo
multidimensional, que preconiza no qual as pessoas podem vir
a experienciar mudanças positivas em algum destes domínios
e não vivenciar mudanças ou ser negativas em outros.
No que se refere as evidências empíricas desse
fenômeno, na literatura, encontram-se diferentes pesquisas
que avaliam o crescimento pós-traumático em pessoas que
passaram por diferentes situações. A exemplo de indivíduos
que sobreviveram à doença grave no coração (BLUVTEIN;
MORAVCHICK; SHEPS; SCHREIBER; BLOCH, 2012), que
estavam fazendo tratamento de leucemia (DANHAVER et al.,
2012), passaram por divórcio (COUTO, 2017), pacientes com
câncer (TEIXEIRA; PEREIRA, 2013), sobreviventes de
guerras (KALER et al, 2011), indivíduos com HIV/AIDS
(SAWYER; AYERS; FIELD, 2010), sobreviventes de acidentes
(NISHI; MATSUOKA; KIM, 2010), mulheres traídas (LAASER;
PUTNET; BUNDICK; DEMONICO; GRIFFIN, 2017) e adultos
vítimas de assédio sexual (ULLMAN, 2014).
4 CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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163
HOMENS, SAÚDE MENTAL E VULNERABILIDADES: ADOECIMENTO PSÍQUICO
EM CONTEXTOS RURAIS
CAPÍTULO 9
164
HOMENS, SAÚDE MENTAL E VULNERABILIDADES: ADOECIMENTO PSÍQUICO
EM CONTEXTOS RURAIS
pouco saudáveis e ao uso e abuso de álcool. Ao se sentirem
fortes, resistentes e invulneráveis, não adotam
comportamentos preventivos, e tampoucoacessam os serviços
de saúde mental. Buscam ajuda médica e psicológica quando
não suportam mais, sentindo-se intensamente atingidos pelo
adoecimento, especialmente quando a situação
socioeconômica é desfavorável.
Palavras-chave: Saúde mental. Vulnerabilidades. Contexto
rural.
1 INTRODUÇÃO
165
HOMENS, SAÚDE MENTAL E VULNERABILIDADES: ADOECIMENTO PSÍQUICO
EM CONTEXTOS RURAIS
e coletivas.Os Transtornos Mentais Comuns (TMC) foram
conceituados por Goldberg e Huxley (1992), incluindo
depressão não-psicótica, ansiedade e sintomas
somatoformes. Os TMC abrangem sintomas como: insônia,
fadiga, esquecimento, irritabilidade, dificuldades de
concentração, queixas somáticas e sentimento de inutilidade,
os quais demonstram ruptura do funcionamento normal do
indivíduo. Transtornos mentais comuns são comumente
encontrados em indivíduos com baixa classe socioeconômica,
mulheres e separados (COSTA & LUDEMIR, 2005). Usuários
de tabaco e álcool, assim como comportamento sedentário
também mostraram associações com TMC (PINHEIRO et al.
2007). Esses estudos encontraram relações de TMC com
vulnerabilidade social tais como: baixa escolaridade, menor
número de bens, condições precárias de moradia, baixa renda
e desemprego.
No âmbito acadêmico existe uma escassez de
investigações relacionadas ao estudo da saúde mental e
condições de vida das populações rurais, sobretudo em
relação à prevalência de Transtornos Mentais Comuns e os
elementos voltados às vulnerabilidades desta população. A
maioria dos estudos que focam essas populações se limita à
discussão acerca da produtividade, sustentabilidade,
agricultura familiar, violência no campo, conflitos agrários e
fundiários.
No quadro da vulnerabilidade, como ressaltado por
Ayres, Paiva e França Jr. (2012), o indivíduo é compreendido
como intersubjetividade e como ativo construtor, e não apenas
resultado (efeito) das relações sociais, que devem ser, então,
remodeladas para garantir o “comportamento saudável”. O
conceito de vulnerabilidade, designa um conjunto de aspectos
166
HOMENS, SAÚDE MENTAL E VULNERABILIDADES: ADOECIMENTO PSÍQUICO
EM CONTEXTOS RURAIS
individuais e coletivos relacionados à maior susceptibilidade
de indivíduos e comunidades a um adoecimento ou agravo e,
de modo inseparável, menos disponibilidade de recursos para
sua proteção (AYRES; CALAZANS; SALLETI FILHO
&FRANÇA JR, 2016). Na perspectiva da vulnerabilidade, as
dimensões individuais, sociais e programáticas – políticas,
serviços, ações de saúde – de qualquer processo saúde-
doença-cuidado serão identificadas e inter-relacionadas pelos
sujeitos que de alguma forma estão implicados nesse
processo e buscam compreender o que ele significa.
Outro aspecto que merece ser discutido são os modelos
de masculinidade e a maneira como se dá a socialização
masculina podem fragilizar ou mesmo afastar os homens das
preocupações com o autocuidado e a busca dos serviços de
saúde. A perspectiva do cuidado masculino pode seguir um
caminho positivo quando incorpora a ideia de que ao homem
também é permitida uma atenção consigo próprio. Por outro
lado, esse cuidado também pode distanciá-lo da saúde em
geral quando atinge o limite do culto extremado ao corpo.
Alguns homens, quando promovem o cuidado de seu corpo,
cultivam um extremo fisiculturismo e, nesse aspecto, o
cuidado de si pode transformar-se em risco de adoecimento
(GOMES, 2010).
Para Connell (1995) nesses modelos de masculinidade
idealizada estão presentes as noções de invulnerabilidade e
de comportamento de risco – como valores da cultura
masculina – e a ideia de uma sexualidade instintiva e,
portanto, incontrolável. Associadas a isso encontram-se
fortalecidas suas dificuldades de verbalizar as próprias
necessidades de saúde, pois falar de seus problemas de
saúde pode significar uma possível demonstração de
167
HOMENS, SAÚDE MENTAL E VULNERABILIDADES: ADOECIMENTO PSÍQUICO
EM CONTEXTOS RURAIS
fraqueza, de feminilização perante os outros. Também na
perspectiva de gênero deve ser pensado o espaço das UBS.
Contudo, este estudo tem como objetivo estimar a prevalência
e vulnerabilidades aos transtornos mentais comuns em
homens residentes em cidades rurais, associados com fatores
socioeconômicos, de estilos de vida, busca por atendimento e
saúde mental.
2 METODOLOGIA
168
HOMENS, SAÚDE MENTAL E VULNERABILIDADES: ADOECIMENTO PSÍQUICO
EM CONTEXTOS RURAIS
apresentavam diagnóstico formal de transtornos mentais mais
graves, por exemplo, depressão e ansiedade. Também,
realizaram-se entrevistas semiestruturadas com 07
participantes, com base no método de cenas, com o intuito de
compreender os sentidos que as pessoas atribuem para as
diversas dimensões da sua vida cotidiana e, assim, decodificar
as dimensões da vulnerabilidade. Enquanto método de análise
empregou-se a análise categorial temática, proposta por
Figueiredo (1993).
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética do Centro
Universitário de João Pessoa (UNIPÊ-JP) recebendo parecer
favorável nº 316.559/13 e cumpre todas as determinações da
Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Os
participantes receberam informações acerca das fases da
investigação e seus objetivos e assinaram o Termo de
Consentimento Livre-Esclarecido. Após aprovação no comitê
de ética, deu-se início a pesquisa de campo.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
169
HOMENS, SAÚDE MENTAL E VULNERABILIDADES: ADOECIMENTO PSÍQUICO
EM CONTEXTOS RURAIS
associadas às condições de vida e à estrutura ocupacional.
Apesar de abranger uma série de sintomas, de maneira geral,
suas principais queixas envolvem sintomas físicos, de
natureza somatoforme, associados a sintomas relacionados à
diminuição da energia vital e, principalmente, queixas
somáticas e pensamentos depressivos, como pode ser
verificado nafala do participante: “eu fico muito cansado,
minhas mão tremem. Eu não consigo fazer nada, canso com
facilidade, chego a me sentir inútil. Tudo que eu faço eu canso
do nada, eu canso mesmo. Eu jogava bola, deixei, porque eu
não guento mais correr, canso rápido demais, eu não era
assim não” [Part. 02 – rural, 35 anos].
Identificou-se no contexto rural sintomas como: insônia,
fadiga, dor de cabeça, dificuldade de concentração, angústia e
tristeza o que reforçam para a necessidade de cuidados em
saúde mental, corroborando dados de outras pesquisas
(COSTA, DIMENSTEIN & LEITE, 2014) “que, além de
desencadear um sofrimento psíquico intenso, causam
incapacidade funcional comparável ou até pior aos quadros
crônicos já estabelecidos” (COSTA et al., 2014, p.146). Os
TMC correspondem à maior parte da demanda de saúde
mental que chega à rede de atenção primária, principalmente
ansiedade e depressão, fato observado, por exemplo, através
da utilização mais frequente do serviço. Vale ressaltar que os
homens investigados relataram sentir tais sintomas com certa
frequência, há algum tempo.
O adoecimento mental caracteriza-se por uma
determinação complexa que envolve as dimensões
econômica, social, política e cultural, expressando-se
diferentemente a forma como as pessoas percebem a si. No
campo da saúde/saúde mental, não obstante o
170
HOMENS, SAÚDE MENTAL E VULNERABILIDADES: ADOECIMENTO PSÍQUICO
EM CONTEXTOS RURAIS
redimensionamento epistemológico, ainda é significativa, ou
mesmo hegemônica, a influência do modelo biomédico nas
investigações voltadas a questões relacionadas ao processo
saúde-doença, predominando a dimensão técnica, em
detrimento das relações intersubjetivas.
Os homens que apresentam maior incidência de
sintomas somáticos e decréscimo de energia vital (sente-se
cansado com facilidade) apontaram tais dimensões como
fatores desencadeadores de adoecimento mental. Essa falta
de vitalidade seria um aspecto ligado ao surgimento de
doenças – sobretudo devido ao desgaste do trabalho na
agricultura e o avanço da idade, os homens de cidades rurais
devido às condições de vida, exposição excessiva ao sol e
variações climáticas sofrem um desgaste mais rápido,
comprometendo a saúde física e mental.
Outro aspecto observado nas entrevistas foi a
percepção oubanalização do sofrimento em casa, dos
amigos e serviços de saúde por parte dos homens do contexto
rural. o homem que chora, mostra fragilidade, sensibilidade e
feminilização, os participantes relatam que macho não chora.
Podemos verificar na fala dos participantes 02 e 05, a seguir.
“(...) não sou de chorar, hômi não chora, quer isso
moça, nãn. Chorar é coisa de mulher, eu sou macho todo”
[Part. 02 – rural, 35 anos].
“hômi que é macho mesmo, não chora, isso é coisa de
mulher. Mesmo se eu quisesse não conseguia, sou difícil de
chorar, até quando alguém morre da minha família sinto
dificuldade pra chorar” [Part. 05 – rural, 50 anos].
Mansano (2009) destaca que a subjetividade é uma
produção contínua que ocorre a partir dos encontros com o
outro, que produz “efeitos nos corpos” (p.11). Neste sentido, a
171
HOMENS, SAÚDE MENTAL E VULNERABILIDADES: ADOECIMENTO PSÍQUICO
EM CONTEXTOS RURAIS
subjetividade é modelada, transformada a partir do social.
Todavia, vê-se que a fragilização dos laços de confiança, das
relações comunitárias é espelho dos modos de subjetivação
da contemporaneidade, os quais caminham de maneira oposta
à questão da coletividade, e isso pode ser observado no
cenário das cidades rurais. Associada a isso, está a
dificuldade que os homens do contexto rural têm de verbalizar
o que sentem, pois falar de seus problemas de saúde pode
significar uma possível demonstração de fraqueza, de
feminilização perante os outros (GOMES, NASCIMENTO &
ARAÚJO, 2007).
Ademais, percebe-se que questões de gênero estão
bem mais presente no meio rural, o homem rural evita
expressar os seus sentimentos, por achar que chorar faz parte
do universo feminino. Questões de gênero como a expressão
de sintomas específicos pelas mulheres pode contribuir para o
processo de banalização e vulnerabilidade. De acordo com
Zanello (2014), os sintomas não são signos motivados e
imediatos, dependem de uma semiótica própria, na qual as
relações de gênero são fatores fundamentais, presentes em
seu aspecto patoplástico, ou seja, em uma sociedade onde as
diferenças entre os sexos são marcantes é comum homens e
mulheres expressarem seus sentimentos de forma diferente, o
que aponta para o caráter gendrado dos sintomas, ou seja, o
modo como este se manifesta (p.108). Segundo a autora, o
choro – por estar intrinsicamente ligado às emoções, à
sensibilidade – é aceito desde criança no comportamento das
mulheres, mas profundamente reprimido dentre os homens
como um sinal de fraqueza, o qual os colocaria em xeque
como “verdadeiros homens”. O que significa dizer que o choro
pode ser a manifestação de tristeza em uma mulher, mas,
172
HOMENS, SAÚDE MENTAL E VULNERABILIDADES: ADOECIMENTO PSÍQUICO
EM CONTEXTOS RURAIS
ainda que um homem não chore, isto não indica que ele não
esteja triste.
Os estudos relativos a homens e masculinidades
ganharam relevância nas abordagens de gênero nas últimas
duas décadas no país. Com relação à saúde dos homens o
referencial das masculinidades numa perspectiva de gênero
contribui para maior visibilidade dos processos de saúde e
adoecimento da população masculina (COURTENAY, 2000;
COUTO & SCHRAIBER, 2005). Os estudos em saúde mental
realizados sob a perspectiva das relações de gênero são
ainda incipientes, tanto internacionalmente, quanto na
realidade brasileira.
Destacam-se estudos como o de Courtenay (2000), que
assinala a importância em considerar elementos relativos às
práticas e comportamentos não saudáveis adotados pelos
homens a partir de uma perspectiva de gênero que considere
as dimensões de iniquidade social e poder, na medida em que
essas são manifestações visando demonstrar padrões
hegemônicos de masculinidade (GOMES, NASCIMENTO &
ARAÚJO, 2007) reconhecidos como característicos do ser
homem, como viril, forte, invulnerável e provedor. Tais
sentimentos foram evidenciados no contexto rural. Como pode
ser verificado no discurso dos participantes.
“homem tem que trabalhar, é o chefe da família, tem
que manter a casa. A mulher cuida dos filhos e o homem vai
trabalhar pra colocar comida dentro de casa” [Part. 01 – rural,
24 anos].
“eu mantenho a casa, minha esposa não trabalha em
nada, só eu mesmo” [Part. 02 – rural, 35 anos].
Sabo (2002) e Courtenay (2000) demonstram que, na
construção de gênero, muitos homens assumem riscos que
173
HOMENS, SAÚDE MENTAL E VULNERABILIDADES: ADOECIMENTO PSÍQUICO
EM CONTEXTOS RURAIS
interferem em suas condições de saúde. Essa construção
também define a forma como os homens usam e percebem os
seus corpos. Nas perspectivas de seus modelos de
masculinidade, os homens muitas vezes assumem
comportamentos considerados pouco saudáveis, como pode
ser verificado na fala do participante 05, do contexto rural, 50
anos de idade:“não faço nada de exercício, tenho tempo não.
Isso é besteira. Isso fica para os jovens que tem tempo pra
isso (...) minha mulher faz caminhada, mulher gosta mais de
cuidar do corpo (...) cuidar do corpo, isso é mais pra mulher”
[Part. 05 – rural, 50 anos], comportamentos como esses que
estão relacionados a um modelo de masculinidade idealizada,
a masculinidade hegemônica (CONNELL, 1995: 186).
Partindo do pressuposto que essas questões são social
e culturalmente construídas, torna-se necessário relativizar
essa cultura patriarcal. Não olhar o cuidado e o cuidar
somente na perspectiva feminina, mas compreender nas
diferenças, como se processa o cuidado no universo
masculino. Nesse sentido, estudos têm apontado que a
responsabilidade social do cuidado, historicamente atribuído
ao gênero feminino, está aos poucos deixando de ser de
exclusividade das mulheres, tendo em vista que se
encontraram alguns cuidadores homens mais envolvidos
afetivamente com o cuidado da família, dos filhos, dos doentes
e com o autocuidado (FLORES, BORGES, BUDÓ& SILVA,
2011).
O ideal de homem (viril, forte, invulnerável e provedor),
entretanto, vem sendo abalado a partir dos questionamentos
dos movimentos feministas (anos 70) e de gays (anos 80).
Tais questionamentos, que rechaçam as bases naturalistas da
dominação masculina, possibilitaram abrir um imenso campo
174
HOMENS, SAÚDE MENTAL E VULNERABILIDADES: ADOECIMENTO PSÍQUICO
EM CONTEXTOS RURAIS
de pesquisas que abarcassem a discussão da masculinidade
a partir de outro enfoque (WELZER-LANG, 2004). No entanto,
conforme sublinham Zanello (2014), essa exigência para que
os homens cumpram ou realizem sua “essência” masculina é
motivadora de tensões e conflitos permanentes, uma vez que
“os homens acabariam assim por serem oprimidos por sua
própria opressão”, adoecendo nesse lugar daquele que tem
que dar conta de tudo (a todo custo).
No que tange à Política Nacional de Saúde Mental, não
há uma diretriz estabelecida de atenção e cuidado à
população rural, apesar de constituir um coletivo cujas
especificidades geram demandas particulares associadas às
condições de vida e trabalho e, consequentemente, de
atendimento especializado nos casos de transtornos mentais e
dependência química. Mesmo na mais recente política pública
voltada à saúde integral das populações do campo e da
floresta (BRASIL, 2011). Verifica-se que não há qualquer
referência à saúde mental, seja para indicar as
particularidades territoriais, sociais e culturais que marcam os
modos de vida dessas populações e, consequentemente, as
necessidades de saúde os modos de adoecer e de cuidado,
seja para nortear o planejamento e ordenamento das redes de
atenção, assim como a oferta de ações e serviços de caráter
psicossocial.
Por outro lado, fica evidente no contexto rural a falta de
psicólogos e o desinteresse na procura por tratamento
psicológico por parte dos moradores rurais, seja por não
acessar a rede de serviços de saúde primária e especializada
ou por arraigar a psicologia a doença mental, bem como não
são atingidos pelos programas de saúde ou de assistência
social. Verificou-se nas cidades rurais paraibanas a falta de
175
HOMENS, SAÚDE MENTAL E VULNERABILIDADES: ADOECIMENTO PSÍQUICO
EM CONTEXTOS RURAIS
profissionais de psicologia. Os moradores sinalizaram que não
existe psicólogo/a na cidade e, quando necessitam de
atendimento psicológico tem que procurar em outras cidades,
que na maioria das vezes, não conseguem se deslocar para a
capital ou para outros municípios, seja pelas péssimas
condições financeiras ou por dificuldades em conseguir
transporte.
Identificou-se, também, a presença nesta população de
preconceitos e/ou crenças ainda arraigadas sobre a loucura, o
que pode dificultar a procura por médicos psiquiatras ou
psicólogos, por considerar tais profissionais como “médico de
doido”. Apesar da propagação dos pressupostos da Reforma
Psiquiátrica em âmbito nacional, a expansão dos CAPS, o
maior conhecimento da população sobre a loucura e os
direitos dos pacientes com transtornos mentais, ainda é
possível encontrar representações estigmatizadas do
sofrimento psíquico associado à loucura, assim como a
fragilidade e a vergonha em ter um transtorno mental, ser
“doente mental”. Como pode ser verificado nas falas abaixo.
“sei lá, tenho vergonha (...) as pessoas aqui falam que
psicólogo é pra doido (...) por enquanto não preciso de
psicólogo, não sou doido” [Part. 01 – rural, 24 anos].
“não tenho problema na cabeça, psicólogo é mais pra
quem tem doença na cabeça” [Part. 02 – rural, 35 anos].
A perspectiva do cuidado masculino pode seguir um
caminho positivo quando incorpora a ideia de que ao homem
também é permitida uma atenção consigo próprio. A
reivindicação de uma política de saúde mais integral voltada
para a população masculina poderia, no primeiro momento,
ser aceita como uma oposição aos programas de gênero
destinados à saúde da mulher (KEIJER, 2003). No entanto, é
176
HOMENS, SAÚDE MENTAL E VULNERABILIDADES: ADOECIMENTO PSÍQUICO
EM CONTEXTOS RURAIS
a partir da própria dimensão de gênero que se advoga uma
abordagem também do masculino, uma vez que tanto homens
quanto mulheres necessitam ser vistos em sua singularidade e
em sua diversidade no âmbito das relações sociais mais
amplas que estabelecem (GOMES, 2003).
No contexto rural, o apoio social ainda é restrito, isso
fica explícito nos relatos dos participantes, os quais
mencionaram que no meio rural os moradores não veem com
simpatia os indivíduos que estão em sofrimento mental,
tratando-os de forma preconceituosa ou com desprezo, como
pode ser constatado na fala do participante 01, com 24 anos
de idade, “tem um rapaz aqui que tem problema mental, as
pessoas diz que ele é doido. Vez ou outra ele vai pra capital
fazer exames (...) eu mermo não sou de contar meus
problema pra família (...) fico calado, pra quê, eles vão se
preocupar e não entende o que eu sinto. Prefiro falar pro
amigo, acho melhor”.
Neste sentido, é importante investir em redes de apoio
social com a criação de grupos de cuidado social em que os
homens recebam informações sobre os mais diversos
assuntos e tenha atividades diferenciadas que promovam
interação com os demais membros e priorize o envolvimento
comunitário para aumentar a confiança consigo mesmo, a
satisfação com a vida e a capacidade de enfrentamento dos
problemas cotidianos.O adoecimento psíquico masculino, de
acordo com alguns participantes acarreta em uma ruptura
brusca em suas trajetórias de vida. Significando a exclusão
destes do espaço público. Na esfera privada, se confinam e se
estabelece uma rotina marcada pela ociosidade. Percebe-se
que o CAPS desempenha a única ligação destes com a
177
HOMENS, SAÚDE MENTAL E VULNERABILIDADES: ADOECIMENTO PSÍQUICO
EM CONTEXTOS RURAIS
sociedade e, portanto, se cria uma maior dependência com
essa instituição.
Face o exposto, Santos (2009) aponta o
adoecimento psíquico masculino como um fracasso social,
considerando que o homem “doente” é excluído da esfera
pública e confinado no espaço privado, marcado pela rotina e
ociosidade. Podemos ainda acrescentar a essa perda de lugar
social de provedor, a impotência sexual decorrente da me-
dicação, resultando numa falência completa dos aspectos
mais valorados na constituição masculina. Trata-se de uma
impotência “forçada” (ZANELLO & WINDMÖLLER, 2016) que
estagna o louco em um novo lugar social. Assim, ao se
questionar uma prática reificadora no campo da saúde mental,
que acaba por coisificar a “doença” e reduzir o sujeito a um
corpo biológico (assim como a compreensão prevalente na
cultura reduz as diferenças de gênero a mecanismos
biológicos e hormonais), a análise das relações de gênero
pode propiciar uma ampliação dos debates, uma vez que
destaca aspectos gendrados da experiência do sofrimento
psíquico. Ainda, de acordo com Zanello (2014), na cultura
ocidental, os homens são subjetivados em um ideal
hegemônico de virilidade, no qual se deve suprimir a
expressão afetiva de fragilidade, o que os leva a raramente
chorar em público ou na frente de outra pessoa.
A ausência desse sintoma poderia levar à não
percepção da tristeza em muitos homens e,
consequentemente, ao não diagnóstico de depressão dentre
eles. Zanello (2014) aponta, assim, a falibilidade de se fiar em
dados epidemiológicos na área de saúde mental, sem criticar
sua base epistemológica, sobretudo pelo viés de gênero.
Nesse sentido, a falta de questionamento poderia levar a um
178
HOMENS, SAÚDE MENTAL E VULNERABILIDADES: ADOECIMENTO PSÍQUICO
EM CONTEXTOS RURAIS
hiperdiagnóstico de depressão entre mulheres e a um
subdiagnóstico no caso dos homens.
Em relação à busca por assistência à saúde e às
representações masculinas de saúde adoecimento e cuidado,
alguns estudos qualitativos identificam barreiras para a
presença masculina nos serviços de saúde. Para Valdés e
Olavarría (1998); Gomes e Nascimento (2006), as dificuldades
dos homens têm a ver com a estrutura de identidade de
gênero (a noção de invulnerabilidade, a busca de risco como
um valor), a qual dificultaria a verbalização de suas
necessidades de saúde no contexto da assistência. Recentes
investigações acerca das percepções dos homens sobre os
serviços de atenção primária apontam que estes se destinam
às pessoas idosas, às mulheres e às crianças, sendo
considerados pelos homens como um espaço feminilizado, o
que lhes provocaria a sensação de não pertencimento àquele
espaço (FIGUEIREDO, 2005; GOMES, NASCIMENTO &
ARAÚJO, 2007). Sentimento expressado pelo participante 02.
“às veze você tá com uma dor de cabeça ou uma dor no
joelho, ou outro fato qualquer, você vai no médico, aí chega lá
você encontra 30, 40 mulher esperando pra ser atendida por
um médico ou uma médica, ou seja...você sozinho, um
homem, é chato né. Você não tem aquele costume de tá indo
frequente, como as mulher vão frequentemente, é chato, é
muito chato” [Part. 02 – rural, 35 anos].
Nas cidades rurais, onde o acesso a serviços e
cuidados em saúde mental são escassos, a existência de uma
rede informal de cuidados se mostra significativa, pois,
usualmente, é o único instrumento que os homens dispõem
para ajudá-los a amenizar seu sofrimento no dia-a-dia.
Ademais, é possível perceber que os homens das cidades
179
HOMENS, SAÚDE MENTAL E VULNERABILIDADES: ADOECIMENTO PSÍQUICO
EM CONTEXTOS RURAIS
rurais utilizam mais os serviços públicos, em especial o PSF e
o hospital público, em busca de pronto-atendimento, sendo o
cuidado com a saúde mais curativo do que preventivo. Desta
forma, as mudanças sociais incidem de forma diferenciada nos
sujeitos que vivem o mundo em tempos e espaços diferentes.
4 CONCLUSÕES
180
HOMENS, SAÚDE MENTAL E VULNERABILIDADES: ADOECIMENTO PSÍQUICO
EM CONTEXTOS RURAIS
população e seguimento de continuidade dos cuidados, na
própria comunidade. É de suma importância investir em redes
de apoio social com a criação de grupos de cuidado social em
que os homens recebam informações sobre os mais diversos
assuntos e para que possam lidar com os mais diversos
problemas existentes na vida cotidiana.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
183
INFLUÊNCIA SOCIAL DA MÍDIA E A DITADURA DA BELEZA EM
ADOLESCENTES
CAPÍTULO 10
1 INTRODUÇÃO
185
INFLUÊNCIA SOCIAL DA MÍDIA E A DITADURA DA BELEZA EM
ADOLESCENTES
As pessoas muitas vezes são influenciadas por
mensagens televisivas, assim essa passa a ser vista como um
veículo formulador de opiniões. Todos os indivíduos podem
influenciar e ser influenciados, entretanto, os adolescentes por
ainda estarem construindo sua identidade, passam a ser um
público mais susceptível a influência social. É necessário
apreender o porquê dos adolescentes estarem mais
vulneráveis a influência, assim como, a importância e efeitos
da mídia na sociedade atual.
Dentre os valores que a mídia divulga está a crescente
valorização da beleza. De acordo com Ferreira (2013), nas
últimas décadas observa-se uma crescente valorização da
beleza física como um dos aspectos centrais de influência nas
relações humanas, sobretudo no que diz respeito às mulheres.
Black e Sharma (2001), afirmam não haver dúvida de que as
mulheres são mais afetadas pelos ideais de beleza, por serem
mais cobradas e julgadas quanto à sua estética física.
Segundo Teixeira (2001), a Psicologia trabalha com
dados biológicos e matriz de comportamentos sociais
importantes, então é natural que a percepção da beleza como
um fato essencialmente objetivo seja objeto de estudo da
Psicologia. Destaca-se nesse contexto a cobrança social por
um corpo ideal, a forma como a mídia e a indústria da beleza
contribuem para a divulgação da cultura do culto ao corpo, e
quais as consequências na vida das pessoas que buscam
esse ideal, pois o estereótipo de beleza difundido nos meios
de comunicação são inatingíveis para a maioria das mulheres,
e isso gera muitas vezes problemas na saúde emocional e
distúrbios alimentares, sendo assim, as pessoas passam a ter
uma visão negativa do seu próprio corpo, deturpando a
imagem de si mesmo.
186
INFLUÊNCIA SOCIAL DA MÍDIA E A DITADURA DA BELEZA EM
ADOLESCENTES
O interesse em realizar o presente estudo surgiu das
evidências de valorização excessiva da aparência, da
influência da mídia na padronização de beleza, e dos reflexos
na vida do adolescente. Em última análise a temática, além de
outras contribuições que esta pesquisa pode trazer, ressalta-
se po interesse em promover e influenciar o desenvolvimento
de ações educativas, programas de prevenção, e incentivar
mais pesquisas sobre a área em discursão.
Assim, este estudo teve como objetivo apresentar o
impacto causado pela influência dos padrões de beleza em
adolescentes do sexo feminino, e para conseguir cumpri-lo os
objetivos específicos foram: destacar a disseminação dos
padrões de beleza impostos pela mídia, compreender essa
influência no desenvolvimento da autoimagem, observar a
relação do padrão pré-estabelecido com o crescimento da
indústria de beleza, e as implicações na vida das
adolescentes. E assim responder ao seguinte problema: “Qual
o impacto causado pela influencia dos padrões de beleza na
vida das adolescentes?”.
No intuito de atender este objetivo geral, o presente
estudo estrutura-se da seguinte forma, uma discussão sobre o
corpo ideal feminino no transcorrer da história, seguido da
temática da didatura da beleza, a mídia como propagadora da
beleza ideal e a influência social na adolescência. Por fim, as
considerações finais tratando das principais conclusões deste
estudo.
187
INFLUÊNCIA SOCIAL DA MÍDIA E A DITADURA DA BELEZA EM
ADOLESCENTES
2 MATERIAIS E MÉTODO
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
188
INFLUÊNCIA SOCIAL DA MÍDIA E A DITADURA DA BELEZA EM
ADOLESCENTES
No século XVII e XVIII segundo Queiroz; Otta (2000), os
critérios de beleza para uma mulher era ser branca, nunca
demasiadamente pintada, cabelos cuidados e com penteados,
bem vestida e de talhe esguio. E o modelo de roupa procurava
marcar bem a cintura, projetar os seios, e avantajar os
quadris.
No século XX a cobrança por beleza passa a ser muito
maior. As mulheres são incentivadas a fazer exercícios físicos
moderados, surgem os salões de beleza femininos, inicia-se
também consumo de cremes, maquiagens que eram
produzidos de modo caseiro ou importados da Europa.A
importância da beleza em 1920 marca uma ruptura importante,
a da primazia do corpo sobre o espírito. É dado inicio ao
banimento da mulher velha, as marcas do tempo já não serão
bem vindas, e assim se difundem os cosméticos que
prometem acabar com estas.
Além de jovem a mulher tem que ser magra, loira, ter
cabelos lisos e finos. Cabelos crespos e muito ondulados eram
mal vistos, pois remetiam a traços da raça negra. Surge a
necessidade de manter uma forma física que baste por si só,
sem precisar de mecanismos externos, como os espartilhos. O
que na atualidade observa-se que isso se exarceba, pois
substitui-se a necessidade de sutiãs por prótese de silicone,
de cintas por retirada de gordura via lipoaspiração,
etc.(BERGER, 2006).
De acordo com Cassimiro e Galdino (2012) para ser
incluído em determinado grupo ou tribo às vezes é necessário
negar suas próprias escolhas, pois quando isso não acontece
se assume o risco de ser excluído. Os padrões de corpos
exigidos pela sociedade não são construtos pessoais, mas
uma imposição do consumismo de uma sociedade narcisista.
189
INFLUÊNCIA SOCIAL DA MÍDIA E A DITADURA DA BELEZA EM
ADOLESCENTES
A seguir serão tratados temas refrentes a cobrança de um
ideal de beleza.
190
INFLUÊNCIA SOCIAL DA MÍDIA E A DITADURA DA BELEZA EM
ADOLESCENTES
tormento teria mudado do fogo do inferno para a balança e o
espelho.
Para Klafke (2011) as pessoas já se olham no espelho
procurando imperfeições a serem corrigidas, e não para
admirar a própria imagem. Em sociedades que valorizam o
consumismo é comum ver a realização associada à vaidade,
um exemplo disso é quando consumidores buscam produtos,
serviços e bens materiais como uma forma de documentar o
sucesso da realização pessoal (FREIRES, 2013).
De acordo com Teixeira (2001) os investimentos feitos
na beleza financeiros, psicológicos ou físicos se justificam
pelas recompensas sociais, emocionais e até materiais que a
beleza pode oferecer, como a obtenção de um emprego e ser
escolhido como parceiro amoroso por exemplo.
Assim, são as punições e as recompensas que
reforçam essa busca incessante, pois caso não atinja os
padrões as pessoas passam a se sentir culpadas. Wollf (1992)
diz que embora se saiba que a beleza não é universal, nem
imutável, o mundo ocidental finge que todos os ideais de
beleza feminina se originam de uma Mulher Ideal Platônica. E
que se lhes fosse dada a escolha a maioria das mulheres
preferiria um eu sexual e corajoso e não a imposição de outro
eu lindo e genérico.
A mídia tem um papel muito importante na divulgação
do padrão considerado ideal. Para Gomes (2004), a mídia
exerce grande influência na formação de opinião, pois o
discurso é usado associado à imagem de fatos, pessoas ou
instituições. A imagem se torna pública e se assemelha à
opinião das pessoas. Sobre a imagem, Moscovici (1981 apud
JUSTO; CAMARGO, 2013 p. 24) afirma que “os estímulos
191
INFLUÊNCIA SOCIAL DA MÍDIA E A DITADURA DA BELEZA EM
ADOLESCENTES
sensoriais que chegam ao sujeito são modulados por valores
coletivamente partilhados”.
Na adolescência essa influência é ainda mais relevante.
De acordo com Azambuja (1995), a televisão é um celeiro de
modelos de identidade, pois a partir da terceira infância parte
da admiração que tinham pelos pais, avós e tios é transferida
aos atores, atrizes, jornalistas e apresentadores da televisão,
cinema, rádio.
De acordo com Bandura (2002) e Azzi (2010), muito
dos comportamentos são aprendidos e moldados através da
observação, e desta forma os meios de comunicação
desempenham um importante papel na transformação de
ideias, valores e formas de comportamento.
Flores (2002) e Vidigueira (2007) corroboram com a
ideia anterior, quando diz que os adolescentes sentem
necessidade de gerar modelos de identificação, e isso fomenta
a capacidade de se desenvolver adequadamente e formar
uma identidade.
Na adolescência o grupo de pares é muito importante,
pois é nele que o adolescente encontra segurança e estima; o
grupo que também permite um jogo de identificações e partilha
de segredos e experiências essenciais para o
desenvolvimento da personalidade (SILVA; SILVA; ANDRÉ,
2005).
Para uma criança ou adolescente é difícil viver fora dos
padrões culturais dos seus pares. Os modelos televisivos são
frequentemente adolescentes ou jovens adultos dentro das
mesmas faixas etárias, existindo desse modo certa
identificação, um desejo de ser o que a personagem é.
Levando-os as mesmas formas de se vestir, falar e se
comportar (VIDIGUEIRA, 2007). Cruz et al. (2008) confirmam
192
INFLUÊNCIA SOCIAL DA MÍDIA E A DITADURA DA BELEZA EM
ADOLESCENTES
o pensamento anterior, pois também acreditam que há uma
identificação dos jovens com as personagens da televisão, e
que eles desejam ser como seus ídolos.
195
INFLUÊNCIA SOCIAL DA MÍDIA E A DITADURA DA BELEZA EM
ADOLESCENTES
O Brasil é um país altamente influenciado pela estética,
e isto se reflete em números. Segundo dados da Associação
Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e
Cosméticos (ABIHPEC), a indústria da beleza no Brasil cresce
em torno de 10% ao ano desde 2001 e o faturamento líquido
sobre vendas passou de R$ 4,9 bilhões em 1996 para R$ 38
bilhões em 2013. O setor contribui com 1,8% do PIB brasileiro
(ABIHPEC, 2015).As mulheres economicamente ativas são as
principais consumidoras de produtos de beleza, mas outros
públicos como homens, adolescentes e até pré-adolescentes
têm contribuído significativamente para o aumento das vendas
do setor (SEBRAE, 2015).
Rosa (2005) retrata que a beleza é tão desejada que
vale tudo pela sua manutenção e construção, preços e riscos
são ignorados. Um exemplo disso são pessoas de baixa renda
que mesmo com condições econômicas reduzidas utilizam
recursos de cirurgias estéticas, pagando em prestações como
se estivesse comprando um objeto. Poli e Caponi (2007)
observam que a supervalorização da aparência física é
acompanhada pelo crescimento de uma medicina da beleza.
O desejo de atingir o padrão de beleza é o que provavelmente
interliga uma variedade de fenômenos cada vez mais comuns,
como a maior incidência de bulimia e anorexia, as malhações
e as cirurgias plásticas estéticas.
Outros autores também falam sobre as implicações
dessa busca na saúde das pessoas, como Maia (2011) ao
considerar que a preocupação excessiva das pessoas com a
imagem, com a necessidade de adotar corpos perfeitos e
manter-se sempre jovem, buscando muitas vezes superar os
limites biológicos do próprio corpo, tem gerado uma série de
problemas de saúde, tais como bulimia, anorexia e distúrbios
196
INFLUÊNCIA SOCIAL DA MÍDIA E A DITADURA DA BELEZA EM
ADOLESCENTES
psicológicos. Segundo Cordás (2005) grande parte das
mulheres que buscam cirurgias plásticas e tratamentos
médicos cosméticos busca satisfação em relação a sua forma
corporal, e então depois de submetidas aos mesmos,
continuam em um ciclo vicioso e incessante por essa
realização.
De acordo com Ribeiro e Oliveira (2011), a divulgação
feita pela mídia de atrizes e modelos extremamente magras
está entre os fatores de vulnerabilidade que influenciam o
desenvolvimento da anorexia nervosa, e esta seria
caracterizada por perda de peso, magreza com autoimagem
distorcida, pois se enxergam gordas, preocupação excessiva
em não engordar, adoção de dietas rígidas, jejum,
conhecimento das tabelas de calorias e excesso de atividade
física.
Para acomodar e realimentar a insatisfação com o
próprio corpo, o individuo utiliza-se de métodos como a
evitação de situações sociais, de exposição em público, de
uso de roupas mais justas ou mais curtas e de contato
próximo com os outros (ROSEN et al., 1991).
Cuch (2013) explica que o sujeito compra os produtos
de beleza com a ilusão de que este o aproximará do corpo
ideal, e quando não consegue fica cada vez mais angustiado e
doente, o que pode contribuir, por exemplo, para o
desenvolvimento de distúrbios alimentares desta forma, obem-
estar do corpo estaria então relacionado com as exigências da
sociedade.
Algumas pessoas passam a ser mais pressionadas a
estarem nesse padrão, e o sofrimento então se torna ainda
maior; os obesos seriam um exemplo claro disso. De acordo
com Vasconcelos, Sudo e Sudo (2004), o corpo passa a existir
197
INFLUÊNCIA SOCIAL DA MÍDIA E A DITADURA DA BELEZA EM
ADOLESCENTES
e ter um sentido dentro de um contexto social, que o constrói,
na atualidade o corpo magro adquiriu um sentido de corpo
ideal, e a gordura passa a ser um símbolo de falência, a
fealdade é vista como um indicador de inferioridade social.
É importante salientar que nem todas as pessoas
confrontadas com ideais sócio-culturais apresentam uma
insatisfação corporal forte ou preocupação extrema com sua
forma e seu peso. No entanto, estudos mostram que na
adolescência essa preocupação é mais acentuada (Rosa,
2005).
198
INFLUÊNCIA SOCIAL DA MÍDIA E A DITADURA DA BELEZA EM
ADOLESCENTES
busca de si mesmo e da própria identidade (SILVA; VIANA;
CARNEIRO, 2011).
Segundo Papalia, Olds e Feldman (2006), uma das
influências mais fortes é a percepção que os adolescentes têm
das normas do grupo de amigos e Festinger (1950), fala que
coesão grupal é a resultante de todas as forças que atuam
sobre os membros para permanecerem no grupo, essa
pressão serve para persuadi-los e caso não seja acatada, a
tendência do grupo é marginalizar os membros não-
conformistas. Logo, os adolescentes são um público
vulnerável a influência social.
Para Knobel (1992), é na adolescência que o individuo
estabelece sua identidade adulta proveniente de
internalizações e identificações ocorridas na infância,
principalmente na relação com seus pais, e da influencia da
sociedade em que vive.
A construção da identidade pessoal é considerada a
tarefa mais importante da adolescência, o passo crucial da
transformação do adolescente em adulto produtivo e maduro.
A formação da identidade recebe a influência de fatores
intrapessoaisque são as capacidades inatas do indivíduo e as
características adquiridas da personalidade, de fatores
interpessoaisque são as identificações com outras pessoas, e
de fatores culturaisque são valores sociais a que uma pessoa
está exposta, tanto globais quanto comunitários. Este
sentimento de ter uma identidade pessoal dá-se de duas
formas: a primeira é perceber-se como sendo o mesmo e
contínuo no tempo e no espaço; e a segunda é perceber que
os outros reconhecem essa semelhança e continuidade
(ERIKSON, 1972).
199
INFLUÊNCIA SOCIAL DA MÍDIA E A DITADURA DA BELEZA EM
ADOLESCENTES
A imagem que o indivíduo faz de si mesmos é chamada
de autoconceito. O autoconceito é formado através de como a
pessoa se percebe, e da percepção de suas relações e
comparações com os outros. Todo ser humano possui um eu
real e um eu ideal, o primeiro consiste do conhecimento de
como ele é, e o segundo de como ele gostaria de ser. De
acordo com a teoria dos processos de comparação social
citadas nas obras de Festinger (1954) muitas vezes os juízos
de valor são dependentes da comparação com outras
pessoas, e existe a tendência de projetar para os outros uma
imagem favorável, de ser visto da maneira que gostaria
(RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 2009).
A satisfação com a vida estará relacionada a um bom
autoconceito. O autoconceito relaciona-se com a percepção
que a pessoa tem de si, ele é constituído pela autoimagem,
que tem o caráter descritivo e é a forma que o sujeito se
descreve, com uma percepção relacionada ao modo que as
pessoas o percebem; e pela autoestima que é de caráter mais
avaliativo, pois é a avaliação que o sujeito faz de si, e essa
valoração é relacionada ao modo como os outros o avaliam.
Com autoimagem e autoestima positivas o sujeito terá um bom
autoconceito, e assim se conhecerá melhor (RODRÍGUEZ,
2009). De acordo com Klafke (2011, p.12), “pessoas com auto-
imagem distorcida são mais suscetíveis à ditadura da beleza e
mais propensas ao desenvolvimento de distúrbios
alimentares”.
O corpo ganha na sociedade atual grande valorização,
é importante saber a forma que o indivíduo o avalia. De acordo
com Muth e Cash (1997) a imagem corporal representa como
os indivíduos pensam, sentem e se comportam diante de seus
atributos físicos. Complementando a citação anterior, Davison
200
INFLUÊNCIA SOCIAL DA MÍDIA E A DITADURA DA BELEZA EM
ADOLESCENTES
e MacCabe (2006) e Camargo et al. (2011) define imagem
corporal como a representação mental que os indivíduos têm
do tamanho e forma do seu corpo, e essa representação é
constituída por influência de fatores históricos, culturais,
sociais, individuais e biológicos. Damasceno et al. (2006)
acredita que a imagem corporal sofre influência dos pais,
amigos, sociedade, e da mídia.
Há duas principais dimensões de imagem corporal, a
percepção e a atitude. A percepção se refere ao investimento
na imagem corporal, a importância cognitiva e comportamental
dada ao corpo e aparência. E a atitude se refere à avaliação
da imagem corporal, o grau de satisfação com a aparência e a
capacidade funcional do corpo (HARGREAVES;
TIGGEMANN, 2006; MONTEATH; MCCABE, 1997; JUSTO;
CAMARGO, 2013).
Para Conti (2008) a adolescência talvez seja a fase
mais significativa para a construção da imagem corporal, para
confirmar seu pensamento o autor cita Osório (1992) que
acredita que a imagem corporal definitiva, e a estruturação
final da personalidade, é conquistada na adolescência.
Preocupados com sua aparência os jovens são as
maiores vítimas do forte apelo estético. Muitas vezes, desde
muito cedo são educados pelos pais para serem os mais belos
e para vencer, são incentivados por um espirito de competição
e busca de aceitação social. Por outro lado, existem os pais
que demonstram aos filhos que devem se sentir bem e
satisfeitos com seu próprio jeito de ser (KLAFKE, 2011).
O adolescente apresenta maior probabilidade de
insatisfação corporal, o que pode gerar prejuízo a auto-
imagem e a auto-estima(NEUMARK-SZTAINER et al. 2006).
Alguns autores acreditam que a mídia tem relação com essa
201
INFLUÊNCIA SOCIAL DA MÍDIA E A DITADURA DA BELEZA EM
ADOLESCENTES
insatisfação, “A insatisfação com a imagem corporal aumenta
à medida que a mídia expõe belos corpos.” (NAGEL; JONES
1992, LEBRE 2002 apud DAMASCENO et al. 2006,p. 82)
Kutscka (1993) compartilha desse pensamento e diz que o
corpo ideal veiculado pela mídia leva as mulheres, sobretudo
na faixa adolescente, a uma insatisfação crônica com seus
corpos.Branco, Hilário e Cintra (2006) e Carvalho, Amaral e
Ferreira (2009) explicam que quanto mais o corpo idealizado
pelo adolescente se distanciar do real, maior será sua
insatisfação com a imagem corporal. Se as pessoas se
dedicassem a auto-aceitação física ao invés se tentar ter um
corpo perfeito provavelmente seriam mais feliz (FERNANDES,
2007). Considerando que, a busca incessante por esse padrão
de corpo ideal inatingível pode ocasionar diversos transtornos
psicológicos.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
202
INFLUÊNCIA SOCIAL DA MÍDIA E A DITADURA DA BELEZA EM
ADOLESCENTES
A mídia aliada à Indústria de Beleza certamente se
beneficiam e buscam enraizar mais ainda esse valor. O que se
torna mais fácil ao público adolescente, pois esse atribui
grande importância à avaliação dos pares, a popularidade, e
seguem como modelo de beleza aquele imposto pela
televisão.
Um grande fator que contribui também para que os
adolescentes comprem essa ideia, é a maneira que foram
educados por seus pais, tendo em vista que se desde
pequeno os pais incentivam seus filhos a serem os melhores,
os mais belos, o que mais se destacam, o discurso da mídia
passa a ser mais um reforço a essa forma de competição.
Busca-se através do debate a esse tema tornar os
adolescentes conscientes que esse processo existe e que é
prejudicial, para assim quem sabe torná-los menos vulneráveis
e aumentar sua autoestima, entendendo que as diferenças
existem e que devem ser aceitas. Também pode, por exemplo,
guiar ações educativas, programas de prevenção e incentivar
mais pesquisas sobre a área em discussão.
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INTERAÇÕES ENTRE EQUIPES DE SAÚDE E USUÁRIO DE SERVIÇOS
PSIQUIÁTRICOS
CAPÍTULO 11
1 INTRODUÇÃO
210
INTERAÇÕES ENTRE EQUIPES DE SAÚDE E USUÁRIO DE SERVIÇOS
PSIQUIÁTRICOS
de saúde mental voltado para atendimento de indivíduos
portadores de sofrimento psíquico graves em situação de
instabilidade, por meio de um programa de integração docente
assistencial.
Essa experiência foi pioneira em nossa instituição de
ensino, sendo uma estratégia que nos permitiu assumir a
contra partida desse serviço, o qual sedia nossas atividades
de estágio curricular supervisionado na Enfermagem há cinco
anos.
Na perspectiva dessa parceria entre o ensino e o
serviço, tínhamos o compromisso de capacitar à equipe de
Enfermagem que já atuava no dispositivo (enfermeiros,
técnicos e auxiliares de Enfermagem), organizando o processo
de trabalho desse serviço.
Nesse caminho, incluindo uma revisão criteriosa da
relação ser-que-cuida e ser-cuidado, com vistas à
reestruturação da assistência para essa clientela a partir do
reordenamento de estratégias que envolviam as múltiplas
dimensões das práticas de cuidado e do fazer profissional do
campo da saúde mental.
Dessa forma, tínhamos por objetivo criar um ambiente
que potencializasse nossa missão de superar a proposta
tradicional de ensino onde se apresentavam as patologias
psíquicas tão distantes da vida e do viver de pessoas em
sofrimento, sobretudo, o ensino da Enfermagem em saúde
mental e psiquiátrica, até então baseado na organização do
ambiente de cuidado, da disciplina e da medicação.
Foi nesse contexto, que observamos na transição
teórico-prática dos objetos do campo da saúde mental, que as
relações interpessoais tem se destacado como arcabouço
estrutural de todos os processos envolvidos nessa desafiadora
211
INTERAÇÕES ENTRE EQUIPES DE SAÚDE E USUÁRIO DE SERVIÇOS
PSIQUIÁTRICOS
e obscurecida conformação de habilidades e competências, no
qual a comunicação parece se estabelecer como essência
para essa nova forma de cuidar da clientela com doença
mental.
Mas cabe o ressalte de que embora o relacionamento
terapêutico ainda suscite questões importantes para a
assistência em saúde mental na contemporaneidade, o
conceito de relação terapêutica é antigo, foi cunhado em 1952,
por Hildegarde Peplau, teórica e clínica da enfermagem, que
muito contribuiu para as bases atuais da enfermagem,
sobretudo na perspectiva da comunicação terapêutica.
Estudos também tem apontado o relacionamento
interpessoal como estrutura central da prática de diversas
profissões do campo da saúde, contudo, reforçando um
caráter de complexidade em sua aprendizagem, dada sua
multi-teórica concepção o que traz subsídios para discutir a
ampliação de sua perspectiva funcional e, por conseguinte,
sua usabilidade para além de uma simples troca de
mensagens entre interagentes (VIDEBECK, 2012).
Rogers (1977), teório e nome científico seminal do tema
central desta pesquisa cujas ideias prevalecem dentro das
profissões de saúde mental, ressalta que a busca para a
proposição de uma presença terapêutica precisa considerar
uma absoluta coerência interna do terapêuta, ao contrário
poderia impor uma noção de assujeitamentos de práticas
descoladas das reais necessidades do sujeito implicado na
relação de cuidado.
Nesse caso, a autenticidade passaria a representar
para Rogers (2009) um papel instrumental nessa relação com
os usuários de serviços psiquiátricos, em que a empatia se
constituiria na habilidade principal do funcionamento dessa
212
INTERAÇÕES ENTRE EQUIPES DE SAÚDE E USUÁRIO DE SERVIÇOS
PSIQUIÁTRICOS
relação e se ajustada nesses moldes, poderíamos sim chama-
la de terapêutica.
Diante o exposto, e considerando que as relações
interpessoais mediadas pela comunicação entre os
interagentes (equipe-usuário) no contexto de cuidado da
saúde mental poderia se constituir num instrumento para um
cuidado efetivo, resolutivo, humano e ético foi que resolveu-se
realizar este estudo.
Os objetivos do estudo em tela foram: descrever a
interação equipe-usuário de serviços de saúde mental;
Identificar nessas experiências interacionais implicações para
aprendizagem teórico e prática da comunicação nas relações
de cuidado em saúde mental e; por fim, propor
recomendações para constituição de modelos de interação.
2 MATERIAL E MÉTODO
215
INTERAÇÕES ENTRE EQUIPES DE SAÚDE E USUÁRIO DE SERVIÇOS
PSIQUIÁTRICOS
correspondente à sua ordem de participação e relação de
fatos.
A observação foi a etapa inicial do processo de
produção de dados, que se iniciou em março de 2016.
Definida como do tipo participante, perpassou por todas as
fases da etapa de campo, num processo dinâmico e constante
em associação à outras técnicas de coleta de dados, como,
por exemplo, entrevistas e elaboração de memorandos
(teóricos, metodológicos e observacionais).
É necessário reconhecer que seria complexo
compreender a interação simbolicamente protagonizada por
esses atores no espaço social do estudo se não fosse por
meio dessa estratégia.
A experiência de observação participante que
desenvolvemos pode ser descrita por diversos momentos de
permanência in loco, que não restringiram-se às entrevistas,
ou seja, a inserção se deu no todo da experiência dos
participantes em seu cotidiano no serviço de saúde mental,
cenário destes estudo.
Lançamos mão também da entrevista do tipo semi-
estruturada como estratégia para produção de dados,
realizadas de acordo com a disponibilidade de cada depoente,
sendo a maioria desenvolvida no próprio serviço de saúde
mental, todas com duração superior a 25 minutos, gravadas
em aparelho MP3 e posteriormente transcritas na íntegra,
acrescendo registros como expressões, espaços temporais e
o silêncio em si.
Obviamente, para que fosse possível tal cobertura
contamos com o apoio técnico de dois bolsistas de iniciação
científica, norteados por um plano de trabalho elaborado antes
do processo de produção de dados da fase de campo do
216
INTERAÇÕES ENTRE EQUIPES DE SAÚDE E USUÁRIO DE SERVIÇOS
PSIQUIÁTRICOS
estudo, cuja tarefa exclusiva foi a de gravar as entrevistas e
elaborar os memorandos.
Ressaltamos ainda, que as entrevistas somente
ocorreram após assinatura dos participantes do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE, inclusive, a dos
clientes, que contaram com um TCLE específico para
autorização da observação de suas interações com a equipe.
Depois de transcritas, todas as entrevistas foram
validadas com a assinatura dos seus respectivos depoentes.
A análise dos dados foi realizada à luz da Grounded
Theory. Deste modo, em conformidade com sua proposição,
coleta de dados e análises ocorreram concomitantemente,
depois de cada entrevista realizada, seguindo a orientação da
etapa de codificação aberta, ou seja, com leitura minuciosa
dos dados brutos, linha a linha (microanálise), gerundiando-os
em códigos preliminares e códigos conceituais.
Em seguida, na codificação axial, realizamos a
comparação constante entre os códigos; agrupando-os um a
um por sua similaridade e diferenças, buscando formar
subcategorias reconectando-as em categorias.
Para tal, lançamos mão de um conjunto de
procedimentos de sistematização e comparação constante dos
dados produzidos e, posteriormente, entre as categorias
constituídas pelos fenômenos evidenciados, emergindo a
categoria: Interagindo com o usuário de saúde mental
cotidianamente.
Também foram seguidos alguns princípios da Análise
da Conversa Etnometodológica – ACE, mas sem rigor ao
modelo de transcrição de Sacks, Schegloff e Jefferson
(SACKS, SCHLOGOFF, JEFFERSON 1974).
217
INTERAÇÕES ENTRE EQUIPES DE SAÚDE E USUÁRIO DE SERVIÇOS
PSIQUIÁTRICOS
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
222
INTERAÇÕES ENTRE EQUIPES DE SAÚDE E USUÁRIO DE SERVIÇOS
PSIQUIÁTRICOS
interação e conhecendo possíveis dificuldades existentes
nessa perspectiva de se comunicar.
Nesse sentido, os participantes inferiram que dada à
subjetividade existente no mundo das pessoas que possuem
uma doença mental, na maioria dos casos, admitir o seu
desconhecimento, ou o que se pode chamar também de
esquemas de conhecimento prévios em relação a estes
aspectos do usuário (GOFFMAN, 2012), é descortinar os
horizontes de possibilidade de desenvolvimento de uma
presença autêntica para o cuidado em saúde mental.
Rogers (2009) verifica pela análise que essa busca pela
presença autêntica passa pela construção da pessoa que
busca ser o que realmente se é. Condição que este autor
nominou como: pessoa plena.
Outros participantes também destacaram as
preconcepções existentes sobre esses usuários como
condição determinante para a precarização da qualidade das
interações, cujos desfechos mais negativos são as obstruções
no desenvolvimento da relação terapêutica por medo ou falta
de empatia.
A comunicação com os usuários de saúde mental
mencionada pelos depoentes consiste num processo que
transpõe a função de troca de informações, como mostra a
fala:
226
INTERAÇÕES ENTRE EQUIPES DE SAÚDE E USUÁRIO DE SERVIÇOS
PSIQUIÁTRICOS
apoio para essa aprendizagem e realmente acabei
aprendendo aqui [serviço de saúde mental].” (depoente 4)
4 CONCLUSÕES
227
INTERAÇÕES ENTRE EQUIPES DE SAÚDE E USUÁRIO DE SERVIÇOS
PSIQUIÁTRICOS
Outro aspecto compreendido neste estudo está situado
na importância de oferecer uma prática de ensino que dê
espaço para a modelação com os alunos das habilidades
comunicacionais, de forma que obtenham uma aprendizagem
consistente e significativa para possibilitar que aluno se
descubra nessas interações em toda potencialidade e
sensibilidade pessoal e profissional, sustentando-se num
vínculo (relacionamento terapêutico) tão necessário para
transpor diversos obstáculos existentes na relação com o
usuário de saúde mental.
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INVENTÁRIO DE DEPRESSÃO INFANTIL: VALIDAÇÃO E NORMATIZAÇÃO NO
INTERIOR DO PIAUÍ
CAPÍTULO 12
230
INVENTÁRIO DE DEPRESSÃO INFANTIL: VALIDAÇÃO E NORMATIZAÇÃO NO
INTERIOR DO PIAUÍ
psicometricametricamente, podendo ser uma alternativa para
investigar a prevalência e para diagnosticar sintomas gerais da
depressão em crianças.
Palavras-chave:Inventário. Depressão. Criança
1 INTRODUÇÃO
231
INVENTÁRIO DE DEPRESSÃO INFANTIL: VALIDAÇÃO E NORMATIZAÇÃO NO
INTERIOR DO PIAUÍ
mundo, e ocupa o quarto lugar entre as dez principais causas
de patologias.
Conforme a 5º versão do Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5; 2013), para que
haja a configuração de um transtorno depressivo maior torna-
se necessário a apresentação de um ou mais episódios do
mesmo, na qual estes são caracterizados por um período
mínimo de duas semanas consecutivas de humor deprimido e
perda de interesse em atividades rotineiras. Além disso,
segundo o manual, o indivíduo necessita apresentar
adicionalmente pelo menos quatro sintomas depressivos tais
como: humor deprimido na maior parte do dia; falta de
interesse nas atividades diárias; alteração de sono e apetite;
falta de energia; alteração na atividade motora; sentimento de
inutilidade; dificuldade para se concentrar; pensamentos
suicidas ou tentativas de executá-los.
Observa-se que para muitas pessoas que são
acometidas com o transtorno, esse éclassificado como crônico
e tonar-se recorrente. Power; Abreu; Oliveira; Sudak (2008)
apontam estudos de acompanhamento que demonstram que
até 30% delesainda se encontram deprimidos após um ano,
18% após doisanos e 12% após cinco anos. Além disso,
afirmam que muitos pacientes tratados mantêmsintomas
residuais e subsindrômicos que conduzem a
desfechosdesfavoráveis,como risco mais elevado de recaídas
e suicídio,empobrecimento das funções psicossociais e
mortalidade elevadadecorrente de outras doenças clínicas.
Ademais, esses mesmos autores já apontavam dados
alarmantes, indicando que dentre os pacientes que
serecuperam de um episódio depressivo, mais da metade
sofrem com uma recaída.Sentir novamente os sintomas
232
INVENTÁRIO DE DEPRESSÃO INFANTIL: VALIDAÇÃO E NORMATIZAÇÃO NO
INTERIOR DO PIAUÍ
depressivos durante o tratamento de manutençãocom
antidepressivos ocorre em taxas que variam de 9 a 57%.
Enfatizam-se também, que a maior preocupação no
acompanhamento desses indivíduos é osuicídio, o qual, na
maioria das vezes é associado consideraelmente à depressão
maior. Com basenos resultados de uma metanálise, o risco foi
estimado entre 2,2%nos pacientes ambulatoriais menos
graves e 8,6% naqueles comdepressão mais grave e histórico
de hospitalizações (BOSTWICK; PANKRATZ, 2000).
Julga-se importante o estudo da temática, pois, desde o
começo da década a Organização Mundial de Saúde (OMS/
WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2012) afirma que em
2020 a depressão será a doença mais incapacitante do mundo
e a segunda com maiores índices na saúde pública.Por causa
de sua elevada prevalência e resultante incapacitação (a
depressão maior classifica-se como a segunda maior causa de
incapacitação ajustada para os anos de vida nos países
desenvolvidos), a preocupação em prevenir o EDM recorrente
é relevante e tem sido alvo de investigação tanto com
tratamento medicamentoso quanto com abordagens
psicoterápicas. Nessa oportunidade, focalizará na depressão
infantil, descrita brevemente a seguir.
Depressão Infantil
233
INVENTÁRIO DE DEPRESSÃO INFANTIL: VALIDAÇÃO E NORMATIZAÇÃO NO
INTERIOR DO PIAUÍ
familiares, problemas de comportamento, além da diminuição
do desempenho escolar e alterações cognitivas.
Os estudos relacionados a esse transtorno de humor na
infância ganharam maior destaque a partir da década de 60.
Essa sintomatologia que ocorre tanto na criança como no
adolescente é considerada grave e pode afetar negativamente
a vida social, afetiva e familiar (WAGNER, 2005).
Existem poucos estudos que se propõem a investigar a
prevalência da depressão em crianças pequenas, onde a
maioria das pesquisas existentes fornecem estimativas da
enfermidade em idades maiores. Segundo Liaberia et al.,
(2008) nas idades iniciais, a depressão passa despercebida,
pois as crianças não conseguem expressar o sofrimento
emocional por meio de palavras, visto que o desenvolvimento
infantil modifica a maneira da perturbação emocional em cada
fase do desenvolvimento. Alguns fatores considerados de
risco também podem estar associados à depressão infantil,
tais como, pais divorciados, fatores sócio-econômicos, além
de uma predisposição biológica para desenvolver sintomas
depressivos (NAJMAN ET AL., 2005).
Segundo o DSM a depressão infantil é semelhante à no
adulto, de forma que os mesmos critérios de diagnósticos
podem ser utilizados para avaliar a doença na criança.
Entretanto, de acordo com Cruvinel e Boruchovitch (2003) os
dados epidemiológicos não deixam dúvidas quanto à
ocorrência de depressão nesta etapa do desenvolvimento.
Mesmo assim, ainda existem controvérsias quanto aos
critérios de diagnóstico. Deste modo, existem posicionamentos
que defendem que esta patologia na criança tem
características diferentes em adultos e outros que acreditam
234
INVENTÁRIO DE DEPRESSÃO INFANTIL: VALIDAÇÃO E NORMATIZAÇÃO NO
INTERIOR DO PIAUÍ
que a depressão se manifesta de forma bastante semelhante
nos dois casos.
Assim, a Classificação de Transtornos Mentais e de
Comportamento do CID-10 (1993) inclui para a criança e o
adolescente a categoria transtorno depressivo de conduta.
Esta é a combinação de transtorno de conduta na infância
com persistente e marcante depressão do humor, que se
evidencia por sintomas como sofrimento excessivo, perda de
interesse e prazer em atividades usuais, autorrecriminação e
desesperança, além disso, as perturbações do sono ou apetite
também podem estar presentes.
Para Bhals (2002) os transtornos depressivos em
crianças, adolescentes e adultos são entendidos como
entidades fenomenológicas iguais, pois as pesquisas definiram
que os critérios diagnósticos se aplicam nas três situações.
Ainda assim, existem evidências que sugerem que a
predominância de sintomas característicos pode mudar de
acordo com a idade, com sintomas comuns em umas crianças
e menos em outras.
Nas crianças com idade entre sete e doze anos relata-
se o humor depressivo como tristeza, irritabilidade ou tédio. As
características são aparência triste, choro fácil, fadiga,
isolamento, declínio ou desempenho escolar fraco, ansiedade
de separação, fobias e desejo de morrer (BHALS, 2002).
Em adolescentes com idades a partir de doze anos os
sintomas são semelhantes aos encontrados em adultos, mas
existem algumas peculiaridades relativas a esta fase do
desenvolvimento. Os adolescentes deprimidos não estão
constantemente tristes, mas apresentam características como
irritabilidade, perda de energia, apatia e desinteresse,
235
INVENTÁRIO DE DEPRESSÃO INFANTIL: VALIDAÇÃO E NORMATIZAÇÃO NO
INTERIOR DO PIAUÍ
explosões de raiva, sentimento de desesperança e culpa
(BHALS, 2002).
Embora a depressão infantil venha sendo bastante
estudada nos últimos anos, seu reconhecimento científico é
recente. Na psiquiatria sua importância veio a partir da década
de 60 e o Instituto Nacional de Saúde Mental (NIMH) dos EUA
a reconheceu oficialmente a partir de 1975. Anteriormente
acreditava-se que a depressão não atingia crianças a não ser
em raras exceções, sendo comum apenas em adultos
(BHALS; 2002; CRUVINEL; BORUCHOVITCH, 2003).
Apesar da depressão nesta fase do desenvolvimento já
possuir sua existência reconhecida ainda é um desafio
trabalhar com esta patologia, visto que muitas vezes há
grande resistência dos pais no reconhecimento da depressão
em seus filhos, a dificuldade da criança em notificar seus
sentimentos, como também os sintomas depressivos se
manifestam de distintas formas em cada etapa do
desenvolvimento.
Nos escolares, por exemplo, os sintomas que merecem
destaque são a baixa autoestima, a tristeza, os medos e o
baixo rendimento escolar. Também são frequentes sintomas
psicossomáticos como: cefaleia, vômitos, enurese, dores
abdominais e diarreia. As crianças tendem a se descreverem
como tolas e frágeis, temem fracassar ou sofrer uma ação
injusta por parte dos demais (FONSECA ET AL., 2005). Visto
que muitas vezes a depressão infantil passa despercebida,
sendo confundida com um comportamento retraído, que são
muitas vezes alvo de críticas e punições.
Ademias, devido à variabilidade dos métodos de
diagnóstico e a imprecisão da validade referente ao construto,
muitos estudos realizados sobre a doença apresentam
236
INVENTÁRIO DE DEPRESSÃO INFANTIL: VALIDAÇÃO E NORMATIZAÇÃO NO
INTERIOR DO PIAUÍ
resultados diferentes entre os pesquisadores (LAFER; FILHO,
1999). Referente aos métodos de investigação, efetiva dessas
alterações, podem ser realizados através de instrumentos de
auto relato, requerendo um julgamento do próprio indivíduo ou
pela observação do próprio observador (REPPOLD; HUTZ,
2003).
Nesse sentido, podem ser encontrados alguns
instrumentos de medida que se propõe a mensurar a
depressão na infância e na adolescência: Children
Drepression Inventory (CDI), Center for Epidemiologia Studies-
Depression Scale (CES-D) (BARKMANN; ERHART;
MARKWORT, 2008); Reynolds Child Depression Scale
(SHARP; LIPSKY, 2002); Asian Children Depression Scale
(KOH; CHANG; FUNG; KEE, 2007) e o Children’s Depression
Screener (ChilD-S) (FRUHE ET AL., 2011).
O principal instrumento utilizado em âmbito
internacional na investigação da depressão infantil é o CDI,
que surgiu inicialmente nos Estados Unidos, compreendendo
uma adaptação do (Inventário Depressão de Beck – BDI). Foi
elaborado por Kováks (1983), e propõe mensurar sintomas
depressivos em jovens de 7 a 17 anos, por meio de auto-
avaliação (GOUVEIA ET AL., 1995), sendo encontrado
estudos em países como: Alemanha (BARKMANN ET AL.,
2008), Espanha (DAVANZO ET AL., 2004), Estônia (SAMM
ET AL., 2008), Grécia (GIANNAKOPOULOS ET AL., 2009) e
entre outros países da Europa, América e África (STEELE ET
AL., 2006). No contexto nacional são encontrado estudos de
validação do CDI (BARBOSA; DIAS; GAIÃO; LORENZO,
1996; COUTINHO; CAROLINO; MEDEIROS, 2008;
CRUVINEL; BORUCHOVITCH, 2004; GOUVEIA ET
AL.,1995).
237
INVENTÁRIO DE DEPRESSÃO INFANTIL: VALIDAÇÃO E NORMATIZAÇÃO NO
INTERIOR DO PIAUÍ
O estudo de Fonseca, Ferreira e Fonseca (2005) foi
realizado, com o objetivo de estimar a prevalência da
sintomatologia depressiva em escolares de 7 a 13 anos, como
também caracterizá-la. Foi utilizado o Children’s Depression
Inventory - Inventário de Depressão Infantil (CDI), em que a
prevalência de sintomas depressivos encontrados neste
estudo foi de 13,7%, revelando que um grande número de
crianças e adolescentes possivelmente possui depressão.
Quando as variáveis foram comparadas, a exemplo de idade e
sexo, a diferença não foi relevante.
Resultados semelhantes foram encontrados por
Barbosa et al. (1996), em um estudo realizado no interior da
Paraíba que teve como objetivo verificar a taxa de prevalência
de sintomas depressivos em escolares de 7 a 17 anos
utilizando-se do CDI. Neste caso 22% da amostra atingiram o
percentual para depressão. De acordo com os autores é um
número considerado dentro da média em relação a estudos
nacionais e internacionais utilizando-se deste questionário.
2 MATERIAIS E MÉTODO
238
INVENTÁRIO DE DEPRESSÃO INFANTIL: VALIDAÇÃO E NORMATIZAÇÃO NO
INTERIOR DO PIAUÍ
estatísticas que serão realizadas, tendo em vista que estas
exigem uma proximidade com a distribuição normal
(TABACHNICK; FIDELL, 2015).
Os instrumentos utilizados foram: Inventário de
depressão Infantil (CDI), versão adaptada, validada e
normatizada para o contexto brasileiro por Gouveia et al.,
(1995). Elaborado por Kovács (1983), a medida avalia sinais
cognitivos, afetivos e comportamentais de depressão em
jovens. Os 20 itens do questionário apresentam três opções
de respostas que variam de 0 a 2 pontos (a=0, b=1, c=2),
sendo assinalada a opção que melhor descreve como o sujeito
tem se sentido nas duas últimas semanas.. Ademais, foi
respondidas questões demográficas (ex: sexo, idade, tipo de
escola e renda familiar).
Inicialmente, os pesquisadores envolvidos mantiveram
contato com os diretores das escolas escolhidas por
conveniência, para que fossem explicados fins da pesquisa.
Por se tratar de uma pesquisa composta por menores de
idade, após o consentimento da escola, foi enviado aos pais e
responsáveis um termo livre e esclarecido (TCLE) para que as
crianças fossem autorizadas a participar da pesquisa. Após a
devolução os explicavam os propósitos gerais pesquisa,
esclarecendo que a participação era voluntária, bem como o
anonimato das informações e que apenas os pesquisadores
envolvidos na pesquisa teriam acesso aos dados. Foram
gastos em média 20 minutos na aplicação dos questionários.
Todos os procedimentos éticos envolvendo seres humanos
foram cuidadosamente tomados.
Os dados foram analisados através do pacote
estatístico SPSS versão 21. Além das estatísticas descritivas,
para conhecer a estrutura fatorial do CDI, procedeu-se a uma
239
INVENTÁRIO DE DEPRESSÃO INFANTIL: VALIDAÇÃO E NORMATIZAÇÃO NO
INTERIOR DO PIAUÍ
análise dos Componentes Principais. Paraavaliar a
consistência interna de cada fator resultante foi utilizado o
Alpha de Cronbach.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
240
INVENTÁRIO DE DEPRESSÃO INFANTIL: VALIDAÇÃO E NORMATIZAÇÃO NO
INTERIOR DO PIAUÍ
considerada adequada para fins de diagnostico
(COHEN;SWERDLIK; STURMAN, 2014; PASQUALI, 2003).
Destaca-se que o item 5 foi excluído por apresentar saturação
abaixo da estabelecida de |0,30|.Os resultados podem ser
observados na tabela 1.
241
INVENTÁRIO DE DEPRESSÃO INFANTIL: VALIDAÇÃO E NORMATIZAÇÃO NO
INTERIOR DO PIAUÍ
Nota: carga fatorial > 0,30; * Item retido no componente.
Fonte: Elaborada pelos autores.
4 CONCLUSÕES
243
INVENTÁRIO DE DEPRESSÃO INFANTIL: VALIDAÇÃO E NORMATIZAÇÃO NO
INTERIOR DO PIAUÍ
de outros pesquisadores, tornando esse instrumento mais
confiável, sendo assim é possibilitado, o acúmulo de
conhecimento referente etiologia e prevalência da depressão
em crianças no contexto brasileiro.
É relevante destacar, que como todo empreendimento
científico essa pesquisa não está isenta de limitações
potenciais. Nesse sentido, é possível citar como exemplo a
amostra que foi por conveniência, apresentando um número
reduzido de escolas (apenas 4), não sendo possível obter uma
amostra representativa de escolares piauienses. Entretanto,
entende-se que o propósito do estudo não foi a generalização
dos resultados, mas averiguar os parâmetros psicométricos da
escala, além de apresentar normas diagnóstica para escolares
do interior do Piauí.Dessa forma, confia-se que os objetivos do
estudo tenham sido alcançados, uma vez que demonstrou-se
evidencias de validade e normas diagnosticas, que poderão
subsidiar pesquisas e/ou intervenções utilizando o CDI.
Ademais, aponta-se para a necessidade de pesquisas
futuras, que sejam realizadas com amostras maiores e
heterogêneas, abrangendo um número maior de escolas, além
de considerar outras regiões do contexto piauiense; e tendo
em conta variáveis demográficas que podem influenciar na
depressão infantil, como por exemplo, tipo de escola, gênero e
nível econômico.
Seria igualmente interessante a utilização de análises
estatísticas mais sofisticadas, como a análise fatorial
confirmatória, utilizando-se dos modelos de equações
estrutural (HAIR; BLACK; BABIN; ANDERSON; TATHAN,
2009), possibilitando assim testar a estrutura proposta nessa
pesquisa em estudos realizados em outros estados do Brasil
ou ainda, considerar a Teoria de Resposta ao Item (TRI), que
244
INVENTÁRIO DE DEPRESSÃO INFANTIL: VALIDAÇÃO E NORMATIZAÇÃO NO
INTERIOR DO PIAUÍ
possibilitará analisar quais os melhores itens podem
representar o construto em questão, servindo, inclusive, para
auxiliar e promover melhorias nas práticas clínicas que
utilizem a avaliação psicológica como ferramenta.
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LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO E O ATENDIMENTO PSICOTERÁPICO
HOSPITALAR: UM ESTUDO DE CASO
CAPÍTULO 13
249
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO E O ATENDIMENTO PSICOTERÁPICO
HOSPITALAR: UM ESTUDO DE CASO
1 INTRODUÇÃO
250
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO E O ATENDIMENTO PSICOTERÁPICO
HOSPITALAR: UM ESTUDO DE CASO
mulheres para cada homem” (REIS & COSTA, 2010, p. 409).
Além disso, tem incidência em todas as regiões do mundo (DO
MÉTODO, 2008). Sua evolução pode apresentar fases de
atividade e fases de remissão, que podem ser desencadeados
por fatores genéticos, infecciosos, hormonais, ambientais e
mesmo psicológicos (SATO, 2002).
Ayache e Costa (2005), observam que “as
consequências psicológicas e sociais de uma doença são
dependentes de vários fatores, como gravidade da doença,
sua fase evolutiva, estilo de vida e, essencialmente, da
personalidade do enfermo”:
251
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO E O ATENDIMENTO PSICOTERÁPICO
HOSPITALAR: UM ESTUDO DE CASO
cuidados necessários, oferecer apoio psicológico para
entendimento da doença e manejo das angústias e
sentimentos, promovendo melhor enfrentamento (MATTJE;
TURATO, 2006; SEABRA; ET AL., 2009). Entender o
significado do lúpus para o paciente é indispensável a todos
os profissionais de saúde, pois assim podem oferecer
recomendações realmente eficazes.
Considerando a importância do atendimento psicológico
em pacientes com doenças crônicas, o objetivo do presente é
incentivar o processo de pensamento e análise, levantando
discussões que poderão apresentar outras propostas e troca
de experiências entre profissionais da saúde, resultando em
processo de produção de conhecimentos que enriqueçam a
perspectiva de atuação do psicólogo nesse contexto visando
melhorar a qualidade de vida do sujeito com Lúpus
Eritematoso Sistêmico (VALVERDE; CARNEIRO, 2011).
2 MATERIAIS E MÉTODO
252
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO E O ATENDIMENTO PSICOTERÁPICO
HOSPITALAR: UM ESTUDO DE CASO
Psicologia Hospitalar, sob a perspectiva da abordagem
cognitivo comportamental de investigação e tratamento.
Desenvolvida por Aaron T. Beck, na Universidade da
Pensilvânia no início da década 60, a Terapia Cognitivo
comportamental é uma psicoterapia breve, estruturada,
orientada ao presente, direcionada a resolver problemas
atuais e a modificar os pensamentos e os comportamentos
disfuncionais (PERON; SARTES; ANDREOLI, 2015). As
autoras apontam algumas características da Terapia Cognitivo
Comportamental que a torna instrumental valioso e adequado
ao setting hospitalar. São exemplos das vantagens o foco na
resolução de problemas, auxiliar o paciente a identificar
soluções alternativas para enfrentar a enfermidade. Além
dessas estratégias, outras podem ser utilizadas no hospital
geral, para o atendimento tanto individual quanto em grupo,
desde que adaptadas de acordo com as especificidades da
instituição e do paciente (CHAVES et al, 2016).
Perante a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética
em Pesquisa (CEP) por meio do parecer: 2.110.426 e após a
explicação dos objetivos, riscos e benefícios da pesquisa para
genitores da paciente, obteve-se a assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Diante do fato da
paciente nesse momento estar apenas movimentando os
olhos, o Termo de Assentimento foi explicado e obtido por
meio de contatos visuais para respostas simples (Sim ou Não).
A descoberta do diagnóstico se deu cerca de dois anos
antes da internação da jovem no Hospital Geral Universitário
(HGU), quando familiares da paciente observaram intensa
queda de cabelo e regiões em seu couro cabeludo sem fios de
cabelo. Inicialmente a jovem recebeu o diagnóstico de fungos
no couro cabeludo. Entretanto, cerca de oito meses após esse
253
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO E O ATENDIMENTO PSICOTERÁPICO
HOSPITALAR: UM ESTUDO DE CASO
diagnóstico, Ana começou a apresentar outros sintomas, como
perda de apetite, dores articulares, dores de cabeça, e
surgimento de manchas avermelhadas em seu rosto. Com o
auxílio de um amigo da família, a paciente foi encaminhada
para o HGU, onde recebeu atendimento médico e o
diagnóstico de Lúpus Eritematoso Sistêmico e a partir de
então começou a receber tratamento para o LES naquela
instituição. Porém a grande distância entre as cidades, na qual
reside e na qual receberia o tratamento, refletiu na não adesão
ao tratamento.
Tempos depois, após eventos estressores, como a
perda de entes queridos, Ana começou a queixar-se de
intensas dores de cabeça, e nas articulações. Na ocasião
estava na zona rural do município onde mora participando do
funeral de um ente querido. Devido a não melhora de seus
sintomas, os familiares a levaram até uma unidade básica de
saúde onde a paciente apresentou convulsão com duração de
cinco minutos, após a estabilização da paciente, esta foi
encaminhada para o Hospital Geral Universitário.
Diante da sequência dos fatos, a paciente iniciou o
acompanhamento realizado pela equipe de psicologia do
hospital em seu segundo dia de internação, e seguiu
recebendo atendimento ao longo de todo período em que
esteve internada.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
254
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO E O ATENDIMENTO PSICOTERÁPICO
HOSPITALAR: UM ESTUDO DE CASO
que não estava conseguindo se expressar, nem verbalmente e
nem fisicamente? Naquele momento a estagiária buscou
lembranças de seus aprendizados que pudessem auxiliar no
caso, porém, não é costume discutir casos semelhantes a
esse na faculdade, em função da escassez de ocorrência de
situações semelhantes. Entretanto, dessa dificuldade surgiram
inúmeras reflexões, questionamentos e revisões bibliográficas,
elementos norteadores na condução desse caso.
Camon (1996) em sua obra “E a Psicologia entrou no
Hospital...”, afirma existir a necessidade de um roteiro de
exame e avaliação psicológica. Desta maneira o psicólogo terá
à disposição um instrumento de coleta de dados no qual a
rotina hospitalar é levada em consideração, o cotiando a
prática dos profissionais de saúde envolvidos no processo.
As instruções supracitadas orientaram as intervenções
da estagiária que inicialmente realizou o Exame Psíquico da
paciente através de perguntas fechadas utilizando os
seguintes sinais como meio de comunicação: uma piscada de
olhos significava “sim” e duas piscadas de olhos significava
“não".
Cheniaux (2015) nos orienta que o exame psíquico, ou
exame do estado mental, é comparável ao exame físico na
medicina geral. Assim, na avaliação psicológica, o que é
relatado pelo paciente deve ser incluído na anamnese,
enquanto o que é observado pelo examinador representa o
exame psíquico. Com esses dados o psicólogo estará
instrumentalizado a analisar as necessidades terapêuticas do
paciente.
No atendimento posterior, observou-se o aumento do
inchaço no corpo, e das manchas avermelhadas na face da
paciente, alterações cutâneas comumente observadas em
255
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO E O ATENDIMENTO PSICOTERÁPICO
HOSPITALAR: UM ESTUDO DE CASO
pacientes acometidos pelo LES (ASSIS; BAAKLINI, 2009).
Ana continuava sem emitir respostas verbais e evitava contato
visual com a estagiária. Sabidamente, independente da razão
médica pela qual uma pessoa é hospitalizada, esta será para
ela uma experiência de incertezas e apreensão, deixando
vulneráveis o paciente e sua família (MAZUTTI; KITAYAMA,
2008). Durante todo período em que Ana esteve internada
seus familiares recebiam suporte psicoterapêutico. Os
familiares eram acolhidos, ouvidos instruídos pela equipe de
psicologia.
Na mesma semana em que foi internada, houve piora
em seu quadro de saúde e Ana foi transferida para uma
Unidade de Terapia Intensiva (UTI), no qual permaneceu em
estado comatoso cerca de um mês. Durante esse período a
estagiária continuou a acompanhá-la, oferecer acolhimento e
suporte psicológico aos seus familiares. Menezes e Nívea,
et.al (2007), afirmam que para oferecer apoio e poupar o
enfermo de um excesso de sofrimento, os familiares
experimentam, eles próprios, sentimentos de desamparo, que
comprometem seu bem-estar emocional.
Ainda sobre os familiares de Ana, uma atitude chamou
a atenção da estagiária, a genitora demonstrava não
compreender o mecanismo de funcionamento da doença
tampouco a gravidade do diagnóstico e prognóstico da jovem
(MARTINS,2008) . O discurso da genitora, era que a fé de Ana
era determinante para sua recuperação. Gobatto e Araújo
(2010), observaram que religião e/ou espiritualidade auxiliaram
os cuidadores de pacientes hospitalizados a elaborarem
explicações e darem sentido para a doença, representando a
principal estratégia utilizada por eles. Para lidar com essa
situação, a genitora utilizava o coping/mecanismo de
256
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO E O ATENDIMENTO PSICOTERÁPICO
HOSPITALAR: UM ESTUDO DE CASO
enfrentamento religioso para manejar esse sofrimento
(PANZINI, 2007).
Percebeu-se que a busca de apoio religioso foi
considerado pela genitora importante recurso para lidar com o
sofrimento vivenciado. Importante ressaltar que o objetivo do
atendimento psicológico não é, e nem deve ser, retirar o
mecanismo de enfrentamento utilizado pelos pacientes, pois,
por diversas vezes é exatamente esse mecanismo que está
sustentando o equilíbrio psíquico/emocional apresentado pelo
paciente/familiar (RIBEIRO, 2009). Corroborando, Simonetti
(2013) afirma que a fé ajuda as pessoas a atravessarem os
momentos difíceis da vida, sendo a doença e a morte os
maiores dentre eles. Assim, na prática hospitalar, a fé
raramente se opõe à ciência, constituindo-se mesmo em uma
força de superação a ser incentivada pelo psicólogo.
Os atendimentos psicológicos à paciente continuavam
ocorrendo conforme planejamento inicial (duas vezes por
semana) mesmo quando a paciente encontrava-se em estado
comatoso. A estagiária conversava com Ana, com o objetivo
de estimular sua atividade cerebral, pois não estava
determinado o seu grau de consciência. Assim, por meio de
trabalhos referentes a orientação alopsíquica da paciente, ela
era orientada sobre o dia da semana, mês, ano, aonde ela
estava e principalmente o motivo de estar na UTI (PUGGINA,
2006).
Ainda não foram encontradas evidências de pacientes
prejudicados em seu estado de saúde por causa de estímulos
verbais (VALE, 2014). Pelo contrário, estudos recentes
desenvolvidos no campo da neuroimagem funcional tem
encontrado evidências sobre a capacidade de ouvir em
pacientes em coma e, aparentemente, manter alguma
257
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO E O ATENDIMENTO PSICOTERÁPICO
HOSPITALAR: UM ESTUDO DE CASO
capacidade cognitiva. Porém, ainda é necessário avanços no
estudo desse seguimento, pois pode existir aí uma
possibilidade de comunicação a ser utilizada pela equipe
interdisciplinar e familiares e resulte em melhor uso da
comunicação (JESUS ET AL, 2013).
Em virtude dos estudos supracitados, acreditamos na
importância de explicar desde o motivo do furo no dedo, para
medir a glicose, os remédios administrados e para que
serviam, quando aferiam a sua pressão e consultavam a sua
temperatura corporal, entre outras condutas. Nessas ocasiões
o objetivo era, caso a paciente tivesse algum nível de
consciência, no qual a permitisse o processamento de
informações, pudesse ter o mínimo de noção do que estava
acontecendo a respeito de seu tratamento (GIESBRECHT
PUGGINA, 2005.).
O quadro clínico da paciente havia piorado. Cuidar de
uma pessoa com uma doença fora de possibilidade
terapêutica é ir de encontro com várias delicadezas, nos
deparamos com sua cultura, crenças, valores e costumes
referentes a finitude da vida. Diante dessa conjuntura, no
processo de busca por alternativas terapêuticas, na
perspectiva do referencial teórico da Psicologia Hospitalar,
para o caso, foi encontrado um artigo que tratava sobre a
utilização da música nos processos saúde-doença-cuidado
para promover conforto e qualidade de vida à pessoa
adoecida e ser um recurso de ajuda na relação da família com
a despedida de seu ente querido (SEKI; GALHEIGO, 2010).
Então, quando Ana acorda do estado comatoso,
utilizando a música “Campo de Batalha” da banda Móveis
Coloniais de Acaju, a estagiária trabalhou conteúdos
referentes a ter uma doença crônica, estar hospitalizada e o
258
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO E O ATENDIMENTO PSICOTERÁPICO
HOSPITALAR: UM ESTUDO DE CASO
grau de gravidade de seu estado de saúde. Reforçamos sobre
a não obrigação de nos sentir felizes e fortes a todo o
momento, pois existem situações que nos entristecem e não
existe problema em expressar essas emoções, elas são
naturais e inatas ao ser humano. O objetivo da abordagem
musico terapêutica no ambiente hospitalar pode ser o de
estimular a expressão de sentimentos, oferecer acolhimento e
presença, colaborar com a recuperação física, mental e
emocional dos participantes (CUNHA; VOLPI, 2008).
Ainda durante essa intervenção a estagiária ressaltou, o
seu olhar de admiração por Ana por sua luta diante de uma
situação tão difícil. Destacou que se ela acreditasse não ser
mais necessário continuar a lutar, não existiria problema, pois
faz parte da vida existir um início e um fim.
Para fins de trabalhar conteúdos referentes ao tempo
de internação da paciente, também foi utilizado a música
“oração ao tempo” do cantor e compositor Caetano Veloso.
Sabe-se que a internação gera vários sentimentos e a música
é utilizada como recurso terapêutico coadjuvante no controle
da dor, na redução da ansiedade, do estresse e fadiga
decorrentes da internação e tratamento (ZANETTI, 2008).
Além dos benefícios gerados pela inserção da música
no processo terapêutico supracitados, existem ainda
trabalhos utilizando canções para realizar o cuidado e
acolhimento com à população infanto-juvenil, com doenças
graves e crônicas. Por exemplo casos de erros inatos do
metabolismo, anomalias congênitas e casos graves de
paralisia cerebral, além de doenças fora de possibilidades
terapêuticas de cura como algumas atrofias espinhais e
distrofias (FIGUEIREDO, 2006).Por esses motivos foram
escolhidas as canções no qual as letras expressavam os
259
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO E O ATENDIMENTO PSICOTERÁPICO
HOSPITALAR: UM ESTUDO DE CASO
conteúdos considerados pela estagiária importantes a serem
trabalhados naquele momento. Assim a composição foi
utilizada como catalizador da intervenção que teve seu
fechamento com a psicoeducação sobre os conteúdos das
letras das músicas relacionados ao momento vivenciado pela
paciente (ARAÚJO, 2013). Como resultado, os efeitos
podem perdurar por horas ou dias, podendo incidir
positivamente no comportamento, humor e cognição (SEKI;
ET AL, 2010).
Depois destas intervenções e uma transfusão de
sangue a paciente teve outra piora em seu caso e voltou ao
estado comatoso. Diante desse fato, neste dia foi trabalhado
com a genitora o tema da finitude do ser humano e sobre a
possibilidade de sua filha estar próxima da dela. E, ainda, foi
conscientizada sobre pensar em como gostaria de utilizar o
tempo com sua filha. Se havia algo a ser dito, como:
expressar seu amor, pedir perdão, compartilhar momentos os
mais agradáveis possíveis diante daquela situação
(MENDES et al, 2009) A atuação do psicólogo também deve
se direcionar em nível de apoio, atenção, compreensão,
suporte ao tratamento, clarificação dos sentimentos,
esclarecimentos sobre a doença e fortalecimento dos
vínculos familiares (CANTARELI, 2009).
Alguns dias depois, Ana volta do estado comatoso. Em
algumas ocasiões, ao chegar para o atendimento, a estagiária
observava que a paciente fechava seus olhos, nessas
ocasiões a escolha terapêutica foi de manter o silêncio, pois
esse pode ter efeitos terapêutico diante de algumas situações.
Atender um sujeito silencioso torna-se ensurdecedor. O
silêncio expressa por tantas vezes sensações e sentimentos
260
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO E O ATENDIMENTO PSICOTERÁPICO
HOSPITALAR: UM ESTUDO DE CASO
que as palavras não conseguem significar ( VOLLES; ET AL,
2012).
O silêncio é poderoso, ele é como um vácuo, puxa as
palavras, pede para ser preenchido, e no caso da psicologia
hospitalar deve ser preenchido idealmente pela fala do
paciente. E neste caso como a paciente estava impossibilitada
de falar, ele foi utilizado com o objetivo de eliciar conteúdos
ocultos da paciente (SIMONETTI, 2013).
Em outra oportunidade realizou-se a psicoeducação
sobre o Lúpus Eritematoso Sistêmico, sua etiologia e
mecanismos de ação da doença, sobre o que é uma Unidade
de Terapia Intensiva (UTI), sua função, rotina, procedimentos
clínicos, função de cada aparelho e os acessos invasivos em
seu corpo(CARVALHO; MONCAIO, 2010) . É tarefa do
psicólogo ainda auxiliar o paciente quanto encontrar
estratégias adaptativas de lidar com seu diagnóstico e/ou
prognóstico da doença (GORAYEB, 2001).
São frequentes, queixas dos pacientes referentes a
dúvidas e incertezas com relação ao diagnóstico, tratamento e
prognóstico (GULINELLI; ET AL., 2004). O fato de instruir o
paciente sobre seu quadro de saúde auxiliará a diminuição da
sua ansiedade. O entendimento da relação da pessoa com
sua própria doença constitui uma contribuição importante da
Psicologia na interface com a saúde, pois permite identificar
recursos no campo psicossocial capazes de auxiliar o
indivíduo doente a lidar melhor com esse sofrimento
(MAZUTTI; KITAYAMA, 2008). Estudos como o de Gulinelli, et
al. (2004), demonstram que existe um desejo de informação,
ou seja, existe um desejo dos pacientes em relação ao seu
próprio diagnóstico.
261
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO E O ATENDIMENTO PSICOTERÁPICO
HOSPITALAR: UM ESTUDO DE CASO
Diante da dificuldade de comunicação apresentada pela
paciente, através de pesquisas desenvolvemos um
instrumento de soletração semelhante a um utilizado no filme
“A Teoria de Tudo”. Então, foi introduzido pela estagiária um
método de soletração (Fig. 1) para formação de palavras e
frases, com o objetivo de facilitar a expressão de sentimentos,
sensações, desejos e necessidades cotidianas.
Para utilizar o instrumento é necessário um cuidador
para ler em voz alta o nome das cores dos grupos de letras,
quando o cuidador disser a cor do grupo que contém a letra
para formar a palavra desejada pelo paciente, esse deverá
piscar os olhos uma vez. Em seguida são ditadas as cores em
que as letras estão escritas dentro do grupo maior. Novamente
o paciente deverá piscar os olhos quando o cuidador disser a
cor da letra desejada. O processo é repetido até ser possível
construir palavras e frases.
263
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO E O ATENDIMENTO PSICOTERÁPICO
HOSPITALAR: UM ESTUDO DE CASO
medicina é curar doenças e salvar vidas, enquanto a filosofia
da psicologia hospitalar é reposicionar o sujeito em relação a
sua doença (SIMONETTI, 2013).
No atendimento seguinte, a estagiária trabalhou com
Ana o encerramento das sessões psicoterápicas devido a
finalização do estágio, diante disso, foi indagado à paciente se
desejava trabalhar algo mais durante os atendimentos
recebendo uma resposta positiva. Foram elencadas algumas
possibilidades e obteve resposta positiva quanto ao desejo de
se expressar com outras pessoas. Diante dessa demanda a
estagiária se comprometeu a preparar algo para auxiliá-la
nesse sentido (LUCCHESI et al., 2008.).
Nessa perspectiva foi utilizado o baralho das emoções
para ajudar Ana na expressões de suas emoções.
O baralho das emoções é um instrumento alternativo de
acesso a crianças e adolescentes. Além do diferencial quanto
ao instrumento para acesso da subjetividade, vale ressaltar o
valor da ludicidade, presente no baralho, no desenvolvimento
de atividade com crianças e adolescentes (CAMINHA;
CAMINHA, 2011).
Segundo Beck (2013, p.37), o terapeuta deve
demonstrar compromisso e compreensão ao paciente através
de afirmações empáticas, escolha das palavras, tom de voz,
expressões faciais e linguagem corporal.
É importante ressaltar que a relação é favorecida e
fortalecida a cerca do vínculo terapêutico quando o psicólogo
apresenta atributos pertinentes para a formação de uma forte
aliança terapêutica como: flexibilidade, honestidade, respeito,
sigilo, interesse, atenção, ser amigável, calma, compreensão
empática, suspensão de juízo de valor (OLIVEIRA; BENETTI,
2015).
264
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO E O ATENDIMENTO PSICOTERÁPICO
HOSPITALAR: UM ESTUDO DE CASO
Figura 2. Baralho das Emoções.
265
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO E O ATENDIMENTO PSICOTERÁPICO
HOSPITALAR: UM ESTUDO DE CASO
relação terapêutica previamente estabelecida e reforçada
durante o período de tratamento (HENNEMANN, 2014.)
Com a aproximação da alta hospitalar de Ana e o
retorno a sua cidade de origem, foram realizadas intervenções
para o encerramento dos atendimentos psicoterapêuticos e
avaliação do seu estado emocional e do repertório
comportamental para o enfrentamento de sua nova realidade
(BARLETTA et al 2012.).
Por fim, no último dia de internação a paciente foi
ouvida, acolhida, orientada e encaminhada para
acompanhamento psicológico na rede de atenção primária de
seu município de origem.
Este caso por ser umas das primeiras experiências da
estagiária no campo da Psicologia Hospitalar, foi bastante
desafiador, e ainda houveram as dificuldades de comunicação
inerentes ao quadro clínico da paciente.
Durante parte significativa do acompanhamento
psicoterápico feito com a jovem, a mesma vivenciava grande
restrição física para se comunicar, houve um período no qual a
jovem conseguia apenas piscar com um de seus olhos, dessa
forma a estagiária tinha maior dificuldade em entender o que
de fato ela estava tentando expressar. É sempre importante
estar atento aos sinais verbais e não verbais, neste caso, os
gestos, expressões faciais, movimentos com o corpo e
distancias mantidas entre as pessoas dizem muito. Também
haviam dificuldades devido as muitas interrupções durante o
atendimento, haja visto que estava internada em uma UTI,
setor do hospital onde existe uma rotina intensa de cuidados
com os pacientes, por esse motivo raramente é possível
realizar um atendimento inteiro sem interrupções.
266
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO E O ATENDIMENTO PSICOTERÁPICO
HOSPITALAR: UM ESTUDO DE CASO
Entretanto, dessa dificuldade surgiram inúmeras
reflexões e questionamentos. Como poderia ser útil para
diminuir o sofrimento de uma pessoa que não estava
conseguindo se expressar, nem verbalmente e nem
fisicamente. Somado a isso, uma doença autoimune grave e
sem cura, dificuldade para encontrar alternativas de
intervenção para realizar o atendimento do caso, a estagiária
começou a pesquisar quais caminhos seguir para acompanhar
o caso.
Inicialmente o caminho escolhido foi o de cuidar, já que
o LES é uma doença crônica, ou seja, sua cura não é possível
(PESSINI, 2009). Cuidar para que a jovem conseguisse
expressar seus sentimentos, que sua genitora pensasse como
aproveitar o tempo com a filha compartilhando momentos
amorosos. E, se fosse o caso, cuidar para a paciente tivesse a
oportunidade de se despedir de seus entes queridos.
Sabe-se que as doenças afetam a subjetividade
humana, neste caso estudamos como o Lúpus Eritematoso
Sistêmico é capaz de produzir as mais diversas
manifestações, especialmente danos neuropsicológicos
bastante graves e incapacitantes.
Foi possível observar a escassez de conteúdo e
pesquisas na literatura para nortear o trabalho de psicólogos
nesse contexto. Assim, ficou evidente a necessidade de serem
realizadas pesquisas e sistematizações dos resultados
dessas, para que esses conhecimentos sirvam de referência
para o acompanhamento psicoterápico em pacientes com
essa enfermidade, tanto para psicólogos quanto para outros
profissionais da saúde.
Vale ressaltar também, a importância de realizar um
trabalho humanizado dentro do setting terapêutico hospitalar.
267
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO E O ATENDIMENTO PSICOTERÁPICO
HOSPITALAR: UM ESTUDO DE CASO
Tendo a consciência das mudanças angustiantes que afetam
o sujeito internado, como o afastamento de sua casa, rotina,
familiares, autonomia e objetos.
Por esses motivos, a necessidade de intervenções
psicoterapêuticas nas diversas unidades de assistência
médica tem sido cada vez mais reconhecidas e aceitas na
área da saúde. O apoio psicológico recebido neste momento
de adaptação do paciente a essa nova realidade estabelecida
se faz importante para o sujeito ter a oportunidade de trabalhar
suas emoções de forma que essas tenham o menor impacto
possível na sua recuperação (CAMON, 2010).
Moura Cal (2011), observam a importância do
acompanhamento psicológico no paciente com LES,
entretanto, relatos de intervenção nessa área são escassos. O
principal objetivo deste trabalho foi analisar a vivência e os
impactos psicossociais de uma jovem com diagnóstico de
Lúpus Eritematoso Sistêmico ao receber acompanhamento
psicológico durante o período de exacerbação da doença,
enquanto esteve internada em um hospital Geral Universitário.
Além de avaliar a intervenção psicológica no tratamento do
paciente com LES, e também proporcionar uma reflexão sobre
o papel do psicólogo hospitalar. (MOURA CAL, 2011).
4 CONCLUSÕES
268
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO E O ATENDIMENTO PSICOTERÁPICO
HOSPITALAR: UM ESTUDO DE CASO
Durante o período de realização deste estudo de caso o
objetivo foi cuidar, acolher e psicoeducar para auxiliar a
paciente a lidar com as crises causadas pela enfermidade, e
com a fragilidade psicológica eliciada pelo Lúpus Eritematoso
Sistêmico, e ainda, encontrar formas adaptativas de lidar com
a nova realidade.
Entretanto, sabemos da importância de mais pesquisas
e sistematização dos conhecimentos acerca do
acompanhamento psicoterápico aos pacientes acometidos por
essa doença para que os profissionais da saúde possam
prestar um serviço de saúde humanizado e com qualidade às
pessoas acometidas pelo Lúpus Eritematoso Sistêmico.
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273
MEMÓRIA EPISÓDICA, HIPOCAMPO E DOENÇA DE ALZHEIMER
CAPÍTULO 14
1 INTRODUÇÃO
2 MATERIAL E MÉTODOS
280
MEMÓRIA EPISÓDICA, HIPOCAMPO E DOENÇA DE ALZHEIMER
relacionados. Após a identificação, foi criado uma lista com os
materiais e todos foram revisados.
Os critérios de inclusão foram: ter como tema central do
trabalho a relação entre memória episódica e/ou hipocampo
com a DA; artigos publicados em inglês, português e
espanhol; serem originais, completos e disponíveis nos
bancos de dados acima de forma gratuita.
Foram aceitos estudos relativos à pesquisa da DA em
modelos humanos e animais não-humanos. Foram excluídos
artigos que não atendessem a esses critérios.
Após acessados, foi feita análise relativa ao
delineamento de estudo, metodologia empregada e achados
relevantes. Caso houvessem informações insuficientes no
artigo, o respectivo autor poderia ser contatado.
Durante essa etapa de análise, dois dos revisores (CS e
PM) verificaram os títulos e resumos dos artigos e excluíram
os que não se adequavam aos critérios delimitados. Dos
restantes, outro revisor (TF) verificou o artigo completo para
avaliar se esses, de fato, se encaixavam nos objetivos da
pesquisa. Se por ventura houvesse discordância, um terceiro
avaliador seria contatado.
Posteriormente foram aplicados métodos de screening
para selecionar os artigos de maior interesse para o presente
estudo. 16 duplicatas de materiais foram removidos.
Após isso, o restante foi acessado e 23 foram excluídos
pois não estavam em modo full text e, ainda, 17 foram
excluídos porque não permitiam acesso gratuito.
Os artigos restantes foram submetidos a análise
qualitativa. Ao final, foram utilizados nesse estudo seis artigos
das bases de dados acima.
281
MEMÓRIA EPISÓDICA, HIPOCAMPO E DOENÇA DE ALZHEIMER
Figura 1. Detalhamento dos passos metodológicos de
busca pelos artigos científicos.
Artigos identificados
através de busca em banco
de dados
(n = 87)
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
283
MEMÓRIA EPISÓDICA, HIPOCAMPO E DOENÇA DE ALZHEIMER
pacientes com DA tiveram maiores prejuízos em todos os
aspectos avaliados (lembrança de memórias autobiográficas
da infância, idade adulta e anos recentes) quando comparados
com os outros grupos. Os autores aqui atribuíram possíveis
causas de tais prejuízos na memória autobiográfica à atrofia e
redução do volume hipocampal.
Um outro estudo investigando a coerência e dificuldade
de expressar conhecimento em indivíduos diagnosticados com
DA com comprometimento cognitivo moderado e moderado-
severo foi feito por Lima et al. (2014). Eles avaliaram a
evocação de informações discursivas quando os indivíduos
eram esperados para contar uma história através de imagens
que lhes tinham sido passadas previamente. Os resultados
mostraram que pessoas com DA, comparadas com o grupo
controle, apresentaram menor coerência em seus discursos.
Além disso, esses indivíduos também apresentaram falhas na
expressão de conhecimentos em comparação com indivíduos
que não tinham a doença.
Esses resultados obtidos por Lima et al. (2014) são
valiosos na medida que indicam que os prejuízos na memória
não se restringem a ela mesma, afetando outros domínios da
cognição do indivíduo. Além do mais, é importante perceber
que a produção de discursos não pode ser vista simplesmente
como um aspecto do sistema de linguagem do indivíduo, mas
sim de uma rede complexa de interações neurais a qual
também faz parte o sistema de memória e de atenção, por
exemplo (KINTSCH, 2005).
Tentando avaliar a memória episódica em indivíduos
com DA de uma maneira diferente, Plancher et al (2012)
submeteu indivíduos em uma tarefa de ambiente em realidade
virtual comparando-os com pacientes portadores de
comprometimento cognitivo leve e idosos com envelhecimento
284
MEMÓRIA EPISÓDICA, HIPOCAMPO E DOENÇA DE ALZHEIMER
saudável. Seus resultados indicaram que as recordações dos
indivíduos com DA estavam mais prejudicadas que os do
grupo com comprometimento cognitivo leve e os do grupo
controle. Esse estudo também evidenciou que a recordação
de detalhes na DA estava prejudicada, corroborando os
achados de Lemos et al. (2012). Ainda, quando comparandos
os aspectos da memória episódica “quando” (informação
temporal) e “onde” (informação especial), o grupo com DA foi
mais deficiente que os outros grupos.
Os autores desse estudo, assim como relatou Plancher
et al. (2012), apontam que o maior nível de prejuízo na
memória episódica (armazenamento, consolidação e
processos de recaptulação) dos indivíduos com DA quando
comparada com outros grupos provavelmente está
relacionada a um maior ou menor grau de atrofia no
hipocampo.
285
MEMÓRIA EPISÓDICA, HIPOCAMPO E DOENÇA DE ALZHEIMER
níveis séricos de BDNF similares entre indivíduos saudáveis e
com DA, esses resultados mostram uma possível relação
entre o BDNF (que possui função protetora e é produzido de
forma abundante no hipocampo) com as perdas iniciais da
memória eposídica nas fases iniciais da DA. Vale salientar
também que o BDNF implica um papel central na memória de
longa duração e que o prejuízo da memória episódica e
redução do volume do hipocampo estão associados, dando
mais suporte aos achados desse estudo (BORBA et al., 2016).
Uma característica importante a se destacar no estudo
de Borba et al. (2016) é que outros trabalhos disponíveis na
literatura científica relatam também um maior nível sérico de
BNDF em idosos saudáveis quando comparados aos níveis
encontrados em indivíduos com DA. Contudo, também podem
ser encontrados trabalhos indicando níveis similares ou até
maiores em indivíduos portadores da demência. Isso indica
que não há um consenso a respeito do papel desempenhado
pelo BDNF na fisiopatologia da DA (FORLENZA et al., 2010;
YASUTAKE et al., 2006; O’BRYANT et al., 2009; NAGAHARA
et al., 2009).
Focado na relação entre memória autobiográfica e
volume do tecido cerebral, Philippi et al. (2012) avaliaram
pacientes com DA (todos com atrofia evidente do lobo
temporal medial) e os compararam com indivíduos saudáveis.
Os resultados encontrados sugerem que os indivíduos com
DA apresentaram piores resultados em testes de memória
autobiográfica para todos os perídos da vida (exceto 0-9 anos)
quando comparados com o grupo controle (Fig. 2).
Posteriormente foi demonstrado nesse estudo uma correlação
positiva entre o volume da substância cinzenta com o
desempenho dos indivíduos em testes de memória.
286
MEMÓRIA EPISÓDICA, HIPOCAMPO E DOENÇA DE ALZHEIMER
A melhor performance dos pacientes portadores da DA
para memórias do período de vida de “10-29 anos” (Fig. 2)
pode estar associada a uma característica dessa fase da vida
onde as experiências vividas são significativas para a
formação da identidade dos indivíduos (CONWAY e
PLEYDELL-PEARCE, 2000; CONWAY, 2005).
4 CONCLUSÕES
287
MEMÓRIA EPISÓDICA, HIPOCAMPO E DOENÇA DE ALZHEIMER
A DA é uma condição grave, com alta incidência e que
afeta a qualidade de vida e social do indivíduo acometido
(IZQUIERDO, 2002). O prejuízo da memória episódica é uma
característica típica e inicial dessa patologia (ALBERT et al.,
2011).
Nos artigos avaliados nesse trabalho, pode-se perceber
que os prejuízos a esse tipo de memoria podem ser de ordem
cognitiva, como prejuízo na especificidade das memórias, na
recapitulação de memórias referentes aos diversos estágios
de vida, na elaboração de discursos coesos ou de ordem
estrutural, como menores níveis séricos de BDNF, atrofia do
hipocampo e menor volume da substância cinzenta.
Estudos posteriores são requeridos para indicar os reais
mecanismos fisiológicos dos diversos modos de prejuízo da
memória episódica na condição da Doença de Alzheimer,
além de estratégias terapêuticas que possam reter os
prejuízos a esse tipo de memória.
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290
O OLHAR DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM ACERCA DE MEDIDAS
PREVENTIVAS DE ANSIEDADE EM AMBIENTE DE TRABALHO
CAPÍTULO 15
O OLHAR DO PROFISSIONAL DE
ENFERMAGEM ACERCA DE
MEDIDASPREVENTIVAS DE ANSIEDADE
EM AMBIENTE DE TRABALHO
RayssaPereira SuassuaLAUREANO1
Giovanna Carvalho MARTINS 2
LuannaÍria Gonzaga das Mercês Galdino FREITAS 3
Humberto Hugo Nunes de ANDRADE4
Maria do Carmo Pedroza TRAJANO 5
1
Graduanda do curso de Enfermagem, UFPB, Membro do Laboratório de Pesquisa e
Extensão Saúde Mental e Neurociência - LAPESN; 2Enfermeira residente em Saúde Mental/
UFPB; Membro do LAPESN3Enfermeira, Membro do LAPESN; 4Enfermeiro, Mestre em
Neurociencias cognitiva e comportamental,Membro do LAPESN; Orientadora/Enfermeira
Mestre em Neurociência Cognitiva e Comportamento(PPGNeC)e Membro do LAPESN.
raahsuassuna__@hotmail.com
291
O OLHAR DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM ACERCA DE MEDIDAS
PREVENTIVAS DE ANSIEDADE EM AMBIENTE DE TRABALHO
alternativas que possibilitam a prevenção da ansiedade em
ambiente de trabalho. O estudo possibilitou compreender a
necessidade davalorização profissional, a redução da carga
horária, e a provisão adequada de recursos materiais
inerentes ao trabalho de enfermagem dentro da sua rotina
profissional, como fatores essenciaispara o bom desempenho
dos trabalhadores desta categoria, trazendo um impacto
positivo e considerável na saúde dos profissionais, diminuindo
ou até mesmo prevenindo o aumento da ansiedade, assim
como o desgaste psicológico dos profissionais da
enfermagem.
Palavras-chave: Ansiedade. Profissionais de enfermagem.
Saúde do trabalhador.
1 INTRODUÇÃO
293
O OLHAR DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM ACERCA DE MEDIDAS
PREVENTIVAS DE ANSIEDADE EM AMBIENTE DE TRABALHO
a manutenção da saúde mental do ser humano (STUMM et al.,
2007).
Souza et al. (2012) afirma que o processo de trabalho
em saúde, no ponto de vista de sua complexidade, requer não
somente a utilização intensa da mão de obra humana, mas
exige também o uso de variados tipos de tecnologia refinada,
particularidade difícil de encontrar em outros serviços, mas
que está muito presente no ambiente hospitalar, em especial
nas Unidades de Terapia Intensiva.
Os autores ainda relatam que esse processo laboral é
cansativo, intenso e com longas jornadas de trabalho,
inclusive com rotinas diuturnas, tornando-se exaustiva e
podendo acarretar diversas consequências à saúde
dosprofissionais que ali estão (SOUZA et al., 2012).
Algumas pesquisas sobre morbidade referida pelos
enfermeiros, revelam a elevada incidência de problemas
gerados pela exposição às cargas psíquicas onde esses
processos, consequentemente, resultam em absenteísmo,
incapacidade temporária ou permanente, o que compromete a
qualidade da assistência prestada aos pacientes e a própria
qualidade de vida desses trabalhadores (MININEL;
BAPTISTA; FELLI, 2011).
Segundo Seccoet al. (2010) os enfermeiros, de todos os
grupos profissionais da área da saúde, são os mais expostos a
situações capazes de colocar em risco a sua saúde física e
mental. Um dos indicadores desta realidade relacionado às
condições de trabalho desse grupo refere-se ao fato de que
cerca de 70% dos trabalhadores possui duplo emprego formal.
Sabe-se que o ambiente hospitalar caracteriza-sepor ter
uma atmosfera tensa e de alerta, principalmente no que se
294
O OLHAR DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM ACERCA DE MEDIDAS
PREVENTIVAS DE ANSIEDADE EM AMBIENTE DE TRABALHO
refere a Unidade de Terapia Iintensiva (UTI), tendo em vista a
complexidade do atendimento ofertado.
Diante dessasconsiderações, surgiu o
questionamento:Qual a concepção dos profissionais de
enfermagem sobre medidas que podem prevenir seu
adoecimento psicológico?Dando origem ao seguinte objetivo
deste trabalho: Identificara perspectiva dos profissionais de
enfermagem a cerca de medidas preventivas de ansiedade em
ambiente de trabalho.
2 MATERIAIS E MÉTODO
295
O OLHAR DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM ACERCA DE MEDIDAS
PREVENTIVAS DE ANSIEDADE EM AMBIENTE DE TRABALHO
e 19 enfermeiros lotados no Centro de Terapia Intesiva do
referido hospital.
Para seleção dos participantes da amostra, foram
utilizados os seguintes critérios de elegibilidade: ser
profissional da enfermagem do nível médio ou ensino superior;
trabalhar na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital
supracitado;ter disponibilidade para participar da pesquisa e
assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
A coleta de dados foi realizada através de uma
entrevista, utilizando um questionário semiestruturado
previamente elaborado pelo próprio pesquisador, sendo
possível que o entrevistado tivesse mais de uma resposta para
cada perguntae ocorreu no período de agosto à setembro de
2017.
Minayo (2006) descreve o estudo de natureza
quantitativa com destaque as estratégias adotadas pelos
pesquisadores para desenvolver informações precisas,
objetivas e possíveis de interpretação, definida pela população
e busca um critério de representatividade numérica que
possibilite a generalização dos conceitos teóricos que se quer
testar.
Os participantes da pesquisa foram informados sobre
os objetivos do estudo, a justificativa, contribuição,
fidedignidade na análise das informações, garantia do
anonimato, bem como o direito à liberdade de retirar-se da
pesquisa a qualquer momento, se assim o desejarem.
A Resolução do COFEN nº 311/2007, determina no Art.
90: interromper a pesquisa na presença de qualquer perigo à
vida e à integridade da pessoa e reforça no Art. 91: Respeitar
os princípios da honestidade e fidedignidade, bem como os
296
O OLHAR DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM ACERCA DE MEDIDAS
PREVENTIVAS DE ANSIEDADE EM AMBIENTE DE TRABALHO
direitos autorais no processo da pesquisa, especialmente na
divulgação de seus resultados (COFEN, 2007).
Considerando os aspectos éticos preconizados pela
Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, que
trata do envolvimento de seres humanos em pesquisa, a
pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em
Pesquisa do Hospital Universitário Lauro Wanderley – HULW
sob número 65881817.8.0000.5183.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
297
O OLHAR DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM ACERCA DE MEDIDAS
PREVENTIVAS DE ANSIEDADE EM AMBIENTE DE TRABALHO
valorização profissional, redução de carga horária e recursos
materiais suficientes.
Dentre as respostas selecionadas, 29 estavam
relacionadas as necessidade de uma maior valorização
profissional, 18 abordaram a redução da carga horária como
fator de grande importância no processo de prevenção da
ansiedade, e 18 trouxeram como argumento o quantitativo
suficiente de recursos materiais como solução da problemática
em questão.
O reconhecimento pelo trabalho realizado classifica-se
como um fator contribuinte para a produção da saúde do
trabalhador, seja demonstrado através de gestos, palavras, ou
em momentos de avaliação formal do serviço. É um elemento
buscado por um perfil de profissionais que almeja o
aperfeiçoamento da sua dinâmica de trabalho através do
enfrentamento de dificuldades e soluções de problemáticas
diárias (AZAMBUJA et al., 2010).
Quando o desempenho do profissional de enfermagem
é prejudicado pela presença de estresse ou ansiedade, podem
ocorrer irregularidades de percepção, dificuldades de
concentração, e desinteresse nas tarefas a serem executadas
(LEITÃO; FERNANDES; RAMOS, 2008).
A prática do reconhecimento do trabalho caracteriza-se
como uma condição de extrema importância no ambiente dos
serviços de saúde sendo considerada como um aspectoque
favorece a manutenção da saúde mental e emocional dos
profissionais, os impulsionando a promover um serviço cada
vez mais qualificado assim como tornando salubre a rotina de
trabalho em que estão inseridos (AZAMBUJA et al., 2010).
A valorização profissional gera um impacto considerável
na vida do trabalhador, pois é capaz de motivar o seu
298
O OLHAR DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM ACERCA DE MEDIDAS
PREVENTIVAS DE ANSIEDADE EM AMBIENTE DE TRABALHO
desempenho, incentivar novas conquistas profissionais e
tornar o ambiente de trabalho mais agradável, de maneira em
que todos os envolvidos no processo da assistência do
cuidado sejam beneficiados, o próprio profissional, tornando-
se mais satisfeito em sua atividade laboral, o paciente, que
recebe um cuidado humanizado e de qualidade, e a empresa,
quepassa a possuir uma equipe de profissionais
comprometidos com a satisfação de seus clientes.
Este reconhecimento advindo da chefia, da equipe
multiprofissional ou dos próprios pacientes e familiares
favorece a auto realização dos profissionais de enfermagem
por aquilo que são e pelo que fazem, no sentido de alcançar
seu próprio potencial, levando-os a atingir um alto grau de
motivação em sua rotina laboral, facilitando dessa forma o
processo de trabalho (SPRANDEL; VAGHETTI, 2012).
Atualmente, os profissionais de enfermagem não
possuem um teto salarial, fazendo com que as organizações
de saúde não paguem salários justos diante da
responsabilidade e grau de conhecimento que a profissão
exige, como também dos variados riscos aos quais os
profissionais desta categoria estão expostos diariamente
(SPRANDEL; VAGHETTI, 2012).
Essa situação advém das dificuldades socioeconômicas
enfrentadas pelos mesmos, uma vez que a atividade é pouco
valorizada, apresenta remuneração insatisfatória, o que
termina por obrigar os indivíduos a adequar horários e
plantões, gerando jornadas extenuantes, muitas vezes
conciliadas com responsabilidades domésticas, quando não
com a dedicação aos estudos. Esta sobrecarga decorrente do
desgate físico e psíquico, pode diminuir a qualidade de vida do
299
O OLHAR DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM ACERCA DE MEDIDAS
PREVENTIVAS DE ANSIEDADE EM AMBIENTE DE TRABALHO
profissional tanto durante o ambiente de trabalho como na vida
pessoal do trabalhador (FREIRE; COSTA, 2016).
Torres e Felício (2012) afirmam que grande percentual
dos estudos psicológicos tem demonstrado que a
enfermagem, principalmente no âmbito hospitalar, é uma das
profissões que mais origina estresse e aumento do nível de
ansiedade em seus trabalhadores.
A baixa remuneração dos profissionais de enfermagem
está intimamente relacionada a valorização profissional, pois
caracteriza um fator desmotivador da rotina de trabalho, pelo
fato do indivíduo realizar um grande investimento de recursos
financeiros e humanos para sua formação e especialização.
No entanto ao ser contratado para atuar, as empresas
oferecem salários insatisfatórios, obrigando o profissional a
obter diversos vínculos empregatícios, na busca de um renda
considerável.
Na realidade, existe uma grande necessidade de
humanizar o trabalho do profissional de enfermagem para
obter uma adequada atenção aos clientes, objeto de sua
responsabilidade, mas para isto é indispensável uma atenção
especial à sua própria saúde, que precisa ser
valorizada(MAURO et al., 2010).
Outro ponto citado pelos profissionais do estudo foi a
redução da carga-horária como fator para redução da
ansiedade em ambiente de trabalho.
De acordo com Silva e Pinto (2012) a flexibilidade de
horários e principalmente os baixos salários, são apontados
por estes profissionais como causas para que os mesmos
acumulem funções em mais de um emprego, resultando em
uma carga horária semanal duas vezes maior que a normal,
comprometendo desta forma a eficiência e qualidade do
300
O OLHAR DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM ACERCA DE MEDIDAS
PREVENTIVAS DE ANSIEDADE EM AMBIENTE DE TRABALHO
serviço prestado. Como consequência a alta carga de
atividades afeta fisicamente e psicologicamente este
trabalhador, reduzindo os momentos em convívio familiar, bem
como em sociedade, e de forma significativa seu tempo de
lazer.
Os profissionais de enfermagem possuem nos dias de
hoje uma jornada de trabalho estabelecida em 40 horas
semanais, contudo muitos problemas são detectados nessa
jornada como, por exemplo: os diversos vínculos
empregatícios de um mesmo profissional, a irregularidade do
horário de descanso, entre outros fatores. Ocasionando assim
uma expansão dos turnos de trabalho que acabam excedendo
as seis, oito ou doze horas previstas, comprometendo desta
maneira a integridade física e mental destes profissionais
(SILVA NETO et al., 2015).
O hábito dos profissionais de enfermagem possuírem
mais de um vínculo empregatício, está fortemente relacionado
a baixa remuneração recebida pela categoria, compelindo o
trabalhador a sacrificar seus horários de descanso e lazer para
manter um padrão de vida digno, porém no que concerne a
saúde do trabalhador essa prática sobrecarrega o mesmo
desencadeando danos físicos e psicossociais ao mesmo.
As longas jornadas de trabalho variam em intensidade,
pausas e freqüências de repetição. Logo quanto mais
inadequadas as condições de trabalho em termos
psicossociais e de carga de trabalho, mais insalubre tende a
ser a jornada, dessa forma gerando graves consequências à
saúde e segurança dos trabalhadores envolvidos, bem como o
aumento das chances de desenvolvimento de uma assistência
de qualidade inadequada à população (SILVA; ROTENBERG;
FISCHER, 2011).
301
O OLHAR DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM ACERCA DE MEDIDAS
PREVENTIVAS DE ANSIEDADE EM AMBIENTE DE TRABALHO
A sobrecarga de trabalho associada a carga horária
excessiva e a exposição constante a situações de grande
atividade psíquica, gera estresse, fadiga, adoecimento e
consequentemente baixa produtividadedos profissionais de
enfermagem, afetando diretamente a qualidade da assistência
prestada aos clientes.
As cargas psíquicas as quais os profissionais de
enfermagem das Unidades de Terapia Intensiva estão
expostos advêm tanto de lidar com pacientes/acompanhantes,
que muitas vezes assumem uma postura agressiva, quanto do
convívio rotineiro com óbitos, situações que causam stress,
tensão, fadiga por exigências de atendimento imediato, e
estado de atenção permanente, entre outros aspectos
inerentes a este ambiente (RIBEIRO; SHIMIZU, 2007).
Por fim, como ultimo fator citado por esses profissionais
foi a problemática dos recursos matériais insuficientes nos
âmbitos da saúde. A insuficiência de materiais nas instituições
de saúde, em especial no ambiente hospitalar das Unidades
de Terapia Intensiva, estabelece umabarreira no
desenvolvimento da rotina laboral da equipe de enfermagem,
que se consolida como um fator de potencial ansiogênico,
favorecendo um aumento do estresse que também é
classificado como fator desencadeador da ansiedade. Logo,
gera uma sobrecarga psíquica neste profissional, criando uma
atmosfera de trabalho densa, desagradável e altamente
desgastante, que propicia agravos a saúde mental no decorrer
do cotidiano deste trabalhador.
A falta de recursos materiais suficientes no trabalho de
enfermagem, nas tarefas ditas de execução, caracteriza um
obstáculo no processo de trabalho, fazendo com que o mesmo
não seja desenvolvido de maneira adequada, ocasionando
302
O OLHAR DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM ACERCA DE MEDIDAS
PREVENTIVAS DE ANSIEDADE EM AMBIENTE DE TRABALHO
frustrações nos profissionais por não conseguirem promover
uma assistência totalmente correta, e sim adaptada (LEMOS;
RENNÓ; PASSOS, 2012).
Ribeiro e Shimizu (2007) corroboram que a insuficiência
de materiais adequados e de qualidade somada ao ritmo
acelerado de trabalho, frequentes dobras de plantão,
quantidade de profissionais reduzidas e salários injustos, além
da falta de defesas coletivas, agravam de forma importante o
desgaste psíquico-emocional destes profissionais.
A quantidade de recursos materiais insuficiente torna a
atuação do profissional limitada, pois há procedimentos que
são impossibilitados de serem realizados sem as condições
adequadas, outros através do esforço desempenhado pelos
profissionais chegam a ser realizados, porém não com a
mesma eficácia, e se houver, foi demandado um desgaste
maior do profissional para realizar uma atividade que em um
ambiente de trabalho satisfatório seria realizado de maneira
mais simples.
Duarte e Mauro (2010) afirmam que a ausência de
materiais e/ou instrumentos para a realização das tarefas
ocasiona uma sobrecarga ocupacional nos profissionais, que
para suprir a precariedade de ferramentas utilizam do
improviso para dar continuidade à assistência, contudo essa
atitude corriqueira gera um aumento da carga cognitiva que
pode resultar no adoecimento dos trabalhadores de
enfermagem.
A rotina laboral dos profissionais de enfermagem os
expõe ao convívio da dor, sofrimento, doença, e morte em
turnos ininterruptos, praticamente todos os dias do ano,
diversas vezes em condições de trabalho inadequadas (SILVA
NETO et al, 2015).
303
O OLHAR DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM ACERCA DE MEDIDAS
PREVENTIVAS DE ANSIEDADE EM AMBIENTE DE TRABALHO
O contato direto e frequente dos profissionais da
enfermagem com a dor, a morte,o sofrimento e o estresse do
convívio com o paciente e seus familiares, atrelado a
condições insalubres de trabalho e sobrecarga de atribuições,
propicia a esta categoria um quadro favorável ao adoecimento
psíquico.
Segundo Gomes e Oliveira (2013), O profissional de
saúde tem seu trabalho associado ao ato de cuidar, curar,
produzir o bem-estar, porém em sua realidade hospitalar,
confronta-se com limitações e desafios diários, os quais,
quando mal resolvidos, podem gerar em si ansiedade e ou
depressão.
A enfermagem como profissão inserida no setor da
saúde, possui um processo de trabalho constituído de normas,
rotinas além da fragmentação das tarefas, sem qualquer tipo
de participação conjunta com a equipe para os momentos
decisórios, o que acaba desperdiçando a subjetividade do
trabalhador, que poderia auxiliar em melhorias na sua rotina
laboral (MENDES; MANTOVANI, 2010).
Conforme Mendes e Mantovani (2010) a categoria
elenca como principais transformações desejadas, o
reconhecimento social e remuneratório da enfermagem, a
estabilidade profissional, a redefinição de carreira bem como
as questões que afetam a prestação de cuidados. A realização
profissional, obtida através da concretização de expectativas e
alcance de metas, produz satisfação diante do contexto laboral
do trabalhador, preservação da saúde mental e
consequentemente a manutenção da qualidade do serviço.
O investimento institucional de medidas para a redução
do estresse da equipe de enfermagem poderá trazer
benefícios significativos, visto que incrementa a produtividade,
304
O OLHAR DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM ACERCA DE MEDIDAS
PREVENTIVAS DE ANSIEDADE EM AMBIENTE DE TRABALHO
proporciona a satisfação dos trabalhadores e
consequentemente promove uma melhoria do cuidado
prestado aos pacientes (BRANDÃO;GALVÃO,2013).
Em suma, todos os aspectos citados possuem ainda um
importante impacto na promoção da assistência desse
profissional, pois as expectativas e necessidade não atendidas
passam a refletir também na forma como o mesmo desenvolve
seu trabalho, gerando uma qualidade inferior do cuidado
prestado pelos integrantes da equipe de enfermagem, dessa
forma prejudicando ainda o paciente.
Visto que a vida e o adoecimento destes profissionais
estão intimamente ligados à sua inserção na rotina laboral, é
necessário um planejamento dos dirigentes, gerentes e
coordenadores institucionais em relação à minimização dos
efeitos nocivos do trabalho sobre estes profissionais.
4 CONCLUSÕES
305
O OLHAR DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM ACERCA DE MEDIDAS
PREVENTIVAS DE ANSIEDADE EM AMBIENTE DE TRABALHO
indiferença, queixas frequentes, ou até mesmo esgotamento
profissional.
Considerando os elementos sugeridos pelos
trabalhadores compreende-se que é necessário que os
modelos tradicionais de organização do trabalho sejam
repensados, podendo assim criar condições de flexibilização
da participação dos profissionais nos processos de decisões,
fazendo com que estes se sintam parte integrante do processo
produtivo, contribuindo para a satisfação pessoal bem como
profissional.
Dessa forma os achados desta pesquisa podem ser
úteis para gestores e trabalhadores que possuam o interesse
em reorganizar o processo de trabalho visando obter melhores
resultados em todo o contexto laboral, assim como contribuir
para a manutenção da saúde de quem o exerce.
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308
PROCESSAMENTO VISUAL ESPACIAL
CAPÍTULO 16
309
PROCESSAMENTO VISUAL ESPACIAL
compõem o processamento da visão demonstram que tais
alterações prejudicam aspectos básicos da vida do indivíduo,
incluindo o aspecto social. Assim, compreender a visão
espacial é de grande importância para as neurociências, uma
vez que é possível traçar paralelos sobre mecanismos
neurofisiológicos e suas relações com transtornos
neuropsiquiátricos, por exemplo.
Palavras-chave: Sistema visual humano. Visão espacial.
Neurociências.
1 INTRODUÇÃO
310
PROCESSAMENTO VISUAL ESPACIAL
Deste modo, o objetivo deste estudo é fornecer um
panorama geral do processamento visual espacial.
2 MATERIAL E MÉTODOS
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
313
PROCESSAMENTO VISUAL ESPACIAL
dos canais iônicos e cascatas subsequentes (PURVES et al.,
2001b; REBRIK; KORENBROT, 2004).
Deste modo, o impulso nervoso é levado até o núcleo
geniculado lateral (NGL) e então para o córtex visual primário
(V1), onde a primeira interpretação subjetiva da imagem é feita
(DETWILER; GRAY-KELLER, 1992).
319
PROCESSAMENTO VISUAL ESPACIAL
de imagem em componentes bidimensionais, com canais que
respondem de acordo com a sua amplitude (DeValois &
DeValois, 1990).
A relação funcional entre a recíproca do limiar de
contraste e frequências espaciais é denominada função de
sensibilidade ao contraste (FSC) (CORNSWEET, 2012). A
FSC é considerada como o inverso da curva do limiar de
contraste, estando relacionada com diferenças existentes
entre picos e vales de comprimentos de ondas em um espaço
coordenadas logarítmicas, por exemplo.
Neste sentido, o SVH possui alta sensibilidade quando
um padrão precisa de pouco contraste para ser detectado. O
inverso, baixa sensibilidade, quando o SVH precisa de alto
valor de contraste para detectar o estímulo. A curva de
sensibilidade ao contraste é o envelope de sensibilidade para
uma série de canais que envolvem as vias M, P e K, cada um
sensível a uma faixa restrita do espectro de frequências. Ou
seja, representa a sensibilidade de qualquer um destes
sistemas em ser mais ou menos sensível em determinada
frequência espacial (DeValois & DeValois, 1990; Santos &
Simas, 2001; Skottun, 2000).
323
PROCESSAMENTO VISUAL ESPACIAL
Sou Tricromata?
4 CONCLUSÕES
325
PROCESSAMENTO VISUAL ESPACIAL
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330
REFLEXÕES SOBRE A ACESSIBILIDADE NOS CENTROS DE ATENÇÃO
PSICOSSOCIAL NAS CIDADES DE JOÃO PESSOA E CABEDELO- PB.
CAPÍTULO 17
1 INTRODUÇÃO
332
REFLEXÕES SOBRE A ACESSIBILIDADE NOS CENTROS DE ATENÇÃO
PSICOSSOCIAL NAS CIDADES DE JOÃO PESSOA E CABEDELO- PB.
Neste âmbito, os Centros de Atenção Psicossocial
(CAPS) assumem um papel relevante nas ações de saúde
mental por se tornarem responsáveis pelo atendimento dos
pacientes psiquiátricos no território. Essas novas estratégias
de substituição dos manicômios (CAPS) são serviços de
atenção diária,abertos, com livre acesso aos usuários, família
e comunidade. Se encontrando dividida de acordo com cinco
modalidades, atentando a população alvo esua capacidade
operacional. Estes tipos são:
CAPS I - Serviço de atenção psicossocial com
capacidade operacional para atendimento em
municípios com população entre 20.000e 70.000
habitantes.
CAPS II - Serviço de atenção psicossocial com
capacidade operacional para atendimento em
municípios com população entre 70.000e
200.000 habitantes.
CAPS III - Serviço de atenção psicossocial com
capacidade operacional para atendimento em
municípios com população acima de 200.000
habitantes.
CAPS AD - Serviço de atenção psicossocial para
atendimento de pacientes
comtranstornosdecorrentes do uso e
dependência desubstâncias psicoativas, com
capacidade operacional para atendimento em
municípios com população superiora 70.000.
CAPSi - Serviço de atenção psicossocial para
atendimentos a crianças e adolescentes,
referência para uma população de cerca de
333
REFLEXÕES SOBRE A ACESSIBILIDADE NOS CENTROS DE ATENÇÃO
PSICOSSOCIAL NAS CIDADES DE JOÃO PESSOA E CABEDELO- PB.
200.000 habitantes.(CAMPOS,2006; BRASIL,
2004)
334
REFLEXÕES SOBRE A ACESSIBILIDADE NOS CENTROS DE ATENÇÃO
PSICOSSOCIAL NAS CIDADES DE JOÃO PESSOA E CABEDELO- PB.
As populações com algum tipo de deficiência são mais
vulneráveis as comorbidades relacionada a sua deficiência,
demonstrando um alto nível de necessidade ao uso de
serviços de saúde para conservação de sua integridade
mental e física (HARRISON, 2006 apud CASTRO et al 2011,
p.100).
Com isso, esse trabalho teve como objetivo avaliar os
CAPS dos municípios de João Pessoa e Cabedelo- PB, na
perspectiva de refletir a partir da realidade encontrada nesses
serviços, no setor relacionado a acessibilidade da sua
estrutura física.
2 MATERIAIS E MÉTODO
335
REFLEXÕES SOBRE A ACESSIBILIDADE NOS CENTROS DE ATENÇÃO
PSICOSSOCIAL NAS CIDADES DE JOÃO PESSOA E CABEDELO- PB.
O estudo foi desenvolvido em três etapas distintas, mas
devidamente articuladas:
Primeira etapa: Foi realizada uma visita prévia ao local para
obter a aceitação da entrevista com a direção, onde foi
explicado o estudo, seus objetivos e os procedimentos a
serem realizados.
Segunda etapa:Os diretores(a) responderam ao questionário
sobre os recursos humanos do Centro de Atenção
Psicossocial.
Terceira etapa: Foi apresentado ao pesquisador o ambiente
físico do CAPS e os profissionais presentes no momento da
entrevista.
O estudo foi aprovado sob protocolo n° 0392/15 CAAE:
45965815.0000.5188 do Comitê de Ética e Pesquisa do
Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da
Paraíba, atendendo à Resolução Nº 466/12 do Conselho
Nacional de Saúde.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
336
REFLEXÕES SOBRE A ACESSIBILIDADE NOS CENTROS DE ATENÇÃO
PSICOSSOCIAL NAS CIDADES DE JOÃO PESSOA E CABEDELO- PB.
337
REFLEXÕES SOBRE A ACESSIBILIDADE NOS CENTROS DE ATENÇÃO
PSICOSSOCIAL NAS CIDADES DE JOÃO PESSOA E CABEDELO- PB.
serviços de saúde, pois deixa esse grupo de pessoas com
prejuízo no ato de usufruir desse direito quanto cidadãos.
339
REFLEXÕES SOBRE A ACESSIBILIDADE NOS CENTROS DE ATENÇÃO
PSICOSSOCIAL NAS CIDADES DE JOÃO PESSOA E CABEDELO- PB.
340
REFLEXÕES SOBRE A ACESSIBILIDADE NOS CENTROS DE ATENÇÃO
PSICOSSOCIAL NAS CIDADES DE JOÃO PESSOA E CABEDELO- PB.
entradas e saídas, rotas de fuga, elevadores de segurança ou
outros locais onde houver diferença de nível entre pavimentos,
e de saídas de emergência. (ABNT, 2004)
Ao considerarmos o quesito banheiros, mostrou-se que
apenas dois (2) CAPS tinham em sua estrutura física pisos
antiderrapantes e nenhum tinha barras de apoio para os
usuários. Este dado mostra que o risco de quedas aumenta,
segundo Reis et al. 2016, existem fatores que favorecem
esses episódios de queda no contexto psiquiátrico dentre eles
os (ambientais) como pisos e escadas irregulares, falta de
barras de apoio, iluminação deficiente; os (biológicos) como
idade, sexo, doenças crônicas, (comportamentais) poli
medicação, abuso de álcool, calçado inapropriado e
(socioeconômicos) como acesso limitado aos serviços de
saúde e sociais dentre outros.
Dos sanitários de uso público deve ser destinado o
mínimo de 5% do total de cada peça para pessoas deficientes,
pelo menos uma peça de cada um. Quando houver
instalações masculinas e femininas, o cálculo deve ser
considerado separadamente. (ABNT, 2004)
Já em relação a acessibilidade em assentos que devem
suportar até 250 Kg apenas um (1) dos cinco serviços
analisados não tinha esse recurso.
Entende-se que o conceito de acessibilidade não é
apenas a vontade de agir do Estado, mesmo já tendo ocorrido
algumas melhorias nas políticas de acessibilidade do país.
Mas ainda torna-se imprescindível que a sociedade
compreenda que o espaço acessível é aquele que promova
uma paridade em todas os âmbitos da vida em conjunto.
(BRASIL, 2001)
341
REFLEXÕES SOBRE A ACESSIBILIDADE NOS CENTROS DE ATENÇÃO
PSICOSSOCIAL NAS CIDADES DE JOÃO PESSOA E CABEDELO- PB.
Quando nos conscientizamos acerca da nossa co-
responsabilidade, delineamento e a proteção do espaço
urbano evitamos os diversos atos de bloqueio ao direito do
cidadão com deficiência, como por exemplo evitar colocar
entulhos, mobiliários e plantação de árvores nas calçadas e
vias públicas. Tornando estas atitudesum meio de
publicização do entendimento a respeito da acessibilidade, e o
ato de solicitar e fiscalizar os diversos setores responsáveis
por essas adaptaçõesmelhora o acesso de todos aos bens e
serviços. De modo com que as necessidades sociais sejam
atendidas pelo poder público como está estabelecido na Lei
No 10.257(20) denominada Estatuto da Cidade. (BRASIL,
2001)
SegundoAragão et al. 2008, a localização dos assentos
e dos espaços de salas e auditórios devem ser acessíveis
para os portadores de deficiência física, garantindo conforto,
segurança, boa visibilidade e acústica, juntamente com a
disposição geral dos assentos, tendo como foco a não
segregação, e permitindo-lhes sentar próximos dos seus
acompanhantes, sem impedir o acesso aos demais assentos e
a circulação. Devendo-se localizar nas imediações das
circulações de emergência.
Todos esses dados nos faz refletir sobre a falta de
acessibilidade que esses serviços tem, e bem como a falta de
segurança nesses locais que lidam diretamente com a vida
humana, e principalmente o ser humano com transtorno
mental, que por fatores fisiológicos e psicológicos necessitam
de um cuidado mais intensificado.
Um conceito que é questionável em virtude dos
resultados dessa pesquisa seria a tão famosa Equidade, que é
garantida pelo nosso Sistema único de Saúde (SUS). Será
342
REFLEXÕES SOBRE A ACESSIBILIDADE NOS CENTROS DE ATENÇÃO
PSICOSSOCIAL NAS CIDADES DE JOÃO PESSOA E CABEDELO- PB.
que este princípio está se fazendo cumprir nos CAPS, não só
da Paraíba mas no Brasil? Campos (2006) fala que o sentido
mais complexo desse princípio do SUS é dar a cada sujeito o
que se mostra como sua necessidade.
Contudo, infelizmente essa necessidade dos serviços
de saúde mental não estão sendo materializadas.Torna-se
indispensável incluir a acessibilidade na avaliação dos
serviços de saúde mental, que auxilie no estabelecimento de
metas que facilitem a universalização da saúde já efetivadas e
nas características de cada região que tenham necessidade
de ações específicas afim de garantir a equidade, tanto no
quesito de qualidade no atendimento, tanto na acessibilidade
da estrutura física desses CAPS. (BARROSO, 2011)
Quando não se é incluída a acessibilidade nessas
avaliações dos serviços de saúde mental, poder haver o
ocasionamento deconsequências assim como um
mascaramento das reaisdificuldades,contribuindo para que
elas perdurem não garantindo a população brasileira o
atendimento de excelência que temos por direito. (BARROSO,
2011)
4 CONCLUSÕES
343
REFLEXÕES SOBRE A ACESSIBILIDADE NOS CENTROS DE ATENÇÃO
PSICOSSOCIAL NAS CIDADES DE JOÃO PESSOA E CABEDELO- PB.
abordagem presença/ausência de empecilhos ao uso de
serviços de saúde, mostrando-se um tema bem mais
complexo e importante em saúde pública: a equidade em
saúde.
Essa desestruturação no serviço indica a presença de
barreiras de acesso não captadas pelos indicadores amplosde
provisão de CAPS. Onde estafalha na acessibilidade instiga,
sem dúvida, para que seja problematizada e repercutida essa
experiência da reforma psiquiátrica no país, tomando como
propósito a tomada de decisões inovadoras na perspectiva da
avaliação do desempenho do sistema de saúde brasileiro.
Diante do exposto no artigo não resta dúvida de que
são primordiais a construção de novos estudos sobre as
diversidades dos usuários de CAPS: será que os serviços de
saúde mental do estado da Paraíba estão prontamente
estruturados para atender usuários que além de um transtorno
psíquico sejam também pessoas portadoras de deficiência em
sua multiplicidade?
Outro questionamento que nos vem à tona é quais são
as reais motivações institucionais e organizacionais paraa não
cumprimento da atenção integral e holística à saúde dos
cidadãos independente se sua particularidade? É preciso
investigar mais e mais buscando ampliar e concretiza-las para
assim o povo brasileiro ser melhor atendido nos serviços que
ele necessite.
Por fim, é preciso que a mudança ocorra de dentro para
fora por meio de atitudes proativas das equipes que trabalham
nesses locais e que os gestores apoiem essa prática voltada
aaçõescom direcionamentos mais resolutivos das dificuldades
de acesso desses usuários aos serviços, buscando priorizar a
assistência universal, integral e equitativa. Adotando práticas
344
REFLEXÕES SOBRE A ACESSIBILIDADE NOS CENTROS DE ATENÇÃO
PSICOSSOCIAL NAS CIDADES DE JOÃO PESSOA E CABEDELO- PB.
de transformação de comportamentos e atitudes buscando
ofertar um cuidado baseado em relações interpessoais
eficazes e que alcance o controle social.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
345
REFLEXÕES SOBRE A ACESSIBILIDADE NOS CENTROS DE ATENÇÃO
PSICOSSOCIAL NAS CIDADES DE JOÃO PESSOA E CABEDELO- PB.
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347
SAÚDE MENTAL E MEIO AMBIENTE: UM ESTUDO OBSERVACIONAL
CAPÍTULO 18
1 INTRODUÇÃO
349
SAÚDE MENTAL E MEIO AMBIENTE: UM ESTUDO OBSERVACIONAL
Brasil, tinham como principal pretensão impulsionar mudanças
conceituais e, especialmente, as formas de cuidado
(MACEDO; ABREU; FONTENELE; DIMENSTEIN, 2017).Essa
mudança teve seu início, no Brasil, com a aprovação da Lei nº
10.216/2001, na qual discute sobre os direitos daqueles que
se encontram em um estado de sofrimento psíquico e debate
sobre a reorientação do modelo assistencial (BRASIL, 2015).
Segundo Oliveira (2014), a Reforma Psiquiátrica
possibilitou que as pessoas em sofrimento psíquico, antes
retidas em hospitais psiquiátricos, passassem a desocupar
esse espaço e se inserirem na sua comunidade e em outros
locais de sua cidade, além de acessarem tecnológicas de
cuidado diferenciadas. Rosa (2014) enfatiza que esse
movimento no Brasilpossui os seguintes eixos:
desinstitucionalização como um processo constante de
desconstrução dos aparatos manicomiais; a descentralização
da atenção hospitalar em manicômios para o
cuidadocomunitário; e rede diversificada de Atenção à Saúde
Mental.
Frente a isto, entende-se que a evolução de
pensamento e de modelo resultou em novas formas de
cuidado em saúde mental, sendo estas pautadas no modo
psicossocial, o qualvolta sua atenção não mais para a doença
em si, mas para o indivíduo com suas particularidades e
potencialidades. Para atender essas ideias, uma rede de
serviços territoriais de atenção psicossocial, dispositivos
institucionais de características não asilares, alternativas de
base comunitária foram criados, visando não acabar com o
tratamento clínico, mas extinguir a prática de internamento
como uma forma de exclusão social (ZEFERINOet al., 2013).
Visando atingir esse objetivo a Portaria n° 336/2002 do
Ministério da Saúde foi aprovada, na qual preconizam novas
350
SAÚDE MENTAL E MEIO AMBIENTE: UM ESTUDO OBSERVACIONAL
configurações de prestação de cuidado em saúde mental, com
criação e disponibilização de serviços ao Sistema Único de
Saúde (SUS), a exemplo de Centros de Atenção Psicossocial
(CAPS), leitos psiquiátricos em Hospitais gerais, ambulatórios,
Unidades Básicas de Saúde (UBS), Serviços Residenciais
Terapêuticos (SRTs) e redes de apoio, que possuem a
finalidade de acolher pessoas que apresentam sofrimento
psíquico (PITTA, 2011).
Esse processo dedesinstitucionalização visa não
apenas retirar os sujeitos de dentro dos hospitais psiquiátricos,
mas reinseri-los, novamente, em suas comunidades,
fortalecendo seus vínculos e desenvolvendo sua autonomia e
potencialidade (SANTOSet al.,2000). Estes esforços vão,
portanto, além, pois incentiva constantemente a postura de
uma sociedade coparticipativa no tratamento dos seus
semelhantes, contribuindo para a reconstrução de vítimas de
um sistema opressor (BOARINI, 2000).
O meio ambiente assim com a sociedade e as relações
que por ela perpassam, também pode influenciar no processo
de prevenção e promoção da saúde mental.Segundo Reigota
(1994), o equilíbrio entre a saúde e o meio ambiente é um
binômio indissociável e reconhecido, pois a interação entre os
elementos sociais e naturais geram diariamente transformação
mútua.
Contudo, analisando a história, é possível constatar que
a inserção do meio ambiente no cerne das discussões
jurídicas e sociais é relativamente recente, datada de 37 anos.
O Brasil, por exemplo, foi um dos pioneiros a destinar um
capítulo de sua constituição para meio ambiente (SACHS,
2000). Esforço refletido na Lei 6938 de 31 de agosto de 1981
do Ministério do Meio Ambiente, a qual define o mesmo como
“o conjunto de condições, leis, influências e interações de
351
SAÚDE MENTAL E MEIO AMBIENTE: UM ESTUDO OBSERVACIONAL
ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a
vida em todas as suas formas (Art. 3, inciso I)”.
As alterações ambientais interferem na qualidade de
vida das pessoas, compreendendo essas mudanças como um
problema da humanidade. Tal percepção chamou atenção da
Psicologia, a qual sentiu a necessidade de se envolver nas
discussões e entender o homem frente ao ambiente
(CORRALIZA, 1997). A partir dessa inquietude, surge a
Psicologia Ambiental, que consiste em uma área ou
subdisciplina de uma ciência psicológica mais geral
(SOMMER, 2000).
Essa área, relativamente recente, tem por objeto de
estudo o comportamento e seus correlatos, porém vale
destacar que seus interesses são específicos e direcionados
para: (1) a forma pela qual os aspectos sociais e físicos do
ambiente influenciam os comportamentos das pessoas, a
exemplo da percepção; e (2) para o modo como os
comportamentos dos indivíduos afetam o ambiente, a exemplo
de ações que visem à conservação e a sustentabilidade
(CORRAL-VERDUGO, 2005).
A Psicologia Ambiental estuda, portanto, os indivíduos
em seu contexto, voltando suas discussões para as inter-
relações, e não somente as relações entre esses âmbitos,
apresentando assim, uma dinamicidade, pois se entende que
os indivíduos agem sobre o ambiente, mas ao mesmo tempo
este influencia os comportamentos humanos
(MOSER,1998).Pinheiro (1997) ratifica essa posição, quando
enfatiza que o ambiente físico e a dimensão social precisam
ser estudados juntos, tendo em vista que são condições
inalienáveis da inter-relação pessoa-ambiente.
Diante da literatura apresentada e da clara relação
entre o homem e o ambiente, o presente estudo teve como
352
SAÚDE MENTAL E MEIO AMBIENTE: UM ESTUDO OBSERVACIONAL
objetivo conhecer a relação entre o meio em que uma
população está inserida e sua relação com a promoção,
intervenção e prevenção da saúde mental.
2 MÉTODO
a. Tipo de Pesquisa
2.2.Local
2.3. Instrumentos
353
SAÚDE MENTAL E MEIO AMBIENTE: UM ESTUDO OBSERVACIONAL
2.4. Procedimentos
Para que a pesquisa fosse realizada, a princípio,
entrou-se em contato com a coordenadora da Unidade Básica
de Saúde, solicitando a autorização da mesma para a inserção
dos profissionais, por tempo determinadode dois meses, no
dispositivo de saúde, tempo necessário para realizar as
observações. Após a permissão, os pesquisadores passaram
a realizar visitas semanais, variando entre uma a duas por
semanas, totalizando 10 observações.
As quatro primeiras visitas tiveram como objetivo a
inserção dos pesquisadores no dispositivo de saúde,
permitindo conhecer o espaço, as atividades e os profissionais
que atuam e que podem dar suporte e orientação às
observações.
As demais visitas tiveram como foco a observação da
comunidade como umtodo, sua infraestrutura, saneamento
básico, territorialização, disponibilidade de recursos de saúde,
transporte e demandas de saúde mental mais recorrentes.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
354
SAÚDE MENTAL E MEIO AMBIENTE: UM ESTUDO OBSERVACIONAL
informações sobre os casos mais recorrentes de transtormo
dentro da comunidade.
Os primeiros contatos permitiram constar que o
dispositivo dispõe de um espaço cedido por uma empresa
privada. O ambiente conta com pouco espaço, no entanto, os
profissionais tentam ao máximo potencializar o seu uso. No
local, atuam uma enfermeira, um médico, e uma odontóloga,
além de recepcionistas, agentes de saúdes, estagiários de
enfermagem de instituições particulares e uma equipe de
residêntes de uma faculdade pública da cidade, a qual é
formada por um fisioterapeuta, uma enfermeira e uma
psicóloga.
Informa-se ainda que no dispositivo são realizadas
ações com: atividade física,encontros com gestantes e rodas
de conversas, sendo essas ações reflexo de uma crescente
preocupação por parte de profissionais de diversas áreas com
os problemas característicos de um território, os quais
destinam esforços para minimizá-los (PINHEIRO, 1997). O
primeiro momento conta com a frequência, exclusivamente, de
mulheres com idades acima de 30 anos, apesar de ser um
espaço aberto para todos os sexos e idades. Para a OMS
(2002) as atividades físicas leves e moderadas contribuem de
forma significativa para o retardo dos declínios funcionais,
proporcionando um bom estado de saúde mental, além de
contribuir para a diminuição de desordens como a depressão e
a demência.
Os encontros com gestantes, por sua vez, visam
esclarecer dúvidas e informar sobre a gestação e os cuidados
com o bebê. Esses espaços permitem, portanto: (1) tecer
discussões sobre a garvidez, a qual pode ser compreendida
como um evento da vida da mulher que é permeado por
valores e transformações ímpares (CARVALHO; CARDOSO;
355
SAÚDE MENTAL E MEIO AMBIENTE: UM ESTUDO OBSERVACIONAL
OLIVEIRA; LÚCIO, 2008);(2) acolher; (3) oferecer respostas
às dúvidas referentes ao cuidado que se deve ter com o
recém-nascido; (4) prestar apoio aos sentimentos de medo,
dúvidas, a angústias, fantasias ou curiosidade de saber sobre
o que acontece com o seu corpo (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2003).
Um espaço como este pode ajudar as pessoas a
enfrentarem melhor esses períodos de mudança, tornando-se
um ambiente de compartilhamento de experiências entre as
participantes, coordenadores e outros profissionais com
conhecimentos técnico-científicos os quais são convidados a
prestarem sua contribuição (MUNARI; RODRIGUES, 1997).
Esse espaço de educação, segundo Rios e Vieira
(2007), deve ter por finalidade possibilitar o preparo à mulher
para compreender e viver a gestação e o parto de forma mais
branda, integradora e feliz; além de ajudá-la a prestar
cuidados adequados aos seus filhos. As práticas educacionais
se referem, portanto, às atividades de educação em saúde,
direcionadas para o desenvolvimento de capacidades
individuais e coletivas, objetivando à melhoria da qualidade de
vida e saúde.
Já as rodas de conversa objetivam promover encontros
e diálogos entres os frequentadores, resultando em interação
e compartilhamento de histórias e vivências, proporcionando o
estabelecimento de vínculos. Esses momentos, assim como
os demais citados, possuem uma maior participação do
público feminino. Segundo Yasui (2009), encontros desse tipo
são excelentes estratégias de cuidado, pois de acordo com o
autor, prevenção se concretiza na produção permanente, no
fazer-acontecer, com ações orientadas por valores sociais,
como solidaderiedade, coletivização e resistência à
estagnação.
356
SAÚDE MENTAL E MEIO AMBIENTE: UM ESTUDO OBSERVACIONAL
Diante disso, pode-se compreender os dipositivos de
saúde como responsáveis pelo cuidado da experiência
subjetiva do sofrimento psíquico dos moradores da
comunidade e das relações sociais e familiares que permeiam
o dia a dia das pessoas no seu território (ZEFERINO et al.,
2013). Completando esse pensamento, Grigolo (2010) pontua
que as relações existentes na comunidade, entre os
profissionias, familiares, moradores e usuários dos
dispositivos, permitem a construção diária de vínculos,
escutas, negociações de projetos terapêuticos e embates
entre diferentes formas de pensar do ser humano, de mundo e
de sofrimento psíquico, permintido, assim, uma reflexão
promissora com cuidado da saúde mental de cada um e do
próximo.
O esforço para ativar um grupo que visa diretamente a
promoção de saúde mental, não teve êxito, em virtude da
comunidade nutrir um posicionamento negativo frente aos
encontros. Tal fato é resultado do pensamento nutrido pelos
moradores de que o mesmo tem por meta trabalhar com
pessoas que apresentam algum transtorno mental,
acarretando a escassez de pessoas no grupo e sua
inativação.
Tal realidade vai ao encontro do posicionamento de
Jorge, Ramirez, Lopes, Queiroz e Bastos (2008), os quais
afirmam que o preconceito frente às pessoas com algum tipo
de doença mental se faz, constantemente, presente da
sociedade. Feijó e Macedo (2012) convergem para a mesma
direção ao pontuarem que esse grupo é altamente
estigmatizado, se caracterizando, assim, como uma questão
complexa e permeada por várias dimensões, seja da vida
social e aspectos emocionais desses sujeitos, familiares e
comunidades.
357
SAÚDE MENTAL E MEIO AMBIENTE: UM ESTUDO OBSERVACIONAL
Os dispositivos de saúde mental, no processo de
superação do preconceito, possuem um papel singular, pois
os mesmos podem por meio de ações e intervenções sociais
transformarem as visões estigmatizadas que se propagam
sobre o transtorno mental, promovendo uma maior integração
social desta clientela e minimizando os efeitos do preconceito
na vida dos usurários(SALLES; BARROS, 2013). Contudo, é
sabido que o processo de desmistificação da doença mental
ainda tem um longo caminho a percorrer até findar as
concepções errôneas arraigadas no íntimo das pessoas
(JORGE et al., 2008).
As visitas subsequentes permitiram constatar que a
comunidade é vasta e que uma grande parte do seu território
ainda não fora mapeada, refletindo em uma infraestrutura e
saneamento precário, principalmente, nas áreas não
registradas. Apresentando, por exemplo, ruas sem
pavimentação, esgoto a céu aberto, e, por vezes, ausência de
água encanada nas comunidade mais distantes.
Quanto as questões que circundam a promoção,
prevenção e recuperação da saúde mental, na comunidade,
alguns pontos merecem destaque, entre eles a ausência de
profissionais de psicologia contratados pela prefeitura,
possuindo apenas uma psicóloga residente. Não obstante,
enfatiza-se que a mesma não consegue, sozinha, dar conta
das demandas que surgem, além de não dispor de uma sala
que a permita realizar acolhimentos e atendimentos, forçando-
a utilizar de outros espaços, inadequados, para não deixar de
atender aqueles que vão ao posto em busca de atendimento
psicológico.
A principaldemanda local é a depressão, sendo esta
presente em todas as faixas etárias, acarretando um número
significativo de suicídios e tentantivas. Durante as
358
SAÚDE MENTAL E MEIO AMBIENTE: UM ESTUDO OBSERVACIONAL
observações realizadas foi possível verificar uma tentativa e
um caso de ideação suicída. Além desses, os profissionais
informaram que o suicídio na comunidade é muito recorrente,
sendo frequentemente registrado casos em uma mesma
família. Tal fato fez do mês de setembro um período de muitas
atividades, as quais visavam dirimir essas ocorrências por
meio da prevenção.
Segundo a OMS (2001), tendo como base um estudo
realizado em 14 países de diferentes condições
socioeconômicas, tendo como um campo de coleta o Brasil,
enfatizou que apesar da variabilidade dos perfis dos contextos
investigados, foi possível constatar uma frequência de 24 %
de trantornos mentais nas pessoas que recebem atendimento
dos dispositivos de saúde da atenção primária, sendo os
diagnósticos mais recorrentes transtornos decorrentes do uso
de substancias psicoativas, ansiedade e depressão.
Este último, tem exibido associação direta com quadro
de suicídio (CHACHAMOVICH; STEFANELLO; BOTEGA;
TURECKI, 2009). Lee et al. (2007) encontraram evidências
claras dessa relações, os pesquisadores ao compararem
grupos com transtorno de ansiedade e aqueles que detinham
o diagnóstico de depressão, constataram que este último
apresenta, aproximadamente, dez vezes maior de chance de
cometerem o suicídio. Chang, Lin, Lee, Lin e Pfeiffer (2009),
motivado a investigar essa relação, realizaram um estudo
longitudinal, o qual apontou para a mesma direção. Os seus
resultados revelaram que o grupo com diagnótico de
depressão apresentava maior chance de morte por suicídio do
que o grupo controle.
O suicído é entendido, na atualidade, como um das
maiores causa de mortalidade no Brasil (MELLO-SANTOS;
BERTOLOTE; WANG, 2005) e no Mundo, tornando-se uma
359
SAÚDE MENTAL E MEIO AMBIENTE: UM ESTUDO OBSERVACIONAL
questão de saúde pública (HAWTON; HEERINGEN, 2002).
Sendo essa prática mais elevada nos países da Europa
Central, medianas nos Estados Unidos, Europa Ocidental e
Ásia, e baixas na América Central e do Sul (NOCK et al.,
2008) .
No Brasil, apesar de existirem poucos estudos voltados
para análises epistemológicas do suicído, os esforços
existêntes permite à população tomar conhecimento dessas
condutas(LOVISI; SANTOS; LEGAY;ABELHA; VALENCIA,
2009). Mello-Santos et al.(2005) realizaram uma análises dos
registros de casos de suicídio, entre os anos de 1980 e 2000.
Com base em suas análises constataram que, nesse período,
a taxa havia crescido 21%, sendo a maioria prevalecente entre
homens e idosos. Contudo, os pesquisadores constataram
crescimentos significativos, nessas duas décadas, no grupo de
jovens adultos com idades variando entre 15 e 24 anos de
idade.
Não obstante, vale ressaltarque os números de casos
conhecidos, são, por vezes, camuflados por homicídios e
acidentes de trânsitos(BRASIL- Ministério da Saúde,2007).Os
elevados números de suicídio indicam a necessidade urgente
de articular e executar ações que visem reduzir as taxas de
tentativas e êxitos de autoextermínio (DOCKHORN;
WERLANG, 2009).
A prevenção desta prática, no entanto, é dificultosa,
pois a maioria das pessoas que tentam ou se suicidam não
procuram o acompanhamento de um profissional qualificado
(CASSORLA; BOTEGA; WERLANG, 2004). Diante disso,
compreende-se que o trabalho de prevenção deve extrapolar
os limites da Psiquiatria e Psicologia, devendo capacitar os
demais profissionais para que eles passem a identificar traços
de pensamentos suicídas e encaminhem os sujeitos para que
360
SAÚDE MENTAL E MEIO AMBIENTE: UM ESTUDO OBSERVACIONAL
receberem a devida atenção, buscando desta forma diminuir
os números desta prática (DOCKHORN; WERLANG, 2009).
Destaca-se que os casos acolhidos, após três
atendimentos são encaminhados, pela psicóloga, para
acompamento psiquiátrico, quando necessário, e clínico.
Nesse processo as pessoas são obrigadas a saírem de seu
bairro e percorrer uma grande distância para ter acesso ao
serviço que almeja, revelando se tratar de um contexto
desprovido de dispositivo que atende a necessidade dos seus
residentes, acarretando inúmeras vezes o sentimento de
insatisfação com sua comunidade.
A realiadade do meio se faz presente nas discussões
da Psicologia Ambiental, a qual enfatiza a importância de
trazer a avaliação social do planejamento do bairro, percepção
dos moradores frente ao contexto que está inserido e a
inclusão da participação deles na idealização e avaliação
ambientais (PINHEIRO, 1985). Esse exercício permite tomar
conhecimento das principais necessidades e demandas da
população local, provacando debates e produzindo projetos
embasadas que visem tornar a comunidade um espaço de
maior promoção, prevenção e recuperação da saúde mental.
Outros percalços merecem ser enfatizados, a saber, a
distância da comunidade para as áreas da cidade que
oferecem os serviços de saúde, sendo a mesma
longínqua.Para os poucos que possuem transporte, a
mobilidade é fácil. No entanto, a maioria faz uso de transporte
público para se locomover, o que se constitui outro fator que
interfere na promoção, intervenção e prevenção da saúde
mental, uma vez que os transportes públicos que atendem a
comunidade são escassos, passando em um intervalo de uma
hora, e com necessidade de pegar no mínimo duas conduções
para se chegar ao destino final.
361
SAÚDE MENTAL E MEIO AMBIENTE: UM ESTUDO OBSERVACIONAL
Diante disso, vale destacar que apesar dos avanços
conquistados pela política de saúde pública no Brasil, ainda é
possível verificar uma realidade desigual e excludente do
SUS. Contradizendo o seu modelo,o qual se pauta na
solidariedade e na igualdade social, o SUS, na prática, ainda
vivencia uma realidade seletiva, focalizada e excludente.
Esses limites estão intrinsecamente relacionados a fatores
socioeconômicos ou barreiras geográficas, provocando
significativas diferenças entre regiões, municípios e até
mesmo bairros de uma mesma cidade (ASSIS;JESUS, 2012).
Outro fator que inviabiliza o acesso aos serviços
encaminhados é a renda familiar local, a qual é baixa.
Refletindo na inércia forçada, pois as pessoas apesar de
desejarem o atendimento, não o buscam, uma vez que os
recursos disponíveis não são suficientes para ir ao encontro
deles ou até mesmo pagar pelo serviço almejado. Por vezes,
ouviram-se relatos de moradores que apesar de precisarem de
remédios básicos para sua saúde, não os tinham, pois a
dificuldade para consiguí-los era imensa, tendo em vista que a
sua ida a farmácia chegava a custar o triplo do valor do
remédio.
As observações descritas vai ao encontro dos achados
de Veras (1994), o qual aponta que a caracterização do
ambiente e os recursos financeiros excercem influência sobre
a promoção, prevenção e cuidado com a saúde. O mesmo
detectou uma frequência de 15% de casos de deteriorização
cognitiva, sendo em sua maioria do sexo feminino e residentes
de bairro com menor condição socioeconômica. Vale destacar
que essesnúmeros, ano após ano, só aumentam.
Os relatos aqui abordados podem, portanto, serem
compreendidos à luz de duas perspectivas presente na
Psicologia Ambiental. A primeira, destina um maior cuidado na
362
SAÚDE MENTAL E MEIO AMBIENTE: UM ESTUDO OBSERVACIONAL
ação do ambiente sobre a pessoa, e a segunda, muda a
direção do seu olhar para a atuação dos indivíduos sobre o
seu espaço, resultado na discussão sobre prevenção,
participação, autonomia, transformação e outros aspectos que
permeiam a relação entre sujeito e ambiente (MARTÍN-BARÓ,
1997).
Esses relatos aqui descritos permitem aos profissionais
e moradores de comunidades, compreenderem melhor o
processo de interação sujeito e ambiente. Ajudando-os a se
perceberem, não apenas, como seres que recebem influência
de um contexto, mas que podem também direcionar energias
visando modificar a comunidade e promover, diariamente,
ações que busquem cuidar da saúde mental de cada morador.
4 CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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366
SINTOMATOLOGIA DA SÍNDROME EM BURNOUT EM PROFISSIONAIS DE
ENFERMAGEM
CAPÍTULO 19
SINTOMATOLOGIA DA SÍNDROME
DEBURNOUT EM PROFISSIONAIS DE
ENFERMAGEM
Anna Beatriz Campos BrasileiroTIBURCIO1
Laysa Karen Soares de LIMA1
Poliana Rafaela dos Santos ARAÚJO1
Janaína Micaele dos Santos SILVA1
Jamilton Alves FARIAS2
1
Membro do Laboratório de Pesquisa e Extensão em Saúde Mental e Neurociências
(LAPESN) da Universidade Federal da Paraíba; 2 Orientador/Professor vinculado ao
Departamento de Enfermagem e Saúde Coletiva do Centro de Ciências da Saúde na
Universidade Federal da Paraíba. Vice coordenador do Laboratório de Pesquisa e Extensão
em Saúde Mental e Neurociências (LAPESN).
beatriztib@gmail.com
1 INTRODUÇÃO
368
SINTOMATOLOGIA DA SÍNDROME EM BURNOUT EM PROFISSIONAIS DE
ENFERMAGEM
organizacionais e psicológicos. Dessa forma, entende-se o
Burnout como uma síndrome constituída por três dimensões: a
exaustão emocional, a despersonalização e baixa realização
profissional (FRANÇA et al, 2014).
Esses três pilares centrais da Síndrome de Burnout(SB)
são definidos na literatura como um esgotamento profissional
decorrente da aproximação diária com os problemas dos
usuários/clientes, no qual o profissional tem a ideia de que
está esgotado e sem energia, de modo a não conseguir lidar
com suas próprias emoções; uma despersonalização, na qual
o profissional passa a ter sentimentos e ações negativos,
impessoais ou frios quanto às pessoas cujo seu trabalho é
destinado; e umabaixa realização profissional, ocasionada por
uma sensação de incompetência e desânimo com o trabalho,
cujo sentimento acaba por influenciar negativamente no
relacionamento com os demais profissionais e pacientes,
prejudicando, assim, o atendimento prestado (FERREIRA;
LUCA, 2015; SCHUSTER; DIAS; BATTISTELLA, 2015).
Conforme destacado por França et al. (2014), esta
síndrome pode afetar o profissional tanto de maneira física
quanto mental, acarretando sintomas a nível biológico,
psíquico, comportamental e de defesa. Os autores apontam
como sintomas físicos uma sensação de fadiga constante,
alterações no sono, dores nos músculos e ossos, cefaleias,
distúrbios gastrointestinais, cardiovasculares e respiratórios, e
disfunções sexuais e hormonais.
Como sintomas psíquicos, autores ressaltam as
alterações na atenção e memória, o processamento lento do
pensamento, os sentimentos de abstração, depressão,
desânimo, solitude, desconfiança, impaciência e insuficiência,
369
SINTOMATOLOGIA DA SÍNDROME EM BURNOUT EM PROFISSIONAIS DE
ENFERMAGEM
além da autoestima baixa associada a uma instabilidade
emocional (CRUZ; SUAREZ, 2017).
No que diz respeito à sintomatologia comportamental e
defensiva, Cruz e Suarez (2017) e França e colaboradores
(2014) destacam que pode ser percebido uma tendência ao
isolamento, a perda de interesse no trabalho, comportamentos
negligentes, agressivos, ironia, falta de iniciativa, tendência ao
aumento do consumo de substâncias que afetam o sistema
nervoso (drogas lícitas, ilícitas e fármacos), podendo chegar a
causar comportamentos de alto risco e suicídio.
Todos esses sintomas, apontados na literatura, podem
afetar diretamente a qualidade do trabalho oferecido, uma vez
que as relações com a equipe e os usuários/clientes ficam
demasiadamente prejudicadas (CRUZ; SUAREZ, 2017;
FRANÇA et al., 2014).
O atual contexto das relações de trabalho tem passado
por uma série de transformações, as inovações tecnológicas
que a modernidade vem trazendo são responsáveis por
grande parte dessas mudanças. O ambiente de trabalho é
afetado diretamente fazendo com que os profissionais tenham
ainda mais responsabilidade, a exigência para que eles
atinjam um nível de produtividade é cada vez maiore, além
disso, a competitividade existente no mercado de trabalho
também influencia no bem-estar das pessoas (CAMPOS et
al.,2015;REZENDE; BORGES; FROTA, 2012).
Nesta configuração, Pires, Monteiro e Alencar (2012)
citados por Schuster, Dias eBattistella (2015) afirmam que as
atividades profissionais em geral podem suscitar a SB, porém,
existem àquelas que demandam maior relação interpessoal e,
consequentemente, emocional, entre o profissional e usuário.
370
SINTOMATOLOGIA DA SÍNDROME EM BURNOUT EM PROFISSIONAIS DE
ENFERMAGEM
A grande proximidade do profissional com os
usuários/clientes e suas famílias é uma forte característica da
SB, logo profissões da área da saúde, educação e policiais
são consideradas na grande área de predisposição a
desenvolver a SB (SILVA; DIAS; TEIXEIRA, 2012).
Ferreira eLucca (2015) apontam que os profissionais de
saúde são considerados o principal grupo exposto ao risco de
desenvolver a SB, pois lidamdiariamente com situações de
estresse devido ao contato direto com os usuários e suas
famílias durante o período tratamento.
Neste mesmo contexto, Abreu e colaboradores (2015)
afirmam que estes profissionaisestão amplamente expostos a
fatores desencadeantes de estresse e cansaço físico e mental
advindos do meio de trabalho que podem afetar a sua vida de
maneiras irreversíveis.
Dentro deste grupo, a equipe de enfermagem compõe o
grupo de profissionais que passam maior parte do tempo junto
aos pacientes, logo, participam dos momentos de dor e
sofrimento destes, incluindo a morte e o morrer (FERREIRA;
LUCCA, 2015).
Ainda segundo os autores supracitados, devido a
ausência de preparo emocional para determinadas situações,
esses profissionais de saúde estão amplamente expostos a
situações de pressão mental e física. Aliados às dificuldades
para realização do trabalho e os problemas com a hierarquia,
esses fatores podem ser considerados possíveis
desencadeantes da síndrome.
Diante desse contexto, questionou-sequais os possíveis
sintomas da SB apresentados pela equipe de enfermagem no
processo de trabalho hospitalar, sendo esta investigação
justificada pela presença de situações estressoras neste
371
SINTOMATOLOGIA DA SÍNDROME EM BURNOUT EM PROFISSIONAIS DE
ENFERMAGEM
ambiente laboral, que podem ser consideradas comofatores
de risco para a SB.
Neste direcionamento, levantou-se a hipótese de que
esses profissionais apresentam sintomas da SB no ambiente
de trabalho, assim,o presente estudo teve como objetivo
avaliar a presença desses sintomas na equipe de enfermagem
do Ambulatório de um Hospital Público do município de João
Pessoa.
2 MATERIAIS E MÉTODO
372
SINTOMATOLOGIA DA SÍNDROME EM BURNOUT EM PROFISSIONAIS DE
ENFERMAGEM
licença ou doença, ou se recusar a responder os questionários
do estudo.
Para o levantamento de dados do estudo foi utilizado o
instrumento Questionário Fatores Preditores e Sintomas da
Síndrome de Burnout, de maneira a avaliar como os
profissionais se comportam quanto ao desenvolvimento dos
sintomas da síndrome.
Este instrumento trata-se de um questionário
estruturado e auto-administrado que enumera os dados
sociodemográficos, profissionais, informações sobre o lazer,
fatores preditores da SB e por fim, sintomas relacionados à
síndrome em questão (FARIAS, 2015).
O Questionário Fatores Preditores e Sintomas da
Síndrome de Burnoutfoi criado a partir de modificações do
Inventário MaslachBurnout (MBI), no intuito de averiguar os
sinais e sintomas da SB apresentados por profissionais de
enfermagem em um Serviço de Emergência de um Hospital
Universitário, no estudo de Jodas e Haddad (2009).
Os profissionais são orientados a avaliar os itens
dispostos no questionário com valores de 0 a 6, de acordo
com a intensidade de seus sentimentos ou sintomas. Sendo o
0 “nunca antes”; 1, “uma vez por ano ou menos”; 2, “uma vez
por mês ou menos”; 3, “às vezes por mês”; 4, “uma vez por
semana”; 5,”às vezes por semana” e 6, “todos os
dias”(FARIAS, 2015).
Para a análise estatística dos dados foi usado o
software SPSS - StatisticalPackage for the Social Science, da
IBM Software. Foi realizada uma análise descritiva dos dados,
e estes foram apresentados em número (n) e porcentagem,
sendo organizados em tabela para melhor compreensão dos
resultados.
373
SINTOMATOLOGIA DA SÍNDROME EM BURNOUT EM PROFISSIONAIS DE
ENFERMAGEM
O estudo foi desenvolvido seguindo as diretrizes e
normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres
humanos, contidas na Resolução nº 466/2012 do Conselho
Nacional de Saúde.
O acesso aos serviços foi obtido após a obtenção do
termo de anuência do hospital onde foi realizada a
investigação, esubmissão com posterior aprovação pelo
Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Lauro
Wanderley (HULW)/EBSERH, recebendo o CAAE nº
56139116.0.0000.5183.
Os participantes da pesquisa assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido em duas vias, afirmando
sua participação e autorizando a publicação dos dados
obtidos.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
374
SINTOMATOLOGIA DA SÍNDROME EM BURNOUT EM PROFISSIONAIS DE
ENFERMAGEM
“algumas vezes ao mês”; 4 e 5 “uma vez por semana” e”às
vezes por semana”, tornaram-se “frequentemente na semana”;
e 6“todos os dias”, assim permaneceu.
376
SINTOMATOLOGIA DA SÍNDROME EM BURNOUT EM PROFISSIONAIS DE
ENFERMAGEM
12(24%) percebem a sua ocorrência alguns dias do mês,
4(8%) com frequência durante semana, e 2(4%) todos os dias.
Logo, a análise dos dados mostra que 18 (36%) trabalhadores
da equipe de enfermagem se irritam com facilidade mais de
duas vezes ao mês.
No estudo de Rossi et al. (2010), desenvolvido com
enfermeiros da atenção básica e hostitalar, 73,72% da
amostra relatou se irritar com facilidade no mínimo uma vez
por semana.
A irritabilidade fácil se correlaciona com os aspectos
comportamentais do individuo, e por vezes precede estados
de ansiedade densencadeados pela síndrome, influenciando
diretamente nas variações das atitudes dos profissionais, e
que podem provocar dissonâncias entre os setores de trabalho
(GOMES, S., GOMES, A., 2015).
Individuos que apresentam uma maior exaustão
emocional, estão mais propensos ao desenvolvimento de
manifestações físicas. A SB, por estar relacionada ao
estresse, expressa-se em três fases: alarme, sintomas inciais
geralmente leves que atuam como o alerta de identificação do
perigo;resistência, o corpo luta pela homeostase interna; e a
exaustão, onde existe o adoecimento propriamente dito. A
irritabilidade surge como sintoma na primeira fase, como uma
reação biológica e psicossomática específica (GOUVÊA et al,
2014).
Na análise do sintoma “dores nos ombros ou na nuca”,
13(26%) sujeitos não o sentem e 12(24%) raramente o
apresenta. Contudo, 13(26%) relatam sentir as dores algumas
vezes ao mês, 10 (20%) frequentemente na semana, e 2(4%)
todos os dias. Assim, este resultado mostra que 25(50%) dos
377
SINTOMATOLOGIA DA SÍNDROME EM BURNOUT EM PROFISSIONAIS DE
ENFERMAGEM
profissionais sofrem com este sintoma mais de duas vezes ao
mês.
Nota-se que o resultado encontrado nesse estudo, é
equivalente ao apontado por Rossi e colaboradores
(2010),que apresentaram em sua pesquisa um percentual de
54,54% dos participantes fazendo referência a sentir dores
nos ombros ou na nuca mais de uma vez na semana.
As dores musculares e osteomusculares presentes na
SB afetam trabalhadores que atuam de forma direta com a
saúde, sejam em cargos administrativos ou assistenciais, nas
quais as exigências das atribuições desgastam
continuamentes os profissionais (GOMES, S., GOMES, A.,
2015).
O ambiente laboral desafia o individuo a enfrentar
constantemente os seus mecanismos cognitivos e
comportamentais de defesa, que gera uma resposta,
agradável ou não, em relação aos acontecimentos
vivenciados. As respostas a esses desafios conseguem levar
o profissional a um estado de tensão do corpo e da mente,
que por vezes se manifestam em dores musculares
(ANDRADE, CARDOSO, 2012).
No que se refere a “dificuldades de sono”, observa-se
que 25(50%) apontam nunca sentir, 10(20%) raramente
apresentam, 3(6%) são acometidos algumas vezes ao mês,
10(20%) frequentemente na semana, e 2(4%) todos os dias.
Dessa forma, identifica-se que 15(30%) possuem problemas
para dormir mais de duas vezes ao mês.
No estudo de Simões & Bianchi (2016), feito com
profissionais técnicos de enfermagem, observou-se que 59,5%
passaram por situações que levaram ao cansaço ou
esgotamento, sendo que 48,9% apresentaram dificuldades
378
SINTOMATOLOGIA DA SÍNDROME EM BURNOUT EM PROFISSIONAIS DE
ENFERMAGEM
para dormir. Em analise à qualidade do sono, 74,5% do
profissionais apontaram dormir mal.
As atividades laborais realizadas pelos trabalhadores,
principalmente no período da noite, podem criar situações que
interferem na saúde, como também acarretam em problemas
na vida social. Esse tipo de organização do trabalho acaba por
alterar o funcionamento humano, como, por exemplo, o ciclo
vigília-sono (ROCHA, MARTINO, 2010).
Verifica-se que na análise do “sentimento de cansaço
mental”, 19(38%) dos profissionais não o sentem e em
15(30%) é um sintoma raro. No entanto, foi relatado por
9(18%) que este acontece algumas vezes ao mês, 4(8%)
frequentemente na semana, e 3(6%) consideram que se
sentem assim todos os dias. Logo, pela análise dos dados
16(32%) dos enfermeiros sentem cansaço mental mais de
duas vezes ao mês.
Gouvêa et al. (2014) em sua pesquisa, relatou que
sintomas como cefaleias, distúrbios do sono, cansaço mental
e dores musculares foram considerados presentes em 60%
dos entrevistados, todavia, a sensação de cansaço mental foi
a que mais prevaleceu, sendo 88,9% na dimensão de
exaustão emocional, 86% na despersonalização e 83,7% na
baixa realização profissional.
O cansaço emocional é considerado como ponto inicial
para SB, podendo vir a manifestar-se de forma física, psíquica
ou por meio de uma junção das duas (SILVAet al,2015). Ao
realizar o exercício profissional em cuidados paliativos pode
ocorrer o surgimento de sentimentos e emoções diversas,
possivelmente desgastantes, pois os profissionais são
expostos e afetados pelo sofrimento dos pacientes a quem
prestam assistência (PEREIRA, 2014).
379
SINTOMATOLOGIA DA SÍNDROME EM BURNOUT EM PROFISSIONAIS DE
ENFERMAGEM
Com relação a “pouco tempo para si”, 16(32%)
consideram nunca apresentar este sintoma e 8(16%)
raramente o faz. Contudo, 6(12%) o identificam como presente
algumas vezes ao mês, 15(30%) frequentemente na semana,
e 5(10%) todos os dias. Assim, este resultado mostra que
26(52%) dos profissionais afirmam ter pouco tempo para si
mais de duas vezes ao mês.
No estudo de Ferreira &Lucca (2015), 20% dos
entrevistados afirmaram que não tinham tempo livre, devido a
possuírem outro trabalho durante seus períodos de folga.
Entre os profissionais de saúde, inclusive os técnicos de
enfermagem, é comum a existência de mais de um vínculo
empregatício, devido a disponibilidade de horário e as
necessidades do profissional, que, por fim, torna a carga de
trabalho longa e desgastante.
Os profissionais de enfermagem no decorrer do processo
de assistência acabam por esquecer de si, abandonando o
próprio cuidado e comprometendo sua qualidade de vida.
Como a maioria desses são mulheres, e exercemoutras
funções – ser mãe, dona de casa, e esposa –, estaspossuem
pouco tempo para suas atividades de lazer. Sendo assim,a
situação torna-se desgastante, onde as atividades laborais
prejudicam a vida familiar (CORDEIRO, 2012).
4 CONCLUSÕES
380
SINTOMATOLOGIA DA SÍNDROME EM BURNOUT EM PROFISSIONAIS DE
ENFERMAGEM
presença dos diferentes sintomas nos profissionais, ainda que
com intensidade variadas.
Os sintomas da síndrome devem ser tratados com
cuidado, tendo em vista que a progressão destes afeta
negativamente as atividades do enfermeiro. Sendo assim, é
necessário que estes profissionais tenham acompanhamento
periódico de sua saúde, como estratégia para o controle do
desenvolvimento dos sintomas, além de que o ambiente de
trabalho seja reorganizado para reduzir os fatores de risco da
SB.
Este estudo apresenta como limitação a ausência da
avaliação de afecções neuropsiquiátricas não relacionadas ao
objetivo do estudo, e de fatores que alteram o comportamento
hormonal e, consequentemente, a regulação emocional,que
podem interferir nos resultados, principalmente de sujeitos do
sexo feminino devido ao período do ciclo menstrual. Além
disso, percebeu-se a ausência do conhecimento dos
profissionais quanto à SB, sendo necessária a explicação
desta condição previamente por parte dos pesquisadores.
Com isso, nota-se a necessidade da divulgação dos
fatores relacionados à SB nos ambientes de trabalho, de
maneira que se torne cada vez mais conhecida e
diagnosticada o mais precocemente possível, levando os
profissionais e gestores a refletirem acerca das consequências
da doença durante o processo de trabalho, através de
informações sobre as suas manifestações clínicas e
implicações na vida do trabalhador.
Entende-se que as instituições precisam investir em
ações de educação para que os profissionais tenham
conhecimento e sejam incentivados a buscar ajuda, uma vez
que os sintomas se confundemfacilmente comde outras
381
SINTOMATOLOGIA DA SÍNDROME EM BURNOUT EM PROFISSIONAIS DE
ENFERMAGEM
doenças. Fazendo-se necessário, também, a disponibilização
de meios de enfrentamento nos casos de profissionais já
diagnosticados, e formas de prevenção para que os demais
não venham a desenvolver a síndrome.
Para isso, recomenda-se manter um ambiente saudável
e com todo o aporte necessário para que o trabalho seja
realizado de forma plena, com disponibilidade de meios e
materiais para que os profissionais de enfermagem possam
realizar seu trabalho, sem que este venha a causar uma
sobrecarga física e emocional.
Espera-se que este estudo contribua para a busca por
maiores questionamentos e pesquisas acerca da temática, de
forma a suscitar que a SB seja divulgada e reconhecida em
todas as instâncias de trabalho.
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385
PSICOLOGIA
386
COMPORTAMENTOS AGRESSIVOS E SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM
SÍNDROME DE DOWN E EM DESENVOLVIMENTO TÍPICO
CAPÍTULO 20
COMPORTAMENTOS AGRESSIVOS E
SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM
SÍNDROME DE DOWN E EM
DESENVOLVIMENTO TÍPICO
Clara GUIMARÃES 1
Lilian GALVÃO 2
1
Mestranda em Psicologia Social, UFPB; 2 Professora do CCBS/UFCG.
clarappgps@gmail.com
1 INTRODUÇÃO
388
COMPORTAMENTOS AGRESSIVOS E SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM
SÍNDROME DE DOWN E EM DESENVOLVIMENTO TÍPICO
o estabelecimento de uma disciplina muito rígida podem trazer
prejuízos às crianças. Consideram, ademais, que a
socialização adequada pode favorecer o desenvolvimento
infantil e o estabelecimento de relações sociais saudáveis, da
mesma forma que a socialização inadequada pode facilitar
comportamentos indesejáveis, como a agressão. Sidebotham
(2001) sugere que, na contemporaneidade, tem sido exigido
dos pais um desempenho proporcional à competitividade para
a qual seus filhos deverão estar preparados, o que pode gerar
sentimentos de incapacidade e incompetência nos genitores.
Na Psicologia, o modelo apresentado por Buss e Perry
(1992) destaca-se na compreensão da agressão, a qual versa
queesta se manifesta de quatro formas: a) agressão física:
bater, empurrar, chutar, esmurrar alguém; b) agressão
verbal:palavrões, insultos, palavras de afrontas, ou de
qualquer outro tipo que chegue a ferir ou magoar outrem; c)
raiva: expressar reações de fúria, dificuldade de controlar o
temperamento e fácil irritação, deixando-a transparecer; e d)
hostilidade:reflete, principalmente, condutas de desconfiança
em relação aos outros. A partir dessa definição, os autores
construiram o Questionário de Agressão, formado por 29 itens,
que avalia a agressão nas quatro dimensões teorizadas. Os
itens foram respondidos em uma escala de cinco pontos, tipo
likert. A adaptação desta escala para o contexto brasileiro foi
realizada por Gouveia, Chaves, Peregrino e Branco (2008), os
quais demonstraram sua validade de construto.
No que se refere à emissão de comportamentos
agressivos por crianças, foco do presente estudo, vários
trabalhos são encontrados na literatura especializada,
associando tal comportamento ao processo de socialização
parental e escolar, e ao desenvolvimento e julgamento moral
389
COMPORTAMENTOS AGRESSIVOS E SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM
SÍNDROME DE DOWN E EM DESENVOLVIMENTO TÍPICO
(ALVARENGA; PICCININI, 2001; CAMINO; CAMINO;
MORAES, 2003). Em todos esses estudos, observa-se a
construção de conhecimentos voltados às crianças de
desenvolvimento típico. A literatura a respeito das interações
sociais de crianças com Síndrome de Down é escassa (SILVA;
DESSEN, 2006) e muito ainda precisa ser feito para que a
produção de conhecimento científico a esse respeito seja
intensificada, particularmente no Brasil (COSTA; TEXEIRA;
GOMES, 2000).
É comum observar comentários de que as crianças
portadoras desta síndrome são demasiadamente afetuosas,
dóceis, calmas, brincalhonas, cooperativas, amistosas,
apreciadoras de música e de temperamento fácil. Essas
características constroem um estereótipo que não
corresponde necessariamente à realidade, tendo em vista que
são denotações que desconsideram as especificidades de
cada indivíduo (RODRIGUES; ALCHIERI, 2009).Embora a
maioria das crianças diagnosticadas com esta síndrome tenha
se adequado a esse estereótipo, também é comum alguns
pais reclamarem que seus filhos são agressivos, agitados e
difíceis de manejar (SILVA; DESSEN, 2006). Uma pesquisa
realizada por Rodrigues e Alchieri (2009) revela que algumas
mães de crianças com Síndrome de Down afirmam que seus
filhos, ocasionalmente, expressam episódios de raiva,
aborrecimento, irritação, arenga e ciúmes, associados a falhas
no processo de socialização, mais precisamente à falta de
limites (RODRIGUES; ALCHIERI; COUTINHO, 2010).
Hoffman (1983, 1994) distingue três técnicas de
socialização utilizadas pelos pais: a explicação (levar a criança
a se convencer de que seu comportamento não é adequado),
a retirada do afeto (deixar claro para criança que seu
390
COMPORTAMENTOS AGRESSIVOS E SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM
SÍNDROME DE DOWN E EM DESENVOLVIMENTO TÍPICO
comportamento inadequado terá como consequência a ruptura
do elo afetivo entre ela e o adulto) e a ameaça de punição real
(coerção externa ou de força física). Camino, Camino e
Moraes (2003) sugeriram a inclusão de mais duas técnicas de
controle parental, a promessa de reforço positivo e a ameaça
de punição sobrenatural, e propuseram que as técnicas de
socialização poderiam ser divididas em técnicas de Controle
Externo (retirada de afeto, ameaça de punição real, promessa
de reforço positivo e ameaça de punição sobrenatural), onde o
controle é posto sobre as consequências negativas ou
positivas que não estão diretamente ligadas à ação
controlada, mas externas a ela, e técnicas de Controle Interno
(explicação), que traduzem uma atitude em que o controle
baseia-se na ênfase que é dada às consequências intrínsecas
da ação.
O conjunto dessas técnicas utilizadas pelos genitores
constituem os estilos de socialização, denominados por
Baumrind (1968; 1996) de autoritativo, permissivo, negligente
e autoritário. O autoritativo caracteriza pais controladores e
exigentes, mas também calorosos, empáticos, comunicativos
e compreensivos com os seus filhos, que usam tanto a
indução como a punição. O permissivo e negligente
caracterizam pais não controladores, não exigentes,
relativamente calorosos, e empáticos, que se comportam de
forma não punitiva. E, o autoritário representa pais distantes,
poucoempáticos, controladores e, sobretudo, punitivos com os
seus filhos. Filhos de mães autoritárias, geralmente,
apresentam comportamentos de externalização (agressão
verbal ou física, destruição de objetos, mentira) e de
internalização (retração social, depressão, ansiedade), de
acordo com Oliveira et al. (2002).
391
COMPORTAMENTOS AGRESSIVOS E SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM
SÍNDROME DE DOWN E EM DESENVOLVIMENTO TÍPICO
Diferente de Baumrind (1968), Martinez e García (2007)
fizeram uma distinção entre pais permissivos e negligentes e
definiram quatro estilos de socialização, a partir das práticas
parentais de Aceitação/implicação, que corresponde a atitudes
de aceitação e práticas de diálogo, e de
Severidade/imposição, que se refere a atitudes de controle
dos comportamentos indesejados e imposição de limites aos
filhos (CAMINO; CAMINO; MORAES, 2003). Weber, Prado,
Viezzer e Brandenburg (2004), com a finalidade de conhecer
os estilos parentais de algumas famílias brasileiras, realizaram
uma pesquisa com 239 crianças, de 9 a 12 anos, de duas
escolas municipais e seus respectivos pais. Os pais foram
classificados como: 45,4% negligentes, 32,8% autoritativos,
11,8% permissivos e 10,1% autoritários.
Minetto (2010) realizou um estudo com 120 mães e/ou
pais de crianças brasileiras entre 3-10 anos de idade em
Desenvolvimento Típico, com Deficiência Intelectual e
Síndrome de Down. O grupo de pais de filhos com Síndrome
de Down utilizou estratégias semelhantes aos pais de crianças
em Desenvolvimento Típico, no entanto, diferencia-se um
pouco por demonstrar maior supervisão (controle) do
comportamento da criança e menos investimento na
autonomia desta; os pais de filhos em Desenvolvimento Típico
apresentaram, sobretudo, características de práticas
educativas com perfil parental mais autoritativo, com destaque
às estratégias que envolvem liberdade e expressão de afeto e
incentivo à autonomia. E, os pais de filhos com Deficiência
Intelectual revelaram práticas educativas mais distintas,
comcaracterística mais autoritária: imposição de limites sem
reflexão, pouca supervisão do comportamento dos filhos e
pouca expressão de afeto.
392
COMPORTAMENTOS AGRESSIVOS E SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM
SÍNDROME DE DOWN E EM DESENVOLVIMENTO TÍPICO
Hart et al. (1990) investigaram as expectativas das
crianças a respeito das estratégias de resolução de conflitos
dos pais. O resultado que obtiveram foi que as estratégias de
Severidade/Imposição, se utilizadas de forma frequente,
podem contribuir para que as crianças se comportem da
mesma forma com os pais, além de não favorecer a aquisição
de padrões adequados de comportamento.
Dodge, Bates e Pettit (1990), ao relacionar
comportamentos agressivos e práticas educacionais de
socialização, consideraram a exposição a modelos agressivos
como sendo um fator de risco significativo para o
desenvolvimento de comportamentos violentos. Na análise de
Alvarenga e Piccinini (2001), as estratégias disciplinares
coercitivas tendem a cumprir apenas objetivos de socialização
em um curto prazo de tempo, fazendo com que a criança,
momentaneamente, pare de se comportar de determinada
maneira. Salvo, Silvares e Toni (2005) acrescentaram que o
uso de práticas coercitivas pode estimular e agravar um
padrão inadequado de comportamento quando este padrão é,
ao mesmo tempo, punido e reforçado. Nessa mesma direção,
Catania (1999) afirmou que o comportamento de crianças que
costumam provocar os pais atéserem punidas pode ser
explicado pelo fato de que as punições são, geralmente,
seguidas pela atenção dos pais arrependidos. Apoiando esses
achados, o estudo dePettit e Bates (1989) indicou que o afeto
somado a umaatitude educativa e positiva da mãe, estaria,
consistentemente, relacionado à ausência de problemas
decomportamento, enquanto que as estratégias coercitivase a
ausência de um envolvimento positivo da mãe forampreditores
de problemas de comportamento na infância.
393
COMPORTAMENTOS AGRESSIVOS E SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM
SÍNDROME DE DOWN E EM DESENVOLVIMENTO TÍPICO
Diante do exposto, questiona-se: será que, de fato, os
comportamentos agressivos de crianças estão relacionados a
padrões coercitivos de socialização? E, se isto for verdadeiro,
o que esse estudo poderá acrescentar? O que se pretende
problematizar aqui é que, independentemente do tipo de
desenvolvimento das crianças, existe uma relação entre
padrões de socialização mais severo ou coercitivo e
comportamentos agressivos, tendo em vista que alguns pais
de crianças com Síndrome de Down tendem a afirmar que
seus filhos seguem tal padrão de comportamento, e não outro,
por causa da síndrome.
Dessa forma, este estudo teve como objetivo geral
investigar a relação entre a emissão de comportamentos
agressivos e o uso de técnicas epráticas parentais de
socialização adotadas pelas mães de crianças em
Desenvolvimento Típico (DT) e de crianças com Síndrome de
Down (SD), além de verificar a existência de outras práticas
educativas parentais relacionadas a comportamentos
agressivos, visto que existe um certo modismo de afirmar que
o problema dos comportamentos agressivos é a falta de
limites.
2 MATERIAIS E MÉTODO
Participantes
394
COMPORTAMENTOS AGRESSIVOS E SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM
SÍNDROME DE DOWN E EM DESENVOLVIMENTO TÍPICO
Síndrome de Down e 34 mães de crianças com
Desenvolvimento Típico, com idades entre 25 e 53 anos de
idade (M=39; DP=6,5), predominantemente casadas (71%),
sem curso superior (71%) e da religião católica (71%). Os
filhos das mães participantes se caracterizavam como sendo
do sexo feminino (59%), estudantes de escola privada (59%) e
com idades entre 4 e 10 anos (M=7; DP=1,6).
A amostra foi não probabilística, podendo ser definida
como intencional, pois incluiu as pessoas que, consultadas, se
dispuseram a colaborar respondendo ao instrumento de
pesquisa.
395
COMPORTAMENTOS AGRESSIVOS E SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM
SÍNDROME DE DOWN E EM DESENVOLVIMENTO TÍPICO
objetivo principal da escala é medir os quatro estilos de
socialização parental, intitulados autoritativo, autoritário,
permissivo e negligente.
2. Escala de Técnicas de Controle – versão
reduzida
Foi utilizada a versão reduzida da Escala de Técnicas
de Controle de Camino, Camino e Moraes (2003). Na
avaliação das técnicas de controle, a mãe participante deveria
responder com que frequência (em uma escala de 5 pontos)
empregavam cada um dos cinco tipos diferentes técnicas de
socialização (promessa de recompensa, explicação, ameaça
de punição real, ameaça de punição sobrenatural e retirada de
afeto), quando pretendiam controlar o comportamento de seu
filho em situações como: comer, ir dormir, fazer os deveres da
escola, brigar fisicamente, agredir verbalmente, dizer
palavrões, sair para a rua sem autorização.
3. Escala de Comportamentos Agressivos (ECA) –
versão adaptada para comportamentos infantis.
Inspirada na Teoria e na Escala de Buss e Perry (1992),
a ECA avalia comportamentos agressivos, a partir de quatro
dimensões, a saber: agressão física, agressão verbal, raiva e
hostilidade. A escala adaptada, diferente da versão original
que é voltada para medir comportamentos agressivos na
população jovem e adulta, foca-se no comportamento
agressivo infantil. A ECA écomposta por 20 itens, que devem
ser respondidos em uma escala de 5 pontos, tipo likert.
396
COMPORTAMENTOS AGRESSIVOS E SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM
SÍNDROME DE DOWN E EM DESENVOLVIMENTO TÍPICO
orientações previstas na Resolução 466/12 do Conselho
Nacional de Saúde (CNS) e na Resolução 010/12 do Conselho
Federal de Psicologia (CFP) para pesquisa envolvendo seres
humanos. A aplicação durou em média 50 minutos, sendo
realizada por entrevistadores treinados.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
397
COMPORTAMENTOS AGRESSIVOS E SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM
SÍNDROME DE DOWN E EM DESENVOLVIMENTO TÍPICO
Técnicas de Socialização
As mães de crianças em Desenvolvimento Típico
afirmaram, conforme a Tab.(1), utilizar mais as Técnicas de
Controle externo e as Técnicas de Controle interno do que as
mães de crianças com Síndrome de Down. Este resultado é
congruente com a ideia de Camino, Camino e Moraes (2003)
de que as técnicas de Controle Interno e de Controle Externo
constituem duas dimensões separadas, independentes, e não
polos extremos de uma única dimensão, o que quer dizer que
é possível encontrar mães que utilizam intensivamente as
duas formas de controle e mães que se abstem de utilizar
ambas as formas, fato que caracterizaria um estilo mais
permissivo.
A influência das variáveis da criança sobre as práticas
parentais existe, porém, com menos intensidade que a
influência contrária (JUSTO; CARVALHO; KRISTENSEN,
2014). Crianças com problemas de comportamento provocam
em seus pais atitudes menos carinhosas e menor
responsividade materna, de modo que estas mães também
expressam menos emoções positivas, como afirma Zhou et
al., (2002). Tal achado, juntamente com os resultados de
Moreno, Klute e Robinson (2008), direciona o olhar para o
processo interacional entre emoções e comportamentos dos
pais e da criança.
398
COMPORTAMENTOS AGRESSIVOS E SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM
SÍNDROME DE DOWN E EM DESENVOLVIMENTO TÍPICO
Tabela 1. Comparação do uso das Técnicas de Socialização
em função do tipo de desenvolvimento dos filhos
Tipos de Desenvolvimento
399
COMPORTAMENTOS AGRESSIVOS E SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM
SÍNDROME DE DOWN E EM DESENVOLVIMENTO TÍPICO
com Síndrome de Down e filho em Desenvolvimento Típico).
Conforme pode ser observado na Tab.(2), as práticas de
socialização intituladas Aceitação/Implicação e
Severidade/Imposição foram utilizadas mais pelas mães de
crianças com desenvolvimento típico do que pelas mães de
crianças com Síndrome de Down.
Tipos de Desenvolvimento
400
COMPORTAMENTOS AGRESSIVOS E SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM
SÍNDROME DE DOWN E EM DESENVOLVIMENTO TÍPICO
típico. Minetto (2010), de forma semelhante ao que foi
verificado no presente estudo, constatou que os pais de
crianças em Desenvolvimento Típico participantes de seu
estudo apresentaram, sobretudo, um estilo Autoritativo; e, em
contraste com a presente pesquisa, os pais de crianças com
Síndrome de Down participantes do seu estudo apresentaram,
sobretudo, um estilo Autoritário.
Procurando relacionar o sentimento de competência
dos pais com as suas práticas, um estudo na Austrália
(SANDERS; WOOLLEY, 2004), por exemplo, defende a ideia
de que pais, que são mais permissivos com seus filhos,
apresentam um sentimento de competência reduzido e que
este sentimento corresponde a suas práticas efetivas.
Muitos pais adotam uma conduta permissiva por não
suportarem a frustração e a raiva dos filhos diante de regras e
limites. Assim, quando expostos a intensas reações de
frustração da criança, confrontada com uma regra ou
reprovação, comportamentos inadequados através de risos e
comentários. Como consequência, esses comportamentos da
criança tendem a tornar-se mais freqüentes e intensos, de
acordo com Simons, Simons e Wallace (2004).
Estudos mostram que a família exerce importante
influência na aquisição de modelos agressivos pelas crianças.
Pais que utilizam punição, seja ela qual for, estão mostrando a
seus filhos que a violência é uma forma apropriada de
resolução de conflitos e de relacionamento entre homens e
mulheres, como nos mostra Pesce (2009).
401
COMPORTAMENTOS AGRESSIVOS E SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM
SÍNDROME DE DOWN E EM DESENVOLVIMENTO TÍPICO
Comportamento Agressivo
Tipos de Desenvolvimento
402
COMPORTAMENTOS AGRESSIVOS E SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM
SÍNDROME DE DOWN E EM DESENVOLVIMENTO TÍPICO
404
COMPORTAMENTOS AGRESSIVOS E SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM
SÍNDROME DE DOWN E EM DESENVOLVIMENTO TÍPICO
Tabela 4. Coeficientes de correlação de Pearson entre a
Escala de Comportamento Agressivo e a Escala de
Socialização Parental
A. A. Raiva Hostilidade Severidade Aceitação
física verbal
405
COMPORTAMENTOS AGRESSIVOS E SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM
SÍNDROME DE DOWN E EM DESENVOLVIMENTO TÍPICO
comportamento da criança a partir da análise das “habilidades
parentais”.
Casas (2003), buscando relacionar comportamentos
agressivos em crianças com o comportamento de seus pais,
percebeu uma relação positiva entre comportamentos
agressivos em crianças pequenas e um comportamento de
culpa em seus pais. Ressalta que estes se descreviam como
permissivos e percebiam comportamentos de insegurança em
seus filhos.
Geralmente, a criança utiliza-se de comportamentos
aversivos para interromper a solicitação ou exigência de algum
membro da família. Como traz Alvarenga e Piccinini (2008), a
consequência desse tipo de funcionamento familiar é que, na
medida em que os comportamentos da criança se agravam, as
estratégias de controle dos pais tornam-se progressivamente
mais coercitivas e severas, embora ineficazes.
Para tanto, Zanetti e Gomes (2014) acreditam que as
funções parentais, na contemporaneidade, podem ser
exercidas com pouca consistência e coerência em decorrência
de aspectos socioculturais que tem provocado nos pais
sentimentos de insegurança e dúvidas frequentes frente à
tarefa de educar, reforçando positivamente comportamentos
inadequados ou utilizando pouco o reforçamento positivo para
aspectos adequados da conduta dos filhos, assim como dar
ordens confusas ou ambíguas à criança e ignorar ou reforçar
comportamentos agressivos ou desafiadores. (Patterson et al.,
1992).
Por fim, registra-se que não foram encontradas
correlações entre os fatores da escala de Técnicas de
Socialização e os fatores da escada de Comportamento
Agressivo.
406
COMPORTAMENTOS AGRESSIVOS E SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM
SÍNDROME DE DOWN E EM DESENVOLVIMENTO TÍPICO
4 CONCLUSÕES
407
COMPORTAMENTOS AGRESSIVOS E SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM
SÍNDROME DE DOWN E EM DESENVOLVIMENTO TÍPICO
emissão de comportamentos agressivos infantis. É pertinente
considerar a avaliação de outras pessoas além da mãe sobre
as estratégias de socialização, bem como a complexidade das
relações familiares e as diferentes variáveis que influenciam
nas práticas parentais desocialização.
Frente ao exposto, considera-se que o presente estudo
traz importantes contribuições ao examinar a relação entre as
práticas parentais e suas repercussões na criança, pois
entende que educar é uma tarefa complexa que envolve não
só valores pessoais e familiares, mas também ideias e
concepções sociais acerca do melhor modo de realizá-la.
Espera-se que os resultados aqui encontrados ajudem
na elaboração de uma intervenção que possibilite as mães
participantes refletirem sobre suas práticas e técnicas
parentais para o favorecimento da socialização de seus filhos,
ao mesmo tempo em que se acredita que novas pesquisas
poderão fornecer respostas mais consistentes a este respeito.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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SÍNDROME DE DOWN E EM DESENVOLVIMENTO TÍPICO
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FISIOTERAPIA
413
ABORDAGENS FISIOTERAPÊUTICAS E MULTIDISCIPLINARES APLICADAS AO
PACIENTE COM FIBROMIALGIA
CAPÍTULO 21
ABORDAGENS FISIOTERAPÊUTICAS E
MULTIDISCIPLINARES APLICADAS AO
PACIENTE COM FIBROMIALGIA
414
ABORDAGENS FISIOTERAPÊUTICAS E MULTIDISCIPLINARES APLICADAS AO
PACIENTE COM FIBROMIALGIA
fisioterapêuticas, ambos relacionados ao manejo do paciente
fibromiálgico. As abordagens citadas demandam efeitos
benéficos para os portadores da doença. No entanto,
percebeu-se que a fisioterapia tem efeitos mais contínuos e
duradouros numa perspectiva temporal. Com relação a
caracterização dos estudos, observou-se a predominância de
estudos quantitativos na qual a coleta de dados se deu por
meio de questionário. CONLUSÃO: Pôde-se concluir que as
abordagens fisioterapêuticas, farmacológicas e
multidisciplinares são benéficas no tratamento da FM.
Contudo, ainda há a necessidade de estudos mais precisos
sobre os demais aspectos da doença.
Palavras-chaves: Fibromialgia. Terapêutica. Técnicas de
fisioterapia. Terapia multimodal.
1 INTRODUÇÃO
416
ABORDAGENS FISIOTERAPÊUTICAS E MULTIDISCIPLINARES APLICADAS AO
PACIENTE COM FIBROMIALGIA
a duração, objetivos, configuração, formato, componentes
terapêuticos e profissionais envolvidos (GIUSTI et al., 2017).
Assim, o objetivo desse estudo é delinear a
caracterização de publicações científicas sobre as evidências
recentes que embasem a prática de fisioterapêuticas no
tocante ao cuidado de pacientes com FM; além de investigar
os resultados mais significativos das principais abordagens
apresentadas pelos estudos selecionados, conhecendo assim
a contribuição do cuidado fisioterapêutico às repercussões
cinéticas e funcionais advindas dessa patologia; e aprofundar
a compreensão do fenômeno, expandindo as conclusões de
estudos anteriores a esse.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
418
ABORDAGENS FISIOTERAPÊUTICAS E MULTIDISCIPLINARES APLICADAS AO
PACIENTE COM FIBROMIALGIA
instrumentos elaborados, sendo essas organizadas,
agrupadas e integradas à discussão da presente revisão.
Com os dados integrados, os resultados foram
interpretados com base na sumarização obtida, constituindo a
quinta fase, com o objetivo de identificar a base central
abordada no estudo. A partir dessa observação, foram
observadas 03 categorias, de modo a agrupar os resultados
encontrados em um padrão compreensível e para uma melhor
elaboração as sínteses de conteúdos enfocadas pelas
pesquisas. Por fim, na sexta fase de elaboração do presente
estudo, realizou-se a discussão textual das categorias
definidas e a síntese dos conteúdos enfocados pelas
pesquisas.
3 RESULTADOS E DISCUSÃO
419
ABORDAGENS FISIOTERAPÊUTICAS E MULTIDISCIPLINARES APLICADAS AO
PACIENTE COM FIBROMIALGIA
Tabela 1. Metodologias e instrumento de coleta de dados dos
artigos analisados, publicados entre 2005 e 2015.
Abordagens fisioterapêuticas n %
Aquecimento e exercícios de
2 33,3%
alongamento
Atividades aeróbicas, exercícios de
fortalecimento e de flexibilidade por
1 16,6%
meio de cinesioterapia e
hidrocinesioterapia
Balneoterapia 1 16,6%
TENS, US, infravermelho e
1 16,6%
balneoterapia
Treinamento físico e sessão de
1 16,6%
aeróbica
A análise dos artigos incluídos na revisão foi iniciada
com sucessivas leituras dos 05 documentos, de modo que
identificou a temática central abordada no estudo e sua
relação com a questão norteadora. Com base nos conteúdos
expostos, surgiram duas categorias: (1) abordagens
farmacológicas e não farmacológicas (ou multidisciplinares)
relacionadas ao tratamento de pacientes com fibromialgia; e
(2) abordagens fisioterapêuticas relacionadas ao tratamento
de pacientes com fibromialgia.
Categoria 1 - Abordagens farmacológicas e não
farmacológicas (ou multidisciplinares)
A fibromialgia pode ser referida como uma síndrome
reumática não articular que está associada a dor e a outros
sintomas variáveis, sendo relativamente comum e não muito
compreendida, além de ser um fator de considerável
morbidade, afetando de forma negativa a qualidade de vida e
o bem-estar dos indivíduos (JOSHI et al., 2009).
420
ABORDAGENS FISIOTERAPÊUTICAS E MULTIDISCIPLINARES APLICADAS AO
PACIENTE COM FIBROMIALGIA
Joshi et al. (2009) com o intuito de comparar o
tratamento fisioterapêutico com o farmacológico,
randomizaram e acompanharam durante seis meses 156
pacientes e os dividiram em dois grupos: (G1 = 82 e G2 = 74),
sendo o G1 submetido ao tratamento com amitriptilina (25
miligramas/dia) e o G2 à fisioterapia, que consistiu em
exercícios de treinamento físico e aeróbicos (pelo menos 2
vezes ao dia). Os pesquisados foram avaliados pelo
Questionário de Impacto da Fibromialgia (QIF) e as análises
estatísticas deste estudo mostraram que a redução do score
da QIF foi semelhante em ambos os grupos (redução de 12,37
no G1 e de 12,12 no G2) e, portanto, conclui-se que as
terapias são igualmente benéficas no tratamento da
fibromialgia.
Ainda mais recentemente, Martín et al. (2014) também
comparando uma abordagem farmacológica e não
farmacológica, submeteu um grupo controle a terapia com
fármacos, uma espécie de padrão ouro para o tratamento de
FM na Espanha que utiliza amitriptilina, paracetamol e
tramadol; e um grupo experimental a Psymephy que é uma
associação de tratamento psicológico (componente cognitivo e
comportamental), médico (componente educacional) e
fisioterapêutico (componente físico com exercícios de
aquecimento e alongamento). As variáveis consideradas foram
dor, fadiga, cansaço mental, ansiedade e score total da QIF.
Os resultados mostraram que o grupo Psymephy apresentou
uma melhora maior no score da QIF e dor quando
comparados ao grupo controle, não havendo diferença
estatisticamente significativa para as outras variáveis.
Contudo, percebeu-se que, em longo prazo, os efeitos do
tratamento multidisciplinar foram mantidos.
421
ABORDAGENS FISIOTERAPÊUTICAS E MULTIDISCIPLINARES APLICADAS AO
PACIENTE COM FIBROMIALGIA
Analisando os resultados de Martín et al. (2014) e Joshi,
et al. (2009) é perceptível a eficácia dos dois tipos de
abordagens terapêuticas, tanto no tocante ao uso de
analgésicos e antidepressivos, por exemplo, o tramadol e a
amitriptilina, assim como também a da terapia física. Porém,
deve-se dar relevância ao fato de que, quando cessada, esta
última mantém os resultados obtidos nos pacientes por um
tempo maior, além de ser uma alternativa não invasiva e sem
rações adversas.
Outro estudo semelhante aos citados anteriormente foi
o de Castel et al. (2013), em que ele avaliou um tratamento
multidisciplinar a longo e curto prazo em pacientes
fibromiálgicos com baixa escolaridade. Foram alocados 155
indivíduos em dois grupos, um controle (n=74), submetido a
tratamento com antidepressivos e benzodiazepínicos e um
grupo experimental (n=81) que, além da mesma terapia
farmacológia, recebeu acompanhamento com médico e
fisioterapêutico; e avaliados e acompanhados por três, seis e
doze meses. As análises mostraram diferenças significativas
entre tratamento multidisciplinar e com fármacos no que diz
respeito à pontuação total do QIF, problemas no sono e
intensidade de dor. Logo, reforça-se que as terapias
farmacológicas e não farmacológicas, sendo eficazes seja
quando usadas de forma isolada ou associadas.
Categoria 2 - Abordagens fisioterapêuticas
relacionadas ao tratamento de pacientes com fibromialgia
Por conseguinte, Kesiktas et al. (2011) propôs avaliar
os efeitos da balneoterapia em pacientes com diagnóstico de
fibromialgia. Para tal distribuiu 56 pacientes em três grupos, os
quais receberam os seguintes tratamentos por, em média, 16
sessões a saber: o Grupo 1 (G1) foi acompanhado através de
422
ABORDAGENS FISIOTERAPÊUTICAS E MULTIDISCIPLINARES APLICADAS AO
PACIENTE COM FIBROMIALGIA
estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS), ultra-som
(US), infravermelho; o Grupo 2 (G2) foi acompanhado através
de TENS, US, IV e balneoterapia; e o Grupo 3 (G3) recebeu o
tratamento com TENS, US, IV e hidroterapia. Os pacientes do
grupo G2 e G3 apresentaram melhora significativamente
estatística no tocante ao quadro álgico, escala de depressão e
função pulmonar. O G1 não apresentou diferenças
significativas.
Outros estudos publicados (BASTOS; OLIVEIRA, 2003;
ROCHA et al., 2006) corroboram os achados de Kesiktas et al.
(2011) em relação à eficácia da água sobre o quadro clínico
da fibromialgia, dentre eles a diminuição da dor e melhora da
qualidade de vida. Porém, Silva et al. (2008) mostrou que o
TENS é mais benéfico do que a hidroterapia na redução do
quadro álgico, apesar de ambos terem apresentado resultados
positivos.
É fato que a hidroterapia e a eletrotermofototerapia são
de grande utilidade no manejo de pacientes com diagnóstico
de fibromialgia, mas vê-se também a necessidade de mais
estudos que apresentem poucos vieses metodológicos,
modelagens estatísticas assertivas e amostras maiores para
que, assim, sejam feitas avaliações mais fidedignas sobre tais
métodos.
O estudo de OH et al. (2012), por sua vez, avaliou as
respostas de pacientes a um tratamento multidisciplinar,
similar ao Psymephy (já citado anteriormente), que envolvia
uma conduta da enfermagem, medicina e terapia ocupacional.
Assim como nos resultados explicitados por Martín et al.14,
houve redução no score do QIF (em 14%) dos pacientes
fibromiálgicos. Dando mais precisão à conduta
multiprofissional no tratamento de tais pacientes.
423
ABORDAGENS FISIOTERAPÊUTICAS E MULTIDISCIPLINARES APLICADAS AO
PACIENTE COM FIBROMIALGIA
Portanto, pode ser comprovado, com base nos estudos
publicados, que tanto a abordagem farmacológica, assim
como também a fisioterapêutica e a interdisciplinar (médicos,
enfermeiros, terapeutas ocupacionais) se mostram benéficos
no tratamento de pacientes portadores de fibromialgia,
principalmente no que diz respeito a redução do quadro álgico,
distúrbios do sono e depressão. Porém, a fisioterapêutica vem
atrelada ao diferencial que é caracterizado pela manutenção
de seus resultados em longo prazo, o que não pôde ser
percebido na conduta utilizando fármacos.
4 CONCLUSÃO
424
ABORDAGENS FISIOTERAPÊUTICAS E MULTIDISCIPLINARES APLICADAS AO
PACIENTE COM FIBROMIALGIA
bastante utilizado e recomendado para avaliação dessas
pessoas, seja clinicamente ou para pesquisas.
É notória a eficácia de tratamentos multidisciplinares
para fibromialgia, porém eles têm sido criticados por não
manterem seus efeitos em longo prazo e por serem estudados
em populações heterogênias. Dessa forma, há a necessidade
de estudos mais precisos sobre os demais aspectos da FM,
levando em consideração que esta é uma doença
relativamente pouco compreendida e que afeta de modo
significativo a qualidade de vida da população.
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AÇÂO FISIOTERAPÊUTICA COM CIRCUITO FUNCIONAL FAVORECENDO O
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DE CRIANÇAS DE UMA CRECHE: UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA
CAPÍTULO 22
427
AÇÂO FISIOTERAPÊUTICA COM CIRCUITO FUNCIONAL FAVORECENDO O
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DE CRIANÇAS DE UMA CRECHE: UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA
promover experiências a fim de agregar às crianças da
educação infantil um melhor desenvolvimento
neuropsicomotor. Foram desenvolvidas várias atividades
envolvendo tanto as crianças, com idade entre dois à quatro
anos de idade, através de exercícios lúdicos, quanto palestras
educativas para as mães, objetivando o desenvolvimento de
habilidades na promoção da saúde e controle de riscos, de
danos e de agravos. Constatamos a importância da atuação
do profissional fisioterapeuta na atenção básica e da sua
contribuição à população, otimizando o desenvolvimento
psicomotor das crianças através de estratégias plenejadas
pela equipe NASF junto à disciplina de Estágio
Supervisionado.
Palavras-chave: Fisioterapia, Circuito Funcional.
Desenvolvimento Psicomotor.
1 INTRODUÇÃO
428
AÇÂO FISIOTERAPÊUTICA COM CIRCUITO FUNCIONAL FAVORECENDO O
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DE CRIANÇAS DE UMA CRECHE: UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA
No Referencial Curricular Nacional para a Educação
Infantil, organizado pelo Ministério da Educação (MEC), as
creches e pré-escolas devem educar, cuidar e proporcionar
brincadeiras, contribuindo para o desenvolvimento da
personalidade, da linguagem e para a inclusão social da
criança, através dediversas atividades lúdicas como brincar,
contar histórias, oficinas de desenho, pintura e música, além
de cuidados com o corpo (BRASIL, 2014).
Corroborando com esta prerrogativa, o SUS propõe o
acesso universal, integral, igualitário e intersetorial às ações e
serviços de promoção, proteção e recuperação da saúde,
sendo as ações de prevenção uma de suas prioridades
(BRASIL, 2007).
A Equipe de Saúde da Famíia (ESF) é estruturada nos
princípios do SUS e foi apresentada como uma proposta de
reoganização do modelo assistencial a partir da atenção
básica, promovendo melhor atuação das Unidades Básicas de
Saúde (UBS) definindo responsabilidades entre os serviços de
saúde e a população, buscando estratégias de ação integral à
saúde de indivíduos e grupos, intervindo em fatores de risco e
promovendo parcerias de estímulo ao controle social
(SANTOS et al., 2011).
As ESF desenvolvem ações primárias que prestam
assistência a toda população focando no controle e prevenção
de doenças, e, resultante a estes programas, o Brasil está
crescendo em considerável progressão devido ao aumento da
expectativa de vida e controle de afecções, fato que se deve
aos investimentos no serviço em saúde e às ações primárias
(PEREIRA; ALVARENGA JÚNIOR; BARBOSA, 2009).
429
AÇÂO FISIOTERAPÊUTICA COM CIRCUITO FUNCIONAL FAVORECENDO O
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DE CRIANÇAS DE UMA CRECHE: UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA
O objetivo principal das ESFs surgiram com o objetivo
de inovar e promover mudanças com o foco na assistência à
saúde, organizando os serviços e considerando o ambiente
onde vivem os indivíduos(FLORINDO, 2009).
Nota-se a importância da inserção de outros
profissionais, além dos que constituem a equipe mínima, a fim
de assegurar a integralidade na atenção à saúde. Nessa
perspectiva, o Ministério da Saúde promoveu a criação dos
Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), através da
Portaria Nº. 154/GM, de 24 de Janeiro de 2008. Esta proposta
busca o envolvimento de outros profissionais no apoio às
equipes mínimas de saúde da família, visando à ampliação da
rede de atenção básica e elaboração de estratégias em
saúdevisando melhorar a assistência ao indivíduo (BRASIL,
2008).
Observamos que existe relação entre o regimento do
SUS e o papel do fisioterapeuta, uma vez que o código de
ética desse profissional estabelece como uma de suas
funções a atuação com caráter preventivo.
Podemos observar que o profissional fisioterapeuta vem
adquirindo crescente participação nos serviços referentes à
atenção primária, entretanto este processo continua em
construção. Isso porque suas funções e atribuições são
constituídas por conjunto de ações voltadas à saúde, incluindo
nessa esfera a prevenção, assim como o diagnóstico
cinesiofuncional, tratamento, reabilitação e manutenção da
saúde (BORGES et al., 2010), conforme o previsto no
Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional
(COFFITO, 1987).
430
AÇÂO FISIOTERAPÊUTICA COM CIRCUITO FUNCIONAL FAVORECENDO O
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DE CRIANÇAS DE UMA CRECHE: UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA
O termo prevenir habilita o fisioterapeuta a atuar na
atenção básica, onde o foco será a prevenção das doenças. É
sua função proporcionar educação em saúde, prevenção e
assistência coletiva na atenção básica em saúde, bem como
integrar equipes multiprofissionais destinadas a planejar,
programar, controlar e executar projetos e programas
(COFFITO, 1987).
Dentre as várias funções do profissional fisioterapeuta
na promoção da saúde e prevenção de doenças, a avaliação e
a estimulação psicomotora é uma ferramenta utilizada para
esclarecer e identificar a existência de deficiências nas áreas
motoras e cognitivas, e, a partir desta identificação, promover
um funcionamento mais adequado em termos das habilidades
psicomotoras nos escolares.
A Psicomotricidade é uma ação, por meio de tomada de
consciência que une o pensamento e o movimento, e também
está associada à afetividade e à personalidade, porque o
indivíduo utiliza seu corpo para demonstrar o que sente
(BESSA; MACIEL, 2016).
A estimulação psicomotora desempenha um papel
fundamental no desenvolvimento harmônico da personalidade,
uma vez que, não existe movimento sem cognição, bem como
a cognição está diretamente ligada ao movimento, sendo
utilizada para otimizar o desenvolvimento físico e cognitivo das
crianças, potencializando a coordenação motora, o equilíbrio,
a percepção corporal e a expressão de vários movimentos
corporais. Através da psicomotricidade, a criança consegue se
desenvolver melhor de maneira lúdica, favorecendo em seu
aprendizado, convívio social, na criação e imaginação.
431
AÇÂO FISIOTERAPÊUTICA COM CIRCUITO FUNCIONAL FAVORECENDO O
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DE CRIANÇAS DE UMA CRECHE: UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Para a criança os movimentos significam muito mais do
que simplesmente mexer partes do corpo ou deslocar-se no
espaço em que se encontra, isso porque, ela possui diversos
estímulos sensoriais e proprioceptivos, e com o novo
amadurecimento do seu sistema nervoso central, conseguirá
naturalmente e inconcientemente organizar e armazenar
essas informações (SILVA, 2010).
De acordo com o seu crescimento, a criança vai
desenvolvendo novas habilidades, e isso, possibilitará cada
vez mais sua independência e autonomia.
A atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades
intelectuais da criança. Estas não são apenas uma forma de
entretenimento para gastar energia das crianças, mas de
meios que irão contribuir e enriquecer o desenvolvimento
intelectual.
A aplicação de exercícios psicomotores em crianças
deve ser realizada em ambiente agradável através de tarefas
e movimentos de caráter lúdico. Os exercícios devem ser
executados levando em consideração a individualidade de
cada criança. Dentre as atividades psicomotoras que podem
ser realizadas na criança destacam-se: exercícios de
estimulação de esquema corporal e imagem corporal,
exercícios de movimentos leves do corpo, exercícios de
atenção e concentração, exercícios que estimulem a
lateralidade, exercícios de orientação espacial e temporal,
exercícios de expressão corporal e atividades de preensão
fina e grossa (LIMA; DELFIM; MARQUES, 2007).
Dentre os diversos tipos de exercícios físicos para esta
população, destaca-se o treinamento funcional, o qual busca
prevenir e restabelecer a capacidade funcional, através de
432
AÇÂO FISIOTERAPÊUTICA COM CIRCUITO FUNCIONAL FAVORECENDO O
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DE CRIANÇAS DE UMA CRECHE: UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA
exercícios que estimulam os receptores proprioceptivos
presentes no corpo, os quais proporcionam melhora no
desenvolvimento da consciência cinestésica e do controle
corporal; o equilíbrio muscular estático e dinâmico; diminuindo
a incidência de lesão e aumentando a eficiência dos
movimentos.
Diante do exposto, sentimos enquanto estudantes de
fisioterapia a necessidade de relatar a experiência vivenciada
através de uma ação desenvolvida pela equipe do NASF da
cidade de Cabedelo-PB, em comemoração a semana do bebê,
com atividades lúdicas e treino funcional para otimizar o
desenvolvimento pisicomore promover experiências a fim de
agregar às crianças da educação infantil um melhor
desenvolvimento neuropsicomotor das mesmas.
2 MATERIAIS E MÉTODO
433
AÇÂO FISIOTERAPÊUTICA COM CIRCUITO FUNCIONAL FAVORECENDO O
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DE CRIANÇAS DE UMA CRECHE: UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Desta forma, entendemos que é fundamental oferecer
subsídios para que o discente ao adentrar o campo de estágio
possa desenvolver ações embasadas no conhecimento
científico e teórico adquirido ao longo dos semestres, uma vez
que a metodologia da disciplina é constituída pela construção
e socialização das análises da situação de saúde e das ações
desenvolvidas junto à comunidade; construção e entrega de
relatórios do estágio; aplicação dos conhecimentos
anteriormente adquiridos nas diversas disciplinas do currículo;
cuidado integral do indivíduo, família e comunidade; realização
e participação em oficinas, cursos, treinamento e participação
nas ações de vigilância à saúde.
Dentro dessa perspectiva, vislumbramos que esse é um
momento primordial para que os discentes comecem a
construir uma relação de co-responsabilização pelas ações
que serão implementadas, uma vez que iremos estar em
contato direto com as necessidades de saúde da população
inseridos em um contexto social e familiar.
Ainda na perspectiva de subsidiar os discentes para as
ações relacionadas a promoção da saúde e prevenção de
doenças,estas vivências proporcionam condições favoráveis
para o desenvolvimento do senso crítico e reflexivo dos
discentes, contribuindo com a formação de um profissional,
não apenas voltado para os aspectos biológicos, mas,
sobretudo, para o contexto social e político que interfere e
interage fortemente com os problemas de saúde da
população.
Desta forma, a partir das atividades em campo de
estágio, os discentes terão oportunidade de desenvolver
ações junto ao usuário, comunidade e nas unidades de saúde.
434
AÇÂO FISIOTERAPÊUTICA COM CIRCUITO FUNCIONAL FAVORECENDO O
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DE CRIANÇAS DE UMA CRECHE: UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Essas atividades têm a participação de docentes da disciplina,
supervisores do estágio e discentes, estabelecendo uma
conexão entre os objetivos propostos, a sistematização do
conhecimento e as necessidades encontradas no cotidiano do
trabalho da fisioterapia.
Neste sentido, no dia 26 de setembro do corrente ano,
aequipe do NASF da cidade de Cabedelo-PB, junto ao Estágio
Supervisionado I, desenvolveram várias atividades para a
semana do bebê na Creche Pequeno Príncipe localizada na
mesma cidade, envolvendo tanto as crianças, com idade entre
dois (2) à quatro(4) anos de idade, quanto as mães através de
exercícios lúdicos e palestras educativas para as mães.
A atividade foi iniciada as 09:00hs da manhã e teve a
participação de três (3) turmas com quinze (15) crianças com
idade entre dois (2) à quatro (4) anos em cada turma; tendo
sido realizado com as mesmas um circuito funcional.
Inicialmente, foi realizada uma caminhada em círculo como
aquecimento com o auxílio de musicoterapia para estimular a
interação de todos e, em seguida, cada criança deambulou
numa linha ao solo feita com fita adesiva com 2m de
comprimento onde foi feito um treino de marcha; exercício
pliométrico com saltos entre seis (6) argolas ao solo com
estímulos de lateralidade, verbalizando as direções direita e
esquerda para saltar dentro de cada argola; corrida lateral
entre sete (7) cones coloridos ao solo com elevação do
membro inferior, passando por cima de cada cone alternando
os membros inferiores direito e esquerdo respectivamente de
acordo com o direcionamento dos cones para direita e para
esquerda; exercício para dissociação da cintura escapular e
pélvica através da imitação de animais em quatro apoio ao
435
AÇÂO FISIOTERAPÊUTICA COM CIRCUITO FUNCIONAL FAVORECENDO O
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DE CRIANÇAS DE UMA CRECHE: UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA
solo (leão, gato, cachorro, sapo e pássaro) e de árvore que se
inclina durante uma ventania para flexibilização da coluna
vertebral e dos membros superiores.
Em seguida, as crianças foram conduzidas para outras
atividades com as educadoras, onde foi contada várias
histórias infantis, enquanto isso, as mães foram direcionadas
para a sala de vídeo onde foi apresentado por meio de data
show os slides com o tema “Massagem para Bebês”,
abordando a técnica Shantala em roda de conversa, com
esclarecimento sobre o conceito e ênfase nos efeitos
fisiológicos, benefícios e na interação mãe-filho com a
utilização dessa técnica, tendo sido realizada oficina
demonstrativa, utilizando uma boneca com um passo a passo
de alguns movimentos básicos.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
436
AÇÂO FISIOTERAPÊUTICA COM CIRCUITO FUNCIONAL FAVORECENDO O
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DE CRIANÇAS DE UMA CRECHE: UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA
trabalhados continuamente, pois não são um fim em si
mesmo, mas um processo em permanente construção.
A Fig 1. demonstra a atividade psicomotora realizada
pelas crianças, tendo solicitado às mesmas que andassem em
círculo, realizando a ação de bater palmas com as mãos.
437
AÇÂO FISIOTERAPÊUTICA COM CIRCUITO FUNCIONAL FAVORECENDO O
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DE CRIANÇAS DE UMA CRECHE: UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA
raciocínio e possibilitar recursos ilimitados de ações (LIMA;
DELFIM; MARQUES, 2007).
Já a Fig 2. demonstra a atividade psicomotora,
priorizando o estímulo do equilíbrio, realizada pelas crianças,
tendo solicitado às mesmas que pulassem dentro dos
bambolês.
438
AÇÂO FISIOTERAPÊUTICA COM CIRCUITO FUNCIONAL FAVORECENDO O
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DE CRIANÇAS DE UMA CRECHE: UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Os autores supracitados ainda referem que o equilíbrio
corporal é um processo complexo que depende da integração
da visão e do sistema vestibular e somatossensorial, da
coordenação central e ajuste muscular, particularmente da
musculatura tônica.
Já Leite et al (2009) acrescenta que a manutenção do
equilíbrio envolve muitas estruturas do sistema nervoso central
(SNC) e do sistema nervoso periférico (SNP). O sistema
vestibular é uma das estruturas fundamentais na manutenção
do equilíbrio e é considerado como referencial em relação a
outros sistemas que também participam desta função, como o
visual e o somatossensitivo. O processamento motor, incluindo
os componentes músculo-esquelético e neuromuscular, são
essenciais para a geração e coordenação de forças que
controlam a posição do corpo no espaço.
O controle postural é fundamental para a habilidade de
desempenhar tarefas simples e também mais complexas,
onde ressalta-se a importância da integração dos vários
sistemas corporais sob o comando central para o controle do
equilíbrio corporal. E o desempenho destes sistemas reflete
nas habilidades do indivíduo na realização de tarefas
cotidianas, ou seja, na capacidade funcional (LEITE et al,
2009).
O mesmo ainda afirma que o controle postural é a
capacidade de manter o equilíbrio (estático e dinâmico),
oscilando ou recuperando o centro de massa corporal sobre a
base de sustentação e a habilidade de controlar a posição do
corpo no espaço, evitando assim a queda.
A Fig3. demonstra a atividade psicomotora, priorizando
o treino de marcha, com a utilização dos cones, realizada
439
AÇÂO FISIOTERAPÊUTICA COM CIRCUITO FUNCIONAL FAVORECENDO O
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DE CRIANÇAS DE UMA CRECHE: UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA
pelas crianças, tendo solicitado às mesmas andassem em
zigzag pelos cones.
440
AÇÂO FISIOTERAPÊUTICA COM CIRCUITO FUNCIONAL FAVORECENDO O
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DE CRIANÇAS DE UMA CRECHE: UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA
ambiente e a localização, direção e a velocidade do
movimento do indivíduo, e do sistema somatossensorial com
informações relacionadas ao contato e posição do corpo,
incluindo os receptores cutâneos, receptores musculares,
tendões, ligamentos, articulações que informam sobre a
posição dos membros e do corpo.
E, por fim, a Fig 4. demonstra a atividade psicomotora,
priorizando a mudança de posturas, realizada pelas crianças,
tendo solicitado às mesmas que imitassem alguns animais.
441
AÇÂO FISIOTERAPÊUTICA COM CIRCUITO FUNCIONAL FAVORECENDO O
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DE CRIANÇAS DE UMA CRECHE: UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Cada um desses aspectos vai depender de questões
orgânicas, sociais e/ou emocionais que nos faz únicos.
Segundo Carvalho (2007) todos indivíduos possuem
várias maneiras de perceber e conhecer o próprio corpo.
Maneiras estas que utilizamos para representar o nosso corpo,
como também os corpos dos outros. De certo, não podemos
saber o que sentem os corpos dos outros, mas conhecemos
parte das sensações perceptíveis, o que permite manter-nos
em comunicação com os objetos do mundo exterior,
compreendendo quem somos e quem são os outros, ou seja,
onde terminamos e onde os outros começam.
O movimento é essencial à unificação dos diferentes
segmentos do corpo e através dele nos relacionamos com o
mundo externo, o que nos torna capazes de sintetizar as
diversas sensações relativas ao nosso corpo.
A imagem corporal é construída e reconstruída
continuamente a partir da relação que estabelecemos com o
mundo, apreendendo os objetos em forma de imagem.
Acriança que não participa ativamente de mundo perde a
noção do tempo presente, suprime o aprendizado, omitindo os
prazeres e alegrias que formam a sua história, contida em sua
imagem corporal.
A psicomotricidade surge como um alicerce sensório-
perceptivo-motor indispensável na contribuição do processo
de educação e reeducação psicomotoras, pois atua
diretamente na organização das sensações, das percepções e
nas cognições, visando a sua utilização em respostas
adaptativas previamente planejadas e programadas. Ela busca
também combater a inadaptação psicomotora, pois apresenta
uma finalidade reorganizadora nos processos de
442
AÇÂO FISIOTERAPÊUTICA COM CIRCUITO FUNCIONAL FAVORECENDO O
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DE CRIANÇAS DE UMA CRECHE: UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA
aprendizagem de gestos motores. (ALMEIDA; CARDOSO,
2007 )
Portanto, verificamos que a atividade psicomotora é
capaz de promover um melhor planejamento, direcionamento
e execução de movimentos, sendo fundamental esta
intervenção na busca da estimulação cognitiva, psicomotora e
afetiva das crianças.
4 CONCLUSÕES
443
AÇÂO FISIOTERAPÊUTICA COM CIRCUITO FUNCIONAL FAVORECENDO O
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR DE CRIANÇAS DE UMA CRECHE: UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA
incluindo a intereração social entre os colegas da creche, com
seus pais e familiares.
Torna-se válido, assim, a utilização da atividade
psicomotora como proposta terapêutica a ser adotada pelos
profissionais e esta vivência para os discentes, ampliando a
visão nas suas condutas fisioterapêuticas, pois promove uma
intervenção preventiva criativa e consequentemente possibilita
o desenvolvimentode mais mobilidade, equilíbrio, coordenação
e independência funcional às crianças.
Sugere-se, então, estudos futuros que debatam a
relação destas vivências e o registro das mesmas enquanto
ferramenta de aprendizado para os discentes, porém,
sugerimos que ações como esta possam ser realizadas mais
vezes a fim de registrar uma avaliação inicial e final com as
crianças através de um período mais longo de intervenção
preventiva.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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OLIVEIRA, Gislene de Campos. Psicomotricidade: Educação e
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446
A FISIOTERAPIA DERMATO FUNCIONAL EM PACIENTE COM ÚLCERA POR
PRESSÃO PÓS ZICA VIRUS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA.
CAPÍTULO 23
1 INTRODUÇÃO
448
A FISIOTERAPIA DERMATO FUNCIONAL EM PACIENTE COM ÚLCERA POR
PRESSÃO PÓS ZICA VIRUS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA.
Evandro Chagas, no estado do Pará, em 14 de maio de 2015
(BRASIL, 2015).
A partir desta data, houve um surto epidemiológico
muito grande no Brasil, principalmente em Pernambuco com o
Zika Vírus (ZIKAV), ainda que este vírus tenha sido
identificado em 1947 em macacos rhesus na floresta de
Uganda, no continente africano. Logo após, identificaram-se
infecções em seres humanos em alguns países da África e da
Ásia, e em 2014 na Ilha de Páscoa, no Chile. E em 2015,
identificaram-se vários surtos da doença no Nordeste do Brasil
(SIMMINS JR, 2016).
A transmissão do ZIKV é consequência da picada de
mosquitos do gênero Aedes e, menos frequentemente, a
transmissão do ZIKV já foi descrita por via sexual, perinatal e
por hemotransfusão. Apesar de possíveis, ainda não se tem a
dimensão da importância epidemiológica destes mecanismos
(PINTO JÚNIOR et al, 2015).
Os autores supracitados ainda afirmam que, quanto às
manifestações clínicas da infecção causada pelo ZIKV, as
informações limitam-se a descrições de casos isolados ou a
série de casos em situações de epidemia. O período de
incubação varia de três a 12 dias após a picada do mosquito
infectado semelhantemente ao descrito para outras
arboviroses, onde as manifestações clínicas da doença podem
variar dependendo da localidade, sendo frequente uma
síndrome ‘tipo-dengue’. Infeções assintomáticas também são
descritas a partir de resultados de inquéritos sorológicos.
Geralmente, ocorre um episódio febril de início agudo,
acompanhado de cefaléia discreta, surgindo exantema
maculopapular pruriginoso, acometendo a face, o tronco, os
membros, as palmas das mãos e as plantas dos pés. A febre
449
A FISIOTERAPIA DERMATO FUNCIONAL EM PACIENTE COM ÚLCERA POR
PRESSÃO PÓS ZICA VIRUS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA.
cede um dia ou dois após o aparecimento do exantema, que
pode persistir por mais dois a 14 dias (duração média de seis
dias). Habitualmente a febre é baixa, mas em alguns casos
relatados no Brasil foi elevada, chegando a 39º C
(ZAMMARCHI et al, 2015).
Estes mesmos autores também relatam mialgia, dores
articulares e dor lombar discreta como sintomatologia, mas
diferentemente dos casos de chikungunya, as dores são
menos intensas e acometem mais as mãos, joelhos e
tornozelos. Geralmente o seu desaparecimento ocorre cerca
de uma semana, com duração média de três a cinco dias. A
conjuntivite tem sido frequentemente relatada e,
carateristicamente, não apresenta secreção purulenta. Podem
ocorrer outras manifestações inespecíficas como anorexia,
náuseas, vómitos, vertigem e dor retro-orbital.
Associado a estas manifestações, porém com o
mecanismo desencadeador desta condição ainda
desconhecido, sendo provável um fenômeno de
autoimunidade como observado noutras infecções, existe a
possibilidade de surgimento de úlceras por pressão, uma vez
que o paciente, principalmente com a idade mais avançada se
torna limitado diante das dores, ficando, por vezes, acamado.
Talvez como principal associação relacionada à idade
esteja a explicação de que o organismo sofre várias
modificações bioquímicas, morfológicas e funcionais devido ao
processo natural de envelhecimento humano, sendo estas
mudanças caracterizadas por atrofias e diminuições no
funcionamento de diversos órgãos. Dentre eles a pele, pois
todas as camadas da pele sofrem alterações, onde a camada
córnea da epiderme encontra-se marcadamente reduzida,
onde há descamação, principalmente nas extremidades,
450
A FISIOTERAPIA DERMATO FUNCIONAL EM PACIENTE COM ÚLCERA POR
PRESSÃO PÓS ZICA VIRUS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA.
sendo causada, principalmente, pela diminuição da secreção
sebácea, por mudanças nos lipídios, onde é associada a
menor conteúdo hídrico, predispondo, desta forma, a pele a
maior ressecamento e presença de fissuras (NICOLA, 1986;
MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).
Segundo Gayton (2006), as lesões por pressão, que
são também conhecidas por escaras, tem como fisiologia
descrita o aumento da intensidade de pressão em algumas
determinadas áreas do corpo,onde ocasiona um aumento
secundário da pressão nos capilares sanguíneos, que resulta
em uma isquemia local,acarretando alguns desarranjos no
aporte de nutrientes, o que leva a uma disfunção metabólica
tegumentar,muscular e óssea,causando assim uma necrose
celular.
As UP são lesões localizadas na pele ou também em
tecido subjacente, que geralmente é favorecida quando está
em contato com proeminência óssea, bem como resultado da
pressão isolada ou combinada com cisalhamento e friccçao
Portanto, as pessoas idosas estão mais fragilizadas devido ao
processo natural do envelhecimento humano que está em
declínio, e com isso, tornando-as mais suceptívies a
desenvolvê-las (EUROPEAN, 2009).
A prevenção é certamente o aspecto muito importante
para abordagem da úlcera de pressão. Uma vez desenvolvida,
o tratamento pode ser muito difícil e incômodo para o paciente
(DEALEY, 2001; KNIGHT, 2004).
Para o tratamento ideal das UP existem quatro
princípios fundamentais: inicialmente, se possível, a patologia
de base da úlcera por pressão deve ser tratada; a pressão
deve ser aliviada ou removida por medidas adequadas para
evitar mais danos teciduais; a nutrição é importante para a
451
A FISIOTERAPIA DERMATO FUNCIONAL EM PACIENTE COM ÚLCERA POR
PRESSÃO PÓS ZICA VIRUS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA.
cicatrização das úlceras por pressão e, por fim, mas não
menos importante, o cuidado da úlcera deve ser otimizado,
onde caso haja necrose ou esfacelos, deve-se considerar o
desbridamento para remover o tecido desvitalizado no leito da
ferida, limpando a úlcera por pressão e pele ao redor e
removendo detritos em cada mudança de curativo para
minimizar a contaminação, além de usar coberturas
apropriadas para a manutenção da umidade (EUROPEAN,
2009).
Além destes tratamentos, a fisioterapia dermato-
funcional vem se desenvolvendo muito nos últimos anos,
tornando-se um instrumento terapêutico muito valioso, através
de suas inúmeras técnicas, em diversos problemas
relacionados à pele (MATOS; SANTOS, 2008).
Desta forma, o tratamento de UP, também pode ser
beneficiado com a intervenção da fisioterapia na área dermato
funcional, levando em consideração os resultados e a melhoria
das atividades de vida diária e da qualidade de vida dos
pacientes com o uso de diversas modadlidades, dentre elas a
laserterapia e a microcorrentes.
O laser tem efeito cicatrizante explicado pelo
incremento à produção de adenosina trifosfato (ATP) que
proporciona um aumento da velocidade mitótica das células,
estimulando a microcirculação e com o aumento do aporte dos
elementos nutricionais associado à ampliação da velocidade
mitótica, facilita a multiplicidade das células, fazendo com que
ocorra o efeito de neovascularização a partir dos vasos já
existentes causando melhores condições para a cicatrização
rápida (LOPES, 2011).
Outro recurso que vem mostrando bons resultados no
que se refere ao tratamento destas afecções de UP é a
452
A FISIOTERAPIA DERMATO FUNCIONAL EM PACIENTE COM ÚLCERA POR
PRESSÃO PÓS ZICA VIRUS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA.
microcorrentes pelos efeitos fisiológicos ter relação direta com
as propriedades biológicas teciduais sendo que a base desses
efeitos está relacionada com a capacitância celular. A correta
aplicação das microcorrentes em um local lesionado aumenta
o fluxo de corrente endógena, permitindo recuperar sua
capacitância. Isso ocorre pelo reabastecimento de ATP, em
que os nutrientes podem novamente ir para o interior das
células lesionadas e os resíduos dos produtos metabólicos
podem fluir das células e os efeitos terapêuticos podem ser
relacionados com a analgesia, a aceleração do processo de
reparação tecidual (AGNE, 2009).
Assim, a fisioterapia tem como objetivo nos processos
ulcerativos, a redução no período de cicatrização destes,
possibilitando aos indivíduos um retorno mais rápido às suas
atividades sociais e de vida diária trazendo uma melhora na
qualidade de vida de pessoas portadoras de úlceras cutâneas
(GONÇALVES et al., 2000).
Diante do exposto, sentimos enquanto estudantes de
fisioterapia a necessidade de relatar a experiência vivenciada
através da disciplina Fisioterapia na Dermato Funcional, a
partir da intervenção junto a um paciente com úlceras por
pressão pós zica vírus.
2 MATERIAIS E MÉTODO
453
A FISIOTERAPIA DERMATO FUNCIONAL EM PACIENTE COM ÚLCERA POR
PRESSÃO PÓS ZICA VIRUS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA.
Ao que se refere a sistemática de oportunidades de
vivências por esta disciplina,a mesma possibilita o
aprendizado e o desenvolvimento de habilidades no manejo
de técnicas e procedimentos no tratamento e controle de
riscos, de danos e de agravos junto a perspectiva de melhorar
a qualidade de vida do paciente com necessidades na área da
dermato funcional.
Deste modo, compreendemos que é importante haver o
incentivo para que os discentes possam desenvolver
estratégias de intervenção embasadas no conhecimento
científico e teórico adquirido ao longo dos semestres,
agregando assim, experiências através das práticas clínicas,
contribuindo na formação acadêmica e profissional dos
discentes, visandoo aspecto integral dos pacientes.
Ainda na perspectiva de incentivo, os discentes
conseguem desenvolver de maneira satisfatória o senso crítico
e reflexivo, a tomada de decisão, plenajamento e estratégias
para melhor assistir o paciente, otimizando a sua qualidade de
vida.
Essas atividades têm a participação de docentes da
disciplina e discentes, estabelecendo uma união entre os
objetivos propostos, a metodização do conhecimento e as
necessidades encontradas diariamente do trabalho da
fisioterapia.
Ao longo da disciplina Fisioterapia Dermato Funcional
no decorrer do segundo semeste de 2016, no anexo Fundação
Otacílio Gama da Faculdade de Ciências Médicas da PB
(FCM/PB), os alunos realizaram a admissão de alguns
pacientes com idade acima dos 40 anos, e dentre eles havia
um idoso de 87 anos com úlcera por pressão.
454
A FISIOTERAPIA DERMATO FUNCIONAL EM PACIENTE COM ÚLCERA POR
PRESSÃO PÓS ZICA VIRUS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA.
Os atendimentos eram realizados duas (2) vezes por
semana no período da tarde, tendo aproximadamente um
tempo de atendimento de 40 minutos por paciente, no decorrer
do semestre ou até a sua alta.
O paciente em questão foi avaliado e em seguida
iniciado a conduta de tratamento, onde consistiu de exercícios
para fortalecimento e alongamentos dos membros superiores
e inferiores, contribuindo para a manutenção da funcionalidade
corporal, tendo ênfase no tratamento da úlcera por pressão,
localizada na região sacral com o diâmetro comparado ao de
uma laranja média.
Durante a conduta fisioterapêutica foram utilizados
recursos eletrotermofototerápicos, com a utilização da
Laserterapia e Microcorrentes, ambas associadas ao processo
de tratamento para potencializar os efeitos fisiológicos e
terapêuticos no tratamento do reparo da regeneração tecidual,
favorecendo na cicatrização da lesão cutânea causada através
do aparecimento de uma complicação proveniente do zika
vírus devido a falta de mudança de decúbito deste paciente,
buscando uma redução do tempo de tratamento necessário
para sua reabilitação.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
455
A FISIOTERAPIA DERMATO FUNCIONAL EM PACIENTE COM ÚLCERA POR
PRESSÃO PÓS ZICA VIRUS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA.
úlceras por pressão pós zica vírus, apresentaremos alguns
registros fotográficos desta oportunidade, explicitando de
maneira objetiva a intervenção realizada como conduta
específica.
O paciente foi atendido durante 12 sessões com a
supervisão da professora responsável por este Campo de
Estágio, sendo utilizado todos os Equipamentos de Proteção
Individual (EPI’s) para este fim.
O quadro 1. demonstra a interveção fisioterapêutica na
úlcera por pressão na região sacral (Figura A) do paciente
idoso de 87 anos, gênero masculino, adquirida após a
infecção por zica vírus.
A B C D
456
A FISIOTERAPIA DERMATO FUNCIONAL EM PACIENTE COM ÚLCERA POR
PRESSÃO PÓS ZICA VIRUS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA.
A Fig B. demonstra a medição inicial da úlcera por
pressão, onde a mesma foi de 9 cm de altura por 8,5 cm de
largura, com 76,5 cm de área lesionada , aferição realizada
através de régua descartável de papel.
Segundo European (2009), a avaliação da úlcera por
pressão deve incluir o tamanho (largura e comprimento) em
centímetros; profundidade também em centímetros; presença
de túneis e/ou fístulas, presença de descolamentos; presença
de exsudato ( cor, odor e quantidade), além de presença de
tecido necrótico com evidência ou não de infecção.
A Fig. C demonstra a intervenção fisioterapêutica, com
a aplicação das microcorrentes, sendo os eletrodos
posicionados na região sacral do paciente na posição
tetrapolar.
O uso da terapia com microcorrentes, sobre lesões
cutâneas, tem o objetivo de normalizar o fluxo de correntes,
acelerando o reparo e minimizando a dor. Baseando-se nos
estudos realizados como o de Miyashita (2012), percebe-se
que o uso da estimulação por microcorrentes nos processos
de cicatrização e reparo são de grande valia para os
protocolos de tratamentos pré e principalmente pós-cirúrgicos.
Nos tratamentos pós-cirúrgicos há diminuição da dor, do
edema e da inflamação, assim, mostrando-se muito eficiente
no controle da inflamação, tendo como conseqüência imediata
a supressão das dores agudas, e ainda a aceleração das
cicatrizações.
Pelas propriedades físicas e biológicas das
microcorrentes pode-se afirmar que essas correntes
praticamente não apresentam contra indicações, podendo ser
utilizadas em diferentes pacientes, como crianças, inclusive
recém-nascidos, idosos e tecidos com alterações morfológicas
457
A FISIOTERAPIA DERMATO FUNCIONAL EM PACIENTE COM ÚLCERA POR
PRESSÃO PÓS ZICA VIRUS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA.
e sensoriais. As razões para a utilização são: maior
compatibilidade biológica com efeitos de cura a nível
subumbral; neutraliza com mais eficiência a polaridade
oscilante das células lesadas; correntes menores que 600mA
aumentam disponibilidade de ATP; aumentam a
permeabilidade celular; aumenta a capacidade local de síntese
de proteínas; permite maior movimento de moléculas (AGNES,
2009).
Foi também utilizado o Laser HNE contínuo 3J/cm 2 , de
modo pontual nas bordas da úlcera por pressão e varredura
no leito da lesão por ser capaz de provocar alterações
bioquímicas, bioelétricas e bioenergéticas nas células apesar
de não ter efeito ionizante.
Dentro dos efeitos bioquímicos podemos destacar a
capacidade de estimular a produção de ATP dentro da célula,
dando origem e acelerando as mitoses, tem ação fibrinolítica,
atua na inibição de certas substâncias como prostaglandinas,
servindo assim como antiinflamatório e como analgésico, pois
o mesmo estimula a liberação de β endorfinas e serotonina
(AGNES, 2009).
Quanto ao efeito bioelétrico e bioenergético, o mesmo é
capaz de normalizar o potencial de membrana, que se
encontra muitas vezes alterada, promovendo um equilíbrio na
atividade funcional celular, promover o aumento do tecido de
granulação, neovascularização, aumento de colágeno,
aceleração o processo de cicatrização e incremento da
atividade fagocitária dos linfócitos e macrófagos (FERREIRA,
2010).
Após as 12 sessões programadas, foi realizada a
medição final, conforme a Fig. D do quadro 1, que ilustra a
458
A FISIOTERAPIA DERMATO FUNCIONAL EM PACIENTE COM ÚLCERA POR
PRESSÃO PÓS ZICA VIRUS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA.
aferição da área lesionada de 6,5 cm de altura por 5,5 cm de
largura, demostrando uma redução significativa de 35,75 cm.
Smeltzer e Bare (2005), mesmo sendo elevado o
número de pessoas que desenvolvem úlceras por pressão, o
Brasil não tem dados científicos e pesquisas nacionais que
comprovem essa incidência e prevalência, o que se apresenta,
costumeiramente, são estudos e teses específicas de
unidades de saúde as quais comprovam parcialmente a
afirmação.
Desta forma, também são escassos estudos científicos
que relatam a evolução a partir de intervenções como a
fisioterapêutica, embora na prática clínica seja percebida,
demonstrando a importância de relatos de experiência
vivenciados como este.
4 CONCLUSÕES
459
A FISIOTERAPIA DERMATO FUNCIONAL EM PACIENTE COM ÚLCERA POR
PRESSÃO PÓS ZICA VIRUS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA.
de ampliar a visão quanto a área de atuaçãoprofissional,
observando e atuando em condutas fisioterapêuticas diversas.
Sugere-se, então, estudos futuros que debatam a
relação destas vivências e o registro das mesmas enquanto
ferramenta de aprendizado para os discentes, porém,
sugerimos que a intervenção possa ter um caráter cada vez
mais baseado em evidências científicas, através de
instrumentos validados, capaz de mensurar toda a evolução
físico funcional de pacientes com úlceras por pressão, sejam
estas decorrentes do zica vírus ou de outras etiologias.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
460
A FISIOTERAPIA DERMATO FUNCIONAL EM PACIENTE COM ÚLCERA POR
PRESSÃO PÓS ZICA VIRUS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA.
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461
ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE OS INSTRUMENTOS: UPDRS -PROGRESSÃO
DA DOENÇA DE PARKINSON E A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE
FUNCIONALIDADE (CIF) –INCAPACIDADE FUNCIONAL
CAPÍTULO 24
462
ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE OS INSTRUMENTOS: UPDRS -PROGRESSÃO
DA DOENÇA DE PARKINSON E A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE
FUNCIONALIDADE (CIF) –INCAPACIDADE FUNCIONAL
portadores de DP, com idade média de 71.63 ±7,87anos,
maioria homens e com baixa escolaridade. Grau de
incapacidade de leve a moderado, doença bilateral com
alguma instabilidade postural, nível moderado de progressão
da doença, onde a atividade motora se apresentou mais
afetadae comprometimento leve da função mental na UPDRS,
dificuldade leve a moderada na funcionalidade, através da
CIF. Houve relação entre os instrumentos de avaliação, porém
a CIF se mostrou mais completa para avaliação.
Palavras-chave:Doença de Parkinson. Funcionalidade.
Classificação Internacional de Funcionalidade – CIF.
1 INTRODUÇÃO
463
ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE OS INSTRUMENTOS: UPDRS -PROGRESSÃO
DA DOENÇA DE PARKINSON E A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE
FUNCIONALIDADE (CIF) –INCAPACIDADE FUNCIONAL
Com a finalidade de promover uma padronização na
avaliação desses pacientes temos a Classificação
Internacional de Funcionalidade (CIF) que avalia o paciente de
forma detalhada, levando em conta todo o seu contexto
biopsicossocial, é um instrumento fantástico, principalmente
para as pesquisas e estudos acadêmicos, porém a CIF é de
difícil aplicação por ser muito extensa, desta forma, a grande
maioria dos profissionais e pesquisadores ainda não fazem o
uso da CIF, por isso se faz necessário a elaboração de um
Core Set da CIF para a Doença de Parkinson. O Core Set é a
junção dos principais pontos de avaliação que precisam ser
abordados para uma análise confiável do paciente.
Diante do exposto objetivou-se relacionar da CIF com
escalas de avaliação de progressão da DP e incapacidade
funcional.
2 MATERIAIS E MÉTODO
464
ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE OS INSTRUMENTOS: UPDRS -PROGRESSÃO
DA DOENÇA DE PARKINSON E A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE
FUNCIONALIDADE (CIF) –INCAPACIDADE FUNCIONAL
2.2. Campo e período de pesquisa
O campo da pesquisa supracitada foi em todas as
Unidades Básicas de Saúde e da Família (UBSFs) e nos
Centros de Saúde do município de Campina Grande-PB.
Estas, foram visitadas no período de dezembro de 2011 a
outubro de 2013, com o objetivo de mapear todos os usuários
com DP que faziam uso deste serviço. Em seguida, foram
realizadas visitas em domicílio pelos pesquisadores discentes
com acompanhamento dos Agentes Comunitários de Saúde
(ACS) para apresentação da pesquisa e convocatória aos
indivíduos portadores de DP a participarem da pesquisa. Após
aceitação foi dado seguimento fase de aplicação dos
instrumentos de avaliação.
465
ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE OS INSTRUMENTOS: UPDRS -PROGRESSÃO
DA DOENÇA DE PARKINSON E A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE
FUNCIONALIDADE (CIF) –INCAPACIDADE FUNCIONAL
2.4. Critérios de Inclusão
Foram incluídos no estudo indivíduos com diagnóstico
clínico de DP, acima dos 50 anos, de ambos os sexos e que
aceitaram participar do estudo.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
468
ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE OS INSTRUMENTOS: UPDRS -PROGRESSÃO
DA DOENÇA DE PARKINSON E A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE
FUNCIONALIDADE (CIF) –INCAPACIDADE FUNCIONAL
Tabela 1. Análise do estadiamento da DP através da escala
modificada de Hoehn e Yahr.
470
ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE OS INSTRUMENTOS: UPDRS -PROGRESSÃO
DA DOENÇA DE PARKINSON E A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE
FUNCIONALIDADE (CIF) –INCAPACIDADE FUNCIONAL
iniciar o movimento ou interrupção no movimento de abrir e
fechar as mãos, fazer o movimento alternado das mãos e
tocar o chão com o calcanhar de maneira alternada.
Compreende também a atividade motora, a função de
sentar e levantar, no nível moderado o paciente se levanta da
cadeira com dificuldade, porém sem ajuda, a marcha também
apresenta alteração (menor agilidade, passos curtos e impulso
– festinação, podendo necessitar de ajuda), em relação a
postura, esses indivíduos no nível moderado a grave
apresentam cifose, geralmente com o tronco inclinado para um
lado. A estabilidade é testada com o teste do empurrão, neste
nível o paciente é muito instável e cairá se o examinador não
segurá-lo. Os pacientes assumem uma postura muito
característica com a cabeça e o tronco fletidos e tem muita
dificuldade de ajustar a postura quando se inclinam ou quando
há súbitos deslocamentos do corpo, o que favorece a
ocorrência de quedas.
471
ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE OS INSTRUMENTOS: UPDRS -PROGRESSÃO
DA DOENÇA DE PARKINSON E A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE
FUNCIONALIDADE (CIF) –INCAPACIDADE FUNCIONAL
muito provável pois essas funções dependem mais
diretamente da funcionalidade desse indivíduo que geralmente
está comprometida pelo tremor, rigidez, déficit de equilíbrio,
diminuição de força, dificuldade na comunicação com os
pessoas, principalmente para ser compreendido, todos esses
fatores influenciam de maneira negativa na motivação para
realização das atividades, para sair de casa.
Segundo Melo et al, (2007) os déficits cognitivos
eventualmente ocorrem já nas fases iniciais da DP, e nessas
circunstancias podem não ser clinicamente aparentes, mas
detectáveis apenas por testes específicos, como em escalas
que avaliam especificamente a cognição de indivíduos com
DP, com questões de cálculo, memória, raciocínio lógico,
evocação verbal, de maneira que o paciente seja avaliado
através da execução das atividades, diferente de um
autorrelado, como no caso da CIF e UPDRS no domínio
estado mental.
472
ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE OS INSTRUMENTOS: UPDRS -PROGRESSÃO
DA DOENÇA DE PARKINSON E A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE
FUNCIONALIDADE (CIF) –INCAPACIDADE FUNCIONAL
b 1100 Estado de Consciência 0 100
1 0
2 0
3 0
4 0
b 1300 Nível de energia 0 28.571
1 20.000
2 31.429
3 11.429
4 5.714
8 2.857
b 1301 Motivação 0 68.571
1 11.429
2 8.571
3 2.857
4 8.571
473
ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE OS INSTRUMENTOS: UPDRS -PROGRESSÃO
DA DOENÇA DE PARKINSON E A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE
FUNCIONALIDADE (CIF) –INCAPACIDADE FUNCIONAL
grave. No que diz respeito a variável mudar a posição do
corpo (d410) 37,14% dos indivíduos apresentaram-se normal,
seguido de 22,6% em comprometimento leve e 17,14%
problema grave.
Para a variável andar (d450) 68,57% dos portadores de
DP mostraram estar normal e 11,43% destes com
incapacidade leve. Em relação a capacidade de se deslocar
(d555) 54,55% não possuíam incapacidade, já 20%
apresentaram incapacidade leve. Na variável deslocar-se por
diferentes lugares foi possível perceber que houve uma
dificuldade maior nesta atividade, pois 31,43% mostrara
incapacidade moderada, seguido de 22,86% com
incapacidade grave para realizar esta função. Por outro lado,
62,86% dos indivíduos com DP não precisam de equipamento
pra se deslocar (d465), todavia, 14,28% dos indivíduos
apresentaram incapacidade leve e 11,43% mostraram
incapacidade grave. A marcha na DP é conhecida como
festinada, apresenta-se por passos curtos, rápidos e
arrastados, sem a participação dos movimentos dos braços.
Entende-se que essa marcha é em decorrência da postura
adotada por estes portadores, pois a cabeça anterioriza-se,
ocorre um aumento da cifose torácica com uma flexão de
joelhos, onde o corpo adota uma postura que favorece a
anteriorização do centro de gravidade (SOUZA et al., 2011).
Sobre a utilização dos movimentos finos da mão (d440),
54,28% dos indivíduos com DP não apresentaram
incapacidade, contudo, 17,14% apresentaram incapacidade
grave para esta função, seguido de 14,28% com dificuldade
leve. Em relação à variável utilização da mão e do braço
(d445), 60% dos portadores se encontravam normal, seguido
474
ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE OS INSTRUMENTOS: UPDRS -PROGRESSÃO
DA DOENÇA DE PARKINSON E A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE
FUNCIONALIDADE (CIF) –INCAPACIDADE FUNCIONAL
de 17,14% com incapacidade leve e 11,43% incapacidade
moderada.
Dando continuidade, quanto a “Atividades e
Participação”, no capítulo 5 Auto cuidado, com descritor d5, no
que se diz respeito a variável lavar-se (d510), 62,86% dos
indivíduos apresentaram-se normal, porém 14,28% dos
indivíduos mostraram incapacidade completa para realizar
esta atividade, dependendo de ajuda e 11,43%, incapacidade
grave. Para os cuidados das partes do corpo (d520), 57,14%
dos indivíduos se mostraram normal para esta função, seguido
de 17,14% com incapacidade leve e 14,28% incapacidade
moderada. Relacionado ao cuidado com a excreção (d530) a
maioria (82,86%) apresentaram-se normal.
Relacionado a variável vestir-se (d540), 37,14% os
indivíduos com DP apresentam-se sem incapacidade,
entretanto 25,71% mostrou incapacidade moderada para
vestir-se, fato que pode ser relacionado a motricidade fina das
mãos devido ao tremor e a bradisinesia. De acordo com Souza
et al., (2011) o tremor é tido como o sintoma inicial da DP. Em
cerca de 50% tem início nas extremidades distais, em
decorrência de oscilações involuntárias de uma parte do
corpo. É observado em condições de repouso que diminui ou
desaparece com o início de alguma ação, podendo aparecer
novamente quando o paciente mantiver uma ação ou postura
mais prolongada. Em relação a bradicinesia, acredita-se que
seja o resultado da ausência de dopamina no estriado,
levando a um desequilíbrio entre os sistemas inibitórios e
excitatórios, sendo que devido aos padrões de movimentos
tenderem a uma alternância de excitação/inibição, o
movimento tranca em uma direção com dificuldade de
475
ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE OS INSTRUMENTOS: UPDRS -PROGRESSÃO
DA DOENÇA DE PARKINSON E A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE
FUNCIONALIDADE (CIF) –INCAPACIDADE FUNCIONAL
progressão o que leva a uma lentidão dos movimentos,
especialmente os automáticos, havendo uma pobreza geral da
movimentação e queixa frequente de fraqueza. (PRADO, eu
al, 2008). Sendo o sintoma mais incapacitante de um portador
de DP, com a lentidão e o tempo prolongado de movimento,
levando a um aumento da dependência nas tarefas cotidianas.
(REBELATTO, et al., 2007).
Mediante os resultados encontrados foi possível
observar uma relação entre os instrumentos de avaliação
UPDRS e a CIF, ambos mostraram um comprometimento de
leve a moderado na maioria dos indivíduos. A CIF apresenta-
se como um instrumento de avaliação mais completo, pois
relaciona as atividades desempenhadas dentro de um
domínio, diferentemente da UPDRS. Além disso, a CIF mostra
o escopo maior de variáveis a serem analisadas, como ler,
andar, deslocar-se, mudar e manter a posição básica do
corpo, dentre outros. Porém, mesmo assim, estes
instrumentos se complementam, uma vez que a UPDRS avalia
variáveis não encontradas na CIF, a exemplo da bradicinesia
(freezing) (RAMOS NETO, 2010).
Alguns valores da CIF podem ter se mostrado
diferentes em relação a UPDRS, devido a possível flutuações
da medicação sobre os sinais motores da DP, como o tempo
ON e OFF da medicação, bem como a fatores pessoais
vivenciados pelos indivíduos. A CIF fornece uma descrição de
situações relacionadas às funções humanas e a suas
restrições, servindo como uma estrutura para organizar essas
informações de forma significativa, integrada e facilmente
acessível (OMS, 2003). Nesta perspectiva, Sampaio (2005)
afirmou que a CIF tem múltiplas finalidades: fornecer uma
476
ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE OS INSTRUMENTOS: UPDRS -PROGRESSÃO
DA DOENÇA DE PARKINSON E A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE
FUNCIONALIDADE (CIF) –INCAPACIDADE FUNCIONAL
base científica para o entendimento e o estudo da saúde e
estabelecer uma linguagem comum a ser utilizada pelos
usuários e profissionais da saúde, além de influenciar e
motivar a produção científica da área, promovendo o
desenvolvimento de novas avaliações e condutas.
4 CONCLUSÕES
477
ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE OS INSTRUMENTOS: UPDRS -PROGRESSÃO
DA DOENÇA DE PARKINSON E A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE
FUNCIONALIDADE (CIF) –INCAPACIDADE FUNCIONAL
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
478
ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE OS INSTRUMENTOS: UPDRS -PROGRESSÃO
DA DOENÇA DE PARKINSON E A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE
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DA DOENÇA DE PARKINSON E A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE
FUNCIONALIDADE (CIF) –INCAPACIDADE FUNCIONAL
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480
A RELAÇÃO ENTRE O SOBREPESO E AS ALTERAÇÕES POSTURAIS NA
PESSOA COM SÍNDROME DE DOWN
CAPÍTULO 25
481
A RELAÇÃO ENTRE O SOBREPESO E AS ALTERAÇÕES POSTURAIS NA
PESSOA COM SÍNDROME DE DOWN
alterações posturais mais incidentes foram: cabeça
anteriorizada 80%, coluna cervical retificada 50%, hiperlordose
lombar 50%, joelhos 90% e tornozelos 100% valgos e
abdômen protruso 90%. Percebe-se, portanto, a magnitude da
avaliação cinética-funcional, pois é possível programar uma
conduta apropriada para estas pessoas e orientações para os
cuidadores em relação às manifestações clínicas encontradas
como o sobrepeso e as alterações posturais.
Palavras-chave: Síndrome de Down. Sobrepeso. Alterações
Posturais.
1 INTRODUÇÃO
482
A RELAÇÃO ENTRE O SOBREPESO E AS ALTERAÇÕES POSTURAIS NA
PESSOA COM SÍNDROME DE DOWN
protrusa, entre outras (SILVA; CRUZ, 2009; BULL;
COMMITTE ON GENETICS, 2011).
Quanto ao diagnóstico, existe a possibilidade de se
detectar sinais da SD em exame no pré-natal, é utilizado como
diagnóstico o uso de testes sanguíneos em que são colhidas
amostras da mãe para a investigação sorológica e
citogenética, procura-se aspecto de anomalia cromossômica.
A combinação desses testes e ultra-sonografia surte um alto
índice de acertos ou após o nascimento, a partir da percepção
de uma série de alterações que, em conjunto, caracterizam a
síndrome (hipotonia, olhos levemente puxados e uma única
linha na palma da mão são alguns exemplos), indicando um
possível diagnóstico. Para uma confirmação precisa, é
necessário realizar um exame denominado cariótipo, que
consiste na representação dos cromossomos de uma célula
(ALVES, 2011).
A incidência e a prevalência da SD têm sido
amplamente estudadas ao longo de décadas em diversos
países do mundo. A prevalência encontrada na literatura é de
um a três por cada 1000 nascimentos, acometendo todas as
raças e grupos socioeconômicos, aumentando sua ocorrência
de acordo com o aumento da idade materna (WEIJERMAN et
al., 2008; GRAAF et al., 2011; SAMUR, et al., 2011).
Os indivíduos que apresentam a SD possuem hipotonia
muscular o que provoca uma flacidez ligamentar que pode ser
vista em todo o corpo, provocando hiperflexibilidade das
articulações, inclusive os ligamentos que ficam em torno dos
dentes podem ser influenciados devido à baixa tonicidade
muscular (MACHO et al., 2008).
A hipotonia muscular é a diminuição do tônus muscular,
o que torna a pessoa com SD mais flexível, com músculos
483
A RELAÇÃO ENTRE O SOBREPESO E AS ALTERAÇÕES POSTURAIS NA
PESSOA COM SÍNDROME DE DOWN
fracos e movimentos lentos. A hipotonia é um fator
responsável pelo atraso do desenvolvimento neuropsicomotor
dessas crianças com SD e esta interfere na coordenação dos
movimentos e nas reações posturais que determinam o
equilíbrio e as atividades manipulativas durante uma tarefa. A
frouxidão ligamentar influencia a estabilização articular e
causa o aparecimento de compensações e desalinhamentos
(GALLI et al., 2008).
A pessoa com SD possui o desenvolvimento motor
alterado por diversos fatores, tais como genéticos, dificuldades
de integração perceptiva, cognitiva e proprioceptiva, porém as
possibilidades motoras das crianças evoluem amplamente de
acordo com sua idade e chegam a ser cada vez mais variada,
complexas ou completas, ou seja, reflete de uma ampla
diversidade de fatores, que ocorre desde a alteração genética
até as dificuldades particulares vivenciadas por cada uma
delas (ARAÚJO, SCARTEZINI, KREBS, 2007).
Desta forma, a intervenção fisioterapêutica motora visa
diminuir os atrasos da motricidade grossa e fina, estimulando
e facilitando assim as reações posturais necessárias para o
desempenho das etapas de desenvolvimento normal e a
prevenção das instabilidades articulares e deformidades
ósseas, sendo o principal objetivo otimizar e apoiar o
desenvolvimento da pessoa com SD, promovendo sua
capacidade, levando em conta a sua individualidade (RIBEIRO
et al, 2007; MARTNEZ; GARCIA, 2008).
A partir de uma avaliação minunciosa, além da
hipotonia muscular, outras disfunções são comumente
encontradas nas pessoas com SD, como as citadas
anteriormente, mas o hipotireoidismo congênito é uma doença
autoimune que deve ser investigada, diagnosticada e tratada
484
A RELAÇÃO ENTRE O SOBREPESO E AS ALTERAÇÕES POSTURAIS NA
PESSOA COM SÍNDROME DE DOWN
precocemente, uma vez que tem relação com o aumento de
peso e este também pode desencadear diversas outras
disfunções como alterações metabólicas, posturais e até
problemas cardiovasculares e respiratórios.
O hipotireoidismo é um transtorno endocrinológico
frequente em pacientes com SD, onde esta alteração da
função tireoidiana pode, associada a hipotonia muscular,
justificar o atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, a
baixa estatura e a dificuldade no aprendizado destas pessoas,
além da tendência à obesidade.
A obesidade é uma doença representada pelo acúmulo
excessivo de gordura corporal, em um nível que compromete
a saúde dos indivíduos, ocasionando prejuízos como
alterações metabólicas, dificuldades respiratórias e do
aparelho locomotor, além de potencializar fatores de risco para
outras enfermidades tais como dislipidemias, doenças
cardiovasculares, diabetes melito tipo II e alguns tipos de
câncer (WANDERLEY; FERREIRA, 2010).
Diante do registro do sobrepeso, faz-se necessário
investigar disfunções associadas, sejam estas alterações
físicas, como a presença de qualquer desvio na coluna ou em
outras articulações como quadris, joelhos e/ou tornozelos, pois
estas articulações podem sofrer desgastes a partir do excesso
de peso, potencializando o surgimento de incapacidades e
diminuindo a qualidade de vida do indivíduo.
A avaliação da postura assim como a mensuração da
amplitude articular são ferramentas essenciais para o
diagnóstico, planejamento e acompanhamento da evolução e
dos resultados do tratamento fisioterapêutico. Elas podem ser
realizadas tanto pela goniometria, como pelo
registrofotográfico, levando à detecção precoce de posições
485
A RELAÇÃO ENTRE O SOBREPESO E AS ALTERAÇÕES POSTURAIS NA
PESSOA COM SÍNDROME DE DOWN
irregulares, encurtamentos, posturas antálgicas e tensões.
Embora essas mudanças não possam ser a principal causa do
quadro clínico, podem contribuir significativamente para o
agravamento da dor e tensão (SCHWARTZAMAN, 2003;
MONTENEGRO et al., 2009).
Partindo desse pressuposto, a presença do
fisioterapeuta é fundamental na avaliação cinético-funcional
deste paciente. Além de possibilitar, a partir da avaliação
postural, a prevenção de padrões anormais de movimento e
de postura, além de buscar respostas motoras próximas ao
padrão da normalidade, uma vez que a fisioterapia objetiva
conhecer e direcionar a aquisição/manutenção da motricidade,
a estimulação das aquisições das etapas do desenvolvimento
motor, com o objetivo de adquirir e/ou manter a independência
funcional do paciente e orientar os pais e/ou cuidadores nesta
direção.
Diante dessa problemática a pesquisa teve como
objetivo principal identificar a relação entre o sobrepeso e as
possíveis alterações posturais em pessoas com SD, e
secundário avaliar o sobrepeso através do Índice de Massa
Corpórea (IMC) e a postura através de uma ficha de avaliação
postural.
Desta forma, percebe-se a necessidade e a importância
de realizar um estudo para identificar a relação entre o
sobrepeso e as alterações posturais na pessoa com SD, para,
posteriormente, propiciar estudos futuros, quer sejam para
prevenir e/ou para intervir junto ao paciente com este tipo de
associação entre sobrepeso e alterações em sua postura.
486
A RELAÇÃO ENTRE O SOBREPESO E AS ALTERAÇÕES POSTURAIS NA
PESSOA COM SÍNDROME DE DOWN
3 MATERIAIS E MÉTODO
487
A RELAÇÃO ENTRE O SOBREPESO E AS ALTERAÇÕES POSTURAIS NA
PESSOA COM SÍNDROME DE DOWN
fenômenos que podem ser enunciados (DALFOVO; LANA;
SILVEIRA, 2008; MORAIS, 1999; MARCONI, LAKATOS,
2010).
O estudo foi realizado na Fundação Centro Integrado de
Apoio a Pessoa com Deficiência (FUNAD), sendo uma
referência na assistência junto às pessoas com deficiência,
dentre eles a população com Síndrome de Down, localizada
na cidade de João Pessoa - PB.
A FUNAD é um Órgão do Governo do Estado da
Paraíba, vinculada à Secretaria Estadual de Educação
referência no Serviço de Habilitação e Reabilitação nas quatro
áreas da deficiência – CER IV (física, intelectual, visual e
auditiva), sendo referência no Estado da Paraíba, onde as
pessoas com deficiência são atendidas por uma equipe
multidisciplinar ofertada pela instituição.
A amostra do estudo foi composta por pessoas com a
Síndrome de Down que realizam atendimento nesta
Instituição. Desta forma, a amostra foi composta por 10
pessoas.
A pesquisa teve como critérios de inclusão que os
pesquisados tivessem o diagnóstico clínico de Síndrome de
Down, com idade variando entre 12 e 41 anos, que estivessem
acima do peso, com cognição preservada a fim de atender os
comandos, que pudessem realizar a avaliação na posição de
bipedestação (em pé) sem apoio e que se dispusessem a
aceitar participar da mesma.
Como critérios de exclusão, não poderiam participar do
estudo os indivíduos que ainda com o diagnóstico clínico de
Síndrome de Down possuíssem doenças associadas como
epilepsia, déficit auditivo ou déficit visual que os impedissem
de serem submetidos à avaliação ou ainda que não
488
A RELAÇÃO ENTRE O SOBREPESO E AS ALTERAÇÕES POSTURAIS NA
PESSOA COM SÍNDROME DE DOWN
estivessem dentro da faixa etária solicitada ou que não
possuíssem cognição para atender os comandos e aqueles
que não permanecem na posição de bipedestação para a
realização da avaliação postural.
Como critérios de exclusão, não poderiam participar do
estudo os indivíduos que ainda com o diagnóstico clínico de
Síndrome de Down possuíssem doenças associadas como
epilepsia, déficit auditivo ou déficit visual que os impedissem
de serem submetidos à avaliação ou ainda que não
estivessem dentro da faixa etária solicitada ou que não
possuíssem cognição para atender os comandos e aqueles
que não permanecem na posição de bipedestação para a
realização da avaliação postural.
onsiderando que toda pesquisa envolvendo seres
humanos há riscos, por isso o pesquisador responsável se
comprometeu a prestar suporte diante de qualquer eventual
dano à dimensão física, psíquica, moral, intelectual, social,
cultural ou espiritual do participante, assegurando-lhe,
inclusive, o devido acompanhamento de profissionais
habilitados para tal fim.
Como a pesquisa tratou-se apenas de uma avaliação a
fim de identificar sobrepeso e alterações posturais nesta
população, houve risco mínimo de ocorrer danos físicos para o
participante, porém se ocorresse qualquer constrangimento de
natureza psicológica e/ou outras, o pesquisador se
responsabilizaria de, prontamente, tentar solucionar e sanar o
problema de maneira eficaz, encaminhando o mesmo para o
setor e profissional capacitado para este fim.
Já em relação aos benefícios, este estudo se propôs a
identificar a relação entre a presença de sobrepeso e
alterações posturais, objetivando ser fonte de informação rica
489
A RELAÇÃO ENTRE O SOBREPESO E AS ALTERAÇÕES POSTURAIS NA
PESSOA COM SÍNDROME DE DOWN
para estudos futuros e também para servir de embasamento
para a modificação de fazeres na prática quanto à orientação
sobre o aumento de peso e o surgimento de alterações
posturais nos pacientes com este diagnóstico clínico.
Foi realizada a avaliação através de um instrumento
criado pelas pesquisadoras, contendo a anamnese e avaliação
físico-funcional do pesquisado.
Este instrumento contemplou questões acerca da idade
da pessoa com SD, seu peso e altura, verificado através da
balança digital ou antropométrica e da fita métrica; cálculo do
seu IMC, presença de doenças associadas, utilização de
remédios de uso contínuo, prática de exercícios físicos, além
da presença de alterações posturais, como: cifose, escoliose,
desnível pélvico, presença de dores articulares, desvios de
joelhos e tornozelos, presença de encurtamentos musculares,
tensões musculares à palpação da coluna cervical e lombar;
além do registro de independência das atividades de vida
diária (AVD’s) do pesquisado.
Durante a avaliação foi utilizado para registro de
imagens, uma câmera fotográfica digital da marca Câmera
Digital Nikon Coolpix L840 16 MpLcd 3 Zoom 38x FullHd
1080p Preta.
O presente estudo foi apreciado pelo Colegiado do
Curso de Fisioterapia e submetido à avaliação do Comitê de
Ética e Pesquisa. Foi aprovado com o CAAE de n°:
62746816.1.0000.5178, pelo CEP: 005/2017 da Faculdade de
Ciências Médicas da Paraíba. Ressaltando que para a
realização do estudo proposto, foi obedecido todos os critérios
estabelecidos pela resolução 466/12 do Conselho Nacional de
Saúde (CNS) sobre ética em pesquisa com seres humanos. A
participação dos indivíduos foi voluntária, onde foram
490
A RELAÇÃO ENTRE O SOBREPESO E AS ALTERAÇÕES POSTURAIS NA
PESSOA COM SÍNDROME DE DOWN
esclarecidas todas as dúvidas e os participantes assinaram
um termo de consentimento livre e esclarecido.
A análise quantitativa dos dados foi feita através da
estatística descritiva (média, percentual), utilizando o
programa Windows Excel, sendo apresentado em forma de
tabelas, gráfico para garantir a confiabilidade dos resultados.
Os dados foram analisados através da apresentação por meio
das fichas de avaliação dos pacientes em estudo e por meio
de registro de fotografias que demonstraram a avaliação
destes. Os resultados obtidos nesta pesquisa foram
analisados no programa SPSS (estatística descritiva).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
491
A RELAÇÃO ENTRE O SOBREPESO E AS ALTERAÇÕES POSTURAIS NA
PESSOA COM SÍNDROME DE DOWN
Figura 1: Faixa etária dos sujeitos do estudo
3
N da amostra
492
A RELAÇÃO ENTRE O SOBREPESO E AS ALTERAÇÕES POSTURAIS NA
PESSOA COM SÍNDROME DE DOWN
Uma das formas de se determinar a obesidade é
através do cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), sendo
referenciado pela Organização Mundial da Saúde (OMS,
2000) como um preditor confiável de sobrepeso e obesidade
na população em geral. Ele é calculado com base na altura e
na massa corporal de um indivíduo [IMC= peso (kg) / altura2
(m2)] e é considerado um bom preditor da gordura corporal em
adultos (HAN et al, 2013)
O IMC é uma ferramenta de triagem comum usado para
definir sobrepeso e obesidade. Em 1998, o National Heart,
Kung, and Blood Institute (NHLBI) definiu como sobrepeso e
obesidade pessoas, independentemente da idade, com um
IMC de 25 a 29,9kg/m2 e a maior do que ou igual a 30kg/m2,
respectivamente. O valor corte para obesidade (30kg/m 2) foi
derivada a partir de uma correlação com o aumento da
mortalidade por qualquer causa. IMC é uma ferramenta de
triagem facial que correlaciona com percentual de gordura
corporal em adultos jovens e de meia-idade (SANTOS et al,
2013).
A classificação para adultos proposta pela WHO (1998)
é a seguinte: < 18,5Kg/m² - baixo peso; 18,5 – 24,9Kg/m² -
peso normal; 25,0 – 29,9Kg/m² - acima do peso; 30,0 –
34,9Kg/m² - obesidade grau I; 35,0 – 39,9Kg/m² - obesidade
grau II; > 40,0Kg/m² - obesidade grau III.
Na presente pesquisa, a amostra obteve uma média de
peso de 69,55; a média de altura 1,51, com a média do IMC
de 23,13 Kg/m².
Já a Fig. 2 demonstra a classificação pelo IMC, onde
50% da amostra está acima do peso, 30% se encontra na
classificação de obesidade I e 20% na classificação de
obesidade II.
493
A RELAÇÃO ENTRE O SOBREPESO E AS ALTERAÇÕES POSTURAIS NA
PESSOA COM SÍNDROME DE DOWN
Figura 2: Índice de Massa Corpórea (IMC)
4
3
3
2
2
1
0
acima do peso obesidade I obesidade II
IMC
494
A RELAÇÃO ENTRE O SOBREPESO E AS ALTERAÇÕES POSTURAIS NA
PESSOA COM SÍNDROME DE DOWN
Corroborando com nossos achados, Castoldi, Perico e
Grave (2012) afirmam que o excesso de peso e a obesidade
apresentam uma frequência superior a 50% em adultos com
trissomia 21, acarretando riscos a nível cardiovascular
(hipertensão arterial), a osteoarticular e metabólico
(dislipidemia, diabetes, hiperuricemia).
Quanto à avaliação postural, as alterações mais
incidentes referem-se aos tornozelos valgos, abdômen
protruso e joelhos valgos, além dos pés planos e presença de
hiperlordose lombar conforme a Tabela 1 abaixo e Quadro 1
(Fig A, B e C).
Avaliação Postural N° %
Tornozelo Valgo 10 100%
Abdômen Protruso 9 90%
Joelho Valgo 9 90%
Pés Planos 5 50%
Hiperlordose lombar 5 50%
Fonte: SILVA et. al, 2017.
Dados da Pesquisa
A B C
Fonte: SILVA et al, 2017.
Dados da Pesquisa
496
A RELAÇÃO ENTRE O SOBREPESO E AS ALTERAÇÕES POSTURAIS NA
PESSOA COM SÍNDROME DE DOWN
A avaliação postural é importante para a mensuração
dos desequilíbrios e para o ajuste mais adequado da melhor
postura assumida por cada indivíduo. Os objetivos da
avaliação postural consistem em visualizar e determinar
possíveis desalinhamentos e atitudes incorretas, alterações
consideradas um problema sério de saúde pública (GALLI et
al, 2008; GARDINER, 2010).
O grande aumento de problemas posturais na
população mundial, seja em adultos ou crianças, é resultado
da sobrecarga na coluna vertebral. As adequações posturais
adotadas durante toda a vida são influenciadas por exemplos
incorretos, com os quais se convivem e que acabam sendo
integrados ao cotidiano (REGO; SCARTONI, 2008)
Rossetti et al (2011) afirmam que a obesidade ou o
sobrepeso são apontados como fatores agravantes para os
desvios posturais.
Em nosso estudo, 100% da amostra encontra-se em
situação de, pelo menos, acima do peso, encontrando-se,
como referido anteriormente, 30% na classificação de
obesidade I e 20% na classificação de obesidade II, o que, em
geral, concomitantemente, associa-se também a presença do
abdômen protruso, como demostra na Fig. B do Quadro 1 e o
aumento da lordose lombar como retrata a Fig. C do mesmo
Quadro.
Rodrigues (2008) vai ao encontro de nosso estudo ao
referir que dentre as deformidades dos membros inferiores, o
geno valgo é a mais comum, decorrente da hiperflexibilidade
das articulações somada a hipotonia muscular.
Já Campos et al (2002), em seus estudos, perceberam
também as seguintes alterações posturais com esta
população: presença de abdômen protruso que determina o
497
A RELAÇÃO ENTRE O SOBREPESO E AS ALTERAÇÕES POSTURAIS NA
PESSOA COM SÍNDROME DE DOWN
deslocamento anterior do centro de gravidade, com aumento
da lordose lombar e inclinação anterior da pelve
(anteroversão). A cifose torácica se acentua, ocasionando
aumento da lordose cervical e o deslocamento anterior da
cabeça.
Ainda segundo a avaliação dos pacientes da amostra,
constatou-se que 70% destes possuem alteração visual e 50%
alteração hormonal.
Silva e Kleinhans (2006) afirmam que há um conjunto
de alterações que necessita de exames mais específicos para
ser detectado, como: anomalias de audição (em cerca de 80%
dos casos), alterações ortodônticas (80%), anomalias da visão
(50%), alterações endocrinológicas (15 a 25%), anomalias do
aparelho locomotor (15%), anomalias do aparelho digestivo
(12%), alterações neurológicas (8%), alterações
hematológicas (3%), dentre muitas outras que, se não
detectadas e tratadas, vão interferir no desenvolvimento da
criança.
Giustina (2002) também refere que o hipotireoidismo e
o hipertireoidismo são mais comuns em pacientes com
Síndrome de Down do que na população em geral. A
incidência dos distúrbios tireoideanos é de aproximadamente
20% nestas crianças e o hipotireoidismo é o mais comum.
Várias etiologias têm sido propostas para explicar a
associação do hipotireoidismo em indivíduos afetados pela
Síndrome de Down, com maior ênfase para a auto-imunidade.
Marques (2008) descreve que a obesidade e o
sobrepeso são fatores de risco para o surgimento prematuro
de doenças crônico degenerativas, também na população com
SD, tornando-se imprescindível a atuação dos profissionais da
498
A RELAÇÃO ENTRE O SOBREPESO E AS ALTERAÇÕES POSTURAIS NA
PESSOA COM SÍNDROME DE DOWN
área da saúde na promoção de uma vida ativa para esses
indivíduos.
No presente estudo, também foi constatado que 80% da
amostra pratica atividade física pelo menos 2 vezes por
semana e 100% da amostra é independente em suas AVD’s.
Matos (2005) reforça que a prática de atividades físicas
e esportivas para pessoas com SD tem se consolidado como
importante método de terapia, integração e socialização. E
ainda de acordo com o autor supracitado as AVD´s são tarefas
essenciais na formação da pessoa com SD. E estas atividades
contribuem para o seu desenvolvimento global, favorecendo a
integração na família, escola e comunidade através da
realização das atividades cotidianas.
Desta forma, percebe-se a importância de pesquisas
que fomentem estudos de prevenção de doenças e de
promoção à saúde, sendo relevante ações continuadas de
orientações a fim de que, ainda que, os pacientes estejam
realizando intervenções diversas em instituições que prestam
atenção e cuidado à saúde, esta população, seus pais e/ou
cuidadores, além dos profissionais envolvidos nos
atendimentos reforcem o trabalho de educação em saúde,
através de reavaliações periódicas e de palestras educativas.
4 CONCLUSÕES
499
A RELAÇÃO ENTRE O SOBREPESO E AS ALTERAÇÕES POSTURAIS NA
PESSOA COM SÍNDROME DE DOWN
além do mosaicismo, forma muito rara, que manifesta-se
quando apenas algumas das células tem o cromossomo 21
extra. As pessoas com SD podem apresentar várias
alterações, como o sobrepeso, alterações posturais, frouxidão
ligamentar, hipertireoidismo, hipotonia muscular, cardiopatias,
entre outras.
Frente a estes achados, verifica-se a importância de
intervenção de uma equipe multiprofissional, com objetivo de
melhorar e prevenir complicações futuras. A atuação
fisioterapêutica é muito importante de forma precoce, pois
quanto mais cedo a intervenção, com estímulos para o DNPM,
prevenção de patologias associadas, possivelmente haverá
um melhor prognóstico, potencializando o indivíduo e
maximizando sua qualidade de vida.
O objetivo do trabalho foi identificar a relação entre o
sobrepeso e as possíveis alterações posturais em pessoas
com SD, por meio de uma ficha de avaliação criada pelas
pesquisadoras, contendo a anamnese e avaliação físico-
funcional do pesquisado. Este instrumento contemplou
questões acerca da idade da pessoa com SD, seu peso e
altura, verificado através da balança digital e da fita métrica;
cálculo do seu IMC, prática ou não de exercícios físicos, além
da presença de alterações posturais, como: cabeça
anteriorizada, coluna cervical retificada, hiperlordose lombar,
desvios de joelhos e tornozelos, abdômen protruso, além do
registro de independência das atividades de vida diária (AVDs)
do pesquisado.
Durante o estudo, percebeu-se a magnitude da
avaliação cinética-funcional, pois, a partir de uma minuciosa
avaliação, é possível programar uma conduta apropriada para
uma estimulação precoce e orientações para os cuidadores
500
A RELAÇÃO ENTRE O SOBREPESO E AS ALTERAÇÕES POSTURAIS NA
PESSOA COM SÍNDROME DE DOWN
em relação às manifestações clínicas encontradas como as
alterações posturais e o sobrepeso.
Este estudo demonstrou que é bastante importante
conhecermos com propriedade as características, sejam
estas, comuns às pessoas com um diagnóstico como o de SD,
mas também as particularidades e características individuais
inerentes a cada pessoa, pois a intervenção ainda que tenha
um protocolo como um guia para o atendimento, todo
indivíduo é único e deve ser tratado como tal. Sugere-se que
estudos semelhantes possam ser realizados e comparados de
forma a perceber semelhanças e diferenças entre Instituições
e/ou regiões geográficas e espera-se que este estudo também
sirva como fonte de estudo para pesquisas futuras e que estas
alcancem a caracterização de amostras ainda maiores, mais
representativas quantitativamente.
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505
ASSISTÊNCIA FISIOTERAPÊUTICA À CRIANÇAS COM A SÍNDROME
CONGÊNITA RELACIONADA À INFECÇÃO PELO VÍRUS ZIKA: RELATO DE
CASO
CAPÍTULO 26
ASSISTÊNCIA FISIOTERAPÊUTICA À
CRIANÇAS COM A SÍNDROME CONGÊNITA
RELACIONADA À INFECÇÃO PELO VÍRUS
ZIKA: RELATO DE CASO
Patrícia Meireles BRITO1
Labibe PINEL 1
Afonso Rodrigues Tavares NETTO 1
Amanda Jayse da Silva SANTOS 2
Karla Mônica FERRAZ 3
1
Fisioterapeutas mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia, UFPE; 2
Graduanda do curso de fisioterapia, UFPE3 Professora doutora do Departamento de
Fisioterapia/ UFPE.
meireles.patricia@hotmail.com
1 INTRODUÇÃO
508
ASSISTÊNCIA FISIOTERAPÊUTICA À CRIANÇAS COM A SÍNDROME
CONGÊNITA RELACIONADA À INFECÇÃO PELO VÍRUS ZIKA: RELATO DE
CASO
drogas ilícitas ou medicamentos teratogênicos, contato com
substancias químicas ou radiação ionizantes, distúrbios
metabólicos, e processos infecciosos como a Toxoplasmose,
Rubéola, Citomegalovírus, Herpes e Sífilis (TORCHS)
(FERREIRA; BARBOSA, 2000).
Os recém-nascidos com microcefalia correm o risco de
apresentar atraso no desenvolvimento e incapacidade
intelectual, podendo também desenvolver convulsões e
incapacidades físicas, incluindo dificuldades auditivas e visuais
(WHO, 2016).
Diante do aumento no número de casos relacionados
ao vírus zika, foi adotada uma definição padrão internacional
para microcefalia alinhada às orientações da Organização
Mundial de Saúde (OMS). Em agosto de 2016, foi
recomendado aos países que adotassem como referência
para as primeiras 24-48h de vida os parâmetros de
InterGrowth, variando de acordo com a idade gestacional e o
sexo (INTERGROWTH, 2016; (BRASIL, 2017b).
Nos casos de microcefalia relacionada ao vírus Zika,
observou-se que não se trata ainda outras alterações
associadas com graves anormalidades cerebrais e
comprometimentos fora do Sistema Nervoso Central. Essas
alterações, incluindo achados anormais de neuroimagem,
sugerem que uma síndrome congênita, assim como a rubéola
congênita ou infecção por citomegalovírus (CMV), é atribuível
à infecção pelo vírus Zika durante a gestação(BRASIL,
2017b).
De acordo com o documento “Orientações integradas
de vigilância e atenção à saúde no âmbito da Emergência de
Saúde Pública de Importância Nacional (2017)”, atualmente há
509
ASSISTÊNCIA FISIOTERAPÊUTICA À CRIANÇAS COM A SÍNDROME
CONGÊNITA RELACIONADA À INFECÇÃO PELO VÍRUS ZIKA: RELATO DE
CASO
um consenso científico de que o vírus Zika é uma causa de
microcefalia e outras complicações neurológicas que, em
conjunto, constituem a Síndrome Congênita do vírus Zika
(SCZ) (ABBASI, 2016; MARTINES et al., 2016; RASMUSSEN
et al., 2016).
As crianças com esta síndrome podem apresentar
comprometimento do tônus muscular (hipotonia ou hipertonia),
hiperreflexia, além de atraso no desenvolvimento
neuropsicomotor como, por exemplo, a falta do controle
cervical, dificuldade de sentar, falar, andar, comer,
persistência de reflexos primitivos, entre outras dificuldades.
Este atraso podendo ser ou não consequência da alteração de
tônus muscular (BOTELHO et al, 2016; NORBERT et al.,
2016).
As anormalidades auditivas e visuais também parecem
estar presentes, embora apenas um pequeno número tenha
passados por avaliações. Ventura et al. (2016) relataram caso
de pacientes em que o vírus zika podería estrar causando
atrofia macular (MIRANDA-FILHO et al., 2016; VENTURA et
al., 2016).
Apesar da redução no número de casos em relação ao
mesmo semestre do ano de 2016, as crianças acometidas
pelo surto inicial da SCZV precisam de acompanhamento
contínuo por parte de uma equipe multiprofissional com
enfoque na reabilitação (BRASIL/MS, 2015; BRASIL/MS,
2016).
De modo que, conforme preconizado pela Classificação
Internacional de Funcionalidade, o conhecimento das reais
necessidades da família, a identificação das barreiras para um
real estado de saúde e o aprimoramento dos fatores que
510
ASSISTÊNCIA FISIOTERAPÊUTICA À CRIANÇAS COM A SÍNDROME
CONGÊNITA RELACIONADA À INFECÇÃO PELO VÍRUS ZIKA: RELATO DE
CASO
facilitem seus ganhos biopsicossociais, se fazem necessários
para uma assistência de qualidade.
De acordo com Macedo et al. (2015), as gestantes que
tiveram filhos com microcefalia se depararam com uma
realidade diferente da que elas possuíam, uma vez que
crianças portadoras SCZ requerem cuidados especiais e
necessitam de acompanhamento multiprofissional ao longo da
vida, tendo como objetivo a melhoria da sua qualidade de vida
(MACEDO et al., 2015). Dentre estas profissões estão a
pediatra, fisioterapia, terapia ocupacional, o fonoaudiologia,
entre outras.
Barros et al (2017), em uma percepção subjetiva com
as mães de crianças com a SCZ retrataram barreiras no
acesso geográfico, organizacionais e de informação aos
serviços de saúde utilizados. Fator comum aos usuários
brasileiros (Travassos & Castro, 2012).
De acordo com as Diretrizes de estimulação precoce
decorrente de microcefalia, preconiza-se a avaliação e
intervenção em crianças de zero a três anos com atraso no
desenvolvimento neuropsicomotor, a fim de direcionar a
estimulação de acordo com a especificidade de cada criança,
a partir dos achados clínicos (BRASIL, 2016).
Segundo Norbert et al. (2016), o fisioterapeuta deve
avaliar o quadro clínico de cada criança, uma vez que este
quadro varia com o grau de acometimento cerebral e a área
que foi atingida pela patologia, traçando um plano de
tratamento para a necessidade de cada criança. Com a
estimulação precoce sendo realizada de maneira adequada é
possível propiciar um melhor desenvolvimento cognitivo e
motor da criança (NORBERT et al., 2016).
511
ASSISTÊNCIA FISIOTERAPÊUTICA À CRIANÇAS COM A SÍNDROME
CONGÊNITA RELACIONADA À INFECÇÃO PELO VÍRUS ZIKA: RELATO DE
CASO
O objetivo deste estudo é relatar a experiência de
assistência fisioterapêutica oferecida às primeiras crianças
com a síndrome congênita relacionada à infecção pelo vírus
zika, bem como a percepção por parte dos seus cuidadores.
2 MATERIAIS E MÉTODO
512
ASSISTÊNCIA FISIOTERAPÊUTICA À CRIANÇAS COM A SÍNDROME
CONGÊNITA RELACIONADA À INFECÇÃO PELO VÍRUS ZIKA: RELATO DE
CASO
cuidadores quanto aos manuseios e estimulação nas
atividades diária. São feitas também as avaliações periódicas
por instrumentos como escalas de análise do desenvolvimento
infantil, vinculadas aos projetos de pesquisa de Iniciação
Científica e Mestrado, buscando melhor entendimento e
acompanhamento do desenvolvimento neuropsicomotor
dessas crianças.
As escalas usadas para avaliação do desenvolvimento
da criança foram: o Inventário de Avaliação Pediátrica por
Incapacidade (PEDI) (MANCINI, 2005), Gross Motor Function
Measure (GMFM) (RUSSELL et al, 2000) e Escala Motora
Infantil de Alberta (AIMS) (VALENTINI; SACCANI, 2011).
Os métodos de intervenção precoce foram baseados
em princípios de estimulação sensorial e conceito
neuroevolutivo, estimulação visual, de acordo com as etapas
motoras (com cada idade e sua funcionalidade). Além disso,
foram utilizados recursos como: bolas, rolos, placas de
estimualação visual, brinquedos com fins terapêuticos,
tatames e malhas.
Em preocupação com os ajustes posturais e
prevenções de deformidades, foram realizadas oficina para
confecções de adequadores de baixo custo como calças de
posicionamentos e cadeiras de plástico adaptadas com
flutuadores, sendo doados para cada criança juntamente com
orientação do uso em domicílio.
Juntamente com os alunos também foram realizadas
oficinas de atualizações dos métodos de intervenção citados
acima, além de reuniões científicas com discussões dos casos
clínicos e capacitação dos membros envolvidos
513
ASSISTÊNCIA FISIOTERAPÊUTICA À CRIANÇAS COM A SÍNDROME
CONGÊNITA RELACIONADA À INFECÇÃO PELO VÍRUS ZIKA: RELATO DE
CASO
proporcionando melhor atendimento fisioterapêutico a essa
população.
Em cada atendimento é realizada uma conversa com o
cuidador, onde se questiona a respeito da rotina da criança. A
melhora do quadro clínico e funcional também foi observada
por meio de relatos da percepção subjetiva das mães
cuidadoras.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
514
ASSISTÊNCIA FISIOTERAPÊUTICA À CRIANÇAS COM A SÍNDROME
CONGÊNITA RELACIONADA À INFECÇÃO PELO VÍRUS ZIKA: RELATO DE
CASO
Foi percebida a variabilidade neuromotora ao longo do
acompanhamento terapêutico dessas crianças. Algumas
apresentam perfil similar às crianças diagnosticadas com
paralisia cerebral (PC) classificadas na função motora grossa
III (GMFCS), outras demonstram grandes atrasos nas
aquisições neuroevolutivas similares a indivíduos com PC
classificados na função motora grossa V. Essa variação
repercute no direcionamento terapêutico, no prognóstico e nas
vias utilizadas para preparar a criança e a família para cada
etapa do desenvolvimento neuropsicomotor.
Dentre as dificuldades apresentadas, a irritabilidade e
hiperexcitabilidade, juntamente com crises convulsivas da
criança. Fatores que levam até o internamento e excesso de
faltas nas sessões de fisioterapia, o que influenciam no quadro
funcional, interferindo nos ganhos advindos das estimulação.
Outro fator limitador é a fraqueza muscular,
principalmente do tronco, o que dificulta desde movimentos
iniciais (rolar) até a marcha. A maioria das crianças já
possuem idade cronológica para a fase de deambulação,
porém a falta de um bom controle de tronco não permitem
nem mesmo o rolar, o que impede até mesmo a sua
exploração e interação com o meio.
Outra limitação para o desenvolvimento motor dessas
crianças são as fixações de reflexos e padrões primitivos
como o Reflexo Tônico Cervial Assimétrico (RTCA) e Relexo
Tônico Cervial Assimétrico (RTCS) e Reflexo de Moro, o que
dificulta a aquisição de habilidades funcionais nas atividades
diárias, como mostra na figura 3.
515
ASSISTÊNCIA FISIOTERAPÊUTICA À CRIANÇAS COM A SÍNDROME
CONGÊNITA RELACIONADA À INFECÇÃO PELO VÍRUS ZIKA: RELATO DE
CASO
Figura 3. Persistência do padrão primitivo
517
ASSISTÊNCIA FISIOTERAPÊUTICA À CRIANÇAS COM A SÍNDROME
CONGÊNITA RELACIONADA À INFECÇÃO PELO VÍRUS ZIKA: RELATO DE
CASO
função corporal na linha média, na diminuição da motricidade
voluntária e desempenho motor (BOTELHO et al, 2016).
Para lidar com essas alterações, foram utilizadas
estimulações nas posturas sentadas, quatro apoios e em pé
para ajuste de controle postural e, juntamente com o uso
lúdico dos brinquedos, estimulação para as atividades
funcionais trazendo à linha média.
Para as alterações visuais apresentadas pelas crianças,
foram utilizados brinquedos e objetos adaptados de acordo
com as necessidades da criança por meio das funções
sensoriais (auditiva, tátil, proprioceptiva e vestibular) com
brinquedos de variados tamanhos, na linha média e no campo
visual de 20 cm. É importante também utilizar objetos de
tamanhos e tipos variados, com cores de alto contraste e
coloridos (com amarelo e preto e/ou vermelho e branco) e/ou
com brilho e iluminados, estimulando a visão residual e
percepção tátil no campo visual de 20 cm, com recomenda as
diretrizes de estimulação precoce do Ministério da Saúde
(BRASIL, 2016).
Apesar das dificuldades com o quadro clínico:
irritabilidade, dificuldade do manuseio, devido à alteração do
tônus e déficit cognitivo; juntamente com os relatos dos
cuidadores, foram observadas melhoras cinesiofuncional
como, por exemplo, melhora da marcha, atividades funcionais
como levar a mão na boca, segurar melhor um brinquedo,
controle postural e maior interação cognitiva.
Além dos ganhos relacionados aos aspectos
neuromotores das crianças, os encontros semanais reforçam
os elos entre os cuidadores para o enfrentamento da situação,
518
ASSISTÊNCIA FISIOTERAPÊUTICA À CRIANÇAS COM A SÍNDROME
CONGÊNITA RELACIONADA À INFECÇÃO PELO VÍRUS ZIKA: RELATO DE
CASO
promovedo ainda oportunidades de trocas de experiências e
saberes.
De acordo com o ministério da saúde (2016), o
programa de estimulação precoce tem como objetivo estimular
a criança e ampliar suas competências, abordando os
estímulos que interferem na sua maturação, para favorecer o
desenvolvimento motor e cognitivo, sendo a criança inserida
neste programa desde o nascimento até os três anos de
idade, devido à fase de maior neuroplasticidade e melhor
qualidade de vida(BRASIL, 2016).
Outro fator a ser destacado, e umas das queixas
principais da maioria das mães que participam do projeto, é a
dificuldade de acesso ao atendimento para seus filhos, pois as
grandes filas de espera e falta de vagas para essa população
restringem a assistência dessas crianças. Tal fato pode ser
compreendido pela centralização do serviço de
acompanhamento e assistência das crianças, o que gera
sobrecarga dos serviços de reabilitação e consequentes listas
de espera.
De acordo com o protocolo de apoio psicossocial aos
cuidadores de crianças da SCZ, é fundamental ter
conhecimento dos serviços de referência, estando disponíveis
para garantia de encaminhamentos corretos e oportunos,
evitando a peregrinação desnecessária de usuários em busca
de atendimento (BRASIL, 2017).
Apesar do medo advindo de uma síndrome ainda
desconhecida e receio do futuro dos seus filhos, além da
dificuldade de continuidade da terapia, algumas mães
cuidadoras relataram que o NAM é um espaço de esperança
519
ASSISTÊNCIA FISIOTERAPÊUTICA À CRIANÇAS COM A SÍNDROME
CONGÊNITA RELACIONADA À INFECÇÃO PELO VÍRUS ZIKA: RELATO DE
CASO
para melhoria da sobrevida do seu filho e melhor
desenvolvimento, acrescido de maior interação com a criança.
Bolla et al. (2013) afirmaram que, ao longo do processo
de adaptação à criança com má formação congênita, os
familiares comemoraram diante dos sinais de melhoras frente
ao quadro de seus filhos e acreditavam na evolução da
criança e possível aceitação da criança.
As orientações quanto aos manuseios com a criança
tem resultado, por relatos da mães, melhor direcionamento
nas demsndas diárias das crianças. Fator que pode
proporcionar maior independência possível à criança e
consequentemente menor sobrecarga à mãe cuidadora.
De acordo com Sari e Marcon (2008), mesmo diante
das limitações, a estimulação e incentivo à família para as
execuções das atividades no domicílio, é fundamental, pois o
ambiente, carinho e atenção familiar são benéficos para
reforçar o vínculo com a criança com distúrbio neurológico,
como a encefalopatia não progressiva, favorecendo assim o
seu desenvolvimento global (SARI; MARON, 2008).
Da mesma maneira, estudo realizado por Santos et al
(2015) afirma que mesmo com conhecimentos limitados em
relação a doença, as mães de crianças com necessidades
especiais buscam o tratamento fisioterapêutico, buscando a
melhora da função dos seus filhos, proporcionando melhor
desenvolvimento e maior independência nas atividades do dia
a dia (SANTOS, 2015).
Outro ponto a ser relatado, é o aprendizado e prática
dos alunos diante da experiência do enfrentamento dessa
epidemia no país, por meio de estudos de casos, reuniões
científicas e oficinas de manuseios. Este fator contribui para
520
ASSISTÊNCIA FISIOTERAPÊUTICA À CRIANÇAS COM A SÍNDROME
CONGÊNITA RELACIONADA À INFECÇÃO PELO VÍRUS ZIKA: RELATO DE
CASO
formação de novos profissionais com experiência e olhar
também voltado a esse desafio, cooperando na formação de
políticas públicas a essa população.
4 CONCLUSÕES
521
ASSISTÊNCIA FISIOTERAPÊUTICA À CRIANÇAS COM A SÍNDROME
CONGÊNITA RELACIONADA À INFECÇÃO PELO VÍRUS ZIKA: RELATO DE
CASO
torna-se um suporte crucial para o desenvolvimento infantil
que se intensifica no seguimento da terapia em casa.
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ASSISTÊNCIA FISIOTERAPÊUTICA À CRIANÇAS COM A SÍNDROME
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523
AVALIAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NA ATENÇÃO BÁSICA
SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE,
INCAPACIDADE E SAÚDE (CIF).
CAPÍTULO 27
524
AVALIAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NA ATENÇÃO BÁSICA
SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE,
INCAPACIDADE E SAÚDE (CIF).
40 aos 59 anos de idade, a maioria do sexo masculino, pouco
mais da metade solteiros, a maioria com ensino fundamental
incompleto, aposentados, as amputações e as
plegiasprevaleceram, em maior proporção como queixa
principal temos a não deambulação. Comparando a avaliação
da capacidade e desempenho dos deficientes físicos, temos
que dificuldades relatadas ou avaliadas sofreram significativa
diminuição com relação ao desempenho. Ficou perceptível
que um tipo de limitação ou deficiência física pode ser
ocasionado por diferentes patologias. E que duas pessoas
com as mesmas deficiências não têm, necessariamente, a
mesma incapacidade.
Palavras-chave: Classificação Internacional de
Funcionalidade, Incapacidade e Saúde; Pessoas com
Deficiência; Avaliação em Saúde.
1 INTRODUÇÃO
525
AVALIAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NA ATENÇÃO BÁSICA
SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE,
INCAPACIDADE E SAÚDE (CIF).
congênitas ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e
as que não produzam dificuldades para o desempenho de
funções (BRASIL, 2004).
Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE, no censo demográfico de 2010, apontam
que 45.606.048 de brasileiros, ou seja, 23,9% da população
total apresenta algum tipo de deficiência. A deficiência física
ocupa o segundo lugar, ocorrendo em 7% da população. Entre
os estados brasileiros, a maior incidência da deficiência
ocorreu no Rio Grande do Norte (27,76%) e na Paraíba
(27,58%), índices esses que ficaram bem acima da média
nacional de 23,9% (IBGE, 2010).
A Classificação Internacional de Funcionalidade,
Incapacidade e Saúde – CIF foi desenvolvida pela
Organização Mundial de Saúde - OMS para aplicação nos
mais variados aspectos da saúde. Proporcionando uma base
científica para a compreensão e estudo dos determinantes de
saúde, bem como dos resultados e condições relacionadas à
ela (CIF, 2003; BRASILEIRO; MOREIRA; BUCHALLA, 2013).
A partir dela, a deficiência vem deixando de ser vista como
mera consequência de doenças para se tornar um fenômeno
constituído por múltiplos determinantes (ARAÚJO; NEVES,
2015).
O escopo da CIF divide-se em duas partes, sendo a
primeira parte voltada à Funcionalidade e a Incapacidade
apresentando os componentes que envolvem o sistema do
corpo e a estrutura do corpo, assim como a atividade e a
participação; já segunda parte dedica-se aos Fatores
Contextuais, onde apresenta em seus componentes os fatores
ambientais e os fatores pessoais (CIF, 2003).
526
AVALIAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NA ATENÇÃO BÁSICA
SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE,
INCAPACIDADE E SAÚDE (CIF).
O interesse por esse tema, surgiu pela participação no
Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde – PET-
Saúde/Redes de Atenção à Pessoa com Deficiência que tem
como fio condutor a integração do ensino-serviço-comunidade.
Dentro deste contexto percebi vulnerabilidade das Pessoas
com Deficiência, em especial à Física.
Essas vulnerabilidades são inúmeras: dificuldade no
acesso na Unidade Integrada Jardim Saúde, pouca
preparação profissional para o atendimento aos deficientes,
demora em realização de exames, poucos atendimentos
domiciliares, falta ou dificuldade para aquisição de órtese que
contribua para a sua funcionalidade, falta de ações de saúde
específicas para esse público e seus familiares. Ainda
podemos citar a precariedade da acessibilidade local, o que
dificulta ou impede a procura por serviços e a inclusão social,
além dos riscos urbanos como a violência. Todos esses
motivos unidos a falta de avaliação de saúde adequada. Desta
forma, surgiu o seguinte objetivo de pesquisa, avaliar pessoas
com Deficiência Física segundo as normas da CIF.
2 MATERIAIS E MÉTODO
527
AVALIAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NA ATENÇÃO BÁSICA
SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE,
INCAPACIDADE E SAÚDE (CIF).
pertencente ao Distrito Sanitário (DS) I. Segundo dados
coletados pelo grupo PET-Saúde Redes de Atenção à Pessoa
com Deficiência UNIPÊ/SMSJP no primeiro semestre de 2014
existiam cerca de 147 Pessoas com Deficiência pertencentes
a essa Unidade, destes 39 apresentam deficiência física, os
quais são a população deste estudo. A amostra do estudo foi
não probabilística, composta por 10 voluntários. Esta pesquisa
foi realizada no período de setembro a outubro de 2014.
Foram considerados inclusos pessoas com deficiência
física de ambos os sexos, maiores de 18 anos, com dois anos
de diagnóstico médico. Foram excluídos aqueles que
apresentaram associação de outros tipos de deficiência,
caracterizando deficiência múltipla, os que não forneceram
informações suficientes para o estudo e os que não aceitaram
assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE).
Para a coleta de dados foi elaborado pela pesquisadora
um instrumento de avaliação seguindo os padrões da CIF. A
primeira etapa a ser investigada nessa ficha foram as
questões sóciodemográficas contendo: as iniciais do usuário,
idade, gênero, data de nascimento, estado civil, grau de
escolaridade, situação ocupacional atual, com o objetivo de
coletar informações sobre os fatores pessoais os quais não
são codificados na CIF, ainda foram indagadas informações
quanto ao diagnóstico médico (CID-10), data do diagnóstico e
o diagnóstico cinético funcional. A segunda etapa constituiu de
um checklist dos códigos referentes aos componentes do
modelo da CIF (funções e estruturas do corpo, atividade e
participação, por fim fatores ambientais), a esses foram
528
AVALIAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NA ATENÇÃO BÁSICA
SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE,
INCAPACIDADE E SAÚDE (CIF).
atribuídos qualificadores que referem o impacto da condição
de saúde sobre os componentes supracitados.
Após a construção do instrumento foi realizado um
estudo piloto para testar, avaliar, revisar e aprimorar o
instrumento e procedimentos da pesquisa que servirá de base
para pesquisas futuras. A coleta de dados se deu da seguinte
maneira: foram realizadas visitas domiciliares em micro áreas
junto ao Agente Comunitário de Saúde (ACS) que estivesse
disponível no dia da coleta, assim o ACS foi apresentado aos
critérios de inclusão da referida pesquisa e acompanhou a
pesquisadora ao domicílio do voluntário. Foi utilizado um
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE),
elucidando todas as etapas do estudo piloto e abrindo um
espaço para que o voluntário (a) possa questionar e tirar suas
dúvidas.
Para responder ao instrumento de pesquisa sempre que
necessário foram realizados exames físicos, utilizando uma
avaliação de funções específicas como: anamnese, inspeção,
palpação, aferição de Pressão Arterial (PA), Frequência
Respiratória (FR) e Frequência Cardíaca (FC), além de testes
específicos como a Escala Visual Analógica – EVA para
avaliação da dor, avaliação da Amplitude de Movimento (ADM)
utilizado goniômetro, teste de força muscular manual, teste de
sensibilidade com uso do kit de monofilamentos, uso de
bucha, pincel e gelo, teste de coordenação motora, equilíbrio
estático e dinâmico e verificação do tônus muscular.
A análise dos dados foi realizada através da Estatística
Descritiva com uso do programa estatístico SPSS for Windows
versão 20.0. Onde foram calculadas medidas de frequência
529
AVALIAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NA ATENÇÃO BÁSICA
SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE,
INCAPACIDADE E SAÚDE (CIF).
relativa (%) e absoluta (f) para todas as variáveis. Os
resultados estão apresentados em tabelas.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
530
AVALIAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NA ATENÇÃO BÁSICA
SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE,
INCAPACIDADE E SAÚDE (CIF).
revelam uma maioria de avaliados do sexo masculino,
corroborando com os dados aqui encontrados.
Já relacionado ao estado civil,de maneira oposta Brito
(2014), encontrou em seu estudo que houve predominância
dos casados (46%), sobre os solteiros (27%).
Diversos são os graus de escolaridade representados
por esse grupo, mas sobressaem-se entre os deficientes
físicos, aqueles com ensino fundamental incompleto 40%
(n=4) e nenhum frequentou o ensino superior. A baixa
escolaridade é apontada como um fator de risco para a
ocorrência de diversas patologias, bem como para o
agravamento dessas, gerando algum tipo de deficiência. Os
dados coletados nessa pesquisa corroboram com os
encontrados por Toldrá e Souto (2014), onde predominou o
ensino fundamental incompleto.
A pesquisa ainda revela que a maioria dos voluntários
avaliados apresentam-se como aposentados 50% (n=5) em
sua situação ocupacional atual, seguidos daqueles
desempregados por razão de saúde 40% (n=4) e do lar 10%
(n=1), respectivamente. Destaca-se que dentre os 10
avaliados, 70% (n=7) encontram-se em fase produtiva, quando
comparados segundo a idade. Esses encontram-se excluídos
do mercado de trabalho, o que aponta para o impacto da
deficiência na vida profissional e na independência econômica
das pessoas e seus familiares, mesmo que amparados por
algum tipo de indenização (SANTOS et al., 2014).
Na análise do diagnóstico médico por meio da CID,
foram catalogadas as seguintes deficiências físicas:20% (n=2)
S32.0 Fratura de vértebra lombar,20% (n=2) G81.0 Hemiplegia
flácida, 20% (n=2) S78.1 Amputação traumática localizada
531
AVALIAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NA ATENÇÃO BÁSICA
SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE,
INCAPACIDADE E SAÚDE (CIF).
entre o joelho e o quadril, 10% (n=1) G82.0 Paraplegia flácida,
10% (n=1) G80.0 Paralisia Cerebral quadriplégica espástica,
10% (n=1) G80.2 Paralisia cerebral hemiplégica espástica e
10% (n=1) S88.1 Amputação traumática entre o joelho e o
tornozelo. Agrupando estas lesões por tipos específicos, pode-
se afirmar que as amputações e as plegiasprevaleceram
ambas com 30% (n=3).
No ano de 2011, aproximadamente 94% das
amputações realizadas pelo SUS foram de membro inferior,
dessas as amputações por causas traumáticas aparecem
como a segunda maior causa de amputações. Observou-se
ainda que 76,3% dos amputados de membro inferior eram de
amputação do tipo transfemural e 23,7% transtibial. (BRASIL,
2013; REIS; JÚNIOR; CAMPOS, 2012). O que é confirmado
na pesquisa atual, onde as amputações de membros inferiores
prevaleceram, sendo em maior número as amputações
transfemurais (S78.1) seguida da amputação transtibial
(S88.1).
Entre as queixas principais foram encontradas em maior
proporção a não deambulação 60% (n=6), seguida de
dificuldades na marcha 30% (n=3) e apenas 10% (n=1)
voluntário relatou não ter queixas.O andar é uma das
principais habilidades para o indivíduo. Uma doença ou lesão
que afete o sistema neurológico ou musculoesquelético pode
causar um padrão anormal de deambulação ou até a não
deambulação, levando a diminuição da capacidade nas
atividades de vida diária (SABINO; COLELHO; SAMPAIO,
2016).
Com a aplicação do instrumento de coleta de dados por
meio da CIF foi possível observar diversas deficiências e
532
AVALIAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NA ATENÇÃO BÁSICA
SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE,
INCAPACIDADE E SAÚDE (CIF).
limitações relacionadas às funções e estrutura do corpo,
atividades e participação e os fatores ambientais.
A frequência das categorias Funções do Corpo (b), na
qual pode-se observar que entre os componentes avaliados
nas Funções Mentais (b1) temos na categoria b110 (funções
da consciência) 100% (n=10) apresentaram nenhuma
deficiência; na categoria b114 (funções de orientação) 80%
(n=8) apresentaram nenhuma deficiência, 10% (n=1)
apresentaram deficiência leve e 10% (n=1) apresentou o
qualificador não especificado; na b117/b122 (funções
intelectuais e funções psicossociais globais) temos que 90%
(n=9) apresentaram nenhuma deficiência e 10% (n=1)
apresentou o qualificador não especificado; na categoria b140
(funções da atenção) 70% (n=7) apresentaram nenhuma
deficiência, 20% (n=2) deficiência leve e 10% (n=1) não
especificado; nas categorias b147/b164 (funções psicomotoras
e funções cognitivas superiores) 90% (n=9) apresentaram
nenhuma deficiência e 10% (n=1) apresentou deficiência
completa.
Com relação as Funções sensoriais e dor (b2) na
categoria b260 (função proprioceptiva) 30% (n=3)
apresentaram nenhuma deficiência, outros 30% (n=3)
apresentaram deficiência leve, 10% (n=1) deficiência
moderada, 20% (n=2) deficiência grave e 10% (n=1)
apresentou o qualificador não especificado; na b265 (função
tátil) 30% (n=3) apresentaram nenhuma deficiência, 20% (n=2)
deficiência leve, outros 20% (n=2) deficiência moderada, mais
20% (n=2) deficiência grave e 10% (n=1) não especificado; na
categoria b280 (sensação de dor) 40% apresentaram
nenhuma deficiência, 30% deficiência leve, 10% deficiência
533
AVALIAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NA ATENÇÃO BÁSICA
SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE,
INCAPACIDADE E SAÚDE (CIF).
moderada, mais 10% deficiência grave e 10% não
especificado.
Nas Funções da voz e da fala (b3) foram avaliados
b310 (funções da voz) onde, 50% (n=5) apresentaram
nenhuma deficiência, 40% (n=4) deficiência leve, 10% (n=1)
deficiência completa; e b320 (funções da articulação) onde,
60% (n=6) apresentaram nenhuma deficiência, 30% (n=3)
deficiência leve e 10% (n=1) deficiência completa.
Relacionado as Funções dos sistemas cardiovascular,
hematológico, imunológico e respiratório (b4) foram avaliadas
as categorias b410/b420 (funções do coração e funções da
pressão sanguínea) 60% (n=6) apresentaram nenhuma
deficiência, 30% (n=3) deficiência leve, 10% (n=1) deficiência
moderada; b415 (funções dos vasos sanguíneos) 50% (n=5)
apresentaram nenhuma deficiência e os outros 50% (n=5)
apresentaram deficiência leve; b440 (funções respiratórias)
temos 80% (n=8) com nenhuma deficiência, 10% (n=1) com
deficiência leve e 10% (n=1) com deficiência moderada.
As Funções do sistema digestivo, metabólico e
endócrino (b5) temos na avaliação das categorias
b510/b515/b525 (funções da ingestão, funções digestivas e
funções da defecação, respectivamente) 70% (n=7)
apresentaram nenhuma deficiência, 20% (n=2) apresentaram
deficiência leve e 10% (n=1) deficiência moderada.
Nas Funções geniturinárias e reprodutivas (b6)
categorias b610/b620 (funções relacionadas à excreção da
urina e funções urinárias), 90% (n=9) dos voluntários
apresentaram nenhuma deficiência e 10% (n=1) deficiência
moderada; na categoria b640 (funções sexuais) 50% (n=5)
apresentaram nenhuma deficiência, 10% (n=1) deficiência
534
AVALIAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NA ATENÇÃO BÁSICA
SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE,
INCAPACIDADE E SAÚDE (CIF).
completa e 40% (n=4) se enquadrou no qualificador não
aplicável.
Focando-se nas Funções neuromusculoesqueléticas e
relacionadas ao movimento (b7) temos na categoria b710
(funções relacionadas à mobilidade das articulações) 60%
(n=6) apresentaram nenhuma deficiência, 30% (n=3)
deficiência moderada, 10% (n=1) deficiência completa. O
código b730 (funções relacionadas à força muscular) foi
descrito até o terceiro nível levando em consideração a
avaliação mais detalhada de parte das deficiências físicas
descritas por Brasil (2004), assim temos: b7301 (força dos
músculos de um membro) 30% (n=3) apresentaram nenhuma
deficiência e 70% (n=7) não aplicável; b7302 (força dos
músculos de um lado do corpo) 30% (n=3) apresentaram
nenhuma deficiência, 10% (n=1) deficiência grave, 20% (n=2)
deficiência completa e 40% (n=4) não aplicável; b7303 (força
dos músculos da metade inferior do corpo) 30% (n=3)
apresentaram nenhuma deficiência, 20% (n=2) deficiência
grave, 10% (n=1) deficiência completa e 40% (n=4) não
aplicável; b7304 (força dos músculos de todo os membros)
30% (n=3) apresentaram nenhuma deficiência, 10% (n=1)
deficiência completa e 60% (n=6) não aplicável; b7308
(funções relacionadas à força muscular, outras especificadas)
30% (n=3) apresentaram nenhuma deficiência e 70% (n=7)
não aplicável.
Ainda foram avaliados os códigos b750 (funções
relacionadas ao reflexo motor) 20% (n=2) apresentaram
nenhuma deficiência, 40% (n=4) deficiência leve, 30% (n=3)
deficiência moderada, 10% (n=1) deficiência grave; b770
(funções relacionadas ao padrão de marcha) 10% (n=1)
535
AVALIAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NA ATENÇÃO BÁSICA
SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE,
INCAPACIDADE E SAÚDE (CIF).
apresentaram deficiência leve, 20% (n=2) deficiência
moderada, 20% (n=2) deficiência grave, 50% (n=5) deficiência
completa.
Na avaliação das Funções da pele e estruturas
relacionadas (b8) foram avaliados os códigos b810/b820/b840
(funções protetores da pele, funções reparadoras da pele,
sensação relacionada à pele) 30% (n=3) apresentaram
nenhuma deficiência, 60% (n=6) deficiência leve, 10% (n=1)
deficiência moderada.
As alterações nas Funções do Corpo (b), indicam que
os comprometimentos das pessoas com deficiência física são
múltiplos e afetam suas vidas de diferentes maneiras. Por
isso, existe a necessidade de intervenções que respondam de
forma integral essas demandas de saúde (TOLDRÁ; SOUTO,
2014).Porém ganharam mais destaques as funções sensoriais
e dor (b2) – propriocepção, tátil, sensação de dor) e as
funções neuromusculoesqueléticas (b7) - mobilidade articular,
força muscular, padrão de marcha e tônus muscular.
A propriocepção comprometida pode contribuir para a
debilidade funcional e também poderia estar relacionada a
fraqueza muscular, ainda contribui para a dor devido a
diminuição do desempenho funcional (CARDOSO et al.,
2012).
Com relação as funções neuromusculoesqueléticas e
relacionadas ao movimento (b7), destacam-se o
comprometimento de graus grave e completo, onde foram
encontradas: diminuição da mobilidade das articulações, em
pelo menos uma articulação; diminuição da força muscular o
que inclui as paresias e plegias; alteração de reflexos motores
e déficit no padrão da marcha. As alterações do padrão de
536
AVALIAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NA ATENÇÃO BÁSICA
SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE,
INCAPACIDADE E SAÚDE (CIF).
marcha, parecem estar relacionadas às lesões de membros
inferiores (amputações, paresias e plegias), que se
destacaram nessa pesquisa. Quanto às deficiências da
mobilidade articular, destacaram-se a diminuição de amplitude
de uma ou várias articulações, em graus moderados ou
graves. Evidenciando, assim, o quanto as lesões e suas
consequências podem alterar as funções do corpo, levando a
dificuldade no desempenho de atividades e participação. Os
achados supracitados são corroborados com a pesquisa de
(OLIVEIRA et. al., 2017; BRITO, 2012).
Para as frequências do primeiro qualificador para
Estrutura do Corpo (s), foram avaliados os seguintes
componentes para as Estruturas do Movimento (s7): s720
(estrutura da região do ombro) 100% (n=10) apresentaram
nenhuma deficiência; s730 (estrutura da extremidade superior)
100% (n=10) apresentaram nenhuma deficiência; s740
(estrutura da região pélvica) 100% (n=10) apresentaram
nenhuma deficiência; na avaliação do código s750 (estrutura
da extremidade inferior) 70% (n=7) apresentaram nenhuma
deficiência, e 30% (n=3) deficiência completa; s760 (estrutura
do tronco) 70% (n=7) apresentaram nenhuma deficiência, 10%
(n=1) deficiência leve e 20% (n=2) deficiência moderada.
Temos que as regiões acometidas foram as s750
(extremidades inferiores), o que mostra as amputações e s760
(tronco), que mostra os desvios posturais ou ainda as
deformidades congênitas. O que também foi encontrado na
pesquisa de Toldrá e Souto (2014) e Campos et al. (2012).
Aos componentes de Atividade e Participação (d) foram
avaliados por meio do desempenho (primeiro qualificador) e
da capacidade (segundo qualificador). Porém, a primeira
537
AVALIAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NA ATENÇÃO BÁSICA
SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE,
INCAPACIDADE E SAÚDE (CIF).
investigação teve foco sobre a capacidade de realizar uma
tarefa ou ação, sem a assistência. Entende-se por assistência
a ajuda de uma outra pessoa, de veículo ou ferramenta
adaptados, ou qualquer forma de modificação do ambiente em
uma sala, casa, local de trabalho, entre outros. O nível de
capacidade deve ser julgado em relação a normalidade
esperada da pessoa, ou a capacidade da pessoa anterior a
sua condição de saúde adquirida. Para esse item foram
realizadas perguntas como por exemplo, para (d4) mobilidade:
no seu atual estado de saúde, quanta dificuldade você tem
para limpar o chão do lugar que você vive, sem assistência?
Na investigação da capacidade as principais
dificuldades avaliadas estavam nas subcategorias de (d4)
mobilidade, onde em todos os avaliados tiveram dificuldade de
leve à completa, chamando atenção d450 (andar) e d460
(deslocar-se por diferentes locais) ambos apresentaram 60%
(n=6) comprometimento completo; as subcategorias (d5)
cuidado pessoal, temos nos códigos d510/d520/d530 (lavar-
se, cuidado das partes do corpo, cuidados relacionados ao
processo de excreção) 40% (n=4) dificuldade moderada, 30%
(n=3) dificuldade grave e 20% (n=2) dificuldade completa,
d540 (vestir-se), 30% (n=3) dificuldade moderada, 40% (n=4)
dificuldade grave e 20% (n=2) dificuldade completa, d570
(cuidar da própria saúde) 40% (n=4) dificuldade moderada,
30% (n=3) dificuldade grave, 20% (n=2) dificuldade completa.
Seguindo a avaliação temos que em (d6) vida
doméstica, os voluntários apresentaram comprometimento
moderado, grave ou completo o que indica a diminuição na
independência e maior necessidade de um cuidador; (d8)
áreas principais da vida com o código d860 (transação
538
AVALIAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NA ATENÇÃO BÁSICA
SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE,
INCAPACIDADE E SAÚDE (CIF).
econômica básica) temos que 10% (n=1) apresentam
dificuldade moderada, 50% (n=5) apresentam dificuldade
grave e 40% (n=4) uma dificuldade completa, muitas vezes
essa dificuldade foi relatada devido à acessibilidade de sair de
casa para realizar uma compra, pois não apresentam
deficiência cognitiva para lidar com dinheiro; na categoria d9
(vida comunitária, social e cívica) com o código d910 (vida
comunitária – interações sociais), os voluntários apresentaram
dificuldade moderada, grave e completa, essas dificuldades
são relacionadas a acessibilidade local que causa uma
restrição impedindo a interação dessas pessoas na sociedade.
As principais queixas de pessoas com deficiência foram
as relativas à mobilidade, cuidado pessoal, vida doméstica,
seguidas pelas dificuldades financeiras e interações sociais.
Essas são acarretadas pela situação de limitação e restrição
em consequência da deficiência(SANTOS, 2016; SANTANA et
al., 2014).
Já para a segunda investigação teve o foco sobre o
desempenho do indivíduo para uma tarefa ou ação no
ambiente real, e dá a informação sobre os efeitos de barreiras
ou facilitadores ambientais. As perguntas realizadas como
exemplo são: no seu ambiente atual, quantos problemas você
realmente tem para caminhar, cuidar da própria saúde?
Na avaliação do desempenho dos deficientes físicos, as
dificuldades relatadas ou avaliadas estavam nas
subcategorias de (d4) mobilidade, de (d5) cuidado pessoal, de
(d6) vida doméstica, (d8) áreas principais da vida com o
código d860 (transação econômica básica) e a categoria d9
(vida comunitária, social e cívica) com o código d910 (vida
539
AVALIAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NA ATENÇÃO BÁSICA
SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE,
INCAPACIDADE E SAÚDE (CIF).
comunitária – interações sociais) igualmente as relatadas na
capacidade, porém com significativa diminuição da dificuldade.
O que implica salientar a importância do cuidador, dos
produtos e tecnologias assistivas: como as órtese e próteses,
a adaptação do ambiente interno da casa, acessibilidade
geográfica e o apoio da Equipe de Saúde da Família (ESF)
juntamente com o Núcleo de Apoio à Saúde da Família
(NASF) no desempenho desses indivíduos (CÂMARA et. al.,
2016).
Para Braccialli et al. (2012) o ato de cuidar não é uma
tarefa de fácil execução, pois exige uma mudança radical na
vida de quem cuida e também demanda a execução de tarefas
complexas, delicadas e sofridas. Para Faria (2012), as
tecnologias assistivas contribuem para melhorar as
habilidades funcionais de pessoas com deficiência e
consequentemente promover uma vida independente e
inclusão social. Com relação aos profissionais de saúde temos
ainda profissionais que são preparados, especialmente, para
atender os indivíduos com enfoque nas patologias,
esquecendo dos seus familiares como membros responsáveis
pelos cuidados para com os pacientes, e que necessitam de
informações e apoio para sanar dificuldades as quais, muitas
vezes, podem refletir na qualidade da assistência prestada,
além da dificuldades de entender a importância da inserção
social desse público (TESTON; OLIVEIRA; MARCON, 2012).
É possível analisar a influência dos fatores ambientais
no cotidiano da vida dos voluntários em termos de facilitadores
e barreiras. No código e110 (produtos ou substâncias para
consumo pessoal) ocorreu uma unanimidade, pois 100%
(n=10) afirmaram ser facilitador, já no e115/e120 (produtos e
540
AVALIAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NA ATENÇÃO BÁSICA
SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE,
INCAPACIDADE E SAÚDE (CIF).
tecnologia para uso pessoal na vida diária e produtos e
tecnologias para mobilidade e transporte pessoal em
ambientes internos e externos) 70% (n=7) afirmam ser
facilitador e 30% (n=3) ser uma barreira, o que significa dizer
que as órteses facilitam a funcionalidade trazendo maior
independência, porém ainda existe uma dificuldade para
aquisição das mesmas, esses fatores apontam para a
fragilidade na provisão de serviços pelo SUS. Nos códigos
e150/e155 (produtos e tecnologia usados em projetos,
arquitetura e construção de edifícios para uso público e
privado) 100% (n=10) dos voluntários afirmaram ser barreira,
pois existe falta de planejamento de espaços urbanos e
privados para circulação do deficiente físico (falta de asfalto,
entulhos nas ruas, buracos, terrenos acidentados, falta de
rampas).
Esse achado é confirmando na pesquisa de Toldrá e
Souto (2014), onde eles explicam que essas condições
adversas trazem limitações para desempenho ao provocar,
insegurança, medo de cair ou atravessar a rua.
Com relação a e2 (ambiente natural e mudanças
ambientais feitas pelo ser humano) nos códigos
e210/e225/e230/e235 (geografia física, clima, desastres
naturais, desastres causados pelo homem) 100% (n=10)
afirmaram existir barreiras referentes a esses códigos, essa
vulnerabilidade social está diretamente relacionada ao alto
índice de violência urbana do bairro e as precárias condições
de moradia.
No que se refere ao capítulo e3 (apoio e
relacionamentos) nos códigos e310/e315 (família imediata e
outros parentes) temos valores de prevalência de 100%
541
AVALIAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NA ATENÇÃO BÁSICA
SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE,
INCAPACIDADE E SAÚDE (CIF).
(n=10) como facilitadores, no código e325 (conhecidos,
companheiros, colegas, vizinhos e membros da comunidade)
70% (n=7) afirmam que esse apoio é um facilitador e 30%
(n=3) uma barreira, e com relação ao e340/e355 (cuidadores,
assistentes pessoais e profissionais de saúde), foram
avaliados o apoio dos profissionais de saúde como um todo e
não apenas os da Unidade Integrada de Saúde, assim as
respostas obtidas foram 90% (n=9) afirmam ser facilitador e
10% (n=1) barreira.Indicando que o apoio da família, de
membros da comunidade e dos profissionais de saúde foram
constantes e fundamentais para a superação das fases mais
difíceis e cuidados diários (ARAÚJO, 2013).
Relacionado a categoria e4 (atitudes), foram avaliados
a questão do preconceito com os códigos e410/e415 (atitude
individuais de membros familiares imediatos e dos outros
membros familiares), onde 10% (n=1) afirmou ser uma
barreira, no código e425 (atitudes individuais de conhecidos,
companheiros, vizinhos e membros da comunidade) 40%
(n=4) afirmam ser barreira o preconceito sofrido, as outras
respostas foram relacionadas ao preconceito não ser nem
facilitador, nem barreira tendo em vista que nunca sofreram
preconceito.Para Santos (2016), a questão da discriminação é
um dos principais problemas para pessoas com deficiência e
esses têm origem na sociedade, ou seja, decorrem de
barreiras sociais e não das barreiras funcionais advindas.
No que se refere ao Serviços, sistemas e políticas (e5),
destacam-se os transportes e a saúde. No serviço de (e540)
transporte público 100% (n=10) referiram ser barreira, levando
em consideração que não existe transporte adaptado
suficientes. No serviço de saúde (e580) 60% (n=6) referiram
542
AVALIAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NA ATENÇÃO BÁSICA
SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE,
INCAPACIDADE E SAÚDE (CIF).
ser facilitador e 40% (n=4) ser barreira, foram relatadas
demoras para encaminhamento especializado, falta de
medicamento, falta de atendimento adequado. O que enfatiza a
necessidade de Políticas Públicas e melhoria no acesso aos
serviços de saúde, proporcionando maior qualidade de vida.
4 CONCLUSÕES
543
AVALIAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NA ATENÇÃO BÁSICA
SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE,
INCAPACIDADE E SAÚDE (CIF).
treinamento que capacite os profissionais de saúde da
atenção básica para o uso da CIF, além de novas pesquisas
com maiores números de amostras.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
544
AVALIAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NA ATENÇÃO BÁSICA
SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE,
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546
BANDAGEM TERAPEUTICA E FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL SOBRE O
DESEMPENHO MOTOR NO MEMBRO SUPERIOR PARÉTICO DE INDIVIDUOS
ACOMETIDOS DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL
CAPÍTULO 28
BANDAGEM TERAPEUTICA E
FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL SOBRE
O DESEMPENHO MOTOR NO MEMBRO
SUPERIOR PARÉTICO DE INDIVIDUOS
ACOMETIDOS DE ACIDENTE VASCULAR
CEREBRAL
Adryanne OLIVEIRA1
Marcela PIMENTEL1
Ana Carolina, GALVÃO1
Filipe ALMEIDA 2
CarlúciaFRANCO3,4
1
Graduada no curso de Fisioterapia , UEPB; 2 Graduando de Fisioterapia/ UEPB; 3 Professora
Doutora do Departamento de Fisioterapia/ UEPB; 4 Orientadora/Professora do DF/UEPB.
Dannybq28@gmail.com
547
BANDAGEM TERAPEUTICA E FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL SOBRE O
DESEMPENHO MOTOR NO MEMBRO SUPERIOR PARÉTICO DE INDIVIDUOS
ACOMETIDOS DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL
avaliados em período pré-intervenção e reavaliados após doze
sessões. Resultados: Evidenciou-se diminuição (29,14 ± 3,57)
do tempo de execução da habilidade óculo manual nos
indivíduos do GE. Quanto a amplitude de movimento,
observou-se que os indivíduos apresentaram aumento do
movimento de flexão, extensão e abdução do ombro com 90,
56 ± 18,30; 31,00 ± 5,43 e 102,67 ± 16,94, respectivamente.
Da mesma forma, verificou-se aumento de flexão do cotovelo
com 113,11 ± 10,23; aumento da supinação da articulação
radioulnar (31,22 ± 11,18) e aumento de flexão do punho
(30,22 ± 10,19). Conclusão: Verificou-se que a Bandagem
Terapêutica associada a Fisioterapia Neurofuncional foi capaz
melhorar o desempenho motor do membro superior parético
de indivíduos acometidos por AVC.
Palavras-Chave: Acidente Vascular Cerebral. Hemiparesia.
Fisioterapia
1 INTRODUÇÃO
548
BANDAGEM TERAPEUTICA E FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL SOBRE O
DESEMPENHO MOTOR NO MEMBRO SUPERIOR PARÉTICO DE INDIVIDUOS
ACOMETIDOS DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL
padrão extensor de membro inferior (O’ SULLIVAN, 2004).
Segundo Segura et al (2008), o hemicorpo afetado na sua fase
aguda apresenta fraqueza muscular, flacidez muscular,
evoluindo para uma espasticidade, levando ao padrão postural
hemiparético/hemiplégico crônico.
A hemiparesia permanece por períodos longos,
havendo um platô em termos de ganho em aproximadamente
doze meses. Além disso, 60% dos indivíduos que sofrem AVC
ficam com disfunção motora que se torna um déficit
“permanente” um ano após a lesão. Essas sequelas resultam
em dificuldades para a execução dos movimentos funcionais,
prejudicando a qualidade de vida individual, principalmente a
independência relativa à realização das Atividades de Vida
Diária (AVDs) (TEIXEIRA, 2008).
O’Sullivan e Schmitz (2004) afirmam que, quando
iniciada precocemente, a fisioterapia motora aperfeiçoa o
potencial do paciente para a recuperação funcional. O
KinesioTaping ou Bandagem Terapêutica, por sua vez,tem
ganho destaque no tratamento de diversas disfunções
(OLIVEIRA, 2012). A técnica baseia-se na aplicação de uma
faixa elástica sobre a pele, com o intuito de manter por mais
tempo a ação dos músculos, promovendo estímulos sensoriais
e mecânicos através dos mecanoreceptores presentes na
derme e na epiderme (FU, 2008 apud SANTOS, 2010;
MATOS, 2002).
Sendo assim, o objetivo do presente estudo é investigar
os efeitos da Bandagem Terapêutica associada a Fisioterapia
Neurofuncional no desempenho motor do membro superior
parético de indivíduos acometidos por AVC Crônico.
549
BANDAGEM TERAPEUTICA E FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL SOBRE O
DESEMPENHO MOTOR NO MEMBRO SUPERIOR PARÉTICO DE INDIVIDUOS
ACOMETIDOS DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL
2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Amostra
Trata-se de um estudo do tipo experimental, longitudinal
prospectivo e quantitativo. O estudo foi realizado na Clínica
Escola de Fisioterapia da Universidade Estadual da Paraíba
(UEPB), localizada em Campina Grande – PB. A amostra
compreendeu 23 pacientes, pertencentes ao Grupo de
Assistência Interdisciplinar ao Paciente Hemiparético (GAIPH).
A amostragem foi construída por acessibilidade.
Foram incluídos na amostra, os indivíduos acometidos
por AVC de ambos os sexos que apresentassem: padrão
flexor de membro superior (para o grupo experimental); AVC
na fase crônica (>6 meses); hemiparesia esquerda ou direita.
Foram excluídos da amostra indivíduos com AVC que
enquadravam-se na fase aguda, e que apresentassem falta de
assiduidade e déficit cognitivo que comprometesse sua
participação no estudo.
2.2Procedimento
Os indivíduos foram avaliados em período pré-
intervenção e imediatamente após a última intervenção,
através dos seguintes instrumentos:
1 - Ficha Sóciodemográfico e Clínica: caracteriza dados
sociodemográficos e clínicos, desenvolvida especificamente
para o grupo;
2 - Inventário de Edinburgh: identifica a preferência
lateral na execução de 10 tarefas motoras realizadas
usualmente pela maioria das pessoas (OLDFIELD, 1971);
550
BANDAGEM TERAPEUTICA E FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL SOBRE O
DESEMPENHO MOTOR NO MEMBRO SUPERIOR PARÉTICO DE INDIVIDUOS
ACOMETIDOS DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL
3 - Escala de Rankin Modificada: investiga o grau de
independência funcional, através de observação clínica
(GUIMARÃES E GUIMARÃES, 2004)
4-Aparelho de Teste de Coordenação Óculo Manual de
Melo (Atcom): avalia a destreza manual, através de um
aparelho constituído por um papel com sete figuras
geométricas vazadas e sete pinos com as mesmas formas e
dimensões, que devem ser encaixados, sequencialmente, nas
formas correspondentes durante as três etapas do teste
(SILVA, 2014); 5 -Goniômetro Universal: mensura os ângulos
articulares dos padrões de movimento (MARQUES, 2003).
2.3 Intervenção
Os indivíduos da pesquisa foram divididos em dois
grupos: Grupo Experimental (GE) foi submetido ao protocolo
de Bandagem Terapêutica associada Fisioterapia
Neurofuncional (FN), e Grupo Controle Positivo (GCP) que
realizou apenas FN em grupo. A alocação nos grupos foi
realizada de forma aleatória, através de sorteio manual.
Para o GE, utilizou-se bandagem elástica da marca
“KinesioSport”, com medida de 5cm x 5m. Foram escolhidas
superfícies de dois músculos Bíceps Braquial e Deltóide para
aplicação da fita, considerados mais afetados para a
funcionalidade do membro superior parético. A bandagem do
Bíceps Braquial foi cortada em formato de “I”, e colocada no
sentido da inserção para origem muscular, com o objetivo de
inibir a atividade reflexa anormal do músculo. No músculo
Deltóide, a bandagem foi cortada em formato de “Y”, e
aplicada no sentido da origem para a inserção muscular, com
a finalidade de estimular a contração muscular. Os indivíduos
551
BANDAGEM TERAPEUTICA E FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL SOBRE O
DESEMPENHO MOTOR NO MEMBRO SUPERIOR PARÉTICO DE INDIVIDUOS
ACOMETIDOS DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL
foram orientados a permanecer com a bandagem por um
período de 02 dias, e em caso de desgaste ou descolamento
das bordas deveriam comunicar aos pesquisadores para
imediata reaplicação.
O protocolo de FN, correspondente tanto quanto para o
GE quanto para o GCP, fundamentou-se no Método Bobath
(BLY, 1991), através das seguintes modalidades: dissociação
de cintura escapular e pélvica; elevação e depressão
escapular, movimentos rotacionais de tronco associado à
movimentos angulares ou lineares do segmento cefálico; uso
da bola suíça para transferência de peso e alternância de
marcha, uso de bastão para fortalecimento, treino da marcha;
utilização de pontos de controle como: rotação
externa/abdução de ombro associado a supinação do
antebraço, abdução do polegar, entre outros.
Baseado no Método Rood (MAGNO et al, 2006), foram
utilizados estímulos sensoriais e proprioceptivos através de:
aplicação de gelo com excitações rápidas sobre o ventre do
musculo; escovação rápida (3 a 5 segundos) realizada no
sentido contrário a inclinação dos pelos; e deslizamento do
ventre muscular com espessuras diferentes; alongamento
lento; alongamento rápido ou estiramento. A técnica de
Imagética Motora (LAMEIRA, 2008), foi aplicada através de
estímulo de simulação mental de um determinado movimento
do membro superior parético pelo indivíduo, que tenta sentir o
movimento, mesmo que ele não ocorra, enquanto uma terceira
pessoa realiza o mesmo movimento proposto.
Ainda, foram incluídas Atividades Funcionais, através
das quais os indivíduos foram motivados e instigados a
executar tarefas, que integrassem padrões de alcance,
552
BANDAGEM TERAPEUTICA E FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL SOBRE O
DESEMPENHO MOTOR NO MEMBRO SUPERIOR PARÉTICO DE INDIVIDUOS
ACOMETIDOS DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL
oponência de polegar e de preensão com o uso de copos,
tubos e/ou bastões, papel, dentre outros.
553
BANDAGEM TERAPEUTICA E FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL SOBRE O
DESEMPENHO MOTOR NO MEMBRO SUPERIOR PARÉTICO DE INDIVIDUOS
ACOMETIDOS DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
554
BANDAGEM TERAPEUTICA E FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL SOBRE O
DESEMPENHO MOTOR NO MEMBRO SUPERIOR PARÉTICO DE INDIVIDUOS
ACOMETIDOS DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL
predomínio da hemiparesia, verificou-se que o predomínio
crural foi o mais acometido.
Em relação ao grau de independência funcional,
observou-se que os indivíduos com AVC do GEque foram
submetidos a aplicação da bandagem terapêutica associada a
fisioterapia neurofuncional, apresentaram os estadiamentos
como mostra a Tabela 1.
Percebe-se então, que houve uma mudança
considerável relacionada a funcionalidade, pois alguns
pacientes migraram de um estágio mais comprometedor para
um estágio funcional mais positivo. Segundo Silva e Tonús
(2014) uso da bandagem terapêutica no ombro
hemiparéticopós-AVC foi capaz de promover aumento da
independencia funcional. Desse modo, é possível afirmar que
a bandagem proporciona uma maior percepção dos membros
nas atividades, ou mesmo um envolvimento maior do indivíduo
no seu processo de reabilitação.
O envolvimento no processo de reabilitação foi
perceptível através das várias tentativas dos mesmos
realizarem atividades bimanuais sem se descuidar do lado
plégico, sempre estimulando o membro superior lesionado e
assim obtendo bons resultados quanto ao desempenho
funcional. Sendo assim, a bandagem terapêutica mostrou-se
eficiente para o uso como coadjuvante na reabilitação pós-avc.
Por outro lado, observou-se que os indivíduos acometidos de
AVC do Grupo Controle Positivo (GCP) (Tabela 1) que foram
submetidos apenas a fisioterapia neurofuncional em grupo
apresentaram um agravamento da funcionalidade desses
indivíduos. O fato do tempo de acometimento de tais
indivíduos ser tardio e de não serem pessoas jovens, pode ter
555
BANDAGEM TERAPEUTICA E FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL SOBRE O
DESEMPENHO MOTOR NO MEMBRO SUPERIOR PARÉTICO DE INDIVIDUOS
ACOMETIDOS DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL
interferido na regeneração neural, o que pode ter influência
sobre os resultados apresentados (GILLEN, 2005).
556
BANDAGEM TERAPEUTICA E FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL SOBRE O
DESEMPENHO MOTOR NO MEMBRO SUPERIOR PARÉTICO DE INDIVIDUOS
ACOMETIDOS DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL
indivíduos realizaram a execução do Atcom em menor período
de tempo após as intervenções, entretanto, sem diferença
estatística.
Após análise da amplitude articular através da
Goniometriaobservou-se que os indivíduos com AVC do GE
no escore- grau II apresentaram aumento significante da ADM
como mostra a tabela 2 abaixo:
557
BANDAGEM TERAPEUTICA E FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL SOBRE O
DESEMPENHO MOTOR NO MEMBRO SUPERIOR PARÉTICO DE INDIVIDUOS
ACOMETIDOS DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL
COTOVELO
Flexão 102,89 ± 113,11 0,03 0,31
125,88 126,1
±
11,67 ± 8,28 3±
10,23
8,34
Extensão 39,67 ± 33,22 0,07 0,21
9,73 ±10,60
20,00 ± 19,1
3±
4,93
5,03
RADIO-
ULNAR
Pronação 48,00 ± 54,33 0,02 74,75 ± 76,7 0,18
± 7,76 3±
12,04
11,20 6,59
Supinação 26,33 ± 31,22 0,04 57,63 ± 57,0 0,31
± 12,91 0±
9,46
11,18 12,73
PUNHO
Flexão 24,22 ± 30,22 0,04 69,63 ± 69,6 1
10,03 ± 6,34 3±
10,19 6,34
Extensão 11,22 ± 8,67 ± 0,78 31,25 ± 31,2 0,31
7,55 5,03 7,63 5±
7,63
558
BANDAGEM TERAPEUTICA E FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL SOBRE O
DESEMPENHO MOTOR NO MEMBRO SUPERIOR PARÉTICO DE INDIVIDUOS
ACOMETIDOS DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL
obtenção de aumento na ADM em movimentos ativos do
ombro.
Similarmente, Salles, Almeida e Ferreira (2012),
relataram que o uso do KinesioTapingno ombro hemiparético,
aumentou o ganho funcional de 50%no autocuidado, de
52,63% na mobilidade, e a ADM apresentou um ganho
funcional de 28% de flexão e 27,33% de abdução. Paulino
(2010), evidenciou aumento ou conservação da ADM inicial
tanto ativa quanto passiva, comparada com a ADM após
aplicação da técnica da bandagem terapêutica.
Dando continuidade a ADM, verificou-se que os
indivíduos do GCP como mostra a tabela 2 acima, não
apresentaram aumento da ADM no período pré- intervenção
quando comparado a pós-intervenção. Os indivíduos
apesentaram uma melhorapara ADM no grau III para algumas
articulações.
4 CONCLUSÕES
559
BANDAGEM TERAPEUTICA E FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL SOBRE O
DESEMPENHO MOTOR NO MEMBRO SUPERIOR PARÉTICO DE INDIVIDUOS
ACOMETIDOS DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
560
BANDAGEM TERAPEUTICA E FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL SOBRE O
DESEMPENHO MOTOR NO MEMBRO SUPERIOR PARÉTICO DE INDIVIDUOS
ACOMETIDOS DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL
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SILVA, Izabel Ricaelle Argentino. Dominância lateral, habilidade manual
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561
BANDAGEM TERAPEUTICA E FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL SOBRE O
DESEMPENHO MOTOR NO MEMBRO SUPERIOR PARÉTICO DE INDIVIDUOS
ACOMETIDOS DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL
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Ciência & Saúde Coletiva, v. 13, 2008.
562
EFEITOS DA MASSAGEM EM RECÉM-NASCIDOS PREMATUROS
CAPÍTULO 29
1 INTRODUÇÃO
564
EFEITOS DA MASSAGEM EM RECÉM-NASCIDOS PREMATUROS
A prematuridade é uma das principais causas de
morbidade infantil, pois recém-nascidos prematuros são muito
vulneráveis e podem sofrer uma série de complicações após o
nascimento. A maioria deles, principalmente lactentes de baixo
peso e extremamente baixo peso ao nascer, passam a
experiência de dias a semanas na UTIN, que é considerado
um ambiente estressante com alto ruído de equipamentos,
alarmes e luzes excessivas (DIEGO et al., 2007).
O parto prematuro é cada vez mais reconhecido como
uma condição complexa que potencialmente contribui para
complicações no recém nascido, como distonia transitória,
atraso motor e da fala, comprometimento cognitivo e falha no
crescimento (WANG, 2013).
Devido à estada prolongada na UTI, os recém-nascidos
prematuros estão expostos a diversos estímulos de
manipulação e contato, que por muitas vezes são dolorosos e
estressantes. Vários estudos fizeram observações
consistentes sobre os efeitos adversos de tais procedimentos
de manipulação, incluindo hipóxia, bradicardia, interrupções do
sono, aumento da pressão intracraniana e agitação
comportamental (ABDALLAH, 2013; ROOFTHOOFT et al.,
2014).
São conseqüências comuns a longo prazo o
desenvolvimento motor e mental retardado, os problemas
comportamentais, o comprometimento do desempenho
acadêmico, as dificuldades de desenvolvimento social e
emocional e as anormalidades sensoriais, como deficiência de
visão e audição, especialmente para bebês com menos de 24
semanas de gestação (ROBERTS; CHEONG, 2014;
ROBERTSON et al., 2009).
A massagem terapêutica é uma prática antiga que
evoluiu para uma ciência ao longo dos séculos. A palavra
565
EFEITOS DA MASSAGEM EM RECÉM-NASCIDOS PREMATUROS
"massagem" vem da raiz árabe "mass'h", que significa tocar
ou espremer ou a palavra grega significa amassar. O registro
escrito mais antigo de massagem tem aproximadamente 4.000
anos e foi notado na literatura médica chinesa (BADR et al.,
2015).
As mães de várias culturas massageiam seus bebês
por vários meses como parte integrante dos papeis maternos.
Por exemplo, uma pesquisa realizada em Bangladesh
encontrou que 96% das mães fazem massagens corporais
inteiras entre uma e três vezes por dia em seus bebês. No
oeste da Índia, as mães massageiam seus bebês porque
acreditam que aumenta a circulação e promove ossos fortes
(DARMSTADT; SAHA, 2003).
Durante as últimas 3 décadas, o mundo ocidental
adotou a massagem terapêutica como uma intervenção
destinada a reduzir o estresse em recém-nascidos prematuros
(KULKARNI et al., 2010).
Apesar do que foi publicado sobre os benefícios da
massagem infantil, a controvérsia permanece sobre a força da
evidência e os possíveis efeitos adversos (KULKARNI et al.,
2010).
O toque é um dos primeiros sentidos desenvolvidos no
feto e ao nascimento. Considerado particularmente importante
para o desenvolvimento psicológico, mental e fisiológico de
recém-nascidos prematuros (BYSTROVA et al., 2009).
Existem diferentes protocolos e tipos de massagem
descritos na literatura, associados ou não a atividade
cinestésica em RNPT, que podem trazer vários efeitos, este
estudo tem como objetivo, por meio de uma revisão de
literatura, verificar os efeitos da massagem realizada em
recém nascidos prematuros.
566
EFEITOS DA MASSAGEM EM RECÉM-NASCIDOS PREMATUROS
2 MATERIAIS E MÉTODO
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
568
EFEITOS DA MASSAGEM EM RECÉM-NASCIDOS PREMATUROS
Dos artigos selecionados foram encontradas evidências
e que a massagem terapêutica possui benefícios para o ganho
de peso do bebê prematuro, assim como crescimento ósseo,
porém ainda não há evidência estatisticamente comprovada,
como mostra na tabaela 1 abaixo.
569
EFEITOS DA MASSAGEM EM RECÉM-NASCIDOS PREMATUROS
Os benefícios da
massagem para
lactentes incluem
ganho de peso,
diminuição da resposta
à dor, maior interação e
JUNEAU Revisão NEONATAL melhora do sono.
14 artigos
(2015) sistemática NETWORK Alguns estudos
também mostraram
que os bebês
prematuros ainda
recebem benefícios
quando a massagem é
dada por um instrutor.
Os estudos fizeram
uma contribuição
relevante ao incluir a
estimulação tátil
PEPINO; cinestésica como uma
MEZZACA
Revisão Jornal de 31 artigos ferramenta promissora
PPA sistemática Pediatria
para o ganho de peso
(2014)
de neonatos
prematuros. Contudo,
não houve padrão de
aplicação entre eles.
A terapia de massagem
pode ser uma prática
Revisão
American segura e econômica
LI WANG sistemática
Journal of 17 artigos para melhorar o ganho
(2013) com meta-
Perinatology de peso e diminuir a
análise
permanência hospitalar
dos recém-nascidos
570
EFEITOS DA MASSAGEM EM RECÉM-NASCIDOS PREMATUROS
pré-termo clinicamente
estáveis. No entanto, a
associação entre
massagem e
desenvolvimento
neurocomportamental
ainda é evasiva.
Fonte: Dados da pesquisa do autor .2017.
571
EFEITOS DA MASSAGEM EM RECÉM-NASCIDOS PREMATUROS
No estudo de Abdallah et al. (2013), avaliou-se o
desenvolvimento de 50 bebês prematuros nascidos com 32
semanas de idade gestacional, e mostrou-se que os bebês
que receberam uma massagem com duração de dez minutos
pela mãe, enquanto estavam hospitalizados na UTIN, tiveram
uma pontuação significativa na escala Bayley aos 12 meses
de idade.
O estudo de Kumar et al. (2013) mostrou que a
massagem realizada com o óleo de girassol, teve mais
benefícios para a criança do que quando comparado a outros
tipos de óleos e ao grupo controle, que não recebeu
massagens.
A massagem deve ser realizada pelos pais,
preferencialmente, como mostra no estudo de Onozawa et al.
(2001), no qual afirmam maior efeito benéfico dessa interação.
No entanto, no estudo de Juneau, et al (2015) afimam que o
bebê teve benefícios quando massageado até mesmo por um
terapeuta (JUNEAU et al., 2015; ONOZAWA et al., 2001).
Badr e colaboradores (2015) realizaram uma revisão
sistemática com meta-análise para avaliar a eficácia da
massagem nos resultados a curto e a longo prazo dos recém-
nascidos prematuros. Eles analisaram trinta e quatro estudos,
os resultados que poderiam ser usados na meta-analise e que
foram encontrados em mais de três estudos demonstravam
que a massagem melhorava o ganho de peso diário,e os
escores mentais, avaliado atraves da escala de Bayle
(ABDALLAH et al., 2013; PROCIANOY et al., 2010; TETI et
al., 2009).
A massagem pode ser uma medida de conforto para
RNPT na UTIN para melhorar o ganho de peso e melhorar o
desenvolvimento mental (BADR et al., 2015; WANG et al.,
2013). Não houve efeitos significativos sobre o tempo de
572
EFEITOS DA MASSAGEM EM RECÉM-NASCIDOS PREMATUROS
permanência hospitalar, ingestão calórica ou peso na alta
(BADR et al., 2015).
Pepino e Mezzacappa (2015) realizaram uma análise
sistemática para verificar quais metodologias foram usadas
por ensaios clínicos que avaliaram o efeito da estimulação
tátil-cinestésica sobre o ganho de peso de RNPT. Verificou-se
que há muitas diferenças na aplicação das técnicas de
estimulação tátil-cinestésica entre os estudos, o que prejudica
a reprodução precisa do procedimento. No entanto, não houve
padrão de aplicação entre eles.
A avaliação da metodologia dos estudos analisados
aqui mostrou que não existe um padrão para a realização da
técnica de estimulação tátil ou massagem terapêutica ou
estimulação tátil-cinestésica. E que a estimulação deve ser
considerada uma possível terapia a ser associada ao
tratamento médico padrão. Sugerem que estudos futuros
podem aumentar o nível do rigor metodológico e descrever os
eventos adversos (PEPINO; MEZZACAPPA, 2015).
De acordo com a revisão de literatura de Juneau et al
(2015), a massagem para bebês prematuros e a termo, é uma
forma de incentivar o cuidado dos pais, pois ajuda a conhecer
mais o comportamento do seu filho, contribuindo para um
melhor desenvolvimento do bebê.
Venorese e Grossi (2016) realizaram uma revisão
sistemática da literatura sobre a influência da massagem
terapêutica no ganho de peso dos recém-nascidos
prematuros. Através dessa revisão sistemática pode ser
observado que a massagem terapêutica utilizada em
prematuros em UTI parece promover o ganho de peso dessa
população, porém sem respaldo estatístico importante
(VENORESE; GROSSI, 2016).
573
EFEITOS DA MASSAGEM EM RECÉM-NASCIDOS PREMATUROS
Devido a condição fisiológica do RNPT, Ribeiro et al
(2016) ressaltam alguns critérios de elegibilidade para aplicar
a massagem terapêutica. São elas: 1) peso ao nascimento –
inferior ou igual a 1.500g; 2) idade gestacional – superior a 25
semanas; 3) acima de 7 dias de vida pós-nascimento; 4) peso
atual acima de 1.000g; e 5) estabilidade clínica.
A literatura descreve uma serie de vantagens a respeito
da massagem terapêutica em recém-nascidos pré-termo, que
se pode resumir, entre elas:
1) redução do estresse do RN, com diminuição do nível de
cortisol sérico (SMITH et al., 2013);
2) redução do tempo de internação hospitalar (SMITH et al.,
2013);
3) aumento do ganho ponderal, além de aceleração do
metabolismo se combinada com atividade física/cinestésica
(BADR et al., 2015; WANG et al., 2013);
4) melhora da função das células naturais de defesa -
citotoxicidade (ANG et al., 2012);
5) auxílio na mineralização óssea, aumentando o depósito de
cálcio (HALEY et al., 2012).
4 CONCLUSÕES
574
EFEITOS DA MASSAGEM EM RECÉM-NASCIDOS PREMATUROS
a permanência hospitalar, aumento do ganho ponderal, além
de aceleração do metabolismo se combinada com atividade
física/cinestésica, melhora da função das células naturais de
defesa – citotoxicidade e auxílio na mineralização óssea,
aumentando o depósito de cálcio de recém nascidos
prematuros clinicamente estáveis.
Apesar dos benefícios clinicos apresentados, ainda não
se tem um protocolo padronizado para esse tipo de terapia
voltada ao RNPT. Portanto ainda são necessários mais
ensaios clínicos, randomizados, controlados e com protocolos
bem estabelecidos.
A partir disso, faz-se importante que os profissionais de
saúde se capacitem para a prática diária da massagem
terapêutica, orientando também aos pais para proporcionar
melhor desenvolvimento comportamental e neuromotor do
recém nascido prematuro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
577
EFEITOS DO EXERCICIO RESISTIDO NA CAPACIDADE FUNCIONAL E
OCORRÊNCIA DE QUEDAS EM IDOSOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
CAPÍTULO 30
Adriano Lourenço1
Yago Tavares Pinheiro1
1 Fisioterapeutas, mestrandos pelo Programa de Pós-graduação em Ciências da Reabilitação
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
adrianol81@yahoo.com.br
578
EFEITOS DO EXERCICIO RESISTIDO NA CAPACIDADE FUNCIONAL E
OCORRÊNCIA DE QUEDAS EM IDOSOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
pode ser utilizado como uma estratégia e opção para
prevenção da sarcopenia e melhora da qualidade de vida e
autonomia, proporcionando benefícios à saúde dos seus
praticantes.
Palavras-chave: Envelhecimento. Treinamento de
Resistência. Acidentes por Queda.
1 INTRODUÇÃO
579
EFEITOS DO EXERCICIO RESISTIDO NA CAPACIDADE FUNCIONAL E
OCORRÊNCIA DE QUEDAS EM IDOSOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
topo da pirâmide etária, com aumento relativo de pessoas
com 65 anos ou mais, que era de 4,8% em 1991, passando a
5,9% em 2000 e chegando a 7,4% em 2010 (IBGE, 2010).
Com isso, o processo de envelhecimento é um assunto
que vem sendo bem discutido com o decorrer do tempo
(BECHARA; SANTOS, 2008).
Esse processo pode ser considerado como gradativo e
ininterrupto, obedecendo a uma sequência de etapas, desde o
nascimento até a morte (PAPALEO, 2006).
A senescência e a senilidade são condições cada vez
mais explorados, que poderão estar presentes no
envelhecimento. Assim, o que definirá a presença de uma ou
de outra será a qualidade de vida ao longo dos anos.
Compreender esses conceitos é essencial para se estabelecer
uma boa qualidade de vida na velhice. Apesar de natural, o
envelhecimento submete o organismo a várias mudanças no
corpo e causam alterações que podem reduzir as capacidades
fisiológicas, sendo o sistema neuromuscular e o esquelético
que mais sofrem alterações, apresentando decréscimo da
massa e força muscular e o rebaixamento da densidade
mineral óssea, predispondo uma prevalência de limitações e
até mesmo de doenças (LOPES et al., 2010).
A redução das capacidades fisiológicas induz na
capacidade funcional, afetando no nível de atividade física.
Essa diminuição da atividade física influencia na quantidade
de fibras musculares, ou seja, na área de secção transversal
(MAZINI FILHO et al., 2010).
A capacidade funcional tem como conceito o potencial
do indivíduo conservar habilidades físicas e mentais para ter
uma vida independente, ou seja, capacidade para realizar
580
EFEITOS DO EXERCICIO RESISTIDO NA CAPACIDADE FUNCIONAL E
OCORRÊNCIA DE QUEDAS EM IDOSOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
atividades que fazem parte do dia-a-dia (AVD e AIVD) (ROSA
et al., 2008; GUIMARÃES et al., 2004).
De acordo com Ferreira et al. (2008), o envelhecimento
associado a outros fatores resultam na redução dos
componentes da capacidade funcional: flexibilidade,
coordenação, agilidade e equilíbrio dinâmico, resistência de
força e resistência aeróbia geral, que predispõe a ocorrências
de quedas.
Dentre as principais causas de morbidade e mortalidade
dos idosos, no Brasil, estudo realizado entre 1996 a 2005, as
mortes por causas externas levaram a óbito 41.054 idosos, o
que equivale a 3% do total de óbitos, sendo 22,5% (n=9.249)
codificados como quedas (MACIEL et al., 2010).
A queda é considerada um evento que causa muitos
distúrbios na vida dos idosos, pois gera desde fraturas simples
até limitações, imobilidade e isolamento social, sendo
considerada a principal causa de morte em pessoas com
idade superior a 65 anos com seu risco aumentado com o
avanço da idade, que pode chegar a 51% dos idosos acima de
85 anos (CUNHA; LOURENÇO, 2014; FRANCIULLI, et al.,
2007; MACIEL; GUERRA, 2005).
A prevenção de quedas deve ser considerada como
prioridade para que os idosos consigam melhorar suas
habilidades funcionais, conferindo lhes maiores segurança e
consequente melhoria na qualidade de vida e bem estar
(PERRACINI et al., 2002).
De acordo com Weineck (2005) grande parte desses
aspectos desfavorável do envelhecimento pode ser amenizada
com a utilização da prática de exercícios físicos regulares.
A prática de atividade física visa melhorar a capacidade
funcional, que estimula os receptores proprioceptivos
581
EFEITOS DO EXERCICIO RESISTIDO NA CAPACIDADE FUNCIONAL E
OCORRÊNCIA DE QUEDAS EM IDOSOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
presentes no corpo, os quais proporcionam melhora no
desenvolvimento da consciência sinestésica e do controle
corporal, o equilíbrio muscular estático e dinâmico, diminuição
na incidência de lesão, aumenta a eficiência dos movimentos
e regula prevenindo o desenvolvimento de diversas doenças
seja ela, imunológica, inflamatória ou metabólica (TRIBESS;
VIRTUOSO, 2005).
As vantagens podem ser vistas pelas respostas
fisiológicas, além disto, também favorece na melhora do
equilíbrio e da marcha, diminui o risco de quedas e fraturas e
consequentemente aumenta a autonomia para realização de
atividades de vida diária, aumenta também a autoestima e
confiança, com isso beneficia significativamente na qualidade
de vida (BEMBEM, 1998).
Uma proposta sugerida por Morelli et al. (2007)é que
um programa de exercícios específicos para idosos tenha no
mínimo uma duração de 50 a 55 minutos e pelo menos duas
vezes na semana, devendo ser praticada de acordo com o
organismo e a vontade de cada indivíduo.
Complementando essas informações, Corazza
(2001)ratifica que os benefícios dos exercícios físicos para
uma velhice com saúde são evidentemente conhecidos desde
o início dos tempos, existindo benefícios bem demonstrados
diante de diversos parâmetros que atingem a saúde e a
longevidade.
A prática constante e moderada de exercícios é um
excelente método de melhoria da capacidade funcional e
consequentemente uma melhor qualidade de vida das
pessoas idosas, seja em modalidades especiais, seja usando
o fluxo de oportunidades do seu dia a dia (MAZINI FILHO et
al., 2010).
582
EFEITOS DO EXERCICIO RESISTIDO NA CAPACIDADE FUNCIONAL E
OCORRÊNCIA DE QUEDAS EM IDOSOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
O exercício resistido é visto como uma solução para
manter a saúde física e mental da população, que provoca
vantagens na manutenção do trofismo e aumento do diâmetro
muscular (DALLA DEA et al., 2009).
Neste sentido, a Fisioterapia sob o aspecto da
promoção da saúde tornou-se possível ampliar o seu objeto de
estudo no que diz respeito à prevenção, tratamento e
reabilitação, na tentativa de prevenir e/ou tratar alterações
cinéticas funcionais, provocadas por mudanças genéticas,
traumas e doenças obtidas, com intuito de manter e/ou
restaurar a capacidade funcional e garantir a convivência
social compreendendo os fatores que possam acarretar na
melhora da qualidade de vida e bem estar dos idosos
(PERRACINI et al., 2002).
Assim, o objetivo desta revisão é reunir estudos que
apontaram os efeitos e benefícios da prática regular de
exercício resistido na capacidade funcional e ocorrência de
quedas em pessoas idosas com idade igual ou superior a 60
anos.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
583
EFEITOS DO EXERCICIO RESISTIDO NA CAPACIDADE FUNCIONAL E
OCORRÊNCIA DE QUEDAS EM IDOSOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
No sentido de direcionar a revisão bibliográfica
formulou-se a seguinte pergunta norteadora: Quais são os
benefícios do treinamento resistido na capacidade funcional e
ocorrência de quedas em idosos?
Os estudos que preencheram os critérios de inclusão
foram considerados como ensaios clínicos, estudos
experimentais, observacionais, revisões sistemáticas e
metanálises, que incluíram treinamento resistido exclusivo,
com o objetivo de analisar sua influência sobre a capacidade
funcional e ocorrência de quedas em idosos com idade igual
ou superior a 60 anos de ambos os sexos, desconsiderando a
apresentação clínica da doença. Estudos que associaram
exercícios resistidos com exercícios de resistência,
flexibilidade e de equilíbrio como intervenção foram incluídos.
Excluíram-se artigos cujo objetivo não considerou o
treinamento resistido como proposta de terapia para a
melhoria da funcionalidade e redução na ocorrência de
quedas.
A figura 1 apresenta o fluxograma referente ao
processo de seleção dos artigos que fizeram parte da amostra
final desta revisão.
584
EFEITOS DO EXERCICIO RESISTIDO NA CAPACIDADE FUNCIONAL E
OCORRÊNCIA DE QUEDAS EM IDOSOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
Figura 1. Fluxograma representativo do processo de seleção
dos artigos.
585
EFEITOS DO EXERCICIO RESISTIDO NA CAPACIDADE FUNCIONAL E
OCORRÊNCIA DE QUEDAS EM IDOSOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Título do Tipo de
Autores Periódico Amostra Ano
artigo estudo
The Effect
of Strength
and
Endurance
Training on
968 idosos
Gait,
Jornal de Ensaio entre 68 e
Balance,
BUCHNER Gerontologia: controlad 85 anos
Fall Risk, 1997
et al. Ciências o capazes de
and Health
Médicas aleatório realizar as
Services
atividades
Use in
Community
-Living
Older
Adults.
The
American
Benefits of Revisão Idosos com
SEGUIN et Journal of
Strength sistemátic idade ≥ 60 2003
al. Preventive
Training for a anos
Medicine
Older
586
EFEITOS DO EXERCICIO RESISTIDO NA CAPACIDADE FUNCIONAL E
OCORRÊNCIA DE QUEDAS EM IDOSOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
Adults
Effect of
412 idosos
resistance
com idade
training on
Oxford ≥ 65 anos,
physical
University capaz de
performanc
YAMADA Press em andar
e and fear Ensaio
et al. nome da sozinho, 2011
of falling in clínico
Sociedade sem
elderly with
Britânica de exercício
different
Geriatria. físico nos
levels of
últimos 12
Physical
meses.
well-being.
61 idosas,
Efeitos de
com idade
exercícios
≥ 60 anos,
resistidos,
capazes de
de
entender e
equilíbrio e Revista
Ensaio de
alongament Brasileira de
MOURA et clínico responder
os sobre a Atividade 2013
al. randomiz aos
mobilidade Física e
ado comandos
funcional Saúde
nos testes
de idosas
e
com baixa
deambular
massa
sem ajuda
óssea.
de outros.
587
EFEITOS DO EXERCICIO RESISTIDO NA CAPACIDADE FUNCIONAL E
OCORRÊNCIA DE QUEDAS EM IDOSOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
AMBROSE Seniors! – clínico com
et al. secondary controlad histórico de
falls o quedas nos
prevention randomiz últimos 12
in ado meses,
community- com 70
dwelling anos ou
senior mais.
fallers:
study
protocol for
a
randomized
controlled
trial.
Combined
resistance
and
balance- 149
jumping Oxford mulheres
Estudo
exercise University com idade
clínico
reduces Press em entre 70-78
KARINKAN controlad
older nome da anos e que 2015
TA et al. o
women’s Sociedade viviam de
randomiz
injurious Britânica de forma
ado
falls and Geriatria. independen
fractures: te
5-year
follow-up
study.
588
EFEITOS DO EXERCICIO RESISTIDO NA CAPACIDADE FUNCIONAL E
OCORRÊNCIA DE QUEDAS EM IDOSOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
Fonte:dados da pesquisa.
EXERCÍCIOS RESISTIDOS
589
EFEITOS DO EXERCICIO RESISTIDO NA CAPACIDADE FUNCIONAL E
OCORRÊNCIA DE QUEDAS EM IDOSOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
relação não se apresenta linearmente (GOODPASTER;
PARK; HARRIS et al., 2006).
Estudos como de Rantanen et al. (2001) também
afirmaram que a associação entre força muscular e
incapacidade física em indivíduos idosos não é linear.
Nos últimos anos, pesquisas geraram evidências
convincentes que sustentam a viabilidade e os benefícios dos
exercícios resistidos orientados para adultos mais velhos, que
garantem o aumento da massa muscular e óssea, força
muscular, flexibilidade, equilíbrio dinâmico, autoconfiança e
autoestima (CHAKRAVARTHY et al., 2002; ROUBENOFF;
HUGHES, 2000).
Treinamento de força também colaborou na redução
dos sintomas de doenças crônicas, tais como diabetes tipo 2,
doenças cardíacas, osteoporose, artrite, depressão, e
distúrbios do sono (CASTANEDA et al., 2002; NELSON et al.,
1994).
Vários estudos têm demonstrado melhorias na
densidade mineral óssea com treinamento de força em idosos
(CUSSLER et al., 2003; NELSON et alt., 1997; KOHRT et al.,
1997). No estudo de Nelson et al. (1994) realizaram
treinamento de força a longo prazo em mulheres entre 50 e 70
anos, constatando-se que reduz o risco de fraturas
osteoporóticas, aumentando a densidade mineral óssea em
mulheres com redução de estrogênio.
Com relação à resistência muscular, estudos como de
McCartney et al. (1995)aplicaram treinamento de força de 42
semanas em homens de 60 a 80 anos de idade e encontraram
melhorias não apenas na força e massa muscular, mas
também na resistência à esteira, ou seja, indivíduos com baixa
capacidade aeróbia podem realizar importantes melhorias na
590
EFEITOS DO EXERCICIO RESISTIDO NA CAPACIDADE FUNCIONAL E
OCORRÊNCIA DE QUEDAS EM IDOSOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
aptidão cardiovascular com a inclusão do treinamento de
força.
Thomas et al. (2002) em sua pesquisa constataram que
idosos que experimentaram treino de força obtiveram
reduções significativas na dor e rigidez e melhorias na função
física.
Estudos com grupo de treinamento de força em idosos
mostraram melhorias significativas de 27% na força muscular
extensora do joelho. Os investigadores também observaram
melhorias significativas na potência muscular (18%). No
entanto, não observaram efeitos do treinamento resistido em
testes funcionais, possivelmente porque os sujeitos do estudo
eram saudáveis e não tinham limitações funcionais no início
do estudo (SKELTON et al., 1995). Em contrapartida, Nelson
et al. (2003) demonstrou melhorias significativas na função
física após 6 meses de treinamento de força em idosos.
O treinamento de força com alta velocidade foi
experimentado por um grupo de pessoas idosas e
demonstrou-se significante para a melhoria na força muscular,
pois a combinação de força e velocidade pode ser um fator
importante na prevenção do comprometimento funcional e,
portanto, uma consideração importante na concepção dos
programas de exercícios para idosos (FOLDVARI et al., 2000).
Indivíduos idosos fragilizados obtiveram melhorias no
desempenho físico e funcional com a prática de exercício
resistido no período de 50 semanas. Em contrapartida, o
treinamento resistido não melhorou funcionalmente e nem
fisicamente os idosos atléticos. Estes resultados sugerem que
o treino de força foi capaz de melhorar a força e a potência
muscular tanto no idoso frágil quanto no atlético, mas não
demonstrou nenhuma alteração na funcionalidade no idoso
591
EFEITOS DO EXERCICIO RESISTIDO NA CAPACIDADE FUNCIONAL E
OCORRÊNCIA DE QUEDAS EM IDOSOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
relativamente saudável. (BEAN et al., 2010; HANSON et al.,
2009).
O treinamento resistido favoreceu na melhora do
equilíbrio, podendo ser explicado em partes por adaptações no
controle de força. No entanto, não demostrou exclusivamente
eficácia na função de equilíbrio no idoso (WONG; LAN, 2008).
Em suma, fica claro que o treinamento de força pode
reduzir ou atrasar as limitações funcionais, bem como reduzir
o comprometimento físico e as ocorrências de quedas. Várias
pesquisas indicaram que este tipo de exercício em idosos com
limitações funcionais tem demonstrado redução nas
ocorrências de quedas. (LIU-AMBROSE et al., 2015;
RUBENSTEIN et al., 2000; CAMPBELL et al., 1999;
BUCHNER et al., 1997).
Neste sentido, constata-se que o exercício resistido
além de melhorar o desempenho físico, também é capaz de
diminuir o medo de cair, mas apenas em pessoas idosas
frágeis (YAMADA et al., 2016).
O treinamento de força deve ser incluído nos programas
de exercícios para idosos, pois se têm percebido vários
benefícios, tais como físico, psicológico e também a redução
de quedas, respeitando as condições físicas do indivíduo em
termos de frequência, intensidade, duração e exercícios
específicos (LIU-AMBROSE et al., 2015; RUBENSTEIN et al.,
2000; CAMPBELL et al., 1999).
.
EXERCÍCIOS MULTIDIMENSIONAIS
592
EFEITOS DO EXERCICIO RESISTIDO NA CAPACIDADE FUNCIONAL E
OCORRÊNCIA DE QUEDAS EM IDOSOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
flexibilidade e equilíbrio, chamados de exercícios
multidimensionais.
Estudos evidenciam que os exercícios resistidos,
equilíbrio e coordenação e alongamentos foram capazes de
promover benefícios na mobilidade funcional de idosas com
baixa massa óssea, verificados através dos testes da
caminhada de 6 metros, de sentar-levantar com 5 repetições e
do alcance funcional (MOURA et al., 2012).
Dessa forma, Kato-Narita et al. (2011) defendem que
variadas formas devem ser usadas para prevenir quedas e
restaurar a funcionalidade, sem assumir que apenas o treino
de equilíbrio irá absolutamente promover benefícios.
Blank et al. (2011) propôs em seu estudo que a
utilização de exercícios que envolvam treinamento de força,
resistência, flexibilidade, equilíbrio, marcha e coordenação
motora, associado à educação contra o risco de quedas e
orientações domiciliares atingem resultados positivos para os
idosos, mostrando-se essenciais para a realização de
atividades diárias e melhora da qualidade de vida.
Desta forma, programas de treinamento de força,
estímulos proprioceptivos e alongamentos, são considerados
como meio de intervenção, entre tanto mais estudos
necessitam confirmar os benefícios de formas de intervenção
multidimensionais (SHERRINGTON et al., 2008).
Estudos de metanálise com idosos mostrou que
intervenções destinadas a prevenir quedas também foram
eficazes na redução de quedas em programas de exercícios
com vários componentes, incluindo exercícios de equilíbrio e
fortalecimento muscular (EL-KHOURY et al., 2013).
O treinamento multidimensional tem demonstrado
efeitos positivo perdurável sobre os fatores que protegem as
593
EFEITOS DO EXERCICIO RESISTIDO NA CAPACIDADE FUNCIONAL E
OCORRÊNCIA DE QUEDAS EM IDOSOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
mulheres idosas de quedas prejudiciais. No espaço de 12
meses de intervenção de exercício, as mulheres que
participaram, melhoraram sua força muscular, equilíbrio e
agilidade, funcionalidade e força óssea, apesar das
participantes já terem uma linha de base de funcionalidade
com um nível bom (KARINKANTA et al., 2007).
Com a prática de exercícios combinados, além da
melhora no funcionamento neuromuscular e funcionalidade,
também ocorreram mudanças no estado de saúde e na
medicação e nos comportamentos psicossociais, que
resultaram na redução do risco global de fratura em 74%
(KARINKANTA et al., 2015). Estudos como de Wong et al.
(2008) afirmaram que para se obter um melhor equilíbrio é
necessário adicionar treinamento resistido associado com o de
equilíbrio.
Estudos relataram que uma intervenção
multidimensional pode reduzir o risco de queda (TINETTI et
al.; WAGNER et al., 1994). Porém em outros estudos, com 6
meses de exercícios em idosos, não foi verificado melhorias
ao menos moderada na marcha, equilíbrio ou estado de
saúde. Explica-se isso através dos sujeitos que estavam
acima do limiar, onde o declínio relacionado com a idade na
capacidade aeróbica e na força começa a causar problemas
significativos na marcha e no equilíbrio (BUCHNER et al.,
1997). Isso pode ser explicado através de indivíduos
fragilizados abaixo do limiar, que o treinamento resistido
combinado com outros exercícios é relatado para melhorar a
marcha e equilíbrio (FIATARONE et al., 1994).
No estudo de Campbell et al. (1997) demonstrou que
após 2 anos de treino de força com o de equilíbrio em
mulheres quase frágeis (com idades ≥ 80 anos) com
594
EFEITOS DO EXERCICIO RESISTIDO NA CAPACIDADE FUNCIONAL E
OCORRÊNCIA DE QUEDAS EM IDOSOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
supervisão mínima obtiveram redução de 31% nas incidências
de quedas.
Em resumo, o exercício multidimensional pode ter
efeitos benéficos sobre a capacidade funcional, o risco de
quedas e cuidados de saúde em idosos com maior risco de
declínio da reserva funcional.
4 CONCLUSÃO
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600
OS BENEFÍCIOS DO ATENDIMENTO FISIOTERAPÊUTICO EM CRIANÇAS COM
MICROCEFALIA POR ZIKA VÍRUS
CAPÍTULO 31
OS BENEFÍCIOS DO ATENDIMENTO
FISIOTERAPÊUTICO EM CRIANÇAS COM
MICROCEFALIA POR ZIKA VÍRUS
Fernanda Alves DIONÍSIO1
Sheva Castro Dantas de SOUSA 2
Carla Patrícia Novaes dos Santos FECHINE 3
1
Graduanda do curso de Fisioterapia, UNIPÊ; 2 Orientadora/ Docente do curso de fisioterapia
do UNIPÊ; 3 Docente do curso de fisioterapia do UNIPÊ.
fernandadionisio10@hotmail.com.br
1 INTRODUÇÃO
602
OS BENEFÍCIOS DO ATENDIMENTO FISIOTERAPÊUTICO EM CRIANÇAS COM
MICROCEFALIA POR ZIKA VÍRUS
despertou a atenção das autoridades e especialistas, que
começaram a verificar dados e analisar as possíveis causas
(MARINHO et al., 2016).
Em outubro de 2015,o governo brasileiro deu início às
investigações conjuntas com o estado de Pernambuco, após
observar um aumento do número de casos principalmente
nesta região. Neuropediatras do Recife (Pernambuco)
alertaram sobre uma epidemia de microcefalia devido ao ZIKV,
comparando o índice de crescimento de ambas as doenças e
observando, através de exames de imagens realizados em
mulheres grávidas, que estas possuíam ou já possuíram o
ZIKV, como também, alterações peculiares nos fetos
(calcificações, ventriculomegalia e desordem do
desenvolvimento cortical). Em novembro do referido ano, foi
detectado a presença do zika vírus nolíquido amniótico em
gestantes na Paraíba, confirmando a relação do vírus com o
desenvolvimento de microcefalia (EICKMANN, et a.l, 2016).
Quando a infecção do ZIKV acontece na gestação,
pode causar repercussões no feto, sendo mais graves quando
acometidas no primeiro trimestre da gravidez. As alterações
neurogênicas são as principais, incluindo desordens do
Sistema Nervoso Central (SNC) como anormalidades de
migração neuronal, acometimento do neurônio motor da
medula espinal anterior, desordens piramidais, entre outras.
Mas, a maior manifestação de malformação do SNC, é a
microcefalia (ALVINO et al., 2016).
A microcefalia é uma malformação congênita onde o
crânio não cresce de maneira adequada. Segundo a
Organização Mundial de Saúde, ela é caracterizada por um
perímetro cefálico igual ou inferior a 31,9 centímetros (cm)
para meninos, e 31,5 cm para meninas, ou seja, inferior ao
603
OS BENEFÍCIOS DO ATENDIMENTO FISIOTERAPÊUTICO EM CRIANÇAS COM
MICROCEFALIA POR ZIKA VÍRUS
esperado de acordo com o sexo. Devido ao fato do crânio não
crescer adequadamente, por consequência, também vai
ocasionar uma deficiência no crescimento cerebral, podendo
promover uma ampla variedade de condições clínicas
patológicas (OLIVEIRA, VASCONCELOS, 2016).
De acordo com pesquisas recentes, crianças com
microcefalia por zika vírus apresentam um atraso
nodesenvolvimento neurosensóriomotor. Esse atraso se torna
mais prejudicial devido as alterações de tônus, caracterizado
por hipertonia muscular espástica, associada à persistência de
reflexos posturais primitivos que alteram os padrões de
movimento e todo o organograma de aprendizagem e
aquisição motora da criança (JAENISCH et al., 2017).
O desenvolvimento neurosensóriomotor é um processo
bastante complexo e dinâmico, que se encontra sujeito a
diversas influências relacionadas a mudanças do indivíduo.
Sendo assim, existem evidências que durante os primeiros
anos, as várias interações provocam um maior impacto no
desenvolvimento da criança. Portanto, observa-se que o
desenvolvimento é resultado de uma ação conjunta de
diferentes fatores, como crescimento, hereditariedade,
maturação individual, entre outros, inseridos no contexto e
dependentes das tarefas estimuladoras, cujo o resultado
dessa interação é visto com o tempo (CARICCHIO, 2017).
Observando o processo de aquisições das habilidades
motoras das crianças nos primeiros anos de vida, é possível
identificar o quanto esta etapa é crítica e importante para o
seu desenvolvimento neurosensóriomotor, visto que uma
grande quantidade de mudanças acontecem em um pequeno
período de tempo. Constatou-se que desde o período
intrauterino a maturação desempenha papel primordial na
604
OS BENEFÍCIOS DO ATENDIMENTO FISIOTERAPÊUTICO EM CRIANÇAS COM
MICROCEFALIA POR ZIKA VÍRUS
evolução do bebê, entretanto, após o nascimento a presença
do ambiente se torna um influenciador dos comportamentos
motores, onde, para o adequado processo de
desenvolvimento, é necessário realizar a estimulação precoce
(COFRE, 2016).
A estimulação precoce (EP) utiliza técnicas e recursos
terapêuticos capazes de estimular todos os domínios que
interferem na maturação da criança. Tem como objetivo
aproveitar o período crítico da evolução, para estimular a
criança a ampliar suas competências, tendo como ponto de
referência os marcos do desenvolvimento. Em crianças com
microcefalia ela se faz necessária pois promove a harmonia no
progresso de vários sistemas funcionais, como as áreas
motora, sensorial, perceptiva, proprioceptiva, linguística,
cognitiva, emocional e social. Qualquer programa de
estimulação do desenvolvimento da criança deve ser iniciado
desde a concepção até os três anos de idade, pois é a fase
que o cérebro se desenvolve mais rapidamente, e a
maturação depende da estimulação ofertada (NORBERT et
al., 2016).
Para que o fisioterapeuta consiga atuar de maneira
eficaz na população diagnosticada, é necessário conhecer os
processos do desenvolvimento neuropsicomotor da criança, e
utilizar de modelos teóricos que possam embasar sua prática,
apoiados em uma formação adequada para utilizar melhores
estratégias de avaliação e tratamento, minimizando as
deficiências e promovendo o máximo de independência e
qualidade de vida para essas crianças (TEULIER, LEE,
ULRICH, 2016).
A atuação da fisioterapia neurofuncional em pediatria é
de fundamental importância para a aquisição de habilidades
605
OS BENEFÍCIOS DO ATENDIMENTO FISIOTERAPÊUTICO EM CRIANÇAS COM
MICROCEFALIA POR ZIKA VÍRUS
motoras e interação com o ambiente das crianças, também
previne deformidades e contraturas, que podem piorar o
quadro do desenvolvimento e comprometer o sistema
respiratório. A intervenção precoce, a repetição, a motivação,
e o ambiente enriquecedor, favorecem a neuroplasticidade,
que é a mudança estrutural no sistema nervoso na
organização e quantidade de conexões entre os neurônios
(MOREIRA, 2017).
O programa de estimulação funcional das crianças com
microcefalia envolve diferentes intervenções e estratégias de
tratamento. É necessário adotar medidas para inibir padrões
primitivos, e outras para facilitar o desenvolvimento de
padrões necessários. Sendo assim, a seleção e combinação
das estratégias de tratamento devem ser realizados para
atender os objetivos de forma clara e específica, e devem ser
estabelecidas depois de uma criteriosa avaliação (DE PAULA
GUEDES, ALVES, WYSZOMIRSKA, 2017).
O cuidado e acolhimento das crianças com microcefalia
e suas famílias, são essenciais para que se conquiste um
maior ganho funcional nos primeiros anos de vida, nos quais
ocorre a formação de habilidades primordiais e a plasticidade
neuronal está fortemente presente, proporcionando uma
progressão do desenvolvimento nas áreas motora, cognitiva e
de linguagem (CARICCHIO, 2017).
Diante do surto observado de crianças nascidas com
microcefalia, devido a infecção do zika vírus, observou-se a
necessidade de favorecer um ambiente acolhedor e com
profissionais capacitados para reabilitar essas crianças. Dessa
forma, foi criado o projeto de extensão: “Programa de atenção
integrada à crianças com microcefalia por Zika vírus”, no
Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ, com o objetivo
606
OS BENEFÍCIOS DO ATENDIMENTO FISIOTERAPÊUTICO EM CRIANÇAS COM
MICROCEFALIA POR ZIKA VÍRUS
de oferecer a essas crianças e seus responsáveis os cuidados
necessários para uma evolução eficaz no seu
desenvolvimento neurosensóriomotor.
2 MATERIAIS E MÉTODO
607
OS BENEFÍCIOS DO ATENDIMENTO FISIOTERAPÊUTICO EM CRIANÇAS COM
MICROCEFALIA POR ZIKA VÍRUS
incapacidades decorrentes da microcefalia, assim como os
fatores facilitadores e as barreiras que interferem direta ou
indiretamente na qualidade de vida dos pacientes. Uma
avaliação bem conduzida deve utilizar instrumentos validados,
para favorecer um melhor planejamento terapêutico.
Na avaliação, além dos dados pessoais e demográficos,
é feita aplicação de duas escalas mundialmente validadas. A
Escala de Avaliação Infantil Alberta (AIMS), que avalia o
desenvolvimento neurosensóriomotor e a Escala Modificada
de Ashworth que avalia a hipertonia.
A AIMS é um instrumento canadense que avalia a
qualidade dos componentes do desenvolvimento motor grosso
da criança, como habilidade de transferir peso, postura
assumida na tarefa motora e o controle dos músculos anti
gravitacionais. Aborda conceitos de maturação neurológica,
perspectiva da dinâmica motora e sequência do
desenvolvimento motor, embasados na teoria dos sistemas
dinâmicos. Sua aplicabilidade ocorre desde o nascimento até
a aquisição da marcha independente, que deve ocorrer até os
18 meses. A avaliação é feita através da observação de 58
itens dispostos em quatro subescalas nas posturas supino (9
itens), prono (21 itens), sentado (12 itens) e de pé (16 itens).
Somente os itens mais apropriados para a idade da criança
deverão ser testados (CÂMARA, 2017).
A Escala Modificada de Ashworthé amplamente
utilizada na avaliação da espasticidade e essa aceitação se
deve a sua confiabilidade e reprodutibilidade interobservador.
A movimentação passiva da extremidade é realizada
avaliando o momento da amplitude articular em que surge a
resistência ao movimento, é uma escala ordinal que varia de 0
a 4 (MELLO SPOSITO, RIBERTO, 2016)
608
OS BENEFÍCIOS DO ATENDIMENTO FISIOTERAPÊUTICO EM CRIANÇAS COM
MICROCEFALIA POR ZIKA VÍRUS
Após avaliação inicial, as crianças são submetidas ao
atendimento fisioterapêutico, podendo ser executado de duas
maneiras, de acordo com a necessidade individual do
paciente, no solo ou na piscina. O atendimento no solo, tem
como base a utilização do método bobath, já o atendimento na
piscina, é feito baseado numa junção dos quatro métodos
mais utilizados na hidroterapia (Watsu; Halliwick; BadRagaz;
Hidrocinesioterapia). Além disso, em dias comemorativos, são
realizadas atividades com os responsáveis, criando um vínculo
maior de amor e cuidado, e orientando como agir em
determinadas situações.
Segundo Dietrich et al. (2016), o método bobath tem
como objetivo incentivar o uso de todo corpo, inibir os padrões
motores patológicos e facilitar posturas e movimentos
apropriados. Trabalha com as articulações proximais para
estabilizar os pontos chaves em padrões inadequados de
tônus postural que predomina, para que as crianças tenham a
sensação que serão redirecionadas, resultando na emergência
de padrões motores adequados. Nesta técnica, as posturas e
os movimentos típicos da criança são estudados e analisados
em todos os decúbitos (dorsal, ventral, sentado, ajoelhado e
posição do pé).
As técnicas de tratamento se dividem basicamente em
técnicas de facilitação, inibição e estimulação. É mais
essencial saber aplicar a técnica, identificando o momento
apropriado de usar e de modificar, de acordo com as
características do paciente. Segundo Bobath, para saber se a
intervenção esta sendo eficiente, é necessário observar se
está tendo a ocorrência de movimentos funcionais, como
coordenação motora, alinhamento biomecânico correto,
controle motor, entre outros (LETT et al., 2016).
609
OS BENEFÍCIOS DO ATENDIMENTO FISIOTERAPÊUTICO EM CRIANÇAS COM
MICROCEFALIA POR ZIKA VÍRUS
Para que a criança consiga fazer os movimentos
normais, é necessário normalizar seu tônus muscular, dessa
forma, antes de fazer qualquer facilitação é necessário buscar
a organização do tônus. Normalmente crianças com
microcefalia têm uma hipertonia, nesse casos realiza primeiro
a inibição dessa rigidez articular, normalizando-a, para em
seguida iniciar a técnica de facilitação (DIETRICH et al., 2016).
A hidroterapia é um recurso fisioterápico que utiliza os
princípios físicos da água em piscinas aquecida para
tratamento de diversas doenças. Dentro da hidroterapia são
abordados alguns métodos como Watsu que adota técnicas de
flutuação e relaxamento; Halliwick encorajando o paciente á
natação; BadRagaz consiste no uso de flutuadores na cervical,
pelve e tornozelos, que ajudam na reabilitação, alongamento
muscular, manutenção ou ganho de amplitude de movimento e
movimentação de membros superiores e inferiores;
Hidrocinesioterapia que permite uma grande variedade de
exercícios com fins terapêuticos (VAZ NETA, ZECHNER,
NOCETTI, 2017).
A hidroterapia é utilizada para diversas patologias, já
que a água é um ótimo meio para exercícios, oferecendo
oportunidades estimulantes para movimentos que seriam
feitos com dificuldade no solo. A diversidade de movimentos
na água, permite que as crianças explorem seu corpo e o
espaço a sua volta. As atividades aquáticas entre diversos
benefícios, favorecem a socialização e prevenção de
agravamento de distúrbios osteomioarticulares e respiratórios
(CAPELLINE et al., 2017).
Em geral, os benefícios da hidroterapia envolvem a
propriedade da flutuação, em que o suporte da água promove
alívio do peso, permitindo ao paciente assumir uma postura
610
OS BENEFÍCIOS DO ATENDIMENTO FISIOTERAPÊUTICO EM CRIANÇAS COM
MICROCEFALIA POR ZIKA VÍRUS
ereta e adquirir movimentos ativos que no solo seriam
impossíveis devido à ação da gravidade. Outras propriedades
da água são benéficas, possibilitando o relaxamento do tônus,
permitindo o alcance maior da ADM, tornando os movimentos
mais rápidos na água, e ainda o arrasto turbulento oferece
resistência, que além de fortalecer músculos fracos também
pode gerar estímulos sensitivos (JACQUES et al., 2017).
De seis em seis meses, os pacientes realizam uma
reavaliação, utilizando as mesmas escalas da avaliação inicial
(AIMS e Escala Modificada de Ashworth). Observando o
ganho no desenvolvimento neurosensóriomotor das crianças
assistidas, como controle cervical, sentar, arrastar, engatinhar,
manipular objetos, diminuição da hipertonia, e melhora na
socialização.
Durante o ano, em datas comemorativas (São João; Dia
das Mães; Dia das Crianças; entre outras), são elaboradas
atividades educativas, buscando a interação da criança com o
responsável e de ambos com os acadêmicos e profissionais.
Dessa forma, são elaboradas dinâmicas de interação e
atividades lúdicas para transmitir informações e um momento
descontraído de confraternização.
Para o tratamento, além de estímulos lúdicos como
brinquedos, som e vídeos, no solo também são utilizados o
rolo bobath, a bola bobath, e o tapete proprioceptivo. Já na
piscina, são utilizados brinquedos adequados para água, e a
prancha de apoio, visto que a grande parte do atendimento é
feita pelas mãos do terapeuta.
611
OS BENEFÍCIOS DO ATENDIMENTO FISIOTERAPÊUTICO EM CRIANÇAS COM
MICROCEFALIA POR ZIKA VÍRUS
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
612
OS BENEFÍCIOS DO ATENDIMENTO FISIOTERAPÊUTICO EM CRIANÇAS COM
MICROCEFALIA POR ZIKA VÍRUS
13 31/10/2015 14/06/2017 3 -
14 04/02/2016 22/05/2017 2 -
15 15/01/2016 22/09/2017 2 -
16 14/06/2016 27/09/2017 1+ -
17 21/11/2015 17/05/2017 1+ -
Fonte: Pesquisa direta, 2017.
613
OS BENEFÍCIOS DO ATENDIMENTO FISIOTERAPÊUTICO EM CRIANÇAS COM
MICROCEFALIA POR ZIKA VÍRUS
Figura 1: Ano de nascimento
5,8% 5,8%
35%
53%
1905ral 1905ral
Fonte: Pesquisa direta. 2017
614
OS BENEFÍCIOS DO ATENDIMENTO FISIOTERAPÊUTICO EM CRIANÇAS COM
MICROCEFALIA POR ZIKA VÍRUS
Figura 2: A- Tapping de pressão; B- Treino deitar e sentar; C-
Transferência de peso; D- Inibição preensão palmar; E-
Estimulo proprioceptivo.
615
OS BENEFÍCIOS DO ATENDIMENTO FISIOTERAPÊUTICO EM CRIANÇAS COM
MICROCEFALIA POR ZIKA VÍRUS
Figura 3: Hidroterapia.
616
OS BENEFÍCIOS DO ATENDIMENTO FISIOTERAPÊUTICO EM CRIANÇAS COM
MICROCEFALIA POR ZIKA VÍRUS
Figura 4: Atividades Educativas
4 CONCLUSÕES
617
OS BENEFÍCIOS DO ATENDIMENTO FISIOTERAPÊUTICO EM CRIANÇAS COM
MICROCEFALIA POR ZIKA VÍRUS
além de ampliar os conhecimentos sobre essa área de
atuação da fisioterapia, e aprender a ser um profissional mais
humanizando, visando sempre o bem estar não só do
paciente, mas também dos seus responsáveis.
As criançascom microcefalia que recebem o tratamento
fisioterapêutico, têm um melhor desenvolvimento e
crescimento, pois os exercícios possibilitam à cada criança ter
a sua expressão corporal individual e a superação de suas
limitações e dificuldades. Além disso, é importante referir que
toda a fisioterapia é fundamental no processo de reabilitação
neurológica, na medida em que interfere decisivamente nos
aspectos motores, cognitivos e psicossociais. Atuando na
inibição dos reflexos patológicos e primitivos persistentes,
facilitando o desenvolvimento gradual do controle motor
postural. Cabe salientar que, em todo o tratamento, o
acompanhamento e a orientação à família são fundamentais
para que as medidas adaptativas venham garantir melhores
condições físicas do ambiente familiar.Por fim, é necessário
ressaltar que o fisioterapeuta proporciona uma contribuição
inestimável à essas crianças, por meio de um atendimento
lúdico e com terapêutica eficaz.
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621
PROPOSTAS TERAPÊUTICAS PARA RECÉM-NASCIDOS: UMA REVISÃO DE
LITERATURA
CAPÍTULO 32
622
PROPOSTAS TERAPÊUTICAS PARA RECÉM-NASCIDOS: UMA REVISÃO DE
LITERATURA
selecionados. Os recursos terapêuticos encontrados
demonstraram a diversidade de propostas de intervenção
direcionadas ao público neonatal, sendo abordagens capazes
de promover uma assistência humanizada e integrativa,
analisando aspectos holísticos do recém-nascido, porém
muitos do quais ainda em estado de arte e requerendo
pesquisas aprofundadas que evidenciem seu uso na rotina da
prática do profissional fisioterapeuta.
Palavras-chave:Recém-nascidos. Modalidades de
fisioterapia.Unidade de Terapia Intensiva Neonatal.
1 INTRODUÇÃO
623
PROPOSTAS TERAPÊUTICAS PARA RECÉM-NASCIDOS: UMA REVISÃO DE
LITERATURA
primeiros mil dias de vida são bastante estudadas, sendo
importante o aprofundamento especialmente em técnicas com
potencial de prevenção de lesões e complicações a longo
prazo para a vida da criança. Com base nisso, esta revisão
buscou verificar as propostas terapêuticos utilizados em
neonatologia.
2 MATERIAIS E MÉTODO
624
PROPOSTAS TERAPÊUTICAS PARA RECÉM-NASCIDOS: UMA REVISÃO DE
LITERATURA
dos membros e fornecendo recursos que aprimorem a ação,
contribuição e promoção da criticidade.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
625
PROPOSTAS TERAPÊUTICAS PARA RECÉM-NASCIDOS: UMA REVISÃO DE
LITERATURA
portinhola da incubadora e de portas da UTIN, deslocamento
da mesa de inox com rodas para suporte de materiais.
626
PROPOSTAS TERAPÊUTICAS PARA RECÉM-NASCIDOS: UMA REVISÃO DE
LITERATURA
3.2 ESTIMULAÇÃO PRECOCE
627
PROPOSTAS TERAPÊUTICAS PARA RECÉM-NASCIDOS: UMA REVISÃO DE
LITERATURA
em conjunto com a linguagem.
Estimulação Visual Para realiza-la é necessário, que
através do brincar, seja
proporcionada ao bebê uma situação
que exija de sua atenção. A relação
afetiva com o cuidador é um fator
benéfico muito importante. É
importante que ocorra desde os
primeiros dias de vida, e que o
cuidador participe dessa estimulação
no momento dos cuidados afetivos.
Estimulação da Função Ocorre através da estimulação
Motora proprioceptiva, permitindo ao bebê
experimentar a sensação de
localizaçãodas partes do seu corpo,
dando um maior estímulo
sensitivo/sensorial. Deve ser
trabalhado também movimentos que
estimulem a adequação do tônus e
força muscular, auxiliando numa
melhor consciência corporal.
Estimulação da Função Ocorre no cotidiano do RN
Manual associando as experiências
sensoriais e motoras. No momento
da terapia e/ou em casa, pode-se
realizar atividades que potencializem
a aquisição de habilidades, que vão
repercutir na vida funcional do bebê.
Estimulação das Envolve desde a equipe
Habilidades Cognitivas e multiprofissional até a família,
Sociais objetivando seu desenvolvimento e a
inserção dessa criança no meio
social, futuramente.
Fonte: Adaptado de BRASIL (2016).
628
PROPOSTAS TERAPÊUTICAS PARA RECÉM-NASCIDOS: UMA REVISÃO DE
LITERATURA
Segundo a revisão sistemática de Marini et. al (2017), o
principal enfoque da intervenção precoce é a própria criança,
de modo que a avaliação e a terapêutica são voltadas às suas
características biológicas, à interação social, e ao impacto
dessas sobre o seu desenvolvimento.
Para Theis et al (2016), uma estimulação precoce de
forma adequada da fisioterapia, pode auxiliar na diminuição da
mortalidade e morbidade dos recém-nascidos (RN) internados
na UTI neonatal, identificando precocemente as disfunções
neuropsicomotoras e intervindo para melhor sobrevida do RN
pré-termo. Para facilitar o desenvolvimento neuropsicomotor
do RN, a fisioterapia motora vai ser responsável pela
estimulação tátil, proprioceptiva, visual e auditiva, através da
terapia, com alongamentos e atividades direcionadas às
necessidades do RN pré-termo, favorecendo a melhora do
tônus muscular, prevenindo contraturas, e favorecendo um
melhor desenvolvimento.
629
PROPOSTAS TERAPÊUTICAS PARA RECÉM-NASCIDOS: UMA REVISÃO DE
LITERATURA
proporcionando relaxamento. É utilizado no ambiente
hospitalar, em RNs de baixo peso e estáveis, com o objetivo
de favorecer o ganho de peso e o desenvolvimento
neuropsicomotor e afetivo. Esses ganhos são obtidos por uma
redução da dor/estresse, promovidos pelas propriedades da
água aquecida e pelo postura flexora do RN,contribuindo para
uma maior funcionalidade. Já o banho de imersão busca a
higienização do RN, estimulando a circulação da pele. Utiliza
as propriedades da água aquecida para estimular um
momento humanizado com relaxamento, segurança e limite
corporal, durante a higiene corporal.
Segundo Lima (2014), o banho de imersão também
contribui para a regulação sensoriomotora e homeostase. No
seu estudo, foi realizado banho de balde em neonatos no qual
se observou um resultado benéfico, com melhora significativa
nos parâmetros, antes e 10 minutos pós-banho, diminuição da
frequência cardíaca, frequência respiratória e temperatura
axilar, e o aumento da saturação de oxigênio, para valores
cada vez mais perto da faixa de normalidade, como também
houve melhora no estado comportamental. Além disso, essa
abordagemdiminui a irritabilidade, melhora o desenvolvimento
comportamental e fisiológico, em conjunto com o padrão
flexor, reduzindo a desorganização neuropsicomotora, o
estresse, promovendo o relaxamento e uma melhor
adequação do RN ao meio.
Segundo Ataíde (2016), o controle do ambiente para a
aplicação de técnicas aquáticas é um importante ponto a ser
considerado. Para isso, o ambiente deve ser silencioso e
calmo, a iluminação deve ser mínima. Outro paramêtro muito
importante é a temperatura, que deve ser mantida em torno de
30° a 32°C, mantendo a temperatura do RN na faixa da
630
PROPOSTAS TERAPÊUTICAS PARA RECÉM-NASCIDOS: UMA REVISÃO DE
LITERATURA
normalidade. Já a temperatura da água é necessária que
esteja em torno de 36,8° a 37,4°C, para manter a temperatura
no neonato que tende a perder calor. Desta maneira,
condições adequadas de medida e controle da temperatura da
água, asseguram a manutenção da temperatura do neonato,
que são importantes para o sucesso da técnica e minimização
de intercorrências.
631
PROPOSTAS TERAPÊUTICAS PARA RECÉM-NASCIDOS: UMA REVISÃO DE
LITERATURA
bebê, influencia grandemente a amamentação exclusiva até
os 6 meses.
632
PROPOSTAS TERAPÊUTICAS PARA RECÉM-NASCIDOS: UMA REVISÃO DE
LITERATURA
O sono é dividido em três estágios: o primeiro é o sono
ativo (SA) ou sono REM, o segundo estágio é o sono quieto
(SQ) também chamado de Não-REM e o terceiro é o sono
transicional ou indeterminado. O tempo total e a duração dos
estágios do sono são de extrema importância no
desenvolvimento e na homeostase de um recém-nascido
prematuro (RNPT) (LLAGUNO et al., 2015).
O RNPT, no ambiente hospitalar, requer muitas rotinas
de cuidado o que pode contribuir para sua hiperestimulação,
alterando o ciclo de sono.Tal privação pode interferir
diretamente na qualidade de vida do bebê, uma vez que com o
aumento da vigília pode ocorrer a amplificação da percepção
de dor, o aparecimento de apneias, quadros infecciosos e com
este a diminuição do peso, aumento da irritabilidade, entre
outros comprometimentos (LLAGUNO et al., 2015).
Estudos recentes mostram como o ciclo claro-escuro do
RNPT tem um melhor desenvolvimento e um aumento
significativo de peso do que quando há luz ou escuridão
constante (KANESHI, 2016).
3.7 REDINHATERAPÊUTICA
633
PROPOSTAS TERAPÊUTICAS PARA RECÉM-NASCIDOS: UMA REVISÃO DE
LITERATURA
demonstrem sua real eficácia e impacto no desenvolvimento
infantil.
4 CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
634
PROPOSTAS TERAPÊUTICAS PARA RECÉM-NASCIDOS: UMA REVISÃO DE
LITERATURA
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636
RELAÇÃO ENTRE A FORÇA DE PREENSÃO PALMAR E FORÇA MUSCULAR
RESPIRATÓRIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
CAPÍTULO 33
637
RELAÇÃO ENTRE A FORÇA DE PREENSÃO PALMAR E FORÇA MUSCULAR
RESPIRATÓRIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
contrariedade em seus resultados, entretanto, este confirmou
uma relação entre as forças, porém não mostrou valores para
serem considerados significativos. Portanto, podemos afirmar
que a força muscular respiratória, correlaciona-se
significativamente com a força de preensão palmar.
Conclusão:Concluímos através dessa revisão integrativa, que
a força muscular respiratória correlaciona-se
significativamente com a força de preensão palmar.
Palavras-chave: Correlação. Força de Preensão Palmar.
Força Respiratória.
1 INTRODUÇÃO
638
RELAÇÃO ENTRE A FORÇA DE PREENSÃO PALMAR E FORÇA MUSCULAR
RESPIRATÓRIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
vez que é um método prático, de baixo custo e aparentemente
seguro para a maioria das populações(FARIAS et al, 2012).
Com relação à força de preensão palmar, Tomás e
Fernandes (2012), evidenciam sua utilização como um
importante indicativo relacionado à prática clinica,por está
diretamente ligado à força e potência muscular, seus
parâmetros podem estabelecer relações diretas com a
capacidade funcional dos indivíduos. Aforça de preensão
palmar é mensurada utilizando o dinamômetro, que é um
instrumento simples, de baixo custo, e que fornece as
informações necessárias para estudo, de forma rápida e
direta. Existem diversos protocolos que determinam a
execução da técnica, cabe ao pesquisador à escolha do
método de avaliação para utilizar em seu trabalho
(GIANNATTASIO;CAVALERO;SPÍNOLA, 2012 ; PEREIRA,
2015 ; LYRA et al , 2017).
Para Bahia et al (2012), a manutenção da força
muscular respiratória é de suma importância para biomecânica
da respiração, pois, a força muscular é quem provoca a
negatividade intrapleural, que difere da pressão ambiente,
culminando no processo de difusão. As pressões geradas
pelos músculos respiratórios são consideradas medidas
funcionais. O instrumento utilizado nessa avaliação é o
manovacuômetro, este aparelho capta as pressões exercidas
pelos músculos tanto na inspiração (pressão inspiratória
máxima) como na expiração (pressão expiratória máxima)
(OLIVEIRA, 2012; GALANT, 2012).
Para a avaliação funcional dos músculos respiratórios é
fundamental a monitoração das pressões respiratórias
máximas. As medidas de pressão inspiratória máxima (PImax)
e pressão expiratória máxima (PEmax) podem quantificar a
639
RELAÇÃO ENTRE A FORÇA DE PREENSÃO PALMAR E FORÇA MUSCULAR
RESPIRATÓRIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
força respiratória em indivíduos saudáveis de diferentes
idades, pacientes com diversos distúrbios e, também, verificar
a resposta ao treinamento muscular respiratório (BARRETO et
al, 2013; GRANDE et al, 2015).
Além disso, é importante salientar que a imobilidade e o
desuso são os principais fatores que contribuem para o
enfraquecimento muscular, comprometendo diretamente a
atividade respiratória e a prática das atividades de vida diária
(CALSING;BERNARDES , 2014).
Alguns estudos, à exemplo de Paiva (2014) tem
levantado a hipótese de uma possível relação entre as forças
de preensão palmar e a força muscular respiratória,
reforçando que ambas tem associação direta ao estado
funcional do individuo, sendo determinante para identificar
precocemente alterações futuras, o que possibilita uma
intervenção preventiva. Então, dentro da perspectiva,
fundamentada pela prática baseada em evidencias científicas,
o objetivo do presente estudofoi investigar a relação entre a
força de preensão palmar e a força muscular respiratória,
buscando a conclusão das informações mais atualizadas e
disponíveis na literatura.
2 MATERIAIS E MÉTODO
640
RELAÇÃO ENTRE A FORÇA DE PREENSÃO PALMAR E FORÇA MUSCULAR
RESPIRATÓRIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
Constituíram os seguintes descritores para a composição
desta revisão integrativa:Correlação, Força Muscular, Preensão
Palmar e Função Respiratória. Foram incluídos na pesquisa os
artigos publicados nos últimos cinco anos, em periódicos
nacionais e internacionais, indexados nos bancos de dados
selecionados para a pesquisa, que abordassem as
competências relacionadas ao tema. Foram excluídos os
trabalhos correspondentes aos anos anteriores ou que não
tivessem relação com o tema estudado.
641
RELAÇÃO ENTRE A FORÇA DE PREENSÃO PALMAR E FORÇA MUSCULAR
RESPIRATÓRIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
642
RELAÇÃO ENTRE A FORÇA DE PREENSÃO PALMAR E FORÇA MUSCULAR
RESPIRATÓRIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
cadastrados na palmar. Além disso,
Estudo da relação Unidade Saúde da indicam que a força
entre fragilidade e Família (USF), com muscular global pode
função respiratória em media de idade de ser concebida pela
idosos comunitários. (73±6 anos), sendo 29 força de preensão
(PEGORARI; RUAS; homens (56,7%) e 22 palmar, sendo
PATRIZZI, 2013). mulheres (43,3%). empregada como um
Foram avaliados os preditor importante de
aspectos desfechos clínicos
sociodemográficos, adversos, como
fenótipo de fragilidade, incapacidade
prova de função funcional,
pulmonar e hospitalização e
manovacuometria mortalidade.
analógica para os
músculos respiratórios.
Participaram 18 Quando relacionado a
indivíduos hipertensos, PIMáx vs. Força de
Correlação entre a com diagnóstico de preensão manual (r=
força muscular e os HAS, fazendo uso de 0.287; p= 0.281) e
testes de caminhada medicamento entre PEMáx vs. Força
de seis minutos e hipertensivo regular, de preensão manual
timed up and go em com idade (r= 0.233 ; p= 0.391),
hipertensos. compreendida entre 50 não houve relação
(CAVALCANTE et al, e 75 anos, de ambos significativa, entre a
2015) os gêneros. Foram força de preensão
avaliados a força de manual e a força
preensão palmar, força muscular respiratória,
muscular respiratória, no entanto, é
capacidade funcional, e necessário a
Mobilidade funcional. realização de mais
estudos com avaliação
isolada dessas
variáveis.
Participaram 9 sujeitos Constatou uma forte
com IC, idade de associação entre a
53,5±6 anos, classe PImax e a FPP
643
RELAÇÃO ENTRE A FORÇA DE PREENSÃO PALMAR E FORÇA MUSCULAR
RESPIRATÓRIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
funcional II e III (NYHA) (r=0,76; p=0,01),
e fração de ejeção de enquanto a força
Relação das forças ventrículo esquerdo muscular expiratória
musculares respiratória (FEVE) de 26,2±8,1%. não se mostrou tão
e periférica com a Foram avaliados a afetada, fortalecendo a
limitação funcional em função pulmonar, força hipótese de haver uma
pacientes com muscular respiratória, tendência de
insuficiência cardíaca. força muscular de comprometimento
(CHIODELLI et al, quadríceps e de muscular
2015). preensão palmar , generalizado, nos
tempo despendido no pacientes com IC. E
teste de AVD-Glittre ainda reforça, que a
(TGlittre), distância PImax é um
percorrida no teste da importante marcador
caminhada de seis de gravidade na IC,
minutos (TC6min) e uma vez que o
escores de dispneia e enfraquecimento da
limitação funcional. musculatura
inspiratória reflete
maiores índices de
dispneia, o que
compromete a
capacidade de
exercício levando a
uma pior CF da NYHA.
Participaram da Como resultado de
pesquisa 54 idosos sua pesquisa,
longevos, com idade destacou que idosos
entre 80 e 101 anos, de acima de 80 anos
Força de membros ambos os sexos. O (longevos), com maior
superiores como sexo feminino foi o FPM, apresentaram
preditor da função mais frequente, 80% da maiores valores de
muscular ventilatória amostra, com idade PImax e PEmax. A
em longevos. média de 88,8 anos incapacidade funcional
(PEREIRA, 2015) (±5,3). Já no sexo foi a variável com
masculino, a idade maior associação com
média foi de 86 anos FPM, quanto maior o
644
RELAÇÃO ENTRE A FORÇA DE PREENSÃO PALMAR E FORÇA MUSCULAR
RESPIRATÓRIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
(±3,4). Entre os grau de dependência,
nonagenários o pior o resultado no
percentual de mulheres teste. Alem disso,
foi maior, com 92,3% acrescenta que a FPM
(p=0.0258). Foram foi um importante
avaliadas a força de preditor da PImax e
preensão palmar, força PEmax.
muscular respiratória e
capacidade funcional
dos indivíduos.
Estudo transversal, Constatou-se maior
com participação de 34 tendência de dispneia
pacientes portadores para aqueles
Força de Preensão de DPOC com pacientes com uma
Palmar e dispneia em estadiamento entre II e FPP reduzida. Além
pacientes portadores IV, com média de idade disso, sugerem que a
de Doença Pulmonar de 62,7±7,2 anos e melhora do
Obstrutiva Crônica. IMC de 26,7±6,9 Kg/m². condicionamento físico
(EMMANOUILIDIS et Foram avaliadas a global é responsável
al, 2016). Força de Preensão pela diminuição da
Palmar (FPP) através produção de ácido
de dinamômetro lático para o mesmo
hidráulico e a dispneia, nível de atividade
mensurada pela escala física, induzindo a um
Medical Research menor estímulo
Council (MRC). ventilatório.
Estudo transversal Quando comparados
prospectivo, com os valores de pico de
participação de 43 fluxo expiratório e
idosos, sendo 29 do preensão palmar
sexo feminino e 14 do contata-se que quanto
Avaliação da função sexo masculino, com maior o Pico de Fluxo
pulmonar e da faixa etária entre 61 e Expiratório do
capacidade funcional 92 anos, que indivíduo, maior sua
de um grupo de idosos praticassem algum tipo força de preensão
da cidade de de atividade física. palmar. Além disso,
Uberlândia- MG. Foram avaliados o nível quando comparados à
645
RELAÇÃO ENTRE A FORÇA DE PREENSÃO PALMAR E FORÇA MUSCULAR
RESPIRATÓRIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
(CARNEIRO, 2017) de atividade fisica, força de preensão
força muscular
palmar e força
respiratória, pico de muscular respiratória,
fluxo expiratório,
podemos afirmar que
mensuração da força quanto maior a Força
de preensão palmar e de Preensão Palmar,
capacidade funcional. maior a Pressão
Expiratória Máxima.
Legenda:PiMax – Pressão Inspiratória Máxima; PEmax – Pressão expiratória
Máxima; NYHA – Classificação funcional da New York Heart Association;
FPP – Força de Preensão Palmar.
646
RELAÇÃO ENTRE A FORÇA DE PREENSÃO PALMAR E FORÇA MUSCULAR
RESPIRATÓRIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
Os resultados encontrados na pesquisa colaboraram
com a afirmação de Vaz (2012), demonstrando que os valores
das PImáx e PEmáx correlacionaram-se significativamente
com a força de preensão palmar. Além disso, indicam que a
força muscular global pode ser concebida pela força de
preensão palmar, sendo empregada como um preditor
importante para os desfechos clínicos adversos, como
incapacidade funcional, tempo de hospitalização e
mortalidade. Relacionado ao envelhecimento, ainda
acrescentam que idosos em condição de pré-fragilidade
podem apresentar baixa força de preensão palmar associada
à diminuição da força dos músculos respiratórios. Enquanto
que os idosos não frágeis, apresentam uma correlação
positiva entre entre a pressão expiratória máxima e nível de
atividade física.
Concomitantemente Leite (2012) reafirmou que muitos
achados da literatura já comprovaram que a força de preensão
manual, através da mensuração de força dos membros
inferiores e superiores, refletem a funcionalidade e estado
geral de saúde do indivíduo. Sabendo disso, Chiodelli et al
(2015), em sua pesquisa objetivou investigar a relação entre a
força muscular respiratória, de membros superiores, de
membros inferiores e a capacidade funcional em pacientes
com IC. Sua amostra foi composta por nove sujeitos com IC,
de ambos os sexos, com idade de 53,5±6 anos, classe
funcional II e III (NYHA) e fração de ejeção de ventrículo
esquerdo (FEVE) de 26,2±8,1%, escore de dispneia maior ou
igual a 2 na escala Medical Research Council modificada
(MRC). Foram excluídos pacientes com doenças
osteomioarticulares, doenças pulmonares crônicas, neoplasias
infecções ou transtornos psiquiátricos.
647
RELAÇÃO ENTRE A FORÇA DE PREENSÃO PALMAR E FORÇA MUSCULAR
RESPIRATÓRIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
Os voluntários da pesquisa supracitada foram avaliados
quanto à: função pulmonar, pressão muscular inspiratória
(PImax) e expiratória (PEmax), força muscular de quadríceps
(FMq) e de preensão palmar (FMp), tempo despendido no
teste de AVD-Glittre (TGlittre), distância percorrida no teste
decaminhada de seis minutos (TC6min) e escores de dispneia
e limitação funcional.
Os resultados da pesquisa descrita, novamente
reafirmam uma forte associação entre a PImax e a FPP
(r=0,76; p=0,01), enquanto a força muscular expiratória não se
mostrou tão afetada, fortalecendo a hipótese de haver uma
tendência de comprometimento muscular generalizado, nos
pacientes com IC. E ainda reforça, que a PImax é um
importante marcador de gravidade na IC, uma vez que o
enfraquecimento da musculatura inspiratória reflete maiores
índices de dispneia, o que compromete a capacidade de
exercício levando a uma pior CF da NYHA.
A pesquisa de Pereira (2015), também descrita no
quadro (1), apresenta relação direta com a abordagem da
revisão do presente estudo, em que trata-se de um estudo
observacional descritivo e analítico, realizado entre os meses
de agosto e setembro de 2014, com o objetivo de verificar a
associação entre a força de preensão palmar (FPP) e a força
da musculatura ventilatória (PImax e PEmax) em longevos,
assim como compreender os fatores potencialmente
associados à FPM.
Participaram dessa pesquisa, 54 idosos longevos
(octogenários, nonagenários e centenários), com idade entre
80 e 101 anos, de ambos os sexos, residentes da comunidade
e Instituição de Longa Permanência (ILPI), respectivamente,
Residencial Geriátrico Convivência e Residencial Santa
648
RELAÇÃO ENTRE A FORÇA DE PREENSÃO PALMAR E FORÇA MUSCULAR
RESPIRATÓRIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
Catarina, ambos situados na cidade de Porto Alegre - Rio
Grande do Sul. Todos os participantes da pesquisa eram
acompanhados rotineiramente por fisioterapeuta. Foram
excluídos do estudo longevos com incapacidade física ou
cognitiva que impedisse a realização dos testes. Os idosos
com quadros demências leves ou moderados, capazes de
compreender os testes, realizaram a avaliação, assim com
idosos com limitações articulares, mas que não apresentavam
limitação para realizar o teste de FPP.
Como resultado, destacou que idosos acima de 80
anos, com maior FPP, apresentaram maiores valores de
PImáx e PEmáx, logo, a manutenção da força muscular é um
fator determinante na preservação da capacidade funcional,
sendo a FPPum importante preditor da PImáx e PEmáx. Além
disso, ainda reforça que a realização da fisioterapia motora
nos longevos deve ser priorizada na reabilitação de doenças
respiratórias.
O estudo proposto por Emmanouilidis et al (2016), foi
realizado com portadores de doenças pulmonares obstrutivas
crônicas (DPOC), uma afecção respiratória caracterizada pela
obstrução persistente e progressiva das vias aéreas em
decorrência de uma resposta inflamatória anormal da função
pulmonar. É importante frisar também, que além de acometer
os pulmões, a DPOC causa inúmeras alterações, entre elas, a
disfunção do músculo esquelético (GOLD, 2016 ; SHAH ,
2013).
O objetivo desse autor, foi avaliar a associação entre a
disfunção muscular periférica de membros superiores com o
grau de dispneia presente em portadores de Doença Pulmonar
Obstrutiva Crônica (DPOC). Participaram 34 pacientes
portadores de DPOC com estadiamento entre II e IV, com
649
RELAÇÃO ENTRE A FORÇA DE PREENSÃO PALMAR E FORÇA MUSCULAR
RESPIRATÓRIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
média de idade de 62,7±7,2 anos e IMC de 26,7±6,9 Kg/m²,
avaliados quanto a Força de Preensão Palmar (FPP) através
de dinamômetro hidráulico e a dispneia, mensurada pela
escala Medical Research Council (MRC).
Obteve como resultados, um valor médio da FPP na
mão dominante foi 28,0 ± 8,7 Kgf e da mão não-dominante, de
26,7± 7,7 Kgf, sendo a diferença significante tanto para o valor
absoluto (p<0,001) quanto para % do predito (p<0,001).
Quanto à escala de dispneia, 73,6% apresentaram MRC entre
2 e 3, indicando dispneia a esforços moderados, e 20,6%
classificaram-se com MRC 4, no qual dispneia impede
pequenos esforços. Sendo assim, constatou-se maior
tendência de dispneia para aqueles pacientes com uma FPP
reduzida. Além disso, sugerem que a melhora do
condicionamento físico global é responsável pela diminuição
da produção de ácido lático para o mesmo nível de atividade
física, induzindo a um menor estímulo ventilatório.
No ano seguinte, Carneiro (2017) desenvolveu o mais
recente estudo publicado, em que relaciona as forças de
preensão palmar e força muscular respiratória. Baseado na
confirmação de Eichingeret al, 2015 de que a força muscular
em geral, se relaciona diretamente com a capacidade
funcional do indivíduo, e com seus índices de mortalidade e
de morbidade. O autor desenvolveu um estudo transversal
prospectivo entre os períodos de março de 2015 e fevereiro de
2016, com o objetivo avaliar a função pulmonar e a
capacidade funcional de um grupo de idosos que frequentam
uma organização social na cidade de Uberlândia-MG.
Participaram da pesquisa referida, 43 idosos, sendo 29
do sexo feminino e 14 do sexo masculino, com faixa etária
entre 61 e 92 anos, que praticassem algum tipo de atividade
650
RELAÇÃO ENTRE A FORÇA DE PREENSÃO PALMAR E FORÇA MUSCULAR
RESPIRATÓRIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
física. Foram excluídos os idosos com dificuldade de
compreensão, e que não realizassem de forma adequada os
testes obrigatórios, e também voluntários que apresentassem
doenças neurológicas e ortopédicas. Os itens avaliados foram:
O questionário International Physical Activity Questionnaire -
(IPAQ) para avaliar o nível da atividade física nos idosos,
avaliação da força muscular respiratória através da
manovacuometria, a coleta do pico de fluxo expiratório pelo
peak flow meter,a mensuração da força de preensão palmar
pelo dinamômetro manual, e o teste time up andgopara
avaliação da capacidade funcional do idoso.
Os resultados encontrados confirmam que, quando
comparados os valores de pico de fluxo expiratório e preensão
palmar, contata-se que quanto maior o Pico de Fluxo
Expiratório do indivíduo, maior sua força de preensão palmar.
Além disso, quando comparados à força de preensão palmar e
força muscular respiratória, podemos afirmar que quanto maior
a força de preensão palmar, maior a pressão expiratória
máxima.
O estudo de Cavalcante et al (2015), em contrapartida a
todos os estudos citados anteriormente, foi o único em que
demostrou uma contrariedade em seus resultados, quando
comparados aos demais presentes na literatura. Os autores
desse estudo realizaram essa pesquisa na Clínica Escola de
Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
– UFRN/FACISA, no período entre maio e julho de 2015, com
o objetivo de avaliar a força muscular respiratória, periférica e
a capacidade funcional e verificar se existe correlação entre
estas variáveis estudadas em idosos hipertensos. A amostra
foi composta por 18 indivíduos hipertensos, com diagnóstico
de HAS, fazendo uso de medicamento hipertensivo regular,
651
RELAÇÃO ENTRE A FORÇA DE PREENSÃO PALMAR E FORÇA MUSCULAR
RESPIRATÓRIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
com idade compreendida entre 50 e 75 anos, de ambos os
gêneros. Os critérios avaliados foram a força de preensão
palmar, utilizando a dinamometria, força muscular respiratória,
através da Manovacuometria (PIMáx/PEMáx), capacidade
funcional, através do teste de Caminhada de Seis Minutos
(TC6’), Mobilidade funcional através do teste Timed Up and
Go (TUG).
Como resultado, apresentou apenas correlação
significativa entre a PEMáx e o TC6’ (r = 0,493; p = 0,045) item
principal avaliado na pesquisa, e quando, de forma
secundaria, relacionou a PIMáx vs. Força de preensão manual
(r= 0.287; p= 0.281) ou PEMáx vs. Força de preensão manual
(r= 0.233 ; p= 0.391), não houve relação significativa, entre a
força de preensão manual e a força muscular respiratória. É
importante ressaltar que o próprio estudo indica a necessidade
de realizar mais pesquisas para comprovação de tal
afirmação, uma vez que a amostra comportou-se de forma
homogênea e conseguiu alcançar valores semelhantes aos
previstos no estudo.
4 CONCLUSÕES
652
RELAÇÃO ENTRE A FORÇA DE PREENSÃO PALMAR E FORÇA MUSCULAR
RESPIRATÓRIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
dificuldades para a realizaçãodas atividades de vida diária,
trazendo riscos de predisposição a instalação de
comorbidades.
A prevalência dos estudos discutidos na revisão
integrativa deste trabalho, são apresentadas respostas
semelhantes, e em apenas um dos artigos
pesquisados,destacou-se uma contrariedade nos seus
resultados, e este confirmou uma relação entre as forças,
porémnão mostrou valores significativos para sua
comprovação.Sendo assim, concluímos que através dessa
revisão integrativa, onde a força muscular respiratória, ou seja,
os valores de PImáx e PEmáx correlacionaram-se
significativamente com a força de preensão palmar.
É importante deixar claro, que na maior parte dos
estudos encontrados nas literaturas, nãose aborda
diretamente a esta temática entre “valores de PImáx e PEmáx
com a força de preensão palmar”. Encontra-se citações
apenas de forma secundária, em que há uma relação entre as
forças estudadas.
Diante das lacunas encontradas com relação às
justificativas afirmações, entende-se que é necessário o
desenvolvimento de novas pesquisas na área, em que
correlacionem essasdiferentes variáveis de maneira mais
direta e precisa, e que sejam capazes de produzir evidências
verdadeiras e relativas ao tema investigado no presente
trabalho analisado.
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RESPIRATÓRIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
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655
VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DE INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA NEUROPEDIÁTRICA
CAPÍTULO 34
VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DE
INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE DE SERVIÇOS DE
FISIOTERAPIA NEUROPEDIÁTRICA
Emanuelle Silva de MÉLO1
Danyelle Nóbrega de FARIAS1
Kátia Suelly Queiroz Silva RIBEIRO2
1
Pós-Graduandasem Modelos de Decisão e Saúde, UFPB; 2Professora do DEF/UFPB.
eman_melo27@hotmail.com
1 INTRODUÇÃO
658
VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DE INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA NEUROPEDIÁTRICA
2 MATERIAIS E MÉTODO
659
VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DE INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA NEUROPEDIÁTRICA
instrumento, bem como a importância da contribuição de cada
um para com a pesquisa. Foi destacada ainda a
voluntariedade da participação, dando um prazo para que
fosse comunicado a decisão quanto à colaboração.Após a
aceitação, o instrumento elaborado e as instruções para
homogeneizar o processo de validação foram enviados. Todos
os procedimentos dessa etapa ocorreram por via eletrônica.
Aos juízes, foi concedido também o direito de sugerir
acréscimos, ajustes ou exclusão de itens, bem como ficaram
livres para realizar comentários ao longo do instrumento.
O questionário obtido, a partir da avaliação dos
especialistas, passou para a segunda etapa de avaliação: a
realização de um grupo focal, composto por responsáveis ou
cuidadores de crianças atendidas em um serviço de
reabilitação em fisioterapianeuropediátrica no município de
João Pessoa.
Para a seleção dos cuidadores, obedeceu-se aos
seguintes critérios de elegibilidade: ser mãe da criança em
atendimento pela fisioterapia no serviço, estar acompanhando
a criança no serviço há pelo menos 1 mês de reabilitação e
saber ler e escrever. O grupo foi composto por 6 mães.
A técnica de GF foi escolhida em virtude da apreciação
normativa com base na opinião dos usuários dos serviços, que
serão representados pelos cuidadores das crianças, para
julgarem os itens do instrumento mediante o objetivo de se
avaliar a qualidade dos serviços. O local para a realização do
grupo foi de fácil acesso para os participantes e foram
realizadosgravadorespara o registro do momento. O GF foi
conduzido após a permissão expressa de seus
membrosmediante a assinatura de um Termo de
Compromisso Livre e Esclarecido (TCLE).
660
VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DE INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA NEUROPEDIÁTRICA
Foi obedecidaa seguinte ordem na execução do GF: 1-
apresentação do tema, da equipe executora e do objetivo da
pesquisa; 2- Dinâmica de apresentação das mães (com
identificação da mãe e da criança, diagnóstico clínico do filho,
tempo que a criança realiza fisioterapia e fisioterapia no
serviço da entrevista); 3- Discussão a partir dos seguintes
questionamentos: “O que um serviço precisa oferecer para ser
de qualidade?” e “Vocês acham importante o tema da nossa
pesquisa? Por quê?” – desse modo, instigando o
posicionamento das mães para iniciar a discussão sobre a
temática em estudo; 4- Apresentaçãoda justificativa e da
relevância da pesquisa – optou-se por não apresentar
previamente aos questionamentos anteriores, para não
influenciar nas respostas relacionadas à importância de se
investigar a qualidade dos serviços; 5- Exposição deaspectos
para ganhar a atenção das mães no grupo, como, por
exemplo: reforçar o fato de que elas foram selecionadas para
representar a todos os responsáveis/cuidadores que
acompanham as crianças aos serviços de reabilitação; frisar a
importância da atenção delas a cada dimensão e item do
instrumento; esclarecer que elas se sintam à vontade para
questionar frente a qualquer dúvida que surja durante a
exposição do instrumento); 6- Exposição do instrumento; 7-
Questionamento final (“o que vocês acham a respeito da
quantidade de itens do questionário?”; 8- Agradecimentos e
momento com lanche.
A exposição do instrumento ocorreu por meio de
apresentação em Power Point (2010) via datashow e foi
executada da seguinte forma: 1- foram expostas as instruções
gerais do instrumento para situar frente ao processo de
avaliação dos itens; 2- exposição de cada dimensão com seus
661
VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DE INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA NEUROPEDIÁTRICA
respectivos aspectos. Nesta última fase, foi realizada uma
explicação sobre cada dimensão, para que as mães
pudessem fazer as possíveis associações com seus
respectivos aspectos, que por sua vez, posteriormente, foram
avaliados conforme os seguintes critérios: clareza, grau de
importância para avaliar qualidade do serviço, grau de
representação frente ao domínio. Os aspectos foram expostos
dois a dois e enumerados na ordem do instrumento, para
facilitar a visualização e leitura. Esse processo foi repetido
para as três dimensões do instrumento. De modo que, ao
término de cada dimensão, ao finalizar a avaliação de cada
item, foi solicitado às mães sugestões em relação à
modificação e/ou acréscimo de algum item na dimensão, caso
necessário.
Todo o diálogo e mediação do roteiro do GF ficou sob
responsabilidade de um moderador. Outros pesquisadores
estavam na sala da entrevista para dar suporte nas
assinaturas do TCLE, na gravação e na transcrição da
avaliação dos itens do instrumento em um roteiro de
instruções semelhante ao enviado para os especialistas.
A pesquisa foi conduzida obedecendo à resolução
466/12, considerando o envolvimentode seres humanos.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
662
VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DE INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA NEUROPEDIÁTRICA
Essa etapa de validação torna-se importante para
verificar se o instrumento engloba aspectos voltados para o
seu objeto de interesse, além de avaliar a coerência aparente
entre o que se deseja medir e o instrumento de medida
escolhido (COLUCI; ALEXANDRE; MILANI, 2015; PILATTI;
PEDROSO; GUTTIERZ, 2010; RAYMUNDO, 2009).
A primeira fase dessa etapa de validação consistiu na
avaliação de especialistas, que, conforme Coluci, Alexandre e
Milani (2015), trata-se uma etapa fundamental no
desenvolvimento de novos instrumentos de medida, uma vez
que permite avaliar os conceitos abstratos do instrumento,
indicando se os itens escolhidos para a sua construção
representam, de fato, os domínios ou constructos que
sepretende avaliar dentro do mesmo.
Participaram da avaliação 5 profissionais especialistas
na área de conhecimento, em serviços de reabilitação
neuropediátrica e/ou avaliação de serviços, estando em
consonância com outros estudos, que indicam a realização
desse tipo de avaliação por um comitê composto de cinco a
dez juízes ou especialistas na área do conhecimento abordada
no instrumento (ALEXANDRE; COLUCI, 2011; HYRKAS;
APPELQVIST-SCHMIDLECHNER; OKSA, 2003).
Todos os especialistas selecionados para a participação
do estudo aceitaram o convite enviado via meio eletrônico.
Imediatamente a aceitação, foram enviados o roteiro com as
instruções específicas sobre o procedimento de análise do
instrumento, o formulário de avaliação e o próprio instrumento.
De acordo com Salmond (2008), o envio de instruções
informando sobre os procedimentos da avaliação permite
facilitar e homogeneizar o processo de validação de conteúdo
entre os juízes.
663
VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DE INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA NEUROPEDIÁTRICA
Quatro especialistas aceitaram prontamente em
participar da pesquisa, porém, houve dificuldade em conseguir
a confirmação do quinto profissional, o que implicou no atraso
para a finalização dessa etapa, que durou cerca de três
meses. Foi estabelecido um prazo de até 15 dias para o
retorno da avaliação, o que foi cumprido pelos especialistas.
Dificuldades em alcançar o número de especialistas em tempo
hábil também foram encontradas no estudo de Mendonça et
al. (2017), que consistiu na elaboração e validação de um
instrumento de avaliação do autocuidado para pacientes com
diabetes mellitus tipo 2.
Os juízes avaliaram o instrumento conforme a clareza e
a aplicação dos itens, frente à avaliação dos serviços, bem
como a pertinência dos mesmos, para avaliar aquilo que é
proposto no estudo: a qualidade dos serviços. Logo, cada
tópico foi avaliado, de acordo com a representatividade dos
critérios supracitados, mediante ao que se pretende estudar.
Corroborando, assim, com outros estudos que indicam a
análise da clareza e da relevância dos aspectos que compõem
o instrumento, implicando na avaliação da pertinência ou
representatividade dos itens (PILATTI; PEDROSO;
GUTTIERZ, 2010; MCGILTON, 2003; RAYMUNDO, 2009).
Nesse sentido, os itens foram julgados como
representativos, parcialmente representativos ou não
representativos (Apêndice D). A escala de instruções
apresentava ainda um espaço para que os avaliadores
pudessem fazer comentários construtivos e sugestões para
melhorias nos itens, uma vez que, segundo Rubio e
Colaboradores (2003), os especialistas estão aptos a sugerir a
inclusão ou a eliminação de itens ao longo do questionário.
664
VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DE INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA NEUROPEDIÁTRICA
Em relação à primeira parte do instrumento que se
refere à caracterização da criança e de seu
responsável/cuidador, ambas as caracterizações também
foram avaliadas separadamente. Tanto em relação à parte de
caracterização da criança como dos responsáveis/cuidadores,
houve 60% de concordância total com os itens, enquanto que
40% dos especialistas concordaram parcialmente. Porém, em
ambas as situações, foram dadas sugestões para modificar a
escrita, bem como para acrescentar itens ao instrumento.
Para o primeiro domínio do questionário, Dimensão
Organizacional, houve uma taxa de concordância total e
parcial dos itens, entre os 5 especialistas, de 71,43% a
92,86% e 7,14% a 21,43%, respectivamente. Apenas dois
especialistas julgaram 14,29% dos itens com não
concordância. Porém, em ambas as situações houve
sugestões para modificação na escrita, de modo a promover
maior clareza na leitura, inclusão e exclusão de itens. Para os
itens expostos a seguir, considerar o instrumento elaborado
antes da validação (Apêndice B).
Entre as sugestões dadas pelos especialistas nesta
dimensão, pode-se citar:
20% dos especialistas sugeriram desmembrar o item 10
(“Localização deste serviço (considerar distância e
tempo gasto para se chegar neste serviço”) em dois
itens distintos (“Localização deste serviço” e “Tempo
gasto para chegar a este serviço”); modificar a escrita
para maior especificidade do item 7 (“Adequação do
horário de atendimento”) para (“Adequação do horário
de atendimento às necessidades das crianças”), bem
como a migração desse item para a Dimensão
Interpessoal (item 30);
665
VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DE INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA NEUROPEDIÁTRICA
40% dos especialistas sugeriram a avaliação para a
retirada dos itens 1, 2, 3, 8 e 10 dessa dimensão, com a
justificativa de serem aspectos que poderiam sofrer
influência de fatores externos e que, portanto, não
dependem apenas do serviço que será avaliado.
Porém, a sugestão não foi acatada, uma vez que os
fatores descritos nos itens foram identificados como
relacionados à qualidade dos serviços, de acordo com a
revisão sistemática realizada conforme supracitado. E
ainda em virtude da solicitação por um número inferior a
50% dos especialistas.
Para a Dimensão Interpessoal, a taxa de concordância
total a respeito da representatividade do domínio de acordo
com os itens, entre os 5 especialistas, variou entre 68,18% e
100%. E a concordância parcial, entre 7,14% e 31,82%.
Apenas 2 especialistas (40%) sugeriram a não concordância,
porém, notificando apenas um item (4,55%).
Dentre as sugestões e adequações dos itens,
destacaram-se:
O acréscimo do item (“Disponibilidade de dispositivos
de higiene das mãos nos diversos ambientes”) em
sequência ao item referente à “Limpeza do ambiente
(sala de espera, sala de atendimento, banheiros,
ambiente de entrada, etc)”, como sugerido por 20% dos
especialistas; a modificação da escrita de itens também
foi acatada, a exemplo do item “Presença de extintores
de incêndio” para “Existência de saídas de emergência
sinalizadas em caso de incêndio neste serviço” e do
item “Como você avalia a sua relação com este
serviço?” para “Como você avalia a sua satisfação com
este serviço”;
666
VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DE INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA NEUROPEDIÁTRICA
O item “Cor das paredes no ambiente de atendimento”
foi ampliado para “Disponibilidade de um ambiente de
atendimento apropriado para a criança”. Outros itens
também foram ajustados para deixá-los mais
específicos, como “Disponibilidade de assentos na sala
de espera”, sugerido por 40% dos especialistas, e
“Oferta de água para beber”, sugerido por 20%.
Nesse domínio, todas as sugestões foram acatadas,
não havendo exclusão de itens, apenas ajustes na escrita e
inclusão de mais tópicos.
Na Dimensão Técnica, terceiro e último domínio do
instrumento, observou-se uma maior taxa de concordância
total entre os especialistas, variando de 82,61% a 100% de
aceitação dos itens, em que 60% dos especialistas
concordaram com todos os itens. A taxa de concordância
parcial foi de 8,70% e de não concordância variou entre 4,35%
e 13,04%.
Nesse domínio, foram consideradas as seguintes
adequações, dentre outras:
Alteração do item: “Criatividade no atendimento da
criança por parte do(s) Fisioterapeuta(s)” por
“Diversidade de recursos e técnica no atendimento da
criança por parte do(s) Fisioterapeutas(s) neste
serviço”, como sugestão de 20% dos especialistas;
Exclusão dos itens: “Coparticipação do
responsável/cuidador durante o atendimento da criança”
por apresentar sentido semelhante ao item
“Apoio/Incentivo à coparticipação do
responsável/cuidador na reabilitação da criança por
parte do(s) Fisioterapeuta(s)”; “Presença de macas,
camas ou tatames no ambiente de atendimento deste
667
VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DE INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA NEUROPEDIÁTRICA
serviço”, por se encaixar no item “Disponibilidade de
recursos no atendimento da criança (Bola suíça, rolo,
brinquedos, etc)”, logo, também ficaria repetitivo.
As sugestões foram analisadas conforme orientações
dos especialistas e acatadas, de acordo com a pertinência das
colocações. A Tabela (1) mostra mais detalhadamente a
avaliação realizada por cada especialista em relação aos
domínios e itens propostos para o instrumento.
668
VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DE INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA NEUROPEDIÁTRICA
concordância não 31 e 36 (D2) e do
concordância item 53 (D3);
- Exclusão do
item 55 (D3).
Especialista 3 - 78,57% de - 100% de - 100% de - Ressaltou que
concordância concordância concordância os itens 1, 2 e 3
total total total (D1) são
-21,43%de pertinentes, mas
concordância que não
parcial dependem
exclusivamente
da organização
dos serviços.
Especialista 4 - 87,71% de - 86,36% de - 82,61% de - Ajuste na escrita
concordância concordância concordância dos itens 5, 7, 11
total total total e 12 (D1); e dos
-14,29%de - 9,09% de - 13,04% de itens 20, 23, 27 e
não concordância não 33 (D2)
concordância ´parcial concordância - Migração dos
- 4,55% de itens 7, 46, 47 e
não 51 para D2 e do
concordância item 33 para D3;
-Acréscimo do
item “Atenção
do(s)
Fisioterapeuta(s)
às necessidades
básicas da
criança”;
- Exclusão do
item 45, unindo-o
ao item 43 (D3).
669
VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DE INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA NEUROPEDIÁTRICA
não avaliado;
concordância - Ajuste na escrita
dos itens 24, 31
(D2) e 53 (D2);
- Inclusão dos
itens “Adaptação
dos ambientes
para pessoas
com deficiência”
(D1) e
“Preocupação
do(s)
Fisioterapeuta(s)
em conhecer o
contexto familiar
da criança” (D3);
Inserção da
identificação dos
recursos
utilizados no item
53 (D3).
Fonte: Dados da pesquisa, 2017
670
VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DE INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA NEUROPEDIÁTRICA
GF. Esse método tem sido aplicado em estudos como sendo
parte do processo de validação de instrumentos e vem sendo
realizado, em alguns casos, após a etapa de avaliação dos
especialistas, tratando-se, portanto, de uma estratégia
adequada para pesquisas que buscam compreender alguns
aspectos mediante uma experiência grupal. O GF contribui
para a identificação de tópicos relevantes para englobar os
domínios que compõem o construto, além de promover ideias
de como os itens devem ser estruturados (DIAZ, 2006;
KINALSKI et al., 2017; MENDONÇA et al., 2017).
Participaram 6 mães, cuidadoras principais, que
atendiam aos critérios de elegibilidade definidos e indicados
na seção de metodologia O número de participantes está de
acordo com o estudo de Pizzol (2004), que ressalta a
quantidade ótima de 6 e 15 membros, devendo escolher um
tamanho que permita a participação efetiva de todos os
participantes, contribuindo para uma discussão adequada
sobre o tema (PIZZOL, 2004). A amostra, portanto, foi
homogênea em termos de características que possam
interferir na percepção do assunto em foco e composta de
indivíduos que convivem com o assunto a ser discutido
(BARBOUR; KITZINGER, 1999). O GF foi realizado em uma
sala organizada especialmente para esse momento.
Trad(2009) ressalta a importância de um local para a
realização do grupo que seja neutro e de fácil acesso para os
participantes, conforme procedeu-se nessa pesquisa.
O grupo foi composto por mães com idade entre 33 e
40 anos. Dentre os diagnósticos dos filhos, destacou-se a
Síndrome de Down (33,33%). Outras condições clínicas
identificadas foram: prematuridade, macrocefalia e paralisia
cerebral. Em apenas um dos casos (16,67%) não havia
671
VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DE INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA NEUROPEDIÁTRICA
diagnóstico clínico fechado. Em relação à realização da
fisioterapia, 50% das crianças estão em reabilitação há menos
de 6 meses, 16,67% em um ano e 33,33% há mais de um ano.
De acordo com o tempo que as mães acompanham seus
filhos à fisioterapia no serviço da Clínica de Fisioterapia Infantil
da UFPB, o menor e o maior período foram de,
respectivamente, um mês (16,67%) e nove anos (16,67%).
Inicialmente, de acordo com a mediação do GF, o
moderador apresentou a equipe responsável pela execução
do mesmo. Logo após, foram apresentados os objetivos do
estudo, mediante a exposição da elaboração e validação do
instrumento, frisando a importância da colaboração delas
frente à representação de todas as outras mães ou
responsáveis/cuidadores das crianças que dependem do
serviço de fisioterapia para a sua reabilitação. A atuação do
moderador como facilitador do debate é importante para o
bom funcionamento do encontro, a partir de uma perspectiva
argumentativa, de modo a mediar todas as etapas da reunião,
devendo retomar, sempre que necessário, o foco da discussão
em grupo (BACKESet al., 2011; KINALSKI et al., 2017).
Para situá-las sobre a temática, foram realizados,
primeiramente, os seguintes questionamentos: questão 1- “O
que um serviço precisa oferecer para ser de qualidade?”;
questão 2 – “Vocês acham importante o tema da pesquisa?”.
Questões reflexivas para envolver os participantes do grupo
focal frente ao tema também foram implementadas em outros
estudos, visando incentivar à participação imediata de todos
(BOMFIM TRAD, 2009; DIAZ, 2006; KINALSKI et al., 2017;
VILAR et al., 2014).
De acordo com a questão 1, foram identificados como
fatores importantes para se avaliar a qualidade dos serviços: a
672
VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DE INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA NEUROPEDIÁTRICA
presença de “bons profissionais”; a disponibilidade de
equipamentos/recursos/brinquedos que auxiliem no processo
de reabilitação, que sejam adaptados para todas as faixas
etárias da infância; uma maior frequência no atendimento pela
fisioterapia; o acolhimento dos profissionais do serviço,
inclusive “desde a recepção”; a atenção e o cuidado dos
profissionais no lidar com os cuidadores; bem como as
informações prestadas aos cuidadores sobre a condição e a
evolução da criança.
Em relação à questão 2, todas as cuidadoras
confirmaram a importância da preocupação em se avaliar a
qualidade dos serviços de reabilitação em fisioterapia,
relatando não ter passado por nenhuma entrevista acerca do
tema anteriormente. Nesse tópico, foi pontuada ainda a
necessidade de escuta que as mesmas apresentam por parte
dos serviços, relatando a importância da “existência de mais
momentos como esse” para que elas possam se posicionar
mais vezes frente às condições dos serviços. Em sequência,
foram apresentadas a justificativa e a relevância da pesquisa.
A ordem das etapas a serem seguidas no GF fica a critério do
moderador responsável pela pesquisa, não havendo uma
regra para se obedecer nesse sentido (DIAZ, 2006).
Logo após, ocorreu a exposição do instrumento, de
acordo com cada domínio ou dimensão. À medida que as
dimensões foram apresentadas, seus respectivos itens foram
avaliados, que por sua vez ocorreu mediante o julgamento da
clareza, da importância para se avaliar a qualidade dos
serviços e da aplicação desses itens à respectiva dimensão
(MCGILTON, 2003; RAYMUNDO, 2009).
Os itens foram expostos dois a dois, chegando-se ao
consentimento por parte das mães de que havia clareza em
673
VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DE INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA NEUROPEDIÁTRICA
todos os aspectos abordados, de modo que todas
compreenderam a escrita com facilidade, corroborando com
os resultados encontrados por Mendonça et al. (2017).
Consideraram, ainda, todos os itens importantes para se
avaliar a qualidade dos serviços de fisioterapia
neuropediátrica, estando em consonância com seus
respectivos domínios.
Dentre os itens discutidos, houve relatos de experiência
em relação às dificuldades já enfrentadas para se conseguir
vagas nos serviços, bem como nos encaminhamentos
realizados por esses serviços. Relataram ainda as dificuldades
no deslocamento até o serviço de reabilitação, sobretudo, as
mães que dependiam de transporte coletivo. Outro aspecto
citado como prejudicial à reabilitação da criança foi a
rotatividade de fisioterapeutas, uma vez que, com as trocas de
profissionais em alguns serviços, as crianças precisam se
adaptar à mudança e construir novos vínculos, podendo
influenciar na evolução do tratamento recebido no serviço.
Após a exposição dos itens, foi relatado que muitos dos
aspectos nem eram do conhecimento das cuidadoras frente ao
julgamento da qualidade desses serviços. No entanto,
confirmaram a importância de cada aspecto do instrumento
para melhorias nos serviços de reabilitação.
Em relação aos ajustes no instrumento, foi sugerido o
acréscimo da investigação pela preocupação dos
fisioterapeutas em conhecer o caso/a história clínica da
criança, uma vez que, com essa investigação, asmães
relataram sentir mais confiança na conduta que será
realizadapor esses profissionais. Em discussão com o grupo,
esse aspecto foi acatado e implementado juntamente ao item
52 Quadro (5), do Domínio (2), referente á dimensão técnica
674
VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DE INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA NEUROPEDIÁTRICA
do instrumento, passando a ser reescrito da seguinte forma:
“Preocupação do(s) Fisioterapeuta(s) em conhecer o contexto
clínico e familiar da criança (história clínica, condições de
moradia, adaptação do ambiente para as necessidades
especiais, etc)”.
Para o alcance de resultados efetivos, a etapa de
planejamento do GF foi fundamental, de modo a se atentar
para atender aos critérios de composição, às ferramentas e à
operacionalização da reunião, estando, portanto, em
conformidade com o estudo de Kinalskiet al. (2017).
Em relação à quantidade de itens, as mães julgaram
como suficiente para o estudo, tendo em vista a importância
de cada um dos aspectos citados no instrumento.
4 CONCLUSÕES
675
VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DE INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA NEUROPEDIÁTRICA
O instrumento validado, em relação ao conteúdo,
fornece condições para ser aplicado ao público-alvo,
cuidadores ou responsáveis das crianças que realizam
fisioterapia neuropediátrica nos serviços, e será validado,
posteriormente, por meio de análises estatísticas, garantindo
maior confiabilidade e finalizando o processo de validação do
mesmo.
Com o instrumento validado, espera-se trazer
resultados da qualidade de serviços de fisioterapia
neuropedipatricaque por ele sejam avaliados, de modo a
contribuir para melhorias nesses serviços. Além disso, poderá
contribuir para a elaboração de novos instrumentos,
destinados a outros fins.
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681
EDUCAÇÃO FÍSICA:
FISIOLOGIA DO
ESPORTE,
TREINAMENTO E
ATUAÇÃO EM
SAÚDE
682
CARACTERÍSTICAS DA FORÇA MUSCULAR, AGILIDADE, FLEXIBILIDADE E
COMPOSIÇÃO CORPORAL EM ESCOLARES DO SEXO MASCULINO
CAPÍTULO 35
CARACTERÍSTICAS DA FORÇA
MUSCULAR, AGILIDADE, FLEXIBILIDADE E
COMPOSIÇÃO CORPORAL EM
ESCOLARES DO SEXO MASCULINO
1 INTRODUÇÃO
684
CARACTERÍSTICAS DA FORÇA MUSCULAR, AGILIDADE, FLEXIBILIDADE E
COMPOSIÇÃO CORPORAL EM ESCOLARES DO SEXO MASCULINO
quandocomparados com aqueles em que sua idade biológica
encontra-se tardia. (Fundação Vale, UNESCO, 2013; VITOLO,
2008).
A principal forma de manifestação do crescimento e do
amadurecimento está no aumento da estatura e da massa
corporal. Esses fatores afetam diretamente no
desenvolvimento motor e na força muscular (MALINA, 2009;
SANTOS, 2012).
Em virtude disso, a agilidade é uma qualidade física
desempenhada pela prática esportiva que depende
diretamente da produção de força muscular, velocidade,
coordenação motora e da capacidade de reação do individuo.
(COLEDAM, D.H.C.; ARRUDA, G.A.; SANTOS, J.W.;
OLIVEIRA, A.R., 2013). Assim, quando as crianças praticam
algum esporte por interesse próprio, a possibilidade de
desenvolverem essas qualidades físicas é maior do que as
que não praticam (Fundação Vale, UNESCO, 2013). Podemos
definir, portanto, agilidade como a realização de trocas rápidas
de direção e/ou de sentidos de modo eficaz e ligeiro (RIGO,
1977).
Ainda sobre mudanças que ocorrem durante o
amadurecimento da criança e do adolescente, a flexibilidade é
uma qualidade física que tem como função a capacidade de
realizar movimentos em certas articulações com um
determinado limite de amplitude (DANTAS, 1999).Cada ser
humano possui níveis de flexibilidade distintos, definido pela
própria rigidez do tecido.Nas crianças e adolescentes, esta
variável atinge um ponto máximo, sendo preciso trabalhá-la
para que a mesma não regrida gradualmente com a
progressão da idade, sobretudo nos meninos em
consequência do ganho de massa muscular nos membros
685
CARACTERÍSTICAS DA FORÇA MUSCULAR, AGILIDADE, FLEXIBILIDADE E
COMPOSIÇÃO CORPORAL EM ESCOLARES DO SEXO MASCULINO
superiores e inferiores.(Fundação Vale, UNESCO, 2013).
Existem vários aspectos que restringem a flexibilidade como
pele, o tecido conjuntivo, e a gordura corporal
excessiva(SHARKEY, 1998). As lesões ocorrem devido à um
esforço maior do que o limite articular pode suportar, com isso,
uma boa flexibilidade irá permitir movimentos de grande
amplitude e consequentemente diminuir o risco de lesões
(DANTAS, 1999).
A composição corporal é um dos fatores mais
perceptíveis em relação ao desenvolvimento das crianças,
podendo ser um indicador de patologias. O ato de avaliar se
insere no contexto tanto quantitativo como qualitativo. Ela
implica classificação e interpretação do processo de
desenvolvimento da criança.Uma avaliação correta e precoce
irá diagnosticar alterações nutricionais, no crescimento e
desenvolvimento da criança, e possíveis enfermidades futuras
(FOUNTOURA, ABECH, FORMENTIN, 2008). O excesso de
gordura no corpo, avaliado precocemente pode ser um fatorde
extrema importância para prevenir diversas doenças em
crianças obesas, e principalmente evitar que este individuo
não se torne um adulto obeso. (GUEDES & GUEDES, 1998).
A obesidade na adolescência se associa também a alterações
posturais e funcionais decorrentes do excesso de peso,
favorecendo o surgimento de complicações ortopédicas.
(VITOLO, 2008).
É sabido que as crianças possuem desenvolvimento
físico, mental e corporal distintos,independente da idade
cronológica, assim, incentivados por estas alterações, foi
verificado que o objetivo deste estudo foi descreveras
características de algumas qualidades físicas básicas como
686
CARACTERÍSTICAS DA FORÇA MUSCULAR, AGILIDADE, FLEXIBILIDADE E
COMPOSIÇÃO CORPORAL EM ESCOLARES DO SEXO MASCULINO
força muscular, agilidade, flexibilidade e composição corporal
em escolares de 06 a 12 anos do sexo masculino.
Este assunto será amplamente abordado durante o
desenvolvimento da pesquisa, buscando um maior
envolvimento dos conhecimentos técnicos e científicos diante
à realidade vivida pelos alunos em seu ambiente escolar.
Foram feitas várias avaliações, onde, segundo
Sant’anna (1995), serviram de base para facilitar o diagnóstico
e a interpretação dos resultados. Estas avaliações serão
compostas de testes validados que tenha uma fidedignidade e
objetividade relevantes para esta pesquisa.
2 MATERIAIS E MÉTODO
687
CARACTERÍSTICAS DA FORÇA MUSCULAR, AGILIDADE, FLEXIBILIDADE E
COMPOSIÇÃO CORPORAL EM ESCOLARES DO SEXO MASCULINO
aceitassem participar voluntariamente da pesquisa, que
estivessem em perfeitas condições de saúde para a realização
das avaliações, que os responsáveis assinassem o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE, e por fim, os
voluntariados, assinassem o termo de assentimento. Para
tanto, foram considerados os seguintes critérios de exclusão:
os alunos que possuíam alguma deficiência física, que não
compareceram no dia da coleta de dados, que se encontrava
fazendo algum tratamento medicamentoso que influenciasse
nos resultados das avaliações, que não tivessem se
alimentado bem durante o dia, e que tivessem praticado
qualquer tipo de exercício físico no dia da avaliação.
As avaliações ocorreram no próprio ambiente escolar
das crianças, e durante as aulas de educação física. Foram
realizados vários testes, entre eles: a plataforma de salto
Jump System Pro da CEFISE® (GUEDES, 2006) para
avaliação da força de membros inferiores; teste de flexo-
extensão de cotovelos sobre o solo ou flexão de braço
(Pollock e Wilmore, 1993) para análise da força de membros
superiores; ShuttleRun ou Corrida de Vai-e-Vem (JOHNSON E
NELSON, 1979) para análise da agilidade; Banco de Wells
(JOHNSON E NELSON, 1979) para medição da flexibilidade,
e por fim, avaliação da composição corporalabrangendo
massa corporal total, estatura, percentual de gordura, massa
magra e massa gorda através do protocolo de Lohman (1987).
No procedimento experimental, primeiramente foi
encaminhado à carta de anuência a diretoria da escola,
informando-os o objetivo da pesquisa a metodologia a ser
realizada, e que a mesma,respeita todos os preceitos
estabelecidos no Estatuto da criança e do adolescente.
688
CARACTERÍSTICAS DA FORÇA MUSCULAR, AGILIDADE, FLEXIBILIDADE E
COMPOSIÇÃO CORPORAL EM ESCOLARES DO SEXO MASCULINO
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e
Pesquisa com seres Humanos no Centro Universitário de João
Pessoa – PB com o número do parecer 645.414 de
12/05/2014.
Após as avaliações, foram utilizados os dados da força
de membros inferiorespara calcularmos a força relativa, onde
resulta da potência (W) encontrada dividida pela massa
corporal total (kg). Foi realizado o mesmo procedimento para
calcularmos a força relativa de membros superiores,
resultando da força resistente (Rep)encontrada dividida pela
massa corporal total (kg). Posteriormente, foi calculada a
amplitude total através dos dados obtidos da força relativa de
ambos os membros. Subtraindo-se o maior valor pelo menor
valor obtido. As classes foram geradas baseando-se na Regra
de Sturges que podemos verificar através da fórmula K = 1 +
3,3 * log(n). Posteriormente, alcança-se a amplitude dos
intervalos das classes (h), determinadas pelo produto da
divisão entre a amplitude total (At) e as classes (K).
689
CARACTERÍSTICAS DA FORÇA MUSCULAR, AGILIDADE, FLEXIBILIDADE E
COMPOSIÇÃO CORPORAL EM ESCOLARES DO SEXO MASCULINO
Legenda:FR_MMII= Força relativa de membros inferiores; FR_MMSS=
Força relativa de membros superiores.
Foi alcançado, portanto, quatro classes para ambos os
resultados da força relativa, onde foram distribuídos em
tabelas, e classificados conforme o seu nível de força,
podendo ser de fraco à excelente. É importante ressaltar que,
apesar dos grupos serem iguais, não necessariamente o
mesmo indivíduo estará classificado no mesmo nível com
relação à força de membros superiores e inferiores.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
690
CARACTERÍSTICAS DA FORÇA MUSCULAR, AGILIDADE, FLEXIBILIDADE E
COMPOSIÇÃO CORPORAL EM ESCOLARES DO SEXO MASCULINO
Figura 1. Classificação dos grupos relacionados à força
relativa de membros inferiores e superiores
79
64
19 23
11
0 2 2
G1 G2 G3 G4
691
CARACTERÍSTICAS DA FORÇA MUSCULAR, AGILIDADE, FLEXIBILIDADE E
COMPOSIÇÃO CORPORAL EM ESCOLARES DO SEXO MASCULINO
G4 6 6 6 20,9 20,9 20,9 120 120 120
Legenda: Max = Máximo; Mín= Mínimo; G1=Fraco; G2= Regular; G3=
Bom; G4= Excelente.
692
CARACTERÍSTICAS DA FORÇA MUSCULAR, AGILIDADE, FLEXIBILIDADE E
COMPOSIÇÃO CORPORAL EM ESCOLARES DO SEXO MASCULINO
Tabela 4. Valores referentes a composição corporal em
relação à força relativa de membros inferiores
694
CARACTERÍSTICAS DA FORÇA MUSCULAR, AGILIDADE, FLEXIBILIDADE E
COMPOSIÇÃO CORPORAL EM ESCOLARES DO SEXO MASCULINO
G4 34,7 34,7 34,7 6,09 6,09 6,09 9,19 9,19 9,19
695
CARACTERÍSTICAS DA FORÇA MUSCULAR, AGILIDADE, FLEXIBILIDADE E
COMPOSIÇÃO CORPORAL EM ESCOLARES DO SEXO MASCULINO
No estudo de Arruda et al (2008), foi constatado que as
crianças consideradas mais velhas em se tratando da idade
cronológica, apresentaram um maior desempenho em
algumas avaliações.
Esses resultados divergem da presente pesquisa, onde
pode-se observar (Tab. 2 e Tab. 5) que na maioria dos casos,
as crianças mais novas se sobressaíam em relação as mais
velhas em determinadas avaliações. É válido ressaltar que a
idade ainda exerce uma participação importante nos
resultados.
De acordo com o estudo de Arruda et al (2008), foi
constatado que os praticantes de futebol de 06 a 12 anos,
alcançaram um valor progressivo no teste shuttlerunde
agilidade,ou seja, as crianças consideradas mais velhas
cronologicamente, eram consideradas mais ágeis. Porém,
referentes ao presente estudo, às crianças que se
destacaram, ambas no G4, obtiveram uma idade cronológica
de 06 e 08 anos, respectivamente.
Vale ressaltar os resultados obtidos no estudo de
Arrudaet al (2008), onde uma criança de 12 anos do sexo
masculino, praticante de futebol, alcançou um tempo de
11,99”. Quando ao referenteestudo, o G4 (Tab. 3)realizou a
avaliação em 11,96” e que o G4 (Tab. 6), realizou o teste em
11,97”.
A partir dos resultados obtidos no estudo de Farias e
Salvador (2005), observa-se que os escolares que atingiram
um maior percentual de gordura (25,99%) apresentavam 13
anos de idade.
No estudo em debate, é importante destacar que
osgrupos G2, G3 e G4 (Tab. 4), e os grupos G1 e G4 (Tab. 7)
696
CARACTERÍSTICAS DA FORÇA MUSCULAR, AGILIDADE, FLEXIBILIDADE E
COMPOSIÇÃO CORPORAL EM ESCOLARES DO SEXO MASCULINO
alcançaram valores superiores em relação ao percentual de
gordura.
Este fator pode e deve ser discutido com mais clareza,
pois há uma série de avaliações que podem ser influenciadas
a partir deste resultado. Ou seja, se este indivíduo estiver
maturado mais rápido do que os outros meninos da mesma
idade, esta variável é diretamente afetada.
Na pesquisa de Saldanha et al (2006), foi notado que as
crianças de 9 anos de idade do sexo masculino, apresentaram
níveis elevados de adiposidade no corpo (20,6% de gordura).
Estes valores corroboram com o presente estudo, onde
foi observado que a maioria das crianças se encontram com
alta adiposidade no corpo. Na Tab. 7, podemos notar que o
G1, também com uma média de idade de 9 anos, apresentou
um valor bastante elevado em relação a gordura corporal
(30,77%).
Na Tab. 4 referente a força relativa de membros
inferiores, pode-se observar um caso ainda mais grave, ou
seja, o G1 e G2 obtiveram um percentual de gordura maior do
que no estudo de Saldanha et al (2006), 28,5% e 27,38%,
respectivamente.
Estes valores são inquietantes visto que o excesso de
gordura corporal na infância pode ocasionar diversos fatores
de risco, como doenças cardiovasculares, hipertensão, entre
outras (VITOLO, 2008). Bem como, ocasionar uma obesidade
na vida adulta (MALINA, 2009).
4 CONCLUSÕES
697
CARACTERÍSTICAS DA FORÇA MUSCULAR, AGILIDADE, FLEXIBILIDADE E
COMPOSIÇÃO CORPORAL EM ESCOLARES DO SEXO MASCULINO
sua maioria, encontram-se com alto percentual de gordura
adiposa no corpo, porém, este fator não influenciou em
determinadas avaliações, já que foi notado que os grupos
tiveram uma boa performance em relação a outros estudos.
Também foi diagnosticado que as crianças mais novas,
cronologicamente falando, obtiveram um melhor desempenho
nas avaliações. Apenas a avaliação da maturação biológica,
poderia interpretar adequadamente o desempenho motor das
crianças e adolescentes avaliadas, justificandotais resultados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
698
CARACTERÍSTICAS DA FORÇA MUSCULAR, AGILIDADE, FLEXIBILIDADE E
COMPOSIÇÃO CORPORAL EM ESCOLARES DO SEXO MASCULINO
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700
EXERCÍCIO FÍSICO, METABOLISMO E SAÚDE: Revisão
CAPÍTULO 36
701
EXERCÍCIO FÍSICO, METABOLISMO E SAÚDE: Revisão
Palavras-chave:Anaeróbico. Aeróbico. Alimentação.
1 INTRODUÇÃO
702
EXERCÍCIO FÍSICO, METABOLISMO E SAÚDE: Revisão
Com base nas informações acima expostas, objetivou-
se com este trabalho desenvolver uma revisão da literatura
sobre a interação entre exercício físico, alimentação e saúde.
2 MATERIAIS E MÉTODO
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
703
EXERCÍCIO FÍSICO, METABOLISMO E SAÚDE: Revisão
relacionadas ao risco cardíaco em adultos com sobrepeso
(LIMA et al, 2017).
Já é comprovado que a prática de exercícios físicos reduz
o estado inflamatório sistêmico, provocando obesidade,
melhorando a função sistêmica e restauração da sinalização
celular que culminam nas cascatas de reações bioquímicas
atreladas aos sistemas metabólicos como o da glicose, de
aminoácidos e ácidos graxos como fonte de energia.
(FRANÇA; SOUZA; MARQUES, 2017).
A curto prazo, o exercício físico aumenta o consumo de
glicose como substrato energético favorecendo um efeito
hipoglicemiante que se prolonga após o exercício físico por
horas. Porém, o consumo de glicose varia de acordo com o
tipo, intensidade e duração do exercício, podendo apresentar
efeito hipoglicemiante ou hiperglicemiante. Em diabéticos tipo
1, exercícios aeróbicos contínuos de baixa intensidade
favorecem o efeito hipoglicemiante rápido induzido pelo
exercício, ao passo que exercícios intermitentes de alta
intensidade reduzem esse efeito drástico hipoglicemiante,
havendo um leve aumento da glicemia no período de
recuperação após o exercício (LIMA et al, 2017).
É sabido que a obesidade, dentre tantos fatores, pode
ser ocasionada pelo desequilíbrio entre consumo de energia e
a utilização dessa energia. Porém, os mecanismos de
regulação do equilíbrio energético através da prática de
exercícios físicos dependem principalmente da integração de
sinais orexigênicos ou anorexigênico. Após a prática de
exercícios físicos, há um aumento da secreção de fatores
anorexigênicos e uma inibição da secreção de orexigênicos,
por exemplo, a grelina. Além de que, o efeito da exercício
físico sobre o consumo de energia é moderado por diversos
fatores, incluindo a intensidade do exercício e sua duração,
704
EXERCÍCIO FÍSICO, METABOLISMO E SAÚDE: Revisão
estado do treinamento, sexo, quantidade de gordura corporal,
inclusive temperatura ambiental no momento de realização da
atividade física (FAURE et al., 2016).
A redução da obesidade pode ser alcançada com a
combinação de intervenção dietética e exercício físico. Não
apenas a redução da obesidade, mas também a modificação
da composição corporal é resultado da prática de exercício
físico, evidenciando o aumento da massa muscular e perda de
massa gordurosa abdominal e visceral. É de fundamental
importância a programação da exercício físico, principalmente
sua intensidade, pois assim como o exercício aeróbico
intervalado é eficiente na perda de peso, o treinamento de
força também é capaz de promover mudanças metabólicas, a
depender da intensidade de realização dessas atividades.
Segundo o American College of Sports Medicine, o
treinamento de força em conjunto com o treinamento aeróbico
são indicados para a perda de peso. No entanto, o exercício
aeróbico intervalado (combinando intensidades moderadas
com vigorosas) apresenta resultados positivos nos parâmetros
da síndrome metabólica (COLL-RISCO et al, 2017).
A prática de exercícios físico retarda ou evitam o
agravamento de doenças que aparecem com o avanço do
envelhecimento, como as doenças cardiovasculares. Sendo
assim, sua prática aumenta a expectativa de vida (GUEDES et
al, 2016).
A prática de exercícios físicos com frequência e
intensidade moderada ocasiona benefícios ao organismo,
porém ao ultrapassarem os limites fisiológicos elevam a
produção de radicais livres de oxigênio, que geram o estresse
oxidativo celular. Na busca pelo equilíbrio desse mecanismo, é
comum o uso de suplementação de aminoácidos, vitaminas e
minerais que auxiliem a recuperação de lesões provocadas
705
EXERCÍCIO FÍSICO, METABOLISMO E SAÚDE: Revisão
pela atividade física intensa. Neste sentido, a prática de
ativiade física regular deve ser orientada com a intensidade
adequada, acompanhada de uma alimentação equilibrada afim
de reduzir os danos que tanto a inativadade física como a
atividade intense podem causar (Oliveira et al., 2017).
Burke et al. (2017), relatam que a redução do peso
corporal é mais eficaz quando há a combinação de exercício e
dieta com perda média de 12,4%, quando comparado apenas
a dieta, com redução média de 8,9% ou exercício físico que
perde em média 3,3% de forma isolada.
Em estudo realizado por Santos e Benetti (2016),
constatou-se que grupos que receberam orientações
nutricionais e plano alimentar individualizado, demonstraram
reduções de peso,de circunferência da cintura e percentual de
gordura corporal.
706
EXERCÍCIO FÍSICO, METABOLISMO E SAÚDE: Revisão
do adolescente, possivelmente melhor controle glicêmico em
adolescentes com diabetes tipo 1.
No estudo desenvolvido por Coll-Risco et al.
(2017),onde se investigou os efeitos de exercícios de intervalo
aeróbico combinados com treinamento de resistência atrelado
a restrição calórica e seu reflexo sobre o peso corporal final e
composição corporal de ratos geneticamente obesos. Foi
observado que os grupos com restrição calórica consumiram
30% menos alimentos que os grupos ad libitum, bem como
redução no peso corporal final.Além disso, foram observadas
interações de restrição calórica versus treinamento em massa
muscular e água corporal total. Sendo observado maior valor
de massa muscular e água corporal nos animais que
combinaram o protocolo de treinamento com a restrição
calórica. Ou seja, o programa de exercicios de intervalo
aeróbio combinado com o programa de treinamento de
resistência e a restrição calórica promoveram melhoria na
composição corporal em ratos obesos, no entanto, o exercício
acentuou a melhoria.
Miranda Neto et al. (2017), ao investigar se uma única
dose de chá verde ingerido por pacientes hipertensos antes de
realização de uma sessão de exercício poderia melhorar o
pós-exercício, verificou que melhora a hipotensão pós-
exercício (HPE). A redução na pressão sanguínea foi maior no
grupo que recebeu placebo e fez o exercício (PLE) aos 10, 20
e 30 minutos pós-exercício em comparação ao grupo que
recebeu chá verde aliado ao exercício (CVE), o mesmo, ainda
apresentou resposta diastólica hipertensiva, enquanto no dia
PLE, a hipotensão pós-exercício diastólica foi constata
somente aos 20 minutos pós-exercício. Não foram observadas
mudanças nas concentrações de malondialdeído e nitrito em
resposta ao exercício. Sendo assim, a suplementação com
707
EXERCÍCIO FÍSICO, METABOLISMO E SAÚDE: Revisão
chá verde antes de uma sessão de exercício aeróbico pode
atenuar a hipotensão pós-exercício sistólica e induzir resposta
hipertensiva ao exercício aeróbico em pacientes hipertensos.
Em estudo desenvolvido com mulheres idosas, para
avaliar os efeitos de um programa de treinamento combinado
de força e resistência aeróbica sobre a força de preensão
manual, a massa muscular, a resistência e potência aeróbica,
sugeriu que um programa de treinamento combinado é eficaz
para ocasionar aumentos de massa muscular, potência e
resistência aeróbica de idosas, sendo o treinamento de
resistência aeróbica ou força realizado duas vezes por
semana, programados separadamente (GUEDES et al., 2016).
Em um estudo utilizando ratas SHR com hipertensão
espontânea onde foi avaliado os efeitos de uma sessão de
exercício resistido dinâmico sobre a pressão arterial, a
frequência cardíaca e sobre o duplo produto, constatou-se que
não houve mudanças na pressão arterial sistólica, diastólica e
média durante os 60 minutos pós-exercício. Todavia, houve
diminuição da frequência cardíaca e normalização do duplo
produto durante o período de recuperação com relação ao
período basal. Desta forma, verificou-se que o exercício
resistido dinâmico de moderada intensidade promove redução
da frequência cardíaca associada à normalização do duplo
produto em ratas SHR. Sugerindo assim, controle do risco
cardiovascular após uma sessão de exercício resistido
dinâmico de moderada intensidade em pacientes hipertensos
(DIAS et al., 2017).
Böhm et al. (2017),ao investigar os efeitos agudos do
exercício aeróbio intradialítico sobre a remoção de solutos,
gasometria e estresse oxidativo em pacientes com doença
renal crônica durante uma sessão de hemodiálise. Verificou-se
que não houve modificações significantes na remoção de
708
EXERCÍCIO FÍSICO, METABOLISMO E SAÚDE: Revisão
solutos e no equilíbrio ácido-básico. A pressão parcial e a
saturação de oxigênio aumentaram com o exercício. A
capacidade antioxidante total diminuiu significativamente.
Concluindo que o exercício aeróbico intradialítico agudo
promoveu aumento da concentração sérica de fósforo e
diminuiu a capacidade antioxidante total, revertendo a
hipoxemia resultante da hemodiálise. O exercício intradialítico
não alterou o equilíbrio ácido-básico e a remoção de solutos.
A tabela 1 descreve as principais pesquisas
científicasencontradas durante a busca por trabalhos para
conclusão da presente revisão bibliográfica.
709
EXERCÍCIO FÍSICO, METABOLISMO E SAÚDE: Revisão
suplementação de
chá verde antes de
exercícios aeróbicos.
Diniz et al. Aeróbica vs Redução da gordura
2017 resistência e corporal total e na
treinamento vs pós- região central e
menopausa melhora no perfil
metabólico de
mulheres na pós-
menopausa.
Dias et al. Exercicio resistido vs Pessão arterial
2017 hipotensão em ratas sistólica, diastólica e
média são
indiferentes durante
os 60
minutos pós-
exercício. Houve
redução da
frequência cardíaca.
Calegari et Treinamento aeróbico Aumento significativo
al. 2017 vs insuficiência no consumo de
cardíaca oxigênio, da
frequência cardíaca,
pulso e oxigênio e
ventilação no limiar
de anaerobiose.
Guedes et Treinamento Houve aumentos de
al., 2016 combinado de força e massa muscular,
resistência aeróbica potência e resistência
vs força de preensão aeróbica de idosas
manual, massa quando realizado
muscular, resistência 2x/semana.
e potência aeróbica
Böhm et al., Exercício aeróbico Exercício aeróbico
2017 intradialítico vs intradialítico agudo
estresse oxidativo vs aumentou a
710
EXERCÍCIO FÍSICO, METABOLISMO E SAÚDE: Revisão
doença renal crônica concentração sérica
de fósforo e diminuiu
a capacidade
antioxidante total,
revertendo a
hipoxemia resultante
da hemodiálise.
Fonte: Própria.
711
EXERCÍCIO FÍSICO, METABOLISMO E SAÚDE: Revisão
corpo, em decorrência de apresentarem baixo peso corporal e
considerarem seu treino como intenso.
Em estudo no qual foi avaliado o uso de suplementos
alimentares, consumo alimentar e conhecimento nutricional de
praticantes de exercícios físicos, verificou-se que 31,7% dos
pesquisados faziam uso de algum tipo de suplemento
alimentar, desta porcentagem 78,9% eram de homens. Sendo
o maior consumo atribuído a aminoácidos ou concentrados
protéicos. Quando questionados sobre a indicação do uso,
foram relatados por profissional Educação Física, seguida de
autoindicação. Quanto as dietas pode-se constatar a
prevalência de dietas do tipo hipoglicídica, hiperprotéica e
hiperlipídica. Por parte da população foi constatado pouco
conhecimento sobre conceitos básicos na área de nutrição e
dificuldade quando se relacionou alimento e fontes
(MOREIRA; RODRIGUES, 2014).
Resende et al. (2016) ao avaliar os efeitos da
suplementação de óleo de coco sobre a composição corporal
e perfil lipídico de ratos submetidos ao exercício físico,
constatou que o óleo de coco associado ou não ao exercício
físico promove piora nos parâmetros lipídicos, como
triglicerídeos e níveis de VLDL-c, mostrando o cuidado com o
uso de suplementos lipídicos.
Em um estudo usando camundongos para se verificar o
potencial de um protocolo de treinamento de natação e da
suplementação de creatina sobre alterações nos níveis
sanguíneos de lactato, foi observado uma diminuição nos
níveis sanguíneos de lactato nos grupos que realização
natação e no grupo natação e recebeu creatina. Concluindo
que a suplementação de creatina associada ao protocolo de
treinamento potencializou a redução no acúmulo dos níveis
sanguíneos de lactato (FERNANDES; FERREIRA, 2016).
712
EXERCÍCIO FÍSICO, METABOLISMO E SAÚDE: Revisão
No estudo desenvolvido por Silva et al. (2017) onde se
verificou o nível de consumo de recursos ergogênicos e
suplementos alimentos por homens nas academias de
musculação na cidade de Ubá-MG, onde também se avaliou a
utilização e o conhecimento sobre os mesmos, constatou-se
que 83,1% dos avaliados apresentaram conhecimento sobre
os produtos, 76,3% afirmaram o consumo de recursos
ergogênicos e/ou suplementos alimentos, onde, a maioria
relatou fazer uso de forma contínua (44,4%), com o objetivo de
melhorar o treinamento (68,9%). Foram citados o Whey
Protein (83,1%) e a Albumina (62,7%) como os produtos
maisconhecidos e consumidos. Concluiu-se com o estudo que
recursos ergogênicos e os suplementos alimentares estão
sendo utilizados de forma exagerada, e sem acompanhamento
adequado, podendo levar a prejuízos à saúde.
Santos e Farias (2017) estudando o consumo de
suplementos nutricionais por parte de praticantes de exercício
físico na cidade Salvador-BA, constatou que dos
entrevistados, 92 afirmaram consumir ou terem consumido
algum tipo de suplemento. Sendo o BCAA e o Whey Protein
os mais consumidos, sendo 37% com tempo de uso de menos
de seis meses e 67% de frequência de quatro a seis vezes na
semana. A justificativa para o consumo de suplementos foi de
hipertrofia.
Em estudo no qual foi analisado o consumo de
suplementos nutricionais e a eficácia de um plano de
acompanhamento nutricional individualizado em praticantes de
musculação. Constataram um alto número e a variedade de
suplementos consumidos, sendo a frequência do consumo de
três ou mais suplementos combinados. O Whey protein foi o
mais citado (27%,), sendo este consumo indicação na grande
maioria por amigos (53%) (BERTOLETTI; SANTOS, 2016).
713
EXERCÍCIO FÍSICO, METABOLISMO E SAÚDE: Revisão
Oliveira e Faicari (2017) quando em sua pesquisa
avaliaram a ingestão alimentar e de suplementos por
praticantes de musculação. Seus resultados mostraram que
62,75% dos participantes correspondiam ao gênero masculino
e 37,25% do gênero feminino, apresentando idade média
avaliada de 30,9 anos, 46% dos participantes faziam uso de
suplementação e 9% procuraram orientação de um
nutricionista. Houve diferença no percentual de gordura
corporal entre os gêneros e que em relação ao consumo total
diário, houve diferenças significativas de proteínas e
carboidratos para os que utilizam suplementos, ocorrendo uso
indiscriminado dos mesmos.
Damasceno, (2017) desenvolvendo um estudo para
conhecer o uso de suplementos alimentares por atletas
adolescentes de diferentes modalidades esportivas. Verificou-
se que em todas as modalidades são consumidos
suplementos a base de carboidratos (39,8%) e que na natação
são usados todos os tipos de suplementos estudados. Dos
138 atletas investigados, 34,1% relataram não consumir
qualquer tipo suplemento nutricional, a maioria dos que
relataram o consumo, alegaram a ingestão com o objetivo de
aumentar o desempenho esportivo ou foram influenciados pela
mídia e nunca apresentaram qualquer efeito colateral.
Concluindo-se com base nas informações que os suplementos
nutricionais esportivos estão presentes em todas as
modalidades esportivas estudas na referida pesquisa, com
destaque para natação.
Em um estudo com o objetivo de verificar os
suplementos alimentares que são utilizados na atualidade e
destacar o mais consumidos. Verificou-se que o principal
motivo para a utilização de suplementos estava relacionado
com o aumento de massa muscular, com indicação de uso
714
EXERCÍCIO FÍSICO, METABOLISMO E SAÚDE: Revisão
principalmente por professores e treinadores. Mesmo com a
diversidade os suplementos mais consumidos são as
proteínas e aminoácidos e, na maioria das vezes, com o intuito
de aumentar a massa muscular e melhorar sua recuperação
(FERREIRA et al., 2016).
4 CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
715
EXERCÍCIO FÍSICO, METABOLISMO E SAÚDE: Revisão
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716
EXERCÍCIO FÍSICO, METABOLISMO E SAÚDE: Revisão
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717
PARKOUR, SAÚDE E DESEMPENHO HUMANO
CAPÍTULO 37
718
PARKOUR, SAÚDE E DESEMPENHO HUMANO
1 INTRODUÇÃO
719
PARKOUR, SAÚDE E DESEMPENHO HUMANO
Por meio da web as primeiras fontes do parkour
também chegaram ao Brasil e a Paraíba, em meados dos
anos de 2004 e 2006 respectivamente. A partir disso, foram
sendo formados grupos, predominantemente de adolescentes,
que se reuniam para treinar uma prática inovadora e pouco
sistematizada.
Usando como instrumento de transposição apenas o
seu corpo, a movimentação típica do parkour está presente
nas possibilidades corporais da ginástica, que são saltar,
equilibar, rolar/girar, trepar e balançar. Segundo Gil (2010) a
elaboração de uma pesquisa depende de inúmeros fatores; o
primeiro e mais importante deles refere-se à natureza do
problema. Em nosso trabalho o ponto de investigação utilizado
se forma em torno de inquietações em relação ao parkour,
saúde e desempeno humano. Sendo assim, levantamos a
seguinte questão: quais as publicações científicas nacionais
que relacionam o parkour a saúde e ao desempenho humano?
2 MATERIAIS E MÉTODO
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
722
PARKOUR, SAÚDE E DESEMPENHO HUMANO
Minha história começa em Lisses, França, onde,
quando criança, eu e meus amigos simplesmente
começamos a seguir nosso desejo natural de
correr, pular e brincar; encontramos maneiras
diferentes de nos locomover pela nossa cidade
natal, ao invés de andar nas calçadas como todos
faziam. Nós pulávamos em paredes, grades,
pequenos postes... Mas, enquanto a maioria das
pessoas abandona estas brincadeiras quando
chega a idade adulta, nós continuamos.
(FOUCAN, 2009, pag. 4).
725
PARKOUR, SAÚDE E DESEMPENHO HUMANO
O parkour na sua gênese foi definido por seus pioneiros
como a prática de se deslocar do ponto A ao ponto B, sempre
prezando pela eficiência do movimento, rapidez e fluência. As
influências de métodos de treinamento militares sobre o
parkour vão além da contribuição da essência do parkour e
seu lema. O próprio nome da prática advém do método de
treinamento militar francês Parcours Du Combatant (Percurso
dos Combatentes), muito praticado até os dias de hoje por
militares do mundo inteiro em formas semelhantes:
728
PARKOUR, SAÚDE E DESEMPENHO HUMANO
No parkour existe um sendo irmandade, ele torna os
praticantes irmãos e irmãs em todas as partes do mundo, não
importa o idioma falado, a cor da sua pele, se você é velho ou
jovem, forte ou fraco (GERMAIN, 2009).
É evidente que qualquer pessoa pode praticar o
parkour, porém em linhas gerais os praticantes de parkour são
predominantemente adolescentes, jovens adultos e das
classes média e alta. Essa realidade acontece devido ao
acesso a informação e internet, que é o principal meio de
divulgação da informação.
O parkour se configura como uma prática urbana,
devido ao seu berço ter sido os subúrbios parisienses. Porém
também é possível se praticar o parkour em ambiente natural,
pois o princípio do parkour é a transposição de obstáculos e
onde tiver um desafio físico a ser superado um traceur poderá
estar presente tentando ultrapassá-lo.
A intenção do parkour é elaborar sequências de
movimentos que vão de um ponto “A“ a um ponto “B” com o
objetivo de chegar ao destino final o mais rápido possível,
preservando o corpo e executando movimentos fluentes.
Durante o percurso, que pode ser pré-definido ou aleatório,
podem surgir diferentes tipos de obstáculos e o ambiente
perfeito para a prática é o contexto urbano das grandes:
prédios, calçadas, bancos, corrimão, muros, estruturas
metálicas, cabos de aço, portões, parques, praças, pedras
grandes, fossos, concreto e etc. tudo isso pode se tornar um
obstáculo para um traceus e se configurar como um local de
treino.
Um problema enfrentado por muitos praticantes é o
preconceito sofrido em relação ao uso dos espaços para
treino. De um modo geral o parkour é algo novo e muitas
pessoas que o vêem de fora não recebem a prática
729
PARKOUR, SAÚDE E DESEMPENHO HUMANO
amistosamente e a julgam como vandalismo, inutilidade, algo
destrutivo e etc. Segue o relato de Andrade (2009):
730
PARKOUR, SAÚDE E DESEMPENHO HUMANO
PARKOUR COMO MEIO CONHECIMENTO
DE DESENVOLVIMENTO MULTIDISCIPLINAR
DE FORÇA EM NÚCLEO DO
MEMBROS INFERIORES CONHECIMENTO
E SUPERIORES NO
ÂMBITO ESCOLAR
T3 JÚNIOR, C. D. PARKOUR: SOCIEDADE
A.; SANTOS, G. MENSURAÇÃO DO BRASILEIRA DE
N.; FERREIRA,
METABOLISMO MEDICINA DO
A. C.; RIBAS,
M. R.; ENÉRGETICO EXERCÍCIO DO
BASSAN, J. C. MORFOFISIOLÓGICO DE ESPORTE
SEUS PRATICANTES
T4 LEITE, N.; PERFIL DE APTIDÃO SOCIEDADE
JUNIOR, R. S.; FÍSICAS DOS BRASILEIRA DE
CIESLAK, F.;
PRATICANTES DE LE MEDICINA DO
INSHIYAMA,
M.; MILANO, G. PARKOUR EXERCÍCIO DO
E.; ESPORTE
STEFANELLO,
J. M.
731
PARKOUR, SAÚDE E DESEMPENHO HUMANO
movimentos que aprimora o desenvolvimento e aprendizagem
motora, acredito que a sua iniciação traz resultados
importantes e significativos na agilidade, equilíbrio, força,
flexibilidade e que estimula a criação de estratégias para as
diversas situações problemas apresentados durante sua
prática em circuitos e possivelmente um avanço no raciocínio
dos alunos.
O trabalho T3 chegou a síntese nos resultados obtidos,
observou-se que os praticantes de parkour possuem baixos
níveis de percentual de gordura que sugere níveis de massa
magra apropriados para uma desejada aptidão física, o que
provavelmente proporcionará bons níveis de força e melhora
da eficiência mecânica. Em relação ao acúmulo de gordura, a
dobra do abdômen foi a que apresentou os maiores valores,
devido aos homens possuírem um modelo androide de
distribuição de gordura. Analisando o comportamento do
lactato, da glicose e da intensidade submáxima da frequência
cardíaca, os dados obtidos sugerem que esta modalidade é
uma atividade anaeróbia glicolítica, porém com aporte do
metabolismo aeróbio. No intuito de um monitoramento
metabólico mais eficaz para o parkour, um adendo
interessante seria verificar o comportamento dos triglicerídeos
e sua demanda metabólica durante a prática da modalidade
O trabalho T4 concluiu que a partir dos resultados
encontrados neste estudo, sugere-se que o parkour, por ser
uma atividade acíclica com ênfase em saltos e atividades de
força nos braços, ocasionou melhores valores nos testes de
impulsão horizontal, vertical e força de membros superiores.
Entretanto, as demais variáveis avaliadas estavam abaixo da
média, o que deve ser considerado na prescrição de
exercícios e no acompanhamento dos indivíduos durante a
732
PARKOUR, SAÚDE E DESEMPENHO HUMANO
prática da atividade. Sugerem-se novos estudos com amostras
maiores e controle de treinamento dos praticantes de parkour.
4 CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
734
ANATOMIA E
FISIOLOGIA
HUMANA
735
ASSOCIAÇÃO ENTRE SÍNDROME METABÓLICA (SM) E SEUS
COMPONENTES COM A CONDIÇÃO SOCIOECONÔMICA DE ADOLESCENTES
MATRICULADOS NA REDE PÚBLICA DE ENSINO EM JOÃO PESSOA – PB
CAPÍTULO 38
1 INTRODUÇÃO
737
ASSOCIAÇÃO ENTRE SÍNDROME METABÓLICA (SM) E SEUS
COMPONENTES COM A CONDIÇÃO SOCIOECONÔMICA DE ADOLESCENTES
MATRICULADOS NA REDE PÚBLICA DE ENSINO EM JOÃO PESSOA – PB
registrou prevalência de 25,8% pelo critério do Adult
Treatment Panel III of the National Cholesterol Education
Program (NCEP ATP III) e 5,2% pelo critério da Organização
Mundial de Saúde (OMS) (STRUFALDI, SILVA e PUCCINI,
2008) e em outros estudos tem sugerido que a etiologia da SM
em indivíduos jovens está ligada ao excesso de peso corporal,
destacando-se as contribuições dos estudos de Ferreira,
Oliveira e França (2007) com prevalência de 17,3% em
crianças com obesidade e no estudo realizado por Souza,
Leme e Franco (2007) no Brasil, onde a SM esteve presente
em 40% dos adolescentes obesos e apenas 4% dos
adolescentes com sobrepeso e obesidade.
A mesma tem sido objeto crescente de preocupação em
todo o mundo, uma vez que esta relacionada com o aumento
do risco de doenças cardiovasculares, mesmo após o ajuste
por outros determinantes clássicos das DCV, e que podem
permanecer na fase adulta (HUNT et al.; MALIK et al., 2004).
A condição socioeconômica (CSE) apresenta-se como
uma importante variável na aquisição, manutenção e bem-
estar de saúde, obtendo grande influência no comportamento
das pessoas, facilitando o acesso a alimentos hipercalóricos e
outras facilidades que ocasionam alterações metabólicas,
obesidade e sedentarismo, mas em contrapartida a baixa
escolaridade dificulta o acesso a informações preventivas a
estas condições contribuindo para o desenvolvimento de SM
(DRENOWATZ et al., 2010).
Alguns estudos populacionais (MCLAREN, 2007;
TAMAYO, HERDER e RATHMANN, 2010) evidenciam que
crianças pertencentes às famílias de CSE baixa têm um maior
risco de desenvolver obesidade, hipertensão arterial e
738
ASSOCIAÇÃO ENTRE SÍNDROME METABÓLICA (SM) E SEUS
COMPONENTES COM A CONDIÇÃO SOCIOECONÔMICA DE ADOLESCENTES
MATRICULADOS NA REDE PÚBLICA DE ENSINO EM JOÃO PESSOA – PB
dislipidemias ocasionando doenças cardiovasculares (DCV)
em comparação com as crianças de maior poder aquisitivo.
Na pesquisa realizada de Leitão e Martins (2012)
buscando investigar a relação da SM e CSE com usuários de
duas Unidades básicas de Saúde da cidade de São Paulo –
SP constataram que ao residir no bairro de baixo nível
socioeconômico ocasiona o aumento de 2,3 vezes à chance
de desenvolver a SM e corroborando o estudo de Rodrigues et
al. (2009) que envolveu adolescentes de escolas públicas
brasileiras encontraram associações positivas com a
prevalência da SM.
Analisar a associação da condição socioeconômica com
a SM permite identificar adolescentes de estratos
socioeconômicos que possam estar em risco de serem
acometidos por doenças crônicas associadas à SM, bem
como seus componentes e assim decidir sobre a melhor
tomada de decisão frente às ações no âmbito da saúde
pública. Portanto o objetivo desse estudo foi verificar a
possibilidade de associação entre o nível socioeconômico e a
prevalência de SM e seus componentes em adolescentes
matriculados na rede pública de ensino em João Pessoa – PB.
2 MATERIAIS E MÉTODO
739
ASSOCIAÇÃO ENTRE SÍNDROME METABÓLICA (SM) E SEUS
COMPONENTES COM A CONDIÇÃO SOCIOECONÔMICA DE ADOLESCENTES
MATRICULADOS NA REDE PÚBLICA DE ENSINO EM JOÃO PESSOA – PB
fundamental II de escolas estaduais e municipais no município
de João Pessoa-PB, e de ambos os sexos.
A amostra foi selecionada por conglomerados em
estágio único com probabilidade proporcional ao tamanho dos
mesmos. Foram selecionadas sistematicamente 28 escolas,
distribuídas proporcionalmente por tipo, tamanho e região
geográfica no município.
Para determinar o tamanho da amostra foi utilizada a
população de referência na cidade de João Pessoa – PB
(9.520 adolescentes do 6º ano) segundo o censo escolar do
município no mesmo ano regularmente matriculado,
considerando os seguintes parâmetros: prevalência do
desfecho igual a 50% intervalo de confiança de 95%, erro
absoluto aceitável de quatro pontos percentuais e efeito de
desenho (deff) igual a 2. Com base nesses parâmetros, o
tamanho mínimo da amostra ficou estabelecido em 1.130
adolescentes, número que foi acrescido de 40% para
compensar possíveis perdas e recusas no decorrer dos quatro
anos do estudo, resultando em uma amostra final de 1.600
adolescentes.
Para o presente estudo foi determinada uma
subamostra para exame de sangue seguindo os mesmo
critérios da seleção da amostra principal do estudo
LONCAAFS. A subamostra coletada representou 48,68% da
população total, totalizando 779 adolescentes. Foram
sorteadas aleatoriamente as escolas para realização do
exame de sangue e acelerometria, onde todos os alunos
foram convidados a participar.
Para coleta de dados utilizou-se um questionário
previamente testado e validado no ano anterior ao estudo,
740
ASSOCIAÇÃO ENTRE SÍNDROME METABÓLICA (SM) E SEUS
COMPONENTES COM A CONDIÇÃO SOCIOECONÔMICA DE ADOLESCENTES
MATRICULADOS NA REDE PÚBLICA DE ENSINO EM JOÃO PESSOA – PB
contendo as seguintes variáveis: identificação pessoal gênero,
data de nascimento, cor da pele, escolaridade do pai e da mãe
e a quantidade de bens e de empregados na residência. Para
determinar a classe econômica dos adolescentes foi estimada
por meio dos Critérios de Classificação Econômica do Brasil,
segundo a metodologia da Associação Brasileira das
Empresas de Pesquisa – ABEP (2014), estabelecidas em
2011, dividida em 8 categorias (A1, A2, B1, B2, C1, C2, D, E).
Após esta classificação a amostra foi novamente subdividida
em condição socioeconômica alta (CSEA: A1, A2, B1 e B2) e
condição socioeconômica baixa (CSEB: C1, C2, D e E).
Para a avaliação antropométrica, as medidas peso,
estatura e a circunferência abdominal foram tomadas em
triplicata, considerando a média para a análise e sendo
realizada sempre pelo mesmo avaliador seguindo a
padronização descrita por Lohman, Roche e Martorell (1988).
A classificação do estado nutricional se deu através do Índice
de Massa Corporal (IMC) por idade, de acordo com SISVAN.
A classificação da circunferência abdominal seguiu os
pontos de corte de Daniels, Koury e Morrison (2000). O peso
foi aferido em balança digital, com precisão de 100 gramas
(marca Techline). A estatura foi mensurada em estadiômetro
portátil da marca Sanny® e uma fita métrica inelástica da
mesma marca utilizada para medir a circunferência abdominal.
A pressão arterial sistólica e diastólica foi aferida por
meio de um monitor de pressão arterial automático da marca
Omron HEM - 742INT. Dois tipos de manguitos foram
utilizados, possuindo dimensões apropriadas ao tamanho do
braço dos adolescentes (25 x 12 cm e 18 x 9 cm), seguindo
indicações do fabricante quanto ao uso e posicionamento dos
741
ASSOCIAÇÃO ENTRE SÍNDROME METABÓLICA (SM) E SEUS
COMPONENTES COM A CONDIÇÃO SOCIOECONÔMICA DE ADOLESCENTES
MATRICULADOS NA REDE PÚBLICA DE ENSINO EM JOÃO PESSOA – PB
mesmos no braço dos usuários. Para identificar pressão
arterial elevada, serão considerados os valores entre percentil
90 e 95 para idade, sexo e estatura, e como pressão alta,
valores iguais ou superiores ao percentil 95, seguindo os
pontos corte e pressupostos das VI Diretrizes Brasileiras de
Hipertensão Arterial (2010). Os adolescentes eram
questionados se estavam com bexiga cheia para não haver
alterações nos resultados.
A análise bioquímica (colesterol total, HDL-c, LDL-c,
triglicerídeos, glicose) foi determinada pelo método de
turbidimetria e para os exames foi utilizado o analisador
bioquímico automático Labmax 240 Premium, do fabricante
Labtest. A cada sequência de exame, era realizada a
calibragem do equipamento de análise para avaliar precisão
de estimativas. A coleta foi realizada na escola onde o
adolescente estava matriculado.
A equipe foi composta por duas técnicas de
enfermagem experientes em coleta de sangue e análise
laboratorial e por membros da equipe LONCAAFS.
A síndrome metabólica foi definida segundo critérios de
classificação por de Ferranti et al. (2004), quando três ou mais
componentes dos seguintes estiverem presentes: excesso de
peso corporal ou adiposidade central, hipertensão arterial,
dislipidemia [LDL-C e triglicérides elevados, e HDL-C reduzido]
e resistência à insulina.
Os parâmetros bioquímicos foram modificados para o
presente estudo seguindo a V Diretriz Brasileira de
Dislipidemias e Prevenção de Aterosclerose (2013) onde para
glicose bem como colesterol, LDL, HDL e triglicerídeos foram
categorizados em: alterado seguindo os parâmetros de
742
ASSOCIAÇÃO ENTRE SÍNDROME METABÓLICA (SM) E SEUS
COMPONENTES COM A CONDIÇÃO SOCIOECONÔMICA DE ADOLESCENTES
MATRICULADOS NA REDE PÚBLICA DE ENSINO EM JOÃO PESSOA – PB
Glicose > 110 mg/dL, Triglicerídeos > 100 mg/dL, LDL > 100
mg/dL, Colesterol > 150 md/dL, HDL < 50 mg/dL e desejável
para os valores inferiores aos citados e superior para o HDL.
Inicialmente, os dados foram digitados no programa
EpiData 3.1, l e posteriormente transferidas para um pacote
estatístico (StatisticalPackage for Social Sciences (SPSS 22.0
for Windows®). Em seguida realizou uma análise descritiva, a
partir das medidas de tendência central média ± desvio padrão
(M ± DP). Foi feito o teste de normalidade de
KolmogorovSmirnov, tendo em vista o tamanho da amostra. A
partir da normalidade aplicou-se o teste Qui-quadrado a fim de
associar a prevalência de SM e seus componentes com a
condição socioeconômica dos adolescentes, calculada a partir
da medida de associação, odds ratio (OR), com intervalos de
confiança de 95%.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em
Pesquisa com Seres Humanos do Centro de Ciências da
Saúde da UFPB obedecendo todos os procedimentos éticos
do Conselho Nacional de Saúde tendo sido aceito por meio do
registro de Certificado de apresentação para apreciação ética
(Protocolo 240/13). Os pais ou responsáveis legais pelos
adolescentes menores de 18 anos de idade assinaram termo
de consentimento livre para atestar a concordância da
participação do (a) filho (a) no estudo.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
743
ASSOCIAÇÃO ENTRE SÍNDROME METABÓLICA (SM) E SEUS
COMPONENTES COM A CONDIÇÃO SOCIOECONÔMICA DE ADOLESCENTES
MATRICULADOS NA REDE PÚBLICA DE ENSINO EM JOÃO PESSOA – PB
(55,7%) meninas e 345 (44,3%) meninos, sendo destes 60
meninos e 88 meninas na CSEA e 285 meninos e 346
meninas na CSEB, em sua maioria 552 (71.1%)
pardos/morenos, destes 106 na CSEA e 446 na CSEB com
idade entre onze (47 CSEA e 199 CSEB) e doze (62 na CSEA
e 243 na CSEB) anos em sua grande maioria. Em relação à
escolaridade de seus pais, grande parte dos adolescentes não
soube responder e em relação à série das mães, a maioria
dos adolescentes respondeu que as mesmas estudaram o
ensino médio completo (19,9%) e a maioria dos adolescentes
pertencem a condição socioeconômica baixa (81%). A tabela 1
evidencia a descrição das características gerais da amostra,
para melhor entendimento das variáveis.
744
ASSOCIAÇÃO ENTRE SÍNDROME METABÓLICA (SM) E SEUS
COMPONENTES COM A CONDIÇÃO SOCIOECONÔMICA DE ADOLESCENTES
MATRICULADOS NA REDE PÚBLICA DE ENSINO EM JOÃO PESSOA – PB
Analfabeto ou estudou
até 3ª série do 7 50 57 (7,3%)
fundamental 26 105 131 (16,9%)
4ª série fundamental 11 50 61 (7,0%)
Fundamental incompleto 14 33 47 (6%)
Fundamental completo 37 99 136 (17,5%)
Médio Incompleto Médio 2 10 12 (1,5%)
Completo Superior 9 25 34 (4,4%)
Incompleto Superior
completo
Série da Mãe
Não sabe
125 (16,04%)
Analfabeto ou estudou
7 38 45 (5,8%)
até 3ª série do
fundamental
7 37 44 (5,7%)
4ª série fundamental
22 131 153 (19,7%)
Fundamental incompleto
15 82 97 (12,5%)
Fundamental completo
19 81 100 (12,0%)
Médio Incompleto
35 120 155 (19,9%)
Médio Completo
8 24 32 (4,1%)
Superior Incompleto
8 20 28 (3,6%)
Superior completo
CSEA 148 0 148 (19%)
CSEB 0 631 631 (81%)
Fonte: elaboração própria
CSEB – Classe econômica baixa; CSEA – Classe econômica alta
PAS Segundo
percentil 75 0,762 –
1,638 0,202
Desejável 3,520
140 (19,5%) 577 (80,5%)
Alterado
8 (12,9%) 54 (87,1%)
HDL
0,581 –
Desejável 35 (20,5%) 136 (79,5%) 0,887 0,579
1,355
Não desejável 113 (18,6%) 495 (81,4%)
Triglicerídeos
0,669 –
Desejável 110 (19%) 38 468 (81%) 1,008 0,969
1,519
Alterado (18,9%) 163 (81,1%)
LDL 1,645 1,136 – 0,008*
746
ASSOCIAÇÃO ENTRE SÍNDROME METABÓLICA (SM) E SEUS
COMPONENTES COM A CONDIÇÃO SOCIOECONÔMICA DE ADOLESCENTES
MATRICULADOS NA REDE PÚBLICA DE ENSINO EM JOÃO PESSOA – PB
Desejável 95 (22,4%) 329 (77,6%) 2,383
Alterado 53 (14,9%) 302 (85,1%)
Colesterol
0,798 –
Desejável 64 (20,3%) 252 (79,7%) 1,146 0,461
1,646
Alterado 84 (18,1%) 379 (81,9%)
Fonte: elaboração própria
CCA - Classificação da Circunferência Abdominal
CSEB – Classe econômica baixa; CSEA – Classe econômica alta; OR – Odds ratio;
IC – Intervalo de Confiança; p – Nível de significância estatística a partir do teste
Qui-quadrado; PAS – Pressão Arterial Sistólica – * Variável estatisticamente
significativa.
A prevalência de SM foi encontrada em 24,48% dos
escolares pertencentes à CESB e em 14,18% dos escolares
da CSEA, apresentando um ODDS de 1,569 (IC: 0,951-2,588,
p= 0,076), e se considerando estatisticamente significativa ao
nível de 10% de significância, como demonstrado na tabela 3
abaixo.
747
ASSOCIAÇÃO ENTRE SÍNDROME METABÓLICA (SM) E SEUS
COMPONENTES COM A CONDIÇÃO SOCIOECONÔMICA DE ADOLESCENTES
MATRICULADOS NA REDE PÚBLICA DE ENSINO EM JOÃO PESSOA – PB
escolares na rede de ensino público do município de João
Pessoa pertencem a CSEB e que segundos os estudos de
Drenowats et al. (2010) e McLaren (2007) apresentam grupo
propenso a desenvolver estilo de vida sedentário e alterações
metabólica que tornam um fator importante ao
desenvolvimento de SM e 148 (19%) dos escolares pertencem
a CSEA.
Deve-se ressaltar que a etiologia da SM é composta por
diversos determinantes decorrentes da pobreza, onde
prevalece uma alimentação com alta densidade energética,
devido ao baixo custo (DREWNOWSKI e SPECTER; SILVA,
MARTINS e Araújo, 2004). Pode-se destacar ainda que a
baixa condição socioeconômica associa-se, ainda, a maiores
taxas de mortalidade por doenças cardiovasculares e a outros
fatores de risco como tabagismo, hipertensão, diabetes,
sedentarismo e sobrepeso (GOODMAN et al.; WEISS, 2004).
Os resultados apresentados aqui são preocupantes,
principalmente por se tratarem de jovens que apresentam
vários indicadores de doenças cardiovasculares e
considerando várias implicações para saúde no futuro e dessa
forma evidencia um problema de saúde publica que acomete
ambos os sexos, ressaltando a importância da intervenção
sobre o mesmo.
Com relação à escolaridade, a grande maioria dos
adolescentes não soube informar sobre a série dos seus pais
e/ou estudaram até ensino fundamental completo, o que
corrobora com os estudos de Tamayo, Herder e Rathman
(2010), Goodmam et al. (2004) e Weiss et al. (2004), que
apontam uma relação inversa entre a escolaridade e o risco de
chance de desenvolver a SM. Em um estudo realizado por
748
ASSOCIAÇÃO ENTRE SÍNDROME METABÓLICA (SM) E SEUS
COMPONENTES COM A CONDIÇÃO SOCIOECONÔMICA DE ADOLESCENTES
MATRICULADOS NA REDE PÚBLICA DE ENSINO EM JOÃO PESSOA – PB
Neumann et al. (2007) no município de São Paulo, sobre os
padrões alimentares registraram que o consumo de frutas e
verduras está restrito à população de áreas geográficas de
maiores níveis socioeconômico e de escolaridade.
A respeito da CA, o presente estudo evidenciou que
50,70% dos escolares apresentam alteração na CA, sendo
40,56% pertencentes à CSEB e 10,14% pertencentes à CSEA,
sendo considerados obesos e um dos componentes
importantes para diagnóstico da SM, considerado um fator de
risco para doenças cardiovasculares. Este fato corrobora com
o estudo transversal realizado por Maffeis et al. (2001) com
818 crianças italianas que constatou que esta medida
antropométrica estaria associada com a identificação de
dislipidemias e elevação de níveis pressóricos sendo portanto
propensas a ter um estilo de vida sedentária e apresentam
alterações lipídicas, diabetes tipo 2, hipertensão, sendo estes
últimos, componentes também presentes na SM.
No Brasil, o rápido crescimento na prevalência de
sobrepeso/obeso entre crianças e adolescentes vem
constituindo uma grande preocupação entre os profissionais
da área da saúde, uma vez que crianças obesas apresentam
maiores chances de se tornar adultos obesos e a vir
desenvolver doenças cardiovasculares na vida adulta
(BOUCHARD, 2000), além de que entre dez jovens obesos
são portadores de SM (FERREIRA, OLIVEIRA e FRANÇA,
2007). Este fato tem sido observado, nas últimas três décadas,
em populações jovens de diferentes países (WANG,
MONTEIRO e POPKIN, 2002).
Observa-se que nos países industrializados o
desenvolvimento de sobrepeso/obesidade entre populações
749
ASSOCIAÇÃO ENTRE SÍNDROME METABÓLICA (SM) E SEUS
COMPONENTES COM A CONDIÇÃO SOCIOECONÔMICA DE ADOLESCENTES
MATRICULADOS NA REDE PÚBLICA DE ENSINO EM JOÃO PESSOA – PB
jovens é mais acentuado nas classes econômicas mais
baixas, em contrapartida aos países em industrialização, como
o Brasil, que embora se observe uma taxa de crescimento
mais acentuada nas CSEB (VEIGA, CUNHA e SICHIERI,
2002), a maior ocorrência de sobrepeso e obesidade se dá
nos estratos socioeconômicos mais elevados (WANG,
MONTEIRO e POPKIN, 2002) como evidenciado nas cidades
e estudos como de Terres e colaboradores em Pelotas (2006),
Suñé e colaboradores em Capão da Canoa (2007), de Araújo
Nunes, Figueiroa e Alves em Campina Grande (2007) e
Campos, Leite e Almeida em Fortaleza (2006) e como
evidenciado no presente estudo onde a CSEB apresenta-se
como fator de proteção para desenvolvimento de Obesidade.
A investigação do Sobrepeso e obesidade em seus
fatores de risco constitui uma tarefa de alta complexidade,
uma vez que envolve o controle de variáveis de natureza
comportamental (prática habitual de atividade física, ingestão
alimentar, entre outras) que podem apresentar grandes
diferenças entre si nos diversos grupos populacionais
(MATSUZAWA, FUNAHASHI e NAKAMURA, 2011).
Outro componente para diagnostico da SM analisado
neste estudo foi a pressão arterial sistólica percentil 75,
correspondendo a 7,95% dos escolares com a variável com
parâmetro alterado e corrobora com a literatura onde os níveis
pressóricos são utilizados no diagnostico da SM e acomete
entre 0,8% a 8,2% das crianças e adolescentes cujos estes
estudos transversais (MATSUZAWA, FUNAHASHI e
NAKAMURA; BENMOHAMMED, 2011) associam a elevação
da pressão arterial com o estado nutricional, CA e cujas
famílias se encontram em maior risco social. O diagnóstico da
750
ASSOCIAÇÃO ENTRE SÍNDROME METABÓLICA (SM) E SEUS
COMPONENTES COM A CONDIÇÃO SOCIOECONÔMICA DE ADOLESCENTES
MATRICULADOS NA REDE PÚBLICA DE ENSINO EM JOÃO PESSOA – PB
hipertensão arterial e a sua inclusão como parâmetro na
detecção da SM deve levar em conta a idade, sexo e estatura
(VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, 2010).
Alguns autores (LUMA e SPIOTTA, 2006; ARAUJO,
LOPES e CAVALCANTE, 2008) trazem dados alarmantes da
prevalência e taxa de diagnostico de hipertensão em crianças
e adolescentes, que, a cada dia, vem aumentando. Esses
dados vêm ao encontro da realidade de nossos adolescentes,
pois foi constatado grande número de adolescentes com
pressão arterial alterada. No entanto, existe pouco
conhecimento acumulado na literatura sobre a evolução da PA
e o fator de risco na SM em jovens.
Quanto aos níveis de glicemia, somente doze
adolescentes apresentaram níveis acima da referencia, sendo
a CSEB a mais acometida, confirmando com o estudo de
Weiss et al. (2004) que afirma que essa alteração é muito rara
em crianças e adolescentes, mesmo acima do peso.
Importante salientar que os adolescentes pertencentes à
CSEB no presente estudo possuem 2,608 vezes mais chance
de desenvolver glicose alterada em comparação com as
crianças de maior poder aquisitivo, apresentando-se como
fator de risco para o seu desenvolvimento.
Ainda entre os componentes de diagnóstico da SM, no
presente estudo, as concentrações diminuídas de HDL-C
ocorreram em 63,54% dos escolares da CSEB, resultado
maior que o estudo transversal feito entre crianças e
adolescentes paulistanos que totalizaram 13,8% de
acometidos (ROMALDINI et al., 2002) e o estudo de Cruz et
al. (2014) que encontraram 18,8% entre as crianças e
adolescentes e no estudo de Leite et al. (LEITE et al., 2009)
751
ASSOCIAÇÃO ENTRE SÍNDROME METABÓLICA (SM) E SEUS
COMPONENTES COM A CONDIÇÃO SOCIOECONÔMICA DE ADOLESCENTES
MATRICULADOS NA REDE PÚBLICA DE ENSINO EM JOÃO PESSOA – PB
foram encontrados valores de HDL alterado em 21% nas
meninas e 31% nos meninos com peso adequado.
Os níveis aumentados de HDL-c diminuem o risco
relativo para a DCV, pela habilidade deste realizar o transporte
reverso do colesterol e prevenir a oxidação e agregação das
partículas de LDL-c na parede arterial, diminuindo o potencial
aterogênico desta lipoproteína. Segundo a American Diabetes
Association (2004) a redução do HDL correlaciona-se
diretamente com a elevação do risco cardiovascular,
independente dos níveis séricos de LDL ou de triglicerídeos,
onde para cada 1 mg de elevação em seus níveis, obtêm-se
redução de 2 a 3% no risco de desfecho coronário maior,
demonstrando o papel protetor do HDL o que vem sendo
demonstrado em vários outros estudos (2000).
As dislipidemias fatores componentes da SM são
alterações das concentrações de lipídios séricos, tais como
aumento do colesterol total, da lipoproteína de baixa
densidade (LDL-c), TG e bem como a redução da HDL-c
(FAIENZA et al., 2012). Os níveis de concentração de LDL,
colesterol total e Triglicerídeos alterados no presente estudo
foram respectivamente 45,22%, 25,82% e 59,51% dos
escolares que segundo Guimarães e Guimarães (2006) ao
realizar um levantamento dos principais aspectos
etiopatogênicos, epidemiológicos, clínicos, terapêuticos e
preventivos da síndrome metabólica, com enfoque na infância
e adolescência, relatam que a dislipidemia foi o principal
contribuinte para o aumento da síndrome metabólica em
crianças e adolescentes coreanos do sexo masculino,
acompanhados durante três anos.
752
ASSOCIAÇÃO ENTRE SÍNDROME METABÓLICA (SM) E SEUS
COMPONENTES COM A CONDIÇÃO SOCIOECONÔMICA DE ADOLESCENTES
MATRICULADOS NA REDE PÚBLICA DE ENSINO EM JOÃO PESSOA – PB
Em relação a LDL observou-se associação significativa
com a CSE o que corrobora com os achados de alguns
estudos (Goodman E, Daniels SR, Dolan GOODMAN,
DANIELS e DOLAN; CARVALHO et al., 2007) e têm
demonstrado a associação do aumento do LDL com o baixo
nível socioeconômico.
Estudos epidemiológicos13,47,48 (PHILLIPS et al.,
2010; WEE et al., 2011; LEITÃO e MARTINS, 2012)
comprovam associação entre os níveis altos de colesterol total
com a incidência das doenças arteriais coronarianas em
qualquer idade, estas alterações têm início geralmente na
infância e ocorrem silenciosamente, sendo a lesão
aterosclerótica somente diagnosticada na idade adulta. Este
mesmo resultado foi observado em estudo transversal
envolvendo 419 adultos com mais de 20 anos do leste de
Taiwan, na qual apontou que 19,3% destes acometidos pela
SM, desenvolveram-na infância e adolescência (JIN-DING-LIN
et al. 2013).
A presença de SM foi diagnosticada em 20,6% na
CSEB e 14,18% na CSEA, cuja relação entre CSE e SM tem
uma estreita relação visto que desvantagens econômicas são
preditivas para sua ocorrência entre crianças e adolescentes
(GOODMAN et al., 2004; KIVIMÄKI 2006; XU et al., 2012). Os
adolescentes pertencentes à CSEB no presente estudo
possuem 1,6 vezes mais chance de desenvolver SM em
comparação com as crianças de maior poder aquisitivo,
apresentando-se como fator de risco para SM. A relação entre
CSE e SM vem sendo alvo de investigações, na qual citam
que esta patologia pode se iniciar devido aos fatores de risco
expostos ao indivíduo, como uma baixa escolaridade,
753
ASSOCIAÇÃO ENTRE SÍNDROME METABÓLICA (SM) E SEUS
COMPONENTES COM A CONDIÇÃO SOCIOECONÔMICA DE ADOLESCENTES
MATRICULADOS NA REDE PÚBLICA DE ENSINO EM JOÃO PESSOA – PB
obesidade, alimentos calóricos, sedentarismo, perfil lipídico
alterado (RODRIGUES et al., 2009; PHILLIPS et al., 2010;
KASSI et al., 2011).
O presente estudo mostrou que a prevalência da SM na
maioria das crianças e dos adolescentes é semelhante ao
estudo realizado em Brasília por Ferreira, Oliveira e França5
com crianças obesas e com sobrepeso, que 17,3% das
crianças obesas apresentaram síndrome metabólica. Os
dados ainda diferem do que Cook et al. (2003) avaliaram a
síndrome metabólica em adolescentes americanos e
encontraram 4,2% de prevalência na população estudada,
enquanto que Agirbasli et al. (2006) observaram a presença
de síndrome metabólica em 2,2% em crianças e adolescentes
turcos.
Os resultados deste trabalho apontam para a
importância da atuação dos serviços de saúde e para a
necessidade de atividades relacionadas à educação em saúde
e políticas públicas para o público alvo e assim, estratégias de
intervenção devem ser pensadas já precocemente objetivando
a saúde em longo prazo.
A adoção precoce por toda a população de estilos de
vida relacionados à manutenção da saúde, tais como uma
alimentação saudável, prática de exercícios físicos, parar de
fumar, controle da pressão e perda de peso podem reduzir os
fatores de risco metabólicos (LIDFELDT, 2003).
Nesse sentido, mudanças nos hábitos alimentares e
adoção de um estilo de vida fisicamente mais ativo são
ferramentas de grande valia, bem como a identificação de
características da SM precocemente oferece a oportunidade
de intervenções no estilo de vida, prevenção e tratamento.
754
ASSOCIAÇÃO ENTRE SÍNDROME METABÓLICA (SM) E SEUS
COMPONENTES COM A CONDIÇÃO SOCIOECONÔMICA DE ADOLESCENTES
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4 CONCLUSÕES
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MATRICULADOS NA REDE PÚBLICA DE ENSINO EM JOÃO PESSOA – PB
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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760
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: UMA REVISÃO DE LITERATURA
CAPÍTULO 39
1 INTRODUÇÃO
762
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: UMA REVISÃO DE LITERATURA
Visando novas estratégias terapêuticas, diversas
alterações relacionadas à resposta imune no LES vem sendo
investigadas. Em destaque neste cenário estão os estudos
acerca das células T reguladoras (Tregs) em um importante
eixo do desenvolvimento da doença (CHAVELE;
EHRENSTEIN, 2011; MIYARA, et al., 2014).
Mutações no gene FOXP3 (crucial para o
desenvolvimento de células Tregs) acarretam quadros de
autoimunidade severa que podem levar o paciente a óbito
(WILDIN et al., 2002; VLIET; NIEUWENHUIS, 2007). Além
disso, a depleção de células Treg em murinos desencadeia
rapidamente quadros inflamatórios e reações autoimunes que
afetam múltiplos órgãos (KIM et al., 2007).
Atualmente sabe-se que a patogenia do LES envolve
funções aberrantes de diferentes tipos celulares que
promovem o processo inflamatório; incluindo fortes
desregulações na liberação de citocinas, quimiocinas e demais
mediadores da inflamação (PATHAK; MOHAN, 2011;
SQUATRITO, et al., 2014; MOHAN; PUTTERMAN, 2015).
Consideráveis avanços na terapêutica do LES derivam
de estudos que promovem uma melhor compreensão acerca
dos mecanismos da doença (STHOEGER, 2014). Portanto, o
presente estudo visa analisar os avanços na compreensão
acerca dos mecanismos subjacentes ao desenvolvimento do
LES, disponíveis na literatura, na perspectiva de contribuir
com a busca de novas abordagens terapêuticas para esta
doença.
2 MATERIAIS E MÉTODO
764
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: UMA REVISÃO DE LITERATURA
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
765
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: UMA REVISÃO DE LITERATURA
Figura 1. Paciente com Lúpus Eritematoso Sistêmico
767
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: UMA REVISÃO DE LITERATURA
mortalidade (Figura 2) (TURCHETTI et al., 2012; MOHAN;
PUTTERMAN, 2015).
769
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: UMA REVISÃO DE LITERATURA
IL-1β, IL-4, IL-18, TNF-α, IFN tipo I e BAFF (PATHAK;
MOHAN, 2011; MOHAN; PUTTERMAN, 2015).
Assim, ocorre uma amplificação da ativação de
linfócitos T e B autorreativos, em um feedback positivo para a
inflamação crônica e dano tecidual (PATHAK; MOHAN, 2011;
MOHAN; PUTTERMAN, 2015).
Pacientes com LES apresentam capacidade reduzida
no controle epigenético da expressão gênica. A hipometilação
do DNA de diversos genes conduz a superexpressão de
proteínas inflamatórias tais como IFNs, CD40L, CD70; bem
como está relacionada a desregulação da resposta imune com
alterações na composição e função das populações de
linfócitos TCD4+ (WEN, et al., 2007; ZHAO, et al. 2010;
DEVIN, et al., 2013).
Durante o processo normal de apoptose, antígenos
próprios são expostos transitoriamente para o meio
extracelular e rapidamente são internalizados por fagócitos.
Contudo, no LES observam-se tanto falhas nos mecanismos
de depuração celular quanto uma maior propensão a
apoptose; isto promove a exposição persistente de
autoantígenos que são reconhecidos por receptores TRLs das
células apresentadoras de antígenos (APCs) (SQUATRITO, et
al., 2014).
Em meio pró-inflamatório, receptores TRL7 e TRL9
reconhecem antígenos contendo segmentos de RNA e DNA,
respectivamente, e estimulam a produção de IFN tipo I e
outras citocinas que favorecem o processo inflamatório
(SQUATRITO, et al., 2014).
A partir da liberação de NETs
(neutrophilextracellulartraps), os neutrófilos também atuam
como fonte de antígenos contendo ácidos nucleicos e
peptídeos. Desta forma, as células apoptóticas e os neutrófilos
770
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: UMA REVISÃO DE LITERATURA
fornecem os ligantes críticos para a produção de interferons
do tipo I e estão no topo da cascata do mecanismo patogênico
da doença (GUPTA; KAPLAN, 2016; TSOKOS, et al., 2016).
A apresentação antigênica por moléculas do MHC inicia
a ativação de linfócitos TCD4+ que induzem a mudança de
classe, afinidade, maturação e diferenciação de linfócitos B em
plasmócitos com elevada secreção de autoanticorpos
(isotipoIgG). Estes autoanticorpos formam imunocomplexos e
aderem a proteínas do sistema complemento ou a receptores
Fcγ presentes em vários tipos celulares. Isto poderia justificar
o dano tecidual disseminado pelo organismo através do
recrutamento das células inflamatórias (CRAMPTON, et al.,
2014; ESMAEILI, et al., 2016)
A resposta imune mediada por linfócitos TCD4+ é
classicamente dividida em Th1 e Th2 que se distinguem pelo
perfil de citocinas secretadas e função. Contudo, novas vias
tais como Th17, Th22 e Th9 vêm sendo estudadas na
etiopatogenia do LES, e, anormalidades na homeostase de
diversas citocinas foram descritas, tais como secreção
alterada de IL-2, IL-4, IL-9, IL-10, IL-15, IL-17, IL-22, IL-23, e
IFN tipo I (SOKRATIS et al., 2011; OUYANG, et al., 2013; LIN,
et al., 2014; TALAAT et al., 2015). Principalmente nos
pacientes com a doença em atividade observa-se uma
distribuição dos linfócitos T desequilibrada, sendo mais
prevalente o perfil pró-inflamatório caracterizado por citocinas
e linfócitos das vias Th1 e Th17 (ESMAEILI, et al., 2016).
Alterações na homeostase das citocinas têm sido
apontadas como fortes indicadores das disfunções
relacionadas ao LES. Isto porque as citocinas são moléculas
protéicas secretadas tanto por células da imunidade inata
quanto da adaptativa que regem a resposta imune
(SOKRATIS et al., 2011; TALAAT et al., 2015)
771
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: UMA REVISÃO DE LITERATURA
Cada uma destas moléculas pode tanto gerar efeitos
pleiotrópicos quanto atuar em conjunto na convergência de
uma mesma ação. Desta forma, elas podem promover a
estimulação da resposta imune induzindo a proliferação,
ativação e quimiotaxia de diferentes fenótipos celulares; ou
provocar a supressão ao mediar ações antagônicas a
estimulação. Tais características projetam estas moléculas
como importantes biomarcadores do LES (RONNBLOM;
ELKON, 2010; SOKRATIS et al., 2011; TALAAT et al., 2015;
STYPIŃSKA; PARADOWSKA-GORYCKA, 2015; CARIDADE
et al., 2013).
Somada as modificações na homeostase das citocinas,
uma das características mais marcantes do LES é a produção
de autoanticorpos, o que a caracteriza como uma doença
dirigida por linfócitos B. Dada a típica elevação dos níveis de
IL-6 nos pacientes com LES, evidencias recentes indicam que
a produção de IL-6 por linfócitos B assume um papel central
na promoção da doença; iniciando de maneira espontânea a
formação de um centro germinativo com produção de
anticorpos anti-nucleares os quais, por sua vez, estão
relacionados a deposição de imunocomplexos,
glomerulonefrite e outros sintomais característicos do LES. A
liberação de IL-6 pelas células B também tem sido relacionada
à liberação de IFN- γ pelos Linfócitos Th1 (ARKATKAR, et. al.,
2017).
Contudo, os linfócitos T são reconhecidos como
elementos fundamentais neste cenário, uma vez que
promovem o estímulo necessário para a diferenciação,
proliferação e maturação dos linfócitos B, exercendo papel
crucial para a expressão dos autoanticorpos que caracterizam
a doença (SHLOMCHIK et al., 2001; MAK; KOW, 2015).
772
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: UMA REVISÃO DE LITERATURA
A secreção de IL-6, IFN-γ, IL-17, IL-23, bem como a
atuação das células dendríticas e T reguladoras são
consideradas determinantes para o estado tolerogênico
(ESMAEILI, et al., 2016).
A possibilidade de escape de células potencialmente
autorreativas do timo, torna o controle periférico exercido pelos
linfócitos Treg uma ferramenta de fundamental importância
para a manutenção da autotolerância e prevenção de doenças
autoimunes. Isto pode ser denotado nos experimentos com
modelos animais, cuja depleção de células Treg promove
quadros inflamatórios típicos de doenças autoimunes severas;
os quais podem ser revertidos mediante reposição destas
células por transferência adotiva (SAKAGUCHI, 2004;
HADASCHIK et al., 2015; TSOKOS, et al., 2016).
As células Treg ativadas podem atuar por diferentes
mecanismos de supressão. Sugere-se que estas células
controlam as respostas imunes através de: contato celular
mediado por receptores co-estimulatórios presentes na
superfície celular das células apresentadoras de antígeno
(APCs), resultando na redução ou extinção da sinalização de
APCs para células naive ou efetoras (1); liberação das
citocinas IL-10, TGFβ e IL-35 (2); citólise das células efetoras
com a produção de granzimas e perforinas (3); perturbações
metabólicas ao promover a privação de elementos requeridos
para a proliferação de células naïve ou efetoras, estimulando,
por exemplo, APCs a produzir enzimas que possam degradar
aminoácidos essenciais à proliferação destas células (4);
competição com células efetoras pela ativação via APC ou
competição por citocinas como IL-2 (5) (CARIDADE et al.,
2013).
A interleucina2 (IL-2), inicialmente identificada como
fator de crescimento de células T, estimula a conversão de
773
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: UMA REVISÃO DE LITERATURA
células T naïve em células T efetoras. As células Treg
expressam níveis mais elevados de CD25 (receptor de IL-2)
do que as células T efetoras; acarretando assim, a privação de
IL-2 no microambiente e o consequente comprometimento do
desenvolvimento das células T efetoras (LASTOVICKA et al.,
2013; KLATZMAN; ABBAS, 2015; TALAAT et al., 2015;
STYPIŃSKA; PARADOWSKA-GORYCKA, 2015).
A expressão de FOXP3, que caracteriza a via
Treguladora, é modulada por vários fatores de transcrição
(NF-κB, NFAT, Smad3) e diversos estímulos do meio tais
como TGFβ, ácido retinóico e rapamicina (WON ; HWANG,
2016) . Em respostas a estes diferentes estímulos, as células
Tregs podem apresentar alterações nos estados de ativação e
nos mecanismos de supressão (TODA; PICCIRILLO, 2006).
As populações de células T convencionais e nTregs (células
Tregs naturais – de origem tímica), por exemplo, podem sofrer
significativa redução mediada por IFNα. Isto pode estar
relacionado alinfopenia observada nos pacientes em atividade
e a redução da ativação do fenótipo nTreg (BUANEC et al.,
2011).
Por outro lado, a expansão de células Tregs, sob fortes
condições inflamatórias no LES, parece resultar na
incapacidade de controle adequado das células T efetoras
para a manutenção da tolerância periférica. O que acarreta um
aumento massivo e descontrolado de células efetoras,
amplificando ainda mais a progressão da doença
(SAKAGUCHI et al., 2010; OHL; TENBROCK, 2015;
(STHOEGER et al., 2014).
As principais falhas nos mecanismos supressores de
células Treg em doenças autoimunes compreendem um
número inadequado de células Tregs (devido a defeitos no
desenvolvimento, proliferação ou sobrevivência); anomalias
774
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: UMA REVISÃO DE LITERATURA
funcionais intrínsecas às células Tregs; resistência de células
T efetoras patogênicas a supressão mediada pelas células
Tregs devido a fatores inerentes às próprias células, ou ao
microambiente inflamatório (com elevadas concentrações de
IL-2, IL-4, IL-6, IL-15 e células da via Th17) (BUCKNER,
2010).
De acordo com Miyara e colaboradores (2009), o estudo
das subpopulações de células Tregs é fundamental para se
avaliar o estado imunológico do paciente, visto que prováveis
manipulações de uma subpopulação, em particular, poderiam
tanto promover quanto atenuar uma variedade de respostas
imunes, de natureza fisiológica ou patológica.
Com a crescente compreensão acerca dos mecanismos
relacionados ao LES, surgiram os medicamentos biológicos,
como importantes alternativas terapêuticas para a doença
(STHOEGER et al., 2014).
Diversos agentes biológicos estão sendo estudados,
dentre os quais se enquadram rituximabe (anti-CD20,
direcionado para linfócitos B), tabalumabe (contra estimulador
de linfócito B), abatacepte (CTLA-4Ig, inibidor de ativação de
linfócitos T) e tocilizumabe (anti-receptor de IL-6, inibidor de
citocinas). Desta série, a primeira droga aprovada pelo FDA
para o tratamento do LES foi o belimumabe (anti-BLySmAb),
um anticorpo monoclonal que inibe estimulador de linfócitos B
chamado de BLyS (STHOEGER et al., 2014).
Dentre os agentes biológicos estudados, os mais
promissores integram a terapia antígeno-específica com
peptídeos tolerogênicos. Esta terapia é mais específica do que
os tratamentos convencionais que promovem a
imunossupressão de grande parte do sistema imunológico; ou
dos agentes biológicos direcionados para células e moléculas
775
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: UMA REVISÃO DE LITERATURA
relacionadas de maneira não específica à patogênese do LES
(STHOEGER et al., 2014).
A perda da auto-tolerância é a principal característica do
LES (STHOEGER et al., 2014; KLATZMANN; ABBAS, 2015).
Neste sentido, a terapia antígeno-específica visa o
reestabelecimento da auto-tolerância através da regulação de
pequenas populações celulares fundamentais para a
patogênese da doença. Pepitídeostolerogênicos específicos
para o LES tais como o P140 e o hCDR1 vêm apresentando
promissora capacidade de remissão da doença e indução do
fenótipo de células T reguladoras para o reestabelecimento da
auto-tolerância, sem comprometer o desempenho do sistema
imune (STHOEGER et al., 2014)
Além da busca de medicamentos biológicos com
mecanismos de ação centrados na indução do fenótipo T
regulador (STHOEGER et al., 2014); outras estratégias
terapêuticas visando o reestabelecimento das populações de
células Treg e controle das reações autoimunes vêm sendo
discutidas. Dentre elas se enquadram a expansão de células
Treg in vivo mediante estimulação antigênica, expansão de
células Tregex vivo para subsequente administração no
paciente e indução do fenótipo Treg em células T
convencionais in vivo (iTreg) (Figura 3) (MIYARA et al. 2014).
776
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: UMA REVISÃO DE LITERATURA
Figura 3. Possíveis estratégias terapêuticas para o taramento
de doenças autoimunes
777
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: UMA REVISÃO DE LITERATURA
subjacentes ao LES bem como novas perspectivas de
tratamento.
4 CONCLUSÕES
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TECIDO ADIPOSO VISCERAL E SUBCUTÂNEO: ASPECTOS
EPIDEMIOLÓGICOS E EFEITOS DURANTE A PERDA PONDERAL
CAPÍTULO 40
782
TECIDO ADIPOSO VISCERAL E SUBCUTÂNEO: ASPECTOS
EPIDEMIOLÓGICOS E EFEITOS DURANTE A PERDA PONDERAL
sensíveis à lipólise do que o tecido adiposo subcutâneo. É
necessário que mais estudos sejam realizados em diferentes
grupos populacionais a fim de descrever os fatores que podem
influenciar positivamente na redução do tecido adiposo
visceral, visando a definição de estratégias para melhor
prevenir e tratar a obesidade visceral.
Palavras-chave: Gordura intraabdominal; Gordura Visceral;
Gordura Subcutânea.
1 INTRODUÇÃO
783
TECIDO ADIPOSO VISCERAL E SUBCUTÂNEO: ASPECTOS
EPIDEMIOLÓGICOS E EFEITOS DURANTE A PERDA PONDERAL
O compartimento clássico destinado ao armazenamento
de calorias é o tecido adiposo subcutâneo, que potencialmente
também serve como isolante térmico. Portanto, a gordura
armazenada subcutâneamente representa o tampão fisiológico
para o excesso da ingestão de energia combinada ao gasto
energético limitado. No entanto, quando a capacidade de
estocagem lipídica é excedida, o armazenamento é desviado
para outros depósitos fora do tecido subcutâneo, como o TAV,
músculo esquelético e fígado, comprometendo suas vias
metabólicas normais (WEISS, 2007).
Os tecidos adiposos subcutâneo (TAS) e visceral
apresentam diferenças substanciais relacionadas a aspectos
anatômicos, morfología dos adipócitos, função endócrina,
atividade lipolítica, vascularização e inervação (IBRAHIM,
2009; TCHERNOF; DESPRÉS, 2013).
A principal diferença entre eles é que a drenagem
venosa do tecido subcutâneo é realizada pela circulação
sistêmica, enquanto que o TAV é irrigado pela circulação
portal (JAKOBSEN et al, 2007). Além disso, o TAV secreta
maiores concentrações de citocinas inflamatórias, seguido dos
tecidos adiposo subcutâneo abdominal (TAS) e glúteo-femural
(IBRAHIM, 2009).
A drenagem portal do TAV fornece acesso direto de
ácidos graxos livres (AGL) e adipocinas secretadas pelos
adipócitos viscerais, sendo essa característica o centro da
maioria das hipóteses postuladas para explicar a associação
entre a gordura visceral e doenças cardiometabólicas
(IBRAHIM, 2009; TCHERNOF; DESPRÉS, 2013). As
adipocinas ativam mecanismos imuno-hepáticos para a
produção de mediadores inflamatórios (IBRAHIM, 2009), além
do maior fluxo de AGL para o fígado promover maior
784
TECIDO ADIPOSO VISCERAL E SUBCUTÂNEO: ASPECTOS
EPIDEMIOLÓGICOS E EFEITOS DURANTE A PERDA PONDERAL
resistência insulínica e aumento da produção de triglicérides
(JENSEN, 2008; KORENBLAT et al, 2008; WEN et al, 2013).
Os AGL inibem a secreção de insulina pela célula
pancreática e limitam a captação de glicose induzida pela
insulina, provavelmente através da diminuição dos
mecanismos de sinal e transdução. Nas situações de insulino-
resistência há limitação da lipogênese, o que conduz ao
aumento dos AGL circulantes. Por outro lado, em situações de
aumento dos AGL (por aumento da ingestão ou lipólise maciça
associada à obesidade) ocorre insulino-resistência. Ademais,
o TAV é altamente relacionado com a esteatose hepática
(ENGL et al, 2008). Portanto, indivíduos com TAV aumentado,
independente do índice de massa corporal (IMC), podem ter
maior risco cardiovascular, diabetes mellitus e mortalidade
(LEAR et al, 2007).
As diferenças morfológicas entre as gorduras visceral e
subcutânea refletem aspectos relacionados ao tamanho e
forma de organização dos adipócitos. Enquanto que os
adipócitos subcutâneos estão dispostos de forma regular e
organizada, as células do TAV são grandes, irregulares e
menos organizadas (TCHERNOF; DESPRÉS, 2013). O TAV
contém maior número de grandes adipócitos quando
comparado à gordura subcutânea, que se caracteriza pela
presença de pequenos adipócitos (IBRAHIM, 2009).
A presença de grandes adipócitos pode desencadear a
geração de novos adipócitos para armazenamento do excesso
de energia (TCHERNOF; DESPRÉS, 2013). Os adipócitos
menores são mais sensíveis à ação da insulina e têm maior
avidez pela absorção de AGL e triglicérides, evitando sua
deposição em tecidos não adiposo (IBRAHIM, 2009).
785
TECIDO ADIPOSO VISCERAL E SUBCUTÂNEO: ASPECTOS
EPIDEMIOLÓGICOS E EFEITOS DURANTE A PERDA PONDERAL
Apesar das diferenças substanciais que caracterizam os
compartimentos de tecido adiposo, é importante destacar que
a quantificação absoluta de qualquer depósito de gordura não
reflete sua distribuição (KAESS et al, 2012). O elevado volume
de TAV pode refletir apenas uma massa de gordura abdominal
elevada, mas pode também indicar uma maior propensão de
armazenar gordura no depósito visceral. Portanto, para
estimar a predisposição para acumular gordura visceralmente,
alguns autores têm sugerido a razão TAV/TAS como uma
métrica da composição de gordura abdominal (KAESS et al,
2012). Uma razão TAV/TAS≥0,4 tem sido fortemente
relacionada com distúrbios do metabolismo glico-lipídico
(RIBEIRO-FILHO et al, 2006).
Esta revisão objetiva discutir os aspectos epidemiológicos
(prevalência e fatores associados) relacionados ao excesso de
gordura visceral e as alterações no tecido adiposo
intraabdominal durante a perda de peso, buscando responder
aos seguintes questionamentos: Qual a magnitude do excesso
de gordura visceral e quais fatores determinantes estão
relacionados? Qual o efeito da perda ponderal nos
compartimentos de gordura visceral e subcutânea?.
2 MÉTODOS
786
TECIDO ADIPOSO VISCERAL E SUBCUTÂNEO: ASPECTOS
EPIDEMIOLÓGICOS E EFEITOS DURANTE A PERDA PONDERAL
“Intra-Abdominal Fat”, “visceral fat”, “subcutaneous fat”,
“visceral obesity”, “weight loss” AND “visceral fat”; “visceral
obesity” AND “epidemiologic factors”.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
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TECIDO ADIPOSO VISCERAL E SUBCUTÂNEO: ASPECTOS
EPIDEMIOLÓGICOS E EFEITOS DURANTE A PERDA PONDERAL
imagem que permitem quantificar o TAV são a Ressonância
Nuclear Magnética (RNM) e a Ultrassonografia (USG).
Poucos estudos estimaram a prevalência de obesidade
visceral em diferentes populações (GOEL et al, 2008),
possivelmente porque são escassos os métodos capazes de
distinguir os diferentes compartimentos do tecido adiposo
abdominal e da impropriedade das medidas antropométricas
para representar a área do TAV em particular. A literatura
aponta que os pacientes com doenças cardiovasculares são
os que apresentam maior quantidade de TAV quando
comparados a outros grupos portadores de diferentes
entidades nosológicas (LEAR et al, 2007).
Investigações apontaram elevadas médias de TAV em
diferentes populações. Pou et al (2009) encontraram médias
de 135,9cm² e 232,3cm² para o sexo feminino e masculino,
respectivamente, ao avaliarem por TC indivíduos com média
de idade de 52 anos e IMC aproximado de 27,5kg/m²,
incluídos no estudo de Framingham. Doyon et al (2011)
verificaram uma média de 184,8cm² de TAV em um grupo de
131 mulheres com excesso de peso na pós menopausa,
procedentes da cidade de Montreal, considerando a TC como
método diagnóstico. Willis et al (2007) estudando homens e
mulheres sedentários e com excesso de peso, na faixa etária
de 45 a 60 anos, da Carolina do Norte, identificaram por TC
médias de 194,31cm² e 134,96cm², respectivamente.
Pou et al. (2009), ao avaliarem 3.348 participantes da
pesquisa Framingham Heart Study Offspring and Third
Generation Cohorts, com média de idade de 52,2 9,9 anos,
encontraram prevalência de obesidade visceral de 44% no
sexo feminino e 42% no sexo masculino (utilizando o percentil
90 da concentração de gordura visceral na população). Por
788
TECIDO ADIPOSO VISCERAL E SUBCUTÂNEO: ASPECTOS
EPIDEMIOLÓGICOS E EFEITOS DURANTE A PERDA PONDERAL
sua vez, Chen et al. (2014), ao analisarem adultos jovens
taiwaneses, de ambos os sexos, por TC, encontraram uma
prevalência de 15,4% de obesidade visceral (determinada pelo
corte de ≥100cm²). Petribu et al. (2012,b), utilizando uma
equação preditiva proposta e validada por estes mesmos
autores, estimaram a prevalência de obesidade visceral em
mulheres jovens (25 a 36 anos), encontrando um resultado de
30,6% (adotando valores ≥100cm² como ponto de corte).
Alguns fatores têm sido associados a uma maior
concentração de gordura visceral, havendo evidências que
sugerem diferenças sexuais no acúmulo de TAV
(GASTEYGER et al, 2009; OLIVEIRA et al, 2014). Os homens
acumulam maior proporção de gordura na parte superior do
corpo (tronco e abdômen) e as mulheres, na porção inferior
(quadris e coxas) (TCHERNOF; DESPRÉS, 2013).
As diferenças hormonais que regulam o dimorfismo
sexual no padrão de distribuição de gordura conferem aos
homens maior propensão ao acúmulo de gordura no
compartimento visceral (GASTEYGER et al, 2009; OLIVEIRA
et al, 2014). Essa maior predisposição no sexo masculino tem
sido atribuída à secreção de hormônios esteróides e à
densidade local dos seus receptores (OLIVEIRA et al, 2014)
No entanto, ainda não há uma compreensão global de como
cada hormônio sexual pode influenciar a composição e
distribuição de gordura corporal (TCHERNOF; DESPRÉS,
2013).
Nos homens, a concentração de TAV é proporcional à
quantidade total de gordura corporal, enquanto nas mulheres o
TAV é menos afetado pela quantidade de gordura corporal
total (TCHERNOF; DESPRÉS, 2013).
789
TECIDO ADIPOSO VISCERAL E SUBCUTÂNEO: ASPECTOS
EPIDEMIOLÓGICOS E EFEITOS DURANTE A PERDA PONDERAL
Em relação à idade, com a progressão etária ocorrem
mudanças na composição corporal de tal forma que a massa
livre de gordura diminui e a massa gorda geralmente aumenta,
sendo armazenada nos sítios anatômicos intra-abdominal e
intra-muscular, em vez da região subcutânea, como
geralmente ocorre no adulto jovem. Portanto, o TAV
generosamente acumula-se com o aumento da idade, sendo
esta uma importante variável para o acúmulo do mesmo. Esse
incremento do TAV pari passu ao aumento da idade ocorre em
ambos os sexos, e é observado em indivíduos
independentemente do IMC. No entanto, esse aumento seria
muito mais acentuado em homens do que em mulheres
(PINHO et al, 2014).
No que se refere à raça, a literatura especializada indica
acentuadas diferenças na distribuição regional do tecido
adiposo em diversas populações em todo o mundo. Para um
determinado ganho de peso, algumas populações podem ter
uma tendência a acumular TAS, enquanto outras populações
podem ser mais propensas a acumular tecido adiposo na
cavidade visceral (TCHERNOF; DESPRÉS, 2013).
Para um nível similar de adiposidade corporal,
indivíduos caucasianos apresentaram maior volume de
gordura visceral em comparação aos afro-americanos (CAMHI
et al, 2011). Por outro lado, asiáticos parecem ser
particularmente mais propensos ao acúmulo de gordura
visceral, apesar de mais baixo valor de adiposidade corporal
em comparação com indivíduos de outras origens étnicas
(KADOWAKI et al, 2006; LEAR et al, 2007; MISRA;
KHURANA, 2009). Outros autores indicaram uma maior
quantidade de gordura visceral em indivíduos brancos quando
comparados aos negros (CARROL et al, 2008).
790
TECIDO ADIPOSO VISCERAL E SUBCUTÂNEO: ASPECTOS
EPIDEMIOLÓGICOS E EFEITOS DURANTE A PERDA PONDERAL
Várias hipóteses têm sido postuladas para explicar os
mecanismos fisiológicos das diferenças da distribuição de
gordura relacionadas à etnicidade, sendo mais plausíveis as
propostas que atribuem essas diferentes características raciais
à programação genética e epigenética (SNIDERMAN et al,
2007; MISRA; KHURANA, 2009). Em geral, essa maior
propensão de algumas populações para acumular TAV pode
contribuir com maiores índices de diabetes mellitus tipo 2 e
doenças cardiovasculares (TCHERNOF; DESPRÉS, 2013).
Hábitos comportamentais também têm sido
relacionados ao acúmulo de gordura visceral (MOLENAAR et
al, 2009; TCHERNOF; DESPRÉS, 2013). Um estudo observou
menores médias de TAV e TAS em indivíduos que praticavam
maior número de hábitos de vida saudáveis (MOLENAAR et
al, 2009).
Um estilo de vida sedentário, obviamente, confere ao
indivíduo maior suscetibilidade a estar em desequilíbrio
energético positivo. No entanto, ainda não está totalmente
estabelecido se a falta de atividade física aumenta a
suscetibilidade à deposição seletiva de gordura no
compartimento visceral (TCHERNOF; DESPRÉS, 2013).
Apesar da exibição abundante de dados que apontam
que indivíduos fumantes apresentam menor IMC comparados
com ex-fumantes e não fumantes, evidências indicam que os
fumantes apresentam maior volume de TAV (KOMIYA et al,
2006; MOLENAAR et al, 2009). O tabagismo pode afetar o
TAV por reduzir a biodisponibilidade de estrogênios
endógenos e aumentar a produção de androgênios adrenais
em mulheres e homens, contribuindo para a maior
adiposidade visceral (TCHERNOF; DESPRÉS, 2013).
791
TECIDO ADIPOSO VISCERAL E SUBCUTÂNEO: ASPECTOS
EPIDEMIOLÓGICOS E EFEITOS DURANTE A PERDA PONDERAL
Outro fator relacionado ao maior volume de TAV é o
consumo de álcool (KOMIYA et al, 2006; KONDOH et al,
2014), sendo essa associação observada especialmente no
sexo masculino (MOLENAAR et al, 2009).
Poucos estudos exploraram o papel dos fatores
dietéticos como preditores da distribuição da adiposidade
visceral e subcutânea. Estudos experimentais em ratos
indicaram que a maior ingestão de gordura saturada pode
predispor ao acúmulo preferencial de gordura visceral quando
comparada com outros tipos de gordura (DORFMAN et al,
2007). No entanto, estudos sobre a distribuição de gordura em
animais são difíceis de extrapolar para os seres humanos, nos
quais o dismorfismo sexual na distribuição de gordura é muito
mais pronunciado (TCHERNOF; DESPRÉS, 2013).
Kondoh et al. (2014) identificaram que o elevado
consumo energético na ceia está relacionado ao acúmulo
desproporcional de gordura visceral, sugerindo que a
distribuição de energia ao longo do dia está relacionada com o
acúmulo diferenciado de TAV e TAS. Neste sentido, destaca-
se a importância de acumular mais evidências sobre o papel
dos fatores dietéticos na modulação dos depósitos de gordura
abdominal.
Desde que o TAV foi descrito como o componente mais
importante do depósito de gordura na relação com as
complicações de saúde, tratamentos que poderiam ter efeitos
preferenciais em sua redução tem despertado muito interesse
(CHRISTIANSEN et al, 2009).
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TECIDO ADIPOSO VISCERAL E SUBCUTÂNEO: ASPECTOS
EPIDEMIOLÓGICOS E EFEITOS DURANTE A PERDA PONDERAL
Perda de peso: Efeitos no tecido adiposo visceral
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TECIDO ADIPOSO VISCERAL E SUBCUTÂNEO: ASPECTOS
EPIDEMIOLÓGICOS E EFEITOS DURANTE A PERDA PONDERAL
Investigações anteriores demonstram que a redução
modesta de peso (5% a 10%), resulta na melhoria de diversos
parâmetros clínicos, mesmo que o indivíduo ainda permaneça
com o IMC superior a 30kg/m² (BARBATO et al, 2006;
LOTTEMBERG, 2006; COSTA et al, 2009; DOYON et al,
2011). Ainda que esse percentual de perda ponderal esteja,
muitas vezes, aquém do desejado pelo paciente, já seria
capaz de modificar favoravelmente diversas condições
relacionadas à obesidade, como níveis pressóricos, perfil
lipídico, resistência à insulina, sintomas associados a doenças
degenerativas articulares, depressão, apnéia do sono, além de
melhorar os escores que avaliam a qualidade de vida
(BARBATO et al, 2006).
Na perda de peso involuntária, que ocorre na doença
crônica, lesão ou malignidade, há muitas vezes alterações
desproporcionais na composição corporal, originando uma
perda excessiva de tecido magro e, às vezes, preservação do
tecido adiposo (SILVER et al, 2010). Contudo, o objetivo de
qualquer esquema de perda de peso é a redução de massa
gorda, em detrimento da massa magra.
Apesar de bem consolidado os benefícios da perda de
peso na saúde do indivíduo, ainda não está claro na literatura
científica como a perda de peso afeta os depósitos de gordura
abdominal, sendo escassos os estudos que avaliem e
quantifiquem os efeitos da perda ponderal sobre o TAV em
diferentes populações, sobretudo porque a composição
corporal é marcada por diferenças raciais substanciais
(TCHERNOF; DESPRÉS, 2013), sendo necessário
acumular evidências em diferentes grupos populacionais.
Em outros países, algumas investigações que avaliaram
o impacto da redução do peso no tecido adiposo abdominal
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TECIDO ADIPOSO VISCERAL E SUBCUTÂNEO: ASPECTOS
EPIDEMIOLÓGICOS E EFEITOS DURANTE A PERDA PONDERAL
sugerem haver uma preferência pela perda de TAV quando
comparado com o tecido subcutâneo (CHRISTIANSEN et al,
2009; GASTEYEGER et al, 2009; SOUZA et al, 2012). Uma
primeira proporção de TAV seria perdida quando comparada à
diminuição relativa da adiposidade total, independentemente
da intervenção utilizada para induzir a perda de peso (restrição
calórica, atividade física, agentes farmacológicos ou cirurgia
bariátrica). Essa redução seletiva do TAV em relação ao tecido
subcutâneo durante a perda ponderal, mesmo que com uma
perda de peso modesta, seria atenuada com o incremento da
perda de peso (CHANSTON; DIXON, 2008).
Engl et al (2008) estudaram 15 pacientes do sexo
feminino com obesidade grave e verificaram que houve uma
redução de 69% do TAV, enquanto o TAS foi reduzido em
32% após o tratamento cirúrgico da obesidade, ou seja, a
diminuição do TAV contribuiu com quase três quartos da
redução total do diâmetro abdominal.
Acredita-se que a gordura visceral é mais sensível à
redução de peso porque seus principais componentes, os
adipócitos omental e mesentérico, são mais metabolicamente
ativos e sensíveis à lipólise comparado ao TAS. Logo, essa
mobilização substancial do TAV, mesmo com a perda de peso
discreta, seria a responsável pelos benefícios metabólicos
observados decorrentes da perda ponderal (ENGL et al,
2008).
Hallgreen e Hall (2008) usaram uma equação
alométrica, que é tradicionalmente utilizada para descrever o
crescimento de uma parte do corpo em função do seu
tamanho total, para quantificar a relação entre as mudanças
na gordura visceral e total durante a perda de peso
intencional. Os autores mostraram que essa relação
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TECIDO ADIPOSO VISCERAL E SUBCUTÂNEO: ASPECTOS
EPIDEMIOLÓGICOS E EFEITOS DURANTE A PERDA PONDERAL
alométrica descreve com precisão os dados publicados sobre
alterações do TAV e massa gorda total durante a perda de
peso e que essa relação não sofreria modificação em função
do sexo ou do tipo de intervenção utilizada. Esse modelo
alométrico seria capaz, inclusive, de prever a perda
preferencial de TAV em relação ao TAS com a perda modesta
de peso (HALL; HALLGREEN, 2008; HALLGREEN; HALL,
2008).
Não há evidências de que qualquer intervenção
utilizada para a perda de peso leve a uma maior redução
seletiva do TAV comparada a outro método (HALL;
HALLGREEN, 2008). O que parece estar claro é que o
balanço energético negativo leva a diminuição do TAV em
maior grau do que a massa de godura corporal total
(HALLGREEN; HALL, 2008).
Foi relatado que o exercício físico pode favorecer uma
redução do TAV com ou sem perda de peso. A prática regular
de exercício sem restrição calórica seria capaz de reduzir o
depósito de TAV em até 48%. Adicionalmente, a melhoria no
consumo de oxigênio máximo (VO2) durante as intervenções
de exercício também têm sido associada a uma maior redução
do TAV (PINHO et al, 2014).
Em relação à restrição calórica, como estratégia isolada
para perda de peso, tem sido reportado em modelos animais
que a diminuição de um terço da ingestão energética
proporcionou a redução da gordura visceral sem que a massa
magra do corpo fosse alterada. Acredita-se que durante a
restrição calórica, a mobilização de lipídios é induzida e uma
série de alterações fisiológicas acontece, com participação de
vários genes lipídicos nessas mudanças (TCHERNOF;
DESPRÉS, 2013). Contudo, não há muitas investigações
796
TECIDO ADIPOSO VISCERAL E SUBCUTÂNEO: ASPECTOS
EPIDEMIOLÓGICOS E EFEITOS DURANTE A PERDA PONDERAL
acerca dos efeitos da restrição calórica no TAV quando esta é
utilizada isoladamente como estratégia para induzir a perda de
peso.
No que se refere à composição dietética, poucos
ensaios clínicos e randomizados mediram diretamente as
mudanças no TAV em resposta à redução do peso por
diferentes tratamentos dietéticos (SOUZA et al, 2012) e
continua a haver debate sobre qual dieta seria mais eficaz
para diminuir a gordura visceral. Alguns estudos têm mostrado
que dietas com maior teor de proteína e menor teor de
carboidratos resultariam em maior perda de gordura visceral
que dietas de restrições calóricas convencionais, mas ainda
não há base científica forte que sustente essa evidência
(TCHERNOF; DESPRÉS, 2013).
Souza et al (2012) avaliaram quatro planos dietéticos
que diferiam no teor de carboidratos, proteínas e gorduras,
para determinar se a composição de macronutrientes
influenciaria a redução de gordura corporal total, gordura
abdominal visceral, gordura hepática e na preservação de
massa magra e encontraram que os pacientes perderam mais
gordura do que massa magra após o consumo de todas as
dietas e que não houve influencia da composição de
macronutrientes da dieta na redução dos compartimentos de
gordura.
Alguns grupos têm se empenhado em demonstrar as
diferenças na composição corporal a partir da restrição
calórica isolada e combinada ao exercício físico (REDMAN et
al, 2007; CHRISTIANSEN et al, 2009). Foi realizado um
estudo controlado randomizado para testar o efeito de um
déficit de energia de 25% isolado e associado ao exercício
físico, sendo observado que os dois grupos tiverem
797
TECIDO ADIPOSO VISCERAL E SUBCUTÂNEO: ASPECTOS
EPIDEMIOLÓGICOS E EFEITOS DURANTE A PERDA PONDERAL
desempenho semelhante na redução de gordura corporal total
e visceral ao final de 6 meses. Ambos reduziram
aproximadamente 24% de gordura total (p=0,99) e 27% do
TAV (p=1,00), demonstrando que o exercício físico não
contribuiu com qualquer benefício adicional em termos de
composição corporal e distribuição de gordura abdominal
(REDMAN et al, 2007).
Outra investigação com o objetivo de avaliar o efeito
independente ou combinado do exercício e da restrição
calórica também identificou que o exercício físico não teve
nenhum efeito adicional na redução dos depósitos de TAV em
comparação com os efeitos provocados pela dieta hipocalórica
isolada (CHRISTIANSEN et al, 2009).
No entanto, apesar de algumas evidências não
demonstrarem o efeito adicional do exercício na redução do
TAV, é sabido que o exercício aumenta os níveis de
catecolaminas, que têm efeitos sobre a lipólise dos adipócitos
através dos receptores beta-adrenérgicos (estimulação) e dos
receptores alfa-adrenérgicos (inibição). Além disso, as
catecolaminas têm ação lipolítica mais ativa no TAV do que no
tecido subcutâneo, e isso justificaria uma possível perda
preferencial de TAV induzida pelo exercício (TCHERNOF;
DESPRÉS, 2013).
Além do crescente interesse em conhecer os efeitos de
diferentes estratégias para a perda de peso na distribuição do
tecido adiposo abdominal, alguns autores têm apontado a
importância de conhecer os fatores que podem influenciar na
variação percentual da perda do TAV (CHANSTON; DIXON,
2008; GASTEYEGER et al, 2009).
Um modelo clássico proposto por Forbes (1987) prevê
que durante a perda de peso voluntária, a proporção relativa
798
TECIDO ADIPOSO VISCERAL E SUBCUTÂNEO: ASPECTOS
EPIDEMIOLÓGICOS E EFEITOS DURANTE A PERDA PONDERAL
da perda de massa corporal seria aproximadamente 80% de
gordura e 20% de massa magra. A composição da perda de
massa corporal é provavelmente influenciada por muitos
fatores, incluindo genética, gênero, etnia, envelhecimento,
grau do déficit de energia, composição de macronutrientes da
dieta, estado hormonal, grau e tipo de atividade física,
presença de comorbidades e, talvez, o tipo de intervenção
para a perda de peso (alimentar, farmacêutica ou cirúrgica)
(HALL; BAIN; CHOW, 2007; REDMAN et al, 2007; SILVER et
al, 2010).
Estudo que avaliou a diminuição do TAV em resposta à
perda de peso em homens e mulheres demonstrou que uma
redução mais discreta é observada no sexo feminino. No
entanto, acredita-se que essas diferenças entre os gêneros
são possivelmente atribuídas ao maior nível inicial de TAV em
homens. Sugere-se que indivíduos com maiores quantidades
iniciais de TAV são beneficiados com uma redução mais
substancial deste depósito durante as intervenções de perda
de peso (GASTEYEGER et al, 2009).
4 CONCLUSÃO
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TECIDO ADIPOSO VISCERAL E SUBCUTÂNEO: ASPECTOS
EPIDEMIOLÓGICOS E EFEITOS DURANTE A PERDA PONDERAL
para a perda de peso (restrição calórica, exercício físico,
tratamento farmacológico ou cirúrgico), ocorre uma redução
seletiva do TAV comparada com o tecido subcutâneo, que
pode ser observada mesmo com uma discreta perda ponderal
e ainda que o indivíduo permaneça com índice de massa
corpórea elevado.
É necessário que mais estudos sejam realizados em
diferentes grupos populacionais a fim de descrever os fatores
que podem influenciar positivamente na redução do TAV,
visando a definição de estratégias para melhor prevenir e
tratar a obesidade visceral.
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UTILIZAÇÃO DO PLASMA RICO EM PLAQUETAS NAS LESÕES
OSTEOMIOARTICULARES
CAPÍTULO 41
ruiaraujojunior@gmail.com.br
804
UTILIZAÇÃO DO PLASMA RICO EM PLAQUETAS NAS LESÕES
OSTEOMIOARTICULARES
Palavras-chave:Plasma rico em plaquetas. Lesão tecidual.
Concentrado autólogo de plaquetas.
1 INTRODUÇÃO
805
UTILIZAÇÃO DO PLASMA RICO EM PLAQUETAS NAS LESÕES
OSTEOMIOARTICULARES
plasma de sangue autólogo, sendo, em média, quatro vezes
maior que a concentração sérica normal (LENZA et al., 2013).
O uso da técnica na medicina é justificado peloaumento na
concentração de fatores de crescimento presentes em
grânulos no interior das plaquetas, uma vez que estes
possuem diversas funções importantes para a medicina, tais
como proliferação celular, regeneração óssea, maturação dos
tecidos moles quimiotaxia, angiogênese e diferenciação
celular, permitindo, assim, ampliaçãodo poder de reparo dos
tecidos (CONCEIÇÃO et al, 2017; SEBBEN et al., 2012).
A utilizaçãoda terapia em medicina ainda é pequena,
porém os estudos existentes sobre este produto mostram um
grande potencial de melhorar os resultados em diversos
procedimentos ortopédicos, neurocirúrgicos e de cirurgia
plástica (SANCHÉZ, 2009).
Em relação a conduta no tratamento das lesões em
atletas, esta sofreu importantes modificações nas últimas
décadas, tendo em vista os inúmeros avanços da técnica
cirúrgica artroscópica e o desenvolvimento de métodos de
fixação mais eficazes (REGO et al., 2012).Entre os avanços
no tratamento cirúrgico dessas lesões, encontra-se a
aplicação do plasma rico em plaquetas.
Novos métodos de tratamento tem sido direcionados
atualmente para promover a regeneração tecidual, de modo a
restaurar a arquitetura estrutural e função biomecânica normal,
contrapondo a formação de tecido cicatricial (VENDRUSCOLO
et al., 2012). O período para a reparação tecidual tem se
mostrado um grande desafio para o tratamento desta afecção,
que associado aos métodos terapêuticos tradicionais, pode
levar meses ou anos para completa cicatrização tendínea
(MAIA, 2008).
806
UTILIZAÇÃO DO PLASMA RICO EM PLAQUETAS NAS LESÕES
OSTEOMIOARTICULARES
Intini (2009) realizou um estudo sobre as ações dos
diversos fatores de crescimento plaquetários na reparação
óssea.
Apesar da técnica de aplicação ser muito recente, está
cada vez mais sendo utilizada como uma ótima intervenção no
pré e/ou pós-cirúgico de diversas patologias das
especialidades das ciências médicas, como nas lesões
osteomioarticulares. Entretanto, ainda há uma escassez na
literatura sobre esta aplicação desta técnica, o que sugere a
necessidade de mais pesquisas e experimentos a fim de
proporcionar evidencia cientifica.
Com base no exposto acima, surge o presente estudo
com o objetivo de analisar a influência da utilização do plasma
rico em plaquetas como acelerador da cicatrização de lesões
osteomioarticulares. Verificar se o plasma rico em plaquetas
acelera o processo de cicatrização e /ou a funcionalidade da
região acometida.
2 METODOLOGIA
807
UTILIZAÇÃO DO PLASMA RICO EM PLAQUETAS NAS LESÕES
OSTEOMIOARTICULARES
Foram encontrados um total de 52 artigos, sendo
destes selecionados 36 artigos, Foram inclusos osestudos
publicados entre 2000 a 2017 na língua portuguesa e inglesa e
que estivessem disponíveis na íntegra. Foram excluídos os
artigos semelhantes ou com metodologia sem clareza em sua
execução.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
808
UTILIZAÇÃO DO PLASMA RICO EM PLAQUETAS NAS LESÕES
OSTEOMIOARTICULARES
hiperplasia na membrana sinovial e da hemorragia após a
administração de plasma autólogo em jogadores com lesões
articulares de joelho.
Estudos realizados com17 (dezessete) pacientes
jogadores de um time de futebol de Belo Horizonte que
receberam aplicação do plasma rico em plaquetas tiveram
uma boa resposta na consolidação e menos complicações
pós-cirúrgica (o que é muito comum nesses casos). Isso nos
mostra não apenas benefício para o atleta, mas também para
o clube esportivo que terá seu atleta de volta a equipe
diminuindo os gastos com consultas médicas, medicações,
internações, cirurgias e entre outros (FERREIRA, 2013).
Quatorze atletas profissionais que apresentavam lesão
muscular aguda foram tratados com aplicação de da técnica
guiada por ultrassom após a aspiração do hematoma em uma
série de casos não publicada. Houve redução do período de
recuperação de 50%. Em intervalos regulares foi realizado
acompanhamento médico com exames ultrassonográficos que
confirmaram progressiva melhora do músculo acometido
(SIMÕES, 2013).
Em um estudo realizado com cães (após entorse de
joelho direito), foi feita cirurgia artroscópica associado à
utilização da técnica, com três meses de pós-operatório o
paciente já realizava saltos com apoio unipodal (hop test)
(ALEIXO et al., 2011).
Embora diversos estudos comprovem a eficácia da
terapia, há alguns, em menor quantidade que divergem sobre
a eficácia, por exemplo, segundo Vedramin et al., (2009) a
utilização de concentrados de plaquetas com adjuvantes na
reconstrução de ligamento cruzado anterior não demonstrou
809
UTILIZAÇÃO DO PLASMA RICO EM PLAQUETAS NAS LESÕES
OSTEOMIOARTICULARES
evidencia de melhorar a resistência da reconstrução do
mesmo, embora aparentemente diminuiu a dor local.
O plasma rico em plaquetas é um produto que promove
um forte estímulo para a cicatrização e em vários estudos
foram identificados pelo menos sete diferentes fatores de
crescimento secretados ativamente pelas plaquetas e que
atuam na fase inicial da cicatrização. São eles: três isômeros
do fator de crescimento plaquetário (PDGF) – PDGFaa,
PDGFbb e PDGFab – dois fatores de crescimento
transformadores (TGF) – TGFb1 e TGFb2 – o fator de
crescimento endotelial vascular (VEGF) e o fator de
crescimento epitelial (EGF) (SIMÕES, 2012).
Em um estudo randomizado, um total de 100 pacientes
foram separados em dois grupos: grupo controle de
tratamento convencional e grupo intervenção no qual foi
utilizado um gel com um concentrado rico em plaquetas.
Estado funcional, parâmetros inflamatórios, dosagem de
proteína-C reativa e critérios radiológicos foram avaliados para
verificar a cicatrização do enxerto. Os resultados não
mostraram diferença significativa entre os grupos (SOARES,
2010).
Em um estudo experimental, cujo objetivo foi avaliar os
efeitos histológicos do plasma rico em plaquetas no reparo do
tecido muscular de ratos,o plasma foi obtido por dupla
centrifugação do sangue de cinco animais. Em 30 ratos foi
produzido um trauma no terço médio do ventre do músculo
gastrocnêmio de cada membro traseiro. Essas lesões não
receberam tratamento em seis ratos (12 patas), configurando
o controle negativo. Em 24 ratos, injeções intralesionais de
soro fisiológico a 0,9% e doplasma rico em plaquetas foram
aplicadas nas patas esquerdas e direitas, respectivamente.
810
UTILIZAÇÃO DO PLASMA RICO EM PLAQUETAS NAS LESÕES
OSTEOMIOARTICULARES
Amostras do tecido tratado e não tratado foram avaliadas
histologicamente em 7 e 21 dias. Após os procedimentos,
verificou-se que a técnica aplicada promoveu completa
restituição tecidual entre o sétimo e o 21° dia em lesões
musculares experimentais (QUARTEIRO ET AL, 2015).
Para Lenza, et al (2013) após estudos realizados com
indivídos que sofreram fratura em ossos longos, não houve
evidências conclusivas que sustentassem o uso de plasma
rico em plaquetas como coadjuvante para auxiliar a
consolidação óssea de fraturas, pseudoartrose ou defeitos
ósseos.
Fonte: http://www.elblogdeurologia.com/2014/03/tratamiento-con-plasma-
para-la-caida.htmll.
811
UTILIZAÇÃO DO PLASMA RICO EM PLAQUETAS NAS LESÕES
OSTEOMIOARTICULARES
Maia et al. (2009) estudaram experimentalmente a
tendinite no tendão do músculo flexordigital superficial (TFDS)
de equinos tratados com a terapia, sendo observado na
histopatologiareparação tecidual uniforme e organizada, 36
dias após aplicação intratendínea dessecomponente rico em
plaquetas. Prades et al. (2006) trataram sessenta e dois
equinos com lesõestendíneas e ligamentares e, após um
período de quatro a cinco meses, cinquenta e três
animaisvoltaram ao treinamento.
Bosch et al. (2011) testaram o efeito de uma única
aplicação do plasma rico em plaquetas em lesões
criadascirurgicamente em equinos. Avaliou-se a
neovascularização, por ultrassonografia com “ColorDoppler”
(uma semana após a lesão, logo antes da administração,
duas, três, cinco,oito, doze, dezoito e vinte e quatro semanas
após a indução), e realizou-se exameimunoistoquímico (vinte
e quatro semanas após o início do experimento) para o fator
VIII(fator de Von Willebrand), que está presente apenas em
células endoteliais intactas efuncionais.
Há poucos estudos sobre a aplicação do plasma rico
em plaquetas em lesões ósseas em equinos, sendo amaioria
dos estudos conduzidos em outras espécies. Entretanto, há na
literatura o relato deLópez et al. (2010) que realizaram o
tratamento de uma fratura escapular causadaacidentalmente
por um projétil de arma de fogo. O tratamento consistiu em
três aplicaçõesguiadas por ultrassom com duas semanas de
intervalo. Com um mês de evolução houveredução no grau de
claudicação (de 5 para 3) e não havia mais crepitação. O
equino foisubmetido a um programa de exercícios gradual e
em nove meses estava completamenterecuperado, não
apresentando mais atrofia muscular do membro acometido.
812
UTILIZAÇÃO DO PLASMA RICO EM PLAQUETAS NAS LESÕES
OSTEOMIOARTICULARES
Kitoh et al. (2007) relataram uma série de casos no qual
dezessete pacientes humanosreceberam aplicação da terapia
e vinte e nove não. Os autores concluíram que no grupo
tratadocom a terapia não houve atraso na consolidação e
tiveram menos complicações.
Em outro estudo foram criadas fraturas no fêmur de
quarenta e oito ratos. O grupotratado recebeu a terapia e o
controle recebeu solução salina. Na quarta semana após o
tratamentoas análises revelaram que no grupo tratado com
plasma rico em plaquetas houve a formação de um maior
caloósseo, sendo também mais resistente. Houve maior
expressão de TGF e de proteína ósseamorfogênica que foram
associadas com a aceleração na reparação óssea (SIMMAN
et al., 2008)
Os resultados permitiram demostrar que os membros
tratados com plasma rico em plaquetasapresentaram maior
neovascularização. A melhora na vascularização é proposta
como umarazão para o prolongado efeito terapêutico de uma
única aplicação doplasma rico em plaquetas, já que os
fatoresde crescimento agem por um curto período.
813
UTILIZAÇÃO DO PLASMA RICO EM PLAQUETAS NAS LESÕES
OSTEOMIOARTICULARES
FERREIRA, Reabilitação Rev. Brasileira Aplicação do Não houve
L. L.; SAAD, Fisioterapêutic de ciências da para atraso na
P. C a Pós saúde; Vol. 17, Consolidar consolidação
Reconstrução Pág. 171-174 fratura e tiveram
do LCA 2013, ISSN menos
associada à 1415-2177, complicaçõe
Técnica de 2013 s
Plasma Rico
em Plaquetas:
Relato de Caso
SIMÕES, P.; Terapêuticas Medicina Aplicação do Confirmado
RODRIGUES biológicas em Desportiva em mlesão progressiva
, J. B. traumatologia Informa, 4(3), muscular melhora do
desportiva. PP. 23-25, aguda músculo
2013. acometido
ALEIXO, G. Comparação Med. Vet. Aplicação de Cães
A. S. et al. entre dois Zootec, v.63, na conseguiram
protocolos para n.3, p.567-573, articulação realizar
obtenção de 2011 do tornozelo saltos após
plasma rico em em cães. 03 meses de
plaquetas em cirurgia na
cães articulação
do tornozelo
VENDRAMIN, Utilização nas Rev. Bras. Cir. Aplicação de Não
F.S.; cirurgias de Plást.; 25(4): após demonstrou
FRANCO, D enxertos 589-94, 2010. reconstrução evidencia de
cutâneos em de ligamento melhorar a
feridas cruzado resistência
crônicas. anterior da
reconstrução
do
SOARES. R. Plasma rico em Rev Assoc Med Estudo Os
P.; AIRES, F. plaquetas em Bras; 56(3): randomizado resultados
T. lesões de 257-77, 2010. não
joelho. mostraram
diferença
significativa
entre os
grupos
QUARTEIRO, The effect of Revista Aplicação Verificou-se
M. L. et al. platelet-rich Brasileira de em que a
plasma on the Ortopedia camundogos Promoveu
repair of (EnglishEdition) com lesão completa
muscle injuries , Volume 50, muscular restituição
in rats. Issue 5, tecidual entre
September– o sétimo e o
October 2015, 21° dia
814
UTILIZAÇÃO DO PLASMA RICO EM PLAQUETAS NAS LESÕES
OSTEOMIOARTICULARES
Pages 586-595
4 CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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UTILIZAÇÃO DO PLASMA RICO EM PLAQUETAS NAS LESÕES
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FISIOPATOLOGIA
820
AS INTERFACES DO PROCESSO FISIOPATOLÓGICO DA ASMA
CAPÍTULO 42
AS INTERFACES DO PROCESSO
FISIOPATOLÓGICO DA ASMA
Luiz Henrique César VASCONCELOS 1
Maria da Conceição Correia SILVA 1
Iara Leão Luna de SOUZA 1
Fabiana de Andrade CAVALCANTE 2,3
Bagnólia Araújo da SILVA3,4
1
Doutorando do PPgPNSB/CCS/UFPB; 2 Professora do DFP/CCS/UFPB;
3
Orientadora/Pesquisadora do PgPNSB/CCS/UFPB; 4 Professora do DCF/CCS/UFPB.
henrique.luiz89@ltf.ufpb.br
bagnolia@ltf.ufpb.br
821
AS INTERFACES DO PROCESSO FISIOPATOLÓGICO DA ASMA
perfis de células inflamatórias envolvidos, incluindo os
linfócitos Th17, Th9, as células linfóides inatas do tipo 2,
linfócitos T citotóxicos e regulatórios. Nesse trabalho, serão
pontuados os diferentes mecanismos fisiopatológicos que
levam ao desenvolvimento da asma, com ênfase nos
determinantes imunológicos envolvidos nesse processo.
Palavras-chave: Vias aéreas. Inflamação pulmonar.
Remodelamento.
1 INTRODUÇÃO
823
AS INTERFACES DO PROCESSO FISIOPATOLÓGICO DA ASMA
Dentre os fatores de risco para o desenvolvimento da
asma, estão a exposição a agentes presentes no ambiente
(CHAN-YEUNG; MALO, BERNSTEIN, 2013); esses agentes
incluem pequenas moléculas, como isocianato, substâncias
irritantes inaladas, produtos provenientes de animais de
laboratório, além do tabaco (CHAN-YEUNG; MALO,
BERNSTEIN, 2013). Outro fator de risco para o
desenvolvimento da asma é o sexo, já sendo reconhecido que
na infância, o risco de manifestação da asma é maior no sexo
masculino, enquanto na fase adulta ocorre o inverso
(ARATHIMOS et al., 2017).
Embora a asma tenha sido considerada como uma
doença única por anos, estudos recentes se concentraram
cada vez mais em sua heterogeneidade. A caracterização
desta heterogeneidade promoveu o conceito de que a asma
consiste em múltiplos fenótipos, os quais foram inicialmente
focados em combinações de características clínicas, mas que
agora estão evoluindo de modo a vincular o processo
fisiopatológico ao fenótipo. Muitos fenótipos da asma já foram
identificados, e o mais comum deles é a asma alérgica; no
entanto, outros perfis asmáticos incluem a não alérgica, a
induida por obesidade, pelo exercício físico e pelo uso de
AINEs (WENZEL, 2012; GINA, 2017).
Nesse sentido, serão abordados nesse trabalho os
aspactos fisiopatológicos que determinam os diferentes
fenótipos asmáticos, com foco nos perfis celulares
inflamatórios relacionados com os diferentes padrões de
desenvolvimento e manifestação da doença.
824
AS INTERFACES DO PROCESSO FISIOPATOLÓGICO DA ASMA
2 MATERIAIS E MÉTODOS
825
AS INTERFACES DO PROCESSO FISIOPATOLÓGICO DA ASMA
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4 CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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839
Determinantes fisiopatológicos do desenvolvimento da obesidade
CAPÍTULO 43
DETERMINANTES FISIOPATOLÓGICOS DO
DESENVOLVIMENTO DA OBESIDADE
Iara Leão Luna de SOUZA1
Luiz Henrique CésarVASCONCELOS1
Fabiana de Andrade CAVALCANTE 2,3
Bagnólia Araújo da SILVA3,4
1
Doutoranda(o) do curso de PgPNSB/CCS/UFPB; 2 Professora do DFP/
UFPB3 Orientadora/Pesquisadora do PgPNSB/CCS/UFPB; 4 Professora do DCF/UFPB.
iara@ltf.ufpb.br
bagnolia@ltf.ufpb.br
840
Determinantes fisiopatológicos do desenvolvimento da obesidade
para o organismo.Nessa revisão, serão abordados
determinantes fisiopatológicos que favorecem o
desenvolvimento da obesidade, com o foco na regulação
hormonal e na distribuição das reservas adiposas.
Palavras-chave:Obesidade. Regulação hormonal.
Adiposidade Corporal.
1 INTRODUÇÃO
841
Determinantes fisiopatológicos do desenvolvimento da obesidade
Na prática clínica cotidiana e para a avaliação em nível
populacional, a classificação de sobrepeso e obesidade em
adultos é realizada através da medida do índice de massa
corpórea (IMC), representado pela razão entre o peso
(expresso em kg) e o quadrado da estatura (expresso em m)
(ABESO, 2016). Segundo dados do Ministério da Saúde, a
utilização desse índice é comum por sua facilidade de
mensuração e por ser uma medida não invasiva e de baixo
custo (BRASIL, 2014), entretanto, o IMC não evidencia a
distribuição do tecido adiposo corporal, sendo recomendada a
avaliação concomitante de outras medidas antropométricas
como a determinação das circunferências torácica e
abdominal e das dobras cutâneas para o diagnóstico da
doença (ABESO, 2016).
No Brasil, tem-se utilizado a classificação de sobrepeso
e obesidade proposta pela Organização Mundial de Saúde
(OMS) e baseada em padrões internacionais desenvolvidos
para pessoas adultas descendentes de europeus. Com base
nessas medidas, os indivíduos são considerados com
sobrepeso quando apresentam IMC na faixa de 25 a 29,9
kg/m2 e obesos quando o IMC é igual ou superior a 30 kg/m 2
(ABESO, 2016).
Em virtude da obesidade resultar da interação
gene-ambiente, o estudo dos mecanismos pelos quais essa
doença produz diferentes disfunções fisiológicas é facilitado
pela utilização de cmodelos animais que compartilham
características semelhantes à doença apresentada pelos
humanos, como o aumento do estresse oxidativo, processo
prejudicial ao organismo, uma vez que altera a funcionalidade
de diversos componentes celulares (HALLIWELL;
GUTTERIDGE, 2015).
842
Determinantes fisiopatológicos do desenvolvimento da obesidade
Nesse contexto, a pesquisa evoluiu de estudos que
evidenciavam primariamente as bases do fenótipo obeso para
estudos contemporâneos que possibilitam a manipulação
laboratorial e genética para decifrar as falhas dos circuitos que
controlam a relação fome-saciedade e o impacto variável que
as reservas adiposas acarretam no desenvolvimento das
comorbidades(BARRETT; MERCER; MORGAN, 2016).
Nesta revisão serão abordados os determinantes
fisiopatológicos que favorecem o desenvolvimento da
obesidade, com o foco na regulação hormonal e na
distribuição das reservas adiposas.
2 MATERIAIS E MÉTODO
843
Determinantes fisiopatológicos do desenvolvimento da obesidade
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
844
Determinantes fisiopatológicos do desenvolvimento da obesidade
apresentou o maior percentual de adultos obesos (21,7%),
superando a média nacional (18,9%) (BRASIL, 2017).
847
Determinantes fisiopatológicos do desenvolvimento da obesidade
receptores pré-sinapticos inibitórios expressos nos neurônios
orexígenos (DUSANOV et al., 2016).
Além do PYY, as células L intestinais secretam o
peptídio semelhante ao glucagon 1 (GLP-1) devido à presença
luminal de lipídios e carboidratos. Esse peptídio estimula a
secreção de insulina e dificulta a secreção de glucagon
(DAILEY; MORAN, 2013); além disso, promove efeito
anorexígeno. Os mecanismos responsáveis pela redução da
ingestão alimentar não estão completamente esclarecidos,
mas envolvem a ligação do GLP-1 a seu receptor no
hipotálamo, nervos aferentes vagais e/ou na área postrema,
que ativa neurônios catecolaminérgicos com projeções para o
núcleo do trato solitário. A sensação de saciedade promovida
pelo GLP-1 também é associadaà inibição do esvaziamento
gástrico (SHAH; VELLA, 2014).
Após a absorção dos nutrientes presentes nos
alimentos, outros hormônios como a leptina e a insulina se
destacam no controle da ingestão alimentar. A leptina é uma
proteína de 16 kDa, secretada principalmente pelo tecido
adiposo branco (TAB), entretanto, outros órgãos produzem
esse hormônio como o estômago, a placenta e o tecido
adiposo marrom (TAM) (ZHOU, Y.; RUI, 2013). São expressas
cinco isoformas de receptores de leptina (Ob-Ra/e), mas
apenas o Ob-Rb (forma longa) é responsável pela sinalização
intracelular desse hormônio. O Ob-Rb pertence à família de
receptor das citocinas e sua ativação inicia a cascata de
sinalização da Jannus cinase 2 (JAK2), que fosforila resíduos
de tirosina e culmina na ativação do transdutor de sinal e
ativador de transcrição do tipo 3 (STAT3), que se desloca para
o núcleo para estimular a transcrição gênica nos diversos
núcleos hipotalâmicos que regulam a ingestão alimentar. A
leptina ativa os neurônios POMC/CART e inibe os neurônios
848
Determinantes fisiopatológicos do desenvolvimento da obesidade
NPY/AgRP (LADYMAN; GRATTAN, 2013; WUNDERLICH;
HÖVELMEYER; WUNDERLICH, 2013).
A inibição de vias alternativas pela leptina, como a da
cinase sensível a estímulos externos (ERK) e da cinase de
fosfatidilinositol 3 (PI-3K) estimula o sistema nervoso
simpático, favorecendo o aumento do gasto energético
(HARLAN; RAHMOUNI, 2013; BALLAND et al., 2014).
Como os níveis plasmáticos de leptina são
correlacionados aos depósitos corporais de tecido adiposo,
quanto maior reserva de tecido adiposo, mais leptina
circulante, o que favorece a inibição dos neurônios
NPY/AgRP. Entretanto, em indivíduos obesos é observada
uma combinação de hiperleptinemia e hiperfagia,
caracterizando um quadro de resistência a leptina, atribuído a
alterações no receptor e/ou deficiências no transporte desse
hormônio pela barreira hematoencefálica (JUNG; KIM, 2013).
Semelhante ao observado para a leptina, os níveis
plasmáticos de insulina são correlacionados positivamente
com a adiposidade corporal (HOCKING et al., 2013). Esse
hormônio é produzido nas células beta pancreáticas e
favorece a captação de glicose e redução da glicemia, o que
representa um estímulo para o aumento do apetite. Porém, a
ação da insulina no ARC promove ativação de neurônios
POMC/CART e inibição de neurônios NPY/AgRP, com
resultado final de saciedade e aumento do gasto energético
(LOH et al., 2017).
Conforme descrito, o ARC responde a uma variedade
de sinais provenientes antes e após a alimentação, e a sua
capacidade de regular a ingestão de nutrientes depende de
alvos existentes em outras áreas hipotalâmicas como o núcleo
paraventricular (PVN) e a área hipotalâmica lateral (LHA)
(ABDALLA, 2017). Nesses locais, o α-MSH se liga aos
849
Determinantes fisiopatológicos do desenvolvimento da obesidade
receptores de melanocortina do tipo 3 e 4 (MC3R e MC4R,
respectivamente), diminuindo o fluxo simpático e o gasto
energético, bem como o estímulo para consumo alimentar
(GIRARDET; BUTLER, 2014).
Nesse contexto, a regulação central da ingestão
alimentar depende da interação entre os neurônios orexígenos
e anorexígenos presentes no ARC. Neurônios orexígenos
expressam o AgRP, que é um antagonista endógeno da
melanocortina. Somado a isso, no corpo celular dos neurônios
POMC/CART são expressos receptores Y1 do NPY, e a
ligação desse peptídio ao seu receptor promove uma
hiperpolarização de membrana nos neurônios anorexígenos.
Contudo, ainda não foi descrita uma inervação inibitória
recíproca, o que demonstra uma interação assimétrica entre
os neurônios do ARC que colabora para o aumento da
ingestão alimentar, e pode ser considerado um fator que
auxilia no desenvolvimento da obesidade, com consequente
aumento de adiposidade corporal (KULICZKOWSKA-
PLAKSEJ; MILEWICZ; JAKUBOWSKA, 2012).
Tecido adiposo
853
Determinantes fisiopatológicos do desenvolvimento da obesidade
de 10 anos em adultos (SARJEANT; STEPHENS, 2012;
HEROLD; RENNEKAMPFF; ENGELI, 2013).
A expansão do TAB ocorre através do aumento no
tamanho dos adipócitos existentes pelo acúmulo de lipídios,
conhecido como hipertrofia, ou pelo aumento no número de
adipócitos através do recrutamento de pré-adipócitos,
processo chamado de hiperplasia (NAKAGAMI, 2013). Na
proliferação e diferenciação de pré-adipócitos, a ativação da
proteína α estimuladora de ligação a CCAAT (C/EBPα) e do
receptor ativador da proliferação de peroxissomos γ (PPARγ)
coordena a expressão de genes adipogênicos (TANG; LANE,
2012; ALI et al., 2013).
Diante dessas informações, a obesidade desenvolvida
durante a infância e a adolescência possui um caráter
hiperplásico, enquanto a obesidade adulta se caracteriza pela
hipertrofia dos adipócitos brancos pré-existentes
(RUTKOWSKI; STERN; SCHERER, 2015). De maneira
interessante, foi demonstradoque a obesidade humana
geralmente promove hipertrofia de adipócitos em reservas
subcutâneas superiores, porém, hiperplasia em reservas
inferiores (LESSARD; TCHERNOF, 2012).
4 CONCLUSÕES
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FUNDAMENTOS
TEÓRICOS E
FISIOLÓGICOS DO
CUIDADOR
863
CONTRIBUIÇÕES DE WANDA AGUIAR HORTA PARA A PRÁTICA DA
ENFERMAGEM BRASILEIRA
CAPÍTULO 44
864
CONTRIBUIÇÕES DE WANDA AGUIAR HORTA PARA A PRÁTICA DA
ENFERMAGEM BRASILEIRA
de cuidar permitindo identificar inconsistências e possíveis
falhas. Sendo uma intelectual brasileira de vanguarda
contribuiu e continua colaborando com seus pressupostos no
tocante ao avanço da enfermagem enquanto ciência do
cuidado contemplando ainda as relações entre o âmbito social
e cultural da saúde brasileira. Ávida por buscar
conhecimentos, abriu fronteiras em nível nacional e
internacional, mas principalmente, disseminou as teorias de
enfermagem.
Palavras-chave: Enfermagem; Teoria de enfermagem;
História da enfermagem.
1 INTRODUÇÃO
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CONTRIBUIÇÕES DE WANDA AGUIAR HORTA PARA A PRÁTICA DA
ENFERMAGEM BRASILEIRA
Nesse contexto, é pertinente que o profissional tenha
condições plenas de fornecer um cuidado integral embasado a
partir de um suporte teórico, e com isso, seja permitido
fundamentar com segurança a qualidade da sua assistência
(SOUZA et al., 2016). De acordo com a Resolução 358/09
para a implementação do cuidado de enfermagem, o
enfermeiro dispõe da Sistematização da Assistência de
Enfermagem (SAE) que direciona e organiza o trabalho
profissional quanto ao método, pessoal e instrumentos.
O Processo de Enfermagem (PE) enquanto método
sistematizador da assistência foi introduzido no Brasil em
meados da década de 1970, por Wanda Horta, que
desenvolveu um modelo teórico baseado nas Necessidades
Humanas Básicas (NHB) trabalhadas por Maslow na Teoria da
Motivação Humana (BORDINHÃO; ALMEIDA, 2012).
O PE deveria ser o alicerce, o eixo fundante e
estruturante da construção do conhecimento e,
consequentemente, da prática profissional (ensino,
assistência, pesquisa e gestão/gerenciamento), haja vista ser
o cuidado o objeto de estudo e de trabalho da Enfermagem
(GARCIA, 2016).
A utilização de teorias de enfermagem é de grande
relevância no que diz respeito à fundamentação da prática,
pois proporciona a valorização do corpo de conhecimento da
profissão, bem como a atuação do enfermeiro. A análise e
reflexão de uma teoria auxilia na garantia da validade e de seu
uso correto, proporcionando informações relevantes para seu
desenvolvimento (MEDEIROS; ENDERS; LIRA, 2015).
Um estudo realizado em 2013 com acadêmicos de
enfermagem revelou que, com relação às teorias de
enfermagem, a mais utilizada foi a das NHB, considerada
866
CONTRIBUIÇÕES DE WANDA AGUIAR HORTA PARA A PRÁTICA DA
ENFERMAGEM BRASILEIRA
atualmente uma das mais seguidas no país, norteando a
construção do conhecimento da profissão, auxiliando no
reconhecimento da realidade e definindo papéis no que diz
respeito à promoção e qualificação do desempenho
profissional (LINS et al., 2015).
Diante do exposto, este estudo apresenta como
questão norteadora: Quais as contribuições de Wanda Aguiar
Horta enquanto enfermeira e teórica no âmbito da
Enfermagem Brasileira?
Assim, esse artigo teve como objetivo refletir acerca das
contribuições de Wanda Aguiar Horta nas construções teórico-
metodológicas de natureza, formas e significações do cuidar
em enfermagem e nesse interin, discorreu-se sobre as
seguintes categorias: Vida e trajetória de Wanda Aguiar Horta,
Teoria das Necessidades Humanas Básicas e Contribuições
de Wanda Aguiar Horta para enfermagem.
2 MATERIAIS E MÉTODO
867
CONTRIBUIÇÕES DE WANDA AGUIAR HORTA PARA A PRÁTICA DA
ENFERMAGEM BRASILEIRA
de sentido que compõem uma comunicação, cuja presença ou
freqüência acrescentem perspectivas significativas ao objeto
de estudo em questão. A noção da temática está associada a
uma afirmação que diz respeito a um determinado assunto,
podendo ser apresentada por uma palavra, frase ou idéia
(MORAES; GALIAZZI, 2011). Após esta etapa, emergiram três
categorias: Vida e trajetória de Wanda Aguiar Horta, Teoria
das Necessidades Humanas Básicas e Contribuições de
Wanda Aguiar Horta para a enfermagem.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
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CONTRIBUIÇÕES DE WANDA AGUIAR HORTA PARA A PRÁTICA DA
ENFERMAGEM BRASILEIRA
na Escola de Enfermagem Universidade de São Paulo, em
1962. Tornou-se Doutora em Enfermagem, na Escola de
Enfermagem Anna Nery da UFRJ com a tese intitulada A
observação sistematizada na identificação dos problemas de
enfermagem em seus aspectos físicos, apresentada à cadeira
de Fundamentos de Enfermagem, Rio de Janeiro, em 31 de
outubro de 1968 (PIRES; MÉIER; DANSKI, 2011).
Wanda era poliglota falando francês, inglês e espanhol.
Ancorada nos conhecimentos científicos, abriu fronteiras
internacionais em viagens pela Europa e Estados Unidos.
Trabalhou em diversas instituições no período de 1948 a 1958
entre as quais destacamos: Chefe de Enfermagem do Serviço
de Enfermagem do Hospital Central Sorocabano, SP, no
período de 1954 a 1955 e como professora do Curso de
Auxiliares de Enfermagem do Hospital Samaritano, SP, no
período de 1956 a 1958 (PIRES; MÉIER; DANSKI, 2011).
Na escola de enfermagem da USP no período de 1959
a 1981, como professora auxiliar de Ensino da cadeira de
Fundamentos de Enfermagem de 1959 a 1968, como
Professor Livre Docente no período de 1970 a 1974, como
Professor Titular das disciplinas Introdução à Enfermagem e
Fundamentos de Enfermagem, no período de 1968 a 1974,
como Professor adjunto de 1974 a 1977. Em 1981, ano do seu
falecimento, foi proclamada Professor Emérito pela Egrégia
Congregação da Escola de Enfermagem da Universidade de
São Paulo. Enquanto teorista sua obra que foi considerada um
marco no processo de modernização da enfermagem. Em
continuidade aos seus estudos, em 1971 escreveu sobre a
“Metodologia do processo de enfermagem” e, no mesmo ano,
“A observação sistematizada como base para o diagnóstico de
enfermagem”, artigos que foram publicados na Revista
869
CONTRIBUIÇÕES DE WANDA AGUIAR HORTA PARA A PRÁTICA DA
ENFERMAGEM BRASILEIRA
Brasileira de Enfermagem (KLETEMBER; SIQUEIRA;
MANTOVANI, 2006).
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CONTRIBUIÇÕES DE WANDA AGUIAR HORTA PARA A PRÁTICA DA
ENFERMAGEM BRASILEIRA
Os conceitos metaparadigmáticos e abstratos dessa
estrutura constituem os seres humanos, a Enfermagem, o
ambiente e a saúde. O Ser humano é definido como sendo
parte integrante do universo dinâmico, e como tal sujeito a
todas as leis que o regem, no tempo e no espaço, dando e
recebendo energia. A Enfermagem é caracterizada como a
ciência e a arte de assistir o ser humano no atendimento de
suas necessidades básicas, de torná-lo independente desta
assistência, quando possível, pelo ensino do autocuidado. O
Ambiente é entendido como o universo dinâmico em que o ser
humano se encontra sujeito às leis que o regem, assim como
a Saúde é compreendida como um estado de equilíbrio
dinâmico no tempo e no espaço (HORTA, 1979).
872
CONTRIBUIÇÕES DE WANDA AGUIAR HORTA PARA A PRÁTICA DA
ENFERMAGEM BRASILEIRA
para organizar as informações e os dados dos clientes, para
cuidar e avaliar os resultados do processo de cuidar (MATOS
et al., 2011).
As teorias de enfermagem orientam o cuidado elegível
para cada ser humano, na medida em que, se volta para
pontos centrais inerentes ao cuidado que são o paciente, a
interação paciente-ambiente, a relação enfermeiro-paciente e
por fim a terapêutica de enfermagem (SALES; PAIXÃO;
CASTRO, 2011).
Em contraponto, o modelo assistencialista, biomédico e
cartesiano, em muitos momentos, tem se mostrado fragilisado,
na medida em que não é capaz de oferecer suporte às
necessidades mais profundas do ser humano e também
atender às inquietações da alma (SAVIETO; LEÃO, 2016).
Assim, a enfermagem tem procurado possibilidades de
compreensão e formas de cuidar que possam ultrapassar os
limites construídos por esse modelo, de forma que exista
valorização de condições pessoais, subjetivas e culturais em
todas as interfaces do processo de cuidar (FAVERO;
PAGLIUCA; LACERDA, 2013).
No Brasil, a SAE começou com os estudos de Wanda
Aguiar Horta e nas últimas décadas os enfermeiros
conquistaram não apenas um modelo, mas uma linguagem e
uma legislação, além de compromissos políticos, éticos e
assistenciais. No plano assistencial, o emprego dessa teoria
trouxe como implicação para o enfermeiro a atitude de movê-
lo à provisão do cuidado de enfermagem contemplando os
campos biopsicossocial, compreendendo que eles formam o
todo indivisível que compõe o paciente (GUIMARÃES et al.,
2016).
873
CONTRIBUIÇÕES DE WANDA AGUIAR HORTA PARA A PRÁTICA DA
ENFERMAGEM BRASILEIRA
Mediante o significado e a importância da TNHB para a
assistência de enfermagem brasileira, bem como o fato de ser
a Teoria mais utilizada para fundamentar o cuidado de
enfermagem na prática cotidiana desta categoria profissional,
percebe-se que ainda é tímida a produção e publicação de
trabalhos.
No entanto, as pesquisas evidenciam uma maior
preocupação e estímulo por parte dos enfermeiros em
implementar o cuidado baseando-se nos pressupostos de
Wanda Aguiar Horta, contribuindo assim para uma melhoria da
qualidade da assistência de enfermagem ao paciente, bem
como para a valorização profissional da Enfermagem.
4 CONCLUSÕES
874
CONTRIBUIÇÕES DE WANDA AGUIAR HORTA PARA A PRÁTICA DA
ENFERMAGEM BRASILEIRA
relações entre a enfermagem, o social e o cultural da saúde
brasileira. Por se tratar de uma intelectual de vanguarda, abriu
fronteiras em nível nacional e internacional, mas,
principalmente, disseminou as teorias de enfermagem.
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CONTRIBUIÇÕES DE WANDA AGUIAR HORTA PARA A PRÁTICA DA
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CONGRESSO NACIONAL DE SAÚDE E MEIO AMBIENTE:
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IMEA
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Av Senador Ruy Carneiro, 115 ANDAR: 1; CXPST: 072;
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58032-100
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