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SEBASTIÃO CRUZ

DIREITO ROMANO. LIÇÕES

PLANO GERAL

Introdução
1-Conceito de Direito Romano. 1I-Fases características do estudo do Direito Romano
. 111-Actualidade dos estudos romanisticos. IV-Razões justificativas da utilidade
do ensino do Direito Romano nas actuais Faculdades de Direito. V -Critério e método
a seguir. Matérias a versar. VI-Principal bibliografia.
1.a Parte-Fontes do «lus Romanum»
I -Fontes. Conceito. Espécies. II-Costume. 111 -Lei das XII Tábuas. IV-Fontes do «lus
Civile» (D. 1,1,7 pr.). V-Fontes do «lus Praetorium» (D. 1,1,7,1) VI--Ciência jurídica e a
s várias escolas. VII -Literatura jurídica. VIII -Principais jurisconsultos. IX -Obr
as e colectâneas pré-justinianeias: A)-Ocidentais; BI-Orientais. X - Corpus furis Ci
vilis. XI-Interpolações, glosemas e glosas.
2.a Parte - Vários conceitos e diversos princípios jurídicos Negócios jurídicos. «Actuo» e pr
cesso civil
I-Fas, ius, (ustitia, aequitas. li-1us civik, ias honorarium, ius praetorium, iu
s naturale. 111-lus publicum e ius privatum. IV -Negócios jurídicos (nexum, stipulat
io, negócios «per aes et libram», mancipatio, in lure cessão, traditio, etc.) V-lus e
actuo. VI-As actiones do processo civil romano.
3.a Parte - Algumas instituições do idos Romanum»
1-Personalidade jurídica. II-Patrimonium e propriedade. III-Obrigações. IV-Suces
sões e doações.
Este 1 vol. compreende a latreduçio e a 1! Parte.
0 II vol. (em preparação) abrangerá a 2.' e a 3.4 Partes.
Um III vol. (a preparar) conterá uma selecção de textos jurídicos, no original
e em tradução portuguesa, acompanhados dum brevíssimo comentário.
SEBASTIÃO CRUZ
DIREITO ROMANO
(IUS ROMANUM)
I
INTRODUÇÃO. FONTES
4. EDIÇÃO
Revista e Actualizada
COIMBRA
1984
AOS ESTUDIOSOS BRASILEIROS DE DIREITO ROMANO
i
Há quem nos chame (a nós, juristas) sacer. dotes; e com razão. Na verdade, prestamos c
ulto à Justiça; professamos a ciência do bom e do equitativo-separando o équo do iníquo, d
izendo o que é justo e o que é injusto, discernindo o lícito do ilícito, esforçando-nos pa
ra que os homens sejam bons, não só através da ameaça das penas mas sobretudo pelo estim
ulo dos prémios (inerentes' ao cumprimento do
devido) ».
ULPIANUS-(Lib. I Institutionum), D. 1.1,1,1
ÍNDICE GERAL
PRÓLOGO DA 1.' EnrçXo ...
PRÓLOGO DA 2.' EDIÇÃO ...
ALGUMAS ABREVIATURAS ... XLVII
XIX
XLVI
DIREITO ROMANO («IUS ROMANUM»)
«Muitos princípios do Direito Romano estão de perfeita harmonia com a recta razão, e por
isso formam como que uma filosofia jurídica perene».
A. VAN HOVE, Prolegomena luris2 (Lovaina, 1965)
«0 Direito- Romano ajuda à preparação do jurista moderno... é o alfabeto e a gramática da li
nguagem jurídica e de toda a Ciência do Direito».
A. BISCARD1 em Labeo 2 (1956) 211
Apresentação da disciplina...
INTRODUÇÃO
Título I - CONCEITO DE DIREITO ROMANO § 1. Noção vaga
1
Capitulo 1..'-Certos prolegómenos ao conceito de DR
§ 2. Necessidade da existência de normas sociais;
Particular necessidade da existência de normas jurídicas; como
se distinguem das outras normas sociais 8
7
várias espécies.
«. necessário que o estudo do Direito Romano ocupe o primeiro lugar, no currículo, uma
vez que constitui a base necessária e fundamental para conduzir os jovens à compree
nsão do Direito».
(A primeira das três conclusões, aprovadas por decisão unànime, do «Colóquio internacional d
e Direito Romano», realizado em Julho de 1970 no Rio de Janeiro; vid. infra 157 e
158. Vejam-se também págs. XXI-XXXVI do Prólogo, e 113-120 e 126 do texto).
Capítulo 2'-Análise da primeira parte da expressão «lus Romanum»
§ 3. a) lus (noção etjmológíca) ... b) lus (noção real)
Capítulo 3.°-lus. Derectum (Directum). Direito
A questão. Problema principal; problemas secundários ...
16 20
§ 4.
24
ix
Capítulo 4.' - Várias acepções em que pode e deve ser tomada a expressão «Direito Romano»
Capítulo 6.' - Tradição romanista (sécs. VI-XX)
§ 5. A expressão «Direito Romano», como «Direito dum povo», é expres
são muito vaga 33
Deve ser tomada em três grandes acepções
A) -em sentido rigoroso (stricto sensu)
B) -em sentido amplo (lato sensu)
C) -em sentido muito amplo (sensu latissimo)
Corpus luris Civilis (Conspecto geral)
Quem mandou organizar essa compilação; factores que contribuíram
para a sua efectivação ... . 35 Partes, datas e divisões 36
Edição crítica e escolar 37
Capítulo 5.' - Ius Romanum (Direito Romano «stricto sensu»)
a) - Épocas históricas
p)- Relação entre «lus Romanum» e «Imperium»
a) - Épocas históricas da vida do «lus Romanum»
§ 6. Necessidade de estabelecer uma periddização na vida do «lus Romanum» 39 Critéri
os mais importantes: político, normativo e jurídico (externo
e interno). Crítica 41 Segundo o critério adoptado (o jurídico interno - razões),
há quatro épocas históricas
a) Época arcaica (753 a.C.(?}130 a.C.) ... 43 b) Época clássica (130 a.C.-230 d.C.) ..
. 46 c) Época post-clássica (230-530) 48 d) Época justinianeia (530.565) 51
I-ius e auctoritas 55
II-Direito e Política em Roma 56
b) As várias formas políticas de Roma: Monarquia, República, Prin
cipado e Dominado. (Breve apontamento] 58 c) Confronto, através duma tábua cronológic
a, entre a vida do «Ius
Romanum» e a vida do «Imperium» 82
I - Supervivência do «Lus Romanum» II-Estudo do «lus Romanum»
I - Supervivénaá do «lus Romanum» (sécs. VI-XX)
0 fenómeno... ... 88
a) No Oriente ... 88
b) No Ocidente 90
II - Estudo do «fus Romanum» (sécs. VI-XX) Períodos e Escolas
PRIMEIRO período (sécs. VI-XI): no Oriente ... 91
no Ocidente 93
SEGUNDO período (sécs. XI-XX). Só interessa Ocidente ... 94
Fenómeno da «recepção» 95
Escolas: 1) - dos glosadores (sécs. XI-XIII) ... 96
(visão geral) 2) -dos comentadores (sécs. XIII-XV) ... 97 3) -culta (sécs. XVI-XVIII)
99 4)-do Direito Natural (sécs. XVIII-XIX)... 99
5)-Histórica Alemã (séc. XIX) 100
Capítulo 7.'-Direito Romano (sensu latissimo)
§ 10. Compreende a existência de 27 séculos, 13 de vida e 14 de supervi
Título II-FASES CARACTERÍSTICA DO ESTUDO DO DIREITO ROMANO
§ 11. 1.' fase, desde o início até cerca de 1900 103
§ 12. 2.' fase, desde 1900 até cerca de 1950 104
§ 13. 3.' fase, desde 1950 ... 110
Título III-ACTUALIDADE DOS ESTUDOS ROMANÍSTICOS
§ 14. a) Como é feito, presentemente, o ensino do Direito Romano, nos vários países...
. 113
b) Sociedades de juristas defensoras dos estudos romanísticos ... 115
c) Revistas de Direito Romano 115
34
§ 8.
§9.
p) - Relação entre «lus Romanum» e «Imperium»
§ 7. a) Conexão entre a vida do Ius Romanum e a vida do Imperium Sua razão de ser: -co
nexão entre
54
101
X
XI
Título IV-RAZÕES JUSTIFICATIVAS DA UTILIDADE DO ENSINO DO DIREITO ROMANO NAS ACTUAIS
FACULDADES DE DIREITO
§ 15. Enumeração, por ordem hierárquica, e análise das várias razões ... 117 Titulo V
ITÉRIO E MÉTODO A SEGUIR. MATÉRIAS A VERSAR
§ 16. a) Critérios utilizados; critério a usar ... ... 121 b) Método, ins
trumental e processamento ... ... 124
c) Matérias a versar: o ideal; o possível ... ... 125
Titulo VI-PRINCIPAL BIBLIOGRAFIA
§ 17. a) Livros 127
b) Revistas 155
c) Autores principais da actualidade ... 156

1.' PARTE
FONTES DO «IUS ROMANUM»
Título I - FONTES DO «lUS ROMANUM». CONCEITO. ESPÉCIES
§ 18. Fontes do «lus Romanum» ... 161
a) Conceito 162
... 163
c) Conspecto geral das fontes cogrrascendi 165
Título 11-COSTUME
§ 19. 0 costume 169
a) Conceito moderno (consuetndo) e conceito romano (mores maio
rum) 170
b) Costume (mores maiorum) e ius non-scriptum. A inaerpretatio ... 172 e) Fases
do costume (mores maiorum) como fonte do «lus Roma
173
d) Costume (consaerudo) ... . 174
Título X1l-LEI DAS XII TÁBUAS
§ 20. a) Primeira «lei» do lus Romanum? Problema das «legas regiae» ou
«lus Papirianum»... . 175
b) 0 que diz a tradição e qual o seu valor a respeito da Lei das XII
Tábuas 182
c) Data 182 d) 182 e) Divisão, conteúdo e importância 183 f) Actividade da int
erpretará depois da Lei das XII Tábuas ... 184
g) Análise da Táb. III 185
Título IV-FONTES DO «IUS CIVILE» (D.1,1,7 pr.) A)-LEGES senso stricto B)-LEGES senso l
ato
C)- IURISPRUDENTIA
Capitulo I.°-A) LEGES («sensu stricto»): ROGATAE, DATAE(?), DICI'AE
§ 21. a) Conceito de lex ... 200 b) Espécies... . 202
c) Leges publieae. Evolução ... 205
Capítulo 2.°-B) LEGES («senso lato»)
(x) Senatusconsultos
R) Constituições imperiais
e)- Senausconsulta
§ 22. a) Conceito 217 b) Como adquiriram força legislativa ... 218 c) Como a foram p
erdendo 222 d) Estrutura formal. Denominação 223 e) Exemplos. Especial análise
dos senas. VeUcianum. Neronianum e
Macedomanum ... 224
SENATUSCONSULTUM VELLEIANUM
§ 23. 1- Razão da sua denominação, data, conteúdo e antecedentes 233, 2-Intercessio. Conce
ito. Espécies 235 3 - Justificação oficial da proibição da intercessio ... 236
4 - Efeito ... 237
... 238
6 - Análise dalgumas modalidades da «intercessio cumulativa».., 239 7 - Relação entre inte
rcessio cumulativa na forma de obrigação cor
real, «adpromissio», «expromissio» e «intercessio tacita» 245
XII
XIII
SENATUSCONSULTUM NERONIANUM
§ 24. a) Razão da designação, data e matéria
b) Espécies de legados e respectivas fórmulas ... c) Conteúdo: primitivo; posteriores
ampliações
c) Missiones in possessionem 326
d) Interdicts 327
SENATUSCONSULTUM MECEDONIANUM
§ 25. a)
b)
c) Consequência
d) A quem era concedida a exceptio («senac. Macedoniani»)... e) Casos em que era neg
ada a exeeptia («senac. Macedoniani») f) Fraude ao senac. Macedonianum; consequência .
..
P) - Constitutiones Principum
§ 26. a) As constituições imperiais durante o principado e parte do domi. nado (sécs. I-
IV)
b) No Baixo-Império (sécs. IV-VI)
Capítulo 3.°-C) Iurisprudentia
§ 27. a) Carácter complexo do saber-jurídico
b) lurisprudentia. Análise de D.1,1,10,2 c) Evolução histórica da iurisprudentia d) Funções
dos «jurisprudentes»
e) A iurisprudentia como fonte de direito ...

Título V -FONTES DO «IUS PRAETORIUM» (D.1,1,7,1)


A) Expedientes do pretor baseados no seu «imperium» B) Expedientes do pretor baseado
s na sua «iurisdictio» C) 0 «Edictum» do pretor
IUS PRAETORIUM
§ 28. a)
b) Relação com o jus honorarium, com o jus civile e com o Jus Roma
c) Fases da actividade do pretor (urbano)
Capítulo 1.° - A) Expedientes do preta baseados no seu «imperium»
§ 29. a) Stipulationes praetoriae b) Restitutiones in integram
XIV
Capitulo 2.°-B) Expedientes do pretor baseados na siga «iurisdictio»
§ 30. a) Posição do pretor, na organização dos processos, antes da lex
Aebutia de formulis 332 b) Posição do pretor depois da lex Aebutia de formulis;
carácter do
processar «per formulas»
c) Análise muito breve dos vários expedientes
Capítulo 3.° - C) 0 «edictum» do pretor
§ 31. a) Missão, actividade, controle e expedientes do pretor (síntese) b) Formas util
izadas pelo pretor na concessão dos expedientes:
decreta e edicta 340
c) Espécies de «edicta» do pretor 341 d) Codificação dos edictos do pretor. 0 Edictum
Perpetuum: exis
tência; natureza jurídica 343 e) Reconstituição e ordem do «Edictum», segundo LENEL; cr
de FUENTESECA 345
Título VI - CIÊNCIA JURÍDICA E AS VÁRIAS ESCOLAS
§ 32. a) Até ao séc. III, não há escolas (de Direito) 351 b) A partir dos fins do séc. I
II, mas sobretudo dos meados do séc. IV,
verifica-se a necessidade de escolas (de Direito) 353 c) Escolas principai
s: Roma, Beirute, Constantinopla, Alexandria e
Cesareia 354
Escolas das províncias 358
e) Importância da Escola em si 359
Valor das escolas do Oriente e do Ocidente 359

Título VII -LITERATURA JURÍDICA


§ 33. Vários tipos de obras jurídicas ... 361
a) De carácter elementar ... 362
b) De carácter casutstico .., 365 c) De carácter enciclopédico ... 367
Tratados 368 e) Comentários a normas e a institutos isolados 370
Obras diversas 371
XV
Data; fontes. Conceito, designação, conteúdo, finalidade e caráctei Efeito
333 335
1-E. ceptio e denegatio actions .,. .,, 336
2-Actions praetoriae 337
339
Título VIII-PRINCIPAIS JURISCONSULTOS
§34. Simples indicação de jurisconsultos importantes (46). Referencia espe
cial a 21 juristas principais 381
Título IX -OBRAS E COLECTÃNEAS PRÉ-JUSTINIANEIAS
405
Código Teodosiano 411 (1) Classificação de certas colectâneas pré-justinianeias. Critér
adoptado 425
A) - Principais obras ou colectâneas pré justinianeias ocidentais
(sécs. Ill-IV): Fragmenta Vaticano, Collatio, Consultatio, Pauli.Sententiae, Epito
me Goi, Gaio de «Autun». Ttuli ex Corpore Ulpiani e Interpretations 426
B) - Principais obras ou colectâneas pré-justinianeias orientais
(sécs. 111-VI): Leges Saeculares (ou Livro Siro-Romano), Scholia Sinaitica e Res C
ottidianae 436
Título X -CORPUS IURIS CIVILIS
Capítulo 1.°-A)-Planos de Justiniano
Plano inicial - Codex Vetas (529): comissão incumbida da elaboração; publicação
h) Plano posterior: realização duma grande colectânea de luz e de
reges 446
Capitulo 2.° - B) - Análise das várias partes do «Corpus luris Civilis» § 37. I - Dige
sta ou Pandectae (16-12-533)
a) Preparação da colectânea de ius: Quinquaginta decisiones
455
b) Elaboração (comissão redactora, const. Deo auctore, de
15-12-530) e publicação (const. Tanta -áé8wxcv,de16.12.533) 456 c) Autores e obras utili
zadas. Sistematização e forma de citar 458
d) Proibição de comentar o Digesto e obrigação de o adoptar nas escolas e nos tribunais
e) Problemas externos à elaboração e à publicação
I - Distribuição dos fragmentos dentro de cada título 468 II - Método de trabalho dos co
mpiladores. Teorias 470
2-Institutions (21-11-533)
a) Elaboração e publicação (const. Imperatoriam maiestatem,
de 21-11-533) 479 b) Fontes utilizadas. Sistematização. Modo de citar,.. 480 c) Ca
rácter normativo ... 482
d) Modo de elaboração ... 482
3 - Codex [repetitae praeleetionis] (17-11-534)
a) Elaboração e publicação (const. Cordi, de 17-11-534) ... 483
b) Fontes utilizadas. Sistematização. Modo de citar ... 485
4 - Novellae (constitutions)-535 a 565
a) Actividade legislativa de Justiniano, depois do Codex 487
b) Partes de uma Novella; matéria das Novellae 488 c) Colectâneas privadas de Nov
ellae
I - Epitome luliani 489 II - Authenticum 490
III - Colectânea grega (580?) 492 IV - Modo de citar as Novelas: a) - uso mode
rno;
p)-formas antigas 493
Capítulo 3.° - C) - Manuscritos das diversas partes do «Co~ Iuris Civilis»
§ 38. Manuscritos:
1 - das Institutiones ... 496 2 - dos Digesta ou Pandectae ... 497
3 - do Codex ... ... 498
4 -das Novellae ... ... 498
Capítulo 4.°-D)-Edições do C.I.C. Repartição medieval do «Corpus luris Civilis» e dalgumas co
tâneas
§ 39. a) Edições do Corpus luris Civilis:
a) - Até ao séc. XVI, parcelares e glosadas 500 p) - A partir do séc. XVI, não-g
losadas e quase todas de con
... 461
§ 35. a) A partir do séc. IV, especial necessidade de textos jurídicos
b) Carácter geral dos novos textos
c) Espécies de colectâneas: de leges, de ius, e de ius e de leges ...
Código Gregoriano e Código Hermoge
403 405 405
§ 36. a)
442
503
XVI
XVII
b) Repartição medieval do Corpus !uris Civilis e dalgumas colectâ
505
Título XI - INTERPOLAÇÕES, GLOSEMAS E GLOSAS
§ 40. a)
Interpolações
I - Conceito e critério para as descobrir
II - Evolução da crítica interpolacionística
III - As interpolações no Corpus !uris Civilis. ... IV - As interpolações nas fontes préju
stinianeias
b) Glosemas (e glosas): conceito; critérios para as descobrir; seu estudo; verific
ação em diversas fontes c) Alguns sinais diacríticos
APÊNDICE (consts. Tanta e Aé&wxev, trad. esp. de A. D'oRS). ... ... 525
ÍNDICES
PRÓLOGO
Concluídas as nossas provas de doutoramento na Faculdade de Direito da Universidad
e de Coimbra em Dezembro de 1962, a mesma Faculdade confiava-nos a regência da cad
eira de Direito Romano em. Janeiro de 1963.
Vimos então claramente e sentíamos bem a responsabilidade. Procurámos corresponder o m
elhor possível à confiança em nós depositada.
Seria muito mais agradável continuar a investigação sobre o tema da «solutio», que tínhamos
iniciado com a nossa disser . tação de doutoramento, e publicar o II vol., a fim de
nos apresentarmos, depois, a solicitar a abertura de concurso para professor ext
raordinário.
Seria mais agradável, mais útil e, individualmente, sem dúvida muito mais proveitoso.
Bons Amigos incitavam-nos à realização desse plano.
Entendíamos, porém, que, dadas as circunstâncias, e à semelhança do que é exigido noutros paí
es, o trabalho principal a elaborar por quem aspira a ser professor deveria cons
istir na publicação dumas lições, embora só policopiadas; nas provas de doutoramento, o ca
ndidato à docência já teria mostrado ou não qualidades de investigador. Resolvemos, port
anto, suspender a investigação no campo da «solutio» -e, de início, bem nos custou
assim coma outros trabalhos de responsabilidade, e preparar Lições.
509
510 515 518 519
520 522
1. De Fontes
2. De Matérias
3. De Autores
4. De certas Máximas ou Aforismos Jurídicos
553 563 597 605
CORRIGENDA
POSFÁCIO
... 607
... 609
XVIII
XIX
Logo no primeiro ano, curso de 1962-63, tentámos ensaiar uma nova orientação. No curso
de 1963-64, apresentámos, policopiadas, Lições novas, mas incompletas; no curso de 19
64-65, aumentámos a exposição de matérias; no curso de 1965-66, surgia nova edição, ainda po
licopiada, mas já em dois tipos de letra diferentes imitando uma edição impressa.
Por aqui tencionávamos ficar algum tempo, a fim de retomarmos a investigação sobre o t
ema da «solutio», para publicar o II volume, cujos materiais - em grande parte recol
hidos em Espanha, Itália e Alemanha-, era necessário ir actualizando
de ano para ano.
0 interesse dos alunos incitou-nos, porém, a dar prioridade a esta publicação, que é, po
rtanto, como que uma 3.a edição das primeiras Lições. Para a decisão final também contribuíra
, e não pouco, os simpáticos estudantes brasileiros que frequentaram, com tanto entu
siasmo, as nossas aulas do 3.° período do curso de 1966-67.
Resolvemos então deixar tudo, e, desde Fevereiro de 1967, com sacrifício de muita co
isa, viver pràticamente só para este trabalho.
Todavia, certas interpretações e formulações pessoais, sobretudo de alcance propedêutico,
são o fruto de longas reflexões; longas e frequentes, pois alguns problemas, sobre q
ue vimos
meditando há alguns anos, têm hoje uma solução diferente da que se encontra no texto, co
meçado a imprimir há vários meses. V.g. a hipótese de trabalho apresentada a pdgs. 19-31
já passou a tese. [Ver nossa separata - Ius. Derectum.. Derecho. Direito. (Reposição
do problema principal. Nova análise de alguns problemas secundários) -, (Coimbra,196
9)].
Estas Lições foram elaboradas para alunos que vivem no ambiente jurídico português.
Ora, primeiro : o nosso programa oficial de estudos dedica a esta disciplina ape
nas três horas semanais de aulas teóricas, e só durante um ano escolar. Em nenhuma par
te da Europa - nem mesmo, pràticamente, na França - e em nenhum país do mundo civiliza
do, se consagra tão pouco tempo ao ensino do Ius Romanum como actualmente em Portu
gal.
Segundo: a opinião de várias pessoas influentes é desfavorável ao alargamento do ensino
do Direito Romano, certamente por total desconhecimento do problema, pois de cer
teza não devem ter acompanhado o extraordinário movimento dos estudos romanísticos pro
cessado quase em toda a parte nestes últimos dezoito anos. R inacreditável, verdadei
ramente incompreensível, como, entre nós, certas pessoas com responsabilidades falam
e escre
XX
XXI
vem contra as vantagens do ensino do Ius Romanum nas actuais Faculdades de Direi
to. Naturalmente, não leram nada do muito que se tem publicado, lá fora, nestes dois
últimos decénios É preciso saber-se que essas pessoas estão antiquadas e ultrapassadas.
É como se falassem de Física, baseadas unicamente nos conhecimentos que obtiveram a
té 1940, e não tivessem lido nada sobre... energia nuclear. Numa palavra, salvas rar
as mas muito honrosas excepções dos «antigos» (como Cabral de Moncada, Paulo Merêa, Braga
da Cruz, etc.) e uma certa maioria da «gente moça» que principia a surgir para a vida
prática - tudo, por enquanto, excepções -, na generalidade, hoje em' Portugal a respei
to de Direito Romano ainda se vive das ideias e dos sentimentos (por vezes, sent
imentalismos) da enorme crise, que, em geral, dominou o ensino do lus Romanum, d
esde 1900 até cerca de 1950.
Nestas condições, entendemos que certas matérias deviam ser expostas com mais vigor '
e extensão do que normalmente é exigido em todos os países que já superaram essa crise.
Por exemplo, insistimos nas razões justificativas do ensino do Direito Romano, na
panorâmica actual dos estudos romanísticos, em certos dados bibliográficos, etc., quan
do, afinal, hoje, em todo o mundo civilizado, esses e outros problemas estão soluc
ionados e definitivamente resolvidos, sobretudo depois do inquérito levado a cabo
pela revista Labeo em 1956. - Cerca de 400 juristas, na sua quase totalidade não a
penas romanistas, mas
também ou filósofos do direito ou professores de Introdução ao Estudo do Direito ou civi
listas ou processualistas ou cultores de qualquer outro ramo do saber jurídico, ou
simplesmente juristas não-romanistas, todos, unânimemente, e com expressões bem eloqu
entes, afirmam as vantagens e a necessidade do ensino do Ius Romanum na actualid
ade, para o aluno adquirir verdadeira mentalidade jurídica.
Por isso, desde 1962 vimos transcrevendo as opiniões dos grandes mestres a respeit
o do problema; e citamo-los, «oportune et importune», para usar, mutatis mutandis e
com o devido respeito, das palavras do Apóstolo das gentes.
E não é em vão que mencionamos um Apóstolo. É que hoje em dia, devido ao desinteresse da g
rande maioria dos alunos por certos problemas intelectuais, o professor já não pode
limitar-se apenas a ser um bom profissional; tem de ser também um... apóstolo da dis
ciplina que leccionar.
Nesta ordem de ideias, apraz-nos arquivar, também aqui, certas opiniões de autores c
onsagrados.
Alvaro D'ORs: «Valiosos escritos jurídicos de estes últimos tiempos son claro indicio
de Ia necesidad en que se hallan los juristas modernos de volver sus hojos, otra
vez, hacia el Derecho Romano.
Creo que podemos precatarmos de que el jurista actual, después de una etapa históric
a en que parecia haber perdido su
auténtica funclón, que había dejado de ser el «sacerdote de Ia justicia», como le llamó el a
ntiguo, intuye, quizá confusa aún, pero no menos confiadamente, que aquella etapa de
oprobios está llegando a su fin y que amanece ai mundo una nueva etapa de Ia hist
oria jurídica. Tal amanecer cree descubrirlo el jurista en Ia paladina ruiva dei l
egalismo.
En Ia acelerada marcha de Ia legislación, fenómeno común a todos los pueblos, en ese c
aos moderno de Ia legislación motorizada, como han dicho unos, o de elefantiasis l
egislativa, en frase de otros, el jurista había perdido totalmente su dignidad; se
había reducido, no diremos ya ai papel de un mero exegeta, sino ai de un agente m
iserable e infortunado agorero de un legislador desbocado. Oprimido por Ia tiran
ia legislativa, el jurista se refugiaba, como decía con sal un colega de Ia Univer
sidad madrilefia, en el alivio de Ia inobservancia. Hasta tal punto Ia pianifica
ción política Ilega a asfixiar a Ia prudencia jurídica...
Pero esta contraposición resulta más clara cuando Ia consideramos desde el ángulo visu
al romano de Ia antítesis entre ius y lex.
La conciencia dei valor actual dei Derecho Romano nos proporciona una insuperabl
e confianza, un franco optimismo y un gusto por nuestra propria ciencia muy supe
rior, quizá, ai que suele encontrarse entre los que se dedican a Ias otras ciencia
s jurídicas» - (Los Romanistas ante Ia Actual Crisis de Ia Ley2 [Madrid,1956] 12 e 1
3).
XXIV
Franz WIEACKER: «Das Studium des r6mischen Privatrechts ist die lingua franca alle
r Kontinentalen, ja aller Juristen. Die klassische Jurisprudenz hat die dogmatis
chen Grundprobleme exemplarischer formuliert» - (Labeo 2 [1956] 208).
Max KASER: «Von den Schõpfungen des rómischen Geistes hat keine so tief and so dauerha
ft auf die Nachwelt eingewirkt wie das Privatrecht. Die, heutige Zivilrechtswiss
enschaft, das Kernstück aller Jurisprudenz, ruht in den Lündern des europ5ischen Kon
tinents and in den von dort aus besiedelten Gebieten anderer Erdteile auf der ge
meinsamen r6mischen Grundlage» - (Das rbmische Privatrecht I [Munique,1955] 1).
Antonio GUARixo: «Ogni giurista cosciente non può e non deve, pertanto, rifuggire, d
allo sforzo di accostarsi ai Diritto Romano, anche se esso sia in se molto gravo
so» - (lura 2 [1951] 215).
Arnaldo BISCAR»I: «II Diritto Romano giova alia preparazione dei giurista moderno...
Le fonti giuridiche romane sono ancor oggi il testo piü prezioso, da cui il giuri
sta può apprendere, per dire cosi, l'alfabeto e Ia grammatica dei suo linguaggio,
che è per l'appunto Ia scienza dei diritto» - (Labeo 2 [1956] 211).
XXV
Gaetano SCHERILLO: «Non voglio dire the ia conoscenza del Diritto Romano sia da so
la sufficiente a fare it giurista: voglio dire the non pub aspirare al titolo di
giurista chi sia digiuno di Diritto Romano» - (Labeo 2 [1956] 200).
Biondo BIONDI: «Anzitutto il Diritto Romano non rappresenta qualche cosa di remoto
ai nostro pensiero, ma attraverso una ininterrota tradizione secolare, costitui
sce gran parte delia sostanza viva dei diritto moderno. I principi fondamentali
della convivenza umana fissati dai romani, il loro metodo nella creazione ed ela
borazione dei diritto rappresentano postulati, da cui non é facile stacarsi, senza
sovvertire le basi stesse della convivenza sociale e Ia finalità dei diritto» - (Is
tituzioni di Diritto Romano' [Milão,1956] 6).
Manuel GARCIA GARRIDO, Jurisprudencia Romana y Actualidad de los Estudios Romani
sticos (Separata do Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra 40[1964])
«Debemos formar jurisprudentes en el sentido romano clásico de Ia palabra, mas que m
eros eruditos dei derecho. Nuestras Facultades deben proporcionar un auténtico sen
tido de Ia prudentia iuris y dotar ai futuro jurista de un fuerte espíritu de libe
rtad y de crítica frente a los entrechos cauces dei legalismo. La actual prolifera
ción e invasión de normas y reglamentos a todos los
XXVI
âmbitos y esferas exige dei jurista unos criterios claros y seguros que le permita
n orientarse en ese caos de disposiciones y hacer triunfar los postulados de Ia
justicia. Frente a Ia información, debe predominar Ia formación, que en Derecho solo
puede concebirse en sólidas bases romanístícas.
En el Digesto disponemos de un material inagotable de casos, de controversias y
de principios jurídicos, como nunca ha existido otro igual. Si mas que lógica el Der
echo es experiencia, no puede pensarse en una experiencia jurídica parecida a la q
ue nos ofrecen Ias Pandectas. El jurista de hoy que abra y lea el Digesto, sin m
as preocupaciones críticas e históricas, quedará sorprendido por el manancial de soluc
iones, aplicables incluso a muchos de sus problemas. Urge hoy hacer que manejemo
s con más frecuencia el Digesto y que aprovechemos sus magistrales supuestos para
proporcionar a los discentes un verdadero sentido jurídico. Nos atreveríamos a decir
que Ia mayor actualidad de los estudios romanísticoss consiste precisamente en el
ejercicio y aprendizaje dei casuismo 'jurisprudencial mediante los textos dei D
igesto. Los viejos casos de Ticio y SEMPRONIO siguen temendo una indudable utili
dad formativa y los resultados que se consiguen con frequentes ejercicios sobre
casos prácticos son sorprendentes. Acostumbrando ei alumno ai análisis minucioso y p
ormenorizado dei supuesto de hecho, ai juego de ias acciones y excepciones y en
definitiva, a razoar juridicamente, mediante Ia técnica de Ia «disección dei
XXVII
caso», se consigue dotarle de un claro y profundo sentido jurídico» (excertos das págs.
28 e 29).
A. D'ORS, F. HERNANDEZ TEJERO, P. FUENTESECA, M. GARCIA GARRIDO y J. BURILLO, El
Digesto de Justiniano I. Constituciones Preliminares y Libros 1-19. Versión Caste
llana (Pamplona, 1968): «La expansión actual de Ia cultura europea por otros contine
ntes ha venido a plantear en términos nuevos el diálogo entre Ias distintas tradicio
nes jurídicas, el cual no se estabelece ya exclusivamente entre los juristas del «co
mmon law» anglosajón y los de Ias distintas naciones continentales herederas del «ius
commune», sino entre culturas muy diversas, que podrían parecer incluso exóticas si no
fuera por Ia fe en Ia base común de todo lo que es humano, por muy divergentes qu
e sus procesos de formación y evolución hayan podido ser. En este nuevo diálogo a esca
la universal, el Digesto como incomparable tesoro que es de sabia casuística, pued
e ofrecer un instrumento de primer orden para la educación jurídica universal de nue
stros dias. En una u otra coyuntura de Ia Historia, el Digesto será siempre el «dere
cho común».
Es comprensible que unos romanistas, como somos los autores de esta versión, lamen
temos el regreso cultural que representa Ia decadencia de los estudios del Latín e
n Ia actual fase de nuestra sociedad de masas, pero no creemos que a causa
de esa lamentable decadencia se deba relegar al olvido todo el tesoro de lá jurisp
rudencia romana, manancial inagotable que ha vivificado desde hace mochos siglos
Ia ciencia y Ia prudencia de los juristas. Por el contrario, creemos que ésta será
siempre una fuente de salvación contra el vulgarismo jurídico que Ia confluencia de
diversos factores de hoy parece provocar» (excertos das págs. 7, 8 e 9).

Por último, apraz-nos citar, transcrevendo-o longamente, Juan IGLESIAS, Estudios.


Historia de Roma. Derecho Romano. Derecho Moderno (Madrid,1968), obra publicada
há poucos meses, que nos chegou às mãos quando estávamos a redigir este prólogo e concluíamo
s a redacção do § 40:
«Si los juristas paramos Ia atención en nuestro propio campo, advertiremos que los e
studios en materia jurídica llegan hoy ai máximo, pero no deja de afligir el contras
te entre Ia inmensa producción científica y Ia escasa virtud que de ella dimana.
Por lo general, no predicamos los princípios sencillos. No solemos ensenar que el
verdadero progreso del Derecho estriba en Ia afirmación cada dia más pronunciada de
Ia Justicia.
No podemos retroceder. No cabe dar al traste con nuestros complicados y refinado
s métodos de investigación, porque es menester que creamos en su bondad. Pero en est
a hora angus
XXVIII
XXIX
tiada, en esta hora de dolor por Ia que atraviesa Ia humanidad, de poco servirá qu
e ensenemos el manejo de tales o cuales métodos, si no instamos a conocer y practi
car estas regias de curo romano: honeste vivere, alterum non laedere, suam cuiqu
e tribuere.
La desgraciada sociedad presente necesita de todos, y acaso exija de nosotros, j
uristas, un esfuerzo especial.
Lo mas importante en esta hora es llevar bajo el brazo un vademécum de soluciones
a problemas vitales. Por verdad que si queremos encontrarmos con nosotros miamos
, esto es, con nuestra propia humanidad, debemos aplicar nuestro instrumental a
ias necesidades y fines de Ia vida.
A nosotros, romanistas, nos toca decir que el jurista romano - enemigo de teoriz
ar y definir - se entrega a un quehacer vital, se ocupa de lo necesario. El juri
sta romano es un intérprete de lo humano eterno, de Ia tradición fecunda e inderogab
le, silenciosa y honda, que es sustancia de Ia historia.
La verdad es que ni Ia cultura occidental es algo que pertenece a un pasado muer
to, ni los Códigos de Ia hora actual han enterrado para siempre al Derecho romano.
En varias ocasiones he afirmado que el Derecho romano - entendido como sentimien
to jurídico, más que como prescripción legislativa - es pan nutricio de nuestra cultur
a, de esa cultura que los latinos metieron en ei tuétano de ias almas de nuestros
abuelos.
Seria vano empeno, además, pretender que todas Ias figuras, instituciones o relaci
ones disciplinadas por los modernos Códigos, tienen encaje y disposición dentro de l
os esquemas romanos. No se puede olvidar que Ia vida está sujeta a variaciones y m
udanzas, ni cabe olvidar Ia obra de perfección a que en muchos puntos ha alegado I
a dogmática moderna.
Pero por grande novedad que quiera atribuirse a Ias actuales prescripciones legi
slativas, no se borrará de nuestro presente histórico un pasado que únicamente ha muer
to en Ia imaginación de alguns hombres. Sólo cuando nuestro lenguaje, portador de nu
estra cultura, albergue significados radicalmente estranos a aquello que hemos h
eredado, podrá decirse que pensamos y sentimos de acuerdo con una mentalidad difer
ente u opuesta a Ia romana.
Los prototipos, Ias bases arquitecturales, los princípios f undamentales dei Derec
ho romano tienen todavia validez. Misión nuestra es Ia de explicar, con trazo firm
e y vigoroso, todo eso.
Bien dijo Savigny que en nuestra ciencia toda verdad arranca de un cierto número de
principios fundamentales y éstos son los que constituyen verdaderamente Ia grande
za de los juristas romanos, de aquellos juristas que nunca abrigaron Ia pretensión
de ser «originales» u «ocurrentes». Los juristas romanos, como los romanistas autênticos
de nuestro tiempo, rezumam Derecho.
XXX
XXXI
Ocurre que los modernos hemos exaltado en grado excesivo ai instrumento, a Ia técn
ica auxiliar. Antes, cuando Ia técnica era pobre o deficiente, el jurista -y no sólo
el romanistaponía Ia mirada en esos principios fundamentales sobre los que bien p
oco paramos hoy Ia atención. A Ia visión «telescópica» ha sucedido Ia visión «microscópica»,
, los que no se dedican ai cultivo especializado dei Derecho romano, no entiende
n Ia labor de filigrana - de virtuosismo - que adorna a muchos de nuestros libro
s. Y se desentienden de un Derecho Romano que aparece a sus ojos cargado de comp
lejidad, y a veces arremeten contra él, aun a sabiendas de que lo ignoran.
Bueno será afirmar que el mayor mérito dei método con que trabajan los juristas romano
s descansa en el sentimiento de Ia realidad humana, en el conocimiento mejor dei
hombre.
El jurista romano conoce ai hombre, y por eso cuida los pormenores de Ia vida de
su alma. El jurista romano tiende un puente entre Ia tierra y el cielo, empalma
ndo ai hombre, regido por el Derecho, con lo divino. No otra cosa se dice dei ju
rista ai definir el oficio-sacerdocio de Ia iuris prudentia. Tal como enseíïa Ulpian
o, -«iurisprudentia est divinarum atque humanarum rerum notitia»...
Situados en este terreno, nuestros estudios nos llevarían a comprobar Ia verdad de
aquello que nos dejó dicho Mommsen: que a Ia hora de desarrollar un Derecho que s
e acomode a ciudadanos libres, podemos apoyarnos, de modo incondicional, en el
Derecho romano clásico.
XXXII
En todo caso, quede claro que defendemos el Derecho romano, no por pasión, sino po
rque todavia es factor importante de Ia cultura europea. Pero aunque tal no fuer
a verdad, es decir, .aun en el supuesto de que el meollo dei Derecho romano no p
udiera tener hoy vigencia, nos brindaria siempre una gran lección: aquel Derecho s
e adecuaba a Ia vida, a una vida cuyo centro radical es el hombre. Y se advierta
de nuevo que Ia causa primera de Ias conmociones y catástrofes que atormentan a I
a presente humanidad no es otra que Ia de ignorar u olvidar que el gran problema
está en colocar ai hombre en su justo sitio.
El Derecho romano no es un derecho, ni mucho menos tantas o cuantas leges, o tod
as Ias leges romanas - que en esto el Derecho romano no se diferenciaria de cual
quier otro ordenamiento positivo -, sino el Derecho.
Con relación a él, no es Ia fecha, ni el vivir social concreto, ni Ia adscripción a un
a determinación positiva, lo que más cuenta. El Derecho Romano no es un derecho que
fue, algo de lo cual pueda decirse simplemente que pasó, algo que quedó arrinconado
en su época. La Historia dei Derecho romano no concluye con Ia caída de Roma. Sigue
a lo largo de Ia Edad Media y de Ia Edad Moderna. Seguirá tras nosotros, porque no
sotros no hemos agotado todavia Ias posibilidades que ese derecho encierra.
Numerosos principios romanos nutren hoy los nuestros, hasta hacerse espíritu y car
ne de nuestra carne y de nuestro
XXXIII
c
éspíritu. El Derecho romano forma parte de una cultura que sigue viviendo en nosotro
s, si es que no debemos decir que gracias a ella nos es dado vivir todavia...
No estamos tan lejos de Roma como parece. Nuestra civilización se alimenta de lo q
ue olvida, de lo que ignora y de lo que niega. Y si esto es as!, toca a los roma
nistas, por encima de todo, poner en claro Ia razón y medida en que el Derecho rom
ano puede servir para aliviar Ias congojas actuales.
..........................................
Vayamos al encuentro de lo que los romanos tenlan por Derecho, y veremos que el
Derecho no empieza ni acaba en Ia letra de Ia ley» (excertos das págs. 43, 44, 46, 4
7, 48, 51, 52,
53 e 58).
Mas nem precisávamos de recorrer à auctoritas de mestre: estrangeiros.
Basta recordar os ensinamentos dos grandes juristas por tugueses.
E até basta citar apenas dois. Um, felizmente, e para honr+ e alegria de todos nós,
pertence ainda ao número dos vivo.
XXXIV
Cabral de Moncada; outro já foi inscrito há vários anos no Livro de Honra dos imortais
, Guilherme Moreira. Comecemos pelo primeiro.
CABRAL DE MONCADA: «0 Direito Romano deve ser hoje estudado e ensinado, não como mer
a manifestação de uma vida passada e morta; não como pura objectivação de um pensamento-pe
nsado e também morto; mas como emanação de um pensamento sempre vivo, de uma vida por
assim dizer `vivente'» - (Boletim da Faculdade de Direito. Universidade de Coimbra
1611939-19401 554).
GUILHERME MOREIRA: «Ninguém pode ser um grande jurista, se não for um bom civilista; e
ninguém pode ser um bom civilista, se não for, pelo menos, um razoável (sic) romanist
a» - dizia, com muita frequência, nas suas aulas, o venerando Mestre, conforme ainda
hoje podem testemunhar os seus antigos alunos, actuais professores jubilados, D
outores Cabral de Moncada, Paulo Merêa e José Carlos Moreira.
E para remate de que, sobre o valor do ensino do Ius Romanum, não precisamos muito
de recorrer a estrangeiros, bastaria citar os antigos - mas, em muita coisa, não
antiquados
XXXV
ESTATUTOS POMBALINOS. Livro II - Cursos Juridicos das Faculdades de Canones e de
Leis, Tít. III, Cap. X n.° 1:
«0 principal objecto da applicação, que devem fazer os Legistas no Primeiro anuo do Cu
rso Juridico, consiste no estudo elementar do Direito Civil Romano. Todas as out
ras Lições, que nelle devem dar os Professores do Direito Natural, e da Historia do
sobredito Direito Civil na fôrma determinada nos precedentes Capitulos, não são mais d
o que preparatorias, e subsidiarias do Estudo, assim amplo, e diffuso; como tamb
em elementar do dito Direito».
(Estatutos da Universidade de Coimbra. Livro II-Cursos Juridicos das Faculdades
de Canones e de Leis [Lisboa,17721 365).
Algumas palavras sobre a orientação metodológica seguida neste I vol.
Selecção de matérias-0 problema da redacção de um texto de Lições-Manual, Instituições, Noçõe
ntais, Elementos, ou Enchiridion, como se queira chamar -, resulta sempre um pro
blema bastante delicado. Pode ser resolvido de modos diferentes. Cada um tem a s
ua justi f icação, baseada
sobretudo nas qualidades pedagógicas, na formação cultural e
mental do autor, e no ambiente a que se déstina a obra.
Traçando-se nestas Lições uma orientação especial, muito diferente do comum, entendemos co
nstituir um dever prestar alguns esclarecimentos, sobretudo ao aluno, pois desde
há muito defendemos, sentimos e vivemos certos problemas pedagógicos, nomeadamente
o do leal e franco diálogo entre professor e aluno, sempre fecundo para ambos. Des
ta forma, cumprimos também e com muito prazer a orientação superiormente traçada pelo di
rector máximo desta Universidade, o Magnífico Reitor, que, em várias cerimónias universi
tárias particularmente significativas (v. g. em 21 de Outubro de 1963 e em 15 de O
utubro de. 1966), tem insistido: «as relações pessoais entre professores e alunos deve
m exercer-se intensamente, não só nas aulas e em colóquios, mas também na vida normal e
nos momentos solenes».
Em virtude do pouco tempo escolar actualmente previsto nos nossos programas univ
ersitários para o ensino do Direito Romano, e da orientação histórico-crítica mas sobretud
o dogmático-prática que vimos defendendo desde 1958, hoje comummente aceite (vid. in
fra 122-124), entendemos ser necessária uma selecção de matérias: reduzir a exposição do asp
ecto meramente histórico; analisar, sobretudo nas aulas práticas, vários textos do Dig
esto e alguns doutras fontes; consagrar todo o tempo
XXXVI
XXXVII
disponível ao estudo do aspecto dogmático, preleccionando durante o ano o máximo de ma
téria e exigindo para exame final só a mais importante. - [Cerca de um mês antes dos e
xames finais, costumamos indicar qual a matéria: muito importante; simplesmente im
portante; facultativa; dispensada. Matéria muito importante, em geral, reduz-se a
cinco ou seis grandes temas, que nem sempre são os mesmos, todos os anos; o aluno
que souber bem esses pontos, mesmo que ignore o resto, é quase impossível ficar repr
ovado, embora passe com nota baixa; mas se ignorar um desses pontos, ainda que s
aiba toda a matéria restante, é quase impossível passar. Matéria importante, como a pala
vra indica, importa a subida ou a descida da classificação. Matéria facultativa: o alu
no apenas é interrogado, e só na prova oral, se o desejar, depois de ter mostrado co
nhecer bem a «matéria muito importante»; isso contribuirá para elevar a classificação, nunca
para baixar a nota. Matéria dispensada: não faz parte do exame final; é dialogada nas
aulas práticas; deve ser lida pelo estudante com uma certa curiosidade científica,
como quem está a recolher elementos de cultura geral; matéria nestas condições é, por exem
plo, a que vem exposta a págs. 127-157. A matéria contida na parte final deste I vol
., concretamente desde o § 33, é quase toda facultativa. Portanto, destina-se natu
ralmente aos melhores alunos; por isso, vai redigida com certos
pormenores de exigência superior ao normal. Tem ainda a van
tagem de servir de orientação para certos estudos monográ
f icos, possivelmente . a efectuar um dia no 6.° ano]. - 0 estudo do aspecto dogmáti
co será feito: a) - duma forma aprofundada, na 2.a e na 3.° PARTES das Lições (II vol.,
a publicar); b) -para já, duma forma simplificada, e sempre que seja viável, neste 1
vol., na J .a PARTE, sobretudo ao analisarmos certas fontes, v.g.: origem e con
ceito de obligatio no § 20; vários problemas das sucessões no § 22; a questão das garantia
s das obriáações no § 23; características de certos negócios jurídicos no § 29, etc.
Há certos pontos, em que seguimos a opinião tradicional, não por convicção, mas porque a n
ossa argumentação em contrário não é ainda suficientemente forte.
Alguns elementos de estudo, úteis aos alunos, não foram aproveitados; necessitam de
ser mais repensados.
Exposição das matérias; linguagem -Intencionalmente usámos uma linguagem simples, clara,
com pouca variação de termos, para ser mais acessível aos alunos.
Por vezes, repete-se a mesma ideia - ou por outras palavras, ou aprofundando-a m
ais, ou simplesmente insistindo -, para que fique bem clara, para um aluno do pr
imeiro ano, e ele se dê bem conta dela. Quem principia o estudo do Direito, e sem
qualquer preparação, como entre nós, não capta facilmente certa terminologia, certos con
ceitos jurídicos, tão diferentes do comum e do vulgar, embora externamente parecendo
ou até
XXXVIII
XXXII{
sendo iguais. Geralmente, de início, a respeito dum problema ou duma questão, não se p
ode dizer tudo (que se deve ensinar) ao aluno, duma só vez.
Quando é preciso, ou mesmo só conveniente, não hesitamos em sacrificar a forma, a elegân
cia da frase à clareza; mas «clareza» não significa superficialidade, muito menos facili
dades. 0 aluno dum curso superior, e sobretudo quando o inicia, deve sentir difi
culdade: não tão grande que desanime; não tão pequena que se desinteresse ou facilite de
masiado. Uma dificuldade que seja incentivo para lhe - abrir novos horizontes, q
ue o force delicadamente a sentir uma curiosidade científica e o leve a trabalhar
com verdadeiro gosto. Na contextura destas Lições, esteve sempre diante de nós esta gr
ande finalidade. Por isso, a exposição de cada título, de cada capítulo ou de cada assun
to novo, em regra, começa dum modo muito fácil, para logo em seguida ir subindo de d
ificuldade. Por vezes, sentimos que o aluno, nesta escalada, tem de parar ou até d
e recuar - voltar a ler e a reler -, para ganhar «velocidade adquirida» e... vencer.
0 prazer espiritual que há em vencer uma dificuldade (não-insuperável) dá ao aluno um e
stímulo encora jante para
enfrentar novas dificuldades.
Esta finalidade nem sequer podia ser intentada sem a preciosa colaboração dos alunos
, prestada, quer através dos exames escritos e das provas orais no fim do ano, que
r sobretudo nas
XL
aulas práticas durante o curso. Através dos exames finais, pois sempre que um número c
onsiderável de alunos caia no mesmo erro, isso constituía para nós um sintoma de que a
s Lições, então policopiadas, não estavam bem, nesse ponto, para um aluno do primeiro an
o; e corrigíamos. Através das aulas práticas, pois, dentro dum espírito verdadeiramente
universitário, fomos pedindo aos alunos a sua colaboração, franca e leal. 0 apelo foi
dirigido a todos. A resposta, num diálogo fecundo para nós e para eles, foi surpreen
dente. Vieram algumas sugestões interessantíssimos. Foi devido aos alunos que divers
as matérias foram repensadas por nós, que elaborámos já algumas teorias (v.g. a que se e
xpõe a págs. 324, e que, hoje, principia a ser admitida por vários autores, pois a ess
e respeito fizemos uma breve comunicação no Congresso Internacional de Direito Roman
o de 1967), e que certos problemas, sobre que vimos meditando desde então, se enco
ntram em via duma solução nova.
Portanto, estas Lições, embora sejam da nossa inteira responsabilidade, têm muitas coi
sas que nos foram sugeridas pelos alunos.
0 primeiro agradecimento deve ser para eles. Fazemo-lo até com as palavras do gran
de mestre Edoardo VOLTERRA, escritas nas suas Istituzioni di Diritto Romano (Rom
a,1961) 3: «Ringrazio anche con grato animo i miei Studenti... i quali, esponendom
i i dubi e le difficoltà che incontravano nella loro preparazione e soprattutto mo
strandomi, attraverso le loro ris
XLI
poste agli esami, quello che era loro necessario per entendere il sistema giurid
ico creato dai Romani, mi hanno fornito Ia guida piá sicura per l'impostazione e I
a redazione di quest'opera».
Notas - A matéria contida em notas, sobretudo quando extensas, como regra, tem tan
ta importância como a do texto; só por uma questão de metodologia didáctica é que vai expo
sta em nota.
Certas explicações contidas em diversas notas podem julgar-se desnecessárias, assim co
mo algumas observações até deste prólogo. Tenha-se presente que se destinam directamente
a alunos... do primeiro ano, sem qualquer preparação jurídica dada
num curso pré-universitário.
Casos-práticos -'Como complemento importante das aulas teóricas daremos, para os alu
nos discutirem entre si e depois resolverem nas aulas práticas, vários casos, aprese
ntados com todo o sabor romano, em que não falta um Titius a exigir de Sempronius
a entrega dum Sticus ou a devolução dum Pamphilus ou a indemnização de 5 000 sestércios. R
aí que o aluno afina melhor determinados conceitos, precisa bem certas ideias e g
eralmente revela se tem ou não vocação para jurista, pois a iurisprudentia é um saber-ag
ir, uma ciência destinada à prática. Neste último sentido de procurar descobrir no aluno
, logo no primeiro ano, a vocação de jurista, através de algumas soluções típicas de certos
casos-práticos, vimos elaborando, há já quatro
XLII
anos, vários testes, cujos resultados esperamos publicar daqui a mais algum tempo.
Através dos «casos-práticos», o ensino do Direito é mais directo; mais ao vivo; mais jurídi
co. 8 de aplicar, mutatis mutandis, a antiga mas não antiquada opinião de SENECA, Ep
istolae 6: «Longum iter est per praecepta, breve et efficax per exempla».
Bibliografia - A indicação da principal bibliografia não vai nem no princípio nem no fim
, mas a meio deste volume. Não é feita no princípio, pois o aluno do primeiro ano, com
o não tem qualquer preparação jurídica, logo de início não entenderia nada e até ficaria deso
ientado; nem no fim, porque, com certeza, nem sequer leria. Vai a meio; e até cert
o ponto como texto, pois a bibliografia apresentada aí não é um mero catálogo livresco,
mas uma indicação apenas da mais importante e com várias nótulas críticas; porém, como já dis
emos, é «matéria dispensada».
Intencionalmente, não usámos sempre a mesma forma de citar. Geralmente a citação é feita,
como em regra deve ser, em nota. Por vezes, é feita no texto; v.g. a Págs.409. Isso
significa que esse passo da obra citada quase faz parte integrante do texto. 0 a
luno deve consultar essa obra. Propositadamente - embora represente um especial
sacrifício para os alunos voluntários, o que lamentamos, mas os alunos ordinários não de
vem ser sacrificados por aqueles -, não se faz a transcrição, para forçar o
XLIII
aluno, desde o primeiro ano, a consultar alguma bibliografia, e não se lhe permiti
r «viver» só das Lições. Atrás da busca dessa citação, na maioria dos casos terá naturalmente
riosidade científica de conhecer mais alguma coisa da obra citada (e até outras obra
s). Os livros citados nestas condições (e que são poucos) existem à disposição dos alunos na
biblioteca da Faculdade de Direito.
Quando se cita uma pág. e ss. (v.g. 492 ss.),,quer indicar-se que nem todas as págs.
tratam ex professo ou seguidas do assunto, mas é exposto em várias dessas, não seguid
as; quando se cita o número preciso (v.g. 481-490), pretende significar-se que tod
as essas págs. tratam ex professo e seguidas do problema.
Algumas vezes, em atenção aos alunos com mais curiosidade científica, indica- se bibli
ografia monográfica sobre matérias expostas sumàriamente neste I vol. e que hão-de ser d
adas aprofundadamente no II vol., v.g. a respeito das restitutiones in integrum
(vid. infra n. 880).
Nas citações de obras estrangeiras, põe-se o lugar da edição ora em português (v.g. Munique)
ora na língua original (v.g. Leipzig), conforme é mais conhecido entre nós o original
ou a tradução.
Fontes a utilizar-Nas aulas e nos exames finais, utilizaremos principalmente o D
igesto do Corpus luris Civilis (edição de MOMMBEN-KRUGER-SCHOLL-KROLL, revista ídtimam
ente,
1965, por WOlfgang KUNKEL).
XLI
Resta-nos agradecer, e fazemo-lo com muito agrado, a todos os que, dalguma forma
, contribuíram para a publicação deste 1 vol., dum rodo especial aos bons Amigos que n
os ajudaram na correcção de provas tipográficas, e ao pessoal da Tipografia Guerra que
se mostrou sempre atento e solícito, mesmo perante certas «exigências escrupulosas», qu
e, algumas vezes, redundavam em verdadeiras impertinências da nossa parte.
Até hoje, nada fizemos con tanta ilusión y eariíio como estas Lições!...
Ao terminar, reconhecemos, talvez mais do que ninguém, as deficiências.
Deus permita que numa futura edição-oxalá bem próxima, pois já temos vários elementos para e
sse trabalho-, sejam devidamente superadas. Para isso, contamos não só com as críticas
dos Mestres e dos Colegas, mas também oom as sugestões de todos os alunos-antigos,
actuais e principalmente dos alunos-colaboradores -, para que estas Lições lhes seja
m úteis e continuem a ser... trabalho comum.
Coimbra, 8 de Dezembro de 1968.
S. C.
XLV
2.a EDIÇÃO
Em fins de Julho do ano corrente, e quando estávamos atarefadíssimo com a elaboração dos
complicados índices (de fontes, de matérias e de autores) do II vol. Da «Solutio», fomo
s colhido pela notícia de que se encontrava esgotada a 1 edição destas Lições. Não o prevíamo
para tão cedo. 0 facto deve-se, principalmente, à sua procura no Brasil. E ainda be
m!
,4 Tivemos de suspender os trabalhos da Solutio II mais uma vez (vid. supra XIX)
, e de preparar nova edição, à pressa, pois era necessário haver exemplares já em Outubro,
ao iniciarem-se as aulas do ano lectivo de 1972-73.
Não sai, pois, como a vínhamos delineando, desde o dia em que terminámos a 1.a edição (vid
. supra XLV). Sobretudo havia matérias que desejávamos incluir, como por exemplo, na
s FONTES, depois do último Título, que é o XI: - um Tít. XII, sobre Fontes Bisantinas; u
m Tít XIII, sobre Papirologia Jurídica, e um Tít. XIV, sobre Fontes Não-Jurídicas. E há matér
a, a contida no § 4, que, embora actualizada, sai muito resumida. ë -m contra vontade,
tivemos de a remeter para a nossa monografia «lus. Derectum (Directum). Dereito», p
or não termos encontrado de momento outra solução.
Todavia, mesmo à pressa, há matérias que aparecem nesta edição completamente reelaboradas,
v.g. vágs. 1-32, 228-232, 311-326, etc., e todas, na medida do possível, devidament
e actualizadas. Quase nenhuma página existe sem qualquer modificação, ou de fundo ou d
e forma ou de actualização bibliográfica ou até de simples disposição gráfica. Só procurámos,
máximo, respeitar a paginação, para efeito de não tocarmos muito nos índices, o que por v
ezes foi bastante difícil de conseguir.
Oxalá a 3a edição-que desejaríamos publicar, só depois de ter aparecido o II vol. destas L
ições (ver PLANO GERAL supra pág. IV) - saia mais a nosso gosto e prazer.
Coimbra, 8 de Setembro de 1972.
S. C.
XLVI
3.a EDIÇÃO
Havendo necessidade urgente de nova publicação destas Lições de Direito Romano, e não ,ten
do possível, de momento, qualquer espécie de revisão, publica-se uma simples reimpressão
da edição anterior.
Coimbra, 8 de Dezembro de 1979.
S. C.
*
4.a EDIÇÃO
Ainda não é desta vez que sai, a meu gosto, o 1 vol. destas Lições. Deveria ser publicad
o, só depois de ter aparecido o II vol. Mas, como é do conhecimento público, factos anóm
alos permitiram (ou originaram?) o aparecimento súbito e inesperado de certos ener
gúmenos, dotados de fúria gorilácea, que, em Fevereiro de 75, invadiram à bruta a minha
=camarata de trabalho» (na Faculdade de Direito de Coimbra), e fizeram desaparecer
, entre muitas outras coisas, cerca de 1150' fichas, fruto de muito sacrificio,
de tanto esforço, dispendidos nas férias de verão, durante vários anos, por Munique, Rom
a, Paris, Pamplona, Salamanca, Santiago de Compostela, etc.- e tudo à minha custa,
isto é, sem qualquer bolsa de estudo ou mero subsídio. (Diga-se, entre parêntesis, qu
e, a respeito
bolsas de estudo, de subsídios ou de simples ajudas para publicação dos -meus trabalho
s de investigação científica, quer antes quer depois do 25 de Abril, sempre fui tratad
o tanquam hostis, quer pela Faculdade, quer pelo antigo Instituto de Alta Cultur
a, quer sobretudo pela Fundação Calouste Gulbenkian, quer até pela Fundação Rangel Sampaio
. Uma vergonha. Entre vários factos, basta dizer: a fim de
poder imprimir e depois publicar a minha dissertação para as provas
doutoramento, tive de hipotecar, em 1962, à Caixa Geral
Depósitos, o único prédio, que nessa ocasião tinha, e possuía livre
qualquer ónus a favor de terceiros. Intervieram na respectiva escritura pública duas
pessoas amigas, ambas felizmente vivas, e uma, presentemente, colocada no lugar
cimeiro da hierarquia univer-
sitária coimbrrü. Isto deve ter sido único em toda a Universidade de Coimbra. Um escânda
lo. Adiante ... Fechemos o parêntesis).
Pois bem; essas cerca de 1150 fichas continham o 11 vol., pronto. Só faltava publi
car.
Segundo consta (e soube-o, há pouco tempo...), parece que foram cremadas, em holoc
austo à bojuda estátua de D. João 111. - Factos... para não esquecer, afim de não se repet
irem. E, se um dia forem descobertos os autores, que sejam tratados com a devida
Justiça, que é uma «virtus suum cuique tribuendi». Além do mais, «castigar os que erram» con
inua a ser uma Obra de Misericórdia. As «esponjas soarengas», em vez de limparem e de
acalmarem, emporcalham e irritam.
***
Nesta 4.a edição, porém, sempre conseguimos fazer uma «revisão-actualização» um pouco sul gen
s. Teve que ser - rápida! -, dada a nova urgência de publicar este I vol., devido pr
incipalmente ao bom acolhimento dos Juristas Brasileiros, o que muito nos sensib
iliza' Por isso, profundamente reconhecido, mui gostosamente lhe dedicamos esta
edição.
A revisão-actualização é feita de colaboração com o leitor. Sobretudo com o «estudante-aluno»
com o estudioso do lus Romanum (docente, profissional ou mero interessado).
Ver, bem atentamente, as págs. 615 ss.
ALGUMAS ABREVIATURAS
ACI Roma..: Atti dei Congresso Internazionale di Diritto Romano,
Roma 1933, 2 vols. (Pavia,1934).
AG Archivio Giuridico (Módena).
AHDE Anuario de Historia dei Derecho Espafiol (Madrid).
AL.aERTARIO, Introduzione Emilio ALBERTARIO, Introduzione alio Studio dei
Diritto Romano Giustinianeo I (Milão,1935).
Atti Verona Atti dei Congresso Internazionale di Diritto Romano
e di Storia di Diritto (Verona 1948), 4 vols.
(Milão, 1951-53).
BIDR : Bulletin dell'Istituto di Diritto Romano (Roma).
BRUNS, Fontes Ir Fontes luris Romani Antiqui I: Leges et Negocia,
ed. C. G. BRUNS, septimum ed. Oito GRADENNVITZ
(Tubinga,1909). C Codex Iustinianus (Corpus luris Civilis vol. II, ed.
Paulus KRÜGER, 13.» ed., Berlim,1963).
CALASSO, Médio Evo Francesco CÁ~, Medio Evo dei Diritto I-Le
Fonti (Milão,1954).
Co Collatio Legum Mosaicarum et Romanarum (Fira II
544-589).
Cs Consultatio Veteris cuiusdam Iurisconsulti (FIRA II
594-613).
CT Codex Theodosianus (ed. Th. MOMMSEN-PAUL M.
MEYER, 2.» ed., Berlim,1954).
D. (=ff. = II) Digesta (Corpus fures Civilis vol. I, edd. Theodorus
MOMMSEN-Paulus KRÜGER, 18» ed., Berlim,1965). D'oRS, Predigesto Álvaro D'oRs, El P
redigesto em Investigación y Pro
greso 16(Madrid,1945) 129-138.
D'oRS, Presupuestos Álvaro D'oRS, Presupuestos Críticos para ei Estudio
dei Derecho Romano (Salamanca,1943).
EG Epitome Gai (FIRA 11 232-257).
FIRA Fontes furls Romani Anteiustiniani, 2.» ed. (Florença),
I-Leges (ed. S. RoccoBoNO,1941), II-Auctores
(edd. BAvsERA et I. FURL,ANI,1940), III-Negocia
(ed. V. ARANG[o-Rurz,1943).
FV Fragmenta Vaticana (FIRA II 464-540).
GA Gai Fragmenta Augustodunensia (FIRA 11208-228).
XLVII
Onde está
Colocar
modificando (isto é, ou acrescentando palavras ou alterando-as); e essas modificações,
conforme a «arte» de cada um, ficarão ou interlinhadas ou colocadas ao cimo ou em bai
xo ou nos lados da pág. indicada; ou até escrever numa pág. ou f. à parte e depois colá-la
nessa tal pág. indicada.
................................
................................
Desta forma, até o exemplar se torna mais de cada um.
Coimbra, 20 de Janeiro de 1984.
S. C.
GAIUS Gai Institutionum Commentarii Quattuor (FIRA II 9-200).
GAUDEMET, La Formation du
Droit Jean GAUDEMET, La Formation du Droit Séculier et
du Droit de l'Eglise aux I V e et Ve. Siécles (Paris,1957). I Institutiones lu
stiniani (Corpus luris Civilis vol. I,
ed. Paulus KROGER, 18.a ed., Berlim,1965).
lura Jura. Rivista Internazionale di Diritto Romano e
Antico (Nápoles).
Jus Jus. Rivista di Scienze Giuridiche (Milão).
KUNKEL, Herkunft Wolfgang KUNKEL, Herkunft und sociale Stellung
der rümischen Juristen (Weimar,1952).
Labeo Labeo. Rassegna di Diritto Romano (Nápoles).
LENEL, Palingenesia Otto LENEL, Paligenesia luris Civilis, 2 vols. (Lei
pzig,1889).
n., nn nota, notas.
Nov Novellae Justiniani (Corpus luris Civilis vol. III,
edd. R. SCHOLL-G. KROLL, 8.e ed., Berlim,1963). NDI,NNDI Nuovo Digesto It
alian (2.a ed.), Novissimo Digesto
Italiano (3.a ed.), vid. infra 147.
NRHD Nouvelle Revue Historique de Droit Francais et
Étranger (Paris). A partir de 1922 = RHD.
PS Pauli Sententiae Receptae (FIRA 11 321-417).
RHD Revue Historique de Droit Français et Étranger (Paris). Até 1922 = NRHD Revue
Internationale des Droits de l'Antiquité (Bruxelas).
ROBLEDA, lus Privatum Ro
manum Oils ROBLEDA, lus Privatum Romanum. I Introductio
(Roma,1960).
SCHULZ, History Fritz SCHULZ, History of the Roman Legal Science
(Oxford,1946-reimp. 1953).
SDHI Studia et Documenta Historiae et luris (Roma).
Studi Albertario Studi in Memoria di Emilio Albertario, 2 vols.
(Milüo,1953).
Studi Bonfante Studi in Onore di Pietro Bonfante, 4 vols.
(Milão,1930).
SZ Zeitschrift der Savigy-Stiftung far Rechtsgeschichte.
Romanistische Abteilung (Weimar).
WENGER, Die Quellen Leopold WENGER, Die Quellen des r6mischen Rechts
(Viena,1953).
WIEACKER, Textstufen Franz WIEACKER, Textstufen klassischer Juristen
(Gotinga,1960).
WoLFF, Introduccción Histó
rica Hans Julius WOLFF, Introducción Histórica ai Derecho Romano, trad. esp. (Com
postela,1953).
XLVIII
DIREITO ROMANO
(emS ROMANUM»)
0 Direito Romano (lus Romanum) faz parte do objecto do ensino universitário, desde
que há Universidades, isto é, desde o séc. XII.
Até cerca de 1900, estudava-se apenas com um carácter dogmático-prático, quer dizer, ana
lisavam-se as suas disposições, para, devidamente adaptadas às novas circunstâncias soci
ais, se aplicarem na prática.
Desde cerca de 1900 a 1950, verifica-se uma profunda crise do ensino e dos estud
os (no seu aspecto jurídico) dó Ius Romanum, como examinaremos adiante, págs. 104-109.
Não uma crise do Direito Romano em si, mas, sublinhe-se, uma crise do interesse j
urídico pelo Direito Romano. (Nas págs. 105-109, analisaremos os vários factores que o
riginaram essa crise).
A crise, porém, principiou a ser vencida a partir de 1950 (vid. infra 110), e foi
devidamente superada em 1956, depois do inquérito elaborado pela revista Labeo em
que prestaram o seu depoimento cerca de 400 juristas, de vários países, na sua quase
totalidade não apenas romanistas, mas também ou filósofos do direito ou professores d
e Introdução ao Estudo do Direito ou civilistas ou processualistas ou cultores de qu
alquer outro ramo do saber jurídico, ou simplesmente juristas não-romanistas. Nas re
spostas desse grande inquérito, defende-se, e com expressões bem eloquentes, que o D
ireito Romano
1
RIDA
..............................
é parte integrante e indispensável da formação de todo e qualquer jurista.
0 estudo do Direito Romano nas actuais Faculdades de Direito é, pois, a base (vid.
infra 157 e 158); é considerado «o alfabeto e a gramática da linguagem jurídica e de to
da a Ciência do Direito' (Prof. A. RISCARDI). Portanto, necessàriamente deve constit
uir uma 'as disciplinas principais do 1.0 ano (vid. infra 120, 157 e 158). É tão imp
ortante e indispensável como o estudo' das Matemáticas nas Faculdades de Ciências; e s
obretudo para nós, europeus, quanto mais intenso for o conhecimento do lus Romanum
, mais nítida e mais firme será a consciencialização do nosso actual Direito. Mas acima
de tudo, a aprendizagem do Direito Romano é altamente formativa (vid. infra 117 e
118), sob pena de nas actuais Faculdades de Direito não se formarem juristas, mas
sim, criarem-se uns meros técnicos de leis e de regulamentos, que seriam a negação pur
a e radical de jurista. (Ver adiante, págs. 284-289).
Nesta hora do poder das trevas do tecnicismo, em que intencional ou inconsciente
mente se desumaniza o Homem, para o reduzir a uma simples coisa, pretende-se que
toda a gama do Saber se reduza à Técnica, ou pelo menos esteja dominada pela Técnica.
Isto é falso e terrivelmente perigoso. Constitui um dos males da nossa época; e no
mundo jurídico, já foi classificado de «o maior perigo do século-a ruptura do equilíbrio d
evido entre ciência e técnica jurídicas» (Prof. Giuseppe GROSSO). É uma espécie de positivis
mo refinado. E pretender uma Ciência do Direito sem formação jurídica ou, usando a expre
ssão já consagrada de Leonard NELSON, pretender uma Rechtswissenschaf t ohne Recht.
Seria regressar, muitos anos!...
A Técnica não é todo o Saber, nem sequer a espécie mais importante do Saber, embora na p
rática, geralmente, de momento, possa ao menos parecer ou até ser a mais útil; mas a u
tilidade não constitui o critério máximo da vida. Dentro de uma escala de autênticos val
ores humanos, a primeira espécie do Saber é a Sapiência («a Medicina da Cultura», como lhe
chamou um grande filósofo contemporâneo) ; a
2
segunda, a Prudência; a terceira, a Técnica. Ora, o Direito (como saber-jurídico) não é pu
ra técnica (longe disso!), mas essencialmente uma prudência (daí que a Ciência do Direit
o se denomine, desde sempre, «Iuris-prudencia»), e, secundàriamente e subordinada à luri
sprudentia, também uma técnica (uma ars). Como ciência, diz-nos o que é justo e o que é in
justo; como técnica, diz-nos como alcançar o justo e como evitar o injusto. (Ver adi
ante, págs. 283-289).
Fazer da Ciência do Direito só uma técnica ou mesmo sobretudo uma técnica, é desde logo um
a contradição nos próprios termos; mas é essencialmente uma destruição íntima e profunda do c
nceito de jurista, deformando então certos homens -- precisamente aqueles homens q
ue mais tarde hão-de dizer o que é de Direito e mandar aplicar esse Direito, o que m
uitas vezes equivale a ordenar e a dispor dos nossos haveres e até do uso da nossa
própria liberdade.
0 técnico fica preparado para dirigir máquinas. 0 « juris-prudente» (o jurista) está forma
do para dirigir homens. Os meros técnicos a dirigirem homens, geralmente, é um desas
tre; a experiência, em vários países incluindo o nosso, já o demonstrou. Falta-lhes o sa
ber-agir com homens.
0 «robot jurídico» não tem lugar de relevo no Direito.
Em Portugal, desenhou-se, há uns três a quatro anos,
da parte de uns quantos, felizmente poucos mas que em geral
falam muito, um certo movimento de antipatia, escrevendo-se
em alguns jornais e falando-se até num discurso público
acerca da actual desnecessidade do ensino do Direito Romano.
Ora, é preciso que se saiba -- e se diga bem alto! - que
essas pessoas (algumas com responsabilidades sociais) estão
no erro; e num erro, que, embora se pretenda agitar com
os ventos do tecnicismo, «nem sequer está na moda». Está
superado, há cerca de vinte anos. A panorâmica dos estudos
romanisticos na actualidade é muito diferente do que esses
quantos julgam (vid. infra 113-116). A vizinha Espanha, por
exemplo, ainda bem recentemente (Julho de 1972) ampliou para
seis horas semanais de aulas teóricas do Direito Romano no
1.° ano. Certas pessoas deviam actualizar-se, antes de falarem
3
para o público. - Mesmo na França (exemplo, por vezes invocado), estuda-se mais Dire
ito Romano do que o programado oficialmente entre nós, pois teóricamente é uma coisa (
a consagração legal do velho e ultrapassado critério de Leopold WENGER), na prática é outr
a, bem diferente: o estudo de todos os Direitos da Antiguidade reduz-se ao ensin
o do Direito Romano, com mais horas semanais do que entre nós; além disso, existem c
ursos especiais de DR.
Oxalá, na próxima Reforma de Estudos das nossas Faculdades de Direito, não se cometam
erros, já ultrapassados há muitos anos: diminuir o ensino do Direito Romano ou retirá-
lo do 1.0 ano. 0 julgamento da História seria inexorável para com os seus autores.
Nestas circunstâncias, o aluno que tenha lido certos jornais ou ouvido falar de ce
rto discurso, e que pela primeira vez entra em contacto com esta disciplina (ent
re nós, oficialmente designada, mas só desde 1945, «História do Direito Romano», quando de
via chamar-se simplesmente «Direito Romano» - adiante [págs. 123 e 124] apresentaremos
as razões justificativas desta observação), naturalmente fica perplexo e com certeza
há-de perguntar:
--Que é o Direito Romano?
--Por que fases tem passado o seu estudo?
- Presentemente, como é leccionado, noutros países?
Qual a utilidade do seu ensino nas actuais Faculdades
de Direito?
-Que método vai a +. uir-se e quais as matérias a versar,
na exposição deita. disciplina?
--Qual a principal bibliografia e quais os romanistas mais
importantes na actualidade?
Num breve INTRODUÇÃO, vamos responder a estas perguntas e a outras conexas, apresent
ando, de inicio, uma visão bastante geral dos problemas, para que possam mais fàcilm
ente ser apreendidos por quem inicia o seu estudo e não tem qualquer preparação jurídica
.
INTRODUÇÃO
Título I - Conceito de Direito Romano
Capítulo l.'- Certos prolegómenos ao conceito de DR
Capítulo 2.° - Análise da primeira parte da expressão «Ius Romanum». Noção etimológica e noçã
ius.
Capítulo 3.° - Ius. Derectum (Directum). Direito
Capítulo 4.°-Várias acepções em que pode e deve ser tomada a expressão «Direito Romano». Indi
-se três grandes acepções -A) B) e C)
Capítulo 5.° -- A) Direito Romano, stricto sensu Capítulo 6.° - B) Direito Romano, lato
sensu Capítulo 7.°-C) Direito Romano, sensu latissimo
Título II - Fases características do estudo do Diretio Romano
Título III - Actualidade dos estudos romanísticos
Título IV - Razões justificativas da utilidade do ensino do Direito Romano nas actua
is Faculdades de Direito
Título V -Critério e método a seguir
Título VI - Principal bibliografia
4
Título I -CONCEITO DE DIREITO ROMANO
1. 0 Direito Romano, como qualquer Direito dum povo (Direito actual ou Direito p
assado), é um conjunto de normas ou regras de carácter social.
Veremos, já a seguir, que é um conjunto de normas (sociais) jurídicas; que, além de norm
as jurídicas, há outras normais sociais, e que as normas jurídicas se distinguem de to
das as outras por certas e bem determinadas características.
Examinaremos, mais adiante, que essas normas jurídicas romanas vigoraram: de início,
em determinado espaço (Roma e seus territórios) e durante um certo tempo (sécs. VII a
.C. a VI d.C.); mais tarde e até cerca de 1900, praticamente não conheceram limites
nem de espaço nem de épocas; de 1900 a 1950, como normas jurídicas, perderam muito do
seu prestígio; hoje, sobretudó a partir de 1956, recuperaram e conservam uma especia
l «vivência», mais ou menos em todo o mundo.
0 Direito dum povo é, pois, um conjunto de normas. E todos os povos possuíram e poss
uem as suas normas.
Mas então... o Homem terá necessidade de normas? Não serão elas, até, uma afronta à sua libe
rdade? Sobretudo as chamadas normas jurídicas, visto imporem-se-nos coercitivament
e?
Eis uma questão prévia que muito convém esclarecer pelo menos sumàriamente, para se comp
reender melhor o conceito de Direito Romano.
7
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO-TfT. i-CAP. 1.° § 2
Capítulo 1.°-CERTOS PROLEGÓMENOS AO CONCEITO DE DIREITO ROMANO
SUMARIO-2. a) Necessidade da existência de normas sociais. Razões:
liberdade e sociabilidade do Homem
b) Várias espécies de normas sociais. Uma dessas
são as normas jurídicas - o Direito (lus); sua especial
necessidade
c) Características das normas jurídicas:
I -externa, a sua coercibilidade
II-interna, preceitos (enumeração, significado, alcance,
valor e hierarquização)
a) Necessidade da existência de normas sociais. Razões: liberdade e sociabilidade do
Homem
2. 0 Homem é, simultâneamente, um Ser livre e um Ser sociável. Livre, pela sua própria n
atureza;' sociável, por uma
inata necessidade de conviver.
A liberdade do homem reside fundamentalmente num poder de opção perante duas ou mais
atitudes dignas, para atingir um fim; esse poder-optar pressupõe necessàriamente au
sência de determinismo, 0 sentido profundo da liberdade consiste em que o homem é um
Ser que, tendo por um lado exigência de perfeição e por outro consciencialização dos limi
tes em que está envolvido, pode escolher entre vários meios (imperfeitos, limitados
- mas rectos, próprios, adequados) para atingir a perfeição, ou melhor, um grau cada v
ez mais próximo da perfeição, sem jamais a poder realizar plenamente. A liberdade é, por
conseguinte, o poder de projectar o ideal transcendente de perfeição na existência. 0
uso da liberdade concretiza-se, pois, não tanto na indiferença perante várias situações e
legíveis como no uso desse poder-optar entre vários meios rectos para atingir uma de
ternimada finalidade.
Mas o homem é «tão livre» que pode não só usar da liberdade mas até abusar desse poder-opção.
lesmente, o abuso da liberdade, em rigor, já não é uma manifestação de liberdade; não é liber
ade; como o abuso dum direito já não é direito.
Portanto a liberdade não consiste em «cada um fazer o que entender». Isso seria arbitr
ariedade; abuso de liberdade; em última análise, libertinagem, destruição da própria liber
dade.
0 homem, além de um Ser livre, tem uma necessidade natural (inata) de conviver, vi
ver em sociedade, porque só pode existir bem,
isto é, realizar-se, quando harmoniza interioridade e vida social, bem próprio e bem
comum, personalidade e comunidade.
Para que da existência de seres livres em sociedade resulte uma convivência pacífica,
uma vivência ordenada, é preciso que haja regras que, por um lado a cada indivíduo proíb
am os abusos' da liberdade, e além disso, limitem ou até suspendam
(temporàriamente) determinado uso; por outro lado a todos indiquem e garantam cert
os usos fundamentais da liberdade. Daí a necessidade da existência de normas sociais
, quer dizer, de regras de qualquer modo atinentes ao comportamento ordenado dos
homens vivendo em societates. -Por isso, todos os povos, por mais rudimentar qu
e se manifeste a sua cultura ou por mais primitivos que se nos apresentem os seu
s costumes (hábitos, praxes ou tradições), sempre tiveram e têm algumas normas regulador
as da convivência entre as pessoas.
Em resumo-A necessidade da existência de normas sociais fundamenta-se em duas razões
: liberdade e sociabilidade do homem.
b) Várias espécies de normas sociais. Um dessas espécies são, as normas jurídicas - o Dire
ito, lus; sua especial necessidade
As normas sociaisspodem ser de vária ordem: religiosas, morais, éticas, de educação, de
diplomacia, de etiqueta, etc., etc., e também jurídicas.
As normas jurídica são aquelas que eficazmente determinam e protegem o gtfc pertence
a cada um, contribuindo dum modo especial para a coexistência pacifica entre as p
essoas.
Dizendo-se (que a norma jurídica é) uma noturna (palavra, cujo significado próprio é «esqu
adro»), afirma-se dhm módo particular que é uma regula (uma «régua», uma regra); esta, por s
ua vez um canon (uma medida). Esquadro («norma»), régua («regula») e cânone, tudo
9
espécies
8
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO - TIT. I - CAP. 1.°
§2
10
são medidas para valorar as coisas. Daí a expressão corrente «é preciso tomar medidas» deva
ter o alcance final de «é preciso estabelecer normas jurídicas», isto é, normas que obrigu
em coercitivamente. Essa expressão e o seu alcance último, afinal, contêm um sentido p
rofundo, já que a Ciência do Direito não é uma ciência do Ser, mas a ciência que se preocupa
com os valores, ou mais rigorosamente, com a medição dos valores.
(As normas jurídicas determinam) eficazmente, em virtude do seu poder coactivo. De
sobedecendo-se a uma norma ética, de etiqueta, etc., não há uma verdadeira força para ob
rigar o indivíduo ao seu cumprimento; existe apenas uma sanção social, uma reacção mais ou
menos acentuada da comunidade contra esse faltoso. Desobedecendo, porém, a uma no
rma jurídica, há meios coactivos próprios (geralmente do Estado) para forçar a pessoa ao
cumprimento dessa norma, e com todas as consequências por não se ter verificado cum
primento voluntário.
Determinam e protegem o que pertence a cada um, pois as normas jurídicas são ditadas
pela Justiça, que é a virtude de atribuir a cada um o que é seu - «lustitia est constan
s et perpetua voluntas suum cuique tribuendi» (ULPIANUS, D. 1,1,10pr.). 0 conceito
de iustitia é mais próprio dos filósofos que dos juristas. Todavia ULPIANUS (a quem p
ertence o fragmento, D. 1,1,10pr.) conhecia e dominava perfeitamente a filosofia
grega, sobretudo Platão, Aristóteles e Plutarco (vid. infra 400). A ideia de «atribui
r a cada uni o que é seu» encontra-se (talvez inspirado por Protágoras) já em Platão (Rep.
331), e constitui um tópico do pensamento antigo - Rhet. ad Herenn. 3,2,10; CICER
o, De luv. 2,53,160, De Off. 15,15, etc.
Contribuem dum modo especial para a convivência pacífica, pois, determinando eficazm
ente o que é de cada um, nem permitem abusos de direito nem prejuízos para ninguém. Ca
da coisa (já apropriada) pertence ao seu dono; está no seu lugar. Há ordem. E não há pertu
rbações, nem das coisas a clamar pelo seu dono (res clamat domino), nem das pessoas
a reclamar pelas suas coisas. Há tranquilidade. Ora, a paz é precisamente a tranquil
idade na ordem. Daí que a paz tem de ser fundamentalmente uma obra de justiça («opus i
ustitiae pax», IsAI. XXXII, 17). Não pode haver paz, baseada em injustiças; haverá, quan
do muito, uma ordem imposta pela força. Mas... a força pode vencer; só a razão (a justiça)
convence. E só o convencimento das pessoas produz a tranquilidade, e esta, como f
icou dito, é um elemento integrante da paz.
...(coexistência pacífica) entre as pessoas: ou físicas, que são os indivíduos; ou jurídicas
, que são entidades, diferentes das pessoas físicas, capazes de direitos e de obrigações
. Se essas entidades são formadas de pessoas físicas, chamam-se associações; se são consti
tuídas por um conjunto de bens, especialmente afectados à realização de certas finalidad
es, denominam-se fundações.
Ao conjunto das normas jurídicas chama-se «direito» (ius). Veremos, adiante, em que ac
epção.
- Especial necessidade da existência de normas jurídicas- da essência social do Homem «e
star no mundo», o que implica estar entre coisas e estar com pessoas. 0 Homem real
iza-se, pois, pela convivência com as pessoas 1 e pelo domínio e uso das coisas. Ora
, as normas que determinam o domínio e oaiso das coisas, no horizonte da intersubj
ectividade, são as normas jurídicas. Portanto, as normas jurídicas são imprescindíveis ao
Homem em sociedade, quer dizer, pertencem à essência social do homem. Daí o famoso bro
cardo; «ubi societas ibi ius» 2 («onde existir uma sociedade, aí necessàriamente tem de ha
ver normas jurídicas, Direito»).
Por conseguinte, a juridicidade é uma dimensão essencial do Homem. Logo, é impossível um
mundo humano sem Direito, isto é, sem normas jurídicas.
Todavia esse mundo do Direito não se eterniza, porque está no tempo. Por isso, a his
toricidade do Homem tem de ser acompanhada da necessária evolução e da sucessiva refor
mulação das normas jurídicas.
C) Características das normas jurídicas: I - externa;
II - Interna

I- As normas jurídicas distinguem-se de todas as outras normas sociais, externamen


te, sobretudo pelo seu carácter coercitivo, pela sua força imperativa. Impõem-se-nos c
oactivamente.
0 direito (ius) é, fundamentalmente, uma vis (força) ; e é curioso notar que, de inici
o e durante um certo tempo, ius e vis se escreviam e pronunciavam da mesma forma
. 0 direito é, pois, uma força 3, autoritàriamente ditada (imposta
1 Daí a verdade daquela frase de Thomas MERTON: «nunca serei capaz de me encontrar,
se me isolar do resto da humanidade».
2 Sobre as várias interpretações deste brocardo, vid. A. GUARINO, Diritto Privato Roma
no (Nápoles, 1957) 19.
3 Além disso, apoia-se numa força. Vid. infra 55 e n. 82.
11
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO - TfT. I - CAP. 1.°
ou declarada) e socialmente aceite; é sobretudo «aquele acto de violência privada que
a sociedade, através dos seus juizes, reconhece como ordenado e ajustado às circunstân
cias», como diz Álvaro D'ORS 4.
II-As normas jurídicas distinguem-se das outras normas sociais principalmente pela
sua característica interna, isto é, pelo seu conteúdo íntimo, pois é da própria essência de
ualquer norma jurídica, sempre, em tudo, a todos, preceituar«honeste vivere, alterum
non leadere, suum cuique tribuere» 5:
- não abusar dos seus poderes, isto é, exercer rectamente as suas faculdades ou dire
itos (honeste vivere);
4 Cf. Álvaro D'Oas, Elementos de Derecho Privado Romano (Pamplona, 1960) 13, e Una
Introducción al Estudio del Derecho (Madrid, 1963) 14-17; e vid. infra 2.° Parte de
stas Lições, ao versar o problema da relação entre ius, iustitia, aequitas.
5 «iuris praecepta sunt haec: honeste vivere, alterum non laeder, suum cuique trib
uere» (D. 1,1,10,1)-«os preceitos jurídicos de qualquer norma jurídica (visto a palavra «i
us» estar, aqui, num sentido duplamente normativo, vid, infra 21) são estes: não abusa
r dos seus poderes (faculdades ou direitos, no sentido subjectivo, vid. infra 22
), não prejudicar ninguém, atribuir a cada um o que é seu».
0 vocábulo «preceitos» do latim prae-certa < prae + capere, literalmente significa o q
ue tem de ser tomado ou considerado em primeiro lugar, antes de tudo; numa defin
ição real, «preceitos» são os princípios fundamentais.
A norma jurídica encerra preceitos e apresenta disposições. Os preceitos são como que a
parte invisível (por isso, «encerra»-os), mas fundamental (à semelhança dos alicerces dum
edifício); são a «alma» da norma; o seu princípio informador; o que dá tipicidade, ou melhor
, individualidade à norma. As disposições, a parte visível da norma (como que o edifício,
o corpo -por isso, «apresenta»-as); é a regulamentação concreta.
Os preceitos são os três referidos: não abusar dos seus direitos; não prejudicar ninguém;
atribuir a cada um o que é seu.
Note-se, porém, e com especial cuidado, o seguinte: 1.° estes três praecepta iuris não são
sinónimos; cada um tem a sua individualidade, não podendo converter-se noutro sem d
eixar resíduo; 2.° há entre eles uma certa interdependência; estão indicados por uma ordem
de valores e de hierarquia; aqui, a ordem da enumeração não é arbitrária.
PRIMEIRO preceito, não abusar dos seus direitos. Nisto consiste o «viver honestament
e» no aspecto jurídico (honeste vivere). Este preceito pressupõe, é evidente, como premi
ssa-básica do viver social, a relação entre Moral e Direito, mas não é um preceito moral. É
um preceito jurídico, pois o texto diz «iuris praecepta» e não «moralis praecepta» ou «morali
et iuris praecepta». Por isso, entendemos que não deve traduzir-se por «viver honesta
mente», mas sim por «não abusar dos seus direitos», tendo, porém, como fundamentação-base a M
ral. É o primeiro preceito; é que, para os romanos, o abuso do direito
12
-não prejudicar ninguém (alterum non laedere); -atribuir (ou só dar ou só entregar ou da
r e entregar) a cada um o que é seu (suum cuique tribuere).

era a primeira coisa que a norma jurídica devia essencialmente proscrever. E esta
nossa interpretação do conteúdo jurídico do preceito «honeste vivere» harmoniza-se perfeitam
ente e apoia-se mesmo nos princípios filosófico-jurídicos básicos. Em concreto, na prime
ira razão de ser (diríamos até, na primeira parte da razão de ser) da norma jurídica como
norma social -proibir o abuso de liberdade (vid. supra 8)-, e especificamente co
mo norma jurídica: «proibir o abuso do direito», que outra coisa não é senão o abuso de libe
rdade no campo jurídico. Verdade é que, na experiência histórica escolar, a formulação deste
primeiro preceito, por vezes, permitiu que se lhe desse mais conteúdo moral do qu
e jurídico.
SEGUNDO preceito, não prejudicar ninguém («alterum non laedere»). Este, assim como o ter
ceiro, em rigor, constituem a base do viver social. São limites imperativos impost
os ao homem, como sujeito do ordenamento jurídico: «alterum non laedere», a estabelece
r que o uso dum direito próprio tem de coexistir com os direitos dos outros;
TERCEIRO, «suum cuique tribuere», a determinar o respeito absoluto pelos direitos de
outrem.
0 terceiro preceito é uma consequência natural do segundo; o segundo e o terceiro ba
seiam-se no primeiro. Nisto consiste a tal sua hierarquia e a sua interdependência
, a que aludíamos há pouco.
EM SÍNTESE: no 1.° preceito, proibe-se o abuso do direito; no 2.° preceito, limita-se
o uso do direito; no 3.° preceito, impõe-se o respeito pelo direito alheio.
De tal maneira estes três preceitos são essenciais à norma jurídica (são fundamento, são ali
cerce) que, se qualquer disposição (mesmo até só uma parte da regulamentação concreta) atraiç
ar um desses preceitos, toda a norma jurídica «cairá» (por falta de alicerce), «morrerá» (por
ue não tem alma). Quer dizer, essa norma chamada «jurídica» não é... (se desde o início viola
um desses preceitos) ou se foi jurídica, deixa de o ser... (se mais tarde vem cont
radizer algum dos tais preceitos). Pode no entanto ser uma norma social, mas de
outra espécie; não, porém, uma norma jurídica.
Estes três praecepta são próprios da societas iuris; por isso, o texto (D. 1,1,10,1 e
igualmente 1, 1,1,3) lhes chama «praecepta iuris». Não podem considerar-se comuns a to
das as normas de convivência humana.
Estes famosos tria praecepta iuris são uma síntese admirável de todo o ordenamento juríd
ico. Não se trata duma enunciação teórica, improvisada por qualquer pensador, isoladamen
te; são fruto duma experiência secular, vista e revista por vários jurisconsultos com
uma intuição especial para as coisas do Direito; ULPIANUS, a quem pertence este frag
mento, depois compilou, limitando-se talvez a recolher a última formulação, ou a reela
borar a melhor formu
13
DIREITO ROMANO
Dar e entregar-Juridicamente, são coisas diferentes. Na linguagem corrente, em ger
al, confunde-se dar com entregar e entregar com dar. 0 jurista, porém, tem de ser
muito rigoroso nas suas expressões, exacto na sua terminologia; preciso.
Em Direito, «dar» (dare) significa transferir para outrem a propriedade duma coisa; «e
ntregar» (tradere) significa «transferir a posse».
«Tribuere» (atribuir) tem um carácter genérico em relação a dar (dare) e a entregar (tradere
); isto é, tanto pode ser ou só dar, ou só entregar, ou dar e entregar; deve, pois, tr
aduzir-se por «atribuir» (transferir) algo ou popriedade ou posse ou propiedade e po
sse duma coisa) a alguém. Portanto, não é juridicamente exacta a tradução de «suum cuique tr
ibuere» por «dar a cada um o que é seu», como geralmente se diz (e há-de ser difícil convenc
er as pessoas do contrário; essa tradução [traição (?) do texto latino] já ganhou foros de c
onsagração). «Dar», nessa tradução infeliz e errada no aspecto jurídico, aparece com um signi
icado vulgar (corrompido) de «dar» (=«dar ou entregar»); mas, em Direito, repita-se, «dar» e
«entregar» são coisas diferentes. Daí que, juridicamente, alguém pode: dar e não entregar (
se transfere a propriedade, mas fica com a posse da coisa), entregar e não dar (se
transfere a posse, mas continua proprietário); dar e entregar (se transfere a pro
predade e a posse da coisa).
Traduzir «suum cuique tribuere» por «dar a cada um o que é seu» significa traduzir apenas
uma parte do conteúdo de «tribuere» e, consequentemente, não admitir a existência de «obrigaç
de entregar». Portanto, um jurista, traduzindo conscientemente «suum cuique tribuer
e» por «dar a cada um o que é seu», em boa lógica estaria a defender o erro grave, o ABSUR
DO, da não-admissibilidade de «obrigações de entregar».
Este erro grave resulta da corrupção do conceito jurídico de dar, significando quer «dar
ou entregar» quer «dar e entregar»; e essa corrupção provém sobretudo daquela época terrivel
ente confusa dos
lação, pois era um jurista dotado de excepcionais conhecimentos jurídicos e filosóficos
(vid. infra 400).
Nem sempre a estes preceitos foi atribuído o mesmo conteúdo; variou
conforme os princípios metajuridicos, de ordem filosófica (vid. infra § 27-b), que est
avam na base da ordem social e concretamente da ordem jurídica de determinada época
e de um povo. A própria história do Direito Romano o demonstra. Mas no eterno variar
de conteúdo, permanecendo externamente inalteráveis, vê-se melhor como estes praecept
a são universais e orientadores de toda a vida social jurídica, independentemente da
concepção que se tenha ou se defenda da existência humana em sociedade.
[Sobre estes três praecepta iuris vid. F. CALASSO, Storicità dei Dirito (Milão, 1966)
343-348; sobre os vários significados dados pelos autores e sobre o verdadeiro alc
ance do «honeste vivere» cf. BIONDI, II Dirito Romano Cristiano II 59-75 e 85.87].
14
INTRODUÇÃO - rir. t-cAP. 2° §§ 2-3
sécs. IV-VI (vid. infra 49 as características dessa época histórica do lus Romanum). Inf
elizmente, é dessa época de muitas confusões que procedem bastantes dos nossos conceit
os, terminologia e instituições jurídicas. Por isso, sublinhe-se desde já, o ensino do D
ireito Romano na actualidade com uma orientação dogmático-prática (vid, infra § 16-a)) tem
, entre outras, a missão importantíssima de mostrar a todo o jurista o que é clássico (p
ara, com as devidas adaptações, ser imitado) e o que é post-clássico (para, no geral, se
r evitado). Como ficou dito, a corrupção do conceito jurídico de dar verifica-se nos séc
s. IV-VI; mas inicia-se, um pouco antes, embora numa forma menos acentuada. Em n
osso entender, pode traçar-se uma linha evolutiva, deste modo: nos princípios d,:) séc
. III, nota-se uma confusão ou relaxe de daré/tradere (dar/entregar); nos sécs. IV-VI,
há uma verdadeira corrupção; essa confusão-corrupção avançou pela Idade Média fora; continuo
través dos tempos; penetrou e instalou-se na doutrina e em muitas legislações modernas
(vid. Sebastião Cauz, Da «Solutio»I [Coimbra, 1962] 198-205).
Traduzir «suum cuique tribuere», por «dar a cada um o que é seu» é pois um erro que tem uns
14 a 15 séculos de existência; por isso, dizíamos, vai ser difícil de desaparecer...
A uma norma jurídica, ao conjunto das normas jurídicas e aos preceitos jurídicos (quer
fundamentais quer gerais), chama-se «direito» (ius). Veremos, já a seguir, em que
sentido.
Capítulo 2°-ANALISE DA PRIMEÌRA PARTE DA EXPRESSÃO «DIREITO ROMANO» («1US ROMANUM»)
SUMARIO-3. a) lus (noção etimológica) ') lus (noção real)
3. A expressão «Direito Romano» é composta evidentemente de duas palavras: «Direito» e «Roman
Só depois de conhecida a noção, sobretudo romana, de Direito (lus), é que melhor se pod
erá definir e compreender o «Direito Romano».
3
15
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO - TfT. I - CAP. 2.°
§3
a) Ius (noção etimológia)
Sempre que se pretenda definir um instituto jurídico ou expressar um conceito jurídi
co, deve atender-se ao significado «natural», «espontâneo» dos termos, quer dizer, à noção et
lógica da palavra que
designa esse conceito jurídico. As palavras, em Direito, mas sobretudo em Direito
Romano, estão carregadas de sentido; reflectem luminosa
mente o pensamento jurídico. E não surgem palavras novas, se não há
conceitos novos E.
E que a terminologia jurídica, principalmente dos romanos, carac
teriza-se por conservar, com mais exactidão que a linguagem corrente de hoje, o se
ntido originário das palavras. Atenda-se, por exemplo, ao
significado jurídico do termo repetir. Em. Direito, não significa «fazer
outra vez», «recomeçar», «principiar de novo», «tornar a dizer», etc., como na linguagem corr
e; mas, sim, exigir (pedir a devolução duma
coisa, )udicialmente). Conserva o sentido primitivo de re-petere (pedir para trás,
pedir outra vez; logo, pedir a devolução). 0 prefixo verbal re indica um movimento
para trás; um movimento, em sentido contrário,
que destrói o que tinha sido feito. De re deriva o advérbio retro, para trás. (Cf. ERN
OUT-MEILLET, Dictionnaire Étymologique 565 e 566). E assim, se alguém deu indevidame
nte, pode repetir, isto é, pode exigir
judicialmente a devolução daquilo que deu sem estar obrigado. Portanto, se há interess
e para qualquer jurista conhecer exacta
mente as etimologias do léxico que maneja, esse conhecimento tem uma importância esp
ecial para o estudo do Direito Romano. Sobretudo no campo das instituições da época ar
caica e do inicio da época clássica,
a etimologia, muitas vezes, constitui um elemento verdadeiramente decisivo r.
A Cf. ÁLVARO D'ORS. Principios para uma Teoria Realista dei Derecho em Anuario de
Filosofia dei Derecho 1(1953) 307.
7 A filologia latina e a filologia grega são ciências auxiliares valiosas nas invest
igações romanfsticas. Cf. A. GUARINO, L'Ordinamento Giuridico Romano'
(Nápoles, 1959) 6. Vid. ÁLVARO D'ORS, Filologia y Derecho Romano em Actas dei 2.° Cong
resso Espanol de Estudios Clásicos (Madrid, 1964) 193-213.
A missão da Filologia em relação ao DR é de influxo vitalizador em forma
de educação humanística-ef. D'ORS, ib. 206.
Sobre Filologia e Direito, veja-se também R'omanitas, tom. I (1970) 53 ss.
Sobre Filologia e Metodologia Jurídica, vid. Labeo 15(1969) 7 ss.
0 léxico jurídico romano tem sido estudado não só por juristas, mas também
por filólogos. Além das referências contidas no exaustivo Thesaurus Linguae Latine e n
os dicionários etimológicos de VANICex, WALDE-HOFFMAN, Lateinisches
Etymologisches Wõrterbuch' (Heidelberga, 1938), Walter v. WARBURG Franzõsisches Etym
ologisches Wõrterbuch 14 vols. (Bona, 1928-1961), e de ERNOUT-MEILLET, Dictionnair
e Étymologique de Ia Langue Latine. Histoire des Mots'
16
Como geralmente acontece com as coisas difíceis, ainda hoje não se sabe concreta-men
te a origem da palavra ius. Os autores, quer filólogos quer juristas, não estão de aco
rdo quanto à sua etimologia 8. Alguns consideram ius uma palavra primi
(Paris, 1959), há ainda os valiosos trabalhos de BREAI, Sur !'Origine des Mots des
ignants le Qroit et Ia Loi en Latin en NRH 7(1833) 603 ss.; W. KALB, Das Juriste
nlatein (Nuremberga, 1866); L. CECI, La Lingua dei Diritto Romano I. Le Etimolog
ie dei Giuresconsulti Romani (Turim, 1892, reeditada em 1966); G. DEVOTO, 1 Prob
lemi dei piá Antico Vocabolario Giuridico Romano em Annafi della Scuola Superiore
Normale di Pisa (1933) 255 ss., e em Atti dei Congresso lnternazionale di Diritt
o Romano. Roma I (Pavia, 1934) 17-35; SCHIArFINC, Disegno Storico delta Lingua C
ommerciale dai Primordi di Roma ali' Età Moderna I. Roma e i Regni Romano-Germanic
i em Italia Dialettica 6(1930) 56 ss.; A. PARIENTE, Notas ai Vocabolario Jurídico
Latino em AHDE 17(1946) 932-1099; NENCIONI, Lessico Giuridico Latino e Tradizion
e Mediterranea em Annali della Scuola Normale di Pisa (1940).
A filologia, sublinhe-se mais uma vez, é uma ciência auxiliar valiosa dos estudos ro
manisticos, mas... unia ciência auxiliar. 0 elemento filológico não deve sobrepor-se a
o elemento jurídico (vid. infra n. 8). Quando se pretende o contrário, surgem as polém
icas e, naturalmente, os exageros. - [Sobre este tema, vid. V. GEORGESCU, Etudes
de Philologie Juridique et de Droit Romain. l. Les Rapports de Ia Philologie Cl
assique et du Droit Romain (Bacarest, 1934); CARUSI, Dirito e Filologia. Riposta
di un Giurista alie Critiche di un Filologo (Bolonha, 1925); ARANGIO-RUIZ, Roma
nisti e Latinisti em Studi in Onore di Mancaleoni Studi Sassaresi 16(1938) 15 ss
.; CARNELUTTI, Di là dal Diritto em Riv. Ital. per le Scienze Giur. 1(1947) 108-11
6; DEVOTO, Jus. Di à dalla Grammatica, ib. 2(1948) 414-418; CARNELUTI, Jus Jungit
em Riv. di Dir. Processuale 4(1949) 57-63].
A primitiva linguagem jurídica não era técnica; era a linguagem comum; podia ser enten
dida por todos, nomeadamente pelos não-juristas. Mas depois fixou-se, enquanto a l
inguagem comum evolucionou. Ao ter-se fixado, converteu-se em linguagem jurídica téc
nica. Mais; a linguagem jurídica foi tirada do uso comum, i. é., da realidade da vid
a, como o antigo direito (segundo a concepção ciceroniana) é a natura ductum. As relações
jurídicas, antes de serem
jurídicas, são relações sociais, tendo uma denominação própria, que foi assumida pelo Direito
no preciso momento em que esssas relações entraram na órbita
do mundo jurídico. Portanto, repita-se, os termos jurídicos eram inteligíveis
para todos. Daí o não haver grande necessidade de dar definições, principal
mente dos institutos fundamentais. Estava tudo na própria palavra.-[Sobre
este problema, vid., por todos, FIORELLI, Nomina sunt cansequentia rerum em
Atti Verona 1 (1953) 309-321, e BIONDI, La Terminologia Romana Comme prima
Dommatica Giuridica em Scritti Giuridici I (Milão, 1965 181-217].
8 Sobre o tema, tão discutido por filólogos e juristas, da origem e etimo
logia de ius, a bibliografia é abundantíssima. Vejam-se, por todos, DE FRAN
CISCI, Storia dei Diritto Romano I (Roma, 1926) 279 ss.; Pierre NOAILLES, Du
Droit Sacré au Droit Civil (Paris, 1949) 22 ss.; Max KASER, Das Altrômische
lus (Gotinga, 1949) 2720; Carlo GEOFFREDI, Dirito e Processo nelle Antiche
17
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO - TfT. I -cAP. 2.°
§3
tiva; na sua grande maioria, julgam-na uma palavra derivada. Dentro deste segund
o grupo, há ainda muitas divergências. Indiquemos algumas das principais opiniões.
Segundo uns, vem de iussum (ordean), e iustum do verbo iubere (ordenar, preceitu
ar) ; então ius signifiacaria o que está preceituado ou ordenado.
Certos filólogos e vários juristas entendem que a palavra ius deriva do sânscrito yu,
yug, yung, que significa «liame», «ligação»; porém, talvez não tanto no sentido abstracto de
lo (embora alguns se inclinem para esta significação), mas no significado materialísti
co de «fechado», «circunscrito», e dai a «assembleia em forma de circo», o tribunal. Por con
seguinte, ius seria o estabelecida pelos juizes (julgadores) do tribunal, ou por
outros competentes iudices (juízes), que reflectem nas suas decisões o pensar da co
munidade («populus»), já que esta tem uma certa intuição para declarar o iustum e sobretud
o para reprovar o iniustum (o anormal), o que sai da normalidade, e, em última análi
se, o que vai contra a norma devida, embora não expressamente constituída. Se esta e
timologia for exacta, então ius, desde o Início ou desde muito cedo, esteve sempre m
ais ou menos' ligado a uma actividade judicial, culminando, na sua forma mais ef
iciente, numa actividade judiciária. Seria mais um argumento a favor de Alvaro D'O
RS que, desde há muito, vem ensinando: «ius est quod iudex dicit»; «derecho es lo que ap
rueban los jueces» °.
Forme Giuridiche Romane (Roma, 1955), 49 ss., e Antonio GUARINO, L'Ordinamento G
iuridico, cit. 54-72.
Note-se que as etimologias apresentadas pelos juristas romanos, mesmo erradas so
b o ponto de vista filológico, revelam-se úteis para a compreensão e reconstrução dos resp
ectivos conceitos e institutos jurídicos. Com efeito, os juristas romanos recorria
m às etimologias, com intenção não filológica mas puramente jurídica. Cf. B. BIONDI, Valore
delle Etimologie dei Giuristi Romani cm Scritti Giuridici IV (Milão, 1965) 863-867
.
e Álvaro D'ORs. Principios para una Teoria Realista dei Derecho em .Anuario de Fil
osofia dei Derecho 1(1953) 308. Para compreender melhor a opinião do eminente roma
nista, atenda-se a estas suas palavras: «hay que tener en cuenta que esa f unción ju
dicial puede ser idealmente asumida f uera de um juicio real determinado, por el
mesmo juez o por el soberano o por um particular eualquiera Coando, por ejemplo
, un alumno en una clase de casos práticos, emite su opinión sobre un caso hipotético,
su opinión asume el carácter de
18
- Modernamente, e já antes, vários autores pensam que tios tenha a sua origem no pri
mitivo sãnscrito «vaus» (=puro, bom, santo), que corresponde à forma latina arcaica yous
ou jour ou ious, e significa «algo prooedente da divindade». A forma ious encontra-
se v. g. numa inscrição do ano 123-122 a. C. (Vid. Corpus Inscriptionum Latinarum I'
583, 19).
Baseando-sie neste provável significado primitivo da palavra ius, bastantes jurist
as e filólogos reputam-na derivada de loues, buis (Zeúç), que é a forma antiquíssima de Iu
piter. A favor desta etimologia está, de certeza, a palavra iovestod, que se encon
tra no mais primitivo brasão do «Forum Romanum», e que significa iustum. 0 ias, na sua
estrutura originária, teria portanto um certo conteúdo ou sentido religioso, que ja
mais haveria de perder por completo, sobretudo nos seus compostos iurare (jurar)
e iusiurandum (juramento), em que, duma forma ou doútra, há uma invocação dos deuses 10
.
Note-se, porém, que a partir talvez do séc. V a. C. a palavra latina ius perdeu bast
ante essa tal ideia religiosa, para significar «ordenamento laico (civil)», «ius (civi
l¢)», embora a palavra «civile» venha a ter, logo
a seguir, um outro significado, «o que é próprio dos cives»; e portanto «ius civile» é o «dir
o (laico) próprio dos cidadãos romanos». Antes da expressão «ius civile», usava-se a de «ius
uiritium», que igualmente
designava o «direito dos primitivos cidadãos romanos (quirites)»; mas em «ius quiritium»,
ius (direito), de início, ainda aparece envolvido ou misturado com certas ideias r
eligiosas. Depois de ter surgido a expressão «ius civile», a de «ius quiritium» (que não des
apareceu logo) tem já o significado de ius civile; é um sinónimo.
una sentencia judicial; su actividad es propriamente judicial, aunque esa activi
dad no tenga, naturalmente, ni ta eficacia ni Ia repercusión social que tiene Ia s
entencia de un juez en el ejercicio propio de sus funciones. Quiere esto decir q
ue puede haber, además de un derecho real, un derecho proyectado, hipotético, anhela
do, ideal, sobrenatural, etc.» (ib. 308 e 309). Vid. também Anuar. Derecho
Civil 19(1966) 459 e Lura 18(1967) 347.
10 Sobre o carácter do primitivo ius, vid., por todos. Pasquale Voci, Diritto Roma
no Sacro in EM Arcaica em SDHI 19(1953) 38.103.
Sobre a origem de iurare, como proveniente de ius e relacionando-se com lupiter
(lovis), veja-se o interessante estudo de A. PARIENTE, lurare em ARDE 17(1946) 9
91-1099. Aí se mostra que dius (> deiuos > deus) é a raiz comum de ius, de lovis e d
e iurare; portanto, iurare, rigorosamente, significa «invocar Júpiter». Vid. também Ann.
dei Seminario Giurid. delia Univers. di Palermo 30(1967) 521-543 (iurare-afirmação
solene, invocando Júpiter [lovisl).
19
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO-rfr. I-CAP. 2.° § 3
Segundo recentes investigações, a palavra ius, etimolôgicamente, deve ser primitiva; m
as tem uma relação ôntica, prdximamente com lustitia, remotamente com Jupiter (lovis).
Dai que o Direito (primeiro, youes; depois, ius) tem uma relação (de procedência) com
a divindade ou com as divin
dades 11.
b) Ins (noção real) Quid Ins? 12 [que é (o) Direito?]
A respeito da definição de ius (direito), quer filosófica quer jurídica, observa Max E.
MAYER: «até agora não houve
um jurista nem um filósofo do Direito que tenha acertado a formular uma definição do D
ireito unânimemente aceite». E logo acrescenta o porquê. «Isto é esquisito, mas explicável.
Em nossa opinião, o motivo principal consiste em que é impossível compreender e explic
ar satisfatôriamente as diversas formas inani f estativas do Direito numa única fórmul
a» 13.
Na verdade, se não é impossível, é pelo menos extremamente difícil definir Direito, visto
tratar-se duma realidade altamente complexa.
Mas pode descrever-se, juridicamente, e deve descrever-se, para termos uma noção genér
ica (embora muito vaga), a partir da qual iremos para as noções específicas (direito n
ormativo, direito subjectivo, etc.), que então já se podem definir, visto tratar-se
de realidades delimitadas, pouco ou nada complexas.
Em nosso entender, essa descrição jurídica seria:
Jus (direito) é tudo aquilo que tem especiais atinências com o iustum (o justo, o ex
acto, o devido).
11 Ver nossa monografia Jus. Derectum (Directum) 38-42.
12 Diferente da expressão «quid ius?» é a expressão «quid iuris?», usada frequentemente, mas
obretudo na conclusão da exposição dum caso-prático ou dum problema jurídico. Significa «o q
ue há de direito?», isto é, «qual a norma jurídica a aplicar?» (se há norma), aliás, «qual a
urídica?», «quais os princípios jurídicos (gerais ou fundamentais) a aplicar?».
13 M.ax Ernst MAYER, Filosofia dei Derecho (Barcelona, 1967) 120.
Pode ser tomado em vários sentidos. Há autores que falam da enumeração de 26 acepções 14. No
rmalmente, apenas se referem duas: em sentido objectivo e em sentido subjectivo.
Entendemos, porém, que devem nomear-se, pelo menos, 6 acep
ções de ius (direito).
1.0-Em sentido normativo, «ius» (direito) é a norma jurídica ou o conjunto de normas juríd
icas ou o ordenamento jurídico (tomado nalgumas das suas partes ou no seu conjunto
), que determina o modo de ser ou de funcionar duma comunidade social, ou ainda
os princípios jurídicos (quer fundamentais quer gerais). É neste sentido que se fala d
e
direito («ius») natural, direito positivo, direito internacional, direito português (e
spanhol, francês, etc.), direito matrimonial, direito penal, direito das obrigações, (
das sucessões, dag
servidões, da empresa, etc.).
Nas fontes do Jus Romanum, aparece muitas vezes a palavra ius
neste sentido normativo. V g.:
- D. 1,1,10,1: «luris praecepta sunt haec...» (ver supra, 123)
-D. 1,3,9 ULPIANUS: «Non ambigitur senatum ius facere posse»
(Não se duvida de que o senado pode criar direito [=normas
jurídicas]).
Vulgarmente chama-se ao direito em sentido normativo «direito
(em sentido) objectivo». É um erro. 0 objectum do ius nunca pode
ser uma norma do ius, mas o conteúdo do ius (veremos, já a seguir);
é aquilo que está defronte de nós < objicit < ob + jacit (Gegenstand).
-A confusão vem desde os sécs. 1V-VI, período do lus Romanum
exactamente apelidado de confusão (vid. infra § 6 aí. c) e onde a moderna civilística em
muita coisa se baseia. Nessa época (havemos de nos referir a isso desenvolvidamen
te, vid. infra § 26, b)-I), as leis (leges--constitutiones principis) eram o ius n
ovum e, sob certo aspecto, pràticamente, o único ius. E como as leis (=leges=ius nov
um) eram o objectivo (pràticamente único) da ciência jurídica, daí que «direito objectivo» (r
pita-se, por confusão) começasse a significar as leges, as leis, a norma ou normas j
urídicas. E a confusão, segundo pode deduzir-se da evolução das fontes post-clássicas, está
precisamente nisto: a palavra «objectivo» da expressão «direito objectivo» devia predicar-
se de ciência jurídica e não de direito.
14 Vid. E. REGATILLO, Institutiones luris Canonici' (Santander, 1966) 8.
20
21
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO - rir. i - cap. 2.° § 3
A evolução ter-se-á processado do modo seguinte: de início (isto é, aí pelos fins do séc. III
ou princípios do séc. IV), afirmar-se-ia «ius, objectivum scientiae iuris (objectum iu
risprudentiae), sunt legas»; mais
tarde, cerca do séc. V, ter-se-ia começado a dizer «ius objectivam sunt leges». Os juris
tas, ou melhor, os escolialistas confundiram, eliminando a pontuação (que hoje corre
sponde à vírgula) e sincopando a frase -
o que tudo era muito frequente nessa época do Baixo-Império.
2.°-Em sentido subjectivo, «ius» (direito) é a situação jurídica, o poder ou faculdade moral
ue alguém (indivíduo ou entidade) tem de exigir, fazer, possuir ou simplesmente rete
r uma coisa. E neste sentido que se diz, v.g. que o vendedor dum objecto tem dir
eito ao preço e o comprador tem direito à coisa~ vendida; António (indivíduo) tem direit
o de passagem pelo terreno dos Bombeiros Voluntários (entidade) de... situado em..
. etc.
Em sentido subjectivo, veja-se a palavra ius, v.g. em:
- D. 50,17,54: «Nemo plus iuris ad alium transfere potest, quam ipse haberet» (ninguém
pode transferir para outrem mais direito do que ele próprio teria).
-D. 50,17,55: «Nullus videtur dolo facere, qui suo lure utitur» (quem usa [não, quem a
busa] do seu direito, em princípio, não procede com dolo; ou por outras palavras, qu
em usa do seu direito, [em regra]
não deseja prejudicar ninguém).
- D. -50,17,155,1: «Non videtur vim facere qui ure suo utitur» (quem usa do seu dire
ito, [em princípio] não perturba [não prejudica] ninguém).
10-Em sentido objectivo, «ius» (direito) significa o iustum, o devido; a própria coisa
justa; a realidade justa. (Parece ter sido este o significado primário de ius; vi
d., por todos, ZAFRA J. V., El Derecho como Fuerza Social [Pamplona, 19641 24).
E, pois, o objecto, o conteúdo ou âmbito do direito normativo mas sobretudo do direi
to subjectivo. Era aquilo que os juristas romanos geralmente designavam por natu
ra rerum (natureza das coisas). Esse conceito foi para eles o primeiro e o primári
o ou fundamental de Direito, de tal modo «quae rerum natura prohibentur nullat leg
e confirmada sunt»
(aquilo que é proibido pela natureza das coisas, não pode ser confirmado por nenhtsn
a lei), D. 50,17,188, 115.
A palavra ius, com este sentido objectivo de a própria realidade justa, aparece fr
equentemente nos textos romanos, v.g. nas expressões «ius reddere» (prestar o direito
[=:o devido]), «ius statuere (determinar, fixar, o direito). Por vezes essa determ
inação ou fixação do direito (=::o devido) é feita pelo juiz, como consta, v.g. do D. 5,2,
17,1: «ius fieri ex sententia iudicis» (o direito [-o conteúdo dum direito-subjectivo]
determina-se [bem] por uma sentença do juiz).
4.°-Numa quarta acepçdo (o local), «ius» tem o significado de lugar onde se administra a
justiça; grosso modo, o tribunal. E com este alcance que se diz em linguagem vulg
ar,
v.g.: quem não cumpre, deve ser chamado ao direito (= ao tribunal).
Em textos romanos, é bastante frequente o emprego de ius a
significar o local onde se administra a justiça, onde o magistrado ius
dicit, isto é, onde se fixa o âmbito das normas ou o conteúdo das facul
dades (=dos direitos-subjectivos). V. g.:
XII Tábuas I 1: «Si in ius vocat, ito» (se alguém te chama ao direito [-a juízo, ao tribun
al], vai).
III 1 e 2: «Aerfs confessi rebusque iure iudicatis XXX dies iusti santo. Post dein
de manus iniectio esto. In ius ducito». (Nas dívidas de dinheiro confessadas em dire
ito (=em juízo) e nos assuntos julgados judicialmente, haja 30 dias de benevolência.
Depois deste prazo de 30 dias, tenha. lugar a «manus iniectio» [=apoderamento da pe
ssoa do devedor pelo credor], [e o devedor] seja levado [novamente] ao direito [
=ajuízo, ao tribunal].
D. 1,1,11: «...alia significatione ius dicitur locus in quo ius redditur» (numa outr
a acepção, o direito designa o, lugar onde é prestado o devido [mus-objectivum]).
5.°-Numa quinta acepção, «ius» (direito) significa «o saber jurídico». Tem esta acepção, quan
iz, v.g.: Antó
15 Sobre uma visão moderna do problema, vid. M. VILLEY, li Concetto «Classico» di Natu
ra delle Cose em Jus 18(1967) 28-46.
22
23
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO - TfT. I - CAP. 3' § 4
nio estuda Direito (=saber-jurídico; geralmente, ciência jurídica) em Coimbra; o Direi
to (=o saber-jurídico) é difícil, etc. Os textos romanos falam de ius com este signifi
cativo, v.g., em D. 1,1,1pr.: «]uri operam daturum...»
«lus est < etiam > ars boni et aequi»
(0 Direito (=o saber-jurídico] é também uma técnica do bom e do equitativo). Veremos mai
s adiante, § 27, em que sentido Direito é uma ciência e em que sentido é também uma técnica.
6.°-Finalmente, numa sexta acepção, «ius» (direito) significa o património (quer activo quer
passivo) duma pessoa. V.g. em D. 50,17,62: «hereditas nihil aliud est, quam suece
ssio in universum ius quod defunctus habuerit».
Capítulo 3.°-IUS. DERECTUM (DIRECTUM). DIREITO
SUMÁRIO16-4. A) - A questão: «lus», palavra muito antiga na língua
latina, a significar Direito. Proble
mas que encerra: um, principal; pelo
menos três, secundários
B) - Os problemas secundários, analisados pelos AA.
C) -0 problema principal
(síntese)
1-Os símbolos: valor; alcance; sua relação com as palavras
2 - Os símbolos do Direito; a) - o grego; b) - o romano; c) - diferenças entre eles
e respectiva significação
3-Tradução dos símbolos do Direito em palavras: a) - em grego: basileus (?), thémistes,
díkaion, íson; b) - em latim: *youes, ius, (rectum?) derectum (directum)
4--Convcrgcncia semântica entre ius e derecturn (directum)
5 - Análise de derecturn (directum?)
6 - Conclusão
16 Remetemos o estudo desenvolvido da matéria contida neste sumário para a nossa man
ografia lus. Derectum (Directum). Dereito (Derecho, Diritto, Droit, Direito Rech
t, Right, etc.) (Relectio) (Coimbra, 1971). Pelas razões apontadas supra XLVI, não f
oi viável efectuar a devida adaptação dessa monografia a uma síntese conveniente, mas ap
enas a um resumo.
A) -A QUESTAO
4. A palavra ius - muito antiga na língua latina, posto que não seja a primitiva, ou
pelo menos não tenha sido esta a sua primeira forma 17, e embora tenha havido, a
par (certamente desde o início), outra palavra com o mesmo significado de ius--, t
raduz-se nas línguas românicas por: dereito, no antigo português is, e ainda hoje no d
ialecto mirandês 19, em galego, navarro e aragonês; derept, em romeno; direito, no a
ctual português, e, por vezes, também no moderno galego; derecho, em castelhano 20,
diritto, em italiano; droit 21, em francês; dret, em catalão e no dialecto do Vale d
e Arán; drech, em toda a língua de Oc, sobretudo em provençal; dreit, no antigo aragonês
e em limusino;dreto, no dialecto ribagorzano; dritto em italiano antigo e no mo
derno italiano dialectal e corrente; drecho, em espanhol antigo, e ainda hoje em
forma popular
17 Vid. lus. Derectum 15 e 16 e n. l.
18 Até há bem relativamente pouco tempo, a nossa grafia era «dereito» e não «direito». A mode
na grafia direito é devida sobretudo a uma rectificação puramente ortográfica, por causa
do e mudo se identificar na pronúncia com i. Cf. ANTENOR NASCENTES, Dicionário Etim
ológico da Língua Portuguesa (Rio de Janeiro, 1932) 250, e COROMINAS, Diccionario Crít
ico Etimológico de Ia Lengua Castellana II (Madrid, 1954) 126 e 127.
19 Vid. J. LEITE DE VASCONCELOS, Estudos de Philologia Mirandesa (Lisboa, 1901)
182.
20 Em castelhano, o grupo latino ct, a partir do séc. XVIII, dá ch. Cf. R. MENÉNDEZ PI
DAL, Orígenes dei Espanol 1 (Madrid, 1929) 290, que apresenta a seguinte evolução: der
ectum (directum) > *derejtos > *drechos > derechos.
21 Cf. C. H. GRANDGENT, Introducción al Latir Vulgar, trad. esp. de F. de B. MOOLL
3 (Madrid, 1963) 152 § 229-em algumas palavras do latim vulgar, a vogal da sílaba in
icial, seguida de r, perdeu-se: de derectum (ou directum) fez-se geralmente drec
tum. Depois, mas ainda na mesma época: 1 -deve ter-se perdido o m final (cf. R. ME
NÉNDEZ PIDAL, Manual de Gramática Histórica Espanola [Madrid, 19291, 137), ficando dre
chu, dreitu; I1-ao mesmo tempo, o u final - a) converteu-se em o em castelhano,
português, galego, etc. (cf. M. MENÉNDEZ PIDAL, Origens del Espanol. Estado Linguístic
o de Ia Península Ibérica hasta el Siglo XI3 [Madrid, 19501 280.281); e P) desaparec
eu em catalão, provençal, antigo aragonês, francês, etc. (ct. A. BADíA MARGARIT, Gramática H
istórica Catalana [Barcelona, 1951], resultando então as várias formas-dereito, derech
o, dreito, drecho, dret drech, dreit, droit, etc.
Vid, também COROMINAS, o. C. 127, onde igualmente se apresenta a explicação deste fenóme
no linguístico.
24
25
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO-TIT. t-CAP. 3.° § 4
e em forma corrente na zona aragonesa; dreito 22, em português e galego vulgares,
etc.
Todavia a palavra dereito (direito, derecho, assim como as outras palavras das vár
ias línguas românicas) traduz ius, mas não vem de ius; procede do termo directum, ou m
elhor, derectum; e ius e derectum afiguram-se-nos desde logo palavras totalmente
diferentes 23.
Como se explica então que, sendo ius e derectum duas palavras distintas e sendo di
reito tradução de ius, provenha, não de ius, mas de derectum?
Haverá alguma convergência semântica ou de conteúdo
entre ius e derectum? 24
Eis a questão.
Em nosso entender, ela compreende vários problemas.
Um, PRINCIPAL -porque terá surgido, ao lado de «ius» e igualmente a significar Direito
, a palavra «derectum», e não qualquer outra?
Pelo menos três, SECUNDÁRIOS:
quando terá surgido «derectum» a par de «ius»? 25 donde procederá «derectum» com o significad
e
Direito?
porque não passou «ius» às línguas românicas, como palavra fundamental? 26
22 Ver n. anterior. No norte de Miranda. também se usa dreitica (=direitinha), jun
to ao mirandês dereito (cf. LEITE DE VASCONCELOS, o. c. 33 e 182).
23 Não falta quem admita que directum (derectum?) procede remotamente de ius, atra
vés da forma derivada iurare (iuratum).
24 Os AA., se afloram este problema, negam a existência de qualquer relação entre ius
e derectum (directum). Vid., por todos, GARCIA-GALLO, lus y Derecho em ANDE 30(1
960) 8: «Ius y directum son voces etimológicamente distintas, entre Ias que no exist
e relación alguna».
25 Para certos AA., este problema, embora não seja o principal, é o primeiro que tem
de ser resolvido. «El primer punia que intcresa precisar para poder orientar ta i
nvestigatión es ei de Ia época o momento cri que junto a ius apareció ei sustantivo di
rectum (derectum) en su acepción de Derecho, y en que éste desplazó a Ia voz con que t
radicionalmente se había venido designado» -GARCIA-GALLO,O. C. 11.
26 Para vários AA., este é o problema principal. Ver, mais uma vez, por todos, GARCI
A-GALLO, o. c. 7: «Los filólogos se han limitado a seüalar Ia
B) -OS PROBLEMAS SECUNDÁRIOS, ANALISADOS
PELOS AUTORES

Os problemas, acabados de enumerar como secundários, têm sido ventilados, por alguns
AA. 0 estudo mais completo
é certamente o de GARCIA-GALLO. As opiniões são diver
gentes 24.
C) 0 PROBLEMA PRINCIPAL
(Resumo)
1-Os símbolos são anteriores às palavras; mais eloquentes; para os traduzir verbalment
e, em geral, não basta uma palavra; são precisas duas ou mais, sobretudo quando se t
rata de símbolos complexos. As palavras exprimem a ideia, traduzindo ou interpreta
ndo o símbolo. No símbolo, nada está a mais, e tudo é altamente significativo 26.
2 - 0 Direito teve sempre - desde o início e ainda hoje - o seu grande símbolo. ou «símb
olo real» (a par de vários «pequenos símbolos»). Esse «grande símbolo», como naturalmente est
indicado, não é simples mas complexo, dada a complexidade do Direito. 0 primeiro el
emento desse grande símbolo do Direito, colocado na sua parte central, é uma balança d
e dois pratos, ao mesmo nível, e o fiel a meio (se existe), perfeitamente a prumo.
Além deste primeiro elemento,
etimologia de Ias voces românicas (diritto, dereito, direito, derecho, etc.), y lo
s jursistas a enumerar éstas para destacar Ia universalidad dei concepto. Pero, sa
lvo alguna excepción, que luego se indicará, nadie se ha preocupado de averiguar por
quê ius no pasó a Ias lenguas románicas».
27 Vid. lus. Derectum 19 e 20.
28 lus. Derectum 21.24.
26
27
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO - TIT. I - CAP. 3.° § 4
há outro, para completar o símbolo, e que varia de povo para povo e ainda conforme a
época 299
a) - 0 símbolo grego completo do Direito 3° teve diversas apresentações (formulações), sendo
a seguinte a que gozou de maior popularidade: a deusa p(x i (Díkê), filha de Zeus
de Thémis, incarnando, mas sobretudo administrando a justiça, tendo na mão direita uma
espada e na esquerda uma balança de dois pratos, porém sem fiel ao meio, e estando
de pé e de olhos bem abertos. Era, mediante essa balança que ela declarava (ora por
inspiração, ora por ordem de Zeus), ou melhor, dizia -pois «dizer», em termos jurídicos, é «d
clarar com solenidade»-ser justo, haver direito, quando estivessem iguais (''Laos)
os dois pratos da balança. Daí que, para os gregos, numa linguagem vulgar ou corren
te, o justo
(o Direito) é o que é visto como igual ('l oç), o igual To' 'Laov.
b) - 0 símbolo romano completo do Direito 31, em tudo semelhante ao grego, teve ig
ualmente diversas formulações
representações, sendo a mais difundida até hoje: a deusa Iustitia, a incarnar, mas sob
retudo a administrar a justiça, mediante o emprego da balança (de dois pratos e com
o fiel bem a meio), que ela segura com as duas mãos, de pé, e de olhos vendados. E e
ntão haveria direito (ius), quando a «Iustitia» o dissesse; e dizia-o (isto é, afirmava-
o com solenidade), quando o fiel (examen) estivesse totalmente a prumo
recto (rectum), perfeitamente recto (de - + rectum).
c) - As «pequenas» diferenças dos símbolos completos do Direito, grego e romano («pequenas»
diferenças, mas... nos símbolos nada está -a mais e tudo é altamente significativo), tra
duzem admiràvelmente a diversidade de concepções, grega
e romana, a respeito do Direito 3''.
23 Vid. lus. Derectum 24-26. 30 ib. 26 e 27. 31 ib. 28.
32 ib. 29 e 30.
3 - Tradução dos símbolos do Direito em palavras 33
a) -Em grego. As palavras são diferentes, conforme a diversidade de formulação simbólica
. Notemos sobretudo duas:
ã'LvatOV significa algo declarado solenemente (portanto, dito) pela deusa 0'Lx-~.
l a tradução verbal da atitude dessa deusa.
"Iaov é a tradução verbal «mais visível», mais acessível a todos: os dois pratos da balança-j
ca iguais (''Laos).
Por conseguinte, desde remota antiguidade (se não desde o início, pelo menos desde o
séc. V a. C.), na Grécia há duas palavras para expressar a ideia de Direito, interpre
tando verbalmente o símbolo p'Lx-~ a segurar a balança com os pratos ao mesmo nível, s
em fiel a meio:
Atxa'Lov, de carácter mais erudito, a significar o que diz
(profere ou sentencia) A(x);
- "Iaov, de carácter mais popular, a significar os dois parte da balança, iguais (''
LaoS); nem um mais alto nem outro mais baixo.
b) -Em latim. À semelhança e por influência da Grécia, Roma tinha igualmente várias palavr
as, conforme a diversidade de representação simbólica, sendo também duas as mais importa
ntes: ius e derectum (de inicio, talvez só «rectum»,
depois, bastante mais tarde, a forma «directum»).
lus corresponde a 8ivactov (=«quod p(x-~ dicit») e signi
fica igualmente .«quod Iustitia dicit». Portanto, a Iustitia não é um simples precedente
de ius; muito menos a palavra é origem etimológica de ius. Não. Na concepção romana, a de
usa Iustitia é a geradora do ius, como a Míx-~ grega era de S'Lxoctov. i com este al
cance profundo que deve ser interpretado
frag. de ULPIANUS contido em D.1,1,1pr. Aí não se trata da origem -etimológica da pala
vra ou termo «ius», como todos os autores têm afirmado e traduzido, mas da origem semânt
ica, ôntica ou genética (da realidade) do ius. A palavra «nomen»
33 ib. 31-48.
28
29
t
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO - TIT. I - CAP. 3" § 4
(note-se, distinta de «verbum»), neste frag. está com o signi
ficado profundo de 'óvoµa (Haupwort).
Derectum corresponde ao '(aov grego, embora com certas diferenças, e traduz aquela
parte do símbolo que consiste em o fiel da balança estar precisamente ao meio -«exame
n (o fiel) de-+rectum» (de início, talvez simplesmente rectum). [Note-se que a balança
-jurídica romana, ao contrário da grega, tinha fiel ao meio, e note-se ainda que o p
refixo de-, aqui como em outros casos, tem carácter intensitivo].
(Vid. lus. Derectum 46-48, a origem e o alcance da diferença e da igualdade entre «D
ireito-'(a~ e «Direito-derectum»).
4 - Convergência semântica entre «ius» e «derectum» 34. As duas palavras expressam a mesma r
ealidade- o Direito-, atingindo-a por meio de expressões verbais de partes signifi
cativas do símbolo:
a) -há «ius», porque a «Iustitia» o diz, e a deusa «Iuatitia» diz que há Direito, quando o fi
da «balança jurídica» está aprumadíssimo («examen de-rectum»), e portanto os dois pratos igua
(bilances aequales) ;
p) há «derectum», porque o fiel da balança está totalmente aprumado, e o examen está (rectum
ou) de-rectum, quando os dois pratos estão precisamente iguais, i. é., exactamente
ao mesmo nível ".
5 - Depois de solucionado o problema principal, há outras perspectivas para uma anál
ise nova aos diversos problemas secundários.
Concretamente, a respetio de derectum.
-- Deve ter surgido, talvez desde o princípio da vida jurídica em Roma: primeiro,' a
o lado de youes; depois, a par de youes e de ius (sécs. V-III a. C.) ; desde o séc.
III a. C., ao
lado de ius 96.
S4 ib. 48 e 49.
35 Rectum (ou a forma indoeuropeia REK-TO?) deve ter originado Recht, Right, etc
., e derectum, dereito, derecho, diritto, direito, etc. 36 Vid. lua. Derectum 50
-54.
30
A partir do séc. IV da nossa era, a palavra derectum (ou já então, também directum) está e
m especial evidência ao lado de ius, devido provàvelmente, de início, a certas atitude
s dos juízes. -- Como é sabido, desde o Baixo-Império, o termo ius («ius novum») principia
ater um significado muito específico - a constituição imperial ou o conjuno das const
ituições imperiais -, e que pamatn a ser consideradas a única fonte de Direito. Ora, q
uando as constituições imperiais eram justas, denominavam-se sobretudo «ius directum (
ou derectum) » [=direito justo] (ou «fura directa [ou derecta]=normas justas) ; quan
do injustas, «ius iniustum» ou «fura iniusta» I'.
~r As vezes, também se denominavam, respectivamente, «ius aequum» («lura aequa») e «ius iniq
uum» («iura iniqua»).
Note-se ainda - e é muito curioso!... - que, na evolução do seu conceito, ius novum (a
constituição imperial, diríamos hoje a Lei) não só se identificou com o lus (com o próprio
Direito), mas até com a lustitia (com a Justiça). Então - e ainda hoje estamos a sofre
r algumas consequências dessa confusão desde que a lei (a constituição imperial) s
e confundiu ou identificou com iustitia, a Justiça começou a ser designada pela pala
vra Ratio (Razão). Daí os significados de:
- «reddere rationem-prestar ou restituir o que é justo, o que é de Direito»
(cf. Rainer MARTEN, Der Logos der Dialektik [Berlim, 1965] 35);
- «ter Ratio, mas não haver iustitia»-«ser de Justiça (ter Razão), mas
não haver lei»;
- «que se faça iustitia»-«que se cumpra a lei»;
-«chamar alguém à iustitia-«chamar alguém ao tribunal, para que se
cumpra a lei»;
-«chamar alguém à Ratio (à Razão)»=chamar alguém à Justiça, i. é,
dizer-lhe que determinada coisa é justa, embora não seja legal, ou vice
-versa, que determinada coisa é injusta, posto que seja legal», etc., etc.
Sobre este problema, vid., por todos, W. CESARINI SÊORZA, o. c. 78.
E quando mais tarde a própria palavra Ratio também se vulgarizou ou corrompeu - já o d
issemos, as palavras, por vezes, gastam-se com o uso e prostituem-se com o abuso
-, então para indicar a ideia (exacta) de Direito, Justiça, usa-se a expressão «recta r
atio». (Dir-se-ia que a palavra que deve traduzir a ideia de Direito tem de se con
servar «pura». Exacta. Precisa). E com este alcance de Direito (=norma ou lei, em si
mesma, justa) que deve ser interpretada a nossa expressão «boa razão» (tradução, talvez, ma
is de «recta ratio» do que de «bona ratio»), a qual se tornou célebre por causa da Lei de
18 de Agosto de 1769. Sobre este problema, vid. Paulo MEREA, Direito Romano, Dir
eito Comum e Boa Razão em Boletim da Faculdade de Direito da Univer
sidade de Coimbra 16(1939-40) 540', e N. J. ESPINOSA GOMES DA SILVA, Huma
nismo e Direito em Portugal no Século XVI (Lisboa, 1964) 57".
31
i
IL
t
DIREITO ROMANO
Devem ter sido os juizes-que se recusavam a aplicar as constituições imperiais, quan
do injustas, mesmo que essa atitude lhes acarretasse consequências gravíssimas, como
perda do cargo, desterro e até pena de morte -, os que introduziram como termo er
udito (e para isso foram à linguagem popular) derectum (derectum) para significar «D
ireito», a contrapor a ius («novum») = constituições imperiais.
- Derectum (derectum) tem um certo fundo religioso, devido principalmente (e pro
ximamente) à deificação da Justiça.
Com a filosofia estóica, derectum (derectum) recebeu um
certo conteúdo ~ale 38.
0 Cristianismo, sobretudo depois do séc. IV, informou de novos valores morais o co
nceito de derectum (directum) 99.
Como já está hoje demonstrado'°, nos sécs. VI-IX derectum (directum) domina 41 a palavra
ius. Por isso, as línguas românicas, cuja formação se verifica em períodos dessa época, tom
aram (tinham mesmo de tomar) derectum para criar as suas palavras «dereito», «derecho», «d
iritto», «droit», «direito», etc.
6 - Coaclusão
É deste derectum (directum) de fundo religioso, carregado de morale e cristianizad
o, que procede o «Direito» dos povos de língua românica, e portanto a nossa concepção de Dir
eito, em que o Direito é tão moral, que deixa de ser « jurí
dico», se atentar abertamente contra a Moral 42.94.
98 Sobre a influência estóica no mundo romano vid. CASTRO CORREIA, 0 Estoicismo no D
ireito Romano (S. Paulo, 1950), cit. por SPANNEUT, Le Stoicisme des Pères de l'Egl
ise (Paris, 1957) 5251 e vid, ib. 50.53 e 74-77, M. VALENTE, L'Ethique StoIcienn
e chez Cicéron (Paris, 1956) passim, máxime 240 ss., e B. BIONDI,I Diritto Romano Cr
istiano I (Milão, 1952) 107-112, II 44-48.
39 Vid., por todos, W. CESARINI SFORZA, o. c. 55 e n. 55, e B. BIONDI, o, c. 1 1
13.114, 11 61-67 e 119 ss.
40 Vid. Ius. Derectum 56.
41 Domina, mas não destrói por completo. Vid. Ius. Derectum n. 117. 42.44 Vid. lus.
Derectum n. 123.
INTRODUÇÃO-Trr. I - CAPS. 3.°-4.° §§ 4.5
Capítulo 4.°-VÁRIAS ACEPÇÕES EM QUE PODE E DEVE
SER TOMADA A EXPRESSÃO «DIREITO
RCMANO»
5. 0 conjunto das normas jurídicas que regulam determinadas relações dum povo (entre s
i, isto é, entre os seus membros,
entre si e outro ou outros povos estranhos), chama-se, grosso modo, «Direito desse
povo». E com este sentido muito amplo que dizemos, por exemplo, «Direito Português», «Dir
eito Espanhol», «Direito Francês», «Direito Alemão», etc., etc., e também «Direito Romano».
Mas dizer simplesmente «Direito Romano» (assim como «Direito Português», «Direito Espanhol»,
reito Francês», «Direito Alemão», etc., etc.) é empregar uma expressão muito vaga; daí a nece
dade de se estabelecer uma diversidade de acepções. É que, nos exemplos indicados, tan
to pode entender-se
Direito (desse povo) passado, como o Direito vigente; e tanto
passado como o vigente podem compreender, não só qualquer ramo do chamado 45 Direito
Público (Direito Constitucional, Direito Administrativo, Direito Penal, etc.), co
mo do igualmente chamado 95 Direito Privado (Direito Civil, Direito Comercial, e
tc.), mas também - e é esse aspecto que nos interessa agora focar - o Direito (passa
do ou presente) de um povo, vigente nos territórios pertencentes a esse povo, assi
m como esse mesmo Direito, vigente (total ou parcialmente, como direito principa
l ou como direito supletivo) em territórios pertencentes a outros povos 46.
45 Sobre os significados de Direito Público e de Direito Privado, segundo
lus Romanum, vid. vol. II destas Lições, ao tratar-se exactamente desse problema.
46 E o caso, por exemplo, do Código Civil Francês, de Napoleão, que vigorou em diversa
s regiões da Alemanha; do Código de Processo Civil Austríaco que esteve vigente em alg
umas províncias de Itália, etc. Mas com o Direito Romano esse fenó
I
32
33
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO-TIT. I--CAP. 4.^
§5
Portanto, como a expressão «Direito Romano» é muito vaga, entendemos que pode e deve ser
tomada em três sentidos:
A) - em sentido rigoroso (stricto sensu)
B) - em sentido amplo (lato senso)
C) - em sentido muito amplo (senso latissimo)
A) - 0 Direito Romano, «stricto senso», é o conjunto de
normas jurídicas que vigoraram em Roma e nos seus territórios
desde"o início (753 a. C.? 47) até à morte de Justiniano, em- 565. É o IUS ROMANUM, pròpri
amente dito.
Ocupa o longo período de cerca de 13 séculos -uns 7 sé
culos a. C. e 6 séculos d. C.
Esse conjunto de normas jurídicas, na sua formação mais desenvolvida, fundamentalmente
, encontra-se hoje no chamado Corpus luris CivilisA8-famosa e extraordinária compi
lação do «Ius Romanum» ordenada pelo imperador Justiniano no séc. VI, a obra jurídica mais g
randiosa de todos os tempos,
meno da sua vigência fora dos seus limites espaciais verifica-se de uma forma única
e assombrosa: esteve vigente em Roma e fora de Roma; durante o Império Romano e de
pois da sua queda; em circunstâncias semelhantes às da vida de Roma, e em circunstânci
as completamente diferentes. $ que o Direito Romano, nas suas construções geniais, l
eva dentro de si a, essência de princípios jurídicos universais. Os jurisconsultos rom
anos não construiram pròpriamente um sistema jurídico de aplicação universal, mas uma quan
tidade de resoluções particulares de valor Lecnico-jurídico exemplar. Nisto reside a v
italidade perene do sistema.
47, A data 753 a. C., inventada pelo escritor VARRÃO, é hoje considerada lendária; mas
, à falta de melhor, continua a usar-se como data da fundação de Roma consagrada por u
ma longa tradição. Sobre o problema das origens de Roma veja-se, como estudo recente
e que traz indicação da principal bibliografia sobre a matéria, Pietro ROmANELU, Cert
ezze e Ipotesi sulle Origini di Roma em Studi Romani 13(1965) 156-167.
48 A história jurídica dum povo é, fundamentalmente, a história dos seus livros jurídicos.
Para se conhecer um determinado ramo de direito, v.g. o Direito Civil dum país, é e
ssencial o conhecimento do respectivo livro jurídico. Por exemplo, para se conhece
r o Direito Civil Português é preciso conhecer, fundamentalmente mas não exclusivament
e, o Código Civil Português. Desta forma o Direito Civil Português e o Código de Direito
Civil Português (devidamente actualizado) quase se identificam.
Igualmente, lus Romanum e Corpus luris Civilis quase se identificam.
e que é a fonte principal, embora não exclusiva mas imprescindível, para se conhecer o
Direito Romano.
0 chamado assim por Dionísio Godofredo em 1583 «Corpus Iuris Civilis»9 e, para o disti
nguir do «Corpus Iuris Canonici» 50, vai ser objecto duma análise pormenorizada, no ti
t. X da 1 a Parte (Fontes). Interessa, porém, desde já, ter uma certa ideia a respei
to desta fonte jurídica, a fim de poder ser manejada nas aulas práticas, desde o pri
meiro dia, sobretudo o Digesto, que é a parte principal (o tronco do «Corpus»; vid. in
fra n. 53).
Corpus luris CsuiNs
Justiniano, aproveitando inteligentemente os trabalhos e o valor das escolas juríd
icas do Oriente, máxime a de Beirute e a de Constantinopla, e com a ajuda impresci
ndível de grandes mestres do Direito antigo, como Triboniano, Teófilo e Doroteu, qui
s restaurar em toda a sua plenitude a tradição jurídica dos romanos, ao mesmo tempo qu
e procurou reconstruir a grandeza do império e Instaurar em todo ele e unidade rel
igiosa.
No aspecto politico e no religioso, não conseguiu realizar a sua grande aspiração; mas
conseguiu-o no campo jurídico.
Embora imperador do Oriente-região onde se falava principalmente o grego-, ele era
um defensor entusiasta da tradição latina; era um classicista, sem contudo deixar d
e ser um legislador do seu tempo.
0 esforço legislativo e restaurador de Justiniano, graças ao qual o Direito Romano pôd
e ser transmitido à Idade Média e che
49 A simples expressão «corpus iuris» («um corpo de direito») é, porém, muito mais antiga. Vi
. infra n.53.
50 A designação de «Corpus Iuris Canonici» para indicar as colecções oficiais de textos legi
slativos canónicos aparece, pela primeira vez, no Concílio de Basileia (1431-1443);
concretamente, em 1436, quando esta expressão se aplicou ao Decreto de Graciano e às
colectâneas das Decretais de Gregório IX, Bonifácio VIII e Clemente V; generalizou-se
a partir do séc. XVI, depois que Gregório XIII a «tornou oficial», empregando-a na sua
constituição Cum pro munere, de 1 de Julho
de 1580.
34
35
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO - TIT. I - CAP. 4,°
§5
gar até nós, teve como resultado uma importantíssima compilação, constante das seguintes p
artes:
1) - as Institutiones s', de Nov. de 533, um manual de direito, que serve de int
rodução didáctica elementar ás outras partes do «Corpus Iuris Civilis>;
2) -os Digesta ou as Pandectae52 (digesto ou pandectas), de Dez. de 533, uma ext
ensa colecção de fragmentos de obras de jurisconsultos notáveis, (de ius), com a indic
ação do autor e livro de que procedem;
3) - o Codex (Código), de 534, colecção de constituições Imperiais (de leges);
4) -as Novellae (Novelas), de 535 a 565, uma série de constituições novas ou Novelas (
leges novas), que foram promulga
das depois do Codex e que não chegaram a ser recolhidas numa colecção oficial.
0 «Corpus luris Civilis> é, pois, uma colectânea de ius e de leges, ordenada por Justi
niano, no séc. VI. Quer dizer, uma colectânea
de fragmentos de obras de juristas clássicos (ius) e de constituições imperiais (leges
). - [Aqui, nesta expressão, a palavra ius e a palavra leges estão' num sentido muit
o peculiar. Vid. infra 216].

Divisão de cada' uma das partes do «Corpus Iuris 58 Civilis>


e forma actual de as citar
INSTITUTIONES -estão divididas em 4 livros; os livros
estão divididos em títulos, e os títulos em parágrafos. Modo actual 51 A palavra «institut
iones» vem de instituere, que significa precisamente
instruir, educar, iniciar numa certa disciplina As institutiones são, pois, umas i
nstructiones (umas instruções); um manual; um livro de carácter didáctico. Institutiones
(exposição de carácter elementar duma certa matéria) opõe-se a
tractatur (exposição profunda).
52 Os digesta (de digerere = pôr em ordem, dispor, expor sistemàticamente)
são um tipo de livros, em que há uma exposição ordenada (sistemática) da matéria.
As pandectae (de Irzv a-Xoµat=recolho tudo) são livros onde está tudo, isto é, muitas «qua
estiones» (questões) e «responsa» (respostas).
Unindo a significação destas duas palavras, que em certa medida se com
pletam, podemos definir o Digesto do «Corpus luris Civilis» (também chamado, «digesto de
Justiniano»): uma exposição ordenada e sistemática, de carácter enciclopédico.
0 nome «Digesto», no singular, provém da Idade Média, talvez do séc. XII.
53 A expressão «corpus iuris» (um corpo de direito) vem já do latim clássico. V.g. Trro Lf
vio 111 34, referindo-se à lei das XII Tábuas, chama-lhe: «velut corpus
omnis roman iuris».
Trata-se de uma metáfora.
A palavra corpus, além de outras coisas, significa: «um todo, composto de partes
de citar: por exemplo, I. 3,4,1 significa Institutions, 1iv. 3.*, tit. 4.° e parág.
1.°
DIGESTO -está dividido em 50 livros; os livros estão divididos em títulos (excepto os
livros 30 a 32, que têm todos três o mesmo título, denominado «de legatis et f deicommia
sis>) ; os títulos estão divididos em fragmentos, e os fragmentos, sendo extensos, e
stão divididos em parágrafos. Modo actual de citar: por exemplo, D. 13,7,9,2 signifi
ca Digesto, livro 13 título 7.°, fragmento 9.°, parágrafo 2.° 54.
CODEX - está dividido em 12 livros; os livros estão divididos em títulos; os títulos estão
divididos em constituições ou leis, e estas em parágrafos. Modo actual de citar: por
exemplo, C. 2,3,30,4 significa Código, livro 2.°, titulo 3 °, lei 30 parágrafo 4.°
NOVELLAE -principiam geralmente por um preâmbulo, denominado praefatio, onde se in
dicam as razões das medidas tomadas; prosseguem com a parte dispositiva que é propri
amente a nova lei (Novela), e terminam por um epilogus, onde se contém a fórmula da
promulgação. As Novelas são citadas pelo seu número e as mais extensas têm a parte disposi
tiva dividida em capítulos (e alguns capítulos estão ainda subdivididos em parágrafos).
Modo de citar: por exemplo, Nov. 39,2,1 significa Novela n.° 39, capítulo 2.°, parágrafo
1
N. B.-0 parágrafo 1.° chama-se principium (pr.) e, portanto, o chamado parágrafo 1 de
facto, é o segundo.
A melhor edição do Corpus Iuris Civilis é a dos alemães MOMMSEN, KROGER, SCHõLL e KROLL, últ
imamente (1968) revista por Wolfgang KUNKEL; é esta a utilizada por nós nas aulas prát
icas e nos exames.
devidamente dispostas» ; «um todo ordenado, em que há princípio, meio e fim»; «um todo, com
cabeça, tronco e membros». (Cf. Thesaurus Linguae Latinae IV
120 e FORCELLINI, Lexicon Totius Latinitatis I [Pavia,1940] 875).
Aplicando a metáfora ao «Corpus Iuris Civilis», talvez se possa afirmar que
as Institutions seriam a cabeça, o Digesto o tronco, o Codex e as Novelae os membr
os (o Codex, os membros superiores; as Novellae, os membros inferiores).
54 Sobre outras formas (antigas e hoje ultrapassadas) de dividir o Corpus Iuris
Civilis e de citar as respectivas partes, vid. infra 1.11 Parte, Tft. X.
36
37
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO-TIT. I -CAPS. 4.°-5 °
§§ 5-6
B) - 0 Direito Romano, «lato sensu», é a tradição romanista: abrange o período de 14 séculos
sécs. VI-XX), mas sobretudo o período que vai desde o fenómeno da «recepção do Direito Roman
o» (vid. infra § 9) até aos nossos dias. É o mesmo Ius Romanum, enquanto vigente noutros
povos e territórios, embora com algumas alterações ou adaptações.
Pode dizer-se que a vida ou a história propriamente dita do Direito Romano termina
no séc. VI; mas a sua supervivência projecta-se até aos nossos dias. Este é o fenómeno ma
is assombroso e único no mundo jurídico de todos os tempos! 27 séculos de existência -13
de vida e 14 de supervivência.
C) - 0 Direito Romano, «sensu latissimo», compreende tanto o lus Romanum (Direito Ro
mano, stricto sensu) como a tradição romanista (Direito Romano, lato sensu) ; portan
to... C) =A) +B).
Agora, que já temos o conceito das várias acepções de Direito Romano, vamos fazer, separ
adamente, uma análise a cada uma delas.
38
Capítulo 5.°-IUS ROMANUM (Direito Romano, stricto sensu)
a) -Épocas históricas
0)-Relação entre «Ius Romanum» e «Imperiurm
a) -Épocas históricas da vida do «Ius Romcmum»
SUMÁRIO-6. Necessidade de estabelecer uma periodização na vida do
«dus Romanum». Critérios mais importantes: político, normativo e jurídico (externo
e interno). Crítica. Segundo o critério adoptado (o jurídico interno - razões), há
quatro épocas históricas:
a) Época arcaica (753 a.C.(?)-130 a.C.). Característica; 2 etapas I-desde o início até 2
42 a. C. (ius civile exclusivo) II-de 242 a. C.-130 a. C. (ius civile e também ius
gentium)
b) Época clássica (130 a. C.-230 d. C.). Característica; 3 etapas (segundo D'ORs)
I - pré-clássica (130 a. C.-30 a. C.)
11-clássica central (30 a. C: 130 d. C.). ou até 212?
Figura máxima, IULIANUS
III - clássica tardia (130-230), ou 212-230?
c) Época post-clássica (230-530). Característica geral (230-395). Características especi
ais
I - no Ocidente (395-530), vulgarização (Vulgarrecht) II-no Oriente (395.530), class
icismo e helenização
d) Época justinianeia (530-565). Característica
6. 0 lus Romanum (portanto, o Direito Romano stricto sensu) não é todo igual, nesses
13 séculos da sua vida (753 a. C.-565 d. C.). Como é natural, nesse ciclo ininterru
pto de vigência, o sistema jurídico romano teve de sofrer alterações profundas,
para corresponder às transformações sociais dos tempos. No início, o Jus Romanum forma u
m sistema fechado; próprio só dos quirites S5, duro e feroz como aquela gente guerre
ira, impe
55 Quirites era o nome por que se designavam os primitivos cidadãos romanos. A exp
licação tanto da origem como do significado desta palavra não é uniforme entre os autore
s. Há quem afirme que o nome deriva de quiris (lança, antiga lança sabiniana), já que os
primitivos romanos a usavam como símbolo, inclusive nos
39
i
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO - TIT. I - CAP. 5,°
lida a lutar pela sua subsistência; formalístico e rigoroso como a ordem que impera
numa sociedade agrícola e patriarcal. Pouco a pouco, devido não só à transformação social da
civitas, aos contactos com usos e costumes doutras gentes, mas sobretudo ao génio
criador dos grandes juristas de Roma, esse Direito, embora mantendo-se fiel à sua
estrutura originária, torna-se apto a resolver as situações criadas pelas novas exigênc
ias da vida e pelo alargamento do comércio. E esse Direito nunca mais pára na sua ev
olução e adaptação às realidades sociais.
Na verdade, o lus Romanum apresenta uma evolução completa: nasce, cresce, atinge o a
pogeu, decai; retoma uma fase de certo esplendor, para, depois, se codificar 56.
Forma um ciclo evolutivo perfeito. Um fenómeno assim não se verifica com nenhum out
ro Direito. É único.
seus trajes (como hoje se coloca na lapela um distintivo). Outros defendem que a
palavra quirites provém de Quirino, visto os primeiros romanos se considerarem fi
lhos do deus Quirino. A esta opinião que denota grandeza de origem, bem própria de u
m povo orgulhoso como era o romano, parece aderir Justiniano, convicta ou fictic
iamente, quando nas I. 1,2,2, afirma: «Romani enfim a Quirino Quirites appellabant
ur». Há outras opiniões. Cf. F. SEVERINI, Quiriti em Nuovo Digesto Italiano 10 (1939)
1038-1039).
Ultimamente ainda continua a discutir-se, não só a origem e o significado de quirite
s, mas sobretudo o seu âmbito de aplicação. É possível que a palavra quirites esteja relac
ionada com vir (na sua forma arcaica, «ir, uirites), e com esta raiz uir esteja ig
ualmente aparentada a palavra curia (cuiria), sem que todavia se deva defender q
ue a palavra quirites derive directamente de curia (=divisão da comunidade, assemb
leia da comunidade). Mas, dado o parentesco conceitual e etimológico entre quirite
s e curia por ambas provirem d,; uir, parece que a palavra quirites era um apeli
do para indicar, primàriamente, que determinado indivíduo (homem, chefe, pater (?l)
pertencia à assembleia da comunidade, e só secundàriamente e apenas como consequência, q
ue era membro dessa comunidade. Portanto, os quirites, em rigor (ou talvez pelo
menos de início), não eram todos (?) os primitivos romanos, mas apenas os que faziam
parte das assembleias. 0 ius quiritium seria igualmente apenas o direito criado
por essas antigas assembleias da comunidade, e não v.g. o direito fundado directa
mente e exclusivamente no costume. -0 que é, porém, certo é que tanto a palavra quirit
es como a expressão «ex lure quiritium» (usada para classificar certos institutos prim
itivos do Direito Romano) são antiquíssimos, encontrando-se nas fórmulas mais arcaicas
de negócios jurídicos, quer privados quer públicos. Cf. L. LABRUNA, Quirites em Labeo
8(1962) 340-348; A. GUARINO, Jus Quiritium em lura 1(1950) 265-271; F. DE VISSC
lIER, Ius Quiritium em Études de Droit Romain Publique et Privé (Milão,1966) 99 e 223.
S6 E essa codificação (o Corpus luris Civilis), como já sabemos, vai depois (sécs. VI-XX
) servir de base ou orientação às legislações de todo o mundo.
Se fosse licito, em Direito, servirmo-nos duma comparação, poderíamos
Desde há muito os romanistas vêm estabelecendo uma certa periodização na história do Ius R
omanum 57. Para isso, têm sido utilizados vários critérios, devendo considerar-se como
mais importantes o critério político, o normativo e o jurídico, desdobrando-se este e
m critério jurídico externo e critério jurídico interno.
Segundo o critério político, as fases do lus Romanum são tantas quantos os períodos da h
istória política de Roma. E assim, teríamos: direito romano da época monárquica (753
a. C.-510 a. C.) ; direito romano da época republicana (510 a. C.-27 a.C.) ; direi
to romano da época imperial (27 a.C.-284), e direito romano da época absolutista (28
4-565).
Crítica-Este critério, usado por vários romanistas do século passado e abandonado na act
ualidade por quase todos, não pode ser utilizado como critério-base, muito menos com
o critério exclusivo, para fixar as várias épocas do Direito Romano, pois nem sempre e
nem só as transformações políticas de Roma influem na evolução do lua Romanum. Além disso, q
ando há influência, a evolução do Ius Romanum e a das instituições políticas de Roma não são
tâneas; primeiro, verifica-se a evolução das instituições políticas, e só mais tarde (por vez
s, bastante mais tarde) a do lus Romanum. Todavia este critério não deve ser totalme
nte posto de parte, pois o Ius Romanum, sob certo aspecto, é uma manifestação do poder
io político de Roma, como examinaremos a seguir (§ 7); vive
afirmar que o Jus Romanum é semelhante a uma árvore. Nasce, pequenina; vai-se desenv
olvendo; começa a florescer; principia a frutificar, pouco, bastante, muito, muitíss
imo. Depois, a frutificação diminui; e, quando já não produz mais frutos, encontrando-se
porém num estado de boa conservação, é cortada (a codificação) para ser transformada em boa
madeira, que será utilizada nas melhores construções (jurídicas) de todo o mundo. É pois
filma árvore que não chega a morrer. Tem uma vida, como árvore (são os 13 séculos do lus R
omanum), e depois uma supervivência, como esplêndida madeira (são os 14 séculos de tradição
romanista).
57 Sobre este problema da periodização na história do Direito Romano stricto sensu, vi
d. Sebastião CRUZ, Da «Solutio» I (Coimbra,1962) 171; aí se indica a principal bibliogra
fia. Cf. D'ORS em Labeo 10(1964) 118-120, e BARTOSEI em Synteleia Arangio-Ruiz (
1964) 1149-1157.
40
41
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO - TIT. I -CAP. 5.°
muito à sombra do imperium. Por isso, deve ser utilizado, não só como critério secundário
para ajudar a estabelecer a periodização fundamental, mas até, por vezes, como critério
principal para se fazerem certas divisões ou subdivisões em determinada época, período o
u etapa.
Segundo o critério normativo, há tantas épocas do lus Romanum quantos os modos de form
ação das normas jurídicas (costume, lei, iurtisprudentia, constituições imperiais-vid. inf
ra § 14- a) -1-2); e assim, teríamos um direito romano consuetudinário, um direito rom
ano legítimo (= legislativo), um direito romano jurisprudencial (= doutrinário) e um
direito romano constitucional (= absolutista).
Crítica. -Embora tenha a sua importância, este critério não deve ser usado como principa
l, pois não nos indica duma forma directa a evolução do direito privado de Roma, mas s
obretudo a evolução do (chamado) direito público de Roma, concretamente no que diz res
peito à evolução das fontes manif estandi (vid. infra § 18-b) -1-2). Ora o principal no
Jus Romanum é exactamente o seu direito privado. Mas este critério pode ser utilizad
o para estabelecer ou caracterizar alguns períodos ou etapas de certas épocas.
0 critério jurídico atende à própria vida do lus Romanum e às manifestações dessa vida.
Atendendo às manifestações da vida do lus Romanumse ele vigora só para os eives ou também
para os non-cives, se é local ou universal, se continua puro ou recebe influências e
stranhas, se permanece romano ou é já mais oriental e helénico-, o critério jurídico é exter
no. Fixa a periodização atendendo a certas características do Jus Romanum. Segundo est
e critério, o Direito Romano dividir-se-ia em três períodos históricos: 1) período do Dire
ito Romano nacional ou quiritário; 2) período do Direito Romano universal ou do ius
gentium; 3) período do Direito Romano oriental ou helénico.
0 critério jurídico interno atende ao próprio valor do lus Romanum, à perfeição jurídica das
uas instituições, numa palavra, à sua vida, examinando atentamente como esse lus nasce
, cresce, atinge o apogeu e se codifica. Não se preocupa com certas características
ou manifestações dessa vida ultramilenária do lus Romanum; procura conhecer-lhe a essênc
ia e não apenas as propriedades.
Sem desprezar o critério jurídico externo, que utilizaremos para estabelecer algumas
etapas na época arcaica e certa divisão na época post-clássica, adoptaremos como fundam
ental o critério jurídico interno. Só ele nos pode dar uma visão própriamente jurídica do Iu
s Romanum.
Seguindo, pois, o critério jurídico interno, teremos as seguintes épocas históricas do l
us Romanum:
a) arcaica;
b) clássica;
c) post-clássica;
d) justinianeia.
a) Época arcaica (753 a.C. [?1.130 a.C.)
Abrange o período histórico que vai desde os primórdios da vida jurídica em Roma (pràticam
ente, desde a fundação da Urbs, a que, segundo a lenda e certa tradição, se atribui o an
o de 753 a.C.) até cerca 58 do ano 130 a.C.
Coloca-se o termo da época arcaica no ano 130 a.C. por duas razões: J .a porque é a da
ta aproximada da Lex Aebutia de formulis (não deve ser anterior a 149 a.C. nem pos
terior a
58 $ preciso ter presente que na fixação de certos períodos históricos, as datas não funci
onam como marcos a estabelecer linhas divisórias rigorosas, mas como pontos de ref
erência a indicar orientação, e que fraccionar a unidade evolutiva do Ius Romanum em vár
ios épocas tem sempre algo de subjectivo e até, por vezes, de artificial.
42
43
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO - TIT. I -CAP. 5.°
§6
126 a. C.) e ela introduz, como adiante veremos, um novo processo judicial, que
há-de ser o característico da época clássica (agere per formulas) ; 2.a porque, nessa al
tura, Roma já era uma grande potência, pois além de dominar o Norte da Itália, a Sicília,
a Sardenha, parte das Gálias, Hispânia, etc., destruíra Cartago em 146 a.C. (Terceira
Guerra Púnica) e nesse mesmo ano conquistara a Grécia, transformando-a em província ro
mana com o nome de Acaia. Portanto, cerca do ano 130 a.C., Roma domina o Mediter
râneo e estabelece as bases do seu Império e do seu Direito, já que este, como dissemo
s, sob certo aspecto, é uma manifestação do poderio político de Roma (vid. infra § 7). E nós
, utilizando o elemento político romano para nos ajudar a fixar o termo da época arc
aica em 130 a.C., demonstramos pràticamente o que afirmámos atrás a respeito do critério
político: que ele deve ser utilizado como critério secundário para ajudar a estabelec
er a periodização fundamental.
Conceito da época arcaica -E o período da formação e do estado rudimentar das instituições j
urídicas romanas, sobre as quais, muitas vezes, somente podem formular-se hipóteses,
de
vido à escassez de documentos 59.
Característica -Imprecisão: não se vê ainda bem o limite do jurídico, do religioso e do mo
ral; estes três mundos formam como que um todo, um só mundo; as instituições jurídicas sur
gem sem contornos bem definidos, como que num estado embrio
nário.
Subdivisão-Podemos estabelecer duas etapas dentro da
I - a primeira, que vai desde o início até 242 a.C. (data da criação do pretor peregrino
), é o período do ius civile exclusivo.
59 Sobre o interesse dos romanistas pelo estudo desta época cf. Sebastião CRuz, Da «So
lutio» I (Coimbra,1962) 17.
lus civile significa ius próprio dos caves; na formulação mais primitiva, denominava-s
e tios quiritium, direito próprio dos «quirites>; portanto «lus civile> não pode traduzi
r-se por «direito civil> (com o significado hoje corrente desta expressão) nem mesmo
por «direito privado> 60; seria como traduzir «Direito Português> por «direito civil>,
ou por «direito privado>, quando, além do direito civil, existem o direito comercial
(e estes dois, juntos, constituem o direito privado), o direito constitucional,
o direito processual, o direito penal, etc., etc., (formando estes últimos, junto
s a outros ramos jurídicos, o chamado direito público)". «Ius civile> é uma das muitas e
xpressões jurídicas romanas que não comportam uma tradução exacta.

O lus Romanum da primeira etapa da época arcaica é, pois, um direito fechado, privat
ivo dos caves. Só prevê a regulamentação das relações entre os eives. Os non-cives, os estra
ngeiros (primitivamente chamados hostes, depois peregrina), residentes em territór
io romano, movem-se, nas suas relações privadas, fora da órbita do lus Romanum que, po
rtanto, era então exclusivamente ius civile 61
II - Devido aos prejuízos causados aos próprios cives, esta situação teve de modificar-s
e. As novas necessidades comerciais e o desenvolvimento da vida social e civil,
num momento em que Roma principia a ser a cabeça dos povos mediterrâneos, exigem do
lus Romanum a regulamentação das relações entre cives e peregrini e entre os próprios pere
grini. Para atender a certas necessidades é criado, em 242 a.C., o practor peregri
nos. Com ele, inicia-se a formação do ius gentium, a par do ius civile (pelo menos d
e início, e segundo a melhor opinião).
60 Vid. vol. II destas Lições, 2.a Parte (Actos Jurídicos), ti t. II.
61 Está-se ainda naquela época do mundo antigo, em que o principio da personalidade
das leis se aplicava com todo o rigor.
época arcaica:
44
45
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO - TÍT. I - CAP. 5.°
§6
A segunda etapa da época arcaica vai, portanto, desde 242 a.C. a 130 a.C. e é o períod
o do ius civile e do ius gentium.
b) Época clássica (130 a.C.-230 d.C.)
Abrange o período histórico compreendido entre 130 a.C.
e 230 d.C. 62.
Razões justificativas da fixação do termo da época clássica em 230 d.C., aproximadamente:
J .a em 228, desaparece o último grande 63 jurista clássico, ULPIANUS, assassinado p
elos soldados pretorianos; 2 a o império, por essa altura, princípios do séc. III, ent
ra em crises sucessivas (mais uma vez, o elemento político a ajudar a estabelecer
a periodização fundamental do lus Romanum).
Conceito da época clássica -Ë o período de verdadeiro apogeu e culminação do ordenamento jurí
ico romano. Por isso, a época clássica muito justamente é considerada modelo e cânon com
parativo para as épocas posteriores e etapa final da evolução jurídica precedente.
Característica -Exactidão; precisão. Portanto, o Ius Romanum da época clássica é o modelo. A
grandeza do Direito Romano encontra-se nesta época.
É neste período que ele atinge aquele ponto difícil - o de estilizar a casuística, abstr
aindo de qualquer caso apresentado (mas sem nunca o perder de vista) aqueles ele
mentos não jurídicos ou jurídicos não-essenciais, para criar figuras jurídicas concretas e
não já conceitos gerais. Os jurisconsultos romanos
62 A dezena convencional 30, contida nas datas 130 a.C., 230 d.C., etc., sugerid
a assim por A. D'ORS para mais fàcilmente serem retidos os números, indica bem clara
mente que se trata de datas aproximadas e não de termos rigorosos.
63 0 último jurista clássico é MODESTINUS, mas já não se lhe pode chamar «grande».
46
da época clássica tinham subtileza, mas não especulação; sobretudo, eram dotados duma intu
ição jurídica penetrante. 0 Direito Romano clássico é, pois, de artífices, mas não de especul
tivos.
Sabiam, não apenas interpretar e aplicar as normas aos casos concretos, mas sobret
udo criar a norma adequada para um caso, especial e não previsto nas normas já exist
entes. Daí que a ciên
cia jurídica (iurisprudentia) da época clássica fosse permanentemente fecunda e criado
ra.
Subdivisão - A época clássica não é toda igual. Deve-se principalmente a Álvaro D'ORS 64 a d
ivisão desta época em três etapas:
I - a pré-clássica, que vai desde 130 a.C. a 30 a.C. 63, é um período de intenso desenvo
lvimento ascensional em direcção ao estado de grandeza do lus Romanum atingindo a et
apa
seguinte;
U-a clássica central, de 30 a.C. a 130 d.C. (em nosso entender, de 30 a.C. a 212 d
.C.,; ver razões infra 398 e 399), é o período de esplendor e de maior perfeição do Direit
o Romano, surgindo, como figura central e representativa, não só desta etapa mas de
toda a época clássica, IULIANUS, e não GAIUS, como até há bem poucos anos era considerado
66
III-a clássica tardia, de 130 a 230 (ou melhor, de 212 a 230), é um período em que já se
nota, por vezes, o início de certa decadência, manifestada sobretudo na falta de géni
o criador. Por isso, os jurisconsultos deste final da época clássica dedicam-se não já a
obras de comentário, mas às de com
pilação - repetir e coordenar o que os grandes mestres disseram.
Note-se que em 212 verifica-se a «inflação da cidadania»; esta provoca uma «inflação do ensin
do Direito»; esta origina ou é já decadência. Vid. Da «Solutio» II (Coimbra, 1972) 8 13.2.°.
Alvaro D'ORS, Derecho Privado Romano (Pamplona, 1968) 7-13.
Sobre o significado e o alcance desta dezena 30, vid. supra n.62. Adiante, no tít.
VIII da 1! Parte destas Lições, examinaremos pormenorizadamente essa figura enigmátic
a de GAjus, o menos clássico dos juristas clássicos, pois, no dizer expressivo de A.
D'0as, é um «pré-posclásico».
47
64 65 66
4
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO - TIT. I - CAP. 5."
§6
c) Época post-clássica (230-530): a) de 230-395, confusão, «Vulgarisierung» (tanto no Ocid
ente como no Oriente); p ) de 395.530 - I) no Ocidente, vulgarismo; II) no Orien
te, classicismo e helenizaçso
É o período colocado entre 230 e a época de Justiniano, quer dizer, entre o apogeu do
clássico e o renascimento justinianeu. Esta época não tem individualidade própria: ou é re
ferida à época anterior e daí o chamar-se post-clássica, ou à seguinte e daí também o ser den
minada «pré-justinianeia» 87. E uma época de franca decadência do lus Romanum.
É um novo mundo jurídico 88.
Aquele génio intuitivo, subtil e criador dos juristas anteriores já não existe. Há apena
s uma reelaboração anónima dos textos anteriores, adaptando-os às novas realidades, mas
feita sem personalidade. As obras produzidas - trabalhos geralmente preparados p
elas escolas 89 - são do tipo das compilações (género da literatura jurídica iniciado no p
eríodo da época clássica tardia, conforme dissemos 70) e do tipo dos resunws; e esses
resumos de obras clássicas, acompanhados por vezes de não pequenas alterações. Além disso,
surgem, como fenómeno original da época post-clássica, as colecções, sobretudo de leges,
as codificações.

67 Alguns romanistas sugerem ainda outras designações, v.g. ScHULZ chama-lhe «período bu
rocrático», PARADISI, «época do direito vulgar», BIONDI, «período do direito romano cristão».
ordamos destes autores, conforme demonstramos em Da «Solutio» II (Coimbra, 1972) 4 s
s. e n. 5. Para já, à falta de melhor expressão, teremos de continuar com o termo «post-
clássico» para denominai esta época, distinguindo, porém, vulgarização no Ocidente e classic
ismo e helenização no Oriente.
68 Cf. BIONDI, Il Diritto Romano Cristiano I (Milão,1952) 1-3.
69 A escola, na época post-clássica, desempenha uma função muito importante na evolução do D
ireito. Toma conta das obras jurídicas dos clássicos, refunde-as, introduz-lhes pern
iciosas modificações e reedita-as. A escola, na época post-clássica, é tudo pràticamente. Po
de quase afirmar-se que, nesta época, não há juristas. Há escoliastas; há «anónimos», pois fa
por completo a auctoritas dos grandes mestres cujo nome se impõe. Por isso, no di
zer de Max KASER, Das RSmische Privatrecht I (Munique,1955) 3, na época post-clássic
a desaparece a «Jurisprudenz» e há apenas uma «Schuljurisprudenz».
70 Vid. Da «Solutio» II, cit. 3-14.
a) Característica geral da época post-clássica-Confusão. Confusão de terminologia, confusão
de conceitos, confusão de instituições; e, por vezes, até confusão de textos. Esta confusão
ou Vulgarisierung verifica-se desde 230 a 395, e tanto no Ocidente como no Orien
te. (Vid. Da «Solutio» II, cit. 5,
12, 13e 15).
A confusão dos textos, ou melhor, a corrupção dos livros clássicos é levada a cabo não só pel
prática mas sobretudo pelas escolas, indo depois reflectir-se, tanto nas constitu
ições imperiais, como mais tarde nas legislações romano-bárbaras.
E é curioso notar, conforme observa D'ORS, que para a corrupdão dos livros clássicos m
uito contribuiu, pelo menos de inicio, um factor material a que à primeira vista não
se dá grande impor-, tância-a substituição, nos textos jurídicos, do volumen ou liber (ro
lo) pelo codex (código, isto é, livro composto de páginas, cosido por um dos lados, co
mo temos hoje). Este novo formato material dos textos jurídicos introduz-se na vid
a do Direito (escolas, tribunais, chancelaria imperial, administração central e loca
l, etc.), a partir do séc. III d. C. E como o uso, o manejo, do codex é muito mais fác
il, mais rápido e mais cómodo que o do volumen, nos fins do séé. III e princípios do séc. IV
, faz-se uma reedição da literatura clássica em codices; mas, em geral, em vez de se t
ranscreverem os textos fielmente, resumem-se, simplificam-se e até, por vezes, são i
ntroduzidas alterações, umas devidas a erros involuntários " amanuenses, outras origin
adas pelos cortes voluntários ordenados pelos autores das reedições - estas, tantas ve
zes feitas apressadamente.
É muito interessante observar que a substituição do volumen pelo codex verifica-se, de
início, só nos textos jurídicos. Por isso, a palavra codex alcançou tal importância na vi
da jurídica e na vida corrente que ainda hoje, quando se fala de «códigos sem mais nad
a, entendem-se livros de direito 71. (Vid infra 406).
p) Características especiais - I - No Ocidente, essa confusão da época post-clássica rev
ela-se, a partir de 395, mais acentuadamente. Verifica-se, geralmente, uma verda
deira corrupção do Direito Romano clássico sob a acção de vários factores, salientando-se ta
lvez como mais importante a influência dos direitos locais dos povos dos territórios
dominados pelos romanos, e dos direitos dos povos bárbaros que principiavam a inv
adir o Império.
71 Cf. D'ORS, Una Introdueción al Estudio del Derecho (Madrid, 1963) 10. Vid. Da «So
lutio» II, cit. 9, 10 e n. 20-3.
48
49
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO - TIT. I - CAP. 5.°
§6
A corrupção caracteriza-se, principalmente: pela simplificação de conceitos; pela confusão
de noções clássicas; pelo predomínio do aspecto prático, tomando a realidade como cultura
e não atendendo às categorias lógicas; pela ordem, ou melhor, pela desordem, com que
por vezes a matéria é exposta, notando-se falta de inspiração sistemática-os assuntos são tr
atados pela sua semelhança empírica, pela sua finalidade casual e momentânea, segundo
uma combinação de elementos cronológicos e jurídicos grosseiramente valorados. Autêntico b
arbarismo".
A esse Direito Romano post-clássico ocidental, que é portanto grosso modo o Direito
Romano clássico corrompido, chama-se «Direito Romano Vulgar» (Vulgarrecht) 73.
Portanto, no Ocidente a confusão da época post-clássica concretiza-se numa vulgarização ou
num vulgarismo do Direito Romano clássico.
II -- No Oriente, a partir de 395, essa confusão da época
post-clássica manifesta-se através duma reacção contra certas
manifestações vulgaristas isoladas. Nisto consiste precisa
mente o classicismo - uma tendência intelectual que pretende
valorar e imitar o clássico e reagir contra as suas deturpações.
A par deste espírito classicista 74, verifica-se um progresso
do Ius Romanum sob a influência da filosofia e direitos gregos.
É a helenização do «Ius Romanum», em que, v.g. a mecânica
( ónc .us) dos conceitos, aplicada no campo jurídico, faz realçar
as contradições ou ambiguidades textuais, apresenta as dúvidas
surgidas na interpretação, cita as opiniões contrárias, numa pala
vra, enfrenta a dificuldade para depois a superar, apresentando
a «solutio» do caso (Leis). É ainda devido à influência do hele
nismo que no Direito Romano post-clássico oriental se nota uma
72 Cf. Sebastião CRUZ, Da «Solutio» II, cit. 13, 14, 18, 19 e nn. 47, 48 e 49.
73 Sobre a origem da expressão «Direito Romano Vulgar» (Vulgarrecht), significado, alc
ance, factores que concorreram para essa corrupção do Direito Romano clássico, assim c
omo sobre o interesse dos romanistas contemporâneos pelo seu estudo e principal bi
bliografia - o Vulgarrecht é um dos grandes temas da actual romanística-vid. Sebastião
CRUZ, id. 15-35.
74 Portanto, em Direito Romano, «clássico» significa modelo, perfeição; «classicista» signifi
a quem (ou aquilo que) pretende imitar o clássico.
tendência para as Regulae luris, para as Definitiones, para a
generalização, etc.7S.
d) Época justinianeia (530-565)
É o período que vai desde 530 (início própriamente dito da elaboração do Corpos luris Civili
s) até 565, data da morte do imperador Justiniano. 0 lus Romanum, nesta época, chega
ao termo da sua evolução, e codifica-se para se perpetuar.
Logo que Justiniano subiu ao poder, em Agosto de 527, sucedendo a seu tio Justin
o I, manifestou imediatamente a sua grande aspiração de restaurar, através das armas,
da política e da legislação, a unidade do Império, dando à nova Roma (era assim que chamav
a a Constantinopla) a glória da antiga, e, quanto possível, com todo o saber clássico.
Apenas no campo jurídico, como sabemos, conseguiu realizar o seu plano: elaborar
uma colecção de ius e de leges, que é, sem dúvida, o tesouro mais precioso da romanidade
.
Característica da época justinianeia-Como o desejo de Justiniano era estabelecer a u
nidade na diversidade, tomando por base o Direito Romano clássico (nunca é demais af
irmar que Justiniano era um classicista), uma das características do direito justi
nia,,neu é a generalização 76; porém a característica principal é a actualização e compilação
Romanum na forma tendente a seguir o clássico ou, até mesmo, apresentando esse dire
ito, todo como clássico, embora saibamos hoje que em muitos pontos está interpolado
77.
75 Sobre a complexidade de problemas surgidos a respeito do classicismo e da hel
enização, como características da época post-clássica oriental do lus Romanum, vid. Sebast
ião CRUZ, Da «Solutio» Ií (no prelo), 2.a Parte, § 24.
76 A generalização, como já vimos (cf. supra), era uma tendência das escolas da época post
-clássica oriental; mas agora acentua-se mais ainda, chegando por vezes a originar
algumas confusões ou pelo menos a produzir certas dissonâncias.
77 Sobre as características da época justinianeia e sobre o problema bastante comple
xo das fontes jurídicas desta época, vid. Sebastião CRUZ, Da «Solutio» II (no prelo), 3.a
Parte § 85.
50
51
DIREITO ROMANO
Capítulo 5.°-A) -IUS ROMANUM (continuação)
(3)-Relação entre «Ius Romanum» e ,Imperium»
SUMÁRIO T8-7. a) Conexão entre a vida e a supervivência do Direito
Romano e a vida do Imperium. Sua razão de ser: -conexão entre
1-ius e auctoritas
II - Direito e Política em Roma
b) As várias formas políticas de Roma. = [Apon
tamento muito breve, a recordar matéria estudada
no Liceu, focando semente os aspectos relevantes
para a compreensão e estudo do lus Romanurn] = Estado-cidade, estado-território
I - Monarquia (753 a.C.-SIO a.C.). Rei. Senado. Povo
II-República (510 a.C.-27 a.C.). Magistraturas (poderes dos magistrados [«potestas», «im
perium», «iurisdictio»]); o pretor. Senado. Povo. Governadores das províncias
III - Principado (27 a.C.-fins do séc. III (284). «Princeps». Senado. Povo
IV - Dominado (284-476). Absolutismo
a) - l.a divisão do Império em 286 (Dio
cleciano no Oriente, Maximiano no
Ocidente)
p) - Várias uniões e separações do Império /) - Divisão definitiva em 395 por Teodósio I
para os seus dois filhos - Arcádio para
o Oriente e Honório para o Ocidente
78. Este sumário é mais de simples orientação do que de exposição de assuntos. A matéria nele
indicada, sobretudo nas als. b) e c), não se exige directamente para exame, mas pr
essupõe-se (por isso é recordada aqui dum modo bastante vago), para se compreender m
elhor a análise de certas instituições e problemas jurídicos mais intimamente ligados co
m determinadas realidades políticas de Roma. É evidente que, pressupondo-se, esta ma
téria é sempre exigível, duma forma indirecta.
Desde já, lamenta-se a impossibilidade de se fazer uma exposição, de nível universitário,
da parte histórica dos órgãos políticos com projecção na vida jurídica romana. Mas, dada a in
uficiência de tempo escolar que entre nós os programas oficiais actualmente consagra
m a esta disciplina (quase não há país na Europa-e não são muitos os do resto do mundo-ond
e se dedique oficialmente tão pouca atenção ao ensino do Direito Romano como presentem
ente em Portugal), não se vê, para já, melhor solução senão a de reduzir ao mínimo a parte pr
iamente histórica, para não prejudicar demasiado a exposição referente às instituições. Sobre
o método a seguir vid. infra § 16-b), c).
52
INTRODUÇÃO - TIP. I - CAP. 5.° § 7
V - queda do império romano do Ocidente
em 476
VI - queda do império romano do Oriente, em 1453
c) Confronto, através duma tábua cronológica, entre
a vida do «lus Romanum» e a vida do «Imperium»
I - Época arcaica -18 etapa, «ius civile» exclu
sivo (753 a.C.-242 a.C.)
-753 a. C. Fundação de Roma
-510 Fim da monarquia
Costume (piores maiorum). Leges
Regiae?
- 451.449 Lei da XII Tábuas (L a
escrita)
Roma começa a expandir-se
pela Península Itálica
-367 Leges.Liciniae-Sextiae. Criação do
pretor urbano. Verdadeiro início
da República com a divisão de
poderes
-275 Roma domina toda a Itália a sul dos Apeninos
-264 Roma inicia a fase de grande potência
11-Época arcaica-2.5 etapa, «ius civile» e
também «ius gentium» (242 a.C.-130 a.C.)
- 242 a. C. Conquista da Sicília
Criação do pretor peregrino
-206 Incorporação da Hispânia
-146 Destruição de Cartago e anexação da Grécia (Acaia)
- 135 1.8 revolta dos escravos na Sicília
Reconhecimento de certos direitos
aos escravos
III-Época clássica-18 etapa, pré-clássica (130
a.C.-30 a.C.)
- 130 a. C. «Lex Aebutia de formulis»
-91-88 Guerra social e concessão da cidadania a quase todos os habitantes da Penínsu
la Itálica
-73-71 Guerra dos escravos, dirigida por Espártaco. Guerras
-88-31 civis: 18 Mário e Sila (88-82); 2.5 Pompeu e César (49-48); 3.a Octávio e Marco
António (44-31)
IV -Época clássica - 2.a etapa, clássica central
(30 a.C:130 d.C.)
- 30 a. C. Incorporação do Egipto
-27 Augusto, «princeps»
53
I
- 400 (?)
«lei»
AL
DIREITO ROMANO
-27 a.C. 130 d.C. Esplendor político; sobrotudo 98.118 (a maior expansão do Império so
b Trajano)
V -Época clássica-38 etapa, tardia (130-230)
-212 Edicto de Caracala, cidadania a todos os habitantes do Império
-228 Assassinato de ULPIANUS pelos soldados pretorianos
VI-Época post-clássica (230-530)
- sécs. III a V Decadência política e social: anarquia (235-284); crise económica
Em Direito, confusão
-476 Queda do império romano do Ocidente
Os estudos de DR no Ocidente
diminuem. No Oriente, continuam
florescentes
VII-Época justinianeia (530-565)
séc. VI (527-565). Esplendor politico
Assombrosa compilação do lus
Romanum - o C.I.C.
a) Conexão entre a vida do «Ius Romanum» e a vida do «Imperium»
7. 0 Direito Romano, como já dissemos, apresenta-se-nos como uma expressão do poderi
o político de Roma. De facto, é interessante observar que a sua vigência só atinge período
s de grandeza ou de remoçada vitalidade quando protegido pelo imperium; é um direito
tipicamente imperial. Verifica-se isto, flagrantemente, com o lus Romanum (DR «st
ricto sensu»), pois o seu período de esplendor, a época clássica central, coincide com o
auge do poderio romano (séc. I a.C. a fins do séc. II d.C.) ; e as oscilações da sua gr
andeza, como veremos a seguir, são precedidas e acompanhadas de oscilações similares d
o poder político de Roma. Mas outro tanto se verifica também com o Direito Romano na
sua tradição (DR «lato sensu»).
INTRODUÇAO - TIT. I - CAP. 5.0 § 7
Na verdade, depois da compilação justinianeia, a vigência e o estudo do DR no Ocidente
entram em profunda crise, che-, gando quase a um desaparecimento geral; o império
ocidental caíra em 476. No Oriente, continua com vitalidade; ainda permanece e be
m forte o império oriental. No séc. XII, no Ocidente, o Direito Romano surge de novo
cheio de vitalidade; existe agora também imperiurm, o império germânico '0. No séc. XV,
no Oriente, o DR inicia uma enorme decadência; desaparecera,
em 1453, o império oriental 80.
Dir-se-ia que a «árvore» do Direito Romano só se desenvolve e frutifica à sombra e protegi
da pela do imperium. Há, pois, interesse em verificar o confronto entre as várias époc
as históricas do Ius Romanum e as várias épocas históricas da organização política de Roma e
escobrir-lhe a sua razão de ser.
I-«dus» e «auctoritas»
A razão de ser da conexão entre Ius Romanum e imperium radica na própria noção-fundamento
de tios. 1 uma vis 81. Uma força que necessita de uma auctoritas, não tanto para sub
sistir como para ser eficiente 82. E essa autoridade (esse prestígio,
79 Desde o séc. XI principiou a germinar a ideia de que o imperador alemão era o suc
essor dos imperadores romanos, pois o Sacro Império Romano-Germânico incarnava e con
tinuava o Imperium Romanum. Por consequência, o Direito Romano, como direito que f
ora do Imperium Romanum e como tipicamente direito imperial que era, tinha de se
r forçosamente o direito do império cristão do Ocidente. Dai que se proclamasse no séc X
II: «unum esse ius, cum unum sit imperium» (só há um direito, porque só há um império). 0 Dir
ito Romano representa deste modo a universalidade da ideia de império, e o «vivere s
ecundum legem romanam» é prova de pertencer a este. Cf. KoscHAKER, Europa y ei Derec
ho Romano, trad. esp. (Madrid, 1955) 79, 118 e 119.
80 Não deve ser considerado utopia defender que, no «império» de uns futuros Estados Uni
dos da Europa, o seu direito fundamental seja o Direito Romano (devidamente adap
tado); esta é a opinião, entre outros, de GENZMER.
81 Vid. sobre o ius como vis (de início, uma «força ritual»), vid R. SANTOao em Ann. Sem
. Giur. Università di Palermo 30 (1967) 204-206, 216 e 217.
82 Por isso, a antiguidade grega representava a Justiça incarnada numa deusa, arma
da duma espada (vid. supra 26); ainda hoje se usa, por vezes, este símbolo; e há um
velho adágio, que reza assim:
«onde força não há,
direito se perde».
54
55
I
DIREITO ROMANO
esse «impor-se», esse «não poder desobedecer-se») tem de verificar-se, não só quando o ius é
ado por uma entidade pública, mas também quando é de criação dos próprios juristas 83. Estes
, além de ciência, precisam de autoridade social para que as suas doutrinas se impon
ham e triunfem. Ao jurista, não lhe basta ser um mero cientista, visto que uma opi
nião jurídica não é como uma solução matemática ou uma invenção física ou química. Não basta
a. É preciso, além disso, ter uma certa autoridade social a sustentá-la: aristocrática,
política, burocrática, académica, etc. 31.
A princípio, os jurisconsultos romanos tinham autoridade social proveniente da sua
linhagem; era uma autoridade aristocrática. Depois, com Augusto, que chamou a car
gos importantes pessoas da classe média e lhes concedeu o ius publice respondendi,
possuíam autoridade social de carácter político. Adriano avançou mais um pouco: concede
u aos jurisconsultos autoridade de carácter burocrático. É o triunfo do funcionalismo
sobre a aristocracia. Por último, surge o imperador, no Baixo-Império (sécs. IV-VI), c
omo fonte única das leis. Então já não há ius, mas unicamente leges. 0 Direito identifica-
se com a lei.
II-Direito e Política em Roma

A conexão, de carácter privatistico, entre direito e política em Roma é, pois, bastante


clara a partir de Augusto, tornando-se evidente no Baixo-Império.
Mas ela também existe antes ië :'i-,usto, naquele período em que os jurisconsultos tin
ham autoridade social proveniente unicamente da sua linhagem. A iu.risprudentia,
fonte principal do ius, não era uma simples profissão, mas um ministério (um
83 KOSCHAKER, Europa y el Derecho Romano, cit. 263, e BlOND!, Diritto e Politica
nel Pensiero Romano em Grande Antologia Filosofica 2(1954) 728-729.
84 Ainda hoje é assim: v.g. as mesmas razões, apresentadas por um simples jurista ou
por um professor de Direito, têm valor diferente. A ciência jurídica é uma ciência também d
e autoridade. 0 direito nunca perdeu totalmente o seu primitivo carácter de vis.
INTRODUÇAO - TIT. I - CAP. 5.°
«sacerdócio» muito elevado) reservado inicialmente aos pontífices e depois sempre à nobrez
a romana. Dar respostas, aconselhar, orientar a vida das pessoas (os clientes) n
as suas dificuldades, sobretudo em casos de litígio, isso era próprio da aristocraci
a. Mediante esta variada actividade consultiva, os iurisprudentes, portanto cert
os nobres, criavam e exerciam influência profunda e segura sobre os seus clientes.
Estes, para recompensarem os grandes favores dos conselhos recebidos, prestavam
indefectivelmente o serviço de apoiar o seu jurisconsulto nas lutas eleitorais. D
este modo, afirma A. D'oRS 85, os nobres iurisprudentes «adquiriam prestígio em todo
o âmbito social, novas relações, apoios políticos; e o seu saber jurídico produzia assim
grandes vantagens políticas. Não era que o estudo do Direito habilitasse especialmen
te para a carreira política, mas o prestígio social que derivava da actividade como
prudente em matéria de direito redundava numa grande influência política».

A conexão, de carácter publicístico, entre Direito e Política em Roma é reconhecida e afir


mada por todos os autores. 0 Direito Romano é um produto da forte virtualidade cri
adora do génio político. Política e Direito trabalham em uníssono para fazer da urbe um
orbe, para cumprir uma missão de dimensão universal. A política romana, na sua multipl
icidade de atitudes, é orientada não por efémeras ideologias mas por um sentimento pro
fundo e perene da perpetuidade e supremacia do Populus Romanos, concebido como u
ma sólida e forte organização jurídica. A grande finalidade da política romana, afirma BIO
NDI, mesmo no meio de crises e de variadas forças centrífugas, é manter firme o ordena
mento jurídico 86.
ss A. D'ORS, Una Introducción al Estudio de! Derecho, cit. 79.
86 A. GuARINO, L'Ordinamento Giuridico Romano (Nápoles,1959) 9; e vid., por todos,
B(ONDI, Diritto e Politica uel Pensiero Romano em Grande Antologia Filosófica 2(1
954) 725 ss., máxime 754 e 755, onde é indicada bastante bibliografia; este estudo d
e BIONDI encontra-se também nos seus Scritti Giuridici I (Milão,1965) 9-51. Vid, tam
bém Romanizas 9-II (1970) 323 ss. e J. IGLESIAs, Derecbo Romano. Instituciones de
Derecbo Privado. (Madrid. 1972) 9 e 10.
56
57
t
DIREITO ROMANO
b) As várias formas políticas de Roma 87 0 estado-cidade; o estado-território
Segundo os dados tradicionais acerca da sucessão das formas de governo na história d
e Roma, verifica-se que houve uma monarquia, desde 753 a.C. a 510 a.C.; uma repúbl
ica, de 510 a.C. a 27 a.C.; um principado, desde 27 a.C. até aos fins do séc. III d.
C. (284) ; e um dominado (ou monarquia absoluta de tipo heleno-oriental), de 284
até ao séc. V. - (Justiniano, sob o ponto de vista histórico, não pertence já à história de
oma; mas à de Bizâncio). - Verifica-se ainda que o Império Romano foi dividido, defini
tivamente em 395, em império do Ocidente e império do Oriente; o império do Ocidente c
aiu em 476, e o do Oriente só em 1453.
As formas políticas originárias, em regra, são o estado-cidade ou o estado-território.
«Estado-cidade» significa um agrupamento de homens livres, estabelecidos sobre um pe
queno território, todos dispostos a defendê-lo contra qualquer ingerência estranha e s
obretudo onde igualmente todos detêm uma parcela do poder. Esta última parte é a grand
e característica do estado-cidade, que o distingue do
«Estado-território», onde um só homem exerce o poder duma forma absoluta e exclusiva. Po
rtanto, no estado-cidade os seus membros participam juntamente das decisões que di
zem respeito ao interesse comum. Isto não quer dizer que os membros do estado-cida
de formem, todos, um único organismo político. No estado-cidade, há três órgãos políticos fun
amentais: 1) um ou vários chefes, vitalícios ou não (conforme se trata de monarquia ou
de república) ; 2) uma assembleia de

87 Pelas razões indicadas supra n. 78 e infra tít. VI, esta parte histórica é reduzida a
o mínimo.
Para uma exposição mais ampla, vid, v.g. BURDESE, Manual di Diritto Publico Romano (
Turim,1966) passim.
58
INTRODUÇAO-TiT. I - CAP. 5.^ § 7
nobres ou de homens experimentados na vida; 3) uma assembleia do povo.
I - Monarquia (753 a.C. - 510 a.C.). Rei. Senado. Povo
Roma nasce, politicamente, como um estado-cidade (civitas ou -ólis), e assim conti
nua durante a república e, sob certo aspecto, até ao séc. III d.C., quer dizer, até ao d
ominado.
E antes de civitas, que era Roma?
Segundo a opinião de vários AA., chefiados por BONFANTE, devem considerar-se, em Rom
a, como grupos políticos anteriores à civitas, a familia, a Bens, a curia e a t7ibus
.
A familia romana, inic1aimente muito diferente da família moderna, era um agregado
de coisas e de pessoas submetidas a um chefe, denominado paterfamilias.-(«Pater>,
aqui, significa chefe e não pai; pai, em rigor, é genitor. «Familias> é o genitivo arca
ico de familia. Portanto «paterfamilias> é uma designação muito primitiva e significa «sen
hor ou soberano da família> e não «pai da família». - 0 vinculo que liga as pessoas ao pat
erfamilias não é o do sangue, mas o da sujeição ao seu poder, que, em princípio, é absoluto,
de vida e de morte (ius vitae et necis) sobre todas as coisas e pessoas da orga
nização política romana.
Da «familia> passa-se à geras. Esta é formada por um conjunto de famílias que se encontr
am ligadas e submetidas politicamente a uma autoridade comum, o pater gentis. Os
membros da gens usam, por vezes, um mesmo nome (o nomen gentilicium), por se ju
lgarem descendentes dum antepassado comum.
= [Cada cidadão romano, em geral, usava três designações (iria verba): o praenomen, o no
me próprio ou nome individual que o distinguia dos outros membros da família, M(arcu
s); o nomen, gentilícío ou, mais frequentemente, apelido familiar, Tullius; e o cogn
omen, que indica um ramo especial dentro da gens, embora por vezes se confunda c
om o sobrenome ou apodo (agnomen), alusivo a alguma circunstância pessoal ou famil
iar, Cicero em relação com o cicer. Portanto, em «Marcus Tullius Cicero>, Marcus é o «prae
nomen>, Tullius é o «nomen> (quase sempre apelido familiar) e Cinero é o «eognonven> (em
regra, uma designação gentilícia). Dos três vocábulos, nomen é o mais importante; especific
a
uma coisa ou identifica uma pessoa; é a realidade. Traduz verbalmente o ôntico dum S
er; contrapõe-se a verbum (termo, palavra). Vid. Sebastião CRUZ, lus Derectum (Coimb
ra, 1971) 40.
59
L
DIREITO ROMANO
E curioso verificar que ainda hoje «nomes (nomen) significa o apelido (geralmente,
o apelido por que é conhecida a pessoa); e isto não só em vários países estrangeiros (e a
i é claro), mas até entre nós. Assim, por exemplo, num caso de paternidade ilegítima, qu
ando se roga ao pai que deixe dar o nome à criança, isto é, que ela possa usar o apeli
do principal do pai]. _
Da «genss, os romanos passaram à formação da curia. Esta, talvez segundo a melhor opinião,
existe, quando certo número de comunidades familiares, abandonando a sua religião p
articular, celebram, juntas, cerimónias religiosas em honra de uma divindade super
ior às divindades domésticas, e para isso nomeiam um chefe, o curião (curio), que pres
ide aos sacrifícios rituais.
Da «curial nasce a tribus, uma organização mais vasta, tendo igualmente a sua divindad
e protectora e mantenedora da união entre todos os membros.
A civitas surge, quando as «tribus», por acordo ou por necessidade de se unirem para
se defenderem, se coligam e escolhem um chefe (rex). Ora a primeira coisa a faz
er, ao constituir-se uma civitas, era acender o fogo sagrado, que representava a
pátria comum e sobretudo, à semelhança do que sucedeu com os outros órgãos politicos (fam
ilia, geras, curia e tribus), levantar altares às divindades da comunidade. Por is
so, a primeira e grande missão do rex é a de «sumo sacerdote». Para os romanos, a religião
era o vínculo que originava e mantinha a união entre os seus membros.
Quando Roma aparece como civitas, como grupo politico supremo, não faz desaparecer
os grupos politicos menores, sobretudo as familiae e as gentes. Verdade é que a g
ens, na época republicana decai muito, para vir a desaparecer, no principado. A fa
milia, porém, conserva no decorrer de toda a história do lua Romanum sempre algumas
características da sua velha estrutura, embora sofrendo uma grande evolução, sobretudo
por influência do Cristianismo.
Nos primeiros tempos, Roma foi, pois, governada pela realeza; mas quase todos os
reis são lendários. Apenas os três últimos - Tarquínio (o Antigo), Sérvio Túlio e Tarquínio
Soberbo) - parecem ser históricos.
INTRODUÇAO - TIT. I -CAP. 5.° § 7
No regime monárquico de Roma, o poder político (soberania) está repartido por três órgãos: r
ei, senado, povo (comícios).
Rei-E sumo sacerdote, chefe do exército, juiz supremo, numa palavra, o director (o
reitor) da civitas. (Rex, provém de regere = dirigir) 88. 0 seu cargo é vitalício, ma
s não hereditário. No entanto, cada rei podia, ao que se julga e pelo menos de início,
designar o sucessor. Todavia, este, em qualquer hipótese, só era considerado rei, d
epois de investido pelo povo reunido no comício das cúrias. Esta investidura, que er
a uma espécie de delegação do poder (soberania), chamava-se «rex curiata
de imperio». Os romanos tinham a convicção bem arreigada de
que o poder (soberania) residia no povo, e de que era este que o transmitia 89 a
o chefe.
Serrado - 0 rex, além de outros auxiliares 90, era assistido principalmente pelo s
enado (senatus). Este, ao que parece, de início foi constituído pelos patres das gen
tes fundadoras da civitas; mais tarde, pelos homens experimentados na vida - sen
atus deriva de senex (velho) -, escolhidos só entre os patrícios. Era uma assembleia
aristocrática. Os plebeus, inicialmente, não podiam fazer parte do senado. Depois,
em data que não pode bem precisar-se, mas provàvelmente ainda no tempo da monarquia,
foram admitidos excepcionalmente alguns plebeus; em 312 a.C., pela Lex Ovinia,
os plebeus alcançaram entrada definitiva; eram designados por «conscripti»; daí, pos
88 0 rex tinha vários auxiliares, v.g. o tribunus celerum, chefe da cavalaria; os
três tribuni milit ura, chefes dos batalhões de infantaria; provàvelmente, já os quaesto
res parricidil, os instrutores das causas relativas a crimina gravissima, como p
or exemplo, crimes de alta traição, de parricídio, etc.
89 Transmitia, ou simplesmente o comunicava, existindo entre povo e chefe como q
ue um «cordão umbilical a alimentar continuamente o poder» (para usar da expressão moder
na de DEI.os), ou até meramente lho delegava.
90 Vid. supra n. 88.
I
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61
DIREITO ROMANO
teriormente, a fórmula patres conscripti (em rigor, «patres et conscripti») para desig
nar o senado na sua totalidade.
0 senado é uma das instituições políticas mais antigas de Roma. Foi criado sobretudo par
a aconselhar o rex formando assim uma espécie de junta consultiva do rei. Posterio
rmente, teve ainda as atribuições de nomear o interrex (o membro do senado que havia
de exercer o poder supremo, durante o interregnum existente entre a morte de um
rei e a proclamação do sucessor pela «lex curiata de imperio») e a de conceder a auctor
itas patrum (consentimento, ratificação) às leis votadas nos comícios, para que elas fos
sem válidas.
A resposta do senado, dada às consultas que lhe eram feitas, chama-se senatusconsu
ltum 91.

Povo -A sociedade romana, desde o início, era formada essencialmente pelos patrícios
(os aristocratas, a classe social elevada) e pelos plebeus (a classe humilde)92
. Os patrícios tinham todos os direitos; os plebeus, não. Daí que, muito cedo, princip
iasse a luta entre plebeus e patricios. Os plebeus desejavam a equiparação aos patríci
os, já que eles, embora de classe inferior, desde sempre (inclusive na etapa mais
primitiva) nunca foram considerados estrangeiros, mas sim fazendo parte do povo
romano. 0 Populus Romanus era, pois, constituído inicialmente por patrícios e plebeu
s. Estes, sob certo aspecto, eram tão cidadaos como os patrícios; possuíam a condição de m
embros da civitas na organização político-militar, que era feita por
91 Sobre o valor e a evolução dos senatusconsultos (senatusconsulta) vid. infra § 22-b
).
92 Ao lado dos patrícios e dos plebeus viviam os escravos (servi), que não faziam pa
rte da sociedade romana, visto não serem considerados pessoas (personae), mas simp
lesmente coisas (res).
Como classe social de importância secundária estavam os clientes, os romanos de cond
ição inferior vinculados aos patrícios por certas obrigações hereditárias e que recebiam des
tes protecção e auxílio.
A origem de patrícios, plebeus e clientes é assunto muito discutido entre os autores
. Cf. Hans Julius WOLFF, Introducción Histórica aí Derecho Romano, trad. esp. (Santiag
o de Compostela,1953) 9.
62
INTRODUÇAO - TIT. I - CAP. 5.° § 7
centuriae (companhia de soldados) e tribos (divisão territorial
de carácter predominantemente militar). A plebe servia-se prin
cipalmente da tribos para estabelecer uma organização à parte, e com chefes próprios (os
tribunos da plebe), formando como que um Estado dentro do Estado. Isto ocorre,
segundo a tradição, a partir de 494 a. C. A luta entre plebeus e patrícios durou séculos
; mas os plebeus acabaram por triunfar.
0 povo, detentor duma parcela do poder político (como já dissemos), exercia os seus
direitos manifestando a sua vontade em assembleias, denominadas comícios (comitia)
. Estes celebravam-se, dum modo obrigatório, em determinados dias, e também sempre q
ue a entidade competente os convocasse. - Os comícios mais antigos e mais importan
tes foram os comícios das cúrias (comitia curiata). De início, só os patrícios faziam part
e das curiae; mas, bem cedo, os plebeus conseguiram também acesso. Das várias atribu
ições que teriam os comitia curiata da época monárquica deve destacar-se a investidura d
o rei no poder, por meio da «lex curiata de imperio». É bastante duvidoso que já exerces
sem funções legislativas. A partir da república, as atribuições dos comitia curiata foram
absorvidas pelos comitia centuriata e pelos comitia tributa, conservando apenas
as atribuições religiosas. Notemos finalmente que nos comícios não se contam os votos po
r cabeça, mas, respectivamente, por cúrias, centúrias ou tribos; cada um destes agrupa
mentos, por maior que seja, possui um único voto.
11-República (510a.C.27a,C.). Magistraturas (poderes dos magistrados -«potestas», «imper
ium», «iurisdictio»); o pretor. Senado. Povo
A constituição política de Roma nos primeiros tempos da república não sofre grandes alteraçõe
. Pode até afirmar-se que, se a,monarquia terminou em 510 a.C., em rigor a república
só principiou em 367 a.C., ao estabelecer-se uma verdadeira divisão de poderes pela
s várias magistraturas criadas nessa
63
i
V
S
DIREITO ROMANO
altura. Simplesmente, a partir de 510 a.C., o poder supremo já não reside num único ch
efe (o rex), mas, geralmente, em dois (os cônsules) ; estes exercem o cargo por um
ano e não por toda a vida; são eleitos pelo povo e não designados pelo antecessor ou
pelo senado.
A constituição republicana consta de três grandes elementos: as magistraturas, o senad
o e o povo. Representam assim e substituem, respectivamente, os elementos monárqui
co, aristocrático e democrático.
Magistratura. Magistrados -A palavra latina magistratus tanto significa o cargo
de governar (magistratura) como pessoa que governa (magistrado). N& terminologia
romana, «magistrado» compreende todos os detentores de cargos políticos de consulado
para baixo. Inicialmente, os magistrados são os verdadeiros detentores do imperium
, que anteriormente tinham os reis. 0 imperium é um poder absoluto, um poder de so
berania; os cidadãos não podem opor-se ao imperiumu.
Este carácter absoluto do imperium fica limitado por três circunstâncias muito importa
ntes:
1) -a temporalidade (os magistrados, normalmente, ocupavam o cargo por um ano);
2) - a pluralidade (o poder estava repartido por várias magistraturas, a saber, co
nsulado, questura, censura, pretura e edilidade curul);
3) - colegialidade (dentro de cada magistratura, v.g. no corsulado, havia mais d
o que um magistrado; cada um dos colegas estava encarregado dum determinado sect
or, dentro do qual tinha poder absoluto, imperium; mas o outro colega ou um magi
strado de ordem superior podia exercer o direito de veto (ius intercessionis).
Além disso, embora o imperium, como poder absoluto, fosse, em regra, efectivo dent
ro e fora de Roma, todavia, logo de início, dentro de Roma, isto é, dentro da linha
defensiva da cidade (denominada pomerium, onde era proibido cultivar e edificar;
era o sanctum; servia de limite para o imperium militare), estava sob a maiesta
s do Populus Romanus entendido como comunidade política. Daí que um cidadão, nos casos
mais graves, pudesse sempre, em último recurso, apelar para a assembleia do povo
(nesta
altura, os comitia centuriata) contra as decisões, até dos magistrados do mais alto
nível detentores do imperium (os cônsules). Essa apelação chamava-se provocatio ad popul
um. Só não estava sujeito à provocatio ad populum o ditador.
Fora de Roma, a princípio, não havia o direito da provocatio ad populum; esta foi in
troduzida, no séc, 'II a.C., pela. lex Porcia.
As magistraturas importantes eram: a dos cônsules, a dos censores, a dos pretores,
a dos questores e a dos edis curúis. Estas magistraturas designavam-se «magistratur
as ordinárias» (as «extraordinárias» eram o tribunado da plebe e a ditadura 93), pois esta
vam integradas numa certa ordem hierárquica (o «cursus honorum», carreira das honras o
u cargos), e isto segundo um critério de dignidade e não tanto de poderes. A ordem h
ierárquica, a contar do cargo inferior, estava instituída desta forma,: 1.0 questor;
2.° edil curul; 3.° pretor; 4.° cônsul; 5.° censor, que era, portanto, o grau supremo do
cursus
93 Os tribunos da plebe foram, inicialmente, os chefes revolucionários, eleitos pe
la plebe, nas suas famosas secessões; portanto, uma espécie de modernos cabecilhas d
e greves.
Como a plebe foi alcançando vitórias, os seus tribunos acabaram por ser considerados
magistrados naturais da constituição republicana. Em virtude de não fazer parte do cu
rsus honorum, o tribunado da plebe é uma «magistratura extraordinária». Os tribunos da p
lebe não tinham imperium (em vez deste poder, possuíam a tribunitia potestas), mas g
ozavam de intercessio sobre todos os magistrados do cursus honorum, inclusive so
bre os cônsules; quer dizer, tinham o direito de vetar, isto é, de anular, sem neces
sidade de invocar razões, qualquer decisão tomada por um magistrado de carreira políti
ca (cursus honorum). Além disso, tinham o privilégio da inviolabilidade (sacrosancti
tas).
As intervenções dos tribunos da plebe na vida política e legislativa de Roma foram sem
pre muito importantes.
A ditadura, além de extraordinária (por não estar incluída no cursus honorum), é magistrat
ura excepcional, pois não faz parte da vida política normal e permanente de Roma. Er
a criada em momento de iustitium.
-[Do mesmo modo que arinistitium é a interrupção das armas, iustitium era, a suspensão d
o ordenamento civil (da iustitia normal), motivada por calamidades públicas ou por
uma crise política interna (v.g. revoltas populares) ou externa (guerras com o es
trangeiro)].
0 ditador concentrava em si todos os poderes políticos, administrativos e judiciai
s da civitas. Todas as magistraturas ficavam suspensas ou pelo menos directament
e subordinadas a ele; portanto, o seu imperium era uma soberania sem restrições.
INTRODUÇAO - TIT. I - CAP. 5.°
§7
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I
DIREITO ROMANO
honorum. Só depois de ter exercido durante um ano o 1.0 cargo, é que alguém podia ser
eleito para o 2.°; só depois de ter exercido durante um ano o 2.o, é que podia ser ele
ito para o 3 .0, e assim sucessivemente.
Poderes dos magistrados; «potestas», «imperium» e «iurisdictio».
A potestas era o poder de representar o Populus Romanus. Era comum a todos os ma
gistrados, mas cada um tinha esse poder, em maior ou menor grau, conforme as sua
s atribuições, dentro das quais podia vincular, com a sua vontade, a vontade do povo
romano, criando assim direitos e obrigações para a civitas.
0 imperium era, como já ficou dito, o poder de soberania. Continha as faculdades:
1) de comandar os exércitos; 2) de convocar o senado (facultas ou potestas agendi
cum patribus) ; 3) de convocar as assembleias populares (facultas ou potestas ag
endi cum populo) ; 4) de administrar a justiça. No entanto, esta última faculdade, a
partir da criação de pretura em 367 a.C., está contida no imperium, não como forma norm
al ou corrente de administrar a justiça, mas como forma extraordinária.
0 imperium não é como a potestas comum a todos os magistrados, mas própria dos cônsules,
dos pretores 99 e do ditador.
A iurisdictio é o poder específico de administrar a justiça duma forma normal ou corre
nte. Era o poder principal dos pretores. Competia igualmente ao edis curúis, porém só
para organizar os processos litigiosos referentes às matérias em que eles deveriam s
uperintender B5, e também aos questores, mas só para administrar a justiça em causas c
riminais.
94 0 imperium do pretor estava subordinado ao dos cônsules. Estes tinham o ius int
ercessionis; podiam vetar as decisões do pretor. Este não possuía o ius intercessionis
; por isso, o praetor era chamado collega minor dos consules, ou até praetor minor
e o cônsul designado por praetor maximus.
95 A superintendência dos edis curúis incidia na cura urbis (fiscalização da limpeza da
cidade e da conservação das vias e edifícios públicos), na cura annonae (vigilância dos me
rcados) e na cura ludorum (tudo o que dissesse respeito aos espectáculos públicos).
INTRODUÇÃO - TIT. I - CAP. 5.° §
Como se verifica, o pretor era um magistrado que tinha os três poderes: potestas,
imperium e iurisdictio.
No aspecto jurídico, que essencialmente nos interessa, a magistratura mais importa
nte '(exceptuado sob certo aspecto a dos cônsules) é a dos pretores, seguindo-se-lhe
a dos edis curúis e a dos questores. Por isso, vamos fazer uma referência especial
ao pretor, e, por motivos bastante análogos, um pouco mais adiante, aos governador
es das províncias.
Pretor
A palavra praetor (prae-itor), segundo VARRÃO 96, deriva de praeire e significa o
que vai à frente, o que está à cabeça. A princípio, era uma designação genérica para indicar
hefe de qualquer organização. Por isso, os cônsules, que são os magistrados mais antigos
, considerados os imediatos continuadores dos reis como detentores do poder supr
emo, de início intitularam-se praetores, isto é, «chefes militares», visto os primeiros
cônsules terem sido os dirigentes da rebelião popular, formada sobretudo de patrícios,
que derrubou a monarquia 97.
Depois da criação da questura (cerca do ano 450 a.C.) e da censura (em 443 a.C. 98),
a palavra «praetor» ainda conservou
96 VARRO, De Lingua Latina V 80 (ed. de J. [Collart Paris,1954] 52).
97 Mais tarde, a designação de praetores foi substituída pela de consules (ou collegae
). É que, nesta altura, a função principal ou mais importante do cônsul não era a de coman
dar os exércitos, mas a de consultar (consulere), convocar, o senado e o povo. Cf.
VARRÃO, id., ib.
98 Os censores foram criados, nessa data, para organizar o censo dos cidadãos roma
nos, que se fazia normalmente de cinco em cinco anos, sobretudo para fins milita
res e de tributação de impostos. Desde o início, eram eleitos dois censores, para cada
período de cinco anos. Mais tarde, além de organizar o censo quinquenal, competia a
os censores administrar o ager publicus e fazer a lista dos membros do senado (l
ectio senatus), podendo excluir do senado aquele que julgassem indigno deste mun
us. Chegaram a ser considerados os guardiões da moralidade, quer pública
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67
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO - TIT. I-CAP. 5.0
um certo carácter genérico, pois era nome comum de qualquer magistrado (cônsul, questo
r ou censor).
Em 367 a.C., além dos edis curúis, pelas leges Liciniae Sextiae 09 foi criada a magi
stratura dos pretores. Então «praetor» deixa de ter carácter genérico para significar apen
as o

quer privada. Tinham certos poderes discricionários; podiam adoptar decisões, que pràt
icamente aniquilavam um indivíduo, tanto moral como politicamente.
Os censores não tinham imperium, mas o seu cargo, em virtude das atribuições acabadas
de mencionar, sob certos aspectos, era considerado a dignidade mais elevada a qu
e um cidadão romano podia ascender; por isso, em regra, só eram escolhidos para cens
ores cidadãos do mais elevado carácter e que já tivessem sido cônsules.
As actividades de censor, depois de efectuado o censo, terminavam com a cerimónia
religiosa dum sacrifício público solene, denominado lustrum; e como este se realizav
a de cinco em cinco anos, daí o chamar lustrum ao período de cinco anos. A expressão c
ontinuou através dos tempos e permaneceu até hoje, com esse significado.
99 As Leges Liciniae Sextiae, ao mesmo tempo que permitiram o acesso dos plebeus
ao consulado, criaram mais esta magistratura, assim como outras, e que deviam s
er ocupadas só por patrícios, a fim de impedir ou pelo menos retardar o mais possível
a igualdade política entre as duas classes. Os plebeus, como já dissemos, acabaram p
or triunfar.
As principais vitórias dos plebeus verificaram-se pela ordem seguinte:
- em 449 a.C., pela lex Valeria Horatia de plebiscitis, é reconhecido carácter norma
tivo aos plebiscitos, equiparando-os na sua força vinculativa às leis, embora eles só
obriguem a plebe.
- A partir de 443 a.C., os plebeus começam a conquistar as magistraturas: - nesse
ano, o tribunado militar com poder consular; -em 421 a.C., a questura;
-em 367 a.C., o consulado (e mais tarde, em 342, pela lex genucia, fica determin
ado que um dos cônsules tem de ser sempre plebeu);
- em 366 a.C. a edilidade curul;
-em 356 a.C., a censura (e mais tarde, em 339 a. C., pela lex Publilia, é estabele
cido que um dos censores fosse sempre plebeu);
-em 351 a.C., a ditadura;
-em 337 a.C., a pretura.
- Em 312 a.C., pela lex Ovinia, os plebeus alcançam entrada definitiva no senado.
Em 287 a.C., a lex Hortensia de plebiscitis determina que os plebiscitos vincule
m tanto plebeus como patrícios.
A partir desse mesmo ano 287 a.C., os tribunos da plebe são membros-natos do senad
o, tendo além disso o direito de o convocar, para lhe solicitar a auctoritas patru
m sobre as medidas que desejassem submeter à votação dos concílios da plebe.
magistrado especificamente encarregado de administrar a justiça duma forma normal
ou corrente, nas causas civis. Presidia à 1.a fase do processo, «fase in lure» 100, on
de era analisado o aspecto jurídico da causa. Na 2.a fase, chamada «apud iudicem», é que
se apreciava a questão de facto, sobretudo o problema da prova, e se dava a sente
nça; esta fase desenrolava-se perante o iudex, que não era magistrado mas um particu
lar, e portanto distinto do pretor.
A «fase in lure», como examinaremos no vol. II (2.a Parte, tít. VI), era importantíssima
; decisiva para a vida do processo. Aí se verificava um ius-dicere, uma afirmação sole
ne da existência ou não-existência de direito (e para isso o pretor tinha a iuris-dict
io) ; e esse ius-dicere concretizava-se num iudicare iubere dirigido ao juiz, is
to é, numa ordem dada pelo pretor ao juiz para proferir sentença neste ou naquele se
ntido, conforme se provasse ou não determinado facto. Na 2afase do processo, não há um
ius-dicere, mas um simples iti-dicare, um aplicar o direito, isto é, julgar, deci
dir conforme uma ordem jurídica já anteriormente fixada.
De início, só havia um pretor. A partir do ano 242 a.C., a administração da justiça é distri
buída por dois: o pretor urbano («praetor urbanus»), encarregado de organizar (dentro
das normas do «ius civile») os processos civis em que só interviessem cidadãos romanos;
e o pretor peregrino («praetor peregrinus»), incumbido de organizar (mas dentro das
normas do
100 lus, nesta expressão «fase in lure», em rigor significa o estrado para onde o pret
or subia e aí se sentava (numa cadeira, tipo trono) para administrar a justiça; num
sentido menos rigoroso, compreende o estrado e um pequeno recinto à volta, ou até, u
m pouco mais tarde, a sala toda onde o pretor administrava a justiça; diríamos agora
, o tribunal (sala de audiências). Por isso, ainda hoje ao tribunal (sala de audiênc
ias) se chama pretório, do (latim praetorium), por ser o lugar onde o praetor admi
nistrava a justiça; portanto o lugar por excelência onde se deve administrar justiça.
A expressão «fase in lure» pode traduzir-se mutatis mutandis por «fase perante a barra d
o tribunal».-É que a palavra ias, além doutros, tem o significado de local onde se adm
inistra a justiça. Vid. supra 18.
A respeito da «fase in lure» note-se que, anteriormente a 367 a.C., era presidida po
r um cônsul.
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DIREITO ROMANO
DIREITO ROMANO
«ius gentium») os processos em que pelo menos uma das partes era um peregrino, quer
dizer, um «non-civis».
Sempre que se fala de pretor, sem mais nada, entende-se o pretor urbano. Este é qu
e é, na verdade, a figura genial dentro do Ius Romanum, o protótipo do homem preocup
ado e totalmente dominado pelo espírito de justiça, sempre com a ânsia e com o escrúpulo
de atribuir a cada um o que é seu (suum ouique tribuere). Histórica e lôgicamente, é o
elemento de ponderação colocado entre o ius e a lex 101. 0 pretor era o intérprete da
lex, mas sobretudo o defensor do ius.
Senado-0 senado é o segundo elemento da constituição republicana. E o órgão político por exc
elência da república. Nas relações internacionais de Roma, já não vem indicado em primeiro l
ugar o povo, mas o senado. A fórmula passou a ser «Senatus Populusque Romanus» (SPQR).
Constituído pelas pessoas mais influentes da civitas, tinha um verdadeiro carácter
aristocrático. Ali se encontravam reunidas a autoridade (formada sobretudo por ant
igos magistrados), a riqueza e o saber técnico. 0 senado não possuía o imperium mas ti
nha a auctoritas (que, neste caso, podemos traduzir por prestígio) ; por isso, na
aparência, não era dotado de funções prepotentes; mas, na realidade, o senado republican
o, devido também ao seu carácter permanente, gozava duma influência social extraordinári
a.
No aspecto jurídico, as suas decisões (senatusconsulta) tinham a forma de conselho,
mas, na prática, eram verdadeiras ordens 702. Porém, a atribuição mais importante, dentr
o do campo jurídico, era ainda a da concessão da auctoritas patrum para que as leis,
depois de votadas e aprovadas nos comícios, tivessem validade 103. A partir de le
x Publilia Philonis, de 339 a.C., essa aprovação do senado passa a ser concedida ant
es de ser votada pelos comícios a proposta de lei. Desta forma, a verdadeira deli
101 Cf. C. GEOFFREDI, lus, Lex, Praetor em SDH! 13-14(1947-1948) 102. 102 Vid. i
nfira § 22-b).
103 Ver supra 62 e infra § 21-c}a}5.
70
beração, o autêntico iussum (ordem com carácter ou efeito normativo) é a auctoritas patrum
do senado; o povo nos comícios, agora, como que se limita a sancionar (a dar, por
tanto, um mero consentimento e não já um verdadeiro iussum 104) aquilo que na realid
ade é a vontade dos senadores ou, quando muito, dum magistrado.
Povo - 0 povo é o terceiro elemento da constituição política republicana. Reune-se em as
sembleias ou comícios, cujos poderes são essencialmente o de eleger certos magistrad
os e o de votar, nos termos acima referidos, as leis propostas por aqueles magis
trados; além disso, em certas circunstâncias, os comícios funcionavam como tribunal de
última instância, quando tinha lugar a provocatio ad populum 105.
Na República, há 3 espécies de comícios: comitia curiata, que entram em franca decadência;
comitia centuriata, que intervêm na eleição dos cônsules, dos pretores, do ditador e do
s censores, e na votação das leis propostas por estes magistrados; comitia tributa,
que elegiam alguns magistrados menores e que votavam certas leis.
Além destes três, havia ainda os concilia plebis, cujas decisões, denominadas plebisci
ta, a princípio não tinham carácter vinculativo nem sequer em relação à plebe; depois da lex
Valeria Horacia, de 449 a.C., (vid. supra nota 99), é-lhe reconhecida força obrigatór
ia em relação à plebe; a partir da lex Hortensia, de 287 a.C., passam a obrigar todo o
povo romano e portanto também os patrícios, pois esta lei determina «ut plebiscita un
iversum populum tenerent». Desta forma, os plebiscitos são equiparados totalmente às l
eis comiciais.
A constituição política da República de Roma fundava-se portanto no equilíbrio de três grand
es forças: o imperium dos
104. A lei, segundo GAlus 13, «est quod» populus iubet atque constituit» (é o que o povo
ordena e determina).
105 Sobre este tema vid. =I 29(1963) 288 ss.
71
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO - TIT. I -CAP. 5.°
§7
magistrados; a auctoritas do senado; a maiestas do «populus» 108. Este equilíbrio entr
e as forças autocrática, aristocrática e democrática- embora com uma certa preferência plu
tocrática (favorecendo sempre os mais ricos) -, dotou a República romana duma grande
flexibilidade. Isso permitia que ela superasse graves crises, não só internas como
externas. É neste período que principia a revelar-se claramente o talento político dos
romanos.
111-Principado (27 a.C.-fins do séc.III [284]). «Princeps». Senado. Povo
A constituição republicana, a certa altura, torna-se insuficiente para as novas real
idades; entra em crises sucessivas; tem de recorrer frequentemente à magistratura,
que devia ser não-frequente, a ditadura. Essas novas realidades são, principalmente
:
1) - o alargamento extraordinário do poder de Roma, que se estende desde a Hispânia
e as Gálias até à Ásia Menor, dominando todo o Mediterrâneo;
2) -uma grave e profunda desmoralização da gente de Roma;
3) - o aparecimento de novas classes sociais;
4) -o antagonismo entre a velha nobreza e a nova aristocracia formada por armado
res de navios, banqueiros e industriais;
5) -lutas de classes de vária ordem;
6) - revolta dos escravos que pretendem liberdade.
0 povo romano, desiludido com o absolutismo de Sila, com o reinado de Pompeu e c
om a monarquia de César, depois da incorporação do Egipto, em 30 a.C., volta-se confia
nte para Octávio. Todos vêem nele o princeps civitatis, o primeiro entre
os cives, o mais indicado para restaurar a paz e a justiça, vencendo o caos moral,
político e económico dos últimos tempos. Octávio César Augusto aproveita-se inteligenteme
nte de todas as circunstâncias e afirma-se um político muito hábil quando finge não quer
er nada, nenhumas honras, para consegui-las todas e todos os poderes. Instaura u
ma nova forma constitucional - o principado. Não lhe chamou república, para não exaspe
rar os monárquicos; não lhe chamou monarquia, para não ferir os republicanos. Principa
do. Que era? Ainda hoje não se sabe bem. Os autores continuam a discutir a naturez
a de vários problemas do principado 107.
Não se deve andar muito longe da realidade, pensando que, logo de início, o principa
do era uma monarquia sui generis, de tendência absolutista, baseada no prestígio do
seu fundador, mas sem desprezar (pelo menos, na aparência) as estruturas republica
nas existentes: um império com aparências republicanas e democráticas.
Augusto, apoiado no seu prestígio de vencedor de António e sobretudo de Cleópatra (o m
ais terrível inimigo de Roma, depois de Aníbal) na célebre batalha de Ãccio (31 a.C.), o
nde se enfrentaram dois mundos diferentes, Oriente e Ocidente, defensor da tradição
romana, impulsionou o engrandecimento de Roma em todos os ramos do saber. Poetas
, historiadores, artis
tas e juristas fazem desta época o século de ouro 11111.
Augusto foi sobretudo o pacificador, conseguindo obter uma paz duradoura que fic
ou conhecida na História pela designação de pax augusta, que ele procurou sempre, desd
e que fosse com

107 Um dos trabalhos mais recentes é o da romanista Branca PARS!, Désignation et Inv
estiture de t'Empereur Romain-Jor. et II'. siècles après J: C. (Paris,1963), onde se
analisam, mais uma vez, tantas questões: a filiação espiritual do imperador, a adopção im
perial, o conteúdo da palavra principatus, a colegialidade dos imperadores, a inve
stidura comicial, a designação do imperador, etc., etc. Vid. também Antonio M. JAVIERR
E, El Tema Literario de Ia Sucesión (Zurique, 1963) 38-64.
108 Cf. Alfonso MELE, Cultura e Politica nell'Etá di Augusto em La Parole del Pass
ato. Rivista di Studio Classic! 20(1965) 179-194.
106 Vid. J. GAUDEMET, «Maiestas Populi Romani» -Ruiz II (Nápoles,1964) 699-709.
em Synteleia Arangio
72
73
I
DIREITO ROMANO
patível com os interesses do Império e com a sua glória pessoal. 0 senado dedicou-lhe
o monumento «Ara pacis», cujas estátuas em relevo figuram entre as obras de arte mais
notáveis da época. E foi também no seu tempo que, numa província oriental do Império, se o
uviu a mensagem de <paz na terra aos homens de boa vontade».

Princeps - A grande novidade trazida por esta reforma constitucional, instaurada


no ano 27 a.C., é a criação do princeps. É a figura central da nova constituição política. A
umula uma série de títulos (Augustus, Imperator, Pater Patriae) e de faculdades que
lhe são outorgadas pelos órgãos republicanos sobreviventes. Em 23 a.C., Augusto hàbilmen
te renuncia ao consulado, que vinha exercendo desde 27 a.C., e recebe, com carácte
r vitalício, a tribunícia potestas 109. Nesse mesmo ano, é-lhe concedido o imperium pr
oconsulare maius 110, por dez anos; mas, devido às sempre renovadas prorrogações, tran
sforma-se em vitalício. Mais; esse imperium proconsvlare maios, por último, é consider
ado por Augusto como algo tão pessoal ou inerente ao cargo que, poucos anos antes
da sua morte, o transfere ao seu herdeiro forçoso (por adopção), Tibério.
0 princeps não é um magistratus. Encarna um novo órgão político, de carácter permanente, inv
estido de um imperium especial e da tribunícia potestas; por isso, contrasta com a
s velhas características de temporalidade, pluralidade e colegialidade, próprias da
magistratura republicana. Augusto, com o seu grande talento político, vai concentr
ando, pouco a pouco,
109 A tribunicia potestas vitalícia compreendia, pois, os direitos e os deveres du
m tribuno da plebe, nomeadamente a inviolabilidade (sacrosanctitas), o direito d
e veto sobre as deliberações de todos os magistrados (ius intercessionis), o direito
de convocar o senado e as assembleias populares, e o de apresentar, tanto num c
omo noutras, propostas de lei.
110 0 imperium proconsulare maius dava-lhe não só o poder de comandar os exércitos, ma
s sobretudo o de fiscalizar pessoalmente a administração de todas as províncias, quer
imperiais (sujeitas directamente ao princeps) quer senatoriais (cuja guarda esta
va confiada ao senado).
INTRODUÇAO-TIT. I-CAP. 5." § 7
na figura do princeps, o melhor imperium das magistraturas, a auctoritas do sena
do (e até a auctoritas dos jurisconsultos, ao conceder-lhes o ius publice responde
ndi ex auctoritate principis 111) e, sob certo aspecto, a maiestas do populus.
As antigas magistraturas republicanas, na aparência, mantêm-se, mas o seu poder é quas
e irrelevante; estão subordinadas ao princeps e numa situação de colaboração forçosa; os mag
istrados transformam-se em funcionários executivos, nomeadamente os cônsules e os pr
etores.
A morte de Augusto, ficava aberto o caminho para o despotismo e para o absolutis
mo, para a monocracia, que vem a instaurar-se como forma constitucional em 284.

Senado - A princípio, ganha uma certa importância. As suas decisões (senatusconsulta),


durante um século, têm carácter legislativo 111. Mas, logo no tempo de Augusto, perde
grande parte da sua velha autoridade política, que vai passando gradualmente para
o princeps. Mais tarde, acontece o mesmo com as suas atribuições legislativas: no f
inal do principado, os senatusconsulta são meros discursos do imperador (orationes
principis). Vid. infra § 22-b) e c).

Povo - Os comitia não foram abolidos; mas, pouco a pouco, deixam de funcionar, e vêm
a morrer por inactividade. As suas atribuições passam em parte para o senado, mas s
obretudo para um novo elemento, que se vem afirmando, desde o tempo de Adriano,
cada vez mais decisivo - o Exército.
Verdadeiramente característico do principado é a criação dum corpo burocrático de funcionári
os 113 - oficiais da casa do
111 Vid. infra § 27-c)-II-2.
112 Vid. infra § 22-b).
113 Entre esses funcionários contam-se:
os legati Augusti pro praetore, encarregados do governo das províncias; os legati
legionis, encarregados do comando das legiões;
os praefecti praetorio, chefes da guarda imperial e também encarregados de
superintender em assuntos civis e criminais;
Ì
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75
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO - TIT. I - CAP. 5.'
§7
princeps-, que hão-de chegar a fiscalizar tudo. Estes funcionários dependem únicamente
do imperador, respondem exclusivamente perante ele e administram o Império segund
o uma directriz burocrática.
Acabado o principado, começa o Baixo-Império, que vem a terminar quando depois só exis
te império bizantino; portanto
vai de 284 a 476114.
Antes de passar ao dominado, façamos uma breve referência aos
Governadores das Províncias
Provincia significa, originàriamente, «cargo confiado a um magistrado», e especialment
e «administração dum território conquistado»; num sentido secundário, o próprio «território s
o qual um magistrado exerce os seus poderes». Mas, de início e em rigor, só os territóri
os sob o domínio de Roma situa
o praefectus urbi, que substitui o imperador na sua ausência e superintende no pol
iciamento da cidade;
o praefectus vigilum, encarregado do policiamento nocturno;
o praefectus annonae, que tem a seu cargo o abastecimento da cidade, a regulamen
tação dos preços, etc.;
o praefectus Aegypti, delegado do imperador para o governo do Egipto;
os procuratores, administradores da fazenda pública.
A proposito dos procuratores, note-se que foi no principado que surgiu uma nova
administração financeira, a do fiscus, a par da administração do aerarium. 0 aerarium er
a o tesouro da civitas, do Estado. 0 fiscus era, inicialmente, a fortuna particu
lar do imperador (por isso até se chamava fiscus Caesaris); o senado, como é evident
e, não intervinha na sua administração; mais tarde, converteu-se no verdadeiro tesouro
do Império, e então o velho aerarium passou a ter uma importância secundária.
Ainda como característico do principado, note-se o Consilium Principis (que depois
foi substituído pelo Consistorium Principis), órgão consultivo, onde se preparam as l
eis e se ventilam os assuntos da governação. Sobre esta matéria, vid., por todos, A. B
URDESE, Manuale di Diritto Publico Romano (Turim, 1967) 196 e 732, e SDHI 31 (19
65) 222-245.
114 Vid. Ernst STEIN, Histoire du Bas-Empire, ediç. francesa de J-M. PALAN
QUE (Paris,1959) 1.
dos fora da Península Itálica e conquistados por um general é que tinham o nome de «provín
cias» 15.
a) - A prsncípio, o governo de todos esses territórios extra-itálicos era confiado pel
o senado a um magistrado dotado de imperium, cônsul ou pretor; depois, a um desses
ex-magistrados (no ano seguinte ao termo do seu cargo), prorrogando-lhes a comp
etência como governadores (praesides) das províncias na qualidade de procônsules ou pr
opretores.
fl) - Mais tarde, Augusto havia de reservar para si a nomeação directa dos governado
res daquelas províncias que ainda requeriam uma atenção especial de tipo militar, por
não se encontrarem totalmente pacificadas. Desta forma, estabelecia-se a divisão ent
re províncias senatoriais («provinciae senatus» ou «populi Romani») e províncias imperiais («
rovinciae Caesaris» ou «principis»), conforme o governo e vigilância estavam respectivam
ente a cargo do senado ou do imperador 110
As normas administrativas fundamentais de cada província, de início, eram estabeleci
das por uma lei, lex provinciae.
115 Por isso, não faltam muitos autores a defender que provincia, etimológicamente,
significa «id quod populus Romanus provicit, id est, ante vicit» (o que o povo Roman
o, antes, venceu, dominou). Opinião muito discutida. Cf. ERNOUT
-MEILLET, 0. c. 541 e FORCELLINI, 0. C. III 944.
Províncias no tempo da República: Sicilia, Sardinia, Corsica, Gallia Cisalpina, Hisp
ana Tarraconensis, Hispania Baetica, lllyricum, Macedonia, Achaia, Africa, Pontu
s, Cyrene, Creta, Cilicia, Syria.
Províncias no tempo do Império: Aegyptus, Aquitania, Gallia Lugdunensis, Belgica, Ge
rmania Superior, Germania Inferior, Cyprus, Gdllatia, Pamphylya, Rhaetia, Noricu
m, Alpes Maritimae, Pannonia, Moesia, Cappadocia, Numidia, Mauritania (Tingitana
Caesariensis), Britannia, Thracia, Pontus, Palaemonizcus, Commagene, Arabia, Da
cia, Armenia, Messopotamia, Assyria.
116 Havia ainda o caso excepcional do Egipto, que, desde a sua incorporação, teve um
governo imperial especial, como se fosse todo ele um património do imperador. 0 g
overnador do Egipto denominava-se «praefectus Augustalis Aegypti»; os governadores d
as províncias imperiais (portanto, nomeados directamente pelo imperador), legati A
ugusti.
Mais tarde, as províncias quer senatoriais quer imperiais, foram objecto de várias d
ivisões e subdivisões, criando-se para todas estas novos cargos. Vid. A. D'oRS, Elem
entos, cit. 42.
76
77
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO -TiT. I - CAP. 5
§7
Dentro de cada província,. há cidades com estatutos diferentes, conforme a categoria
: civitates foederatae, formalmente independentes; civitates liberae, com autono
mia administrativa; civitates immunes, isentas do pagamento de imposto; civitate
s stipendiariae, obrigadas a uma tributação fixa (stipendium), cuja efectivação estava a
cargo de um questor, auxiliar do governador da província em assuntos de finanças.
Os governadores das províncias, além de imperium, tinham iurisdictio; publicavam igu
almente o seu edictum. Em ordem à administração da justiça, a província estava dividida em
distritos (conventus iuridicus) que o governador visitava periàdicamente.
Em virtude do princípio geral da personalidade do direito, nas questões entre romano
s o governador aplicava as normas do Jus Romanum; nos pleitos entre indígenas da m
esma cidade, o governador agia discricionàriamente, sem desprezar os costumes loca
is; nos litígios entre os habitantes de cidades distintas, o governador ou seus de
legados. aplicavam as normas que mais se ajustassem às partes litigantes.
Note-se, porém, que os governadores, ao aplicarem o lus Romanum, não podiam aplicar
um Direito Romano clássico puro, mas tinham de adaptá-lo às várias condições especiais da ad
ministração da justiça na província, sobretudo à circunstância, muito importante, de o proce
sso ter, pràticamente, só uma fase, em que, por conseguinte, o governador fazia de p
raetor e de iudex "'. Os governadores tinham, pois, necessidade de «provincializar»
o lus Romanum 118. 0 «direito provincial», em rigor, é pois o Direito Romano clássico ad
aptado às províncias.
117 0 governador, em assuntos jurisdicionais, podia ser coadjuvado por um ou vário
s assessores, comites ou contubernales.
118 Essa «provincialização» do Direito Romano veio a aumentar, a partir de 212, com a co
ncessão de cidadania a todos os habitantes do Império, dada por Antonino Caracala. C
f. A. D'oas, Elementos, cit. 43 e 44.
78
Em sentido menos rigoroso, «direito provincial» é também a «lex provinciae».
Os governadores romanos obtinham grandes lucros das províncias; às vezes, Roma autor
izava esses benefícios, v.g. as indemnizações e os tributos em géneros -cibaria (víveres),
congiarium (vinho), salarium (imposto pago em sal); outras vezes, eram diferent
es as fontes de receita e, entre estas, não pequena era a rapina do magistrado (típi
co, no final da república, é o caso de Verres, contra quem Cícero se insurgiu durament
e).
IV - Dominado (284-476). Absolutismo
Os cinquenta anos antes da subida de Diocleciano ao poder,
verificada em 284, caracterizam-se por:
1) -lutas internas, por causa do problema da sucessão
dos imperadores e ainda por causa da exigência manifestada
por várias províncias de quererem equiparar-se a Roma;
2) - falta de prestígio da autoridade pública;
3) - conflitos entre o Império Romano e o Cristianismo; 4) - crise económica;
5) - infiltração dos bárbaros;
6) - demasiada extensão do Império.
Diocleciano, soldado severo, enérgico e autoritário, sobe ao poder em 284, aclamado
imperador pelos seus companheiros de armas.' Inaugura um novo regime político, nos
moldes do absolutismo à maneira oriental. Proclama-se dominus, senhor único -daí o ch
amar-se a este período dominado ou império absoluto.
Além disso, intitula-se deus(!), com o respectivo direito a uma adoratio. É a primei
ra vez que isto se diz oficialmente: o imperator é dominus et deus. 0 seu poder não
provém mais de uma «lex curiata de imperio», mas de uma investidura divina.
79
5
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO - TIT. I - CAP. 5.1
§7
0 Cristianismo tenta destruir o mito da divindade do imperador. Estabelece-se en
tão uma profunda rivalidade entre ele e o chefe da Igreja. Diocleciano ordena uma
perseguição tão violenta contra os cristãos que se lhe chama a «era de Diocleciano ou dos
mártires».
Diocleciano procede a várias reformas: administrativa, económica, financeira e polític
a. Reconhece a impossibilidade de manter todo o Império sob um único comando. 0 abso
lutismo trouxe consigo o separatismo...
a) - Em 286, estabelece-se a 1 divisão do Império, ficando Diocleciano no Oriente, c
om residência em Nicomédia, e Maximiano no Ocidente, com residência em Milão, assistido
cada imperador por um consistorium 119 e por um Caesar, que é íntimo colaborador e s
erá o sucessor. A velha ideia de unidade imperial sofre, na prática, um duro golpe..
.
p-Constantino consegue outra vez a união do Império, mas por pouco tempo. As divisões
sucedem-sé.
y) - Teodósio, em 394, reune, pela última vez, Oriente e Ocidente; mas em 395, pouco
antes de morrer, divide definitivamente o Império pelos seus dois filhos, ficando
Honório no Ocidente e Arcádio no Oriente.
Em síntese, podemos indicar como factos principais da época do dominado: 1.°) a reform
a político-administrativa de Diocleciano; 2.°) o reconhecimento do Cristianismo, a p
artir do tempo de Constantino, como religião oficial 120, excepto no
119 0 consistorium era uma espécie de Conselho do Estado, formado por altos dignitár
ios militares, civis e, mais tarde, também eclesiásticos. Os cargos mais impor
tantes eram:
o praepositus sacri cubiculi, chefe da casa imperial;
magister officiorum, o encarregado da vida administrativa do Império (diríamos hoje,
ministro do interior);
o quaestor sacri palatii, uma espécie de ministro da justiça;
comes sacrarum largitionum, o ministro das finanças;
comes rerum privatarum, o administrador da fortuna pessoal do imperador. 120 Sob
re a problemática actual deste tema vid. Salvatore CALDERONE, Cons
tantino e ii Cattolicesimo (Florença, 1962), Mario AcNEs, Alcune Considerazioni
sul cosidetto «Editto di Milano» em Studi Romani 13 (1965) 424-432 e Marta
SORDI, Storia di Roma 11 Cristianesimoo e Roma (Bolonha, 1965) 377-404.
período de Juliano; 3.°) a tendência para dividir o Império entre dois imperadores, por
se considerar demasiadamente extenso; 4.°) as invasões dos povos bárbaros, por um lent
o
processo de infiltração.
V -Queda do Império Romano do Ocidente, em 476
A penetração quase insensível dos bárbaros dentro das fronteiras do Império criou, primeir
o, um verdadeiro regionalismo, a princípio no exército e depois em toda a população e, p
or último, uma barbarização geral no Ocidente. A unidade espiritual do Império passou a
ser uma pura fórmula...
Nestas condições, tudo estava preparado para o fim. Em 476, Roma cai definitivamente
- Rómulo Augusto, seu último imperador, é derrotado por Odoacro, chefe de um grupo mi
sto
de bárbaros.'
VI -Queda do Império Romano do Oriente, em 1453
0 Império do Oriente, mais rico e sobretudo mais bem organizado, não sucumbiu às invasõe
s bárbaras. Chegou mesmo, no tempo de Justiniano (527-565), a restaurar parte do v
elho Império Romano reconquistando várias regiões de Itália, Ãfrica e Hispânia. Os sucessore
s de Justiniano não conseguiram manter estas províncias.
0 Império Romano do Oriente, designado geralmente por Império Bizantino, ainda se co
nservou por mais um milénio, lutando continuamente sobretudo contra árabes e turcos.
Teve épocas de esplendor e de crise, motivadas estas não só por uma série de traições e de
assassínios, mas também por terríveis discussões teológicas, que originaram graves polémicas
nocivas aos interesses da Igreja e do Estado.
0 Império Romano do Oriente veio a desaparecer em 1453, quando os turcos se apoder
aram de Constantinopla.
80
81
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO - TIT. I - CAP. 5'
7
c) - Confronto, através duma tábua cronológica, entre a vida do " Ius Romanum" e a vid
a do "Imperium"
DATAS
ASPECTO POLITICO
ASPECTO JURIDICO
1-Época arcaica-L' etapa (753 a.C.-242 a.C.)
264
Roma inicia a fase de grande potência, lançando-se,à conquista do Mediterrâneo.
DATAS
ASPECTO POLITICO
ASPECTO JURIDICO
Tiberius Coruncanius, primeiro plebeu elevado a «pontifex maximus».
252
753 a.C.
Fundação de Roma. Fim da monarquia.
Expansão de Roma através da Península Itálica

Verdadeiro início da república, com a divisão de poderes: a iurisdictio deixa de ser u


ma simples faculdade contida no imperium para se converter no poder específico de
administrar a justiça dum modo normal.
Roma domina toda a Itália a sul dos Apeninos.
Primórdios do Ius Romanum (ius quiritium), pois «ubi societas ibi ius».
Fontes de direito: o costume (mores maiorum). Não é de admitir a existência das Leges
Regiae.
Lei das XII Tábuas (11 «lei» escrita). Leges Valeriae Horatiae.
A administração da justiça principia a sentir necessidade de ter um magistrado próprio.
Leges Liciniae Sextiae. Criação do pretor urbano.
Leges Publiliae Philonis. Lex Poetelia Papiria de nexis.
Cneus Flavius publica os formulários das «actiones»: ius Flavianum.
Lex Hortensia de plebiscitis.
A existência de súbditos de Roma, que são non-eives, cria problemas sérios ao ius civile
(ius quiritium).
Conquista da Sicília. Incorporação da Hispânia.
Destruição de Cartago e anexação da Grécia, transformada em província romana com o nome de A
caia.
1.8 revolta dos escravos na Sicília, que só termina em 132.
Continua a expansão de Roma, mas as lutas e as revoltas dos
Criação do pretor peregrino. Início do ius gentium.
Principiam a surgir alguns jurisconsultos, entre os quais é justo salientar neste
período SEXTOS AELIUS PAETUS(Catus), com a sua famosa obra «Tripertita», cônsul em 198.
Reconhecimento de certos direitos aos escravos, v.g. o ius sacrum, direito de pa
rticipar no culto doméstico. Começa o escravo a ser tratado, em alguns aspectos, com
o homem, embora juridicamente seja ainda uma res.
242
II-Época arcaica - 2.a etapa (242 a.C.-130 a.C.)
510
451-449
206
4001
146
367
135
339 326 304
287 275
130 ?
III-Época clássica-1.' etapa pré-clássica (130 a.C.-30 a.C.)
Lex Aebutia de formulis; introduz o «agere per formulas», processo típico da época clássic
a.
82
83
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO - TIT. I - CAP. 5.^ § 7
DATAS
ASPECTO POLITICO
ASPECTO JURÍDICO
ASPECTO POLITICO
ASPECTO JURÍDICO
DATAS
95
povos dominados principiam a abalar as instituições da República.
Guerra social, em que perdem a vida cerca de 30 000 homens.
Revolta dos escravos (cujo número já igualava o dos homens livres), dirigida por Spa
rtacus. São derrotados, e os prisioneiros crucificados ao longo da estrada que lig
a Cápua a Roma.
Guerras civis: 1.3 Mário e Sila (88-82), que termina pela ditadura deste último (82-
79); 88-82 e 74-63, guerras no Oriente; 2.a Pompeu e César (49-48), que termina pe
la ditadura de César; 3.a Octávio e Marco António, vitória do primeiro na batalha de Acc
io (31) e suicídio do segundo (30).
Incorporação do Egipto

Augusto, «princeps». Inaugura uma época de paz (pax augusta).


Surge, como cônsul, outro jurista de valor: Quintus Mucius SCAEVOLA, a quem se dev
e uma construção sistemática, metódica e científica do Direito.
Concessão da cidadania a quase todos os habitantes da Península Itálica - Lex Iulia, d
o a.90, e Lex Plautia Papiria, do a.89.
0 sangue e o martírio de milhares de escravos impõem ao Jus Romanum alterações à condição jur
ca do servus; começam a ser tratados, de facto, mais como pessoas do que como cois
as, embora juridicamente continuem ainda a ser considerados uma res.
Este fundo político turbulento exige do jus Romanum novas criações jurídicas, que só no pe
ríodo seguinte se vão concretizar perfeitamente.
Principiam a surgir os grandes jurisconsultos: LABEO e PRoCULUS, a constituírem a
escola proculeiana; CAPITO e SABINUS, a formarem a escola sabiniana.
Esplendor político de Roma, sobretudo 98-118 (a maior expansão do Império sob Trajano)
.
Início da crise política, com o assassinato de Cómodo, a qual irá acentuar-se extraordinàr
iamente em 235, depois da morte do último Severo (Marco Aurélio Severo Alexandre). T
ambém nos fins do séc. II, tem início a crise da desvalorização da moeda.
Edicto de Caracala, concedendo a cidadania a todos os habitantes do Império. - A e
xtensão da cidadania aos habitantes da Península Itálica, no séc. I a. C., tinha provoca
do uma crise constitucional da república; agora, a concessão da cidadania a todo o I
mpério pela const. Antoniniana origina igualmente uma crise do principado. Esta cr
ise política (que nos fins do séc. III Diocleciano tenta solucionar com as suas célebr
es reformas) é acompanhada do auge da crise da inflação monetária de que a nova moeda «Ant
oninianus», introduzida em 214, é um sintoma bem significativo.
A iurisprudentia, no séc. I, alcança nova importância social e jurídica com o «jus respond
endi ex auctoritate principis»; no séc. II, passa a fonte imediata de direito. Apare
cem então os grandes mes
tres: IAVOLENUS, IULIANUS (o maior de todos), AFRICANUS,
POMPONIUS, MARCELLUS, Q. C. SCAEVOLA.
A iurisprudentia também principia a decair. Há ainda um jurista de valor, PAPINIANus
; os restantes já não são dotados de intuição penetrante nem daquele génio subtil e criador
dos prudentes da etapa anterior. Dedicam-se a trabalhos de compilação, cuja figura máx
ima, neste aspecto,
é ULPIANUS.
A «inflação» da cidadania provocou uma «inflação» da iurisprudentia. Houve necessidade de cri
ràpidamente muitos juristas, sobretudo nas províncias, para aplicar, agora, o Jus Ro
manum a todos os súbditos do Império; começa a baixar muito o seu valor. É a grande «provi
ncial ização» do Direito Romano clássico. Caminha-se para a sua vulgarização.
27 a. C. 130 d. C.
91-88
192
73-71
88.31
212
V - Época clássica-3.a etapa, clássica tardia (212-230)
IV-Época clássica -2. a etapa, clássica central (30 a.C.. -212 d.C.)
30 a. C.
84
85
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO- TIT. I - CAP. 5.
§1
DATAS
ASPECTO POLITICO
ASPECTO JURIDICO
ASPECTO POLITICO
ASPECTO JURIDICO
DATAS
228
Ocidente
pério Romano do Ocidente, em 476
Oriente
VI - Época post-clássica (230-530)
s6cs. III e IV
Decadência política. - Triunfa a ideia da monarquia absoluta, tipo oriental; anarqui
a (235-284). A enorme crise económica provoca grande aumento de impostos; para gar
antir a sua cobrança, surge um intervencionismo imperial em toda a vida económica e
administrativa da época, arruinando-se quase por completo o sistema municipal.
Teod6sio I
Ocidente Oriente
395-423 - Ho- 395-407 - Arnório cádio
423.425-João 408.450-Teodósio II
425-455 - Valentiniano III
475-476 - Rémulo Augusto. Queda do Im
ULPIANUS é assassinado pelos soldados pretorianos. MoDEStINUS é o último jurista clássic
o.
Decadência jurídica. - Começam a desaparecer os juristas; surgem os escoliastas. As pr
oduções jurídicas deste período reduzem-se a trabalhos de mera reedição, resumos e compilaçõe
e obras clássicas, v.g. as Pauli Sententiae, os Tituli ex corpore Ulpiani, os Frag
menta Vaticana, etc. Simultãneamente, fazem-se coles ções de constituições imperiais promu
lgadas desde Adriano a Diocleciano; surgem o Codex Gregorianus (que contém as cons
tituições até ao a. 292) e o Codex Hermogenianus (que contém sobretudo constituições de Dioc
leciano dos anos
293 e 294).
Lei das citações (426) Codex Theodosianus (438) Novellae post-Theodosianae
Após a queda do Imp. Rom. do Ocidente, os estudos de DR diminuem no Ocidente, e as
compilações jurídicas não são já de DR puro, mas de Direito Romano Vulgar (leis romano-bárba
as): Codex Euricianus (476); Lex Romana Wisigothorum (506); Edictum Theodorici;
Lex Romana Burgundionum, etc.
Os estudos de DR no Oriente, mesmo depois da queda do Império do Ocidente, continu
am florescentes, sobretudo nas escolas de Beirute e de Constantinopla.
Assombrosa compilação do Ius Romanum - o CORPUS IURIS CIVILIS. 529: Codex Vetus 530-
533: Digesta (const. «Deo
auctore» de 530, e
«Tanta» e «Omnem»
de 533).
533: Institutiones (const. «Im
peratoriam maiestatem»). 534: Codex (repetitae praelec
tionis) (const. «Condi»). 535-565: Novellae
518-527 - Justino I
VII-Época justinianeia (530-565)
379-395 395
527-565 - Justiniano. Esplendor político: reconquista de parte da Itália, da África e
da Hispânia.
86
87
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO - TIT. I - CAP. 6.°
§8
Capítulo 6.° - TRADIÇÃO ROMANISTA (Direito Romano, lato sensu) - (sécs. VI-XX)
I-Supervivência do «lus Romanum» II-Estudo do «Ius Romanum»
I-Supervivência do «Ius Romanum» (sécs. VI-XX)
SUMÁRIO - 8. 0 fenómeno a) no Oriente b) no Ocidente
8. Depois da queda de Roma, em 476, o lus Romanum não desaparece, mas continua 121
; depois da; codificação ordenada por Justiniano, no séc. VI, não fica morto ou fossiliz
ado, mas permanece vivo. É com este significado de vida e de continuidade, quer di
zer, de aplicação prática, que a maioria dos AA. costumam falar da «supervivência do lus R
oma'vum» .
a) No Oriente - Depois da morte de Justiniano (565) até à queda de Constantinopla (1
453), o Direito Romano continuou naturalmente a ser o direito do Império oriental,
pois entre este império e o antigo Império Romano de que se tinha desmembrado defin
itivamente em 395, não houve qualquer interrupção. Simplesmente, a princípio (isto é, até ao
séc. VIII), o Direito Romano vigente no Oriente era só o da compilação jus
121 Por isso, alguns autores, em vez de «supervivência», falam de «continuidade» do Jus Ro
manum. Cf. CALASSO, Pensieri sul problema delia continuità con particulare riguard
o alia storiografia italiana em Relazioni dei X Congresso Internazionale delle S
cienze Storiche (Roma, 4-11 St.° 1955) VI 521-609, WIEACKER, Privatrechtsgeschicht
e der Neuzeit2 (Gotinga,1967) 43-45. Julgamos preferível a expressão «supervivência»; indi
ca melhor a ideia de persistência do ordenamento jurídico romano, mesmo depois do de
saparecimento de Roma, que foi quem o criou, e essa persistência quer em Roma (Itáli
a) quer forá de Itália e até para além do Ocidente.
tinianeia (C. I. C.), embora por vezes exposta em certos resumos, índices, traduções,
paráfrases, comentários ou extractos. A partir do séc. VIII, começaram a surgir várias col
ecções do lus Romanum, privadas e autênticas, devendo destacar-se entre todas os Basílic
os, no séc. X 122, e o Hexábiblos, no séc. XIV. Então o Direito Romano vigente no Orient
e passou a ser o contido nessas colecções, pois era um lus Romanum devidamente adapt
ado aos novos tempos e às novas circunstâncias sociais. Esse Direito Romano assim «act
ualizado» para o Oriente é conhecido por «Direito (Romano) Bizantino», e, a partir de me
ados do séc. XIX, também por «Direito Greco-Romano» 123. No fundo, trata-se sempre dum d
ireito essencialmente romano.
Depois da queda de Constantinopla (1453) e da formação do estado da Turquia, o Direi
to Romano continuou vigente ou exerceu influências na formação dos Direitos dos vários p
aíses orientais. Na Grécia, o Hexábiblos e as Novellae de Justiniano estiveram em vigo
r até à publicação do seu Código Civil, em 1940. A Turquia, a Roménia, a Bulgária, a Rússia,
. têm os respectivos Direitos formados de princípios e de preceitos do lus Romanum,
quase sempre tomados na sua forma bizan
tina 124
122 Constam de 60 livros. É uma obra em língua grega, onde se refunde todo o materia
l do Corpus luris Civilis, segundo um critério unitário e de harmonia com a ordem do
Codex; nos sécs. X a XIII, acrescentaram-se-lhe os escólios. Dos Basílicos fizeram-se
vários extractos, nomeadamente uma Synopsis Basilicorum, do séc. X, e outra mais br
eve e posterior, Synopsis minor.
123 A designação de «Direito Greco-Romano», em vez de «Direito Bizantino», para significar o
Direito Romano vigente no Oriente a partir do séc. VIII, é muito discutível. Cf., por
todos, BERGER, Pourquoi ius Greco-Romanum? em BIDR 55/56 (1951) 290 ss. Vid. ta
mbém Atti dei Convegno Internaziona/e sul Tema, l'0riente Cristiano (Roma, 1964) 3
43 ss.
Também é discutível se o Corpus luris Civilis, após a promulgação dos Basílicos, deixou de se
aplicar. Cf. BERGER, Studi sui Basilici. IV La Legi.slazione di Giustiniano ed i
Basilici em lura 5(1954) 87-125.
124 Sobre este tema vid., por todos, Alexander V. SoLOVIEV, Der Einfluss des Byz
antinischen Rechts auf die Vólker Osteuropas em SZ 76(1959): I. Rãmisches Recht in W
est-und Osteuropa 432-437; II. Byzantinisches Recht in Bulgarien 437-443; III. B
yzantinisches Recht in Serbien 443-452; IV. Bysantinisches Recht in Rumennischen
Lãndern 453-458; V. Byzantinisches Recht in Russland 458-472.
Veja-se também Rodolfo SACCO, 11 Sustrato Romanistico dei Dirittto Civile dei Paes
i Sozialisti em Riv. Dir. Civile 15(1969) 115-131.
88
89
DIREITO ROMANO
b) No Ocidente-Em todos os países da Europa (Itália, França, Portugal, Alemanha, Bélgica
, Holanda, Polónia, etc.), o Direito Romano esteve vigente, por mais ou menos temp
o, duma ou doutra forma -ou na forma de «direito justinianeu» ou na de «direito romano
-bárbaro» ou na de «direito comum» ou na de «direito pandectístico» -, até à publicação dos r
s códigos civis.
Seria muito interessante verificar a supervivência do «Ius Romanum» em cada um destes
países, mas essa análise levar-nos-ia muito longe e afastava-nos do escopo principal
desta disciplina, segundo o método que vamos adoptar (cf. infra
§ 16-c) )125
Ao menos, fique-nos como ideia geral o seguinte: o Direito Romano, devidamente a
daptado ou comentado, se esteve assim em vigor, tantos séculos, não podia desaparece
r totalmente com a publicação desses novos códigos civis. E não desapareceu. Esses códigos
não matam o Ius Romanum; consagram-no.
Essa consagração é feita directamente pelos dois melhores códigos civis da Europa: o Fra
ncês, de 1804, de quem WINDSCHEID afirma - «é uma síntese admirável dum bom manual de Dire
ito Romano»; e o Alemão, de 1900, de quem GIERKE diz - «são as Pandekten de WINDSCHE1D t
ransformadas em parágrafos». Como é sabido, estes dois códigos vão depois influenciar os cód
igos de quase todo o mundo. Do Cód. Francês receberam influência, entre outros, o Cód. I
taliano (de 1865), o Português (de 1867), o Romeno (de 1869), o Egípcio (de 1875), o
Espanhol (de 1889), e vários códigos das Américas do Sul e Central; do Cód. Alemão, o Cód.
Suíço (de 1911), o Brasileiro (de 1916), o Chinês (de 1929), o Grego (de 1940), etc.
125 Para uma síntese sobre o problema da vigência do Direito Romano nos vários países da
Europa, vid., por todos, ROBLEDA, Ius Privatum Romanum I. Introductio (Roma,196
0) 5-21.
INTRODUÇAO - TIT. I -CAP. 6.° §§ 8-9
Conclusão: desta maneira, os princípios do Ius Romanum, directa ou indirectamente, e
m maior ou menor grau, informam todos ou quase todos os códigos da actualidade 126
. Isto constitui a melhor prova da sua supervivência.
Capítulo 6.0-TRADIÇÃO ROMANISTA (continuação)
II-Estudo do °lus Romanum» (sécs. VI-XX)
SUMARIO-9. Períodos e Escolas
PRIMEIRO período (sécs. VI-XI): no Oriente, o estudo do «Ius Romanum» ainda
é feito com esplendor; no Ocidente, decadência quase total.
SEGUNDO período (sécs. XI-XX). Só interessa o Ocidente. Fenómeno da «recep
ção do Direito Romano».
Escolas:
«mos 1) -Escola dos glosadores. Factores originários desta escola
italicus» 2) -Escola dos post-glosadores ou comentadores
3) -Escola culta (humanista, elegante) ou «mos gallicus» (sécs. XVI-XVIII)
4) - Escola do Direito Natural (sécs. XVIII-XIX)
5) - Escola Histórica Alemã (séc. XIX). Savigny.
Duas orientações científicas: a) - histórico-crítica
b) - dogmático-pandectística ou «usus modernus pandectarum».
Código Civil Alemão (BGB)
PRIMEIRO período (sécs. VI-XI)
9. No Oriente, o estudo do «lus Romtcnum» ainda é feito com esplendor-Depois da queda
do Império do Ocidente
126 A bibliografia sobre este tema é abundantíssima. Para uma análise do seu aspecto g
eral -influência dos princípios do Ius romanum no Direito actual - vid., por todos,
J. MÜLLER, Roma Criatrix et interpers institutionum iuris universalis em
90
91
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO - TIT. I - CAP. 6.°
§9
(476) e mesmo depois da compilação do lus Romanum e da morte de Justiniano (565), o
estudo do Direito Romano no Oriente, sobretudo nas escolas de Beirute 127 e de C
onstantinopla, continua a ser feito ainda com bastante elevação.
A literatura jurídica é abundante e variada. De início, além de obras de tradução, escrevem-
se comentários breves ao Corpus luris Civilis, os escólios (muitos deles conservados
hoje nos Basílicos; vid. supra n.122) ; depois, surgem os trabalhos de síntese, de
reelaboração e de confronto de várias partes da compilação justinianeia; finalmente, apare
cem obras autónomas, entre as quais devem sublinhar-se, no séc. VIII, a Êcloga; nos sécs
. IX
Acta Congressus luridiei Internationalis (Roma 12-17 Nov. 1934) V (Roma,1937) 49
1-497, G. CRIOVENDA, Sulla influenza delle idee romane nella formazione dei proc
essi civili modern! em Atti dei Congresso Internazionale di Diritto Romano (Bolo
gna e Roma XVII-XXVII Aprile MCMXXXIII)-Bologna II (Pavia,1935) 411-438, e R. OR
ESTANO,11 Diritto Romano nella Scienza del Diritto em Jus 2(1951) 141-178.
Para um exame da influência do Direito Romano nos vários países, concretamente na Itália
, Alemanha, França, Áustria, Espanha, Holanda, Bélgica, Suíça, Checoeslováquia, Roménia, Rúss
Inglaterra, Escócia, Estados Unidos, Argentina, Brasil, China, Japão, etc., etc., v
eja-se a bibliografia indicada por Ursicino ALVAREZ, Horizonte Actual del Derech
o Romano (Madrid,1944) 14-17, notas 12 e 15, e por ROBLEDA, Ias Privatum Romanum
, cit. 18-19, notas 34 a 41.
Sobre a influência do Direito Romano no Direito Português, vid. MERÊA, Lições de História do
Direito Português (Coimbra,1933) 104-109, Direito Romano, direito comum e boa razão
em Boletim da faculdade de Direito 15(1939-1940) 539-543; BRAGA DA CRUZ, História
do Direito Português (Coimbra,1960) 318-322, Formação Histórica do direito privado port
uguês e brasileiro em Scientia luridica 4(1955) 234-264; Nuno Espinosa GOMES DA SI
LVA, Humanismo e Direito em Portugal no Século XVI (Lisboa,1964) 31-34, 43-45, 55-
65, 138-143, 191-194, 218 e 358-361.
Sobre a influência do Direito Romano no Direito Canónico:
a) - em geral, vid. bibliografia indicada por ROBLEDA, o. C. 14-17, notas 23 a 3
2, e pela Rev. Apollinaris 35(1962) 202-204;
b)- no actual Código de Direito Canónico, que data de 1917, cf., por todos, BouCAUD,
Relationes inter Ias Romanum et Codicem Benedicti XV em Acta Congressus Interna
tionalis (Roma 12-17 Nov. 1934) IV (Roma,1937) 41-50.
127 Essa escola no séc. V tinha alcançado o seu apogeu; é o chamado «período dos mestres e
cuménicos». Esses mestres assombraram o Oriente com as suas doutrinas. (Cf. Sebastião
CRUZ, Da «Solutio» lI (Coimbra, 1972) 23; vid. Actas del 11 Congreso Espanol de Estu
dios Clásicos (Madrid, 1964) 199.
92
e X, os Basílicos (direitos reais, isto é, direitos dos reis) ; e no séc. XIV, o Hexálnb
los.

No Ocidente, decadência quase total - Depois da queda do Império em 476 e desde o séc.
VI ao séc. XI, o estudo do Direito Romano no Ocidente, segundo parece, entrou em
profunda crise.
As opiniões dos AA. sobre este problema divergiam muito, sendo representantes das
opiniões extremas Hermann FITTING
(defendendo que a ciência jurídica no Ocidente, sobretudo em Itália, nos sécs. V-XI, tev
e períodos de verdadeiro esplendor e que, portanto, a Escola de Bolonha significa
até um retrocesso e não um renascimento) e Max CONRAT (dizendo que não houve qualquer
movimento científico jurídico, no Ocidente, nos sécs. V-XI). A discussão sobre estas pos
ições exageradas, de FITTING e de CONRAT, apaixonou outros estudiosos. As polémicas su
cederam-se.
Hoje, a opinião mais comum sustenta que o Direito Romano era ensinado, pelo menos
principalmente, nas escolas monásticas e nas catedralícias ou episcopais 128, pois a
Igreja, nos seus primeiros séculos, juridicamente, vivia do lus Romanum; é a própria
Lex Ripuaria, tit. 60 § 1, que o refere: «...secundum legem Romanorum Ecclesia vivit».
E, mesmo nestas escolas eclesiásticas, não era estudado como uma disciplina autónoma,
mas como um simples ramo da gramática ou da retórica e sem uma direcção científica.
É provável que, nestes cinco séculos (VI-XI), houvesse também uma ou outra escola civil
(isto é, não-eclesiástica) que ensinasse Direito Romano, sobretudo nalguma daquelas re
giões que permaneceram ligadas ao Império Bizantino (Veneza, Ravena e várias cidades d
o sul da Itália, da Sicília e da Sardenha).
128 CALASSO, Médio Evo del Diritto 1. Fonti (Milão,1954) 267-279, mostra que, nos sécs
. VI-XI, no Ocidente, houve um certo ensino geral do lus Romanum; no mesmo senti
do, Pierre R1cH , Education et Culture dans l'Occident Barbare (Paris, 1962) 182
-184. Vid. Annali di Storia del Diritto 9(1965) 435 ss.
93
I
AI
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO - TIT. I - CAP. 6
Nestas circunstâncias, encontra-se principalmente a escola jurídica de Ravena. Ignor
a-se a sua origem. Mas parece certo: 1 ° - que existiu;
2.o - no séc. VIII e princípios do séc. IX, alcançou até um certo brilho;
3.0 - foi o instrumento ou meio transmissor para o Ocidente (sobretudo para Bolo
nha) do saber jurídico do Oriente;
4.0-nos meados do séc. IX (uns anos após a morte de Carlos Magno, em 814), desaparec
e e toda a sua técnica jurídica passa, então directamente, para Bolonha 129.
SEGUNDO período (sécs. XI-XX). Só interessa o Ocidente. Fenómeno da «recepção do Direito Roma
o». Escolas 139
A razão fundamental da grande supervivência do lus Romanum está no chamado fenómeno da «re
cepção do Direito Romano».
A «recepção do Direito Romano» é a penetração das ideias, dos princípios e das instituições,
ito do «Ius Romanum» na vida jurídica da Europa.
Esse fenómeno verifica-se no Ocidente; e, por isso, só nos interessa analisar no Oci
dente este período (sécs. XI-XX) da tradição romanista. Não é simultâneo, pois na Itália dá-s
fins do séc. XI e princípios do séc. XII, na França e na Inglaterra no séc. XII, na Espan
ha e em Portugal no séc. XIII, na Holanda e na Polónia no séc. XIV, na Alemanha nos sécs
. XVI e XVII, etc.; é a causa próxima ou remata, das várias escolas.
129 Cf. Studi e Memorie per Ia Storia dell'Università di Bologna I (Bolonha, 1956)
99-101, CALASSO, Médio Evo, cit. 281, e Storia e Sistema delle Fonti dei Diritto
Commune (Milão,1938) 307-311.
130 Esta parte é dada, aqui, em forma bastante esquemática e unicamente para sublinh
ar o aspecto romanístico, pois na cadeira de «História do Direito Português» é ensinada em p
ormenor e acentuando o aspecto historiográfico. (Cf. BRAGA DA CRUZ, História do Dire
ito Português [Coimbra,1960] 298 ss.).
94
A «recepção> é um fenômeno muito complexo"' E um caso especial de penetração cultural: a admi
são voluntária de partes essenciais ou principais dum ordenamento jurídico estranho (v
. g. estrangeiro ou extinto) por um povo, sem que este tenha sido dominado ou su
bmetido por aquele povo a quem de alguma forma pertence esse tal ordenamento juríd
ico.
No meio da complexidade da «recepção do Direito Romano> em toda a Europa, devemos nota
r principalmente o seguinte
a)-O Direito recebido não foi o Direito Romano clássico nem sequer o Direito justini
aneu histórico, mas a doutrina que os glosadores e os comentadores tinham criado e
experimentado profissionalmente, tendo por base o Corpus Iuris. Expressa bem o
sentido da «recepção> aquele provérbio criado na Alemanha no séc. XVII-«quidquid non agnosci
t Glossa, non agnoscit Curia («o que a Glosa não reconhece, também o tribunal não reconh
ece>). E que a «recepção> efectuou-se principalmente através dos alunos que se tinham fo
rmado (recebido formação jurídica) nas universidades de Bolonha e de Perusa; e portant
o «viam o Direito Romano com os olhos dos seus mestres>.
b)-O processo de infiltração deste Direito Romano, assim cientificado (sobretudo pel
os comentadores), realiza-se, gradualmente, através das opiniões dos novos professor
es doutorados em Bolonha ou em Perusa (tenham-se presentes os casos de Placentin
o em Montpellier e de Vacário em Oxford), dos juizes, dos jurisconsultos, dos notári
os, etc., formados nessas universidades.
c) - A «recepção> não se processa dum modo Igual para os diversos países; foi diferente qu
anto à forma e variável quanto à intensidade; mas quase nenhum país europeu deixou de re
ceber a sua Influéncia.
d)-Os efeitos da «recepção> também são muito diferentes. Vão desde a assimilação dumas quanta
ormas de pensar-jurldico romano (como na Inglaterra) até à consagração e adopção de muitas n
ormas concretas e de toda a construção dos conceitos jurídicos do Ius Romanum (como na
Alemanha).
e)-Uma das consequências mais importantes da «recepção> é a criação da convicção, na consciên
ica pública, de que o Direito Romano, em todas as suas partes, tem plena «vigência> (o
u mais rigorosamente, «autoridade cientifica>); é a ratio 8cripta (a «razão escrita>); «a
revelação jurídica>; a última palavra em questões de direito. Nunca mais deixará de ser invo
cado: ou como norma em vigor; ou como norma supletiva ou subsidiária; ou como norm
a ou princípio de orientação. 0 Corpus luris Civilis é tratado como uma «bíblia jurídica»; qu
intocável. (Vid. D'ORs em Actas 11 Cong. Esp., cit. 200).
Vid., por todos, sobre esta matéria, F. WIEACKER, Privatrechtsgeschichte
der Neuseit2 (Gotinga,1967) 124-152.
95
131
DIREITO ROMANO
0 renascimento do Jus Romanum começa nos fins do séc. XI com a chamada
1) -Escola dos glosadores, de Bolonha (sécs. XII-XIII)
0 «nascimento» da ciência jurídica em Bolonha está integrado no movimento cultural geral d
a Europa, que durante o séc. XI avançou até às camadas mais profundas da cultura antiga.
E uma consequência fatal dessa movimentação. Todavia, pelo menos dois factores'' ajud
aram (ou facilitaram) a criação desse «entusiasmo científico» (como lhe chama GOETZ) pelo
estudo do Corpus Iuris, com uma intensidade totalmente nova:
1) -A influência da ciência jurídica do Oriente (nessa altura, sécs. VI-XI, em época de es
plendor), sentida quer através da escola de Ravena (cf. supra 94) e da cultura de
Veneza e de Milão', quer directamente"';
2) - a descoberta em Pisa, no séc. XI, dum manuscrito completo do Digesto, que des
pertou em Irnério uma apaixonante curiosidade científica, levando-o a fazer um estud
o consciencioso sobre esse texto. Estavam lançadas as bases das investigações sobre o
Corpus luris...
- [Esse precioso manuscrito do Digesto, que data dos fins do séc. VI, esteve em Pi
sa até 1406, ano em que foi trazido, como troféu da derrota desta cidade, para a bib
lioteca Laurenciana de Florença, onde se encontra. Em virtude destes factos, é conhe
cido por littera pisava, mas sobretudo por littera florentvna; vid. infra 497] -
Irnério, professor de gramática e dialéctica («magister in artibus») aí em Bolonha, foi o fu
ndador da Escola.

132 Geralmente, os AA. indicam mais um outro factor, e quase como decisivo: cert
as condições economicas e políticas das cidades do norte de Itália (de que Bolonha era a
mais importante) a exigirem a elaboração dum direito mais perfeito. Recentemente, c
onsidera-se que isso em nada contribuiu para o «nascimento» da ciência jurídica em Bolon
ha; cf. WIEACKER, Privatrechtsgeschichte, cit. (ed. de 1967) 47.
113 Sobre Ravena, servindo de ponte entre o Oriente e o Ocidente em vários aspecto
s da cultura, principalmente da arte religiosa, e sobre o aspecto referente a Mi
lão, embora em menor grau, vid. E. SYNDICUS. La Primitiva Arte Cristiana (Roma,196
2), A. SYMONINI, La Chiesa Revennate. Splendore e Tramouto di tina Metropoli (Ra
vena, 1964), A. Boslslo, Di Alcuni Rapporti fra Milano e Bisancio em Studi Stori
ci in Memoria di Mons. Angelo Mercati (Milão,1956) 95-122, e Études Historiques in M
emoria de Noel Didier (Paris,1965) 205 ss.
134 Vid. PRINGSHEIM, Beryt und Bologna, em Symbolae Friburgenses in hon. 0. Lene
! (Leipzig, 1931) 204-285 passim. Cf. Actas 11 Cong. Esp., cit. 199.
INTRODUÇÃO - TIT. I - CAP. 6^ § 9
Aplicou ao estudo do Corpus luris, sobretudo à análise do Digesto ou Pandectas 135,
o método exegético, com breves comentários ou glosas (marginais ou interlineares), o q
ue deu a designação à escola. A interpretação dos textos justinianeus é literal, minuciosa e
subtil, chegando a resultados, neste aspecto, ainda hoje apreciáveis e dignos de
consulta. Mas essa interpretação, embora tipicamente filológica (Cf. D'ORs em Actas II
Cong. Esp., cit. 198 e 199), é feita sem atender a
critérios cientificamente filológicos e históricos hoje existentes, e até sem a preocupação
de adaptar esses textos jurídicos
às realidades sociais do tempo.
0 principal valor da Escola dos glosadores está em ter descoberto e anunciado à Euro
pa, sobretudo através dos seus alunos, a importância do Corpus luris.
Discípulos mais notáveis de Irnério: Martinus, Bulgarus, Jacobus e Hugus.
Acúrsio é figura muito importante, por ter reunido os vários resultados desta escola n
a chamada Glosa Ordinária ou «Magna Glossa de Acúrsio».
2) -Escola dos post-glosadores ou comentadores ou «consiliatores», de Perusa (sécs. XI
II-XV). Estes juristas empregam o método dialéctico ou escolástico (então em uso, devido
ao reaparecimento dos textos de Aristóteles) e comentam (daí a designação de «comentadore
s») não já directamente o Coreus Iuris mas as glosas dos sécs. XII e XIII, sobretudo a «Ma
gna
135 É um dos paradoxos da história (afirma H. J. WOLFF, Introducción Histórica al Derech
o Romano, cit. 208) que a obra de Justiniano, que estaria destinada a exercer ma
ior influência na Europa Ocidental - o Digesto ou Pandectas -, nunca
tivesse estado vigente no Ocidente e tivesse permanecido tantos séculos pràticamente
desconhecida até ao séc. XI. Vid. supra 96.
Na verdade, o Corpus luris, no tempo de Justiniano, esteve em vigor no Ocidente
apenas em Itália, por força da pragmatica sanctio, de 554 - cf. CALASSO, Medio Evo,
cit. 82. - [Sobre o significado deste tipo de constituição imperial, denominada prag
matica sanctio, vid. infra § 26, al. b), 11-5 destas Lições]. - Porém, só estiveram em vig
or pràticamente as Institutiones, o Codex e as Novellae e nunca os Digesta ou Pand
ectae. No séc. XI, descobre-se a celebérrima florentina (vid. supra 96); e esse fact
o, enquadrado num ambiente criado por várias circunstâncias a que já fizemos alusão, des
perta um enorme entusiasmo pelo estudo primeiramente e sempre primàriamente das Pa
ndectas e, depois, de todo o Corpus luris.
1
96
97
1
DIREITO ROMANO
Glossa» de Acúrsio (dai o serem também chamados «acursianos»). São os verdadeiros fundadores
da ciência jurídica, pois o comentário penetra no sensos da norma, enquanto a glosa s
e preocupa únicamente cotfi a littera da norma. Mais; o comentário é já um tratado orden
ado sobre institutos concretos, procurando actualizar e harmonizar o Direito Rom
ano com o direito estatutário das cidades de Itália e com o Direito Canónico. E esse D
ireito Romano, assim modificado sobretudo com elementos de Direito Canónico 138, c
onstitui o chamado ius commune 111- direito comum, a sobrepor-se a todos os dire
itos particulares dos povos românicos (Itália, França, Portugal, Espanha, etc.), estab
elecendo um sentimento de unidade espiritual e fundando uma verdadeira ciência juríd
ica europeia.
Figuras principais desta escola: Cino de Pistoia, Baldo e sobretudo Bártolo. Por i
sso, a escola dos post-glosadores também é conhecida por «escola dos bartolistas».
Bártolo, de Saxoferrato, apesar de ter morrido muito novo (1314-1357), foi um dos
maiores juristas de toda a história. As suas doutrinas influenciaram a Europa inte
ira, porque ele foi
verdadeiro artifice do ius commune (Direito Romano Comum),
este foi recebido, como já dissemos, com maior ou menor intensidade, no ensino e n
a prática judicial de toda a Europa, até à formação das codificações que seguiram o exemplo d
Código
Francês, de 1804. Foi «o jurista mais profundo e mais genial de todos os tempos> (af
irma SOLMI); dotado de uma actividade verdadeiramente prodigiosa, e «prodigiosa (d
iz ASTUTI) quanto
quantidade e - o que é raro-quanto à qualidade>. Criaram-se em várias universidades da
Europa cátedras especiais só para ensinar as doutrinas de Bártolo, pois era adágio corr
ente«nemo bonus Turista nisi bartolista («ninguém é bom jurista, se não for bartolista>)'m
.
A par do direito do Corpus luris de Justiniano (ou nele baseado), o único sistema
jurídico que despertava interesse académico era o Direito Canónico. Por isso, as grand
es universidades da Europa concediam os graus de «Doctor in utroque lure», doutor em
ambos os direitos, isto é, em Direito Canónico e em Direito Romano.
137 Cf. ROBLEDA, lus Privatum Romanum, cit. 19-21; Apollinaris 35(1962) 184; WIE
ACKER, Privatrechtsgeschichte, cit. (ed. de 1967) 82-85
138 Vid. Bartolo da Sassoferrato Studi e Documenti per il VI centenario 2 vols.
(Milão,1962).
Sobre o Bartolismo, vid. An. Storia Dir. 9(1965) 409-414, 472-520.
98
INTRODUÇÃO - TIT. I - CAP. 6. § 9
As escolas dos glosadores e dos post-glosadores formam o chamado sistema do «mos i
talicus», em que a finalidade do estudo do Direito era essencialmente prática.
3 - Escola culta, de Bourges, ou jurisprudência humanista (ou elegante) ou «mos gall
icus» (sécs. XVI-XVIII). Foi fundada, nos meados do séc. XVI, pelo italiano Alciato e
pelo holandês Víglio de Ayatta. Esta escola é dominada pelo espírito do renascimento; re
presenta um oásis de historicismo nos estudos do Direito Romano. Dedicam-se à descob
erta de manuscritos do Corpus luris Civilis, à sua leitura e, portanto, a um estud
o histórico-crítico do material das fontes jurídicas romanas. Pela primeira vez se enf
renta o problema das interpolações. Mas seria erróneo pensar que o Humanismo Jurídico é do
minado únicamente pelo vigor erudito, sem uma certa
preocupação pela prática (ef. D'ORs em Actas 11 Cong. Es p., cit. 200 e 201).
Os seus representantes principais foram franceses (por isso é designada por «escola
do mos gallicus»), à frente dos quais deve colocar-se o eminente Cujácio, talvez o mel
hor conhecedor do Direito Romano de todos os tempos (parece que sabia de memória t
odo o, Corpus luris Civilis). Houve representantes notáveis de outras nacionalidad
es: António de Gouveia, português; António Agostinho, espanhol; Alciato, italiano, etc
. São ainda nomes ilustres desta escola: Donelo, António Fabro, Dionísio Godofredo, Ha
loandro, Voet.
4) - Escola do Direito Natural (sécs. XVIII-XIX). Esta escola, influenciada e enqu
adrada no movimento cultural do Iluminismo, considera o direito como um produto
da razão humana,
igual para todos os povos, comum para todos os tempos.
Fundada por Hugo Grócio e continuada sobretudo por Leibnitz e Thibaut, esta escola
racionalista abalou os estudos do Direito Romano em toda a Europa, visto que, p
or um lado, o lus Romanum não era já considerado mais, como até então acontecia, a ratio
scripta do Direito; por outro lado, esta escola
99
136
1
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO- TIT. I -CAP. 6.°
§§ 9-10
favorecia o movimento codificador e então as legislações nacionais reagiam contra a vi
gência do Direito Romano.
Foi a Alemanha, onde a recepção («die Rezeption») se verifica sómente nos sécs. XVI e XVII,
quem salvou os estudos e a vigência do Direito Romano desta enorme crise. Era talv
ez o único país que estava assim preparado para criar uma nova escola, que provocass
e um outro «renascimento» do Direito Romano. Surgiu então a
5) -Escola Histórica-Alam (séc. XIX). Embora tivesse precursores, o seu verdadeiro f
undador é SAVIGNY (1779-1861). Esta escola, caldeada pelo romantismo, sustenta que
o Direito não é um mero produto da razão, mas a «manifestação da consciência popular» (Volks
st).
Em relação ao Direito Romano, a escola histórica-alemã tomou duas direcções científicas disti
tas:
a) -histórico-crítica, defendendo a necessidade absoluta de preparar boas edições de tex
tos. Neste aspecto, verifica-se uma continuação do humanismo jurídico do séc. XVII, prop
ugnado, como vimos, pela escola do «mos gallicus»; e os representantes desta orientação
da escola histórica afirmam-se como historiógrafos puros ou filólogos do Direito Roman
o -MoMMSEN, BRUNS, KARLOWA, GRADENWITZ, BLUHME, LENEL (na Alemanha), FERRINI, SC
IALOJA, PEROZZI, BONFANTE, SEGRÈ (na Itá
lia), etc.;
b) -dogmático-pandectística, adaptando cientificamente o ius privatum romano (repres
entado sobretudo pelas Pandectae de Justiniano) às bem complexas, e por vezes bast
ante diversas relações privadas modernas. Daí a designação desta orientação científica-«usos
nus Pandectarum» ou simplesmente «Pandectística».
Representantes mais notáveis: IHERING, BRINZ, DERNBURG, PUCHTA, VANGEROW e sobretu
do WINDSCHEID.
A pandectística entregou-se a um doutrinarismo jurídico,
que ainda hoje assombra pela sua agudeza e engenho.
Da Paandectística nasceu o BGB - Bürgerliches Gesetzbuch
(Código Civil Alemão), de 1900, um dos melhores códigos de
todos os tempos e que é, sem dúvida, a maior consagração do
Direito Romano.
Capítulo 7.° - DIREITO ROMANO (sensu latissimo)
10. 0 Direito Romano sensu latissimo compreende o lus Roman^ vigente em Roma e n
o seu Império durante 13 séculos, assim como a tradição romanista que já conta 14 séculos.
Essa tradição romanista (quer do Ocidente quer do Oriente, e quer dos países que tiver
am a «recepção» quer dos outros países do resto do mundo que sentiram simplesmente qualque
r espécie de influência do Direito Romano), é formada estruturalmente pelo direito do
Corpus Iuris Civilis. Esse direito, porém, foi adaptado às necessidades dos tempos,
modificado principalmente por elementos jurídicos canónicos, cientificado segundo as
directrizes das várias escolas. Por isso, BIONDi afirma: «o Direito Romano (neste s
entido amplíssimo) dá a impressão dum rio majestoso, que, através do seu longo curso (27
séculos!), continuamente abandona e absorve elementos, segundo o tempo e os países
que banha, mas que avança sempre; não têm faltado nem faltam tentativas para impedir
-lhe o curso, mas a corrente continua» 139.
139 Blorrol Aspetti Universali e Perenni del Pensiero Giuridico Romano em Jus 7(
1956) 147.
100
101
Título II -FASES CARACTERÍSTICAS DO ESTUDO DO DIREITO ROMANO
SUMARIO 140 -11. I.' fase (até cerca de 1900). Carácter dogmático
-prático, excepto a escola do «mos gallicus»
12. 2.a fase (desde 1900 a 1950?). Carácter histórico-crítico. Fase de profunda
crise dos estudo (no seu aspecto jurídico) e do ensino do DR. Factores que
concorreram para essa crise:
a) Factores de ordem interna (ou do mundo jurídico)
I - orientação não-estritamente jurídica dada aos estudos romanísticos a partir de 1900, e
essa orientação, além disso, não uniforme 1 crítica das interpolações (abusos: BESELER) 2 -
studo das influências helénicas (abusos: BONFANTE e ALBERTARIO) 3-carácter meramente h
istórico do estudo do DR (abusos: L.
WENGER)
4 - reacção oposta, mas exagerada, de RICCOBONo 5 - solução de emergência proposta por Kos
CHAKER
11 - crítica dos outros juristas
b) Factores de ordem externa (ao mundo jurídico)
I-decadência dos estudos clássicos
H - perseguição feita a romanistas e proibição do ensino do DR, movida por certas corren
tes políticas: comunismo; nacional-socialismo
13. 3.3 fase (desde 1950). Carácter: inicialmente, neohumanista; agora, deve ser h
istórico-crítico e dogmático-prático. Esplendor. Factores:
a) obras de KOSCHAKER
b) Congresso de Verona, de 1948
1' Fase dos estudos de Direito Romano
11. A 1 a fase característica dos estudos de Direito Romano vai desde a sua vida e
m Roma e da sua posterior supervivência, mais ou menos em todo o mundo, até cerca do
ano
140 Este sumário e os três seguintes baseiam-se e pressupõem o conhecimento da separat
a Actualidade e Utilidade dos Estudos Romanisticos (Coimbra,1962) 24
103
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO TIT. II
§§ 11-12
de 190.0. Durante 27 séculos, verifica-se uma vigência: em forma original, no império
romano, até ao séc. VI d.C.; em forma adaptada, desde o séc. VI, e principalmente desd
e o séc. XII, na Europa e noutros países, até cerca de 1900, havendo neste longo espaço
de 14 séculos, como já sabemos, dois períodos distintos1.° sécs. VI-XI, (Oriente e Ocident
e), 2.° sécs. XI-XX (só Ocidente). Vid. supra 91-94, 94-101. Quando em forma adaptada,
o Direito Romano era considerado, ou fonte imediata de direito (nalguns países),
ou norma supletiva ou subsidiária (na maioria dos casos, sobretudo a partir do Códig
o Francês, de 1804) .
Nesta 1.a fase do estudo do Direito Romano, este (concretamente o Corpus luris C
ivilis) era tido como fonte inesgotável (estava lá tudo) -era a ratio scripta-,donde
se extraiam normas aplicáveis em cada momento histórico. Estudava-se o Direito Roma
no, para se fazerem dele aplicações concretas e actuais. (Sobre o significado de rat
io scripta, cf. D'ORs em Actas II Cong. Esp., cit. 201 ss.).
Esta 1a fase tem, portanto, um carácter essencialmente prático.
0 romanista confunde-se com o jurista.
Há uma excepção: a escola humanista ou «mos ggllicus» (sécs. XVI-XVIII). Estuda o DR, confor
me já dissemos, não com uma finalidade prática, mas com preocupações eruditas, à maneira da é
oca. Contempla-o na sua perspectiva histórica, que então fascinava os humanistas. In
teressa-lhe saber apenas o que era o Direito Romano na época clássica; por isso, est
uda-o com um critério histórico-crítico.
2 ~ Fase dos estudos de Direito Romano
12. Vai desde cerca de 1900 até cerca de 1950. Esse estudo deixa de ter carácter práti
co, para tomar uma feição essencialmente histórico-crítica.
págs., que será citada aqui únicamente por «separata», pois trata-se de uma separata de pa
rte do prólogo do nosso trabalho Da «Solutio» I (Coimbra,1962) XXV-XLVI.
Ver igualmente o Prólogo destas Lições, págs. XXI-XXXVI, e a nossa separata «0 XX111 Congr
esso Internacional de Direito Romano» (Coimbra, 1970) 5.10.
É uma fase de profunda crise. Crise não do DR em si, mas do interesse pelo DR ou cri
se dos estudos (no seu aspecto jurídico) e do ensino de DR 111
Vários factores e de ordem diversa concorreram, e quase simultâneamente, para origin
ar essa grave e longa crise.
a) Factores internos (ou do mundo jurídico)

I-A primeira série de factores de ordem interna é constituída pela orientação geral não-juríd
ca e sobretudo não-prática dada aos estudos romanísticos, após a promulgação do BGB (Código C
vil Alemão). 0 estudo do DR, até aí, tinha sido prático; estudava-se DR para aplicar. Ag
ora, salvo pequenas excepções (Escócia, Africa do Sul, República de S. Marino e, como di
reito supletivo, na região de Navarra), ele não está vigente em parte nenhuma; e o BGB
continha o lus Romanum já devidamente adaptado; portanto, o estudo do BGB devia s
ubstituir o estudo do lus Romanum. Os romanistas, no princípio deste século, conside
ram então... que a sua «profissão de juristas» acabara. Confundiram-se: julgavam que a p
rimeira e única razão justificativa do ensino e do estudo do DR era o «seu interesse p
rático»; ora nem é a única, porque são cinco, nem é primeira, pois é a terceira. Vid. infra 1
7-119.
141 Sobre o tema «crise dos estudos do Direito Romano», escreveram-se, desde 1939 a
1955, muitas dezenas de trabalhos-algumas centenas! Ver indicação da principal bibli
ografia em GDARINO, L'Ordinamento Giuridico Romano3 (Nápoles, 1959) 106, e Labeo 1
6 (1970) 431 ss.
Em Portugal, o grito de alarme foi dado pelo ilustre professor da Faculdade de D
ireito de Coimbra, CABRAL DE MONCADA, que publicou sobre o assunto um bem sugest
ivo comentário a KoscRAKER, Die Krise des rõmischen Rechts und die romanistische Rec
htswissenschaft (Berlim,1938), intitulado «Actual Crise do Romanismo na Europa» em B
oletim da Faculdade de Direito 16(1939-40) 246-253 e 551.553 e 19(1942-43) 456,
'em que proclama:
«0 Direito Romano deve ser hoje estudado e ensinado, não como uma mera manifestação de u
ma vida passada e morta; não como pura objectívação de um pensamentopensado e também morto
; mas como emanação de um pensamento sempre vivo, de uma vida por assim dizer vivent
e».
i
104
105
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO -- TIT. II
§ 12
Para não ficarem numa triste situação de desemprego, «mudam de vida»: deixam completamente
o aspecto prático do DR, e dedicam-se a estudos críticos e históricos; principalmente
a estes últimos, nas suas relações com os direitos orientais e mais acentuadamente co
m os Direitos Grego e Egípcio.
Então, aí, sim; já havia um enorme campo de trabalho, pois MITrEIs, por essa altura, a
bria ao estudioso do lus Romanum um vasto horizonte, ao propor três novos rumos.
a) - Uma crítica séria de interpolações. Foi o fundador do Index Interpolationum. - E os
estudos críticos de Direito Romano, nessa ocasião, já eram possíveis, já estavam mesmo fa
cili
tados: primeiro, pela obra formidável de MoMMSEN, que havia colocado à disposição dos es
tudiosos magníficas edições de fontes; segundo, pelo trabalho de profunda investigação e d
e persistência ininterrupta de LENEL, que logrou, na medida do. possível, reconstrui
r não só o Edictum Perpetuam, mas também as obras originais dos juristas - a sua famos
a Palingenesia -, realizando assim um velho sonho dos Humanistas.
f3) - Uma atenção especial a novos documentos, os papiros. MITrEIS, até hoje, é ainda a
primeira e grande autoridade mundial em papirologia jurídica.
y)-0 estudo das influências helenisticas no Direito Ro
mano.
Simplesmente, os romanistas não tomaram como programa geral todas estas três novas o
rientações, mas cada um (ou cada grupo) escolheu, para campo de investigação, aquela par
te para a qual sentia mais vocação ou se julgava com melhor preparação científica.
Seguiu-se fatalmente a diversidade de orientação nos estudos romanísticos. Os exclusiv
ismos. Os exageros.
1 - Para uns, o estudo do DR reduziu-se à crítica de interpolações - crítica, por vezes, l
evada ao exagero, v.g. por BESELER (Alemanha), que, abusando do critério filológico,
não poupava quase nenhum texto.
2 - Para outros, o estudo do DR consistia na investigação das influências helenísticas s
obre o lus Romanum. Aqui, támbém se deram abusos, cometidos v. g. por BONFANTE e sob
retudo por ALBERTARIO, que via influências helenísticas em quase todos os fragmentos
.
3 - Finalmente outros, chefiados por L. WENGER, entendiam que o estudo do DR dev
ia ser meramente histórico, pois
Ius Romanum é um «direito antigo; é mais um», como qualquer direitd da antiguidade 12
MITTEIS, em 1917, no seu famoso «testamento científico» 13, reagiu escrupulosamente co
ntra estas três direcções perigosas, sobretudo contra a orientação de WENGER, que fazia do
ensino do Direito Romano uma disciplina verdadeiramente não-jurídica.
Como consequência desse célebre discurso de MITTEIs pronunciado em Viena, surgiu, ca
indo no exagero oposto, uma posição, chefiada por
4 - RlccosoNO. Para este grande romanista, as interpolações eram meras alterações de pal
avras e não de substância,
as influências estranhas; concretamente as helenísticas, sobre
Direito Romano não passavam dum mito, pois o lus Romanum evolucionou... naturalmen
te.
5-KOSCHAKER, no meio destas opiniões tão radicalmente opostas, e verificando que o e
studo do Direito Romano se encon
142 Esta orientação puramente historiográfica dos estudos romanísticos, a partir de 1950
, foi abandonada por todos excepto pela França, que, na sua reforma dos estudos ju
rídicos (de 1954), determinou substituir o ensino do Direito Romano, no primeiro a
no das Faculdades de Direito, pelo ensino dos direitos da antiguidade. Neste pon
to, essa reforma deve ter sido um dos erros graves do ensino universitário cometid
os na França nestes últimos anos. Por isso, essa parte infeliz da reforma tem sido v
iolentamente atacada pelas criticas de romanistas franceses e estrangeiros, sobr
etudo italianos, alemães e espanhóis.
Apesar disso, na última revisão dos estudos jurídicos franceses, de 10/7/62, insiste-s
e no erro cometido.
Oxalá na próxima reforma dos nossos estudos jurídicos, em que presentemente se trabalh
a com entusiasmo, se tenha bem presente que, em matéria de Direito Romano, o «modelo»
desta vez não pode ser o de Paris.
143 Vid. «Separata» 5.
106
107
1
DIREITO ROMANO
trava moribundo (ou até morto, em várias partes da Alemanha), no louvável intuito de g
alvanizar o ensino do lus Romanum, propôs, como solução de emergência, a orientação duma «vol
a a SAVIGNY» (Zurück zu Savigny!). Quer dizer, estudar apenas o Direito Romano justi
nianeu, seguindo o método pandectístico. Prescindir, de momento, de todos os outros
problemas - interpolações, influências externas, etc.
Estas investigações romanísticas exclusivamente críticas ou históricas, se descontarmos os
exageros, tiveram as suas vantagens:
1)-a crítica de interpolaçbes (em forma científica, pois em forma simplista já tinha sid
o praticada no séc. XVII pela escola do mos gallicus), que foi uma grande descober
ta para os estudos de Direito Romano'";
2) -a especial atenção dedicada ao Egipto romano. Neste aspecto, o séc. XX, para o Dir
eito Romano, há-de ser denominado o «século da papirologia jurídica», como o séc. XIX já é co
cido pelo «século da epigrafia jurídica>.
II - Críticas mordazes dos outros juristas - É também um outro factor de ordem interna
a contribuir para a crise dos estudos jurídicos do Direito Romano.
As investigações romanísticas dos primeiros decénios deste século, exclusivamente críticas o
u históricas ou histórico-críticas, a par das vantagens indicadas há pouco, tiveram uma
grande desvantagem: desacreditarem o estudo jurídico do Direito Romano, pois tirar
am-lhe todo o carácter prático.
Então os juristas, na sua generalidade, a partir de 1900, começaram a dirigir aos ro
manistas críticas depreciativas, chamando-lhes «caçadores de interpolações», «filólogos do Co
s luris Civilis», meros historiadores do direito; e passaram a não os considerar com
o verdadeiros juristas. 0 ensino do Direito Romano, portanto, até devia ser feito
nas Faculdades de Letras (aí é que se ensina filologia, história, etc.) e ser banido d
o programa das Faculdades de Direito.
144 Ver «Separata» 6 e 7.
INTRODUÇAO-rTIT. II § 12
b) Factores de ordem externa
A orientação não estritamente jurídica e além disso não uniforme dos estudos romanísticos, e
críticas mordazes de muitos juristas - tudo isto mais que suficiente para originar
uma crise grave do ensino do Ius Romanum -, vieram juntar-se outros factores, e
xternos ao mundo jurídico.
I-A decadência dos estudos clássicos - Verifica-se, a partir sobretudo do segundo qu
artel deste século. Ora, sem conhecimento do latim e do grego, não é possível trabalhar
a sério em investigações romanísticas.
II-Certas correntes políticas de grande influência: o comunismo e o nacional-sociali
smo-0 comunismo soviético, pouco tempo após o seu triunfo, proibiu nas universidades
da URSS o estudo do Direito Romano, alegando que é um direito de... burgueses par
a espoliação do proletariado.
0 nacional-socialismo aboliu o ensino do DR dos programas das universidades da A
lemanha, por duas séries de razões:
1.°-por ser um direito estrangeiro (é direito romano) e portanto incompatível com os p
rincípios do nacionalismo (em vez de Direito Romano, devem estudar-se os direitos
germânicos) ;
2.°-por ser, além disso, um direito materialista, individualista, anti-social e port
anto contrário aos princípios do socialismo.
Bons romanistas alemães foram perseguidos e tiveram então de fugir para o estrangeir
o, onde leccionaram e publicaram os seus trabalhos.
Vários outros países igualmente extinguiram o ensino do lus Romanum nas suas escolas
superiores. Nas restantes nações, ou foi ridicularizado ou simplesmente desprezado.
108
109
DIREITO ROMANO
INTRODUgAO -TIT. III
§13
Os estudos romanísticos, desde 1900 até cerca de 1945, no seu aspecto própriamente juríd
ico, viveram a maior crise de
toda a sua longa e assombrosa história.

3 á fase do estudo do Direito Romano (desde 1950 em diante)


13. Esta fase é de verdadeiro ressurgimento dos estudos romanísticos, que têm, de início
, um carácter acentuadamente neohumanista (segundo a classificação de KoscHAKER). Há uma
preocupação, não só de encontrar o genuíno pensamento clássico, mas até de descobrir em cada
texto os extractos de sucessivas alterações14S, para reproduzir fielmente a evolução gra
dual das instituições romanas. Desde 1958, vimos defendendo que o estudo do Direito
Romano nas actuais Faculdades de Direito deve ter um carácter histórico-crítico, mas s
obretudo dogmático-prático (vid. infra § 16-a)).
1 uma época de esplendor dos estudos romanísticos, para o que muito concorreram dois
factores:
a) - as obras de KOsCHAKER - Die Krise des rómischen Rechts und die romanistische
Rechtswissenschaft (Berlim, 1938), que despertou uma consciencialização do perigo da
crise-de-interesse pelo estudo do Direito Romano, e Europa und das rómische Recht
(Berlim, 1947, reimpressa em 1953 e trad. esp. «Europa y el Derecho Romano», Madrid
, 1955), que avivou nos romanistas o sentido e o alcance verdadeiramente jurídicos
dos estudos do Ius ~num, lembrou aos outros cultores da ciência jurídica que o roma
nista também é um jurista, e mostrou a todos que o Direito Romano pertence ao mundo
dos valores que deram um significado universal à vida da Europa nestes últimos 800 a
nos da sua história;
145 Como obra típica deste género, cf., por todos, WIEACKER, Textstufen klassischer
Juristen (Gotinga,1960).
110
b) - o congresso de Verona de 1948'48. t; o primeiro congresso realizado após a gu
erra de 1939-45. Todos os congressistas verificam, então, que uma das causas dessa
s hecatombe tinha sido o «totalitarismo da lei»; e ali mesmo se convencem de que só um
a boa formação jurídica, dada às novas gerações, poderá desfazer o mito do positivismo legal,
autêntica idolatria da lei, que provocou uma crise de todo o Direito Privado, e até
do Direito em geral.
Ora, para dar formação jurídica, o Jus Romanum é indis
pensável 147.
Resultado geral deste congresso: um novo entusiasmo pelos estudos romanísticos.
146 Ver «Separata» 10-14. 147 Cf. «Separata» 14.
111
6
Título III -ACTUALIDADE DOS ESTUDOS ROMANÍSTICOS
SUMÁRIO - 14. a) - Como é feito, presentemente, o ensino do Direito
Romano:
I - nos países onde nunca foi interrompido
11-nos países onde tinha sido proibido
III - em certos países onde nunca tinha penetrado
b) - Sociedades defensoras dos estudos romanísticos
c) - Revistas: I - que se intensificaram; II - que se criaram
14. Como consequência dos factores atrás indicados, o estudo do Ius Romanum na actua
lidade está a despertar, por toda a parte, um entusiasmo extraordinário que se revel
a na publicação abundante de manuais, tratados, monografias, revistas e na realização de
congressos sobre Direito Romano, como até agora nunca se vira na sua longa e bril
hantíssima história de 27 séculos.
a) Como é feito, presentemente, o ensino, do Direito Romano
I -Naqueles países onde nunca foi interrompido, o ensino
intensifica-se, quer aumentando nos programas universitários
313
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO - TIT. II
§14
o número de horas por semana consagradas ao Direito Romano, quer desdobrando o ens
ino em vários anos, quer repartindo-o por diversas disciplinas. Isto acontece, por
exemplo, em Itália, Áustria, Grécia, Polónia, Bulgária, Hungria 148, Jugoslávia, Checo-Eslo
váquia, Suíça, Espanha, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Dinamarca, Inglaterra, Escócia, Suécia
, Finlândia, Estados Unidos da América, Canadá, Colômbia, Cuba, Paraguai, Perú, Venezuela,
Argentina, Brasil, União Sul Africana, Líbano e Egipto.
II-Nos países onde tinha sido proibido o ensino do Direito Romano, ele volta a ser
feito nas respectivas universidades e com maior intensidade do que antes:
A Alemanha de hoje é outra vez o «país clássico dos estudos romano-jurídicos», com os seus m
estres eminentes consagrados Wolfgang KUNKEL, Max KASER, Franz WIEACKER, etc., e
com um grupo notável de jovens romanistas de valor.
A URSS, agora, também dedica especial interesse nos seus programas universitários ao
ensino do lus Romanum. E assim, actualmente, nas Faculdades de Direito das Univ
ersidades de Moscovo, Leninegrado e Kiev, estuda-se Direito Romano durante três an
os; e, nas restantes 31 univel'Sidades soviéticas, um ou dois anos, conforme a cat
egoria da universidade.
III - Em certos países onde nunca tinha penetrado, o ensino do Direito Romano hoje
também já faz parte dos respec
"" Sobre o programa do ensino do Direito Romano nas universidades dos vários países
da Europa e do Mundo, incluindo os países socialistas, ver Romanitas 11-I (1970) 3
77-390, 391-396, 397-418, 437-452, 453-458, 485-496, 529-548 e 561-565; I1-II (1
970) 181-199, 201-219, 221-234, 235-270. 271-277, 331-348,
369-399 e 401-404.
Saliente-se que a Espanha, na reforma dos estudos jurídicos, de 1972, deter
minou 6 horas semanais de aulas teóricas e 4 de aulas práticas de, Direito Romano, n
o 1.0 ano. Recorde-se que a Universidade de Navarra (Pamplona), considerada, sob
vários aspectos, universidade-piloto da Europa, desde há muito que tem igual número d
e horas semanais do ensino de Direito Romano, e igualmente no 1.° ano. (Nós temos, r
espectivamente, apenas 3 e 2; e há quem fale ainda em... diminuir).
tivos programas universitários, v.g. na Pérsia, Israel, Industão, China e Japão. Neste últ
imo país, presentemente, o nível dos estudos romanísticos é já muito elevado 149.
b) Sociedades defensoras dos estudos romanísticos
Nestes últimos anos, em alguns países, o entusiasmo pelos estudos rornanísticos manife
sta-se até, e duma forma bem
expressiva, pela criação de sociedades formadas não só por romanistas mas também por outro
s juristas, com a finalidade
de defender e intensificar o estudo do lus Romanum. Isto acontece, por exemplo,
no Japão, na Holanda, na Polónia, na Inglaterra, na América do Norte, na Argentina e s
obretudo no
Brasil (vid. infra 156 e 157). Estas sociedades promovem encontros, publicações, com
unicações e conferências sobre Direito Romano. Algumas dessas sociedades têm mesmo uma r
evista própria para realizar estas finalidades, tanto dentro desse país como fora de
le - v.g. a Revista de Ia Sociedad Argentina de Derecho Romano (que se publica e
m Córdova,
Argentina, desde 1954).
c) Revistas de Direito Romano
Verificam-se outras manifestações de especial interesse pelos estudos romanísticos, a
partir de 1950, nos ,seguintes factos:

I-INCREMENTO dado a certas revistas, já existentes, v, g. 1) - à Zeitschrift der Sav


igny Stiftung für Rechtsgeschi
149 E não admira, pois o nível cultural do Japão, neste momento, é dos mais notáveis, esta
ndo a reflectir-se extraordinariamente no seu nível económico. Basta dizer que, segu
ndo uma estatística recente, existem no Japão 245 universidades, atendidas por 44.43
4 professores e frequentadas por 800.722 estudantes.
Sobre o estudo e o ensino do DR no Japão, veja-se, por todos, Toxop SATO, Contribu
tions à l'Étude du Droit Romain au Japon em Waseda Law Review 40 (1964).
114
115
DIREITO ROMANO
chte. Romanistische Abteilung (por abreviatura, SZ) que se publica em Weimar, de
sde 1880, 2) - ao Bulletino dell'Instituto di Diritto Romano (BIDR) que se publi
ca em Roma, desde 1888, 3) - ao Archivio Giuridico «Filippo Serafini» (AG) que se pu
blica em Módena, desde 1898;
II-CRIAÇÃO de novas revistas, v.g. lura. Rivista Internazionale di Diritto Romano e
Antico (lura), certamente a melhor revista de Direito Romano na actualidade, a q
ual se publica em Nápoles, desde 1950; Jus. Rivista di Scienze Giuridiche (Jus) qu
e se publica em Milão, desde 1950, como nova série; Labeo. Rassegna di Diritto Roman
o (Labeo), que se publica em Nápoles, desde 1955.
Além das revistas da especialidade, criaram-se a partir de 1950, em várias revistas
de direito, secções consagradas ao Direito Romano.
Título IV - RAZÕES JUSTIFICATIVAS DA UTILIDADE DO ENSINO DO DIREITO ROMANO NAS ACTUA
IS FACULDADES DE DIREITO
SUMÁRIO - 15. Enumeração e análise dessas razões: 1) - 0 alto valor formativo do lus Roman
um 2) - A sua perfeição técnico jurídica 3) -0 seu interesse prático 4) - 0 seu aspecto hi
stórico 5) - Outras razões
15. Hoje, ao contrário do que se pensava desde 1900 até cerca de 1950, já nem sequer s
e duvida da enorme vantagem e da verdadeira necessidade do estudo do Direito Rom
ano nas actuais Faculdades de Direito, sobretudo depois do inquérito elaborado pel
a revista Labeo em 1956. Foram interrogados cerca de 400 juristas de quase todo
o mundo 150 As razões justificativas da utilidade do ensino do Jus Roman.um são várias
.
As enumeradas, a seguir, estão colocadas por uma ordem hierárquica; aqui, o número não é a
rbitrário, mas essencial.
1- O seu alto valor formativo. Esta é a primeira e a maior de todas as razões justif
icativas. Na verdade, o estudo do lus Romanum fornece ao jurista uma notável lição de
experiência, imbuindo-o dum espírito de justiça, sempre na ânsia de «alterum non laedere» (nã
prejudicar ninguém), e de «suum cuique tribuere» (atribuir a cada um o que é seu; o dev
ido; nem mais
150 Ver, em «Separata» 14-18, um resumo desse inquérito.
Vejam-se também Actas II Cong. Esp., cit. 205, e Romanizas 9-I (1970) 403 ss.
116
117
DIREITO ROMANO
INTRODUQAO -TIT. IV
§ 15
nem menos). Esse estudo dá verdadeira formação jurídica, educando:
a) para uma certa liberdade e uma relativa independência perante a lei, ensinando
a valorar a «iurisprudentia» como fonte criadora, de facto, de todo o direito (vid.
infra 292.295) ;
b) para um casuísmo científico, em que o jurista deve saber, não apenas interpretar e
aplicar as normas aos casos concretos, mas fundamentalmente saber criar a norma
adequada para um caso, especial e não previsto nas normas já existentes;
c) para uma firmeza de princípios perante as transfor
mações da vida jurídica actual, que atravessa um crise muito
semelhnte à do mundo romano, quando o pretor teve de
resolver situações absolutamente novas provocadas pelas con
vulsões sociais e pelas mudanças bruscas de certas estruturas.
Esta firmeza de certos princípios jurídicos, dada pelo
Direito Romano, alguns deles com carácter de preceitos, é
altamente formativa, principalmente na hora de contestação
- de desorientação-em que vivemos, já que uma grande
parte das doutrinas jurídicas modernas não são Doutrina
(«Iurisprudentia»), mas dúvidas doutrinárias; e em Direito
(que é, naturalmente, o mundo das certezas, da exactidão,
da precisão), a dúvida é a pior atitude mental. Sob certo
aspecto, é preferível o erro à dúvida, pois no erro comete-se...
aquele erro, na dúvida geralmente cometem-se vários erros.
Ora, o trabalho de intuição profunda, a criação genial, ou
talvez melhor, a revelação, levada a cabo pelos jurisconsultos
romanos, consistiu em basear os princípios fundamentais
do Direito na própria Natureza-a natura dos roma
nos, a 1puaLç dos gregos-, e a Natureza é «imortal e sempre
jovem» (EURIPEDES). Daí que o lus Romanum, hoje e
sempre (no passado como no futuro), seja um Direito antigo
mas não antiquado, um Direito do passado mas nunca ultra
passado. Contém certos princípios que são perenemente
válidos e universalmente aceites, pois fundam-se na rerum
natura. Por isso, ao descobrir-se, desde 1950 para cá, esta
nova dimensão do Direito Romano, o seu estudo e ensino vêm-se intensificando' em tod
os os países... civilizados.
2-A sua perfeição técnico-jurídica 151. Foram os romanos que fizeram do direito uma verd
adeira ciência. Criaram certos princípios que são perenemente válidos, pois foram elabor
ados durante uma experiência de treze séculos por homens dotados duma excepcional in
tuição para as coisas do direito; formularam conceitos e consagraram uma terminologi
a jurídica que nunca mais desapareceram. Por isso, o lus Romanum não é um direito mort
o, nem sequer um simples pressuposto das actuais instituições. P, mais; muito mais.
E um direito vivente. É um modelo para todo aquele que tem a missão de criar, de int
erpretar ou de aplicar o direito. Esse deve tê-lo sempre bem presente.
3-0 seu interesse prático. As nossas instituições jurídicas, na sua grande maioria, estão
baseadas no lus Romanum. Algumas das nossas normas actuais são meras transcrições ou s
imples adaptações de certos preceitos romanos; out; as, até nem se compreendem bem, se
não se conhecer o que estava preceituado no Direito Romano; finalmente, por vezes
, é necessário recorrer ao lus Romanum, concretamente ao Corpus Iuris Civilis, pois
não possuímos normas para resolver certas situações. Esta grande utilidade prática do ensi
no do Direito Romano é invocada por alguns AA., até em primeiro lugar, dada na verda
de a sua vantagem extraordinária.
Hoje, fala-se não apenas de «interesse prático» mas de «transfusão» do lus Romanum para o Dir
ito actual e para a Ciência Jurídica moderna; cf. RIDA 18 (1971) 469-477. Relacionad
o com este problema, vid. Imbre ZAJTAY, La Permanence des Concepts du Droit Roma
in dans les Systhêmes Juridiques Continentaux em Rev. Int. du Droit Comparé 18
(1966) 353.363.
4-0 seu aspecto histórico. 0 Ius Romanum é o melhor «laboratório jurídico» que existe. Aí, ne
sa longa experiência
151 Sobre este ponto, vid. ROBLEDA, Ius Privatum Romanum, cit. 24-29.
118
119
DIREITO ROMANO
de treze séculos, descrevendo uma evolução completa (desde o início da época arcaica ao ap
ogeu da época clássica até à decadência da época post-clássica), e perante as circunstâncias
iais mais variadas (políticas, económicas, religiosas, morais, etc.), tanto o histor
iador, como o sociólogo, como o filósofo do direito, como o jurista em geral, podem
ver claramente como as normas jurídicas nascem, evoluem, reagem às diversas circunstân
cias se transformam em simples normas éticas ou até desaparecem.
5 - Outras razões. O Ius Romanum deve ser considerado: a) -fundamento da ciência do
Direito Comparado
sob pena de esta fracassar;
b) -direito fundamental duns possíveis Estados
Unidos da Europa (GENZMER);
c) -base da unificação do Direito Privado;
d) -fundamento duma certa unidade espiritual da
Europa 152

Por todas estas 5 séries de razões, hierarquizadas pela ordem de apresentação que fizemo
s, entendemos que o ensino do Ius Romanum nas actuais Faculdades de Direito é tão útil
, necessário e indispensável como o das matemáticas nas Faculdades de Ciências, o do lat
im e do grego nas Faculdades de Letras. No ensino do Direito, afirma BISCARDI, «o
Direito Romano é o alfabeto e a gramática da linguagem jurídica». Por isso, esta discipl
ina deve ser dada logo no 1.0 ano das nossas Faculdades de Direito. É que a missão d
a actual disciplina de Direito Romano, sublinhe-se, não é apenas ensinar certos prin
cípios jurídicos perenemente válidos e verificar como eles se formularam; é sobretudo in
iciar o aluno em adquirir mentalidade jurídica, uma «forma mentis iuridica»; é formar ju
ristas.
152 Sobre esta parte, cf. E. GENZMER, 11 Diritto Romano come Fatore delia Civili
tà Europea (Trieste, 1954). Ver «Separata» 19.
Sobre um possível Direito Internacional Privado Romano, base do Direito Internacio
nal Privado actual, vid. Labeo 3(1957) 227-231.
Título V -CRITÉRIO E MÉTODO A SEGUIR. MATÉRIAS A VERSAR
SUMÁRIO - 16. a) Critérios utilizados; critério a usar b) Método
c) Matérias a versar: o ideal; o possível
a) Critério de estudo do "Ius Romanum"
16. Este é um ponto muito discutido na actual romanística, que bem pode centrar-se n
o seguinte: qual deve ser o aspecto ou elemento predominante no estudo do Direit
o Romano, o histórico ou o dogmático?
Prescindindo das inúmeras discussões levantadas a partir do séc. XIX, sobretudo a resp
eito da «história como ciência» e paralelamente da «história como problema filosófico, e depo
s a respeito do «conceito de história do direito>, e para fixarmos aqui alguma termi
nologia, entendemos em Direito e concretamente em Direito Romano o seguinte:
-o (elemento) histórico implica necessàriamente passado e evolução;
-o (elemento) dogmático ou institucional é simplesmente a representação duma ordem jurídic
a em conceitos sistemáticos;
120
121
DIREITO ROMANO
é, por conseguinte, a parte substantiva ou dispositiva dum ordenamento jurídico; é o c
onjunto das normas e conceitos considerados em si mesmos, e não na sua génese. Por i
sso, tanto há dogmática dum ordenamento jurídico vigente como dum ordenamento jurídico p
assado.
No Direito Romano, como se trata essencialmente dum ordenamento jurídico passado,
os dois elementos, histórico e dogmático, até certo ponto são inseparáveis; devem mesmo co
nstituir dois aspectos do mesmo estudo, embora um sobreleve o outro 153,
-Até cerca de 1900, seguiu-se nos estudos do lus Romanum, como princípio, um critério
exageradamente dogmático, vendo-se nele, no conjunto e em todas as suas partes, a
ratio scripta de todo o direito. 0 Corpos Iuris Civilis era considerado quase um
a «bíblia intocável». A par do'valor-conteúdo criou-se um valor-mito.
- De 1900 a 1950, utilizou-se um critério puramente histórico, com a sua consequente
feição crítica.
- Na actualidade, as opiniões dos romanistas divergem, inclinando-se ainda muitos
para um critério neohumanista, isto é, crítico e historicista.
Parece-nos que, dado o alto valor formativo do estudo do Direito Romano, conform
e acentuámos (vid. supra § 15) e como é hoje reconhecido por todos, a orientação a imprimi
r aos estudos romanísticos na actualidade deve ser dupla: histórico-crítica, mas sobre
tudo dogmático-prática 154.
«Histórica», para nos mostrar a evolução das instituições jurídicas de Roma e das respectivas
ntes, isto é, o sentido genético do sistema do Ius Romanum; analisar os factos que c
oncorreram para a criação, modificação ou extinção das suas normas e dos seus conceitos.
153 Acerca deste último ponto, as discussões são vivíssimas e a literatura interminável. C
f. Sebastião CRUZ, Da «Solutio» III (em preparação) 1P Parte, Tít. I.
154, Ver «Separata» 18-19. Desde 1958 (no Congresso Internacional de Direito Romano,
de Munique), vimos defendendo esta orientação; reafirmámo-la, em 1962, em Da «Solutio» I
XL-XLI, e em 1963, no Congresso de Bruxelas. Em 1968, no. XXIII Congresso Intern
acional de Direito Romano (de Friburgo, Suíça), ficou devidamente consagrada.
INTRODUÇAO-TIT. V § 16
«Crítica», para valorar devidamente as fontes a utilizar, determinando o seu autor, époc
a, autenticidade, originalidade, pureza, variedade de manifestações (os distintos ma
nuscritos) com o respectivo confronto, etc. (a chamada crítica externa), e analisa
ndo o seu conteúdo e valor, cotejando-as com fontes distintas (crítica interna). -Nu
ma palavra, procurar reconstruir o Direito clássico, já que este é o modelo, e não simpl
esmente o Direito justinianeu, como na época e no estilo de SAVIGNY; e essa recons
trução não ser demasiado filológica, ou puramente histórica, ou exageradamente crítica. Conf
orme nota SCHULZ 155, não se deve pretender restaurar exactamente os textos clássico
s; devemos limitar-nos a uma busca do Direito clássico.
Entendemos, porém, que a orientação a imprimir hoje aos estudos romanísticos deve ser es
pecialmente «dogmática», porque o Jus Romanum é mais dogma do que história. - Não pode duvid
ar-se de que o Direito Romano é história, e sempre história 156, por se tratar dum ord
enamento do passado; mas é absolutamente certo que esse ordenamento é ainda e sempre
um ordenamento vivente, enquanto encerra princípios funda
mentais - perenemente válidos e universais -, de que não podemos de forma nenhuma af
astar-nos sob pena de ficarmos a ignorar as verdadeiras bases jurídicas de convivênc
ia humana e até a função do próprio Direito. Portanto, o primeiro e grande aspecto dogmáti
co do estudo do lus Romanum está em este conter a orientação geral da ciência jurídica, e
não reside apenas no facto de nesse lus existirem institutos que correspondem a in
stitutos modernos.
Verdade é que o estudo desta correspondência entre instituições jurídicas romanas e modern
as também constitui um aspecto dogmático, mas secundário; e então, neste ponto, a orient
ação dos estudos romanísticos deve ser « (dogmático-) prá
155 ScHULZ, Ceschichte der rõmsschen Rechtswissenschaft (Wenmar,1961) 28. 156 Viid
. supra 121.
122
I23
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO - TIT. V
§ 16
tica». Quer dizer: no ensino do Ius Romanum nas Faculdades de Direito de hoje, não i
nteressa analisar em pormenor institutos que foram definitivamente superados, ma
s sómente aqueles que são autênticos pressupostos e verdadeiro esclarecimento dos actu
ais. E assim, por exemplo, o ensino das normas sobre a manumissio e até sobre a fa
milia romana em geral deve reduzir-se ao necessário para entendermos bem a «herança» e o
«dote», enquadrando-se e diluindo-se nestes dois institutos.
A orientação a imprimir aos estudos romanísticos na actualidade deve ser principalment
e «dogmático-prática». Por isso, discordamos totalmente (conforme já insinuámos-vid. supra 1
) da designação oficial dada entre nós a esta disciplina no quadro dos programas unive
rsitários. Não deve chamar-se «História do Direito Romano», mas simplesmente «Direito Romano»
ou quando muito «História» (ou «Introdução Histórica») e Instituições de Direito Romano».
b) Método
Estabelecida uma orientação histórico-crítica e sobretudo dogmático-prática nos estudos roma
nísticos, entendemos que o
método 157 a seguir deve ser:
- o histórico, sobretudo para o exame das fontes e da evolução das instituições;
- o exegético, para a análise dos textos;
- o dogmático, para a exposição do conteúdo das instituições.

157 Conhecida a natureza e o objectivo do estudo do Jus Romanum, passa-se a indi


car o caminho, via ou itinerário, por onde se há-de chegar à «sua presença»: é o método própr
te dito. Distingue-se dos meios (o instrumental) a utilizar na «marcha», e da forma
de processar a marcha (processamento ou procedimento).
Sobre vários problemas do «método jurídico» em geral e do «método nas ciências histórico-jurí
especial, cf. respectivamente R. BADENES-QASSET, Metodologia del Derecho (Barce
lona,1959), e P. M. BRLEK, Methodologia Historico-Iuridica (Roma,1958) e KURTSCH
EID, De Methodologia Historico-Iuridica (Roma,1961).
c) Matérias a versar: o ideal; o possível
0 completo ensino do Direito Romano, hoje em dia, processa-se através de disciplin
as: 1) -principais, 2) - complementares e 3) -subsidiárias:
1) - São consideradas disciplinas principais de Direito Romano (a que chamaríamos «cad
eiras») : a História, as instituições e a Exegese.
A História do Direito Romano (ou talvez melhor, a «Introdução Histórica ao Direito Romano»)
analisa, dentro do quadro duma reconstrução sumária da história da civilização de Roma, os a
spectos e as fases do ordenamento jurídico romano, público e privado, com a finalida
de de preparar o aluno para o ulterior estudo sistemático do «Ius Romanum», e fazer de
le a devida aplicação.
As Instituições de Direito Romano, como disciplina, são as partes principais do Direit
o Privado ou do Direito Público. Aqui, trata-se das Instituições do ius privatum (para
os
Romanos, o direito privado é que era verdadeiro ius), com o alcance de formar a me
ntalidade dos principiantes que vão dedicar-se ao Direito, traçar-lhes quadros jurídic
os-base, sobretudo daqueles institutos que ainda hoje estão em vigor, focando as i
deias do «Ius Romanum» que passaram para a
moderna dogmática jurídica.
A Exegese das Fontes do Direito Romano (sobretudo do Digesto do «Corpus Iuris Civi
lis») desenvolve a teoria da interpretação histórico-crítica das fontes de conhecimento («fo
ntes cognoscendi» 158) do «Ius Romanum», dedicando especial atenção aos problemas das inte
rpolações. Além da teoria, esta disciplina completa-se na prática de exercícios exegéticos s
obre textos de edições críticas das fontes (máxime o Corpus Iuris
Civilis de MOMMSEN-KRÜGER-SCHOLL-KROLL).
158 Vid. infra § 18-b), I.
124
125
DIREITO ROMANO
2) -Consideram-se disciplinas complementares de Direito Romano (a que chamaríamos «c
ursos»), entre outras: o Direito Público Romano; o Direito Privado Romano, em regime
de Seminário, analisando aprofundadamente um ou vários institutos jurídicos (v.g. o d
ireito de propriedade, o pagamento, o testamento, o delito, o crime, as penas, e
tc.) em face dos respectivos textos, principalmente dos contidos no Digesto.
3) - São disciplinas subsidiárias de Direito Romano: a Epigrafia Jurídica; a Papirolog
ia Jurídica; a História dos Direitos Antigos (da Grécia, do Oriente mediterrânico, dos p
ovos germânicos, etc.); a Língua e a Literatura Latina e Grega; a História Antiga (gre
ga e sobretudo romana) ; a Etnologia (dum modo especial a Etnologia jurídica) ; a
Paleografia, a Diplomática, a Arqueologia, a Paleontologia, a Glotologia, etc.
Entre nós, seria ideal que o ensino do Direito Romano se fizesse através dum «curso» de
História do Direito Romano, duma «cadeira» de Instituições de Direito Privado Romano e dum
«curso» de Exegese ,do Digesto.
Porém, em virtude do escasso tempo actualmente previsto nos programas universitários
para o Direito Romano, e da orientação histórico-crítica mas sobretudo dogmático-prática qu
e entendemos dever seguir, julgamos que, nestas circunstâncias, o possível das matéria
s a versar é o seguinte : reduzir ao mínimo a exposição do aspecto histórico; analisar, so
bretudo nas aulas práticas, vários textos do Digesto e alguns doutras fontes; consag
rar o máximo do tempo disponível ao estudo do aspecto dogmático. Este estudo, presente
mente, será feito não só na 2.a e 3.a PARTE das Lições (duma forma aprofundada), mas também,
embora duma forma simplificada, e sempre que seja possível, na 1.s PARTE, sobretu
do ao analisarmos certas fontes, v.g. vários problemas das sucessões no § 22, a questão
das garantias das obrigações no § 23, etc.
126
Título VI -PRINCIPAL BIBLIOGRAFIA
SUMÁRIO-17. a) Livros
b) Revistas
c) Autores principais da actualidade
17. Só agora, depois de apresentada uma panorâmica dos estudos romanísticos e de saber
mos as várias disciplinas em que pode desdobrar-se o ensino do Direito Romano, é que
julgamos oportuno indicar bibliografia.
Eis a principal. -E para que a indicação não resulte um mero catálogo livresco, acrescen
tamos umas brevíssimas nótulas críticas àquelas obras, cuja utilização possa vir a ser mais
proveitosa aos alunos.
a) Livros
I-Introduções e sínteses
ALBERTARIO, Introduzione Storica alto Studio di Direito Romano I (Milão,1935)
DE FRANCISCI, Sintesi Storica del Diritto Romano (Roma,1948) Trad. esp.: Síntesis
del Derecho Romano (Madrid,
127
a
i
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO-TIT. VI
§17
1954)- Esta obra apresenta uma visão profunda da história do DR. Com elegância de esti
lo e domínio das técnicas de historiador arguto, o A. consegue mostrar a harmonia in
tima dos vários aspectos do ordenamento jurídico romano. E, na verdade, uma «sintesi>;
mas uma síntese admirável, mostrando ao vivo toda uma história jurídica, tão longa, como
vasta. Prólogo de Ursicino ALVAREZ.
GROSSO, Premesse Generali al Corso di Diritto Romano° (Turim,1960)
GUARINO, L'Ordinamento Giuridico Romano. Introduzione alto
Studio del Diritto Romano3 (Nápoles,1959) - Duas fina
lidades presidiram à feitura desta obra. Primeira: traçar um quadro, nítido e completo
, do direito normativo na génese da sua estrutura e das suas características gerais.
Segunda: contribuir para o esclarecimento e elaboração do conceito de «ordenamento ju
rídico>. A análise feita talvez constitua um capítulo da chamada «teoria geral do Direit
o>. 0 livro, aumentado nesta 3.1 ed. com uma série de valiosos estudos antes publi
cados em separado, realiza perfeitamente as finalidades que se propôs: os problema
s históricos e os dogmáticos são versados em comum, com equilíbrio e com o devido tratam
ento.
ORESTANO, Introduzione alio Studio Storico del Diritto Romano
(Turim,1961) - Livro de excelentes qualidades. A sua orientação pode ser discutível, m
as o A., depois de submeter a um juizo critico as principais vicissitudes da tra
dição romanística, esforça-se por demonstrar que a integral «historicidade do Direito> se
harmoniza com a totalidade da experiência jurídica. Nesta visão histórica, o dogma também é
história - algo do passado fecundante do presente. Com este alcance, o aspecto his
tórico do Direito Romano pode ser admitido por todos. Os problemas sérios do estudo
do Direito em geral, e os da História do Direito em particular, são versados com a d
evida altura.
ROBLEDA, lus Privatum Romanwm. I. Introductio (Roma,1960)
-Livro, escrito em latim, destina-se principalmente aos canonistas, que, na sua
licenciatura, têm de estudar a disciplina de DR. Verificamos, com regozijo, a dife
rença entre o velho SOHM (e então quando preleccionado pelo mestre Teodoro ANDRÉS MARC
OS...) e este belo manual a Introduzir-nos, com suavidade e riqueza de instrumen
tal Informativo, em temas tão curiosos corno supervivéncia do DR, estudo do DR, peri
odização, fontes, diferenciação do «ius>. Apêndice sobre instrumentos de
trabalho. Bons índices. Um manual que se consulta sempre com proveito.
WOLFF, Roman Law. An Historical Introduction (Oklahoma,
1951). Trad. esp. Introducción Hi,stórica. al Derecho Romano (Santiago de Compostela
1953)
II-História do Direito Romano e História das Fontes ARANGIO-RUIZ, Storia del Diritto
Romano (Nápoles,1957) Trad. esp. da 2.a ed. ital.: Historia del Derecho Romano
(Madrid,1943) - Esta obra e as suas Istituzioni (indicadas, a seguir, em III) são
consideradas, em nossos dias, obras clãssicas, não só por estudiosos de DR, mas por to
do o não-romanista que deseje conhecer o direito no seu primeiro discurso histórico.
Atestam a forte personalidade do romanista insigne.
ARIAS RAMos,Compendio de Derecho Público Romano e Historia de las Fuentess (Valhad
olide,1953)
BONFANTE, Storia del Diritto Romano 2 vols. (Roma,1934) ; reimp. da 4.a ed. a ca
rgo de G. BONFANTE e de G.
CRIFFÒ, com prefácio de E. BETTI, 2 vols. (Milão,1958-59). Trad. esp.: Historia del De
recho Romano (Ma
drid,1944)
GROSSO, Lezioni di Storia del Diritto Romanos (Turim,1960) GUARINO, Storia del D
iritto Romano2 (Nápoles,1954) KASER, Rómische Rechtsgeschichte (Gotinga,1950)
KUNKEL, Rómische Rechtsgeschichtea (Colónia,1964) -um pe
queno livro dum grande mestre de Direito Romano (sobretudo de Direito Público Roma
no), actualmente Director do Centro Internacional de DR, de Munique, «Leopold Weng
er-Institut>. Nesta obra, só de 203 págs., notam-se logo as mesmas grandes qualidade
s, que se observam quando ensina lá no seu Institut: exposição didáctica límpida e precisa
, sempre num tom extraordinàriamente elevado e científico. Uma obra de mestre. E uma
admirável «Einiürung> ao estudo do DR.
MASCHI, Il Diritto Romano nella Prospettiva Storica della Guirisprudenza Classic
a (Milão,1957)
SCHULZ, Geschichte der rómischen Rechtswissenschaft (Veimar,1961)
128
129
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO - TIT. VI
§17
WENGER, Die Quellen des rirmischen Rechts (Viena,1953) -2 a
obra mais importante que até hoje se escreveu sobre fontes do Direito Romano. Tem
cerca de 1000 páginas, de 230x168. 0 A. trabalhou 50 anos na sua feitura. Logo pel
o seu aspecto, é uma obra que impõe respeito. Não trata apenas das fontes jurídicas e ne
m só de fontes. Para justificar bem certa valoração de algumas fontes de DR, WENGER fa
z uma bela exposição da importância, princípios e elementos essenciais da epigrafa, da p
aleografia, da cronologia, da interpretação de textos, da arqueologia e sobretudo da
papirologia que andavam dispersos por várias disciplinas e até então nunca tinham sid
o reunidos. Como o contributo das fontes náo-jurídicas (vid. infra 167) para as font
es do DR é hoje considerado importante, o A. dedica-lhes um lugar de relevo (págs. 1
74-265). WENGER, embora seja um partidário convicto da «Antike Rechtsgeschichte» (vid.
supra 107) - e afirma a sua posição nas págs. 27 a 33-, todavia, aqui, segue a orient
ação tradicional, para dar às fontes de Direito Romano a importância que merecem e têm.
Esta obra, verdadeiramente extraordinária, só podia ser realizada por um sábio (como e
ra WENGER) que tivesse um conhecimento exacto e profundo de todas as fontes da a
ntiguidade. E só podia ser escrita no fim duma longa vida, inteiramente devotada à i
nvestigação dos Direitos Antigos, para, numa larga síntese, reunir todos os elementos
sobre fontes de DR. WENGER tinha 80 anos quando Die Quellen se publicou (Maio de
1953). Daí a pouco (a 21 de Setembro de 1953), desaparecia do número dos vivos... m
as ficava, para sempre e ao serviço dos estudiosos de DR das gerações vindouras, um In
strumento de trabalho de grande classe, digno dum grande sábio, remate glorioso du
ma vida científica.'
III - Direito Privado
ARANGIO-RUIZ, Istituzioni di Diritto Romano" (Nápoles,1960) ARIAS RAMos, Derecho R
omanos 2 vols. (Madrid,1954) BIONDI, Diritto Romano Cristiano, 3 vols. (Milão,1951
-52) -
São 3 vols. dedicados à problemática da influência do Cristianismo no DR.: I-orientação reli
giosa dada à legislação post-clássica; II-a justiça, as pessoas; III--família, relações patri
iais, direito público., E uma vasta exposição do DR, na sua evolução desde Constantino a J
ustiniano. Embora uma ou outra opinião do A. seja discutível (devido ao seu entusias
mo pela matéria), trata-se dum trabalho sério e básico sobre o problema; fruto duma in
vestigação paciente, recolhendo
130
enorme caudal de dados, até então dispersos, e que ninguém conseguira reunir. Agora, f
acilitada extraordinariamente a investigação, reexaminando esses dados preciosos, ta
lvez, aqui e além, se possa chegar a conclusões diferentes. Independentemente de out
ras, um grande mérito tem esta obra: ter chamado a atenção dos romanistas, pela primei
ra vez, para certo valor da legislação post-clássica. Bons índices de matérias e de fontes
, sendo pena não ter um índice alfabético.
BIONDI, Istituzioni di Diritto Romano' (Milão,1965)
A. BURDESE, Manuale di Diritto Privato Romano (Turim,1964) CORREIA-SCIASCIA, Man
ual de Direito Romano I' (S. Paulo,1961) DI MARZO, Istituzioni di Diritto Romano
s (Milão,1946) D'ORS, Derecho Privado Romano (Pamplona, 1968) - Como
diz o A., na l.° ed., trata-se dum «libro de texto para ser explicado em Ias leccion
es y servir de pauta de reflexión en el estudio particular». E um manual revolucionári
o, quanto à disposição de matérias. Fruto de longas investigações e de larga docência, esta o
ra demonstra claramente que o seu A. alcançou já o grau supremo de mestre. A sua mis
são, neste apogeu da sua vida académica de romanista eminente, já não devia ser ensinar
alunos, mas formar discípulos; criar uma verdadeira escola dorsiana. 0 que ele ens
ina é seu. Nesta obra, revelam-se alguns dos grandes princípios dorsianos: 1) - 0 Di
reito Privado é o verdadeiro Ius Romanum; 2) -o estudo do DR clássico é o principal, p
orque é decididamente o mais formativo; 3) - o DR arcaico, muitas vezes, é tão incerto
que se presta mais a criar fantasias do que ciência; não é juridicamente formativo, s
obretudo se se facilita ao aluno a descrição de certos aspectos pitorescos; é preferível
a «ars ignorandi»; 4) -a época post-clássica não tem originalidade e, geralmente, é desorie
ntadora; 5) - a época clássica não é toda igual; distingue três etapas; 6) -o DR clássico é s
bretudo um sistema de actiones; 7) -dentro da exposição do DR clássico, dá preferência ao
patrimonium, por ser o estudo mais útil para a formação dum jurista moderno; 8) -+GAIu
s não deve ser considerado a figura principal da época clássica; é um «pré-posclásico», o men
clássico dos clássicos.
Como se disse, o A. afirma expressamente que é um livro para ser explicado aos alu
nos e reflectido. Não serve para alunos voluntários do 1.0 ano. E um livro claro, ma
s não fácil de entender, porque, apesar de manual, é bastante profundo. Um livro próprio
para estudiosos dum curso superior, pois, em
ambiente universitário, a clareza não deve ser sinónimo de
131
I
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO-TIT. VI
1 17
superficialidade. E um livro que obriga o aluno a elevar-se; mas, se não puder sub
ir, não entenderá.
E talvez a síntese mais perfeita e, sem dúvida, a apresentada de forma mais genial,
que até hoje se fez, das principais instituições de Direito Privado Romano clássico.
FERRINI, Manuale di Pandette 4.a ed. a cargo de GROSSO (Milão,1953)
GUARINO, Profilo di Diritto Privado Romano I (Nápoles, 1965)
IGLESIAS, Derecho Romano6 (Barcelona, 1972) - E uma obra já
consagrada no mundo romanistico, devido à sua riqueza de exposição e sobretudo à documen
tação bibliográfica. Embora o objecto principal seja o estudo do Direito Privado Roman
o, tem uns capítulos introdutórios sobre a história da constituição política de Roma e as fo
ntes do DR, que são uma boa síntese dessas matérias.
JORS-KUNKEL, Rómisches Recht3 (Berlim-Gotinga-Heidelberga, 1949). Trad. esp. da 2.
a ed. alem.: Derecho Privado
Romano (Barcelona,1937)
KASER, Das rômisehè Privatrecht. I-Das altrómisehe, das vorklassische und klassische R
echt (Munique,1955).
II-Die nachklassischen Entwicklungen (Munique,
1959). Rômisehes Privatrecht. Ein Studienbuch4 (Mu
nique-Berlim, 1965) Trad. ingl. de R. DANNENBRIO
(Durban, 1968); trad. esp. de J. SANTA CRUZ TEJEIRO (Madrid, 1968) -Obra extensa
e profunda, com bastantes opiniões originais bem fundamentadas, contendo abundant
e informação bibliográfica, é um trabalho notável, já hoje considerado um dos melhores da ciê
cia romanística. A obra de tomo está dividida em dois vols.: I-direito antigo, pré-cláss
ico e clássico; II - direito post-clássico e justinianeu. A obra tipo-manual (o Stud
ienbuch) é uma síntese extraordináriamente bem feita de todo o DR. Assim, fàcilmente se
compreende por que alcançou, em cinco anos, quatro edições de milhares de exemplares,
na «pátria-clássica» dos estudos romanisticos, onde existem numerosos manuais de DR. Max
KASER, com estas obras, afirma-se um mestre consagrado do DR.
RABEL, Grundzüge des rómischen Privatrechts2 (Basileia,1955)
SCHULZ, Classical Roman Law (Oxford,1951). Trad. esp.:
Derecho Romano Clasico (Barcelona,1960) -Talvez a
obra mais original sobre Direito Privado Romano clássico, concretamente desde Augu
sto a Diocleciano. Por isso, num ou noutro ponto, v.g. sobre o matrimónio, bastant
e discutível. Com os exemplos e gráficos apresentados, e com uma referência constante às
fontes, realiza admirávelmente os fins didácticos a que se destina.
VENTURA, Raul, Manual de Direito Romano I-1 (Lisboa,1964) Voci, Istituzioni di D
iritto Romanos (Milão,1954) VOLTERRA, Istituzioni di Diritto Privato Romano (Roma,
1961)
-Eis um grande manual de DR, com uma orientação dogmático-prática, que nós próprios vimos de
fendendo desde 1958 (vid. supra 122). Destina-se verdadeiramente a fins didácticos
. Para isso, ouviu os alunos (ver pág. 3), tal como nós também o fizemos para publicar
estas Lições. Exposição duma clareza cristalina, a revelar um domínio perfeito da matéria.
Vé-se perfeitamente que esta obra foi pensada e repensada. Só depois de muitos esque
mas é que se obtém uma sistematização dos institutos, tão bem enquadrados no respectivo am
biente histórico.
IV-Direito Processual Civil
ÃLVAREZ, Ursicino, Curso de Derecho Romano I-Introdueción. Cuestiones Preliminares.
Derecho Procesal Civil Romano (Madrid,1955)
M. KASER, Das rômische Zivilprozessrecht (Munique-Berlim,
1966) - A partir de 1966, é a obra clássica sobre Processo Civil Romano. Tudo o que
até então se escreveu é superado por este trabalho genial, que, só por si, era o bastant
e para consagrar Max KASER, se não fosse já um romanista consagrado.
LUZZATO, Procedura Civile Romana I-Esercizio dei Diritti e
Difesa Privata. II-Le «Legis Actiones». III-La
Genesi del Processo Formulare (Bolonha,1946-1950)
WENGER, Institutionen des rómischen Zivilprozessrechts (Muni
que,1925). Trad. ital. de ORESTANO Istituzioni di Pro
cedura Civile Romana (Milão,1938) ; trad. ingl. de
O. HARRISON FISLL, Institutes of the Roman Law of
Civil Procedure (Nova York,1940) -Durante muito tem
po, foi considerada a obra clássica sobre Processo Civil Romano.
132
133
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO - TIT. VI
§ 17
Desde 1966, como dissemos, é a de Max KASER. Todavia, ainda hoje continua a ser um
a das obras fundamentais sobre a matéria, e que se consulta sempre com proveito.
V - Direito Penal
BISCARDI, Processo Civile e Processo Penal nell'Elaborazione
Dogmatica dei Classici (Sena,1960)
BRASIELLO, La Repressione Penale in Diritto Romano (Nápo
les,1937)
BRASIELLO, Diritto Penale em Nov.m° Dig. Ital. V (Turim,1960) 960-966
A. BURDESE, Manuale di Diritto Publico Romano (Turim,1966) FERRINI, Diritto Pena
le Romano em Eniclopedia di Diritto Pe
nale dirigida por PESSINA I (Milão,1901)
KUNKEL, Untersuchungen zur Entwicklung des rámischen Kri
minalverfahrens in vorsullanischer Zeit (Munique,
1962)
MOMMSEN, Rõmisches Strafrecht (Leipzig,1889) ; reimp. (Darmstadt,1955). Trad. esp.
de P. DoRADo MONTERO (Madrid,1898). Trad. Franc. de DUQUESNE, 3 vols. (Paris,
1907)
VI-Questões de investigação romanística
ALVAREZ, Ursieino, Horizonte Actual dei Derecho Romano
(Madrid,1944) - Livro muito útil para conhecer a moderna problemática dos estudos ro
manísticos, cheio de informações e de planos muito curiosos, com a indicação duma abundantís
sima bibliografia; devia ser lido por todos os que se iniciam no estudo do DR.
BIONDI, Prospettive Romanistiche (Milão,1933)
D'ORS, Presupuestos Críticos para el Estudio del Derecho Ro
mano (Salamanca,1943) -E a primeira obra que decididamente consagrou Alvaro D'OR
S como romanista original. Sem
dúvida, é a melhor introdução ao estudo do DR. Nenhum iniciado nos estudos romanísticos de
via deixar de a ler.
IHERING, Der Geist des rõmischen Rechts° 3 vols. (Leipzig,1906-1923). Última reimpressão
: (Darmstadt,1953-54), vol. Ie, II 1/28, III 18. Trad. esp. de E. PRÍNCIPE e SATOR
RES, 4 vols. (Madrid,1891). Trad. franc. de MEULENAERE, 5 vols. (Paris,1886-1888
)
SCHULZ, Prinzipien des r5mischen Rechts (Munique,1934)
Trad. ital. de ARANGIO-RUIZ (Florença,1946)
VII-Tradição romanista no Ocidente
CALASSO, Medio Evo del Diritto 1. Le Fonti (Milão,1954) KANTOROWICZ-BUCKLAND, Stud
ies in The Glossators o f the Ronan Law (Cambridge,1938)
GENZMER, Il Diritto Romano como Fattore della Civilità Europea (Trieste,1954)
KOSCHAKER, Europa und das rõmische Recht (Munique,1947
-reimp.1953). Trad. esp.: Europa y el Derecho Romano (Madrid,1955) -0 A. não é, prop
riamente, um ro
manista. E um historiador dos Direitos da Antiguidade. Todavia interveio eficien
temente, pelo menos duas vezes, em questões metodológicas do ensino do DR. Uma, por
volta de 1917, quando, no meio da desorientação dos estudos de DR, propôs, como solução de
emergência, «zurück zu Savigny>; outra, em 1947, quando publicou este livro. Obra fei
ta à pressa, a ressentir-se das condições do após-guerra (não pôde consultar certa bibliogra
fia importante), apresenta um panorama das vicissitudes do estudo do DR, desde o
séc. IX ao séc. XX. A sua importância reside, não no valor interno (hoje está superado pe
la Privatrechtsgeschichte de WIEACKER, a que vamos já fazer referência), mas nos efe
itos produzidos: avivou nos romanistas o sentimento e o alcance verdadeiramente
jurídicos dos estudos do lus Romanum, e lembrou aos outros cultores da ciência jurídic
a que o romanista também é um jurista.
L'Europa e il Diritto Romano. Studi in Mem.oria di P. Koscha
ker, 2 vols. (Milão,1954)
E. LEvY, West Roman Vulgar Law. The Law of Property (Fila
délfia,1951), Westrõmisches Vulgarrecht. Das Obliga
134
135
DIREirO ROMANO
INTRODUÇAO-TIT. VI
§ 17
tionenrecht (Weimar,1956) -Obra fundamental sobre o Direito Romano Vulgar do Oci
dente. 0 I vol., escrito em inglês, está dedicado à propriedade; o li, em alemão, às obrig
ações. São o fruto de um estudo largo e minucioso, feito sobre um acerbo documental en
orme, que teve de estar sempre bem presente, na elaboração quase de cada página. Se Er
nest LEVY não tivesse mais nenhuma publicação (mas elas são tantas e valiosíssimas), estes
dois livros bastavam para o consagrar como romanista eminente.
R. TAUBENSCHLAG, The Law of Greco-Roman Egypt on the light
of the papyri (322 B.C.-640 A.D. )2 (Varsóvia-,1955) - Exceptuando a obra de MITTE
rs,Reichsrecht und Volksrecht in den õstlichen Provinzen des rámischen Kaiserrechts
(Leipzig, 1891), este livro de TAUBENSCHLAG deve ser o estudo mais importante so
bre o Direito Romano no Oriente. Descreve a história jurídica, incerta e diferente d
e quase um milénio, baseando-se num fundo documental papirológico assombroso, que ex
amina proficientemente e valoriza com exactidão, revelando-se um mestre consumado
na ciência papirológica.
WIEACKER, Privatrechtsgeschichte der Neuzeit2 (Gotinga,1967) -Trad. esp. da 1' e
di.: Historia del Derecho Privado de Ia Edad Moderna (Madrid, 1957) -; Europa un
d
das rómisch Recht na sua obra Vom Rbmischen Recht2 (Estugarda, 1961) 288.304-Obra
hoje indispensável para o conhecimento da história da ciência jurídica europeia, desde a
Idade Média até aos nossos dias. Trabalho extraordinàrlamente culto e erudito a mostr
ar, como vários outros seus, as concepções geniais do A. Principais questões versadas: o
rigem da jurisprudência romanistica europeia da Idade Média; recepção do DR na Alemanha
e noutros países; origem e florescimento da Escola Histórica do Direito; estado actu
al da moderna História do Direito. Esta 2.1 ed. da Privat., em várias questões, aparec
e completamente refundida e aumentada.
VIII - Homenagens. Comemorações. Colectâneas de escritos
Acta Congressus Iuridici Internationalis, 4 vols. (Roma,1925) Actes du Congrès Int
ernational des Etudes Byzantines (Palerme, 2-10 Avril), 2 vols. (Roma,1953) Aequ
itas and Bona Fides. Festgabe für August Simonius (Basi
leia,1955)
Akten des VIII internationalen Kongress far Papyrologie in
Wien 1955 (Viena,1956)
Archives de Droit Privé vol. 16, em honra de F. PRINGSHEIM (Atenas,1953)
Aspects de l'Empire Romain (BURDEAU, CHARBONELL, HUM
BERT). Travaux et Recherches de la Faculté de Droit et des Sciences Economiques de
Paris (Paris,1964)
Atti del Congresso Internazionale di Diritto Romano, 4 vols.
(Pavia,1935)
Atti del Congresso Internazionale di Diritto Romano e di Storia del Diritto (Ver
ona, 27-29 sett. 1948), 4 vols. (Milão,1951-53) Augustus. Studi in onre. del Bimil
lenario Augusteo (Ro
ma,1938)
Bartolo da Sasso ferrato. Studi e Documenti per il VI Centenario,
2 vols. (Milão,1962)
Conférences faites à l'Institut de Droit Romain en 1947 (Pa
ris,1950)
Conferenze Augustee nel Bimillenario della Nascita (Mi
1ão,1939)
Conferenze per il XIV Centenario delle Pandette (Milão,1931)
Conferenze Romanistiche tenute nella R. Università di Pavia nell'anno 1939, a rico
rdo di G.CASTELLI (Milão,1940)
Conferenze Romanistiche. Università di Trieste. Conferenze
tenute da B. BIONDI, M. KASER, E. GENZMER, P. DE FRANCISCI, F. DE VISSCHER, G. B
RANCA, G. PUGLIESE (Milão,1960)
Etudes d'Histoire Juridique o f f ertes à P. F. GIRARD par ses Eleves, 2 vols. (Pa
ris.1913)
Etudes Petot (= Etudes d'Histoire du Droit Privé o f fertes à
P. Petot (Paris,1959)
Festgabe Gutzwiller (= 1u8 et Lex). Festgabe zuni 70. Geburtstag von Max Gutzwil
ler (Basileia,1959)
Festgabe V. Von Lübtow (Berlim, 1970) Festschrift P. Koschaker, 3 vols. (Veimar,19
39)
136
137
DIREITO ROMANO
Festschrift H. Lewald (Basileia,1953)
Festschrift H. Niedermeyer (Gotinga,1953) Festschrift E. Rabel, 2 vols. (Tubinga
,1954) Festschrift F. Schulz, 2 vols. (Veimar,1951) Festschrift A. Steinwenter (
Graz-Colánia,1958) Festschrift L. Wenger, 2 vols. (Munique,1944-45) Geddchtnisschr
ift für E. Seckel (Berlim,1927)
L'Europa e it Diritto Romano. Studi in memoria di P. Koschaker, 2 vols. (Milão,195
4)
Mélanges Cornil, 2 vols. (Paris,1926)
Mélanges F. de Visscher em RIDA 2-4(1949-50) Mélanges Fitting, 2 vols. (Montpellier,
1907.1908) Mélanges Fournier (Paris,1929) Mélanges Gérardin (Paris,1907) Mélanges P. F.
Girard, 2 vols. (Paris,1912) Mélanges P. Huvelin (Paris,1938) Mélanges Lévy-Bruhl (Par
is,1959)
Mélanges Ph. Meylan (Lausana,1963) I-Droit Romain II-Histoire du Droit
Mélanges Senn em Annales Universitatis Saraviensis 3(1954) Miscellanea Contardo Fe
rrini (Con f erenze e Studi nel Fausto Evento della sua Beatificazione) (Roma,19
47)
Mnemeion Solazzi (Nápoles,1954)
Mnemosyna Pa-ppoulia (Atenas,1934)
Per it XIV centenario della codi f icazione giustinianea. Pubb. dalla Facoltà di G
iurisprudenza della R. Università di Pavia
(Pavia,1933)
Recueil d'études sur les sources du droit en l'honneur de F. Gény, 3 vols. (Paris,19
34)
Recueil d'études en l'honneur d'Edouard Lambert, 3 vols. (Paris,1938)
Recueils de la Société Jean Bodin (1936 ss.). Contêm estudos de interesse para a nossa
disciplina os vols. 12 (1958) ; 22 (1959) ; 8 (1957); 9 (1958); 11 (1959); 14 (
1961)
INTRODUÇÃO-TIT. VI § 17
Scritti di Diritto ed Economia in Onore di F. Mancaleoni (Sas
sari,1938) = Studi Sassaresi (série 2, vol. 16)
Scritti di Diritto Romano in Onore di Contardo Ferrini. Publi
cati dalla R. Università di Pavia, ao cuidado de G. G. ARcIn,
(Milão,1946)
Scritti in Onore di Contardo Ferrini. Publicati in occasion della
sua Beatificazione I e II (Milão,1947), III (Milão,1948) e IV
(Milão,1950)
Scritti in Onore di F. Carnelutti, 4 vols. (Pádua,1950)
Scritti Giuridici e di Scienze Economiche Pubblicati in Onore
di L. Moriani, 2 vols. (Turim,1906) = Studi Senesi 22-23
Scritti Giuridici in Onore di Santi Romano, 4 vols. (Pádua,1940)
(Direito Romano sòmente no vol. IV)
Scritti Giuridici Raccolti per il Centenario della Casa Editrice Jovene (Nápoles,1
954)
Studi in Memoria di E. Albertario, 2 vols. (Milão,1952) Studi in Meraoria di A. Al
bertoni, 3 vols. (Pádua,1935) Studi in Onore di V. Arangio-Ruiz, 4 vols (Milão, 1952
) Studi in Onore di A. Escoli (Messina, s. a.)
Studi di Storia e di Diritto in Onore di E. Besta, per il XL anno del suo insegn
amento, 4 vols. (Milão,1937-39) (Direito Romano semente no vol. I)
Studi in Onore di E. Betti, 5 vols. (Milão,1962) Studi in Onore di B. Biondi (Milão,
1961)
Studi in Onore di P. Bon f ante, 4 vols. (Milão,1929.30)
Studi di Storia e Diritto in Memoria di G. Bonolis, 2 vols. I (Milão,1942) e II (M
ilão,1945)
Studi in Memorie di B. Brugi nel trentesimi anno del suo insegnamento (Palermo,1
910)
Studi in Onore di C. Calisse, 3 vols. (Milão,1939-40) (Direito Romano sòmente no vol
. I)
Studi Giuridici in Memoria di P. Ciapessoni (Pavia,1948) Studi in Onore di P. de
Francisci, 4 vols. (Milão,1956)
Studi Giuridioi in Onore di C. Fadda, 6 vols. (Nápoles,1905)
138
139
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO-TIT. VI
§ 17
Studi in Memoria di F. Ferrara, 2 vols. (Milão,1943) (Direito Romano semente no vo
l. I)
Studi in Onore di U. E. Paoli (Florença,1955)
Studi in Onore di S. Perozzi (Palermo,1925) Studi in Memoria di U. Ratti (Milão,19
34)
Studi in Onore di E. Redenti, 2 vols. (Milão,1951)
Studi in Onore di S. Riccobono, 4 vols. (Palermo, 1936)
Studi di Diritto Romano, di Diritto Moderno e di Storia del Diritto Publicati in
Onore di V. Scialoja, 2 vols. (Milão,1905) Studi Giuridici ed O f f erti a F. Sch
upf er, 3 vols. (Turim,1898) Studi Giuridici in Onore di V. Simoncelli (Nápoles,19
17) Studi in Onore di S. Solazzi nel cinquantesimo anniversario del suo insegnam
ento universitario (Nápoles,1948) Studi in Onore di A. Solmi, 2 vols. (Milão,1940-41
) Studi Giuri dici in Memoria do F. Vassali, 2 vols. (Turim,1960) Stu di Dedicat
i alla Memoria di P. P. Zanzucchi (Milão,1927) Studies de Zulueta (= Studies in th
e Roman Law, dedicated to the memory of Francis de Zulueta (Oxford,1959)
Symbolae Friburgenses in Honorem Ottonis Lenel (Leipzig, 1931)
Symbolae Raphaeli Taubenschilag dedicatae Eos 48, 1 (1956), 2 e 3 (1957) (Bratis
lava-Varsóvia) Symbolae ad Jus et Historiarum Antiquitates pertinentes Julio Chris
tiano Van Oven dedicatae (Symbolae Van Oven) (Leida,1946)
Synteleia V. Arangio-Ruiz, 2 tomos (Nápoles,1964)
Varia. Etudes de Droit Romain 1 (SAUTEL, BONGER, PERRIN) 1952; 2 (CHEVAILLER, DE
BBASCH, GAY) 1956; 3 (ROUSSIER, LEGIER, MENAGER) 1958; 4 (FAURE, RouVIER) 1961
IX - Colecções de escritos dum mesmo autor
ALBERTARIO, Studi di Diritto Romano. I-Persone e Famiglia (Milão,1933) ; II-Diritt
i Reali e Possesso (Milão,1941) ;
III-Obbligazioni (Milão,1936) ; IV-Eredità e Processo
(Milão,1946) ; V-Storia, Metodologia, Esegesi (Milão,
1937) ; VI-Saggi Critici e Studi Vari (Milão,1953)
ALIBRANDI, Opere Giuridiche e Storiche (Roma,1896). É o único
volume publicado
ARANGIO-RUIZ, Rariora(Roma,1946)
BAVIERA, Scritti Giuridici I (Palermo,1909)
BIONDI, Arte y Ciencia del Derecho, trad. esp. de A. LATORRE
(Barcelona,1953) - Scritti Giuridici, 4 vols. (Milão,
1965 (I-II-III: Diritto Roman; 1V: Diritto Moderno) BONFANTE, Scritti Giuridici
Vari. I-Famiglia e Succession
Turim,1916) ; II-Proprietà e Servitil (Turim,1918) ;
III-Obbligazioni, Communione, Possesso (Turim,1929) ;
IV-Studi Generali (Roma,1926)
BORTOLUCCI, Studi Romanistici (Pádua,1906)
BOYER,Mélanges. 1-Mélanges d'Histoire du Droit Occidental (Paris,1962)
BRASIELLO, Problemi di Diritto Romano esegeticamente valutati
(Bolonha,1954)
BRASSLOFF, Studien zur róm. Rechtsgeschichte (Viena,1925) BRUCK, Ueber rõmisches Rec
ht im Rahmen der Kulturgeschichte
(Berlim-Heidelberga,1954)
CASTELLI, Scritti Giuridici (Milão,1923)
CIAPESSONI, Etudes Historiques sur le Droit de Justinien I (Pa
ris,1912) ; II (Paris,1925) ; III (Paris,1932) ; IV (Pa
ris,1947)
COSENTINI. Miscellanea Romanistica (Catânia,1956) DE VISSCHER, Etudes de Droit Rom
ain (Paris,1931)
-Nouvelles Etudes de Droit Romann Public et Privé
(Milão,1949)
DEVOTO, Scritti Minori (Florença,1958)
EISELE, Beitrage zur róm. Rechtsgeschichte (Friburgo de Brisgóvia,1896)
- Studien zur róm. Rechtsgeschichte (Tubinga,1912)
140
141
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO-TIT. VI
§17
FADDA, Studi e Question di Diritto I-Diritto Romano (Nápo
les,1910) . É o único volume publicado
FERRINI, Opere (Milão,1929-30) I-Studi di Diritto Romano Bi
zantino; II-Studi sulle Fonti del Diritto Romano; III
-IV-Studi Vari di Diritto Romano e Modern
GELZER, Kleine Schriften 1 (Wiesbaden,1962)
GEORGESCU, Études de Philologie Juridique et de Droit Romain
1 (Paris-Bucareste,1940)
GIRARD, Mélanges de Droit Romain, 2 vols. (Paris,1912.l3) IGLESIAS. J.,Estudios Ro
manos de Derecho e Historia (Barce
lona,1952)
-Derecho Romano y Esenia del Derecho (Barce
lona,1957)
LEVY, Gesammelte Scrif ten, 2 vols., compilados por W. KUNKEL e F. WIEAKER (Colóni
a, 1983)
LEvY-BRUHL, Queiques Problèmes du très ancien Droit Romain
(Paris,1934)
-Nouvelles Etudes sur le très ancien Droit Romain
(Paris,1947)
MOMMSEN, Juristische Scrri f ten, 3 vols. (Berlim,1905-1907) NOAILLES, Fas et Ju
s. Etudes de Droit Romain (Paris,1948) OLIVECRONA, Three Essays in Roman Law (Lo
ndres,1949)
PAMPOLONI, Scritti Giuridici 1 (Pisa,1941)
PARTSCH, Aus nachgelassenen und kleineren verstreuten Schrif
ten (Berlim,1931)
PEROZZI, Scritti Giuridici, a cura di U. Brasiello, 3 vols. (Mi
lão,1948) I-Proprietà e Possesso; II-Servitú e Obbli
gazioni; III-Famiglia, Successione, Procedura e Scritti
Vari
PRINGSHEIM, Gesammelte Abhandlungen (Heidelberga,1961) RiccosoNo, Scritti di Dir
itto Romano I-Studi sulle Fonti (Pa.
lermo,1957) ; II-Dal Dir. Rom. Classico al Dir. Moderno.
A proposito di D. 10,3,14 (Milão,1964)
ROTONDI, Scritti Giuridici (Milão,1922) I-Studi sulla Storia
delle Fonti e sul Diritto Pubblico Romano; II-Studi sul
Diritto Romano delle Obbligazioni; III-Studi di Diritto
Romano Attuale
SCIALOJA, Studi Giuridici I-II Diritto Romano (Roma,1933-34) ;
III-IV Diritto Privato (Roma,1932-33) ; V Diritto Pub
blico (Roma,1934) ; VI-VII Scritti e Discorsi Politici SCIAscIA, Varietà Giuridica
. Scritti Brasiliani di Diritto Ro
mano e Moderno (Milão,1956)
SEGRÈ, Scritti Giuridici (Roma,1930) ; 2 e 4 (1938) ; 3 e 5
(Turim,1952)
SOLAZZI, Scritti di Diritto Romano (Nápoles, 1 [1899-1913],
1955; 2 [1913-1924], 1957; 3 [1925-1937], 1960;
4 [1938-1947], 1963)
STROUX, Rímische Rechtswissenschaft und Rhetorik (Pots
dam,1949)
TAUBENSCHLAG, Opera Minora, 2 vols. (Varsóvia,1959) TAMASSIA, Scritti di Storia Gi
uridica 1 (Pádua,1964) VASSALLI, Studi Giuridici, 3 vols. (Milão,1960) WIEACKER, Vom
rõmischen Recht (Estugarda,1961)
-Griinder und Bewahrer (Gotinga,1959)
WOLFF, Beitrage zur Rechtsgeschichte Altgriechenlands und
hellennistich-rómischen Aegypten (Veimar,1961)
X-Guias bibliográficos
a) -Gerais
BERGER, Encyclopedic Dictionary o f Roman Law (Filadélfia,
1953) - Este dicionário contém uma breve referência sobre matéria de Direito Romano a re
speito de cada uma das palavras citadas, referência que é uma síntese admirável, a demon
strar a grande competência do seu autor. A seguir a essa pequena exposição, vem sempre
indicada uma selectíssima bibliografia sobre a respectiva matéria. No fim da obra,
há um elenco bibliográfico muito amplo, sistemàtícamente ordenado, e que é de grande utili
dade, pois além da citação de obras, de edições de fontes e de estudos vários de Direito Rom
ano, quer privado quer público, quer considerado em si mesmo, ,quer na sua rela
142
143
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO-TIT. VI
§ 17
ção com o Direito Moderno ou com outros direitos da Antiguidade, tem ainda uma referên
cia completa a Colecções de Estudos, Escritos Vários, Scritti in Onore, Scritti in Mem
oriam, Actas de Congressos, Dicionários e Bibliografias.
CAES-HENRION, Collectio Bibliographica Operum ad lus Roma
num pertinentium (Bruxelas,1949-1966) -Este guia bibliográfico compreende todas as
obras sobre Direito Romano publicadas desde 1800, excepto as que se referem aos
glosadores e aos post-glosa dores. Está dividido em três séries, Series I: Opera Edit
a in Periodicis, Miscellaneis Encyclopediisque. Series II: Theses. Series III: O
pera Praeter Theses separatim vel coniunctim edita.
Já estão publicados 20 volumes. Cada volume tem um duplo índice: de autores e de matéria
s. No segundo, há sempre uma remissão exacta para o primeiro.
lura (Nápoles, desde 1950) -Nesta revista de Direito Romano, publica-se anualmente
um volume com uma relação de todos os escritos sobre Direito Romano vindos a lume d
esde 1950.
Labeo (Nápoles, desde 1955) - Também nesta revista, há sempre, desde 1955, uma secção com
ampla referência aos estudos de Direito Romano, publicados desde aquela data.
)i) - Parciais

os guias bibliográficos parciais limitam-se ou a certas matérias ou a determinados p


eríodos ou a um país em concreto. Depois do guia geral de CAES-HENRION, estes guias
têm muito menos importância do que tinham antes.
Eis os principais:
BERGER-SCHILLER, Bibliography o f Anglo-American Studies in Roman, Greek and Gre
co-Egyptian and related Sciences (Para os anos 1939-1947) em Seminar 3-4(1945
-1946) 75-94, 5(1947) 62-85,
BIONDI, Guide Bibliografiche. Diritto Romano (Milão,1944) - Contém uma indicação de sele
cção de obras, sobretudo deste século.
COLLINET, Bibliographie des Travaux de Droit Romain en Lan144
Romano (Ro
ma,1923) - Contém referências a obras em italiano, incluindo traduções, até 1923.
GUARINO, Guida alto Studio delle Fonti Giuridiche Romane 12 (Nápoles, s. a.) e H.
Appendici (Nápoles, s. a.) -L'Esegesi delle Fonti di Diritto Romano, 2 Vols.
(Nápoles, 1968).
MONIER-LEMOSSE, Bibliographie des Travaux récents de Droit
Romain en Français, en Anglais, en Italien et en Rou
main (Paris,1944)
SANFILIPPO, Bibliografia Romanistica Italiana 1939-1949 (Ca
tânia,1949)
VOLTERRA, Bibliografia di Diritto Agrario Romano (Floren
ça,1951)
gue Française (incluindo traduções) (Paris,1930) -
Este guia bibliográfico, que tem referências a obras só até 1928, foi completado um pouc
o por CIAPESSONI em Athenaeum 10(1932) 93-96.
DE FRANCISCI, Guide Bibliografiche.
11 Diritto
Bibliografia sobre o direito comum e sobre a supervivéncia do Direito Romano nos vár
ios países europeus encontra-se em F. CALASSO, Medio Evo del Diritto I. Le Fonti (
Mílão,1954)
[no fim de cada capitulo], e Introduzione al Diritto Commune (Miláo,1951) 353-366.
Bibliografia para a época comprendida entre os Humanis
tas e os Pandectistas: é muito útil a obra, editada por Theod. SCHINELFERIG, Hommel
Redivivum oder Nachweisung der bei den vorgüglichsten ãlteren und neueren Civilisten
vorkommenden Erklãrungen einzelner Stellen des Corpus Iuris Civilis (Gassel,1858-
1859). Nesta obra referem-se os autores (desde o séc. XVI até ao séc. XiX), que tratar
am de livros, de títulos ou simplesmente de leis do Corpus luris Civilis.
A título de curiosidade científica, indica-se ainda o famoso Repertorium Bibliograph
icum in quo libri omnes ab arte typographica inventa usque ad a. 1500 typis expr
essi vel simpliciter enumerantur vel accuratius recensentur, de L. RAIN, 4 vols.
(Estugarda-Paris,1826-1838), com os suplementos de W. A. COSSINGER, Supplément to
Hains Repertorium Bibliographicum [com muitas correcções e aditamentos], 2 vols. (B
erlim,1926), e o de K. BURGER, The Printers and Publischers of the XV Cen
145
L
DIREITO ROMANO
INTRODUÇAO-TIT. vt
§ tI
tury with tests of their works. Index to the Supplement to Hams Repertorium (Ber
lim,192B).
Como é evidente, no «Repertorium-Hains> encontram-se também obras jurídicas, editadas an
tes de 1500 (incunábulos).
y) - Especiais
1-De Epigrafia
Acerca da Epigrafia, como ciência auxiliar do
Direito Romano, e de várias questões conexas, veja-se principalmente:
U. ALVAREZ, Horizonte Actual dei Derecho Romano, cit. 307 ss., com ampla bibliog
rafia
A. D'ORs, Epigrafia Jurídica de Ia Espana Romana (Madrid, 1953) e as suas amplas e
valiosas resenhas de «Epigrafia Jurídica Griega y Romana» publicadas em SDHI 20(1954)
403-484, 23(1957) 475-542, 26(1960) 480-510 e 29(1963) 455-508
P. GIRARD, L'Epigraphie Latine et le Droit Romain em Mélanges de Droit Romain I (P
aris,1912) 342-414
LUZZATO, Epigrafia Giuridica Greca e Romana (Milão,1942)
STELLA MARANCA, Epigrafia Giuriduca Romana (Roma,1926)
L. WENGER, Die Quellen des Rbmischen Rechts (Viena,1953) 151-159
2-De Papirologia
Para se fazer uma ideia do valor da ciência papirológica, sobretudo como auxiliar do
Direito Romano, vid.:
U. ALVAREZ, Horizonte Actual del Derecho Romano, cit. 351. COLLINET, La Papyrolo
gie et l'Histoire du Droit em Papyri and
Altertumwissenschaft. Vortrüge des 3. Intern. Papyro
gentages in München (Munique,1934)
A. D'ORS, Introducción al Estudio de los Documentos del Egipto
Romano (Madrid,1948)
DE RUGGIERO, Il Diritto Romano e la Papirologia em BIDR 14(1937) 57-81
H. HENNE, La Papirologie et les Etudes Juridiques em Conféren
ces à PInstitut de Droit Romain en 1947 (Paris,1950) 77-102
P. M. MAYER, Juristische Papyri. ErkZdrung vor Urkunde zur
Ein f úhrung in die Juristische Papyruskunde (Berlim,1920)
MITTEIS-WIKKEN, Grundzüge und Chrestomatie der Papyrus
kunde (Leipzig,1921)
MODICA, Introduzione alio Studio della Papirologia Giuridica (Milão,1914)
W. SCHUBART, Einführung in die Papyruskunde (Berlim,1918) L. WENGER, Die Quellen,
cit. 160-172
XI-Enciclopédias, Dicionários, Vocabulários, índices
a) - Enciclopédias
Novíssimo Digesto Italiano ao cuidado de A. AzARA-E. EULA
(Turim,1957 - , 14 vols. publ.) -2 a 3` ed. do Digesto Utet, que nas duas anteri
ores se chamou, respectivamente, Digesto Italiano (1884-1921, 49 vols.) e Nuovo
Digesto Italiano (1937-1940, 13 vols.). Nesta enciclopédia, encontra-se exposto, p
or ordem alfabética, não só o que se refere a Direito Italiano, público e privado (e a 2
.' ed. consagra especial atenção às disposições do regime fascista), a direito internacion
al, a direito eclesiástico, etc., mas também-e este é o aspecto que nos interessa subl
inhar aqui- a Direito Romano. Quase todos os romanistas italianos notáveis escreve
m nesta enciclopédia. Os trabalhos vão precedidos de sumário analítico, bibliografia (em
geral, um elenco bibliográfico muito selecto) e legislação. Publicaram-se até ao presen
te 14 vols. 0 último com
preende «Pro-Ref.> Abreviaturas: DI (a 1. ed.); NDI (a 2.'
ed.); NNDI (a 31 ed.).
Nueva Enciclopedia Jurídica Espanola (Barcelona, 1950 - ,
12 vols. publ.) -2 como que uma 2.' ed. da Enciclopedia Jurídica Espanola (Barcelo
na,1910, 30 vols.; de 1911 a 1933, mais
146
147
DIREITO ROMANO
28 vols. de apêndices). Nesta Nueva Enc., encontram-se vários trabalhos sobre DR, no
meadamente uma síntese admirável de todo o Direito Romano, da autoria de Álvaro D'ORS
(vol. I 1009-1035).
Enciclopedia del Diritto (Milão,1958 - , 16 vols. publ.) -
Também nesta enc., que, fundamentalmente, oferece um panorama da doutrina actual e
das correntes jurisprudenciais dominantes na Itália, há não só referências ao DR, quando
se descreve o aspecto do problema no direito comparado, mas também vários trabalhos
ex professo sobre assuntos de DR. Em geral, são tratados pelos romanistas da nova
geração.
Paulys Realencyclopãdie der klassischen Altertumwissenscha f t
(Estugarda,1893-1963) -Esta obra constitui uma edição, muito aumentada, da antiga En
ciclopédia de August PAULY, em 6 vols. (Berlim,1843-1852); mas é tão diferente que bem
pode considerar-se uma enciclopédia nova. Foi começada por Georg WISSOWA em 1893; e
consta de duas séries (ainda Incompletas) e vários suplementos. A primeira série, pri
ncipiada em 1893, tem já 24 tomos, alguns compreendendo mais do que um vol. (o últim
o, XXIV-1, é de 1963 e abrange aPyramos-Quosenus>); a segunda série começa na letra R
(é, pois, a continuação da primeira), foi iniciada em 1914, tem 9 tomos (alguns também c
onstando de mais do que um vol.), sendo o último de 1967, e compreende «Vulcanius-Ze
nius>; os suplementos, começados em 1903, já são 10 (o último é de 1965 e abrange aAccaus-
Uttiedius>). A direcção desta obra esteve a cargo de G. WisSOWA, até 1910; depois, de
KROLL (a princípio, sózinho, mais tarde com MITTELHAUS e WITTE); finalmeqte, de ZIEG
LER. Nesta monumental enciclopédia de toda a cultura grega e romana, os assuntos d
e Direito Romano são tratados, em amplíssimas dissertações, sobretudo pelos maiores roma
nistas alemães, v.g. BERGER, KIPP, WEISS, KUBLER, PRINGSHEIM, KUNKEL, WIEACKER, Di
eter NORR, etc.; nessas dissertações, vêm Indicadas as fontes e uma bibliografia abund
ante. Costuma citar-se em abreviatura: RE; ou PW; OU PAULY-WISSOVA; ou PWRE.
BERGER, Encyclopedic Dictionary o f Roman Law (Filadélfia, 1953) - Vid. supra 143.
/3) - Dicionários
Dictionnaire des Antiquités Grècques et Romaines (Paris,1877
-1919) - São 5 tomos, compreendendo ao todo 10 vols. A ideia
INTRODUÇÃO--TIT. VI § 17
deste enorme dicionário deve-se a Ch. DAREMBERG, que a comunicou a M. E. SAGLIO; m
as este só velo a entusiasmar-se por ela um pouco mais tarde. Depois da morte de D
AREMBERG, em 1872 (e ainda não tinha sido publicado nenhum fascículo, embora já estive
sse tudo na imprensa até ao vol. VII [1. parte do tomo V]), SAGLIO foi coadjuvado p
or M. E. POTHIER. Após o falecimento de SAGLIO, em 1911, G. LAFAYE veio colaborar
com POTHIER. Por isso, muitas vezes, este dicionário é designado pelo Dictionnaire d
e DAREMBERG-SAGLIO-POTHIER-LAFAYE. Geralmente, é citado por DAREMBERG-SAGLIO, Dict
ionnaire... ; ou simplesmente, em abreviatura, por DS. No que respeita a Direito
Romano, este dic. tem valiosos artigos, e da autoria dos melhores roma nistas f
ranceses, v.g. COLLINET, LECRIVAIN, HUVELIN, etc.
Dizionario Epigrafico di Antichità Romane, de E. DE RUGGIERO, edição anastática (Roma,19
61- , 5 vols. publ.) -
Instrumento de trabalho muito útil, principalmente sobre fontes não-jurídicas de Direi
to Romano.
GUTIERREZ ALVIz, Diccionario de Derecho Romano (Madrid, 1948)
MONIER, Vocabulaire de Droit Romann4 (Paris,1949)
Estes dois dicionários, bastante semelhantes, sendo o de MONIER talvez melhor, são u
ma espécie de prontuários. Aí se encontra uma ideia muito breve, mas em geral exacta,
sobre os vários assuntos de DR, expostos por ordem alfabética.
y) - Vocabulários

Distinguem-se das enciclopédias e dos dicionários, pois estes e aquelas expõem os inst
itutos e os conceitos de DR em geral, enquanto os vocabulários registam só as palavr
as que se encontram nas fontes, indicando a citação rigorosa e o sentido com que a p
alavra está aí, se diferente do significado corrente ou da significação com que se acha
noutras fontes.
Vocabularium Iurisprudentiae Romanae (Berlim,1943.1939,
1964-...) -Esta obra é importantíssima; indispensável para qualquer trabalho de invest
igação romanistica. Tem 2 fases.
148
149
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO - TIT. VI
8) -Indices
1 -De fontes jurídicas
§17
A primeira vai desde 1903 a 1939, sendo autores GRADENWITZ, KÜBLER, SCHULTZE e out
ros. Consta de 5 tomos: I (A-C), 1903; II (D-G), 1933; III (H-ipse), 1910-33; IV
(N-per), 1914-33; V (R-Z), 1910-30. Devido a circunstâncias de vária ordem, origina
das pela guerra e pelo após-guerra (vid. lura 16[1965] 428), só em 1964 se recomeçou a
publicação, agora a cargo de F. SCHwARZ, com o fase. 4 do tomo III, compreendendo (
ipse III, E. 1-ita). 0 VIR refere todas as palavras da «iurisprudentia>, contidas
nas Institutiones Gal, nos Tituli ex Corpore Ulpiani nas Pauli Sententiae, no Di
gesto Justinianeu e noutras compilações pré-justinianeías, indicando com precisão o lugar
e as vezes onde se encontram e quais os significados e respectiva evolução.
Vocabulario delle Istituzioni di Gaio, de ZANZUCCHI (Milão,1910 - reimpr. 1961). A
ddenda a este vocab. de H. DE Si
MONE em Labeo 8(1962) 330-339-E uma obra clássica
única sobre a matéria. Contém todas as palavras das Inst. Gai, livro e parágrafo onde se
encontram, quantas vezes,
com que significado.
Vocabularium Institutionum lustiniani Augusti, de R. AMBRO
SINO (Milão,1952) -Com umas indicações multo úteis, colocadas logo no inicio, este vocab
ulário contém um tríplice índice e muito completo em cada modalidade: um de palavras lat
inas; outro de nomes próprios e outro de palavras gregas.
Vocabularium Codicis Iustiniani 1.a parte, Latina, a cargo de R. MAYR (Praga,192
3) ; 2.a parte, Grega, a cargo de
M. SAN NICOLÕ (Praga,1925) -0 método usado neste vocabulário serviu de modelo a AMBROS
INO para utilizar no seu Voe. Inst. Just. Aug; é, portanto, o mesmo. KRÜGER completo
u
nalgumas coisas rectificou este Voe., com o seu estudo
Berichtigungen au dem vom Robert Mayr herausgegeben Voca bularium Codicis Justin
iani em SZ 47(1927) 387-396.
Vocabulario delle Costituzioni Latine di Giustiniano, de LONGO em BIDR 10 (1897-
1898) I-XVI e 1-605 - Contém as pala
vras das constituições latinas de Justiniano que estão nas Institutiones, no Codex e n
as Novena« (do «Corpus Iuris Civills>); e até das constituições que formam o prefácio das I.
e do D., assim como dumas certas constituições atribuídas a Justino e a Justiniano, e
ncontradas em 1889.
150
Index Verborum Graecorum quae in Institutionibus et Digestis lustiniani inveniun
tur, de BARTOLucci em AG (1906)
353-396 - Indicam-se todas as palavras gregas (mesmo nomes de jurisconsultos, de
Imperadores e de lugares), que se encontram nas I. e no D.
Heidelberger Index zum Theodosianus, de 0. GRADENWITZ (Ber
lim,1925)
Enrgdnzungsband zum Heidelberger Index zum T%eodosianus,
de GRADENWITZ (Berlim,1929)
Estes dois índices (o segundo é complemento do primeiro) contém, por ordem alfabética, t
odas as palavras do Cod. Teodosiano e das Novelas post-teodosianas. Na citação, depo
is do liv., tIt. e const., vai indicada a linha do Cód. Teod. segundo a edição de MOMM
SEN-MEYER (vid. infra 154) e o ano da publicação da const., onde se encontra a palav
ra.
Ergdnzungssindex zu Ius und Leges de E. LEVY (Veimar,1930)
E um «índice> muito curioso; destina-se a completar outros. Contém as palavras das col
ectâneas pré-justinianeias (quer de ius, quer de leges, quer mistas), que ndo se enc
ontrem já num índice especial. E assim, não contém as palavras das Institutiones Gai, Pa
uli Bententiae, Tit. ex Corpore Ulpiani, Cód. Teod., etc., que já existirem noutros
vocabulários. Em relação às colectâneas Frag. Vaticana, Consultatio, Coliatio, só recolhe as
palavras das Lege8, pois o Voe. lur. Rom. (VIR) não as compreende. Um número pequen
ito, que se acrescenta ao número maior, indica a parte do texto (ir ou 2.') onde s
e encontra a palavra.
Não há índice nem vocabulário especial para as Novellae de Justiniano.
*
Numa categoria, intermédia entre vocabulários e dicionários, e semelhante aos índices, p
odem mencionar-se -
-Handlexikon au den Quellen des rõmischen Rechts, de
HEUMANN-SECKEL, 9.' ed. (Jena,1907-reimp. 1958). E um «dicionário> de termos jurídicos
, contendo as várias significa
151
L
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO - TIT. VI
§ 17
ções, dadas em alemão, baseadas nas fontes (que cita), quer justinianeias quer pré-justi
nianeias.
- Manuale Latinitatis Fontium Iuris Romani, de DIRKSEN (Berlím,1837) -E uma obra s
emelhante à de HEUMANN-SECKEL. Simplesmente, o significado das palavras está em lati
m e não em alemão. Este Manuale encontra-se já desactualizado em relação às novas técnicas do
estudos romanisticos.
-Taschenwõrterbuch zum Corpus Iuris Civilis, den Institutionem des Gajus und ander
en rõmischen Rechtsquellen, 3.^ ed. (Munique-Berllm,1918)
2 -De fontes não-jurídicas
ROTONDI, pouco antes de falecer, chegou a preparar um índice das citações jurídicas feit
as nas fontes não-jurídicas (vid. infra 167 a indicação das principais) dos sécs. IV-VII.
Foi publicado, como trabalho póstumo, nos seus Srritti Gïuridici I (Pavia,1912) 490-
582. Infelizmente, é bastante deficiente.
Embora não sejam índices só de palavras jurídicas, podem consultar-se com proveito também
para as palavras jurídicas:
a) de Cícero -Carlo PASCAL, Dizionario dell'Uso Ciceroniano (Turim,1899), e H. MER
GET, Lexicon zu den philosophischen Schriften Cicero's, 4 vols. (Hildesheim,1961
-1962);
b) de Séneca - o vol. V, págs. 813-970, das Opera Philosophica L. Annae Senecae, ed.
de BGUILLET (Paris,1830);
c) de vários autores clássicos latinos - o vol. VII, págs. 317-441, da Bibliotheca Cla
ssica Latina sive Collectio Auctorum Classicorum Latinorum cum Notis et Indicibu
s, ed. de M. E. LEMAIRE (Paris,1826).
3 - De interpolações. De glosemas
Index Interpolationum quae in Iuistiniani Codice inesse dicun
tur, de BROGGINI (Colónia, 1969).
Index Interpolationum quae in lustiniani Digestis inesse dicun
tur. Obra começada por MITTEIs e continuada por outros romanistas (LEVY, RABEL, et
c.); 3 vols. (Veimar, 1929-1935). Supplementum I ad libros I-XII pertinens
(Veimar,1929) - Contém a indicação das interpolações, certas ou prováveis (justinianeias ou
pelo menos post-clássicas), existentes no Digesto, descobertas por diversos romani
stas, citando-se o nome e respectiva obra onde é feita a investigação. No I vol., há uma
explicação das siglas usadas na obra, e que normalmente se empregam na crítica de tex
tos.
Le Interpolazioni risultanti dal confronto tra il Gregoriano, l'Ermogeniano, il
Teodosiano, le Novelle Postteodosiane e il Codice Giustinianeo, de MARCHI, em BI
DR
18(1906) 5-114-São indicadas as interpolações no Código de Justiniano, descobertas através
do confronto das constituições existentes no Cód. Just. com essas mesmas constituições qu
e se encontram nos Códigos Gregoriano, Hermogeniano, etc.
Nestes códs., as constituições foram recebidas sem (?) alteração.
Registro delle alterazioni (glossemi ed interpolazioni) nelle constituzioni del
Codice Teodosiano e nelle Novelle Postteodosiane segnalate dalla critica, de M.
A. DE Do
MINICis em BIDR 57-58(1953) 383-442, e Supplemento
em lura 15(1964) 117-136 - As constituições do Cód. Teod. foram interpoladas, umas pel
os próprios compiladores desse Cód., outras pelos compiladores das colectâneas onde el
as foram recebidas - sobretudo pelos alaricianos e foi através dessas colectâneas qu
e as constituições do Cód. Teod. chegaram até nós. DE DOMINICIS, no seu Registro, indica a
s
interpolações efectuadas pelos primeiros e pelos segundos.
Indice delle parole, frasi e costrutti, ritenuti indizio di interpotazioni nei t
esti giuridici roman, de GUARNERI-CITATI, 2 ed. (Milão,1927). Supl. I em Studi in
onore di S. Riccobono I (Palermo,1936) 669-743; Supl. II em Festschrift Koschake
r I (Veimar,1939) 117-156.
Indice delle glosse, interpolazioni e delle principali riccostru-' zioni segnala
te dalla critica nelle f onti pregiustinianee, occidentali, de E. VOLTERRA, em R
ivista di Storia del
Diritto Italiano 8(1935) 107-145, 389-505; 9(1936)
365-380 - VOLTERRA mostra as alterações, feitas pelos post-clássicos, em Pauli Sentent
iae, Consultatio, Fragmenta Vindobonensia (Ulpiani), Tituli ex corp. Ulpiani e C
ollatio.
XII - Fontes
1- Fontes pré-justinianeias
- Fontes luris Romani Antiqui, de BRUNS, 7.° ed. de GRADENWITZ, 3 vols. (Tubinga,1
909-1912). I-Leges et Negotia.
152
153
DEREM ROMANO
II-Scriptores, Ill-Index et Simulacra. Em 1958, foi feita
uma reimpressão da Parte I e da Parte II.
- Fontes luris Romani Antejustiniani (FIRA), 26 ed.
(Florença). I-Leges (ed. RICCOSONO,1941). II-Auctores (ed. BAVIERA e FURLANI,1940)
. III-Negotia (ed. ARANGio-RUIz, 1943)
- Gaius. Institutiones. Há várias edições e traduções (português, espanhol, francês, inglês,
- (Código Teodosiano) -Theodosiani Libri XVI, cum
constitutionibus Sirmondianis et leges novellae ad Theodosia
num pertinentes, ed. MoMMSEN e MEYER, 2 vols. (Berlim,1905 - reimp. 1954)
2 -Fontes justinianeias
- Corpus luris Civilis, ed. MOMMSEN, KRUGER, SCHOLL e
KROLL, 18 a edição revista por W. KUNKEL, 3 vols. (Berlim,1965)
Das várias partes do Corpus Iuris Civilis há algumas edições em separado, sobretudo das
Institutions e do Digesto, v.g. a ed. de BONFANTE, FADDA, FERRINI, RICCOBONO, SC
IALOIA, Digesta Iustiniani Augusti (Milão,1931 - reimp.1960).
A edição critica do Digesto pertence a MOMMSEN, Digesta lustiniani Augusti, 2 vols.
(Berlim,1866/1870 - reimp. 1962-63).
Há algumas traduções, poucas (e sobretudo antigas), de todo o Corpus luris Civilis (es
panhol, alemão, francés, etc.). Das Institutiones e do Digesto existem várias traduções e
para diversas línguas. A mais recente é a versão espanhola de F. J. HERNANDEZ-TE.ERO,
Las Instituciones de Justiniano (Madrid, 1961). Presentemente, prepara-se uma tr
adução espanhola do Digesto; está a cargo de vários romanistas de Espanha, chefiados por
Alvaro D'ORS.
3 -Fontes bizantinas
- (Os Basílicos) -Basilicorum Libri LX, ed. de G. E.
HEIMBACH e vários (Leipzig,1833-70) ; nova edição começada
INTRODUÇÃO - TIT. VI § 17
por H. J. SCHELTEMA e outros (Haia, desde 1953; ainda em curso a publicação)
4 - Colecções de textos sobretudo para uso escolar
Há várias, v.g.:
- GIRARD, Textes de Droit Romann, 6.a ed. revista por
SENN (Paris,1937)
-ARANGIO-RUiz e GUARINO, Breviarium luris Romani
(Milão,1943)
-B. PARADISI, Esempi Testuali. Raccolta di Fonti Giuridiche dei Secoli II-XI d.C
. (Nápoles,1956)
b) Revistas
Além das «secções de Direito Romano» existentes em muitas revistas jurídicas da actualidade,
devem considerar-se como revistas técnicas do Ius Romanum as seguintes (indicando
-se também as abreviaturas por que são comummente designadas)
-AG=Archivo Giuridico «Filippo Serafini» (Módena, desde
1898)
-BIDR=Bullettino dell'Istituto di Diretto Romano «Vittorio
Scialoja» (Roma, desde 1888)
-LURA=lura. Rivista Internazionale di Diritto Romano e
Antico (Nápoles, desde 1950)
-JUS=Jus. Rivista di Scienze Giuridiche-nova série (Mi
lão, desde 1950)
-JRS=The Journal of Roman Studies (Londres, desde 1911) -LABEO=Labeo. Rassegna d
i Diritto Romano (Nápoles,
desde 1955)
-RHD=Revue Historique de Droit Franças et Êtranger
(Paris, desde 1855). Até 1922, chamava-se Nouvelle
Re~ Historique du Droit=NRHD
-RIDA=Revoe Internationale des Droits de l'Antiquité (Bru
xelas, 1.a Série desde 1948, agora RIDA3 = 3' Série
154
155
DIREITO ROMANO
INTRODUÇÃO - TIT. vi
§ 17
desde 1954. Durante os anos de 1952-53, denominava-se Archives d'Histoire du Dro
it Oriental-Revoe Internationale des Droits de l'Antiquité.
-RSADR=Revista de Ia Sociedad Argentina de Derech9 Romano (Córdova-Argentina, desd
e 1954)
SDHI=Studia et Documenta Historiae et luris (Roma, desde 1935)
- SZ=Zeitschri f t der Savigny-Sti f tung f ür Rechtsgeschichte. Ramanistische Abt
eilung (Veimar, desde 1880)
-TVR=Tijdschrift voor Rechtsgeschiedenis - Revue d'Histoire du Droit (Haarlem, d
esde 1918; Haia-Bruxelas, desde 1950)
c) Autores principais da actualidade
Romanistas jubilados, mas ainda em actividade científica: Pietro DE FRANCISCI, Wol
fgang KUNKEL, etc.
Romanistas com magistério universitário: Ãlvaro D'ORS, prof. em Pamplona; Dieter NõRR, p
rof. em Munique; Max KASER, prof. em Hamburgo; Franz WIEACKER, prof. em Gotinga;
Edoardo VOLTERRA, prof. em Roma; Antonio GUARINO, prof. em Nápoles; Jean GAUDEMET
, prof. em Paris; Roberto FEENSTRA, prof. em Leida, etc.
Na actualidade, existe sobretudo uma plêiade de jovens romanistas verdadeiramente
notável, na Alemanha, na Itália, na Espanha e em muitos outros países.
É de salientar o entusiasmo que os estudos romanísticos vêm despertando ultimamente no
Brasil, manifestado principalmente através da revista Romanitas, que se publica n
o Rio de Janeiro. Nas 15 universidades brasileiras, incluindo algumas pontificia
s, estuda-se Direito Romano com verdadeiro empenho, podendo indicar-se bastantes
professores que, além de Lições (Manual ou Instituições) de DR, têm publicado vários trabalh
s romanísticos (tradução de fontes, sobretudo Insti
tutiones de Gaio e de Justiniano, tradução de várias obras europeias, investigações pessoa
is, etc.), v.g. Vandick LONDRES DA
NóBREGA (prof. no Rio de Janeiro), Alexandre CORREIA (prof. em S. Paulo), Sílvio MEI
RA (prof. no Pará), Adalício NOGUEIRA
(prof. na Bahia), Mário BATISTA (prof. em Pernambuco), Afonso LAGES (prof. em Mina
s Gerais), Elpídio PAIS (prof. no Rio
Grande do Sul), Ernesto ROESSING (prof. no Amazonas), Traiahú CARTACHO (prof. em C
uritiba, Paraná), Geraldo FER
NANDES (prof. em Londrina, Paraná), Benjamim COLUCCI (prof. em Juiz de Fóra, Minas G
erais), Vicente PORTO (prof. em Niteroi, Estado do Rio), etc.
Sublinhe-se, com o devido relevo, a existência da «Sociedade Brasileira de Romanista
s», com a já notável revista, Romanitas. Esta Sociedade é hoje constituída por figuras ilu
stres do Brasil e do Estrangeiro, e por várias Instituições igualmente brasileiras e e
strangeiras.
Entre as várias realizações apreciáveis, a Sociedade efectuou um Colóquio Internacional de
Direito Romano, de 20 a 25 de de Julho de 1970, no Rio de Janeiro, em que tomar
am parte romanistas ilustres da Europa e das Américas. Os temas aí discutidos são da m
aior importância e de viva actualidade. Romanitas dedica-lhes os tomos I e II do a
no 11 (1970).
0 êxito desse Colóquio teve repercussões internacionais (vid. Labeo 16 [1970] 434 ss.,
e Romanitas 11-I [1970] 13-28 e 11-111 (1970) 485 ss.).
No final desse reconfortante e memorável Colóquio Internacional de Direito Romano, f
oram aprovadas, «por decisão unânime», as seguintes conclusões (ver Romanitas 11-II [1970]
10):
a) «R necessário que o estudo do Direito Romano ocupe o primeiro lugar, no currículo,
uma vez que constitui a base necessária e fundamental para conduzir os jovens à comp
reensão do Direito.
156
157
1
DIREITO ROMANO
b) 0 estudo do Direito Romano tem a maior e a mais indispensável força, para os que
se dedicam ao cultivo do Direito, porque torna mais apto o jurisconsulto, a fim
de que possa resolver os problemas jurídicos, com o sentido equdnime da justiça, enq
uanto possa favorecer os homens das diversas nações a se conhecerem entre si.
e) E necessário que os chefes das Repúblicas, que os ministérios aos quais incumbe o c
uidado da justiça e do direito, a UNESCO, os chefes aos quais cabe o cuidado das i
nstituições públicas conheçam todas estas coisas de tão grande importância, para que o ensin
o do Direito Romano tenha uma graduação necessária, nos currículos e na ordem dos estudo
s das Faculdades de Direito».
1: PARTE
FONTES DO d US ROMANUM» Titulo I - Fontes. Conceito. Espécies Título II-Costume
Título III -Lei das XII Tábuas
Título IV-Fontes do IUS CIVILE (D. 1,1,7 pr.)
Capítulo L°-A) «Leges», sensu stricto
Capítulo 2.°-B) «Leges», sensu lato '(«senatusconsulta» e «constitutions») Capítulo 3.°-C) «I
ntia»
Título V - Fontes do IUS PRAETORIUM (D. 1,1,7,1)
Capítulo 1.°-A) Expedientes do pretor baseados no seu «imperium»
Capítulo 2.° - B) Expedientes do pretor baseados na sua «iurisdictio» Capítulo 3.°-C) 0 «Edic
um» do pretor
t
158
Título VI - Ciência jurídica e as várias escolas Título VII-Literatura jurídica Título VIII-P
incipais jurisconsultos
Título IX - Obras e colectâneas pré-justinianeias: A) - ocidentais; B) - orientais
Título X - Corpus Iuris Civilis
Título XI-Interpolações, glosemas e glosas
Título -FONTES DO «IUS ROMANUM». CONCEITO. ESPÉCIES
SUMÁRIO - 18. a) - Conceito b) - Espécies
I-fontes exsistendi; fontes manifestandi; fontes cognos
cendi
II -fontes do «ius civile» (D. 1,1,7pr.); fontes do «ius
praetorium» (D. 1,1,7,1)
c) -Classificação das fontes cognoscendi do «lus Roma
num» (conspecto geral)
Fontes do «Ius Romanum»
18. 0 lus Romanum é formado, em primeiro lugar, pelo tius civile. Depois, a par de
ste - para o interpretar, integrar e corrigir - surgiu o tius honorarium, que é, s
obretudo, uma criação, e genial, do pretor urbano; tanto assim que o ius praetorium
absorve e concretiza (pelo menos, simboliza) todo o ius honorarium, embora em ri
gor seja apenas uma parte deste. Portanto, o lus Romanutm, praticamente, equacio
na-se: ius civile mais ius praetorium.
Para conhecer o lus Romanum, importa saber: onde surgem, claramente, palpàvelmente
(onde aparecem), tanto as normas «civis» como as normas pretórias; como se manifestam
;
t
161
DIREITO ROMANO
onde podem encontrar-se. - Tudo isto forma o complexo e bem discutível problema da
s fontes jurídicas romanas.
a) Conceito de «fontes de Direito Romano»
A expressão «fontes de Direito» (fontes iuris) é uma metáfora (e quantas metáforas e ficções
Direito!...), porque, em rigor, «fonte» é o lugar onde a água nos aparece - se vê e se po
de fàcilmente recolher, nobis paret.
A palavra «fonte» (f ons) deriva, em última análise, provàvelmente, do grego pívw (fénó=abrir
donde se originou póvoa (fónós), e depois, por síncope, fons 159. Desde o início, foi um v
ocábulo que se empregou sempre relacionado com a água 166. Portanto, «fonte», etimológicam
ente, significa aquilo que está aberto (ou que pode abrir-se) para sair água, ou que
já contém água, podendo esta recolher-se naturalmente, com facilidade; algo donde ou
onde nos aparece água. «Fonte» distingue-se de «nascente»-source em fr., «caput aquae» como e
pressivamente lhe chama ULPIANUS, D. 43,20,1,8 -, ponto do solo onde principia u
ma corrente de água, lugar onde a água brota mas não se vê (não está aberto) ; ou vê-se, mas
água não pode ser recolhida fàcilmente 161.
«Fonte de direito» (f ons iuris) será, pois, tudo aquilo que está aberto ou se pode abri
r, para correr «linfa jurídica», podendo esta ser recolhida com facilidade; lugar onde
nos aparece o direito.

159 Vid. supra 11 e 123.


160 Vid. CORONENAS, o. c. II 588. Note-se que nalgumas línguas a palavra «fonte» contém
expressamente um elemento referente à água, v.g. no italiano, Fontana (> font'+aqua)
, fontaine (fr.), etc.
161 É certo que, em alguns casos, a nascente pode ser também fonte; mas são sempre coi
sas distintas, embora simultâneas ou juntas. Normalmente, a fonte está distanciada d
a nascente (e por vezes, muito), como acontece em regra, v.g., com as fontes (fo
ntenários) das vilas e cidades; as suas nascentes, em geral, estão a 'quilómetros de d
istância.
1.1 PARTE) -TIT. I $ is
Como já acentuámos, «fonte de direito» (f~ iuris) é uma metáfora. No mundo jurídico romano, d
ve ter sido introduzida ou pelo menos foi consagrada por Cícero 162. Desde então, te
m sido utilizada através dos tempos, e com tanta aceitação que quase não se tem consciênci
a de que se está a empregar uma metáfora. Tem, pois, mais de vinte séculos de existência
e uns catorze séculos de uso jurídico corrente.
Exactamente porque «fonte de direito» (fons iuris) é uma metáfora, não têm faltado juristas
a pretender substitui-la por outras expressões, v.g. «factos normativos», «factos de pro
dução normativa», etc.
Porém, há-de ser muito difícil encontrar expressão mais cómoda para dizer o mesmo 163. As
expressões sugeridas por esses autores indicam, quando muito, uma ou outra das vária
s espécies de fontes de direito (que vamos analisar, já a seguir), mas não todas. Tive
ram contudo uma vantagem: chamar a atenção dos juristas para a realidade - é que «fontes
iuris» é uma metáfora e como tal deve ser usada, e sobretudo bem explorada hoje, numa
finalidade didáctica. Não deve ser substituída, mas até completada com a metáfora «nascente»
Portanto, «fonte de Direito Romano» é tudo aquilo ande nos «aparece» algo para o Ius Roman
um: ou produção ou modos de formação, ou mero conhecimento.
b) Espécies de fontes do «dus Romanum»
1- Numa primeira espécie, cremos poder fixar-se, para fins didácticos, a seguinte di
visão e terminologia a respeito de

162 De Partitione Oratoria XXXVII 131; De Officils 11172; De Legibus 116-20. A m


etáfora foi usada, logo a seguir, por Tito Lívio, ao classificar a Lei das XII Tábuas
como «tons omnis publici privatique est iuris». Mas é curioso notar que os juristas ro
manos preferiram sempre (?) as expressões «ias constai» e «lua venit» (v.g. D. 1,1,7pr.);
a partir de Justiniano (C. 8,39,4,3; e 8,53,34,4), a metáfora tomou-se frequente.
Portanto, a metáfora é do séc. I a.C.; só veio a tomar-se de uso jurídico corrente, no séc.
VI d.C.
163 A. D'oas, Principios para una Teoria Realista dei Derecho, cit. 310.
162
163
DIREITO ROMANO
fontes jurídicas em geral, fazendo a respectiva aplicação às fontes do «Ius Romanum».
1) -fontes exsistendi -são os órgãos produtores 184 das normas jurídicas (o «populus», os co
mícios, o senado, os magistrados, o imperador e os «jurisprudentes»; estes, sobretudo
a partir do séc. II d.C., data em que oficialmente é reconhecido carácter normativo às s
uas decisões) ;
2) - fontes manifestandi 183-são os modos de produção ou formação das normas jurídicas (o co
stume; a lei, num sentido muito amplo, compreendendo não só as «leges sensu stricto» mas
também as «leges sensu lato»; e, sob certo aspecto, a «iurisprudentia» enquanto não foi rec
onhecida como fazendo parte das «fontes exsistendi») ;
3) - fontes cognoscendi - são os textos onde se encontram as normas jurídicas 166. A
estas fontes faremos, a seguir, uma referência especial.
II-Interessa-nos particularmente conhecer, além desta primeira espécie de fontes, qu
ais são em concreto as fontes do
164 Órgãos produtores, isto é, onde se verifica a geração das normas, mas não a sua criação.
orrendo, mais uma vez, à metáfora sempre tão fecunda, talvez possa dizer-se que as «font
es exsistendi» são os «fontenários» das normas, mas não as suas «nascentes».
Nas «fontes exsistendi», verifica-se ou pode elaborar-se um conhecimento próximo e pat
ente do esse juridicum; nas «nascentes», um conhecimento remoto, profundo (oculto e
misterioso) do mesmo esse juridicum, e só aí é possível fazer a análise última da sua própria
criação.
As «fontes exsistendi» (do ser jurídico) são objecto da Ciência do Direito; as «nascentes do
ser-jurídico» são objectos da Filosofia do Direito, ou melhor, duma Teologia do Direi
to, seja de que espécie for, e só ela pode superar definitivamente o nefasto positiv
ismo jurídico (vid. infra n. 350).
165 A palavra «manifestandi» é equívoca; fica precisa, desde que, mais uma vez, se tenha
bem presente a metáfora «fonte de direito». As fontes manifestandi seriam as várias for
mas da própria corrente do fontenário: ou gota a gota (o costume); ou em fio (as lei
s comiciais); ou em jacto (as constituições imperiais).
166 Explorando de novo a metáfora «fonte de direito», as fontes cognoscendi seriam a p
rópria água saída do fontenário durante a «noite» de vários anos ou de séculos e que se conse
, no pequeno ou grande reservatório do mesmo fontenário, à disposição de quem agora a pret
enda utilizar («haurire», como expressamente diz Cícero referindo-se certamente a esta
espécie ou aspecto de fons iuris).
1' PARTE-TIT. I § 18
«ius civile» e as do «ius praetorium». Um fragmento de PAPINIANUS, conservado no D.1,1,7
, elucida-nos:
a) - Fontes do «ius civile» - D.1,1,7 pr.: «lus autem civile est, quod ex legibus, ple
bis scitis, senatus consultis, decretis principum, auctoritate prudentium venit» 1
67.
¡3) -Fontes do «ius praetorium» - D.1,1,7,1: «lus praetorium est, quod praetores introdu
xerunt adiuvandi vel supplendi vel corrigendi iuris civilis gratia propter utili
tatem
publicam... » 168.
c) Classificação das «fontes cognoscendi» do «lus Romanum» (conspecto geral)
As fontes cognoscendi sob certo aspecto são as que mais nos interessam, pois, como
já dissemos 169, a história jurídica dum povo é, fundamentalmente, a história dos seus li
vros jurídicos. E importa, desde já, ter a respeito delas um conspecto geral, para,
mais tarde (nos Títs. IX e X desta J .a PARTE das Lições), ao analisarmos em pormenor
uma ou outra não é pos
sível fazer uma análise minuciosa a todas), sabermos fazer o seu devido enquadrament
o.
As fontes cognoscendi do «Ius Romanum» podem agrupar-se em três grandes secções:
A) -fontes provenientes do mundo romano;
B) -fontes elaboradas no Ocidente depois da queda do Império (476) ;
C) -fontes elaboradas no Oriente depois do «Corpus Iuris Civilis».

167 «0 ius civile (cf. supra 45) é o que provém das leis, dos plebiscitos, dos senatus
consultos, dos decretos dos príncipes (constituições imperiais), da autoridade dos pru
dentes (iurisprudentia)».
168 «0 direito pretório é o que os pretores introduziram com a finalidade de ajudar (i
nterpretar) ou de integrar ou de corrigir o ius civile, por motivo (razão) da util
idade pública».
169 Vid. supra 3448.
164
165
DIREITO ROMANO
1.a PARTE-TIT. I
618
Cada uma destas secções, por sua vez, comportará várias divisões e subdivisões.
A) Fontes provenientes do mundo romano
Estas podem ser: 1) - jurídicas e 2) - extra-jurídicas.
1) FONTES JURIDICAS - Estas, por sua vez, ainda podem ser: I - justinianeias, e
II-extra-justinianeias.
I - As fontes justinianeias reduzem-se ao «Corpus Iuris Civilis». Esta fonte é a maior
de todas. Por isso, dissemos já 170 que lus Romanum e Corpus Iuris Civilis quase
se identificam.
H - As fontes extra-justinianeias são constituídas por:
- Institutiones Gal - Epitome Gai - Gaio de «Autun»
a) - Restos de obras - Res Cottidianae
de juristas - Liber singularis Regularum Ulpiani - Responsa Papiniani - Frag
menta Dositheana - Scholia Sinaitica
- Pauli Sententiae
- Fragmenta Vaticana
- Collatio Legum Mosaicarum
et Romanarum
Colectâneas post-clássicas - Livro Siro-Romano
- Código Gregoriano -Código Hermogeniano - Código Teodosiano
170 Vid. supra 3448; e sublinhemos bem o «quase se identificam», pois há muitas outras
fontes do Ius Romanum, embora todas juntas não valham sequer uma parte do Corpus
Iuris Civi is.
- tábuas enceradas
y) - Material arqueológico-jurídico - bromes
diverso - mármores
- papiros
2) FONTES EXTRA-JURÍDICAS - Estas, por sua vez, podem ser:
B) Fontes elaboradas no Ocidente, depois da queda do Império (476)
I - Historiadores: Políbio, César, Tito Lívio, Dio Cássio, Tácito, Suetónio, etc.
II - Gramáticos e etimologistas: Varrão, Valério Probo, Festo, etc.
III - Escritores dramáticos: Plauto, Terêncio, etc.
IV - Filósofos, retórioos, oradores: Cícero, Aulo Gé
lio, Quintiliano, etc.
V -Padres da Igreja: Arnóbio, Minúcio Félix, Lac
tâncio, Santo Ambrósio, Santo Agostinho, Santo Isidoro de Sevilha, etc.
Estas fontes compreendem principalmente o Codex Euricianus
e - Edictum Theodorici
as Leges ROMIANAE - Lex Romana Burgundionum
BARBARORUM - Lex Romana Wisigothorum
166
167
DIREITO ROMANO
C) Fontes elaboradas no Oriente, depois do «Corpus luris Civilis»
Dentre muitas, notemos como principais:
-Escólios do Anónimo
- Paráfrase Grega de Teófilo ->Jcloga de Leão Isâurico
- Obras de Basilio Macedónico. Os Basílicos
- Várias sinopses dos Basílicos (sécs. XI-XIII) -Vários manuais de direito, v.g. o Hexábib
los 171.
171 Para uma análise minuciosa acerca destas várias fontes, consultar a bibliografia
atrás apresentada, pág. 129. Além disso, quanto a algumas fontes, ver também J. GAUDEME
T, La Formation du Droit Séculier et du Droit de l'Église aux IVe. et Ve. Siécles (Par
is,1957); para uma análise sumária, porém muito elucidativa, vid., por todos, Álvaro D'o
Rs, Presupuestos Críticos para el Estudio dei Derecho Romano (Salamanca, 1943). Cf
. supra 88 e 89.
Título II -COSTUME
SUMÁRIO-19. a)-Conceito moderno (consuetudo) e conceito romano
(mores maiorum)
b) - Costume (mores maiorum) e ius non-scriptum. A primeira interpretatio ou iur
isprudentia
c) - Fases do costume (mores maiorum) como fonte do alus Romanum»
I - na 1 a etapa da época arcaica (753-242 a.C.)
II - a partir da 2.a etapa da época arcaica
III -na época clássica
d) -Na época post-clássica: o costume (consuetudo) como
fonte de direito, a enfrentar as constitutiones imperiais
19. 0 costume, na ordem do tempo e até certo ponto na da importância, é a primeira fon
te manifestandi. A sua fonte exsistendi é o «populus» 172.
Como todos os direitos primitivos, também o lus Romanum principiou por ser consuet
udinário. Quer dizer, um direito cuja fonte única, de início, era o costume.
Mas que significava «costume» para os romanos?
Neste ponto, há uma grande divergência entre os autores 173.
172 Sobre o sentido «jurídico» deste termo para os Romanos vid. infra n. 236.
173 São trabalhos fundamentais sobre este problemá o de FERRINI, Lineamenti Sommari
della Dottrina della Consuetudine em Per ii XIV Centenario della Codificazioni G
iustinianea (Pavia, 1934) 175-208, e o de KASER, «Mores Maiorum» und Gewohnsheitsrec
ht em SZ 59(1939) 52.101.
168
169
DIREITO ROMANO
1. PARTE-TIT. II
§ 19
Segundo uma opinião bastante provável, o costume primitivo dos romanos é diferente, no
conceito, do costume actual, que, por sua vez, deverá ter surgido só nos princípios d
a época post-clá-csica.
Nas fontes jurídicas e nas fontes extra-jurídicas romanas 174, aparecem três palavras
para indicar, ora dum modo vago ora duma forma precisa ora quase indistintamente
, a ideia de costume: udus, mos («moa maiorum», «mores maiorum») e consuetudo.
A primeira palavra, urus, poucas vezes é empregada no sentido de verdadeira fonte
de direito. E muito mais frequente o seu emprego com o significado de «hábito de agi
r, sem que isso constitua propriamente uma obrigação ou até um simples
dever» 175.
A questão reduz-se, portanto, aos significados (e respectivas diferenças) de mos (mo
res) maiorwm e de consuetudo.

a) Conceito moderno («consuetudo») e conceito romano («mores maiorum»)


Como ficou dito acima, as fontes romanas quer jurídicas quer extra-jurídicas não são uni
formes. No entanto, parece deduzir-se de alguns textos de VARRão e de FESTO 178 o
seguinte: 1.0 mos significa «internus vel moralis hominis habitus», consuetudo «extern
us hominis habitus»; 2.° mos precede, como causa; consuetudo é uma sequência.
174 Ver supra 166-167 quais são essas fontes.
175 Vid. D. 32,65,7;-32,45;-46,3,39,2. Há um único passo nas fontes jurídicas romanas,
em que a palavra «usus» tem o sentido de verdadeira fonte de direito: C. 8,52,2. Tr
ata-se duma constituição do imperador Constantino, do ano 319. Independentemente das
diversas explicações dadas por vários romanistas, devemos ter presente que esse texto
pertence à época post-clássica; ora a característica geral desta época, como sabemos (cf.
supra 49) é a confusão; não admira, pois, que um texto postclássico confunda usus com m
ores maiorum e sobretudo com consuetudo.
176 Ver supra 167 que espécie de fontes são estas.
Tendo porém em consideração outros textos e aderindo à opinião bastante provável de que faláv
mos no início deste parágrafo, julgamos poder assentar nestes pontos:
I - Con8uetudo é uma palavra que surge na terminologia jurídica muito depois da expr
essão «mores maiorum», para traduzir a ideia de costume. Embora apareça antes da época pos
t-clássica (se é que não está interpolada nos textos clássicos onde se encontra...), é desti
nada quase exclusivamente a designar o costume no sentido moderno, isto é, «a observân
cia constante e uniforme duma regra de conduta pelos membros duma comunidade soc
ial, com a convicção da sua obrigatoriedade, quer dizer, de que isso corresponde a u
ma necessidade jurídica».
II-Mores maiorum é uma expressão antiquíssima, a primeira usada para exprimir a ideia
de costume, e significa essencialmente «a tradição duma comprovada moralidade» 177. Este
é o verdadeiro costume romano - uma tradição inveterada que se impunha aos cidadãos com
o norma e como fonte de normas 178, nas suas relações recíprocas, principalmente limit
ando o exercício de cada um sobre a superfície da terra romana, quer dizer, uma regr
a distribuidora, o nómos dos gregos. Portanto, quando se fala de mores (e até de ins
tituta) maiorum, não se deve pensar num direito que nasce espontâneamente do tacitus
consensus ~li (isso só começa a verificar-se a partir da época post-clássica), visto qu
e para os romanos os princípios novos (as novas regras, segundo novas necessidades
) derivavam dos anti
177 Por isso, no lus Romanum não se podia falar de «mau costume» ou de ««naus costumes», poi
s o costume romano era sempre algo moral, honesto, digno de acatamento e de imit
ações. Ainda hoje tem esse alcance, quando falamos da «tradição dos nossos maiores».
178 Os actos civis, tanto públicos como privados, repetiam-se, segundo a tradição inve
terada, do mesmo modo que os fenómenos da Natureza se vão repetindo, segundo leis pe
rmanentes; isso era a verificação da normalidade. A interrupção dessa velha Moralidade c
onstituía algo de a-normal e, por isso, uma infracção, um pecado. As autoridades relig
iosas, propriamente os sacerdotes que constituíam o Colégio Pontifício, eram as encarr
egadas de sancionar essas infracções, e contribuíam com as suas decisões para consolidar
e aclarar o sentido e o alcance dos mores maiorum (cf. D'oas, Derecho Romano, S
ep. da Nueva Encliclopedia Jurídica [Barcelona,19491
5 e 6).
170
171
DIREITO ROMANO
1.' PARTE - TIT. II
§ 19
gos (mores maiorum) ; estavam ali contidos; bastava descobri-los. Competia aos «pr
udentes» (os juristas) re+velar (=tirar o veu, manifestar -interpretar) os mores m
aiorum. Desta forma, a primitiva ciência do Direito (iurisprudentia) emanava toda
dos mores maiorum.
b) Costume («mores maiorum») e «ius non-scriptum». A primitiva «interpretatio» ou «iurisprude
tia»
De início, Religião, Moral e Direito constituíam um todo único; daí que a primitiva interp
retatio (a revelação dos mores, i. é., descobrir o ius nos mores maiorum) estivesse só a
cargo dos antigos sacerdotes-pontífices 179. E como toda a actividade da ciência ju
rídica (iurisprudentia) se concretizava e reduzia à interpretatio, a princípio interpr
etatio e iurisprudentia identi
ficavam-se 180.
Ora a interpretatio é designada, sempre, por ius non-scriptum.
179 Aos sacerdotes é que competia, pela própria natureza das coisas, além de sancionar
as infracções pecaminosas (ver n. anterior), tratar da religião; e como o encargo de «r
evelar o ius» (o ius-dicere) era muito delicado e difícil (misterioso, valde religio
sum), essa missão confiava-se apenas aos sacerdotes, e de grau superior, isto é, aos
pontífices.
A profissão de jurista, desde o início, foi tida pelos romanos numa alta consideração e,
por isso, reservada a certas classes consideradas superiores. (Sobre este assun
to, para os períodos que vão desde a república, cf., por todos, KUNKEL Herkunft und so
ziale Stellung der rõmischen Juristen [Veimar,1952]).
180 A interpretatio (como a interpretação jurídica, em geral) é um trabalho intelectual
destinado a fixar o conteúdo e o alcance das normas jurídicas.
A interpretatio prudentium (exercida primitivamente pelos pontífices e depois pelo
s jurisconsultos - vid. infra § 27-c)) realizou uma tarefa de «distensão» das velhas nor
mas do ius quiritium (a princípio contidas só nos mores maiorum e depois também na Lei
das XII Tábuas), para as adaptar às novas exigências sociais. Era um trabalho verdade
iramente criador. Por isso, desde o início, a iurisprudentia, sob certo aspecto, f
oi considerada, pelo menos de facto, a primeira (na importância) fonte do lus Roma
num. À época primitiva, dum modo especial, se refere POMPONIUS (D. 1,2, 2,12), quand
o afirma: «ius civile in sola prudentium interpretatione consistia» (o «ius civile» cons
iste únicamente, <pràticamente>, na interpretação dos «prudentes»).
Portanto, costume (mores maiorum) não se identifica com o ius non-scriptum.
Só num sentido muito amplo é que ius non-scriptum compreenderia, além da interpretatio
, também o costume.
c) Fases do costume («mores maiorum») como fonte do «lus Romanum»: 1.3 (753-242 a.C.); I
I: (242-130 a.C.); III.a (130
a.C.-230 d.C.)
I-Na Y etapa da época arcaica (753-242 a.C.) - Nesta fase, temos que distinguir do
is períodos:
a) -Antes da Lei das XII Tábuas (450? a.C.), os mores maiorum eram a fonte única 181
do lus Romanum. Estava tudo nessa tradição inveterada. 0 essencial, e por vezes difíc
il, era revelar, descobrir-interpretar. Já sabemos que essa alta missão estava a car
go dos sacerdotes-pontífices.
¡3) -Depois da Lei das XII Tábuas, os mores maiorum ainda continuam como fonte impor
tante do lus Roma num, sobretudo no que diz respeito a matérias de Direito Público.
Quanto a Direito Privado, agora a fonte principal é a Lei das XII Tábuas. Ali está qua
se tudo; o que é preciso é também «descobrir». Por isso, em questões de Direito Privado, a i
nterpretatio volta-se quase exclusivamente para a Lei das XII Tábuas, e só muito rar
o para os mores maiorum.
II -A partir da 2.a etapa da época arcaica até à época clássica (242-130 a.C.) - Nesta fas
e, o costume (mores maiorum), como fonte do Jus Romanum, em Direito Privado redu
z-se a um mínimo; em Direito Público (sobretudo em Direito Constitucional e em Direi
to Administrativo), ainda prossegue.
III -Na época clássica (130 a.C.-230 d.C.) -Nesta sua última fase, os mores maiorum qu
ase desaparecem por completo como fonte autónoma, para se sumirem nas outras fonte
s do Jus Romanum.
181 «Integrada» pela iurisprudentia (ver n. anterior).
172
173
DIREITO ROMANO
d) Na época post-clássica, surge o costume («consuetudo») como
fonte de direito a enfrentar as «constitutiones» imperiais
0 Direito Romano sempre defendeu que a lei (lex) é uma das várias fontes de direito,
mas não a únicaa e nem sequer a mais importante. A lex precisa sempre dum correctiv
o. Até à época post-clássica, esse correctivo foi desempenhado pelo ius praetoriuami 182
e sobretudo pela iurisprudentia. Na época post-clássica, principalmente a partir do
Baixo-Império (284-476), a lex (constitutio principis, a vontade do imperador) to
rnou-se oficialmente a única fonte de direito 183.
Surgiu logo em contraposição, como correctivo, a co~tudo (costume), com o significad
o de «diuturni a~ oonsenSu omniwm legam imitantur» 184.
Nas fontes post-clássicas e justinianeias (e nas clássicas interpoladas), descobrem-
se algumas das características que a actual Ciência Jurídica formula a respeito do cos
tume, nomeadamente:
1) - observância geral (consensos omnium)
2) - prática durante largo tempo (vetustas, diuturni actua, longa ou inveterata co
nsuetudo)
3) - persuasão do seu carácter obrigatório (opinio neces
sitatis ou opino iuris)
4) - âmbito da sua eficácia (legam imitantur, vim habet
aeque legi eonsu.etudo).
182 Já sabemos pelo frag. de PAPINIANUS (D. 1,1,7,1) que o «ius praetorium est, quod
praetores introduxerunt adiuvandi vel supplendi vel corrigendi iuris civilis gr
atia...».
183 Vid. infra § 26-a).
184 «Os actos contínuos e prolongados, com o consentimento de todos, têm valor de lei».
- Esta é uma das várias definições que se encontram nas fontes jurídicas romanas.
São muitos e complexos os problemas a respeito da consuetudo: elementos constituti
vos; natureza jurídica; quais os requisitos de cada elemento; sua autonomia como f
onte de direito; relação entre costume e lei, etc. Sobre este e outros assuntos vid.
ROBLEDA, Ius Privatum Romanum, cit. 61-78, e GAUDEMET, La Formation r;u Droit Séc
ulier cit. 106-118.
Sobre a desuetudo (uma espécie de «costume contra /agem ou contra consuetudinem» ou si
mples «não-uso», vid. RIDA 12 (1965) 469-483.
174
Título III - LEI DAS XII TÁBUAS
SUMARIO-20. a) - Primeira «lei» do Ius Romanum? Problema das «leges regiae» (Jus Papiria
num), FIRA 13-18
da Lei das XII Tábuas b) -0 que diz a tradição e qual o seu valor a respeito
a) A Lei das XII Tábuas é a primeira «lei» do «lus Romanum» ? Problema das «leges regiae» («I
PIRIANUM»)
20. A lei é, na ordem do tempo, a segunda fonte manifestandi. A fonte exsistendi d
a lei, tomada esta sensu stricto, são os comícios; da lei, tomada sensu lato, são o se
nado, o imperador e, nalguns casos, certos magistrados 185.
Nos primeiros tempos do lus Romanum, sempre que se fala de «lei» (lei pública), entend
e-se apenas a lex rogata, quer
185 Vid, infra § 21, conceito e espécies de leges.
Lei das XII Tábuas
I - teses de PAts, LAMBERT, BAVIERA
II - crítica
c) - Data da Lei das XII Tábuas-450 (?) a.C.
d) - Texto da Lei das XII Tábuas, FIRA 123.37 e) - Divisão, conteúdo e importância
f) -Actividade da interpretatio («iurisprudentia») depois da
g)-Análise da táb. III
175
8
DIREITO ROMANO
1.1 PARTE-TIT. Iu
§ 20
dizer, uma determinação geral (norma) aprovada pelo povo (de início, ordenada pelo pov
o), sob a proposta dum magistrado. CAPITO 1811 define assim a lex: «generale iussu
m populi, rogante
magistradu» 381. 4»
Ora, desde que nos períodos mais antigos do Direito Romano (quer dizer, desde o iníc
io até cerca do ano 242 a.C. - vid. infra § 21-c) -I) só há leis públicas comiciais, e sen
do ponto firme que a Lei das XII Tábuas é já uma verdadeira lei (comicial) pois foi vo
tada e aprovada pelos comícios (veremos a seguir), pergunta-se: não teriam existido
também verdadeiras
leis (isto é, normas votadas pelos comícios), antes da Lei das XII Tábuas?
Eis a questão. Centra-se toda ela neste ponto: as chamadas «leges regiae» ou «Ius Papiri
anum» serão verdadeiras leges, leis (= normas votadas pelo povo) ? E toda a questão se
reduz a este ponto, pois nem sequer há quaisquer outras normas anteriores à Lei das
XII Tábuas, acerca` das quais se levante a menor dúvida de que sejam ou não leis.
Leges regiae (Jus Papirianum) - Foi só a literatura jurídica dos começos da época imperi
al (tempo de Augusto, portanto séc. I d.C.) que principiou a falar, e com certa fr
equência, duma colectânea de normas jurídicas, constituída por leis votadas nos comícios d
as cúrias sob a proposta dos reis, portanto dos sécs. VII e VI a. C.; e essa colectâne
a teria sido ela
186 Vid. infra Tít. VIII, quem era este jurista.
187 «Uma ordenação geral do povo, a pedido dum magistrado». (Esta definição de CAPITO encont
ra-se em AULO GÉLIO, 10, 20, 2. Ver supra 167 que espécie de fonte é esta).
A palavra iussum, contida na definição de lex apresentada por CAPITE, significa auto
rização responsável, ordem com carácter ou efeitos normativos. Portanto, segundo a defin
ição de CAPITO - e inicialmente as coisas passavam-se dessa forma -, quem se respons
abilizava pela lei era o povo e não o magistrado. Por outras palavras, quem era o
verdadeiro legislador era o povo. Por isso, a princípio, no lus Romanum, não podia h
aver outras leis que não fossem as leis comiciais (pois era nos comícios que o povo
manifestava a sua vontade).
Como examinaremos adiante (vid. infra § 21), a palavra lex (leges) começa a englobar
outros significados, a abranger outras normas, até que no Baixo Império volta a ter
um único significado, mas agora o de constituição imperial (vontade do príncipe, vontad
e do legislador, que é exclusivamente o imperador).
borada pelo jurista e pontifex maximus PAPIRIUS («Sextus» ou «Publius»), que teria vivid
o no fim da monarquia (reinado de Tarquínio, o Soberbo) e princípios da república. Em
virtude de todas estas circunstâncias, tais normas são denominadas: «leges regiae», porq
ue teriam sido votadas sob proposta dos reis; «Ius Papirianum», porque se trata duma
colectânea elaborada por PAPIRIUS.
Crítica a) - As chamadas «leges regiae» existiram. Tanto
assim, que ainda hoje possuímos delas alguns fragmentos 188.
b.) -Simplesmente, essas «leges regiae» não são verdadeiras leis (=normas votadas pelos
comícios). Razões-1.° Essas «leis» são atribuídas à iniciativa sobretudo dos primeiros seis r
(ver n.188) ; ora tudo o que se sabe a respeito deles é lendário. - 2.° Os fragmentos
dessas leis que chegaram até nós
(FIRA 14-18) são preceitos de carácter sagrado e, só em parte, a indicar grande antigu
idade; ora os comícios não tinham competência para criar preceitos rituais sagrados. -
3.° Escritores antigos, juristas e não juristas, muito anteriores à época de Augusto, a
testam-nos que a Lei das XII Tábuas foi a primeira lei. Até aí, só existiam os mores mai
orum. E essa informação de tais escritores merece-nos crédito, não só por serem mais antig
os e, por isso, terem mais possibilidades de conhecer o que se passou nos séculos
da monarquia, mas também porque esse testemunho está de harmonia com as graves reacções
inéditas provocadas com a publicação da Lei das XII Tábuas. Se tivessem existido leis an
teriores, essas reacções não teriam alcançado aquele carácter de surpresa e de gravidade q
ue originou em Roma verdadeiras convulsões sociais.
Conclusões I -- As pseudo-leis régias são preceitos consuetudinários, compilados pela iu
risprudentia pontifícia, e passos de alguns (edictos religiosos de pontífices e até de
reis, pois
188 Ver, v.g. em FIRA 14-18. Aí se recolhem:I)-13 leges atribuídas a Rómulo; II}19, a
Numa Pompilio; III)-5, a Túlio Hostílio; IV)-1, a Anco Márcio;V)-2, a Tarquínio Prisco;
V[)-6, a Sérvio Túlio; e VII)-1, a Tarquínio, o Soberbo.
176
177
DIREITO ROMANO
1.' PARTE -TiT. iii
§ 20
também eram (ou desempenhavam as funções de) sumos pontífices &9 (vid. supra 61).
II - A atribuição da colectânea destas normas a PAPIRIUS, pontifex maximus do fim da m
onarquia e princípios da república, deve ser apócrifa. É feita, pela primeira vez, só no séc
. I d.C., apenas por certos escritores do tempo de Augusto, e continuada por alg
uns depois de Augusto. Já eram passados uns sete séculos (visto a colectânea ter sido
elaborada provàvelmente nos fins do séc. VII a.C.) ; e essa atribuição não é confirmada por
nenhum dos muitos escritores antigos, anterio
res à época de Augusto.
b) 0 que diz a tradição, e qual o seu valor, a respeito da Lei das XII Tábuas
Segundo a tradição, referida por vários escritores do tempo da república e do principiad
o, efectuou-se em Roma, nos anos 451 a 449 a.C., uma obra codificadora de grande
envergadura. Foi elaborada por um organismo especialmente constituído para esse f
im, os decemviri legibus scribundis (co
de dez homens para redigir as leis) ; depois, aprovada nos comícios das centúrias, a
fixada públicamente no forum e finalmente publicada em 12 tábuas de madeira. Daí a sua
designação
-'ex duodecim tabularum, Lei das XII Tábuas. É o documento
ie maior relevo do Direito Antigo.
Ainda segundo o relato da tradição, esse extraordinário documento teve origem nas reiv
indicações jurídicas dos plebeus.
Como já sabemos (vid. supra 172 X79), a ciência do Direito
(iurisprudentia), a princípio, constituía um privilégio dos sacerdotes-pontífices, e est
es eram só patrícios. Na interpretatio dos
189 Sobre o possível contributo dado pelos pontífices e concretamente pela iurisprud
entia pontifícia, vid. Jole VERNACCHIA, I Pontifici nella Storia del Processo Roma
no Arcaico (a proposito di Cie. Rep. 2,21 e 5,2) em Cieerontana 1-2(1959)
123-139.
mores rr.aiorum, os plebeus eram tratados quase sempre desfavoràvelmente. Esta sit
uação de tratamento desigual - para os patrícios tudo eram facilidades e direitos, par
a os plebeus tudo eram dificuldades e deveres -criou um ambiente de clamores suc
essivos por parte dos plebeus a exigirem: uma lei escrita; um regime de igualdad
e.
Depois de várias campanhas, no geral sem êxito, os plebeus sempre conseguiram que se
iniciasse a preparação da elaboração da reforma do ordenamento jurídico até aí vigente e bas
ado apenas nos mores maiorum, que os patrícios sacerdotes-pontífices últimamente vinha
m interpretando com bastante arbitrariedade.
2 então enviada à Grécia, em 452 a.C., uma comissão de três homens com a finalidade de est
udar as leis de Sólon. Passado um ano, regressa, já com os elementos colhidos, e ini
ciam-se imediatamente os trabalhos.
Em 451 a.C., o povo reunido nos comícios das cúrias e das centúrias nomeia uma magistr
atura extraordinária, composta de
dez cidadãos patrícios (decemviri legibus scribundis ccmsulari
potestate). Estes, durante um ano, gozariam de plenos poderes (suspendiam-se tod
as as magistraturas normais, e até a do tri
buno da plebe), mas teriam de fazer o tão desejado código. Du
rante esse ano, assim aconteceu; e os decemviri patrícios gover
naram muito a contento do povo. Redigiram 10 Tábuas ou capí
tulos de leis, que foram aprovadas pelos comícios das centúrias.
Como essas 10 Tábuas não eram suficientes, foi constituído para o ano seguinte (450 a.
C.) um novo decenvirato - desta vez, formado por patrícios e plebeus -, para que s
e terminasse o código. De facto, estes decemviri elaboraram as duas Tábuas restantes
, mas governaram com profundo desagrado do povo. Terminado o prazo do seu mandat
o, não queriam abandonar o poder. Tiveram de ser expulsos por uma revolta popular.
Em consequência da má vontade gerada no povo, este não aprovou nos comícios as duas últim
as Tábuas.
178
179
DIREITO ROMANO
1r PARTE-TIT. III
§ 20
Para o ano de 449 a.C. foram eleitos pelo povo, já duma forma normal, os dois cônsul
es, Valério e Horácio. Estes, sem atenderem ao descontentamento que tinha havido por
parte do populus, mandaram afixar no Forum as XII Tábuas. Portanto, não só as 10 Tábuas
que tinham sido aprovadas pelo povo mas também as 2, que, segundo a tradição, não tinha
m sido aprovadas. TITO Lívlo, já só em relação às primeiras 10 Tábuas, afirmava: «fons omnis
lici privatique est iuris». Com mais duas Tábuas, então o código decenviral ficava a con
stituir «velut
corpus omnis romani iuris» 190.
As XII Tábuas foram destruídas no incêndio de Roma, quando da invasão dos Gauleses em 39
0 a.C.; duvida-se que tenham sido reconstituídas em 387 a.C., como defendem vários
autores 101.
Este é o relato da tradição, exposta muito em síntese 1 2.
Qual o seu valor?
I--Teses de PAIS, LAMBERT e BAVIERA
Não têm faltado críticas severas ao relato da tradição.
Indiquemos as três mais salientes.
PAIS 199 nega a historicidade do decenvirato; considera a Lei das XII Tábuas uma c
olecção privada, e não do séc. V

190 «É a fonte de todo o direito público e privada»... como que um corpo (vid. supra n.
53) de todo o direito romano». - T. Livius, Historia 3,34,6.7. Vid. supra 167 que
espécie de fonte é esta.
191 Cf. KUNKEL, Rõmisches Recht3 (Berlim-Gotinga-Heidelberga,l949) 5.
192 Para um conhecimento pormenorizado da tradição, ver as seguintes fontes: T. Livi
us, Historia 3,31,8; CICERO, De Republica 2,36,37; TACITUS, Annales 3,27; POMPON
IUS, D. 1,2,2,4; DIONYSIUS HALICARNENSIS, Antiquitatum Romanarum quase supersunt
IV (Leipzig,1905) 10,545, etc.
A bibliografia sobre os vários problemas àcerca da Lei das XII Tábuas é vasta. Notem-se,
talvez como mais importantes, os trabalhos seguintes: GIRARD, La Loi des Douze
Tables (Londres,1914); BERGER, Tabulae Duodecim em RE IV-A 1900.1944 e Supp. VII
1275; DULL, Das Zwõlftafelgesetz. Text. Ubersetzung und Erlõuterung 2 (Munique,1953
); Sílvio A. B. MEIRA, A Lei das XII Tábuas. Fome do Direito Público
e Privado2 (Rio de Janeiro,1961).
193 PAIS, Storia di Roma I-I (Turim,1898) 588 ss., 11.2 (Turim,1899) 545 ss.; St
oria Critica di Roma (Turim,1915) 203 ss., 454 ss.
180
(450 a.C.?), mas de fins do séc. IV (304 a.C.), identificando-a
com o ius Flavianum (cf. infra § 27-c) ).
LAMBERT 194 também, como PAIS, não acredita na historicidade do decenvirato e reputa
a Lei das XII Tábuas uma colecção privada; mas só do séc. H a.C., identificando-a com
a primeira parte da obra Tripertita de Sextus AELIUS PAETUS, chamada ius Aelianu
m (vid. infra § 34).
BAVIERA 1D' admite a verdade histórica do decenvirato; mas, como LAMBERT, julga qu
e a Lei das XII Tábuas é uma
compilação privada do séc. II a.C., identificando-a com o ius
Aelianum.
II-Crítica a estas opinices
As teses de PAIS, LAMBERT e BAVIERA já foram devida
mente refutadas por GIRARD 190 BONFANTE 1P', DE FRANCISCI '99
etc.199. São hoje rejeitadas por todos os romanistas. Representam o -fruto do exag
erado criticismo acerca da história antiga de Roma.
0 relato da tradição a respeito da Lei das XII Tábuas, na sua parte substancial, é de ad
mitir; concretatnente, o que se refere ao 1.0 decenvirato e à data. Deve ser lendári
o o 2.° decenvirato, pois, dada a sua constituição de patrícios e plebeus, não tem sentido
a impopularidade que se lhe aponta; e devem eliminar-se certos anacronismos e c
ontradições.
194 LAMBERT, La Question de l'Authenticité des XII Tables et les Annales
Maximi em NRHD 26(1902) 149-200, L'Histoire Traditionnelle des XII Tables em
Mélanges Appleton (Lião,1903) 503 ss.
195 BAVIERA, Contributo Critico alfa Storia delia «Lex XII Tabularum» em
Studi Perozzi (Palermo,1925) 3.51.
196 GIRARD, L'Histoire des X11 Tables em NRHD 26(1902) 381.436. 197 BONFANTE, St
oria del Diritto Romano 114 (Roma,1934) 67 ss. 198 DE FRANCISCI, Storia dei Diri
tto Romano 1 2 (Milão,1940) 208 ss.
199 Para um completo conhecimento da bibliografia sobre esta matéria, vid.
BALOCH, Cicero and the Greek Law em Scritti in onore di Contardo Ferrini publica
ti
in occassione delta sua Beatificazione 111(Milão,1948) 17 e 18.
181
Ai
DIREITO ROMANO
1, PARTE-TÍT. III
§ 20
c) Data da Lei das XII Tábuas -450 a.C.(?)
A tradição apresenta as datas 451 a 449 a.C., desde a feitura à promulgação da Lei das XII
Tábuas. t; de aceitar, portanto, como data provável, 450 a.C.
Razões 1." - Os arcaismos linguísticos contidos nos fragmentos que chegaram até nós (FIR
A I 23-73) indicam-nos tratar-se dum documento que pode ser perfeitamente dos me
ados do séc. V a.C. Por exemplo, ni em vez de nisi; iudicatum facit em vez de solv
it (táb. 111 3) ; partis em vez de partes (táb. 111 6) ; se em vez de sine (táv. III 6
), etc., etc.
2.° -- Várias disposições que se encontram nesses fragmentos mostram-nos claramente uma
certa rudeza de costumes, que não deve situar-se depois do séc. V a.C.; v.g. o que s
e afirma na táb. III 6.
3.° - Sobretudo, algumas disposições revelam um estado social e político a indicar uma épo
ca, e até uma certa data. Haja em vista a norma que permitia ao credor, no caso de
insolvência do devedor e depois de praticadas certas formalidades, vender o deved
or como escravo. Essa venda tinha de ser feita « trans Tiberim», quer dizer, no estr
angeiro, pois nenhum cidadão . romano podia ser vendido como escravo dentro de Rom
a. Ora, se no tempo da Lei das XII Tábuas «trans Tiberim» era «estrangeiro», isso signific
a que, nessa altura, a outra margem do Tibre ainda não tinha sido incorporada na C
ivitas; e, como a incorporação só se efectuou nos princípios do séc. IV a.C. (a. 396), seg
pe-se que a Lei das XII Tábuas é anterior ao séc. IV a.C. Logo, a data de 450 a.C. é per
feitamente admis
sível.
d) Texto da Lei das XII Tábuas
0 texto da Lei das XII Tábuas não chegou íntegro até nós. Até fins da república, o conhecimen
o que se tinha dele basea
182
va-se únicamente na tradição oral i01 e escrita. Infelizmente; desconhecem-se, pelo me
nos, cerca de duas terças partes; e a terça parte que possuímos foi reconstituída através
de obras extra-jurídicas muito posteriores, e onde as disposições da Lei das XII Tábuas
são reproduzidas, em geral, só quanto ao sentido e poucas vezes textualmente.
Estes preciosos fragmentos da Lei das XII Tábuas, transmitidos quer literalmente (
muito poucos) quer apenas quanto ao sentido, desde o séc. XVI têm sido objecto dum e
studo crítico aturado, que originou a publicação de várias edições. A reconstituição fundamen
é devida a SCHÕLL, Legis XII Tabularum Reliquiae, de 1866. Nela estão baseadas as rep
roduções das colecções mais modernas de fontes, V.g. BRUNS-MOMMSEN-GRADENWITZ, Fontes lu
ris Romani Antiqui 1 (Tubinga,1909) 15-40; GIRARD, Textes de Droit Rornain ° (Pari
s,1937) 9-23: RICCOBONO, FIRA I (Leges) (1941) 23-73. CABRAL DE MONCADA, Element
os de História do Direito Romano I (Coimbra,1923) 325-351, apresenta a Lei das XII
Tábuas, segundo a edição de BRUNS, com tradução portuguesa.
e) Divisão, conteúdo e importância da Lei das XII Tábuas
Divisão - A Lei das XII Tábuas, formalmente, encontra-se dividida em 12 partes (tábuas
) e cada uma subdividida em fragmentos ou leis; estas, redigidas em forma lacónica
imperativa de aforismos jurídicos, para mais fàcilmente poderem ser decoradas 201.
Este seu carácter lacónico, mas sobretudo imperativo, constituiu modelo para os legi
sladores vindouros, e até
200 No tempo da juventude de Cícero (princípios do séc. 1 a.C.) aprendia-se de cor nas
escolas o texto da Lei das XII Tábuas, conforme ele nos conta em De Legibus 11,23
,59: «Discebamus enim pueri X11 (Tabulas) ut carmen necessarium, quas iam nervo di
scit». «Com efeito, nós em crianças aprendíamos de cor as XII Tábuas como uma oração obrigató
o que agora já ninguém faz».
201 Ver supra n. 200.
183
1
DIREITO ROMANO
1.1 PARTE - TiT. III
120
para os juristas, que haveriam de acusar a influência de tal sobriedade nos seus e
scritos e livros de direito.
Conteúdo -As tábuas
I-III tratam de processo civil;
IV-V, família e sucessões;
VI, negócios jurídicos mais importantes;
VII-XII, direito penal 202
Importância - A Lei das XII Tábuas é o monumento jurídico mais valioso da Antiguidade, não
só para Roma mas até para todo o Ocidente. É o ponto de partida para as construções jurídic
as posteriores. Data dos meados do séc. V a.C.; as suas disposições foram pouco a pouc
o superadas. Todavia, a Lei das XII Tábuas nunca foi formalmente revogada; pelo me
nos teóricamente, esteve em vigor até ao Corpus luris Civilis.
f) Actividade da «interpretatio» («iurisprudentia») depois da Lei das XII Tábuas
Antes da Lei das XII Tábuas, o «lus Romanum» era um sus consuetudinarium (isto é, basead
o nos «mores maiorum»); agora, é um ius legitimam (isto é, fundamentado na «Lex duodecim T
abularum»).
A actividade criadora dos iuris prudentes, conforme já dissemos 2 não terminou após a
promulgação do código decenviral. Simplesmente, mudou de rumo, sobretudo em questões de
direito privado. Em vez de se consagrar à revelação dos «mores maiorum», dedica-se quase e
xclusivamente a «descobrir» o conteúdo da Lei das XII Tábuas; e esse «descobrir», muitas vez
es, era criar direito novo. E havia necessidade disso. E que os
202 Como fàcilmente se vê, nem todos os assuntos eram tratados na Lei das X1I Tábuas.
Além disso, alguns eram versados com um relativo desenvolvimento; outros, duma for
ma muito sumária.
203 Vid. supra 172 e 173.
preceitos da Lei das XII Tábuas não eram suficientes 201 para ordenar toda a vida ju
rídica, e muitos deles em breve se tornaram inadequados para as novas condições sociai
s e económicas de Roma. Os juristas, tomando por base a Lei das XII Tábuas e sempre
dentro dum aparente formalismo (quer dizer, afirmando que estavam apenas a «interp
retar»), agiam com grande liberdade e com um sentido muito prático das necessidades
que os tempos iam impondo. Criaram instituições novas, que, de facto, não estavam cont
idas na Lei das XII Tábuas; mas, como formalmente eram apenas simples «descobertas» ou
«re+velações», essas novas instituições eram também consideradas formas de ius legitimum.
Em resumo: a actividade da iurisprucicntia arcaica, que a princípio se concretizav
a e reduzia à interpretatio, identificando-se com ela 2"5, não desaparece com a prom
ulgação da Lei das XII Tábuas, como à primeira vista poderia julgar-se; pelo contrário, au
menta.

g) Análise da táb. 111


A táb. III consta de 6 leis, sendo a 5.a uma reconstituição,
não textual mas quanto ao sentido, feita por AULO GELIO.
«l. AERIS CONFESSI REBUSQUE LURE IUDICATIS XXX DIES IUSTI SUNTO.
2. POST DEINDE MANUS INIECTIO ESTO. IN IUS DUCITO.
3. NI IUDICATUM FACIT AUT QUIS ENDO EO IN IURE VINDICIT, SECUM DUCITO, VINCITO A
UT NERVO AUT COMPEDIBUS XV PONDO, NE MAIORE, AUT SI VOLET MINORE VINCITO.
204 Vid. supra n. 202. 205 Vid. supra 173.
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185
I
DIREITO ROMANO
1.' PARTE- TIT. III
§ 20
4. SI VOLET SUO VIVITO. NI SUO VIVIT, QUI EUM VINCTUM HABEBIT, LIBRAS FARRIS END
O DIES DATO. - SI VOLET, PLUS DATO.
5. Gellius 20,1,46-47: Erat autem ius interea paciscendi ac nisi pacti f orent,
habebantur in vinculis dies sexaginta. Inter eos dies trinis nundinis continuis
ad praetorem in comitium producebantur, quantaeque pecuniae iudicati essent, pra
edicabatur. Tertiis autem nundinis capite poenas dabant, aut trans Tiberim pereg
re venum ibant.
6. TERMS NUNDINIS PARTIS SECANTO. SI PLUS MINUSVE SECUERUNT, SE FRAUDE ESTO»'00
Tradução e análise

«1. Nas dívidas de dinheiro confessadas (em juízo) e em (todos os) casos julgados judi
cialmente, haja 30 dias de benevolência», isto é, a execução só podia iniciar-se após terem d
corrido 30 dias. - São chamados «dies iusti», pois neste espaço de tempo verifica-se um
iustitium (=suspensão da aplicação da justiça). Vid. supra 65 A'.
I -Esta 1 a lei da táb. III refere-se aos primeiros trâmites da execução duma dívida, que
o devedor não cumpriu voluntàriamente e que, por isso, foi chamado a juízo o responsável
(que podia ser diferente do devedor, mas geralmente o devedor era também o respon
sável) ; esses primeiros trâmites constituem um processo declarativo da dívida. Ora um
a vez em juízo, o demandante ou autor (neste caso o credor) pode obter a seu
206 FIRA 132 e 33. Na lei 3.a, preferimos a leitura de ene maiore, aut si volet
minore vincito» (^omo já apresentava v.g. GIHARD. Textes de Droit Romain4 [Paris, 19
13] 13) à de «ne minore, aut si volet maiore vincito» (como sugere, por ex., RiccoBONo
em FIRA 1 33), devido principalmente a um achado arqueológico recente
com essa leitura (vid. Tutto su Roma Antica [Florença,1967] 133). Além disso, essa l
eitura está mais de harmonia com o contexto da táb. Ill cujas disposições procuram, na m
edida do possível, favorecer o devedor, o responsável ou vinculado; v.g. a lei 4.0-«..
. si volet, plus dato».
favor: ou, logo no início do processo (fase in fure, que de início se desenrolava pe
rante um cônsul e a partir de 367 a.C. perante o pretor), uma confissão da dívida por
parte do demandado ou réu (em regra, o devedor), chamada «confessio in iure»; ou, na p
arte final do processo (fase apud iudicem, que se desenrolava perante o iudex, q
ue era um particular), uma sentença do juiz (iudicatio) a condenar o devedor..
Por esta lei se verifica:
a) -a confessio in iure das dívidas em dinheiro e a iudicatio sobre qualquer dívida
(quer de dinheiro, quer de coisa não-dinheiro) são títulos declarativos da constituição ou
da existência duma dívida;
b) -são títulos que se equivalem, isto é, basta e é necessário um ou outro, para poder ini
ciar-se depois um outro processo, já mais de tipo executivo, designado primitivame
nte «legis actio per manus iniectionem» e mais tarde «actio iudicati». Note-se que só em r
elação às dívidas de dinheiro é que na verdade a confessio in iure bastava perfeitamente p
ara se proceder, se fosse necessário, à acção executiva. A confessio in iure de dívidas de
coisa não-dinheiro necessitava de ir à fase apud iudicem, para, numa litis aestimat
io (apreciação do pleito), ver quanto devia (o responsável) em dinheiro, visto a conde
mnatio já nesta época ser sempre ou geralmente pecuniária, excepto se as partes litiga
ntes acordassem em que o cumprimento forçoso fosse ainda especifico 207;
c)-o princípio ou adágio «confessos in iure pro iudicato est» (a confissão em juízo [a confi
ssão judicial do pedido, diríamos hoje] equivale a uma sentença) tem origem nas XII Táb.
III 1. Esse princípio, mais tarde, aparece invocado em várias fontes, v.g. em Páuli S
ententiae, 2,1,5 268, e passa grosso modo para o Direito moderno e para o Direit
o vigente 209.
v II -Além disso, esta l.° lei da táb. III estabelece o prazo de 30 dias áe benevolência (
dies iusti), após a confissão em juízo da dívida em dinheiro, ou após a sentença condenatória
sobre qualquer débito, para poder iniciar-se a execução da dívida. É uma espécie de tréguas c
ncedidas ao responsável para ele conseguir dispor as suas coisas e pagar a dívida,
207 Sobre esta matéria, mais aprofundadamente, vid. infra 2.a PARTE destas
Lições, tít. VI.
208 Ver infra § 35 que espécie de fonte é esta. - Sobre a equivalência da con
fessio in iure à iudicatio, vid. Sebastião CRUZ, Da «Solutio» 1, cit. 94 e 95.
209 Veja-se o nosso Código de Processo Civil nos art.°` 287.° alín. d), 294.°
e 300.0
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187
DIREITO ROMANO
1.' PARTE -TIT. III
§ 2C
evitando sobretudo a fase final da execução, que era terrível, como examinaremos a seg
uir, sobretudo na lei 6 21
«2. Depois disto (deste prazo de 30 dias). tenha lugar a «nianus iniectio», e o respon
sável seja levado (novamente)
a juízo» (ao tribunal).
A confessão in iure das dívidas em dinheiro e a iudicatio sobre qualquer débito não dava
m direito a uma execução imediata da dívida, a efectuar pelas próprias mãos, do credor. Er
am apenas título para o credor agarrar no responsável (ntanus iniectio) - manus inec
tio de facto ou, sob certo aspecto directa -, e levá-lo a um novo juízo, a acção executi
va. Esse procedimento executivo, sublinhe-se, realizava-se na época
arcaica mediante a legis actio per manus iniectionem; mais tarde, através da actio
iudicati.
Por esta lei 2.a da táb. III, e até já pela lei 1.a, vê-se claramente que a vindicta pri
vata (isto é, a faculdade de poder o titular dum direito executá-lo pelas suas própria
s mãos) não era admitida pela Lei das XII Tábuas, pelo menos como princípio geral. Isto
representa um grande avanço em relação aos estádios primitivos das antigas sociedades *1
".
«3. Se (o réu, o responsável condenado) não cumpre a sentença ou se ninguém aparece ali pera
nte o tribunal a defendê-lo ou a afiançá-lo (servir de «vindex»). (então o credor) leve-o
210 Este prazo ue su dias aparece, mais tarde, interpolado, dizendo-se apenas «die
s constituo»-v.;. D. 42,1,7;-44,3,2 -ou simplesmente «dies iusti». Esta última expressão,
sob certo aspecto, contrapõe-se à de dies fasti (dias em que é lícito actuar em Justiça),
porque os 30 dies iusti são dies nefasti (dias em que não se pode agir em tribunal).
São certamente reminiscências destes XXX dies iusti os prazos concedidos ainda hoje
ao devedor, previstos nos art p, 811 P, 927.° e 928.° do Cód. Proc. Civ. Português.
211 0 princípio da proibição da vindicta privara ou autodefesa, consagrado já pela Lei d
as XII Tábuas, é hoje expressamente admitido pelas legislações de todos os povos civiliz
ados. Entre nós, o art.° 1P do Cód. Proc. Civ. diz: «A ninguém é permitido restituir-se ao e
xercício do direito de que seja titular por sua própria força ou autoridade, salvo nos
casos e dentro dos limites declarados na lei».
consigo (apodere-se dele e leve-o para sua casa). (Aí), ate-o com
correias ou com grilhetas de um peso de 15 lil>ras, não mais; ou,
se quiser ate-o com (grilhetas de) um peso menor».
À face desta lei 3.a da táb. III, verifica-se o seguinte:
a) - se o responsável, depois de 30 dias após a condenação (ou a confissão em juízo, tratand
o-se de dívidas pecuniárias) tiver sido levado a tribunal, nem agora (nesta fase in
iure da acção executiva) cumpre, ou nem sequer apresenta um defensor
ou um afiançador (vindex 212), então o magistrado que preside
a esta fase do processo executivo (que a partir de 367 a.C., como já acentuámos, é o p
retor) adjudica a pessoa do vinculado ao credor; isto é, através duma addictio
decreta a verda
deira manos iniecteio 214) :
b) -o credor então apodera-se da pessoa do vinculado, pois, uma vez estabelecida a
manus iniectio, ele fica nas mãos do credor completamente indefeso, reduzido a um
a situação de quase-escravidão, quasi servi loco;
c) - leva-o para sua casa e encerra-o num cárcere pri
vado -15;
d) - aí, na prisão, pode ainda, provisóriamente, conservá-lo atado (ligado com várias volt
as-"") a uma espécie de cepo ou coluna com algemas (compeles) ou correias (catenae
)21T.

212 Sobre o vindex, cf. Sebastião CRUZ, Da «So/utio» I, cit. 4984,


213 Addictio é o decreto dum magistrado, geralmente do pretor, em que atribui uma
coisa ou uma pessoa a outrem. A iudicatio é a decisão do iudex que condena ou absolv
e alguém.
214 Manos iniectio é o apoderamento duma pessoa; a vindicaria é o apoderamento duma
coisa. - Sobre as várias formas de manus iniectio vid. Sebastião CRUZ, o. c. 2214, 2
833, 36, 37, 3961, etc.
215 Sobre o problema dos cárceres privados no Direito Romano ver Sebastião CRUZ, o.
c., 2936.
216 A este acto de o credor ligar, geralmente de pés e mãos, o responsável (o vinculad
o) chamava-se ligare e sobretudo obligare (ob+ligare=ligar à volta de), porque se
davam bastantes voltas. Desse vínculo material (ob+ligatio) provém a obrigação (obligati
o), que, mais tarde no Direito Romano e também agora, é apenas um vínculo (sempre um vín
culo) jurídico. -Sobre a origem e evolução do conceito de obligatio, cf. Sebastião CRUZ,
o. c., 26-35 e vid. BIONDI, Scritti I 197.
217 Compedes eram grilhões. Nervus, própriamente dito, era um suplício formado de peças
de madeira ou de ferro com bastantes orifícios, para meter os pés que ali se apertav
am, assim como as mãos e talvez o pescoço (neste último pormenor é
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189
DIREITO ROMANO
1! PARTE-TIT. III
§ 2C
Tudo isto, e mais o que já a seguir na lei 5.a se verá, era para forçar o responsável a
cumprir, a pagar (solvere).
«4. Se (o vinculado) quiser, viva por sua conta. _Se não vive por sua conta (à sua cus
ta, do que é seu), quem o tem preso dê-lhe (seja obrigado a dar-lhe) uma libra de fa
rinha por dia. Se quiser, dê-lhe mais».
Por esta lei 4 verifica-se:
a) - que o vinculado (o devedor ou o responsável já encarcerado 218 em casa do credo
r) juridicamente ainda não estava reduzido a escravo, pois conservava-se livre, ci
dadão e sui iuris, com a sua caput como tinha antes. Não há diminuição ou modificação da pers
nalidade; há apenas limitação do uso dos seus direitos de personalidade. Porém, de facto
, é como se fora escravo (7uasi servi loco), pois é livre, mas não está em liberdade;
b) - que a addictio não o privava do seu património, já que podia alimentar-se de seus
próprios bens.
«5. Havia entretanto o direito de pactar e, se não chegassem a um acordo, então (os vi
nculados) (devedores ou simples responsáveis) ficavam presos com suplícios (nos cárcer
es privaros dos credores), durante sessenta dias. Dentro desses (60) dias, eram
levados a três feiras públicas seguidas e, perante o pretor reunido em comício apregoa
va-se a quantia em que tinham sido condenados (e por que poderiam ser resgatados
, na esperança de que alguém a satisfizesse e assim remisse os vinculados). Passadas
as três feiras, (os vinculados) (ou) sofriam (eram-lhes infligidas) penas (de dim
inuição) da personalidade (em geral, perdiam toda a «caput», quer dizer, eram
semelhante à primitiva canga chinesa); no sentido amplo, nervus compreende toda a
espécie de suplício -catenae, boiae, pedicae, columbar, etc. (cf. Sebastião CRUZ, o. C
.
3936).
218 Devedor e vinculado não são sinónimos. «Devedor» é o que contraiu uma dívida. «Vinculado»
geralmente, designa aquele que responde pela dívida, pois, se não cumprir, pode fica
r in vinculis; b) em rigor, indica o que já está in vinculis. Em geral, o devedor é ta
mbém o vinculado (ou responsável); mas o vinculado pode ser uni terceiro.
reduzidos a escravos do credor) ou eram vendidos como escra
vos além do Tibre» (isto é, no estrangeiro). (Ou)
«6. Passadas as três feiras, seja (morto e até) esquartejado (sobretudo, no caso de se
rem vários os credores). Se (estes) cortassem mais ou menos (do que o devido), iss
o não era considerado fraude» (prejuízo doloso).
A lei 5.a é uma reconstituição de AuLo GÉLIO, não literal mas apenas de conteúdo; e, ao cont
rário das outras cinco leis - que estão em forma imperativa e a referir-se ao respon
sável (no singular) -, está em forma descritiva e a referir-se aos responsáveis (no pl
ural). Demonstra um forte estímulo para que a dívida fosse cumprida.
a) - Ou, durante os 60 dias, no cárcere privado e já preso com suplícios («in vinculis»),
o responsável (que em geral, repita-se, era o próprio devedor)
I) -era libertado (isto é, originàriamente, desatado
das correias ou grilhões que o prendiam a uma espécie
de coluna ou cepo), e neste desatar (solvere, que é o con
trário de ob+ligare) consistia a primitiva solutio (paga
mento) ; era a primeira forma de pactar. Só podia ser
efectuada iesde que, primeiro, se desse ao credor uma
certa quantia de pecunia (dinheiro), geralmente o valor
da dívida (nisto se concretizava o «ius paciscendi»).
Era pois a libertação (liberatio) do responsável. De
início, só podia ser efectuada por um terceiro (o vin
dex) 213; a partir da lex Valha, do ano 160(?) a.C.,
219 E isto compreende-se fàcilmente, até pelo seu aspecto materialístico, visto que o
próprio (o responsável-vinculado) não teria possibilidade (ou só com muita dificuldade)
de... se desligar, de se desatar. Era preciso vir um terceiro em seu auxílio (o vi
ndex), que o libertasse, já que o próprio, repetimos, estava numa situação de impotência fís
ica para o fazer.
Dado este carácter de impossibilidade originária de o vinculado se libertar pelas su
as próprias forças, tem-se estabelecido um certo confronto entre vindex e Messias (l
ibertador) (befreiender Gott). Cf. DAUBE, Studies in Biblical Law (Cambridge,194
7) 48; KOSCHAKER, SZ 37(1919) 359; KASER, SZ 66(1948), e Das altromische Ias (Go
tinga, 1949) 241 ss. - Há pelo menos dois textos da Bíblia, um do Velho Testamento e
outro do Novo, em que se fala de Deus como vindex (libertador) dos justos. Sap.
XVI,
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191
DIREITO ROMANO
1 PARTE - TíT. III
§ 20
vinculado (o responsável, encerrado e atado) podia entregar a pecunia ao credor pa
ra se libertar; era uma segunda forma de pactar. Esta lex autorizou, portanto.
vinculado a ser o seu próprio vindex e a libertar-sr, isto é, a desatar (talvez com
um pequeno auxílio, pelo menos inicial, do credor) as correias e grilhões que
prendiam, denominando-se esse acto «manum sibi
depellere»
II)-Ou o responsável (ainda no cárcere privado e preso, com suplícios) podia pactar («pa
cti forent») com
o credor, provàvelmente entregando-se confiadamente (in fide) a este para todos os
serviços (era uma terceira forma de pactar), a fim de evitar as terríveis consequênci
as iminentes (isto é, ou ser reduzido a escravo do credor, ou ser vendido como esc
ravo trans Tiberirn, ou ser morto e o cadáver até esquartejado). Este acto de entreg
a total e confiante de alguém (geralmente,
devedor insolvente) a outrem (geralmente, o credor) denominava-se «se nexum dare». F
oi abolido pela Lex Poethelia Papiria de nexis - vid. infra 212).
b) -Ou, ainda durante os 60 dias, numa das três feiras («nundinae»)22i1, o vinculado p
odia ser resgatado por alguém da
17; «vindex est enim Deus orbis iustorum». I Thes. IV, 6: «vindex est Dominus de omnib
us justis». Além disso, há um texto de Job XIX, 25, onde o Senhor é invocado, em hebraic
o, como Gó'êl, e que S. Jerónimo na versão da Vulgata
Latina traduziu por «vingador», quando devia traduzir por «defensor», «libertador» - vindex.
220 «Expulsar, expelir de si e por si mesmo o poder (o domínio) (do credor)».
221 Nundinae como nonae, derivam de novem. No calendário romano a palavra «nundinae» i
ndica o que acontece, periòdicamente, todos os 9 dias, ou semanalmente, pois as se
manas romanas antigas eram constituídas por 8 dias e não por 7, como hoje. Hoje, diz
-se «todos os 8 dias»; outrora, os romanos diziam «todos os 9 dias» ou «nundianae». A tradiçã
tribui aos Etruscos a instituição das semanas de 8 dias. A semana de 7 dias teria pr
incipiado no tempo dos Sabinos. 0 texto mais antigo, que se refere às «nundinae» , é o p
asso das XII Táb. 111 5 e 6 que estamos a analisar.
Nundinae e nonae, que têm a mesma etimologia (de novem), a princípio deviam ter o me
smo sentido; mais tarde, fez-se a distinção dos dois termos, ficando nonae a signifi
car um dia particular e único do mês-o nono antes dos idus.
Segundo MOMMSEN, nundinae é o primeiro dia da semana; segundo HUSCHKE, é o último.
As nundinae foram estabelecidas para que os habitantes do campo pudessem
sua geras ou por um amigo. «Resgatado», não «comprado», pois nessa altura ainda não era vend
ido (como escravo).
Se o responsável-vinculado nem tivesse sido libertado
(a princípio pelo vindex e, depois, até por si próprio), e nem tivesse pactado com o c
redor, v.g. entregando-se-lhe voluntária e confiadamente como seu súbdito (se nexum
dare), não como escravo, e nem tivesse sido resgatado numa das três feiras consecuti
vas aonde fora levado - só então o credor, passados os
60 dias e depois de o ter levado às três feiras, podia exercer todas as faculdades c
ontidas na manos iniectio: ou transformá-lo em seu alieni iuris (geralmente em seu
escravo), ou vendê-lo como escravo trans Tiberim, ou matá-lo e até esquartejá-lo, sobre
tudo se fossem vários os credores (partis secanto) 222. E se um dos credores esqua
rtejasse mais ou menos do que o devido,
vir à cidade, de tempos a tempos, tratar dos seus interesses, feirar e interromper
os trabalhos agrícolas e outras ocupações de vária natureza. Era um dia especial. A vid
a ordinária interrompia-se: as crianças não iam à escola, as grandes personalidades toma
vam banho (nas termas públicas) e reuniam-se entre amigos para refeição mais abundante
do que o costume.
Depois de T. Livius, as nundinae eram simplesmente os dies solemnes.
Trinundinum designava um intervalo de 3 nundinae ou 3 vezes 8 dias, e indicava u
ma medida de publicidade. - Sobre a origem, fontes e significado de trinundinum
cf., por todos, G. ROTONDI, Leges Publicae Populi Romani (Milão,1912) 125-130 e vi
d. Classical Quartely 15(1965) 282-285.
No procedimento de legis açtio per manos iniectionem, a Lei das XII Tábuas ordenava,
portanto, que o vinculado insolvente fosse, em 3 dias consecutivos de mercado,
tirado da prisão e conduzido ao comitium. Proclamava-se em alta voz o montante da
sua dívida e o preço por que se libertava, na esperança de que um terceiro o resgatass
e.
As nundinae foram os primeiros mercados da cidade e, durante muito tempo, os único
s. Realizavam-se no forum romanum. Mais tarde, deixaram de ser as grandes feiras
periódicas; mas a palavra conservou-se e sempre ligada ao lugar onde se vende e s
e compra-D. 50,11,1 e 2 e C. 4,60. Desta forma, a evolução de nundinae originou: a)-
lus nundinarum, o direito de abrir e ter mercados, concedido aos municípios ou a s
imples particulares; b) - Forum nundinarum, o lugar do mercado; c) - Oppidum nun
dinarium, a cidade onde há feiras; d) - Nundinatio, o tráfico comercial; e) - nundic
ari, comerciar.
222 A opinião dos AA. a este respeito não é uniforme; indica-se no texto a que nos par
ece mais provável. Cf. Max KASER, Das altrõmische lus (Gotinga,1949) 187 e n. 46.
192
193
DIREITO ROMANO
1., PARTE- TIT. III
§ 20
isso não era considerado... um prejuízo doloso (se fraude esto), um acto condenável,
Em resumo e em conclusão
1 ° - A obrigação romana, de início, parece que se identificava com um vínculo materialístic
o (ver supra n. 216), concretamente com umas catanae ou compedes; e do lado pass
ivo, referia-se, não ao devedor, mas ao afiançador, ao respon
sável 222.his, Porém, ainda em plena época arcaica, consegue
desmaterializar-se um pouco, para consistir, do lado activo, já num certo dominium
do credor sobre a pessoa do responsável, que geralmente era o devedor - um apoder
amento (manos iniectio) -, que podia concretizar-se numa prisão (mas só durante 60 d
ias), e depois na redução dessa pessoa a escravo, ou morte da mesma e até divisão do seu
cadáver. Mas esse domínio (manus iniectio) só entrava em acção no caso de incumprimento d
a dívida, e após terem sido praticadas certas formalidades, pois
2.° - se o devedor cumpria o débito (ou o responsável a con
fissão judicial ou ~, sentença) na data fixada, acabava a responsabilidade.
3.°-Se não cumpriam na data fixada, o responsável tinha ainda 30 dias (dies iusti) par
a cumprir ou para entrar numa
composição com o credor, por exemplo, através do se nexum dare entregar-se-lhe voluntári
a e confiadamente como súbdito
(não como escravo), para o credor dispor dele (responsável) como entendesse; geralme
nte, remindo a dívida com o trabalho.
222-bis De início, a palavra «obligatio» significava o que hoje denominamos «garantia (e
special) das obrigações»; quer garantia pessoal («persona obligata»), quer garantia real («r
es obligata»). «Obrigação» era designada pelo vocábulo debitum.
Mais tarde, a palavra debitum continua a significar «obrigação», mas em geral ou com carác
ter genérico, isto é, quer obrigação civil, quer obrigação Pretória, quer obrigação natural.
para designar «obrigação civil» há o termo oportere; para a «obrigação pretória», a expressão
eneri»; para a «obrigação natural», a designação «obligatio naturalis» (v.g. D. 14,6,10). É q
a altura (e desde muito antes?) debitum e obligatio já eram sinónimos, ou pelo menos
, identificavam-se.
4.° - Passados os 30 dias, aplicava-se a manus iniectio, que entrava imediatamente
em acção, se fosse directa ou extrajudicial 2229. Esta apenas se verificava no caso
de ser a obrigação originada por um nexum 224; aliás era necessário, primeiro, uma nova
in ius vocatio (preceituada, como vimos, pela 2.a lei da táb. Ill, «in ius ducito») e
uma addictio do magistrado competente (a partir de 367 a.C., o pretor), e então d
enominava-se <,manus iniectio indirecta» ou judicial.
5.° - A manos iniectio era o apoderamento da pessoa do responsável, feita pelo credo
r. Levava-o para casa e prendia-o, em cárcere privado, durante 60 dias. Neste espaço
de tempo, ou era libertado, solutus, solto (a princípio, só podia sê-lo por um tercei
ro denominado vindex, a partir da Lex Vallia também pelo próprio vinculado), ou havi
a um pacisci (um pactar 225 entre o
223 A «manus iniectio directa» ou extra-judicial é o apoderamento que o credor faz da
pessoa do devedor, sem primeiro ter necessidade de recorrer a um juízo executivo. É
uma reminiscência do sistema da vindicta privata, em que um direito era logo exequív
el, pois, nessa época quase pré-histórica, não havia ainda um processo para declarar a e
xistência dum direito e sobretudo para o executar, e nem até para condenar um delito
; fazia-se tudo pelas próprias mãos do interessado.
A aplicação do ius, através dum processo, supõe já uma evolução posterior. Portanto, numa épo
anterior à do processo, os direitos e os delitos originavam uma «sanção» imediata, sem nec
essidade dum juízo, e o não-cumprimento dum débito, geralmente, também era considerado u
m «delito».
224 A manus iniectio directa, a partir da Lei das XII Tábuas, só existe no caso do n
exum. Este, segundo a melhor opinião (e são tantas...), era um negócio que originava não
só uma dívida de dinheiro mas também o autopenhoramento (como garantia) do corpo do r
esponsável (a «manus iniectio directa»). Portanto, nexum = stipulatio (dívida pecuniária)
+ autopenhoramento da própria pessoa do responsável. Cf. Sebastião CRUZ, Da «Solutio» 1, c
it. 3658 e 3941.
225 «lus paciscendi» e «pacri forent», do verbo paeisci, traduzimos no texto, usando a p
alavra pactar.
[Não desconhecemos que o Vocabulário Ortográfico, de 1947, consagra. inexplicavelmente
, só a forma pactuar.
Porém, o mesmo Vocabulário, de 1940, apresentava as três formas pactar, pactear e pact
uar. Os bons dicionários (CÂNDIDO DE FIGUEIREDO, MORAIS, etc.), os dicionários de divu
lgação, a Grande Enciciclopédia Luso-Brasileira, etc., etc. (e todos afirmando estar a
seguir o Acordo Ortográfico Luso-Brasileiro, de 10 de Agosto de 1945) admitem as
três formas - pactar, pactear e pactuar.
A palavra ou vem directamente de pactare e então só pode dar pactar; ou vem
t
194
195
DIREITO ROMANO
vinculado e o credor) - e pacisol talvez fosse, a princípio, só o se nexum dare, dep
ois da Lex Valha também o autolibertar-se - ou era resgatado por alguém da sua gens
ou por um amigo numa das três feiras públicas consecutivas aonde tinha de ser levado
.
6.° - Passados estes 60 dias e depois de ter sido levado às três feiras, o vinculado,
pelo menos a princípio, não continuava mais, preso. Ou ficava aliem iuris, geralment
e escravo, do credor (cepite poenas dabant), ou era vendido como escravo no estr
angeiro (trans Tiberium), ou era morto, e até o seu cadáver esquartejado, sobretudo
se fossem vários os credores. -Esta última hipótese, morte e esquartejamento do cadáver,
nunca se deve ter verificado. Nem fontes jurídicas nem fontes literárias nos falam
de um único caso. A disposição, de facto, devia ter o sentido que as palavras naturalm
ente exprimem; mas deveria ser unicamente para intimidar, e duma forma terrível, o
responsável e forçá-lo a cumprir. Além disso, nesta época da Lei das XII Tábuas, ele tinha
sempre um meio de evitar esse final horroroso: praticar o se nexum dare.
A expressão «capite poenas dabant», da lei 5', é traduzida
por alguns autores por «era o réu condenado à pena capital,
podendo o credor matá-lo».
Segundo nos parece, trata-se dum equivoco.
A palavra «poenae (no plural) não significa uma determi
nada pena, mas, sim, certas penalidades, devendo, depois, con
de pacto, e só pode originar pactear. Pactuar é nitidamente de formação incorrecta. Por
isso, com toda a razão, diz José LEITE DE VASCONCELOS, Lições de Filologia Portuguesa (L
isboa,1926) 255: «Pactuar é erro, pois a palavra foi formada como se pacto viesse de
um nome latino da 4.a deci., em vez de vir, como vem, de pactum; melhor seria p
actar (como em hespanhol) e pactear, que também se encontram» - E comenta Vasco BOTE
LHO Do AMARAL, Grande Dicionário de Dificuldades e Subtilezas do Idioma Português (L
isboa, 1959): «0 verbo pactuar vulgarizou-se muito e já não sai».
Pactar, além de ser uma palavra formada correctamente, exprime melhor aquele senti
do primitivo de pacisci e que era o mesmo dos antigos verbos pakare, paktare e p
acere: - apaziguar o credor irado, dando-lhe dinheiro (vid. Sebastião CRuz. Da «Solu
tlo» 1, cit. 47-49). E deve ser este o sentido intimo de pacisci, na lei 5.a. Pact
ar, traduz esse sentido, melhor do que nenhuma das outras formas].
1.' PARTE - TIT. III § 20
cretizar-se (vid. V.g. CICERO, De Orat, 1,43,94). Ora no texto, não
se encontra no singular, mas no plural, poenas.
Poenas dare tem o significado de «infligir penalidades» ou
«penas». Esta expressão exige, depois, um ablativo, para deter
minar a espécie dessas penalidades. Por ex.: pecun'á (em ablat.) poenas dare = infli
gir penalidades em dinheiro, penas pecuniárias,
que podem variar desde uma pequena a uma grande quantia.
Portanto, «capite poenas dabant» deve significar «inflib+am penas
(ou penalidades) (de diminuição) da personalidade (juri,:--a)».
W Como analisaremos devidamente no tít. I da 3, PARTE destas Lições, caput, nos textos
jurídicos, geralmente, significa perso
nalidade jurídica. A caput tem vários graus: ou só o status liber
tatis (indivíduo livre); ou também o status civitatis (indivíduo livre e cidadão); ou ai
nda inclusive o status familiae (indivíduo livre, cidadão e «sui iuris»). Ora a expressão
poenas dabant (infligiam penalidades) capite (em relação à personalidade jurídica), tant
o podia consistir só na perda do status familiae («tapitis deminutio minima»), transfo
rmando o vinculado de «sui iuris» em «alieni iuris» do credor; como também na perda do sta
tus civitatis («tapitis deminutio media»); como inclusive na perda do status liberta
tis («tapitis deminutio maxima»), convertendo o responsável-vinculado em escravo do cr
edor. Era isto o que normalmente acontecia, segundo consta de várias fontes não só lit
erárias mas também jurídicas, v.g. D.1,6,7;-28,3,6,6;-29,2,25,3;-48,19, 8,8;-48,19,8,1
2;-48,19,17;-48,23,1,1, etc. Portanto, podia haver três espécies de penalidades ou t
rês graus de pena capite. Assim, já se compreende perfeitamente por que está «poenas (no
pl.) dabant».
Esta expressão «capite poenas dabant», em regra, não significava <pena de morte» nem mesmo
«pena capital». Para designar «pena de morte», as fontes utilizam «poena mors» (D.48,1,2),
ou simplesmente «capite damnari» (D.48,24,1) ou «capite punire» (D.1,8,11). Para indicar
«pena capital», usam «poena tapitis» ou «poena capitalis». Simplesmente, a «poena tapitis» o
ena capitalis» não tem apenas o significado de «pena de morte». Podia significar: a) - o
u (e esta em primeiro lugar) a perda total da «caput», i. é., perda da liberdade, já que
para os romanos, sempre, mais do que a vida «libertas inaestimabilis res est» (D.50
,17,106), e assim, v.g. D.28,3,6,6;-28,3,6,12; b) -ou pena de morte; c) -ou pena
de exilio (D.48,1,2). «Poena tapitis» (ou «poena capitalis») contrapunha-se a «poena pecu
niaria» (D.48,1,2;-48,11,7pr.;-49,9, 1pr.;-50,16,131, etc.).
Mais; «capite poenas dabant» não deve poder traduzir-se por uma aplicação da pena de morte
, pois, segundo pode deduzir-se de alguns textos em que se fala de «capite poenas
dare», o punido.
196
197
DIREITO ROMANO
depois, em regra, ia trabalhar para casa do lesado, a fim de remir com o seu tra
balho a dívida ou falta.
Sobre o significado de pena capital em Direito Romano, vid. principalmente BRAST
ELLO, La Pena Capitale Romana (Nápoles, (1934), e La Repressione Penale in Diritto
Romano (Nápoles,19i37), e Ernest LEVY, Die rómische Kapitaistrafe (Heidelberga,1931
).
Título IV - FONTES DO « IUS CIVILE»
(D. 1,1,7pr.)
A) LEGES senso stricto B) LEGES sensu lato
C) IURISPRUDENTIA
Capítulo 1.,-A) LEGES (sensu stricto): ROGATAE, DATAE (?), DICTAE
SUMÁRIO-21. a) Conceito de lex: noção etimológica; noção real
b) Espécies
c) Leges publicae. Evolução
1 - A princípio, sécs. V (450) a III (242) a.C., só há leis comiciais (leges rogatae) e
plebiscitos a) - fases do processo de formação das leis
comiciais: 1)-promulgatio; 2)-concia
nes; 3) - rogatio; 4) - votação; 5) - apro
vação pelo senado; 6) - afixação
~) - sistema da designação duma «lex rogata» y) - partes duma <dex rogata»: praescriptio,
rogatio e sanetio
5) - classificação das «leges rogatae», quanto
à sanctio: 1) - perjectae; 2) - minus quam
perfectae; 3) - imperfectae
II - Depois do séc. III (242) a.C. e sobretudo a
198
199
DIREITO ROMANO
1' PARTE -TIT. IV - CAP. 1.*
§ 21
partir do séc. I d.C., existem várias espécies de leges publieae.
a) - rogatae. Exemplos p) - datae (?) y)-dietae. Exemplos
III - A partir do séc. 11 d.C., as leges publicae, principalmente as reges rogatae
, começam a desaparecer, para darem lugar às constituições imperiais
IV - A partir do Baixo-Império (sécs. IV-VI), a palavra leges (= constituições imperiais
) significa ius novum e contrapõe-se a ius ou ius vetus
21. Depois da Lei das XII Tábuas, conforme já dissemos, o «Ius Romanum» deixou de ser iu
s consuetudinarium - um direito consuetudinário, isto é, baseado exclusivamente no c
ostume, «mores maiorum» -, para principiar a ser um ius legitimum (direito legítimo, i
sto é, baseado fundamentalmente na lex, tomado este termo num sentido muito amplo)
. 0 costume cedeu, portando, o seu lugar à lei (lex), às leis (leges).
Mas que é a lex?
Conceito de alex»: noção etimológica; noção real
Noção etimológica -Os autores ainda hoje não estão de acordo quanto à etimologia de lex. Ind
iquemos sumàriamente as principais opiniões.
-Segundo uns, lex deriva de legere (=ler), pois na «lex publica» havia a leitura da
respectiva proposta («rogatio») ao povo reunido nos comícios, e na «lex privata» lia-se o
acordo antes de se concluir o negócio. Além disso, era costume dos romanos escrever
em tábuas públicas as normas de interesse público, tanto antes como depois de aprovada
s nos comícios, para que o povo as lesse e assim pudesse aceitá-las ou rejeitá-las, e
escrever em tábuas particulares as normas de interesse
privado (os contratos privados), para que as partes as pudessem ler, a fim de es
tar sempre bem presente o seu conteúdo e deste modo se evitarem, quanto possível, fa
lsas interpretações, dolosas ou não.
- Segundo outros, lex provém de eligere (= eleger, escolher). Esta etimologia fund
a-se na própria natureza da lei, que é, por parte do seu autor, uma eleição (escolha) do
s meios e dos actos que se hão-de prescrever como mais aptos para atingir determin
ado fim. .
- Para outros, lex procede de ligare (=ligar, obrigar). É que a lei obriga a agir
em conformidade com ela; vincula.
- Outros entendem que a palavra lex está relacionada com legare (=legar, dar um le
gado ou mandato), pois o legislador em regra não tem em si a razão de ser (pelo meno
s, última) do seu poder legislativo; ou o recebeu dum seu superior, ou do povo, ou
, em última análise, de Deus.
-Não falta quem faça derivar o vocábulo lex do sânscrito lagh ou do verbo grego tithemi,
que significa «fixar», «estabelecer»; e alguns julgam encontrar a etimologia de lex na
palavra nórdica Mg, que significa «o que está em ordem».
Sem pretendermos aderir a uma destas opiniões com a exclusão das outras, podemos fix
ar-nos na etimologia apresentada em primeiro lugar: lex - sobretudo no que diz r
espeito às primeiras leis romanas, quer públicas quer privadas - provém, ou pelo menos
está relacionada com legere. Portanto, lex, segundo uma noção etimológica, é toda a norma
escrita que pode ser lida.
Noção real - A « lex» 22G é toda a declaração solene com
226 Ao estabelecer-se um conceito geral de «lex», não se tenha a mente fechada - agarr
ada só ao conceito moderno de lei, que deriva essencialmente duma das várias modalid
ades ou espécies de «lex», as constituições imperiais, e tal qual se nos apresentam na época
decadente do Baixo-Império -, mas, sim, haja uma mentalidade aberta para compreen
der toda a panorâmica da temática da lex.
Grande mal dos nossos tempos foi ter considerado a lei moderna como única forma de
ler, quando afinal se trata duma das várias espécies de ler, e até duma
f
200
201
l
DIREITO ROMANO
valor normativo, baseada num acordo (expresso ou tácito) entre quem a emite (a dec
laração) e o destinatário ou destinatários.
A lex vincula num duplo sentido: vincula aquele que a declara, e a pessoa ou pes
soas às quais se destina.
b) Espécie de «lex»: «privata» e «publica»
Lex privata é a declaração solene com valor normativo, que tem por base um negócio priva
do. Isto verifica-se, sobretudo, quando alguém faz um acto de disposição solene acerca
duma coisa sua; chama-se lex rei suae dista 222'.
A lex privata (lei privada) cria direito, em virtude do princípio já consagrado 228
pelas XII Tábuas (VI-1): «uti lingua
modalidade criada numa época de decadência, que portanto, em regra. nào deve servir de
modelo. Em grande parte, Cícero concorreu para este erro, ao traduzir vóuoç (nómós) por l
er.
Maior mal ainda foi o de considerar essa lei moderna como única fonte de direito.
Daí o ter-se chegado àquilo a que vimos chamando desde 1962 «totalitarismo da lei» (cf. «S
eparata» 11): uma perversão da ordem jurídica pela lei, a qual se traduz, tantas vezes
, numa inviolabilidade da lei... à custa da prática de injustiças (cf. «Separata» 13). A l
ei é fonte de direito; mas não é a única; nem sequer a mais importante. A mais important
e é a iurisprudentia (vid. infra § 27-c). - Sobre a relação entre lex e ius vid. BIONDI
em BIRD 67(1964) 39-69 e Mél. Ph. Meplan 1 167.
227 «Lex» = uma declaração com valor normativo.
«Dieta» = afirmada solenemente. - Dicere (dizer) é afirmar com solenidade. Distingue-s
e de loqui = «verba facere» (falar); por isso, no fim dum discurso, termina-se com «te
nho dito» e não com v. g. «tenho falado». Pode falar-se muito e... dizer-se pouco ou nad
a; e pode dizer-se muito, falando pouco. 0 jurista deve dizer e não apenas... fala
r. - «Afirmar» é menos que «dizer», pois «dizer» é «afirmar com solenidade».
«Rei suae» = acerca duma coisa própria, que lhe pertence em propriedade; sua.
A lex rei suae dicta verifica-se principalmente na nuncupatio da «mancipatio» (vid.
infra 2.a PARTE, Tít. IV) e no legatum do testamento (vid. infra 3.a PARTE, Tít. IV)
. - A mancipatio é um negócio solene, típico para transmitir certas coisas e para orig
inar direitos reais, como a stipulatio é um negócio solene, típico para criar obrigações (
vid. infra § 29-a) -1); a nuncupatio é uma declaração solene, feita pelo transmitente da
coisa (mancipio datis), sobre certas qualidades da coisa ou para impor ao adqui
rente certas limitações, nomeadamente estabelecendo o destino a dar a essa coisa.
228 «Consagrado» e não «criado», pois é anterior à Lei das Xll Tábuas.
1., PARTE -- TIT. IV - CAP. 1P 121
nuncupassit, ita ius esto» 2Zy. - A palavra «ius», neste passo das XII Tábuas, diz Álvaro
D'Oi s °0, tem um sentido dinâmico, de «posição justa», que abrange tanto a norma objectiva
(o «Direito normativo», vulgarmente chamado «Direito objectivo», vid. supra 16-17), como
a faculdade pessoal (o chamado «direito subjectivo»).
A lex privata cria, como é natural, direito privado (tias privatum).
Lex publica. Depois da lex privata é que surgiu a «lex publica». Esta não é uma declaração un
pessoal - a não ser a partir da época decadente do Baixo-Império -, ditada ou imposta
pelo superior. Não. A lex publica deriva duma promessa solene da comunidade social
; portanto, baseia-se num negócio público. É bem expressivo o fragmento de PAPINIANUS
(D. 1,3.1) : «Lex est... communis rei publicae sponsio» 1,11.
A lex publica por antonomásia, conforme já sabemos, é a lex rogata. Esta, segundo CAPI
TO, é um «generale iussum populi
rogante magistratu» 2,'2.
Podemos agora definí-la por outras palavras, talvez com
229 ... Quando alguém celebrar um negócio ou contrato, «conforme o que for expresso em
palavras (declarado), assim, seja direito (assim, valha como direito)».Note-se: «ce
lebrar um negócio ou um contrato» é -realizá-lo com solenidade (com forma jurídica); «realiz
ar um negócio ou contrato» é efectuá-lo com ou sem solenidade (forma jurídica).
230 Álvaro D'ORs, Elementos de Derecho Privado Romano, cit. 20.
231 «A lei é... um compromisso solene duma determinada sociedade, tomado em comum».
232 Cf. supra 176 e n. 187.
GArus 1 3 também dá uma definição de lex, atendendo únicamente ao elemento formal, nos seg
uintes termos: «lex est quod populus iubet atquc constituir» («lei é aquilo que o povo o
rdena e constitui»).
Note-se que «iubet» e «constituit» não são sinónimos.
Prescindindo de várias discussões, podemos assentar no seguinte:
«iubet» (ordenar, dar um iussun) é uma forma específica de o populus criar leges;
«coastituit» (constituir, estabelecer, fixar, proveniente de cum + statuere e portan
to com o significado de instituere, creare, conficere, stabilire-cf. FORCELLINI
Lexicon Totius Latinitatis 1 [Pavia,1940] 816 c. 2), é a forma genérica de o populus
criar ius, e a de manter ou não as leges já criadas. E assim a lex - e por consegui
nte depois de ter havido uma «sponsio», um «iussum» do «populus»-, se não
202
203
DIREITO ROMANO
1.' PARTE - TIT. IV -- CAP. 1.^
§ 21
mais rigor e mais de harmonia com a lex privata (unindo as duas definições, a de CAP
ITO e a de PAPINIANUS), da forma seguinte: «lex publica» é uma declaração solene com valor
normativo («sponsio»), feita pelo povo («populi»), pelo facto de aprovar em comum («commu
nis»), nos comícios, com uma autorização responsável («iussum»), a proposta apresentada pelo
agistrado («rogatio»)233.-Também aqui, e à semelhança da lex privata, a lex publica tem po
r base um acordo entre magistrado que propõe a norma e povo que a aprova, responsa
bilizando-se 23 numa sponsio communis; por isso, vincula os dois.
Como o povo é quem aprova a lex publica (antes, a conhece e discute), a lei é «pública», d
iz Álvaro D'ORs 235, sem necessidade de ser publicada. A publicação não é, portanto, um re
quisito essencial da lei; a prática é que impôs a forma de a publicar em tábuas, de made
ira ou de bronze, expostas ao público.
Embora a lex publica seja posterior 236 à lex privata, sempre que se fala de lex,
entende-se por antonomásia a lex publica
continuar a ser mantida pelo populus, isto é, se não permanecer no sentido positivo
um «constituit» do «populus», pode deixar de existir. É o problema do costume chamado cont
ra legem com eficácia derrogatória duma «lex rogata». De -I- rogatio significa precisame
nte não continuar a aprovar a rogatio; inutilizar a rogatio, retirando, duma forma
tácita, o iussum concedido. Rogaria, aqui, tem o significado indicado infra 210-2
).
233 Conforme já acentuámos (vid. supra 176187), na lex publica o verdadeiro legislad
or era o populus, pois era ele quem se responsabilizava pela lei. É que para os ro
manos constituía princípio evidente que o poder residia no populus, embora tivesse o
rigem transcendente (cf. supra 61 e n. 89). Ainda hoje, de alguma maneira, as co
isas são assim. Os órgãos legislativos, em rigor, e em geral, são apenas os eleitos pelo
populus, os representantes do povo.
Sobre os vários problemas acerca das leges publicae vid., além de RoTONDt Legcs Publ
icae Populi Romani, cit., também GEOFFREDI em SDHI 13/14(1948) 59-75.
234 Aqui deve residir, em última análise, a explicação do não-acatamento às leis abertamente
injustas e contra o bem comum - é que o populus não as aprovou... e nem as ratifica
-, e igualmente a explicação básica dos efeitos do costume contra legem. 0 princípio da
imposição absoluta da vontade do legislador (concretizado no imperador) como fonte,
única e indiscutível, de direito originou-se na época decadente do Baixo-Império (cf. s
upra 176187); não pode servir de modelo.
23s Álvaro D'ORS, Elementos de Derecho Privado Romano, cit. 20.
236 Sublinhe-se, mais uma vez e para confusão dos positivistas-legalistas exaltado
s, que a lex começou por ser privada e que, portanto, é anterior à lex publica;
e dum modo especial a «lex rogata». Por isso, entendemos oportun ) fazer agora uma r
eferência especial às leges publicae 237, sobretudo à lex rogata,

c) Leges publicae. Evolução


I - A princípio, sécs. V (450?) a III (242) a.C., só há leis comiciais ou «rogatae» e plebis
citos
Conforme ficou dito, a lex por antonomásia é principalmente «a deliberação proposta por um
magistrado e votada pelos comitia» - a lex rogata.
Equiparado à lex rogata está o plebiscitum, que é uma deliberação apresentada pelos tribun
os da plebe (cf. supra 65 93) e votada nos concilia plebis.
Já sabemos (vid. supra 68 D9 e 71) que os plebiscita:
1) - de início, embora tivessem um certo carácter normativo não-jurídico, não vinculavam c
oercitivamente (vid. supra 6,7 e 32), isto é, não vinculavam como as leges, nem patríc
ios nem plebeus;
2) -a partir de 449 a.C., pela lex Valeria Horacia de plebiscitis, adquirem força
vinculativa igual à das leges, mas só em relação aos plebeus;
e que só há verdadeiramente lex publica quando exista acordo, expresso ou tácito, entr
e magistrado e populus.
Mas «populus» não significa toda a gente nem as pessoas por igual. Populus não é o vulgus
(vid. Synteleia Arangio-Ruiz 722-730). A demagogia não tinha lugar entre os romano
s. 0 populus («romanus»), originàriamente, era o conjunto dos homens válidos dispostos p
ara a guerra, o exército de cidadãos. Por isso os comícios, comitia (vid. supra 63 e 7
1), convocados para a aprovação das leis, celebravam-se no Campo de Marte (deus da g
uerra), sede do exército. Posteriormente, populus começou a significar também os cidadão
s mais importantes segundo um critério de riqueza (timocracia). Ora, sendo os voto
s nos comícios contados por agrupamentos e não por cabeça (cf. supra 63), as classes s
uperiores decidiam a votação. Portanto, hoje «populus» talvez deva ser traduzido e enten
dido por «os melhores (em qualquer sentido) e a maioria duma sociedade, prontos a
defendê-la».
237 Os problemas relacionados com a lex privata serão tratados no capitulo dos- «negóc
ios jurídicos» (vid. infra 28 PARTE, Tít. IV).
204
205
DIREITO ROMANO
1.' PARTE -- TIT. IV - CAP. 1.^
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3) - em 287 a.C., a lex Hortensia de plebiscitas determina que vinculem, como as
leges, tanto plebeus como patrícios. Os plebiscitos são, portanto, equiparados tota
lmente às leis comiciais.
As leges («rogatae») e os plebiscita têm de comum a proposta dum magistrado (rogatio).
A palavra «rogationes» é o vocábulo próprio para designar genèricamente leges e plebis
cita 238
Em virtude de ser a rogatio comum a leges e a plebiscita e de terem, a partir de
287 a.C., a mesma força vinculativa, nem sempre a terminologia é exacta, quer nas f
ontes literárias quer mesmo nas fontes jurídicas. Algumas vezes, o vocábulo «plebiscitum»
refere-se tanto a leges como a plebiscitos; outras vezes (bastantes mais), a pal
avra «legas» é usada para designar deliberações que são verdadeiros plebiscitos, v.g. a lex
Rubria, a lex Livia, a lex Sempronia, as leges Calpurnia e lunia de repetundis,
a lex Voconia, a lex Acilia, a lex Antonia de Termessibus e provàvelmente a lex Fa
lcidia2'J. Em geral, as leges distinguem-se por conterem os dois nomes dos cônsule
s do ano, enquanto as «leis» com um só nome são plebiscita, a não ser que se trate de leis
ditatoriais, isto é, decisões provenientes dum ditador, que era, como sabemos, uma
magistratura extraordinária e excepcional - vid. supra 65 98.
As leges («rogatae») e os plebiscita foram as únicas «leis» (rogationes) públicas, existente
s em Roma até à sua expansão mediterrânica; portanto, até cerca de 242 a.C. Mais tarde, su
rgiram, também como espécie ou modalidade de leges publicae, principalmente as leges
dictae (vid. infra n.° II).
Contra aquilo que talvez possa imaginar-se, a importância da legislação para o desenvo
lvimento do Direito Romano Privado é mínima, pois julgava-se estar tudo na Lei das X
II Tábuas. A actividade legislativa regula, fundamentalmente, matérias de
238 Cf. ROTONDI, Leges Publicae Populi Romani, cit. 14 e n. 6. 239 Cf. RoToND1,
o. c. 13 e 14.
Direito Público. «De várias centenas de leis e plebiscitos - afirma Álvaro D'ORsP40-apen
as meia centena aproximadamente têm importância para o ius em sentido estrito» (Direit
o Privado).
a)-Fases do processo de formação dos «legas rogatae»
1) Promulgatio - Os projectos de leges a propor à votação dos comitia, em geral, eram
feitos pelos magistrados que tinham a faculdade de convocar os comícios (ius agend
a cum populo)241. 0 texto do projecto devia ser afixado, num lugar público, para q
ue o povo lesse (vid. supra 201) e tomasse o devido connhecimento (uncle de plan
o legi possit). Esta afixa
ção da proposta de lei chamava-se promulgatio 242. Devia durar, pelo menos, três seman
as (trinundinum) 243.
0 projecto da lex, uma vez promulgado, tornava-se absolutamente inalterável. Para
introduzir modificações - quer através das condones quer na votação dos comícios quer na apr
ovação do senado -, tinha de se fazer um novo projecto e voltar ad princípio; proceder
ex novo. Para garantir esta inalterabilidade, foi introduzida pela lex Licinia
lunia, do ano 62 a.C., a obrigação, sob pena dum iudicium publicam, de depositar uma
cópia do projecto no aerarium (vid. supra 7613).
240 Álvaro D'ORs, Elementos de Derecho Privado Romano, cit. 22.
241 'Também o senado podia elaborar propostas de lei. Depois encarregava
os cônsules ou os tribunos de convocar as assembleias e de apresentar essas propos
tas à votação.
A faculdade de convocar os comícios (ius agendi cum populo) competia ao cônsul, ao p
retor e ao ditador. - $ duvidoso em que medida competia essa faculdade ao
interrex (cf. supra 62), ao praefectus urbi (vid, supra 76113), etc. (Ver ROTOND
I, o.c. 120 e 121).
242 Promulgatio deriva de promulgara; e «promulgara» é uma forma ou derivante (segundo
Festos) de pro-vulgari, isto é, vulgarizar, entregar ao vulgo; daí a promulgatio co
nsistir em tornar uma coisa conhecida do público.
243 Cf. supra 193221.-Vid. também ROTONDI, O.C. 125-130.
207
9
206
DIREITO ROMANO
1.' PARTE-TIT. TV-CAP. 1 ^
121
2) Conciones-Eram reuniões tidas na praça pública, sem carácter oficial nem jurídico, para
se discutir o projecto da lex. Efectuavam-se a convite do magistrado proponente
ou doutro, ou até, mais tarde, de quaisquer cidadãos de destacada posição social, polític
a, económica, etc. Realizavam-se no período que decorria entre a promulgatio e a con
vocação dos comícios. Tinham uma duração variável; mas nunca podiam prolongar-se depois do s
ol-posto. A escolha do local ficava ao arbítrio do convocante. Chamavam-se concion
es, porque ninguém podia faiar, sem a pessoa que presidia «conceder a palavra» («contion
em dare»). Os discursos favoráveis ao projecto da lex denominavam-se suasiones; os d
esfavoráveis, dissuasiones.
3) Rogatio - Terminado o prazo do «trinundinum» da «promulgatio», convocados os comícios e
reunidos em assembleia, o magistrado que presidia, depois de cumpridas várias
formalidades de carácter religioso, lia ou mandava ler por um arauto o texto do pr
ojecto da «lex». Acabada a leitura, pedia a sua aprovação. Este pedido era a rogatio. De
via ser feita com as seguintes palavras sacramentais: «velitis, iubeatis, quirites»
(«quereis e ordenais, cidadãos?»).
4) Votação-0 voto afirmativo ou negativo tinha de ser dado igualmente com palavras s
acramentais: «uti rogas» («como pedes»), voto favorável; «antiquo», forma abreviada da frase
tiquo fure utor» (= «voto pelo estado de coisas antigo»), voto desfavorável; «non liquet» (o
assunto «não está claro»), abstenção. De início, a votação era oral. A lex Papiria
Tabellaria, do ano 131 -a.C.244, estabeleceu o sistema de voto
escrito e secreto.
5) Aprovação pelo senado - Depois de votada favoràvelmente pelos comitia, a lei precis
ava de ser referendada pela auctoritas patrum. A partir da lex Publilia Philonis
, do
244 A ela se refere CICERO, De Legibus III 16,35.
ano 339 a.C., essa auctoritas passou a ser dada, como sabemos (vid. supra 70), a
ntes de ser a proposta votada pelos comícios; portanto, logo a seguir às conciones 2
45.
Sublinhe-se, mais uma vez, que o projecto da lex tinha de ser admitido ou rejeit
ado, totalmente. As emendas ou alterações, sugeridas nas conciones ou votadas nos co
mitia ou exigidas pelo senates, originavam a elaboração dum novo projecto e um proce
ssar ex novo.
6) Afixação - Depois de concedida a auctoritas patrum, o projecto transformava-se em
lex («publica rogata»). Era então afixada no Forum; em tábuas de madeira ou de bronze,
para que o povo lesse, e assim pudesse conhecer e observar as suas prescrições.
p)-Sistema de designação das lega: regata.
-As leges rogatae citam-se pelo nomen248, devidamente
adjectivado, do magistrado proponente. V.g. lex Cornelia significa que o magistr
ado proponente tem o nomen de Cornelius. Se havia mais que um magistrado com nom
es~ igual na mesma gene, então para o distinguir acrescenta~ em genitivo, o respec
tivo cognomes 248 (v.g. lex Publiïia Philonis), ou até o praenomen 248 (v.g. lex Sem
pronia Caii Graohi).
- Se o projecto da lex for apresentado por um cônsul, figuram os nomes adjectivado
s e unidos dos dois colegas; v.g. «lex Poetelia Papiria» é uma lex votada no tempo dos
cônsules Poetelius e Papirius (326 a.C.).
-As leges, por vezes, costumam levar também uma indicação sumária do seu conteúdo, sobretu
do para evitar confu
245 Parece que alguns magistrados (cônsules e pretores) costumavam, logo de inicio
, sujeitar a um «exame preventivo» do senado (portanto, uma coisa diferente da aucto
ritas patrum) os seus projectos de leis; só deóois é que se seguiam a promulgatio, as
conciones, etc. (cf. ROTONDI, o.c. 119 e 120).
246 Vid. supra 59.
208
209
DIREITO ROMANO
sões entre leis com designações iguais ou idênticas; v.g. «lex Hortensia de plebiscitis», «le
Aebutia de f ormulis», «lex Faleidia de legatis», etc.
y)-Partes duma lex rogata
1) Praescriptio-É uma espécie de prefácio; contém o nome do magistrado proponente, a ass
embleia que a votou e a data, o nome do primeiro agrupamento (cúria, centúria, tríbu)
que abriu a votação e o nome do cidadão que foi o primeiro a votar.
2) Rogatio-É a parte dispositiva da lex. É curioso observar que o conteúdo da proposta
, mesmo depois de votada e aprovada, continua a chamar-se rogatio.
3) Sanctio - É a parte final da lex. Estabelece os termos da sua eficácia, e princip
almente a sua relação com outras normas, afirmando respeito: a) - pelos mores maioru
m, pois a lex não se considera uma inovação, mas, pelo contrário, uma confirmação e defesa d
essa veneranda «tradição de uma comprovada moralidade» contra os maus usos novos; b) - p
elas velhas leis tidas como inderrogáveis, v.g. as leges sacratae (leis juradas po
r patrícios e plebeus para acabarem com as suas lutas), o antigo ius civile, etc.
Por isso, ao contrário do que hoje acontece em que a lei nova derroga a antiga, a
infracção dessas tais normas venerandas ou inderrogáveis, em princípio, implicava a nuli
dade das «leges» novas. E, só muito excepcionalmente, devia considerar-se livre de res
ponsabilidade o infractor duma das tais «leges» antigas para obedecer a uma lex nova
.
a). Classificação das leges rogatae quanto à sanctio
Em princípio, o ius não pode ser alterado por uma lex. Por isso, geralmente, as lege
s rogatae não declaram nulos os actos
1! PARTE - TIT. IV - CAP. 10 § 21
praticados contra as suas disposições; limitam-se a impôr multas ao infractor ou simpl
esmente a reprovar. Daí que se tenha estabelecido uma classificação -bastante discutid
a, mas que aparece nas fontes tardias -, das leges rogatae quanto à sanctio:
1) -perfectae, se declaram nulos os actos contrários às suas disposições;
2) -minus quam perfectae, se apenas impõem multas aos transgressores;
3) - imperfectae, se nem anulam os actos contrários e nem impõem sanção.
Todavia, pelo facto de uma lex ser imper f ecta, não significa que pode ser transg
redida à vontade. Os magistrados, especialmente o pretor, dispõem de expedientes, so
bretudo de ordem processual (vid. infra § 30), para tornar ineficazes essas transg
ressões. Porém, a necessidade de recurso a tais expedientes processuais, como observ
a D'ORS 247, vem demonstrar precisamente a fragilidade do valor da lex, que, só po
r si, não tem força para tirar a eficácia (anular ou declarar sem efeito) aos actos pr
aticados contra as suas disposições.
II-Depois do séc. 111 (242) a.C. e sobretudo 'a partir do séc. I d.C., além das «leges r
ogatae», existem outras «leges publicae»

a)-Leges (publicae) rogatae. Exemplos.


A lex rogata ou comicial, como dissemos, é «quod populus iubet atque constituit»; e até
cerca do ano 242 a.C. foi a única forma de lex publica e uma fonte de direito de c
erta importância.
247 Álvaro D'ORS, Elementos de Derecho Privado Romano, cit. 21.
210
211
r
DIREITO ROMANO
De 242 a.C. ao séc. I d.C., a lex rogata, como fonte criadora de direito, entra em
declínio, devido sobretudo ao aparecimento do edicto do pretor, que ràpidamente gan
ha a primazia entre as outras, fontes de direito.
i
Exemplos de «leges rogatae» - Conhecem-se várias centenas, além da Lei das XII Tábuas, que
foi a primeira «lex rogata» (vid. supra 175-178). ROTONDI, Leges Publieae,Populi Ro
man, cit., apresenta um elenco cronológico de leges rogatae desde a pág. 189 à pág. 486.
Citemos três, a título exemplificativo.

1) - A lex Poetelia Papira de nexis, do ano 326 a.C., rogada pelos cônsules POETEL
IUS e PAPIRIUS, a qual proibiu, directa e expressamente, o se nexum dare. Como c
onsequência, proibiu também o nexum, enquanto envolvia também o autopenhora
mento da pessoa do devedor, mas não o nexum enquanto era simples stipulatio pecuniár
ia 248.
2) - A lex Cincia, que é um plebiscito 241 do ano 204 a.C., votado sob a proposta
do tribuno da plebe M. CINCIUS Alimentus, proibia os negócios de doação 250 inter vivo
s além de determinada quantia (ultra modum), não se sabe quanto, exceptuando as doações
feitas a parentes próximos. Esta _lei era uma lex imperfecta; o pretor aplicava a
proibição mediante a exceptio legis Cinciae 251.0 direito post-clássico diminuiu a apl
icação dessa lex, aduzindo que, se durante a vida do doádor a doação excessiva não foi denun
ciada, a sua morte confirmava-a. Estabeleceu então éomo princípio «lex Cincia morte remo
vetur».
248 Vid. supra 195 e n. 224, e Sebastião Cauz, Da «Solutio» I, cit. 3738 e 4579.
249 Vid supra 206 a imprecisão de terminologia entre lex e plebiscitum.
250 A doação é uma disposição patrimonial irrevogável, em que o património do doador diminui
o do credor aumenta.
A doação é a causa (causa iuridica) lucrativa por excelência. Embora tenha carácter conven
cional, não é contrato nem negócio jurídico típico.
A iurisprudentia romana pouco se interessou pela doação; para uma mentalidade pagã, os
actos de doação eram considerados actos pouco racionais.
251 Vid. infra § 30-c) o que era a exceptio.
Sobre novas interpretações desta lex, vid. F. CASAVOLA, Lex Cincia. Contributo alfa
Storia delle Origini delta Donazione Romana (Nápoles,l960), e BIONDI em lura 12(19
61) 263-269 e nos seus Scrilti Giuridici III (Milão,1965) 727-734.
1.1 PARTE - TIT. IV - CAP. 1.° § 21
Portanto, os herdeiros do doador não gozavam da exceptio legis Cinciae.
3) -A lex Falcidia, do ano 40 a.C., que é uma lei ou talvez um plebiscito, rogado
pelo tribuno P. FALCIDIUS, determinava que a 1/4 parte da herança pertencia ao her
deiro testamentário, quer fosse voluntário quer fosse necessário (portanto, esta lex só
se aplicava, quando havia um testamento, e válido) ; e se o testador tivesse legad
o mais do que 3/4 da herança, esses legados (embora continuassem válidos) eram reduz
idos ipso fure, proporcionalmente, até se encontrar livre a quota do herdeiro test
amentário, 1/4 da herança. Fundamentalmente pretendia evitar duas coisas: a) - a inu
tilidade dos testamentos por falta de aceitação da herança, tratando-se de her
deiros voluntários; b) - o prejuízo dos herdeiros, sobretudo
quando eles são necessários, visto não poderem recusar a he
rança 252. Para isso, restringe a faculdade de legar, que nessa
altura chegou a converter-se num modo abusivo de ostentação
de liberalidades, que, por vezes, eram satisfeitas à custa dos próprios bens dos her
deiros "instituídos num testamento, pois os
haveres deixados pelo de cuius não chegavam.
0 direito justinianeu mostrou-se desfavorável à quarta Falcidia, pois autorizou aos
testadores a faculdade de excluí-Ia
expressamente; mas concedeu aos herdeiros o poder de aceitar a herança a título de i
nventário.
P) - Leges (publicae) datae (?)
Desde MoMMSEN, vinha admitindo-se pacificamente entre os autores Y58 -a existência
duma segunda espécie de leges publicae, denominadas «leges datae». Seriam «leis proferi
das por um
252 0 que eram e quais eram, em Direito Romano, os herdeiros necessários e os herd
eiros voluntários, vid. infra 228 e 229
Sobre esta lex, veja-se Franco BONIFACIO, Ricerche sulla Lex Falcidia de Legatis
(Nápoles,1948).
253 Veja-se concretamente ROTONDt, Leges Publicae Populi Romani, cit. 14-20.
487-507.
212
213
DIREITO ROMANO
1.1 PARTE-TIT. IV-CAP. 1.°
§ 21
magistrado, em virtude dum poder especial, que o povo, para esse efeito, lhe deu
(nele delegou»).
Recentemente, depois de vários escritos de Gianfranco TIBILETTI 254, parece que ta
l categoria de leges publicae não deve ter existido; foi uma criação de MOMMSEN. Trata
-se de normas jurídicas dadas pelo governo central a comunidades locais (e só neste
sentido é que ainda se poderá continuar a falar de «leges datae») ; como, por exemplo, e
statutos locais, concessões de cidadania, etc. Mas essas normas podiam ser de qual
quer espécie: ou leis rogadas, ou decretos de magistrados, ou disposições do senado, e
tc., etc. Não há, pois, contraposição dessas denominadas «leges datae» a «leges rogatae».
y)-leges (publicae) didae. Exemplos
As leges dictae são leis proferidas por um magistrado em virtude dos seus próprios p
oderes.
Lex dieta é a forma sincopada de lex rei suae dieta, aplicada ao direito público, po
is, como já sabemos (vid. sulrra 202 e 203), a lex rei suae dieta, em rigor e de i
nício, é uma lex privata, consistindo num acto de disposição solene acerca duma coisa su
a. -Mais uma vez se verifica, agora com esta espécie de lei pública, que a lex priva
ta é anterior à lex publica.
A lex dieta é proferida, em virtude do9 poderes gerais e próprios do magistrado, emb
ora os tenha recebido do povo, quando este o elegeu para determinada magistratur
a.
Exemplos-Como típica, aponta-se a lex dieta metalli Vipascensis, proferida pelo ad
ministrador das minas de Vipasca (actuais minas de Aljustrel, Alentejo) acerca d
a exploração dessas minas.
254 Gianfranco TIBILETTI, Leges dictae em Studi Passarini (1954) 179-213; Sidle
Leges Romanae em Studi De Francisci IV (Miláo,1956) 595-645, máxime 604-625; v. lex
em Dizionario Epigrafico di Antichità Romane IV (1956).
Com esta exposição sobre leges publicae e plebiscita, contida nos n.°» I e H da al. c),
fica analisada a primeira parte do texto de PAPINIANUS (D. 1,1,7pr.) que está a se
rvir-nos de orientação para o exame das várias fontes do IUS CIVILE: «Ius autem civile e
st, quod exx legibus, plebis scitis... vent» 255, quer dizer, o ius civile é o que p
rovém (além doutras fontes) sobretudo das leges rogatac, que são as «leges publicae» por a
ntonomásia, e das outras rogationes, os plebiscita.
III-A partir do séc. II d.C., as «leges publicae», principalmente as «leges rogatae», começa
m a desaparecer para darem lugar aos senatusconsultos e às constituições imperiais
As leges rogatae principiam a diminuir extraordináriamente com a decadência dos comíci
os; e essa decadência verifica-se principalmente depois de Augusto. No séc. I d.C.,
o senado começa a sua actividade legislativa (vid. infra § 22-b)-III), e no séc. II d.
C. inicia-se a afirmação e a consagração do poder imperial. Perante isto, a lex rogata d
esaparece por completo antes do séc. III.
A partir dos fins do séc. II d.C. (vid. infra § 26-a)-II), tudo se prepara para triu
nfar um novo tipo de lei - a vontade absoluta do imperador, as constituições imperia
is.
IV -A partir do Baixo-Império (sécs. IV-V), a palavra «leges» (=constituições imperiais) sig
nifica «ius novum» e contrapõe-se a «ius» ou «ius vetus»
A partir do Baixo-Império, estabelece-se uma nova terminologia.
255 Vid. supra 165 e n. 167 a citação completa deste texto.
214
215
DIREITO ROMANO
I' PARTE-TIT. IV-CAP. 2.°-a)
§ 22
A palavra «leges» começa a significar apenas as constituições imperiais. Por isso, o Código
do Corpus luris Civilis é uma colectânea de leges, isto é, de constituições imperiais. As
constituições imperiais, a partir dos sécs. IV-V, são a única fonte de direito. 0 imperado
r, com a sua vontade absoluta, é o único criador de ius (o «ius novum») e o seu único intérp
rete. Foi deste conceito único de lex da época decadente do Baixo-Império que derivou
a ideia moderna de lei.
0 ius ou o ius vetus, segundo esta terminologia estabelecida a partir dos sécs. IV
-V, é todo o direito antigo ou tradicional, formado portanto pelas leges rogatae,
datae(?), dictae, pelos senatusconsultos, pela iurtsprudentia, pelos edictos dos
magistrados e até pelas constituições imperiais anteriores ao séc. IV. Como todo esse d
ireito tradicional substancialmente se encontrava condensado nas obras dos juris
tas clássicos, ius (o ius vetus) concretizava-se nas obras dos juristas clássicos, o
u melhor, é sinónimo de literatura jurídica clássica. Por isso, o Digesto do Corpus luri
s Civilis é uma colectânea de ius, quer dizer, de fragmentos de obras de juristas clás
sicos 'S
256 Sobre o significado, alcance e valor desta terminologia leges-ius, voltaremo
s a falar, adiante, mais desenvolvidamente (vid. infra § 26-b)-Il.
Capítulo 2.,>-B) LEGES sensu lato
a) SENATUSCONSULTOS
p) CONSTITUIÇÕES IMPERIAIS
a) - Senatusconsulta
SUMÁRIO-22. a) Conceito
b) Como adquiriram força legislativa
I - de início até ao séc. I a.C., os senatusconsultos tinham apenas carácter consultivo
II - depois (séc. I a.C. a séc. I d.C.), eram considerados fonte mediata de direito,
sebretudo através do edicto do pretor
I11-são fonte imediata a partir do principado c durante um século (séc. I-séc. II d.C.).
Defi
nição de POMPONIUS (D. 1,2,2,9), de GAius (14) e de ULPIANUS (D. 1,3,9,)
c) Como foram perdendo força jurídica própria: a partir de Adriano (117-138), princípios
do século U, são também «orationes principis in senatu habitae»; a partir dos Severos (19
3-239), fins do séc. II, são apenas «orationes principis»
d) Estrutura formal. Denominação
e) Exemplos. Especial análise dos senacs. Velleianum, Neronianum e Macedonianum
22. Vamos analisar mais uma parte do texto de PAPINIANUS (D. 1,1,7pr.), que está a
servir-nos de orientação para o exame das várias fontes do IUS CIVILE, «lus autem civil
e est, quod ex... senatus consultas... venit» 257
a) Conceito de «senatusconsultum»

A palavra senatus+consultum, de início, significa uma consulta feita ao senado, já q


ue, desde os tempos mais remotos,
257 Vid. supra. 165 e n. 167 a citação completa.
216
217
DIREITO ROMANO
1. PARTE-TIT. IV-CAP. 2.°-a)
§ 22
certos magistrados, para resolver determinadas questões, eram obrigados a ouvir (a
consultar, con.sdere) o senado, mas não a seguir a sua opinião.
Desde que a opinião do senado começou a ter um certo valor, pelo menos na prática, e p
ortanto a não ser completamente indiferente ao magistrado consulente não seguir essa
opinião, senatusconsultum principiou a significar uma decisão do senado. E conforme
a evolução da força normativa dessa decisão, encontramos nas fontes jurídicas romanas div
ersas definições de senatusconsultos, indo culminar nas definições de PoMPONius, de GAIu
s e de ULPIANUS, quando os senatusconsulta já eram considerados fonte imediata de
direito. A essas três definições faremos referência, na devida altura.
Os senatusconsultos são uma fonte de ius civile muito importante; mas levou seu te
mpo, antes de obterem a categoria de verdadeiras normas jurídicas.
b) Como adquiriram força legislativa
I - De início até ao séc. I a.C., os senatusconsultos eram meros pareceres do senado,
dados aos magistrados que o consultavam 258, sem que esses magistrados ficassem
de alguma forma vinculados a tais pareceres ou decisões. Tinham apenas carácter cons
ultivo.
A intervenção do senado em matéria legislativa era indirecta; limitava-se:
a) - a conceder ou não a auctoritas patrum às leis
comiciaia 239;
258 Segundo alguns autores, entre os quais MOMMSEN, o senado, nesta fase, podia
também dar conselhos a certos magistrados, sem que estes lhos tivessem solicitado;
denominavam-se senatus decreta. Não vinculavam esses magistrados; tinham apenas u
m carácter de orientação; só eram válidos para o tempo em que eles ocupassem a respectiva
magistratura.
259 Vid. supra 208-5).
218
b) - a recomendar aos magistrados que tinham ius agendi cum populo 26° certas medi
das, para serem depois votadas nos comícios.
II - A partir do séc. I a.C., os senatusconsultos são fonte mediata de direito, sobr
etudo através do edicto do pretor.
Este, por meio do seu edicto, como examinaremos adiante (vid. infra § § 30-31), depo
is da lex Aebutia de f ormulis, do ano 130(?) a.C., criava verdadeiro direito, p
ois concedia actiones próprias, as actions praetoriae, e ter actio é ter ius. (Em Di
reito Romano, actio e ius identificam-se - vid. infra 2 PARTE, Tít. V destas Lições).
0 senado, valendo-se do seu prestígio sempre crescente, principiou a sugerir aos p
retores, e depois até a indicar, a matéria para os seus edictos. Desta forma, os sen
a tusoonsulta tornavam-se fonte de direito, através do edicto do pretor.
Eram fonte mediata, porque a fonte imediata continuava a ser sempre o edicto; ma
s o certo é que o povo não atendia a essa distinção e principiou a habituar-se à ideia de
que o senado podia criar fontes imediatas de direito; por outras palavras, de qu
e também podia legislar 281
Nos fins da república, era este o ambiente, altamente propício ao senado, para começar
a criar direito novo, só por si, sem ter necessidade de recorrer quer ao pretor q
uer aos comícios. E assim
III - Desde o início do principado, os «senatusconsulta» já
são- fonte imediata de direito.
É a esta fase dos senatusconsultos que se referem as definições:
de POMPONIUS (D. 1,2,2,9 - «quidquid (senatus) constituisset observabatur, idque i
us appelabatur senatusconsultum») ;
260 Ver supra 207 e n. 241.
261 Notemos que, em Roma, até à época decadente do Baixo-Império, é sempre o populus que dá
força legislativa às normas, ou explicitamente através dum iussum, ou implicitamente a
través das suas atitudes.
219
L.
DIREITO ROMANO
1.' PARTE - TIP. IV - CAP. 2.°-a)
§ 22
GAius (I 4 - «senatus consultum est quod senatus iubet atque constituit») ;
e de ULPIANUS (D. 1,3,9 - «non ambigitur senatum ius (acere posse») 262
senado iniciou a sua actividade legislativa, com muita prudência. 0 primeiro senat
usconsulto, com força de lei, é do ano 4 a.C. e trata de matéria processual. Desta for
ma, o novo modus faciendi legislativo do senado assemelhava-se muito ao anterior
, em que as decisões do senado eram fonte mediata de direito, como dissemos no n.° I
I, através de expedientes processuais anunciados no edicto do pretor. Agora, porém,
o senatusconsulto é fonte imediata de direito.
Mas, atendendo à matéria sobre que versava e tendo em consideração o ambiente favorável de
que gozava o senado, ninguém estranhou. Foi um êxito. 0 senado estava preparado par
a... criar normas jurídicas, «legislar». E assim, passados 14 anos, isto é, no ano 10 d.
C., surge o primeiro senatusconsulto, com força legislativa, sobre direito substan
tivo.
o senatusconsultum Silanianum 282.
Determina que na hipótese de assassinato de um dominus e de ser desconhecido o cri
minoso: 1.° todos os escravos do falecido e da sua mulher 16" e todos os escravos
que
262 PoMPÓNno (D.1,2,2,9): «tudo o que (o senado) constituísse (determinasse) era obser
vado, e por isso o senatusconsulto era considerado direito».
GAto 1 4: «0 senatusconsulto é aquilo que o senado ordena e constitui».
(Sobre os significados e diferença de «iubet» (ordena) e «constituit» (constitui, determin
a, estabelece) vid. supra 203232).
ULPIANo (D.1,3,9): «Não se duvida de que o senado pode criar (= produzir, vid. supra
164 e. n. 164) direito (isto é, direito normativo, vid. supra 16 e 17).
263 Este senatusconsultum é comentado em várias fontes jurídicas, v. g. Pauli Sententi
ae 3,5; D.29,5; C.6,35. Sobre o alcance deste senas. vid. Federico D'IePoLITO, U
na Presunta Disposizione del Se. Silaniano em Synteleia Arangio-Ruiz 11 (Nápoles,1
964) 717-721.
264 A mulher casada podia ter escravos próprios, como quaisquer outros bens, se fo
sse sul iuris e casada sine manu; se fosse casada cum manu, imediatamente deixav
a de ser sul iuris ou de pertencer à família do seu pacer, para ser considerada juri
dicamente como uma filia do seu marido, e portanto aliem iuris, não podendo por co
nseguinte ter quaisquer bens. Vid. infra 3.a PARTE, Tít. I destas Lições.
220
tivessem tido qualquer negócio ou relações com ele, fossem sujeitos a torturas, e por úl
timo condenados à morte, até se descobrir o assassino, mas seriam imediatamente cond
enados à morte se, tendo podido socorrer o dominas, não o tivessem feito; 2.0 proibi
a a abertura do testamento do assassinado, enquanto não se concluíssem as diligências
para a descoberta do criminoso, a fim de evitar que uma possível manumissio 285 co
ntida nesse testamento frustrasse o disposto no número anterior, pois um escravo m
anumitido era um homem livre, e então já não se lhe podia aplicar, neste caso, quer a
pena de morte quer mesmo essas torturas; 3.° todo o escravo que descobrisse o assa
ssino do dominus adquiria a liberdade, mediante um decreto do pretor chamado add
ictio libertatis.
A finalidade do senatusconsultum Silanianum foi reprimir os frequentes assassínios
de proprietários (domini), cometidos por escravos. Revela eloquentemente as condições
sociais da época; «é um documento terrível a condenar uma sociedade, em que os escravos
sejam em número elevado» (BONFANTE).
1; curioso observar que os senatusconsultos só começaram a ter força legislativa a par
tir do principado. Isto à primeira vista parece muito estranho, pois Augusto, logo
desde o início, procurou concentrar no princeps todos os poderes. Mas, na realida
de, tratava-se de mais um estratagema da excepcional sagacidade política de August
o, continuado depois pelos sucessores.
Permitindo que o senado figurasse na nova constituição polí
tica como órgão legislativo, isso ia ter efeitos muito impor
tantes para a vida do principado: 1.0 retiraria ao senado,
quanto possível, toda a actividade política, para reduzir as
suas funções a uma actividade legislativa; 2.° transferiria do
povo para o senado o poder de fazer as leis, quer dizer, a legis
265 A manumissio era uma datio liberratis, mediante a qual o escravo passava a
homem livre. Entre as várias formas de manumissiones, estava a manumissio testamen
taria.
221
L
DIREITO ROMANO
1" PARTE - TIT. IV-CAP. 2.°-a)
lação senatorial substituiria a legislação comicial; 3.° e uma vez que o poder legislativo
se encontrasse no senado, o princeps deveria esforçar-se por lhe imprimir as suas
directrizes e comandar, portanto, as resoluções senatoriais. Era mais fácil «captar» os s
enadores do que o povo. E assim veio a acontecer, daí a uns cem anos.
Por conseguinte, durante um século, os senatusconsultos são decisões... do senado.
c) Como os senatusconsultos foram perdendo força jurídica própria
A partir de Adriano (117-138), princípios do séc. II, em rigor, já não era o senado que
estabelecia a norma, mas o imperador (princeps). Apresentava-se perante o senado
, propunha, num discurso (oratio), o projecto dum senatusconsultum e os senadore
s sistemàticamente aprovavam, sem ao menos o discutir. Além disso, a partir de Adria
no, os magistrados - porque eram sobretudo meros funcionários do... imperador -, já
não apresentavam propostas legislativas ao senado, não havendo, portanto, desde esse
momento, senão propostas apresentadas pelo imperador. Dessa forma, os senatuscons
ulta deixam de ser a expressão da vontade autónoma e independente do senado para se
converterem numa expressão da vontade do príncipe, passando também a ser designados «ora
tiones principis in senatu habitae».
Durante todo o séc. II, as duas expressões «senatusconsulta» e «orationes principis» são usad
s indiferentemente.
A partir dos Severos (193-239), fins do séc. II, os senatusconsultos são designados àn
icamente pela expressão «orationes principis». É que, na verdade, já não é o texto do senatus
onsulto que estabelece a lei, mas, sim, a própria oratio (discurso) do imperador.
Deste modo, a «legislação senatorial» é apenas uma forma de o princeps legislar. A oratio
perde todo o seu
222
carácter duma proposta apresentada ao senado, para adquirir o carácter dum verdadeir
o edicto do imperador.
Isto, afinal, era um aspecto da orientação que estava a processar-se num avanço ininte
rrupto: concentrar nas mãos do imperador toda a actividade criadora do novo direit
o (ius novum), através das constituições imperiais.
d) Estrutura formal dum «senatusconsultum». Denominação
A estrutura formal dum senatusconsultum é bastante seme
lhante à duma lex. Consta essencialmente de duas partes:
1)-praefatio (prefácio), onde se contêm os nomes do
magistrado convocador, o que tinha o ius agendi comim patribus,
e dos senadores que intervieram na redacção (qui scribundo adfuerunt), e o lugar e a
data em que se celebrou a reunião do senado;
2) - relatio (conteúdo), que narra os motivos e a proposta apresentada, e ainda a
sentença, resolução ou decisão aprovada.
0 texto original dos senatusconsultos era levado para o aerarium 286; aí, depois d
e feito o devido reconhecimento, era registado num livro especial (in tabulas pu
blicas referre). Uma vez registado, o senatusconsulto adquiria força legal; podiam
tirar-se cópias, e o texto, devidamente gravado em tabulae dealbatae, era afixado
num lugar público.
Denominação-Os senatusconsultos são designados:
1) - ou pelo cognomen (às vezes, pelo nomen), devidamente adjectivado, do (magistr
ado) proponente, v.g. senacs. Claudianum, Neronianum;
2) - ou pela matéria de que trata, v.g. senac. De Bacchanalibus;
3) -ou pelo nome da pessoa que deu motivo à decisão do senado, v.g. senac. Macedonia
num.
266 Vid. supra 76113.
223
DIREITO ROMANO
1.1 PARTE -TIT. IV -CAP. 2.°-a)
§ 22
e) Exemplos de senatusconsultos. Especial análise dos senacs. «Velleianum», «Neronianum» e
«Macedonianum»
Através das fontes jurídicas, literárias, epigráficas e papirológicas, conhecem-se hoje ce
rca de 250 senatusconsultos.
Indiquemos alguns, principalmente dos que nos dão uma ideia do ambiente social de
Roma. Desta maneira, verificamos, também dum modo palpável, aquela razão justificativa
do ensino do DR na actualidade, invocada supra 119-4.
Já conhecemos as disposições do senac. Silanianum
- Senac. De Bacchanalibus (a. 186 a.C.)
Note-se que este senac. data daquela época em que os senatusconsultos não eram ainda
fonte imediata de direito. Eram normas de certo valor, e que em geral se transf
ormavam em normas jurídicas devido ou às próprias decisões de certos magistrados ou a de
terminadas resoluções votadas nos comícios. Este senac.,
em rigor, talvez fosse um senatus decretum (vid. supra 218-b)-1 e n. 258).
Proibia as festas nocturnas em honra do deus Baco, as bacanais, que degeneravam
em orgias escandalosas. 0 homem, encontrado nessas festas nocturnas, era chamado
«bacchanalis», e o senac. proibia igualmente a associação desses «bacanais», que se entrega
vam, antes das orgias, à celebração de cultos estranhos, à prática de sacrifícios ocultos e
de coisas misteriosas, acerca das quais deviam guardar rigoroso sigilo. As penas
contra as, bacanais eram graves, mas contra os filiados na associação eram gravíssima
s; em geral, pena de morte 268. Deste senac. fala-nos largamente TITo Lívio, XXXIV
8-19.
Seguiram-se ainda, pelo menos, mais dois senacs. De Bacchanalibus, com pouca dis
tância uns' dos outros, sobre o mesmo assunto, reforçando as penas.
267 Vid. supra 220 e 221.
268 Cf. MASSONEAU, La Magie dons l'Antiquité Romaine (Paris,1934) 153-181.

224
- Senac. Claudianum (a. 52 d.C.) Determina principalmente o seguinte: se uma mul
her livre se unir sexualmente a um escravo alheio contra a vontade expressa do p
roprietário desse escravo - e essa união, quando modo maritali, isto é, permanente, er
a uma «espécie de matrimónio» e chamava-se contubernium-, e se ela, depois de três intimações
feitas pelo dono do escravo para abandonar essa situação, continuar na mesma, é reduzi
da a escrava do dominus do escravo. A ele ficavam também a pertencer todos os bens
dela e os filhos (como escravos) que nascessem dessas relações concubinárias. >J um c
aso, típico e único nas legislações da Antiguidade,, de «acquisitio per universitatem» inter
vivos; aqui, a favor do dono do escravo.
Ao senac. Claudianum referem-se várias fontes, sobretudo GAIus 191 (além doutros pas
sos), onde se mencionam os requisitos da aplicação deste senac. e a respectiva conse
quência.
191 - « ... mulier civis Romana... ex senatusconsulto Claudiano ancilla... sit, (s
i) alieno servo, invicto et denuntiante domino eius, coierit» 268.
Deste texto deduz-se que a cidadã romana só perdia a liberdade: 1.0 - unindo-se sexu
almente a um escravo, que fosse alheio («alieno servo»)270; 2° - contra a vontade expr
essa do
269 GAIO 1 91 - «... por força do senatusconsulto Claudiano, seja reduzida a escrava
toda a cidadã Romana que mantiver relações concubinárias com um escravo alheio, contra
a vontade do seu dono e depois de ele a ter admoestado».-Vid. FIRA
II 26.
270 Se o escravo, a quem se unisse sexualmente, fosse próprio da mulher, ela não sof
ria nenhuma sanção. É que, de início, a razão invocada para justificar este senac. não era u
m motivo de ordem moral nem sequer de ordem ideológica ou social, mas simplesmente
-«o prejuízo que daí advinha para o dono do escravo, pois tratava-se dum abuso de prop
riedade alheia».
Mais tarde, o motivo justificativo da sanção aplicada (perda da liberdade) foi já de o
rdem social ou ideológica - «o rebaixamento duma pessoa livre unindo-se à miséria dum es
cravo».
Finalmente, o Cristianismo sublimou a motivação das sanções previstas pelo senac. Claudi
anum - «a necessidade de tutelar a moral sexual». E para que não restassem dúvidas de qu
e a justificação era a honestidade, a legislação romana cristã modificou as sanções a aplicar
cidadã romana que mantivesse relações concubinárias
225
I
DIREITO ROMANO
dominus do escravo («invito domino»)'-71; 3.°-depois de ter sido admoestada pelo dono
do escravo («denuntiante domino»), e ao que parece só depois de três intimações.
- Senac. Tertullianum, da época de Adriano, princípios do séc. II, cerca do ano 120.
Concede à mãe consanguínea ou não-agnada 272, isto é, que
realizou o seu matrimónio sine manu (vid. infra 3.' PARTE, Tít. I), ou que não é casada,
o direito de suceder lure civili na herança de seus filhos, masculinos ou feminin
os, legítimos ou naturais (e o facto de uma mãe suceder a um filho chamava-se a esta
herança luctuosa hereditas), direito que até então, só lure
praetorio possuía e numa posição bastante afastada em relação 1 aos outros herdeiros.
Para se compreender o alcance do senac. Tertullianum, e de harmonia com o nosso
critério fixado para a exposição de matérias (vid, supra 126), apresentemos, aqui, em fo
rma esquemática, a ordem da sucessão em Direito Romano, na época clássica (maté
com um escravo: pena de morte, se o escravo fosse dela; perda da liberdade, se f
osse alheio.
Sobre a evolução do significado e alcance do senac. Claudianum, principalmente na le
gislação romana cristã, vid., por todos, BIONDI, 11 Diritto Romano Cristiano 11 (Milão,1
952) 402-406, e Scritti Giuridici III (Milão, 1965) 43-54. Sobre vários problemas ai
nda hoje discutíveis, a respeito deste senatusconsultum, ver H. R. HOETING, Autour
du «Senatus-Consulte Claudien» em Mélanges Henri Lévy-Brnhl (Paris,1959) 153-162, onde
se indica a principal bibliografia moderna.
271 Se o dominus do escravo consentia-e falam então as fontes de «pactio», de «convenire»,
etc.- , nesse caso ela não perdia a liberdade; mas, de início, os filhos nasciam es
cravos e ficavam a pertencer ao dono do escravo; mais tarde, a partir de Adriano
, consideravam-se livres.
Consta de GAlus 184:
«... ex senatus consulto Claudiano poterat civis romana, quae alieno servo valente
domino eius coiit, ipsa ex pactione libera permanere, sed servum procreare: nam
quod inter eam et dominum convenerit; eo senatusconsulto ratum esse iubetur. Se
d postes divus Adrianus iniquitate rei et inelegantia iuris motus restituit iuri
s gentium regulam, ut cum ipsa mulier libera permaneat, liberam pariat.»- Vid. FIR
A II 25.
272 É que a mãe agnada (a que tinha casado cum manu) já sucedia lure civili no 2.° grupo
(os outros agnados). Vid., já a seguir, o esquema da ordem da sucessão em Direito R
omano.
226
1.' PARTE -TiT. IV-CAP. 2,°-a)
§ 22
ria, que mais tarde será objecto da devida análise, no Tit. IV da 3.^ PARTE), ajunta
ndo umas brevissmias noções sobre o fenómeno sucessório no «Ius Romanumx.
Ordo sucesslonis (a)
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227
DIREITO ROMANO
(a) - A sucessão (hereditária), suc-cessio, (de succedere < sub + cadere=«cair» num luga
r, deixado livre, ocupar o lugar de outrem), é como que um «sub-entrar» na personalida
de de outrem, que desapareceu. Consiste no facto de alguém se colocar em vez de ou
trem (a «representar» outrem), como dono de todo o seu património: titular dos direito
s, sujeito das obrigações. Concretiza-se num personificar, encabeçar (vid. infra 3.' P
ARTE, Tít. I) o falecido, para que os seus bens e as suas dívidas continuem a ter, r
espectivamente, titular e sujeito. Na verdade, de início, o herdeiro representava
(como numa comédia ou numa tragédia) o defunto, mediante uma máscara contendo a figura
(persona, caput) desse falecido. A técnica jurídica, originàriamente, justificava a s
ucessão (hereditária) à semelhança duma representação... teatral.
0 sucessor é sempre de toda a herança, porque só um 4 que pode representar um, o falec
ido (quando vários, os herdeiros, então consideram-se como um, pondo-se «em fila india
na»; à frente, o filius mais velho; e até de início, só este é que herdava); portanto, a her
ança é universal e não particular. E bem elucidativo um texto de IULIANUS conservado n
o D. 50,17,62: «hereditas nihil alìud est, quam sucessio in universum ius quod defun
ctus habuerit».
Sendo vários os herdeiros instituídos, todos (como que «em bicha») são chamados ao todo da
herança. A cada um corresponde um direito Integro, isto é, cada um tem um direito p
otencialmente absoluto. Só na época post-clássica é que principia a falar-se de sucessão a
título particular, quando há transferência de bens isolados.
A aquisição da herança pelo herdeiro tem, como causa, a morte dum indivíduo sui iuris; p
or isso, é uma aquisição mortis causa
0 falecido, que deixa uma herança, é designado por «de cuius» (abreviatura da expressão «[is
] de cuius hereditate'agitur» =aquele de cuja herança se trata) ou «causante». 0 falecid
o, que não deixa nada, é simplesmente... mortuus, falecido, mas não de cuius.
Heredes (herdeiros), propriamente, e de início, só um filius, pois só um (varão) podia r
epresentar bem o pater, de cuius; depois, eram já todos os filhos (filii), [mas co
locados todos «em bicha»], que estavam sob a patria potestas do falecido. Denominava
m-se «heredes sui», e tornavam-se sui iuris, ao morrer o seu pater. Mais tarde, mas
ainda na época clássica, também são heredes sui as filhas (filiae), que estão sob a patria
potestas, e a uxor in mano, pois uma vez admitida a sucessão de vários filii (embor
a considerados como um, pondo-se em «fila indiana»), era fácil meter na fila, no meio
dos filii, uma ou mais filias e também a uxor in manu.
São heredes, mas não heredes sui, aqueles parentes agnados - em que o vínculo, a ligar
essas pessoas entre si, não é o sangue mas o da sujeição a um pater-, que a norma jurídic
a chama a herdar na falta de heredes sui.
1.' PARTE - TiT. IV - CAP. 2.°-a) § 22
Os herdeiros, por força duma norma jurídica (de ius civile ou de
ius praetorium), chamam-se «heredes intestati» (ou também, num sentido
muito amplo, «heredes legitimi») ou ab intestato (herdeiros de quem
morreu sem testamento). Contrapõem-se a heredes testati (herdeiros por
força dum testamento) ou heredes a testato (herdeiros de quem faleceu
com testamento).
Os heredes (quer intestati quer testati) subdividem-se em:
1 - necessários, se não podem recusar a herança, e portanto no sentido de que é a própria
morte do de cuius que os faz ou instituiu herdeiros, mas não no sentido de que não p
odem ser deserdados, pois em Direito Romano da época clássica não há herdeiros forçados no
sentido moderno; o pater podia deserdar todas as pessoas da família, incluindo os
heredes sui; [são «heredes» necessários 1 -os heredes sui e 2-os escravos: a)-manumitid
os pelo «dominus» num testamento (manumissio testamentaria); p)-nesse testamento ins
tituídos herdeiros];
II -voluntários, se podem recusar a herança, e portanto se se tornam herdeiros, não po
r força da morte do de cajus, mas por um acto de aceitação da herança.
Em relação aos heredes voluntários, é preciso distinguir dois momentos:
1)-o momento em que a herança lhes é oferecida (delatio hcreditatis), que é o momento
da morte do de cuius;
2) - o momento em que entram na herança deferida e se tornam herdeiros (aditio her
editatis), que é o momento da aceitação.
Entre o 1.° e o 2.° momento, a herança não tem dono, está «jacente» (hereditas iacens).
(b)-A successio testata é a sucessão em que o título de vocação hereditária é o testamento.
A sucessão testara prevalece em absoluto sobre a successio intestata (ou também cham
ada «legítima», sensu lato). Um pater, como dissemos, podia deserdar (exheredare) toda
s as pessoas da sua família, inclusive os heredes sui. Simplesmente, em relação aos he
redes sui não podia praticar a praeteritio, i. e. a omissão dos seus nomes no testam
ento, nem que fosse só para os deserdar. A praeteritio de um dos heredes sui, mesm
o que fosse póstumo, anulava o testamento. Sublinhemos: o pater tinha de mencionar
no seu testamento todos os nomes dos heredes sui, nem que fosse unicamente para
os deserdar, sob pena de ficar nulo esse testamento. - Igualmente era nulo o te
stamento, se não houvesse instituição de herdeiro (I, 2, 23, 2; GAIUS II 248), mas ape
nas instituição
de legatários.
A successio testata e a successio intestata são dois chamamentos incompatíveis; não só p
orque a sucessio testata exclui a successio intestata, mas também porque, segundo
um princípio assente, «ninguém
228
229
DIREITO ROMANO
1.° PARTE -TIT. IV - CAP. 2.° a)
§22
pode morrer em parte com testamento e em parte sem ele» («nemo pro parte testatus pr
o parte intestatus decedere potest»).

(c)-Os heredes sui273 são os filii, as filiae e uxor in manu (=mulher casada, no r
egime de sujeição jurídica ao marido; portanto, juridicamente, considerada filha do ma
rido e irmã dos seus filhos ou filhas).
Neste grupo (que é o 1.°, quer do ius civile quer do ius praetorium), estando os con
correntes todos no mesmo grau (ou todos só filhos, ou todos só netos, ou filhos, fil
has e uxor in manu), herdam por igual (per capita); a herança reparte-se sem disti
nção de sexos. Mas, se os concorrentes (do 1.° grupo) estiverem em grau diferente, que
r dizer, se conjuntamente com filii, ou com filiae, ou com uxor in manu, concorr
erem netos sui iuris, isto é, descendentes de filii (não de filiae) pré-falecidos, her
dam per stirpes. Há o chamado «direito de representação», pois esses netos sui iuris herda
m a parte, que, se não tivesse morrido, herdaria o seu ascendente-pai. (Neste grup
o, e durante a época clássica, não havia «direito de representação» pela linha feminina).

(d) - Nestes grupos (o 2.° e o 3.°, quer do ius civile quer do ius praetorium), se o
s concorrentes estiverem todos no mesmo grau (ou todos só irmãos, ou todos só sobrinho
s, ou todos só primos, etc.), herdam, como no 1.° grupo, per capita; se estiverem em
grau diferente (v.g. irmãos e sobrinhos conjuntamente), a herança não se distribui pe
r stirpes (como no 1.° grupo), mas, sim, per propinquiorem; quer dizer, o agnado (
no 2.° grupo) ou consanguíneo (no 3° grupo do ius praetorium) mais próximo (v.g. irmão em
relação a sobrinho) exclui o mais remoto. (Nesse caso de concorrerem a uma herança irmão
e sobrinho, só herdaria o irmão).

Em resumo - A herança distribui-se


PRIMEIRO, por grupos. Nunca se passa a um grupo, se há
pelo menos um representante do grupo anterior. Ex.: concorrem a uma herança de 500
sestércios t do 1.' grupo, 2 do 2.° e 2 do 3.°.
0 do 1.° grupo recebe toda a herança, os 500 sestércios. SEGUNDO, dentro de cada grupo
, se há apenas um representante, naturalmente a esse é atribuída toda a herança.
273 Os heredes sui são aquelas pessoas que estavam sob o poder do de cuius enquant
o vivo, e que, pela morte dele, passavam a sui iuris.
$ muito discutível o significado de heredes sui. Segundo parece, eram os herdeiros
do que é seu, visto o património familiar primitivo ser (?) colectivo.
Quer dizer, pertencia a todos os membros da família; simplesmente, o paterfamílias t
inha, durante a vida, plenos poderes de administração e de disposição;
mas, na disposição para depois da morte, se não deserdava os heredes sui, o testamento
era nulo.
230
Se há vários representantes:
a) -se estão todos no mesmo grau, a herança é distribuída per capita Ex.: a uma herança de
600 sestércios concorrem 5 filii (ou 3 filii, 1 filia e a uxor in manu, visto est
arem todos no mesmo grau); tocam 120 sestércios a cada um.
Não havendo qualquer representante do 1.° grupo e concorrendo 2 irmãos agnados (2.° grup
o), tocam 300 sestércios a cada um.
Não existindo qualquer representante nem do 1.° nem do 2.° grupo e concorrendo 3 irmãos
consanguíneos (3.° grupo do «ius praetorium»), tocam 200 sestércios a cada um;
,0)-se estão em grau diferente, então a herança distribui-se
I-per stirpes, no 1.° grupo, quer do «ius civile» quer do «ius praetorium». Ex.: a uma her
ança de 800 sestércios concorrem 2 filiae, a uxor in manu e 2 netos, filhos de um fi
lius pré-falecido. As filiae e a uxor in manu recebem 200 sestércios cada uma, e cad
a neto, 100 sestércios;
II-per propinquiorem, no 2.° e 3.° grupos, quer do «ius civile» quer do «ius praetorium». Ex
.: a uma herança de 900 sestércios concorrem 2 irmãos e 2 sobrinhos, filhos de um irmão
pré-falecido. Cada irmão recebe 450 sestércios e os sobrinhos, nada. 0 DR., em princípio
, não admitia o direito de representação no 2.° e 3.° grupos, ao contrário do que hoje em re
gra acontece nas várias legislações. Isto, em princípio; pois, às vezes, estabelecia excepçõe
, como vamos já ver, ao examinar determinada hipótese de aplicação do senac. Tertullianu
m.
Antes do senac. Tertulljanum, a mãe consanguínea (não-agnada), em relação à herança dum seu f
lho só herdava jure praetorio e estava, aí, no 3.° grupo; portanto, era afastada pelos
do 2.° grupo; concretamente, até pelas irmãs agnadas do de cuias. Depois deste senac.
, ficou a herdar dum filho ou filha (quer legítimos quer naturais) jure civili e c
olocada no
2.o grupo 274
Porém, a mãe consanguínea só passava ao 2.° grupo do ius civile e como tal poderia herdar,
desde que se observassem copulativamente estas duas séries de condições:
a) - se tivesse o chamado «ius liberorum» (= o «direito de filhos»), quer dizer, se foss
e ingénua (=mulher livre desde o nascimento), ser mãe pelo menos de três filhos; se fo
sse liberta (=mulher, nascida escrava, mas que depois alcançou a liberdade), ser mãe
pelo menos de quatro filhos;
b) -se o filha ou filho falecido não tivesse deixado-1) nem descendentes, aliás seri
am estes os únicos herdeiros; 2) nem pai vivo, aliás seria apenas este o herdeiro; 3
) nem irmãos-varões ou seus descendentes (e estes, quer masculinos quer femininos),
aliás seriam só aqueles ou só estes os herdeiros.
Portanto, em face deste senac., na sua primeira formulação (depois, sofreu várias alte
rações; ver 1. 3,3,4), a mãe consanguínea (ou não-agnada, quer dizer,
274 Mais tarde, as disposições do sanac. Tertullianum foram objecto de generalização e d
e alterações.
231
DIREITO ROMANO
I., PARTE - TIT. IV -- CAP. 2.° - a)
§ 23
se é casada, mas sine manu, ou se é apenas mãe natural) é equiparada, na herança dum seu f
ilho ou filha, a uma irmã agnada do de cuius. Note-se, porém, «equiparada» na posição de gru
po, mas não na quota a receber; pois, no caso de haver irmãs agnadas do de cuius, me
tade era para a mãe, e metade era para as irmãs e descendentes (das irmãs pré-falecidas)
quer masculinos quer femininos, recebendo estes per stirpes (I. 3,3,3). Sublinh
emos «irmãs agnadas», pois, na hipótese de concorrerem irmãs consanguineas, a mãe consanguíne
herdava tudo, porque: ou ela passava para o 2.° grupo (se estivesse nas condições ind
icadas retro, a) e b), e então, em face dum representante do 2." grupo e vários do 3
.o, herda sempre o do grupo anterior; ou, estavam todas (mãe consanguínea e irmãs cons
anguíneas) no 3.° grupo do ius praetorium, e, nesse grupo, entre membros de grau dif
erente, a herança distribui-se per propinquiorem; ora, a mãe consanguínea é parente mais
próximo do de cuius (filho ou filha) do que as irmãs consanguíneas.-Por conseguinte,
este senac. tem a sua máxima aplicação, quando concorrem: mãe consanguínea, verificando-se
as duas séries de condições, já indicadas em a) e b); irmãs agnadas; descendentes (mascul
inos ou femininos) de irmãs agnadas pré-falecidas.
As disposições deste senac. estabeleceram várias alterações no direito hereditário normativo
(ou legitimo ou ab intestato ou successio intestata). Embora formalmente (ou em
política jurídica) essas disposições se destinassem em primeira linha a proteger a mãe co
nsanguínea, na realidade a ordem dos interesses visada foi outra. As disposições do se
nac. Tertullianum: L°)-reafirmaram a superioridade da linha masculina em relação à ordem
de suceder (se há pai vivo ou irmãos-varões ou seus descendentes, a mãe consanguínea, mes
mo que tenha vinte filhos, não herda); 2.°-estimularam a prole numerosa (a mãe consang
uínea, se tem apenas dois filhos, não é protegida por este senac.); 3."-estabeleceram
o direito de representação no 2.° grupo, embora com um carácter um pouco excepcional, po
is só tinha aplicação na linha feminina, isto é, em relação aos sobrinhos (ou sobrinhas) do
de cuius, filhos de irmã pré-falecida; 4. finalmente, protegiam, mas só nas condições já ref
ridas, a mãe consanguinea. - Observe-se a respeito do direito de representação no 2.° gr
upo criado por este senac., apesar do seu carácter excepcional, deve ser a origem
ou uma das várias origens remotas do actual direito de representação na linha colatera
l.
- Senac. Orfitianum, da época de Marco Aurélio, do ano 178.
É um complemento do senac. Tertullianum. Atribui a herança materna aos filhos, simpl
es cognados da mãe (legítima ou natural), sucedendo-lhe ah intestato, lure civili e
com preferência a todos os agnados e consanguíneos dela (I. 3,4 pr.).
(Sobre este senac., veja-se E. VOLTEARA, 11 Senatusconsulto Orfiziano e Ia sua A
ppli; azione in Documenti Egiziani em Atti deli X1 Cong. Intern. di Papirologia
[Milão, 1966] 551-585, e M. MEINHART, Die Senatusconsulta Tertullianum und Orf iti
anum [Viena-Colónia, 19671).
Como dissemos, agora segue-se um análise especial aos senacs. Velleianum, Neronian
um e Macedonianum.
232
SENATUSCONSULTUM VELLEIANUM (a. 58? d.C.)
(Fonte principal: D. 16,1)
SUMÁRIO - 23. 1 - Razão da sua denominação, data, conteúdo (D. 16, 1.2,1), e antecedentes
(D. 16,1,2 pr.).
2-Intercessio. Conceito. Espécies
a) cumulativa
b) privativa (garantia pessoal, na forma de «expro
missio») c) tacita
3-Justificação oficial da proibição da intercessio estabelecida pelo senac. Ve11; verdad
eira finalidade deste senac.
4 - Efeito
5 - Alcance
a) casos de não-aplicação b) casos de excepção
6-Análise dalgumas modalidades de «intercessio cumulativa».
I-obrigação correal («reus fieri»)
11 - garantia pessoal, sponsio
na forma de «adpromissio» fidepromissio
fideiussio
í fiducia 111-garantia real pignus (D. 13,7,9,2) hypotheca (D. 20,1,5,1) 7-R
elação entre intercessio cumulativa na forma de obrigação correal, «adpromissio », «expromiss
o» e «intercessio tacita».
l - Razão da denominação, data, conteúdo e antecedentes do «senac. Velleianum» (D. 16,1,2,1
e 16,1,2 pr.)
23. 0 senac. Velleianum é assim denominado por ter sido proposto ao senado pelo côns
ul VELLEUS; embora coadjuvado
233
DIREITO ROMANO
1." PARTE - TIT. IV - CAP. 2.'-a)
§ 23
pelo cônsul SILANUS, só tomou o nome do primeiro, por ter sido ele o grande defensor
da proposta.
De data incerta, provàvelmente do tempo de Nero, vem-se defendendo últimamente como
mais admissível a do ano 58 d.C. 275
Proibiu a todas as mulheres a prática de actos de intercessio a favor de qualquer
homem; quer dizer, proibiu que elas se responsabilizassem, e de qualquer forma,
pelas dívidas contraídas por um homem.
Já Augusto, cerca do ano 3 da nossa era, e depois Cláudio
tinham proibido às mulheres casadas a intercessio a favor dos respectivos maridos.
0 senac. Velleianum generalizou essa proi
bição a favor de qualquer homem 276.
De tudo isto nos fala um texto de
ULPIANUS - (lib. 29 ad Edictum), D. 16,1,2pr. e 1:
«Et primo quidem temporibus divi Augusti, mox deinde Claudii edictis eorum erat in
terdictum, ne f eminae pro viris sois intercederent. 1 Postea factum est senatus
eonsultum, quo plenissime feminis omnibus subventum est.
275 Desde MOMMSEN, vinha-se admitindo tradicionalmente o ano 46 d.C. como data p
rovável do senac. Velleianum; ainda hoje alguns autores mantêm essa data.
Depois do estudo de H. VoGT, Studies zum Senatus Consultum Velleianum (Bona,
1952) e das críticas que se lhe seguiram (vid., por todos, H. KRELLER em SZ 72 [19
551
400-406), talvez seja mais acertado, por agora, seguir a opinião que se indica em
texto.
(Veja-se também SCHUEZ, Derecho Romano Clásico, trad. esp. [Barcelona, 19601543).
276 Mais tarde, para evitar sobretudo determinada fraude ao senatusconsulto
(em que uma outra mulher funcionava como devedora testa-de-ferro para conseguir
empréstimo para um homem), foi proibida a todas as mulheres a intercessio mesmo
a favor de mulheres, conforme consta de PS 2,11,1: -- «In omni genere negotiorum
et obligationum tam pro viris quam pro feminis intercedere mulieres prohibentur»
(em toda a espécie de negócios e obrigações, as mulheres estão proibidas de interceder
[de praticar actos de «intercessio»] tanto a favor de homens como a favor de mulhere
s).
Há autores que pretendem ver a proibição da intercessio às mulheres a favor de
mulheres já no frag. de ULPIANO, D.16,1,2,1, citado no texto; vid., por todos,
SOLLAZI, Noterelle Critiche em Studi Albertario I (Milão,1953) 3.6. Porém o frag.
D.16.1,1pr. parece bem claro«... ne pro ullo (homine)»; não diz«... ne pro nemine».
Cuius senatus consulti verba haec sunt: 'Quod Marcus Silanus et Velleus Tutor co
nsules verba f ecerunt de obligationibus feminarum quae pro aliis reae fierent..
. de ca
re ita censuere...'» 277.
2 - «Intercessio». Conceito. Espécies
«Intercessio», «intercedera» (intercessão, interceder), em direito privado, significa, em
geral, intervenção favorável, intervir a favor de outrem. Em direito público, tem o sign
ificado de proibição, proibir, vetar; é um instituto, criado pela constituição política da r
epública. Vid. supra 64 e 66 °'.
Aqui, tratamos da intercessio no direito privado.
Consiste em alguém se responsabilizar, de qualquer modo, pela dívida dum terceiro.
Há três espécies de intercessio:
a) cumulativa, quando alguém se responsabiliza pela dívida dum terceiro conjuntament
e com ele-I) ou mediante uma obrigação correal, isto é, obrigando-se perfeitamente in
solidum (vid. infra n. 297) com esse terceiro desde o início, II) ou mediante uma
garantia pessoal na forma de adpro
missio (ou sponsio ou fidepromissio ou fideiussio), III) ou
277 «Primeiramente nos tempos do divo Augusto e logo a seguir nos de Cláudio, por ed
ictos dos mesmos, tinha sido proibido que as mulheres casadas intercedessem (pra
ticassem actos de intercessio) a favor de seus maridos. Depois estabeleceu-se um
senatusconsulto, pelo qual, com grande amplitude, se protegeram todas as mulhere
s. As palavras desse senatusconsultosão estas: 'Sobre o que os cônsules Marco Silano
e Veleio Tutor propuserem (ao senado) acerca das obrigações das mulheres, que se to
rnem responsáveis por outros (homens) o senado determinou '»
\ palavra divus (divo) usa-se, referida a uma pessoa falecida e digna de memória.
Fixemos especial atenção na palavra «reae», feminino de reus. Etimolõgicamente, «reus» signif
ca a pessoa que intervém no assunto (res); a palavra «res» tem muitos significados, co
mo todas as palavras concentradas -coisa, objecto dum contrato, conteúdo dum negócio
jurídico, validade, objectividade, caso, causa jurídica, negócio jurídico etc., etc. Aq
ui, significa negócio jurídico. Em sentido estrito, «reus» é o que contrai uma obrigação corr
al ou solidária perfeita; por isso, as obrigações solidárias são chamadas torreais; nessa
solidariedade activa, fala-se de «correi stipulandi» e, na passiva, de «correi promitt
endi»; vid. infra n. 297. Em sentido lato, «reus» significa o responsável, indicando qua
lquer espécie de responsabilidade. No caso concreto, tem o significado de qualquer
espécie de intercessio.
234
235
DIREITO ROMANO
mediante uma garantia real (ou fiducia ou pignus ou hypotheca) ; na intercessio
cumulativa verifica-se, portanto, que alguém vem juntar-se ao devedor inicial ou p
rincipal - no próprio momento da constituição da dívida ou posteriormente -, responsabil
izando-se também pela sua dívida; há, por conseguinte, dois devedores, o principal ou
inicial e o intercedente, e o credor pode exigir de qualquer deles (geralmente e
xigia logo do intercedente, pois em regra era económicamente mais válido) ;
b) privativa, se alguém se coloca no lugar do devedor inicial, cuja obrigação se extin
gue (expromissio) ;
c) tacita, se alguém se obriga ab initio para que outra pessoa, que naturalmente s
eria o devedor principal, não se obrigue.
Todos estes actos de intercessio - e nas suas várias modalidades, construídas pelos
juristas clássicos e que examinaremos a seguir - foram proibidos às mulheres a favor
de qualquer homem.

3 - Justificação oficial da proibição. Verdadeira finalidade do senac. «Velleianum»


A justificação «oficial» da proibição da intercessio às mulheres (a favor de homens) baseou-s
nos velhos princípios romanos - «mulheres virilibus o f f it iis f ungi non est aeq
uum», «fragilitas sexus» e «imbecillitas sexos»-, recordados respectivamente em D. 16,1,2,
1 278 e em D. 16,1,2,2.
Mas essa justificação, já na época de Nero francamente retrógrada, deve ter sido invocada
por VELLEUS perante os senadores para colorir (ou encobrir?) a verdadeira finali
dade do senac. Velleianum: proteger as mulheres 279 contra o risco
279 «Não é conveniente que as mulheres desempenhem cargos viris», etc.
279 0 texto de ULPIANO, D.16,1,2,1, atrás citado, diz expressamente: «...pienissime
feminis omnibus subventum est». Nesse mesmo D.16,1 e noutras fontes, encontrám-se ex
pressões semelhantes, a indicar que a verdadeira finalidade do senac. Velleianum f
oi proteger a mulher: «senatus consulti beneficiam, auxilium ou iuvamen»; «senac. succ
urri, adiuvari»; «deceptis opitulari (socorrer as enganadas, as que foram ,levadas»),
etc.
1.' PARTE - TIT. IV - CAP. 2.°-a) § 23
em que ficavam sendo intercedentes dos homens, e isto, sob certo aspecto, até no i
nteresse da própria moral pública 2280. É que os homens, abusando da ingenuidade ou fa
lta de experiência das mulheres, conseguiam, principalmente com promessas de ordem
não-patrimonial (em regra, promessas de casamento), que elas (sobretudo as que ti
nham bens) ficassem intercedentes (em geral garantes, através de garantias pessoai
s ou reais) das dívidas contraídas por eles. Normalmente, elas eram «levadas» (deceptae)
, pois nem sequer previam lá muito bem os prejuízos que daí lhes poderiam advir. É que e
m Direito Romano, os intercedentes demandavam-se quase sempre em primeiro lugar,
pois, como é natural, tinham maiores valores económicos. Elas eram forçadas a pagar.
Depois, raras vezes, conseguiam dos homens reaver as importâncias dispendidas; per
diam os bens; ficavam na miséria. Quantas vezes, se entregavam finalmente à prostitu
ição. 0 senado então proibiu a todas as mulheres a intercessio a favor de qualquer hom
em.
4 - Efeito da proibição estabelecida pelo senac. «Velleianum»
A proibição da intercessio não anulava o negócio de intercessão efectuado pela mulher, que
r dizer, a intercessio não era nula h ire civili; o Iiegócio jurídico era válido, mas to
talmente ineficaz, pois nem sequer originava uma obrigação natural
(D. 12,6,40 pr.).
0 pretor podia, logo de começo, inutilizar o pedido do credor ao demandar a mulher
intercessora, mediante a denegatio actionis («...neve in eas actio detur», D.16,1,2
,1) ; ou então a mulher, quando demandada pelo credor, podia opor-lhe a exceptio s
enatusconsulti Velleiani («...ne eo nomine ab his petitio detur», D. 16,1,2,1).
Se desse («pagasse» 2P1), ignorando estar s-ssistida pela protecção deste senac., ou se
fosse «levada» (decepta) a dar
280 Cf. P. GIOE, Etude sur ta Condition Privée dela Femme2 (Paris, 1885) 134. 281 «P
agamento indevido» ou «pagar o indevido» é uma contradição; vid. infra n. 316.
236
237
DIREITO ROMANO
1' PARTE - TÍT. Iv - CAP. 2.0-c w)
§ 23
(«pagar»), podia reclamar o que deu («pagou»), através duma condictio indebiti 182, pois-
entendia-se que a mulher intercedente não ficava efectivamente obrigada nem sequer
naturaliter, isto é, nem sequer contraía uma obrigação natural, porque o seu negócio de i
ntercessio - sublinhe-se - era totalmente ineficaz.
Em resumo - A proibição estabelecida pelo senac. Velleianum efectivava-se por força do
ius civile - um senatusconsulto é sempre fonte de ius civile, D. 1,1,7pr. -, mas
através de expedientes que, já por volta do ano 130 a.C., tinham sido criados pelo p
retor: ou mediante a denegatio actionis ou mediante a concessão duma exceptio 283.
5 - Alcance do senac. «Velleianum»
a) Casos de não-aplicação do senac. «Valleianum» - 0 senac. Velleiantutnm não proibiu às mulh
res os actos de liberalidade. Por conseguinte, não proibiu nem o pagamento duma dívi
da alheia, nem as doações nem até a alienação ou mesmo a garantia a favor de terceiro, des
de que se fizesse unicamente donandi causa (com espírito de liberalidade). TJ que
este senac., conforme já acentuámos, pretendeu sobretudo proteger a mulher; e como « f
acilius se mulier obligat quam alicui donat» (a mulher mais fàcilmente se obriga do
que doa, D. 16,1,4,1,), o senac. Velleianum só proibiu às mulheres as obrigações, contraíd
as (de qualquer maneira) a favor de outrem (obrigaram-se por outrem e no interes
se desse outrem), e não as doações. Quanto a estas, já a mulher está defendida pela sua próp
ria índole, pois, segundo os romanos, «mulier dif f tciliter donat». Por isso, «senatus
enim obligatae mulieri succurrere voluit non donanti (o senado quis proteger a m
ulher obrigada, não a doa
dora), D. 16,1,4,1 284.
b) Casos de excepção ao senac. «Velleianum» - Como já sabemos, este senac. visava proteger
a mulher intercedente
(«subventum est omnibus feminis... quae pro aliis reae fierent» D. 16,1,2,1). Mas es
sa protecção à mulher intercedente desaparecia:
1.°-se se provava que ela tinha agido com algum interesse patrimonial próprio, v.g.
se ela garantiu uma dívida alheia, mas para esse acto havia recebido do devedor pr
incipal certa quantia, ou afiançou para que esse devedor, que era credor dela, não l
he exigisse tão ràpidamente uma dívida dela, etc., etc.;
2.°-se se demonstrava que ela tinha intercedido com intenção de prejudicar o credor, p
ois o senac. Velleianum protegia as mulheres deceptae (enganadas= « levadas »), mas
não as callide versatae, as decipientes («enganadoras») D. 16,1,2,3;
-16,1,30pr. 285.
6 - Análise de algumas modalidades de «intercessio cumulativa»
I - 0brigaç5o correal
A primeira modalidade de intercessio cumulativa, atrás indicada, é a obrigação correal («r
eus fieri») ou solidária perfeita (vid. infra n. 297). É o caso tipicamente previsto e
m D.16,1,2,1, embora a palavra «reae» (fem. de «reus») esteja aí num sentido amplo, abrang
endo todas as espécies de intercessio.
Porém a intercessio cumulativa, geralmente, consistia na prestação duma garantia.
A garantia é o aumento da segurança de que uma dívida será cumprida e de que, portanto,
o credor será satisfeito. E um reforço para o cumprimento da obrigação: reforço ou dado di
rectamente pela pessoa e indirectamente pelos seus bens, ficando
285 É discutível entre os AA. se a mulher podia renunciar à exceptio senatusconsulti V
elleiani (vid., por todos, P. Glee, o.c. 159-163). Se podia, era mais um caso de
excepção ao senac. Veil.
239
282
283 284
238
Vid. infra 2.° PARTE, Tit. VI, que espécie de actio é esta.
Para já, veja-se infra n. 369.
Vid. infra § 30-c)-T, que espécie de expedientes do pretor eram estes. Vid. P. GIDE,
O.C. 156-158.
10
r
DIREITO ROMANO
ela e os seus bens obligati (garantia pessoal) ; ou dado directa e exclusivament
e por certos bens (garantia real).
A garantia, portanto, pode ser: pessoal ou real.
Examinemos sumàriamente estas duas modalidades e em algumas das suas respectivas f
iguras; um exame aprofundado será feito no tít. III da 3.a PARTE destas Lições.
II - Garantia pessoal. Figuras

A garantia pessoal originava a favor do credor uma actio personalis contra o gar
ante, em que este respondia com todo o seu património e com a sua própria pessoa. Po
r isso, no ordenamente jurídico romano, as garantias pessoais tinham maior valor e
preponderância que as garantias reais.
Há várias figuras de garantia pessoal, na época clássica. Podem reunir-se em dois grupos
: a)-adpromissio e 3)-expro
missio 2,16
a) - Na adpromissio, surge um novo devedor, que, por uma nova stipulatio 287 - n
isto se distingue da obrigação correal, em que uma só stipulatio originava os vários dev
edores -se junta («ad+promittere») ao devedor principal. Promete «id quod Titius promi
sit» 188.
286 A expromissio é uma forma de garantia pessoal, porém não é uma modalidade de interce
ssio cumulativa mas sim de intercessio privativa, como já sabemos (vid. supra 236)
. Só por uma questão didáctica é que se lhe faz referência, aqui, junto com as outras figu
ras de garantia pessoal.
287 A stipulatio é um negócio jurídico tipicamente obrigacional, quer dizer, destina-s
e a criar obrigações, enquanto outros negócios (v.g. a mancipatio) destinam-se a criar
direitos reais. Vid. infra § 29 - a -1.
288 Com um adpromissor ficam a existir duas obrigações, a do devedor principal (em q
ue o objecto da obrigação é o debitum) e a do fiador (em que o objecto da obrigação é a prom
essa de o devedor principal cumprir o debitum). 0 adpromitente não fica responsável
directamente pela dívida (ou débito), mas pelo devedor; só indirectamente ou mediatame
nte se responsabiliza pelo débito, pois fica responsável pela promessa de que o deve
dor (principal) pagará. Há, portanto, duas obrigações com igual conteúdo, mas não com o mesm
o conteúdo. 0 credor tem, pois, dois devedores em vez de um, e pode reclamar de qu
alquer deles, mas uma só vez. Nisto consiste o carácter consumptivo da litis contesf
atio (vid. infra n. 296), o qual durou até 531.
A adpromissio, a que grosso modo corresponde a nossa actual fiança (art.°' 627.° a 655
.° Cód. Civ. Port.), tem carácter acessório, no sentido: 1.° de
1.^ PARTE-TIT. IV-CAP. 2^-a) § 23

Formas da «adpromissio»:
1) sponsio - forma solene de promessa, de origem sacral, só própria dos cives romani
(cidadãos romanos), feita com invocação dos deuses das partes negociantes;
2) fidepromissio-promessa, feita com a invocação da deusa fides 289, admitida por ci
ves e por não-eives (os peregrina= =homens livres, membros da comunidade romana, c
om certos
que surge depois da obrigação principal, pois origina-se, não na mesma stipulatio do r
eus principal (e por isso se distingue da correalidade), mas noutra stipulatio p
osterior; 2.° de que a obrigação adpromissória não pode ser maior ou mais gravosa que a ob
rigação principal, podendo ser menos gravosa; porém, se for maior ou mais gravosa, a o
brigação adpromissória não será nula, mas terá de ser reduzida ipso lure aos limites da obri
gação principal; 3.0 de que a validade e a invalidade (melhor expressão, a nulidade) d
a obrigação adpromissória depende também (em geral) da validade e da invalidade da obrig
ação principal. Há algumas excepções. GAtus III 100 apresenta um elenco dos vários casos (so
bre este ponto, vid., por todos, Paolo FREZZA, Le Garanzie delle Obbligazioni I.
Le Garanzie Pernonali [Nápoles, 1962] 44).
A ad promissio clássica não tem carácter subsidiário, pois o adpromissor não goza do benef
icium excussionis (benefício da excussão). Esse benefício ou privilégio, que só foi criado
, em 535, por Justiniano (Nov. 4,1), consiste em o beneficiário não poder ser demand
ado enquanto o credor não tenha préviamente esgotado (excutere) todas as possibilida
des de a dívida ser cumprida - v.g. executando o devedor principal, executando tod
as as garantias reais que porventura existam, e quer tenham sido constituídas ante
s, simultâneamente ou mesmo depois dessa garantia pessoal que goze do beneficium e
xcussionis. Na «fila» ou na ordem dos responsáveis pelo cumprimento da obrigação, quem goz
ar do benefício da excussão é sempre o último a responder; todos os outros estão à frente de
le, mesmo os que tenham surgido depois dele. Por isso, o beneficium excussionis
também é designado nas fontes jurídicas, sobretudo bizantinas, por «beneficium ordinis».
0 credor pode escolher, à vontade, para reclamação processual qualquer dos dois devedo
res - o reus principal ou o adpr omissor.
Na realidade, porém, o credor dirige-se, sempre ou quase sempre, ao fiador, cuja s
olvência naturalmente era mais segura. Desta forma, a obrigação do fiador (adpromissor
), pràticamente, não era acessória (nunca subsidiária) mas... principal.
289 A deusa fides (fé), divindade reconhecida por eives (cidadãos romanos) e por non
-cives (peregrinos), era invocada na celebração dos negócios de peregrinos entre si e
dos negócios entre peregrinos e cidadãos romanos. Ela velava pelo cumprimento desses
negócios, castigando os faltosos e protegendo os cumpridores.
Tinha a sua sede na palma da mão direita (cf. CICERO, De Off. 1,7,23 e Tit. Livius
, Historia 1,21,4; 23,9,3). Por isso, os contraentes davam um aperto das mãos dire
itas (dexterarum porrectio) para imprimir solenidade à promessa. Desaparecido o cu
lto da deusa fides, ficou o aperto das mãos direitas como sinal de confiança mútua. (S
obre esta matéria, vid., por todos, J. IMBERT, De Ia Sociologie au Droit: Ia «Fides» R
omaine em Mélanges H. Levy-Bruh! [Paris,1959] 307-415).
Aqui está, na fidepromissio, a origem remota e o significado da forma de cumprimen
tar, própria dos povos latinos, que se estendeu a outros povos civilizados.
240
241
DIREITO ROMANO
1.' PARTE-TiT. IV-CAP. 2.^-a)
§ 23
direitos, mas sem nenhum dos privilégios dos cidadãos romanos) ; - tanto a sponsio c
omo a f idepromissio serviam para garantir apenas as dívidas nascidas duma stipula
tio (portanto, só as obrigações verbais), visto pressuporem uma promissio;
3) fideiussio -figura de fiança adpromissória criada provavelmente nos fins do séc. I
a.C., talvez por influência de LABEO. Era, como a fidepromissio, um negócio do ius g
entium e por isso acessível aos cives e também aos peregrini. Podia garantir todas a
s espécies de obrigações, inclusive as obrigações naturais, e até obrigações futuras. Em rigo
não é uma promessa (promissio) mas uma ordem, uma autorização responsável ou aval (iussio)
, semelhante ao iussum que o pater dava para se responsabilizar totalmente pelas
obrigações contraídas pelos seus alieis iuris (filhos e escravos) -vid. infra 3.a PAR
TE, Tít. I. Com a palavra fide iubeo («eu avalizo lealmente»), o fiador tornava-se tam
bém devedor do conteúdo da dívida principal, isto é, devedor juntamente com o devedor in
icial.
Q) - Expromissio é uma garantia pessoal, em que um novo devedor, por uma nova stip
ulatio, promete «id quod Titius debet». Substitui o devedor inicial, por incompatibi
lidade entre as duas obrigações em virtude da identidade do objecto: não pode dar-se (
dari) duas vezes a mesma coisa. Produz-se, pois, uma novatio por mudança do devedo
r, ficando a existir apenas a segunda obrigação. Com a expromissio permanecem, porta
nto, não duas obrigações, como na adpromissio (por conseguinte, não é uma modalidade de in
tercessio cumulativa), mas uma só obrigação, por isso é uma intercessio privativa 299. 0
expromissor é
o novo e o único devedor.

Ill - Garantia real. Figuras


A garantia real é um direito sobre uma coisa, imóvel ou móvel (res mancipi ou res nec
mancipi 291), concedida a um credor para assegurar o cumprimento da obrigação.
290 Ver supra n. 286.
291 Para uma noção vaga de res mancipi e de res nec mancipi fazemos, aqui, a
É possível a existência de várias espécies de garantia real, pois as faculdades outorgadas
ao credor podem diferir muito. Notemos três das espécies de garantia real, que são fi
guras típicas - a fiducia, o pignus e a hypotheca.
Na -fiducia 291-bis, verifica-se uma da tio (= transferência da propriedade) da co
isa a favor do credor, propriedade que deverá cessar, logo que se efectue o cumpri
mento da obrigação, aliás terá contra si a actio fiduciae, exactamente para o forçar a res
tituir a propriedade da coisa; e até a sua posse, se, além de datio, também houve trad
itio. A datio da coisa não implica neeessàriamente a transferência da sua posse; a coi
sa, embora propriedade do credor, podia continuar em poder do fiduciante (interc
edente). Isto, porém, trazia desvantagens para o credor, sobretudo porque o fiduci
ante podia recuperar a propriedade pela usureceptio ex fiducia, desde que possuíss
e a coisa durante
um ano, mesmo que ela fosse imóvel (res mancipi), v.g. uma, quinta (fundus).
Era uma espécie de prescrição aquisitiva, mas anómala, principalmente
devido ao prazo exigido referente às res mancipi. Normalmente, esse prazo, para ad
quirir por prescrição uma res mancipi, era muito mais longo do que um
ano. Para evitar esta usucapio do ex-proprietário, então ou efectuava-se também a trad
itio (= transferência da posse) ou frisava-se que ele possuía a coisa a
título precário ou como arrendatário. Desta forma, conseguia-se uma espécie de fiducia,
segura, sem tranferir a coisa para o credor (como que uma «fiducia-hypothecaria»), e
inabilitava-se o «precarista» ou «detentor arrendatário» para
possuir como proprietário,
No pignus, há uma traditio (=transferência da posse) da coisa a favor do credor. 0 p
ignus (penhor) é o direito que tem um credor de reter uma coisa alheia, móvel ou imóve
l, para forçar o devedor a cumprir a obrigação. 0 acto pelo qual se cons
titui esse direito a favor do credor é uma pignoris datio (pigneratio). Note-se, p
orém, que o objecto da datio (na «pignoris datio») não é a coisa (res), mas o próprio direit
o do penhor.
equiparação respectivamente a coisas imóveis e a coisas móveis; no tít. II da 3' PARTE, da
remos a noção exacta de res mancipi e de res nec mancipi.
291.bis ' E um instituto originado na época arcaica; largamente aplicado na época clás
sica; diminui na época post-clássica; desaparece na época justinianeia. A fiducia, ten
do desaparecido, como forma de garantia, converteu-se em contrato, sendo a orige
m dos contratos de depósito, de comodato, etc.
242
243
DIREITO ROMANO
1,^ PARTE-T. IV-CAP. 2.°-a)
Se o credor pignoratício, uma vez cumprida a obrigação, não devolve a coisa penhorada, há
contra ele uma actio in f actum
(portanto, pretória 29L), denominada actio pigneraticia. Lr, porém, uma actio in per
sonam, não in rem, quer dizer, não pode forçar
o credor pignoratício a entregar a coisa penhorada, mas condena-o a pagar o valor
dessa coisa.
Na hypotheca, não há datio nem sequer traditio da res; verifica-se apenas uma especi
al afectação da coisa, imóvel ou
móvel, ao cumprimento duma obrigação.
A sua origem encontra-se nos arrendamentos rústicos. 0 arrendatário prestava como ga
rantia do pagamento da renda
(meroes), ou os invecta (os utensílios de lavoura e outros móveis carregados para a
quinta) ou os inata (escravos e animais, domésticos levados para a quinta) ou os i
nvecta et illata; mas. a posse desses bens não se transferia para o senhorio, vist
o. o arrendatário precisar deles para o seu trabalho, a exploração, do fundus (quinta)
. Arrendatário e senhorio almas combina' vam que esses bens ficavam especialmente
afectados ao pagamento da merces (renda) ; havia pois uma conventio pignoris ou
um pignus... conventum (= hypotheoa).
No penhor, como já vimos, há uma datio pignoris ou um pignus datum. Por conseguinte,
tanto o penhor como a hipoteca
são um pignus. Simplesmente, o penhor é um pignus datum, a hipoteca, um pignus conve
ntum. -A iurisprudentia romana é
bem clara a este respeito, afirmando que o penhor e a hipoteca formam uma instit
uição unitária. Vejamos dois textos.
ULPIANUS - (lib. 28 ad Edictum), D. 13,7,9,2:
«Proprie pignus dicimus, quod ad creditorem transit, hypothecam, cum non transit n
ec possessio (rei) ad credi
torem» 298
Ver infra § 30 - c) - 2).
«Em rigor, dizemos (que existe) penhor, quando a posse (da coisa) se transfere par
a o credor, hipoteca, quando nem sequer a posse (da coisa) se transfere para
o credor».
MARCIANOS- (libro singulari ad Formulam Hypothecariam) ' D. 20,1,5,1:
«Inter pignus autem et hypothecam tantum nominis sonus
di f f ert» 294.
Notemos, finalmente, o que já ficou oportunamente sublinhado: ao contrário do que em
geral se estabelece hoje, em Direito Romano não é o facto de a coisa ser móvel ou imóve
l que determina a diferença entre penhor e hipoteca, mas, repita-se, o facto de se
transferir ou não, para o credor, a posse da res. Tanto o penhor como a hipoteca
podiam ter por objecto uma coisa móvel ou uma coisa imóvel 295.
7 - Relação entre «intercessio cumulativa» na forma de obrigação correal, «adpromissio», «exp
sio» e «intercessio tacita»
Na intercessio cumulativa na forma de obrigação correal passiva (plures rei promitte
ndi), há uma só stipulatio, mas dois devedores, o principal ou inicial e o intercede
nte-correal, e desde o início, isto é, desde a constituição da obrigação principal, pois ver
ifica-se uma unitas actus, embora logicamente o intercedente-correal possa consi
derar-se devedor posterior. Vejamos através dum exemplo, em que Titius é credor, Sem
pronius seu devedor principal de dez sestércios e Caius intercedente-correal. A re
alização da respectiva stipulatio consistiria em duas perguntas feitas por Titius e
uma resposta dada por Sempronius e Caius.
Titius: Sempront, decem mihi dari apondes?
(E Sempronius, para já, ficava calado).
Cai, eadem decem mihi dart spondes?
294 «Na verdade, entre penhor e hipoteca há apenas uma diferença de (som de) palavras».
295 Felizmente, hoje em dia, já se vai admitindo a hipoteca também sobre coisas móveis
, v. g. sobre automóveis, aviões, etc.; mas invocar o registo como única justi
ficação é... nada justificar. É um elemento extermo de mais para determinar a natureza (
interna) duma garantia.
Veja-se a evolução do art.' 686.° do Cód. Civ. Port. de 1966, em relação ao art.' 888.° do Có
Civ. Port. de 1867.
292 293
244
245
DIREITO ROMANO
1.° PARTE-Tin. IV-CAP. 2.°-a)
§ 23
(Só agora, respondiam, simultaneamente, os dois).
Sempronius e Calus: Spondeo.
Ou então havia só uma pergunta, mas no plural, feita por Titius, e também só uma respost
a, agora no plural, dada simultâneamente por Sempronius e Caius.
Titius: Semproni et Cai, decem dari mihi spondetis? Sempronius e Caius: Spondemu
s.
Sempronius e Caius devem 10 sestércios a Titius; mas, se um paga 10, o outro fica
livre; ou, se Titius demanda um (e mesmo que ele, por alguma razão especial, consi
ga não pagar), igualmente fica livre o outro por força do efeito consumptivo da liti
s contestatio 296. E que existe uma só obrigação, há só um vínculo, embora ligando dois (vin
culados, Sempronius e Caius) a um (Titius), pois houve uma única promessa (correi
promittendi). Tendo havido uma única promissio (uma única resposta), só pode ter-se or
iginado uma única stipulatio. Havendo só uma stipulatio, esta só pode ter gerado uma «ob
ligatio», um vínculo (vid. infra 304). Se um dos vinculados (dos obrigados) consegue
, por qualquer forma, «cortar» o vínculo, o outro... fica também «solto» (solutus), livre 29
7.
296 Vid. infra 28 PARTE, Tít. V o que era a litis contestatio e quais os seus efei
tos. Para já, baste-nos uma vaga ideia. A litis contestatio da época clássica era aque
le momento do processo, em que definitivamente se fixava na fórmula (vid. infra 33
4 o que era a fórmula processual) o objecto da controvérsia. Nesse momento, a posição ju
rídica dos litigantes ficava perpetuada; o juiz tinha de julgar de harmonia com el
a. 0 efeito principal e característico da litis contestatio clássica era o da consum
pção da acção. Quer dizer, uma acção que, por uma determinada causa iuridica, tivesse sido o
bjecto duma litis contestatio, já não podia voltar a propor-se, outra vez, com base
na mesma causa - o que se exprimia pelos adágios
non bis in ide,n » ou «bis de eadem re ne sit actio». Vid. A. D'ORS. Elementos, cit. 7
3.
297 A este tipo de solidariedade, em que tanto o pagamento efectuado por um dos
condevedores como a litis contestatio (no caso acima apresentado, feitos por Cai
us ou Sempronius) libertam o outro, chama-se correalidade ou «solidariedade perfei
ta». Quando somente o pagamento feito por um é que liberta o outro e não já a litis cont
estatio (que liberta apenas o demandado, que, por certas circunstâncias, conseguiu
não pagar, ficando portanto absolvido), então esse tipo de solidariedade denomina-s
e «simples solidariedade». Vid., por todos, D'ORS, Elementos, cit. 320 e SCH ULZ, De
recho Romano Clásico, cit. 469.
Na adprornissio, há duas stipulationes (excepto na fideiussio, pois aí rigorosamente
não há promissio- vid. supra 242-3) ; essas duas stipulationes são a do devedor princ
ipal ou inicial e a do intercedente-adpromitente; há dois devedores, o principal o
u inicial e o intercedente-«adpromissor», que surgiu lógica e realmente, depois, e há du
as obrigações: uma, a do devedor principal, que tem por objecto o debitum; outra, a
do intercedente-adpromitente, que tem por objecto a promessa do cumprimento do déb
ito a cargo do devedor principal, isto é, a promessa de que o devedor principal há-d
e cumprir (é quase como que uma obrigação de (acere). Há, pois, duas obrigações com igual co
nteúdo, mas não com o mesmo conteúdo.
Na expromisso (intercessio privativa), há duas stipulationes, a do devedor inicial
e a do intercedente-«expromissor»; há um só devedor (até à realização da «expromissio» é o d
icial, depois é o intercedente), e há uma só obrigação (até à «expromissio», a do devedor ini
depois, a do intercente). >J que a obrigação do intercedente-«expromissor», como tem o
mesmo conteúdo, faz desaparecer automàticamente a obrigação do devedor-principal, por im
possibilidade de objecto, já que uma coisa não pode ser dada (dari) duas vezes 298.
Verifica-se, portanto, uma novatio subiectiva-o devedor-principal deixa de ser d
evedor, para ficar único devedor o «expromissor».
Na intercessio tacita, há uma só obrigação, uma só stipulatio e um só devedor - o interceden
te, e desde o início. 0 «devedor» principal nunca surge, pelo menos, como devedor efec
tivo.
Vejamos, através do primeiro exemplo, dado supra 245 e 246. Titius faz as pergunta
s a Sempronius (devedor principal) e a Caius (intercedente). Depois, no momento
em que deviam ambos e simultâneamente responder, Sempronius (devedor principal) ta
cet (fica calado); só responde Caius. Apenas em relação a este se origina uma stipulat
io. Logo, também só em relação a este se gera uma obligatio. Só ele fica obligatus.
298 Sobre a diferença entre as obrigações de dari e de dare vid, infra 253 e 254.
Í
246
247
DIREITO ROMANO
1° PARTE -TIT. IV-CAP. 2.°-a)
EM RESUMO
A) -Tomando por base a intercessio, temos o seguinte esquema:
I - mediante obrigação correal (ou solidária perfeita; vid. n. 297)
GARANTIAS CONCLUSÕES
1.o) -Nem toda a «intercessio» é garantia (a «intercessio» cumulativa na forma de obrigação c
rreal ou solidária perfeita, e a «interecessio» tácita; sob certo aspecto, são mais do que
garantia).
2,°)-Nem toda a garantia é «intercessio» (as garantias reais, prestadas pelo próprio deved
or principal).
3.°)-A «intercessio» geralmente consiste numa garantia
SENATUSCONSULTUM NERONIANUM (a. 60? d.C.)
(Fonte principal: GAIUS II 197)
SUMÁRIO-24, a) Razão da designação, data e matéria
b) Espécies de legados e respectivas fórmulas:
1 - Legatum per vindicationem (ou «legado de propriedade» ou «legado dispositivo»). Fórmul
a: «Titio Stichum do lego» (GATUS 11 193)
2 - Legatum per damnationem (ou «legado damnatório» ou «legado de obrigação»). Fórmula: «here
s Titio Stichum dare damas esto» (GAtus II 201)
3 - Legatum sinendi modo (ou «legado permissivo»). Fórmula: «heres meus damas esto ciner
e» (GAtus II 209)
4-Legatum per praeceptionem (ou «legado de preferência»). Fórmula: «Titios Stichum praecip
ito» (GAIOS TI 216). Opinião dos sabinianos e dos proculeianos
c) Conteúdo: primitivo (Galos 11 197); posterior amplia
ção, estabelecida pela iurisprudentia. Relação entre o
senas. Neronianum e o princípio conservado em D.
50,17,12
a) Razão da designação, data e matéria do senas. «Neronianum»
24., 0 senas. Neronianum, de data incerta (sendo bastante provável a do ano 60 d.C
.), é assim denominado por ter sido autor da proposta apresentada ao senado o impe
rador Nero (54-68). Trata da conversão de certo tipo de legados nulos (e desses, a
penas dos nulos por determinado vício de forma) em legados
INTERCESSIO
II-garantia pes- -sponsio
soai, na for
de «adpro- -ttdepromissio
ma missio» - fideiussio
fiducia
III - garantia real -pignus ~- hypotheca
b) - privativa =
prom
garantia pessoal, na forma de «expro
issio»
c) - tácita
B) -Tomando por base a garantia, é este o esquema:
1 - sponsio
a)-adpromissio 2-fidepromissio 3 - f ideiussio
p) -
expromissio
- f iducia -pignus
- hypotheca
248
249
DIREITO ROMANO
damnatórios 298. A iurisprudência, posteriormente, alargou essa conversão, e mais tard
e criou um princípio generalizador em matéria de interpretação da vontade dos testadores
.
Para se compreender a disposição do senac. Neronianum e, depois, o seu ulterior alca
nce, e ainda de harmonia com o nosso critério fixado para a exposição de matérias (vid.
supra 126), apresentamos agora umas breves noções sobre legados, suas espécies, respec
tivas fórmulas e relação entre fórmula e forma jurídica. No tít. IV da 3.a PARTE destas Liçõe
será exposta essa matéria, duma forma aprofundada, e indicando a principal bibliogra
fia.
b) Espécies de legados e respectivas fórmulas
A palavra legado provém de legatum < legare; legare equivale a legem facere; porta
nto, legatum=legem factam. Quer dizer, o testador na sua nuncupatio'°° ordenava o de
stino (a ser dado ou facultado pelo herdeiro) de certos bens particulares. Essas
ordens ou mandos eram uma lex rei suae dicta verdadeiras leges, leges privatae
ou legata.
Legado é uma disposição «mortis causa» contida num testamento a favor dum terceiro sobre b
ens concretos. 0 cumpri
299 0 senac. Neronianum é um dos antecedentes da moderna teoria da conversão dos negóc
ios jurídicos. Sobre este tema, em geral, vid. Raul VENTURA, A Conversão dos Actos J
urídicos no Direito Romano (Lisboa,1947), Vincenzo GIUEFRÈ, L'Utilizzazione degli At
ti Giuridici mediante «conversion» in Diritto Romano (Nápoles,1965), e M. ANDRADE, Teo
ria Geral da Relação Jurídica 11. Facto Jurídico em especial Negócio Jurídico (Coimbra,1960)
432-437, onde a págs. 4322 se indica a principal bibliografia da- doutrina modern
a acerca da conversão dos negócios jurídicos.
Sobre o sentido e alcance do senac. Neronianum vid., por todos, Raul VENTURA, A
Conversão dos Actos Jurídicos no Direito Romano, cit. 87-104, e SCHULZ, Derecho Roma
no, cit. 306.
300 Vid. supra 202 e n. 227, e,203.
Legatarius (legatário) é o beneficiário, a pessoa a quem se deixa a liberalidade; test
ator (testador) é o que faz o testamento; heres (herdeiro) é o que recebe o património
, activo e passivo, do de cuius no seu conjunto; é quem personifica, «encabeça» o de cui
as. Vid. supra 228.
1.1 PARTE - TIT. IV-CAP. 2.°-a) § 24
mento dessas disposições está a cargo do herdeiro, embora por vezes esse cumprimento s
e limite a uma certa passividade (caso do legado sinendi modo) ou até simplesmente
a não impedir o exercício do direito do legatário (hipótese do legado per vindicationem
).
0 Direito Romano clássico (e note-se bem-muito antes do senac. Neronianum) admitia
quatro espécie de legados. Cada um tem a sua fórmula, exige por vezes outros requis
itos de forma e produz efeitos diferentes.
Forma (jurídica) é o instrumento jurídico, tomado no seu conjunto, para que determinad
o instituto produza os seus efeitos. São pois todos os requisitos necessários e exig
idos para que um acto, negócio ou contrato, seja válido. V.g. requisitos a respeito
da pessoa (sexo, idade ,etc.) ; requisitos a respeito do objecto (móvel ou imóvel, p
róprio ou alheio, pertencer à massa da herança ou a terceiros, etc.) ; requisitos a re
speito das palavras a usar rigorosamente na celebração do negócio, e essa parte da for
ma jurídica chamava-se fórmula.
Fórmula (jurídica) são as palavras que, por vezes, devem ser usadas na celebração do negócio
, e essas palavras não podem ser substituídas por outras; são palavras «sacramentais» 301
A fórmula jurídica é, por conseguinte, uma parte da forma jurídica.
1- Legatum por vindicationem
Também é chamado «legado dispositivo» ou «legado de propriedade»; a aquisição da coisa legada
z-se directamente do de cuius testador para o legatário, sem passar pelo herdeiro.
301 Sobre o poder mágico ou religioso das fórmulas vid. Georges DUMÉZIL, La Religion R
omaine Archaique (Paris,1966) 99.136.
0 elemento formal, no Direito, é muito importante, pois, o ius, de início, por vezes
, consistia num rito. Vid. R. SANTORO, 1us-Rito em Ann. del Sem. Giur. delta Uni
versità di Palermo 30(1967) 153-159, e Pietro DE FRANCISCI, Primordia Civitatis, (
Roma, 1959) passim.
t
250
251
DIREITO ROMANO
1.° PARTE-TIT. IV-CAP. 2^-a)
§24
.Fórmula: «Titio Stichum do lego» -GAIUS II 193 («Ao amigo Tício dou e lego o meu escravo
Stico»)802.
«Do», quer dizer, faço proprietário 313; «lego», determino (faço isto) por liberalidade.
Morto o testador, e após a aceitação da herança (se não se tratasse de herdeiros necessários
), Stichus (o escravo) passava automàticamente para o património do legatário (Titius)
, que dispunha de acção real (uma vindicatio) para efectuar o seu direito-ir buscar
o escravo onde quer que ele estivesse. Por isso, este legado se chama «legatum per
vindicationem».
Para que este legado fosse válido, além do emprego da fórmula exacta, era necessário que
a coisa legada pertencesse ao testador:
a) -se se tratasse duma coisa fungível, isto é, que se identifica pelo seu peso, con
ta ou medida (por ex., cinco quilos de trigo, seis cavalos, sete litros de azeit
e), devia ser propriedade do testador no momento da sua morte;
b) -se se tratasse de coisas não-fungíveis, isto é, as que se identificam pelas suas c
aracterísticas individuais, v.g. um certo e bem determinado prédio (por ex., a casa
situada em Ravena, na Via Directa n.° 31), um bem identificado escravo (por ex., o
escravo Stichus, etc.), devia pertencer ao testador

302 Titius, Sempronius, Maevius, Seius, Caius, etc. são termos que designam pessoa
s livres, em vez de se empregar A., B., C., etc., como geralmente se faz hoje (A
. vendeu a B., este hipotecou a C., etc.); e esses nomes são usados pelos juristas
clássicos na exposição e resolução dos seus casos-práticos, «casos-hipotéticos», denominados
stiones (vid. infra § 33-b)-11).
Stichus, Pamphilus, Tatus, etc. são nomes, de origem grega, empregados nos mesmos
casos-práticos, para designar escravos. É que a fonte principal da escravidão era o ca
tiveiro de guerra. 0 prisioneiro, que não era morto, era transformado em escravo.
Ora, a partir das guerras nas províncias orientais, o número de escravos em Roma aum
entou extraordinàriamente; principiou a chamar-se-lhes pelos nomes que já tinham nas
suas terras; esses nomes eram Stichus, Pamphilius, etc.; daí esses termos começarem
a significar genèricamente «pessoas que não têm liberdade», escravos.
303 «Dare» é «dominum facere», produzir a «datio»-«lacere rem accipientis», tornar alguém pro
(dono) duma coisa. Cf. Sebastião CRUZ, Da «Solutio» 1, cit. 179-198.
tanto no momento da morte (como na hipótese da al. a)) como no momento da feitura
do testamento (GAIUS II 196).
2 - Legatum per damnationem
Legado damnatório. Também é designado «legado de obrigação».
Fórmula: «heres meus Titio Stichum DARE damnas esto» -GAlUS II 201. («0 meu herdeiro fic
a obrigado [condenado] a dar a Tício o escravo Stico»).
Neste legado, não se produzem efeitos reais; mas pessoais: o legatário tem uma actio
pessoal (a actio ex testamento) para exigir do herdeiro, caso ele não cumpra, que
lhe dê o que lhe foi legado. De início, o legatário possuía até uma manus iniectio contra
o heres não-cumpridor. Essa manos iniectio era consi
derada e tratada como directa, pois derivava da condemnatio proferida pelo de cu
ias no testamento. Por isso, para indicar
a obrigação do herdeiro para com o legatário, o testador usa a expressão «damnas esto» (seja
condenado).
0 objecto (Stichus), neste legado, tanto pode pertencer ao testador como ao herd
eiro como a um terceiro.
É pois sobre o herdeiro que recai a obrigação de «dare» o objecto legado. Nestas obrigações d
«dare», ao contrário das obrigações de «dari», além do resultado (datio), o devedor tem de p
icar, por si ou por outrem a seu mandado, o acto produtor da datio. E indispensáve
l a actividade do dons; no caso concreto, do herdeiro.
A questão da diferença entre obrigação de «dare> e obri
gação de «dari> não é tratada pelos autores; pela primeira vez,
foi Insinuada por nós em Da «Solutio> I 184261. Hoje, estamos
cada vez mais convencido dessa diferença. As formas «dare>
e «darti>, usadas em Direito Romano, não são um mero problema
de construção gramatical, pois há as mesmas expressões nitida
mente jurídicas que usam ora dare ou dart, e isto com tanta
frequência que também não se deve atribuir a mero equivoco dos
amanuenses para explicar o facto, como pretendem alguns AA.
Nas obrigações de «dari (apondes mihi Stichum dari) o que
se promete e o que se deve é o resultado (a datio), Independente
252
253
DIREITO ROMANO
1` PARTE -TIT. IV-CAP. 2.°-a)
§ 24
mente do acto ou negócio de dare (mancipatio, in fure cessio ou traditio) ser prat
icado pelo devedor ou por outrem, ou até andependentemente de ser produzida a dati
o por um acto ou por um simples eventus. No cumprimento das obrigações da dari, não se
atende ao comportamento do dans; prescinde-se dele. A obrigação é cumprida e, por iss
o, extingue-se, desde que se produza a datio e quer esta seja efectuada voluntária
ou involuntàrlamente por um terceiro quer por um simples eventos.
Nas obrigações de «dare>, além do resultado (datio), o devedor tem de praticar, por si o
u por outrem a seu mandado, o acto produtor da datio. Uma datio, produzida por u
m simples eventus, ou até por um terceiro sem conhecimento do obrigado, não libertar
ia o devedor; teria de dare então Igual valor ao do objecto da obrigação, já que não (se)
pode («dari>), duas vezes, a mesma coisa, pois «nec enim quod nostrum est nobis dari
potest, cum scilicet id dart intellegatur, quod ita datur, ut nostrum fiat; nec
res quae nostra iam est nostra amplius fieri potest> (GAIUS 1V 4). E necessária a
actividade do dans, para que fique cumprida uma obrigação de «dare damnas esto>.- [Na
3.' PARTE, tít. III destas Lições, examinaremos esta questão, relacionada com o problem
a do concursus causarum lucrativarum].
3-Legatum sinendi modo
É um legado de permissão.
Fórmula: «heres meus damnas esto sinere» -GAIUS 11209. («0 meu herdeiro fica obrigado [c
ondenado] a permitir [sinere=não reagir, ficar de braços cruzados] ao legatário apropr
iar-se da coisa legada).
0 objecto legado tem de pertencer ao testador ou ao herdeiro.
Se o herdeiro não cumprir, também aqui, como no legado per damnationem, nos mesmos t
ermos, existe: de início, uma manus iniectio; depois, uma actio pessoal (a actio e
x testaMento).
4 - Legatum per preeeeptionem
n um legado de preferência ou «pré-legado».
Fórmula: «Titius Stichum praecipito»-GAIUS II 216.
(«Tício tem preferência sobre o escravo Stico) ». Quer dizer, o
legatário podia adquirir (capere) algo da herança (no caso con
ereto, o escravo Stico), com preferência a qualquer co-herdeiro ou co-legatário (pre
-capere=praecipere).
0 objecto legado devia fazer parte da massa da herança.
Segundo os sabinianos, este legado só podia ser constituído a favor dum co-herdeiro;
segundo os proculeianos, a favor de qualquer pessoa.
Se o legatário é simultâneamente co-herdeiro, para fazer valer os seus direitos tem um
a actio de divisão da herança (actio familiae erciscundae). Se é um terceiro, aderindo
-se à opinião dos proculeianos, tem uma actio real (a vindicatio) sobre esses bens s
obre que tem preferência.

^) Conteúdo do senac. «Neronianum»:


I-primitivo (GAIUS II 197);
II-posterior ampliação estabelecida pela «iurisprudentia>;
III - relação com o princípio conservado em D. 50,17,12
0 senac. Neronianum é referido em várias fontes jurídicas: GAIUS II 198, 212, 218, 220
, 222; ULPIANUS, Liber singularis Regularum 24, 11 a) ; Fragmenta Vaticana 85.
Em relação ao seu primitivo conteúdo, certamente a melhor fonte é o texto de
GAlus 11 197: «Auctore Nerone Caesare senates consultum factum est, quo cautum est
, ut si eam rem quisque («per vindieationem») legaverit, quae eius numquan fuerit, p
roinde utile sit legatum, atque si optimo iure relictum esset. Optimum autem ius
est per damnationem legati, quo genere etiam aliena res legari potest» 304.
304 «Foi feito um senatusconsulto (cuja proposta é) da autoria do imperador Nero, no
qual se estabeleceu que, se alguém tivesse legado (per vindicationem, conforme se
deduz do contexto) uma coisa que nunca tinha sido sua, o legado seja tão válido com
o se tivesse sido constituído de perfeita harmonia com o direito. Neste sentido (i
sto é, de haver perfeita harmonia com o direito), está o legado damnatório, visto pode
r legar-se inclusive uma coisa alheia».
254
255
DIREITO ROMANO
1' PARTE-TIT. IV-CAP. 2.°-a)
§ 25
I -Perante este frag. de GAIUS, integrado no respectivo contexto, deduz-se que o
senac. Neronianum admitia a conversão em legado damnatório: 1.° só de legados per vindi
cationem nulos; 2.° e nulos, apenas em virtude de a coisa legada não pertencer ao te
stador quando devia, pois, como já ficou dito, se era não-fungível devia pertencer-lhe
no momento da feitura do testamento e no momento da sua morte, se era fungível, p
elo menos no momento da morte do de cuias; portanto, legados «per vindicationem» nul
os, por um vício referente à matéria.
Só esta hipótese. Mais nada. Logo,,por força do senac. Neronianum, não se convertiam: I)
-nem os legados, nulos por qualquer motivo, diferentes do legado per vindicatio
nem; II) -nem os legados per vindicationem nulos, por motivo dif erente daquele
vício de forma de a coisa não pertencer ao testador quando devia.
II -Mais tarde (talvez aí cerca do ano 100, sobretudo a partir de IULIANUS - vid.
GAlus II 218), a iurisprudentia ampliou a disposição do senac. Neronianum. Passou en
tão a admitir-se a conversão em legado damn:atório: a) - de todo e qualquer legado nul
o (não já apenas dos legados per vindicationem nulos), b) - porém nulo, quer em virtud
e de a coisa legada não pertencer a quem devia para esse legado ser válido, quer por
um vício qualquer de forma (incluindo, portanto, o vício de fórmula, pois como já sabem
os, esta é uma parte daquela).
Deste modo, a) - se o objecto, quando devia pertencer ao testador ou ao herdeiro
ou à massa da herança, pertence a um terceiro, ou p) - se não foi usada, rigorosament
e, a fórmula devida (v.g. se se disse apenas «Titio Stichum do» ou «heres meus damnas es
to relinquere», etc.), ou y) -se não foi observado qualquer outro requisito de forma
, esse legado é nulo, como tal legado. Mas, agora, a partir da ampliação elaborada pel
a
iurisprudentia sobre a disposição do senac. Neronianum, esse legado não fica sem nenhu
m efeito; é convertido em legado de obrigação (legatum per damnationem).
Depois de estabelecido pela iurisprudentia este novo conteúdo do senac. Neronianum
, só não podem ser objecto de conversão (em legado damnatório) os legados, nulos por mot
ivos diferentes dos de vícios de forma; v.g. os nulos, por impossibilidade do obje
cto, por erro de pessoa, por erro de causa jurírica, etc.
III - Finalmente, em data posterior (talvez aí por volta do ano 150), a iurisprude
ntia criou um princípio muito amplo relativo à interpretação da vontade do testador. Ess
e princípio conserva-se em D. 50,17,12. A sua formulação é atribuída a PAULUS; mas o seu c
onteúdo deve ser anterior a este jurista:
«In testamentis plenius voluntates testantium interpretamur» 30-%.
Segundo este princípio de hermenêutica jurídica romana, deve-se atender mais à vontade d
o testador do que à letra do testamento. A voluntas testatoris é o elemento gerador
do testamento dotando-o de força e eficácia com anterioridade a tudo («prior atque pot
entior est quam voce meus dicentis», D. 33,10, 7 2) 906. Deve prevalecer às palavras
do testamento, sempre que essa «voluntas» resulte suficientemente averiguada, embor
a, para obter esse resultado, se tenha de recorrer até mesmo a documentos distinto
s do testamento ou a elementos não contidos no testamento.
Não é necessário que a pessoa ou a coisa sejam indicadas
305 «Nos testamentos, interpretamos (=devemos interpretar) as vontades dos testado
res com mais eficácia, isto é, mais plenamente (do que em outros negócios jurídicos, ist
o é, do que nos negócios inter vivos»). - Veja-se também GAIUS1I 198.
306 «A vontade do declarante (=«dizente», o dicens) está primeiro e é mais forte que a pal
avra», D.33,10,7,2.
256
257
DIREITO ROMANO
1° PARTE - TIT. IV - CAP. 29-a)
§ 25
no testamento pelo seu nome corrente. Basta que o testador use expressões - embora
muito «suas», pessoalíssimas, mesmo esotéricas -, que sejam idóneas para patentear a sua
vontade 801. E uma vez suficientemente individualizada a pessoa ou a coisa, cons
ideram-se irrelevantes as indicações inexactas acerca duma ou doutra, pois «falsa demo
nstratio non nocet», D. 35,
1,17pr. 808.
0 princípio conservado em D. 50,17,12 - «in testamentos plenius voluntates testantiu
m interpretamur» - prevê, segundo as normas da «iustitia», não só a conversão de legados (e n
apenas na hipótese regulada pelo senac. Neronianum e nas hipóteses elaboradas poster
iormente pela iurisprudentia, mas ainda provàvelmente noutros casos), como também a
conversão e a redução dos negócios jurídicos em geral, sempre que se trate de testamentos.
Numa palavra, prevê uma ampla interpretação das vontades dos testadores 809.
307 Por exemplo, se Titius deixa em testamento a Sempronius a «sua garrafeira», e se
para Titius a «sua garrafeira» era a sua biblioteca-pois aí, segundo tantas vezes afi
rmara em vida, bebia do fino dos clássicos, e se embriagava espiritualmente e por
isso com frequência chamava à sua biblioteca «a sua garrafeira» -, Sempronius tem direit
o à biblioteca de Titius e não a uma garrafeira, que, por acaso, também faça parte da ma
ssa da herança de Titius. (Ver em D.33,10,7,2 outros exemplos, a justificação desta do
utrina apresentada por CEtsus, e em que termos deve ser defendida).
308 «A falsa indicação não prejudica (a eficácia da disposição testamentária)», D.35,1,17pr.
Haveria falsa indicação, por exemplo, se o testador legasse nestes termos: «Titio lund
um, quem a Maevio emi, do lego» (dou e lego a Tício a quinta, que comprei a Mévio), se
ndo que essa quinta legada (depois de suficientemente individualizada) tinha sid
o comprada por Ticio a Caio e não a Mévio. Uma vez que o prédio legado já tinha sido suf
icientemente identificado, a disposição testamentária a favor de Tício tem plena eficácia,
apesar da falsa identificação a respeito do antigo proprietário que tinha vendido a q
uinta a Tício. - Sobre este problema vid., por todos, Gxosso, Sulla Falsa Demonstr
atio nelle Disposizioni di Ultima Voluntd em Studi Bonfante. II (Milão,1930) 187-2
16.
309 Sobre este problema vid., por todos, B. BIONDI, Successione Testamentaria. D
onazioni (Milano,1943) 524 ss. e 584 ss.
SENATUSCONSULTUM MACEDONIANUM (a. 75? d.C.)
(Fonte principal: D. 14,6)
SUMÁRIO - 25. a) Data; fontes. Conceito, designação, conteúdo, finalidade e carácter.
b) Efeito: obligatio naturalis (soluti retentio)
c) Consequência: denegatio actionis; concessão duma exceptio (caso normal) e sua car
acterística (= ser perpétua)
d) A quem era concedida a exceptio («senatusconsulti Macedoniani»)
e) Casos em que era negada a exceptio («senatusconsulti Macedoniani»)
f) Fraude ao senac. Macedonianum; consequência
a) Data; fontes. Conceito, designação, conteúdo, finalidade e carácter do «senac. Macedonl
anuw»
25. 0 senac. Macedonianum, da época de Vespasiano (talvez do ano 75 d.C.), é mencion
ado, e com amplitude, em várias fontes jurídicas. Dedicam-lhe um título especial: o Códi
go Gregoriano (3,5), as Paulo Sententiae (2,10), o Digesto do «Corpus Iuris Civili
s» (14,6) e o Código Justinianeu (4,28). Teófilo, na
I
258
259
DIREITO ROMANO
1" PARTE - TIT. IV - CAP. 2.°-a)
§ 25
sua Paráfrase, refere-se a ele, também largamente. Mas de todas as fontes 310, a mai
s importante é o D. 14,6. Logo no 1.0 frag. pr., fornece-nos elementos preciosos s
obre o seu conceito, designação e conteúdo, num texto de
ULPIANUS - (lib. 29 ad Edictum), D. 14,6,lpr.:
«Verba senatus consulti Macedonian haec sunt: 'Cum inter ceteras sceleris causas M
acedo, quas illi natura administrabat, etiarn aes alienum adhibuisset et saepe m
ateriam peccandi maus moribus praestaret, qui pecuniam, ne quid amplias diceretu
r incertis nominibus crederet: placere, ne cui, qui filio familias mutuam pecuni
am dedisset, etiam post mortem parentis eius, cuius in potestate fuisset, actio
petitioque daretur, ut seirent qui pessimo exemplo faenerarent, nullius posse fi
lii familias bonum nomen exspectata
patris m orte f ieri' » 311
310 Além das fontes jurídicas, também as fontes literárias se referem, e desenvolvidamen
te, ao senac. Macedonianum.
Citemos apenas um texto, muito expressivo, de SUETONlus, Duodecim Caesares. Titu
s Flavius Vespasianus 11: - «Filiorum familiarum jeneratoribus exigendi credite iu
s nunquam esset, hoc est, ne post patrum quidem mortem». («Os usurários [os que empres
tam dinheiro a juros], que emprestassem a filhos de família, não poderiam, em caso a
lgum, exigir o reembolso dos seus créditos, quer dizer, nem mesmo depois da morte
do respectivo pater»).
(Sobre as várias acepções modernas de usura, usurários, vid. FERRAR-CORREIA Rui ALARCAo,
Acerca da taxa-limite do montante da cláusula penal fixada pelo Dec. 21730 em Rev
ista de Direito e de Estudos Sociais 9[1958] 1964).
As disposições do senac. Macedonianum tiveram larga aceitação através dos tempos. Entre nós,
a sua doutrina encontrava-se expressamente consagrada no art 1535 do Código Civil
, de 1867; hoje, implicitamente, nos art °' 123, 124, 127 e 402 a 404 do actual Códi
go Civil.
311 «As palavras do senatusconsulto Macedoniano são estas: 'como Macedónio, entre outr
as causas de crime, que já a sua natureza sugeria (quer dizer, já era por sua nature
za inclinado ao crime, um «desequilibrado-criminoso»), também empregasse dinheiro empr
estado (aes alienum), e como isso muitas vezes é que facilitava os seus maus hábitos
de pecar, para que ninguém daí em diante emprestasse dinheiro contando com créditos f
uturos, acordou-se que não se concedesse acção nem petição ao que tivesse emprestado dinhe
iro a um filiusfamilias, nem mesmo (se concedesse a
Conceito-0 senac. Macedonianum proibiu o empréstimo de dinheiro (pecunia, aes) a t
odo o filiusfamilias, mesmo que ele ocupasse um alto cargo (D. 14.6,1,3).
Designação - É assim designado em virtude do comportamento gravemente escandaloso dum
tal Macedónio, a que se refere o texto acabado de transcrever, D. 14,6,1pr.
Esse filiusfamilias, devido principalmente ao dinheiro de que dispunha e que obt
inha através de empréstimos - e os usurários emprestavam-lhe, geralmente com juros mui
to elevados, porque depois, quando ele tivesse bens próprios, o que acontecia pelo
menos quando passasse a sui iuris, exigiriam tudo -, entregava-se às maiores imor
alidades e à prática de crimes gravíssimos. Até perpetrou o assassínio do seu pater (que t
ambém era o seu genitor, e portanto um verdadeiro parricídio), para mais depressa fi
car sui iuris e receber a herança 312
Finalidade - A finalidade do senac. Macedonanum foi evitar a devassidão dos filiif
amilias, e por conseguinte protegê-los («filio familias subvenire») até contra esse peri
go.
Conteúdo - A proibição estabelecida pelo senac. Macedonianum visava só os empréstimos de d
inheiro (pecunia, aes),
actio) depois da morte do seu pater sob cujo poder tivesse estado, a fim de que
todos, que emprestassem dinheiro com juros (a filhos de família) dando assim um péss
imo exemplo (por concorrerem para a desmoralização e para a prática de crimes), soubes
sem não poder exigir de nenhum filiusfamilias esse crédito (nomen) como válido e segur
o, esperando a morte do pater'».-Quer dizer, esse empréstimo de dinheiro a um filius
familias originava apenas uma obligatio naturalis, conforme diremos no texto já a
seguir, e continuava obligatio naturalis, mesmo depois de o pater morrer, isto é,
mesmo depois de o filiusfamilias passar a sui iuris.
Nomen (nome), aqui, significa crédito. É que habere nomeei (ter um crédito), em épocas p
rimitivas, devia entender-se literalmente: ter (preso, vinculado, sujeito ou sub
metido) um nome em sua entidade corpórea (cf. Sebastião CRUZ, Da «Solutio» 1, cit. 2013)
. Recorde-se que nomen (vid. supra 59) é o apelido de família ou da gens, portanto,
referido a pessoa livre e cidadão, e geralmente sui iuris.
312 Ver supra 227 o lugar que ocupavam os filii na ordem da sucessão.
260
261
DIREITO ROMANO
1.' PARTE - TIL IV - CAP. 2.°-a)
§25
D.14,6,1pr. (acima transcrito), -14,6,4 318, -14,6,7,3 81, pois tam
bém os romanos entendiam que «na mão de rapazes, o dinheiro é mau conselheiro» (Sócrates).
Carácter-0 senac. Macedonianum é de carácter público. Não pode renunciar-se à exceptio por e
le concedida, nem mesmo apresentando um garante; este fica também protegido pela e
xceptio (vid. infra 265-4».
b)-Efeito do senac. «Macedonianum»: «obligatio naturalis» («soluti retentio»)
Os empréstimos de dinheiro contraídos por um filiusfamilias, em virtude da proibição do
senac. Macedonianum, originavam simplesmente uma obligatio naturalis-D. 14,6,10
815. 0 credor não tem uma actio para exigir o seu crédito do f ilius
313 D. 14,6,4 - SCAEVOLA (lib. 2 Quaestionum):
«...quod vulgo dicitur filio famílias credi non licere, non ad verba referendum est,
sed ad numerationem>.
«...Quando se diz não ser permitido emprestar a um filiusfamilias, isso não deve ser r
eferido às palavras (ao empréstimo em geral), mas ao empréstimo de dinheiro».
Numeratio significa «pecunia» (dinheiro-amoedado) contada e entregue; «numerare pecuni
am», «o acto de contar o dinheiro-amoedado, na presença duma pessoa, e a sua entrega a
essa pessoa»; «numerata pecunia», «o dinheiro-amoedado contado na presença duma pessoa e
entregue a essa pessoa». Vid. Sebastião CRUZ, Da «Solutio» I, cit. 164-166.
314 D.14,6,7,3 - ULPIANUS (lib. 29 ad Edictum):
«Mutui dationem non solum numeratae pecuniae, verum omnium, quae mutua dari possun
t, an accipere debeamus, videndum. Sed verba videntur mihi ad numeratam pecuniam
referri: ait enfim senatus `mutuam pecuniam dedisset'».
«Como o mútuo pode ter por objecto não só o dinheiro (moeda) mas todas as coisas que pod
em ser dadas em mútuo, vejamos em que sentido deve ser tomado (o empréstimo proibido
aos filhos de família, de que fala o senac. Macedonianum). Parece-me que as palav
ras são referidas ao mútuo de dinheiro-amoedado: com efeito o senado (o senatusconsu
lto) fala de «tivesse emprestado dinheiro».
315 D.14,6,10 - PAULUS (lib. 30 ad Edictum):
«Naturalis obligatio manet».
«0 empréstimo de dinheiro (contraído por um fliusfamilias) origina uma obrigação natural e
como tal subsiste».
A obligatio naturalis é uma obrigação, desprovida de actio para exigir o seu cumprimen
to. Tem como efeito principal a soluti retentio e por conseguinte é inaplicável uma
condictio indebiti. Portanto, num segundo momento, o credor tem uma actio
familias, nem enquanto permanecer filiusfamilias (mesmo que ele possua bens própri
os, v.g. pecúuio castrense, pecúlio quase-castrense - vid. infra 3a PARTE, Tit. I),
nem mesmo depois de ele ser já sui iuris. No entanto, se o filiusfamilias der o di
nheiro que pediu emprestado, trata-se de verdadeiro cumprimento duma obrigação, e co
ncretamente dum pagamento, e por isso o credor tem direito a reter o que lhe foi
dado a título de pagamento (soluti retentio). Não se trata duma transferência da prop
riedade de coisa indevida (datio indebiti 316), e daí que o filiusfamilias não pode
repetir, isto é, não tem a seu favor uma condictio indebiti - D. 14,6,7,16 e 14,6,9,
5 117.
c) Consequência do senac. «Macedonianum»: «denegatio actionis»; concessêo
duma «exceptio» (caso normal) e sua característica (= ser perpétua)
Se o credor que emprestava dinheiro a um filiusfamilias o demandava, e quer se e
ncontrasse ainda no status de filius

(já que em Direito Romano, como sabemos, não há ius sem actio), para defender o que re
cebeu, e a título de pagamento.
A iurisprudentia clássica não elaborou uma doutrina geral a respeito da obligatio na
turalis; limitou-se a reconhecer a existência de figuras particulares. Sobre o tem
a da obligatio naturalis a bibliografia é abundante. Notem-se como trabalhos valio
sos recentes: BURDESE, La Nozione Classica di «Naturalis Obligatio» (Turim,1955); LO
NGO, Ricerche sull' «Obligatio Naturalis» (Milão,1962) e CORNIOLEY, Naturalis Obligati
o. Essai sur /'origine et /'Evolution de Ia Notion en Droit Romain (Genebra, 196
4); vid. também Giovanni E. LONGO, Lenti Progressi in Tema di «obligatio naturalis», vár
ias notas críticas muito elucidativas, em Labeo 12(1966) 375-390.
316 Julgamos mais rigorosa a expressão «datio indebiti» que «solutio indebiti» e por conse
quência ser mais acertado dizer «dação indevida» (transferência da propriedade de coisa inde
vida) que «pagamento indevido» ou mesmo «pagamento do indevido». Cf. Sebastião CRUZ, Da «Sol
utio» I, cit. 354.
317 D.14,6,7,16-ULPIANVS (lib. 29 ad Edictum):
«Si (filiusfamilias) pater familias factus solverit partem debiti, cessabit sentes
consultum nec solutum repetere potest».
«Se (o filiusfamilias), tendo já passado a paterfamilias, pagar (mesmo que seja só) um
a parte do débito, cessará o senatusconsulto e não pode repetir (re petere, pedir para
retro, pedir para devolver, reclamar) o que pagou». Sobre o segnificado jurídico de
repetir vid. supra 11.
Solutio -pagamento, cumprimento exacto duma obrigação de «dare certum», sobretudo «pecunia».
Cf. Sebastião CRUZ, Da «Solutio» I, cit. (passim).
D. 14,6,9,5 - ULPIANUS (lib. 29 ad Edictum):
«Quamquam autem solvendo (sive filiusf. sive qui intercesserunt) non repetant».
«Porém, desde que paguem (quer o filiusfamilias quer os intercedentes), não reclamem (
não podem reclamar)».
262
263
DIREITO ROMANO
1` PARTE - TIT. IV - CAP. 2°-a)
§ 25
familias quer fosse já um paterfamilias, o pretor podia, logo de início, solucionar
radicalmente a questão, não reconhecendo a legitimidade da existência duma actio a fav
or desse credor, e por isso não lha concedia, (denegatio actionis), «ne cui... actio
... daretur» (D. 14,6,1pr.). Em geral, não procedia desta forma, pois era muito conv
eniente averiguar-e isso efectuava-se sómente na fase do processo apud iudicem -se
esse empréstimo de dinheiro poderia, no caso concreto, ser exigível (várias hipóteses q
ue vamos examinar, a seguir, na al. e)).
Então, normalmente, o pretor concedia ou reconhecia a actio ao credor; mas na fórmul
a (vid. infra 334), colocava uma cláusula a favor do demandado (exceptio), que inu
tilizava a pretensão do demandante - exceptio senatusconsulti Mac°doniani, «ne cui...
petitio daretur» (D. 14,6,1pr.). Era como se dissesse: o credor tem direito; mas,
em virtude da proibição estabelecida pelo senac. Macedonianum, não o pode exigir. Port
anto, grosso modo, a protecção concedida pelo senac. Maced. aos ff. concretizava-se
numa exceptio a favor deles
Característica da «excep. senac. Mac.»-A exceptio senatusconsulti Macedoniani era perpét
ua; podia opor-se à pretensão do credor-demandante, não só em qualquer momento do proces
so, mas até na própria altura da execução, isto é, já depois da condenação.
d) A quem era concedida a «exceptio senatusconsulti Macedoniani»
1) -A todo o filiusfamilias (ff.), nada interessando que ele ocupasse até um alto
cargo (D. 14,6,1,3 818), e mesmo
318 D.14,6,1,3 - ULPIANUS (lib. 29 ad Edictum):
«In filio familias nihil dignitas facit, quo minus senatus consultum Macedonianum
locum habeat: nam etiamsi consul sit vel cuiusvis dignitatis, senatus consulto l
ocus est».
«A dignidade (o cargo) no filiusfamilias não releva nada, para que o senatusconsulto
Macedonianum não tenha aplicação com efeito, embora ele seja cônsul ou tenha qualquer o
utra dignidade, há lugar para (tem aplicação) o senatusconsulto».
Convém lembrar que uma pessoa era filiusfamilias, não em virtude da idade, mas em vi
rtude de ter o seu pater (chefe) vivo e não estar emancipado. Um velho de 100
que tivesse bens próprios, e ainda mesmo depois de ser já sui iuris (D. 14,6,1pr., t
exto já nosso conhecido).
Foi feita uma extensão deste senac., talvez no séc. III, às filiaefamilias, se pedisse
m dinheiro emprestado para comprar «ornamenta» (objectos de adorno para mulheres, v.
g. certos perfumes, certos unguentos, determinadas jóias, vestidos de
luxo) - D. 14,6,9,2 3,11.
2) -Ao pater, excepto nos casos indicados nos n.°° 4 e 5 da al.e).
3) - Aos herdeiros do ff.
4) - Ao garante da dívida em dinheiro, contraída
pelo ff.
e) Casos em que era negada a «exceptio senatusconsulti Macedonianb»
1) - Se o ff. maliciosamente se fez passar por sui iuris. 2) - Se quem emprestou
o dinheiro tinha motivos plausíveis para julgar o ff. um sui iuris 320.
anos podia ser um filiusfamilias, se o seu pater ainda era vivo; uma criança de po
ucas horas podia ser um paterfamilias, se o seu pater tivesse falecido antes. -
Vid. infra 3 $ PARTE Tít. I.
319 D.14,6,9,2 - ULPIANUS (lib. 29 ad Edictum):
«Hoc senatus consultum et ad filias quoque familiarum pertinet nec ad rem pertinet
, si adfirmetur ornamenta ex ea pecunia comparasse».
«Este senatusconsulto estende-se (aplica-se) ainda também às filhas de família, no que t
oca a empréstimo de pecunia, se se demonstra que elas compraram objectos de adorno
com esse dinheiro».
Sobre a noção de «ornamenta» vid. D.34,2; -34,2,25,10; -34,2,26.
320 Embora haja textos para justificar todos os vários casos em que era negada a e
xc. sen. Maced., para não sobrecarregar, indiquemos só um ou outro dos mais expressi
vos. A respeito deste n° 2), vejamos D.14,6,3pr. - ULPIANUS, (lib. 29 ad Edictum):
«Si quis patrem familias esse credidit non vana simplicitate deceptus nec iuris ig
norantia, sed guia publice pacer familias plerisque videbatur, sic agebat, sic c
ontrahebat, sic muneribus fungebatur, cessabit senatus consultum».
«Se alguém (emprestou dinheiro a um filiusfamilias e) julgou que (ele) era um paterf
amilias, e esse equívoco foi originado, não por uma ingenuidade (leviandade) nem por
ignorância do direito, mas porque ele (o filiusfamilias) se apresentava em público
frequentemente como paterfamilias, assim (como paterfamilias) procedia, assim ag
ia em tribunal (quer como demandante quer como demandado), assim contratava, ass
im desempenhava os cargos (próprios dum paterfamílias), então não será de aplicar o senatu
sconsulto».
l
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265
DIREITO ROMANO
1., PARTE - TIT. IV - CAP. 2.°-a)
§ 24
3) - Se o ff., uma vez sui iuris, reconhece, então espontâneamente, o débito, embora d
uma forma tácita. A obligatio passa automàticamente de naturalis a civilis (= então pa
ssava a existir uma actio para poder exigir o seu cumprimento).
4) -Se o pater consente (dá uma auctoritas), embora tàcitamente, ou ratifica (ratiha
bitio) e também mesmo só duma forma tácita.
5) - Se o dinheiro foi para proveito do pater ou para pagar um débito do pater.
6) -Se o empréstimo da pecunia se destinou -e, de facto, o dinheiro foi para final
idades ou para pagar dívidas, e nem umas nem outras estão abrangidas pelo senac. Mac
edonianum 321. Quer dizer, tratando-se de f ilius f amilias, não se contraiu o emp
réstimo e nem o dinheiro foi para a prática de actos de imoralidade ou para pagar dívi
das provenientes da prática desses actos; tratando-se de filia f amilias, não se con
traiu o empréstimo e nem o dinheiro foi para comprar «ornamenta» ou para pagar dívidas o
riginadas pela compra de «ornamenta».
f) Fraude ao senac. «Macedonianum»; consequência
A fraude, em rigor, é um prejuízo doloso (vid. infra 317-11). Aplicando este conceit
o à fraude a uma norma jurídica - (lei, senatusconsulto, constituição imperial, e dicto
do pretor, etc.), podemos dizer que a fraude ao senac. Macedonianum consiste
em atingir a mesma finalidade proibida pelo senac., através dum meio não expressamen
te proibido pelo senac.
321 Há um exemplo elucidativo, curioso e, para estudantes, «bem compreensível», apresent
ado em
D.14,6,7,13-ULPIANUS (lib. 29 ad Edictum):
«...qui studiorum causa absens mutuam acceperat, cessare senatus consultum, ita lo
cum habet, si probabilem modum in mutua non ezcessit, certe eam pecuniam, quam p
ater solebat subministrare».
«Se um estudante, ausente (da casa da família), tiver contraído um empréstimo (de pecuni
a, porque v.g. o pater se esqueceu de enviar a mensalidade), não se aplica o senat
usconsulto (Macedonianum), se ele, ao contrair (esse empréstimo) plausivelmente não
excedeu (não pediu emprestado mais do que) aquela quantia que o pater, de certeza,
costumava mandar-lhe».
Consequência: nesses casos, o senac. Macedonianum continua a aplicar-se. E bem cla
ro um texto de ULPIANUS, D. 14,6,7,3 (2 parte), que vamos transcrever já a seguir.
A fraude pode verificar-se principalmente em duas hipóteses.
1.a - Nos casos de normal não-aplicação - 0 senac. proíbe aos ff. o empréstimo de dinheiro
(«pecunia», «aes») ; pois, desde que não se demonstre o contrário, pressupõe-se sempre que e
se empréstimo é para fins imorais ou, pelo menos, dá ocasião para isso. Então o ff. contra
i um empréstimo de géneros, para, depois, os vender e obter pecunia (e o credor natu
ralmente sabe que o empréstimo de géneros é para ele conseguir dinheiro). 0 senac. apl
ica-se. Há um texto a prever exactamente esta hipótese.
ULPIANUS (lib. 29 ad Edictum), D. 14,6,7,3 (2.a Parte)
«Si fraus sit senatus consulto adhibita, puta frumento vel vino vel oleo mutuo dat
o, ut his distractis fructibus uteretur pecunia subveniendum est filio famílias» 822
.
2a Hipótese - Nos casos de excepção ao senac. «Macedonianum», enumerados supra al. e), 265
e 266). Se tiver sido praticada uma fraude, deixa de haver excepção ao senac. para
então ele se aplicar, nos termos' normais.
322, «Se foi usada uma fraude ao senatusconsulto, imagine-se (portanto a enumeração ap
resentada neste frag. é exemplificativa e não taxativa) um empréstimo de trigo ou de v
inho ou de azeite, 'para depois alienar esses géneros e utilizar (em fins ilícitos)
o dinheiro obtido com essa alienação, deve-se ir em socorro do ftliusfamilias (isto é,
deve . aplicar-se o senac. Macedonianum).
266
267
DIREITO ROMANO
It PARTE -TIT. IV - CAP. 2.°-,8)
§ 26
Capítulo 2.0 -B) - LEGES sensu lato (conel.)
p) -. CONSTITUTIONES PRINCIPUM (D. 1,4,1,1)
SUMÁRIO - 26. a) As constituições imperiais durante o principado e
parte do dominado (sécs. I-IV)
I - Definição de GAIUS I 5., Evolução do valor das constituições imperiais. Partes duma «cons
itutio»: inscriptio, corpus, subscriptio
11-Como adquiriram carácter normativo-jurídico. Justificação
111 -Vários tipos de constituições deste período (sécs. I-1V)
1 - Edicta 2 - Decreta
3 - Rescripta: epislolae; subscriptions 4 - Mandata
b) No Baixo-Império (sécs. IV-VI)
I - Contraposição de leges ( = constituições imperiais) ou ius novum a ius (ou ius vetus
). Significado, alcance
11-Vários tipos de constituições deste período (sécs. IV-VI)
1 - Edicta ( = leges generates) 2 - Rescripta ( = leges spciales) 3 - Adnotation
es
4 - Decreta [Os «mandata» praticamente desapa
recem]
5 - Pragmaticae sanctiones
Ill - Aplicação das constituições no espaço
26. Vamos continuar a análise do texto de PAPINIANUS (D. 1,1,7pr.), que está a servi
r-nos de orientação para o exame das várias fontes do lus Civile: «lus eutem eivile est
quod ex... decretis principum... venit» 323.
323 Vid. supra 165 e n. 167 a citação completa.
A expressão «decreta principum», usada neste frag. de PArINIANUS, está num sentido amplo
, significando decisões («decretum»<«decernere»=decidir; «decreta»=«decisiones») do imperador
sentido rigoroso, «decreta principum» são, como veremos já a seguir, um dos vários tipos
de decisões imperiais. Para evitar esta dupla acepção de decreta principum que origina
va certamente confusões, em época um pouco tardia (aí pelo séc. II d.C., quando as const
ituições eram já um verdadeiro «constituit» com força de norma jurídica), surgiu a expressão
titutiones principum para substituir «decreta principum» (no sentido amplo), ficando
desde então a palavra «decreta» a significar apenas uma das várias espécies de constituições
a) As constituições imperiais durante o principado e parte do dominado (sécs. I-IV)

As constituições imperiais são decisões de carácter jurídico proferidas directamente pelo im


perador. - «Directamente», quer dizer, no sentido de que o princeps não necessita de c
ooperação, nem mesmo mediata ou indirecta, quer do senado quer do povo; são decisões que
procedem (do imperador) unilateralmente.
Como é sabido 37, o principado surgiu no ano 27 a.C. e prolongou-se até fins do séc. I
II -a. 284. 0 princeps é a nova e grande figura da constituição política de Roma. Não send
o nem rei nem cônsul nem sequer magistratus, tem um poder quase absoluto, por esta
r investido da tribunitia potestas com carácter vitalício, e do imperium proconsular
e maios pràticamente também com carácter vitalício 335. As antigas magistraturas republi
canas, sobretudo os cônsules e pretores, transformam-se
324 Vid. supra 72-76.
325 Vid, supra 74 e 75 e nn. 109 e 110.
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269
DIREITO ROMANO
1' PARTE-TIT. IV-CAP. 2.°-A)
§ 26
em funcionários executivos. Surge o funcionalismo, tudo e todos subordinados ao pr
inceps numa colaboração... forçada.
0 princeps, cheio de prestígio e de poderes, começa a proferir edictos -ex+dicere=af
irmar solenemente... para fora, em voz alta, (ex), isto é, para o público. 0 edicto é
um programa de actividades a realizar, afixado pìlblicamente.
Os edictos dos magistrados eram fonte de ius honorarium (vid. infra § 28-b) ) ; ma
s, como o princeps não é um magistratus, os seus edictos passam a ser fonte do ius c
ivile.-Como?
i - Definição de GAIUS 15. Evolução do valor das constituições imperiais. Partes duma «consti
utio»
GAIUS 15 apresenta a seguinte definição:
«Constitutio principis est quod imperator decreto vel edicto vel epistula constitu
it. Nec umquam dubitatum est, quin id legis vicem optineat, cum ipse imperator p
er legem imperium accipiat» 323
Esta definição não encerra um conceito geral de constituição imperial (esse foi dado supra
269-a)). A definição gaiana refere-se a um estádio da evolução do valor das constitutione
s principum. Essa evolução pode descrever-se ou surpreender-se do modo seguinte -
- No séc. I, as constituições imperiais têm um valor jurídico, de ordem prática; o povo acat
a os seus preceitos e observa-os, porque... são decisões do imperador.
-No séc. II, são equiparadas às leis, isto é, têm a força
326 «A constituição do príncipe (imperial) é o que o imperador constitui por decreto, por
edicto ou por epístola. Nunca se duvidou de que isso não tenha força de lei, já que o próp
rio imperador recebe o poder em virtude duma lei» (refere-se GArus à chamada lex cur
iata de imperio).
de lei, mas ainda não são leis - texto de GAIUs 15, acabado de transcrever: «constitut
io... legis vicem optineat».
- No séc. III, já são leis - D. 1,4,1,1327.
- A partir do séc. IV, as constitutiones principum são a única fonte de direito, e então
constituições e leis são sinónimos. Justiniano revela-se o termo dessa evolução, ao afirmar
numa sua constituição de 529-C. 1,14,12,3:
«Leges condere soli imperatori concessum est» 823.
Isto era o início do absolutismo da lei, ou melhor, da vontade absoluta do imperad
or, já que ele era designado e aclamado como lex animata (a lei viva) 329.
Partes duma «constitutio»
1 Inscriptio-É a primeira parte. Contém o nome ou nomes dos imperadores, autores da
constituição, e o da pessoa a quem é dirigida.
2 Corpus-A parte dispositiva, onde está a matéria ou conteúdo da constituição.
3 Subscriptio-É a parte final; contém a data e a indicação do lugar onde foi escrita. 0
conhecimento do lugar tem muita importância para, mais tarde, depois da divisão defi
nitiva do Império em oriental e ocidental estabelecida em 395, saber a qual dos im
peradores pertencia a constituição, uma vez que na inscriptio vinham os nomes dos do
is (ver infra al. b) -III).
327 D.1,4,1,1-ULPIANU9 (lib. I Institutionum):
«Quodcumque igirur imperator per epistulam et subscriptionem statuit vel cognoscen
s decrevit vel de plano interlocutus est vel edicto praecepit, legem esse consta
t».
«Por conseguinte, tudo aquilo que o imperador determinou, por uma epistola ou por
uma subscriptio (veremos, a seguir, no texto, que estas são as duas formas de resc
ripta) ou decretou numa decisão judicial (na cognitio extra ordinem-vid. infra Tít.
VI da 2.8 PARTE) ou claramente proferiu despacho interlocutório ou preceituou por
um edicto, (tudo isso) é evidente (é sabido de todos) que é uma lei».
328 «Só ao imperador foi concedido (o poder de) criar leis».
329 Vid. J. GAUDEMET, La Formation du Droit Séculier et du Droit de l'Église aux Ide
e VQ Siècles (Paris,1957) 9.
270
271
DIREITO ROMANO
1' PARTE - TIT. IV - CAP. 2.^-p)
II -Como é que as constituições imperiais adquiriram carácter normativo-jurídico. Justific
ação.
E um facto que, a partir do séc. II, as constitutiones principum têm valor de lei; são
como uma lex rogata. Depois, são uma lex; e finalmente, só elas é que são leges.
Como explicar esta evolução ou, se se quiser, como justificar o seu carácter normativo
-jurídico?
As opiniões dos juristas clássicos e dos romanistas diver
gem 810. Nenhuma delas é convincente.
Julgamos que a explicação deve estar no seguinte. As constituições imperiais adquiriram
carácter normativo-jurídico, portanto com valor igual ao das leges e dos senatuscons
ulta, devido a um equívoco do «populus» 331. Este, quando viu o imperador carregado de
prestígio, cheio de auctoritas, convenceu-se de que tudo o que ele ordenasse tinh
a valor de lei. Por sua vez o imperador, ao tomar conhecimento desta convicção do po
vo, começa a impor a sua vontade e a criar leis.
0 populus acata sem relutância; ele próprio tinha-se preparado para isso...
Mas os juizes recusaram-se a aplicar nos tribunais as constituições, sobretudo quand
o viam que eram injustas. Começou então uma verdadeira luta entre juízes e imperador.
Este, para vencer, recorreu energicamente à aplicação de penas graves aos juízes que dol
osamente não fizessem caso das constitutiones. Essas penas variavam. Iam desde a i
nfâmia e perda do cargo, ameaças, confiscações dos bens e exílio até à pena de morte; pois, a
certa altura, o desprezo das constituições
330 Para uma análise do problema, cf., por todos, F. M. DE ROBERTIS, Efftcacia Nor
mativa delle Costituzioni Imperiali em Annali Bari (1941) 1-27.
331 É sempre o povo a concorrer, duma forma ou doutra, para a formação das normas jurídi
cas (vid. supra 176187, 240 224, 240 225 e 241 226).
imperiais por parte dos juizes começou a qualificar-se de sacrilegium, porque as c
onstituições imperiais passaram a ser designadas «sacrae principum constitutiones» 882;
e o crime de sacrilegium tinha pena de morte "'
0 imperador acabou por vencer; e vencer de tal forma que conseguiu que as consti
tuições imperiais fossem não apenas também leis, mas as únicas leis. Venceu... mas não conve
nceu; como ninguém, através dos tempos, se convence de que essa espécie de lex seja a ún
ica, e com carácter absoluto, embora... à custa de sanções penais, possa vencer (pelo me
nos... tempo
ràriamente).
III - Vários tipos de constituições imperiais deste período (sécs. I-IV)
1 - Edicta - São constituições de carácter geral, proferidas pelo imperador no uso do im
perium proconsulare maios 881. Por exemplo, o edicto de Caracala (a. 212), que c
oncedeu a cidadania a todos os habitantes do Império, é a constitutio Antoniniana.
2 - Decreta («sensu stricto») - Eram decisões judiciais,
332 Veja-se, por exemplo, este frag. bem expressivo, das Pauli Senteniiae 5,25,4
:
«Iudex qui contra SACRAS principum constitutiones... pronuntiat in insulam deporta
tur».
«0 juiz que dá uma sentença contràriamente às (disposições das) sagradas constituições dos pr
, é deportado para uma ilha». 333 Para uma visão geral destes problemas vid. GAUDEMET,
La Formation du
Droit Séculier, cit. 10-11; para um análise pormenorizada ver F. M. DE ROaERTis, Arb
itrium Iudicantis e Statuzioni Imperiali em SZ 59(1939) 219-260, e Le Senteaze c
ontra Constitutiones e le Sanzioni Penali a carito dei Giudicante em SZ 62(1942)
255-266.
334 Vid. supra 74110,
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273
DIREITO ROMANO
1' PARTE -TIT. IV-CAP. 2.0-Q)
§ 26
pronunciadas pelo imperador, naqueles pleitos submetidos à sua apreciação.
Ao lado dos tribunais ordinários (ordo iudiciorum privatorum) em que o processo ti
nha duas fases - in iure, perante um magistrado, e apud iudicem, perante o juiz
335 -, havia uma forma «extra-ordinária» de processar (extra-ordinem cognitio). Era um
tribunal especial, presidido pelo imperador, com amplos poderes judiciais. Func
ionava quer em primeira instância, quer como tribunal de apelação. 0 processo, aqui, não
tinha duas fases, mas uma; o imperador desempenhava cumulativamente as funções de m
agistrado e de juiz, pois organizava o processo, apreciava as provas e proferia
a sentença. - As sentenças dadas por esse tribunal, que eram portanto decisões do impe
rador verdadeiramente judiciais, chamavam-se decreta.
3-Rescripta (epistolae e subscriptiones) - Os rescripta eram decisões (respostas)
do imperador dadas por escrito às «perguntas» ou aos pedidos que lhe faziam quer os ma
gistrados quer os particulares.
As «perguntas» feitas pelos magistrados denominavam-se consultas (consultationes, re
lations ou suggestiones) ; a resposta do imperador chamava-se epistola, em rigor
, escrita, toda, pelo imperador. As «perguntas» e os pedidos feitos pelos particular
es tinham o nome de preces, supplicationes ou libelli; a resposta do imperador i
ntitulava-se subscriptio, pois era apenas assinada pelo imperador e não escrita, t
oda, por ele.
4 - Mandata - Eram ordens ou instruções dadas pelo imperador aos governadores das pr
ovíncias, funcionários, etc. Autênticas circulares sobre problemas administrativos.
335 Ver supra 69 e infra 2." PARTE, Tit. VI - Note-se que o sistema de processar
extra-ordinem ou de «cognição oficial» (cognitio), iniciado na época clássica (e funcionand
o juntamente com o processamento ordinário), no séc. III d.C. era já a única forma de pr
ocessar, convertendo-se portanto em processamento ordinário. A cognitio é a forma de
processar, típica da época post-clássica.
b) As constituições imperiais no Baixo Império (sécs. IV-VI)
I---Contraposição de «leges» (=«constitutiones») ou «ius novum» a «ius» ou «ius vetus». Signi
nce e valor destas expressões
Como já sabemos, a partir do séc. IV as constituições imperiais são a única fonte de direito
- C. 1,14,12,3 336. Só o imperador é que tem o poder de criar leis. Isto compreende
-se fàcilmente, porque nesta altura (fins do séc. III, princípios do séc. IV), o Imperad
or já era considerado dominas et deus do império 331. 0 seu poder não provém mais duma l
ex (curiata) de imperio, mas directamente duma investidura dos deuses.
A partir do séc. IV, leges são apenas as constituições imperiais 333. Formam o novo e únic
o modo de criar direito. É o «ius novuin». Contrapõe-se a ius.
Também já sabemos que ius ou ius vetus, a partir do séc. IV, é todo o direito tradiciona
l (vid. supra 216); e, porque se concretiza nas obras dos juristas clássicos, é sinóni
mo de literatura jurídica clássica. Este o alcance da exprPagão ius ou ius vetus.
Quanto ao valor, o ius é superior às leges em matérias de direito privado; as leges são
superiores ao ius em matéria de direito constitucional e de direito administrativo
.
336 Vid. supra 216 e 271. «lus novum» é uma expressão usada mais pelos historiadores mod
ernos que pelos juristas romanos.
Cf. BIONDI, Scritti Giuridici IV (Milão,1965) 825.
3n. Vid. supra 79.
338 Por isso, o Codex do «Corpus luris Civilis» é uma colectânea de constituições ou leges;
e assim, os seus títulos estão divididos em constituições ou leis (cf. supra 37 e 216).
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DIREITO ROMANO
1.* PARTE -TIT. IV-CAP. 2.°-p)
§ 26
II -Vários tipos de constituições imperiais deste período (sécs. IV-VI)
1 - Edicta - São leges generales, de aplicação a todo o Império. Constituem a fonte prin
cipal de direito deste período, pois são o tipo de constituições mais utilizadas pelos i
mperadores e, além disso, hierarquicamente as mais importantes.
2 - Rescripta - São leges speciales, com igual sentido como no período anterior (sécs.
I-1V) ; respostas dadas pelo imperador às consultas a ele dirigidas; pràticamente,
reduzem-se às epistolae. Como a forma normal de legislação deste período (sécs. IV-VI) era
m os edicta, os rescripta diminuem muito em relação ao período antecedente, não valem co
ntra as disposições estabelecidas num edictum, não podem ser aplicados a casos diferen
tes daqueles para que foram proferidos.
3 - Adnotationes - E uma forma nova com que o imperador dá despacho às «preces» que lhe
são dirigidas; substituem as subscriptiones. Consistem num rescrito, colocado no p
róprio pedido do particular (ad + notare = tomar nota ao lado, à margem, anotar), co
ncedendo favores, v.g. isenção dum imposto, outorgando concessão duma indústria em regim
e de monopólio, etc.
4 - Decreta - Diminuem muito, pois o imperador, agora, pessoalmente, resolve mui
to poucos casos. Tem o seu tribunal oficial (cognitio)339; a ele se devem dirigi
r os interessados.
[Os mandata (=ordens e instruções aos funcionários) desaparecem, pràticamente; são substit
uídos por leges generales ou por epistolai].
5 - Pragmaticae sanctiones - E também um novo tipo de constituições imperiais deste pe
ríodo (sécs. IV-VI). Não se sabe, exactamente, em que consistiam. Parece que se trata
339 Vid. supra n. 335.
duma forma de constitutiones, não tão geral como os edicta nem tão particular como os
rescripta 340. São constituições imperiais de carácter regional. (Cf. Pragm. sanctio pro
petitione Vigilii.
infra, 356, 490 e 491).
III - Aplicação das constituições no espaço
Como é sabido (vid. supra 80 e 86), a partir de 395 o Im
pério ficou °definitivamente dividido em Império do Oriente e
Império do Ocidente. Pergunta-se: a partir de 395, as constituições do tipo leges gene
rates dos imperadores do oriente valiam só para o oriente ou também para o ocidente,
e as dos imperadores do ocidente valiam só para o ocidente ou também para o oriente
?
Até cerca de 1959, a opinião comum (mas não unânime 341)
entre os AA. era de que todas as leges generates vigoravam indistintamente nas d
uas partes imperii, fosse qual fosse a sua procedência. Esta opinião baseava-se prin
cipalmente em duas razões. Uma de carácter geral: o Império dividiu-se, mas a ideia de
unidade do Imperiumi não morreu; portanto, as leges generales são para o Imperium e
não para uma ou para outra das suas partes. Uma razão de carácter formal: na inscript
io de várias constituições figuram os nomes dos dois imperadores, embora se saiba que
só um é que foi o seu autor; portanto, as constituições de tipo geral deviam aplicar-se
tanto no ocidente como no oriente.
Modernamente, segue-se a opinião contrária, isto é, as constituições tinham carácter local;
cada imperador legislava para
a sua pars imperii 342. Razões:
1.0 - 0 autor das constituições era um dos imperadores e não os dois, pois cada impera
dor tinha a sua chancelaria pró
340 Vid. GAUDEMET, La Formation da Droit Séculier, cit. 35-38.
141 Defendiam já opinião contrária (isto é, cada imperador legislava para o seu território
) SEECK em 1919, STEIN em 1928, PALANQUE em 1944, DE DoMtNlcts e DDNATUTI em 195
3.
342 Veja-se, por todos, GAUDEMET, La Formation du Droit Séculier, cit. 17-26, onde
também é citada a principal bibliografia sobre o problema. Vid. n. anterior.
276
277
DIREITO ROMANO
1, PARTE -TIT. IV - CAP.
§ 26
pria, os seus serviços administrativos, vivia normalmente na sua pars, longe do se
u colega.
2.-Através da análise interna das constituições verifica-se que geralmente não era possível
aplicar uma constituição duma pars do Império à outra pars, pois, em regra, os problemas
sociais, económicos e familiares eram totalmente diferentes. - Como seria possível,
por exemplo, uma constituição do ocidente a ordenar uma perseguição aos cristãos aplicar-
se no oriente, quando aí existia plena harmonia e até se protegia o cristianismo?
A decantada unidade do Imperiumti... dividido não pode encontrar uma confirmação no as
pecto jurídico, pois o estudo das constituições relativas à administração, ao regime fiscal,
aos funcionários, às corporações, aos direitos de família e às sucessões, mostram claramente
o carácter oriental ou ocidental de cada uma delas.
Como se explica então que na inscriptio figurem os nomes dos dois imperadores, qua
ndo o seu autor é apenas um, e as constituições destinavam-se a vigorar só numa pars do
imperium?
Trata-se duma interpolação. Essa indicação dos nomes dos dois imperadores não é genuína; é ap
a. Deve-se principalmente a Teodósio II. Quando ele em 438 tentou a união jurídica do
Império, ordenou (para provar a existência dessa unidade) que na inscriptio das cons
tituições a coligir no seu Codex 143 se colocasse, ao lado do nome do imperador-auto
r da constituição, o nome do imperador coetâneo da outra pars imperii. 0 Codex Theodos
ianus foi a base das futuras colectâneas de leges. Desta forma chegou até nós a indicação
colegial dos imperadores na inscriptio das constituições. Portanto, a razão de carácter
formal - à primeira vista impressionante -, em que se baseia a opinião tradicional, é
ainda mais frágil que a primeira, cujo valor é quase nulo.
343 Vid. infra § 35-c)-1.
278
Para se conhecer a que imperador pertence uma constituição e, por conseguinte, para
saber em que pars do Imperium vigorou, não devemos deixar-nos impressionar pela in
dicação dos nomes dos dois imperadores contida na inscriptio, mas, sim, aí (na inscrip
tio), devemos atender principalmente ao destinatário, ver se é do oriente ou do ocid
ente. Sobretudo, temos de nos orientar pela subscriptio 34 ^, visto lá estar indic
ada, quase sempre, a localidade: se Roma, Milão, Ravena, etc., é do Ocidente; se Con
stantinopla, Beirute, etc., é do Oriente.
344 Vid. supra 271.
279
DIREITO ROMANO
11 PARTE -TIT. IV - CAP. 3.°
§ 27
Capítulo 3.°-C) IURISPRUDENTIA
SUMÁRIO-27. a) Carácter complexo do saber-jurídico: é uma ciência
e uma técnica
I-Espécies do saber
11-0 Direito, como ciência, é uma iuris-prudentia; como técnica, é uma ars boni et aequi
. Relação entre o aspecto científico e o aspecto técnico do Direito
b) Iurisprudentia. Análise de D. 1,1,10,2
I-Iurisprudentia e Filosofia
II - lurisprudentia e Lógica
c) Evolução histórica da iurisprudentia
1-Desde o início até ao séc. IV a.C., só os pontí
fices podiam ser «jurisprudentes». Razoes
11 - A partir do séc. IV a.C., laicização (factores) a favor dos nobres
111-A partir do império, universalidade da Iurisprudentia
d) Funções dos «jurisprudentes»: cavere, agere, respondere
e) A iurisprudentia como fonte de direito
I - Sempre os «iurisprudentes» foram «iuris auctores». Sentido
I1- Consagração legal da iurisprudentia
1- Na época republicana
2 - Desde Augusto a Adriano. Ius respondendi
ex auctoritate principis. Valor dos responsa 3 - A partir de Adriano (117-138),
fonte imediata
27. Vamos concluir a análise do texto de PAPINIANUS (D. 1,1,7pr.), que tem vindo a
servir-nos de orientação para o exame das várias fontes do Ius Civile; «lus autem civil
e est, quod ex... auctoritate prudentium venit» 345.
A iurisprudentia é, pois, também uma fonte do «ius civile». Veremos, já a seguir, o carácter
que assumiu de início e nas várias épocas históricas.
345 Vid. supra 165 e n. 167 a citação completa.
A «iurisprudentia» é a ciência do Direito.
Será verdadeira ciência? Que espécie de ciência? E a ciên
cia do Direito (iurisprudentia) abrangerá todo o saber-jurídico
(Direito), identificando-se com ele?
a) Carácter complexo do saber jurídico: é uma ciência e uma técnica
Desde que o famoso KIRCHMANN, em 1847, negou que o Direito tenha carácter ou digni
dade científica, abriu-se uma discussão, que dura até aos nossos dias, entre filósofos e
juristas sobre a possibilidade de o Direito ser ou não uma ciência.
Para os romanos o problema estava resolvido. 0 Direito não é apenas uma ciência nem ap
enas uma técnica. É uma ciência e uma técnica do justo e do injusto. A definição, ou talvez
melhor, a descrição do Direito (como saber-jurídico) é-nos fornecida através de dois texto
s de ULPIANUS, que têm sido
objecto dos comentários mais diversos, D. 1,1,10,2 e 1,1,1pr. Dizem o seguinte
ULPIANUS- (lib. 1 Regularum), D. 1,1,10,2:
«iuris prudentia est divinarum atque humanarum rerum notitia [,] iusti atque inius
ti scientia» 346.
- (lib. 1 Institutionum), D. 1,1,lpr.:
<Jus est <etiam> ars boni et aequi» 347.
Esta formulação lapidar de conceitualização do Direito levou séculos a elaborar. 2 um prod
uto, inúmeras vezes decan
346 «A iurisprudentia é a ciência do justo e do injusto, tendo como pressuposto (como
indiscutível, como evidente, isto é, que se reconhece sem discussão; é o significado da
palavra noticia, que se encontra em ablativo, e não em nominativo, e por isso a vírg
ula a seguir a ela está a mais) certas coisas divinas e certas coisas humanas». - São
os pressupostos meta jurídicos da Ciência Jurídica (como do ordenamento jurídico em gera
l). Sobre o carácter científico do saber-jurídico, vid. Erik WOLr, II Valore Scientifi
co della Giurisprudenza (Milão, 1964).
347 «0 Direito é (também) arte (técnica) do bom e do equitativo».
280
281
DIREITO ROMANO
1.° PARTE-TIT. IV-CAP. 3°
§ 27
tado, e nesse trabalho-paciente de afinação e de precisão de conceitos intervieram mui
tos jurisconsultos, a maior parte deles,
nossos desconhecidos.. ULPIANUS não é o autor destas formulações. Recolhe a última formulação
elaborada, e reelabora-a, informando-a 'de certas ideias filosóficas que ele apree
ndeu em Aristóteles, Platão e sobretudo em Plutarco.
Portanto, o saber-jurídico não é um saber simples; é algo bastante complexo: uma ciência e
uma técnica.
Se 'o Direito, além de técnica, é também e sobretudo uma ciência, que espécie de ciência?
1-Espécies de saber
Podemos distinguir três espécies de saber: 1) - um saber-puro; 2) - um saber-agir; 3
) - um saber-fazer.
1 - 0 saber-puro, que os gregos designavam por sofia (co fíd) e os romanos por sap
ientia, é um saber pelo saber. É o conhecimento em si, abstracto, sem atender ao con
creto, ao lado prático. Daí a filo+sofía=ânsia de saber. Esta espécie de saber, se tem por
objecto as verdades absolutas (simples, sem composição) é a filosofia primeira ou teo
logia; este tipo de saber, se tem por objecto as verdades relativas (que pressupõe
m
outras, e por isso não são simples mas compostas) é a filosofia segunda ou simplesment
e filosofia. Portanto, o sapiens é o que se preocupa com as verdades abstractas: a
bsolutas, ou
relativas. Mais; o saber-puro (sapientia, aorp(a) é a ciência do Ser (Dassein).
2-0 saber-agir, a que os gregos chamavam frónesis (gpávriatç) e os romanos prudentia, é,
segundo Aristóteles, a «recta ratio agibilium». É a praxis. É a ciência que tende para a acç
para o «agir»; e, como «agir» não tem complemento, tende para algo que principia e acaba
em nós; tende, portanto, para o honestam. - 0 prudens é o que, pressupondo a verdade
das coisas - verdade descoberta por ele ou pelo «sapiens», mas o «prudens» assim como o
«politicus», devia ser também «sapiens», conforme já Platão aconselhava -, vê as coisas no s
aspecto valorativo, de utilidade para o homem e para a
comunidade. - Portanto, enquanto o saber-puro (sapientia, ao9(a) é a ciência do Ser,
o saber-agir (prudentia, ppóvriatç)
é mais a ciência dos Valores.
A prudentia recebe luz, pressupostos, da sapientia: são as verdades fundamentantes
- de filosofia primeira ou teologia ou verdades divinas, de filosofia segunda o
u simplesmente filosofia ou verdades humanas.
3-0 saber-fazer, apelidado pelos gregos tékne (TEXvri) e pelos romanos ars, é um sab
er realizável, uma técnica pura; é o «fazer do saber».
11-0 Direito, como ciência, é uma «iuris-prudentia»; como técnica, é uma «ars boni et aequi».
lação entre o aspecto científico e o aspecto técnico do Direito
A ciência do Direito não é especulativa, quer dizer, não busca uma verdade objectiva ace
rca do ordenamento jurídico nem uma abstracção a respeito desse mesmo ordenamento; mas
prática, quer dizer, concretiza-se numa actividade intelectual (e não volitiva, com
o se verifica na lei, sobretudo de tipo moderno), dirigida a descobrir o que é jus
to, isto é, honesto, útil e oportuno na convivência social. Preocupa-se, não com o Ser,
mas com o Valor das coisas. É uma praxis.
Por isso, os romanos chamaram ao Direito:
1.°-uma «iuris-prudentia» (D. 1,1,10,2) e não uma «iuris-sapientia», pois o grande mundo do
jurídico não é o mundo das verdades abstractas mas o mundo dos Valores, e principalmen
te o mundo do agere, do actio, embora não se
esgote todo nele; por outras palavras, o Direito é, em primeiro lugar, uma ciência;
não abstracta, mas de tipo prático; além disso, embora secundàriamente,
2.° - é também uma técnica (ars boni et aequi, D. 1,
1,lpr.), destinada a alcançar umas coisas e a evitar outras.
É erro grave considerar, como principal, o aspecto técnico
do Direito; e maior erro ainda, julgar o Direito únicamente como
uma técnica. A isso conduziu e conduz o positivismo jurídico
(sobretudo na sua forma legalista) que, sim, na verdade, é uma
282
283
DIREITO ROMANO
1.- PARTE-TiT. IV-CAP. 3.1
tecnização do Direito; uma mecanização ou uma organização mecânica de normas, em que o homem
penas um res como outra qualquer. E essa orientação tecnicista, ou melhor, é essa deso
rientação que está, juntamente com outras desorientações, na base da explicação daquilo a que
vimos chamando desde 1962 o «totalitarismo da lei», e daquele princípio criado numa époc
a decadente, e invocando sobretudo em épocas de decadência, «dura lex sed lex».
Segundo se deduz claramente dos dois fragmentos de ULPIANUS (supra 281), o Direi
to tem, por conseguinte, um aspecto científico e um aspecto técnico. 0 saber-jurídico é,
pois, algo complexo - ciência e técnica. 0 Direito, como ciência, diz-nos o que é justo
ou injusto; como técnica, ensina-nos o como; diz-nos como alcançar o justo e como e
vitar o injusto; como obter para os indivíduos e para a colectividade a máxima utili
tas compatível com a convivência humana, já que o Direito aparece introduzido (é preciso
nunca perder isto de vista!) pro utilitate hominum. As leis são feitas para o hom
em e não foi o homem feito para as leis.
Ciência - prática, prudentia - e técnica, em Direito, ambas se compenetram. Scientia e
ars (em grego, epistéme e tékne, ErriSrriµr; e TtXvrl) não são conceitos antitéticos. A ars
(técnica) é o modo de aplicar e de comunicar a ciência; é o aspecto prático da scientia (
o da aplicação ou do ensino), mas não subs. titui a ciência. É possível uma ciência sem técni
(seria excessivamente teórica e difícil de comunicar e, por conseguinte, de apreende
r e de aprender) ; porém uma técnica sem ciência seria um absurdo. - Pode, em vários ram
os do saber, separar-se, até profissionalmente, a ciência da técnica; mas o Direito é ne
cessàriamente teoria e prática, ciência e técnica. Ciência
prática 148.
34s Cf. D'ORS, Unu Introducción al Estudio del Derecho (Madrid,1963) 20.
b) lurisprudentia. Análise de D. 1,1,10,2
A «iuris-prudentia» é, pois, como dissemos, uma ciência-prática do Direito; a ciência do jus
to e do injusto («iusti atque iniusti scientia», D. 1,1,10,2).
Mas, para poder ser «ciência do justo e do injusto», tem de pressupor o reconhecimento
(o ideal seria que houvesse também conhecimento) de certas verdades divinas e hum
anas -- «divinarum atque humanarum rerum notitia», D. 1,1,10,2.
A palavra «notitia» tem, geralmente, em Direito, o significado técnico ou específico de «c
iência, um conhecimento seguro, profundo» ou «um conhecimento sem hesitações». É com esta sig
ificação que aparece, v.g. em D. 1,1,1,1 («boni et aequi notitiam profitemur»), Collatio
349 15,2,2 («professio mathematicorum, non notitia prohibita est»), etc.
Neste frag. de ULPIANUS (D. 1,1,10,2), a palavra «notitia» não está empregada no sentido
técnico-jurídico, aliás seria absolutamente inútil. Bastaria então dizer: «lurisprudentia e
st divinarum atque humanarum rerum... iusti atque iniusti scientia». Como porém o te
xto emprega a palavra «notitia» e a palavra «scientia», e se estivessem ambas com o mesm
o significado bastava claramente só uma delas, e ainda como a palavra «notitia» além do
significado técnico-jurídico de «ciência» tem um outro significado, não-jurídico, e clássico,
ado v.g. por Cícero, (veremos já qual é), temos de concluir que neste passo de ULPIANU
S «notitia» contrapõe-se a «scientia». E é evidente que se .contrapõe, visto a «iusti atque i
sti scientia» ser a «iurisprudentia», e a «rerum divinarum scientia» não é «iurisprudentia» m
eologia, a «rerum humanarum scientia» não é «iurisprudentia» mas philosophia.
Ora, desde que «notitia» está com um significado não-jurídico, e portanto diferente de «scie
ntia», encontra-se então na sua
349 Vide infra § 35-a)-11 que espécie de fonte jurídica é esta.
284.
285
t
DIREITO ROMANO
significação clássica de -ideia inata, pré-noção, pressuposto, coisa evidentíssima admitida p
r todos, acatamentq, respeito, etc. Numa palavra; algo que não se discute, embora
não se adira
plenamente. Cf. CÍCERO, De Of ficiis 2,24,86, De Legibus 1,8, De Finibus 5,21,59,
e outros autores - vid. LEWIS-SHORT, A Latin Dictionary (Oxford, 1951) 1218 e. 3
. Por isso, devemos traduzir essa parte, como fizemos, «...reconhecimento sem disc
ussão de certas coisas divinas e de certas coisas humanas. Diríamos hoje, «grosso modo»:
reconhecimento sem discussão de certos princípios metajurídicos de ordem pública.
Portanto, o Direito (ciência e técnica) para conseguir o seu fim (a realização da utilit
as de cada um na convivência social) parte de certos pressupostos metajurídicos indi
scutíveis (pelo menos para detrminada época e para determinado grau de civilização) : un
s de ordem teológica (as res divinae), outros de ordem filosófica (res humanae), os
quais (uns e outros) informam a ordem social dum povo. Tendo por base esses prin
cípios - teológicos (ou a sua negação), morais, éticos, filosóficos, sociológicos-, é que o D
ito vem dizer o que é justo ou injusto, e como alcançar um e como evitar o outro 88°.
350 Cf. Sebastião CRUZ, Da «Solutio» I, cit. 331588. A «Teologia do Direito» é um dos grande
s temas jurídicos da actualidade. É que a Teologia tem hoje uma função ad extra, outrora
reservada à apologética no seu sector antropológico, cósmico e histórico. Por mais parado
xal que pareça, talvez nunca a teologia cristã (católica ou protestante) teve tão larga
audiência por parte dos não-cristãos, como em nossos dias.
No meio da incerteza que atormenta tantos homens de hoje e no meio da ansiedade
que a tantos devora, o teólogo cristão é convidado por uns, desafiado por outros, dese
jado por muitos, no sentido de entrar na arena para aí discutir, com as luzes que
lhe são próprias, os problemas reais dos homens reais - os problemas do nosso tempo
-, para aí apresentar as soluções precisas ou simplesmente pressentidas baseadas na me
ditação sobre a sua crença. Nas sociedades abertas do Ocidente, quem não esteja totalmen
te dominado ou por uma mentalidade burguesa ou por uma mentalidade marxista, tem
geralmente uma certa curiosidade de ouvir o teológo cristão. Pode não segui-lo; pode
mesmo atacá-lo; mas não tem repugnância em o consultar.
É com. esta perspectiva de grande abertura que ultimamente, sobretudo na Alemanha,
se vem fazendo reuniões científicas peridiócas sobre «Teologia do Direito», assistindo teól
ogos protestantes (a iniciativa parece que partiu deles) e católicos; juristas catól
icos, protestantes e indiferentes. Os problemas jurídicos têm, assim, uma outra dime
nsão, que é necessário pressupor (e embora não se possa conhecer a fundo, não se deve igno
rar), a dimensão teológica. Como resultado desses encon
286
L' PARTE -TIT. 1V - CAP. 3° § 27

I-«lurisprudentia» e Filosofia
Quanto à filosofia de que se serve a iurisprudentia romana, notemos que é a filosofi
a pragmática e moral e não a especulativa. 0 estoicismo penetra e difunde-se em Roma
muito mais que as doutrinas de Aristóteles.
Observemos ainda que o iurisprudens, ao utilizar a filosofia, o faz como jurista
e não como filósofo. 0 jurista nunca se confunde com o filósofo. - E assim, quando ao
iurisprudentia utiliza conceitos e categorias que foi buscar à filosofia, emprega-
os com conteúdo e finalidade jurídicos. É que a valoração filosófica é distinta da valoraçãs
a,,.e- s iurisprudentes não o esquecem de acentuar bem. Por exemplo, os juristas f
alam com frequência de natura e de ratio, e sobre tais conceitos fundamentam muita
s vezes as suas decisões (responsa). Pois bem; a noção jurídica de «natureza» não tem o alcan
e filosófico (essência abstracta ou essência operativa), mas significa a realidade e n
ormalidade das coisas, o que está na base das institui
trós, foram publicados, entre outros, os seguintes trabalhos de conjunto: Der Weg
von der Bibel zur Welt (Zurique, 1958); Kirche und Recht (Gotinga,1960); Die Tre
yse Konferenz 1960 über das Thema «Gerechtigkeit in biblischer Sicht» (Genebra,1960).
Trabalhos particulares, são dignos de referência especial: H. H. WALz-H. H. SCHREY G
erechtigkeit in evangelischer Sicht. Eine dkumenische Studie zur Rechtstheologie
(Francfort,1955), Ernst WoLF, Trinitarische oder christologische Begründung des R
echts? em Recht und institution 9.33, publicação orientada por H. DoMBOIS (Witten-Ru
hr, 1956), 1. PONDS, La Théologie Chrétiènne et le Droit (Paris, 1960), Erik WoLu, Zur
Rechtstheologischen Dialekrik Von Recht und Liebe em St. Bett1 I (Milão, 1962) 47
9-500, Jacques ELLUL, Réalité Sociale e Théologie du Droit em Festsehrift Erik Wolf (F
rankfurt a Main, 1962) 36-61, Bruno SCHULER, Die Herrschaft Christi und das welt
liche. Recht .(Berlim..1963), F. Puy, Teología dei Derecho em Anales de Ia Cát. de F
ranc. Suórez 4.(1964)4 49; recentemente, Dario COMPOSTA, Prospettive per una -Teol
ogia dei Diritto em Salesianum 29 (1967) 28-69, 30 (1968) 302-329 e 32 (1970) 23
9 ss. Vid. também Apollinaris 44 (1971) 201-229.
Destes vários trabalhos conclui-se que a Ciência do Direito deve estar hieràrquicament
e dependente duma Filosofia do Direito, mas sobretudo duma Teologia do Direito.
Ora isto mesmo viram e defenderam os juristas romanos, ao ensinar: «iurisprudentia
est divinarum atque humanaram rerum noticia, iusti atque iniusti scientia» (D.1,1
,10,2).
287
DIREITO ROMANO
1.' PARTE - TIT. IV - CAP. 3.°
§ 27
ções jurídicas. E o conceito jurídico de ratio está igualmente desprovido de conteúdo filosóf
co, pois, não sendo o fundamento último do Direito, não tem portanto valor universal;
mas simplesmente a ratio é invocada, quando se julga oportuno e para determinados
fins. Por vezes, ratio é o próprio direito objectivo (no sentido indicado supra 17)
; outras vezes, tem o signi' ficado de norma justa, contrapondo-se a «lei injusta»,
e até o de Justiça (vid. nossa monografia Ius. Derectum 54113).
Relacionado com o problema de «filosofia e iurisprudentia» está o de
11-«iurisprudentia» e Lógica
A lógica está na base da Ciência do Direito como na de qualquer outra ciência; porém, a iu
risprudentia não é uma ciência de pura lógica, mas de justiça. Por isso, os juristas têm a «s
a lógica», no sentido de que os seus argumentos estão sempre orientados e informados p
or considerações de justiça; e, com este alcance, a «sua lógica» é inexorável; não se presta
ertezas. - Os princípios e as regras de Direito Romano nunca se aplicam mecânicament
e, com uma lógica pura, inflexível, pois os jurisprudentes compreendiam bem que isso
podia conduzir, por vezes, a um resultado aberrante e inoportuno. Já na época de Cíce
ro, o adágio «summum ius summta iniuria» constituía um provérbio bem firme.
Os juristas romanos são verdadeiros artífices em deduzir consequências das premissas.
Não tiram todas as consequências que em pura lógica silogística podiam deduzir-se, mas só
aquelas que eles julgam oportunas, justas.
Enfim, os jurisprudentes são práticos, adaptando-se às exigências mutáveis e complexas da
vida. Não se deixam dominar pela lógica abstracta. Além disso, quando se servem dela,
colocam-na ao serviço da acção e da vida - do facto humano -, que, devido à sua densidad
e, forte e pluridimensional, é algo
mais rico e mais complexo do que tudo quanto possa captar-se numa rede de silogi
smos 361
Conclusão - Nem tudo o que é lógico é jurídico, e nem tudo o que é jurídico é sempre «rigoros
e» lógico, isto é, silogisticamente lógico, matemàticamente lógico. 0 Direito (como ciência j
rídica), servindo-se da lógica, informada de princípios de justiça, faz do jurista um sa
cerdote da lustitia, sempre deveras preocupado com «alterum non laedere» e «suam cuiqu
e tribuere»; utilizando a logística, fará do jurisconsulto um «robot jurídico», um «cérebro e
trónico» jurídico(?), onde tudo estará matemàticamente certo, silogìsticamente perfeito, mas
, quantas vezes, humanamente... inumano - o homem será considerado sempre como pur
a res e não como persona.
c) Evolução histórica da «iurisprudentia»
I -Desde o início até ao séc. IV a.C. só os pontífices é que podiam ser «prudentes». Razões
Como a ciência do Direito é «iuris-prudentia», os cultores desta ciência chamavam-se prude
ntes («os que sabem agir») e iurisprudentes. E como a iurisprudentia não tinha carácter
lucrativo, mais do que doutrinários, os juristas romanos eram verdadeiros sacerdot
es da Justiça.
Por este carácter «sacerdotal» (sacrificado, desinteressado) do jurista e ainda porque
, no início, Religião, Moral e
351 Esta concepção clássica dos juristas romanos a respeito de «Lógica e Direito» é novamente
repensada em nossos dias, e encontra adesões na actualidade, não só entre romanistas,
como entre os novos juristas de mentalidade aberta e de horizon
tes bem rasgados. Vejam-se, por todos, Valentia-AI. GEORGESCU, L'Opposition entr
e «lus» et «Factum» en Droit Romann et en Droit Moderne em Scritti in Onore di Contardo
Ferrini III (Milão,1948) 144-165, Mario LAURIA, Jus. Visione Romane e Moderne2 (Nápo
les,1962), e, como estudo de conjunto e recente, o valioso trabalho de António CAS
TANHEIRA NEVES, Questão-de-Facto-Questão-de-Direito ou o Problema Metodológico da Juri
dicidade (Ensaio de uma Reposição Crítica). I A Crise (Coimbra,1967) passim, máxime 422-
486.
288
289
I
DIREITO ROMANO
Direito constituíam em todo único - (sobre o carácter religioso e até divino do primitiv
o ius, vida supra 15) -, por estas duas razões, desde o princípio até ao séc. IV a.C., úni
camente os sacerdotes pontífices eram juristas. Disto dão-nos testemunho,
v.g. TITUS Livros e POMPONIUS 352.
Como acabamos de ver, a princípio a iurisprudentia constituía um privilégio dos sacerd
otes-pontífices. Estes eram escolhidos só entre patrícios. Na interpretatio do ius - c
onservado, nesses tempos, ainda valde religiosum, como algo de misterioso, de :o
culto-, os plebeus eram tratados desfavoràvelmente. Reagiram. Das várias reacções surgiu
, como já sabemos 1,1', a Lei das XII Tábuas.
o 1.0 factor da laicização.
2.° factor é o chamado ius Flavianum. - Segundo a tradição, Cneu Flávio, liberto, escriba
do nobre e pontífice Ãpio Cláudio, aproveitando-se da cegueira do seu patrono, publico
u uma colectânea de fórmulas legais processuais (das legis actiones), que ficou conh
ecida por ius Flavianum. É a primeira grande revelação das normas jurídicas misteriosas.
3.° factor é o ensino público do direito, em meados do séc. III a.C. por Tibério Coruncâneo
- o primeiro plebeu que teve acesso ao cargo de pontifex maximus.
352 Trrus Livius, Historia 9,46,5: «ius civile repositum in penetralibus Pontificu
m fuit».-(«Todo o ius civile esteve no segredo dos Pontífices»).
POMPONIUS-(lib. singulari Enchiridü), D.1,2,2,6:
«Interpretandi scientia et actiones apud collegium pontificum erant».-(«A ciência do int
erpretar [a iurisprudentia] e as actiones [o seu conhecimento] eram exclusivo [m
onopólio) do colégio pontifício»).
353 Vid. supra 178-180.
1., PARTE-TIT. Iv-CAP. 3.° § 27
Verifica-se então a completa laicização da iurisprudentia. Não é mais um privilégio dos sace
rdotes-pontífices.
No entanto, fica reservada aos nobres ou a certas classes consideradas superiore
s.
III - A partir do império, universalidade da «iurisprudentia»
Augustooresolveu admitir para cargos importantes jurisconconsultos, mesmo pessoa
s da classe média. - É a última consequência da laicização da iurisprudentia.
Mas como o jurista tem de possuir além do saber jurídico também autoridade social (vid
. supra 56) e como, agora, os iurisprudentes não têm autoridade social de carácter ari
stocrático, Augusto concede, pelo menos aos melhores, autoridade de carácter político
- ius respondendi ex auctoritate principia (vid. infra al. e) -II.
Adriano, depois, avançou mais um pouco. Concede aos jurisconsultos autoridade soci
al de carácter burocrático. É o triunfo do funcionalismo sobre a aristocracia. E a uni
versalidade da iurisprudentia.
d) Funções dos «iurisprudentes»: cavere, agere, respondere
A actividade da nova iurisprudentia é tríplice.
Cavere, isto é, aconselhar os particulares como deviam realizar os seus negócios juríd
icos: palavras sacramentais a pronunciar, cláusulas a atender e, por vezes, docume
ntos escritos a redigir.
Agere era a função de assistir às partes no processo: qual a fórmula a empregar, que pal
avras a usar, quais os prazos para apresentar provas, etc.
II - A partir do séc. IV a.C., verifica-se a laicização da «iurisprudentia» (factores), fi
cando a cargo de nobres
290
291
DIREITO ROMANO
1. PARTE - TIT. IV - CAP. 3.»
§ 27
Respondere consistia em dar sentenças ou pareceres (responsa) a particulares ou a
magistrados sobre questões jurídicas. Era a função mais importante dos jurisprudentes, já
que nos responsa se concretizava, como vimos, a Ciência do Direito. Essas sentenças
levaram, por vezes, séculos de elaboração, trabalhando nelas muitos juristas cujos nom
es se perderam.

e) A «iurisprudentia» como fonte de direito


I -Sempre os «jurisprudentes» foram «iuris auctores». Sentido
A princípio, toda a actividade da iurisprudentia se concretizava na interpretatio;
identificava-se com ela. E a iurisprudentia, de início, foi pràticamente a única font
e de direito - «ius civile in sola prudentium interpretatione consistit», diz POMPON
IUS - D. 1,2,2,12 (vid. supra 172 13°)
A iurisprudentia, a doutrina dos iuris-consulti (=os versados em direito, os mes
tres de direito), foi, portanto, a primeira f ons iuris. A primeira, no tempo e
na importância; e, na prática, nunca mais deixou de ser a primeira, na importância.
São os iurisconsulti que, de facto, criam as normas jurídicas:
- indicando as matérias que merecem ser reguladas juridicamente;
- dizendo as normas de carácter meramente ético ou moral que devem passar a jurídicas
e vice-versa;
- precisando os termos em que deve ser redigida a norma jurídica e qual o alcance
que deve ter;
- interpretando-a, não só com o sentido original, mas até com um conteúdo novo, se for n
ecessário, determinando o modo como deve ser aplicada;
- finalmente, mostrando quando já não tem razão de ser. Neste sentido, os iurisprudent
is foram sempre e são «iuris auctores».
Conclusão: a iurisprudentia era, e terá de ser considerada sempre a grande fonte de
direito 354.
II-Consagração legal da «iurisprudentia»
Examinado o valor da iurisprudentia em si mesma, analisemos algumas atitudes das
leges para com ela.
1 Na época republicana. -A iurisprudentia não é considerada oficialmente fonte imediat
a de direito; os responsa não vinculam os juízes. A iurisprudentia é apenas a fonte in
spiradora e material, mas tanto do ius civile como do ius honorarium.
2 Desde Augusto a Adriano. - Augusto, hábil como era, certamente com a finalidade
de captar os juristas de maior valor para a defesa da sua política, concedeu-lhes
o chamado ius respondenõi ex auctoritate principis. Quer dizer, os responsa dados
por esses iurisprudentes privilegiados aos seus consulentes tinham tanto valor c
omo se fossem respostas dadas pelo próprio imperador. Portanto, um valor igual ao
das constituições imperiais no séc. I, que era apenas de carácter prático (vid. supra 270)
, mas muito importante.
aso Para voltar a reconhecer-se, até socialmente, esse prestígio da iurisprudentia-e
nessa orientação certamente deve caminhar-se -é necessário que os iurisconsulti sintam
e vivam a sua alta dignidade de «sacerdotes-pontífices» da Justiça; dêem os seus responso
(pareceres), portanto com espírito «sacerdotal» (desinteressado, sacrificado), com o d
esejo veemente de suum cuique tribuere, com a máxima preocupação de obter o justo e de
evitar o injusto, e não duma forma ou doutra... conforme a conveniência do consulen
te.
Sobre a iurisprudentia como fonte de direito, cf. Antonio D'EMILIA, Sulla Dottri
na quale Fonte del Diritto em SDHJ 11 (1945 19-36; A. D'ORs em Studi Betti 1 (Mi
lão, 1962) 124-126; BOULANGER, Notations sur le Pouvoir Créateur de Ia Jurisprudence
Civile em Revue Trimestrielle de Droit Civil (1961) 417-441, e BIONDI, Funzione
della Giurisprudenza Romana nella Vita Moderna em Rivista di Diritto Civile (19
64) 10-13.
292
293
DIREITO ROMANO
1,' PARTE - TIT. IV - CAP. 3.1
§ 27
Qualquer que tenha sido a finalidade de Augusto ao conceder esse privilégio, e qua
lquer que seja a natureza do ius respondendi ex auctoritate principis - assuntos
muito discutidos e acerca dos quais a bibliografia é abundante 166 -, como o impe
rador nessa altura gozava de grande prestígio, a posição social do jurista romano subi
u. Inicia-se, no tempo de Augusto, a vivência do período de esplendor da época clássica
central, indo depois culminar na figura máxima da literatura jurídica clássica, IULIAN
US.
Simplesmente, esses responsa não eram já pura doutrina (dos particulares, dos iurisp
rudentes) ; estavam imbuídos ou até informados duma certa participação do «imperium» do prin
ceps, ou como diríamos hoje, eram decisões de alguém que detinha uma parcela, embora mín
ima, da soberania. Deve estar aqui, certamente, o primeiro ponto de partida 366
para a iurisprudentia (doutrina) passar a jurisprudência (decisões de pessoas com so
berania, decisão de órgãos com soberania, decisões dos tribunais).
Valor dos «responsa», dados pelos juristas com «ius respondendi» - Neste período (desde Au
gusto a Adriano), os responsa não eram fonte imediata de direito, nem mesmo para o
caso concreto para que tinham sido proferidos. Mas, de facto, para esse caso co
ncreto, eram como normas vinculativas.
355 A natureza do ius respondendi ex auctoritate principi, a verdadeira finalida
de de Augusto ao conceder este privilégio, a situação em que ficaram os jurisprudentes
não-privilegiados e a sorte do ius respondendi depois de Adriano - tudo são questões
ainda hoje muito discutidas entre os romanistas. Para uma visão sumária cf. ROBLEDA,
lus Privatum Romanum, cit. 93-100; e aí, em várias notas, é indicada a principal bibl
iografia. Veja-se também G. PROVERA, Ancore sul jus Respondendi em SDHI 28(1962) 3
42-360 e M. Hõfixbn, Note intorno alio «ius responde"» em Synteieia Arangio-Ruiz (Nápole
s,1964) 710-716. No texto, adere-se ainda à opinião tradicional, que é também o da maior
ia dos romaniStas, mas... com sérias dúvidas.
356 A razão principal é de ordem processual, quando se oficializou o juiz (não é mais um
particular, como antes, por isso, em alguns sistemas jurídicos, como v. g. no canón
ico, o iudex tem a designação de «oficial») e a cognitio extraordinária se tornou sistema ún
ico de processar. Vid. infra 2' PARTE, Tít. VI destas Lições.
3 A partir de Adriano (117-138) -A iurisprutentia é considerada fonte imediata de
direito, de carácter geral. Segundo nos informa GAlus I 7 357 _ e não há mais nenhuma
fonte a dizer o mesmo-, houve um rescrito de Adriano que elevou os responsa dos
juristas privilegiados à categoria de leges, fazendo-os vigorar, portanto, não só para
o caso concreto, a propósito do qual tinham sido elaborados, como para todos os c
asos
iguais, que de futuro se apresentassem. E esse rescrito, ao que parece, abrangia
não só os responsa (de juristas com ius respondendi) que viessem a ser dados no fut
uro, mas sobretudo os responsa antigos proferidos desde a criação do ius respomdendi
no tempo de Augusto.
357 GAIus; 17: «Responsa prudentium sunt sententiae et opiniones eorum quibus perm
issum est lura condere. Quorum omnium si in unum sententiae concurrunt id quod i
ta sentiunt, legis vicem optinet; si vero dissentium iudici licet quam velit sen
tenciam sequi, idque rescripto divi Adriani significatur-(«Respostas dos prudentes
são as sentenças e opiniões daqueles a quem foi permitido criar direito. Se as sentença
s de todos eles são unânimes, o seu conteúdo obtem força de lei; mas se divergem, o juiz
pode seguir a sentença que entender; e assim consta dum rescrito do divo Adriano»).
Recorde-se também o texto de POMPONIUS, libro singulari Enchiridii, D.1,2,2,49.
294
295
1
Título V - FONTES DO «IUS PRAETORIUM» (D. 1,1,7,1)
A) EXPEDIENTES DO PRETOR BASEADOS NO
SEU «IMPERIUM»
B) EXPEDIENTES DO PRETOR BASEADOS NA
SUA «IURISD[CTIO»
C) 0 «EDICTUM» DO PRETOR
IUS PRAETORIUM
SUMÁRIO-28. a) Conceito (D.1,1,7,1)
b) Relação com o ius honorarium, com o ius civile e com o lus Romanum
c) Fases da actividade do pretor (urbano) a) Conceito de «ius praetorium»
28. 0 conceito de ius praetorium é-nos dado através dum fragmento de
PAPINIANUS-(lib. 2 Definitionum), D. 1,1,7,1:
<Jus praetorium est, quod praetores introduxerunt adin
297
DIREITO ROMANO
1.' PARTE-TIT. V
§ 28
vandi vel supplendi vel corrigendi iuris civilis gratia propter utilitatem publi
cam. [Quod et honorarium dicitur ad
honorem praetorum sic nominatum»] (gl.)358.
Como se deduz deste frag. de PAPINIANUS, o pretor 369 é o intérprete da lex, mas sob
retudo o defensor do ius é da Justiça, interpretando o ius civile (sobretudo os pass
os obscuros), integrando as suas lacunas e corrigindo as suas aplicações injustas.
b) Relação do «ius praetorium» com o «ius honorarium», com o «ins civile» e com o «lus Romanu
0 ius honorarium (ius edictale ou ius magistrale) é todo o Jus Romanum não-civile, i
ntroduzido pelos edictos de certos magistrados, a saber: pretor urbano, pretor p
eregrino, edis curúis e governadores das províncias 989. Deriva de «honor», cargo, magis
tratura. ]l~, pois, um direito próprio dos magistrados, criado pelos magistrados,
enquanto o ius civile (D. 1,1,7pr.) deriva do populus, dos comícios, do senado, do
princeps e dos jurisprudentes.
0 edicto dos magistrados (vid. supra 270) é um programa
358 «0 direito pretório é o que os pretores introduziram com a finalidade de ajudar (i
nterpretar) ou de suprir (integrar) ou de corrigir o ius civile, por motivo (razão
) de utilidade pública [0 qual também é chamado honorário denominando-se assim em honra
dos pretores] (gl.)».
Esta última parte do frag. [o qual - pretores] não é genuína. Deve tratar-se dum glosema
post-clássico (sécs IV-V), obra dum escoliasta ou até dum amanuense (vid. infra Tit.
XI o que é um glosema), pois é uma explicação que... nada explica; pelo contrário, confund
e.
359 Sempre que se fala de «pretor», sem mais nada, entende-se o pretor urbano (vid.
supra 67-70). Este magistrado é, dentro do lus Romanum, a figura genial e o modelo
para todos os iurisconsulti e profissionais do Direito. Nas suas actividades é se
mpre totalmente dominado pelo espírito de Justiça, com a delicadeza e o escrúpulo de não
abusar dos seus poderes (honeste vivere), com a preocupação de não prejudicar ninguém (
alterum non laedere) e com a ânsia de atribuir a cada um o que é seu (suum cuique tr
ibuere).
360 Segue-se no texto grosso modo a opinião mais provável e prescinde-se, de momento
, de vários problemas discutidíssimos entre os AA., v.g. natureza do ius honorarium,
suas fontes, etc.. Vid. infra 2.a PARTE, Tít. II destas Lições.
das actividades a realizar durante o tempo da sua magistratura, afixado publicam
ente no seu início.
0 ius praetorium, em rigor, é uma pars do ius honorarium; mas, uma parte tão grande
que eclipsa, ou pelo menos simboliza,. todo o ius honorarium. Por isso, em regra
, fala-se indistintamente de ius honorarium ou praetorium. É que o ius praetorium
oonsubstancializa todo o ius honorarium; é o que tem verdadeira relevância; como que
representa todo o ius honorarium. Por esta razão, em geral só se trata do ius praet
orium 311.
0 ius praetorium ou honorarium forma um sistema diferente do ius civile, mas não d
erroga o ius civile 362. Completa-o, sobretudo adaptando a estática do ius civile à
dinâmica das condições sociais e económicas, e concretamente o pretor obtém esse resultado
admirável de permanente e fecunda adaptação, mediante expedientes seus, baseados ora
no seu imperium ora (um pouco mais tarde) também na sua iurisdictio.

0 verdadeiro e primitivo lus Romanum é o ius civile; mas o ius praetorium ou honor
arium também é lus Romanum. São, pois, dois grandes sistemas dentro do mesmo Direito,
o lus
Romanum 363,
c) Fases da actividade do pretor
Fixemos agora, e sempre daqui em diante, a atenção só no
361 Também é importante, v.g. o ius honorarium criado pelo pretor peregrino, que é o i
us gentium. Dele falaremos no Tít. II da 2.a PARTE; aí, analisaremos dum modo especi
al o problema da relação entre o ius civile e ius gentium.
362 0 ius civile só pode ser alterado por uma das suas várias fontes, já nossas conhec
idas (D. 1,1,7 pr.): ou por uma lex (rogata, data [?] ou dicta), ou por um senat
usconsultum ou por uma constitutio principis ou pela iurisprudentia.
363 No Tít. II da 2.a PARTE, examinaremos pormenorizadamente a relação entre ius civil
e e ius honorarium.
Ainda hoje no direito inglês, há uma distinção entre common law e equity, muito semelhan
te a ius civile e ius honorarium do lus Romanum. Sobre este problema vid. Raul V
ENTURA, Manual de Direito Romano, cit. 195-202.
298
299
DIREITO ROMANO 1. PARTE -TIT. V § 28
ius praetorium «stricto sensu», isto é, no ins honorarium criado pelo pretor urbano.
A sua actividade comporta três fases.
1.- Fase (séc. IV - meados séc. III a.C.) - Nesta fase, a função do pretor era administr
ar a justiça, fundada. no., ius cavile; ele era a vox viva iuris civilis. A sua ac
tividade é essencialmente interpretativa. Toda a inovação que pretendesse fazer no ius
cavile tinha de ser elaborada sob o pretexto de o estar a interpretar. Era pois
uma actividade muito discreta, tanto mais que o trabalho interpretativo estava
vigiado e fiscalizado pelo collegium pontificam cioso de manter (ainda nesta época
), quase em exclusivo, a interpretatio.
2.8 Fase (desde fins do séc. III a.C. [ f ] a 130 a.C.) - 0 pretor, baseando-se no
seu imperium-poder de soberania, a
que os cidadãos não podiam opor-se -, usa expedientes próprios para criar direito (ias
praetorium), mas duma forma indirecta:
se uma situação social merecia protecção jurídica e não a tinha do ius civile, o pretor colo
cava-a sob a alçada do «ius civile»; se,
pelo contrário, determinada situação social estava protegida pelo ius civile e não merec
ia essa protecção, retirava-a da alçada
do «ius civile». Como se vê, o pretor não derrogava o ius civile; simplesmente, conforme
era justo ou não, (ele) conseguia que o ias civile se aplicasse ou não.
3.a Fase (a partir de 130 a.C.?) - A partir da lex Aebutia de formulas, do ano 1
30? a.C., o pretor, baseado na sua iurisdictio - poder específico de administrar a
justiça dum modo normal -, mediante expedientes adequados, cria também direito (ias
praetorium) e agora duma forma directa, embora por via processual. E assim, em
vários casos não previstos pelo ias cavile, o pretor concede uma actio própria, por is
so denominada actio
300
praetoria. E como em Direito Romano ter actio é ter ius (vid. infra 2.° PARTE, Tít. V)
, o pretor concedendo actio, cria directamente ius.
Analisemos agora e separadamente esses vários expedientes do pretor: A) - os basea
dos no seu imperium; B) - os baseados na sua iurisdictio.
301
DIREITO ROMANO
1.' PARTE - TIT. V - CAP. 1.°
§ 29
Capítulo 1.0 -A) EXPEDIENTES DO PRETOR BASEADOS NO SEU «IMPERIUM»
SUMARIO-29. Enumeração. Análise
a) Stipulationes praetoriae
1-Noção de stipulatio (D.45,l,á,1;-45,1,137pr.)
11-Características da stipulatio em geral
III- Particularidade das stipulationes praetoriae: geralmente, não eram nudae repr
omissiones mas satisdationes
b) Restitutiones in integrunt
1-Conceito
II-Espécies (D.4,1,1;-4,1,2) c) Missiones in possessionem
I - Conceito. Espécies
11-Modalidades quanto à finalidade d) Interdicta
I- Conceito
II-Espécies (exibitórios, restitutórios, proibitórios)
III-Entre as várias aplicações dos interdicta estão os
relativos à posse-«interditos possessórios»;
uti possidetis
-utrubi
de preeario
2-recuperandae possessionis 1 -unde vi
-vi armata
29. Os expedientes do pretor baseados no seu imperium, para bem interpretar, int
egrar e corrigir o ius civile, eram os seguintes: as stipulationes praetoriae; a
s restitutiones in integrum; as missiones in possessionem, e os interdicta.
Examinemos, em particular, cada um desses expedientes.
a) Stipulationes praetoriae (D. 46,5)
A «stipulatio praetoria» é uma stipulatio como outra qualquer, que tem de específico o f
acto de ser imposta pelo pretor
302
(daí o designar-se praetoria) a fim de proteger uma situação social não prevista pelo iu
s civile e que merecia protecção.
Interessa, portanto, antes de mais, conhecer a noção e as características da stipulati
o em geral.
1-Noção de «stipulatio» (D. 45,1,5,1;-45,1,137pr.)
A stipulatio é um negócio jurídico tipicamente obrigacio
nal 36'
Há negócios jurídicos destinados essencialmente para transferir a propriedade (v.g. a
mancipatio) ; a stipulatio é o negócio jurídico destinado essencialmente para criar ob
rigações.
A stipulatio, no dizer de M. GARCÍA GARRIDO, «es una de Ias más geniales creaciones, q
uizd Ia obra maestra del espíritu jurídico romano. A través del esquema ágil y simple de
Ia stipulatio pasa toda Ia vida romana en sus relaciones familiares, negoeiales
y procesales». E citando SCHUIa: «es una prueba de Ia predilecciónn que siente el rom
ano por todo lo preciso, breve y sen
cillo» sós.
Consiste estruturalmente numa pergunta - spondes mihi dare centum-, feita pelo c
redor (o stipulator), e numa resposta -spomleo-, dada pelo devedor (o promissor)
. Esta pergunta e esta resposta unem-se de tal maneira que não formam uma pergunta
-resposta, mas «geram» algo totalmente novo»: a obligatio. Por isso, os romanos chamav
am à stipulatio «conceptio verborum».
POMPONIUS- (lib. 26 ad Edictum), D. 45,1,5,1:
«stipulatio autem est verborum conceptio, quibus is qui
364 A origem da stipulatio é bastante discutida. Tudo o que se tem escrito a a res
peito do seu nome, da sua evolução e da sua forma, pouco mais são que meras hipóteses; a
inda não puderam concretizar-se em teses definitivas. (Cf. Sebatião CRUZ, Da «Salutio» I
, cit. 218).
Como estudo de síntese e recente, veja-se A. GARCIA GARRIDO, Sponsio y Stipulatio
em Boletin de Ia Universidad Compostelana 73-74(1965-1966) 169-184; aí se indica a
bibliografia fundamental.
365 0. c. na n. anterior, 169.
303
I - retinendae possessions
12
DIREITO ROMANO
1.' PARTE - TIT. V - CAP. 1.°
§ 29
interrogatur daturum facturumve se quod interrogatus est responderit». 6
BIONDI, comentando este frag. de POMPONIUS, diz: a «stipulatio» é uma verdadeira geração;
na geração, que dá lugar à procriação, há o encontro do elemento masculino com o feminino que
determina o aparecimento dum ser totalmente novo e que não é a soma dos dois element
os que se encontraram; assim também na «stipulatio» há o encontro da interrogação com a resp
osta e esse encontro determina o aparecimento duma entidade completamente nova,
a 'obligatio'» 337.
Esta construção jurídica materialistica, que os romanos elaboraram a respeito da stipu
latio, assemelhando-a em tudo a uma geração, explica fàcilmente várias coisas, à primeira
vista quase inexplicáveis.
Por exemplo, que a stipulatio deve ser um acto-contínuo,
formando uma unidade (D. 45,1,137pr. 3,111), quando não, um ele
mento demorando à espera do outro perde a sua potencialidade; e assim, se o promis
sor responde à pergunta do stipulator só daí a dois ou três dias, não há stipulatio. Por iss
o, a stipulatio para ser contínua devia realizar-se inter praesentes e não entre aus
entes (D. 45,1,1pr.).
Ainda outro exemplo: a stipulatio, realizada sob coacção, para o ius civile, era válid
a; é que o efeito (a «procriação»= = obligatio) opera-se naturalmente, por força dos dois el
ementos da «natureza» (pergunta/ resposta= feminino/masculino) e não por força da vontad
e, livre ou coagida.
366 «A stipulatio é uma geração (concepção) de palavras, com as quais aquele que é interrogad
responde àquilo, sobre que foi interrogado, que há-de dar ou há-de
fazer».
367 BIONDI, Contralto e Stipulatio (Milão,1953) 294.
368 D.45,1,137pr.-(VENULEIUS, lib. prim. Stipulationum):
«Continuus actos stipulantis et promittentis esse debet».-(«0 acto do estipulante
[o stipulador] e do promitente [o promissor] deve ser contínuo»).
Efeitos da «stipulatio»-Da stipulatio nascia uma obligatio para o devedor (promissor
) e uma actio para o credor (stipu
lator), a fim de obrigar o promissor a cumprir, caso o não fizesse voluntàriamente.
Esse actio pode denominar-se «grosso
modo» actio ex stipulatu 369
II- Características da «stipulatio» em geral
A stipulatio é um negócio jurídico - solene, formal, verbal-oral e abstracto.
Solene-Era feito com a invocação e a presença espiritual dos deuses, tanto dos admitid
os pelo stipulator como dos admitidos pelo promissor. Além disso, empregava a pala
vra spondeo, que, segundo a melhor opinião, usava-se primitivamente
só nas promessas feitas perante os deuses 3711.
Formal - Este negócio tinha uma forma jurídica, pois v.g. devia ser realizado entre
presentes, mas sobretudo porque devia ser usada uma fórmula própria, «sacramental» 371-
spondes mihi dare certum? Spondeo. Bastava alterar a ordem destas palavras ou su
bstituir uma palavra pelo seu significado (v.g. em vez de spondeo, dizer promitt
o) para o negócio ficar nulo; pelo menos de início, era assim.
Verbal-oral - Deviam empregar-se palavras, não escritas, mas orais. E o tipo dos n
egócios verbais - verbis contrahere.
J69 Em rigor, a stipulatio certi originava uma condictio (vid. em 2.8 PARTE, Tít.
VI destas Lições, que espécie de acho era esta); a stiputatio incerti, uma actio ex st
ipulatu. Porém, esta última designação é discutível. Cf. A. D'ORS, numa nota crítica em SDH12
(1960) 323-325.
370 Daí que esponsais eram promessas solenes de casamento, feitas perante o altar
da divindade: de início. a promessa solene do paterfamilias de dar a filha em matr
imónio; depois, promessa mútua, de homem e mulher, de celebrar casamento.
Parece que a stipulatio deriva da primitiva sponsio. Simplesmente, de início a spo
nsio é um acto do ius civile e a stipulatio seria um negócio do ius gentium. (Vid. G
ARCIA GARRIDO, o. C. 174-178; Labeo 9[1963] 96-119). Mais tarde, sponsio e stipu
latio. acabaram por se confundir, pelo menos na linguagem vulgar.
Embora a stipulatio, originàriamente, tenha sido um negócio do ius gentium, cedo pri
ncipiou a considerar-se um instituto do ius civile.
371 Vid. supra 305 e 306 o que é forma e fórmula em Direito.
304
305
DIREITO ROMANO
1.1- PARTE - TIT. V - CAP. 1.°
§ 29
A este respeito, é muito expressivo um famoso texto de
ULPIANUS- (lib. 4e8 ad Edictum), D. 45,1,1pr.:
«Stipulatio non potest confiei nisi utroque loquente: et ideo neque mutus neque su
rdus neque inf ans stipulationem contrahere possunt; nec absens quidem, quoniam
exaudire invicem debent. Si quis igitur ex his vult stipulari, per servum praese
ntem stipuletur, et adquiret ei ex stipulatu actionem; item si quis obligari vel
it, iubeat et erit quod
iussu obligatus».
«Não pode efectuar-se uma «stipulatio», a não ser que ambos («stipulator» e «promissor») fale
por isso, nem o mudo (porque não fala) nem o surdo (porque não ouve) nem a criança (me
nor de 7 anos, porque não compreende, não entende o sentido das palavras, é como se ne
m falasse nem ouvisse) podem realizar uma «stipulatio»; nem sequer o ausente, pois d
evem ouvir-se mutuamente («stipulator» e «promissor»). Se, porém, algum destes (isto é, dos
ausentes) pretende ser credor («stipulator»), que o faça através dum seu escravo present
e (no acto da «stipulatio») e adquirirá directamente para ele (portanto verificando-se
uma representação directa) uma «actio ex stipulatu»; igualmente, se algum (destes, dos
ausentes) pretende ser devedor (obrigar-se, ser «promissor»), que dê uma ordem (nesse
sentido, e também á um escravo seu, presente no acto da «stipulatio») e ficará obrigado «quo
d iussu» (em virtude dessa ordem, que é uma autorização responsável, um aval, o iussum).
Como consequência natural de ser a stipulatio um negócio verbal-oral e de constituir
uma unitas actus (D. 45,1,137pr.), o acto devia ser celebrado inter praesentes,
i. é., com a presença simultânea das partes. Além do texto do ULPIANUS (D. 45,1,1pr.),
há, entre outros, o de GAIUS 111 136 - «Verborum obligatio inter
absentes fieri non possit».
Abstracto - É um negócio jurídico, em que se prescinde da sua causa jurídica.

Negócio jurídico abstracto contrapõe-se a negócio jurídico causal.


No negócio abstracto, a causa jurídica não é elemento constitutivo do negócio; no negócio ca
usal, a causa Integra-se na declaração de vontade, é um elemento essencial.
A falta de causa jurídica tem efeitos diferentes, conforme se trate dum negócio caus
al ou dum negócio abstracto: no negócio causal, produz a sua nulidade; no negócio abst
racto, não atinge a validade do negócio mas apenas a sua eficácia 372.
A partir do séc. III, a stipulatio deixa de ser abstracta, e até oral, para se conve
rter num documento escrito (cautio, chirographum). Para este facto contribui a d
esagregação moral do povo romano; assiste-se a um fenómeno social da falta de crença nos
deuses; o stipulator perde a confiança depositada no promissor. Surge o documento
escrito e indicando-se a causa jurídica do negócio, como consequência da desconfiança e
ntre as pessoas.
Na época justinianeia, há muito que a stipulatio não era um negócio formal, mas um docum
ento escrito. No entanto, Justiniano, levado pelo seu bem conhecido espírito class
icista, mantém na sua compilação a palavra stipulatio, embora cone um sentido completa
mente diferente 373.
Não quer dizer que o negócio jurídico abstracto não tenha causa jurídica, e nem mesmo que
seja completamente independente dela; simplesmente, não é invocada. Abstrai-se dela.
0 «stipulator» diz - «prometes dar-me cem?» - e o «promissor» responde - «prometo». Mas nem u
em outro se refere, v.g. se é em virtude dum empréstimo ou duma compra e venda ou du
m aluguer ou duma doação. Não se fala da causa jurídica desse negócio, ao efectuar-se esse
negócio.
372 Sobre a questão dos negócios abstractos entre nós, cf, VAZ SERRA, Negócios Abstracto
s, Considerações Gerais-Promessa ou Reconhecimento de Dívida e outros Actos, Separata
do Boletim do Ministério da Justiça 83(1959) 66 págs. (Lisboa,1959); e sobre o problem
a da causa jurídica, vid. M. ANDRADE, Teoria Geral da Relação Jurídica 11. Facto Jurídico,
em especial Negócio Jurídico (Coimbra,1960) 343-346.
373 Cf. Sebastião CRUZ, Da «Solutio» I, cit. 217 309 e 218311; vid. M. GARCIA GARRIDO,
o. C. 181.184,
,306
307
DIREITO ROMANO
1.' PARTE - TIT. V-CAP. 1.0
§ 29
III - Particularidade das «stipulationes praetoriae»: geralmente não eram «nudae repromi
ssiones» mas
«satisdationes» (quase sempre em forma de «fideiussio») - D. 46,5,1,5
Conhecidas a noção e as características da stipulatio em geral, sabido que a «stipulatio
praetoria» é uma stipulatio, como outra qualquer, mas assim denominada por ser impo
sta pelo pre
tor - e imposta a fim de ele poder conceder protecção jurídica a uma situação social que não
a tem do ius civile e a merece-,
vamos concretizar melhor a finalidade, a efectivação e o processar das stipulationes
praetoriae, através dum exemplo.
TITIUS, numa atitude correcta ou até humilde, pede emprestados 100 sestércios a SEMP
RONIUS. 0 negócio do empréstimo
realiza-se mediante uma stipulatio, em que portanto TITIUS-devedor é o promissor e
SEMPRONIUS-credor é o stipulator. Mas ou não houve stipulatio, ou se foi realizada
não foi bem feita, porque, v.g. TITIUS, o «promissor», em vez de responder «spondeo» respo
ndeu (de boa ou de má fé, prescindamos desse aspecto) prtmuitto. A stipulatio está nul
a, porque é um negócio jurídico formal, e não se respeitou a fórmula. Estando nula, não há ac
io (a «actio ex stipulatu»). Não havendo actio, não há ius, pois, como sabemos, actio e iu
s em Direito Romano identificam-se. Não havendo ius, SEMPRONIUS (à face do jus civil
e) não tem direito aos 100 sestércios. Ou, argumentando por outra via, para chegar à m
esma conclusão: estando nula a stipulatio, não se «gerou» 'r» a ob+ligatio 35, e, por cons
eguinte, TITIUS não está ob+ligatus; SEMPRONIUS não o tem «seguro»; não está nas «suas mãos»;
m «seu poder». Não pode exigir. TITIUS,
374 Vid. supra 303 e 304. 375 Vid. supra 189216.
sabendo que não está ob+ligatus-mas livre! -, toma uma atitude, não já correcta como de
início quando foi pedir o empréstimo, mas talvez até de arrogância, e... não paga. SEMPRON
IUS recorre ao pretor. Este chama TITIUS à sua presença. Vem; e, ainda na mesma atit
ude arrogante, diz que, de facto, pediu os 100 sestércios a SEMPRONIUS, que recebe
u essa quantia, que tem dinheiro para pagar, mas... como a stipulatio não foi bem
feita, não está obrigado (não está ligado, não está vinculado), e que SEMPRONIUS não tem dire
to de exigir (actio) e por conseguinte... não paga! 0 pretor, o homem sempre domin
ado pela ânsia-de suum cuique tribuere, vê claramente a injustiça que isto representa.
Mas não pode, nesta fase do ius praetorium antes da lex Aebutia de formulis a. 13
0 a.C. (?) (note-se bem, não pode), directamente, conceder protecção jurídica a esta sit
uação social, que bem a merece
não a tem do ius civile. Concretamente, não pode, só por si, conceder uma actio a favo
r de SEMPRONIUS para exigir de TITIUS
pagamento dos 100 sestércios ^. Então o pretor recorre ao
seu imperium - poder de soberania a que ninguém ousa opor-se,
se se opuser, o pretor tem meios para fazer respeitar as suas
ordens, desde as missiones in possessionem, que examinaremos a seguir, até à addicti
o duma manus iniectio (vid. supra 224 20R).
Ordena que TITIUS e SEMPRONIUS façam - até ali mesmo na sua presença, mas não era necessár
io este requisito - uma stipulatio bem feita. Quer dizer, ordena a TITIUS que se
ob+ligue, se vin
cule à face do ius civile, para consequentemente SEMPRONIUS poder exigir (ter uma
actio). Efectuada a stipulatio, nos seus
devidos termos, já TITIUS... perde a arrogância. SEMPRONIUS agora tem uma actio para
forçar TITIUS a cumprir. Uma actio,
concedida não directamente pelo pretor (por isso, não é uma actio praetoria), mas pelo
ius civile, pois deriva da stipulatio
(agora feita, por imposição do pretor). Ora, nesta época, a stipu
376 Na fase seguinte do ius praetorium, isto é, a partir da lex Aebutia de formuii
s a. 130 a.C. (?), já o pretor podia directamente, isto é, só por si, conceder uma act
io a favor de Sempronius; seria uma acho in fartum concepta-vid. infra § 30-c)-1.
308
309
DIREITO ROMANO
1.1 PARTE-TIT. V-CAP. 1.0
latio já era um negócio do ius civile (vid. supra 305 970) ; logo a actio, dela prov
eniente, é uma actio civilis, que podemos denominar genèricamente «actio ex stipulatu».
Este era o modo indirecto de o pretor criar direito, nesta fase do ius praetoriu
m, desde fins do séc. Ill a 130 a.C. (?).
Como a necessidade de recorrer às stipulationes praetoriae derivava geralmente (e é
também a hipótese do exemplo apresentado) do facto de o devedor não ter cumprido a sua
palavra, a sua promessa natural, desde que tinha sabido estar livre, segundo o
ius civile, o pretor - o homem excepcional, com o sentido da justiça e da prudência
-, ao ordenar às partes a realização duma nova stipulatio, não se contenta com uma simpl
es promessa nova («nuda repromissio») do «promissor». Não acredita na sua palavra, porque.
.. já demonstrou não a ter. Exige então ao devedor, além da nova promessa, uma garantia.
E como as garantias pessoais eram as melhores (vid. supra 240), o pretor geralm
ente exige na stipulatio praetoria uma garantia pessoal; uma satisdatio 117, e q
uase sempre em forma de f ideiussio 978. Demonstra claramente tudo isto um texto
de
ULPIANUS-(lib. 70 ad Edietum), D. 46,5,1,5:
Stipu.lationum istarum praetoriarum quaedam [sunt, quae] satisdationem exigunt,
quaedam nudam repromissionem: sed perpaucae sunt, quae nudam promissionem habent
, quibus enumeratis apparebit eeteras non esse repromissiones, sed satisdationes»
979.
177 A satisdatio não é uma cautio (caução) em geral nem uma garantia qualquer, mas apena
s uma garantia pessoal. Cf. Sebastião CRuz, Da «Solutio» 1, cit. 296-310, sobretudo 29
6-301.
378 Vid. supra 242 que espécie de garantia é a fideiussio e em que consiste.
379 «Há algumas destas «stipulationes» pretórias (as caucionais) que exigem uma «satisdatio»
=garantia pessoal), outras uma simples promessa: mas são muito poucas as que contêm
(apenas) uma simples promessa, e, uma vez enumeradas (estas), resultará que as res
tantes não são meras promessas, mas «satisdationes».
Sobre a problemática das stipulationes praetoriae vid. as bem elucidativas notas c
ríticas de GAUDEMET em Labeo 6(1960) 405.410, e de A. GUARINO em Labeo 8(1962)
214.219.
b) Restitutiones in integram
É um expediente do pretor 380 para obter um efeito contrário ao das stipulationes pr
aetoriae.
Há um negócio jurídico, injusto mas válido perante o ius civile, que origina uma situação, p
rotegida por conseguinte pelo ius civile e que não o merece. Imaginemos uma stipul
atio formalmente bem feita, mas realizada sob coacção grave.
Exemplo - Caius diz a Titius: ou celebras comigo uma sti
pulatio declarando que me ficas a dever 1000 sestércios, devendo pagar-me daqui a
30 dias ou eu mato-te. Fazem a «stipulatio»: «spondes milhai dare post 30 dies mille s
estertiorumg» - pergunta Caius; «spondeo» - responde Titius, com voz trémula, verdadeira
mente coagido. A obligatio «gerou-se» fatalmente (vid. supra 304) : Titius está ob+lig
atus a dar os 1000 sestércios, e Caius tem uma actio (a actio ex stipulatu) para e
xigir o pagamento, caso não haja cumprimento voluntário por parte de Titius. Mas Tit
ius, sentindo que realmente não deve nada, passados os 30 dias, não paga. Caius vem
perante o pretor exigir os 100 sestércios. 0 pretor inteira-se de tudo. Reconhece
que será uma injustiça forçar Titius a pagar; mas, por outro lado, não pode deixar de re
conhecer que o pseudo-credor Caius tem uma actio, concedida pelo ius civile (a a
ctio ex stipulatu), a seu favor,
Como evitar, também aqui, a aplicação injusta do ius civile?
Dum modo semelhante, mas oposto, ao verificado com a
stipulatio praetoria. - Baseado no seu imperium (poder de sobe
380 Se, depois, ou já antes outros magistrados Cf. u E o senado RRoAu, até tio tupzi
oopnui lus
romanas usaram este expediente, é questão duvidosa.
Diritto Privato Romano (Roma, 1961) 246 3 e Manglio SARGENT!, Sradi sulla «Restitu
tio in Integram» (Milão, 1966) 4.
Não há ainda uma monografia de conjunto sobre a restitutio in integrum, também denomin
ada «integri restitutio». Por isso, certos problemas continuam bastante confusos (cf
. M. SARGENTr, Studi, cit. 5 ss. e vid. M. KASER em Labeo 12[1966] 235-250).-Além
do de SARGENn, são estudos importantes sobre esta matéria, o de Ernst LEvy, Zur nach
klassischen in Integram Restitutio em Gesanunelte Schri¡ten I (Colónia. 1963) 446-49
2, o de Giuliano CERVENCA, Studi Vari sulla «Restitutio in lntegrum» (Milão,1965), e o
de Luigi RAGGI, La Restitutio in Integrum nela cognitio extra ordinem (Milão,] 96
5).
310
311
DIREITO ROMANO
1.° PARTE-TIT. V - CAP. 1.'
§ 29
rania a que ninguém ousa opor-se, aliás ele tem meios para se fazer respeitar -decre
tando uma missio in possessionem [vid. infra 326] ou até uma manus iniectio [vid.
supra 18921])-, assim como nas stipulationes prcetori v o pretor ordena que as p
artes se ob+liguem (se vinculem, se obriguem), também aqui, nas restitutiones in i
ntegrum, ele, de início, ordena que as partes se des+ob+liguem (se desvinculem, se
desatem uma da outra). Numa palavra, «desfaçam» a stipulatio efectuada
Isto, de inicio, e talvez durante muito pouco tempo. (Este modo de proceder do p
retor integrava-se perfeitamente na hoje chamada teoria do «contrarius actus>, que
r dizer, o efeito dum negócio jurídico era inutilizado através dum outro negócio jurídico,
contrário àquele que originou tal efeito). Numa fase logo a seguir, o pretor já nem s
equer tem o incómodo de mandar desfazer a stipulatio (ou de ordenar a celebração dum n
egócio jurídico contrário); considera essa stipulatio (bem como outro qualquer negócio j
urídico) juridicamente inexistente, isto é, de valoração jurídica... zero; portanto, como
se não tivesse sido celebrada.
«Desfeita>, desaparecida a stipulatio, ou considerada inexistente, não há obligatio pa
ra Titius e nem há actio para Caius. As coisas voltam, «restituem-se integralmente>
ao estado em que estavam, antes de ter sido concluída a forçada «stipulatio>: Titius não
deve nada a Calus, e Caius não tem qualquer direito para exigir coisa alguma a Ti
tius. Verifica-se
uma restitutio in integrum.
Conhecida a finalidade da restitutio in integrum -subtrair à protecção do ius civile u
ma situação social que a tem, mas que, de facto, não a merece - analisemos o seu conce
ito e vejamos depois algumas das
suas espécies.
I -Conceito de «restitutio in integrum»
Comecemos por examinar o significado natural das pala
vras 381.
«Restitutio - Deriva de restituere; e restituere procede, em virtude duma apofonia
em sílaba interior aberta, de re+statuere=repor no lugar ou estado anterior 3d`.
Por conseguinte,
381 Mais uma vez chamamos a atenção para o seguinte: nunca devemos omitir a noção etimológ
ica, ao tentarmos descobrir o significado de qualquer instituto jurídico. As palav
ras estão carregadas de sentido. Sobretudo em Direito Romano, não
surge uma expressão nova, desde que não haja uma ideia nova a expressar; e exprime-s
e geralmente duma forma realista ou até materialística. Cfr. A. D'ORs, em Anuario de
Filosofia dei Derecho Romano, 1(1953) 307.
382 Restituere (re-statuere) =«rursus statuere; in pristino loco aut statu reponer
e» - FORCELLI NI, Lexicon Totius Latinitatis tom. IV (Pavia, 1940) 119 c. 2.
no aspecto jurídico «desfazer» um negócio jurídico injusto, e, como consequência, pôr as cois
s como elas são, como devem estar, e como se encontravam numa situação anterior à celebr
ação desse negócio jurídico injusto, embora válido perante o ius civile. Restabelecer o st
atus jurídico antecedente, já que os factos não podem converter-se em não-factos, nem me
smo por força dum decretum do magistrado:
«In integrum» - Por inteiro, integralmente, de novo - como estava antes.
Portanto, segundo uma definição nominal, restitutio in integrum (também designada «integ
ri restitutio») consiste no resultado de colocar as coisas no seu lugar, como cons
equência de se considerar inexistente o negócio jurídico que originou tal situação; voltar
tudo à situação anterior à celebração desse negócio jurídico.

Definição real (conceito) - Restitutio in integram ou integri restitutio é um expedien


te do pretor, baseado (esse expediente) no seu «imperium», a considerar como inexist
ente um negócio jurídico injusto mas válido perante o «ius civile», fundando-se (o pretor)
em circunstâncias de facto para tomar essa
disposição 383.
Inexistente, quer dizer, esse negócio jurídico (v. g. uma stipulatio) fica sem qualq
uer aparência jurídica (de stipulatio) e portanto não se produz nenhum efeito jurídico,
nem directo nem Indirecto (da stipulatio), porque esse negócio jurídico ou foi «desfei
to» (logo... não existe; trata-se
quase duma inexistência material; assim se procedia de início); ou (em época de concepções
jurídicas já menos materialfsticas) é considerado pelo pretor como não tivesse sido rea
lizado.
E inexistente, porque o pretor, através dum decretum'", considera esse negócio jurídic
o como não efectuado («ratum non habebo>). De início, através da rest. itt int., o negócio
jurídico ficava [a ser) inexistente, ou
porque as partes, por imposição do pretor, desfaziam elas próprias esse tal negócio (des
livavam-se uma da outra, faziam desaparecer o vínculo, o «nó jurídico>) ou porque o pret
or, ele próprio ia «desligar>, desvincular.
383 Na última fase do ius praetorium, isto é, a partir da lex Aebutia de formulis a.
130 a.C.(?), o pretor pode atingir a mesma finalidade ainda mais fàcilmente: ou c
oncedendo uma exceptio (cláusula favorável ao demandado pela qual inutiliza a preten
são do demandante) ou mediante denegatio actionis, baseado em que não reconhece
qualquer direito ao credor («actionem denegabo»), Vid. infra 336.
384 Neste ponto, adere-se fundamentalmente à tese de CARRELLI. Vid. G. CERVENCA, S
tudi Vari, cit. 25 ss.
312
313
DIREITO ROMANO
1.° PARTE-TIT. V-CAP. 1.^
§ 29
II-Espécies de «restitutiones in integrum» - D. 4,1,1 e -4,1,2
Há várias espécies de restitutiones in integrum. A algumas delas se referem ULPIANUS e
PAULUS, nos seguintes fragmentos
ULPIANUS - (lib. 11 ad Edictum), D. 4,1,1:
Utilitas huius tituli non eget commendations; ipse enfim se ostendit. Nam sub ho
c titulo plurifariam praetor hominibus vel lapsis vel circumscriptis subvenit, s
ive metu sive calliditate sive aetati sive absentia inciderunt in captio
nem» ,85
PAULUS- (lib. 1 Sententiarum), D. 4,1,2:
...sive per status mutationem aut iustum errorem» ~A5
Das diversas r. i. i., notemos as restitutiones:
- ob metum, que era concedida a favor daquele que celebrou um negócio jurídico sob c
oacção grave;
- ob dolum, concedida àquele que realizou um negócio jurídico em virtude de dolo, quer
dizer, porque foi enganado (vid. infra 317-dolos malas) ;
- ob errorem, concedida ao que efectuou um negócio jurí
dico em virtude dum erro desculpável, isto é, porque se equivo
cou, sem que esse equívoco deva considerar-se indesculpável;
- ob aetatem, era concedida aos menores de 25 anos (quer
185 «A vantagem deste título não precisa de demonstração; é evidente. Com efeito, sob este tí
ulo o pretor atende (protege), de várias formas, não só as pessoas (que foram) enganad
as mas também as (que se encontram) em determinadas circunstâncias (isto é, as que), f
oram vítimas quer duma coacção (=«restitutio in integrum ob metum»), quer de malícia (dolo o
u fraude, e portanto respectivamente «restitutio in integrum ob dolum» e «restitutio i
n integrum ob fraudem creditorum»), quer da idade (=«restitutio in integrum ob aetat
em»), quer da ausência («=restitutio in integrum ob obsentiani»), ou (por ter havido) um
a «capitis deminutio» (=restitutio in integrum ob tapitis deminutionem») ou (por ter h
avido) um erro desculpável (=«restitutio in integrum ob errorem»).
fossem ff. quer paterfam.) relativamente aos negócios jurídicos - realizados por ele
s próprios ou pelos seus representantes - que fossem lesivos, em si mesmos, dos In
teresses deles menores;
e notemos sobretudo a r. i. i.
- ob fraudem creditorum (D. 42,8,10,1) - («restitutio in integrum» por causa da frau
de causada a credores).
Este expediente era concedido pelo pretor a favor dum credor contra o devedor ma
s sobretudo contra o directo adqui
rente dos bens do devedor, por este os ter alienado para defraudar o credor. Além
de fraude ao credor, e isto em primeiro
lugar (por isso, esta r.i.i. se denomina «ob fraudem creditorum»), exigia-se também, m
as em segundo lugar, má fé
(quer dizer, conhecimento da fraude que esse negócio originava
para o credor), tanto da parte do devedor alienante como do
directo adquirente.
Note-se que esta espécie de r. i. i. é «ob fraudem creditorum»
e não «ob paupertatem debitoris». A r, i. i. o. f. c. é dada por motivo da fraude (prejuíz
o doloso) causada ao credor, e não pelo motivo do mero empobrecimento do devedor.
Simplesmente, a fraude causada ao credor verifica-se, em geral, havendo tam
bém empobrecimento doloso do devedor, total ou parcial; não apenas mera insolvência 38
6 Todavia, pode haver empobrecimento do devedor, sem que exista fraude (prejuízo do
loso) para o credor; nesses casos, não terá aplicação esta r. i. i. Indiquemos algumas h
ipóteses: a) - se o empobrecimento do devedor, parcial ou total, não é doloso, mas imp
osto, v.g. por um estado de necessidade; b) -se o empobrecimento, mesmo doloso, é
parcial e o devedor ainda fica com bens, de valor superior ou
386 Em rigor, «insolvência» é apenas a falta de dinheiro (pecunia) para pagar,
mas não a falta de bona (bens) em geral, para cumprir os negócios jurídicos. Uma pesso
a pode encontrar-se num estado de insolvente, e ter muitos bens (cf. Sebastião CRu
z, Da «Solutio» 1, cit. 129-131).
«Empobrecimento» significa não ter bens - nenhuns, se o empobrecimento é total; só ter alg
uns, se o empobrecimento é parcial. Acresce, no caso da fraude aos credores, a cir
cunstância de o empobrecimento ser devido a um acto doloso.
Para não nos afastarmos muito da terminologia corrente, usaremos aqui, não a palavra
«insolvência» nem a palavra «empobrecimento», mas a expressão insolvência-empobrecimento, is
o é, insolvência =empobrecimento.
314
315
DIREITO ROMANO
11 PARTE-TiT. V-CAP. 1°
§ 29
Ì;
igual ao montante da dívida; c) -se o empobrecimento é total e doloso, mas o credor
não tem qualquer prejuízo com isso, porque v.g. existe um fiador válido; como este, em
Direito Romano (clássico, e só estamos a atender agora a esta época), não goza do benef
icium excussionis (vid. supra 241 188), o credor pode demandá-lo à vontade e, portan
to, em nada fica prejudicado.
Em resumo: não é qualquer empobrecimento do devedor que pode justificar a aplicação dest
a r. i. i., mas só o empobrecimento do devedor que origine uma fraude (prejuízo dolo
so) ao credor.
Para se compreender a r. i. i. ob fraudem creditorum é preciso atender bem a três co
isas: I - dolo; II - fraude; III - má fé.
I -DOLO («DOLUS>)-0 termo não é unívoco. Tem várias significações, mesmo só em Direito Romano
otemos apenas duas.
a) - Num sentido amplo, significa a intenção má de prejudicar outrem, Isto é, não só a vonta
de de realizar o acto mas também a consciência de que esse acto é lesivo dos direitos
ou interesses de outrem; verifica-se um Ilícito Intencional. As fontes usam, a est
e propósito, as expressões sciens dolo mato, voluntas, data opera, ex professo, etc.
Na significação (intencional-causal) mais antiga de dolus, este surge contraposto a
casus.
A valoração do dolus não parece que obedeça a um critério de indagação subjectiva segundo um
aradigma abstracto de responsabilidade, mas a uma valoração do comportamento do agen
te, tendo por base o facto concreto.
b) -0 dolo como vício da vontade. «Dolus bonus> e
«dolos malus>-O dolo, como vicio da vontade,
significa os artifícios empregados para que outrem se man
tenha num certo erro e manifeste a sua vontade num deter
minado sentido, que, a saber a verdade, ou não manifestaria
qualquer vontade ou então manifestaria em sentido diferente.
It clássica a definição de LABEO, recordada por ULPIANUS-lib. 11 ad edictum (D. 4,3,1,
2):
«...omnis calliditas, fallacia, machinatio ad circumve
niendum, fallendum, decipiendum alterum adhibita> 387.
Há uma distinção de dolus bonus e dolus malas que se encontra nas fontes; mas, ao que
parece, os juristas clássicos não lhe atribuiram grande importância; por isso, a roman
istica sempre olhou para essa distinção com... cepticismo.
L
ULPIANUS-eod. lib. (D. 4,3,1,3) refere-se a ela:

«Non fuit autem contentus praetor dolum dicere, sed


adiecit malum, quia veteres dolum etiam bonum dice
bant et pro sollertia hoc nomen accipiebant, maxime
si adversus hostem latronemve quis machinetur> 388.
a) - Dolus bonus-Seria uma expressão para indicar os artifícios usados para defesa d
e interesses legítimos (principalmente) contra o inimigo ou contra o ladrão; é assim c
omo que uma espécie de meio extraordinário em «legitima defesa>.
Q) - Dolus malus (ou simplesmente dolos) -Segundo a grande maioria dos textos ju
rídicos e de todos os textos epigráficos, a expressão «dolus malus> é utilizada:
- para indicar a vontade consciente de transgre
dir;
para acentuar a intencionalidade da lesão (do
acto), e essa intencionalidade, por vezes, era
ainda sublinhada pelo termo sciens (sciens dolo
malo).
Aqui, na r. i. i. ob fraudem creditorum, quando se fala de dolo - o empobrecimen
to doloso do devedor, a fraude é um prejuízo doloso-, entende-se o termo na primeira
acepção, Indicada na alin. a), pág. 316.
Mas quando se fala, por exemplo, da r. i. i. ob dolum, já deve entender-se naquela
acepção, apontada na alin. b) da pág. anterior e analisada na sub-alln. p) desta pág.
II - FRAUDE («FRAUS>)-E um prejuízo doloso. Portanto, na fraude há dois elementos: pre
juízo (ou dano) e dolo (ou vontade e consciência de prejudicar).
387 «(0 dolo) é toda a astúcia, falácia ou maquinação, utilizada para iludir, seduzir ou eng
anar alguém».
388 «0 pretor não ficou contente dizendo apenas dolo, mas acrescentou mau ('dolus ma
lus'), pois os antigos também diziam dolo bom ('dolus bonus') e tomavam este termo
no sentido de artifícios (que) alguém (utiliza), quando sobretudo maquina contra um
inimigo ou um ladrão».
316
317
DIREITO ROMANO
1.* PARTE - TIL V - CAP. 10
§ 29
E assim não é fraus:
1) o dano originado pela natureza, por um eventus naturae, v.g. por uma tempesta
de, pois, tratando-se dum prejuízo causado, não por uma pessoa (mas por um ser sem l
iberdade, que age necessáriamente), não pode haver também dolo, pois este depende semp
re dum Ser livre; por isso, dizemos correctamente, por exemplo, «o mau tempo preju
dicou (ou danificou) (as sementeiras de) Titius, e não «o mau tempo defraudou Titius
>;
2) o dano originado por uma pessoa, em virtude dum equívoco ou erro ou até em virtud
e duma simples permissão, ou até por força dum estado de necessidade, pois é exigido, pa
ra a existência da fraus, que o dano seja praticado com dolo, isto é, com a intencio
nali. dade (vontade e consciência) de prejudicar
De início, o elemento «dano», «prejuízo», era o mais relevante da fraude. Há mesmo quem afirm
que, originàriamente, fraus tinha apenas ou quase só esse significado - dano, prejuíz
o.
Diríamos grosso modo através duma equação: na época arcaica, fraude= 90% dano + 10% dolo (
Vid. XII Táb. 111 6); na época clássica, fraude= 50% dano + 50% dolo; na época post-clássi
ca, fraude = 10% dano+90% dolo. Foi na verdade nessa época de confusão, a post-clássic
a, que o dolo passou a ser o característico, uma proprietas (altamente significati
va, a simbolizar e a distinguir o todo) da fraus. Esta, em geral, é a significação vul
garmente (em linguagem não-jurídica) atribuída à fraude: - f raus =dolus.
Mas desde que fraus é identificada com dolus, e como dolus, além do significado de i
ntenção e consciência de prejudicar (acepção que apresentámos supra 316 ti.' I, aí, a)), tem,
além de outras, também a significação de astúcia, falácia (vid. supra n.° I, al. b)), então f
s principiou a significar dolus, quer na primeira acepção quer na segunda. Fraus = d
olus, fallacia (cf. FORCELLINI, Lexicon Totius Lattnitatis, cit. tom. II 534 e.
3).
Todavia, o completo (e verdadeiro) significado de fraus - - prejuízo, causado livr
emente, com dolo - continua hoje nas palavras compostas de fraus, v.g. fraudare
(= laedere, prejudicar) e defraudare (= defraudar). Simplesmente, como fraus foi
identi
ficada com dolus (e dolus significando não só «intenção e consciência de prejudicar> mas tam
bém «astúcia, artimanhas, certas
espertezas destinadas a enganar outrem,), agora fraudare e defraudare 799 signif
icam «alguém, empregando para isso a fraude
As duas palavras significam o mesmo. Simplesmente, «de+fraudare» tem uma significação ma
is acentuada que fraudare. A partícula, pré-verbal «de», neste caso, tem um sentido de i
ntensidade (cf. ERNOUT-MEILLET, Dictionnaire Étymologique de Ia Langue Latine. His
toire des Mots4 (Paris,1959) 165 c. 11). Portanto, a nossa palavra «defraudar», que
procede directamente de defraudare, em rigor, significa «prejudicar intensamente e
com malícia, privar enormemente e com dolo».
(dolo, astúcia, malícia), privar outrem duma coisa devida ou em expectativa>.
E assim, «fraus creditorumn, e «defraudare creditores> significam respectivamente «pre
juízo dos credores> e «privar os credores de'bens> (do devedor), sobre os quais eles
(os credores), tinham expectativas, isto é, esperanças bem fundadas nesses bens, pa
ra através deles, se fosse necessário, se efectuar o pagamento dos seus créditos; mas «p
rejuízo dos credores> e «privar os credores de bens do devedor», tudo efectuado com a
intenção e a consciência de prejudicar, e, para isso, empregando a astúcia, artimanhas,
maquinações.
III - MA FE («MALA FIDES») - Significa, aqui 3B0, «scientia fraudis, consciência da frau
de>, isto é, no caso concreto da r. i. i. ob fraudem creditorum, conhecimento bem
consciencializado da fraude (prejuízo doloso) causada ao credor.
Boa fé («bona lides,), no caso sub iudice, será, pois, a igno
ráncia da fraude causada ao credor. Anotemos duas observações.
1- A boa fé não consiste na ignorância do empobrecimento do devedor. E que pode haver
empobrecimento do devedor e, em Direito Romano, nem sequer existir fraude - -se
esse empobrecimento não prejudica o credor, v.g. se há uma garantia, pessoal ou real
, bem segura. - (Havendo, porém, fraude para o credor, é natural que tem de existir
empobrecimento do devedor) -
Existindo empobrecimento do devedor, o conhecimento ou a ignorância da existência de
sse empobrecimento é irrelevante, tanto para a boa fé como para a má fé. Vejamos. Se há co
nhecimento (bem consciencializado) da fraude causada ao credor, há sempre má fé, quer
se conheça quer se ignore (e seria bastante difícil a verificação desta última hipótese...)
o empobrecimento do devedor. Se há ignorância da fraude causada ao credor, há sempre b
oa fé, quer se ignore quer se conheça o empobrecimento do devedor.
390 A expressão «mala (ides» teve a sua evolução conceitual. Não é unívoca. Tem significados
s, conforme certas épocas. Quando foi invocada para o instituto da r. i. i. ob fra
udem cred., tinha nessa altura a significação que lhe damos no texto, e é essa que lhe
deve ser atribuída hoje, quando se fala de institutos provenientes da r. i. L ob
cred. (Vid., sobre esta evolução, M. BAPTISTA, Dalla «Fide.s» alfa «Bona Fades» e «Mala Fades
Perusa,1966).
A mala fides, com o significado apresentado no texto, é um elemento (como que o se
gundo) do dolus-«intenção (de prejudicar) e consciência de prejudicar».
399
I i
I
318
319
DIREITO ROMANO
1.' PARTE-TIT. V-CAP. 1.' 129
2-Para existir boa fé, basta a verificação da ignorância de um dos elementos da fraude c
ausada ao credor. E assim, há boa fé: a) se há conhecimento do prejuízo ou dano causado
ao credor, mas ignorância da existência de dolo; b) se há ignorância do prejuízo ou dano,
causado ao credor, embora exista um certo conhecimento de dolo (enquanto intenção de
prejudicar, desejo de prejudicar) 391
EM RESUMO
A) - Para que tenha aplicação a restitutio in integram
ob fraudem creditorum, é necessário que haja:
1-fraude-prejuízo doloso - para o credor;
2 - má fé - consciência (conhecimento bem consciencializado) da fraude-tanto da parte
do devedor alienante como sobretudo da parte do directo aiquirente,
B) - A restitutio in integram ob fraudem creditorum
só se aplica em relação ao directo adquirente.
Contra os ulteriores adquirentes:
1- se estavam de má fé, havia um interdictum fraudato
rium (D. 42,8,10pr.) ;
II -- se estavam de boa fé (e aqui importa notar - quer
se trate de ulterior adquirente quer mesmo de directo adquirente), temos a disti
nguir - a) - se o negócio era oneroso, permanecia eficaz;
,Q) - se era gratuito, existia um interdictum utile
(D. 42,8,6,11).
Tudo isto se compreende fàcilmente através do gráfico
seguinte, entendido em «termos hábeis».

391 Sobre este tema, vid. como literatura mais recente, M. HORWAT, Osservazioni
sulla «bona fides» nel Diritto Romano Obbligatorio em Studi Arangio-Ruiz I (Nápoles,19
55) 423-443, L. LoMBARDt, Dalla «Fides» alia «Bona Fides» (Milão, 1961) e F. WIEACKER, Zum
Ursprung der abone fidei iudicia» em SZ 80(1963)
20-41.
1.a Hipótese (restitutio in integrum ob fraudem creditorum, «restitutio in integrum» p
or causa da fraude [causada] a credores) -A deve 100 sestércios a B. Para não pagar,
pois deseja conscientemente prejudicar B, A provoca dolosamente o seu estado de
insolvência-empobrecimento alienando todos os seus bens a C. Este, ao adquirir es
ses bens, sabe do prejuízo doloso que isso vai causar a B. Quer dizer, há má fé (= «scient
ia fraudis»), não só da parte de A (devedor alienante) como sobretudo da parte de C (d
irecto adquirente).
Nesta hipótese, o negócio de alienação entre A e C era válido e eficaz à face do ius civile.
Isso, porém, seria uma iniquidade. 0 credor B seria privado de todos os bens do d
evedor A ou pelo menos dos suficiente, ou bastantes, sobre os quais ele (credor)
tinha fundadas esperanças para poder socorrer-se, no
B
má fé - r. i. i. ob fraudem creditorum
má fé - interdictum f raudatorium
100
F
G
3 á Hipótese ou C
4.a Hipótese
boa fé e o negócio é oneroso, esse negócio continua eficaz
H ou C
boa fé e o negócio é gratuito - interdict um utile
320
321
DIREITO ROMANO
1.° PARTE-TIT. V-CAP. 1.°
§ 29
caso de necessidade, a fim de que se efectuasse o pagamento dos seus créditos. 0 p
retor concede, então, para estas situações uma restitutio in integrum «por causa do prej
uízo doloso (causado) a credores» (=«ob fraudem creditorum»). Ordena, neste caso, a A (d
evedor-alienante), mas sobretudo a C (directo-adquirente) que «desfaçam» eles próprios o
negócio efectuado (pelo menos, devia ter sido assim, lá muito no princípio, e continu
a assim o significado-resultado da restitutio iun integram 392),
que se des+liguem, se desvinculem; e, como consequência, os bens regressam ao esta
do anterior; anterior à realização desse negócio, isto é, voltam à propriedade e à posse de A
Portanto, a restitutio in integrum ob fraudem creditorum era um expediente criad
o pelo pretor baseado no seu imperium, dado a favor do credor (por conseguinte,
a favor de B) contra o directo 1A3 adquirente dos bens do devedor (logo, contra
C), declarando inexistente a alienação efectuada entre A e C, fundando-se concretame
nte em duas razões de facto: I-ter havido fraude ao credor B; II - má fé da parte quer
do devedor alienante A quer sobretudo do directo adquirente C.
2.a Hipótese (interdictum fraudatorium, interdito fraudatório) - Mas os bens do deve
dor A podiam já ter passado das mãos do directo adquirente C para outros - D, E, F,
etc.394,
392 Vid. supra 312. Mais tarde, chegava-se a este mesmo resultado duma forma tal
vez mais simples, mas certamente menos significativa: o pretor considerava esse
negócio (portanto o efectuado entre A e C) como não realizado, e, por conseguinte co
mo inexistente.
393 Chama-se directo adquirente, porque entre ele C e o devedor-alienante A não se
interpõe nenhum outro; já os subsequentes serão chamados ulteriores adquirentes (D, E
, F e G), pois entre eles e o devedor-alienante A existe um ou vários (pelo menos
um, o directo adquirente C).
394 Podiam ter passado, ou porque o credor B se tivesse descuidado de pedir imed
iatamente a providência da restitutio in integrum ob fraudem creditorum contra C o
u porque a alienação ou alienações de C para D, E, etc., foram feitas muito ràpidamente e,
quanto possível, em segredo.
322
que são portanto ulteriores adquirentes, e, nesta 2.8 hipótese, também estão de má fé, com o
directo adquirente. Quer dizer, igualmente conhecem o prejuízo doloso causado ao
credor B, resultante da alienação efectuada em A e C.
Contra os ulteriores adquirentes - D, E, F e todos os outros que se imaginem-, c
oncedia o pretor um interdictum f raudatorium, isto é, uma ordem de tipo sumário bas
eado no seu imperium [e justificada também pela fraude (=prejuízo doloso, por isso é c
hamado «fraudatorium») causada ao credor, e pela má fé de parte a parte com que o ulteri
or ou ulteriores adquirentes efectuaram a alienação ou alienações], para que os bens, se
m mais considerações, de momento - isto é, sem atender se o negócio era válido ou nulo, ef
icaz ou ineficaz, ou até inexis
tente ou existente -, regressarem imediatamente ao património do devedor, portanto
de A.
A situação dos ulteriores adquirentes (D, E, F, etc.) é precisamente a mesma do direct
o adquirente (C), por todos se encontrarem de má fé. E então... por que motivo o preto
r concedia (sempre a favor do credor), contra o directo adquirente uma restituti
o in integrum (cob fraudem creditorum»), contra os ulteriores adquirentes um intcr
dictum («frauda torium»)
Os romanistas não acertam com a justificação. Há várias opiniões; nenhuma delas é convincente
A relação da restitutio in intepnum ob fraudem creditorum com o interdictum fraudato
rium-identificação? separação? nesta última hipótese, qual a justificação ? -é um dos problem

ceis, que já vem sendo discutido desde o séc. XVI, com B.1ROS. Em seguida, aparecera
m as opiniões de CuJaCIO, LENEL, SOLLAZZI, IMPALLOMENI. Depois, vieram as achegas
de SEGuE, DOES, SEIDL,
KASER, etc, Recentemente (Setembro de 1963), J. A. AuKUM apresentou, no XVIII Co
ngresso Internacional da aSocieté d'Histoire des Droits de l'Antiquité», uma comunicação i
ntitulada <Porquoi le Droit Romain Classique a-t-il connu l'interdit fraudatoire
à coté
323
I
DIREITO ROMANO
1` PARTE -TIT. V-CAP. 1.° 6 29
de ia `restitutio in integram ob fraudem'?>, que despertou muito
interesse 9~',.
Hoje, é já considerado ponto assente: na época clássica, a par da r. i. i. ob f. credito
rum havia também, e como algo distinto, o interdictum fraudatorium.
Para quê estes dois expedientes do pretor diferentes? Pois se os ulteriores adquir
entes (no gráfico apresentado, D, E, F, etc.) estão nas mesmas condições do directo adqu
irente (C), por que não se aplica a todos a restitutio in integram ob fraudem cred
itorum?
Não há ainda uma opinião convincente.
Parece-nos que a solução talvez se encontre na natureza íntima, na razão de ser da própria
restitutio in integram.
Conforme já dissemos (vid. supra 312), na restitutio in integrum, lá muito de início,
eram as próprias partes que «desfaziam» o negócio efectuado (e cuja execução constituiria um
a iniquidade), «desfaziam», claro, por imposição do pretor. Pois bem, esse «desfazer» o tal
negócio era muito fácil realizar-se entre o devedor-alienante (no gráfico apresentado,
A) e o directo adquirente C. Mas quando fossem 2, 3, 10, 20 ou mais ulteriores
adquirentes? Como é que eles, todos, iam «desfazer» os respectivos negócios celebrados?-
(E tinham de ser todos, para que se chegasse ao devedor-alienante, sem que pelo «c
aminho» ficasse um com o seu negócio por «desfazer>, aliás esse podia sempre reclamar; é a
lgo semelhante à actualização do registo duma propriedade, em que de permeio faltam vári
os averbamen
tos). -Isso tornava-se:
-ou muito difícil, pois teriam de vir todos à presença do pretor, ou pelo menos de rec
eber todos uma intimação do pretor;
- ou até impossível, pois alguns podiam já ter morrido ou estar ausentes em parte ince
rta.
Então o pretor, prescindindo de fazer considerações acerca do valor (existéncia ou inexi
stência, validade ou nulidade, eficácia ou ineficácia) do .,cgócio illri, 2' realüado, dá um
a ordem sumária (interdictuni) para que os bens, es iem em mãos dc que ulterior adqu
irente de má fé estiverem, voltem para a propriedade e posse do devedor, a fim de qu
e este já possa pagar ou satisfazer as suas dívidas 396,
395 Esse estudo, com leves alterações, intitulado «Interdictum fraudatorium» et «Restituti
o in Integrum ob fraudem», encontra-se publicado em Synteleia Arangio-Ruiz (Nápoles,
1964) 779-785.
396 Solvere (pagar) e satisfacere (satisfazer) são coisas distintas. Cf. Sebastião C
RUZ, Da «Solutio» I, cit. 227-328.
3.a Hipótese (o negócio continua eficaz) - Suponhamos
agora que o directo adquirente C ou um ulterior adquirente qualquer (no caso rep
resentado, G) recebe os bens dum dos adquirentes de má fé (e tanto pode ser do direc
to adquirente C como dum dos ulteriores adquirentes D, E, F, etc.). Este G (ou m
esmo C) está de boa fé (isto é, ignora a fraude causada ao credor B), e, além disso, o n
egócio que efectuou foi a título oneroso.
Pois bem; esse negócio continua não só válido à face do ius civile mas também eficaz, mesmo
perante o ius praetorium.
Aliás, haveria uma incerteza contínua no comércio jurídico, que, evidentemente, efectua
negócios só a título oneroso.
4.° Hipótese (interdictum utile) - Consideremos nesta hipótese que o directo adquirent
e C ou um ulterior adquirente de boa fé (no caso representado, H) tinha recebido d
um adquirente de má fé (do directo adquirente C ou dum outro posterior D, E, F, etc.
) os bens, mas a titulo gratuito 3BP.S8B.
Neste caso, o pretor, depois de se inteirar do estado da questão, isto é, com conhec
imento sumário da causa (causa cognita), concedia a favor do credor B um interdict
um utile 400, para que os bens alienados regressassem imediatamente ao património
do devedor A, e assim ele (credor) já os pudesse executar e desta forma satisfazer
os seus créditos.

Na época justinianeia, estes expedientes pretórios - a restitutio in integram ob fra


udem creditorum, o interdictum frauda
39'1.399 Se tivesse recebido dum adquirente de boa fé e a título oneroso, a «cadeia» de
inexisténcias de negócios jurídicos parava ai. A certeza do comércio jurídico assim o exig
e. Foi a hipótese 3', acabada de examinar.
«00 É um «interdictum atile», pois é da utilitaspublica -critério que orientava a actividade
do pretor, conforme consta da definição de ias praetorium, D.1,1,7,1 - que se prote
ja mais um credor prejudicado do que se beneficie um donatário.
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325
DIREITO ROMANO
11 PARTE-TIT. V-CAP. 1.°
§ 29
torium e o interdictum utile - fundem-se para darem lugar à actio Pauliana 1°', D. 2
2,1,38,4; esta, por sua vez, originou entre nós os arts. 1033.°-1036.° do Código Civil,
de 1867, e os arts. 610. 612.0 do actual. Para serem bem compreendidos, devemos te
r presente a doutrina acerca da restitutio in integrum ob fraudem creditorum, do
interdictum fraudatorium e do interdictum utile.
c) Missiones in possessionem
A missio in possessionem (embargo de bens) é um meio de coacção, justa, de que dispõe o
pretor. Quantas vezes, temos já dito que o pretor ordena fazer determinado acto, v
.g. uma «stipulatio praetoria», ou desfazer» determinado negócio, v.g. através duma restit
utio in integrum. Pois bem, esse «ordenar do pretor» está sempre protegido pela ameaça d
uma missio in possessionem, dum embargo de bens.
I-Conceito de «missio in possessionem». Espécies
A missio in possessionem é uma ordem dada pelo pretor, baseada (essa ordem) no seu
imperium, autorizando alguém a apoderar-se (apossar-se ou simplesmente deter), du
rante certo
tempo, de bens de outrem (ou pelo menos que estão na posse de outrem), com poderes
de administração e de fruição.
401 Esta designação de «actio pauliana», segundo uns autores (v.g. COLLINET) é uma glosa p
ost-justinianeia; segundo outros (v.g. SOLAZZI), trata-se duma glosa ou interpol
ação préjustiniancia. Cf. J. A. ANKUnt, De Geschiedenis der «Actio Pauliane» (Zwolle,1962)
.
326
Espécies -Missio in rem, se recaía sobre uma coisa determinada ou sobre um conjunto
determinado de bens; missio in bona, se incidia sobre o património duma pessoa ou
sobre um conjunto indeterminado de bens.
II-Modalidade de «missiones in possessionem» quanto à finalidade
1 - «Missio in possessionem rei servandae gratia», se se trata de procurar unicament
e a conservação preventiva desse bem ou bens.
2- «Missio in possessionem ex secundo decreto»,
se o pretor já tinha ordenado alguma coisa e o destinatário dessa ordem dada pelo pr
etor (decretum 402) não tinha cumprido; então o pretor força-o a cumprir, decretando-l
he (é pois um segundo decretum) uma missio in possessionem.
3-«Missio in possessionem executionis». E o modo. ordinário de executar as confessions
in iure e as sententenças -se os responsáveis não cumpriam voluntàriamente -, ordenando
uma mtissio in bona sobre todo o património do confessus ou do condemnatus.

d) Interdicta (os interditos) I - Conceito


Um interdictum (interdito) era uma ordem sumária, dada pelo pretor baseada (essa o
rdem) no seu «imperium», para resolver de momento uma situação que tem a protegê-la pelo m
enos uma aparência jurídica (fumus iuris), ficando porém essa ordem condicionada a uma
possível apreciação ulterior.
402 0 que era um decretum do' pretor e seu confronto com o edictum vid. infra 34
0-b).
327
DIREITO ROMANO
1.1 PARTE - TIT. V - CAP. 1.0
§ 29
0 interdito era concedido ou a pedido dum interessado ou, em caso de interesse púb
lico, a pedido de qualquer cidadão, e então esses interdicta denominavam-se «interdito
s populares».
Os interdicta eram redigidos em termos imperativos: «exhibeas» = (apresenta, mostra)
exibe; «restituas» = (devolve) restitui; «vim fieri veto» = proibo que se faça violência (q
ue se esteja a perturbar alguém).
II - Espécies de «interdicta»
Em virtude das expressões imperativas usadas nas fórmulas dos vários interditos, estes
podiam ser exibitórios, restitutórios e proibitórios.
1 - Exibitórios, se a ordem do pretor se destinava a que alguém apresentasse ou most
rasse, «exibisse» uma coisa.
Fórmula: «quod dolo maio retines exhibeas» («o que retens [ou como proprietário ou como po
ssuidor ou até como simples detentor] com dolo [com a intenção e a consciência de prejud
icar outrem], mostra, apresenta, exibe»).
2 - Restitutórios, se a sua finalidade era ordenar a devolução, a «restituição» duma coisa.
Fórmula: «quod precario ab illo habes, id illi restituas» («aquilo que tens de outrem a
título precário [=que recebeste em virtude de «preces», pedidos insistentes ou pedido hu
milde], portanto que recebeste por favor, restitui-lho»).
3 - Proibitórios, se se destinavam a impedir («proibir») que alguém fosse perturbado no
gozo dum direito que está desfrutando pacificamente,
Fórmula: «quod alter nec vi nec clam nec precario retinet, vim fieri veto» («se alguém detém
uma coisa pacificamente,
isto é, nem pela força nem clandestinamente nem a título pre, ccário, proíbo que seja pert
urbado»).
III - Entre as várias aplicações dos «interdicta», estão os relativos à posse - «interditos p
essórios»
Os interditos possessórios são expedientes do pretor destinados a proteger a posse 1
0-", pois o ius civile não lhe concedia protecção jurídica "14. Não formam, portanto, uma
espécie à parte de interditos (como vimos, as espécies de interditos são apenas exibitório
s, restitutórios e proibitórios), pois alguns interditos possessórios são proibitórios e o
utros são restitutórios, e, em rigor, não há nenhum que seja exibitório. Os interditos pos
sessórios constituem uma das várias aplicações dos interditos.
Classes de interditos possessórios:
1- «retinendae possessionis» (são proibitórios)
2 - «recuperandae possessionis» (são restitutórios)
1 - Interdicta retinendae possessionis (interditos para reter a posse) Estes int
erditos têm por objecto obter o reconhecimento da posse, no caso de perturbação ou incóm
odo por parte de terceiros. Proibir que alguém perturbe a posse pacífica de outrem.
São, portanto, proibitórios. Só se aplicam aos que estiverem a desfrutar uma posse pacíf
ica, isto é, obtida nec vi (nem por violência) nec clam (nem clandestinamente) nec p
recario (nem a título precário, quer dizer, por favor).
403 Possessio (posse), originàriamente, é um «assentamento» (um sentar-se, um «assentar ar
raiais») numa coisa imóvel (concretamente sobre uma parte do ager publicus) sobre qu
e não há dominium.
Possessio traduz-se, pois, num poder de facto sobre uma coisa. Entre posse e pro
priedade há a diferença que existe entre facto e direito; mas, substancialmente, a p
osse nem é acto nem é facto, mas acção do sujeito. Desaparece a posse, se cessa ou se se
interrompe a acção.
Usus (mais amplo que possessio e que precede a possessio) é o exercício dum poder de
facto (isto é, um poder não-jurídico) sobre uma coisa.
Possessio justa ou pacífica é a que foi obtida nec vi (nem por violência) nec clam (ne
m clandestinamente) nec precario (nem a título precário, isto é, por favor concedido e
m virtude de «preces», rogos).
404 0 ius civile não reconhece a possessio (que é filha da prática social) como figura
jurídica; nem a protege. Mas não a ignora; e até se serve dela para efeitos de aquisição
da propriedade por usrrcapio.
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DIREITO ROMANO
1' PARTE - TIT. V - CAP. 1.°
29
Os interdicta retinendae possessionis podem ser uti possidetis e utrubi.
a) - Uti possidetis eram interditos proibitórios concedidos para a defesa da posse
de coisas imóveis.
A quem podia ser concedido o «int. uti possidetis>:
I - ao proprietário civil, isto é, àquele que tinha adquirido a (propriedade da) coisa
por um negócio jurídico, válido à face do ius civile; geralmente, através da mancipatio;
II - ao proprietário natural - o que tinha adquirido uma coisa sem ser através dum n
egócio jurídico, válido à face do ius civile; algo semelhante como hoje, comprar um imóvel
, pagar e não fazer escritura pública;
III - ao precarista - o que possui a título precário, mas só no caso de ser perturbado
na sua posse por alguém, diferente do dono da coisa, pois este tinha contra o pre
carista o «int. rec. poss. de precario», como examinaremos infra 331;
IV - ao credor de um penhor sobre coisa Imóvel.
je) - Interdicta utrubi eram interditos proibitórios concedidos para a defesa da p
osse de coisas móveis.
A palavra «utrubi> significa «em qual dos dois lugares> ou «em qual de vós dois> esteve
o objecto mais tempo, nos últimos 12 meses? -É que até Justiniano, este interdictum er
a concedido ao possuidor que tivesse ocupado a coisa mais tempo, durante os último
s 12 meses. A partir de Justiniano, para evitar a dificuldade da prova desse tem
po, era concedido, como no caso do «int. uti possidetis>, ao actual possuidor.
A quem podia ser concedido o «int. utrubi>:
I - ao ptesumível possuidor;
II -, ao sequester - pessoa imparcial, a quem se con
fiava em depósito uma coisa, sobre que exis
tia litígio, até se discutir em juizo e deter
minar a sua propriedade 405;
III - ao credor de um penhor sobre coisa móvel.
4R5 Sobre este caso anómalo de posse pelo sequester vid., por todos, Gerardo BROGG
INI, Introduction au Sequester em Mét. Meylan l. Droit Romain (Lausana, 1963) 43-6
3.
Carácter duplo ou simétrico dos interditos «uti possidetis> e «utrubi> - (GAIUS IV 160).
Os interditos podem ser: simples e duplos ou simétricos.
Simples são aqueles, em que há um demandante e um demandado. Isto verifica-se, em ge
ral, com os interds. exibitórios e com os interds. restitutórios.
Duplos ou simétricos, aqueles em que, rigorosamente, não há um demandante e um demanda
do, mas as duas partes são consideradas quer como demandantes quer como demandados
. Isto acontece com alguns interditos proibitórios, concretamente com os interds. «u
ti possidetis> e «utrubi>. Estes dois interditos apresentam uma estrutura simétrica,
pois os 2 adversários litigantes ocupam formalmente a mesma posição - um diz «eu estou
a possuir,, e o outro diz igualmente «eu estou a possuir> -, e trata-se de saber q
uem verdadeiramente possui. Portanto, em rigor, não há um demandante e um demandado,
pois tanto um como outro ocupam a posição quer de demandante quer de demandado.
Isto resulta difícil de resolver, sobretudo quando um reconhece que o outro possui
, agora: mas obteve a posse vi ou precario, expressões, cujo significado vamos exa
minar já a seguir.
2 - Int'erdicta recuperandae possesionis (interditos para recuperar a posse) -Es
tes interditos possessórios são restitutórios. Destinam-se, como a expressão indica, a r
ecuperar a posse; de alguma forma perdida, pelo menos momentâneamente, pelos segui
ntes factos:
-ou porque alguém entregou, por favor, uma coisa a outrem, por certo tempo, e este
agora recusa-se a devolvê-la, e então para o obrigar a restituir há o «interdictum recu
perandae possessionis de precario»;
- ou porque alguém, que tinha obtido a posse duma coisa, de uma forma normal, foi
privado dela pela violência, então contra quem se apoderou à força existe o «interdictum r
ecuperandae possessionis unde vi»;
- ou, finalmente, porque alguém, embora tendo obtido a posse pela violência, foi, de
pois, esbulhado pela força armada, existe contra este (que usou homens armados par
a expulsar o outro que tinha conseguido a posse pela força simples) o «interdictum r
ecuperandae possessionis vi armata».
330
331
DIREITO ROMANO
1., PARTE-TIT. v-cAp. 2.
§ 30
Capítulo 2.0 B) -EXPEDIENTES DO PRETOR, A PARTIR DE 130 a.C., BASEADOS NA SUA «IURIS
DICTIO»
1-Exceptio e denegatio actions
2 - Actiones praetoriae I - in f actum conceptae;
II - f icticiae; III - utiles; IV - adieetieiae qua
litatis
SUMÁRIO - 30. a) Posição do pretor na organização dos processos, antes
da lex Aebufia de formulis (a. 130 a.C.?); carácter das «legis actiones»
b) Posição do pretor depois da lex Aebutia de formulis; carácter do processar «per formu
las» I Conceito de fórmula processual 2 Partes da fórmula processual
c) Análise muito breve dos vários expedientes
1 Exceptio e denegatio actionis
2 Actiones praetoriae: I - «in factum conceptae»;
II - «ficticiae»; III - eutiles»; IV - «adiecticiae qua
litatis»
a) Posição do pretor na organização dos processos, antes da «lex Aebufia de formulis» (a. 13
0 a.C.?); carácter das «legis actiones»
30. 0 sistema jurídico romano primitivo de processar, e que durou até cerca do ano 1
30 a.C. como forma única, denominava-se «sistema das legis actions» (acções da lei). Quer
dizer, as actuações processuais tinham de se acomodar rigorosamente ao prescrito nas
leges.
Caracterizavam-se as legis actiones sobretudo por serem orais. (Ver, em pormenor
, outras características, em 2° PARTE, Tít. V destas Lições).
0 processo romano, quase desde o início (o assunto é discutível), estava dividido em d
uas fases: in fure e apud iudicem (vid. supra 69).
0 pretor presidia à fase in lure.
A sua posição no processo, segundo o sistema das legis actiones - que se caracteriza
va, pois, dum modo especial, por ser um processo todo oral-, era simples e apaga
da: conceder ou não conceder a actio. Mas isto, rigorosamente. Conforme estava pre
visto no ius civile. Quando muito, podia interpretar as hipóteses de concessão e de
não-concessão. Era a «viva vox iuris civilis».
Por conseguinte, até à lex Aebutia de formulis só há actiones civiles, isto é, baseadas no
ius civile. Por isso, também são designadas «actiones in ius (civile) conceptae».

b) Posição do pretor na organização dos processos, depois da «lex Aebutia de formulis»; carác
er do processar «per formulas»
(«agere per formulas»)
A lex Aebutia de formulis, aproximadamente do ano 130 a.C. - desconhece-se a dat
a precisa, mas não deve ser anterior a 149 a.C. nem posterior a 126 a.C. -, introd
uziu uma nova forma de processar (agere per formulas).
Característica: era um processo escrito (pelo menos, parte) .
0 sistema de agere per formulas, a princípio existia a par do sistema das legis ac
tiones. Mais tarde, por força duma lex Julia, de Augusto, acabou por ser pràticament
e o único. As legis actiones desapareceram, excepto para algum tipo especial de pr
ocessar que não se adaptou ao novo regime.
0 agere per formulas é o sistema próprio da época clássica, e, como diz Álvaro D'ORs 406 é o
que dá carácter ao direito romano dessa época. Tendo as fórmulas uma redacção especialmente
adaptada para cada tipo de reclamação, a tipicidade processual determina a tipicida
de do próprio direito, já que este consiste essencialmente, como temos dito tantas v
ezes, numa
406 A. D'ORs, Elementos de Derecho Privado Romano, cit. 58.
332
333
DIREITO ROMANO
1.° PARTE-TIT. V-CAP. 2.°
§ 30
actio 407. E agora, segundo este novo sistema de processar, ter uma actio equiva
le e concretiza-se em ter uma fórmula.
1) Conceito de fórmula processual - A fórmula é uma ordem por escrito, dada pelo preto
r ao juiz, para condenar ou absolver, conforme se demonstrasse ou não determinado
facto.
A fórmula encabeça pela nomeação do juiz, geralmente escolhido pelas partes, e que era u
m particular e não um magistrado. Depois seguem-se as várias
2) PARTES DA FÓRMULA
1) -intentio=indica o estado da questão,
a pretensão do demandante
São diversos os modelos formulários. Para se fazer uma ideia mais exacta da fórmula, v
ejamos, por exemplo, o modelo da actio certae creditae pecuniae (acção para exigir o
pagamento duma dívida de dinheiro de quantia certa, isto é, fixa, precisa).
407 Por isso, «actionem habere» significa «ter direito», «ser credor»; e «actione teneri» equ
le a «estar sujeito a uma acrio», ser devedor, sobretudo à face do ius
praetorium.
408 A exceptio podia provocar uma replicatio (alegação de novo facto jurídico,
feita pelo demandante, que inutilizava a exceptio); e a replicatio podia, por su
a vez, também originar uma duplicatio (nova cláusula, alegada pelo demandado,
que inutilizava a replicatio).
334
«Titius iudex esto. Si paret Numerium Negidium Aulo Agerio
sestertium X milia dare oportere, condemnato; si non paret, absolvito» 409
A posição do pretor, depois da lex Aebutia de f ormulis, era, além de subtrair ou de c
olocar sob a acção do ios civile, como já procedia até 130 a.C. (?), também -sempre que a
justiça ou a equidade assim o exigissem - 1) - a de neutralizar a actio civilis (o
u recusando a concessão da actio [«denegatio actionis»] ou inutilizando a sua eficácia c
oncedendo uma «exceptio») e 2) - a de criar actiones próprias.
Desta forma, o pretor passou a integrar e a corrigir directamente o ius civile p
or via processual.
c) Análise muito breve dos vários expedientes baseados na «iurisdictio»
Antes de tudo, note-se que os novos expedientes do pretor, criados por via proce
ssual, não vieram substituir os expedientes
baseados no imperium. Não. Simplesmente, agora, depois da lex Aebutia de formulis,
o pretor usa duns ou doutros, conforme as
circunstâncias do caso concreto melhor o aconselharem. Há até
409 «Tício seja o juiz. Se se demonstrar que Numério Negídio deve dar (dare oportere) X
mil sestércios a Aulo Agério, condene-se; se se não demonstrar, absolva-se».
0 que propõe a actio é o actor ou demandante; contra quem se propõe é o defensor ou dema
ndado. Nos modelos formulários usados para o ensino (vid. supra 251302 algo semelh
ante com os nomes de Titius, Sempronius), o demandante é designado por «Aulas Ageriu
s» (A.A.) e o demandado por «Numerius Negidius» (N.N.). Estas designações fictícias tinham d
e ser substituídas pelos nomes verdadeiros das partes e do juiz, quando a formula
era aplicada a um caso real.
A expressão «Aulus Agerius» tem um «significado» de pessoa rica, isto é, com dinheiro e com
prédios; «Numerius Negidius» «significa» mais o homem pobre, sem dinheiro e sem outros ben
s. Sob outro aspecto, o nome fictício de Agerius designa o autor (actor), e o Negi
dius (negans), o demandado.
«Oportere» (dever) significa sempre uma dívida civil. Para designar as obrigações pretórias,
há sobretudo a expressão action teneri (estar sujeito a uma actio). Vid. supra n. 4
07.
335
a) -Partes ordinárias -- Partes eventuais
y) - Partes extraordiná
2
-condernnatio=cláusula que manda condenar ou absolver o demandado
1)-demonstratio=se a «intentio> é incerta
2) -adiudicatio=se a «actio> é divisória, ou se se trata duma coisa comum, objecto de
discussão
rias
I)-exceptio=cláusula concedida directa
mente a favor do demandado 408
2) - praescriptio = cláusula concedida direc
tamente a favor do demandante
13
DIREITO ROMANO
1." PARTE -- TIT. V - CAP. 2.^
§30
alguns A. A., v.g. DE MARTINO, que afirmam que o pretor, depois da lex Aebutia d
e f ormulis, é que principiou a usar, com mais amplitude e à vontade, os expedientes
baseados no seu
imperium.
1) - Para neutralizar uma «actio civilis», cuja aplicação redundaria numa injustiça (veja-
se a hipótese indicada supra 311 e 312), agora o pretor tem à sua disposição também, isto é,
além duma restitutio in integrum:
I - uma denegatio actionis, se ele nega a concessão da actio civilis, pois verific
a nitidamente que essa concessão, embora prevista pelo ius civile, em determinado
caso concreto, seria uma evidente injustiça;
II - uma exceptio, pela qual se frustra a actio Cio ilis, que ele mesmo concedeu
. É uma cláusula concedida directamente a favor do demandado, que inutiliza a preten
são do demandante.
Com a exceptio, não se desconhece o direito do autor ou a objectividade do facto i
lícito contestado; simplesmente, acrescentam-se circunstâncias ou factos tão relevante
s que exoneram o demandado da obrigação ou da responsabilidade.
Essa cláusula é inserta na fórmula entre a intentio e a condemnatio, e opera como cond
ição, negativa da condenação; v.g. nisi si quid dolo mato (ou propter metum) gestum erit
.
A exceptio tem como pressuposto o princípio da inderroga
bilidade do sistema do ius civile.
Devia ser oposta na fase in iure.
2) -Aetiones praetoriae - 0 pretor, depois da lex Aebutia
de f ormulis, cria ius directamente - aqui, é que se fala, com todo o rigor, de «ius
praetorium» -, pois cria actiones próprias; e
actio e ius, como sabemos, identificam-se.
Portanto, as actiones praetoriae contrapõem-se a actiones civiles ou actiones in i
us (civile) conceptae.
Indiquemos, muito sumàriamente, as várias actions praetoriae.
I Actiones in facturo conceptae-0 pretor, vendo que determinada situação social (fac
twin) merece protecção jurídica e não a tem do ius civile (veja-se a hipótese indicada sup
ra 308 e 309), concede uma actio baseada («concepta») nesse facto, para que se faça ju
stiça.
II Actions fieticiae - Se o pretor para aplicar a justiça, finge como existente um
a coisa ou um facto que se sabe não existir, ou finge como não-existente uma coisa o
u um facto ou até um negócio que se sabe que existe. - [Não podia fingir como existent
e um negócio jurídico inexistente, pois seria a subversão da ordem jurídica e a negação da n
ecessidade dos negócios jurídicos] -. 3J a imposição duma irrealidade ou duma inexactidão.
Supõe uma criação, uma «invenção», que rompe com as regras da pura lógica; mas já sabemos qu
sempre o jurídico é rigorosamente lógico (vid. supra 288-II). Sob o aspecto da lógica f
ormal ou matemática ou silogística, é um recurso alógico. A ficção supõe e provém dum imperiu
não da doutrina. A doutrina pode sugerir ficções, mas não criar "°. Repita-se: tudo isto
fazia o pretor, não por mera arbitrariedade, muito menos para «favorecer amigos» ou pa
ra «prejudicar inimigos», mas para administrar bem a justiça.
Exemplo - Titius empresta 1000 sestércios a Sempronius por 90 dias; ao fim de 10 d
ias, Titius fica na miséria, devido, v.g. a incêndio; Sempronius pode pagar; mas, à fa
ce do ius civile, só é obrigado a pagar daí a mais 80 dias. Titius há-de morrer de fome?
0 pretor finge que passou o prazo, ou que a obrigação
410 Sobre este problema, vid. M. GARCIA GARRIDO, Sobre los Verdaderos Lbnites de
la Ficción en Derecho Ronnano em ARDE (1950) 305.342; particularmente, veja-se, aí,
a relação entre ficção, presunção, interpretação extensiva, simbolismo (actos simbólicos) e
ação; assim como, a págs. 321, os casos de actiones ficticiae. Veja-se também Rafael LI_
ANO CIFUFNTFS, Naturaleza Jurídica de Ia «Fictio lirris»
(Madrid,1963).
336
337
DIREITO ROMANO
1.4 PARTE-TIT. V-CAP. 3.°
§ 31
foi constituída sem prazo (e então «in omnibus obligationibus, in quibus dies non poni
tur, praesenti die debetur», D. 50,17,14), e concede uma actio; isto é, uma fórmula, o
rdenando ao juiz que condene Sempronius a pagar, como se já tivessem passado os 90
dias, ou como a obrigação tivesse sido constituída sem prazo.
Ill Actiones utiles - Se o pretor aplica, por analogia, actiones civiles a casos
diferentes, mas semelhantes, dos que o ius civile protege; aqui, há lógica, por sem
elhança.
IV Actiones adiecticiae qualitatis-São actiones que responsabilizam também o «paterfam
ilias», total ou parcialmente, pelas dívidas dum seu filius ou servus, provenientes
de contratos celebrados por estes alieis iuris. Responsabilizam totalmente o pat
er as actiones: «quod iussu», «exercitoria» e «institoria». Responsabilizam, parcialmente, a
s actiones: «de peculio», «tributoria» e «de in rem verso».
Estas actiones pretórias são bastante complexas. Serão analisadas devidamente no Tít. I
da 3.a PARTE, pois, só nessa altura, é que teremos elementos de estudo suficientes p
ara as com
preender bem.
Capítulo 3.° C) - 0 «EDICTUM» DO PRETOR
SUMÁRIO-31. a) Missão, actividade (orientação e motivação), controle
e expedientes do pretor (síntese)
b) Formas utilizadas pelo pretor na concessão dos seus expedientes: decreta (decre
tos) e edicta (edictos) .
c) Forma interna do «edictum» do pretor; carácter vinculativo do «edictum» em relação ao pret
r. Espécies de «edicta» do pretor
I-perpetua (anuais) e repentina (suplementares) II - tralaticia e nova
d) Codificação dos edictos do pretor. 0 chamado Edictum
Perpetuuin (definitivo): existência; natureza jurídica
e) Reconstituição e ordem do «Edictums>, segundo LENEL
a) Missão, actividade (orientação e motivação), controle e expediente do pretor (síntese) .

31. A missdo do pretor era administrar a justiça nas causas civis.


Como sabemos (D. 1,1,7,1), exercia essa missão através, duma tríplice actividade - a d
e interpretar (adiuvandi), a de integrar (supplendi) e a de corrigir (corrigendi
) o ius civile. Toda essa actividade era sempre orientada por aqueles grandes pr
incípios jurídicos (D. 1,1,10,1) : o de não abusar dos seus poderes (honeste vivere) ;
o de não prejudicar ninguém (alterum non. laedere) ; o de atribuir a cada um o que é
seu (suum cuique tribuere). A sua tríplice actividade era motivada, também sempre, p
ela razão suprema da utilidade pública (propter utilitatem publicam). No desempenho
do seu múnus, procedia conscientemente com rectidão.
Não agia arbitràriamente. Tanto mais que a sua actividade podia ser sempre controlad
a: a) - pelo «ius intercessionis» dos cônsules (vid. supra 64 e 66 B4) ; b) - por quem
detivesse a «tribunicia potestas» (vid. supra 74 111); c) - por uma provocatio
338
339
N
'DIREITO ROMANO
ad populum (vid. supra 65 e 71) ; d) - pelas reacções da opinião pública; e) - e sobretu
do pela crítica, bem temível, dos iurisprudentes. Além disso, se um pretor, na adminis
tração da justiça, cometesse voluntàriamente uma arbitrariedade prejudicando ou favorece
ndo injustamente alguém, comprometeria fatalmente a sua promoção no cursos honorum.
Para desempenhar esse tríplice múnus -- de interpretar, integrar e corrigir o tus ci
vile-, o pretor utilizava (conforme
já vimos, §§ 29 e 30) certos expedientes, quer de início, baseando-se apenas no seu impe
rium, quer, mais tarde, baseando-se também na sua iurisdictio.
b) Formas utilizadas pelo pretor, na concessão dos seus expedientes: «decreta» e «edicta»
0 pretor, na concessão dos seus expedientes, podia utilizar
duas formas:
- ou o decretum (decreto), quando resolvia imperativa
mente um caso particular;
- ou o edictum (edicto), quando anunciava ao público, com a devida antecedência, a c
oncessão de certos expedientes integrada num programa geral das suas actividades.
A forma normal era através de edictos (edicta), pois, deste modo, o público sabia, a
ntecipadamente e de certeza, todas as
hipóteses previstas pelos ius civile ou pelo pretor, nas quais este prometia ou não
protecção jurídica. Conforme houvesse ou não protecção jurídica, diria respectivamente - em r
lação ao ius civile, «actionem dabo» ou «actionem denegabo», e em relação ao ius praetorium,
cium dabo» ou «iudicium denegabo». Assim, o ius praetorium nem sequer aparentemente po
dia ser considerado arbitrário ou incerto; pelo contrário, a todos inspirava plena c
onfiança.
1.° PARTE - TIT. V - CAP. 3.^ § 31
c) Forma interna do «edictumm do pretor; carácter vincu.
lativo do «edictum» em relação ao pretor. Espécies de
«edicta» do pretor
0 pretor (urbano A11), como qualquer outro magistrado,
tinha o ius edicendi, isto é, a faculdade de fazer comunicações
ao povo. Originàriamente, essas comunicações eram orais -
como parece deduzir-se até da própria palavra dicere -, feitas perante as assembleia
s do populus, ou as reuniões do vulgos na forma de in contione 112, e em voz alta
(«ex-dicere»).
Essas comunicações, quando tinham carácter programático geral, é que, rigorosamente, se de
nominavam edicta.
0 edictum do pretor 413 era, pois, uma comunicação para anunciar ao público as atitude
s que tomaria e os actos que praticaria, no exercício das suas funções; era o seu prog
rama de acção.
Desde sempre, ou pelo menos desde muito cedo, os edicta do pretor eram comunicações
escritas (e não apenas orais), gravadas em letras negras sobre tábuas pintadas de br
anco (daí, a palavra «album» e a expressão «tabulae dealbatae»), em que os vários assuntos er
m encimados por epígrafes ou títulos escritos a vermelho (deste facto provém a palavra
rubricae), para sobressairem no conjunto do texto. Daqui, a designação de títulos ou
rubricas 414.
411 Sempre que se fala de pretor, sem mais designação, trata-se do pretor urbano; vi
d. supra 70.
412 Vid. supra 208.
413 Além dos edictos do pretor (urbano), há os do pretor peregrino, os dos governado
res das províncias e os dos edis curúis. Sobre a natureza jurídica destes
últimos, vid., por todos, PEZZANA, em LURA 7(1956) 254-262, na critica a VOLTERRA,
Intorno all, «Editto degli Edili Curuli» (Pádua, 1955).
414 Os títulos, as rubricas, e até designações de menor alcance, também se chamam edictos
(em concreto), tomando aqui a palavra edictum o significado de «parte de um todo» ou
de «parte pelo todo». É nesta acepção que se diz, v.g. edictum de rebus creditis, edictum
de pretiis, edictum de alterutro, edictum de feris, etc.
Sobre a origem de titulus, com sentido jurídico, vid. D, ORS, em ARDE 23 (1953) 49
5-513 e Guerra y Ia Paz 162-163.
340
341
DIREITO ROMANO
Os edicta do pretor eram afixados públicamente no «forum», para que, sem dificuldade,
pudessem ser lidos, rectamente (apud forum palam, unde de plano recte legi posse
nt) ; terminavam sempre com a sigla, q.s.s.s., que significa quae supra sunt scr
ipta. 2 um argumento de ordem interna a mostrar que a forma dos edictos do preto
r era escrita.
A princípio, o pretor, em teoria, não estava vinculado às disposições contidas no seu «edict
um», pois o respectivo conteúdo, para ele, era matéria arbitrária; mas, na prática, respei
tava sempre as promessas feitas, porque era até o mais interessado nisso, para não c
omprometer o êxito do «ius praetorium». Além disso, o seu comportamento estava bem contr
olado (vid. supra al. a) deste §). - Todavia, no ano 67 a.C., a lex Cornelia de ed
ictis praetorum impôs ao pretor a vinculação ao seu próprio edicto.
Os edicta podiam ser: I - perpetua e repentina; II - tralaticia e nova.
Perpetua ou anuais, os que eram dados pelo pretor, no início da sua magistratura,
contendo os vários critérios que seguiria, no exercício das suas funções durante esse ano.
Eram afixados no forum, nas Calendas de Janeiro.
Repentina surgem, como actos do imperium do pretor, proferidos em qualquer altur
a do ano, para resolver situações novas, surgidas inesperadamente, e que nem o «ius ci
vile» e nem o «edictum perpetuum» (anual) solucionavam 415.
Tralaticia, os que permanecem iguais dum ano para o outro, como que trespassando
do pretor anterior para o sucessor.
Nova são as disposições que o pretor, de determinado ano, acrescenta por sua própria ini
ciativa 416
415 0 termo «repentinum», ao que parece, foi usado pela primeira vez por CICERO, Ver
res 2,2,36; é hoje designação tradicionalmente aceite; mas as fontes, quer jurídicas que
r literárias, não são uniformes na nomenclatura desta espécie de edictum. 0 Di
gesto, por exemplo, chama-lhe «(edicto emanado) prout res incidit» (D. 2,1,7 pr.).
416 Provàvelmente, os edicta repentina deviam ter sido as manifestações mais antigas d
o ius edicendi, e talvez até com o carácter de intervenção singular e ocasional; depois é
que se deve ler passado também à publicação de edicta perpetua (anuais),
1.° PARTE-TIT. V-CAP. 3.° § 31

d) Codificação dos «edicta» do pretor. 0 chamado «Edictum Per


petuum»: existência; natureza jurídica
Até à época de LABEO, princípios da nossa era, há bastantes edicta nova; posteriormente, o
carácter «translatício» dos edictos converte-se em fenómeno geral. Por um lado, não há já ne
sidade de grandes inovações a fazer pelo pretor; por outro lado, também dificilmente a
s poderia fazer, pois ele, como todos os magistrados, está muito subordinado ao im
perador.
Nestas circunstâncias, a decisão de Adriano (117-138), mandando codificar todos os e
dictos4lT, para serem fixados ordenada e definitivamente num só, não constituiu um f
acto verdadeiramente novo ou estranho. 0 imperador encarregou desse trabalho o e
minente jurista Salvius IULIANUS. Levou cerca de dois anos a efectuá-lo.
Concluído e confirmado pelo senado-que através dum senac. lhe estabeleceu a imutabil
idade (vid. const. Tanta-AéS(úxcv 18)-, foi publicado à volta do ano 130 d.C.; desde o
séc. IV, é designado por «Edictum Perpetuum» (ordenação definitiva dos edictos). Agora, a p
alavra «perpetuum» tem o significado de definitivo, não já de anual, como primitivamente
.
A existência do «Edictum Perpetuum» ou «Ordinatum», de IULIANUS, é atestada por várias fontes
jurídicas e não-jurídi
e finalmente deve-se ter recorrido aos tralaticia (permanentes), pela necessidad
e de resolver uniformemente as mesmas Situações-para isso, era necessário prefixar os
critérios e indicar a solução das hipóteses mais notáveis e frequentes. Este modo evolutiv
o de agir do pretor explica-se perfeitamente, atento o processo eminentemente ca
suístico da formação do lus Romanum, e está de acordo com o especial relevo dado pelas f
ontes aos edicta repentina.
0 primeiro edictum perpetuum (anual) deve ter surgido nos fins do séc. III a.C.
417 Só nos interessa sublinhar aqui a ordenação ou codificação dos edictos do pretor (urba
ho). Todavia é opinião comum dos AA. de que o imperador Adriano deve ter incumbido I
ULIANUS de compilar e actualizar não só os edictos do pretor urbano e dos edis curúis,
mas também do pretor peregrino e dos governadores das províncias; se em codificações se
paradas ou se numa só, já é ponto discutível. Sobre a bibliografia a respeito destes pro
blemas, vid. ROBLEDA, o. c. 209572,
342
343
DIREITO ROMANO
1.^ PARTE -TIT. V - CAP. 3."
§ 31
cas 918, e é admitida pelos autores, excepto por António G!ARINO, que, desde 1946, v
em escrevendo contra a existência do Edictum Perpetum elaborado por IULIANUS 419,
sem todavia ter convencido ninguém da sua peregrina opinião 920. Ao que parece, o pr
incipal argumento de GUARINO baseia-se num certo silêncio de GAIUS e noutro de POM
PONIUS: de GAIUS 16, pois, ao enumerar as fontes de direito, não faz qualquer menção d
o Edictum julianó-adrianeu; de POMPONIUS (D. 1,2,2,49 e sobretudo 53), que, ao fal
ar de IULIANUS, não se refere ao seu trabalho da tal codificação dos edictos. - Como é s
abido, o argumento do silêncio é bastante falível; em geral, quis tacet... nihil dicit
, nem pró nem contra. No caso concreto, a explicação do silêncio dos dois juristas pode
ser muito fácil: GAius e POMPONIUS utilizaram para os seus escritos uma fonte, ant
erior à codificação do Edictum.
Após a sua fixação em 130(?), o pretor (só nos interessa sublinhar o edicto do pretor ur
bano) quase se limitava a publicar, todos os anos, o Edictum Perpetuum ou Ordina
tum. Deste modo, o edictum perdeu a sua importância como fonte autónoma,
418 Fontes jurídicas, v.g.: CT 4,4,7;-11,36,26; Nov. Valent. (Novellae Post.Theod.
) 21,1,31; const. Tanta-Wtoxcv 18; D. 25,2,13; C. 4,5,10.1.
Fontes não-jurídicas, v.g.: Aur. VICTORE, De Caesar. 19,1; ENTROPIUS, Breviurium 8,1
7; Paulus DIACONus, apud ed. Droysen di Entropio (Monum. Germanise. Auctores Ant
istuissimi 2 [1879139); HYERONIMUS, Cronichon (ed. Droysen, cit. 146); PEANIUS,
(ed. Droysen, cit. 147).
Vid. também CIL 8, 24094.
419 A primeira obra onde GuARINo expõe a sua opinião é em Salvius lulianus (Catânia,I946
); depois, nos estudos -L'Esaurimento del lus Honorarium e Ia Pretesa Codifcazio
ne dell'Editto em Studi Albertario I (Milão,1953) 623-657; La Leggenda sulca Codif
icazione dell'Editto e Ia sua Genesi em Atti Verona II (Milão,1951) 167-183; L'0rd
inamento Giuridico Romano3 (Nápoles, 1959) 169-175.
420 Sobre os vários argumentos a favor da opinião geral -mas, segundo parece, não conv
encem(?) GUARINO -, vid., por todos, De FRANCISCI, Per Ia Storia dell'Edito Perp
etuo nel Periodo Postclassico em RID,4 tom. 4 (1950) 319-360; D'OROEVAL, La Carr
ière de Salvius lulianus et Ia Codification de l'Édit em RHD 26 (1948) 301-311; BERG
ER, Due Note su Salvio luliano em Studi Albertario I (Milão,1953) 603-621; WENGER,
Die Quellen, cit. 408-410.
para se converter quase num texto legal. Embora, formalmente,
continue a ser «ius praetorium», a verdade é que as alterações
e até as interpretações são dadas, não já pelo pretor, mas pelos iurisprudentes, que escreve
ram sobre ele largos comentários, e sobretudo pelo Imperator 421, que principiava
a concentrar nas suas mãos todas as fontes do direito.
0 Edictum, à força de ser comentado pelos juristas e de ser alterado pelos imperador
es, tendia inevitàvelmente a confundir-se com o direito criado pela iurisprudentia
e pelas constituições imperiais, para mais tarde (sécs. IV e segs.) ingressar naquele
direito, misto de normas civis e pretórias, fundidas sob o impulso da chancelaria
imperial - o ius novum.
0 Edictum deixou de publicar-se, pela primeira vez, nos fins do séc.. III, quando
o pretor perdeu a iurisdictio, pois agora a única forma de processar era a cogniti
o (extra ordinem ou extraordinaria); mas, ao que parece, na época post-clássica, não d
eixou de ter a sua utilidade, mesmo de ordem prática 422.

e) Resconstituição e ordem do «Edictum», segundo Otto LENEL


A matéria contida no Edictum Perpetuam não é tão vasta como a dum codex iuris, em virtud
e da própria natureza do ius praetorium, que é meramente suppletorium do ius civile.
Todavia o complexo jurídico abrangido pelo Edictum é importantíssimo.
Pelo facto de ser o ius praetorium «complementar» do ius civile - ora confirmando-o,
ora suprindo-o, ora corrigindo-o -, o Edictum mostra claramente o aspecto dinâmic
o, progressivo,
421 Vid. const. Tanta-Aé&sxev 18.
422 Sobre este problema, vid., por todos, DE FRANCISCI, Ancora dell'Editto nel P
eriodo Postclassico em BIDR 63(1960) 39-46,
344
345
DIREITO ROMANO
1.° PARTE -TIT. V-CAP. 3.°
§ 31
do lus Romanum, certamente aperfeiçoado e ampliado 423 pelo eminente IULIANUS.
A ordem de matérias do Edictum é devida a IULIANUS 424.
0 conteúdo do Edictum Perpetuam, mas sobretudo a ordem de matérias, desduzem-se bast
ante bem dos livros de comentário a ele consagrados pelos vários juristas, pois, às ve
zes, transcrevem partes, literalmente.
Não chegou até nós o texto completo do Edictum reelaborado por IULIANUS, muito menos,
de qualquer edicto anual dum pretor.
Baseando-se nos fragmentos dos comentários, conservados principalmente no Digesto
e em GAius, desde o séc. XVI que se vem tentado uma reconstituição do Edictum 925. A m
ais perfeita é devida a Otto LEVEL 426.
423 Pela circunstância de IULIANUS ser denominado «ordinator» do Edictum Perpectum (C.
4,5,10,1) e seu «subtilissimus conditor» (const. Tanta- M 8(uxcv 18), etc., e ainda
pelo facto de certas matérias estarem redigidas com uma perfeição técnica e um estilo j
urídico, próprios do eminente iurisconsultus, já não era temerário deduzir e afirmar que n
o Edictum, além duma profunda reelaboração e duma actualização, há assuntos lá incluídos, que
da autoria de IULIANUS; mas nas fontes há afirmações claras. Consta, v.g. do D. 37,8,3
, que a matéria «de coniungendis cum emancipato liberis eius» foi introduzida no «Edictu
m» por IULIANUS: «... id caput edicti, quod a luliano introductum est ...»
Sobre este problema-alterações de fundo realizadas por IULIANUS no Edictum - vid., p
or todos, KRÜGER, Histoire des Sources du, Droit Romain, trad. franc. de BRISSUAD
(Paris,1894) 122.
424 Cf. Otto LENEL, Das Edictum Perpetunm. Ein Versuch zu seiner Wiederhersteliu
ng 3 (Leipzig, 1927) 12, KRUGER. o. C. 121, e RICCORONo, Leges, de FIRA 1 (Flore
nça, 1941) 337.
425 Vid. Leopold WENGER, Die Quellen, cit. 409, e NNDI VI (Turim,1960) 379 c. 1
n.° 3
426 A 1p edição do Das Edictum Perpetuam de LENEL é de 1883. Desta edição alemã há uma traduç
ancesa, em 2 vols., intitulada - Essai de Reconstitution de I'Édit Perpétuel. Ouvrag
e traduit en francais par Frédéric PELTIER sur en texte revu par l'Auteur I (Paris,1
901) II (Paris,1903).
A 2.11 edição alemã é de 1908. Baseando-se nesta ed., BRUNS, Fontes I 211-237, e GIRARD,
Textes, 137-170, apresentam o Edictum.
A 3.' ed. alem. é de 1927 - Otto LENEL, Das Edictum Perpetuum. Ein Versuch zu sein
er Wiederherstellmtg (Leipzig,1927). RlccoBONO parte desta ed. de LENEL para ela
borar um texto especial do Edictum do pretor urbano -FIRA I Leges (Florença,
Segundo LENEL, o Edictum estaria dividido em 45 títulos,
podendo agrupar-se em cinco partes:
J.a parte, introdutória, tits. I-XIII, sobre as várias normas acerca .dos trâmites dum
litígio e das restitutiones in integrum;
II, » a mais extensa, títs. XIV-XXIV, sobre os diversos tipos de actiones, onde se e
ncontram rubricas de edictos 927 fundamentais, v.g. as relativas à propriedade, ao
s negócios creditícios, aos contratos, à tutela, ao furto, etc.;
III." » tits. XXV-XXXV, sobre o direito pretório acer
ca da hereditas e outras matérias;
IV." » títs. XXXVI-XLII, sobre a execução das sentenças;
V." » tits. XLIII-XLV, sobre os interdicta, as exceptiones e as stipulationes
praetoriae.
Esta ordenação de matérias, que não corresponde às exi
gências da mentalidade sistemática moderna, constituiu, sem
dúvida, a ordem fundamental das exposições jurídicas, não só
das elaboradas pelos iurisprudentes como das ordenadas oficial
mente, em concreto, do Cód. Teodosiano (vid. infra 416), e,
como já dissemos, do Digesto e do Codex do Corpus furis Civilis 48.
A edição do Edictum Perpetuum, de LENEL, é, como já acen
tuámos, a mais perfeita; tão perfeita que até há bem pouco tempo era considerada como qu
e a «versão oficial> do Edictum.
1941) 335-389. Aproveita todas as palavras (originais) do Edictum chegadas até nós a
través de qualquer fonte, e algumas (as que lhe parecem menos incertas) das que fo
ram reconstituídas pelos romanistas; completa o texto com uma preciosa indicação de fo
ntes e de bibliografia sobre cada uma das várias questões.
Cf. L. WENGER, Die Quellen, cit. 40927.
0 texto de Edictum Perpetuam (segundo LENEL) encontra-se hoje transcrito em várias
obras, v.g. BONFANTE, Storia del Diritto Romano 11 265-291; BONFANTE, porém, faz-
lhe umas pequenas emendas (vid. ib. 265 1).
427 Vid. supra n. 414, o significado particular de «edicto», com que se encontra, ag
ora, aqui.
428 Cf. A. D'ORs, Elementos, cit. 30.
346
347
DIREITO ROMANO
1.' PARTE-TIT. V-CAP. 3.
$31
Ultimamente, vem-se já sentindo a conveniéncia ou mesmo necessidade de rever o Edict
um, de LENEL. De todas as contribuições dadas para o equacionamento do problema e ap
ontando soluções em concreto, a mais valiosa é, sem dúvida, a comunicação de Pablo FUENTESEC
A, La Necesidad de retornar al Estudio dei Edicto Pretoria, apresentada na XXI R
eunião Internacional da cSociété d'Histoire des Droits de i'Antiquite>, efectuada em S
alamanca nos fins de Setembro de 1966. Vid. ARDE 39 (1969) 451-479.
Talvez se possam sintetizar as ideias do ilustre romanista no seguinte -
a) 0 Edictum não é um mero sistema processual, como afirma LENEL, mas antes uma estr
atificação histórica do direito e do processo.
b) E um dever do actual romanista retornar ao estudo do
'-'direito honorário, através do Edictum, para reexaminar o fenómeno jurídico à luz dos in
stitutos processuais.
c) A afirmação de que o Edictum encerra um conjunto de normas substantivas e process
uais resulta evidente da própria rubrica «de iudiciis> (rubr. XIV de LENEL). At, estão
contidos os institutos seguintes: 1) as vindicationes do antigo agere sacrament
o 429 (§§ 69-72); 2) os pressupostos da postulatio iudicis 129 [=actiones ex lege -
I - de modo agri (§ 74), II-de pauperie (§ 75), III - de pastu pecorie (§ 76), IV - ad
legem Aquiliam (§ 77), V - os iudicia divi8oria (§ 79-82)], e as actiones referente
s à sponsio e à fideiussio (§§ 83-88). São normas ainda de carácter substantivo as respeitan
tes ao conteúdo: a) --da legis actio per condictionem (de rebus creditis) (= rubr.
XVII); 8) -das actiones adieetictae qualitatis (=rubr. XVIII); y) -dos iudicia
bonae Jidei (=rubr. XIX).
d) Nos tits. XX a XXIV, nota-se uma. reminiscência do sistema do ius civile; o mes
mo se verifica, embora menos acentuado, nos tits. XXV a XXVII.
e) Um ponto de contacto entre o sistema civilistico (i. é. do ius civile) e o sist
ema edictal encontra-se na actio rei uxoriae (tit. XX).
f) Com toda a probabilidade, o Edictum do pretor (urbano) termina no tit. XXX.
g) Os tits. XXXI-XXXV pertencem ao Edictum do pretor peregrino.
h) A última parte do Edictum (segundo a reconstituição de LENEL) não contém propriamente a
ctiones, mas certas referén
. 429 Vid. infra 2.a PARTE, tít. VI destas Lições, o que são os vários institutos, citados
nesta pág.
348
cias ao iudicatum, e várias medidas de protecção jurídica pretó
ria (v.g. os interdicta).
i) Conclusões: I-o Edictum é uma sedimentação histórica que vem a cristalizar-se numa urdo
iuris que supera o antigo ius civile;
II-o ius civile tinha como fulcro as instituições familiares e o conceito de potesta
s, o Edictum apoia-se no conceito de obligatio, expressão dum dever jurídico e dum v
inculum iuris, que se concretiza num agere segundo os trámites dum iudicium pecuni
arium, isto é, em que a condemnatio não era específica, mas sempre em dinheiro, salvo
acordo das partes litigantes.
A exposição do Prof. FUENTESECA foi aplaudida, logo nessa reunião Internacional, de Sa
lamanca, por Alvaro D'OnS. P um horizonte novo que se aponta à romanística do presen
te.
349
i
Título VI - CIÊNCIA JURTDICA E AS VÁRIAS ESCOLAS
SUMÁRIO-32. a) Até ao séc. III, não há escolas (de Direito)
b) A partir dos fins do séc. III, mas sobretudo dos mea
dos do séc. IV, verifica-se a necessidade de escolas
c) Escolas principais: Roma, Beirute, Constantinopla,
Alexandria e Cesareia
d) Escolas das províncias
e) Importância da Escola em si
f) Valor das escolas do Oriente e do Ocidente
a) Até ao séc. III, não há escolas (de Direito)
32. 0 saber-jurídico do lus Romanum, até ao séc. III, não se adquiria, como hoje em regr
a se processa: um a ensinar e muitos a aprender. Não havia professor e alunos, mas
, sim, mestre e discípulo - ou, quando muito, alguns discípulos, mas poucos; ao que
parece, nunca mais de seis; raras vezes, passavam de três; normalmente, um.
A aprendizagem do ius fazia-se em casa do iurisprudensdiríamos hoje, no seu «escritóri
o» -, ouvindo-o responder 410
430 Dar responsa era a função mais importante dos juristas romanos. Cf. supra 292.
351
DIREITO ROMANO
11 PARTE -TIT. VI
às consultas que os particulares lá iam fazer-lhe; consistia, pois, em «res jiondentes
audire» 431. Até CÍCERO, não havia livros jurídicos didácticos 452. 0 candidato a jurista i
a ouvindo atentamente o «magister iuris», e tomava as suas notas; acompanhava-o freq
uentemente ao tribunal; de longe a longe, o mestre dava-lhe ou indicava-lhe cert
as definitiones. Tudo isto constituía como que o «curso de Direito», e denominava-se «ti
rocinium fori».
Esta- orientação pedagógica estava de harmonia com a própria concepção que os romanos tinham
do saber-jurídico: uma ciência e uma técnica, toda voltada para o audire; até o símbolo d
o Direito é uma deusa, de olhos vendados e ouvidos bem atentos (vid supra 27-a)).
Até ao séc. III, não eram muitos os que se dedicavam ao estudo do jus, pois era necessár
io: 1.° pertencer a uma certa classe social (vid. supra § 27-alín, c)) ; 2.^ sentir um
a autêntica vocação para ser verdadeiro sacerdote da lustitia (vid. supra 58-II e 289-
c)-I).
Deste modo, a formação jurídica clássica resultava individual, prática e duplamente aristo
crática -pela linhagem das pessoas e pela vocação exigida.
Esta formação, assim tão especial, gerou as grandes figuras dos juristas romanos clássic
os, que souberam fazer do Direito uma verdadeira Ciência.
0 iurisconsultus é o homem, que, perante um caso prático, ius-dicit. 0 seu saber, a
princípio, é intuitivo; depois, reflexivo, consciente; por último, reveste-se também do
aspecto formal do pensamento grego-da robusta armadura lógica do Aristotelismo e d
a riqueza moral do Estoicismo.
Com os seus vastos conhecimentos e possuindo um alto
H.-I. MARROU, Histoire de l'Éducation dans l'Antiquité6 (Paris,1965) 419. Segundo pa
rece, CíCERO compôs o primeiro livro didáctico jurídico, intitulado «De lure Civili in Art
em Redigendo»; infelizmente, não chegou até nós; temos referência dele através de AULUS GELL
IUS, Noctes At. 1,22,7.
sentido do justo, do bom, da utilidade pública e da ordem, o iurisprudens sabia ap
resentar «la solution élégante qui triomphe de l'obscurité de Ia cause et de l'ambigulté d
e Ia loi» 433.
Em conclusão-' Até ao séc. III, a formação jurídica romana
não se faz em estabelecimentos de ensino. Rigorosamente, não
há escolas 494. As duas «Escolas» famosas - a dos Proculeianos e a dos Sabinianos» 435 -
, segundo KUNKEL, não passavam de «clubes de discussão» A formação jurídica clássica é de car
ndividual e prático. Devido ao génio intuitivo dos romanos para as coisas do Direito
e a certa influência de aspecto formal do pensamento grego, os iurisprudentes con
seguem fazer do lus Romanum um corpo de doutrina; um sistema jurídico, formado por
um conjunto de princípios, de divisões e de classificações, tudo baseado em terminologi
a rigorosa, em definições exactas, numa técnica jurídica perfeita.
O lua passa a constituir em Roma uma forma nova de cultura, muito mais important
e que a Oratória.
h) A partir do séc. III, mas sobretudo dos meados do séc. IV, verifica-se a necessid
ade de escolas (de Direito)
As razões justificativas da necessidade da existência de escolas, a partir já dos fins
do séc. III, podem reduzir-se às seguintes:
1.0 - A necessidade de haver um grande número de pessoas conhecedoras de Direito,
como consequência do edicto de Caracala (212).
433 MARROU, o. C. 419.
434 As stationes ius publice docentium aut respondei,tium, a que se refere AULUS
GELLIUS, Noctes At. 13,13,1, em rigor, não eram escolas, mas «departamentos de cons
ulta». Em regra, estavam instaladas junto dos templos, para se aproveitarem das bi
bliotecas que ficavam anexas.
435 Vid. infra 387-388, quem as fundou e quais as características dessas Escolas.
436 Wolfgang KUNKEL, Herkuuft and soziale Stellung der rômisehen Juristen (Weimar,
1952) 341.
431 432
352
353
DIREITO ROMANO
1.' PARTE - TIT. VI
632
Agora, todos os habitantes do Império são eives romani; todos os seus actos, desde o
s negócios jurídicos ao processo, têm de ser celebrados segundo o lus Romanum. E preci
so conhecê-lo: haver quem saiba interpretá-lo e aplicá-lo.
2.° - Os cargos na chancelaria imperial - tão apetecidos pelos eives roman, a partir
do aéc. III, e em número elevado depois da burocratização do funcionalismo - só podiam se
r ocupados por pessoas formadas em Direito.
3. - 0 Direito, depois do séc. IV, mais do que a Oratória, «dá muitas saídas» -para as mais
altas funções sociais e para a carreira de advogado, que, desde Valentiniano III, é el
ogiosamente designada «seminarium dignitatis» ",.
4.0 - A partir dos fins do séc. III, já nem sequer era praticável aquela única forma do
ensino do Direito como se vinha fazendo até aí- junto dos grandes juristas -, visto
os mestres não terem tempo, pois ocupam-no, todo, no desempenho de altas funções na ch
ancelaria imperial.
Por todas estas razões, e ainda pelo facto de terem escolas próprias os outros ramos
do saber - Oratória, Retórica, Gramática, Teologia, etc. -, impunha-se a necessidade
de haver também-escolas de Direito.
c) Escolas principais: Roma; Constantinopla; Beirute
A primeira Escola de Direito foi a de Roma. Os depoimentos de Smówio no séc. V, de E
NóDIO e de CASSIODOSO no
séc. VI 139, e, mais tarde, de ODOFREDO "B, são bem claros.
437 Nov. Post-Thead. 2,2.1 ["21.
X11 Vid. PierreRICHÉ, Éd~m et Culture dans 1'0cddeat Barbare. v1e-VIP
Sucks (Paris,1962) 65.
4.9 Oooracoo, ao comentar o fragmento D.25,2,82, diz, falando para os seus
alunos:
«Debetis scire, studium fuit primo Romae (maiores nostri its referunt), polua,
propter bells quae fuerunt in Marchia destructum est stadium, tune in !falia sec
eendum
Roma estava naturalmente indicada para aí funcionar a primeira Schola (uris: o alt
o nível cultural; a exuberância da vida pública; a vizinhança com os órgãos legislativos e j
udiciais do Imperium; a atracção, verdadeira fascinação, que a capital política e histórica
exercia nas camadas jóvens de Itália e das províncias quer do Ocidente quer do Oriente
440 - tudo concorria para fazer da urbs o centro ideal para a formação do jurista e
do retórico.
Não se conhece, ao certo, a data da fundação da Escola de Direito de Roma. Deve ter co
meçado a funcionar nos princípios do séc. III, provàvelmente instalada num grande edifício
, situado junto do Forum de Trajano 441.
Até à queda do Império em 476, gozou de grande prestígio, dum modo especial em todo o Oc
idente "_. A frequência de alunos aumentou de tal modo que, a certa altura, foi fi
xado o numerus clausus e determinado que o aluno não podia permanecer em Roma depo
is dos 21 anos (CT 14,9,1)4J3.
Não se conhecem os seus programas. Sabe-se, porém, que os professores eram dos melho
res, pois os mestres mais famosos da Grécia vinham leccionar para Roma, atraidos não
só pelos elevados honorários mas também pelas grandes possibilidades de ocuparem altíss
imos cargos na vida. pública.
Os professores tinham certas proibições, algumas restrições e vários privilégios. A tudo ist
o se refere a constituição de
lociem obtinebat Pentapolis, quae dicta Ravenna postea... urde ibi coepit esse s
tudium... Post mortem Karoli, civitas ipsa collapsa est, postmodum fuit translat
um studium ad civitatem iscam (isto é, Bolonha, onde ODOFREDO estava a ensinar)».
Sobre este passo, vid. TAMASSIA, Odofredo. Studio Storico-Giuridico em Scritti d
i Scoria Giuridica II (Pádua,1967) 393.
440 Acerca de nomes ilustres, que passaram pela Escola de Direito de Roma, vid.
Pierre RICHÉ, o.c. 65, TAMASSIA, o.c. 16-26, e GAUDEMET, La Formation du Droit Sécul
ier et du Droit de 1'Église aux ]VI et Ve Siêcles (Paris, 1957) 82.
441 Vid. Pierre RIcHÉ, o.c. 69.
442 SANTO AGOSTINHO, Confissões 6,8,13ss., refere-se a esse aspecto.
443 A Novela de Valentiniano III, 2,2,2, autorizava a advocacia, a partir dos 20
anos.
354
355
DIREITO ROMANO
Teodósio II e Valentiniano III, de 25 de Maio de 425 - CT.14,9,3=C. 11,19,1.
Os professores e alunos gozavam de bastantes imunidades fiscais (FV 204).
Depois da queda do Império em 476, a Escola, de Direito de Roma entrou em decadência
, para, daí a pouco, quase desaparecer, dando origem'à Escola de Direito de Ravena44
9, cidade agora denominada nobilissima urbium e considerada a. verdadeira capita
l do Ocidente 44$. No tempo de Justiniano, conforme
consta da «Pragmatica sanctio pro petitione Vigilii» 418, de 554,
parece que foi restaurada; mas a sua nova duração devia ter sido curta 147. Porque o
Estado bizantino tinha necessidade de funcionários cultos, Justiniano intensifico
u as várias escolas, antigas e modernas, do Oriente e do Ocidente; mas, ao que par
ece, essa «vida exuberante», para algumas, terminou, antes da morte de Justiniano. R
oma deve estar no número dessas.
Escola de Direito de Constantinopla -Roma devia ter servido
de modelo a Constantinopla, em tudo. Era a «nova Roma»; por isso, também nos estudos j
urídicos. Quanto a este ponto, parece até claramente deduzir-se da já referida constit
uição de Teodósio II e Valentiniano III (CT. 14,9,3=C. 11,19,1). Tanto no Código Teodosi
ano como no Código Justinianeu, essa constituição encontra-se subordinada ao título «De st
udiis liberalibus
Urbis Romae et Canstantinopolitanae».
A Escola de Constantinopla foi criada em 425. Até 1453, funcionou como um centro d
e estudos fecundo e como o
444 Vid. TAMASSIA, Bologna e le Scuole Imperiali di Diritto em Scritti di Storia
Giuridica, cit. 16-47 (passim), Pierre RICHÉ, o.r. 115 e 393, e Enrico BESTA, Fon
ti dei Diritto Italiano. Dalla Caduca deli'Impero Romano sino ai Tempi Nostri 2
(Milão,
1962) 55.
445 Cf. TAMASSIA, ib. 19.
446 Vid. supra 276-5 que espécie de constitutio principis é uma pragmarica sanctio,
447 Vid., por todos, Pierre RICHÉ, o.c. 182.
1. PARTE -TIT. Vi § 32
pilar da tradição clássica, conhecendo embora algumas épocas
de crise 18.
Escola de Direito de Beirute -É a mais importante de todas.
Deve ter sido criada por volta do ano 200. Em 239, já era citada
pelo honroso epíteto de «rrxt8~urri Ir, r(", voµ(")v» 44" (a escola
e o «auditorium» das leis). Nos séculos V e VI, os seus professores são conhecidos por «me
stres ecuménicos do saber jurídico».
E em grande parte devido à Escola de Beirute que foi possível elaborar o Digesto, po
is ela conservou o pensamento jurí-o dico clássico, forneceu juristas notáveis para a
comissão compiladora do ius e das leges, e criou o ambiente propício à ela
boração do Corpus luris Civi2is 150.
Outras Escolas de Direito no Oriente - Além das de Beirute e de
Constantinopla, existiram as de Atenas, Antioquia e sobretudo Alexandria e Cesar
eia. A estas últimas refere-se expressamente Justiniano, const. Omnem § 7: quia audi
vimus etiam in Alexandrina splendidissima civitate et in Caesariensium et in ali
is quosdam imperitos homihes devagare et doctrinam discipulis adulterinam trader
e».
Pelo que se deduz das fontes, só as escolas de Roma, Constantinopla e Beirute eram
«oficiais», possuíam certos privilé
448 Cf. MARROU, o.c. 485-489.
449 P. COLLINET, Histoire de 1'F-cole de Droit de Beproúth (Paris, 1925) 26. Esta
obra é, ainda hoje, o estudo mais importante sobre a Escola de Direito de Beirute.
450 Vid.. Bruno PARADISI, Storia dei Diritto Italiano. Le Fonti dai Basso Impero
all'Epoca Longobarda3 (Nápoles, 1964) 74-78, e F. WIEACKER, Vulgarismnns and Klas
sizisnms in, Recht der Spütantike (Heidelberga.1955) 54-55.
0 ensino do Direito em Beirute e cm Constantinopla era feito em latim; a partir,
respectivamente, de 381-382 e 410-420, é feito em grego, mas sem destruir por com
pleto o latim; com Justiniano, devido ao seu apaixonado (?) gosto classicista, v
olta a fazer-se principalmente em latim.
Quanto aos mestres e à produção científica de Beirute e de Constantinopla, vid., por tod
os, B. PARADISI, o.r. 79-84.
356
357
DIREITO ROMANO
gios imperiais, tinham, no geral, bons professores e ensinavam «doctrina authentic
a».
Ao que parece, ao lado destas escolas públicas sem «privilegium» (Atenas, Antioquia, A
lexandria e Cesareia), haveria ainda escolas particulares, dirigidas por «demi-let
trés» e sem
influência 461.
d) Escolas das províncias
Existiam escolas de Direito nas províncias. Demonstra-se:
10 - pelo conhecimento que temos de certos juristas, que os reis chamaram para o
seu serviço - v.g. em Toulouse, LEÃO DE NARBONA, consiliarius de Eurico e de Alaric
o; em Lyon, SYASRiUs e vários outros prudentes anónimos, compiladores de certa legis
lação romano-bárbara -, os quais revelam ter saído de meios mais ou menos escolares, pri
ncipalmente devido ao teor de algumas definições 462;
2.°-pela existência de certo tipo de livros jurídicos muito rudimentares, que indicam
a proveniência das escolas onde foram elaborados.
Nestas condições, admite-se que tenham existido escolas jurídicas em Cartago, Arles, A
utun, etc. 454.
Simplesmente, o estudo jurídico nessas escolas, sobretudo no séc. V, devia ser muito
rudimentar. Para se ficar com uma ideia, basta ler uma constituição de Valentiniano
III, de 451, em que o imperador se queixa de já não encontrar juristas capazes: «Nota
m est post fatalem hostium rumam, qua Italia laboravit, in quibusdam regionibus
et causidicas et iudices def uisse hodieque gnaras iuris et legum aut raro aut m
inime
reperiri» 454.
1' PARTE-TIT. Vi g 32
e) Importância da Escola em si
A partir do séc. IV, a Escola representa tudo na vida jurídica.
São as escolas que preparam os textos jurídicos. São as escolas que dão os pareceres.
Não há juristas; há escoliastas, mestres de escolas. Não há uma verdadeira iurisprudentia;
há, sim, como lhe chama KAs$R, uma «Schuljuriaprudenz, 455.
São as escolas que elaboram um trabalho de simplificação das obras dos juristas clássico
s, e uma tarefa de exagerada
sistematização através de teorias e de distinções doutrinais43'. f) Valor das Escolas do O
riente e do Ocidente
Este é um dos problemas ainda hoje muito discutidos entre os AA.
Segundo a opinião mais provável, a orientação das escolas
do Ocidente é diferente da orientação seguida no Oriente.
No Ocidente, domina o vulgarismo (corrupção do Direito Romano clássico, devida a facto
res de vária ordem); há uma finalidade, mais de carácter profissional, e a orientação é mais
retórica do que jurídica.
No Oriente, impera o classicismo (tendência para imitar o clássico), acompanhado de
certas influências helenísticas; o estudo do Direito é feito com verdadeira finalidade
científica e acentuada índole especulativa. (Recorde-se o alcance do pormenor dos o
lhos abertos de Dike. Vid. supra 27-e) ).
455 Max KAsER, Das rômische Privarrecht I (Munique,1955) 7. 456 Vid. Sebastião CRUZ,
Da «Solutio» II § I (no prelo).
451. 452 453 454
Vid. Pierre Rick, o.c. 68.
Cf. id. ib. 113144. Vid. id. ib. 112-117. Nov. Post-Theod. 32,6.
Vid. SCHULZ, History of Roman Lega! Science (Oxford, 1946) 270.
358
359
DIREITO ROMANO
Esta diversidade de orientação escolar conduziu também a resultados diferentes: no Ori
ente, o resultado último foi a codificação justinianeia, sobretudo a elaboração do Digesto
; no Ocidente, o resultado próximo foi a criação do Direito Romano
Vulgar '6i
457 Sobre este problema vid. id. ib. § 2.
Título VII - LITERATURA JURÍDICA
SUMÁRIO-33. Vários tipos de obras jurídicas
a) De carácter elementar, destinadas:
1-aos estudiosos (Definiliones, Regulas, Institutiones
ou Enchiridion)
11-aos práticos (Sententiae, Opiniones)
b) De carácter casuístico (Responsa, Quaestiones, Disputa
trones, Epistolas)
e) De carácter enciclopédico (Digesta)
-de «tios civile»: obras sistemáticas e
comentários
d) Tratados - de «ius honorarium»: ad edictum do pre
tor (urbano); aos edictos de vários ma
gistrados
e) Comentários a normas e a institutos isolados I) Obras diversas
33. As obras jurídicas elaboradas pelos jurisprudentes romanos são de natureza diver
sa. Não se sabe bem ao certo qual teria sido, cronolõgicamente, o primeiro tipo de o
bra produzida. Provàvelmente, as Definitiones e os Responsa deveriam ter sido dos
primeiros trabalhos a aparecer, pelas razões indicadas supra respectivamente a págs.
352 e 292.
Sem pretensão de estabelecer uma classificação rigorosa, é possível agrupar as obras dos j
uristas romanos em vários tipos, segundo o método que eles adoptaram ou as matérias qu
e
360
361
DIREITO ROMANO
1.« PARTE - TIT. VII
§ 33
expuseram, colocando num apartado final as obras que não ofereçam características espe
ciais.
a) Obras jurídicas de carácter elementar
Estas obras jurídicas podem ser ou do tipo de exposição sistemática sumária (v. g. as inst
itutiones) ou do tipo de análise breve de certas noções ou institutos tomados separada
mente, isto é, sem qualquer sistematização pré-estabelecida. Diferençavam-se principalment
e pelo destinatário, pois, conforme o tipo de pessoas a quem se dirigiam, as obras
tinham características diferentes. Podiam destinar-se ou a estudiosos (alunos e e
scoliastas) ou aos práticos do Direito (magistrados, advogados, funcionários dos tri
bunais, da chancelaria imperial, da administração em geral, etc.).
I -Obras jurídicas de carácter elementar destinadas a estudiosos: «definitiones», «regulae
>, «institutions»
DEFINITIONES - São explicações do significado dum termo ou duma ideia.
Este tipo de obra jurídica é de influência grega. As definitiones dos romanos correspo
ndem às obras dos gregos, denominadas üpo, (orei) = limites, fronteiras, termos; e e
stas obras gregas são de inspiração agrícola, já que «órói», rigorosamente, eram as «extremas
ites dos prédios rústicos. Portanto, a palavra de+finitiones significa estabelecer b
em, muito bem - já que a partícula de, aqui, também significa «intensidade», «muito», como v.
g. em de+rectum (vid. supra 22) - os fines (os extremos, as fronteiras), os limi
tes (daí o de+limitar), os termos (daí o de+terminar). Todos estes vocábulos significa
m «estabelecer algo com exactidão», «fixar algo com rigor»; precisar; e é afinal isso... de+
finir; nisto consistem as
definitiones. E como precisar, estabelecer bem as fronteiras, fixar bem os limit
es, é coisa difícil, daí a razão de ser última e, cronolôgicamente, a primeira do célebre bro
ardo - «omnis definitio in fure eivili periculosa est» (D. 50, 17, 202).
Escreveram de9trdtioms: QUINTUS MUCrus ScAZVOLA; e sobretudo PAPINIANUS, os famo
sos definitionum libri 2'". Exemplos de fragmentos de definitiones: D. 1,1,7; -
1,3,1.
REGULAE - São princípios fundamentais ou preceitos 4,9
jurídicos, quer de normas vigentes quer sobretudo de doutrina.
A formulação de «regulae» é já um sinal de progresso na
ciência do Direito; são um precedente da sistematização ou da
formulação (não da criação) das normas e da exposição sistemática do lua.
A «regula» é fundada no direito objectivo (res fusta) ou em decisões precedentes (quod i
udices dixerunt); não é criada por via especulativa. Com este sentido e alcance, dev
e ser entendido o brocardo -
«non ex regula ius sumatur, sed ex cure quod est (isto é, «ex co, quod est iustum vel
quod iudices iam dixerunt») regula fiat» (D. 50,17,1)410
Algumas «regulae» provém já do tempo da iurisprudentia
pontifícia, anteriores, portanto, ao séc. IV a. C.
Escreveram Regulae: NERATIUS, libri 15; MARCIANUS, libri 5; ULPIANUS, líber singul
ares (quer dizer, só 1 «livro>---rolo) 461. Exemplos de fragmentos de regulae: D. 1,
1,10; - 1,3,7.
INSTITUTIONES - B uma breve e sucinta exposição sistemática do «ius civile», sobretudo do
direito privado.
E um manual - uma exposição não-aprofundada de matérias jurídicas, devidamente sistematiza
das. Opõe-se, principalmente, a tractatus, pois o tratado é uma exposição profunda.
458 Recorde-se, aqui, o significado de libri. Eram os rolumina; e rolumen é o
rolo, geralmente, de pergaminho. Vid. supra 49.
Sobre certos problemas a respeito das Defrnitiones de PAPINIANUS, vid. Franz
WIEACKER, Textstufen klassischer Juristen (Gotinga,1960) 373-375.
459 Ver supra 71 o significado de preceito (prae-ceptum < prae+caper e). 460 Vid.
F. CAL.ASSO, Storieitd dei Diritto (Milão, 1966) 353.
461 Esta obra chegou até nós, através duma reconstituição post-clássica. Veja
-se a edição crítica de SCHULZ, Die Epitorse Ulpiani des Codex Vaticanos Regi nae 1128
(Bona, 1926).
362
363
DIREITO ROMANO
1.* PARTE - TIT. VII
§33
As institutiones são, pois, uns elementos, umas noções gerais, como a própria palavra in
dica: institutiones < instituere= =instruir, iniciar numa determinada disciplina
.
As institutiones correspondem ao tipo de livro grego denominado enchiridion <Eyx
e.p'sS~.ov~cv+Xeíp (mão) = livro que se leva na mão, um pequeno livro, um «libro de bols
illo», como dizem os espanhóis; daí a tradução «literal» francesa de manuel, e a nossa, de «m
al». A palavra institutiones deve ser traduzida em português por instituições e não por «ins
titutas». Este vocábulo é um galicismo e... de fraco gosto; foi introduzido em Portuga
l nos meados do século passado, e tem sido utilizado depois, inadvertidamente, poi
s o termo «institutiones» nunca podia originar em português «institutas» 462.
Em resumo: - enchiridion, institutiones, «manual», «instituições», assim como «elementos», «n
damentais», etc., tudo significa o mesmo: um livro, não muito grande (pois, com freq
uência, tem de ser levado na mão, é um... manual), sistematizado, destinado aos estudi
osos, com o fim de os iniciar no conhecimento de certa matéria. Não apenas de Direit
o; e assim, no séc. I d. C., temos as Institutiones Oratoriae de QUINTILIANO, no séc
. IV os Libri Divinarum Institutionum de LACTÂNCIO, etc.
Vários juristas romanos escreveram obras deste tipo 4es. Provàvelmente, já seriam umas
institutions aqueles iuris civilis libri tres de SABINUS, séc I d. C., cujos frag
mentos são transcritos, várias vezes, no Digesto. De certeza, escreveram institution
es: FLORENTINUS, ltibri 12; ULPIANUS, libri 2; PAULUS, fibri 2; MARCIANus,libri
16; CALLISTRATUS, libri 3, e os célebres libri 4 de GAtUS, a que fazemos, mais adi
ante 464, uma referéncia especial.
Exemplos de fragmentos de institutiones: D. 1,1,1;-1,1,3;-1,1,6;-1,4,1,1;-14,6,1
5; e de enchiridion, D. 1,1,2;-1,2,2.
462 Vid. Sebastião CRUZ, Institutos ou Instituições? (no prelo).
463 Sobre este problema, vid. por todos. F. WIFACKER, Textstufe,:, cit. 178-220
e 381-384.
464 Vid. infra 394-396.
II-Obras jurídicas de carácter elementar destinadas aos práticos do Direito: Sententiae»;
«Opiniones»
SENTENTIAE - Eram o conjunto de certas regras jurídicas, que vinculavam, e que mai
s se aplicavam na vida jurídica. Uma espécie de manual de direito, destinado à prática.
São famosas as sententiae (libri 5) atribuídas a PAULUS465.
Muitas sententiae foram recolhidas e conservam-se hoje na Lex Romana Wisigothoru
m, embora talvez já um pouco vulgarizadas, e algumas, no Digesto.
Exemplos de fragmentos de sententiae: D. 14,6,17; - 16,1,30.
OPINIONES - Eram o conjunto de certas regras jurídicas que se aplicavam na prática (
espécie de «topica»), quando não existissem «sententiae» (estas, como dissemos, vinculavam j
uridicamente).
As opiniones vinculavam «de facto», mas não «de iure».
São notáveis as opiniones de LABEO, também conhecidas pela sua designação em grego, ã:eaww (
pithánón), conservando-se 34 fragmentos dessas obras no Digesto, com notas críticas de
PAULUS, v.g. D. 8,5,21;-19,1,53;-33,7,29,
Exemplos de fragmentos de opiniones: D. 1,18,6;-5,2,27;-5,4,6;-6,1,54;-47,9,10.
b) Obras jurídicas de carácter casuístico: «responsa»; «quaestiones»
e «disputationes»; «epistulae»
RESPONSA - São o conjunto de pareceres dados por um
jurista a casos da sua vida prática.
São um tipo de obra jurídica muito abundante.
Quase todos os grandes jurisprudentes romanos - v.g. LABEO, SABINUS, MARCELLUS,
C. SCAEVOLA, PAPINIANUS, PAULUS, ULPIANUS, MODESTINUS-, escreveram os seus respo
nsa; geralmente, numa idade já avançada.
465 Ver. infra 432.
364
DIREITO ROMANO
1! PARTE - TIT. VII
§ 33
Muitos responsa estão redigidos em forma lacónica (famosos os de SCAEVOLA e bastante
s de PAPINIANUS); alguns contém as razões pró e contra e os termos da decisão, v.g. vários
de PAULUS
e de ULPIANUS 468.
Exemplos de fragmentos de responsa: D. 2,15,10;-14,6,16;-17.2,73;-20,4,10;-22,1,
31;-50,17,82.
QUAESTIONES e DISPUTATIONES - Alguns autores identificam estes dois tipos de obr
as juridicas; falam, portanto, de quaestiones ou disputationes.
Convém advertir:
1.^ estes tipos de obras não são originais, isto é, não foram cinventados» pelos homens do
Direito; os iurisprudentes romanos aproveitaram-nos sobretudo dos retóricos;
2.° em vários ramos do saber, diferentes do jurídico, e principalmente em certos período
s da Idade Média, fala-se não 86 de «quaestiones» ou «disputationes» mas até de «quaestiones
putatae»;
3.° em Direito Romano clássico, as quaestiones, rigorosamente, são um pouco diferentes
das disputationes, mas, algumas vezes, usam-se como termos sinónimos.
QUAESTIONES são obras jurídicas, que contêm respostas a casos hipotéticos, «casos-práticos» f
ngidos.
A propósito de cada «caso», há uma análise e discussão de opiniões contrárias, citações de le
natusconsulta e constitutiones, e ainda vários outros elementos, para que se possa
fazer uma autêntica investigação e depois tomar uma decisão neste ou naquele sentido.
Quaestioltes são obras de carácter especulativo, vasto e
profundo 467,
São um tipo de obra próprio de juristas célebres.

466 Sobre estes problemas acerca dos Responsa de PAPINIANUS, dos de PAULUS, e do
s de ULPIANUS, vid. F. WIEACKER, Textstufen cit., respectivamente, 340-373,
377.381 e 384-385. 467 Sobre este tipo de obra jurídica, usado mais tarde pelos gl
osados, e suas relações com certas obras orientais, vid. F. Scxut z, Die Quare-Sammi
ungen
der Bologneser Glossatoren und die Problemata des Aristoteles em Atti del Congre
sso Internaztonale di Diritto Romano e di Storia dei Dirito (Verona 1948)
I (Milão, 1953) 297-306. [A simples título elucidativo, diga-se que este tipo de obr
a jurídica nada tem
366
São notáveis as quaestiones de AFRICANUS, CELSUS, SCAEVOLA, PAPINIANUS, PAULUS 408,
Exemplos de fragmentos de quaestiones: D. 5,1,77;-13,4 8;-16,1,17;-18,2,18;-21,2
,69;-24,3,43;-35,2,16;-45,1,16;-47,2,79.
DISPUTATIONES são obras jurídicas, que contêm a solução de casos hipotéticos apresentados po
r motivo da docência, e reproduzem as discussões travadas no «auditorium».
São dignas de especial r-!feréncia as disputationes de TRYPHONINUS e as de ULPIANUS
4611.
Exemplos de fragmentos de disputationes: D. 3,5,37;-15,3,6;-27,1,44;-33,2,9;-40,
4,14;-48,1,5.
EPISTULAE São obras jurídicas, que contêm ora certas regras ora respostas dadas por es
crito a assuntos particulares, ora, por vezes, soluções a casos especiais 476.
Eram um tipo de obra muito frequente em Roma 471.
Deixaram-nos as suas epistulae LAuEO, PROCULUS, IAVOLENUS, NERATIUS, CELSUS, AFR
ICANUS, POMPONIUS, etc.
Exemplos de fragmentos de epistulae: D. 20,3,3;-28,1,27;-40,4,46;-40,5,20.
e) Obras jurídicas de carácter enciclopédico: «digestá»
0s digesta («libri digestorum») são obras que contêm uma exposição sistemática 172, que abran
e todo o «ius civile» e todo o «ius honorarium».
a ver com a quaestio, instituto de Direito Criminal Romano ou de Direito Proassu
al. Sobre este tema, veja-se, por todos, W. KUNKEL, Quaestio em RE XXIV' (1963)
720.786).
468 Sobre vários problemas das quaestiontes de PAPINIANUS e das de PAULUS, vid., p
or todos, F. WIEACKER, Textstufen, cit., respectivamente, 333-340 e 375-377.
469 Sobre as Disputationes de ULPIANUS, vid. também F. WIEACKER, o.c. 385-388.
470 As epistulae tratavam das coisas mais variadas. Leia-se em D. 40,5,20 o frag
mento da epistuia escrita por um velho de 78 anos a POMPONIUS, em que lhe diz qu
e a única razão de amor à vida naquela sua idade é a cupiditãr discendi; e, recordando um
provérbio grego, afirma que, embora tendo já um pé na sepultura, ainda deseja aprender
alguma coisa.
471 AULUS GELLIUS, Noct. At. 14,7, recorda-nos as epistulae de VARRÃO sobre questões
gramaticais e antigualhas.
412 Conforme já sabemos (vid. supra 3652), a palavra digesta-digestorum vem de dig
erere, que significa «digerir», isto é, ordenar, sistematizar; põr em ordem,
367
14
DIREITO ROMANO
La PARTE-TIT. VII
São um tipo de obra jurídica de grande fôlego. Só jurisprudentes de excepcional valor é qu
e escreveram destas obras.
Os primeiros digesta pertencem a ALFENUS VARUS, iibri 40 473 (séc. I a.C.). Depois
, como mais importantes, temos: CELSUS, libri 39; IULIANUS, libri 90; MARCELLUS,
libri 32; Q. Cervidius SCAEVOLA, libri 40
A ordem da exposição (sistemática) das matérias nos digesta, até Adriano, não é uniforme; cad
jurista tem a sua sistematização. Depois da publicação do Edictum Perpetuum (vid. supra
§ 31), na primeira parte dos digesta segue-se a ordem do edicto do pretor (vid. s
upra 347).
Exemplos de fragmentos de digesta: D. 8,5,17;-8,6,6;-10,1,9;-11,7,35;-20,2,10.
d) Tratados: de «ius» civile e de «ius honorarium»
0 tratado («tractatus») é uma exposição profunda de certa matéria.
Enquanto «exposição profunda», contrapõe-se a institutiones (instituições), que são uma expos
mária (vid. supra 363) ; enquanto «exposição de certa matéria», contrapõe-se a digesta, expos
de carácter enciclopédico, isto é, de todo o ius civile e de todo o ius honorarium (v
id. supra 367).
Exactamente por não serem de carácter enciclopédico, os tratados dividem-se em tratado
s de ius civile e tratados de ius honorarium.
Os tratados de ius civile compreendem: obras sistemáticas e comentários.
a)-Obras sistemáticas (v.g. os 18. ltibri iuris cvilis de QUINTUS MUCIUS Scaevola,
os 3 libri iuris civiìis de SARINUS,
expor, dispor sistemáticamente. A palavra digesta (no plural) é a que indica este ti
po de ordem jurídica. Todavia, os digesta ou as pandectac de Justiniano (ou do Cor
pus luris Civilis), a partir do século XII, são designadas pela palavra digesto
(no singular).
473 Sobre esta obra, veja-se, por todos, Luig DE SARLO. Alfeno Varo e i suei
Digesta (Milão,1940).
Há quem afirme que os primeiros digesta foram escritos por AuFioIus NAMUSA, também d
o séc. I a. C., mas anterior a ALFENUS VARUS. Não é provável.
os 15 libri iuris cvilis de CASSIUS, etc), são tratados que exerceram unia grande
influência na iurisprudentia posterior. A ordem de exposição de matérias seguida nestas
obras está longe de ser uniforme; varia muito. E assim, a sistematização da obra de Q.
MuClus Sc. é diferente da que seguiu SABINUS, que, por sua vez, é completamente div
ersa da de CASSIUS.
¡3)-Comentários são as obras denominadas ltibri ad Mucium, libri ad Sabinum, etc. i)e
todos, os mais importantes são os comentários ad Sabinum 474: de POMPONIUS, libri PA
ULUS, libri 16; de ULPIANUS, libra 51.
Exemplos de fragmentos destas obras: D. 22,5,9;-28,6,14;-31,1,7,
Os tratados de ius honorarium podem ser: ad edictum do pretor (urbano) e aos edi
ctos de outros magistrados - pretor peregrino, edis curúis, governadores das provínc
ias, etc.
A primeira obra deste género foi escrita por SERVius SULPIciUS RuFUS (séc. 1 a.C.),
em duo libra. Seguiram-se outras, sendo mais notáveis: as de LABEO, ad edictum pra
etoris urbani e' ad edictum praetoris peregrini; as de CELIUS SARINUS, ad edictu
m aedilium curulium; as de MASURIUS SARINUS, ad edictum praetoris urbani; e sobr
etudo o amplo tratado de SExTUS PEDIUS, talvez em 25 libri 475.
Depois da codificação do Edictum, ordenada por Adriano, os tratados-comentários ao edi
cto do pretor (urbano) alcançaram uni grande desenvolvimento, embora não se despreza
ssem por completo os edictos dos outros magistrados. Agora, não se fala de «libri ad
edictum praetoris urbani>, mas simplesmente de «libri ad Edictum» 476, pois o Edict
um, por antonomásia, a partir de 130, é o Edictum Ordinatum ou 'Perpetuam (vid, supr
a, 343-345), e onde se encontra só (ou quase só?) matéria de edictos do pretor urbano
(vid. supra 348), Os comentários (posteriores a 130) a edictos dos outros magistra
dos, diferentes do pretor urbano, levam a sua própria designação. E assim, por exemplo
, PAULUS escreve 78 libri ad Edictum (portanto, do Edictum Ordinatum e por conse
guinte do pretor urbano); e 2 libri edictum aedilium curulium 477; ULPIANUS, 87
libri ad Edictum,
474 Acerca dos «Sabinuskommentare» 278-331.
475 Vid. LENEL, Palingenesia 11 2-7.
476 Sobre os «Ediktkommentare» vid. F. WIEACKER, Texistufen, cit. 221-277.
477 Uma obra atribuída a PAULUS, em 23 libri, intitulada Brevis Edicti ou simplesm
ente Brevium, deve tratar-se de um epitome posa-clássico.
36; de
vid. F. WIEACKER,
Textstufen, cit.
388
369
DIREITO ROMANO
e 2 libri ad edictum curulium; GAius, 2 libra ad Edictum, 2 libri ad edictum aed
ilium curulium, e 30 libri ad edictum provineiale 4T8 (isto é, ao edicto dos gover
nadores das províncias), PoMPONtus não escreveu sobre os edictos dos outros magistra
dos, mas só ad Edictum (do pretor urbano), um tratado amplíssimo em 83 libri.
Exemplos de fragmentos destas obras: D. 1,3,13;-13,7,9;-14,6,1;-14,6,13;-16,1,2.
1.a PARTE-TIT. vII 1 33
f) Obras jurídicas diversas
São de vários tipos e tratam de assuntos diferentes. Notemos algumas espécies.
e) Comentários a normas e a institutos isolados
É verdadeiramente rica a literatura jurídica destinada a
revelar o conteúdo de certos institutos, leis ou senatusconsul
tos 479
A Lex XII Tabularum, por exemplo, é comentada por SEXTOS AELIUS PAETUS, nos célebres
Tripertita 480, por LABEO, GAIUS, etc.
Dos diversos comentários ad leges, notem-se, v.g. os feitos ad Legem luliam et Pap
iam, elaborados por MARCELLUS (libri 6), PAULUS (Abri 10), ULPIANUS (libri 20),
GAIUS (libri 15), etc. Todas as leis assim como todos os senatusconsultos foram
comentados mais ou menos amplamente, e em obras especiais ou gerais, como por ex
emplo a de POMPONIUS, 5 libri de Senatusconsultis.
Sobre os institutos em particular, lembrem-se v.g.: SERVIUS, De Dotibus; NERATIU
S, De Ritu Nuptiarum; ULPIANUS, De Sponsalibus, etc.
Sobretudo PAULUS escreve um considerável número de Importantes monografias - De Acti
onibus, De Adulteriis, De Appelationibus, De Conceptione Formularum, De Fideicom
missis, De Forma Testamenti, De Iniuriis, De Intercessionibus Feminarum, Ad Lege
m Cinciam, Ad Legem Falcidiam 481, De Of ficio Praef ecti Urbis, Ad BC Claudianu
m, Ad BC Orfitianum, Ad BC Bilanianum, Ad BC Tertullianum, Ad SC Vefaeanum, etc.
, etc. 482.
Exemplos de fragmentos destas obras: D. 1,2,1;-14,6,20;-16,1,24;-õ0,17,207.
Sobre esta obra de GAIOS, vid. F. WIEACKER, o. c. 277. Sobre esta matéria, vid. id
. ib. 389ss. Vid. infra 382 e 383.
Sobre esta obra vid. F. WIEACKER, Textstufen, cit. 423-425.
Veja-se a enumeração completa das obras de PAULUS, v.g. em LENEL, Palie genesia 1112
43; aí são indicadas 90 monografias, e muitas constam de vários libri.
I-OPERA IURIS PUBLICI - Além doa comentários ad leges, respeitantes mais ou menos di
rectamente a institutos de direito público, os juristas escreveram numerosas monog
rafias:
1 - sobre direito administrativo 483, v.g. De O f f icio Proconsulis, de PAULUS,
de ULPIANUS; De 0~o Consults, de MARCELLUS, PAIILUS, ULPIANUS, etc.;
2 - sobre direito militar, v.g. De Re Militari, escreveram monografias T., PATER
NUS, MENANDER e MACER;
3 - sobre direito fiscal, v.g. PAuLus, De lure Fisci; ULPIANUS, De Cenaibus; MAC
ER, De Vincesima Hereditatia;
4 - sobre direito criminal. Nesta matéria há numerosos comentários, sobretudo a respei
to da Lex lulia de Adulterüa 484, nomeadamente os trabalhos elaborados por ULPIANU
S, PAULUS e PAPINIANUS. Sobre penas, escreveram MARCIANOS, VENULEIUS, PAULUS e M
ODESTINUS.
II - OPERA ADNOTATA - E também muito importante a actividade de certos juristas, a
o comentarem obras de iurleprudentes anteriores, quer em forma de breves notas c
riticas, quer em forma de tratado, com citações de vários autores, decisões imperiais e
outros elementos. V.g. PROCULUS, Notae ad Labeonem, MARCELLUS, Notae ad lulianum
; PAULUS, Ad Neratium, Ad Babinum, Ad Vitelium, etc.; POMPONIUS, Ad Q. Mucium, A
d Babinum, Notae ad Aristonis Digesta, etc.; ULPIANUS, Ad Babinum.
IUI-Os juristas, algumas vezes, elaboram uma antologia das obras de certos iuris
prudentes anteriores, contendo as respostas mais notáveis, os casos de resolução mais
difícil, as opiniões mais salientes As obras deste tipo são designadas pela preposição ex.
V.g. IAVOLENUS, Ex Caseio libri 15, Ex Plautio libri 5, Ex Posterioribus Labeon
ia übri 10; POSIPONIUS, Ex Plautio libra 7.
IV -REPL+TITAE PRAELECTIONES - Trata-se duma segunda edição de obra jurídica. Conhece-
se, pelo menos, uma
478 479 480 481 482
483 Sobre esta matéria, vid. F. WisACi ea, Textatufen, cit. 391-411. 4" Acerca des
te ponto, vid. id. ib. 419-427.
370
371
DIREITO ROMANO
1.8 PARTE-TIT. VII
§ 33
repetith praelectio,de ULPIANUS, Ad'Sabinu#n, cuja, notícia nos é dada por Justinian
o (Const. Cordi 3); provàvelmente outra, também de ULPIANUS, Ad Edictúm.
V-OPERA POSTHUMA-Deste género, a obra mais célebre é a de LABEO, Libri posteriorum (ta
lvez 40); mas ignora-se quem tenha sido o «editor» da publicação 485.
Exemplos de fragmentos destas obras, contidos no Digesto, são numerosos, v.g.: D.
1,18,1;-1,18,2;-1,18,13;-1,18,14;-41,1,34;-45,1,110;-46,3,80;-46,8,16;-47,12,5;-
48,10,32;-49,15,19.
Em conclusão - Como se verifica, a literatura jurídica romana representava já formas tão
variadas como as do mundo moderno: tratados teóricos, manuais, colectâneas de casos
práticos, monografias sobre institutos isolados ou sobre certas partes do Direito
, comentários a todas as leis e senatusconsultos, estudos vários sobre as mais diver
sas matérias.
sua forma genuína, temos apenas as Institutiones de GAIus, descobertas em 1816, na
Biblioteca Capitular da Catedral de Verona, onde se encontram.
A compilação de toda a literatura jurídica pré-justinianeia foi feita por BAVIERA, RICCO
BONo, FERRINI, FURLANI e ARANGIO-RUIZ, em Fontes Iuris Romani Anteiustiniani (FI
RA), 3 vols., também já nossos conhecidos (vid. supra 153).
-0 elenco completo das obras dos juristas romanos, por ordem alfabética de autores
, é reproduzido por LENEL, Palingenesia II 1241-1246.
- 0 índice das obras e dos livros compilados no Digesto é fornecido, por ordem alfabét
ica de autores, por KRüGER, na edição MOMMSEN-KRUGER, Digesta ed. 18. (Berlim,1965), Ad
ditamentum II, págs. 932-944.
- A reconstituição de todas as obras dos juristas romanos, utilizando os fragmentos
contidos em qualquer fonte, foi feita por Otto LENEL, Palingenesia Iuri8 Civilis
, 2 vols. (Leipzig,1889).
-As obras dos juristas anteriores a Adriano foram compiladas por BREMER, Iurispr
udentiae Antehadrianae supersunt, 2 vols. (1896-1901).
- A parte mais importante da produção jurídica romana encontra-se, como já sabemos (vid.
supra 36), no Digesto. Certos fragmentos de obras originais chegaram até nós em for
ma de epítomes ou de colectâneas destinadas ao ensino ou á prática. Na
485 AULUS GELLIus, Noct. At. 3,10,2.
372
373
Título VIII -PRINCIPAIS JURISCONSULTOS
34. Não vamos mencionar sequer os nomes e respectivas obras de todos os «iurispruden
tes» romanos conhecidos. Quem desejar obter esse conhecimento poderá ver Otto LENEL,
Palin.genesia Iuris Civilis II (Leipzig,1889) 1241-1248; e a quem pretendesse m
ais esclarecimentos bastaria ler, por exemplo, Wolfgang KuNKEL, Herkunf t und so
ziale Stellung der rómischen Juristen (Weimar,1952), sem dúvida a melhor obra recent
e sobre a matéria.
Também não vamos analisar a personalidade e respectiva bibliografia dos jurisconsult
os romanos importantes. Porém, a título de mera curiosidade científica, indicaremos es
ses nomes, colocados no seu século, com a data do falecimento, certa ou provável, e
com alguma referência bibliográfica, designando com um asterisco (*) os nomes daquel
es que, adiante, vão ser examinados em particular.
Apenas analisaremos, e muito sumàriamente, os jurisconsultos romanos principais (é e
xactamente a designação deste tít. VIII), indicando uma ou outra obra. Correspondem, p
ois, aos importantes indicados com um asterisco(*).
375
DIREITO ROMANO
1* PARTE -TIT. VIII § 34
Indicação de jurisconsultos romanos importantes 'se Séc. Ill a.C.
1 - ApiUS CLAUDIUS (CAECUS), t 280(?) a.C.: deu ocasião ao denominado «lus Flavianum
r (vid. supra 290). Cf. D. 1,2,2,36.
2--Tiberius CORUNCANIUS, t 251(?) a.C.: concorreu para a laicização da iurisprudenti
a (vid. supra 290). Cf. D. 1,2,35 e 38.
3 - Q. MUCIUS SCAEVOLA, t 290 a.C.: a este provàvelmente se refere POMPONIUS em D.
1,2,2,37. Há vários juristas com este mesmo nome e apelido; o nomen (vid. supra 59)
de SGAEVOLA era -muito frequente.
Séc. 11 a.C.
4 - Sextus AELIUS ; AETUS (CATUS), t 185(?) a.C.: Tripertita. Cf. D. 1,2,2,38.
5-M. PORCIUS (CENSORIUS) t 149 a.C.: Commentaria luris Civilis.
6 - Manius MANILIUS, t 134(?) a.C.: Libri Actionum; autor de certos formulários pa
ra a compra e venda.
7 - M. IUNIUS BRUTUS, t 118(?) a.C.: De lure Civili libri tres. Cf. D. 1,2,2,39.
8-P. MUCIUS SCAEVOLA, t 115 a.C.: é muito citado pelos juristas posteriores; é filho
também dum P. MUCIUS SCAEVOLA, t 169(?) a.C., que, por sua vez, é filho de Q. MUCIU
S SCAEVOLA, t 209 a.C., indicado supra no n , 3.
Séc. I a.C.
MUCIUS Scaevola, t 82 a.C.: luras cavalis libri 18 (comentados por POMPONIUS, e
por GAIUS); SpoVsive dejinitionum liber singularis.
10-C. AQUILIUS GALLUS, t 59(?) a.C.: o provável autor da actio doli (ou de dolo),
da stipulatio aquiliana e de várias cláusulas testamentárias.
SULPICIUS RUFUS, t 43 a.C.: De dotibus liber singularis; Ad edictum (ad Brutum)
libri 8;
Reprehensa Scaevolae capita; De sacria detestandis.
12-P. AUFIDIUS NAMUSA, t 30(?) a.C.: (discípulo de RUFUS): Digestorum (?) libri 14
0 (vid. supra n. 473).
* 13-P. ALFENUS VARUS, t 28(?) a,C. (discípulo de RUFUS ) Digestorum libri 40; Con
iectaneorum libri; Digestorum a Paulo epitomatorum libri.
Séc. I d.C.
* 14 M. Antistius LÁBEO, t 10(?), fundador da Escola Proculeiana: Ad XII Tabulas l
ibri; Ad edictum Praetoris Peregrini libri; Ad edictum Praetoris Urbani libri; E
pistularum libri; m0avcãv a Paulo Epitomatorum libri 8; Posteriorum libri (posthum
i), publicados por IAVOLENUS; De iure pontificio libri XV, etc.
15 - C. Ateius CAPITO, t 22, fundador da Escola Sabiniana; Coniectaneorum libri
IX; De pontificio iure libri 7, etc.
16-PROCULUS, t 47(?), deu o nome à Escola Proculeiana (cf. D. 1,1,2,51 e 52): Epis
tularum libri 11 (?) ; Notae ad Labeonem; Ex posterioribus Lebeonis libri, etc.
17-Massurius SABINUS, t 48(?) (cf. D. 1,2,2,50), deu o nome à Escola Sabiniana: Ad
Edictum praetoris urbani; De furtis liber singularis; luras Civilis libri (? ),
etc.
18-C. CASSIUS LONGINUS, t 70(?), sabiniano (cf. D. 1,2,2,51): Iuris Civilis libr
i 10 (? ).
19-C. NERVA (pater), t 33, proculeiano; bastante citado pelos juristas posterior
es.
20-C. NERVA (filius), t 75(?), proculeiano (cf. D. 1,2,2.52): De usucapionibus l
ibri.
21-PLAUTIUS, t 76: Libri ad Edictum, depois comentados por IAVOLENUS, POMPONIUS
e PAULUS.
22 - IAVOLENUS Priscus, t 98(?), sabiniano: Ex Cassio libri 15; Ex Plautio libri
5; Epistularum libri 14; Ex posterioribus Labeonis libri 10.
Séc. II d.C.
23-NERATIUS Priscus, t 125(?), talvez um dos últimos proculeianos importantes: Lib
ra Epistularum; Melnbranarum libri 7; De nuptiis liber sin
9-QUINTUS
11 - SERVIUS
486 Há bastantes juristas com o mesmo apelido (nomen) ; indicamos em versaletes a
designação por que são mais conhecidos. 0 sinal t indica o falecimento.
376
377
DIREITO ROMANO
1.* PARTE-TIT. VIII
§34
gularis; Libri ex Plantio; Regularum Libri 15; Responsorum Libri 3.
24-Iuventius CELSUS (Celsus filias), t 140(?), representante ilustre da Escola P
roculeiana: Digestorum iibri 39; Libri epistuiarum; Libri commentariorum; Libri
quaestionum.
25-Salvius IULIANUS, sabiniano e o mais ilustre de todos os juristas romanos, f
168(?): De ambiguitatibus liber singularis; Digestorum libri 90; Libri ad Edictu
m; Ad Minicium («ex Minicio») libri 6; Ad Urseium Ferocem libre 4.
26-TERENTIUS CLEMENS, t 169(?): Ad Legem Juliam et Pa piam Libri 20.
27 - Sextus Caecilius AFRICANUS, t 170(?) : Quaestionum libri 9; Epistularum Lib
ri 20 (ou mais).
28-L. Flavius ABURNIUS VALENS, t 171(?): Fideicommissorum libri 7; Actionum libr
i ( ? ).
29 - Sextus POMPONIUS, t 172(?): Ad Sabinum libri 36; Ad Edictum libri 150 (ou m
ais); Ad Plautium (ex Plantio) Zibri 7, etc.
30-VENELEIUS Saturninus, t 173(?): De Stipulationibus libri 19; Actionum Libri 1
0; De Interdictis Libri 6; Disputationum Libri 7 (ou mais); De Iudiciis Publicis
libri 3; De Officio Proconsulis libri 4; De Poenis Paganorum liber singularis.
31--GAIUS, t 180(??): Institutiones; Ad Edictum Provinciale et Aedilium Curulium
libri 32, etc.
32 - Volusius MAECIANUS, t 181 ( ?): Fideicommissorum libri 16; De ludiciis Puba
ecis libri 14.
33 - Ulpius MARCELLUS, t 185(?): Digestorum Libri 31; Ad Legem luliam et Papiam
libri 6, etc.
34-FLORENTINUS, t 190(?): Institutionum Libri 12.
35---Q. Cervidius SCAEVOLA, t 195(?):Digestorum libri 40; Quaestionum libri 20,
etc.
Séc. III d.C.
38-Arrius MENANDER, t 215(?): De Re Militari iibri 4.
39-TRIPHONINUS, t 216(?): Disputationum Libri 21; Notae ad Scaevolam.
40-Iulius PAULUS, t 226(?): Ad Edictum Praetoris libri 78; Ad Edictum Aedilium C
urulium iibri 2; Quaestionum libri 26, etc., etc.48?
41 - Domitius ULPIANUS, t 228: Ad edictum libri 80 (e mais S libri ad Edictum Ae
dilium Curulium); Ad Sabinum libri 51; Ad Legem luliam et Papiam libri 20; e mui
tas outras obras menores e libri singulares.
42 - Aelius MARCCANUS, t 230(? ): Institutionum libri 16; De Appellationibus lib
ri 2; De Delatoribus liber singularis; Ad Formulam Hypothecariam liber singulari
s; De ludiciis Publicis iibri 2; Notae ad Papiniani de Adulterais libros; Ad SC
Turpilianum liber singularis.
43-Aemilius MACER, 'i 234(?): De Appellationibus libri 2; De Iudiciis Publicis l
ibri 2; Ad Legem vicensimam Hereditantium libri 2; De Officio Praesidis libri 2;
De Re Militari libri 2.
44-Herennius MODESTINUS, t 240(?): Responsorum libri 19; Regularum libri 10; Pan
dectarum libri 12; Differentiarum libri 9, etc.
Séc. IV d. C.
45-ARCADIUS CHARISIUS, t ? (no séc. IV): De Muneribus Civilibus liber singularis;
De Officio Praefecti Praetorio liber singularis; De Testibus liber singularis.
46-HERMOGENIANUS, t '. (no séc. IV): luris Epittmarum libri 6; Fideicommissorum li
bri (7).
EM RESUMO
0 número dos jurisconsultos romanos conhecidos, da República e do Império, a principia
r em Sextus AELIUS 'PAETUS (CATUS) e a concluir em HERMOGENIANUS, é de 92. 0 elenc
o alfabético e cronológico encontra-se em Otto LENEL, Palingenesics Iuris Civilis II
(Leipzig,1889) 1241-1248.
487 Vid. supra 370 e n. 482 e infra 399.
36 - Aemilius
PAPINIANUS, t 212:Quaestionum libri 37 (com Notae de PAULUS);Responsorum libri 1
7 (com Notae de PAULUS e de ULPINAUS); De Adulterais libri 2; Definitionum Libri
2.
37-CALLISTRATUS, t 213(?): De lure Fisci et Populi libri 4;
De Cognitionibus libri 6; Ad Edictum Moni
torium libri 6; Institutionum libri 3; Quaes
tionum libri 2.
378
379
DIREITO ROMANO
1.^ PARTE - TIT. VIII
Desses 92, 22 pertencem à época republicana e 70 à do Império.
Da sua vida, sabe-se muito pouco; em geral, só o que pode deduzir-se da sua obra.
Os elementos históricos e as inscrições, em regra, falam apenas dos que desempenharam
altos cargos na chancelaria imperial. Dos outros, em número aproximado de 50, só nos
são conhecidos os nomes através de citações.
Na compilação justinianeia, foram utilizadas as obras de 39 juristas (ou 40, se incl
uirmos VITELLIUS, pois é duvidoso de que se deva considerar jurisconsulto); desses
39 ou 40, 33 são da época do Império.
As obras dos jurisconsultos chegaram até nós sobretudo através do Digesto do Corpus Iu
ris Civilis; e a sua reconstituição (?) foi feita por Otto LENEL, Palingenesia luris
Civilis
2 vols. (Leipzig, 1889).
De todos os jurisconsultos conhecidos fizemos uma primeira selecção, indicando 46 co
mo juristas importantes.
Agora, desses 46, faremos uma brevíssima análise a 21, considerando-os como juristas
principais.
Como esta matéria, embora de fácil compreensão não é de igual fixação, e porque isso nos pare
e ter uma certa utilidade, apresentaremos, em vez de sumário de matérias, um gráfico (
colocado entre as págs. 384 e 385). Através dele, poderá localizar-se melhor: a época hi
stórica do Ius Romanum e o ambiente (característica dessa época) em que viveu um certo
iurisprudens; o
movimento ascensional ou descente em que ele se enquadra; a escola a que pertenc
e.
Intencionalmente, não apresentamos os jurisconsultos referidos a um período politico
, como procedem os AA., mas à época histórica do lua Romanum, procurando na medida do
possível
estabelecer uma data, certa ou aproximada, da sua morte, para afirmar, mais uma
vez e concretamente, que, em tudo, o critério orientador deve ser, em primeiro lug
ar, o jurídico interno e não
o político. (Vid. supra 43).
Época arcaica (753-130 a.C.). Característica:; imprecisão
I Sextus AELIUS PAETUS (CATUS) -0 elemento mais representativo da época arcaica, e
já da segunda etapa (242-130 a.C.), é sem dúvida este jurisconsulto. E a figura mais
ilustre dos
«veteres» 488. Cf. D. 1,2,2,38 489. Sextus AELIUS PAETUS, cognomi
nado CATUS («o sagaz», cônsul em 198 a.C., censor em 194 a.C., deve ter falecido à volta
do ano 185 a.C.
-A primeira obra que publicou, ao que parece, foi uma cujo título original se desc
onhece mas que é citada pelos autores antigos sob a denominação de lus Aelianum. Era u
ma colectânea de formulários de legis actiones, incluindo muitos que tinham sido acr
escentados durante um século após a publicação do lus Flavianum (vid. supra 181 e 290).
Cerca de meio século mais tarde, Manius MANILIUS publicava uma colectânea semelhante
, de formulários para negócios de compra e venda.
Estas obras - o lus Flavianum, o lus Aelianum e, chamemos-lhe assim, o «Ius Munili
anum» - reflectiam nitidamente o velho tipo a-sistemático da « iurisprudentia cautelar»9
90
Chegara porém o momento de os juristas elaborarem já um estudo sistemático do Direito.
488 PoMPONIUS chama «veteres» aos jurisconsultos do período que vai até fins do séc. Il a.
C. Vid. n. seguinte.
489 Os dados que temos a respeito dos jurisconsultos da época arcaica são-nos fornec
idos, quase unicamente, por uma obra de PoMPONIUS intitulada Liber si»Rularis Ench
iridii; a primeira parte dessa obra encontra-se integralmente em D.1,2,2. Embora
certas informações fornecidas por POMPONIus não sejam inteiramente fidedignas, este f
ragmento, conservado em D. 1,2,2, é de enorme valor, porque, a respeito dos Jurisp
rudentes mais antigos, é hoje a única fonte. Quanto aos jurisconsultos do período do últ
imo século da República, já os dados recebidos de PoMPONIUS podem ser completados e até
corrigidos, pelas informações que se encontram, v.g., nas obras de CICERO, VARRÃO, CÉSAR
, etc.
490 Como sabemos (vid. supra 291), a primeira função dos «iurisprudentes» era cavere-ist
o é, mostrar os formulários próprios, e, se fosse necessário, criar outros, para usar em
processo e nos negócios jurídicos.
381
r
380
DUM= ROMANO
Esa orientação foi, pela primeira vez, apresentada por Sextus AEmus PAETUS na sua ob
ra Tripertita. Contém a lei das XII Tábuas, a interpretatio e as legis actiones; por
isso, se denomina Tripertita.
Essas três partes, porém, não são, como à primeira vista poderá supor-se e como alguns autor
es afirmam, três secções ou capítulos distintos - Lex XII tabularum, interpretatio, acti
ones 491 -; mas, sim, cada norma da Lei das XII Tábuas é seguida da interpretatio e
da acta correspondentes 492.
Esta obra, portanto de carácter misto, marca a transição dos métodos puramente casuísticos
(grosseiros) para uma nova orientação, que talvez já possa chamar-se científica. Esta o
rientação foi devida à influência da literatura grega, que, desde os últimos anos do século
III a. C., principiava a ser conhecida em Roma. Os juristas romanos aprenderam d
os retóricos e filósofos gregos o método dialéctico e adaptaram-no ao Direito (vid. supr
a 287-289 e 352). Agora, não contentes com a mera aplicação simplista de normas e de f
ormulários existentes a situações concretas previstas, ou até com inventar novos formulári
os que correspondiam a novas necessidades (casos não previstos), os iurisprudentes
começaram a investigar as relações lógico-jurídicas entre as instituições e os vários instit
s, criando uma série de conceitos, que eles definem e classificam. Esta assombrosa
elaboração científica do Direito levou muito tempo; não se sabe bem como se processou;
mas o ponto de arranque foi esta obra extraordinária de Sextus AELIUS PAETUS, Trip
ertita. Exerceu considerável influência durante várias gerações. POMPONIUS (D. 1,2,2,38) c
hama-lhe «veiuti cunabula iuris civihs> 493, pois, na verdade, constitui um
491 Por isso, alguns desses autores facilmente confundem e identificam o lus Ael
ianum, a que acima fizemos referência, ora com a primeira parte dos «Tripertita», ora
com a terceira parte.
492 Como sabemos (vid. supra 181), é com esta obra, mas sobretudo com a sua primei
ra parte (a que também se chama, lato sensu, «lus Aelianum»), que LAMBERT pretendia id
entificar a lei das XII Tábuas.
493 No mesmo sentido, CICERO:
De Repubi. 1,30: «Hic Aelius: seio tibi placere, Africane; saepe enim ex te audivi».
De Orat. 1,212: «Sin autem quaerentur quisnam iuris consultus vere nominaretur, su
ar dicerem qui legum et consuetudinis est, qua privati in civitate uterentur, et
ad respondendum et ad agendum et ad cavendum peritos esset, et ex co genere Ser
. Aelium... nominaena>.
382
1." PARTE - TIT. VIII § 34
precioso comentário ao ius civile, derivado das leia e da interpretatio. Recolhe e
sintetiza todo o trabalho dos séculos precedentes. Logo na sua época teve uma enorm
e ressonância, porque, em confronto com a iurisprudentia prática-rudimentar do tempo
, é notável, pela direcção completamente nova que Imprime.
A obra não chegou até nós; perdeu-se; mas CICERe494 diz-nos que Sextus AELius PAETUS s
eguiu um método que hoje bem poderíamos classificar de bastante semelhante ao dos gl
osadores de Bolonha.
Além do lua Aelianum e dos Tripertita, atribuem-se a Sextus AELIUS PAETUS outras o
bras (vid. D. 1,2,2,38). Não deve ser exacto. De todos é sabido como, na antiguidade
, a falsificação literária era frequente 495.
Ainda no séc. II a. C., são dignos duma referência especial Manius MANILIUS t 134 (?)
a. C., Marcus IUNIUS BRUTUS t 118(?) a.C., e P. Mucius SCAEVOLA t 115 a.C. Pouco
mais se conhece que os seus nomes e alguma coisa da sua carreira política, mas Po
MPONIUS (D. 1,2,2,39) afirma que eles «fundaverunt tios civile» - expressão que indica
a importância atribuída pelos jurisconsultos posteriores aos seus escritos jurídicos.
Época clássica (130 a.C.-230 d.C.). Característica geral: exactidão; precisão
a) -1.' etapa, pré-clássica (130-30 a.C.) Característica especial: período de intenso de
senvolvimento ascensional

II - QUINTUS MUCIUS Scaevola - Nascido por volta do ano 140 a.C., filho de Publi
us Mucrus t 132(?) a.C, e neto de P. MUCIUS
494 CICERO,. De oral. 1,193: «Quem haec Aeliana studia delectant, plurima est et i
n omni lure civili et in pontifrcum libris et in X11 Tabulis antiquitates effigi
es, quod et verborum vetustas prisca cognoscitur et actionum genera quaedam maio
rim consuetudinem vitamque declaram».
495 Sobre este problema, ver, por exemplo, Perca, Die geschichtliche Literatur I
I (Leipzig,1931) 435.
383
t
1
DIREITO ROMANO
1.` PARTE - TIT. VIII
§ 34
SCAEVOLA (a que se fez referência supra 376 n.° 8), cônsul em 95 a.C., mais tarde pont
ifex maximus496, governador da província da Asia em data que não pode precisar-se, m
orreu em 82 a.C., assassinado pelos partidários de Mário.
Dotado de raro saber e duma sólida formação filosófica, foi altamente considerado pelos
seus contemporâneos e pelas gerações imediatas, apresentando-o como verdadeiro modelo
de jurisconsulto. Os-seus escritos gozaram de enorme autoridade, e foram comenta
dos por vários jurisprudentes coevos e de épocas posteriores, v.g. POMPONIUS e GAIus
..
A sua obra mais importante denomina-se luris Civilis libri 18.É o primeiro grande
tratado sistemático do ius civile, onde é elaborada uma construção metódica e científica do
Direito. Por isso, constitui um dos melhores modelos de todos os tratados sistemát
icos de comentário ao ius civile, posteriormente publicados, e, por essa razão, deno
minados libri ad Mucium. Nessa obra, a exposição das matérias é feita com base em definições
gerais (genus), que se subdividem em várias figuras (species). Estas, portanto, têm
umas características diferenciais (específicas) e outras comuns.

Este processar da elaboração científica, seguido por Q. Mucius Scaevola, permanece con
stante através de toda a iurisprudentia romana, atingindo um dos pontos mais eleva
dos com SERVIUS SULPICIUS RUFUS. E assim: «) -provenientes de Q. MUCIUS Seaevola o
u de juristas deste período (130-30 a.C.), temos «genera et species furtorum, posses
sionum, actionum, tutelarum, donoram»; p) -mais tarde, PEDIUS (D. 2,14,1,3;-2,14.5
) cria o genus e as species conventionum; ¡) - e CELSUS (D. 12,1,1,1 e 3), o genus
credendi de que o mútuo é uma species. Este método, que provém de
496 Para evitar confusões, note-se que, por estas alturas, há três juristas com os mes
mos nome e apelido:
1-Quintus Muctus SACAEVOLA, pretor em 215 a.C. e falecido em 209 (?) a.C. (vid.
supra 376 n.° 3);
2-Quintus Muctus SCAEVOLA, cônsul em 117 a.C., conhecido por augur (uma magistratu
ra sacerdotal), falecido em 110(?) a.C.; 3-e este QUINTUS Muctus Scaevola, o pon
tifex, falecido em 82 a.C.
384
certos modelos estóicos, aplicado à iurisprudentia, deu muito bons resultados.
QUINTUS MUCIUS Scaevola escreveu ainda um bpov seu Def7nitionum liber singularis
. Entre as numerosas definitiones apresentadas, notável é a que se conserva em D. 50
,17,73,4: «Nec paciscendo nec legem dicendo nec stipulando quisquam alteri cavere
potestr 497.
As deiinitiones e as regulae, como já acentuámos (vid. supra 363), são sintomas caract
erísticos de progresso na Ciência do Direito. Nunca é demais sublinhar que a regula é fu
ndada sobre o iustum (direito objectivo) ou sobre decisões precedentes; não é criada p
or tuia meramente especulativa; daí que «non ex regula ius sumatur, sed ex lure quod
est regula fiar» (D. 50,17,1), que podemos traduzir: «não exista direito, porque há reg
ra; mas porque há direito (sentido objectivo, vid. supra 17.3.°), surja a regra».
Algumas regras e definições provém já da iurisprudentia pontifícia. Com esta obra de QUINT
US MUCIUS Scaevola alcançaram um notável incremento.
Há quem afirme que Muclus Scaevola fundou uma escola doutrinária (a escola muciana)
e que seria coeva e até adversária da escola serviana. E muito duvidosa a existência d
essas escolas; mas é certo QUINTUS MUCIUS Scaevola ter formado vários discípulos, send
o AQUILIUS GALLUS (vid, supra 376 n.° 10) o mais importante.
III - SERVIUS SULPICIUS RUFUS - Oriundo de família patrícia mas não de estirpe nobre,
cônsul em 51 a.C., falecido em 43 a.C.,
superior a QUINTUS MuCiUS Scaevola, é o maior jurista do seu século e um dos maiores
de todos os tempos 498,
Segundo CfcERO, foi ele quem elevou o Direito à dignidade de Ciência.
Uma das suas maiores glórias consiste em ter fixado a terminologia jurídica, que, em
grande parte, é a actual. Antes, o iurisprudens utilizava a linguagem corrente.
497 «Ninguém pode negociar a favor de terceiro, nem por meio do «ius honorariuni» (pacis
cendo) nem por meio do «ius civile» (legem dicendo) nem por meio do «ius gentium » (stip
ulando).
498 ARANGIO-RUIZ costumava dizer: para mim só há dois juristas verdadeiramente grand
es em todo o mundo - SERVIUS SULPICIUS RUFUS, (t 43 a.C.) e Vittorio SCIALOJA (1
856-1933).
385
i
DIREITO ROMANO
Escreveu uns 180 libri, mas apenas se conhece a designação de quatro: De Dotalibus l
iber singularis; Ad Edictum (ad Brut,um) libri 2; Reprehensa Scaevolae Capita 49
9; De Sacris
Detestandis.
8 autor do primeiro comentário ao edicto do pretor (urbano), isolado; não do Ordinat
um, pois este é de 130 d. C. (vid. supra 369). Exerceu uma influência decisiva no pr
ogresso da iurisprudentia.
Para isso, muito contribuíram as discussões vivissimas travadas com QUINTUS MUCIUS,
a que se refere POMPONIUS (D. 1,2,2,43). Entre as várias controvérsias, ficou célebre
a relativa à societas e de que nos fala GAIUS III 149. A doutrina de SERVIUS a res
peito de certos problemas de sociedades, nomeadamente quanto à contribuição e distribu
ição desiguais respectivamente de bens e de lucros entre os sócios, segundo J. KOHLER
suo, é uma das mais extraordinárias conquistas da iurieprudentia de todos os tempos;
associa-o que até aí nunca se tinha feito -o engenho, a técnica a capacidade individua
l e o capital. Essa construção doutrinária de SERVIUS originou um grande impulso no de
senvolvimento industrial e comercial, e, portanto, na criação de riqueza sol.
As doutrinas de SERVIUS SULPICiUS RUFUS foram recordadas, e por vezes transcrita
s, através de toda a época clássica.
Teve uma grande escola, com numerosos discípulos. PoMPONIUS (D. 1,2,2,44) refere-s
e aos mais importantes. Os principais foram AULUS OFILIUS, amigo e familiar de Júl
io César, e Publius (?) ALFENUS VARUS.
IV - Publius (?) ALFENUS VARUS - Oriundo de Cremona, filho dum sapateiro, cônsul e
m 39 a.C., protector de Virgílio, recordado por Horácio, falecido em 28 (?) a.C., P.
ALFENUS VARUS foi o maior discípulo de S. S. RUFUS.
A sua obra principal: Digestorum libri 40 502.
499 Baseados nesta obra, alguns AA. sustentam que SERVIUS Su1.Picius RuFus fundo
u e dirigiu uma escola doutrinária, divergente e rival da escola muciana: a escola
serviana (vid. supra 385).
soo Joseph KOULER, Das Ideale Recht (Munique,1946) 42.
501 Essa doutrina foi elaborada a propósito da questão entre Róscio e Fânio,
da qual CÍCERO trata longamente na célebre oratio «Pro Roscio Comoedo».
502 Quanto a outras obras suas, indicadas supra 377 n.° 13, vid., por todos,
WIEACKER, Textstufen, cit. 63.
386
1.a PARTE-TIT. VIII 4 34
Foi, de certeza, o primeiro autor S03 a escrever um trabalho do tipo dos Digesta
. Trata-se duma obra notável. Segundo a melhor opinião, não chegou genuína à época de Justin
iano, mas unicamente através de dois epítomes: um elaborado por PAULUs e outro por u
m anónimo 504.
Os Digesta de ALFENUS VARUS foram muito comentados em toda a época clássica.
Ao que parece, não é uma obra, produto do génio de ALFENUS VARUS, mas uma recompilação, el
aborada por ele, de vários ensinamentos do seu mestre SERVIUS SULPICIUS RUFUS. As
fontes gregas, que reproduzem fragmentos dessa obra de ALFENUS, mostram-no clara
mente. Doroteu (membro da comissão encarregada da compilação justinianeia), tradutor d
os fragmentos desses Digesta para grego, conservou o nome de SERvlus nos fragmen
tos, o que foi eliminado pelos compiladores, mas nem sempre (certamente, por lap
so, como tantas vezes acontecia com esta espécie de interpolações-omissões), v.g. D. 3,5
,20pr.;-33,7,16;-46,3,67.

b) -2. a etapa, época clássica central (30 a.C.-130 [ou 212] d.C.). Característica esp
ecial: período de esplendor e da maior perfeição do Direito Romano
A época clássica central inicia-se com duas famosas Escolas, fundadas por LABEo e CA
PITO, conhecidas pelos nomes dos respectivos discípulos, PRocuLus e SABINUS. A con
traposição dessas escolas, ao que parece, não é baseada em razões políticas, filosóficas ou d
utrinárias, mas simplesmente em motivos de ordem técnica: a) ou resolvendo dum modo
diferente alguns problemas, v.g. a respeito de quem pode ser legatário
503 Há quem defenda que o primeiro foi P. AUFIDIUS NAMUSA, escrevendo Digestorum l
ibri 140 (ou 40?); vid. supra 377 n.° 12. Não é provável. 504 Vid., por todos, Luigi DE
SARLO Alfeno Varo e suoi Digesta (Milão,1940)1.6.
387
DIREITO ROMANO
1. PARTE -TIT. VIII
no legatum per praeceptionem (vid. supra 255) ; b) ou apresentando fundamentação ou
instrumento jurídico diferente para chegar à mesma conclusão. Por exemplo, nlim cào-conc
reto, entendem as duas Escolas que se deve conceder actio; mas os sabinianos diz
em que a actio é civilis, os proculeianos, que é praetoria.
No entanto, podemos notar como certa esta característica geral: os proculeianos er
am mais audazes nas suas opiniões, mais inovadores; os sabinianos, mais conservado
res, mais tradicionais, mais cautelosos nas suas opiniões.
Estas duas escolas duraram cerca de dois séculos.
Nomes importantes:
- da Escola proculeiana, além de LABEO, PROCULUS, NERVA (pai e filho), NERATIUS PR
ISCUS, CELSUS (sobretudo, CELSUs f ilius) ;
- da Escola sabiniana, além de CAPITO, SABINUS, CASSIUS LONGINUS, IAVOLENUS e sobr
etudo IULIANUS.- [GAIUS ainda se considera... sabiniano].
Dos fundadores e continuadores das chamadas Escolas proculeiana e sabiniana, o j
urista de maior relevo é LABEO.
V - Marcus Antistius LABEO - Filho de Pacuvius Antistius LABEO (um dos conjurado
s contra César), nascido em 50(?) a.C., pretor no tempo de Augusto, tendo recusado
deste Imperador a magistratura de cônsul para melhor se entregar ao estudo, falec
ido em 10(?) d.C., foi um jurista que deu enorme Impulso
ao desenvolvimento da iurisprudentia.
Foi o iniciador do período da grande literatura clássica.
Muito estudioso; passava seis meses do ano em Roma, a ensinar, e os outros seis
meses numa aldeia, não se sabe onde, a preparar e a escrever os seus trabalhos.
Autor fecundo; produziu 400 volumina.
Dotado de grande preparação literária, foi um iurisprudens muito original, enfrentando
com novas forças os mais delicados problemas jurídicos.
388
De tudo isto nos fala POMPONIUS em D.1,2,2,47, concluindo: «Labeo ingenii qualitat
e et f ducia doctrinae, qui et ceteris opens saptentiae operam dederat, plurima
innovare instituit».
LABEO como que absorveu e refundiu as obras anteriores. Os jurisconsultos poster
iores, muitas vezes, limitam-se a fazer comentários às suas doutrinas e numerosas de
cisões.
As obras principais já foram indicadas supra 377 n.° 14.
LABEO exerceu uma especial influência, atracção e simpatia, através dos tempos. PERNICE
dá ao seu «tractatus» de Direito Romano a designação de Labeo; em 1955, surge em Nápoles uma
nova revista de Direito Romano, intitulada «Labeo».
VI - Caius Ateius CAPITO - Nascido em data que não pode bem precisar-se, cônsul no a
no 5 d.C., curator aquarum desde 13 d.C., falecido em 22, foi, como dissemos, o
fundador da escola sabi
niana.
Foi importante, no seu tempo, por ter sido rival de LABEO, e
por ter aderido ao novo regime politico, o principado.
Pouco original, não exerceu influência posterior. Escreveu pouco (vid. supra 377 n.^
15) e sem grande valor. São bem sintomáticos os termos com que POMPONIUS a ele
se refere (D.1,2,2,47) : «Ateias Capito in his, quae ei tradita
f uerant, perseverabat».
VII - PROCULUS - Este jurista é conhecido só pelo seu cognomen.
Discípulo de LABEO, deu, como dissemos, o nome à Escola fundada por este -Escola Pro
culeiana. Não se sabe nem quando nem onde nasceu. Segundo o que pode deduzir-se da
s fontes, deve ter fale
cido depois do ano 33 d.C.; provàvelmente, à volta de 47.
Escreveu sobretudo comentários a LABEO (vid. supra 377 n.^ 16).
A sua obra tem certo valor, segundo afirma POMPONIUS (D.1>2,2,52): «...sed Proculi
a,uctoritas maior fuit, nam etiam plurimum potuit».
389
1
DIREITO ROMANO
La PARTE - TIT. VIII
§ 34
VIII - Massurius SABINUS - Continuador de CArtTO, foi o verdadeiro fundador da E
scola que tem o seu nome - sabintana. Natural provàvelmente de Verona, nascido nos
primeiros anos do principado, dotado de ius respondendi concedido por Tibério, fa
leceu
em 48(?) 505,
E o maior jurista de todo o séc. I, depois de LABEO.
A sua obra principal - libri tres iuris civilis - foi muito comentada durante a ép
oca clássica. São famosos os comentá
rios ad Sabinum de POMPONIUS, de PAULUS e de ULPIANUS.
No séc. I, toda a iurisprudentia é dominada por duas gran
des figuras: LABEO e SABINus.
IX - IAVOLENUS PrisCUS - Nascido em lugar e data que não podem bem determinar-se,
procedente da classe senatorial, desempenhou cargos importantes, militares e civ
is, em Africa, Germània, Síria, Dalmácla, Britânla, etc.; foi cônsul em 87(?) e, finalment
e,
membro do consilium principia 506, cargo que ocupou até à morte, já de avançada idade, o
corrida cerca do ano 98.
Foi sabiniano. Chegou mesmo a classificar a Escola.
A sua maior glória é ter sido o mestre de IULIANus.
As suas obras (vid. Supra 377 n.° 22 a indicação das principais) já denotam existir pouc
a diferença entre proculeianos e sabinianos.
X-Iuventius CELsus (Celsus filius)-Filho de Iuventtus
CELsus (Celsus pater, também jurista de bastante valor), nascido em data incerta,
pretor no ano 107(?), cônsul em 129, mem
bro do consilium principia no tempo de Adriano, deve ter falecido cerca do ano 1
40.

505 Segundo relata PoMPONlus (D. 1,2,2,50), SABINUS era pobre; era sustentado co
m as ofertas dos seus auditores.
S06 0 concilium principis, formado inicialmente, talvez desde Augusto, por certa
s pessoas de família e alguns amigos íntimos do imperador, vai assumindo crescente i
mportância até que, a partir de Adriano, se transforma num órgão permanente, constituído p
rincipalmente por juristas, que têm sobretudo duas grandes funções: a) assistir como téc
nicos aos juizes no tribunal do imperador, e então denominam-se adsessores; b) ass
istir como técnicos ao próprio imperador na feitura das constituições, e nesse caso desi
gnam-se consiliarii. Em ambas as hipóteses, tomam o nome de stipendiati.
390
Foi proculeiano ilustre. Chegou a orientar a Escola. Depois dele, os proculeiano
s não tiveram qualquer outra figura de relevo.
Jurista eminente, notável pela sua originalidade, perspicácia e ousadia 507, escreve
u várias obras (vid. supra 378 n.° 24), sendo a mais importante os Digestorum libri
39.
XI - Salvius IULIANUS - Nascido em Adrumeto, em data que não se conhece, ocupou vári
os cargos políticos 508, sendo os mais importantes o de membro do consilium princi
pia no tempo de Adriano em 138( ?), cônsul em 148(?), proconsul de Africa em
166(?); deve ter falecido em 168(?).
É sabiniano e o mais ilustre de todos os iurisprudeutes romanos. Superior a LABEO.
Jurista verdadeiramente original e enciclopédico. Um autêntico génio universal no camp
o do Direito. Com a sua largueza de vistas, profundidade de análise e rigor de lógic
a jurídica vigorosa, cortou com muitos vínculos da tradição da Escola Sabiniana, de que
foi o orientador; admitiu várias doutrinas dos proculeianos; devido à sua autoridade
extraordinária, disse a última palavra em muitas controvérsias, até então vivamente agita
das entre vários jurisconsultos. E o iurisprudens mais citado pelos juristas poste
riores e o que maior influência exerceu em todos eles. Superior a LABEO. Muitas da
s suas opiniões são conhecidas através da obra do seu discípulo AFRICANUS.
507 Também era «célebre» pelos seus modos rudes. Ficou memorável a resposta dada numa epis
tula a um certo Domitius LABEO: «aia non intelligo quid sit, de quo me consuleris,
aut valide stulta eat consultatio tua: plus enim quam ridiculum est dubitare...»
(D. 28,1,27).
508 Uma inscrição, descoberta em 9-7-1889 na Tunísia, perto de Susa, contém o nome compl
eto e indica os cargos principais de IULIANUS:
«Lucius Octavius Cornelius Salvius IULIANUS Aemilianus: decenvir litibus iudicandi
s, quaestor Imp. Hadriani, tribunus plebis, praetor, praefectus aerarii Saturn e
t militaris consul (em 148), pontifex (talvez em 149), sodalis Hadrianalis («divus
Pius») (talvez em -140), sodalis Antoninianus (talvez em 163), curator aedium sac
ralium (em 150), legatus Imp. Anton. Pü Germaniae inferioris (entre 151 e 161), le
gatus Imp. Antonini Aug. et. Veri Aug. Hispaniae clterioris (talvez em 162), pro
consul Provinciae Africae (cerca de 166)».
391
DIREITO ROMANO
1.a PARTE - TIT. VIII
§ 34
Como sabemos (vid. supra 343 e 344), é o autor do «Edictum Perpetuum» ou «Ordinatum»; e o
seu trabalho não se limitou a ser o de mero compilador (vid. supra 346 e n. 423),
As suas obras (vid. supra 378 n.o 25, a enumeração das principais), sobretudo os Dig
estorum libri 90 S09 e o De Ambiguitatibus liber singu2atris 510, revelam três qua
lidades excepcionais: 1) brilho de exposição; 2) raciocínio claro; 3) elegância na solução d
as questões.
Além de jurista eminente, foi grande político e exerceu múltiplas actividades de carácte
r prático: magistrado, conselheiro imperial (sobretudo de Adriano) e advogado.
Em tudo, mostrou abarcar com grande minúcia toda a extensão do Direito.
XII - Sextos Caecilius AFRICANUS - Quase nada de seguro se conhece a respeito da
sua vida. Parece que devia ter morrido à
volta do ano 170.
A sua maior glória reside em ter sido discípulo de IULIANUS
o grande divulgador das doutrinas do seu Mestre, principalmente através da obra Qu
aestionum libri 9.
Foi jurisconsulto muito apreciado na sua época, devido ao seu espírito agudo e espec
ulativo; por isso, alguns dos fragmentos contidos no Digesto são difíceis de interpr
etar 511; daí,
ter surgido entre os glosadores o adágio: - « Af ricani lex, id est dif ficilis».
XIII - SeXtus POMPONIUS - Pouco, ou nada de certo, se sabe da
sua origem e da data do seu nascimento, assim como dos várias cargos que desempenh
ou 512,
509 É tão importante esta obra que foi republicada sucessivamente com Notae de MARCE
LLUS, de Q. C. SCAEVOLA, de PAULUS e provàvelmente de MAU, RICIANUS, e entrou em l
arga medida na elaboração do Digesto.
510 Vid. T. MAYER-MALY, Zu Julians Liber Singularis De Ambiguitatibus em Temis 2
1(1967) 147-150.
511 Há quem defenda que a «obscuridade» de certos fragmentos de AFRICANUS contidos no
Digesto é devida às interpolações de diversa ordem efectuadas* pelos compiladores.
512 Vid. W. KUNKEL, Herkunft, cit. 170 e 171.
392
Jurista de grande erudição 513, muito respeitado pelos seus contemporâneos, fecundo (e
screveu cerca de 300 volumina) mas de pouca originalidade, inicia um tipo novo d
e literatura jurídica - a compilação -, que havia de ser característica, no séc. III, atin
gindo o seu apogeu com ULPIANUS. Reuniu nas suas volumosas obras (vid. supra 378
n° 29 - só uma consta, pelo menos, de 150 libri) todas as doutrinas importantes da
iurisprudentia clássica até ao seu tempo. Não sendo original, mostrou trou ser dotado
de certo espírito crítico, pois sabia escolher,
entre as diversas opiniões contraditórias, a mais provável.
Como já ficou devidamente acentuado (vid. supra X n. 489), escreveu um breve resum
o da história do Direito Romano, em grande parte transcrito em D. 1,2,2.
XIV - GAIUS - É um enigma, a começar pela própria denominação... A respeito desta figura,
quase tudo se reduz: «não se sabe... parece que... »
Não se conhece o seu nomen, «Gaius» é um vulgaríssimo praenomen romano; na época imperial, t
ambém era usado como nomen gentile. Referido á este(?) jurista(?), não se sabe bem
que significa. Pode, inclusive, ser um pseudónimo e significar uma pessoa ou um gr
upo de pessoas. Dai o enigma a respeito de Gaius...
1.°-Não se sabe se existiu ou não (no caso de não ter existido, «Gaius» seria um pseudónimo a
compreender um grupo
juristas que teriam escrito as obras hoje atribuídas a GAIUS); parece que existiu.
2.°-Se existiu, não se sabe se era «civis» ou não, se era do Império do Ocidente ou do Orien
te; parece que era «civis» (ou liberto?), estudou em Roma e viveu, depois, no Orient
e.
3.°-Se viveu no Oriente, não se sabe onde nem que actividades desempenhou; parece qu
e foi professor numa escola de província, provàvelmente na Asia (opinião de MOMMSEN).
4.°-Ao que parece, devia ter falecido por volta do ano 180.
5.°-Tendo vivido no séc. II, pensava e escrevia como um jurista do séc. IV; por Isso,
talvez a melhor classificação até hoje é a de «pré-posoldsico» (A. D'ORs), ou de BESELEE - «u
513 Não só exagerado, mas erróneo, qualificando-o de ... ignorante, é o juízo emitido por
MoMMsEN, Staatsrecht3 II (Berlim, 1887) 173.
393
DIREITO ROMANO
1.a PARTE-TIT. VIII
§ 34
-clássico que escreveu na época clássicas. E um perturbador das doutrinas clássicas, o m
enos clássico dos clássicos; daí que
6.°-no seu tempo, ao que parece, GAIUS é totalmente desconhecido. Na época post-clássica
, é a maior autoridade (todos o entendem muito bem, pois soube corromper a turispr
udentia cl'ásslca). Embora não tivesse gozado do ius respondendi ex auctoritate prin
cipia, na Lei das Citações (426) é equiparado aos juristas que tiveram esse privilégio (
vid. infra 424). Justinlano chama-lhe carinhosamente «Gaios nester, (D. 45,3,39, I
nterpolado). Através dos séculos, foi considerado, quase sempre, a figura cear trai
da época clássica; hoje em dia, exceptuando GUARINO 514, VAN OvEN e poucos mais, já não
se ofende o «classicismo» de Gato.
7.°-A sua obra parece, ao mesmo tempo, mais antiga e mais moderna do que a época em
que se diz ter sido escrita (um verdadeiro e complicado anacronismo histórico...),
além de acusar uma diferença de estilos muito acentuada.'
8.°--A diferença de escolas sabiniana e proculelana já tinha desaparecido haviaa muito
(vid. supra 388); todavia, GAius confessa-se um «bom» sabiniano.
9.°-A bibliografia sobre GAIUS é abundante. Veja-se, por todos, a obra mais recente,
uma colectânea de trabalhos de vários autores, defendendo-se opiniões diversas - Gaio
nel suo Tempo. Atti dei Simposio Romanistico (16-19 Dicembre 1965) (Nápoles,1966)
.
Para já, quanto mais se estuda, quanto mais se discute a figura de GAIUS, surge «piú p
roblematico e misterioso di prima> 515.
A sua obra principal (vid. supra 378 n.° 31) são umas Institutiones em 4 livros, que
o próprio GAIus denominou Commentarii 516
Este manual, composto cerca do ano 160, escrito num estilo simples e claro, apre
sentando a matéria com um certo método novo(?) e enquadrada numa sistemática especial,
alcan
514 Vid. Labeo 9(1963) 398-399, onde mais uma vez insiste no classicismo
de GAIus, indicando os autores e respectivas obras, que defendem igual opinião. 51
5 Gaio nel suo tempo cit. VI.
516 Acerca do significado desta. expressão, vid. Gaio nel suo tempo cit. 5. Sobre
a existência de vários extractos nos «Gai Institutionum commentarii Quat
tuor» e até dum possível «Urgaius», vid. WIEACKER, Textstufen 186-199.
394
çou uma celebridade difícil de explicar 511. Tornou-se, na época post-clássica, a obra f
avorita de literatura clássica; mais tarde, o livro ideal do advogado, do. juiz, d
os magistrados e dos estudiosos de Direito; por fim, o texto escolar, por antono
másia. Exerceu uma influência profunda (?) em muitas gerações, tal
vez até ao presente 518.
Vários fragmentos das Institutiones de GAIUS encontram-se no Digesto; grande parte
da obra foi utilizada para a redacção das Institutiones de Justiniano 519. Por feli
z casualidade, o texto, quase completo, foi descoberto pelo historiador B. G. Ni
EBxuR, em 1816, num palimpsesto da Biblioteca Capitular de Verona. 0 manuscrito,
que data do séc. V e se encontra hoje na Biblioteca Vaticana, não reproduz certamen
te o livro publicado por GAIUS, ou por um seu discípulo (opinião de SCHULZ, History
142), mas provàvehnente um texto dos princípios do séc. III, elaborado por um editor q
ue adaptou a obra de GAIUS às necessidades do seu tempo - ora resumindo-a, ora acr
escentando-lhe certos comentários (tipo glosa) feitos pelos expositores da época (op
inião de H. J. WOLFF, Introducción Histórica 136 6). Esse manuscrito oferece várias lacu
nas, algumas provocadas pelos reagentes utilizados para a leitura por NIEBUHR e
GOSCHEN. Hoje, por outra feliz casualidade, essas lacunas estão quase todas integr
adas: em parte, pelo papiro de Oxyrrinco (P. Oxy. 2103, publicado em 1927 por HU
ND e BUCKLAND), e em parte pelos fragmentos (contendo quase por completo os livr
os III e IV das próprias Institutiones Galanas) dum papiro egípcio (PSI, 1182), publ
icado em 1933 por ARANGIO-RUIZ (vid. BAVIERA, FIRA II 195 e 201, e ROBLEDA, lua
Privatum Rosnanum 204 e n. 561).
As Institutions de GAIus estão divididas em 4 livros. A matéria encontra-se distribuíd
a em três partes (I 8): 1) - ius quod ad personas pertinet; 2) - ius quod ad res p
ertinet; 3) - ius quod ad actiones pertinet. A primeira parte é exposta no livro I
e trata dos diversos status jurídicos dos homens;
517 Vid. Gaio nel suo tempo, cit. 32. 518 Vid. ib. 43.
519 Vid. infra 480.
395
DIREITO ROMANO
1.8 PARTE - TIT. VIII
§34
a segunda, contida nos livros II e III, compreende os direitos reais, as sucessões
e as obrigações; a terceira ocupa o livro IV e diz respeito ao processo civil.
Esta divisão - que não é comum às institutiones dos juris
tas da época -foi depois observada nas Institutiones de Justiniano 520, continuada
na sistemática medieval e seguida nas obras elementares e em alguns códigos do século
passado.
Há quem afirme que a exposição de matérias, sobretudo no livro IV, é feita com um método tão
eguro, claro e perfeito que a formulação e a sistematização não podem atribuir-se exclusiv
amente a GAius; pressupõem «uma longa e vasta obra precedente», de que as Institutione
s gaianas seriam um epí
logo 521
As Institutions de GAIOS têm eido editadas e traduzidas muitas vezes. Sobre as vária
s edições, ver FIRA II 5-7; a respeito de traduções, notem-se as de Álvaro D'ORS, Gayo. In
stituciones (texto latino con traducción espanou) (Madrtd,1943), de F. DE ZULUETA,
The Institutes of Gaius. Part 1: Text with Critical Notes and Translation (Oxfo
rd,1946) e de J. REINACH, Gaios. Institutes (Paris,1950), com tradução francesa.
Também é muito peculiar a obra de GAIOS, Ad Edict um Provinciale libri 32 522.
XV - U1piUS MARCELLUS - A respeito da sua vida, sabe-se apenas que pertenceu ao
consilium principia de Antonino Pio e de Marco Aurélio, que foi governador da Panóni
a entre 169 e 176, e da Britânia entre 179 e 184, devendo ter falecido à volta do an
o 185.
Foi um jurista arguto, muito claro e bastante original. É o mais importante depois
de IULIANUS.
520 Vid. infra 481.
521 Vid. neste sentido Edoardo VOLTERRA, Istituzioni di Diritto Privato Romano (
Roma,1963) 13.
522 Sobre esta obra vid., por todos, F. WIEACKER, Textstufen 277.
A sua obra mais importante (vid. supra 378 n.' 33) são os Digestorum libré 31; a que
teve mais divulgação na Idade-Média foram as Notae aos Digesta de IULIANUS, a ponto d
e CUJÁCIO considerar MARCELLUS o perpetuas censor do eminente jurista da época clássic
a central.
XVI - Quintus Cervidius SCAEVOLA - Oriundo da Grécia ou da
Africa, sabe-se que fez parte do consilium principia de Marco Aurélio, que foi o m
estre 'de Septimio Severo e de PAPINIANUS e que faleceu à volta do ano 195.
Foi também um jurista arguto; notável pela precisão e sobretudo pelo laconismo com que
dava os seus famosos responsa. Sempre formulados com uma técnica admirável, referin
do apenas os elementos essenciais do caso, são modelo de concisão; parece que nada e
stá a mais nem a menos, nem uma frase nem sequer uma palavra.
Além de responsa, escreveu também quaestiones e digesta.
XVII - Aemilius PAPINIANUS - Originário da província da Siris ou da Africa, aparenta
do com Septimio Severo (afim, pelo lado da segunda mulher do Imperador), foi adv
ocatus fisci, adsessor dos praefecti praetorio e provàvelmente professor de Direit
o. Depois
duma carreira política brilhante, foi nomeado no ano 203 praefectus praatorio, car
go que ocupou até à morte, ocorrida em 212. Foi mandado assassinar pelo Imperador Ca
racola, por ter cri
ticado e classificado de fratricídio o assassinato do irmão e co-imperador Gueta, or
denado pelo mesmo Caraoala.
Foi um dos juristas que gozou 1)-de mais fama e 2)-de maior consideração na posterid
ade.
1) -De mais fama, devido: a) - às suas convicções firmes, que manifestou sempre, inclu
so perante Caracala, embora essa atitude lhe valesse a pena de morte; b) - a ter
sido um inovador de certos princípios, informando vários institutos juri
396
397
DIREITO ROMANO
1.a PARTE - TIT. VIII
§ 34
ditos de ideias altamente morais 523, que recebeu sobretudo do cristianismo (foi
o primeira jurista cristão), e ainda transformando vários elementos acidentais de c
ertos negócios jurídicos em naturais, como já tinha feito, em grande escala, IuLIANUS;
c) - ao facto de ter sido assassinado, em circunstâncias revoltantes.
2) - De maior consideração: a) - Constantino retira todo
o valor às Notae de PAULUS e de ULPIANUS sobre PAPINIANUS
(Cr 1,4,1) -sobre este problema vid., como estudo mais recente, B. SANTALUCIA em
BIDR 68(1965) 49-146; b) - a Lei das Citações, como veremos infra 424 e 425, conced
e-lhe um lugar primacial; c) - Justiniano não admite opinião que esteja contra ele, «p
ropter honrem splendidissimi Papiniani» (const. Deo Auctore 6).
PAPINIANUS foi classificado pela posteridade como «príncipe dos juristas romanos», pri
mos omnium, devido também à sua profunda penetração, à clareza de exposição dos casos e das d
cisões, e à subtileza de raciocínio.
As suas obras principais são: Digestorum libri 37, com Notae de PAULUS; Responsoru
m libri 17, com Notae de PAULUS e de
ULPIANUS.
Depois de PAPINIANUS, a época clássica aproxima-se rápidamente do seu fim.
c)-3.' etapa, época clássica tardia (130 [ou 212?]-230). Característica especial: os «ju
risprudentes» revelam falta de génio criador e de originalidade; início das grandes co
mpilações; começo da decadência.
=[O «espírito desta 3.' etapa da época~ clássica só principia
a revelar-se claramente a seguir a PAPINIANUS (212). Não deverá
523 É célebre aquele seu princípio, tantas vezes invocado, e por vezes dis
cutido:
«Quae facto laedunt pietatem, existimationem, verecundiam nostram et, ut generalit
er dixerim, contra bonos mores fiunt, nec facere nos posse credendum est» (D.28,7,
15).
398
prolongar-se a etapa da época clássica central até cerca de 212, data do falecimento d
e PAPINIANUS, que é ainda um notável «lurisprudens>, primus omnium, principiando ai, e
m 212, a 3' etapa?
Desaparece, é certo, parte da «harmonia dorslana> da mnemônica da dezena 30... Mas tal
vez seja de sacrificar essa parte da mnemónica à realidade.
A partir de 212, sente-se que a época clássica está a abeirar-se do fim. «A grande iuris
prudentia tinha esgotado as suas forças. Chegara o momento de colher os frutos em
grandes comentários Ad Sabinum, isto é, longas exposições do ius civile, seguindo o sist
ema usado por SASINUS na sua obra Ad Edictum, quer dizer, estudos monográficos em
comentários acerca do ius praetoris urbani (vid. supra 369), e sobre temas particu
lares» (WoiFIr 524). POMPONIUS,
duas gerações antes, já tinha iniciado esse tipo de obra, denominado comentário em forma
de compilação; mas tinha sido em reduzidas proporções e constituído um facto isolado, que
não teve continuadores. Agora, a compilação é empreendida em grande escala pelos dois a
uxiliares de PAPINIANUS, que escrevem sobretudo Ad Sabinum e Ad Edictum.
A própria «inflação da cidadania», devida ao famoso Edicto de Caracala, também de 212, conco
rreu para uma «inflação de juristas»eram precisos, e a toda a pressa, muitos juristas, p
ois agora todos os habitantes do Império são cives romani; têm de efectuar os seus negóc
ios e de serem julgados segundo o lus Romanum -; essa «inflação de juristas» provocava,
e não a muito longo prazo, uma baixa de nível da ciência jurídica.]=
Discípulo de Q. Cervidius SCAEVOLA, como PAPINIANUS, é jurista muito inferior a este
, mas ainda superior a ULPIANUS, devido sobretudo à sua independência e a uma certa
agudeza
'5
XVIII - IuliuS PAULUS - Talvez natural de Pádua (e não de origem fenícia, como geralme
nte se afirmava, até há bem pouco tempo), desempenhou vários cargos políticos: adsessor
do praefectus praetorio, quando esta magistratura era ocupada por PAPINIANUS; si
multâneo com este, membro do consilium principia, no tempo de Septimio Severo e de
Caracala; depois, vítima de certa perseguição, ordenada por Heliogábalo; e, finalmente,
praefectus praetorio, no tempo de Alexandre Severo.
Deve ter morrido cerca do ano 226.
524 Wot.FF, Introducción Histórica 137.
399
DIREITO ROMANO
1., PARTE-TIT. VIII
de espírito. Escreveu, como já foi devidamente acentuado, comentários Ad Sabinum e Ad
Edictum, e elaborou muitas compilações. É um dos iurisprudentes mais fecundos: escreve
u para
cima de 90 obras em cerca de 319 livros; dessas obras, 71 foram utilizadas pelos
compiladores justinianeus, que extraíram delas 2 080 fragmentos.
XIX - Domitius ULPIANUS - De origem fenícia, como ele próprio confessa (D.50,15,lpr.
), realizou carreira política brilhante, tendo chegado a praefectus praetorlo no t
empo de Alexandre Severo. Consiliarius sempre fiel a este imperador, funcionário ríg
ido, foi assassinado em 228 pelos soldados pretorianos.
0 seu valor como jurista consiste em ter sido um «sintetizador» brilhante (e só se pod
e sintetizar bem, quando se conhece muito bem uma matéria), devido à sua vasta cultu
ra jurídica, à sua vasta cultura filosófica, aos seus dotes de engenho e à sua superior
clareza de exposição, e um escritor fecundo, tendo produzido cerca de 287 livros, qu
e abrangiam quase todos os sectores do Direito.
ULPIANUS, sublinhe-se bem, dominava perfeitamente todo o saber jurídico clássico e d
ominava d.- igual modo a filosofia grega, sobretudo Aristóteles, Platão, e dum modo
muito especial, Plutarco. Era um grande jurista e um bom filósofo. Conseguiu infor
mar de conteúdo filosófico, vários textos jurídicos clássicos. Vejam-se, a título de exemplo
, os fragmentos contidos em D.1,1,10,2; 1,1,10,1;1,1,1pr., etc.. Esta nova dimen
são da personalidade de ULPIANUS, jurista-filósofo, recentemente posta a descoberto
por P. FREZZA, tem de estar bem presente aos olhos de quem examinar qualquer doa
seus fragmentos. (Ver nossa monografia lus. Derectum 40 e 41).
ULPIANUS sintetizou admiràvelmente as principais obras de CELSUS, IULIANUS, POMPON
IUS, MARCELLUS, com a evidente finalidade de apresentar um quadro completo da ciên
cia jurídica para as necessidades da prática. Por isso, os escritos de ULPIANUS goza
ram de grande autoridade, e difundiram-se
por toda a parte, sobretudo no Oriente. Por essa mesma razão, as suas obras foram
largamente utilizadas para a elaboração do Digesto, que encerra 2 462 fragmentos de
ULPIANUS, o que representa cerca de uma terça parte de todo o Digesto.
Além dos comentários Ad Sabinum e Ad E<dctum, como já ficou expressamente sublinhado,
são dignos de especial menção os 10 libri de Regulae e 10 libri de Respoti./tl.
XX - Hereniiius MODESTINUS - Natural da Dalmácia e discípulo de ULPIANUS (D.47,2,52,
20), deve ter morrido cerca do ano 240.
É o último jurista clássico, mas já não se lhe pode chamar... grande.
A sua obra, parte escrita em grego, limita-se a umas Regulae, a umas Differentic
e e a pouco mais de importante. (Ver nossa separata 0 XX111 Congresso Internacio
nal de Direito
Romano 16).
XXI - HERMOGENIANUS -Já pertence à época post-clássica, pois deve ter morrido nos princípi
os do séc. IV.
Costuma falar-se dele, porque é indicado como o autor do Código Hermógenianog', e aind
a porque o Digesto contém alguns fragmentos da sua obra -Iuris Epitomarum libri 6.
Sobre esta obra, vid. por todos, LIEBS, Hermogenianus luris Epitomae (Gotinga,1
964), e Aldo CENDERELLI, Ricerche sul «Codex Hermogenianus> (Milào,1965) 201-243, e
Intorno all'Epoca di Compilazione dei «Libri luzis Epitomarum> di Ermogeniano em L
abeo 14(1968) 187-201.
525 Vid. infra 409.
400
401
Título IX - OBRAS E COLECTANEAS PRË-JUSTINIANEIAS
A) OCIDENTAIS B) ORIENTAIS
SUMÁRIO-35. a) A partir do séc. IV, especial necessidade de textos
jurídicos
b) Carácter geral dos novos textos c) Espécies de colectâneas
I - de leges
lI -de ias
III - de ias e de leges
d) Classificação de certas colectâneas pré justinianeias.
Critério adoptado. Principais colectâneas elaboradas:
A) - no Ocidente; R)-no Oriente
a) A partir do séc. IV, especial necessidade de textos jurídicos
35. Vários factores contribuíram para se verificar, a partir do séc. IV, uma especial
necessidade de textos jurídicos. Indiquemos os três principais.
1.0 Raridade e insuficiência da literatura clássica - Vários textos clássicos tinham des
aparecido, inclusive pela acção
403
DIREITO ROMANO
1." PARTE -TIT. IX
§35
do tempo, visto tanto o pergaminho como o papiro terem uma duração limitada. Alguns
foram abandonados, pois tornaram-se inúteis - por serem inacessíveis aos homens «prático
s» do séc. IV, despidos de qualquer especulação -, e perderam-se. Certa reedição, e só de alg
mas obras clássicas, era diminuta. Os texto selássicos existentes não continham_ já as n
ormas aplicáveis, porque, no séc. IV, quase tudo era regulado e decidido por leges e
não por ius. - Numa palavra, os textos clássicos existentes no séc. IV eram poucos e,
além disso, não tinham a maior parte das normas que resolviam as várias situações sociais
, agora tão diferentes das dá época clássica.
2.0 Novas exigências de textos jurídicos - As escolas, os tribunais e a administração, a
partir dos fins do séc. III e sobretudo princípios do séc. IV, em virtude das novas c
ondições sociais (vid. supra 354), exigiam um número avultado de textos jurídicos.
3.0 A incerteza do Direito - Era necessário elaborar textos jurídicos: a) que estabe
lecessem a coordenação entre o ius novum (ou leges) e o ius vetos (ou ius), pois não s
e sabia bem o que estava ainda vigente e o que tinha sido revogado; b) que orden
assem uma sistematização das próprias leges, para se conhecerem as de aplicação geral e as
de aplicação especial; c) que fixassem bem todas as normas aplicáveis, dizendo clara
e expressamente qual o Direito verdadeiro, para se acabar com os abusos de invoc
ar constituições apócrifas ou simplesmente inventadas, sobretudo na forma de rescritos
.
Em conclusão - Nos fins do séc. III e sobretudo princípios do séc. IV, reinava a incerte
za do Direito, manifestada sob várias formas - e em Direito, geralmente, é pior a in
certeza do que o erro: no erro, comete-se aquele erro; na incerteza, quase sempr
e cometem-se vários erros. Eram necessários novos textos jurí
dicos para esclarecer, precisar, determinar 5*-'".
526 Vid. GAUDEMET, La Formation du Droit 38-39.
b) Carácter geral dos novos textos
São ou resumos de obras jurídicas (de ius), ou colectâneas de leges, ou compilações de ius
e de leges. Tudo feito sem originalidade, porque os juristas, ou melhor, os esc
oliastas dos sécs. IV e V não têm valor. Eles próprios reconhecem-no; por isso, escondem
-se sob o anonimato. Não há verdadeiramente comentários, adaptando as normas às novas si
tuações sociais, mas simples colectâneas, agrupando certas normas de uso mais frequent
e na prática, por serem as mais invocadas pelos advo
gados.
c) Espécies de colectâneas: I - de «leges»; li - de «ius»; III - mistas (de «ius» e de «leges
I -Colectâneas de «leges»
Eram as mais urgentes, visto as constituições imperiais, a partir do séc. IV, formarem
exclusivamente o verdadeiro ius novum; por isso, as compilações de leges foram, cro
nológicamente, as primeiras a ser elaboradas:
As principais i27 são: o Código Gregoriano, o Código Hermogeniano e o Código Teodosiano.
Código Gregorian (291-292) e o Código Hermogeniano (295 [ou 314 a 323?))
Embora estas duas colectâneas não formem um todo único, como até 1965 se vinha defendend
o, visto o Código Hermogeniano não ser um mero complemento (o livro 16.") do Código
527 As principais colectâneas de leges são as indicadas no texto; mas as primeiras d
eviam ter sido outras, muito rudimentares. Vid. GAUDEMET, o. c. 38-40.
404
405
I
DIREITO ROMANO
1 PARTE -TIT.IX
135
Gregoriano (que tem 15 livros, como a4iante veremos), para melhor compreensão convém
tratar em comum os problemas que são iguais e depois fazer uma breve análise a cada
código,
em separado.
PROBLEMAS COMUNS
-D nome de «código>, dado a cada uma destas colectâneas de leges, deriva do facto de t
erem sido os primeiros textos jurídicos em forma de codex e não já de liber ou volumen
como até então (vid. supra 49). Daí por diante, até hoje, toda a colectânea ou livro de l
eges (leis) é denominado... codex (código).
- 0 Código Gregoriano e o Código Hermogeniano são colectâneas de índole privada; mas «privad
a> não significa necessàriamente «compilação feita por um particular>, e sobretudo não «signi
ica, opera condotta a termine senza autorizzazioni o appoggi uf ficiadi> 528
- Como encerram constituições Imperiais anteriores ao séc. III (veremos, já a seguir), são
consideradas compilações de ius e não de leges, como à primeira vista poderia julgar-se
. Por isso, a interpretatio de CT 1,4,3 inclui os dois códigos entre as obras da i
urisprudentia. 0 mesmo acontece, v.g. em FIRA; vêm no II vol. (AUCTORES) 655-665.
- Encerram quase só rescritos (ou apenas? ou sobretudo?). A principal finalidade d
estes códigos parece ter sido colocar à disposição dos juristas rescritos importantes, m
as pouco ou mal conhecidos.
São citados integralmente, sem qualquer comentário ou até simples interpolação. Isto const
itui uma inovação, a indicar um respeito pelo texto das leges, até então muito raro, e a
mostrar a autoridade agora reconhecida às constituições imperiais. A compilação, porém, con
tinuava privada: não conferia aos textos uma autoridade nova; a forma por que eram
citados não se impunha a todos. No entanto, a constituição de 429, de Teodósio II (CP 1
,1,5), que apresenta o primeiro projecto do Código Teodoslano, implicitamente reco
nhece um certo valor oficial aos Códigos Gregoriano e Hermogeniano, prescrevendo m
andar fazer um código (oficial) à semelhança destes. Assim foi entendido pela interpre
tatio de CT 1,4x3, quando explica: «Gregorianum vero et Hermogenianum ideo lex saf
a praeteriit, Guia aula auctoritatibus confie
528 Aldo CENDERELLI, Ricerche sul «Codex Hermogenianus» (Milão, 1965) 10; ver também págs.
15-18.
406
mantur ex lege priore sub titulo de constitutionibus prineipum et edictis. Hed e
x his omnibus iuris consultoribus, ex Gregoriano, Hermogeniano, Gaio, Papiniano
et Paulo, quae necessaria causis praesentium temporum videbantur, elegimus>.
- Dos Códigos Gregoriano e Hermogeniano nada chegou até nós,'directamente. Várias partes
foram-nos transmitidas através das seguintes colectâneas (de ius e de leges): Lex R
omana Viaigothorum e seus apêndices, Lex Romana Burgundionum, Fragmenta Vaticana,
Collatio, Consuitatio e Scholia Sinaitica, e ainda em alguns escólios de TALALEU a
o Código de Justiniano. Além disso, certos manuscritos do Breviário de Alarico contêm um
Epitome Codicum Gregorian et Hermogeniani, composto para os visigodos (vid. FIR
A II 656-665).
Todas estas fontes transmitem só uma pequena parte destes dois códigos 529. Mesmo as
sim, HAENEL tentou reconstrui-los, publicando a edição Codices Gregorianus, Hermogen
ianus (Leipzig,1837). KRUGER, perante a dificuldade da reconstrução, sobretudo em de
scobrir a sistematização original, preferiu, ao contrário de HAENEL, não fazer uma edição; l
imitou-se a indicar os lugares das fontes, onde se encontram fragmentos. Ultimam
ente, um estudo profundo, elaborado por Aldo CENDERELLI, Ricerche sul «Codex Hermo
genianus> (Milão,1965) apresenta a reconstrução sistemática e palingenética (págs. 143-181)
do Código Hermogeniano, baseando-se principalmente no Código de Justiniano.
- Embora não citando estes códigos, os compiladores justinianeus, para a feitura do
codex do «Corpus Iuris Civilis>, utilizaram os Códigos Gregoriano e Hermogeniano. De
duz-se claramente das constituições de Justiniano Summa rei pubiicae 1 e Haec quae n
ecessario pr., onde o imperador manda reunir num só código as constituições dos Códs. Greg
oriano e Hermogenlano e as constituições posteriores. Portanto, as constituições do Code
s de Justiniano,,anteriores a Constantino (e até algumas de Coastantino) procedem
destes dois códigos, embora o Codex não as contenha todas nem só as dos Códs. Greg. e He
rmog., pois não está excluída a hipótese de os compiladores terem utilizado, para recolh
er constituições anteriores a Constantino, outras fontes além dos dois referidos códigos
.
Código Gregoriano-Assim denominado em virtude do seu autor-um tal Gregorius (segun
do a maioria dos AA., nomea
n9 Vid. GAUDEMET, o.c. 40.
407
DIREITO ROMANO
damente MOMMSEN J30 e SCHULZ 591) ou Gregorianus (na opinião de alguns) -, elabora
do no Oriente 532, cerca do ano 292, é, como ficou já notado, uma colectânea privada,
de rescritos 533 imperiais, desde Adriano 533 a Diocleciano.
Estaria dividido pelo menos em 15 livros, subdivididos em muitos 535 títulos, cada
um com a sua rubrica indicativa do assunto, que é exposta através de um ou vários res
critos colocados provàvelmente por ordem cronológica 536. Os livros 1 a 13 tratariam
de matéria do Edictum e o livro 14 dos crimina (ef. C. livro 9). A sistematização dos
assuntos devia ser sensivelmente a mesma dos libri digestorum, da época clássica.
Código Hermogeniano (295?) -- É assim designado, em virtude do seu autor. Até 1965, ha
via bastantes divergências entre os romanistas a respeito do nome e identidade do
autor desta
MOMMSEN, Juristiscire Schriften 11 (Berlim,1905) 361.
SCHULZ, History of Roman Legal Science2 (Oxford,1953) 309.
Que foi elaborado no Oriente, é hoje opinião comum, depois de MoMMSEN. Quanto ao loc
al, parece certo não ter sido em Beirute, pois a obra não teve uma finalidade escola
r, mas prática. É bastante provável que tivesse sido em Nicomédia, nessa altura capital
do império do Oriente, pois devia ter sido feita onde houvesse um bom arquivo de r
escritos.
333 É uma colectânea só (?) de rescritos e não de constituições de carácter geral (edictos im
eriais), em virtude de uma finalidade prática, porque os rescritos: 1.° nem sempre e
ram conhecidos dos juízes, pois geralmente não eram publicados, mas enviados directa
mente às entidades (particulares) a que se destinavam; 2.° e os juízes, assim como dem
ais juristas, tinham necessidade de os conhecer, não só para os aplicar aos casos pa
ra que tinham sido concedidos, mas também (mais tarde) a casos análogos.
534 Contém rescritos não só desde Septímio Severo, cujo primeiro é do ano 196 (e isto cons
ta expressamente da Consultatio 1,6), mas também desde Adriano. Esta afirmação deduz-s
e do facto de o Codex de Jqstiniano utilizar quase exclusivamente (ver infra 485
) os Códs. Greg. e Herm. para obter rescritos anteriores a Constantino, ç no Código Ju
stinianeu encontra-se uma constituição de Adriano - C. 6,23,1.
535 Em cada livro da Cód. Greg., os títulos eram numerosos. Esta forma de subdividir
muito cada livro passou para o Codex de Justiniano, que, neste ponto, se inspir
ou no Cód. Greg. Já no Digesto, pelo contrário, a subdivisão de cada livro em títulos não é n
merosa.
536 Este sistema passou para os Códigos Teodosiano e Justinianeu.
408
1' PARTE - 'rir. IX § 35
colectânea: uns afirmavam ser Hermógenes; vários.i3T, Hermogenianus. E aqui, ainda se
subdividiam as opiniões: para muitos, esse Hermogenianus era o mesmo HERMOGENIANUS
, jurista do séc. IV é autor dos libri luris Epitomarum (vid.
supra 379 n.o 46 e 401 n.° XXI) ; para alguns, era diferente. Desde 1965, o proble
ma parece ter ficado devidamente esclarecido com a já referida obra de Aldo CENDER
ELLI, Ricerche sul «Codex Hermogenianus». Aí (págs. 183-243), mostra-se perfeitamente qu
e o autor: do Código Hermogeniano é Hermogenianus e não Hermógenes, e que esse HERMOGENI
ANUS é o mesmo jurista do séc. IV, autor dos libri luris Epitomarum.
0 Codex Hermogenianus deve ter sido elaborado no Oriente, provàvelmente na própria c
hancelaria imperial, tendo o seu autor bem à disposição o arquivo dos rescritos, pois
esta colectânea é rica principalmente em subscriptiones. Não é hoje defensável a opinião de
MQMMSEN que vê no Codex Hermogenianus, assim como no Cód. Gregorianus, um dos mais a
ntigos frutos da. actividade da Escola de Beirute 336
Quanto à data, vinha-se defendendo, até há poucos-"', que devia ter` sido num ano entr
e 314 e 323. A.- CENDERELLI, o.c. 7-10, demonstra que o núcleo central desta colec
tânea foi feito nos primeiros meses do ano 295. Como todas as obras deste período, t
ambém o Cód. Hermog. sofreu alterações e acrescentamentos; ao que parece, teve três edições (
id. ib. 8).
Conforme oportunamente ficou acentuado, este Código é, sob certo aspecto, um complem
ento do Código Gregoriano, no sen
537 Sobre a quantidade de AA. que defendiam ser Hermogenianus vid. A. CENDERELLI
, Ricerche, cit. 61, assim como a respeito do número dos defensores de ser Hermógene
s o autor. É bem provável que a origem da divergência esteja no simples facto dum erro
de uma cópia (ou de várias?) deste Cód. Ver a mesma n. I mas na
pág. 7.
538 Vid. A. CENDERELLI, 0. C. 10.
539 Vid., por todos, O. ROBLEDA, lus Privanun Ronranum 213.
409
530 531 532
DIREITO ROMANO
1.' PARTE-TIT. IX § 35
tido' de o considerar uma continuação cronológica e também lógica '4°.
Sob o aspecto formal, o Codex Hermogenianus estava dividido única e exclusivamente
em títulos e não em livros 541. Por este facto, tem-se considerado o Cód. Hermogenian
o como um líber singularis ou simplesmente o 16.° livro do Codex Gregorianus. Isto,
porém, nem mesmo assim significa que se trata duma colectânea pequena, como à primeira
vista poderia julgar-se. A avaliar pelo material já descoberto para uma reconstit
uição palingenésica, o Codex Hermogenianus devia ter sido uma compilação «di assai notevole
ampiezza 542».
Continha sobretudo rescritos 54' de Diocleciano, dos anos 293 e 294, e provàvelmen
te nenhuma constituição de Constantino e de Licínio 544; porém, de certeza, não encerrava
as constituições de Valentiniano e de Valente que a Consultatio 9, 1 ss. lhe atribui
, visto datarem de 364 e 365, e o Cód. Herm. ser de 295 ou, o mais tardar, de 323
545.
540 Continuação cronológica, embora não imediata, pois o Codex Gregorianus (exceptuando
alguma constituição posteriormente incluída), encerra com as constituições de Diocleciano
do ano 291. Continuação lógica, em virtude de ser considerado como que um apêndice do Códi
go Gregoriano, e isto, pelo menos, quanto ao seu uso prático; embora a intenção do seu
autor não tenha sido a de elaborar um complemento
do Codex Gregorianus.
541 Embora o Código Hermogeniano seja um único liter, a matéria nele contida,
segundo LiEEs, corresponde a uma terça ou quarta parte do Código Gregorian, o que eq
uivale a quatro ou cinco libri deste Código. Cf. Detlef LIEes, Hermogenians /uris
Epitomae (Gotinga,1964) 24.
542 A. CENDERELLI, a. C. 11.
543 Hoje, admite-se a hipótese de o Cód. Hermog. também ter tido incluídas algumas const
ituições imperiais de tipo geral (edicta), embora em pequena quantidade, e só ocasiona
lmente (v.g. para esclarecer certos rescritos). Vid. Aldo CENDERELLI,
Ricerche, cit. 6.
544 GAUDEMET, La Formation du Droit, 42-43, defende opinião contrária. É
refutado por A. CENDERELLI, o. c. 9 e n. 19.
545 Essas constituições foram acrescentadas em sucessivas cópias do Cód. Hermog.; pela m
esma razão, aparece no Cód. Gregoriano uma constituição com data de 295, e a Collatio 6,
4, «ingenuamente» atribui-a ao Cód. Greg., quando o Cod. Hermog.
já encerrava constituições de 293 e 294.
Sobre a copiosa bibliografia a respeito do Codex Hermogenianus, vid. A. CENDE
RELLI, o. c. 2s.
410
Código Teodoeieno (438)
1- Necessidade dum novo código. Autor. Seus projectos: inicial, em 429;
definitivo, em 435
2 -Conteúdo, divisão, matérias 3 -Transmissão e edições
4-Constitutions Sirmondianae. Novellae post-Theodosianae 5 - Importância do CT sob
retudo para o Ocidente
1 -Necessidade dum novo código. Autor. Seus projectos: inicial,
em 429; definitivo, em 435
Os dois códigos já existentes, o Gregoriano e o Hermogeniano, não bastavam. Continham
(quase) só rescritos (leges particulares) e eram de índole privada; não se impunham. A
complexidade dos textos jurídicos - numerosos, contraditórios, difíceis de conhecer -
e a ignorância do Direito por parte dos próprios «homens do Direito» (advogados, juízes e
magistrados) mostravam claramente a necessidade duma grande colectânea, com duas
características: a) conter o essencial da legislação imperial, portanto, constar sobre
tudo de leges generales; b) ser de carácter oficial, para se impor a todos.
As reclamações neste sentido vinham sendo feitas desde há muito 516. No tempo de Teodósi
o II, imperador do Oriente desde 408 por morte de seu pai Arcádio, essas reclamações t
ornavam-se gritantes Sal. 0 imperador viu a grande necessidade; resolveu procede
r a uma reforma do Direito. Começou
546 Já cerca do ano 355, o autor anónimo do De Rebus Bellicis se dirigia ao imperado
r num capítulo intitulado «De legum vel iuris confusione purganda, ut confusas legum
contrariasque sententias improbitatis reiecto litígio augustae dignitatis illumin
es».
Sobre a data do De Rebus Bellicis, vid., por todos, DE FRANCISCI em lura 4(1953)
251, na critica a MAZZARINO, Aspetti Sociali del IV.* Secolo (Milão, 1951).
547 É o próprio imperador que o afirma, na constituição de 438 que promulgou o Cr.
411
DIREITO ROMANO
1.` PARTE - TIT. IX
1' 35
exactamente pelo princípio: primeiro, reformar o programa dos estudos jurídicos; só de
pois, reformar a legislação 5'e.
Uma constituição de 27 de Fevereiro de 425 54° estruturava o ensino jurídico na Escola d
e Constantinopla, confiando-o a dois professores de direito; e logo outra, em 15
de Março do mesmo ano .55°, concedia certas honras e privilégios aos pro
fessores de direito.
Em 426, embora não seja (?) de Teodósio II, era promulgada a famosa «Lei das Citações», que
estabelecia definitivamente uma certa «hierarquização» do ius (vid. infra 424-425).
Só em 429, por uma constituição de 26 de Março desse ano-'-" é que surge o primeiro projec
to de codificação. Esse plano inicial previa duas séries de medidas.
I - Primeiro, coligir todas as leges generales promulgadas desde Constantino, qu
er estivessem em vigor, quer não. 0 trabalho deveria ficar sistematizado segundo a
matéria, dividido em títulos. Quando a mesma constituição tratasse de questões diferentes
, seria repartida por diversos títulos. Os textos. seriam

548 Para levar a cabo unia reforma legislativa, não basta a existência de bons juris
tas que elaborem tecnicamente bem as respectivas normas jurídicas. E preciso que a
s Escolas de Direito estejam à altura dessa reforma. Isto verifica-se em todas as ép
ocas, e com toda e qualquer reforma jurídica, grande ou pequena. Nos nossos dias,
deu-se um caso muito significativo. Há anos, a Etiópia pretendeu fazer uni novo Código
Civil. Não tinha, nessa altura, juristas do país, capazes de elaborar essa obra. Co
ntrataram-nos na Fiança. Os jurisconsultos franceses vieram para a Etiópia. Estudara
m os diversos problemas e, passado algum tempo, era publicado o novo Código Civil
etíope. Juridicamente, perfeito.
Os juristas franceses regressaram à sua terra: o novo código ficou. Mas logo se veri
ficou que não podia ser executado: os juristas etíopes não sabiam interpretar, muito m
enos aplicar. Os juristas da Etiópia não se encontravam preparados, porque as Escola
s de Direito não estavam à altura dessa reforma. E o «precioso» código, durante certo temp
o, pràticamente, teve de ser suspenso e guardado numa estante de biblioteca de...
preciosidades jurídicas. Vid. Talane Law Review 37(1963) 187-204.
549 CT 14,9,3=C. 11,19,1. Um texto da mesma data-e até provàvelmente uni fragmento d
a mesma constituição - parece referir-se ao próprio edifício, onde era ministrado o ensi
no jurídico (CT 15,1,53).
550 CT 6,21,1=C. 12,15,1.
551 CT 1,1,5. Esta constituição vem reproduzida nos Acra Senatus Roinani de Theodosi
ano publicando, porque - é curioso! - esta constituição foi o documento lido por ocasião
da promulgação do CT de 438, em vez da constituição de 435, que, de facto, foi a que or
denou a feitura do Codes Theodosianus...
412
agrupados por ordem cronológica. Os passos inúteis seriam suprimidos, mas os transcr
itos não podiam sev alterados; proibidas, portanto, as interpolações. - 0 facto de Teo
dósio'II mandar coligir as próprias constituições já. revogadas significa que a obra: a) -
se destinaria, p1 riticipalmentè, aos estudiosos do direito; b) - teria carácter pr
eparatório.
II -Depois, ao que parece- (pois o texto, de Teodósio II neste ponto não é claro), com
base nessa colectânea assim realizada (a que alguns AA.- chamam primeiro código e t
ambém
código científico 5,12), nos Códigos Gregóriano e Hermogeniano
e nas obras de jurisconsultos clássicos, deveria realizar-se uma obra de carácter prát
ico: uma grande compilação deu ius á55 e de leges, que reunisse todo o direito vigente
- «indicasse o que era preciso fazer e o que não era preciso fazer» 554 - e que dever
ia ser promulgada como Código Oficial do Império.
Para a redacção dos dois trabalhos, indicados em I e II, Teodósio II encarregou uma co
missão de nove membros - oito funcionários da chancelaria imperial (entre os quais o
magister memoriae e três magistri scriminiorum) e um professor de direito. Cada m
embro desta comissão podia ainda chamar a si especialistas.
Por esta ocasião, também ficou resolvido que, para futuro, as constituições promulgadas
numa pars imperii seriam enviadas oficialmente ao outro imperador, para este as
promulgar e serem aplicadas na sua pars (CT 1,1,5) 555
552 Vid. ROBELDA, o. c. 216592.
553 Friedrich EBRARD, Das Theodosische Projekt eines «Predigesto» em Studi Albertari
o I (Milão,1953) 584-596, sustenta que a compilação de ius não fazia parte desta segunda
colectânea (em virtude do seu carácter prático), mas sim da primeira, pois deveria se
r mais completa, se bem considerarmos CT 1,1,5, a const. Sum+na reipublicae 3, e
a const. Deo Auctore 2.
554 Cf. GAUDEMET, o. c. 45 e n. 1.
555 Sobre a interpretação e o alcance desta constituição e a bibliografia existente a re
speito do problema, vid. RODLEDA, fus Privatum Romanun 215589. Em certos aspecti.s
, esta questão está relacionada com a discussão entre os AA., que examinámos supra 277-2
79.
413
I
DIREITO ROMANO
Por motivos ainda hoje desconhecidos - mas provàvelmente devido à falta de competência
dos membros que faziam parte da comissão nomeada, e sobretudo pelo facto de ainda
não terem nível condigno para uma reforma legislativa as Escolas de Direito -, o pr
ojecto inicial de Teodósio H fracassou.
Surge então o projecto definitivo, por uma constituição de 20 de Dezembro de 435 (CT 1
,1,6), que apresenta, em novas bases, a ideia da codificação: põe de parte o plano de
compilar o ius; manda reunir num código, devidamente sistematizado, todas as const
ituições de carácter geral (edicta ou leges generales), posteriores a Constantino que
ainda estivessem em vigor. Para elaborar esse novo código, foi nomeada uma comissão
de 16 membros, alguns dos quais já tinham pertencido à comissão de 429; todos, funcionár
ios; só um tinha o título de iuris doctor.
Os compiladores teriam a missão de: a) - suprimir tudo o que não estivesse vigente e
tudo o que fosse inútil (quod ad vim sanctionis non pertinet); b) - esclarecer o
que estava ambíguo; c) -modificar o que não estivesse já adaptado; d)-- acrescentar o
que fosse necessário. Numa palavra, os compiladores recebiam a missão de interpolar
556, o que não acontecera no projecto de 429, onde se prescrevia o maior respeito
pelos fragmentos das constituições transcritos.
Em menos de dois anos, o trabalho ficava concluído, pois, em 29 de Outubro de 437,
era oferecido um exemplar ao jovem Valentiniano IH, por ocasião da sua viagem a C
onstantinopla, onde veio desposar a filha de Teodósio II. Para o Oriente, o código f
oi promulgado por uma constituição de 15 de Fevereiro de 438, dirigida ao prae f ect
us praetorio do Oriente (Nov. post. Theod. 1) 557, e entraria em vigor em 1 de J
aneiro de 439.
556 Sobre as interpolações no Codex Theodosianus vid. infra 520 e n. 828.
557 Cf. edição de MEYER, pág. 3.
Esta constituição:
1) indicava a finalidade da compilação efectivada - tomar o direito mais claro,
facilitar a missão aos juizes e aos juristas;
11 PARTE - TIT. IX ¢ 35
Para o Ocidente, foi aprovado pelo senado ainda no ano de 438, e depois aceite p
elo imperador Valentiniano «por afecto
filial» 858.
2-Conteúdo, divisão, matérias do CT

0 «Codex Theodosianus contém, como já ficou dito, edicta ou leges generales - e não resc
ritos, como os Códigos Gregoriano e Hermogeniano -, promulgados desde Constantino
(ou mais exactamente, desde 313) até 438, ano da publicação, mas não todas desse período (
313-438), provàvelmente por deficiência dos arquivos 555
Está dividido em 16 livros, subdivididos em títulos, dentro dos quais as constituições f
iguram por ordem cronológica. As rubricas dos títulos, os números dos títulos e dos livr
os existem desde o original. Mais tarde, algumas constituições, sobretudo as mais ex
tensas, foram ainda divididas em parágrafos.
2) determinava que, a partir de 1 de Janeiro de 439, só poderiam ser invocados os
textos que estivessem no CT, salvo quando se tratasse de normas fiscais, militar
es ou administrativas, conservadas nos registos dos respectivos serviços (§§ 3 e 6); p
ortanto, ficam ab-rogadas as constituições não recebidas no CT (na prática, tinha, porta
nto, carácter exclusivo), mas posteriores a Constantino (embora o texto não o indica
sse precisamente), pois as constituições, anteriores a Constantino e conservadas nos
Códigos Gregoriano e Hermogeniano (a que o próprio CT, segundo parece, concedeu aut
enticidade, vid. supra 406) continuaram aplicáveis até ao Codex de Justiniano;
3) prescrevia (§ 5) que, para futuro, as constituições ocidentais só seriam aplicá veis no
Oriente, se fossem aí confirmadas por uma pragmatica sanctio (mas não há qualquer notíc
ia de ter sido enviada uma constituição Ocidental para o Império do Oriente, cf. WENGE
R, Die Quellen 541), e o mesmo se deveria observar, para as constituições promulgada
s no Oriente valerem no Ocidente (§ 6-1.' parte);
4) por último (§ 8), ordenava ao praefectus praetorio que participasse as vontades i
mperiais por meio de edictos, dirigidos a todas as províncias e a todos os povos.
558 Do modo como foi aprovado pelo senado e depois aceite por Valentiniano III v
id. GAUDEMET, La Formation du Droit 46 e 47.
559 Vid. KRÜGER, Histoire des Sources du Droit Romain, trad. franc. de BRISSAu (Pa
ris,1894) 384, e L. WENGER, Die Quellen 537. Sobre os vários arquivos que foram ut
ilizados, vid. GAUDEMET, La Formation du Droit 53-55; sobre o modo de transcreve
r certas constituições (o problema das «leges geminatae») ver ib. 56-59, e em RIDA 4(195
7) 253-267; sobre o problema da data dalgumas constituições, ver também La Formation d
a Droil 59-62.
415
i
414
DIREITO ROMANO
1.' PARTE-TIT. IX
§ 35
Dal 'a forma de citár, v.g. CT 1,1,5,1 = Codex Theodosianus livro L O, tit. L O, l
ei ou constituição imperial W,, parágrafo 1."
As matérias são expostas, segundo o plano dos Digesta (conib também nessa mesma sistem
atização se basearam os Códigos Gregoriano e Hermogeniano) e segundo a ordem. do
Edictum Perpetuam.
A grande maioria das disposições do CT são de direito público, especialmente de carácter co
nstitucional e administrativo. De direito privado, apenas tratam 5 dos 16 livros
: os livros II a V e alguns títulos do livro VIII 56° Isto compreende-se fàcilmente: o
CT encerra constituições de tipo leges generales só desde Constantino (concretamente,
desde 313 a 438) ; neste período, pouco se legislou em matéria de direito privado,
em virtude da perfeição-modelo a que tinha chegado na época clássica; pelo contrário, no d
omínio do direito público havia necessidade de legislar abundantemente, porque as no
vas reformas políticas e administrativas originaram problemas novos (v.g. as relações
entre a Igreja e o Estado, de que trata todo o livro 16), e problemas numerosos
que era necessário resolver através duma legislação oportuna e eficiente.
0 livro I trata das fontes de direito e das atribuições dos funcionários imperiais.
Os livros II a IV, parte do V e parte do livro VIII contém direito privado e corre
spondem aos comentários ad Edictum Perpeluom eontidos~nos digesta de vários iur3agru
dentes.
Parte do livro V, os livros VI e VII, parte do livro VIII e os livros IX a XV s
t encerram o comentário aos apéndices do Edictum, que os digesta dalguns jurispruden
tes já faziam com bastante desenvolvimento; foi quase só transcrever e aumentar.
560 No liv. V, os títs. 1 a 6 tratam da sucessão ab intestato; o tít. 7, do posdiminiu
m; os tits. 8-10, da venda e da exposição dos recém-nascidos; os títs. 11-19, dos domínios
; o tít. 20, do costume.
561 0 liv. VI refere-se às classes sociais caos privilégios das dignidades.
0 liv. VI I trata de questões militares.
No liv. VIII: os tits. 1.11 dizem respeito aos funcionários menores; os últimos
títulos voltam a tratar de direito privado - os tits. 12-15 das liberdades, o tít. 1
6 do
416
0 livro XVI é uma inovação. Expõe normas a respeito da Igreja, das várias formas do culto
e das relações entre a Igreja e o Estado.
No seu conjunto, trata-se duma obra bem feita. Certas imperfeições são devidas, não tant
o à imperícia dos compiladores como à deficiência dos arquivos, às lacunas dos (textos) ma
nuscritos e ao facto de ser a primeira tentativa no género, e das primeiras nunca
se pode exigir perfeição. Todavia, há certas deficiências, de que devemos estar prevenid
os: por vezes, estão erradas as inscriptiones ou (e) as subscriptiones; algumas ve
zes, a ordem cronológica nos títulos não é observada rigorosamente.
3-Transmissão e edições do CT
0 Codex Theodosianus chegou até nós directamente, através de bastantes manuscritos 56'
, mas nenhum contém a obra na íntegra e nem se completam entre si de forma a permiti
r uma total reconstituição. Dos livros II a V falta quase tudo; do VI ao XVI, há pouca
s lacunas e pequenas (a maior é no liv. VI, onde falta todo o tít. 1 e o tít. 2 quase
todo; lacunas menores existem ainda no liv VI e no VIII) 5°' Além dos manuscritos
celibato, o tít. 17 do ius libero rum (vid. supra 231-a), e os tits. 18 e 19 de qu
estões
conexas (bona materna, lucrum nuptiale).
O liv. IX é dedicado ao direito penal.
O liv. X e os títs. 1-28 do liv. XI ocupam-se do direito fiscal e dos impostos.
Da parte restante do liv. XI, os títs. 29-38 são consagrados às vias de recurso, e o
tít. 39 às provas.
Os livs. XII-XV tratam de assuntos municipais, alguns surgidos agora pela pri
meira vez, em virtude de certas reformas administrativas efectuadas depois do séc.
IV. 0 liv. XVI, como se diz no texto, contém normas que hoje poderíamos classificar
de direito eclesiástico e de direito concordatário.
562 Os manuscritos são, pràticamente, todos do Ocidente. Isto constitui mais
uma prova a respeito da importância do CT nesta parte do império (vid. infra 421). Q
uais são esses ms. e como foram utilizados vid. GAUDEMET, La Formation
du Droit 48 e 49.
563 Sobre o estado do nosso conhecimento a respeito do CT vid. GAUDEMET,
o. c. 49 e 50.
417
1
DIREITO ROMANO
1.° PARTE-TIT. IX
435
do próprio CT, há ainda manuscritos de outras obras, os quais nos permitem, indirect
amente, conhecer o Código Teodosiano. Haja em vista a Lex Romana Visigothorum. Con
tém cerca de metade do CT, e dessa Lex há numerosos manuscritos 56
Estes diversos manuscritos, directos e indirectos, permitiram uma reconstituição do
Codex Theodosianus, de que existem várias edições.
-A editio princeps do CT é de 1528, feita por SSCHARDUS, mas compreende só o epítome v
isigótico. Dos trabalhos integradores (deste epitome) são dignos de menção especial: o d
e CUJÃCIO, no séc. XVI; nos princípios do séc. XIX, os de CLOSSIUS, Amadeu PEYRON e Carl
o BAUDI DI VESME.
- Das edições antigas, devemos destacar a de Jacobus Go'rHOFREDUS, Codex Theodosianu
s cum perpetuis commentariis 6 vols. (Lião,1665) [a edição mais conhecida desta obra é a
denominada «editio novas, também em 6 vols., Impressos em Leipzig, 1736-1743], e a
de Gustavo HAENEL em 1842.
-Tudo ficou superado com a edição critica de Th. MoMMSEN-P. M. MEYER, Theodosiani Li
bri XVI cum Constitutionibus Sirmondianis et Leges Novellae ad Theodosianum pert
inentes, 2 vols. (Berlim,1905). - [Desta obra há a 2.° edição (Berlim,1954), em 3 tomos,
visto o vol. I ter sido subdividido em duas partes: Ii Prolegomena; 12 Textus c
um aparatu et constitutions Sirmondianae; II-Leges NoveUae ad Theodosianum perti
nentes].
- Finalmente, KRÜGER tentou uma nova edição, contando com certos materiais descobertos
depois de 1905, mas ficou apenas no livro 8.°, por morte do editor. Codex Theodos
ianus, recognovit P. KRUGER, fase. I (lib. I-VI) (Berlim,1923), fase. II (lib. V
II-VIII) (Berlim,1926).
- Por último, note-se que há um índice das palavras do Código Teodosiano, o Heidelberger
Index zum Theodosianus (Berlim, 1929), publicado sob a direcção de GRADENWITZ, e o
suplemento, «Ergânzugsban», também de 1929.
4-Constitutiones Sirmondianae (331-425). Novellae post-Theodosianae
Sirmondianae -.- Em alguns manuscritos gauleses, conservou-se uma colectânea de co
nstituições imperiais pertencentes
564 Sobre esses manuscritos vid. id. ib. 49. Baseando-se nestes manuscritos tem-
se procurado conhecer, com precisão, a estrutura e o conteúdo de todo o Codex Theodo
sianus. Sobre o problema, vid. SCHERILLO, Il Sistema del Codice Teodosiano em St
udi Albertoni I (Pádua,1935) 515-538.
418
ao período que vai desde o ano 331 (data da primeira) até 425 (data da última).
Segundo parece, essa compilação é anterior ao Codex Theodosianus; este teria recebido
dela algumas constituições, ficando as restantes derrogadas, em virtude do carácter ex
clusivo do CT. (Vid. supra 415 e n. 557-2).
Todas as constituições dessa colectânea referem-se a matéria eclesiástica; concretamente, às
relações entre a Igreja e o Estado.
Chamam-se Sirmondianae, em virtude do nome do seu primeiro editor, Jacobus Sirmo
nd, que as publicou com a seguinte designação - «Appendix Codicis Theodosiani Novis Co
nstitutionibus Cumulatior (Paris,1631). Esta 1.a edição contém 21 constituições; posterior
mente, foram acrescentadas mais 5 pelo próprio SIRMOND, segundo se deduz, por anal
ogia, doutras fontes, mas considera-se que não pertencem à tal compilação ante-teodosian
a. Depois da 1: edição, só se publicou a edição crítica, de HAENEL, em 1844. Agora, temos es
sas constituições numa boa edição de MOMMSEN-MEYER; formam como que um appendix do Vol.
12 (vid. supra 418).
Novellae Post-Theodosianae - São constituições promulgadas depois do Código Teodosiano;
também são denominadas «Novellae Theodosianae», pois, na sua grande maioria pertencem ai
nda a Teodósio II.
Publicado o Codex Theodosianus, a actividade legislativa não terminou 5°5. Sob um ce
rto aspecto, até aumentou, pois estava oficialmente previsto que as constituições eram
próprias
565 Muitas das constituições post Codicem Theodosianum, sobretudo de Teodósio II, tinh
am carácter interpretativo e por vezes integrador do CT. Vid. Roberto BONIM, Appun
ti sull'Applieazione del Codice Teodosiano (Le costituzioni in tema di irretrott
ività delle normegiuridiche) em AG 6.8 série 32(1962) 121-134.
Veja-se também aí, máxime págs. 124-134, o problema da irretroactividade das leis, segun
do o Código Teodosiano - de início, só das leis penais, depois, de todas.
419
DIREITO ROMANO
11 PARTE - TIT. IX
§ 35
de cada pars imperii e que a sua aplicação na outra pars exigia: a) -o envio da cons
tituição pelo imperador-autor da mesma ao colega da outra «pars imperii», através duma «prag
matica sanctio»; b) - a aceitação por parte do outro imperador; c) - a publicação, também at
ravés duma outra constituição. Quer dizer, cada constituição de uma pars imperii, provocav
a mais duas para ser publicada na outra pars 566
Das várias constituições publicadas depois do CT, algumas chegaram até nós através do Codex
de Justiniano 567;outras são-nos conhecidas em fontes, diferentes do C.J. Estas, r
igorosamente, é que são as Novellae Post-Theosianae. A respeito delas, há notícias de vári
as colectâneas, elaboradas quer no Oriente quer no Ocidente. Dessas colectâneas, não s
e conserva qualquer fragmento. Apenas através de certas referências, conhecemos das
colectâneas ocidentais:
a) -uma colectânea do ano 460 ou 461, denominada Syllogen Maioriani, contendo (seg
undo o códice Vat. 7 277) diversas constituições de Teodósio II, de Valentiniano III e d
e Maiorano ;
b) - um conjunto de Novelas post-Teod. conservadas na
Lex Roma Visigothorum (que também produz as novelas do
566 Com efeito, lia envios de constituições do Oriente para o Ocidente, A
Novela de Teodósio li, de I de Outubro de 447, remetia constituições orientais a
Valentiniano 111, e dizia-lhe-ate dum modo bastante autoritário (devido só ao facto
de ser genro?) - que as mandasse aplicar no Ocidente. A publicação foi feita pela
Novela 26 de Valentiniano, de 3 de Junho de 448, E há mais casos (vid. GAUDEMET,
La Formation du Droit, cit. 64).
Pelo contrário, não há qualquer alusão de envio de constituições ocidentais para
o Oriente. (Vid. supra 415558-3).
O Codex de Justiniano conserva algumas constituições do Ocidente. A últimaé de
432-C. 4,61,13; embora, segundo alguns, '.cpois desta data, haja ainda uma de 47
3-C. 6,61,5. Vid. GAUDEMET, Jus et Leges em lura 1(1950) 240 e 241.
Écurioso notar que os imperadores do Ocidente, nas suas constituições, têm certas deferênc
ias e até certas manifestações de subordinação para com os imperadores
do Oriente.
567 Quase todas as constituições publicadas depois do CT e conservadas no C.
são orientais; mas até à morte de Antémio, em 472, essas constituições levam na inscriptio o
s nomes dos dois imperadores. Vid. supra 277-279.
420
Syllogen Maioriani, embora não todas, segundo o referido códice
Vat. 7 277) ;
c) - um pequeno número de Novelas post-Theod. contidas em certos manuscritos da Le
x Rom. Visigoth.;
d) - e uma ou outra conservada em fontes diversas.
Hoje, todas as Novelas post-Teodosianas (inclusive, a
segunda de Severo-Leão, conservada na Lex Romana Burgun
dionum) encontram-se na edição de MOMMSEN-MEYER II vol.
(vid. supra 418).
5-Importância do CT, sobretudo para o Ocidente
No Oriente, o Codex Theodosianus teve uma vida curta: 90 anos após a sua promulgação e
ra substituído pelo primeiro Codex de Justiniano 568, de 529 (const. Summa reipubl
icae 3).
No Ocidente, o CT desempenhou um papel muito considerável e de longa duração. Na Itália,
chegou a impedir a penetração do direito justinianeu. Nos outros países da Europa oci
dental, permaneceu, mesmo depois das invasões bárbaras 76", pois os romanos, embora
submetidos ao domínio dos invasores, regiam-se pelo Código Teodosiano ou por códigos n
ele decalcados, v.g. o Breviário de Alarico. Deste modo, compreende-se fàcilmente a
existência no Ocidente de vários manuscritos (principalmente gauleses e dum modo esp
ecial lioneses) S7", e a grande importância que tem o Codex Theodosia
568 Sobre o problema da vida do CT no Oriente - influência. referências, modificações, m
anuscritos, etc. - vid. GAUDEMET, La Formation dn Droit 48.
569 0 Codex Theodosianus constitui o núcelo principal das leis romanas dos bárbaros:
Edictum Theodorici, Lex Romana Burgurrdionum, Lex Romana Visigothorum ou Brevia
rium Alaricianuin. Esta última Lex contém um epítome bastante longo do CT, e foi preci
samente sob esta forma que ele se difundiu largamente e se aplicou na Europa oci
dental, conforme se deduz da quantidade de manuscritos desse epitome. Todavia, a
difusão do Breviário não eliminou o conhecimento do Codex Theodosianus na integra, po
is bastantes manuscritos do Breviário encerram várias constituições ou mesmo títulos intei
ros do CT omitidos pelos visigodos, e outros manuscritos têm um apêndice formado por
diversas constituições existentes no CT e omitidas na LRV.
Sobre os Appendices da LRW e o CT, vid. DE Dortrxrcrs em lura 18 (1967) 353.
570 Sobre os manuscritos ocidentais do CT vid. GAUDEMET, o. e. 48 e 49.
421
DIREITO ROMANO
11 PARTE - TIT. IX
g35
nus para a história dos direitos -francês, italiano, espanhol e português.
Feitas estas referências aos Códigos Gregoriano, Hermogeniano e Teodosiano, consider
amos analisada a matéria epigrafada de I - da ai. c) - Colectdneas de «leges>.
Através destes três códigos, ficamos a conhecer só unia parte do Direito Romano post-cláss
ico, quer dizer, o direito criado directamente pelo Imperador e que se identific
a com as suas constituições. Falta-nos conhecer outra parte, e notável, o ius (ou jura
), isto é, «sententiae iurisprudentium> ainda vigentes na época
post-clássica.
II - Colectâneas de «ius»
III-Colectâneas mistas (de «ius» e de «leges»)
Agora, vamos quase só enumerar essas diversas compilações. Na al. seguinte, faremos um
a nova classificação, não em virtude do seu conteúdo (se é compilação de «ius> ou compilação
de «ius e de «leges>), mas em virtude da sua perfeição (e esta deriva do simples facto d
e terem sido elaboradas no Ocidente ou no Oriente) -e depois, uma breve análise a
cada uma
dessas várias colectáneas.
I - Colectâneas de «ius» - 0 tios, que, desde o Baixo-Império, se concretiza nas obras d
os juristas clássicos identificando-se com essa literatura jurídica (vid. supra 275)
, a partir do séc. IV tornou-se difícil de consultar, e incerto.
Difícil de consultar, pois a grande maioria das obras jurídicas da época clássica centra
l ou eram desconhecidas ou então inacessíveis, para os juristas dá época, devida à subtile
za dos raciocínios (dos seus autores). Por isso, os juristas citados nesta época pos
t clássica eram os clássicos menos clássicos - GAIUS e MODESTINUS -, e também ULPIANUS,
devido ao facto de ser um grande sintetizador (vid. supra 400); portanto, o conh
ecimento das suas obras, por vezes escritas num estilo vulgarizado (excepto as d
e ULPIANUS), fàcilmente dispensava a consulta
das obras dos juristas anteriores, escritas em verdadeiro estilo clássico.
Incerto, porque, a respeito das poucas obras que existiam e eram acessíveis aos es
coliastas e aos,práticos do direito, as versões que delas corriam não inspiravam confi
ança. Eram frequentes as divergências de opiniões entre os jurisconsultos clássicos cita
dos e até diferentes (por vezes, contraditórias) as várias versões da mesma obra.
Numa palavra, a respeito do ius, a partir do séc. IV, havia grande dificuldade em
o conhecer, e reinava uma enorme incerteza 51` a respeito dos textos existentes,
e utilizados nas escolas, nos tribunais e na administração.
Sentia-se ao vivo a) - por um lado, a necessidade de intervirem os imperadores c
om o seu poder legislativo (nesta época, única fonte de «ius novum») no sentido de hiera
rquizar o «ius», estabelecendo uma certa ordem de valor entre os autores clássicos e r
espectivas obras, para facilitar a sua citação nos tribunais; l3) - por outro lado,
a urgência de obter colectâneas de ius, que fossem simultâneamente acessíveis e certas,
seguras.
a) - Hierarquização do «ius» - A primeira intervenção foi feita por Constantino em 321, reti
rando todo o valor jurídico às Notae ad Papinianum de PAULUS e de ULPIANUS (CT 1,4,1
e 1,4,2; vid. supra 398 e máxime BIDR 68[1965] 49-146).
CT 1,4,1: «Perpetuas prudentium contentions eruere cupi entes Ulpiani ac Pauli in
Papinianum notas, qui, dum ingenii laudem sectantur, non tam corrigere eum, quam
depravare maluerunt, aboleri praecipimus». Receando, porém, que o valor das outras
obras de PAULUS fosse afectado por motivo daquela disposição de 321, em 327 publica
nova constituição, a confirmar todas as outras de PAULUS e concedendo expressamente
força jurídica às Pauli Sententiae.
571 A incerteza em Direito, voltamos a insistir, é o pior mal que pode haver. Sob
certo aspecto, é preferível o erro, porque num erro há aquele erro; na incerteza, em g
eral, verificam-se e praticam-se vários erros.
422
423
DIREITO ROMANO
11 PARTE - TIT. IX
§35
CT 1,4,2: «Universa, quae scriptura Pauli continentur, recepta auctoritate f irman
da sunt et omni veneratione celebranda. Ideoque sententiarum libros plenissima l
uce et per f eetissima elocutione et iustissima iuris ratione succinctos in iudi
ciis prolatos valere minime dubitatur».
A maior disposição a respeito desta matéria é a famosa «Lex Citationum» (Lei das Citações), t
conhecida por «Tribunal Mortuorum» (Tribunal dos Mortos). Foi promulgada por Valent
iniano III5i4, em Ravena, pela constituição de 7 de Nov.
de 426 CT 1,4,3 `45, (=C[529] 1,15,1).
A Lex Citationum veio restringir a massa jurídica jurisprudencial quanto ao seu va
lor judicial. Dispunha que só podiam ser citadas em tribunal, vinculando os juizes
, as obras dos cinco juristas Clássicos-PAPINIANUS, PAULUS, ULPIANUS, MODESTINUS e
GAIUS 574. Quanto aos restantes juristas, as suas obras só podiam ser invocadas e
m tribunal e com carácter vinculativo para os juizes: a) se a sua autoridade fosse
reconhecida, pelo menos, por um dos cinco; b) se a citação pudesse ser comprovada a
través dum documento fidedigno. Como a verificação simultânea destas duas condições, na real
idade, se tornava muito difícil, pràticamente, só passaram a ser citados em tribunal o
s cinco juristas mencionados 575. Determinava a Lex
572 Não faltam AA. que atribuem a Lei das Citações ao imperador Teodósio 11. Depois do t
rabalho de A. BrscAIDi, Studi sulla Legislazione dei Basso Impero. I. La Legge d
eite Citazioni em Studi Senesi 53(1939) 401 ss., parece já não haver dúvidas sérias de q
ue pertença a Valentiniano III. Vid. também F. EBRARD, Das Theodisische Projekt, cit
. 583.
57' Sobre o primitivo conteúdo da Lei das Citações e acercado momento em que terá sido i
nserida no Codex Theodosianus, vid. O. ROBLEDA, lus Privatum Romanum
220599.
574 A respeito de GAius, a Lei das Citações expressamente declara que as suas obras
têm valor igual às dos restantes quatro. Esta observação justifica-se, provàvelmente, pelo
facto de ele não ter possuído (ao contrário dos outros quatro) o ius respondendi ex a
uctoritate principis.
575 Segundo parece, a Lei das Citações pouco inovou; veio confirmar o que já se vinha
fazendo na prática. É a opinião dos romanistas modernos. Cf. ROBLEDA, o. c. 220
e A. DELL'ORO em Synteleia Arangio-Ruiz I (Nápoles,1964) 356.
424
Citationum: se havia acordo dos cinco, era obrigatório seguir
essa opinião; se não havia acordo de todos, mas apenas uma
maioria, tinha de seguir-se essa maioria; se havia empate e num dos lados estava
a opinião de PAPINIANUS, seguia-se esta, mas se PAPINIANUS não tratava do problema,
o juiz ficava com plena liberdade, para decidir a questão.
p) - Urgência das colectâneas de «ius» - Depois da Lei
das Citações surgiram várias compilações deste conteúdo 510: 1 - Tituli ex corpore Ulpiani 2
- Sententiae recepti Pauli 3 - Epitome Gai
4 - Res Cottidianae seu libri Aureorum Gaii
II - Colectâneas mistas (de «ius» e de «leges»)
1- Edictum Theodorici
2 - Lex Romana Visigothorum 3 - Lex Romana Burgundionum 4 - Fragmenta Vaticana
5 - Colatio Legum Mosaicarum et Romanarum 6- Consultatio Veteris cuiusdam lurisc
onsulti 7 -Livro Siro-Romano 8 - Scholia Sinaitica
d) Classificações de certas colectâneas pré-justinianeias. Nosso critério. Principais coleçtâ
eas a analisar, elaboradas: A) - no Ocidente: B) - no Oriente
As colectâneas de ius e as mistas (de ius e de eges), para simples enumeração, devem s
er agrupadas em razão do seu con
576 Antes da Lex Citationum, existiram umas colectâneas breves ou epítomes, de carácte
r particular.
425
DIREITO ROMANO
1.' PARTE - T'T. IX
§ 35
teúdo, como acabámos de fazer. Para uma certa análise, entendemos que é preferível agrupá-la
s em razão da sua perfeição. Ora o grau de perfeição, ou melhor, de menos imperfeição, verifi
a-se conforme são elaboradas no Ocidente (mais imperfeitas, devido ao carácter profu
ndamente vulgarista do Direito Romano da época post-clássica ocidental 511) ou no Or
iente (menos imperfeitas, em razão da índole classicista do lus Romanum post-clássico
oriental).
Quanto às colectâneas só de leges - Códigos Gregoriano, Hermogeniano e Teodosiano -, não p
recisam desta classificação, por serem todos orientais.
Não examinaremos aqui as compilações analisadas na cadeira de História do Direito Portug
uês 578; e mesmo das restantes, só as principais.
A) - Principais obras ou colectâneas 519 pré-justinianeias ocidentais (sécs. III-1V) 5
80 1 - Fragmenta Vaticana; 2 - Collatio Legum Mosaicarum et Romanarum; 3-Consul-
. tatio Veteris cuiusdam Iurisconsuiti; 4 - Resumos de
577 Sobre a problemática da produção jurídica post-clássica ocidental vid. GAUDEMET, La Fo
rmation du Droit 84 e Institutions de l'Antiquite (Paris, 1967) 752.
578 Vid. BRAGA DA CRUZ, História do Direito Português, Lições policopiadas (Coimbra,1955
) 133-147 e 197-211.
579 Em geral, os dois termos, a respeito das várias compilações pré-justinianeias, usam-
se como sinónimos. Em rigor, segundo parece, colectâneas seriam apenas os três Códigos (
Gregoriano, Hermogeniano e Teodosiano), e obras, as compilações de ius, e quando mui
to também as mistas (de ius e leges).
580 Sobre estas fontes, além de diversas edições (de BRUNS, MOMMSEN, BAVIERA
KRt1GER, HUSCHKE, FERRINI, FURLANI, SACHAU, etc), há estudos muito interes
santes. A actual romanistica dedica a estas obras uma especial atenção. Vamos presci
ndir de certas análises de vários problemas, e apresentar uma visão muito esquemática, m
as fundamental. Para um exame mais pormenorizado, vid. 0. ROBLEDA. lus Privatum
Romanum 211-246 (onde também é indicada a principal bibliografia), e GAUDEMET, La Fo
rmation du Droit 84-98.
obras - I - Pauli Sententiae, II - Epitome Gai, III - Gaio de «Autun», IV - Tituli e
x corpore Ulpiani, V - Interpretotiones
1-Fragmenta Vaticana (FV) - FIRA 11 464-540 5S1
Trata-se duma colectânea privada (segundo a melhor opinião) de ius e de leges. Data
do séc. IV ou V, entre 372 e 438. Desconhece-se o autor, e até a primitiva designação. H
oje é conhecida por Fragmenta Vaticana: «fragmenta», porque tudo o que possuímos desta c
ompilação é apenas cerca de uma décima parte do original (33 págs. de manuscrito) ; «vatican
a», porque foi encontrada na Biblioteca do Vaticano. 0 Cardeal Angel MAI, em 1823,
descobriu-a num manuscrito-palimpsesto (n.° 5 766
da Bibl. Vat.582).
Como dissemos, é uma colectânea de ius e de leges. No que se refere ao. ius, encerra
fragmentos de obras de PAPINIANUS, PAULUS, ULPIANUS e alguns passos duma obra d
enominada De Interdictis cujo autor é desconhecido. Quando a leges, contém excertos
de várias constituições de diversos imperadores, sobretudo de Diocleciano.

581 Estas abreviaturas significam: l.° que os Fragmenta Vaticana designam-se nos t
rabalhos romanísticos por FV; 2.° que se encontram, entre outras colecções de fontes juríd
icas pré-justinianeias, em FIRA (= Fontes luris Romani Antejustiniani), vol. II, pág
s. 464 a 540. Semelhante significado deve atribuir-se às abreviaturas apostas às out
ras fontes, de que se vai tratar a seguir.
Sobre edições, fontes e principal bibliografia dos FV vid. 0. ROBLEDA, o. c. 235655.
582 Corno é sabido, o palimpsesto é um manuscrito em pergaminho, raspado por copista
s da Idade-Média, para dar lugar a nova escrita. Modernamente, tem-se conseguido a
vivar os primeiros caracteres que ficaram (não totalmente destruidos) debaixo da s
egunda escrita. A palavra deriva do grego que significa raspar, polir, de novo.
Como na antiguidade os pergaminhos e os couros sobre que então se escrevia atingia
m por vezes preços elevadíssimos, os escribas aproveitavam os pergaminhos antigos co
locando-os numa solução de água e cal, para fazer desaparecer a escrita neles contida.
Tais couros e pergaminhos, depois de raspados com pedaços de vidro e alisados com
pedra-pomes, eram utilizados para novos escritos. Daí o nome de palimpsesto.
No nosso caso do Palimps. n.° 5766 da Bibl. Vat., o primeiro manuscrito (e portant
o a parte da colectânea FV) pertence ao séc. IV ou V; a «super-escrita» é do séc. VIII.
426
427
DIREITO ROMANO
1' PARTE - TIT. IX
§ 35
Especial valor dos FV quanto ao «ius»: os fragmentos aí transcritos são mais clássicos que
os mesmos, citados no Digesto do Corpus Iuris Civilis. Isto vem confirmar o que
já era certo: os fragmentos de obras dos juristas clássicos contidos no Digesto jus
tinianeu, muitas vezes, estão interpolados pelos compiladores.
Matérias: compra e venda; usufruto; dote; doações, etc.
Sistematização: a colectânea não está dividida em livros, mas em títulos; e em geral, para m
aior comodidade, toda ela repartida em números, que vão de 1 a 341, não estando subord
inados a cada título. V.g. FV 285=Fragm. Vat. n.° 285.
A finalidade da elaboração desta colectânea foi prática e escolástica, isto é, servia respec
tivamente para advogados, juízes, magistrados e funcionários da administração, e para es
tudiosos de Direito.
2-Collatio Legum Mosaicarum et Romanarum, em geral conhecida simplesmente por Co
llatio (Co) -FIRA lI 544-589
É também uma colectânea mista (de ius e de leges 583). Data, quase de certeza, dos pri
ncípios do séc. IV "'.
Era conhecida na Idade Média; depois, desapareceu; foi
encontrada no séc. XVI, mas só uma parte (talvez um extracto
583 Sobre edições, fontes e principal bibliografia da Collatio vid. O. RORLEDA, o. c
. 238666, e G. SCHERILLO, em LANDI 111 446 e 448-8.
584 0 problema da data àltimamente tem sido objecto de vários estudos, que originara
m diversas opiniões. De certeza, a Collatio é anterior ao CT, pois o autor da colectân
ea desconhece o Codex Theodosianus, o que seria quase inexplicável, se fosse poste
rior. Visto a Collatio conter uma constituição do ano 390, põe-se a questão de saber se
ela é posterior ou anterior àquela data, e então essa constituição do ano 390 teria sido i
ntroduzida numa ulterior reedição, o que era muito frequente (vid. supra 409) Está hoj
e demonstrado que é anterior a 390, e talvez anterior a Constantino; portanto, cer
ca do ano 305.-Sobre este curioso problema, vid. E. VoLTERRA, Collatio Legum Mos
aicarum et Romanarum (Roma,1930); A. MAS!, Contributo ad una Datazione delta «Coll
atio Legum Mosaicarum et Romana]-um» em BIDR 64(1961) 285-321 (onde, a págs. 288-307
, apresenta uma síntese admirável da evolução da doutrina sobre este problema); G. CERVE
NCA, Ancora sul Problema della Datazione della `Collatio Legum Mosaicarum et Rom
anarum' em SDHI 29(1963) 253-276; A. MAS!, Ancora sulla Datazione delta `Collati
o Legum Mosaicarum et Romanarum' em Studi Senesi 14 (1965) 415-448, M. DOMINICIS
, Ancora sulla «Collatio Legum Mosaicarum et Romanarum» em BIDR 69 (1966) 337-342, e
G. CERVENCA, Ancora sul Problema della Datazione delta 'Collatio' em RSDI 39 (1
966) 456-457.
428
da obra primitiva) e fragmentada em três manuscritos (dos sécs. IX-XI), hoje conserv
ados em Berlim, Viena e Tercelli, sendo o berlinense o mais antigo.
A Collatio original estava dividida em vários livros, subdivididos em títulos. Apena
s se conservam, nos três manuscritos acima referidos, 16 títulos do livro 1.°. Excepto
os livros 10 e 16.°, todos os restantes se ocupam de matérias de direito criminal.
A avaliar pela matéria contida nesses títulos, trata-se da colectânea mais original de
todas. Pretende demonstrar uma tese muito «ingénua», mas que teve alguma aceitação na época
post-clássica: que o lus Romanum procede das leis moisaicas (contidas no Velho Te
stamento, e concretamente em todos os livros do Pentateuco, excepto o Génesis - Êxod
o [sobretudo deste], Levítico, Números e Deuteronómio), ou pelo menos está de acordo com
elas. Daí que, nos manuscritos, esta colectânea seja designada por «Lex Dei quam prae
cepit Dominus ad Moysen». - [A denominação de «Collatio Legum Mosaicarum et Romanarum» foi
dada pelos editores modernos, em virtude do seu conteúdo]-. Para efectuar a tal «de
monstração», o autor 585
da Collatio escreve, primeiro, as normas da Sagrada Escritura 586 e, depois, as
normas de Direito Romano, começando pelo ius e acrescentando leges, se é que existem
a propósito do assunto tratado. De ius, transcreve fragmentos sobretudo das Pauli
Sententiae, que são «completados» com excertos dos cinco juristas da Lex Citationum,
PAPINIANUS, PAULUS, ULPIANUS, MODESTINus e GAtus. De leges, cita passos de const
ituição extraídas dos
585 Discute-se muito quem seja o autor da Collatio. Um judeu ou um cristão? Provàvel
mente, cristão. Quem? RUFINUS de Aquileia? S. Jerónimo, Santo Ambrósio ou outra pessoa
? Vid., por todos, RoBLEDA, o. c. 239 e nn. 670-672. - Segundo G. SCHERILLO, em
NNDI 111 447-448, o autor não podia ter sido nem um cristão nem um pagão, mas um hebre
u; provàvelmente, um rabino, bem conhecedor da Sagrada Escritura e em Direito Roma
no non incallidus.
586 É curioso que o autor da Collatio cita a lei moisaica, não directamente do texto
hebraico, mas usando uma tradução latina da versão grega dos Setenta, anterior à Vulgat
a de S. Jerónimo.
429
DIREITO ROMANO
1' PARTE-TIT. IX
§ 35
Códigos Gregoriano e Hermogeniano, e ainda fragmentos duma constituição do ano 390 '8T
(de Valentiniano, Teodósio e Arcádio), proveniente de fonte desconhecidas".
Sob o aspecto quantitativo, são em maior número os textos jurídicos romanos - e entre
estes, os fragmentos de ius - em relação aos versículos bíblicos.
A colectânea interessa ao romanista, enquanto encerra textos jurídicos, sobretudo não
contidos na compilação justinianeia e principalmente só conhecidos através desta obra.
3 - Consultatio Veteris cuiusdam Iurisconsulti, em geral conhecida simplesmente
por Consultatio (Cs) - FIRA 11 594-613
É igualmente uma colectânea mista (de ius e de leges) 589.
É conhecida pela denominação de Consultatio Veteris cuiusdam lurisconsulti, dada por C
uJÁCIO primeiro editor da colectânea (ou por A. LOISEL, discípulo e amigo de CuiÁcio, o
descobridor da Cs). Não é, portanto, a designação primitiva; essa é-nos desconhecida. Na v
erdade, foi CuJÁCIo, no séc. XVI (1577), quem a publicou pela primeira vez, na íntegra
599, segundo um manuscrito (descoberto por LOISEL), hoje perdido, mas o único de
que há notícia. Da edição de CuJÁcio procedem as edições modernas.
A Cs data do séc. V ou início do séc. VI 591, e deve ter sido composta na Gália 592.
587 Vid. supra n. 584.
588 Essa constituição também se encontra no CT 9,7,6; mas não provém desta fonte, pois a C
ollatio é anterior ao Codex Theodosianus; além disso, essa constituição na Collatio está e
m síntese, no CT, na íntegra.
589 Sobre edições, fontes e principal bibliografia da Consultatio vid. 0. Ro
BLEDA, o. c. 241678.
590 Cujácio publicou, em separado algumas partes da Cs em 1564, e depois essas mes
mas partes, como apêndice, à sua edição do Codex Theodosianus, de 1565;
edição na íntegra, só em 1577.
591 Terminus post quem, 439; terminus ante quem, entre 450 e 500.
592 Sobre estes dois problemas, data e lugar, vid. O. ROBLEDA, o. c. 242 e nn.
680-682.
430
Está dividida em 9 capítulos, mas sem rubricas.
Segundo o que se vinha afirmando entre os AA., esta colectânea conteria as respost
as dum jurista post-clássico desconhecido, dadas a casos reais ou até fictícios; para
fundamentar essas respostas, ele teria transcrito vários fragmentos de ius (tirado
s da Pauli Sententiae) e de leges (extraídos dos Códigos Gregoriano, Hermogeniano e
Teodosiano). Hoje, reduzem-se ao mínimo as respostas do tal desconhecido juriscons
ulto 593, podendo distribuir-se toda a matéria da Consultatio (embora separada com
pouco rigor), sem contar com as doutrinas do «fictus(?) iurisprudens», em três partes
:
l.a compreenderia os capítulos 1-3'e 7-8, onde estão recolhidos fragmentos das Pauli
Sententiae e dos Códigos Gregoriano e Hermogeniano;
2.a, caps. 4-6, onde se encontram extractos das Pauli Sententiae e do Código Hermo
geniano;
33 a, cap. 9 (o último) contém apenas fragmentos dos três Códigos -- Gregoriano, Hermoge
niano e Teodosiano.
Em parte nenhuma se vêem as respostas do tal desconhecido jurisconsulto.
Especial importância da «Consultatio»
1.° -Contém certos fragmentos que não se encontram em nenhuma outra fonte; são-nos conhe
cidos unicamente através desta colectânea.
2.° - Vários dos fragmentos estão já interpolados. Mais um argumento a provar que há inter
polações também pré-justinianeias.
3.° - Nos fragmentos coligidos, indicam-se (ao contrário de outras colectâneas) o nome
do autor, da obra, livro e título; nos fragmentos das constituições imperiais, além da
inscriptio, nunca falta a subscriptio.
593 Vid. ROELEDA, ib. 242, parte final da n. 679.
16
431
DIREITO ROMANO
1.' PARTE - TIT. IX § 35
4-Resumos de obras (portanto, "colectâneas" ou melhor, "obras") de ius
I - Sententiae receptae Pauli, ou simplesmente, Pauli Sententiae (PS) -- FIRA 11
321-417
É uma selecção, uma espécie de antologia, de máximas jurídicas (sententiae, vid. supra 365),
que talvez não reproduzam já exactamente o direito clássico, embora a obra tenha por
base
(pelo menos ó94) as obras, de PAULUS. Tem sido considerada uma fonte de direito po
st-clássico 595.
Quanto ao seu autor, seguia-se até há pouco, não ser PAULUS; recentemente, já se levanta
m certas dúvidas S6
Foi elaborada, de certeza, no Ocidente, e é mais provável ter sido em África do que na
Itália.
Consta de cinco livros, divididos em títulos 591.
Deve ser dos fins do séc. III ou princípios do séc. IV, mas de certeza antes de 327 ou
328, data da constituição de Constantino, que lhe reconhece valor oficial (CT 1,4,2
), a não ser que se venha a demonstrar que o seu autor é PAULUS, pois nesse
caso, não seria do séc. IV, mas do III 5911.
Não chegou até nós na íntegra (apenas cerca de uma sexta parte), nem directamente (excep
tuando o breve fragmentam Leidense 599), mas através dos FV, da Collatio, da Consu
ltatio, do Breviário de Alarico e do p gesto.
Embora seja uma obra («colectânea» de ius) do Ocidente e dos fins do séc. III (ou princípi
os do séc. IV?), teve larga
594 Há quem defenda que as PS têm por base não só as obras de PAULUS mas também as doutros
juristas clássicos, v. g. LAURIA, R,icerch? su Pauli $ententiae em Annali deil'Un
iversità di Macerata 6(1930) 33 ss.
595 Nisto, há quase uniformidade entre os AA. Veja-se, por todos, DE DoMINIcIS, Di
AlcuniTesti Occidentali delle «Sententiae» riflettenti la Prassi Postelassica em St
udi Arangio-Ruiz IV (Nápoles,1953) 507-542.
596 Sobre o estado actual deste problema, veja-se O. ROBLEDA, o. e. 223 e
nn. 610 e 612 (2.' parte).
S97 Acerca das várias edições e principal bibliografia, vid. id. ib. 223609. 598 Vid.
supra n. 596.
S99 Sobre este fragmentum vid. GAUDEMET, Lá Formation du Droit 893.
expansão e uso frequentíssimo no Oriente, onde, durante os sécs. IV a VI se fizeram vári
as edições, com diversas alterações,
interpolações 690 e glosemas.
II -Epitome GAI (EG) - FIRA II 232-257
Obra de menor importância que a anterior, é uma síntese imperfeita, mesmo rudimentar,
dos três primeiros livros das Institutions de GAIUS, ora reproduzindo com fidelida
de ora adaptando o texto gaiano à nova legislação imperial, ora corrompendo ainda mais
os conceitos e a própria terminologia do «pré-posclásico».
De certeza, é da época post-clássica; por isso, omite o livro IV das Institutiones de
GAIUS, pois, tratando do processo clássico, na época post-clássica já não tinha qualquer a
plicação. Provàvelmente, é do séc. V; talvez tenha sido elaborada por uma escola gálica.
0 EG encontra-se transcrito no Breviário de Alarico 601, com a designação de Liber Gai
,- constando de dois livros, pois os livros II e III das Institutiones de GAIUS
ficaram fundidos num. É anterior à Lex Romana Visigothorum e nem sequer deve ter sid
o elaborada pelos compiladores do Breviário 60-.
Ill - Gemo de «Autun» (GA) - FIRA II 208-228
Trata-se dum resumo das Institutions de GAIUS elaborado para fins didácticos, enco
ntrado fragmentàriamente, num
600 Não falta quem defenda que o texto das PS usado pelo Breviário de Alarico (seria
ocidental) era diferente do que foi usado pelo Digesto (seria oriental). Vid. G
AUDEMET, o. c. 894.-Sobre interpolações nas PS vid. infra 519.
601 Acerca das várias edições e principal bibliografia desta obra, Vid. ROBLEDA, o. c.
225617.
602 Cf. ROBLEDA, a. e. 225619 e GAUDEMET, o. c. 93 e n.2.
432
433
DIREIrO ROMANO
1.° PARTE-TIT. IX
135
palimpsesto da Biblioteca de Autun (França). Daí a razão de
ser da sua denominação.
Em virtude da sua finalidade, os extractos da obra gaiana são quase sempre acompan
hados de certos comentários, em
geral de pouco valor.
IV - Tituli ex Corpore Ulpiani (TU), também denominado Liber singularis Regularum
- FIRA 11 262-301
É uma obra elementar, post-clássica, de certeza do séc. IV, composta entre 320 e 350.
Provàvelmente, é uma síntese dum texto não-original (isto é, não conforme ao manuscrito vero
nês) das Institutiones de GAIUS - texto esse que se perdeu -, contendo talvez aind
a certas noções e vários conceitos de mais alguns iurisprudentes clássicos, máxime ULPIANU
S 803.
0 manuscrito desta obra foi encontrado na Biblioteca Vaticana, no séc. XVI, tendo
sido editado em 1594 por TILLET, e em 1576 por CuJAclo. Pensaram ter encontrado
o Liber singularis Regularam (ou uma sua grande parte) de ULPIANUS; daí a razão de s
er de uma das suas denominações. Esse manuscrito, considerado perdido durante muito
tempo, afinal é o Vat. Reg. 1128, que principia por estas palavras: «Incipiunt Titul
i ex corpore Ulpiani». Por este motivo, explica-se a outra designação
desta «colectânea» de ius 804
V - Interpretationes
É evidente que se trata duma obra de ius e post-clássica, consistindo em pequenos co
mentários a normas quer de ius quer
603 0 problema é muito discutido e são várias as opiniões. Vid. ROBLEDA, o. C.
222 e nn. 605-608.
604 Cf. GAUDEMET, o. C. 91 e 92.
de leges. As interpretationes não existem apenas no Breviário
de Alarico e nem é só através dele que temos conhecimento
delas.
É uma das obras mais mal conhecidas do direito post-clássico. Conhecem-se principalm
ente as interpretationes ao Codex Theodosianus, porque têm sido editadas com esse
Código, como que fazendo parte integrante.
As interpretations, ou melhor, a Interpretatio é uma obra elaborada no Ocidente (p
rovàvelmente na Gália), talvez de origem pré-visigótica, provàvelmente dos fins do séc. V (n
em
antes de 438, data do CT, nem depois de 506 805).
Embora de carácter escolar, reputa-se obra de vasto alcance.

A interpretatio não é toda igual. Certas interpretationes consistem em simples comen


tários explicativos dos textos. Quando o texto é considerado bem claro, então a Interp
retatio ou repete o texto ou diz «non indiget interpretatione». Outras interpretatio
nes, e então já mais práticas, actualizam o texto comentado, acrescentando-lhes as ino
vações introduzidas ao longo do séc. V pelo direito vulgar. Por este duplo motivo - se
rem explicativas e actualizadas-é que foram recolhidas pelos visigodos.

Além das interpretationes a cada fragmento de constituição conservado no CT e a cada p


asso de ius ou de leges transcritas no Breviário de Alarico, conhece-se a Interpre
tatio às Pauli Sententiae 6Ó6, últimamente, editada por M. KASER-Fr.
SCHWARTZ 601
605 Cf. GAUDEMET, o. C. 96.
606 Sobre as características de cada uma destas três interpretationes e respectiva r
elação com outras fontes, vid., por todos, GAUDEMET, o. c. 96-98.
607 M. KASER e Fr. SCHWARTZ, Die Interpretatio zu den Paulussentenzen (Colónia,195
6).
434
435
DIREITO ROMANO
1.° PARTE -T1T. IX
§ 35
Como Epitome Gai e as Interpretations, encerra-se o ciclo
da actividade jurídica post-clássica do Ocidente.
Essa actividade vai ser retomada, nos princípios do séc. VI, em moldes diferentes, a
o redigir as leis bárbaras; tudo em estilo vulgarista. Só no séc. XII, com a Escola de
Bolonha, é que termina a vulgarização do Direito, no Ocidente.
B) -Principais obras ou colectâneas pré-justinianeias orientais (sécs. III-VI)
1 - Leges Saeculares ou Livro Siro-Romano 2 - Scholia Sinaitica
3 - Res Cottidianae
Antes de analisar estas três obras, convém fazer duas observações.
11 OBSERVAÇÃO -Poucas obras jurídicas post-clássicas
orientais? Assim parece à primeira vista, ao enumerarmos apenas três. Trata-se duma
aparente apouca-abundância». Na época post-clássica, produzem-se muito mais obras jurídica
s no Oriente do que no Ocidente. Simplesmente - 1) muitas desapareceram, devido
sobretudo à determinação depois da publicação do Corpus luris (vid. infra 453); 2) outras
foram incorporadas na compilação justinianela, v.g. os tits. 16 e 17 do liv. 50 do D
., respectivamente Regulae luras e Definitiones; 3) várias, em forma de escólios, co
nservam-se hoje nos Basílicos; 4) o muito respeito dos post-clássicos orientais pela
s obras clássicas forçava-os mais a reeditar e comentar ou simplesmente anotar (os S
cholia) essas obras que a elaborar trabalhos próprios.
2.9 OBSERVAÇÃO - Características das obras jurídicas
post-clássicas orientais: 1) de valor
superior ao das obras jurídicas post-clássicas ocidentais; 2) são
fruto principalmente das escolas e sobretudo da de Beirute e da de Constantinopl
a; 3) as tendências dessas escolas, e de que se ressentem todas as obras orientais
, são principalmente - a) gosto pelas definições e classificações, segundo inspiração helénic
e daí as Definitiones, as Regulae luris, as Sententiae, etc.; b) certas preocupações d
e ordem psicológica, analisando a intenção das partes contratantes, atendendo ao papel
da vontade sobretudo nos negócios mortis causa (v.g. D. 50,17,12 - «in testamentis
plenius voluntates testantium interpretamurr); c) iniciação dum esquema dos vícios do
consentimento; d) preocupações de ordem moral,
muito frequentes, apelando para a humanitas, aequitas, pietas, etc. -Tudo isto é o
termo duma evolução que se tinha iniciado na época clássica. Por vezes, o Direito fica.
.. menos jurídico, mas talvez mais equitativo, mais humano.
1 - Livro Siro-Romano ou «Leges Saeculares» (LS) - FIRA 11759-798
É uma colectânea de ius e de leges, do séc. V. 0 seu autor talvez seja um cristão duma p
rovíncia oriental.
Segundo a opinião mais provável - NALLINO 608 e mais recentemente VOLTERRA 609 -, tr
ata-se duma obra didáctica, um
manual de Jus Romanum.
Só contém ius civile - nada de ius praetorium - e algumas constituições, a partir de Con
stantino, que modifiquem o ius civile. É que, segundo VOLTERRA 81Ó, a obra destinava
-se ao 1.0 ano; ora, por disposição da const. Omnem 1, o ius praetorium estudava-se
no 2.° ano.
Divisão e matéria - A obra está dividida em 127 parágrafos. Trata de várias questões, sobret
udo do casamento (61 parágrafos ocupam-se das pessoas, do casamento e do dote) e d
as sucessões (32 parágrafos).
Original, traduções, duração, edições, manuscritos e designações. - 0 texto original das LS é
rego (segundo_ NALLINO 811), do séc.. V (entre 426 e 480) ; depois, foi traduzido
para siríaco812 (em meados do séc. VIII), e mais tarde para árabe e aramaico, para ens
ino do DR nas províncias dessas línguas.
NALLINO, Sul Libro Siro-Romano e sul presunto Diritto Siriaco em Studi I (Milão,19
30) 230.
Veja-se GAUDEMET, La Formation du Droit 101 e n. I. Id. ib.
NALLINO, Sul Libro Siro-Romano, cit. 222 e 259.
Parece que a finalidade inicial da tradução siríaca haveria sido esta:
terem os cristãos, residentes entre maometanos, algum direito pessoal próprio. É que o
autor do Livro Siro-Romano, como ficou dito no texto, deve ter sido um cristão or
iental. Cf. RoBLEDA, o. c. 244.
608
Bonfante
609 610 611 612
436
437
DIREITO ROMANO
11 PARTE - TIT. IX
g 35
Teve larga difusão e longa duração em muitas províncias do Oriente, permanecendo nalguma
s delas até ao séc. XVIII.
A 1.' edição, de 1862, é de LAND; a 2.° ed., de 1880, de SACHAU e BRUNS, com tradução alemã.
m 1907, SACHAN publicava nova edição (Syrusch-Rõmische Rechtsbücher). FERRINI fez uma tr
adução latina, revista por FURLANI; é a existente em FIRA 11613.
Os manuscritos desta colectânea são vários, mas relativamente recentes (o mais antigo é
do séc. VIII). 0 mais importante é o de Londres, encontrado por SACHAU em 1858.
Os manuscritos dão-lhe várias denominações:
-Lei dos reis vitoriosos, Constantino, Teodósio e Leão;
- Leis imperiais;
- «Leges Saecukaresx;
- Livro Siro-Romano (designação dada por SACIIAU-BBUNS);
- Dikaiómata.
2-Scholia Sinaitica (SS) - FIRA II 638.652
É igualmente uma colectânea de ius e de leges e também
do séc. V(?).
São umas notas (em grego, scólia) ou comentários, em
grego, aos livs. 35 a 38 de ULPIANUS ad Sabinum, descobertos (estes escólios) em 1
880 por BERNADAKis num mosteiro do
Monte Sinai. Daí a sua designação.
Contém ius - além das citações de ULPIANUS, também algu
mas de PAULUS, F+LORENTINUS, MARCIANOS e MODESTINUS -, e
leges, excertos dos Códigos Gregoriano, Hermogeniano e Teo
dosiano 814.
Data do séc. V, mas dos fins (ou até princípios do séc. VI) ; porém, antes de Justiniano,
pois este proibiu o uso daqueles três Códigos e o autor dos SS ainda faz comentários a
eles.
Talvez tenha sido escrita em Beirute.
Especial valor desta colectânea: 1) mostra a erudição dos mestres orientais; 2) tem fr
agmentos de ULPIANUS que
613 Sobre outras edições e a principal bibliografia, vid. ROBLEDA, o. C. 243685. 614
Sobre as várias edições e principal bibliografia, vid. ROBLEDA, a. C. 245696.
438
mais nenhuma outra fonte contém; 3) apresenta já alguns fragmentos interpolados. Est
e último facto é importante, para se demonstrar o que hoje já é aceite: há interpolações pré-
tinianeias, e em número elevado (vid. infra 515-518).
3-Res Cottidianae ou Libri aureorum Gai - (BIDR 51-52 [1948] 22-98)
É uma «colectânea» só de ius, dos fins do séc. III ou princípios do séc. IV. Conhecemo-la ape
através das I. e do D. 61-1. Aí, vem citada com as duas designações, Res Cottidianae e
Libri aureorum Gai, e é atribuída a GAIOS 016, mas este não pode ser o seu autor: 1.° po
rque os estilos são diferentes; 2° porque são diferentes várias soluções dadas para os mesmo
s casos; 3.0 porque o autor das Res Cottidianae e GAIus pertencem a épocas diferen
tes -GAIus é do séc. II e as RC são dos princípios do séc. IV ou fins do séc. III. Porém, já
epugna que tenha sido um discípulo de GAIus, mas superior ao mestre.
Não há edições separadas das Res Cottidianae. Di MARZo tentou fazer uma reconstituição em BI
DR 51-52(1948) 22-98.
Não se sabe ao certo o significado da designação «Res Cottidianae». Para uns significaria
- direito de cada dia; para outros, - direito comum, usual.
Trata-se duma paráfrase às Institutiones de GAIus e também a algumas obras de ULPIANUS
e de PAULUS.
Devia constar de 7 livros, mas só temos excertos referentes a 3.
Tem carácter dogmático, denunciando claramente autor post-clássico.
613 Há quem defenda ter existido duas redacções sucessivas das Res Cottidianae, e uma
teria sido utilizada pelos compiladores do Digesto e outra pelos das Institution
s de Justiniano.
616 D. 7,1,3: «Gaius libro secundo rerum quotidianarum ve! aureorum».
D. 18,7,2: «Gaios libro secondo cottidianarum rerum».
D. 40,2,7: «Gaius libro primo rerum cottidianarum sive aureorum».
439
Título X - CORPUS KRIS CIVILIS
A) PLANOS DE JUSTINIANO
B) ANÁLISE DAS VÁRIAS PARTES DO
«CORPUS IURIS CIVILIS»
C) MANUSCRITOS DAS DIVERSAS PARTES
DO «CORPUS IURIS CIVILIS»
D) EDIÇÕES DO C. I. C. PARTICULARES
DIVISÕES E ALGUMAS COLECTÂNEAS
MEDIEVAIS
Capítulo 1.^ -A) -PLANOS DE JUSTINIANO
SUMÁRIO - 36. a) Plano inicial - Codex Vetus (529): comissão incumbida da elaboração; pu
blicação
b) Plano posterior: realização duma grande colectânea de ius e de leges
1 - Necessidade e forte desejo dessa enorme colec
tânea, depois da feitura do Codex Vetus
2 - Factores que concorreram para a realização do
Corpus luris Civilis:
a) - Escolas
Triboniano e outros juristas de valor
y) Personalidade de Justiniano
3 - Finalidade dessa colectânea: legislativa e didáctica
441
DIREITO ROMANO
1' PARTE -TIT. X-CAP. 1.°
§ 36
a) Plano inicial - Codex Vetus (529): comissão incumbida da elaboração; publicação
36. Como já sabemos (vid. supra 35-37), o Corpus luris Civilis, assim denominado p
or Godofredo em 1583, é uma grande colectânea de ius (fragmentos de obras de jurista
s clássicos) e de leges (excertos de constituições importantes). Grande. Tão grande, que
quase se identifica com todo o lus Romanum (vid. supra 34 48, 166 e n. 170). 'É c
onsiderado o maior monumento jurídico de todos os tempos e foi a obra que imortali
zou o imperador Justiniano.
Segundo a melhor opinião 017, de início o plano de Justiniano 818 não era de tão longo a
lcance -elaborar uma enorme colectânea de ius e de leges, essa grandiosa obra legi
slativa,
617 Por exemplo, PRINCSHEIM, Die Entstehungszeit des Digestenplanes und die Rech
tsschulen em ACIDR. Roma I (Pavia,1934) 451-494; COLLINET, La Genèse du Code et de
s Institutes de Justinien (Paris,1952) 58; DE FRANCISCI, Storia di Diritto Roman
o 111 (Milão,1943) 253-254; A. GUARINO, L'Ordinamento Giuridico Romanos (Nápoles,195
9) 262; 0. ROBLEDA, Jus Privatum Romanum (Roma,1960) 247-248; Giuseppe GROSSO, L
ezioni di Storia del Diritto Romanos (Turim,1965) 489-490. - RoBLEDA, loc. cit.,
apresenta duas razões; a) no Codex Vetus existe a lex citationum (há uma referência e
xpressa no tít. 15 do liv. 1, segundo consta do Pap. Oxyr. - vid. infra n. 629); o
ra isto colide com o critério seguido na. compilação do Digesto; b) na const. Summa re
ipublicae que publicá o Código de 529 (vid. infra 445), no § 3 claramente se afirma qu
e, para futuro, permanecia vigente o ius contido nas obras «veterum interpretorum» e
não contrário às disposições do Código-De tudo isto, e sem fazer qualquer alusão a uma futur
colectânea de ius, pode deduzir-se perfeitamente que Justiniano, naquela altura (
7-4-529), dava-se por satisfeito com a publicação desse Código.
Alguns AA. seguem uma posição intermédia: Justiniano, desde o início, além dum codex, não te
ria pensado em elaborar o Digesto, mas sim também as Institutions. V. g. ERBARD, D
as Theodosische Projekt eines «Predigesto» em Studi Albertario I (Milão,1953) 583, e S
ulla Legge delle Citazioni nel Breviario Alariciano em Atti VeronaI 77-86.
618 Poucos AA. admitem já que o plano inicial de Justiniano fosse realizar uma com
pilação de ius e de leges. V. g. Lango LANDUCCI, Apoteosi delle Pandette di Giustini
ano em AG 112(1934) 129-155; BISCARDI, Il Problema Storico del Diritto Giustinia
neo em Atei Verona 11249. Sobre a personalidade de Justiniano e alguns factos co
mo imperador vid, infra 450 e 451.
442
que é o Corpus Iuris Civilis -, mas apenas realizar uma (modesta?) colectâneaL só de l
eges. Segundo parece, esta ideia de fazer um novo código que tivesse o seu nome, c
om fins práticos (substituindo o já então desactualizado Codex Theodosianus), foi pens
ada e amadurecida durante a regência com seu tio Justino I (518-527). A morte dest
e, em 1 de Agosto de 527, Justiniano ficou só no poder. Logo em 13 de Fevereiro de
528, pela constituição «Haec quae necessario» 819 (assim designada, visto ser uso, a pa
rtir do Baixo Império, indicar as constituições pelas suas palavras iniciais ti20), pr
ocurou dar realização à sua «velha» ideia, nomeando uma comissão formada por dez membros 821
, presidida por João, quaestor sacri palatii 022 e de que faziam parte, entre outr
os, Triboniano, «vir magnificus magisteria dignitate inter agentes decoratus», possu
idor duma riquíssima biblioteca jurídica e na altura magister
619 A respeito desta constituição vid. infra n. 627
620 Ainda hoje, a Igreja Católica adopta essa forma, para designar os seus documen
tos mais importantes - constituições, breves, rescritos, bulas e encíclicas (v. g. Rer
um Novarum, Pacem in Terris, Populorum Progressio, Numanae Vitae).
621 Os seus nomes vêm indicados nas duas constituições: na «Haec quae necessario», de 13-2
-528, que nomeou a comissão encarregada de elaborar o novo código, e na «Summa reipubl
icae», de 7-4-529, que publicou o código. Vid. infra n. 627
622 A presidência competia ao quaestor sacri palatii, em virtude de ser considerad
a a primeira dignidade (ratione officii, em razão das suas funções) no Consilium Imper
atoris (espécie do moderno «Conselho de Estado»).
A partir do Baixo Império ou pelo menos desde Constantino, há duas séries de altos car
gos. Numa série, estão por ordem decrescente: quaestor sacri palatii, magister offic
iorum, comes sacrarum largitionum e comes rerum privataram. Noutra série, e também p
ela mesma ordem: praefectus praetorio, praefectus urbi, magister militum e praep
ositus sacri cubiculi. Todos estes cargos pertenciam ou formavam a classe dos il
lustres.
0 alto cargo de quaestor sacri palatii, segundo parece, foi introduzido por Cons
tantino. Tinha a missão de ajudar o imperador na feitura das leis e em tudo que se
relacionasse com o direito (uma espécie do moderno «ministro da justiça»). Em matéria de
normas jurídicas, era considerado o intérprete oficial da vontade do imperador; daí a
razão de ser designado nas várias fontes por «legum interpres», «legum peritus», «vox legum»,
idicus quaestor», etc. Esta última denominação era sobretudo. para o distinguir dos anti
gos quaestores da república e do principado, e que nada têm de comum com este quaest
or sacri palatii.
443
DIREITO ROMANO
I! PARTE - TIT. X - CAP. 1.0 § 36
o f f iciorum 623, e Teófilo,' professor de direito em Constantinopla. A esta comi
ssão confiava o mandato de organizar um novo código, utilizando as constituições directa
mente, não dos arquivos da chancelaria imperial, mas dos três códigos precedentes (Gre
goriano, Hermogeniano e Teodosiano), e as constituições posteriores até às do próprio Just
iniano. Não ficava excluída a possível utilização de quaisquer outras fontes 12'. Seria, p
ortanto, um conjunto de legislação imperial - constituições anteriores a Constantino, po
steriores a Constantino, e até já do mesmo Justiniano. Essa comissão tinha instruções e po
deres para eliminar repetições e contradições, suprimir o que estivesse ab-rogado ou em
desuso, modificar, como entendesse, todas as constituições ainda em vigor, podendo d
ividir uma em várias, fundir algumas numa só, acrescentar ou tirar algo, de modo a o
bter-se uma obra devidamente sistematizada e com «leges certae et breei sermon eon
seriptae». Numa palavra, interpolar à vontade.
As constituições, assim «actualizadas e adaptadas», deveriam ser distribuídas em livros e
estes em títulos, segundo as matérias nelas versadas; dentro de cada título, ficariam
colocadas por ordem cronológica.
Este novo código devia distinguir-se do Teodosiano (composto exclusivamente de leg
es generales), não só pelo seu carácter mais moderno, mas sobretudo por duas razões espe
ciais: a) nele deveriam figurar as matérias dos Códigos Gregoriano e Hermogeniano, e
, portanto, conter também leges speciales; b) dele seriam excluídas todas as constit
uições já não vigentes,
623 0 alto cargo de magister officiorum é, dentro de uma das séries, o segundo mais
importante (vid. n. anterior). Corresponde a uma espécie de moderno «ministro do int
erior»; tinha de velar pela «máquina administrativa» do império.
Triboniano, em 528 e 529, era magister officiorum; de 530 a 532, quaestor sacri
palatii (por isso, neste período, 530-532, vai-nos surgir como presidente de todas
as comissões encarregadas de reformas legislativas); a partir de 533, volta a (se
r) magister officiorum.
624 Sobre a divergência dos AA. a respeito deste problema, vid. ROBLEDA, o. c. 250
.
porque, explicitamente ou só implicitamente, tinham sido abolidas por constituições po
steriores.
Ao fim do brevíssimo espaço de 14 meses 876, a comissão terminava os seus trabalhos.
0 novo código (Codex 128 Vetus ou Codex primos) era publicado pela const. Summa re
ipublicae 827, de 7 de Abril de 529, fixando a sua entrada em vigor para o dia 1
6 do mesmo mês e ano, e proibindo o recurso aos velhos códigos e a todas as novelas
post-Teodosianas, exceptuando apenas o recurso a pragmaticae sanctiones que conc
edessem privilégios ou que não contradissessem as constituições do Código 8t6.
Este código de 5299 só esteve em vigor cinco anos. Em 534, era substituído por um novo
código. Por isso, ao primeiro chama-se Codex Vetus, Codex primus ou Código de 529,
e ao segundo, Codex repetitae praelectionis (=código, em 2.a edição, vid. infra 483 e
n. 737) ou Código de 534, ou sim
plesmente Codex do eCorpus Iuris Civilis».
625 A rapidez com que foi elaborado o Codex Vetus deve-se não só à competência das pesso
as que faziam parte da comissão para esse fim nomeada (principalmente, Triboniano)
, mas também (e sobretudo?) ao facto de esse código ser um recalque sobre o Codex Th
eodosianus (vid. A. GuARINO, L'Ordinamento Giurfdico Romano3 [Nápoles, 1959] 263 e
264). É muito diferente do Codex de 534 (ver no texto, pág. 446).
626 A palavra codex, para designar esta colectânea de constitutions, foi utilizada
pelo próprio Justiniano. Cf. consts. Haec gvae necessario pr. e Summa reipublicae
1 (vid. infra n. 627).
Recordemos que o vocábulo codex se contrapõe a volumen (vid. supra49) e que foi util
izado, pela primeira vez, no mundo jurídico e como designação «consagrada» a respeito dos
códs. Gregoriano e Hermogeniano (vid. supra 406).
627 A constituição Haec quae neeessario-que tinha como epígrafe «De novo codice componen
do («novo» entende-se em relação aos códs. anteriores, Gregoriano, Hermogeniano e Teodosia
no) -, encontra-se, como segundo prefácio, nos manuscritos e edições do Codex de 534,
ou Codex repetitae praelectionis.
A const. Summa reipublicae - que é a constituição que promulgou o código e leva como epígr
afe «De iustiniano codice (primo) confirmando -, geralmente também se encontra, coma
segundo prefácio, nos manuscritos e edições do Código de 534. Algumas obras e colectâneas
de fontes !uris Romani encerram estas duas constituições.
É sobretudo através destas duas constituições que podemos conhecer a natureza, a forma,
a composição, etc. do Codex Vetus.
628 Cf. Giuseppe GROSSO, Lezioni di Storia di Diritto Romano, cit. 490.
444
445
I
DIREITO ROMANO
1! PARTE - TIT. x-CAP. 1.°
§ 36
0 texto do código de 529 (Codex Vetus ou Codex primus) não chegou até nós; foi refundido
pelo código de 534. Possuímos, através dum papiro de Oxirrinco 829, 'apenas o fragmen
to dum índice de (todas?) as constituições dos títulos 11-16 do livro 1.0. Pode verifica
r-se que a este índice bem pouco corresponde a ordem das constituições sobre a mesma m
atéria, contidas no código de 534, deduzindo-se, pois, claramente a radical diversid
ade entre o primeiro e segundo código.
b) Plano posterior: realização duma grande colectânea de «ius» e de «eleges»
Concluído, publicado e provàvelmente já entrado em vigor o «novo» Codex (Vetus) de 529, pa
ssado pouco tempo 830, Justiniano deve ter-se dado conta do seguinte: a) da rapi
dez e perfeição da feitura desse código; b) da grande competência dos membros da comissão
redactora, sobretudo do eminente jurista Triboniano; c) da facilidade com que er
a executado na prática
629 Esse fragmento do pap. Oxir. foi publicado em BIDR 32(1922) 280-282; BONFANT
E transcreve-o no vol. XV Papyr. Oxyrinchos; e DE FRANcrsct, Frammento di un ind
ice dei primo codice giustinianeo em Aegyptus 3(1922) 68-93, faz-lhe uma ampla d
escrição.
630 É bem possível que, durante a redacção do Código de 529, Justiniano já tivesse começado a
pensar na ideia de realizar também uma colectânea de ius. Só com este sentido e alcanc
e, é que aderimos à opinião de A. GUARINO L'Ordinamento Giuridico Romano, cit., quando
, a págs. 264, diz: «Fu probabilmente in occasione delia redazione dei primo Códice ch
e a Giustiniano venne in mente, forse per consiglio di Triboniano, di procedere
ad una grande compilazione di lura». Durante a compilação do codex vetos, Justiniano a
inda não tinha concretizado a ideia de mandar fazer uma colectânea de ius, pois, seg
undo consta do fragmento de índices desse código (vid. ao cimo desta pág.), nele figur
a a lex citationum e sem fazer qualquer referência a uma futura compilação de ias..- A
lém disso, é o próprio Justiniano que implicitamente o confessa, quando, na const. Cor
di, de 17-11-534, com que publicava o segundo código, afirma: «postea vero (portanto
, só depois de concluído, publicado e provàvelmente de já ter estado vigente, algum temp
o, o código de 529), cum vetos ius considerandum recepimus, tam quinquaginta decis
iones fecimus, quam alias ad commodum propositi operis pertinentes plurimas cons
titutions promulga vimos».'
446
o novo código, isto devido ao grau elevado de cultura jurídica em que se encontravam
as Escolas de Direito, principalmente a de Beirute e a de Constantinopla, pois
verificava-se que elas davam uma boa formação jurídica aos seus alunos, agora advogado
s, juízes e magistrados.
A estas circunstâncias, tão favoráveis para realizar o grande plano concebido por Teodós
io II mas fracassado (realizar uma enorme colectânea de ius e de leges - vid. supr
a 412-413), juntemos: 10-a forte personalidade de Justiniano, que pretendia rest
aurar em todo o seu esplendor a velha grandeza de Roma, criando um só Império, uma só
Igreja e um só Direito; 2.0 - a vasta cultura jurídica de Triboniano, possuidor duma
valiosíssima biblioteca, onde se encontravam livros de jurisconsultos clássicos que
representavam raridades bibliográficas, eruditissimis hominibus incogniti.
Nestas condições, era natural que se verificasse a necessidade e nascesse um forte d
esejo de elaborar também uma ,grande colectânea de ius, e, depois dessa colectânea, se
refundisse e actualizasse o codex vetos.
1 - Necessidade e. forte desejo duma grande compilação oficial de ius» e de «leges»
Apesar da Lei das Citações, após a publicação do Código de 529 em que ficou devidamente fixa
do o direito proveniente dei leges, via-se então mais claramente a necessidade dum
a colectânea oficial de ius, para 'acabar com as incertezas e inúmeras controvérsias a
respeito das obras dos juristas clássicos, e para haver um direito, proveniente d
o ius 631, certo, uniforme e apto a poder fàcilmente aplicar-se na prática.
631 Recorde-se, mais uma vez, que o termo ius, aqui, tem um sentido de contrapos
ição a leges; portanto, concretiza-se nas obras dos juristas clássicos. Vid. supra 275
.
447
DIREITO ROMANO
1.' PARTE - TIT. X - CAP. 1.°
§ 36
A par desta necessidade observada mais visivelmente a partir dos meados de 529,
vinha de longe a aspiração de ver organizada uma grande compilação de ius e de leges, qu
e fosse a expressão de todo o lus Romanum ainda vigente. A primeira tentativa, seg
undo parece, deve-se a César, se dermos crédito
a SuETóNIO 632; a segunda, a Pompeu Magno, conforme narra Orígenes 633; a terceira,
e mais importante, como já sabemos, a Teodósio II 634. Mas só Justiniano, um século mais
tarde depois da última tentativa infrutífera, conseguiu realizar a obra jurídica mais
grandiosa de todos os tempos, a que se vem chamando
desde 1583 Corpus luris Civilis.
2 - Factores que concorreram para a realização do Corpus Iuris Civilis»: a) - Escolas;
8) - Triboniano e outros juristas de valor; y) - personalidade de Justiniano
Foram três. Todos eles imprescindíveis. Concorreram «copulativamente; e não é fácil dizer qu
al dos três é o maior importante. Podemos estabelecer uma certa precedência, se não de h
ierarquia, pelo menos de ordem cronológica: escolas, juristas de valor e Justinian
o.
a)-Escolas-0 grau elevado de cultura jurídica a que tinham chegado as Escolas de D
ireito do Oriente desde o séc. V, sobretudo a de Beirute e a de Constantinopla, er
a notável 635. Sem elas provàvelmente não teriam surgido jurisconsultos importantes (o
segundo factor) ; de certeza não haveria ambiente para realizar uma reforma legis
lativa 686. As boas escolas jurídicas podem inclusive integrar e suprir uma legisl
ação defi
ciente; uma escola jurídica decadente corrompe até uma legislação perfeita, e cria um am
biente jurídico incapaz de executar essa legislação. Justiniano viu isto perfeitamente
. Receando os perigos que adviriam da actividade das escolas para a pureza dos p
rincípios jurídicos romanos clássicos, ao mesmo tempo que preparava a grande colectânea
de ius, aperfeiçoava mais as Escolas jurídicas, reduzindo-as em número, melhorando os
seus programas, para mais fàcilmente disciplinar o seu labor
interpretativo r5'.
a)-Triboniano e outros juristas de valor-1 o segundo factor,
mas, sob certo aspecto, bem pode ser considerado o primeiro. Sem juristas de env
ergadura não pode efectuar-se uma reforma legislativa. Ora, se os colaboradores de
Triboniano, principalmente Teófilo e Doroteu, eram jurisconsultos notáveis, Triboni
ano, sobretudo como jurista codificador, deve ser considerado o maior de todos o
s tempos.
Em nosso entender, os maiores juristas codificadores até hoje - presidindo à comissão
codificadora central, agindo nas sub-comissões, elaborando projectos, esclarecendo
dúvidas, modificando planos dum momento para o outro conforme a necessidade ou até
simples conveniências, orientando na doutrina e na sua formulação, refundindo e sintet
izando o que estava difuso, reunindo tudo o que andava disperso, esclarecendo o
que estava obscuro, definindo e decidindo o que era duvidoso, ouvindo todas as o
piniões e sabendo aproveitar o que havia de bom e de realizável, encontrando fórmulas
precisas e conciliatórias para as opiniões opostas mas válidas, numa palavra, intervin
do em tudo e sendo a pessoa a quem pertencia sempre e em todos os pormenores a últ
ima palavra e esta sempre cheia duma nova luz, [mas, por vezes, até simulando não in
tervir em nada para não humilhar nenhum dos colaboradores] -foram Triboniano no
637 Cf. A. GUARINO, L'Ordinamento Giuridico Romano, cit. 263.
632 633 634 635 636
448
SUETONIUS, fulius Caesar 44,2. ORIGENES, Etymologiae 5,1,5. Vid. supra 412-414.
Vid. supra 356 e 357.
Vid. supra n. 548.
449
i
DIREITO ROMANO
séc. VI, S. RAIMUNDO DE PENHAFORT no séc. XIII °38 e o Cardeal GASPARRI nos princípios d
o nosso século 838. Mas o maior de todos é, sem dúvida, Triboniano.
Por isso, Justiniano pensando a sério (a partir de meados ou fins de 529) na grand
e reforma do ius, uma das primeiras medidas foi, logo nos princípios de 530, nomea
r Triboniano quaestor sacri palatii para poder presidir à comissão (central) 840 e c
onsiderá-lo até à morte (provàvelmente em 546) o seu colaborador íntimo e fidelíssimo, o seu
conselheiro sábio e seguro para realizar o vastíssimo programa duma extraordinária co
mpilação de ius e de leges, resolvendo duma forma admirável todos os delicadíssimos prob
lemas duma enorme legislação, disposta numa sistemática nova e que viria a ser modelo
durante muitos séculos.
y)-Personalidade de Justiniano-E o terceiro factor, pelo menos na ordem do tempo
; mas, igualmente sob certo aspecto, podemos considerá-lo o primeiro.
Mesmo que puséssemos de parte o seu espírito de classi
638 Por mandato do Papa Gregório IX (1227-1241), S. Raimundo de Penhafort (t 1275)
, espanhol, geral dos dominicanos, elaborou uma compilação definitiva e sistemática de
todos os cânones não contidos no Decreto de Graciano, a fim de servir como colecção autên
tica, universal, exclusiva e oficial. Gozando de plenos poderes para utilizar to
das as fontes jurídicas canónicas como entendesse, ele soube aproveitar e admiràvelmen
te sintetizar tudo o que havia de bom nas cinco compilações antigas, recorrendo aind
a a textos da Sagrada Escritura, dos Santos Padres, aos cânones dos concílios e até a
diversos elementos dos direitos locais, e dos Direitos Romano e Germânico. É a compi
lação de Direito da Igreja mais importante até ao Código de Direito Canónico, de 1917.
639 Por mandato do Papa S. Pio X, pelo Motu proprio, de 19-3-1904, o Cardeal GAS
PARRI era escolhido para a dificílima empresa de superiormente presidir à comissão - c
onstituída por cardeais, arcebispos, bispos e varões doutíssimos -, que havia de reali
zar a obra ingente de rever toda a legislação multissecular de Direito Canónico, selec
cionar o material aproveitável, expurgá-lo dos elementos antiquados, reduzi-lo a fórmu
las claras e concisas, adaptá-lo às novas circunstâncias sociais.
Essa obra colossal estava pronta em Dezembro de 1916. Em 27-5-1917, pela constit
uição Providentissima Mater Ecclesia, era promulgado o Código de Direito Canónico, que a
inda está em vigor, embora se prepare neste momento (1972) uma grande reforma.
640 Vid. supra nn. 622 e 623.
450
1' PARTE - TIT. X - CAP. 1' § 36

cista e até a sua intervenção pessoal como legislador, ficaria de pé uma grande qualidad
e a atestar um mérito inegável: o ter sabido rodear-se de colaboradores à altura, para
realizar uma` obra gigantesca, o «Corpus Iuris Civilis» -e um homem público, um chefe
, em geral vale o que valeremos seus colaboradores -; o ter reformado os program
as das Escolas de Direito como ponto de partida para a realização e execução duma grande
reforma legislativa.
Porém, Justiniano, além dessa extraordinária qualidade de chefe, nele bem patente, era
pessoalmente um classicista e um legislador - estes aspectos já bastante discutid
os pelos AA. 041.
Como classicista revela-se um entusiasta apaixonado da tradição latina; concretament
e, nos seus actos e sempre nas suas intenções, mostra-se um defensor acérrimo do 1us R
omanum, sobretudo reagindo contra os factores da sua decadência.
Embora classicista 842, nunca deixou de ser legislador 896
do seu tempo. Por isso, a compilação justinianeia oferece dois aspectos: através dela,
podemos conhecer o direito clássico (eli
641 Cf. PRINGSHEIM, Die archaistiche Tendenz Justinians em Studi Bonfante I (Milão
,1930) 551-587, RlccoaoNo, La Verità sul Pretese Tendenze Archaiche di Giustiniani
em Conferenze per 1l°XIV Centenario delle Pandette (Milão,1931) 237-284 e Gian Gual
berto ARCH!, Giustiniano Legislatore em Labeo 12(1966) 1641.
642 A tendência classicista de Justiniano não deve ser confundida com uma certa incl
inação arcaizante, no sentido de pretender restaurar e instaurar no séc. VI um direito
anacrónico, mas sim entendida com o alcance de pretender conservar antiguidades j
urídicas clássicas ainda válidas e adaptá-las devidamente às novas circunstâncias, ou com a
finalidade histórica de reter certos institutos jurídicos ultrapassados para melhor
se compreender a evolução do direito, desde a época clássica até ao séc. VI. R cconoNo, Roma
Madre delle Leggi em BIRD 57-58(1953) 5, sintetizou: «La codificazione giustinian
ea ha due facce come il nume di Giano: una dei diritto antico, l'altra dei dirit
to vivo. Il morto e il vivo Just in unità offerto come Codice».
Sobre este carácter arcaizante ou classicista de Justiniano vid. RoBI,EDA, o. C. 2
63 e 264, e sobretudo as nn. 760-767, onde é indicada a principal bibliografia; A.
D'Oas, El Predigesto em Investigación y Progreso 16(1945) 1302; Pietro BoNPANPE,
Storia dei Diritto Romano II, 4.° ed. revista por Giuliano BONFANTE e Giuliano CRió
(Milão,1959) 49-52.
643 Sobre este problema, veja-se Gian Gualberto ARCH!, Giustianiano Legislatore
em Labeo 12(1966)163.177.(com especial atenção à n. 1 da pág. 164, onde se indica a prin
cipal bibliografia) grafia) e Annali della Facoltà di Giurisprudenza (Génova) 5(1966
) 324.
451
I
DIREITO ROMANO
1.^ PARTE - TIT. X - CAP. 1
§ 36
minando as interpolações) e o direito post-clássico, tal como se encontra no Corpus Iu
ris.
3 - Finalidade da compilação justinianeia : legislativa e didáctica
Justiniano esforçou-se por criar uma legislação, própria para resolver os problemas da s
ua época, utilizando ao máximo a literatura jurídica clássica.
Consciente da corrupção que os princípios jurídicos romanos tinham sofrido durante quase
três séculos de decadência, o imperador classicista procurou, dentro do possível, repar
ar os danos, não só fixando na sua compilação duma forma indelével o verdadeiro ius, mas a
té aperfeiçoando-o. Para isso, tenta, mediante certas modificações e interpolações, eliminar
muitas incertezas e discussões que se tinham levantado na escola e na prática, a re
speito da literatura dos passos divergentes dos juristas clássicos. Sempre que pod
e, ele ordena, na prática e nas escolas, o regresso aos ensinamentos clássicos, ou a
o menos àqueles ensinamentos que lhe pareciam autênticamente romanos, não atendendo pa
ra chegar a essa consideração às modificações post-clássicas mas às exigências da sua época.
rou fazer no séc. VI o que faria um bom jurista clássico, naquelas mesmas circunstânci
as. Neste aspecto, ele inovou o direito clássico; sob este aspecto, o Corpus luris
não é uma fonte de direito clássico. É directa e imediatamente uma fonte de direito (po
st-clássico) justinianeu; mas, ao mesmo tempo, o melhor instrumento para se conhec
er o direito clássico, desde que se ponham de parte todas as alterações justinianeias.
0 imperador Justiniano tornou-se assim o intérprete fiel das directrizes jurídicas
mais genuinamente romanas 8", e o Corpus luris resultou
644 Por isso é que, passados catorze séculos, Justiniano, em 1965, foi recordado pel
o mundo jurídico com homenagens bem significativas. Vid. por exemplo, BIONDI, Gius
tiniano em lura 16(1965) 1-10, e G. Gualberto ARCHI, Giustiniano Legislatore em
Labeo 12(1966) 163-177.
452
um monumento jurídico, onde não se encontra apenas a sabedoria romana duma época, mas
onde se acumulam a ciência e a experiência de séculos!
Estas orientações «clássicas do século VI» foram impostas por Justiniano nos tribunais e nas
escolas. Daí a finalidade legislativa e didáctica do «Corpus luris»:
1.0 - servir de exposição autorizada, com força de lei, de todo o lus Romanum;
2.0 - ser texto único, que devia estudar-se na sescolas.
A codificação justinianeia tinha que substituir e substituiu todos os antigos livros
de direito, tanto na literatura como na legislação. Deste modo, Justiniano esperava
tornar o direito uniforme em todo o Império, fazendo desaparecer a massa dispersa
de material jurídico, que havia causado tanta confusão.
453
1` PARTE - TIT. X-CAP. 2.
§ 37
454
Capítulo 2.0 - B) -ANALISE DAS VARIAS PARTES DO «CORPUS IURIS CIVILIS»
SUMÁRIO - 37. 1 - Digesta ou Pandectae (16-12-533)
a) Preparação da colectânea de ius: Quinquaginta deci
siones(530)
b) Flaboração (comissão redactora, const. Deo auc
tore, de 15-12-530) e publicação (const. Tanta
-A&& xcv, de 16-12-533)
c) Autores e obras utilizadas. Sistematização e forma
de citar
d) Proibição de comentar o Digesto e obrigação de
o adoptar nas escolas e nos tribunais
e) Problemas externos à elaboração e à publicação
I -Distribuição dos fragmentos dentro de cada
titulo
II - Método de trabalho dos compiladores. Teorias
2-Institutions (21-11-533)
a) Elaboração e publicação (const. Imperatoriam maies
tatem, de 21-11-533)
b) Fontes utilizadas. Sistematização c) Carácter normativo d) Modo .a elaboração
3 - Codex [repetitae praelectionis] (17-11-534)
a) Elaboração e publicação (const. Cordi, de 17-11-534) b) Fontes utilizadas. Sistematiz
ação
4-Novellae (constitutiones)-535 a 565
a) Actividade legislativa de Justiniano, depois do Codex b) Disposição das Novellae
c) Colectâneas privadas de Novellae
I - Epitome luliani
iI - Authenticum
III - Colectânea grega (580?)
1 - «Digesta» ou «Pandectae. (16-12-533)
a) Preparação dos «Digesta» ou «Pandectae»645: «Quinquaginta decisiones» (530)
37. Assente a ideia - em meados (ou até fins) de 529 - de mandar elaborar uma gran
de colectânea de ius, Justiniano deve ter julgado necessário ou, pelo menos, muito c
onveniente: a) - derimir (decidere) o maior número possível das inúmeras controvérsias a
gitadas entre os comentadores da literatura jurídica clássica; fi) - optar por uma,
entre as diversas opiniões. Assim, o ius ficaria certo, concorde, uniforme e apto
a ser (aplicado e) codificado. Essas determinações de Justiniano, através de várias cons
tituições, publicadas em 530, destinavam-se: 1) - a resolver legislativamente velhas
questões doutrinárias; 2) - a revogar expressamente antigas normas já caducas; 3) - a
estabelecer novos critérios e a fixar determinadas orientações para a solução de vários pro
blemas jurídicos.
Cinquenta (dessas) constituições, de 530, foram reunidas numa colectânea provisória, den
ominada Quinquaginta decisiones. Esta obra não chegou até nós. Pelo menos em parte 696
, deve ter sido incorporada, junta com outras constituições, no Codex de 534.
Discute-se entre os AA.:
I - se as Quinquaginta decisions se destinaram únicamente a servir de trabalho pre
paratório para a elaboração do Digesto, ou simplesmente a fixar normas para facilitar
a aplicação do ius (uma espécie de complemento da Lex Citationum) e, só como consequência,
servirem de orientação nos trabalhos
de preparação das Pandectac;

645 Sobre o significado destas palavras e a partir de que época principiou a usar-
se a palavra Digesto (no singular) vid. supra 36 e n. 52.
646 Das Quinquaginta decisiones existentes no Codex de 534 só estão identificadas tr
inta.
455
DIREITO ROMANO
1. PARTE - TIT. X - GAP. 2." § 37
II - se, além das Quinquaginta decisions, terá havido mais constituições (com a mesma fi
nalidade indicada no número anterior), e se publicadas só em 530 ou também depois de 5
30, concretamente durante a elaboração do Digesto 847.
b) Elaboração do Digesto (const. «Deo auctore», de 15-12-530); publicação (const. «Tanta - Aé
xev», de 16-12-533)
Estabelecidas, directa ou apenas indirectamente, certas orientações para elaborar um
a grande colectânea de ius, o imperador Justiniano, pela const. Deo auctore, de 15
-12-530, encarregou pessoalmente 648 Triboniano, agora Quaestor sacri palatii, d
e elaborar uma obra do tipo dos digesta 846 da «iurisprudentia» clássica, e por isso m
esmo seria denominada Digesta seu Pandectae R50 (de acv BExogou= recolho tudo).
Justiniano, nessa constituição, outorgava a Triboniano plena liberdade e todos os po
deres para escolher os membros (viri docti in fure) que formariam a comissão codif
icadora. Ele haveria de escolher dezasseis membros B61:, Constantino, comes sacr
arum largitionum; quatro professores de direito, Teófilo e Cratino (da Escola de C
onstantinopla), Doroteu e Anatólio (da Escola de Beirute), e onze advogados do for
o de Constantinopla. Total: 17 membros, incluindo Triboniano que presidiria à comi
ssão.
647 Sobre estes problemas, vid. ROBLEDA, O.C. 521 e nn. 622-75, e G. GROSSO, Lez
ioni, cit. (1965) 490 e 491 e n. 2.
648 A const. Deo auctore é dirigida directamente a Triboniano - «IMPERATOR CAESAR FL
AVIUS IUSTINIANUS PIUS FELIX INCLUTUS VICTOR AC TRIUNFATOR SEMPER AUGUSTUS TRIBO
NIANO QUAESTORI SUO SALUTEM (lustiniani Digesta, 18.s ed. de MoMMSEN-KRÜGER [Berli
m,19651 8).
649 Vid. supra 367-c).
650 Foi por vontade expressa do imperador Justiniano que a colectânea de ius se ch
ama Digesta ou Pandectae-Const. Deo auctore 12 e const. Tanta -AêBaxev 1. Vid. MOM
MSEN, Die Bedeutung des Wortes «Digesta» em Juristischen Schriften 11 (Berlim,1905)
90 ss. 0 termo «Pandectae» também não era novo. Já tinha sido usado por ULPIANUS e por MOD
ESTINus, no sentido de «antologia»; vid. B. PARADISI, Storia del Diritto Italiano, c
it. 413.
651 Os seus nomes vêm todos indicados na const. Tanta-Dê&rxev 9.
456
Ainda segundo a const. Deo auctore; a comissão devia:
I - coligir os melhores fragmentos das obras dos jurisconsultos 652 que tivessem
tido o ius respondendi ex auctoritate principis 855, sem estabelecer qualquer o
rdem ou distinção entre eles,
nomeadamente sem qualquer preferência nem mesmo pelas doutrinas de PAPINIANUS (ao
contrário do que estabelecia a Lex Citationum654), e indicando sempre o autor, a o
bra e o livro donde se extraísse o fragmento;
II-suprimir o que fosse supérfluo e o que tivesse caído em desuso;
III - eliminar as autonomias, as semelhanças e as repetições;
652 Const. Deo auctore 4: «lubentus igitur vobis aniquortun prudentium, quibus auc
toritatem conscribendarum interpretandarumque legum sacratissimi principes praeb
uerunt, libros ad ius Romanum pertinentes et legere et elimare, ut ex his omnis
materia colligatur, nulla (secundum quod possibile est) neque .similitudine nequ
e discordia derelicta, sed ex his hoc colligi quod ununr pro omnibus sufficiat.
Quia caem ei alii libros ad ius pertinentes scripserunt, quorum scripturae a mdl
is auctoribus receptae nec usitatae sunt, negue nos eorunt volumina nostram inqu
ietare dignamur sanetionetm>.
653 Os compiladores utilizaram obras de juristas que não tinham tido o ius respond
endi ex auctoritate principis, mas que, sob certo aspecto, podiam equiparar-se a
os privilegiados. 0 primeiro, nestas circunstâncias, foi certamente GAtus: não gozou
do ius respondendi mas fez parte da lex citationum. Aberta esta excepção, não deveria
ter sido difícil, por analogia, estabelecer outras, v. g. PoMPONIUS, QUINTUS Muci
us Scaevola, ALIENUS VARUS e AELIUS GALLUS. (Dos três últimos, só há fragmentos de uma o
bra de cada; de POMPONIUS e de GAtus foram utilizadas várias obras de cada uni, co
mo poderá verificar-se pelo Index). Justiniano, depois, conformou-se, e de bom gra
do, com este modo de proceder da comissão compiladora. Deduz-se do Index dos juris
tas e das obras empregues, mandado fazer pelo próprio imperador (const. Tanta-Aé&uxr
v 20) e que devia preceder os Digesta ou Pandectae. - [0 Index elaborado pelos c
ompiladores não é seguro: há omissões de obras usadas; indicam-se obras que não foram util
izadas; por vezes, confundem-se obras. KRÜGER, Histoire des Sources du Droit Roman
n, trad. frac. de BRISSAUD (Paris,1894) 438, e sobretudo BONFANTE, Storia de! Di
ritto Romano 114 (Milão,1934) 512 e 188, têm um elenco perfeito de autores e respect
ivas obras citados no Digesto. A edição de MOMMSEN-KRÜGER traz esse elenco na parte fi
nal, págs. 932-949; a versão castelhana do Digesto, de A. D'ORS, F. HERNANDEZ TEJERO
P. FUENTESECA, M. GARCIA GARRIDO y J. BuRILLO (Madrid,1968) apresenta o elenco
(«incluyendo lo olvidado») a págs. 37-441.
654 Vid. supra 425.
457
DIREITO ROMANO
1. PARTE - TIT. X - CAP. 2.0 § 37
IV - adaptar os fragmentos dos textos às novas circunstâncias sociais, modificando-o
s quer mediante acréscimos, uniões, cortes, quer procedendo doutra forma; numa palav
ra, interpolando à vontade conforme a necessidade ou até simples conveniência 655
Passados apenas três anos - o tempo utilizado na realização duma obra tão assombrosa 856
-, o Digesto estava concluído. Era publicado pela constituição bilingue Tanta - _Aé8oxe
v, de 16 de Dezembro de 533, dirigida ad senatum et omnes populos, a qual estabe
lecia que os Digesta deviam entrar em vigor, com força de lei, em 30 de Dezembro d
o mesmo ano.
c) Autores e obras utilizadas. Sistematização e forma de citar
Os fragmentos são extraídos das obras de 38 ou 39 juristas, conforme se considera o
mesmo jurista ou juristas dife
rentes Venuleius SATURNINUS e Claudius SATURNINUS (vid.
supra 380). Os mais citados são os cinco da Lex Citationum;
de todos, é ULPIANUS quem fornece maior número de citações (cerca de / do Digesto perten
ce a este jurista) ; mas há vários
juristas só com um fragmento. 0 Digesto encerra 9142 fragmentos. Em números aproxima
dos: 3000 pertencem a
ULPIANUS (sobretudo provenientes dos seus libri ad Edictum e libri ad Sabinum) ;
3000, aos restantes da Lei das Citações,
PAPINIANUS, PAULUS, -MODESTINUS e GAIUS; 2500, aos sete jurisconsultos clássicos,
IAVOLENUS, IULIANUS, AFRICANUS, POMPONIUS, Q. Cervidius SCAEVOLA, MARCELUS e MAR
CIANUS;
642 aos outros 26 (ou 27) jurisconsultos.
655 Const. Deo auctore 7-10.
656 Veremos a seguir, al. e) - II, algumas das várias teorias formuladas para tent
ar explicar este fenómeno, verdadeiramente enigmático.
458
Segundo afirma Justiniano, foram consultados 2 000 libri, mas há exagero; foram 16
25.
Já conhecemos a sistematização do Digesto - livros, títulos, fragmentos e parágrafos (vid.
supra 37).
A divisão dos Digesta seu Pandeetae em 50 livros, subdivididos em títulos 857, foi,
como a própria designação (vid. supra n. 650), ordenada por Justiniano; mais estabelec
eu que, rations materiae e para fins didácticos (seguindo o esquema dos comentários
ad Edictum), a obra se considerasse repartida 658 em sete secções:
I llpwsa, princípios gerais sobre direito e jurisdição, livs. 1-4;
II - Pars de iudiciis, matéria relativa às actiones e à protecção jurídica da propriedade e
dos outros direitos reais, livs. 5-11;
III - Pars de rebus, obrigações e contratos, livs. 12-19;
IV- Umbilicus, obrigações e família, live. 20-27;
V-De testamentis et codiciUis, herança, legados e fideicomis
sos, livs. 28-36;
VI-Uma parte sem nome, tratando da sucessão pretória e de
vários institutos heterogéneos (direitos reais, posse e obrigações), live. 37-44;
VII- Outra parte sem denominação especial, livs. 45-50 em que dois livros são dedicado
s à stipulatio e institutos afins, outros dois ao direito penal (alibri terribiles
>), outro relativo à appeuatio, e o último trata de direito municipal, mas termina c
om dois títulos de carácter geral - «De ver
borum signifieatione> e «De diversis regulis uris anti
qui» 659.
657 Recordemos que os livros 30 a 32 têm todos três o mesmo título, «De legatis et ,fide
icomissisn (vid. supra 37).
658 A ulterior divisão dos fragmentos do Digesto (também designados, sobretudo antig
amente, por leses) em parágrafos, sendo o primeiro denominado principium, é da Idade
-Média, provàvelmente dos fins do séc. XLI, devida talvez a Búlgaro (pertencente à Escola
dos Glosadores; vid supra 97). Vid. Cario Guido Moa, La Divisione in Paragrafi d
elle Leggi dei Digesto em Rivista di Storia dei Dirito Italiano 26-27 (1953-54)
145-162. A indicação dos parágrafos com números procede das edições modernas.
659 Como se verifica, só as três primeiras partes têm uma designação e uma orgânica de conteú
o; das outras, a quinta seria a menos orgânica; a quarta, cha
459
DIREITO ROMANO
1.* PARTE - TIT. X -- CAP. 2.'
§ 37
1) - Também já é do nosso conhecimento o modo actual de citar o Digesto (vid. supra 37
). Por exemplo, D.13,7,9,2 significa-Digesto, livro 13.°, título 7.°, fragmento (ou, s
egundo a designação antiga, lei) 9.° e parágrafo 2.0 (que, na realidade, é o 3°, visto o pri
meiro se denominar pr. [principium] ).
2) -Outro método anterior a este e usado pelos autores nos fins do século passado e
até quase meados deste, consistiu em citar, primeiro, o número do fragmento, precedi
do da abreviatura fr. (ou 1.), seguido do número do parágrafo; depois, a abreviatura
D. e a indicação do livro e do título. No mesmo exemplo de há pouco, teríamos: fr. (ou l.
) 9, § 2 D.13,7.
3) -0 método seguido desde a recepção do Direito Romano era quase igual ao anterior. S
implesmente, a seguir à abreviatura D., omitia-se o número do livro, e em vez do númer
o do título colocava-se a respectiva epígrafe. Perante uma citação destas, a primeira co
isa a fazer era consultar o índice alfabético dos títulos do Digesto 660, para saber a
que livro e título pertencia o fragmento. No exemplo apresentado: fr. (ou 1.) 9, §
2 D. De pignore et hypoteca.
mada umbilicus por ser central; a sex ta e a sétima misturam e agrupam diversos in
stitutos.
A repartição em sete foi devida não só à finalidade prática da divisão em vvolumina, mas sobr
tudo à crença na magia ou força misteriosa do número 7.-A respeito da magia dos números, n
omeadamente do número 7, anote-se como bibliografia mais importante: Adler IRVING,
Die Zahlen and ihr Zauberreiche. Mit Zeichnungen Von Ruth Adler (trad. alem. de
Magic House of Numbers) (Munique,1959); Franz Carl ENDRÉS, Die Zahl in Mystik and
Glauben der Kulturrolker (Leipzig, 1935); Franz Carl ENDRÉS, Mystik and Magie der
Zahlen3 (Zurique,1951); Helmet HESSEMBRUCH, Geheimnisse and Wesen der Zahlen (F
reiburg i. Br.,1952); Margarete RIEMSCHNEIDER, Von 0 bis 1001. Das Geheimnis der
numinosen Zahlen (Munique, 1966); Ernst BINDER, Die geistigen Grundtagen der Za
hlen (Stuttgart,1958); Ludwig PANETH, Zahlensymbolik im Unberwussien (Zurique,19
52); Vincent FOSTER HOPPER, Medieral Number Symbolism. Its Souces, Meaning, and
Influence on Thought and Expression (New York,1938).
660 Quase todos os estudiosos de Direito Romano sabiam de cor as epígrafes dos títul
os das Institutiones, dos Digesta e do Codex; hoje encontram-se identificadas lo
go ao princípio, na edição do Corpus luris Civilis de MOMMSEN, KRÜGER, SCHÜLL e KROLL 18 (
Berlim,1965), págs. V-XVIII.
460
4) -A forma mais antiga de citar é semelhante à precedente, mas em vez dos números a d
esignar o fr. (ou l.) e o §, escreviam-se as respectivas palavras iniciais, e, qua
se sempre, em vez da abreviatura D., uma outra constituída por dois f f pequenos u
nidos, corrupção da letra grega II (pi maiúsculo), inicial
de Pandectae (IIocv8Exrar). No mesmo exemplo: fr. Si rem alienam § Proprie pignus
D. (ou ff) De pigneratia actione vel contra.

d) Proibição de comentar o Digesto. Obrigação de o adoptar nas escolas e nos tribunais


Precisamente no mesmo dia - 16 de Dezembro de 533 - em que pela const. Tanta-z&S
wxev era promulgado o Digesto para entrar em vigor logo daí a 15 dias (30 de Dezem
bro do mesmo ano), publicava Justiniano a const. Omnem, decretando uma reforma d
os estudos jurídicos, baseada na nova compilação de ius.
Ora, pela const. Tanta-A,421, precisando melhor o que prescrevia a const. Deo au
ctore 12, ficava proibido comentar o Digesto; pela mesma constituição e também pela co
nst. Omnem, estabelecia-se a obrigação de o adoptar nas escolas e nos tribunais.
Sentido e alcance da proibição - A proibição de comentar o Digesto vem referida em três do
cumentos de Justiniano.
C. Deo Autore § 12 C. Tanta § 21
Nostram autem consummationem, quae a vobis Deo adnuente componetur, digestorum v
et pandectarum nomen habere saneimus, nutlis iuris peritis in posterum auden
C. eé&coxEv § 21
Hoc autem, quod et ab initio nobis visum est, cum hoc opus fieri Deo adnuente ma
ndabamus, tempestivum nobis videtur et in praesenti sancire, ut nemo neque eorum
,
áírraorv ógoúGS &nayopeúa.Ev Tb µ-~ 9appr"iaal µrTE -rv vwv dvrrw µYITE TWv GQTEpov áoogévcov
i, ~íúv vóµwv útoµvrµaTa yp&pEly, ftAi v E: µ~ ~i0Ua7$}ctE'- elç L V Tr V 'EAXálvav yA&T-rav
ia'&Eiv, góvp 8s
461
DIREITO ROMANO
1r PARTE - TIT. X - CAP. 2.0
tibus commentaries iUi applicare et verbositate sua supra dicti c6dicis compendi
um confundere. Quemadmodum et in antiquioribus temporibus factum est, cum per co
ntrarias interpretantium sententias totum ius paene conturbatum est: sed su ffic
iat per indices tantummodo et titulorum suptilitatem (quae paratitla nuncupantur
[add. F' S]) quaedam admonitoria eius faeere,. nullo ex interpretatione eorum v
itio oriundo.
qui in praesenti iuris peritiam habent, nee qui postea fuerint audeat eommentari
os isdem legibus adnectere: nisi tantum si velit eas in Graeeam voeem transforma
re sub eodem ordine eaque .consequentia, sub qua et voces Romanae positae sunt (
hoc quod GraecixaT& n68a dicunt), et si qui forsitan per titulorum suptilitatem
adnotare maluerint et ea quae nap&Ttraa nuncupantur componere. Alias autem legam
interpretationes, immo magis perversiones eos iactare non concedimus, ne verbos
itas eorum aliquid legibus nostris adferat ex confusione dedecus. Quod et in ant
iquis edicti perpetui commentatoribus factum est, qui opus moderate confectum hu
e atque iUuc in diversas sententias producentes in infinitum detraxerunt, ut pae
ne omnem Romanam sanctionem esse canfusam. Quos si passi
non sumus, quemadmodum posteritatis admittatur vana diseordia F Si quid autem ta
le facere ausi fuerint, ipsi quidem falsitatis rei constituan
Tp xaT& n68a xaaooi vp Xp&laaa,a= -wv v6µwv èpriVCtq, xai St TL xcr & Trw T&v 6VO Lo
c o%t vwv napaT(Tawv wç etxõç npoaypck}cct pouar,&etcv
Xpctav' ÉTepoV 81 navr&naaty L 8' 6TtoGV nept a6T& xp&TTCLV 1trn8è a6-4; 80GVat aT&a
etaÇ Te xcct &µptapr)T~acwç xat 7rx~DouÇ Toïç v6p.otç (ipopiArv' 'roUTo 6ncp xat np6a9cv ènt
o3 i 81x-ou yèyovcvvoµo8eataç, 6aaTC xat,rot ye oSTw Ppu &rurov m6T6 xa8ea-óç, èx Trç Twv not
tawv ónoµvr)µ&Twv 8ca¢opãç etç &vapt8µe-ov ix-ock4tvou 70,",5oç. EE ycip Tt puvelrf TuX6v &µc
6pevoVi'r6iç Twv ôtxi5v &ywvcataiç ~ Toïç TO xp(VetV npoxa9r;µèvocç, roo paatAe6ç èaµr)Ve6acc
ep a6Tw µóvw nzp& -,5v v6 uov èpeitat. wç 6 ye Sappmv n(Xp&TaóTagV ) V&V'd v voµol?eatav ón6µ
Tt xa-aSéa»at xuT& OAca Tigç i .ccTèpaç xeaeóace ç &aaoc6Tepov, oinoÇ ia'Cw 'rol; V lratpaao
cwÇ èveç6µevoç v6µotç, roG nacp' aúTOG auV Z'HVrOç &papnaçoµèvou xat nãacV 8tagp$CtpotVOu Tpó
462
tur, volumina autem eorum omnimodo corrumpentur. Si quid vero, ut supra dictum e
st, ambiguum fuerit visum, hoc ad imperiale culmen per iudices referatur et ex a
uctoritate Augusta manifestetur, eul soli concessum est leges et condere et inte
rpretari.
A propósito da constituição belíngue que promulgou o Digesto, note-se que a versão latina
(const. Tanta) não é uma simples tradução da versão grega (const. dí 8wxev ); em rigor, pare
ce que devíamos falar não de uma constituição bilíngue mas de duas. Cotejem-se os dois tex
tos, na recentíssima tradução espanhola de A. D'ORS-F. HERNANDEZ TEJERO-P. FUENTESCA-M
. GARCIA GARRIDO-J. BUIILLo 661,
Conforme já observou Pietro PESCANI 662 a respeito dos três fragmentos, transcritos
supra 461-463, o texto grego é mais claro e compreensível, redigido com simplicidade
e clareza; é o texto original. A versão latina, que não é ad litteram, aspira a ter uma
certa elegância, está enfatuada de verbosidade e de artificialismo, e portanto mais
extensa, como se verifica pelo próprio espaço material ocupado pela sua transcrição (vi
d. infra 525-549); por isso, hoje, a sua interpretação por vezes origina divergências
663.
Até há bem poucos anos, a respeito da proibição estabelecida por Justiniano de comentar
o Digesto, dominava a opinião de que o imperador tinha proibido toda e qualquer es
pécie de obra de análise ou de crítica aos fragmentos das Pandectae, sob pena de os se
us autores serem considerados e punidos como
661 El Digesto de Justiniano. I Constituclones Preliminares y Libros 1-19 (Madri
d,1968) 23.36.
Para mais fácil consulta, transcrevemos em apêndice, págs. 525-549, a tradução espanhola d
e A. D'Oas das conts. Tanta-Aé8wxav.
662 Pietro PFSCANi, Sul Divieto di Giustiniano a Commentari dei Digesto em Labeo
7(1961) 41-54.
663 Id. ib. 43.
463
17
DIREITO ROMANO
1' PARTE-TIT. x-CAP. 2.°
§ 37
falsários e de as respectivas obras deverem ser destruídas. Apenas seriam permitidas
as traduções literais de textos latinos para grego, denominadas xa.-ri nó8a, a organi
zação de índices
( tvBtxcç), de breves sumários dos títulos ( naparírAe ) ou de coisas semelhantes, «ne ver
bositas eorum aliquid legibus nostris ad f erat ex con f usione dedecus» 661. As dúv
idas de interpretação deviam ser comunicadas ao imperador, para ele expressamente as
resolver (através duma constituição imperial), pois, a respeito de leis, só ele as podi
a criar e interpretar - «si quid... ambiguum f uerit visam, hoc ad imperiale culme
n per iudices re f eratur et ex auctoritate Augusta manif estetur, cui soli conc
essum est leges et condere et interpretaria 666
Recentemente, analisando melhor, verificou-se que essa opinio communis não podia c
orresponder à realidade.
Primeiro: Justiniano não devia ter proibido toda e qualquer obra a respeito do Dig
esto, permitindo semente as traduções gregas literais, resumos ou índices, porque então
seria nulo o trabalho dos estudiosos do direito - ou melhor, não haveria trabalho
autónomo, científico, próprio de juristas, mas únicamente uma actividade de meros tradut
ores ou de simples organizadores de índices -; seriam inúteis as escolas de direito,
que ele reformou com tanto cuidado e preocupação.
Segundo: no tempo de Justiniano e depois dele, há bastante literatura jurídica a res
peito do Digesto, como pode testemunhar-se através dos Basílicos, e não era «clandestina»,
mas abertamente permitida. Mais; escrita dentro duma linha de pura ortodoxia. E
mbora não se trate das grandes construções ou de tratados da jurisprudência clássica, também
não são meras traduções, mas sim trabalhos de exegese erudita.
664 Const. Tanta 21. Vid. supra 462 e infra 546, respectivamente versão latina
e tradução espanhola.
665 Const. Tanta 21 (parte final). Vid. sup a 463 e infra 547, respectivamente
versão latina e tradução espanhola.
Dentro desta nova ordem de ideias, surgiram ultimamente algumas opiniões. As mais
importante são a de BERGER em
1951886, e a de PESCANI em 1961667.
BERGER, que,em grande parte é refutado por PESCANI 668, teve o mérito de, pela prime
ira vez, se opor frontalmente à opinio communis.
Sem pretendermos analisar em pormenor os vários argumentos das diferentes opiniões,
e aderindo sobretudo (embora não totalmente) à opinião de PESCANI, podemos assentar na
lguns pontos.
a) - A referida proibição de Justiniano a respeito do Digesto encontra-senas três cons
tituições citadas - Deo auctore 12, Tanta 21 e AéF(oxev 21 -, mas em termos diferentes
. Daí a razão principal da divergência dos AA.: atendem só ou principalmente a uma, sem
ter na devida conta as outras. Por isso, interessa o cotejo (vid. supra 461-463)
.
b) - A proibição ,em termos mais enérgicos encontra-se na const. de 530, Deo auctore 1
2; porém, mesmo aí, eram permitidas, além das traduções literais, de indices e de paratitl
a, certas observações («quaedam admonitoria eius f acere» - vid. supra 462), embora limi
tadas ao máximo e redigidas com o mínimo de palavras 668. Durante os três anos (de 530
a 533), o imperador deveria ter sido prevenido da gravidade que isto representa
ria para a ciência do direito, se fosse tomado à letra. Em 533, nas consts. Tanta e
Aé8mxev, a proibição já aparece mitigada.
666 Adolf BERGER, The Emperator Justinian's Ban upon Commentaries to the Digeste
em B(DR 45-46(1951) 124-169. Já em 1945, BERGER tinha apresentado parte da sua op
inião. Cf. ib, 124 n. *.
667 Pietro PESCANI, Sul Divieto di Giustiniano a Commentario del Digesto em Labe
o 7(1961) 41-54.
668 Vid. ib. 44 e 45.
669 Cf. PESCANI, o.c. 44.
464
465
DIREITO ROMANO
1' PARTE - TÍT. X - CAP. 2.
g37
c)----: Atendendo simultâneamente às três constituições, mas sobretudo à Tanta e à Dé&«ev, de
der concluir-se:
I - para futuro, ficavam proibidos os comentários (quer em latim quer em grego) às l
eis (fragmentos) do Digesto - «nullis iuris peritis in posterum audentibus comment
arios applicare» (const. Deo auctore 12), «nemo... in praesenti... nec... postea...
audeat commentarios isdem legibus adnectere» (const. Tanta 21), «TWv v6µwv ú7roµvi)µaTa ypápe
v» (const. á8éwxsv 21). Estes comentários, expostos «verbositate» (const. Deo auctore), deve
m ser entendidos ps comentários-tratados, à maneira dos elaborados pelos antigos jur
istas clássicos (vid. supra 368), que apresentavam inovações e que tinham força de lei.
Isso é que ficava proibido, porque a nenhum jurista era permitido defender opiniões
contrárias às disposições do Digesto nem sequer integradoras («ne... aliquid legibus nostr
is adferat»
- const. Tanta 21), e nem interpretar (com força de lei) dúvidas sérias (si quid... am
biguum fuerit visum, hoc ad impçriale culmen per iudices referatur et ex auctorita
te Augusta manifestetur, cui soli concessum est leges et condere et interpretari»
- const. Tanta 21, parte final). Numa palavra, para futuro ficava proibida toda
a actividade científica dos juristas que
tivesse carácter vinculativo; não eram admitidos comentários novos, nem em latim nem e
m grego, com força de lei.
II - Eram permitidas as traduções gregas dos comentários latinos antigos, mas só dos esc
larecedores dos fragmentos (leis) do Digesto -eirA v eL [£~ pouari&ecev e[S µév riv `E»Y
vwv yA 'rrcCv [OCÚ'r&] «ocÚToóç»(?) (ARANGIO-RUIZ) µeTOCpacAety µóv-1 8È TY) xará 7ro8oc xrcA
a3at TWV vé cov épµri
VeLOC»670 (const. Até <âxev 21)671
670 Dada a importância da crítica a respeito deste texto, não hesitámos em o transcrever
aqui no seu original grego, embora acompanhado de traduções.
Para todos os alunos, mesmo para os que não têm qualquer conhecimento da língua grega,
uma transcrição dum texto grego não é inútil. Vêem, duma forma concreta e palpável, a verdad
da afirmação feita na pág. 109 destas Lições: «sem conhecimento do latim e do grego, não é p
el trabalhar a sério em investigações romanísticas».
671 A tradução latina (apresentada na const. Tanta 21) desta disposição grega
Dos comentários latinos antigos não podiam ser traduzidos para grego: a) - nem os co
ntrários às disposições do Digesto, porque foram revogados 672, p - nem sequer os merame
nte conciliadores das disposições (ou opiniões) opostas, porque, em princípio, todas as
antinomias foram eliminadas pelos compiladores 872. Por isso, Justiniano determi
nou: «Haste itaque leges et adorate et observate omnibus antiquioribus quiescentib
us: nemoque vestrum audeat vel comparare eas priori bus vel, si quid dissonans i
n utroque est, requirere, quia omne quod hic positum est hoc unicum et solum obs
ervari censemus» (const. Tanta 19).
Ill - Eram permitidas (nisto, estão todos os AA. de acordo) as traduções literais em g
rego, orientadas, palavra por palavra (xocrá rr68oc), os iv8txcç e os 7rapá-rtTAa (con
st. Deo auctore 12, Tanta 21 e Aé8wxev 21- vid. supra 462).
N -.Finalmente, eram permitidas observações destinadas a elucidar os títulos do Digestó
(mesmo através do confronto com outros títulos e com leis análogas), e até uma certa análi
se científica-as próprias disposições (fragmentos, «leges») - a interpretatio 674. Esta orig
inou, no tempo de Justiniano e
da const. Wmxev 21 não é rigorosa. (Vid. supra 462, e infra 546, a tradução espanhola).
Por isso, os autores modernos têm sugerido traduções diferentes, v. g. MoMMSEN e o Dig
. Ital.
MOMMSEN Dig. Ital.
«praeterquam si in Graecam linguam «praeterquam si velint in Graecorum [eas] <eos (c
omentarios)> transferre linguam [eas] <eos (comentarios)> velint sola ea, quae a
d vestigia dicitur, convertere, sola vero ea quam ad legum interpretatione usi».
vestigia vocant usi legum interpre
tatione».
Cf. PESCAM, o.c. 46.
Cf. const. Tanta 10. Vid. const. Tanta 15.
Sobre o sentido e o alcance da interpretatio vid. supra 172180.
A interpretatio grega era a explicação sucessiva das palavras do Digesto (isto é, segu
indo palavra por palavra) feita com carácter erudito. O texto do Digesto, apresent
ado na escola e no tribunal, era sempre o latino. Uma citação em grego, mesmo ad lit
teram, não tinha valor em tribunal, pelo menos no tempo de Justiniano.
672 673 674
466
467
DIREITO ROMANO
1' PARTE - TIT. X - CAP. 2,°
§ 37
posteriormente, as paráfrases e todo o trabalho de exegese erudita, que era indisp
ensável nas escolas e nos tribunais. Mas a interpretatio nunca podia comprometer a
unidade e a concordância das leges.
Teria sido respeitada a proibição de Justiniano referente ao Digesto?
Perante o que fica exposto, a resposta afirmativa compreende-se melhor. Foi resp
eitada, conforme se deduz claramente dos Basilicos. Por isso, não há tratados ou com
entários ao Digesto, mas simplesmente paráfrases, explicações, anotações, escólios. Acrescent
-se, porém, nota PESCANI, que a proibição de Justiniano foi respeitada «mais por força das
condições objectivas da situação do que pela severidade do decreto» 876. P, que depois do
admirável trabalho científico do Digesto, não havia necessidade de um labor jurídico cr
iador, mas únicamente... interpretador. No Digesto estava tudo; para isso e por is
so, é que ele é também denominado... Pandectac.

Resta sublinhar que Justiniano determinou que o Digesto substituísse, tanto nas es
colas como nos tribunais, todos os livros jurídicos. Nenhuma obra jurídica clássica po
dia ser invocada, se não estivesse no Digesto, e só através do Digesto podia ser citad
a - const..Omnem 11 e const. Tanta 19.
e) Problemas externos à elaboração e à publicação do Digesto
I-Distribuição dos fragmentos dentro de cada título
Os fragmentos dentro de cada título do Digesto não se encontram distribuídos ao acaso.
Foi BLUHME quem o descobriu,
Dai a necessidade de analisar cientificamente as expressões latinas. Por isso, as
Institutiones, embora destinadas principalmente aos estudiosos gregos, estão escri
tas em latim.
673 PESCAM, o.c. 54.
em 1820 878, ao fazer uma investigação muito cuidadosa aos títulos D. 45,1 e D. 50,17.
A conclusão a que chegou e que depois se generalizou grosso modo a todos os títulos
é a seguinte: dentro de cada título, os fragmentos das obras utilizadas na confecção do
Digesto encontram-se reunidos em quatro grupos ou massas, que ele próprio denomin
ou massa sabiniana, massa edictal e massa papiniana, segundo o tipo de obra que
prevalece, e uma quarta massa ou grupo a que BLUHME não deu nome, hoje conhecida p
or «appendix».
A massa sabiniana é também denominada pelos AA. «massa do ius civile», por ser composta
de fragmentos de obras relativas ao ius civile, do tipo dos libri ad Sabinum 877
, figurando em primeiro lugar os fragmentos dos libri ad Sabinum de ULPIANUS, PO
MPONIUS e PAULUS.
A massa edictal, também posteriormente designada por «massa do ius praetorium», compre
ende sobretudo os fragmentos dos libri ad Edictum 878, estando à cabeça os fragmento
s dos libri ad Edictum de PAULUS e de ULPIANUS.
A massa papiniana, igualmente chamada hoje pelos autores «massa casuística», é constituída
por fragmentos de obras do tipo dos Responsa, das Quaestiones e dos Digesta, pr
incipiando, normalmente, por fragmentos dos libri quaestionum e dos libri respon
sorum de PAPINIANUS.
676 BLUHME, Die Ordnung der Fragmente in den Pandektentitlen em Zeitschrift fur
geschichdiche Rechtswissensehaft 4(1820) 257-472, com o subtítulo «Ein Beitrag zur E
ntstehungsgeschichte der Pandecten (=Labeo 61[960] 50-96, 235-277 e 368-404); tr
ad. ital. de CONTICINI (com prefácio e notas), L'Ordine dei Frammenti net Titoli d
elle Pandette del Dr. E. Bluhme (Pisa,1838).
Note-se que o método de compilação por massas não constitui uma novidade dos compiladore
s justinianeus; outras compilações anteriores, jurídicas e não jurídicas, tinham sido elab
oradas já com uni método semelhante. Cf. ScHULZ, Die Anordnung nach Massen ais Kompo
sitionsprinzip antiker Kompilationen em Atti del Congresso Internazionale di Dir
itto Romaná. Roma 11(Pavia,1935) 11-25.
Observe-se, por último, que a teoria bluhmiana das massas no Digesto parece que já t
inha sido vislumbrada por António AGOSTINHO (1517-1586), o sábio Arcebispo de Tarrag
ona. Cf. A. D'ORS, El Predigesto em lnvestigación y Progreso 16(1945) 131.
677 Vid. supra 369.
678 Vid. supra 369.
468
469
DIREITO ROMANO
1. PARTE - TIT. x-CAP. 2.°
0 «appendix» ou «varia» é uma massa menor do que qualquer outra, constituída por fragmentos
de 12 obras secundárias.
Note-se:
1.0 nem todos os títulos têm as quatro massas, pois alguns
têm só uma, duas ou três (a quarta massa falta em muitos
títulos), e às vezes uma das massas encontra-se repetida, quer
dizer, dois núcleos de fragmentos pertencentes à mesma massa
estão colocados em lugares diferentes dentro do mesmo título;
2.° as massas nem sempre estão dispostas pela mesma
ordem, mas em regra vem em primeiro lugar a massa sabiniana,
depois a edictal, a seguir a papiniana e por último o «appendix».
A hipótese de BLUHME, vulgarmente designada «teoria das massas» (no Digesto), sobretud
o depois que uma obra póstuma do austríaco G. H0FMANN 848 em vão tentou refutá-la, é hoje
uma tese aceite por todos 6110.
II-Método de trabalho dos compiladores. Teorias
Um dos problemas mais enigmáticos, que, sobretudo desde o início deste século, vem des
pertando cada vez mais a curiosidade científica dos autores, é a rapidez com que foi
elaborado o
679 Gerhard HOFMANN, Die Compilation der Digesten Justinians, edit. por 1. PFAFF
(Viena,1900).
0 trabalho de HOFMANN não conseguiu adesões. Vid. ALBERTARIO, Introduzione Storica a
lio Studio del Diritto Romano Giustinianeo I (Milão,1935) 15 e n. 14.
680 A confirmar a tese de BLUHME, notem-se as posteriores investigações: de Carlo LO
NGO, Contributo alia Storia delta Formazione delle Pandette em BIRD 19(1907) 132
-160; de Pietro DE FRANCISCI, Nuovi Studi intorno alia Legislazione Giustinianea
durante la Compilazione delle Pandette em BIRD 22(1910) 155-207, 23(1911) 39-85
, 186-296 e 27(1915) 5-54; de Giovanni ROTONDI, L'Indice Florentino defile Pande
tte e 1'Ipotesi del Bluhme em Scritti Giuridici I (Milão,1922) 298-339; de KRUGER,
Die Herstellung der Digesten Justinians and der Gang der Exzerption (Münster,1922
), e Die klassischen Werke nach der bluhmischen Ordnung (3.0 capítulo do seu-estud
o Rõmische Juristen and ihre Werke) em Studi Bonfante II (Milão,1930) 317-326.
470
Digesto pela comissão justinianeia presidida por Triboniano: apenas três anos, de 53
0 a 533, quando, afinal, ainda hoje, por exemplo, para reformar um simples código;
geralmente gastam-se dez, quinze ou mais anos. 0 próprio Justiniano tinha previst
o dez anos 081, e ele, que nas consts. Tanta - M8o xev fornece largas informações so
bre o conteúdo e vários pormenores do Digesto, não tem uma única palavra sobre o método us
ado pela comissão redactora, que, em vez dos dez anos previstos, gastou apenas três.
Como foi possível, num tão curto espaço de tempo:
- antes de tudo, recolher o enormissimo espólio das obras dos juristas clássicos, não
obstante as condições precárias em que se encontravam a corte e o * império nos anos 531
-533 081;
- depois, ler, sintetizar, harmonizar e. actualizar 1625 livros;
- em seguida, escolher os fragmentos dignos de figurarem no Digesto e ordená-los s
ob várias rubricas 883 .
- numa palavra, completar,, actualizando três milhões de linhas, e finalmente reduzi
r tudo a cento e cinquenta mil
linhas 084?!
Parece que, bem ao certo, nunca chegaremos a saber qual o método seguido pelos com
piladores para obter esse resultado
surpreendente 085.
Const. Tanta 12.
DE FRANCISCI, Storia del Diritto Romano III-1 (Milão,1943) 277.
Sobre este curioso sistema das rubricas do Digesto, vid., por todos, A. SoucmE,
Recherches sur les Origines des Rubriques du bigeste (Tarbes,1960) e respectiva
crítica de E. VOLTERRA em lura 15(1964) 275-279, e T. MAYER-MALY, Bemerkungen zum
Aufbau der Digestentitel em Synteleia Vincenzo Aran.gio-Ruiz (Nápoles,1964) 878-88
5.
684 Const. Tanta 1.
685 É a opinião, v. g. de Paul VAN WARMELO, A Propos de la Compilation du Digeste em
RHD 38(1960) 503: «Ii est peu probable que naus sachions jamais exactement de que
lle manière a été faite la compilation du Digeste. Naus avons beaucoup de renseignemen
ts sur la méthode suivie par les compilateurs et cefile-ci a été étudiée par les savants d
epuis bien des années. lis en ant tiré des conclusions três intéressantes et fort précieus
es. Malheureusement it reste à résourde des contradictions décevantes et le problème con
cernant Ia méthode suivie par les gompilateurs reste toujours épineux>>.
471
681 682 683
DIREITO ROMANO
1' PARTE - TIT. X - CAP. 2.
§ 37
Há várias teorias, a tentar uma explicação.
a) - A teoria da distribuição das massas a cargo de subcomissões
(BLUHME) - Baseado na sua descoberta da existência das «massas» em cada título, BLUHME,
para explicar a rapidez da elaboração do Digesto, conjecturou que a comissão redactora
tivesse sido dividida em três subcomissões, encarregando-se de estudar: uma, as obr
as pertencentes à «massa» sabiniana; outra, as referentes à «massa» edictal; e a outra, as r
elativas às «massas» papiniana e «appendix». Concluído o trabalho de cada uma, as três subcom
ssões ter-se-iam reunido, depois, várias vezes, em conjunto. Nessas reuniões plenárias,
presididas por Triboniano, em cada título ter-se-ia colocado, em primeiro lugar, a
«massa» com maior número de fragmentos, passando-se depois às outras, se existiam, mas
considerando-as como um complemento da primeira. Por último, sobre este material r
ecolhido, e já repartido pelos vários títulos, ter-se-ia procedido a um trabalho de co
ordenação e de revisão.
Crítica - Esta teoria explica uma certa rapidez (em vez dos dez anos previstos, qu
e se gastassem aí uns seis ou sete), mas não a que se verificou na elaboração do Digesto
, gastarem-se apenas três anos.
Não fornece um contributo decisivo para resolver várias questões, como v.g. a recolha
assim tão rápida do enorme espólio das obras dos juristas clássicos. Todavia, «à falta de me
lhor», a teoria de BLUHME dominou até cerca de 1900, data em que principiou a ser at
acada, como examinaremos a seguir. Hoje, não conta adeptos.
/t)-Teorias do pré-digesto e outras (HOFMANN em 1900,
EHRENZWEIG em 1901, PtrrIIRS em 1913, ARANGIO-RUIZ em 1930, ALBERTARIO em 1935,
D'ORS em 1945, COLLINET em 1952, GUARINO em 1957, VAN WARMELO em 1960, DELL'ORO
em 1964).
472
Quem atacou, pela primeira vez e duma forma radical, a teoria de BLUHME, foi HoF
MANN 080, em 1900.
Primeiro, nega a existência e a distribuição das «massas» em cada título.
Segundo, mesmo admitindo a existência das «massas» e que tivessem sido distribuídas pela
s três subcomissões como conjecturou BLUHME, isso ainda não explicaria a rapidez da fe
itura do Digesto.
Como explicação dessa rapidez, HOFMANN apresenta a teoria do pré-digesto: a (possível) e
xistência duma compilação privada do séc. V, em tudo semelhante ao Digesto. Os compilado
res justinianeus teriam tido pouco trabalho: limitaram-se a retocar essa (hipotéti
ca) colectânea, a ler algumas obras, v.g., os comentários de ULPIANUS ad Edictum e a
d Sabinum e a transformar (mediante falsas inscriptiones) em fragmentos autónomos
as citações encontradas nessas poucas obras que foram lidas. Outras citações (convertida
s também em fragmentos autónomos), ainda segundo HoFMANN, seriam provenientes de col
ectâneas privadas e oficiais, de apontamentos inéditos, de notas fornecidas pelos pr
ofessores. Portanto, o Digesto podia ter sido elaborado até em menos de três anos, c
onclui HOFMANN.
Crítica - A teoria de HoFMANN vai frontalmente contra as afirmações expressas de Justi
niano, quando diz: «...duo paene milia librorum esse conscripta et plus quam trece
nties decem milia versuum a veteribus effusa, quae necesse esset OMNIA et legere
et perscrutara, et ex his si quid optimum f uisset eli
gere» 687.
Nega toda e qualquer originalidade do Digesto, quando é certo que pelo menos uma c
erta originalidade, quer pelo seu fim quer pela sua envergadura, tem de ser reco
nhecida 886

686 Como já sabemos, a sua teoria está exposta numa obra póstuma. Vid.
supra 470 e n. 679.
687 Const. Tanta 1.
688 Cf. COLLINET, L'0riginalité du Digeste em Conferenze per ii XIV Cente
nario deile Pandette (Miláo,t931) 41-51.
473
DIREITO ROMANO
1.' PARTE-TIT. X-CAP. 2.°
Além disso, não admitindo a existência das «massas», HoFAMNN coloca-se abertamente contra
a (quase) totalidade dos autores 889. Por estes motivos, e além disso sustentada c
om argumentos frouxos, a teoria de HoFAMNN nem impressionou nem triunfou, tendo
sido definitivamente rebatida 880.
Todavia, a ideia de pré-digesto foi explorada, mais tarde, em moldes diferentes, p
or vários. autores.
Em 1901, EHRENZWEIG 691, admitindo a teoria bluhmlana da existência das «massas> e b
aseando-se na ideia do pré-digesto de HoFMANN, elaborou uma teoria... «mista>:-a ord
em dos fragmentos do Digesto é tal qual BLUHME indicou, e a divisão das massas é uma v
erdade incontestável; simplesmente, essa ordem e essa divisão não são fruto do trabalho
dos compiladores justinianeus; já existiam numa colectânea privada do séc. V; Justinia
no não fez mais que retocar essa compilação, actualiza-la e conferir-lhe valor oficial
.
Crítica - A teoria de EHRENZWEIG passou quase despercebida 692, pois ele não era rom
anista, e em 1901 a crítica só se preocupava em tomar posição ou a favor de BLUHME (exis
tência das «massas» e distribuição da respectiva elaboração a cargo das três subcomissões) ou
vor de HoFMANN (negação das «massas» e existência dum pré-digesto, prática mente completo).
Em 1913, Hans PETERS 898, com pequenas variantes, apresentou a mesma teoria de E
HRENZWEIG, mas fortemente estruturada com argumentos de vária ordem 694.
689 Vid. supra n. 680.
690 As principais refutações da teoria de HOFMANN foram feitas por MOMMSEN em SZ 22(
1901) 1-11 e por KRÜGER, ib. 12-49. Vid. Pietro BONFANTE, Storia dei Diritro Roman
o II, ed. revista por G. BONFANTE e G. CRIFÔ (Milão,1959) 108-120 e sobretudo a n. 1
2.
691 EHRENZWEIG, Die Compilation der Digesten Justinians em Zeitschrift für private
s und õffentliehes Recht 28(1901) 313-319.
692 ALBERTARIO, Introduzione 15.
693 Hans PETERS, Die ostrõmischen Digestenkommentare und die Entstehung der Digest
en em Berichte über die Verhandlungen der Kõniglichen Süchsischen Gesellschaft der Wis
senschaften zu Leipzig. Philologische-historische Klasse 65(1913), Heft 1. 0 val
or deste trabalho é posto em devido relevo por MnrEis, ao traçar a bibliografia de H
. PETrERS (1886-1915), morto aos 29 anos em campo de batalha, vítima da primeira g
rande guerra - SZ 36(1915) VII-XVI.
694 Vid. A. D'ORS, Predigesto, cit. 133, e Pietro BONFANTE, Storia, cit. 122 e 1
23.
474
0 Digesto, segundo PETERS, não é fruto dum exame directo das obras clássicas, menciona
das no index 895; baseia-se numa compilação privada, do séc. V, elaborada pela Escola
e para a Escola 698. Os compiladores teriam actualizado essa compilação, e... pouco
mais 697
Crítica - A tese de PETERS já foi devidamente refutada
por DE FRANCISCI, ROTONDI e BONFANTE 899
Prescindindo já das várias razões de ordem técnica relativamente a certos. pormenores, a
presentadas por esses AA. contra PETERS, convém notar que seria muito estranho:
a) - o silêncio de Justiniano sobre a «fonte verdadeira» (a tal compilação privada, do séc.
V), quando ele nem sequer há dissimulado as fontes do Codex e das Institutioraes;
b) - a afirmação categórica do mesmo imperador ao declarar que «duo paene milia librorum
esse conscripta et plus quam trecenties decem milia versuum a veteribus effusa,
quae necesse esset omnia et legere et prescrutari et ex his si quid optimum fui
sset eligere» (const. Tanta 1);
c) -o silêncio dos escoliastas sobre a (tal) origem duma obra, que através dos tempo
s havia de ser de uma imponência e duma importância fundamental;
d) - a tal «compilação privada, escolar, do séc. V» estar sistematizada, com a distribuição d
s fragmentos das obras em três massas, verificando-se o fenómeno mecânicamente em cada
título - o que é de fácil explicação quando se trata dum trabalho elaborado por uma comis
são legislativa, mas de difícil explicação se se tratasse duma obra escolar.
695 696 697 698
Vid. supra n. 653 sobre o valor do index. Vid. supra 359 o valor das escolas ori
entais. Vid. Pietro BONFANTE, o. C. 122 e 123. Cf. id. ib. 123-125 e n. 21.
475
DIREITO ROMANO
1. PARTE -TIT. X - CAP. 2."
§ 37
Em 1930, ARANGIO-RUIZ elaborou uma hipótese 699 mais reduzida e mais circunstancia
da: os compiladores ter-se-iam servido, além doutras compilações de menor contributo,
dalgumas de origem escolástica; estas teriam fornecido cerca duma quinta parte do
Digesto, concretamente os libri II-XIX e XXIII-XXXIV; essas compilações seriam as re
cordadas por Justiniano (const. Omnem 2,3 como T& 7rpwra-para de iudiciis, pars
de rebus, quattuor libri singulares (a saber, de re uxoria, de tutelis, de testa
mentis, de legatis).
Em 1935, ALBERTARIO recusa-se a admitir a tese de ARANGIO-RUIZ 700 - já antes, em
1933, F. WIEACKER se mostrara relutante em aceitá-la 701 -; propõe uma nova hipótese.
Tomando como ponto de partida a Lex Citationum, de 426 702, que, práticamente, red
uzia a cinco o número de juristas que podiam ser invocados em juízo, imagina a existên
cia duma compilação (mais ampla do que a idealizada por ARANGIO-RUIZ), composta por
fragmentos das obras desses cinco juristas (colocando em primeiro lugar os fragm
entos das obras de ULPIANUS, começando pelos comentários ad Sabinum e ad Edictum), e
sistematizada segundo a ordem edictal que depois foi a seguida no Digesto.
Em 1945, Alvaro D'ORS, depois de examinar a parte válida das teorias de PETERS, AR
ANGIO-RUIZ e ALBERTARIO, inclina-se para a hipótese dum «pré-digesto>, dando a esta ex
pressão não o significado duma compilação, mas o alcance de «unas `bases' fundamentales qu
e fueron compiladas con anterioridad a Justiniano, y que éste adoptó, remozó con otras
aportac{ones menores y con sus propias interpolaciones. La tarea de Justiniano,
sin carecer de todo valor, habría sido de una envergadura menor a Ia que tradicio
nalmente se venha admitiendo. Una buena parte dei trabajo estaba hecho ya en ai
siglo V> 702,
Em 1952, COLLINET, depois de analisar as teorias de BLUHME, HOFMANN e PETERS, e
admitindo que os compiladores tivessem trabalhado em três subcomissões (segundo BLUH
ME), defende que a subcomissão encarregada da massa sabiniana teria utilizado as I
nstitutiones de Gaio e as quatro monografias (de re uxoria, de tutelis, de testa
mentis e de legatie); a subcomissão da massa edictal, a prima para legum, a para d
e iudicils e a para de rebus; a da massa papiniana, os responsa de PAPINIANUS e
de PAULUS. Depois, a comissão, já em reunião plena, teria completado este material, co
m outros fragmentos citados nas escolas orientais e com alguns comentários (interp
olações) elaborados pelas mesmas escolas 704.
Em 1957, GUARINO 705, depois de mover sérias objecções ás teorias de ARANGIO-RuIz, ALBER
TARIO e COLINNET 706, e depois de várias considerações 707, é de opinião de que os compila
dores trabalharam em comum e não em subcomissões, quer na fase preparatória quer na ex
ecutiva, e deveriam ter adoptado como texto fundamental uma compilação recalcada sob
re os libri ad Edictum de ULPIANUS, que retocaram com a ajuda de outras duas com
pilações (uma redigida segundo a tradição de SABINUS, e a outra segundo a tradição das obras
de casuística), e das obras do appendix 708.
Em 1960, VAN WARMELO 709, depois de considerar a teoria do pré-digesto (segundo PE
TERS) pouco convincente e hoje abandonada por todos os romanistas, admite que al
gumas partes do Digesto foram preparadas por trabalhos anteriores aproveitados p
elos compiladores. Embora seja difícil determinar, em concreto, até que ponto e de q
ue maneira os trabalhos anteriores facilitaram e prepararam a missão dos compilado
res, há questões que, segundo VAN WARMELO, podem ser apresentadas como certas: a) -a
compilação do Digesto e o trabalho que ela comportava
699 ARANGIO-RUIZ, Precedenti Scolastici del Digesto em Conferenze per it XIV Cen
tenario delle Pandette. 15 Dicembre 530-15 Dicembre 1930 (Milão,1931) 285-319.
Também ARANGio-Ruin, à semelhança de PETERS e de EHRENZWEIG, coordena a sua hipótese com
a doutrina de BLUHME.
700 Emito ALBERTARIO, Introduzione Storica alto Studio del Diritto Giustinianeo
I (Milão,l935) 16 e 17.
Id. ib. 1622.
Vid. supra 424.
Alvaro D'ORS, El Predigesto em Investigación Y Progreso 16 (1945) 136
e 137.
704 Paul COLLINET, La Genèse du Digeste, du Code et des Institutes de Justinien
(Paris,l952) 65-93.
705 Antonio GUARINO, La Méthode de Ia Compilation des «Digesta Iustiniani»
(texto francês) em RIDA 4(1957) 269-288, e II Metodo di Compilazione dei «Digesta
lustiniani» (texto italiano) em L'Ordinamento Giuridico Romano3 (Nápoles,1959)
526-540.
706 RIDA, cit. 280-284; L'Ordinamento Giuridico, cit. 534-538. 707 lb., respecti
vamente, 285-288 e 538-540. 708 lb., respectivamente 288 e 540.
709 Paul VAN WARMELO, A Propos de la Compilation du Digeste em RHD 38
(1960) 503-529.
701 702 703
476
477
DIREITO ROMANO
1.1 PARTE -TIT. X-CAP. 2?
não foram inteiramente res novae; b) -os compiladores seguiram a sistematização do Códig
o de 529 e, em certa medida, a do Edictum Perpetuam; c) -os elementos mais signi
ficativos do Digesto encontram-se no ensino das escolas do Oriente,. e, portanto
, o Digesto sob certo aspecto, reflecte claramente a influência do ensino do Direi
to e a vida jurídica dos séculos anteriores a Justiniano 710; d) -no Digesto, há grupo
s de fragmentos, formando uma espécie de apparatus e tendo uma certa unidade, que
deviam ter sido originados a partir dum fragmento central e colocando, depois, o
utros à volta, como que em forma de glosas ou de acréscimos. Deve tratar-se de anotações
, inscritas em fontes antigas para assim as actualizar. VAN WARMEio apresenta, e
m 144 grupos, uma lista de fragmentos nestas condições, e que passaram, assim, para
o Digesto 711.
Em 1964, DELL'ORO 712, para tentar uma explicação da rapidez enigmática com que foi el
aborado o Digesto, insiste na relação entre a Lei das Citações de 426 713, e o Digesto.
Sublinha que a verdadeira Inovação 714 da Lex Citationum foi a consideração dada aos out
ros juristas diferentes dos cinco (PAPINIANUS, PAULUS, ULPIANUS, MODESTINUS e GA
IUS), autorizando igualmente a sua citação, desde que os seus libri se encontrassem
reproduzidos num texto autêntico. Isto devia ter provocado uma investigação e produção das
obras dos antigos juristas, de modo a poder e dever contar-se para a elaboração de
textos oficiais dum vastoo material jurisprudencial, diverso do que estava em us
o (os fragmentos das obras dos cinco juristas citados). Teodósio II não conseguiu el
aborar a colectânea de ius. Justiniano veio a aproveitar-se de todo esse material,
nessa altura mais ou menos elaborado e sistematizado, e de que os práticos do Dir
eito (sobretudo advogados) já tinham conhecimento; por isso, foram incluídos na comi
ssão (composta de 17 participantes) 11 advogados.
As teorias dos romanistas sobre a rapidez com que foi elaborado o Digesto, certa
mente, vão continuar; e o enigma... permanecerá?
710 Vid. ib. 507 e n. 18.
711 , Vid. ib. 514-529.
712 Aldo DELL'ORO, Il Digesto e la Legge delle Citazioni em Synteleia V. Arangio
-Ruiz I (Nápoles,1964) 354-358.
713 Vid. supra 424.
714 Vid. supra 424575.
478
2-INSTITUTIONES41 (21-11-533) a) Elaboração e publicação das «Institutiones»
A intenção de Justiniano de mandar fazer um manual, elementos ou instituições 718 de Dir
eito tinha sido revelada no próprio acto de ordenar a compilação do Digesto 717; por i
sso, não há uma constituição expressa a ordenar a feitura das Institutiones.
Razões justificativas dumas novas institutiones: a) - os velhos manuais de Direito
já não estavam à altura para servirem de introdução ao estudo do Digesto; b) - o temperam
ento de Justiniano a pretender dirigir ex alto as inteligências, e o seu espírito cl
assicista a procurar restaurar, sempre que possível, a cultura jurídica da época clássic
a; c) - o desejo do imperador de que fosse redigido um manual de Direito sui gen
eris, munindo-o expressamente de carácter normativo.
A concretização ou execução (prevista na const. Deo auctore) da ordem de elaborar as lns
titutions, ao que parece, foi dada por Justiniano, só depois de terminada a feitur
a do
Digesto (opinião de BONFANTE 718), ou pelo menos quando estava já a ser concluída a su
a elaboração (opinião comum 719).
Justiniano encarregou desse trabalho Triboniano, Doroteu, professor da Escola de
Beirute, e Teófilo, professor da de Cons
tantinopla 728.
715 Sobre a bibliografia a respeito das Institutiones de Justiniano, vid Pietro
BONFANTE, Storia del Diritto Romano II4 (Milão, 1959) 1211.
716 Vid supra 363 e 364.
717 Const. Deo auctore 11: «si quid aliud a nobis fuerit promulgatum institutionum
vicem optinens, ut rudis animus studiosi simplicibus enutritus facilius ad alti
oris prudentiae redigatur scientiam».
718 Pietro BONFANTE, o. c., (ed. de 1959) 126 e 127. Esta opinião encontra certo a
poio nas palavras de Justiniano: «Cumque hoc (opus Digestorum) Deo propitio peract
um est, Triboniano... nec non Theophilo et Doroteo... specialiter mandavimus ut
rostra auctoritate nostrisque suasionibus componant institutiones» (const. Imperat
oriam 3); e ainda: «post libros quinquaginta dgestorum seu pandectarum... in hos q
uattuor libros easdem institutions partiri iussimus, ut sint totius legitimae sc
ientiae prima elemental (const. Imperatoriam 4).
719 Vid., por todos, ALBERTARIO, Introduzione 32.
720 Const. Imperatoriam 3.
479
DIREITO ROMANO
1 ` PARTE-TIT. x - CAP. 2.'
§ 37
Como todos os trabalhos confiados à orientação de Triboniano, também este foi executado
ràpidamente. Em 21 de Novembro de 533 - ainda antes da publicação do Digesto (16-12-15
33) -, eram publicadas as Institutions, pela const. Imperatoriam, dirigida por J
ustiniano à cupida legum iuventus (aos jovens desejosos do estudo das leis), «ut lic
eat vobis prima legam cunabula... ut sint totius legitimae scientiae prima eleme
nta» 727. Por isso, as Institutiones deviam ser leccionadas no 1.0 ano das Escolas
de Direito 722.
b) Fontes utilizadas. Sistematização
Na composição das Institutiones, foram utilizadas: a) - principalmente 725, as Insti
tutiones de Gaio e as Res Cottidianae (durante muito tempo, atribuídas a Gaio 724)
; b) - várias institutiones da época clássica - de FLORENTINUS, ULPIANUS, MARCIANOS e
, provàvelmente também as de PAULUS 725; c) - algumas partes do Digesto, nesta altur
a já (quase) 726 inteiramente elaborado.
Ao contrário do que sucede no Digesto, nas Institutiones não se menciona a origem do
s fragmentos utilizados na confecção. Porém, o sistema usado foi o mesmo das Pandectae
-
«fazer um mosaico de fragmentos».
721 Const. Imperaloriam 3 e 4.
722 Const. Omnem (de 16.12.533) 2.
123 É o próprio Justiniano que o afirma: « ... praecipue ex commentariis Gaii
nostri iam institutionum quam rei-um eottidianarum...» (const. Imperatoriam 6). 72
4 Sobre esta obra, vid. supra 439.
725 Sobre o problema, vid. P. BONrANTE, o. C., 129 e L. WENGER, Die Quellen
605.
CALLISTRATUS é o único jurista clássico, autor de institutiones que não foram utilizadas
.
726 Sobre este problema vid. supra 479 e nn. 718 e 719.
480
FERRINI727, mediante um critério estilístico e histórico, conseguiu demonstrar, quase
sempre com segurança, a proveniência de cada uma das várias partes.
Embora materialmente os autores das Institutiones sejam Triboniano, Teófilo e Doro
teu, formalmente Justiniano é o único autor. Fala em nome próprio, e não em nome dos jur
istas, cujas obras foram utilizadas 728; por isso, como já foi dito, os fragmentos
não indicam como no Digesto a sua procedência.
Verdadeiramente, é nas Institutiones que Justiniano se revela legislador e mestre
de Direito 729. De facto, interveio pessoalmente em muitos pormenores.
Por uma decisão pessoal de Justiniano, as Institutions estão divididas em 4 livros 7
50. Os livros, por sua vez, estão divididos em títulos. A subdivisão dos títulos em prin
cipiam e parágrafos é da Idade-Média; a sua numeração é moderna.
0 1.° livro trata das pessoas; o 2.°, das coisas, propriedade, restantes direitos re
ais e testamentos; o 3.°, da sucessão intestata, das obrigações em geral e das obrigações ex
contractu; o 4.°, das obrigações ex delicto, das actiones do processo civil e do
direito criminal.
Modo de citar-a) Quanto ao modo actual, vid. supra 37. b) No séc. XIX e princípios d
o séc. XX, por exemplo, § 3 I. (ou § 3 Inst.) de usufructu, significa I. 2,4,3. E como
na citação do Digesto vid. supra 460).
727 Contardo FERRINI, Sulle Fonti delle Istituzioni di Giustiniano em BIDR 13(19
00) 102 (=Opere di Contardo Ferrini 11 308): «Le Instituzioni giustinianee sono un
' opera composta sostanzialmente alta maniera st essa dei Digest!. vale a dire m
ediante Ia giustappozione di brani toldi da opere precedenti, a cui i compilator
i hanno recato ie nmodificazioni ritenute necessarie od opportune ed hanno facto
varie aggiunte e in specie quelle indispensabili per l'espozioni dei diritto no
vo».
728 Portanto, em rigor, não pode falar-se de interpolações nas Institutiones, embora e
xistam. Vid. n. anteriór, e infra 518.
Cf. GRADENWITZ, Interpolationen in den Pandekten (Berlim,1887) 2.
729 Sobre este ponto, vid., por todos, Gian Gualberto ARCHI, Giustiniano Legisla
tore em Labeo 12(1966) 163-177 (sobretudo, a indicação muito completa de bibliografi
a sobre a matéria em 1641 e 165), e Mario AMELOTI, Giustiniano Alaestro d'Instituz
ioni em Annali delta Facoltà di Giurisprudenza-Genova 5(1966) 324-343. Vid. também L
abeo 16(1970) 379-382)
730 Const. Imperatoriam 4: «...in hos quattuor libros easdem institutiones partiri
iussimus».
Const. Tanta 11: «...et quattuor libris reponere et totius eruditionis prima funda
menta arque elementa ponere».
481
DIREITO ROMANO
1! PARTE-TlT. X-CAP. 2.°
§37
c) Carácter normativo das «Institutiones»
Além do seu escopo didáctico, as Institutiones tiveram um valor legislativo.
Publicadas pela const. Impera~ m, de 25-11-533, foram promulgadas pela const. Ta
nta, de 16-12-533, para entrarem em vigor, juntamente com o Digesto, em 30 de De
zembro de 533: «...quae in praesenti aevo in usu vertuntur, consentaneum invenitur
, hoc et capere studeant et quattuor libris reponere... Quod opus ab his (Tribon
iano, Theophilo et Dorotheo) perfectum ut nobis oblatum et relectum est, et pron
o suseepimus animo et nostris sensibus non indignum esse iudicavimus et praedict
os libros constitutionum vicem habere iussimus» (const. Tanta 11).
d) Modo da elaboração das «Institutiones»
Quanto ao método seguido pelos compiladores na feitura das Institutiones, a teoria
mais seguida é a de HusCHKE, segundo a qual, Triboniano teria tido a presidência, e
Teófilo e Doroteu, a composição de dois livros cada um, pois - demonstra ele - os doi
s primeiros livros são diferentes dos dois últimos. Ora, ainda segundo HUSCHKE, Doro
teu teria composto os dois primeiros, e Teófilo os dois últimos (excepto o último título
do liv. 4.° que também seria obra de Doroteu).
FERRINI, neste último ponto, segue opinião diferente: Teófilo teria elaborado os dois
primeiros; Doroteu, os dois últimos; Triboniano teria revisto toda a obra 731.
Posteriormente, AMBROSING apresentou uma nova teoria baseada na divisão do trabalh
o segundo a matéria: um dos três coligiu e actualizou os fragmentos a respeito das p
essoas e sucessões; outro, os fragmentos respeitantes a direitos reais e
731 Vid. P. BONFANTE, o. c. (ed. de 1959) 127-129.
482
obrigações; e outro (pois todos teriam trabalho na busca de materiais), os fragmento
s relativos às actiones 732. Qual, dos três se teria ocupado de cada uma destas part
es? AMBROSINO prometeu, no Congresso de Verona 733, onde apresentou a sua teoria
, que o demonstraria num novo estudo; mas... foi surpreendido pela morte.
Mais recentemente, tem havido autores, baseados nos estudos de FERRINI, que pret
endem descobrir «massas» nas Institutiones 734, como BLUHME descobriu no Digesto 735
.
3-CODEX [REPETITAE PRAELECTIONIS] 786 (17-11-534)
a) Elaboração e publicação
0 Codex repetitae praelectionis é uma nova edição 487, devidamente actualizada do Code
x vetus, de 529 758. Na verdade, depois da promulgação do Digesto (16.12-533), era n
ecessário um novo código.
732 Rodolfo AMBROSINO, 11 Metodo di Compilazione delle Istituzioni Giustinianee
em Atti Verona I 135-180.
733 Vid. n. anterior.
734 Vid. A. ZOCCA-RosA, I Risultati d'una Nuova «Palingenesia» delle Istitituzioni d
i Giustiniano em Mélanges Girard II (Paris,1912) 645-657, e P. BONFANTE, o. c. (ed
. de 1959) 129-134.
Também alguns autores investigaram já: 1) - a influência do ensino da Escola de Beirut
e na elaboração das Institutiones; 2) - a relação entre as Institutiones e a Paráfrase de
Teófilo. Sobre estes problemas, vid., por todos, Paul COLLINET, La Genêse du Digeste
, du Code et des Institutes de Justinien (Paris,1952) 279-319.
735 Vid. supra 468-470.
736 Sobre a bibliografia a respeito do Codex repetitae praelectionis, vid. L. WE
NGER, Die Quellen, 638 e n. 1.
737 A própria significação de «repetitae praelectionis» é de «nova edição»; vid. supra 371-IV
Foi com este alcance que Justiniano pretendeu fazer um código novo - «...in antiquis
etenim libris non solum primas edictiones sed et secundas, quas repetitae prael
ectionis veteres nominabant» (const. Cordi 3).
Vid. infra 484 e n. 740.
738 Vid. supra 442-446. Como é sabido, esse Codex vetus ou Codex primus ou Código de
529, não chegou até nós (vid. supra 446 e n. 629).
DIREITO ROMANO
Depois de 529, a actividade legislativa de Justiniano foi intensa: I - em 530, p
elo menos as quinquaginta decisiones, antes da elaboração das Pandectae; II - em 531
e 532, durante a sua compilação, aliae constitutiones ad commodum propositi operas
pertinentes 739, para resolver problemas que tinham surgido com a feitura do Dig
esto; III - de 530 a 533, várias constituições, promulgadas por diversos motivos.
Depois da promulgação do Digesto e das Institutiones, o Codex vetus estava completam
ente desactualizado. Era preciso
um código novo 740:
a) - que incluísse as constituições de Justiniano promulgadas depois de 529;
b) - que eliminasse as contidas no Codex Vetus que tivessem sido revogadas ou al
teradas ;
c) - que estivesse de harmonia com o critério seguido na feitura do Digesto e das
Institutiones - I - quer em razão do espírito inovador e interpolacionista 7" em fac
e do antigo ius, II - quer em razão da disposição (sistematização) da maté
ria 72.
Para realizar esse trabalho, Justiniano nomeou uma comissão composta por Tri
boniano, Doroteu e três advo
739 Esta expressão é do próprio Justiniano, para designar este grupo de constituições. Sob
re certos problemas a respeito dessas constituições, vid. ALBERTARIO, Introduzione 3
4 e n. 36.
740 Trata-se dum código feito ex integro, completamente refundido-«...iussimus in se
cundo eum ex integro conscribi non ex priore compositione, sed ex repetita prael
ectione» (const. Cordi 4).
741 Cf. const. Cordi 1. As interpolações feitas pelos compiladores às constituições incluída
s no Codex repetifae praelectionis deviam ser poucas, visto essas constituições já se
encontrarem mais ou menos actualizadas (interpoladas). Sobre esta matéria, vid., p
or todos, ROTONDI, Note sulca Tecnica dei Compilatori dei Codicé Giustinianeo em S
critti Giuridici I (Milão,1922) 71-86, e SCHULZ, Interpolationen in den justiniani
schen Reformgesetzen des Codex Justinianus vom Jahre 534 em Studi Bonfante I 337
-360.
742 Cf. const. Cordi 3.0 novo sistema de ordenar a matéria pode comprovar-se através
do confronto com o papiro de Oxirinco (vid. supra 446 e ri. 629).
743 Não se conhece a constituição que nomeou a comissão; provàvelmente, nem sequer existiu
; cf. ROTONDI, Ancora sui Rapporti Ira ii Codice Giustinianeo e i suai Modelli (
Milão,1910) 234 e ri. 578.
484
1.` PARTE - TIT. X - CAP. 2.° § 37
gados-hena, Constantino e João 7". (Teófilo já tinha falecido).
Em menos de um ano, o trabalho estava concluído. Em 17 de Novembro de 534; pela co
nstituição Cordi, o Codex [repetitae praelectionis] era publicado; em 29 de Dezembro
do mesmo ano, entrava em vigor, com carácter exclusivo, quanto a leges (const. Co
rdi 5).
b) Fontes utilizadas. Sistematização
Além do Codex Vetus e das constituições de Justiniano promulgadas desde 530 a 534, são f
ontes do Codex repetitae praelectionis os Códigos Gregoriano, Hermogeniano e o Teo
dosiano, assim como outras possíveis compilações (de leges) pré-justinianeias 745 A cons
tituição mais antiga é de Adriano (C. 6,23,1), talvez do ano 130; a mais recente é de 4
de Novembro de 534 e pertence a Justiniano (C. 1,4,34).
0 Codex está dividido em 12 livros (por semelhança com as XII Tábuas), e os livros, em
títulos, tendo cada um a sua rubrica; sob cada título, as constituições encontram-se di
spostas por ordem cronológica. A divisão das constituições mais longas em principium e p
arágrafos data, como no Digesto, da Idade-Média; a numeração é moderna.
As constituições (vid. supra 271) constam de inscriptio, corpus e subscriptio; mas há
várias constituições em que falta a subscriptio; nessas, existe a indicação «sine die et con
sule», v.g. C. 6,23,1; - 7,26,6.
744 Cf. const. Cordi 2.
745 Sobre esta matéria é, ainda hoje, trabalho fundamental o estudo de RoToNDi, Stud
i sulle Fonti dei Codice Giustinianeo em Scritti Giuridici I (Milão,1922) 110-283.
Sobre a possível influência do ensino da Escola de Beirute na feitura do Codex de 53
4, vid. COLLINET, La Genèse du Digeste, du Code et des Institutes de Justinien (Pa
ris,1952) 257-277.
485
DIREITO ROMANO
1. PARTE-TIT. X-CAP. 2
§ 37
0 livro I trata das fontes de direito, dos o f f iria de vários magistrados e das
relações entre a Igreja e o Estado;
os livs. II-VIII, do direito privado, exposto segundo a ordem edictal;
o liv. IX, do direito penal;
os lies. X-XII, do direito administrativo e financeiro.
Já Conhecemos o modo actual de citar o Codex (vid. supra 37). Anteriormente, à semel
hança do que se fazia com o Digesto (vid. supra 460 e 461), a citação era do modo segu
inte: C. (ou Cod. ou CJ), seguindo-se, por ordem descendente, o livro, o título, a
constituição (ou lei) e o parágrafo, sendo o título, a constituição e o parágrafo designados
pelas respectivas primeiras palavras. A forma de Indicar os parágrafos por números p
rincipiou no século passado.
Na citação moderna, por vezes, indica-se a data, e, algumas vezes, também o nome do im
perador, autor da constituição. V.g.: C. 5,27,12[531] e C. 5,27,12[531](IUSTLNIANUS)
.
Nas citações antigas, usam-se várias siglas, tanto na inscriptio como na subscriptio 7
40,
4 - NOVELLAE 747 (CONSTITUTIONES) - 535 a 565 (e a 575)
a) Actividade legislativa de Justiniano, depois do «Codex»
Terminada a obra codificadora em 534, a actividade legislativa de Justiniano, co
nforme ele previra 748, não cessou, pois o Direito, como a vida, está sempre em evol
ução.
De 535 a 565 (ano em que faleceu Justiniano) - mas sobretudo desde 535 a 546(?)
748, data da morte de Triboniano, o grande auxiliar do Imperador em matéria jurídica
-, foram promulgadas muitas constituições. Por uma determinação expressa de Justiniano 7
5D, designaram-se e são hoje conhecidas pelo nome de Novellae 751 (Novelas, Novell
ae [leges], Novelae [constitutiones]). Estão redigidas: a maior parte, em grego; a
lgumas, em latim; várias, em grego e latim.
746 Principais siglas, usadas pelas citações antigas, na inscriptio criptio das cons
tituições do Codex de 534.
a) -NA «INSCRIPTIO»:
e na subs
Imp.
Imperator; se forem dois, três ou quatro, então a sigla será -1mpp., Imppp. ou Impppp.
(vid. C.1,4,3). Augustus; se forem dois, três ou quatro, então AA., AAA. ou AAAA.
Caesar. Se forem dois, CC. Praefectus Praetorio.
cons. ou cons. = consuli ou consulibus, que, algumas vezes, são os
próprios imperadores. = Augustus, Augusti. = Caesar, Caesares. = Vir clarissimus.
= Vir; clarissimi.
A., AA.
C., CC. V.C., vc.,
VV. CC., vv. cc.
741 Sobre a bibliografia a respeito das Novellae, 652 e n. 1, e RoBLEDA, o. c. 2
67775.
748 Const. Cordi 4: «...si postea nostra sanctione indigeat».
749 Sobre este problema, vid. ROBLEDA, o. c. 268777.
750 Const. Cordi 4: «...hoc a nobis constituatur (et)... novelarum nomine constitu
tionum significetur».
751 Sobre o uso desta palavra, aplicada, já antes de Justiniano, a novas leis e co
nstituições, cf. WENGER, Die Quellen 652.
Embora as constituições posteriores ao Código Teodosiano se denominem «Novellae post-The
odoseanae» (vid. supra 419-421), sempre que se fala de Novellae (Novelas) sem qual
quer outra indicação, trata-se das constituições de Justiniano promulgadas depois do Cod
ex repetitae praelectionis, e, por uma certa extensão, também das constituições de Justi
no II e de Tibério II (a última é do ano 575) inseridas na «Colectânea grega» (vid. infra 49
2).
v.c.
A.
C.
PP ou pp (depois do nome
nome do destinatário)
P. U. ou pu (igualmente
depois do nome do destinatário)
P.U.R.
Cf. WENGER, Die Quellen
varia rerum natura aliquid novum creaverit...
Praefectus Urbi.
b) - NA «SuBscRIPTlo»:
= Praefectus Urbi Romae.
D.
S..PP.
PP ou pp
486
= data ou dicta. Por vezes, também se usa: S =
signator ou subscripta. = Subscripta proposita.
= Proposita ou publicata.
487
DIREITO ROMANO
1, PARTE - TIT. X - CAP. 2.°
§ 37
b) Partes de uma No--ela; matéria das «Novellae»
As novelas constam: a) - geralmente, dum preâmbulo, denominado praefatio; b) - da
parte dispositiva, dividida, quando extensa, em capítulos, e alguns destes, mais t
arde, foram subdivididos em parágrafos; c) - quase sempre, dum epilogus.
A maior parte das Novellae tratam de direito público, de direito eclesiástico ou são l
eis sociais. As que tratam de direito privado, na sua quase totalidade, têm carácter
interpretativo, e isto devido, principalmente, à proibição de Justiniano de cometar o
Digesto 712; algumas são inovadoras. Por exemplo, a Novela 22 regula em novos mol
des (devido à influência do Direito Canónico) a matéria do direito matrimonial; as Novel
as 118 e 127 refundem o sistema da sucessão ab intestato 753.
c) Colectâneas privadas de «Novellae»

Justiniano, prevendo a publicação de novas constituições após o Código de 534 - « ... si post
a varia rerum natura aliquid novum creaverit, quod nostra sanctione indigeat» (con
st. Cordi 4) -, tinha já resolvido não modificar esse Codex, mas fazer uma nova cole
ctânea oficial das Novelas por ele publicadas -«hoc enim nemini dubium, est, quod, s
i quid in posterum melius inveniatur et ad eonstitutionem necessario sit redigen
752 A este propósito, é curiosa a observação de BONFANTE, Storia del Diritto Romano 114
(ed. 1959) 64: «Per non moltiplicare i commenti, egli (Justiniano) ha moltiplicato
le leggi».
Vid. supra 461-468.
753 «Foram os princípios destas duas Novelas que informaram os sistemas jurídicos lati
nos, no que respeita à sucessão legítima. Fazem a isso excepção os direitos espanhol e por
tuguês, que recolhem nesta matéria, os princípios do Código Visigótico» - BRAGA DA CRUZ-ALME
IDA COSTA, Lições de Direito Romano, policopiadas (Coimbra, 1958) 3372.
dum, hoc a nobis et constituatur et in aliam congregationem referatur, quae nove
llarum nomine constitutionum significetur» (const. Cordi 4).
Justiniano não conseguiu realizar este seu intento f54 (faltara-lhe Triboniano em
546...); nem qualquer dos seus sucessores levou a cabo essa tarefa-elaborar uma
colectânea oficial das Novelas.
As colectâneas de Novellae que chegaram até nós são todas privadas. Há várias. As mais impor
tantes 755 e chegadas ao nosso conhecimento quase intactas são três: Epitome Iuliani
, Authenticum e a denominada «Colectânea Grega».
I-Epitome Iuliani756
P, a mais antiga das três. Foi organizada em 555 ou 556 757, por um tal Juliano, p
rovàvelmente professor de direito em Constantinopla e natural da mesma cidadeContém
uma versão latina (sintetizada) de 122 Novelas 75°, sendo a mais antiga do ano 535 e
a mais recente de 555.
Em virtude de estarem as Novelas em forma sintética, omitem-se a inscriptio (onde
estão indicados os nomes do
754 0 primeiro a sustentar que Justiniano não conseguiu fazer colectânea oficial das
Novellae foi BIENER, Geschichte der Novellen Justinians (Berlim,1824) 38-45. Fo
i seguido por quase todos os AA. Vid. infra 491. Vid. também AG 171 (1966) 196-222
.
755 Acerca doutras colectâneas de menor importância, vid. L. WENGER, Die Quellen 672
e 673.
756 Sobre a bibliografia a respeito desta colectânea, cf. WENGER, Die Quellen 6691
82.
757 Não antes de 555, pois contém Novelas desse ano; antes da morte de Justiniano, p
ois diz-se, bastantes vezes, «imperator noster», aliás diria «divus imperaton> (vid. sup
ra 235277). Cf. NOAILLES, Les Collections de Nouvelles de l'Empereur Justinien.
Origine et Formation sous Justinien (Paris, 1912) 153, e KRÜGER, Histoire des Sour
ces du Droit Romain. Trad. franc. de BRISSAUD (Paris,1894) 475.
758 Certos manuscritos desta colectânea principiam assim: «Incipiunt constitutiones
novellarum Justiniani perpetrei Augusti de Graeco in Latinum translatae per Juli
anum virum eloquentissimum antecessorem civitatis Constantinopolitanae»-KRÜ
GER, O.C. 4751.
759 Embora estejam numeradas 124, são apenas 122, pois a 120a repete a 25, e a 97a
, a 68.
488
489
DIREITO ROMANO
1' PARTE-TIT. x-CAP. 2.6
§ 37
imperador e do destinatário), o proaemium (onde se descreve a motivação da Novela) e o
epilogus (onde se determina a forma de aplicação). Porém, nunca é omitida a subscriptio
760.
0 facto de estarem em latim todas as novelas (em síntese), mesmo as gregas, mostra
que tal colectânea devia destinar-se ao Ocidente, e muito provàvelmente para uso da
Itália, onde as Novelas foram mandadas aplicar em 554, por força da pragmatica sanc
tio pro petitione Vigilii desse ano 761.
II -Authenticum762
Esta colectânea de Novelas -quase sempre, designada por Authenticum, mas algumas v
ezes também denominada Liber Authenticorum ou Authentica («collectio») ou ainda «Versio
Vulgata» («Novellarum»), em contraposição a outras versões latinas (de Novelas) mais recente
s 783 - compreende 134 Novellae de Justiniano, dos anos 535 a 556.
Ao contrário do Epitome luliani, as Novelas encontram-se aí transcritas, integralmen
te e não em síntese; na sua versão latina, como no Epitome; portanto, as Novellae lati
nas estão no texto original, as gregas, numa tradução, nem sempre fiel,
de tipo literal, do género xará 7r68aç.
As primeiras 127 Novelas encontram-se dispostas por ordem cronológica; as restante
s não seguem essa ordem. Parece que foram acrescentadas, à maneira de apêndice.
Conforme observa ROBLEDA 784, a respeito desta colectânea há vários problemas ainda não
definitivamente resolvidos.
760 A omissão da subscriptio nas Novelas do Epitome Iuliani é frequente, mas é devida
aos editores-livreiros. KROLL lamenta o facto (vid. Praefatio, da sua ed. das No
vellae, pág. IX).
761 Vid. G. GROSSO, Lezioni di Storia dei Diritto Romanos (Turim,1965) 501. 762
Sobre bibliografia a respeito do Authenticum, cf. WENGER, Die Quellen 696190. KR
OGER, o.c. 4764.
ROBLEDA, o.c. 271 e 272.
I - Quanto ao nome: «Authenticum> ou «Authentica>-a) E opinião comum de que esta desig
nação é devida a um certo equivoco de Irnério, fundador da Escola de Bolonha (vid. supra
96 e 97). Ele, a principio, considerou-a uma colectânea falsa; depois, ao cotejá-la
com o Epitome Iuliani (a única coilectio até então conhecida) e verificando que as No
velas nessa colectânea se encontravam mais fielmente do que no Epitome, mudou de o
pinião. Admitiu-a como verdadeira e perfeitamente «authentica>, isto é, não só as 134 Nove
las pertenciam a Justiniano e encontravam-se nos mesmos termos em que as teria p
romulgado, mas também a própria colectânea como tal teria sido mandada fazer por ordem
e autoridade do mesmo Imperador, destinando-a à Itália 765,
b) Alguns AA., poucos 786 chamam-lhe Authentica ou Authenticum, pois ainda acred
itam que se trata duma colectânea oficial, e identificam-na com a collectio que fo
i imposta à Itália pela pragmatica sanctio pro petitione Vigilii.
II-Data do «Authenticum>-Conforme se encontra na sua versão latina 707, também há divergên
cia entre os AA. Uns consideram-na do séc. XI; outros, pelo menos posterior a S. G
regório; alguns, do séc. VI, ou até mesmo do tempo de Justiniano 768.
III - Lugar onde foi composto o «Authenticum>-Também neste ponto, não se verifica unif
ormidade de opiniões. No Oriente, defende NoAILLES. No Ocidente: em Ravena, propug
na BIENER; na Iliria, opina CONRAT; em Milão, entende LEICirr 769,
Importância do «Authenticum» no Ocidente - A partir do séc. XI, o uso do Authenticum nas
escolas e nos tribunais do Ocidente é tão frequente, a) -que faz desaparecer o uso
do Epitome luliani e R) - transforma-se pràticamente na única fonte de direito, no q
ue diz respeito a. Novelas. Nos sécs. IX a XI, sempre que se fala de Novellae, sem
mais nada, entendem-se as Novelas Justinianeias conforme se encontram no
765 Id. ib. nn. 785 e 786.
766 Id. ib. nn. 787 e 788.
767 Há autores a defender a existência de uma colectânea anterior, na língua
original das Novelas. Cf. ROBLEDA, ib. n. 789. 768 Vid, ib. id. nn. 790-792. 769
Vid. ib. id. nn. 793.796.
763 764
490
491
DIREITO ROMANO
1. PARTE - TIT. X - CAP. 2.^
§37
Epitome luliani; a partir do séc. XI, identificam-se com as do Authenticum.
Note-se, porém, que das 134 Novelas de que consta o Authenticum, apenas 96 são consi
deradas úteis para a prática jurídica, e por conseguinte denominadas «vulgatae>, quer na
s escolas quer nos tribunais. Portanto, só estas foram objecto de glosas e as únicas
a figurar nas primeiras edições de Novelas. As restantes 38 não eram desconhecidas, m
as não faziam parte das «edições de Novelas; publicavam-se à parte, em codices especiais (
e há muito poucos), e por vezes denominavam-se «constitutiones extravagantes>; nas e
dições não glosadas, publicadas no séc. XVI, são também incluídas. Dentre as edições não-crít
rimeira a conter as 134 Novelas (portanto, glosadas e não glosadas) é a edição de Antoni
o CONTI (Lião, 1571).
III-Colectânea Grega77o (580?)
Esta é a mais importante de todas as colectâneas de Nove
las.
Contém todas as Novelas, latinas e gregas, na língua original (147 em grego, 20 em l
atim e 1 em grego e latim), num total de 168: 158 711 pertencem a Justiniano; 4
(Novs. 140, 144, 148 e 149), ao Imperador Justino II; 3 (Novs. 161, 163 e 164),
ao Imperador Tibério II; as 3 últimas-166, 167 e 168 - (em rigor são decreta), ao prae
fectus praetorio.
As primeiras,120 encontram-se dispostas por ordem cronológica; as restantes, sem q
ualquer ordem, e constituem quase um apêndice.
A colectânea foi elaborada por um autor desconhecido, no reinado de Tibério II (575-
582), talvez em 580.
Foi composta no Oriente, provàvelmente em Constantinopla, e para uso daquelas regiõe
s. Exerceu uma grande influên
770 Sobre bibliografia a respeito desta colectânea, cf. WENGER, Die Quellen
671219.
771 Rigorosamente, são 154, pois 4 estão repetidas. Cf. WENGER, O.C. 671 e n. 222.
492
cia em todo o Direito Romano Bizantino, sobretudo na Grécia, e até 1940' (vid. supra
89 e n. 123).
No Ocidente, o seu uso (escolástico) é de época moderna.
0 moderno estudo filológico-jurídico sobre Novelas, hoje, é feito a partir da Colectânea
Grega; o estudo dogmático-jurídico, tendo em consideração as glosas, é elaborado com base
no Authenticum.
IV -Modo de citar as Novelas a) -Uso moderno
As novelas citam-se pelo seu número; as mais extensas têm a parte dispositiva (ou co
rpus) dividida em capítulos, e alguns capítulos estão ainda subdivididos em principium
e parágrafos. Por exemplo, Nov. 39, 2,1 significa Novela n.° 39, capítulo 2.°, parágrafo
1.° (em rigor, é o segundo, visto o primeiro denominar-se principium). Como dissemos
(vid. supra 488), algumas Novelas têm praefatio, e outras, praefatio e epilogas.
Nesse caso, quando se pretende citá-las, em vez de capítulo, põe-se respectivamente pr
f. (e não apenas pr., para não se confundir com principium) e ep. (epilogas). Nesse
caso,
indica-se do modo seguinte: Nov. 39 prf=Novela n. 39, praefatio; Nov. 39 ep=Nove
la 39, epilogas.
Ás vezes acrescenta-se o ano; outras vezes, o ano e o nome do imperador a quem per
tence a Novela. V.g.: Nov. 39,2,1 [536]; Nov. 39,2,1 [536](Iustinianus).
p)-Formas antigas de citar as Novelas
Nos documentos dos sécs. XIII-XVIII, encontram-se várias formas de citar as Novelas.
1 - A FORMA MAIS USUAL: v.g., Auth., quibus modis natu
rales efliciuntur sui, de successione cura.lium, § si vero=Authen
493
DIREITO ROMANO
11 PARTE -TIT. X.-CAP. 2.°
§ 37
494
ticum (a colectânea de Novelas usada na prática, e portanto a única publicada nas edições
antigas, vid. infra), o título que principia exactamente pelas palavras «quibus modi
s naturalea efficiuntur sui» (e para descobrir o número do titulo e da Novela é necessár
io recorrer ao índice dos títulos das Novelas, que se encontra nas edições antigas) é o títu
lo 1.° da Nov. 89; as outras palavras a seguir-«de successione curalium»-indicam o cap
itulo (no caso presente, é o capit. 3.°); finalmente o § si vero é o parágrafo 1.°; portanto
-Nov. 89, titulo L O, cap. 3.° § 1.*.
As vezes, só vêm indicados o título (no exemplo citado, «quibus modis naturales efficiun
tur sui») e o parágrafo (no caso presente, § si vero). Então, pelas primeiras palavras d
o título, recorrendo ao referido índice, identifica-se o número da Novela e o título (no
exemplo apresentado, Nov. 89, tít. l.,); para encontrar o parágrafo citado, é necessári
o percorrer toda a Novela.
2 - FORMA BASTANTE FREQUENTE: v. g. Auth., quibus modis
naturales efficiuntur sui § si vero C.3 coll. 7 Nov. 89=Authenticum, tit. quibus m
odis naturales efficiuntur sui, cap. 3.° da «Collatio» 7, Novela 89. [Como veremos inf
ra 506, o Authenticum foi dividido na Idade Média em 9 collationes, e as collation
es em determinado número de títulos, tantos quantas as constituições que compreendiam. S
obre a 10 ° Collatio (e até a 11.° Collatio), vid. infra n. 805.]. Portanto, a citação cor
respondente a Authenticum, collatio 7.1, tít. 1°, Nov. 89.
3 - TERCEIRA FORMA DE CITAR, e utilizando ainda o mesmo
exemplo: Auth. coil. 7, tít. 1 (e às vezes ) § si vero (ou ainda Auth., coll. 7, quibu
s modis naturales efficiuntur sui § si vero)
=Nov. 89, tit. 1.°, cap. 3.°, § 1°.
4- QUARTA FORMA DE CITAR, V.g. Auth Hoc ius. C. De Sacrossanctis Ecclesiis=Authe
ntica, que principia pelas palavras «Hoc ius»,introduzida no Código de Just¡niano, no títu
lo (desse código) que começa pelas palavras «De Sacrossanctis Ecclesüs>.
Trata-se de exertos de Novelas inseridos no Codex pelos glosadores (a princípio, à m
argem, depois intercalados no texto, a seguir à norma a que dizem respeito), para
integrar ou corrigir - actualizar - as disposições do Código Justinianeu, pois as Nove
las, como leis posteriores, corrigiam o Codex. Como esses excertos provinham da
colectânea Authenticum, denominavam-se authenticae. A citação apresentada significa C.
liv. 1°, tit. 2° (a que corresponde «De Sacrossanctis Ecclesiis»), depois da constituição o
u lei 14, a authentica «Hoc ius>, que, por sua vez, cor
responde ao Authenticum, De non alienandis aut permutandis, § nos igitur, coil. 2,
tit. 1=Nov. 7, cap. 1.°, e ao Authenticum De alienatione et emphyteusi § et hoc quid
em super ipsis e § hoc vero iubemus=Nov. 120, caps. 6.° e 7.°.
Note-se que tal authentica não se encontra na nova edição das Novelas, de SCHõLL-KROLL,
mas nas edições anteriores, v.g. na edição de Turim, de 1757, na de Colónia, de 1781, etc.
495
18
1.' PARTE -TIT. X-CAP. 3.o
§ 38
Capítulo 3.e - C) - MANUSCRITOS DAS DIVERSAS PARTES DO «CORPUS IURIS CIVILIS»
SUMÁRIO-38. Manuscritos:
1 - das Institutions
2 -dos Digesta ou Pandectae 3 -do Codex
4 - das Novelise
38. As diversas partes do Corpus Iuris Civilis tiveram todas, dada a sua importânc
ia, uma larguíssima difusão manuscrita. Infelizmente, nem de todas possuímos hoje manu
scritos completos e seguros. Como é sabido, do Codex vetus (pràticamente) nada resta
(vid. supra 446) ; das outras partes, existe o que vai indicado a seguir.

1 - Manuscritos das «Institutiones» - Há numerosos manuscritos das Institutiones, mas


nenhum (completo) é anterior ao séc. IX; anteriores a este século, existem apenas frag
mentos, e
muito breves 772. Um dos manuscritos mais importantes conserva-se na Biblioteca
Nacional de Turim.
772 Sobre esta matéria, vid., além de L. WENGER, Die Quellen 609, os estudos de Guis
cardo MOSCHETH, 1 Frammenti Veronesi dei Secolo IX delle Istituzioni di Giustini
ano em Atti Verona I 437-509, Federico PATETA, Nota sopra alcuni Manoscriti dell
e Istituzioni di Giustiniano em BIDR 4(1891) 17-96, e SCHELTEMA, L'Enseignement
de Droit des Antécesseurs (Leiden, (1970) passim.
2-Manuscritos dos «Digesta» ou «Pandectae» (Digesto)-0 manuscrito mais antigo e mais imp
ortante do Digesto, quase com
pleto, data dos fins do séc. VI, ou, quando muito, dos princípios do séc. VII; por con
seguinte, pouco posterior à compilação justinianela. Relativamente a este precioso man
uscrito, não se conhece a sua «história> ou destino até fins do séc. XI 773. Nesta data, d
escobriu-se em Pisa, onde esteve até 1406, ano em que foi trazido, como troféu da de
rrota daquela cidade, para a Biblioteca Laurenciana de Florença, onde se encontra.
Em virtude deste facto, é conhecido por littera pisam, mas sobretudo por iittera
fiorentina ou simplesmente florentina7t4.-(Cf. Pietro PESCANi, La Littera Flo
rentina e Ia Futura Edizione dei Digesto em Annali Fac. Giur. Came
rino 32[1967] 301.336).
Todos os outros manuscritos do Digesto, cerca de 500, são muito posteriores, sécs. X
I e seguintes. Têm o nome genérico de (ltttera) vulgata 775, ou littera Bononiensis,
por causa do seu uso na Escola de Bolonha e noutras da Idade Média; derivam todos
de um único manuscrito, do séc. X, o qual, por sua vez, segundo parece 776, procede
directamente da fiorentina.
773 Como é sabido, desde o séc. VI ao séc. XI, sobretudo no Ocidente, o uso do Digesto
nas escolas e nos tribunais era pràticamente nulo; quando muito, seria conhecido
e só rudimentarmente em algumas escolas monásticas e... pouco mais (vid. supra 93, 9
6, 97 e n. 135). Ora, é provável que os manuscritos do séc. VI (e do séc. VII, se é que ho
uve) tenham estado esquecidos e como que sepultados nas bibliotecas dos mosteiro
s (e noutras?). No séc. XI, foi descoberto este; os outros (?) desapareceram. Sobr
e este problema, vid. F. BuoNAMICT, Sulla Scoria dei Manoscrito Pisano-Fiorentin
o delle Pandette em AG 46(1891) 60-79; MoMMSeN, Uber die kritische Grundlage uns
eres Digestentextes em Juristiche Schriften II (Berlim,1905) 107 ss., e em Praef
atio à sua edição crítica dos Digesta lustiniani Augusti, 2.8 edição (anastática) (Berlim,196
), págs. XII-XXXX (uma pequena monografia de muito valor); ZDEKAUER, Sull'Origine
dei Manuscritto Pisano delle Pandette di Giustiniano e ta sua Fortuna nel Media
Evo (Siena, 1890); ScanLz, Einführung in das Studium der Digesten (Tubinga, 1916)
2-5.
714 Sobre as «andanças» da forentina costuma citar-se principalmente Henricus BRENCMAN
NUS, Historia Pandectarum seu Fatum Exemplaris Florentini (Utrecht, 1722). - [Es
ta citação, assim como as da n. seguinte, são tomadas de A. GUARtNO, Guida alio Studio
delle Fonti Giuridiche Romane Iz (Nápoles,s.d.) 17273e74. MOMMSEN, o. c., pág. XVII
I, também se refere ao valor da obra de BRENCMANNUS].
775 Sobre a vulgata do Digesto (há também «vulgatas» a respeito doutras fontes, v. g. da
Sagrada Escritura), são trabalhos, ainda hoje, dignos de consulta: o de H. U. KAN
TOROWICZ, Die Entstehung der Digestenvulgata em SZ 30(1909) 183-271 e 31(1910) 1
418, e o de P. KRETSCHMAR, Mittelalterliche Zahlensymbolik und die Entstehung de
r Digesten-Vuigata (Leipzig,1930) e SZ 58(1938) 202.237. Veja-se também Carlo Gumo
MOR, 11 Digesto nell'Età Preirneriana e Ia Formazione delia «Vulgata» ept Per il XIV
Centenário della Cddilcazione Giustinianea (Pavia,1934) 559-697.
776 MoMMSeN, em Praefatio à sua já citada edição crítica do Digesto, págs. LXVI-LXX, dá o ass
nto como seguro, e faz uma demonstração convincente; no mesmo sentido, vid. SCHULZ,
Einführung, cit. 7-11.
496
497
DIREITO ROMANO
1.' PARTE -TIT. X-CAP. 3.0
§38
3-Manuscritos do «Codex [Repelitae Praelectionisl»-A tradição manuscrita a respeito do C
odex é muito deficiente; em grande parte, devido ao «mau uso> de separar os livros X
-XII 777 («tres libri>), e à «liberdade> de-eliminar as constituições mais antigas que tiv
essem pouco valor prático, unir constituições semelhantes numa só, dividir uma que trata
sse de diversos assuntos em várias constituições, suprimir multas «subscriptiones> e vária
s «inscriptiones>.
Os manuscritos quase completos (isto é, contendo também os últimos três livros) não são ante
riores ao séc. XII 778. As deficiências desses manuscritos verificam-se principalmen
te a respeito das constituições gregas. 0 trabalha de integração foi realizado no séc. XVI
pela escola do <mos gallicus> 779, concretamente por António AGOSTTNHO788 e.por C
uJÁCIG, mediante recurso aos Basílicos 781.
Manuscritos do Codex, apenas com os primeiros nove livros 777, o «Epitome Codicis>
782, há alguns já do séc. IX.
Anteriores ao séc. IX, há só manuscritos de pequeno fragmentos. Alguns do séc. VIII; o m
ais antigo é do séc. VI (o palímpsesto veronês), eoevo de littera florentina do Digesto,
e contém uma parte muito pequena do Codex (o resto perdeu-se), modernamente desig
nada «Codex rescriptus veronês>.
Além do veronês, os manuscritos do Codex mais importantes encontram-se hoje em Pisto
la, Monte Cassino e Paris.
777 Vid. infra 502.
778 Cf. WENGER, Die Quellen 649.
779 Como é sabido, antes do «Humanismo» e, concretamente para as coisas do Direito, an
tes da «Escola Culta», os estudos filológico-históricos, pouco se cultivavam. Cf. WENGER
, Die Quellen 651, e vid. supra 99.
780 Vid. supra 99. - Sobre o valor e a competência do sábio Arcebispo de
Tarragona, Antônio AGOSTINHO (1517.1586), MOMMSEN, em Praefatio à sua edição crítica dos D
igesta Justiniani, cit. pág. XVI, afirma: «ut in aliis ita in his quoque studiis
eruditione subtilitate fide aequales longe superavit». Estudioso e sabedor em Dire
ito Canónico e em Direito Romano, em Numismática e em Epigrafia, é uma das figuras mai
s insignes da época renascentista.
781 Sobre o valor dos Basílicos para integrar as lacunas e corrigir certos
erros de alguns manuscritos do Direito Justinianeu, vid., por todos, WENGER, Die
Quellen 723-725.
782 Cf. WENGER, Die Quellen 649.
498
4-Manuscritos das «Novellae»-Há numerosos manuscritos de cada uma das cdlectâneas das No
velas: do Epitome Juliani,
vários do séc. VII; do Authenticum, bastantes do séc. XI'; da Colectânea Grega, o mais i
mportante (e o mais célebre de todos os manuscritos das Novellae) é do séc. XII - cons
erva-se na
Biblioteca de S. Marcos (Veneza) -, logo seguido de outro, do
séc. XIV, também notável 783.
783 Sobre estes dois manuscritos, o primeiro denominado Marcianus e o segundo La
urentianus, vid., por todos, NOIALLES, Les Collections de Novelles de 1'Empereur
Justinien. La Collection Grecque des 168 Novelles (Paris,1914), prefácio, onde ap
resenta uma verdadeira monografia dos manuscritos da Colectânea Grega.
499
1.* PARTE-TIT. R - CAP. 4.°
§ 39
Capítulo 4.° - D) - EDIÇÕES DO C. I. C. REPARTIÇÃO MEDIEVAL DO «CORPUS IURIS CIVILIS» E DALGU
COLECTANEAS
a) Edições do «Corpus luris Civilis»: a)-até ao séc. XVI, parcelares e glosadas; a partir do
séc. XVI, não-glosadas, e quase todas de conjunto
39. a) - Até ao séc. XVI, não há uma edição de conjunto da compilação justinianeia; não há «C
is Civilis» -esta designação só ficou devidamente consagrada 784 em 1583 (vid. supra 35
e, 36 53) -; há edições das Institutiones, edições dos Digesta ou Pandectae, edições do Codex
e edições das Novellae.
784 Há quem afirme que a expressão já era usada desde o séc. XII (vid. P. BONFANTE, Stor
ia II, cit. 191). Se Dionisio GoDoFREDo não é o seu autor, pelo menos consagrou-a.
500
Mais: essas edições antigas parcelares, até ao séc. XVI, eram todas glosadas; a partir d
o séc. XVI são quase todas 785 não-glosadas 786. - [As edições recentes são todas não-glosada
.] - A glosa utilizada nessas tais edições antigas era a de Acúrsio 787, enriquecida d
e vários elementos através dos séculos. As glosas dos vários autores, reunidas em separa
do (ou unidas ao texto, a comentar a disposição do C.I.C. a que dizem respeito, form
ando uma «espécie de interpretatio) », constituíam o vulgarmente denominado apparatus («gl
ossarum»).
I - Edições antigas das «Institutiones> - A primeira, in folio, elaborada por Pedro SC
HOYFF (SHCOFFER), publicada em Magúncia, é de 1468. Depois, vieram a de Gregório ALOAN
DRO em 1529, a de LECOMTE em 1560, e em 1585 a célebre edição de CUTÁCio, preparada já com
o cotejo de vários manuscritos, a qual, durante muito tempo serviu de modelo às edições
posteriores.
_ [As edições modernas, mais importantes, das Institutiones em separado são a de BIENE
R em 1812; em 1832, a de SCHRADER, com notas, abundantes e elucidativas, e tendo
já em consideração o pallmpsesto veronês das Institutiones de Gaio descoberto em 1816 (
vid. supra 395); a de HUSCHKE em 1868, notável pelo seu prefácio] = 788,
II-Edições antigas do Digesto-Como examinaremos já a seguir, na al. b), os glosadores
repartiram o Digesto em Vetus, Infortiatum e Novum. Ora bem; as primeiras edições an
tigas do Digesto não são da obra em conjunto, mas, separadamente, dessas tais várias p
artes. E assim, foram publicados pela primeira vez o Digestum Vetus, em 1476, em
Perusa, o Infortiatum e o Novum, em Roma, respectivamente em 1475 e 1477. Segui
ram-se outras edições dessas várias partes do Digesto, nos fins do séc. XV e princípios do
séc. XVI 789.
A última edição glosada deve-se a João FEMO (Lion,1627), em 6 vols. A primeira edição não-glo
ada é de Claude CHEVALLON (Paris,] 525-1527). Vid. supra 87.
Vid., por todos, WENGER, Die Quellen 609 e 610.
A respeito dessas edições, vid., por todos, WENGER, 0.e. 596
501
SUMÁRIO -39. a)
Edições do Corpus (uris Civilis: antes do séc. XVI, só parcelares e glosadas; depois do
séc. XVI, quase todas de conjunto e não-glosadas
b) Repartição medieval do Corpus (uris
mas colectâneas c) Traduções
Civilis e dalgu
785 786 787 788 789
DIREITO ROMANO
1! PARTE-TIT. X - CAP. 4.
§ 39
[Em 1529-1531, é publicada por ALOANDRO a primeira edição de conjunto da compilação justin
ianeia, de que falaremos já a seguir (pág. 503, al. ,p) - ). Nesta publicação, o texto d
o Digesto já aparece em forma duma edição crítica. ALOANDRO utilizou já a littera florenti
na (vid. supra 497), cotejando-a com vários manuscritos; e, para os 25 primeiros l
ivros das Pandectae ainda teve mais à sua disposição um manuscrito muito antigo, depoi
s desaparecido. Além disso, serviu-se de certos trabalhos inéditos de L. BOLOGNINI a
respeito da 1. florentina, e teve a colaboração de A. POLIZIANO 790. -Em pleno séc. X
VI, já depois da edição de conjunto de AIOANDRO, ainda aparece uma ou outra edição parcela
r, contendo só o Digesto. A mais importante, publicada em 1553, com uma apuradíssima
reprodução crítica da littera florentina, pertence a Lélio TORELLI e Francisco ToRELLI7
B1, pai e filho, tendo a sábia orientação de António AGOSTINHO 792, que, sob certo aspec
to, já tinha preparado essa edição com os seus notáveis escritos, de 1543].
III-Edições antigas do «Codex>-Os primeiros nove livros foram publicados, pela primeir
a vez, em 1475, em Magúncia; os três últimos 793, juntamente com o Authenticum, em Rom
a, em 1476. A primeira edição de valor crítico é a de Aloandro (1530). Com a ajuda dum m
anuscrito muito antigo (o Codex Egnatianus) e que depois se perdeu, ALOANDRO con
seguiu reconstituir grande parte das subscriptiones e várias inscriptiones794.
Seguiram-se outras edições no séc. XVI. A mais importante é a de LECOMTE (1576) 795, pub
licando também as constituições gregas, já então reconstituídas por António AGOSTINHO e CUdAC
o, que, para esse efeito, se serviram não apenas dos deficientes manuscritos (vid s
upra 498-3) mas também dos Basílicos e de certas colecções canónicas 796.
790 Cf. id. ib.
791 A respeito desta edição, MOMMSEN, em Praefatio (págs. XVII) da sua já citada edição críti
a do Digesto, afirma: - «perpetuum horum studiorum fundamentum posuit commendandum
non tam propter eruditionis et ingenii laudem quam propter merita non minora et
longe rariora fidei diligentiae simplicitatis».
792 Vid. supra n. 780
Vid. supra 498.
Vid. supra 498-3.
Sobre estas edições, vid., pro todos, WENGER, Die Quellen 650 e 651. Em virtude de s
erem deficientes os manuscritos do Codex, os AA., para reconstruir sobretudo as
inscriptions e as subscriptions de muitas constituições, servem-se não só dos Basílicos e
de certas colectâneas canónicas, mas também do Codex Theodosianus e das Novellae post-
Theodosianae.
502
IV - Edições antigas das «Novellae>-O Authenticum com os «tres libri> (vid. supra 498-3)
, foi publicado em 1476; o Epitome luliani, com as Leis dos Longobardos, em 1512
; a «Colectânea Grega> das 168 Novelas, em 1531, por ALOANDRO, tomando por base um a
pógrafo do manuscrito florentino, já então devidamente estudado por BOLOGNINI.
Notáveis ainda as edições: a) - de SCRIMGER, em 1558, que publicou as Novelas gregas c
om base no manuscrito Marcianus (vid. supra 499 783) que é mais completo e está meno
s alterado de glosemas que o florentino; b) - de LECOMTE, em 1571, que faz acomp
anhar as Novelas gregas duma tradução latina (que, em parte é da vulgata, e em parte d
o próprio LECOMTE, juntamente com ALOANDRO e AGILEU). Note-se ainda que é desta edição d
e LECOMTE que procede a numeração das Novelas, 168, hoje em uso.
[Das edições modernas das Novelkte, anteriores à de SCHOLL-KROLL, as mais importantes
são: para o Authenticum, a de HEIMBACH (1846-1851); para o Epitome luliani, a de H
ANEL (1873); para «Colectânea Grega>, a de ZACHARIA von LINGENTHAL (1881) 797].
,8) - A partir do século XVI, aparecem edições de conjunto da compilação justinianeia.

A primeira edição de conjunto e crítica, elaborada com especial cuidado-comparando man


uscritos, expurgando as fontes, aproveitando os trabalhos dos humanistas, POLIZI
ANO e BOLOGNINI 798 -, pertence a Gregório ALOANDRO Melzner, holandês, à qual já fizemos
várias referências. Está repartida em três tomos. 0 primeiro, de 1529, contém Digesta et
Institutiones; o segundo, de 1530, o Codex; o terceiro, de 1531, as Novellae, se
gundo a «Colecção Grega>, agora pela primeira vez editada 799
797 Sobre estas edições, vid., por todos, WENGER, Die Quellen 678 e 679. 798 Sobre o
valor desses estudos críticos, efectuados por BOLOGNINI e PoL1
RIANO, vid. F. CALASSO, Medio Evo 1 599.
799 ALOANDRO fez esta edição das Novellae baseando-se no manuscrito Lau
rentianus (vid. supra n. 783). Cf. NOIALLES, La Collection Grecque des 168 Novel
les,
cit. 2.
503
793 794 795 796
DIREITO ROMANO
1.' PARTE - vir. X-CAP. 4°
§ 39
E deveras notável esta edição de ALOANDRO:
1.° publica todas as partes da compilação justínianeia, e cada uma na sua edição crítica;
2° respeita a unidade e a integridade de todas elas. Concretamente, a) -respeita a
unidade em relação ao Digesto, pois não o divide em três partes (Vetus, Infortiatum e N
ovum, como fizeram os glosadores -veremos já a seguir), embora se tenha servido pr
incipalmente da littera florentina (vid. supra 497) e nesta exista essa divisão tr
ipartida; b) -respeita a integridade do Codex, visto não separar os três últimos livro
s dos nove primei
ros (vid. supra 498-3).
A primeira edição com o título «Corpus Iuris Civilisr, como é sabido, foi feita por Dionis
io GODOFREDO, em 1583. (Em relação às Novellae reproduz a edição de LEGOMTE). Esta edição ain
a hoje é útil, por causa dos lugares paralelos que indica.
Seguindo o modelo desta edição de Dionísio GODOFREDO, publicaram-se várias soo.
A primeira edição, de tipo diferente da de GODOFREDO, e que representa um extraordinár
io avanço na crítica textual e condensa os resultados de dois séculos de trabalho da E
scola Holandesa, é a GEBANER-SPANGENBERT, 1776-1797.
Segundo este novo modelo, é digna de mencionar-se a célebre edição dos irmãos KRIEGEL-HERM
ANN-OSENBRUGGEN, 1828-1843.
Mas a edição mais perfeita do Corpus Iuris Civilis, como que fazendo esquecer todas
as outras, é a de MOMMSEN-KRÜGER-SCHÜLL-KROLL, já nossa conhecida (vid. supra 37), em três
tomos: I - Institutiones e Digesta; II - Codex; III - Novelae. KRUGER ocupou-se
das Institutiones e do Codex; MOMMSEN, do Digesto; SCHOLL e KROLL, das Novellae
.

KRÜGER foi o primeiro a publicar, em 1867, a edição critica das Institutiones.


800 Sobre essas edições, vid. P. BoNFANTE, Storia 11. cit. 191 e 192.
MOMMBEN, em 1868-1870, publicava em dois vols. a edição crítica monumental do Digesto
soe,
Em 1872, os dois publicavam, em edição escolar, num só volume, as Institutiones e o Di
gesto, formando o I tomo da edição conjunta do Corpus Iuris Civilis.
Ainda em 1872, KRÜGER preparou a edição do Codex, constituindo o II tomo da obra.
Finalmente, SCHOLL, em 1893, começou a preparar a edição das Novellae; falecido em 189
5, foi continuada por KROLL; em 1898, já concluída, publicava-se o III tomo.
Desta edição, a mais perfeita de todas até hoje, têm sido feitas sucessivas reedições. A mai
s recente, revista por Wolfgang KUNKEL, é de 1965 o I tomo (ed. 18 °), de 1963 o II
tomo (ed. 13°), e também de 1963 o III tomo (ed. 8.°).
Quanto ao Digesto, a edição mais recente é dos romanistas italianos, BONFANTE, FADDA,
RICCOBONO e SCIALOJA. Foi publicada, completa, pela primeira vez em 1931. Em 196
6, foi feita uma reimpressão. Esta edição fundamentalmente segue a de MOMMSEN, mas tem
já na devida consideração os estudos critico-interpolacionisticos mais recentes.
b) Repartição medieval do «Corpus luris Civilis» e dalgumas colectâneas
Como é sabido, a divisão material do Corpus Iuris Civilis, hoje, é feita em três volumes
ou tomos: I-Institutions e Digesta; II - Codex; III - Novellae.
As edições mais antigas oferecem uma divisão em cinco partes, formando outros tantos v
olumes ou tomos separados. Foram os glosadores que estabeleceram esta repartição, qu
e passou para os manuscritos vulgares (vid. supra 497) e depois para todas as ed
ições glosadas (vid. supra 500 e 501).
801 Quanto ao modo, como procedeu MoMMSEN e que fontes utilizou para a feitura d
essa edição, vid. P. BONFANTE, O.C. 192.
505
504
DIREITO ROMANO
1 e PARTE - TIT. X - CAP. 4.°
§ 39
[Nas edições antigas não-glosadas, a divisão do Corpus tuna Civilis não se fazia em cinco
partes, mas em quatro, isto é, tantas quantas as colectâneas, e sem ulteriores divisõe
s dentro delas: Institutiones, Digesta, Codex e Novellae (só o Authenticum ou simu
ltâneo com a «Colectânea Grega>)].
I -Digestum Vetus (Digesto Velho) =DA-24,3,2.
II-Digestum Infortiatum (Digesto «Esforçado>) = D.24,3,3-38.
III-Digestum Novum (Digesto Novo) =D.39-50803.
IV -Codex, contendo apenas os primeiros 9 livros (vid. supra 498.3).
V - Um só volume, denominado por isso mesmo volumen, ou volumen parvum (ou até sómente
, parvum), em virtude da. sua menor espessura comparado com qualquer dos outros
quatro volumes, ou também designado Authenticum (por conter, entre outras fontes,
esta colectânea), compreendia-as Institutiones, os tres libri (últimos) do Codex e a
colectânea de Novelas «Authenticum> (menos as 38 Novelas sem carácter jurídico prátiço-vid.
supra 492), dividido este («Authenticum>, portanto as 96 Novelas) em 9 collatione
s soo. Posteriormente, mas ainda na Idade Média, com a designação de 10.° collatio 805 f
oram incluídos neste V val. os Libri
802 Foi assim designada entre nós esta parte do Digesto. Vid. BRAGA DA CRUZ, Lições de
História do Direito Português (policopiadas) (Coimbra,1960) 283.
803 Quanto à origem desta divisão tripartida do Digesto e sobretudo quanto ao signif
icado e razão de ser da palavra Infortiatum, ainda são problemas discutidos
entre os AA. Vid., por todos, ROBLEDA, o.c. 274801, onde é indicada a principal bi
bliografia, e, seguindo a opinião de CALASSO, Medio Evo 1527, adere-se ao que dii
a tradição: devido ao estado fragmentário em que se encontravam os manuscritos medieva
is do Digesto, Irnério teria descoberto, primeiro, essa parte que se designa
por «Digestum Vetus»; depois, a última parte («Digestum Novum»); e, quando por último encont
rou a parte central do Digesto que faltava, teria exclamado - «ius nostrum inforti
atum est».
Quanto a dividir o Digesto em «tres partes», haveria ainda esta explicação:
são as palavras que se encontram em D.35,2,82, e com estas palavras principiava a
segunda das duas secções em que se subdividia o Infortiatum.
804 Sobre a razão de ser da divisão do «Authenticum» em 9 collationes, vid.
ROBLEDA, o.c. 275803.
805 A designação de loa collatio para significar os Libri Feudorum e as constitution
es de Frederico I e II e Conrado, imperadores germânicos, deve-se a Hugolino.
Feudorum (o direito feudal longobardo) e algumas cons
tituições dos Imperadores do Sacro Romano Império 800.
- Algumas edições acrescentaram um VI vol., contendo
um índice geral, denominado «Thesaurus Accursianus>.
c) Taduções do «Corpus Iuris Civilis»
1 -De todo o «Corpus Juris Civilis> são dignas de referência especial:
a) -pela sua (relativa) perfeição, a tradução alemã de C. E. OTPO - B. SSEILLING - C. F. S
INTENIS, em 7 vols. (Leipzig,1831-1839);
b)-pela sua divulgação em Portugal, mas sobretudo
em Espanha, a tradução de GARCIA DEL CORRAL, texto bilíngue, latim e castelhano, segui
ndo a edição dos irmãos KRIEGEL - HERMANN - OSENBROGGEN (Vid. supra 504).
2-De vdris partes do «Corpus Juris>
a) - Das Institutiones há bastantes traduções. Notem-se,
como mais recentes:
I - a de Alexandre CORREIA - Gaetano SCIASCIA, Manual de Direito Romano, vol. II
(São Paulo, 1951) 291-641, texto latino e português;
II - a de F. HERNANDEZ-TEJERO, Las Instituciones de Justiniano (Madrid, 1961) (t
exto castelhano).
b) - Do Digesto, é digna duma referência muito especial a tradução espanhola, cuja publi
cação do I vol.
data de 1968. Vid. supra 463 e n. 661.
806 Por vezes, também se fala da I16 collatio, formada pelas constitutiones extrav
agantes (isto é, que estão fora da 106 collatio) dos imperadores do Sacro Império Roma
no.
Os editores do séc. XVI costumavam incluir outras fontes em maior ou menor número. A
lguns, segundo parece, substituiam o Authenticum e os Libri Feudorum pelo Epitom
e fuliani e a Lombarda (especial colectânea de leis longobardas) - sobre este prob
lema, vid., por todos, Emilio COSTA, Storia delle Fonti, cit. 1431. Outros simpl
esmente acrescentavam o Epitome Iuliani e a Lombarda. Outros chegavam a incluir
nesse volumen parvum o Brachylogus luris Civilis.
Note-se que as edições que seguiram, como modelo, o Corpus luris Civilis de Dionísio G
ODOFREDO, começaram a incluir grande número de textos pré-justinianeus e de novelas bi
zantinas; mas excluiam várias das fontes que tinham sido incorporadas arbitràriament
e pelas edições anteriores, nomeadamente a Lómbarda e o Brachylogus.
Por último, observe-se que os textos jurídicos desses V volumes, e que constituiam o
objecto de estudo e do ensino das escolas civis (laicas) da época do Direito Comu
m, denominavam-se Libri Legates. Vid. Annali di Storia deh Diritto 9(1965) 394 e
395, onde é indicada também a principal bibliografia.
802 =
506
507
Título XI - INTERPOLAÇÕES, GLOSEMAS E GLOSAS
SUMÁRIO-40. Fixação de certa terminologia a) Interpolações:
I-Conceito e critérios para as descobrir
I1-Evolução da crítica interpolacionística
III-As interpolações no Corpus Júris Civilis
IV -As interpolações nas fontes pré-justinianeias
b) Glosemas (e glosas): conceito; critérios para os descobrir; seu
estudo; virificação em diversas fontes c) Alguns sinais diacriticos
40. A respeito de interpolações, glosemas e glosas nem sempre a terminologia dos AA.
é uniforme BOi.
Como ideia geral, podemos desde já fixar: a interpolação é feita no próprio texto e visa a
lterar o sentido do texto; o glosema também é feito no próprio texto mas visa esclarec
er o texto; a glosa é feita ou à margem ou entre as linhas do texto, e em geral visa
esclarecer, revelar melhor o conteúdo do texto, e em regra, é um pouco maior que o
glosema; pode ser já um pequenino comentário literal.
807 Sobre a história da terminologia crítica usada nos textos jurídicos romanos (inter
polação, glosa e glosema) vid., por todos, L. LOMBARDI, Un Appunto per Ia Criticadel
Testo Giurisprudenziale Romano em Synteleia V. Arangio-Ruiz I (Nápoles; 1964) 324
-333.
509
DIREITO ROMANO
Por conseguinte, a interpolação e o glosema vão inseridos dentro do próprio texto. A glo
sa está fora do texto: ou à margem, e então denomina-se glosa marginal ou entre as lin
has do texto, e é chamada glosa interlinear.
Parece que nada obsta a que a glosa tenha carácter inovador 808. Nessa hipótese, dis
tingue-se da interpolação, por estar fora do texto (à margem ou entre as linhas) ; a i
nterpolação sempre faz parte do novo texto (o texto adulterado ou espúrio).
a) Interpolações 809
I - Conceito e critérios para as descobrir

INTERPOLAÇÃO é toda e qualquer modificação tio texto original, com a finalidade intenciona
l de lhe alterar o sentido.
A interpolação destina-se a transformar o texto.
As interpolações podem consistir na omissão, substituição ou acréscimo de palavras.
As interpolações feitas aos textos jurídicos romanos, normalmente as contidas nas Inst
itutiones, no Digesto e no Codex do C. I. C., dividem-se em: justinianeias (ou t
ambém designadas «emblemata Triboninani»), se são obra dos compiladores justinianeus; pré-
justinianeus 810, se foram elaboradas pelos juristas ou pelas escolas, anteriore
s a Justiniano, principalmente dos sécs. III e IV.
808 L. LoMBARDI ib. 325.
809 Sobre a abundante bibliografia a respeito de interpolações, vid. P. BONFANTE, St
oria II, cit. 1351, e L. WENGER, Die Quellen 855-860, nas respectivas notas.
Sobre a crise do método interpolacionístico, vid. DE DoMINIcIs em Ann. Fac. Ciar. Ca
merino 30(1964) 1-23.
810 Outrora, chamava-se a esta espécie de interpolação giosema. Partia-se da ideia (de
sde há vários anos, tida como errada) de que só havia interpolações justinianeias. 0 resto
das modificações dos textos ou eram simples explicações ou comentários. Vid. L. LomBARDi,
o.c. 324, e Da «Solutio» 1 6746.
510
1. PARTE-TIT. XI § 40
Mesmo sem investigar, sabe-se perfeitamente que existem interpolações na compilação just
inianeia. Conforme examinaremos infra n.° III, é o próprio Justiniano que o declara ex
pressamente e por várias formas. Portanto, para conhecer o Direito anterior a Just
iniano - sobretudo o Direito Romano clássico, que é cânon e modelo -, há necessidade de
descobrir as interpolações existentes, principalmente no Digesto, e também nas Institu
tiones e no Codex.
Esse trabalho, sempre eriçado de dificuldades, é feito segundo critérios de vário tipo.
Indiquemos os mais importantes, alguns dos quais foram elaborados para descobrir
as interpolações na compilação justinianeia; porém, mutatis mutandis, podem aplicar-se a
outras fontes, nomeadamente às pré-justinianeias.
1- 0 CRITÉRIO TEXTUAL (comprovação directa), consiste no confronto entre o texto justi
nianeu e o texto genuíno conservado numa fonte pré-justinianeia (v.g. as Institution
es de GAIUs), ou no confronto entre duas reproduções justinianeias (hipótese das leges
geminatae 81), ou no confronto entre o texto justinianeu e as fontes bizantinas
, sobretudo com os Ba
silicos 812
811 Sobre as leges geminatae e o modo de as utilizar para a descoberta de interp
olações, vid. J. GAUDEMET, Un Probléme de Ia Codification Théodosienne: Les Constitution
s Géminées em RIDA 4(1957) 253-267, e La Formation du Droit 56-59.
812 Os Basilicos, em geral, estão menos interpolados e menos glosados que os texto
s ocidentais. Há mais de meio século que isto foi observado pelo eminente romanista
RICCOBONO, II Valore delle Collezioni Giuridiche Bizantine per lo Studio Critico
dei «Corpus luris Civilis» em Mélanges Fitting II (Montpellier,1908) 465-497Esta tese
não ficou abalada com a crítica de PETERS, Die ostrõmischen Digestenkommentare und di
e Entstehung der Digesten (Leipzig,1913), nem coma de SoNTts, Die Digestensume d
es Anonymos I Zum Dotalrecht. Ein Beitrag zur Frage der Entstehung des Basiliken
textes (Heidelberg,1937). Hoje a tese de RIccoBOxo é unânimemente seguida. Cf. MmEts
na crítica a PETERS. o.c. em SZ 34(1913), máxime 406 ss., D'ORS, Presupuestos 141,
A. GuARINO na crítica a SONTIS, o.c. em SDHI 5(1939), máxime 282 ss. [=L'Ordinamento
Giuridico Romanos (Nápoles,1959) 565.5761.
511
DIREITO ROMANO
Este critério é o mais seguro, sobretudo na sua primeira modalidade (confronto entre
o texto justinianeu e o texto genuíno) ; simplesmente, poucas vezes pode utilizar
-se, por falta de texto genuíno ou de texto que dalgluma forma o substitua 813.

2 - 0 CRITÉRIO HISTóRIco (anacronismos) é também denominado «critério das incompatibilidades»


e tem duas formas. Consiste em considerar interpolados os textos atribuídos a um
jurisconsulto, quando esses textos estão em contradição: a) - ou com os princípios jurídic
os da época em que esse jurista viveu; 46 - ou com outras opiniões, seguramente conh
ecidas, desse mesmo jurisconsulto 1114.
Este critério foi usado sobretudo por GRADENwITZ.

3 - O CRITÉRIO LóGIco (ilogtsmos) verifica a existência duma interpolação, quando existir


contradições entre as diversas partes dum mesmo texto, ou entre as diversas partes d
um mesmo período, ou entre esse texto e outros do mesmo autor.

4-O CRITÉRIO LÓGICO-JuRÍmco («inelegantia iuris») considera interpolado um texto, quando,


ao enunciado duma regra jurídica clássica, corresponde uma tal restrição justinianeia (c
omeçada por sed, plerumque, nisi, nisi forte) que lhe tira todo o significado ou a
té o inverte.

5 - 0 CRITÉRIO LEGISLATIVO (sentença imperativa) deriva do tom indiscutível da solução dad


a a uma questão proposta pelo jurista. Há um período «intruso» no texto do jurisconsulto.
813 Sobre alguns exemplos de interpolações descobertas utilizando este critério, vid.
P. BONFANTE, Storia II, cit. 142-147.
814 Sobre alguns exemplos de interpolações, descobertas através deste critério, vid. BoN
FANTE, o.c. 150-154.
512
1,1 PARTE - TIT. XI § 40
Ê o caso das famosas interpolações começadas por sciat, f aeiat, licentiam habeat, o f f
ic o iudicis terminetur, dubitari non oportet; ou então quando usa o nos maiestat
icum-definimos, constituimus, generaliter sancimus, placet nobis, nos dicimus, e
tc.
Este critério foi usado principalmente por ALIBRANDI e PAMPALONI.
6 - O CRITÉRIO SISTEMÁTICO (inscrições, rubricas edictais) revela a existência de interpol
ações, se não há correspondência entre determinadas palavras do fragmento citado e o título
da obra ou a rubrica da sistematização da matéria. Por exemplo, se o jurista, num cert
o livro seu, tratava da f ducia, e um fragmento (desse mesmo livro e autor), ins
erido na compilação justinianeia, fala de pignus, é muito provável que pignus esteja int
erpolado em vez de fiducia.
Este critério foi utilizado sobretudo por LENEL.
7 - O CRITÉRIO FILOLÓGICO (solecismos, helenismos, estilo empolado) descobre interpo
lações, através da gramática, das expressões e do estilo dos compiladores, ou até de palavra
s gregas e modos de dizer de origem grega, utilizados pelos compiladores justini
aneus.
Enquanto o estilo dos juristas clássicos, embora individual, é simples, cristalino,
elegante e superior ao dos seus contemporâneos, o estilo dos compiladores conforma
-se com a decadência e o mau gosto da época 1115
815 A crítica dos Humanistas, principalmente de CutActo e Antonio FABRO, ao estilo
dos compiladores é dura e, por vezes, exagerada e injusta, mas, no conjunto, bast
ante significativa. Cf. ALBERTARIO, Introduzione 41 e n. 6.
Na verdade, os compiladores justinianeus empregaram uma linguagem empolada, uma
verbosidade que os Humanistas classificaram de «inanis verborum multiplicatio». Sobr
etudo, abusaram: das metáforas (v. g. iugum nuptiale em vez de nuptiae); dos super
lativos (iustissima causa, manifestissime, evidentissimae probationes); dos sinóni
mos (manifestam atque evidens); das expressões abstractas (mortalitas em vez de mo
rs, datio em vez de pecunia data).
513
DIREITO ROMANO
Utilizaram este critério EISELE, GRADENWITZ, LENEL, KALB, SECKEL, KttBLER, etc. Ab
usou dele, sobretudo, BESELER (vid. supra 106).-Devemos empregar este critério com
a devida ponderação. Pelo facto de um texto pertencer a um jurista clássico, não pode c
oncluir-se fatalmente que esteja isento de todos os erros de gramática e de todas
as imprecisões de ter
minologia 816.
8- 0 CRITÉRIO EXEGËTICO (antinomias) resulta da incongruência ou até contradição entre texto
s ou grupos de textos,
atribuídos ao mesmo autor 817.
9-O CRITÉRIO DIPLOMÁTICO (leitura da «florentina>) consiste em descobrir erros e omissõe
s, existentes no texto da «littera florentina> 818.
Estes nove critérios não são os únicos, nem todos têm o mesmo valor, nem sempre um ou outr
o pode usar-se, e sobretudo não devem ser aplicados mecânicamente.
A investigação crítica deve fazer-se dum modo elástico, combinando os vários critérios e ada
ptando-os às exigências específicas. Evitem-se os abusos, principalmente do critério fil
ológico, isolado, pois ao romanista interessa sobretudo conhecer o Direito clássico
e não já, exactamente, com todo o pormenor, os textos clássicos 819,
816 Para conhecer a linguagem dos compiladores é um valioso subsidio o Vocabolario
delle Costituzioni di Giustiniano, elaborado por C. LoNDO em BIDR 10(1897-1898)
I-XVI e 1-605. Vid. supra 150.
817 ALBERTARIO, Introduzione 52 e 53, apresenta vários exemplos de interpolações desco
bertas. através deste critério.
818 Sobre outros critérios e sobre o modo de usar os vários critérios, vid., por todos
, P. BoNFANTE, Storia II, cit. 166-177.
819 Vid supra 123. Recorde-se que a filologia é uma ciência auxiliar do Direito Roma
no - cf. supra 123.
514
1.^ PARTE-TÍT. XI § 40
II - Evolução da crítica interpolacionista
0 interesse pela crítica das fontes afirmou-se com o Humanismo e foi cultivado na
Escola do mos gallicus, no séc. XVI 820 (vid. supra 99). - [Antes, a ciência romanísti
ca limitava-se a conhecer bem a compilação justinianeia, conforme estava, para aplic
ar na prática esse Direito, sem se preocupar com a restauração do texto original].
Mas foi somente no séc. XIX, com o impulso dado aos estudos filológicos e com a busc
a em todas as bibliotecas de novos manuscritos, que nasceu, como ciência peculiar,
a «interpola
~í~» 821
Os primeiros movimentos iniciaram-se na Itália com I. ALIBRANDI (1823-1894). Logo
foi seguido na Alemanha por 0. GRADENWITZ (1860-1935) e O. LENEL (1894-1935) ; m
ais tarde, por BESELER, MITrEIS, SCHULZ, BERGER, etc. e na Itália, por SCIALOJA, F
ERRINI, BONFANTE, SEGRÈ, BAVIERA, ARANGIO-RUIZ, SOLAZZI, BIONDI, BETTI, VOLTERRA,
etc..
4 fases da interpolacionística
No princípio deste século, certa «desorientação> de vários romanistas fez consistir o estudo
do Direito Romano Unicamente na busca de interpolações (vid. supra 106), e consider
ava texto justinianeu tudo o que não fosse clássico 822. Essa primeira fase da 1a fa
se_ interpolacionística--fundada no simples binómio texto genuíno-texto justinianeu -,
em breve foi ultrapassada.
Iniciou-se depois a segunda fase com a descoberta das inter- 2a fase polações pré-just
inianeias -todo esse trabalho de reelaboração
820 Acerca das investigações interpolacionísticas elaboradas pelos representantes da E
scola Culta - António FABRO, António AGOSTINHO, CuiÁcio, ALOANDRO, etc.-, vid., por to
dos, L. PALLACINI FINETIr, Storia delia Ricerca delle Interpolazioni dei Corpus
luris Giustinianeo (Milão,1953).
821 A respeito da abundante bibliografia sobre este tema, vid. P. BoNFANTE, Stor
ia II, cit. 1351, 136 e 137.
822 Vid. «Separata» 7.
515
DIREITO ROMANO
1.' PARTE - TIT. XI
§ 40
das fontes, efectuado, sobretudo nos fins do séc. III e princípios do séc. IV, e um po
uco também pelas Escolas dos sécs. IV e V 823, Mais:
-- descobre-se que as interpolações pré-justfnianeias não existem apenas nas várias fontes
extra-justiníaneias (v.g. na Coblatio, nas Pauli Sententiae, nas Institutionea de
Gato, no Codex Theodosianus, nos Scholia Sinaitica [vid supra 439], etc.), mas
3 $ fase também e sobretudo na compilação justinianeia. E a 3.' fase;
- demonstra-se que as interpolações pré-justinianeías são em maior número que as interpolaçõe
ustinlanelas;
-verifica-se que a maior parte das interpolações pré-justinianeias (assim como de várias
outras corruptelas de texto) são feitas, por volta do ano 300 d.C., precisamente
quando a literatura jurídica é reeditada na nova forma de codex, que suplanta o anti
go volume, e, passada essa época de «tormento do texto>, segue-se uma época de relativ
a estabilização e de reprodução quase literal dos textos (época que abrange o espaço de temp
o deste Constantino a Justiniano);
4.8 fase -a 4.' fase nasce com uma «nova ciência», auxiliar da romanistiea-a «TEXTSTUFEN
FORSCHUNG>, a investigação dos extractos dos textos da «iurisprudentia> clássica. Proced
e-se a um cotejo científico (e não apenas mecânico ou material) de cada texto, nas vária
s fontes em que nos aparece. A história do texto (Textgeschichte), nas suas formul
ações diferentes, pode elucidar-nos sobre a própria genética ou história do Direito (Recht
sgeschichte), já que a história jurídica dum povo é, fundamentalmente, a história dos seus
livros jurídicos.
As bases éientíficas da Textstufenforschung devem-se a Ernest LEvv 824, a Hans NIEDE
RMEYER mas, sobretudo a Franz WIEACKER, expostas no seu famoso livro Textstufen
klassisccher
Juristen (Gotinga,1960) pp. 471,96 por si capaz de Imortalizar o seu autor 825.
Desde 1952 a 1960, julgou-se que a maior parte das interpolações pré-justinianeias tin
ha sido trabalho, quase exclusivo, das Escolas dos sécs. IV e V. Sobre o tema, vid
. P. COLWNET, Les Interpolations Préjustiniennes em La Genése du Digeste, du Code et
des Institutes de Justinien (Paris,1952) 155-255.
A partir de 1960, devido a um pequeno estudo de ARANGIO-Raiz publicado em BIDR 6
3(1960) 281-293, mas principalmente à obra de Franz WIEACKER, Textstufen klassisch
er Juristen (Gotinga,1960), começou a defender-se a doutrina, que fica enunciada n
o texto: a maioria das alterações foram introduzidas à volta do ano 300. Cf. D'ORS em
SDHI 26(1960) 366, e vid. Labeo 14(1968) 233-n.' 2. Vid. infra n. 825.
824 Vid. AHDE 26(1960) 269 e 370.
825 Vejam-se, por todas, as críticas altamente elogiosas de Álvaro Doas em SDH126(19
60) 366-377, e de V. ARANOto-RUtz em BIDR em 64(1961) 351-368.
516
Qaul a atitude a tomar hoje perante o problema das interpolações?
A crítica das Interpolações é hoje um instrumento de trabalho admirável e imprescindível na
investigação romanistica. Foi uma grande descoberta para os estudos de Direito Roman
o. Sem a interpolacionistica, havia problemas que nunca poderiam resolver-se, po
r mais que se tentasse encontrar «a harmonia das contradições>. Deve, porém, ser usada c
om prudência. Ela é semelhante aos antibióticos. São bons; imprescindíveis para algumas do
enças; mas convém não abusar, porque, no fundo, são anti-vida.
Devemos caminhar hoje para uma atitude de ponderação. Não buscar a interpolação pela inter
polação, mas a razão de ser da interpolação e a sua devida justificação 826.
Quanto a certo modus faciendi da criticaa de interpolações, devemos atender ao que v
em ensinando Alvaro D'ORs, há 25 anos. «La critica (de interpolaciones) suele hacers
e por fragmentos o por grupos de fragmentos relacionados por un nexo de materia
común o de terminologia común. Hay necesidad de completar este método con el palingenési
co, es decir, el que toma como unidad critica, no el fragmento o grupo de fragme
ntos, sino el libro, pues ias afinidades entre Ias interpolaciones de un determi
nado libro nos pueden revelar Ias interpolaciones propsamente prejustinianeas> 8
27.
Em 1968, continua a insistir: - «La romanistica moderna tiene como una de sus meta
s ia recuperación de tos perfiles mds personales de tos antiguos juristas, funddnd
ose principalmente en ta critica de interpolaciónes en los textos dei Digesto, y,
para elto, trata de reconstituir en to posible ias obras partiendo de tos fragme
ntos procedentes de Ias mismas, distribuídos por tos distintos títulos dei Digesto.
Esta «Palingenesia> procede, pues, en un sentido inverso ai seguido por ias comisi
ones del siglo VI, pues deshace Ia ordenación de tos libras, según sus autores>82S.
Cf. «Separata» 6 e 7.
Alvaro D'oRS, Presupuestos, cit. (Salamanca,1943) 53-57, AHDE 15(1944) 682, e El
Predigesto (Madrid,1945) 137.
828 El Digesto de Justiniano I (Pamplona,1968) 8.
No mesmo sentido, Juan IGLESIAS, Estudios. Historia de Roma. Derecho Romano. Der
echo Moderno (Madrid,1968) 57.
Ainda sobre o estudo crítico das fontes, vid. G. PUGIIESE, Orientamenti e Problemi
Attuali nello Studio delle Fonti Romane em Annali di Storia dei Diritto 5-6(196
1-62) 73-94, e Ernest SCHõNRAUER, Die Ergebnisse der Textstufenforsehung und itere
Methode em lura 12(1961) 117-161. Vid. também DE DoMINICts, Confessioni e Rifless
ioni Romanistiche (La Crisi dei Metodo Interpolazionistieo) em lura
18(1967) 353.
517
823
826 827
DIREITO ROMANO
518
III - As interpolações no «Corpus Iuris Civilis»
Constitui um axioma a existência de interpolações nas Institutiones, no Digesto e no C
odex 829. Com efeito, Justiniano, ao traçar as directrizes para os compiladores, o
utorgou-lhes faculdades de emendar, suprimir e acrescentar tudo o que fosse nece
ssário para adaptar os textos às novas exigências (const. Ha--e quae necessario 2, Sum
ma reipublicae 1, Deo auctore 7, Cordi 3) ; e ao publicar oficialmente essas obr
as, dá conta das transformações (= interpolações) efectuadas-«...multa et maxima sunt, quae
propter utilitatem rerum transformata sunt» (const. Tanta 10) ; «...nocte obscuritat
is obductas (constitutiones) nova eliminationes lute retegere, ut undique non so
lum institutionum et digestorum via lucida et aperta pateret, sed etiam constitu
tionum nostri codicis plenum iubar omnibus clareat...» (const. Cordi 3)830,
Porém, já constitui problema, e não axioma, saber se o número das interpolações justinianeia
s é maior ou menor do que o das interpolações pré-justinianeias.
Segundo parece, é maior o número das interpolações pré-justinianeias. Foram elaboradas pel
os escoliastas dos fins do séc. III e princípios do séc. IV, e também um pouco pelas Esc
olas dos sécs. IV e V, sobretudo pela Escola de Beirute 831.
829 A respeito de modificações nos textos das Novellae, em rigor, só deve falar-se de
glosas (medievais) ou também, quando muito, de certos glosemas, mas não de interpolações
.
830 Sobre bibliografia a respeito das interpolações na compilação justinianeia em geral,
vid. WENGER, Die Quellen 57334. Vid. também supra 481727.
831 Sobre este problema,. cf. WENGER, Die Quellen 868-873, A. GUARINO, Guida ali
o Studio delle Fonti Giuridiche Romane I2 217-222 (e atender à indicação bibliográfica d
e 2196), P. COLLINET, La Genèse du Digeste, cit. 115-255, e sobretudo atender à nova
orientação iniciada em 1960, e exposta em síntese por G. PuouESE,
1.` PARTE-TIT. XI § 40
IV-As interpolações nas fontes pré-justinianeias
Só relativamente há poucos anos -concretamente, desde 1951, a partir da análise ao fam
oso papiro Ryland III, 474 a-b), mas sobretudo desde 1957, depois do estudo de A
RANGIO-RUTz ao papiro PSI.1449 R 832 -, é que ficou demonstrado sem qualquer sombr
a de dúvida a existência de interpolações nas fontes jurídicas romanas pré-justinianeias. E
foi principalmente a partir da verificação de interpolações nessas fontes que, depois (c
omo já ficou dito supra 515 e 516), a investigação romanística a respeito dos textos da
compilação justinianeia se orientou mais na busca, que resultou em boas descobertas,
de interpolações pré-justinianeias nas Institutions, no Digesto e no Codex.
Até hoje, está provado existir interpolações nas Pauli Sententiae, nos Tituli ex corpore
Ulpiani, nos Scholia Sinaitica 633, na Collatio 834, nos Fragmenta Vaticana 835
, nos Códigos Grego
Orientamenti e Problemi Attuali nello Studio delie Fonti Romane em Annali di Sto
ria dei Diritto 5-6(1961-62) 77-84. Vid. também supra 484741.
Note-se que o... «núcleo» da tese de COLLINET, exposto no seu La Genèse du Digest, cit.
121-133, a tentar a demonstração através de «prouves directes» de que as interpolações pré-ju
nianeiras são obra sobretudo (quase exclusiva) da Escola de Beirute, é completamente
... «desfeito» pela argumentação de F. WIEACKER, Texstufen 43-46.
832 Vid. G. PUGLIESE, Orientamienti e Problemi Attuali, cit. em Annali di Storia
dei Diritto 5.6(1961-62) 78-84, atendendo-se dum modo especial às preciosas notas
10 e 11 das págs. 79 e 80.
833 Vid. supra 439 e WENGER, Die Quellen 550, máxime n. 209.
834 Sobre interpolações existentes na Collatio vid. S. SOLAZZI, Scritti Giuridici II
I (Nápoles,1960) 497, G. CERVENCA em SDHI 29(1963) 254-272, e M. A. DE DoMINICIS e
m BIDR 69(1966) 33810.
835 Vid. G. PUGLIESE, Orientamienti, cit. 79-86, WENGER, Die Quellen 857-860, e
VOLTERRA, Indice delle Glosse, Interpolazione e delle Principali Riccostruzioni
segnalate delia Critica nelle Fonti Pregiustinianee Oceidentaii em Rivista di St
oria dei Diritto Italiano 8(1935) 107-145, 389-505; 9(1936) 365-380.
519
DIREITO ROMANO
riano e Hermogeneiano 838, mas sobretudo nas Institutions de
GAius B37 e no Codex Theodosianus 838.
b) Glosemas (e glosas): conceito; critérios para os descobrir; seu estudo; verific
ação em diversas fontes
`Os GLOSEMAS são modificações introduzidas no próprio texto, com a finalidade intenciona
l de lhe esclarecer o sentido.
A GLOSA é um esclarecimento (brevíssimo comentário de tipo literal), colocado à margem o
u entre as linhas de texto.
0 glosema tem de comum com a interpolação o facto de ser introduzido no próprio texto;
ambos fazem parte interna (embora espúria) do texto. É diferente, porque a interpol
ação destina-se a alterar o sentido do texto, o glosema, a esclarecer-lhe o sentido,
embora, por vezes (contra a intenção do seu autor) altere o sentido. Além disso, a in
terpolação pode consistir tanto na omissão, como na substituição como no acréscimo de palavr
as; o glosema, (quase) sempre, no acréscimo de palavras.
0 glosema tem de comum com a glosa a finalidade, esclarecer o texto. 1J diferent
e, porque o glosema penetra no
836 Cf. PuGUESE, o. c. 86 e n.o 21.
837 Vid. RoBLEDA, lus Privatum 204 e 205 e nn. 562 e 563, e F. WIEACKER, Textstu
fen 187 e 188.
838 Vid. Siro SOLAZZI, Glossemi e Interpolazioni nel Codice Teodosiano em SDHI 1
0(1944) 208-239; 13-14(1947-48) 199-216; MARCHI, Le Interpolazioni risultanti da
confronto tra il Gregoriano, I'Ermogeniano,il Teodosiano, le Novelle Postteodos
iane e il Codice Giustinianeo em BIDR 18(1906) 5-114, e M. A. DE DoMIMCts, Regis
tro delle Alterazioni (Glossemi ed Interpolazioni) nelle Costituzioni del Codice
Teodosiano e nelle Novelle Postteodosiane segnalate dalla critica em BIDR 57-58
(1953) 383-442, e Suplemento em lura 15(1964) 117-136.
520
i° PARTE-TIT. XI § 40
texto; como dissemos, fica a constituir uma parte interna (embora espúria) do text
o. A glosa, ainda que no texto, está fora do texto, é uma parte externa - situa-se o
u à margem (glosa marginal) ou entre as -linhas do texto (glosa interlinear) 83".
Além disso, em geral, a glosa é maior que o glosema.
Sempre que se fala de glosa ou de glosas, por antonomásia, entendem-se as glosas d
a Escola de Bolonha, e sempre que se diz «A Glosa» compreende-se a Magna Glossa de A
cúRsIo (vid. supra 97). Todavia, há também glosas post-clássicas 81°; mas os glosemas post
-clássicos são muito mais abundantos.
Até 1960, era opinio communis de que os glosemas post-clássicos resultaram, quase to
dos, das glosas post-clássicas, que, depois, foram incorporadas internamente no te
xto: ou na primeira reprodução de textos verificada cerca do ano 300, ou na segunda,
cerca do ano 426141. Em 1960, Franz WIEACKER, Texstufen 86-92, mostrou que não fo
i assim 81
Os critérios para descobrir os glosemas são mutatis mutandís os que se utilizam na inv
estigação das interpolações (vid. supra 511-514) ; mas, aqui, os mais importantes são o te
xtual e, logo a seguir, o filológico.
0 estudo dos glosemas só ficou bem determinado a partir de 1961, com a publicação do t
rabalho de SCHULZ, Geschichte
839 Há quem chame às glosas interlineares glossae intrinsecac e às marginais glossae e
xtrinsecae - cf. WENGER, Die Quellen 125.
840 Cf. B. PARADISI, Storia del Diritto Italiano. Le Fonti nel Basso Impero e ne
ll'Epoca Romano-Barbarica (Nápoles,1951) 84.
841 Vid. A. D'oRs em SDHI 26(1960) 368 e 369.
842 Posteriormente a 1960, voltou-se a falar, pró e contra, de penetração «puramente mecân
ica» das glosas (sobretudo) marginais no texto: ou como interpolações. se as glosas er
am inovadoras; ou como glosemas, se as glosas eram interpretativas ou esclareced
oras. Essa penetração mecânica teria sido obra inconsciente ou do copista ou da pessoa
que estava a ditar ou até do eventual censor-editor.-Vid. Juan MIQUEL, Mechanisch
e Fehler in der Überlieferung der Digesten em SZ 80 (1963) 233-286, e L. LOMBARDI,
a. C. (1964) 327-329.
521
DIREITO ROMANO
1.' PARTE - TIT. XI
§ 40
der rõmischen Rechtswissenschaft (Weimar,1961). Todavia, já em 1888, COGLIOLO falava
de glosemas com bastante preci
são 845, mas a sua orientação não foi seguida.
Existem glosemas, sobretudo nas fontes jurídicas pré-jus
tinianeias 811.
c) Alguns sinais diacríticos
As palavras colocadas dentro deste sinal, são consideradas uma interpolação justiniane
ia,-Este sinal, porém, não significa interpolação quando usado com algarismos, referidos
principalmente ao Codex lustiniani e ao Codex Theodosiani, v.g. C.2,3,7[213], C
T 2,29,1[362]; indica a data do fragmento da constituição.
] (post.-cl.) As palavras, colocadas dentro deste sinal, são consideradas uma inte
rpolação post-clássica ou pré-justinianeia.
< > (?) Dúvida sobre a parte clássica que deveria existir.
843 Cf. AG 41(1888) 189-192.
844 Vid. M. A. DE DOMINICIS, Registro delle Alterazioni (Glossemi ed Interpolazi
oni) nelle Costituzioni del Codice Teodosiano e nelle Novelle Postteodosiane seg
nalate della critica em BIDR 57-58(1953) 383-442, e Suplpemento em lura 15(1964)
117-136, e Ed. VOLTERRA, Indice delle Glosse, Interpolazioni e delle Principali
Riccostruzioni segnalate della critica nelle Fonti Pregiusfinianee em Rivista d
i Storia del Diritto Italiano 8(1935) 107-145, 389-505; 9(1936) 365-380.
522
(gen.) V. g. vel nada conventione (gen.) - indica que se considera essa parte ge
nuína e, portanto, não interpolada como julgam outros autores.
Tem, como em matemática, a significação de igualdade e, portanto, de mesmo sentido.
523
<>
Dúvidas sobre a interpolação. Glosema.
Paráfrase grega.
A parte clássica omitida e que devia estar em vez da interpolação (que pode consistir
até numa simples omissão).
APÊNDICE
Const. Tanta *
En nombre de Nuestro SeIlor Jesucristo.
El emperador César Flavio Justiniano Alamánico, Gótico, Fránquico, Germánico, Antico, Alánic
o, Vandálico, Africano, pio, afortunado, ínclito, vencedor y triunfador siempre Augu
sto, al Senado y a todos ols pueblos.
Tan grande es para Nos Ia providencia de Ia bondad divina, que se digna sostener
nos em todo momento con su eterna liberalidad. Una vez sosegadas con paz perpetu
a Ias guerras Párticas, una vez conquistada Ia nación de los Vándalos e incorporada de
nuevo ai imperio Romano Cartago y aun Ia Libia entera, nos concedió que Ias antig
uas leyes, sobrecargadas por el largo tiempo, se purificaran, gracias a nuestro
cuidado, en Ia nueva forma de un propor
En nombre de nuestro Seflor y Dios Jesucristo.
El Emperador César Flavio Justiniano Alamánico, Gótico, Fránquico, Germánico, Antico, Alánic
o, Vandálico, Africano, pio, afortunado, ínclito, vencedor y triunfador, siempre mag
nífico Augusto, aí gran Senado. y ai pueblo y a todas Ias ciudades de Nuestro orbe.
Diónos Dios, después de hecha Ia paz con los Persas, conseguida Ia victoria sobre lo
s Vándalos, conquistada el África y recuperada Cartago, el poder acabar una compilac
ión de Ias antiguas leyes, lo que ninguno de nuestros antecesores se atrevió siquier
a a pensar, ni se creta en absoluto posible para Ia inteligencia humana. El dar
plena armonía y claridad a Ia jurisprudencia de los Romanos, ya en si misma contra
dictoria, desde Ia fundación de Ia antigua
Const. l>égwxev
* Tradução espanhola de A. D'oRS. Vid. supra 463.
525
Const. Tanta
Const. MMStaxev
Const. Tanta
Const. Aéswxev
cionado compendio, obra que nadie antes de nuestro imperio esperó jamás ni consideró e
n absoluto posible a Ia inteligencia humana. Era cosa en efecto admirable el red
ucir a una sola concordancia toda Ia legislación Romana desde Ia fundación de Roma h
astá los dias de nuestro ~rio, que abarca casi mil cuatrocientos anos, una legisla
ción llena de contradicciones internas, incluso en cuanto a Ias constituciones imp
eriales, y esto de manera que no se encuentre en ella nada discrepante ni repeti
do, y que en ella no aparezcan leyes gemelas para Ias mismas cosas. Esto era pro
pio ciertamente de Ia providencia celestial e imposible de todo punto para Ia hu
mana debilidad. Como de costumbre. Nos acudimos entones ai auxilio de Dios inmor
tal, y después de invocar Ia Divinidad altisima, pedimos que el mismo Dios se hici
era el autor y presidente de Ia obra entera, y confiamos todo el trabajo ai exce
lentísimo maestre de servicios, excuestor de Nuestro Sacro palacio y excónsul Tribon
iano, y le cargamos con todo el ministerio de esta recopilación, para que diera fi
n a nuestro desdo en unión de otras ilustres y doctísimas personas.
526
Roma hasta los tiempos de Nuestro imperio, que son casi mil cuatrocientos anos,
no sólo Ia jurisprudencia, sino incluso Ias constituciones imperiales, eliminando
sus contradicciones, quitando lo repetido e idêntico, dándole una forma dei todo per
fecta, de modo que para cada cosa queda una sola ley, eso parecia propio dei pod
er celestial y de Ia benignidad de Dios, y no dei pensamiento, el intento e incl
uso Ia capacidad dei hombre. Asi, pues, elevando Nuestras manos, como solemos, a
Dios, y rogándole que Nos quiera ayudar, emprendimos esa obra y Ia acabamos por e
ntero utilizando para toda Ia ordenación, Ia colaboración dei excelentisimo maestre
de servicios Triboniano, excuestor dei sacro palacio y excónsul, así como de Ia de o
tras ilustres y prudentes personas, de modo que sabiendo en todo momento lo que
se iba haciendo, y enterándonos de Ias dudas, llegásemos a dar justo fin con Ia. int
eligencia y capacidad que nuestro Senor Dios y Salvador Jesuscristo Nos dio.
Ya Nuestra Majestad, siguiendo
y atentamente indagando lo que
ellos ibam haciendo, enmendabá
y debidamente reformaba, con
Ia ayuda de Dios celestial, todo
lo que se hallaba dudoso e impreciso. Asi, pues, todo se terminó porque Nuestro Di
os y Senor Jesucristto nos lo hizo posible, tanto a Nos como a Nuestros auxiliar
es en esta obra.
(1) Ya reunimos antes Ias constituciones imperiales recopiladas en un «Código» en doce
libros que ostenta Nuestro nombre. Después, emprendiendo Ia obra más importante, di
mos permiso ai mismo excelentísimo Triboniano para que recopilara y redujera conve
nientemente Ias obras doctisimas de Ia antigúedad, que se allaban en gran confusión
y desorden. Mas ai proceder ai examen de todo el material, nos comunicó Ia mencion
ada excelencia que los antiguos habían escrito casi dos mil libros, que abarcaban
más de tres miliones de líneas, que era necessario leer y atentamente indagar por en
tero, para elegir lo mejor de todos ellos, lo que se hizo con Ia gloria de Dios
y el favor de Ia Trinidad Altísima, y siguiendo Nuestros mandatos, que dimos desde
el inicio a Ia mencionada excelencia, se reunió todo lo ver
19
(1) Ya antes compusimos con Ias constituciones imperiales un volumen, que lleva
Nuestro mayestático nombre, abarcándolas en doce libros; y ahora hemos compilado en
un proporcionado e inteligible cuerpo legal, Ias opiniones extraídas de todos los
jurisconsultos que ha habido, Ias cuales sumaban dos mil libros y Ilegaban a los
tres millones de líneas. Así, hicimos cincuenta libros de aquellos antiguos, selecc
ionando lo útil, resolviendo todas Ias controversias, sin dejar nada que pudiera d
ar lugar a dudas. Esta obra Ia intitulamos «Digesta» <en Latin> o «Pandecta», porque con
tiene Ias definiciones y decisiones legales, resumiendo el conjunto en unidad, s
in exceder de ciento cincuenta mil líneas, y dividida Ia obra en siete partes, y n
o sin razón, sino atendiendo a Ia naturaleza y conveniencia de los números.
527
Const. Tanta
Const. i é8c xev
Const. Tanta Const. DéBwxev
daderamente útil en cincuenta libros, con todas Ias dudas aclaradas y sin dejar di
screpancia alguna. Y titulamos estos <cincuenta> libros «Digesto» o «Pandectas», pues se
incluyeron en ellos todas Ias controversias y soluciones legales y lo que se re
unió de todas partes, con un total de ciento cincuenta mil líneas para toda Ia obra.
Y lo ordenamos en siete partes, no sin razón y fundamento, sino en atención a Ia na
turaleza y ciencia de los números y adecuando a ellas Ia división de Ias partes.
(2) En consecuencia Ia primera parte de todo el conjunto, que se llama en Griego
«frota», se divide en cuatro libros.
(3) La segunda división tiene siete libros, y se llama «Sobre los juicios».
(4) En Ia tercera agrupación reunimos todo lo que se titula «Sobre Ias cosas», destinánd
ole ocho libros.
(5) El cuarto lugar, que viene a ser como el «ombligo»
de toda Ia obra, tiene ocho libros
en los cuales se halla todo lo
pertinente a Ia hipoteca, para
que no quede muy apartada de
Ia acción pigneraticia, que está
en los libros «Sobre Ias cosas».
En otro libro inserto en el mismo
volumen, que continee el edicto
528
(2) Lo que corricntemente se llama <en Griego> «Prota», lo pusimos en cuatro libros.
(3) Luego, la parte «Sobre los juicios», en otros siete libros.
(4) La parte «Sobre Ias cosas», en sólo ocho.

(5) La parte de Ia obra que sigue a continuación, que es Ia cuarta y central de to


da Ia obra, se concluye en otros ocho, en los cuales está Ia acción hipotecaria no m
uy apartada de Ia pigneraticia; está también el edicto de los ediles y Ia estipulación
en garantia de evicción, que, ai ser com
edilicio, Ia acción redhibitoria y Ia estipulación dei doble, que se da para garanti
a de evicción, pues todo ' eso está relacionado con los títulos de Ia compraventa, tam
bién Ias dichas acciones aparecen como acompanantes de Ias de Ia compraventa; acci
ones que en Ia ordenación dei antiguo edicto se dispersaban por lugares extraviado
s y muy distantes, pero ahora, gracias a Nuestro cuidado se han concentrado en e
ste lugar, ya que convenía aproximar lo que trata casi de lo miesmo. Otro libro, t
ras los dos primeros, hemos pensado para los intereses, el préstamo a Ia grúesa, los
documentos, los testigos y Ias pruebas con Ias presunciones, y se han colocado
estos ares libros únicos junto a Ia parte «Sobre Ias cosas». Depués de esto hemos puesto
lo que hay en Ias leyes relativo a los esponsales, Ias nupcias y Ias dotes;. re
uniéndolo en tres volúmenes. Sobre Ias tutelas y Ias curatelas hemos escrito los lib
ros. Este conjunto de ocho libros que acabamos de decir lo pusimos como centro d
e toda Ia obra, con muchas cosas de derecho tan útiles como interesantes.
(6) Viene luego Ia quinta división dei Digesto en Ia que
plementos de Ia venta, los aproximamos a ella, por conexión de Ias materias (pues
se hallaban lejos de ese lugar en el anterior orden legal), a fin de que no qued
e muy separado lo que trata de lo mismo. Luego, agregamos a esta parte lo rela-.
tivo a los interesses, tanto dei préstamo no marítimo como dei préstamo a Ia guesa, y
a los documentos, presentación de testigos, y pruebas y presunciones en un solo l
ibro, estos tres libros únicos los colocamos tras Ia parte «Sobre Ias cosas». Compilan
do de nuevo lo relativo a los espensales, Ias nupcias y Ia dote, asignamos á estas
materias tres libros. Otros dos libros a los que cuidan de los menores, los cua
les libros se Ilaman vulgarmente «Sobre Ias tutelas». Así, terminamos esta parte con o
cho libros, Ia cual, como queda dicho, es Ia central de toda Ia obra y comprendi
mos en ella muchas cosas interesantes y útiles.
(6) En el número de nueve libros recopilamos todo lo rela
529
Const. Tanta
se puede encontrar colocado todo lo dicho por los antiguos sobre los testamentos
y los codicilos, tanto ordinarios como de militares; Ia cual división se llama «Sob
re los testamentos». Se afiaden cinco libros sobre los legados y fideicomisos.
(6a) Como nada era más propio de los legados que una explicación sobre Ia ley Falcid
ia, y nada más proprio de los fideicomisos que otra sobre el senadoconsulto Trebel
iano, se les afiaden sendos libros, con lo que toda Ia parte quinta resulta comp
uesta por nueve libros. Juzgamos que sólo había que poner el senadoconsulto Trebelia
no, pues rechazando Ias complicaciones capciosas, que eran odiosas ya para los m
ismos antiguos, dei senadoconsulto Pegasiano y Ias diferencias tan innecesarias
como molestas de ambos senadoconsultos, decidimos que todo el derecho pertinente
se fundara en el senadoconsulto Trebeliano.
530
Const. Wraxev
tivo a los testamentos, legados e fideicomisos, que empiezan dos sobre testament
os y codicilos, tanto dei testamento general, queremos decir, como dei que los m
ilitares pueden hacer a su modo, y que se titulan «Sobre los testamentos». A continu
aclón, otros cinco que tratan de los legados y fideicomisos y toda Ia problemática p
ertinente.
(6a) Y como el discurso sobre Ia <ley> Falcidia se relaciona y es propio dei tem
a de los legados y fideicomisos, lo agregamos también ai tratado de los legados y
fideicomisos, dedicándole un libro enteró con algún breve aditamento. Asimismo, como,
ai igual que Ia <ley> Falcidia, se referia a los fideicomisos el senadoconsulto
Mamado Trebeliano, le dimos el último lugar de este conjunto, unificándolo todo el d
erecho de esta materia según ei Trebeliano, por estimar inútil el antiguo derecho de
i <senadoconsulto> Pegasiano y Ias absurdas diferencias y reiteraciones de estos
senadoconsultos, que los antiguos detestaban y declara ser complicadas y capcio
sas, ordenando ahora en una exposición más sencilla toda esta materia en congruencia
con el
orden dei Trebeliano. Y esta
quinta parte de toda Ia recopi
(6b) Y en esta parte no
hemos mencionado el derecho
de herencias caducas, para que
no perdure en nuestros tiempos,
asegurados por el favor celes
tial con el bien de Ia paz, a
Ia vez que nos dio Ia Victoria
bélica sobre todas Ias naciones,
Ia situación impuesta por Ias
calamidades de Ia antigua Roma,
en ocasión de hechos desafor
tunados y en tiempos tristes,
y arraigada con Ia guerra civil,
para que de esto modo el recuerdo
aciago no pueda ensombrecer
nuestro dichoso siglo.
°(7) Viene luego Ia sexta
parte dei Digesto, en cuyos libros
están todas Ias posesiones de
bienes hereditarios, sea de los nacidos libres como de los libertos, de suerte q
ue reunimos en un par de libros todo el derecho que trata de los grados de paren
tesco y de Ia afinidad, Ias herencias legítimas, toda Ia sucesión abintestato y los
senadoconsultos Tertuliano y Orficiano, en virtud de los cuales se suceden recip
rocamente Ia madre y sus hijos, reducindo toda Ia masa relativa a Ia posesión de l
os bienes hereditarios a un sistema breve y claro.
Const. Akacaxe v
lación se compone de estos nueve libros.
(6b) De Ias antiguas <herencias> caducas nada se nos dice en estos libros, porqu
e también esto que se introdujo en Ia república Romana por razón de una desafortunada
necesidad, y quedaba como triste recuerdo de Ias guerras civiles, no convenía que
conservara carta de naturaleza en estos tiempos en los que Dios Nos dio el poder
hacer Ia paz, tanto con los de dentro como con los de fuera, y vencer fàcilmente
con su ayuda a los adversarios, quando fue necesario hacer Ia guerra.
(7) Vemos seguir una sexta parte de toda Ia recopilación, que consta de ocho libro
s. Empieza bien con Ias Mamadas posesiones de bienes, que, ai igual que Ias otra
s, hemos revisada, tanto Ias pertinentes a
los nacidos libres como a los
libertos, y hemos expuesto en
claro sistema, en vez de Ia gran
confusión y oscuridad de antes,
considerando que les bastaba
el número de un par de libros.
Pusimos a continuación, en ei
mismo libro, todas Ias sucesio
nes que ilaman abintestato, inser
tando sus distintas clases y los
grados en Ias mismas, y cer
ramos ei conjunto de estas ma
terias con lo relativo ai senado
531
Const. Tanta
Const. Tanta
(7a) Tras esto hemos colocado, en un libro único, lo estabelecido para Ias denunci
as de obra nueva y el dano temido, Ia demolición de edifícios y sus peligros, Ias op
iniones de los antiguos acerca de Ia <acción de> contención dei agua pluvial, asi co
mo también lo que hallamos dispuesto en ias leyes acerca de los publicanos y sobre
ias donaciones tanto Ias que se hacen en vida como a causa de muerte.
(7b) Corresponde a Ias manumisiones y al processo de libertad otro libro.

(7c) Del mismo modo se han. insertado en uno solo volu, men muchos y variados te
xtos sobre Ia adquisición tanto de Ia propriedad como de Ia posesión y sobre los títul
os en que se causan.
(1d) Otro libro se dedica a <Ia ejecución de> los condenados y los que han confesa
do en juicio, y a Ia detentación y venta de patrimonios y lo relativo al fraude de
acreedores.
532
consulto Tertuliano y Orficiano, en virtude de los cuales Ias madres y los hijos
se hereden reciprocamente.
(7a) Sigue luego otro libro que ordena lo de Ias obras en los edifícios, Ia garant
ia de ias casas que se hunden o caen, los danos que se cometen en estas cosas, l
os que se causan a los vecinos con el curso de Ias aguas, lo de los que recaudan
los impuestos públicos, y ias donaciones, tanto ias ordinarias como ias que se ha
cen en contemplación de Ia muerte.
(7b) A continuación, se contiene en un libro lo que puede haber sobre Ias manumisi
ones y Ias acciones .pertinentes.
(7c) Todavia metimos en un volumen lo de la posesión y de Ia adquisición por medio d
e ella, y los títulos que la causan.
(7d) Y todo lo que puede haber sobre, Ias sentencias judiciales y los que en jui
cio eonfiesan algo en contra de ellos mismos, sobre Ias cesiones de bienes por l
os acreedores, Ia separación, sobre el modo de evitar el fraude de acreedores,
(7e) A continuación se han reunido todos los interdictos, y luego sigue otro libro
único sobre Ias excepciones y los plazos, ias obligaciones y acciones, de manera
que esta sexta parte dei «Digesto» tenga sólo ocho libros.
(8) La séptima y última parte dei Digesto está formada por seis libros. Primeramente u
n volumen doble en el que se encuentre escrito todo el derecho sobre Ias estipul
aciones u obligaciones verbales, los fiadores y mandantes, asi como sobre Ia nov
ación, el pago, Ia acceptilación y Ias estipulaciones pretoriais, materia que en Ias
obras antiguas ocupaba innumerables libros.
(8a) Luego están los dos libros «terribles», de los delitos privados y extraordinarios
, asi como ]os crlmenes públicos, que contienen toda Ia severidad y dureza de Ias
penas. A los cuales libros se agrega lo dispuesto sobre los audaces que intentan
ocultarse y son declarados contumaces, sobre ias
penas que se imponem o per
Const. AkBWxev
también todo esto se contiene
en un solo libro.
(7e) Tampoco hemos dado
más de un solo libro al tema
de ]os interdictos. De ahí llega
mos a ias excepciones y plazos
para Ias mismas, y al tema de
ias obligaciones y acciones; y
compilamos toda esta parte, que comienza,como queda escrito, con lo de ias poses
iones de bienes, en el número de ocho libros, ordenándola como sexta parte de toda I
a recopilación.
(8) La última de todas, que es 1a séptima de toda Ia obra, contiene seis libros, emp
ezando por Ias estipulaciones; seguiendo por lo escrito sobre Ia fianza, y sbore
entrega, pago y liberación de deudores, y de ias estipulaciones introducidas por
disposición pretoria (todo lo cual se comprende en nuestra obra en dos libros, cua
ndo antes no se puede decir cuántos necesitava);
(8a) Continuando con el discurso de ias acusaciones y reuniendo todo lo relativo
a ]os delitos menores, que Ilaman privados, y los que llaman «fuera de orden», dándol
es el nombre de «extraordinarios», y pasando luego u los crlmenes públicos,
que son más graves y merecen
una pena más severa. También
aqui son dos estos libros sobre
533
Const. Aé8r)xev
Const. Tanta
Const. Tanta
Const. Ak8wxev
Const. Tanta
Const. Wwxev
donan a los condenados, así como sobre <el destino de> sus bienes.
(8b) Un libro único hemos pensado <ser conveniente> para Ias apelaciones contra ia
s sentencias que ponen fin a Ias causas civiles y criminales.
(8c) Todo lo relativo a los munícipes, a los decuriones, contribuciones, obras públi
cas, mercados y públicas promesas, jurisdicciones varias, censos, a lo que se encu
entra en los antiguos sobre Ia significación de ias palavras, o a modo de regias,
lo abarca el libro cincuenta, último de Ia compilación.
(9) Todo lo cual lo hizo el excelentísimo y también muy sabio maestre, excuestor y e
xcónsul Triboniano, persona igualmente dotada en ias artes de Ia elocuencia que de
Ia ciencia de1 derecho, el cual sobresalió en su gestión y nada tuvo nunca por más im
portante y querido
534
los delitos y acusaciones criminales. Se combinan en ellos lo de los reos contum
aces que se ocultan y de sus bienes, de Ia pena impuesta a los condenados, y de
su indulto.
(8b) Empezamos de nuevo el seguinte libro con el discurso de Ias apelaciones, qu
e es común a Ias sentencias tanto de ias deudas pecuniarias como de Ias acusacione
s criminales.
(8c) Todo lo que establecieron los antiguos sobre los
municipes y los decuriones, ias
contribuciones, ias obras públi
cas, los mercados, Ias promesas
de réditos, jurisdicciones varias
y el censo público; todo lo
dicho por los antiguos en general
sobre Ia significación de Ias
palavras y a modo de regias;
todo esto lo abarca el último
libro, el sexto de este grupo
que empieza con Ias estipula
ciones, si se parte dei comienzo
dei propio grupo, pero el quin
cuagésimo respecto ai conjunto
de toda Ia recopilación.
(9) Todo lo cual ha sido
excelentemente hecho y elabo
rado, en forma digna de Nuestra
disposición, por el excelentisimo
y, sapientísimo maestre, excues
tor de Nuestro palacio real y
excónsul, persona acreditada por
su conducta, por su elocuencia
y por sus obras de derecho,
como Nuestras órdenes; así como
también otros notables y muy
cultos varones, a saber: Cons
tantino, ilustre conde de Ias
larguezas imperiales y maestre
de Ia secretaria de instancias y
juicios imperiales, el cual siempre
se nos acreditó por su buena
reputación y fama; también Teó
filo, ilustre maestro de derecho
y jurisperito que enseiïa en esta
magnífica ciudad el mejor uso
de ias leyes, y Doroteo, ilustre
y doctísimo excuestor, ai que
hicimos participe de esta obra por la buena reputación y fama que tiene por Ia ens
eilanza dei derecho a sus discípulos en Ia magnífica ciudad de Berito; y Anatolio ma
estro ilustre, también é1 fue agregado a esta obra como intérprete que es dei derecho
en Berito; persona de noble abolengo en el derecho pues su padre Leoncio Y su ab
uelo Eudoxio dejaron el mejor recuerdo em <el estudio de> lasl eyes; también el il
ustre conde de Ias larguezas imperiales Cratino, óptimo profesor de esta metropoli
tana ciudad. Todos ]os cuales fueron elegidos para la mencionada obra, a Ia vez
que los doctísimos Esteban, Mena, Prosdocio, Eutolmio, Timoteo, Leónidas, Leoncio, P
iatón, Jacobo, Constantino y Juan, que son también abogados ante
y que no antepone nada a nues
tras órdenes; asi como también
por los que bajo Ia dirección
de 'aquél elaboraron para Nos
esta obra, a saber: Constantino,
ilustre conde de Ias larguezas
imperiales y maestre de Ia secre
taria de instrucción y juicios imperiales, el cual Nos probó en todo su buena fama;
también Teófilo, ilustre maestro de derecho y que enseíïa en esta regia ciudad con gran
respectabilidad y diligencia, y en forma digna de Ia profesfón doctoral; y Doroteo
, magnífico excuestor, que es maestro en Ia ciudad de ias leyes (queremos decir Ia
célebre y brillante metrópoli de Bento), cuya buena reputación le trajo a Nos y le hi
zo participe también dei presente trabajo; y Anatolio, maestro ilustre, que también é1
enseila excelentemente el derecho en Berito, persona que hace Ia tercera genera
ción respetable en Ia enseflanza de Ias leyes entre los de Fenicia (pues desciende
de Leoncio y de Eudoxio, personas que se admiram con razón en el estudio dei dere
cho, después, de Patricio, de prestigiosa memoria, cuestor y profesor, y de Leonci
o, el celebrado exprefecto y excónsul, y de Patricio su hijo); y el ilustre Cratin
o, doctísimo conde de Ias larguezas
535
Const. Tanta
Const. Iéilwxev
Const. Tanta Const. DéSmxev
imperiales (buen intérprete de
Ias leyes, él también en esta
regia ciudad); además de los
muy doctos Esteban, Menas,
Prosdociò, Eutolmio, Timoteo, Leónides, Leoncio , Platón, Jacobo, Constantino y Juan,
todos ellos abogados entre el tribunal de los dignísimos prefectos de Nuestros sac
ros pretorios, y que, teniendo justa fama general por el tribunal supremo dei pr
efecto que preside los pretorios de Oriente, y Nos los elegimos para Ia ejecución
de tan gran obra, avalados por el testimonio unánime de su talento. Concertados to
dos bajo Ia dirección dei excelentisimo Triboniano, para poder terminar tan gran o
bra con nuestra autoridad, con ei favor de Dios, se dio fin a Ia misma en los di
chos cincuenta libros.
(10) Tanta ha sido Nuestra reverencia por lo antiguo, que no hemos consentido en
modo alguno que los nombres de los prudentes cayeran en olvido, sino que aparec
e en Ias inscripciones de Nuestro Digesto el nombre de todos los que son autores
de sus leyes, habiendo hecho Nos tan sólo que se afiada o quite, según sea necessar
io, y se ajuste a Ias regias más justas todo lo que en Ias leyes de aquellos prude
ntes parezca
536
su sabiduria, fueron juzgados por Nos como merecidamente dignos de participar en
esta empresa. Esto es, pues, lo que Nos elaboraron para Ia redacción dei Digesto
los ilustrisimos jurisconsultos que acabamos de mencionar.
(10) Tanta ha sido Nuestra reverencia por lo antiguo, que no hemos consentido al
terar Ia indicación de los nombres de los antiguos autores, sino que antepusimos a
ias leyes Ia indicación dei nombre de cada uno, aunque cambiando si algo nos pare
cia ser menos correcto, suprimiendo algunas partes y aiYadiendo otras, eligiendo
lo mejor de entre muchos y dando a todos el mismo valor, de. modo que todo lo q
ue se estribe en ..
superfluo, imperfecto o menos conveniente, En muchas repeticiones o contradiccio
nes se ha puesto lo que parecia máá correcto, igual para todos y fundado en una mism
a autoridad, de modo que todo lo que allí aparece escrito se entienda como Nuestro
y como redactado por Nuestra propia voluntad, sin que nadie se atreva a compara
r el texto antiguo con lo que introdujo Nuestra autoridad, pues es mucho y muy i
mportante lo que se ha cambiado por razones prácticas; hemos pensado que se debía co
rregir y mejorar, sin mayor miramiento, incluso cuando se trataba de alguna cons
titución imperial conservada en los antiguos libros. Así, respetando los nombres de
los autores antiguos, hemos mantenido en nuestias enmiendas todo lo que era conv
eniente y necesario para Ia verdad de ias leyes. Por ello, si había entre ellos al
guna duda, se ha conseguido Ia más segura armonia, sin dejar lugar a ningún titubeo.
(11) Mas como comprendiéramos que no pueden soportar tan gran mole de ciencia pers
onas incultas o que estando en Ia antesala primera de Ias leyes se apresuran a e
ntrar en los secretos de Ias mismas, resol
el libro provenga de nuestra autoridad, y que nadie se atreva a comparar lo actu
al con lo de antes, pues muchas cosas, difíciles de enumerar, hemos mejorado, incl
uso si se decia de otra forma en alguna constitución imperial de los antiguos empe
radores. Conservando, pues, los nombres de los antiguos, hemos hecho Nuestra Ia
verdad de Ias leyes, de modo que si algo se discutia entre ellos (y había mucho de
esto), se decidiera, definiera y redactara en forma de ley clara e terminante.
(11) Mas como era necesario hacer una introducción sencilla para aquellos que empi
ezan el estudio de Ias leyes y no pueden entender Ia ensenanza superior, no deja
mos de pensar en ello, y, dando encargo ai
537
Const. Tanta
vimos preparar otra redacción más sencilla, a fin de que con el barniz de Ia misma y
como imbuídos con los primeros princípios de todo, puedan ellos penetrar en sus pro
fundidades, y percatarse bien con sus propios ojos dei perfecto sentido de Ias l
eyes. Por consiguiente, llamando a su excelencia Triboniano, que había sido elegid
o para dirigir toda Ia obra, asi como los ilustrísimos Teófilo y Doroteo, profesores
muy elocuentes, les mandé seleccionar, tomando de los libros que los antiguos com
ponían, con el nombre de «Instituciones», para comprender los rudimentos de ias leyes,
todo lo que de ellos se encontrara de útil y más adecuado, y lo más correcto y ajusta
do a Ia práctica de nuestro tiempo, y ponerlo en cuatro libros, exponiendo los pri
meros fundamentos y elementos de toda esta ciencia, para que instruídos en ellos l
os jóvenes pudieran hacerse cargo de Ias disposiciones legales más difíciles y complet
as.
Les recordamos que no olviden Nuestras propias constituclones, que promulgamos p
ara enmendar el derecho, y no dejen, aí hacer Ias «Instituciones», de tener en cuenta
esas mismas enmiendas, para que resulte claro
538
excelentisimo Triboniano, elegido para dirigir toda Ia obra legislativa, y a los
grandes y doctos profesores Teófilo y Doroteo, mandamos seleccionar, de lo que ha
y en los libros de instituciones de los antiguos jurisconsultos, lo oportuno y v
igente, y cuanto conviene a los negocios civiles de hoy, reunirlo y presentárnoslo
, sin olvidar Nuestras constituciones, que hicimos para enmendar lo antiguo, y h
acer as1 cuatro libros, que han de ser los primeros elementos introductivos, que
se convino llamar «Instituciones». Ofreciéndonos ellos también concluída esta obra legal,
revisándola Nos por entero y juzgándola bien hecba, Ia hemos considerado conforme a
Nuestra idea y hemos declarado Nuestra también este libro, y a todos declaramos c
on lo que se dice en los proemios de este libro que tiene el mismo valor que Nue
stras constituciones.
lo que antes era objecto de
vacilaciones y quedó después
establemente fijado. Obra esta
que, una vez que fue concluída
por ellos y Nos fue presentada
e releímos, Ia aceptamos con
benevolencia, no Nos pareció
indigna de Nuestro propósito
y dispusimos que estos <cua
tro> livros tuvieran el mismo
valor que Ias constituciones,
como se declara más expresa
mente en el discurso Nuestro,
que antepusimos a esos mismos libros.
(12) Compuesta ya, pues, toda Ia recopilación dei derecho Romano, concluída em tres
volúmenes, a saber, «Instituciones», «Digesto» o «Pandectas», y Ias «Constituciones» <o «Códi
minada en tres anos, que al comenzar Ia ordenación del material no se esperaba ter
minar ni en todo un decenio, ofrecemos con ânimo piadoso este trabajo a Dios Omnip
otente y para ayuda de los hombres, y damos abundantes gracias a Ia Suprema Divi
nidad, que nos permitió hacer com éxito Ia guerra y conseguir una paz honrosa, y dar
Ias mejores leyes, no sólo para el nuestro, sino también para todo tiempo, tanto próx
imo como lejano. Hemos creido necesario, pues, publicar esta legislación a todos
Const. ié8wxev
(12) Asi, pues, habiendo ordenado el derecho Romano, y habiendo terminado tan gr
ande obra con tres libros en total, y en tres anos, lo que al comienzo estaba más
allá de toda esperanza, y luego, aí demonstrarse que Ia empresa era posible, no pare
cia poderse terminar todo en' diez anos, y lo acabamos rápidamente en sólo tres acto
s, pareció justo, a Ia vez que ofrecíamos este trabajo al Senor Dios que nos donó el p
oder hacer Ia paz, llevar bien Ias guerras, y dar leyes para todos ]os tiempos,
pasados, presentes y futuros, manifestar a todos los hombres nuestro ceio y prov
idencia por ellos, pues quedan liberados de Ia anterior incomodidad, confusión e i
nfinitud de ias leyes, y podrán valerse de
539
Const. Wcaxev
Const. Tanta
Const. Tanta
Const. Ak8wxev
Const. Tanta
Const. Ak8wxev
los hombres, para que vean ia mesura y autenticidad de estas leyes, una vez libe
rados de tamaíïa confusión y profusión de Ias mismas; y para que tengan en el futuro, un
as leyes tan claras como concisas, ai alcance de todos y libros fáciles de adquiri
r, y no hayan de adquirir los volúmenes de una cantidad inútil de leyes gastando gra
n parte de sus bienes, sino que tanto ricos como pobres puedan comprarlos fácilmen
te por muy poco dinero, cambiando un mínimo precio por una gran prudencia.
(13) Mas si en tan grande recopilación de leyes, extraída de un número inmenso de libr
os, se encuentra acaso alguna vez algo repetido, nadie lo censure, sino que, pri
meramente, debe atribuirlo a Ia humana flaqueza, que es natural, ya que es más pro
pio de Dios que de los mortales acordarse de todo y no caer en defecto alguno, c
omo ya decían los antiguos; además, Bebe saber que nos es inútil Ia repetición hecha en
algunos textos, y muy breves, y que no se hizo fuera de nuestro propósito, porque
o Ia ley era necessaria de modo que convenía ponerla en distintos títulos a causa de
Ia conexión de materias, o bien, como impli
540
otras correctas y concisas, todas dias manejables y aptas para abreviar los liti
gios y asequibles para cuantos quieran adquiririas, sin necesidad de mucho diner
o, <que era antes necesario> para reunir Ia masa de aquellos libros inútiles, ya q
ue proporcionan tanto a los ricos como a los que disponen de menor fortuna Ia po
sibilidad de adquiririas por poco precio.
(13) Y si (por ser una multitud lo que se ha compilado, y tomado de tantos milla
res) apareciera alguna repetición (lo que creemos que ocurrirá pocas vezes), no resu
ltará sin justa excusa para quienes tengan presente Ia condición de Ia naturaleza hu
mana, pues ser en todo irreprensible es propio sólo de Ia virtud divina, y no de I
a humana, como se decía ya entre los antiguos. Por lo demás, hay lugares donde admit
imos Ia inserción de repeticiones, sea porque Ia materia misma así lo exigia ai ser
de aplicación en distintos lugares <de Ia compilación>, sea porque lo que parece rep
etición de lo anterior se mezcla con algo nuevo y
caba otras cosas, resultaba impo
sible dividiria sin producir una
confusión de Ia ley entera; y
cuando los casos aparecian per
feetamente expuestos por los
antiguos autores, resultaba dei
todo improcedente dividir y sepa
rar los diversos extremos que en ellos aparecían reunidos, a fin de no perturbar e
l sentido y aun menos los oodos de los lectores.
(14) Dei mismo modo, lo que se halla dispuesto en Ias «Constituciones» imperiales no
hemos permitido incluirlo en el volumen dei «Digesto», considerando suficiente Ia l
ección de Ias «Constituciones», salvo, y esto muy raras veces, cuando, por Ias razones
dichas, se ha admitido Ia repetición.
(15) Pero no tendrá cabida en este volumen ninguna contradicción, ni Ia hay, si bien
se apuran Ias razones de Ia diferencia, pues siempre habrá alguna novedad o razón m
enos aparente que disipe el agravio de contradicción, introduciendo una diferencia
que se evade dei terreno en discordia.
(16) Y si algo fue acaso olvidado, por haber quedado oculto como en el fondo de
tantos miles de libros y, habiendo sido conveniente el intentar algo, se dejó a un
lado necesariamente a causa de Ia obscuridad
resulta difícil de separar, sea porque muchas veces se conserva el tenor de todo u
n pasaje para no perturbar Ia inteligencia con Ia supresión de palabras que ya apa
recen en un lugar anterior; por lo demás, esto, cuando se tolera por necesidad dei
asunto, se hace brevemente y de modo que casi no se nota.
(14) Lo mismo hemos observado' en el derecho de ias constituciones imperiales, p
ues no permitimos que se ponga en este libro <dei Digesto> lo que ya se dice en
elias, excepto por Ias causas que justifican Ia repetición que acabamos de indicar
.
(15) Nadie, en cambio, encontrará fácilmente alguna ley de Ias que hay en este libro
contraria a Ias otras, aunque trate que buscaria recorriendo todos los limites
de posible contradicción, sino que hay <siempre> algo diferente que, bien consider
ado, distingue el propósito de una y otra ley.
(16) Pero si acaso, se echa en falta algo de lo que deberia haberse puesto (pues
es natural que esto suceda a causa de Ia deficiencia humana), mejor será para Nue
stros súbditos el verse liberados de muchas malas leyes
541
Const. Tanta
Const. Wcoxev
Coast. Tanta
Const. Láówxev
que lo envolvia ¿quién puede censurar esto de buena fé? En primer lugar, porque es cos
a natural de Ia limitada inteligencia humana; en segundo lugar porque lo que se
mezcla con muchas cosas inútiles no es fácil de descubrir; en tercero porque es much
o mejor olvidarse de algum cosa conveniente que abrumar con muchas cosas inútiles.
(17) Pero una cosa resulta admirable de estos libros, y es que Ia antigua multit
ud de libros venha a ser más pobre que Ia presente reducción, porque los abogados de
antes, a pesar de ser muchas Ias leyes existentes, utilizaban pocas de ellas pa
ra su litigios, sea por Ia falta de libros que les era imposible comprar, sea po
r Ia misma ignorancia, y los litigios se resolvían no tanto por Ia autóridad de ias
leyes cuanto por el capricho de los jueces. En cambio, con Ia presente recopilac
ión de Nuestro Digesto, Ias leyes han sido seleccionadas de tantos volúmenes, cuyos
títulos no decimos ya que no conocian los antiguos, sino que jamás hablan oldo menci
onar; y fue recopilado de tanta materia acumulada que Ia multitude antigua resul
ta pobre, y riqulsima, en cambio, nuestra reducción.
542
que el no omitir quizá aigunas pocas cosas que pudieran parecer útiles, siendo asi q
ue se hallan enterradas y escondidas entre otras a miliares y casi innumerables,
desconocidas para casi todos y que por elio se pueden olvidar fácilmente.
(17) Con ser tantos los libros escritos por los antiguos, se juzgaba ]os litigio
s en los tribunales con muy pocos autores y libros, no sólo porque <los jueces> ca
reclan de libros, sino también porque todo esfuerzo era insuficiente ai no poder e
ncontrar muchas cosas de utilidad; ahora, en cambio, se reúne en esta recopilación u
n gran número de leyes vigentes sacadas de libros escasos y que apenas se podían hal
lar, y cuyos títulos desconocian muchos, incluso de los más prestigiosos jurisconsul
tos. De los cuales libros nos proporcionó gran cantidad el mencionado excelentísimo
Triboniano, aportando una muchedumbre de libros y no fáciles de contar, leídos atent
amente los cuales, se compusieron estos volúmenes, aunque ias personas elegidas pa
ra hacer esta obra lieron también otros
Fue sobre todo el excelentisimo
Triboniano quien proporcionó
muchos libros de Ia antigua jurisprudencia, muchos de los
cuales eran desconocidos incluso
para los más ilustrados leídos atentamente todos ellos, se introdujo en Nuestra reco
pilación lo que era mejor de ellos; mas los autores de esta obra, no sólo leyeron aq
uellos volúmenes de los que extrajeron ias leyes puestas en el «Digesto», sino otros m
uchos, que eliminaron con buen criterio, ai no encontrar en ellos nada útil o nuev
o que pudieran extraer para Nuestro «Digesto».
(18) Con todo, como ias cosas divinas son muy perfectas pero ei derecho humano t
iende siempre ai progreso por su, misma condición, y nada contiene que pueda perma
necer sin cambio (pues Ia natuialeza no cesa de producir nuevas formas), no excl
uímos que puedan surgir nuevos negocios que no estén sujetos aún por los lazos de Ias
leyes. Si tal ocurriese, solicítese el remedio dei Emperador, pues Dios puso Ia gr
acia imperial ai frente de Ias cosas humanas para poder enmendar y ajustar toda
novedad, y ordenarlo con ias correspondientes medidas y regias. Y esto no somos
Nos quienes
muchos libros, que con razón no quisieron introducir en esta recopilación legal por
no encontrar en ellos nada útil o que fuera nuevo respecto a lo seleccionado.
(18) Mas si algo en el futuro resultara dudoso y que no aparezca escrito en esta
s leyes (pues Ia naturaleza suele presentar muchas cosas nuevas), por ello conti
tuyó Dios sobre los hombres Ia realeza: para que siempre que haga falta disponga e
lla y subsane da deficiencia de Ia naturaleza humana y defina con leyes y limite
s inteligibles; y no decimos esto sólo como cosa nuestra, sino que ya Julian, el más
sabio de los jurisconsultos famosos, se ve que decla lo mismo, ai pedir para Ia
s cuestiones que se presentaban por primera vez el complemento de Ia realeza; y,
por su lado, Adriano, de con
543
i
Const. Tanta
Const. Ai8wxev
Coast. Tanta
Const. a Swxev
lo decimos por primera vez, sino que tiene un viejo precedente, ya que el mismo
Juliano, agudísimo jurisconsulto y autor. dei Edicto, Perpetuo, lo dice así en sus p
ropias obras: que si algo resulta incompleto, se colme con Ia sanción imperial; y
no sólo él, sino también Adriano, de consagrada memoria, ai redactarse el Edicto y en
el consecutivo senadoconsulto, así lo definió con toda çlaridad: que si se encontraba
algo no previsto en el Edicto, lo pudiera disponer Ia nueva autoridad conforme a
Ias regias, princípios y analogias dei Edicto.
(19) Percatados de todo esto, vosotros, senadores y hombres de todo ei orbe, dad
gracias muy cumplidas a Ia Suma Deidad, que reservó para vuestro tiempo una obra
tan provechosa: se ha concedido a vuestro tiempo aquello de que en el juicio de
Dios no había parecido digna Ia antigüedad. Asi, pues, venerad y observad estas leye
s, quedando derogadas todas ias anteriores, y que ninguno de vosotros ose compar
arias con ias anteriores, ai tampoco indagar los desacuerdos entre unas y otras,
porque todo lo que aqui se ha insertado es lo que sola y exclusivamente queremo
s que se observe. Y que no se intente
544
sagrada memoria, ai Compilar en un breve libro Ias leyes anuales de los pretores
,, dando a Juíiano lá dirección de dicha obra, dijo lo mismo en el discurso que pronun
ció : públicamente en Ia antigua Roma: que si ocurría algo que no estuviera previsto,
era conveniente que los magistrados procuraran definirlo conforme a Ia analogia
de lo ya legislado.
(19) Percatados de esto tosos nosotros (me refiero a vosotros, oh magnífico Senado
, y a todo hombre de nuestra república), dad gracias a Dios, que reservó para vuestr
o tiempo un bien tan grande, y usad de nuestras leyes sin anteponer niaguna de i
as que están en los libros antiguos ai compararias con ias actuales, porque, aunqu
ee parezca que alguna no está de acuerdo con Ias otras, dejamos a un lado lo antig
uo como inútil y lo actual resulta ser lo que vale. Prohibimos, pues, que en el fu
turo se haga uso de ias leyes antiguas, y permitimos y proclamamos que sólo tengan
carta de naturaleza y
leer o aducir en juicio, o en otra controversia en Ia que sean necesarias Ias le
yes, nada de otros libros más que de estos Nuestros - «Instituciones», «Digesto» y «Constitu
ciones» - que hemos compuesto y promulgado, si no quiere el temerario que así lo hag
a sufrir gravísimas penas como reo de falsedad, juntamente con el juez que tolere
tal audiencia.

(20) Para que no ignoréis de qué libros de los antiguos se compuso esta compilación, d
isponemos que se consigne esto en el comienzo de Nuestro «Digesto», para que resulte
dei todo manifiesto con qué jurisconsultos y con cuáles de sus libros, y con cuántos
miles de ellos, se ha edificado este templo de Ia justicia romana.
(20a) Hemos seleccionado aquellos jurisconsultos o comentadores que eran dignos
de tal obra y que los muy pios príncipes que antecedieron se dignaroa admitir, dan
do a todos el mismo rango para que ninguno pueda reclamar antiguas preferencias:
porque ai disponer
vigencia ias nevas, de modo que el que intente hacer uso de alguna ley de los li
bros antiguos y no de estos dos solamente y de Ias «Constituciones» compiladas o hec
has por Nos, leyéndolas en los juicios, o si es quica juzga admitiendo que se le p
resenten tales leyes, sea reo de falsedad y, condenado em juicio público, sufra Ia
pena correspondiente, aunque no lo dijéramos, siendo como es manifiesto por sí mism
o.
(20) Considerando que también era mejor el poner ai comienzo dei libro dei «Digesto» l
os <nombres de los> antiguos jurisconsultos y <los títulos de> sus libros, de dond
e procede Ia compilación de Ias leyes que ahora tenemos recopiladas, ordenamos que
así se hiciera, y así se hizo, y mandamos que se aiiadiera a esta Nuestra sacra con
stitución, a fia de que todos vieran cuál era ia infinitud e imprecisión de antes y cuál
, en cambio, ha sido Nuestra innovación.
(20a) Hemos seleccionado aquellos jurisconsultos e intérpretes que tenlan fama gen
eral y satisfacían a los anteriores emperadores, siendo dignos de que aquéllos los m
encionaram; y si alguno había de los que ai los antiguos jurisconsultos conoclan,
le apartamos de formar parte de
545
Const. Tanta
Const. zégwxzv
Const. Tanta
Const. Wwxev
que también. estas leyes tengan el valor de Ias constituciones, como si Nos Ias hu
biéramos promulgado ,cómo se va a apreciar más unos que otras, si se ha dado a todas I
a misma dignidad y potestad?
(21) También nos parece oportuno ordenar ahora (como ya nos pareció desde el comienz
o, ai mandar que se hiciera esta obra con Ia ayuda de Dios) que ninguno de los j
urisperitos actuales, ni los futuros, se atreva a afiadir comentarios a estas le
yes, a no ser que sólo quisiera traducirlas ai Griego en el mismo orden y posición e
n que están Ias palavras Latinas (lo que los griegos liaman «kata poda» <o «al pie» de Ia
letra>), o también se quisieran anotarias en atención a los títulos, y escribir lo que
liaman «paratitla» <o notas «a los títulos»>. No les concedemos, en cambio, lanzar interp
retaciones de Ias leyes, o mejor, perversiones de Ias mismas, no vaya a ser que
de su verbosidad provenga algún desdoro de confusión para Nuestras leyes, como ocurr
ió en los antiguos comentaristas dei Edicto Perpetuo, los cuales trajeron siri fin
de un lado para otro una
546
esta obra, pero dimos a todos los que están incluídos en ella el mismo rango y digni
dad, sin honrar a ninguno con más valor individual que otro. Porque, si damos a to
das ias obras de aquéllos Ia fuerza de Ias constituciones imperiales ¿quién de ellos p
uede parecer tener más o menos valor?
(21) Confirmando de nuevo lo que ya mandamos desde el primer momento de hacer Ia
recopilación, prohibimos a todos que nadie de ]os presentes o futuros escriba com
entarios de estas leyes, excepto si quisiera traducirlas a Ia lengua Griega, y sól
o haciendo Ia interpretación que se dice «ai pie <de Ia letra> », o también, si quisiera
aìiadir para facilitar el uso de Ias leyes lo que llaman <notas> «a los títulos», pero
siri hacer nada más en absoluto sobre estas leyes, ni dar nueva ocasión de controver
sia, duda o profusión en Ias mismas. Esto ya sucedió antes con Ia legislación dei edic
to, que, siendo él mismo muy breve, llegó a unas proporciones incomensusables por Ia
variedad de los diversos comentarios. Porque si algo apareciera dudoso sea para
los litigantes en los juicios sea para los que cuidan de juzgar, lo puéde interpr
etar correctamente el emperador, que es el único
obra mesuradamente hecha, ai inventar distintas interpretaciones, hasta el punto
de que todo el derecho Romano resultó confuso. Si no hemos tolerado a estos comen
tadores antiguos
, como se va a admitir Ia varia discordia de los futuros? Y si tal cosa osaren h
acer, háganse reos de falsedad y sus libros sean totalmente destruidos. Mas si, co
mo queda dicho más arriba, algo pareciera ambíguo, llévese por los jueces a Ia superio
ridad imperial, y declárese por Ia autoridad dei Emperador, el único a quien se perm
ite hacer ias leyes e interpretarias.
(22) Imponemos Ia misma pena de falsedad también a aquellos que en el futuro osen
escribir Nuestras leyes vaiiéndose de siglas oscuras, pues todo, esto es, los nomb
res de los prudentes, los títulos y los números de los libros, queremos que se expre
sen con todas Ias letras y no por siglas; de modo que quien hubiera adquirido un
libro tal, que contenga siglas en cualquier lugar dei libro o dei voltimen, sep
a que no le vale Ia propiedad dei libro; tampoco damos licencia para leer en jui
cio nada de tal libro que tenga en cualquier parte dei mismo Ia perversión de Ias
siglas. El mismo copista librero
facultado por ias leyes para hacerlo. As[, pues, quien se atreviera, contra esta
disposición Nuestra, a escribir un comentario fuera de Ia forma de Nuestro mandat
o, sepa que queda sujeto a Ias leyes de falsedad, y que lo que hubiera escrito s
erá secuestrado y totalmente destruido.
(22) La misma pena se establece contra los que usen en Ia copia <dei Digesto> es
as notas que Ilaman «siglas», tratando de alterar con ellas el texto, y no escriban
con todas ias letras los números, los nombres de los antiguos prudentes y el resto
dei texto legal. Sepan también los que adquieran un volumen así copiado que habrán he
cho una adquisición inútil de ese modo, pues no permitimos que tales libros tengan c
arta de naturaleza y valgan en los tribunales, aunque pueda suceder que el libro
en aquel lugar que se aduce no tenga ninguna sigla, pero Ia tenga en otro lugar
cualquiera, aunque sea una sola vez; de forma que el
547
Const. Tanta
Const. 1é8urxev
Const. 4é8taxev
Const. Tanta
que hubiera osado escribirlas, no sólo debe quedar castigado con Ia pena criminal
(como ya se ha dicho), sino que ha de pagar '.ai propietario Ia estimación dei lib
ro en el doble de su precio, si el propietario compró o encargó copiar tal libro sin
saberlo, como ya hemos dispuesto antes en Ia constitución latina, y en Ia griega,
que dirigimos a los profesores de derecho.
(23) Estas leyes Nuestras, que incluímos en estos libros, a saber, Ias «Institucione
s» o «Elementos» y el «Digesto» o «Pandectas», dispusimos obtuvieran su vigencia desde Nuestr
tercer afortunado consulado, el treinta de diciembre de Ia presente duodécima ind
icción <o afio 533>, para que valgan siempre, a Ia par que Nuestras «Constituciones»,
y ostenten su valor en ' los juicios de cualquier causa, ~ sea de ias que puedan
surgir después, sea de ias que aun están pendientes de juicio, sea de ias que no te
rminaron por resolución judicial o amistosa. Las gire ya fueron resucitas por una
sentencia judicial o apaciguadas por un pacto amistoso, no queremos en modo algu
no que se vuelvan a ver. Mas con motivo nos apresuramos a publicar estas leyes e
n nuestro tercer
548
propietario dei libro lo tenga como no escrito en absoluto, y el que lo escribió y
vendió a un comprador que lo ignoraba, pague ai perjudicado Ia estimación dei libro
doblada, siendo siempre aplicable Ia pena criminal correspondiente. Esto mismo
hemos escrito en Ias otras constituciones a propósito de esta obra, tanto en Ias p
ublicadas en lengua Latina como en Ia Griega, que dirigimos a los profesores de
derecho.
(23) Estos libros, pues, a saber, ias «Instituciones» y el «Digesto», dispusimos obtuvie
ran su vigencia desde Nuestro tercer afortunado consulado, es decir, desde el tr
einta de diciembre de Ia presente duodécima indicción <o ano 533>, para que valgan s
iempre, y a Ia par que Nuestras «Constituciones», y se apliquen tanto a los asuntos
que hayan de venir en el futuro como a los que están pendientes de juicio y no han
concluído por amistosas transacciones; en cambio, no toleramos que se vuelva a ag
itar lo ya juzgado o transigido. Tercer consulado éste, que Dios nos dió muy brillan
te, ya que en él se confirmó Ia paz con los Persas y se publicó este libro de leyes, c
omo antes nadie había podido pensar, y además Ia tercera parte dei orbe, a saber, Ia
Libia entera vino a unirse a
consulado, que se donó con toda fortuna a Ia república por el auxilio de Dios Sumo y
Seilor Nuestro Jesucristo, ya que en este consulado se acabó Ia Guerra Pártica y dió
paso a una perpetua paz, y un tercio dei mundo se agregó a Nos (pues se unió a nuest
ro imperio, después de Europa, el Asia y Ia Libia entesa), y se ha finalizado tan
importante obra legal, dones celestres todos ellos concedidos a Nuestro tercer c
onsulado.
(24) Así, pues, todos Nuestros jueces tomen estas leyes para su jurisdicción, ténganla
s y enúncienlas en sus juicios y en esta regia capital, especialmente el excelentísi
mo prefecto de esta capital metropolitana. Proveerán los tres excelentísimos prefect
os pretorios, .tanto de Oriente como dei llírico yy de Ia Libia, de darias a conoc
er, por medio de sus autoridades, a todos los que están bajo su
jurisdicción. Dada ei diez y seis de diciembre <de 533>, siendo cónsul nuestro Sefio
r Jus
tiniano por tercera vez.
Nuestro cetro, todo ello, regalo del tercer consulado. que Nos dió Nuestro grau, D
ios y Salvador Nuestro Jesucristo.
(24) Así, pues, todos los muy laudables magistrados de Nuestra república, una vez re
cibida esta Nuestra sacra constitución, apréstense a aplicar Nuestras dichas leyes e
n su propio tribunal; el dignisimo prefecto de esta grande y regia ciudad publíque
la en Ia misma, y cuide el supremo y muy laudable maestre de Nuestros <servicios
>, as! como los dignisimos y excelentísimos prefectos de nuestros sagrados pretori
os, tanto el de Oriente, como el dei Ilírico como el de Ia Libia, por medio de sus
propias órdenes, manifiesten estas obras a todos los que de ellos dependen, para
el inexcusable conocimiento de todos Nuestros súbditos. <En Latin: > Dada el diez
y seis de diciembre <de 533>, siendo cónsul nuestro Sefior Justiniano, perpetuo Au
gusto, por tercera vez.
549
INDICES
I.
2.
3
4
De Fontes
De Matérias De Autores
De certas Máximas ou Aforismos Jurídicos
~.-ÍNDICE DE FONTES
I. FONTES JURÍDICAS
A. Fontes pré justinianeias
Codex Euricianus (CE) s/n/: 87, 167 Codex Gregorianus (CG)
s/n/: 86, 166 3, 5: 259
Codex Hermogenianus s/n/: 86, 166
Codex Theodosianus (CT) s/n/: 86, 166, 278
1, 5: 406, 412551, 413,
4I3553
6: 414
4, 1: 398, 423 2: 424, 432 3: 406, 424
4, 4, 7:344418
6, 21, 1: 4125'"
9, 7, 6:430583 11, 36, 26: 344418
14, 9, 1: 355
3: 356, 412549
15, 1, 53: 412549
Collatlo (Co)
s/n/: 166, 407
6, 4: 410545
15, 2, 2:285
Consultado (Cs) s/n/: -407
I, 6: 408534
9, I: 410
Edictum Theodorici (ET) s/n/: 87, 167
Epitome Codicum Gregoriani et Hermogeniani (EGH)
s/n/: 407
Fragmenta Dositheana (FD)
s/n/: 166
553
(CH)
I,
Fragmenta Vaticana (FV)
s/n/: 86, 166, 407 85: 255 204: 356
Gai Institutions (GAIUS)
s/n/: 166, 424 574 I 3: 203 232
4: 220, 220262
5: 270
6: 344 7: 295 357
84: 226271
91: 225, 225269
II 193: 251 196: 252 197: 255
198: 255, 257705
201: 253
209: 254 212: 255 216: 254
218: 255, 256
III loo: 241288
136: 306
149: 386
,IV I6o: 331
Gaios Augustodunensis (GA)
s/n/: 166
Gaius Epitomatus (GE) s/n/: 166
Interpretatio, ad Cod. Theod. (IT)
1, 4, 3: 406
Lex Rom. Burgundionum(RB) s/n/: 87, 167
554
Lex Rom. Wisigothprum (RW) s/n/: 87, 167, 365
Livro Siro-Romano ou Leges Seculares (LS)
s/n/: 166
Pauli Sententiae (PS)
s/n/: 86, 166 2, 1, 5: 187 io: 259
11, 1: 234276 3, 5 :220263 5, 25, 4: 273332
Res Cottidianae (RC) s/n/: 166
Responsa Papiniani (RP) s/n/: 166
Scholia Sinaitica (SS) s/n/: ,66, 407
Tituli ex corpore Ulpiani (TU) ou Liber singularis Regularum
s/n/: 86, 166 24,11a: 255
Novellae Posttheodosianae (Nov. post.)
Theod. s/n/: 86, 344418
1 : 414
2, 2, 1: 354437
32 : 358 454
Valent. III 2, 2, 2: 355443 26 : 420566
C. Haec quae necessario
s/n/: 443621
pr.: 407, 445625
2: 518
C. Summa reipublicae
s/n/: 443621, 445626
I: 407, 518
3: 4I3553 421, 442617
C. Imperatoriam
3: 479720
4: 479718 481730 6: 480723
Institutiones (I.) s/n/: 87
1 3: 135 2, 2: 4055
C. Deo auctore
s/n/: 456, 4568 2: 413 553 4: 457 652
6: 398
7: 518, 4586ss
8: 4S865.5
9: 4586ss ,o: 45865s 11: 479717
12: 456650, 461, 465, 467
C. Omnem
s/n/: 461 1: 437
2: 476, 480722
3: 476
C. Wwxev
s/n/: 343, 345428, 456
1: 456650 9: 456651
A: 344418, 346423
20: 457653
21:461, 465, 466,
467, 467671
Digesta (D.)
1, I, 1 : 364
pr.: 13, 24, 281, 283
1: 285
2 : 364
S1: 377
3 : 364 6 : 364 7 : 363
pr'.: 163162, 165, 215,
238, 268, 280
I: 165, 174182, 297,
339
10 : 363
555
B. Corpus Iuris
C. Tanta
7: 357
11: 468
s/n/: 343, 344418, 345421,

346423
i : 456650,
473687
,
9: 456651 10: 467672,
11: 481730, 12: 47,681
15: 467673
19: 468
20: 457653
21: 461,463 664, 464665.
465, 466, 467
471684
475
5i8 482
I,
I : I25 135, I6, 3140, 339 2: 281, 283, 284,
285, 287350
II : 23
2, I : 370
2 : 364, 381
4: 180192
6: 290352
9: 219, 220262 12: 172180, 292
36: 376
37: 376
38: 376, 381, 382, 383
39: 376, 383 43: 386 44: 386
47: 389
49: 295$S7, 344 50: 377, 390505
51: 377
52: 377, 389 203, 363
363
16, 220, 220262
6,
7, 8,
21 : 365
6, 6 : 368
10, 1, 9 : 368
11, 7, 35 : 368 12, I, I, 1: 384 3: 384
367
370
2: 244
114, 6 : 260
1 : 370
pr.: 260, 261, 262, 264, 265 3: 261, 264
3 pr.: 265320
4 : 262
7, 3: 262, 267
13: 266321
16: 263
2: 265
5: 263
10 : 262
13 : 370 15 : 364 16 : 366 17 : 365
20 : 370
3, 6 : 367
1, 1pr. :234276 2 : 370
pr.: 234
1: 234, 234276, 236,
2362, 237, 239 z: 236
3: 239
I: 238
367
: 370
: 365
27 : 365
4, 6 : 365
1, 54 : 365
1, 3 : 439616
5, 17 : 368
17, 2, 73 : 366 18, 2,
7,
19, 1, 20, 1,
i8 : 367
2 : 439616
53 : 365 5, I: 245. 2, 10 : 368
3, 3
4, 10
69 : 367
31 : 366 38, 4: 326
5, 9 : 369 24, 3, 43 : 367 25, 2,
367 366
44, 3, 2 : 188210
45, 1 : 469 Ipr.: 306
5, 1: 303
16 : 367
110 : 372
137 pr.: 303,
387 372
304,
21, 2, 22, I,
46, 3, 39, 2:
67
8o
S
I, 5:
8, 16
2, 52, 20:
79
9, 10
2 5
10, 32
11, 7pr. 19, 8, 8:
12:
17
23, 1, 1:
24, 1 ,
9, Ipr. .
306
13; 4, 8
7, 9
13 : 344418
82 : 354439
367
367, 391501
197225 197225
369
397323 197225
47,
302
308, 310 372
400
27, 1,
28, 1,
3, 6, 6:
44 27
6,
7,
29, 2,
5
31, 1, 32, 45
65,
33, 2,
7,
12:
14
15 25, 3
220263
7 : 369
170175 170175
48,
12,
I,
3, 1
7
9
13 : 370
I, 1: 268, 271, 364
7 : 19 5
: 97=5
11
I : 372.
2 : 372
6 : 365
13 : 372
14 : 372
1, 7pr. : 342,415
14, 1, 3:384
5 : 38410 :366 2opr.: 387 37 : 367
1 : 314
2 : 314
I, 2: 317
3: 317 367
I: 18
4, 6, 8, 18,
9,
7
9 : 367
16 : 387
29 : 365
2: 257, 258307
49,
367 365 372
197225
367 372
197225
197225 197225
197225 197225
I91 5
50,
15, 19 : 372
10,
7,
2,
34, 2 :265319 25, lo: 265J19 26 : 265J19
35, I, 17pr.: 258 2, 16 : 367
82 : 506803
346423
15, Ipr. I6,131
I
T2
14
54 55 62
73, 4:
82
106
155, T: 202
207
T7
15,
37, 40,
8, 3
77
2., 17,
2, 7
4, 14
46
5, 20
41, 1, 34
42, 1, 7
43, 20, 1, 8: 162
439616
367 367
: 367, 367470
372
188210
399
1925
469
363, 385
257, 258, 436 338
23 23
228272
385 366
197225
23 363 30
556
3, 39 : 39417s
557
C. Cordi
s/n/: 446630
1: 484741 2: 485744
3: 372, 484742, S18
4: 48470, 488, 489
Codex Lust. (C.)
Basilica (Bas.)
s/n/: 89, 89122 89123 92, 93, 168
s/n/: 92, 168
Brachylogus Iuris Civilis: 507806
Códices
Cod. Vat. 7277: 421
558
s/n/:
I 4-18:
23-73
32:
33:
II 5:
6:
7:
25:
26: 195: 201:
208-228:
232-257:
262 a 301: 464 a
540: 427 544
583: 428 594
a 613: 638
a 652: 656
a 665: 759
a 798:
Leges
Lex Aebutia de formulis: 83, 219
- genucia: 6899
- Hortensia de plebiscitis:
6899, 71, 82, 206
- Iulia: 84
20
-Licinia Iunia: 207 - Liciniae Sextiae: 82
-Ovinia: 61, 6899
- Papiria Tabellaria: 208 -Plautia Papiria: 84
- Poetelia Papiria de nexis:
82, 192 - Porcia: 65
- Publia: 6899
--Philonis: 70, 82, 208 - Ripuaria: 93
- Romana Burgundionum:
407
-- Visigothorum: 407
Valeria Horatia de plebis
citis: 6899, 71, 82, 205 - Vallia: 191, 195
Libri Feudorum: 506,5078" Lombarda :507%õ
Palimpsestos
Palips. n.0 5 766 da Bibl. Vat.:
427, 427582
Papyri
Pap. Oxyr.: 395,442617,446,
4469, 484742
Pap. Ryland: 51g Pap. ST. 1449R: 519
Senatusconsulta
Senac. de Bachanalibus: 224 - Claudianum: 225 - Macedonianum: 259 - Neronianum:
249 - Orfitianum: 232 - Silanianum: 220 - Tertulianum: 226 - Velleianum: 233
XII Tabulae (XII Tab.)
s/n/: 18, 2936, 3653 172180
I 1: 18
559
52, 2 : 170175
53, 34, 4: 163162
11, 19, 1 : 356, 4I2549
12, 15, 1 : 412550
PIRA
1, 14, 15,
4, 5,
28 60
61, 13
6, 23, 1
35
61,
8, 39,
12,
1 10,
3: 271 424
1. 344418
259
193221
420566 408534,
220263
420566
3: 163'62
346423
485
Novellae lust. (Nov.)
22: 488 118: 488 127: 488 .140: 492 144: 492 148: 492 149: 492
161: 492
163: 492 164: 492 166: 492" 167: 492 168: 492
Glosa
373
177, 177188
182
182, 18,6206 182, 186206
396 396 396
226271 225269
395 395 433 433
5 4,
434
C. Fontes Bizantinas
Hexábiblos
s/n/: 89, 93, 168
Paráfrase de Teófilo s/n/: 168, 220
Synopsis Basilicorum s/n/ 89122, 168
430
Écloga
438
D. Leges, Senatusconsulta, Colecções, Inscrições, Papiros, Fontes Medievais, etc.
407 437
97, 501
CIL
12 583, 19: 19 VIII 24094 : 344418
III :A8Se186
I; r8, I86, 187, 188 2: 18, 188 3: 188, 189
4: 190
5 : I9o, 1921 6: 191, 192221
VI I : 202
E. Fontes Modernas
Cód. Civ. Alemão: -- Brasileiro -- Chinês -- Egípcio - - Espanhol - - Etíope - - Francês - -
Grego - - Italiano -- Português - - Romeno
g0, IOI, 105
9o
go
9o 9o
412548
3346, 90
89, 9o go
9o go
- - Suíço : 9o --Português de 1867
arts. 1033-11036.1: 326
-- - art. 1535.°: 260..°
- - de 1966 art. 123°: 260310
(Anonimus)
De Rebus Bellicis: 411546
Ambrosius: 167, 429585
Augustinus : 167
Confissões 6, 8, I3ss.: 355442
Aristotheles: 282 Arnobius: 167
560
124.°: 260310 127.°: 260310
402 .0: 260310
403°: 260310
404.0:.260 310 610°: 326 611°: 326 612°: 326
-de Proc. Civ. Port. s/n/: 3346
art. 1..0: 188211 287.°: 187209 294.°: 187209 300°: 187209
811°: 188210
927°: 188210 928.°: 188210
Aulus Gellius (vid. Gellius) Aurus Victore
De Caesare I9, 1: 344418
Biblia
Job : 192219 Mat. III 5 : 3141 Sap. XVI 17: 191219 I Thes. IV 6: 192219
Cassiodorus: 354
Caesar: 167, 381
Cicero:2I1J, 2522, 152, 167,
183200, 285, 288, 352432
381, 382, 386501
Orationes
Rosc. Com.: 38ó501
Verr. : 342415
Philosophica
De Finibus 5, 21, 59: 286 De lure Civ. in Art.
Red.: 352432
De Legibus 1, 8 : 286'
16-20: 163162
2, 23, 59: 183200 3, 16, 35: 208244
De Off. 1, 7, 23: 241289
2, 24, 86: 286
2, 42 : 2935
3, 72 : 163162
1, 43, 94: 196"
193 : 383 212 : 382
De Part. Orat. 37,131: 163162
De Repub. I, 36 :382
2, 36, 37: 180192
5, 2 : 2731
Diaconus Paulus: 344418
Dionysius Halicarnen
sis: I80192
Dio Cassio: 167 Enodius: 354
Entropius Breviarium 8,
Festus: 167, 170, 207242
Gellius - 167, 176181, 352432
Noct. Attic. 13, 13, 1: 353434
14, 7 : 367471
Hesiodus: 26 Homerus: 25
Horacius: 2629
Hyeronimus Cronichon: 344 418
Isidorus de Sevilha:' 2521, 167 Lactancius: 167, 364
Livius (Titus) 252, 163162, 167
I, 21, 4: 241289
3, 31, 8: 180192 3, 34 : 3653
6: 180190 7: 18o190
9 46, 5: 290352 23, 9, 3:24I289
24, 8-19: 224 Minucius Faelix: 167
Odofredus: 354
Origines Etymologiae
Ovidius: 26
Peanius: 344418
Plautus: 167 Plato: 282
Plutarcus: 2522
Polibius: 167
II. FONTES NÃO-JURÍDICAS
De Orat.
5, I, 5: 448633
17: 344418
561
Probus: 167 Quintilianus: 167, 364 Seneca: 152 Suetonius: 167, 260
Duodecim Caesares. Titus Flavius Vespasianus: 260J10 Iulius Caesar 44, 2: 448632

Tacitus: 167
562
Absolutismo 79 ss.
ABVRNIus VALENS (L. Flavius) 378 Acaia (vid. Achaia) Acção executiva 188
Accio 73, 84
Achaia 77115 83
Acordo Ortográfico Luso-Bra
sileiro 195221
Acta Senatus Romani de Theodosiano publicando 412551
Actio 21g, 283, 335409,_483 Actionem habere 334407 Actíone teneri 334407
Actio doli 376
-fámiliae erciscundae 255 - f iduciae 243 - iudicati 187, 188 - Pauliana 326' - pe
rsonal is 240 - pigneraticia 244
- ex stipulatu 305, 305369 - ex testamento 253 254 Actiones 347 - adiecticiae 33
8 -civiles 336
-in facturo conceptae 337 - ficticiae 337 - in ius corueptae 336 - praetoriae 21
9, 336 - utiles,338
Actor 335409
Acursianos 97 Acúrsio 97, 501
Addictio 189, 189213
- hereditatis 229 - libertatis 221 Adiudicatio 334 Adnotationes 276 Adopção imperial
73107 Adoratio 79
Adpromissio 240, 247 -carácter acessório) 240288 -formas) 241
- clássica (não tern carácter subsi
diário) 241288 Adpromissor 240288, 241288
Adriano (imperaor) 222, 295,
343, 390, 390506, 391, 408, 408 534
Adrumeto 391
Adsessor 390506, 397
- do praefectus praetorio Advocacia 354 Advocatus fisci 397
AegYptus 77115
AELIUS GALLUS 457653
- MARCIANUS 397
- PAETUS x81 Aequitas 437
Aerariurn 7613, 207, 223
Aes 261
- alienum 26031
Annales 2, z6: 2935
3, 27: 180192
Terencius: 1167
Titus Livius (vid. Livius)
Valerius Maximus: 167
Varro: 3447, 167, 170, 367411,
381
De Ling. Lat.: 6796
Virgilius : 2619
2. - ÍNDICE DE MATÉRIAS
I90,
195
399
Afixação 209
África 7715, 87, 390, 391, 397,
432
-do Sul 105
AFRICANOS 85, 367, 378, 391, 392,
458
Ager publicus 6798, 32944'
Agere 283, 291
-per formulas 44, 83, 333 Agileu 503
Agnados 228 Alarico 358 Alciato 99
Alemanha (e o DR) 90, 92126 114 - (e a recepção) 94, 100 Alexandre Severo 399 Alexan
dria 357
ALFENUS VARUS 368, 377, 386,
457653
Algemas 189 Aljustrel 214
Aloandro 502, 503, 503799 515820
-(sua ediç. do C.I.C.) 504
Alpes Maritimae 77115
Alterum non laedere 7, 81, 339 América do Norte (e DR) 115 Anacronismos 512 Anatólio
456
Anco Márcio 177188
Aníbal 73
Anónimos 4869 A-normal 171178 Antémio 420567
Antinomias S14 Antioquia 357 Antiquo 208
Antologia 456650
-de obras 371
Antoninianus 85 Antonino Pio 396
António Agostinho 99, 498, 498780,
502, S,5820
- Conti 492
-Fabro 99, SI 3B1S, 5,5820 - de Gouveia 99
564
Apelido 6o, 376486
APIusCLAUDIUS(Caecus)290, 376 Apparatus 478
- (glossarum) Sol Appellatio 459 Appendix 469, 477 Aprovação pelo senado 208 AQUILIU
S GALLUS 385
Aquitania 7715
Ara pacis 74
Arábia 77115
Arcádio 8o, 86, 411, 430 ARCADIUS CHARISIUS 379 Archivio Giuridíco «Filippo SeraTini» 15
5
Argentina (e DR) 92126, 114, 115 Argumentatio 2521
Aristóteles 97 Arles 358
Arménia 77115
Armistitium 6593
Arqueologia 126 Ars 283, 284
Assassinato de um «donlinus» 220 Assessores (vid. adsessores)
Assyria 77115 Astraea 2629
Atenas 357
Atribuir 14
auctoritas 4869, 55, 72, 75, 209, 266 -e ius 55
-patrum 62, 6899, 70, 208 Audire 352
Augusto 73, 74, 84, 137, 234, 294,
390506
Aulus Agerius 335 AULUS GELIUS 191 - OFILIUs 386
Aurícula 20 Auris 20
Áustria (e DR) 92126, 114
Authentica 490
Authenticum 490 ss., 502, 503, 5016,
5o6804 507806
- (edições) 503
-(no Ocidente) 491
Autodefesa 188210 Autoridade 5684
Autorização responsável 306 Autun 358
Aval 306
Bacchanalis 224
Baixo-Império 219261,
Balança 27
-(emprego ,imbólico) 27 -(«jurídica») 25 --homem 2521 Baldo 98
Barbarismo So Bartolistas 98 Bártolo 98, 137
B síheos 436, 464, 468, 498, 502,
- (e o Codex) 502796
- (e interpolações) 511812
- (seu valor para integrar lacunas e
corrigir certos erros) 498781 Beirute 35, 87, 92, 357, 408532
438
Bélgica 77' 15
-(e DR) 90, 92126 114 Benefício da excussão 24,288
Benef cium excussionis 241288, 316 Bíblia 430
Bibliografia (Direito Comuns)
145 ss.
-'(Direito Romano, supervivên
cia) 145
- (Epigrafia jurídica) 146 - Papirologia jurídica) 146
-de Congressos de DR 136 ss. -de DR (guias bibliográficos)
143 ss.
-do Direito Penal Romano 134 --Privado Romano 130 - -Processual Civ. Rom. 133
-das investigações romanísticas
método; questões 134
- da tradição romanista no Oci
dente 135
Biblioteca Nacional de Turim 496 - de S. Marcos (Veneza) 499 -Vaticana 395, 434
Bibliotecas 353434 Bílancia 2421, 2521, 32 Bilanx 2421, 2521
Boa fé 319
Boise 19021
Bologmni 502, 503, 503798
Bolonha 94, 95, 96 Bona fides 3 1 ~ Bona materna 417561 Bourges 99
Brachylogus saris Civílis 507806 Brasil (e DR) 92126, 114, 115 Breves 443620
Breviário dc Alarico 407, 421,
421569, 432, 433, 433600 435
--(e CT) 421570
- -(e interpretationes) 435
Brevis Edicti 369477 Brevium 369477
Britannia 7715, 390, 396 Bronzes 167 Bucca 20
Bulgária 89 -(e DR) 114
Búlgaro 97, 459658
Bulletino dell'Istituto di Diritto Romano «Vittorio Scialoja» 155
Bulas 443620
Burocratização 354 Caesar 8o, 84, 388, 448
Caius 251301
Calendário romano 192221 CALLISTRATUS 364, 378, 480725 Campo de Marte 205236
565
443622
Canadá (e DR) 114
Canga chinesa 19021
Capacidade individual 386 Capere 254
Capite damnari 197
Capite poenas dabant 196, 197 Capite punire 197
CAPITO 84,176, 377, 387, 388, 389,
390
Cappadocia 77115
Cápua 84
Caput 196, 197, 228 Caracala 397, 399
Cárceres privados 189, 189215 Cardeal Gasparri 450, 450639 Caros políticos 443622
Caros Magno 94 Cartago 44, 83, 358 CASSIUS 369, 388 Casuísmo científico 118 Catenae
189, 19021 Catus 381
Causa iuridica 212250
Cautio 307, 3I037
Cavere 291, 381
Celebrar um negócio 203229 Celibato 417561
CELSUS 258307, 367, 368, 384, 358,
390, 400
CELSUS (filius) 378, 388, 390
Censo quinquenal 6798 Censor 65, 6798 Censura 6899
Centuriae 63
César (vid. Caesar) Cesareia 357
Chancelaria imperial 354 Checo-Eslováquia (e DR)
114
China (e DR) 92126, 114
Chirographum 307 Cibaria 79
Cícero 152, 202, 352
Cidadania 78118, 84
-(inflação) 85
566
Ciência jurídica 5684, 281, 351 ss. Cino de Pistoia 98 Cives 45, 241, 354
Civítas 59, 60, 6z, 76113
Civitates foederatae 78 - immures 78 - liberae 78 - stipendiariae 78 Classes soc
iais 416s61
Classicismo S0, 359 -(de GAlus) 394
Classicista So14 Clássico 5074
Claude Chevallon 50,716
Cláudio 234
Cláusulas testamentárias 376 Cleópatra 73
Clientes 6292
CNEUS FLAVIUS 82, 290 Codex 49, 406, 445626
- de 529 (vetus ou prímus) 87, 442
ss.. 44261, 445, 4455, 445627, 627,478,
483, 483738, 484, 485 -rapidez da sua feitura) 445625
-- (e o Codex de 534) 4455, 446 - de 534 (ou de Justiniano ou repetitae praelect
ionis) 36, 37, 3733,
87, 97135 275338, 347, 407, 4o8534 408535 408536, 420566 421, 445627,
455, 4600, 475, 483 ss., 487,
503, 505, Sob, 518 --(novo) 483 737
-- oficial do Império) 413 - - fontes utilizadas) 485 -- sistematização) 485
manuscritos) 498
edições antigas) 502
interpolações) 153, 518
os Basílicos) 502796
e o Codex de 529) 445625, 446
CT) 5027%
e as Novellae post-Theos.) 5027% e colectâneas canónicas) 502796
a Escola de Beirute) 485 745
--(Vocabularium) iso
- Egnatianus 502
- Gregorianus I66, 405, 406, 407 ss.,
410 0, 411, 413, 416, 42257%
426579, 430, 431, 438, 444, 445õ26445627, 485 --(e interpolações) I53, 520
- Herniogenianus 401, 405 ss., 406,
407, 408 ss., 409, 410, 4tI, 413, 416, 422370, 4z6579 430, 431,
438, 444, 445626, 445627, 485
--(e interpolações) 153, 520
- rescriptus 498
- Theodosianus 154, 4ci6, 4o8536
411 ss., 415, 417, 419, 422570
426579 430588, 431, 435, 438,
443, 444, 445625 5627 485,
516 --(Index) I5I
--(edições) 430590
--(editio princeps) 418 --(manuscritos) 418
--(e os manuscritos ocidentais)
421570
--(e interpolações) 153, 520,
520838
--(e o Breviário de Alarico)
421569
- -(e o Codex de 534) 502796
--(no Ocidente) 421
--(no Oriente) 421568
- - (e o Direito Espanhol) 421 Francês) 421 Italiano) 421 Português) 421
leis romano-bárbaras)
Código de Justiniano (vid. Codex
de 534)
Código Teodosiano (vid. Codex
Theodosianus)
Código Visigótico 488753
Códigos Civis actuais (c o DR) g1
Cognitio 274335, 276, 345 - extraordinaria 294356
Cognomen 59
Coisas 6292
- fungíveis 252
- não-fungíveis 252
Colecções Canónicas 502
Colecções de escritos de romanis
tas 140 ss.-de textos 155
Colectânea Grega 492 ss., 503
- - (edições) 503
Colectânea de ius (e Teodósio II)
478
Colectâneas canónicas (c o Codex
de 534) 502796
- de escritos de DR; homenagens; comemorações 136 ss.
de ei115» 422
- de eleges» 405 ss., 422570
- mistas (eius» e eleges») 425, 447 - post-clássicas 166 - pré justinaneias 403 ss.
- - ocidentais 426 ss., 426579
Colegialidade 64
Collatio (Legum Mosaicarum et
Romanarum) 153, 425, 428 ss.,
430588, 432, 516
- (e interpolações) 5.19
Collationes Sob, 506804
-(I0.° Collatio) 506, 506805
-(I I.° Collatio) 507
Collegae 6797
- minor -661`
Collegium pontificum 300 Colômbia (e DR) 114
Columbar 190217
Comentadores (Escola dos) 97 ss.
567
92126
--(e as
421 569
Codices 49
Codificação Justinaneia 360 Código (vid. Codex)
Código de Direito Canónico
450638-639
Código Gr n
oriano (vid. Codex
Gregoria
nCódigo Hermogeniano (vid. Codex Hermogenianus)
Comentário -ao edicto do pretor
(urbano) 386
Comentários (obras, tipo de) 369,
395, 438
-(a institutos isolados) 370 -ad leges 370 -a normas especiais 370 Comentários-tra
tados 465 Comes rerum privatarum 80119,
443622
- sacrarum largitionum 80i19, 443622
Comícios (vid. comitia)
- das centúrias (vid. comitia cen
turiata)
- das cúrias (vid. comitia curiata)
Comites 78117
Comitia 63, 75, 205236
- centuriata 63, 65, 71, 179 - curiata 63, 71, 179 - tributa 63, 71
Comitium 193221 Commagene 7713 Common Iaw 299363
Cómodo 85
Compedes 189, 189217
Compilação (novo tipo de litera
tura) 393
-de «ius» e de eleges' 447
- justinianeia (finalidade) 452 Compilações 86
Compiladores (sua linguagem)
S14816
Comprovação directa 511 Comunismo (e DR) 1o9 Conceitos (8úvaµlç, dos) 50 Conceptio verboru
m 303
Concilia plebis 71, 205
Concílios 450638
Conciones 207, 208
Concursus causarum lucrativarum
254303
Condemnatio 187, 3:4
Condictio 305369
- indebiti 238, 262315, 263
Confissão de dívida em juízo vid.
568
Confessio in lure 187, 188 Confusão de textos 49 Congiarium 79
Congresso de Verona 110, 483 Congressos de DR (bibliografia)
136 SS.
Conscnpti 6,
Conselho de Estado 443622 Consiliarii 390306, 399
Consiliatores 97 ss.
Consilium Imperatoris 443622 Consilium principia 390506 Consistorium 8o, 80119
Constantino (Imp.) 8o, 398, 410,
412, 44, 4t6, 423, 437, 443622,
444, 485, 516
Constantino (comes sacrarum lar
gitionum) 456
Constantinopla 51, 81, 87, 88, 89,
92, 356, 357, 456, 489, 492 Constituições imperiais 16, 49,
174, 268 SS., 275338 445626
- aplicação no espaço) 277 ss--(do ocidente para o Oriente) 415557.3 420
- -(do Oriente para o Ocidente)
415557.3, 420
Constituição (da Igreja Católica)
443 2
--<Providentissima Mater Ec
clesia» 450639
Constituições dos imperadores do
Sacro Romano Império 507
Constituit 203232
Constitutiones (vid. também Constituições)
- (Vocabulário) 15o
- extravagantes 50780ó
- Antoniniana 85, 273 - Cordi 87, 485
- Deo auctore 87, 456 - flé8wxsv 463
- Haec quae necessario 443, 4457
- lmpelw iriam maiestatem 87, 480,
482
- Omnem 87, 461
- Summa reipublicae 445, 445627
- Tanta 87, 463, 482
-- (trad. esp.) 525-549
- 1á8toxe0 461, 463
- (trad. esp.) 525-549 Constitutiones de Frederico I e II e
de Conrado 5o6B03
- Sirmondianae 418 ss.
Consuetudo (vid. também mores
ator m) 170, 170175, 171, 174,
Consulado 6899 Consulere 6797, 218
Consules 65, 6694, 6797, 207241, 339
Consultatio (Veter's cuiusdam lurisconsulti)153, 425, 430 ss., 432
-edições) 430590
-especial importância) 431 Consultationes 274
Continuidade do lus Romanum 88121
Contionem dare 208
Contubernales 78117 Convenire 226271
Conventio pignoris 244
Conventus iuridicus 78
Conversão dos negócios jurídicos
250299
Córdoba 115
Corpus 3653, 271
-luris 3549 3653
--Canonici 3550
--Civilis 13, 34, 3448, 35, 36,
3733, 4056 87, 89123 92, sol,
104, 107, 119, 122, 138, 166,
166170, 216, 357, 380, 428, 441 ss., 442, 448, 454 ss., 460660,
496
---edições) Soo ss. --- - de conjunto) 503
e a edi. de D. Godofredo) 504
e interpolações) 518
manuscritos) 99, 496 ss.
repartição medieval) 505
Correalidade 246297
Correias 189
Corrigir 339
Corrupção do Direito Romano
clássico 49
- dos livros clássicos 49
Corsica 77115
Costume (vid. também consuetudo e mores maiorum) 82, 169 ss.,
416360
Couros 427582
Cratino 456
Crédito 261311
Cremona 386
Creta 77115
Crime de alta traição 6188
= de parricídio 6188
Crimina (vid. também crime) 408
-gravissima 6188
Crise económica 86
- dos estudos do DR 105 ss.,
10514,
Cristianismo 32, 8o
Critério do estudo do Ius Roma
num 121
Critérios para descobrir os glose
mas 521
Critérios para descobrir as inter
polações 510 ss.
-critério diplomático - - exegético 514 --filológico 106, 513 --histórico 512 --legislativ
o 512 --lógico 512 -= lógico-jurídico 512 --sistemático 513 -- textual 511
Critérios da periodização do lus
Romanum 41 ss.
- critério político 41 - - normativo 42
- -jurídico (externo, interno) 42,43 Crítica interpolacionística (evo
lução) 515
569
514
Criticismo 181 Cuba (e DR) 114 Cujácio 99, 498,
515 820
Cumprimentar (fornia de ori
gem) 241289
Cupiditas distendi 367a7o Cura annonae 669' - ludorum 669` - urbis 6695
Curia 4055, 60
Curio (curião) 60
Cursus honorum 65, 6593, 340
Cyrene 77115 Cyprus 7715
Dação indevida 263316
Dada 77115
Dalmácia 390, 400
Damnas esto sinere 254 Dar 14
- (em sentido vulgar ou corrom
pido) 1s
Dare14, 252303, 2S3303
- damnas esto 253 -oportere 3359 Dari 242, 247, 253
Datio 243, 252303
- indebiti 263, 263316
-pignoris 244
De 22, 318J89, 362 De ruius 250300, 251
De diversis regulis iuris antiqui 459 De+finir 362
De+fraudare 318389
De legatis 476, 477
--et fideicomrnissis 4591,57
De+limitar 362
De re uxoria 476, 477
De+rogatio 204232
De+terminar 362
De testamentis 476, 477 --et codicillis 459 De tutelis 476, 477 ,
570
De verborum signlficatione 459 Decenviri legibus scribundis 178, 179 Deeeptae 23
7
Decernere 269 Decisiones 269
Decreta 269, 273, 276, - principum 269 Decreto de Graciano Decretum 269, 313 -(d
o pretor) 340 Defensor 192219
Definitiones 51, 352, 361, 362, 384,
385,436
-de PAPINIANUS 363458
deiuos 158
Delatio hereditatis 229 Deliberar 2521
Delito 195223
Demonstrar 2521
Demonstratio 334
Denegatio actionis 264, 313383, 336
Deuteronómio 429
Derecho 20 Derecte 22
Derectuni 24 ss., 2623, 31 Derectus 22
Dereito 20
Desenvolvimento comercial 386 - industrial 386
Deus 158, 79
Devedor 190218 Dexter 22, 2219
Dexterarum porrectio
Dicere 257106, 341
Dicionários de DR 148 ss.
Dies constituti 188210 - fasti 188210 - iusti 187, 188210, - nefasti 188210 - so
lemnes 193221
Digerere 36 S2, 367472
Digesta 36, 36 S2, 97135, 367, 36
387, 416, 455 ss., 456650, 40'
503
-(juristas que escreveram) 368
-de ALFENUS VARUS 387
- seu Pandectae (vid. também Digesto) 456
Digesto 3652, 37, 97135, 137, 152,
346, 347, 360, 380, 392509, 395, 401, 408535 432, 433600, 439615442617, 469, 478
, 480, 484,
488, 498, 505, 5o6803, 518
- (autores e obras utilizadas) 372,
458
- (elaboração) 456
- - (enorme trabalho realizado) 471 -rapidez da sua feitura) 470 - massas) 469
distribuição dos frags. dentro de
cada título) 468
- (método de trabalho dos compi
ladores; teorias) 470 - (rubricas) 471
(sistematização) 458
- (Index) .151
- Index dos autores citados 457653 -(modos de citar) 458, 460 - (divisão primitiva
) 459
- posterior) 459658 tripartida) 506803
- (obrigação de o adoptar nas
escolas e nos tribunais) 461
- (proibição de o comentar) 461,
464 ss., 468
- (manuscritos) 96, 497 ss.
(edições antigas) Sor
( - criticas 502791
-(edição crítica de MOMMSEN) so5 - (e interpolações) 152, s i 8 - (e a Lei das Citações) 478
igesto (no singular) 3653 368472
- «Esforçado» 5o6 - Novo 506 -Velho 506
Digestum Infortiaturn 501,
506803
- Novum 506, 506803
--(edições) sol
- Vetus soó, 506803
- -(edições) 501
Di 'dades 416`61
Di aiómata 438 Díke 29,359 Dinamarca (e DR) 114 Diocleciano 79 ss., 85, 408, 410,
410 540
Dione 2639
Dionísio Godofredo 35, 99, 5007B4,
504
- - (e a sua edição do C. I. C.) 504 Diplomática 126 Directum 24 ss.
Direito 24 ss., 172 -(noção etimológica) 16 -(noção real) 20
- e força 5582
-(como ciência) 283, 385 -(ciência e técnica) 286 -(como forma) 354 -(corno técnica) 283
emblema) 2522
incerteza do) 404 inscrições antigas) o local) 18
Direito administrativo 486
- Bizantino 89, 89123
- Canónico 98136, 450639, 498780 --(e DR) 92126, 98
- Comum go, 98, 507806
--(bibliografia) 145 ss.
- Concordatário 417561 -Eclesiástico 417561 -Egípcio tos
-Espanhol (e o CT) 421 -Feudal Longobardo 507 - financeiro 486
- fiscal 41756'
- Francês (e o CT) 421
-Germânico 109, 450638
- Greco-Romano 89, 89123 - Grego 105
- da igreja 450638 - Inglês 299363
571
501, 513515,
492
450638
2522
241289
194
-Italiano (e o CT) 421 - justinianeu 90, 421 - normativo 21
objectivo (conceito errado) 21, 22 - subjectivo 22
- pandectístico go
-Penal 417561, 486
--Romano (bibliografia) 134
- e Política 56
- Português (e o CT) 421 - Privo 486 --Romano 126 ---(bibliografia) 130 -Processua
l Civil Romano (bi
bliografia) 133 -provincial 78 -Público Romano 126
-Romano 7, 5579,
498780
--(actualidade dos seus estudos) 133 ss.
e Alemanha) 90, 92 126, 114
na América do Norte) 115
na Argentina) 92126 114, 115 na Áustria) 92126 , 114 na Bélgica) go, 92126, 114
no Brasil) 92126, 114, 115
--(na Bulgária) 114
--(no Canadá) 114
- - na Checoeslováquia) 92126,114 __a China) 92126 114
--(na Colômbia) I14 --(em Cuba) 114 --(na Dinamarca) I 14
-- (no Egipto) I14
--(na Escócia) 92126, 114 --(em Espanha) 92126, 114
--(nos Estados Unidos da Amé
rica) 92126, 114
--(na Finlândia) 114 --(na França) 90, 92 126
-,(na Grécia) 114
-- (na Holanda) 90, 9212ó 114,
115
- -(na Hungria) I14, 114148
572
--(no Industão) 114
-- (na Inglaterra) 92126, 114, 115
-- (em Israel) 114
-- (na Itália) 90, 92126, 114 -- (no Japão) 92126 114, 115
-- (na Jugoslávia) 114 --(no Líbano) 114 --(no Luxemburgo) I14 - - no Paraguai) I14
- -(na Pérsia) 114 -- no Perú) 114
-- na Polónia) 90, I14,115
-- em Portugal) 90, 92126
-- (na Roménia) 92126 --(na Suécia) 114
-- na Suíça) 92126 114
-(na União Sul Africana) 114
-(na URSS) 92126, 114
--(na Venezuel) 114
-(e os códigos civis actuais) 91 --método de ensino) 121 Ss. --matérias a versar no se
u estudo
actual) 121 SS.
--(as várias disciplinas) 125 -{Critério de ensino) 121 SS. -- disciplinas principai
s) 125 --(disciplinas subsidiárias) 126 --(disciplinas complementares)
126
- - (Etnologia) 126 --(Etnologia jurídica) 126
-- (orientação hitórico-crítica) 122 --(orientação dogmático-prática)
123
--(fases características do seu
estudo) 103 ss.
-- (elemento dogmático) 121 --(História Antiga) 126 --(várias acepções) 33 --clássico 5I1
--(razões justificativas do seu
ensino na actualidade) 117 ss. --(principal bibliografia) 127 ss. --Livros) 127
55. --Enciclopédias) 147 ss.
--(Vocabulários) 149 Ss.
-- ; supcrvivência (bibliografia)
145
--vulgar So, 5073, 90, 360
- - (e Direito Canónico) 92126, 93,
98
Direitos locais 49, 450658
- dos povos bárbaros 49
- reais 483
Disciplinas principais (de DR)125 - complementares (de DR) 126 - subsidiárias (de
DR) 126 Disposições (duma norma
dica) 125
Disputationes 366, 367 Dissuasiones 208
Ditador 6593, 207241 Ditadura 6593, 6899 Dius 158
Divisão do Império 8o
Divus 235217
Dizionario Epigrafico di Antichitá
Romane 149 Do 252
Do lego 251
Doação 212250
Doctor in utroque lure Dolo (vid. dolus)
Dolus 316, 319390
- bonus 317
- malas 317 Dominado 79 ss.
Dominium 194, 329403
Dominas 79
Donandi causa 238
Doroteu 35, 387, 449. 456,
481, 482, 484
Drech 25 Dret 25 Droit 25
óúvaµtç (dos conceitos) So
Duplicatio 334408
Edições do Corpus luris Civilis
500 SS.
- - - das Institutiones Sol ---antigas do Digesto Sol ----do Codex Soe ---dos tr
es libri 503 ---antigas das «Novellae» 503 ---do Authenticum 503 ---da Colectânea Greg
a 503 ---crítica do Digesto 502791 ---- do Digesto de MoMMSEN 505 ---de conjunto d
a compilação
justinianeia 503
----do Corp us luris Civilis de
D. Godofredo 504 ----do C.I.C. de Aloandro 504
--- (de MOMMSEN-KRÜGER-SCHSLL-KROLL) 504
Edições das Leis dos Longobardos
503
Edicta 270, 273, 276, 410 543 - ou leges generates 414, 415
Edicto (vid. também Edicto) 270 -de Caracala 85, 273, 353 - dos magistrados 298 -
do pretor (urbano) 369 --(seu poder vinculativo) 342 - de outros magistrados 369
Edictunl(vid. também «edicto») 78,
408
- alterutro 341414
- deferis 341414
- de pretiis 341414
- de rebus creditis 341414
- novum 342 -perpetuam 342 - repentinum 342 - tralaticium 342
- Ordinatum (vid. Edictum Perpe
tuum)
- do Pretor 339 ss. - - (sentido amplo) - - (espécies) 341
Edictum Perpetuam 343 ss., 368, 369,
392, 416, 478 --(reconstituições) 345 ss.
---(de LENEL) 347426
573
98136, 42958s
Jun
98136
479,
341414
Edictum Theodorici 4219, 425
Edil curul (Edilidade Curul) 65,
68, 6899, 298, 341413, 369
Egipto 7716, 84, io8
-(e DR) 114
Elemento dogmático (do DR) 121 - histórico (do DR) 121 Eligere 201
Empobrecimento 315386 Encabeçar 228, 250300 Enchiridion 364 Encíclicas 443620
Enciclopédias de DP, 147 ss. Entregar 14
Ensino do Direito Romano em
Grego 357450 ---em latim 357450 Epigrafia 498780
-jurídica io8 --(bibliografia) 146
Epilogus 488, 490
á7rtxelpriµa 2521
É7Ct6r LTN 284
Epistulae 274, 367, 367470
Epitome Codicis 498
- Gai 425, 433
- luliani 489 ss, 503, 507806
- v15190t1c0 418562
Época absolutista 41
- arcáica 43, 82, 83 -clássica 46, 83, 84, 85 - -central 47
- -tardia 47, 398
- do direito vulgar 4867 - imperial 41 - justinianeia 51, 87 - monárquica 41 - pos
t-clássica 48, 86 - pré-clássica 47 - republicana 41
Equity 299363
Ergünzungsband zum Heidelberger Index zuni Theodosianus 151 Ergânzungsindex zu Ius u
nd Leges
151
574
Escócia 105
- (e DR) 92126, 114
Escola de Direito (vid. também
Escolas) 4869
- (necessidade) 353
-(valor) 359
-de Alexandria 357 -de Arles 358 -de Autun 358
-de Beirute 357, 409, 436, 447,
448, 456, 479
--(e feitura do Codex de 534)
485í4s
--(c as Institutions) 483 734
--(e as interpolações no C.I.C.)
518
- de Bolonha 96 ss., 491, S21 - de Cartago 358 - de Cesareia 357
- de Constantinopla 354, 356, 357,
436, 444, 447, 448, 456, 479 - de Ravena 94, 355, 356 -de Roma, 354, 3550, 357 E
scola culta 99, 515820
dos glosadores 96
-do mos gallicus S I S
- dos post-glosadores 97 ss. - Histórica-Alemã 100
- muciana 385, 386499
- do Direito Natural 99 -Proculeiana 84, 353, 377, --(juristas) 388
-sabiniana 84, 353, 377, 390 --(juristas) 388
--e proculeiana (diferenças) 387
-serviam 385, 386499
Escolas de Direito (vid. também
Escola) 49, S I76 488
-do «Ius Romanum» 351 ss. --(programas) 451
-do Ocidente 359
- - do Oriente 359, 478 --das províncias 358 Escoliastas 86, 358
Escólios 89122, 92, 438
- do Anónimo 168 - de TALALEU 407 Escravos 6292, 83, 84
Espada (símbolo na justiça; signi
ficado) 28, SS82 Espanha (e DP,) 92126,
- (e a recepção) 92
Esponsais 305370 Esquerdo 2319
Estado bizantino 356 Estado-cidade 58 Estado-território 58
Estados Unidos da América (e
DR) 92126, 114
Estatutos das cidades 78
Estilo empolado (dos compila
dores justinianeus) 513 Estoicismo 287 Estudos clássicos 109
Estudo da compilação justinia
neia 460660
-critico das fontes 517828
- do lus Romanum 87, 91 ss. Etimologias jurídicas (interesse) 16 --(valor das apre
sentadas pelos
juristas romanos) 136 Etnologia 126 -jurídica 126 Eurico 358
Ex+dicere 270 Examen 25 Examinar 252'
Exceptio 313383, 334, 336, 347
- senatusconsulti Macedoniani 264 ---(a quem era concedida) 264 ---(casos em que
era negada) 265 - - - (era perpétua) 264 - - Velleiani 237
Excutere 24,288
Execução duma dívida 186 Exegese das Fontes do Direito
Romano 125
Exheredare 229 272 Êxodo 429
Expedientes do Pretor 332 ss.
- - baseados no seu imperium 302 ss. ---na sua iurisdidio 335 Expromissio 240, 2
40286 242, 247 Expromissor 242
Extra ordinem 345 --cognitio 274
Extractos dos textos 516
Factores externos (da crise dos
.estudos de DR) 108 ss.
- internos (da crise dos estudos de
DR) 105
Falsa indicação 258308 Família Romana 59 Familias 59
Fase in lure do processo 69, 274
p&YW 162
Fide iubeo 242 Fideiussio 235, 242, 310 Fidepromissio 235, 241
Fides 2629, 241, 241289 Fiducia 236, 243, 512
Filiaejimilias 228, 265 Fi1ii(anú1ias 228, 261, 264318
Filologia (ciência auxiliar do
Direito Romano) 177, 514 -Grega 161
-Latina 167 Filosofia 287
-do Direito 287 350 Finlândia (e DR) 114 FIRA 154
Fiscus 76'13
Florença 96
Florentina (vid. littera Florentina) FLORENTINUS 364, 378, 438 Fons 162
Fons iuris 162
Fonte 162160
Fontes (estudo crítico) 517828 - bizantinas I54 - cognoscendi 164 --claccificação) 16s
-de direito 82, 162 - - (especiais) 163 - - do lus Praetorium 297 ss.
575
i
114
378
-elaboradas no Ocidente, depois
da queda do Império 167
- elaboradas no Oriente, depois do
«Corpus Iuris Civilis» 168
- exsistendi 164
- extra jurídicas 167
- extra justinianeias 166 -gregas 387
-jurídicas de DR (índices) 151 -justinianeias 154, 166 - mani festandi 164
- não-jurídicas de DR (índices) 152 - préjustinianeias 153 --(interpolações) 51g
- provenientes do mundo romano
166 Força 32
- e Direito 5582
Forma jurídica 251
Formas políticas de Roma 58 Fórmula processual 334
Fórmulas (poder mágico ou reli
gioso) 251301
Formulários 376, 381
Foro de Constantinopla 456
Forum 178, 193221, 209, 341, 355 - nundinarum 193221
Fragmenta Vaticana (FV) 425, 427
ss. 432
(finalidade) 428 -=(matérias) 428 --(sistematização) 428 --(e o Digesto) 428 - - (inte
rpolações) SI 9
- Vindobonensia (Ulpiani) Fragmentuin Leidense 432 França 434
- (e DR) 90, 92126, 107
-(e a recepção) 94 rppdvV)alç 27, 282
Funcionários menores 416361
Fraude (Fraus) 266, 317 Funcionalismo 75, 354
576
Gaio de «Autun» 433
GAIUS 476b, 344, 346, 364, 369, 370, 370478, 376, 378, 384, 388,
393 ss., 422, 424, 429, 433, 439,
457653, 458, 478, 480
Gaius. Institutions (vid. Institu
tions Caí)
Gaius poster 394 Gália (vid. Callia) Gálias 44
Gallia 435
Gallia Cisalpina 7715 Gallia Lugdunensis 7715 Gallatia 7715
GALLUS (C. Aquilius) 376 Garantia 239 -pessoal (figuras) 240 -real (figuras) 242
ss.
Garrafeira 258107
Gauleses 18o Gegenstand 16
Generalização 5116
Génesis 429 Genitor S9, 261
Cens 59, 193, 26,311
Genus 384
- credenti 384 Germânia 390 Germania inferior -superior 77
Glosa (vid. também glossae) 95,
97 ss., 395, 509 ss., 520 ss. -(noção) 509
-(e glosema) 520 - interlinear 521 -marginal 521
Glosa de Acúrsio 97, Sot Glosadores 96, 383, 366467, 392,
SOI
Glosemas 298, 509 ss., 5IOB09, 521,
522 SS.
- (noção) 509 - (e glosa) 520
- cntenos para os descobrir) S21
-(nas fontes jurídicas pré justi
nianeias) 522
- (índices) I52
Glossae extrinsecae 521 - intrinsecae 521 Glotologia 126
Gô'êl 192219
Governador do Egipto 77116
Governadores das províncias 76 ss.,
298, 341413, 369
Gramática 354
Grécia 83, 355, 397 -(e DR) 114
Grego 357 450 466, 487
Gregório XIII 3550
Gregório Aloandro Melzner
501, 503
Guerra social 84 Guerras civis 84 Gueta 397
Guias bibliográficos de DR 143 ss.
Habere nomen 2611'1
Handlexikon zu den Quellen des rõmischen Rechts ISi
Haurire 164164
Heidelberger Index zum Theodosia
nus 151
Helenismos 513
Helenização do alas Romanum»
so
Heliogábalo 399
Herança a título de inventário (vid. também hereditas) 213 Herdeiros (vid. heredes)
Heredes 228, 250)00
- intestati 228
- necessários 229
-sai 228, 229, 230, 230273
- testati 229
- voluntários 229 Hereditas 347 - iacens 229
Hermógenes 409, 409 537 HERMOGENIANUS 379, 400, 409,
409537
Hierarquização do áus» 423 Hipoteca (vid. hypotheca)
- (e coisas móveis) 245295 Hispania 44, 83, 87
Hispania Baetica 77115 - Tarraconensis 77115
História antiga 126
-do Direito Romano 125 - - - (bibliografia) 129
-dos Direitos Antigos 126 -das Fontes (bibliografia) 129
-jurídica 3448
Holanda (e DR) go, 92126, 114,
115
- (e a recepção) 94
Honeste vivere 7, 81, 3140,
Honestum 282
Honor 298
Honorários dos professores de
Direito 355 Honório 8o, 86 Horácio 180, 386 Hostes 45 Hugo Grócio 99 Hugus 97
Humanae Vitae 443620
Humanismo 515
Humanitas 437, 513815 Hungria (e DR) 114, 114148 Hypotheca 236, 244
IAVOLENUS (PriSCUS) 85, 367, 371,
377, 388, 390, 458
Ignorantia iuris 265320 Igreja Católica 8o, 443620
--(e DR) 93
- - e o Estado (normas) 417
Mata 244 ,/lustres 443622
Ilogismos 512
577
i
99,
339
153
7715
Illyricum 77115
iluminismo 99
Imperator 74
Império (forma constitucional de
Roma) - vid. também Impe
ríum Romanum 72 'ss. -Bizantino 81, 93 -Romano do Ocidente 81 - - do Oriente 81
Imperium 64, 66, 71, 74, 75, 78, 82,
299, 311, 337, 355
- (a quem competia) 66
-(e Ias Romanum) S4 - militare 64
- proconsu,lare maios 74, 74110, 269
Imperium Romanum (vid. também «Império») 5579
Impostos 86, 417561 In fide 192
In lure cessio 253303
In ius vocatio 195
In tabulas publicas referre 223 Incerteza em Direito 423571
Index Interpolationum quae in Ius
tiniani Digestis inesse dicuntur 152
Index dos juristas citados no Di
gesto 457653
Index Verborum Graecorum quae ín
Institutionibus et Digestis Ius
tiniani inveniuntur 151 Indices 463, 465 ïvBtXCS 463, 467
Indices de DR 151 ss. Industão (e DR) 114
Inelegantia iuris 512
Influências helenísticas Io6, 353, 359
Infortiatum 506, 506803
Inglaterra (e DR) 92126, 114, 115
- (e a recepção) 94
Inscrições (rubricas edictais) 5I3
Inscriptio (inscriptíones) 271, 417,
431, 489
-das constituições (abreviaturas) 486 746
578
Insolvência 315386
Instituere 3651, 364
Instituições (vid. também insti
tutiones) 364, 368
- de Direito Romano 125
Institutas 364
Institutiones 3651, 363 ss., 368 - (juristas que escreveram) 364
-de CALLISTRATUS 48o725
-de FLORENTINUS 480
- de GAIUS I54, 373, 394, 395,
433, 434, 439, 477, 480, 516
- - (edições e traduções) 386 -- e interpolações) 520 --vocabulário) I5o
- de Justiniano 36, 3753, 97"s,
395, 396, 439615, 460660, 475,
479715, 479 ss., 480, 484, 503,
505, So6, 518 -elaboração) 479 --fontes utilizadas) 480 ss. --(sistematização) 480 ss. -
- (publicação) 479 -carácter normativo) 482
--(em latim; razão) 468674
- - (manuscritos) 496 --(edições) 501
--(modo da elaboração) 482 - - (massas?) 483 --(interpolações) 518
--(Index) 151 --(vocabularium) I5o
- - (e Res Cotti ianae) 439615 -de MARCIANUS 480 - Oratoriae 364 -de PAULUS 480
-de ULPIANUS 480
Integrar 339
Integri restitutio (vid. também res
titutiones in integrum) 313
Intelligere 2420
Intentio 334 Intercessio 6593, 234
-.(conceito; espécies) 235 ss. - cumulativa 245
--(modalidades) 239
- privativa 247
- tacita 247
Interdicta 327 ss., 347
- (espécies) 328
-recuperàndae possessionis 331 - retinendae possessionis 329 - utrubi 330
Interdictum (vid. interdicta) - fraudatorium 320, 322 -de precarío 331 -unde vi 3i
1 - utile 325
- vi armata 331
Interdictos (vid. também) inter
dicta 327 ss.
- duplos ou simétricos
- exibitórios 328 -possessórios 329 -proibitórios 328 -restitutórios 328
- retinendae possessionis 329, 330 -uti possidetis 330
- simples 331
Interpolações 99, 1o6, toé, 392,
439, 477, 509 ss., 5II
- (noção) 509
- (índices) I52
-(atitude a tomar) 517
- (critérios para as descobrir) 5 io ss. - (evolução da crítica) 515 - (no Corpus Iuris
Cívilis) si i, 518 - - - - (nas Institutions) 481, SI8 - - - - (no Digesto) 518
- - - - (no Codex) 484741, 518
-(nas fontes pré justinianeias) 518 - - - (no Cód. Greg.) 520 - - (no Cód. Hermog.) 52
0
-- na Co) 519
- - - no CT) 414, 520 - - - (nos FV) 519
- - - (nas Institutiones de Gaio) 52o
--nas PS) 519 ---nos SS) 519 - - - (nos TU) 519
-justinianeias 510810
-omissões 387 -pré-justinianeias 515
- interpolações justinianeias) 516 -- quando foram feitas) 516
no C.I.C.) 518
em várias fontes extra justi
nianeias) 516 Interpolacionística 515, 517
Le Interpolazioni risultanti dai confronto tra il Gregoríano, l'Ermogeniano, il Te
odosiano, le Novelle Postteodosiane e il Codice Giustinianeo 1s23
Interpretar 339
Interpretatio (vid. também interpretationes) 172, 172180, 178, 185,
290, 300, 382, 406, 435, 467,
468674
- grega 468674
Interpretationes (vid. também interpretatio) 434 ss.
-(no Breviário de Alarico) 435 -(no CT) 435
-(nas PS) 435
Interregnum 62
Interrex 62, 2o7241
Intervencionismo imperial 86 Introdução ao estudo do DR (bibliografia) 127 ss.
Instructions 3611 Invecta 244
Investigação romanística; método; questões (bibliografia) 134
1ds 2833
Ioues 19, 28
bus 19, 28, 2833 Iovestod 19 Iavis 19, 26, 28
Irnério 96 ss., 491, 506803
Irretroactividade das leis 419565
ísds 29
iaOS 29
Israel (e DR) 114
Itália 87, 421, 432, 491
579
331
- (e DR) 90, 92126, 114 - (e a recepção) 94 lubere 18
Iubet 203212 Index 294356
ludicare 69 ludicare iubere 69
Iudicatio 187, 188, 189213
ludícíum publicum 207
IULIANUS 85, 256, 343, 3432'7,
344, 346, 368, 378,388, 390, 391,
392, 396, 398, 400, 458, 489 IUNIUS BRUTUS (Marcus) 376, 383 Ipiter 1S, 26, 28
lura 422570
lura. Rivista Internazionale di Diritto Ronano e Antico 155
lurare 158, 2011 luratum 2011
luridícus quaestor (vid. também
quaestor sacri palatii) 443622
lurisconsultus (vid. também iuris
prudentes) 3142, 352
lurisdictio 3142, 69, 78, 82, 299
- (a quem competia) 66 Iurisperitus (vid. também iuriscon
sultus) 3142
Jurisprudentes 287, 289, 340, 353, 368, 381, 382, 434
- (=iuris auctores) 292
- (funções) 291
lurisprudentia 3142, 56, 85, 172, X72180, 174, 178, 185, 202, 212250 280 ss., 28
7, 294, 358,
369, 383, 386, 388, 398, 406 - (evolução histórica) 289 - (consagração legal) 293
-(como fonte de direito) 292,
293354
- (inflação) 85
(laicização) 290 ss., 376 -cautelar 381 -clássica 393 - e Filosofia 287 - e Lógica 288
580
- pontifuia 178189, 363, 385
Ias 24 SS., 28, 2833 3142, 51, 55, 69100, 203, 219, 275, 404, 413,
414, 422570, 423, 4z6579, 429,
430, 434, 437, 438, 439, 442,
446630, 447631 461
- (noção etimológica) 16 -(relacionado com deus) 158 -(sentido laico) 1S -(sentido rel
igioso) 1S, 158 -(noção real; várias acepções) 20 - (o local) 23
- (o saber jurídico) 23 -(cultura) 353
-(como forma de cultura) 353
- (ignorantia iuris) 265320
-novum (vid. também «leges») 17,
216, 275, 336, 345 --(hierarquização) 423 --(Index do) 151 -e auctoritas 55
-Aelianum 18I, 381, 382491 382492 - agendi cum populo 207, 207241 - civile 19, 4
5, 161, 165, 270, 299,
299363 368, 437, 469 - commune 98
-consuetudinarium 200
-dicere 69, 172179, 352
-edicendi 341
- edictale 298
-Flavianum 82, 181, 290, 376, 381
-gentium 45, 83, 242, 299361
- honorarium 161, 270, 298, 299, 299363 368
- intercessionis 64, 6694, 74109, 339
- liberorum 231, 417561 - legitimam 200 - magistrale 298
- non-scriptum 172 -normativum 21
- nundinarum 193221
- objectivum 17
- paciscendi 191
- Papirianum 176 ss.
- Praetorium, 161, 165, 174, 279 ss.,
299, 345, 437
- privatum 203 -subjectivum 17
-quiritium 1S, 4055 4S, 82
-respondendi ex auctoritate princi
Pis 75, 85, 291, 293, 294, 390,
394, 457
- Romanum 34, 3448, 39 ss., 82,
161, 200, 299761, 351, 353, 354,
437
--(colecções) 89 --(periodização; critérios) 41 -- épocas históricas) 39 ss. -- estudo) 88 ss
-- (renascimento) 96 --(supervivência) 88 ss. -- e Imperium 54 --(e leis mosaicas
) 429 - Sacrum 83
- Vetus (ou simplesmente, ius, con
traposto a «ius novum» ou
«leges») 216, 275
- vitae et necis 59 Iusiurandum 1S lussio 242
lussum 18, 71, 176187 203232, 219,
242, 306
lustitia 13, I34, 2420, 26, 2629, 29, 289 lustitium 6593 186
lustum 15 luventus 480
jacobus 97
Japão (e DR) 92126, 114, 115 - (e nível cultural) 114149 Jerónimo (S.) 192219 429585
João (compilador do «Codex» de
534) 485 Jous IS
Jovis 158
Júlio César 386 Jugoslávia (e DR) 114
Juízes 272
Juliano vid. IULIANUS) Jupiter 158, 28; juramento 15 Jurar 15
Jurisconsultos Romanos 375 ss. --(número) 379
Jurisprudência (vid. também iurisprudentia) 294
- humanista 99
Jurisprudenz 4869
Juristas (vid. também iurisconsul
tus e iurisprudentes) 86, 287, 359
- privilegiados 457653
Jus. Rivista di Scienze Giuridiche -nova série 155 Justiça (vid. também iustítita) 134,
2420 25, z6, 5582 -e espada 5582
Justimano 51, 81, 87, 88, 92, 97135,
271, 307, 356, 394, 398, 438,
444, 448, 452, 456650 457653
459, 464, 476, 478, 479, 480,
48o723, 4$1 483737, 484, 484739,
487, 489, 491, 511, 516, 518 - (classicista?) 451642
-(legislador) 481
- (lembrado em 1965) 452644 -(personalidade) 450 ss.
- (seus planos) 442
- (plano inicial) 442 ss.
- (plano posterior) 446 ss., 446630
- (e a proibição de comentar o
Digesto) 464 ss. Justino I SI, 87, 443 Justino II 492
xará 7só84 463, 467 Kiev 114
LABEO 84, 242, 343, 365, 367, 369, 370, 372, 377, 387, 388, 389,
390, 391, 391507
581
Labeo. Rassegna di Diritto Romano
155 Lagh 201
Lances 2421 32
Latim 109, 357450 487
Laurentianus 499783
Leão de Narbona 358
Lectio senatus 6798
Legados (espécies e respectivas fórmulas). Vid. também legatum 250
Legare 201, 250
Legatário 250300 Legatarius 25030D Legati Augusti 77116
Legati Augusti pro praetore
Legati legionis 75113
Legatum 202, 250 -per damnationem 253
-per praeceptionem 254, 388
- per vindicationem 251 - sinendi modo 254 Legere 200, 201
Leges 16, S1, 56, 176'87 213,. 214,
275, 404, 413, 429, 431, 437,
438, 443, 447631, 459658
-ou ius novum (Index) is,
-geminatae 415559 511, 511811
-generates 276, 411, 412, 416,
- Liciniae Sextiae 68, 68" - imperfectae 211
- minus quam perfectae 211 -particulares 411 -perfectas 211
-publicae. (Evolução) 205 - regiae 82, 176 ss., 177 - rogatae 215
- - (fases do processo de formação)
207 ss.
- - (partes) 210
--(sistema de designação) 209 --(quanto à sanctio) 210 --(Exemplos) 211 -sacratae 21o
- Saeculares 436, 437 ss.
582
- speciales 276, 444
Legis actiones 332, 381, 382
--per manus iniectionem 187, 188
193221
Legislação romano-bárbara 49,
358
Lego 252
Legum interpers («quaestor sacr.
palatii») 4436
-peritus («quaestor sacr. palatii»)
443622
Lei (vid. também leges e lex) 174,
201226, 271
- das Citações (de 426) 86, 394, 398,
412, 424, 447, 478,
- - (e o Digesto) 478
Lei dos reis vitoriosos (Constan
tino, Teodósio e Leão) 438
Lei das XII Tábuas 82, 175 Ss.,177,
200, 290, 382492
- -(e a tradição) 178
--(data) 182
- - (divisão, conteúdo e impor
tância) 183
--(texto) 182
--(e a ínterpretatio) 184 --(táb. III) 185 Libelli 274
Leibnitz 99
Leis (vid. também leges) 275338,
370
- (irretroactividade) 419565
- imperiais (vid. também consti
tuições imperiais) 438
- dos Longobardos 503 - -(edições) 503 - de Sólon 179 Leninegrado 114 Levítico 429
Lex (vid. também leges e leis) 174,
176187 200, 202, 203232
-(noção etimológica) 200 -(noção real) 201 - (espécies) 202
- Aebutia de formulis 43, 300,
3376 333, 336
- animata 271 - Cincia 212
- Citationum (vid. também «Lei das
das Citações»), 424, 425516, 429,
442617, 446630, 457653, 458, 476,
478
- curiata de imperio 63, 270326
- dota metalli Vipascensis 214
- duodecim tabularam (vid. Lei das
XII Tábuas)
- Falcidia 213
- lulia de adulteriis 371 - lulia et Papia 370 - e ius 202
- Poetelia Papiria de nexis 212 - privata 200, 202 - provinciae 77 -publica 203,
204 - rei suae dicta 202, - rogata 205
Lex XII Tabularum (vid. também
«Lei das XII Tábuas*) 370, 382
- Romana Burgundionum 421569, 425 -- Visigothorum 421569, 425, 433
- - - (manuscritos) 418
---(e as Nov. post-Teod.) 420,
421
Léxico jurídico romano 123
Líbano (e DR) Líber 406 - Authenticorum - Gal 433 -singularis 363 - - Enchiridii 381
-- Regularum de ULPIANUS 434
Liberdade 6, 197, 238 Liberatio 191
Libertador 192219
Libertas 197
Libra 2521 Libri 363458
- Aureorum Gaii 425, 439 - Digestorum 367, 408
- ad Edictum 469
- -de ULPIANUS 477
- Feudorum 506, 506805 507806 - Legales 507806 - ad Sabinum 469
- terribiles 459 Licínio 410
Ligare 189216, 201
Língua grega 126
-latina 126
Linguagem corrente 385 -jurídica 177 Literatura grega 126 -jurídica 361 ss., 370 - -
romana 372 - - - clássica 388 -latina 126
Litis aestiniatio 187
- contestatio 246, 246296 Littera Bonaniensis 497
- f orentina 96, 97135, 497, 498,
502, 504, S14
--(leitura da) 514 -pisava 96, 497 - vulgata 497
Livro Siro-Romano 425, 436, 437,
438
Livros (de DR) 127 Ss. -jurídicos 358 Lõg 201
Lógica 288
- e Direito 28835'
Logística 289
Lombarda 507806
LONGINUS (C. Cassius) 377 Lucrum nuptiale 417561 Luctuosa hereditas 226 AúaLS 50
Luxemburgo (e DR) 114 Lyon 358
Má fé (vid. também mala fides) 319
Macedonia 77'15
583
75113
214
444
114
490
MACER (Aemilius) 371, 379 MAECIANUS (Volusius) 378
Maevius 251301
Magia dos números 459659
Magister iuris 352 - memoriae 413
- militum 443622
- officiorum 80119
444623
Magistrados 64, 72
Magistratura 64
- extraordinária 6593 Magistratus 64, 74, 269 Magistri scriminiorum 413
Magna Glossa de ACÚRSIO 97, 521 Magúncia 50,, 502
Maiestas 64, 72, 75
Mala . fides (vid. também «má fé»)
319, 319390
Mancipatio 202, 253J03, 330
Mandata 274, 276
MANILIUS (Manias) 376, 381, 383 Manum sibi depellere 192
Manumíssio 221, 221265
- testamentaria 221265, 229
Manus iniectio 188, 189, 193, 194, 195, 253, 254
--directa 194223, 195224
-- indirecta 195
Manuscritos de Berlim 429 - da Collatio 429
- (do CT) 417
- das diversas partes do Corpus iuris Civilis 496 ss.
- - - - das Institutiones 496
- - - - dos Digesta ou Pandectae
497 ss.
- - - - do Codex 498
- - - - das Novellae 498
- da LRV 418
- (Laurentianus) 499783 503 799
- (Marcianos) 499783, 503
- medievais do Digesto So65'3 -ocidentais (do CT) 42,570
-de Tercelli 429
584
- de Viena 429
- vulgares 505
MARCELLUS (Ulpius) 85, 365, 368,
370, 371, 378 392509, 396ss., 400,
458
MARCIANUS (Aelius) 363, 364,
371, 379, 438, 458, 499783 MAURICIANUS 392509
-Marco António 84 Marco Aurélio 396, 397
Mário 84
Mármores 167 MARTINUS 97
Massas (teoria das-no Digesto)
469 ss.
- appendix 469, 470 - casuística 469 - edictal 469, 477 - do ius civile 469
- do ius praetorium 469 - papiniana 469 - sabiniana 469 - da «Varia» 470
- (teoria da distribuição) 472 Material arqueológico jurídico 167
Mauritania 77115
Maximiano 8o
Mecânica dos conceitos 50 Mediterrâneo 44
MENA (compilador do Codex de
534) 485
MENANDER (Arrius) 371, 379
Mercados da cidade 193221
Merces 244
Messopotamia 77115
Mestres de escola 358 -de Direito 355
Método 124, 124157
-nas ciências histórico -jurídicas
124157
-jurídico 124157
Milão 8o
Minas de Aljustrel 214
Ministro da justiça 443622
Missiones in possessionem 326 ss.
MODESTINUS (Herennius) 4667, 86, 365, 371, 379, 400, 422, 424,
429, 438, 456650 478
Moeda (desvalorização) 85 Moesia 77 115
Momentanea 2521
Monarquia 59, 370 -absoluta 86 Monte Cassino 498 -Sinai 438 Montpellier 95 Moral
31, 172
Mores maiorum 82, 170,
171, 172, 177, 179, 200,
- - (fases) 173 Mos 170 -gallicus 99, 1o8 - italicus 99
- maiorum (vid. mores maiorum) Moscovo 114
Mostrar 2521
MUCiUS SCAEVOLA (Publíus) 376, 383
Mulher casada 220264
Mútuo 384
Nacional Socialismo (e DR) 109
NAMUSA (P. At fidius) 368473, 377, 387 503
Nascente (sua relação com a metáfora «fontes» de direito)
162160
Nascentes do ser jurídico 164164 Natura 287
Natureza 287 Navarra 105
Negócio jurídico abstracto 307 - - causal 307
Negócios jurídicos (conversão)
250299
NERATIUS (Priscos) 363, 367, 370, 377, 388
Nero 234
NERVA (ater) 377 NERVA Aias) 377
Nervus 189211, 190217
Nexurn 195, 195224 212 Nicomédia 8o, 4o8S32
Nobilíssima urbium 356 Noção etimológica (valor) Nomen 59, 261 11 376468 -gentilicium 59
v6µoS (nómos) 171, 202226
Non-cives 45, 82 Non liquet 208
Nonae 192221 Noricum 77115
Normas jurídicas (carácter coer
citivo) II
- sociais (necessidade da sua exis
tência) 8
- - (espécies) 9
Normalidade 171178
Notae ad Papinianum
-de Paulus 398 -de Ulpianus 398
Notas (vid. ' também «escólios»)
438
Notitia 285
Nouvelle Revue Historique du Droit
155
Novatio 242
- subiectiva 247
Novelas (vid. Novellae) Novelas gregas 503
Novellae (de Justiniano) 36, 37,
3753, 87, 89, 97135 487 ss., 492,
5o6
- - (colectâneas privadas) 488
- - (manuscritos) 498
--(edições antigas) 503 --extravagantes 492 - - vulgatae 492
--(formas antigas de as citar) 493 --(uso moderno de as citar) 493 - (de Justino
II) 492
585
443, 4436,
17017s
,
210
312781
189214,
423
-(de Tibério II) 492
- post- Theodosíanae 419 ss., 445
- -(e o Codex de 534) 502796 Novem 192221
Novíssimo Digesto Italiano 147 Nudae repromissiones 308
Nueva Enciclopedia jurídica Espanola 147
Numa Pompílio 177188
Números 429
- 7 (sua magia) 459659 Numerare pecuniam 262313
Numerata petunia 262 313
Numeratio 262313 Numerius Negidius 335409
Numerus clausus 355
Numidia 77115 Numismática 498780
Nuncupatio 202
Nundicari 193221
Nundinac 192, 192221, 193221 Nundinatio 193221
Obligare 189 Ob±ligare 191
Obligatio 189216
483
- naturalis 262, 262311 - -(bibliografia) 2633'5 Oblíquo 2319
Obiectum (do ius) 16
Obras (em contraposição a colec
tâneas) 426 579
Obras dos juristas romanos 372 Obras jurídicas (espécies) 361 --de carácter casuístico 3
65 -- de carácter elementar 362 --de carácter enciclopédico 367 --de direito administr
ativo 371 -- de direito criminal 371 --de direito fiscal 371 -- de direito milit
ar 371
586
-- diversas 371
--post-clássicas orientais 436 --sistemáticas 368 Obrigação (vid. obligatio) Obrigação corre
al 239, 245 Ocidente (e CT) 421 Octávio 84
Odoacro 81
Officia de vários magistrados 486
Oficial 294356
Olhos abertos (significado) 27 Olhos vendados (significado) 27 Opera adnotata 37
1 Opera iuris publici 371 Opera posthuma 372
Opinions (tipo de obra jurídica)
365
Oportere 335409
Oppidum nundinarium 193221
Opinião pública 340
Orientação dogmático-prática (dos
estudos de DP-) 123 -histórico-critica (dos estudos de
DR) 122
Oratio 222
Orationes princip is 75, 222 - - in senatu habitue 222 Oratória 353, 354 Ordem edi
ctal 486 Órgãos legislativos 204233 Ordo iudiciornm privatorum 274 Orígenes 448
Ornamenta 265, 265319
6pot 362
Os (oris) 20
Ouvido (alcance) 27 Oxford 9S
Pacem in Terris 443620 Pacere 195225
Pacisci 195
Pactar 192, 195, 195205
Pactare 195
Pactear 195225 Pactio 22627 Pactuar 195225
Pádua 399
Pagamento indevido 263 316
Pagar 324796 Pakare 195225 Paktare 195225 Palaen'onixcus 77115
Paleografia 126 Paleontologia 126
Palimpsesto 427582
- da Biblioteca de Autun 434
- da Biblioteca Capitular de Ve
rona 395
- veronês 498 Palingenésia 410 Palingenesia Iuris Civilis 372
Pamphylya 77115
Pamphylus 252302
Pandectae 36, 3651, 97135, 100 368472, 455 ss., 456650, 468,
484
Pandectas (vid. Pandectae) Pandectística ioo
Pannonia 771'5
Panónia 396
Papa Gregório IX 450638
Papa S. Pio X 450639
PAPINIANUS (Aemilius) 85, 363,
365, 366, 366466, 367, 367468,
371, 378, 397 ss., 399, 424, 425,
427, 429, 458, 469, 477, 478 Papirologia jurídica io8, 126 - - (bibliografia) 146
Papiros 167, 177 - (duração) 404
Paráfrase de Teófilo 483 734 Paráfrases 467 Paraguai (e DR) 114 Paratitla 465
7rapaYGraa 463, 467 Pareceres (jurídicos) 293 354 Paris 498
Pars de iudiciis 459, 476 - de rebus 459, 476 Partis secanto 193 Parvum So6
Patria potestas 288 Pater 59, 261 Paterfamilias S9, 264 318 Pater gentis 59
Pater patriae 74
PATERNUS (T.) 371
Patres conscripti 62
Patrícios 61, 62, 6292, 6889, 179
Pauli Sententiae 153, 429, 431, 432
ss., 435, 516
(e interpolações) S19
--(e as interpretationes) 435 PAULUS (Iulius) 364, 365, 366,
3664õ, 367, 367468, 369, 369477,
370, 370482, 371, 377, 378, 379,
387, 390, 392509, 399, 423, 424, 427, 429, 432, 432594, 438, 439,
458, 469, 477, 478
Paulys Realencyclopüdie der klas
sischen Altertumwissenschaft 148 Pax augusta 73, 84
Petunia 191, 192, 261, 262 313,,
315386
Pedicae 190217
PEDIUS 384
Pena capital 197, 386 - de exílio 197 - de morte 197, 273
Pensar 2521
Pentateuco 429
Per capita 23027
Per propinquiorem 230272 23127: Per stirpes 23027
Peregrina 45, 241, 242
Pergaminhos 363458, 427582
- (duração) 404
Periodização do Jus Romanum
41 ss.
Período burocrático 4867
- do direito romano cristão 4867 - do ius civile 44
587
194, 303, 304,
-- e do ius gentium 46 Perpetuus censor 397 Pérsia (e DR) 114
Persona 6292, 228
Personalidade jurídica 196
Personificar 228, 250300
Perú (e DR) 114 Perusa 95, 97, 501
Pesar 2521
Pessoas (vid. também personae)
6292, 483
Philosophia 285
Pietas 437 Pigneratio 243 Pignoris datio 243 Pignus 236, 243, 512 - conventum 24
4 - datum 244
Pisa 96 Pistoia 498
7rtllavwv (pithànón) 365 Placentino 95
PLAUTIUS 377
Plebeus 61, 62, 6292, 6899, 179 Plebiscita 71, 205 Plebiscistos 6899
Plebiscítum 205
Pluralidade (circunstância a limi
tar o poder de «imperium») 64
Poder 204233
Poderes dos magistrados 66
Poena capitalis 197 - tapitis 197 - mortis 197 - pecuniaria 197 Poenae 196 Poena
s dare 196 IIóALS 59
Política e Direito 56
Politicos 282
Polónia (e DR) 90, 134, - (e á recepção) 94 Pomeríum 64 Pompeu Magno 84, 448 POMPONIUS (Se
xtus) 85, 344, 367,
588
367470, 369, 370, 371, 376, 377, 378, 3$1, 383, 384, 386, 390,
390505, 392, 399, 400, 457653, 458,
469 Ponderar 2521
Pontus 77115
Populorum Progressi0 443620 Populus 72, 75, 169, 203232 305236
219261, 272, 341
- Romanus S7, 62, 64, 66, 205236 PORCIUS (Censorius) M. 376 Portugal (e DR) 90,
92126 - (e a recepção) 94
Positivismo jurídico 283 Posse 329 403
Possessio 329403
-(e o ius civile) 329404 - fusta 3294°3 Postliminium 416560
Potestas 66
-(a quem pertencia) 66
- agendi cum populo 66 - agendi cum patribus 66
Povo (vid. também populus) 62,
71 272330
Praecapere I26
Pracepta iuris (noção) 125 Prae-ceptum125, 363 459
--(natureza, hierarquia, interde
pendência) 135
Praefatio 223, 488 Praefectus Aegypti 76'13 - annonae 7611
- Augustalis Aegypti 77116
- praetorio 75113, 397, 399,
443622
- urbi 76113 207341 443622
- vigilium 76113
Praecipere 255
Praecipito 254 Praeire 67 Praenomen 59
Praepositus sacri cubiculi 80119,443622 Praescriptio 210, 334
Praesides 77
Praeteritio 229
Praetor (vid. também «pretor») 67,
69'°°
- maximus 6694 - minor 6694
- peregrinos 45
Praetores 6797
Praetorium 69100
Pragmaticae sanctiones 97135, 276,
415557, 445
- - pro petitione Vigilii 356, 490, 491 Praxis 282
Preceitos (duma norma jurídica)125 Preces 274, 276
Pré-digesto (teorias) 472 SS. Pretor (vid. também praetor) 65,
66, 6694, 67 ss., 70, 207241, 298, 332, 333, 339 ss., 341 ss., 341411
- peregrino 69, 83, 298, 341413, 369 - urbano 69, 82, 298 --(actividade do) 339
--(controle do) 339 -(fases, da sua actividade) 299 --(formas utilizadas na conc
essão
dos seus expedientes) 340 --(motivação da sua actividade)
339 --(orientação) 339
Pretório 69100
Pretura 6899
Primus otnnium 398 Principado (vid. principatus) Principal bibliografia do DR 12
7
ss.
Principatus 72 ss., 73107 Princeps 74, 84, 269 -civitatis 72
Pro-vulgari 207242
Proaemium 490
Procedimento executivo 188 Processo romano 195223, 274, 332 - - declarativo da dív
ida 186 Procônsules 77
Proculeianos 353
PROCULUS 84, 367, 371, 377, 387, 388, 389
Procuratores 76113
Professores de Direito 355 Programa dos estudos jurídicos
412
Proibição de Justiniano de comen
tar o Digesto 464 ss., 468 Promissoo 241, 242 Promissor 305, 307
Promulgarí 207242 Promulgatio 207242
Propretores 77
IIpwTa 459, 476 Provar 2521
Provas (em Direito Processual) Província(s) 74, 76,
-imperiais 74110, 77 - senatoriais 7410, 77
-no tempo do Império
- -da República 7715.
Provincialização do Direito
Romano 78118, 85
Provocatio ad populum 65, Prudentes 282, 289 Prudentia 27, 282, 284
Pudor 2629
Q.S.S.S. 342
Quaestio (instituto de Direito Cri
minal Romano ou de Dir.
Proc.) 367467
Quaestiones (tipo de obra jurídica) 252302 366 ss., 469
Quaestor sacri palatii 80119, 443,
77115
358
77115
115
415557
71,
339
443622, 444627, 450, 456 Quaestores 443622
Quaestores parricidii 6181 Quarta Falcidia 213
Quase-escravidão 189
Quasi servi loco 189, 190
589
Questões militares 416561
Questor 65
Questura 67, 6899 Quinquaginta decisiones
4556, 448
QUINTUS Muetus (Scaevola) 84,
363, 368, 369, 376, 383 ss.,
384496, 386, 457653
Quirino 4055
Quirites 15, 3955
Raimundo de Penhafort (S.) 450,
450638
Raison historique 2521
Ratihabitio 266 Ratio 287
- scripta (do Direito) 99, 104, 122 Ratum non habebo 313, 313383 Ravena 93, 94,
96173, 355, 356,
424
Reae 239
Realizar um negócio 203229
Recém-nascidos 416560
Recepção do Direito Romano
94 ss.
- - - (na Alemanha) ioo Rechtsgeschichte 516 Rectum 22
Reforma legislativa 412
Regulae (tipo de obra jurídica) 363,
385
Regulae Iuris 51, 436
Relações entre a Igreja e o Estado
486
Relatio 223 Relationes 274 Religião 172
Repetere 16, 263317
Repetir r6, 26331
Repetitae praelectiones (tipo de obra
jurídica) 371
Replicatio 334408
República 63, 82, 84
590
- de S. Marino 105
Rerum Novarum 443620
Res 6292, 235277
Res Cottidianae 425, 436, 439 SS.,
480
--(e o Digesto) 439615
Res divinae 286 - humanae 286
- mancipi 242, 242291
- nec mancipi 242, 242291
Rescripta 274, 276
Rescritos 406, 408533_534 410,
410543, 415,443 620
Respondentes audire 352 Respondere 292
Responsa (tipo de obra jurídica)
287, 351, 361, 365, 469
- (autores que escreveram) 365 Responsável (vinculado) 192 Restituere 312
Restitutiones in integrum 311 ss., 347 ---(espéces) 314 - - - ob aetatem 314 - - -
ob dolum 314 ---oh errorem 314 - - - oh fraudem creditorum 315, 321 ----(e inte
rdictum fraudatorium)
323
---oh metam 314
Restos de obras de juristas clás
sicos 166 Resumos 86 Retórica 354
Reus 235277, 239, 240288
- fieri 239
Re+velar 172
Revistas de Direito Romano 115
ss., 15S ss.
Revue Historíque de Droit Français
et Étranger 155
Revue Internationale des Droits de l'Antiquité 155
Revista 4Labeo» 389
Revista de Ia Sociedad Argentina de
Derecho Romano 156
Rex 61
Rhaetia 77115
Riqueza 386
Rogatio zoo, 2o6, 208, 210 Rolo (volumen) 49
Roma 44, 82, 83, 85, 355, 356, Sor, 502
-(origem) 3447
- (formas políticas) S9 Roménia 89
- (e DR) 92126 Rómulo 177188
Rómulo Augusto 81, 86 Rubricae 341
Rubricas 341414
Rubricas do Digesto 471
RuFINUS de Aquileia 429585
Rússia 89
- (e DR) 92126
Saber (espécies) 282
Saber-agir 27, 282 Saber-fazer 283 Saber jurídico 281 Saber-puro 27, 282 Sabiniano
s 353
SABINUS (Massurius) 84, 364, 365,
368, 369, 377, 387, 388, 390,
399, 477
Sacerdotes 172179
- da justiça 289
- pontífices 290 Sacrilegium 273
Sacro Império Romano-Germâ
nico 5579 Sacrosanctitas 6593, 74109
Sagrada Escritura 429,
450638
Salarium 79
Sanctio 21o Sanctum 64
Santos Padres 450638
Sapiens 282
Sapientia 27, 282 Sardenha 44, 93
Sardinia ?7115
Satisdatio 308, 310, 310377
Satisfacere (vid. também «satis
fazer») 324396
Satisfazer 324396
SATURNINUS (Claudius) 458 SCAEVOLA (Q. Cervidius) 85, 366,
367, 368, 376, 378, 383, 384,
392509, 397, 399, 458
Scholia 436
Scholia Sinaitica 425, 436, 438 ss.,
516
--(e interpolações) 51g
Schujurispruden- 4869, 358 Scientia 284, 285
Se nexum dare 192, 193, 194, 196,
212
Seius 251701
Seminarium dignitatis 354
Sempronius 251301
Senado (vid. também senatus) 61,
6798, 6899 70, 72, 75
Senatus 61
Senatusconsultos (vid. senatuscon
sultum)
Senatusconsultum 62, 70, 75 -m(conceito) 217
-(estrutura formal; denominação)
223
-(como adquiriram força legisla
tiva) 218
-(como foram perdendo força
jurídica própria) 222 - (exemplos) 224 -de Bacchanalibus 224 - Claudianum 225 -Maced
onianum 2S9 ss. - - (carácter) 262 - - (consequência) 263 - -(efeito) 262 - -(fraude
) 266 - Neronianum 249 ss. - -(conteúdo) 255
591
455 ss.,
29585
4
- Orfltianum 232
- Silanianum 220 - Tertullianum 226 - Velleianum 233 ss. -- (alcance) 238 ss. -
- (efeito) 237 ss. --(justificação) 236 ss.
Senatus decreta 218258
Séneca 152
Sentença imperativa 512 Sententiae (tipo de obra jurídica)
365, 432, 436
- iurisprudentium 422570
Sententiae Pauli (vid. também
Pauli Sententiae) 423, 425 Septímio Severo 397, 399, 408534 Sequester 330
Servi (escravos) 62A2, 84 Sérvio Túlio 177188
SERVIUS SULPICIUS RUFUS 369,
370, 376, 384, 385 ss., 385498
Severo 85
Severos (193-239) 222
SEXTOS AELIUS PAETUS (Catus)
181, 183, 370, 376, 379, 381 ss. SEXTUS PEDIS 369 Sicília 44, 83, 93
Sicilia 77115
Sila 84
SILANUS 234
Silêncio (valor do argumento do)
344
Símbolo 27
Sinais diacríticos 522
Sinister 22, 2219
Síria 390, 397
Sociabilidade do homem 7 Sociedades comerciais 386
- defensoras dos estudos romanís
t1COS 115 Societas 386 aolpta 27, 282 Solecismos 513
Solidariedade 246297
Soluti retentio 262, 262315, 263,
263317
- indebiti 263316
Solvere 190, 191, 324396
Spartacus 84
Species (figuras) 384 Spondeo 305
Sponsio 203232, 235, 241, 305370
- e stipulatio 305370 Statera 2421, 2521
Stationes ius publice docentium aut
respondentium 353431
Status civitatis 196 - familiae 197 - libertatis 196
Stichus 252302 Stipendiati 390506
Stipendium 78
Stipulatio 202, 240287-288 241,
242, 30364, 459
- (noção) 303
- (características) 305 - aquiliana 376 - certi 305369
- incerti 305369
Stipulationes praetoriae 302 ss., 347 - - (particularidade) 308 Stipulator 305,
307 Studia et Documenta Historiae et
iuris (Revista de DR) 156 Suasiones 208
Subscriptio (das const. imp.) 271,
490
- -(abreviaturas) 486 746 Subscriptiones (espécie de const.
imp.) 274, 276, 409, 417 Subvenire 261
Successio (sucessão em Dir. Rom.)
226, 228
- (hereditária) 228
- ab irltestato 416560
-legítima 488 753
- testata 229
Sucessões (vid. também successio)
483
Successor 228 Suécia (e DR) 114 SUETÓNIO 448 Suggestions 274 Sui iuris 261, 2601
Suíça (e DR) 92126, 114
Supervivencia do lus Romanum 88 ss.
Supplications 274
Susa 391508
Suum cuique tribuere SYAGRIUS 358
Syllogen Maioriani 420, 421
Tábuas enceradas 167
Tábua III da Lei das XII Tábuas
185 ss.
Tábuas particulares 200 - públicas 200 Tabulae dealbatae 223
TALALEU (vid. «escólios de Tala
leu»)
Tarquínio Prisco 177188
Tarquínio, o Soberbo
Tatus 252302
T& V1 283, 284
Técnica 386
Tecnização do Direito 283
Oéµlç 2420 25, 26 Templos 353434
Temporalidade 64
Teodósio I 8o, 86
Teodósio 11 86, 278, 356, 406, 411,
413, 414, 419, 419565 , 424572
447, 448, 478
Teófilo (compilador justinianeu)
35, 444, 449, 456, 479, 481, 482,
485
Teologia 285, 286310,
- do Direito 28635°
Teoria das massas (no Digesto) 469676, 470
-da distribuição das massas 472 ---bluhmiana 469676, 474 - do pré-digesto 473 ss.
Teorias Gerais (valor) 27
TERENTIUS CLEMENS 378 Terminologia crítica 509807 ,urídica 16, 385
Testador 250300
Testamento (vid. também cláu
sulas testamentárias) 202, 376
Testator 250300
Textgeschichte 516
Texto justinianeu 515 Textos (extractos) 516
-jurídicos romanos 509807
---(necessidade) 403 Textstufenforschung 516 Thétnis (vid. Okµlç) Teeooogia (vid. Teol
ogia) Thesaurus Accursianus 507 THIBAUT 99
Tracia 77115
Tibério 1 390
Tibério II 492
Tiberius Coruncanius 83, 290, 376 Tingitana Caesariensis 77115 Tjdschrift voor R
echtsgeschiedenis
- Revue d'Histoire du Droit 156 Tirocinium fori 352 Títhemi 201
Titius 251301
Tituli ex corpore Ulpíani 153,
434
--(e interpolações) 519
Títulos 341 14 Tópica 365
Totalitarismo da lei 110, 202, 284 Toulouse 358
Tractatus 3651, 363, 368 Tradere 14
Tradição romanista 88 ss. --no Ocidente Çbibliografia)
Traditio 253 03
~, Traduções literais de textos Trajano 85, 355
593
7, 81, 339
177, 177188
425,
354
135
463
592
Trans Tiberim 182, 192, 193, 196 Tratado (vid. também tractatus)
368
- comentários 369 - de Mius civile» 368
- de «ius honorarium» 368, 369 Tres libri 498, 503, So6 - -(edições) 503, 506
Triboniano 35, 443, 444623, 445625,
447, 449 ss., 450, 456, 471, 472,
479, 480, 481, 482, 484, 487,
489
Tribuere 14
Tribunado militar 6899 Tribunais ordinários 274 Tribunal mortuorum 424
Tribuni militum 6188
Tribunitia potestas 6583, 74, 74109,
269, 339
Tribunos da plebe 63, 6593 6899 Tribunos celerluu 6188 Tribus 60, 63
Trinnundinum 193221, 207, 208 Tripertita 83, 181, 370, 376, 382,
382 491 Trutina 2521
TRYPHONINUS 367, 379 Túlio Hostílio 177188 Tunísia 391508
Turquia 89
Uir floss
Uirites floss
ULPIANUS (Domitius) 46, 85, 86, 282, 363, 364, 365, 366, 3666, 367, 367469, 369,
370, 371, 372,
378, 379, 390, 393, 399 ss., 422, 423, 424, 427, 429, 434, 438, 439, 456650, 469
, 473, 476, 478
-(e o Digesto) 458
Umbilicus 459, 459659
União Sul Africana (e DR) 114 594
Unitas actus 245
Urbs 43 Urgaius 394 Urmensch-Abwãgen 2521
URSS (e DR) 114
Usucapio 329404
Usura 260310 Usurários 260110
Usureceptío ex tfiducia 243
Usus 170, 170 79, 3293
Usos modernus Pandectarum too Uti rogas 208
Utilitas 286
Uxor in mano 228
Vacário 95
Valente 410
Valentiniano 111 86, 354, 356, 358,
410, 414, 424, 424572, 430
Valério iSo
Velho Testamento 429
VARUS, A fenos (vid. ALFENUS
VARUS)
Velleus 233, 236 VENULEIUS 371
VENULEIUS SATURNINUS 378, 458
Veneza 93
Venezuela (e DR) 114 Verbis contrahere 305
Veritas 2629
Verona 373, 390
Verres 79
Versão grega dos Setenta 429586 Versio Vulgata 490 Vespasiano 259
Veteres 381 Viena 107
Víglio de Ayatta 99 Vim fieri veto 328
Vinculado 190218, 192 Vínculo 189216
Vindex 189, 191, 191219, 195 - e Messias 191219, 192219
Vindicatio 252, 255
Vindicta privata 188, 188210 194223 Vingador 192219
Vir 4055
VIRGILIO 386
Viri doai in lure 456
Vis I1, 55, 5684
VITELLIUS 380
Vocabulario delle Costituzioni Latine
di Giustiniano 150
Vocabulario delle Istituzioni di Gaio
150
Vocabulárió Ortográfico 195225 Vocabulários de DR 149 ss. Vocabularium Codicis Iustinian
i 15o Vocabularium Institutionum lusti
niani Augusti r5o
Vocabularium Iurisprudentiae Roma
nae 149 VOET 99 Volksgeist roo
Vohimen 49, 363458, 4o6, 445626
506
Volumen parvum 506, 507806
Votação 208
Vox legum 443, 622 Vulgarismo 50, 359
Vulgarização (do Direito) 5o, 85
Vulgarrecht 5o, 5o'3
Vulgata 497, 503
Vulgata Latina 192219
Vulgata de S. Jerónimo 429586 Vulgus 205, 236, 341
Yaus 1g Yous 19
Ye 2833
Yu r8 Yug 18 Yung 18
Weld 2833
Zeitschrift der Savigni-Stlung Jur Rechtsgeschichte. Romanistische Abteilung 156
ZEt ç 15, 25
Zeus 25, 26, 28
595
3.-ÍNDICE DE AUTORES
AGNES M., 80120 AGUSTIN A., 469676 ALARCÃO R., 260410
ALBERTARIO E.,I06,127,139,140,
470679, 474692 ,476, 476700, 477, 479719,
484739 S~381s
514817
ALBERTONI A., 139
ALIBRANDI 1., 141, 513, 515 ALMEIDA COSTA M. J., 488 753 ALVAREZ U., 92126, 128,
133,134,
146
AMARAL V., 595225
AMBROSINO R., 150, 483, 483732 AMELGTI M., 481729 ANDRADE M. 250299, 307372 ANKU
M J. A., 323, 326401 ARANGIO-RUIZ V., 123, 129,
130, 139, 140,
141, 154, 155,
373, 385498,
395, 476,
476699, 477, 515, 516823
516825, 519
G., 139, 451641, 451643,
452644, 481729
ARIAS RAMOS J., 129, 130 ASTUTI G., 98 AZARA A., 147
BADENES-GASSET R., I24157 BALOCH S., 181199 BAPTISTA M., 157, 319390
BARONS S., 323
BARTOSEK M., 4I57
BAUDI DI VESME C., 418562
BAVIERA J., 141, 154, 180 SS., 181,
181195373, 395,
426580, 515
BERGER A., 89123 143, 144, 148,
180192 344420, 464, 464666 S15
BERNADAKIS S., 438 BESELER G., I06, 514, S15
BESTA E., 139, 356 444
BETT1 E., 139, 156, 515
BIENER E., 489754, 491, 501 BINDEL E., 460659
BIONDI B.,13 3,145, 146,3 14a 3I41 4867, 4868, 5683, 57,
57B6, IOI, I01139 130,
131, 134, 137, 139,
141,144, 202226, 212231,
226270, 258309, 275336
293354 304, 452"4, 515
BISCARDI A., 120, 134, 442618,
424572
BLAISE A., 30
BLUHME E., 100, 468,469ó76476`,
ARCHI G.
597
477, 470, 470680 472,
473, 474 BODIN J., 138
BONFANTE G., 4S1642, 474690
BONFANTE P., 1O0, io6, 129, 139,
141, 154, 18,, 181197, 221, 347426, 446629
451642, 457653, 474690, 474694 475, 475697
479, 479715, 479718, 48o725 482731 483734
488752, 500784, 504800,
505, 505B01, 51080, 512813.814 S14818,515,
515821
BONIFACIO F., 213252 BONINI R., 419565
BoNoLls G., 139 BORTOLUCCI I., 141, 151
Bosisio A., 961J3
BOUILLET D., 152 BOULANGER J., 293 354
BOYER G., 141
BRAGA DA CRUZ G., 92126 94130 4z6578 488 753
506802
BRANCA G., 137 BRASIELLO U., 134, BRASSLOFF S., 141 BREAL M., 123 BREMER F. P.,
372
BRENCMANNUS H., 497774
BRINZ A., ioo
BRISSAUDJ., 346 423 457 ó53757 BRLEK P. M., 124157 BROGGINI G., 330405
BRUCK E. F., 141 BRUGI B., 139
BRUNS C., 100, 153, 183, 346 426
4z6580, 438 BuCKLAND W. W., 135, 395
BUONAMICI F., 497773
BURDEAU H., 137
BURDESE A., 58B7, 131, 134, 2633'5
598
BURGER K., 145
BURILLO J., 457653, 463
CABRAL DE MONCADA L., 105'4',
183
CABROL-LECLERCQ, 2522 CAES-HENRION, 144
CALASSO F.,145, 88121, 93128 9412v 97135,135,145, 363460, 503789 506803
CALDERONE S., 80120
CALISSE C., 139
CÂNDIDO DE FIGUEIREDO, CARNELUTTI F., 123, 139 CARRELI S., 313384 CARTACHO T., 157
CARUSI E., 123
CASAVOLA F., 212251 CASSIRER E., 2420
CASTANHEIRA NEVES A., 28935' CASTELLÍ G., 137, 141 CASTRO-CORREIA M., 3I40 CECI L.
, ,2'
CENDERELLI A., 400, 401, 406528,
407, 409, 409537-538410542-543 410544-545
CERVENCA G., 311380, 313 384 428584,
519834
CESARINI-SFORZA W., 21, 2,12, 30 CHARBONELL H., 137 CHEVAILLER S., 140 CHIOVENDA
G., 92126 CHIRAT H., 30
CIAPESSONI P., 139, COGLIOLO A., 522
COLLINET P., 144, 146, 326401,
357449, 442617, 477,
477764, 485745 516823,
5,883' 5,9831
COLUCCi B., 157
COMPOSTA D., 287350
CONRAT M., 93 CONTICINI B., 469676 CORNIDLEY J., 263 315
CORNIL G., 138
COROMINAS J., 2113, 2214, 2215,
162160
CORREIA A., 131, 157 COSENTINI G., 141 COSSINGER W. A., 145
COSTA E., 507806
CRIFÔ G., 451642, 474690 CWÁCIO J., 323, 397, 4,8562, 430,
434
153, 277341,
42$S84, 432595
519834, 520838,
522 844
135, 127, 137, 139, 145, 156,
18,, 181198,
344420 34542,
442617, 446629,
470680, 471682,
475
DE MARTINO F., 336 DE ROBERTIS F., 273 333
DE RUGGIERO R., 147, 149 DE SARLO L., 368473, 387 504 DE SIMONE H., ISo
DE VISSCHER F., 4055, 13 7,13 8, 141 DE ZULUETA F., 140, 396 DE13BASCH J., 140
DELL'01kO A., 478, 478712 DELOS P., 6119 D'EMILIA A., 293 354 DERNBURG, 100 DEVO
TO G., I23, 141 DI MARZO S., 131, 439
D'IPPOLITO F., 220263
DIRKSEN F., 152 DõHMANN K., 2521
DOMBOIS H., 28735°
DONATUTI G., 277341 D'ORGEVAL J., 344420
D'ORS A., 124, 14, 147, 177, 32,
3243, 4I57, 4662, 4764,
4766, 49, 497t, 57, 5785, 77116, 78118, 131,
134,146,148,154, I56.
I68171 17I178, 203,
204,204 235,207 240, 211, 211247, 284348, 293354,
31238323, 333, 333406, 347428 349u9, 396,
45I642, 457653, 463, 4676, 474693, 476, 476703, 51,812 , 516825,
517,517 827, 522841, 525 DOLL R., 180'92
DUMEZIL G., 25,301
EBRARD F., 413553 424572
EHRENZWEIG Fr., 474, 474691,
476699
EISELE F., 141, 514
ENDRés F. C., 46o6S9 ERATH A., 2522 ERRARD W. 442617 ERNOUT-MEILLET, 16, ,67, 2217
,
239 3037 77115
EsCOLI A., 139 EULA E., 147
FADDA C., 139, 142,
FANTINI J., 2523
FAURE G., 140 FEENSTRA R., 156
FERIO J., 501785
FERNANDES G., 157 FERRARA F., 140 FERRER-CORREIA A., 260310 FERRERO G., 2420 FER
RINI C., 100, 132,
139, 142, 154, 373, 599
19S225
DAREMBERG Ch., 149 DAREMBERG-SAGLIO, 2521
DAUBE D., 191219
DE DOMINICIS M. A., DE FRANCISCI P.,
141, 197225
141
154, 505
134, 138,
22
426,580, 438, 4$1, 481727, 482, 5,5 FIORELLI P., 133 '
FITTING H., 93, 138
FORCELLINI A., 2218, 3753, 77115
203232, 312382
FOSTER-HOPPER V., 460659
FOURNIER P., 138 FREZZA P., 241288
FRYKLUND D., 2319
FUENTESECA P., 348428, 457653, 463
FURLANI J., 154, 373, 426580, 438 GARCÍA-GALLO A., 21, 2112, 30 GARCIA GARRIDO M.,
3 373305370
33741O 457653, 463
GAUDEMET J., 72106, 156, 168171,
~74184, 271329 273333, 277340, 277 342 310379,
355 44D, 404526 405527
4075, 410544, 413554 415558-559 417562
418563, 420566, 421568, 4263,77 426580,432599
433600, 433602, 434604, 435605-606 437609,
511811
GAY J., 140 GEBANER H.,504
GELZER F., 142 GÉNY F., 138
GENZMER E., 55B0, 119152, 135,137 GEORGESCU V. A., I23, 142, 289351
GERARDIN J., 138
GIDE P., 237280, 238284, GIERKE 0., 90
GIOFFREDI C., 133, 2936,
70101, 204233 GIRARD P. F., 137, 138, 142, 146,
155, 180192, 181, 181196, 183, 186206,
346426
GIUFFRÈ V., 250299
GODOFREDO D., 35, 418562, 442, 500784, 504
GOETZ H., 96
GOMES DA SILVA N. E., 92126 GosCHEN H., 395
GOTHOFREDUS (vid. GODOFREDO) GRADENWITZ 0., 100, I50, 151,
153,183, 417561,
481728, 512, 514,
SIS
GROSSO G., 128, 129, 258108,
442617, 445628, 4S6647, 490761
GUARINO A., 1,2, I67 3244, 405s 57 86,05141 128, 129,
155, i56,310379 344, 344419, 394, 442617, 44562s 446630, 449637
477, 477705, 497774, sii812, 518831
GUARNERI-CITATI A., IS3
GUTIERREZ A., 149
GUTZWILLER M., 137
HAENEL G., 407,418 562, 419,503 HAIN L., 145 HAKAMIES R., 3J38 HEIMBACH G. E., 5
03
HENNE H., 147
HERMANN F., 504 HERNANDEZ-TEJERO F., IS4,
457653,
463 HESSEMBRUCH H., 460659
HERMANN-SECKEL, 151 HOETING I-I. R., 226270 HÔFIXÔN M., 294 355
HOFMANN G., 470, 470679, 473,
474, 474690, 477 HORWAT M., 320391
HUGOLINO A., So6805 HUMBERT J., 137
HUND H., 395
HUSCHKE Ph. E.,192221, 426580, 482, 501 HuVELIN P., 138
IGLESIAS J., 132. 142, 517828 IHERING R., 100, 135 IMBERT J., 241289 IMPALLOMENI
G., 323 IRVING A., 459659 IURET A., 2217
JACOBUS SIRMOND (vid. SIRMOND) JAEGERW., 2628
JÜRS P., 132
KALBW., 123, 514 KANTOROW!CZ H. U., 135,497 775 KARLOWA 0., 100 KASEIL M., 135,
4869, 114, 129,
132,133,137,156, 191,
19322: 311380 323,359,
359455, 435, 435601 Kipp Th., 148
KIRCHMANN J. H. von, 281 KOHLER J., 386, 386500 KOSCHAKER P., 5S79, i05141, 107,
110,135,137,138,
191219
KRELLER-H., 234275 KRETSCHMAR P., 497775 KRIEGEL H., 504
KROLL G., 37, 125, 148, 154,
460660, 490760, 495,
503, 504, 505 KROGER P., 37, 125, 150, 154,
346423, 346424, 372,
407, 4155S9, 418562,
426310, 457653, 460660,
470680, 474690, 489717,
4897U, 4901639 504.505 KOBLER B., 148, 150, 514'
KUNKELW., 37, 114, 129, 132,
134, 148, 154, 156, 172179, 180191, 353,
35343e 367167, 375
392512
KURTSCHEID B., 124157
LABRUNA L., 4055 LAFAYE G.,149 LAGES A., 1S7
LAMBERT E., 138, 18o ss.,
382
LAND 'r., 438 LANDUCCI L., 442618 LAURIA M., 28933' 432394 LANZA D., 2628.
LECOMTE E., 501, 502, 503, 504 LEGIER H. J., 140 LEICHT P. S., 491
LEITE DE VASCONCELOS J., 2216
19S225
LEMAIRE M. E., 152
LEMOSSE M., 145
LENEL 0., 100, 106, 140, 323, 345,
346, 346424, 346`26, 347.
348428 369473, 370112,
372, 375, 38o, 475, 513,
514, 515
E., 135, 151, 156, 197225,
311380, 516 LEVY-BRUHL H., 138, LEWALD H., 138
LEWIS-SHORT, 286 LIEBS D., 401, 4T05'
LLANO-CIFUENTES R.,
Lo1SEL A., 430
LOMBARDI L., 320391, 1,509 510909,
510810 521842
LONDRES DA NóBREGA V., 1S7 LONGO C., 150, 263315, 4700, 514816
LONGO E., 263 315 LUZZATO G., 133, 146
181'91,
LEVY
239285
142 337410
3139
600
601
MAI A., 427 MANCABONI F., 134
MARCH! A., 153, 520838 MARROU H. J., 352431 3534"
,
357""
MASCHI C. A., 129
MASI A., 428584 MASSOWEAU H., 224268
MAYER P. M., 147
MAYER-MALY Th., 392510, 471683
MAYR R., 150
MAZAHERI A., 2521 MAZZARINO S., 411546
MEILET E., 318389
MEIRA S. A. B., 157, 1.80192
MÉNAGER L.-R., 140
MERRA P., 92126
MERGET H., 152
MEYER P. M., 254, 414557, 41812,
419
MEYLAN Ph., 138
MIQUEL J., 521$42
MrTTEls L., 1* 107, 147, 474695,
S I I8I2 515
MITTEIS-WIKKEN, 147 MITTELHAUS H., 148 MODICA M., 147
MOMMSEN Th., 37, 100, 106, 125,
134, 142, 154,
183, 29222' Z13, 214, 218, 234275
372, 393513, 408, 4o851°, 408532, 409,
418162, 419, 4z6580, 456e50, 457633,
46e60 467671,
474690. 497773
497 497116,
498786,
504, SOS,
MONIER R., 145, 149
MOR C. G., 45058 MORAIS A., 195225
MORIANI L., 139
602
MoSCHETTI G., 496772 MÜLLER J., 91126
NALLINO C. A., 437, 437e08, 437611 NASCENTES A., 2215 NENCIONI P., 123
NIEBHUR B. G., 395 NIEDERMEYER H., T38, 516 NIISSON M. P., 2626
NOAILLES P., 135, 142, 489157
491, 490. 503799
NOGUEIRA A., 157 NÕRR D., 148
OLIVECRONA K., 142
ORESTANO R., 92126, 128
OSENBRÜGGEN, 504

PAIS EL, IS7


PAIS Et., 18o ss., ,8o'93, 181 PALLACINE-FINETTI L., S,5820
PALANQUE, 277341
PAMPOLONI, 142, 513
PANETH L., 460659
PAOLI E., 140
PARADISI B., 4867, 155, 357430,
456610, 521B10
PARIENTE A., 3910 PARSI B., 73107
PARTSCH J., 142 PASCAL C., 152
PATETA F., 496712
?AULY A., 148
PELTIER F., 346426
PERNICE A., 389 PEROZZI S., 100, 140, PERRIN B., 140
PESCANI P., 463, 463462, 464,
.464667, 465, 4659,
467671, 468, 468675
PETERS H., 474, 474693, 475, 476,
476699, 477, 5T1812
PETOT P., 137
PEYRON A., 4I85ó2 PEZZANA A., 34,413
PICINELLO Ph., 2522 POLIZIANO A., 502
PONDS J., 287350
PORTO V., 257 POTHIER M. E., 149
PRINGSHEIM F., 96114, 137, 142, 148,442 617 451641
PROVERA G., 294 355 PUCHTA G. F., 100
PUGLIESE G., 137, 517828, 518831
S19832 519835, 520836
RABEL E., 132, 138, 152
RAGGI L., 311380
RATTI U., 240 REDENTI E., 140 REGATILLO E.,21,, 2833
REINAFH J., 396
RICCOBONO S., 107, 140, 142,
154,183, 346424, 346426, 373,
45,641.642, 50$, 511612
RICHE P., 93128, 3544J8, 355440-441
3564, 356447, 358451 '
RICOEUR P., 24M RIEMSCHEIDER M., 460659
ROBLEDA 0., 90125, 98137, 128, 294355 , 395, 429585,
43360I402, 4386I3.614
487747, 490, 490764,
491767, 50680\ 520837
ROESSING E., 157
ROMANELLI P., 3447
ROTONDI G., 142, IS2, 193221,
206238, 206239, 207241,
20,7 209945, 212,
2I3 68D
484741 481 43,'4 57~1
ROUSSIER J., 140 ROUVIER, 140
RUIPEREZ, 2525
SACHAU, 426680
SACHAU-BRUNS, 438 SAGLIO M. E., 149 SAN NICOLÔ M., ISO SANFILIPPO C., 145 SANTALUC
IA B., 398 SANTI ROMAN!, 139
SARGENTI M., 311380
SAUTEL G., 140
SAVIGNY F. C., 100, 107, 123 SCHELTEMA H. J., 155
SCHERILLO G., 418564,
429585
SCHIAFFINI, 123
SCILLER A. A., 144 SCHINELFERIG Th., 145
SCHOLL R., 37,125, 154, 183,495,
503, 504, 505
SCHÜNBAUER E.,-517828 SCHREY H. H., 28735° SCHUBARTW., 147
SCHULER B., 287350
SCHULTZE A., I50
SCHULZ F., 4867, 123, 129, 132,
235, I38,234275,250299, 303, 358454, 363461,
366447 08, 08531,
4676, 3484741, 497773, 497776, 515, 521
SCHUPFER F., 240
SCHWARZ F., 150, 435, 435607 SCIALOJA V., 100, 140, 143, 1S4,
383458, 505, 515
SCIASCIA G., 131, 143 SCRIMGER M., 503
SECKEL E., (vid. também HEU
MANN - SECKEL) 138, ISI, 514
SEECK H., 277341
SEGRE G., 100, 143, SEIDL E., 323 SENN F., 155
SEVERINI F., 4055 SIMONCELLI V., 140
603
Í
428583
,
142
502791 505801
323, 515
SIMONIUS A., 137 SINCLAIR T. A., 2525 SIRMOND J., 419
SOLAM S., 138, 140, 143, 234276, 323, 326101, 515,
519834, 520838
SOLMI A., 98, 140
SOLOVIEV A. V., 89124 SONTIS J. M., 51,812 SOUCIE A., 471683
SPANGENBERT 0., 504
SAPNNEUT M., 3140
STEIN E., 76114, 277311
STEINwEN1ER A., 138 STELLA MARANCA, 146 STROUX J., 143
SYMONINI A., 96, 96133 SYNDICUS E., 96113
TAMASSIA N., 143, 3S5439.«0
356µ4, 35634s
TAUBENSCHLAG R., 136, 140, 143
TIBILETTI G., 214, 214254 TORELLI F., 502 TORELLI L., 502
VALENTE M., 3140
VAN OVEN J. C., 140, 394
VAN WARMELO P., 471695,
478
VANGEROW, 100 VANICEK, 123 VASSALLI F., 140, 143 VAZ-SERRA Adriano, 307372 VENTU
RA R., 133, 250299, 299363
VERNACCHIA J., 178189
Vocl P.,1910 133
VIGOUROUX, 2421 VoGT H., 234275
VOLTERRAE., 133, 145, I53, 156,
311330, 341413, 396521,
428S", 437, 471633, 515, 519833, 522344
WALDE-HOFFMAN, 123, 2011,29 36 WALZ H. H., 28735° WARBURGW., 123
WENGER L., 107, 130, 133, 138, 146, 147, 344420,
346425, 347426 415557 4I5559, 480725, 48373
487747, 487731
489755-756 490762
498781.782 Sol788
50Z795, 503 7, 510109,
S18830, 518831 519833
S1983s 521839
WEISS E., 148
WIEACKER F., 88121, 95131, 96132,
98137, 114, 136, 143,
148, 156, 320391,
357450, 363458, 364463, 366466, 36746eaa9,
369474 369476, 370478,
37041', 371, 386502, 394516, 396522476, 50, SO 823 519831
5837, 521 WIKKEN (vid. MITTEIS-WIKKEN) WINDSCHEID B., 90, 100 WISSOwA G., 148 WI
TTE W., 148 WOLF E., 287 350
WOLFF H. J., 6292, 97133, 129,
143, 395, 399
ZACHARIA von LINGENTHAL, 503 ZAFRA J. V., 18 ZANZUCCHI P. P., 140, 150 ZDEKAUER
G., 49777
ZIEGLER Th., 148
ZOCCA-ROSA A., 483134
- Africani lex, id est di(ficilú-392 - Alterum non Iaedere -12,125,133,
118, 289
- Bis de eadem re ne sit actio -
2462%
- Bani et aequi not itíam profite
mur - 285
- Confessus in lure pro iudicato
est -187
- Dura lex sed lex - 284
- Facilius se mwlier obligat quam alicui donat - 2;8
- Quae facto iaedunt pietatem, existimationem, verecundiam nostram et, ut genera
liter dixerim, contra banos mores fiunt, nec (acere nos posse credendum est
397323
- Falsa demonstratio non nocet -
258
-Honeste vivere -I2 123,135
- Interpretandi scientia et actio
ns spud collegium pontificum
erant - 290332
- luris praecepta sunt haec: honeste
vivere, alterum non laedere, suam
cuique tribuere -12.15 e n. 5
- Iuris prudentia est divinarum
at que humanaram rerum not it la, iusti at que iniusti scientia - 281
-Ias est < etiain > ars bani et aequi - 281
-Jus civile repositum in penetrali
bus Pont f eum /ieit - 290352
- lus civile in sola prudentium interpretation consistit-292
- Leges condere soli imperatori concessum est - 271
- Lex Cincia morte removetur - 212
- Libertas inaestimabilis res est -
197
- Mulier diff ciliter donat - 238 - Nemo bonus Turista nisi barto
lista - 98
- Nemo pro parte testatus pro parte
intestatus decedere potest - 229
- Non bis in idem - 246296
- Omnis definitio in lure civili periculosa est - 363
- Non ex regula ius sumatur, sed ex lure quod est regula fiat-363, 385
- Nec paciscendo nec legem dicendo nec stipulando quisquam alteri cavere potest
- 385
4.-ÍNDICE DE CERTAS MÁXIMAS OU AFORISMOS JURÍDICOS
477,
604
605
- Prior at que potentior est quam Pox
wens dicentis-257
- Quidquid non agnoscit Glossa,
non agnoscit Curia - 95
- Swum cuique tribuere-12,125,13
118, 289
- Summum ius summa iniuria-288 - In testamentis plenius voluntates testantium in
terpretamur-257,
436
- Uti lingua nuncupassit, ita ius
esto - 202
Pdg. Linha -
CORRIGENDA
(S6 das erratas principais)
onde está
Devia estar
340
4 31 Num breve Introduçio
51 13 saber clássico
51 3 da n. 77 (no prelo)
89 4 da n. 124 Bysantinisches
99 14 vigor
118 ' 14 semelhnte
152 29 lusstiniani
195 6 da n. 224 3941
266 22 e digo
283 26 do adio
284 2 um res
286 14 detrminada
305 4 esse actio
pelos ius civile
23
Numa breve liuroduçio sabor clássico (Coimbra,1973) Byxantinisches rigor
semelhante lustiniani 3961
edicto
da adio
uma res determinada essa actio pelo ius civile
606
607
PIG SF, C10
Impõe-se-nos uma explicação. Estas Lições foram escritas para alunos do 1.° ano, que não poss
em qualquer preparação jurídica (vid. supra XXI, 4 e 125): a sua orientação é manifestamente
propedéutica (ver supra XXIX, XXXVII-XLIV, 120,125 e 126). Justifica-se, pois, um
certo aspecto elementar da exposição de várias matérias, contidas sobretudo em algumas
páginas da INTRODUÇÃO.
Quando inesperadamente em 28 de Setembro de 1972, a trés dias de início do novo ano
escolar, foi publicada pelo Decreto n. 364/72 a Reforma das Faculdades de Direito
em geral (e não apenas da Faculdade de Direito de Lisboa, conforme pouco tempo an
tes nos tinha sido garantido superiormente) - a qual, entre outras novidades, co
loca o ensino do Direito Romano no 4.° ano(l) -, estas Lições (2.6 edição), laboradas com
grande sacrifício durante as férias do verão transacto (e isto, por indicação superior) e
concluídas em 8 de Setembro (vid. supra XLVI), já se encontravam na tipografia. Esta
vam compostas, e até impressa cerca de uma terça parte. Vivíamos então a azáfama de corrig
ir as últimas provas tipográficas. Tivemos de suspender imediatamente a impressão da p
arte restante, a qual, por motivos de força maior (a própria saúde ressentira-se grave
mente), só agora pôde ser efectuada.
609
Perduram válidas as razões e convincentes os argumentos apresentados acerca da neces
sidade do ensino do Direito Romano nas actuais Faculdades de Direito, mas logo n
o 1.0 ano (ver pdgs. 2, 117-120, 123, 125, 127 e 158).
Só depois de ter sido preleccionado no 1.0 ano, é que se compreende também uma outra d
ocência do Ius Romanum, mais adiante, por exemplo, em regime de seminário num curso
de pós-graduação.
Ora, num Plano de Estudos de cinco anos para obter licenciatura nas Faculdades d
e Direito, principiar o ensino do Direito Romano no 4.o ano é um erro; erro grave;
e até certo ponto, um absurdo, que bem poderia comparar-se à atitude de quem, na co
nstrução dum edifício de cinco andares, pretendesse colocar os alicerces ou as bases d
o prédio no quarto piso. Erro e absurdo tão fortes, que, a médio ou a curto prazo, pod
erão conduzir a eliminar das nossas Faculdades de Direito o ensino desta disciplin
a universitária. Mas - cuidado) - a supressão do Direito Romano, da História do Direit
o, da Filosofia do Direito (e esta última já desapareceu na prática, pois nem sequer c
omo disciplina de opção vem expressamente sugerida), assim como de outras disciplina
s jurídicas humanisticas, conduziria a um ensino do Direito meramente técnico (vid.
supra 2-4, 283 e 284). Esse tipo de ensino do Direito, além de baixar o seu nível su
perior, e portanto verdadeiramente universitário, para ensino médio (devido à vulgariz
ação e à rinfiação» de juristas - vid. supra 399 algo semelhante ocorrido nos fins da época c
sica central), seria uma janela aberta não só para a ideologia tecnocrática (para a qu
al todo o juridicismo é letra que mata, perante o espírito da arbitrariedade que é o q
ue vivifica), mas também e sobretudo para a ideologia marxista, para a qual não há nor
mas jurídicas mas apenas normas técnicas ou simplesmente tácticas. Conduziria, enfim, à
pior deformação do
610
jurista: aceitar sem crítica aquilo a que, desde 1962, vimos chamando
o totalitarismo da lei - consequência requintada do positivismo
legal, seja qual for a sua cor política (vid. Solutio I pág. XXXIII).
E se nesta Reforma a supressão (ou o caminho disso) das ciên
cias jurídicas humanísticas não tivesse sido mais do que pura coin
cidência (e mesmo assim...), então poderíamos antever o maior dos
desastres: estaríamos a assistir à primeira batalha para suprimir,
dentro dum certo prazo, a Ciência do Direito do âmbito das ciências
universitárias, por decapitação; pois uma Ciência do Direito
a-filosófica, a-histórica, a-humanística equivale a uma Ciência do
Direito acéfala: a uma Rechtswissenschaft ohne Recht (ver pág. 2).
Mas no dia em que desapareça a Ciência do Direito, terá desapare
cido o próprio Direito (vid. supra 292). E um Mundo sem
Direito seria insuportável. Desumano. Impossível) (Ver págs. 9-11).

Mas voltemos ao nosso caso. Não colocar no 1.0 ano o ensino desta disciplina unive
rsitária é um erro grave, pois o Direito Romano »é a bases (vid. supra 157 e 158); «o alfa
beto e a gramática da linguagem jurídica e de toda a Ciência do Direito», e o seu estudo
é altamente formativo para quem vai iniciar a carreira jurídica (ver págs. 2, 117-120
, atendendo-se dum modo especial à al. c) da pág. 118). Sublinhe-se bem: um ERRO GRA
VE. Tão grave, que constitui caso único (I) - um verdadeiro extra chorum internacion
al, mas sobretudo europeu (ver págs. 113-116 e principalmente a nota 148).
Esta Reforma, infeliz sob vários aspectos e concretamente no respeitante ao ensino
do Direito Romano, só teria uma certa explicação, se surgisse, digamos, entre os anos
1920 a 30, período do auge da crise dos estudos romanisticos (vid. supra 104-109)
. Mas a crise foi superada, especialmente a partir de 1956 (vid. supra 1 e .117)
. Estamos às portas do séc. XXI. Pretendeu-se avançar trinta
611
anos, como se deduz do preâmbulo do Decreto n.° 364172. Afinal... recua-se cinquenta
ou mais. Se até agora se verificava uma «sensível desactualizaçãa (preâmbulo desse Decreto)
, agora existe uma,escandalosa falta de actualização.

Esta Reforma de 72 está desde -logo viciada daquela preocupação intolerante de pretend
er da mesma Escola e do mesmo Curso duas coisas estruturalmente distintas: a lic
enciatura e o bacharelato em Direito (a licenciatura é o que se pretende, em prime
iro lugar, numa Faculdade de Direito).
Julgamos impossível estruturar no mesmo Curso de Direito o bacharelato (cuja final
idade, ainda a definir [n.° 1 do art.° 21.E do citado Decreto], deve certamente ser
profissional, destinado ime
diatamente à prática) e a licenciatura, cuja finalidade natural é
ingresso nas profissões forenses; tão impossível, como estruturar no Curso de Medicina
o de enfermeiro (um ou dois anos de Medicina)
o de médico (os seis anos). Um fatalmente prejudica o outro. É que as finalidades, t
anto num caso como noutro são estruturalmente diferentes; qualitativamente diferen
tes. Não são apenas extensivamente ou quantitativamente. diferentes: um curso mais p
equeno e outro maior. Não. - Uma comparação fará ressaltar mais ao vivo a realidade do p
roblema. Não se pode montar, na mesma «linhas de ensino do Direito, uma «carruagem» de v
ia estreita de bacharelato e uma «carruagem» de via larga de licenciatura: se a linh
a é de via estreita, descarrila fatalmente a carruagem de via larga; se a linha é de
via larga, descarrila fatalmente a carruagem de via estreita; e, se se tenta co
locar uma linha de via média, então descarrilam as duas carruagens. Em qualquer das
hipóteses, sempre um desastre.
Concorda-se que haja certas vantagens ou até mesmo necessidade de criar um bachare
lato em Direito, a fim de preencher mais fàcil
612
mente certos lugares (embora a experiência entre nós de 1928 a 1945 o não aconselhe, a
pesar desse bacharelato, diferente em tudo menos na designação do agora previsto, te
r uma estrutura lógica; porém, as circunstâncias hoje são diferentes...). Mas então, esse
curso tem de ser estruturado ex professo. Não se consegue pelo sistema de aproveit
ar metade ou três quintas partes doutro curso. E deve ser preleccionado, não numa Fa
culdade de Direito, mas em Escola própria (politécnica, ou num Instituto), embora, p
orventura, sob a orientação das Faculdades de Direito.
Uma coisa, porém, julgamos estar clara: não é com esta Reforma que se vão conseguir ràpida
mente muitos (alguns!...) bacharéis em Direito. Primeiro, porque será dificílimo a qua
lquer aluno concluir em três anos os tais seis semestres, tão sobrecarregados estão os
respectivos programas; segundo, porque, obtida a aprovação nos primeiros seis semes
tres, ninguém ou quase ninguém ficará por aí, pois os outros quatro semestres são muito ma
is fáceis, sobretudo se o aluno os frequentar como voluntário.
Mas insistamos no caso concreto. - Além de erro, grave e de sentido retrógrado, não co
locar no 1.o ano o ensino do Direito Romano, representa, de certo modo, uma desc
onsideração para com o recente Colóquio Internacional de Direito Romano celebrado no R
io de Janeiro; e até, em certa medida, para com o Brasil e a Comunidade Luso-Brasi
leira (ver págs. 157 e 158).
Por estas razões e por outras que facilmente se poderiam invocar, urge rever esta
Reforma, que, independentemente de uni ou outro aspecto válido, não foi na verdade f
eliz. No seu conjunto, é infeliz. Melius illi erat, si nata non fuisset, pois refo
rmar por simples reformar ou reformar sem melhorar é desorientar: - é deformar.
613
Alguém, com toda a sua autoridade de Mestre consagrado e cuja nomeada passa além fro
nteiras, já a classificou de aetorma que envergonha internacionalmente um país, sobr
etudo um país europeu». (Para se compreender melhor o sentido e o, alcance desta afi
rmação, ver págs. 2, 90, 91, 114 [e especialmente a nota 148),118 [principalmente a al
ln. o] e 119 n.° 3).
Confiamos, pois, na revisão urgente do Decreto n.° 364/72, porque erros apontados -
e quem não erra ?/ - a pessoas superiores,
são erros logo emendados. Errare humanum eat; in errore perseverara, diabo7cum. °
Esperemos, por conseguinte, que o ensino do Direito Romano
volte, quanto antes, ao 1.° ano das nossas Faculdades de Direito, CORRIGENDA & A D
D E N D A
onde sempre esteve e donde nunca devia ter saído. Assim é leccionado nas várias Faculd
ades de Direito da Europa e dos países civilizados (vid. supra 113-116 e atenda-se
bem d nota 148 como à alin. c) da pág. 118).
Que estas Lições, entretanto, sejam algo semelhante a ruma lâmpada que brilha num luga
r escuro, até que venha o dia, e a estrela da manhã nasça nas inteligéncias» (II Petr. 1,1
9).
Coimbra, Março de 1973.
S. C.
614
CORRIGENDA & ADDENDA
Pig. Linha Nota Onde esti
Colocar
modshcondo (isto é, ou acrescentando palavras ou alterando-as); e essas modificações,
conforme a setes de cada um, ficarão ou interlinhadas ou colocadas ao cimo ou em b
aixo ou nos lados da pág. indicada; ou até escrever numa pág. ou fi. à parte e depois co
lá-la nessa tal pág. indicada
2 31 ...positivismo positivismo jurídico
4 2 cado), estuda-se cado), na prática, estuda-se
7 3 social, social Gurídicas), elaboradas na Roma da
antiguidade.
23 esclarecer esclarecer,
8 17 (alterar desde) A liberdade... A liberdade do homem reside fundamental
(até) finalidade. . mente num poder de opção entre duas ou mais atitudes dignas, para
atingir um fim; esse poder-optar pressupõe necessariamente ausência de determinismo,
aliás esse Ser não é livre. 0 sentido profundo da liberdade consiste em que o homem é u
m Ser que, tendo por um lado exigência de perfeição e por outro consciencialização dos lim
ites em que está envolvido, pode escolher entre vários meios (imperfeitos, limitados
- mas rectos, próprios, adequados) para atingir a perfeição; ou melhor, um grau cada
vez mais próximo da perfeição, sem jamais a poder realizar plenamente. A liberdade é, po
r conseguinte, o poder de projectar o ideal transcendente de perfeição na existénia.
0 uso da liberdade concretiza-se, não tanto na indiferença perante várias situações elegívei
s, como no uso desse poder-optar entre vários meios rectos (ou dignos ou legítimos)
para uma determinada finalidade; e o uso desse poder-optar pressupõe ausência de coa
cção, aliás esse Ser é livre mas não está em liberdade (não estd livre).
617
Pág. Linha Nota Onde está Colocar
Pá4. Linha Nota Onde está Colocar
12 10 poderes poderes jurídicos
12 11 faculdades faculdades jurídicas
12 5.1. - 1 non laeder, non laedere,
-1,`-16 não abusar dos seus não abusar dos seus direitos (isto é, poderes ou direitos;
faculdades jurídicas);
- atribuir (ou -atribuir (isto é, ou
6 7
69 6.°
7.0-A partir do séc. iv, ius também
significa o conjunto de fragmentos de obras de juristas clássicos; vid. infra 216.
27 26 jursistas juristas
35 3 Godofredo Godofredo (vid infra 99)
35 12 Beirute e a Beirute, a de Alexandria e a
39 2 a) - Épocas históri- a) - Épocas históricas da vida do eIus Romamarn cas
40 14 É ice. É único. (Ver gráfico na pág. 384-385)
46 7 : la em 228, : 1.0 em 224 ou 223 (vid. D'ORs, DPR')
47 última (Coimbra, 1982) (Coimbra 1974)
48 67 (Coimbra, 1972) (Coimbra 1974)
49 71 e n. 20-3.0. e n. 20-3.0, e Estudios Ursicino Álvares (Madrid 1978). Aí também s
e esclarece a diferença entre codex e compilatio, e se demonstra (seguindo WtmAGRm
t) que a moderna codificação é eo encontro entre o Direito natural racionalista e o il
uminismo'.
51 75 (no prelo) págs. 3-48.
55 18 força que forçae1-a que
(Nota) 81-a A força provém: ou da auctoritas; ou da potestas, ou da auctoritas e da
por estas. - A auctoritas é a força proveniente de um valor pessoal do indivíduo (linh
agem, posição social, saber, prestígio, etc.). Potestas é a força proveniente do cargo pol
itico (participação de 'imporiutn,) que o indivíduo ocupa.
58 87 (Turim, 1966) pas- (Turim 1966) passim; para uma síntese, ver
sim. Labeo 29(1983) 218-222.
59 20 política romana. política romana. -Todavia o poder do paterfamilias tinha os s
eus limites; para uma síntese, vid. Labeo 29(1983) 164.
72 106 (Nápoles, 1964) 699- Nápoles 1964) 699-709; Pierre G»mADz, Essa
-709). sur les Origina du Principal (Paria 1971); Labeo 29(1983) 191-193.
88 6 aplicação prática, aplicação prática ou de aplicação na prdtica,
13 2 21 4 24 9
88
89 90
121 Ocidente. Ocidente. - Em nosso entender, continuidade significa 'permanência s
em alteração.; n~vencia, 'permanência, devidamente adaptada às novas condições sociais'.
122 Synopsis minor. Synopsis Minor. - Sobre o valor destas obra, até para algumas
vezes interpretar melhor certos fragmentos do Digesto, vid. ARANGIO-Rotz, Scritt
i IV (Camerino 1977) 1-38.
125 5-21. 5-21; e Alex. BARRamo, El Derecho Romano y Ias Modernas Codificaeiones
del Derecho Privado em Roma fitas 11(1972) 100-116.
105 2 109 10
do interesse pelo
do interesse jurídico pelo
118
romanísticas.
292-295; existentes;
romanlstieas'w+
(Nota) 144-a Sobre a necessidade do conhecimento do Latim, mesmo para o estudo d
e qualquer ramo do Direito em geral, vid., por todos, Prof Doutor G. BRAGA DA CR
UZ, O Lodm e o Direito (Coimbra 1973). Recomenda-se vivamente esta monografia a
todos os estudiosos do lus Romanas.
120 10
292-295, e supra XXXIV;
existentes; e saber elaborar a construção jurídica adequada ao caso (montar o andaime
próprio, conforme o edifício a construir);
Direito Romano mostra-nos continuamente (com a doutrina, elaborada pelos seus gl
andes mestres) a necessidade de adaptar o Direito à vida; atender às novas circunstânc
ias sociais com critérios de justiça (e não de pura lógica), para não se dar
paradoxo de, em nome da lei, cometer uma injustiça;
5 - Outras razões. [Para uma análise mais ampla datar 5 raeãa, destinada principalment
e ds aulas prdticas, transcreve-se, para utilidade dos alunos, a exposição
elaborada pelo Dr. A. Santos Jato, Assistente desta disciplina).
618
619
Justifica-se que o Ius Romauum seja ensinado nas actuais Faculdades de Direito,
porque:
1. 0 ensino do lia Romanwn tem um alto valor FORMATIVO, consubstanciado na educação
do jurista para:
a) uma certa liberdade e uma relativa INDEPENDÊNCIA perante a lei:
desmistifica o pensamento positivista do Direito que, identificando Lei e Direit
o, monopoliza a lex como foras iuris. Evidencia-se, no estudo do Ius Romanum que
:
* a lex não foi a primeira nem sequer a mais importante fonte do Direito;
* o positivismo jurídico instalou-se, no Ius Rom amar, numa época de decadência;
- consciencializa o jurista para a sua função constitutiva, sempre CRIADORA do Direi
to em contraste com a instrumentalização, a que o sujeita o positivismo jurídico de si
mples aplicador de um qualquer *direitos que lhe é fornecido como um dado e cuja j
ustiça lhe é recusado valorar. 0 jurista deve afirmar-se como viva vox iuris, rejeit
ando todas as leis injustas por exigência do Direito de que é intérprete e defensor.
b) um casuísmo científico:
- o jurista não deve apenas interpretar e aplicar as normas jurídicas, mas saber, ta
mbém, criar a norma adequada à especificidade de cada situação;
- deve rejeitar a metodologia positivista do silogismo judiciário mais empenhada e
m afirmar uma certa ciência do que em servir a vida, esquecendo que nem tudo o que
é lógico é justo e que, nada criando a lógica, mas tio-sé deduzindo, lhe escapam as parti
cularidades que, enriquecendo e especificando os casos, exigem soluções que as conte
mplem. A jurisprudência clássica atingiu o ponto difícil da estilização da casuística: soube
abstrair do caso concreto (apresentado ou hipotético) os elementos não-jurídicos e os
elementos jurídicos não-essenciais, criando figuras jurídicas e não conceitos gerais e
abstractos. Para cada caso soube. criar a norma exacta;
c) uma firmeza de princípios perante as transformações da vida jurídica actual, que atra
vessa uma crise muito semelhante à que sofreu o Mundo Romano:
- as novas ideias não receberam, uma consagração jurídica apressada, antes foram devidam
ente testadas através duma aplicação cautelosa e prudente;
- a evolução do Ius Romanwn jamais conheceu rupturas ou violências revolucionárias que o
impusessem pela vis;
- o grande êxito do lia Roma~ foi conciliar os princípios tradicionalmente consagrad
as com as novas exigências da vida: sem comprometer o sus civile, foi-lhe
transmitida, através duma técnica rigorosa e perfeita a dinâmica capaz de satisfazer a
s novas necessidades que a vida constantemente suscitava;
- os jurisconsultos romanos foram intransigentes na defesa do Direito contra o d
espotismo e a tirania: v. g. PaenJLswus foi mandado assassinar por Caracala em v
irtude de ter recusado utilizar o Direito como expediente de justificação dum crime
tão repugnante como o de fratricídio.
2. 0 lur Romanum tem uma extraordinária
perfeição técnico-jurídica:
-os Romanos criaram, com um rigor inexcedível, figuras jurídicas, formularam princípio
s doutrinais e regras jurídicas, consagraram uma terminologia que os séculos não estio
laram;
- neste aspecto, impõe-se v. g. recorrer ao lus Romanurn para corrigirmos a noção de má
fé que o nosso actual Código Civil (art. 612° n.° 2) erradamente define, sem atender nti
nimamente ao elemento «dota.
3. 0 Ius Romwwm tem interesse prático actual:
- sem o seu estudo, é impossível compreender plenamente a maioria das actuais instit
uições jurídicas por terem a sua base no fur Romamon, mais não sendo algumas do que mera
s transcrições ou simples adapta
i
- ao lus Romamm havemos de recorrer para integrarmos algumas lacunas
(v. g. a lacuna de que sofre o art.
639.° n.^ 1: benefccium excussionn,
havendo garantias reais constituídas posteriormente à fiança);
-ao fur Rommmm terá de olhar-se quando, em face da insuficiência de alguns instituto
s (v. g. as actuais garantias reais), o legislador tiver de criar novas figuras
jurídicas mais idóneas a responder às exigências da vida actual (v. g. a fiducia);
4. Olor Romanian tem um indesmentivel interesse histórico:
- é o melhor «laboratório jurídicos para para quem desejar estudar a dinàmia do Direito: c
omo nasceram, atingiram o apogeu e decaíram algumas normas jurídicas;
- é um óptimo campo de estudo para filósofos, sociólogos, historiadores, juristas, etc.
5. 01us Romanian é ainda importante, porque:
- só ele pode fundamentar a ciência do
Direito Comparado, dado ser a 'raiz
comum' dos vários direitos românicos;
- pode ser o Direito fundamental duns
possíveis Estados Unidos da Europa, num momento em que a Europa tende à unidade;
- é a base da unificação do Direito Privado que nele se apoia geneticamente.
0 eminente romanista, Prof. Alvaro D'Oas, sustenta que «o método da unificação por via l
egislativa, não só é difícil, mas também pode considerar-se absolutamente inviável para alan
C22
623
Pág. Linha Nota Onde está Colocar
Pág Linha Nota
Onde está
Colocar
çar a unificação do direito privado. 0 método mais idóneo para esse fim... é o de aproximar
a actividade da jurisprudência (Ciência do Direito), procurando libertá-la da escravidão
do positivismo legalista, isto é, fortalecendo nos juristas a consciência da sua au
tonomia, a autonomia da sua autoridade, ~erante os imperativos legais. E notória q
ue os influxos doutrinais superam as fronteiras do nacionalismo legislativo. A f
ormação duma doutrina comum poderia alcançar-se precisamente sal dejar libre juegos à co
mpetência das correntes doutrinais, mediante a redução ao mínimo da sujeição às leis nacionai
. Nesta tarefa... o Direito Romano tem um papel importante... Nenhum estudo pode
dar ao jurista mais fecunda consciência da sua autonomia, da sua liberdade, que o
estudo da experiência jurídica romana, e concretamente a do Direito da época clássica,
o qual consistia na autoridade dos prudentes e não nas leis:;
- é o fundamento duma certa unidade espiritual da Europa, que tem nos valores grec
o-romanos o alicerce da sua civilização.
Acerca da execução pessoal de dívida não-cumpridas, vid. Leo Pares, Studi sul '&ecuione
Personaie. I Debiti e Debitori nei Pruri Due
Secou delia Republica Romana (Milão 1981).
para que o público (vulgus e populus) Papiria
igualmente o nexwn, mas só enquanto
devedor; não o nexwn,
Para se compreender o significado do texto, D. 46,5,1,5, nomeadamente o alcance
de saticdare, aqui ficam uns apontamentos a fim de completar o que se expõe nesta
pág. 310.
Satis/actio, Cautio e Satisdatio
***
sSATISFACTIO» (satisfação), na época clássica (e nesta é que devemos anotar, visto ser a époc
modelo), é todo o cumprimento de qualquer obrigação:
1.o -que não seja de dare cerium (dar uma coisa certa, sobretudo spec unias, dinhe
i-
221 19
239 24 240
241 258
Recorde-se a luta chefiada por Spartac ul
prestação duma prestação duma garantia, feita por um terceiro garantia
288 acessório acessório (algo que depende de)
subsidiário subsidiário (algo que vem depois de)
288-1.&-1 que surge depois que, em geral, surge depois.
308 II (Milão,1930)187- II(Milio 1930) 187-216), e 0. Feazntai VAsnw
-216. cm, Studi sul'Interpretaaione Giurispprudenziale Romano (Milão 1983) 115-148
(onde analisa o significado e alcance de valsa de motstrario non mocas).
262 2 romanos Romanos
263 2
264 7
pecúuio pecúlio
va-se somente va-se, em pormenor, somente
273 333 255-266. 255-266. 0 estudo mais recente sobre esta matéria é a interessante
monografia de C. B. SommAatvA, L'Imperatore Umco Creatore ed Interprete dells Le
ggi e L'Autonomia dei Giudice nel Diritto Giustinianeo (Milão, 1983).
350 (1971) 201-229. (1971) 201-229, 45(1972) 210-260, 46(1973) 333-365, 51(1
978), 54-80.
curúis e governa- curais, questor e governadores
287
298 13
198 7
207 10 212 10 212 13
212 14
para que o povo Papira
também o nexum,
enquanto
devedor, mas não
o nexum
310
dores
624
626
ro), mas de facere (fazer), de dare incertum (de dar algo incesto, v.g. uma inde
mnização por certos danos causados), de simples oportere (dever jurídico de...), ou de
praestare (de prestar);
2.° - é ainda o cumprimento parcial (ou imperfeito ou não-exacto) de uma obrigação de dare
certum.

Note-se: tanto no 1.0 como no 2.° caso, deve tratar-se de uma obrigação constituída, ist
o é, actual e já vencida.
J
l0 cumprimento, total e exacto, de uma obrigação, constituída, de dare certum é solutio
(pagamento), principalmente tratando-se de dinheiro (pecuma). - Anote-se ainda q
ue há unicamente (uma) solutio; não há, pois, várias solutiones. Relativamente à satisfact
io, não existe apenas (uma) satisfactio, mas satisfactions; na época clássica, existem
, pelo menos, nove modalidades de .satisfactios; e, por vezes, algumas desdobram
-se em diversos modos. 0 Direito Justinianeu aumentou ainda o seu número].
4CAUT10r (caução) é toda e qualquer garantia contra futuros prejuízos económicos.
Espécies - A cautio é usada para diversas finalidades. Indiquemos três:
1) - para reforçar uma relação jurldioa já existente;
2) - para assegurar a prova duma relação jurídica;
3) - para assegurar a execução dum direito (e esta é a «caução», que vulgarmente se entende e
Direito moderno).
Formas - A acautio», segundo os meios de segurança, pode revestir, além de outras, as
seguintes formas:
I - Cautio - nada repromissie. É a célebre «cautio promissorias (a arepromissios), pre
vista em D. 46,5,1,5 (...ased perpaucae sunD); consiste numa astipulatios, que s
e vem juntar ou à obligatio já existente, ou a um simples debitam, ou a um mero offi
cium; denomina-se acautio verbalis» (caução verbal);
II - Cautio pigneraticia ou hypothecaria. Consiste ou em (dar) um pignus (datum)
(penhor) [ver págs. 243 a 244 das lições], ou então em «dar* uma hipoteca (hypotheea ou p
tgnus conventum);
III-aCautioa-garantia pessoal. É a satisdatio; será examinada, já a seguir.
As duas últimas formas de cautio (II e III) denominam-se acautiones realess, enqua
nto a primeira (I), como ficou dito, é chamada acautio-verbalis+.
As cautiones reates mais importantes são as «stipulationes praetoriass; a elas se re
ferem os fragmentos contidos em D. 46,5 (máxime D. 46,5,1,5). -.Vid. supra 239-248
.
*
aSATISDATIO» (asatisdaçãos; satisfazer, mas duma forma, bem segura). Consiste essencia
lmente em dar fiadores, - adpromissores: ou sponsores ou fidepromissores ou fide
iussores. - (Vid. supra 240-242).
Como a ftdeiussio, surgida em fins do séc. I a.C., em breve se tornou muito mais f
requente do que a sponsio e a fidepromusio,
627
Pig. Linha Nota
Onde está Colocar
pig, Linha Nota Onde está
Colocar
pode afirmar-se que, mesmo já na época clássica, a satisdatio consistia em dar uma fid
eiussio.
Note-se que, na época justinianeia,
não há nem sponsio nem fidepromissio; só
fideiussio.
Porém, se o interessado (isto é, o devedor que já não tinha cumprido atempadamente) não co
nsegue dar um «fiador fidepromissors nem um «fiador-fidetussor» (uma satisdatio) (tudo
negócios jurídicos verbais), e como não bastava a muda-repromissio» (o mero re-prometer
), então surgiu a «caurio-verbalis scripta» ou «cautio-documentun» ou simplesmente documen
tam. Como a palavra indica, consistia num documento (tabulae ou chirographum) pr
obatório da existência da obligatio.
*
A cautio-chirographuní dos Romanos (documento em que o devedor atestava ter recebi
do dinheiro em mútuo e prometia a sua restiiuiçáo) exerceu grande influência, em vários Po
vos, para a criação e formulação dos títulos de crédito.
*
Correspondente à cautio-chirographum promissoria havia a cautio-recibo, que garant
ia a prova do pagamento, e que defendia o devedor contra novos pedidos de pagame
nto.
0 dolo como vício da 0 dolo, como «originante« de vicio da vontade
vontade (da «vitima»).
395 779-785. 779-785. Ultimamente, Xavier D'Oas pronunciou-se sobre esta matéria n
um estudo muito valioso, Interdictum Fraudatorium (Santiago de Compostela 1981).
43-63. Este valioso estudo apareceu, mais tarde, algo modificado, na sua obra, C
oniectanea. Studi di Diritto Romano (Milão 1976) 261-285.
tamente a aplicação do ius civile
supra 292. - Para um exame das fontes sobre o problema, vid. Pasquale Voci, Manu
ale di Diritto Romano 1s (Milão 1984) 133.
em 228 (ou talvez em 224 ou mesmo em 223; vid D'Oas, DPR3 322.
também de 1929. - Sobre estas e outras questões, vid. G. G. AEetn, Teodosio II e Ia
sua Cofficaaione (Nápoles 1976).
(2." parte). VOLTERRA, em ASD 1(1957) 58, admite a hipótese de as PS terem sido es
critas por PAULUS.
aequitas 104-1
(Nota) 607-a Acerca deste problema (aequiras, nos vários quadrantes), vid. G. BROG
GINI,' Rifiessioni sull'Equitd (Milão 1975).
5(1966) 324 5(1966) 324. -Ainda como (legislador do seu tempo», não deixou de promul
gar certa legislação regional (do tipo de Direito Administrativo), infelizmente aind
a pouco estudada; vid. uma bela síntese de A. TORRENT em Labeo 29(1983) 175-181.
41-54. 41-54; vid. também TvR 45(1977) 207-307.
permanecerá? permanecerá? - Vid., como estudo recente
e muito curioso, A. CENDERELLI, Digesto e Predigesti. Rifressioni e Ipotesi di R
icerca
(Milão 1983). -[Embora datado de 1983, só apareceu a público em meados de 1984]
330 405. 43-63.
335 12 351
tamente o ius civile
430 supra 292.
400 11 em 228
418 34 432
437 1
451
também de 1929. 596 (2P parte),
aequitas
643
316 e - b)
324
465 667
478 34
628
629
cesanos de Braga, onde se ordenou e está incardinado. Doutor em Direito Canónico pel
a Pontifícia Universidade de Salamanca e Doutor em Direito pela Universidade de Co
imbra, especializou-se em Direito Romano tendo durante cinco anos frequentado os
melhores centros de investigação romanística da Europa: trabalhou em Santiago de Comp
ostela com o Prof. Álvaro D'ORS, de quem é discípulo; em Munique, no Leopold Wenger-In
stitut com o Prof. Wolfgang KuNKm; . em Roma, no Istituto delta Interpretazione
com o Pro£ Emilio BTTTI. Além disso, durante os anos que permaneceu no estrangeiro f
requentou um Seminário de Exegese Bíblica do Prof. COLUNGA, Seminários de Filosofia do
Direito dos Profs. CASTRO ALBARRÁN, LEGAZ Y LACAMBRA e BETTI, os de Hermenêutica ju
rídica dos Profs. HBRrIANN e PETSCHOw, o de Exegese Jurídica (a textos clássicos não juríd
icos) do Prof. KuNKEL, o de Exegese ao Digesto do Pro£ BRANCA, o de Fontes do Dire
ito Comum do Pro£ CAEnsso, e o de Fontes Post-Clássicas do Pra£ D'ORs. Desde 1958, tem
tomado parte anualmente nos congressos internacionais de Direito Romano, e em vár
ios de Direito Canónico e de Direito Concordatário. Além de comunica- . ções em congressos
, e de artigos sobre temas de Direito Romano, Direito Canónico ou Direito Concorda
tário em revistas e enciclopédias, publicou Da eSolutio» I (Coimbra, 1962), Direito Co
ncordatário Português (publicação em fascículos, iniciada em 1970) (Coimbra, 1970), Ius. D
erectum (Directum) Dereito (Derecho, Diritto, Droit, Direito, Recht, Richt), etc
. (Relectio) (Coimbra, 1971). Direito Romano h (Coimbra, 1973). Da «Solutio» II (Coi
mbra,1973); Direito Romano I; (Coimbra, 1980). Para publicar dentro em breve: Da
«Solutio» 11-2 (em fase de ultimação); Direito Romano II (em preparação). Lecciona Direito
Romano na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, desde 1963, e, desde
1969, ainda Direito Concordatário Português; desde 1981, é também catedrático da Universid
ade Católica Portuguesa-

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