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Direito Romano Sebastiao Cruz - Compress
Direito Romano Sebastiao Cruz - Compress
PLANO GERAL
Introdução
1-Conceito de Direito Romano. 1I-Fases características do estudo do Direito Romano
. 111-Actualidade dos estudos romanisticos. IV-Razões justificativas da utilidade
do ensino do Direito Romano nas actuais Faculdades de Direito. V -Critério e método
a seguir. Matérias a versar. VI-Principal bibliografia.
1.a Parte-Fontes do «lus Romanum»
I -Fontes. Conceito. Espécies. II-Costume. 111 -Lei das XII Tábuas. IV-Fontes do «lus
Civile» (D. 1,1,7 pr.). V-Fontes do «lus Praetorium» (D. 1,1,7,1) VI--Ciência jurídica e a
s várias escolas. VII -Literatura jurídica. VIII -Principais jurisconsultos. IX -Obr
as e colectâneas pré-justinianeias: A)-Ocidentais; BI-Orientais. X - Corpus furis Ci
vilis. XI-Interpolações, glosemas e glosas.
2.a Parte - Vários conceitos e diversos princípios jurídicos Negócios jurídicos. «Actuo» e pr
cesso civil
I-Fas, ius, (ustitia, aequitas. li-1us civik, ias honorarium, ius praetorium, iu
s naturale. 111-lus publicum e ius privatum. IV -Negócios jurídicos (nexum, stipulat
io, negócios «per aes et libram», mancipatio, in lure cessão, traditio, etc.) V-lus e
actuo. VI-As actiones do processo civil romano.
3.a Parte - Algumas instituições do idos Romanum»
1-Personalidade jurídica. II-Patrimonium e propriedade. III-Obrigações. IV-Suces
sões e doações.
Este 1 vol. compreende a latreduçio e a 1! Parte.
0 II vol. (em preparação) abrangerá a 2.' e a 3.4 Partes.
Um III vol. (a preparar) conterá uma selecção de textos jurídicos, no original
e em tradução portuguesa, acompanhados dum brevíssimo comentário.
SEBASTIÃO CRUZ
DIREITO ROMANO
(IUS ROMANUM)
I
INTRODUÇÃO. FONTES
4. EDIÇÃO
Revista e Actualizada
COIMBRA
1984
AOS ESTUDIOSOS BRASILEIROS DE DIREITO ROMANO
i
Há quem nos chame (a nós, juristas) sacer. dotes; e com razão. Na verdade, prestamos c
ulto à Justiça; professamos a ciência do bom e do equitativo-separando o équo do iníquo, d
izendo o que é justo e o que é injusto, discernindo o lícito do ilícito, esforçando-nos pa
ra que os homens sejam bons, não só através da ameaça das penas mas sobretudo pelo estim
ulo dos prémios (inerentes' ao cumprimento do
devido) ».
ULPIANUS-(Lib. I Institutionum), D. 1.1,1,1
ÍNDICE GERAL
PRÓLOGO DA 1.' EnrçXo ...
PRÓLOGO DA 2.' EDIÇÃO ...
ALGUMAS ABREVIATURAS ... XLVII
XIX
XLVI
DIREITO ROMANO («IUS ROMANUM»)
«Muitos princípios do Direito Romano estão de perfeita harmonia com a recta razão, e por
isso formam como que uma filosofia jurídica perene».
A. VAN HOVE, Prolegomena luris2 (Lovaina, 1965)
«0 Direito- Romano ajuda à preparação do jurista moderno... é o alfabeto e a gramática da li
nguagem jurídica e de toda a Ciência do Direito».
A. BISCARD1 em Labeo 2 (1956) 211
Apresentação da disciplina...
INTRODUÇÃO
Título I - CONCEITO DE DIREITO ROMANO § 1. Noção vaga
1
Capitulo 1..'-Certos prolegómenos ao conceito de DR
§ 2. Necessidade da existência de normas sociais;
Particular necessidade da existência de normas jurídicas; como
se distinguem das outras normas sociais 8
7
várias espécies.
«. necessário que o estudo do Direito Romano ocupe o primeiro lugar, no currículo, uma
vez que constitui a base necessária e fundamental para conduzir os jovens à compree
nsão do Direito».
(A primeira das três conclusões, aprovadas por decisão unànime, do «Colóquio internacional d
e Direito Romano», realizado em Julho de 1970 no Rio de Janeiro; vid. infra 157 e
158. Vejam-se também págs. XXI-XXXVI do Prólogo, e 113-120 e 126 do texto).
Capítulo 2'-Análise da primeira parte da expressão «lus Romanum»
§ 3. a) lus (noção etjmológíca) ... b) lus (noção real)
Capítulo 3.°-lus. Derectum (Directum). Direito
A questão. Problema principal; problemas secundários ...
16 20
§ 4.
24
ix
Capítulo 4.' - Várias acepções em que pode e deve ser tomada a expressão «Direito Romano»
Capítulo 6.' - Tradição romanista (sécs. VI-XX)
§ 5. A expressão «Direito Romano», como «Direito dum povo», é expres
são muito vaga 33
Deve ser tomada em três grandes acepções
A) -em sentido rigoroso (stricto sensu)
B) -em sentido amplo (lato sensu)
C) -em sentido muito amplo (sensu latissimo)
Corpus luris Civilis (Conspecto geral)
Quem mandou organizar essa compilação; factores que contribuíram
para a sua efectivação ... . 35 Partes, datas e divisões 36
Edição crítica e escolar 37
Capítulo 5.' - Ius Romanum (Direito Romano «stricto sensu»)
a) - Épocas históricas
p)- Relação entre «lus Romanum» e «Imperium»
a) - Épocas históricas da vida do «lus Romanum»
§ 6. Necessidade de estabelecer uma periddização na vida do «lus Romanum» 39 Critéri
os mais importantes: político, normativo e jurídico (externo
e interno). Crítica 41 Segundo o critério adoptado (o jurídico interno - razões),
há quatro épocas históricas
a) Época arcaica (753 a.C.(?}130 a.C.) ... 43 b) Época clássica (130 a.C.-230 d.C.) ..
. 46 c) Época post-clássica (230-530) 48 d) Época justinianeia (530.565) 51
I-ius e auctoritas 55
II-Direito e Política em Roma 56
b) As várias formas políticas de Roma: Monarquia, República, Prin
cipado e Dominado. (Breve apontamento] 58 c) Confronto, através duma tábua cronológic
a, entre a vida do «Ius
Romanum» e a vida do «Imperium» 82
I - Supervivência do «Lus Romanum» II-Estudo do «lus Romanum»
I - Supervivénaá do «lus Romanum» (sécs. VI-XX)
0 fenómeno... ... 88
a) No Oriente ... 88
b) No Ocidente 90
II - Estudo do «fus Romanum» (sécs. VI-XX) Períodos e Escolas
PRIMEIRO período (sécs. VI-XI): no Oriente ... 91
no Ocidente 93
SEGUNDO período (sécs. XI-XX). Só interessa Ocidente ... 94
Fenómeno da «recepção» 95
Escolas: 1) - dos glosadores (sécs. XI-XIII) ... 96
(visão geral) 2) -dos comentadores (sécs. XIII-XV) ... 97 3) -culta (sécs. XVI-XVIII)
99 4)-do Direito Natural (sécs. XVIII-XIX)... 99
5)-Histórica Alemã (séc. XIX) 100
Capítulo 7.'-Direito Romano (sensu latissimo)
§ 10. Compreende a existência de 27 séculos, 13 de vida e 14 de supervi
Título II-FASES CARACTERÍSTICA DO ESTUDO DO DIREITO ROMANO
§ 11. 1.' fase, desde o início até cerca de 1900 103
§ 12. 2.' fase, desde 1900 até cerca de 1950 104
§ 13. 3.' fase, desde 1950 ... 110
Título III-ACTUALIDADE DOS ESTUDOS ROMANÍSTICOS
§ 14. a) Como é feito, presentemente, o ensino do Direito Romano, nos vários países...
. 113
b) Sociedades de juristas defensoras dos estudos romanísticos ... 115
c) Revistas de Direito Romano 115
34
§ 8.
§9.
p) - Relação entre «lus Romanum» e «Imperium»
§ 7. a) Conexão entre a vida do Ius Romanum e a vida do Imperium Sua razão de ser: -co
nexão entre
54
101
X
XI
Título IV-RAZÕES JUSTIFICATIVAS DA UTILIDADE DO ENSINO DO DIREITO ROMANO NAS ACTUAIS
FACULDADES DE DIREITO
§ 15. Enumeração, por ordem hierárquica, e análise das várias razões ... 117 Titulo V
ITÉRIO E MÉTODO A SEGUIR. MATÉRIAS A VERSAR
§ 16. a) Critérios utilizados; critério a usar ... ... 121 b) Método, ins
trumental e processamento ... ... 124
c) Matérias a versar: o ideal; o possível ... ... 125
Titulo VI-PRINCIPAL BIBLIOGRAFIA
§ 17. a) Livros 127
b) Revistas 155
c) Autores principais da actualidade ... 156
1.' PARTE
FONTES DO «IUS ROMANUM»
Título I - FONTES DO «lUS ROMANUM». CONCEITO. ESPÉCIES
§ 18. Fontes do «lus Romanum» ... 161
a) Conceito 162
... 163
c) Conspecto geral das fontes cogrrascendi 165
Título 11-COSTUME
§ 19. 0 costume 169
a) Conceito moderno (consuetndo) e conceito romano (mores maio
rum) 170
b) Costume (mores maiorum) e ius non-scriptum. A inaerpretatio ... 172 e) Fases
do costume (mores maiorum) como fonte do «lus Roma
173
d) Costume (consaerudo) ... . 174
Título X1l-LEI DAS XII TÁBUAS
§ 20. a) Primeira «lei» do lus Romanum? Problema das «legas regiae» ou
«lus Papirianum»... . 175
b) 0 que diz a tradição e qual o seu valor a respeito da Lei das XII
Tábuas 182
c) Data 182 d) 182 e) Divisão, conteúdo e importância 183 f) Actividade da int
erpretará depois da Lei das XII Tábuas ... 184
g) Análise da Táb. III 185
Título IV-FONTES DO «IUS CIVILE» (D.1,1,7 pr.) A)-LEGES senso stricto B)-LEGES senso l
ato
C)- IURISPRUDENTIA
Capitulo I.°-A) LEGES («sensu stricto»): ROGATAE, DATAE(?), DICI'AE
§ 21. a) Conceito de lex ... 200 b) Espécies... . 202
c) Leges publieae. Evolução ... 205
Capítulo 2.°-B) LEGES («senso lato»)
(x) Senatusconsultos
R) Constituições imperiais
e)- Senausconsulta
§ 22. a) Conceito 217 b) Como adquiriram força legislativa ... 218 c) Como a foram p
erdendo 222 d) Estrutura formal. Denominação 223 e) Exemplos. Especial análise
dos senas. VeUcianum. Neronianum e
Macedomanum ... 224
SENATUSCONSULTUM VELLEIANUM
§ 23. 1- Razão da sua denominação, data, conteúdo e antecedentes 233, 2-Intercessio. Conce
ito. Espécies 235 3 - Justificação oficial da proibição da intercessio ... 236
4 - Efeito ... 237
... 238
6 - Análise dalgumas modalidades da «intercessio cumulativa».., 239 7 - Relação entre inte
rcessio cumulativa na forma de obrigação cor
real, «adpromissio», «expromissio» e «intercessio tacita» 245
XII
XIII
SENATUSCONSULTUM NERONIANUM
§ 24. a) Razão da designação, data e matéria
b) Espécies de legados e respectivas fórmulas ... c) Conteúdo: primitivo; posteriores
ampliações
c) Missiones in possessionem 326
d) Interdicts 327
SENATUSCONSULTUM MECEDONIANUM
§ 25. a)
b)
c) Consequência
d) A quem era concedida a exceptio («senac. Macedoniani»)... e) Casos em que era neg
ada a exeeptia («senac. Macedoniani») f) Fraude ao senac. Macedonianum; consequência .
..
P) - Constitutiones Principum
§ 26. a) As constituições imperiais durante o principado e parte do domi. nado (sécs. I-
IV)
b) No Baixo-Império (sécs. IV-VI)
Capítulo 3.°-C) Iurisprudentia
§ 27. a) Carácter complexo do saber-jurídico
b) lurisprudentia. Análise de D.1,1,10,2 c) Evolução histórica da iurisprudentia d) Funções
dos «jurisprudentes»
e) A iurisprudentia como fonte de direito ...
era a primeira coisa que a norma jurídica devia essencialmente proscrever. E esta
nossa interpretação do conteúdo jurídico do preceito «honeste vivere» harmoniza-se perfeitam
ente e apoia-se mesmo nos princípios filosófico-jurídicos básicos. Em concreto, na prime
ira razão de ser (diríamos até, na primeira parte da razão de ser) da norma jurídica como
norma social -proibir o abuso de liberdade (vid. supra 8)-, e especificamente co
mo norma jurídica: «proibir o abuso do direito», que outra coisa não é senão o abuso de libe
rdade no campo jurídico. Verdade é que, na experiência histórica escolar, a formulação deste
primeiro preceito, por vezes, permitiu que se lhe desse mais conteúdo moral do qu
e jurídico.
SEGUNDO preceito, não prejudicar ninguém («alterum non laedere»). Este, assim como o ter
ceiro, em rigor, constituem a base do viver social. São limites imperativos impost
os ao homem, como sujeito do ordenamento jurídico: «alterum non laedere», a estabelece
r que o uso dum direito próprio tem de coexistir com os direitos dos outros;
TERCEIRO, «suum cuique tribuere», a determinar o respeito absoluto pelos direitos de
outrem.
0 terceiro preceito é uma consequência natural do segundo; o segundo e o terceiro ba
seiam-se no primeiro. Nisto consiste a tal sua hierarquia e a sua interdependência
, a que aludíamos há pouco.
EM SÍNTESE: no 1.° preceito, proibe-se o abuso do direito; no 2.° preceito, limita-se
o uso do direito; no 3.° preceito, impõe-se o respeito pelo direito alheio.
De tal maneira estes três preceitos são essenciais à norma jurídica (são fundamento, são ali
cerce) que, se qualquer disposição (mesmo até só uma parte da regulamentação concreta) atraiç
ar um desses preceitos, toda a norma jurídica «cairá» (por falta de alicerce), «morrerá» (por
ue não tem alma). Quer dizer, essa norma chamada «jurídica» não é... (se desde o início viola
um desses preceitos) ou se foi jurídica, deixa de o ser... (se mais tarde vem cont
radizer algum dos tais preceitos). Pode no entanto ser uma norma social, mas de
outra espécie; não, porém, uma norma jurídica.
Estes três praecepta são próprios da societas iuris; por isso, o texto (D. 1,1,10,1 e
igualmente 1, 1,1,3) lhes chama «praecepta iuris». Não podem considerar-se comuns a to
das as normas de convivência humana.
Estes famosos tria praecepta iuris são uma síntese admirável de todo o ordenamento juríd
ico. Não se trata duma enunciação teórica, improvisada por qualquer pensador, isoladamen
te; são fruto duma experiência secular, vista e revista por vários jurisconsultos com
uma intuição especial para as coisas do Direito; ULPIANUS, a quem pertence este frag
mento, depois compilou, limitando-se talvez a recolher a última formulação, ou a reela
borar a melhor formu
13
DIREITO ROMANO
Dar e entregar-Juridicamente, são coisas diferentes. Na linguagem corrente, em ger
al, confunde-se dar com entregar e entregar com dar. 0 jurista, porém, tem de ser
muito rigoroso nas suas expressões, exacto na sua terminologia; preciso.
Em Direito, «dar» (dare) significa transferir para outrem a propriedade duma coisa; «e
ntregar» (tradere) significa «transferir a posse».
«Tribuere» (atribuir) tem um carácter genérico em relação a dar (dare) e a entregar (tradere
); isto é, tanto pode ser ou só dar, ou só entregar, ou dar e entregar; deve, pois, tr
aduzir-se por «atribuir» (transferir) algo ou popriedade ou posse ou propiedade e po
sse duma coisa) a alguém. Portanto, não é juridicamente exacta a tradução de «suum cuique tr
ibuere» por «dar a cada um o que é seu», como geralmente se diz (e há-de ser difícil convenc
er as pessoas do contrário; essa tradução [traição (?) do texto latino] já ganhou foros de c
onsagração). «Dar», nessa tradução infeliz e errada no aspecto jurídico, aparece com um signi
icado vulgar (corrompido) de «dar» (=«dar ou entregar»); mas, em Direito, repita-se, «dar» e
«entregar» são coisas diferentes. Daí que, juridicamente, alguém pode: dar e não entregar (
se transfere a propriedade, mas fica com a posse da coisa), entregar e não dar (se
transfere a posse, mas continua proprietário); dar e entregar (se transfere a pro
predade e a posse da coisa).
Traduzir «suum cuique tribuere» por «dar a cada um o que é seu» significa traduzir apenas
uma parte do conteúdo de «tribuere» e, consequentemente, não admitir a existência de «obrigaç
de entregar». Portanto, um jurista, traduzindo conscientemente «suum cuique tribuer
e» por «dar a cada um o que é seu», em boa lógica estaria a defender o erro grave, o ABSUR
DO, da não-admissibilidade de «obrigações de entregar».
Este erro grave resulta da corrupção do conceito jurídico de dar, significando quer «dar
ou entregar» quer «dar e entregar»; e essa corrupção provém sobretudo daquela época terrivel
ente confusa dos
lação, pois era um jurista dotado de excepcionais conhecimentos jurídicos e filosóficos
(vid. infra 400).
Nem sempre a estes preceitos foi atribuído o mesmo conteúdo; variou
conforme os princípios metajuridicos, de ordem filosófica (vid. infra § 27-b), que est
avam na base da ordem social e concretamente da ordem jurídica de determinada época
e de um povo. A própria história do Direito Romano o demonstra. Mas no eterno variar
de conteúdo, permanecendo externamente inalteráveis, vê-se melhor como estes praecept
a são universais e orientadores de toda a vida social jurídica, independentemente da
concepção que se tenha ou se defenda da existência humana em sociedade.
[Sobre estes três praecepta iuris vid. F. CALASSO, Storicità dei Dirito (Milão, 1966)
343-348; sobre os vários significados dados pelos autores e sobre o verdadeiro alc
ance do «honeste vivere» cf. BIONDI, II Dirito Romano Cristiano II 59-75 e 85.87].
14
INTRODUÇÃO - rir. t-cAP. 2° §§ 2-3
sécs. IV-VI (vid. infra 49 as características dessa época histórica do lus Romanum). Inf
elizmente, é dessa época de muitas confusões que procedem bastantes dos nossos conceit
os, terminologia e instituições jurídicas. Por isso, sublinhe-se desde já, o ensino do D
ireito Romano na actualidade com uma orientação dogmático-prática (vid, infra § 16-a)) tem
, entre outras, a missão importantíssima de mostrar a todo o jurista o que é clássico (p
ara, com as devidas adaptações, ser imitado) e o que é post-clássico (para, no geral, se
r evitado). Como ficou dito, a corrupção do conceito jurídico de dar verifica-se nos séc
s. IV-VI; mas inicia-se, um pouco antes, embora numa forma menos acentuada. Em n
osso entender, pode traçar-se uma linha evolutiva, deste modo: nos princípios d,:) séc
. III, nota-se uma confusão ou relaxe de daré/tradere (dar/entregar); nos sécs. IV-VI,
há uma verdadeira corrupção; essa confusão-corrupção avançou pela Idade Média fora; continuo
través dos tempos; penetrou e instalou-se na doutrina e em muitas legislações modernas
(vid. Sebastião Cauz, Da «Solutio»I [Coimbra, 1962] 198-205).
Traduzir «suum cuique tribuere», por «dar a cada um o que é seu» é pois um erro que tem uns
14 a 15 séculos de existência; por isso, dizíamos, vai ser difícil de desaparecer...
A uma norma jurídica, ao conjunto das normas jurídicas e aos preceitos jurídicos (quer
fundamentais quer gerais), chama-se «direito» (ius). Veremos, já a seguir, em que
sentido.
Capítulo 2°-ANALISE DA PRIMEÌRA PARTE DA EXPRESSÃO «DIREITO ROMANO» («1US ROMANUM»)
SUMARIO-3. a) lus (noção etimológica) ') lus (noção real)
3. A expressão «Direito Romano» é composta evidentemente de duas palavras: «Direito» e «Roman
Só depois de conhecida a noção, sobretudo romana, de Direito (lus), é que melhor se pod
erá definir e compreender o «Direito Romano».
3
15
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO - TfT. I - CAP. 2.°
§3
a) Ius (noção etimológia)
Sempre que se pretenda definir um instituto jurídico ou expressar um conceito jurídi
co, deve atender-se ao significado «natural», «espontâneo» dos termos, quer dizer, à noção et
lógica da palavra que
designa esse conceito jurídico. As palavras, em Direito, mas sobretudo em Direito
Romano, estão carregadas de sentido; reflectem luminosa
mente o pensamento jurídico. E não surgem palavras novas, se não há
conceitos novos E.
E que a terminologia jurídica, principalmente dos romanos, carac
teriza-se por conservar, com mais exactidão que a linguagem corrente de hoje, o se
ntido originário das palavras. Atenda-se, por exemplo, ao
significado jurídico do termo repetir. Em. Direito, não significa «fazer
outra vez», «recomeçar», «principiar de novo», «tornar a dizer», etc., como na linguagem corr
e; mas, sim, exigir (pedir a devolução duma
coisa, )udicialmente). Conserva o sentido primitivo de re-petere (pedir para trás,
pedir outra vez; logo, pedir a devolução). 0 prefixo verbal re indica um movimento
para trás; um movimento, em sentido contrário,
que destrói o que tinha sido feito. De re deriva o advérbio retro, para trás. (Cf. ERN
OUT-MEILLET, Dictionnaire Étymologique 565 e 566). E assim, se alguém deu indevidame
nte, pode repetir, isto é, pode exigir
judicialmente a devolução daquilo que deu sem estar obrigado. Portanto, se há interess
e para qualquer jurista conhecer exacta
mente as etimologias do léxico que maneja, esse conhecimento tem uma importância esp
ecial para o estudo do Direito Romano. Sobretudo no campo das instituições da época ar
caica e do inicio da época clássica,
a etimologia, muitas vezes, constitui um elemento verdadeiramente decisivo r.
A Cf. ÁLVARO D'ORS. Principios para uma Teoria Realista dei Derecho em Anuario de
Filosofia dei Derecho 1(1953) 307.
7 A filologia latina e a filologia grega são ciências auxiliares valiosas nas invest
igações romanfsticas. Cf. A. GUARINO, L'Ordinamento Giuridico Romano'
(Nápoles, 1959) 6. Vid. ÁLVARO D'ORS, Filologia y Derecho Romano em Actas dei 2.° Cong
resso Espanol de Estudios Clásicos (Madrid, 1964) 193-213.
A missão da Filologia em relação ao DR é de influxo vitalizador em forma
de educação humanística-ef. D'ORS, ib. 206.
Sobre Filologia e Direito, veja-se também R'omanitas, tom. I (1970) 53 ss.
Sobre Filologia e Metodologia Jurídica, vid. Labeo 15(1969) 7 ss.
0 léxico jurídico romano tem sido estudado não só por juristas, mas também
por filólogos. Além das referências contidas no exaustivo Thesaurus Linguae Latine e n
os dicionários etimológicos de VANICex, WALDE-HOFFMAN, Lateinisches
Etymologisches Wõrterbuch' (Heidelberga, 1938), Walter v. WARBURG Franzõsisches Etym
ologisches Wõrterbuch 14 vols. (Bona, 1928-1961), e de ERNOUT-MEILLET, Dictionnair
e Étymologique de Ia Langue Latine. Histoire des Mots'
16
Como geralmente acontece com as coisas difíceis, ainda hoje não se sabe concreta-men
te a origem da palavra ius. Os autores, quer filólogos quer juristas, não estão de aco
rdo quanto à sua etimologia 8. Alguns consideram ius uma palavra primi
(Paris, 1959), há ainda os valiosos trabalhos de BREAI, Sur !'Origine des Mots des
ignants le Qroit et Ia Loi en Latin en NRH 7(1833) 603 ss.; W. KALB, Das Juriste
nlatein (Nuremberga, 1866); L. CECI, La Lingua dei Diritto Romano I. Le Etimolog
ie dei Giuresconsulti Romani (Turim, 1892, reeditada em 1966); G. DEVOTO, 1 Prob
lemi dei piá Antico Vocabolario Giuridico Romano em Annafi della Scuola Superiore
Normale di Pisa (1933) 255 ss., e em Atti dei Congresso lnternazionale di Diritt
o Romano. Roma I (Pavia, 1934) 17-35; SCHIArFINC, Disegno Storico delta Lingua C
ommerciale dai Primordi di Roma ali' Età Moderna I. Roma e i Regni Romano-Germanic
i em Italia Dialettica 6(1930) 56 ss.; A. PARIENTE, Notas ai Vocabolario Jurídico
Latino em AHDE 17(1946) 932-1099; NENCIONI, Lessico Giuridico Latino e Tradizion
e Mediterranea em Annali della Scuola Normale di Pisa (1940).
A filologia, sublinhe-se mais uma vez, é uma ciência auxiliar valiosa dos estudos ro
manisticos, mas... unia ciência auxiliar. 0 elemento filológico não deve sobrepor-se a
o elemento jurídico (vid. infra n. 8). Quando se pretende o contrário, surgem as polém
icas e, naturalmente, os exageros. - [Sobre este tema, vid. V. GEORGESCU, Etudes
de Philologie Juridique et de Droit Romain. l. Les Rapports de Ia Philologie Cl
assique et du Droit Romain (Bacarest, 1934); CARUSI, Dirito e Filologia. Riposta
di un Giurista alie Critiche di un Filologo (Bolonha, 1925); ARANGIO-RUIZ, Roma
nisti e Latinisti em Studi in Onore di Mancaleoni Studi Sassaresi 16(1938) 15 ss
.; CARNELUTTI, Di là dal Diritto em Riv. Ital. per le Scienze Giur. 1(1947) 108-11
6; DEVOTO, Jus. Di à dalla Grammatica, ib. 2(1948) 414-418; CARNELUTI, Jus Jungit
em Riv. di Dir. Processuale 4(1949) 57-63].
A primitiva linguagem jurídica não era técnica; era a linguagem comum; podia ser enten
dida por todos, nomeadamente pelos não-juristas. Mas depois fixou-se, enquanto a l
inguagem comum evolucionou. Ao ter-se fixado, converteu-se em linguagem jurídica téc
nica. Mais; a linguagem jurídica foi tirada do uso comum, i. é., da realidade da vid
a, como o antigo direito (segundo a concepção ciceroniana) é a natura ductum. As relações
jurídicas, antes de serem
jurídicas, são relações sociais, tendo uma denominação própria, que foi assumida pelo Direito
no preciso momento em que esssas relações entraram na órbita
do mundo jurídico. Portanto, repita-se, os termos jurídicos eram inteligíveis
para todos. Daí o não haver grande necessidade de dar definições, principal
mente dos institutos fundamentais. Estava tudo na própria palavra.-[Sobre
este problema, vid., por todos, FIORELLI, Nomina sunt cansequentia rerum em
Atti Verona 1 (1953) 309-321, e BIONDI, La Terminologia Romana Comme prima
Dommatica Giuridica em Scritti Giuridici I (Milão, 1965 181-217].
8 Sobre o tema, tão discutido por filólogos e juristas, da origem e etimo
logia de ius, a bibliografia é abundantíssima. Vejam-se, por todos, DE FRAN
CISCI, Storia dei Diritto Romano I (Roma, 1926) 279 ss.; Pierre NOAILLES, Du
Droit Sacré au Droit Civil (Paris, 1949) 22 ss.; Max KASER, Das Altrômische
lus (Gotinga, 1949) 2720; Carlo GEOFFREDI, Dirito e Processo nelle Antiche
17
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO - TfT. I -cAP. 2.°
§3
tiva; na sua grande maioria, julgam-na uma palavra derivada. Dentro deste segund
o grupo, há ainda muitas divergências. Indiquemos algumas das principais opiniões.
Segundo uns, vem de iussum (ordean), e iustum do verbo iubere (ordenar, preceitu
ar) ; então ius signifiacaria o que está preceituado ou ordenado.
Certos filólogos e vários juristas entendem que a palavra ius deriva do sânscrito yu,
yug, yung, que significa «liame», «ligação»; porém, talvez não tanto no sentido abstracto de
lo (embora alguns se inclinem para esta significação), mas no significado materialísti
co de «fechado», «circunscrito», e dai a «assembleia em forma de circo», o tribunal. Por con
seguinte, ius seria o estabelecida pelos juizes (julgadores) do tribunal, ou por
outros competentes iudices (juízes), que reflectem nas suas decisões o pensar da co
munidade («populus»), já que esta tem uma certa intuição para declarar o iustum e sobretud
o para reprovar o iniustum (o anormal), o que sai da normalidade, e, em última análi
se, o que vai contra a norma devida, embora não expressamente constituída. Se esta e
timologia for exacta, então ius, desde o Início ou desde muito cedo, esteve sempre m
ais ou menos' ligado a uma actividade judicial, culminando, na sua forma mais ef
iciente, numa actividade judiciária. Seria mais um argumento a favor de Alvaro D'O
RS que, desde há muito, vem ensinando: «ius est quod iudex dicit»; «derecho es lo que ap
rueban los jueces» °.
Forme Giuridiche Romane (Roma, 1955), 49 ss., e Antonio GUARINO, L'Ordinamento G
iuridico, cit. 54-72.
Note-se que as etimologias apresentadas pelos juristas romanos, mesmo erradas so
b o ponto de vista filológico, revelam-se úteis para a compreensão e reconstrução dos resp
ectivos conceitos e institutos jurídicos. Com efeito, os juristas romanos recorria
m às etimologias, com intenção não filológica mas puramente jurídica. Cf. B. BIONDI, Valore
delle Etimologie dei Giuristi Romani cm Scritti Giuridici IV (Milão, 1965) 863-867
.
e Álvaro D'ORs. Principios para una Teoria Realista dei Derecho em .Anuario de Fil
osofia dei Derecho 1(1953) 308. Para compreender melhor a opinião do eminente roma
nista, atenda-se a estas suas palavras: «hay que tener en cuenta que esa f unción ju
dicial puede ser idealmente asumida f uera de um juicio real determinado, por el
mesmo juez o por el soberano o por um particular eualquiera Coando, por ejemplo
, un alumno en una clase de casos práticos, emite su opinión sobre un caso hipotético,
su opinión asume el carácter de
18
- Modernamente, e já antes, vários autores pensam que tios tenha a sua origem no pri
mitivo sãnscrito «vaus» (=puro, bom, santo), que corresponde à forma latina arcaica yous
ou jour ou ious, e significa «algo prooedente da divindade». A forma ious encontra-
se v. g. numa inscrição do ano 123-122 a. C. (Vid. Corpus Inscriptionum Latinarum I'
583, 19).
Baseando-sie neste provável significado primitivo da palavra ius, bastantes jurist
as e filólogos reputam-na derivada de loues, buis (Zeúç), que é a forma antiquíssima de Iu
piter. A favor desta etimologia está, de certeza, a palavra iovestod, que se encon
tra no mais primitivo brasão do «Forum Romanum», e que significa iustum. 0 ias, na sua
estrutura originária, teria portanto um certo conteúdo ou sentido religioso, que ja
mais haveria de perder por completo, sobretudo nos seus compostos iurare (jurar)
e iusiurandum (juramento), em que, duma forma ou doútra, há uma invocação dos deuses 10
.
Note-se, porém, que a partir talvez do séc. V a. C. a palavra latina ius perdeu bast
ante essa tal ideia religiosa, para significar «ordenamento laico (civil)», «ius (civi
l¢)», embora a palavra «civile» venha a ter, logo
a seguir, um outro significado, «o que é próprio dos cives»; e portanto «ius civile» é o «dir
o (laico) próprio dos cidadãos romanos». Antes da expressão «ius civile», usava-se a de «ius
uiritium», que igualmente
designava o «direito dos primitivos cidadãos romanos (quirites)»; mas em «ius quiritium»,
ius (direito), de início, ainda aparece envolvido ou misturado com certas ideias r
eligiosas. Depois de ter surgido a expressão «ius civile», a de «ius quiritium» (que não des
apareceu logo) tem já o significado de ius civile; é um sinónimo.
una sentencia judicial; su actividad es propriamente judicial, aunque esa activi
dad no tenga, naturalmente, ni ta eficacia ni Ia repercusión social que tiene Ia s
entencia de un juez en el ejercicio propio de sus funciones. Quiere esto decir q
ue puede haber, además de un derecho real, un derecho proyectado, hipotético, anhela
do, ideal, sobrenatural, etc.» (ib. 308 e 309). Vid. também Anuar. Derecho
Civil 19(1966) 459 e Lura 18(1967) 347.
10 Sobre o carácter do primitivo ius, vid., por todos. Pasquale Voci, Diritto Roma
no Sacro in EM Arcaica em SDHI 19(1953) 38.103.
Sobre a origem de iurare, como proveniente de ius e relacionando-se com lupiter
(lovis), veja-se o interessante estudo de A. PARIENTE, lurare em ARDE 17(1946) 9
91-1099. Aí se mostra que dius (> deiuos > deus) é a raiz comum de ius, de lovis e d
e iurare; portanto, iurare, rigorosamente, significa «invocar Júpiter». Vid. também Ann.
dei Seminario Giurid. delia Univers. di Palermo 30(1967) 521-543 (iurare-afirmação
solene, invocando Júpiter [lovisl).
19
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO-rfr. I-CAP. 2.° § 3
Segundo recentes investigações, a palavra ius, etimolôgicamente, deve ser primitiva; m
as tem uma relação ôntica, prdximamente com lustitia, remotamente com Jupiter (lovis).
Dai que o Direito (primeiro, youes; depois, ius) tem uma relação (de procedência) com
a divindade ou com as divin
dades 11.
b) Ins (noção real) Quid Ins? 12 [que é (o) Direito?]
A respeito da definição de ius (direito), quer filosófica quer jurídica, observa Max E.
MAYER: «até agora não houve
um jurista nem um filósofo do Direito que tenha acertado a formular uma definição do D
ireito unânimemente aceite». E logo acrescenta o porquê. «Isto é esquisito, mas explicável.
Em nossa opinião, o motivo principal consiste em que é impossível compreender e explic
ar satisfatôriamente as diversas formas inani f estativas do Direito numa única fórmul
a» 13.
Na verdade, se não é impossível, é pelo menos extremamente difícil definir Direito, visto
tratar-se duma realidade altamente complexa.
Mas pode descrever-se, juridicamente, e deve descrever-se, para termos uma noção genér
ica (embora muito vaga), a partir da qual iremos para as noções específicas (direito n
ormativo, direito subjectivo, etc.), que então já se podem definir, visto tratar-se
de realidades delimitadas, pouco ou nada complexas.
Em nosso entender, essa descrição jurídica seria:
Jus (direito) é tudo aquilo que tem especiais atinências com o iustum (o justo, o ex
acto, o devido).
11 Ver nossa monografia Jus. Derectum (Directum) 38-42.
12 Diferente da expressão «quid ius?» é a expressão «quid iuris?», usada frequentemente, mas
obretudo na conclusão da exposição dum caso-prático ou dum problema jurídico. Significa «o q
ue há de direito?», isto é, «qual a norma jurídica a aplicar?» (se há norma), aliás, «qual a
urídica?», «quais os princípios jurídicos (gerais ou fundamentais) a aplicar?».
13 M.ax Ernst MAYER, Filosofia dei Derecho (Barcelona, 1967) 120.
Pode ser tomado em vários sentidos. Há autores que falam da enumeração de 26 acepções 14. No
rmalmente, apenas se referem duas: em sentido objectivo e em sentido subjectivo.
Entendemos, porém, que devem nomear-se, pelo menos, 6 acep
ções de ius (direito).
1.0-Em sentido normativo, «ius» (direito) é a norma jurídica ou o conjunto de normas juríd
icas ou o ordenamento jurídico (tomado nalgumas das suas partes ou no seu conjunto
), que determina o modo de ser ou de funcionar duma comunidade social, ou ainda
os princípios jurídicos (quer fundamentais quer gerais). É neste sentido que se fala d
e
direito («ius») natural, direito positivo, direito internacional, direito português (e
spanhol, francês, etc.), direito matrimonial, direito penal, direito das obrigações, (
das sucessões, dag
servidões, da empresa, etc.).
Nas fontes do Jus Romanum, aparece muitas vezes a palavra ius
neste sentido normativo. V g.:
- D. 1,1,10,1: «luris praecepta sunt haec...» (ver supra, 123)
-D. 1,3,9 ULPIANUS: «Non ambigitur senatum ius facere posse»
(Não se duvida de que o senado pode criar direito [=normas
jurídicas]).
Vulgarmente chama-se ao direito em sentido normativo «direito
(em sentido) objectivo». É um erro. 0 objectum do ius nunca pode
ser uma norma do ius, mas o conteúdo do ius (veremos, já a seguir);
é aquilo que está defronte de nós < objicit < ob + jacit (Gegenstand).
-A confusão vem desde os sécs. 1V-VI, período do lus Romanum
exactamente apelidado de confusão (vid. infra § 6 aí. c) e onde a moderna civilística em
muita coisa se baseia. Nessa época (havemos de nos referir a isso desenvolvidamen
te, vid. infra § 26, b)-I), as leis (leges--constitutiones principis) eram o ius n
ovum e, sob certo aspecto, pràticamente, o único ius. E como as leis (=leges=ius nov
um) eram o objectivo (pràticamente único) da ciência jurídica, daí que «direito objectivo» (r
pita-se, por confusão) começasse a significar as leges, as leis, a norma ou normas j
urídicas. E a confusão, segundo pode deduzir-se da evolução das fontes post-clássicas, está
precisamente nisto: a palavra «objectivo» da expressão «direito objectivo» devia predicar-
se de ciência jurídica e não de direito.
14 Vid. E. REGATILLO, Institutiones luris Canonici' (Santander, 1966) 8.
20
21
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO - rir. i - cap. 2.° § 3
A evolução ter-se-á processado do modo seguinte: de início (isto é, aí pelos fins do séc. III
ou princípios do séc. IV), afirmar-se-ia «ius, objectivum scientiae iuris (objectum iu
risprudentiae), sunt legas»; mais
tarde, cerca do séc. V, ter-se-ia começado a dizer «ius objectivam sunt leges». Os juris
tas, ou melhor, os escolialistas confundiram, eliminando a pontuação (que hoje corre
sponde à vírgula) e sincopando a frase -
o que tudo era muito frequente nessa época do Baixo-Império.
2.°-Em sentido subjectivo, «ius» (direito) é a situação jurídica, o poder ou faculdade moral
ue alguém (indivíduo ou entidade) tem de exigir, fazer, possuir ou simplesmente rete
r uma coisa. E neste sentido que se diz, v.g. que o vendedor dum objecto tem dir
eito ao preço e o comprador tem direito à coisa~ vendida; António (indivíduo) tem direit
o de passagem pelo terreno dos Bombeiros Voluntários (entidade) de... situado em..
. etc.
Em sentido subjectivo, veja-se a palavra ius, v.g. em:
- D. 50,17,54: «Nemo plus iuris ad alium transfere potest, quam ipse haberet» (ninguém
pode transferir para outrem mais direito do que ele próprio teria).
-D. 50,17,55: «Nullus videtur dolo facere, qui suo lure utitur» (quem usa [não, quem a
busa] do seu direito, em princípio, não procede com dolo; ou por outras palavras, qu
em usa do seu direito, [em regra]
não deseja prejudicar ninguém).
- D. -50,17,155,1: «Non videtur vim facere qui ure suo utitur» (quem usa do seu dire
ito, [em princípio] não perturba [não prejudica] ninguém).
10-Em sentido objectivo, «ius» (direito) significa o iustum, o devido; a própria coisa
justa; a realidade justa. (Parece ter sido este o significado primário de ius; vi
d., por todos, ZAFRA J. V., El Derecho como Fuerza Social [Pamplona, 19641 24).
E, pois, o objecto, o conteúdo ou âmbito do direito normativo mas sobretudo do direi
to subjectivo. Era aquilo que os juristas romanos geralmente designavam por natu
ra rerum (natureza das coisas). Esse conceito foi para eles o primeiro e o primári
o ou fundamental de Direito, de tal modo «quae rerum natura prohibentur nullat leg
e confirmada sunt»
(aquilo que é proibido pela natureza das coisas, não pode ser confirmado por nenhtsn
a lei), D. 50,17,188, 115.
A palavra ius, com este sentido objectivo de a própria realidade justa, aparece fr
equentemente nos textos romanos, v.g. nas expressões «ius reddere» (prestar o direito
[=:o devido]), «ius statuere (determinar, fixar, o direito). Por vezes essa determ
inação ou fixação do direito (=::o devido) é feita pelo juiz, como consta, v.g. do D. 5,2,
17,1: «ius fieri ex sententia iudicis» (o direito [-o conteúdo dum direito-subjectivo]
determina-se [bem] por uma sentença do juiz).
4.°-Numa quarta acepçdo (o local), «ius» tem o significado de lugar onde se administra a
justiça; grosso modo, o tribunal. E com este alcance que se diz em linguagem vulg
ar,
v.g.: quem não cumpre, deve ser chamado ao direito (= ao tribunal).
Em textos romanos, é bastante frequente o emprego de ius a
significar o local onde se administra a justiça, onde o magistrado ius
dicit, isto é, onde se fixa o âmbito das normas ou o conteúdo das facul
dades (=dos direitos-subjectivos). V. g.:
XII Tábuas I 1: «Si in ius vocat, ito» (se alguém te chama ao direito [-a juízo, ao tribun
al], vai).
III 1 e 2: «Aerfs confessi rebusque iure iudicatis XXX dies iusti santo. Post dein
de manus iniectio esto. In ius ducito». (Nas dívidas de dinheiro confessadas em dire
ito (=em juízo) e nos assuntos julgados judicialmente, haja 30 dias de benevolência.
Depois deste prazo de 30 dias, tenha. lugar a «manus iniectio» [=apoderamento da pe
ssoa do devedor pelo credor], [e o devedor] seja levado [novamente] ao direito [
=ajuízo, ao tribunal].
D. 1,1,11: «...alia significatione ius dicitur locus in quo ius redditur» (numa outr
a acepção, o direito designa o, lugar onde é prestado o devido [mus-objectivum]).
5.°-Numa quinta acepção, «ius» (direito) significa «o saber jurídico». Tem esta acepção, quan
iz, v.g.: Antó
15 Sobre uma visão moderna do problema, vid. M. VILLEY, li Concetto «Classico» di Natu
ra delle Cose em Jus 18(1967) 28-46.
22
23
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO - TfT. I - CAP. 3' § 4
nio estuda Direito (=saber-jurídico; geralmente, ciência jurídica) em Coimbra; o Direi
to (=o saber-jurídico) é difícil, etc. Os textos romanos falam de ius com este signifi
cativo, v.g., em D. 1,1,1pr.: «]uri operam daturum...»
«lus est < etiam > ars boni et aequi»
(0 Direito (=o saber-jurídico] é também uma técnica do bom e do equitativo). Veremos mai
s adiante, § 27, em que sentido Direito é uma ciência e em que sentido é também uma técnica.
6.°-Finalmente, numa sexta acepção, «ius» (direito) significa o património (quer activo quer
passivo) duma pessoa. V.g. em D. 50,17,62: «hereditas nihil aliud est, quam suece
ssio in universum ius quod defunctus habuerit».
Capítulo 3.°-IUS. DERECTUM (DIRECTUM). DIREITO
SUMÁRIO16-4. A) - A questão: «lus», palavra muito antiga na língua
latina, a significar Direito. Proble
mas que encerra: um, principal; pelo
menos três, secundários
B) - Os problemas secundários, analisados pelos AA.
C) -0 problema principal
(síntese)
1-Os símbolos: valor; alcance; sua relação com as palavras
2 - Os símbolos do Direito; a) - o grego; b) - o romano; c) - diferenças entre eles
e respectiva significação
3-Tradução dos símbolos do Direito em palavras: a) - em grego: basileus (?), thémistes,
díkaion, íson; b) - em latim: *youes, ius, (rectum?) derectum (directum)
4--Convcrgcncia semântica entre ius e derecturn (directum)
5 - Análise de derecturn (directum?)
6 - Conclusão
16 Remetemos o estudo desenvolvido da matéria contida neste sumário para a nossa man
ografia lus. Derectum (Directum). Dereito (Derecho, Diritto, Droit, Direito Rech
t, Right, etc.) (Relectio) (Coimbra, 1971). Pelas razões apontadas supra XLVI, não f
oi viável efectuar a devida adaptação dessa monografia a uma síntese conveniente, mas ap
enas a um resumo.
A) -A QUESTAO
4. A palavra ius - muito antiga na língua latina, posto que não seja a primitiva, ou
pelo menos não tenha sido esta a sua primeira forma 17, e embora tenha havido, a
par (certamente desde o início), outra palavra com o mesmo significado de ius--, t
raduz-se nas línguas românicas por: dereito, no antigo português is, e ainda hoje no d
ialecto mirandês 19, em galego, navarro e aragonês; derept, em romeno; direito, no a
ctual português, e, por vezes, também no moderno galego; derecho, em castelhano 20,
diritto, em italiano; droit 21, em francês; dret, em catalão e no dialecto do Vale d
e Arán; drech, em toda a língua de Oc, sobretudo em provençal; dreit, no antigo aragonês
e em limusino;dreto, no dialecto ribagorzano; dritto em italiano antigo e no mo
derno italiano dialectal e corrente; drecho, em espanhol antigo, e ainda hoje em
forma popular
17 Vid. lus. Derectum 15 e 16 e n. l.
18 Até há bem relativamente pouco tempo, a nossa grafia era «dereito» e não «direito». A mode
na grafia direito é devida sobretudo a uma rectificação puramente ortográfica, por causa
do e mudo se identificar na pronúncia com i. Cf. ANTENOR NASCENTES, Dicionário Etim
ológico da Língua Portuguesa (Rio de Janeiro, 1932) 250, e COROMINAS, Diccionario Crít
ico Etimológico de Ia Lengua Castellana II (Madrid, 1954) 126 e 127.
19 Vid. J. LEITE DE VASCONCELOS, Estudos de Philologia Mirandesa (Lisboa, 1901)
182.
20 Em castelhano, o grupo latino ct, a partir do séc. XVIII, dá ch. Cf. R. MENÉNDEZ PI
DAL, Orígenes dei Espanol 1 (Madrid, 1929) 290, que apresenta a seguinte evolução: der
ectum (directum) > *derejtos > *drechos > derechos.
21 Cf. C. H. GRANDGENT, Introducción al Latir Vulgar, trad. esp. de F. de B. MOOLL
3 (Madrid, 1963) 152 § 229-em algumas palavras do latim vulgar, a vogal da sílaba in
icial, seguida de r, perdeu-se: de derectum (ou directum) fez-se geralmente drec
tum. Depois, mas ainda na mesma época: 1 -deve ter-se perdido o m final (cf. R. ME
NÉNDEZ PIDAL, Manual de Gramática Histórica Espanola [Madrid, 19291, 137), ficando dre
chu, dreitu; I1-ao mesmo tempo, o u final - a) converteu-se em o em castelhano,
português, galego, etc. (cf. M. MENÉNDEZ PIDAL, Origens del Espanol. Estado Linguístic
o de Ia Península Ibérica hasta el Siglo XI3 [Madrid, 19501 280.281); e P) desaparec
eu em catalão, provençal, antigo aragonês, francês, etc. (ct. A. BADíA MARGARIT, Gramática H
istórica Catalana [Barcelona, 1951], resultando então as várias formas-dereito, derech
o, dreito, drecho, dret drech, dreit, droit, etc.
Vid, também COROMINAS, o. C. 127, onde igualmente se apresenta a explicação deste fenóme
no linguístico.
24
25
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO-TIT. t-CAP. 3.° § 4
e em forma corrente na zona aragonesa; dreito 22, em português e galego vulgares,
etc.
Todavia a palavra dereito (direito, derecho, assim como as outras palavras das vár
ias línguas românicas) traduz ius, mas não vem de ius; procede do termo directum, ou m
elhor, derectum; e ius e derectum afiguram-se-nos desde logo palavras totalmente
diferentes 23.
Como se explica então que, sendo ius e derectum duas palavras distintas e sendo di
reito tradução de ius, provenha, não de ius, mas de derectum?
Haverá alguma convergência semântica ou de conteúdo
entre ius e derectum? 24
Eis a questão.
Em nosso entender, ela compreende vários problemas.
Um, PRINCIPAL -porque terá surgido, ao lado de «ius» e igualmente a significar Direito
, a palavra «derectum», e não qualquer outra?
Pelo menos três, SECUNDÁRIOS:
quando terá surgido «derectum» a par de «ius»? 25 donde procederá «derectum» com o significad
e
Direito?
porque não passou «ius» às línguas românicas, como palavra fundamental? 26
22 Ver n. anterior. No norte de Miranda. também se usa dreitica (=direitinha), jun
to ao mirandês dereito (cf. LEITE DE VASCONCELOS, o. c. 33 e 182).
23 Não falta quem admita que directum (derectum?) procede remotamente de ius, atra
vés da forma derivada iurare (iuratum).
24 Os AA., se afloram este problema, negam a existência de qualquer relação entre ius
e derectum (directum). Vid., por todos, GARCIA-GALLO, lus y Derecho em ANDE 30(1
960) 8: «Ius y directum son voces etimológicamente distintas, entre Ias que no exist
e relación alguna».
25 Para certos AA., este problema, embora não seja o principal, é o primeiro que tem
de ser resolvido. «El primer punia que intcresa precisar para poder orientar ta i
nvestigatión es ei de Ia época o momento cri que junto a ius apareció ei sustantivo di
rectum (derectum) en su acepción de Derecho, y en que éste desplazó a Ia voz con que t
radicionalmente se había venido designado» -GARCIA-GALLO,O. C. 11.
26 Para vários AA., este é o problema principal. Ver, mais uma vez, por todos, GARCI
A-GALLO, o. c. 7: «Los filólogos se han limitado a seüalar Ia
B) -OS PROBLEMAS SECUNDÁRIOS, ANALISADOS
PELOS AUTORES
Os problemas, acabados de enumerar como secundários, têm sido ventilados, por alguns
AA. 0 estudo mais completo
é certamente o de GARCIA-GALLO. As opiniões são diver
gentes 24.
C) 0 PROBLEMA PRINCIPAL
(Resumo)
1-Os símbolos são anteriores às palavras; mais eloquentes; para os traduzir verbalment
e, em geral, não basta uma palavra; são precisas duas ou mais, sobretudo quando se t
rata de símbolos complexos. As palavras exprimem a ideia, traduzindo ou interpreta
ndo o símbolo. No símbolo, nada está a mais, e tudo é altamente significativo 26.
2 - 0 Direito teve sempre - desde o início e ainda hoje - o seu grande símbolo. ou «símb
olo real» (a par de vários «pequenos símbolos»). Esse «grande símbolo», como naturalmente est
indicado, não é simples mas complexo, dada a complexidade do Direito. 0 primeiro el
emento desse grande símbolo do Direito, colocado na sua parte central, é uma balança d
e dois pratos, ao mesmo nível, e o fiel a meio (se existe), perfeitamente a prumo.
Além deste primeiro elemento,
etimologia de Ias voces românicas (diritto, dereito, direito, derecho, etc.), y lo
s jursistas a enumerar éstas para destacar Ia universalidad dei concepto. Pero, sa
lvo alguna excepción, que luego se indicará, nadie se ha preocupado de averiguar por
quê ius no pasó a Ias lenguas románicas».
27 Vid. lus. Derectum 19 e 20.
28 lus. Derectum 21.24.
26
27
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO - TIT. I - CAP. 3.° § 4
há outro, para completar o símbolo, e que varia de povo para povo e ainda conforme a
época 299
a) - 0 símbolo grego completo do Direito 3° teve diversas apresentações (formulações), sendo
a seguinte a que gozou de maior popularidade: a deusa p(x i (Díkê), filha de Zeus
de Thémis, incarnando, mas sobretudo administrando a justiça, tendo na mão direita uma
espada e na esquerda uma balança de dois pratos, porém sem fiel ao meio, e estando
de pé e de olhos bem abertos. Era, mediante essa balança que ela declarava (ora por
inspiração, ora por ordem de Zeus), ou melhor, dizia -pois «dizer», em termos jurídicos, é «d
clarar com solenidade»-ser justo, haver direito, quando estivessem iguais (''Laos)
os dois pratos da balança. Daí que, para os gregos, numa linguagem vulgar ou corren
te, o justo
(o Direito) é o que é visto como igual ('l oç), o igual To' 'Laov.
b) - 0 símbolo romano completo do Direito 31, em tudo semelhante ao grego, teve ig
ualmente diversas formulações
representações, sendo a mais difundida até hoje: a deusa Iustitia, a incarnar, mas sob
retudo a administrar a justiça, mediante o emprego da balança (de dois pratos e com
o fiel bem a meio), que ela segura com as duas mãos, de pé, e de olhos vendados. E e
ntão haveria direito (ius), quando a «Iustitia» o dissesse; e dizia-o (isto é, afirmava-
o com solenidade), quando o fiel (examen) estivesse totalmente a prumo
recto (rectum), perfeitamente recto (de - + rectum).
c) - As «pequenas» diferenças dos símbolos completos do Direito, grego e romano («pequenas»
diferenças, mas... nos símbolos nada está -a mais e tudo é altamente significativo), tra
duzem admiràvelmente a diversidade de concepções, grega
e romana, a respeito do Direito 3''.
23 Vid. lus. Derectum 24-26. 30 ib. 26 e 27. 31 ib. 28.
32 ib. 29 e 30.
3 - Tradução dos símbolos do Direito em palavras 33
a) -Em grego. As palavras são diferentes, conforme a diversidade de formulação simbólica
. Notemos sobretudo duas:
ã'LvatOV significa algo declarado solenemente (portanto, dito) pela deusa 0'Lx-~.
l a tradução verbal da atitude dessa deusa.
"Iaov é a tradução verbal «mais visível», mais acessível a todos: os dois pratos da balança-j
ca iguais (''Laos).
Por conseguinte, desde remota antiguidade (se não desde o início, pelo menos desde o
séc. V a. C.), na Grécia há duas palavras para expressar a ideia de Direito, interpre
tando verbalmente o símbolo p'Lx-~ a segurar a balança com os pratos ao mesmo nível, s
em fiel a meio:
Atxa'Lov, de carácter mais erudito, a significar o que diz
(profere ou sentencia) A(x);
- "Iaov, de carácter mais popular, a significar os dois parte da balança, iguais (''
LaoS); nem um mais alto nem outro mais baixo.
b) -Em latim. À semelhança e por influência da Grécia, Roma tinha igualmente várias palavr
as, conforme a diversidade de representação simbólica, sendo também duas as mais importa
ntes: ius e derectum (de inicio, talvez só «rectum»,
depois, bastante mais tarde, a forma «directum»).
lus corresponde a 8ivactov (=«quod p(x-~ dicit») e signi
fica igualmente .«quod Iustitia dicit». Portanto, a Iustitia não é um simples precedente
de ius; muito menos a palavra é origem etimológica de ius. Não. Na concepção romana, a de
usa Iustitia é a geradora do ius, como a Míx-~ grega era de S'Lxoctov. i com este al
cance profundo que deve ser interpretado
frag. de ULPIANUS contido em D.1,1,1pr. Aí não se trata da origem -etimológica da pala
vra ou termo «ius», como todos os autores têm afirmado e traduzido, mas da origem semânt
ica, ôntica ou genética (da realidade) do ius. A palavra «nomen»
33 ib. 31-48.
28
29
t
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO - TIT. I - CAP. 3" § 4
(note-se, distinta de «verbum»), neste frag. está com o signi
ficado profundo de 'óvoµa (Haupwort).
Derectum corresponde ao '(aov grego, embora com certas diferenças, e traduz aquela
parte do símbolo que consiste em o fiel da balança estar precisamente ao meio -«exame
n (o fiel) de-+rectum» (de início, talvez simplesmente rectum). [Note-se que a balança
-jurídica romana, ao contrário da grega, tinha fiel ao meio, e note-se ainda que o p
refixo de-, aqui como em outros casos, tem carácter intensitivo].
(Vid. lus. Derectum 46-48, a origem e o alcance da diferença e da igualdade entre «D
ireito-'(a~ e «Direito-derectum»).
4 - Convergência semântica entre «ius» e «derectum» 34. As duas palavras expressam a mesma r
ealidade- o Direito-, atingindo-a por meio de expressões verbais de partes signifi
cativas do símbolo:
a) -há «ius», porque a «Iustitia» o diz, e a deusa «Iuatitia» diz que há Direito, quando o fi
da «balança jurídica» está aprumadíssimo («examen de-rectum»), e portanto os dois pratos igua
(bilances aequales) ;
p) há «derectum», porque o fiel da balança está totalmente aprumado, e o examen está (rectum
ou) de-rectum, quando os dois pratos estão precisamente iguais, i. é., exactamente
ao mesmo nível ".
5 - Depois de solucionado o problema principal, há outras perspectivas para uma anál
ise nova aos diversos problemas secundários.
Concretamente, a respetio de derectum.
-- Deve ter surgido, talvez desde o princípio da vida jurídica em Roma: primeiro,' a
o lado de youes; depois, a par de youes e de ius (sécs. V-III a. C.) ; desde o séc.
III a. C., ao
lado de ius 96.
S4 ib. 48 e 49.
35 Rectum (ou a forma indoeuropeia REK-TO?) deve ter originado Recht, Right, etc
., e derectum, dereito, derecho, diritto, direito, etc. 36 Vid. lua. Derectum 50
-54.
30
A partir do séc. IV da nossa era, a palavra derectum (ou já então, também directum) está e
m especial evidência ao lado de ius, devido provàvelmente, de início, a certas atitude
s dos juízes. -- Como é sabido, desde o Baixo-Império, o termo ius («ius novum») principia
ater um significado muito específico - a constituição imperial ou o conjuno das const
ituições imperiais -, e que pamatn a ser consideradas a única fonte de Direito. Ora, q
uando as constituições imperiais eram justas, denominavam-se sobretudo «ius directum (
ou derectum) » [=direito justo] (ou «fura directa [ou derecta]=normas justas) ; quan
do injustas, «ius iniustum» ou «fura iniusta» I'.
~r As vezes, também se denominavam, respectivamente, «ius aequum» («lura aequa») e «ius iniq
uum» («iura iniqua»).
Note-se ainda - e é muito curioso!... - que, na evolução do seu conceito, ius novum (a
constituição imperial, diríamos hoje a Lei) não só se identificou com o lus (com o próprio
Direito), mas até com a lustitia (com a Justiça). Então - e ainda hoje estamos a sofre
r algumas consequências dessa confusão desde que a lei (a constituição imperial) s
e confundiu ou identificou com iustitia, a Justiça começou a ser designada pela pala
vra Ratio (Razão). Daí os significados de:
- «reddere rationem-prestar ou restituir o que é justo, o que é de Direito»
(cf. Rainer MARTEN, Der Logos der Dialektik [Berlim, 1965] 35);
- «ter Ratio, mas não haver iustitia»-«ser de Justiça (ter Razão), mas
não haver lei»;
- «que se faça iustitia»-«que se cumpra a lei»;
-«chamar alguém à iustitia-«chamar alguém ao tribunal, para que se
cumpra a lei»;
-«chamar alguém à Ratio (à Razão)»=chamar alguém à Justiça, i. é,
dizer-lhe que determinada coisa é justa, embora não seja legal, ou vice
-versa, que determinada coisa é injusta, posto que seja legal», etc., etc.
Sobre este problema, vid., por todos, W. CESARINI SÊORZA, o. c. 78.
E quando mais tarde a própria palavra Ratio também se vulgarizou ou corrompeu - já o d
issemos, as palavras, por vezes, gastam-se com o uso e prostituem-se com o abuso
-, então para indicar a ideia (exacta) de Direito, Justiça, usa-se a expressão «recta r
atio». (Dir-se-ia que a palavra que deve traduzir a ideia de Direito tem de se con
servar «pura». Exacta. Precisa). E com este alcance de Direito (=norma ou lei, em si
mesma, justa) que deve ser interpretada a nossa expressão «boa razão» (tradução, talvez, ma
is de «recta ratio» do que de «bona ratio»), a qual se tornou célebre por causa da Lei de
18 de Agosto de 1769. Sobre este problema, vid. Paulo MEREA, Direito Romano, Dir
eito Comum e Boa Razão em Boletim da Faculdade de Direito da Univer
sidade de Coimbra 16(1939-40) 540', e N. J. ESPINOSA GOMES DA SILVA, Huma
nismo e Direito em Portugal no Século XVI (Lisboa, 1964) 57".
31
i
IL
t
DIREITO ROMANO
Devem ter sido os juizes-que se recusavam a aplicar as constituições imperiais, quan
do injustas, mesmo que essa atitude lhes acarretasse consequências gravíssimas, como
perda do cargo, desterro e até pena de morte -, os que introduziram como termo er
udito (e para isso foram à linguagem popular) derectum (derectum) para significar «D
ireito», a contrapor a ius («novum») = constituições imperiais.
- Derectum (derectum) tem um certo fundo religioso, devido principalmente (e pro
ximamente) à deificação da Justiça.
Com a filosofia estóica, derectum (derectum) recebeu um
certo conteúdo ~ale 38.
0 Cristianismo, sobretudo depois do séc. IV, informou de novos valores morais o co
nceito de derectum (directum) 99.
Como já está hoje demonstrado'°, nos sécs. VI-IX derectum (directum) domina 41 a palavra
ius. Por isso, as línguas românicas, cuja formação se verifica em períodos dessa época, tom
aram (tinham mesmo de tomar) derectum para criar as suas palavras «dereito», «derecho», «d
iritto», «droit», «direito», etc.
6 - Coaclusão
É deste derectum (directum) de fundo religioso, carregado de morale e cristianizad
o, que procede o «Direito» dos povos de língua românica, e portanto a nossa concepção de Dir
eito, em que o Direito é tão moral, que deixa de ser « jurí
dico», se atentar abertamente contra a Moral 42.94.
98 Sobre a influência estóica no mundo romano vid. CASTRO CORREIA, 0 Estoicismo no D
ireito Romano (S. Paulo, 1950), cit. por SPANNEUT, Le Stoicisme des Pères de l'Egl
ise (Paris, 1957) 5251 e vid, ib. 50.53 e 74-77, M. VALENTE, L'Ethique StoIcienn
e chez Cicéron (Paris, 1956) passim, máxime 240 ss., e B. BIONDI,I Diritto Romano Cr
istiano I (Milão, 1952) 107-112, II 44-48.
39 Vid., por todos, W. CESARINI SFORZA, o. c. 55 e n. 55, e B. BIONDI, o, c. 1 1
13.114, 11 61-67 e 119 ss.
40 Vid. Ius. Derectum 56.
41 Domina, mas não destrói por completo. Vid. Ius. Derectum n. 117. 42.44 Vid. lus.
Derectum n. 123.
INTRODUÇÃO-Trr. I - CAPS. 3.°-4.° §§ 4.5
Capítulo 4.°-VÁRIAS ACEPÇÕES EM QUE PODE E DEVE
SER TOMADA A EXPRESSÃO «DIREITO
RCMANO»
5. 0 conjunto das normas jurídicas que regulam determinadas relações dum povo (entre s
i, isto é, entre os seus membros,
entre si e outro ou outros povos estranhos), chama-se, grosso modo, «Direito desse
povo». E com este sentido muito amplo que dizemos, por exemplo, «Direito Português», «Dir
eito Espanhol», «Direito Francês», «Direito Alemão», etc., etc., e também «Direito Romano».
Mas dizer simplesmente «Direito Romano» (assim como «Direito Português», «Direito Espanhol»,
reito Francês», «Direito Alemão», etc., etc.) é empregar uma expressão muito vaga; daí a nece
dade de se estabelecer uma diversidade de acepções. É que, nos exemplos indicados, tan
to pode entender-se
Direito (desse povo) passado, como o Direito vigente; e tanto
passado como o vigente podem compreender, não só qualquer ramo do chamado 45 Direito
Público (Direito Constitucional, Direito Administrativo, Direito Penal, etc.), co
mo do igualmente chamado 95 Direito Privado (Direito Civil, Direito Comercial, e
tc.), mas também - e é esse aspecto que nos interessa agora focar - o Direito (passa
do ou presente) de um povo, vigente nos territórios pertencentes a esse povo, assi
m como esse mesmo Direito, vigente (total ou parcialmente, como direito principa
l ou como direito supletivo) em territórios pertencentes a outros povos 46.
45 Sobre os significados de Direito Público e de Direito Privado, segundo
lus Romanum, vid. vol. II destas Lições, ao tratar-se exactamente desse problema.
46 E o caso, por exemplo, do Código Civil Francês, de Napoleão, que vigorou em diversa
s regiões da Alemanha; do Código de Processo Civil Austríaco que esteve vigente em alg
umas províncias de Itália, etc. Mas com o Direito Romano esse fenó
I
32
33
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO-TIT. I--CAP. 4.^
§5
Portanto, como a expressão «Direito Romano» é muito vaga, entendemos que pode e deve ser
tomada em três sentidos:
A) - em sentido rigoroso (stricto sensu)
B) - em sentido amplo (lato senso)
C) - em sentido muito amplo (senso latissimo)
A) - 0 Direito Romano, «stricto senso», é o conjunto de
normas jurídicas que vigoraram em Roma e nos seus territórios
desde"o início (753 a. C.? 47) até à morte de Justiniano, em- 565. É o IUS ROMANUM, pròpri
amente dito.
Ocupa o longo período de cerca de 13 séculos -uns 7 sé
culos a. C. e 6 séculos d. C.
Esse conjunto de normas jurídicas, na sua formação mais desenvolvida, fundamentalmente
, encontra-se hoje no chamado Corpus luris CivilisA8-famosa e extraordinária compi
lação do «Ius Romanum» ordenada pelo imperador Justiniano no séc. VI, a obra jurídica mais g
randiosa de todos os tempos,
meno da sua vigência fora dos seus limites espaciais verifica-se de uma forma única
e assombrosa: esteve vigente em Roma e fora de Roma; durante o Império Romano e de
pois da sua queda; em circunstâncias semelhantes às da vida de Roma, e em circunstânci
as completamente diferentes. $ que o Direito Romano, nas suas construções geniais, l
eva dentro de si a, essência de princípios jurídicos universais. Os jurisconsultos rom
anos não construiram pròpriamente um sistema jurídico de aplicação universal, mas uma quan
tidade de resoluções particulares de valor Lecnico-jurídico exemplar. Nisto reside a v
italidade perene do sistema.
47, A data 753 a. C., inventada pelo escritor VARRÃO, é hoje considerada lendária; mas
, à falta de melhor, continua a usar-se como data da fundação de Roma consagrada por u
ma longa tradição. Sobre o problema das origens de Roma veja-se, como estudo recente
e que traz indicação da principal bibliografia sobre a matéria, Pietro ROmANELU, Cert
ezze e Ipotesi sulle Origini di Roma em Studi Romani 13(1965) 156-167.
48 A história jurídica dum povo é, fundamentalmente, a história dos seus livros jurídicos.
Para se conhecer um determinado ramo de direito, v.g. o Direito Civil dum país, é e
ssencial o conhecimento do respectivo livro jurídico. Por exemplo, para se conhece
r o Direito Civil Português é preciso conhecer, fundamentalmente mas não exclusivament
e, o Código Civil Português. Desta forma o Direito Civil Português e o Código de Direito
Civil Português (devidamente actualizado) quase se identificam.
Igualmente, lus Romanum e Corpus luris Civilis quase se identificam.
e que é a fonte principal, embora não exclusiva mas imprescindível, para se conhecer o
Direito Romano.
0 chamado assim por Dionísio Godofredo em 1583 «Corpus Iuris Civilis»9 e, para o disti
nguir do «Corpus Iuris Canonici» 50, vai ser objecto duma análise pormenorizada, no ti
t. X da 1 a Parte (Fontes). Interessa, porém, desde já, ter uma certa ideia a respei
to desta fonte jurídica, a fim de poder ser manejada nas aulas práticas, desde o pri
meiro dia, sobretudo o Digesto, que é a parte principal (o tronco do «Corpus»; vid. in
fra n. 53).
Corpus luris CsuiNs
Justiniano, aproveitando inteligentemente os trabalhos e o valor das escolas juríd
icas do Oriente, máxime a de Beirute e a de Constantinopla, e com a ajuda impresci
ndível de grandes mestres do Direito antigo, como Triboniano, Teófilo e Doroteu, qui
s restaurar em toda a sua plenitude a tradição jurídica dos romanos, ao mesmo tempo qu
e procurou reconstruir a grandeza do império e Instaurar em todo ele e unidade rel
igiosa.
No aspecto politico e no religioso, não conseguiu realizar a sua grande aspiração; mas
conseguiu-o no campo jurídico.
Embora imperador do Oriente-região onde se falava principalmente o grego-, ele era
um defensor entusiasta da tradição latina; era um classicista, sem contudo deixar d
e ser um legislador do seu tempo.
0 esforço legislativo e restaurador de Justiniano, graças ao qual o Direito Romano pôd
e ser transmitido à Idade Média e che
49 A simples expressão «corpus iuris» («um corpo de direito») é, porém, muito mais antiga. Vi
. infra n.53.
50 A designação de «Corpus Iuris Canonici» para indicar as colecções oficiais de textos legi
slativos canónicos aparece, pela primeira vez, no Concílio de Basileia (1431-1443);
concretamente, em 1436, quando esta expressão se aplicou ao Decreto de Graciano e às
colectâneas das Decretais de Gregório IX, Bonifácio VIII e Clemente V; generalizou-se
a partir do séc. XVI, depois que Gregório XIII a «tornou oficial», empregando-a na sua
constituição Cum pro munere, de 1 de Julho
de 1580.
34
35
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO - TIT. I - CAP. 4,°
§5
gar até nós, teve como resultado uma importantíssima compilação, constante das seguintes p
artes:
1) - as Institutiones s', de Nov. de 533, um manual de direito, que serve de int
rodução didáctica elementar ás outras partes do «Corpus Iuris Civilis>;
2) -os Digesta ou as Pandectae52 (digesto ou pandectas), de Dez. de 533, uma ext
ensa colecção de fragmentos de obras de jurisconsultos notáveis, (de ius), com a indic
ação do autor e livro de que procedem;
3) - o Codex (Código), de 534, colecção de constituições Imperiais (de leges);
4) -as Novellae (Novelas), de 535 a 565, uma série de constituições novas ou Novelas (
leges novas), que foram promulga
das depois do Codex e que não chegaram a ser recolhidas numa colecção oficial.
0 «Corpus luris Civilis> é, pois, uma colectânea de ius e de leges, ordenada por Justi
niano, no séc. VI. Quer dizer, uma colectânea
de fragmentos de obras de juristas clássicos (ius) e de constituições imperiais (leges
). - [Aqui, nesta expressão, a palavra ius e a palavra leges estão' num sentido muit
o peculiar. Vid. infra 216].
O lus Romanum da primeira etapa da época arcaica é, pois, um direito fechado, privat
ivo dos caves. Só prevê a regulamentação das relações entre os eives. Os non-cives, os estra
ngeiros (primitivamente chamados hostes, depois peregrina), residentes em territór
io romano, movem-se, nas suas relações privadas, fora da órbita do lus Romanum que, po
rtanto, era então exclusivamente ius civile 61
II - Devido aos prejuízos causados aos próprios cives, esta situação teve de modificar-s
e. As novas necessidades comerciais e o desenvolvimento da vida social e civil,
num momento em que Roma principia a ser a cabeça dos povos mediterrâneos, exigem do
lus Romanum a regulamentação das relações entre cives e peregrini e entre os próprios pere
grini. Para atender a certas necessidades é criado, em 242 a.C., o practor peregri
nos. Com ele, inicia-se a formação do ius gentium, a par do ius civile (pelo menos d
e início, e segundo a melhor opinião).
60 Vid. vol. II destas Lições, 2.a Parte (Actos Jurídicos), ti t. II.
61 Está-se ainda naquela época do mundo antigo, em que o principio da personalidade
das leis se aplicava com todo o rigor.
época arcaica:
44
45
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO - TÍT. I - CAP. 5.°
§6
A segunda etapa da época arcaica vai, portanto, desde 242 a.C. a 130 a.C. e é o períod
o do ius civile e do ius gentium.
b) Época clássica (130 a.C.-230 d.C.)
Abrange o período histórico compreendido entre 130 a.C.
e 230 d.C. 62.
Razões justificativas da fixação do termo da época clássica em 230 d.C., aproximadamente:
J .a em 228, desaparece o último grande 63 jurista clássico, ULPIANUS, assassinado p
elos soldados pretorianos; 2 a o império, por essa altura, princípios do séc. III, ent
ra em crises sucessivas (mais uma vez, o elemento político a ajudar a estabelecer
a periodização fundamental do lus Romanum).
Conceito da época clássica -Ë o período de verdadeiro apogeu e culminação do ordenamento jurí
ico romano. Por isso, a época clássica muito justamente é considerada modelo e cânon com
parativo para as épocas posteriores e etapa final da evolução jurídica precedente.
Característica -Exactidão; precisão. Portanto, o Ius Romanum da época clássica é o modelo. A
grandeza do Direito Romano encontra-se nesta época.
É neste período que ele atinge aquele ponto difícil - o de estilizar a casuística, abstr
aindo de qualquer caso apresentado (mas sem nunca o perder de vista) aqueles ele
mentos não jurídicos ou jurídicos não-essenciais, para criar figuras jurídicas concretas e
não já conceitos gerais. Os jurisconsultos romanos
62 A dezena convencional 30, contida nas datas 130 a.C., 230 d.C., etc., sugerid
a assim por A. D'ORS para mais fàcilmente serem retidos os números, indica bem clara
mente que se trata de datas aproximadas e não de termos rigorosos.
63 0 último jurista clássico é MODESTINUS, mas já não se lhe pode chamar «grande».
46
da época clássica tinham subtileza, mas não especulação; sobretudo, eram dotados duma intu
ição jurídica penetrante. 0 Direito Romano clássico é, pois, de artífices, mas não de especul
tivos.
Sabiam, não apenas interpretar e aplicar as normas aos casos concretos, mas sobret
udo criar a norma adequada para um caso, especial e não previsto nas normas já exist
entes. Daí que a ciên
cia jurídica (iurisprudentia) da época clássica fosse permanentemente fecunda e criado
ra.
Subdivisão - A época clássica não é toda igual. Deve-se principalmente a Álvaro D'ORS 64 a d
ivisão desta época em três etapas:
I - a pré-clássica, que vai desde 130 a.C. a 30 a.C. 63, é um período de intenso desenvo
lvimento ascensional em direcção ao estado de grandeza do lus Romanum atingindo a et
apa
seguinte;
U-a clássica central, de 30 a.C. a 130 d.C. (em nosso entender, de 30 a.C. a 212 d
.C.,; ver razões infra 398 e 399), é o período de esplendor e de maior perfeição do Direit
o Romano, surgindo, como figura central e representativa, não só desta etapa mas de
toda a época clássica, IULIANUS, e não GAIUS, como até há bem poucos anos era considerado
66
III-a clássica tardia, de 130 a 230 (ou melhor, de 212 a 230), é um período em que já se
nota, por vezes, o início de certa decadência, manifestada sobretudo na falta de géni
o criador. Por isso, os jurisconsultos deste final da época clássica dedicam-se não já a
obras de comentário, mas às de com
pilação - repetir e coordenar o que os grandes mestres disseram.
Note-se que em 212 verifica-se a «inflação da cidadania»; esta provoca uma «inflação do ensin
do Direito»; esta origina ou é já decadência. Vid. Da «Solutio» II (Coimbra, 1972) 8 13.2.°.
Alvaro D'ORS, Derecho Privado Romano (Pamplona, 1968) 7-13.
Sobre o significado e o alcance desta dezena 30, vid. supra n.62. Adiante, no tít.
VIII da 1! Parte destas Lições, examinaremos pormenorizadamente essa figura enigmátic
a de GAjus, o menos clássico dos juristas clássicos, pois, no dizer expressivo de A.
D'0as, é um «pré-posclásico».
47
64 65 66
4
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO - TIT. I - CAP. 5."
§6
c) Época post-clássica (230-530): a) de 230-395, confusão, «Vulgarisierung» (tanto no Ocid
ente como no Oriente); p ) de 395.530 - I) no Ocidente, vulgarismo; II) no Orien
te, classicismo e helenizaçso
É o período colocado entre 230 e a época de Justiniano, quer dizer, entre o apogeu do
clássico e o renascimento justinianeu. Esta época não tem individualidade própria: ou é re
ferida à época anterior e daí o chamar-se post-clássica, ou à seguinte e daí também o ser den
minada «pré-justinianeia» 87. E uma época de franca decadência do lus Romanum.
É um novo mundo jurídico 88.
Aquele génio intuitivo, subtil e criador dos juristas anteriores já não existe. Há apena
s uma reelaboração anónima dos textos anteriores, adaptando-os às novas realidades, mas
feita sem personalidade. As obras produzidas - trabalhos geralmente preparados p
elas escolas 89 - são do tipo das compilações (género da literatura jurídica iniciado no p
eríodo da época clássica tardia, conforme dissemos 70) e do tipo dos resunws; e esses
resumos de obras clássicas, acompanhados por vezes de não pequenas alterações. Além disso,
surgem, como fenómeno original da época post-clássica, as colecções, sobretudo de leges,
as codificações.
67 Alguns romanistas sugerem ainda outras designações, v.g. ScHULZ chama-lhe «período bu
rocrático», PARADISI, «época do direito vulgar», BIONDI, «período do direito romano cristão».
ordamos destes autores, conforme demonstramos em Da «Solutio» II (Coimbra, 1972) 4 s
s. e n. 5. Para já, à falta de melhor expressão, teremos de continuar com o termo «post-
clássico» para denominai esta época, distinguindo, porém, vulgarização no Ocidente e classic
ismo e helenização no Oriente.
68 Cf. BIONDI, Il Diritto Romano Cristiano I (Milão,1952) 1-3.
69 A escola, na época post-clássica, desempenha uma função muito importante na evolução do D
ireito. Toma conta das obras jurídicas dos clássicos, refunde-as, introduz-lhes pern
iciosas modificações e reedita-as. A escola, na época post-clássica, é tudo pràticamente. Po
de quase afirmar-se que, nesta época, não há juristas. Há escoliastas; há «anónimos», pois fa
por completo a auctoritas dos grandes mestres cujo nome se impõe. Por isso, no di
zer de Max KASER, Das RSmische Privatrecht I (Munique,1955) 3, na época post-clássic
a desaparece a «Jurisprudenz» e há apenas uma «Schuljurisprudenz».
70 Vid. Da «Solutio» II, cit. 3-14.
a) Característica geral da época post-clássica-Confusão. Confusão de terminologia, confusão
de conceitos, confusão de instituições; e, por vezes, até confusão de textos. Esta confusão
ou Vulgarisierung verifica-se desde 230 a 395, e tanto no Ocidente como no Orien
te. (Vid. Da «Solutio» II, cit. 5,
12, 13e 15).
A confusão dos textos, ou melhor, a corrupção dos livros clássicos é levada a cabo não só pel
prática mas sobretudo pelas escolas, indo depois reflectir-se, tanto nas constitu
ições imperiais, como mais tarde nas legislações romano-bárbaras.
E é curioso notar, conforme observa D'ORS, que para a corrupdão dos livros clássicos m
uito contribuiu, pelo menos de inicio, um factor material a que à primeira vista não
se dá grande impor-, tância-a substituição, nos textos jurídicos, do volumen ou liber (ro
lo) pelo codex (código, isto é, livro composto de páginas, cosido por um dos lados, co
mo temos hoje). Este novo formato material dos textos jurídicos introduz-se na vid
a do Direito (escolas, tribunais, chancelaria imperial, administração central e loca
l, etc.), a partir do séc. III d. C. E como o uso, o manejo, do codex é muito mais fác
il, mais rápido e mais cómodo que o do volumen, nos fins do séé. III e princípios do séc. IV
, faz-se uma reedição da literatura clássica em codices; mas, em geral, em vez de se t
ranscreverem os textos fielmente, resumem-se, simplificam-se e até, por vezes, são i
ntroduzidas alterações, umas devidas a erros involuntários " amanuenses, outras origin
adas pelos cortes voluntários ordenados pelos autores das reedições - estas, tantas ve
zes feitas apressadamente.
É muito interessante observar que a substituição do volumen pelo codex verifica-se, de
início, só nos textos jurídicos. Por isso, a palavra codex alcançou tal importância na vi
da jurídica e na vida corrente que ainda hoje, quando se fala de «códigos sem mais nad
a, entendem-se livros de direito 71. (Vid infra 406).
p) Características especiais - I - No Ocidente, essa confusão da época post-clássica rev
ela-se, a partir de 395, mais acentuadamente. Verifica-se, geralmente, uma verda
deira corrupção do Direito Romano clássico sob a acção de vários factores, salientando-se ta
lvez como mais importante a influência dos direitos locais dos povos dos territórios
dominados pelos romanos, e dos direitos dos povos bárbaros que principiavam a inv
adir o Império.
71 Cf. D'ORS, Una Introdueción al Estudio del Derecho (Madrid, 1963) 10. Vid. Da «So
lutio» II, cit. 9, 10 e n. 20-3.
48
49
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO - TIT. I - CAP. 5.°
§6
A corrupção caracteriza-se, principalmente: pela simplificação de conceitos; pela confusão
de noções clássicas; pelo predomínio do aspecto prático, tomando a realidade como cultura
e não atendendo às categorias lógicas; pela ordem, ou melhor, pela desordem, com que
por vezes a matéria é exposta, notando-se falta de inspiração sistemática-os assuntos são tr
atados pela sua semelhança empírica, pela sua finalidade casual e momentânea, segundo
uma combinação de elementos cronológicos e jurídicos grosseiramente valorados. Autêntico b
arbarismo".
A esse Direito Romano post-clássico ocidental, que é portanto grosso modo o Direito
Romano clássico corrompido, chama-se «Direito Romano Vulgar» (Vulgarrecht) 73.
Portanto, no Ocidente a confusão da época post-clássica concretiza-se numa vulgarização ou
num vulgarismo do Direito Romano clássico.
II -- No Oriente, a partir de 395, essa confusão da época
post-clássica manifesta-se através duma reacção contra certas
manifestações vulgaristas isoladas. Nisto consiste precisa
mente o classicismo - uma tendência intelectual que pretende
valorar e imitar o clássico e reagir contra as suas deturpações.
A par deste espírito classicista 74, verifica-se um progresso
do Ius Romanum sob a influência da filosofia e direitos gregos.
É a helenização do «Ius Romanum», em que, v.g. a mecânica
( ónc .us) dos conceitos, aplicada no campo jurídico, faz realçar
as contradições ou ambiguidades textuais, apresenta as dúvidas
surgidas na interpretação, cita as opiniões contrárias, numa pala
vra, enfrenta a dificuldade para depois a superar, apresentando
a «solutio» do caso (Leis). É ainda devido à influência do hele
nismo que no Direito Romano post-clássico oriental se nota uma
72 Cf. Sebastião CRUZ, Da «Solutio» II, cit. 13, 14, 18, 19 e nn. 47, 48 e 49.
73 Sobre a origem da expressão «Direito Romano Vulgar» (Vulgarrecht), significado, alc
ance, factores que concorreram para essa corrupção do Direito Romano clássico, assim c
omo sobre o interesse dos romanistas contemporâneos pelo seu estudo e principal bi
bliografia - o Vulgarrecht é um dos grandes temas da actual romanística-vid. Sebastião
CRUZ, id. 15-35.
74 Portanto, em Direito Romano, «clássico» significa modelo, perfeição; «classicista» signifi
a quem (ou aquilo que) pretende imitar o clássico.
tendência para as Regulae luris, para as Definitiones, para a
generalização, etc.7S.
d) Época justinianeia (530-565)
É o período que vai desde 530 (início própriamente dito da elaboração do Corpos luris Civili
s) até 565, data da morte do imperador Justiniano. 0 lus Romanum, nesta época, chega
ao termo da sua evolução, e codifica-se para se perpetuar.
Logo que Justiniano subiu ao poder, em Agosto de 527, sucedendo a seu tio Justin
o I, manifestou imediatamente a sua grande aspiração de restaurar, através das armas,
da política e da legislação, a unidade do Império, dando à nova Roma (era assim que chamav
a a Constantinopla) a glória da antiga, e, quanto possível, com todo o saber clássico.
Apenas no campo jurídico, como sabemos, conseguiu realizar o seu plano: elaborar
uma colecção de ius e de leges, que é, sem dúvida, o tesouro mais precioso da romanidade
.
Característica da época justinianeia-Como o desejo de Justiniano era estabelecer a u
nidade na diversidade, tomando por base o Direito Romano clássico (nunca é demais af
irmar que Justiniano era um classicista), uma das características do direito justi
nia,,neu é a generalização 76; porém a característica principal é a actualização e compilação
Romanum na forma tendente a seguir o clássico ou, até mesmo, apresentando esse dire
ito, todo como clássico, embora saibamos hoje que em muitos pontos está interpolado
77.
75 Sobre a complexidade de problemas surgidos a respeito do classicismo e da hel
enização, como características da época post-clássica oriental do lus Romanum, vid. Sebast
ião CRUZ, Da «Solutio» Ií (no prelo), 2.a Parte, § 24.
76 A generalização, como já vimos (cf. supra), era uma tendência das escolas da época post
-clássica oriental; mas agora acentua-se mais ainda, chegando por vezes a originar
algumas confusões ou pelo menos a produzir certas dissonâncias.
77 Sobre as características da época justinianeia e sobre o problema bastante comple
xo das fontes jurídicas desta época, vid. Sebastião CRUZ, Da «Solutio» II (no prelo), 3.a
Parte § 85.
50
51
DIREITO ROMANO
Capítulo 5.°-A) -IUS ROMANUM (continuação)
(3)-Relação entre «Ius Romanum» e ,Imperium»
SUMÁRIO T8-7. a) Conexão entre a vida e a supervivência do Direito
Romano e a vida do Imperium. Sua razão de ser: -conexão entre
1-ius e auctoritas
II - Direito e Política em Roma
b) As várias formas políticas de Roma. = [Apon
tamento muito breve, a recordar matéria estudada
no Liceu, focando semente os aspectos relevantes
para a compreensão e estudo do lus Romanurn] = Estado-cidade, estado-território
I - Monarquia (753 a.C.-SIO a.C.). Rei. Senado. Povo
II-República (510 a.C.-27 a.C.). Magistraturas (poderes dos magistrados [«potestas», «im
perium», «iurisdictio»]); o pretor. Senado. Povo. Governadores das províncias
III - Principado (27 a.C.-fins do séc. III (284). «Princeps». Senado. Povo
IV - Dominado (284-476). Absolutismo
a) - l.a divisão do Império em 286 (Dio
cleciano no Oriente, Maximiano no
Ocidente)
p) - Várias uniões e separações do Império /) - Divisão definitiva em 395 por Teodósio I
para os seus dois filhos - Arcádio para
o Oriente e Honório para o Ocidente
78. Este sumário é mais de simples orientação do que de exposição de assuntos. A matéria nele
indicada, sobretudo nas als. b) e c), não se exige directamente para exame, mas pr
essupõe-se (por isso é recordada aqui dum modo bastante vago), para se compreender m
elhor a análise de certas instituições e problemas jurídicos mais intimamente ligados co
m determinadas realidades políticas de Roma. É evidente que, pressupondo-se, esta ma
téria é sempre exigível, duma forma indirecta.
Desde já, lamenta-se a impossibilidade de se fazer uma exposição, de nível universitário,
da parte histórica dos órgãos políticos com projecção na vida jurídica romana. Mas, dada a in
uficiência de tempo escolar que entre nós os programas oficiais actualmente consagra
m a esta disciplina (quase não há país na Europa-e não são muitos os do resto do mundo-ond
e se dedique oficialmente tão pouca atenção ao ensino do Direito Romano como presentem
ente em Portugal), não se vê, para já, melhor solução senão a de reduzir ao mínimo a parte pr
iamente histórica, para não prejudicar demasiado a exposição referente às instituições. Sobre
o método a seguir vid. infra § 16-b), c).
52
INTRODUÇÃO - TIP. I - CAP. 5.° § 7
V - queda do império romano do Ocidente
em 476
VI - queda do império romano do Oriente, em 1453
c) Confronto, através duma tábua cronológica, entre
a vida do «lus Romanum» e a vida do «Imperium»
I - Época arcaica -18 etapa, «ius civile» exclu
sivo (753 a.C.-242 a.C.)
-753 a. C. Fundação de Roma
-510 Fim da monarquia
Costume (piores maiorum). Leges
Regiae?
- 451.449 Lei da XII Tábuas (L a
escrita)
Roma começa a expandir-se
pela Península Itálica
-367 Leges.Liciniae-Sextiae. Criação do
pretor urbano. Verdadeiro início
da República com a divisão de
poderes
-275 Roma domina toda a Itália a sul dos Apeninos
-264 Roma inicia a fase de grande potência
11-Época arcaica-2.5 etapa, «ius civile» e
também «ius gentium» (242 a.C.-130 a.C.)
- 242 a. C. Conquista da Sicília
Criação do pretor peregrino
-206 Incorporação da Hispânia
-146 Destruição de Cartago e anexação da Grécia (Acaia)
- 135 1.8 revolta dos escravos na Sicília
Reconhecimento de certos direitos
aos escravos
III-Época clássica-18 etapa, pré-clássica (130
a.C.-30 a.C.)
- 130 a. C. «Lex Aebutia de formulis»
-91-88 Guerra social e concessão da cidadania a quase todos os habitantes da Penínsu
la Itálica
-73-71 Guerra dos escravos, dirigida por Espártaco. Guerras
-88-31 civis: 18 Mário e Sila (88-82); 2.5 Pompeu e César (49-48); 3.a Octávio e Marco
António (44-31)
IV -Época clássica - 2.a etapa, clássica central
(30 a.C:130 d.C.)
- 30 a. C. Incorporação do Egipto
-27 Augusto, «princeps»
53
I
- 400 (?)
«lei»
AL
DIREITO ROMANO
-27 a.C. 130 d.C. Esplendor político; sobrotudo 98.118 (a maior expansão do Império so
b Trajano)
V -Época clássica-38 etapa, tardia (130-230)
-212 Edicto de Caracala, cidadania a todos os habitantes do Império
-228 Assassinato de ULPIANUS pelos soldados pretorianos
VI-Época post-clássica (230-530)
- sécs. III a V Decadência política e social: anarquia (235-284); crise económica
Em Direito, confusão
-476 Queda do império romano do Ocidente
Os estudos de DR no Ocidente
diminuem. No Oriente, continuam
florescentes
VII-Época justinianeia (530-565)
séc. VI (527-565). Esplendor politico
Assombrosa compilação do lus
Romanum - o C.I.C.
a) Conexão entre a vida do «Ius Romanum» e a vida do «Imperium»
7. 0 Direito Romano, como já dissemos, apresenta-se-nos como uma expressão do poderi
o político de Roma. De facto, é interessante observar que a sua vigência só atinge período
s de grandeza ou de remoçada vitalidade quando protegido pelo imperium; é um direito
tipicamente imperial. Verifica-se isto, flagrantemente, com o lus Romanum (DR «st
ricto sensu»), pois o seu período de esplendor, a época clássica central, coincide com o
auge do poderio romano (séc. I a.C. a fins do séc. II d.C.) ; e as oscilações da sua gr
andeza, como veremos a seguir, são precedidas e acompanhadas de oscilações similares d
o poder político de Roma. Mas outro tanto se verifica também com o Direito Romano na
sua tradição (DR «lato sensu»).
INTRODUÇAO - TIT. I - CAP. 5.0 § 7
Na verdade, depois da compilação justinianeia, a vigência e o estudo do DR no Ocidente
entram em profunda crise, che-, gando quase a um desaparecimento geral; o império
ocidental caíra em 476. No Oriente, continua com vitalidade; ainda permanece e be
m forte o império oriental. No séc. XII, no Ocidente, o Direito Romano surge de novo
cheio de vitalidade; existe agora também imperiurm, o império germânico '0. No séc. XV,
no Oriente, o DR inicia uma enorme decadência; desaparecera,
em 1453, o império oriental 80.
Dir-se-ia que a «árvore» do Direito Romano só se desenvolve e frutifica à sombra e protegi
da pela do imperium. Há, pois, interesse em verificar o confronto entre as várias époc
as históricas do Ius Romanum e as várias épocas históricas da organização política de Roma e
escobrir-lhe a sua razão de ser.
I-«dus» e «auctoritas»
A razão de ser da conexão entre Ius Romanum e imperium radica na própria noção-fundamento
de tios. 1 uma vis 81. Uma força que necessita de uma auctoritas, não tanto para sub
sistir como para ser eficiente 82. E essa autoridade (esse prestígio,
79 Desde o séc. XI principiou a germinar a ideia de que o imperador alemão era o suc
essor dos imperadores romanos, pois o Sacro Império Romano-Germânico incarnava e con
tinuava o Imperium Romanum. Por consequência, o Direito Romano, como direito que f
ora do Imperium Romanum e como tipicamente direito imperial que era, tinha de se
r forçosamente o direito do império cristão do Ocidente. Dai que se proclamasse no séc X
II: «unum esse ius, cum unum sit imperium» (só há um direito, porque só há um império). 0 Dir
ito Romano representa deste modo a universalidade da ideia de império, e o «vivere s
ecundum legem romanam» é prova de pertencer a este. Cf. KoscHAKER, Europa y ei Derec
ho Romano, trad. esp. (Madrid, 1955) 79, 118 e 119.
80 Não deve ser considerado utopia defender que, no «império» de uns futuros Estados Uni
dos da Europa, o seu direito fundamental seja o Direito Romano (devidamente adap
tado); esta é a opinião, entre outros, de GENZMER.
81 Vid. sobre o ius como vis (de início, uma «força ritual»), vid R. SANTOao em Ann. Sem
. Giur. Università di Palermo 30 (1967) 204-206, 216 e 217.
82 Por isso, a antiguidade grega representava a Justiça incarnada numa deusa, arma
da duma espada (vid. supra 26); ainda hoje se usa, por vezes, este símbolo; e há um
velho adágio, que reza assim:
«onde força não há,
direito se perde».
54
55
I
DIREITO ROMANO
esse «impor-se», esse «não poder desobedecer-se») tem de verificar-se, não só quando o ius é
ado por uma entidade pública, mas também quando é de criação dos próprios juristas 83. Estes
, além de ciência, precisam de autoridade social para que as suas doutrinas se impon
ham e triunfem. Ao jurista, não lhe basta ser um mero cientista, visto que uma opi
nião jurídica não é como uma solução matemática ou uma invenção física ou química. Não basta
a. É preciso, além disso, ter uma certa autoridade social a sustentá-la: aristocrática,
política, burocrática, académica, etc. 31.
A princípio, os jurisconsultos romanos tinham autoridade social proveniente da sua
linhagem; era uma autoridade aristocrática. Depois, com Augusto, que chamou a car
gos importantes pessoas da classe média e lhes concedeu o ius publice respondendi,
possuíam autoridade social de carácter político. Adriano avançou mais um pouco: concede
u aos jurisconsultos autoridade de carácter burocrático. É o triunfo do funcionalismo
sobre a aristocracia. Por último, surge o imperador, no Baixo-Império (sécs. IV-VI), c
omo fonte única das leis. Então já não há ius, mas unicamente leges. 0 Direito identifica-
se com a lei.
II-Direito e Política em Roma
87 Pelas razões indicadas supra n. 78 e infra tít. VI, esta parte histórica é reduzida a
o mínimo.
Para uma exposição mais ampla, vid, v.g. BURDESE, Manual di Diritto Publico Romano (
Turim,1966) passim.
58
INTRODUÇAO-TiT. I - CAP. 5.^ § 7
nobres ou de homens experimentados na vida; 3) uma assembleia do povo.
I - Monarquia (753 a.C. - 510 a.C.). Rei. Senado. Povo
Roma nasce, politicamente, como um estado-cidade (civitas ou -ólis), e assim conti
nua durante a república e, sob certo aspecto, até ao séc. III d.C., quer dizer, até ao d
ominado.
E antes de civitas, que era Roma?
Segundo a opinião de vários AA., chefiados por BONFANTE, devem considerar-se, em Rom
a, como grupos políticos anteriores à civitas, a familia, a Bens, a curia e a t7ibus
.
A familia romana, inic1aimente muito diferente da família moderna, era um agregado
de coisas e de pessoas submetidas a um chefe, denominado paterfamilias.-(«Pater>,
aqui, significa chefe e não pai; pai, em rigor, é genitor. «Familias> é o genitivo arca
ico de familia. Portanto «paterfamilias> é uma designação muito primitiva e significa «sen
hor ou soberano da família> e não «pai da família». - 0 vinculo que liga as pessoas ao pat
erfamilias não é o do sangue, mas o da sujeição ao seu poder, que, em princípio, é absoluto,
de vida e de morte (ius vitae et necis) sobre todas as coisas e pessoas da orga
nização política romana.
Da «familia> passa-se à geras. Esta é formada por um conjunto de famílias que se encontr
am ligadas e submetidas politicamente a uma autoridade comum, o pater gentis. Os
membros da gens usam, por vezes, um mesmo nome (o nomen gentilicium), por se ju
lgarem descendentes dum antepassado comum.
= [Cada cidadão romano, em geral, usava três designações (iria verba): o praenomen, o no
me próprio ou nome individual que o distinguia dos outros membros da família, M(arcu
s); o nomen, gentilícío ou, mais frequentemente, apelido familiar, Tullius; e o cogn
omen, que indica um ramo especial dentro da gens, embora por vezes se confunda c
om o sobrenome ou apodo (agnomen), alusivo a alguma circunstância pessoal ou famil
iar, Cicero em relação com o cicer. Portanto, em «Marcus Tullius Cicero>, Marcus é o «prae
nomen>, Tullius é o «nomen> (quase sempre apelido familiar) e Cinero é o «eognonven> (em
regra, uma designação gentilícia). Dos três vocábulos, nomen é o mais importante; especific
a
uma coisa ou identifica uma pessoa; é a realidade. Traduz verbalmente o ôntico dum S
er; contrapõe-se a verbum (termo, palavra). Vid. Sebastião CRUZ, lus Derectum (Coimb
ra, 1971) 40.
59
L
DIREITO ROMANO
E curioso verificar que ainda hoje «nomes (nomen) significa o apelido (geralmente,
o apelido por que é conhecida a pessoa); e isto não só em vários países estrangeiros (e a
i é claro), mas até entre nós. Assim, por exemplo, num caso de paternidade ilegítima, qu
ando se roga ao pai que deixe dar o nome à criança, isto é, que ela possa usar o apeli
do principal do pai]. _
Da «genss, os romanos passaram à formação da curia. Esta, talvez segundo a melhor opinião,
existe, quando certo número de comunidades familiares, abandonando a sua religião p
articular, celebram, juntas, cerimónias religiosas em honra de uma divindade super
ior às divindades domésticas, e para isso nomeiam um chefe, o curião (curio), que pres
ide aos sacrifícios rituais.
Da «curial nasce a tribus, uma organização mais vasta, tendo igualmente a sua divindad
e protectora e mantenedora da união entre todos os membros.
A civitas surge, quando as «tribus», por acordo ou por necessidade de se unirem para
se defenderem, se coligam e escolhem um chefe (rex). Ora a primeira coisa a faz
er, ao constituir-se uma civitas, era acender o fogo sagrado, que representava a
pátria comum e sobretudo, à semelhança do que sucedeu com os outros órgãos politicos (fam
ilia, geras, curia e tribus), levantar altares às divindades da comunidade. Por is
so, a primeira e grande missão do rex é a de «sumo sacerdote». Para os romanos, a religião
era o vínculo que originava e mantinha a união entre os seus membros.
Quando Roma aparece como civitas, como grupo politico supremo, não faz desaparecer
os grupos politicos menores, sobretudo as familiae e as gentes. Verdade é que a g
ens, na época republicana decai muito, para vir a desaparecer, no principado. A fa
milia, porém, conserva no decorrer de toda a história do lua Romanum sempre algumas
características da sua velha estrutura, embora sofrendo uma grande evolução, sobretudo
por influência do Cristianismo.
Nos primeiros tempos, Roma foi, pois, governada pela realeza; mas quase todos os
reis são lendários. Apenas os três últimos - Tarquínio (o Antigo), Sérvio Túlio e Tarquínio
Soberbo) - parecem ser históricos.
INTRODUÇAO - TIT. I -CAP. 5.° § 7
No regime monárquico de Roma, o poder político (soberania) está repartido por três órgãos: r
ei, senado, povo (comícios).
Rei-E sumo sacerdote, chefe do exército, juiz supremo, numa palavra, o director (o
reitor) da civitas. (Rex, provém de regere = dirigir) 88. 0 seu cargo é vitalício, ma
s não hereditário. No entanto, cada rei podia, ao que se julga e pelo menos de início,
designar o sucessor. Todavia, este, em qualquer hipótese, só era considerado rei, d
epois de investido pelo povo reunido no comício das cúrias. Esta investidura, que er
a uma espécie de delegação do poder (soberania), chamava-se «rex curiata
de imperio». Os romanos tinham a convicção bem arreigada de
que o poder (soberania) residia no povo, e de que era este que o transmitia 89 a
o chefe.
Serrado - 0 rex, além de outros auxiliares 90, era assistido principalmente pelo s
enado (senatus). Este, ao que parece, de início foi constituído pelos patres das gen
tes fundadoras da civitas; mais tarde, pelos homens experimentados na vida - sen
atus deriva de senex (velho) -, escolhidos só entre os patrícios. Era uma assembleia
aristocrática. Os plebeus, inicialmente, não podiam fazer parte do senado. Depois,
em data que não pode bem precisar-se, mas provàvelmente ainda no tempo da monarquia,
foram admitidos excepcionalmente alguns plebeus; em 312 a.C., pela Lex Ovinia,
os plebeus alcançaram entrada definitiva; eram designados por «conscripti»; daí, pos
88 0 rex tinha vários auxiliares, v.g. o tribunus celerum, chefe da cavalaria; os
três tribuni milit ura, chefes dos batalhões de infantaria; provàvelmente, já os quaesto
res parricidil, os instrutores das causas relativas a crimina gravissima, como p
or exemplo, crimes de alta traição, de parricídio, etc.
89 Transmitia, ou simplesmente o comunicava, existindo entre povo e chefe como q
ue um «cordão umbilical a alimentar continuamente o poder» (para usar da expressão moder
na de DEI.os), ou até meramente lho delegava.
90 Vid. supra n. 88.
I
60
61
DIREITO ROMANO
teriormente, a fórmula patres conscripti (em rigor, «patres et conscripti») para desig
nar o senado na sua totalidade.
0 senado é uma das instituições políticas mais antigas de Roma. Foi criado sobretudo par
a aconselhar o rex formando assim uma espécie de junta consultiva do rei. Posterio
rmente, teve ainda as atribuições de nomear o interrex (o membro do senado que havia
de exercer o poder supremo, durante o interregnum existente entre a morte de um
rei e a proclamação do sucessor pela «lex curiata de imperio») e a de conceder a auctor
itas patrum (consentimento, ratificação) às leis votadas nos comícios, para que elas fos
sem válidas.
A resposta do senado, dada às consultas que lhe eram feitas, chama-se senatusconsu
ltum 91.
Povo -A sociedade romana, desde o início, era formada essencialmente pelos patrícios
(os aristocratas, a classe social elevada) e pelos plebeus (a classe humilde)92
. Os patrícios tinham todos os direitos; os plebeus, não. Daí que, muito cedo, princip
iasse a luta entre plebeus e patricios. Os plebeus desejavam a equiparação aos patríci
os, já que eles, embora de classe inferior, desde sempre (inclusive na etapa mais
primitiva) nunca foram considerados estrangeiros, mas sim fazendo parte do povo
romano. 0 Populus Romanus era, pois, constituído inicialmente por patrícios e plebeu
s. Estes, sob certo aspecto, eram tão cidadaos como os patrícios; possuíam a condição de m
embros da civitas na organização político-militar, que era feita por
91 Sobre o valor e a evolução dos senatusconsultos (senatusconsulta) vid. infra § 22-b
).
92 Ao lado dos patrícios e dos plebeus viviam os escravos (servi), que não faziam pa
rte da sociedade romana, visto não serem considerados pessoas (personae), mas simp
lesmente coisas (res).
Como classe social de importância secundária estavam os clientes, os romanos de cond
ição inferior vinculados aos patrícios por certas obrigações hereditárias e que recebiam des
tes protecção e auxílio.
A origem de patrícios, plebeus e clientes é assunto muito discutido entre os autores
. Cf. Hans Julius WOLFF, Introducción Histórica aí Derecho Romano, trad. esp. (Santiag
o de Compostela,1953) 9.
62
INTRODUÇAO - TIT. I - CAP. 5.° § 7
centuriae (companhia de soldados) e tribos (divisão territorial
de carácter predominantemente militar). A plebe servia-se prin
cipalmente da tribos para estabelecer uma organização à parte, e com chefes próprios (os
tribunos da plebe), formando como que um Estado dentro do Estado. Isto ocorre,
segundo a tradição, a partir de 494 a. C. A luta entre plebeus e patrícios durou séculos
; mas os plebeus acabaram por triunfar.
0 povo, detentor duma parcela do poder político (como já dissemos), exercia os seus
direitos manifestando a sua vontade em assembleias, denominadas comícios (comitia)
. Estes celebravam-se, dum modo obrigatório, em determinados dias, e também sempre q
ue a entidade competente os convocasse. - Os comícios mais antigos e mais importan
tes foram os comícios das cúrias (comitia curiata). De início, só os patrícios faziam part
e das curiae; mas, bem cedo, os plebeus conseguiram também acesso. Das várias atribu
ições que teriam os comitia curiata da época monárquica deve destacar-se a investidura d
o rei no poder, por meio da «lex curiata de imperio». É bastante duvidoso que já exerces
sem funções legislativas. A partir da república, as atribuições dos comitia curiata foram
absorvidas pelos comitia centuriata e pelos comitia tributa, conservando apenas
as atribuições religiosas. Notemos finalmente que nos comícios não se contam os votos po
r cabeça, mas, respectivamente, por cúrias, centúrias ou tribos; cada um destes agrupa
mentos, por maior que seja, possui um único voto.
11-República (510a.C.27a,C.). Magistraturas (poderes dos magistrados -«potestas», «imper
ium», «iurisdictio»); o pretor. Senado. Povo
A constituição política de Roma nos primeiros tempos da república não sofre grandes alteraçõe
. Pode até afirmar-se que, se a,monarquia terminou em 510 a.C., em rigor a república
só principiou em 367 a.C., ao estabelecer-se uma verdadeira divisão de poderes pela
s várias magistraturas criadas nessa
63
i
V
S
DIREITO ROMANO
altura. Simplesmente, a partir de 510 a.C., o poder supremo já não reside num único ch
efe (o rex), mas, geralmente, em dois (os cônsules) ; estes exercem o cargo por um
ano e não por toda a vida; são eleitos pelo povo e não designados pelo antecessor ou
pelo senado.
A constituição republicana consta de três grandes elementos: as magistraturas, o senad
o e o povo. Representam assim e substituem, respectivamente, os elementos monárqui
co, aristocrático e democrático.
Magistratura. Magistrados -A palavra latina magistratus tanto significa o cargo
de governar (magistratura) como pessoa que governa (magistrado). N& terminologia
romana, «magistrado» compreende todos os detentores de cargos políticos de consulado
para baixo. Inicialmente, os magistrados são os verdadeiros detentores do imperium
, que anteriormente tinham os reis. 0 imperium é um poder absoluto, um poder de so
berania; os cidadãos não podem opor-se ao imperiumu.
Este carácter absoluto do imperium fica limitado por três circunstâncias muito importa
ntes:
1) -a temporalidade (os magistrados, normalmente, ocupavam o cargo por um ano);
2) - a pluralidade (o poder estava repartido por várias magistraturas, a saber, co
nsulado, questura, censura, pretura e edilidade curul);
3) - colegialidade (dentro de cada magistratura, v.g. no corsulado, havia mais d
o que um magistrado; cada um dos colegas estava encarregado dum determinado sect
or, dentro do qual tinha poder absoluto, imperium; mas o outro colega ou um magi
strado de ordem superior podia exercer o direito de veto (ius intercessionis).
Além disso, embora o imperium, como poder absoluto, fosse, em regra, efectivo dent
ro e fora de Roma, todavia, logo de início, dentro de Roma, isto é, dentro da linha
defensiva da cidade (denominada pomerium, onde era proibido cultivar e edificar;
era o sanctum; servia de limite para o imperium militare), estava sob a maiesta
s do Populus Romanus entendido como comunidade política. Daí que um cidadão, nos casos
mais graves, pudesse sempre, em último recurso, apelar para a assembleia do povo
(nesta
altura, os comitia centuriata) contra as decisões, até dos magistrados do mais alto
nível detentores do imperium (os cônsules). Essa apelação chamava-se provocatio ad popul
um. Só não estava sujeito à provocatio ad populum o ditador.
Fora de Roma, a princípio, não havia o direito da provocatio ad populum; esta foi in
troduzida, no séc, 'II a.C., pela. lex Porcia.
As magistraturas importantes eram: a dos cônsules, a dos censores, a dos pretores,
a dos questores e a dos edis curúis. Estas magistraturas designavam-se «magistratur
as ordinárias» (as «extraordinárias» eram o tribunado da plebe e a ditadura 93), pois esta
vam integradas numa certa ordem hierárquica (o «cursus honorum», carreira das honras o
u cargos), e isto segundo um critério de dignidade e não tanto de poderes. A ordem h
ierárquica, a contar do cargo inferior, estava instituída desta forma,: 1.0 questor;
2.° edil curul; 3.° pretor; 4.° cônsul; 5.° censor, que era, portanto, o grau supremo do
cursus
93 Os tribunos da plebe foram, inicialmente, os chefes revolucionários, eleitos pe
la plebe, nas suas famosas secessões; portanto, uma espécie de modernos cabecilhas d
e greves.
Como a plebe foi alcançando vitórias, os seus tribunos acabaram por ser considerados
magistrados naturais da constituição republicana. Em virtude de não fazer parte do cu
rsus honorum, o tribunado da plebe é uma «magistratura extraordinária». Os tribunos da p
lebe não tinham imperium (em vez deste poder, possuíam a tribunitia potestas), mas g
ozavam de intercessio sobre todos os magistrados do cursus honorum, inclusive so
bre os cônsules; quer dizer, tinham o direito de vetar, isto é, de anular, sem neces
sidade de invocar razões, qualquer decisão tomada por um magistrado de carreira políti
ca (cursus honorum). Além disso, tinham o privilégio da inviolabilidade (sacrosancti
tas).
As intervenções dos tribunos da plebe na vida política e legislativa de Roma foram sem
pre muito importantes.
A ditadura, além de extraordinária (por não estar incluída no cursus honorum), é magistrat
ura excepcional, pois não faz parte da vida política normal e permanente de Roma. Er
a criada em momento de iustitium.
-[Do mesmo modo que arinistitium é a interrupção das armas, iustitium era, a suspensão d
o ordenamento civil (da iustitia normal), motivada por calamidades públicas ou por
uma crise política interna (v.g. revoltas populares) ou externa (guerras com o es
trangeiro)].
0 ditador concentrava em si todos os poderes políticos, administrativos e judiciai
s da civitas. Todas as magistraturas ficavam suspensas ou pelo menos directament
e subordinadas a ele; portanto, o seu imperium era uma soberania sem restrições.
INTRODUÇAO - TIT. I - CAP. 5.°
§7
64
65
I
DIREITO ROMANO
honorum. Só depois de ter exercido durante um ano o 1.0 cargo, é que alguém podia ser
eleito para o 2.°; só depois de ter exercido durante um ano o 2.o, é que podia ser ele
ito para o 3 .0, e assim sucessivemente.
Poderes dos magistrados; «potestas», «imperium» e «iurisdictio».
A potestas era o poder de representar o Populus Romanus. Era comum a todos os ma
gistrados, mas cada um tinha esse poder, em maior ou menor grau, conforme as sua
s atribuições, dentro das quais podia vincular, com a sua vontade, a vontade do povo
romano, criando assim direitos e obrigações para a civitas.
0 imperium era, como já ficou dito, o poder de soberania. Continha as faculdades:
1) de comandar os exércitos; 2) de convocar o senado (facultas ou potestas agendi
cum patribus) ; 3) de convocar as assembleias populares (facultas ou potestas ag
endi cum populo) ; 4) de administrar a justiça. No entanto, esta última faculdade, a
partir da criação de pretura em 367 a.C., está contida no imperium, não como forma norm
al ou corrente de administrar a justiça, mas como forma extraordinária.
0 imperium não é como a potestas comum a todos os magistrados, mas própria dos cônsules,
dos pretores 99 e do ditador.
A iurisdictio é o poder específico de administrar a justiça duma forma normal ou corre
nte. Era o poder principal dos pretores. Competia igualmente ao edis curúis, porém só
para organizar os processos litigiosos referentes às matérias em que eles deveriam s
uperintender B5, e também aos questores, mas só para administrar a justiça em causas c
riminais.
94 0 imperium do pretor estava subordinado ao dos cônsules. Estes tinham o ius int
ercessionis; podiam vetar as decisões do pretor. Este não possuía o ius intercessionis
; por isso, o praetor era chamado collega minor dos consules, ou até praetor minor
e o cônsul designado por praetor maximus.
95 A superintendência dos edis curúis incidia na cura urbis (fiscalização da limpeza da
cidade e da conservação das vias e edifícios públicos), na cura annonae (vigilância dos me
rcados) e na cura ludorum (tudo o que dissesse respeito aos espectáculos públicos).
INTRODUÇÃO - TIT. I - CAP. 5.° §
Como se verifica, o pretor era um magistrado que tinha os três poderes: potestas,
imperium e iurisdictio.
No aspecto jurídico, que essencialmente nos interessa, a magistratura mais importa
nte '(exceptuado sob certo aspecto a dos cônsules) é a dos pretores, seguindo-se-lhe
a dos edis curúis e a dos questores. Por isso, vamos fazer uma referência especial
ao pretor, e, por motivos bastante análogos, um pouco mais adiante, aos governador
es das províncias.
Pretor
A palavra praetor (prae-itor), segundo VARRÃO 96, deriva de praeire e significa o
que vai à frente, o que está à cabeça. A princípio, era uma designação genérica para indicar
hefe de qualquer organização. Por isso, os cônsules, que são os magistrados mais antigos
, considerados os imediatos continuadores dos reis como detentores do poder supr
emo, de início intitularam-se praetores, isto é, «chefes militares», visto os primeiros
cônsules terem sido os dirigentes da rebelião popular, formada sobretudo de patrícios,
que derrubou a monarquia 97.
Depois da criação da questura (cerca do ano 450 a.C.) e da censura (em 443 a.C. 98),
a palavra «praetor» ainda conservou
96 VARRO, De Lingua Latina V 80 (ed. de J. [Collart Paris,1954] 52).
97 Mais tarde, a designação de praetores foi substituída pela de consules (ou collegae
). É que, nesta altura, a função principal ou mais importante do cônsul não era a de coman
dar os exércitos, mas a de consultar (consulere), convocar, o senado e o povo. Cf.
VARRÃO, id., ib.
98 Os censores foram criados, nessa data, para organizar o censo dos cidadãos roma
nos, que se fazia normalmente de cinco em cinco anos, sobretudo para fins milita
res e de tributação de impostos. Desde o início, eram eleitos dois censores, para cada
período de cinco anos. Mais tarde, além de organizar o censo quinquenal, competia a
os censores administrar o ager publicus e fazer a lista dos membros do senado (l
ectio senatus), podendo excluir do senado aquele que julgassem indigno deste mun
us. Chegaram a ser considerados os guardiões da moralidade, quer pública
66
67
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO - TIT. I-CAP. 5.0
um certo carácter genérico, pois era nome comum de qualquer magistrado (cônsul, questo
r ou censor).
Em 367 a.C., além dos edis curúis, pelas leges Liciniae Sextiae 09 foi criada a magi
stratura dos pretores. Então «praetor» deixa de ter carácter genérico para significar apen
as o
quer privada. Tinham certos poderes discricionários; podiam adoptar decisões, que pràt
icamente aniquilavam um indivíduo, tanto moral como politicamente.
Os censores não tinham imperium, mas o seu cargo, em virtude das atribuições acabadas
de mencionar, sob certos aspectos, era considerado a dignidade mais elevada a qu
e um cidadão romano podia ascender; por isso, em regra, só eram escolhidos para cens
ores cidadãos do mais elevado carácter e que já tivessem sido cônsules.
As actividades de censor, depois de efectuado o censo, terminavam com a cerimónia
religiosa dum sacrifício público solene, denominado lustrum; e como este se realizav
a de cinco em cinco anos, daí o chamar lustrum ao período de cinco anos. A expressão c
ontinuou através dos tempos e permaneceu até hoje, com esse significado.
99 As Leges Liciniae Sextiae, ao mesmo tempo que permitiram o acesso dos plebeus
ao consulado, criaram mais esta magistratura, assim como outras, e que deviam s
er ocupadas só por patrícios, a fim de impedir ou pelo menos retardar o mais possível
a igualdade política entre as duas classes. Os plebeus, como já dissemos, acabaram p
or triunfar.
As principais vitórias dos plebeus verificaram-se pela ordem seguinte:
- em 449 a.C., pela lex Valeria Horatia de plebiscitis, é reconhecido carácter norma
tivo aos plebiscitos, equiparando-os na sua força vinculativa às leis, embora eles só
obriguem a plebe.
- A partir de 443 a.C., os plebeus começam a conquistar as magistraturas: - nesse
ano, o tribunado militar com poder consular; -em 421 a.C., a questura;
-em 367 a.C., o consulado (e mais tarde, em 342, pela lex genucia, fica determin
ado que um dos cônsules tem de ser sempre plebeu);
- em 366 a.C. a edilidade curul;
-em 356 a.C., a censura (e mais tarde, em 339 a. C., pela lex Publilia, é estabele
cido que um dos censores fosse sempre plebeu);
-em 351 a.C., a ditadura;
-em 337 a.C., a pretura.
- Em 312 a.C., pela lex Ovinia, os plebeus alcançam entrada definitiva no senado.
Em 287 a.C., a lex Hortensia de plebiscitis determina que os plebiscitos vincule
m tanto plebeus como patrícios.
A partir desse mesmo ano 287 a.C., os tribunos da plebe são membros-natos do senad
o, tendo além disso o direito de o convocar, para lhe solicitar a auctoritas patru
m sobre as medidas que desejassem submeter à votação dos concílios da plebe.
magistrado especificamente encarregado de administrar a justiça duma forma normal
ou corrente, nas causas civis. Presidia à 1.a fase do processo, «fase in lure» 100, on
de era analisado o aspecto jurídico da causa. Na 2.a fase, chamada «apud iudicem», é que
se apreciava a questão de facto, sobretudo o problema da prova, e se dava a sente
nça; esta fase desenrolava-se perante o iudex, que não era magistrado mas um particu
lar, e portanto distinto do pretor.
A «fase in lure», como examinaremos no vol. II (2.a Parte, tít. VI), era importantíssima
; decisiva para a vida do processo. Aí se verificava um ius-dicere, uma afirmação sole
ne da existência ou não-existência de direito (e para isso o pretor tinha a iuris-dict
io) ; e esse ius-dicere concretizava-se num iudicare iubere dirigido ao juiz, is
to é, numa ordem dada pelo pretor ao juiz para proferir sentença neste ou naquele se
ntido, conforme se provasse ou não determinado facto. Na 2afase do processo, não há um
ius-dicere, mas um simples iti-dicare, um aplicar o direito, isto é, julgar, deci
dir conforme uma ordem jurídica já anteriormente fixada.
De início, só havia um pretor. A partir do ano 242 a.C., a administração da justiça é distri
buída por dois: o pretor urbano («praetor urbanus»), encarregado de organizar (dentro
das normas do «ius civile») os processos civis em que só interviessem cidadãos romanos;
e o pretor peregrino («praetor peregrinus»), incumbido de organizar (mas dentro das
normas do
100 lus, nesta expressão «fase in lure», em rigor significa o estrado para onde o pret
or subia e aí se sentava (numa cadeira, tipo trono) para administrar a justiça; num
sentido menos rigoroso, compreende o estrado e um pequeno recinto à volta, ou até, u
m pouco mais tarde, a sala toda onde o pretor administrava a justiça; diríamos agora
, o tribunal (sala de audiências). Por isso, ainda hoje ao tribunal (sala de audiênc
ias) se chama pretório, do (latim praetorium), por ser o lugar onde o praetor admi
nistrava a justiça; portanto o lugar por excelência onde se deve administrar justiça.
A expressão «fase in lure» pode traduzir-se mutatis mutandis por «fase perante a barra d
o tribunal».-É que a palavra ias, além doutros, tem o significado de local onde se adm
inistra a justiça. Vid. supra 18.
A respeito da «fase in lure» note-se que, anteriormente a 367 a.C., era presidida po
r um cônsul.
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69
DIREITO ROMANO
DIREITO ROMANO
«ius gentium») os processos em que pelo menos uma das partes era um peregrino, quer
dizer, um «non-civis».
Sempre que se fala de pretor, sem mais nada, entende-se o pretor urbano. Este é qu
e é, na verdade, a figura genial dentro do Ius Romanum, o protótipo do homem preocup
ado e totalmente dominado pelo espírito de justiça, sempre com a ânsia e com o escrúpulo
de atribuir a cada um o que é seu (suum ouique tribuere). Histórica e lôgicamente, é o
elemento de ponderação colocado entre o ius e a lex 101. 0 pretor era o intérprete da
lex, mas sobretudo o defensor do ius.
Senado-0 senado é o segundo elemento da constituição republicana. E o órgão político por exc
elência da república. Nas relações internacionais de Roma, já não vem indicado em primeiro l
ugar o povo, mas o senado. A fórmula passou a ser «Senatus Populusque Romanus» (SPQR).
Constituído pelas pessoas mais influentes da civitas, tinha um verdadeiro carácter
aristocrático. Ali se encontravam reunidas a autoridade (formada sobretudo por ant
igos magistrados), a riqueza e o saber técnico. 0 senado não possuía o imperium mas ti
nha a auctoritas (que, neste caso, podemos traduzir por prestígio) ; por isso, na
aparência, não era dotado de funções prepotentes; mas, na realidade, o senado republican
o, devido também ao seu carácter permanente, gozava duma influência social extraordinári
a.
No aspecto jurídico, as suas decisões (senatusconsulta) tinham a forma de conselho,
mas, na prática, eram verdadeiras ordens 702. Porém, a atribuição mais importante, dentr
o do campo jurídico, era ainda a da concessão da auctoritas patrum para que as leis,
depois de votadas e aprovadas nos comícios, tivessem validade 103. A partir de le
x Publilia Philonis, de 339 a.C., essa aprovação do senado passa a ser concedida ant
es de ser votada pelos comícios a proposta de lei. Desta forma, a verdadeira deli
101 Cf. C. GEOFFREDI, lus, Lex, Praetor em SDH! 13-14(1947-1948) 102. 102 Vid. i
nfira § 22-b).
103 Ver supra 62 e infra § 21-c}a}5.
70
beração, o autêntico iussum (ordem com carácter ou efeito normativo) é a auctoritas patrum
do senado; o povo nos comícios, agora, como que se limita a sancionar (a dar, por
tanto, um mero consentimento e não já um verdadeiro iussum 104) aquilo que na realid
ade é a vontade dos senadores ou, quando muito, dum magistrado.
Povo - 0 povo é o terceiro elemento da constituição política republicana. Reune-se em as
sembleias ou comícios, cujos poderes são essencialmente o de eleger certos magistrad
os e o de votar, nos termos acima referidos, as leis propostas por aqueles magis
trados; além disso, em certas circunstâncias, os comícios funcionavam como tribunal de
última instância, quando tinha lugar a provocatio ad populum 105.
Na República, há 3 espécies de comícios: comitia curiata, que entram em franca decadência;
comitia centuriata, que intervêm na eleição dos cônsules, dos pretores, do ditador e do
s censores, e na votação das leis propostas por estes magistrados; comitia tributa,
que elegiam alguns magistrados menores e que votavam certas leis.
Além destes três, havia ainda os concilia plebis, cujas decisões, denominadas plebisci
ta, a princípio não tinham carácter vinculativo nem sequer em relação à plebe; depois da lex
Valeria Horacia, de 449 a.C., (vid. supra nota 99), é-lhe reconhecida força obrigatór
ia em relação à plebe; a partir da lex Hortensia, de 287 a.C., passam a obrigar todo o
povo romano e portanto também os patrícios, pois esta lei determina «ut plebiscita un
iversum populum tenerent». Desta forma, os plebiscitos são equiparados totalmente às l
eis comiciais.
A constituição política da República de Roma fundava-se portanto no equilíbrio de três grand
es forças: o imperium dos
104. A lei, segundo GAlus 13, «est quod» populus iubet atque constituit» (é o que o povo
ordena e determina).
105 Sobre este tema vid. =I 29(1963) 288 ss.
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DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO - TIT. I -CAP. 5.°
§7
magistrados; a auctoritas do senado; a maiestas do «populus» 108. Este equilíbrio entr
e as forças autocrática, aristocrática e democrática- embora com uma certa preferência plu
tocrática (favorecendo sempre os mais ricos) -, dotou a República romana duma grande
flexibilidade. Isso permitia que ela superasse graves crises, não só internas como
externas. É neste período que principia a revelar-se claramente o talento político dos
romanos.
111-Principado (27 a.C.-fins do séc.III [284]). «Princeps». Senado. Povo
A constituição republicana, a certa altura, torna-se insuficiente para as novas real
idades; entra em crises sucessivas; tem de recorrer frequentemente à magistratura,
que devia ser não-frequente, a ditadura. Essas novas realidades são, principalmente
:
1) - o alargamento extraordinário do poder de Roma, que se estende desde a Hispânia
e as Gálias até à Ásia Menor, dominando todo o Mediterrâneo;
2) -uma grave e profunda desmoralização da gente de Roma;
3) - o aparecimento de novas classes sociais;
4) -o antagonismo entre a velha nobreza e a nova aristocracia formada por armado
res de navios, banqueiros e industriais;
5) -lutas de classes de vária ordem;
6) - revolta dos escravos que pretendem liberdade.
0 povo romano, desiludido com o absolutismo de Sila, com o reinado de Pompeu e c
om a monarquia de César, depois da incorporação do Egipto, em 30 a.C., volta-se confia
nte para Octávio. Todos vêem nele o princeps civitatis, o primeiro entre
os cives, o mais indicado para restaurar a paz e a justiça, vencendo o caos moral,
político e económico dos últimos tempos. Octávio César Augusto aproveita-se inteligenteme
nte de todas as circunstâncias e afirma-se um político muito hábil quando finge não quer
er nada, nenhumas honras, para consegui-las todas e todos os poderes. Instaura u
ma nova forma constitucional - o principado. Não lhe chamou república, para não exaspe
rar os monárquicos; não lhe chamou monarquia, para não ferir os republicanos. Principa
do. Que era? Ainda hoje não se sabe bem. Os autores continuam a discutir a naturez
a de vários problemas do principado 107.
Não se deve andar muito longe da realidade, pensando que, logo de início, o principa
do era uma monarquia sui generis, de tendência absolutista, baseada no prestígio do
seu fundador, mas sem desprezar (pelo menos, na aparência) as estruturas republica
nas existentes: um império com aparências republicanas e democráticas.
Augusto, apoiado no seu prestígio de vencedor de António e sobretudo de Cleópatra (o m
ais terrível inimigo de Roma, depois de Aníbal) na célebre batalha de Ãccio (31 a.C.), o
nde se enfrentaram dois mundos diferentes, Oriente e Ocidente, defensor da tradição
romana, impulsionou o engrandecimento de Roma em todos os ramos do saber. Poetas
, historiadores, artis
tas e juristas fazem desta época o século de ouro 11111.
Augusto foi sobretudo o pacificador, conseguindo obter uma paz duradoura que fic
ou conhecida na História pela designação de pax augusta, que ele procurou sempre, desd
e que fosse com
107 Um dos trabalhos mais recentes é o da romanista Branca PARS!, Désignation et Inv
estiture de t'Empereur Romain-Jor. et II'. siècles après J: C. (Paris,1963), onde se
analisam, mais uma vez, tantas questões: a filiação espiritual do imperador, a adopção im
perial, o conteúdo da palavra principatus, a colegialidade dos imperadores, a inve
stidura comicial, a designação do imperador, etc., etc. Vid. também Antonio M. JAVIERR
E, El Tema Literario de Ia Sucesión (Zurique, 1963) 38-64.
108 Cf. Alfonso MELE, Cultura e Politica nell'Etá di Augusto em La Parole del Pass
ato. Rivista di Studio Classic! 20(1965) 179-194.
106 Vid. J. GAUDEMET, «Maiestas Populi Romani» -Ruiz II (Nápoles,1964) 699-709.
em Synteleia Arangio
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73
I
DIREITO ROMANO
patível com os interesses do Império e com a sua glória pessoal. 0 senado dedicou-lhe
o monumento «Ara pacis», cujas estátuas em relevo figuram entre as obras de arte mais
notáveis da época. E foi também no seu tempo que, numa província oriental do Império, se o
uviu a mensagem de <paz na terra aos homens de boa vontade».
Povo - Os comitia não foram abolidos; mas, pouco a pouco, deixam de funcionar, e vêm
a morrer por inactividade. As suas atribuições passam em parte para o senado, mas s
obretudo para um novo elemento, que se vem afirmando, desde o tempo de Adriano,
cada vez mais decisivo - o Exército.
Verdadeiramente característico do principado é a criação dum corpo burocrático de funcionári
os 113 - oficiais da casa do
111 Vid. infra § 27-c)-II-2.
112 Vid. infra § 22-b).
113 Entre esses funcionários contam-se:
os legati Augusti pro praetore, encarregados do governo das províncias; os legati
legionis, encarregados do comando das legiões;
os praefecti praetorio, chefes da guarda imperial e também encarregados de
superintender em assuntos civis e criminais;
Ì
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75
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO - TIT. I - CAP. 5.'
§7
princeps-, que hão-de chegar a fiscalizar tudo. Estes funcionários dependem únicamente
do imperador, respondem exclusivamente perante ele e administram o Império segund
o uma directriz burocrática.
Acabado o principado, começa o Baixo-Império, que vem a terminar quando depois só exis
te império bizantino; portanto
vai de 284 a 476114.
Antes de passar ao dominado, façamos uma breve referência aos
Governadores das Províncias
Provincia significa, originàriamente, «cargo confiado a um magistrado», e especialment
e «administração dum território conquistado»; num sentido secundário, o próprio «território s
o qual um magistrado exerce os seus poderes». Mas, de início e em rigor, só os territóri
os sob o domínio de Roma situa
o praefectus urbi, que substitui o imperador na sua ausência e superintende no pol
iciamento da cidade;
o praefectus vigilum, encarregado do policiamento nocturno;
o praefectus annonae, que tem a seu cargo o abastecimento da cidade, a regulamen
tação dos preços, etc.;
o praefectus Aegypti, delegado do imperador para o governo do Egipto;
os procuratores, administradores da fazenda pública.
A proposito dos procuratores, note-se que foi no principado que surgiu uma nova
administração financeira, a do fiscus, a par da administração do aerarium. 0 aerarium er
a o tesouro da civitas, do Estado. 0 fiscus era, inicialmente, a fortuna particu
lar do imperador (por isso até se chamava fiscus Caesaris); o senado, como é evident
e, não intervinha na sua administração; mais tarde, converteu-se no verdadeiro tesouro
do Império, e então o velho aerarium passou a ter uma importância secundária.
Ainda como característico do principado, note-se o Consilium Principis (que depois
foi substituído pelo Consistorium Principis), órgão consultivo, onde se preparam as l
eis e se ventilam os assuntos da governação. Sobre esta matéria, vid., por todos, A. B
URDESE, Manuale di Diritto Publico Romano (Turim, 1967) 196 e 732, e SDHI 31 (19
65) 222-245.
114 Vid. Ernst STEIN, Histoire du Bas-Empire, ediç. francesa de J-M. PALAN
QUE (Paris,1959) 1.
dos fora da Península Itálica e conquistados por um general é que tinham o nome de «provín
cias» 15.
a) - A prsncípio, o governo de todos esses territórios extra-itálicos era confiado pel
o senado a um magistrado dotado de imperium, cônsul ou pretor; depois, a um desses
ex-magistrados (no ano seguinte ao termo do seu cargo), prorrogando-lhes a comp
etência como governadores (praesides) das províncias na qualidade de procônsules ou pr
opretores.
fl) - Mais tarde, Augusto havia de reservar para si a nomeação directa dos governado
res daquelas províncias que ainda requeriam uma atenção especial de tipo militar, por
não se encontrarem totalmente pacificadas. Desta forma, estabelecia-se a divisão ent
re províncias senatoriais («provinciae senatus» ou «populi Romani») e províncias imperiais («
rovinciae Caesaris» ou «principis»), conforme o governo e vigilância estavam respectivam
ente a cargo do senado ou do imperador 110
As normas administrativas fundamentais de cada província, de início, eram estabeleci
das por uma lei, lex provinciae.
115 Por isso, não faltam muitos autores a defender que provincia, etimológicamente,
significa «id quod populus Romanus provicit, id est, ante vicit» (o que o povo Roman
o, antes, venceu, dominou). Opinião muito discutida. Cf. ERNOUT
-MEILLET, 0. c. 541 e FORCELLINI, 0. C. III 944.
Províncias no tempo da República: Sicilia, Sardinia, Corsica, Gallia Cisalpina, Hisp
ana Tarraconensis, Hispania Baetica, lllyricum, Macedonia, Achaia, Africa, Pontu
s, Cyrene, Creta, Cilicia, Syria.
Províncias no tempo do Império: Aegyptus, Aquitania, Gallia Lugdunensis, Belgica, Ge
rmania Superior, Germania Inferior, Cyprus, Gdllatia, Pamphylya, Rhaetia, Noricu
m, Alpes Maritimae, Pannonia, Moesia, Cappadocia, Numidia, Mauritania (Tingitana
Caesariensis), Britannia, Thracia, Pontus, Palaemonizcus, Commagene, Arabia, Da
cia, Armenia, Messopotamia, Assyria.
116 Havia ainda o caso excepcional do Egipto, que, desde a sua incorporação, teve um
governo imperial especial, como se fosse todo ele um património do imperador. 0 g
overnador do Egipto denominava-se «praefectus Augustalis Aegypti»; os governadores d
as províncias imperiais (portanto, nomeados directamente pelo imperador), legati A
ugusti.
Mais tarde, as províncias quer senatoriais quer imperiais, foram objecto de várias d
ivisões e subdivisões, criando-se para todas estas novos cargos. Vid. A. D'oRS, Elem
entos, cit. 42.
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77
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO -TiT. I - CAP. 5
§7
Dentro de cada província,. há cidades com estatutos diferentes, conforme a categoria
: civitates foederatae, formalmente independentes; civitates liberae, com autono
mia administrativa; civitates immunes, isentas do pagamento de imposto; civitate
s stipendiariae, obrigadas a uma tributação fixa (stipendium), cuja efectivação estava a
cargo de um questor, auxiliar do governador da província em assuntos de finanças.
Os governadores das províncias, além de imperium, tinham iurisdictio; publicavam igu
almente o seu edictum. Em ordem à administração da justiça, a província estava dividida em
distritos (conventus iuridicus) que o governador visitava periàdicamente.
Em virtude do princípio geral da personalidade do direito, nas questões entre romano
s o governador aplicava as normas do Jus Romanum; nos pleitos entre indígenas da m
esma cidade, o governador agia discricionàriamente, sem desprezar os costumes loca
is; nos litígios entre os habitantes de cidades distintas, o governador ou seus de
legados. aplicavam as normas que mais se ajustassem às partes litigantes.
Note-se, porém, que os governadores, ao aplicarem o lus Romanum, não podiam aplicar
um Direito Romano clássico puro, mas tinham de adaptá-lo às várias condições especiais da ad
ministração da justiça na província, sobretudo à circunstância, muito importante, de o proce
sso ter, pràticamente, só uma fase, em que, por conseguinte, o governador fazia de p
raetor e de iudex "'. Os governadores tinham, pois, necessidade de «provincializar»
o lus Romanum 118. 0 «direito provincial», em rigor, é pois o Direito Romano clássico ad
aptado às províncias.
117 0 governador, em assuntos jurisdicionais, podia ser coadjuvado por um ou vário
s assessores, comites ou contubernales.
118 Essa «provincialização» do Direito Romano veio a aumentar, a partir de 212, com a co
ncessão de cidadania a todos os habitantes do Império, dada por Antonino Caracala. C
f. A. D'oas, Elementos, cit. 43 e 44.
78
Em sentido menos rigoroso, «direito provincial» é também a «lex provinciae».
Os governadores romanos obtinham grandes lucros das províncias; às vezes, Roma autor
izava esses benefícios, v.g. as indemnizações e os tributos em géneros -cibaria (víveres),
congiarium (vinho), salarium (imposto pago em sal); outras vezes, eram diferent
es as fontes de receita e, entre estas, não pequena era a rapina do magistrado (típi
co, no final da república, é o caso de Verres, contra quem Cícero se insurgiu durament
e).
IV - Dominado (284-476). Absolutismo
Os cinquenta anos antes da subida de Diocleciano ao poder,
verificada em 284, caracterizam-se por:
1) -lutas internas, por causa do problema da sucessão
dos imperadores e ainda por causa da exigência manifestada
por várias províncias de quererem equiparar-se a Roma;
2) - falta de prestígio da autoridade pública;
3) - conflitos entre o Império Romano e o Cristianismo; 4) - crise económica;
5) - infiltração dos bárbaros;
6) - demasiada extensão do Império.
Diocleciano, soldado severo, enérgico e autoritário, sobe ao poder em 284, aclamado
imperador pelos seus companheiros de armas.' Inaugura um novo regime político, nos
moldes do absolutismo à maneira oriental. Proclama-se dominus, senhor único -daí o ch
amar-se a este período dominado ou império absoluto.
Além disso, intitula-se deus(!), com o respectivo direito a uma adoratio. É a primei
ra vez que isto se diz oficialmente: o imperator é dominus et deus. 0 seu poder não
provém mais de uma «lex curiata de imperio», mas de uma investidura divina.
79
5
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO - TIT. I - CAP. 5.1
§7
0 Cristianismo tenta destruir o mito da divindade do imperador. Estabelece-se en
tão uma profunda rivalidade entre ele e o chefe da Igreja. Diocleciano ordena uma
perseguição tão violenta contra os cristãos que se lhe chama a «era de Diocleciano ou dos
mártires».
Diocleciano procede a várias reformas: administrativa, económica, financeira e polític
a. Reconhece a impossibilidade de manter todo o Império sob um único comando. 0 abso
lutismo trouxe consigo o separatismo...
a) - Em 286, estabelece-se a 1 divisão do Império, ficando Diocleciano no Oriente, c
om residência em Nicomédia, e Maximiano no Ocidente, com residência em Milão, assistido
cada imperador por um consistorium 119 e por um Caesar, que é íntimo colaborador e s
erá o sucessor. A velha ideia de unidade imperial sofre, na prática, um duro golpe..
.
p-Constantino consegue outra vez a união do Império, mas por pouco tempo. As divisões
sucedem-sé.
y) - Teodósio, em 394, reune, pela última vez, Oriente e Ocidente; mas em 395, pouco
antes de morrer, divide definitivamente o Império pelos seus dois filhos, ficando
Honório no Ocidente e Arcádio no Oriente.
Em síntese, podemos indicar como factos principais da época do dominado: 1.°) a reform
a político-administrativa de Diocleciano; 2.°) o reconhecimento do Cristianismo, a p
artir do tempo de Constantino, como religião oficial 120, excepto no
119 0 consistorium era uma espécie de Conselho do Estado, formado por altos dignitár
ios militares, civis e, mais tarde, também eclesiásticos. Os cargos mais impor
tantes eram:
o praepositus sacri cubiculi, chefe da casa imperial;
magister officiorum, o encarregado da vida administrativa do Império (diríamos hoje,
ministro do interior);
o quaestor sacri palatii, uma espécie de ministro da justiça;
comes sacrarum largitionum, o ministro das finanças;
comes rerum privatarum, o administrador da fortuna pessoal do imperador. 120 Sob
re a problemática actual deste tema vid. Salvatore CALDERONE, Cons
tantino e ii Cattolicesimo (Florença, 1962), Mario AcNEs, Alcune Considerazioni
sul cosidetto «Editto di Milano» em Studi Romani 13 (1965) 424-432 e Marta
SORDI, Storia di Roma 11 Cristianesimoo e Roma (Bolonha, 1965) 377-404.
período de Juliano; 3.°) a tendência para dividir o Império entre dois imperadores, por
se considerar demasiadamente extenso; 4.°) as invasões dos povos bárbaros, por um lent
o
processo de infiltração.
V -Queda do Império Romano do Ocidente, em 476
A penetração quase insensível dos bárbaros dentro das fronteiras do Império criou, primeir
o, um verdadeiro regionalismo, a princípio no exército e depois em toda a população e, p
or último, uma barbarização geral no Ocidente. A unidade espiritual do Império passou a
ser uma pura fórmula...
Nestas condições, tudo estava preparado para o fim. Em 476, Roma cai definitivamente
- Rómulo Augusto, seu último imperador, é derrotado por Odoacro, chefe de um grupo mi
sto
de bárbaros.'
VI -Queda do Império Romano do Oriente, em 1453
0 Império do Oriente, mais rico e sobretudo mais bem organizado, não sucumbiu às invasõe
s bárbaras. Chegou mesmo, no tempo de Justiniano (527-565), a restaurar parte do v
elho Império Romano reconquistando várias regiões de Itália, Ãfrica e Hispânia. Os sucessore
s de Justiniano não conseguiram manter estas províncias.
0 Império Romano do Oriente, designado geralmente por Império Bizantino, ainda se co
nservou por mais um milénio, lutando continuamente sobretudo contra árabes e turcos.
Teve épocas de esplendor e de crise, motivadas estas não só por uma série de traições e de
assassínios, mas também por terríveis discussões teológicas, que originaram graves polémicas
nocivas aos interesses da Igreja e do Estado.
0 Império Romano do Oriente veio a desaparecer em 1453, quando os turcos se apoder
aram de Constantinopla.
80
81
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO - TIT. I - CAP. 5'
7
c) - Confronto, através duma tábua cronológica, entre a vida do " Ius Romanum" e a vid
a do "Imperium"
DATAS
ASPECTO POLITICO
ASPECTO JURIDICO
1-Época arcaica-L' etapa (753 a.C.-242 a.C.)
264
Roma inicia a fase de grande potência, lançando-se,à conquista do Mediterrâneo.
DATAS
ASPECTO POLITICO
ASPECTO JURIDICO
Tiberius Coruncanius, primeiro plebeu elevado a «pontifex maximus».
252
753 a.C.
Fundação de Roma. Fim da monarquia.
Expansão de Roma através da Península Itálica
No Ocidente, decadência quase total - Depois da queda do Império em 476 e desde o séc.
VI ao séc. XI, o estudo do Direito Romano no Ocidente, segundo parece, entrou em
profunda crise.
As opiniões dos AA. sobre este problema divergiam muito, sendo representantes das
opiniões extremas Hermann FITTING
(defendendo que a ciência jurídica no Ocidente, sobretudo em Itália, nos sécs. V-XI, tev
e períodos de verdadeiro esplendor e que, portanto, a Escola de Bolonha significa
até um retrocesso e não um renascimento) e Max CONRAT (dizendo que não houve qualquer
movimento científico jurídico, no Ocidente, nos sécs. V-XI). A discussão sobre estas pos
ições exageradas, de FITTING e de CONRAT, apaixonou outros estudiosos. As polémicas su
cederam-se.
Hoje, a opinião mais comum sustenta que o Direito Romano era ensinado, pelo menos
principalmente, nas escolas monásticas e nas catedralícias ou episcopais 128, pois a
Igreja, nos seus primeiros séculos, juridicamente, vivia do lus Romanum; é a própria
Lex Ripuaria, tit. 60 § 1, que o refere: «...secundum legem Romanorum Ecclesia vivit».
E, mesmo nestas escolas eclesiásticas, não era estudado como uma disciplina autónoma,
mas como um simples ramo da gramática ou da retórica e sem uma direcção científica.
É provável que, nestes cinco séculos (VI-XI), houvesse também uma ou outra escola civil
(isto é, não-eclesiástica) que ensinasse Direito Romano, sobretudo nalguma daquelas re
giões que permaneceram ligadas ao Império Bizantino (Veneza, Ravena e várias cidades d
o sul da Itália, da Sicília e da Sardenha).
128 CALASSO, Médio Evo del Diritto 1. Fonti (Milão,1954) 267-279, mostra que, nos sécs
. VI-XI, no Ocidente, houve um certo ensino geral do lus Romanum; no mesmo senti
do, Pierre R1cH , Education et Culture dans l'Occident Barbare (Paris, 1962) 182
-184. Vid. Annali di Storia del Diritto 9(1965) 435 ss.
93
I
AI
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO - TIT. I - CAP. 6
Nestas circunstâncias, encontra-se principalmente a escola jurídica de Ravena. Ignor
a-se a sua origem. Mas parece certo: 1 ° - que existiu;
2.o - no séc. VIII e princípios do séc. IX, alcançou até um certo brilho;
3.0 - foi o instrumento ou meio transmissor para o Ocidente (sobretudo para Bolo
nha) do saber jurídico do Oriente;
4.0-nos meados do séc. IX (uns anos após a morte de Carlos Magno, em 814), desaparec
e e toda a sua técnica jurídica passa, então directamente, para Bolonha 129.
SEGUNDO período (sécs. XI-XX). Só interessa o Ocidente. Fenómeno da «recepção do Direito Roma
o». Escolas 139
A razão fundamental da grande supervivência do lus Romanum está no chamado fenómeno da «re
cepção do Direito Romano».
A «recepção do Direito Romano» é a penetração das ideias, dos princípios e das instituições,
ito do «Ius Romanum» na vida jurídica da Europa.
Esse fenómeno verifica-se no Ocidente; e, por isso, só nos interessa analisar no Oci
dente este período (sécs. XI-XX) da tradição romanista. Não é simultâneo, pois na Itália dá-s
fins do séc. XI e princípios do séc. XII, na França e na Inglaterra no séc. XII, na Espan
ha e em Portugal no séc. XIII, na Holanda e na Polónia no séc. XIV, na Alemanha nos sécs
. XVI e XVII, etc.; é a causa próxima ou remata, das várias escolas.
129 Cf. Studi e Memorie per Ia Storia dell'Università di Bologna I (Bolonha, 1956)
99-101, CALASSO, Médio Evo, cit. 281, e Storia e Sistema delle Fonti dei Diritto
Commune (Milão,1938) 307-311.
130 Esta parte é dada, aqui, em forma bastante esquemática e unicamente para sublinh
ar o aspecto romanístico, pois na cadeira de «História do Direito Português» é ensinada em p
ormenor e acentuando o aspecto historiográfico. (Cf. BRAGA DA CRUZ, História do Dire
ito Português [Coimbra,1960] 298 ss.).
94
A «recepção> é um fenômeno muito complexo"' E um caso especial de penetração cultural: a admi
são voluntária de partes essenciais ou principais dum ordenamento jurídico estranho (v
. g. estrangeiro ou extinto) por um povo, sem que este tenha sido dominado ou su
bmetido por aquele povo a quem de alguma forma pertence esse tal ordenamento juríd
ico.
No meio da complexidade da «recepção do Direito Romano> em toda a Europa, devemos nota
r principalmente o seguinte
a)-O Direito recebido não foi o Direito Romano clássico nem sequer o Direito justini
aneu histórico, mas a doutrina que os glosadores e os comentadores tinham criado e
experimentado profissionalmente, tendo por base o Corpus Iuris. Expressa bem o
sentido da «recepção> aquele provérbio criado na Alemanha no séc. XVII-«quidquid non agnosci
t Glossa, non agnoscit Curia («o que a Glosa não reconhece, também o tribunal não reconh
ece>). E que a «recepção> efectuou-se principalmente através dos alunos que se tinham fo
rmado (recebido formação jurídica) nas universidades de Bolonha e de Perusa; e portant
o «viam o Direito Romano com os olhos dos seus mestres>.
b)-O processo de infiltração deste Direito Romano, assim cientificado (sobretudo pel
os comentadores), realiza-se, gradualmente, através das opiniões dos novos professor
es doutorados em Bolonha ou em Perusa (tenham-se presentes os casos de Placentin
o em Montpellier e de Vacário em Oxford), dos juizes, dos jurisconsultos, dos notári
os, etc., formados nessas universidades.
c) - A «recepção> não se processa dum modo Igual para os diversos países; foi diferente qu
anto à forma e variável quanto à intensidade; mas quase nenhum país europeu deixou de re
ceber a sua Influéncia.
d)-Os efeitos da «recepção> também são muito diferentes. Vão desde a assimilação dumas quanta
ormas de pensar-jurldico romano (como na Inglaterra) até à consagração e adopção de muitas n
ormas concretas e de toda a construção dos conceitos jurídicos do Ius Romanum (como na
Alemanha).
e)-Uma das consequências mais importantes da «recepção> é a criação da convicção, na consciên
ica pública, de que o Direito Romano, em todas as suas partes, tem plena «vigência> (o
u mais rigorosamente, «autoridade cientifica>); é a ratio 8cripta (a «razão escrita>); «a
revelação jurídica>; a última palavra em questões de direito. Nunca mais deixará de ser invo
cado: ou como norma em vigor; ou como norma supletiva ou subsidiária; ou como norm
a ou princípio de orientação. 0 Corpus luris Civilis é tratado como uma «bíblia jurídica»; qu
intocável. (Vid. D'ORs em Actas 11 Cong. Esp., cit. 200).
Vid., por todos, sobre esta matéria, F. WIEACKER, Privatrechtsgeschichte
der Neuseit2 (Gotinga,1967) 124-152.
95
131
DIREITO ROMANO
0 renascimento do Jus Romanum começa nos fins do séc. XI com a chamada
1) -Escola dos glosadores, de Bolonha (sécs. XII-XIII)
0 «nascimento» da ciência jurídica em Bolonha está integrado no movimento cultural geral d
a Europa, que durante o séc. XI avançou até às camadas mais profundas da cultura antiga.
E uma consequência fatal dessa movimentação. Todavia, pelo menos dois factores'' ajud
aram (ou facilitaram) a criação desse «entusiasmo científico» (como lhe chama GOETZ) pelo
estudo do Corpus Iuris, com uma intensidade totalmente nova:
1) -A influência da ciência jurídica do Oriente (nessa altura, sécs. VI-XI, em época de es
plendor), sentida quer através da escola de Ravena (cf. supra 94) e da cultura de
Veneza e de Milão', quer directamente"';
2) - a descoberta em Pisa, no séc. XI, dum manuscrito completo do Digesto, que des
pertou em Irnério uma apaixonante curiosidade científica, levando-o a fazer um estud
o consciencioso sobre esse texto. Estavam lançadas as bases das investigações sobre o
Corpus luris...
- [Esse precioso manuscrito do Digesto, que data dos fins do séc. VI, esteve em Pi
sa até 1406, ano em que foi trazido, como troféu da derrota desta cidade, para a bib
lioteca Laurenciana de Florença, onde se encontra. Em virtude destes factos, é conhe
cido por littera pisava, mas sobretudo por littera florentvna; vid. infra 497] -
Irnério, professor de gramática e dialéctica («magister in artibus») aí em Bolonha, foi o fu
ndador da Escola.
132 Geralmente, os AA. indicam mais um outro factor, e quase como decisivo: cert
as condições economicas e políticas das cidades do norte de Itália (de que Bolonha era a
mais importante) a exigirem a elaboração dum direito mais perfeito. Recentemente, c
onsidera-se que isso em nada contribuiu para o «nascimento» da ciência jurídica em Bolon
ha; cf. WIEACKER, Privatrechtsgeschichte, cit. (ed. de 1967) 47.
113 Sobre Ravena, servindo de ponte entre o Oriente e o Ocidente em vários aspecto
s da cultura, principalmente da arte religiosa, e sobre o aspecto referente a Mi
lão, embora em menor grau, vid. E. SYNDICUS. La Primitiva Arte Cristiana (Roma,196
2), A. SYMONINI, La Chiesa Revennate. Splendore e Tramouto di tina Metropoli (Ra
vena, 1964), A. Boslslo, Di Alcuni Rapporti fra Milano e Bisancio em Studi Stori
ci in Memoria di Mons. Angelo Mercati (Milão,1956) 95-122, e Études Historiques in M
emoria de Noel Didier (Paris,1965) 205 ss.
134 Vid. PRINGSHEIM, Beryt und Bologna, em Symbolae Friburgenses in hon. 0. Lene
! (Leipzig, 1931) 204-285 passim. Cf. Actas 11 Cong. Esp., cit. 199.
INTRODUÇÃO - TIT. I - CAP. 6^ § 9
Aplicou ao estudo do Corpus luris, sobretudo à análise do Digesto ou Pandectas 135,
o método exegético, com breves comentários ou glosas (marginais ou interlineares), o q
ue deu a designação à escola. A interpretação dos textos justinianeus é literal, minuciosa e
subtil, chegando a resultados, neste aspecto, ainda hoje apreciáveis e dignos de
consulta. Mas essa interpretação, embora tipicamente filológica (Cf. D'ORs em Actas II
Cong. Esp., cit. 198 e 199), é feita sem atender a
critérios cientificamente filológicos e históricos hoje existentes, e até sem a preocupação
de adaptar esses textos jurídicos
às realidades sociais do tempo.
0 principal valor da Escola dos glosadores está em ter descoberto e anunciado à Euro
pa, sobretudo através dos seus alunos, a importância do Corpus luris.
Discípulos mais notáveis de Irnério: Martinus, Bulgarus, Jacobus e Hugus.
Acúrsio é figura muito importante, por ter reunido os vários resultados desta escola n
a chamada Glosa Ordinária ou «Magna Glossa de Acúrsio».
2) -Escola dos post-glosadores ou comentadores ou «consiliatores», de Perusa (sécs. XI
II-XV). Estes juristas empregam o método dialéctico ou escolástico (então em uso, devido
ao reaparecimento dos textos de Aristóteles) e comentam (daí a designação de «comentadore
s») não já directamente o Coreus Iuris mas as glosas dos sécs. XII e XIII, sobretudo a «Ma
gna
135 É um dos paradoxos da história (afirma H. J. WOLFF, Introducción Histórica al Derech
o Romano, cit. 208) que a obra de Justiniano, que estaria destinada a exercer ma
ior influência na Europa Ocidental - o Digesto ou Pandectas -, nunca
tivesse estado vigente no Ocidente e tivesse permanecido tantos séculos pràticamente
desconhecida até ao séc. XI. Vid. supra 96.
Na verdade, o Corpus luris, no tempo de Justiniano, esteve em vigor no Ocidente
apenas em Itália, por força da pragmatica sanctio, de 554 - cf. CALASSO, Medio Evo,
cit. 82. - [Sobre o significado deste tipo de constituição imperial, denominada prag
matica sanctio, vid. infra § 26, al. b), 11-5 destas Lições]. - Porém, só estiveram em vig
or pràticamente as Institutiones, o Codex e as Novellae e nunca os Digesta ou Pand
ectae. No séc. XI, descobre-se a celebérrima florentina (vid. supra 96); e esse fact
o, enquadrado num ambiente criado por várias circunstâncias a que já fizemos alusão, des
perta um enorme entusiasmo pelo estudo primeiramente e sempre primàriamente das Pa
ndectas e, depois, de todo o Corpus luris.
1
96
97
1
DIREITO ROMANO
Glossa» de Acúrsio (dai o serem também chamados «acursianos»). São os verdadeiros fundadores
da ciência jurídica, pois o comentário penetra no sensos da norma, enquanto a glosa s
e preocupa únicamente cotfi a littera da norma. Mais; o comentário é já um tratado orden
ado sobre institutos concretos, procurando actualizar e harmonizar o Direito Rom
ano com o direito estatutário das cidades de Itália e com o Direito Canónico. E esse D
ireito Romano, assim modificado sobretudo com elementos de Direito Canónico 138, c
onstitui o chamado ius commune 111- direito comum, a sobrepor-se a todos os dire
itos particulares dos povos românicos (Itália, França, Portugal, Espanha, etc.), estab
elecendo um sentimento de unidade espiritual e fundando uma verdadeira ciência juríd
ica europeia.
Figuras principais desta escola: Cino de Pistoia, Baldo e sobretudo Bártolo. Por i
sso, a escola dos post-glosadores também é conhecida por «escola dos bartolistas».
Bártolo, de Saxoferrato, apesar de ter morrido muito novo (1314-1357), foi um dos
maiores juristas de toda a história. As suas doutrinas influenciaram a Europa inte
ira, porque ele foi
verdadeiro artifice do ius commune (Direito Romano Comum),
este foi recebido, como já dissemos, com maior ou menor intensidade, no ensino e n
a prática judicial de toda a Europa, até à formação das codificações que seguiram o exemplo d
Código
Francês, de 1804. Foi «o jurista mais profundo e mais genial de todos os tempos> (af
irma SOLMI); dotado de uma actividade verdadeiramente prodigiosa, e «prodigiosa (d
iz ASTUTI) quanto
quantidade e - o que é raro-quanto à qualidade>. Criaram-se em várias universidades da
Europa cátedras especiais só para ensinar as doutrinas de Bártolo, pois era adágio corr
ente«nemo bonus Turista nisi bartolista («ninguém é bom jurista, se não for bartolista>)'m
.
A par do direito do Corpus luris de Justiniano (ou nele baseado), o único sistema
jurídico que despertava interesse académico era o Direito Canónico. Por isso, as grand
es universidades da Europa concediam os graus de «Doctor in utroque lure», doutor em
ambos os direitos, isto é, em Direito Canónico e em Direito Romano.
137 Cf. ROBLEDA, lus Privatum Romanum, cit. 19-21; Apollinaris 35(1962) 184; WIE
ACKER, Privatrechtsgeschichte, cit. (ed. de 1967) 82-85
138 Vid. Bartolo da Sassoferrato Studi e Documenti per il VI centenario 2 vols.
(Milão,1962).
Sobre o Bartolismo, vid. An. Storia Dir. 9(1965) 409-414, 472-520.
98
INTRODUÇÃO - TIT. I - CAP. 6. § 9
As escolas dos glosadores e dos post-glosadores formam o chamado sistema do «mos i
talicus», em que a finalidade do estudo do Direito era essencialmente prática.
3 - Escola culta, de Bourges, ou jurisprudência humanista (ou elegante) ou «mos gall
icus» (sécs. XVI-XVIII). Foi fundada, nos meados do séc. XVI, pelo italiano Alciato e
pelo holandês Víglio de Ayatta. Esta escola é dominada pelo espírito do renascimento; re
presenta um oásis de historicismo nos estudos do Direito Romano. Dedicam-se à descob
erta de manuscritos do Corpus luris Civilis, à sua leitura e, portanto, a um estud
o histórico-crítico do material das fontes jurídicas romanas. Pela primeira vez se enf
renta o problema das interpolações. Mas seria erróneo pensar que o Humanismo Jurídico é do
minado únicamente pelo vigor erudito, sem uma certa
preocupação pela prática (ef. D'ORs em Actas 11 Cong. Es p., cit. 200 e 201).
Os seus representantes principais foram franceses (por isso é designada por «escola
do mos gallicus»), à frente dos quais deve colocar-se o eminente Cujácio, talvez o mel
hor conhecedor do Direito Romano de todos os tempos (parece que sabia de memória t
odo o, Corpus luris Civilis). Houve representantes notáveis de outras nacionalidad
es: António de Gouveia, português; António Agostinho, espanhol; Alciato, italiano, etc
. São ainda nomes ilustres desta escola: Donelo, António Fabro, Dionísio Godofredo, Ha
loandro, Voet.
4) - Escola do Direito Natural (sécs. XVIII-XIX). Esta escola, influenciada e enqu
adrada no movimento cultural do Iluminismo, considera o direito como um produto
da razão humana,
igual para todos os povos, comum para todos os tempos.
Fundada por Hugo Grócio e continuada sobretudo por Leibnitz e Thibaut, esta escola
racionalista abalou os estudos do Direito Romano em toda a Europa, visto que, p
or um lado, o lus Romanum não era já considerado mais, como até então acontecia, a ratio
scripta do Direito; por outro lado, esta escola
99
136
1
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO- TIT. I -CAP. 6.°
§§ 9-10
favorecia o movimento codificador e então as legislações nacionais reagiam contra a vi
gência do Direito Romano.
Foi a Alemanha, onde a recepção («die Rezeption») se verifica sómente nos sécs. XVI e XVII,
quem salvou os estudos e a vigência do Direito Romano desta enorme crise. Era talv
ez o único país que estava assim preparado para criar uma nova escola, que provocass
e um outro «renascimento» do Direito Romano. Surgiu então a
5) -Escola Histórica-Alam (séc. XIX). Embora tivesse precursores, o seu verdadeiro f
undador é SAVIGNY (1779-1861). Esta escola, caldeada pelo romantismo, sustenta que
o Direito não é um mero produto da razão, mas a «manifestação da consciência popular» (Volks
st).
Em relação ao Direito Romano, a escola histórica-alemã tomou duas direcções científicas disti
tas:
a) -histórico-crítica, defendendo a necessidade absoluta de preparar boas edições de tex
tos. Neste aspecto, verifica-se uma continuação do humanismo jurídico do séc. XVII, prop
ugnado, como vimos, pela escola do «mos gallicus»; e os representantes desta orientação
da escola histórica afirmam-se como historiógrafos puros ou filólogos do Direito Roman
o -MoMMSEN, BRUNS, KARLOWA, GRADENWITZ, BLUHME, LENEL (na Alemanha), FERRINI, SC
IALOJA, PEROZZI, BONFANTE, SEGRÈ (na Itá
lia), etc.;
b) -dogmático-pandectística, adaptando cientificamente o ius privatum romano (repres
entado sobretudo pelas Pandectae de Justiniano) às bem complexas, e por vezes bast
ante diversas relações privadas modernas. Daí a designação desta orientação científica-«usos
nus Pandectarum» ou simplesmente «Pandectística».
Representantes mais notáveis: IHERING, BRINZ, DERNBURG, PUCHTA, VANGEROW e sobretu
do WINDSCHEID.
A pandectística entregou-se a um doutrinarismo jurídico,
que ainda hoje assombra pela sua agudeza e engenho.
Da Paandectística nasceu o BGB - Bürgerliches Gesetzbuch
(Código Civil Alemão), de 1900, um dos melhores códigos de
todos os tempos e que é, sem dúvida, a maior consagração do
Direito Romano.
Capítulo 7.° - DIREITO ROMANO (sensu latissimo)
10. 0 Direito Romano sensu latissimo compreende o lus Roman^ vigente em Roma e n
o seu Império durante 13 séculos, assim como a tradição romanista que já conta 14 séculos.
Essa tradição romanista (quer do Ocidente quer do Oriente, e quer dos países que tiver
am a «recepção» quer dos outros países do resto do mundo que sentiram simplesmente qualque
r espécie de influência do Direito Romano), é formada estruturalmente pelo direito do
Corpus Iuris Civilis. Esse direito, porém, foi adaptado às necessidades dos tempos,
modificado principalmente por elementos jurídicos canónicos, cientificado segundo as
directrizes das várias escolas. Por isso, BIONDi afirma: «o Direito Romano (neste s
entido amplíssimo) dá a impressão dum rio majestoso, que, através do seu longo curso (27
séculos!), continuamente abandona e absorve elementos, segundo o tempo e os países
que banha, mas que avança sempre; não têm faltado nem faltam tentativas para impedir
-lhe o curso, mas a corrente continua» 139.
139 Blorrol Aspetti Universali e Perenni del Pensiero Giuridico Romano em Jus 7(
1956) 147.
100
101
Título II -FASES CARACTERÍSTICAS DO ESTUDO DO DIREITO ROMANO
SUMARIO 140 -11. I.' fase (até cerca de 1900). Carácter dogmático
-prático, excepto a escola do «mos gallicus»
12. 2.a fase (desde 1900 a 1950?). Carácter histórico-crítico. Fase de profunda
crise dos estudo (no seu aspecto jurídico) e do ensino do DR. Factores que
concorreram para essa crise:
a) Factores de ordem interna (ou do mundo jurídico)
I - orientação não-estritamente jurídica dada aos estudos romanísticos a partir de 1900, e
essa orientação, além disso, não uniforme 1 crítica das interpolações (abusos: BESELER) 2 -
studo das influências helénicas (abusos: BONFANTE e ALBERTARIO) 3-carácter meramente h
istórico do estudo do DR (abusos: L.
WENGER)
4 - reacção oposta, mas exagerada, de RICCOBONo 5 - solução de emergência proposta por Kos
CHAKER
11 - crítica dos outros juristas
b) Factores de ordem externa (ao mundo jurídico)
I-decadência dos estudos clássicos
H - perseguição feita a romanistas e proibição do ensino do DR, movida por certas corren
tes políticas: comunismo; nacional-socialismo
13. 3.3 fase (desde 1950). Carácter: inicialmente, neohumanista; agora, deve ser h
istórico-crítico e dogmático-prático. Esplendor. Factores:
a) obras de KOSCHAKER
b) Congresso de Verona, de 1948
1' Fase dos estudos de Direito Romano
11. A 1 a fase característica dos estudos de Direito Romano vai desde a sua vida e
m Roma e da sua posterior supervivência, mais ou menos em todo o mundo, até cerca do
ano
140 Este sumário e os três seguintes baseiam-se e pressupõem o conhecimento da separat
a Actualidade e Utilidade dos Estudos Romanisticos (Coimbra,1962) 24
103
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO TIT. II
§§ 11-12
de 190.0. Durante 27 séculos, verifica-se uma vigência: em forma original, no império
romano, até ao séc. VI d.C.; em forma adaptada, desde o séc. VI, e principalmente desd
e o séc. XII, na Europa e noutros países, até cerca de 1900, havendo neste longo espaço
de 14 séculos, como já sabemos, dois períodos distintos1.° sécs. VI-XI, (Oriente e Ocident
e), 2.° sécs. XI-XX (só Ocidente). Vid. supra 91-94, 94-101. Quando em forma adaptada,
o Direito Romano era considerado, ou fonte imediata de direito (nalguns países),
ou norma supletiva ou subsidiária (na maioria dos casos, sobretudo a partir do Códig
o Francês, de 1804) .
Nesta 1.a fase do estudo do Direito Romano, este (concretamente o Corpus luris C
ivilis) era tido como fonte inesgotável (estava lá tudo) -era a ratio scripta-,donde
se extraiam normas aplicáveis em cada momento histórico. Estudava-se o Direito Roma
no, para se fazerem dele aplicações concretas e actuais. (Sobre o significado de rat
io scripta, cf. D'ORs em Actas II Cong. Esp., cit. 201 ss.).
Esta 1a fase tem, portanto, um carácter essencialmente prático.
0 romanista confunde-se com o jurista.
Há uma excepção: a escola humanista ou «mos ggllicus» (sécs. XVI-XVIII). Estuda o DR, confor
me já dissemos, não com uma finalidade prática, mas com preocupações eruditas, à maneira da é
oca. Contempla-o na sua perspectiva histórica, que então fascinava os humanistas. In
teressa-lhe saber apenas o que era o Direito Romano na época clássica; por isso, est
uda-o com um critério histórico-crítico.
2 ~ Fase dos estudos de Direito Romano
12. Vai desde cerca de 1900 até cerca de 1950. Esse estudo deixa de ter carácter práti
co, para tomar uma feição essencialmente histórico-crítica.
págs., que será citada aqui únicamente por «separata», pois trata-se de uma separata de pa
rte do prólogo do nosso trabalho Da «Solutio» I (Coimbra,1962) XXV-XLVI.
Ver igualmente o Prólogo destas Lições, págs. XXI-XXXVI, e a nossa separata «0 XX111 Congr
esso Internacional de Direito Romano» (Coimbra, 1970) 5.10.
É uma fase de profunda crise. Crise não do DR em si, mas do interesse pelo DR ou cri
se dos estudos (no seu aspecto jurídico) e do ensino de DR 111
Vários factores e de ordem diversa concorreram, e quase simultâneamente, para origin
ar essa grave e longa crise.
a) Factores internos (ou do mundo jurídico)
I-A primeira série de factores de ordem interna é constituída pela orientação geral não-juríd
ca e sobretudo não-prática dada aos estudos romanísticos, após a promulgação do BGB (Código C
vil Alemão). 0 estudo do DR, até aí, tinha sido prático; estudava-se DR para aplicar. Ag
ora, salvo pequenas excepções (Escócia, Africa do Sul, República de S. Marino e, como di
reito supletivo, na região de Navarra), ele não está vigente em parte nenhuma; e o BGB
continha o lus Romanum já devidamente adaptado; portanto, o estudo do BGB devia s
ubstituir o estudo do lus Romanum. Os romanistas, no princípio deste século, conside
ram então... que a sua «profissão de juristas» acabara. Confundiram-se: julgavam que a p
rimeira e única razão justificativa do ensino e do estudo do DR era o «seu interesse p
rático»; ora nem é a única, porque são cinco, nem é primeira, pois é a terceira. Vid. infra 1
7-119.
141 Sobre o tema «crise dos estudos do Direito Romano», escreveram-se, desde 1939 a
1955, muitas dezenas de trabalhos-algumas centenas! Ver indicação da principal bibli
ografia em GDARINO, L'Ordinamento Giuridico Romano3 (Nápoles, 1959) 106, e Labeo 1
6 (1970) 431 ss.
Em Portugal, o grito de alarme foi dado pelo ilustre professor da Faculdade de D
ireito de Coimbra, CABRAL DE MONCADA, que publicou sobre o assunto um bem sugest
ivo comentário a KoscRAKER, Die Krise des rõmischen Rechts und die romanistische Rec
htswissenschaft (Berlim,1938), intitulado «Actual Crise do Romanismo na Europa» em B
oletim da Faculdade de Direito 16(1939-40) 246-253 e 551.553 e 19(1942-43) 456,
'em que proclama:
«0 Direito Romano deve ser hoje estudado e ensinado, não como uma mera manifestação de u
ma vida passada e morta; não como pura objectívação de um pensamentopensado e também morto
; mas como emanação de um pensamento sempre vivo, de uma vida por assim dizer vivent
e».
i
104
105
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO -- TIT. II
§ 12
Para não ficarem numa triste situação de desemprego, «mudam de vida»: deixam completamente
o aspecto prático do DR, e dedicam-se a estudos críticos e históricos; principalmente
a estes últimos, nas suas relações com os direitos orientais e mais acentuadamente co
m os Direitos Grego e Egípcio.
Então, aí, sim; já havia um enorme campo de trabalho, pois MITrEIs, por essa altura, a
bria ao estudioso do lus Romanum um vasto horizonte, ao propor três novos rumos.
a) - Uma crítica séria de interpolações. Foi o fundador do Index Interpolationum. - E os
estudos críticos de Direito Romano, nessa ocasião, já eram possíveis, já estavam mesmo fa
cili
tados: primeiro, pela obra formidável de MoMMSEN, que havia colocado à disposição dos es
tudiosos magníficas edições de fontes; segundo, pelo trabalho de profunda investigação e d
e persistência ininterrupta de LENEL, que logrou, na medida do. possível, reconstrui
r não só o Edictum Perpetuam, mas também as obras originais dos juristas - a sua famos
a Palingenesia -, realizando assim um velho sonho dos Humanistas.
f3) - Uma atenção especial a novos documentos, os papiros. MITrEIS, até hoje, é ainda a
primeira e grande autoridade mundial em papirologia jurídica.
y)-0 estudo das influências helenisticas no Direito Ro
mano.
Simplesmente, os romanistas não tomaram como programa geral todas estas três novas o
rientações, mas cada um (ou cada grupo) escolheu, para campo de investigação, aquela par
te para a qual sentia mais vocação ou se julgava com melhor preparação científica.
Seguiu-se fatalmente a diversidade de orientação nos estudos romanísticos. Os exclusiv
ismos. Os exageros.
1 - Para uns, o estudo do DR reduziu-se à crítica de interpolações - crítica, por vezes, l
evada ao exagero, v.g. por BESELER (Alemanha), que, abusando do critério filológico,
não poupava quase nenhum texto.
2 - Para outros, o estudo do DR consistia na investigação das influências helenísticas s
obre o lus Romanum. Aqui, támbém se deram abusos, cometidos v. g. por BONFANTE e sob
retudo por ALBERTARIO, que via influências helenísticas em quase todos os fragmentos
.
3 - Finalmente outros, chefiados por L. WENGER, entendiam que o estudo do DR dev
ia ser meramente histórico, pois
Ius Romanum é um «direito antigo; é mais um», como qualquer direitd da antiguidade 12
MITTEIS, em 1917, no seu famoso «testamento científico» 13, reagiu escrupulosamente co
ntra estas três direcções perigosas, sobretudo contra a orientação de WENGER, que fazia do
ensino do Direito Romano uma disciplina verdadeiramente não-jurídica.
Como consequência desse célebre discurso de MITTEIs pronunciado em Viena, surgiu, ca
indo no exagero oposto, uma posição, chefiada por
4 - RlccosoNO. Para este grande romanista, as interpolações eram meras alterações de pal
avras e não de substância,
as influências estranhas; concretamente as helenísticas, sobre
Direito Romano não passavam dum mito, pois o lus Romanum evolucionou... naturalmen
te.
5-KOSCHAKER, no meio destas opiniões tão radicalmente opostas, e verificando que o e
studo do Direito Romano se encon
142 Esta orientação puramente historiográfica dos estudos romanísticos, a partir de 1950
, foi abandonada por todos excepto pela França, que, na sua reforma dos estudos ju
rídicos (de 1954), determinou substituir o ensino do Direito Romano, no primeiro a
no das Faculdades de Direito, pelo ensino dos direitos da antiguidade. Neste pon
to, essa reforma deve ter sido um dos erros graves do ensino universitário cometid
os na França nestes últimos anos. Por isso, essa parte infeliz da reforma tem sido v
iolentamente atacada pelas criticas de romanistas franceses e estrangeiros, sobr
etudo italianos, alemães e espanhóis.
Apesar disso, na última revisão dos estudos jurídicos franceses, de 10/7/62, insiste-s
e no erro cometido.
Oxalá na próxima reforma dos nossos estudos jurídicos, em que presentemente se trabalh
a com entusiasmo, se tenha bem presente que, em matéria de Direito Romano, o «modelo»
desta vez não pode ser o de Paris.
143 Vid. «Separata» 5.
106
107
1
DIREITO ROMANO
trava moribundo (ou até morto, em várias partes da Alemanha), no louvável intuito de g
alvanizar o ensino do lus Romanum, propôs, como solução de emergência, a orientação duma «vol
a a SAVIGNY» (Zurück zu Savigny!). Quer dizer, estudar apenas o Direito Romano justi
nianeu, seguindo o método pandectístico. Prescindir, de momento, de todos os outros
problemas - interpolações, influências externas, etc.
Estas investigações romanísticas exclusivamente críticas ou históricas, se descontarmos os
exageros, tiveram as suas vantagens:
1)-a crítica de interpolaçbes (em forma científica, pois em forma simplista já tinha sid
o praticada no séc. XVII pela escola do mos gallicus), que foi uma grande descober
ta para os estudos de Direito Romano'";
2) -a especial atenção dedicada ao Egipto romano. Neste aspecto, o séc. XX, para o Dir
eito Romano, há-de ser denominado o «século da papirologia jurídica», como o séc. XIX já é co
cido pelo «século da epigrafia jurídica>.
II - Críticas mordazes dos outros juristas - É também um outro factor de ordem interna
a contribuir para a crise dos estudos jurídicos do Direito Romano.
As investigações romanísticas dos primeiros decénios deste século, exclusivamente críticas o
u históricas ou histórico-críticas, a par das vantagens indicadas há pouco, tiveram uma
grande desvantagem: desacreditarem o estudo jurídico do Direito Romano, pois tirar
am-lhe todo o carácter prático.
Então os juristas, na sua generalidade, a partir de 1900, começaram a dirigir aos ro
manistas críticas depreciativas, chamando-lhes «caçadores de interpolações», «filólogos do Co
s luris Civilis», meros historiadores do direito; e passaram a não os considerar com
o verdadeiros juristas. 0 ensino do Direito Romano, portanto, até devia ser feito
nas Faculdades de Letras (aí é que se ensina filologia, história, etc.) e ser banido d
o programa das Faculdades de Direito.
144 Ver «Separata» 6 e 7.
INTRODUÇAO-rTIT. II § 12
b) Factores de ordem externa
A orientação não estritamente jurídica e além disso não uniforme dos estudos romanísticos, e
críticas mordazes de muitos juristas - tudo isto mais que suficiente para originar
uma crise grave do ensino do Ius Romanum -, vieram juntar-se outros factores, e
xternos ao mundo jurídico.
I-A decadência dos estudos clássicos - Verifica-se, a partir sobretudo do segundo qu
artel deste século. Ora, sem conhecimento do latim e do grego, não é possível trabalhar
a sério em investigações romanísticas.
II-Certas correntes políticas de grande influência: o comunismo e o nacional-sociali
smo-0 comunismo soviético, pouco tempo após o seu triunfo, proibiu nas universidades
da URSS o estudo do Direito Romano, alegando que é um direito de... burgueses par
a espoliação do proletariado.
0 nacional-socialismo aboliu o ensino do DR dos programas das universidades da A
lemanha, por duas séries de razões:
1.°-por ser um direito estrangeiro (é direito romano) e portanto incompatível com os p
rincípios do nacionalismo (em vez de Direito Romano, devem estudar-se os direitos
germânicos) ;
2.°-por ser, além disso, um direito materialista, individualista, anti-social e port
anto contrário aos princípios do socialismo.
Bons romanistas alemães foram perseguidos e tiveram então de fugir para o estrangeir
o, onde leccionaram e publicaram os seus trabalhos.
Vários outros países igualmente extinguiram o ensino do lus Romanum nas suas escolas
superiores. Nas restantes nações, ou foi ridicularizado ou simplesmente desprezado.
108
109
DIREITO ROMANO
INTRODUgAO -TIT. III
§13
Os estudos romanísticos, desde 1900 até cerca de 1945, no seu aspecto própriamente juríd
ico, viveram a maior crise de
toda a sua longa e assombrosa história.
Por todas estas 5 séries de razões, hierarquizadas pela ordem de apresentação que fizemo
s, entendemos que o ensino do Ius Romanum nas actuais Faculdades de Direito é tão útil
, necessário e indispensável como o das matemáticas nas Faculdades de Ciências, o do lat
im e do grego nas Faculdades de Letras. No ensino do Direito, afirma BISCARDI, «o
Direito Romano é o alfabeto e a gramática da linguagem jurídica». Por isso, esta discipl
ina deve ser dada logo no 1.0 ano das nossas Faculdades de Direito. É que a missão d
a actual disciplina de Direito Romano, sublinhe-se, não é apenas ensinar certos prin
cípios jurídicos perenemente válidos e verificar como eles se formularam; é sobretudo in
iciar o aluno em adquirir mentalidade jurídica, uma «forma mentis iuridica»; é formar ju
ristas.
152 Sobre esta parte, cf. E. GENZMER, 11 Diritto Romano come Fatore delia Civili
tà Europea (Trieste, 1954). Ver «Separata» 19.
Sobre um possível Direito Internacional Privado Romano, base do Direito Internacio
nal Privado actual, vid. Labeo 3(1957) 227-231.
Título V -CRITÉRIO E MÉTODO A SEGUIR. MATÉRIAS A VERSAR
SUMÁRIO - 16. a) Critérios utilizados; critério a usar b) Método
c) Matérias a versar: o ideal; o possível
a) Critério de estudo do "Ius Romanum"
16. Este é um ponto muito discutido na actual romanística, que bem pode centrar-se n
o seguinte: qual deve ser o aspecto ou elemento predominante no estudo do Direit
o Romano, o histórico ou o dogmático?
Prescindindo das inúmeras discussões levantadas a partir do séc. XIX, sobretudo a resp
eito da «história como ciência» e paralelamente da «história como problema filosófico, e depo
s a respeito do «conceito de história do direito>, e para fixarmos aqui alguma termi
nologia, entendemos em Direito e concretamente em Direito Romano o seguinte:
-o (elemento) histórico implica necessàriamente passado e evolução;
-o (elemento) dogmático ou institucional é simplesmente a representação duma ordem jurídic
a em conceitos sistemáticos;
120
121
DIREITO ROMANO
é, por conseguinte, a parte substantiva ou dispositiva dum ordenamento jurídico; é o c
onjunto das normas e conceitos considerados em si mesmos, e não na sua génese. Por i
sso, tanto há dogmática dum ordenamento jurídico vigente como dum ordenamento jurídico p
assado.
No Direito Romano, como se trata essencialmente dum ordenamento jurídico passado,
os dois elementos, histórico e dogmático, até certo ponto são inseparáveis; devem mesmo co
nstituir dois aspectos do mesmo estudo, embora um sobreleve o outro 153,
-Até cerca de 1900, seguiu-se nos estudos do lus Romanum, como princípio, um critério
exageradamente dogmático, vendo-se nele, no conjunto e em todas as suas partes, a
ratio scripta de todo o direito. 0 Corpos Iuris Civilis era considerado quase um
a «bíblia intocável». A par do'valor-conteúdo criou-se um valor-mito.
- De 1900 a 1950, utilizou-se um critério puramente histórico, com a sua consequente
feição crítica.
- Na actualidade, as opiniões dos romanistas divergem, inclinando-se ainda muitos
para um critério neohumanista, isto é, crítico e historicista.
Parece-nos que, dado o alto valor formativo do estudo do Direito Romano, conform
e acentuámos (vid. supra § 15) e como é hoje reconhecido por todos, a orientação a imprimi
r aos estudos romanísticos na actualidade deve ser dupla: histórico-crítica, mas sobre
tudo dogmático-prática 154.
«Histórica», para nos mostrar a evolução das instituições jurídicas de Roma e das respectivas
ntes, isto é, o sentido genético do sistema do Ius Romanum; analisar os factos que c
oncorreram para a criação, modificação ou extinção das suas normas e dos seus conceitos.
153 Acerca deste último ponto, as discussões são vivíssimas e a literatura interminável. C
f. Sebastião CRUZ, Da «Solutio» III (em preparação) 1P Parte, Tít. I.
154, Ver «Separata» 18-19. Desde 1958 (no Congresso Internacional de Direito Romano,
de Munique), vimos defendendo esta orientação; reafirmámo-la, em 1962, em Da «Solutio» I
XL-XLI, e em 1963, no Congresso de Bruxelas. Em 1968, no. XXIII Congresso Intern
acional de Direito Romano (de Friburgo, Suíça), ficou devidamente consagrada.
INTRODUÇAO-TIT. V § 16
«Crítica», para valorar devidamente as fontes a utilizar, determinando o seu autor, époc
a, autenticidade, originalidade, pureza, variedade de manifestações (os distintos ma
nuscritos) com o respectivo confronto, etc. (a chamada crítica externa), e analisa
ndo o seu conteúdo e valor, cotejando-as com fontes distintas (crítica interna). -Nu
ma palavra, procurar reconstruir o Direito clássico, já que este é o modelo, e não simpl
esmente o Direito justinianeu, como na época e no estilo de SAVIGNY; e essa recons
trução não ser demasiado filológica, ou puramente histórica, ou exageradamente crítica. Conf
orme nota SCHULZ 155, não se deve pretender restaurar exactamente os textos clássico
s; devemos limitar-nos a uma busca do Direito clássico.
Entendemos, porém, que a orientação a imprimir hoje aos estudos romanísticos deve ser es
pecialmente «dogmática», porque o Jus Romanum é mais dogma do que história. - Não pode duvid
ar-se de que o Direito Romano é história, e sempre história 156, por se tratar dum ord
enamento do passado; mas é absolutamente certo que esse ordenamento é ainda e sempre
um ordenamento vivente, enquanto encerra princípios funda
mentais - perenemente válidos e universais -, de que não podemos de forma nenhuma af
astar-nos sob pena de ficarmos a ignorar as verdadeiras bases jurídicas de convivênc
ia humana e até a função do próprio Direito. Portanto, o primeiro e grande aspecto dogmáti
co do estudo do lus Romanum está em este conter a orientação geral da ciência jurídica, e
não reside apenas no facto de nesse lus existirem institutos que correspondem a in
stitutos modernos.
Verdade é que o estudo desta correspondência entre instituições jurídicas romanas e modern
as também constitui um aspecto dogmático, mas secundário; e então, neste ponto, a orient
ação dos estudos romanísticos deve ser « (dogmático-) prá
155 ScHULZ, Ceschichte der rõmsschen Rechtswissenschaft (Wenmar,1961) 28. 156 Viid
. supra 121.
122
I23
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO - TIT. V
§ 16
tica». Quer dizer: no ensino do Ius Romanum nas Faculdades de Direito de hoje, não i
nteressa analisar em pormenor institutos que foram definitivamente superados, ma
s sómente aqueles que são autênticos pressupostos e verdadeiro esclarecimento dos actu
ais. E assim, por exemplo, o ensino das normas sobre a manumissio e até sobre a fa
milia romana em geral deve reduzir-se ao necessário para entendermos bem a «herança» e o
«dote», enquadrando-se e diluindo-se nestes dois institutos.
A orientação a imprimir aos estudos romanísticos na actualidade deve ser principalment
e «dogmático-prática». Por isso, discordamos totalmente (conforme já insinuámos-vid. supra 1
) da designação oficial dada entre nós a esta disciplina no quadro dos programas unive
rsitários. Não deve chamar-se «História do Direito Romano», mas simplesmente «Direito Romano»
ou quando muito «História» (ou «Introdução Histórica») e Instituições de Direito Romano».
b) Método
Estabelecida uma orientação histórico-crítica e sobretudo dogmático-prática nos estudos roma
nísticos, entendemos que o
método 157 a seguir deve ser:
- o histórico, sobretudo para o exame das fontes e da evolução das instituições;
- o exegético, para a análise dos textos;
- o dogmático, para a exposição do conteúdo das instituições.
Distinguem-se das enciclopédias e dos dicionários, pois estes e aquelas expõem os inst
itutos e os conceitos de DR em geral, enquanto os vocabulários registam só as palavr
as que se encontram nas fontes, indicando a citação rigorosa e o sentido com que a p
alavra está aí, se diferente do significado corrente ou da significação com que se acha
noutras fontes.
Vocabularium Iurisprudentiae Romanae (Berlim,1943.1939,
1964-...) -Esta obra é importantíssima; indispensável para qualquer trabalho de invest
igação romanistica. Tem 2 fases.
148
149
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO - TIT. VI
8) -Indices
1 -De fontes jurídicas
§17
A primeira vai desde 1903 a 1939, sendo autores GRADENWITZ, KÜBLER, SCHULTZE e out
ros. Consta de 5 tomos: I (A-C), 1903; II (D-G), 1933; III (H-ipse), 1910-33; IV
(N-per), 1914-33; V (R-Z), 1910-30. Devido a circunstâncias de vária ordem, origina
das pela guerra e pelo após-guerra (vid. lura 16[1965] 428), só em 1964 se recomeçou a
publicação, agora a cargo de F. SCHwARZ, com o fase. 4 do tomo III, compreendendo (
ipse III, E. 1-ita). 0 VIR refere todas as palavras da «iurisprudentia>, contidas
nas Institutiones Gal, nos Tituli ex Corpore Ulpiani nas Pauli Sententiae, no Di
gesto Justinianeu e noutras compilações pré-justinianeías, indicando com precisão o lugar
e as vezes onde se encontram e quais os significados e respectiva evolução.
Vocabulario delle Istituzioni di Gaio, de ZANZUCCHI (Milão,1910 - reimpr. 1961). A
ddenda a este vocab. de H. DE Si
MONE em Labeo 8(1962) 330-339-E uma obra clássica
única sobre a matéria. Contém todas as palavras das Inst. Gai, livro e parágrafo onde se
encontram, quantas vezes,
com que significado.
Vocabularium Institutionum lustiniani Augusti, de R. AMBRO
SINO (Milão,1952) -Com umas indicações multo úteis, colocadas logo no inicio, este vocab
ulário contém um tríplice índice e muito completo em cada modalidade: um de palavras lat
inas; outro de nomes próprios e outro de palavras gregas.
Vocabularium Codicis Iustiniani 1.a parte, Latina, a cargo de R. MAYR (Praga,192
3) ; 2.a parte, Grega, a cargo de
M. SAN NICOLÕ (Praga,1925) -0 método usado neste vocabulário serviu de modelo a AMBROS
INO para utilizar no seu Voe. Inst. Just. Aug; é, portanto, o mesmo. KRÜGER completo
u
nalgumas coisas rectificou este Voe., com o seu estudo
Berichtigungen au dem vom Robert Mayr herausgegeben Voca bularium Codicis Justin
iani em SZ 47(1927) 387-396.
Vocabulario delle Costituzioni Latine di Giustiniano, de LONGO em BIDR 10 (1897-
1898) I-XVI e 1-605 - Contém as pala
vras das constituições latinas de Justiniano que estão nas Institutiones, no Codex e n
as Novena« (do «Corpus Iuris Civills>); e até das constituições que formam o prefácio das I.
e do D., assim como dumas certas constituições atribuídas a Justino e a Justiniano, e
ncontradas em 1889.
150
Index Verborum Graecorum quae in Institutionibus et Digestis lustiniani inveniun
tur, de BARTOLucci em AG (1906)
353-396 - Indicam-se todas as palavras gregas (mesmo nomes de jurisconsultos, de
Imperadores e de lugares), que se encontram nas I. e no D.
Heidelberger Index zum Theodosianus, de 0. GRADENWITZ (Ber
lim,1925)
Enrgdnzungsband zum Heidelberger Index zum T%eodosianus,
de GRADENWITZ (Berlim,1929)
Estes dois índices (o segundo é complemento do primeiro) contém, por ordem alfabética, t
odas as palavras do Cod. Teodosiano e das Novelas post-teodosianas. Na citação, depo
is do liv., tIt. e const., vai indicada a linha do Cód. Teod. segundo a edição de MOMM
SEN-MEYER (vid. infra 154) e o ano da publicação da const., onde se encontra a palav
ra.
Ergdnzungssindex zu Ius und Leges de E. LEVY (Veimar,1930)
E um «índice> muito curioso; destina-se a completar outros. Contém as palavras das col
ectâneas pré-justinianeias (quer de ius, quer de leges, quer mistas), que ndo se enc
ontrem já num índice especial. E assim, não contém as palavras das Institutiones Gai, Pa
uli Bententiae, Tit. ex Corpore Ulpiani, Cód. Teod., etc., que já existirem noutros
vocabulários. Em relação às colectâneas Frag. Vaticana, Consultatio, Coliatio, só recolhe as
palavras das Lege8, pois o Voe. lur. Rom. (VIR) não as compreende. Um número pequen
ito, que se acrescenta ao número maior, indica a parte do texto (ir ou 2.') onde s
e encontra a palavra.
Não há índice nem vocabulário especial para as Novellae de Justiniano.
*
Numa categoria, intermédia entre vocabulários e dicionários, e semelhante aos índices, p
odem mencionar-se -
-Handlexikon au den Quellen des rõmischen Rechts, de
HEUMANN-SECKEL, 9.' ed. (Jena,1907-reimp. 1958). E um «dicionário> de termos jurídicos
, contendo as várias significa
151
L
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO - TIT. VI
§ 17
ções, dadas em alemão, baseadas nas fontes (que cita), quer justinianeias quer pré-justi
nianeias.
- Manuale Latinitatis Fontium Iuris Romani, de DIRKSEN (Berlím,1837) -E uma obra s
emelhante à de HEUMANN-SECKEL. Simplesmente, o significado das palavras está em lati
m e não em alemão. Este Manuale encontra-se já desactualizado em relação às novas técnicas do
estudos romanisticos.
-Taschenwõrterbuch zum Corpus Iuris Civilis, den Institutionem des Gajus und ander
en rõmischen Rechtsquellen, 3.^ ed. (Munique-Berllm,1918)
2 -De fontes não-jurídicas
ROTONDI, pouco antes de falecer, chegou a preparar um índice das citações jurídicas feit
as nas fontes não-jurídicas (vid. infra 167 a indicação das principais) dos sécs. IV-VII.
Foi publicado, como trabalho póstumo, nos seus Srritti Gïuridici I (Pavia,1912) 490-
582. Infelizmente, é bastante deficiente.
Embora não sejam índices só de palavras jurídicas, podem consultar-se com proveito também
para as palavras jurídicas:
a) de Cícero -Carlo PASCAL, Dizionario dell'Uso Ciceroniano (Turim,1899), e H. MER
GET, Lexicon zu den philosophischen Schriften Cicero's, 4 vols. (Hildesheim,1961
-1962);
b) de Séneca - o vol. V, págs. 813-970, das Opera Philosophica L. Annae Senecae, ed.
de BGUILLET (Paris,1830);
c) de vários autores clássicos latinos - o vol. VII, págs. 317-441, da Bibliotheca Cla
ssica Latina sive Collectio Auctorum Classicorum Latinorum cum Notis et Indicibu
s, ed. de M. E. LEMAIRE (Paris,1826).
3 - De interpolações. De glosemas
Index Interpolationum quae in Iuistiniani Codice inesse dicun
tur, de BROGGINI (Colónia, 1969).
Index Interpolationum quae in lustiniani Digestis inesse dicun
tur. Obra começada por MITTEIs e continuada por outros romanistas (LEVY, RABEL, et
c.); 3 vols. (Veimar, 1929-1935). Supplementum I ad libros I-XII pertinens
(Veimar,1929) - Contém a indicação das interpolações, certas ou prováveis (justinianeias ou
pelo menos post-clássicas), existentes no Digesto, descobertas por diversos romani
stas, citando-se o nome e respectiva obra onde é feita a investigação. No I vol., há uma
explicação das siglas usadas na obra, e que normalmente se empregam na crítica de tex
tos.
Le Interpolazioni risultanti dal confronto tra il Gregoriano, l'Ermogeniano, il
Teodosiano, le Novelle Postteodosiane e il Codice Giustinianeo, de MARCHI, em BI
DR
18(1906) 5-114-São indicadas as interpolações no Código de Justiniano, descobertas através
do confronto das constituições existentes no Cód. Just. com essas mesmas constituições qu
e se encontram nos Códigos Gregoriano, Hermogeniano, etc.
Nestes códs., as constituições foram recebidas sem (?) alteração.
Registro delle alterazioni (glossemi ed interpolazioni) nelle constituzioni del
Codice Teodosiano e nelle Novelle Postteodosiane segnalate dalla critica, de M.
A. DE Do
MINICis em BIDR 57-58(1953) 383-442, e Supplemento
em lura 15(1964) 117-136 - As constituições do Cód. Teod. foram interpoladas, umas pel
os próprios compiladores desse Cód., outras pelos compiladores das colectâneas onde el
as foram recebidas - sobretudo pelos alaricianos e foi através dessas colectâneas qu
e as constituições do Cód. Teod. chegaram até nós. DE DOMINICIS, no seu Registro, indica a
s
interpolações efectuadas pelos primeiros e pelos segundos.
Indice delle parole, frasi e costrutti, ritenuti indizio di interpotazioni nei t
esti giuridici roman, de GUARNERI-CITATI, 2 ed. (Milão,1927). Supl. I em Studi in
onore di S. Riccobono I (Palermo,1936) 669-743; Supl. II em Festschrift Koschake
r I (Veimar,1939) 117-156.
Indice delle glosse, interpolazioni e delle principali riccostru-' zioni segnala
te dalla critica nelle f onti pregiustinianee, occidentali, de E. VOLTERRA, em R
ivista di Storia del
Diritto Italiano 8(1935) 107-145, 389-505; 9(1936)
365-380 - VOLTERRA mostra as alterações, feitas pelos post-clássicos, em Pauli Sentent
iae, Consultatio, Fragmenta Vindobonensia (Ulpiani), Tituli ex corp. Ulpiani e C
ollatio.
XII - Fontes
1- Fontes pré-justinianeias
- Fontes luris Romani Antiqui, de BRUNS, 7.° ed. de GRADENWITZ, 3 vols. (Tubinga,1
909-1912). I-Leges et Negotia.
152
153
DEREM ROMANO
II-Scriptores, Ill-Index et Simulacra. Em 1958, foi feita
uma reimpressão da Parte I e da Parte II.
- Fontes luris Romani Antejustiniani (FIRA), 26 ed.
(Florença). I-Leges (ed. RICCOSONO,1941). II-Auctores (ed. BAVIERA e FURLANI,1940)
. III-Negotia (ed. ARANGio-RUIz, 1943)
- Gaius. Institutiones. Há várias edições e traduções (português, espanhol, francês, inglês,
- (Código Teodosiano) -Theodosiani Libri XVI, cum
constitutionibus Sirmondianis et leges novellae ad Theodosia
num pertinentes, ed. MoMMSEN e MEYER, 2 vols. (Berlim,1905 - reimp. 1954)
2 -Fontes justinianeias
- Corpus luris Civilis, ed. MOMMSEN, KRUGER, SCHOLL e
KROLL, 18 a edição revista por W. KUNKEL, 3 vols. (Berlim,1965)
Das várias partes do Corpus Iuris Civilis há algumas edições em separado, sobretudo das
Institutions e do Digesto, v.g. a ed. de BONFANTE, FADDA, FERRINI, RICCOBONO, SC
IALOIA, Digesta Iustiniani Augusti (Milão,1931 - reimp.1960).
A edição critica do Digesto pertence a MOMMSEN, Digesta lustiniani Augusti, 2 vols.
(Berlim,1866/1870 - reimp. 1962-63).
Há algumas traduções, poucas (e sobretudo antigas), de todo o Corpus luris Civilis (es
panhol, alemão, francés, etc.). Das Institutiones e do Digesto existem várias traduções e
para diversas línguas. A mais recente é a versão espanhola de F. J. HERNANDEZ-TE.ERO,
Las Instituciones de Justiniano (Madrid, 1961). Presentemente, prepara-se uma tr
adução espanhola do Digesto; está a cargo de vários romanistas de Espanha, chefiados por
Alvaro D'ORS.
3 -Fontes bizantinas
- (Os Basílicos) -Basilicorum Libri LX, ed. de G. E.
HEIMBACH e vários (Leipzig,1833-70) ; nova edição começada
INTRODUÇÃO - TIT. VI § 17
por H. J. SCHELTEMA e outros (Haia, desde 1953; ainda em curso a publicação)
4 - Colecções de textos sobretudo para uso escolar
Há várias, v.g.:
- GIRARD, Textes de Droit Romann, 6.a ed. revista por
SENN (Paris,1937)
-ARANGIO-RUiz e GUARINO, Breviarium luris Romani
(Milão,1943)
-B. PARADISI, Esempi Testuali. Raccolta di Fonti Giuridiche dei Secoli II-XI d.C
. (Nápoles,1956)
b) Revistas
Além das «secções de Direito Romano» existentes em muitas revistas jurídicas da actualidade,
devem considerar-se como revistas técnicas do Ius Romanum as seguintes (indicando
-se também as abreviaturas por que são comummente designadas)
-AG=Archivo Giuridico «Filippo Serafini» (Módena, desde
1898)
-BIDR=Bullettino dell'Istituto di Diretto Romano «Vittorio
Scialoja» (Roma, desde 1888)
-LURA=lura. Rivista Internazionale di Diritto Romano e
Antico (Nápoles, desde 1950)
-JUS=Jus. Rivista di Scienze Giuridiche-nova série (Mi
lão, desde 1950)
-JRS=The Journal of Roman Studies (Londres, desde 1911) -LABEO=Labeo. Rassegna d
i Diritto Romano (Nápoles,
desde 1955)
-RHD=Revue Historique de Droit Franças et Êtranger
(Paris, desde 1855). Até 1922, chamava-se Nouvelle
Re~ Historique du Droit=NRHD
-RIDA=Revoe Internationale des Droits de l'Antiquité (Bru
xelas, 1.a Série desde 1948, agora RIDA3 = 3' Série
154
155
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO - TIT. vi
§ 17
desde 1954. Durante os anos de 1952-53, denominava-se Archives d'Histoire du Dro
it Oriental-Revoe Internationale des Droits de l'Antiquité.
-RSADR=Revista de Ia Sociedad Argentina de Derech9 Romano (Córdova-Argentina, desd
e 1954)
SDHI=Studia et Documenta Historiae et luris (Roma, desde 1935)
- SZ=Zeitschri f t der Savigny-Sti f tung f ür Rechtsgeschichte. Ramanistische Abt
eilung (Veimar, desde 1880)
-TVR=Tijdschrift voor Rechtsgeschiedenis - Revue d'Histoire du Droit (Haarlem, d
esde 1918; Haia-Bruxelas, desde 1950)
c) Autores principais da actualidade
Romanistas jubilados, mas ainda em actividade científica: Pietro DE FRANCISCI, Wol
fgang KUNKEL, etc.
Romanistas com magistério universitário: Ãlvaro D'ORS, prof. em Pamplona; Dieter NõRR, p
rof. em Munique; Max KASER, prof. em Hamburgo; Franz WIEACKER, prof. em Gotinga;
Edoardo VOLTERRA, prof. em Roma; Antonio GUARINO, prof. em Nápoles; Jean GAUDEMET
, prof. em Paris; Roberto FEENSTRA, prof. em Leida, etc.
Na actualidade, existe sobretudo uma plêiade de jovens romanistas verdadeiramente
notável, na Alemanha, na Itália, na Espanha e em muitos outros países.
É de salientar o entusiasmo que os estudos romanísticos vêm despertando ultimamente no
Brasil, manifestado principalmente através da revista Romanitas, que se publica n
o Rio de Janeiro. Nas 15 universidades brasileiras, incluindo algumas pontificia
s, estuda-se Direito Romano com verdadeiro empenho, podendo indicar-se bastantes
professores que, além de Lições (Manual ou Instituições) de DR, têm publicado vários trabalh
s romanísticos (tradução de fontes, sobretudo Insti
tutiones de Gaio e de Justiniano, tradução de várias obras europeias, investigações pessoa
is, etc.), v.g. Vandick LONDRES DA
NóBREGA (prof. no Rio de Janeiro), Alexandre CORREIA (prof. em S. Paulo), Sílvio MEI
RA (prof. no Pará), Adalício NOGUEIRA
(prof. na Bahia), Mário BATISTA (prof. em Pernambuco), Afonso LAGES (prof. em Mina
s Gerais), Elpídio PAIS (prof. no Rio
Grande do Sul), Ernesto ROESSING (prof. no Amazonas), Traiahú CARTACHO (prof. em C
uritiba, Paraná), Geraldo FER
NANDES (prof. em Londrina, Paraná), Benjamim COLUCCI (prof. em Juiz de Fóra, Minas G
erais), Vicente PORTO (prof. em Niteroi, Estado do Rio), etc.
Sublinhe-se, com o devido relevo, a existência da «Sociedade Brasileira de Romanista
s», com a já notável revista, Romanitas. Esta Sociedade é hoje constituída por figuras ilu
stres do Brasil e do Estrangeiro, e por várias Instituições igualmente brasileiras e e
strangeiras.
Entre as várias realizações apreciáveis, a Sociedade efectuou um Colóquio Internacional de
Direito Romano, de 20 a 25 de de Julho de 1970, no Rio de Janeiro, em que tomar
am parte romanistas ilustres da Europa e das Américas. Os temas aí discutidos são da m
aior importância e de viva actualidade. Romanitas dedica-lhes os tomos I e II do a
no 11 (1970).
0 êxito desse Colóquio teve repercussões internacionais (vid. Labeo 16 [1970] 434 ss.,
e Romanitas 11-I [1970] 13-28 e 11-111 (1970) 485 ss.).
No final desse reconfortante e memorável Colóquio Internacional de Direito Romano, f
oram aprovadas, «por decisão unânime», as seguintes conclusões (ver Romanitas 11-II [1970]
10):
a) «R necessário que o estudo do Direito Romano ocupe o primeiro lugar, no currículo,
uma vez que constitui a base necessária e fundamental para conduzir os jovens à comp
reensão do Direito.
156
157
1
DIREITO ROMANO
b) 0 estudo do Direito Romano tem a maior e a mais indispensável força, para os que
se dedicam ao cultivo do Direito, porque torna mais apto o jurisconsulto, a fim
de que possa resolver os problemas jurídicos, com o sentido equdnime da justiça, enq
uanto possa favorecer os homens das diversas nações a se conhecerem entre si.
e) E necessário que os chefes das Repúblicas, que os ministérios aos quais incumbe o c
uidado da justiça e do direito, a UNESCO, os chefes aos quais cabe o cuidado das i
nstituições públicas conheçam todas estas coisas de tão grande importância, para que o ensin
o do Direito Romano tenha uma graduação necessária, nos currículos e na ordem dos estudo
s das Faculdades de Direito».
1: PARTE
FONTES DO d US ROMANUM» Titulo I - Fontes. Conceito. Espécies Título II-Costume
Título III -Lei das XII Tábuas
Título IV-Fontes do IUS CIVILE (D. 1,1,7 pr.)
Capítulo L°-A) «Leges», sensu stricto
Capítulo 2.°-B) «Leges», sensu lato '(«senatusconsulta» e «constitutions») Capítulo 3.°-C) «I
ntia»
Título V - Fontes do IUS PRAETORIUM (D. 1,1,7,1)
Capítulo 1.°-A) Expedientes do pretor baseados no seu «imperium»
Capítulo 2.° - B) Expedientes do pretor baseados na sua «iurisdictio» Capítulo 3.°-C) 0 «Edic
um» do pretor
t
158
Título VI - Ciência jurídica e as várias escolas Título VII-Literatura jurídica Título VIII-P
incipais jurisconsultos
Título IX - Obras e colectâneas pré-justinianeias: A) - ocidentais; B) - orientais
Título X - Corpus Iuris Civilis
Título XI-Interpolações, glosemas e glosas
Título -FONTES DO «IUS ROMANUM». CONCEITO. ESPÉCIES
SUMÁRIO - 18. a) - Conceito b) - Espécies
I-fontes exsistendi; fontes manifestandi; fontes cognos
cendi
II -fontes do «ius civile» (D. 1,1,7pr.); fontes do «ius
praetorium» (D. 1,1,7,1)
c) -Classificação das fontes cognoscendi do «lus Roma
num» (conspecto geral)
Fontes do «Ius Romanum»
18. 0 lus Romanum é formado, em primeiro lugar, pelo tius civile. Depois, a par de
ste - para o interpretar, integrar e corrigir - surgiu o tius honorarium, que é, s
obretudo, uma criação, e genial, do pretor urbano; tanto assim que o ius praetorium
absorve e concretiza (pelo menos, simboliza) todo o ius honorarium, embora em ri
gor seja apenas uma parte deste. Portanto, o lus Romanutm, praticamente, equacio
na-se: ius civile mais ius praetorium.
Para conhecer o lus Romanum, importa saber: onde surgem, claramente, palpàvelmente
(onde aparecem), tanto as normas «civis» como as normas pretórias; como se manifestam
;
t
161
DIREITO ROMANO
onde podem encontrar-se. - Tudo isto forma o complexo e bem discutível problema da
s fontes jurídicas romanas.
a) Conceito de «fontes de Direito Romano»
A expressão «fontes de Direito» (fontes iuris) é uma metáfora (e quantas metáforas e ficções
Direito!...), porque, em rigor, «fonte» é o lugar onde a água nos aparece - se vê e se po
de fàcilmente recolher, nobis paret.
A palavra «fonte» (f ons) deriva, em última análise, provàvelmente, do grego pívw (fénó=abrir
donde se originou póvoa (fónós), e depois, por síncope, fons 159. Desde o início, foi um v
ocábulo que se empregou sempre relacionado com a água 166. Portanto, «fonte», etimológicam
ente, significa aquilo que está aberto (ou que pode abrir-se) para sair água, ou que
já contém água, podendo esta recolher-se naturalmente, com facilidade; algo donde ou
onde nos aparece água. «Fonte» distingue-se de «nascente»-source em fr., «caput aquae» como e
pressivamente lhe chama ULPIANUS, D. 43,20,1,8 -, ponto do solo onde principia u
ma corrente de água, lugar onde a água brota mas não se vê (não está aberto) ; ou vê-se, mas
água não pode ser recolhida fàcilmente 161.
«Fonte de direito» (f ons iuris) será, pois, tudo aquilo que está aberto ou se pode abri
r, para correr «linfa jurídica», podendo esta ser recolhida com facilidade; lugar onde
nos aparece o direito.
167 «0 ius civile (cf. supra 45) é o que provém das leis, dos plebiscitos, dos senatus
consultos, dos decretos dos príncipes (constituições imperiais), da autoridade dos pru
dentes (iurisprudentia)».
168 «0 direito pretório é o que os pretores introduziram com a finalidade de ajudar (i
nterpretar) ou de integrar ou de corrigir o ius civile, por motivo (razão) da util
idade pública».
169 Vid. supra 3448.
164
165
DIREITO ROMANO
1.a PARTE-TIT. I
618
Cada uma destas secções, por sua vez, comportará várias divisões e subdivisões.
A) Fontes provenientes do mundo romano
Estas podem ser: 1) - jurídicas e 2) - extra-jurídicas.
1) FONTES JURIDICAS - Estas, por sua vez, ainda podem ser: I - justinianeias, e
II-extra-justinianeias.
I - As fontes justinianeias reduzem-se ao «Corpus Iuris Civilis». Esta fonte é a maior
de todas. Por isso, dissemos já 170 que lus Romanum e Corpus Iuris Civilis quase
se identificam.
H - As fontes extra-justinianeias são constituídas por:
- Institutiones Gal - Epitome Gai - Gaio de «Autun»
a) - Restos de obras - Res Cottidianae
de juristas - Liber singularis Regularum Ulpiani - Responsa Papiniani - Frag
menta Dositheana - Scholia Sinaitica
- Pauli Sententiae
- Fragmenta Vaticana
- Collatio Legum Mosaicarum
et Romanarum
Colectâneas post-clássicas - Livro Siro-Romano
- Código Gregoriano -Código Hermogeniano - Código Teodosiano
170 Vid. supra 3448; e sublinhemos bem o «quase se identificam», pois há muitas outras
fontes do Ius Romanum, embora todas juntas não valham sequer uma parte do Corpus
Iuris Civi is.
- tábuas enceradas
y) - Material arqueológico-jurídico - bromes
diverso - mármores
- papiros
2) FONTES EXTRA-JURÍDICAS - Estas, por sua vez, podem ser:
B) Fontes elaboradas no Ocidente, depois da queda do Império (476)
I - Historiadores: Políbio, César, Tito Lívio, Dio Cássio, Tácito, Suetónio, etc.
II - Gramáticos e etimologistas: Varrão, Valério Probo, Festo, etc.
III - Escritores dramáticos: Plauto, Terêncio, etc.
IV - Filósofos, retórioos, oradores: Cícero, Aulo Gé
lio, Quintiliano, etc.
V -Padres da Igreja: Arnóbio, Minúcio Félix, Lac
tâncio, Santo Ambrósio, Santo Agostinho, Santo Isidoro de Sevilha, etc.
Estas fontes compreendem principalmente o Codex Euricianus
e - Edictum Theodorici
as Leges ROMIANAE - Lex Romana Burgundionum
BARBARORUM - Lex Romana Wisigothorum
166
167
DIREITO ROMANO
C) Fontes elaboradas no Oriente, depois do «Corpus luris Civilis»
Dentre muitas, notemos como principais:
-Escólios do Anónimo
- Paráfrase Grega de Teófilo ->Jcloga de Leão Isâurico
- Obras de Basilio Macedónico. Os Basílicos
- Várias sinopses dos Basílicos (sécs. XI-XIII) -Vários manuais de direito, v.g. o Hexábib
los 171.
171 Para uma análise minuciosa acerca destas várias fontes, consultar a bibliografia
atrás apresentada, pág. 129. Além disso, quanto a algumas fontes, ver também J. GAUDEME
T, La Formation du Droit Séculier et du Droit de l'Église aux IVe. et Ve. Siécles (Par
is,1957); para uma análise sumária, porém muito elucidativa, vid., por todos, Álvaro D'o
Rs, Presupuestos Críticos para el Estudio dei Derecho Romano (Salamanca, 1943). Cf
. supra 88 e 89.
Título II -COSTUME
SUMÁRIO-19. a)-Conceito moderno (consuetudo) e conceito romano
(mores maiorum)
b) - Costume (mores maiorum) e ius non-scriptum. A primeira interpretatio ou iur
isprudentia
c) - Fases do costume (mores maiorum) como fonte do alus Romanum»
I - na 1 a etapa da época arcaica (753-242 a.C.)
II - a partir da 2.a etapa da época arcaica
III -na época clássica
d) -Na época post-clássica: o costume (consuetudo) como
fonte de direito, a enfrentar as constitutiones imperiais
19. 0 costume, na ordem do tempo e até certo ponto na da importância, é a primeira fon
te manifestandi. A sua fonte exsistendi é o «populus» 172.
Como todos os direitos primitivos, também o lus Romanum principiou por ser consuet
udinário. Quer dizer, um direito cuja fonte única, de início, era o costume.
Mas que significava «costume» para os romanos?
Neste ponto, há uma grande divergência entre os autores 173.
172 Sobre o sentido «jurídico» deste termo para os Romanos vid. infra n. 236.
173 São trabalhos fundamentais sobre este problemá o de FERRINI, Lineamenti Sommari
della Dottrina della Consuetudine em Per ii XIV Centenario della Codificazioni G
iustinianea (Pavia, 1934) 175-208, e o de KASER, «Mores Maiorum» und Gewohnsheitsrec
ht em SZ 59(1939) 52.101.
168
169
DIREITO ROMANO
1. PARTE-TIT. II
§ 19
Segundo uma opinião bastante provável, o costume primitivo dos romanos é diferente, no
conceito, do costume actual, que, por sua vez, deverá ter surgido só nos princípios d
a época post-clá-csica.
Nas fontes jurídicas e nas fontes extra-jurídicas romanas 174, aparecem três palavras
para indicar, ora dum modo vago ora duma forma precisa ora quase indistintamente
, a ideia de costume: udus, mos («moa maiorum», «mores maiorum») e consuetudo.
A primeira palavra, urus, poucas vezes é empregada no sentido de verdadeira fonte
de direito. E muito mais frequente o seu emprego com o significado de «hábito de agi
r, sem que isso constitua propriamente uma obrigação ou até um simples
dever» 175.
A questão reduz-se, portanto, aos significados (e respectivas diferenças) de mos (mo
res) maiorwm e de consuetudo.
190 «É a fonte de todo o direito público e privada»... como que um corpo (vid. supra n.
53) de todo o direito romano». - T. Livius, Historia 3,34,6.7. Vid. supra 167 que
espécie de fonte é esta.
191 Cf. KUNKEL, Rõmisches Recht3 (Berlim-Gotinga-Heidelberga,l949) 5.
192 Para um conhecimento pormenorizado da tradição, ver as seguintes fontes: T. Livi
us, Historia 3,31,8; CICERO, De Republica 2,36,37; TACITUS, Annales 3,27; POMPON
IUS, D. 1,2,2,4; DIONYSIUS HALICARNENSIS, Antiquitatum Romanarum quase supersunt
IV (Leipzig,1905) 10,545, etc.
A bibliografia sobre os vários problemas àcerca da Lei das XII Tábuas é vasta. Notem-se,
talvez como mais importantes, os trabalhos seguintes: GIRARD, La Loi des Douze
Tables (Londres,1914); BERGER, Tabulae Duodecim em RE IV-A 1900.1944 e Supp. VII
1275; DULL, Das Zwõlftafelgesetz. Text. Ubersetzung und Erlõuterung 2 (Munique,1953
); Sílvio A. B. MEIRA, A Lei das XII Tábuas. Fome do Direito Público
e Privado2 (Rio de Janeiro,1961).
193 PAIS, Storia di Roma I-I (Turim,1898) 588 ss., 11.2 (Turim,1899) 545 ss.; St
oria Critica di Roma (Turim,1915) 203 ss., 454 ss.
180
(450 a.C.?), mas de fins do séc. IV (304 a.C.), identificando-a
com o ius Flavianum (cf. infra § 27-c) ).
LAMBERT 194 também, como PAIS, não acredita na historicidade do decenvirato e reputa
a Lei das XII Tábuas uma colecção privada; mas só do séc. H a.C., identificando-a com
a primeira parte da obra Tripertita de Sextus AELIUS PAETUS, chamada ius Aelianu
m (vid. infra § 34).
BAVIERA 1D' admite a verdade histórica do decenvirato; mas, como LAMBERT, julga qu
e a Lei das XII Tábuas é uma
compilação privada do séc. II a.C., identificando-a com o ius
Aelianum.
II-Crítica a estas opinices
As teses de PAIS, LAMBERT e BAVIERA já foram devida
mente refutadas por GIRARD 190 BONFANTE 1P', DE FRANCISCI '99
etc.199. São hoje rejeitadas por todos os romanistas. Representam o -fruto do exag
erado criticismo acerca da história antiga de Roma.
0 relato da tradição a respeito da Lei das XII Tábuas, na sua parte substancial, é de ad
mitir; concretatnente, o que se refere ao 1.0 decenvirato e à data. Deve ser lendári
o o 2.° decenvirato, pois, dada a sua constituição de patrícios e plebeus, não tem sentido
a impopularidade que se lhe aponta; e devem eliminar-se certos anacronismos e c
ontradições.
194 LAMBERT, La Question de l'Authenticité des XII Tables et les Annales
Maximi em NRHD 26(1902) 149-200, L'Histoire Traditionnelle des XII Tables em
Mélanges Appleton (Lião,1903) 503 ss.
195 BAVIERA, Contributo Critico alfa Storia delia «Lex XII Tabularum» em
Studi Perozzi (Palermo,1925) 3.51.
196 GIRARD, L'Histoire des X11 Tables em NRHD 26(1902) 381.436. 197 BONFANTE, St
oria del Diritto Romano 114 (Roma,1934) 67 ss. 198 DE FRANCISCI, Storia dei Diri
tto Romano 1 2 (Milão,1940) 208 ss.
199 Para um completo conhecimento da bibliografia sobre esta matéria, vid.
BALOCH, Cicero and the Greek Law em Scritti in onore di Contardo Ferrini publica
ti
in occassione delta sua Beatificazione 111(Milão,1948) 17 e 18.
181
Ai
DIREITO ROMANO
1, PARTE-TÍT. III
§ 20
c) Data da Lei das XII Tábuas -450 a.C.(?)
A tradição apresenta as datas 451 a 449 a.C., desde a feitura à promulgação da Lei das XII
Tábuas. t; de aceitar, portanto, como data provável, 450 a.C.
Razões 1." - Os arcaismos linguísticos contidos nos fragmentos que chegaram até nós (FIR
A I 23-73) indicam-nos tratar-se dum documento que pode ser perfeitamente dos me
ados do séc. V a.C. Por exemplo, ni em vez de nisi; iudicatum facit em vez de solv
it (táb. 111 3) ; partis em vez de partes (táb. 111 6) ; se em vez de sine (táv. III 6
), etc., etc.
2.° -- Várias disposições que se encontram nesses fragmentos mostram-nos claramente uma
certa rudeza de costumes, que não deve situar-se depois do séc. V a.C.; v.g. o que s
e afirma na táb. III 6.
3.° - Sobretudo, algumas disposições revelam um estado social e político a indicar uma épo
ca, e até uma certa data. Haja em vista a norma que permitia ao credor, no caso de
insolvência do devedor e depois de praticadas certas formalidades, vender o deved
or como escravo. Essa venda tinha de ser feita « trans Tiberim», quer dizer, no estr
angeiro, pois nenhum cidadão . romano podia ser vendido como escravo dentro de Rom
a. Ora, se no tempo da Lei das XII Tábuas «trans Tiberim» era «estrangeiro», isso signific
a que, nessa altura, a outra margem do Tibre ainda não tinha sido incorporada na C
ivitas; e, como a incorporação só se efectuou nos princípios do séc. IV a.C. (a. 396), seg
pe-se que a Lei das XII Tábuas é anterior ao séc. IV a.C. Logo, a data de 450 a.C. é per
feitamente admis
sível.
d) Texto da Lei das XII Tábuas
0 texto da Lei das XII Tábuas não chegou íntegro até nós. Até fins da república, o conhecimen
o que se tinha dele basea
182
va-se únicamente na tradição oral i01 e escrita. Infelizmente; desconhecem-se, pelo me
nos, cerca de duas terças partes; e a terça parte que possuímos foi reconstituída através
de obras extra-jurídicas muito posteriores, e onde as disposições da Lei das XII Tábuas
são reproduzidas, em geral, só quanto ao sentido e poucas vezes textualmente.
Estes preciosos fragmentos da Lei das XII Tábuas, transmitidos quer literalmente (
muito poucos) quer apenas quanto ao sentido, desde o séc. XVI têm sido objecto dum e
studo crítico aturado, que originou a publicação de várias edições. A reconstituição fundamen
é devida a SCHÕLL, Legis XII Tabularum Reliquiae, de 1866. Nela estão baseadas as rep
roduções das colecções mais modernas de fontes, V.g. BRUNS-MOMMSEN-GRADENWITZ, Fontes lu
ris Romani Antiqui 1 (Tubinga,1909) 15-40; GIRARD, Textes de Droit Rornain ° (Pari
s,1937) 9-23: RICCOBONO, FIRA I (Leges) (1941) 23-73. CABRAL DE MONCADA, Element
os de História do Direito Romano I (Coimbra,1923) 325-351, apresenta a Lei das XII
Tábuas, segundo a edição de BRUNS, com tradução portuguesa.
e) Divisão, conteúdo e importância da Lei das XII Tábuas
Divisão - A Lei das XII Tábuas, formalmente, encontra-se dividida em 12 partes (tábuas
) e cada uma subdividida em fragmentos ou leis; estas, redigidas em forma lacónica
imperativa de aforismos jurídicos, para mais fàcilmente poderem ser decoradas 201.
Este seu carácter lacónico, mas sobretudo imperativo, constituiu modelo para os legi
sladores vindouros, e até
200 No tempo da juventude de Cícero (princípios do séc. 1 a.C.) aprendia-se de cor nas
escolas o texto da Lei das XII Tábuas, conforme ele nos conta em De Legibus 11,23
,59: «Discebamus enim pueri X11 (Tabulas) ut carmen necessarium, quas iam nervo di
scit». «Com efeito, nós em crianças aprendíamos de cor as XII Tábuas como uma oração obrigató
o que agora já ninguém faz».
201 Ver supra n. 200.
183
1
DIREITO ROMANO
1.1 PARTE - TiT. III
120
para os juristas, que haveriam de acusar a influência de tal sobriedade nos seus e
scritos e livros de direito.
Conteúdo -As tábuas
I-III tratam de processo civil;
IV-V, família e sucessões;
VI, negócios jurídicos mais importantes;
VII-XII, direito penal 202
Importância - A Lei das XII Tábuas é o monumento jurídico mais valioso da Antiguidade, não
só para Roma mas até para todo o Ocidente. É o ponto de partida para as construções jurídic
as posteriores. Data dos meados do séc. V a.C.; as suas disposições foram pouco a pouc
o superadas. Todavia, a Lei das XII Tábuas nunca foi formalmente revogada; pelo me
nos teóricamente, esteve em vigor até ao Corpus luris Civilis.
f) Actividade da «interpretatio» («iurisprudentia») depois da Lei das XII Tábuas
Antes da Lei das XII Tábuas, o «lus Romanum» era um sus consuetudinarium (isto é, basead
o nos «mores maiorum»); agora, é um ius legitimam (isto é, fundamentado na «Lex duodecim T
abularum»).
A actividade criadora dos iuris prudentes, conforme já dissemos 2 não terminou após a
promulgação do código decenviral. Simplesmente, mudou de rumo, sobretudo em questões de
direito privado. Em vez de se consagrar à revelação dos «mores maiorum», dedica-se quase e
xclusivamente a «descobrir» o conteúdo da Lei das XII Tábuas; e esse «descobrir», muitas vez
es, era criar direito novo. E havia necessidade disso. E que os
202 Como fàcilmente se vê, nem todos os assuntos eram tratados na Lei das X1I Tábuas.
Além disso, alguns eram versados com um relativo desenvolvimento; outros, duma for
ma muito sumária.
203 Vid. supra 172 e 173.
preceitos da Lei das XII Tábuas não eram suficientes 201 para ordenar toda a vida ju
rídica, e muitos deles em breve se tornaram inadequados para as novas condições sociai
s e económicas de Roma. Os juristas, tomando por base a Lei das XII Tábuas e sempre
dentro dum aparente formalismo (quer dizer, afirmando que estavam apenas a «interp
retar»), agiam com grande liberdade e com um sentido muito prático das necessidades
que os tempos iam impondo. Criaram instituições novas, que, de facto, não estavam cont
idas na Lei das XII Tábuas; mas, como formalmente eram apenas simples «descobertas» ou
«re+velações», essas novas instituições eram também consideradas formas de ius legitimum.
Em resumo: a actividade da iurisprucicntia arcaica, que a princípio se concretizav
a e reduzia à interpretatio, identificando-se com ela 2"5, não desaparece com a prom
ulgação da Lei das XII Tábuas, como à primeira vista poderia julgar-se; pelo contrário, au
menta.
«1. Nas dívidas de dinheiro confessadas (em juízo) e em (todos os) casos julgados judi
cialmente, haja 30 dias de benevolência», isto é, a execução só podia iniciar-se após terem d
corrido 30 dias. - São chamados «dies iusti», pois neste espaço de tempo verifica-se um
iustitium (=suspensão da aplicação da justiça). Vid. supra 65 A'.
I -Esta 1 a lei da táb. III refere-se aos primeiros trâmites da execução duma dívida, que
o devedor não cumpriu voluntàriamente e que, por isso, foi chamado a juízo o responsável
(que podia ser diferente do devedor, mas geralmente o devedor era também o respon
sável) ; esses primeiros trâmites constituem um processo declarativo da dívida. Ora um
a vez em juízo, o demandante ou autor (neste caso o credor) pode obter a seu
206 FIRA 132 e 33. Na lei 3.a, preferimos a leitura de ene maiore, aut si volet
minore vincito» (^omo já apresentava v.g. GIHARD. Textes de Droit Romain4 [Paris, 19
13] 13) à de «ne minore, aut si volet maiore vincito» (como sugere, por ex., RiccoBONo
em FIRA 1 33), devido principalmente a um achado arqueológico recente
com essa leitura (vid. Tutto su Roma Antica [Florença,1967] 133). Além disso, essa l
eitura está mais de harmonia com o contexto da táb. Ill cujas disposições procuram, na m
edida do possível, favorecer o devedor, o responsável ou vinculado; v.g. a lei 4.0-«..
. si volet, plus dato».
favor: ou, logo no início do processo (fase in fure, que de início se desenrolava pe
rante um cônsul e a partir de 367 a.C. perante o pretor), uma confissão da dívida por
parte do demandado ou réu (em regra, o devedor), chamada «confessio in iure»; ou, na p
arte final do processo (fase apud iudicem, que se desenrolava perante o iudex, q
ue era um particular), uma sentença do juiz (iudicatio) a condenar o devedor..
Por esta lei se verifica:
a) -a confessio in iure das dívidas em dinheiro e a iudicatio sobre qualquer dívida
(quer de dinheiro, quer de coisa não-dinheiro) são títulos declarativos da constituição ou
da existência duma dívida;
b) -são títulos que se equivalem, isto é, basta e é necessário um ou outro, para poder ini
ciar-se depois um outro processo, já mais de tipo executivo, designado primitivame
nte «legis actio per manus iniectionem» e mais tarde «actio iudicati». Note-se que só em r
elação às dívidas de dinheiro é que na verdade a confessio in iure bastava perfeitamente p
ara se proceder, se fosse necessário, à acção executiva. A confessio in iure de dívidas de
coisa não-dinheiro necessitava de ir à fase apud iudicem, para, numa litis aestimat
io (apreciação do pleito), ver quanto devia (o responsável) em dinheiro, visto a conde
mnatio já nesta época ser sempre ou geralmente pecuniária, excepto se as partes litiga
ntes acordassem em que o cumprimento forçoso fosse ainda especifico 207;
c)-o princípio ou adágio «confessos in iure pro iudicato est» (a confissão em juízo [a confi
ssão judicial do pedido, diríamos hoje] equivale a uma sentença) tem origem nas XII Táb.
III 1. Esse princípio, mais tarde, aparece invocado em várias fontes, v.g. em Páuli S
ententiae, 2,1,5 268, e passa grosso modo para o Direito moderno e para o Direit
o vigente 209.
v II -Além disso, esta l.° lei da táb. III estabelece o prazo de 30 dias áe benevolência (
dies iusti), após a confissão em juízo da dívida em dinheiro, ou após a sentença condenatória
sobre qualquer débito, para poder iniciar-se a execução da dívida. É uma espécie de tréguas c
ncedidas ao responsável para ele conseguir dispor as suas coisas e pagar a dívida,
207 Sobre esta matéria, mais aprofundadamente, vid. infra 2.a PARTE destas
Lições, tít. VI.
208 Ver infra § 35 que espécie de fonte é esta. - Sobre a equivalência da con
fessio in iure à iudicatio, vid. Sebastião CRUZ, Da «Solutio» 1, cit. 94 e 95.
209 Veja-se o nosso Código de Processo Civil nos art.°` 287.° alín. d), 294.°
e 300.0
186
187
DIREITO ROMANO
1.' PARTE -TIT. III
§ 2C
evitando sobretudo a fase final da execução, que era terrível, como examinaremos a seg
uir, sobretudo na lei 6 21
«2. Depois disto (deste prazo de 30 dias). tenha lugar a «nianus iniectio», e o respon
sável seja levado (novamente)
a juízo» (ao tribunal).
A confessão in iure das dívidas em dinheiro e a iudicatio sobre qualquer débito não dava
m direito a uma execução imediata da dívida, a efectuar pelas próprias mãos, do credor. Er
am apenas título para o credor agarrar no responsável (ntanus iniectio) - manus inec
tio de facto ou, sob certo aspecto directa -, e levá-lo a um novo juízo, a acção executi
va. Esse procedimento executivo, sublinhe-se, realizava-se na época
arcaica mediante a legis actio per manus iniectionem; mais tarde, através da actio
iudicati.
Por esta lei 2.a da táb. III, e até já pela lei 1.a, vê-se claramente que a vindicta pri
vata (isto é, a faculdade de poder o titular dum direito executá-lo pelas suas própria
s mãos) não era admitida pela Lei das XII Tábuas, pelo menos como princípio geral. Isto
representa um grande avanço em relação aos estádios primitivos das antigas sociedades *1
".
«3. Se (o réu, o responsável condenado) não cumpre a sentença ou se ninguém aparece ali pera
nte o tribunal a defendê-lo ou a afiançá-lo (servir de «vindex»). (então o credor) leve-o
210 Este prazo ue su dias aparece, mais tarde, interpolado, dizendo-se apenas «die
s constituo»-v.;. D. 42,1,7;-44,3,2 -ou simplesmente «dies iusti». Esta última expressão,
sob certo aspecto, contrapõe-se à de dies fasti (dias em que é lícito actuar em Justiça),
porque os 30 dies iusti são dies nefasti (dias em que não se pode agir em tribunal).
São certamente reminiscências destes XXX dies iusti os prazos concedidos ainda hoje
ao devedor, previstos nos art p, 811 P, 927.° e 928.° do Cód. Proc. Civ. Português.
211 0 princípio da proibição da vindicta privara ou autodefesa, consagrado já pela Lei d
as XII Tábuas, é hoje expressamente admitido pelas legislações de todos os povos civiliz
ados. Entre nós, o art.° 1P do Cód. Proc. Civ. diz: «A ninguém é permitido restituir-se ao e
xercício do direito de que seja titular por sua própria força ou autoridade, salvo nos
casos e dentro dos limites declarados na lei».
consigo (apodere-se dele e leve-o para sua casa). (Aí), ate-o com
correias ou com grilhetas de um peso de 15 lil>ras, não mais; ou,
se quiser ate-o com (grilhetas de) um peso menor».
À face desta lei 3.a da táb. III, verifica-se o seguinte:
a) - se o responsável, depois de 30 dias após a condenação (ou a confissão em juízo, tratand
o-se de dívidas pecuniárias) tiver sido levado a tribunal, nem agora (nesta fase in
iure da acção executiva) cumpre, ou nem sequer apresenta um defensor
ou um afiançador (vindex 212), então o magistrado que preside
a esta fase do processo executivo (que a partir de 367 a.C., como já acentuámos, é o p
retor) adjudica a pessoa do vinculado ao credor; isto é, através duma addictio
decreta a verda
deira manos iniecteio 214) :
b) -o credor então apodera-se da pessoa do vinculado, pois, uma vez estabelecida a
manus iniectio, ele fica nas mãos do credor completamente indefeso, reduzido a um
a situação de quase-escravidão, quasi servi loco;
c) - leva-o para sua casa e encerra-o num cárcere pri
vado -15;
d) - aí, na prisão, pode ainda, provisóriamente, conservá-lo atado (ligado com várias volt
as-"") a uma espécie de cepo ou coluna com algemas (compeles) ou correias (catenae
)21T.
1) - A lex Poetelia Papira de nexis, do ano 326 a.C., rogada pelos cônsules POETEL
IUS e PAPIRIUS, a qual proibiu, directa e expressamente, o se nexum dare. Como c
onsequência, proibiu também o nexum, enquanto envolvia também o autopenhora
mento da pessoa do devedor, mas não o nexum enquanto era simples stipulatio pecuniár
ia 248.
2) - A lex Cincia, que é um plebiscito 241 do ano 204 a.C., votado sob a proposta
do tribuno da plebe M. CINCIUS Alimentus, proibia os negócios de doação 250 inter vivo
s além de determinada quantia (ultra modum), não se sabe quanto, exceptuando as doações
feitas a parentes próximos. Esta _lei era uma lex imperfecta; o pretor aplicava a
proibição mediante a exceptio legis Cinciae 251.0 direito post-clássico diminuiu a apl
icação dessa lex, aduzindo que, se durante a vida do doádor a doação excessiva não foi denun
ciada, a sua morte confirmava-a. Estabeleceu então éomo princípio «lex Cincia morte remo
vetur».
248 Vid. supra 195 e n. 224, e Sebastião Cauz, Da «Solutio» I, cit. 3738 e 4579.
249 Vid supra 206 a imprecisão de terminologia entre lex e plebiscitum.
250 A doação é uma disposição patrimonial irrevogável, em que o património do doador diminui
o do credor aumenta.
A doação é a causa (causa iuridica) lucrativa por excelência. Embora tenha carácter conven
cional, não é contrato nem negócio jurídico típico.
A iurisprudentia romana pouco se interessou pela doação; para uma mentalidade pagã, os
actos de doação eram considerados actos pouco racionais.
251 Vid. infra § 30-c) o que era a exceptio.
Sobre novas interpretações desta lex, vid. F. CASAVOLA, Lex Cincia. Contributo alfa
Storia delle Origini delta Donazione Romana (Nápoles,l960), e BIONDI em lura 12(19
61) 263-269 e nos seus Scrilti Giuridici III (Milão,1965) 727-734.
1.1 PARTE - TIT. IV - CAP. 1.° § 21
Portanto, os herdeiros do doador não gozavam da exceptio legis Cinciae.
3) -A lex Falcidia, do ano 40 a.C., que é uma lei ou talvez um plebiscito, rogado
pelo tribuno P. FALCIDIUS, determinava que a 1/4 parte da herança pertencia ao her
deiro testamentário, quer fosse voluntário quer fosse necessário (portanto, esta lex só
se aplicava, quando havia um testamento, e válido) ; e se o testador tivesse legad
o mais do que 3/4 da herança, esses legados (embora continuassem válidos) eram reduz
idos ipso fure, proporcionalmente, até se encontrar livre a quota do herdeiro test
amentário, 1/4 da herança. Fundamentalmente pretendia evitar duas coisas: a) - a inu
tilidade dos testamentos por falta de aceitação da herança, tratando-se de her
deiros voluntários; b) - o prejuízo dos herdeiros, sobretudo
quando eles são necessários, visto não poderem recusar a he
rança 252. Para isso, restringe a faculdade de legar, que nessa
altura chegou a converter-se num modo abusivo de ostentação
de liberalidades, que, por vezes, eram satisfeitas à custa dos próprios bens dos her
deiros "instituídos num testamento, pois os
haveres deixados pelo de cuius não chegavam.
0 direito justinianeu mostrou-se desfavorável à quarta Falcidia, pois autorizou aos
testadores a faculdade de excluí-Ia
expressamente; mas concedeu aos herdeiros o poder de aceitar a herança a título de i
nventário.
P) - Leges (publicae) datae (?)
Desde MoMMSEN, vinha admitindo-se pacificamente entre os autores Y58 -a existência
duma segunda espécie de leges publicae, denominadas «leges datae». Seriam «leis proferi
das por um
252 0 que eram e quais eram, em Direito Romano, os herdeiros necessários e os herd
eiros voluntários, vid. infra 228 e 229
Sobre esta lex, veja-se Franco BONIFACIO, Ricerche sulla Lex Falcidia de Legatis
(Nápoles,1948).
253 Veja-se concretamente ROTONDt, Leges Publicae Populi Romani, cit. 14-20.
487-507.
212
213
DIREITO ROMANO
1.1 PARTE-TIT. IV-CAP. 1.°
§ 21
magistrado, em virtude dum poder especial, que o povo, para esse efeito, lhe deu
(nele delegou»).
Recentemente, depois de vários escritos de Gianfranco TIBILETTI 254, parece que ta
l categoria de leges publicae não deve ter existido; foi uma criação de MOMMSEN. Trata
-se de normas jurídicas dadas pelo governo central a comunidades locais (e só neste
sentido é que ainda se poderá continuar a falar de «leges datae») ; como, por exemplo, e
statutos locais, concessões de cidadania, etc. Mas essas normas podiam ser de qual
quer espécie: ou leis rogadas, ou decretos de magistrados, ou disposições do senado, e
tc., etc. Não há, pois, contraposição dessas denominadas «leges datae» a «leges rogatae».
y)-leges (publicae) didae. Exemplos
As leges dictae são leis proferidas por um magistrado em virtude dos seus próprios p
oderes.
Lex dieta é a forma sincopada de lex rei suae dieta, aplicada ao direito público, po
is, como já sabemos (vid. sulrra 202 e 203), a lex rei suae dieta, em rigor e de i
nício, é uma lex privata, consistindo num acto de disposição solene acerca duma coisa su
a. -Mais uma vez se verifica, agora com esta espécie de lei pública, que a lex priva
ta é anterior à lex publica.
A lex dieta é proferida, em virtude do9 poderes gerais e próprios do magistrado, emb
ora os tenha recebido do povo, quando este o elegeu para determinada magistratur
a.
Exemplos-Como típica, aponta-se a lex dieta metalli Vipascensis, proferida pelo ad
ministrador das minas de Vipasca (actuais minas de Aljustrel, Alentejo) acerca d
a exploração dessas minas.
254 Gianfranco TIBILETTI, Leges dictae em Studi Passarini (1954) 179-213; Sidle
Leges Romanae em Studi De Francisci IV (Miláo,1956) 595-645, máxime 604-625; v. lex
em Dizionario Epigrafico di Antichità Romane IV (1956).
Com esta exposição sobre leges publicae e plebiscita, contida nos n.°» I e H da al. c),
fica analisada a primeira parte do texto de PAPINIANUS (D. 1,1,7pr.) que está a se
rvir-nos de orientação para o exame das várias fontes do IUS CIVILE: «Ius autem civile e
st, quod exx legibus, plebis scitis... vent» 255, quer dizer, o ius civile é o que p
rovém (além doutras fontes) sobretudo das leges rogatac, que são as «leges publicae» por a
ntonomásia, e das outras rogationes, os plebiscita.
III-A partir do séc. II d.C., as «leges publicae», principalmente as «leges rogatae», começa
m a desaparecer para darem lugar aos senatusconsultos e às constituições imperiais
As leges rogatae principiam a diminuir extraordináriamente com a decadência dos comíci
os; e essa decadência verifica-se principalmente depois de Augusto. No séc. I d.C.,
o senado começa a sua actividade legislativa (vid. infra § 22-b)-III), e no séc. II d.
C. inicia-se a afirmação e a consagração do poder imperial. Perante isto, a lex rogata d
esaparece por completo antes do séc. III.
A partir dos fins do séc. II d.C. (vid. infra § 26-a)-II), tudo se prepara para triu
nfar um novo tipo de lei - a vontade absoluta do imperador, as constituições imperia
is.
IV -A partir do Baixo-Império (sécs. IV-V), a palavra «leges» (=constituições imperiais) sig
nifica «ius novum» e contrapõe-se a «ius» ou «ius vetus»
A partir do Baixo-Império, estabelece-se uma nova terminologia.
255 Vid. supra 165 e n. 167 a citação completa deste texto.
214
215
DIREITO ROMANO
I' PARTE-TIT. IV-CAP. 2.°-a)
§ 22
A palavra «leges» começa a significar apenas as constituições imperiais. Por isso, o Código
do Corpus luris Civilis é uma colectânea de leges, isto é, de constituições imperiais. As
constituições imperiais, a partir dos sécs. IV-V, são a única fonte de direito. 0 imperado
r, com a sua vontade absoluta, é o único criador de ius (o «ius novum») e o seu único intérp
rete. Foi deste conceito único de lex da época decadente do Baixo-Império que derivou
a ideia moderna de lei.
0 ius ou o ius vetus, segundo esta terminologia estabelecida a partir dos sécs. IV
-V, é todo o direito antigo ou tradicional, formado portanto pelas leges rogatae,
datae(?), dictae, pelos senatusconsultos, pela iurtsprudentia, pelos edictos dos
magistrados e até pelas constituições imperiais anteriores ao séc. IV. Como todo esse d
ireito tradicional substancialmente se encontrava condensado nas obras dos juris
tas clássicos, ius (o ius vetus) concretizava-se nas obras dos juristas clássicos, o
u melhor, é sinónimo de literatura jurídica clássica. Por isso, o Digesto do Corpus luri
s Civilis é uma colectânea de ius, quer dizer, de fragmentos de obras de juristas clás
sicos 'S
256 Sobre o significado, alcance e valor desta terminologia leges-ius, voltaremo
s a falar, adiante, mais desenvolvidamente (vid. infra § 26-b)-Il.
Capítulo 2.,>-B) LEGES sensu lato
a) SENATUSCONSULTOS
p) CONSTITUIÇÕES IMPERIAIS
a) - Senatusconsulta
SUMÁRIO-22. a) Conceito
b) Como adquiriram força legislativa
I - de início até ao séc. I a.C., os senatusconsultos tinham apenas carácter consultivo
II - depois (séc. I a.C. a séc. I d.C.), eram considerados fonte mediata de direito,
sebretudo através do edicto do pretor
I11-são fonte imediata a partir do principado c durante um século (séc. I-séc. II d.C.).
Defi
nição de POMPONIUS (D. 1,2,2,9), de GAius (14) e de ULPIANUS (D. 1,3,9,)
c) Como foram perdendo força jurídica própria: a partir de Adriano (117-138), princípios
do século U, são também «orationes principis in senatu habitae»; a partir dos Severos (19
3-239), fins do séc. II, são apenas «orationes principis»
d) Estrutura formal. Denominação
e) Exemplos. Especial análise dos senacs. Velleianum, Neronianum e Macedonianum
22. Vamos analisar mais uma parte do texto de PAPINIANUS (D. 1,1,7pr.), que está a
servir-nos de orientação para o exame das várias fontes do IUS CIVILE, «lus autem civil
e est, quod ex... senatus consultas... venit» 257
a) Conceito de «senatusconsultum»
224
- Senac. Claudianum (a. 52 d.C.) Determina principalmente o seguinte: se uma mul
her livre se unir sexualmente a um escravo alheio contra a vontade expressa do p
roprietário desse escravo - e essa união, quando modo maritali, isto é, permanente, er
a uma «espécie de matrimónio» e chamava-se contubernium-, e se ela, depois de três intimações
feitas pelo dono do escravo para abandonar essa situação, continuar na mesma, é reduzi
da a escrava do dominus do escravo. A ele ficavam também a pertencer todos os bens
dela e os filhos (como escravos) que nascessem dessas relações concubinárias. >J um c
aso, típico e único nas legislações da Antiguidade,, de «acquisitio per universitatem» inter
vivos; aqui, a favor do dono do escravo.
Ao senac. Claudianum referem-se várias fontes, sobretudo GAIus 191 (além doutros pas
sos), onde se mencionam os requisitos da aplicação deste senac. e a respectiva conse
quência.
191 - « ... mulier civis Romana... ex senatusconsulto Claudiano ancilla... sit, (s
i) alieno servo, invicto et denuntiante domino eius, coierit» 268.
Deste texto deduz-se que a cidadã romana só perdia a liberdade: 1.0 - unindo-se sexu
almente a um escravo, que fosse alheio («alieno servo»)270; 2° - contra a vontade expr
essa do
269 GAIO 1 91 - «... por força do senatusconsulto Claudiano, seja reduzida a escrava
toda a cidadã Romana que mantiver relações concubinárias com um escravo alheio, contra
a vontade do seu dono e depois de ele a ter admoestado».-Vid. FIRA
II 26.
270 Se o escravo, a quem se unisse sexualmente, fosse próprio da mulher, ela não sof
ria nenhuma sanção. É que, de início, a razão invocada para justificar este senac. não era u
m motivo de ordem moral nem sequer de ordem ideológica ou social, mas simplesmente
-«o prejuízo que daí advinha para o dono do escravo, pois tratava-se dum abuso de prop
riedade alheia».
Mais tarde, o motivo justificativo da sanção aplicada (perda da liberdade) foi já de o
rdem social ou ideológica - «o rebaixamento duma pessoa livre unindo-se à miséria dum es
cravo».
Finalmente, o Cristianismo sublimou a motivação das sanções previstas pelo senac. Claudi
anum - «a necessidade de tutelar a moral sexual». E para que não restassem dúvidas de qu
e a justificação era a honestidade, a legislação romana cristã modificou as sanções a aplicar
cidadã romana que mantivesse relações concubinárias
225
I
DIREITO ROMANO
dominus do escravo («invito domino»)'-71; 3.°-depois de ter sido admoestada pelo dono
do escravo («denuntiante domino»), e ao que parece só depois de três intimações.
- Senac. Tertullianum, da época de Adriano, princípios do séc. II, cerca do ano 120.
Concede à mãe consanguínea ou não-agnada 272, isto é, que
realizou o seu matrimónio sine manu (vid. infra 3.' PARTE, Tít. I), ou que não é casada,
o direito de suceder lure civili na herança de seus filhos, masculinos ou feminin
os, legítimos ou naturais (e o facto de uma mãe suceder a um filho chamava-se a esta
herança luctuosa hereditas), direito que até então, só lure
praetorio possuía e numa posição bastante afastada em relação 1 aos outros herdeiros.
Para se compreender o alcance do senac. Tertullianum, e de harmonia com o nosso
critério fixado para a exposição de matérias (vid, supra 126), apresentemos, aqui, em fo
rma esquemática, a ordem da sucessão em Direito Romano, na época clássica (maté
com um escravo: pena de morte, se o escravo fosse dela; perda da liberdade, se f
osse alheio.
Sobre a evolução do significado e alcance do senac. Claudianum, principalmente na le
gislação romana cristã, vid., por todos, BIONDI, 11 Diritto Romano Cristiano 11 (Milão,1
952) 402-406, e Scritti Giuridici III (Milão, 1965) 43-54. Sobre vários problemas ai
nda hoje discutíveis, a respeito deste senatusconsultum, ver H. R. HOETING, Autour
du «Senatus-Consulte Claudien» em Mélanges Henri Lévy-Brnhl (Paris,1959) 153-162, onde
se indica a principal bibliografia moderna.
271 Se o dominus do escravo consentia-e falam então as fontes de «pactio», de «convenire»,
etc.- , nesse caso ela não perdia a liberdade; mas, de início, os filhos nasciam es
cravos e ficavam a pertencer ao dono do escravo; mais tarde, a partir de Adriano
, consideravam-se livres.
Consta de GAlus 184:
«... ex senatus consulto Claudiano poterat civis romana, quae alieno servo valente
domino eius coiit, ipsa ex pactione libera permanere, sed servum procreare: nam
quod inter eam et dominum convenerit; eo senatusconsulto ratum esse iubetur. Se
d postes divus Adrianus iniquitate rei et inelegantia iuris motus restituit iuri
s gentium regulam, ut cum ipsa mulier libera permaneat, liberam pariat.»- Vid. FIR
A II 25.
272 É que a mãe agnada (a que tinha casado cum manu) já sucedia lure civili no 2.° grupo
(os outros agnados). Vid., já a seguir, o esquema da ordem da sucessão em Direito R
omano.
226
1.' PARTE -TiT. IV-CAP. 2,°-a)
§ 22
ria, que mais tarde será objecto da devida análise, no Tit. IV da 3.^ PARTE), ajunta
ndo umas brevissmias noções sobre o fenómeno sucessório no «Ius Romanumx.
Ordo sucesslonis (a)
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227
DIREITO ROMANO
(a) - A sucessão (hereditária), suc-cessio, (de succedere < sub + cadere=«cair» num luga
r, deixado livre, ocupar o lugar de outrem), é como que um «sub-entrar» na personalida
de de outrem, que desapareceu. Consiste no facto de alguém se colocar em vez de ou
trem (a «representar» outrem), como dono de todo o seu património: titular dos direito
s, sujeito das obrigações. Concretiza-se num personificar, encabeçar (vid. infra 3.' P
ARTE, Tít. I) o falecido, para que os seus bens e as suas dívidas continuem a ter, r
espectivamente, titular e sujeito. Na verdade, de início, o herdeiro representava
(como numa comédia ou numa tragédia) o defunto, mediante uma máscara contendo a figura
(persona, caput) desse falecido. A técnica jurídica, originàriamente, justificava a s
ucessão (hereditária) à semelhança duma representação... teatral.
0 sucessor é sempre de toda a herança, porque só um 4 que pode representar um, o falec
ido (quando vários, os herdeiros, então consideram-se como um, pondo-se «em fila india
na»; à frente, o filius mais velho; e até de início, só este é que herdava); portanto, a her
ança é universal e não particular. E bem elucidativo um texto de IULIANUS conservado n
o D. 50,17,62: «hereditas nihil alìud est, quam sucessio in universum ius quod defun
ctus habuerit».
Sendo vários os herdeiros instituídos, todos (como que «em bicha») são chamados ao todo da
herança. A cada um corresponde um direito Integro, isto é, cada um tem um direito p
otencialmente absoluto. Só na época post-clássica é que principia a falar-se de sucessão a
título particular, quando há transferência de bens isolados.
A aquisição da herança pelo herdeiro tem, como causa, a morte dum indivíduo sui iuris; p
or isso, é uma aquisição mortis causa
0 falecido, que deixa uma herança, é designado por «de cuius» (abreviatura da expressão «[is
] de cuius hereditate'agitur» =aquele de cuja herança se trata) ou «causante». 0 falecid
o, que não deixa nada, é simplesmente... mortuus, falecido, mas não de cuius.
Heredes (herdeiros), propriamente, e de início, só um filius, pois só um (varão) podia r
epresentar bem o pater, de cuius; depois, eram já todos os filhos (filii), [mas co
locados todos «em bicha»], que estavam sob a patria potestas do falecido. Denominava
m-se «heredes sui», e tornavam-se sui iuris, ao morrer o seu pater. Mais tarde, mas
ainda na época clássica, também são heredes sui as filhas (filiae), que estão sob a patria
potestas, e a uxor in mano, pois uma vez admitida a sucessão de vários filii (embor
a considerados como um, pondo-se em «fila indiana»), era fácil meter na fila, no meio
dos filii, uma ou mais filias e também a uxor in manu.
São heredes, mas não heredes sui, aqueles parentes agnados - em que o vínculo, a ligar
essas pessoas entre si, não é o sangue mas o da sujeição a um pater-, que a norma jurídic
a chama a herdar na falta de heredes sui.
1.' PARTE - TiT. IV - CAP. 2.°-a) § 22
Os herdeiros, por força duma norma jurídica (de ius civile ou de
ius praetorium), chamam-se «heredes intestati» (ou também, num sentido
muito amplo, «heredes legitimi») ou ab intestato (herdeiros de quem
morreu sem testamento). Contrapõem-se a heredes testati (herdeiros por
força dum testamento) ou heredes a testato (herdeiros de quem faleceu
com testamento).
Os heredes (quer intestati quer testati) subdividem-se em:
1 - necessários, se não podem recusar a herança, e portanto no sentido de que é a própria
morte do de cuius que os faz ou instituiu herdeiros, mas não no sentido de que não p
odem ser deserdados, pois em Direito Romano da época clássica não há herdeiros forçados no
sentido moderno; o pater podia deserdar todas as pessoas da família, incluindo os
heredes sui; [são «heredes» necessários 1 -os heredes sui e 2-os escravos: a)-manumitid
os pelo «dominus» num testamento (manumissio testamentaria); p)-nesse testamento ins
tituídos herdeiros];
II -voluntários, se podem recusar a herança, e portanto se se tornam herdeiros, não po
r força da morte do de cajus, mas por um acto de aceitação da herança.
Em relação aos heredes voluntários, é preciso distinguir dois momentos:
1)-o momento em que a herança lhes é oferecida (delatio hcreditatis), que é o momento
da morte do de cuius;
2) - o momento em que entram na herança deferida e se tornam herdeiros (aditio her
editatis), que é o momento da aceitação.
Entre o 1.° e o 2.° momento, a herança não tem dono, está «jacente» (hereditas iacens).
(b)-A successio testata é a sucessão em que o título de vocação hereditária é o testamento.
A sucessão testara prevalece em absoluto sobre a successio intestata (ou também cham
ada «legítima», sensu lato). Um pater, como dissemos, podia deserdar (exheredare) toda
s as pessoas da sua família, inclusive os heredes sui. Simplesmente, em relação aos he
redes sui não podia praticar a praeteritio, i. e. a omissão dos seus nomes no testam
ento, nem que fosse só para os deserdar. A praeteritio de um dos heredes sui, mesm
o que fosse póstumo, anulava o testamento. Sublinhemos: o pater tinha de mencionar
no seu testamento todos os nomes dos heredes sui, nem que fosse unicamente para
os deserdar, sob pena de ficar nulo esse testamento. - Igualmente era nulo o te
stamento, se não houvesse instituição de herdeiro (I, 2, 23, 2; GAIUS II 248), mas ape
nas instituição
de legatários.
A successio testata e a successio intestata são dois chamamentos incompatíveis; não só p
orque a sucessio testata exclui a successio intestata, mas também porque, segundo
um princípio assente, «ninguém
228
229
DIREITO ROMANO
1.° PARTE -TIT. IV - CAP. 2.° a)
§22
pode morrer em parte com testamento e em parte sem ele» («nemo pro parte testatus pr
o parte intestatus decedere potest»).
(c)-Os heredes sui273 são os filii, as filiae e uxor in manu (=mulher casada, no r
egime de sujeição jurídica ao marido; portanto, juridicamente, considerada filha do ma
rido e irmã dos seus filhos ou filhas).
Neste grupo (que é o 1.°, quer do ius civile quer do ius praetorium), estando os con
correntes todos no mesmo grau (ou todos só filhos, ou todos só netos, ou filhos, fil
has e uxor in manu), herdam por igual (per capita); a herança reparte-se sem disti
nção de sexos. Mas, se os concorrentes (do 1.° grupo) estiverem em grau diferente, que
r dizer, se conjuntamente com filii, ou com filiae, ou com uxor in manu, concorr
erem netos sui iuris, isto é, descendentes de filii (não de filiae) pré-falecidos, her
dam per stirpes. Há o chamado «direito de representação», pois esses netos sui iuris herda
m a parte, que, se não tivesse morrido, herdaria o seu ascendente-pai. (Neste grup
o, e durante a época clássica, não havia «direito de representação» pela linha feminina).
(d) - Nestes grupos (o 2.° e o 3.°, quer do ius civile quer do ius praetorium), se o
s concorrentes estiverem todos no mesmo grau (ou todos só irmãos, ou todos só sobrinho
s, ou todos só primos, etc.), herdam, como no 1.° grupo, per capita; se estiverem em
grau diferente (v.g. irmãos e sobrinhos conjuntamente), a herança não se distribui pe
r stirpes (como no 1.° grupo), mas, sim, per propinquiorem; quer dizer, o agnado (
no 2.° grupo) ou consanguíneo (no 3° grupo do ius praetorium) mais próximo (v.g. irmão em
relação a sobrinho) exclui o mais remoto. (Nesse caso de concorrerem a uma herança irmão
e sobrinho, só herdaria o irmão).
A garantia pessoal originava a favor do credor uma actio personalis contra o gar
ante, em que este respondia com todo o seu património e com a sua própria pessoa. Po
r isso, no ordenamente jurídico romano, as garantias pessoais tinham maior valor e
preponderância que as garantias reais.
Há várias figuras de garantia pessoal, na época clássica. Podem reunir-se em dois grupos
: a)-adpromissio e 3)-expro
missio 2,16
a) - Na adpromissio, surge um novo devedor, que, por uma nova stipulatio 287 - n
isto se distingue da obrigação correal, em que uma só stipulatio originava os vários dev
edores -se junta («ad+promittere») ao devedor principal. Promete «id quod Titius promi
sit» 188.
286 A expromissio é uma forma de garantia pessoal, porém não é uma modalidade de interce
ssio cumulativa mas sim de intercessio privativa, como já sabemos (vid. supra 236)
. Só por uma questão didáctica é que se lhe faz referência, aqui, junto com as outras figu
ras de garantia pessoal.
287 A stipulatio é um negócio jurídico tipicamente obrigacional, quer dizer, destina-s
e a criar obrigações, enquanto outros negócios (v.g. a mancipatio) destinam-se a criar
direitos reais. Vid. infra § 29 - a -1.
288 Com um adpromissor ficam a existir duas obrigações, a do devedor principal (em q
ue o objecto da obrigação é o debitum) e a do fiador (em que o objecto da obrigação é a prom
essa de o devedor principal cumprir o debitum). 0 adpromitente não fica responsável
directamente pela dívida (ou débito), mas pelo devedor; só indirectamente ou mediatame
nte se responsabiliza pelo débito, pois fica responsável pela promessa de que o deve
dor (principal) pagará. Há, portanto, duas obrigações com igual conteúdo, mas não com o mesm
o conteúdo. 0 credor tem, pois, dois devedores em vez de um, e pode reclamar de qu
alquer deles, mas uma só vez. Nisto consiste o carácter consumptivo da litis contesf
atio (vid. infra n. 296), o qual durou até 531.
A adpromissio, a que grosso modo corresponde a nossa actual fiança (art.°' 627.° a 655
.° Cód. Civ. Port.), tem carácter acessório, no sentido: 1.° de
1.^ PARTE-TIT. IV-CAP. 2^-a) § 23
Formas da «adpromissio»:
1) sponsio - forma solene de promessa, de origem sacral, só própria dos cives romani
(cidadãos romanos), feita com invocação dos deuses das partes negociantes;
2) fidepromissio-promessa, feita com a invocação da deusa fides 289, admitida por ci
ves e por não-eives (os peregrina= =homens livres, membros da comunidade romana, c
om certos
que surge depois da obrigação principal, pois origina-se, não na mesma stipulatio do r
eus principal (e por isso se distingue da correalidade), mas noutra stipulatio p
osterior; 2.° de que a obrigação adpromissória não pode ser maior ou mais gravosa que a ob
rigação principal, podendo ser menos gravosa; porém, se for maior ou mais gravosa, a o
brigação adpromissória não será nula, mas terá de ser reduzida ipso lure aos limites da obri
gação principal; 3.0 de que a validade e a invalidade (melhor expressão, a nulidade) d
a obrigação adpromissória depende também (em geral) da validade e da invalidade da obrig
ação principal. Há algumas excepções. GAtus III 100 apresenta um elenco dos vários casos (so
bre este ponto, vid., por todos, Paolo FREZZA, Le Garanzie delle Obbligazioni I.
Le Garanzie Pernonali [Nápoles, 1962] 44).
A ad promissio clássica não tem carácter subsidiário, pois o adpromissor não goza do benef
icium excussionis (benefício da excussão). Esse benefício ou privilégio, que só foi criado
, em 535, por Justiniano (Nov. 4,1), consiste em o beneficiário não poder ser demand
ado enquanto o credor não tenha préviamente esgotado (excutere) todas as possibilida
des de a dívida ser cumprida - v.g. executando o devedor principal, executando tod
as as garantias reais que porventura existam, e quer tenham sido constituídas ante
s, simultâneamente ou mesmo depois dessa garantia pessoal que goze do beneficium e
xcussionis. Na «fila» ou na ordem dos responsáveis pelo cumprimento da obrigação, quem goz
ar do benefício da excussão é sempre o último a responder; todos os outros estão à frente de
le, mesmo os que tenham surgido depois dele. Por isso, o beneficium excussionis
também é designado nas fontes jurídicas, sobretudo bizantinas, por «beneficium ordinis».
0 credor pode escolher, à vontade, para reclamação processual qualquer dos dois devedo
res - o reus principal ou o adpr omissor.
Na realidade, porém, o credor dirige-se, sempre ou quase sempre, ao fiador, cuja s
olvência naturalmente era mais segura. Desta forma, a obrigação do fiador (adpromissor
), pràticamente, não era acessória (nunca subsidiária) mas... principal.
289 A deusa fides (fé), divindade reconhecida por eives (cidadãos romanos) e por non
-cives (peregrinos), era invocada na celebração dos negócios de peregrinos entre si e
dos negócios entre peregrinos e cidadãos romanos. Ela velava pelo cumprimento desses
negócios, castigando os faltosos e protegendo os cumpridores.
Tinha a sua sede na palma da mão direita (cf. CICERO, De Off. 1,7,23 e Tit. Livius
, Historia 1,21,4; 23,9,3). Por isso, os contraentes davam um aperto das mãos dire
itas (dexterarum porrectio) para imprimir solenidade à promessa. Desaparecido o cu
lto da deusa fides, ficou o aperto das mãos direitas como sinal de confiança mútua. (S
obre esta matéria, vid., por todos, J. IMBERT, De Ia Sociologie au Droit: Ia «Fides» R
omaine em Mélanges H. Levy-Bruh! [Paris,1959] 307-415).
Aqui está, na fidepromissio, a origem remota e o significado da forma de cumprimen
tar, própria dos povos latinos, que se estendeu a outros povos civilizados.
240
241
DIREITO ROMANO
1.' PARTE-TiT. IV-CAP. 2.^-a)
§ 23
direitos, mas sem nenhum dos privilégios dos cidadãos romanos) ; - tanto a sponsio c
omo a f idepromissio serviam para garantir apenas as dívidas nascidas duma stipula
tio (portanto, só as obrigações verbais), visto pressuporem uma promissio;
3) fideiussio -figura de fiança adpromissória criada provavelmente nos fins do séc. I
a.C., talvez por influência de LABEO. Era, como a fidepromissio, um negócio do ius g
entium e por isso acessível aos cives e também aos peregrini. Podia garantir todas a
s espécies de obrigações, inclusive as obrigações naturais, e até obrigações futuras. Em rigo
não é uma promessa (promissio) mas uma ordem, uma autorização responsável ou aval (iussio)
, semelhante ao iussum que o pater dava para se responsabilizar totalmente pelas
obrigações contraídas pelos seus alieis iuris (filhos e escravos) -vid. infra 3.a PAR
TE, Tít. I. Com a palavra fide iubeo («eu avalizo lealmente»), o fiador tornava-se tam
bém devedor do conteúdo da dívida principal, isto é, devedor juntamente com o devedor in
icial.
Q) - Expromissio é uma garantia pessoal, em que um novo devedor, por uma nova stip
ulatio, promete «id quod Titius debet». Substitui o devedor inicial, por incompatibi
lidade entre as duas obrigações em virtude da identidade do objecto: não pode dar-se (
dari) duas vezes a mesma coisa. Produz-se, pois, uma novatio por mudança do devedo
r, ficando a existir apenas a segunda obrigação. Com a expromissio permanecem, porta
nto, não duas obrigações, como na adpromissio (por conseguinte, não é uma modalidade de in
tercessio cumulativa), mas uma só obrigação, por isso é uma intercessio privativa 299. 0
expromissor é
o novo e o único devedor.
302 Titius, Sempronius, Maevius, Seius, Caius, etc. são termos que designam pessoa
s livres, em vez de se empregar A., B., C., etc., como geralmente se faz hoje (A
. vendeu a B., este hipotecou a C., etc.); e esses nomes são usados pelos juristas
clássicos na exposição e resolução dos seus casos-práticos, «casos-hipotéticos», denominados
stiones (vid. infra § 33-b)-11).
Stichus, Pamphilus, Tatus, etc. são nomes, de origem grega, empregados nos mesmos
casos-práticos, para designar escravos. É que a fonte principal da escravidão era o ca
tiveiro de guerra. 0 prisioneiro, que não era morto, era transformado em escravo.
Ora, a partir das guerras nas províncias orientais, o número de escravos em Roma aum
entou extraordinàriamente; principiou a chamar-se-lhes pelos nomes que já tinham nas
suas terras; esses nomes eram Stichus, Pamphilius, etc.; daí esses termos começarem
a significar genèricamente «pessoas que não têm liberdade», escravos.
303 «Dare» é «dominum facere», produzir a «datio»-«lacere rem accipientis», tornar alguém pro
(dono) duma coisa. Cf. Sebastião CRUZ, Da «Solutio» 1, cit. 179-198.
tanto no momento da morte (como na hipótese da al. a)) como no momento da feitura
do testamento (GAIUS II 196).
2 - Legatum per damnationem
Legado damnatório. Também é designado «legado de obrigação».
Fórmula: «heres meus Titio Stichum DARE damnas esto» -GAlUS II 201. («0 meu herdeiro fic
a obrigado [condenado] a dar a Tício o escravo Stico»).
Neste legado, não se produzem efeitos reais; mas pessoais: o legatário tem uma actio
pessoal (a actio ex testamento) para exigir do herdeiro, caso ele não cumpra, que
lhe dê o que lhe foi legado. De início, o legatário possuía até uma manus iniectio contra
o heres não-cumpridor. Essa manos iniectio era consi
derada e tratada como directa, pois derivava da condemnatio proferida pelo de cu
ias no testamento. Por isso, para indicar
a obrigação do herdeiro para com o legatário, o testador usa a expressão «damnas esto» (seja
condenado).
0 objecto (Stichus), neste legado, tanto pode pertencer ao testador como ao herd
eiro como a um terceiro.
É pois sobre o herdeiro que recai a obrigação de «dare» o objecto legado. Nestas obrigações d
«dare», ao contrário das obrigações de «dari», além do resultado (datio), o devedor tem de p
icar, por si ou por outrem a seu mandado, o acto produtor da datio. E indispensáve
l a actividade do dons; no caso concreto, do herdeiro.
A questão da diferença entre obrigação de «dare> e obri
gação de «dari> não é tratada pelos autores; pela primeira vez,
foi Insinuada por nós em Da «Solutio> I 184261. Hoje, estamos
cada vez mais convencido dessa diferença. As formas «dare>
e «darti>, usadas em Direito Romano, não são um mero problema
de construção gramatical, pois há as mesmas expressões nitida
mente jurídicas que usam ora dare ou dart, e isto com tanta
frequência que também não se deve atribuir a mero equivoco dos
amanuenses para explicar o facto, como pretendem alguns AA.
Nas obrigações de «dari (apondes mihi Stichum dari) o que
se promete e o que se deve é o resultado (a datio), Independente
252
253
DIREITO ROMANO
1` PARTE -TIT. IV-CAP. 2.°-a)
§ 24
mente do acto ou negócio de dare (mancipatio, in fure cessio ou traditio) ser prat
icado pelo devedor ou por outrem, ou até andependentemente de ser produzida a dati
o por um acto ou por um simples eventus. No cumprimento das obrigações da dari, não se
atende ao comportamento do dans; prescinde-se dele. A obrigação é cumprida e, por iss
o, extingue-se, desde que se produza a datio e quer esta seja efectuada voluntária
ou involuntàrlamente por um terceiro quer por um simples eventos.
Nas obrigações de «dare>, além do resultado (datio), o devedor tem de praticar, por si o
u por outrem a seu mandado, o acto produtor da datio. Uma datio, produzida por u
m simples eventus, ou até por um terceiro sem conhecimento do obrigado, não libertar
ia o devedor; teria de dare então Igual valor ao do objecto da obrigação, já que não (se)
pode («dari>), duas vezes, a mesma coisa, pois «nec enim quod nostrum est nobis dari
potest, cum scilicet id dart intellegatur, quod ita datur, ut nostrum fiat; nec
res quae nostra iam est nostra amplius fieri potest> (GAIUS 1V 4). E necessária a
actividade do dans, para que fique cumprida uma obrigação de «dare damnas esto>.- [Na
3.' PARTE, tít. III destas Lições, examinaremos esta questão, relacionada com o problem
a do concursus causarum lucrativarum].
3-Legatum sinendi modo
É um legado de permissão.
Fórmula: «heres meus damnas esto sinere» -GAIUS 11209. («0 meu herdeiro fica obrigado [c
ondenado] a permitir [sinere=não reagir, ficar de braços cruzados] ao legatário apropr
iar-se da coisa legada).
0 objecto legado tem de pertencer ao testador ou ao herdeiro.
Se o herdeiro não cumprir, também aqui, como no legado per damnationem, nos mesmos t
ermos, existe: de início, uma manus iniectio; depois, uma actio pessoal (a actio e
x testaMento).
4 - Legatum per preeeeptionem
n um legado de preferência ou «pré-legado».
Fórmula: «Titius Stichum praecipito»-GAIUS II 216.
(«Tício tem preferência sobre o escravo Stico) ». Quer dizer, o
legatário podia adquirir (capere) algo da herança (no caso con
ereto, o escravo Stico), com preferência a qualquer co-herdeiro ou co-legatário (pre
-capere=praecipere).
0 objecto legado devia fazer parte da massa da herança.
Segundo os sabinianos, este legado só podia ser constituído a favor dum co-herdeiro;
segundo os proculeianos, a favor de qualquer pessoa.
Se o legatário é simultâneamente co-herdeiro, para fazer valer os seus direitos tem um
a actio de divisão da herança (actio familiae erciscundae). Se é um terceiro, aderindo
-se à opinião dos proculeianos, tem uma actio real (a vindicatio) sobre esses bens s
obre que tem preferência.
(já que em Direito Romano, como sabemos, não há ius sem actio), para defender o que re
cebeu, e a título de pagamento.
A iurisprudentia clássica não elaborou uma doutrina geral a respeito da obligatio na
turalis; limitou-se a reconhecer a existência de figuras particulares. Sobre o tem
a da obligatio naturalis a bibliografia é abundante. Notem-se como trabalhos valio
sos recentes: BURDESE, La Nozione Classica di «Naturalis Obligatio» (Turim,1955); LO
NGO, Ricerche sull' «Obligatio Naturalis» (Milão,1962) e CORNIOLEY, Naturalis Obligati
o. Essai sur /'origine et /'Evolution de Ia Notion en Droit Romain (Genebra, 196
4); vid. também Giovanni E. LONGO, Lenti Progressi in Tema di «obligatio naturalis», vár
ias notas críticas muito elucidativas, em Labeo 12(1966) 375-390.
316 Julgamos mais rigorosa a expressão «datio indebiti» que «solutio indebiti» e por conse
quência ser mais acertado dizer «dação indevida» (transferência da propriedade de coisa inde
vida) que «pagamento indevido» ou mesmo «pagamento do indevido». Cf. Sebastião CRUZ, Da «Sol
utio» I, cit. 354.
317 D.14,6,7,16-ULPIANVS (lib. 29 ad Edictum):
«Si (filiusfamilias) pater familias factus solverit partem debiti, cessabit sentes
consultum nec solutum repetere potest».
«Se (o filiusfamilias), tendo já passado a paterfamilias, pagar (mesmo que seja só) um
a parte do débito, cessará o senatusconsulto e não pode repetir (re petere, pedir para
retro, pedir para devolver, reclamar) o que pagou». Sobre o segnificado jurídico de
repetir vid. supra 11.
Solutio -pagamento, cumprimento exacto duma obrigação de «dare certum», sobretudo «pecunia».
Cf. Sebastião CRUZ, Da «Solutio» I, cit. (passim).
D. 14,6,9,5 - ULPIANUS (lib. 29 ad Edictum):
«Quamquam autem solvendo (sive filiusf. sive qui intercesserunt) non repetant».
«Porém, desde que paguem (quer o filiusfamilias quer os intercedentes), não reclamem (
não podem reclamar)».
262
263
DIREITO ROMANO
1` PARTE - TIT. IV - CAP. 2°-a)
§ 25
familias quer fosse já um paterfamilias, o pretor podia, logo de início, solucionar
radicalmente a questão, não reconhecendo a legitimidade da existência duma actio a fav
or desse credor, e por isso não lha concedia, (denegatio actionis), «ne cui... actio
... daretur» (D. 14,6,1pr.). Em geral, não procedia desta forma, pois era muito conv
eniente averiguar-e isso efectuava-se sómente na fase do processo apud iudicem -se
esse empréstimo de dinheiro poderia, no caso concreto, ser exigível (várias hipóteses q
ue vamos examinar, a seguir, na al. e)).
Então, normalmente, o pretor concedia ou reconhecia a actio ao credor; mas na fórmul
a (vid. infra 334), colocava uma cláusula a favor do demandado (exceptio), que inu
tilizava a pretensão do demandante - exceptio senatusconsulti Mac°doniani, «ne cui...
petitio daretur» (D. 14,6,1pr.). Era como se dissesse: o credor tem direito; mas,
em virtude da proibição estabelecida pelo senac. Macedonianum, não o pode exigir. Port
anto, grosso modo, a protecção concedida pelo senac. Maced. aos ff. concretizava-se
numa exceptio a favor deles
Característica da «excep. senac. Mac.»-A exceptio senatusconsulti Macedoniani era perpét
ua; podia opor-se à pretensão do credor-demandante, não só em qualquer momento do proces
so, mas até na própria altura da execução, isto é, já depois da condenação.
d) A quem era concedida a «exceptio senatusconsulti Macedoniani»
1) -A todo o filiusfamilias (ff.), nada interessando que ele ocupasse até um alto
cargo (D. 14,6,1,3 818), e mesmo
318 D.14,6,1,3 - ULPIANUS (lib. 29 ad Edictum):
«In filio familias nihil dignitas facit, quo minus senatus consultum Macedonianum
locum habeat: nam etiamsi consul sit vel cuiusvis dignitatis, senatus consulto l
ocus est».
«A dignidade (o cargo) no filiusfamilias não releva nada, para que o senatusconsulto
Macedonianum não tenha aplicação com efeito, embora ele seja cônsul ou tenha qualquer o
utra dignidade, há lugar para (tem aplicação) o senatusconsulto».
Convém lembrar que uma pessoa era filiusfamilias, não em virtude da idade, mas em vi
rtude de ter o seu pater (chefe) vivo e não estar emancipado. Um velho de 100
que tivesse bens próprios, e ainda mesmo depois de ser já sui iuris (D. 14,6,1pr., t
exto já nosso conhecido).
Foi feita uma extensão deste senac., talvez no séc. III, às filiaefamilias, se pedisse
m dinheiro emprestado para comprar «ornamenta» (objectos de adorno para mulheres, v.
g. certos perfumes, certos unguentos, determinadas jóias, vestidos de
luxo) - D. 14,6,9,2 3,11.
2) -Ao pater, excepto nos casos indicados nos n.°° 4 e 5 da al.e).
3) - Aos herdeiros do ff.
4) - Ao garante da dívida em dinheiro, contraída
pelo ff.
e) Casos em que era negada a «exceptio senatusconsulti Macedonianb»
1) - Se o ff. maliciosamente se fez passar por sui iuris. 2) - Se quem emprestou
o dinheiro tinha motivos plausíveis para julgar o ff. um sui iuris 320.
anos podia ser um filiusfamilias, se o seu pater ainda era vivo; uma criança de po
ucas horas podia ser um paterfamilias, se o seu pater tivesse falecido antes. -
Vid. infra 3 $ PARTE Tít. I.
319 D.14,6,9,2 - ULPIANUS (lib. 29 ad Edictum):
«Hoc senatus consultum et ad filias quoque familiarum pertinet nec ad rem pertinet
, si adfirmetur ornamenta ex ea pecunia comparasse».
«Este senatusconsulto estende-se (aplica-se) ainda também às filhas de família, no que t
oca a empréstimo de pecunia, se se demonstra que elas compraram objectos de adorno
com esse dinheiro».
Sobre a noção de «ornamenta» vid. D.34,2; -34,2,25,10; -34,2,26.
320 Embora haja textos para justificar todos os vários casos em que era negada a e
xc. sen. Maced., para não sobrecarregar, indiquemos só um ou outro dos mais expressi
vos. A respeito deste n° 2), vejamos D.14,6,3pr. - ULPIANUS, (lib. 29 ad Edictum):
«Si quis patrem familias esse credidit non vana simplicitate deceptus nec iuris ig
norantia, sed guia publice pacer familias plerisque videbatur, sic agebat, sic c
ontrahebat, sic muneribus fungebatur, cessabit senatus consultum».
«Se alguém (emprestou dinheiro a um filiusfamilias e) julgou que (ele) era um paterf
amilias, e esse equívoco foi originado, não por uma ingenuidade (leviandade) nem por
ignorância do direito, mas porque ele (o filiusfamilias) se apresentava em público
frequentemente como paterfamilias, assim (como paterfamilias) procedia, assim ag
ia em tribunal (quer como demandante quer como demandado), assim contratava, ass
im desempenhava os cargos (próprios dum paterfamílias), então não será de aplicar o senatu
sconsulto».
l
264
265
DIREITO ROMANO
1., PARTE - TIT. IV - CAP. 2.°-a)
§ 24
3) - Se o ff., uma vez sui iuris, reconhece, então espontâneamente, o débito, embora d
uma forma tácita. A obligatio passa automàticamente de naturalis a civilis (= então pa
ssava a existir uma actio para poder exigir o seu cumprimento).
4) -Se o pater consente (dá uma auctoritas), embora tàcitamente, ou ratifica (ratiha
bitio) e também mesmo só duma forma tácita.
5) - Se o dinheiro foi para proveito do pater ou para pagar um débito do pater.
6) -Se o empréstimo da pecunia se destinou -e, de facto, o dinheiro foi para final
idades ou para pagar dívidas, e nem umas nem outras estão abrangidas pelo senac. Mac
edonianum 321. Quer dizer, tratando-se de f ilius f amilias, não se contraiu o emp
réstimo e nem o dinheiro foi para a prática de actos de imoralidade ou para pagar dívi
das provenientes da prática desses actos; tratando-se de filia f amilias, não se con
traiu o empréstimo e nem o dinheiro foi para comprar «ornamenta» ou para pagar dívidas o
riginadas pela compra de «ornamenta».
f) Fraude ao senac. «Macedonianum»; consequência
A fraude, em rigor, é um prejuízo doloso (vid. infra 317-11). Aplicando este conceit
o à fraude a uma norma jurídica - (lei, senatusconsulto, constituição imperial, e dicto
do pretor, etc.), podemos dizer que a fraude ao senac. Macedonianum consiste
em atingir a mesma finalidade proibida pelo senac., através dum meio não expressamen
te proibido pelo senac.
321 Há um exemplo elucidativo, curioso e, para estudantes, «bem compreensível», apresent
ado em
D.14,6,7,13-ULPIANUS (lib. 29 ad Edictum):
«...qui studiorum causa absens mutuam acceperat, cessare senatus consultum, ita lo
cum habet, si probabilem modum in mutua non ezcessit, certe eam pecuniam, quam p
ater solebat subministrare».
«Se um estudante, ausente (da casa da família), tiver contraído um empréstimo (de pecuni
a, porque v.g. o pater se esqueceu de enviar a mensalidade), não se aplica o senat
usconsulto (Macedonianum), se ele, ao contrair (esse empréstimo) plausivelmente não
excedeu (não pediu emprestado mais do que) aquela quantia que o pater, de certeza,
costumava mandar-lhe».
Consequência: nesses casos, o senac. Macedonianum continua a aplicar-se. E bem cla
ro um texto de ULPIANUS, D. 14,6,7,3 (2 parte), que vamos transcrever já a seguir.
A fraude pode verificar-se principalmente em duas hipóteses.
1.a - Nos casos de normal não-aplicação - 0 senac. proíbe aos ff. o empréstimo de dinheiro
(«pecunia», «aes») ; pois, desde que não se demonstre o contrário, pressupõe-se sempre que e
se empréstimo é para fins imorais ou, pelo menos, dá ocasião para isso. Então o ff. contra
i um empréstimo de géneros, para, depois, os vender e obter pecunia (e o credor natu
ralmente sabe que o empréstimo de géneros é para ele conseguir dinheiro). 0 senac. apl
ica-se. Há um texto a prever exactamente esta hipótese.
ULPIANUS (lib. 29 ad Edictum), D. 14,6,7,3 (2.a Parte)
«Si fraus sit senatus consulto adhibita, puta frumento vel vino vel oleo mutuo dat
o, ut his distractis fructibus uteretur pecunia subveniendum est filio famílias» 822
.
2a Hipótese - Nos casos de excepção ao senac. «Macedonianum», enumerados supra al. e), 265
e 266). Se tiver sido praticada uma fraude, deixa de haver excepção ao senac. para
então ele se aplicar, nos termos' normais.
322, «Se foi usada uma fraude ao senatusconsulto, imagine-se (portanto a enumeração ap
resentada neste frag. é exemplificativa e não taxativa) um empréstimo de trigo ou de v
inho ou de azeite, 'para depois alienar esses géneros e utilizar (em fins ilícitos)
o dinheiro obtido com essa alienação, deve-se ir em socorro do ftliusfamilias (isto é,
deve . aplicar-se o senac. Macedonianum).
266
267
DIREITO ROMANO
It PARTE -TIT. IV - CAP. 2.°-,8)
§ 26
Capítulo 2.0 -B) - LEGES sensu lato (conel.)
p) -. CONSTITUTIONES PRINCIPUM (D. 1,4,1,1)
SUMÁRIO - 26. a) As constituições imperiais durante o principado e
parte do dominado (sécs. I-IV)
I - Definição de GAIUS I 5., Evolução do valor das constituições imperiais. Partes duma «cons
itutio»: inscriptio, corpus, subscriptio
11-Como adquiriram carácter normativo-jurídico. Justificação
111 -Vários tipos de constituições deste período (sécs. I-1V)
1 - Edicta 2 - Decreta
3 - Rescripta: epislolae; subscriptions 4 - Mandata
b) No Baixo-Império (sécs. IV-VI)
I - Contraposição de leges ( = constituições imperiais) ou ius novum a ius (ou ius vetus
). Significado, alcance
11-Vários tipos de constituições deste período (sécs. IV-VI)
1 - Edicta ( = leges generates) 2 - Rescripta ( = leges spciales) 3 - Adnotation
es
4 - Decreta [Os «mandata» praticamente desapa
recem]
5 - Pragmaticae sanctiones
Ill - Aplicação das constituições no espaço
26. Vamos continuar a análise do texto de PAPINIANUS (D. 1,1,7pr.), que está a servi
r-nos de orientação para o exame das várias fontes do lus Civile: «lus eutem eivile est
quod ex... decretis principum... venit» 323.
323 Vid. supra 165 e n. 167 a citação completa.
A expressão «decreta principum», usada neste frag. de PArINIANUS, está num sentido amplo
, significando decisões («decretum»<«decernere»=decidir; «decreta»=«decisiones») do imperador
sentido rigoroso, «decreta principum» são, como veremos já a seguir, um dos vários tipos
de decisões imperiais. Para evitar esta dupla acepção de decreta principum que origina
va certamente confusões, em época um pouco tardia (aí pelo séc. II d.C., quando as const
ituições eram já um verdadeiro «constituit» com força de norma jurídica), surgiu a expressão
titutiones principum para substituir «decreta principum» (no sentido amplo), ficando
desde então a palavra «decreta» a significar apenas uma das várias espécies de constituições
a) As constituições imperiais durante o principado e parte do dominado (sécs. I-IV)
I-«lurisprudentia» e Filosofia
Quanto à filosofia de que se serve a iurisprudentia romana, notemos que é a filosofi
a pragmática e moral e não a especulativa. 0 estoicismo penetra e difunde-se em Roma
muito mais que as doutrinas de Aristóteles.
Observemos ainda que o iurisprudens, ao utilizar a filosofia, o faz como jurista
e não como filósofo. 0 jurista nunca se confunde com o filósofo. - E assim, quando ao
iurisprudentia utiliza conceitos e categorias que foi buscar à filosofia, emprega-
os com conteúdo e finalidade jurídicos. É que a valoração filosófica é distinta da valoraçãs
a,,.e- s iurisprudentes não o esquecem de acentuar bem. Por exemplo, os juristas f
alam com frequência de natura e de ratio, e sobre tais conceitos fundamentam muita
s vezes as suas decisões (responsa). Pois bem; a noção jurídica de «natureza» não tem o alcan
e filosófico (essência abstracta ou essência operativa), mas significa a realidade e n
ormalidade das coisas, o que está na base das institui
trós, foram publicados, entre outros, os seguintes trabalhos de conjunto: Der Weg
von der Bibel zur Welt (Zurique, 1958); Kirche und Recht (Gotinga,1960); Die Tre
yse Konferenz 1960 über das Thema «Gerechtigkeit in biblischer Sicht» (Genebra,1960).
Trabalhos particulares, são dignos de referência especial: H. H. WALz-H. H. SCHREY G
erechtigkeit in evangelischer Sicht. Eine dkumenische Studie zur Rechtstheologie
(Francfort,1955), Ernst WoLF, Trinitarische oder christologische Begründung des R
echts? em Recht und institution 9.33, publicação orientada por H. DoMBOIS (Witten-Ru
hr, 1956), 1. PONDS, La Théologie Chrétiènne et le Droit (Paris, 1960), Erik WoLu, Zur
Rechtstheologischen Dialekrik Von Recht und Liebe em St. Bett1 I (Milão, 1962) 47
9-500, Jacques ELLUL, Réalité Sociale e Théologie du Droit em Festsehrift Erik Wolf (F
rankfurt a Main, 1962) 36-61, Bruno SCHULER, Die Herrschaft Christi und das welt
liche. Recht .(Berlim..1963), F. Puy, Teología dei Derecho em Anales de Ia Cát. de F
ranc. Suórez 4.(1964)4 49; recentemente, Dario COMPOSTA, Prospettive per una -Teol
ogia dei Diritto em Salesianum 29 (1967) 28-69, 30 (1968) 302-329 e 32 (1970) 23
9 ss. Vid. também Apollinaris 44 (1971) 201-229.
Destes vários trabalhos conclui-se que a Ciência do Direito deve estar hieràrquicament
e dependente duma Filosofia do Direito, mas sobretudo duma Teologia do Direito.
Ora isto mesmo viram e defenderam os juristas romanos, ao ensinar: «iurisprudentia
est divinarum atque humanaram rerum noticia, iusti atque iniusti scientia» (D.1,1
,10,2).
287
DIREITO ROMANO
1.' PARTE - TIT. IV - CAP. 3.°
§ 27
ções jurídicas. E o conceito jurídico de ratio está igualmente desprovido de conteúdo filosóf
co, pois, não sendo o fundamento último do Direito, não tem portanto valor universal;
mas simplesmente a ratio é invocada, quando se julga oportuno e para determinados
fins. Por vezes, ratio é o próprio direito objectivo (no sentido indicado supra 17)
; outras vezes, tem o signi' ficado de norma justa, contrapondo-se a «lei injusta»,
e até o de Justiça (vid. nossa monografia Ius. Derectum 54113).
Relacionado com o problema de «filosofia e iurisprudentia» está o de
11-«iurisprudentia» e Lógica
A lógica está na base da Ciência do Direito como na de qualquer outra ciência; porém, a iu
risprudentia não é uma ciência de pura lógica, mas de justiça. Por isso, os juristas têm a «s
a lógica», no sentido de que os seus argumentos estão sempre orientados e informados p
or considerações de justiça; e, com este alcance, a «sua lógica» é inexorável; não se presta
ertezas. - Os princípios e as regras de Direito Romano nunca se aplicam mecânicament
e, com uma lógica pura, inflexível, pois os jurisprudentes compreendiam bem que isso
podia conduzir, por vezes, a um resultado aberrante e inoportuno. Já na época de Cíce
ro, o adágio «summum ius summta iniuria» constituía um provérbio bem firme.
Os juristas romanos são verdadeiros artífices em deduzir consequências das premissas.
Não tiram todas as consequências que em pura lógica silogística podiam deduzir-se, mas só
aquelas que eles julgam oportunas, justas.
Enfim, os jurisprudentes são práticos, adaptando-se às exigências mutáveis e complexas da
vida. Não se deixam dominar pela lógica abstracta. Além disso, quando se servem dela,
colocam-na ao serviço da acção e da vida - do facto humano -, que, devido à sua densidad
e, forte e pluridimensional, é algo
mais rico e mais complexo do que tudo quanto possa captar-se numa rede de silogi
smos 361
Conclusão - Nem tudo o que é lógico é jurídico, e nem tudo o que é jurídico é sempre «rigoros
e» lógico, isto é, silogisticamente lógico, matemàticamente lógico. 0 Direito (como ciência j
rídica), servindo-se da lógica, informada de princípios de justiça, faz do jurista um sa
cerdote da lustitia, sempre deveras preocupado com «alterum non laedere» e «suam cuiqu
e tribuere»; utilizando a logística, fará do jurisconsulto um «robot jurídico», um «cérebro e
trónico» jurídico(?), onde tudo estará matemàticamente certo, silogìsticamente perfeito, mas
, quantas vezes, humanamente... inumano - o homem será considerado sempre como pur
a res e não como persona.
c) Evolução histórica da «iurisprudentia»
I -Desde o início até ao séc. IV a.C. só os pontífices é que podiam ser «prudentes». Razões
Como a ciência do Direito é «iuris-prudentia», os cultores desta ciência chamavam-se prude
ntes («os que sabem agir») e iurisprudentes. E como a iurisprudentia não tinha carácter
lucrativo, mais do que doutrinários, os juristas romanos eram verdadeiros sacerdot
es da Justiça.
Por este carácter «sacerdotal» (sacrificado, desinteressado) do jurista e ainda porque
, no início, Religião, Moral e
351 Esta concepção clássica dos juristas romanos a respeito de «Lógica e Direito» é novamente
repensada em nossos dias, e encontra adesões na actualidade, não só entre romanistas,
como entre os novos juristas de mentalidade aberta e de horizon
tes bem rasgados. Vejam-se, por todos, Valentia-AI. GEORGESCU, L'Opposition entr
e «lus» et «Factum» en Droit Romann et en Droit Moderne em Scritti in Onore di Contardo
Ferrini III (Milão,1948) 144-165, Mario LAURIA, Jus. Visione Romane e Moderne2 (Nápo
les,1962), e, como estudo de conjunto e recente, o valioso trabalho de António CAS
TANHEIRA NEVES, Questão-de-Facto-Questão-de-Direito ou o Problema Metodológico da Juri
dicidade (Ensaio de uma Reposição Crítica). I A Crise (Coimbra,1967) passim, máxime 422-
486.
288
289
I
DIREITO ROMANO
Direito constituíam em todo único - (sobre o carácter religioso e até divino do primitiv
o ius, vida supra 15) -, por estas duas razões, desde o princípio até ao séc. IV a.C., úni
camente os sacerdotes pontífices eram juristas. Disto dão-nos testemunho,
v.g. TITUS Livros e POMPONIUS 352.
Como acabamos de ver, a princípio a iurisprudentia constituía um privilégio dos sacerd
otes-pontífices. Estes eram escolhidos só entre patrícios. Na interpretatio do ius - c
onservado, nesses tempos, ainda valde religiosum, como algo de misterioso, de :o
culto-, os plebeus eram tratados desfavoràvelmente. Reagiram. Das várias reacções surgiu
, como já sabemos 1,1', a Lei das XII Tábuas.
o 1.0 factor da laicização.
2.° factor é o chamado ius Flavianum. - Segundo a tradição, Cneu Flávio, liberto, escriba
do nobre e pontífice Ãpio Cláudio, aproveitando-se da cegueira do seu patrono, publico
u uma colectânea de fórmulas legais processuais (das legis actiones), que ficou conh
ecida por ius Flavianum. É a primeira grande revelação das normas jurídicas misteriosas.
3.° factor é o ensino público do direito, em meados do séc. III a.C. por Tibério Coruncâneo
- o primeiro plebeu que teve acesso ao cargo de pontifex maximus.
352 Trrus Livius, Historia 9,46,5: «ius civile repositum in penetralibus Pontificu
m fuit».-(«Todo o ius civile esteve no segredo dos Pontífices»).
POMPONIUS-(lib. singulari Enchiridü), D.1,2,2,6:
«Interpretandi scientia et actiones apud collegium pontificum erant».-(«A ciência do int
erpretar [a iurisprudentia] e as actiones [o seu conhecimento] eram exclusivo [m
onopólio) do colégio pontifício»).
353 Vid. supra 178-180.
1., PARTE-TIT. Iv-CAP. 3.° § 27
Verifica-se então a completa laicização da iurisprudentia. Não é mais um privilégio dos sace
rdotes-pontífices.
No entanto, fica reservada aos nobres ou a certas classes consideradas superiore
s.
III - A partir do império, universalidade da «iurisprudentia»
Augustooresolveu admitir para cargos importantes jurisconconsultos, mesmo pessoa
s da classe média. - É a última consequência da laicização da iurisprudentia.
Mas como o jurista tem de possuir além do saber jurídico também autoridade social (vid
. supra 56) e como, agora, os iurisprudentes não têm autoridade social de carácter ari
stocrático, Augusto concede, pelo menos aos melhores, autoridade de carácter político
- ius respondendi ex auctoritate principia (vid. infra al. e) -II.
Adriano, depois, avançou mais um pouco. Concede aos jurisconsultos autoridade soci
al de carácter burocrático. É o triunfo do funcionalismo sobre a aristocracia. E a uni
versalidade da iurisprudentia.
d) Funções dos «iurisprudentes»: cavere, agere, respondere
A actividade da nova iurisprudentia é tríplice.
Cavere, isto é, aconselhar os particulares como deviam realizar os seus negócios juríd
icos: palavras sacramentais a pronunciar, cláusulas a atender e, por vezes, docume
ntos escritos a redigir.
Agere era a função de assistir às partes no processo: qual a fórmula a empregar, que pal
avras a usar, quais os prazos para apresentar provas, etc.
II - A partir do séc. IV a.C., verifica-se a laicização da «iurisprudentia» (factores), fi
cando a cargo de nobres
290
291
DIREITO ROMANO
1. PARTE - TIT. IV - CAP. 3.»
§ 27
Respondere consistia em dar sentenças ou pareceres (responsa) a particulares ou a
magistrados sobre questões jurídicas. Era a função mais importante dos jurisprudentes, já
que nos responsa se concretizava, como vimos, a Ciência do Direito. Essas sentenças
levaram, por vezes, séculos de elaboração, trabalhando nelas muitos juristas cujos nom
es se perderam.
0 verdadeiro e primitivo lus Romanum é o ius civile; mas o ius praetorium ou honor
arium também é lus Romanum. São, pois, dois grandes sistemas dentro do mesmo Direito,
o lus
Romanum 363,
c) Fases da actividade do pretor
Fixemos agora, e sempre daqui em diante, a atenção só no
361 Também é importante, v.g. o ius honorarium criado pelo pretor peregrino, que é o i
us gentium. Dele falaremos no Tít. II da 2.a PARTE; aí, analisaremos dum modo especi
al o problema da relação entre o ius civile e ius gentium.
362 0 ius civile só pode ser alterado por uma das suas várias fontes, já nossas conhec
idas (D. 1,1,7 pr.): ou por uma lex (rogata, data [?] ou dicta), ou por um senat
usconsultum ou por uma constitutio principis ou pela iurisprudentia.
363 No Tít. II da 2.a PARTE, examinaremos pormenorizadamente a relação entre ius civil
e e ius honorarium.
Ainda hoje no direito inglês, há uma distinção entre common law e equity, muito semelhan
te a ius civile e ius honorarium do lus Romanum. Sobre este problema vid. Raul V
ENTURA, Manual de Direito Romano, cit. 195-202.
298
299
DIREITO ROMANO 1. PARTE -TIT. V § 28
ius praetorium «stricto sensu», isto é, no ins honorarium criado pelo pretor urbano.
A sua actividade comporta três fases.
1.- Fase (séc. IV - meados séc. III a.C.) - Nesta fase, a função do pretor era administr
ar a justiça, fundada. no., ius cavile; ele era a vox viva iuris civilis. A sua ac
tividade é essencialmente interpretativa. Toda a inovação que pretendesse fazer no ius
cavile tinha de ser elaborada sob o pretexto de o estar a interpretar. Era pois
uma actividade muito discreta, tanto mais que o trabalho interpretativo estava
vigiado e fiscalizado pelo collegium pontificam cioso de manter (ainda nesta época
), quase em exclusivo, a interpretatio.
2.8 Fase (desde fins do séc. III a.C. [ f ] a 130 a.C.) - 0 pretor, baseando-se no
seu imperium-poder de soberania, a
que os cidadãos não podiam opor-se -, usa expedientes próprios para criar direito (ias
praetorium), mas duma forma indirecta:
se uma situação social merecia protecção jurídica e não a tinha do ius civile, o pretor colo
cava-a sob a alçada do «ius civile»; se,
pelo contrário, determinada situação social estava protegida pelo ius civile e não merec
ia essa protecção, retirava-a da alçada
do «ius civile». Como se vê, o pretor não derrogava o ius civile; simplesmente, conforme
era justo ou não, (ele) conseguia que o ias civile se aplicasse ou não.
3.a Fase (a partir de 130 a.C.?) - A partir da lex Aebutia de formulas, do ano 1
30? a.C., o pretor, baseado na sua iurisdictio - poder específico de administrar a
justiça dum modo normal -, mediante expedientes adequados, cria também direito (ias
praetorium) e agora duma forma directa, embora por via processual. E assim, em
vários casos não previstos pelo ias cavile, o pretor concede uma actio própria, por is
so denominada actio
300
praetoria. E como em Direito Romano ter actio é ter ius (vid. infra 2.° PARTE, Tít. V)
, o pretor concedendo actio, cria directamente ius.
Analisemos agora e separadamente esses vários expedientes do pretor: A) - os basea
dos no seu imperium; B) - os baseados na sua iurisdictio.
301
DIREITO ROMANO
1.' PARTE - TIT. V - CAP. 1.°
§ 29
Capítulo 1.0 -A) EXPEDIENTES DO PRETOR BASEADOS NO SEU «IMPERIUM»
SUMARIO-29. Enumeração. Análise
a) Stipulationes praetoriae
1-Noção de stipulatio (D.45,l,á,1;-45,1,137pr.)
11-Características da stipulatio em geral
III- Particularidade das stipulationes praetoriae: geralmente, não eram nudae repr
omissiones mas satisdationes
b) Restitutiones in integrunt
1-Conceito
II-Espécies (D.4,1,1;-4,1,2) c) Missiones in possessionem
I - Conceito. Espécies
11-Modalidades quanto à finalidade d) Interdicta
I- Conceito
II-Espécies (exibitórios, restitutórios, proibitórios)
III-Entre as várias aplicações dos interdicta estão os
relativos à posse-«interditos possessórios»;
uti possidetis
-utrubi
de preeario
2-recuperandae possessionis 1 -unde vi
-vi armata
29. Os expedientes do pretor baseados no seu imperium, para bem interpretar, int
egrar e corrigir o ius civile, eram os seguintes: as stipulationes praetoriae; a
s restitutiones in integrum; as missiones in possessionem, e os interdicta.
Examinemos, em particular, cada um desses expedientes.
a) Stipulationes praetoriae (D. 46,5)
A «stipulatio praetoria» é uma stipulatio como outra qualquer, que tem de específico o f
acto de ser imposta pelo pretor
302
(daí o designar-se praetoria) a fim de proteger uma situação social não prevista pelo iu
s civile e que merecia protecção.
Interessa, portanto, antes de mais, conhecer a noção e as características da stipulati
o em geral.
1-Noção de «stipulatio» (D. 45,1,5,1;-45,1,137pr.)
A stipulatio é um negócio jurídico tipicamente obrigacio
nal 36'
Há negócios jurídicos destinados essencialmente para transferir a propriedade (v.g. a
mancipatio) ; a stipulatio é o negócio jurídico destinado essencialmente para criar ob
rigações.
A stipulatio, no dizer de M. GARCÍA GARRIDO, «es una de Ias más geniales creaciones, q
uizd Ia obra maestra del espíritu jurídico romano. A través del esquema ágil y simple de
Ia stipulatio pasa toda Ia vida romana en sus relaciones familiares, negoeiales
y procesales». E citando SCHUIa: «es una prueba de Ia predilecciónn que siente el rom
ano por todo lo preciso, breve y sen
cillo» sós.
Consiste estruturalmente numa pergunta - spondes mihi dare centum-, feita pelo c
redor (o stipulator), e numa resposta -spomleo-, dada pelo devedor (o promissor)
. Esta pergunta e esta resposta unem-se de tal maneira que não formam uma pergunta
-resposta, mas «geram» algo totalmente novo»: a obligatio. Por isso, os romanos chamav
am à stipulatio «conceptio verborum».
POMPONIUS- (lib. 26 ad Edictum), D. 45,1,5,1:
«stipulatio autem est verborum conceptio, quibus is qui
364 A origem da stipulatio é bastante discutida. Tudo o que se tem escrito a a res
peito do seu nome, da sua evolução e da sua forma, pouco mais são que meras hipóteses; a
inda não puderam concretizar-se em teses definitivas. (Cf. Sebatião CRUZ, Da «Salutio» I
, cit. 218).
Como estudo de síntese e recente, veja-se A. GARCIA GARRIDO, Sponsio y Stipulatio
em Boletin de Ia Universidad Compostelana 73-74(1965-1966) 169-184; aí se indica a
bibliografia fundamental.
365 0. c. na n. anterior, 169.
303
I - retinendae possessions
12
DIREITO ROMANO
1.' PARTE - TIT. V - CAP. 1.°
§ 29
interrogatur daturum facturumve se quod interrogatus est responderit». 6
BIONDI, comentando este frag. de POMPONIUS, diz: a «stipulatio» é uma verdadeira geração;
na geração, que dá lugar à procriação, há o encontro do elemento masculino com o feminino que
determina o aparecimento dum ser totalmente novo e que não é a soma dos dois element
os que se encontraram; assim também na «stipulatio» há o encontro da interrogação com a resp
osta e esse encontro determina o aparecimento duma entidade completamente nova,
a 'obligatio'» 337.
Esta construção jurídica materialistica, que os romanos elaboraram a respeito da stipu
latio, assemelhando-a em tudo a uma geração, explica fàcilmente várias coisas, à primeira
vista quase inexplicáveis.
Por exemplo, que a stipulatio deve ser um acto-contínuo,
formando uma unidade (D. 45,1,137pr. 3,111), quando não, um ele
mento demorando à espera do outro perde a sua potencialidade; e assim, se o promis
sor responde à pergunta do stipulator só daí a dois ou três dias, não há stipulatio. Por iss
o, a stipulatio para ser contínua devia realizar-se inter praesentes e não entre aus
entes (D. 45,1,1pr.).
Ainda outro exemplo: a stipulatio, realizada sob coacção, para o ius civile, era válid
a; é que o efeito (a «procriação»= = obligatio) opera-se naturalmente, por força dos dois el
ementos da «natureza» (pergunta/ resposta= feminino/masculino) e não por força da vontad
e, livre ou coagida.
366 «A stipulatio é uma geração (concepção) de palavras, com as quais aquele que é interrogad
responde àquilo, sobre que foi interrogado, que há-de dar ou há-de
fazer».
367 BIONDI, Contralto e Stipulatio (Milão,1953) 294.
368 D.45,1,137pr.-(VENULEIUS, lib. prim. Stipulationum):
«Continuus actos stipulantis et promittentis esse debet».-(«0 acto do estipulante
[o stipulador] e do promitente [o promissor] deve ser contínuo»).
Efeitos da «stipulatio»-Da stipulatio nascia uma obligatio para o devedor (promissor
) e uma actio para o credor (stipu
lator), a fim de obrigar o promissor a cumprir, caso o não fizesse voluntàriamente.
Esse actio pode denominar-se «grosso
modo» actio ex stipulatu 369
II- Características da «stipulatio» em geral
A stipulatio é um negócio jurídico - solene, formal, verbal-oral e abstracto.
Solene-Era feito com a invocação e a presença espiritual dos deuses, tanto dos admitid
os pelo stipulator como dos admitidos pelo promissor. Além disso, empregava a pala
vra spondeo, que, segundo a melhor opinião, usava-se primitivamente
só nas promessas feitas perante os deuses 3711.
Formal - Este negócio tinha uma forma jurídica, pois v.g. devia ser realizado entre
presentes, mas sobretudo porque devia ser usada uma fórmula própria, «sacramental» 371-
spondes mihi dare certum? Spondeo. Bastava alterar a ordem destas palavras ou su
bstituir uma palavra pelo seu significado (v.g. em vez de spondeo, dizer promitt
o) para o negócio ficar nulo; pelo menos de início, era assim.
Verbal-oral - Deviam empregar-se palavras, não escritas, mas orais. E o tipo dos n
egócios verbais - verbis contrahere.
J69 Em rigor, a stipulatio certi originava uma condictio (vid. em 2.8 PARTE, Tít.
VI destas Lições, que espécie de acho era esta); a stiputatio incerti, uma actio ex st
ipulatu. Porém, esta última designação é discutível. Cf. A. D'ORS, numa nota crítica em SDH12
(1960) 323-325.
370 Daí que esponsais eram promessas solenes de casamento, feitas perante o altar
da divindade: de início. a promessa solene do paterfamilias de dar a filha em matr
imónio; depois, promessa mútua, de homem e mulher, de celebrar casamento.
Parece que a stipulatio deriva da primitiva sponsio. Simplesmente, de início a spo
nsio é um acto do ius civile e a stipulatio seria um negócio do ius gentium. (Vid. G
ARCIA GARRIDO, o. C. 174-178; Labeo 9[1963] 96-119). Mais tarde, sponsio e stipu
latio. acabaram por se confundir, pelo menos na linguagem vulgar.
Embora a stipulatio, originàriamente, tenha sido um negócio do ius gentium, cedo pri
ncipiou a considerar-se um instituto do ius civile.
371 Vid. supra 305 e 306 o que é forma e fórmula em Direito.
304
305
DIREITO ROMANO
1.1- PARTE - TIT. V - CAP. 1.°
§ 29
A este respeito, é muito expressivo um famoso texto de
ULPIANUS- (lib. 4e8 ad Edictum), D. 45,1,1pr.:
«Stipulatio non potest confiei nisi utroque loquente: et ideo neque mutus neque su
rdus neque inf ans stipulationem contrahere possunt; nec absens quidem, quoniam
exaudire invicem debent. Si quis igitur ex his vult stipulari, per servum praese
ntem stipuletur, et adquiret ei ex stipulatu actionem; item si quis obligari vel
it, iubeat et erit quod
iussu obligatus».
«Não pode efectuar-se uma «stipulatio», a não ser que ambos («stipulator» e «promissor») fale
por isso, nem o mudo (porque não fala) nem o surdo (porque não ouve) nem a criança (me
nor de 7 anos, porque não compreende, não entende o sentido das palavras, é como se ne
m falasse nem ouvisse) podem realizar uma «stipulatio»; nem sequer o ausente, pois d
evem ouvir-se mutuamente («stipulator» e «promissor»). Se, porém, algum destes (isto é, dos
ausentes) pretende ser credor («stipulator»), que o faça através dum seu escravo present
e (no acto da «stipulatio») e adquirirá directamente para ele (portanto verificando-se
uma representação directa) uma «actio ex stipulatu»; igualmente, se algum (destes, dos
ausentes) pretende ser devedor (obrigar-se, ser «promissor»), que dê uma ordem (nesse
sentido, e também á um escravo seu, presente no acto da «stipulatio») e ficará obrigado «quo
d iussu» (em virtude dessa ordem, que é uma autorização responsável, um aval, o iussum).
Como consequência natural de ser a stipulatio um negócio verbal-oral e de constituir
uma unitas actus (D. 45,1,137pr.), o acto devia ser celebrado inter praesentes,
i. é., com a presença simultânea das partes. Além do texto do ULPIANUS (D. 45,1,1pr.),
há, entre outros, o de GAIUS 111 136 - «Verborum obligatio inter
absentes fieri non possit».
Abstracto - É um negócio jurídico, em que se prescinde da sua causa jurídica.
391 Sobre este tema, vid. como literatura mais recente, M. HORWAT, Osservazioni
sulla «bona fides» nel Diritto Romano Obbligatorio em Studi Arangio-Ruiz I (Nápoles,19
55) 423-443, L. LoMBARDt, Dalla «Fides» alia «Bona Fides» (Milão, 1961) e F. WIEACKER, Zum
Ursprung der abone fidei iudicia» em SZ 80(1963)
20-41.
1.a Hipótese (restitutio in integrum ob fraudem creditorum, «restitutio in integrum» p
or causa da fraude [causada] a credores) -A deve 100 sestércios a B. Para não pagar,
pois deseja conscientemente prejudicar B, A provoca dolosamente o seu estado de
insolvência-empobrecimento alienando todos os seus bens a C. Este, ao adquirir es
ses bens, sabe do prejuízo doloso que isso vai causar a B. Quer dizer, há má fé (= «scient
ia fraudis»), não só da parte de A (devedor alienante) como sobretudo da parte de C (d
irecto adquirente).
Nesta hipótese, o negócio de alienação entre A e C era válido e eficaz à face do ius civile.
Isso, porém, seria uma iniquidade. 0 credor B seria privado de todos os bens do d
evedor A ou pelo menos dos suficiente, ou bastantes, sobre os quais ele (credor)
tinha fundadas esperanças para poder socorrer-se, no
B
má fé - r. i. i. ob fraudem creditorum
má fé - interdictum f raudatorium
100
F
G
3 á Hipótese ou C
4.a Hipótese
boa fé e o negócio é oneroso, esse negócio continua eficaz
H ou C
boa fé e o negócio é gratuito - interdict um utile
320
321
DIREITO ROMANO
1.° PARTE-TIT. V-CAP. 1.°
§ 29
caso de necessidade, a fim de que se efectuasse o pagamento dos seus créditos. 0 p
retor concede, então, para estas situações uma restitutio in integrum «por causa do prej
uízo doloso (causado) a credores» (=«ob fraudem creditorum»). Ordena, neste caso, a A (d
evedor-alienante), mas sobretudo a C (directo-adquirente) que «desfaçam» eles próprios o
negócio efectuado (pelo menos, devia ter sido assim, lá muito no princípio, e continu
a assim o significado-resultado da restitutio iun integram 392),
que se des+liguem, se desvinculem; e, como consequência, os bens regressam ao esta
do anterior; anterior à realização desse negócio, isto é, voltam à propriedade e à posse de A
Portanto, a restitutio in integrum ob fraudem creditorum era um expediente criad
o pelo pretor baseado no seu imperium, dado a favor do credor (por conseguinte,
a favor de B) contra o directo 1A3 adquirente dos bens do devedor (logo, contra
C), declarando inexistente a alienação efectuada entre A e C, fundando-se concretame
nte em duas razões de facto: I-ter havido fraude ao credor B; II - má fé da parte quer
do devedor alienante A quer sobretudo do directo adquirente C.
2.a Hipótese (interdictum fraudatorium, interdito fraudatório) - Mas os bens do deve
dor A podiam já ter passado das mãos do directo adquirente C para outros - D, E, F,
etc.394,
392 Vid. supra 312. Mais tarde, chegava-se a este mesmo resultado duma forma tal
vez mais simples, mas certamente menos significativa: o pretor considerava esse
negócio (portanto o efectuado entre A e C) como não realizado, e, por conseguinte co
mo inexistente.
393 Chama-se directo adquirente, porque entre ele C e o devedor-alienante A não se
interpõe nenhum outro; já os subsequentes serão chamados ulteriores adquirentes (D, E
, F e G), pois entre eles e o devedor-alienante A existe um ou vários (pelo menos
um, o directo adquirente C).
394 Podiam ter passado, ou porque o credor B se tivesse descuidado de pedir imed
iatamente a providência da restitutio in integrum ob fraudem creditorum contra C o
u porque a alienação ou alienações de C para D, E, etc., foram feitas muito ràpidamente e,
quanto possível, em segredo.
322
que são portanto ulteriores adquirentes, e, nesta 2.8 hipótese, também estão de má fé, com o
directo adquirente. Quer dizer, igualmente conhecem o prejuízo doloso causado ao
credor B, resultante da alienação efectuada em A e C.
Contra os ulteriores adquirentes - D, E, F e todos os outros que se imaginem-, c
oncedia o pretor um interdictum f raudatorium, isto é, uma ordem de tipo sumário bas
eado no seu imperium [e justificada também pela fraude (=prejuízo doloso, por isso é c
hamado «fraudatorium») causada ao credor, e pela má fé de parte a parte com que o ulteri
or ou ulteriores adquirentes efectuaram a alienação ou alienações], para que os bens, se
m mais considerações, de momento - isto é, sem atender se o negócio era válido ou nulo, ef
icaz ou ineficaz, ou até inexis
tente ou existente -, regressarem imediatamente ao património do devedor, portanto
de A.
A situação dos ulteriores adquirentes (D, E, F, etc.) é precisamente a mesma do direct
o adquirente (C), por todos se encontrarem de má fé. E então... por que motivo o preto
r concedia (sempre a favor do credor), contra o directo adquirente uma restituti
o in integrum (cob fraudem creditorum»), contra os ulteriores adquirentes um intcr
dictum («frauda torium»)
Os romanistas não acertam com a justificação. Há várias opiniões; nenhuma delas é convincente
A relação da restitutio in intepnum ob fraudem creditorum com o interdictum fraudato
rium-identificação? separação? nesta última hipótese, qual a justificação ? -é um dos problem
fí
ceis, que já vem sendo discutido desde o séc. XVI, com B.1ROS. Em seguida, aparecera
m as opiniões de CuJaCIO, LENEL, SOLLAZZI, IMPALLOMENI. Depois, vieram as achegas
de SEGuE, DOES, SEIDL,
KASER, etc, Recentemente (Setembro de 1963), J. A. AuKUM apresentou, no XVIII Co
ngresso Internacional da aSocieté d'Histoire des Droits de l'Antiquité», uma comunicação i
ntitulada <Porquoi le Droit Romain Classique a-t-il connu l'interdit fraudatoire
à coté
323
I
DIREITO ROMANO
1` PARTE -TIT. V-CAP. 1.° 6 29
de ia `restitutio in integram ob fraudem'?>, que despertou muito
interesse 9~',.
Hoje, é já considerado ponto assente: na época clássica, a par da r. i. i. ob f. credito
rum havia também, e como algo distinto, o interdictum fraudatorium.
Para quê estes dois expedientes do pretor diferentes? Pois se os ulteriores adquir
entes (no gráfico apresentado, D, E, F, etc.) estão nas mesmas condições do directo adqu
irente (C), por que não se aplica a todos a restitutio in integram ob fraudem cred
itorum?
Não há ainda uma opinião convincente.
Parece-nos que a solução talvez se encontre na natureza íntima, na razão de ser da própria
restitutio in integram.
Conforme já dissemos (vid. supra 312), na restitutio in integrum, lá muito de início,
eram as próprias partes que «desfaziam» o negócio efectuado (e cuja execução constituiria um
a iniquidade), «desfaziam», claro, por imposição do pretor. Pois bem, esse «desfazer» o tal
negócio era muito fácil realizar-se entre o devedor-alienante (no gráfico apresentado,
A) e o directo adquirente C. Mas quando fossem 2, 3, 10, 20 ou mais ulteriores
adquirentes? Como é que eles, todos, iam «desfazer» os respectivos negócios celebrados?-
(E tinham de ser todos, para que se chegasse ao devedor-alienante, sem que pelo «c
aminho» ficasse um com o seu negócio por «desfazer>, aliás esse podia sempre reclamar; é a
lgo semelhante à actualização do registo duma propriedade, em que de permeio faltam vári
os averbamen
tos). -Isso tornava-se:
-ou muito difícil, pois teriam de vir todos à presença do pretor, ou pelo menos de rec
eber todos uma intimação do pretor;
- ou até impossível, pois alguns podiam já ter morrido ou estar ausentes em parte ince
rta.
Então o pretor, prescindindo de fazer considerações acerca do valor (existéncia ou inexi
stência, validade ou nulidade, eficácia ou ineficácia) do .,cgócio illri, 2' realüado, dá um
a ordem sumária (interdictuni) para que os bens, es iem em mãos dc que ulterior adqu
irente de má fé estiverem, voltem para a propriedade e posse do devedor, a fim de qu
e este já possa pagar ou satisfazer as suas dívidas 396,
395 Esse estudo, com leves alterações, intitulado «Interdictum fraudatorium» et «Restituti
o in Integrum ob fraudem», encontra-se publicado em Synteleia Arangio-Ruiz (Nápoles,
1964) 779-785.
396 Solvere (pagar) e satisfacere (satisfazer) são coisas distintas. Cf. Sebastião C
RUZ, Da «Solutio» I, cit. 227-328.
3.a Hipótese (o negócio continua eficaz) - Suponhamos
agora que o directo adquirente C ou um ulterior adquirente qualquer (no caso rep
resentado, G) recebe os bens dum dos adquirentes de má fé (e tanto pode ser do direc
to adquirente C como dum dos ulteriores adquirentes D, E, F, etc.). Este G (ou m
esmo C) está de boa fé (isto é, ignora a fraude causada ao credor B), e, além disso, o n
egócio que efectuou foi a título oneroso.
Pois bem; esse negócio continua não só válido à face do ius civile mas também eficaz, mesmo
perante o ius praetorium.
Aliás, haveria uma incerteza contínua no comércio jurídico, que, evidentemente, efectua
negócios só a título oneroso.
4.° Hipótese (interdictum utile) - Consideremos nesta hipótese que o directo adquirent
e C ou um ulterior adquirente de boa fé (no caso representado, H) tinha recebido d
um adquirente de má fé (do directo adquirente C ou dum outro posterior D, E, F, etc.
) os bens, mas a titulo gratuito 3BP.S8B.
Neste caso, o pretor, depois de se inteirar do estado da questão, isto é, com conhec
imento sumário da causa (causa cognita), concedia a favor do credor B um interdict
um utile 400, para que os bens alienados regressassem imediatamente ao património
do devedor A, e assim ele (credor) já os pudesse executar e desta forma satisfazer
os seus créditos.
b) Posição do pretor na organização dos processos, depois da «lex Aebutia de formulis»; carác
er do processar «per formulas»
(«agere per formulas»)
A lex Aebutia de formulis, aproximadamente do ano 130 a.C. - desconhece-se a dat
a precisa, mas não deve ser anterior a 149 a.C. nem posterior a 126 a.C. -, introd
uziu uma nova forma de processar (agere per formulas).
Característica: era um processo escrito (pelo menos, parte) .
0 sistema de agere per formulas, a princípio existia a par do sistema das legis ac
tiones. Mais tarde, por força duma lex Julia, de Augusto, acabou por ser pràticament
e o único. As legis actiones desapareceram, excepto para algum tipo especial de pr
ocessar que não se adaptou ao novo regime.
0 agere per formulas é o sistema próprio da época clássica, e, como diz Álvaro D'ORs 406 é o
que dá carácter ao direito romano dessa época. Tendo as fórmulas uma redacção especialmente
adaptada para cada tipo de reclamação, a tipicidade processual determina a tipicida
de do próprio direito, já que este consiste essencialmente, como temos dito tantas v
ezes, numa
406 A. D'ORs, Elementos de Derecho Privado Romano, cit. 58.
332
333
DIREITO ROMANO
1.° PARTE-TIT. V-CAP. 2.°
§ 30
actio 407. E agora, segundo este novo sistema de processar, ter uma actio equiva
le e concretiza-se em ter uma fórmula.
1) Conceito de fórmula processual - A fórmula é uma ordem por escrito, dada pelo preto
r ao juiz, para condenar ou absolver, conforme se demonstrasse ou não determinado
facto.
A fórmula encabeça pela nomeação do juiz, geralmente escolhido pelas partes, e que era u
m particular e não um magistrado. Depois seguem-se as várias
2) PARTES DA FÓRMULA
1) -intentio=indica o estado da questão,
a pretensão do demandante
São diversos os modelos formulários. Para se fazer uma ideia mais exacta da fórmula, v
ejamos, por exemplo, o modelo da actio certae creditae pecuniae (acção para exigir o
pagamento duma dívida de dinheiro de quantia certa, isto é, fixa, precisa).
407 Por isso, «actionem habere» significa «ter direito», «ser credor»; e «actione teneri» equ
le a «estar sujeito a uma acrio», ser devedor, sobretudo à face do ius
praetorium.
408 A exceptio podia provocar uma replicatio (alegação de novo facto jurídico,
feita pelo demandante, que inutilizava a exceptio); e a replicatio podia, por su
a vez, também originar uma duplicatio (nova cláusula, alegada pelo demandado,
que inutilizava a replicatio).
334
«Titius iudex esto. Si paret Numerium Negidium Aulo Agerio
sestertium X milia dare oportere, condemnato; si non paret, absolvito» 409
A posição do pretor, depois da lex Aebutia de f ormulis, era, além de subtrair ou de c
olocar sob a acção do ios civile, como já procedia até 130 a.C. (?), também -sempre que a
justiça ou a equidade assim o exigissem - 1) - a de neutralizar a actio civilis (o
u recusando a concessão da actio [«denegatio actionis»] ou inutilizando a sua eficácia c
oncedendo uma «exceptio») e 2) - a de criar actiones próprias.
Desta forma, o pretor passou a integrar e a corrigir directamente o ius civile p
or via processual.
c) Análise muito breve dos vários expedientes baseados na «iurisdictio»
Antes de tudo, note-se que os novos expedientes do pretor, criados por via proce
ssual, não vieram substituir os expedientes
baseados no imperium. Não. Simplesmente, agora, depois da lex Aebutia de formulis,
o pretor usa duns ou doutros, conforme as
circunstâncias do caso concreto melhor o aconselharem. Há até
409 «Tício seja o juiz. Se se demonstrar que Numério Negídio deve dar (dare oportere) X
mil sestércios a Aulo Agério, condene-se; se se não demonstrar, absolva-se».
0 que propõe a actio é o actor ou demandante; contra quem se propõe é o defensor ou dema
ndado. Nos modelos formulários usados para o ensino (vid. supra 251302 algo semelh
ante com os nomes de Titius, Sempronius), o demandante é designado por «Aulas Ageriu
s» (A.A.) e o demandado por «Numerius Negidius» (N.N.). Estas designações fictícias tinham d
e ser substituídas pelos nomes verdadeiros das partes e do juiz, quando a formula
era aplicada a um caso real.
A expressão «Aulus Agerius» tem um «significado» de pessoa rica, isto é, com dinheiro e com
prédios; «Numerius Negidius» «significa» mais o homem pobre, sem dinheiro e sem outros ben
s. Sob outro aspecto, o nome fictício de Agerius designa o autor (actor), e o Negi
dius (negans), o demandado.
«Oportere» (dever) significa sempre uma dívida civil. Para designar as obrigações pretórias,
há sobretudo a expressão action teneri (estar sujeito a uma actio). Vid. supra n. 4
07.
335
a) -Partes ordinárias -- Partes eventuais
y) - Partes extraordiná
2
-condernnatio=cláusula que manda condenar ou absolver o demandado
1)-demonstratio=se a «intentio> é incerta
2) -adiudicatio=se a «actio> é divisória, ou se se trata duma coisa comum, objecto de
discussão
rias
I)-exceptio=cláusula concedida directa
mente a favor do demandado 408
2) - praescriptio = cláusula concedida direc
tamente a favor do demandante
13
DIREITO ROMANO
1." PARTE -- TIT. V - CAP. 2.^
§30
alguns A. A., v.g. DE MARTINO, que afirmam que o pretor, depois da lex Aebutia d
e f ormulis, é que principiou a usar, com mais amplitude e à vontade, os expedientes
baseados no seu
imperium.
1) - Para neutralizar uma «actio civilis», cuja aplicação redundaria numa injustiça (veja-
se a hipótese indicada supra 311 e 312), agora o pretor tem à sua disposição também, isto é,
além duma restitutio in integrum:
I - uma denegatio actionis, se ele nega a concessão da actio civilis, pois verific
a nitidamente que essa concessão, embora prevista pelo ius civile, em determinado
caso concreto, seria uma evidente injustiça;
II - uma exceptio, pela qual se frustra a actio Cio ilis, que ele mesmo concedeu
. É uma cláusula concedida directamente a favor do demandado, que inutiliza a preten
são do demandante.
Com a exceptio, não se desconhece o direito do autor ou a objectividade do facto i
lícito contestado; simplesmente, acrescentam-se circunstâncias ou factos tão relevante
s que exoneram o demandado da obrigação ou da responsabilidade.
Essa cláusula é inserta na fórmula entre a intentio e a condemnatio, e opera como cond
ição, negativa da condenação; v.g. nisi si quid dolo mato (ou propter metum) gestum erit
.
A exceptio tem como pressuposto o princípio da inderroga
bilidade do sistema do ius civile.
Devia ser oposta na fase in iure.
2) -Aetiones praetoriae - 0 pretor, depois da lex Aebutia
de f ormulis, cria ius directamente - aqui, é que se fala, com todo o rigor, de «ius
praetorium» -, pois cria actiones próprias; e
actio e ius, como sabemos, identificam-se.
Portanto, as actiones praetoriae contrapõem-se a actiones civiles ou actiones in i
us (civile) conceptae.
Indiquemos, muito sumàriamente, as várias actions praetoriae.
I Actiones in facturo conceptae-0 pretor, vendo que determinada situação social (fac
twin) merece protecção jurídica e não a tem do ius civile (veja-se a hipótese indicada sup
ra 308 e 309), concede uma actio baseada («concepta») nesse facto, para que se faça ju
stiça.
II Actions fieticiae - Se o pretor para aplicar a justiça, finge como existente um
a coisa ou um facto que se sabe não existir, ou finge como não-existente uma coisa o
u um facto ou até um negócio que se sabe que existe. - [Não podia fingir como existent
e um negócio jurídico inexistente, pois seria a subversão da ordem jurídica e a negação da n
ecessidade dos negócios jurídicos] -. 3J a imposição duma irrealidade ou duma inexactidão.
Supõe uma criação, uma «invenção», que rompe com as regras da pura lógica; mas já sabemos qu
sempre o jurídico é rigorosamente lógico (vid. supra 288-II). Sob o aspecto da lógica f
ormal ou matemática ou silogística, é um recurso alógico. A ficção supõe e provém dum imperiu
não da doutrina. A doutrina pode sugerir ficções, mas não criar "°. Repita-se: tudo isto
fazia o pretor, não por mera arbitrariedade, muito menos para «favorecer amigos» ou pa
ra «prejudicar inimigos», mas para administrar bem a justiça.
Exemplo - Titius empresta 1000 sestércios a Sempronius por 90 dias; ao fim de 10 d
ias, Titius fica na miséria, devido, v.g. a incêndio; Sempronius pode pagar; mas, à fa
ce do ius civile, só é obrigado a pagar daí a mais 80 dias. Titius há-de morrer de fome?
0 pretor finge que passou o prazo, ou que a obrigação
410 Sobre este problema, vid. M. GARCIA GARRIDO, Sobre los Verdaderos Lbnites de
la Ficción en Derecho Ronnano em ARDE (1950) 305.342; particularmente, veja-se, aí,
a relação entre ficção, presunção, interpretação extensiva, simbolismo (actos simbólicos) e
ação; assim como, a págs. 321, os casos de actiones ficticiae. Veja-se também Rafael LI_
ANO CIFUFNTFS, Naturaleza Jurídica de Ia «Fictio lirris»
(Madrid,1963).
336
337
DIREITO ROMANO
1.4 PARTE-TIT. V-CAP. 3.°
§ 31
foi constituída sem prazo (e então «in omnibus obligationibus, in quibus dies non poni
tur, praesenti die debetur», D. 50,17,14), e concede uma actio; isto é, uma fórmula, o
rdenando ao juiz que condene Sempronius a pagar, como se já tivessem passado os 90
dias, ou como a obrigação tivesse sido constituída sem prazo.
Ill Actiones utiles - Se o pretor aplica, por analogia, actiones civiles a casos
diferentes, mas semelhantes, dos que o ius civile protege; aqui, há lógica, por sem
elhança.
IV Actiones adiecticiae qualitatis-São actiones que responsabilizam também o «paterfam
ilias», total ou parcialmente, pelas dívidas dum seu filius ou servus, provenientes
de contratos celebrados por estes alieis iuris. Responsabilizam totalmente o pat
er as actiones: «quod iussu», «exercitoria» e «institoria». Responsabilizam, parcialmente, a
s actiones: «de peculio», «tributoria» e «de in rem verso».
Estas actiones pretórias são bastante complexas. Serão analisadas devidamente no Tít. I
da 3.a PARTE, pois, só nessa altura, é que teremos elementos de estudo suficientes p
ara as com
preender bem.
Capítulo 3.° C) - 0 «EDICTUM» DO PRETOR
SUMÁRIO-31. a) Missão, actividade (orientação e motivação), controle
e expedientes do pretor (síntese)
b) Formas utilizadas pelo pretor na concessão dos seus expedientes: decreta (decre
tos) e edicta (edictos) .
c) Forma interna do «edictum» do pretor; carácter vinculativo do «edictum» em relação ao pret
r. Espécies de «edicta» do pretor
I-perpetua (anuais) e repentina (suplementares) II - tralaticia e nova
d) Codificação dos edictos do pretor. 0 chamado Edictum
Perpetuuin (definitivo): existência; natureza jurídica
e) Reconstituição e ordem do «Edictums>, segundo LENEL
a) Missão, actividade (orientação e motivação), controle e expediente do pretor (síntese) .
466 Sobre estes problemas acerca dos Responsa de PAPINIANUS, dos de PAULUS, e do
s de ULPIANUS, vid. F. WIEACKER, Textstufen cit., respectivamente, 340-373,
377.381 e 384-385. 467 Sobre este tipo de obra jurídica, usado mais tarde pelos gl
osados, e suas relações com certas obras orientais, vid. F. Scxut z, Die Quare-Sammi
ungen
der Bologneser Glossatoren und die Problemata des Aristoteles em Atti del Congre
sso Internaztonale di Diritto Romano e di Storia dei Dirito (Verona 1948)
I (Milão, 1953) 297-306. [A simples título elucidativo, diga-se que este tipo de obr
a jurídica nada tem
366
São notáveis as quaestiones de AFRICANUS, CELSUS, SCAEVOLA, PAPINIANUS, PAULUS 408,
Exemplos de fragmentos de quaestiones: D. 5,1,77;-13,4 8;-16,1,17;-18,2,18;-21,2
,69;-24,3,43;-35,2,16;-45,1,16;-47,2,79.
DISPUTATIONES são obras jurídicas, que contêm a solução de casos hipotéticos apresentados po
r motivo da docência, e reproduzem as discussões travadas no «auditorium».
São dignas de especial r-!feréncia as disputationes de TRYPHONINUS e as de ULPIANUS
4611.
Exemplos de fragmentos de disputationes: D. 3,5,37;-15,3,6;-27,1,44;-33,2,9;-40,
4,14;-48,1,5.
EPISTULAE São obras jurídicas, que contêm ora certas regras ora respostas dadas por es
crito a assuntos particulares, ora, por vezes, soluções a casos especiais 476.
Eram um tipo de obra muito frequente em Roma 471.
Deixaram-nos as suas epistulae LAuEO, PROCULUS, IAVOLENUS, NERATIUS, CELSUS, AFR
ICANUS, POMPONIUS, etc.
Exemplos de fragmentos de epistulae: D. 20,3,3;-28,1,27;-40,4,46;-40,5,20.
e) Obras jurídicas de carácter enciclopédico: «digestá»
0s digesta («libri digestorum») são obras que contêm uma exposição sistemática 172, que abran
e todo o «ius civile» e todo o «ius honorarium».
a ver com a quaestio, instituto de Direito Criminal Romano ou de Direito Proassu
al. Sobre este tema, veja-se, por todos, W. KUNKEL, Quaestio em RE XXIV' (1963)
720.786).
468 Sobre vários problemas das quaestiontes de PAPINIANUS e das de PAULUS, vid., p
or todos, F. WIEACKER, Textstufen, cit., respectivamente, 333-340 e 375-377.
469 Sobre as Disputationes de ULPIANUS, vid. também F. WIEACKER, o.c. 385-388.
470 As epistulae tratavam das coisas mais variadas. Leia-se em D. 40,5,20 o frag
mento da epistuia escrita por um velho de 78 anos a POMPONIUS, em que lhe diz qu
e a única razão de amor à vida naquela sua idade é a cupiditãr discendi; e, recordando um
provérbio grego, afirma que, embora tendo já um pé na sepultura, ainda deseja aprender
alguma coisa.
471 AULUS GELLIUS, Noct. At. 14,7, recorda-nos as epistulae de VARRÃO sobre questões
gramaticais e antigualhas.
412 Conforme já sabemos (vid. supra 3652), a palavra digesta-digestorum vem de dig
erere, que significa «digerir», isto é, ordenar, sistematizar; põr em ordem,
367
14
DIREITO ROMANO
La PARTE-TIT. VII
São um tipo de obra jurídica de grande fôlego. Só jurisprudentes de excepcional valor é qu
e escreveram destas obras.
Os primeiros digesta pertencem a ALFENUS VARUS, iibri 40 473 (séc. I a.C.). Depois
, como mais importantes, temos: CELSUS, libri 39; IULIANUS, libri 90; MARCELLUS,
libri 32; Q. Cervidius SCAEVOLA, libri 40
A ordem da exposição (sistemática) das matérias nos digesta, até Adriano, não é uniforme; cad
jurista tem a sua sistematização. Depois da publicação do Edictum Perpetuum (vid. supra
§ 31), na primeira parte dos digesta segue-se a ordem do edicto do pretor (vid. s
upra 347).
Exemplos de fragmentos de digesta: D. 8,5,17;-8,6,6;-10,1,9;-11,7,35;-20,2,10.
d) Tratados: de «ius» civile e de «ius honorarium»
0 tratado («tractatus») é uma exposição profunda de certa matéria.
Enquanto «exposição profunda», contrapõe-se a institutiones (instituições), que são uma expos
mária (vid. supra 363) ; enquanto «exposição de certa matéria», contrapõe-se a digesta, expos
de carácter enciclopédico, isto é, de todo o ius civile e de todo o ius honorarium (v
id. supra 367).
Exactamente por não serem de carácter enciclopédico, os tratados dividem-se em tratado
s de ius civile e tratados de ius honorarium.
Os tratados de ius civile compreendem: obras sistemáticas e comentários.
a)-Obras sistemáticas (v.g. os 18. ltibri iuris cvilis de QUINTUS MUCIUS Scaevola,
os 3 libri iuris civiìis de SARINUS,
expor, dispor sistemáticamente. A palavra digesta (no plural) é a que indica este ti
po de ordem jurídica. Todavia, os digesta ou as pandectac de Justiniano (ou do Cor
pus luris Civilis), a partir do século XII, são designadas pela palavra digesto
(no singular).
473 Sobre esta obra, veja-se, por todos, Luig DE SARLO. Alfeno Varo e i suei
Digesta (Milão,1940).
Há quem afirme que os primeiros digesta foram escritos por AuFioIus NAMUSA, também d
o séc. I a. C., mas anterior a ALFENUS VARUS. Não é provável.
os 15 libri iuris cvilis de CASSIUS, etc), são tratados que exerceram unia grande
influência na iurisprudentia posterior. A ordem de exposição de matérias seguida nestas
obras está longe de ser uniforme; varia muito. E assim, a sistematização da obra de Q.
MuClus Sc. é diferente da que seguiu SABINUS, que, por sua vez, é completamente div
ersa da de CASSIUS.
¡3)-Comentários são as obras denominadas ltibri ad Mucium, libri ad Sabinum, etc. i)e
todos, os mais importantes são os comentários ad Sabinum 474: de POMPONIUS, libri PA
ULUS, libri 16; de ULPIANUS, libra 51.
Exemplos de fragmentos destas obras: D. 22,5,9;-28,6,14;-31,1,7,
Os tratados de ius honorarium podem ser: ad edictum do pretor (urbano) e aos edi
ctos de outros magistrados - pretor peregrino, edis curúis, governadores das provínc
ias, etc.
A primeira obra deste género foi escrita por SERVius SULPIciUS RuFUS (séc. 1 a.C.),
em duo libra. Seguiram-se outras, sendo mais notáveis: as de LABEO, ad edictum pra
etoris urbani e' ad edictum praetoris peregrini; as de CELIUS SARINUS, ad edictu
m aedilium curulium; as de MASURIUS SARINUS, ad edictum praetoris urbani; e sobr
etudo o amplo tratado de SExTUS PEDIUS, talvez em 25 libri 475.
Depois da codificação do Edictum, ordenada por Adriano, os tratados-comentários ao edi
cto do pretor (urbano) alcançaram uni grande desenvolvimento, embora não se despreza
ssem por completo os edictos dos outros magistrados. Agora, não se fala de «libri ad
edictum praetoris urbani>, mas simplesmente de «libri ad Edictum» 476, pois o Edict
um, por antonomásia, a partir de 130, é o Edictum Ordinatum ou 'Perpetuam (vid, supr
a, 343-345), e onde se encontra só (ou quase só?) matéria de edictos do pretor urbano
(vid. supra 348), Os comentários (posteriores a 130) a edictos dos outros magistra
dos, diferentes do pretor urbano, levam a sua própria designação. E assim, por exemplo
, PAULUS escreve 78 libri ad Edictum (portanto, do Edictum Ordinatum e por conse
guinte do pretor urbano); e 2 libri edictum aedilium curulium 477; ULPIANUS, 87
libri ad Edictum,
474 Acerca dos «Sabinuskommentare» 278-331.
475 Vid. LENEL, Palingenesia 11 2-7.
476 Sobre os «Ediktkommentare» vid. F. WIEACKER, Texistufen, cit. 221-277.
477 Uma obra atribuída a PAULUS, em 23 libri, intitulada Brevis Edicti ou simplesm
ente Brevium, deve tratar-se de um epitome posa-clássico.
36; de
vid. F. WIEACKER,
Textstufen, cit.
388
369
DIREITO ROMANO
e 2 libri ad edictum curulium; GAius, 2 libra ad Edictum, 2 libri ad edictum aed
ilium curulium, e 30 libri ad edictum provineiale 4T8 (isto é, ao edicto dos gover
nadores das províncias), PoMPONtus não escreveu sobre os edictos dos outros magistra
dos, mas só ad Edictum (do pretor urbano), um tratado amplíssimo em 83 libri.
Exemplos de fragmentos destas obras: D. 1,3,13;-13,7,9;-14,6,1;-14,6,13;-16,1,2.
1.a PARTE-TIT. vII 1 33
f) Obras jurídicas diversas
São de vários tipos e tratam de assuntos diferentes. Notemos algumas espécies.
e) Comentários a normas e a institutos isolados
É verdadeiramente rica a literatura jurídica destinada a
revelar o conteúdo de certos institutos, leis ou senatusconsul
tos 479
A Lex XII Tabularum, por exemplo, é comentada por SEXTOS AELIUS PAETUS, nos célebres
Tripertita 480, por LABEO, GAIUS, etc.
Dos diversos comentários ad leges, notem-se, v.g. os feitos ad Legem luliam et Pap
iam, elaborados por MARCELLUS (libri 6), PAULUS (Abri 10), ULPIANUS (libri 20),
GAIUS (libri 15), etc. Todas as leis assim como todos os senatusconsultos foram
comentados mais ou menos amplamente, e em obras especiais ou gerais, como por ex
emplo a de POMPONIUS, 5 libri de Senatusconsultis.
Sobre os institutos em particular, lembrem-se v.g.: SERVIUS, De Dotibus; NERATIU
S, De Ritu Nuptiarum; ULPIANUS, De Sponsalibus, etc.
Sobretudo PAULUS escreve um considerável número de Importantes monografias - De Acti
onibus, De Adulteriis, De Appelationibus, De Conceptione Formularum, De Fideicom
missis, De Forma Testamenti, De Iniuriis, De Intercessionibus Feminarum, Ad Lege
m Cinciam, Ad Legem Falcidiam 481, De Of ficio Praef ecti Urbis, Ad BC Claudianu
m, Ad BC Orfitianum, Ad BC Bilanianum, Ad BC Tertullianum, Ad SC Vefaeanum, etc.
, etc. 482.
Exemplos de fragmentos destas obras: D. 1,2,1;-14,6,20;-16,1,24;-õ0,17,207.
Sobre esta obra de GAIOS, vid. F. WIEACKER, o. c. 277. Sobre esta matéria, vid. id
. ib. 389ss. Vid. infra 382 e 383.
Sobre esta obra vid. F. WIEACKER, Textstufen, cit. 423-425.
Veja-se a enumeração completa das obras de PAULUS, v.g. em LENEL, Palie genesia 1112
43; aí são indicadas 90 monografias, e muitas constam de vários libri.
I-OPERA IURIS PUBLICI - Além doa comentários ad leges, respeitantes mais ou menos di
rectamente a institutos de direito público, os juristas escreveram numerosas monog
rafias:
1 - sobre direito administrativo 483, v.g. De O f f icio Proconsulis, de PAULUS,
de ULPIANUS; De 0~o Consults, de MARCELLUS, PAIILUS, ULPIANUS, etc.;
2 - sobre direito militar, v.g. De Re Militari, escreveram monografias T., PATER
NUS, MENANDER e MACER;
3 - sobre direito fiscal, v.g. PAuLus, De lure Fisci; ULPIANUS, De Cenaibus; MAC
ER, De Vincesima Hereditatia;
4 - sobre direito criminal. Nesta matéria há numerosos comentários, sobretudo a respei
to da Lex lulia de Adulterüa 484, nomeadamente os trabalhos elaborados por ULPIANU
S, PAULUS e PAPINIANUS. Sobre penas, escreveram MARCIANOS, VENULEIUS, PAULUS e M
ODESTINUS.
II - OPERA ADNOTATA - E também muito importante a actividade de certos juristas, a
o comentarem obras de iurleprudentes anteriores, quer em forma de breves notas c
riticas, quer em forma de tratado, com citações de vários autores, decisões imperiais e
outros elementos. V.g. PROCULUS, Notae ad Labeonem, MARCELLUS, Notae ad lulianum
; PAULUS, Ad Neratium, Ad Babinum, Ad Vitelium, etc.; POMPONIUS, Ad Q. Mucium, A
d Babinum, Notae ad Aristonis Digesta, etc.; ULPIANUS, Ad Babinum.
IUI-Os juristas, algumas vezes, elaboram uma antologia das obras de certos iuris
prudentes anteriores, contendo as respostas mais notáveis, os casos de resolução mais
difícil, as opiniões mais salientes As obras deste tipo são designadas pela preposição ex.
V.g. IAVOLENUS, Ex Caseio libri 15, Ex Plautio libri 5, Ex Posterioribus Labeon
ia übri 10; POSIPONIUS, Ex Plautio libra 7.
IV -REPL+TITAE PRAELECTIONES - Trata-se duma segunda edição de obra jurídica. Conhece-
se, pelo menos, uma
478 479 480 481 482
483 Sobre esta matéria, vid. F. WisACi ea, Textatufen, cit. 391-411. 4" Acerca des
te ponto, vid. id. ib. 419-427.
370
371
DIREITO ROMANO
1.8 PARTE-TIT. VII
§ 33
repetith praelectio,de ULPIANUS, Ad'Sabinu#n, cuja, notícia nos é dada por Justinian
o (Const. Cordi 3); provàvelmente outra, também de ULPIANUS, Ad Edictúm.
V-OPERA POSTHUMA-Deste género, a obra mais célebre é a de LABEO, Libri posteriorum (ta
lvez 40); mas ignora-se quem tenha sido o «editor» da publicação 485.
Exemplos de fragmentos destas obras, contidos no Digesto, são numerosos, v.g.: D.
1,18,1;-1,18,2;-1,18,13;-1,18,14;-41,1,34;-45,1,110;-46,3,80;-46,8,16;-47,12,5;-
48,10,32;-49,15,19.
Em conclusão - Como se verifica, a literatura jurídica romana representava já formas tão
variadas como as do mundo moderno: tratados teóricos, manuais, colectâneas de casos
práticos, monografias sobre institutos isolados ou sobre certas partes do Direito
, comentários a todas as leis e senatusconsultos, estudos vários sobre as mais diver
sas matérias.
sua forma genuína, temos apenas as Institutiones de GAIus, descobertas em 1816, na
Biblioteca Capitular da Catedral de Verona, onde se encontram.
A compilação de toda a literatura jurídica pré-justinianeia foi feita por BAVIERA, RICCO
BONo, FERRINI, FURLANI e ARANGIO-RUIZ, em Fontes Iuris Romani Anteiustiniani (FI
RA), 3 vols., também já nossos conhecidos (vid. supra 153).
-0 elenco completo das obras dos juristas romanos, por ordem alfabética de autores
, é reproduzido por LENEL, Palingenesia II 1241-1246.
- 0 índice das obras e dos livros compilados no Digesto é fornecido, por ordem alfabét
ica de autores, por KRüGER, na edição MOMMSEN-KRUGER, Digesta ed. 18. (Berlim,1965), Ad
ditamentum II, págs. 932-944.
- A reconstituição de todas as obras dos juristas romanos, utilizando os fragmentos
contidos em qualquer fonte, foi feita por Otto LENEL, Palingenesia Iuri8 Civilis
, 2 vols. (Leipzig,1889).
-As obras dos juristas anteriores a Adriano foram compiladas por BREMER, Iurispr
udentiae Antehadrianae supersunt, 2 vols. (1896-1901).
- A parte mais importante da produção jurídica romana encontra-se, como já sabemos (vid.
supra 36), no Digesto. Certos fragmentos de obras originais chegaram até nós em for
ma de epítomes ou de colectâneas destinadas ao ensino ou á prática. Na
485 AULUS GELLIus, Noct. At. 3,10,2.
372
373
Título VIII -PRINCIPAIS JURISCONSULTOS
34. Não vamos mencionar sequer os nomes e respectivas obras de todos os «iurispruden
tes» romanos conhecidos. Quem desejar obter esse conhecimento poderá ver Otto LENEL,
Palin.genesia Iuris Civilis II (Leipzig,1889) 1241-1248; e a quem pretendesse m
ais esclarecimentos bastaria ler, por exemplo, Wolfgang KuNKEL, Herkunf t und so
ziale Stellung der rómischen Juristen (Weimar,1952), sem dúvida a melhor obra recent
e sobre a matéria.
Também não vamos analisar a personalidade e respectiva bibliografia dos jurisconsult
os romanos importantes. Porém, a título de mera curiosidade científica, indicaremos es
ses nomes, colocados no seu século, com a data do falecimento, certa ou provável, e
com alguma referência bibliográfica, designando com um asterisco (*) os nomes daquel
es que, adiante, vão ser examinados em particular.
Apenas analisaremos, e muito sumàriamente, os jurisconsultos romanos principais (é e
xactamente a designação deste tít. VIII), indicando uma ou outra obra. Correspondem, p
ois, aos importantes indicados com um asterisco(*).
375
DIREITO ROMANO
1* PARTE -TIT. VIII § 34
Indicação de jurisconsultos romanos importantes 'se Séc. Ill a.C.
1 - ApiUS CLAUDIUS (CAECUS), t 280(?) a.C.: deu ocasião ao denominado «lus Flavianum
r (vid. supra 290). Cf. D. 1,2,2,36.
2--Tiberius CORUNCANIUS, t 251(?) a.C.: concorreu para a laicização da iurisprudenti
a (vid. supra 290). Cf. D. 1,2,35 e 38.
3 - Q. MUCIUS SCAEVOLA, t 290 a.C.: a este provàvelmente se refere POMPONIUS em D.
1,2,2,37. Há vários juristas com este mesmo nome e apelido; o nomen (vid. supra 59)
de SGAEVOLA era -muito frequente.
Séc. 11 a.C.
4 - Sextus AELIUS ; AETUS (CATUS), t 185(?) a.C.: Tripertita. Cf. D. 1,2,2,38.
5-M. PORCIUS (CENSORIUS) t 149 a.C.: Commentaria luris Civilis.
6 - Manius MANILIUS, t 134(?) a.C.: Libri Actionum; autor de certos formulários pa
ra a compra e venda.
7 - M. IUNIUS BRUTUS, t 118(?) a.C.: De lure Civili libri tres. Cf. D. 1,2,2,39.
8-P. MUCIUS SCAEVOLA, t 115 a.C.: é muito citado pelos juristas posteriores; é filho
também dum P. MUCIUS SCAEVOLA, t 169(?) a.C., que, por sua vez, é filho de Q. MUCIU
S SCAEVOLA, t 209 a.C., indicado supra no n , 3.
Séc. I a.C.
MUCIUS Scaevola, t 82 a.C.: luras cavalis libri 18 (comentados por POMPONIUS, e
por GAIUS); SpoVsive dejinitionum liber singularis.
10-C. AQUILIUS GALLUS, t 59(?) a.C.: o provável autor da actio doli (ou de dolo),
da stipulatio aquiliana e de várias cláusulas testamentárias.
SULPICIUS RUFUS, t 43 a.C.: De dotibus liber singularis; Ad edictum (ad Brutum)
libri 8;
Reprehensa Scaevolae capita; De sacria detestandis.
12-P. AUFIDIUS NAMUSA, t 30(?) a.C.: (discípulo de RUFUS): Digestorum (?) libri 14
0 (vid. supra n. 473).
* 13-P. ALFENUS VARUS, t 28(?) a,C. (discípulo de RUFUS ) Digestorum libri 40; Con
iectaneorum libri; Digestorum a Paulo epitomatorum libri.
Séc. I d.C.
* 14 M. Antistius LÁBEO, t 10(?), fundador da Escola Proculeiana: Ad XII Tabulas l
ibri; Ad edictum Praetoris Peregrini libri; Ad edictum Praetoris Urbani libri; E
pistularum libri; m0avcãv a Paulo Epitomatorum libri 8; Posteriorum libri (posthum
i), publicados por IAVOLENUS; De iure pontificio libri XV, etc.
15 - C. Ateius CAPITO, t 22, fundador da Escola Sabiniana; Coniectaneorum libri
IX; De pontificio iure libri 7, etc.
16-PROCULUS, t 47(?), deu o nome à Escola Proculeiana (cf. D. 1,1,2,51 e 52): Epis
tularum libri 11 (?) ; Notae ad Labeonem; Ex posterioribus Lebeonis libri, etc.
17-Massurius SABINUS, t 48(?) (cf. D. 1,2,2,50), deu o nome à Escola Sabiniana: Ad
Edictum praetoris urbani; De furtis liber singularis; luras Civilis libri (? ),
etc.
18-C. CASSIUS LONGINUS, t 70(?), sabiniano (cf. D. 1,2,2,51): Iuris Civilis libr
i 10 (? ).
19-C. NERVA (pater), t 33, proculeiano; bastante citado pelos juristas posterior
es.
20-C. NERVA (filius), t 75(?), proculeiano (cf. D. 1,2,2.52): De usucapionibus l
ibri.
21-PLAUTIUS, t 76: Libri ad Edictum, depois comentados por IAVOLENUS, POMPONIUS
e PAULUS.
22 - IAVOLENUS Priscus, t 98(?), sabiniano: Ex Cassio libri 15; Ex Plautio libri
5; Epistularum libri 14; Ex posterioribus Labeonis libri 10.
Séc. II d.C.
23-NERATIUS Priscus, t 125(?), talvez um dos últimos proculeianos importantes: Lib
ra Epistularum; Melnbranarum libri 7; De nuptiis liber sin
9-QUINTUS
11 - SERVIUS
486 Há bastantes juristas com o mesmo apelido (nomen) ; indicamos em versaletes a
designação por que são mais conhecidos. 0 sinal t indica o falecimento.
376
377
DIREITO ROMANO
1.* PARTE-TIT. VIII
§34
gularis; Libri ex Plantio; Regularum Libri 15; Responsorum Libri 3.
24-Iuventius CELSUS (Celsus filias), t 140(?), representante ilustre da Escola P
roculeiana: Digestorum iibri 39; Libri epistuiarum; Libri commentariorum; Libri
quaestionum.
25-Salvius IULIANUS, sabiniano e o mais ilustre de todos os juristas romanos, f
168(?): De ambiguitatibus liber singularis; Digestorum libri 90; Libri ad Edictu
m; Ad Minicium («ex Minicio») libri 6; Ad Urseium Ferocem libre 4.
26-TERENTIUS CLEMENS, t 169(?): Ad Legem Juliam et Pa piam Libri 20.
27 - Sextus Caecilius AFRICANUS, t 170(?) : Quaestionum libri 9; Epistularum Lib
ri 20 (ou mais).
28-L. Flavius ABURNIUS VALENS, t 171(?): Fideicommissorum libri 7; Actionum libr
i ( ? ).
29 - Sextus POMPONIUS, t 172(?): Ad Sabinum libri 36; Ad Edictum libri 150 (ou m
ais); Ad Plautium (ex Plantio) Zibri 7, etc.
30-VENELEIUS Saturninus, t 173(?): De Stipulationibus libri 19; Actionum Libri 1
0; De Interdictis Libri 6; Disputationum Libri 7 (ou mais); De Iudiciis Publicis
libri 3; De Officio Proconsulis libri 4; De Poenis Paganorum liber singularis.
31--GAIUS, t 180(??): Institutiones; Ad Edictum Provinciale et Aedilium Curulium
libri 32, etc.
32 - Volusius MAECIANUS, t 181 ( ?): Fideicommissorum libri 16; De ludiciis Puba
ecis libri 14.
33 - Ulpius MARCELLUS, t 185(?): Digestorum Libri 31; Ad Legem luliam et Papiam
libri 6, etc.
34-FLORENTINUS, t 190(?): Institutionum Libri 12.
35---Q. Cervidius SCAEVOLA, t 195(?):Digestorum libri 40; Quaestionum libri 20,
etc.
Séc. III d.C.
38-Arrius MENANDER, t 215(?): De Re Militari iibri 4.
39-TRIPHONINUS, t 216(?): Disputationum Libri 21; Notae ad Scaevolam.
40-Iulius PAULUS, t 226(?): Ad Edictum Praetoris libri 78; Ad Edictum Aedilium C
urulium iibri 2; Quaestionum libri 26, etc., etc.48?
41 - Domitius ULPIANUS, t 228: Ad edictum libri 80 (e mais S libri ad Edictum Ae
dilium Curulium); Ad Sabinum libri 51; Ad Legem luliam et Papiam libri 20; e mui
tas outras obras menores e libri singulares.
42 - Aelius MARCCANUS, t 230(? ): Institutionum libri 16; De Appellationibus lib
ri 2; De Delatoribus liber singularis; Ad Formulam Hypothecariam liber singulari
s; De ludiciis Publicis iibri 2; Notae ad Papiniani de Adulterais libros; Ad SC
Turpilianum liber singularis.
43-Aemilius MACER, 'i 234(?): De Appellationibus libri 2; De Iudiciis Publicis l
ibri 2; Ad Legem vicensimam Hereditantium libri 2; De Officio Praesidis libri 2;
De Re Militari libri 2.
44-Herennius MODESTINUS, t 240(?): Responsorum libri 19; Regularum libri 10; Pan
dectarum libri 12; Differentiarum libri 9, etc.
Séc. IV d. C.
45-ARCADIUS CHARISIUS, t ? (no séc. IV): De Muneribus Civilibus liber singularis;
De Officio Praefecti Praetorio liber singularis; De Testibus liber singularis.
46-HERMOGENIANUS, t '. (no séc. IV): luris Epittmarum libri 6; Fideicommissorum li
bri (7).
EM RESUMO
0 número dos jurisconsultos romanos conhecidos, da República e do Império, a principia
r em Sextus AELIUS 'PAETUS (CATUS) e a concluir em HERMOGENIANUS, é de 92. 0 elenc
o alfabético e cronológico encontra-se em Otto LENEL, Palingenesics Iuris Civilis II
(Leipzig,1889) 1241-1248.
487 Vid. supra 370 e n. 482 e infra 399.
36 - Aemilius
PAPINIANUS, t 212:Quaestionum libri 37 (com Notae de PAULUS);Responsorum libri 1
7 (com Notae de PAULUS e de ULPINAUS); De Adulterais libri 2; Definitionum Libri
2.
37-CALLISTRATUS, t 213(?): De lure Fisci et Populi libri 4;
De Cognitionibus libri 6; Ad Edictum Moni
torium libri 6; Institutionum libri 3; Quaes
tionum libri 2.
378
379
DIREITO ROMANO
1.^ PARTE - TIT. VIII
Desses 92, 22 pertencem à época republicana e 70 à do Império.
Da sua vida, sabe-se muito pouco; em geral, só o que pode deduzir-se da sua obra.
Os elementos históricos e as inscrições, em regra, falam apenas dos que desempenharam
altos cargos na chancelaria imperial. Dos outros, em número aproximado de 50, só nos
são conhecidos os nomes através de citações.
Na compilação justinianeia, foram utilizadas as obras de 39 juristas (ou 40, se incl
uirmos VITELLIUS, pois é duvidoso de que se deva considerar jurisconsulto); desses
39 ou 40, 33 são da época do Império.
As obras dos jurisconsultos chegaram até nós sobretudo através do Digesto do Corpus Iu
ris Civilis; e a sua reconstituição (?) foi feita por Otto LENEL, Palingenesia luris
Civilis
2 vols. (Leipzig, 1889).
De todos os jurisconsultos conhecidos fizemos uma primeira selecção, indicando 46 co
mo juristas importantes.
Agora, desses 46, faremos uma brevíssima análise a 21, considerando-os como juristas
principais.
Como esta matéria, embora de fácil compreensão não é de igual fixação, e porque isso nos pare
e ter uma certa utilidade, apresentaremos, em vez de sumário de matérias, um gráfico (
colocado entre as págs. 384 e 385). Através dele, poderá localizar-se melhor: a época hi
stórica do Ius Romanum e o ambiente (característica dessa época) em que viveu um certo
iurisprudens; o
movimento ascensional ou descente em que ele se enquadra; a escola a que pertenc
e.
Intencionalmente, não apresentamos os jurisconsultos referidos a um período politico
, como procedem os AA., mas à época histórica do lua Romanum, procurando na medida do
possível
estabelecer uma data, certa ou aproximada, da sua morte, para afirmar, mais uma
vez e concretamente, que, em tudo, o critério orientador deve ser, em primeiro lug
ar, o jurídico interno e não
o político. (Vid. supra 43).
Época arcaica (753-130 a.C.). Característica:; imprecisão
I Sextus AELIUS PAETUS (CATUS) -0 elemento mais representativo da época arcaica, e
já da segunda etapa (242-130 a.C.), é sem dúvida este jurisconsulto. E a figura mais
ilustre dos
«veteres» 488. Cf. D. 1,2,2,38 489. Sextus AELIUS PAETUS, cognomi
nado CATUS («o sagaz», cônsul em 198 a.C., censor em 194 a.C., deve ter falecido à volta
do ano 185 a.C.
-A primeira obra que publicou, ao que parece, foi uma cujo título original se desc
onhece mas que é citada pelos autores antigos sob a denominação de lus Aelianum. Era u
ma colectânea de formulários de legis actiones, incluindo muitos que tinham sido acr
escentados durante um século após a publicação do lus Flavianum (vid. supra 181 e 290).
Cerca de meio século mais tarde, Manius MANILIUS publicava uma colectânea semelhante
, de formulários para negócios de compra e venda.
Estas obras - o lus Flavianum, o lus Aelianum e, chamemos-lhe assim, o «Ius Munili
anum» - reflectiam nitidamente o velho tipo a-sistemático da « iurisprudentia cautelar»9
90
Chegara porém o momento de os juristas elaborarem já um estudo sistemático do Direito.
488 PoMPONIUS chama «veteres» aos jurisconsultos do período que vai até fins do séc. Il a.
C. Vid. n. seguinte.
489 Os dados que temos a respeito dos jurisconsultos da época arcaica são-nos fornec
idos, quase unicamente, por uma obra de PoMPONIUS intitulada Liber si»Rularis Ench
iridii; a primeira parte dessa obra encontra-se integralmente em D.1,2,2. Embora
certas informações fornecidas por POMPONIus não sejam inteiramente fidedignas, este f
ragmento, conservado em D. 1,2,2, é de enorme valor, porque, a respeito dos Jurisp
rudentes mais antigos, é hoje a única fonte. Quanto aos jurisconsultos do período do últ
imo século da República, já os dados recebidos de PoMPONIUS podem ser completados e até
corrigidos, pelas informações que se encontram, v.g., nas obras de CICERO, VARRÃO, CÉSAR
, etc.
490 Como sabemos (vid. supra 291), a primeira função dos «iurisprudentes» era cavere-ist
o é, mostrar os formulários próprios, e, se fosse necessário, criar outros, para usar em
processo e nos negócios jurídicos.
381
r
380
DUM= ROMANO
Esa orientação foi, pela primeira vez, apresentada por Sextus AEmus PAETUS na sua ob
ra Tripertita. Contém a lei das XII Tábuas, a interpretatio e as legis actiones; por
isso, se denomina Tripertita.
Essas três partes, porém, não são, como à primeira vista poderá supor-se e como alguns autor
es afirmam, três secções ou capítulos distintos - Lex XII tabularum, interpretatio, acti
ones 491 -; mas, sim, cada norma da Lei das XII Tábuas é seguida da interpretatio e
da acta correspondentes 492.
Esta obra, portanto de carácter misto, marca a transição dos métodos puramente casuísticos
(grosseiros) para uma nova orientação, que talvez já possa chamar-se científica. Esta o
rientação foi devida à influência da literatura grega, que, desde os últimos anos do século
III a. C., principiava a ser conhecida em Roma. Os juristas romanos aprenderam d
os retóricos e filósofos gregos o método dialéctico e adaptaram-no ao Direito (vid. supr
a 287-289 e 352). Agora, não contentes com a mera aplicação simplista de normas e de f
ormulários existentes a situações concretas previstas, ou até com inventar novos formulári
os que correspondiam a novas necessidades (casos não previstos), os iurisprudentes
começaram a investigar as relações lógico-jurídicas entre as instituições e os vários instit
s, criando uma série de conceitos, que eles definem e classificam. Esta assombrosa
elaboração científica do Direito levou muito tempo; não se sabe bem como se processou;
mas o ponto de arranque foi esta obra extraordinária de Sextus AELIUS PAETUS, Trip
ertita. Exerceu considerável influência durante várias gerações. POMPONIUS (D. 1,2,2,38) c
hama-lhe «veiuti cunabula iuris civihs> 493, pois, na verdade, constitui um
491 Por isso, alguns desses autores facilmente confundem e identificam o lus Ael
ianum, a que acima fizemos referência, ora com a primeira parte dos «Tripertita», ora
com a terceira parte.
492 Como sabemos (vid. supra 181), é com esta obra, mas sobretudo com a sua primei
ra parte (a que também se chama, lato sensu, «lus Aelianum»), que LAMBERT pretendia id
entificar a lei das XII Tábuas.
493 No mesmo sentido, CICERO:
De Repubi. 1,30: «Hic Aelius: seio tibi placere, Africane; saepe enim ex te audivi».
De Orat. 1,212: «Sin autem quaerentur quisnam iuris consultus vere nominaretur, su
ar dicerem qui legum et consuetudinis est, qua privati in civitate uterentur, et
ad respondendum et ad agendum et ad cavendum peritos esset, et ex co genere Ser
. Aelium... nominaena>.
382
1." PARTE - TIT. VIII § 34
precioso comentário ao ius civile, derivado das leia e da interpretatio. Recolhe e
sintetiza todo o trabalho dos séculos precedentes. Logo na sua época teve uma enorm
e ressonância, porque, em confronto com a iurisprudentia prática-rudimentar do tempo
, é notável, pela direcção completamente nova que Imprime.
A obra não chegou até nós; perdeu-se; mas CICERe494 diz-nos que Sextus AELius PAETUS s
eguiu um método que hoje bem poderíamos classificar de bastante semelhante ao dos gl
osadores de Bolonha.
Além do lua Aelianum e dos Tripertita, atribuem-se a Sextus AELIUS PAETUS outras o
bras (vid. D. 1,2,2,38). Não deve ser exacto. De todos é sabido como, na antiguidade
, a falsificação literária era frequente 495.
Ainda no séc. II a. C., são dignos duma referência especial Manius MANILIUS t 134 (?)
a. C., Marcus IUNIUS BRUTUS t 118(?) a.C., e P. Mucius SCAEVOLA t 115 a.C. Pouco
mais se conhece que os seus nomes e alguma coisa da sua carreira política, mas Po
MPONIUS (D. 1,2,2,39) afirma que eles «fundaverunt tios civile» - expressão que indica
a importância atribuída pelos jurisconsultos posteriores aos seus escritos jurídicos.
Época clássica (130 a.C.-230 d.C.). Característica geral: exactidão; precisão
a) -1.' etapa, pré-clássica (130-30 a.C.) Característica especial: período de intenso de
senvolvimento ascensional
II - QUINTUS MUCIUS Scaevola - Nascido por volta do ano 140 a.C., filho de Publi
us Mucrus t 132(?) a.C, e neto de P. MUCIUS
494 CICERO,. De oral. 1,193: «Quem haec Aeliana studia delectant, plurima est et i
n omni lure civili et in pontifrcum libris et in X11 Tabulis antiquitates effigi
es, quod et verborum vetustas prisca cognoscitur et actionum genera quaedam maio
rim consuetudinem vitamque declaram».
495 Sobre este problema, ver, por exemplo, Perca, Die geschichtliche Literatur I
I (Leipzig,1931) 435.
383
t
1
DIREITO ROMANO
1.` PARTE - TIT. VIII
§ 34
SCAEVOLA (a que se fez referência supra 376 n.° 8), cônsul em 95 a.C., mais tarde pont
ifex maximus496, governador da província da Asia em data que não pode precisar-se, m
orreu em 82 a.C., assassinado pelos partidários de Mário.
Dotado de raro saber e duma sólida formação filosófica, foi altamente considerado pelos
seus contemporâneos e pelas gerações imediatas, apresentando-o como verdadeiro modelo
de jurisconsulto. Os-seus escritos gozaram de enorme autoridade, e foram comenta
dos por vários jurisprudentes coevos e de épocas posteriores, v.g. POMPONIUS e GAIus
..
A sua obra mais importante denomina-se luris Civilis libri 18.É o primeiro grande
tratado sistemático do ius civile, onde é elaborada uma construção metódica e científica do
Direito. Por isso, constitui um dos melhores modelos de todos os tratados sistemát
icos de comentário ao ius civile, posteriormente publicados, e, por essa razão, deno
minados libri ad Mucium. Nessa obra, a exposição das matérias é feita com base em definições
gerais (genus), que se subdividem em várias figuras (species). Estas, portanto, têm
umas características diferenciais (específicas) e outras comuns.
Este processar da elaboração científica, seguido por Q. Mucius Scaevola, permanece con
stante através de toda a iurisprudentia romana, atingindo um dos pontos mais eleva
dos com SERVIUS SULPICIUS RUFUS. E assim: «) -provenientes de Q. MUCIUS Seaevola o
u de juristas deste período (130-30 a.C.), temos «genera et species furtorum, posses
sionum, actionum, tutelarum, donoram»; p) -mais tarde, PEDIUS (D. 2,14,1,3;-2,14.5
) cria o genus e as species conventionum; ¡) - e CELSUS (D. 12,1,1,1 e 3), o genus
credendi de que o mútuo é uma species. Este método, que provém de
496 Para evitar confusões, note-se que, por estas alturas, há três juristas com os mes
mos nome e apelido:
1-Quintus Muctus SACAEVOLA, pretor em 215 a.C. e falecido em 209 (?) a.C. (vid.
supra 376 n.° 3);
2-Quintus Muctus SCAEVOLA, cônsul em 117 a.C., conhecido por augur (uma magistratu
ra sacerdotal), falecido em 110(?) a.C.; 3-e este QUINTUS Muctus Scaevola, o pon
tifex, falecido em 82 a.C.
384
certos modelos estóicos, aplicado à iurisprudentia, deu muito bons resultados.
QUINTUS MUCIUS Scaevola escreveu ainda um bpov seu Def7nitionum liber singularis
. Entre as numerosas definitiones apresentadas, notável é a que se conserva em D. 50
,17,73,4: «Nec paciscendo nec legem dicendo nec stipulando quisquam alteri cavere
potestr 497.
As deiinitiones e as regulae, como já acentuámos (vid. supra 363), são sintomas caract
erísticos de progresso na Ciência do Direito. Nunca é demais sublinhar que a regula é fu
ndada sobre o iustum (direito objectivo) ou sobre decisões precedentes; não é criada p
or tuia meramente especulativa; daí que «non ex regula ius sumatur, sed ex lure quod
est regula fiar» (D. 50,17,1), que podemos traduzir: «não exista direito, porque há reg
ra; mas porque há direito (sentido objectivo, vid. supra 17.3.°), surja a regra».
Algumas regras e definições provém já da iurisprudentia pontifícia. Com esta obra de QUINT
US MUCIUS Scaevola alcançaram um notável incremento.
Há quem afirme que Muclus Scaevola fundou uma escola doutrinária (a escola muciana)
e que seria coeva e até adversária da escola serviana. E muito duvidosa a existência d
essas escolas; mas é certo QUINTUS MUCIUS Scaevola ter formado vários discípulos, send
o AQUILIUS GALLUS (vid, supra 376 n.° 10) o mais importante.
III - SERVIUS SULPICIUS RUFUS - Oriundo de família patrícia mas não de estirpe nobre,
cônsul em 51 a.C., falecido em 43 a.C.,
superior a QUINTUS MuCiUS Scaevola, é o maior jurista do seu século e um dos maiores
de todos os tempos 498,
Segundo CfcERO, foi ele quem elevou o Direito à dignidade de Ciência.
Uma das suas maiores glórias consiste em ter fixado a terminologia jurídica, que, em
grande parte, é a actual. Antes, o iurisprudens utilizava a linguagem corrente.
497 «Ninguém pode negociar a favor de terceiro, nem por meio do «ius honorariuni» (pacis
cendo) nem por meio do «ius civile» (legem dicendo) nem por meio do «ius gentium » (stip
ulando).
498 ARANGIO-RUIZ costumava dizer: para mim só há dois juristas verdadeiramente grand
es em todo o mundo - SERVIUS SULPICIUS RUFUS, (t 43 a.C.) e Vittorio SCIALOJA (1
856-1933).
385
i
DIREITO ROMANO
Escreveu uns 180 libri, mas apenas se conhece a designação de quatro: De Dotalibus l
iber singularis; Ad Edictum (ad Brut,um) libri 2; Reprehensa Scaevolae Capita 49
9; De Sacris
Detestandis.
8 autor do primeiro comentário ao edicto do pretor (urbano), isolado; não do Ordinat
um, pois este é de 130 d. C. (vid. supra 369). Exerceu uma influência decisiva no pr
ogresso da iurisprudentia.
Para isso, muito contribuíram as discussões vivissimas travadas com QUINTUS MUCIUS,
a que se refere POMPONIUS (D. 1,2,2,43). Entre as várias controvérsias, ficou célebre
a relativa à societas e de que nos fala GAIUS III 149. A doutrina de SERVIUS a res
peito de certos problemas de sociedades, nomeadamente quanto à contribuição e distribu
ição desiguais respectivamente de bens e de lucros entre os sócios, segundo J. KOHLER
suo, é uma das mais extraordinárias conquistas da iurieprudentia de todos os tempos;
associa-o que até aí nunca se tinha feito -o engenho, a técnica a capacidade individua
l e o capital. Essa construção doutrinária de SERVIUS originou um grande impulso no de
senvolvimento industrial e comercial, e, portanto, na criação de riqueza sol.
As doutrinas de SERVIUS SULPICiUS RUFUS foram recordadas, e por vezes transcrita
s, através de toda a época clássica.
Teve uma grande escola, com numerosos discípulos. PoMPONIUS (D. 1,2,2,44) refere-s
e aos mais importantes. Os principais foram AULUS OFILIUS, amigo e familiar de Júl
io César, e Publius (?) ALFENUS VARUS.
IV - Publius (?) ALFENUS VARUS - Oriundo de Cremona, filho dum sapateiro, cônsul e
m 39 a.C., protector de Virgílio, recordado por Horácio, falecido em 28 (?) a.C., P.
ALFENUS VARUS foi o maior discípulo de S. S. RUFUS.
A sua obra principal: Digestorum libri 40 502.
499 Baseados nesta obra, alguns AA. sustentam que SERVIUS Su1.Picius RuFus fundo
u e dirigiu uma escola doutrinária, divergente e rival da escola muciana: a escola
serviana (vid. supra 385).
soo Joseph KOULER, Das Ideale Recht (Munique,1946) 42.
501 Essa doutrina foi elaborada a propósito da questão entre Róscio e Fânio,
da qual CÍCERO trata longamente na célebre oratio «Pro Roscio Comoedo».
502 Quanto a outras obras suas, indicadas supra 377 n.° 13, vid., por todos,
WIEACKER, Textstufen, cit. 63.
386
1.a PARTE-TIT. VIII 4 34
Foi, de certeza, o primeiro autor S03 a escrever um trabalho do tipo dos Digesta
. Trata-se duma obra notável. Segundo a melhor opinião, não chegou genuína à época de Justin
iano, mas unicamente através de dois epítomes: um elaborado por PAULUs e outro por u
m anónimo 504.
Os Digesta de ALFENUS VARUS foram muito comentados em toda a época clássica.
Ao que parece, não é uma obra, produto do génio de ALFENUS VARUS, mas uma recompilação, el
aborada por ele, de vários ensinamentos do seu mestre SERVIUS SULPICIUS RUFUS. As
fontes gregas, que reproduzem fragmentos dessa obra de ALFENUS, mostram-no clara
mente. Doroteu (membro da comissão encarregada da compilação justinianeia), tradutor d
os fragmentos desses Digesta para grego, conservou o nome de SERvlus nos fragmen
tos, o que foi eliminado pelos compiladores, mas nem sempre (certamente, por lap
so, como tantas vezes acontecia com esta espécie de interpolações-omissões), v.g. D. 3,5
,20pr.;-33,7,16;-46,3,67.
b) -2. a etapa, época clássica central (30 a.C.-130 [ou 212] d.C.). Característica esp
ecial: período de esplendor e da maior perfeição do Direito Romano
A época clássica central inicia-se com duas famosas Escolas, fundadas por LABEo e CA
PITO, conhecidas pelos nomes dos respectivos discípulos, PRocuLus e SABINUS. A con
traposição dessas escolas, ao que parece, não é baseada em razões políticas, filosóficas ou d
utrinárias, mas simplesmente em motivos de ordem técnica: a) ou resolvendo dum modo
diferente alguns problemas, v.g. a respeito de quem pode ser legatário
503 Há quem defenda que o primeiro foi P. AUFIDIUS NAMUSA, escrevendo Digestorum l
ibri 140 (ou 40?); vid. supra 377 n.° 12. Não é provável. 504 Vid., por todos, Luigi DE
SARLO Alfeno Varo e suoi Digesta (Milão,1940)1.6.
387
DIREITO ROMANO
1. PARTE -TIT. VIII
no legatum per praeceptionem (vid. supra 255) ; b) ou apresentando fundamentação ou
instrumento jurídico diferente para chegar à mesma conclusão. Por exemplo, nlim cào-conc
reto, entendem as duas Escolas que se deve conceder actio; mas os sabinianos diz
em que a actio é civilis, os proculeianos, que é praetoria.
No entanto, podemos notar como certa esta característica geral: os proculeianos er
am mais audazes nas suas opiniões, mais inovadores; os sabinianos, mais conservado
res, mais tradicionais, mais cautelosos nas suas opiniões.
Estas duas escolas duraram cerca de dois séculos.
Nomes importantes:
- da Escola proculeiana, além de LABEO, PROCULUS, NERVA (pai e filho), NERATIUS PR
ISCUS, CELSUS (sobretudo, CELSUs f ilius) ;
- da Escola sabiniana, além de CAPITO, SABINUS, CASSIUS LONGINUS, IAVOLENUS e sobr
etudo IULIANUS.- [GAIUS ainda se considera... sabiniano].
Dos fundadores e continuadores das chamadas Escolas proculeiana e sabiniana, o j
urista de maior relevo é LABEO.
V - Marcus Antistius LABEO - Filho de Pacuvius Antistius LABEO (um dos conjurado
s contra César), nascido em 50(?) a.C., pretor no tempo de Augusto, tendo recusado
deste Imperador a magistratura de cônsul para melhor se entregar ao estudo, falec
ido em 10(?) d.C., foi um jurista que deu enorme Impulso
ao desenvolvimento da iurisprudentia.
Foi o iniciador do período da grande literatura clássica.
Muito estudioso; passava seis meses do ano em Roma, a ensinar, e os outros seis
meses numa aldeia, não se sabe onde, a preparar e a escrever os seus trabalhos.
Autor fecundo; produziu 400 volumina.
Dotado de grande preparação literária, foi um iurisprudens muito original, enfrentando
com novas forças os mais delicados problemas jurídicos.
388
De tudo isto nos fala POMPONIUS em D.1,2,2,47, concluindo: «Labeo ingenii qualitat
e et f ducia doctrinae, qui et ceteris opens saptentiae operam dederat, plurima
innovare instituit».
LABEO como que absorveu e refundiu as obras anteriores. Os jurisconsultos poster
iores, muitas vezes, limitam-se a fazer comentários às suas doutrinas e numerosas de
cisões.
As obras principais já foram indicadas supra 377 n.° 14.
LABEO exerceu uma especial influência, atracção e simpatia, através dos tempos. PERNICE
dá ao seu «tractatus» de Direito Romano a designação de Labeo; em 1955, surge em Nápoles uma
nova revista de Direito Romano, intitulada «Labeo».
VI - Caius Ateius CAPITO - Nascido em data que não pode bem precisar-se, cônsul no a
no 5 d.C., curator aquarum desde 13 d.C., falecido em 22, foi, como dissemos, o
fundador da escola sabi
niana.
Foi importante, no seu tempo, por ter sido rival de LABEO, e
por ter aderido ao novo regime politico, o principado.
Pouco original, não exerceu influência posterior. Escreveu pouco (vid. supra 377 n.^
15) e sem grande valor. São bem sintomáticos os termos com que POMPONIUS a ele
se refere (D.1,2,2,47) : «Ateias Capito in his, quae ei tradita
f uerant, perseverabat».
VII - PROCULUS - Este jurista é conhecido só pelo seu cognomen.
Discípulo de LABEO, deu, como dissemos, o nome à Escola fundada por este -Escola Pro
culeiana. Não se sabe nem quando nem onde nasceu. Segundo o que pode deduzir-se da
s fontes, deve ter fale
cido depois do ano 33 d.C.; provàvelmente, à volta de 47.
Escreveu sobretudo comentários a LABEO (vid. supra 377 n.^ 16).
A sua obra tem certo valor, segundo afirma POMPONIUS (D.1>2,2,52): «...sed Proculi
a,uctoritas maior fuit, nam etiam plurimum potuit».
389
1
DIREITO ROMANO
La PARTE - TIT. VIII
§ 34
VIII - Massurius SABINUS - Continuador de CArtTO, foi o verdadeiro fundador da E
scola que tem o seu nome - sabintana. Natural provàvelmente de Verona, nascido nos
primeiros anos do principado, dotado de ius respondendi concedido por Tibério, fa
leceu
em 48(?) 505,
E o maior jurista de todo o séc. I, depois de LABEO.
A sua obra principal - libri tres iuris civilis - foi muito comentada durante a ép
oca clássica. São famosos os comentá
rios ad Sabinum de POMPONIUS, de PAULUS e de ULPIANUS.
No séc. I, toda a iurisprudentia é dominada por duas gran
des figuras: LABEO e SABINus.
IX - IAVOLENUS PrisCUS - Nascido em lugar e data que não podem bem determinar-se,
procedente da classe senatorial, desempenhou cargos importantes, militares e civ
is, em Africa, Germània, Síria, Dalmácla, Britânla, etc.; foi cônsul em 87(?) e, finalment
e,
membro do consilium principia 506, cargo que ocupou até à morte, já de avançada idade, o
corrida cerca do ano 98.
Foi sabiniano. Chegou mesmo a classificar a Escola.
A sua maior glória é ter sido o mestre de IULIANus.
As suas obras (vid. Supra 377 n.° 22 a indicação das principais) já denotam existir pouc
a diferença entre proculeianos e sabinianos.
X-Iuventius CELsus (Celsus filius)-Filho de Iuventtus
CELsus (Celsus pater, também jurista de bastante valor), nascido em data incerta,
pretor no ano 107(?), cônsul em 129, mem
bro do consilium principia no tempo de Adriano, deve ter falecido cerca do ano 1
40.
505 Segundo relata PoMPONlus (D. 1,2,2,50), SABINUS era pobre; era sustentado co
m as ofertas dos seus auditores.
S06 0 concilium principis, formado inicialmente, talvez desde Augusto, por certa
s pessoas de família e alguns amigos íntimos do imperador, vai assumindo crescente i
mportância até que, a partir de Adriano, se transforma num órgão permanente, constituído p
rincipalmente por juristas, que têm sobretudo duas grandes funções: a) assistir como téc
nicos aos juizes no tribunal do imperador, e então denominam-se adsessores; b) ass
istir como técnicos ao próprio imperador na feitura das constituições, e nesse caso desi
gnam-se consiliarii. Em ambas as hipóteses, tomam o nome de stipendiati.
390
Foi proculeiano ilustre. Chegou a orientar a Escola. Depois dele, os proculeiano
s não tiveram qualquer outra figura de relevo.
Jurista eminente, notável pela sua originalidade, perspicácia e ousadia 507, escreve
u várias obras (vid. supra 378 n.° 24), sendo a mais importante os Digestorum libri
39.
XI - Salvius IULIANUS - Nascido em Adrumeto, em data que não se conhece, ocupou vári
os cargos políticos 508, sendo os mais importantes o de membro do consilium princi
pia no tempo de Adriano em 138( ?), cônsul em 148(?), proconsul de Africa em
166(?); deve ter falecido em 168(?).
É sabiniano e o mais ilustre de todos os iurisprudeutes romanos. Superior a LABEO.
Jurista verdadeiramente original e enciclopédico. Um autêntico génio universal no camp
o do Direito. Com a sua largueza de vistas, profundidade de análise e rigor de lógic
a jurídica vigorosa, cortou com muitos vínculos da tradição da Escola Sabiniana, de que
foi o orientador; admitiu várias doutrinas dos proculeianos; devido à sua autoridade
extraordinária, disse a última palavra em muitas controvérsias, até então vivamente agita
das entre vários jurisconsultos. E o iurisprudens mais citado pelos juristas poste
riores e o que maior influência exerceu em todos eles. Superior a LABEO. Muitas da
s suas opiniões são conhecidas através da obra do seu discípulo AFRICANUS.
507 Também era «célebre» pelos seus modos rudes. Ficou memorável a resposta dada numa epis
tula a um certo Domitius LABEO: «aia non intelligo quid sit, de quo me consuleris,
aut valide stulta eat consultatio tua: plus enim quam ridiculum est dubitare...»
(D. 28,1,27).
508 Uma inscrição, descoberta em 9-7-1889 na Tunísia, perto de Susa, contém o nome compl
eto e indica os cargos principais de IULIANUS:
«Lucius Octavius Cornelius Salvius IULIANUS Aemilianus: decenvir litibus iudicandi
s, quaestor Imp. Hadriani, tribunus plebis, praetor, praefectus aerarii Saturn e
t militaris consul (em 148), pontifex (talvez em 149), sodalis Hadrianalis («divus
Pius») (talvez em -140), sodalis Antoninianus (talvez em 163), curator aedium sac
ralium (em 150), legatus Imp. Anton. Pü Germaniae inferioris (entre 151 e 161), le
gatus Imp. Antonini Aug. et. Veri Aug. Hispaniae clterioris (talvez em 162), pro
consul Provinciae Africae (cerca de 166)».
391
DIREITO ROMANO
1.a PARTE - TIT. VIII
§ 34
Como sabemos (vid. supra 343 e 344), é o autor do «Edictum Perpetuum» ou «Ordinatum»; e o
seu trabalho não se limitou a ser o de mero compilador (vid. supra 346 e n. 423),
As suas obras (vid. supra 378 n.o 25, a enumeração das principais), sobretudo os Dig
estorum libri 90 S09 e o De Ambiguitatibus liber singu2atris 510, revelam três qua
lidades excepcionais: 1) brilho de exposição; 2) raciocínio claro; 3) elegância na solução d
as questões.
Além de jurista eminente, foi grande político e exerceu múltiplas actividades de carácte
r prático: magistrado, conselheiro imperial (sobretudo de Adriano) e advogado.
Em tudo, mostrou abarcar com grande minúcia toda a extensão do Direito.
XII - Sextos Caecilius AFRICANUS - Quase nada de seguro se conhece a respeito da
sua vida. Parece que devia ter morrido à
volta do ano 170.
A sua maior glória reside em ter sido discípulo de IULIANUS
o grande divulgador das doutrinas do seu Mestre, principalmente através da obra Qu
aestionum libri 9.
Foi jurisconsulto muito apreciado na sua época, devido ao seu espírito agudo e espec
ulativo; por isso, alguns dos fragmentos contidos no Digesto são difíceis de interpr
etar 511; daí,
ter surgido entre os glosadores o adágio: - « Af ricani lex, id est dif ficilis».
XIII - SeXtus POMPONIUS - Pouco, ou nada de certo, se sabe da
sua origem e da data do seu nascimento, assim como dos várias cargos que desempenh
ou 512,
509 É tão importante esta obra que foi republicada sucessivamente com Notae de MARCE
LLUS, de Q. C. SCAEVOLA, de PAULUS e provàvelmente de MAU, RICIANUS, e entrou em l
arga medida na elaboração do Digesto.
510 Vid. T. MAYER-MALY, Zu Julians Liber Singularis De Ambiguitatibus em Temis 2
1(1967) 147-150.
511 Há quem defenda que a «obscuridade» de certos fragmentos de AFRICANUS contidos no
Digesto é devida às interpolações de diversa ordem efectuadas* pelos compiladores.
512 Vid. W. KUNKEL, Herkunft, cit. 170 e 171.
392
Jurista de grande erudição 513, muito respeitado pelos seus contemporâneos, fecundo (e
screveu cerca de 300 volumina) mas de pouca originalidade, inicia um tipo novo d
e literatura jurídica - a compilação -, que havia de ser característica, no séc. III, atin
gindo o seu apogeu com ULPIANUS. Reuniu nas suas volumosas obras (vid. supra 378
n° 29 - só uma consta, pelo menos, de 150 libri) todas as doutrinas importantes da
iurisprudentia clássica até ao seu tempo. Não sendo original, mostrou trou ser dotado
de certo espírito crítico, pois sabia escolher,
entre as diversas opiniões contraditórias, a mais provável.
Como já ficou devidamente acentuado (vid. supra X n. 489), escreveu um breve resum
o da história do Direito Romano, em grande parte transcrito em D. 1,2,2.
XIV - GAIUS - É um enigma, a começar pela própria denominação... A respeito desta figura,
quase tudo se reduz: «não se sabe... parece que... »
Não se conhece o seu nomen, «Gaius» é um vulgaríssimo praenomen romano; na época imperial, t
ambém era usado como nomen gentile. Referido á este(?) jurista(?), não se sabe bem
que significa. Pode, inclusive, ser um pseudónimo e significar uma pessoa ou um gr
upo de pessoas. Dai o enigma a respeito de Gaius...
1.°-Não se sabe se existiu ou não (no caso de não ter existido, «Gaius» seria um pseudónimo a
compreender um grupo
juristas que teriam escrito as obras hoje atribuídas a GAIUS); parece que existiu.
2.°-Se existiu, não se sabe se era «civis» ou não, se era do Império do Ocidente ou do Orien
te; parece que era «civis» (ou liberto?), estudou em Roma e viveu, depois, no Orient
e.
3.°-Se viveu no Oriente, não se sabe onde nem que actividades desempenhou; parece qu
e foi professor numa escola de província, provàvelmente na Asia (opinião de MOMMSEN).
4.°-Ao que parece, devia ter falecido por volta do ano 180.
5.°-Tendo vivido no séc. II, pensava e escrevia como um jurista do séc. IV; por Isso,
talvez a melhor classificação até hoje é a de «pré-posoldsico» (A. D'ORs), ou de BESELEE - «u
513 Não só exagerado, mas erróneo, qualificando-o de ... ignorante, é o juízo emitido por
MoMMsEN, Staatsrecht3 II (Berlim, 1887) 173.
393
DIREITO ROMANO
1.a PARTE-TIT. VIII
§ 34
-clássico que escreveu na época clássicas. E um perturbador das doutrinas clássicas, o m
enos clássico dos clássicos; daí que
6.°-no seu tempo, ao que parece, GAIUS é totalmente desconhecido. Na época post-clássica
, é a maior autoridade (todos o entendem muito bem, pois soube corromper a turispr
udentia cl'ásslca). Embora não tivesse gozado do ius respondendi ex auctoritate prin
cipia, na Lei das Citações (426) é equiparado aos juristas que tiveram esse privilégio (
vid. infra 424). Justinlano chama-lhe carinhosamente «Gaios nester, (D. 45,3,39, I
nterpolado). Através dos séculos, foi considerado, quase sempre, a figura cear trai
da época clássica; hoje em dia, exceptuando GUARINO 514, VAN OvEN e poucos mais, já não
se ofende o «classicismo» de Gato.
7.°-A sua obra parece, ao mesmo tempo, mais antiga e mais moderna do que a época em
que se diz ter sido escrita (um verdadeiro e complicado anacronismo histórico...),
além de acusar uma diferença de estilos muito acentuada.'
8.°--A diferença de escolas sabiniana e proculelana já tinha desaparecido haviaa muito
(vid. supra 388); todavia, GAius confessa-se um «bom» sabiniano.
9.°-A bibliografia sobre GAIUS é abundante. Veja-se, por todos, a obra mais recente,
uma colectânea de trabalhos de vários autores, defendendo-se opiniões diversas - Gaio
nel suo Tempo. Atti dei Simposio Romanistico (16-19 Dicembre 1965) (Nápoles,1966)
.
Para já, quanto mais se estuda, quanto mais se discute a figura de GAIUS, surge «piú p
roblematico e misterioso di prima> 515.
A sua obra principal (vid. supra 378 n.° 31) são umas Institutiones em 4 livros, que
o próprio GAIus denominou Commentarii 516
Este manual, composto cerca do ano 160, escrito num estilo simples e claro, apre
sentando a matéria com um certo método novo(?) e enquadrada numa sistemática especial,
alcan
514 Vid. Labeo 9(1963) 398-399, onde mais uma vez insiste no classicismo
de GAIus, indicando os autores e respectivas obras, que defendem igual opinião. 51
5 Gaio nel suo tempo cit. VI.
516 Acerca do significado desta. expressão, vid. Gaio nel suo tempo cit. 5. Sobre
a existência de vários extractos nos «Gai Institutionum commentarii Quat
tuor» e até dum possível «Urgaius», vid. WIEACKER, Textstufen 186-199.
394
çou uma celebridade difícil de explicar 511. Tornou-se, na época post-clássica, a obra f
avorita de literatura clássica; mais tarde, o livro ideal do advogado, do. juiz, d
os magistrados e dos estudiosos de Direito; por fim, o texto escolar, por antono
másia. Exerceu uma influência profunda (?) em muitas gerações, tal
vez até ao presente 518.
Vários fragmentos das Institutiones de GAIUS encontram-se no Digesto; grande parte
da obra foi utilizada para a redacção das Institutiones de Justiniano 519. Por feli
z casualidade, o texto, quase completo, foi descoberto pelo historiador B. G. Ni
EBxuR, em 1816, num palimpsesto da Biblioteca Capitular de Verona. 0 manuscrito,
que data do séc. V e se encontra hoje na Biblioteca Vaticana, não reproduz certamen
te o livro publicado por GAIUS, ou por um seu discípulo (opinião de SCHULZ, History
142), mas provàvehnente um texto dos princípios do séc. III, elaborado por um editor q
ue adaptou a obra de GAIUS às necessidades do seu tempo - ora resumindo-a, ora acr
escentando-lhe certos comentários (tipo glosa) feitos pelos expositores da época (op
inião de H. J. WOLFF, Introducción Histórica 136 6). Esse manuscrito oferece várias lacu
nas, algumas provocadas pelos reagentes utilizados para a leitura por NIEBUHR e
GOSCHEN. Hoje, por outra feliz casualidade, essas lacunas estão quase todas integr
adas: em parte, pelo papiro de Oxyrrinco (P. Oxy. 2103, publicado em 1927 por HU
ND e BUCKLAND), e em parte pelos fragmentos (contendo quase por completo os livr
os III e IV das próprias Institutiones Galanas) dum papiro egípcio (PSI, 1182), publ
icado em 1933 por ARANGIO-RUIZ (vid. BAVIERA, FIRA II 195 e 201, e ROBLEDA, lua
Privatum Rosnanum 204 e n. 561).
As Institutions de GAIus estão divididas em 4 livros. A matéria encontra-se distribuíd
a em três partes (I 8): 1) - ius quod ad personas pertinet; 2) - ius quod ad res p
ertinet; 3) - ius quod ad actiones pertinet. A primeira parte é exposta no livro I
e trata dos diversos status jurídicos dos homens;
517 Vid. Gaio nel suo tempo, cit. 32. 518 Vid. ib. 43.
519 Vid. infra 480.
395
DIREITO ROMANO
1.8 PARTE - TIT. VIII
§34
a segunda, contida nos livros II e III, compreende os direitos reais, as sucessões
e as obrigações; a terceira ocupa o livro IV e diz respeito ao processo civil.
Esta divisão - que não é comum às institutiones dos juris
tas da época -foi depois observada nas Institutiones de Justiniano 520, continuada
na sistemática medieval e seguida nas obras elementares e em alguns códigos do século
passado.
Há quem afirme que a exposição de matérias, sobretudo no livro IV, é feita com um método tão
eguro, claro e perfeito que a formulação e a sistematização não podem atribuir-se exclusiv
amente a GAius; pressupõem «uma longa e vasta obra precedente», de que as Institutione
s gaianas seriam um epí
logo 521
As Institutions de GAIOS têm eido editadas e traduzidas muitas vezes. Sobre as vária
s edições, ver FIRA II 5-7; a respeito de traduções, notem-se as de Álvaro D'ORS, Gayo. In
stituciones (texto latino con traducción espanou) (Madrtd,1943), de F. DE ZULUETA,
The Institutes of Gaius. Part 1: Text with Critical Notes and Translation (Oxfo
rd,1946) e de J. REINACH, Gaios. Institutes (Paris,1950), com tradução francesa.
Também é muito peculiar a obra de GAIOS, Ad Edict um Provinciale libri 32 522.
XV - U1piUS MARCELLUS - A respeito da sua vida, sabe-se apenas que pertenceu ao
consilium principia de Antonino Pio e de Marco Aurélio, que foi governador da Panóni
a entre 169 e 176, e da Britânia entre 179 e 184, devendo ter falecido à volta do an
o 185.
Foi um jurista arguto, muito claro e bastante original. É o mais importante depois
de IULIANUS.
520 Vid. infra 481.
521 Vid. neste sentido Edoardo VOLTERRA, Istituzioni di Diritto Privato Romano (
Roma,1963) 13.
522 Sobre esta obra vid., por todos, F. WIEACKER, Textstufen 277.
A sua obra mais importante (vid. supra 378 n.' 33) são os Digestorum libré 31; a que
teve mais divulgação na Idade-Média foram as Notae aos Digesta de IULIANUS, a ponto d
e CUJÁCIO considerar MARCELLUS o perpetuas censor do eminente jurista da época clássic
a central.
XVI - Quintus Cervidius SCAEVOLA - Oriundo da Grécia ou da
Africa, sabe-se que fez parte do consilium principia de Marco Aurélio, que foi o m
estre 'de Septimio Severo e de PAPINIANUS e que faleceu à volta do ano 195.
Foi também um jurista arguto; notável pela precisão e sobretudo pelo laconismo com que
dava os seus famosos responsa. Sempre formulados com uma técnica admirável, referin
do apenas os elementos essenciais do caso, são modelo de concisão; parece que nada e
stá a mais nem a menos, nem uma frase nem sequer uma palavra.
Além de responsa, escreveu também quaestiones e digesta.
XVII - Aemilius PAPINIANUS - Originário da província da Siris ou da Africa, aparenta
do com Septimio Severo (afim, pelo lado da segunda mulher do Imperador), foi adv
ocatus fisci, adsessor dos praefecti praetorio e provàvelmente professor de Direit
o. Depois
duma carreira política brilhante, foi nomeado no ano 203 praefectus praatorio, car
go que ocupou até à morte, ocorrida em 212. Foi mandado assassinar pelo Imperador Ca
racola, por ter cri
ticado e classificado de fratricídio o assassinato do irmão e co-imperador Gueta, or
denado pelo mesmo Caraoala.
Foi um dos juristas que gozou 1)-de mais fama e 2)-de maior consideração na posterid
ade.
1) -De mais fama, devido: a) - às suas convicções firmes, que manifestou sempre, inclu
so perante Caracala, embora essa atitude lhe valesse a pena de morte; b) - a ter
sido um inovador de certos princípios, informando vários institutos juri
396
397
DIREITO ROMANO
1.a PARTE - TIT. VIII
§ 34
ditos de ideias altamente morais 523, que recebeu sobretudo do cristianismo (foi
o primeira jurista cristão), e ainda transformando vários elementos acidentais de c
ertos negócios jurídicos em naturais, como já tinha feito, em grande escala, IuLIANUS;
c) - ao facto de ter sido assassinado, em circunstâncias revoltantes.
2) - De maior consideração: a) - Constantino retira todo
o valor às Notae de PAULUS e de ULPIANUS sobre PAPINIANUS
(Cr 1,4,1) -sobre este problema vid., como estudo mais recente, B. SANTALUCIA em
BIDR 68(1965) 49-146; b) - a Lei das Citações, como veremos infra 424 e 425, conced
e-lhe um lugar primacial; c) - Justiniano não admite opinião que esteja contra ele, «p
ropter honrem splendidissimi Papiniani» (const. Deo Auctore 6).
PAPINIANUS foi classificado pela posteridade como «príncipe dos juristas romanos», pri
mos omnium, devido também à sua profunda penetração, à clareza de exposição dos casos e das d
cisões, e à subtileza de raciocínio.
As suas obras principais são: Digestorum libri 37, com Notae de PAULUS; Responsoru
m libri 17, com Notae de PAULUS e de
ULPIANUS.
Depois de PAPINIANUS, a época clássica aproxima-se rápidamente do seu fim.
c)-3.' etapa, época clássica tardia (130 [ou 212?]-230). Característica especial: os «ju
risprudentes» revelam falta de génio criador e de originalidade; início das grandes co
mpilações; começo da decadência.
=[O «espírito desta 3.' etapa da época~ clássica só principia
a revelar-se claramente a seguir a PAPINIANUS (212). Não deverá
523 É célebre aquele seu princípio, tantas vezes invocado, e por vezes dis
cutido:
«Quae facto laedunt pietatem, existimationem, verecundiam nostram et, ut generalit
er dixerim, contra bonos mores fiunt, nec facere nos posse credendum est» (D.28,7,
15).
398
prolongar-se a etapa da época clássica central até cerca de 212, data do falecimento d
e PAPINIANUS, que é ainda um notável «lurisprudens>, primus omnium, principiando ai, e
m 212, a 3' etapa?
Desaparece, é certo, parte da «harmonia dorslana> da mnemônica da dezena 30... Mas tal
vez seja de sacrificar essa parte da mnemónica à realidade.
A partir de 212, sente-se que a época clássica está a abeirar-se do fim. «A grande iuris
prudentia tinha esgotado as suas forças. Chegara o momento de colher os frutos em
grandes comentários Ad Sabinum, isto é, longas exposições do ius civile, seguindo o sist
ema usado por SASINUS na sua obra Ad Edictum, quer dizer, estudos monográficos em
comentários acerca do ius praetoris urbani (vid. supra 369), e sobre temas particu
lares» (WoiFIr 524). POMPONIUS,
duas gerações antes, já tinha iniciado esse tipo de obra, denominado comentário em forma
de compilação; mas tinha sido em reduzidas proporções e constituído um facto isolado, que
não teve continuadores. Agora, a compilação é empreendida em grande escala pelos dois a
uxiliares de PAPINIANUS, que escrevem sobretudo Ad Sabinum e Ad Edictum.
A própria «inflação da cidadania», devida ao famoso Edicto de Caracala, também de 212, conco
rreu para uma «inflação de juristas»eram precisos, e a toda a pressa, muitos juristas, p
ois agora todos os habitantes do Império são cives romani; têm de efectuar os seus negóc
ios e de serem julgados segundo o lus Romanum -; essa «inflação de juristas» provocava,
e não a muito longo prazo, uma baixa de nível da ciência jurídica.]=
Discípulo de Q. Cervidius SCAEVOLA, como PAPINIANUS, é jurista muito inferior a este
, mas ainda superior a ULPIANUS, devido sobretudo à sua independência e a uma certa
agudeza
'5
XVIII - IuliuS PAULUS - Talvez natural de Pádua (e não de origem fenícia, como geralme
nte se afirmava, até há bem pouco tempo), desempenhou vários cargos políticos: adsessor
do praefectus praetorio, quando esta magistratura era ocupada por PAPINIANUS; si
multâneo com este, membro do consilium principia, no tempo de Septimio Severo e de
Caracala; depois, vítima de certa perseguição, ordenada por Heliogábalo; e, finalmente,
praefectus praetorio, no tempo de Alexandre Severo.
Deve ter morrido cerca do ano 226.
524 Wot.FF, Introducción Histórica 137.
399
DIREITO ROMANO
1., PARTE-TIT. VIII
de espírito. Escreveu, como já foi devidamente acentuado, comentários Ad Sabinum e Ad
Edictum, e elaborou muitas compilações. É um dos iurisprudentes mais fecundos: escreve
u para
cima de 90 obras em cerca de 319 livros; dessas obras, 71 foram utilizadas pelos
compiladores justinianeus, que extraíram delas 2 080 fragmentos.
XIX - Domitius ULPIANUS - De origem fenícia, como ele próprio confessa (D.50,15,lpr.
), realizou carreira política brilhante, tendo chegado a praefectus praetorlo no t
empo de Alexandre Severo. Consiliarius sempre fiel a este imperador, funcionário ríg
ido, foi assassinado em 228 pelos soldados pretorianos.
0 seu valor como jurista consiste em ter sido um «sintetizador» brilhante (e só se pod
e sintetizar bem, quando se conhece muito bem uma matéria), devido à sua vasta cultu
ra jurídica, à sua vasta cultura filosófica, aos seus dotes de engenho e à sua superior
clareza de exposição, e um escritor fecundo, tendo produzido cerca de 287 livros, qu
e abrangiam quase todos os sectores do Direito.
ULPIANUS, sublinhe-se bem, dominava perfeitamente todo o saber jurídico clássico e d
ominava d.- igual modo a filosofia grega, sobretudo Aristóteles, Platão, e dum modo
muito especial, Plutarco. Era um grande jurista e um bom filósofo. Conseguiu infor
mar de conteúdo filosófico, vários textos jurídicos clássicos. Vejam-se, a título de exemplo
, os fragmentos contidos em D.1,1,10,2; 1,1,10,1;1,1,1pr., etc.. Esta nova dimen
são da personalidade de ULPIANUS, jurista-filósofo, recentemente posta a descoberto
por P. FREZZA, tem de estar bem presente aos olhos de quem examinar qualquer doa
seus fragmentos. (Ver nossa monografia lus. Derectum 40 e 41).
ULPIANUS sintetizou admiràvelmente as principais obras de CELSUS, IULIANUS, POMPON
IUS, MARCELLUS, com a evidente finalidade de apresentar um quadro completo da ciên
cia jurídica para as necessidades da prática. Por isso, os escritos de ULPIANUS goza
ram de grande autoridade, e difundiram-se
por toda a parte, sobretudo no Oriente. Por essa mesma razão, as suas obras foram
largamente utilizadas para a elaboração do Digesto, que encerra 2 462 fragmentos de
ULPIANUS, o que representa cerca de uma terça parte de todo o Digesto.
Além dos comentários Ad Sabinum e Ad E<dctum, como já ficou expressamente sublinhado,
são dignos de especial menção os 10 libri de Regulae e 10 libri de Respoti./tl.
XX - Hereniiius MODESTINUS - Natural da Dalmácia e discípulo de ULPIANUS (D.47,2,52,
20), deve ter morrido cerca do ano 240.
É o último jurista clássico, mas já não se lhe pode chamar... grande.
A sua obra, parte escrita em grego, limita-se a umas Regulae, a umas Differentic
e e a pouco mais de importante. (Ver nossa separata 0 XX111 Congresso Internacio
nal de Direito
Romano 16).
XXI - HERMOGENIANUS -Já pertence à época post-clássica, pois deve ter morrido nos princípi
os do séc. IV.
Costuma falar-se dele, porque é indicado como o autor do Código Hermógenianog', e aind
a porque o Digesto contém alguns fragmentos da sua obra -Iuris Epitomarum libri 6.
Sobre esta obra, vid. por todos, LIEBS, Hermogenianus luris Epitomae (Gotinga,1
964), e Aldo CENDERELLI, Ricerche sul «Codex Hermogenianus> (Milào,1965) 201-243, e
Intorno all'Epoca di Compilazione dei «Libri luzis Epitomarum> di Ermogeniano em L
abeo 14(1968) 187-201.
525 Vid. infra 409.
400
401
Título IX - OBRAS E COLECTANEAS PRË-JUSTINIANEIAS
A) OCIDENTAIS B) ORIENTAIS
SUMÁRIO-35. a) A partir do séc. IV, especial necessidade de textos
jurídicos
b) Carácter geral dos novos textos c) Espécies de colectâneas
I - de leges
lI -de ias
III - de ias e de leges
d) Classificação de certas colectâneas pré justinianeias.
Critério adoptado. Principais colectâneas elaboradas:
A) - no Ocidente; R)-no Oriente
a) A partir do séc. IV, especial necessidade de textos jurídicos
35. Vários factores contribuíram para se verificar, a partir do séc. IV, uma especial
necessidade de textos jurídicos. Indiquemos os três principais.
1.0 Raridade e insuficiência da literatura clássica - Vários textos clássicos tinham des
aparecido, inclusive pela acção
403
DIREITO ROMANO
1." PARTE -TIT. IX
§35
do tempo, visto tanto o pergaminho como o papiro terem uma duração limitada. Alguns
foram abandonados, pois tornaram-se inúteis - por serem inacessíveis aos homens «prático
s» do séc. IV, despidos de qualquer especulação -, e perderam-se. Certa reedição, e só de alg
mas obras clássicas, era diminuta. Os texto selássicos existentes não continham_ já as n
ormas aplicáveis, porque, no séc. IV, quase tudo era regulado e decidido por leges e
não por ius. - Numa palavra, os textos clássicos existentes no séc. IV eram poucos e,
além disso, não tinham a maior parte das normas que resolviam as várias situações sociais
, agora tão diferentes das dá época clássica.
2.0 Novas exigências de textos jurídicos - As escolas, os tribunais e a administração, a
partir dos fins do séc. III e sobretudo princípios do séc. IV, em virtude das novas c
ondições sociais (vid. supra 354), exigiam um número avultado de textos jurídicos.
3.0 A incerteza do Direito - Era necessário elaborar textos jurídicos: a) que estabe
lecessem a coordenação entre o ius novum (ou leges) e o ius vetos (ou ius), pois não s
e sabia bem o que estava ainda vigente e o que tinha sido revogado; b) que orden
assem uma sistematização das próprias leges, para se conhecerem as de aplicação geral e as
de aplicação especial; c) que fixassem bem todas as normas aplicáveis, dizendo clara
e expressamente qual o Direito verdadeiro, para se acabar com os abusos de invoc
ar constituições apócrifas ou simplesmente inventadas, sobretudo na forma de rescritos
.
Em conclusão - Nos fins do séc. III e sobretudo princípios do séc. IV, reinava a incerte
za do Direito, manifestada sob várias formas - e em Direito, geralmente, é pior a in
certeza do que o erro: no erro, comete-se aquele erro; na incerteza, quase sempr
e cometem-se vários erros. Eram necessários novos textos jurí
dicos para esclarecer, precisar, determinar 5*-'".
526 Vid. GAUDEMET, La Formation du Droit 38-39.
b) Carácter geral dos novos textos
São ou resumos de obras jurídicas (de ius), ou colectâneas de leges, ou compilações de ius
e de leges. Tudo feito sem originalidade, porque os juristas, ou melhor, os esc
oliastas dos sécs. IV e V não têm valor. Eles próprios reconhecem-no; por isso, escondem
-se sob o anonimato. Não há verdadeiramente comentários, adaptando as normas às novas si
tuações sociais, mas simples colectâneas, agrupando certas normas de uso mais frequent
e na prática, por serem as mais invocadas pelos advo
gados.
c) Espécies de colectâneas: I - de «leges»; li - de «ius»; III - mistas (de «ius» e de «leges
I -Colectâneas de «leges»
Eram as mais urgentes, visto as constituições imperiais, a partir do séc. IV, formarem
exclusivamente o verdadeiro ius novum; por isso, as compilações de leges foram, cro
nológicamente, as primeiras a ser elaboradas:
As principais i27 são: o Código Gregoriano, o Código Hermogeniano e o Código Teodosiano.
Código Gregorian (291-292) e o Código Hermogeniano (295 [ou 314 a 323?))
Embora estas duas colectâneas não formem um todo único, como até 1965 se vinha defendend
o, visto o Código Hermogeniano não ser um mero complemento (o livro 16.") do Código
527 As principais colectâneas de leges são as indicadas no texto; mas as primeiras d
eviam ter sido outras, muito rudimentares. Vid. GAUDEMET, o. c. 38-40.
404
405
I
DIREITO ROMANO
1 PARTE -TIT.IX
135
Gregoriano (que tem 15 livros, como a4iante veremos), para melhor compreensão convém
tratar em comum os problemas que são iguais e depois fazer uma breve análise a cada
código,
em separado.
PROBLEMAS COMUNS
-D nome de «código>, dado a cada uma destas colectâneas de leges, deriva do facto de t
erem sido os primeiros textos jurídicos em forma de codex e não já de liber ou volumen
como até então (vid. supra 49). Daí por diante, até hoje, toda a colectânea ou livro de l
eges (leis) é denominado... codex (código).
- 0 Código Gregoriano e o Código Hermogeniano são colectâneas de índole privada; mas «privad
a> não significa necessàriamente «compilação feita por um particular>, e sobretudo não «signi
ica, opera condotta a termine senza autorizzazioni o appoggi uf ficiadi> 528
- Como encerram constituições Imperiais anteriores ao séc. III (veremos, já a seguir), são
consideradas compilações de ius e não de leges, como à primeira vista poderia julgar-se
. Por isso, a interpretatio de CT 1,4,3 inclui os dois códigos entre as obras da i
urisprudentia. 0 mesmo acontece, v.g. em FIRA; vêm no II vol. (AUCTORES) 655-665.
- Encerram quase só rescritos (ou apenas? ou sobretudo?). A principal finalidade d
estes códigos parece ter sido colocar à disposição dos juristas rescritos importantes, m
as pouco ou mal conhecidos.
São citados integralmente, sem qualquer comentário ou até simples interpolação. Isto const
itui uma inovação, a indicar um respeito pelo texto das leges, até então muito raro, e a
mostrar a autoridade agora reconhecida às constituições imperiais. A compilação, porém, con
tinuava privada: não conferia aos textos uma autoridade nova; a forma por que eram
citados não se impunha a todos. No entanto, a constituição de 429, de Teodósio II (CP 1
,1,5), que apresenta o primeiro projecto do Código Teodoslano, implicitamente reco
nhece um certo valor oficial aos Códigos Gregoriano e Hermogeniano, prescrevendo m
andar fazer um código (oficial) à semelhança destes. Assim foi entendido pela interpre
tatio de CT 1,4x3, quando explica: «Gregorianum vero et Hermogenianum ideo lex saf
a praeteriit, Guia aula auctoritatibus confie
528 Aldo CENDERELLI, Ricerche sul «Codex Hermogenianus» (Milão, 1965) 10; ver também págs.
15-18.
406
mantur ex lege priore sub titulo de constitutionibus prineipum et edictis. Hed e
x his omnibus iuris consultoribus, ex Gregoriano, Hermogeniano, Gaio, Papiniano
et Paulo, quae necessaria causis praesentium temporum videbantur, elegimus>.
- Dos Códigos Gregoriano e Hermogeniano nada chegou até nós,'directamente. Várias partes
foram-nos transmitidas através das seguintes colectâneas (de ius e de leges): Lex R
omana Viaigothorum e seus apêndices, Lex Romana Burgundionum, Fragmenta Vaticana,
Collatio, Consuitatio e Scholia Sinaitica, e ainda em alguns escólios de TALALEU a
o Código de Justiniano. Além disso, certos manuscritos do Breviário de Alarico contêm um
Epitome Codicum Gregorian et Hermogeniani, composto para os visigodos (vid. FIR
A II 656-665).
Todas estas fontes transmitem só uma pequena parte destes dois códigos 529. Mesmo as
sim, HAENEL tentou reconstrui-los, publicando a edição Codices Gregorianus, Hermogen
ianus (Leipzig,1837). KRUGER, perante a dificuldade da reconstrução, sobretudo em de
scobrir a sistematização original, preferiu, ao contrário de HAENEL, não fazer uma edição; l
imitou-se a indicar os lugares das fontes, onde se encontram fragmentos. Ultimam
ente, um estudo profundo, elaborado por Aldo CENDERELLI, Ricerche sul «Codex Hermo
genianus> (Milão,1965) apresenta a reconstrução sistemática e palingenética (págs. 143-181)
do Código Hermogeniano, baseando-se principalmente no Código de Justiniano.
- Embora não citando estes códigos, os compiladores justinianeus, para a feitura do
codex do «Corpus Iuris Civilis>, utilizaram os Códigos Gregoriano e Hermogeniano. De
duz-se claramente das constituições de Justiniano Summa rei pubiicae 1 e Haec quae n
ecessario pr., onde o imperador manda reunir num só código as constituições dos Códs. Greg
oriano e Hermogenlano e as constituições posteriores. Portanto, as constituições do Code
s de Justiniano,,anteriores a Constantino (e até algumas de Coastantino) procedem
destes dois códigos, embora o Codex não as contenha todas nem só as dos Códs. Greg. e He
rmog., pois não está excluída a hipótese de os compiladores terem utilizado, para recolh
er constituições anteriores a Constantino, outras fontes além dos dois referidos códigos
.
Código Gregoriano-Assim denominado em virtude do seu autor-um tal Gregorius (segun
do a maioria dos AA., nomea
n9 Vid. GAUDEMET, o.c. 40.
407
DIREITO ROMANO
damente MOMMSEN J30 e SCHULZ 591) ou Gregorianus (na opinião de alguns) -, elabora
do no Oriente 532, cerca do ano 292, é, como ficou já notado, uma colectânea privada,
de rescritos 533 imperiais, desde Adriano 533 a Diocleciano.
Estaria dividido pelo menos em 15 livros, subdivididos em muitos 535 títulos, cada
um com a sua rubrica indicativa do assunto, que é exposta através de um ou vários res
critos colocados provàvelmente por ordem cronológica 536. Os livros 1 a 13 tratariam
de matéria do Edictum e o livro 14 dos crimina (ef. C. livro 9). A sistematização dos
assuntos devia ser sensivelmente a mesma dos libri digestorum, da época clássica.
Código Hermogeniano (295?) -- É assim designado, em virtude do seu autor. Até 1965, ha
via bastantes divergências entre os romanistas a respeito do nome e identidade do
autor desta
MOMMSEN, Juristiscire Schriften 11 (Berlim,1905) 361.
SCHULZ, History of Roman Legal Science2 (Oxford,1953) 309.
Que foi elaborado no Oriente, é hoje opinião comum, depois de MoMMSEN. Quanto ao loc
al, parece certo não ter sido em Beirute, pois a obra não teve uma finalidade escola
r, mas prática. É bastante provável que tivesse sido em Nicomédia, nessa altura capital
do império do Oriente, pois devia ter sido feita onde houvesse um bom arquivo de r
escritos.
333 É uma colectânea só (?) de rescritos e não de constituições de carácter geral (edictos im
eriais), em virtude de uma finalidade prática, porque os rescritos: 1.° nem sempre e
ram conhecidos dos juízes, pois geralmente não eram publicados, mas enviados directa
mente às entidades (particulares) a que se destinavam; 2.° e os juízes, assim como dem
ais juristas, tinham necessidade de os conhecer, não só para os aplicar aos casos pa
ra que tinham sido concedidos, mas também (mais tarde) a casos análogos.
534 Contém rescritos não só desde Septímio Severo, cujo primeiro é do ano 196 (e isto cons
ta expressamente da Consultatio 1,6), mas também desde Adriano. Esta afirmação deduz-s
e do facto de o Codex de Jqstiniano utilizar quase exclusivamente (ver infra 485
) os Códs. Greg. e Herm. para obter rescritos anteriores a Constantino, ç no Código Ju
stinianeu encontra-se uma constituição de Adriano - C. 6,23,1.
535 Em cada livro da Cód. Greg., os títulos eram numerosos. Esta forma de subdividir
muito cada livro passou para o Codex de Justiniano, que, neste ponto, se inspir
ou no Cód. Greg. Já no Digesto, pelo contrário, a subdivisão de cada livro em títulos não é n
merosa.
536 Este sistema passou para os Códigos Teodosiano e Justinianeu.
408
1' PARTE - 'rir. IX § 35
colectânea: uns afirmavam ser Hermógenes; vários.i3T, Hermogenianus. E aqui, ainda se
subdividiam as opiniões: para muitos, esse Hermogenianus era o mesmo HERMOGENIANUS
, jurista do séc. IV é autor dos libri luris Epitomarum (vid.
supra 379 n.o 46 e 401 n.° XXI) ; para alguns, era diferente. Desde 1965, o proble
ma parece ter ficado devidamente esclarecido com a já referida obra de Aldo CENDER
ELLI, Ricerche sul «Codex Hermogenianus». Aí (págs. 183-243), mostra-se perfeitamente qu
e o autor: do Código Hermogeniano é Hermogenianus e não Hermógenes, e que esse HERMOGENI
ANUS é o mesmo jurista do séc. IV, autor dos libri luris Epitomarum.
0 Codex Hermogenianus deve ter sido elaborado no Oriente, provàvelmente na própria c
hancelaria imperial, tendo o seu autor bem à disposição o arquivo dos rescritos, pois
esta colectânea é rica principalmente em subscriptiones. Não é hoje defensável a opinião de
MQMMSEN que vê no Codex Hermogenianus, assim como no Cód. Gregorianus, um dos mais a
ntigos frutos da. actividade da Escola de Beirute 336
Quanto à data, vinha-se defendendo, até há poucos-"', que devia ter` sido num ano entr
e 314 e 323. A.- CENDERELLI, o.c. 7-10, demonstra que o núcleo central desta colec
tânea foi feito nos primeiros meses do ano 295. Como todas as obras deste período, t
ambém o Cód. Hermog. sofreu alterações e acrescentamentos; ao que parece, teve três edições (
id. ib. 8).
Conforme oportunamente ficou acentuado, este Código é, sob certo aspecto, um complem
ento do Código Gregoriano, no sen
537 Sobre a quantidade de AA. que defendiam ser Hermogenianus vid. A. CENDERELLI
, Ricerche, cit. 61, assim como a respeito do número dos defensores de ser Hermógene
s o autor. É bem provável que a origem da divergência esteja no simples facto dum erro
de uma cópia (ou de várias?) deste Cód. Ver a mesma n. I mas na
pág. 7.
538 Vid. A. CENDERELLI, 0. C. 10.
539 Vid., por todos, O. ROBLEDA, lus Privanun Ronranum 213.
409
530 531 532
DIREITO ROMANO
1.' PARTE-TIT. IX § 35
tido' de o considerar uma continuação cronológica e também lógica '4°.
Sob o aspecto formal, o Codex Hermogenianus estava dividido única e exclusivamente
em títulos e não em livros 541. Por este facto, tem-se considerado o Cód. Hermogenian
o como um líber singularis ou simplesmente o 16.° livro do Codex Gregorianus. Isto,
porém, nem mesmo assim significa que se trata duma colectânea pequena, como à primeira
vista poderia julgar-se. A avaliar pelo material já descoberto para uma reconstit
uição palingenésica, o Codex Hermogenianus devia ter sido uma compilação «di assai notevole
ampiezza 542».
Continha sobretudo rescritos 54' de Diocleciano, dos anos 293 e 294, e provàvelmen
te nenhuma constituição de Constantino e de Licínio 544; porém, de certeza, não encerrava
as constituições de Valentiniano e de Valente que a Consultatio 9, 1 ss. lhe atribui
, visto datarem de 364 e 365, e o Cód. Herm. ser de 295 ou, o mais tardar, de 323
545.
540 Continuação cronológica, embora não imediata, pois o Codex Gregorianus (exceptuando
alguma constituição posteriormente incluída), encerra com as constituições de Diocleciano
do ano 291. Continuação lógica, em virtude de ser considerado como que um apêndice do Códi
go Gregoriano, e isto, pelo menos, quanto ao seu uso prático; embora a intenção do seu
autor não tenha sido a de elaborar um complemento
do Codex Gregorianus.
541 Embora o Código Hermogeniano seja um único liter, a matéria nele contida,
segundo LiEEs, corresponde a uma terça ou quarta parte do Código Gregorian, o que eq
uivale a quatro ou cinco libri deste Código. Cf. Detlef LIEes, Hermogenians /uris
Epitomae (Gotinga,1964) 24.
542 A. CENDERELLI, a. C. 11.
543 Hoje, admite-se a hipótese de o Cód. Hermog. também ter tido incluídas algumas const
ituições imperiais de tipo geral (edicta), embora em pequena quantidade, e só ocasiona
lmente (v.g. para esclarecer certos rescritos). Vid. Aldo CENDERELLI,
Ricerche, cit. 6.
544 GAUDEMET, La Formation du Droit, 42-43, defende opinião contrária. É
refutado por A. CENDERELLI, o. c. 9 e n. 19.
545 Essas constituições foram acrescentadas em sucessivas cópias do Cód. Hermog.; pela m
esma razão, aparece no Cód. Gregoriano uma constituição com data de 295, e a Collatio 6,
4, «ingenuamente» atribui-a ao Cód. Greg., quando o Cod. Hermog.
já encerrava constituições de 293 e 294.
Sobre a copiosa bibliografia a respeito do Codex Hermogenianus, vid. A. CENDE
RELLI, o. c. 2s.
410
Código Teodoeieno (438)
1- Necessidade dum novo código. Autor. Seus projectos: inicial, em 429;
definitivo, em 435
2 -Conteúdo, divisão, matérias 3 -Transmissão e edições
4-Constitutions Sirmondianae. Novellae post-Theodosianae 5 - Importância do CT sob
retudo para o Ocidente
1 -Necessidade dum novo código. Autor. Seus projectos: inicial,
em 429; definitivo, em 435
Os dois códigos já existentes, o Gregoriano e o Hermogeniano, não bastavam. Continham
(quase) só rescritos (leges particulares) e eram de índole privada; não se impunham. A
complexidade dos textos jurídicos - numerosos, contraditórios, difíceis de conhecer -
e a ignorância do Direito por parte dos próprios «homens do Direito» (advogados, juízes e
magistrados) mostravam claramente a necessidade duma grande colectânea, com duas
características: a) conter o essencial da legislação imperial, portanto, constar sobre
tudo de leges generales; b) ser de carácter oficial, para se impor a todos.
As reclamações neste sentido vinham sendo feitas desde há muito 516. No tempo de Teodósi
o II, imperador do Oriente desde 408 por morte de seu pai Arcádio, essas reclamações t
ornavam-se gritantes Sal. 0 imperador viu a grande necessidade; resolveu procede
r a uma reforma do Direito. Começou
546 Já cerca do ano 355, o autor anónimo do De Rebus Bellicis se dirigia ao imperado
r num capítulo intitulado «De legum vel iuris confusione purganda, ut confusas legum
contrariasque sententias improbitatis reiecto litígio augustae dignitatis illumin
es».
Sobre a data do De Rebus Bellicis, vid., por todos, DE FRANCISCI em lura 4(1953)
251, na critica a MAZZARINO, Aspetti Sociali del IV.* Secolo (Milão, 1951).
547 É o próprio imperador que o afirma, na constituição de 438 que promulgou o Cr.
411
DIREITO ROMANO
1.` PARTE - TIT. IX
1' 35
exactamente pelo princípio: primeiro, reformar o programa dos estudos jurídicos; só de
pois, reformar a legislação 5'e.
Uma constituição de 27 de Fevereiro de 425 54° estruturava o ensino jurídico na Escola d
e Constantinopla, confiando-o a dois professores de direito; e logo outra, em 15
de Março do mesmo ano .55°, concedia certas honras e privilégios aos pro
fessores de direito.
Em 426, embora não seja (?) de Teodósio II, era promulgada a famosa «Lei das Citações», que
estabelecia definitivamente uma certa «hierarquização» do ius (vid. infra 424-425).
Só em 429, por uma constituição de 26 de Março desse ano-'-" é que surge o primeiro projec
to de codificação. Esse plano inicial previa duas séries de medidas.
I - Primeiro, coligir todas as leges generales promulgadas desde Constantino, qu
er estivessem em vigor, quer não. 0 trabalho deveria ficar sistematizado segundo a
matéria, dividido em títulos. Quando a mesma constituição tratasse de questões diferentes
, seria repartida por diversos títulos. Os textos. seriam
548 Para levar a cabo unia reforma legislativa, não basta a existência de bons juris
tas que elaborem tecnicamente bem as respectivas normas jurídicas. E preciso que a
s Escolas de Direito estejam à altura dessa reforma. Isto verifica-se em todas as ép
ocas, e com toda e qualquer reforma jurídica, grande ou pequena. Nos nossos dias,
deu-se um caso muito significativo. Há anos, a Etiópia pretendeu fazer uni novo Código
Civil. Não tinha, nessa altura, juristas do país, capazes de elaborar essa obra. Co
ntrataram-nos na Fiança. Os jurisconsultos franceses vieram para a Etiópia. Estudara
m os diversos problemas e, passado algum tempo, era publicado o novo Código Civil
etíope. Juridicamente, perfeito.
Os juristas franceses regressaram à sua terra: o novo código ficou. Mas logo se veri
ficou que não podia ser executado: os juristas etíopes não sabiam interpretar, muito m
enos aplicar. Os juristas da Etiópia não se encontravam preparados, porque as Escola
s de Direito não estavam à altura dessa reforma. E o «precioso» código, durante certo temp
o, pràticamente, teve de ser suspenso e guardado numa estante de biblioteca de...
preciosidades jurídicas. Vid. Talane Law Review 37(1963) 187-204.
549 CT 14,9,3=C. 11,19,1. Um texto da mesma data-e até provàvelmente uni fragmento d
a mesma constituição - parece referir-se ao próprio edifício, onde era ministrado o ensi
no jurídico (CT 15,1,53).
550 CT 6,21,1=C. 12,15,1.
551 CT 1,1,5. Esta constituição vem reproduzida nos Acra Senatus Roinani de Theodosi
ano publicando, porque - é curioso! - esta constituição foi o documento lido por ocasião
da promulgação do CT de 438, em vez da constituição de 435, que, de facto, foi a que or
denou a feitura do Codes Theodosianus...
412
agrupados por ordem cronológica. Os passos inúteis seriam suprimidos, mas os transcr
itos não podiam sev alterados; proibidas, portanto, as interpolações. - 0 facto de Teo
dósio'II mandar coligir as próprias constituições já. revogadas significa que a obra: a) -
se destinaria, p1 riticipalmentè, aos estudiosos do direito; b) - teria carácter pr
eparatório.
II -Depois, ao que parece- (pois o texto, de Teodósio II neste ponto não é claro), com
base nessa colectânea assim realizada (a que alguns AA.- chamam primeiro código e t
ambém
código científico 5,12), nos Códigos Gregóriano e Hermogeniano
e nas obras de jurisconsultos clássicos, deveria realizar-se uma obra de carácter prát
ico: uma grande compilação deu ius á55 e de leges, que reunisse todo o direito vigente
- «indicasse o que era preciso fazer e o que não era preciso fazer» 554 - e que dever
ia ser promulgada como Código Oficial do Império.
Para a redacção dos dois trabalhos, indicados em I e II, Teodósio II encarregou uma co
missão de nove membros - oito funcionários da chancelaria imperial (entre os quais o
magister memoriae e três magistri scriminiorum) e um professor de direito. Cada m
embro desta comissão podia ainda chamar a si especialistas.
Por esta ocasião, também ficou resolvido que, para futuro, as constituições promulgadas
numa pars imperii seriam enviadas oficialmente ao outro imperador, para este as
promulgar e serem aplicadas na sua pars (CT 1,1,5) 555
552 Vid. ROBELDA, o. c. 216592.
553 Friedrich EBRARD, Das Theodosische Projekt eines «Predigesto» em Studi Albertari
o I (Milão,1953) 584-596, sustenta que a compilação de ius não fazia parte desta segunda
colectânea (em virtude do seu carácter prático), mas sim da primeira, pois deveria se
r mais completa, se bem considerarmos CT 1,1,5, a const. Sum+na reipublicae 3, e
a const. Deo Auctore 2.
554 Cf. GAUDEMET, o. c. 45 e n. 1.
555 Sobre a interpretação e o alcance desta constituição e a bibliografia existente a re
speito do problema, vid. RODLEDA, fus Privatum Romanun 215589. Em certos aspecti.s
, esta questão está relacionada com a discussão entre os AA., que examinámos supra 277-2
79.
413
I
DIREITO ROMANO
Por motivos ainda hoje desconhecidos - mas provàvelmente devido à falta de competência
dos membros que faziam parte da comissão nomeada, e sobretudo pelo facto de ainda
não terem nível condigno para uma reforma legislativa as Escolas de Direito -, o pr
ojecto inicial de Teodósio H fracassou.
Surge então o projecto definitivo, por uma constituição de 20 de Dezembro de 435 (CT 1
,1,6), que apresenta, em novas bases, a ideia da codificação: põe de parte o plano de
compilar o ius; manda reunir num código, devidamente sistematizado, todas as const
ituições de carácter geral (edicta ou leges generales), posteriores a Constantino que
ainda estivessem em vigor. Para elaborar esse novo código, foi nomeada uma comissão
de 16 membros, alguns dos quais já tinham pertencido à comissão de 429; todos, funcionár
ios; só um tinha o título de iuris doctor.
Os compiladores teriam a missão de: a) - suprimir tudo o que não estivesse vigente e
tudo o que fosse inútil (quod ad vim sanctionis non pertinet); b) - esclarecer o
que estava ambíguo; c) -modificar o que não estivesse já adaptado; d)-- acrescentar o
que fosse necessário. Numa palavra, os compiladores recebiam a missão de interpolar
556, o que não acontecera no projecto de 429, onde se prescrevia o maior respeito
pelos fragmentos das constituições transcritos.
Em menos de dois anos, o trabalho ficava concluído, pois, em 29 de Outubro de 437,
era oferecido um exemplar ao jovem Valentiniano IH, por ocasião da sua viagem a C
onstantinopla, onde veio desposar a filha de Teodósio II. Para o Oriente, o código f
oi promulgado por uma constituição de 15 de Fevereiro de 438, dirigida ao prae f ect
us praetorio do Oriente (Nov. post. Theod. 1) 557, e entraria em vigor em 1 de J
aneiro de 439.
556 Sobre as interpolações no Codex Theodosianus vid. infra 520 e n. 828.
557 Cf. edição de MEYER, pág. 3.
Esta constituição:
1) indicava a finalidade da compilação efectivada - tomar o direito mais claro,
facilitar a missão aos juizes e aos juristas;
11 PARTE - TIT. IX ¢ 35
Para o Ocidente, foi aprovado pelo senado ainda no ano de 438, e depois aceite p
elo imperador Valentiniano «por afecto
filial» 858.
2-Conteúdo, divisão, matérias do CT
0 «Codex Theodosianus contém, como já ficou dito, edicta ou leges generales - e não resc
ritos, como os Códigos Gregoriano e Hermogeniano -, promulgados desde Constantino
(ou mais exactamente, desde 313) até 438, ano da publicação, mas não todas desse período (
313-438), provàvelmente por deficiência dos arquivos 555
Está dividido em 16 livros, subdivididos em títulos, dentro dos quais as constituições f
iguram por ordem cronológica. As rubricas dos títulos, os números dos títulos e dos livr
os existem desde o original. Mais tarde, algumas constituições, sobretudo as mais ex
tensas, foram ainda divididas em parágrafos.
2) determinava que, a partir de 1 de Janeiro de 439, só poderiam ser invocados os
textos que estivessem no CT, salvo quando se tratasse de normas fiscais, militar
es ou administrativas, conservadas nos registos dos respectivos serviços (§§ 3 e 6); p
ortanto, ficam ab-rogadas as constituições não recebidas no CT (na prática, tinha, porta
nto, carácter exclusivo), mas posteriores a Constantino (embora o texto não o indica
sse precisamente), pois as constituições, anteriores a Constantino e conservadas nos
Códigos Gregoriano e Hermogeniano (a que o próprio CT, segundo parece, concedeu aut
enticidade, vid. supra 406) continuaram aplicáveis até ao Codex de Justiniano;
3) prescrevia (§ 5) que, para futuro, as constituições ocidentais só seriam aplicá veis no
Oriente, se fossem aí confirmadas por uma pragmatica sanctio (mas não há qualquer notíc
ia de ter sido enviada uma constituição Ocidental para o Império do Oriente, cf. WENGE
R, Die Quellen 541), e o mesmo se deveria observar, para as constituições promulgada
s no Oriente valerem no Ocidente (§ 6-1.' parte);
4) por último (§ 8), ordenava ao praefectus praetorio que participasse as vontades i
mperiais por meio de edictos, dirigidos a todas as províncias e a todos os povos.
558 Do modo como foi aprovado pelo senado e depois aceite por Valentiniano III v
id. GAUDEMET, La Formation du Droit 46 e 47.
559 Vid. KRÜGER, Histoire des Sources du Droit Romain, trad. franc. de BRISSAu (Pa
ris,1894) 384, e L. WENGER, Die Quellen 537. Sobre os vários arquivos que foram ut
ilizados, vid. GAUDEMET, La Formation du Droit 53-55; sobre o modo de transcreve
r certas constituições (o problema das «leges geminatae») ver ib. 56-59, e em RIDA 4(195
7) 253-267; sobre o problema da data dalgumas constituições, ver também La Formation d
a Droil 59-62.
415
i
414
DIREITO ROMANO
1.' PARTE-TIT. IX
§ 35
Dal 'a forma de citár, v.g. CT 1,1,5,1 = Codex Theodosianus livro L O, tit. L O, l
ei ou constituição imperial W,, parágrafo 1."
As matérias são expostas, segundo o plano dos Digesta (conib também nessa mesma sistem
atização se basearam os Códigos Gregoriano e Hermogeniano) e segundo a ordem. do
Edictum Perpetuam.
A grande maioria das disposições do CT são de direito público, especialmente de carácter co
nstitucional e administrativo. De direito privado, apenas tratam 5 dos 16 livros
: os livros II a V e alguns títulos do livro VIII 56° Isto compreende-se fàcilmente: o
CT encerra constituições de tipo leges generales só desde Constantino (concretamente,
desde 313 a 438) ; neste período, pouco se legislou em matéria de direito privado,
em virtude da perfeição-modelo a que tinha chegado na época clássica; pelo contrário, no d
omínio do direito público havia necessidade de legislar abundantemente, porque as no
vas reformas políticas e administrativas originaram problemas novos (v.g. as relações
entre a Igreja e o Estado, de que trata todo o livro 16), e problemas numerosos
que era necessário resolver através duma legislação oportuna e eficiente.
0 livro I trata das fontes de direito e das atribuições dos funcionários imperiais.
Os livros II a IV, parte do V e parte do livro VIII contém direito privado e corre
spondem aos comentários ad Edictum Perpeluom eontidos~nos digesta de vários iur3agru
dentes.
Parte do livro V, os livros VI e VII, parte do livro VIII e os livros IX a XV s
t encerram o comentário aos apéndices do Edictum, que os digesta dalguns jurispruden
tes já faziam com bastante desenvolvimento; foi quase só transcrever e aumentar.
560 No liv. V, os títs. 1 a 6 tratam da sucessão ab intestato; o tít. 7, do posdiminiu
m; os tits. 8-10, da venda e da exposição dos recém-nascidos; os títs. 11-19, dos domínios
; o tít. 20, do costume.
561 0 liv. VI refere-se às classes sociais caos privilégios das dignidades.
0 liv. VI I trata de questões militares.
No liv. VIII: os tits. 1.11 dizem respeito aos funcionários menores; os últimos
títulos voltam a tratar de direito privado - os tits. 12-15 das liberdades, o tít. 1
6 do
416
0 livro XVI é uma inovação. Expõe normas a respeito da Igreja, das várias formas do culto
e das relações entre a Igreja e o Estado.
No seu conjunto, trata-se duma obra bem feita. Certas imperfeições são devidas, não tant
o à imperícia dos compiladores como à deficiência dos arquivos, às lacunas dos (textos) ma
nuscritos e ao facto de ser a primeira tentativa no género, e das primeiras nunca
se pode exigir perfeição. Todavia, há certas deficiências, de que devemos estar prevenid
os: por vezes, estão erradas as inscriptiones ou (e) as subscriptiones; algumas ve
zes, a ordem cronológica nos títulos não é observada rigorosamente.
3-Transmissão e edições do CT
0 Codex Theodosianus chegou até nós directamente, através de bastantes manuscritos 56'
, mas nenhum contém a obra na íntegra e nem se completam entre si de forma a permiti
r uma total reconstituição. Dos livros II a V falta quase tudo; do VI ao XVI, há pouca
s lacunas e pequenas (a maior é no liv. VI, onde falta todo o tít. 1 e o tít. 2 quase
todo; lacunas menores existem ainda no liv VI e no VIII) 5°' Além dos manuscritos
celibato, o tít. 17 do ius libero rum (vid. supra 231-a), e os tits. 18 e 19 de qu
estões
conexas (bona materna, lucrum nuptiale).
O liv. IX é dedicado ao direito penal.
O liv. X e os títs. 1-28 do liv. XI ocupam-se do direito fiscal e dos impostos.
Da parte restante do liv. XI, os títs. 29-38 são consagrados às vias de recurso, e o
tít. 39 às provas.
Os livs. XII-XV tratam de assuntos municipais, alguns surgidos agora pela pri
meira vez, em virtude de certas reformas administrativas efectuadas depois do séc.
IV. 0 liv. XVI, como se diz no texto, contém normas que hoje poderíamos classificar
de direito eclesiástico e de direito concordatário.
562 Os manuscritos são, pràticamente, todos do Ocidente. Isto constitui mais
uma prova a respeito da importância do CT nesta parte do império (vid. infra 421). Q
uais são esses ms. e como foram utilizados vid. GAUDEMET, La Formation
du Droit 48 e 49.
563 Sobre o estado do nosso conhecimento a respeito do CT vid. GAUDEMET,
o. c. 49 e 50.
417
1
DIREITO ROMANO
1.° PARTE-TIT. IX
435
do próprio CT, há ainda manuscritos de outras obras, os quais nos permitem, indirect
amente, conhecer o Código Teodosiano. Haja em vista a Lex Romana Visigothorum. Con
tém cerca de metade do CT, e dessa Lex há numerosos manuscritos 56
Estes diversos manuscritos, directos e indirectos, permitiram uma reconstituição do
Codex Theodosianus, de que existem várias edições.
-A editio princeps do CT é de 1528, feita por SSCHARDUS, mas compreende só o epítome v
isigótico. Dos trabalhos integradores (deste epitome) são dignos de menção especial: o d
e CUJÃCIO, no séc. XVI; nos princípios do séc. XIX, os de CLOSSIUS, Amadeu PEYRON e Carl
o BAUDI DI VESME.
- Das edições antigas, devemos destacar a de Jacobus Go'rHOFREDUS, Codex Theodosianu
s cum perpetuis commentariis 6 vols. (Lião,1665) [a edição mais conhecida desta obra é a
denominada «editio novas, também em 6 vols., Impressos em Leipzig, 1736-1743], e a
de Gustavo HAENEL em 1842.
-Tudo ficou superado com a edição critica de Th. MoMMSEN-P. M. MEYER, Theodosiani Li
bri XVI cum Constitutionibus Sirmondianis et Leges Novellae ad Theodosianum pert
inentes, 2 vols. (Berlim,1905). - [Desta obra há a 2.° edição (Berlim,1954), em 3 tomos,
visto o vol. I ter sido subdividido em duas partes: Ii Prolegomena; 12 Textus c
um aparatu et constitutions Sirmondianae; II-Leges NoveUae ad Theodosianum perti
nentes].
- Finalmente, KRÜGER tentou uma nova edição, contando com certos materiais descobertos
depois de 1905, mas ficou apenas no livro 8.°, por morte do editor. Codex Theodos
ianus, recognovit P. KRUGER, fase. I (lib. I-VI) (Berlim,1923), fase. II (lib. V
II-VIII) (Berlim,1926).
- Por último, note-se que há um índice das palavras do Código Teodosiano, o Heidelberger
Index zum Theodosianus (Berlim, 1929), publicado sob a direcção de GRADENWITZ, e o
suplemento, «Ergânzugsban», também de 1929.
4-Constitutiones Sirmondianae (331-425). Novellae post-Theodosianae
Sirmondianae -.- Em alguns manuscritos gauleses, conservou-se uma colectânea de co
nstituições imperiais pertencentes
564 Sobre esses manuscritos vid. id. ib. 49. Baseando-se nestes manuscritos tem-
se procurado conhecer, com precisão, a estrutura e o conteúdo de todo o Codex Theodo
sianus. Sobre o problema, vid. SCHERILLO, Il Sistema del Codice Teodosiano em St
udi Albertoni I (Pádua,1935) 515-538.
418
ao período que vai desde o ano 331 (data da primeira) até 425 (data da última).
Segundo parece, essa compilação é anterior ao Codex Theodosianus; este teria recebido
dela algumas constituições, ficando as restantes derrogadas, em virtude do carácter ex
clusivo do CT. (Vid. supra 415 e n. 557-2).
Todas as constituições dessa colectânea referem-se a matéria eclesiástica; concretamente, às
relações entre a Igreja e o Estado.
Chamam-se Sirmondianae, em virtude do nome do seu primeiro editor, Jacobus Sirmo
nd, que as publicou com a seguinte designação - «Appendix Codicis Theodosiani Novis Co
nstitutionibus Cumulatior (Paris,1631). Esta 1.a edição contém 21 constituições; posterior
mente, foram acrescentadas mais 5 pelo próprio SIRMOND, segundo se deduz, por anal
ogia, doutras fontes, mas considera-se que não pertencem à tal compilação ante-teodosian
a. Depois da 1: edição, só se publicou a edição crítica, de HAENEL, em 1844. Agora, temos es
sas constituições numa boa edição de MOMMSEN-MEYER; formam como que um appendix do Vol.
12 (vid. supra 418).
Novellae Post-Theodosianae - São constituições promulgadas depois do Código Teodosiano;
também são denominadas «Novellae Theodosianae», pois, na sua grande maioria pertencem ai
nda a Teodósio II.
Publicado o Codex Theodosianus, a actividade legislativa não terminou 5°5. Sob um ce
rto aspecto, até aumentou, pois estava oficialmente previsto que as constituições eram
próprias
565 Muitas das constituições post Codicem Theodosianum, sobretudo de Teodósio II, tinh
am carácter interpretativo e por vezes integrador do CT. Vid. Roberto BONIM, Appun
ti sull'Applieazione del Codice Teodosiano (Le costituzioni in tema di irretrott
ività delle normegiuridiche) em AG 6.8 série 32(1962) 121-134.
Veja-se também aí, máxime págs. 124-134, o problema da irretroactividade das leis, segun
do o Código Teodosiano - de início, só das leis penais, depois, de todas.
419
DIREITO ROMANO
11 PARTE - TIT. IX
§ 35
de cada pars imperii e que a sua aplicação na outra pars exigia: a) -o envio da cons
tituição pelo imperador-autor da mesma ao colega da outra «pars imperii», através duma «prag
matica sanctio»; b) - a aceitação por parte do outro imperador; c) - a publicação, também at
ravés duma outra constituição. Quer dizer, cada constituição de uma pars imperii, provocav
a mais duas para ser publicada na outra pars 566
Das várias constituições publicadas depois do CT, algumas chegaram até nós através do Codex
de Justiniano 567;outras são-nos conhecidas em fontes, diferentes do C.J. Estas, r
igorosamente, é que são as Novellae Post-Theosianae. A respeito delas, há notícias de vári
as colectâneas, elaboradas quer no Oriente quer no Ocidente. Dessas colectâneas, não s
e conserva qualquer fragmento. Apenas através de certas referências, conhecemos das
colectâneas ocidentais:
a) -uma colectânea do ano 460 ou 461, denominada Syllogen Maioriani, contendo (seg
undo o códice Vat. 7 277) diversas constituições de Teodósio II, de Valentiniano III e d
e Maiorano ;
b) - um conjunto de Novelas post-Teod. conservadas na
Lex Roma Visigothorum (que também produz as novelas do
566 Com efeito, lia envios de constituições do Oriente para o Ocidente, A
Novela de Teodósio li, de I de Outubro de 447, remetia constituições orientais a
Valentiniano 111, e dizia-lhe-ate dum modo bastante autoritário (devido só ao facto
de ser genro?) - que as mandasse aplicar no Ocidente. A publicação foi feita pela
Novela 26 de Valentiniano, de 3 de Junho de 448, E há mais casos (vid. GAUDEMET,
La Formation du Droit, cit. 64).
Pelo contrário, não há qualquer alusão de envio de constituições ocidentais para
o Oriente. (Vid. supra 415558-3).
O Codex de Justiniano conserva algumas constituições do Ocidente. A últimaé de
432-C. 4,61,13; embora, segundo alguns, '.cpois desta data, haja ainda uma de 47
3-C. 6,61,5. Vid. GAUDEMET, Jus et Leges em lura 1(1950) 240 e 241.
Écurioso notar que os imperadores do Ocidente, nas suas constituições, têm certas deferênc
ias e até certas manifestações de subordinação para com os imperadores
do Oriente.
567 Quase todas as constituições publicadas depois do CT e conservadas no C.
são orientais; mas até à morte de Antémio, em 472, essas constituições levam na inscriptio o
s nomes dos dois imperadores. Vid. supra 277-279.
420
Syllogen Maioriani, embora não todas, segundo o referido códice
Vat. 7 277) ;
c) - um pequeno número de Novelas post-Theod. contidas em certos manuscritos da Le
x Rom. Visigoth.;
d) - e uma ou outra conservada em fontes diversas.
Hoje, todas as Novelas post-Teodosianas (inclusive, a
segunda de Severo-Leão, conservada na Lex Romana Burgun
dionum) encontram-se na edição de MOMMSEN-MEYER II vol.
(vid. supra 418).
5-Importância do CT, sobretudo para o Ocidente
No Oriente, o Codex Theodosianus teve uma vida curta: 90 anos após a sua promulgação e
ra substituído pelo primeiro Codex de Justiniano 568, de 529 (const. Summa reipubl
icae 3).
No Ocidente, o CT desempenhou um papel muito considerável e de longa duração. Na Itália,
chegou a impedir a penetração do direito justinianeu. Nos outros países da Europa oci
dental, permaneceu, mesmo depois das invasões bárbaras 76", pois os romanos, embora
submetidos ao domínio dos invasores, regiam-se pelo Código Teodosiano ou por códigos n
ele decalcados, v.g. o Breviário de Alarico. Deste modo, compreende-se fàcilmente a
existência no Ocidente de vários manuscritos (principalmente gauleses e dum modo esp
ecial lioneses) S7", e a grande importância que tem o Codex Theodosia
568 Sobre o problema da vida do CT no Oriente - influência. referências, modificações, m
anuscritos, etc. - vid. GAUDEMET, La Formation dn Droit 48.
569 0 Codex Theodosianus constitui o núcelo principal das leis romanas dos bárbaros:
Edictum Theodorici, Lex Romana Burgurrdionum, Lex Romana Visigothorum ou Brevia
rium Alaricianuin. Esta última Lex contém um epítome bastante longo do CT, e foi preci
samente sob esta forma que ele se difundiu largamente e se aplicou na Europa oci
dental, conforme se deduz da quantidade de manuscritos desse epitome. Todavia, a
difusão do Breviário não eliminou o conhecimento do Codex Theodosianus na integra, po
is bastantes manuscritos do Breviário encerram várias constituições ou mesmo títulos intei
ros do CT omitidos pelos visigodos, e outros manuscritos têm um apêndice formado por
diversas constituições existentes no CT e omitidas na LRV.
Sobre os Appendices da LRW e o CT, vid. DE Dortrxrcrs em lura 18 (1967) 353.
570 Sobre os manuscritos ocidentais do CT vid. GAUDEMET, o. e. 48 e 49.
421
DIREITO ROMANO
11 PARTE - TIT. IX
g35
nus para a história dos direitos -francês, italiano, espanhol e português.
Feitas estas referências aos Códigos Gregoriano, Hermogeniano e Teodosiano, consider
amos analisada a matéria epigrafada de I - da ai. c) - Colectdneas de «leges>.
Através destes três códigos, ficamos a conhecer só unia parte do Direito Romano post-cláss
ico, quer dizer, o direito criado directamente pelo Imperador e que se identific
a com as suas constituições. Falta-nos conhecer outra parte, e notável, o ius (ou jura
), isto é, «sententiae iurisprudentium> ainda vigentes na época
post-clássica.
II - Colectâneas de «ius»
III-Colectâneas mistas (de «ius» e de «leges»)
Agora, vamos quase só enumerar essas diversas compilações. Na al. seguinte, faremos um
a nova classificação, não em virtude do seu conteúdo (se é compilação de «ius> ou compilação
de «ius e de «leges>), mas em virtude da sua perfeição (e esta deriva do simples facto d
e terem sido elaboradas no Ocidente ou no Oriente) -e depois, uma breve análise a
cada uma
dessas várias colectáneas.
I - Colectâneas de «ius» - 0 tios, que, desde o Baixo-Império, se concretiza nas obras d
os juristas clássicos identificando-se com essa literatura jurídica (vid. supra 275)
, a partir do séc. IV tornou-se difícil de consultar, e incerto.
Difícil de consultar, pois a grande maioria das obras jurídicas da época clássica centra
l ou eram desconhecidas ou então inacessíveis, para os juristas dá época, devida à subtile
za dos raciocínios (dos seus autores). Por isso, os juristas citados nesta época pos
t clássica eram os clássicos menos clássicos - GAIUS e MODESTINUS -, e também ULPIANUS,
devido ao facto de ser um grande sintetizador (vid. supra 400); portanto, o conh
ecimento das suas obras, por vezes escritas num estilo vulgarizado (excepto as d
e ULPIANUS), fàcilmente dispensava a consulta
das obras dos juristas anteriores, escritas em verdadeiro estilo clássico.
Incerto, porque, a respeito das poucas obras que existiam e eram acessíveis aos es
coliastas e aos,práticos do direito, as versões que delas corriam não inspiravam confi
ança. Eram frequentes as divergências de opiniões entre os jurisconsultos clássicos cita
dos e até diferentes (por vezes, contraditórias) as várias versões da mesma obra.
Numa palavra, a respeito do ius, a partir do séc. IV, havia grande dificuldade em
o conhecer, e reinava uma enorme incerteza 51` a respeito dos textos existentes,
e utilizados nas escolas, nos tribunais e na administração.
Sentia-se ao vivo a) - por um lado, a necessidade de intervirem os imperadores c
om o seu poder legislativo (nesta época, única fonte de «ius novum») no sentido de hiera
rquizar o «ius», estabelecendo uma certa ordem de valor entre os autores clássicos e r
espectivas obras, para facilitar a sua citação nos tribunais; l3) - por outro lado,
a urgência de obter colectâneas de ius, que fossem simultâneamente acessíveis e certas,
seguras.
a) - Hierarquização do «ius» - A primeira intervenção foi feita por Constantino em 321, reti
rando todo o valor jurídico às Notae ad Papinianum de PAULUS e de ULPIANUS (CT 1,4,1
e 1,4,2; vid. supra 398 e máxime BIDR 68[1965] 49-146).
CT 1,4,1: «Perpetuas prudentium contentions eruere cupi entes Ulpiani ac Pauli in
Papinianum notas, qui, dum ingenii laudem sectantur, non tam corrigere eum, quam
depravare maluerunt, aboleri praecipimus». Receando, porém, que o valor das outras
obras de PAULUS fosse afectado por motivo daquela disposição de 321, em 327 publica
nova constituição, a confirmar todas as outras de PAULUS e concedendo expressamente
força jurídica às Pauli Sententiae.
571 A incerteza em Direito, voltamos a insistir, é o pior mal que pode haver. Sob
certo aspecto, é preferível o erro, porque num erro há aquele erro; na incerteza, em g
eral, verificam-se e praticam-se vários erros.
422
423
DIREITO ROMANO
11 PARTE - TIT. IX
§35
CT 1,4,2: «Universa, quae scriptura Pauli continentur, recepta auctoritate f irman
da sunt et omni veneratione celebranda. Ideoque sententiarum libros plenissima l
uce et per f eetissima elocutione et iustissima iuris ratione succinctos in iudi
ciis prolatos valere minime dubitatur».
A maior disposição a respeito desta matéria é a famosa «Lex Citationum» (Lei das Citações), t
conhecida por «Tribunal Mortuorum» (Tribunal dos Mortos). Foi promulgada por Valent
iniano III5i4, em Ravena, pela constituição de 7 de Nov.
de 426 CT 1,4,3 `45, (=C[529] 1,15,1).
A Lex Citationum veio restringir a massa jurídica jurisprudencial quanto ao seu va
lor judicial. Dispunha que só podiam ser citadas em tribunal, vinculando os juizes
, as obras dos cinco juristas Clássicos-PAPINIANUS, PAULUS, ULPIANUS, MODESTINUS e
GAIUS 574. Quanto aos restantes juristas, as suas obras só podiam ser invocadas e
m tribunal e com carácter vinculativo para os juizes: a) se a sua autoridade fosse
reconhecida, pelo menos, por um dos cinco; b) se a citação pudesse ser comprovada a
través dum documento fidedigno. Como a verificação simultânea destas duas condições, na real
idade, se tornava muito difícil, pràticamente, só passaram a ser citados em tribunal o
s cinco juristas mencionados 575. Determinava a Lex
572 Não faltam AA. que atribuem a Lei das Citações ao imperador Teodósio 11. Depois do t
rabalho de A. BrscAIDi, Studi sulla Legislazione dei Basso Impero. I. La Legge d
eite Citazioni em Studi Senesi 53(1939) 401 ss., parece já não haver dúvidas sérias de q
ue pertença a Valentiniano III. Vid. também F. EBRARD, Das Theodisische Projekt, cit
. 583.
57' Sobre o primitivo conteúdo da Lei das Citações e acercado momento em que terá sido i
nserida no Codex Theodosianus, vid. O. ROBLEDA, lus Privatum Romanum
220599.
574 A respeito de GAius, a Lei das Citações expressamente declara que as suas obras
têm valor igual às dos restantes quatro. Esta observação justifica-se, provàvelmente, pelo
facto de ele não ter possuído (ao contrário dos outros quatro) o ius respondendi ex a
uctoritate principis.
575 Segundo parece, a Lei das Citações pouco inovou; veio confirmar o que já se vinha
fazendo na prática. É a opinião dos romanistas modernos. Cf. ROBLEDA, o. c. 220
e A. DELL'ORO em Synteleia Arangio-Ruiz I (Nápoles,1964) 356.
424
Citationum: se havia acordo dos cinco, era obrigatório seguir
essa opinião; se não havia acordo de todos, mas apenas uma
maioria, tinha de seguir-se essa maioria; se havia empate e num dos lados estava
a opinião de PAPINIANUS, seguia-se esta, mas se PAPINIANUS não tratava do problema,
o juiz ficava com plena liberdade, para decidir a questão.
p) - Urgência das colectâneas de «ius» - Depois da Lei
das Citações surgiram várias compilações deste conteúdo 510: 1 - Tituli ex corpore Ulpiani 2
- Sententiae recepti Pauli 3 - Epitome Gai
4 - Res Cottidianae seu libri Aureorum Gaii
II - Colectâneas mistas (de «ius» e de «leges»)
1- Edictum Theodorici
2 - Lex Romana Visigothorum 3 - Lex Romana Burgundionum 4 - Fragmenta Vaticana
5 - Colatio Legum Mosaicarum et Romanarum 6- Consultatio Veteris cuiusdam lurisc
onsulti 7 -Livro Siro-Romano 8 - Scholia Sinaitica
d) Classificações de certas colectâneas pré-justinianeias. Nosso critério. Principais coleçtâ
eas a analisar, elaboradas: A) - no Ocidente: B) - no Oriente
As colectâneas de ius e as mistas (de ius e de eges), para simples enumeração, devem s
er agrupadas em razão do seu con
576 Antes da Lex Citationum, existiram umas colectâneas breves ou epítomes, de carácte
r particular.
425
DIREITO ROMANO
1.' PARTE - T'T. IX
§ 35
teúdo, como acabámos de fazer. Para uma certa análise, entendemos que é preferível agrupá-la
s em razão da sua perfeição. Ora o grau de perfeição, ou melhor, de menos imperfeição, verifi
a-se conforme são elaboradas no Ocidente (mais imperfeitas, devido ao carácter profu
ndamente vulgarista do Direito Romano da época post-clássica ocidental 511) ou no Or
iente (menos imperfeitas, em razão da índole classicista do lus Romanum post-clássico
oriental).
Quanto às colectâneas só de leges - Códigos Gregoriano, Hermogeniano e Teodosiano -, não p
recisam desta classificação, por serem todos orientais.
Não examinaremos aqui as compilações analisadas na cadeira de História do Direito Portug
uês 578; e mesmo das restantes, só as principais.
A) - Principais obras ou colectâneas 519 pré-justinianeias ocidentais (sécs. III-1V) 5
80 1 - Fragmenta Vaticana; 2 - Collatio Legum Mosaicarum et Romanarum; 3-Consul-
. tatio Veteris cuiusdam Iurisconsuiti; 4 - Resumos de
577 Sobre a problemática da produção jurídica post-clássica ocidental vid. GAUDEMET, La Fo
rmation du Droit 84 e Institutions de l'Antiquite (Paris, 1967) 752.
578 Vid. BRAGA DA CRUZ, História do Direito Português, Lições policopiadas (Coimbra,1955
) 133-147 e 197-211.
579 Em geral, os dois termos, a respeito das várias compilações pré-justinianeias, usam-
se como sinónimos. Em rigor, segundo parece, colectâneas seriam apenas os três Códigos (
Gregoriano, Hermogeniano e Teodosiano), e obras, as compilações de ius, e quando mui
to também as mistas (de ius e leges).
580 Sobre estas fontes, além de diversas edições (de BRUNS, MOMMSEN, BAVIERA
KRt1GER, HUSCHKE, FERRINI, FURLANI, SACHAU, etc), há estudos muito interes
santes. A actual romanistica dedica a estas obras uma especial atenção. Vamos presci
ndir de certas análises de vários problemas, e apresentar uma visão muito esquemática, m
as fundamental. Para um exame mais pormenorizado, vid. 0. ROBLEDA. lus Privatum
Romanum 211-246 (onde também é indicada a principal bibliografia), e GAUDEMET, La Fo
rmation du Droit 84-98.
obras - I - Pauli Sententiae, II - Epitome Gai, III - Gaio de «Autun», IV - Tituli e
x corpore Ulpiani, V - Interpretotiones
1-Fragmenta Vaticana (FV) - FIRA 11 464-540 5S1
Trata-se duma colectânea privada (segundo a melhor opinião) de ius e de leges. Data
do séc. IV ou V, entre 372 e 438. Desconhece-se o autor, e até a primitiva designação. H
oje é conhecida por Fragmenta Vaticana: «fragmenta», porque tudo o que possuímos desta c
ompilação é apenas cerca de uma décima parte do original (33 págs. de manuscrito) ; «vatican
a», porque foi encontrada na Biblioteca do Vaticano. 0 Cardeal Angel MAI, em 1823,
descobriu-a num manuscrito-palimpsesto (n.° 5 766
da Bibl. Vat.582).
Como dissemos, é uma colectânea de ius e de leges. No que se refere ao. ius, encerra
fragmentos de obras de PAPINIANUS, PAULUS, ULPIANUS e alguns passos duma obra d
enominada De Interdictis cujo autor é desconhecido. Quando a leges, contém excertos
de várias constituições de diversos imperadores, sobretudo de Diocleciano.
581 Estas abreviaturas significam: l.° que os Fragmenta Vaticana designam-se nos t
rabalhos romanísticos por FV; 2.° que se encontram, entre outras colecções de fontes juríd
icas pré-justinianeias, em FIRA (= Fontes luris Romani Antejustiniani), vol. II, pág
s. 464 a 540. Semelhante significado deve atribuir-se às abreviaturas apostas às out
ras fontes, de que se vai tratar a seguir.
Sobre edições, fontes e principal bibliografia dos FV vid. 0. ROBLEDA, o. c. 235655.
582 Corno é sabido, o palimpsesto é um manuscrito em pergaminho, raspado por copista
s da Idade-Média, para dar lugar a nova escrita. Modernamente, tem-se conseguido a
vivar os primeiros caracteres que ficaram (não totalmente destruidos) debaixo da s
egunda escrita. A palavra deriva do grego que significa raspar, polir, de novo.
Como na antiguidade os pergaminhos e os couros sobre que então se escrevia atingia
m por vezes preços elevadíssimos, os escribas aproveitavam os pergaminhos antigos co
locando-os numa solução de água e cal, para fazer desaparecer a escrita neles contida.
Tais couros e pergaminhos, depois de raspados com pedaços de vidro e alisados com
pedra-pomes, eram utilizados para novos escritos. Daí o nome de palimpsesto.
No nosso caso do Palimps. n.° 5766 da Bibl. Vat., o primeiro manuscrito (e portant
o a parte da colectânea FV) pertence ao séc. IV ou V; a «super-escrita» é do séc. VIII.
426
427
DIREITO ROMANO
1' PARTE - TIT. IX
§ 35
Especial valor dos FV quanto ao «ius»: os fragmentos aí transcritos são mais clássicos que
os mesmos, citados no Digesto do Corpus Iuris Civilis. Isto vem confirmar o que
já era certo: os fragmentos de obras dos juristas clássicos contidos no Digesto jus
tinianeu, muitas vezes, estão interpolados pelos compiladores.
Matérias: compra e venda; usufruto; dote; doações, etc.
Sistematização: a colectânea não está dividida em livros, mas em títulos; e em geral, para m
aior comodidade, toda ela repartida em números, que vão de 1 a 341, não estando subord
inados a cada título. V.g. FV 285=Fragm. Vat. n.° 285.
A finalidade da elaboração desta colectânea foi prática e escolástica, isto é, servia respec
tivamente para advogados, juízes, magistrados e funcionários da administração, e para es
tudiosos de Direito.
2-Collatio Legum Mosaicarum et Romanarum, em geral conhecida simplesmente por Co
llatio (Co) -FIRA lI 544-589
É também uma colectânea mista (de ius e de leges 583). Data, quase de certeza, dos pri
ncípios do séc. IV "'.
Era conhecida na Idade Média; depois, desapareceu; foi
encontrada no séc. XVI, mas só uma parte (talvez um extracto
583 Sobre edições, fontes e principal bibliografia da Collatio vid. O. RORLEDA, o. c
. 238666, e G. SCHERILLO, em LANDI 111 446 e 448-8.
584 0 problema da data àltimamente tem sido objecto de vários estudos, que originara
m diversas opiniões. De certeza, a Collatio é anterior ao CT, pois o autor da colectân
ea desconhece o Codex Theodosianus, o que seria quase inexplicável, se fosse poste
rior. Visto a Collatio conter uma constituição do ano 390, põe-se a questão de saber se
ela é posterior ou anterior àquela data, e então essa constituição do ano 390 teria sido i
ntroduzida numa ulterior reedição, o que era muito frequente (vid. supra 409) Está hoj
e demonstrado que é anterior a 390, e talvez anterior a Constantino; portanto, cer
ca do ano 305.-Sobre este curioso problema, vid. E. VoLTERRA, Collatio Legum Mos
aicarum et Romanarum (Roma,1930); A. MAS!, Contributo ad una Datazione delta «Coll
atio Legum Mosaicarum et Romana]-um» em BIDR 64(1961) 285-321 (onde, a págs. 288-307
, apresenta uma síntese admirável da evolução da doutrina sobre este problema); G. CERVE
NCA, Ancora sul Problema della Datazione della `Collatio Legum Mosaicarum et Rom
anarum' em SDHI 29(1963) 253-276; A. MAS!, Ancora sulla Datazione delta `Collati
o Legum Mosaicarum et Romanarum' em Studi Senesi 14 (1965) 415-448, M. DOMINICIS
, Ancora sulla «Collatio Legum Mosaicarum et Romanarum» em BIDR 69 (1966) 337-342, e
G. CERVENCA, Ancora sul Problema della Datazione delta 'Collatio' em RSDI 39 (1
966) 456-457.
428
da obra primitiva) e fragmentada em três manuscritos (dos sécs. IX-XI), hoje conserv
ados em Berlim, Viena e Tercelli, sendo o berlinense o mais antigo.
A Collatio original estava dividida em vários livros, subdivididos em títulos. Apena
s se conservam, nos três manuscritos acima referidos, 16 títulos do livro 1.°. Excepto
os livros 10 e 16.°, todos os restantes se ocupam de matérias de direito criminal.
A avaliar pela matéria contida nesses títulos, trata-se da colectânea mais original de
todas. Pretende demonstrar uma tese muito «ingénua», mas que teve alguma aceitação na época
post-clássica: que o lus Romanum procede das leis moisaicas (contidas no Velho Te
stamento, e concretamente em todos os livros do Pentateuco, excepto o Génesis - Êxod
o [sobretudo deste], Levítico, Números e Deuteronómio), ou pelo menos está de acordo com
elas. Daí que, nos manuscritos, esta colectânea seja designada por «Lex Dei quam prae
cepit Dominus ad Moysen». - [A denominação de «Collatio Legum Mosaicarum et Romanarum» foi
dada pelos editores modernos, em virtude do seu conteúdo]-. Para efectuar a tal «de
monstração», o autor 585
da Collatio escreve, primeiro, as normas da Sagrada Escritura 586 e, depois, as
normas de Direito Romano, começando pelo ius e acrescentando leges, se é que existem
a propósito do assunto tratado. De ius, transcreve fragmentos sobretudo das Pauli
Sententiae, que são «completados» com excertos dos cinco juristas da Lex Citationum,
PAPINIANUS, PAULUS, ULPIANUS, MODESTINus e GAtus. De leges, cita passos de const
ituição extraídas dos
585 Discute-se muito quem seja o autor da Collatio. Um judeu ou um cristão? Provàvel
mente, cristão. Quem? RUFINUS de Aquileia? S. Jerónimo, Santo Ambrósio ou outra pessoa
? Vid., por todos, RoBLEDA, o. c. 239 e nn. 670-672. - Segundo G. SCHERILLO, em
NNDI 111 447-448, o autor não podia ter sido nem um cristão nem um pagão, mas um hebre
u; provàvelmente, um rabino, bem conhecedor da Sagrada Escritura e em Direito Roma
no non incallidus.
586 É curioso que o autor da Collatio cita a lei moisaica, não directamente do texto
hebraico, mas usando uma tradução latina da versão grega dos Setenta, anterior à Vulgat
a de S. Jerónimo.
429
DIREITO ROMANO
1' PARTE-TIT. IX
§ 35
Códigos Gregoriano e Hermogeniano, e ainda fragmentos duma constituição do ano 390 '8T
(de Valentiniano, Teodósio e Arcádio), proveniente de fonte desconhecidas".
Sob o aspecto quantitativo, são em maior número os textos jurídicos romanos - e entre
estes, os fragmentos de ius - em relação aos versículos bíblicos.
A colectânea interessa ao romanista, enquanto encerra textos jurídicos, sobretudo não
contidos na compilação justinianeia e principalmente só conhecidos através desta obra.
3 - Consultatio Veteris cuiusdam Iurisconsulti, em geral conhecida simplesmente
por Consultatio (Cs) - FIRA 11 594-613
É igualmente uma colectânea mista (de ius e de leges) 589.
É conhecida pela denominação de Consultatio Veteris cuiusdam lurisconsulti, dada por C
uJÁCIO primeiro editor da colectânea (ou por A. LOISEL, discípulo e amigo de CuiÁcio, o
descobridor da Cs). Não é, portanto, a designação primitiva; essa é-nos desconhecida. Na v
erdade, foi CuJÁCIo, no séc. XVI (1577), quem a publicou pela primeira vez, na íntegra
599, segundo um manuscrito (descoberto por LOISEL), hoje perdido, mas o único de
que há notícia. Da edição de CuJÁcio procedem as edições modernas.
A Cs data do séc. V ou início do séc. VI 591, e deve ter sido composta na Gália 592.
587 Vid. supra n. 584.
588 Essa constituição também se encontra no CT 9,7,6; mas não provém desta fonte, pois a C
ollatio é anterior ao Codex Theodosianus; além disso, essa constituição na Collatio está e
m síntese, no CT, na íntegra.
589 Sobre edições, fontes e principal bibliografia da Consultatio vid. 0. Ro
BLEDA, o. c. 241678.
590 Cujácio publicou, em separado algumas partes da Cs em 1564, e depois essas mes
mas partes, como apêndice, à sua edição do Codex Theodosianus, de 1565;
edição na íntegra, só em 1577.
591 Terminus post quem, 439; terminus ante quem, entre 450 e 500.
592 Sobre estes dois problemas, data e lugar, vid. O. ROBLEDA, o. c. 242 e nn.
680-682.
430
Está dividida em 9 capítulos, mas sem rubricas.
Segundo o que se vinha afirmando entre os AA., esta colectânea conteria as respost
as dum jurista post-clássico desconhecido, dadas a casos reais ou até fictícios; para
fundamentar essas respostas, ele teria transcrito vários fragmentos de ius (tirado
s da Pauli Sententiae) e de leges (extraídos dos Códigos Gregoriano, Hermogeniano e
Teodosiano). Hoje, reduzem-se ao mínimo as respostas do tal desconhecido juriscons
ulto 593, podendo distribuir-se toda a matéria da Consultatio (embora separada com
pouco rigor), sem contar com as doutrinas do «fictus(?) iurisprudens», em três partes
:
l.a compreenderia os capítulos 1-3'e 7-8, onde estão recolhidos fragmentos das Pauli
Sententiae e dos Códigos Gregoriano e Hermogeniano;
2.a, caps. 4-6, onde se encontram extractos das Pauli Sententiae e do Código Hermo
geniano;
33 a, cap. 9 (o último) contém apenas fragmentos dos três Códigos -- Gregoriano, Hermoge
niano e Teodosiano.
Em parte nenhuma se vêem as respostas do tal desconhecido jurisconsulto.
Especial importância da «Consultatio»
1.° -Contém certos fragmentos que não se encontram em nenhuma outra fonte; são-nos conhe
cidos unicamente através desta colectânea.
2.° - Vários dos fragmentos estão já interpolados. Mais um argumento a provar que há inter
polações também pré-justinianeias.
3.° - Nos fragmentos coligidos, indicam-se (ao contrário de outras colectâneas) o nome
do autor, da obra, livro e título; nos fragmentos das constituições imperiais, além da
inscriptio, nunca falta a subscriptio.
593 Vid. ROELEDA, ib. 242, parte final da n. 679.
16
431
DIREITO ROMANO
1.' PARTE - TIT. IX § 35
4-Resumos de obras (portanto, "colectâneas" ou melhor, "obras") de ius
I - Sententiae receptae Pauli, ou simplesmente, Pauli Sententiae (PS) -- FIRA 11
321-417
É uma selecção, uma espécie de antologia, de máximas jurídicas (sententiae, vid. supra 365),
que talvez não reproduzam já exactamente o direito clássico, embora a obra tenha por
base
(pelo menos ó94) as obras, de PAULUS. Tem sido considerada uma fonte de direito po
st-clássico 595.
Quanto ao seu autor, seguia-se até há pouco, não ser PAULUS; recentemente, já se levanta
m certas dúvidas S6
Foi elaborada, de certeza, no Ocidente, e é mais provável ter sido em África do que na
Itália.
Consta de cinco livros, divididos em títulos 591.
Deve ser dos fins do séc. III ou princípios do séc. IV, mas de certeza antes de 327 ou
328, data da constituição de Constantino, que lhe reconhece valor oficial (CT 1,4,2
), a não ser que se venha a demonstrar que o seu autor é PAULUS, pois nesse
caso, não seria do séc. IV, mas do III 5911.
Não chegou até nós na íntegra (apenas cerca de uma sexta parte), nem directamente (excep
tuando o breve fragmentam Leidense 599), mas através dos FV, da Collatio, da Consu
ltatio, do Breviário de Alarico e do p gesto.
Embora seja uma obra («colectânea» de ius) do Ocidente e dos fins do séc. III (ou princípi
os do séc. IV?), teve larga
594 Há quem defenda que as PS têm por base não só as obras de PAULUS mas também as doutros
juristas clássicos, v. g. LAURIA, R,icerch? su Pauli $ententiae em Annali deil'Un
iversità di Macerata 6(1930) 33 ss.
595 Nisto, há quase uniformidade entre os AA. Veja-se, por todos, DE DoMINIcIS, Di
AlcuniTesti Occidentali delle «Sententiae» riflettenti la Prassi Postelassica em St
udi Arangio-Ruiz IV (Nápoles,1953) 507-542.
596 Sobre o estado actual deste problema, veja-se O. ROBLEDA, o. e. 223 e
nn. 610 e 612 (2.' parte).
S97 Acerca das várias edições e principal bibliografia, vid. id. ib. 223609. 598 Vid.
supra n. 596.
S99 Sobre este fragmentum vid. GAUDEMET, Lá Formation du Droit 893.
expansão e uso frequentíssimo no Oriente, onde, durante os sécs. IV a VI se fizeram vári
as edições, com diversas alterações,
interpolações 690 e glosemas.
II -Epitome GAI (EG) - FIRA II 232-257
Obra de menor importância que a anterior, é uma síntese imperfeita, mesmo rudimentar,
dos três primeiros livros das Institutions de GAIUS, ora reproduzindo com fidelida
de ora adaptando o texto gaiano à nova legislação imperial, ora corrompendo ainda mais
os conceitos e a própria terminologia do «pré-posclásico».
De certeza, é da época post-clássica; por isso, omite o livro IV das Institutiones de
GAIUS, pois, tratando do processo clássico, na época post-clássica já não tinha qualquer a
plicação. Provàvelmente, é do séc. V; talvez tenha sido elaborada por uma escola gálica.
0 EG encontra-se transcrito no Breviário de Alarico 601, com a designação de Liber Gai
,- constando de dois livros, pois os livros II e III das Institutiones de GAIUS
ficaram fundidos num. É anterior à Lex Romana Visigothorum e nem sequer deve ter sid
o elaborada pelos compiladores do Breviário 60-.
Ill - Gemo de «Autun» (GA) - FIRA II 208-228
Trata-se dum resumo das Institutions de GAIUS elaborado para fins didácticos, enco
ntrado fragmentàriamente, num
600 Não falta quem defenda que o texto das PS usado pelo Breviário de Alarico (seria
ocidental) era diferente do que foi usado pelo Digesto (seria oriental). Vid. G
AUDEMET, o. c. 894.-Sobre interpolações nas PS vid. infra 519.
601 Acerca das várias edições e principal bibliografia desta obra, Vid. ROBLEDA, o. c.
225617.
602 Cf. ROBLEDA, a. e. 225619 e GAUDEMET, o. c. 93 e n.2.
432
433
DIREIrO ROMANO
1.° PARTE-TIT. IX
135
palimpsesto da Biblioteca de Autun (França). Daí a razão de
ser da sua denominação.
Em virtude da sua finalidade, os extractos da obra gaiana são quase sempre acompan
hados de certos comentários, em
geral de pouco valor.
IV - Tituli ex Corpore Ulpiani (TU), também denominado Liber singularis Regularum
- FIRA 11 262-301
É uma obra elementar, post-clássica, de certeza do séc. IV, composta entre 320 e 350.
Provàvelmente, é uma síntese dum texto não-original (isto é, não conforme ao manuscrito vero
nês) das Institutiones de GAIUS - texto esse que se perdeu -, contendo talvez aind
a certas noções e vários conceitos de mais alguns iurisprudentes clássicos, máxime ULPIANU
S 803.
0 manuscrito desta obra foi encontrado na Biblioteca Vaticana, no séc. XVI, tendo
sido editado em 1594 por TILLET, e em 1576 por CuJAclo. Pensaram ter encontrado
o Liber singularis Regularam (ou uma sua grande parte) de ULPIANUS; daí a razão de s
er de uma das suas denominações. Esse manuscrito, considerado perdido durante muito
tempo, afinal é o Vat. Reg. 1128, que principia por estas palavras: «Incipiunt Titul
i ex corpore Ulpiani». Por este motivo, explica-se a outra designação
desta «colectânea» de ius 804
V - Interpretationes
É evidente que se trata duma obra de ius e post-clássica, consistindo em pequenos co
mentários a normas quer de ius quer
603 0 problema é muito discutido e são várias as opiniões. Vid. ROBLEDA, o. C.
222 e nn. 605-608.
604 Cf. GAUDEMET, o. C. 91 e 92.
de leges. As interpretationes não existem apenas no Breviário
de Alarico e nem é só através dele que temos conhecimento
delas.
É uma das obras mais mal conhecidas do direito post-clássico. Conhecem-se principalm
ente as interpretationes ao Codex Theodosianus, porque têm sido editadas com esse
Código, como que fazendo parte integrante.
As interpretations, ou melhor, a Interpretatio é uma obra elaborada no Ocidente (p
rovàvelmente na Gália), talvez de origem pré-visigótica, provàvelmente dos fins do séc. V (n
em
antes de 438, data do CT, nem depois de 506 805).
Embora de carácter escolar, reputa-se obra de vasto alcance.
cista e até a sua intervenção pessoal como legislador, ficaria de pé uma grande qualidad
e a atestar um mérito inegável: o ter sabido rodear-se de colaboradores à altura, para
realizar uma` obra gigantesca, o «Corpus Iuris Civilis» -e um homem público, um chefe
, em geral vale o que valeremos seus colaboradores -; o ter reformado os program
as das Escolas de Direito como ponto de partida para a realização e execução duma grande
reforma legislativa.
Porém, Justiniano, além dessa extraordinária qualidade de chefe, nele bem patente, era
pessoalmente um classicista e um legislador - estes aspectos já bastante discutid
os pelos AA. 041.
Como classicista revela-se um entusiasta apaixonado da tradição latina; concretament
e, nos seus actos e sempre nas suas intenções, mostra-se um defensor acérrimo do 1us R
omanum, sobretudo reagindo contra os factores da sua decadência.
Embora classicista 842, nunca deixou de ser legislador 896
do seu tempo. Por isso, a compilação justinianeia oferece dois aspectos: através dela,
podemos conhecer o direito clássico (eli
641 Cf. PRINGSHEIM, Die archaistiche Tendenz Justinians em Studi Bonfante I (Milão
,1930) 551-587, RlccoaoNo, La Verità sul Pretese Tendenze Archaiche di Giustiniani
em Conferenze per 1l°XIV Centenario delle Pandette (Milão,1931) 237-284 e Gian Gual
berto ARCH!, Giustiniano Legislatore em Labeo 12(1966) 1641.
642 A tendência classicista de Justiniano não deve ser confundida com uma certa incl
inação arcaizante, no sentido de pretender restaurar e instaurar no séc. VI um direito
anacrónico, mas sim entendida com o alcance de pretender conservar antiguidades j
urídicas clássicas ainda válidas e adaptá-las devidamente às novas circunstâncias, ou com a
finalidade histórica de reter certos institutos jurídicos ultrapassados para melhor
se compreender a evolução do direito, desde a época clássica até ao séc. VI. R cconoNo, Roma
Madre delle Leggi em BIRD 57-58(1953) 5, sintetizou: «La codificazione giustinian
ea ha due facce come il nume di Giano: una dei diritto antico, l'altra dei dirit
to vivo. Il morto e il vivo Just in unità offerto come Codice».
Sobre este carácter arcaizante ou classicista de Justiniano vid. RoBI,EDA, o. C. 2
63 e 264, e sobretudo as nn. 760-767, onde é indicada a principal bibliografia; A.
D'Oas, El Predigesto em Investigación y Progreso 16(1945) 1302; Pietro BoNPANPE,
Storia dei Diritto Romano II, 4.° ed. revista por Giuliano BONFANTE e Giuliano CRió
(Milão,1959) 49-52.
643 Sobre este problema, veja-se Gian Gualberto ARCH!, Giustianiano Legislatore
em Labeo 12(1966)163.177.(com especial atenção à n. 1 da pág. 164, onde se indica a prin
cipal bibliografia) grafia) e Annali della Facoltà di Giurisprudenza (Génova) 5(1966
) 324.
451
I
DIREITO ROMANO
1.^ PARTE - TIT. X - CAP. 1
§ 36
minando as interpolações) e o direito post-clássico, tal como se encontra no Corpus Iu
ris.
3 - Finalidade da compilação justinianeia : legislativa e didáctica
Justiniano esforçou-se por criar uma legislação, própria para resolver os problemas da s
ua época, utilizando ao máximo a literatura jurídica clássica.
Consciente da corrupção que os princípios jurídicos romanos tinham sofrido durante quase
três séculos de decadência, o imperador classicista procurou, dentro do possível, repar
ar os danos, não só fixando na sua compilação duma forma indelével o verdadeiro ius, mas a
té aperfeiçoando-o. Para isso, tenta, mediante certas modificações e interpolações, eliminar
muitas incertezas e discussões que se tinham levantado na escola e na prática, a re
speito da literatura dos passos divergentes dos juristas clássicos. Sempre que pod
e, ele ordena, na prática e nas escolas, o regresso aos ensinamentos clássicos, ou a
o menos àqueles ensinamentos que lhe pareciam autênticamente romanos, não atendendo pa
ra chegar a essa consideração às modificações post-clássicas mas às exigências da sua época.
rou fazer no séc. VI o que faria um bom jurista clássico, naquelas mesmas circunstânci
as. Neste aspecto, ele inovou o direito clássico; sob este aspecto, o Corpus luris
não é uma fonte de direito clássico. É directa e imediatamente uma fonte de direito (po
st-clássico) justinianeu; mas, ao mesmo tempo, o melhor instrumento para se conhec
er o direito clássico, desde que se ponham de parte todas as alterações justinianeias.
0 imperador Justiniano tornou-se assim o intérprete fiel das directrizes jurídicas
mais genuinamente romanas 8", e o Corpus luris resultou
644 Por isso é que, passados catorze séculos, Justiniano, em 1965, foi recordado pel
o mundo jurídico com homenagens bem significativas. Vid. por exemplo, BIONDI, Gius
tiniano em lura 16(1965) 1-10, e G. Gualberto ARCHI, Giustiniano Legislatore em
Labeo 12(1966) 163-177.
452
um monumento jurídico, onde não se encontra apenas a sabedoria romana duma época, mas
onde se acumulam a ciência e a experiência de séculos!
Estas orientações «clássicas do século VI» foram impostas por Justiniano nos tribunais e nas
escolas. Daí a finalidade legislativa e didáctica do «Corpus luris»:
1.0 - servir de exposição autorizada, com força de lei, de todo o lus Romanum;
2.0 - ser texto único, que devia estudar-se na sescolas.
A codificação justinianeia tinha que substituir e substituiu todos os antigos livros
de direito, tanto na literatura como na legislação. Deste modo, Justiniano esperava
tornar o direito uniforme em todo o Império, fazendo desaparecer a massa dispersa
de material jurídico, que havia causado tanta confusão.
453
1` PARTE - TIT. X-CAP. 2.
§ 37
454
Capítulo 2.0 - B) -ANALISE DAS VARIAS PARTES DO «CORPUS IURIS CIVILIS»
SUMÁRIO - 37. 1 - Digesta ou Pandectae (16-12-533)
a) Preparação da colectânea de ius: Quinquaginta deci
siones(530)
b) Flaboração (comissão redactora, const. Deo auc
tore, de 15-12-530) e publicação (const. Tanta
-A&& xcv, de 16-12-533)
c) Autores e obras utilizadas. Sistematização e forma
de citar
d) Proibição de comentar o Digesto e obrigação de
o adoptar nas escolas e nos tribunais
e) Problemas externos à elaboração e à publicação
I -Distribuição dos fragmentos dentro de cada
titulo
II - Método de trabalho dos compiladores. Teorias
2-Institutions (21-11-533)
a) Elaboração e publicação (const. Imperatoriam maies
tatem, de 21-11-533)
b) Fontes utilizadas. Sistematização c) Carácter normativo d) Modo .a elaboração
3 - Codex [repetitae praelectionis] (17-11-534)
a) Elaboração e publicação (const. Cordi, de 17-11-534) b) Fontes utilizadas. Sistematiz
ação
4-Novellae (constitutiones)-535 a 565
a) Actividade legislativa de Justiniano, depois do Codex b) Disposição das Novellae
c) Colectâneas privadas de Novellae
I - Epitome luliani
iI - Authenticum
III - Colectânea grega (580?)
1 - «Digesta» ou «Pandectae. (16-12-533)
a) Preparação dos «Digesta» ou «Pandectae»645: «Quinquaginta decisiones» (530)
37. Assente a ideia - em meados (ou até fins) de 529 - de mandar elaborar uma gran
de colectânea de ius, Justiniano deve ter julgado necessário ou, pelo menos, muito c
onveniente: a) - derimir (decidere) o maior número possível das inúmeras controvérsias a
gitadas entre os comentadores da literatura jurídica clássica; fi) - optar por uma,
entre as diversas opiniões. Assim, o ius ficaria certo, concorde, uniforme e apto
a ser (aplicado e) codificado. Essas determinações de Justiniano, através de várias cons
tituições, publicadas em 530, destinavam-se: 1) - a resolver legislativamente velhas
questões doutrinárias; 2) - a revogar expressamente antigas normas já caducas; 3) - a
estabelecer novos critérios e a fixar determinadas orientações para a solução de vários pro
blemas jurídicos.
Cinquenta (dessas) constituições, de 530, foram reunidas numa colectânea provisória, den
ominada Quinquaginta decisiones. Esta obra não chegou até nós. Pelo menos em parte 696
, deve ter sido incorporada, junta com outras constituições, no Codex de 534.
Discute-se entre os AA.:
I - se as Quinquaginta decisions se destinaram únicamente a servir de trabalho pre
paratório para a elaboração do Digesto, ou simplesmente a fixar normas para facilitar
a aplicação do ius (uma espécie de complemento da Lex Citationum) e, só como consequência,
servirem de orientação nos trabalhos
de preparação das Pandectac;
645 Sobre o significado destas palavras e a partir de que época principiou a usar-
se a palavra Digesto (no singular) vid. supra 36 e n. 52.
646 Das Quinquaginta decisiones existentes no Codex de 534 só estão identificadas tr
inta.
455
DIREITO ROMANO
1. PARTE - TIT. X - GAP. 2." § 37
II - se, além das Quinquaginta decisions, terá havido mais constituições (com a mesma fi
nalidade indicada no número anterior), e se publicadas só em 530 ou também depois de 5
30, concretamente durante a elaboração do Digesto 847.
b) Elaboração do Digesto (const. «Deo auctore», de 15-12-530); publicação (const. «Tanta - Aé
xev», de 16-12-533)
Estabelecidas, directa ou apenas indirectamente, certas orientações para elaborar um
a grande colectânea de ius, o imperador Justiniano, pela const. Deo auctore, de 15
-12-530, encarregou pessoalmente 648 Triboniano, agora Quaestor sacri palatii, d
e elaborar uma obra do tipo dos digesta 846 da «iurisprudentia» clássica, e por isso m
esmo seria denominada Digesta seu Pandectae R50 (de acv BExogou= recolho tudo).
Justiniano, nessa constituição, outorgava a Triboniano plena liberdade e todos os po
deres para escolher os membros (viri docti in fure) que formariam a comissão codif
icadora. Ele haveria de escolher dezasseis membros B61:, Constantino, comes sacr
arum largitionum; quatro professores de direito, Teófilo e Cratino (da Escola de C
onstantinopla), Doroteu e Anatólio (da Escola de Beirute), e onze advogados do for
o de Constantinopla. Total: 17 membros, incluindo Triboniano que presidiria à comi
ssão.
647 Sobre estes problemas, vid. ROBLEDA, O.C. 521 e nn. 622-75, e G. GROSSO, Lez
ioni, cit. (1965) 490 e 491 e n. 2.
648 A const. Deo auctore é dirigida directamente a Triboniano - «IMPERATOR CAESAR FL
AVIUS IUSTINIANUS PIUS FELIX INCLUTUS VICTOR AC TRIUNFATOR SEMPER AUGUSTUS TRIBO
NIANO QUAESTORI SUO SALUTEM (lustiniani Digesta, 18.s ed. de MoMMSEN-KRÜGER [Berli
m,19651 8).
649 Vid. supra 367-c).
650 Foi por vontade expressa do imperador Justiniano que a colectânea de ius se ch
ama Digesta ou Pandectae-Const. Deo auctore 12 e const. Tanta -AêBaxev 1. Vid. MOM
MSEN, Die Bedeutung des Wortes «Digesta» em Juristischen Schriften 11 (Berlim,1905)
90 ss. 0 termo «Pandectae» também não era novo. Já tinha sido usado por ULPIANUS e por MOD
ESTINus, no sentido de «antologia»; vid. B. PARADISI, Storia del Diritto Italiano, c
it. 413.
651 Os seus nomes vêm todos indicados na const. Tanta-Dê&rxev 9.
456
Ainda segundo a const. Deo auctore; a comissão devia:
I - coligir os melhores fragmentos das obras dos jurisconsultos 652 que tivessem
tido o ius respondendi ex auctoritate principis 855, sem estabelecer qualquer o
rdem ou distinção entre eles,
nomeadamente sem qualquer preferência nem mesmo pelas doutrinas de PAPINIANUS (ao
contrário do que estabelecia a Lex Citationum654), e indicando sempre o autor, a o
bra e o livro donde se extraísse o fragmento;
II-suprimir o que fosse supérfluo e o que tivesse caído em desuso;
III - eliminar as autonomias, as semelhanças e as repetições;
652 Const. Deo auctore 4: «lubentus igitur vobis aniquortun prudentium, quibus auc
toritatem conscribendarum interpretandarumque legum sacratissimi principes praeb
uerunt, libros ad ius Romanum pertinentes et legere et elimare, ut ex his omnis
materia colligatur, nulla (secundum quod possibile est) neque .similitudine nequ
e discordia derelicta, sed ex his hoc colligi quod ununr pro omnibus sufficiat.
Quia caem ei alii libros ad ius pertinentes scripserunt, quorum scripturae a mdl
is auctoribus receptae nec usitatae sunt, negue nos eorunt volumina nostram inqu
ietare dignamur sanetionetm>.
653 Os compiladores utilizaram obras de juristas que não tinham tido o ius respond
endi ex auctoritate principis, mas que, sob certo aspecto, podiam equiparar-se a
os privilegiados. 0 primeiro, nestas circunstâncias, foi certamente GAtus: não gozou
do ius respondendi mas fez parte da lex citationum. Aberta esta excepção, não deveria
ter sido difícil, por analogia, estabelecer outras, v. g. PoMPONIUS, QUINTUS Muci
us Scaevola, ALIENUS VARUS e AELIUS GALLUS. (Dos três últimos, só há fragmentos de uma o
bra de cada; de POMPONIUS e de GAtus foram utilizadas várias obras de cada uni, co
mo poderá verificar-se pelo Index). Justiniano, depois, conformou-se, e de bom gra
do, com este modo de proceder da comissão compiladora. Deduz-se do Index dos juris
tas e das obras empregues, mandado fazer pelo próprio imperador (const. Tanta-Aé&uxr
v 20) e que devia preceder os Digesta ou Pandectae. - [0 Index elaborado pelos c
ompiladores não é seguro: há omissões de obras usadas; indicam-se obras que não foram util
izadas; por vezes, confundem-se obras. KRÜGER, Histoire des Sources du Droit Roman
n, trad. frac. de BRISSAUD (Paris,1894) 438, e sobretudo BONFANTE, Storia de! Di
ritto Romano 114 (Milão,1934) 512 e 188, têm um elenco perfeito de autores e respect
ivas obras citados no Digesto. A edição de MOMMSEN-KRÜGER traz esse elenco na parte fi
nal, págs. 932-949; a versão castelhana do Digesto, de A. D'ORS, F. HERNANDEZ TEJERO
P. FUENTESECA, M. GARCIA GARRIDO y J. BuRILLO (Madrid,1968) apresenta o elenco
(«incluyendo lo olvidado») a págs. 37-441.
654 Vid. supra 425.
457
DIREITO ROMANO
1. PARTE - TIT. X - CAP. 2.0 § 37
IV - adaptar os fragmentos dos textos às novas circunstâncias sociais, modificando-o
s quer mediante acréscimos, uniões, cortes, quer procedendo doutra forma; numa palav
ra, interpolando à vontade conforme a necessidade ou até simples conveniência 655
Passados apenas três anos - o tempo utilizado na realização duma obra tão assombrosa 856
-, o Digesto estava concluído. Era publicado pela constituição bilingue Tanta - _Aé8oxe
v, de 16 de Dezembro de 533, dirigida ad senatum et omnes populos, a qual estabe
lecia que os Digesta deviam entrar em vigor, com força de lei, em 30 de Dezembro d
o mesmo ano.
c) Autores e obras utilizadas. Sistematização e forma de citar
Os fragmentos são extraídos das obras de 38 ou 39 juristas, conforme se considera o
mesmo jurista ou juristas dife
rentes Venuleius SATURNINUS e Claudius SATURNINUS (vid.
supra 380). Os mais citados são os cinco da Lex Citationum;
de todos, é ULPIANUS quem fornece maior número de citações (cerca de / do Digesto perten
ce a este jurista) ; mas há vários
juristas só com um fragmento. 0 Digesto encerra 9142 fragmentos. Em números aproxima
dos: 3000 pertencem a
ULPIANUS (sobretudo provenientes dos seus libri ad Edictum e libri ad Sabinum) ;
3000, aos restantes da Lei das Citações,
PAPINIANUS, PAULUS, -MODESTINUS e GAIUS; 2500, aos sete jurisconsultos clássicos,
IAVOLENUS, IULIANUS, AFRICANUS, POMPONIUS, Q. Cervidius SCAEVOLA, MARCELUS e MAR
CIANUS;
642 aos outros 26 (ou 27) jurisconsultos.
655 Const. Deo auctore 7-10.
656 Veremos a seguir, al. e) - II, algumas das várias teorias formuladas para tent
ar explicar este fenómeno, verdadeiramente enigmático.
458
Segundo afirma Justiniano, foram consultados 2 000 libri, mas há exagero; foram 16
25.
Já conhecemos a sistematização do Digesto - livros, títulos, fragmentos e parágrafos (vid.
supra 37).
A divisão dos Digesta seu Pandeetae em 50 livros, subdivididos em títulos 857, foi,
como a própria designação (vid. supra n. 650), ordenada por Justiniano; mais estabelec
eu que, rations materiae e para fins didácticos (seguindo o esquema dos comentários
ad Edictum), a obra se considerasse repartida 658 em sete secções:
I llpwsa, princípios gerais sobre direito e jurisdição, livs. 1-4;
II - Pars de iudiciis, matéria relativa às actiones e à protecção jurídica da propriedade e
dos outros direitos reais, livs. 5-11;
III - Pars de rebus, obrigações e contratos, livs. 12-19;
IV- Umbilicus, obrigações e família, live. 20-27;
V-De testamentis et codiciUis, herança, legados e fideicomis
sos, livs. 28-36;
VI-Uma parte sem nome, tratando da sucessão pretória e de
vários institutos heterogéneos (direitos reais, posse e obrigações), live. 37-44;
VII- Outra parte sem denominação especial, livs. 45-50 em que dois livros são dedicado
s à stipulatio e institutos afins, outros dois ao direito penal (alibri terribiles
>), outro relativo à appeuatio, e o último trata de direito municipal, mas termina c
om dois títulos de carácter geral - «De ver
borum signifieatione> e «De diversis regulis uris anti
qui» 659.
657 Recordemos que os livros 30 a 32 têm todos três o mesmo título, «De legatis et ,fide
icomissisn (vid. supra 37).
658 A ulterior divisão dos fragmentos do Digesto (também designados, sobretudo antig
amente, por leses) em parágrafos, sendo o primeiro denominado principium, é da Idade
-Média, provàvelmente dos fins do séc. XLI, devida talvez a Búlgaro (pertencente à Escola
dos Glosadores; vid supra 97). Vid. Cario Guido Moa, La Divisione in Paragrafi d
elle Leggi dei Digesto em Rivista di Storia dei Dirito Italiano 26-27 (1953-54)
145-162. A indicação dos parágrafos com números procede das edições modernas.
659 Como se verifica, só as três primeiras partes têm uma designação e uma orgânica de conteú
o; das outras, a quinta seria a menos orgânica; a quarta, cha
459
DIREITO ROMANO
1.* PARTE - TIT. X -- CAP. 2.'
§ 37
1) - Também já é do nosso conhecimento o modo actual de citar o Digesto (vid. supra 37
). Por exemplo, D.13,7,9,2 significa-Digesto, livro 13.°, título 7.°, fragmento (ou, s
egundo a designação antiga, lei) 9.° e parágrafo 2.0 (que, na realidade, é o 3°, visto o pri
meiro se denominar pr. [principium] ).
2) -Outro método anterior a este e usado pelos autores nos fins do século passado e
até quase meados deste, consistiu em citar, primeiro, o número do fragmento, precedi
do da abreviatura fr. (ou 1.), seguido do número do parágrafo; depois, a abreviatura
D. e a indicação do livro e do título. No mesmo exemplo de há pouco, teríamos: fr. (ou l.
) 9, § 2 D.13,7.
3) -0 método seguido desde a recepção do Direito Romano era quase igual ao anterior. S
implesmente, a seguir à abreviatura D., omitia-se o número do livro, e em vez do númer
o do título colocava-se a respectiva epígrafe. Perante uma citação destas, a primeira co
isa a fazer era consultar o índice alfabético dos títulos do Digesto 660, para saber a
que livro e título pertencia o fragmento. No exemplo apresentado: fr. (ou 1.) 9, §
2 D. De pignore et hypoteca.
mada umbilicus por ser central; a sex ta e a sétima misturam e agrupam diversos in
stitutos.
A repartição em sete foi devida não só à finalidade prática da divisão em vvolumina, mas sobr
tudo à crença na magia ou força misteriosa do número 7.-A respeito da magia dos números, n
omeadamente do número 7, anote-se como bibliografia mais importante: Adler IRVING,
Die Zahlen and ihr Zauberreiche. Mit Zeichnungen Von Ruth Adler (trad. alem. de
Magic House of Numbers) (Munique,1959); Franz Carl ENDRÉS, Die Zahl in Mystik and
Glauben der Kulturrolker (Leipzig, 1935); Franz Carl ENDRÉS, Mystik and Magie der
Zahlen3 (Zurique,1951); Helmet HESSEMBRUCH, Geheimnisse and Wesen der Zahlen (F
reiburg i. Br.,1952); Margarete RIEMSCHNEIDER, Von 0 bis 1001. Das Geheimnis der
numinosen Zahlen (Munique, 1966); Ernst BINDER, Die geistigen Grundtagen der Za
hlen (Stuttgart,1958); Ludwig PANETH, Zahlensymbolik im Unberwussien (Zurique,19
52); Vincent FOSTER HOPPER, Medieral Number Symbolism. Its Souces, Meaning, and
Influence on Thought and Expression (New York,1938).
660 Quase todos os estudiosos de Direito Romano sabiam de cor as epígrafes dos títul
os das Institutiones, dos Digesta e do Codex; hoje encontram-se identificadas lo
go ao princípio, na edição do Corpus luris Civilis de MOMMSEN, KRÜGER, SCHÜLL e KROLL 18 (
Berlim,1965), págs. V-XVIII.
460
4) -A forma mais antiga de citar é semelhante à precedente, mas em vez dos números a d
esignar o fr. (ou l.) e o §, escreviam-se as respectivas palavras iniciais, e, qua
se sempre, em vez da abreviatura D., uma outra constituída por dois f f pequenos u
nidos, corrupção da letra grega II (pi maiúsculo), inicial
de Pandectae (IIocv8Exrar). No mesmo exemplo: fr. Si rem alienam § Proprie pignus
D. (ou ff) De pigneratia actione vel contra.
Resta sublinhar que Justiniano determinou que o Digesto substituísse, tanto nas es
colas como nos tribunais, todos os livros jurídicos. Nenhuma obra jurídica clássica po
dia ser invocada, se não estivesse no Digesto, e só através do Digesto podia ser citad
a - const..Omnem 11 e const. Tanta 19.
e) Problemas externos à elaboração e à publicação do Digesto
I-Distribuição dos fragmentos dentro de cada título
Os fragmentos dentro de cada título do Digesto não se encontram distribuídos ao acaso.
Foi BLUHME quem o descobriu,
Dai a necessidade de analisar cientificamente as expressões latinas. Por isso, as
Institutiones, embora destinadas principalmente aos estudiosos gregos, estão escri
tas em latim.
673 PESCAM, o.c. 54.
em 1820 878, ao fazer uma investigação muito cuidadosa aos títulos D. 45,1 e D. 50,17.
A conclusão a que chegou e que depois se generalizou grosso modo a todos os títulos
é a seguinte: dentro de cada título, os fragmentos das obras utilizadas na confecção do
Digesto encontram-se reunidos em quatro grupos ou massas, que ele próprio denomin
ou massa sabiniana, massa edictal e massa papiniana, segundo o tipo de obra que
prevalece, e uma quarta massa ou grupo a que BLUHME não deu nome, hoje conhecida p
or «appendix».
A massa sabiniana é também denominada pelos AA. «massa do ius civile», por ser composta
de fragmentos de obras relativas ao ius civile, do tipo dos libri ad Sabinum 877
, figurando em primeiro lugar os fragmentos dos libri ad Sabinum de ULPIANUS, PO
MPONIUS e PAULUS.
A massa edictal, também posteriormente designada por «massa do ius praetorium», compre
ende sobretudo os fragmentos dos libri ad Edictum 878, estando à cabeça os fragmento
s dos libri ad Edictum de PAULUS e de ULPIANUS.
A massa papiniana, igualmente chamada hoje pelos autores «massa casuística», é constituída
por fragmentos de obras do tipo dos Responsa, das Quaestiones e dos Digesta, pr
incipiando, normalmente, por fragmentos dos libri quaestionum e dos libri respon
sorum de PAPINIANUS.
676 BLUHME, Die Ordnung der Fragmente in den Pandektentitlen em Zeitschrift fur
geschichdiche Rechtswissensehaft 4(1820) 257-472, com o subtítulo «Ein Beitrag zur E
ntstehungsgeschichte der Pandecten (=Labeo 61[960] 50-96, 235-277 e 368-404); tr
ad. ital. de CONTICINI (com prefácio e notas), L'Ordine dei Frammenti net Titoli d
elle Pandette del Dr. E. Bluhme (Pisa,1838).
Note-se que o método de compilação por massas não constitui uma novidade dos compiladore
s justinianeus; outras compilações anteriores, jurídicas e não jurídicas, tinham sido elab
oradas já com uni método semelhante. Cf. ScHULZ, Die Anordnung nach Massen ais Kompo
sitionsprinzip antiker Kompilationen em Atti del Congresso Internazionale di Dir
itto Romaná. Roma 11(Pavia,1935) 11-25.
Observe-se, por último, que a teoria bluhmiana das massas no Digesto parece que já t
inha sido vislumbrada por António AGOSTINHO (1517-1586), o sábio Arcebispo de Tarrag
ona. Cf. A. D'ORS, El Predigesto em lnvestigación y Progreso 16(1945) 131.
677 Vid. supra 369.
678 Vid. supra 369.
468
469
DIREITO ROMANO
1. PARTE - TIT. x-CAP. 2.°
0 «appendix» ou «varia» é uma massa menor do que qualquer outra, constituída por fragmentos
de 12 obras secundárias.
Note-se:
1.0 nem todos os títulos têm as quatro massas, pois alguns
têm só uma, duas ou três (a quarta massa falta em muitos
títulos), e às vezes uma das massas encontra-se repetida, quer
dizer, dois núcleos de fragmentos pertencentes à mesma massa
estão colocados em lugares diferentes dentro do mesmo título;
2.° as massas nem sempre estão dispostas pela mesma
ordem, mas em regra vem em primeiro lugar a massa sabiniana,
depois a edictal, a seguir a papiniana e por último o «appendix».
A hipótese de BLUHME, vulgarmente designada «teoria das massas» (no Digesto), sobretud
o depois que uma obra póstuma do austríaco G. H0FMANN 848 em vão tentou refutá-la, é hoje
uma tese aceite por todos 6110.
II-Método de trabalho dos compiladores. Teorias
Um dos problemas mais enigmáticos, que, sobretudo desde o início deste século, vem des
pertando cada vez mais a curiosidade científica dos autores, é a rapidez com que foi
elaborado o
679 Gerhard HOFMANN, Die Compilation der Digesten Justinians, edit. por 1. PFAFF
(Viena,1900).
0 trabalho de HOFMANN não conseguiu adesões. Vid. ALBERTARIO, Introduzione Storica a
lio Studio del Diritto Romano Giustinianeo I (Milão,1935) 15 e n. 14.
680 A confirmar a tese de BLUHME, notem-se as posteriores investigações: de Carlo LO
NGO, Contributo alia Storia delta Formazione delle Pandette em BIRD 19(1907) 132
-160; de Pietro DE FRANCISCI, Nuovi Studi intorno alia Legislazione Giustinianea
durante la Compilazione delle Pandette em BIRD 22(1910) 155-207, 23(1911) 39-85
, 186-296 e 27(1915) 5-54; de Giovanni ROTONDI, L'Indice Florentino defile Pande
tte e 1'Ipotesi del Bluhme em Scritti Giuridici I (Milão,1922) 298-339; de KRUGER,
Die Herstellung der Digesten Justinians and der Gang der Exzerption (Münster,1922
), e Die klassischen Werke nach der bluhmischen Ordnung (3.0 capítulo do seu-estud
o Rõmische Juristen and ihre Werke) em Studi Bonfante II (Milão,1930) 317-326.
470
Digesto pela comissão justinianeia presidida por Triboniano: apenas três anos, de 53
0 a 533, quando, afinal, ainda hoje, por exemplo, para reformar um simples código;
geralmente gastam-se dez, quinze ou mais anos. 0 próprio Justiniano tinha previst
o dez anos 081, e ele, que nas consts. Tanta - M8o xev fornece largas informações so
bre o conteúdo e vários pormenores do Digesto, não tem uma única palavra sobre o método us
ado pela comissão redactora, que, em vez dos dez anos previstos, gastou apenas três.
Como foi possível, num tão curto espaço de tempo:
- antes de tudo, recolher o enormissimo espólio das obras dos juristas clássicos, não
obstante as condições precárias em que se encontravam a corte e o * império nos anos 531
-533 081;
- depois, ler, sintetizar, harmonizar e. actualizar 1625 livros;
- em seguida, escolher os fragmentos dignos de figurarem no Digesto e ordená-los s
ob várias rubricas 883 .
- numa palavra, completar,, actualizando três milhões de linhas, e finalmente reduzi
r tudo a cento e cinquenta mil
linhas 084?!
Parece que, bem ao certo, nunca chegaremos a saber qual o método seguido pelos com
piladores para obter esse resultado
surpreendente 085.
Const. Tanta 12.
DE FRANCISCI, Storia del Diritto Romano III-1 (Milão,1943) 277.
Sobre este curioso sistema das rubricas do Digesto, vid., por todos, A. SoucmE,
Recherches sur les Origines des Rubriques du bigeste (Tarbes,1960) e respectiva
crítica de E. VOLTERRA em lura 15(1964) 275-279, e T. MAYER-MALY, Bemerkungen zum
Aufbau der Digestentitel em Synteleia Vincenzo Aran.gio-Ruiz (Nápoles,1964) 878-88
5.
684 Const. Tanta 1.
685 É a opinião, v. g. de Paul VAN WARMELO, A Propos de la Compilation du Digeste em
RHD 38(1960) 503: «Ii est peu probable que naus sachions jamais exactement de que
lle manière a été faite la compilation du Digeste. Naus avons beaucoup de renseignemen
ts sur la méthode suivie par les compilateurs et cefile-ci a été étudiée par les savants d
epuis bien des années. lis en ant tiré des conclusions três intéressantes et fort précieus
es. Malheureusement it reste à résourde des contradictions décevantes et le problème con
cernant Ia méthode suivie par les gompilateurs reste toujours épineux>>.
471
681 682 683
DIREITO ROMANO
1' PARTE - TIT. X - CAP. 2.
§ 37
Há várias teorias, a tentar uma explicação.
a) - A teoria da distribuição das massas a cargo de subcomissões
(BLUHME) - Baseado na sua descoberta da existência das «massas» em cada título, BLUHME,
para explicar a rapidez da elaboração do Digesto, conjecturou que a comissão redactora
tivesse sido dividida em três subcomissões, encarregando-se de estudar: uma, as obr
as pertencentes à «massa» sabiniana; outra, as referentes à «massa» edictal; e a outra, as r
elativas às «massas» papiniana e «appendix». Concluído o trabalho de cada uma, as três subcom
ssões ter-se-iam reunido, depois, várias vezes, em conjunto. Nessas reuniões plenárias,
presididas por Triboniano, em cada título ter-se-ia colocado, em primeiro lugar, a
«massa» com maior número de fragmentos, passando-se depois às outras, se existiam, mas
considerando-as como um complemento da primeira. Por último, sobre este material r
ecolhido, e já repartido pelos vários títulos, ter-se-ia procedido a um trabalho de co
ordenação e de revisão.
Crítica - Esta teoria explica uma certa rapidez (em vez dos dez anos previstos, qu
e se gastassem aí uns seis ou sete), mas não a que se verificou na elaboração do Digesto
, gastarem-se apenas três anos.
Não fornece um contributo decisivo para resolver várias questões, como v.g. a recolha
assim tão rápida do enorme espólio das obras dos juristas clássicos. Todavia, «à falta de me
lhor», a teoria de BLUHME dominou até cerca de 1900, data em que principiou a ser at
acada, como examinaremos a seguir. Hoje, não conta adeptos.
/t)-Teorias do pré-digesto e outras (HOFMANN em 1900,
EHRENZWEIG em 1901, PtrrIIRS em 1913, ARANGIO-RUIZ em 1930, ALBERTARIO em 1935,
D'ORS em 1945, COLLINET em 1952, GUARINO em 1957, VAN WARMELO em 1960, DELL'ORO
em 1964).
472
Quem atacou, pela primeira vez e duma forma radical, a teoria de BLUHME, foi HoF
MANN 080, em 1900.
Primeiro, nega a existência e a distribuição das «massas» em cada título.
Segundo, mesmo admitindo a existência das «massas» e que tivessem sido distribuídas pela
s três subcomissões como conjecturou BLUHME, isso ainda não explicaria a rapidez da fe
itura do Digesto.
Como explicação dessa rapidez, HOFMANN apresenta a teoria do pré-digesto: a (possível) e
xistência duma compilação privada do séc. V, em tudo semelhante ao Digesto. Os compilado
res justinianeus teriam tido pouco trabalho: limitaram-se a retocar essa (hipotéti
ca) colectânea, a ler algumas obras, v.g., os comentários de ULPIANUS ad Edictum e a
d Sabinum e a transformar (mediante falsas inscriptiones) em fragmentos autónomos
as citações encontradas nessas poucas obras que foram lidas. Outras citações (convertida
s também em fragmentos autónomos), ainda segundo HoFMANN, seriam provenientes de col
ectâneas privadas e oficiais, de apontamentos inéditos, de notas fornecidas pelos pr
ofessores. Portanto, o Digesto podia ter sido elaborado até em menos de três anos, c
onclui HOFMANN.
Crítica - A teoria de HoFMANN vai frontalmente contra as afirmações expressas de Justi
niano, quando diz: «...duo paene milia librorum esse conscripta et plus quam trece
nties decem milia versuum a veteribus effusa, quae necesse esset OMNIA et legere
et perscrutara, et ex his si quid optimum f uisset eli
gere» 687.
Nega toda e qualquer originalidade do Digesto, quando é certo que pelo menos uma c
erta originalidade, quer pelo seu fim quer pela sua envergadura, tem de ser reco
nhecida 886
686 Como já sabemos, a sua teoria está exposta numa obra póstuma. Vid.
supra 470 e n. 679.
687 Const. Tanta 1.
688 Cf. COLLINET, L'0riginalité du Digeste em Conferenze per ii XIV Cente
nario deile Pandette (Miláo,t931) 41-51.
473
DIREITO ROMANO
1.' PARTE-TIT. X-CAP. 2.°
Além disso, não admitindo a existência das «massas», HoFAMNN coloca-se abertamente contra
a (quase) totalidade dos autores 889. Por estes motivos, e além disso sustentada c
om argumentos frouxos, a teoria de HoFAMNN nem impressionou nem triunfou, tendo
sido definitivamente rebatida 880.
Todavia, a ideia de pré-digesto foi explorada, mais tarde, em moldes diferentes, p
or vários. autores.
Em 1901, EHRENZWEIG 691, admitindo a teoria bluhmlana da existência das «massas> e b
aseando-se na ideia do pré-digesto de HoFMANN, elaborou uma teoria... «mista>:-a ord
em dos fragmentos do Digesto é tal qual BLUHME indicou, e a divisão das massas é uma v
erdade incontestável; simplesmente, essa ordem e essa divisão não são fruto do trabalho
dos compiladores justinianeus; já existiam numa colectânea privada do séc. V; Justinia
no não fez mais que retocar essa compilação, actualiza-la e conferir-lhe valor oficial
.
Crítica - A teoria de EHRENZWEIG passou quase despercebida 692, pois ele não era rom
anista, e em 1901 a crítica só se preocupava em tomar posição ou a favor de BLUHME (exis
tência das «massas» e distribuição da respectiva elaboração a cargo das três subcomissões) ou
vor de HoFMANN (negação das «massas» e existência dum pré-digesto, prática mente completo).
Em 1913, Hans PETERS 898, com pequenas variantes, apresentou a mesma teoria de E
HRENZWEIG, mas fortemente estruturada com argumentos de vária ordem 694.
689 Vid. supra n. 680.
690 As principais refutações da teoria de HOFMANN foram feitas por MOMMSEN em SZ 22(
1901) 1-11 e por KRÜGER, ib. 12-49. Vid. Pietro BONFANTE, Storia dei Diritro Roman
o II, ed. revista por G. BONFANTE e G. CRIFÔ (Milão,1959) 108-120 e sobretudo a n. 1
2.
691 EHRENZWEIG, Die Compilation der Digesten Justinians em Zeitschrift für private
s und õffentliehes Recht 28(1901) 313-319.
692 ALBERTARIO, Introduzione 15.
693 Hans PETERS, Die ostrõmischen Digestenkommentare und die Entstehung der Digest
en em Berichte über die Verhandlungen der Kõniglichen Süchsischen Gesellschaft der Wis
senschaften zu Leipzig. Philologische-historische Klasse 65(1913), Heft 1. 0 val
or deste trabalho é posto em devido relevo por MnrEis, ao traçar a bibliografia de H
. PETrERS (1886-1915), morto aos 29 anos em campo de batalha, vítima da primeira g
rande guerra - SZ 36(1915) VII-XVI.
694 Vid. A. D'ORS, Predigesto, cit. 133, e Pietro BONFANTE, Storia, cit. 122 e 1
23.
474
0 Digesto, segundo PETERS, não é fruto dum exame directo das obras clássicas, menciona
das no index 895; baseia-se numa compilação privada, do séc. V, elaborada pela Escola
e para a Escola 698. Os compiladores teriam actualizado essa compilação, e... pouco
mais 697
Crítica - A tese de PETERS já foi devidamente refutada
por DE FRANCISCI, ROTONDI e BONFANTE 899
Prescindindo já das várias razões de ordem técnica relativamente a certos. pormenores, a
presentadas por esses AA. contra PETERS, convém notar que seria muito estranho:
a) - o silêncio de Justiniano sobre a «fonte verdadeira» (a tal compilação privada, do séc.
V), quando ele nem sequer há dissimulado as fontes do Codex e das Institutioraes;
b) - a afirmação categórica do mesmo imperador ao declarar que «duo paene milia librorum
esse conscripta et plus quam trecenties decem milia versuum a veteribus effusa,
quae necesse esset omnia et legere et prescrutari et ex his si quid optimum fui
sset eligere» (const. Tanta 1);
c) -o silêncio dos escoliastas sobre a (tal) origem duma obra, que através dos tempo
s havia de ser de uma imponência e duma importância fundamental;
d) - a tal «compilação privada, escolar, do séc. V» estar sistematizada, com a distribuição d
s fragmentos das obras em três massas, verificando-se o fenómeno mecânicamente em cada
título - o que é de fácil explicação quando se trata dum trabalho elaborado por uma comis
são legislativa, mas de difícil explicação se se tratasse duma obra escolar.
695 696 697 698
Vid. supra n. 653 sobre o valor do index. Vid. supra 359 o valor das escolas ori
entais. Vid. Pietro BONFANTE, o. C. 122 e 123. Cf. id. ib. 123-125 e n. 21.
475
DIREITO ROMANO
1. PARTE -TIT. X - CAP. 2."
§ 37
Em 1930, ARANGIO-RUIZ elaborou uma hipótese 699 mais reduzida e mais circunstancia
da: os compiladores ter-se-iam servido, além doutras compilações de menor contributo,
dalgumas de origem escolástica; estas teriam fornecido cerca duma quinta parte do
Digesto, concretamente os libri II-XIX e XXIII-XXXIV; essas compilações seriam as re
cordadas por Justiniano (const. Omnem 2,3 como T& 7rpwra-para de iudiciis, pars
de rebus, quattuor libri singulares (a saber, de re uxoria, de tutelis, de testa
mentis, de legatis).
Em 1935, ALBERTARIO recusa-se a admitir a tese de ARANGIO-RUIZ 700 - já antes, em
1933, F. WIEACKER se mostrara relutante em aceitá-la 701 -; propõe uma nova hipótese.
Tomando como ponto de partida a Lex Citationum, de 426 702, que, práticamente, red
uzia a cinco o número de juristas que podiam ser invocados em juízo, imagina a existên
cia duma compilação (mais ampla do que a idealizada por ARANGIO-RUIZ), composta por
fragmentos das obras desses cinco juristas (colocando em primeiro lugar os fragm
entos das obras de ULPIANUS, começando pelos comentários ad Sabinum e ad Edictum), e
sistematizada segundo a ordem edictal que depois foi a seguida no Digesto.
Em 1945, Alvaro D'ORS, depois de examinar a parte válida das teorias de PETERS, AR
ANGIO-RUIZ e ALBERTARIO, inclina-se para a hipótese dum «pré-digesto>, dando a esta ex
pressão não o significado duma compilação, mas o alcance de «unas `bases' fundamentales qu
e fueron compiladas con anterioridad a Justiniano, y que éste adoptó, remozó con otras
aportac{ones menores y con sus propias interpolaciones. La tarea de Justiniano,
sin carecer de todo valor, habría sido de una envergadura menor a Ia que tradicio
nalmente se venha admitiendo. Una buena parte dei trabajo estaba hecho ya en ai
siglo V> 702,
Em 1952, COLLINET, depois de analisar as teorias de BLUHME, HOFMANN e PETERS, e
admitindo que os compiladores tivessem trabalhado em três subcomissões (segundo BLUH
ME), defende que a subcomissão encarregada da massa sabiniana teria utilizado as I
nstitutiones de Gaio e as quatro monografias (de re uxoria, de tutelis, de testa
mentis e de legatie); a subcomissão da massa edictal, a prima para legum, a para d
e iudicils e a para de rebus; a da massa papiniana, os responsa de PAPINIANUS e
de PAULUS. Depois, a comissão, já em reunião plena, teria completado este material, co
m outros fragmentos citados nas escolas orientais e com alguns comentários (interp
olações) elaborados pelas mesmas escolas 704.
Em 1957, GUARINO 705, depois de mover sérias objecções ás teorias de ARANGIO-RuIz, ALBER
TARIO e COLINNET 706, e depois de várias considerações 707, é de opinião de que os compila
dores trabalharam em comum e não em subcomissões, quer na fase preparatória quer na ex
ecutiva, e deveriam ter adoptado como texto fundamental uma compilação recalcada sob
re os libri ad Edictum de ULPIANUS, que retocaram com a ajuda de outras duas com
pilações (uma redigida segundo a tradição de SABINUS, e a outra segundo a tradição das obras
de casuística), e das obras do appendix 708.
Em 1960, VAN WARMELO 709, depois de considerar a teoria do pré-digesto (segundo PE
TERS) pouco convincente e hoje abandonada por todos os romanistas, admite que al
gumas partes do Digesto foram preparadas por trabalhos anteriores aproveitados p
elos compiladores. Embora seja difícil determinar, em concreto, até que ponto e de q
ue maneira os trabalhos anteriores facilitaram e prepararam a missão dos compilado
res, há questões que, segundo VAN WARMELO, podem ser apresentadas como certas: a) -a
compilação do Digesto e o trabalho que ela comportava
699 ARANGIO-RUIZ, Precedenti Scolastici del Digesto em Conferenze per it XIV Cen
tenario delle Pandette. 15 Dicembre 530-15 Dicembre 1930 (Milão,1931) 285-319.
Também ARANGio-Ruin, à semelhança de PETERS e de EHRENZWEIG, coordena a sua hipótese com
a doutrina de BLUHME.
700 Emito ALBERTARIO, Introduzione Storica alto Studio del Diritto Giustinianeo
I (Milão,l935) 16 e 17.
Id. ib. 1622.
Vid. supra 424.
Alvaro D'ORS, El Predigesto em Investigación Y Progreso 16 (1945) 136
e 137.
704 Paul COLLINET, La Genèse du Digeste, du Code et des Institutes de Justinien
(Paris,l952) 65-93.
705 Antonio GUARINO, La Méthode de Ia Compilation des «Digesta Iustiniani»
(texto francês) em RIDA 4(1957) 269-288, e II Metodo di Compilazione dei «Digesta
lustiniani» (texto italiano) em L'Ordinamento Giuridico Romano3 (Nápoles,1959)
526-540.
706 RIDA, cit. 280-284; L'Ordinamento Giuridico, cit. 534-538. 707 lb., respecti
vamente, 285-288 e 538-540. 708 lb., respectivamente 288 e 540.
709 Paul VAN WARMELO, A Propos de la Compilation du Digeste em RHD 38
(1960) 503-529.
701 702 703
476
477
DIREITO ROMANO
1.1 PARTE -TIT. X-CAP. 2?
não foram inteiramente res novae; b) -os compiladores seguiram a sistematização do Códig
o de 529 e, em certa medida, a do Edictum Perpetuam; c) -os elementos mais signi
ficativos do Digesto encontram-se no ensino das escolas do Oriente,. e, portanto
, o Digesto sob certo aspecto, reflecte claramente a influência do ensino do Direi
to e a vida jurídica dos séculos anteriores a Justiniano 710; d) -no Digesto, há grupo
s de fragmentos, formando uma espécie de apparatus e tendo uma certa unidade, que
deviam ter sido originados a partir dum fragmento central e colocando, depois, o
utros à volta, como que em forma de glosas ou de acréscimos. Deve tratar-se de anotações
, inscritas em fontes antigas para assim as actualizar. VAN WARMEio apresenta, e
m 144 grupos, uma lista de fragmentos nestas condições, e que passaram, assim, para
o Digesto 711.
Em 1964, DELL'ORO 712, para tentar uma explicação da rapidez enigmática com que foi el
aborado o Digesto, insiste na relação entre a Lei das Citações de 426 713, e o Digesto.
Sublinha que a verdadeira Inovação 714 da Lex Citationum foi a consideração dada aos out
ros juristas diferentes dos cinco (PAPINIANUS, PAULUS, ULPIANUS, MODESTINUS e GA
IUS), autorizando igualmente a sua citação, desde que os seus libri se encontrassem
reproduzidos num texto autêntico. Isto devia ter provocado uma investigação e produção das
obras dos antigos juristas, de modo a poder e dever contar-se para a elaboração de
textos oficiais dum vastoo material jurisprudencial, diverso do que estava em us
o (os fragmentos das obras dos cinco juristas citados). Teodósio II não conseguiu el
aborar a colectânea de ius. Justiniano veio a aproveitar-se de todo esse material,
nessa altura mais ou menos elaborado e sistematizado, e de que os práticos do Dir
eito (sobretudo advogados) já tinham conhecimento; por isso, foram incluídos na comi
ssão (composta de 17 participantes) 11 advogados.
As teorias dos romanistas sobre a rapidez com que foi elaborado o Digesto, certa
mente, vão continuar; e o enigma... permanecerá?
710 Vid. ib. 507 e n. 18.
711 , Vid. ib. 514-529.
712 Aldo DELL'ORO, Il Digesto e la Legge delle Citazioni em Synteleia V. Arangio
-Ruiz I (Nápoles,1964) 354-358.
713 Vid. supra 424.
714 Vid. supra 424575.
478
2-INSTITUTIONES41 (21-11-533) a) Elaboração e publicação das «Institutiones»
A intenção de Justiniano de mandar fazer um manual, elementos ou instituições 718 de Dir
eito tinha sido revelada no próprio acto de ordenar a compilação do Digesto 717; por i
sso, não há uma constituição expressa a ordenar a feitura das Institutiones.
Razões justificativas dumas novas institutiones: a) - os velhos manuais de Direito
já não estavam à altura para servirem de introdução ao estudo do Digesto; b) - o temperam
ento de Justiniano a pretender dirigir ex alto as inteligências, e o seu espírito cl
assicista a procurar restaurar, sempre que possível, a cultura jurídica da época clássic
a; c) - o desejo do imperador de que fosse redigido um manual de Direito sui gen
eris, munindo-o expressamente de carácter normativo.
A concretização ou execução (prevista na const. Deo auctore) da ordem de elaborar as lns
titutions, ao que parece, foi dada por Justiniano, só depois de terminada a feitur
a do
Digesto (opinião de BONFANTE 718), ou pelo menos quando estava já a ser concluída a su
a elaboração (opinião comum 719).
Justiniano encarregou desse trabalho Triboniano, Doroteu, professor da Escola de
Beirute, e Teófilo, professor da de Cons
tantinopla 728.
715 Sobre a bibliografia a respeito das Institutiones de Justiniano, vid Pietro
BONFANTE, Storia del Diritto Romano II4 (Milão, 1959) 1211.
716 Vid supra 363 e 364.
717 Const. Deo auctore 11: «si quid aliud a nobis fuerit promulgatum institutionum
vicem optinens, ut rudis animus studiosi simplicibus enutritus facilius ad alti
oris prudentiae redigatur scientiam».
718 Pietro BONFANTE, o. c., (ed. de 1959) 126 e 127. Esta opinião encontra certo a
poio nas palavras de Justiniano: «Cumque hoc (opus Digestorum) Deo propitio peract
um est, Triboniano... nec non Theophilo et Doroteo... specialiter mandavimus ut
rostra auctoritate nostrisque suasionibus componant institutiones» (const. Imperat
oriam 3); e ainda: «post libros quinquaginta dgestorum seu pandectarum... in hos q
uattuor libros easdem institutions partiri iussimus, ut sint totius legitimae sc
ientiae prima elemental (const. Imperatoriam 4).
719 Vid., por todos, ALBERTARIO, Introduzione 32.
720 Const. Imperatoriam 3.
479
DIREITO ROMANO
1 ` PARTE-TIT. x - CAP. 2.'
§ 37
Como todos os trabalhos confiados à orientação de Triboniano, também este foi executado
ràpidamente. Em 21 de Novembro de 533 - ainda antes da publicação do Digesto (16-12-15
33) -, eram publicadas as Institutions, pela const. Imperatoriam, dirigida por J
ustiniano à cupida legum iuventus (aos jovens desejosos do estudo das leis), «ut lic
eat vobis prima legam cunabula... ut sint totius legitimae scientiae prima eleme
nta» 727. Por isso, as Institutiones deviam ser leccionadas no 1.0 ano das Escolas
de Direito 722.
b) Fontes utilizadas. Sistematização
Na composição das Institutiones, foram utilizadas: a) - principalmente 725, as Insti
tutiones de Gaio e as Res Cottidianae (durante muito tempo, atribuídas a Gaio 724)
; b) - várias institutiones da época clássica - de FLORENTINUS, ULPIANUS, MARCIANOS e
, provàvelmente também as de PAULUS 725; c) - algumas partes do Digesto, nesta altur
a já (quase) 726 inteiramente elaborado.
Ao contrário do que sucede no Digesto, nas Institutiones não se menciona a origem do
s fragmentos utilizados na confecção. Porém, o sistema usado foi o mesmo das Pandectae
-
«fazer um mosaico de fragmentos».
721 Const. Imperaloriam 3 e 4.
722 Const. Omnem (de 16.12.533) 2.
123 É o próprio Justiniano que o afirma: « ... praecipue ex commentariis Gaii
nostri iam institutionum quam rei-um eottidianarum...» (const. Imperatoriam 6). 72
4 Sobre esta obra, vid. supra 439.
725 Sobre o problema, vid. P. BONrANTE, o. C., 129 e L. WENGER, Die Quellen
605.
CALLISTRATUS é o único jurista clássico, autor de institutiones que não foram utilizadas
.
726 Sobre este problema vid. supra 479 e nn. 718 e 719.
480
FERRINI727, mediante um critério estilístico e histórico, conseguiu demonstrar, quase
sempre com segurança, a proveniência de cada uma das várias partes.
Embora materialmente os autores das Institutiones sejam Triboniano, Teófilo e Doro
teu, formalmente Justiniano é o único autor. Fala em nome próprio, e não em nome dos jur
istas, cujas obras foram utilizadas 728; por isso, como já foi dito, os fragmentos
não indicam como no Digesto a sua procedência.
Verdadeiramente, é nas Institutiones que Justiniano se revela legislador e mestre
de Direito 729. De facto, interveio pessoalmente em muitos pormenores.
Por uma decisão pessoal de Justiniano, as Institutions estão divididas em 4 livros 7
50. Os livros, por sua vez, estão divididos em títulos. A subdivisão dos títulos em prin
cipiam e parágrafos é da Idade-Média; a sua numeração é moderna.
0 1.° livro trata das pessoas; o 2.°, das coisas, propriedade, restantes direitos re
ais e testamentos; o 3.°, da sucessão intestata, das obrigações em geral e das obrigações ex
contractu; o 4.°, das obrigações ex delicto, das actiones do processo civil e do
direito criminal.
Modo de citar-a) Quanto ao modo actual, vid. supra 37. b) No séc. XIX e princípios d
o séc. XX, por exemplo, § 3 I. (ou § 3 Inst.) de usufructu, significa I. 2,4,3. E como
na citação do Digesto vid. supra 460).
727 Contardo FERRINI, Sulle Fonti delle Istituzioni di Giustiniano em BIDR 13(19
00) 102 (=Opere di Contardo Ferrini 11 308): «Le Instituzioni giustinianee sono un
' opera composta sostanzialmente alta maniera st essa dei Digest!. vale a dire m
ediante Ia giustappozione di brani toldi da opere precedenti, a cui i compilator
i hanno recato ie nmodificazioni ritenute necessarie od opportune ed hanno facto
varie aggiunte e in specie quelle indispensabili per l'espozioni dei diritto no
vo».
728 Portanto, em rigor, não pode falar-se de interpolações nas Institutiones, embora e
xistam. Vid. n. anteriór, e infra 518.
Cf. GRADENWITZ, Interpolationen in den Pandekten (Berlim,1887) 2.
729 Sobre este ponto, vid., por todos, Gian Gualberto ARCHI, Giustiniano Legisla
tore em Labeo 12(1966) 163-177 (sobretudo, a indicação muito completa de bibliografi
a sobre a matéria em 1641 e 165), e Mario AMELOTI, Giustiniano Alaestro d'Instituz
ioni em Annali delta Facoltà di Giurisprudenza-Genova 5(1966) 324-343. Vid. também L
abeo 16(1970) 379-382)
730 Const. Imperatoriam 4: «...in hos quattuor libros easdem institutiones partiri
iussimus».
Const. Tanta 11: «...et quattuor libris reponere et totius eruditionis prima funda
menta arque elementa ponere».
481
DIREITO ROMANO
1! PARTE-TlT. X-CAP. 2.°
§37
c) Carácter normativo das «Institutiones»
Além do seu escopo didáctico, as Institutiones tiveram um valor legislativo.
Publicadas pela const. Impera~ m, de 25-11-533, foram promulgadas pela const. Ta
nta, de 16-12-533, para entrarem em vigor, juntamente com o Digesto, em 30 de De
zembro de 533: «...quae in praesenti aevo in usu vertuntur, consentaneum invenitur
, hoc et capere studeant et quattuor libris reponere... Quod opus ab his (Tribon
iano, Theophilo et Dorotheo) perfectum ut nobis oblatum et relectum est, et pron
o suseepimus animo et nostris sensibus non indignum esse iudicavimus et praedict
os libros constitutionum vicem habere iussimus» (const. Tanta 11).
d) Modo da elaboração das «Institutiones»
Quanto ao método seguido pelos compiladores na feitura das Institutiones, a teoria
mais seguida é a de HusCHKE, segundo a qual, Triboniano teria tido a presidência, e
Teófilo e Doroteu, a composição de dois livros cada um, pois - demonstra ele - os doi
s primeiros livros são diferentes dos dois últimos. Ora, ainda segundo HUSCHKE, Doro
teu teria composto os dois primeiros, e Teófilo os dois últimos (excepto o último título
do liv. 4.° que também seria obra de Doroteu).
FERRINI, neste último ponto, segue opinião diferente: Teófilo teria elaborado os dois
primeiros; Doroteu, os dois últimos; Triboniano teria revisto toda a obra 731.
Posteriormente, AMBROSING apresentou uma nova teoria baseada na divisão do trabalh
o segundo a matéria: um dos três coligiu e actualizou os fragmentos a respeito das p
essoas e sucessões; outro, os fragmentos respeitantes a direitos reais e
731 Vid. P. BONFANTE, o. c. (ed. de 1959) 127-129.
482
obrigações; e outro (pois todos teriam trabalho na busca de materiais), os fragmento
s relativos às actiones 732. Qual, dos três se teria ocupado de cada uma destas part
es? AMBROSINO prometeu, no Congresso de Verona 733, onde apresentou a sua teoria
, que o demonstraria num novo estudo; mas... foi surpreendido pela morte.
Mais recentemente, tem havido autores, baseados nos estudos de FERRINI, que pret
endem descobrir «massas» nas Institutiones 734, como BLUHME descobriu no Digesto 735
.
3-CODEX [REPETITAE PRAELECTIONIS] 786 (17-11-534)
a) Elaboração e publicação
0 Codex repetitae praelectionis é uma nova edição 487, devidamente actualizada do Code
x vetus, de 529 758. Na verdade, depois da promulgação do Digesto (16.12-533), era n
ecessário um novo código.
732 Rodolfo AMBROSINO, 11 Metodo di Compilazione delle Istituzioni Giustinianee
em Atti Verona I 135-180.
733 Vid. n. anterior.
734 Vid. A. ZOCCA-RosA, I Risultati d'una Nuova «Palingenesia» delle Istitituzioni d
i Giustiniano em Mélanges Girard II (Paris,1912) 645-657, e P. BONFANTE, o. c. (ed
. de 1959) 129-134.
Também alguns autores investigaram já: 1) - a influência do ensino da Escola de Beirut
e na elaboração das Institutiones; 2) - a relação entre as Institutiones e a Paráfrase de
Teófilo. Sobre estes problemas, vid., por todos, Paul COLLINET, La Genêse du Digeste
, du Code et des Institutes de Justinien (Paris,1952) 279-319.
735 Vid. supra 468-470.
736 Sobre a bibliografia a respeito do Codex repetitae praelectionis, vid. L. WE
NGER, Die Quellen, 638 e n. 1.
737 A própria significação de «repetitae praelectionis» é de «nova edição»; vid. supra 371-IV
Foi com este alcance que Justiniano pretendeu fazer um código novo - «...in antiquis
etenim libris non solum primas edictiones sed et secundas, quas repetitae prael
ectionis veteres nominabant» (const. Cordi 3).
Vid. infra 484 e n. 740.
738 Vid. supra 442-446. Como é sabido, esse Codex vetus ou Codex primus ou Código de
529, não chegou até nós (vid. supra 446 e n. 629).
DIREITO ROMANO
Depois de 529, a actividade legislativa de Justiniano foi intensa: I - em 530, p
elo menos as quinquaginta decisiones, antes da elaboração das Pandectae; II - em 531
e 532, durante a sua compilação, aliae constitutiones ad commodum propositi operas
pertinentes 739, para resolver problemas que tinham surgido com a feitura do Dig
esto; III - de 530 a 533, várias constituições, promulgadas por diversos motivos.
Depois da promulgação do Digesto e das Institutiones, o Codex vetus estava completam
ente desactualizado. Era preciso
um código novo 740:
a) - que incluísse as constituições de Justiniano promulgadas depois de 529;
b) - que eliminasse as contidas no Codex Vetus que tivessem sido revogadas ou al
teradas ;
c) - que estivesse de harmonia com o critério seguido na feitura do Digesto e das
Institutiones - I - quer em razão do espírito inovador e interpolacionista 7" em fac
e do antigo ius, II - quer em razão da disposição (sistematização) da maté
ria 72.
Para realizar esse trabalho, Justiniano nomeou uma comissão composta por Tri
boniano, Doroteu e três advo
739 Esta expressão é do próprio Justiniano, para designar este grupo de constituições. Sob
re certos problemas a respeito dessas constituições, vid. ALBERTARIO, Introduzione 3
4 e n. 36.
740 Trata-se dum código feito ex integro, completamente refundido-«...iussimus in se
cundo eum ex integro conscribi non ex priore compositione, sed ex repetita prael
ectione» (const. Cordi 4).
741 Cf. const. Cordi 1. As interpolações feitas pelos compiladores às constituições incluída
s no Codex repetifae praelectionis deviam ser poucas, visto essas constituições já se
encontrarem mais ou menos actualizadas (interpoladas). Sobre esta matéria, vid., p
or todos, ROTONDI, Note sulca Tecnica dei Compilatori dei Codicé Giustinianeo em S
critti Giuridici I (Milão,1922) 71-86, e SCHULZ, Interpolationen in den justiniani
schen Reformgesetzen des Codex Justinianus vom Jahre 534 em Studi Bonfante I 337
-360.
742 Cf. const. Cordi 3.0 novo sistema de ordenar a matéria pode comprovar-se através
do confronto com o papiro de Oxirinco (vid. supra 446 e ri. 629).
743 Não se conhece a constituição que nomeou a comissão; provàvelmente, nem sequer existiu
; cf. ROTONDI, Ancora sui Rapporti Ira ii Codice Giustinianeo e i suai Modelli (
Milão,1910) 234 e ri. 578.
484
1.` PARTE - TIT. X - CAP. 2.° § 37
gados-hena, Constantino e João 7". (Teófilo já tinha falecido).
Em menos de um ano, o trabalho estava concluído. Em 17 de Novembro de 534; pela co
nstituição Cordi, o Codex [repetitae praelectionis] era publicado; em 29 de Dezembro
do mesmo ano, entrava em vigor, com carácter exclusivo, quanto a leges (const. Co
rdi 5).
b) Fontes utilizadas. Sistematização
Além do Codex Vetus e das constituições de Justiniano promulgadas desde 530 a 534, são f
ontes do Codex repetitae praelectionis os Códigos Gregoriano, Hermogeniano e o Teo
dosiano, assim como outras possíveis compilações (de leges) pré-justinianeias 745 A cons
tituição mais antiga é de Adriano (C. 6,23,1), talvez do ano 130; a mais recente é de 4
de Novembro de 534 e pertence a Justiniano (C. 1,4,34).
0 Codex está dividido em 12 livros (por semelhança com as XII Tábuas), e os livros, em
títulos, tendo cada um a sua rubrica; sob cada título, as constituições encontram-se di
spostas por ordem cronológica. A divisão das constituições mais longas em principium e p
arágrafos data, como no Digesto, da Idade-Média; a numeração é moderna.
As constituições (vid. supra 271) constam de inscriptio, corpus e subscriptio; mas há
várias constituições em que falta a subscriptio; nessas, existe a indicação «sine die et con
sule», v.g. C. 6,23,1; - 7,26,6.
744 Cf. const. Cordi 2.
745 Sobre esta matéria é, ainda hoje, trabalho fundamental o estudo de RoToNDi, Stud
i sulle Fonti dei Codice Giustinianeo em Scritti Giuridici I (Milão,1922) 110-283.
Sobre a possível influência do ensino da Escola de Beirute na feitura do Codex de 53
4, vid. COLLINET, La Genèse du Digeste, du Code et des Institutes de Justinien (Pa
ris,1952) 257-277.
485
DIREITO ROMANO
1. PARTE-TIT. X-CAP. 2
§ 37
0 livro I trata das fontes de direito, dos o f f iria de vários magistrados e das
relações entre a Igreja e o Estado;
os livs. II-VIII, do direito privado, exposto segundo a ordem edictal;
o liv. IX, do direito penal;
os lies. X-XII, do direito administrativo e financeiro.
Já Conhecemos o modo actual de citar o Codex (vid. supra 37). Anteriormente, à semel
hança do que se fazia com o Digesto (vid. supra 460 e 461), a citação era do modo segu
inte: C. (ou Cod. ou CJ), seguindo-se, por ordem descendente, o livro, o título, a
constituição (ou lei) e o parágrafo, sendo o título, a constituição e o parágrafo designados
pelas respectivas primeiras palavras. A forma de Indicar os parágrafos por números p
rincipiou no século passado.
Na citação moderna, por vezes, indica-se a data, e, algumas vezes, também o nome do im
perador, autor da constituição. V.g.: C. 5,27,12[531] e C. 5,27,12[531](IUSTLNIANUS)
.
Nas citações antigas, usam-se várias siglas, tanto na inscriptio como na subscriptio 7
40,
4 - NOVELLAE 747 (CONSTITUTIONES) - 535 a 565 (e a 575)
a) Actividade legislativa de Justiniano, depois do «Codex»
Terminada a obra codificadora em 534, a actividade legislativa de Justiniano, co
nforme ele previra 748, não cessou, pois o Direito, como a vida, está sempre em evol
ução.
De 535 a 565 (ano em que faleceu Justiniano) - mas sobretudo desde 535 a 546(?)
748, data da morte de Triboniano, o grande auxiliar do Imperador em matéria jurídica
-, foram promulgadas muitas constituições. Por uma determinação expressa de Justiniano 7
5D, designaram-se e são hoje conhecidas pelo nome de Novellae 751 (Novelas, Novell
ae [leges], Novelae [constitutiones]). Estão redigidas: a maior parte, em grego; a
lgumas, em latim; várias, em grego e latim.
746 Principais siglas, usadas pelas citações antigas, na inscriptio criptio das cons
tituições do Codex de 534.
a) -NA «INSCRIPTIO»:
e na subs
Imp.
Imperator; se forem dois, três ou quatro, então a sigla será -1mpp., Imppp. ou Impppp.
(vid. C.1,4,3). Augustus; se forem dois, três ou quatro, então AA., AAA. ou AAAA.
Caesar. Se forem dois, CC. Praefectus Praetorio.
cons. ou cons. = consuli ou consulibus, que, algumas vezes, são os
próprios imperadores. = Augustus, Augusti. = Caesar, Caesares. = Vir clarissimus.
= Vir; clarissimi.
A., AA.
C., CC. V.C., vc.,
VV. CC., vv. cc.
741 Sobre a bibliografia a respeito das Novellae, 652 e n. 1, e RoBLEDA, o. c. 2
67775.
748 Const. Cordi 4: «...si postea nostra sanctione indigeat».
749 Sobre este problema, vid. ROBLEDA, o. c. 268777.
750 Const. Cordi 4: «...hoc a nobis constituatur (et)... novelarum nomine constitu
tionum significetur».
751 Sobre o uso desta palavra, aplicada, já antes de Justiniano, a novas leis e co
nstituições, cf. WENGER, Die Quellen 652.
Embora as constituições posteriores ao Código Teodosiano se denominem «Novellae post-The
odoseanae» (vid. supra 419-421), sempre que se fala de Novellae (Novelas) sem qual
quer outra indicação, trata-se das constituições de Justiniano promulgadas depois do Cod
ex repetitae praelectionis, e, por uma certa extensão, também das constituições de Justi
no II e de Tibério II (a última é do ano 575) inseridas na «Colectânea grega» (vid. infra 49
2).
v.c.
A.
C.
PP ou pp (depois do nome
nome do destinatário)
P. U. ou pu (igualmente
depois do nome do destinatário)
P.U.R.
Cf. WENGER, Die Quellen
varia rerum natura aliquid novum creaverit...
Praefectus Urbi.
b) - NA «SuBscRIPTlo»:
= Praefectus Urbi Romae.
D.
S..PP.
PP ou pp
486
= data ou dicta. Por vezes, também se usa: S =
signator ou subscripta. = Subscripta proposita.
= Proposita ou publicata.
487
DIREITO ROMANO
1, PARTE - TIT. X - CAP. 2.°
§ 37
b) Partes de uma No--ela; matéria das «Novellae»
As novelas constam: a) - geralmente, dum preâmbulo, denominado praefatio; b) - da
parte dispositiva, dividida, quando extensa, em capítulos, e alguns destes, mais t
arde, foram subdivididos em parágrafos; c) - quase sempre, dum epilogus.
A maior parte das Novellae tratam de direito público, de direito eclesiástico ou são l
eis sociais. As que tratam de direito privado, na sua quase totalidade, têm carácter
interpretativo, e isto devido, principalmente, à proibição de Justiniano de cometar o
Digesto 712; algumas são inovadoras. Por exemplo, a Novela 22 regula em novos mol
des (devido à influência do Direito Canónico) a matéria do direito matrimonial; as Novel
as 118 e 127 refundem o sistema da sucessão ab intestato 753.
c) Colectâneas privadas de «Novellae»
Justiniano, prevendo a publicação de novas constituições após o Código de 534 - « ... si post
a varia rerum natura aliquid novum creaverit, quod nostra sanctione indigeat» (con
st. Cordi 4) -, tinha já resolvido não modificar esse Codex, mas fazer uma nova cole
ctânea oficial das Novelas por ele publicadas -«hoc enim nemini dubium, est, quod, s
i quid in posterum melius inveniatur et ad eonstitutionem necessario sit redigen
752 A este propósito, é curiosa a observação de BONFANTE, Storia del Diritto Romano 114
(ed. 1959) 64: «Per non moltiplicare i commenti, egli (Justiniano) ha moltiplicato
le leggi».
Vid. supra 461-468.
753 «Foram os princípios destas duas Novelas que informaram os sistemas jurídicos lati
nos, no que respeita à sucessão legítima. Fazem a isso excepção os direitos espanhol e por
tuguês, que recolhem nesta matéria, os princípios do Código Visigótico» - BRAGA DA CRUZ-ALME
IDA COSTA, Lições de Direito Romano, policopiadas (Coimbra, 1958) 3372.
dum, hoc a nobis et constituatur et in aliam congregationem referatur, quae nove
llarum nomine constitutionum significetur» (const. Cordi 4).
Justiniano não conseguiu realizar este seu intento f54 (faltara-lhe Triboniano em
546...); nem qualquer dos seus sucessores levou a cabo essa tarefa-elaborar uma
colectânea oficial das Novelas.
As colectâneas de Novellae que chegaram até nós são todas privadas. Há várias. As mais impor
tantes 755 e chegadas ao nosso conhecimento quase intactas são três: Epitome Iuliani
, Authenticum e a denominada «Colectânea Grega».
I-Epitome Iuliani756
P, a mais antiga das três. Foi organizada em 555 ou 556 757, por um tal Juliano, p
rovàvelmente professor de direito em Constantinopla e natural da mesma cidadeContém
uma versão latina (sintetizada) de 122 Novelas 75°, sendo a mais antiga do ano 535 e
a mais recente de 555.
Em virtude de estarem as Novelas em forma sintética, omitem-se a inscriptio (onde
estão indicados os nomes do
754 0 primeiro a sustentar que Justiniano não conseguiu fazer colectânea oficial das
Novellae foi BIENER, Geschichte der Novellen Justinians (Berlim,1824) 38-45. Fo
i seguido por quase todos os AA. Vid. infra 491. Vid. também AG 171 (1966) 196-222
.
755 Acerca doutras colectâneas de menor importância, vid. L. WENGER, Die Quellen 672
e 673.
756 Sobre a bibliografia a respeito desta colectânea, cf. WENGER, Die Quellen 6691
82.
757 Não antes de 555, pois contém Novelas desse ano; antes da morte de Justiniano, p
ois diz-se, bastantes vezes, «imperator noster», aliás diria «divus imperaton> (vid. sup
ra 235277). Cf. NOAILLES, Les Collections de Nouvelles de l'Empereur Justinien.
Origine et Formation sous Justinien (Paris, 1912) 153, e KRÜGER, Histoire des Sour
ces du Droit Romain. Trad. franc. de BRISSAUD (Paris,1894) 475.
758 Certos manuscritos desta colectânea principiam assim: «Incipiunt constitutiones
novellarum Justiniani perpetrei Augusti de Graeco in Latinum translatae per Juli
anum virum eloquentissimum antecessorem civitatis Constantinopolitanae»-KRÜ
GER, O.C. 4751.
759 Embora estejam numeradas 124, são apenas 122, pois a 120a repete a 25, e a 97a
, a 68.
488
489
DIREITO ROMANO
1' PARTE-TIT. x-CAP. 2.6
§ 37
imperador e do destinatário), o proaemium (onde se descreve a motivação da Novela) e o
epilogus (onde se determina a forma de aplicação). Porém, nunca é omitida a subscriptio
760.
0 facto de estarem em latim todas as novelas (em síntese), mesmo as gregas, mostra
que tal colectânea devia destinar-se ao Ocidente, e muito provàvelmente para uso da
Itália, onde as Novelas foram mandadas aplicar em 554, por força da pragmatica sanc
tio pro petitione Vigilii desse ano 761.
II -Authenticum762
Esta colectânea de Novelas -quase sempre, designada por Authenticum, mas algumas v
ezes também denominada Liber Authenticorum ou Authentica («collectio») ou ainda «Versio
Vulgata» («Novellarum»), em contraposição a outras versões latinas (de Novelas) mais recente
s 783 - compreende 134 Novellae de Justiniano, dos anos 535 a 556.
Ao contrário do Epitome luliani, as Novelas encontram-se aí transcritas, integralmen
te e não em síntese; na sua versão latina, como no Epitome; portanto, as Novellae lati
nas estão no texto original, as gregas, numa tradução, nem sempre fiel,
de tipo literal, do género xará 7r68aç.
As primeiras 127 Novelas encontram-se dispostas por ordem cronológica; as restante
s não seguem essa ordem. Parece que foram acrescentadas, à maneira de apêndice.
Conforme observa ROBLEDA 784, a respeito desta colectânea há vários problemas ainda não
definitivamente resolvidos.
760 A omissão da subscriptio nas Novelas do Epitome Iuliani é frequente, mas é devida
aos editores-livreiros. KROLL lamenta o facto (vid. Praefatio, da sua ed. das No
vellae, pág. IX).
761 Vid. G. GROSSO, Lezioni di Storia dei Diritto Romanos (Turim,1965) 501. 762
Sobre bibliografia a respeito do Authenticum, cf. WENGER, Die Quellen 696190. KR
OGER, o.c. 4764.
ROBLEDA, o.c. 271 e 272.
I - Quanto ao nome: «Authenticum> ou «Authentica>-a) E opinião comum de que esta desig
nação é devida a um certo equivoco de Irnério, fundador da Escola de Bolonha (vid. supra
96 e 97). Ele, a principio, considerou-a uma colectânea falsa; depois, ao cotejá-la
com o Epitome Iuliani (a única coilectio até então conhecida) e verificando que as No
velas nessa colectânea se encontravam mais fielmente do que no Epitome, mudou de o
pinião. Admitiu-a como verdadeira e perfeitamente «authentica>, isto é, não só as 134 Nove
las pertenciam a Justiniano e encontravam-se nos mesmos termos em que as teria p
romulgado, mas também a própria colectânea como tal teria sido mandada fazer por ordem
e autoridade do mesmo Imperador, destinando-a à Itália 765,
b) Alguns AA., poucos 786 chamam-lhe Authentica ou Authenticum, pois ainda acred
itam que se trata duma colectânea oficial, e identificam-na com a collectio que fo
i imposta à Itália pela pragmatica sanctio pro petitione Vigilii.
II-Data do «Authenticum>-Conforme se encontra na sua versão latina 707, também há divergên
cia entre os AA. Uns consideram-na do séc. XI; outros, pelo menos posterior a S. G
regório; alguns, do séc. VI, ou até mesmo do tempo de Justiniano 768.
III - Lugar onde foi composto o «Authenticum>-Também neste ponto, não se verifica unif
ormidade de opiniões. No Oriente, defende NoAILLES. No Ocidente: em Ravena, propug
na BIENER; na Iliria, opina CONRAT; em Milão, entende LEICirr 769,
Importância do «Authenticum» no Ocidente - A partir do séc. XI, o uso do Authenticum nas
escolas e nos tribunais do Ocidente é tão frequente, a) -que faz desaparecer o uso
do Epitome luliani e R) - transforma-se pràticamente na única fonte de direito, no q
ue diz respeito a. Novelas. Nos sécs. IX a XI, sempre que se fala de Novellae, sem
mais nada, entendem-se as Novelas Justinianeias conforme se encontram no
765 Id. ib. nn. 785 e 786.
766 Id. ib. nn. 787 e 788.
767 Há autores a defender a existência de uma colectânea anterior, na língua
original das Novelas. Cf. ROBLEDA, ib. n. 789. 768 Vid, ib. id. nn. 790-792. 769
Vid. ib. id. nn. 793.796.
763 764
490
491
DIREITO ROMANO
1. PARTE - TIT. X - CAP. 2.^
§37
Epitome luliani; a partir do séc. XI, identificam-se com as do Authenticum.
Note-se, porém, que das 134 Novelas de que consta o Authenticum, apenas 96 são consi
deradas úteis para a prática jurídica, e por conseguinte denominadas «vulgatae>, quer na
s escolas quer nos tribunais. Portanto, só estas foram objecto de glosas e as únicas
a figurar nas primeiras edições de Novelas. As restantes 38 não eram desconhecidas, m
as não faziam parte das «edições de Novelas; publicavam-se à parte, em codices especiais (
e há muito poucos), e por vezes denominavam-se «constitutiones extravagantes>; nas e
dições não glosadas, publicadas no séc. XVI, são também incluídas. Dentre as edições não-crít
rimeira a conter as 134 Novelas (portanto, glosadas e não glosadas) é a edição de Antoni
o CONTI (Lião, 1571).
III-Colectânea Grega77o (580?)
Esta é a mais importante de todas as colectâneas de Nove
las.
Contém todas as Novelas, latinas e gregas, na língua original (147 em grego, 20 em l
atim e 1 em grego e latim), num total de 168: 158 711 pertencem a Justiniano; 4
(Novs. 140, 144, 148 e 149), ao Imperador Justino II; 3 (Novs. 161, 163 e 164),
ao Imperador Tibério II; as 3 últimas-166, 167 e 168 - (em rigor são decreta), ao prae
fectus praetorio.
As primeiras,120 encontram-se dispostas por ordem cronológica; as restantes, sem q
ualquer ordem, e constituem quase um apêndice.
A colectânea foi elaborada por um autor desconhecido, no reinado de Tibério II (575-
582), talvez em 580.
Foi composta no Oriente, provàvelmente em Constantinopla, e para uso daquelas regiõe
s. Exerceu uma grande influên
770 Sobre bibliografia a respeito desta colectânea, cf. WENGER, Die Quellen
671219.
771 Rigorosamente, são 154, pois 4 estão repetidas. Cf. WENGER, O.C. 671 e n. 222.
492
cia em todo o Direito Romano Bizantino, sobretudo na Grécia, e até 1940' (vid. supra
89 e n. 123).
No Ocidente, o seu uso (escolástico) é de época moderna.
0 moderno estudo filológico-jurídico sobre Novelas, hoje, é feito a partir da Colectânea
Grega; o estudo dogmático-jurídico, tendo em consideração as glosas, é elaborado com base
no Authenticum.
IV -Modo de citar as Novelas a) -Uso moderno
As novelas citam-se pelo seu número; as mais extensas têm a parte dispositiva (ou co
rpus) dividida em capítulos, e alguns capítulos estão ainda subdivididos em principium
e parágrafos. Por exemplo, Nov. 39, 2,1 significa Novela n.° 39, capítulo 2.°, parágrafo
1.° (em rigor, é o segundo, visto o primeiro denominar-se principium). Como dissemos
(vid. supra 488), algumas Novelas têm praefatio, e outras, praefatio e epilogas.
Nesse caso, quando se pretende citá-las, em vez de capítulo, põe-se respectivamente pr
f. (e não apenas pr., para não se confundir com principium) e ep. (epilogas). Nesse
caso,
indica-se do modo seguinte: Nov. 39 prf=Novela n. 39, praefatio; Nov. 39 ep=Nove
la 39, epilogas.
Ás vezes acrescenta-se o ano; outras vezes, o ano e o nome do imperador a quem per
tence a Novela. V.g.: Nov. 39,2,1 [536]; Nov. 39,2,1 [536](Iustinianus).
p)-Formas antigas de citar as Novelas
Nos documentos dos sécs. XIII-XVIII, encontram-se várias formas de citar as Novelas.
1 - A FORMA MAIS USUAL: v.g., Auth., quibus modis natu
rales efliciuntur sui, de successione cura.lium, § si vero=Authen
493
DIREITO ROMANO
11 PARTE -TIT. X.-CAP. 2.°
§ 37
494
ticum (a colectânea de Novelas usada na prática, e portanto a única publicada nas edições
antigas, vid. infra), o título que principia exactamente pelas palavras «quibus modi
s naturalea efficiuntur sui» (e para descobrir o número do titulo e da Novela é necessár
io recorrer ao índice dos títulos das Novelas, que se encontra nas edições antigas) é o títu
lo 1.° da Nov. 89; as outras palavras a seguir-«de successione curalium»-indicam o cap
itulo (no caso presente, é o capit. 3.°); finalmente o § si vero é o parágrafo 1.°; portanto
-Nov. 89, titulo L O, cap. 3.° § 1.*.
As vezes, só vêm indicados o título (no exemplo citado, «quibus modis naturales efficiun
tur sui») e o parágrafo (no caso presente, § si vero). Então, pelas primeiras palavras d
o título, recorrendo ao referido índice, identifica-se o número da Novela e o título (no
exemplo apresentado, Nov. 89, tít. l.,); para encontrar o parágrafo citado, é necessári
o percorrer toda a Novela.
2 - FORMA BASTANTE FREQUENTE: v. g. Auth., quibus modis
naturales efficiuntur sui § si vero C.3 coll. 7 Nov. 89=Authenticum, tit. quibus m
odis naturales efficiuntur sui, cap. 3.° da «Collatio» 7, Novela 89. [Como veremos inf
ra 506, o Authenticum foi dividido na Idade Média em 9 collationes, e as collation
es em determinado número de títulos, tantos quantas as constituições que compreendiam. S
obre a 10 ° Collatio (e até a 11.° Collatio), vid. infra n. 805.]. Portanto, a citação cor
respondente a Authenticum, collatio 7.1, tít. 1°, Nov. 89.
3 - TERCEIRA FORMA DE CITAR, e utilizando ainda o mesmo
exemplo: Auth. coil. 7, tít. 1 (e às vezes ) § si vero (ou ainda Auth., coll. 7, quibu
s modis naturales efficiuntur sui § si vero)
=Nov. 89, tit. 1.°, cap. 3.°, § 1°.
4- QUARTA FORMA DE CITAR, V.g. Auth Hoc ius. C. De Sacrossanctis Ecclesiis=Authe
ntica, que principia pelas palavras «Hoc ius»,introduzida no Código de Just¡niano, no títu
lo (desse código) que começa pelas palavras «De Sacrossanctis Ecclesüs>.
Trata-se de exertos de Novelas inseridos no Codex pelos glosadores (a princípio, à m
argem, depois intercalados no texto, a seguir à norma a que dizem respeito), para
integrar ou corrigir - actualizar - as disposições do Código Justinianeu, pois as Nove
las, como leis posteriores, corrigiam o Codex. Como esses excertos provinham da
colectânea Authenticum, denominavam-se authenticae. A citação apresentada significa C.
liv. 1°, tit. 2° (a que corresponde «De Sacrossanctis Ecclesiis»), depois da constituição o
u lei 14, a authentica «Hoc ius>, que, por sua vez, cor
responde ao Authenticum, De non alienandis aut permutandis, § nos igitur, coil. 2,
tit. 1=Nov. 7, cap. 1.°, e ao Authenticum De alienatione et emphyteusi § et hoc quid
em super ipsis e § hoc vero iubemus=Nov. 120, caps. 6.° e 7.°.
Note-se que tal authentica não se encontra na nova edição das Novelas, de SCHõLL-KROLL,
mas nas edições anteriores, v.g. na edição de Turim, de 1757, na de Colónia, de 1781, etc.
495
18
1.' PARTE -TIT. X-CAP. 3.o
§ 38
Capítulo 3.e - C) - MANUSCRITOS DAS DIVERSAS PARTES DO «CORPUS IURIS CIVILIS»
SUMÁRIO-38. Manuscritos:
1 - das Institutions
2 -dos Digesta ou Pandectae 3 -do Codex
4 - das Novelise
38. As diversas partes do Corpus Iuris Civilis tiveram todas, dada a sua importânc
ia, uma larguíssima difusão manuscrita. Infelizmente, nem de todas possuímos hoje manu
scritos completos e seguros. Como é sabido, do Codex vetus (pràticamente) nada resta
(vid. supra 446) ; das outras partes, existe o que vai indicado a seguir.
INTERPOLAÇÃO é toda e qualquer modificação tio texto original, com a finalidade intenciona
l de lhe alterar o sentido.
A interpolação destina-se a transformar o texto.
As interpolações podem consistir na omissão, substituição ou acréscimo de palavras.
As interpolações feitas aos textos jurídicos romanos, normalmente as contidas nas Inst
itutiones, no Digesto e no Codex do C. I. C., dividem-se em: justinianeias (ou t
ambém designadas «emblemata Triboninani»), se são obra dos compiladores justinianeus; pré-
justinianeus 810, se foram elaboradas pelos juristas ou pelas escolas, anteriore
s a Justiniano, principalmente dos sécs. III e IV.
808 L. LoMBARDI ib. 325.
809 Sobre a abundante bibliografia a respeito de interpolações, vid. P. BONFANTE, St
oria II, cit. 1351, e L. WENGER, Die Quellen 855-860, nas respectivas notas.
Sobre a crise do método interpolacionístico, vid. DE DoMINIcIs em Ann. Fac. Ciar. Ca
merino 30(1964) 1-23.
810 Outrora, chamava-se a esta espécie de interpolação giosema. Partia-se da ideia (de
sde há vários anos, tida como errada) de que só havia interpolações justinianeias. 0 resto
das modificações dos textos ou eram simples explicações ou comentários. Vid. L. LomBARDi,
o.c. 324, e Da «Solutio» 1 6746.
510
1. PARTE-TIT. XI § 40
Mesmo sem investigar, sabe-se perfeitamente que existem interpolações na compilação just
inianeia. Conforme examinaremos infra n.° III, é o próprio Justiniano que o declara ex
pressamente e por várias formas. Portanto, para conhecer o Direito anterior a Just
iniano - sobretudo o Direito Romano clássico, que é cânon e modelo -, há necessidade de
descobrir as interpolações existentes, principalmente no Digesto, e também nas Institu
tiones e no Codex.
Esse trabalho, sempre eriçado de dificuldades, é feito segundo critérios de vário tipo.
Indiquemos os mais importantes, alguns dos quais foram elaborados para descobrir
as interpolações na compilação justinianeia; porém, mutatis mutandis, podem aplicar-se a
outras fontes, nomeadamente às pré-justinianeias.
1- 0 CRITÉRIO TEXTUAL (comprovação directa), consiste no confronto entre o texto justi
nianeu e o texto genuíno conservado numa fonte pré-justinianeia (v.g. as Institution
es de GAIUs), ou no confronto entre duas reproduções justinianeias (hipótese das leges
geminatae 81), ou no confronto entre o texto justinianeu e as fontes bizantinas
, sobretudo com os Ba
silicos 812
811 Sobre as leges geminatae e o modo de as utilizar para a descoberta de interp
olações, vid. J. GAUDEMET, Un Probléme de Ia Codification Théodosienne: Les Constitution
s Géminées em RIDA 4(1957) 253-267, e La Formation du Droit 56-59.
812 Os Basilicos, em geral, estão menos interpolados e menos glosados que os texto
s ocidentais. Há mais de meio século que isto foi observado pelo eminente romanista
RICCOBONO, II Valore delle Collezioni Giuridiche Bizantine per lo Studio Critico
dei «Corpus luris Civilis» em Mélanges Fitting II (Montpellier,1908) 465-497Esta tese
não ficou abalada com a crítica de PETERS, Die ostrõmischen Digestenkommentare und di
e Entstehung der Digesten (Leipzig,1913), nem coma de SoNTts, Die Digestensume d
es Anonymos I Zum Dotalrecht. Ein Beitrag zur Frage der Entstehung des Basiliken
textes (Heidelberg,1937). Hoje a tese de RIccoBOxo é unânimemente seguida. Cf. MmEts
na crítica a PETERS. o.c. em SZ 34(1913), máxime 406 ss., D'ORS, Presupuestos 141,
A. GuARINO na crítica a SONTIS, o.c. em SDHI 5(1939), máxime 282 ss. [=L'Ordinamento
Giuridico Romanos (Nápoles,1959) 565.5761.
511
DIREITO ROMANO
Este critério é o mais seguro, sobretudo na sua primeira modalidade (confronto entre
o texto justinianeu e o texto genuíno) ; simplesmente, poucas vezes pode utilizar
-se, por falta de texto genuíno ou de texto que dalgluma forma o substitua 813.
(7c) Del mismo modo se han. insertado en uno solo volu, men muchos y variados te
xtos sobre Ia adquisición tanto de Ia propriedad como de Ia posesión y sobre los títul
os en que se causan.
(1d) Otro libro se dedica a <Ia ejecución de> los condenados y los que han confesa
do en juicio, y a Ia detentación y venta de patrimonios y lo relativo al fraude de
acreedores.
532
consulto Tertuliano y Orficiano, en virtude de los cuales Ias madres y los hijos
se hereden reciprocamente.
(7a) Sigue luego otro libro que ordena lo de Ias obras en los edifícios, Ia garant
ia de ias casas que se hunden o caen, los danos que se cometen en estas cosas, l
os que se causan a los vecinos con el curso de Ias aguas, lo de los que recaudan
los impuestos públicos, y ias donaciones, tanto ias ordinarias como ias que se ha
cen en contemplación de Ia muerte.
(7b) A continuación, se contiene en un libro lo que puede haber sobre Ias manumisi
ones y Ias acciones .pertinentes.
(7c) Todavia metimos en un volumen lo de la posesión y de Ia adquisición por medio d
e ella, y los títulos que la causan.
(7d) Y todo lo que puede haber sobre, Ias sentencias judiciales y los que en jui
cio eonfiesan algo en contra de ellos mismos, sobre Ias cesiones de bienes por l
os acreedores, Ia separación, sobre el modo de evitar el fraude de acreedores,
(7e) A continuación se han reunido todos los interdictos, y luego sigue otro libro
único sobre Ias excepciones y los plazos, ias obligaciones y acciones, de manera
que esta sexta parte dei «Digesto» tenga sólo ocho libros.
(8) La séptima y última parte dei Digesto está formada por seis libros. Primeramente u
n volumen doble en el que se encuentre escrito todo el derecho sobre Ias estipul
aciones u obligaciones verbales, los fiadores y mandantes, asi como sobre Ia nov
ación, el pago, Ia acceptilación y Ias estipulaciones pretoriais, materia que en Ias
obras antiguas ocupaba innumerables libros.
(8a) Luego están los dos libros «terribles», de los delitos privados y extraordinarios
, asi como ]os crlmenes públicos, que contienen toda Ia severidad y dureza de Ias
penas. A los cuales libros se agrega lo dispuesto sobre los audaces que intentan
ocultarse y son declarados contumaces, sobre ias
penas que se imponem o per
Const. AkBWxev
también todo esto se contiene
en un solo libro.
(7e) Tampoco hemos dado
más de un solo libro al tema
de ]os interdictos. De ahí llega
mos a ias excepciones y plazos
para Ias mismas, y al tema de
ias obligaciones y acciones; y
compilamos toda esta parte, que comienza,como queda escrito, con lo de ias poses
iones de bienes, en el número de ocho libros, ordenándola como sexta parte de toda I
a recopilación.
(8) La última de todas, que es 1a séptima de toda Ia obra, contiene seis libros, emp
ezando por Ias estipulaciones; seguiendo por lo escrito sobre Ia fianza, y sbore
entrega, pago y liberación de deudores, y de ias estipulaciones introducidas por
disposición pretoria (todo lo cual se comprende en nuestra obra en dos libros, cua
ndo antes no se puede decir cuántos necesitava);
(8a) Continuando con el discurso de ias acusaciones y reuniendo todo lo relativo
a ]os delitos menores, que Ilaman privados, y los que llaman «fuera de orden», dándol
es el nombre de «extraordinarios», y pasando luego u los crlmenes públicos,
que son más graves y merecen
una pena más severa. También
aqui son dos estos libros sobre
533
Const. Aé8r)xev
Const. Tanta
Const. Tanta
Const. Ak8wxev
Const. Tanta
Const. Wwxev
donan a los condenados, así como sobre <el destino de> sus bienes.
(8b) Un libro único hemos pensado <ser conveniente> para Ias apelaciones contra ia
s sentencias que ponen fin a Ias causas civiles y criminales.
(8c) Todo lo relativo a los munícipes, a los decuriones, contribuciones, obras públi
cas, mercados y públicas promesas, jurisdicciones varias, censos, a lo que se encu
entra en los antiguos sobre Ia significación de ias palavras, o a modo de regias,
lo abarca el libro cincuenta, último de Ia compilación.
(9) Todo lo cual lo hizo el excelentísimo y también muy sabio maestre, excuestor y e
xcónsul Triboniano, persona igualmente dotada en ias artes de Ia elocuencia que de
Ia ciencia de1 derecho, el cual sobresalió en su gestión y nada tuvo nunca por más im
portante y querido
534
los delitos y acusaciones criminales. Se combinan en ellos lo de los reos contum
aces que se ocultan y de sus bienes, de Ia pena impuesta a los condenados, y de
su indulto.
(8b) Empezamos de nuevo el seguinte libro con el discurso de Ias apelaciones, qu
e es común a Ias sentencias tanto de ias deudas pecuniarias como de Ias acusacione
s criminales.
(8c) Todo lo que establecieron los antiguos sobre los
municipes y los decuriones, ias
contribuciones, ias obras públi
cas, los mercados, Ias promesas
de réditos, jurisdicciones varias
y el censo público; todo lo
dicho por los antiguos en general
sobre Ia significación de Ias
palavras y a modo de regias;
todo esto lo abarca el último
libro, el sexto de este grupo
que empieza con Ias estipula
ciones, si se parte dei comienzo
dei propio grupo, pero el quin
cuagésimo respecto ai conjunto
de toda Ia recopilación.
(9) Todo lo cual ha sido
excelentemente hecho y elabo
rado, en forma digna de Nuestra
disposición, por el excelentisimo
y, sapientísimo maestre, excues
tor de Nuestro palacio real y
excónsul, persona acreditada por
su conducta, por su elocuencia
y por sus obras de derecho,
como Nuestras órdenes; así como
también otros notables y muy
cultos varones, a saber: Cons
tantino, ilustre conde de Ias
larguezas imperiales y maestre
de Ia secretaria de instancias y
juicios imperiales, el cual siempre
se nos acreditó por su buena
reputación y fama; también Teó
filo, ilustre maestro de derecho
y jurisperito que enseiïa en esta
magnífica ciudad el mejor uso
de ias leyes, y Doroteo, ilustre
y doctísimo excuestor, ai que
hicimos participe de esta obra por la buena reputación y fama que tiene por Ia ens
eilanza dei derecho a sus discípulos en Ia magnífica ciudad de Berito; y Anatolio ma
estro ilustre, también é1 fue agregado a esta obra como intérprete que es dei derecho
en Berito; persona de noble abolengo en el derecho pues su padre Leoncio Y su ab
uelo Eudoxio dejaron el mejor recuerdo em <el estudio de> lasl eyes; también el il
ustre conde de Ias larguezas imperiales Cratino, óptimo profesor de esta metropoli
tana ciudad. Todos ]os cuales fueron elegidos para la mencionada obra, a Ia vez
que los doctísimos Esteban, Mena, Prosdocio, Eutolmio, Timoteo, Leónidas, Leoncio, P
iatón, Jacobo, Constantino y Juan, que son también abogados ante
y que no antepone nada a nues
tras órdenes; asi como también
por los que bajo Ia dirección
de 'aquél elaboraron para Nos
esta obra, a saber: Constantino,
ilustre conde de Ias larguezas
imperiales y maestre de Ia secre
taria de instrucción y juicios imperiales, el cual Nos probó en todo su buena fama;
también Teófilo, ilustre maestro de derecho y que enseíïa en esta regia ciudad con gran
respectabilidad y diligencia, y en forma digna de Ia profesfón doctoral; y Doroteo
, magnífico excuestor, que es maestro en Ia ciudad de ias leyes (queremos decir Ia
célebre y brillante metrópoli de Bento), cuya buena reputación le trajo a Nos y le hi
zo participe también dei presente trabajo; y Anatolio, maestro ilustre, que también é1
enseila excelentemente el derecho en Berito, persona que hace Ia tercera genera
ción respetable en Ia enseflanza de Ias leyes entre los de Fenicia (pues desciende
de Leoncio y de Eudoxio, personas que se admiram con razón en el estudio dei dere
cho, después, de Patricio, de prestigiosa memoria, cuestor y profesor, y de Leonci
o, el celebrado exprefecto y excónsul, y de Patricio su hijo); y el ilustre Cratin
o, doctísimo conde de Ias larguezas
535
Const. Tanta
Const. Iéilwxev
Const. Tanta Const. DéSmxev
imperiales (buen intérprete de
Ias leyes, él también en esta
regia ciudad); además de los
muy doctos Esteban, Menas,
Prosdociò, Eutolmio, Timoteo, Leónides, Leoncio , Platón, Jacobo, Constantino y Juan,
todos ellos abogados entre el tribunal de los dignísimos prefectos de Nuestros sac
ros pretorios, y que, teniendo justa fama general por el tribunal supremo dei pr
efecto que preside los pretorios de Oriente, y Nos los elegimos para Ia ejecución
de tan gran obra, avalados por el testimonio unánime de su talento. Concertados to
dos bajo Ia dirección dei excelentisimo Triboniano, para poder terminar tan gran o
bra con nuestra autoridad, con ei favor de Dios, se dio fin a Ia misma en los di
chos cincuenta libros.
(10) Tanta ha sido Nuestra reverencia por lo antiguo, que no hemos consentido en
modo alguno que los nombres de los prudentes cayeran en olvido, sino que aparec
e en Ias inscripciones de Nuestro Digesto el nombre de todos los que son autores
de sus leyes, habiendo hecho Nos tan sólo que se afiada o quite, según sea necessar
io, y se ajuste a Ias regias más justas todo lo que en Ias leyes de aquellos prude
ntes parezca
536
su sabiduria, fueron juzgados por Nos como merecidamente dignos de participar en
esta empresa. Esto es, pues, lo que Nos elaboraron para Ia redacción dei Digesto
los ilustrisimos jurisconsultos que acabamos de mencionar.
(10) Tanta ha sido Nuestra reverencia por lo antiguo, que no hemos consentido al
terar Ia indicación de los nombres de los antiguos autores, sino que antepusimos a
ias leyes Ia indicación dei nombre de cada uno, aunque cambiando si algo nos pare
cia ser menos correcto, suprimiendo algunas partes y aiYadiendo otras, eligiendo
lo mejor de entre muchos y dando a todos el mismo valor, de. modo que todo lo q
ue se estribe en ..
superfluo, imperfecto o menos conveniente, En muchas repeticiones o contradiccio
nes se ha puesto lo que parecia máá correcto, igual para todos y fundado en una mism
a autoridad, de modo que todo lo que allí aparece escrito se entienda como Nuestro
y como redactado por Nuestra propia voluntad, sin que nadie se atreva a compara
r el texto antiguo con lo que introdujo Nuestra autoridad, pues es mucho y muy i
mportante lo que se ha cambiado por razones prácticas; hemos pensado que se debía co
rregir y mejorar, sin mayor miramiento, incluso cuando se trataba de alguna cons
titución imperial conservada en los antiguos libros. Así, respetando los nombres de
los autores antiguos, hemos mantenido en nuestias enmiendas todo lo que era conv
eniente y necesario para Ia verdad de ias leyes. Por ello, si había entre ellos al
guna duda, se ha conseguido Ia más segura armonia, sin dejar lugar a ningún titubeo.
(11) Mas como comprendiéramos que no pueden soportar tan gran mole de ciencia pers
onas incultas o que estando en Ia antesala primera de Ias leyes se apresuran a e
ntrar en los secretos de Ias mismas, resol
el libro provenga de nuestra autoridad, y que nadie se atreva a comparar lo actu
al con lo de antes, pues muchas cosas, difíciles de enumerar, hemos mejorado, incl
uso si se decia de otra forma en alguna constitución imperial de los antiguos empe
radores. Conservando, pues, los nombres de los antiguos, hemos hecho Nuestra Ia
verdad de Ias leyes, de modo que si algo se discutia entre ellos (y había mucho de
esto), se decidiera, definiera y redactara en forma de ley clara e terminante.
(11) Mas como era necesario hacer una introducción sencilla para aquellos que empi
ezan el estudio de Ias leyes y no pueden entender Ia ensenanza superior, no deja
mos de pensar en ello, y, dando encargo ai
537
Const. Tanta
vimos preparar otra redacción más sencilla, a fin de que con el barniz de Ia misma y
como imbuídos con los primeros princípios de todo, puedan ellos penetrar en sus pro
fundidades, y percatarse bien con sus propios ojos dei perfecto sentido de Ias l
eyes. Por consiguiente, llamando a su excelencia Triboniano, que había sido elegid
o para dirigir toda Ia obra, asi como los ilustrísimos Teófilo y Doroteo, profesores
muy elocuentes, les mandé seleccionar, tomando de los libros que los antiguos com
ponían, con el nombre de «Instituciones», para comprender los rudimentos de ias leyes,
todo lo que de ellos se encontrara de útil y más adecuado, y lo más correcto y ajusta
do a Ia práctica de nuestro tiempo, y ponerlo en cuatro libros, exponiendo los pri
meros fundamentos y elementos de toda esta ciencia, para que instruídos en ellos l
os jóvenes pudieran hacerse cargo de Ias disposiciones legales más difíciles y complet
as.
Les recordamos que no olviden Nuestras propias constituclones, que promulgamos p
ara enmendar el derecho, y no dejen, aí hacer Ias «Instituciones», de tener en cuenta
esas mismas enmiendas, para que resulte claro
538
excelentisimo Triboniano, elegido para dirigir toda Ia obra legislativa, y a los
grandes y doctos profesores Teófilo y Doroteo, mandamos seleccionar, de lo que ha
y en los libros de instituciones de los antiguos jurisconsultos, lo oportuno y v
igente, y cuanto conviene a los negocios civiles de hoy, reunirlo y presentárnoslo
, sin olvidar Nuestras constituciones, que hicimos para enmendar lo antiguo, y h
acer as1 cuatro libros, que han de ser los primeros elementos introductivos, que
se convino llamar «Instituciones». Ofreciéndonos ellos también concluída esta obra legal,
revisándola Nos por entero y juzgándola bien hecba, Ia hemos considerado conforme a
Nuestra idea y hemos declarado Nuestra también este libro, y a todos declaramos c
on lo que se dice en los proemios de este libro que tiene el mismo valor que Nue
stras constituciones.
lo que antes era objecto de
vacilaciones y quedó después
establemente fijado. Obra esta
que, una vez que fue concluída
por ellos y Nos fue presentada
e releímos, Ia aceptamos con
benevolencia, no Nos pareció
indigna de Nuestro propósito
y dispusimos que estos <cua
tro> livros tuvieran el mismo
valor que Ias constituciones,
como se declara más expresa
mente en el discurso Nuestro,
que antepusimos a esos mismos libros.
(12) Compuesta ya, pues, toda Ia recopilación dei derecho Romano, concluída em tres
volúmenes, a saber, «Instituciones», «Digesto» o «Pandectas», y Ias «Constituciones» <o «Códi
minada en tres anos, que al comenzar Ia ordenación del material no se esperaba ter
minar ni en todo un decenio, ofrecemos con ânimo piadoso este trabajo a Dios Omnip
otente y para ayuda de los hombres, y damos abundantes gracias a Ia Suprema Divi
nidad, que nos permitió hacer com éxito Ia guerra y conseguir una paz honrosa, y dar
Ias mejores leyes, no sólo para el nuestro, sino también para todo tiempo, tanto próx
imo como lejano. Hemos creido necesario, pues, publicar esta legislación a todos
Const. ié8wxev
(12) Asi, pues, habiendo ordenado el derecho Romano, y habiendo terminado tan gr
ande obra con tres libros en total, y en tres anos, lo que al comienzo estaba más
allá de toda esperanza, y luego, aí demonstrarse que Ia empresa era posible, no pare
cia poderse terminar todo en' diez anos, y lo acabamos rápidamente en sólo tres acto
s, pareció justo, a Ia vez que ofrecíamos este trabajo al Senor Dios que nos donó el p
oder hacer Ia paz, llevar bien Ias guerras, y dar leyes para todos ]os tiempos,
pasados, presentes y futuros, manifestar a todos los hombres nuestro ceio y prov
idencia por ellos, pues quedan liberados de Ia anterior incomodidad, confusión e i
nfinitud de ias leyes, y podrán valerse de
539
Const. Wcaxev
Const. Tanta
Const. Tanta
Const. Ak8wxev
Const. Tanta
Const. Ak8wxev
los hombres, para que vean ia mesura y autenticidad de estas leyes, una vez libe
rados de tamaíïa confusión y profusión de Ias mismas; y para que tengan en el futuro, un
as leyes tan claras como concisas, ai alcance de todos y libros fáciles de adquiri
r, y no hayan de adquirir los volúmenes de una cantidad inútil de leyes gastando gra
n parte de sus bienes, sino que tanto ricos como pobres puedan comprarlos fácilmen
te por muy poco dinero, cambiando un mínimo precio por una gran prudencia.
(13) Mas si en tan grande recopilación de leyes, extraída de un número inmenso de libr
os, se encuentra acaso alguna vez algo repetido, nadie lo censure, sino que, pri
meramente, debe atribuirlo a Ia humana flaqueza, que es natural, ya que es más pro
pio de Dios que de los mortales acordarse de todo y no caer en defecto alguno, c
omo ya decían los antiguos; además, Bebe saber que nos es inútil Ia repetición hecha en
algunos textos, y muy breves, y que no se hizo fuera de nuestro propósito, porque
o Ia ley era necessaria de modo que convenía ponerla en distintos títulos a causa de
Ia conexión de materias, o bien, como impli
540
otras correctas y concisas, todas dias manejables y aptas para abreviar los liti
gios y asequibles para cuantos quieran adquiririas, sin necesidad de mucho diner
o, <que era antes necesario> para reunir Ia masa de aquellos libros inútiles, ya q
ue proporcionan tanto a los ricos como a los que disponen de menor fortuna Ia po
sibilidad de adquiririas por poco precio.
(13) Y si (por ser una multitud lo que se ha compilado, y tomado de tantos milla
res) apareciera alguna repetición (lo que creemos que ocurrirá pocas vezes), no resu
ltará sin justa excusa para quienes tengan presente Ia condición de Ia naturaleza hu
mana, pues ser en todo irreprensible es propio sólo de Ia virtud divina, y no de I
a humana, como se decía ya entre los antiguos. Por lo demás, hay lugares donde admit
imos Ia inserción de repeticiones, sea porque Ia materia misma así lo exigia ai ser
de aplicación en distintos lugares <de Ia compilación>, sea porque lo que parece rep
etición de lo anterior se mezcla con algo nuevo y
caba otras cosas, resultaba impo
sible dividiria sin producir una
confusión de Ia ley entera; y
cuando los casos aparecian per
feetamente expuestos por los
antiguos autores, resultaba dei
todo improcedente dividir y sepa
rar los diversos extremos que en ellos aparecían reunidos, a fin de no perturbar e
l sentido y aun menos los oodos de los lectores.
(14) Dei mismo modo, lo que se halla dispuesto en Ias «Constituciones» imperiales no
hemos permitido incluirlo en el volumen dei «Digesto», considerando suficiente Ia l
ección de Ias «Constituciones», salvo, y esto muy raras veces, cuando, por Ias razones
dichas, se ha admitido Ia repetición.
(15) Pero no tendrá cabida en este volumen ninguna contradicción, ni Ia hay, si bien
se apuran Ias razones de Ia diferencia, pues siempre habrá alguna novedad o razón m
enos aparente que disipe el agravio de contradicción, introduciendo una diferencia
que se evade dei terreno en discordia.
(16) Y si algo fue acaso olvidado, por haber quedado oculto como en el fondo de
tantos miles de libros y, habiendo sido conveniente el intentar algo, se dejó a un
lado necesariamente a causa de Ia obscuridad
resulta difícil de separar, sea porque muchas veces se conserva el tenor de todo u
n pasaje para no perturbar Ia inteligencia con Ia supresión de palabras que ya apa
recen en un lugar anterior; por lo demás, esto, cuando se tolera por necesidad dei
asunto, se hace brevemente y de modo que casi no se nota.
(14) Lo mismo hemos observado' en el derecho de ias constituciones imperiales, p
ues no permitimos que se ponga en este libro <dei Digesto> lo que ya se dice en
elias, excepto por Ias causas que justifican Ia repetición que acabamos de indicar
.
(15) Nadie, en cambio, encontrará fácilmente alguna ley de Ias que hay en este libro
contraria a Ias otras, aunque trate que buscaria recorriendo todos los limites
de posible contradicción, sino que hay <siempre> algo diferente que, bien consider
ado, distingue el propósito de una y otra ley.
(16) Pero si acaso, se echa en falta algo de lo que deberia haberse puesto (pues
es natural que esto suceda a causa de Ia deficiencia humana), mejor será para Nue
stros súbditos el verse liberados de muchas malas leyes
541
Const. Tanta
Const. Wcoxev
Coast. Tanta
Const. Láówxev
que lo envolvia ¿quién puede censurar esto de buena fé? En primer lugar, porque es cos
a natural de Ia limitada inteligencia humana; en segundo lugar porque lo que se
mezcla con muchas cosas inútiles no es fácil de descubrir; en tercero porque es much
o mejor olvidarse de algum cosa conveniente que abrumar con muchas cosas inútiles.
(17) Pero una cosa resulta admirable de estos libros, y es que Ia antigua multit
ud de libros venha a ser más pobre que Ia presente reducción, porque los abogados de
antes, a pesar de ser muchas Ias leyes existentes, utilizaban pocas de ellas pa
ra su litigios, sea por Ia falta de libros que les era imposible comprar, sea po
r Ia misma ignorancia, y los litigios se resolvían no tanto por Ia autóridad de ias
leyes cuanto por el capricho de los jueces. En cambio, con Ia presente recopilac
ión de Nuestro Digesto, Ias leyes han sido seleccionadas de tantos volúmenes, cuyos
títulos no decimos ya que no conocian los antiguos, sino que jamás hablan oldo menci
onar; y fue recopilado de tanta materia acumulada que Ia multitude antigua resul
ta pobre, y riqulsima, en cambio, nuestra reducción.
542
que el no omitir quizá aigunas pocas cosas que pudieran parecer útiles, siendo asi q
ue se hallan enterradas y escondidas entre otras a miliares y casi innumerables,
desconocidas para casi todos y que por elio se pueden olvidar fácilmente.
(17) Con ser tantos los libros escritos por los antiguos, se juzgaba ]os litigio
s en los tribunales con muy pocos autores y libros, no sólo porque <los jueces> ca
reclan de libros, sino también porque todo esfuerzo era insuficiente ai no poder e
ncontrar muchas cosas de utilidad; ahora, en cambio, se reúne en esta recopilación u
n gran número de leyes vigentes sacadas de libros escasos y que apenas se podían hal
lar, y cuyos títulos desconocian muchos, incluso de los más prestigiosos jurisconsul
tos. De los cuales libros nos proporcionó gran cantidad el mencionado excelentísimo
Triboniano, aportando una muchedumbre de libros y no fáciles de contar, leídos atent
amente los cuales, se compusieron estos volúmenes, aunque ias personas elegidas pa
ra hacer esta obra lieron también otros
Fue sobre todo el excelentisimo
Triboniano quien proporcionó
muchos libros de Ia antigua jurisprudencia, muchos de los
cuales eran desconocidos incluso
para los más ilustrados leídos atentamente todos ellos, se introdujo en Nuestra reco
pilación lo que era mejor de ellos; mas los autores de esta obra, no sólo leyeron aq
uellos volúmenes de los que extrajeron ias leyes puestas en el «Digesto», sino otros m
uchos, que eliminaron con buen criterio, ai no encontrar en ellos nada útil o nuev
o que pudieran extraer para Nuestro «Digesto».
(18) Con todo, como ias cosas divinas son muy perfectas pero ei derecho humano t
iende siempre ai progreso por su, misma condición, y nada contiene que pueda perma
necer sin cambio (pues Ia natuialeza no cesa de producir nuevas formas), no excl
uímos que puedan surgir nuevos negocios que no estén sujetos aún por los lazos de Ias
leyes. Si tal ocurriese, solicítese el remedio dei Emperador, pues Dios puso Ia gr
acia imperial ai frente de Ias cosas humanas para poder enmendar y ajustar toda
novedad, y ordenarlo con ias correspondientes medidas y regias. Y esto no somos
Nos quienes
muchos libros, que con razón no quisieron introducir en esta recopilación legal por
no encontrar en ellos nada útil o que fuera nuevo respecto a lo seleccionado.
(18) Mas si algo en el futuro resultara dudoso y que no aparezca escrito en esta
s leyes (pues Ia naturaleza suele presentar muchas cosas nuevas), por ello conti
tuyó Dios sobre los hombres Ia realeza: para que siempre que haga falta disponga e
lla y subsane da deficiencia de Ia naturaleza humana y defina con leyes y limite
s inteligibles; y no decimos esto sólo como cosa nuestra, sino que ya Julian, el más
sabio de los jurisconsultos famosos, se ve que decla lo mismo, ai pedir para Ia
s cuestiones que se presentaban por primera vez el complemento de Ia realeza; y,
por su lado, Adriano, de con
543
i
Const. Tanta
Const. Ai8wxev
Coast. Tanta
Const. a Swxev
lo decimos por primera vez, sino que tiene un viejo precedente, ya que el mismo
Juliano, agudísimo jurisconsulto y autor. dei Edicto, Perpetuo, lo dice así en sus p
ropias obras: que si algo resulta incompleto, se colme con Ia sanción imperial; y
no sólo él, sino también Adriano, de consagrada memoria, ai redactarse el Edicto y en
el consecutivo senadoconsulto, así lo definió con toda çlaridad: que si se encontraba
algo no previsto en el Edicto, lo pudiera disponer Ia nueva autoridad conforme a
Ias regias, princípios y analogias dei Edicto.
(19) Percatados de todo esto, vosotros, senadores y hombres de todo ei orbe, dad
gracias muy cumplidas a Ia Suma Deidad, que reservó para vuestro tiempo una obra
tan provechosa: se ha concedido a vuestro tiempo aquello de que en el juicio de
Dios no había parecido digna Ia antigüedad. Asi, pues, venerad y observad estas leye
s, quedando derogadas todas ias anteriores, y que ninguno de vosotros ose compar
arias con ias anteriores, ai tampoco indagar los desacuerdos entre unas y otras,
porque todo lo que aqui se ha insertado es lo que sola y exclusivamente queremo
s que se observe. Y que no se intente
544
sagrada memoria, ai Compilar en un breve libro Ias leyes anuales de los pretores
,, dando a Juíiano lá dirección de dicha obra, dijo lo mismo en el discurso que pronun
ció : públicamente en Ia antigua Roma: que si ocurría algo que no estuviera previsto,
era conveniente que los magistrados procuraran definirlo conforme a Ia analogia
de lo ya legislado.
(19) Percatados de esto tosos nosotros (me refiero a vosotros, oh magnífico Senado
, y a todo hombre de nuestra república), dad gracias a Dios, que reservó para vuestr
o tiempo un bien tan grande, y usad de nuestras leyes sin anteponer niaguna de i
as que están en los libros antiguos ai compararias con ias actuales, porque, aunqu
ee parezca que alguna no está de acuerdo con Ias otras, dejamos a un lado lo antig
uo como inútil y lo actual resulta ser lo que vale. Prohibimos, pues, que en el fu
turo se haga uso de ias leyes antiguas, y permitimos y proclamamos que sólo tengan
carta de naturaleza y
leer o aducir en juicio, o en otra controversia en Ia que sean necesarias Ias le
yes, nada de otros libros más que de estos Nuestros - «Instituciones», «Digesto» y «Constitu
ciones» - que hemos compuesto y promulgado, si no quiere el temerario que así lo hag
a sufrir gravísimas penas como reo de falsedad, juntamente con el juez que tolere
tal audiencia.
(20) Para que no ignoréis de qué libros de los antiguos se compuso esta compilación, d
isponemos que se consigne esto en el comienzo de Nuestro «Digesto», para que resulte
dei todo manifiesto con qué jurisconsultos y con cuáles de sus libros, y con cuántos
miles de ellos, se ha edificado este templo de Ia justicia romana.
(20a) Hemos seleccionado aquellos jurisconsultos o comentadores que eran dignos
de tal obra y que los muy pios príncipes que antecedieron se dignaroa admitir, dan
do a todos el mismo rango para que ninguno pueda reclamar antiguas preferencias:
porque ai disponer
vigencia ias nevas, de modo que el que intente hacer uso de alguna ley de los li
bros antiguos y no de estos dos solamente y de Ias «Constituciones» compiladas o hec
has por Nos, leyéndolas en los juicios, o si es quica juzga admitiendo que se le p
resenten tales leyes, sea reo de falsedad y, condenado em juicio público, sufra Ia
pena correspondiente, aunque no lo dijéramos, siendo como es manifiesto por sí mism
o.
(20) Considerando que también era mejor el poner ai comienzo dei libro dei «Digesto» l
os <nombres de los> antiguos jurisconsultos y <los títulos de> sus libros, de dond
e procede Ia compilación de Ias leyes que ahora tenemos recopiladas, ordenamos que
así se hiciera, y así se hizo, y mandamos que se aiiadiera a esta Nuestra sacra con
stitución, a fia de que todos vieran cuál era ia infinitud e imprecisión de antes y cuál
, en cambio, ha sido Nuestra innovación.
(20a) Hemos seleccionado aquellos jurisconsultos e intérpretes que tenlan fama gen
eral y satisfacían a los anteriores emperadores, siendo dignos de que aquéllos los m
encionaram; y si alguno había de los que ai los antiguos jurisconsultos conoclan,
le apartamos de formar parte de
545
Const. Tanta
Const. zégwxzv
Const. Tanta
Const. Wwxev
que también. estas leyes tengan el valor de Ias constituciones, como si Nos Ias hu
biéramos promulgado ,cómo se va a apreciar más unos que otras, si se ha dado a todas I
a misma dignidad y potestad?
(21) También nos parece oportuno ordenar ahora (como ya nos pareció desde el comienz
o, ai mandar que se hiciera esta obra con Ia ayuda de Dios) que ninguno de los j
urisperitos actuales, ni los futuros, se atreva a afiadir comentarios a estas le
yes, a no ser que sólo quisiera traducirlas ai Griego en el mismo orden y posición e
n que están Ias palavras Latinas (lo que los griegos liaman «kata poda» <o «al pie» de Ia
letra>), o también se quisieran anotarias en atención a los títulos, y escribir lo que
liaman «paratitla» <o notas «a los títulos»>. No les concedemos, en cambio, lanzar interp
retaciones de Ias leyes, o mejor, perversiones de Ias mismas, no vaya a ser que
de su verbosidad provenga algún desdoro de confusión para Nuestras leyes, como ocurr
ió en los antiguos comentaristas dei Edicto Perpetuo, los cuales trajeron siri fin
de un lado para otro una
546
esta obra, pero dimos a todos los que están incluídos en ella el mismo rango y digni
dad, sin honrar a ninguno con más valor individual que otro. Porque, si damos a to
das ias obras de aquéllos Ia fuerza de Ias constituciones imperiales ¿quién de ellos p
uede parecer tener más o menos valor?
(21) Confirmando de nuevo lo que ya mandamos desde el primer momento de hacer Ia
recopilación, prohibimos a todos que nadie de ]os presentes o futuros escriba com
entarios de estas leyes, excepto si quisiera traducirlas a Ia lengua Griega, y sól
o haciendo Ia interpretación que se dice «ai pie <de Ia letra> », o también, si quisiera
aìiadir para facilitar el uso de Ias leyes lo que llaman <notas> «a los títulos», pero
siri hacer nada más en absoluto sobre estas leyes, ni dar nueva ocasión de controver
sia, duda o profusión en Ias mismas. Esto ya sucedió antes con Ia legislación dei edic
to, que, siendo él mismo muy breve, llegó a unas proporciones incomensusables por Ia
variedad de los diversos comentarios. Porque si algo apareciera dudoso sea para
los litigantes en los juicios sea para los que cuidan de juzgar, lo puéde interpr
etar correctamente el emperador, que es el único
obra mesuradamente hecha, ai inventar distintas interpretaciones, hasta el punto
de que todo el derecho Romano resultó confuso. Si no hemos tolerado a estos comen
tadores antiguos
, como se va a admitir Ia varia discordia de los futuros? Y si tal cosa osaren h
acer, háganse reos de falsedad y sus libros sean totalmente destruidos. Mas si, co
mo queda dicho más arriba, algo pareciera ambíguo, llévese por los jueces a Ia superio
ridad imperial, y declárese por Ia autoridad dei Emperador, el único a quien se perm
ite hacer ias leyes e interpretarias.
(22) Imponemos Ia misma pena de falsedad también a aquellos que en el futuro osen
escribir Nuestras leyes vaiiéndose de siglas oscuras, pues todo, esto es, los nomb
res de los prudentes, los títulos y los números de los libros, queremos que se expre
sen con todas Ias letras y no por siglas; de modo que quien hubiera adquirido un
libro tal, que contenga siglas en cualquier lugar dei libro o dei voltimen, sep
a que no le vale Ia propiedad dei libro; tampoco damos licencia para leer en jui
cio nada de tal libro que tenga en cualquier parte dei mismo Ia perversión de Ias
siglas. El mismo copista librero
facultado por ias leyes para hacerlo. As[, pues, quien se atreviera, contra esta
disposición Nuestra, a escribir un comentario fuera de Ia forma de Nuestro mandat
o, sepa que queda sujeto a Ias leyes de falsedad, y que lo que hubiera escrito s
erá secuestrado y totalmente destruido.
(22) La misma pena se establece contra los que usen en Ia copia <dei Digesto> es
as notas que Ilaman «siglas», tratando de alterar con ellas el texto, y no escriban
con todas ias letras los números, los nombres de los antiguos prudentes y el resto
dei texto legal. Sepan también los que adquieran un volumen así copiado que habrán he
cho una adquisición inútil de ese modo, pues no permitimos que tales libros tengan c
arta de naturaleza y valgan en los tribunales, aunque pueda suceder que el libro
en aquel lugar que se aduce no tenga ninguna sigla, pero Ia tenga en otro lugar
cualquiera, aunque sea una sola vez; de forma que el
547
Const. Tanta
Const. 1é8urxev
Const. 4é8taxev
Const. Tanta
que hubiera osado escribirlas, no sólo debe quedar castigado con Ia pena criminal
(como ya se ha dicho), sino que ha de pagar '.ai propietario Ia estimación dei lib
ro en el doble de su precio, si el propietario compró o encargó copiar tal libro sin
saberlo, como ya hemos dispuesto antes en Ia constitución latina, y en Ia griega,
que dirigimos a los profesores de derecho.
(23) Estas leyes Nuestras, que incluímos en estos libros, a saber, Ias «Institucione
s» o «Elementos» y el «Digesto» o «Pandectas», dispusimos obtuvieran su vigencia desde Nuestr
tercer afortunado consulado, el treinta de diciembre de Ia presente duodécima ind
icción <o afio 533>, para que valgan siempre, a Ia par que Nuestras «Constituciones»,
y ostenten su valor en ' los juicios de cualquier causa, ~ sea de ias que puedan
surgir después, sea de ias que aun están pendientes de juicio, sea de ias que no te
rminaron por resolución judicial o amistosa. Las gire ya fueron resucitas por una
sentencia judicial o apaciguadas por un pacto amistoso, no queremos en modo algu
no que se vuelvan a ver. Mas con motivo nos apresuramos a publicar estas leyes e
n nuestro tercer
548
propietario dei libro lo tenga como no escrito en absoluto, y el que lo escribió y
vendió a un comprador que lo ignoraba, pague ai perjudicado Ia estimación dei libro
doblada, siendo siempre aplicable Ia pena criminal correspondiente. Esto mismo
hemos escrito en Ias otras constituciones a propósito de esta obra, tanto en Ias p
ublicadas en lengua Latina como en Ia Griega, que dirigimos a los profesores de
derecho.
(23) Estos libros, pues, a saber, ias «Instituciones» y el «Digesto», dispusimos obtuvie
ran su vigencia desde Nuestro tercer afortunado consulado, es decir, desde el tr
einta de diciembre de Ia presente duodécima indicción <o ano 533>, para que valgan s
iempre, y a Ia par que Nuestras «Constituciones», y se apliquen tanto a los asuntos
que hayan de venir en el futuro como a los que están pendientes de juicio y no han
concluído por amistosas transacciones; en cambio, no toleramos que se vuelva a ag
itar lo ya juzgado o transigido. Tercer consulado éste, que Dios nos dió muy brillan
te, ya que en él se confirmó Ia paz con los Persas y se publicó este libro de leyes, c
omo antes nadie había podido pensar, y además Ia tercera parte dei orbe, a saber, Ia
Libia entera vino a unirse a
consulado, que se donó con toda fortuna a Ia república por el auxilio de Dios Sumo y
Seilor Nuestro Jesucristo, ya que en este consulado se acabó Ia Guerra Pártica y dió
paso a una perpetua paz, y un tercio dei mundo se agregó a Nos (pues se unió a nuest
ro imperio, después de Europa, el Asia y Ia Libia entesa), y se ha finalizado tan
importante obra legal, dones celestres todos ellos concedidos a Nuestro tercer c
onsulado.
(24) Así, pues, todos Nuestros jueces tomen estas leyes para su jurisdicción, ténganla
s y enúncienlas en sus juicios y en esta regia capital, especialmente el excelentísi
mo prefecto de esta capital metropolitana. Proveerán los tres excelentísimos prefect
os pretorios, .tanto de Oriente como dei llírico yy de Ia Libia, de darias a conoc
er, por medio de sus autoridades, a todos los que están bajo su
jurisdicción. Dada ei diez y seis de diciembre <de 533>, siendo cónsul nuestro Sefio
r Jus
tiniano por tercera vez.
Nuestro cetro, todo ello, regalo del tercer consulado. que Nos dió Nuestro grau, D
ios y Salvador Nuestro Jesucristo.
(24) Así, pues, todos los muy laudables magistrados de Nuestra república, una vez re
cibida esta Nuestra sacra constitución, apréstense a aplicar Nuestras dichas leyes e
n su propio tribunal; el dignisimo prefecto de esta grande y regia ciudad publíque
la en Ia misma, y cuide el supremo y muy laudable maestre de Nuestros <servicios
>, as! como los dignisimos y excelentísimos prefectos de nuestros sagrados pretori
os, tanto el de Oriente, como el dei Ilírico como el de Ia Libia, por medio de sus
propias órdenes, manifiesten estas obras a todos los que de ellos dependen, para
el inexcusable conocimiento de todos Nuestros súbditos. <En Latin: > Dada el diez
y seis de diciembre <de 533>, siendo cónsul nuestro Sefior Justiniano, perpetuo Au
gusto, por tercera vez.
549
INDICES
I.
2.
3
4
De Fontes
De Matérias De Autores
De certas Máximas ou Aforismos Jurídicos
~.-ÍNDICE DE FONTES
I. FONTES JURÍDICAS
A. Fontes pré justinianeias
Codex Euricianus (CE) s/n/: 87, 167 Codex Gregorianus (CG)
s/n/: 86, 166 3, 5: 259
Codex Hermogenianus s/n/: 86, 166
Codex Theodosianus (CT) s/n/: 86, 166, 278
1, 5: 406, 412551, 413,
4I3553
6: 414
4, 1: 398, 423 2: 424, 432 3: 406, 424
4, 4, 7:344418
6, 21, 1: 4125'"
9, 7, 6:430583 11, 36, 26: 344418
14, 9, 1: 355
3: 356, 412549
15, 1, 53: 412549
Collatlo (Co)
s/n/: 166, 407
6, 4: 410545
15, 2, 2:285
Consultado (Cs) s/n/: -407
I, 6: 408534
9, I: 410
Edictum Theodorici (ET) s/n/: 87, 167
Epitome Codicum Gregoriani et Hermogeniani (EGH)
s/n/: 407
Fragmenta Dositheana (FD)
s/n/: 166
553
(CH)
I,
Fragmenta Vaticana (FV)
s/n/: 86, 166, 407 85: 255 204: 356
Gai Institutions (GAIUS)
s/n/: 166, 424 574 I 3: 203 232
4: 220, 220262
5: 270
6: 344 7: 295 357
84: 226271
91: 225, 225269
II 193: 251 196: 252 197: 255
198: 255, 257705
201: 253
209: 254 212: 255 216: 254
218: 255, 256
III loo: 241288
136: 306
149: 386
,IV I6o: 331
Gaios Augustodunensis (GA)
s/n/: 166
Gaius Epitomatus (GE) s/n/: 166
Interpretatio, ad Cod. Theod. (IT)
1, 4, 3: 406
Lex Rom. Burgundionum(RB) s/n/: 87, 167
554
Lex Rom. Wisigothprum (RW) s/n/: 87, 167, 365
Livro Siro-Romano ou Leges Seculares (LS)
s/n/: 166
Pauli Sententiae (PS)
s/n/: 86, 166 2, 1, 5: 187 io: 259
11, 1: 234276 3, 5 :220263 5, 25, 4: 273332
Res Cottidianae (RC) s/n/: 166
Responsa Papiniani (RP) s/n/: 166
Scholia Sinaitica (SS) s/n/: ,66, 407
Tituli ex corpore Ulpiani (TU) ou Liber singularis Regularum
s/n/: 86, 166 24,11a: 255
Novellae Posttheodosianae (Nov. post.)
Theod. s/n/: 86, 344418
1 : 414
2, 2, 1: 354437
32 : 358 454
Valent. III 2, 2, 2: 355443 26 : 420566
C. Haec quae necessario
s/n/: 443621
pr.: 407, 445625
2: 518
C. Summa reipublicae
s/n/: 443621, 445626
I: 407, 518
3: 4I3553 421, 442617
C. Imperatoriam
3: 479720
4: 479718 481730 6: 480723
Institutiones (I.) s/n/: 87
1 3: 135 2, 2: 4055
C. Deo auctore
s/n/: 456, 4568 2: 413 553 4: 457 652
6: 398
7: 518, 4586ss
8: 4S865.5
9: 4586ss ,o: 45865s 11: 479717
12: 456650, 461, 465, 467
C. Omnem
s/n/: 461 1: 437
2: 476, 480722
3: 476
C. Wwxev
s/n/: 343, 345428, 456
1: 456650 9: 456651
A: 344418, 346423
20: 457653
21:461, 465, 466,
467, 467671
Digesta (D.)
1, I, 1 : 364
pr.: 13, 24, 281, 283
1: 285
2 : 364
S1: 377
3 : 364 6 : 364 7 : 363
pr'.: 163162, 165, 215,
238, 268, 280
I: 165, 174182, 297,
339
10 : 363
555
B. Corpus Iuris
C. Tanta
7: 357
11: 468
s/n/: 343, 344418, 345421,
346423
i : 456650,
473687
,
9: 456651 10: 467672,
11: 481730, 12: 47,681
15: 467673
19: 468
20: 457653
21: 461,463 664, 464665.
465, 466, 467
471684
475
5i8 482
I,
I : I25 135, I6, 3140, 339 2: 281, 283, 284,
285, 287350
II : 23
2, I : 370
2 : 364, 381
4: 180192
6: 290352
9: 219, 220262 12: 172180, 292
36: 376
37: 376
38: 376, 381, 382, 383
39: 376, 383 43: 386 44: 386
47: 389
49: 295$S7, 344 50: 377, 390505
51: 377
52: 377, 389 203, 363
363
16, 220, 220262
6,
7, 8,
21 : 365
6, 6 : 368
10, 1, 9 : 368
11, 7, 35 : 368 12, I, I, 1: 384 3: 384
367
370
2: 244
114, 6 : 260
1 : 370
pr.: 260, 261, 262, 264, 265 3: 261, 264
3 pr.: 265320
4 : 262
7, 3: 262, 267
13: 266321
16: 263
2: 265
5: 263
10 : 262
13 : 370 15 : 364 16 : 366 17 : 365
20 : 370
3, 6 : 367
1, 1pr. :234276 2 : 370
pr.: 234
1: 234, 234276, 236,
2362, 237, 239 z: 236
3: 239
I: 238
367
: 370
: 365
27 : 365
4, 6 : 365
1, 54 : 365
1, 3 : 439616
5, 17 : 368
17, 2, 73 : 366 18, 2,
7,
19, 1, 20, 1,
i8 : 367
2 : 439616
53 : 365 5, I: 245. 2, 10 : 368
3, 3
4, 10
69 : 367
31 : 366 38, 4: 326
5, 9 : 369 24, 3, 43 : 367 25, 2,
367 366
44, 3, 2 : 188210
45, 1 : 469 Ipr.: 306
5, 1: 303
16 : 367
110 : 372
137 pr.: 303,
387 372
304,
21, 2, 22, I,
46, 3, 39, 2:
67
8o
S
I, 5:
8, 16
2, 52, 20:
79
9, 10
2 5
10, 32
11, 7pr. 19, 8, 8:
12:
17
23, 1, 1:
24, 1 ,
9, Ipr. .
306
13; 4, 8
7, 9
13 : 344418
82 : 354439
367
367, 391501
197225 197225
369
397323 197225
47,
302
308, 310 372
400
27, 1,
28, 1,
3, 6, 6:
44 27
6,
7,
29, 2,
5
31, 1, 32, 45
65,
33, 2,
7,
12:
14
15 25, 3
220263
7 : 369
170175 170175
48,
12,
I,
3, 1
7
9
13 : 370
I, 1: 268, 271, 364
7 : 19 5
: 97=5
11
I : 372.
2 : 372
6 : 365
13 : 372
14 : 372
1, 7pr. : 342,415
14, 1, 3:384
5 : 38410 :366 2opr.: 387 37 : 367
1 : 314
2 : 314
I, 2: 317
3: 317 367
I: 18
4, 6, 8, 18,
9,
7
9 : 367
16 : 387
29 : 365
2: 257, 258307
49,
367 365 372
197225
367 372
197225
197225 197225
197225 197225
I91 5
50,
15, 19 : 372
10,
7,
2,
34, 2 :265319 25, lo: 265J19 26 : 265J19
35, I, 17pr.: 258 2, 16 : 367
82 : 506803
346423
15, Ipr. I6,131
I
T2
14
54 55 62
73, 4:
82
106
155, T: 202
207
T7
15,
37, 40,
8, 3
77
2., 17,
2, 7
4, 14
46
5, 20
41, 1, 34
42, 1, 7
43, 20, 1, 8: 162
439616
367 367
: 367, 367470
372
188210
399
1925
469
363, 385
257, 258, 436 338
23 23
228272
385 366
197225
23 363 30
556
3, 39 : 39417s
557
C. Cordi
s/n/: 446630
1: 484741 2: 485744
3: 372, 484742, S18
4: 48470, 488, 489
Codex Lust. (C.)
Basilica (Bas.)
s/n/: 89, 89122 89123 92, 93, 168
s/n/: 92, 168
Brachylogus Iuris Civilis: 507806
Códices
Cod. Vat. 7277: 421
558
s/n/:
I 4-18:
23-73
32:
33:
II 5:
6:
7:
25:
26: 195: 201:
208-228:
232-257:
262 a 301: 464 a
540: 427 544
583: 428 594
a 613: 638
a 652: 656
a 665: 759
a 798:
Leges
Lex Aebutia de formulis: 83, 219
- genucia: 6899
- Hortensia de plebiscitis:
6899, 71, 82, 206
- Iulia: 84
20
-Licinia Iunia: 207 - Liciniae Sextiae: 82
-Ovinia: 61, 6899
- Papiria Tabellaria: 208 -Plautia Papiria: 84
- Poetelia Papiria de nexis:
82, 192 - Porcia: 65
- Publia: 6899
--Philonis: 70, 82, 208 - Ripuaria: 93
- Romana Burgundionum:
407
-- Visigothorum: 407
Valeria Horatia de plebis
citis: 6899, 71, 82, 205 - Vallia: 191, 195
Libri Feudorum: 506,5078" Lombarda :507%õ
Palimpsestos
Palips. n.0 5 766 da Bibl. Vat.:
427, 427582
Papyri
Pap. Oxyr.: 395,442617,446,
4469, 484742
Pap. Ryland: 51g Pap. ST. 1449R: 519
Senatusconsulta
Senac. de Bachanalibus: 224 - Claudianum: 225 - Macedonianum: 259 - Neronianum:
249 - Orfitianum: 232 - Silanianum: 220 - Tertulianum: 226 - Velleianum: 233
XII Tabulae (XII Tab.)
s/n/: 18, 2936, 3653 172180
I 1: 18
559
52, 2 : 170175
53, 34, 4: 163162
11, 19, 1 : 356, 4I2549
12, 15, 1 : 412550
PIRA
1, 14, 15,
4, 5,
28 60
61, 13
6, 23, 1
35
61,
8, 39,
12,
1 10,
3: 271 424
1. 344418
259
193221
420566 408534,
220263
420566
3: 163'62
346423
485
Novellae lust. (Nov.)
22: 488 118: 488 127: 488 .140: 492 144: 492 148: 492 149: 492
161: 492
163: 492 164: 492 166: 492" 167: 492 168: 492
Glosa
373
177, 177188
182
182, 18,6206 182, 186206
396 396 396
226271 225269
395 395 433 433
5 4,
434
C. Fontes Bizantinas
Hexábiblos
s/n/: 89, 93, 168
Paráfrase de Teófilo s/n/: 168, 220
Synopsis Basilicorum s/n/ 89122, 168
430
Écloga
438
D. Leges, Senatusconsulta, Colecções, Inscrições, Papiros, Fontes Medievais, etc.
407 437
97, 501
CIL
12 583, 19: 19 VIII 24094 : 344418
III :A8Se186
I; r8, I86, 187, 188 2: 18, 188 3: 188, 189
4: 190
5 : I9o, 1921 6: 191, 192221
VI I : 202
E. Fontes Modernas
Cód. Civ. Alemão: -- Brasileiro -- Chinês -- Egípcio - - Espanhol - - Etíope - - Francês - -
Grego - - Italiano -- Português - - Romeno
g0, IOI, 105
9o
go
9o 9o
412548
3346, 90
89, 9o go
9o go
- - Suíço : 9o --Português de 1867
arts. 1033-11036.1: 326
-- - art. 1535.°: 260..°
- - de 1966 art. 123°: 260310
(Anonimus)
De Rebus Bellicis: 411546
Ambrosius: 167, 429585
Augustinus : 167
Confissões 6, 8, I3ss.: 355442
Aristotheles: 282 Arnobius: 167
560
124.°: 260310 127.°: 260310
402 .0: 260310
403°: 260310
404.0:.260 310 610°: 326 611°: 326 612°: 326
-de Proc. Civ. Port. s/n/: 3346
art. 1..0: 188211 287.°: 187209 294.°: 187209 300°: 187209
811°: 188210
927°: 188210 928.°: 188210
Aulus Gellius (vid. Gellius) Aurus Victore
De Caesare I9, 1: 344418
Biblia
Job : 192219 Mat. III 5 : 3141 Sap. XVI 17: 191219 I Thes. IV 6: 192219
Cassiodorus: 354
Caesar: 167, 381
Cicero:2I1J, 2522, 152, 167,
183200, 285, 288, 352432
381, 382, 386501
Orationes
Rosc. Com.: 38ó501
Verr. : 342415
Philosophica
De Finibus 5, 21, 59: 286 De lure Civ. in Art.
Red.: 352432
De Legibus 1, 8 : 286'
16-20: 163162
2, 23, 59: 183200 3, 16, 35: 208244
De Off. 1, 7, 23: 241289
2, 24, 86: 286
2, 42 : 2935
3, 72 : 163162
1, 43, 94: 196"
193 : 383 212 : 382
De Part. Orat. 37,131: 163162
De Repub. I, 36 :382
2, 36, 37: 180192
5, 2 : 2731
Diaconus Paulus: 344418
Dionysius Halicarnen
sis: I80192
Dio Cassio: 167 Enodius: 354
Entropius Breviarium 8,
Festus: 167, 170, 207242
Gellius - 167, 176181, 352432
Noct. Attic. 13, 13, 1: 353434
14, 7 : 367471
Hesiodus: 26 Homerus: 25
Horacius: 2629
Hyeronimus Cronichon: 344 418
Isidorus de Sevilha:' 2521, 167 Lactancius: 167, 364
Livius (Titus) 252, 163162, 167
I, 21, 4: 241289
3, 31, 8: 180192 3, 34 : 3653
6: 180190 7: 18o190
9 46, 5: 290352 23, 9, 3:24I289
24, 8-19: 224 Minucius Faelix: 167
Odofredus: 354
Origines Etymologiae
Ovidius: 26
Peanius: 344418
Plautus: 167 Plato: 282
Plutarcus: 2522
Polibius: 167
II. FONTES NÃO-JURÍDICAS
De Orat.
5, I, 5: 448633
17: 344418
561
Probus: 167 Quintilianus: 167, 364 Seneca: 152 Suetonius: 167, 260
Duodecim Caesares. Titus Flavius Vespasianus: 260J10 Iulius Caesar 44, 2: 448632
Tacitus: 167
562
Absolutismo 79 ss.
ABVRNIus VALENS (L. Flavius) 378 Acaia (vid. Achaia) Acção executiva 188
Accio 73, 84
Achaia 77115 83
Acordo Ortográfico Luso-Bra
sileiro 195221
Acta Senatus Romani de Theodosiano publicando 412551
Actio 21g, 283, 335409,_483 Actionem habere 334407 Actíone teneri 334407
Actio doli 376
-fámiliae erciscundae 255 - f iduciae 243 - iudicati 187, 188 - Pauliana 326' - pe
rsonal is 240 - pigneraticia 244
- ex stipulatu 305, 305369 - ex testamento 253 254 Actiones 347 - adiecticiae 33
8 -civiles 336
-in facturo conceptae 337 - ficticiae 337 - in ius corueptae 336 - praetoriae 21
9, 336 - utiles,338
Actor 335409
Acursianos 97 Acúrsio 97, 501
Addictio 189, 189213
- hereditatis 229 - libertatis 221 Adiudicatio 334 Adnotationes 276 Adopção imperial
73107 Adoratio 79
Adpromissio 240, 247 -carácter acessório) 240288 -formas) 241
- clássica (não tern carácter subsi
diário) 241288 Adpromissor 240288, 241288
Adriano (imperaor) 222, 295,
343, 390, 390506, 391, 408, 408 534
Adrumeto 391
Adsessor 390506, 397
- do praefectus praetorio Advocacia 354 Advocatus fisci 397
AegYptus 77115
AELIUS GALLUS 457653
- MARCIANUS 397
- PAETUS x81 Aequitas 437
Aerariurn 7613, 207, 223
Aes 261
- alienum 26031
Annales 2, z6: 2935
3, 27: 180192
Terencius: 1167
Titus Livius (vid. Livius)
Valerius Maximus: 167
Varro: 3447, 167, 170, 367411,
381
De Ling. Lat.: 6796
Virgilius : 2619
2. - ÍNDICE DE MATÉRIAS
I90,
195
399
Afixação 209
África 7715, 87, 390, 391, 397,
432
-do Sul 105
AFRICANOS 85, 367, 378, 391, 392,
458
Ager publicus 6798, 32944'
Agere 283, 291
-per formulas 44, 83, 333 Agileu 503
Agnados 228 Alarico 358 Alciato 99
Alemanha (e o DR) 90, 92126 114 - (e a recepção) 94, 100 Alexandre Severo 399 Alexan
dria 357
ALFENUS VARUS 368, 377, 386,
457653
Algemas 189 Aljustrel 214
Aloandro 502, 503, 503799 515820
-(sua ediç. do C.I.C.) 504
Alpes Maritimae 77115
Alterum non laedere 7, 81, 339 América do Norte (e DR) 115 Anacronismos 512 Anatólio
456
Anco Márcio 177188
Aníbal 73
Anónimos 4869 A-normal 171178 Antémio 420567
Antinomias S14 Antioquia 357 Antiquo 208
Antologia 456650
-de obras 371
Antoninianus 85 Antonino Pio 396
António Agostinho 99, 498, 498780,
502, S,5820
- Conti 492
-Fabro 99, SI 3B1S, 5,5820 - de Gouveia 99
564
Apelido 6o, 376486
APIusCLAUDIUS(Caecus)290, 376 Apparatus 478
- (glossarum) Sol Appellatio 459 Appendix 469, 477 Aprovação pelo senado 208 AQUILIU
S GALLUS 385
Aquitania 7715
Ara pacis 74
Arábia 77115
Arcádio 8o, 86, 411, 430 ARCADIUS CHARISIUS 379 Archivio Giuridíco «Filippo SeraTini» 15
5
Argentina (e DR) 92126, 114, 115 Argumentatio 2521
Aristóteles 97 Arles 358
Arménia 77115
Armistitium 6593
Arqueologia 126 Ars 283, 284
Assassinato de um «donlinus» 220 Assessores (vid. adsessores)
Assyria 77115 Astraea 2629
Atenas 357
Atribuir 14
auctoritas 4869, 55, 72, 75, 209, 266 -e ius 55
-patrum 62, 6899, 70, 208 Audire 352
Augusto 73, 74, 84, 137, 234, 294,
390506
Aulus Agerius 335 AULUS GELIUS 191 - OFILIUs 386
Aurícula 20 Auris 20
Áustria (e DR) 92126, 114
Authentica 490
Authenticum 490 ss., 502, 503, 5016,
5o6804 507806
- (edições) 503
-(no Ocidente) 491
Autodefesa 188210 Autoridade 5684
Autorização responsável 306 Autun 358
Aval 306
Bacchanalis 224
Baixo-Império 219261,
Balança 27
-(emprego ,imbólico) 27 -(«jurídica») 25 --homem 2521 Baldo 98
Barbarismo So Bartolistas 98 Bártolo 98, 137
B síheos 436, 464, 468, 498, 502,
- (e o Codex) 502796
- (e interpolações) 511812
- (seu valor para integrar lacunas e
corrigir certos erros) 498781 Beirute 35, 87, 92, 357, 408532
438
Bélgica 77' 15
-(e DR) 90, 92126 114 Benefício da excussão 24,288
Benef cium excussionis 241288, 316 Bíblia 430
Bibliografia (Direito Comuns)
145 ss.
-'(Direito Romano, supervivên
cia) 145
- (Epigrafia jurídica) 146 - Papirologia jurídica) 146
-de Congressos de DR 136 ss. -de DR (guias bibliográficos)
143 ss.
-do Direito Penal Romano 134 --Privado Romano 130 - -Processual Civ. Rom. 133
-das investigações romanísticas
método; questões 134
- da tradição romanista no Oci
dente 135
Biblioteca Nacional de Turim 496 - de S. Marcos (Veneza) 499 -Vaticana 395, 434
Bibliotecas 353434 Bílancia 2421, 2521, 32 Bilanx 2421, 2521
Boa fé 319
Boise 19021
Bologmni 502, 503, 503798
Bolonha 94, 95, 96 Bona fides 3 1 ~ Bona materna 417561 Bourges 99
Brachylogus saris Civílis 507806 Brasil (e DR) 92126, 114, 115 Breves 443620
Breviário dc Alarico 407, 421,
421569, 432, 433, 433600 435
--(e CT) 421570
- -(e interpretationes) 435
Brevis Edicti 369477 Brevium 369477
Britannia 7715, 390, 396 Bronzes 167 Bucca 20
Bulgária 89 -(e DR) 114
Búlgaro 97, 459658
Bulletino dell'Istituto di Diritto Romano «Vittorio Scialoja» 155
Bulas 443620
Burocratização 354 Caesar 8o, 84, 388, 448
Caius 251301
Calendário romano 192221 CALLISTRATUS 364, 378, 480725 Campo de Marte 205236
565
443622
Canadá (e DR) 114
Canga chinesa 19021
Capacidade individual 386 Capere 254
Capite damnari 197
Capite poenas dabant 196, 197 Capite punire 197
CAPITO 84,176, 377, 387, 388, 389,
390
Cappadocia 77115
Cápua 84
Caput 196, 197, 228 Caracala 397, 399
Cárceres privados 189, 189215 Cardeal Gasparri 450, 450639 Caros políticos 443622
Caros Magno 94 Cartago 44, 83, 358 CASSIUS 369, 388 Casuísmo científico 118 Catenae
189, 19021 Catus 381
Causa iuridica 212250
Cautio 307, 3I037
Cavere 291, 381
Celebrar um negócio 203229 Celibato 417561
CELSUS 258307, 367, 368, 384, 358,
390, 400
CELSUS (filius) 378, 388, 390
Censo quinquenal 6798 Censor 65, 6798 Censura 6899
Centuriae 63
César (vid. Caesar) Cesareia 357
Chancelaria imperial 354 Checo-Eslováquia (e DR)
114
China (e DR) 92126, 114
Chirographum 307 Cibaria 79
Cícero 152, 202, 352
Cidadania 78118, 84
-(inflação) 85
566
Ciência jurídica 5684, 281, 351 ss. Cino de Pistoia 98 Cives 45, 241, 354
Civítas 59, 60, 6z, 76113
Civitates foederatae 78 - immures 78 - liberae 78 - stipendiariae 78 Classes soc
iais 416s61
Classicismo S0, 359 -(de GAlus) 394
Classicista So14 Clássico 5074
Claude Chevallon 50,716
Cláudio 234
Cláusulas testamentárias 376 Cleópatra 73
Clientes 6292
CNEUS FLAVIUS 82, 290 Codex 49, 406, 445626
- de 529 (vetus ou prímus) 87, 442
ss.. 44261, 445, 4455, 445627, 627,478,
483, 483738, 484, 485 -rapidez da sua feitura) 445625
-- (e o Codex de 534) 4455, 446 - de 534 (ou de Justiniano ou repetitae praelect
ionis) 36, 37, 3733,
87, 97135 275338, 347, 407, 4o8534 408535 408536, 420566 421, 445627,
455, 4600, 475, 483 ss., 487,
503, 505, Sob, 518 --(novo) 483 737
-- oficial do Império) 413 - - fontes utilizadas) 485 -- sistematização) 485
manuscritos) 498
edições antigas) 502
interpolações) 153, 518
os Basílicos) 502796
e o Codex de 529) 445625, 446
CT) 5027%
e as Novellae post-Theos.) 5027% e colectâneas canónicas) 502796
a Escola de Beirute) 485 745
--(Vocabularium) iso
- Egnatianus 502
- Gregorianus I66, 405, 406, 407 ss.,
410 0, 411, 413, 416, 42257%
426579, 430, 431, 438, 444, 445õ26445627, 485 --(e interpolações) I53, 520
- Herniogenianus 401, 405 ss., 406,
407, 408 ss., 409, 410, 4tI, 413, 416, 422370, 4z6579 430, 431,
438, 444, 445626, 445627, 485
--(e interpolações) 153, 520
- rescriptus 498
- Theodosianus 154, 4ci6, 4o8536
411 ss., 415, 417, 419, 422570
426579 430588, 431, 435, 438,
443, 444, 445625 5627 485,
516 --(Index) I5I
--(edições) 430590
--(editio princeps) 418 --(manuscritos) 418
--(e os manuscritos ocidentais)
421570
--(e interpolações) 153, 520,
520838
--(e o Breviário de Alarico)
421569
- -(e o Codex de 534) 502796
--(no Ocidente) 421
--(no Oriente) 421568
- - (e o Direito Espanhol) 421 Francês) 421 Italiano) 421 Português) 421
leis romano-bárbaras)
Código de Justiniano (vid. Codex
de 534)
Código Teodosiano (vid. Codex
Theodosianus)
Código Visigótico 488753
Códigos Civis actuais (c o DR) g1
Cognitio 274335, 276, 345 - extraordinaria 294356
Cognomen 59
Coisas 6292
- fungíveis 252
- não-fungíveis 252
Colecções Canónicas 502
Colecções de escritos de romanis
tas 140 ss.-de textos 155
Colectânea Grega 492 ss., 503
- - (edições) 503
Colectânea de ius (e Teodósio II)
478
Colectâneas canónicas (c o Codex
de 534) 502796
- de escritos de DR; homenagens; comemorações 136 ss.
de ei115» 422
- de eleges» 405 ss., 422570
- mistas (eius» e eleges») 425, 447 - post-clássicas 166 - pré justinaneias 403 ss.
- - ocidentais 426 ss., 426579
Colegialidade 64
Collatio (Legum Mosaicarum et
Romanarum) 153, 425, 428 ss.,
430588, 432, 516
- (e interpolações) 5.19
Collationes Sob, 506804
-(I0.° Collatio) 506, 506805
-(I I.° Collatio) 507
Collegae 6797
- minor -661`
Collegium pontificum 300 Colômbia (e DR) 114
Columbar 190217
Comentadores (Escola dos) 97 ss.
567
92126
--(e as
421 569
Codices 49
Codificação Justinaneia 360 Código (vid. Codex)
Código de Direito Canónico
450638-639
Código Gr n
oriano (vid. Codex
Gregoria
nCódigo Hermogeniano (vid. Codex Hermogenianus)
Comentário -ao edicto do pretor
(urbano) 386
Comentários (obras, tipo de) 369,
395, 438
-(a institutos isolados) 370 -ad leges 370 -a normas especiais 370 Comentários-tra
tados 465 Comes rerum privatarum 80119,
443622
- sacrarum largitionum 80i19, 443622
Comícios (vid. comitia)
- das centúrias (vid. comitia cen
turiata)
- das cúrias (vid. comitia curiata)
Comites 78117
Comitia 63, 75, 205236
- centuriata 63, 65, 71, 179 - curiata 63, 71, 179 - tributa 63, 71
Comitium 193221 Commagene 7713 Common Iaw 299363
Cómodo 85
Compedes 189, 189217
Compilação (novo tipo de litera
tura) 393
-de «ius» e de eleges' 447
- justinianeia (finalidade) 452 Compilações 86
Compiladores (sua linguagem)
S14816
Comprovação directa 511 Comunismo (e DR) 1o9 Conceitos (8úvaµlç, dos) 50 Conceptio verboru
m 303
Concilia plebis 71, 205
Concílios 450638
Conciones 207, 208
Concursus causarum lucrativarum
254303
Condemnatio 187, 3:4
Condictio 305369
- indebiti 238, 262315, 263
Confissão de dívida em juízo vid.
568
Confessio in lure 187, 188 Confusão de textos 49 Congiarium 79
Congresso de Verona 110, 483 Congressos de DR (bibliografia)
136 SS.
Conscnpti 6,
Conselho de Estado 443622 Consiliarii 390306, 399
Consiliatores 97 ss.
Consilium Imperatoris 443622 Consilium principia 390506 Consistorium 8o, 80119
Constantino (Imp.) 8o, 398, 410,
412, 44, 4t6, 423, 437, 443622,
444, 485, 516
Constantino (comes sacrarum lar
gitionum) 456
Constantinopla 51, 81, 87, 88, 89,
92, 356, 357, 456, 489, 492 Constituições imperiais 16, 49,
174, 268 SS., 275338 445626
- aplicação no espaço) 277 ss--(do ocidente para o Oriente) 415557.3 420
- -(do Oriente para o Ocidente)
415557.3, 420
Constituição (da Igreja Católica)
443 2
--<Providentissima Mater Ec
clesia» 450639
Constituições dos imperadores do
Sacro Romano Império 507
Constituit 203232
Constitutiones (vid. também Constituições)
- (Vocabulário) 15o
- extravagantes 50780ó
- Antoniniana 85, 273 - Cordi 87, 485
- Deo auctore 87, 456 - flé8wxsv 463
- Haec quae necessario 443, 4457
- lmpelw iriam maiestatem 87, 480,
482
- Omnem 87, 461
- Summa reipublicae 445, 445627
- Tanta 87, 463, 482
-- (trad. esp.) 525-549
- 1á8toxe0 461, 463
- (trad. esp.) 525-549 Constitutiones de Frederico I e II e
de Conrado 5o6B03
- Sirmondianae 418 ss.
Consuetudo (vid. também mores
ator m) 170, 170175, 171, 174,
Consulado 6899 Consulere 6797, 218
Consules 65, 6694, 6797, 207241, 339
Consultatio (Veter's cuiusdam lurisconsulti)153, 425, 430 ss., 432
-edições) 430590
-especial importância) 431 Consultationes 274
Continuidade do lus Romanum 88121
Contionem dare 208
Contubernales 78117 Convenire 226271
Conventio pignoris 244
Conventus iuridicus 78
Conversão dos negócios jurídicos
250299
Córdoba 115
Corpus 3653, 271
-luris 3549 3653
--Canonici 3550
--Civilis 13, 34, 3448, 35, 36,
3733, 4056 87, 89123 92, sol,
104, 107, 119, 122, 138, 166,
166170, 216, 357, 380, 428, 441 ss., 442, 448, 454 ss., 460660,
496
---edições) Soo ss. --- - de conjunto) 503
e a edi. de D. Godofredo) 504
e interpolações) 518
manuscritos) 99, 496 ss.
repartição medieval) 505
Correalidade 246297
Correias 189
Corrigir 339
Corrupção do Direito Romano
clássico 49
- dos livros clássicos 49
Corsica 77115
Costume (vid. também consuetudo e mores maiorum) 82, 169 ss.,
416360
Couros 427582
Cratino 456
Crédito 261311
Cremona 386
Creta 77115
Crime de alta traição 6188
= de parricídio 6188
Crimina (vid. também crime) 408
-gravissima 6188
Crise económica 86
- dos estudos do DR 105 ss.,
10514,
Cristianismo 32, 8o
Critério do estudo do Ius Roma
num 121
Critérios para descobrir os glose
mas 521
Critérios para descobrir as inter
polações 510 ss.
-critério diplomático - - exegético 514 --filológico 106, 513 --histórico 512 --legislativ
o 512 --lógico 512 -= lógico-jurídico 512 --sistemático 513 -- textual 511
Critérios da periodização do lus
Romanum 41 ss.
- critério político 41 - - normativo 42
- -jurídico (externo, interno) 42,43 Crítica interpolacionística (evo
lução) 515
569
514
Criticismo 181 Cuba (e DR) 114 Cujácio 99, 498,
515 820
Cumprimentar (fornia de ori
gem) 241289
Cupiditas distendi 367a7o Cura annonae 669' - ludorum 669` - urbis 6695
Curia 4055, 60
Curio (curião) 60
Cursus honorum 65, 6593, 340
Cyrene 77115 Cyprus 7715
Dação indevida 263316
Dada 77115
Dalmácia 390, 400
Damnas esto sinere 254 Dar 14
- (em sentido vulgar ou corrom
pido) 1s
Dare14, 252303, 2S3303
- damnas esto 253 -oportere 3359 Dari 242, 247, 253
Datio 243, 252303
- indebiti 263, 263316
-pignoris 244
De 22, 318J89, 362 De ruius 250300, 251
De diversis regulis iuris antiqui 459 De+finir 362
De+fraudare 318389
De legatis 476, 477
--et fideicomrnissis 4591,57
De+limitar 362
De re uxoria 476, 477
De+rogatio 204232
De+terminar 362
De testamentis 476, 477 --et codicillis 459 De tutelis 476, 477 ,
570
De verborum signlficatione 459 Decenviri legibus scribundis 178, 179 Deeeptae 23
7
Decernere 269 Decisiones 269
Decreta 269, 273, 276, - principum 269 Decreto de Graciano Decretum 269, 313 -(d
o pretor) 340 Defensor 192219
Definitiones 51, 352, 361, 362, 384,
385,436
-de PAPINIANUS 363458
deiuos 158
Delatio hereditatis 229 Deliberar 2521
Delito 195223
Demonstrar 2521
Demonstratio 334
Denegatio actionis 264, 313383, 336
Deuteronómio 429
Derecho 20 Derecte 22
Derectuni 24 ss., 2623, 31 Derectus 22
Dereito 20
Desenvolvimento comercial 386 - industrial 386
Deus 158, 79
Devedor 190218 Dexter 22, 2219
Dexterarum porrectio
Dicere 257106, 341
Dicionários de DR 148 ss.
Dies constituti 188210 - fasti 188210 - iusti 187, 188210, - nefasti 188210 - so
lemnes 193221
Digerere 36 S2, 367472
Digesta 36, 36 S2, 97135, 367, 36
387, 416, 455 ss., 456650, 40'
503
-(juristas que escreveram) 368
-de ALFENUS VARUS 387
- seu Pandectae (vid. também Digesto) 456
Digesto 3652, 37, 97135, 137, 152,
346, 347, 360, 380, 392509, 395, 401, 408535 432, 433600, 439615442617, 469, 478
, 480, 484,
488, 498, 505, 5o6803, 518
- (autores e obras utilizadas) 372,
458
- (elaboração) 456
- - (enorme trabalho realizado) 471 -rapidez da sua feitura) 470 - massas) 469
distribuição dos frags. dentro de
cada título) 468
- (método de trabalho dos compi
ladores; teorias) 470 - (rubricas) 471
(sistematização) 458
- (Index) .151
- Index dos autores citados 457653 -(modos de citar) 458, 460 - (divisão primitiva
) 459
- posterior) 459658 tripartida) 506803
- (obrigação de o adoptar nas
escolas e nos tribunais) 461
- (proibição de o comentar) 461,
464 ss., 468
- (manuscritos) 96, 497 ss.
(edições antigas) Sor
( - criticas 502791
-(edição crítica de MOMMSEN) so5 - (e interpolações) 152, s i 8 - (e a Lei das Citações) 478
igesto (no singular) 3653 368472
- «Esforçado» 5o6 - Novo 506 -Velho 506
Digestum Infortiaturn 501,
506803
- Novum 506, 506803
--(edições) sol
- Vetus soó, 506803
- -(edições) 501
Di 'dades 416`61
Di aiómata 438 Díke 29,359 Dinamarca (e DR) 114 Diocleciano 79 ss., 85, 408, 410,
410 540
Dione 2639
Dionísio Godofredo 35, 99, 5007B4,
504
- - (e a sua edição do C. I. C.) 504 Diplomática 126 Directum 24 ss.
Direito 24 ss., 172 -(noção etimológica) 16 -(noção real) 20
- e força 5582
-(como ciência) 283, 385 -(ciência e técnica) 286 -(como forma) 354 -(corno técnica) 283
emblema) 2522
incerteza do) 404 inscrições antigas) o local) 18
Direito administrativo 486
- Bizantino 89, 89123
- Canónico 98136, 450639, 498780 --(e DR) 92126, 98
- Comum go, 98, 507806
--(bibliografia) 145 ss.
- Concordatário 417561 -Eclesiástico 417561 -Egípcio tos
-Espanhol (e o CT) 421 -Feudal Longobardo 507 - financeiro 486
- fiscal 41756'
- Francês (e o CT) 421
-Germânico 109, 450638
- Greco-Romano 89, 89123 - Grego 105
- da igreja 450638 - Inglês 299363
571
501, 513515,
492
450638
2522
241289
194
-Italiano (e o CT) 421 - justinianeu 90, 421 - normativo 21
objectivo (conceito errado) 21, 22 - subjectivo 22
- pandectístico go
-Penal 417561, 486
--Romano (bibliografia) 134
- e Política 56
- Português (e o CT) 421 - Privo 486 --Romano 126 ---(bibliografia) 130 -Processua
l Civil Romano (bi
bliografia) 133 -provincial 78 -Público Romano 126
-Romano 7, 5579,
498780
--(actualidade dos seus estudos) 133 ss.
e Alemanha) 90, 92 126, 114
na América do Norte) 115
na Argentina) 92126 114, 115 na Áustria) 92126 , 114 na Bélgica) go, 92126, 114
no Brasil) 92126, 114, 115
--(na Bulgária) 114
--(no Canadá) 114
- - na Checoeslováquia) 92126,114 __a China) 92126 114
--(na Colômbia) I14 --(em Cuba) 114 --(na Dinamarca) I 14
-- (no Egipto) I14
--(na Escócia) 92126, 114 --(em Espanha) 92126, 114
--(nos Estados Unidos da Amé
rica) 92126, 114
--(na Finlândia) 114 --(na França) 90, 92 126
-,(na Grécia) 114
-- (na Holanda) 90, 9212ó 114,
115
- -(na Hungria) I14, 114148
572
--(no Industão) 114
-- (na Inglaterra) 92126, 114, 115
-- (em Israel) 114
-- (na Itália) 90, 92126, 114 -- (no Japão) 92126 114, 115
-- (na Jugoslávia) 114 --(no Líbano) 114 --(no Luxemburgo) I14 - - no Paraguai) I14
- -(na Pérsia) 114 -- no Perú) 114
-- na Polónia) 90, I14,115
-- em Portugal) 90, 92126
-- (na Roménia) 92126 --(na Suécia) 114
-- na Suíça) 92126 114
-(na União Sul Africana) 114
-(na URSS) 92126, 114
--(na Venezuel) 114
-(e os códigos civis actuais) 91 --método de ensino) 121 Ss. --matérias a versar no se
u estudo
actual) 121 SS.
--(as várias disciplinas) 125 -{Critério de ensino) 121 SS. -- disciplinas principai
s) 125 --(disciplinas subsidiárias) 126 --(disciplinas complementares)
126
- - (Etnologia) 126 --(Etnologia jurídica) 126
-- (orientação hitórico-crítica) 122 --(orientação dogmático-prática)
123
--(fases características do seu
estudo) 103 ss.
-- (elemento dogmático) 121 --(História Antiga) 126 --(várias acepções) 33 --clássico 5I1
--(razões justificativas do seu
ensino na actualidade) 117 ss. --(principal bibliografia) 127 ss. --Livros) 127
55. --Enciclopédias) 147 ss.
--(Vocabulários) 149 Ss.
-- ; supcrvivência (bibliografia)
145
--vulgar So, 5073, 90, 360
- - (e Direito Canónico) 92126, 93,
98
Direitos locais 49, 450658
- dos povos bárbaros 49
- reais 483
Disciplinas principais (de DR)125 - complementares (de DR) 126 - subsidiárias (de
DR) 126 Disposições (duma norma
dica) 125
Disputationes 366, 367 Dissuasiones 208
Ditador 6593, 207241 Ditadura 6593, 6899 Dius 158
Divisão do Império 8o
Divus 235217
Dizionario Epigrafico di Antichitá
Romane 149 Do 252
Do lego 251
Doação 212250
Doctor in utroque lure Dolo (vid. dolus)
Dolus 316, 319390
- bonus 317
- malas 317 Dominado 79 ss.
Dominium 194, 329403
Dominas 79
Donandi causa 238
Doroteu 35, 387, 449. 456,
481, 482, 484
Drech 25 Dret 25 Droit 25
óúvaµtç (dos conceitos) So
Duplicatio 334408
Edições do Corpus luris Civilis
500 SS.
- - - das Institutiones Sol ---antigas do Digesto Sol ----do Codex Soe ---dos tr
es libri 503 ---antigas das «Novellae» 503 ---do Authenticum 503 ---da Colectânea Greg
a 503 ---crítica do Digesto 502791 ---- do Digesto de MoMMSEN 505 ---de conjunto d
a compilação
justinianeia 503
----do Corp us luris Civilis de
D. Godofredo 504 ----do C.I.C. de Aloandro 504
--- (de MOMMSEN-KRÜGER-SCHSLL-KROLL) 504
Edições das Leis dos Longobardos
503
Edicta 270, 273, 276, 410 543 - ou leges generates 414, 415
Edicto (vid. também Edicto) 270 -de Caracala 85, 273, 353 - dos magistrados 298 -
do pretor (urbano) 369 --(seu poder vinculativo) 342 - de outros magistrados 369
Edictunl(vid. também «edicto») 78,
408
- alterutro 341414
- deferis 341414
- de pretiis 341414
- de rebus creditis 341414
- novum 342 -perpetuam 342 - repentinum 342 - tralaticium 342
- Ordinatum (vid. Edictum Perpe
tuum)
- do Pretor 339 ss. - - (sentido amplo) - - (espécies) 341
Edictum Perpetuam 343 ss., 368, 369,
392, 416, 478 --(reconstituições) 345 ss.
---(de LENEL) 347426
573
98136, 42958s
Jun
98136
479,
341414
Edictum Theodorici 4219, 425
Edil curul (Edilidade Curul) 65,
68, 6899, 298, 341413, 369
Egipto 7716, 84, io8
-(e DR) 114
Elemento dogmático (do DR) 121 - histórico (do DR) 121 Eligere 201
Empobrecimento 315386 Encabeçar 228, 250300 Enchiridion 364 Encíclicas 443620
Enciclopédias de DP, 147 ss. Entregar 14
Ensino do Direito Romano em
Grego 357450 ---em latim 357450 Epigrafia 498780
-jurídica io8 --(bibliografia) 146
Epilogus 488, 490
á7rtxelpriµa 2521
É7Ct6r LTN 284
Epistulae 274, 367, 367470
Epitome Codicis 498
- Gai 425, 433
- luliani 489 ss, 503, 507806
- v15190t1c0 418562
Época absolutista 41
- arcáica 43, 82, 83 -clássica 46, 83, 84, 85 - -central 47
- -tardia 47, 398
- do direito vulgar 4867 - imperial 41 - justinianeia 51, 87 - monárquica 41 - pos
t-clássica 48, 86 - pré-clássica 47 - republicana 41
Equity 299363
Ergünzungsband zum Heidelberger Index zuni Theodosianus 151 Ergânzungsindex zu Ius u
nd Leges
151
574
Escócia 105
- (e DR) 92126, 114
Escola de Direito (vid. também
Escolas) 4869
- (necessidade) 353
-(valor) 359
-de Alexandria 357 -de Arles 358 -de Autun 358
-de Beirute 357, 409, 436, 447,
448, 456, 479
--(e feitura do Codex de 534)
485í4s
--(c as Institutions) 483 734
--(e as interpolações no C.I.C.)
518
- de Bolonha 96 ss., 491, S21 - de Cartago 358 - de Cesareia 357
- de Constantinopla 354, 356, 357,
436, 444, 447, 448, 456, 479 - de Ravena 94, 355, 356 -de Roma, 354, 3550, 357 E
scola culta 99, 515820
dos glosadores 96
-do mos gallicus S I S
- dos post-glosadores 97 ss. - Histórica-Alemã 100
- muciana 385, 386499
- do Direito Natural 99 -Proculeiana 84, 353, 377, --(juristas) 388
-sabiniana 84, 353, 377, 390 --(juristas) 388
--e proculeiana (diferenças) 387
-serviam 385, 386499
Escolas de Direito (vid. também
Escola) 49, S I76 488
-do «Ius Romanum» 351 ss. --(programas) 451
-do Ocidente 359
- - do Oriente 359, 478 --das províncias 358 Escoliastas 86, 358
Escólios 89122, 92, 438
- do Anónimo 168 - de TALALEU 407 Escravos 6292, 83, 84
Espada (símbolo na justiça; signi
ficado) 28, SS82 Espanha (e DP,) 92126,
- (e a recepção) 92
Esponsais 305370 Esquerdo 2319
Estado bizantino 356 Estado-cidade 58 Estado-território 58
Estados Unidos da América (e
DR) 92126, 114
Estatutos das cidades 78
Estilo empolado (dos compila
dores justinianeus) 513 Estoicismo 287 Estudos clássicos 109
Estudo da compilação justinia
neia 460660
-critico das fontes 517828
- do lus Romanum 87, 91 ss. Etimologias jurídicas (interesse) 16 --(valor das apre
sentadas pelos
juristas romanos) 136 Etnologia 126 -jurídica 126 Eurico 358
Ex+dicere 270 Examen 25 Examinar 252'
Exceptio 313383, 334, 336, 347
- senatusconsulti Macedoniani 264 ---(a quem era concedida) 264 ---(casos em que
era negada) 265 - - - (era perpétua) 264 - - Velleiani 237
Excutere 24,288
Execução duma dívida 186 Exegese das Fontes do Direito
Romano 125
Exheredare 229 272 Êxodo 429
Expedientes do Pretor 332 ss.
- - baseados no seu imperium 302 ss. ---na sua iurisdidio 335 Expromissio 240, 2
40286 242, 247 Expromissor 242
Extra ordinem 345 --cognitio 274
Extractos dos textos 516
Factores externos (da crise dos
.estudos de DR) 108 ss.
- internos (da crise dos estudos de
DR) 105
Falsa indicação 258308 Família Romana 59 Familias 59
Fase in lure do processo 69, 274
p&YW 162
Fide iubeo 242 Fideiussio 235, 242, 310 Fidepromissio 235, 241
Fides 2629, 241, 241289 Fiducia 236, 243, 512
Filiaejimilias 228, 265 Fi1ii(anú1ias 228, 261, 264318
Filologia (ciência auxiliar do
Direito Romano) 177, 514 -Grega 161
-Latina 167 Filosofia 287
-do Direito 287 350 Finlândia (e DR) 114 FIRA 154
Fiscus 76'13
Florença 96
Florentina (vid. littera Florentina) FLORENTINUS 364, 378, 438 Fons 162
Fons iuris 162
Fonte 162160
Fontes (estudo crítico) 517828 - bizantinas I54 - cognoscendi 164 --claccificação) 16s
-de direito 82, 162 - - (especiais) 163 - - do lus Praetorium 297 ss.
575
i
114
378
-elaboradas no Ocidente, depois
da queda do Império 167
- elaboradas no Oriente, depois do
«Corpus Iuris Civilis» 168
- exsistendi 164
- extra jurídicas 167
- extra justinianeias 166 -gregas 387
-jurídicas de DR (índices) 151 -justinianeias 154, 166 - mani festandi 164
- não-jurídicas de DR (índices) 152 - préjustinianeias 153 --(interpolações) 51g
- provenientes do mundo romano
166 Força 32
- e Direito 5582
Forma jurídica 251
Formas políticas de Roma 58 Fórmula processual 334
Fórmulas (poder mágico ou reli
gioso) 251301
Formulários 376, 381
Foro de Constantinopla 456
Forum 178, 193221, 209, 341, 355 - nundinarum 193221
Fragmenta Vaticana (FV) 425, 427
ss. 432
(finalidade) 428 -=(matérias) 428 --(sistematização) 428 --(e o Digesto) 428 - - (inte
rpolações) SI 9
- Vindobonensia (Ulpiani) Fragmentuin Leidense 432 França 434
- (e DR) 90, 92126, 107
-(e a recepção) 94 rppdvV)alç 27, 282
Funcionários menores 416361
Fraude (Fraus) 266, 317 Funcionalismo 75, 354
576
Gaio de «Autun» 433
GAIUS 476b, 344, 346, 364, 369, 370, 370478, 376, 378, 384, 388,
393 ss., 422, 424, 429, 433, 439,
457653, 458, 478, 480
Gaius. Institutions (vid. Institu
tions Caí)
Gaius poster 394 Gália (vid. Callia) Gálias 44
Gallia 435
Gallia Cisalpina 7715 Gallia Lugdunensis 7715 Gallatia 7715
GALLUS (C. Aquilius) 376 Garantia 239 -pessoal (figuras) 240 -real (figuras) 242
ss.
Garrafeira 258107
Gauleses 18o Gegenstand 16
Generalização 5116
Génesis 429 Genitor S9, 261
Cens 59, 193, 26,311
Genus 384
- credenti 384 Germânia 390 Germania inferior -superior 77
Glosa (vid. também glossae) 95,
97 ss., 395, 509 ss., 520 ss. -(noção) 509
-(e glosema) 520 - interlinear 521 -marginal 521
Glosa de Acúrsio 97, Sot Glosadores 96, 383, 366467, 392,
SOI
Glosemas 298, 509 ss., 5IOB09, 521,
522 SS.
- (noção) 509 - (e glosa) 520
- cntenos para os descobrir) S21
-(nas fontes jurídicas pré justi
nianeias) 522
- (índices) I52
Glossae extrinsecae 521 - intrinsecae 521 Glotologia 126
Gô'êl 192219
Governador do Egipto 77116
Governadores das províncias 76 ss.,
298, 341413, 369
Gramática 354
Grécia 83, 355, 397 -(e DR) 114
Grego 357 450 466, 487
Gregório XIII 3550
Gregório Aloandro Melzner
501, 503
Guerra social 84 Guerras civis 84 Gueta 397
Guias bibliográficos de DR 143 ss.
Habere nomen 2611'1
Handlexikon zu den Quellen des rõmischen Rechts ISi
Haurire 164164
Heidelberger Index zum Theodosia
nus 151
Helenismos 513
Helenização do alas Romanum»
so
Heliogábalo 399
Herança a título de inventário (vid. também hereditas) 213 Herdeiros (vid. heredes)
Heredes 228, 250)00
- intestati 228
- necessários 229
-sai 228, 229, 230, 230273
- testati 229
- voluntários 229 Hereditas 347 - iacens 229
Hermógenes 409, 409 537 HERMOGENIANUS 379, 400, 409,
409537
Hierarquização do áus» 423 Hipoteca (vid. hypotheca)
- (e coisas móveis) 245295 Hispania 44, 83, 87
Hispania Baetica 77115 - Tarraconensis 77115
História antiga 126
-do Direito Romano 125 - - - (bibliografia) 129
-dos Direitos Antigos 126 -das Fontes (bibliografia) 129
-jurídica 3448
Holanda (e DR) go, 92126, 114,
115
- (e a recepção) 94
Honeste vivere 7, 81, 3140,
Honestum 282
Honor 298
Honorários dos professores de
Direito 355 Honório 8o, 86 Horácio 180, 386 Hostes 45 Hugo Grócio 99 Hugus 97
Humanae Vitae 443620
Humanismo 515
Humanitas 437, 513815 Hungria (e DR) 114, 114148 Hypotheca 236, 244
IAVOLENUS (PriSCUS) 85, 367, 371,
377, 388, 390, 458
Ignorantia iuris 265320 Igreja Católica 8o, 443620
--(e DR) 93
- - e o Estado (normas) 417
Mata 244 ,/lustres 443622
Ilogismos 512
577
i
99,
339
153
7715
Illyricum 77115
iluminismo 99
Imperator 74
Império (forma constitucional de
Roma) - vid. também Impe
ríum Romanum 72 'ss. -Bizantino 81, 93 -Romano do Ocidente 81 - - do Oriente 81
Imperium 64, 66, 71, 74, 75, 78, 82,
299, 311, 337, 355
- (a quem competia) 66
-(e Ias Romanum) S4 - militare 64
- proconsu,lare maios 74, 74110, 269
Imperium Romanum (vid. também «Império») 5579
Impostos 86, 417561 In fide 192
In lure cessio 253303
In ius vocatio 195
In tabulas publicas referre 223 Incerteza em Direito 423571
Index Interpolationum quae in Ius
tiniani Digestis inesse dicuntur 152
Index dos juristas citados no Di
gesto 457653
Index Verborum Graecorum quae ín
Institutionibus et Digestis Ius
tiniani inveniuntur 151 Indices 463, 465 ïvBtXCS 463, 467
Indices de DR 151 ss. Industão (e DR) 114
Inelegantia iuris 512
Influências helenísticas Io6, 353, 359
Infortiatum 506, 506803
Inglaterra (e DR) 92126, 114, 115
- (e a recepção) 94
Inscrições (rubricas edictais) 5I3
Inscriptio (inscriptíones) 271, 417,
431, 489
-das constituições (abreviaturas) 486 746
578
Insolvência 315386
Instituere 3651, 364
Instituições (vid. também insti
tutiones) 364, 368
- de Direito Romano 125
Institutas 364
Institutiones 3651, 363 ss., 368 - (juristas que escreveram) 364
-de CALLISTRATUS 48o725
-de FLORENTINUS 480
- de GAIUS I54, 373, 394, 395,
433, 434, 439, 477, 480, 516
- - (edições e traduções) 386 -- e interpolações) 520 --vocabulário) I5o
- de Justiniano 36, 3753, 97"s,
395, 396, 439615, 460660, 475,
479715, 479 ss., 480, 484, 503,
505, So6, 518 -elaboração) 479 --fontes utilizadas) 480 ss. --(sistematização) 480 ss. -
- (publicação) 479 -carácter normativo) 482
--(em latim; razão) 468674
- - (manuscritos) 496 --(edições) 501
--(modo da elaboração) 482 - - (massas?) 483 --(interpolações) 518
--(Index) 151 --(vocabularium) I5o
- - (e Res Cotti ianae) 439615 -de MARCIANUS 480 - Oratoriae 364 -de PAULUS 480
-de ULPIANUS 480
Integrar 339
Integri restitutio (vid. também res
titutiones in integrum) 313
Intelligere 2420
Intentio 334 Intercessio 6593, 234
-.(conceito; espécies) 235 ss. - cumulativa 245
--(modalidades) 239
- privativa 247
- tacita 247
Interdicta 327 ss., 347
- (espécies) 328
-recuperàndae possessionis 331 - retinendae possessionis 329 - utrubi 330
Interdictum (vid. interdicta) - fraudatorium 320, 322 -de precarío 331 -unde vi 3i
1 - utile 325
- vi armata 331
Interdictos (vid. também) inter
dicta 327 ss.
- duplos ou simétricos
- exibitórios 328 -possessórios 329 -proibitórios 328 -restitutórios 328
- retinendae possessionis 329, 330 -uti possidetis 330
- simples 331
Interpolações 99, 1o6, toé, 392,
439, 477, 509 ss., 5II
- (noção) 509
- (índices) I52
-(atitude a tomar) 517
- (critérios para as descobrir) 5 io ss. - (evolução da crítica) 515 - (no Corpus Iuris
Cívilis) si i, 518 - - - - (nas Institutions) 481, SI8 - - - - (no Digesto) 518
- - - - (no Codex) 484741, 518
-(nas fontes pré justinianeias) 518 - - - (no Cód. Greg.) 520 - - (no Cód. Hermog.) 52
0
-- na Co) 519
- - - no CT) 414, 520 - - - (nos FV) 519
- - - (nas Institutiones de Gaio) 52o
--nas PS) 519 ---nos SS) 519 - - - (nos TU) 519
-justinianeias 510810
-omissões 387 -pré-justinianeias 515
- interpolações justinianeias) 516 -- quando foram feitas) 516
no C.I.C.) 518
em várias fontes extra justi
nianeias) 516 Interpolacionística 515, 517
Le Interpolazioni risultanti dai confronto tra il Gregoríano, l'Ermogeniano, il Te
odosiano, le Novelle Postteodosiane e il Codice Giustinianeo 1s23
Interpretar 339
Interpretatio (vid. também interpretationes) 172, 172180, 178, 185,
290, 300, 382, 406, 435, 467,
468674
- grega 468674
Interpretationes (vid. também interpretatio) 434 ss.
-(no Breviário de Alarico) 435 -(no CT) 435
-(nas PS) 435
Interregnum 62
Interrex 62, 2o7241
Intervencionismo imperial 86 Introdução ao estudo do DR (bibliografia) 127 ss.
Instructions 3611 Invecta 244
Investigação romanística; método; questões (bibliografia) 134
1ds 2833
Ioues 19, 28
bus 19, 28, 2833 Iovestod 19 Iavis 19, 26, 28
Irnério 96 ss., 491, 506803
Irretroactividade das leis 419565
ísds 29
iaOS 29
Israel (e DR) 114
Itália 87, 421, 432, 491
579
331
- (e DR) 90, 92126, 114 - (e a recepção) 94 lubere 18
Iubet 203212 Index 294356
ludicare 69 ludicare iubere 69
Iudicatio 187, 188, 189213
ludícíum publicum 207
IULIANUS 85, 256, 343, 3432'7,
344, 346, 368, 378,388, 390, 391,
392, 396, 398, 400, 458, 489 IUNIUS BRUTUS (Marcus) 376, 383 Ipiter 1S, 26, 28
lura 422570
lura. Rivista Internazionale di Diritto Ronano e Antico 155
lurare 158, 2011 luratum 2011
luridícus quaestor (vid. também
quaestor sacri palatii) 443622
lurisconsultus (vid. também iuris
prudentes) 3142, 352
lurisdictio 3142, 69, 78, 82, 299
- (a quem competia) 66 Iurisperitus (vid. também iuriscon
sultus) 3142
Jurisprudentes 287, 289, 340, 353, 368, 381, 382, 434
- (=iuris auctores) 292
- (funções) 291
lurisprudentia 3142, 56, 85, 172, X72180, 174, 178, 185, 202, 212250 280 ss., 28
7, 294, 358,
369, 383, 386, 388, 398, 406 - (evolução histórica) 289 - (consagração legal) 293
-(como fonte de direito) 292,
293354
- (inflação) 85
(laicização) 290 ss., 376 -cautelar 381 -clássica 393 - e Filosofia 287 - e Lógica 288
580
- pontifuia 178189, 363, 385
Ias 24 SS., 28, 2833 3142, 51, 55, 69100, 203, 219, 275, 404, 413,
414, 422570, 423, 4z6579, 429,
430, 434, 437, 438, 439, 442,
446630, 447631 461
- (noção etimológica) 16 -(relacionado com deus) 158 -(sentido laico) 1S -(sentido rel
igioso) 1S, 158 -(noção real; várias acepções) 20 - (o local) 23
- (o saber jurídico) 23 -(cultura) 353
-(como forma de cultura) 353
- (ignorantia iuris) 265320
-novum (vid. também «leges») 17,
216, 275, 336, 345 --(hierarquização) 423 --(Index do) 151 -e auctoritas 55
-Aelianum 18I, 381, 382491 382492 - agendi cum populo 207, 207241 - civile 19, 4
5, 161, 165, 270, 299,
299363 368, 437, 469 - commune 98
-consuetudinarium 200
-dicere 69, 172179, 352
-edicendi 341
- edictale 298
-Flavianum 82, 181, 290, 376, 381
-gentium 45, 83, 242, 299361
- honorarium 161, 270, 298, 299, 299363 368
- intercessionis 64, 6694, 74109, 339
- liberorum 231, 417561 - legitimam 200 - magistrale 298
- non-scriptum 172 -normativum 21
- nundinarum 193221
- objectivum 17
- paciscendi 191
- Papirianum 176 ss.
- Praetorium, 161, 165, 174, 279 ss.,
299, 345, 437
- privatum 203 -subjectivum 17
-quiritium 1S, 4055 4S, 82
-respondendi ex auctoritate princi
Pis 75, 85, 291, 293, 294, 390,
394, 457
- Romanum 34, 3448, 39 ss., 82,
161, 200, 299761, 351, 353, 354,
437
--(colecções) 89 --(periodização; critérios) 41 -- épocas históricas) 39 ss. -- estudo) 88 ss
-- (renascimento) 96 --(supervivência) 88 ss. -- e Imperium 54 --(e leis mosaicas
) 429 - Sacrum 83
- Vetus (ou simplesmente, ius, con
traposto a «ius novum» ou
«leges») 216, 275
- vitae et necis 59 Iusiurandum 1S lussio 242
lussum 18, 71, 176187 203232, 219,
242, 306
lustitia 13, I34, 2420, 26, 2629, 29, 289 lustitium 6593 186
lustum 15 luventus 480
jacobus 97
Japão (e DR) 92126, 114, 115 - (e nível cultural) 114149 Jerónimo (S.) 192219 429585
João (compilador do «Codex» de
534) 485 Jous IS
Jovis 158
Júlio César 386 Jugoslávia (e DR) 114
Juízes 272
Juliano vid. IULIANUS) Jupiter 158, 28; juramento 15 Jurar 15
Jurisconsultos Romanos 375 ss. --(número) 379
Jurisprudência (vid. também iurisprudentia) 294
- humanista 99
Jurisprudenz 4869
Juristas (vid. também iurisconsul
tus e iurisprudentes) 86, 287, 359
- privilegiados 457653
Jus. Rivista di Scienze Giuridiche -nova série 155 Justiça (vid. também iustítita) 134,
2420 25, z6, 5582 -e espada 5582
Justimano 51, 81, 87, 88, 92, 97135,
271, 307, 356, 394, 398, 438,
444, 448, 452, 456650 457653
459, 464, 476, 478, 479, 480,
48o723, 4$1 483737, 484, 484739,
487, 489, 491, 511, 516, 518 - (classicista?) 451642
-(legislador) 481
- (lembrado em 1965) 452644 -(personalidade) 450 ss.
- (seus planos) 442
- (plano inicial) 442 ss.
- (plano posterior) 446 ss., 446630
- (e a proibição de comentar o
Digesto) 464 ss. Justino I SI, 87, 443 Justino II 492
xará 7só84 463, 467 Kiev 114
LABEO 84, 242, 343, 365, 367, 369, 370, 372, 377, 387, 388, 389,
390, 391, 391507
581
Labeo. Rassegna di Diritto Romano
155 Lagh 201
Lances 2421 32
Latim 109, 357450 487
Laurentianus 499783
Leão de Narbona 358
Lectio senatus 6798
Legados (espécies e respectivas fórmulas). Vid. também legatum 250
Legare 201, 250
Legatário 250300 Legatarius 25030D Legati Augusti 77116
Legati Augusti pro praetore
Legati legionis 75113
Legatum 202, 250 -per damnationem 253
-per praeceptionem 254, 388
- per vindicationem 251 - sinendi modo 254 Legere 200, 201
Leges 16, S1, 56, 176'87 213,. 214,
275, 404, 413, 429, 431, 437,
438, 443, 447631, 459658
-ou ius novum (Index) is,
-geminatae 415559 511, 511811
-generates 276, 411, 412, 416,
- Liciniae Sextiae 68, 68" - imperfectae 211
- minus quam perfectae 211 -particulares 411 -perfectas 211
-publicae. (Evolução) 205 - regiae 82, 176 ss., 177 - rogatae 215
- - (fases do processo de formação)
207 ss.
- - (partes) 210
--(sistema de designação) 209 --(quanto à sanctio) 210 --(Exemplos) 211 -sacratae 21o
- Saeculares 436, 437 ss.
582
- speciales 276, 444
Legis actiones 332, 381, 382
--per manus iniectionem 187, 188
193221
Legislação romano-bárbara 49,
358
Lego 252
Legum interpers («quaestor sacr.
palatii») 4436
-peritus («quaestor sacr. palatii»)
443622
Lei (vid. também leges e lex) 174,
201226, 271
- das Citações (de 426) 86, 394, 398,
412, 424, 447, 478,
- - (e o Digesto) 478
Lei dos reis vitoriosos (Constan
tino, Teodósio e Leão) 438
Lei das XII Tábuas 82, 175 Ss.,177,
200, 290, 382492
- -(e a tradição) 178
--(data) 182
- - (divisão, conteúdo e impor
tância) 183
--(texto) 182
--(e a ínterpretatio) 184 --(táb. III) 185 Libelli 274
Leibnitz 99
Leis (vid. também leges) 275338,
370
- (irretroactividade) 419565
- imperiais (vid. também consti
tuições imperiais) 438
- dos Longobardos 503 - -(edições) 503 - de Sólon 179 Leninegrado 114 Levítico 429
Lex (vid. também leges e leis) 174,
176187 200, 202, 203232
-(noção etimológica) 200 -(noção real) 201 - (espécies) 202
- Aebutia de formulis 43, 300,
3376 333, 336
- animata 271 - Cincia 212
- Citationum (vid. também «Lei das
das Citações»), 424, 425516, 429,
442617, 446630, 457653, 458, 476,
478
- curiata de imperio 63, 270326
- dota metalli Vipascensis 214
- duodecim tabularam (vid. Lei das
XII Tábuas)
- Falcidia 213
- lulia de adulteriis 371 - lulia et Papia 370 - e ius 202
- Poetelia Papiria de nexis 212 - privata 200, 202 - provinciae 77 -publica 203,
204 - rei suae dicta 202, - rogata 205
Lex XII Tabularum (vid. também
«Lei das XII Tábuas*) 370, 382
- Romana Burgundionum 421569, 425 -- Visigothorum 421569, 425, 433
- - - (manuscritos) 418
---(e as Nov. post-Teod.) 420,
421
Léxico jurídico romano 123
Líbano (e DR) Líber 406 - Authenticorum - Gal 433 -singularis 363 - - Enchiridii 381
-- Regularum de ULPIANUS 434
Liberdade 6, 197, 238 Liberatio 191
Libertador 192219
Libertas 197
Libra 2521 Libri 363458
- Aureorum Gaii 425, 439 - Digestorum 367, 408
- ad Edictum 469
- -de ULPIANUS 477
- Feudorum 506, 506805 507806 - Legales 507806 - ad Sabinum 469
- terribiles 459 Licínio 410
Ligare 189216, 201
Língua grega 126
-latina 126
Linguagem corrente 385 -jurídica 177 Literatura grega 126 -jurídica 361 ss., 370 - -
romana 372 - - - clássica 388 -latina 126
Litis aestiniatio 187
- contestatio 246, 246296 Littera Bonaniensis 497
- f orentina 96, 97135, 497, 498,
502, 504, S14
--(leitura da) 514 -pisava 96, 497 - vulgata 497
Livro Siro-Romano 425, 436, 437,
438
Livros (de DR) 127 Ss. -jurídicos 358 Lõg 201
Lógica 288
- e Direito 28835'
Logística 289
Lombarda 507806
LONGINUS (C. Cassius) 377 Lucrum nuptiale 417561 Luctuosa hereditas 226 AúaLS 50
Luxemburgo (e DR) 114 Lyon 358
Má fé (vid. também mala fides) 319
Macedonia 77'15
583
75113
214
444
114
490
MACER (Aemilius) 371, 379 MAECIANUS (Volusius) 378
Maevius 251301
Magia dos números 459659
Magister iuris 352 - memoriae 413
- militum 443622
- officiorum 80119
444623
Magistrados 64, 72
Magistratura 64
- extraordinária 6593 Magistratus 64, 74, 269 Magistri scriminiorum 413
Magna Glossa de ACÚRSIO 97, 521 Magúncia 50,, 502
Maiestas 64, 72, 75
Mala . fides (vid. também «má fé»)
319, 319390
Mancipatio 202, 253J03, 330
Mandata 274, 276
MANILIUS (Manias) 376, 381, 383 Manum sibi depellere 192
Manumíssio 221, 221265
- testamentaria 221265, 229
Manus iniectio 188, 189, 193, 194, 195, 253, 254
--directa 194223, 195224
-- indirecta 195
Manuscritos de Berlim 429 - da Collatio 429
- (do CT) 417
- das diversas partes do Corpus iuris Civilis 496 ss.
- - - - das Institutiones 496
- - - - dos Digesta ou Pandectae
497 ss.
- - - - do Codex 498
- - - - das Novellae 498
- da LRV 418
- (Laurentianus) 499783 503 799
- (Marcianos) 499783, 503
- medievais do Digesto So65'3 -ocidentais (do CT) 42,570
-de Tercelli 429
584
- de Viena 429
- vulgares 505
MARCELLUS (Ulpius) 85, 365, 368,
370, 371, 378 392509, 396ss., 400,
458
MARCIANUS (Aelius) 363, 364,
371, 379, 438, 458, 499783 MAURICIANUS 392509
-Marco António 84 Marco Aurélio 396, 397
Mário 84
Mármores 167 MARTINUS 97
Massas (teoria das-no Digesto)
469 ss.
- appendix 469, 470 - casuística 469 - edictal 469, 477 - do ius civile 469
- do ius praetorium 469 - papiniana 469 - sabiniana 469 - da «Varia» 470
- (teoria da distribuição) 472 Material arqueológico jurídico 167
Mauritania 77115
Maximiano 8o
Mecânica dos conceitos 50 Mediterrâneo 44
MENA (compilador do Codex de
534) 485
MENANDER (Arrius) 371, 379
Mercados da cidade 193221
Merces 244
Messopotamia 77115
Mestres de escola 358 -de Direito 355
Método 124, 124157
-nas ciências histórico -jurídicas
124157
-jurídico 124157
Milão 8o
Minas de Aljustrel 214
Ministro da justiça 443622
Missiones in possessionem 326 ss.
MODESTINUS (Herennius) 4667, 86, 365, 371, 379, 400, 422, 424,
429, 438, 456650 478
Moeda (desvalorização) 85 Moesia 77 115
Momentanea 2521
Monarquia 59, 370 -absoluta 86 Monte Cassino 498 -Sinai 438 Montpellier 95 Moral
31, 172
Mores maiorum 82, 170,
171, 172, 177, 179, 200,
- - (fases) 173 Mos 170 -gallicus 99, 1o8 - italicus 99
- maiorum (vid. mores maiorum) Moscovo 114
Mostrar 2521
MUCiUS SCAEVOLA (Publíus) 376, 383
Mulher casada 220264
Mútuo 384
Nacional Socialismo (e DR) 109
NAMUSA (P. At fidius) 368473, 377, 387 503
Nascente (sua relação com a metáfora «fontes» de direito)
162160
Nascentes do ser jurídico 164164 Natura 287
Natureza 287 Navarra 105
Negócio jurídico abstracto 307 - - causal 307
Negócios jurídicos (conversão)
250299
NERATIUS (Priscos) 363, 367, 370, 377, 388
Nero 234
NERVA (ater) 377 NERVA Aias) 377
Nervus 189211, 190217
Nexurn 195, 195224 212 Nicomédia 8o, 4o8S32
Nobilíssima urbium 356 Noção etimológica (valor) Nomen 59, 261 11 376468 -gentilicium 59
v6µoS (nómos) 171, 202226
Non-cives 45, 82 Non liquet 208
Nonae 192221 Noricum 77115
Normas jurídicas (carácter coer
citivo) II
- sociais (necessidade da sua exis
tência) 8
- - (espécies) 9
Normalidade 171178
Notae ad Papinianum
-de Paulus 398 -de Ulpianus 398
Notas (vid. ' também «escólios»)
438
Notitia 285
Nouvelle Revue Historique du Droit
155
Novatio 242
- subiectiva 247
Novelas (vid. Novellae) Novelas gregas 503
Novellae (de Justiniano) 36, 37,
3753, 87, 89, 97135 487 ss., 492,
5o6
- - (colectâneas privadas) 488
- - (manuscritos) 498
--(edições antigas) 503 --extravagantes 492 - - vulgatae 492
--(formas antigas de as citar) 493 --(uso moderno de as citar) 493 - (de Justino
II) 492
585
443, 4436,
17017s
,
210
312781
189214,
423
-(de Tibério II) 492
- post- Theodosíanae 419 ss., 445
- -(e o Codex de 534) 502796 Novem 192221
Novíssimo Digesto Italiano 147 Nudae repromissiones 308
Nueva Enciclopedia jurídica Espanola 147
Numa Pompílio 177188
Números 429
- 7 (sua magia) 459659 Numerare pecuniam 262313
Numerata petunia 262 313
Numeratio 262313 Numerius Negidius 335409
Numerus clausus 355
Numidia 77115 Numismática 498780
Nuncupatio 202
Nundicari 193221
Nundinac 192, 192221, 193221 Nundinatio 193221
Obligare 189 Ob±ligare 191
Obligatio 189216
483
- naturalis 262, 262311 - -(bibliografia) 2633'5 Oblíquo 2319
Obiectum (do ius) 16
Obras (em contraposição a colec
tâneas) 426 579
Obras dos juristas romanos 372 Obras jurídicas (espécies) 361 --de carácter casuístico 3
65 -- de carácter elementar 362 --de carácter enciclopédico 367 --de direito administr
ativo 371 -- de direito criminal 371 --de direito fiscal 371 -- de direito milit
ar 371
586
-- diversas 371
--post-clássicas orientais 436 --sistemáticas 368 Obrigação (vid. obligatio) Obrigação corre
al 239, 245 Ocidente (e CT) 421 Octávio 84
Odoacro 81
Officia de vários magistrados 486
Oficial 294356
Olhos abertos (significado) 27 Olhos vendados (significado) 27 Opera adnotata 37
1 Opera iuris publici 371 Opera posthuma 372
Opinions (tipo de obra jurídica)
365
Oportere 335409
Oppidum nundinarium 193221
Opinião pública 340
Orientação dogmático-prática (dos
estudos de DP-) 123 -histórico-critica (dos estudos de
DR) 122
Oratio 222
Orationes princip is 75, 222 - - in senatu habitue 222 Oratória 353, 354 Ordem edi
ctal 486 Órgãos legislativos 204233 Ordo iudiciornm privatorum 274 Orígenes 448
Ornamenta 265, 265319
6pot 362
Os (oris) 20
Ouvido (alcance) 27 Oxford 9S
Pacem in Terris 443620 Pacere 195225
Pacisci 195
Pactar 192, 195, 195205
Pactare 195
Pactear 195225 Pactio 22627 Pactuar 195225
Pádua 399
Pagamento indevido 263 316
Pagar 324796 Pakare 195225 Paktare 195225 Palaen'onixcus 77115
Paleografia 126 Paleontologia 126
Palimpsesto 427582
- da Biblioteca de Autun 434
- da Biblioteca Capitular de Ve
rona 395
- veronês 498 Palingenésia 410 Palingenesia Iuris Civilis 372
Pamphylya 77115
Pamphylus 252302
Pandectae 36, 3651, 97135, 100 368472, 455 ss., 456650, 468,
484
Pandectas (vid. Pandectae) Pandectística ioo
Pannonia 771'5
Panónia 396
Papa Gregório IX 450638
Papa S. Pio X 450639
PAPINIANUS (Aemilius) 85, 363,
365, 366, 366466, 367, 367468,
371, 378, 397 ss., 399, 424, 425,
427, 429, 458, 469, 477, 478 Papirologia jurídica io8, 126 - - (bibliografia) 146
Papiros 167, 177 - (duração) 404
Paráfrase de Teófilo 483 734 Paráfrases 467 Paraguai (e DR) 114 Paratitla 465
7rapaYGraa 463, 467 Pareceres (jurídicos) 293 354 Paris 498
Pars de iudiciis 459, 476 - de rebus 459, 476 Partis secanto 193 Parvum So6
Patria potestas 288 Pater 59, 261 Paterfamilias S9, 264 318 Pater gentis 59
Pater patriae 74
PATERNUS (T.) 371
Patres conscripti 62
Patrícios 61, 62, 6292, 6889, 179
Pauli Sententiae 153, 429, 431, 432
ss., 435, 516
(e interpolações) S19
--(e as interpretationes) 435 PAULUS (Iulius) 364, 365, 366,
3664õ, 367, 367468, 369, 369477,
370, 370482, 371, 377, 378, 379,
387, 390, 392509, 399, 423, 424, 427, 429, 432, 432594, 438, 439,
458, 469, 477, 478
Paulys Realencyclopüdie der klas
sischen Altertumwissenschaft 148 Pax augusta 73, 84
Petunia 191, 192, 261, 262 313,,
315386
Pedicae 190217
PEDIUS 384
Pena capital 197, 386 - de exílio 197 - de morte 197, 273
Pensar 2521
Pentateuco 429
Per capita 23027
Per propinquiorem 230272 23127: Per stirpes 23027
Peregrina 45, 241, 242
Pergaminhos 363458, 427582
- (duração) 404
Periodização do Jus Romanum
41 ss.
Período burocrático 4867
- do direito romano cristão 4867 - do ius civile 44
587
194, 303, 304,
-- e do ius gentium 46 Perpetuus censor 397 Pérsia (e DR) 114
Persona 6292, 228
Personalidade jurídica 196
Personificar 228, 250300
Perú (e DR) 114 Perusa 95, 97, 501
Pesar 2521
Pessoas (vid. também personae)
6292, 483
Philosophia 285
Pietas 437 Pigneratio 243 Pignoris datio 243 Pignus 236, 243, 512 - conventum 24
4 - datum 244
Pisa 96 Pistoia 498
7rtllavwv (pithànón) 365 Placentino 95
PLAUTIUS 377
Plebeus 61, 62, 6292, 6899, 179 Plebiscita 71, 205 Plebiscistos 6899
Plebiscítum 205
Pluralidade (circunstância a limi
tar o poder de «imperium») 64
Poder 204233
Poderes dos magistrados 66
Poena capitalis 197 - tapitis 197 - mortis 197 - pecuniaria 197 Poenae 196 Poena
s dare 196 IIóALS 59
Política e Direito 56
Politicos 282
Polónia (e DR) 90, 134, - (e á recepção) 94 Pomeríum 64 Pompeu Magno 84, 448 POMPONIUS (Se
xtus) 85, 344, 367,
588
367470, 369, 370, 371, 376, 377, 378, 3$1, 383, 384, 386, 390,
390505, 392, 399, 400, 457653, 458,
469 Ponderar 2521
Pontus 77115
Populorum Progressi0 443620 Populus 72, 75, 169, 203232 305236
219261, 272, 341
- Romanus S7, 62, 64, 66, 205236 PORCIUS (Censorius) M. 376 Portugal (e DR) 90,
92126 - (e a recepção) 94
Positivismo jurídico 283 Posse 329 403
Possessio 329403
-(e o ius civile) 329404 - fusta 3294°3 Postliminium 416560
Potestas 66
-(a quem pertencia) 66
- agendi cum populo 66 - agendi cum patribus 66
Povo (vid. também populus) 62,
71 272330
Praecapere I26
Pracepta iuris (noção) 125 Prae-ceptum125, 363 459
--(natureza, hierarquia, interde
pendência) 135
Praefatio 223, 488 Praefectus Aegypti 76'13 - annonae 7611
- Augustalis Aegypti 77116
- praetorio 75113, 397, 399,
443622
- urbi 76113 207341 443622
- vigilium 76113
Praecipere 255
Praecipito 254 Praeire 67 Praenomen 59
Praepositus sacri cubiculi 80119,443622 Praescriptio 210, 334
Praesides 77
Praeteritio 229
Praetor (vid. também «pretor») 67,
69'°°
- maximus 6694 - minor 6694
- peregrinos 45
Praetores 6797
Praetorium 69100
Pragmaticae sanctiones 97135, 276,
415557, 445
- - pro petitione Vigilii 356, 490, 491 Praxis 282
Preceitos (duma norma jurídica)125 Preces 274, 276
Pré-digesto (teorias) 472 SS. Pretor (vid. também praetor) 65,
66, 6694, 67 ss., 70, 207241, 298, 332, 333, 339 ss., 341 ss., 341411
- peregrino 69, 83, 298, 341413, 369 - urbano 69, 82, 298 --(actividade do) 339
--(controle do) 339 -(fases, da sua actividade) 299 --(formas utilizadas na conc
essão
dos seus expedientes) 340 --(motivação da sua actividade)
339 --(orientação) 339
Pretório 69100
Pretura 6899
Primus otnnium 398 Principado (vid. principatus) Principal bibliografia do DR 12
7
ss.
Principatus 72 ss., 73107 Princeps 74, 84, 269 -civitatis 72
Pro-vulgari 207242
Proaemium 490
Procedimento executivo 188 Processo romano 195223, 274, 332 - - declarativo da dív
ida 186 Procônsules 77
Proculeianos 353
PROCULUS 84, 367, 371, 377, 387, 388, 389
Procuratores 76113
Professores de Direito 355 Programa dos estudos jurídicos
412
Proibição de Justiniano de comen
tar o Digesto 464 ss., 468 Promissoo 241, 242 Promissor 305, 307
Promulgarí 207242 Promulgatio 207242
Propretores 77
IIpwTa 459, 476 Provar 2521
Provas (em Direito Processual) Província(s) 74, 76,
-imperiais 74110, 77 - senatoriais 7410, 77
-no tempo do Império
- -da República 7715.
Provincialização do Direito
Romano 78118, 85
Provocatio ad populum 65, Prudentes 282, 289 Prudentia 27, 282, 284
Pudor 2629
Q.S.S.S. 342
Quaestio (instituto de Direito Cri
minal Romano ou de Dir.
Proc.) 367467
Quaestiones (tipo de obra jurídica) 252302 366 ss., 469
Quaestor sacri palatii 80119, 443,
77115
358
77115
115
415557
71,
339
443622, 444627, 450, 456 Quaestores 443622
Quaestores parricidii 6181 Quarta Falcidia 213
Quase-escravidão 189
Quasi servi loco 189, 190
589
Questões militares 416561
Questor 65
Questura 67, 6899 Quinquaginta decisiones
4556, 448
QUINTUS Muetus (Scaevola) 84,
363, 368, 369, 376, 383 ss.,
384496, 386, 457653
Quirino 4055
Quirites 15, 3955
Raimundo de Penhafort (S.) 450,
450638
Raison historique 2521
Ratihabitio 266 Ratio 287
- scripta (do Direito) 99, 104, 122 Ratum non habebo 313, 313383 Ravena 93, 94,
96173, 355, 356,
424
Reae 239
Realizar um negócio 203229
Recém-nascidos 416560
Recepção do Direito Romano
94 ss.
- - - (na Alemanha) ioo Rechtsgeschichte 516 Rectum 22
Reforma legislativa 412
Regulae (tipo de obra jurídica) 363,
385
Regulae Iuris 51, 436
Relações entre a Igreja e o Estado
486
Relatio 223 Relationes 274 Religião 172
Repetere 16, 263317
Repetir r6, 26331
Repetitae praelectiones (tipo de obra
jurídica) 371
Replicatio 334408
República 63, 82, 84
590
- de S. Marino 105
Rerum Novarum 443620
Res 6292, 235277
Res Cottidianae 425, 436, 439 SS.,
480
--(e o Digesto) 439615
Res divinae 286 - humanae 286
- mancipi 242, 242291
- nec mancipi 242, 242291
Rescripta 274, 276
Rescritos 406, 408533_534 410,
410543, 415,443 620
Respondentes audire 352 Respondere 292
Responsa (tipo de obra jurídica)
287, 351, 361, 365, 469
- (autores que escreveram) 365 Responsável (vinculado) 192 Restituere 312
Restitutiones in integrum 311 ss., 347 ---(espéces) 314 - - - ob aetatem 314 - - -
ob dolum 314 ---oh errorem 314 - - - oh fraudem creditorum 315, 321 ----(e inte
rdictum fraudatorium)
323
---oh metam 314
Restos de obras de juristas clás
sicos 166 Resumos 86 Retórica 354
Reus 235277, 239, 240288
- fieri 239
Re+velar 172
Revistas de Direito Romano 115
ss., 15S ss.
Revue Historíque de Droit Français
et Étranger 155
Revue Internationale des Droits de l'Antiquité 155
Revista 4Labeo» 389
Revista de Ia Sociedad Argentina de
Derecho Romano 156
Rex 61
Rhaetia 77115
Riqueza 386
Rogatio zoo, 2o6, 208, 210 Rolo (volumen) 49
Roma 44, 82, 83, 85, 355, 356, Sor, 502
-(origem) 3447
- (formas políticas) S9 Roménia 89
- (e DR) 92126 Rómulo 177188
Rómulo Augusto 81, 86 Rubricae 341
Rubricas 341414
Rubricas do Digesto 471
RuFINUS de Aquileia 429585
Rússia 89
- (e DR) 92126
Saber (espécies) 282
Saber-agir 27, 282 Saber-fazer 283 Saber jurídico 281 Saber-puro 27, 282 Sabiniano
s 353
SABINUS (Massurius) 84, 364, 365,
368, 369, 377, 387, 388, 390,
399, 477
Sacerdotes 172179
- da justiça 289
- pontífices 290 Sacrilegium 273
Sacro Império Romano-Germâ
nico 5579 Sacrosanctitas 6593, 74109
Sagrada Escritura 429,
450638
Salarium 79
Sanctio 21o Sanctum 64
Santos Padres 450638
Sapiens 282
Sapientia 27, 282 Sardenha 44, 93
Sardinia ?7115
Satisdatio 308, 310, 310377
Satisfacere (vid. também «satis
fazer») 324396
Satisfazer 324396
SATURNINUS (Claudius) 458 SCAEVOLA (Q. Cervidius) 85, 366,
367, 368, 376, 378, 383, 384,
392509, 397, 399, 458
Scholia 436
Scholia Sinaitica 425, 436, 438 ss.,
516
--(e interpolações) 51g
Schujurispruden- 4869, 358 Scientia 284, 285
Se nexum dare 192, 193, 194, 196,
212
Seius 251701
Seminarium dignitatis 354
Sempronius 251301
Senado (vid. também senatus) 61,
6798, 6899 70, 72, 75
Senatus 61
Senatusconsultos (vid. senatuscon
sultum)
Senatusconsultum 62, 70, 75 -m(conceito) 217
-(estrutura formal; denominação)
223
-(como adquiriram força legisla
tiva) 218
-(como foram perdendo força
jurídica própria) 222 - (exemplos) 224 -de Bacchanalibus 224 - Claudianum 225 -Maced
onianum 2S9 ss. - - (carácter) 262 - - (consequência) 263 - -(efeito) 262 - -(fraude
) 266 - Neronianum 249 ss. - -(conteúdo) 255
591
455 ss.,
29585
4
- Orfltianum 232
- Silanianum 220 - Tertullianum 226 - Velleianum 233 ss. -- (alcance) 238 ss. -
- (efeito) 237 ss. --(justificação) 236 ss.
Senatus decreta 218258
Séneca 152
Sentença imperativa 512 Sententiae (tipo de obra jurídica)
365, 432, 436
- iurisprudentium 422570
Sententiae Pauli (vid. também
Pauli Sententiae) 423, 425 Septímio Severo 397, 399, 408534 Sequester 330
Servi (escravos) 62A2, 84 Sérvio Túlio 177188
SERVIUS SULPICIUS RUFUS 369,
370, 376, 384, 385 ss., 385498
Severo 85
Severos (193-239) 222
SEXTOS AELIUS PAETUS (Catus)
181, 183, 370, 376, 379, 381 ss. SEXTUS PEDIS 369 Sicília 44, 83, 93
Sicilia 77115
Sila 84
SILANUS 234
Silêncio (valor do argumento do)
344
Símbolo 27
Sinais diacríticos 522
Sinister 22, 2219
Síria 390, 397
Sociabilidade do homem 7 Sociedades comerciais 386
- defensoras dos estudos romanís
t1COS 115 Societas 386 aolpta 27, 282 Solecismos 513
Solidariedade 246297
Soluti retentio 262, 262315, 263,
263317
- indebiti 263316
Solvere 190, 191, 324396
Spartacus 84
Species (figuras) 384 Spondeo 305
Sponsio 203232, 235, 241, 305370
- e stipulatio 305370 Statera 2421, 2521
Stationes ius publice docentium aut
respondentium 353431
Status civitatis 196 - familiae 197 - libertatis 196
Stichus 252302 Stipendiati 390506
Stipendium 78
Stipulatio 202, 240287-288 241,
242, 30364, 459
- (noção) 303
- (características) 305 - aquiliana 376 - certi 305369
- incerti 305369
Stipulationes praetoriae 302 ss., 347 - - (particularidade) 308 Stipulator 305,
307 Studia et Documenta Historiae et
iuris (Revista de DR) 156 Suasiones 208
Subscriptio (das const. imp.) 271,
490
- -(abreviaturas) 486 746 Subscriptiones (espécie de const.
imp.) 274, 276, 409, 417 Subvenire 261
Successio (sucessão em Dir. Rom.)
226, 228
- (hereditária) 228
- ab irltestato 416560
-legítima 488 753
- testata 229
Sucessões (vid. também successio)
483
Successor 228 Suécia (e DR) 114 SUETÓNIO 448 Suggestions 274 Sui iuris 261, 2601
Suíça (e DR) 92126, 114
Supervivencia do lus Romanum 88 ss.
Supplications 274
Susa 391508
Suum cuique tribuere SYAGRIUS 358
Syllogen Maioriani 420, 421
Tábuas enceradas 167
Tábua III da Lei das XII Tábuas
185 ss.
Tábuas particulares 200 - públicas 200 Tabulae dealbatae 223
TALALEU (vid. «escólios de Tala
leu»)
Tarquínio Prisco 177188
Tarquínio, o Soberbo
Tatus 252302
T& V1 283, 284
Técnica 386
Tecnização do Direito 283
Oéµlç 2420 25, 26 Templos 353434
Temporalidade 64
Teodósio I 8o, 86
Teodósio 11 86, 278, 356, 406, 411,
413, 414, 419, 419565 , 424572
447, 448, 478
Teófilo (compilador justinianeu)
35, 444, 449, 456, 479, 481, 482,
485
Teologia 285, 286310,
- do Direito 28635°
Teoria das massas (no Digesto) 469676, 470
-da distribuição das massas 472 ---bluhmiana 469676, 474 - do pré-digesto 473 ss.
Teorias Gerais (valor) 27
TERENTIUS CLEMENS 378 Terminologia crítica 509807 ,urídica 16, 385
Testador 250300
Testamento (vid. também cláu
sulas testamentárias) 202, 376
Testator 250300
Textgeschichte 516
Texto justinianeu 515 Textos (extractos) 516
-jurídicos romanos 509807
---(necessidade) 403 Textstufenforschung 516 Thétnis (vid. Okµlç) Teeooogia (vid. Teol
ogia) Thesaurus Accursianus 507 THIBAUT 99
Tracia 77115
Tibério 1 390
Tibério II 492
Tiberius Coruncanius 83, 290, 376 Tingitana Caesariensis 77115 Tjdschrift voor R
echtsgeschiedenis
- Revue d'Histoire du Droit 156 Tirocinium fori 352 Títhemi 201
Titius 251301
Tituli ex corpore Ulpíani 153,
434
--(e interpolações) 519
Títulos 341 14 Tópica 365
Totalitarismo da lei 110, 202, 284 Toulouse 358
Tractatus 3651, 363, 368 Tradere 14
Tradição romanista 88 ss. --no Ocidente Çbibliografia)
Traditio 253 03
~, Traduções literais de textos Trajano 85, 355
593
7, 81, 339
177, 177188
425,
354
135
463
592
Trans Tiberim 182, 192, 193, 196 Tratado (vid. também tractatus)
368
- comentários 369 - de Mius civile» 368
- de «ius honorarium» 368, 369 Tres libri 498, 503, So6 - -(edições) 503, 506
Triboniano 35, 443, 444623, 445625,
447, 449 ss., 450, 456, 471, 472,
479, 480, 481, 482, 484, 487,
489
Tribuere 14
Tribunado militar 6899 Tribunais ordinários 274 Tribunal mortuorum 424
Tribuni militum 6188
Tribunitia potestas 6583, 74, 74109,
269, 339
Tribunos da plebe 63, 6593 6899 Tribunos celerluu 6188 Tribus 60, 63
Trinnundinum 193221, 207, 208 Tripertita 83, 181, 370, 376, 382,
382 491 Trutina 2521
TRYPHONINUS 367, 379 Túlio Hostílio 177188 Tunísia 391508
Turquia 89
Uir floss
Uirites floss
ULPIANUS (Domitius) 46, 85, 86, 282, 363, 364, 365, 366, 3666, 367, 367469, 369,
370, 371, 372,
378, 379, 390, 393, 399 ss., 422, 423, 424, 427, 429, 434, 438, 439, 456650, 469
, 473, 476, 478
-(e o Digesto) 458
Umbilicus 459, 459659
União Sul Africana (e DR) 114 594
Unitas actus 245
Urbs 43 Urgaius 394 Urmensch-Abwãgen 2521
URSS (e DR) 114
Usucapio 329404
Usura 260310 Usurários 260110
Usureceptío ex tfiducia 243
Usus 170, 170 79, 3293
Usos modernus Pandectarum too Uti rogas 208
Utilitas 286
Uxor in mano 228
Vacário 95
Valente 410
Valentiniano 111 86, 354, 356, 358,
410, 414, 424, 424572, 430
Valério iSo
Velho Testamento 429
VARUS, A fenos (vid. ALFENUS
VARUS)
Velleus 233, 236 VENULEIUS 371
VENULEIUS SATURNINUS 378, 458
Veneza 93
Venezuela (e DR) 114 Verbis contrahere 305
Veritas 2629
Verona 373, 390
Verres 79
Versão grega dos Setenta 429586 Versio Vulgata 490 Vespasiano 259
Veteres 381 Viena 107
Víglio de Ayatta 99 Vim fieri veto 328
Vinculado 190218, 192 Vínculo 189216
Vindex 189, 191, 191219, 195 - e Messias 191219, 192219
Vindicatio 252, 255
Vindicta privata 188, 188210 194223 Vingador 192219
Vir 4055
VIRGILIO 386
Viri doai in lure 456
Vis I1, 55, 5684
VITELLIUS 380
Vocabulario delle Costituzioni Latine
di Giustiniano 150
Vocabulario delle Istituzioni di Gaio
150
Vocabulárió Ortográfico 195225 Vocabulários de DR 149 ss. Vocabularium Codicis Iustinian
i 15o Vocabularium Institutionum lusti
niani Augusti r5o
Vocabularium Iurisprudentiae Roma
nae 149 VOET 99 Volksgeist roo
Vohimen 49, 363458, 4o6, 445626
506
Volumen parvum 506, 507806
Votação 208
Vox legum 443, 622 Vulgarismo 50, 359
Vulgarização (do Direito) 5o, 85
Vulgarrecht 5o, 5o'3
Vulgata 497, 503
Vulgata Latina 192219
Vulgata de S. Jerónimo 429586 Vulgus 205, 236, 341
Yaus 1g Yous 19
Ye 2833
Yu r8 Yug 18 Yung 18
Weld 2833
Zeitschrift der Savigni-Stlung Jur Rechtsgeschichte. Romanistische Abteilung 156
ZEt ç 15, 25
Zeus 25, 26, 28
595
3.-ÍNDICE DE AUTORES
AGNES M., 80120 AGUSTIN A., 469676 ALARCÃO R., 260410
ALBERTARIO E.,I06,127,139,140,
470679, 474692 ,476, 476700, 477, 479719,
484739 S~381s
514817
ALBERTONI A., 139
ALIBRANDI 1., 141, 513, 515 ALMEIDA COSTA M. J., 488 753 ALVAREZ U., 92126, 128,
133,134,
146
AMARAL V., 595225
AMBROSINO R., 150, 483, 483732 AMELGTI M., 481729 ANDRADE M. 250299, 307372 ANKU
M J. A., 323, 326401 ARANGIO-RUIZ V., 123, 129,
130, 139, 140,
141, 154, 155,
373, 385498,
395, 476,
476699, 477, 515, 516823
516825, 519
G., 139, 451641, 451643,
452644, 481729
ARIAS RAMOS J., 129, 130 ASTUTI G., 98 AZARA A., 147
BADENES-GASSET R., I24157 BALOCH S., 181199 BAPTISTA M., 157, 319390
BARONS S., 323
BARTOSEK M., 4I57
BAUDI DI VESME C., 418562
BAVIERA J., 141, 154, 180 SS., 181,
181195373, 395,
426580, 515
BERGER A., 89123 143, 144, 148,
180192 344420, 464, 464666 S15
BERNADAKIS S., 438 BESELER G., I06, 514, S15
BESTA E., 139, 356 444
BETT1 E., 139, 156, 515
BIENER E., 489754, 491, 501 BINDEL E., 460659
BIONDI B.,13 3,145, 146,3 14a 3I41 4867, 4868, 5683, 57,
57B6, IOI, I01139 130,
131, 134, 137, 139,
141,144, 202226, 212231,
226270, 258309, 275336
293354 304, 452"4, 515
BISCARDI A., 120, 134, 442618,
424572
BLAISE A., 30
BLUHME E., 100, 468,469ó76476`,
ARCHI G.
597
477, 470, 470680 472,
473, 474 BODIN J., 138
BONFANTE G., 4S1642, 474690
BONFANTE P., 1O0, io6, 129, 139,
141, 154, 18,, 181197, 221, 347426, 446629
451642, 457653, 474690, 474694 475, 475697
479, 479715, 479718, 48o725 482731 483734
488752, 500784, 504800,
505, 505B01, 51080, 512813.814 S14818,515,
515821
BONIFACIO F., 213252 BONINI R., 419565
BoNoLls G., 139 BORTOLUCCI I., 141, 151
Bosisio A., 961J3
BOUILLET D., 152 BOULANGER J., 293 354
BOYER G., 141
BRAGA DA CRUZ G., 92126 94130 4z6578 488 753
506802
BRANCA G., 137 BRASIELLO U., 134, BRASSLOFF S., 141 BREAL M., 123 BREMER F. P.,
372
BRENCMANNUS H., 497774
BRINZ A., ioo
BRISSAUDJ., 346 423 457 ó53757 BRLEK P. M., 124157 BROGGINI G., 330405
BRUCK E. F., 141 BRUGI B., 139
BRUNS C., 100, 153, 183, 346 426
4z6580, 438 BuCKLAND W. W., 135, 395
BUONAMICI F., 497773
BURDEAU H., 137
BURDESE A., 58B7, 131, 134, 2633'5
598
BURGER K., 145
BURILLO J., 457653, 463
CABRAL DE MONCADA L., 105'4',
183
CABROL-LECLERCQ, 2522 CAES-HENRION, 144
CALASSO F.,145, 88121, 93128 9412v 97135,135,145, 363460, 503789 506803
CALDERONE S., 80120
CALISSE C., 139
CÂNDIDO DE FIGUEIREDO, CARNELUTTI F., 123, 139 CARRELI S., 313384 CARTACHO T., 157
CARUSI E., 123
CASAVOLA F., 212251 CASSIRER E., 2420
CASTANHEIRA NEVES A., 28935' CASTELLÍ G., 137, 141 CASTRO-CORREIA M., 3I40 CECI L.
, ,2'
CENDERELLI A., 400, 401, 406528,
407, 409, 409537-538410542-543 410544-545
CERVENCA G., 311380, 313 384 428584,
519834
CESARINI-SFORZA W., 21, 2,12, 30 CHARBONELL H., 137 CHEVAILLER S., 140 CHIOVENDA
G., 92126 CHIRAT H., 30
CIAPESSONI P., 139, COGLIOLO A., 522
COLLINET P., 144, 146, 326401,
357449, 442617, 477,
477764, 485745 516823,
5,883' 5,9831
COLUCCi B., 157
COMPOSTA D., 287350
CONRAT M., 93 CONTICINI B., 469676 CORNIDLEY J., 263 315
CORNIL G., 138
COROMINAS J., 2113, 2214, 2215,
162160
CORREIA A., 131, 157 COSENTINI G., 141 COSSINGER W. A., 145
COSTA E., 507806
CRIFÔ G., 451642, 474690 CWÁCIO J., 323, 397, 4,8562, 430,
434
153, 277341,
42$S84, 432595
519834, 520838,
522 844
135, 127, 137, 139, 145, 156,
18,, 181198,
344420 34542,
442617, 446629,
470680, 471682,
475
DE MARTINO F., 336 DE ROBERTIS F., 273 333
DE RUGGIERO R., 147, 149 DE SARLO L., 368473, 387 504 DE SIMONE H., ISo
DE VISSCHER F., 4055, 13 7,13 8, 141 DE ZULUETA F., 140, 396 DE13BASCH J., 140
DELL'01kO A., 478, 478712 DELOS P., 6119 D'EMILIA A., 293 354 DERNBURG, 100 DEVO
TO G., I23, 141 DI MARZO S., 131, 439
D'IPPOLITO F., 220263
DIRKSEN F., 152 DõHMANN K., 2521
DOMBOIS H., 28735°
DONATUTI G., 277341 D'ORGEVAL J., 344420
D'ORS A., 124, 14, 147, 177, 32,
3243, 4I57, 4662, 4764,
4766, 49, 497t, 57, 5785, 77116, 78118, 131,
134,146,148,154, I56.
I68171 17I178, 203,
204,204 235,207 240, 211, 211247, 284348, 293354,
31238323, 333, 333406, 347428 349u9, 396,
45I642, 457653, 463, 4676, 474693, 476, 476703, 51,812 , 516825,
517,517 827, 522841, 525 DOLL R., 180'92
DUMEZIL G., 25,301
EBRARD F., 413553 424572
EHRENZWEIG Fr., 474, 474691,
476699
EISELE F., 141, 514
ENDRés F. C., 46o6S9 ERATH A., 2522 ERRARD W. 442617 ERNOUT-MEILLET, 16, ,67, 2217
,
239 3037 77115
EsCOLI A., 139 EULA E., 147
FADDA C., 139, 142,
FANTINI J., 2523
FAURE G., 140 FEENSTRA R., 156
FERIO J., 501785
FERNANDES G., 157 FERRARA F., 140 FERRER-CORREIA A., 260310 FERRERO G., 2420 FER
RINI C., 100, 132,
139, 142, 154, 373, 599
19S225
DAREMBERG Ch., 149 DAREMBERG-SAGLIO, 2521
DAUBE D., 191219
DE DOMINICIS M. A., DE FRANCISCI P.,
141, 197225
141
154, 505
134, 138,
22
426,580, 438, 4$1, 481727, 482, 5,5 FIORELLI P., 133 '
FITTING H., 93, 138
FORCELLINI A., 2218, 3753, 77115
203232, 312382
FOSTER-HOPPER V., 460659
FOURNIER P., 138 FREZZA P., 241288
FRYKLUND D., 2319
FUENTESECA P., 348428, 457653, 463
FURLANI J., 154, 373, 426580, 438 GARCÍA-GALLO A., 21, 2112, 30 GARCIA GARRIDO M.,
3 373305370
33741O 457653, 463
GAUDEMET J., 72106, 156, 168171,
~74184, 271329 273333, 277340, 277 342 310379,
355 44D, 404526 405527
4075, 410544, 413554 415558-559 417562
418563, 420566, 421568, 4263,77 426580,432599
433600, 433602, 434604, 435605-606 437609,
511811
GAY J., 140 GEBANER H.,504
GELZER F., 142 GÉNY F., 138
GENZMER E., 55B0, 119152, 135,137 GEORGESCU V. A., I23, 142, 289351
GERARDIN J., 138
GIDE P., 237280, 238284, GIERKE 0., 90
GIOFFREDI C., 133, 2936,
70101, 204233 GIRARD P. F., 137, 138, 142, 146,
155, 180192, 181, 181196, 183, 186206,
346426
GIUFFRÈ V., 250299
GODOFREDO D., 35, 418562, 442, 500784, 504
GOETZ H., 96
GOMES DA SILVA N. E., 92126 GosCHEN H., 395
GOTHOFREDUS (vid. GODOFREDO) GRADENWITZ 0., 100, I50, 151,
153,183, 417561,
481728, 512, 514,
SIS
GROSSO G., 128, 129, 258108,
442617, 445628, 4S6647, 490761
GUARINO A., 1,2, I67 3244, 405s 57 86,05141 128, 129,
155, i56,310379 344, 344419, 394, 442617, 44562s 446630, 449637
477, 477705, 497774, sii812, 518831
GUARNERI-CITATI A., IS3
GUTIERREZ A., 149
GUTZWILLER M., 137
HAENEL G., 407,418 562, 419,503 HAIN L., 145 HAKAMIES R., 3J38 HEIMBACH G. E., 5
03
HENNE H., 147
HERMANN F., 504 HERNANDEZ-TEJERO F., IS4,
457653,
463 HESSEMBRUCH H., 460659
HERMANN-SECKEL, 151 HOETING I-I. R., 226270 HÔFIXÔN M., 294 355
HOFMANN G., 470, 470679, 473,
474, 474690, 477 HORWAT M., 320391
HUGOLINO A., So6805 HUMBERT J., 137
HUND H., 395
HUSCHKE Ph. E.,192221, 426580, 482, 501 HuVELIN P., 138
IGLESIAS J., 132. 142, 517828 IHERING R., 100, 135 IMBERT J., 241289 IMPALLOMENI
G., 323 IRVING A., 459659 IURET A., 2217
JACOBUS SIRMOND (vid. SIRMOND) JAEGERW., 2628
JÜRS P., 132
KALBW., 123, 514 KANTOROW!CZ H. U., 135,497 775 KARLOWA 0., 100 KASEIL M., 135,
4869, 114, 129,
132,133,137,156, 191,
19322: 311380 323,359,
359455, 435, 435601 Kipp Th., 148
KIRCHMANN J. H. von, 281 KOHLER J., 386, 386500 KOSCHAKER P., 5S79, i05141, 107,
110,135,137,138,
191219
KRELLER-H., 234275 KRETSCHMAR P., 497775 KRIEGEL H., 504
KROLL G., 37, 125, 148, 154,
460660, 490760, 495,
503, 504, 505 KROGER P., 37, 125, 150, 154,
346423, 346424, 372,
407, 4155S9, 418562,
426310, 457653, 460660,
470680, 474690, 489717,
4897U, 4901639 504.505 KOBLER B., 148, 150, 514'
KUNKELW., 37, 114, 129, 132,
134, 148, 154, 156, 172179, 180191, 353,
35343e 367167, 375
392512
KURTSCHEID B., 124157
LABRUNA L., 4055 LAFAYE G.,149 LAGES A., 1S7
LAMBERT E., 138, 18o ss.,
382
LAND 'r., 438 LANDUCCI L., 442618 LAURIA M., 28933' 432394 LANZA D., 2628.
LECOMTE E., 501, 502, 503, 504 LEGIER H. J., 140 LEICHT P. S., 491
LEITE DE VASCONCELOS J., 2216
19S225
LEMAIRE M. E., 152
LEMOSSE M., 145
LENEL 0., 100, 106, 140, 323, 345,
346, 346424, 346`26, 347.
348428 369473, 370112,
372, 375, 38o, 475, 513,
514, 515
E., 135, 151, 156, 197225,
311380, 516 LEVY-BRUHL H., 138, LEWALD H., 138
LEWIS-SHORT, 286 LIEBS D., 401, 4T05'
LLANO-CIFUENTES R.,
Lo1SEL A., 430
LOMBARDI L., 320391, 1,509 510909,
510810 521842
LONDRES DA NóBREGA V., 1S7 LONGO C., 150, 263315, 4700, 514816
LONGO E., 263 315 LUZZATO G., 133, 146
181'91,
LEVY
239285
142 337410
3139
600
601
MAI A., 427 MANCABONI F., 134
MARCH! A., 153, 520838 MARROU H. J., 352431 3534"
,
357""
MASCHI C. A., 129
MASI A., 428584 MASSOWEAU H., 224268
MAYER P. M., 147
MAYER-MALY Th., 392510, 471683
MAYR R., 150
MAZAHERI A., 2521 MAZZARINO S., 411546
MEILET E., 318389
MEIRA S. A. B., 157, 1.80192
MÉNAGER L.-R., 140
MERRA P., 92126
MERGET H., 152
MEYER P. M., 254, 414557, 41812,
419
MEYLAN Ph., 138
MIQUEL J., 521$42
MrTTEls L., 1* 107, 147, 474695,
S I I8I2 515
MITTEIS-WIKKEN, 147 MITTELHAUS H., 148 MODICA M., 147
MOMMSEN Th., 37, 100, 106, 125,
134, 142, 154,
183, 29222' Z13, 214, 218, 234275
372, 393513, 408, 4o851°, 408532, 409,
418162, 419, 4z6580, 456e50, 457633,
46e60 467671,
474690. 497773
497 497116,
498786,
504, SOS,
MONIER R., 145, 149
MOR C. G., 45058 MORAIS A., 195225
MORIANI L., 139
602
MoSCHETTI G., 496772 MÜLLER J., 91126
NALLINO C. A., 437, 437e08, 437611 NASCENTES A., 2215 NENCIONI P., 123
NIEBHUR B. G., 395 NIEDERMEYER H., T38, 516 NIISSON M. P., 2626
NOAILLES P., 135, 142, 489157
491, 490. 503799
NOGUEIRA A., 157 NÕRR D., 148
OLIVECRONA K., 142
ORESTANO R., 92126, 128
OSENBRÜGGEN, 504
Mas voltemos ao nosso caso. Não colocar no 1.0 ano o ensino desta disciplina unive
rsitária é um erro grave, pois o Direito Romano »é a bases (vid. supra 157 e 158); «o alfa
beto e a gramática da linguagem jurídica e de toda a Ciência do Direito», e o seu estudo
é altamente formativo para quem vai iniciar a carreira jurídica (ver págs. 2, 117-120
, atendendo-se dum modo especial à al. c) da pág. 118). Sublinhe-se bem: um ERRO GRA
VE. Tão grave, que constitui caso único (I) - um verdadeiro extra chorum internacion
al, mas sobretudo europeu (ver págs. 113-116 e principalmente a nota 148).
Esta Reforma, infeliz sob vários aspectos e concretamente no respeitante ao ensino
do Direito Romano, só teria uma certa explicação, se surgisse, digamos, entre os anos
1920 a 30, período do auge da crise dos estudos romanisticos (vid. supra 104-109)
. Mas a crise foi superada, especialmente a partir de 1956 (vid. supra 1 e .117)
. Estamos às portas do séc. XXI. Pretendeu-se avançar trinta
611
anos, como se deduz do preâmbulo do Decreto n.° 364172. Afinal... recua-se cinquenta
ou mais. Se até agora se verificava uma «sensível desactualizaçãa (preâmbulo desse Decreto)
, agora existe uma,escandalosa falta de actualização.
Esta Reforma de 72 está desde -logo viciada daquela preocupação intolerante de pretend
er da mesma Escola e do mesmo Curso duas coisas estruturalmente distintas: a lic
enciatura e o bacharelato em Direito (a licenciatura é o que se pretende, em prime
iro lugar, numa Faculdade de Direito).
Julgamos impossível estruturar no mesmo Curso de Direito o bacharelato (cuja final
idade, ainda a definir [n.° 1 do art.° 21.E do citado Decreto], deve certamente ser
profissional, destinado ime
diatamente à prática) e a licenciatura, cuja finalidade natural é
ingresso nas profissões forenses; tão impossível, como estruturar no Curso de Medicina
o de enfermeiro (um ou dois anos de Medicina)
o de médico (os seis anos). Um fatalmente prejudica o outro. É que as finalidades, t
anto num caso como noutro são estruturalmente diferentes; qualitativamente diferen
tes. Não são apenas extensivamente ou quantitativamente. diferentes: um curso mais p
equeno e outro maior. Não. - Uma comparação fará ressaltar mais ao vivo a realidade do p
roblema. Não se pode montar, na mesma «linhas de ensino do Direito, uma «carruagem» de v
ia estreita de bacharelato e uma «carruagem» de via larga de licenciatura: se a linh
a é de via estreita, descarrila fatalmente a carruagem de via larga; se a linha é de
via larga, descarrila fatalmente a carruagem de via estreita; e, se se tenta co
locar uma linha de via média, então descarrilam as duas carruagens. Em qualquer das
hipóteses, sempre um desastre.
Concorda-se que haja certas vantagens ou até mesmo necessidade de criar um bachare
lato em Direito, a fim de preencher mais fàcil
612
mente certos lugares (embora a experiência entre nós de 1928 a 1945 o não aconselhe, a
pesar desse bacharelato, diferente em tudo menos na designação do agora previsto, te
r uma estrutura lógica; porém, as circunstâncias hoje são diferentes...). Mas então, esse
curso tem de ser estruturado ex professo. Não se consegue pelo sistema de aproveit
ar metade ou três quintas partes doutro curso. E deve ser preleccionado, não numa Fa
culdade de Direito, mas em Escola própria (politécnica, ou num Instituto), embora, p
orventura, sob a orientação das Faculdades de Direito.
Uma coisa, porém, julgamos estar clara: não é com esta Reforma que se vão conseguir ràpida
mente muitos (alguns!...) bacharéis em Direito. Primeiro, porque será dificílimo a qua
lquer aluno concluir em três anos os tais seis semestres, tão sobrecarregados estão os
respectivos programas; segundo, porque, obtida a aprovação nos primeiros seis semes
tres, ninguém ou quase ninguém ficará por aí, pois os outros quatro semestres são muito ma
is fáceis, sobretudo se o aluno os frequentar como voluntário.
Mas insistamos no caso concreto. - Além de erro, grave e de sentido retrógrado, não co
locar no 1.o ano o ensino do Direito Romano, representa, de certo modo, uma desc
onsideração para com o recente Colóquio Internacional de Direito Romano celebrado no R
io de Janeiro; e até, em certa medida, para com o Brasil e a Comunidade Luso-Brasi
leira (ver págs. 157 e 158).
Por estas razões e por outras que facilmente se poderiam invocar, urge rever esta
Reforma, que, independentemente de uni ou outro aspecto válido, não foi na verdade f
eliz. No seu conjunto, é infeliz. Melius illi erat, si nata non fuisset, pois refo
rmar por simples reformar ou reformar sem melhorar é desorientar: - é deformar.
613
Alguém, com toda a sua autoridade de Mestre consagrado e cuja nomeada passa além fro
nteiras, já a classificou de aetorma que envergonha internacionalmente um país, sobr
etudo um país europeu». (Para se compreender melhor o sentido e o, alcance desta afi
rmação, ver págs. 2, 90, 91, 114 [e especialmente a nota 148),118 [principalmente a al
ln. o] e 119 n.° 3).
Confiamos, pois, na revisão urgente do Decreto n.° 364/72, porque erros apontados -
e quem não erra ?/ - a pessoas superiores,
são erros logo emendados. Errare humanum eat; in errore perseverara, diabo7cum. °
Esperemos, por conseguinte, que o ensino do Direito Romano
volte, quanto antes, ao 1.° ano das nossas Faculdades de Direito, CORRIGENDA & A D
D E N D A
onde sempre esteve e donde nunca devia ter saído. Assim é leccionado nas várias Faculd
ades de Direito da Europa e dos países civilizados (vid. supra 113-116 e atenda-se
bem d nota 148 como à alin. c) da pág. 118).
Que estas Lições, entretanto, sejam algo semelhante a ruma lâmpada que brilha num luga
r escuro, até que venha o dia, e a estrela da manhã nasça nas inteligéncias» (II Petr. 1,1
9).
Coimbra, Março de 1973.
S. C.
614
CORRIGENDA & ADDENDA
Pig. Linha Nota Onde esti
Colocar
modshcondo (isto é, ou acrescentando palavras ou alterando-as); e essas modificações,
conforme a setes de cada um, ficarão ou interlinhadas ou colocadas ao cimo ou em b
aixo ou nos lados da pág. indicada; ou até escrever numa pág. ou fi. à parte e depois co
lá-la nessa tal pág. indicada
2 31 ...positivismo positivismo jurídico
4 2 cado), estuda-se cado), na prática, estuda-se
7 3 social, social Gurídicas), elaboradas na Roma da
antiguidade.
23 esclarecer esclarecer,
8 17 (alterar desde) A liberdade... A liberdade do homem reside fundamental
(até) finalidade. . mente num poder de opção entre duas ou mais atitudes dignas, para
atingir um fim; esse poder-optar pressupõe necessariamente ausência de determinismo,
aliás esse Ser não é livre. 0 sentido profundo da liberdade consiste em que o homem é u
m Ser que, tendo por um lado exigência de perfeição e por outro consciencialização dos lim
ites em que está envolvido, pode escolher entre vários meios (imperfeitos, limitados
- mas rectos, próprios, adequados) para atingir a perfeição; ou melhor, um grau cada
vez mais próximo da perfeição, sem jamais a poder realizar plenamente. A liberdade é, po
r conseguinte, o poder de projectar o ideal transcendente de perfeição na existénia.
0 uso da liberdade concretiza-se, não tanto na indiferença perante várias situações elegívei
s, como no uso desse poder-optar entre vários meios rectos (ou dignos ou legítimos)
para uma determinada finalidade; e o uso desse poder-optar pressupõe ausência de coa
cção, aliás esse Ser é livre mas não está em liberdade (não estd livre).
617
Pág. Linha Nota Onde está Colocar
Pá4. Linha Nota Onde está Colocar
12 10 poderes poderes jurídicos
12 11 faculdades faculdades jurídicas
12 5.1. - 1 non laeder, non laedere,
-1,`-16 não abusar dos seus não abusar dos seus direitos (isto é, poderes ou direitos;
faculdades jurídicas);
- atribuir (ou -atribuir (isto é, ou
6 7
69 6.°
7.0-A partir do séc. iv, ius também
significa o conjunto de fragmentos de obras de juristas clássicos; vid. infra 216.
27 26 jursistas juristas
35 3 Godofredo Godofredo (vid infra 99)
35 12 Beirute e a Beirute, a de Alexandria e a
39 2 a) - Épocas históri- a) - Épocas históricas da vida do eIus Romamarn cas
40 14 É ice. É único. (Ver gráfico na pág. 384-385)
46 7 : la em 228, : 1.0 em 224 ou 223 (vid. D'ORs, DPR')
47 última (Coimbra, 1982) (Coimbra 1974)
48 67 (Coimbra, 1972) (Coimbra 1974)
49 71 e n. 20-3.0. e n. 20-3.0, e Estudios Ursicino Álvares (Madrid 1978). Aí também s
e esclarece a diferença entre codex e compilatio, e se demonstra (seguindo WtmAGRm
t) que a moderna codificação é eo encontro entre o Direito natural racionalista e o il
uminismo'.
51 75 (no prelo) págs. 3-48.
55 18 força que forçae1-a que
(Nota) 81-a A força provém: ou da auctoritas; ou da potestas, ou da auctoritas e da
por estas. - A auctoritas é a força proveniente de um valor pessoal do indivíduo (linh
agem, posição social, saber, prestígio, etc.). Potestas é a força proveniente do cargo pol
itico (participação de 'imporiutn,) que o indivíduo ocupa.
58 87 (Turim, 1966) pas- (Turim 1966) passim; para uma síntese, ver
sim. Labeo 29(1983) 218-222.
59 20 política romana. política romana. -Todavia o poder do paterfamilias tinha os s
eus limites; para uma síntese, vid. Labeo 29(1983) 164.
72 106 (Nápoles, 1964) 699- Nápoles 1964) 699-709; Pierre G»mADz, Essa
-709). sur les Origina du Principal (Paria 1971); Labeo 29(1983) 191-193.
88 6 aplicação prática, aplicação prática ou de aplicação na prdtica,
13 2 21 4 24 9
88
89 90
121 Ocidente. Ocidente. - Em nosso entender, continuidade significa 'permanência s
em alteração.; n~vencia, 'permanência, devidamente adaptada às novas condições sociais'.
122 Synopsis minor. Synopsis Minor. - Sobre o valor destas obra, até para algumas
vezes interpretar melhor certos fragmentos do Digesto, vid. ARANGIO-Rotz, Scritt
i IV (Camerino 1977) 1-38.
125 5-21. 5-21; e Alex. BARRamo, El Derecho Romano y Ias Modernas Codificaeiones
del Derecho Privado em Roma fitas 11(1972) 100-116.
105 2 109 10
do interesse pelo
do interesse jurídico pelo
118
romanísticas.
292-295; existentes;
romanlstieas'w+
(Nota) 144-a Sobre a necessidade do conhecimento do Latim, mesmo para o estudo d
e qualquer ramo do Direito em geral, vid., por todos, Prof Doutor G. BRAGA DA CR
UZ, O Lodm e o Direito (Coimbra 1973). Recomenda-se vivamente esta monografia a
todos os estudiosos do lus Romanas.
120 10
292-295, e supra XXXIV;
existentes; e saber elaborar a construção jurídica adequada ao caso (montar o andaime
próprio, conforme o edifício a construir);
Direito Romano mostra-nos continuamente (com a doutrina, elaborada pelos seus gl
andes mestres) a necessidade de adaptar o Direito à vida; atender às novas circunstânc
ias sociais com critérios de justiça (e não de pura lógica), para não se dar
paradoxo de, em nome da lei, cometer uma injustiça;
5 - Outras razões. [Para uma análise mais ampla datar 5 raeãa, destinada principalment
e ds aulas prdticas, transcreve-se, para utilidade dos alunos, a exposição
elaborada pelo Dr. A. Santos Jato, Assistente desta disciplina).
618
619
Justifica-se que o Ius Romauum seja ensinado nas actuais Faculdades de Direito,
porque:
1. 0 ensino do lia Romanwn tem um alto valor FORMATIVO, consubstanciado na educação
do jurista para:
a) uma certa liberdade e uma relativa INDEPENDÊNCIA perante a lei:
desmistifica o pensamento positivista do Direito que, identificando Lei e Direit
o, monopoliza a lex como foras iuris. Evidencia-se, no estudo do Ius Romanum que
:
* a lex não foi a primeira nem sequer a mais importante fonte do Direito;
* o positivismo jurídico instalou-se, no Ius Rom amar, numa época de decadência;
- consciencializa o jurista para a sua função constitutiva, sempre CRIADORA do Direi
to em contraste com a instrumentalização, a que o sujeita o positivismo jurídico de si
mples aplicador de um qualquer *direitos que lhe é fornecido como um dado e cuja j
ustiça lhe é recusado valorar. 0 jurista deve afirmar-se como viva vox iuris, rejeit
ando todas as leis injustas por exigência do Direito de que é intérprete e defensor.
b) um casuísmo científico:
- o jurista não deve apenas interpretar e aplicar as normas jurídicas, mas saber, ta
mbém, criar a norma adequada à especificidade de cada situação;
- deve rejeitar a metodologia positivista do silogismo judiciário mais empenhada e
m afirmar uma certa ciência do que em servir a vida, esquecendo que nem tudo o que
é lógico é justo e que, nada criando a lógica, mas tio-sé deduzindo, lhe escapam as parti
cularidades que, enriquecendo e especificando os casos, exigem soluções que as conte
mplem. A jurisprudência clássica atingiu o ponto difícil da estilização da casuística: soube
abstrair do caso concreto (apresentado ou hipotético) os elementos não-jurídicos e os
elementos jurídicos não-essenciais, criando figuras jurídicas e não conceitos gerais e
abstractos. Para cada caso soube. criar a norma exacta;
c) uma firmeza de princípios perante as transformações da vida jurídica actual, que atra
vessa uma crise muito semelhante à que sofreu o Mundo Romano:
- as novas ideias não receberam, uma consagração jurídica apressada, antes foram devidam
ente testadas através duma aplicação cautelosa e prudente;
- a evolução do Ius Romanwn jamais conheceu rupturas ou violências revolucionárias que o
impusessem pela vis;
- o grande êxito do lia Roma~ foi conciliar os princípios tradicionalmente consagrad
as com as novas exigências da vida: sem comprometer o sus civile, foi-lhe
transmitida, através duma técnica rigorosa e perfeita a dinâmica capaz de satisfazer a
s novas necessidades que a vida constantemente suscitava;
- os jurisconsultos romanos foram intransigentes na defesa do Direito contra o d
espotismo e a tirania: v. g. PaenJLswus foi mandado assassinar por Caracala em v
irtude de ter recusado utilizar o Direito como expediente de justificação dum crime
tão repugnante como o de fratricídio.
2. 0 lur Romanum tem uma extraordinária
perfeição técnico-jurídica:
-os Romanos criaram, com um rigor inexcedível, figuras jurídicas, formularam princípio
s doutrinais e regras jurídicas, consagraram uma terminologia que os séculos não estio
laram;
- neste aspecto, impõe-se v. g. recorrer ao lus Romanurn para corrigirmos a noção de má
fé que o nosso actual Código Civil (art. 612° n.° 2) erradamente define, sem atender nti
nimamente ao elemento «dota.
3. 0 Ius Romwwm tem interesse prático actual:
- sem o seu estudo, é impossível compreender plenamente a maioria das actuais instit
uições jurídicas por terem a sua base no fur Romamon, mais não sendo algumas do que mera
s transcrições ou simples adapta
i
- ao lus Romamm havemos de recorrer para integrarmos algumas lacunas
(v. g. a lacuna de que sofre o art.
639.° n.^ 1: benefccium excussionn,
havendo garantias reais constituídas posteriormente à fiança);
-ao fur Rommmm terá de olhar-se quando, em face da insuficiência de alguns instituto
s (v. g. as actuais garantias reais), o legislador tiver de criar novas figuras
jurídicas mais idóneas a responder às exigências da vida actual (v. g. a fiducia);
4. Olor Romanian tem um indesmentivel interesse histórico:
- é o melhor «laboratório jurídicos para para quem desejar estudar a dinàmia do Direito: c
omo nasceram, atingiram o apogeu e decaíram algumas normas jurídicas;
- é um óptimo campo de estudo para filósofos, sociólogos, historiadores, juristas, etc.
5. 01us Romanian é ainda importante, porque:
- só ele pode fundamentar a ciência do
Direito Comparado, dado ser a 'raiz
comum' dos vários direitos românicos;
- pode ser o Direito fundamental duns
possíveis Estados Unidos da Europa, num momento em que a Europa tende à unidade;
- é a base da unificação do Direito Privado que nele se apoia geneticamente.
0 eminente romanista, Prof. Alvaro D'Oas, sustenta que «o método da unificação por via l
egislativa, não só é difícil, mas também pode considerar-se absolutamente inviável para alan
C22
623
Pág. Linha Nota Onde está Colocar
Pág Linha Nota
Onde está
Colocar
çar a unificação do direito privado. 0 método mais idóneo para esse fim... é o de aproximar
a actividade da jurisprudência (Ciência do Direito), procurando libertá-la da escravidão
do positivismo legalista, isto é, fortalecendo nos juristas a consciência da sua au
tonomia, a autonomia da sua autoridade, ~erante os imperativos legais. E notória q
ue os influxos doutrinais superam as fronteiras do nacionalismo legislativo. A f
ormação duma doutrina comum poderia alcançar-se precisamente sal dejar libre juegos à co
mpetência das correntes doutrinais, mediante a redução ao mínimo da sujeição às leis nacionai
. Nesta tarefa... o Direito Romano tem um papel importante... Nenhum estudo pode
dar ao jurista mais fecunda consciência da sua autonomia, da sua liberdade, que o
estudo da experiência jurídica romana, e concretamente a do Direito da época clássica,
o qual consistia na autoridade dos prudentes e não nas leis:;
- é o fundamento duma certa unidade espiritual da Europa, que tem nos valores grec
o-romanos o alicerce da sua civilização.
Acerca da execução pessoal de dívida não-cumpridas, vid. Leo Pares, Studi sul '&ecuione
Personaie. I Debiti e Debitori nei Pruri Due
Secou delia Republica Romana (Milão 1981).
para que o público (vulgus e populus) Papiria
igualmente o nexwn, mas só enquanto
devedor; não o nexwn,
Para se compreender o significado do texto, D. 46,5,1,5, nomeadamente o alcance
de saticdare, aqui ficam uns apontamentos a fim de completar o que se expõe nesta
pág. 310.
Satis/actio, Cautio e Satisdatio
***
sSATISFACTIO» (satisfação), na época clássica (e nesta é que devemos anotar, visto ser a époc
modelo), é todo o cumprimento de qualquer obrigação:
1.o -que não seja de dare cerium (dar uma coisa certa, sobretudo spec unias, dinhe
i-
221 19
239 24 240
241 258
Recorde-se a luta chefiada por Spartac ul
prestação duma prestação duma garantia, feita por um terceiro garantia
288 acessório acessório (algo que depende de)
subsidiário subsidiário (algo que vem depois de)
288-1.&-1 que surge depois que, em geral, surge depois.
308 II (Milão,1930)187- II(Milio 1930) 187-216), e 0. Feazntai VAsnw
-216. cm, Studi sul'Interpretaaione Giurispprudenziale Romano (Milão 1983) 115-148
(onde analisa o significado e alcance de valsa de motstrario non mocas).
262 2 romanos Romanos
263 2
264 7
pecúuio pecúlio
va-se somente va-se, em pormenor, somente
273 333 255-266. 255-266. 0 estudo mais recente sobre esta matéria é a interessante
monografia de C. B. SommAatvA, L'Imperatore Umco Creatore ed Interprete dells Le
ggi e L'Autonomia dei Giudice nel Diritto Giustinianeo (Milão, 1983).
350 (1971) 201-229. (1971) 201-229, 45(1972) 210-260, 46(1973) 333-365, 51(1
978), 54-80.
curúis e governa- curais, questor e governadores
287
298 13
198 7
207 10 212 10 212 13
212 14
para que o povo Papira
também o nexum,
enquanto
devedor, mas não
o nexum
310
dores
624
626
ro), mas de facere (fazer), de dare incertum (de dar algo incesto, v.g. uma inde
mnização por certos danos causados), de simples oportere (dever jurídico de...), ou de
praestare (de prestar);
2.° - é ainda o cumprimento parcial (ou imperfeito ou não-exacto) de uma obrigação de dare
certum.
Note-se: tanto no 1.0 como no 2.° caso, deve tratar-se de uma obrigação constituída, ist
o é, actual e já vencida.
J
l0 cumprimento, total e exacto, de uma obrigação, constituída, de dare certum é solutio
(pagamento), principalmente tratando-se de dinheiro (pecuma). - Anote-se ainda q
ue há unicamente (uma) solutio; não há, pois, várias solutiones. Relativamente à satisfact
io, não existe apenas (uma) satisfactio, mas satisfactions; na época clássica, existem
, pelo menos, nove modalidades de .satisfactios; e, por vezes, algumas desdobram
-se em diversos modos. 0 Direito Justinianeu aumentou ainda o seu número].
4CAUT10r (caução) é toda e qualquer garantia contra futuros prejuízos económicos.
Espécies - A cautio é usada para diversas finalidades. Indiquemos três:
1) - para reforçar uma relação jurldioa já existente;
2) - para assegurar a prova duma relação jurídica;
3) - para assegurar a execução dum direito (e esta é a «caução», que vulgarmente se entende e
Direito moderno).
Formas - A acautio», segundo os meios de segurança, pode revestir, além de outras, as
seguintes formas:
I - Cautio - nada repromissie. É a célebre «cautio promissorias (a arepromissios), pre
vista em D. 46,5,1,5 (...ased perpaucae sunD); consiste numa astipulatios, que s
e vem juntar ou à obligatio já existente, ou a um simples debitam, ou a um mero offi
cium; denomina-se acautio verbalis» (caução verbal);
II - Cautio pigneraticia ou hypothecaria. Consiste ou em (dar) um pignus (datum)
(penhor) [ver págs. 243 a 244 das lições], ou então em «dar* uma hipoteca (hypotheea ou p
tgnus conventum);
III-aCautioa-garantia pessoal. É a satisdatio; será examinada, já a seguir.
As duas últimas formas de cautio (II e III) denominam-se acautiones realess, enqua
nto a primeira (I), como ficou dito, é chamada acautio-verbalis+.
As cautiones reates mais importantes são as «stipulationes praetoriass; a elas se re
ferem os fragmentos contidos em D. 46,5 (máxime D. 46,5,1,5). -.Vid. supra 239-248
.
*
aSATISDATIO» (asatisdaçãos; satisfazer, mas duma forma, bem segura). Consiste essencia
lmente em dar fiadores, - adpromissores: ou sponsores ou fidepromissores ou fide
iussores. - (Vid. supra 240-242).
Como a ftdeiussio, surgida em fins do séc. I a.C., em breve se tornou muito mais f
requente do que a sponsio e a fidepromusio,
627
Pig. Linha Nota
Onde está Colocar
pig, Linha Nota Onde está
Colocar
pode afirmar-se que, mesmo já na época clássica, a satisdatio consistia em dar uma fid
eiussio.
Note-se que, na época justinianeia,
não há nem sponsio nem fidepromissio; só
fideiussio.
Porém, se o interessado (isto é, o devedor que já não tinha cumprido atempadamente) não co
nsegue dar um «fiador fidepromissors nem um «fiador-fidetussor» (uma satisdatio) (tudo
negócios jurídicos verbais), e como não bastava a muda-repromissio» (o mero re-prometer
), então surgiu a «caurio-verbalis scripta» ou «cautio-documentun» ou simplesmente documen
tam. Como a palavra indica, consistia num documento (tabulae ou chirographum) pr
obatório da existência da obligatio.
*
A cautio-chirographuní dos Romanos (documento em que o devedor atestava ter recebi
do dinheiro em mútuo e prometia a sua restiiuiçáo) exerceu grande influência, em vários Po
vos, para a criação e formulação dos títulos de crédito.
*
Correspondente à cautio-chirographum promissoria havia a cautio-recibo, que garant
ia a prova do pagamento, e que defendia o devedor contra novos pedidos de pagame
nto.
0 dolo como vício da 0 dolo, como «originante« de vicio da vontade
vontade (da «vitima»).
395 779-785. 779-785. Ultimamente, Xavier D'Oas pronunciou-se sobre esta matéria n
um estudo muito valioso, Interdictum Fraudatorium (Santiago de Compostela 1981).
43-63. Este valioso estudo apareceu, mais tarde, algo modificado, na sua obra, C
oniectanea. Studi di Diritto Romano (Milão 1976) 261-285.
tamente a aplicação do ius civile
supra 292. - Para um exame das fontes sobre o problema, vid. Pasquale Voci, Manu
ale di Diritto Romano 1s (Milão 1984) 133.
em 228 (ou talvez em 224 ou mesmo em 223; vid D'Oas, DPR3 322.
também de 1929. - Sobre estas e outras questões, vid. G. G. AEetn, Teodosio II e Ia
sua Cofficaaione (Nápoles 1976).
(2." parte). VOLTERRA, em ASD 1(1957) 58, admite a hipótese de as PS terem sido es
critas por PAULUS.
aequitas 104-1
(Nota) 607-a Acerca deste problema (aequiras, nos vários quadrantes), vid. G. BROG
GINI,' Rifiessioni sull'Equitd (Milão 1975).
5(1966) 324 5(1966) 324. -Ainda como (legislador do seu tempo», não deixou de promul
gar certa legislação regional (do tipo de Direito Administrativo), infelizmente aind
a pouco estudada; vid. uma bela síntese de A. TORRENT em Labeo 29(1983) 175-181.
41-54. 41-54; vid. também TvR 45(1977) 207-307.
permanecerá? permanecerá? - Vid., como estudo recente
e muito curioso, A. CENDERELLI, Digesto e Predigesti. Rifressioni e Ipotesi di R
icerca
(Milão 1983). -[Embora datado de 1983, só apareceu a público em meados de 1984]
330 405. 43-63.
335 12 351
tamente o ius civile
430 supra 292.
400 11 em 228
418 34 432
437 1
451
também de 1929. 596 (2P parte),
aequitas
643
316 e - b)
324
465 667
478 34
628
629
cesanos de Braga, onde se ordenou e está incardinado. Doutor em Direito Canónico pel
a Pontifícia Universidade de Salamanca e Doutor em Direito pela Universidade de Co
imbra, especializou-se em Direito Romano tendo durante cinco anos frequentado os
melhores centros de investigação romanística da Europa: trabalhou em Santiago de Comp
ostela com o Prof. Álvaro D'ORS, de quem é discípulo; em Munique, no Leopold Wenger-In
stitut com o Prof. Wolfgang KuNKm; . em Roma, no Istituto delta Interpretazione
com o Pro£ Emilio BTTTI. Além disso, durante os anos que permaneceu no estrangeiro f
requentou um Seminário de Exegese Bíblica do Prof. COLUNGA, Seminários de Filosofia do
Direito dos Profs. CASTRO ALBARRÁN, LEGAZ Y LACAMBRA e BETTI, os de Hermenêutica ju
rídica dos Profs. HBRrIANN e PETSCHOw, o de Exegese Jurídica (a textos clássicos não juríd
icos) do Prof. KuNKEL, o de Exegese ao Digesto do Pro£ BRANCA, o de Fontes do Dire
ito Comum do Pro£ CAEnsso, e o de Fontes Post-Clássicas do Pra£ D'ORs. Desde 1958, tem
tomado parte anualmente nos congressos internacionais de Direito Romano, e em vár
ios de Direito Canónico e de Direito Concordatário. Além de comunica- . ções em congressos
, e de artigos sobre temas de Direito Romano, Direito Canónico ou Direito Concorda
tário em revistas e enciclopédias, publicou Da eSolutio» I (Coimbra, 1962), Direito Co
ncordatário Português (publicação em fascículos, iniciada em 1970) (Coimbra, 1970), Ius. D
erectum (Directum) Dereito (Derecho, Diritto, Droit, Direito, Recht, Richt), etc
. (Relectio) (Coimbra, 1971). Direito Romano h (Coimbra, 1973). Da «Solutio» II (Coi
mbra,1973); Direito Romano I; (Coimbra, 1980). Para publicar dentro em breve: Da
«Solutio» 11-2 (em fase de ultimação); Direito Romano II (em preparação). Lecciona Direito
Romano na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, desde 1963, e, desde
1969, ainda Direito Concordatário Português; desde 1981, é também catedrático da Universid
ade Católica Portuguesa-