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MITO, TRAGÉDIA E FILOSOFIA: O SURGIMENTO DA PÓLIS NA GRÉCIA

ANTIGA1

A tragédia grega surge no século 5º antes de Cristo. E o seu nascimento, é


inseparável da organização cívica, da elaboração da democracia ateniense.

Neste período, nas cidades gregas, se institui o direito: são fundados os


tribunais, compostos de cidadãos encarregados de fazer os julgamento. Na
época dos mitos, nos poemas épicos de Homero, do século VIII a.C, os heróis,
Aquiles e Ulisses, são apresentados como modelos.

Com a tragédia, é a cidade que se interpreta ela mesma diante do público.


O desenvolvimento intelectual avança, com a medicina, a geometria, a filosofia.
Assistimos a uma ruptura com um modo de pensar arcaico. Estamos em um
período intermediário: os heróis mitológicos, celebrados como valores, agora são
questionados. Indico para leitura sobre o surgimento da tragédia, dos tribunais e
da filosofia no contexto da pólis grega, o artigo de Jean-Pierre Vernant, “O herói
e o monstro”.

Na filosofia, Sócrates, no século IV a.C, representa esse novo modo de pensar.


Ele marcou a filosofia ocidental com um tipo de sabedoria que valoriza o
argumento, e o raciocínio por meio de questionamentos e perguntas.

Um exemplo é um dos seus diálogos escritos por Platão, quando Sócrates


indaga Eutidemo se “ser enganador corresponde a ser imoral.” Ao responder,
inicialmente, que é óbvio, Eutidemo se vê cada vez menos convicto com os
subsequentes questionamentos propostos por Sócrates. Ao final do diálogo, a
sua certeza prévia é contestada pelos contraexemplos apresentados por
Sócrates.

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Texto de aula de autoria do prof. Joaquim Humberto Coelho de Oliveira
Indico o vídeo com o diálogo entre Sócrates e o sofista Hípias sobre a beleza,
como mais um exemplo do estilo socrático. Segue o link:
https://www.youtube.com/watch?v=nSs-tNRZGYI

Sócrates não nos deixou nada por escrito. Os diálogos de Platão são a principal
fonte a seu respeito. Por isso mesmo, não podemos discernir o que é próprio de
Sócrates ou criação de Platão.

A ideia que muitos acreditam ser de autoria de Platão é a separação entre os


mundos sensível ou das aparências e o inteligível ou das essências. O primeiro
é causa dos enganos e o segundo onde se abrigam as ideias verdadeiras.

Sugiro que vocês assistam a animação sobre a alegoria da caverna, no seguinte


link: https://www.youtube.com/watch?v=7TCSC5RSEKQ

Essa teoria de Platão, também conhecida como teoria das formas, justifica, no
plano político, a sua crítica à democracia. O governo da maioria seria enganador
como os sentidos. Caberia aos sábios ou filósofos, por conhecerem a ideia da
justiça, governarem a cidade justa.

Além dessa crítica teórica à democracia, Platão defendia a aristocracia, ou o


governo dos melhores, porque na prática foi o governo democrático de Atenas
que condenou Sócrates com a pena capital. Sócrates ao criticar a democracia,
foi julgado culpado pelo tribunal da cidade. Um caso para se pensar a
democracia nos dias atuais: a democracia deve tolerar os que lhe são
intolerantes? Sobre esse tema sugiro a leitura do texto do Hélio Schwartsman,
“Tolerar os intolerantes?”. Para saber mais sobre Sócrates, indico o texto
“Sócrates e Platão: o homem que perguntava”, do livro “Uma breve história da
Filosofia” de Nigel Warburton.

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