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BRICS: expansão fortalece China EDITORIAL


Sem anistia para os militares.
e aprofunda divisão mundial Bolsonaro na cadeia!

Da forma como ocorreu, a expansão também beneficia a Pacto com Arthur Lira é cilada
Rússia, pois a ajuda a minimizar os efeitos das sanções
econômicas, principalmente se as negociações sobre novas Reforma Tributária: avanços e
moedas de troca forem para frente. limites

Henrique Canary, da Redação VEJA MAIS


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Publicado em: 25/08/2023 10h54

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 Ricardo Stuckert

Joanesburgo, África do Sul, 24.08.2023 – Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva,
participa da Sessão I do Diálogo de Amigos do BRICS, BRICS-Africa Outreach e BRICS Plus. Foto:
Ricardo Stuckert/PR

Encerrou-se ontem em Johanesburgo, África do Sul, a 15º Cúpula dos


BRICS. A reunião se revestia de especial importância por alguns motivos.
Em primeiro lugar, foi o primeiro encontro presencial entre os líderes de
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul desde a pandemia. Em segundo
lugar, e mais importante, a pauta estava concentrada no problema da
expansão do bloco, já que apenas nos últimos meses cerca de 30 países
fizeram pedidos formais para serem integrados ao grupo.

Além da incorporação de novos membros, a ordem do dia contemplava


também questões como o abandono paulatino do dólar e a adoção de
outras moedas nas transações comerciais entre os países, além de
questões que envolvem o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB),
entidade financiadora do desenvolvimento do bloco, sediada em Xangai e
presidida por Dilma Rousseff. Vladimir Putin foi o único líder que
participou da reunião à distância, devido à ordem de prisão emitida contra
ele pelo Tribunal Penal Internacional (TPP), do qual a África do Sul faz
parte.

A história dos BRICS é irregular. Fundado em 2009 por aquelas que eram
consideradas então as economias mais dinâmicas do planeta, o bloco já
nasceu grande, com um PIB total que correspondia a 17% do total
mundial. No entanto, o grupo sempre foi um pouco amorfo, sem pautas
comuns definidas e sem uma identidade própria que o diferenciasse de
outras formações geopolíticas. Isso começou a mudar na medida do
crescimento econômico chinês e da consolidação da Terra do Meio como
única potência em ascensão capaz de desafiar a hegemonia norte-
americana.

Até quinta-feira, os BRICS já correspondiam a cerca de 40% da população


mundial (3,26 bilhões de pessoas) e 26% da riqueza gerada no planeta (26
trilhões de dólares). Com a expansão, o bloco passa a ter uma população
de 3.699.303.884 pessoas (46% do total), uma área de 48.489.600 km2 e
um PIB que corresponde a 36,64% da produção global. As exportações
do bloco correspondem a 20% do total de exportações do mundo. Para se
ter uma ideia, o G7 tem hoje uma população de 776.976.507 pessoas,
uma área de 21.624.939 km2 e um PIB correspondente a 29,99% do total
planetário. Além dos mostradores estáticos, a dinâmica entre os países
também é considerada positiva. Os investimentos mútuos (de um país
membro em outro) cresceram seis vezes nos últimos anos e os
investimentos globais (em outros países fora do bloco) dobraram no
mesmo período.

Todos esses números foram aos poucos convencendo os líderes do bloco


de que estavam diante de um potencial ainda não totalmente realizado.
Assim, as conversas sobre a ampliação do grupo começaram ainda em
2021, promovidas fundamentalmente pela China, interessada em ampliar
sua influência através de um aglomerado geopolítico dinâmico, com
presença em praticamente todos os continentes. A Rússia também se
posicionou pela expansão, principalmente depois do início da guerra na
Ucrânia, quando foi submetida a duras sanções e precisava evitar o
isolamento econômico, político e diplomático. Índia e Brasil mantinham
posições mais cautelosas, temendo que a expansão do bloco pudesse
descaracterizá-lo e fazê-lo perder importância de fato. Ao final, prevaleceu
a ideia de uma expansão controlada, com um convite a um restrito
número de países, de maneira a manter a identidade do grupo (até
mesmo o nome será mantido) e a presença equilibrada de todas as
regiões e continentes.

Assim, foram convidados Argentina, Egito, Irã, Etiópia, Arábia Saudita e


Emirados Árabes Unidos, que passarão a ser membros efetivos do bloco
a partir de 1º de janeiro de 2024, quando a presidência do grupo passará
para a Rússia, responsável também por organizar o próximo encontro na
cidade de Kazan. Os novos membros têm a característica comum de
serem importantes atores regionais em seus continentes, embora sua
dinâmica econômica e diplomática seja bastante heterogênea. A
Argentina, por exemplo, apesar de ser, de fato, uma economia importante,
se encontra em uma forte crise financeira, caracterizada pela alta da
inflação e empobrecimento geral da população e agora uma incógnita
política com a vitória do fascista Javier Milei nas primárias nacionais. No
entanto, o convite ao país platino parece ter sido uma concessão a Lula
em troca do apoio à ideia geral de expansão do bloco. A Arábia Saudita
tem sido um parceiro fiel dos Estados Unidos, embora nos últimos anos
tenha se aproximado também da China, que chegou a costurar um acordo
entre Riad e Teerã com vistas à superação da animosidade histórica entre
os dois países.

Assim, será preciso ver como essa nova conformação dos BRICS
funcionará na realidade. De qualquer forma, a reunião em Johanesburgo
deve ser considerada uma vitória política e diplomática de Xi Jinping, que
ampliou o poder da China no interior do bloco e consequentemente no
cenário geopolítico mundial. Pequim estava interessada sobretudo na
expansão rumo à África, onde seus investimentos não param de crescer,
mas também na incorporação de Irã e Arábia Saudita, para os quais a
China é um fiador diplomático. Levou quase tudo que queria. Da forma
como ocorreu, a expansão também beneficia a Rússia, pois a ajuda a
minimizar os efeitos das sanções econômicas, principalmente se as
negociações sobre novas moedas de troca forem para frente.

O fortalecimento e expansão dos BRICS também aprofunda a divisão


geopolítica mundial, polarizando ainda mais os dois grandes blocos que
já vinham se enfrentando. Pode-se afirmar que, até certo ponto, a China
agora tem um instrumento mais sob seu controle e que se adequa melhor
ao seu projeto de disputa de hegemonia. Além disso, o caráter da
expansão fortalece o discurso de que se trata de uma luta entre o Sul
Global e as potências europeias e anglo-saxãs. Certamente China e
Rússia se aproveitarão desse cenário, mas principalmente a China, com
seu projeto de Nova Rota da Seda e a expansão de sua influência. Segue
pendente a questão militar, que não é objeto dos BRICS, mas que
necessariamente deve ser encarada pela China se ela quiser disputar a
sério a hegemonia mundial com os Estados Unidos. A guerra na Ucrânia
mostra que não haverá uma nova ordem mundial sem novos conflitos
armados.

O século 21 certamente será um lugar para viver muito diferente do que


foi o século 20. As transformações estão ocorrendo a olhos vistos e terão
consequências de longo prazo.

Marcado como:
BRICS / CHINA / GEOPOLÍTICA

Publicado em: 25/08/2023 10h54 Modificado em: 28/08/2023 06h26

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