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Prova 2 - Literatura Grega

Nome: Andrei Gonçalves Dias


Nome: Antônio Vinicius Ferreira da Fonseca
Nome: João Victor Andrade Araujo
1.
Édipo foi aquele que, por meio de sua inteligência e racionalidade, desvendou
o enigma da esfinge que assolava a cidade de Tebas. Assim, é simbólico que a
resposta do famoso enigma seja o ser humano; Édipo é aquele homem que
desvendou a humanidade. Então ele se torna o símbolo das capacidades
humanas racionais de solucionar problemas, venerado como um deus que dita
os rumos do cosmo, se tornando arrogante pois esquece de sua própria
condição.
Quando sua cidade é assolada pela peste, Édipo deseja afirmar sua
capacidade de resolver os males da cidade: ele convoca Tirésias, um adivinho
cego, para que ele lhe diga o motivo dessa desgraça. O adivinho cego é uma
figura simbólica, visto que ele é aquele que perdeu a visão sensorial mas
consegue ver um estrato mais importante da realidade. Ele é aquele mediador
entre as coisas humanas e as coisas divinas. Quando contrastado com Édipo,
é importante notar que o rei tebano é aquele que vê com os olhos mas está na
ignorância, enquanto Tirésias é o cego que sabe o que de fato está
acontecendo. Mais simbólico ainda é o fato de Édipo zombar da cegueira de
Tirésias a certa altura da peça, visto que o rei se cegará ao descobrir a verdade
sobre si mesmo.
Entretanto, quando convocado para dizer ao tirano qual é a causa da peste, o
adivinho se cala por medo. Com efeito, a verdade é dolorosa para Édipo, visto
que ele é a causa da peste, ele é aquele que está causando todo o mau para a
cidade; quem o rei jurou punir por seus crimes terríveis. Assim, após ameaças,
Tirésias dá a entender por meio de uma linguagem oracular que Édipo é de fato
o culpado. Ao entender isso, ele se revela como um tirano no sentido pejorativo
do termo: ele acusa o adivinho de tramar conspirações junto de Creonte para
tira-lo do poder, ele se afirma superior aos poderes do oraculo. O tirano não
quer resolver o problema da cidade, mas deseja manter o poder a qualquer
custo, ignorando de forma irracional as evidencias de sua culpabilidade. Dessa
maneira, o ágon entre Édipo e Tirésias é um ponto chave da peça, ao revelar
todas as falhas da condição humana (visto que Édipo é como o ápice do ser
humano) frente ao poder do divino. A falha de compreender sua própria
condição mortal é a perdição de Édipo. De fato, de nada adianta resolver o
enigma de toda a humanidade, no universal, se não é se capaz de resolver seu
próprio enigma, de aceitar a verdade sobre si mesmo.

2.
Há de se ter em mente que a comédia é uma forma de arte iminentemente política na
Grécia antiga. A peça Os Cavaleiros, em si, enseja uma crítica a Cléon, político ateniense
que encontra o auge de sua popularidade por meio do seu êxito militar. Dessa maneira, a
personagem Paflagonio, um escravo, é a alegoria de Cleon na peça. Há de certa forma
uma analogia do escravo com o político demagogo pois ambos submetem suas ações ao
desejo do outro, que no caso do político é o desejo do povo, buscando agradá-lo ou
adulá-lo. O eixo central da peça encontra-se na sucessão de agóns (disputas) entre o
salsicheiro e o Paflagonio. Isso se dá em torno da disputa entre os dois pela conquista do
povo. Nesse sentido, há uma crítica de Aristófanes não somente aos políticos aduladores,
mas também ao povo que gera estes próprios aduladores e se deixa conquistar por eles
por meio dos benefícios a curto prazo.
Dessa maneira, a peça Os Cavaleiros apresenta uma ampla crítica à democracia
ateniense ao evidenciar que os maus políticos surge dos vícios e da ignorância do povo
ao mesmo tempo em que caracteriza o papel desses políticos como demagogos que são
escravos do desejo do povo. Assim, a peça enseja uma crítica que é bastante atual e
refere-se à importância do papel das virtudes para a boa condução da política no sentido
lato (ou da pólis).

3.
A filosofia começa com a morte de Sócrates, este que era a imagem do filósofo por
excelência construído por Platão em seus diálogos e que morre ao ser condenado a
tomar cicuta diante do tribunal de Atenas.
Sócrates é acusado por três homens diante do tribunal, Meleto, Lícon e Ânito mas o
mesmo reconhece que vêm sendo caluniado a muito mais tempo e abre sua defesa ao
lembrar das acusações feitas por um “certo comediógrafo”, referência clara a Aristófanes
que em sua peça intitulada “As Nuvens” mostra pela primeira vez o filósofo Sócrates
como um personagem dentro de uma obra ficcional.
Nessa peça, Aristófanes narra uma história que trata da preocupação dos atenienses com
a nova forma de educação que cresce em sua cidade com o aumento da presença dos
sofistas em Atenas. Estes sofistas traziam consigo uma nova forma de educação que
prometia ensinar virtude e fazia os jovens da aristocracia ateniense que podiam pagar por
seus serviços em exímios oradores, prometendo ensiná-los a defender todos os
argumentos, fazendo assim o argumento mais forte vencer o mais fraco e o mais fraco
vencer o mais forte.
Aristófanes escolhe Sócrates como personagem por esse representar o movimento
sofístico em Atenas, pois por muitos sofistas que estivessem presentes na cidade que
crescia em influência durante a Guerra do Peloponeso, Sócrates era um dos únicos que
não era estrangeiro, sendo assim, era símbolo dessa nova educação que, na visão do
comediógrafo, ameaçavam acabar com os valores que existiam na cidade desde muito
tempo.
O enredo da peça trata de um senhor que sai da zona rural para a cidade, Estrepsíades,
que fica endividado após seu filho, Fidípides, perder todo seu dinheiro por seu vício em
cavalos. Por isso, o pai vai procurar Sócrates que é conhecido na cidade como o sofista
que possui uma escola onde ensina a fazer o raciocínio injusto vencer o raciocínio injusto,
e assim pode ensiná-lo a como convencer seus credores de que ele não precisará pagar
suas dívidas. Ao chegar na escola de Sócrates, este aparece “olhando o Sol de cima” e
como um homem que ensina em sua escola sobre as coisas do céu e da terra, e tenta
ensinar Estrepsíades os mistérios do culto das nuvens que são as verdadeiras deusas
junto ao que ele chama de turbilhão e afirma também que os deuses nos quais o povo
acredita são “meras superstições”. Porém, o velho não consegue aprender
os ensinamentos de Sócrates justamente por já estar velho e não conseguir mais
aprender novas coisas, então o velho obriga Fidípides a aprender com Sócrates, que vê
no garoto uma aptidão natural para a prática do que é chamado de “logorreia” (pode ser
traduzido como um “diarreia discursiva”, aludindo que é um discurso de charlatanismo que
não se preocupa com a verdade) por Aristófanes de forma pejorativa, e assim o garoto é
apresentado aos raciocínios justo e injusto e deve escolher com qual quererá aprender. O
jovem opta pelo raciocínio injusto que o promete grandes coisas e aprende a arte dos
discursos dos sofistas que “faz vencer o argumento mais fraco sobre o mais forte” e
consegue livrar o pai de seus credores. Posteriormente o filho usa de seus argumentos
para bater em Estrepsíades e afirma que bateria em sua mãe até se fosse possível,
fazendo o pai perder a paciência e ir queimar o “pensatório” onde Sócrates leciona.
A visão de Sócrates apresentada na peça vai perdurar durante os anos para o povo
ateniense e, por isso, na apologia de Sócrates este decidirá primeiro responder a estas
acusações mais antigas que são: fazer o argumento mais fraco vencer o mais forte,
subverter a juventude e não acreditar nos deuses. E a razão de Sócrates ser condenado é
justamente devido a essa visão que perseguiu a vida do filósofo que por questionar
aqueles que se diziam sábios criou muitos inimigos.
O nascimento da filosofia se dá após a morte de Sócrates e ela é sua imitação. A partir
disso é possível pensar que a visão que Aristófanes construiu de Sócrates e que foi
responsável pela sua morte ao torná-lo personagem de uma obra pela primeira vez, uma
obra que que tratava da subversão da educação ateniense pelos sofistas, foi o grande
gatilho que fez com que seus alunos (principalmente Platão e Xenofonte) utilizassem do
professor como personagem de suas obras não só como modelo ideal do que o filósofo
deveria ser, mas também como uma tentativa de redenção desse personagem e de
defendê-lo de sua acusação inicial. Dessa forma, Aristófanes teria ligação direta com o
nascimento da filosofia e seria um dos principais responsáveis pelo seu surgimento, a
partir do posicionamento que a personagem Sócrates tem em sua peça mais famosa.

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