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ISSN0031 9406 Fevereiro de 1996

Volume 82, nº 2

Fisioterapia

Jornal da Sociedade Chartered de Fisioterapia

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PRÁTICA BASEADA EM EVIDÊNCIAS -

SOBREVIVÊNCIA DO MAIS FORTE
O setor de saúde de hoje está amadurecendo. Outras indústrias, que
negociam mercadorias, fazem-no através de mecanismos de qualidade
e decisões de compra rigorosos, ambos baseados em evidências
sólidas de efeito, segurança e relação custo-benefício. Esta é uma
prática bem estabelecida. O setor de saúde lida com o bem mais
valioso de todos: a vida humana. Não será então correcto que os seus
mecanismos de qualidade e decisões de compra se baseiem em
provas sólidas e não em opiniões, práticas passadas e precedentes?
Esta é a premissa por trás da prática baseada em evidências.
Tem havido muita discussão sobre medicina baseada em evidências na
imprensa médica. Este debate não deve permanecer apenas neste fórum.
Ao cunhar a expressão “prática baseada em evidências”, em vez de
“medicina baseada em evidências”, as discussões tornam-se relevantes
para todos os profissionais de saúde. Esta não é apenas mais uma palavra
da moda que sobreviverá ao seu uso. Veio para ficar e influenciará o
desenvolvimento contínuo dos cuidados de saúde. Tal como a teoria da
evolução de Darwin, aqueles que aprenderem a adaptar-se ao ambiente
em mudança sobreviverão, aqueles que não o fizerem serão extintos.
Essa analogia poderia ser feita com a fisioterapia? A menos que a
profissão aprenda a basear a sua prática em evidências, então pode-se
argumentar que os compradores não comprarão fisioterapia e procurarão
alternativas “comprovadas”. A fisioterapeuta não será a mais apta!
As decisões de compra e a definição de prioridades devem basear-se em
evidências. A conferência internacional de Outubro sobre a Base Científica
dos Serviços de Saúde, realizada em Londres, sublinhou a importância de
uma base de investigação que informe a prestação de cuidados de saúde. Isso também

Continua no verso
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destacou a exigência de pesquisas orientadas pelas
necessidades, em vez de pesquisas lideradas por
investigadores. Isto dá a todos os profissionais de saúde a
oportunidade de contribuir para a agenda de investigação.
Quando faltam evidências, os médicos podem informar as prioridades
Não é suficiente garantir que a investigação seja realizada e
que as provas sejam estabelecidas. Os resultados devem ser
divulgados e aplicados na prática, quando aplicável. É neste
ponto que o setor de saúde fracassou anteriormente. Exemplos
frequentemente citados de falha na adoção de práticas
comprovadamente eficazes são o uso de trombolíticos no
tratamento do infarto do miocárdio e o uso de esteróides no
trabalho de parto prematuro para prevenir a morbidade e
mortalidade infantil. A evidência da eficácia de ambas as
intervenções era evidente na década de 1970 e, no entanto,
no final da década de 1980 ainda não eram consideradas
práticas de rotina.
Onde existem evidências da eficácia dos tratamentos e estes
são implementados, podem resultar poupanças em vidas e
dinheiro. Alguns argumentariam que não fazê - lo é negligência.
Os problemas associados à implementação de evidências de
investigação são, em si, uma área de investigação levada a
cabo pelo programa de investigação e desenvolvimento do
NHS. A simples publicação dos resultados não é suficiente
para mudar a prática. A mudança para desenvolver diretrizes
práticas é uma forma pela qual as evidências podem ser
traduzidas em um formato que pode ser usado na interface
profissional de saúde-paciente para informar os cuidados. Os
contratos entre comprador e fornecedor baseados em
evidências são outra. A importância dos consumidores neste
processo não deve ser ignorada.
Através de informações aos pacientes baseadas em evidências,
os pacientes podem ser capacitados para fazer escolhas
informadas e agir como facilitadores da implementação.
Não se deve esperar que médicos, gestores e compradores
se mantenham a par de todas as publicações relevantes na
sua área. É aqui que as revisões sistemáticas são essenciais.
Uma das razões pelas quais as evidências da investigação
podem não chegar à prática é o formato em que foram
apresentadas. As revisões sistemáticas visam superar esta
situação, analisando todas as evidências disponíveis e
avaliando-as, e depois agrupando os resultados num formato
de fácil utilização que seja facilmente compreendido por
aqueles que têm de colocar os resultados em prática .
Fisioterapia, fevereiro de 1996, vol82, no 2
resultados em prática. Muito trabalho está em curso para
alcançar este objetivo através do programa de investigação
e desenvolvimento do NHS e das análises realizadas pela
Colaboração Cochrane e pelo Centro de Revisões e Divulgação
do NHS,
para citar apenas algumas iniciativas.
da investigação.
No entanto, existem conflitos quando os médicos são
solicitados a tomar decisões nas suas escolhas de tratamento.
É difícil mudar a prática quando as evidências da investigação
entram em conflito com os seus próprios juízos de valor,
experiência anterior e aprendizagem. Contudo, a utilização de
evidências de investigação não significa que este conhecimento
prévio deva ser ignorado, uma vez que cada situação deve
ser avaliada criticamente. Ao tomar uma decisão, não se
espera que um médico exclua todo o conhecimento prévio e
baseie as decisões apenas na evidência científica. A síntese
desta evidência, com a encontrada na avaliação clínica do
indivíduo, é avaliada criticamente num contexto de experiência
clínica sólida.
Isso resultará em decisões informadas. Através deste
processo, as boas práticas clínicas não são ignoradas ou
desvalorizadas em detrimento da evidência científica, mas
são melhoradas.
Embora defenda a necessidade de basear a fisioterapia em
evidências, não estou dizendo que práticas sem evidências
devam ser descartadas. Temos de tomar decisões com base
na melhor informação disponível e, durante algum tempo ,
isto significa que muitas áreas de prática dependerão de
evidências obtidas através de práticas sólidas e de
aprendizagem prévia. Contudo, para regressar à teoria da
evolução e da sobrevivência do mais apto, a fisioterapia
precisa de desenvolver uma base de conhecimentos
firmemente assente em provas científicas, que é reforçada
através da experiência clínica, e vice- versa. Ao fazê -lo , não
devemos ter medo de “extinguir” aqueles elementos da nossa
prática que se revelam ineficazes . As áreas da nossa prática
que forem eficazes sobreviverão e garantirão a sobrevivência
de uma profissão adequada e saudável que continuará a
evoluir no século XXI, proporcionando os melhores cuidados
de saúde possíveis.
Tracy Bury
Mestrado MCSP
Diretor de Desenvolvimento de Pesquisa CSP