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ANTIBIÓTICOS
ANTIBIÓTICOS
Características farmacodinâmicas das drogas antimicrobianas. Princípios gerais de utilização. Mecanismos moleculares,
aplicações clínicas e riscos associados.
PROPÓSITO
Entender os princípios que regem a utilização racional de antibióticos. Compreender os mecanismos moleculares envolvidos no
efeito antimicrobiano. Discutir suas aplicações clínicas e seus efeitos adversos.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Reconhecer os princípios básicos do uso de antimicrobianos e os alvos celulares e moleculares para ação dos antimicrobianos
MÓDULO 2
Descrever o uso clínico e o mecanismo de ação dos antibióticos β-lactâmicos, dos antibióticos macrolídeos e seus efeitos
adversos
MÓDULO 3
Descrever o uso clínico e o mecanismo de ação do cloranfenicol, de tetraciclinas, aminoglicosídeos, polimixinas sulfonamidas e
trimetoprim e seus efeitos adversos
INTRODUÇÃO
Todos os organismos vivos são suscetíveis a processos infecciosos causados por vírus, bactérias, fungos, protozoários e
helmintos. No caso dos humanos, o tratamento de infecções com agentes farmacológicos específicos teve início com Ehrlich e
com o uso de arsenicais seletivamente tóxicos para o tratamento da sífilis no princípio do século XX. Esse avanço relacionou-se,
obviamente, à descoberta dos micróbios como causadores de doença na segunda metade de século XIX por Louis Pasteur e
Robert Koch.
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Entretanto, a verdadeira revolução dos antibióticos (também chamada de “época de ouro” da antibioticoterapia) teve início com a
descoberta da penicilina por Fleming, em 1929, a partir da cultura de fungos do tipo Penicillium e, posteriormente, com sua síntese
e utilização clínica por Chain e Florey em 1941. Sem dúvida, o desenvolvimento dos agentes antimicrobianos pode ser
considerado um dos avanços mais importantes na história da medicina.
Hoje em dia, a definição mais aceita de antibiótico é a de uma “substância produzida por microrganismos ou sintetizada parcial ou
totalmente em laboratório, com a capacidade de, em baixas doses, inibir a reprodução ou destruir outros microrganismos (em geral
bactérias)”. Muitas vezes, os antibióticos sintetizados em laboratórios são referidos como quimioterápicos, apesar de, no uso
corriqueiro, o termo antibiótico ser utilizado tanto para substâncias naturais como sintéticas.
Existem várias formas de classificar antibióticos. Podemos classificar essas drogas em função de: sua estrutura química (por
exemplo β-lactâmicos); seu mecanismo de ação (por exemplo, inibidores de síntese proteica); seu espectro de atividade (amplo ou
baixo espectro); tipo de efeito (bacteriostático, que inibe a replicação das bactérias, ou bactericida, que mata as bactérias); fontes
de origem (por exemplo, derivados de fungos).
Nenhuma dessas classificações será obrigatoriamente seguida neste tema, e utilizaremos diversas delas de acordo com o uso
mais frequente para descrever determinado grupo.
O sucesso dos antibióticos na prática clínica se deve, basicamente, às diferenças em alvos moleculares e vias metabólicas
bioquímicas entre o hospedeiro (no caso, seres humanos) e o organismo infectante. Neste tema, exploraremos os princípios que
regem a utilização racional de antibióticos visando diminuir a velocidade de aparecimento de resistência a esses agentes e os
mecanismos de ação e aplicações clínicas dos principais membros dessa classe de fármacos.
Direcionaremos nossas atenções para o caso específico do tratamento das infecções causadas por bactérias, microrganismos
procariotas (sem núcleo) que são responsáveis por grande parte das doenças infecciosas que acometem os seres humanos.
MÓDULO 1
Reconhecer os princípios básicos do uso de antimicrobianos e os alvos celulares e moleculares para ação dos
antimicrobianos
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O tratamento farmacológico de doenças infecciosas é único. Na farmacoterapia da maioria das doenças, administramos
medicamentos que têm ação farmacológica em algum receptor ou proteína no paciente. Ao tratar infecções, damos antibióticos
para que exerçam um efeito farmacológico desejado no organismo que está causando infecção no paciente. Com poucas
exceções, efeitos diretos dos antibióticos nos pacientes não são desejados e são considerados adversos.
O uso de antibióticos é a principal força motriz no desenvolvimento da resistência a esses mesmos antibióticos, que pode afetar
não apenas os pacientes tratados, mas outros acientes, por meio da transmissão de organismos resistentes. É importante ter em
mente todas essas potencialidades para consequências adversas ao usar antibióticos.
O aparecimento de resistência aos antibióticos é, talvez, um dos problemas que mais assombram infectologistas de todo o mundo.
Hoje, já foram identificadas bactérias que são resistentes a todos os antibióticos conhecidos, e para as quais não há tratamento
eficaz disponível.
A permeabilidade reduzida da membrana da bactéria ao antibiótico pode impedir que este penetre na bactéria, diminuindo a
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concentração intracelular do antibiótico. Isso pode ocorrer por causa de mudanças na composição da parede celular, perda ou
modificações nos canais de porinas ou formação de biofilme por algumas bactérias.
Modificações enzimáticas, como a produção, pela bactéria, de uma enzima que destrói o antibiótico antes de chegar ao local de
atividade, são um segundo mecanismo visto (por exemplo, produção de β-lactamases que destroem os antibióticos β-lactâmicos).
Um terceiro mecanismo consiste em alterações no alvo molecular, levando a uma eliminação ou modificação do local de atividade
do antibiótico, de modo que não funcione (por exemplo, modificações ribossomais que diminuem a eficácia de alguns antibióticos
inibidores da síntese de proteínas).
O efluxo ativo bombeando antibióticos de dentro para fora da bactéria também pode ocorrer, diminuindo as concentrações
intracelulares da droga. O exemplo de bombeamento de tetraciclina para fora da bactéria em patógenos resistentes a esse
antibiótico é bastante conhecido (figura 1).
O primeiro princípio básico para uso de antibióticos é o de administrar esses medicamentos quando o paciente realmente
apresenta uma infecção (neste momento, focamos apenas as infecções bacterianas).
Uma porcentagem substancial de todo o uso de antibióticos é direcionada a pacientes que não são verdadeiramente infectados,
mas em quem os organismos são isolados a partir de um procedimento de cultura.
O isolamento de Staphylococcus epidermidis de uma única hemocultura ou de espécies de cândida de uma cultura urinária em um
paciente cateterizado é uma situação comum na qual o paciente devem ser examinados para determinar se há realmente uma
infecção.
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O diagnóstico de certeza de uma infecção deve ser buscado a todo custo para justificar o uso de antibióticos. Muitas das vezes,
um teste simples ou exame cuidadoso poderia distinguir um resfriado comum de uma infecção bacteriana, evitando o uso de
antibióticos em milhões de pessoas e, com isso, diminuindo a incidência de resistência microbiana e efeitos adversos.
Um segundo princípio básico é a utilização de drogas de espectro estreito sempre que possível. Agentes de espectro mais amplo
multiplicam o número de bactérias afetadas pela droga, aumentando as chances de desenvolvimento de resistência e
superinfecção (uma infecção que aparece durante o tratamento de uma primeira infecção em função do efeito do antibiótico
selecionando uma bactéria resistente).
“Mais amplo” e “mais novo” não são sinônimos de “melhor”. Por exemplo, a boa e velha penicilina mata organismos suscetíveis
mais rapidamente do que quase qualquer droga no mercado.
Um outro princípio básico é a utilização de doses adequadas do antibiótico. As bactérias expostas a baixas concentrações de
antibióticos são mais passíveis de desenvolver resistência do que aquelas expostas a doses efetivas. Afinal, bactérias mortas não
sofrem mutação ou outros processos que levem à resistência. Assim, a observação rigorosa da farmacodinâmica e
farmacocinética do antibiótico em uso leva a uma menor probabilidade de que a resistência se desenvolva.
Por fim, é importante mencionar que, sempre que antibióticos são utilizados, devemos buscar a menor duração possível de
tratamento que seja capaz de controlar definitivamente a infecção. Infelizmente, a duração da terapia é uma das áreas menos
estudadas das doenças infecciosas. As durações são geralmente de 5, 7, 10 ou 14 dias, mais alinhadas com nosso sistema
decimal e os dias em uma semana do que com qualquer outra coisa estudada com precisão.
Novos estudos estão mostrando que durações mais curtas da terapia geralmente são tão eficazes como cursos prolongados e
possivelmente menos propensas a selecionar resistência. À medida que os estudos progridem e determinam fatores adicionais
que indicam quando as infecções são suficientemente tratadas, deve ser possível definir com mais precisão a duração da terapia
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paciente a paciente. A figura 2 ilustra como ocorre a resistência bacteriana à antibióticos.
REGIMES ANTIBIOTICOTERÁPICOS
Existem três categorias principais de regimes antibioticoterápicos. São elas:
TERAPIA PROFILÁTICA
TERAPIA EMPÍRICA
TRATAMENTO DEFINITIVO
TERAPIA PROFILÁTICA
O tratamento é dado para prevenir uma infecção que ainda não se desenvolveu. O uso de terapia profilática deve ser limitado a
pacientes com alto risco de desenvolver infecção, como aqueles em terapia imunossupressora, aqueles com câncer ou pacientes
que passam por alguns tipos de cirurgia.
A probabilidade de infecção por alguns tipos de organismos nesses pacientes é alta e as consequências da infecção são muito
graves, assim os benefícios superam os riscos e a profilaxia com antibióticos é indicada.
A chave para entender a profilaxia com antimicrobianos é lembrar que os pacientes que a recebem não têm uma infecção, mas
estão em risco de desenvolvê-la. Um exemplo prático seria a utilização de trimetoprim/sulfametoxazol para prevenir pneumonia por
Pneumocystis jirovecii em pacientes em uso de ciclosporina e prednisona após transplante hepático
TERAPIA EMPÍRICA
Diferentemente da terapia profilática, a terapia empírica é administrada a pacientes que têm uma infecção comprovada ou
fortemente suspeitada, mas o organismo responsável ainda não foi identificado. É o tipo de terapia mais comum no dia a dia da
prática médica.
Após o médico clínico avaliar a probabilidade de uma infecção baseada em exame físico, resultados laboratoriais e outros sinais e
sintomas, ele geralmente deve coletar amostras para cultura e coloração Gram. Os resultados para coloração Gram podem ser
obtidos de maneira rápida, entretanto os resultados da cultura para identificar o microrganismo e o antibiograma, que testa a
suscetibilidade dele a vários antibióticos, podem demorar vários dias. Dessa forma, a terapia empírica é geralmente iniciada antes
que o clínico saiba a identidade exata e as susceptibilidades do organismo causador (por isso é chamada empírica). A terapia
empírica é o nosso melhor palpite sobre qual antimicrobiano deve ser mais ativo contra a provável causa de infecção. Às vezes,
estamos certos, e, às vezes, estamos errados.
Lembre-se de que a terapia empírica não deve ser direcionada contra todos os microrganismos na natureza — apenas àqueles
com maior probabilidade de causar a infecção em questão. Um exemplo comum seria a utilização de levofloxacina para um
paciente com pneumonia comunitária presumida.
TRATAMENTO DEFINITIVO
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Depois que os resultados de cultura e antibiograma são conhecidos, a fase definitiva do tratamento pode começar. Ao contrário da
terapia empírica, com a terapia definitiva sabemos em qual organismo basear nosso tratamento e qual medicamento deve
funcionar.
Nessa fase, é prudente escolher agentes antimicrobianos que sejam seguros, eficazes, com espectro estreito e econômico. Isso
ajuda a evitar toxicidade desnecessária, falhas no tratamento e possível surgimento de resistência antimicrobiana, além de ajudar
a gerenciar custos. Em geral, depois da troca da terapia empírica para a definitiva, ocorre uma diminuição da cobertura, porque
não precisamos atingir organismos que não causam infecção no paciente em questão.
O médico que está tratando um paciente infectado deve sempre se esforçar para realizar a transição para a terapia definitiva.
Embora pareça óbvio, isso nem sempre ocorre. Se o paciente melhora com o tratamento empírico, os médicos muitas vezes ficam
relutantes em fazer a transição para uma terapia de espectro mais estreito. É bem verdade que muitos médicos, agindo em nível
ambulatorial, frequentemente pulam a etapa de coleta da cultura iniciando a terapia empírica e aguardando seu desfecho. Isso
ocorre devido a pressões no tempo ou ao custo e ao inconveniente de se obter culturas em pacientes com infecções de baixa
gravidade. O uso frequente de antibióticos de amplo espectro empiricamente é um fator importante e, em grande parte,
responsável pela crise de aumento de resistência aos antimicrobianos. Como exemplo, podemos citar a transição de
piperacilina/tazobactam para ampicilina em um paciente com infecção de ferida causada por Enterococcus faecalis, suscetível a
ambas as drogas.
Entre essas diferenças, está a parede celular, uma estrutura rica em peptideogliganos que circunda a membrana plasmática
presente apenas nas bactérias. A síntese do seu principal componente, o peptideoglicano, é um alvo para ação de diversos
antibióticos da classe dos β-lactâmicos, como a penicilina, e de glicopeptídeos, como a vancomicina — muito útil no tratamento
de infecções por MRSA e responsável por levar à liberação de histamina após infusão rápida, causando a famosa síndrome do
homem vermelho.
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CONHEÇA MAIS ALGUNS PONTOS ENTRE AS DIFERENÇAS
BIOQUÍMICAS, A SEGUIR:
A membrana plasmática das bactérias é bastante semelhante à das células humanas, porém pode ser mais facilmente alterada em
algumas bactérias por antibióticos, como a polimixina, que agem como detergentes destruindo as bactérias. No caso de fungos, a
presença de grandes quantidades de ergosterol na membrana os torna alvos para drogas antifúngicas como a nistatina e
anfotericina.
Algumas reações e vias sintéticas metabólicas são também alvos diferenciáveis entre bactérias e células humanas. Por exemplo, a
via sintética dos folatos é encontrada em bactérias, mas não nos humanos. Os humanos obtêm o folato, necessário para síntese
de DNA, a partir da dieta, enquanto as bactérias precisam sintetizá-lo de novo.
Alguns antibióticos agem exatamente nesse ponto, impedindo a síntese do folato por meio da inibição de algumas enzimas desta
via, como a di-hidropteroatosintetase (exemplo das sulfamidas) e a di-hidrofolato redutase (exemplo do trimetoprim). Uma outra
via sintética frequentemente alvo da ação de antibióticos, que já foi mencionada anteriormente, é a via de síntese do
peptideoglicano, alvo dos antibióticos β-lactâmicos.
A síntese proteica é também um alvo comum para ação de antibióticos. Podemos citar como exemplos os aminoglicosídeos
(gentamicina), as tetraciclinas e os macrolídeos (eritromicina) A diferença estrutural básica acontece nos ribossomos, estruturas
absolutamente fundamentais para leitura da fita de RNA e síntese das proteínas. Enquanto os ribossomos eucariotas têm duas
subunidades, uma 60S e a outra 40S, as bactérias apresentam ribossomos com subunidades 50S e 30S, portanto diferentes.
Alguns antibióticos inibem também a síntese dos ácidos nucleicos. É possível interferir com a síntese de ácidos nucleicos de
diversas maneiras, como por meio da inibição da síntese de nucleotídeos, da inibição das polimerases de DNA ou RNA, alterando
as propriedades de pareamento das bases ou inibindo a DNA girase ou topoisomerase. Nesse grupo podemos incluir a rifamicina,
a rifampicina e as fluoroquinolonas (como norfloxacino e ciprofloxacino).
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Observe a figura 3 que ilustra os principais alvos moleculares dos antibióticos mais utilizados, resumindo o exposto antes. Uma
descrição mais detalhada do mecanismo de ação de cada uma destas drogas, juntamente com suas aplicações e efeitos
adversos, será fornecida no próximo módulo.
Figura 3 – Principais alvos moleculares dos antibióticos mais utilizados no tratamento de infecções bacterianas.
ANTIMICROBIANOS
Tetraciclinas
(30S)
Aminoglicosídeos
Penicilinas
(30S)
Cefalosporinas
Macrolídeos
Quinolonas Rifampicina Sulfonamidas Daptomicina
(50S)
Carbopenêmicos (DNA (RNA
girase) polimerase) Trimetoprima Polimixina
Cloranfenicol
Monobactâmicos
(50S)
Vancomicina
Clindamicina
(505)
Linezolida (50S)
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
Descrever o uso clínico e o mecanismo de ação dos antibióticos β-lactâmicos, macrolídeos e seus efeitos adversos
ANTIBIÓTICOS Β-LACTÂMICOS
Os antibióticos β-lactâmicos incluem uma grande variedade de medicamentos que, por muitas vezes, causam dúvidas e confusão
em estudantes e profissionais de saúde de todas as áreas. Penicilinas, cefalosporinas e carbapenêmicos são todos β-lactâmicos.
Os monobactâmicos (aztreonam) são estruturalmente semelhantes (têm o anel β−lactâmico), mas não apresentam um dos dois
anéis que outros β-lactâmicos têm e apresentam pouca ou nenhuma alergenicidade cruzada (figura 4).
A melhor abordagem para compreender as diferenças é agrupar os β-lactâmicos em classes e aprender as características de cada
uma delas.
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Figura 4 – Estrutura química dos β-lactâmicos
Todos os β-lactâmicos compartilham um mesmo mecanismo de ação — a inibição de transpeptidases (isto é, proteínas de ligação
à penicilina — PBP) na parede celular bacteriana. Assim, administrar dois β-lactâmicos em combinação para a mesma infecção
geralmente não é útil.
Nenhum β-lactâmico tem atividade contra organismos atípicos, como Mycoplasma pneumoniae e Chlamydophila pneumoniae.
Portanto, em terapia empírica, é preciso adicionar outro medicamento ao seu regime se você estiver preocupado com esses
patógenos, como às vezes acontece nos casos de pneumonia adquirida na comunidade.
Praticamente nenhum β-lactâmico disponível atualmente tem atividade contra as cepas de Staphylococcus aureus resistente à
meticilina (MRSA). No caso de suspeita, deve ser adicionado à vancomicina ou linezolida.
Todos os β-lactâmicos podem causar reações de hipersensibilidade (devido à presença do anel β-lactâmico), variando de
erupções cutâneas a febre e de nefrite intersticial aguda (NIA) a anafilaxia.
Existe alguma sensibilidade cruzada entre as classes, mas não há como prever exatamente com que frequência isso ocorrerá.
As convulsões ou outras manifestações neurológicas podem resultar de doses muito altas de qualquer β-lactâmico, e pode ocorrer
acumulação a níveis tóxicos quando a dose de um β-lactâmico não é ajustada adequadamente para o paciente com função renal
comprometida, uma vez que esses antibióticos são excretados principalmente por via urinária.
Agora que conhecemos as semelhanças entre os β-lactâmicos, vamos passar a estudar cada um dos grupos e aprender as
diferenças entre eles.
PENICILINAS
As penicilinas (figura 5) são uma das maiores e mais antigas classes de agentes antimicrobianos. Desde o desenvolvimento das
penicilinas naturais, na década de 1930, novas penicilinas têm sido desenvolvidas para contrapor o aumento de resistência
antimicrobiana.
As penicilinas têm várias coisas em comum: Elas têm meias-vidas muito curtas (<2 horas) e devem ser administradas várias vezes
por dia. As meias-vidas da maioria delas são prolongadas na presença de disfunção renal.
Como outros β-lactâmicos, as penicilinas podem causar reações de hipersensibilidade. No caso de um paciente ter uma reação de
hipersensibilidade mediada por IgE a uma penicilina, outras penicilinas devem ser evitadas, mesmo que sejam de diferentes
subclasses. Se a reação não for grave, cefalosporinas ou carbapenêmicos podem ser úteis.
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Muitas penicilinas são relativamente pouco absorvidas, mesmo as disponíveis como formulações orais, o que pode levar à diarreia
quando é necessária terapia oral.
MECANISMO DE AÇÃO
Todas as penicilinas inibem a etapa sintética em que ocorre a ligação cruzada do peptidoglicano na parede celular, levando a
autólise e morte celular. Tal ação é mediada pela ligação da droga às transpeptidases ou proteínas ligadoras de penicilinas (PBP).
PENICILINAS NATURAIS
Depois que a penicilina foi produzida em quantidades medicinalmente úteis, teve um grande impacto na sociedade,
particularmente no tratamento de feridas infectadas. A importância dessa descoberta tornou-se aparente durante a Segunda
Guerra Mundial, quando os Aliados tiveram acesso à penicilina, que salvou inúmeras vidas, enquanto os membros do Eixo, não.
Infelizmente, os estafilococos tornaram-se rapidamente resistentes à penicilina por meio da produção de β-lactamases ativas
contra penicilinas, levando à necessidade de desenvolvimento de novos antibióticos. O desenvolvimento de resistência reduziu
consideravelmente o espectro de eficácia das penicilinas naturais nos últimos sessenta anos, de modo que os estafilococos são
quase universalmente resistente a elas.
ESPECTRO
Boa ação: Treponema pallidum, a maioria dos estreptococos, incluindo Streptococcus pneumoniae.
Ação fraca: quase todo o resto (exemplos: Mycoplasma pneumoniae e Chlamydophila pneumoniae).
EFEITOS ADVERSOS
Semelhantes aos de outros β-lactâmicos. Reações de hipersensibilidade são sempre uma preocupação. Todos os β-lactâmicos
podem causar reações de hipersensibilidade (devido à presença do anel β-lactâmico), variando de erupções cutâneas a febre e de
nefrite intersticial aguda (NIA) a anafilaxia.
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PARA QUE SERVEM?
Sífilis, particularmente neurossífilis, gonorreia, difteria, tétano e leptospirose. A penicilina também é usada em infecções
estreptocócicas, como faringite ou endocardite.
PENICILINAS ANTIESTAFILOCÓCICAS
A estrutura básica da penicilina foi modificada para resistir ao ataque das β-lactamases, levando às penicilinas antiestafilocócicas.
Essa modificação deu atividade a esses medicamentos contra estafilococos que produzem penicilinases, mas não melhoraram os
efeitos contra bactérias gram-negativas.
ESPECTRO
Boa ação: estafilococo sensível à meticilina (MSSA), estreptococos.
EFEITOS ADVERSOS
Semelhantes aos de outros β-lactâmicos, com uma incidência possivelmente maior de nefrite intersticial.
AMINOPENICILINAS
As aminopenicilinas são mais solúveis em água e passam através de canais de porina na parede celular de alguns organismos
gram-negativos. No entanto, são suscetíveis a β-lactamases, e a resistência se tornou bastante comum. As aminopenicilinas
raramente são ativas contra estafilococos ou Pseudomonas aeruginosa. De uma maneira geral, devemos usar ampicilina para
terapia IV e amoxicilina para terapia oral.
ESPECTRO
Boa ação: estreptococos, enterococos.
EFEITOS ADVERSOS
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Semelhantes aos de outros β-lactâmicos. As aminopenicilinas têm uma alta incidência de diarreia quando administradas por via
oral.
PENICILINAS ANTIPSEUDOMONAIS
Esses agentes são ativos contra P. aeruginosa e outros bastonetes gram-negativos. No entanto, são tão suscetíveis a β-
lactamases quanto a penicilina e a ampicilina. Eles têm atividade contra estreptococos e enterococos. Nenhuma dessas penicilinas
antipseudomonais é comumente usada, exceto em combinação com um inibidor de β-lactamase (ver um pouco mais adiante).
ESPECTRO
Boa ação: P. aeruginosa, estreptococos, enterococos.
EFEITOS ADVERSOS
Semelhantes aos de outros β-lactâmicos.
COMBINAÇÕES DE PENICILINA/INIBIDOR DE Β-
LACTAMASE
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EXEMPLOS: AMPICILINA/SULBACTAM, AMOXICILINA/CLAVULANATO,
PIPERACILINA/TAZOBACTAM.
A β−lactamase é uma enzima capaz de quebrar o anel β−lactâmico presente em todas as penicilinas e cefalosporinas e, ao fazê-
lo, é capaz de inativar esses antibióticos. Em poucas palavras, sabemos como fazer uma penicilina resistente a β−lactamase ou,
ainda, como torná-la mais ativa contra os gram-negativos, mas não as duas coisas.
As drogas inibidoras das β-lactamases imitam a estrutura de β-lactâmicos, mas têm pouca atividade antimicrobiana por si só. Elas
se ligam as β-lactamases irreversivelmente, impedindo a destruição do antibiótico. Assim, é importante entender que a
combinação de inibidor de β-lactamase com β-lactâmico apenas libera o β-lactâmico para matar o organismo — não melhora a
atividade.
MECANISMO DE AÇÃO
Os inibidores de β-lactamase se assemelham estruturalmente a β-lactâmicos e se ligam às β-lactamases, tornando-as incapazes
de inativar o antibiótico β-lactâmico coadministrado.
ESPECTRO
Boa ação: MSSA, estreptococos, enterococos, muitos anaeróbios, bastonetes gram-negativos entéricos, P. aeruginosa (apenas
piperacilina/tazobactam).
EFEITOS ADVERSOS
Semelhantes aos de outros β-lactâmicos.
CEFALOSPORINAS
As cefalosporinas são provavelmente o grupo mais confuso de antibióticos. As cefalosporinas são agrupadas em “gerações”, que
se baseiam no espectro de ação, com algumas exceções. Aqui vamos aprender as características de cada geração e mencionar
brevemente as peculiaridades dos agentes individuais. A figura 6 mostra as gerações de cefalosporinas e seus espectros
antimicrobianos de ação.
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Figura 6 – Relação entre espectro de ação e gerações das cefalosporinas
Acredita-se que todas tenham alguma alergenicidade cruzada com penicilinas, embora existam diferenças entre gerações.
Estimativas sobre a probabilidade de reatividade cruzada giram entre 5% e 10%, mas números mais baixos são apontados para
representantes de última geração.
As cefalosporinas são geralmente mais resistentes a β-lactamases do que as penicilinas. β−lactamases que inativam
especificamente cefalosporinas (cefalosporinases) também existem e estão aumentando em prevalência.
As cefalosporinas de primeira geração são a classe de antibióticos mais utilizada no hospital, pois são muito empregadas para
prevenir infecções em cirurgia. Seu espectro de atividade, baixo custo e baixa incidência de efeitos adversos as tornam ideais para
esse fim. Pelas mesmas razões, são úteis no tratamento de infecções da pele e tecidos moles. As cefalosporinas de primeira
geração são boas alternativas para penicilinas antiestafilocócicas.
MECANISMO DE AÇÃO
Todas as cefalosporinas inibem a etapa sintética na qual ocorre a ligação cruzada do peptidoglicano na parede celular, levando à
autólise e à morte celular. Tal ação é mediada pela ligação da droga às transpeptidases ou proteínas ligadoras de penicilinas
(PBP). Ou seja, o mecanismo é igual aos descritos para as penicilinas, como vimos anteriormente.
ESPECTRO
Boa ação: MSSA, estreptococos.
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Ação moderada: alguns bastonetes gram-negativos entéricos.
EFEITOS ADVERSOS
Semelhantes aos de outros β-lactâmicos.
Em comparação com as cefalosporinas de primeira geração, as drogas de segunda geração têm melhor atividade gram-negativa
(exemplos: Escherichia, Helicobcater, Hemophilus, Neisseria, Klebsiella, Enterobacter, Chlamydia, Pseudomonas, Salmonella,
Shigella) e, um pouco mais fraca, gram-positiva (Nocardia, Clostridium, Propionibacterium, Actinomyces, Enterococcus,
Cornyebacterium, Listria, Lactobacillus, Gardnerella, Mycoplasma, Staphylococcus, Streptomyces, Streptococcus). Elas são mais
estáveis contra β-lactamases e são particularmente ativas contra Haemophilus influenzae e Neisseria gonorrhoeae.
ESPECTRO
Boa ação: alguns bastonetes gram-negativos entéricos, Haemophilus, Neisseria.
EFEITOS ADVERSOS
Cefamandol, cefmetazol e cefotetan – podem inibir a produção de vitamina K e prolongar o sangramento. Também podem causar
uma reação do tipo dissulfiram (desconforto abdominal, rubor, vômitos e cefaleia) quando coadministrados com etanol.
ESPECTRO
Boa ação: estreptococos (exceto ceftazidima, que é ruim), bastonetes gram-negativos entéricos, Pseudomonas (apenas
ceftazidima).
EFEITOS ADVERSOS
As cefalosporinas de terceira geração são uma das classes de antibióticos com a mais forte associação com diarreia associada ao
Clostridium difficile. Cefpodoxime pode inibir a produção de vitamina K.
São as cefalosporinas de espectro mais amplo, com atividade contra gram-negativos, incluindo Pseudomonas e organismos gram-
positivos. São uma boa escolha empírica para muitas infecções hospitalares, mas um exagero para a maioria das infecções, uma
vez que, como explicado, devemos buscar o uso de antibióticos de espectro estreito para infecções comunitárias e pouco graves
para diminuir a probabilidade de selecionar resistência bacteriana.
ESPECTRO
Boa ação: MSSA, estreptococos, Pseudomonas, gram-negativos entéricos.
EFEITOS ADVERSOS
A cefepime pode ser associada a neurotoxicidade mais do que outros agentes.
A ceftarolina é uma cefalosporina que tem características únicas, sendo designada “cefalosporina anti-MRSA". Foi projetada para
se ligar à PBP2a do MRSA, que apresenta baixa afinidade com outros β-lactâmicos.
MECANISMO DE AÇÃO
Ao contrário de outros β-lactâmicos, a ceftarolina pode se ligar a PBP2a, um tipo que é expresso pelo MRSA. Essa característica é
responsável por sua atividade anti-MRSA.
ESPECTRO
Boa ação: MSSA, MRSA, estreptococos, bastonetes gram-negativos entéricos.
EFEITOS ADVERSOS
Semelhantes aos de outros β-lactâmicos.
MACROLÍDEOS
MECANISMO DE AÇÃO
Os macrolídeos são inibidores da síntese de proteínas. Ligam-se à subunidade 50S dos ribossomos bacterianos, impedindo que
os ribossomos deslizem sobre a fita de RNA, promovendo a leitura dos códons e adicionando um novo aminoácido à cadeia
proteica em formação.
ESPECTRO
Boa ação: Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhalis, Helicobacter pylori, Mycobacterium avium.
EFEITOS ADVERSOS
Efeitos adversos no trato gastrointestinal significativos (náusea, vômito, diarreia). Também foram observados eventos hepáticos
adversos raros, mas graves, com os macrolídeos. O prolongamento do intervalo QT (no eletrocardiograma) foi observado com a
azitromicina e a eritromicina. Essa classe de medicamentos (com exceção da azitromicina) é inibidora potente das enzimas do
citocromo P450, que metabolizam medicamentos.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
Descrever o uso clínico e o mecanismo de ação do cloranfenicol, das tetraciclinas, dos aminoglicosídeos, das
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polimixinas sulfonamidas e do trimetoprim e seus efeitos adversos.
CLORANFENICOL
O cloranfenicol foi originalmente isolado de culturas de estreptomices encontradas na Venezuela e mostrou ser um antibiótico
potente, inibidor da síntese de proteínas.
Pode ser administrado por via oral ou parenteral. É bacteriostático para a maioria das bactérias.
MECANISMO DE AÇÃO
O cloranfenicol inibe a síntese de proteínas ligando-se reversivelmente à subunidade 50S do ribossomo bacteriano e impedindo a
formação da ligação peptídica na cadeia de aminoácidos.
ESPECTRO
EFEITOS ADVERSOS
Depressão da medula óssea, gerando pancitopenia grave. Contudo, esse efeito é raro. Tem que ser utilizado com muito cuidado
em recém-nascidos por que não é bem excretado e causa síndrome do bebê cinzento (40% de mortalidade).
TETRACICLINAS
Uma vez consideradas antibióticos de amplo espectro, o avanço da resistência bacteriana reduziu o uso de tetraciclinas para
indicações específicas. A doxiciclina é a preferida na maioria das situações em relação à tetraciclina e à minociclina. O uso
concomitante de suplementos minerais (como cálcio e ferro – ou leite) pode interferir na absorção dessas drogas.
MECANISMO DE AÇÃO
As tetraciclinas se ligam à subunidade 30S do ribossomo bacteriano, impedindo o encaixe do RNA de transferência que transporta
novos aminoácidos para adição à cadeia peptídica (figura 7).
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Figura 7 – Mecanismo de ação das tetraciclinas. As tetraciclinas ligam-se a subunidade 30S impedindo o encaixe do RNAt.
ESPECTRO
Boa ação: rickettsias, espiroquetas (por exemplo, Borrelia burgdorferi, Helicobacter pylori), espécies de Plasmodium (malária).
EFEITOS ADVERSOS
Gastrointestinal: as tetraciclinas podem causar irritação esofágica e os pacientes devem tomar o medicamento com água.
Dermatológico: a fotossensibilidade é frequentemente vista. Os pacientes devem evitar de tomar sol ou usar protetor solar
enquanto estiverem tomando tetraciclinas.
Desenvolvimento: todas as tetraciclinas podem causar descoloração dos dentes e são contraindicadas para mulheres grávidas e
crianças menores de oito anos de idade.
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PARA QUE SERVE?
Infecções não complicadas do trato respiratório, sinusite e pneumonia adquirida na comunidade. São drogas de escolha para
muitas doenças transmitidas por carrapatos. Também são ativas contra antraz, peste e tularemia.
AMINOGLICOSÍDEOS
Os aminoglicosídeos têm uma janela terapêutica estreita e a dosagem inadequada leva ao risco de toxicidade significativa
(principalmente nefro-ototoxicidade) nos pacientes. Por esse motivo, houve uma redução no uso dessa classe como terapia
primária para a maioria das infecções.
Dito isso, eles apresentam boa atividade contra muitos patógenos problemáticos (como Pseudomonas e Acinetobacter) que
desenvolveram resistência aos medicamentos mais benignos. Também são excelentes em sinergia com os β-lactâmicos,
melhorando a eficiência do tratamento.
Gentamicina e tobramicina são os medicamentos mais utilizados. Geralmente a amicacina é reservada a patógenos resistentes
aos dois primeiros, e a estreptomicina tem usos limitados (enterococos, tuberculose e peste).
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MECANISMO DE AÇÃO
Os aminoglicosídeos se ligam ao ribossomo bacteriano (a subunidade 30S), causando leitura incorreta do código genético,
levando à formação de proteínas incorretas e também à interrupção na síntese (figura 8).
Figura 8 – Mecanismo de ação dos aminoglicosídeos. Esses antibióticos se ligam à subunidade 30S e causam um erro na
leitura do RNA.
ESPECTRO
Boa ação: gram-negativos (Escherichia coli, Klebsiella, Pseudomonas, Acinetobacter, a maioria dos outros).
Ação moderada: em combinação com um β-lactâmico ou glicopeptídeo: estafilococos (incluindo MRSA), Streptococcus viridans,
enterococos.
EFEITOS ADVERSOS
Ototoxicidade: os aminoglicosídeos causam toxicidade coclear e vestibular relacionada à dose que não é reversível e pode afetar
significativamente a qualidade de vida.
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Neurológico: pode ocorrer bloqueio neuromuscular quando os aminoglicosídeos são administrados a pacientes que recebem
bloqueio neuromuscular.
Em combinação com um agente β-lactâmico, são utilizados para o tratamento de infecções graves com patógenos gram-negativos
documentados incluindo sepse, osteomielite, exacerbações de fibrose cística e pneumonia associada à ventilação mecânica.
POLIMIXINAS
As polimixinas são uma classe bastante antiga de antibióticos que quase deixou de ser usada sistemicamente em função do
desenvolvimento dos aminoglicosídeos “mais seguros”.
Infelizmente, a evolução contínua da resistência bacteriana forçou a comunidade médica a revisitar o uso de colistina e polimixina
B no tratamento de infecções gram-negativas resistentes, uma vez que são consideradas eficazes no tratamento de infecções
causadas por organismos gram-negativos altamente resistentes, como Acinetobacter baumannii, Pseudomonas aeruginosa,
enterobactérias resistentes a carbapeno, como a Klebsiella pneumoniae.
MECANISMO DE AÇÃO
As polimixinas se ligam à membrana externa das bactérias gram-negativas, levando à ruptura da estabilidade da membrana e ao
vazamento do conteúdo celular.
ESPECTRO
Ação fraca: todos os organismos gram-positivos, anaeróbios, Proteus, Providencia, Burkholderia, Serratia e cocos gram-
negativos.
EFEITOS ADVERSOS
Neurológico: neurotoxicidade é menos comum. Pode se manifestar como tontura, fraqueza, parestesias ou alterações no estado
mental. Também pode ocorrer o bloqueio neuromuscular, que pode levar a parada respiratória fatal.
As polimixinas são úteis no tratamento de infecções por gram-negativos multirresistentes incluindo pneumonia, sepse e infecções
urinárias complicadas.
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ANTAGONISTAS DO FOLATO
A combinação sulfametoxazol/trimetoprim é, na verdade, o exemplo mais utilizado nessa classe. Tal associação já foi, uma vez,
considerada um medicamento antibacteriano de amplo espectro.
Durante anos, a associação sulfametoxazol/trimetoprim foi a terapia de primeira linha para o tratamento de cistite não complicada
aguda em mulheres. Entretanto, esse “status” caiu, vítima da marcha implacável da resistência a antibióticos.
Apesar disso, ainda é um medicamento de escolha para várias indicações, uma vez que o perfil de resistência varia
consideravelmente de acordo com a região geográfica. Daí a importância de sempre obter o antibiograma para confirmar a terapia
empírica com sulfametoxazol/trimetoprim. Os outros agentes são usados contra infecções parasitárias/fúngicas.
MECANISMO DE AÇÃO
Esses fármacos inibem etapas da via da biossíntese do folato, esgotando o conjunto de nucleosídeos e, finalmente, levando à
inibição da síntese de DNA em organismos suscetíveis. Enquanto o sulfametoxazol inibe a dihidropteroato sintetase, impedindo a
formação do ácido dihidropteróico (primeira etapa da via sintética do folato), o trimetoprim inibe a dihidrofolato redutase, impedindo
a formação do ácido tetrahidrofólico (última etapa da via).
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ESPECTRO
Boa ação: Staphylococcus aureus (incluindo muitas cepas de MRSA), Haemophilus influenzae, Stenotrophomonas maltophilia,
Listeria, Pneumocystis jirovecii, Toxoplasma gondii (pirimetamina e sulfadiazina).
Ação moderada: bastonetes gram-negativos entéricos, Streptococcus pneumoniae, Salmonella, Shigella, Nocardia, Streptococcus
pyogenes.
EFEITOS ADVERSOS
Dermatológico: a associação sulfametoxazol/trimetoprim, frequentemente, causa erupção cutânea, em geral por causa do
componente sulfametoxazol. Embora essas erupções cutâneas geralmente não sejam graves, as doenças como necrólise
epidérmica tóxica e síndrome de Stevens-Johnson também ocorrem.
Hematológico: uma supressão da medula óssea dependente da dose pode também ocorrer com a associação
sulfametoxazol/trimetoprim.
Alergias: pacientes alérgicos à associação sulfametoxazol/trimetoprim podem ter reações cruzadas com outros medicamentos
que contenham porções sulfonamida, como furosemida, sulfadiazina, acetazolamida, hidroclorotiazida e glipizida.
Tratamento de infecções urinárias inferiores sem complicações (empiricamente em áreas com baixa resistência, definitivamente
sempre que suscetível), tratamento da meningite por Listeria, tratamento e profilaxia para pneumonia por P. Jirovecii em pacientes
imunossuprimidos e tratamento da encefalite por toxoplasma. A sulfadiazina é usada no tratamento de toxoplasmose.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme visto, as drogas antimicrobianas compõem um grupo bastante diverso de medicamentos. O uso desses medicamentos
precisa ser feito de acordo com diretrizes básicas que visam diminuir o aparecimento de resistência nos microrganismos e também
minimizar os riscos de efeitos adversos.
As várias classes de antibióticos têm mecanismos de ação e alvos moleculares distintos, assim como espectro de ação particular,
agindo em vários microrganismos distintos (amplo espectro) ou em número menor de microrganismos (espectro estreito).
A escolha desses medicamentos precisa ser feita a partir de conhecimentos farmacológicos, microbiológicos e clínicos para buscar
o máximo de eficiência com o mínimo de riscos para os pacientes.
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PODCAST
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
HARDMAN J. G. et. al. Goodman and Gilman’s Pharmacological basis of therapeutics. 10. ed. USA: McGraw-Hill, 2001. Cap.
26, 27 e 60.
RANG, H. P. et. al. Rang & Dale Farmacologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda., 2016. Cap. 26 e 33.
SILVA, P. Farmacologia. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. Cap. 42, 57 e 82.
EXPLORE+
Leia o texto “Uso racional de antimicrobianos, de Letícia Mota e outros autores”, pesquise por esse texto no site da
revista da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP.
CONTEUDISTA
CURRÍCULO LATTES
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