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Coleção Entendimento e Prática

Relacionamento
Interpessoal
Temas, Leis e Conduta Sobre
Relacionamento Interpessoal

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Coleção Entendimento e Prática

Relacionamento
Interpessoal
Temas, Leis e Conduta Sobre
Relacionamento Interpessoal

Shimshon Bisker

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‫לעילוי נשמת אבי מורי‬

Autor: Shimshon Bisker


Revisão: R. Israel B.Y.
Projeto gráfico
e Capa: Yossef Shalom Lev
Para contato: yoseflev7@gmail.com

Para contato: shbisker@gmail.com

©
Todos os direitos reservados
5781 (2021)
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Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis
Carta do Grande Rabino, Juiz e Morê Horaá do Beit Din de
Bnei-Brak (do Rav Nissim Karelits Zt”l) e Rav da Comunidade
Chanichei Há’Yeshivót, Modiin Ilit, Rav Israel D. Vizel Shlita

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Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Tradução da Carta
Há’Rav Israel Dov Há’Levi Vizel
Rav da Comunidade Chanichei Há’Yeshivót, Modiin Ilit, Juiz e
Morê Horaá do Beit Din de Bnei-Brak (do Rav Nissim Karelits Zt”l)

BS”D
Dia 13 de Yar, 5781
Carta de Brachá
Venho atravéz desta abençoar o meu importante companheiro, dentre
os que proporcionam mérito ao público, Há’Rav Shimshon Bisker
pela publicação dos livros que escreveu com o interesse de ajudar as
pessoas através de todos os tipos de halchót (Leis da Torá)
necessárias, também com a visão da Torá e os caminhos de vida para
os que estão longe, sedentas pela verdadeira sabedoria com lealdade;
e o caminho para se aproximar ao Criador e fazer a Sua Vontade.
Eis que eu conheço o Rav Shimshon Bisker já há longo tempo e ele é
um Ben-Torá (adepto da Torá) verdadeiro e age le’Shem Shamaim
(para fazer a Vontade de Hashem) propagando a Torá e
direcionando os seus alunos.
Ele também se ocupa em aproximar pessoas a Hashem através de
diversas maneiras, principalmente o público da língua portuguesa,
que são poucos os que se ocupam com ela. Há’Kadosh Baruch Hú
(D’us) o ajuda a influenciar várias pessoas e, dentre elas, conversos
muito queridos. Tudo é feito com entendimento e sabedoria; se
aconselha sobre todos os temas pois é de sua vontade fazer tudo de
acordo com daat-Torá (a forma requerida pela Torá). Que seja de
Sua Vontade que tenha o mérito de seguir fortemente com as suas
ações desejáveis.
Sobre isso assino embaixo
Israel Dov Há’Levi Vizel

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Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Brachá e Méritos

Que através do estudo deste livro o Nome de Hashem seja


engrandecido e traga ao casal

Shlomo (Salomão) e
Ester Rivka (Juliana Gheler)
Hodara Gil
e filhos
Arieh e Mazal
longos anos de vida com muita brachá (bênção), saúde,
hatslachá (sucesso) espiritual e físico; uma vida repleta de Torá,
alegria, kedushá, descendentes tsadikim e talmidei chachamim e
o mérito de ver Mashiach tsidkeinu be’meherá be’yameinu.

Agradecimento e Méritos

Que o estudo deste livro traga a todos os que contribuíram para


a sua publicação e a suas respectivas famílias
longos anos de vida com muita brachá, saúde e hatslachá
espiritual e físico; uma vida repleta de Torá, alegria, kedushá,
descendentes tsadikim e talmidei chachamim e o mérito de ver
Mashiach tsidkeinu be’meherá be’yameinu, amén ve’amén!

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Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Agradecimento e Méritos

Com agradecimento ao Criador por ter-me dado o mérito de


chegar a este momento e de realizações para engrandecer o Seu
Nome.
Aproveito também a oportunidade para agradecer a minha
querida esposa por sempre ter me apoiado no estudo da Torá
e em todos os outros temas, sobre ela pode-se dizer ‘Eshet Chail
mi imtsá’ – ‘Quem encontrará uma esposa virtuosa’ (Mishlei
31,10). Que Hashem nos conceda, e aos nossos filhos, longos
anos de vida com muita Torá, brachá, saúde, alegria e satisfação
de ver todos os nossos descendentes tsadikim e eruditos.
Também aos meus pais
Sr. Yaakov Zeev (Jack) z”l e Sra. Ester Malka (Helena)
Bisker
que sempre nos incentivaram e apoiaram
e aos meus sogros
R. Yaakov Nachman Natan e Sra. Feigue Tsipora
Blum
que sempre nos apoiam
Que Hashem lhes concedam muita brachá, hatslachá, saúde,
alegria e satisfação de ver todos os seus descendentes íntegros
no caminho da Torá.

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‫‪Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis‬‬

‫לעילוי נשמת‬

‫ר' יעקב זאב בן צבי ז"ל‬


‫ר' אברהם בן פנחס ז"ל‬
‫ר' חנוך זינדל בן יעקב ז"ל‬
‫מרת בילא בת שלמה ע"ה‬
‫ר' דוד בן יחיאל אליעזר ז"ל‬
‫מרת פנינה פערל איטה בת נחמן ע"ה‬
‫ר' צבי בן אברהם ז"ל‬
‫מרת חוה לאה בת שמשון ע"ה‬
‫ר' אברהם מנחם מנדל בן יצחק ז"ל‬
‫מרת בלומה רוזה בת שמשון ע"ה‬

‫ת‪.‬נ‪.‬צ‪.‬ב‪.‬ה‪.‬‬

‫‪8‬‬
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Nota importante: Existe diferentes costumes dentro


das diversas comunidades judaicas ortodoxas.
Portanto, em certos temas, provavelmente encontrar-
se-ão costumes e condutas de comunidades que não
seguem exatamente como consta nesta obra. Cada
um deve seguir o costume de sua comunidade, e, em
caso de dúvida, consultar-se com o rabino de sua
comunidade para saber como agir corretamente aos
‘olhos’ de Hashem.

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Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Índice

PALAVRA INICIAL ..............................................................................14


TSEDAKÁ (CARIDADE) .......................................................................16
MAASSER (DÍZIMO) ..........................................................................20
AMAR O PRÓXIMO ...........................................................................24
DOENTES E VISITAS ...........................................................................25
COMÉRCIO E TRABALHO ...................................................................29
DISCUSSÕES FINANCEIRAS................................................................30
COMERCIAR ANIMAIS NÃO-CASHER .................................................31
ENGANAR .........................................................................................33
PESOS OU BALANÇA NÃO REGULADOS.............................................34
CURIOSIDADE: COMO ENRIQUECER? ................................................35
EMPRÉSTIMO E JUROS......................................................................37
PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE EMPRÉSTIMO ..............................39
TEMAS SOBRE JUROS .......................................................................42
ENTENDENDO O ÉTER-ISKA (PERMISSÃO PARA NEGÓCIOS) .............44
SALVAR E AJUDAR A UM COMPANHEIRO .........................................48
ASHAVAT-AVEIDÁ (DEVOLVER ALGO PERDIDO AO SEU DONO) ........49
JUSTIÇA ............................................................................................50
CURIOSIDADE: O REI DAVID FAZIA SENTENÇA E CARIDADE ..............51
DELATOR ..........................................................................................53
AGIR COM BOM SENSO E ALÉM DA JUSTIÇA ....................................53

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AGRESSÃO ....................................................................................... 56
ONAÁT DEVARIM (OPRESSÃO VERBAL) ............................................ 57
APELIDOS ......................................................................................... 61
ENVERGONHAR A UMA PESSOA (ALBANAT PANIM) ........................ 63
DEVOLVER OFENSA .......................................................................... 66
RETIFICAÇÃO E CONFISSÃO .............................................................. 67
JULGAR O SEMELHANTE PARA O BEM .............................................. 69
NÃO GUARDAR RANCOR E ÓDIO NO CORAÇÃO ............................... 70
REPREENDER .................................................................................... 70
NÃO AGIR DE FORMA SUSPEITA....................................................... 71
OUTRAS PROIBIÇÕES ATRAVÉS DA FALA .......................................... 71
CUIDAR DA BOCA ............................................................................. 71
PROMESSAS E JURAMENTOS ........................................................... 73
LIFNEI IVER – DIANTE DO CEGO (NÃO COLOCAR OBSTÁCULO) ......... 76
ROUBO ............................................................................................. 77
ROUBO À NÍVEL DE CONSCIÊNCIA (GUEZEL DAAT) ........................... 79
ALUGUEL E SERVIÇOS ....................................................................... 80
CAUSAR DANOS ............................................................................... 82
NÃO FAZER ALGO REPUGNANTE (BAL’TESHKÊTSU) .......................... 84
COBIÇA E DESEJO ............................................................................. 84
CASAMENTO .................................................................................... 86
BAL-TASHCHIT (DESPERDÍCIO) ......................................................... 94
SAÚDE E ALIMENTAÇÃO ................................................................... 95

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Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

O CUIDADO COM A VIDA ..................................................................97


SITUAÇÕES QUE É NECESSÁRIO TRANSGREDIR A TORÁ PARA VIVER 99
SUICÍDIO .........................................................................................101
HONRAR OS PAIS, SÁBIOS E COHANIM ...........................................102
LEIS RELACIONADAS AO COHEN .....................................................108

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Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

“Se não tem Torá (sabedoria da Torá), não tem


derch erets (boa-conduta); e se não tem derech
erets, não tem Torá.” (Ética dos Pasi 3,17)

Se a pessoa não adquiriu a sabedoria da Torá,


ela não saberá os parâmetros corretos para
poder moldar as suas características, portanto,
mesmo com boa vontade não saberá como se
conduzir. Sobre isso ensina a Ética dos Pais: “Se
não tem Torá não tem uma boa conduta.

Por outro lado, a sabedoria da Torá somente é


absorvida por aquele que refina a sua conduta,
sobre isso os sábios ensinam: Derech Erets (a
boa-conduta) antecipou o recebimento da Torá,
ou seja: “Se não tem boa-conduta não tem Torá”.
Isso é uma condição para adquirir a Sua
sabedoria.

Portanto, cada pessoa que presa pela sua vida


deve investir na aquisição da sabedoria da Torá,
e, junto, investir para moldar corretamente as
suas características e aprimorar a sua boa-
conduta. Assim ela crescerá em ambos
juntamente.

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Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Palavra Inicial

É um Preceito da Torá aprimorar-se como


pessoa. Assim está escrito (Devarim 10,12-13):
“(...) O que o Eterno, teu Deus, requer de ti?
Somente que (1) reverencie ao Eterno, (2) andes
em todos Seus caminhos e (3) ames a Ele; (4)
sirvas o Eterno, teu Deus, com todo o teu coração
e com toda a tua alma, (5) que cumpras os
Preceitos do Eterno e os Seus estatutos”
Neste trecho a Torá inclui as exigências para
um serviço integro requerido por Deus:
(1) Reverência. Isto é, reverência a Sua
grandeza.
(2) Caminhar em Seus caminhos. Isto é,
aprimoramento pessoal.
Consta no Talmud: “Assim como Deus age
com piedade, seja piedoso, etc.... A pessoa deve
se acostumar a agir de forma reta e ética, ser
agradável em seus caminhos e ações, como
consta na Ética dos Pais (2,1):
“Qual é o melhor caminho que uma pessoa deve
optar em seguir? Aquele que é agradável para ela

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Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

e para os que convivem com ela.” (Baseado em


Bartenura)
(3) Amar a Deus.
(4) Servi-lo com coração íntegro (sem
interesses alheios).
(5) Cumprir todos os Seus Preceitos.

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Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Tsedaká (Caridade)

É um Preceito positivo da Torá dar tsedaká


(doar dinheiro para necessitados), cada um de
acordo com as suas possibilidades (Shulchan
Aruch Y”D 247, 1).

Além de ser um Preceito, todo aquele que


sente piedade dos necessitados, D’us também
age com ele da mesma forma – com compaixão.
Assim como a pessoa pede para que D’us escute
as suas súplicas, também ela deve escutar as
suplicas dos necessitados (Shulchan Aruch e
Ramá, Y”D 247, 3).

Devemos ajudar também no sustento de


nossos semelhantes necessitados – esse
mandamento aprendemos do versículo: “...e viverá
teu irmão contigo” (Vaikrá 25, 36; ver Targum
Yehonatan e Rashi em Ketuvót 15b) – devemos
nos preocupar em mantê-lo em vida.

Quando as pessoas se esforçam para salvar


uma as outras, todas serão beneficiadas,
melhorando as condições de assentamento para a
humanidade em geral. Estaremos, dessa maneira,
cumprindo com o desejo do Criador – colaborando

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Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

em propagar um cenário propício para o ser-


humano poder se ocupar no cumprimento de sua
função durante os seus anos de vida (Chinuch).

Porém, caso uma pessoa esteja em uma


situação onde terá que optar entre recuperar um
de seus pertences ou recuperar um pertence de
outra pessoa, os seus próprios pertences têm
prioridade. Aprendemos este conceito do versículo
“...não haverá entre vocês miseráveis”, para evitar
que uma pessoa chegue à miséria ela foi
orientada: “Os seus pertences têm prioridade aos
pertences de seu semelhante” (Talmud Baba
Metsia 33a). A partir deste conceito aprendemos
que o sustento da própria pessoa tem prioridade
ao sustento de outras pessoas, portanto uma
pessoa que não possui meios suficientes para
suprir com suas próprias necessidades está isenta
de praticar caridade com os demais (Ramá Yore
Dea 251, 3; Biur Hagrá).

Curiosidade: Em duas situações Deus se


faz, como se fosse, devedor da pessoa: Quando
ela tem piedade de um necessitado e oferece para
ele tsedaká (uma doação) e quando ela usa
dinheiro para investir em honra do Shabat e Yom
Tov, sobre isso está escrito (Mishlei 19,17):
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Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

“Empresta a Deus aquele que tem piedade do


necessitado”, o versículo continua: “E o bem que
fez (investindo em honra do Shabat e Yom Tov,
Deus) pagará a ele”. (Zohar, Pikudei 251a)

A Tsedaká Salva do Decreto de Morte


Está relatado no Talmud (Tratado Shabat)
que um astrólogo revelou a Rabi Akiva que sua
filha morreria no dia de seu casamento. Rabi Akiva
guardou a informação e ficou na expectativa até o
término do dia do casamento de sua filha.

No dia seguinte, ele se encontrou com a sua


filha e perguntou a ela o que havia feito de especial
no dia de seu casamento para anular o decreto de
morte. Ela respondeu que entregou a sua porção
de comida a um pobre que não tinha o que comer.

Ao escutar essas palavras Rabi Akiva


exclamou: - “A tsedaká (caridade) salva a pessoa
de um decreto de morte!”

O Sábio Shemuel e um astrólogo chamado


Avlat estavam sentados quando passou diante
deles uma pessoa caminhando. Então Avlat disse

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Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

ao Sábio: - “Esse homem vai e não volta mais!


Uma serpente lhe picará e ele morrerá!”

O sábio respondeu: - “Se este homem é um


integrante de Israel, ele vai e volta”!

Enquanto ainda estavam sentados, o homem


retornou.

Avlat se levantou e foi ao seu encontro. Pediu


para verificar os galhos de madeira que ele havia
cortado na beira do lago e encontraram uma
serpente cortada ao meio junto com a madeira.

O Sábio Shemuel perguntou ao homem: -


“Diga-me, que bom feito você realizou?”

Logo o homem explicou que quando


percebeu que estava faltando comida para um dos
trabalhadores ele fingiu que já havia recebido a
sua porção, para que não faltasse ao seu
companheiro. Dessa forma ele pôde supri-lo de
sua própria comida sem envergonhá-lo.

O Sábio Shemuel disse: - “Você fez uma boa


ação!”

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Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Em seguida, ele concluiu (Provérbios 10:2): -


“A tsedaká salva a pessoa de um decreto de
morte!”

Maasser (dízimo)

O Shulchan Aruch (247, 4) escreve que a


tsedaká afasta os duros decretos e, nos momentos
de fome ela salva a pessoa (...); alonga o tempo
de vida [como consta no Tratado Baba Batra
(Sha”ch)] e traz mérito para que ela enriqueça. De
acordo com certas opiniões, o mérito de
enriquecer é quando a pessoa separa 10% de
seus lucros para tsedeká.

Disseram os nossos sábios, dê o dizimo (aos


pobres) para enriquecer (Tratado Taanit 9a). Dê o
dízimo para que não falte.

Acrescenta o Midrash: “Eles aludiram aos


comerciantes para separar o dízimo aos
estudiosos de Torá” (Midrash Tanchuma, Devarim
18).

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Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Apesar de ser permitido doar o dízimo (10%


dos lucros) para qualquer necessitado, de toda
forma, a prioridade é oferece-lo àqueles que se
ocupam com o estudo de Torá. Como consta no
Shulchan Aruch (Y”D 251, 9): “Quando se
encontram dois necessitados em situação
parecida, deve dar preferência ao Cohen, depois
ao Levi, depois ao Israel (...) porém, se algum
deles for estudioso de Torá (Talmid Chacham) ele
tem preferência sobre os demais. Parentes
próximos necessitados também têm prioridade
(Chafets Chaim em Ahavat Chessed, parte 2,
cap.19,1; Shu”t Avkat Rochel,3).

A bem da verdade, em relação as doações,


existe a prioridade de salvar uma pessoa
aprisionada (ou sequestrada) antes de outras
causas (Shulchan Aruch Y”D 252, 1), assim
também salvar alguém de algum perigo de vida
(sempre que não há quem o faça). Depois, em
ordem de prioridade, ajudar pessoas famintas ou
doentes. Isto inclui visitar enfermos, recepcionar
convidados pobres e ajudar nos gastos de
casamentos dos necessitados. Contudo, entre
ajudar pobres de forma geral ou apoiar o estudo
de torá, o apoio ao estudo tem prioridade (hagaót

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Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Yad Shaul 249, 16, Tashbets Katan 533).


Proporcionar com que jovens estudem Torá é
preferível a doar para manter ou construir
sinagogas (Shulchan Aruch 249, 16). Ainda mais
quando se trata de ajudar aqueles que se dedicam
exclusivamente ao estudo da Torá. Aqui se inclui
qualquer ajuda as yeshivót, também os gastos de
eletricidade e aquecimento.

Se não for possível doar todo o maasrót para


os estudiosos, a pessoa deve se esforçar em pelo
menos doar a metade deles para esse fim (Ahavat
Chessed, ibid.; Shu”t Avkat Rochel, 3): “Deve se
esforçar em doar a metade ou a maior parte dos
maasrót para estudiosos de Torá e para os
parentes próximos necessitados).

Consta no livro “Sefer Chassidim” (Parágrafo


1044): Quem possui muitos bens e tem filhos e
filhas ricos e pobres, deve oferecer ajuda aos filhos
pobres (e aos filhos deles) mais do que oferece
aos filhos ricos (e aos filhos deles), e, para os
estudiosos de Torá, deve acrescentar ainda mais.

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Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Quanto doar?
Caso a pessoa tenha condições, ela deve
doar o necessário para suprir as necessidades dos
pobres; para quem não tem tantas condições, no
máximo até 20% de seus lucros. Doar 20% é
louvável, 10% é o caminho intermediário, menos
que isto, é considerado insuficiente (Shulchan
Aruch 249, 1). O Ramá acrescenta que uma
pessoa não deve investir em doações mais do que
20% de seus lucros, isto é para que não venha a
necessitar de ajuda alheia. Contudo, no momento
(perto) da morte, pode doar o quanto desejar.
Existem outras exceções:

1. Quando se trata de uma pessoa muito rica


(que mesmo doando mais do que 20% de seus
lucros não virá a necessitar da ajuda alheia);
2. Caso apareçam diante dele necessitados
famintos ou sem ter o que vestir;
3. Para resgatar uma pessoa que foi
sequestrada;
4. Para salvar uma vida;
5. Quando se trata de doações de pouco
valor;

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Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

6. Para apoiar o estudo de Torá (pois, através


do apoio ao estudo de Torá a pessoa recebe uma
porção do estudo, sendo assim, explica o Chafets
Chaim, que não há limite para o apoio oferecido ao
estudo de Torá);
7. Para aquele que, de qualquer forma, já
gasta muito dinheiro para suprir os seus desejos e
em futilidades (pois, a caridade não possui um
valor menor do que esses outros valores).

Amar o Próximo

Está escrito na Torá (Vaikrá 19,18): “Amarás


o teu próximo como a ti mesmo.”

Os sábios do Talmud ensinam: “Amar o


próximo como a ti mesmo” é um grande princípio
da Torá [Talmud Yerushalmi, Nedarim 89,4; assim
também consta no Midrash (Sifra, Kedoshim 4,12)
em nome do Rabi Akiva.]

Os sábios ensinam como cumprir esse


princípio: “O que você não deseja que façam

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Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

contigo não faça com os teus companheiros”


(Talmud, Tratado Shabat 31a).

Doentes e Visitas

"A pessoa segue vivendo com a impressão de


que [este mundo] é eterno, de geração em
geração, imaginando que viverá para sempre
[ocupando-se às vezes exclusivamente de seus
afazeres físicos e de seus negócios e
esquecendo-se do objetivo principal de ter
nascido]. Porém chega o dia em que algo
acontece, como uma doença [ou acidente ou algo
do gênero]. Enquanto a sua mente está ocupada
com a cura, a pessoa está sendo julgada sobre se
terá ou não mérito para continuar neste mundo"
(Zohar Nassó 126, com Matok Midvash).

Uma pessoa doente não deve esperar por


milagres, e sim, tratar-se com um médico
profissional.

Para permanecermos íntegros diante do


Criador, mesmo no momento difícil da
enfermidade, é necessário procurar a cura através
do profissional mais qualificado. Também é

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Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

indispensável aumentar as rezas, pedir a ajuda de


D'us e somar méritos através de ações de
benevolência.

Porém, não esperar por milagre, pois quem


garante que o enfermo possui o mérito para tanto?
Ainda assim, mesmo que um milagre ocorra, isso
será descontado de seus méritos existentes.
Portanto alguém que não se preocupa em se
salvar está se autocondenando. Essa pessoa
poderia ser comparada àquela que tira a própria
vida (Chovot Halevavót, Shaar Habitachón, 284;
Rambam).

Tampouco deve-se pensar em economizar,


quando possível, nos custos de um tratamento
melhor. Está escrito no Zôhar (Haazinu): "Às
vezes, é decretado que a pessoa deve perder
certa quantia de dinheiro com a cura de sua
doença. Nesse caso, ela não alcançará a cura até
que gaste o que lhe foi decretado"

Aquele que não se trata causa dois males


para si:

1. Acusação. Isto é, as suas transgressões


são lembradas o que lhe causa novos decretos.

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Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

2. Demonstra orgulho. Pois é como se


estivesse dizendo que é um grande justo que se
apoia em seus méritos para ser curado
milagrosamente.

A pesar de existir a preocupação em procurar


um médico especialista, de toda forma, não se
deve colocar a esperança e a expectativa da cura
sobre o médico, e sim, somente em Hashem, e
intensificar as rezas.

Um médico que tem a capacidade de salvar


uma pessoa e não o faz, é considerado que
derramou o seu sangue.

Não se pode superfaturar o preço de um


remédio quando vê que um doente precisa muito
dele.

Visitar o Doente

Quando uma pessoa fica doente é mitsvá


visita-la.

O principal da visita a um doente é preocupar-


se por suas necessidades, o que é necessário
para ajuda-lo, fazer com que ele sinta satisfação
com os amigos, e, acima de tudo, rezar por ele. Se

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Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

a pessoa visitou o doente e não rezou por ele, não


é considerado que cumpriu a mitsvá de vista-lo.

Não se deve falar de assuntos que possam


trazer depressão ao doente.

Curiosidade: Deus Visita a Avraham

Está escrito no Midrash que após o Patriarca


Avraham ter realizado o brit-milá, Deus disse aos
anjos: Vamos visitar o enfermo (Midrash
Tanchuma, Vaierá 2). Os sábios explicam: Vemos
daqui a grandeza da mitsvá de visitar uma pessoa
doente ao ponto da revelação Divina se expressar
abertamente “Vamos visitar o enfermo.”

De fato, a Presença Divina paira no leito de


todo enfermo, como consta no Talmud (Shabat
12b): A Presença Divina se encontra na cabeceira
do enfermo. Está escrito na Torá (Devarim 28,9):
“Andareis por Seus caminhos”, isso inclui visitar os
enfermos e rezar por eles.

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Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Comércio e Trabalho

Está escrito na Ética dos Pais (2, 12): “Os


pertences de seu amigo devem ser queridos para
você como os seus próprios pertences”.

Isto é, devemos nos preocupar com o


dinheiro e com os pertences de nossos
companheiros da mesma forma a qual nos
preocupamos com os nossos próprios pertences.

Este é um conceito chave que nos orienta a


cuidar dos pertences dos demais, e, com muito
mais razão, não lhes causar danos.

Em geral, o cenário do trabalho e dos


negócios é cheio de provas e oportunidades de
expressar a fidelidade da pessoa ao Criador.
Portanto, a pessoa deve ter muito cuidado para
não transgredir em seu trabalho as Leis referentes
a enganação, extorsão, roubo, pirataria, etc....

A enganação pode ser em temas que muitas


vezes passa por despercebido, como o cálculo de
câmbio, avaliação de pedras preciosas, pesos e
medidas. Contudo, o Criador sabe exatamente a
intenção de cada um.

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Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Discussões Financeiras

Quando ocorrer alguma discussão financeira


entre duas partes, é propício que ambos os lados
tentem ver o que pode ser feito para que cheguem
em um acordo pacífico. Caso isso não aconteça,
então o caso deve ser levado a um Tribunal
Rabínico, porém, não podem levar o caso a um
tribunal regional, pois o julgamento não será de
acordo com as Leis da Torá.

Contudo, quando um dos lados não aceita


que o caso seja julgado por um Tribunal Rabínico,
deve-se consultar um rabino confiável para que lhe
dê autorização de levar o julgamento ao tribunal
regional.

O objetivo de um julgamento é esclarecer a


Vontade de Hashem em relação ao caso em
questão, saber quem está com a razão e quem
está sem a razão e resolver a questão, trazendo
assim o conserto para cada um dos lados e para a
Criação. Contudo, a maioria das pessoas entram
em uma sentença pensando como vencer,
independentemente de quem tem a razão.

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Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

O correto seria tentar ao máximo expressar o


caso exatamente como ele é com a esperança de
que a verdade seja revelada e assim resolver o
tema de acordo com a Vontade de Hashem, de
acordo com os Seus critérios que são revelados na
Torá. Não importa o resultado da sentença, o que
importa é que a verdade seja esclarecida e a
questão resolvida de acordo com os conceitos da
Torá. Nota: Confira mais detalhes sobre o tema no
tópico ‘Justiça’.

“Sobre três méritos o mundo permanece


existindo: A sentença, a verdade e a paz,
como está escrito: Verdade e sentença de paz
julguem em teus tribunais”. (Ética dos Pais
1,18)

Comerciar animais não-casher

Seria permitido negociar animais que não são


casher?

R: Tudo o que é proibido comer pela Torá se


é um produto destinado à alimentação, não se
pode negociá-lo, inclusive é proibido compra-lo
para distribuir aos seus funcionários que não são

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Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

judeus. Contudo, se o produto não é destinado a


alimentação, por exemplo, cavalos e burros, é
permitido comercializá-los. Da mesma forma, é
permitido vender bolsas e artigos de couro de
animais não casher.

Nota: É permitido cobrar por uma dívida


inclusive produtos que a Torá proíbe ingeri-los e
vende-los sem espera, isto é, somente
permanecer com essa mercadoria o tempo
necessário para encontrar um comprador pelo
preço de mercado.

Se a pessoa adquiriu um animal não casher


(que costuma ser vendido para alimentação de
outros povos) de forma esporádica, por exemplo,
uma pessoa que pesca um peixe não casher,
então, nesse caso, pode negociá-lo. Pois, em um
caso assim, a pessoa não o adquiriu com a
intenção de comercializá-lo. Porém, deve fazer de
imediato e não esperar para ‘engordá-lo’ e lucrar
mais.

Os alimentos que foram proibidos pelos


Sábios e não pela Torá, é permitido negociá-los,
pois os Sábios proibiram unicamente ingeri-los e
não comercializá-los.

32
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Enganar

Não se pode enganar ou inflacionar o preço


da mercadoria em uma negociação. Tanto o
vendedor como o comprador. Isto é, o vendedor
não pode enganar e pedir um preço maior do que
o de mercado e o comprador não pode oferecer
um preço menor do que vale a mercadoria.

Se ambos tem a consciência do preço real e


o vendedor não se importa de vender por um preço
menor ou o comprador não se importa de pagar
além do preço real, então é permitido, pois
ninguém está enganando, e sim, abrindo mão de
sua perda.

Curiosidade: Consta no Talmud que a


primeira pergunta que fazem a pessoa após a
morte é sobre esse tema: “Você foi honesto em
seus negócios?” (Talmud, Shabat 31; Shulchan
Aruch Ch”m 227)

Não se pode fazer o produto parecer mais


bonito ou mais novo do que é para vende-lo mais
caro ou mais rápido.

33
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Por exemplo: Não se pode colocar frutas


bonitas em cima de frutas feias para encobri-las,
não se pode pintar algo velho para vende-lo como
se fosse novo, misturar mercadoria fresca com
antiga para vende-las como se todas elas fossem
frescas ou misturar bebidas de diferentes níveis de
qualidade para vende-las com o preço mais caro.
Tudo isso é proibido pela Torá.

Pesos ou Balança não regulados

Aquele que usa uma balança não regulada


para pesar mercadoria e, assim, enganar o
comprador, transgrede a Torá e a sua pena é
muito rígida.

Como uma pessoa que age dessa forma


poderá consertar o que fez? Mesmo quando
decida retificar-se, como poderá restituir para cada
cliente o que lhe enganou?

A injustiça e a falsidade são tão graves para


D’us, que Ele colocou como uma proibição da Torá
possuir pesos de medidas que não são exatos.

34
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Essa proibição inclui possuir, mesmo sem usar,


uma balança ou pesos que não estão regulados.
Assim está escrito:

“Não terás em tua posse pedras e pedras


grandes e pequenas (isto é, pesos com medidas
distorcidas); tampouco terás em tua posse
medidas distorcidas; pesos corretos e justos
terás.... Para que prolonguem os teus dias sobre a
terra que o Eterno, Teu D’us, dá para você. Pois,
isso é abominação ao Eterno, Teu Deus, todo
aquele que faz esse tipo de coisa, todo aquele que
faz injustiça (falsidade).” (Devariam 25,13-16)

Curiosidade: Como enriquecer?

Os Sábios ensinam: O que deve fazer a


pessoa para se enriquecer?

Ser honesta em seus negócios e suplicar


para Quem a riqueza é Dele! Como está escrito no
Profeta Chagai (2,8): “A prata e o ouro são Meus,
diz o Eterno (...)”.

35
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

O Talmud (B”B 89a) estuda uma alusão a


partir do versículo (em Devarim) que trouxemos
acima:

Não terás (em teu bolso) – ou seja, o teu


bolso estará vazio de dinheiro, quando houver
pesos e medidas grandes e pequenas (isto é,
desreguladas) em tua casa, porém, quando você
possuir pedra (de medida) íntegra e justa, terás
(dinheiro em teu bolso!).

Visão sobre o trabalho

Não se deve possuir unicamente a intenção


de ganhar dinheiro, e sim, acrescentar a intenção
de sustentar a família, poder pagar os estudos de
Torá dos filhos, ajudar os necessitados e ter meios
para cumprir as mitsvót. Dessa forma, além de
transformar todo o tempo de seu trabalho em
mitsvá, também acrescenta nele brachá.

36
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Empréstimo e Juros

É mitsvá emprestar para alguém que está


necessitando do empréstimo. Assim está escrito
na Torá (Devarim 15,8): “Abrirás a tua mão... e lhe
emprestarás...”.

Uma pessoa que empresta dinheiro ou pega


emprestado deve preocupar-se com o tema dos
juros.

Esse tema abrange várias regras. Não temos


como objetivo tratar de todos os temas
relacionados aos juros, e sim, transmitir uma
noção básica sobre o assunto. Portanto, em caso
de dúvida prática é necessário consultar uma
autoridade rabínica confiável.

A pessoa que empresta com juros transgrede


seis proibições da Torá e não se levantará na
ressurreição dos mortos.

“Com juros entregou e juros recebeu e viveu,


não viverá” (Yihcezkel 18,13).

Quem recebe empréstimo com juros


transgrede três proibições.

37
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Além do credor e devedor, todos os que


participam de um acordo com juros transgredem
uma proibição da Torá, o que inclui a pessoa que
escreve o contrato, as testemunhas que assinam
o contrato e os fiadores.

Curiosidade: Os sábios perguntam (Ética dos


Pais 2,13): Qual é o mal caminho que a pessoa
deve se afastar? Os sábios trazem algumas
respostas. Rabi Shimon responde: Aquele que
pega emprestado e não devolve. O que pega
emprestado de um semelhante é como se tivesse
pegado emprestado do Criador. Como está
escrito: O perverso pega emprestado e não paga,
já o justo, é compassivo e paga (Tehilim 37,21). O
que quer dizer que o devedor é como se tivesse
pegado emprestado do Criador? Pois se ele não
paga a dívida, o Criador devolverá de alguma
forma o dinheiro ao credor e o devedor ficará
devendo ao Criador.

38
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Perguntas e Respostas Sobre Empréstimo

Com que a pessoa deve se preocupar


quando recebe ou oferece um empréstimo?

R: Com o tema dos juros. Tanto com os juros


proibidos pela Torá como os que são proibidos
pelos Sábios.

Certa pessoa recebeu um empréstimo de um


amigo que lhe ajudou muito. Quando ela foi
devolver o dinheiro lhe trouxe também uma garrafa
de vinho como agradecimento. O amigo pode
receber como presente ou é considerado juros?

R: O credor não pode receber presentes além


da devolução do empréstimo. É considerado juros.

Nota: Também enviar presentes para que o


amigo aceite lhe emprestar é considerado juros.

O que fazer aquele que já emprestou com


juros?

39
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

R: Deve retificar-se das transgressões que


cometeu. Além do arrependimento, ela deve
devolver o valor dos juros ao devedor.

Certa pessoa pegou dinheiro emprestado


sem juros, quando chegou o momento de pagar
ela oferece ao credor uma quantia de dinheiro para
postergar a data do pagamento. Seria permitido
fazer isso?

R: Não. Isso também é considerado juros.

Certa pessoa estava com pressa de


regressar à sua casa e pediu a um amigo que lhe
desse carona, o que lhe causaria desviar-se do
caminho por alguns minutos. O amigo negou.
Porém, logo após haver negado lembrou-se que
estava devendo a esse amigo mil dólares e sentiu
que seria bonito lhe fazer esse favor. Então ele
voltou atrás e concordou em lhe dar carona.
Haveria algum problema nisso?

R: Sim. Uma vez que não lhe daria carona em


uma situação assim, e, somente concordou pelo

40
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

fato dele haver lhe emprestado dinheiro, esse


favor é considerado juros.

Nota: O devedor não pode fazer um trabalho,


honrar ou beneficiar o credor em algo que não o
faria se não houvesse lhe emprestado, pois tudo
isso é considerado juros.

Como seria possível investir dinheiro com um


amigo para participar dos lucros sem ter o
problema de juros? Pois estaria recebendo mais
do que lhe emprestou?

R: Eles devem fazer Éter-Iska (lit. permissão


para negócios).

Nota: O que é Éter-Iska?

Éter-iska é um documento que possibilita


acordos financeiros definindo as ações
burocráticas de tal forma que os lados não
transgridam a proibição de cobrar ou pagar juros.

Nota: Aquele que faz éter iska deve entender


o seu significado, caso contrário ele não tem valor.
Tampouco deve escrever um documento de dívida

41
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

para o investidor pois, dessa forma, revela ser um


empréstimo normal, contudo, caso tiver que
escrever, deve acrescentar e explicar no
documento que é de acordo com o que foi
combinado no éter-iska. Outro ponto que vale
apontar é que somente quando a pessoa recebe
do investidor dinheiro para reinvestir e não para
uso próprio deve se apoiar no éter-iska, pois, em
um caso assim, pode ser que o éter-iska não tem
efeito. Confira mais detalhes sobre esse tema no
tópico ‘Entendendo o Éter-Iska’.

Temas Sobre Juros

Todo produto que é consumido tem o mesmo


status de dinheiro. Por exemplo, uma pessoa
empresta uma dúzia de ovos para o seu vizinho.
Os ovos emprestados serão consumidos e outros
ovos lhe serão devolvidos, assim como o dinheiro
do credor que será usado pelo devedor e outras
cédulas serão devolvidas em seu lugar. Portanto,
em todo empréstimo que envolve um produto de
consumo recai os títulos de credor e devedor; e a
proibição de juros.

42
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Não se pode emprestar um produto de


consumo que o seu preço oscila no mercado para
depois devolver outro igual, pois, pode ser que
após o empréstimo o preço suba e o devedor
devolva ao credor um valor maior do que lhe foi
emprestado. Para evitar esse problema eles
devem calcular o valor em dinheiro do produto
emprestado e devolver o valor em dinheiro. Caso
se trate de algo de pouco valor e as pessoas não
se importam com a oscilação do preço, então não
tem problema.

O Talmud ensina que, aquele que empresta


com juros, os seus bens desmoronam, inclusive
quando transgrede as proibições de juros
estabelecidas pelos Sábios e de forma
inconsciente. (Confira Tratado B”M 71a; Ketuvót
61b)

Já que o éter-iska somente tem valor quando


ambos os lados entendem o seu significado,
explicaremos o seu funcionamento em seguida.

43
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Entendendo o Éter-Iska (permissão para


negócios)

Uma pessoa que empresta para outra com a


condição que lhe devolva uma quantidade maior,
por exemplo, uma certa porcentagem sobre o valor
emprestado, é a definição básica de ‘juros’ o que
é proibido pela Torá, tanto emprestar como
receber.

A proibição de juros recai inclusive quando a


intenção do empréstimo é para um investimento
onde ambos lucrarão.

Encontramos também outro tipo de


negociação que infringe a proibição de juros de
forma mais discreta. Esse outro tipo de
negociação acontece quando uma pessoa investe
dinheiro com o seu companheiro para ele
reinvestir e eles dividirão entre eles os lucros e os
prejuízos. Esse caso é definido pelos sábios da
Torá como ‘iska’ (negociação).

Por certos motivos os grandes sábios viram a


necessidade de encontrar permissões de acordo
com a halachá (Lei da Torá) para que uma pessoa
possa investir dinheiro com outra e receber o seu

44
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

lucro sem incorrer a proibição de cobrar e pagar


juros. Assim surgiu o acordo de Éter-Iska.

O primeiro passo é transformar um


empréstimo normal em iská (negociação). Isto é,
fazer de tal forma que, conceitualmente, a
transição não seja considerada um empréstimo, e
sim, uma negociação tradicional (iská) onde a
metade da quantia é empréstimo e a metade é
depósito.

Para facilitar o entendimento do


funcionamento do éter-iska, chamaremos o
primeiro investidor, isto é, o que entregou o
dinheiro para o seu companheiro reinvestir de
‘INVESTIDOR’, e o que recebeu o dinheiro para
reinvestir de ‘EMPRESÁRIO’. Em seguida
iniciaremos a explicação.

Como citamos acima, também em um


investimento, quando o investidor entra com todo
o dinheiro e o empresário é responsável por
investir os fundos e o lucro é dividido ao meio
(iská) consideramos que a metade da quantia que
foi entregue pelo investidor ao empresário é
tecnicamente considerada ‘empréstimo’, pois
essa metade fica sob responsabilidade do

45
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

empresário, ele receberá de seus lucros ou


prejuízos. A outra metade da quantia é
considerada ‘depósito’, pois essa outra metade
fica sob responsabilidade do investidor, ele
receberá de seus lucros ou prejuízos.

Porém, o empresário é que se esforça para


reinvestir o capital, tanto a porção que está sob a
sua responsabilidade como a porção que está sob
a responsabilidade do investidor. Esse esforço que
faz para o investidor é somente pelo fato dele
haver lhe oferecido a outra metade como
empréstimo, dessa forma, o investidor está
recebendo benefícios (gratuitamente) por conta do
empréstimo que fez o que é considerado juros.

A solução para o problema é simples. Isto é,


o investidor deve estabelecer um pagamento pelo
trabalho do empresário em relação à sua porção.

Também é permitido condicionar no contrato


da negociação que o empresário somente terá
credibilidade em relação as perdas sobre o capital
investido quando trouxer duas testemunhas; e
somente terá credibilidade em relação à perda do
lucro através de juramento. Dessa forma, mesmo
quando não houver lucros, ou mesmo quando

46
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

perdeu através dos investimentos do próprio


capital investido, é permitido (e se compromete)
devolver para o investidor o dinheiro investido e
pagar também a parte do lucro como foi
previamente estabelecido sem incorrer a proibição
de juros (e evitando a perda do investidor).

Da mesma forma é permitido condicionar que


o empresário pode decidir a porcentagem dos
lucros que dará para o investidor e ficar com o
restante.

O texto do éter-iska inclui todos esses termos


e, dessa forma, permite investimentos entre as
partes sem que incorram a proibição de cobrar ou
pagar juros além de proteger o investidor de
possíveis perdas.

47
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Salvar e Ajudar a um Companheiro

Existe a mitsvá de salvar a uma pessoa que


se encontra em perigo ou sofrimento e não ficar
apático à situação.

Assim está escrito na Torá: “...não sejas


apático (em relação) ao sangue de seu
companheiro”, Rashi explica – Não veja a morte de
seu companheiro passivamente — quando você
possa salvá-lo de alguma maneira. A Torá ordena
a salvar uma pessoa que se encontra em perigo
de vida; “não ser apático” — esperando
passivamente a provável morte de seu
companheiro.

O mesmo em relação a seus pertences, isto


é, caso veja que o seu amigo está em perigo de
perde-los, existe a mitsvá de salvá-los e regressá-
los a ele.

48
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Ashavat-Aveidá (Devolver algo perdido ao


seu Dono)

Aquele que encontra algo que foi perdido pelo


seu dono e possui sinais de identificação, deve
cumprir com a mitsvá de ‘ashavát aveidá’ isto é,
devolver algo que foi perdido ao seu dono.

Assim está escrito na Torá (Devarim 22,1-3):


Não veja o boi de teu irmão ou o seu cordeiro
perdido e se oculte deles (como se não os visse),
os devolverás a teu irmão. Se teu irmão não se
encontra perto de ti ou não o conheceres (isto é,
não sabe quem os perdeu), recolherás a eles (o
boi e o cordeiro) em tua casa e deixarás contigo
até que o teu irmão reclame por eles e devolverás
a ele.

Quando a pessoa percebe pela forma do


objeto encontrado que ele foi colocado
(depositado) propositalmente pelo seu dono no
local, provavelmente ele colocou lá para depois
pegar de regresso, em um caso assim não se pode
mexer no objeto.

49
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Se alguém pode salvar o amigo de algum


dano, deve fazê-lo. Isso se enquadra no Preceito
de devolver algo perdido ao seu dono.

Somente trouxemos uma noção básica do


tema, em qualquer dúvida prática se deve
consultar uma autoridade rabínica confiável.

Justiça

O Ramban explica “A justiça pertence a D’us


e Ele designou a função de instituir a justiça aos
juízes. Aquele juiz que ao invés de cumprir com a
sua função, teme diante dos homens e modifica a
verdadeira justiça, é negligente em sua função. O
temor a Hashem deve estar à frente do temor aos
seres-humanos.

Um juiz não pode favorecer um dos lados no


julgamento; e com muito mais razão não aceitar
subornos, como está escrito: “Não aceites
suborno, pois o suborno cego os olhos dos sábios
e altera as palavras dos justos.” (Shemot 23,8)

A proibição de aceitar suborno recai sobre o


juiz inclusive quando a intenção dele é a de julgar

50
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

honestamente, ou seja, condenar o culpado e


isentar o inocente.

Tanto o juiz que aceita suborno como a


pessoa que o oferece, ambos transgredem uma
proibição da Torá.

O suborno não é somente através de


dinheiro, também através de ações, como, por
exemplo, aceitar favores.

Curiosidade: O Rei David Fazia Sentença e


Caridade

Está escrito na Torá: Não deem a qualquer


pessoa ‘proteção’ (isto é: melhor tratamento, mais
consideração) em um julgamento (...)”. (Devarim 1,
17)

O Talmud explica (San’hedrin 6b): “Um juiz


que deu a causa ao inocente e condenou o
culpado, ou seja, aplicou a justiça de forma
correta, e, após o término do julgamento, sabendo
que o culpado é uma pessoa pobre e não será fácil
para ele pagar, então, por iniciativa própria decide
ajuda-lo a pagar o que lhe foi decretado com o seu

51
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

próprio dinheiro, é considerado que fez sentença e


caridade!

Sobre isso alude o versículo que diz: “(...)


David fazia mishpat (sentença) e tsedaká
(caridade) a todo o seu povo.” (Shemuel II 8, 15),
isto é, quando julgava uma causa financeira e
condenava alguém em situação de necessitado,
após a sentença o ajudava a pagar o que lhe foi
decretado.

Assim ele fazia duplamente caridade: A


primeira o isentando de sua culpa fazendo com
que devolva algo que não lhe pertence ao seu
verdadeiro dono; e a segunda, o ajudando a pagar
a dívida.

Primeiro fazia uma sentença justa, e somente


depois, a caridade. Não misturava os temas.

Não podemos fazer de um julgamento a


caridade. Isto é, não se pode fazer caridade com o
necessitado às custas da verdadeira sentença.
Pois algo assim não é uma caridade de verdade, o
contrário, o mantém em situação de culpa e não
traz o conserto necessário para a criação.

52
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

“Não desvie a sentença do necessitado em


sua briga” (Shemot 23, 6-7)

Delator

Não se pode delatar um companheiro para


autoridades não judias, aquele que delata perde a
sua porção no Mundo Vindouro. Em casos
especiais ou de dúvidas é necessário consultar-se
com uma autoridade rabínica confiável para
receber orientação.

Agir Com Bom Senso e Além da Justiça

Devemos agir de forma correta e com o bom


senso. Assim está escrito na Torá (Devarim
12,28): Guarde e escute (para cumprir) a todas
essas palavras que Eu te ordeno para que seja
bom para ti e para teus filhos depois de ti para
sempre porquanto farás o que é bom e reto aos
olhos do Eterno, teu Deus.

O ser humano foi criado com inteligência e


senso comum, portanto eles devem ser utilizados.

53
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Além dos Preceitos específicos – todas as


pessoas devem agir corretamente e utilizar do
bom senso em todos os campos da vida – em
resumo, ser uma pessoa reta e boa.

O tema do bom senso compromete a


todos os seres humanos em seus assuntos
do dia-a-dia, por exemplo:

Relacionamento com os seus


semelhantes. Deve agir com o bom senso e ter
cuidado com suas ações e palavras para não
lhe causar sofrimento, mal-estar, suspeitas e
outros mal-entendidos (confira mais detalhes
sobre este tema no tópico sobre ‘Onaát
devarim’ - Opressão verbal).

Cuidar da saúde. Isso porque devemos


valorizar o maior presente que recebemos de
Deus – A vida. (Confira mais detalhes nos
tópicos ‘Saúde e Alimentação’ e ‘O Cuidado
com a Vida’)

Agradecer e pedir a Hashem. Consta no


Talmud (Tratado Brachót 35a) que as brachót
foram instituídas pelos sábios, isso porque o
pensamento lógico nos compromete. Ou seja,

54
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

o bom senso nos obriga a pedir permissão


para usufruir algo de Quem o criou, caso
contrário seria como se estivéssemos
roubando do Criador. Esse pensamento nos
compromete com a brachá anterior. Portanto,
ensina o Talmud que a pessoa não tem
permissão de tirar proveito de um alimento
antes de recitar a brachá; e com ainda mais
razão, devemos agradecer após comer e nos
satisfazer.

A pesar de não ser proibido tomar bebidas


alcóolicas e ingerir comidas que não são
saudáveis, cada um deve se preocupar de usar o
bom senso e ter a responsabilidade de não beber
uma quantidade que afete a sua consciência ao
ponto de perder o controle de suas ações, já que
a falta de consciência é a origem de várias
transgressões e de não se alimentar de forma que
prejudicará a sua própria saúde.

Também dirigir um automóvel com


responsabilidade, respeitar as leis de trânsito e
não arriscar a vida dos demais e a própria vida, e
assim por diante, em todos os temas e ações que
a pessoa realizar deve aplicar esse princípio.

55
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Usando do bom senso no dia-a-dia, é


possível transformar cada ação de nossa vida,
independentemente de ser ou não um Preceito
explícito, em Vontade de Hashem.

Inclusive existe o Preceito de agir além da


justiça, ou seja, aplicar o bem além da justiça.
Assim está escrito na Torá (Shemot 18,20): “E os
farás saber (...) como deverão agir (...)”; também
está escrito (Devarim 12,28): Guarda e escute
(para cumprir) a todas essas palavras que Eu te
ordeno para que seja bom para ti e para teus filhos
depois de ti para sempre porquanto farás o que é
bom e reto aos olhos do Eterno, teu Deus.

Agressão

É uma proibição da Torá agredir a outra


pessoa fisicamente. Todo aquele que levanta a
mão para agredir ao próximo é nominado ‘rashá’
(perverso).

“Devemos aprender da conduta de Aharon (irmão


de Moshe) amar a paz e persegui-la” (Baseado
em Ética dos Pais 1, 14)

56
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Assim como existe agressão física, existe


também agressão verbal, o que é nominado ‘onaát
devarim’ (opressão verbal).

Onaát devarim (Opressão verbal)

Definição sobre opressão verbal:

Não causar qualquer tipo de sofrimento ao


semelhante através de palavras ou ações.

O Shulcha Aruch (Ch”m 228) escreve: Assim


com existe a proibição de opressão financeira,
existe também a opressão de palavras.

Está escrito na Torá (Vaikrá 25,17): Não


oprimireis uma pessoa ao seu companheiro e
temerás a Teu Deus. Neste versículo a Torá
adverte sobre opressão de palavras (como consta
no Talmud, Tratado B”B 58b, com Rashi).

A pessoa que oprime o companheiro através


de palavras pode se auto justificar e dizer que não
teve a intenção de oprimi-lo, portanto, a Torá
escreve “Não oprimireis.... e temerás ao Eterno”,
pois Hashem sabe das intenções da pessoa.

57
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Nota: Em muitas situações os adultos se


esquecem de tomar cuidado de envergonhar os
filhos ou outras crianças e causar a eles sofrimento
através de palavras, portanto, é necessário tomar
um cuidado especial para não os oprimir.

Se deve ter um cuidado especial de não


causar sofrimento a esposa através das palavras.
Está escrito no Talmud (Tratado B”M 59a): Uma
vez que as lágrimas dela são frequentes a
cobrança e o castigo sobre o marido recai
rapidamente.

Nota: A brachá (bênção) chega à casa da


pessoa pelo mérito da mulher, portanto disseram
os sábios: O marido deve estar sempre se
preocupando pela honra de sua esposa.

Se deve ter um cuidado especial em não


causar sofrimentos através de palavras em
pessoas que são mais sensíveis ou que estão em
uma posição delicada ou sofrida. Entre elas se
encontram os órfãos e os imigrantes. Cada um de
acordo com a sua situação.

Também em relação a um converso se deve


ter um cuidado especial, pois, além da proibição

58
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

de opressão que recai em relação a todas as


pessoas em geral, existe uma proibição extra de
não oprimir um converso (Shemot 22,20, confira
Shulchan Aruch, CH”M 228,2).

Perguntas e Respostas Sobre Opressão Verbal

Uma pessoa que não deseja comprar um


objeto poderia perguntar ao vendedor o preço
dele?

R: Aquele que age assim transgrede a


proibição de opressão verbal. A pessoa pode se
justificar e dizer: - “Pode ser que eu compre esse
objeto”, sobre isso está dizendo que Hashem sabe
de suas intenções. Porém, se no momento ele não
pode adquirir o objeto por falta de dinheiro, mas
pensa em comprar mais adiante quando tiver
meios, é permitido perguntar.

Haveria problema em elogiar uma pessoa de


forma exagerada?

R: Aquele que elogia o amigo de forma


exagerada transgrede o Preceito de opressão
verbal, pois deixa a impressão que está

59
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

ridicularizando a ele e que, de fato, está querendo


dizer o contrário.

Aquele que aponta um defeito ou algo feio no


corpo de um colega transgrede a proibição de
opressão verbal.

Outros exemplos de opressão verbal:


Lembrar a uma pessoa das transgressões que
infringiu no passado, dizer a uma pessoa que
passa por sofrimentos que é por causa de seus
pecados, pois quando fala desses temas causa
sofrimento a ela.

Se deve tomar cuidado também em não


causar moléstia desnecessária a uma pessoa, não
passar trotes telefônicos, acordar a outra pessoa
sem um motivo que justifica, atrapalhar uma
pessoa que deseja dormir, furar fila, assustar a
uma pessoa, fumar ao lado de alguém que lhe
moleste, perguntar algo para uma pessoa quando
tem consciência de que ela não sabe responder e
não falar ou agir de forma que cause sofrimento ao
companheiro.

60
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Expressões faciais e gestos

Uma pessoa também transgrede a proibição


de opressão verbal através de expressões faciais,
sinais e gestos, sempre que possui intenção de
causar desprezo, deboche, dor ou sofrimento a
seu companheiro.

Apelidos

É proibido colocar apelido em uma pessoa.

Consta na Ética dos Pais que aquele que


coloca um apelido em seu amigo perde o seu
mundo vindouro.

Por que é tão grave colocar apelido em uma


pessoa?

Um apelido pode fazer a pessoa perder a sua


autoconfiança e reprimi-la, além de envergonhá-la.

Certa pessoa me relatou que ‘não se


importava’ que a chamassem por um apelido
(pejorativo) que um de seus amigos lhe colocou.
Porém, todos os dias antes de dormir, ficava

61
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

chorando horas em seu travesseiro. Pobre dele, e


mais ainda, daquele que o colocou apelido.

Quando alguém coloca apelido pejorativo em


seu companheiro deve saber que está agindo
como o seu maior inimigo. Um pequeno apelido
gera grandes consequências. Não é à toa que a
Ética dos Pais se expressa de forma tão severa
em relação a esse tema.

Mesmo quando o amigo já se acostumou e


não se importa com o apelido, se a intenção é
desprezível não se pode usar o apelido inclusive
quando todos o chamam assim.

Nota: Quando o apelido é carinhoso e que a


pessoa não se importa com ele, não tem problema.

“Uma pessoa que chama o seu colega por um


nome ruim (shem rá) por algo que ele não fez, ou
o despreza por isso, então, essa pessoa também
será culpada por coisas que ela não fez, isto é,
recebe sobre ela os pecados desse colega.”
(Zohar com comentários)

62
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Envergonhar a uma pessoa (Albanat


panim)

Está escrito na Torá (Vaikrá 19,17):


“Reprenderás o teu companheiro e não carregarás
sobre ti o pecado”. Os sábios explicam: Mesmo
quando tiver que repreender um companheiro,
preocupe-se em fazê-lo de forma correta, isto é,
sem envergonhá-lo, para que não carregue sobre
ti o pecado.

A vergonha causa um grande sofrimento,


portanto a Torá nos proíbe envergonhar a uma
pessoa (Chinuch, Mitsvá 240); esse sofrimento é
mais amargo do que o sofrimento da morte
(Rabeinu Yona). Sendo assim, envergonhar a uma
pessoa em público, em certo aspecto, é
comparado pelos nossos sábios com o
assassinato.

Assim eles se expressam: “É preferível atirar-


se em um forno ardente a envergonhar uma
pessoa em público”. (Aprendemos de Tamar – que
estava disposta a ser lançada ao fogo para não
envergonhar Yehuda em público, Sotá 10b).

63
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Quem envergonha o seu companheiro em


público (mesmo que adquiriu muitos méritos
através do estudo da Torá e de boas ações) não
receberá uma porção no Mundo Vindouro (isto é,
caso não se arrependa de forma correta)” – Pirkei
Avót cap.3.

Tema Sobre Envergonhar a uma Pessoa

Como entender que envergonhar a uma


pessoa em público pode ser mais grave que matá-
la? Se perguntássemos a qualquer pessoa: “O que
você preferiria – ser morta ou ser envergonhada
em público?”; com certeza todos responderiam
que prefeririam ser envergonhadas, pois a
vergonha passará e ela continuará vivendo.
Portanto como poderia ser mais grave?

O Rambam (Mishnayot San’hedrin cap.10)


explica – com certeza o ato de matar é mais grave
do que o ato de envergonhar. Porém ao
envergonhar o seu companheiro em público — a
pessoa está simplesmente revelando que possui
um espírito de nível muito baixo; um espírito que
não está propício para o Mundo Vindouro. Em
seguida entenderemos este conceito de forma
mais profunda.

64
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Ao envergonhar o seu companheiro em


público, a pessoa está desprezando de forma
máxima o Semblante do Criador que se encontra
nele. Não está valorizando o Semblante de Deus.
Da mesma maneira ele será julgado — ou seja —
através de sua avaliação estabelecerá o valor de
seu próprio Semblante no Mundo Vindouro. Uma
vez que ele desprezou de forma máxima – não
valorizando em absoluto o Semblante de seu
companheiro – também o seu Semblante não terá
nenhum valor; já que o Semblante do Divino é
quem proporciona a existência eterna da pessoa,
logo, ele não terá existência no Mundo Vindouro.

“Quem é considerada uma pessoa honrada?


Quem honra o seu companheiro; como está
escrito ...todos os que Me honrarem Eu os
honrarei...” (Pirkei Avót cap.4).

Para provar que uma pessoa honrada é quem


honra o seu companheiro, trouxeram – na Ética
dos Pais – uma fonte onde Deus está anunciando
“todos os que Me honrarem...” — qual é a relação
entre honrar o companheiro e honrar a Deus. De
acordo com o princípio citado acima — a conexão
é clara – honrando o seu companheiro, a pessoa
está valorizando o Semblante de Deus que se
65
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

encontra nele; da mesma forma ela será julgada,


ou seja, através de sua avaliação ela está
valorizando o seu próprio Semblante; portanto ela
realmente é uma pessoa honrada, em essência.

Devolver ofensa

Quando uma pessoa ofende a outra e ela


devolve a ofensa, não é considerado que essa
segunda pessoa transgrediu a proibição de
opressão verbal, pois é natural que ela fique
afetada no momento que foi ofendida e tem a
permissão de se proteger, portanto, Deus não
exige que ela fique calada nesse momento.
Contudo, ao passar a situação, não se pode vingar
e ofender a quem a ofendeu.

Existe um nível de conduta mais elevado e


propício: Mesmo quando é ofendido, escutar as
ofensas e responde-las calmamente, diminuindo
assim o sentimento de raiva que pode ser
acendido.

66
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Todavia existe um nível de conduta ainda


mais elevado: Superar-se no momento da ofensa
e não responder em absoluto. Sobre esse grupo
seleto de pessoas disseram os sábios (Tratado de
Shabat 88b): Aqueles que são ofendidos e não
ofendem, escutam a ofensa e não respondem,
sobre eles está escrito (no Livro de Shoftim 5, 31)
“Os seus amados são como o sol no momento em
que ele sai com (toda) a sua força”.

Feliz é a pessoa que escuta uma ofensa e se


cala, ou seja, não se envolve em brigas, através
de seu silêncio, livrou-se de 1000 males (Talmud).
Consta na Ética dos Pais: “Não encontrei nada
melhor para o meu corpo do que o silêncio!”

Retificação e Confissão

Cada um deve se preocupar em estar sempre


limpo (sem pecados) diante de Hashem.

Consta na Ética dos Pais: Retifique-se


(arrependa-se das transgressões e volte o seu
coração ao Criador) um dia antes de deixar a este

67
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

mundo. Isto é, inclusive no último dia de vida.


Porém, como não sabemos quando esse dia
chegará, devemos estar limpos e voltar nossos
corações a Ele a cada dia.

Cheshbon Há’nefesh (Refletir Sobre as Ações)

A pessoa deve analisar diariamente as suas


ações e avalia-las através dos valores da
consciência. Quando encontrar algo que a
aproxima de Hashem, fazê-lo. Quando encontrar
algo que o afasta de Hashem, deixa-lo. Quem faz
essa análise é considerado que age para Hashem
todos os dias. Sobre isso diz a Ética dos Pais: Que
todos os teus afazeres sejam em Nome de
Hashem (le’Shem Shamaim).

Nota: Confira no livro ‘Jejuns e dias de luto’


sobre as confissões aconselhadas para pessoas
enfermas ou em estado final e outros temas sobre
a confissão e o arrependimento. Confira também
sobre o tema no livro ‘Leis do dia-a-dia’, tópico
‘Conduta ao Dormir’ e ‘Confissão ‘Noturna’; e no
livro ‘Yamim Noaraím (Rosh Há’shaná, Yom
Kipur)’ sobre o processo de teshuvá (retificação)
no tópico ‘O Processo de Teshuvá’.

68
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Julgar o Semelhante para o Bem

Consta na Ética dos Pais (2,5): “Não julgue


uma pessoa até que você se encontre em seu
lugar, isto é, em sua situação.”

Quando vemos certa pessoa se comportar de


forma que não nos agrada, devemos ter em mente
que não sabemos realmente o que levou a ela se
comportar dessa forma. Isto é, não sabemos o que
ocorreu com ela antes de ter se comportado dessa
maneira, tampouco de seu estado emocional e da
situação em que ela se encontrava. Portanto, uma
pessoa não é apta para julgar as demais. Pois,
como alguém pode saber todos os fatores que
levaram determinada pessoa a agir da maneira
que ela agiu?

De toda forma, para que a pessoa não venha


a julgar o seu semelhante para o mal, a Torá
orienta: “Julgue para o bem”. a pessoa deve ter o
cuidado de não se deixar levar pelos pensamentos
espontâneos e interpretar as ações de seus
companheiros de forma negativa. O contrário.
Contudo, essa obrigação (de julgá-la para o bem)
recai somente em relação as pessoas que em
geral são boas e se conduzem de forma correta.
69
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Não guardar rancor e ódio no coração

Está escrito na Torá (Vaikrá 19,18): Não se


vingarás e não guardarás rancor (ódio) contra um
integrante de teu povo.

Repreender

Está escrito na Torá (Vaikrá 19,17): “Não


odiarás o teu irmão em teu coração, repreenderás
o teu companheiro e não carregarás sobre ti o
pecado”.

Existe o Preceito de repreender um


companheiro e alertá-lo de seu mal
comportamento ou de seus caminhos errados,
porém, a repreensão deve ser efetuada de forma
correta e com o cuidado de não o envergonhar,
como citamos acima.

70
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Não Agir de Forma Suspeita

Não se pode agir de forma suspeita. Por


exemplo, aquele que é responsável de cuidar do
dinheiro de caridade, deve fazê-lo de forma que
não gere nas pessoas suspeitas, isto é, não deixar
margem para que pensem que ele não está sendo
honesto em suas ações.

Assim está escrito na Torá (Bamidbar 32,22):


“Sejam limpos perante Deus e perante Israel”, ou
seja, é necessário que a pessoa aja de forma que
os demais não pensem que ela está transgredindo
uma das Leis da Torá.

Outras Proibições Através da Fala

Cuidar da boca

Uma pessoa não deve sujar a boca com


palavras feias (‘nivul pé’).

71
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Consta no Zohar (Tikunim, 141a) que a


transgressão de pronunciar palavras sujas causa
com que o tempo de vida da pessoa diminua.

O Chidá (Tsiporen Shamir, 178 e 179)


acrescenta: Aquele que danifica a sua boca com
palavras sujas, danifica a sua alma, e, inclusive
se foi decretado para ele viver 70 anos com uma
boa vida, se transforma para o mal; além de
causar com que ela se impurifique, que a sua
vida seja julgada e que a sua reza não seja
escutada por 40 dias. A própria Torá alongou em
suas palavras para evitar de escrever palavras
menos louváveis, isso para ensinar que a pessoa
evite, o quanto puder, de pronunciar palavras
sujas.

Não se pode maldizer um companheiro,


tampouco envergonhá-lo, falar mal dele ou causar
qualquer sofrimento através da fala ou das ações.
O contrário! Deve amá-lo, ajuda-lo e evitar que
chegue a ele qualquer tipo de dano.

Confira sobre o tema da Lashon há’rá (más-


línguas) e (Rechilut) fofoca no livro ‘Cuide de Suas
Palavras’ - Lashon Há’rá (Más Línguas), Rechilut
(Fofoca) e o Hebraico'; e confira mais adiante

72
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

sobre outros temas relacionados ao cuidado de


como se expressar.

Promessas e Juramentos

Não se deve fazer promessas ou juramentos


sempre que não seja extremamente necessário;
isso pelo fato de ser muito grave falhar no
cumprimento desses temas.

No momento que a pessoa jura ou promete


está convencida de que cumprirá o que disse,
porém, na prática, nem sempre consegue ou se
lembra de fazê-lo. Mesmo quando se lebre e
cumpre, nem sempre é exatamente como
prometeu ou jurou, portanto, a pessoa não se deve
jurar ou prometer quando não seja obrigada.

Resumo Sobre as Leis de Promessas e


Juramentos

A pessoa deve ter um grande cuidado em não


usar os termos “Eu juro” ou “Eu prometo”.

73
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Deve se afastar de juramentos e não se


acostumar com promessas, inclusive quando se
trata de tsedaká (doações), isto é, mesmo quando
se compromete com alguma causa de tsedaká
deve dizer ‘bli-néder’ – isto é, ‘sem promessa’.

Em momentos de perigo, porém, pode se


comprometer através de promessas, e, com
certeza, não deixar de cumpri-la ao sair da
situação de perigo.

Simplesmente o fato de uma pessoa dizer


que fará alguma mitsvá já é considerado
promessa, portanto, é bom se acostumar a dizer
‘bli-neder’.

Contudo, quando a pessoa deseja estudar


Torá ou fazer alguma mitsvá e, a pesar de estar
decidido, teme a possibilidade de não fazê-lo por
motivos de preguiça ou por outra dificuldade
qualquer, então, nesse caso, pode se
comprometer com promessas para lhe estimular a
não deixar de cumprir a mitsvá e se preocupar em
não transgredir a promessa que fez. Mesmo
nesses casos, a pessoa deve fazê-lo com cuidado.

74
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Caso uma promessa seja feita por engano,


por exemplo, a pessoa pensou em se
comprometer com algo e, por engano, disse algo
diferente, a promessa não recai sobre ela.

Aquele que se acostumou em agir com mais


prudência ou com restrições em certo tema, caso
ela agiu assim por três vezes, ou inclusive uma
única vez quando a sua intenção era de continuar
agindo dessa forma, e não disse ‘bli-néder’ (sem
promessa), caso ela deseje parar, deve fazer
hatarát-nedarim (anulação de promessas).

Como se faz hatarat nedarim?

Deve pedir para três pessoas que cumprem


as Leis da Torá, sendo necessário que pelo menos
uma delas seja entendida dessas Leis, dizerem
para ele que a promessa está anulada. Tem casos
que esse processo não é suficiente, portanto, em
caso de necessidade é necessário consultar uma
autoridade rabínica confiável.

75
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Lifnei Iver – Diante do Cego (Não Colocar


Obstáculo)

É proibido colocar obstáculos diante de um


cego, que inclui dar um conselho desfavorável ou
ajudar alguém a concretizar uma transgressão, por
exemplo – não convencer, estimular, ensinar ou
enviar um emissário para realizar algo que é
proibido.

Assim está escrito na Torá (Vaikrá 19,14):


“Não colocarás um obstáculo diante do cego, e
reverenciarás a teu Deus, Eu Sou o Eterno.”
Os sábios explicam que cego significa
alguém que não tem conhecimento de um tema,
então, quando lhe oferece um mal conselho ou lhe
ajuda a transgredir alguma Lei da Torá a pessoa
transgrede essa proibição.

76
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Roubo

Está escrito na Torá (Vaikrá 19,11): “Não


furtareis, não negueis (algo enganosamente) e
não mentireis (....)”

Tanto o roubo de dinheiro (ou outros


pertences) como o sequestro (‘roubo de pessoas’)
são proibidos. Mesmo quando se trata de uma
quantia insignificante – é totalmente proibido
roubar.

Não se pode roubar mesmo quando se tem a


intenção de devolver, inclusive quando o faz de
brincadeira.

Aquele que já transgrediu e roubou, recai


sobre ele o Preceito de devolver o que foi roubado.
Quando não é possível regressar o próprio objeto
roubado, deve, então, devolver o valor do objeto
em dinheiro. Se a pessoa roubada já faleceu, o
objeto (ou o valor) deve ser devolvido a seus
descendentes.

Assim está escrito na Torá (Vaikrá 5,23):


“Devolverás o que roubou (...) ou o objeto perdido
que achou.”

77
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Aquele que roubou o público ou dinheiro


público a retificação é complicada, pois, como
poderá devolver a cada um o que roubou?
Portanto, essa pessoa deve fazer benefício
público para que chegue proveito àqueles que
foram roubados. De toda forma a retificação não é
completa.

Não se pode usar algo de outra pessoa sem


a sua permissão prévia. Caso ela não se importe
que usem, então não há problema.

Nota 1: Em relação àquele que não se


preocupa em pagar em dia o salário de um
funcionário ou por um serviço prestado; atrasar o
pagamento pelo aluguel de um carro, apartamento
ou qualquer outro utensílio; ou reter em suas mãos
qualquer quantia de dinheiro ou utensílio após
chegar o momento de entregá-lo ao seu legítimo
dono, confira mais adiante no tópico ‘Aluguel e
Serviços’.

Nota 2: Em uma discussão monetária,


quando duas pessoas não chegam a um acordo
elas devem procurar solucionar o problema
através de um tribunal rabínico e devem respeitar
o veredito – e não fazer cada um como bem lhe

78
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

parecer – ‘a justiça com as próprias mãos’. Todos


os casos judiciais entre duas pessoas estão
incluídos no Preceito de não roubar. Confira mais
detalhes sobre esse tema no tópico ‘Comércio e
Trabalho’.

Curiosidade: Também é considerado roubo


um ladrão que rouba de outro ladrão.

Não se pode comprar um objeto roubado de


um ladrão, pois, dessa forma, o ajuda e o estimula
a cometer novos furtos – transgredindo o Preceito
de não roubar.

Roubo à nível de consciência (Guezel daat)

Uma pessoa que foi visitar um parente no


hospital e se encontra casualmente com um amigo
que estava internado e diz que foi lá para visita-lo
é ‘guezel daat’ (roubo à nível de consciência) pois
ele deseja receber créditos gerando nesse amigo
uma impressão enganosa.

Nota: Se essa pessoa não tinha nenhuma


intenção de enganar o seu amigo, somente que o
amigo pensou por si só que ela foi lá visita-lo,

79
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

então, nesse caso não tem problema, e não


necessita explicar que não foi lá para visita-lo
(inclusive poderá frustrá-lo).

Uma pessoa não pode convidar um


companheiro para algo que ela já sabe que ele
negará, sem que, de fato, possua a vontade real
de que ele aceite o convite. Isso é ‘guezel daat’.

Aluguel e Serviços

Uma pessoa que aluga um objeto não pode


emprestá-lo ou aluga-lo para outra pessoa sem a
permissão do dono.

É um Preceito pagar por um serviço no


período combinado. Aquele que paga em dia,
cumpre três Preceitos da Torá:

1. Pagar em dia pelo serviço: “No dia lhe


pagarás (Devariam 24,15)”;

2. Não atrasar o pagamento: “Não pernoitarás


(Vaikrá 19,13)”;

80
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

3. Não segurar dinheiro de seu companheiro


em suas mãos: “Não explorarás (lesarás;
trapacearás) (íbid.)”.

O mesmo em relação ao aluguel, isto é, quem


paga em dia cumpre e quem não paga transgrede.

Nota: Portanto, no momento que paga uma


dívida, por uma viagem de taxi ou por outro serviço
qualquer deve ter em mente que, além de estar
pagando pelos serviços ou dívidas, está
cumprindo Preceitos da Torá.

Se uma pessoa combinou de pagar por certo


serviço, o pagamento deve ser realizado no
mesmo período do dia que o serviço foi concluído.
Por exemplo: Se o serviço foi concluído de dia,
então o pagamento deve ser efetuado durante o
período do dia; e se o serviço foi concluído de
noite, o pagamento deve ser efetuado durante o
período da noite.

O mesmo em relação a acordos de


pagamentos semanais ou mensais. Por exemplo:
Se o serviço semanal ou mensal termina de noite,
o pagamento deve ser realizado no período dessa
mesma noite.

81
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Se o empregador e o empregado
combinaram um esquema diferente de pagamento
entre eles, então o período do pagamento deve ser
de acordo com o combinado.

Nota: Caso a pessoa não tenha dinheiro para


pagar nesse período ou se o trabalhador não
cobrou pelo serviço, então a pessoa não
transgrede as Leis da Torá, de toda forma é
correto que se preocupe em não tardar o
pagamento de forma alguma, inclusive quando
seja necessário pegar empréstimos para este fim.

O trabalhador não pode roubar tempo de


trabalho e é necessário que se empenhe com todo
o seu potencial. Portanto, não é permitido aceitar
um trabalho em momento que não possui força
para realiza-lo de forma propícia.

Causar danos

Não é permitido causar danos aos bens de


seu companheiro mesmo quando tenha a intenção
de repor os danos.

82
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Não se pode causar danos ao companheiro


inclusive quando a intenção é a de salvar-se de um
prejuízo próprio.

Não se pode colocar obstáculo em terreno


público ou em locais que podem causar danos a
outras pessoas. Por exemplo, lançar pedaços de
vidro na calçada ou pregos em locais onde passam
carros ou deixar buracos abertos nas areias da
praia.

Regra geral relacionada a causar danos a


vizinhança: É proibido fazer qualquer ação,
inclusive em sua própria propriedade, e com mais
razão em um local público, que possa gerar danos
aos vizinhos ou as outras pessoas que circulam
pelo local. Somente se existe uma concepção
geral na localidade em relação a certo tema ou
situação, então, nessas condições, é considerado
que existe uma permissão mútua entre os
moradores da vizinhança para agir dessa forma.

83
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Não fazer algo repugnante (Bal’teshkêtsu)

Não se pode comer algo que seja


repugnante.

Da mesma forma, não se pode usar utensílios


que lhe causem asco ou comer com as mãos
sujas, tudo isso se enquadra na proibição de bal
teshakêtsu (não fazer algo repugnante).

Cobiça e Desejo

Está escrito na Torá (Devarim 5,17): “Não


desejarás a casa de teu companheiro, o seu
campo, etc... e tudo o que seja dele.” Em outro
versículo a Torá alerta sobre a cobiça (Shemot
20,13): “Não cobiçarás a casa de teu
companheiro, a sua esposa, etc... e tudo o que
seja dele.”

Qual é a diferença entre a proibição de


desejar e a de cobiçar?

Todo aquele que deseja adquirir a casa,


utensílios ou qualquer coisa de seu companheiro

84
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

e tenta convencê-lo a vender (contra a vontade


dele) até adquirir o que lhe era desejado,
transgrede a proibição de não cobiçar.

Contudo, a partir do momento que pensou


como adquirir o objeto desejado, transgrediu a
proibição de não desejar.

Portanto, são duas proibições: Não desejar e


não cobiçar.

Nota: Tudo isso quando já sabe que o seu


companheiro não está disposto a vender, porém,
oferecer uma proposta de compra não tem
problema.

85
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Casamento

Está escrito na Torá: “Não é bom para o


homem estar sozinho (...)”

"D'us os abençoou (o primeiro homem e sua


mulher) e os chamou de 'Homem'. Somente os
dois juntos são chamados de 'Homem', pois cada
um em separado está incompleto." (Midrash Rabá,
Bereshit, 17:2)

Nota: Em determinadas situações ou em


casos de extrema necessidade quando os
cônjuges decidem que já não tem mais como
continuar o casamento, existe também o Preceito
do divórcio, ou seja, é necessário realizar o
divórcio de acordo com as Leis da Torá, como está
escrito (Devarim 24,1): “Escreverá para ela uma
carta de divórcio e a dará em sua mão e a enviará
de sua casa.”

As Leis do divórcio são complexas, portanto,


em caso de necessidade é necessário consultar-
se com uma autoridade rabínica confiável e perita
nesse tema.

86
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Curisidade: A Hupá

Se deve fazer uma hupá bonita em honra da


Presença Divina que paira sobre ela no momento
do casamento. Fazendo uma hupá aqui embaixo
(no mundo físico) se convida a Presença do
Divino, pois, a hupá é como uma réplica do
Santuário Superior onde se revela a Presença de
Hashem (Baseado em Zohar).

Casamento – uma nova ‘página’ na vida

Está escrito no Talmud (Ievamot 63b) que, ao


se casar, as transgressões da pessoa são
‘ocultadas’ (perdoadas).

Ao entrar no matrimônio, a pessoa está


cumprindo a vontade do Criador e mantendo o
objetivo da criação. Como consequência, as
transgressões são absolvidas (Rashi segundo os
comentários do Prisha em Even Haezer 1:6).

Podemos entender isso também de outra


forma. Antes do casamento, a pessoa era somente
uma metade, porém, através desse
acontecimento, ela se completa. Seria como uma

87
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

nova criação, uma vida em outro prisma e em outro


nível. Enfim, um novo começo.

Nesse momento, existe a oportunidade de


começar uma nova ‘página’ na vida, portanto é
aconselhável que antes do casamento os noivos
se arrependam de suas transgressões e imerjam-
se nas águas da micvê.

Outros motivos pelos quais os noivos são


perdoados no dia do casamento:

Para iniciar uma vida com pureza e não


levarem com eles os pecados do passado.

Para trazer Shalom Bait (paz no lar, isto é,


entre os cônjuges) pois, caso aconteça algo ruim
para o casal, um cônjuge não pense que é por
culpa do outro, pois ambos foram perdoados.

A alegria do casamento no Povo de Israel


realizado de acordo com a Torá é especial, pois
simboliza uma vida de recato e proximidade a
Hashem.

A santidade do Povo de Israel é um princípio


em sua essência e se expressa através do recato
de sua conduta.

88
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Ketuvá

No momento da hupá o noivo entrega a noiva


a ketuvá.

O que é a ketuvá?

Ketuvá é o documento através do qual o


noivo se compromete com suas obrigações de
marido para com a sua nova esposa, como supri-
la com comida, roupas e satisfazê-la. Também se
compromete com uma quantia de dinheiro caso se
divorciem.

É necessário cuidar da ketuvá. Se a mulher


perde ou não sabe onde colocou a sua ketuvá, o
casal não pode permanecer juntos até que se
escreva uma nova ketuvá. Para isso é necessário
consultar-se com um rabino de confiança.

Existe a obrigação de casar-se e frutificar-se.


Esse Preceito recai sobre os homens a partir dos
dezoito anos de idade. Aquele que, por algum
motivo, não está preparado para casar-se com
essa idade, de toda forma, não deve demorar
demasiadamente para cumprir esse Preceito.

89
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Procriar-se

Está escrito na Torá: “Frutifiquem-se e


procriem-se” (Bereshit 9, 7).

Existe o Preceito de procriar-se. Após o


nascimento de pelo menos um filho e uma filha a
pessoa cumpre esse Preceito.

Nota: Não se pode evitar o nascimento de


filhos através de artifícios sem antes consultar
uma autoridade rabínica confiável. Mesmo em
situações que seja permitido evitar o nascimento
de filhos, se deve saber que nem todos os
métodos são permitidos. Por exemplo, existe
métodos que evitam através do aborto, como a
pílula do dia seguinte, e isso é muito grave; e
métodos que causam desperdício de sêmen, o
que também incorre em uma grave transgressão.

O Dia do Casamento

No dia do casamento o noivo e a noiva são


perdoados de todas as suas transgressões (como
já foi explicado acima). Portanto eles devem se
purificar nesse dia, analisar as suas ações,
arrepender-se das transgressões, pedir perdão e

90
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

expiação a D’us e colocar ênfase em uma visão de


vida elevada para construção de uma casa de Torá
e mitsvót.

Nota: Inclusive, entre os que seguem o


costume ashkenazi, existe o costume do noivo e
da noiva jejuarem no dia do casamento. Se a hupá
for muito tarde, os noivos que costumam jejuar,
podem comer um pouco logo após anoitecer (após
tset há’kochavim). Nos dias que não se recita
tachanun existe opiniões que os noivos não jejuam
no dia do casamento.

Os Ashkenazim costumam fazer a hupá em


Céu aberto em alusão a brachá que o Povo de
Israel será como as estrelas do Céu.

Os sete primeiros dias do casamento são dias


de alegria para o noivo e a noiva e se realiza
shéva-berachót (literalmente: Sete bênçãos). Ou
seja, refeição festiva e no final se recita sete
berachót. Somente se recita as sete brachót na
íntegra quando há pelo menos um convidado que
não esteve presente nas refeições anteriores e
outros detalhes que podem ser verificados no
Shulchan Aruch (Even Haezer 62,4-12). Nota:
Quando ambos, o noivo e a noiva, são divorciados

91
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

ou viúvos, as Leis são diferentes e se deve


consultar um rabino confiável.

Pequenas Dicas Sobre o Casamento

O casamento completa a pessoa. A mulher e


o homem são duas metades que, ao se casar,
completam-se. As pessoas, em muitos casos,
pensam mais nos seus próprios prazeres e, ao
invés de pensarem em casamento, pensam em
adiar ao máximo esse “infortúnio”. Visão
totalmente equivocada. Assim diz a Ética dos Pais:
“Com dezoito anos na hupá!” Porém, quem
realmente está preparado?

Como se preparar para casar? A pessoa deve


se acostumar em aprimorar-se em suas
características e valores, portanto, deve ler e
estudar livros de Torá e frequentar aulas.

Uma pessoa pode pensar em não casar para


“aproveitar” mais a vida, porém, ela não sabe que
o potencial de aproveitamento da vida vem através
do casamento, no qual, ela se completa e se
potencializa.

92
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

O casamento deve ser respeitoso, e não


seguir como dois solteiros que vivem juntos. Em
alguns casos, mesmo estando casados, os
cônjuges optam em seguir como duas partes
separadas; eles devem pensar em como satisfazer
um ao outro ao invés de pensar como se aproveitar
um do outro.

Quando um cônjuge se preocupa com o bem


do outro, e traçam um objetivo de crescimento
espiritual nessa união, também a Luz Divina
participa desse lar e paira sobre ambos. Juntos
crescerão com respeito e amor e a vida se encherá
de satisfação e prazer em essência.

A pessoa deve se preocupar em casar-se


com alguém que se encontre em um mesmo
enfoque de vida e um nível espiritual compatível.

O homem deve se preocupar e cuidar da


honra de sua esposa. Isso lhe trará brachá
(bênção), pois, a brachá se encontra na casa da
pessoa unicamente em mérito da esposa. Assim
os sábios ensinam: “Honrem a esposa de vocês
para que vocês enriqueçam.”

93
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Bal-Tashchit (Desperdício)

Não se pode fazer perder sem motivo algo


que possui utilidade.

Está escrito na Torá (Devarim 20,19):


“Quando sitiares uma cidade por muitos dias para
lutar por ela e conquista-la, não destruirás o seu
arvoredo batendo nele com machado, pois dele
comerás e não cortarás...”

A Torá adverte para não destruir árvores


frutíferas, contudo, toda ação de desperdício se
enquadra nessa proibição.

Por exemplo: Não desperdiçar comida, jogar


fora roupas ou objetos que, todavia, podem ser
aproveitados por outras pessoas. Ao invés de
jogá-los fora a pessoa pode doá-los. Contudo, o
bom senso deve ser ativado, por exemplo, não é
necessário começar a guardar roupas velhas ou
rasgadas que provavelmente ninguém desejará
vesti-las.

Nota: Não é necessário comer algo contra a


vontade para não ter que jogar fora, pois, o

94
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

cuidado com o corpo e a saúde prevalece sobre o


desperdício de comida.

Também é necessário prestar atenção com o


dinheiro e com os pertences de forma que não se
perca ou estrague por falta de cuidado.

Saúde e Alimentação

Cuidar da Saúde

O bom senso nos compromete a cuidar da


saúde. Isso porque devemos valorizar o maior
presente que recebemos de Deus: A vida.

Além do mais, o Rambam escreve que o


corpo é o instrumento de servir a Hashem, se
o corpo não está saudável a pessoa não tem
força para entender a sabedoria Divina e servi-Lo
de forma propícia, portanto, além de ser uma
obrigação, o cuidado com a saúde é necessário
para o cumprimento da Vontade de Hashem.

A vida é a oportunidade de conquistar


benefícios eternos. Uma pessoa que não

95
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

demonstra em sua conduta um certo nível de


cuidado com a saúde está desprezando a vida.
Para esse tema existe uma mitsvá a parte. A
mitsvá de cuidar da saúde.

Por exemplo, fomos ordenados a retirar


qualquer obstáculo de nossa casa que possa
nos causar perigo de vida, como traremos em
seguida.

Da mesma forma devemos preocupar-nos


com a alimentação e com uma conduta
saudável para mantermos o corpo em bom
funcionamento.

A maioria das doenças vêm à pessoa como


consequência de alimentos não saudáveis ou por
excesso de alimento, inclusive quando são
saudáveis. Sobre isso alude o Rei Salomão:

“O que cuida de sua boca e de sua língua,


protege a sua alma dos sofrimentos.”

Isto é: Aquele que cuida de sua boca, de não


comer comidas que são ruins para o corpo, e de
sua língua, ou seja, de falar somente o que é
necessário, dessa forma, protege a sua alma dos
sofrimentos.
96
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Nota: Confira mais detalhes sobre a


obrigação de cuidar da saúde no livro ‘Kidush
Hashem’.

O cuidado com a vida

Uma pessoa não se deve colocar em perigo


de vida. Inclusive, é de sua obrigação retirar
qualquer obstáculo que possa lhe causar perigo.

Está escrito na Torá (Devarim 22,8): “Não


coloque sangue (isto é, culpa de sangue) em sua
casa.

Maakê (Muro de Proteção)

A Torá nos ordenou a construir uma proteção


no terraço de nossas casas para evitar uma
possível queda (o muro de proteção deve possuir
pelo menos 10 tefachim, isto é, aproximadamente
um metro). Esse muro deve ser suficientemente
forte ao ponto de não cair quando alguém se apoia
nele.

97
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Quando o terraço da casa não é usado por


pessoas então não recai a obrigação de cerca-lo
com um muro.

Esta Lei inclui colocar grades de proteção nas


janelas de um apartamento onde moram ou
visitam crianças; também a preocupação de retirar
qualquer outro obstáculo que possa pôr a vida de
alguém em perigo (Confira Shulchan Aruch Ch”m
427).

Da mesma forma não se pode deixar um poço


ou um buraco aberto; tampouco criar em casa um
animal perigoso. Não se pode deixar escadas
frágeis em sua propriedade. Aqueles que possuem
piscina em casa, deve estar protegida de crianças.

98
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Situações que é necessário transgredir a


Torá para viver

Uma pessoa deve se preocupar por sua vida.

Está escrito na Torá (Vaikrá 18, 5): “Viva com


eles (com os Preceitos da Torá)”

Este versículo ensina que uma situação de


risco de vida refuta o cumprimento do shabat e das
outras mitsvót (Talmud , Yoma 85b)

Curiosidade: Outros ensinamentos contidos


no versículo “Viva com eles (com os Preceitos)”:

O Ramban explica “viva com eles”, pois, as


Leis foram dadas também para a vida do ser
humano, isto é, para manter a ordem social e a
paz.

O Rashi explica “Viva com eles”, isto é, viva


com os Preceitos da Torá para que você viva para
eternidade. O versículo alude a vida eterna no
Mundo Vindouro, pois, se a referência é este
mundo, no final termina.

O Talmud ensina que caso uma pessoa seja


mordida por um cachorro contaminado pela raiva,

99
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

para se curar e salvar a sua vida, deve comer o


fígado desse mesmo cachorro (apesar de não ser
casher), inclusive no Shabat (quando não é
permitido matar um animal) e até mesmo em Yom
Kipur (dia de jejum), já que essa é a forma de curá-
la (Tratado de Yoma folha 84 - Mishná). Em casos
de vida ou morte, a Torá nos orienta a transgredir
essas leis.

A partir desse Preceito, aprendemos que uma


pessoa não necessita entregar a vida para cumprir
um Preceito da Torá. Inclusive, é necessário
transgredi-los para não colocar uma vida em risco
ou para salvar uma vida (baseado em Tratado de
Avodá Zará 27b, Rosh 17). Contudo, existe
exceções.

Em três ocasiões uma pessoa deve entregar


a própria vida para não transgredir um
mandamento da Torá.
a. Assassinato. Ou seja, para não assassinar
outra pessoa;
b. Idolatria. Ou seja, quando exigem dele
praticar idolatria;
c. Relações ilícitas.

100
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

São três ocasiões genéricas, porém, em


situações específicas, a obrigação de entregar a
vida também se expande para os demais
Preceitos, por exemplo, quando a pessoa se
encontra em público ou em épocas de decreto
contra o cumprimento da Torá.

Nota: Confira mais detalhes sobre o cuidado


com a vida; sobre Leis, situações e condições que
isentam ou obrigam o cumprimento do Preceito de
entregar a vida para santificar o Nome de Hashem
no livro ‘Kidush Hashem’.

Suicídio

O suicídio é proibido. Assim está escrito na


Torá: “O sangue de suas almas requererei...”
(Bereshit 9, 5); Assim disse Deus: Embora Eu
tenha permitido tirar a vida de um animal — “o
sangue de suas almas”, ou seja, de quem tirar a
própria vida — “requererei” (Rashi; ver Ramban).

O Rambam compara o suicídio com o


assassinato – a alma da própria pessoa foi

101
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

colocada no mundo pelo Criador e ela não tem o


direito de tirá-la deste mundo.

Nota: Fonte sobre o assassinato - Está


escrito na Torá: “Quem derramar o sangue de um
homem, (também) pelo homem o seu sangue será
derramado, pois o homem foi criado com a
Imagem de D’us” (Bereshit 9, 6); e a Torá retorna
a escrever nos Dez Mandamentos: “Não
assassinarás” (Shemot 20, 13).

Honrar os Pais, Sábios e Cohanim

A pesar de ser necessário honrar a cada ser-


humano, existe certas pessoas que a Torá requer
uma honra maior.

Honrar os Pais
É um Preceito Positivo da Torá, isto é, do tipo
‘faça’, honrar o pai e a mãe e reverenciá-los.

Está escrito na Torá: “Honre o teu pai e a tua


mãe.” E em outra passagem: “Reverencie a tua
mãe e o teu pai.”

102
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Confira sobre os temas e as Leis


relacionadas ao preceito de honrar os pais no livro
‘Idolatria e Honrar os Pais’.

Honrar os Sábios da Torá e os Idosos

Existe o Preceito de honrar o rabino que lhe


ensina Torá e os sábios da Torá. Nota: Desprezá-
los ou odiá-los consiste em uma grande
transgressão.

Se deve prestar honra a um idoso e levantar-


se em sua presença.

Está escrito na Torá (Vaikrá 19,32): “Levanta-


te diante de um idoso e honrarás a presença de
um sábio.”

Para que idoso devemos nos levantar?

R: Duas condições para recair a obrigação de


levantar-se em sua presença:

1. A partir de 70 anos de idade;

2. Que não seja uma pessoa que transgrede


a Torá de forma pública.

103
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Está escrito na Ética dos Pais (1,4):


“Transforme a tua casa em um local de reunião de
Sábios” – Além de aprender de suas ações, de
seus caminhos e sabedoria, a presença deles
também trarão boas influências e bons fluidos ao
lar.

A Ética dos Pais continua: “Se junte ao pó de


seus pés (dos Sábios)”. Isto é, aquele que se
comporta humildemente diante dos Sábios, no
final crescerá e se transformará ele mesmo em um
Sábio.

A Ética dos Pais complementa o


ensinamento: “Escute sedentamente as palavras
deles (dos Sábios)”. Ou seja, mesmo quando a
pessoa está acostumada em conviver com os
Sábios, não deve desprezar as suas palavras, e
sim, procurar apreciá-las como se fosse a primeira
vez que estivesse escutando – Como aquela
pessoa sedenta que aprecia a água como se
nunca houvesse tomado. Assim, ela sempre
estará se aprimorando e revelando novos
ensinamentos.

Podemos extrair uma outra lição dessas


palavras: Devemos desejar aprender os

104
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

ensinamentos dos estudiosos da Torá da mesma


forma a qual uma pessoa sedenta toma água; e
não como uma pessoa satisfeita – ‘de barriga
cheia’ - que, para alguém já satisfeito, inclusive
saborosos alimentos são repugnantes. (Baseado
na Ética dos Pais 1, 4: “Tome com sede os seus
ensinamentos”; Bartenura)

Somente estudando os conceitos da Torá


podemos captar um pouco mais de seu valor. Ao
perceber o seu valor, a pessoa se despertará para
adquirir ainda mais a Sua sabedoria. Então,
poderá cumprir o ensinamento que trouxemos
acima “Escute com sede as palavras dos Sábios.”
Pois, ao perceber o valor do estudo da Torá,
despertará na pessoa a consciência da sede de
sua alma em absorver de Sua sabedoria.

Um mestre deve honrar os seus discípulos, e


ainda mais os seus amigos (os outros sábios).
Imaginem então o quanto uma pessoa deve honrar
os seus mestres que lhe ensinam a verdadeira
sabedoria. (Baseado em Ética dos Pais 4, 12).

105
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Honrar a um Cohen

É necessário anteceder um Cohen a outra


pessoa para todo tema de santidade. Por exemplo:

- Ele deve sempre ser o primeiro a ser


chamado para a leitura da Torá.

- Quando algumas pessoas estão para falar


em público e dentre elas se encontra um Cohen,
ele deve ser o primeiro a ser chamado.

- Dar a ele a preferência de recitar o Zimun


(do Brikat Há’mazôn).

- Servir a ele comida antes dos demais.

Nota: Caso não se encontra um Cohen, o


Levi antecede a Israel, contudo, caso se encontre
uma pessoa mais sábia de Torá ela tem
preferência antes do Cohen e do Levi.

Apesar de ser permitido doar o dízimo (10%


dos lucros) para qualquer necessitado, de todas
formas, a prioridade é oferece-lo àqueles que se
ocupam com o estudo de Torá e parentes
próximos.

106
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Está escrito no Shulchan Aruch (Y”D 251, 9):


“Quando se encontram dois necessitados em
situação parecida, deve dar preferência ao Cohen,
depois ao Levi, depois ao Israel (...) porém, se
algum deles for estudioso de Torá (Talmid
Chacham) ele tem preferência aos demais (...)”

Confira mais detalhes sobre o tema da


tsedaká no tópico ‘Tsedaká (Caridade)’.

107
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Leis relacionadas ao Cohen

Um cohen não pode se impurificar com


mortos, portanto, não pode entrar ou permanecer
em um recinto que se encontra o corpo de um
falecido, inclusive de um feto (a partir do 41º dia da
fecundação).

O sangue de um morto ou um membro


arrancado de uma pessoa que está em vida, tanto
do próprio cohen como de outra pessoa, também
se enquadra nessa proibição.

Também não pode entrar em um cemitério ou


se aproximar quatro amót (aproximadamente dois
metros) de um túmulo ou de um cadáver, exceto
no enterro de seus pais, esposa, filhos e irmãos.
Contudo, irmãos (e irmãs) somente por parte do
pai e irmã somente quando é solteira.

Um Cohen não pode entrar ou permanecer


em um prédio onde se encontra um morto. Caso
ele escute que alguém faleceu em seu prédio,
deve fechar as portas e as janelas do apartamento
até que o cadáver seja retirado de lá.

Tampouco, não pode entrar em um recinto


onde se encontra um moribundo, pois pode ser
108
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

que faleça quando o Cohen estiver lá. Portanto,


um Cohen não deve entrar em um hospital quando
não é obrigado.

Um cohen não pode casar-se com uma


mulher divorciada. Também existe outras
restrições. Portanto, na prática, se deve consultar
um rabino confiável.

109
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Outros Livros do Autor


Série Desvendando o Judaísmo
Saiba o que Responder
Temas fundamentais do judaísmo organizados de forma didática e
atrativa para organizar o entendimento, a transmissão e esclarecer
os mal-entendidos em relação aos temas básicos da Torá que
surgiram ao longo da históra.
Decisões entre Vidas e Vidas
Essa obra trata sobre temas relacionados a Suicídio, assassinato e
a vida. Cuidar da vida ou faze-la perder. Contém um estudo
profundo sobre o tema de salvar ou não a uma vida através de
casos impressionantes.
Pequenas Lições – Grandes Valores (3 Volumes)
Pequenos ensinamentos a partir da Ética dos Pais, a base da ética
judaica. Essa obra possibilita que cada um leve consigo uma
pequena lição para ser utilizada em qualquer momento e ocasião.
Coleção Israel (2 Volumes)
1. Israel o Florescimento
Olhando Para Israel e Vivenciando as Profecias
“17 Profecias que se Realizaram Recentemente e as Profecias que
Estão Para se Realizar”- O cenário que conhecemos atualmente
não é casual. É a realização de profecias milenares. Nesta obra
traremos profecias que constam na Torá e nas escrituras há
milhares de anos. Qualquer um poderá constatar e admirar.
2. Israel – A Terra Prometida
O Segredo Sobre o Conflito Árabe-Judeu e as Profecias - Entenda
a importância da Terra de Israel e a sua íntima relação com o Povo
de Israel de forma profunda. O livro traz profecias sobre o conflito
árabe-judeu que se realizaram e que toda via estão para se realizar.

110
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

Sociedade (Não) Ltda.


Méritos Ilimitados numa Sociedade que Investe na Torá
Sobre o Esquema Issachar e Zevulun, como funciona e a sua
importância. Também trata do tema da tsedaká - Saiba como
investir melhor a tsedaká segundo a orientação da Torá.
O que é a Conversão?
Visão da Torá e Temas relacionados à Conversão ao Judaísmo
Conversos e Conversão à Luz da Torá
A visão da Torá sobre os conversos e a conversão ao judaísmo
Um entendimento mais profundo sobre o tema das conversões.
Coleção Cartas Iluminadas (5 Volumes)
Perguntas e Respostas sobre Temas Relacionados aos Bnei Noach
- Diversos temas de questões práticas e ética.
A coleção é composta por cinco livros:
Livro 1: Sobre temas relacionados ao aprimoramento pessoal e
negócios; 2: Sobre temas relacionados à idolatria, bruxaria, rezas
e pedras; 3: Sobre temas relacionados ao relacionamento com
idólatras, ateus e hereges; 4: Sobre temas relacionados às Leis e
regras para os Bnei Noach; 5: Sobre temas diversificados:
Cristãos-novos, conversão, casamento, pesadelos, vida após a
morte e filosofia

Série Revelando o Oculto - De acordo com a visão da Torá


O Mistico (3 Volumes)
Entendimento sobre temas místicos e ocultos a partir da visão de
nossos sábios do Talmud e da parte oculta da Torá. Informações
claras e profundas tudo com a sua respectiva fonte das escrituras
tradicionais judaica.

Os Escritos de Bilam – Balaão – O Feiticeiro


Esta obra explica os feitos de Bilam, o maior feiticeiro da história;
como ele adquiriu e acessava a bruxaria. Ele, junto com Balak, o

111
Relacionamento Interpessoal – Conduta e Leis

rei de Moav, usaram de todos os artifícios e magias para


exterminar o Povo de Israel, contudo, Hashem não permitiu.
"Lembre o que sugeriu Balak, rei de Moav, e o que respondeu a
ele Bilam" (Michá 6, 5).
Os Bruxos Estão Mortos
A Realidade Das Forças Satânicas - Incrível episódio baseado em
casos reais que envolverá o leitor em um encanto de conhecimento
místico. A obra foi escrita de forma dinâmica, com informações e
sabedoria que podem ser desenvolvidas durante todo o percurso
da história. Mexerá fortemente com a emoção do leitor.
Coleção ‘O Encanto do Pincel’ (2 volumes)
1. A Influência das Cores e o Poder das Pedras
“O significado espiritual das cores e a sua influência em nosso
mundo físico”
2. O Criador e a Criação – Uma Obra de Arte
“A conexão do mundo espiritual em nosso mundo físico através
do pintor, do pincel e de uma tela!”
O Livro de Yona
O Livro do Profeta Jonas traduzido e explicado de forma filosófica
e mística, fazendo um paralelo entre a história do Profeta, a vida
após a morte e a reencarnação e outros.
Vontade de Viver
Uma Reflexão Profunda e Emocionante Sobre a Vida. Essa obra
traz um grande estimulo para fazer o leitor refletir, vivenciar e se
elevar em momentos difíceis da vida.

E Quando a Justiça Falha.... A Perfeição da Providência Divina


A Visão da Justiça Baseada em Ensinamentos do Talmud.
Trataremos de mostrar como a justiça e a verdade são temas
centrais para a existência da criação.

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