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BOLETIM DE MARÇO DE 2023

Civil e Processo Civil

SUMÁRIO

RE 1006916 AgR-QO (10/03/2023): É necessária a participação de comunidade


indígena em ação de anulação de ato administrativo praticado pelo Ministro da
Justiça que a declarou como ocupação indígena tradicional?

MS 35920 (17/03/2023): É constitucional a aplicação da técnica da


desconsideração da personalidade jurídica a empresas envolvidas na prática de
atos lesivos ao erário por ato do Tribunal de Contas da União?

ARE 1388072 AgR-segundo (17/03/2023): Cabe recurso contra ato de relator de


processo no STF que determina a devolução dos autos à origem para a aplicação
da sistemática da repercussão geral?

Pet 10230 AgR (17/03/2023): É da competência originária constitucional do STF a


Janaína Salles Rigitano
ação de revisão de tese de repercussão geral?
janasalles01@gmail.com
285.834.298-98
ADI 7208 (24/03/2023): É constitucional lei estadual que estabeleça a obrigação de
as empresas privadas que atuam sob a forma de prestação direta ou intermediação
de serviços médico-hospitalares garantirem e assegurarem o atendimento integral e
adequado às pessoas com deficiência?

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RE 1006916 AgR-QO (10/03/2023): É necessária a participação de comunidade


indígena em ação de anulação de ato administrativo praticado pelo Ministro da
Justiça que a declarou como ocupação indígena tradicional?

Sim. Por maioria, a Segunda Turma do STF, em ação que buscava declarar
como ocupação tradicional a “comunidade indígena kaingang de toldo boa vista”,
entendeu que tal comunidade deve ser litisconsorte passivo necessário (art. 114,
CPC), com a consequente declaração de nulidade dos atos processuais
decorrentes da ausência de citação, bem como a determinação de retorno dos
autos à origem para prosseguimento do feito, com a devida composição da lide.

Breves informações sobre litisconsórcio

Segundo o art. 114 do CPC, o litisconsórcio será necessário por disposição de


lei quando, pela natureza da relação jurídica controvertida, a eficácia da
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sentença depender da citação de todos que devam ser litisconsortes.
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Quanto à obrigatoriedade ou não de sua formação, o litisconsórcio poderá ser
necessário ou facultativo.

Haverá litisconsórcio necessário quando existir lei determinando a sua formação


ou quando a natureza da relação jurídica exigir a presença de todos os seus
sujeitos. O litisconsórcio necessário exige a presença de todos os litigantes, caso
contrário, o processo não se desenvolverá em direção ao provimento final de
mérito, e o juiz terá de extinguir o processo sem resolução do mérito. Já no
litisconsórcio facultativo, a ausência de uma parte que poderia figurar no
processo não implica a nulidade de atos e nem a extinção do processo.

Não se confunde com litisconsórcio unitário.

Quanto ao regime de tratamento dos litisconsortes, existe o litisconsórcio unitário


e o litisconsórcio simples (ou comum). O litisconsórcio unitário caracteriza-se
pela necessidade de uniformidade de decisão para todos os litisconsortes.
Ademais, a obrigatoriedade de decisão uniforme é determinada pela presença

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da relação jurídica única ou incindível. Ou seja, trata-se de relação jurídica que


provocará a prolação de uma decisão uniforme que atingirá a todos no processo,
sem distinção.

A discussão que se deu da Segunda Turma do STF, no julgamento da Questão


de Ordem no Agravo Interno ao RE 1006916 foi se uma comunidade indígena que
possa ser afetada por eventual sentença em processo de anulação de portaria que
a reconheceu como ocupação tradicional, deva obrigatoriamente figurar no polo
passivo da ação.

O Caso

A Fundação Nacional do Índio (FUNAI) interpôs o RE 1006916 contra acórdão, que


em demarcação de terras indígenas, não reconheceu a área questionada como
sendo terra tradicionalmente ocupada por indígenas, com alegação de ofensa
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aos arts. 5º, XXXV, LIV e LV e 231, da mesma Carta.
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Em novembro de 2016, por decisão monocrática, Ricardo Lewandowski
entendeu que o conceito de terras tradicionalmente ocupadas pelos índios não
alcança as “terras de aldeamentos extintos, ainda que ocupadas por indígenas
em passado remoto” (Súmula 650 do STF) e que é inadmissível, em regra, a
interposição de recurso extraordinário para discutir matéria relacionada à ofensa
aos princípios constitucionais do devido processo legal, da ampla defesa, do
contraditório e da prestação jurisdicional, quando a verificação dessa alegação
depender de exame prévio de legislação infraconstitucional.

Em agosto de 2018, a Segunda Turma negou provimento ao agravo regimental,


com fundamento na Súmula 283, nos termos do voto reajustado do Relator,
vencido o Ministro Edson Fachin, que lhe dava provimento.

Em 22.05.2019, a “Comunidade Indígena Kaingang de Toldo Boa Vista”


ingressou com a Petição 29.895/2019-STF, requerendo o seu ingresso no feito
na qualidade de litisconsorte passivo necessário, e, ainda, a nulidade de todos
os atos processuais.

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Foi, então, o processo incluído na pauta virtual do dia 03.03.2023 a 10.03.2023,


como questão de ordem a ser definida no processo.

O que decidiu a Segunda Turma do STF?

Por maioria, a Segunda Turma do STF, em ação que buscava declarar como
ocupação tradicional a “comunidade indígena kaingang de toldo boa vista”,
entendeu que tal comunidade deve ser litisconsorte passivo necessário (art. 114,
CPC), com a consequente declaração de nulidade dos atos processuais
decorrentes da ausência de citação, bem como a determinação de retorno dos
autos à origem para prosseguimento do feito, com a devida composição da lide.

A maioria se formou porque os ministros Edson Fachin e Gilmar Mendes seguiram


o entendimento de Ricardo Lewandowski, para quem é caso típico de litisconsórcio
necessário.
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Para ele, seguido pela maioria, a questão dos autos atinge diretamente a
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Comunidade Indígena Kaingang de Toldo da Boa Vista, mas a ação se desenvolveu
sem a sua citação e sem o seu conhecimento, situação que configura violação do
princípio do contraditório e da ampla defesa.

Assim, nos termos do artigo 115, I, do CPC, a maioria da Segunda Turma admitiu o
ingresso da comunidade indígena Kaingang de Toldo Boa Vista na lide, como
litisconsorte passivo necessário, com a consequente declaração de nulidade dos
atos processuais decorrentes da ausência de citação e a determinação de retorno
dos autos à origem para prosseguimento do feito, com a devida composição da lide.

Ficaram vencidos os ministros Nunes Marques e André Mendonça, para os quais


é caso de litisconsórcio facultativo, logo a Comunidade Indígena requerente
deveria ser admitida na qualidade de assistente, remanescendo incólumes todos
os atos decisórios proferidos na ação principal.

Isso porque, segundo Nunes Marques (vencido), a comunidade indígena em


questão teve sua defesa no processo em razão da legitimidade ativa concorrente

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da FUNAI para a sua regular representação judicial e extrajudicial,


expressamente prevista no parágrafo único do art. 1º da Lei 5.371, de 5 de
dezembro de 1967.

MS 35920 (17/03/2023): É constitucional a aplicação da técnica da


desconsideração da personalidade jurídica a empresas envolvidas na
prática de atos lesivos ao erário por ato do Tribunal de Cotas da União?

Sim. Por maioria, o Plenário do STF entendeu pela constitucionalidade da


aplicação da técnica da desconsideração da personalidade jurídica pelo Tribunal
de Contas da União, observados o contraditório e a ampla defesa.

Atribuições do Tribunal de Contas

O Tribunal de Contas tem como função precípua auxiliar o Poder Legislativo no


Janaína Salles Rigitano
exercício do controle externo das entidades da Administração direita e indireta,
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mediante a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e
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patrimonial, possuindo a natureza de instituição constitucional autônoma, que
não pertence a nenhum dos três poderes (Executivo, Legislativo ou Judiciário).

As competências do Tribunal de Contas podem ser divididas em: 1) fiscalizadora;


2) judicante; 3) sancionatória; 4) consultiva; 5) informativa e 6) corretiva. 1

A jurisprudência do STF reconhece assistir ao Tribunal de Contas um poder geral


de cautela, consubstanciado em prerrogativa institucional decorrente das
próprias atribuições que a Constituição expressamente outorgou à Corte de
Contas para seu adequado funcionamento e alcance de suas finalidades (MS
24510, julgado em 19.3.2004, por todos).

No MS 24510, julgado em 19.3.2004, o ministro Celso de Mello acentuou a


importância da legitimidade constitucional conferida ao TCU para adotar
medidas cautelares destinadas a conferir real efetividade às suas deliberações

1 NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional. 10. ed. Salvador: Jus Podium, 2015.

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finais, de modo a permitir que possam ser neutralizadas situações de lesividade,


atual ou iminente ao erário.

Assim, o poder de cautela exercido pelo Tribunal de Contas destina-se a garantir


a própria utilidade da deliberação final a ser por ele tomada, em ordem a impedir
que o eventual retardamento na apreciação do mérito da questão suscitada
culmine por afetar, comprometer e frustrar o resultado definitivo do exame da
controvérsia.

A Lei 8.443/92, a Lei Orgânica do TCU, estabelece algumas atribuições


específicas dessa Corte de Contas.

Em relação ao alcance subjetivo da decretação de indisponibilidade dos bens,


conforme disposto na Lei 8.443/92, o TCU, no momento do julgamento das
contas apresentadas, pode determinar a responsabilidade solidária do terceiro
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que seja parte interessada na prática do ato e que tenha participado na
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consecução do dano apurado. 285.834.298-98

Logo, também se permite que o órgão possa realizar o bloqueio de bens, como
medida cautelar de indisponibilidade a fim de proteger o erário em caso de futura
condenação, com fundamento na teoria dos poderes implícitos, segundo a
qual a Constituição, ao conceder uma função a determinado órgão ou instituição,
também lhe confere, implicitamente, os meios necessários para a consecução
desta atividade.

No caso do MS 35920, discute-se se está dentro do poder implícito do TCU a


aplicação da técnica da desconsideração da personalidade jurídica.

O caso

Um empresa impetrou o MS 35920 contra acórdãos proferidos pelo Plenário do


Tribunal de Contas da União (Acórdãos 2.014/2017 e 880/2018), nos quais
deferiu medida cautelar em tomada de contas especial e desconsiderou a sua
personalidade jurídica, a fim de cobrir suposta malversação do erário.

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A impetrante alegou que: i) no item 9.4 do Ato Coator (que desconsiderou a sua
personalidade jurídica) o TCU não se incumbiu de indicar os dispositivos legais
que conferiram ao TCU a competência para impor tal ato e, portanto, violou o
princípio da legalidade estrita, sobretudo pela inexistência legal dessa
prerrogativa conferida ao órgão de controle; ii) foram inobservados o devido
processo legal, considerados o contraditório e a ampla defesa, os princípios da
livre iniciativa e da propriedade privada, ante a responsabilização da
controladora UTC Participações S.A.; iii) foram violados os artigos 50 do Código
civil (pressupostos do desvio da finalidade ou confusão patrimonial), e o artigo
133 do CPC (que prevê a instauração do incidente de desconsideração da
personalidade jurídica a pedido da parte ou do MP).

O que entendeu o STF?

Por maioria, o Plenário do STF entendeu


Janaína Sallespela constitucionalidade da aplicação
Rigitano
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da técnica da desconsideração da personalidade jurídica pelo Tribunal de
Contas da União, observados o285.834.298-98
contraditório e a ampla defesa.

Prevaleceu o voto divergente de Gilmar Mendes, seguido de todos os ministros,


salvo Marco Aurélio (relator).

Segundo ministro Gilmar Mendes, ao TCU é permitido promover cautelarmente


a desconsideração da personalidade jurídica da pessoa jurídica investigada
em autos perante qualquer Corte de Contas, de maneira a assegurar o resultado
útil do processo, assegurada a oportunidade de manifestação posterior dos
responsáveis pelos supostos danos ao erário, hipótese essa de contraditório
diferido que não implica ofensa à garantia do devido processo legal.

Tal poder se encontra implícito no poder geral de cautela dos Tribunais de


Contas, embora, segundo Gilmar Mendes, seguido pela maioria, seja preciso
que se observem os critérios de razoabilidade e proporcionalidade, além dos
princípios do contraditório e da ampla defesa.

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Gilmar Mendes explicou que o levantamento do véu da pessoa jurídica não está
submetido à cláusula de jurisdição, ou, em outras palavras, embora seja um
direito fundamental de toda empresa à segurança jurídica e à liberdade
econômica, não são direitos fundamentais cuja restrição apenas pode ser
realizada pelo Poder Judiciário.

Tanto é assim que a desconsideração da personalidade jurídica extrajudicial


foi prevista no art. 34 da Lei n. 12.529 /2011 e no art. 14 da Lei n. 12.846/2013.

Não obstante seja possível a determinação de desconsideração da


personalidade jurídica por uma Corte de Contas, a maioria dos ministros reiterou
que o órgão competente deve observar o contraditório e a ampla defesa, bem
como adotar uma fundamentação qualificada para a prática do ato.

No caso do MS 35920, o TCU apenas conferiu uma medida cautelar, logo não
Janaína Salles Rigitano
houve desconsideração definitiva da pessoa jurídica, cabendo o exercício
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exauriente do direito de defesa285.834.298-98
pelos entes integrantes da relação processual,
em procedimento sujeito a controle jurisdicional, como aconteceu em outro caso
(o MS 35506) julgado em 10.10.2022.

Para Alexandre de Moraes, não reconhecer ao TCU a possibilidade de adotar


medida cautelar de desconsideração da personalidade jurídica e negar-lhe
instrumentos que garantam o exercício pleno de suas atribuições, equivale a
diminuir a máxima efetividade das normas constitucionais, as quais devem ser
atribuídas o sentido que traga maior eficiência possível.

Ficou vencido apenas Marco Aurélio (relator), que entendeu que não cabe ao
Tribunal de Contas, na qualidade de órgão administrativo, o implemento de
medida cautelar a restringir direitos de particulares, de efeitos práticos gravosos
como a indisponibilidade de bens e a desconsideração da personalidade jurídica
em sanções patrimoniais antecipadas.

Marco Aurélio (vencido) ainda entendeu não se tratar de afirmar a ausência do


poder geral de cautela do TCU e, sim, que essa atribuição possui limites dentro

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dos quais não se encontra o de bloquear, por ato próprio e dotado de


autoexecutoriedade, os bens de particulares contratantes com a administração
pública.

ARE 1388072 AgR-segundo (17/03/2023): Cabe recurso contra ato de relator de


processo no STF que determina a devolução dos autos à origem para a
aplicação da sistemática da repercussão geral?

Não. Por unanimidade, o Plenário do STF entendeu que é irrecorrível decisão


do relator do processo que aplica a sistemática da repercussão geral e devolve
o recurso à origem para aguardar a decisão do STF nesse tema reconhecido, a
fim de se aplicar tese nele definida ao caso análogo que foi suspenso pelo
relator.

O caso
Janaína Salles Rigitano
janasalles01@gmail.com
Um jornal de grande circulação veiculou matéria jornalística assinada por Maria,
285.834.298-98
com manifestações à honra, à vida privada e dignidade de Luís, motivo por que
este ajuizou uma ação de reparação de danos materiais e compensação de
danos morais.

O TJ/RS condenou a pessoa jurídica ao pagamento de indenização no valor de


R$ 168.000,00 e a pessoa física coautora ao pagamento de R$ 12.000,00, tendo
em vista os excessos praticados no exercício do direito de liberdade de imprensa
e direito de informar, quando da veiculação da matéria jornalística.

Maria ajuizou o Recurso Extraordinário sob a alegação de violação dos arts. 5º,
IV, IX, XIII e XIV, 93, IX, e 220, §§ 1º e 2º, da Constituição Federal, porém o
Tribunal de origem inadmitiu-o, com base em precedente do STF sob o regime
da repercussão geral, razão pela qual Maria interpôs Agravo em Recurso
Extraordinário (o ARE 1388072) ao STF, para “destravar” o RE inadmitido na
origem, com fundamento no art. 1.042 do Código de Processo Civil.

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Todavia, a ministra Rosa Weber, em decisão monocrática, entendeu pelo não


cabimento de agravo dirigido ao STF nas hipóteses em que a negativa de
seguimento do recurso extraordinário tiver se dado exclusivamente com base na
sistemática da repercussão geral, sendo essa decisão passível de impugnação
somente por Agravo Interno (art. 1.030, § 2º, do CPC).

Em outras palavras, uma vez que foi sobrestado o recurso por versar sobre
controvérsia de caráter repetitivo ainda não decidida pelo Supremo Tribunal
Federal, conforme art. 1.030, § 2º, do CPC, só caberia agravo interno do art.
1.021, que é chamado no STF de agravo regimental.

Contra essa decisão, Maria interpôs o primeiro Agravo Regimental (ARE


1388072 AgR), mas a ministra reconsiderou sua decisão, para julgar prejudicado
esse Agravo Regimental, uma vez que a matéria versada no recurso
extraordinário foi submetida pelo STF
Janaína ao regime
Salles da repercussão geral (Tema
Rigitano
837-RG, RE 662.055). janasalles01@gmail.com
Assim, devolveu feito à origem, para aguardar o
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julgamento do Tema 837-RG (arts. 1.036 a 1.040 do CPC e 328 do RISTF).

Contra essa decisão, Maria manejou o segundo Agravo Regimental (ARE


1388072 AgR-segundo), ao argumento de que há, em seu caso, violação de
preceitos da Constituição Federal de forma direta. Refutou, por fim, a aplicação
do Tema 837 da repercussão geral e considerou aplicáveis ao caso os Temas
655 e 657, já julgados pelo STF.

O que entendeu o STF?

Por unanimidade, o Plenário do STF entendeu que é irrecorrível decisão do


relator do processo que aplica a sistemática da repercussão geral e devolve o
recurso à origem para aguardar a decisão do STF nesse tema reconhecido, a
fim de se aplicar tese nele definida ao caso análogo que foi suspenso pelo
relator.

@stfemfoco 10
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Nesse sentido, Rosa Weber citou os seguintes julgados do STF: ARE 927.835-
AgR-terceiro, 1ª Turma, DJe 11.10.2019; ARE 862.406-AgRsegundo, 2ª Turma,
DJe 1º.3.2019; ARE 1.387.266- AgR, Pleno, DJe 09.9.2022.

A ministra entendeu que, além do tema 837-RG, que ainda não se iniciou o
julgamento, esse caso também guarda semelhança com o tema 995-RG (RE
1.075.41), o qual está suspenso em razão de pedido de vista do ministro Luís
Roberto Barroso em 21.08.2020.

Pet 10230 AgR (17/03/2023): É da competência originária constitucional do STF


a ação de revisão de tese de repercussão geral?

Não. Por unanimidade, o Plenário do STF entendeu que das atribuições


jurisdicionais originárias do STF (art. 102, I, CF) não consta o processamento e
julgamento de “Ação Declaratória c/c Revisão da Tese de Repercussão Geral”,
Janaína Salles Rigitano
ainda que sob a forma de singela petição.
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285.834.298-98
O caso

Um partido político protocolou a Pet 10230 e a denominou de “Ação Declaratória


c/c Revisão da Tese de Repercussão Geral - Tema 1057”, com o intuito de obter
a declaração “quanto ao reconhecimento da natureza jurídica das Guardas
Municipais como instituições executoras das atividades de segurança pública” e
a revisão do Tema 1057, “conforme julgados e manifestações nas ADIs 5948,
5538 e ADC 38 e julgados com Repercussão Geral do RE 846.854/SP e ARE
654.432/GO, cujas Teses foram fixadas, respectivamente sob os Temas de nº
472, 532, 541 e 544”.

O ministro Luiz Fux, em decisão monocrática, negou seguimento à petição, sob


o argumento que de que tal tipo de ação não se encontrava nos casos que
justificam a competência do Supremo Tribunal Federal para processamento e
julgamento originário, que estão previstos em rol exaustivo no art. 102, I, da
CF/88.

@stfemfoco 11
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O partido manejou Agravo Regimental e sustentou que “o direito de ação foi


exercido de acordo com o devido processo legal e em respeito aos meios e
modos do processo, ponderando que a pretensão é obter a modificação da Tese
fixada no TEMA 1057 ou edição de outra, em decorrência dos princípios da
segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia, ainda que a norma
não tenha disciplinado o procedimento”.

Alegou que “a Ação de Revisão da Tese do Tema 1057, como proposta, com
base no § 2º, art. 1.035 do CPC, é de competência absoluta do STF, podendo
ser realizada de forma analógica, a partir dos instrumentos processuais
instituídos para Revisão da Tese de Súmula Vinculante, conforme art. 103-A,
verbis. c/c a Lei 11.417/06”.

Asseverou, por fim, que “a negativa de acesso ao Judiciário, como forma de


assegurar a apreciação de lesão ou
Janaína ameaça
Salles a direito a qualquer interessado,
Rigitano
janasalles01@gmail.com
obstando a Revisão do Tema 1057, ora guerreado, viola diretamente o art. 5º,
caput e inc. I c/c inc. III e IV, do 285.834.298-98
art. 1º; inc. I, III e IV, do art. 3 da CRFB, em razão
da causa de pedir, razão pela qual, merece ser acolhido o presente Agravo”.

O que decidiu o STF?

Por unanimidade, o Plenário do STF manteve a decisão monocrática de Fux,


pois a competência originária do STF está prevista no rol taxativo do art. 102, I,
da CF, do qual não consta o julgamento de “ação de revisão de tese de
repercussão geral”.

Os ministros seguiram o voto da ministra Rosa Weber (relatora), para quem não
é competência originária do STF o processamento e julgamento de “Ação
Declaratória c/c Revisão da Tese de Repercussão Geral”, ainda que sob a forma
de singela petição.

A ministra ressaltou, no entanto, que falta de instrumento processual específico


para atacar tese jurídica firmada em sistemática de repercussão geral não

@stfemfoco 12
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impede que tal enunciado seja reformulado pelo Supremo Tribunal Federal, que,
inequivocamente, não está vinculado à sua decisão anterior.

ADI 7208 (24/03/2023): É constitucional lei estadual que estabeleça a obrigação


de as empresas privadas que atuam sob a forma de prestação direta ou
intermediação de serviços médico-hospitalares garantirem e assegurarem o
atendimento integral e adequado às pessoas com deficiência?

Não. Por unanimidade, o Plenário do STF julgou inconstitucionais dispositivos


da Lei 11.816/2022, do Estado do Mato Grosso, os quais previam que empresas
de seguro-saúde, de medicina de grupo, cooperativas de trabalho médico, ou
outras que atuarem sob a forma de prestação direta ou intermediação dos
serviços médico-hospitalares, deveriam fornecer tratamento adequado às
pessoas com deficiência.
Janaína Salles Rigitano
Histórico de ações no STF relativas a leis estaduais sobre plano de saúde
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285.834.298-98
No julgamento da ADI 6441, realizado em 17.05.2021, o Plenário do STF, por
maioria, julgou inconstitucionais dispositivos de lei do Rio de Janeiro que
tratavam sobre proibição de suspensão ou cancelamento de planos de saúde
por falta de pagamento durante a situação de emergência da pandemia do
coronavírus, sob o argumento de que seria competência privativa da União
legislar sobre direito civil e política de seguros (art. 22, I e VII, da CF).

Com o mesmo argumento, uma vez mais, consagrou-se no STF o entendimento


de que os Estados-membros não podem dispor sobre normas atinentes a
contratos de prestação de serviços de saúde por ser de competência privativa
da União (Plenário, ADI 6452, j. 14.6.2021).

Ainda, houve o julgamento em conjunto das ADI’s 6491 e 6538, em 03.11.2021,


quando o Plenário do STF declarou, pelo mesmo fundamento (violação do art.
22, I e VII, da CF), a inconstitucionalidade de leis do Estado da Paraíba que
representavam interferência na essência dos contratos de planos de saúde

@stfemfoco 13
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previamente pactuados entre as partes a regulados pelas normas federais


aplicáveis à matéria.

Por fim, em 22.02.2023, o Plenário do STF fixou a seguinte tese de julgamento


na ADI 7023: “É inconstitucional lei estadual que amplia as formas de pagamento
dos planos privados de assistência à saúde, individuais ou coletivos, por violação
à competência privativa da União para legislar sobre a matéria”.

O caso

A União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde (UNIDAS) ajuizou a


ADI 7208 contra dispositivos da Lei11.816/2022, do Estado do Mato Grosso, que
estabeleceram obrigações aos planos de saúde em geral, relativamente ao
tratamento de pessoas com deficiência.

Janaína
Para a requerente, as normas Salles
teriam Rigitanoa competência legislativa
extrapolado
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estadual, invadindo o campo do direito civil, comercial e da política de seguros,
285.834.298-98
que apenas poderiam ser objeto de lei federal (CF/1988, art. 22, I e VII).

Apontou, por fim, violação ao direito adquirido e ao ato jurídico perfeito (CF/1988,
art. 5º, XXXVI), uma vez que a lei nova atinge contratos já em curso.

O que decidiu o STF?

Por unanimidade, o Plenário do STF julgou inconstitucionais dispositivos da Lei


11.816/2022, do Estado do Mato Grosso, os quais previam que empresas de
seguro-saúde, de medicina de grupo, cooperativas de trabalho médico, ou outras
que atuarem sob a forma de prestação direta ou intermediação dos serviços
médico-hospitalares, deveriam fornecer tratamento adequado às pessoas com
deficiência.

A unanimidade dos ministros seguiu o voto de Luís Roberto Barroso (relator),


segundo o qual o ente federativo invadiu competência privativa da União para
legislar sobre Direito Civil e política de seguros (CF/1988, art. 22, I e VII).

@stfemfoco 14
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Barroso reiterou o julgamento da ADI 4701 (j. em 13.08.2014), em que ele


mesmo destacou a importação da unificação nacional do tratamento da questão
contratual das empresas intermediárias de serviços de saúde, sobretudo aquelas
que comercializam planos de saúde.

Nesse sentido, entendeu que é da União a competência privativa não só para


legislar sobre Direito Civil (art. 22, I, CF), mas principalmente para regular o
mercado de planos de saúde, o que inclui não apenas a normatização da matéria
(CF/88, art. 22, VII), mas também toda a fiscalização do setor (CF/88, art. 21,
VIII).

No caso concreto, entendeu Barroso que a lei mato-grossense interferiu


diretamente na regulação dos planos de saúde, já que buscou definir obrigações
para empresas que não fornecessem tratamento diferenciado a pessoas com
deficiência, matéria essa Janaína
que já é tratada
SallesporRigitano
lei federal.
janasalles01@gmail.com
O ministro Edson Fachin ressalvou seu entendimento pessoal no sentido de que
285.834.298-98
seria possível o Estado legislar sobre planos de saúde, com base na
competência concorrente sobre direito do consumidor (art. 24, I, CF), porém, em
respeito ao princípio da colegialidade, acompanhou o relator.

Por fim, foi fixada a seguinte tese de julgamento: “É inconstitucional, por violação
à competência da União para legislar sobre direito civil e seguros (CF/1988, art.
22, I e VII), lei estadual que estabelece obrigações contratuais para operadoras
de planos de saúde”.

@stfemfoco 15

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