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Cid Ferreira Gomes

Governador do Estado do Ceará

João Carlos de Araújo Gurgel - Cel BM


Comandante Geral do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará

Cleyton Bastos Bezerra - TCel BM


Coordenador Estadual de Defesa Civil

SUPERVISÃO GERAL
Aluizio Souza Freitas - Cap BM

ORGANIZAÇÃO/CONTEÚDO
Aluizio Souza Freitas - Cap BM
Francisco Paiva Junior - Sgt BM
Pedro Ananias Gomes Catanho - St BM

REVISÃO
Aluizio Souza Freitas - Cap BM
Francisco Paiva Junior - Sgt BM

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO


Francisco Paiva Junior - Sgt BM

APOIO
Governo do Estado do Ceará
Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará - CBMCE
Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE
Prefeitura Municipal de Amontada
Prefeitura Municipal de Baturité
Prefeitura Municipal de Brejo Santo
Prefeitura Municipal de Camocim
Prefeitura Municipal de Canindé
Prefeitura Municipal de Crateús
Prefeitura Municipal de Icó
Prefeitura Municipal de Iguatu
Prefeitura Municipal de Jaguaribe
Prefeitura Municipal de Juazeiro do Norte
Prefeitura Municipal de Limoeiro do Norte
Prefeitura Municipal de Sobral
Prefeitura Municipal de Tianguá
Prefeitura Municipal de Quixeramobim
AGRADECIMENTO ESPECIAL

Ao longo dos últimos quatro anos a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do Ceará (CEDEC-CE)
tem desenvolvido projetos diversos na área de Proteção e Defesa Civil. Alguns deles só foram
possíveis com a ajuda de órgãos da administração pública federal, tais como a Secretaria Nacional
de Proteção e Defesa Civil (SEDEC) e a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
(SUDENE). Reservamos este espaço para enaltecer e dedicar um agradecimento especial à
SUDENE, que com seu apoio incomensurável tem aprovado nossos projetos de fortalecimento e
difusão da cultura de proteção e defesa civil no Ceará.
O primeiro projeto executado em convênio com a SUDENE, no ano de 2010, contemplou a
especialização de 25 (vinte e cinco) profissionais da CEDEC em Gestão de Desastres, a capacitação
de 80 (oitenta) agentes da CEDEC e do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará na área de
comportamento biopsicossocial em casos de emergência e a aquisição de equipamentos de
tecnologia da informação.
O segundo projeto conveniado com a SUDENE, ora em fase de execução, contempla a capacitação
de 525 (quinhentos e vinte e cinco) agentes de proteção e defesa civil, a realização do I Fórum
Internacional de Evidências Sísmicas no Ceará e a aquisição de equipamentos de tecnologia da
informação para as unidades da CEDEC.
Esperamos manter parcerias com instituições comprometidas com a gestão de risco de desastres no
Brasil, como a SUDENE, colaborando para o aumento da resiliência e destaque do nosso País na
execução de boas práticas de proteção e defesa civil.

Cleyton Bastos Bezerra – TCel BM


Coordenador Estadual de Defesa Civil do Ceará
APRESENTAÇÃO

Esse material é fruto do trabalho e dedicação dos profissionais que compõem a


Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do Ceará (CEDEC-CE) e tem o objetivo de agregar
boas práticas e conhecimentos diversos sobre gestão de riscos de desastres para que você,
agente de proteção e defesa civil, possa desempenhar suas atividades com técnica mais
apurada, abnegação e motivação necessárias para construirmos juntos um estado mais
preparado para os eventos adversos que enfrentamos.

O conteúdo foi organizado com o que há de mais atual em nossa literatura e legislação,
oportunizando a apropriação do conhecimento contemporâneo necessário para atuar em
todas as fases da gestão de risco de desastres. Buscamos acrescentar ao conteúdo o
conhecimento e experiências práticas para que o participante desta capacitação tenha uma
visão holística do cenário nacional e compreenda a importância de fazer parte de um
sistema cujo objetivo principal é salvaguardar o bem mais precioso que temos, a vida; bem
como preservar o patrimônio que construímos e nossas relações com o meio ambiente para
dele desfrutarmos junto com nossas famílias e as próximas gerações.

O curso está dividido em 03 (três) módulos: I - Conhecimentos Gerais sobre Defesa Civil, II -
Gestão de Risco de Desastres e III - Gestão de Desastres. Essa divisão foi adotada com fins
didáticos para facilitar o entendimento da Gestão de Risco de Desastres, que é um processo
contínuo, em constante mudança e que envolve todas as temáticas relacionadas à proteção
e à defesa civil.

Ao final de sua participação no curso você estará apto a aplicar as experiências e


conhecimentos adquiridos, bem como socializá-los junto aos demais integrantes do seu
órgão de proteção e defesa civil, criando uma rede de agentes habilitados a executar ações
locais de gestão de risco de desastres, como o planejamento e execução de atividades
comunitárias de preparação para desastres, avaliação de danos, resposta a desastres,
captação e gestão de recursos.

Esperamos que você tenha o melhor aproveitamento possível nesta capacitação pois ela foi
preparada para atender às suas necessidades. Agradecemos sua participação e
compromisso ao tempo em que desejamos um excelente curso!

Aluizio Souza Freitas – Cap BM


Gerente de Minimização de Desastres da CEDEC-CE
INTRODUÇÃO

A Defesa Civil do Ceará, desde 2006, está organizada em forma de Sistema, o Sistema
Estadual de Defesa Civil (SEDC), que é formado pelo Conselho Estadual de Defesa Civil,
pela Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (CEDEC), pelas 11 (onze) Regionais de
Defesa Civil (REDECs) e pelas 184 (cento e oitenta e quatro) Coordenadorias Municipais de
Defesa Civil (COMDECs), sendo a CEDEC e as REDECs parte da estrutura do Corpo de
Bombeiros Militar do Estado do Ceará (CBMCE). A implementação de um serviço de
qualidade no campo das ações de Defesa Civil em nível estadual, regional e municipal
enfrenta dificuldades no tocante à capacitação dos agentes desses órgãos, especialmente
em períodos de início de gestão administrativa municipal.

O Estado do Ceará tem sofrido uma série de desastres naturais relacionados principalmente
ao excesso ou à escassez de precipitações pluviométricas. No ano de 2009, 134 (cento e
trinta e quatro) municípios do Estado decretaram situação de emergência em decorrência de
inundações ou enxurradas (dados da CEDEC). Já nos anos de 2010 e 2011 foram
vivenciados quadros de estiagem e distribuição irregular de chuvas; situação que se agravou
no anos de 2012, 2013 e 2014, quando 176 municípios do Estado tiveram situação de
emergência declarada após um severo quadro de seca, que comprometeu a safra agrícola,
a recarga das reservas hídricas e o abastecimento d'água potável da população residente
em áreas mais vulneráveis.

Tais eventos vivenciados se configuram como desastres para os quais todo o Sistema
Estadual de Defesa Civil (SEDC) deve estar melhor preparado de forma a minimizar seus
danos e prejuízos. Desse modo, justifica-se a necessidade de capacitar os integrantes dos
órgãos municipais de proteção e defesa civil (COMDECs) com a finalidade de otimizar a
implementação das ações preventivas locais, além de prepará-los para responder aos
desastres de modo rápido e eficaz..
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO DO CURSO ...........................................................................................7

MÓDULO I – CONHECIMENTOS GERAIS SOBRE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL

Unidade 1 - Normas Internacionais e a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil ........10


Unidade 2 - O Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil ..............................................26
Unidade 3 - Estudo dos Desastres ......................................................................................36
Unidade 4 - Implantação e Operacionalização de uma COMDEC ......................................54

MÓDULO II – GESTÃO DE RISCO DE DESASTRES

Unidade 5 - Mobilização Social em Defesa Civil ..................................................................62


Unidade 6 - Comunicação em Defesa Civil..........................................................................75
Unidade 7 - Governabilidade para a Redução do Risco de Desastres ................................87
Unidade 8 - Ferramentas para Identificação e Redução do Risco de Desastres ................91
Unidade 9 - Gestão de Risco Urbano para Construção de Cidades Resilientes .................98
Unidade 10 - Planejamento da Recuperação Prévia Pós-desastre .....................................109

MÓDULO III – GESTÃO DE DESASTRES

Unidade 11 - Administração de Abrigos Provisórios ............................................................120


Unidade 12 - Planos de Contingência e Planos de Ação ....................................................136
Unidade 13 - Notificação, Avaliação de Danos e Declaração de Situação Anormal ...........141
Unidade 14 - Solicitação de Recursos Financeiros para Defesa Civil .................................151
Unidade 15 - Sistema de Comando de Operações – SCO ..................................................155

ANEXOS ..............................................................................................................................
Lei nº 12.608, de 10 de abril de 2012............................................................................166
Lei nº 12.340, de 1º de dezembro de 2010 ...................................................................173
Decreto nº 7.257, de 04 de agosto de 2012 ..................................................................179
Portaria nº 607, de 18 de agosto de 2011 .....................................................................186

REFERÊNCIAS ...................................................................................................................192
APRESENTAÇÃO DO CURSO

1- FINALIDADE DO CURSO

Proporcionar aos participantes os conhecimentos necessários para atuar nas diversas fases
(prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação) que compõem a gestão de
riscos de desastres, tornando-os aptos a aplicar e replicar o conhecimento adquirido, criando
uma rede estadual de agentes capacitados em proteção e defesa civil.

2- OBJETIVOS DE DESEMPENHO DO CURSO

Ao final do curso, mediante os conhecimentos adquiridos, os agentes de Proteção e Defesa


Civil serão capazes de:
 Compreender o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil e o seu papel enquanto
integrante do sistema;
 Promover ações de mobilização social, comunicação e uso de ferramentas de gestão
de risco de desastres; e,
 Gerenciar ações de resposta e recuperação de cenários de desastre.

3- PÚBLICO ALVO

Agentes (coordenadores, técnicos, assessores) municipais e regionais de proteção e defesa


civil do Ceará.

4- METODOLOGIA DE ENSINO

A metodologia aplicada no curso é expositiva por meio de recursos multimídia, buscando a


interação entre instrutor e capacitando por meio da troca de experiências. O curso tem a
duração de 40 horas-aula distribuídas em cinco dias corridos.

5- CONCLUSÃO DO CURSO

Estarão aptos a receber o certificado de conclusão os participantes que tiverem assiduidade


e pontualidade no curso, assim como 100% de participação nas atividades.

6- AVALIAÇÃO DO CURSO

Ao final, os participantes deverão realizar a avaliação do curso por meio de formulário


específico.
CONTEÚDO PROGRAMATICO
CARGA
DISCIPLINA
HORÁRIA
MÓDULO I – CONHECIMENTOS GERAIS SOBRE DEFESA CIVIL
1. Normas Internacionais e a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil 02 h /a
2. O Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil 02 h /a
3. Estudo dos Desastres 04 h / a
4. Implantação e Operacionalização de uma COMDEC 02 h /a
MÓDULO II – GESTÃO DE RISCO DE DESASTRES
5. Mobilização Social em Defesa Civil 02 h /a
6. Comunicação em Defesa Civil 01 h /a
7. Governabilidade para a Redução do Risco de Desastres 01 h /a
8. Ferramentas para Identificação e Redução do Risco de Desastres 02 h / a
9. Gestão de Risco Urbano para Construção de Cidades Resilientes 02 h / a
10. Planejamento da Recuperação Prévia Pós-desastre 02 h/ a
MÓDULO III – GESTÃO DE DESASTRES
11. Administração de Abrigos Provisórios 02 h / a
12. Planos de Contingência e Planos de Ação 04 h /a
13 Notificação, Avaliação de Danos e Declaração de Situação Anormal 07 h /a
14. Solicitação de Recursos Financeiros para Defesa Civil 02 h /a
15. Sistema de Comando de Operações - SCO 05 h /a
TOTAL GERAL: 40 h /a
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UNIDADE 1

NORMAS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL

1- ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA DEFESA CIVIL

.1- Defesa Civil no Mundo

As primeiras ações, estruturas e estratégias de proteção e


segurança dirigidas à população, tanto no Brasil como também no
resto do mundo, foram realizadas nos países envolvidos na Segunda
Fonte: http://en.wikipedia.org

Guerra Mundial.

O primeiro país a preocupar-se com a segurança de sua população


foi a Inglaterra que instituiu a CIVIL DEFENSE (Defesa Civil) após os
ataques sofridos entre 1940 e 1941, quando foram lançadas milhares
de bombas sobre as principais cidades e centros industriais ingleses,
causando milhares de perdas de vida na população civil.

1.2- Convenção de Genebra de 1949 – Protocolo de Genebra

A defesa civil reflete o esforço realizado


pelo Direito Internacional Humanitário (DIH)
para atenuar perdas, danos e sofrimentos
ocasionados na população civil pela
dramática evolução dos meios e métodos
Fonte: http://www.icrc.org

de combate. Esse esforço consolidou-se no


quadro do Protocolo Adicional I, de 1977, às
Convenções de Genebra de 1949
(Protocolo de Genebra) relativo às
precauções que deviam ser tomadas para
proteger a população civil contra os efeitos dos ataques.

Na IV Convenção de Genebra de 1949, relativa à proteção devida às pessoas civis em


tempo de guerra, já se concedia aos organismos de defesa civil e a seu pessoal, bem como
às Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho o direito de
prosseguir suas atividades sob a ocupação estrangeira. No Protocolo, a proteção oferecida a
essas organizações abarcava todas as situações de conflito armado internacional. Era
garantida a proteção no desempenho das tarefas de defesa civil e previsto um emblema
distintivo que permitia identificá-los. Apesar de o Protocolo Adicional II de 1977 das

10
Convenções de Genebra de 1949 não fazer referência direta aos organismos de defesa civil,
as normas relativas à defesa civil também deviam ser respeitadas em conflitos armados não
internacionais, em virtude da proteção geral de que gozava a população civil contra os
perigos procedentes de operações militares. A defesa civil era, de fato, um componente
essencial a essa proteção.

1.2.1- Quais são as tarefas da defesa civil?

No DIH, a definição de defesa civil baseia-se


mais no critério de funções desempenhadas do
que nas estruturas que desempenham essas
funções. A expressão “PROTEÇÃO CIVIL”
designa a execução de todas as tarefas
Fonte:http://www.icrc.org

humanitárias, ou de algumas delas, a seguir


mencionadas e destinadas a proteger a
população civil contra os perigos de hostilidades
ou catástrofes e a ajudá-la a ultrapassar os
seus efeitos imediatos, bem como assegurar-
lhe as condições necessárias à sua sobrevivência.

Essas tarefas são as seguintes:

 Serviço de alerta;

 Evacuação;

 Disponibilização e organização de abrigos;

 Salvamento;

 Serviços sanitários, incluindo primeiros socorros e assistência religiosa;

 Luta contra incêndios;

 Localização e sinalização de zonas perigosas;

 Descontaminação e outras medidas de proteção análogas;

 Alojamento e abastecimentos de urgência;

 Ajuda, em caso de urgência, para o restabelecimento e manutenção


da ordem nas zonas sinistradas;

 Restabelecimento de urgência dos serviços de utilidade pública


indispensáveis;

 Serviços funerários de urgência;

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 Ajuda para a salvaguarda dos bens essenciais à sobrevivência;

 Atividades complementares necessárias ao cumprimento de qualquer


uma das tarefas acima mencionadas, compreendendo a planificação e
organização, embora não se limitando a isso.

Já a expressão “organismos de proteção civil” designa os estabelecimentos e outras


unidades organizadas ou autorizadas pelas autoridades competentes para realizar qualquer
uma das tarefas mencionadas e que estão diretamente ligadas a uma dessas tarefas.

O termo “pessoal” dos organismos de proteção civil designa as pessoas que são
responsáveis pelo cumprimento das tarefas enumeradas, incluindo o pessoal destacado
exclusivamente para a administração desses organismos e o termo “material” dos
organismos de proteção civil designa o equipamento, aprovisionamentos e meios de
transporte que esses organismos utilizam para realizarem as tarefas.

1.2.2- Quem participava na defesa civil?

Os organismos de defesa civil criados por um Estado, seu pessoal, ou civis, que respondam
ao chamado do Estado para desempenhar, sob seu controle, tarefas de defesa civil são
regidos pelas disposições do Protocolo de Genebra. Estes estarão protegidos desde que
estejam exclusivamente dedicados a qualquer das tarefas humanitárias citadas, mesmo que
sua dedicação seja temporária. Essa proteção completa o regime geral de proteção da
população civil prevista no art. 51 do Protocolo de Genebra segundo o qual as pessoas civis
não serão objeto de ataque.

Os membros das forças armadas e de unidades militares também podem desempenhar


tarefas de defesa civil, mas somente se beneficiarão da proteção se estiverem designados
de modo permanente e exclusivo ao desempenho dessas tarefas.

Os profissionais que atuam nas ações de defesa civil devem ser identificados por um
emblema distintivo internacional da defesa civil previsto no Protocolo de Genebra e que
consiste em um triângulo equilátero azul sobre fundo quadrado de cor laranja (art. 66 e
Anexo I, cap.V). Esse emblema somente servirá para identificar as organizações civis de
proteção civil, seu pessoal, edifícios e material exclusivamente dedicado ao cumprimento de
tarefas humanitárias, assim como os abrigos destinados à população civil. Com o
consentimento do Estado, poderá ser utilizado o emblema distintivo para identificar esses
serviços em tempo de paz.

Os edifícios e os materiais utilizados para fins de defesa civil e os abrigos destinados à


população civil não podem ser destruídos nem usados para outros fins, salvo pela parte a
que pertençam.

12
1.3- 1ª Conferência Mundial sobre a Redução dos Desastres Naturais

São cada vez maiores os efeitos dos desastres

Fonte:umaincertaantropologia.org
naturais. É possível evitar perdas de vidas, lesões e
catástrofes econômicas devido aos desastres. Mitigar
as consequências dos desastres naturais deve ser um
dos objetivos dos planos nacionais de
desenvolvimento.

Esta é a sustentação da Estratégia e Plano de Ação de


Yokohama, obra coletiva dos 155 países e territórios que participaram da Conferência
Mundial sobre a Redução dos Desastres Naturais celebrada em Yokohama, Japão, em
1994; quando agrupamentos nacionais, regionais e internacionais analisaram medidas
destinadas a reduzir as consequências dos desastres no mundo atual e os meios
apropriados para criar a vontade de trabalhar com empenho e em longo prazo para a
redução dos desastres.

Na Conferência examinou-se o que a comunidade científica e técnica, os governos


nacionais, os organismos regionais e as organizações internacionais estavam fazendo para
prevenir e mitigar os desastres ou para preparar-se com antecedência. Tanto a avaliação
para a metade da década como as orientações para o porvir foram recapituladas na
Estratégia e Plano de Ação de Yokohama.

Recaiu sobre cada país a responsabilidade primordial de proteger a sua população dos
efeitos dos desastres naturais. Os países que o desejassem poderiam incluir em seus
planos de desenvolvimento a Estratégia e Plano de Ação de Yokohama e dedicar recursos e
energia para sua aplicação nos planos nacional e local.

A cooperação regional é indispensável para a difusão da “cultura mundial de prevenção”


mencionada na Estratégia de Yokohama; países vizinhos confrontados com riscos análogos
necessitam pontos de encontro e instituições para intercambiar experiências. Para que se
tenha êxito, são decisivas atuações regionais endereçadas para adotar e por em prática a
Estratégia e o Plano de Ação de Yokohama.

A comunidade internacional tem a obrigação de apoiar os países com os meios necessários


para confrontar os desastres. Incumbe aos organismos internacionais, em especial aos que
exercem influência sobre grandes setores da sociedade, entre eles a ciência, o ensino, a
saúde e a proteção civil, adotar a Estratégia e o Plano de Ação de Yokohama e estimular os
organismos homólogos de outros países e regiões para que façam o mesmo.

Assim espera-se que a Estratégia e o Plano de Ação de Yokohama seja o marco de


referência que permita construir um mundo mais seguro no século XXI, que é o objetivo da
Conferência Mundial sobre a Redução dos Desastres Naturais.

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1.3.1 Princípios da Estratégia de Yokohama

São princípios definidos pela Estratégia e o Plano de Ação de Yokohama:

1. A avaliação de risco é um passo


indispensável para a adoção de uma
política e de medidas apropriadas e
positivas para a redução de desastres.

2. A prevenção de desastres e a
preparação para casos de desastre
revestem em importância fundamental
para reduzir a necessidade de socorro
em casos de desastre.

Criação: Paiva Junior, 2014


3. Na prevenção de desastres e
preparação para casos de desastre
devem ser considerados os aspectos
integrais da política e o planejamento do
desenvolvimento nos planos nacional,
regional, bilateral, multilateral e internacional.

4. O estabelecimento e a consolidação da capacidade para prevenir e reduzir desastres


e mitigar seus efeitos constitui uma questão de suma prioridade a fim de fundamentar
uma base sólida para as atividades posteriores.

5. O alerta preventivo de desastres iminentes e a difusão efetiva da informação


correspondente, mediante as telecomunicações, inclusive os serviços de radiodifusão,
são fatores chave para prevenir com êxito os desastres e preparar-se melhor para eles.

6. As medidas preventivas são mais eficazes quando congregam a participação em


todos os planos, desde a comunidade local até os planos regional e internacional,
passando pelos governos dos países.

7. A vulnerabilidade pode reduzir-se mediante a aplicação de métodos apropriados de


projetos e um dos modelos de desenvolvimento orientados pelos grupos beneficiários,
mediante o fornecimento de educação e capacitação adequadas à toda a comunidade.

8. A comunidade internacional reconhece a necessidade de compartilhar a tecnologia


requerida para prevenir e reduzir os desastres e para mitigar seus efeitos. Esta
tecnologia deve ser fornecida livremente e de forma oportuna como parte integrante da
cooperação técnica.

9. A proteção do meio ambiente como componente de um desenvolvimento sustentável


que seja de acordo com a ação paliativa da pobreza é essencial para prevenir os
desastres naturais e mitigar seus efeitos.

14
10. Recai sobre cada país a responsabilidade primordial de proteger sua população,
suas infraestruturas e outros bens nacionais dos efeitos dos desastres naturais. A
comunidade internacional deve demonstrar a firme determinação política necessária
para mobilizar recursos adequados e fazer uso eficaz dos existentes, incluídos os
meios financeiros, científicos e tecnológicos, no âmbito da redução dos desastres
naturais, estando presentes as necessidades dos países em desenvolvimento, em
particular as dos países menos desenvolvidos.

1.4- Conferência Mundial sobre Prevenção de Desastres

Entre os dias 18 e 22 de janeiro de 2005, foi


realizada em Kobe (Japão) - onde ocorreu há
dez anos um devastador terremoto - a
Fonte: http://www.ifrc.org

Conferência Mundial sobre Prevenção de


Desastres. Convocada em 2003 pela
Assembleia Geral das Nações Unidas, a
Conferência de Kobe despertou grande
interesse, acentuado em face do maremoto
que atingiu países asiáticos.

A iniciativa deu seguimento ao processo iniciado com a inauguração, pela Organização das
Nações Unidas (ONU), da Década Internacional para Redução de Desastres Naturais (1990-
1999), em cujo contexto foi realizada, em 1994, em Yokohama, Japão, a primeira
conferência mundial sobre o tema. Dessa reunião, resultou o documento "Estratégia de
Yokohama para um Mundo mais Seguro: Diretrizes para Prevenção, Resposta e Mitigação
de Desastres Naturais" e o Plano de Ação correspondente, conforme apresentado no
capítulo anterior. Em 1999, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou a "A Estratégia
Internacional para Prevenção de Desastres (ISDR)", visando a promoção da consciência
acerca do vínculo entre prevenção de desastres e desenvolvimento sustentável.

A Conferência de Kobe teve como objetivos:

 concluir e relatar a revisão da Estratégia de Yokohama e seu Plano de Ação;

 identificar atividades específicas para assegurar a implementação dos dispositivos do


Plano de Johanesburgo sobre vulnerabilidade, avaliação de risco e gerenciamento de
desastre;

 compartilhar experiências relativas a ações de desastre no contexto do


desenvolvimento sustentável;

 elevar a consciência sobre a importância de políticas de redução de desastres, para


facilitar sua implementação; e

15
 aumentar a confiabilidade e disponibilidade de informações ao público e a agências
relacionadas ao gerenciamento de desastres.

A delegação brasileira em Kobe foi chefiada pelo


Itamaraty e contou com a participação, entre outros,
do Secretário Nacional de Defesa Civil. A atuação

Fonte: http://www.mi.gov.br/sedec
do Brasil na Conferência incluiu o co-patrocínio de
um projeto de resolução sobre a criação de
mecanismos regionais de vigilância, alerta
antecipado e avaliação de risco, bem como o
pedido de provisão de recursos financeiros
adicionais, com vistas a fortalecer a capacidade dos
países em desenvolvimento de prevenir e enfrentar
desastres naturais.

A delegação também forneceu informações sobre os esforços que o Governo brasileiro


vinha realizando para ajudar as vítimas do maremoto na Ásia, incluindo a remessa de
alimentos, remédios e roupas para as áreas atingidas.

2- INICIATIVAS INTERNACIONAIS NA BUSCA DA PROTEÇÃO E


DEFESA CIVIL

2.1- A Carta Humanitária e as Normas Mínimas de Resposta Humanitária


em Situações de Desastre

Numa notável iniciativa internacional, com o objetivo de aumentar a


eficácia da assistência humanitária e a melhoria da capacidade de
Fonte: http://www.sphereproject.org

prestação de contas das organizações humanitárias em situações


de desastre ou conflitos armados, a Carta Humanitária e as Normas
Mínimas de Resposta Humanitária em Situações de Desastre, do
Projeto Esfera, definiram pela primeira vez o que as pessoas
afetadas por desastres têm o direito de esperar por parte da
assistência humanitária.

A pedra angular desta obra é a Carta Humanitária, com base nos


princípios e disposições do direito humanitário internacional, do direito relativo aos direitos
humanos, do direito relativo aos refugiados e do Código de Conduta do Movimento
Internacional da Cruz Vermelha e das Organizações Não Governamentais (ONGs).

A Carta descreve os princípios fundamentais que norteiam todas as ações humanitárias e


defende o direito das populações à proteção e à assistência. Além disso, a Carta é seguida
de normas mínimas em cinco setores fundamentais (abastecimento de água e saneamento,

16
nutrição, ajuda alimentar, abrigo e planejamento de locais de alojamento e cuidados
médicos).

2.2- A Estratégia Internacional para a Redução de Desastres

Em 2000, vários países se encontraram no


Fonte: http://www.eird.org

Panamá visando discutir o tema redução de


riscos e de desastres. A EIRD resulta de um
conjunto de acordos internacionais com o apoio
da ONU e que tem como foco indicar aos
governos que desenhem seus planos de
desenvolvimento tendo a redução de riscos e de desastres como preocupação importante. O
interesse no desenvolvimento econômico de uma região não deverá se descuidar da
questão de riscos e de desastres, sob pena de não conseguir ser uma região com
desenvolvimento sustentável.

Por desenvolvimento sustentável entende‐se aquele que perdure por gerações futuras. No
Brasil temos vários exemplos ligados às práticas das queimadas para preparação de pasto e
plantio. São práticas anacrônicas, que calcinizam o solo, dificultam plantações em anos
seguintes e ainda por cima são um enorme risco para incêndios, ou seja, para desastres.

A missão da EIRD é habilitar sociedades para resistirem aos perigos naturais e aos
desastres tecnológicos e ambientais com o objetivo de reduzir perdas humanas, econômicas
e sociais.

E, além da pobreza, a crescente densidade populacional, a degradação ambiental e o


aquecimento global estão fazendo com que o impacto das ameaças naturais piore ainda
mais.

Teoricamente, essas ameaças naturais afetam a todos, entretanto, na prática, afetam


proporcionalmente mais aos pobres, em função de que estes em sua maioria vivem em
zonas de maior densidade populacional, em residências mal construídas e em terrenos mais
expostos ao risco.

Assim, a redução dos riscos de desastres deve fazer parte da tomada de decisões
cotidianas: desde a forma como educamos nossos filhos e filhas até como planejamos
nossas cidades. Cada decisão pode nos tornar mais vulneráveis ou mais resistentes.

São objetivos da EIRD:

 Incrementar conscientização
Fonte: http://www.eird.org

pública;
 Firmar compromisso com
autoridades públicas;

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 Estimular a formação de sociedades interdisciplinares;

 Ampliar a criação de redes sobre redução de riscos em todos


os níveis;

 Fomentar o conhecimento científico sobre causas de desastres,


efeitos de perigos naturais e dos desastres ambientais e tecnológicos;

 Continuar a cooperação internacional para a redução de impactos de


variações climáticas;

 Fortalecer sistemas de alerta.

2.3 O Marco de Ação de Hyogo

O Marco de Ação de Hyogo, respaldado pelas Nações


Fonte: http://www.eird.org

Unidas, estabelece um enfoque integral para a redução de


riscos e desastres. Este Marco, adotado em 2005, objetiva
uma considerável redução das perdas ocasionadas por
desastres, incluindo perdas humanas, bens sociais,
econômicos e ambientais.

O Marco de Ação de Hyogo estabeleceu cinco áreas prioritárias de ação, a saber:

 Fazer com que a redução de risco de desastres seja uma prioridade (Garantir que a
redução de risco de desastres seja uma prioridade nacional e local com uma sólida
base institucional para sua implementação);

 Conhecer o risco e tomar medidas (Identificar, avaliar e observar de perto os riscos de


desastres e melhorar os sistemas de alerta antecipados);

 Desenvolver uma maior compreensão e conscientização (Utilizar o conhecimento, a


inovação e a educação para criar uma cultura de segurança e resiliência em todos os
níveis);

 Reduzir o risco (Reduzir os fatores fundamentais de risco); e,

 Estar preparado e pronto para atuar (Fortalecer a preparação em desastres para uma
resposta eficaz em todos os níveis).

3- DEFESA CIVIL NO BRASIL

No Brasil o tema começou a ser tratado em 1942, após o afundamento dos navios militares
Baependi, Araraquara e Aníbal Benévolo no litoral de Sergipe e do vapor Itagiba torpedeado
pelo submarino alemão U-507, no litoral do estado da Bahia.

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A notícia dos afundamentos e morte de 36 passageiros civis,
Fonte:https://chicomiranda.wordpress.com/tag/baependi/

entre eles mulheres e crianças, e 20 tripulantes, no dia 17 de


agosto, fez com que a população brasileira fosse às ruas
exigindo do governo uma resposta imediata aos ataques.

Seguindo o exemplo da Inglaterra, o governo federal


preocupado com a segurança da população, criou em 1942, o
Serviço de Defesa Passiva Antiaérea, instituiu a
obrigatoriedade do ensino da defesa passiva em todos os
estabelecimentos de ensino, oficiais ou particulares, existentes
no país, entre outras.

Em 1943, a denominação de Defesa Passiva Antiaérea foi


alterada para Serviço de Defesa Civil, sob a supervisão da Diretoria Nacional do Serviço da
Defesa Civil, do Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Este órgão foi extinto em 1946,
bem como, suas Diretorias Regionais criadas nos Estados, Territórios e no Distrito Federal.

A defesa civil brasileira começou a se reestruturar em função


de fortes chuvas que assolaram a região Sudeste entre 1966

Fonte:http://007bondeblog.blogspot.com.br/2011/01/t
e 1967, provocando enchentes no Estado da Guanabara e
deslizamentos na Serra das Araras, no Rio de Janeiro e

ragedia-das-chuvas-1966-2011-45-anos.html
Caraguatatuba em São Paulo.

Foi constituído um Grupo de Trabalho, no âmbito do Estado


da Guanabara, com a finalidade de estudar a mobilização
dos diversos órgãos estaduais em casos de catástrofes. Este
grupo elaborou o Plano Diretor de Defesa Civil do Estado da
Guanabara, criando as Coordenadorias Regionais de Defesa
Civil - REDEC no Brasil e definindo atribuições para cada
órgão componente do Sistema Estadual de Defesa Civil.

Em dezembro de 1966 foi organizada no Estado da


Guanabara, a primeira Defesa Civil Estadual do
Brasil. Ainda, em consequência desses eventos, foi
criado, em 1967, o Ministério do Interior com a
competência, entre outras, de assistir as populações
atingidas por calamidade pública em todo território
nacional.

No final da década de 60, foram instituídos no


Ministério do Interior, o Fundo Especial para
Fonte:http://amalgamanegra.blogspot.com.br/2010_04_01_
archive.html
Calamidades Públicas (FUNCAP) e o Grupo Especial
para Assuntos de Calamidades Públicas – GEACAP
(embrião da Secretaria Nacional de Defesa Civil) com incumbência de prestar assistência à
defesa permanente contra as calamidades públicas.

19
A proposta de pensar a Defesa Civil como instituição estratégica para redução de riscos de
desastres veio com a organização do Sistema Nacional de Defesa Civil, no Decreto nº
97.274, de 16 de dezembro de 1988.

Um ano depois, a Assembleia Geral da ONU, realizada em 22 de dezembro de 1989,


aprovou a Resolução 44/236 que estabelecia o ano de 1990 como o início da Década
Internacional para Redução dos Desastres Naturais (DIRDN). O objetivo central da
campanha era a redução de perdas de vidas, danos e transtornos socioeconômicos,
especialmente nos países em desenvolvimento, provocados por desastres naturais como
escorregamentos, terremotos, erupções vulcânicas, tsunamis, inundações, vendavais, seca,
desertificação, incêndios, pragas, além de outras calamidades de origem natural.

Para atender o compromisso firmado na Resolução 44/236, o Brasil elaborou um plano


nacional de redução de desastres para a década de 90 que estabelecia metas e programas
a serem alcançados até o ano 2.000, conhecido como Política Nacional de Defesa Civil –
PNDC, estruturada em quatro pilares: prevenção, preparação, resposta e recuperação.

Além das metas contidas na PNDC o plano previa ainda:

 A reestruturação da SEDEC como Secretaria Nacional de Defesa Civil;

 A classificação, tipificação e codificação de desastres, ameaças e riscos, embasados


na realidade brasileira. Foi então criado o CODAR, que codificou e caracterizou 154
desastres possíveis de ocorrer no Brasil;

 A organização dos Manuais de Planejamento em Defesa Civil; e,

 A criação de um programa de capacitação em desastres, com o enfoque na


preparação de gestores nacionais, estaduais, municipais e de áreas setoriais para
atuarem em todo o território nacional.

Na década de 2.000 o foco de atuação da SEDEC foi o gerenciamento dos desastres e a


capacitação de agentes locais de defesa civil.

Em 2009 foi realizada a 1ª Conferência Nacional de


Defesa Civil e Assistência Humanitária cujos 1.500
Fonte:http//:www.mi.gov.br

delegados representantes dos Estados, Distrito Federal


e Municípios brasileiros, destacaram a importância do
fortalecimento das instituições de Defesa Civil
municipais. Ao final da etapa nacional foram aprovadas
104 diretrizes.

A segunda dezena do século XXI caracteriza-se pela retomada dos princípios de redução de
desastres, com a implantação do Planejamento Nacional para Gestão de Riscos - PNGR, a
construção do Banco de Dados de Registros de Desastres e do Atlas Brasileiro de
Desastres Naturais, a criação da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil - PNPDC, a
organização do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil - SINPDEC, entre outras ações
de gerenciamento de riscos e desastres.

20
4- DEFESA CIVIL NO CEARÁ

Diante dos efeitos das secas e inundações sobre a


população cearense, o Governo do Estado instituiu em
1971, o Grupo Especial de Socorro às Vitimas de
Calamidade Pública – GESCAP, subordinado à, então,
Secretaria de Agricultura e Abastecimento – SAAb, cujo
Fonte:http://asilvan.zip.net

objetivo era “centralizar e coordenar as providências de


socorro, em caso de calamidade pública oficialmente
declarada no território do Estado”.

Em 1982, uma lei alterou a denominação do Grupo


Especial de Socorro às Vitimas de Calamidade Pública – GESCAP, para a atual:
Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do Ceará – CEDEC, que passou a fazer parte da
Secretaria da Ação Social – SAS a partir de 1987.

Em 07 de fevereiro de 2007, através da Lei nº 13.875, a

Fonte:http//:www.defesacivil.ce.gov.br
Coordenadoria Estadual de Defesa Civil – CEDEC passou a ser
parte da estrutura do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará –
CBMCE e os servidores de outras secretarias que já trabalhavam
na CEDEC permaneceram em suas funções técnicas de defesa
civil.

Considerando a necessidade de se adequar o Sistema Estadual


de Defesa Civil (SEDC) à nova estrutura da administração
estadual, o Governo do Estado, reorganizou seu sistema em 2007.

Com o objetivo de descentralizar as ações de Defesa Civil no Estado, em especial na


resposta aos desastres, a CEDEC criou em 2009 as Regionais de Defesa Civil – REDECs,
sediadas em onze quartéis do Corpo de Bombeiros Militar e abrangendo as vinte regiões
administrativas do Estado.

Dentre as atividades desenvolvidas pela atual gestão da CEDEC, destacam-se:

 Realização de cursos e eventos de capacitação


Fonte:http//:www.defesacivil.ce.gov.br

dos profissionais de defesa civil do Estado;

 Promoção e participação em reuniões de comitês


e grupos de trabalho relacionados à proteção
civil;

 Divulgação de alertas meteorológicos


preventivos; organização de ações cívico-sociais
em comunidades de áreas de risco;

 Aquisição e arrecadação de mantimentos para assistência humanitária aos atingidos


por desastres;

21
 Homologação de decretos de situação de

Fonte:http//:www.defesacivil.ce.gov.br
emergência;

 Monitoramento sismológico e dos reservatórios


hídricos e inspeções em edificações em risco;

 Execução de operações de resposta aos


principais desastres do Ceará, tais como
operação carro-pipa e recuperação de poços nos
períodos de seca.

5- CONCEITO BÁSICO DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL

5.1- Conceito de Defesa Civil

Conceitualmente, o Decreto nº 7.257, de 04 de agosto


de 2010, define defesa civil como: “o conjunto de
ações preventivas, de socorro, assistenciais e
recuperativas destinadas a evitar desastres e
minimizar seus impactos para a população e
restabelecer a normalidade social”.

O principal foco de atuação a Defesa Civil


concentra‐se na redução de desastres, ou seja, na
Fonte:Curso Operacional de Defesa Civil para COMDECS
no Ceará, 2010 – Desastre – Conceituação e Codificação redução das consequências decorrentes de eventos
adversos, seja evitando que eles aconteçam, seja
diminuindo a sua intensidade ou mesmo aumentando a
capacidade das comunidades para resistir a eles.

5.2- Principais Áreas de Atuação da Defesa Civil

Segundo a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (2012) descrita na Lei nº 12.608, de
10 de abril de 2012, é dever da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
adotar as medidas necessárias à redução dos riscos de desastres. Essas medidas previstas
na legislação podem e devem ser adotadas com a colaboração de entidades públicas ou
privadas e da sociedade em geral.

As ações de redução dos desastres que contemplam o cerne de atuação da defesa civil
abrangem cinco fases ou aspectos globais, a saber: a prevenção e mitigação de desastres,
a preparação para emergências e desastres, a resposta aos desastres e a recuperação dos
cenários atingidos.

22
5.2.1- Prevenção de Desastres

A prevenção representa a primeira fase da


redução dos riscos de desastre e engloba o
Foto:Oficina sobre Plano de Contingência, 2012

conjunto de ações que visam a evitar que o


desastre aconteça ou diminuir a intensidade de
suas consequências.

A prevenção expressa o conceito e a intenção


de evitar por completo os possíveis impactos
adversos (negativos) mediante diversas ações
planejadas e realizadas antecipadamente.

Por exemplo, a construção de uma represa ou


muro de contenção para eliminar o risco de inundações; uma regulamentação sobre o uso
do solo que não permita o estabelecimento de assentamentos em zonas de alto risco, etc.

5.2.2- Mitigação de Desastres

A mitigação representa a segunda fase do


processo e reúne o conjunto de ações que
visam a diminuir ou limitar os impactos
adversos das ameaças e dos desastres
afins.

Frequentemente, não se podem prevenir


todos os impactos adversos das ameaças,
mas se pode diminuir consideravelmente
sua escala e severidade mediante diversas
estratégias e ações.
Fonte:http://pmdb-rj.org.br/novo/wp-content/uploads/2011/05/feature-38.jpg

Como nem sempre é possível evitar por completo os riscos dos desastres e suas
consequências, as tarefas preventivas acabam por transformar‐se em ações mitigatórias (de
minimização dos desastres), por esta razão, algumas vezes, os termos prevenção e
mitigação (diminuição ou limitação) são usados indistintamente.

5.2.3- Preparação para Emergências e Desastres

A preparação representa uma terceira fase do processo e reúne o conjunto de ações que
visam a melhorar a capacidade da comunidade frente aos desastres (incluindo indivíduos,
organizações governamentais e organizações não governamentais) para atuar no caso da
ocorrência deste.

23
A preparação envolve os conhecimentos e

Fonte:http://www.oestadoce.com.br/sites/default/files/
capacidades desenvolvidas pelos governos,
profissionais, organizações de resposta e
recuperação, comunidades e pessoas para
prever, responder e se recuperar de forma
efetiva dos impactos dos eventos ou das
condições prováveis, iminentes ou atuais
que se relacionam com uma ameaça.

BC8I8581.JPG
A preparação inclui, por exemplo,
atividades tais como o planejamento de
contingências, a reserva de equipamentos
e suprimentos, o desenvolvimento de rotinas para a comunicação de riscos, capacitações e
treinamentos, exercícios simulados de campo, estabelecimento de programas de
monitoramento e alerta antecipados etc.

É uma ação que ocorre no contexto da gestão integral do risco e seu objetivo principal é
desenvolver capacidades necessárias para gerenciar de forma eficiente e eficaz todos os
tipos de emergências e alcançar uma transição ordenada desde a resposta até uma
recuperação sustentável.

5.2.4- Resposta aos Desastres

A resposta representa mais uma fase e envolve o


conjunto de ações que visam a socorrer e auxiliar as
pessoas atingidas, reduzir danos e prejuízos e
garantir o funcionamento dos sistemas essenciais da
comunidade.

A resposta envolve a prestação de serviços de


emergência e de assistência pública durante ou
imediatamente após a ocorrência de um desastre, Foto: Tcel BM-AC Batista – BR 364 RO-AC, 2014
com o propósito de salvar vidas, reduzir impactos sobre a saúde, garantir a segurança
pública e satisfazer necessidades básicas de subsistência da população afetada.

A resposta diante de um desastre se concentra predominantemente nas necessidades de


curto prazo e, por vezes, é difícil de definir uma divisão entre a etapa de resposta e a fase
seguinte de recuperação/recuperação. Por isso, algumas ações de resposta, tais como o
suprimento de água potável, a provisão de alimentos, a oferta e instalação de abrigos
temporários, podem acabar ampliando‐se até a fase seguinte.

24
5.2.5- Recuperação dos Cenários Atingidos

Finalmente, a recuperação é a última fase da


redução dos riscos de desastres e abrange o
conjunto de ações destinadas a reconstruir a
comunidade atingida, propiciando o seu
retorno à condição de normalidade, sempre
levando em conta a minimização de novos
desastres.

Todas as fases do ciclo de atuação da


defesa civil (prevenção, mitigação,
preparação, resposta e recuperação) devem
Foto: http://www.blogdowilrismar.com/uploads/9a0ef6e475.jpg ocorrer de forma integral, através de uma
atuação multissetorial e nos três níveis de governo (federal, estadual e municipal), a partir de
uma ampla participação comunitária.

A recuperação se traduz na restauração e o melhoramento, se necessário, das plantas,


instalações, meios de sustento e das condições de vida das comunidades afetadas por
desastres, incluindo esforços para reduzir os fatores de risco de desastres. (EIRD/ONU,
2009, p.26).

As tarefas de reabilitação e de reconstrução dentro do processo de recuperação se iniciam


imediatamente após a finalização da fase de emergência e devem basear‐se em estratégias
e políticas previamente definidas que facilitem o estabelecimento de responsabilidades
institucionais claras e permitam a participação pública. Os programas de recuperação,
juntamente com uma maior conscientização e participação pública depois de um desastre,
representam uma oportunidade valiosa para desenvolver e executar medidas de redução de
risco de desastres com base no princípio de "reconstruir melhor".

Assim, resumidamente, vemos que o papel dos organismos de Defesa Civil na redução de
desastres se organiza a partir de quatro pilares básicos de atuação: ações de gestão integral
de risco (apoiada nos pilares da prevenção/mitigação e preparação) e ações de gestão de
desastres (apoiadas nos pilares da resposta às emergências e recuperação).

Você chegou ao final desta primeira unidade, aqui, você aprendeu


sobre a origem da defesa civil e como ela se desenvolveu no mundo,
no Brasil e no Ceará, até chegar aos dias de hoje. Aprendeu também
sobre as normas internacionais que regem as ações de proteção e
defesa civil. Consequentemente, você viu as fases de atuação dos
Órgãos de Proteção e Defesa Civil.

25
UNIDADE2

O SISTEMA NACIONAL DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL

1- A LEGISLAÇÃO DO SINPDEC

Devido à situação de vulnerabilidade a que


COMDECS no Ceará, 2010 – Estrutura do
Fonte:Curso Operacional de Defesa Civil para

esta exposta a população brasileira de


modo geral, instituiu-se o Sistema Nacional
de Defesa Civil no país. Remonta desde a
2ª guerra mundial, como já vimos, mas a
partir de 2010, ganhou uma nova cara, com
a assinatura da Lei nº 12.340, de 01 de
dezembro de 2010. Em primeiro lugar, o
intuito foi criar uma legislação para a
SINDEC

defesa civil nacional, já que até a data da


promulgação, o sistema era regido por um
Decreto Federal (Dec. Fed. Nº 5.376).

Posteriormente o SINDEC foi reforçado com a aprovação da Lei nº 12.608, de 10 de abril de


2012. Legislação esta que remodelou o antigo sistema, passando a se chamar de Sistema
Nacional de Proteção e Defesa Civil (SINPDEC).

A criação de uma lei específica para o sistema já era esperada e tomou forma a partir da
realização das etapas municipais, estaduais e nacional da 1ª Conferência Nacional de
Defesa Civil, contando com a participação de gestores, profissionais de defesa civil e
sociedade civil, todos com clamor geral para a criação de uma lei específica para organizar a
defesa civil brasileira.

O SINPDEC é composto por um conjunto de órgãos e entidades cujo objetivo é planejar e


promover a defesa permanente contra desastres, naturais ou provocados pelo homem, e
atuar em situações de emergência e em estado de calamidade pública. Integram, no
território nacional, ações de órgãos e entidades públicas e privadas, em interação com a
comunidade, visando prevenir ou minimizar danos, socorrer e assistir populações atingidas e
recuperar áreas deterioradas por eventos adversos.

A ação organizada de forma integrada e global do SINPDEC proporciona um resultado


multiplicador e potencializador, muito mais eficiente e eficaz do que a simples soma das
ações dos órgãos que o compõem.

As características especiais inerentes às ações de Defesa Civil, principalmente a incerteza


dos acontecimentos e o grau de complexidade e de urgência, impõem maior agilidade na

26
tomada de decisões para o equacionamento dos problemas suscitados, requerendo, desta
forma, maior agilidade dos órgãos afins.

Por outro lado, são de fundamental importância o aprimoramento e a manutenção do corpo


técnico especializado e da memória institucional, para que se alcancem, com grau de
confiabilidade e eficiência, os objetivos da Defesa Civil.

Como podemos ver, a Defesa Civil ganhou nova cara, adquirindo legislação específica para
que pudesse ter um novo rumo dentro do país. Dentre todos os documentos que compõem o
novo ordenamento jurídico de Proteção e Defesa Civil, destacam-se:

 Lei nº 12.340, de 1º de dezembro de 2010 - Dispõe sobre as transferências de


recursos da União aos órgãos e entidades dos Estados, Distrito Federal e Municípios
para a execução de ações de resposta e recuperação nas áreas atingidas por
desastre, e sobre o Fundo Especial para Calamidades Públicas; e dá outras
providências;

 Lei nº 12.608, de 10 de abril de 2012 - Institui a Política Nacional de Proteção


Defesa Civil - PNPDEC; dispõe sobre o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil -
SINPDEC e o Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil - CONPDEC; autoriza a
criação de sistema de informações e monitoramento de desastres; altera as Leis nos
12.340, de 1o de dezembro de 2010, 10.257, de 10 de julho de 2001, 6.766, de 19 de
dezembro de 1979, 8.239, de 4 de outubro de 1991, e 9.394, de 20 de dezembro de
1996; e dá outras providências;

 Decreto nº 7.257, de 04 de agosto de 2010 - Regulamenta a Medida Provisória no


494 de 2 de julho de 2010, para dispor sobre o Sistema Nacional de Defesa Civil -
SINDEC, sobre o reconhecimento de situação de emergência e estado de calamidade
pública, sobre as transferências de recursos para ações de socorro, assistência às
vítimas, restabelecimento de serviços essenciais e recuperação nas áreas atingidas
por desastre, e dá outras providências;

 Decreto nº 7.505, de 27 de junho de 2011 - Altera o Decreto no 7.257, de 4 de


agosto de 2010, que regulamenta a Medida Provisória no 494, de 2 de julho de 2010,
convertida na Lei no 12.340, de 1o de dezembro de 2010, para dispor sobre o Cartão
de Pagamento de Defesa Civil - CPDC, e dá outras providências.

 Portaria nº 526, de 6 de setembro de 2012 - Estabelece procedimentos para a


solicitação de reconhecimento de Situação de Emergência ou de Estado de
Calamidade Pública por meio do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres -
S2ID;

 Instrução Normativa nº 01, de 24 de agosto de 2012 - Estabelece


procedimentos e critérios para a decretação de situação de emergência ou estado de
calamidade pública pelos Municípios, Estados e pelo Distrito Federal, e para o

27
reconhecimento federal das situações de anormalidade decretadas pelos entes
federativos e dá outras providências.

 Portaria Interministerial nº 02, de 06 de dezembro de 2012 – Institui o


Protocolo Nacional Conjunto para Proteção Integral a Crianças e Adolescentes,
Pessoas Idosas e Pessoas com Deficiência em Situação de Riscos e Desastres.

Deve-se levar em consideração que as mudanças, em sua grande maioria, vieram para
beneficiar a população atingida pelos desastres em nosso país. Há de se considerar que
muito ainda deve ser feito para tornar o que está escrito em realidade, por isso é importante
fortalecer todo o sistema de proteção e defesa civil.

2- A ESTRUTURA DO SINPDEC

Conforme a Lei nº 12.608/2012 os órgãos que gerem o SINPDEC, são:

 Órgão consultivo: CONPDEC, representantes da União, dos Estados, do Distrito


Federal, dos Municípios e da sociedade civil organizada, incluindo-se representantes
das comunidades atingidas por desastre, e por especialistas de notório saber (art. 12,
§2º);

 Órgão central, definido em ato do Poder Executivo federal, com a finalidade de


coordenar o sistema (art. 11, inciso II);

 Órgãos regionais estaduais e municipais de proteção e defesa civil (art. 11, inciso III);

 Órgãos setoriais dos 3 (três) âmbitos de governo (art. 11, inciso IV); e,

 Organizações comunitárias de caráter voluntário ou outras entidades com atuação


significativa nas ações locais de proteção e defesa civil (art. 11, parágrafo único).

A Secretaria Nacional de Proteção e


Defesa Civil - SEDEC constitui, dentro do
Ministério da Integração Nacional, o órgão
central ou Secretaria Executiva do
SINPDEC. As atribuições da SEDEC
resumem-se a assistir o Ministro de
Estado, no planejamento e promoção da
defesa permanente contra as calamidades
públicas e, na qualidade de órgão central
do SINPDEC, é responsável pela
coordenação e articulação dos órgãos e
entidades que o compõem, assegurando Fonte:http://forquilhaontemhojeesempre.blogspot.com.br/2013/03/radioradioama
dores-sobre-alerta-com-mais-um.html
uma atuação eficiente do Sistema.

28
2.1- Centro Nacional de Gerenciamento de Desastres (CENAD)

A função do CENAD consiste em gerenciar as


ações preventivas e de resposta, assim como a
mobilização de recursos humanos, materiais e
equipamentos para evitar ou reduzir danos e
prejuízos à sociedade.

O funcionamento do CENAD ocorre em parceria


com os organismos estaduais de Defesa Civil e
instituições técnicas que disponham de recursos
Fonte:http://forquilhaontemhojeesempre.blogspot.com.br/2013/03/ humanos e materiais apropriados, e de
radioamadores-sobre-alerta-com-mais-um.html
informações úteis para as atividades do SINPDEC.

O CENAD processa as informações de risco de desastres e monitora, dia-a-dia, os


parâmetros dos eventos adversos para o geoprocessamento de dados via satélite. O
processamento inteligente de informações relacionadas aos desastres facilita a tomada de
decisões.

O CENAD conta com salas especializadas para a realização de suas atividades. Entre elas
estão: a Sala de Gestão de Crise, o Centro de Monitoramento e Operações, e a Sala Cofre,
que abriga os sistemas de informática do Centro.

Cabe ao CENAD consolidar as informações sobre riscos no país, tais como mapas de áreas
de risco de deslizamentos e inundações, além dos dados relativos à ocorrência de desastres
naturais e tecnológicos e os danos associados. O gerenciamento destas informações
possibilita ao Centro apoiar estados e municípios nas ações preparação para desastres junto
às comunidades mais vulneráveis.

A dinâmica de funcionamento do CENAD consiste no recebimento de informações de


diversos órgãos do Governo Federal responsáveis pela predição de tempo e temperatura;
avaliação de condições geológicas de áreas de risco; monitoramento dos movimentos das
placas tectônicas; acompanhamento das bacias hidrográficas; controle de queimadas e
incêndios florestais; e transporte e armazenamento de produtos perigosos.

Além disso, o CENAD coordena o Grupo de Apoio


Fonte:http://http://www.bombeiros.go.gov.br/noticias/

a Desastres (GADE), uma equipe técnica


multidisciplinar, composta por especialistas em
gerenciamento de crises, com amplo
conhecimento e experiência em Proteção e Defesa
Civil, mobilizável a qualquer tempo para
desenvolver ações de preparação e resposta a
desastre, em todo o território nacional ou
internacional, assim que demandado. Sua missão
é coordenar as ações propostas pelo Governo
Federal, evitando a sobreposição de ações e o

29
desperdício de recursos humanos e materiais, proporcionando um melhor atendimento à
população afetada.

2.2 A Política Nacional de Proteção e Defesa Civil

A PNPDEC abrange as ações de prevenção, mitigação,


preparação, resposta e recuperação voltadas à proteção e defesa
Fonte:curso operacional em defesa

civil e deve integrar-se às políticas de ordenamento territorial,


desenvolvimento urbano, saúde, meio ambiente, mudanças
climáticas, gestão de recursos hídricos, geologia, infraestrutura,
Civil –Fortaleza/CE

educação, ciência e tecnologia e às demais políticas setoriais,


tendo em vista a promoção do desenvolvimento sustentável.

Segundo a Lei n º 12.608/2012, são diretrizes da PNPDEC:

I - atuação articulada entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios


para redução de desastres e apoio às comunidades atingidas;

II - abordagem sistêmica das ações de prevenção, mitigação, preparação, resposta e


recuperação;

III - a prioridade às ações preventivas relacionadas à minimização de desastres;

IV - adoção da bacia hidrográfica como unidade de análise das ações de prevenção


de desastres relacionados a corpos d'água;

V - planejamento com base em pesquisas e estudos sobre áreas de risco e incidência


de desastres no território nacional;

VI - participação da sociedade civil.

São objetivos da PNPDEC, de acordo com a Lei n º 12.608/2012:

I - reduzir os riscos de desastres;

II - prestar socorro e assistência às populações atingidas por desastres;

III - recuperar as áreas afetadas por desastres;

IV - incorporar a redução do risco de desastre e as ações de proteção e defesa civil


entre os elementos da gestão territorial e do planejamento das políticas setoriais;

V - promover a continuidade das ações de proteção e defesa civil;

VI - estimular o desenvolvimento de cidades resilientes e os processos sustentáveis


de urbanização.

30
3 O SISTEMA NACIONAL DE DEFESA CIVIL EM ÂMBITO ESTADUAL

O Sistema Estadual de Defesa Civil (SEDC) do Ceará foi instituído pelo Decreto nº 28.391,
de 13 de setembro de 2006. É constituído por órgãos e entidades que integram a
administração estadual, por entidades privadas e pela comunidade de modo geral, sob a
coordenação da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil - CEDEC.

O objetivo do SEDC é articular, coordenar e gerenciar todas as ações de Defesa Civil no


Estado.

Em 26 de fevereiro de 2007, com o Decreto nº 28.656, o SEDC e o Conselho Estadual de


Defesa Civil (COEDEC) foram reorganizados. O SEDC ficou, então, estruturado da seguinte
forma:

I - órgão superior: Conselho Estadual de Defesa Civil - COEDEC;

II - órgão central: Coordenadoria Estadual de Defesa Civil - CEDEC;

III - órgãos regionais: Regionais de Defesa Civil - REDECs;

IV - órgãos municipais: Coordenadorias Municipais de Defesa Civil - COMDECs;

V - órgãos de apoio: Núcleos Comunitários de Defesa Civil - NUDECs, órgãos públicos


federais e secretarias setoriais em nível estadual, com respectivas vinculadas, Assembleia
Legislativa, Tribunal de Justiça, Ministério Público, empresas privadas convidadas e
organizações não governamentais.

3.1- Conselho Estadual de Defesa Civil do Ceará

O Conselho Estadual de Defesa Civil (COEDEC) é o órgão superior do Estado quanto à


aprovação das políticas e diretrizes que orientam as atividades de defesa civil no Ceará.

O COEDEC é presidido pelo Comandante Geral do CBMCE e composto por representantes


que tenham poder decisório para mobilizar recursos humanos e materiais dos órgãos
integrantes do Conselho.

Atualmente, estão representados no Conselho os seguintes órgãos:

 Secretaria da Fazenda;

 Secretaria da Infraestrutura;

 Secretaria de Desenvolvimento Agrário;

 Secretaria de Educação;

31
 Secretaria de Cultura;

 Secretaria de Trabalho e
Desenvolvimento Social;

Fonte:http:///www.defesacivil.ce.gov.br/i
 Secretaria de Saúde;

 Secretaria de Planejamento e
Gestão;

 Secretaria de Ciência,
Tecnologia e Educação Superior;

 Secretaria das Cidades;

 Secretaria de Esporte;

 Secretaria de Turismo;

 Secretaria da Controladoria e Ouvidoria;

 Secretaria da Justiça e Cidadania;

 Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social;

 Secretaria de Recursos Hídricos;

 Casa Civil;

 Casa Militar;

 Procuradoria Geral de Justiça;

 Procuradoria Geral do Estado;

 10ª Região Militar;

 Capitania dos Portos e

 Base Aérea de Fortaleza.

3.2- Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do Ceará

A Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (CEDEC) é integrante da estrutura organizacional


do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará (CBMCE) e é responsável pela
coordenação e supervisão das ações de defesa civil no Estado.

Compete à CEDEC a elaboração e execução de planos, programas e projetos de defesa


civil e, na ocorrência de desastres, propor ao governador a declaração de situação de

32
emergência ou estado de calamidade pública, além de
requisitar pessoal e material dos órgãos integrantes do
Sistema Estadual de Defesa Civil.

Dentre as atividades desenvolvidas pela CEDEC,


destacam-se a realização de cursos e eventos de
capacitação dos profissionais de defesa civil do Estado;
promoção e participação em reuniões de comitês e
grupos de trabalho relacionados à proteção civil;
divulgação de alertas meteorológicos preventivos;

Fonte:http:///www.defesacivil.ce.gov.br
organização de ações cívico-sociais em comunidades
de áreas de risco; aquisição e arrecadação de
mantimentos para assistência humanitária aos atingidos
por desastres, homologação de decretos de situação de
emergência, monitoramento sismológico e dos
reservatórios hídricos e inspeções em edificações em
risco.

3.3- Regionais de Defesa Civil

As Regionais de Defesa Civil (REDECs) foram criadas em 2009 como parte da estrutura da
Coordenadoria Estadual de Defesa Civil e têm a competência de atuar no desenvolvimento
de ações em apoio aos órgãos municipais de defesa civil.

Compete às REDECs requisitar o apoio de órgãos e entidades da administração estadual do


Poder Executivo, com representação em sua jurisdição, para a realização de vistorias,
avaliações, inclusive de danos, ou outros trabalhos técnicos em municípios impactados por
desastres.

O principal objetivo das REDECs é descentralizar as ações no Estado, em especial a


capacitação de agentes e a resposta aos desastres. As REDECs são sediadas em onze
quartéis do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará.

4 O SISTEMA NACIONAL DE DEFESA CIVIL EM ÂMBITO MUNICIPAL

O Sistema Municipal de Defesa Civil é constituído por órgãos e entidades que integram a
administração municipal, por entidades privadas e pela comunidade de modo geral, sob a
coordenação do Órgão Municipal de Proteção e Defesa Civil.

33
O objetivo do Sistema é articular, coordenar e gerenciar todas as ações de Defesa Civil em
sua jurisdição.

O Sistema em nível municipal deve ser composto pelos seguintes órgãos:

I - órgão central: Órgão Municipal de Proteção e Defesa Civil;

II - órgão consultivo: Conselho Municipal de Proteção e Defesa Civil;

III - órgãos de apoio: Núcleos Comunitários de Defesa Civil - NUDECs, órgãos públicos
federais e secretarias setoriais em nível municipal, Câmara Municipal, Tribunal de Justiça,
Ministério Público, empresas privadas convidadas e organizações não governamentais.

4.1- Órgão Municipal de Proteção e Defesa Civil

Os Órgãos Municipais de Proteção e

Fonte:Curso Operacional de Defesa Civil para COMDECS no


Ceará, 2010 – Estruturação e Operacionalização de COMDEC.
Defesa Civil são órgãos vinculados às
prefeituras municipais e são
responsáveis pela coordenação das
ações locais de defesa civil em sintonia
com os demais órgãos integrantes do
SINPDEC.

No período de normalidade, o órgão


deve elaborar planos de prevenção e
contingência, realizar campanhas e
simulados, capacitar pessoal,
confeccionar mapas de riscos e
mobilizar as comunidades para as ações
de defesa civil.

Na ocorrência de desastres, deve notificar os órgãos do SINPDEC prestando-lhes todas as


informações da avaliação dos danos, além de coordenar todas as ações de resposta e
recuperação de cenários.

4.2- Conselho Municipal de Defesa Civil

O Conselho Municipal de Defesa Civil é o órgão consultivo responsável por orientar as


atividades de defesa civil em nível municipal.

O Conselho, preferencialmente, deve ser presidido pelo Prefeito Municipal e composto por
representantes que tenham poder decisório para mobilizar recursos humanos e materiais
dos órgãos integrantes do Conselho.

34
4.3- Núcleo Comunitário de Proteção e Defesa Civil

Os Núcleos Comunitários de Proteção e Defesa Civil


Fonte:http://www.defesacivil.ce.gov.br

(NUDECs) funcionam como centros de reuniões e


debates entre as COMDECs e as comunidades locais,
com competência para planejar, promover e coordenar
atividades de defesa civil.

Dentre as atividades que um NUDEC pode realizar,


destacam-se a elaboração de planos de contingência e
de exercícios simulados de evacuação de áreas de risco
em sintonia com as informações dos órgãos de monitoramento, alerta e alarme.

Você chegou ao final da Unidade 2, aqui, você aprendeu sobre a


legislação e a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil. Foi
apresentado o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil e sua
estrutura, nos três níveis de Governo, União, Estado e Município. Você
conheceu também o Centro de Gerenciamento de Desastres (CENAD).

35
UNIDADE 3

ESTUDO DOS DESASTRES

1 INTRODUÇÃO

Segundo a Instrução Normativa nº 01, de 24 de agosto de 2012, o desastre é definido como:


“O resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre um cenário
vulnerável, causando grave perturbação ao funcionamento de uma comunidade ou
sociedade envolvendo extensivas perdas e danos humanos, materiais, econômicos ou
ambientais, que excede a sua capacidade de lidar com o problema usando meios próprios”.

De forma similar, a Estratégia Internacional para a Redução de Desastres, da Organização


das Nações Unidas (EIRD/ONU, 2009, p.13‐14) define “desastres” como, “uma séria
interrupção no funcionamento de uma comunidade ou sociedade que ocasiona uma grande
quantidade de mortes e igual perda e impactos materiais, econômicos e ambientais que
excedem a capacidade de uma comunidade ou a sociedade afetada para fazer frente à
situação mediante o uso de seus próprios recursos”.

Observa-se, pelos conceitos apresentados, que para se caracterizar um desastre, se faz


necessário provocar danos e prejuízos às pessoas, porém, é preciso conhecer outros
conceitos que, também, estão ligados ao entendimento do desastre.

1.1- Conceitos Básicos

Para se entender as ações e os processos que envolvem a proteção e defesa civil, faz-se
necessário conhecer alguns conceitos básicos. Mais do que conhecer, é preciso
compreendê-los, já que são a base doutrinária e técnica da defesa civil.

Portanto apresentam-se abaixo os principais conceitos


que permeiam o desastre:

Defesa Civil = É o conjunto de ações preventivas,


de socorro, assistenciais, recuperativas e
reconstrutivas, destinadas a evitar ou minimizar os
desastres, preservar o moral da população e
reestabelecer a normalidade da sociedade.

Fonte:Paiva Junior, 2014

36
Desastre = É o resultado de um evento adverso
natural ou provocado pelo homem, sobre um
ecossistema vulnerável, causando danos humanos,
materiais e ambientais e conseqüentes prejuízos
econômicos e sociais.

Fonte:http://blogs.estadao.com.br/olhar-sobre-o-mundo/
catastrofe-no-rio-de-janeiro/

Evento Adverso = Ocorrência desfavorável,


prejudicial, imprópria, acontecimento que traz prejuízo.
Fenômeno causador de um desastre.

Ex: Chuvas intensas, terremotos, tornados etc.

Fonte:http://mundo-afora.com/imagensfotos/tempestade-
de-areia-na-arabia-saudita.html

Ameaças = É um fenômeno adverso, atividade


humana ou qualquer condição que possa ocorrer com
intensidade ou severidade suficiente para causar perda
de vidas, danos ou impactos à saúde humana, à
economia, à infraestrutura e ao meio ambiente.
(Decreto nº 7.257/2010)

Ex: Enchentes, tornados, terremotos, estiagens,


Fonte: http://tornado-facts.com/tornado-pictures/ enxurradas, deslizamento de terra etc.

Vulnerabilidades Conjunto = de
Fonte:http://megacidades.ccst.inpe.br/s
ao_paulo/banco_dados/apendice5.php

características da sociedade, das infraestruturas,


dos meios de subsistência e ecossistemas, que
causam a predisposição ou susceptibilidade física,
econômica, política, social ou ambiental de uma
comunidade a ser afetada ou sofrer efeitos
adversos quando uma ameaça se manifestar.
Representa o fator interno do risco. (ITC-ILO, 2012)

Ex: casas construídas em favelas, próximas ou sobre os morros, próxima a rios etc.

37
Risco = Probabilidade de um evento físico
potencialmente destrutivo ocasionar danos com
consequências para a sociedade. Manifesta-se pela
perda provável de vidas humanas e de bens sociais e
probabilidade de perdas e deterioração dos meios de
subsistência, da atividade econômica e do ambiente
Fonte: http://www.abril.com.br/fotos/chuva-santa-catarina/ de um território. (ITC-ILO, 2012)

Ex: chuvas intensas sobre os morros podem ocasionar deslizamento de terra e caso tenham
casas construídas sobre ou abaixo dos morros podem vir a ser soterradas pelo deslizamento
de terra.

Danos = Resultado das perdas humanas, materiais


ou ambientais infligidas às pessoas, comunidades,
instituições, instalações e aos ecossistemas, como
consequência de um desastre (IN nº 01/2012).

Os danos podem ser materiais, humanos e/ou


ambientais.
Fonte:http://jaru190.com/superintendente-do-dnit-apresenta-
em-brasilia-relatorio-de-danos-na-br-364/

Prejuízos = Medida de perda relacionada com o valor


econômico, social e patrimonial, de um determinado bem,
em circunstância de desastre (IN nº 01/2012).

Os prejuízos podem ser econômicos; e/ou sociais.

Fonte:http://www.crato.org/chapadadoararipe/wp-
content/uploads/2013/08/secagadomorto.jpg/

Resiliência = Capacidade de um sistema,


comunidade ou sociedade exposta a riscos de resistir,
absorver, acomodar-se, e reconstruir-se diante dos
efeitos de um desastre em tempo e modo adequados,
incluindo a preservação e restauração de suas
estruturas e funções essenciais.

Ex: Prédios construídos no Japão para suportar os


Fonte:http://mudenu.mudenu.netdna-cdn.com/wp-
constantes terremotos;
content/uploads/2011/03/estrada.jpg

38
Capacidades = Combinação de todas as fortalezas e
recursos disponíveis que podem reduzir o nível de risco ou
os efeitos de um desastre. (ITC-ILO, 2012)

Ex: Plano de contingência.

Fonte: http://www.fao.org/uploads/pics/cube_es.jpg
(traduzido)

3- A VARIÁVEL “RISCO”

3.1- Avaliação de Riscos de Desastres


Fonte: http://portoimagem.wordpress.com/2011/01/26/porto-

Metodologia de estudo de
alegre-prefeito-assina-decreto-para-diagnosticar-areas-de-

situação que permite


identificar os riscos, estimar a
importância dos mesmos e
hierarquizá-los, com a
risco-e-familias-pedem-orientacao/

finalidade de definir
alternativas de gestão do
processo de redução de
desastres.

A avaliação de riscos de desastres desenvolve-se nas seguintes etapas:

a) Identificação e Caracterização das Ameaças: Compreende o estudo dos eventos ou


fenômenos adversos (naturais ou provocados pelo homem) causadores de desastres, de
suas características intrínsecas, de suas prevalências e dos prováveis epicentros e
magnitudes dos mesmos. Compreende, também, a identificação do cenário que pode ser
afetado por seus efeitos desfavoráveis.

Ex: Fazer um levantamento das áreas que, na diminuição mínima das precipitações
hídricas, apresentam desabastecimento de água potável.

b) Caracterização dos Efeitos Desfavoráveis: Compreende o estudo dos diferentes


efeitos desfavoráveis, físicos, químicos, biológicos e psicológicos desses eventos adversos,
sobre os grupos populacionais afetados e sobre os corpos receptores e a repercussão

39
desses efeitos sobre a saúde e a incolumidade das populações em risco, sobre o patrimônio
e sobre as instituições, serviços essenciais e meio ambiente.

Ex: Levantar os dados do índice de contaminação da água utilizada para consumo


humano, bem como o número de pessoas com problemas de saúde devido à ingestão
de água contaminada.

c) Avaliação da Magnitude dos Fenômenos Adversos e dos Níveis de Exposição:


Compreende o estudo da evolução dos fenômenos adversos, considerando as variáveis
‘tempo’, ‘magnitude’ e ‘nível de exposição’ e a definição de parâmetros que permitam a
monitorização e o acompanhamento dos fenômenos ou acontecimentos.

A monitorização permite comparar as variações de magnitude e de nível de exposição, com


médias mensais de longo período e com níveis de alerta e alarme, referenciados para a
evolução dos fenômenos adversos no cenário considerado. Em alguns casos, torna-se
necessário monitorizar a quantidade e o nível diário de exposição do meio ambiente, dos
corpos receptores e dos grupos populacionais em risco.

Ex: Acompanhamento dos níveis dos reservatórios para evitar a exposição das
pessoas em caso de contaminação da água, bem como acionar planos emergenciais
de suprimento da demanda de água local.

d) Caracterização do Grau de Vulnerabilidade: Compreende o estudo dos cenários e das


populações em risco, com a finalidade de avaliar, por intermédio de estudos epidemiológicos
e de modelos matemáticos, a proporção existente entre a magnitude dos eventos adversos e
a intensidade dos danos esperados, ou seja, a relação existente entre causa e efeito.

e) Caracterização dos Riscos: Compreende a conclusão sobre a importância dos riscos a


que uma área definida e um grupo populacional específico estão sujeitos, após o término do
estudo de situação.

A caracterização dos riscos e estimativa da intensidade dos danos prováveis é realizada em


função:

 Das características intrínsecas e das prováveis magnitudes das ameaças;

 Dos efeitos desfavoráveis dessas ameaças sobre os sistemas receptores;

 Do grau de vulnerabilidade ou de insegurança intrínseca dos cenários dos


desastres e das populações em risco;

 Da avaliação da magnitude e prevalência das ameaças e dos níveis diários de


exposição.

Ex: Ameaça: baixa pluviosidade em determinado período.

Vulnerabilidade: Comunidade sem sistema de abastecimento de água,


dependente de um pequeno reservatório local.

40
Risco: A comunidade ser afetada pelo desastre estiagem.

f) Caracterização das Hipóteses de Planejamento: Caracterizada uma hipótese firme de


desastre específico, desenvolve-se o planejamento com a finalidade de definir alternativas
de gestão, objetivando a redução dos riscos de desastres e o incremento da segurança
intrínseca dos sistemas vulneráveis.

Ex: elaborar o Plano de Contingência para cada tipo de desastre.

4- O DESASTRE

Conforme apresentado, um desastre é


caracterizado por causar danos e consequentes
prejuízos. Enquanto o dano representa a
intensidade das perdas humanas, materiais e
ambientais, os prejuízos são a medida de perda
relacionada com o valor econômico, social e
patrimonial de um determinado bem, em
circunstância de desastre.
Fonte:http://oglobo.globo.com/blogs/arquivos_upload/2010/01
/129_1243-alt-haitinochao.jpg

4.1- Classificação dos Danos e Prejuízos

De acordo com a Instrução Normativa nº 01, de 24 de agosto de 2012 (SEDEC/MI) os danos


se classificam em:

a) Humanos: São dimensionados e ponderados em função do


nível de afetação às pessoas. Representa-se pelo número de
mortos, feridos, enfermos, desabrigados, desalojados,
desaparecidos e outros.

Fonte:http://www.odiarioverde.com.br/wp-
content/uploads/FOME.jpg

b) Materiais: A avaliação dos danos materiais, leva


Foto: Paiva Junior, 2013 – Enxur-

em consideração o número de unidades danificadas e


rada em Alegrete no Piauí

destruídas, bem como o aporte financeiro para se recuperar


o cenário. São quantificados os danos materiais relativos às
instalações públicas de saúde, de ensino, prestadoras de
outros serviços, de uso comunitário, unidades habitacionais,
obras de infraestrutura pública e outros.

41
c) Ambientais: Os danos ambientais devem ser
/xlixao1.jpg.pagespeed.ic.R64_umgpMn
Fonte:http://www.ecodebate.com.br/foto

cuidadosamente avaliados por equipe de


especialista, pois são de reversibilidade mais
difícil. Estão ligados à:

- Poluição ou contaminação, recuperável em curto


prazo, do ar, da água ou do solo, prejudicando a
saúde e o abastecimento da população;
.jpg

- Diminuição ou exaurimento sazonal e temporário da água, prejudicando o


abastecimento da população;

- Destruição de até 40% (quarenta por cento) de Parques, Áreas de Proteção


Ambiental e Áreas de Preservação Permanente Nacionais, Estaduais ou Municipais.

Conforme a Instrução Normativa nº 01, de 24 de agosto de 2012 (SEDEC/MI) os prejuízos


se classificam em:

a) Prejuízos Públicos: Os prejuízos públicos afetam a capacidade de atuação do


poder público e se reflete nos serviços essenciais ofertados à população, tais
como:

I - Assistência médica, saúde

Fonte:http://2.bp.blogspot.com/-SI-epuLjosU/U7S5Dxt
FUeI/AAAAAAAAF3I/X7BgQo2J2pE/s1600/image.jpg
pública e atendimento de
emergências médico-
cirúrgicas;
II - Abastecimento de água potável;
III - Esgoto de águas pluviais e
sistema de esgotos sanitários;
IV - Sistema de limpeza urbana e de
recolhimento e destinação do lixo;
V - Sistema de desinfestação e
desinfecção do habitat e de controle de pragas e vetores;
VI - Geração e distribuição de energia elétrica;
VII - Telecomunicações;
VIII - Transportes locais, regionais e de longas distâncias;
IX - Distribuição de combustíveis, especialmente os de uso doméstico;
X - Segurança pública;
XI – Ensino.

42
b) Prejuízos Privados: Os

Fonte:http://www.anda.jor.br/wp-content/uploads/
prejuízos privados estão ligados à perdas
particulares que não afetam a capacidade
de atuação do poder público, porém
refletem-se na economia do ente afetado.

É preciso lembrar que a compreensão dos

2013/09/seca-gado.jpg
danos e prejuízos é fundamental para o
estudo dos desastres. Afinal, não é a
intensidade do evento que o determina,
mas sim suas consequências em termos
de danos e prejuízos.

4.2 Classificação dos Desastres

Classificar os desastres de acordo com suas características peculiares auxilia nos estudos
que visam à prevenção. A legislação brasileira, acerca de proteção e defesa civil, foi
reformulada recentemente, de modo a adequar a classificação e codificação brasileira de
desastres aos padrões internacionais seguidos por diversos países, visando o nivelamento
dos demais organismos de gestão de desastres do mundo.

A classificação adotada pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil foi a constante
do Banco de Dados Internacional de Desastres (EM-DAT), do Centro para Pesquisa sobre
Epidemiologia de Desastres (CRED) da Organização Mundial de Saúde (OMS/ONU) e a
simbologia correspondente.

A Instrução Normativa nº 01, de 24 de agosto de 2012, classifica os desastres segundo a:

a) Intensidade;

b) Evolução;

c) Origem; e,

d) Periodicidade.

4.2.1- Classificação dos Desastres Quanto à Intensidade

Conforme o art. 3º, quanto à intensidade, os desastres são classificados em dois níveis:

a) Nível I: Desastres de média intensidade. São aqueles em que os danos e prejuízos são
suportáveis e superáveis pelos governos locais e a situação de normalidade pode ser

43
restabelecida com os recursos mobilizados em nível local ou complementados com o aporte
de recursos estaduais e federais.

Os desastres de nível I ensejam a Decretação de Situação de Emergência.

Para se caracterizar o desastre de nível I é preciso ocorrer pelo menos dois dos danos
descritos na tabela abaixo (tabela I) que, no seu conjunto, importem no prejuízo econômico
público superior a 2,77% ou no prejuízo econômico privado superior a 8,33% da receita
corrente líquida anual do ente atingido.

Os prejuízos e danos devem ser relacionados com o colapso dos serviços essenciais (tabela
2) que comprovadamente afetem a capacidade do poder público local de responder e
gerenciar a crise instalada (IN nº 01- /SEDEC/MI).

Tabela 1: Danos humanos, sociais e ambientais para o nível I


DANOS HUMANOS
I – de um a nove mortos.
II – até noventa e nove pessoas afetadas.
DANOS SOCIAIS
I – De uma a nove instalações públicas de saúde, de ensino ou prestadoras de outros serviços
danificadas ou destruídas.
II – De uma a nove unidades habitacionais danificadas ou destruídas.
III – De uma a nove obras de infraestrutura danificadas ou destruídas.
IV – De uma a nove instalações públicas de uso comunitário danificadas ou destruídas.
DANOS AMBIENTAIS
I – poluição ou contaminação, recuperável em curto prazo, do ar, da água ou do solo,
prejudicando a saúde e o abastecimento de 10% a 20% (dez a vinte por cento) da população
de municípios com até dez mil habitantes e de 5% a 10% (cinco a dez por cento) da
população de municípios com mais de dez mil habitantes.
II – Diminuição ou exaurimento sazonal e temporário da água, prejudicando o
abastecimento de 10% a 20% (dez a vinte por cento) da população de municípios com até
10.000 (dez mil) habitantes e de 5% a 10% (cinco a dez por cento) da população de
municípios com mais de 10.000 (dez mil) habitantes.
III – Destruição de até 40% (quarenta por cento) de Parques, Áreas de Proteção Ambiental e
Áreas de Preservação Permanente Nacionais, Estaduais ou Municipais.
Fonte: SEDEC/MI, 2012

Tabela 2: serviços essenciais


SERVIÇOS ESSENCIAIS
I - assistência médica, saúde pública e atendimento de emergências médico-cirúrgicas.
II - abastecimento de água potável.
III - esgoto de águas pluviais e sistema de esgotos sanitários.
IV - sistema de limpeza urbana e de recolhimento e destinação do lixo.
V - sistema de desinfestação e desinfecção do habitat e de controle de pragas e vetores.
VI - geração e distribuição de energia elétrica.

44
VII – telecomunicações.
VIII - transportes locais, regionais e de longas distâncias.
IX - distribuição de combustíveis, especialmente os de uso doméstico.
X - segurança pública.
XI - ensino.
Fonte: SEDEC/MI, 2012

b) Nível II: Desastres de grande intensidade. São aqueles em que os danos e prejuízos não
são superáveis e suportáveis pelos governos locais, mesmo quando bem preparados, e o
restabelecimento da situação de normalidade depende da mobilização e da ação
coordenada das três esferas de atuação do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil -
SINPDEC e, em alguns casos, de ajuda internacional quando os danos e prejuízos não
podem ser superados com recursos da própria comunidade, desde que haja uma
mobilização.

Os desastres de nível II ensejam a Decretação de Estado de Calamidade Pública.

Para se caracterizar o desastre de nível II é preciso ocorrer pelo menos dois dos danos
descritos na tabela abaixo (tabela 3) que, no seu conjunto, importem no prejuízo econômico
público superior a 8,33% ou no prejuízo econômico privado superior a 24,93% da receita
corrente líquida anual do ente atingido, relacionados com o colapso dos serviços essenciais
(tabela 2) e comprovadamente afetem a capacidade do poder público local de responder e
gerenciar a crise instalada.

Esse nível é o mais crítico, pois supera toda a capacidade de gestão do ente afetado,
exaurindo seus recursos financeiros, humanos e materiais. Neste caso necessita-se de
ajuda de outros entes do país ou até mesmo de outros organismos internacionais. Tem-se
como exemplo o terremoto que atingiu o Haiti em 2010, quando não se tinham condições de
atender a população afetada, já que parte do país foi completamente destruída, carecendo
de apoio internacional.

Tabela 3: Danos humanos, sociais e ambientais para o nível II


DANOS HUMANOS
I – dez ou mais mortos.
II – cem ou mais pessoas afetadas.
DANOS SOCIAIS
I – dez ou mais instalações públicas de saúde, de ensino ou prestadoras de outros serviços
danificadas ou destruídas; ou
II – dez ou mais unidades habitacionais danificadas ou destruídas; ou
III – dez ou mais obras de infraestrutura danificadas ou destruídas; ou
IV – dez ou mais instalações públicas de uso comunitário danificadas ou destruídas.
DANOS AMBIENTAIS
I - poluição e contaminação recuperável em médio e longo prazo do ar, da água ou do solo,
prejudicando a saúde e o abastecimento de mais de 20% (vinte por cento) da população de
municípios com até 10.000 (dez mil) habitantes e de mais de 10% (dez por cento) da

45
população de municípios com mais de 10.000 (dez mil) habitantes.
II – Diminuição ou exaurimento a longo prazo da água, prejudicando o abastecimento de
mais de 20% (vinte por cento) da população de municípios com até dez mil habitantes e de
mais de 10% (dez por cento) da população de municípios com mais de 10.000 (dez mil)
habitantes.
III – Destruição de mais de 40% (quarenta por cento) de Parques, Áreas de Proteção
Ambiental e Áreas de Preservação Permanente Nacionais, Estaduais ou Municipais.
Fonte: SEDEC/MI, 2012

A classificação quanto à intensidade obedece a critérios baseados na relação entre:

 A necessidade de recursos para o restabelecimento da situação de normalidade; e,

 A disponibilidade desses recursos na área afetada pelo desastre e nos diferentes


níveis do SINPDEC.

4.2.2- Classificação dos Desastres Quanto à Evolução

Conforme o art. 6º, quanto à evolução, os desastres são classificados em:

a) Desastres súbitos ou de evolução aguda:

Caracterizam-se pela velocidade com que o


processo evolui e pela violência dos eventos
adversos causadores dos mesmos, podendo
ocorrer de forma inesperada e surpreendente
ou ter características cíclicas e sazonais,
sendo assim facilmente previsíveis.

Ex: As enxurradas, os vendavais e os incêndios


em distritos industriais. Fonte:http://img.estadao.com.br/fotos/6B/5F/B0/X6B5FB
0A2D92B4DC9B19399FB395162B9.jpg

b) Desastres graduais ou de evolução crônica:

Caracterizam-se por evoluírem em etapas de


agravamento progressivo.

Ex: A Inundações, a seca e a boçoroca.

Fonte:http://meioambiente.culturamix.com/blog/wp-
content/gallery/2_34/regos-em-martes-1.jpg

46
4.2.3- Classificação dos Desastres Quanto à Origem

De acordo com o art. 7º, § 1º, quanto à origem ou causa primária do agente causador, os
desastres são classificados em:

a) Naturais: São desastres naturais aqueles


causados por processos ou fenômenos
naturais que podem implicar em perdas
humanas ou outros impactos à saúde, danos ao
meio ambiente, à propriedade, interrupção dos
serviços e distúrbios sociais e econômicos.

Ex: Os terremotos, os tsunamis, os tornados e


as emanações vulcânicas. Fonte:http://images.nationalgeographic.com/wpf/media-
live/photos/000/332/cache/japan-earthquake-tsunami-
nuclear-unforgettable-pictures-wave_33291_600x450.jpg

b) Tecnológicos: São desastres tecnológicos


aqueles originados de condições
tecnológicas ou industriais, incluindo acidentes,
procedimentos perigosos, falhas na
infraestrutura ou atividades humanas
específicas, que podem implicar em perdas
humanas ou outros impactos à saúde, danos ao
meio ambiente, à propriedade, interrupção dos
serviços e distúrbios sociais e econômicos. Fonte:http://www.parana-online.com.br/media/uploads/
2014/julho/03-07-14/20140307-viaduto-bh-1.jpg

Ex: Colapso de edificações, Relacionados aos meios de transporte (acidentes


aéreos etc), transporte de produtos perigosos.

4.2.4- Classificação dos Desastres Quanto à Periodicidade

De acordo com o art. 9º, quanto à periodicidade, os desastres são classificados em:

a) Esporádicos: São desastres esporádicos aqueles que ocorrem raramente, com


possibilidade limitada de previsão.

Ex: Terremotos, acidentes aéreos.

b) Cíclicos ou Sazonais: São desastres cíclicos ou sazonais aqueles que ocorrem


periodicamente e guardam relação com as estações do ano e os fenômenos
associados.

Ex: Alagamentos, estiagens.

47
4.3- Codificação Brasileira de Desastres (COBRADE)

Após a reformulação da legislação brasileira acerca da proteção e defesa civil, que adotou a
classificação internacional de desastres, seguindo o Banco de Dados Internacional de
Desastres (EM-DAT), foi necessário readequar o sistema de codificação dos desastres. Para
tal feito, o Brasil, por meio da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, passou a
adotar a Codificação Brasileira de Desastres – COBRADE, constituindo um marco para o
Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil.

A classificação foi estruturada da seguinte forma:

Categoria Grupo Subgrupo Tipo Subtipo

A Categoria Desastres Naturais divide-se em cinco Grupos, treze Subgrupos, vinte e quatro
Tipos e vinte e três Subtipos. Já a Categoria Desastres Tecnológicos divide-se em cinco
Grupos, quinze Subgrupos e quinze Tipos.

5- DESASTRES NO BRASIL

Eventos adversos, sobretudo de origem natural, como inundações, enchentes, ciclones


tropicais, secas, incêndios florestais e ondas de calor, afetam, atualmente, populações em
todo o mundo e também no Brasil. Segundo dados da Estratégia Internacional para a
Redução de Desastres, das Organizações das Nações Unidas (EIRD/ONU), todos os anos
mais de 200 milhões de pessoas são afetadas por desastres de diferentes origens.

No Brasil, como em outros países da América Latina, as ocorrências de desastres, em


especial os de origem natural, coincidem com a deterioração das condições de vida nas
cidades, onde, em menos de um século, houve um crescimento significativo de sua
população e inversão no tipo de ocupação do território, passando de uma maioria vivendo no
meio rural para uma maioria vivendo no meio urbano.

Soma-se a isso uma história mais do que centenária de degradação das condições de vida
do povo brasileiro, cujo resultado tem sido o surgimento contínuo de desastres que causam
sofrimento à população.

De acordo com o Atlas Nacional do Brasil Milton Santos (IBGE, 2010), mais de 80% da
população brasileira já vive em cidades. No entanto, a urbanização cresceu de forma
desigual, abrangendo poucas cidades que concentram população e riqueza, multiplicando
pequenos centros urbanos que abrigam uma força de trabalho pouco qualificada e
fortemente vinculada às atividades primárias. As aglomerações urbanas e as 49 cidades

48
com mais de 350 mil habitantes abrigam 50% das pessoas em situação urbana no País e
detêm, aproximadamente, 65% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.

No outro extremo, estão 4.295 municípios com menos de 25 mil habitantes, que respondem
por 12,9% do PIB. Na evolução da rede urbana brasileira, podemos observar a
predominância de 12 centros que reforçam sua atuação e se mantêm como as principais
cabeças de rede do sistema urbano brasileiro entre 1966 e 2007. No topo, além de São
Paulo, figuram Rio de Janeiro e Brasília. O quadro é completado com Manaus, Belém,
Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre e Goiânia.

Segundo o Atlas Brasileiro de Desastres Naturais 1991 a 2010, os desastres que mais
afetam o território brasileiro, por região, como podemos observar na Figura abaixo são:

 seca e estiagem;

 inundação brusca;

 inundação gradual;

 vendaval e/ou
ciclone;

 granizo e outros.

Fonte:Apresentação do CENAD/SEDEC/MI no Curso de Prevenção a Desastres Geológicos – CPRM,


Fortaleza, 2014

Na Região Norte, a maior frequência de desastres concentra-se no Estado do Pará, mais


especificamente na porção Centro-Norte.

No Nordeste, a mancha de recorrência engloba a maior parte dos Estados da região, com
exceção do Maranhão e do Oeste baiano.

A Região Centro-Oeste é a que apresenta áreas com menos frequência de eventos, os


desastres se concentram apenas no Noroeste do Estado do Mato Grosso.

No Sudeste do país, o Norte mineiro, o Norte do Rio de Janeiro, e, praticamente, todo o


Estado do Espírito Santo apresentam-se como áreas de maior frequência de desastres.

No Sul brasileiro, maiores frequências abrangem o Sudoeste do Rio Grande do Sul e,


praticamente, toda a extensão territorial do Estado de Santa Catarina.

49
A ocorrência desses desastres nos obriga a reconhecer, por um lado, que, nos países
organizados para enfrentar esses eventos, ocorre uma redução dos efeitos desastrosos para
a população, principalmente no que diz respeito à perda de vidas. Por outro lado, fica
evidente a necessidade de o Brasil continuar investindo, entre outros aspectos, em:

 Mecanismos de autoproteção social e melhor aproveitamento dos recursos públicos


para desenvolvimento de programas em prevenção, mitigação e preparação para
desastres;

 Ações com foco na redução de vulnerabilidade ao desastre: mobilidade urbana,


habitação, trabalho, acesso a equipamentos sociais e a serviços;

 Desenvolvimento contínuo de ações comunitárias e locais de redução de riscos de


desastres;

 Operacionalização das ações de resposta a desastres: socorro e assistência;


reabilitação de cenários e recuperação pós-desastre.

6- DESASTRES NO CEARÁ

O Ceará é acometido por desastres predominantemente relacionados às chuvas, seja pela


sua intensidade, provocando inundações, seja pela sua ausência, configurando estiagens ou
secas.

Observa-se que as ocorrências desses desastres caracterizam um ciclo em que a cada


período de intensas chuvas segue-se um prolongado período de estiagens.

Nos últimos anos tem-se registrado uma maior diversidade de desastres, tais como erosão
marinha, abalos sísmicos e deslizamentos, aumentando o montante de investimentos nas
obras de recuperação de cenários de desastres no Estado.

6.1- Intensas Chuvas em 2009

No ano de 2009, o Estado do Ceará foi acometido por intensas precipitações hídricas que
afetaram populações de 140 (cento e quarenta) municípios, dos quais 131 (cento e trinta e
um) tiveram reconhecida a situação de emergência declarada pelo prefeito.

Foram investidos mais de R$ 90.000.000,00 (noventa milhões de reais) dos governos


federal e estadual nas ações de socorro, assistência, reabilitação e reconstrução de
cenários de desastres.

50
Figura 1: Municípios atingidos por inundações em 2009

A campanha de arrecadação de donativos “Força Solidária”, coordenada pelo Corpo de


Bombeiros em parceria com diversas instituições públicas e privadas, promoveu a
distribuição de mais de 660.000 kg (seiscentos e sessenta mil quilos) de alimentos, além de:

• 149 mil litros d’água;

• 48 mil kg de leite;

• 900 mil peças de roupas;

• 604 mil reais.

6.2- Escassez de Chuvas entre 2011 - 2014

A redução e a irregularidade temporal e espacial das precipitações hídricas no Estado do


Ceará no período chuvoso (entre os meses de janeiro e maio) dos anos de 2012, 2013 e
2014 configuraram um cenário de seca no estado. Segundo a Fundação Cearense de
Meteorologia e Recursos Hídricos - FUNCEME, em comparação com a média histórica do
período chuvoso no Ceará, foram acumulados nos anos de 2012, 2013 e 2014 déficits de

Fonte:CEDEC-CE, 2009 51
49,5%, 43% e 28,2%, respectivamente. Segundo dados de 14/07/2014 da Companhia de
Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará - COGERH, o volume armazenado nos 149
reservatórios d'água monitorados no estado está em 30,6% (5.756 hm³) da capacidade total
(18.826 hm³), o que representa uma redução de 55,3% em relação ao volume armazenado
em 01/01/2012, que era de 12.877 hm³.

Figura 2: Municípios atingidos por inundações em 2009

Fonte:CEDEC-CE, 2014

Os dados demonstram que a seca comprometeu a recarga das reservas hídricas e


consequentemente o abastecimento d'água potável da população residente em áreas mais
vulneráveis, ou seja, as que menos dispõem de infraestrutura de armazenamento e
abastecimento d'água potável ou de acesso à água através de poços em atividade regular.
Com esvaziamento das cisternas, dos poços e dos grandes reservatórios (açudes), para
suprir a demanda d'água potável da população torna-se necessário percorrer cada vez
maiores distâncias.
Em resposta à situação de emergência provocada pela seca, o Governo do Estado, por meio
da CEDEC-CE recebeu cerca de 85 milhões de reais para coordenar as ações de
assistência e restabelecimento de serviços essenciais. O Exército Brasileiro executou a
distribuição d’água potável em 109 municípios e a CEDEC-CE coordenou o abastecimento
d’água nos demais municípios. Foram adquiridos, ainda, com recurso federal, para
assistência humanitária, 70.000 cestas de alimentos e 100.000 filtros de polipropileno.

52
Além disso, foram recebidos por meio de doação, através da campanha Força Solidária,
13.560 cestas e 181.472 litros d’água, que foram distribuídos à população nos municípios
atingidos pela seca. Para atender os municípios em colapso total de água ou com previsão
de exaurimento da água dos reservatórios, foram adquiridas adutoras de engate rápido, com
recurso federal da ordem de R$ 15 milhões na 1ª fase e R$ 153 milhões para a 2ª fase.

Além dos recursos citados, o Governo Federal ainda autorizou a liberação dos seguintes
benefícios:

 Bolsa Estiagem para agricultores de subsistência;

 Linha de Crédito Emergencial para agricultores;

 Renegociação de dívidas rurais junto aos bancos públicos;

 Aumento da demanda e quantidade de parcelas do Garantia Safra;

 Venda de milho subsidiado.

Você chegou ao final da Unidade 3, aqui, você aprendeu a identificar e


classificar desastres, conforme a Instrução Normativa nº 01 –
SEDEC/MI que trata dos procedimentos para decretação de situação de
emergência ou estado de calamidade pública. Viu também o que são
danos e prejuízos e como avaliá-los tecnicamente, sempre
considerando o papel da defesa civil nas diferentes situações, antes e
após a ocorrência dos desastres. Conheceu os principais desastres
que ocorrem no Estado do Ceará.

53
UNIDADE 4

IMPLANTAÇÃO E OPERACIONALIZAÇÃO DE UMA COMDEC

1- INTRODUÇÃO

Como é no município que os desastres acontecem e a ajuda externa normalmente demora a


chegar, é importante que a comunidade e o Governo Municipal estejam conscientes da
necessidade de um órgão governamental e de associações comunitárias que visem à
segurança da coletividade.

Neste contexto, é de suma importância à criação de um órgão responsável pela proteção


global da população, a Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil – COMDEC ou
órgão similar, sendo de competência do Poder Executivo Municipal incentivar a sua criação
e implantação no município.

É necessário que a população esteja organizada, preparada e orientada sobre o que fazer e
como fazer em circunstâncias adversas, pois somente, assim, a comunidade poderá
prevenir e dar resposta eficiente aos desastres. Portanto, para se conseguir um resultado
eficaz é necessário unir as forças da sociedade por intermédio da COMDEC e dos Núcleos
Comunitários de Proteção e Defesa Civil – NUDECs.

As ações mais importantes a serem desenvolvidas pela COMDEC são as preventivas, que
tem por objetivo evitar que o desastre ocorra; portanto, são realizadas antes do desastre, no
período de normalidade. É também, na normalidade, que a comunidade deve preparar-se
para enfrentar a ocorrência do desastre, pois se as pessoas estiverem preparadas, sofrerão
muito menos danos e prejuízos.

Apenas planos bem elaborados não são suficientes. É preciso que a comunidade participe
das atividades de Defesa Civil no município, organizando-se em NUDECs, que irão auxiliar a
COMDEC desde o planejamento até a execução das ações de Defesa Civil.

A principal atribuição da COMDEC é conhecer e identificar os riscos de desastres no


município. A partir deste conhecimento é possível preparar-se para enfrentá-los, com a
elaboração de planos específicos onde é estabelecido o que fazer, quem faz, como fazer, e
quando deve ser feito.

A implantação de uma COMDEC deve começar com o processo de conscientização e


motivação dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e posteriormente com a
participação e envolvimento da população.

54
Motivação:
Este é o momento do primeiro contato entre as
autoridades de defesa civil e a comunidade. Sugere-se
que um representante do órgão estadual de defesa civil
entre em contato com a Prefeitura Municipal ou vice-
versa, expondo a realidade do município do ponto de
vista dos desastres, através de entrevistas e reuniões
com as autoridades municipais, as lideranças
comunitárias, os grupos participativos e atuantes e a
população local.

Conscientização:

Após a fase da motivação, a comunidade, já estruturada,


poderá identificar suas necessidades e recursos
preparando-se para participar da tomada de decisão.
Essa fase é muito importante, porque quando as pessoas
participam das decisões, da seleção de prioridades e
contribuem com o seu trabalho, elas se sentem
responsáveis por todo o processo.

Mobilização:

A partir da tomada de decisão, a comunidade deverá ser


estimulada a participar dos programas que serão
desenvolvidos pela COMDEC.

1.1- Formalização da COMDEC

Para se formalizar uma COMDEC, faz-se necessário seguir alguns passos importantes de
formalização para que os procedimentos por ela executados tenham efeito legal:

 Mensagem à Câmara Municipal encaminhando o Projeto de Lei de criação da


COMDEC;
 Projeto de Lei de criação da COMDEC;
 Decreto de Regulamentação da Lei que cria a COMDEC;

55
 Portaria de nomeação dos membros da COMDEC;
 Publicação na Imprensa Oficial.

1.2- Organização e Estrutura da COMDEC

Para que a COMDEC exerça na íntegra as ações de defesa civil, é essencial que esse órgão
responsável pela segurança global da comunidade funcione em caráter permanente e
integral. Sendo que a sua estrutura deve guardar uma relação com os demais órgãos da
Administração Municipal, preferencialmente, ligada diretamente ao Gabinete do Prefeito.

A COMDEC é composta por um Coordenador ou Secretário Executivo, um Conselho


Municipal e por Áreas e Setores que desempenhem principalmente as seguintes atribuições:

 Área Administrativa: secretaria, cadastramento e revisão de recursos materiais,


humanos e financeiros.

 Área de Minimização de Desastres, deverá ser composta por dois setores:

 Setor de Prevenção de Desastres - responsável pela Avaliação de


Riscos aos quais o município está sujeito e Redução de Riscos de
Desastres; e,

 Setor de Preparação para Emergências e Desastres - responsável pelo


desenvolvimento institucional, de recursos humanos (cursos de
treinamento) e científico-tecnológico, mobilização, monitorização, alerta,
alarme, aparelhamento, apoio logístico, entre outros.

 Área Operacional, composta por dois setores, terá como atribuições:

 Setor de Resposta aos Desastres - responsável pelas atividades de


socorro às populações em risco, assistência aos habitantes afetados e
reabilitação dos cenários dos desastres; e,

 Setor de recuperação - responsável pelo restabelecimento dos serviços


públicos essenciais, reconstrução e/ou recuperação das edificações e
infraestrutura, serviços básicos necessários a restabelecer a
normalidade.

Nos municípios de pequeno porte a estrutura organizacional da COMDEC pode ser mais
simplificada, com um Coordenador ou Secretário-Executivo, um técnico que irá
desempenhar as atribuições de cadastramento e revisão de recursos e um setor técnico-
operativo que desenvolverá as atividades de minimização de desastres e emergenciais.

Nos municípios de grande porte justifica-se a organização de um Centro de Operações, com


plantão de 24 horas.

56
Depois de estruturada a COMDEC devem-se seguir alguns passos a fim de consolidar a
atuação do órgão no município, a saber:

 Elaborar um Plano de Trabalho para definir as atividades que devem ser executadas
prioritariamente;
 Elaborar um Programa de Treinamento/Capacitação para preparar as equipes a
desempenharem as suas atividades;
 Elaborar planejamentos (planos anuais, de contingência, etc.);
 Mobilizar a comunidade para fins de implantação e operacionalização de NUDECs; e,
 Estimular parcerias com os municípios da mesma região para elaborar
atividades conjuntas.

1.3- Quem é quem na COMDEC

O Coordenador ou Secretário-Executivo da COMDEC deve ser um profissional experiente,


com reconhecida capacidade técnica em gerenciamento de desastres, com acesso ao
Prefeito, competência e autoridade para tomar decisões em situações de crise.

Os demais integrantes da COMDEC deverão ser servidores efetivos da Administração


Pública Municipal com dedicação exclusiva nas atividades de Defesa Civil. Essa é uma
estratégia para não onerar a folha de pagamento, devendo o Gestor Municipal remanejar,
por meio de Portaria, o pessoal de outros órgãos, para exercerem, em caráter exclusivo e
integralmente, suas funções na COMDEC.

É importante frisar que a seleção de recursos humanos para compor o quadro de servidores
da COMDEC deverá observar as características dos desastres que ocorrem no município,
dando preferência aos profissionais que possam atuar nessas circunstâncias de desastres.

Como a ação de Defesa Civil é extremamente específica, torna-se fundamental a


capacitação de todos os servidores ou voluntários que participarem das atividades.

1.4- Conselho Municipal de Proteção e Defesa Civil

O Conselho Municipal de Proteção e Defesa Civil atuará como órgão consultivo e é


constituído por representantes das Secretarias Municipais, dos órgãos da Administração
Pública Municipal, Estadual e Federal sediados no município, e por representantes das
classes produtoras e trabalhadoras, de clubes de serviços, de entidades religiosas e de
organizações não governamentais – ONG – que apoiam as atividades de Defesa Civil em
caráter voluntário. A participação das lideranças comunitárias e de representantes dos
Poderes Judiciário e Legislativo contribui para aumentar a representatividade do Conselho.

57
Os membros do Conselho Municipal exercem atividades comunitárias e não deverão receber
remuneração para esse fim.

Caberá ao Conselho Municipal elaborar o seu próprio Regimento Interno. É recomendável


que a Presidência do Conselho Municipal de Defesa Civil seja assumida pelo Prefeito
Municipal enquanto que a Vice-Presidência, pelo Coordenador ou Secretario Executivo da
COMDEC.

1.5- Núcleos Comunitários de Proteção e Defesa Civil

Os NUDECs podem ser organizados em diferentes Grupos Comunitários que constituem os


distritos, vilas, povoados, bairros, quarteirões, edificações de grande porte, escolas e
distritos industriais. Funcionam como elos entre a comunidade e o governo municipal através
da COMDEC, com o objetivo de reduzir desastres e de promover a segurança da população
contra eles, que podem ocorrer nos cenários estudados.

A instalação dos NUDECs cresce de importância nas áreas de riscos intensificados de


desastres e tem por objetivo principal informar, organizar e preparar a comunidade local para
minimizar os desastres e dar pronta resposta aos mesmos, buscando reduzir ao máximo a
intensidade dos danos e prejuízos consequentes.

Os NUDECs funcionam como fóruns de debate sobre proteção e defesa civil e as reuniões
têm por objetivo planejar as atividades relacionadas com a redução de desastres, com
destaque para:

 A avaliação dos riscos de desastres e a preparação de mapas temáticos relacionados


com as ameaças, com as vulnerabilidades dos cenários e com as áreas de riscos
intensificados;
 A promoção de medidas preventivas estruturais e não estruturais, que são
desenvolvidas com o objetivo de reduzir os riscos de desastres;
 A elaboração de planos de contingência para responder às hipóteses de desastres e
exercícios simulados para aperfeiçoá-los;
 O treinamento de voluntários e das equipes técnicas operacionais, para atuarem em
circunstâncias de desastres; e,
 A organização de um plano de chamada, com o objetivo de otimizar o estado de
prontidão, na iminência de desastres.
O bom desempenho dos NUDECs depende do apoio das equipes técnicas da COMDEC,
que devem buscar o máximo de interação com as comunidades locais.
Recomenda-se como tópicos para treinamento dos membros dos NUDECs:

 Noções básicas de Defesa Civil;


 Análise de riscos;

58
 Primeiros socorros;
 Educação ambiental;
 Atendimento aos acidentes domésticos; e,
 Simulados periódicos.
É importante que se valorize a definição de metas a serem atingidas, dentro dos prazos
estipulados, a avaliação dos resultados e o desempenho dos NUDECs.
Normalmente os Planos de Contingência são elaborados na COMDEC e levados aos
NUDECs para que os mesmos aprofundem suas atuações.

1.6- Órgãos Setoriais e de Apoio

Os órgãos setoriais são constituídos por órgãos e entidades da Administração Pública


Municipal, Estadual e Federal sediados no município, os quais se responsabilizam pelas
ações integradas do SINPDEC que se fizerem necessárias, sob a coordenação do órgão
local de defesa civil. Esses órgãos podem compor o Conselho Municipal de Proteção e
Defesa Civil.

A distribuição das atividades obedece à lógica do órgão mais vocacionado para


desempenhar as ações que lhes são atribuídas, de forma mais eficaz.

Os Órgãos de Apoio são os órgãos e entidades públicas e privadas, associações de


voluntários, clubes de serviços, organizações não governamentais, associações de classe e
comunitárias, que apoiam os demais órgãos integrantes do SINPDEC, sob a coordenação
da COMDEC.

É desejável que os órgãos setoriais e de apoio ao SINPDEC no município sejam


amplamente diversificados, permitindo uma amplitude multidisciplinar, que abranja as
seguintes áreas setoriais:

 Saúde Pública, Assistencial, Mental, Emergencial e Atendimento Pré-Hospitalar;

 Legislativo Municipal;

 Corpo de Bombeiros Militar, Guarda Municipal, Polícia Rodoviária, Polícia Militar,


Polícia Civil e Polícia Federal;

 Forças Armadas – (Exército, Marinha e Aeronáutica);

 Assistência Social e Promoção Social;

 Educação, Ciência e Tecnologia e Esportes;

 Obras Públicas, Habitação e Saneamento Básico;

 Trabalho e Previdência Social;

 Agricultura e Abastecimento;

59
 Transporte;

 Minas e Energia;

 Comunicações;

 Meio Ambiente;

 Economia e Finanças; e,

 Justiça.

1.7- O que se espera dos municípios e da população

As evidências têm demonstrado, em diferentes partes do mundo, e para isto serve muito o
exemplo do Japão, que somente através de um inteligente e bem estruturado esforço de
ampla informação e motivação da população, pode ser alcançada uma real mudança
cultural.

A mudança cultural somente poderá ser alcançada através de programas orientados


tecnicamente para alcançar o processo de entendimento dos problemas dos desastres e dos
danos e consequências adversas que os mesmos determinam, sendo, dessa forma, atingido
um grau de conscientização no qual a sociedade (estratos da população, inclusive
governamental) decide pela importância e prioridade real das medidas e ações preventivas.

Continuar atuando de forma improvisada, depois que os desastres acontecem, significa


aumentar o sofrimento, as perdas econômicas, paralisar o desenvolvimento e regredir no
tempo.

O convencimento de que um bem estruturado programa de preparação permitirá avançar


com passos concretos na prevenção de muitas situações difíceis e de ameaça imediata
deve ser o anseio e a meta dos municípios e da população.

Você chegou ao final da Unidade 4, aqui, você conheceu o processo


para implantação e operacionalização de um órgão Municipal de
Proteção e Defesa Civil. Viu a importância de institucionalizar a defesa
civil em nível municipal, assim como somar esforços com a sociedade
em geral por meio do Conselho Municipal de Proteção e Defesa Civil e
dos Núcleos Comunitários de Proteção e Defesa Civil (NUDECs).

60
61
UNIDADE 5

MOBILIZAÇÃO SOCIAL EM DEFESA CIVIL

1- INTRODUÇÃO

A Gestão de Riscos de Desastres (GRD) é um processo permanente de tomada de


decisões planejadas e implementação de ações destinadas a reduzir as possibilidades de
que um evento adverso se torne um desastre, além de dar a resposta adequada aos
desastres buscando recuperar meios de vida, serviços e sistemas após a ocorrência do
sinistro.

O sucesso da Gestão de Riscos de Desastres depende de uma ação organizada de


reduzir o risco de desastres mediante esforços contínuos de todos os componentes do
sistema de proteção e defesa civil com foco na gestão dos fatores que causam os
desastres, o que inclui a redução do grau de exposição às ameaças, a diminuição da
vulnerabilidade da população e o aumento de suas capacidades frente aos eventos
adversos, além da gestão sensata dos solos e do meio ambiente.

Para entender melhor como funciona a Gestão de Riscos de Desastres, serão estudados
adiante os tipos de risco, e de gestão de risco, bem como as ferramentas que podem ser
utilizadas na redução do risco.

2- TIPOS DE RISCO

Sendo o foco da Gestão de Riscos de Desastres a redução do risco, é importante


reconhecer que existem aqueles já instalados, chamados de riscos atuais e outros que
poderão se instalar dependendo das decisões tomadas no presente, os riscos futuros.

Os riscos atuais são percebidos.

Ex: a exposição de uma


comunidade ribeirinha à
inundação.

Foto: Ocupação das Margens do Rio Maranguapinho em Fortaleza.


Fonte:CEDEC-CE, 2014.

62
os riscos futuros precisam ser
pensados considerando estudos que
projetam cenários futuros de
determinados investimentos.

Ex: o risco resultante da permissão


de construção de uma fábrica de
fogos de artifício numa área
densamente povoada; caso ocorra
um acidente com explosão, muitas
pessoas seriam afetadas; ou o risco
resultante da omissão do estado
quanto à ocupação de áreas
susceptíveis a deslizamentos ou Foto: Flavio Pereira – Placa de alerta de área de risco de deslizamento
inundações.

Conhecidos os tipos de risco, devem ser estudados tipos de gestão adequados aos riscos
atuais e aos futuros.

3- TIPOS DE GESTÃO DE RISCO DE DESASTRES

Existem três tipos de gestão de risco: gestão corretiva, gestão prospectiva e gestão
reativa.

3.1- Gestão Corretiva

A gestão corretiva é o conjunto de ações orientadas a reduzir o risco existente, seja este
fruto de práticas e decisões inadequadas de utilização e ocupação do território, ou de
mudanças ambientais e sociais criadas antes do desenvolvimento da comunidade. A
gestão corretiva se baseia em duas principais estratégias de redução do risco existente: a
redução da vulnerabilidade e o aumento da resiliência.

A gestão corretiva atua sobre a redução da vulnerabilidade limitando a exposição da


comunidade aos perigos físicos existentes por meio de medidas estruturais de proteção e
fortalecimento do ambiente.

Ex: construindo diques para acumular grandes quantidades d'água, muros de


contenção e estabilização de encostas, reforço da estrutura de habitações e
edifícios etc.

63
Foto: Barragem de amortecimento de cheias do Rio Maranguapinho (Maracanaú - Fortaleza).
Fonte: Miranda, Ernani Ciríaco. Painel Meio Ambiente – Políticas Públicas Ambientais, 2013

Para o aumento da resiliência, a gestão corretiva deve fortalecer a tomada de consciência


e o papel das autoridades, bem como o diálogo com os atores locais, estabelecendo
mecanismos administrativos visando à gestão do território e dos recursos naturais,
melhorando as condições de vida, criando empregos dignos e reduzindo a pobreza.

3.2- Gestão Prospectiva

A gestão prospectiva também está focada nas decisões que afetam a relação das
comunidades e os seus ecossistemas, mas com a diferença de que trabalha para evitar
processos e decisões com possibilidade de desencadear condições de risco no futuro.

Pela sua natureza, a gestão prospectiva tem uma forte relação com os processos de
planejamento do desenvolvimento e do ordenamento territorial.

Ex: Através da consideração do risco e da sustentabilidade nos projetos de


investimento, nas políticas públicas e nas tarefas cotidianas de um território e das pessoas;
mapeamento das áreas susceptíveis a desastres com o fim de evitar a ocupação das
mesmas.

Foto: Mapeamento de áreas susceptíveis a deslizamentos e inundações em Crato.


Fonte: http://defesacivilemcrato.blogspot.com.br.

64
Essa construção de consciência voltada para a redução do risco, a vontade política, a
criação de capacidades, a formação de pessoal e a reserva de recursos humanos e
materiais são vitais para poder promover medidas que evitem ou minimizem a criação de
novos riscos.

3.3 Gestão Reativa

A gestão reativa preocupa-se em preparar-se para a resposta e a emergência com o fim de


garantir que a organização, os sistemas, os procedimentos, os recursos e as capacidades
necessárias estejam disponíveis e funcionem adequadamente no momento da
emergência, com vista a assegurar uma assistência eficaz à população, o resgate de vidas
humanas e a recuperação e reabilitação dos serviços básicos pós-desastre.

Ex: Planos de preparação, sistemas de alerta precoce, formação e sensibilização


das autoridades e das pessoas, simulações, organização da população,
coordenação interinstitucional e intersetorial, mitigação de possíveis efeitos das
ameaças e redução das vulnerabilidades.

Foto Oficina de Preparação para Desastres, em Fortaleza.


Fonte: CEDEC-CE, 2013

A previsão e organização de recursos e responsabilidades, a preparação antecipada de


planos de recuperação e de reconstrução, bem como a organização e treinamento dos
atores, são vitais para integrar uma visão de gestão do risco e desenvolvimento no período
pós-desastre.

Conhecidos os riscos e os tipos de gestão de risco, devem ser estudadas, planejadas,


implementadas e avaliadas as ferramentas de redução do risco de desastres.

65
4- MOBILIZAÇÃO SOCIAL EM DEFESA CIVIL

(extraído do caderno de atividades do curso de gestão integrada em


defesa civil)

4.1- Mobilizando para Construir Redes

O significado comum do verbo mobilizar se refere a “dar movimento a”, “convocar pessoas
para”. A palavra, que ganhou visibilidade no contexto militar quando da convocação de
pessoas para atuar no estado de guerra, transformou‐se pouco a pouco sendo hoje
amplamente utilizada em outras situações.

Semanticamente, o verbo mobilizar nos propõe, ainda, o movimento de pessoas para atuar
de forma conjunta em uma mesma direção, para um mesmo fim. Neste sentido, ao
falarmos de mobilização social estamos tratando de um projeto que é, antes de tudo,
coletivo.

Mobilização social está relacionada ao engajamento e participação de pessoas para


alcançar objetivos específicos. Característica singular deste processo, quando de caráter
participativo e democrático, é o envolvimento necessário de diferentes segmentos sociais
nas ações e decisões implicadas no projeto comum.

Portanto, o princípio da diversidade deve permear a construção coletiva que se pretende


desenvolver, pois o convite às pessoas de diferentes segmentos sociais, áreas de atuação,
crenças religiosas, entre outros, deve ser um convite às diferenças e, na mesma medida,
respeito às mesmas no processo.

Quando se fala de diferentes segmentos sociais incluem‐se: líderes políticos, líderes de


opinião, as mídias, os burocratas e tecnocratas, os grupos profissionais, associações
religiosas, do comércio e da indústria, comunidades e indivíduos, entre outros.

O envolvimento destas pessoas e das organizações que representam visa à transformação


social, ou seja, a mudança de algum aspecto da realidade imediata para outra realidade.
Os esforços de todos de forma inter‐relacionada e complementar possibilitará este
processo de mudança social. Para tanto, é necessário que todos percebam e identifiquem
a necessidade do que se queria mudar.

Ademais, é fundamental que as pessoas e grupos sejam, posteriormente, capacitados para


a ação, uma vez que as mudanças são consequências de ações continuadas.

Mobilizar se refere a arranjar as pessoas, gerando o movimento para um propósito comum,


mas, além de pessoas, é possível mobilizar outros recursos, tais como: aparelhos,
equipamentos e tecnologias disponíveis, infraestruturas, políticas etc. A divulgação de
informações adequadas ao público‐alvo, mobilizará estes diferentes recursos, promovendo
o apoio intersetorial e transversalizado.

66
Um dos resultados da mobilização são as redes constituídas, integrando e articulando os
diferentes atores, organizações sociais, governamentais e não governamentais, conselhos
profissionais, conselhos comunitários, entre outros.

Para tanto, é preciso desenvolver um olhar sistêmico sobre a sua realidade, identificando
os possíveis atores e seus diferentes papéis, considerando o contexto de intervenção,
sensibilizando‐os e articulando‐os para atuar coletivamente.

Esse processo não ocorrerá sem que haja muito diálogo, construção de parcerias e, um
planejamento adequado, incluindo, por exemplo:

 Identificação dos problemas, necessidades e demandas sociais;

 Reconhecimento das particularidades do contexto de intervenção e identificação

dos diferentes atores sociais;

 Comunicação e Sensibilização dos atores para promover o envolvimento no projeto;

 Realinhamento das demandas e necessidades de acordo com as prioridades, após


o processo de sensibilização e contato com a comunidade;

 Capacitação e organização dos recursos disponíveis para a ação;

 Implementação de ações para a consecução dos objetivos;

 Avaliação continuada dos resultados;

 Construção de redes de organizações sociais;

 Manutenção das redes, fluxos e processos de intervenção.

Embora a mobilização social possa ser uma estratégia para a consecução de objetivos
específicos e, portanto, ser finalizada após a realização de suas metas, tem que se ter em
mente que muitos resultados do processo não são quantificáveis, repercutindo por longo
prazo em determinados contextos sociais.

Além disso, quando com a mobilização social se promove a construção de redes,


espera‐se que se tenha continuidade e que o envolvimento de pessoas e organizações se
dê permanentemente, ampliando‐se o repertório de ações e contextos de intervenção,
complexificando e diversificando as redes e sub‐redes, assim como os projetos coletivos e
os resultados desejados.

As pessoas envolvidas não são apenas partes que integram o todo e que podem ser
substituídas conforme as necessidades. Pelo contrário, no processo de mobilização e no
espaço das redes, as pessoas constroem suas identidades, participam dos processos
decisórios de forma compartilhada, assumem os propósitos coletivos sem deixar de manter
as suas singularidades. Um sentimento de pertencimento passa a constituir as pessoas
que se engajam nestes projetos coletivos. O olhar sistêmico sobre a realidade deve‐se

67
ampliar, portanto, para o gerenciamento de ações e iniciativas e para o próprio processo
de mobilização e articulação das redes, e para as diferenças maneiras de participação das
pessoas nestas redes.

Para Toro A. (1997), a participação em um processo de mobilização social é,


simultaneamente, meta e meio. A mobilização social requer participação ao mesmo tempo
em que promove e amplia a participação das pessoas. O desafio é conseguir, ao longo do
processo, crescer em abrangência e profundidade, ter quantidade e qualidade neste
envolvimento das pessoas. A participação social é, antes de tudo, um princípio
democrático, pois a ordem social não se constitui naturalmente, senão como resultado das
ações das pessoas sobre o meio.

Nós todos participamos, de uma forma ou de outra, da construção da realidade social que
vivemos. Para transformar esta mesma realidade é necessário que transformemos a nós
mesmos e atuemos no sentido de promover estas mudanças. Isso não ocorre sem
conflitos e dificuldade que precisam ser cotidianamente rearranjados e sem um processo
de educação que promove o emponderamento destas muitas e diferentes pessoas
envolvidas, convergindo suas ações para propósitos comuns.

Assim como existem vários níveis de como os interesses e valores da cidadania se


organizam em cada sociedade para encaminhar ações em prol de políticas sociais e
públicas (Scherer‐Warren, 2006), também existem várias formas de organização a nível
local e de participação das pessoas neste âmbito.

Além dos coletivos formais instituídos, há os coletivos informais que atuam


diversificadamente, muitas vezes de forma alternativa, e que também precisam ser
envolvidos no processo de mobilização social. Deve‐se ter clareza que nem sempre é
possível mobilizar a todos ao mesmo tempo. Mobiliza‐se conforme os objetivos definidos e
os resultados que se deseja alcançar.

É certo que não há modelos únicos de participação social e de organização dos esforços
para desenvolver projetos e ações. Por isso, para fazer mobilização social é necessário
reconhecer e assegurar as particularidades, recursos, competências, diferenças culturais e
conflitos de cada contexto em que se quer atuar.

4.2- Características dos Mobilizadores

Os mobilizadores devem favorecer, da melhor forma possível, a integração e o


relacionamento entre os membros do grupo, facilitar a aprendizagem, a troca de
conhecimentos e o engajamento de todos nas ações em Defesa Civil. Deve exercer várias
funções para poder trabalhar com as habilidades, potencialidades e atitudes dos atores
participantes do grupo, tais como:

 Favorecer a integração e o relacionamento entre os membros do grupo;

68
 Resolver de forma harmoniosa as situações criadas no grupo;

 Facilitar a aprendizagem e a troca de conhecimentos;

 Multiplicar informações, conhecimentos e experiências;

 Conduzir o grupo a criar respostas adequadas a novas ou velhas situações;

 Sensibilizar o indivíduo quanto à sua importância como agente atuante nas


ações de proteção e defesa civil e órgão de apoio do Sistema Nacional de
Proteção e Defesa Civil;

 Estimular os atores a continuarem as ações de forma autônoma e autogerida,


independentemente de sua presença.

Lembre‐se que o mobilizador é antes de tudo um mediador e facilitador de processos, com


a finalidade de criar novas condições de engajamento dos atores em ações que visem à
redução de desastres. Deve, portanto, viabilizar que os atores construam e gerenciem as
ações e encontros para que a mobilização não dependa da presença do mobilizador.
Afinal, nem sempre você estará disponível para mediar e organizar os encontros e as
demandas e, assim, os atores sociais passam a gerenciar as ações de acordo com suas
próprias necessidades.

A confiança dos atores no mobilizador é muito importante para o êxito em várias etapas do
processo de mobilização, uma vez que é por meio dele que estes atores entrarão em
contato com o tema abordado, recebendo informações sobre o mesmo. O mobilizador
precisa, portanto, respeitar e estar familiarizado com os modos de vida da comunidade ou
do público‐alvo, comunicar‐se com clareza, ser responsável e ético com relação ao
compromisso que assume junto aos atores, e, especialmente, saber receber críticas e
sugestões, de modo a conduzir o processo como uma construção coletiva.

4.3- Mobilização Social como Foco no Desenvolvimento de Ações em


Proteção e Defesa Civil

O Marco de Ação de Hyogo (2004), como instrumento mais importante para


implementação da redução de risco de desastres adotado pelos Estados Membros, a ser
desenvolvido entre os anos de 2005 e 2015, estabeleceu como suas prioridades de ação:

1. Buscar que a redução de risco de desastres seja uma prioridade

2. Conhecer o risco e tomar medidas

3. Desenvolver uma maior compreensão e conscientização

4. Reduzir o risco

69
5. Estar preparado e pronto para atuar

Um dos princípios que rege o documento é o entendimento de que os desastres podem


afetar a qualquer um e que se trata, portanto, de uma responsabilidade de todos. A
redução de risco de desastres deve fazer parte das decisões cotidianas e necessita da
colaboração de todos nós para nos tornarmos menos vulneráveis e mais resilientes. Para
tanto, os países precisam garantir a participação comunitária como instrumento
fundamental neste processo, satisfazendo as necessidades locais e assegurando a
redução de vulnerabilidades frente aos desastres naturais.

Para integrar a redução de risco de desastre nas políticas e nos planejamentos,


construindo efetivamente uma cultura de redução de risco, é fundamental que se
estabeleça alianças entre as agências governamentais, o setor privado e as diferentes
organizações da sociedade civil.

Portanto, a mobilização social é uma importante estratégia para enfrentar os desastres e


para o desenvolvimento das ações da Defesa Civil.

A fim de conhecer os riscos, tomar medidas frente aos mesmos, conscientizar e preparar a
população, minimizando as vulnerabilidades, a participação e mobilização da sociedade
são indispensáveis. Afinal, são as pessoas nas suas comunidades as primeiras a
enfrentarem os desastres e, também, são elas a desenvolverem qualquer ação prevista
pelas políticas e pelos planejamentos dos diferentes setores governamentais.

O desafio neste processo de mobilização para redução de risco de desastre e no


enfrentamento destas situações está no reconhecimento do caráter intersetorial destas
ações e na necessidade de que sejam transversalizadas entre as diferentes esferas:
públicas e privadas; municipais, estaduais e federais; diversificadas áreas de atuação
profissional; entre outras.

Para que as ações tenham sucesso, a Defesa Civil precisa estabelecer parcerias e
constituir redes para que outros setores se apropriem e compartilhem dos programas a
serem desenvolvidos. O envolvimento das comunidades e das instituições possibilitará
ampliar, então, a autonomia e garantir a autogestão para tomada de decisões sobre as
situações que as afetam.

Aos poucos, torna‐se possível construir o reconhecimento legal e jurídico em um processo


formal de tomada de decisões e de manejo de recursos.

Outro pressuposto que fundamenta a importância de mobilizar pessoas e organizações


para as ações de Proteção e Defesa Civil está no fato de que o planejamento para o
enfrentamento aos desastres não pode se embasar somente em soluções técnicas
(DYNES, 1991).

Pelo contrário, o planejamento das ações de enfrentamento precisa ser construído


considerando a cultura e a estrutura social, possibilitando que os hábitos e os mecanismos
sociais permitam a comunidade mobilizar os recursos humanos e materiais disponíveis.

70
Essa mobilização destina‐se a reduzir os riscos no contexto atual e futuro, construindo, por
sua vez, uma cultura de redução de risco de desastre. As soluções técnicas por si só não
garantem a segurança da população, uma vez que mesmo para implantar estas soluções
são necessárias pessoas informadas, sensibilizadas e preparadas para atuar neste
sentido. Igualmente, as estratégias de prevenção e promoção de qualidade de vida, a
percepção de riscos de desastres e a efetivação de políticas públicas para seguridade
social exigem e produzem, ao mesmo tempo, mudanças culturais profundas.

Neste sentido, o que se afirma é que o desenvolvimento e aplicação de tecnologias são


importantes, mas não suficientes para enfrentar os desastres. Nas diferentes etapas
implicadas nas ações de Defesa Civil (prevenção, mitigação, preparação, resposta e
recuperação), por exemplo, a comunidade precisará ser mobilizada para atuar em parceria
com a Defesa Civil e demais setores da sociedade, tendo as suas características culturais
consideradas para o desenvolvimento das ações e construção de um projeto coletivo e
participativo.

A mobilização social e a construção de redes são, portanto, estratégias importantes para o


planejamento das ações de Defesa Civil nos diferentes momentos, como por exemplo:

 Ampliar a percepção de riscos nas pessoas e comunidades;

 Envolver os diferentes atores na elaboração dos planos de contingência, na


construção e difusão dos sistemas de alerta e monitoramento;

 Mobilizar as redes de assistência a pessoas afetadas por desastres;

 Envolver as comunidades na elaboração dos projetos, que devem considerar as


necessidades, laços afetivos, particularidades culturais e simbólicas de cada
comunidade.

Para (Sáiz, 1998), um modelo de mobilização para proteção civil deve ser
desburocratizado e descentralizado, sustentando‐se na participação ativa e direta da
população e no estreitamento dos vínculos com as comunidades. Deve‐se atuar a partir da
identificação e reconhecimento dos diferentes grupos que ali existam e de formas fáceis de
comunicação e de informação, adequadas aos códigos sociais das comunidades.

A partir destas reflexões, compreendemos que o sistema de Proteção e Defesa Civil


precisa ser, entre outros aspectos:

 Participativo: aberto a intervenção autônoma e autogestão de todos os envolvidos,


facilitando a participação de todos no sistema de proteção.

 Pluralista: aceitando as diversidades e respeitando as diferenças, não


estabelecendo critérios de exclusão dos grupos e organizações.

 Comunicativo: fundamentado em um projeto compartilhado de construção e


difusão de informações, e de definição de estratégias de comunicação comunitária.

71
 Mobilizador: sensibilizando pessoas e capacitando‐as para se autoprotegerem e
atuarem nos diferentes momentos de enfrentamento aos desastres, priorizando
ações de proteção comunitária e de promoção de qualidade de vida.

4.4- Princípios Norteadores para uma Atuação em Proteção e Defesa Civil


junto às Comunidades

O compromisso ético com a segurança e a proteção social é de todos, por isso a famosa
frase do Dr. Castro ainda hoje ecoa significativamente dentro do Sistema Nacional de
Defesa Civil: “A Defesa Civil Somos Todos Nós”.

Da mesma forma, a redução das vulnerabilidades diante dos desastres precisa ser assim
entendida, centrando‐se nos processos que as reduzem e naqueles que as produzem, e
não somente nas pessoas que estão em condição de vulnerabilidade em determinados
contextos. Para Acselrad (2006), as pessoas vulneráveis são aquelas vítimas de proteção
social desigual, ou seja, de processos sociais que excluem a seguridade de seus direitos.

Sabe‐se que o aumento da vulnerabilidade aos desastres está estreitamente relacionado


ao modelo de desenvolvimento socioeconômico que escolhemos (Lavell, 1994). O
processo de proteção social é resultado, portanto, de um amplo espectro de fatores e
relações entre eles, incluindo os processos biológicos, ecológicos, culturais e
econômico‐sociais de cada sociedade e que se implicam nas condições de vida das
populações.

Ao desenvolvermos ações de defesa civil e mobilizarmos a sociedade precisamos saber,


entretanto, que estamos promovendo a garantia dos direitos que todos nós adquirimos por
segurança e proteção social. Proteção que depende de muitos fatores, se relaciona com o
contexto histórico que vivemos e aos nossos modos de vida, e da responsabilidade e
compromisso de todos, principalmente no que se refere à construção e controle social das
políticas públicas que garantem estes mesmos direitos.

Tal como prevê a carta de Ottawa (1986) com relação à promoção de saúde, é direito e
dever de todos estarmos capacitados para buscar os meios para conseguir atuar sobre os
fatores que favorecem o nosso bem‐estar e o da comunidade ou que a podem estar pondo
em risco, tornando‐a vulnerável aos desastres e prejudicando sua qualidade de vida.

Cada um é potencialmente capaz de vir a intervir sobre os fatores determinantes de sua


segurança e proteção, exercendo o que se chama de cidadania. Os seres humanos são
produtos de seu meio, mas também produtores do mesmo, podendo transformá‐lo ao
mesmo tempo em que transformam a si mesmos, inventando outros modos de vida. Assim,
ao mobilizar, todos na sociedade se tornam corresponsáveis pelas suas condições de vida.

72
Portanto, o integrante da defesa civil, ao intervir sobre as relações sociais e nos modos de
vida da população seja para a prevenção ou resposta aos desastres, tem sua prática
qualificada numa dimensão ética, social e política. Por isso, deve se respaldar nos
princípios de cidadania e na garantia dos Direitos Humanos Universais, possibilitando que
as pessoas sejam atendidas nas suas diferenças e compreendidas na sua constituição
afetiva, cognitiva, criativa, biológica.

Ademais, o agente de Defesa Civil tem o dever social de garantir que a instituição pública
atenda os direitos da população, possibilitando e estimulando que a população, por sua
vez, atue no controle social, acompanhando e avaliando as políticas públicas. Com o
cidadão, no nível local, o sistema de Defesa Civil se legitima como ferramenta de
promoção de autoproteção e proteção comunitária, repercutindo na construção
permanente de cidades mais seguras.

4.5- Identificação de Atores Sociais e Recursos Disponíveis

Atores sociais são pessoas, organizações ou coletivos de pessoas que possam, a partir de
determinados recursos disponíveis, atuar e transformar a realidade na qual estão inseridos.
São também capazes de aprender e inventar novas formas de viver e nos relacionar com
os outros e com o ambiente, tornando-se protagonistas das suas condições de existência.
Portanto, todos são de modo geral atores sociais.

Contudo, quando mobilizadas para atuar frente a determinados problemas ou situações, as


pessoas ou coletivos se tornam atores sociais engajados numa causa específica, ou seja,
são atores sociais de projetos particulares ou de etapas nos quais atuam e para os quais
disponibilizam os seus recursos. Estes atores costumam ter maior influência sobre alguns
processos sociais da comunidade e, por isso, é fundamental mobilizá‐los para participarem
das ações em defesa civil. Principalmente porque quando envolvidos e partícipes do
projeto, se tornam importantes multiplicadores do mesmo.

A mobilização social tem uma finalidade específica, isto quer dizer que se mobiliza para
alguma coisa. Ter clareza da finalidade da mobilização, mesmo que ajustes e
alinhamentos ocorram e devem ocorrer ao longo do processo, é primordial no
envolvimento dos atores sociais, para que esses possam avaliar de que maneira e com
que recursos podem contribuir com o projeto ou com as ações que se quer desenvolver. A
identificação dos atores começa a ocorrer a partir dos primeiros contatos com as
comunidades, quando o agente de defesa civil reconhece as pessoas, lideranças
comunitárias, organizações e instituições ali presentes, que podem ser relevantes naquele
local.

A contextualização deve ter favorecido uma análise preliminar da localidade e, também, a


identificação de possíveis conflitos entre atores estratégicos que se quer envolver. Quando
da identificação destes conflitos é preciso avaliar se haverá uma escolha ou se construirá
uma forma alternativa para gerenciá‐los. Conflitos e desentendimentos também podem vir

73
a ocorrer no decorrer do processo de sensibilização ou capacitação, os quais precisam ser
negociados em conjunto com todas as partes envolvidas.

No município podem-se considerar atores sociais estratégicos o prefeito, o secretário


municipal da Saúde, o presidente de associação de amigos de bairro, o presidente de
associação comercial e comunitária, o diretor de escola, a benzedeira, representantes de
entidades profissionais, representantes de conselhos tutelares, agentes de saúde,
representante do instituto de Planejamento Urbano do município, entre outros. É possível,
contudo, mobilizar crianças, jovens, idosos, mulheres, pessoas com deficiência, enfim, a
todos, cada qual com seus recursos e possibilidades. Os atores atuam e interagem de
acordo com os seus perfis e características pessoais.

O mapa de atores deve ser elaborado de acordo com cada realidade, com as organizações
ali presentes e instituições. Por exemplo, se a comunidade que você irá mobilizar já tiver
um NUDEC é preciso envolvê‐lo, mas em outras comunidades pode ser que seja relevante
mobilizar o representante de determinada indústria que joga os poluentes no rio. A
identificação dos atores dependerá do contexto de intervenção ou mobilização e dos
objetivos pretendidos. É estratégico que o prefeito, como principal representante
governamental do município, seja convocado para participar e esteja ciente da mobilização
desejada.

A identificação dos sujeitos sociais atuantes, perfis e recursos disponíveis podem resultar,
posteriormente, com a mobilização e articulação em rede dos mesmos, no registro destes
atores de acordo com a capacidade de mobilizar os recursos e de interferência no
desenvolvimento das ações.

Tendo em vista a exigência da intersetorialidade para desenvolver ações em Defesa Civil,


e a necessidade de que estas ações sejam coordenadas e integradas no nível local ‐ entre
poder público, setor privado e organizações da sociedade civil ‐, a identificação e
mobilização dos atores precisa garantir a integração de diferentes instâncias e setores
existentes. Se antes eles normalmente atuavam no mesmo território, mas de forma
isolada, agora se propõe que atuem conjuntamente, construindo práticas alternativas na
forma de gestão. A mobilização destes atores possibilitará a articulação necessária para
promover a sustentabilidade e a eficácia de programas em Defesa Civil. Considera‐se,
então, fundamental a identificação dos agentes locais e a sua preparação para a
continuidade das ações de forma participativa.

Você chegou ao final da Unidade 5, aqui, você aprendeu o conceito de


Gestão de Risco de Desastres (GRD), os tipos de gestão, assim como a
diferença entre riscos atuais e futuros. Viu também a importância da
mobilização para efetivar as ações preventivas de defesa civil.
Aprendeu também a identificar os atores sociais e recursos disponíveis
no município para auxiliá-lo nas ações de defesa civil.

74
UNIDADE 6

COMUNICAÇÃO EM DEFESA CIVIL

1- INTRODUÇÃO

Se há algo de incorreto em dizer que a comunicação é o quarto poder, é que ela não é o
quarto, mas o primeiro. De fato, não há fenômeno atual tão abrangente, penetrante e
decisivamente influente como os Meios de Comunicação Social. Desde as primeiras
relações microssociais que se dão na família, nos grupos, nas escolas, até aos grandes
acontecimentos macrossociais, como eleições política nacional, reformas econômicas,
conflitos mundiais... tudo passa pela comunicação e tudo é afetado de maneira profunda e
essencial por esse fator decisivo. (GUARESCHI, 2001)

O mundo não seria esse conhecido por nós hoje, se a humanidade, ao longo dos tempos,
não tivesse evoluído as formas de se comunicar, pois desde a era primitiva, quando a fala
ainda não era o meio de comunicação utilizado, nossos ancestrais já se valiam de outros
meios para expressar suas ideias, sentimentos, medo etc., tudo isso através de sinais,
gestos e outros meios descobertos pelos mesmos na tentativa de alcançar seus objetivos.
Essa comunicação embora acontecesse, gerava conflitos, pois os sinais e gestos utilizados
por um grupo não era o mesmo utilizado por outro e comumente aconteciam embates
entre eles, inicialmente pela não compreensão dos sinais e posteriormente, por conta da
individualidade de cada grupo, que buscavam seus objetivos e quando se encontravam
não sabiam se comunicar da mesma forma para trabalharem em equipe no alcance dos
alvos.

Com o passar dos tempos o homem foi descobrindo sons que evoluíram até chegar ao
meio principal de comunicação, a fala, não desmerecendo os outros, porém ela se colocou
em posição de destaque, pois através da mesma se tornou bem mais fácil o entendimento
entre as pessoas.

A partir dessa descoberta começaram então a busca por outras formas de se comunicar e
através das descobertas ao longo de toda história, como a eletricidade, componentes
eletrônicos, o rádio, a televisão (TV) e tantos outros, foi primordial para se chegar às mais
variadas e avançadas formas de comunicação na humanidade.

Segundo Aurélio (1993, p 134) a comunicação é o “Processo de emissão, transmissão e


recepção de mensagens por meio de métodos e/ou sistemas convencionados”, ou seja, é
a capacidade de trocar ou discutir ideias, de dialogar, de conversar, com vista ao bom
entendimento entre pessoas.

75
Baseado na definição apresentada percebe-se que a comunicação é um processo que
necessita de alguns elementos para que seja considerada como tal. A figura 2 ilustra os
elementos do processo de comunicação.

Figura 3 - Elementos do processo de comunicação

Fonte: Kotler apud Paiva Junior (2010, p.32)

Fazendo uma análise do fluxograma apresentado nota-se que esse processo comunicativo
é o que acontece no nosso cotidiano, pois o ser humano vive constantemente exposto à
comunicação e a todas as suas formas, milhares de vezes ao dia.

2- A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO NO PROCESSO DE REDUÇÃO


DE RISCOS

A eficácia da gestão do risco de desastres depende cada vez mais da participação


inteligente de todos os atores envolvidos no processo. A esse respeito, torna-se
indispensável promover a troca de informações e o fácil acesso aos meios de
comunicação, posto que sem informação não é possível investigar, planificar e monitorar
as ameaças e avaliar riscos, nem responder adequadamente a um desastre (UN/ISDR,
2004, p. 214).

O desenvolvimento acelerado das comunicações modernas facilitou o registro e a


divulgação das experiências, a transmissão de conhecimentos profissionais e o processo
de tomada de decisões. Além disso, processos de comunicação de risco são fundamentais
ao funcionamento e aperfeiçoamento de sistemas de alerta antecipados que são
essenciais para salvar vidas diante de um desastre.

De acordo com o National Research Council [Conselho Nacional de Pesquisas] dos


Estados Unidos (1989), a comunicação de risco pode ser conceituada como “um processo

76
interativo de troca de informações e opiniões entre os indivíduos, grupos e instituições, que
frequentemente envolve várias mensagens sobre a natureza do risco ou expressa
preocupações e opiniões legais e institucionais sobre a gestão do risco”.

2.1- Imprensa, os Riscos e os Desastres

Historicamente, a participação da mídia na cobertura de desastres existe desde o início da


imprensa. O grande marco que pode ser considerado é a Segunda Guerra Mundial (1939-
45), a qual inovou em tecnologias armamentistas e de comunicação, como os sistemas de
micro-ondas. Além disso, fotografias, filmes produzidos na época e jornais americanos,
como The New York Times, relatavam os acontecimentos do conflito militar.

Entre os anos 60 e 70, jornalistas já discutiam a participação da mídia na cobertura de


desastres ao questionar a hierarquização da notícia, sobre o que era realmente importante
para a sociedade e o nível de impacto.

Em 1990, foi realizado um dos primeiros encontros sobre comunicações e desastres,


promovido pela Coordenação de Assistência a Desastres das Nações Unidas, em
Genebra. Na Conferência Internacional sobre Comunicação em Desastres, cientistas e
estudiosos concluíram que a comunicação é “central no esforço de salvar vidas e reduzir o
sofrimento humano, deslocamentos e prejuízos econômicos na ocorrência de desastres”.

Em março de 2004, quando meteorologistas previam a formação de um fenômeno até


então considerado impossível no Atlântico Sul, a Defesa Civil de Santa Catarina estudava
a melhor maneira de comunicar à população sobre o fenômeno e como agir sem provocar
pânico e desorganização. Por meio de um canal de televisão, foi divulgada a iminência do
evento. Quando o furacão se aproximava da costa catarinense, o órgão estadual foi às
rádios buscar suporte na comunicação com as comunidades que poderiam ser afetadas. O
furacão Catarina poderia ter causado mais mortes e grandes estragos caso os meios de
comunicação não tivessem participado ativamente da disseminação de informações
essenciais naquele momento.

O furacão Catarina é considerado a primeira grande experiência em Santa Catarina com a


participação da mídia nas etapas de atuação da Defesa Civil. Foi preciso, por meio da
imprensa, criar uma estratégia de comunicação para ensinar à população sobre o risco, o
evento e como agir quando se aproximasse.

2.2- A Informação para a Redução de Risco e dos Desastres

A exposição que um desastre provoca a uma determinada sociedade exige a atenção da


mídia proporcional à intensidade deste acontecimento, independente do local e grupo
social afetado.

77
Os veículos de comunicação podem atuar nos níveis municipal, regional, estadual,
nacional ou internacional. Cada veículo de comunicação possui um perfil e estilo próprios
de contato com o público, dividindo as notícias, basicamente, em dois tipos: a notícia “no
minuto”, aquela relacionada aos eventos que são reportados imediatamente e a
informação de segundo plano, ou histórias de interesse mais social. Na comunicação de
riscos e de desastres ambos os estilos são colaborativos; em um primeiro momento para a
gestão da crise e, quando feita uma análise mais aprofundada das causas do desastre, na
gestão dos riscos construídos socialmente ao longo da história da região afetada.

Como a comunicação de riscos foi concebida para atender a demanda da população


acerca de informações sobre riscos, é fundamental que ela contribua com a redução
do medo e da ansiedade das comunidades atingidas pelo risco, inibindo assim a formação
e a propagação de rumores que interferem e atrasam o processo de gerenciamento destes
riscos.

Logo em seguida a ocorrência de desastres também é comum a disseminação de rumores,


pois nestes momentos a ansiedade por informações é maior e qualquer notícia acerca do
evento tende a ser encarada como verdade. Conforme visto anteriormente, hoje o maior
desafio é ter a participação da imprensa desde a primeira etapa de gestão de um desastre,
a qual trata da prevenção, pois assim o profissional de comunicação será capaz de
entender melhor o cenário e o seu papel enquanto agente de colaboração.

Vale ressaltar que a comunicação de riscos deve envolver a participação da comunidade


não apenas como vítimas, mas como protagonistas do seu meio; pois a comunicaçaõ sem
a participação de todos é apenas uma forma de anunciar decisões que já foram tomadas,
verticalmente, e o seu anúncio seria, portanto, apenas uma forma de legitimar tais
decisões, o que pode agravar a crise seja por meio de conflitos ou por acomodação.

3- O TRABALHO DA ASSESSORIA DE IMPRENSA ANTES, DURANTE E


DEPOIS DO DESASTRE

3.1- Antes do Desastre

Todo o trabalho de comunicação que antecede à ocorrência de um desastre é considerado


estratégico, uma vez que permite o repasse de informações com foco na minimização dos
riscos. A imprensa, nesta fase, será pautada nas questões relativas à prevenção e à
preparação de desastres. O principal desafio é criar a consciência e a promoção de uma
cultura de prevenção. Atualmente, os veículos dedicam muito mais espaço à divulgação
das tragédias do que às possibilidades de evitá-las ou de lidar com elas.

O primeiro passo é assumir a responsabilidade da mídia e o compromisso efetivo com a


redução dos riscos de desastres. A partir disso, é preciso que o assunto seja discutido e
abordado respeitando as características de cada meio de comunicação, bem como as

78
vulnerabilidades sociais. Fazer chegar a informação de maneira correta e apropriada ao
público-alvo é uma tarefa difícil, que em situações de crise merece atenção redobrada para
que as mensagens não gerem novos fatores de risco.

A responsável pelo setor de comunicação da Estratégia Internacional para Redução de


Desastres da Organização das Nações Unidas (EIRD/ONU), no Panamá, Margarita
Villalobos, cita e diferencia os aspectos importantes da imprensa escrita, do rádio, da
televisão, da internet e de outras formas de comunicação para o trabalho a ser realizado
na prevenção de desastres, da seguinte maneira:

 Imprensa escrita– é possível detalhar e aprofundar muito mais o tratamento do


tema. A palavra escrita tem vida útil mais longa, embora tenha um valor documental
permanente. O tratamento da informação preventiva poderá proporcionar
mensagens que influenciam o comportamento das pessoas.

 Rádio– este meio de comunicação é ouvido por milhões de pessoas, comunica-se


com um público heterogêneo composto pelos diversos degraus socioculturais da
comunidade, de forma simultânea e instantânea. Mensagens preventivas podem ser
transmitidas por meio de entrevistas, comentários, crônicas e informes especiais.
Falar por meio do rádio significa explicar, contar, dialogar com o receptor. Por isso,
este tipo de comunicação deve ser coloquial.

 Televisão – é importante considerar a simultaneidade, instantaneidade e atualidade


de informações transmitidas por esta mídia. Para que a comunicação preventiva
televisionada tenha êxito, devem-se gerenciar corretamente os três códigos
fundamentais da mensagem midiatizada: o icônico, o sonoro e o linguístico. A
televisão, além da mensagem falada, transmite imagens, que contextualizam o
telespectador e possibilitam uma leitura mais completa dos fatos.

 Internet – as vantagens desta mídia estão na capacidade de oferecer aos usuários


exatamente a informação que necessitam, organizada de acordo com seus
requerimentos, podendo ser de forma simultânea. Porém, apesar de ser uma mídia
em expansão, ainda é restrita ao número de usuários.

 Outros canais alternativos – por meio de feiras, atividades, redes de


comunicadores, empresas privadas, entre outros.

3.2- Durante o Desastre

Durante o desastre as instituições responsáveis pelo gerenciamento do desastre trabalham


com foco nas atividades de resposta ao evento adverso, ou seja, no socorro, assistência
às vítimas e reabilitação de cenários. Todas as informações precisam ser avaliadas antes
de serem divulgadas. Cada palavra, dado, imagem, etc., quando repassados à população,
criarão reações e influenciarão o comportamento das pessoas. Uma informação

79
incompleta ou divulgada em um momento impróprio pode provocar pânico desnecessário
na população.

Assim como a imprensa deve estar capacitada para levar a informação até as pessoas, a
população também deve estar preparada para receber as informações. Por isso, o trabalho
de prevenção e preparação é tão importante no processo de comunicação de desastres.

Durante o desastre, a imprensa precisa:

 Divulgar as informações de forma responsável, priorizando sempre o bem-estar e a


segurança da população.

 Respeitar as determinações das equipes que atuam no gerenciamento do desastre


e contribuir com elas.

 Corrigir rumores falsos sobre a situação.

 Apurar e levar informações até a população que ajudem a minimizar os danos e


prejuízos.

 Repassar orientações corretas e de interesse público, com agilidade.

 Consultar fontes que enriqueçam e acrescentem outros dados às informações


disponíveis.

 Avaliar as informações antes da divulgação.

 Agir de forma responsável e comprometida com a redução dos riscos.

3.3- Após o Desastre

Após a fase crítica do desastre, quando os riscos diminuem e a população está em


segurança, inicia-se o período chamado de pós-desastre. Neste momento, apesar dos
riscos não serem mais iminentes, surgem novas problemáticas. O desastre provoca perdas
sociais e econômicos que podem durar semanas, meses e até anos, dependendo de sua
magnitude. Problemas estruturais, como quedas de pontes, danificação de rodovias, falhas
nos serviços públicos essenciais, perda de produções, desemprego, medo da população,
interferências no convívio social das pessoas, entre tantos outros, fazem parte da realidade
das comunidades que já passaram por uma situação de emergência.

Nesta fase pós-desastre, a comunicação continuará tendo papel fundamental, agora no


processo de reabilitação dos cenários, contribuindo com o restabelecimento da
normalidade.

Caberá à imprensa a transmissão de informações para a sociedade sobre os danos e


prejuízos ainda existentes e ações para a reabilitação. O evento adverso e suas
consequências não podem ser esquecidos. As atividades da comunicação social pós-

80
desastre devem ser avaliadas e os erros corrigidos, contribuindo para que a percepção de
novos riscos melhore nas comunidades.

Depois do desastre, a imprensa pode:

 Contribuir para que o assunto não caia no esquecimento.

 Fomentar a divulgação de informações para evitar que novas tragédias aconteçam.

 Acompanhar o restabelecimento da normalidade junto às comunidades e divulgar


informações que favoreçam a retomada do cotidiano das vítimas.

 Participar da avaliação dos danos e prejuízos.

 Informar sobre as mudanças que o desastre provocou e colaborar com o processo


de reconstrução.

4- RELACIONAMENTO ENTRE A IMPRENSA E A ASSESSORIA DE


COMUNICAÇÃO

O atendimento à imprensa durante um desastre, para que seja positivo à instituição, aos
jornalistas e à sociedade, precisa de um comunicador responsável com conhecimento e
prática na gestão da comunicação, antes mesmo do desastre acontecer. O indicado é que
o responsável seja especialista no assunto e que a organização possua um setor
específico de assessoria de comunicação, com equipe capacitada.

O despreparo na comunicação das instituições, especialmente durante o desastre,


costuma provocar problemas sérios. Contratempos como desinformação, especulação de
fatos e falta de credibilidade podem gerar um impacto maior à população e, inclusive, ao
próprio desastre.

Didaticamente, as ações de comunicação da assessoria de comunicação ou de imprensa


também podem ser divididas em etapas, previamente definidas, garantindo uma
organização eficaz durante a crise e potencializando o trabalho a ser desenvolvido. Ao
delinear o trabalho, é elaborado um plano de comunicação de riscos.

Este plano é de responsabilidade do setor de comunicação social, e deverá:

a) Estar incorporado aos programas de planejamento da instituição e às estruturas de


comunicação (veículos) das localidades que serão abrangidas.

b) Estar focado na população local, regional, estadual ou nacional, conforme o alcance da


entidade e dos fatos.

c) Evitar desinformações.

81
d) Gerar informações e atividades junto às comunidades, com o objetivo de elaborar
processos preventivos e promover a compreensão das ameaças, percepção dos riscos e o
conhecimento para reduzir as vulnerabilidades.

O comunicador precisa ter claro este papel de atuação e entender a importância dos
veículos de comunicação para a prevenção ou o gerenciamento de um desastre.

5- O PLANO DE COMUNICAÇÃO VOLTADO PARA DESASTRES

5.1- Antes do Desastre

O plano de comunicação para desastres é a formalização estratégica das ações que a


assessoria de comunicação/imprensa desenvolverá numa determinada organização,
durante as etapas de um evento adverso, ou seja, antes, durante e depois do desastre. O
O plano deverá ser moldado conforme as características de cada instituição, tendo como
objetivo principal a redução dos riscos junto à população e deve ser elaborado de forma
integrada com as estratégias de todos os setores da instituição, buscando prever todas as
situações contingenciais.

Devem ser definidos os objetivos do plano e a equipe responsável pela execução. Neste
momento, podem ser realizadas diversas atividades focadas na comunicação, entre elas:

 Conhecer a imprensa e dialogar: os contatos dos jornalistas e veículos de


comunicação devem ser permanentemente atualizados e organizados para que
durante uma emergência possam ser acessados de forma prática e rápida. O
assessor também deve estar atento para saber qual é a melhor maneira de repassar
informações e entender como funcionam os diferentes veículos.

 Divulgar ações de prevenção e preparação: o assessor deverá estimular a


geração de notícias, por parte da imprensa, para a redução dos riscos de desastres.
A criatividade ditará os assuntos a serem explorados pelas assessorias e
encaminhados aos veículos de imprensa por meio de sugestões de pauta com o
objetivo de alertar, prevenir e preparar a população para situações de emergência.

 Avaliar a importância das pautas: na elaboração de uma sugestão de pauta,


deve-se considerar a importância do tema para determinado veículo, avaliar sua
relevância para a população e buscar as informações que possam interessar aos
jornalistas que receberão a notícia.

 Prever as ferramentas para a comunicação: diferentes ferramentas poderão ser


usadas pela assessoria na divulgação de informações. Esses instrumentos deverão
ser identificados antes do desastre acontecer. Algumas ferramentas que poderão
ser utilizadas são: site institucional, mídias sociais, informativos, eventos, feiras,

82
palestras, etc. Durante um desastre, conforme a demanda, todas essas ferramentas
poderão ser utilizadas conjuntamente. O setor de comunicação deve prever que
durante o desastre algumas ferramentas podem ficar indisponíveis pela queda de
energia elétrica, por exemplo. O assessor deve estar treinado para trabalhar
adequadamente com os mecanismos de comunicação que irá utilizar na situação
emergencial para que a imprensa receba as mensagens de forma correta e
oportuna.

 Planejar e preparar estratégias: é na fase anterior ao desastre que o comunicador


precisa prever como será o seu trabalho e quais serão suas demandas durante e
depois do evento adverso. Além da ampla rede de contatos, das ferramentas de
comunicação e das estratégias de divulgação, é preciso definir como será sua
atuação nas próximas fases. Quais serão as necessidades da imprensa junto à
instituição? Como atender a essas necessidades? Quem falará com a imprensa no
caso de um desastre? Como deve ser a estrutura de comunicação da instituição
durante um evento adverso?

 Definir e treinar as fontes: antes do desastre, o comunicador poderá definir junto


aos membros da instituição quem será o porta-voz junto à imprensa, a pessoa
responsável por transmitir as informações. O porta-voz deve ter consciência da
importância de seu papel numa situação de emergência, conhecer as características
de cada veículo de comunicação e estar preparado para atender a imprensa em
qualquer circunstância e horário. Ele deverá gerenciar suas emoções, mostrar
firmeza e calma. Mentir, fugir das respostas ou falar sem ter convicção dos fatos
contribuirá com os efeitos negativos do desastre e poderá gerar mais pânico e/ou
insegurança na população.

 Definir equipe de trabalho: é na fase de preparação ao desastre que a estratégia


de resposta deve ser prevista, podendo definir um organograma da equipe, no qual
sejam identificadas as tarefas e horários de atuação de cada membro.

 Prever canais de comunicação com a imprensa: se a instituição não tiver as


informações para a imprensa no momento em que a notícia precisa ser divulgada
por determinado veículo, o jornalista provavelmente irá procurar outra fonte, que
pode não estar qualificada para o assunto, e como resultado as informações podem
não sair de forma adequada. Ao mesmo tempo, os dados precisam ser apurados,
pois uma informação errada pode provocar prejuízos maiores à população. As
notícias poderão ser repassadas via e-mail, releases ou boletins informativos;
publicadas num site oficial; por telefone; em gravações de áudio para as rádios; em
mídias sociais; coletivas à imprensa; ou por meio de outras ferramentas e formatos,
de acordo com as características dos veículos que serão comunicados.

 Definir espaço físico para a imprensa na instituição: alguns veículos de


comunicação procuram pessoalmente a instituição para buscar informações. Esta

83
deve estar preparada para receber o grupo e oferecer espaços adequados aos
jornalistas, com a infraestrutura necessária para o repasse de informações.

 Definir espaços para coletivas: o assessor precisa definir o espaço mais


adequado para a realização desse tipo de ação e os elementos necessários (banner
da instituição, mesa, cadeiras, etc.).

 Identificar parceiros e estratégias: identificar os assessores de comunicação das


instituições que também são responsáveis pela resposta aos desastres. Definir
estratégias conjuntas para evitar o desencontro de informações permitirá um melhor
resultado junto à imprensa.

 Definir estratégias de comunicação com os diferentes veículos: a assessoria de


imprensa, em todas as fases do desastre, deve prever como o veículo de
comunicação trabalha e respeitar seus horários e diferenças. Durante o desastre,
estratégias que facilitem o repasse das informações poderão ser colocadas em
prática, se testadas e aprovadas anteriormente.

 Preparar informações: além das informações relacionadas a um determinado


desastre, é comum que os jornalistas, para contextualizar suas matérias e
reportagens, solicitem às instituições responsáveis pelo atendimento de
emergências dados complementares, como o histórico de desastres numa
determinada região, características dos eventos adversos, frequência deles, ações
já desenvolvidas, dados científicos, entre outros. Para facilitar o trabalho do setor de
comunicação social e dos veículos, poderá ser preparado um arquivo com esse tipo
de informações. Caso ocorra um desastre, elas já estarão prontas quando
solicitadas.

 Alertas: ao fazer o alerta de uma situação adversa, a assessoria e os técnicos


responsáveis deverão discutir o impacto das informações que serão repassadas à
população e avaliar se as comunidades estão preparadas para recebê-las. O
momento e o meio certo de divulgar o alerta devem ser discutidos entre os técnicos
responsáveis das instituições envolvidas

5.2- Durante o Desastre

O setor de comunicação poderá acompanhar os processos de assistência e socorro às


vítimas e divulgar as informações referentes a eles. Nesta etapa, são colocadas em prática
todas as estratégias previstas na fase de prevenção e preparação.

Durante o desastre, o setor de comunicação poderá:

 Definir quem será o porta-voz da instituição. Se o número de atendimentos à


imprensa for maior do que a capacidade de resposta, identifique mais de uma

84
pessoa. Porém, defina estratégias para que entrevistas não atrapalhem os
trabalhos de busca, salvamento e assistência às vítimas.

 Organizar as informações do desastre de forma integrada com o Sistema de


Comando de Operações para que toda a equipe da assessoria tenha
conhecimento.

 Produzir e divulgar notícias sobre o evento adverso e as ações de resposta.

 Divulgar boletins com informações sobre a situação e ações de resposta.

 Atualizar o site da instituição com informações em tempo real sobre os fatos e


com notícias mais elaboradas.

 Divulgar balanços das ações de resposta no final do dia, antes dos horários de
fechamento dos veículos de comunicação (antes dos telejornais irem ao ar e dos
jornais fecharem suas edições para o dia seguinte);

 Divulgar áudios com boletins informativos e/ou sonoras com o porta-voz da


instituição para as rádios, em horários estratégicos, a fim de que sejam
aproveitados pelas emissoras.

 Agendar, organizar, divulgar e acompanhar coletivas à imprensa.

 Coordenar ou participar de estratégias conjuntas com os setores de comunicação


de outras instituições, evitando o desencontro de informações e potencializando
os esforços.

 Fotografar, registrar e divulgar imagens do desastre e das ações de resposta


promovidas pela instituição.

 Atender aos jornalistas na instituição dando suporte a suas necessidades.

 Durante ações em campo, contribuir com o trabalho dos jornalistas, dando


prioridade a cinegrafistas e fotógrafos para o registro das imagens.

 Alimentar e gerenciar mídias sociais com informações sobre o desastre.

 Agendar realização de entrevistas, definindo local, horário e fonte.

 Gerenciar o relacionamento com a imprensa de maneira que o atendimento aos


veículos seja igualitário. Se não for possível atender todos, proponha critérios de
atendimento e apresente-os para a imprensa.

 Observar as restrições para a divulgação de informações estabelecidas pelo


comando da operação.

 Gerenciar o acesso de integrantes da mídia na área de operações.

85
 Avaliar diariamente o resultado dos trabalhos, trocar ideias e discutir as ações
com os membros da equipe de Comunicação Social.

 Elaborar e divulgar relatórios diários sobre as ações de resposta ao desastre e


informações como o número de desabrigados, desalojados, danos, prejuízos,
atendimentos, situação das rodovias, novas previsões.

 Discutir e avaliar, com o Comando de Operações, os relatórios da situação e


informes antes de divulgá-los na mídia.

 Outras ações planejadas ou identificadas como necessárias no decorrer do


processo.

5.3- Pós-Desastre

Da mesma forma que os jornalistas que trabalham nos veículos de comunicação, o


assessor de imprensa, na fase pós-desastre, deverá trabalhar para que o desastre e suas
consequências não sejam esquecidos, contribuindo com o repasse de informações para a
imprensa.

As atividades da comunicação social desenvolvidas durante o desastre devem ser


avaliadas e os erros corrigidos, contribuindo para que a percepção de novos riscos se
amplie nas comunidades.

Você chegou ao final da Unidade 6, aqui, você aprendeu sobre a


importância do processo de comunicação na gestão de e de desastre.
Viu também que devemos manter um canal de comunicação aberto
com a imprensa de modo geral. Aprendeu que deve existir um
relacionamento próximo entre o órgão de proteção e defesa civil e a
mídia por meio da assessoria de imprensa.

86
UNIDADE 7

GOVERNABILIDADE PARA A REDUÇÃO DO RISCO DE


DESASTRES

1- INTRODUÇÃO

A governabilidade é o meio de se chegar à redução do risco de desastres. Para que se


torne um princípio estrutural nos setores decisivos para o desenvolvimento se faz
necessária a conscientização pública, vontade política e uma capacidade de ação
suficiente.

2- REDUÇÃO DE RISCO DE DESASTRES E GOVERNABILIDADE

As ameaças naturais por si só não causam desastres. É, antes, a vulnerabilidade das


populações e dos cenários e a capacidade reduzida para lidar com as ameaças que
determinam o quão intensos serão os desastres. Portanto, é essencial ter um governo que
garanta a capacidade das sociedades de resposta frente às ameaças. A governabilidade
influencia a predisposição e vontade dos diversos atores (incluindo governos,
parlamentares, funcionários públicos, os meios de comunicação, o setor privado e a
sociedade civil) para coordenar ações orientadas à gestão e redução dos riscos
relacionados aos desastres.

É primordial ter uma consciência pública suficiente para reconhecer e lidar com o risco, e
com a vontade política necessária para o estabelecimento de políticas e alocação dos
recursos necessários para sua execução. Assim mesmo, é necessário que as instituições
tenham a capacidade de gestão e coordenação suficiente para gerenciar e integrar os
esforços dos setores relevantes, bem como das comunidades vulneráveis. O êxito da
gestão e coordenação depende em última instância do capital, desenvolvimento social,
físico, econômico e ambiental de uma sociedade.

Entre os princípios de boa governabilidade destacam-se: a ampla participação social,


transparência, prestação de contas, eficiência e capacidade de resposta. Todos esses
princípios são importantes para a redução do risco de desastres (RRD), como o são para o
desenvolvimento em geral. Outro ponto primordial de boa governabilidade que resulta em
uma recuperação de desastres eficaz e sustentável é a garantia da participação dos mais
pobres e mais vulneráveis nas decisões sobre a alocação de recursos que lhes são
ofertados.

87
A transversalidade da RRD é um processo de governabilidade que permite a integração
sistemática de suas ações no âmbito do desenvolvimento relevante. Em outras palavras,
um governo sensível, transparente, eficiente e responsável contribuirá para a criação de
um ambiente em que a RRD possa ser institucionalizada como princípio fundamental do
desenvolvimento sustentável.

Nesse sentido, para se construir comunidades resilientes nos países propensos a


desastres é necessário que os fatores de riscos subjacentes sejam levados em
consideração continuamente em todos os sectores relevantes, e que as normas e medidas
de mitigação de risco sejam parte integrante do planejamento e prestação de serviços
básicos e processos de desenvolvimento (educação, meio ambiente, saúde).

2.1- O que é governabilidade?

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD define governabilidade


como o exercício da autoridade política, econômica e administrativa na gestão dos
assuntos de um país em todos os níveis, compreendendo os mecanismos, processos e
instituições através dos quais os cidadãos e grupos sociais articulam seus interesses,
mediam suas diferenças e exercitam seus direitos e obrigações legais. A governabilidade
inclui o Estado de forma generalizada, abrangendo todos os setores da sociedade,
incluindo o setor privado e a sociedade civil.

Fonte: Brasil, 2011 – Curso de Capacitação para Ações de Redução do Risco de Desastre.

2.2- O Desafio da governabilidade para a redução do risco de desastres

Embora se reconheça que a boa governabilidade e a RRD são objetivos que se reforçam
mutuamente, todavia ainda está longe da comunidade internacional compreender esta

88
relação. Para este fim, o PNUD realizou em 2007 um primeiro passo, que consistiu em
uma revisão abrangente do seu apoio aos sistemas institucionais e legislativos para a
redução de risco de desastres.

A análise revelou que, enquanto a gestão e redução risco estão cada vez mais presentes
na vida política, planos e estratégias governamentais de desenvolvimento, não é realmente
tratada como uma preocupação multissetorial. Do mesmo modo, o Relatório de Avaliação
Global de Redução Desastres de 2009 concluiu que, em muitos países, a governabilidade
existente para a redução de risco de desastres não facilita a integração de considerações
sobre RRD no desenvolvimento.

Em geral, a conexão estabelecida entre os acordos institucionais e legislativos para a


redução da risco de desastres, por um lado, e segmentos do desenvolvimento, por outro
lado, é muito frágil. Muitos dos países que são propensos a desastres, ainda não
consideraram a importância de incorporar as questões de RRD como prioridade e princípio
fundamental de suas práticas de desenvolvimento. Isto leva a geração de novos e
reforçados padrões de risco de desastres, e em última instância, um maior risco de perdas
de vidas e meios de subsistência.

Para serem eficazes, o desenvolvimento de competências, a implementação e o


planejamento requerem uma análise minuciosa, como a análise da política setorial sobre
as leis relativas aos desastres, a análise do financiamento da gestão do risco, abrangendo
os gastos do setor público com RRD, socorro e resposta, e a avaliação para identificar as
principais carências de recursos materiais de RRD, que constituem a base para
incorporação das atividades de RRD em projetos orçados em cada nível dos planos de
desenvolvimento.

Promoção, sensibilização e

Fonte: Brasil, 2011 – Curso de Capacitação para Ações de


educação em RRD: as
atividades de promoção e
sensibilização do público
ocupam um lugar
prioritário. Deve-se
trabalhar na organização
Redução do Risco de Desastre.

de oficinas com os
parlamentares, a mídia e a
sociedade civil sobre as
questões relacionadas com
a alocação de recursos de
RRD e a criação de
agências de gestão local de desastres, mecanismos para integrar a RRD como parte dos
programas de formação dos funcionários de alto e médio nível de governo e organizações
locais e nacionais, bem como a integração da temática nos programas de educação
primário e secundário existentes. Também como os programas com meios de

89
comunicação ou programas orientados a sensibilização do setor privado em questões de
risco de desastres.

A RRD é uma questão complexa que requer uma abordagem interdisciplinar envolvendo
conhecimentos, competências e recursos dos diferentes atores para construir plataformas
nacionais e locais de gestão de risco de desastres, parcerias e redes de intercâmbio de
conhecimentos e desenvolvimento de DRR, assim como, estratégias inovadoras de
mobilização de recursos através de parcerias público-privadas.

Você chegou ao final da Unidade 7, aqui, você aprendeu o conceito de


governabilidade e que esta é o meio de se chegar à redução do risco de
desastres, viu também os desafios da governabilidade para atingir seu
objetivo referente à redução de desastre.

90
UNIDADE 8

FERRAMENTAS PARA IDENTIFICAÇÃO E REDUÇÃO DO RISCO


DE DESASTRES

1- INTRODUÇÃO

Cada tipo de Gestão de Risco de Desastres pode se valer de uma série de ferramentas
capazes de reduzir o risco. Conheça a seguir algumas dessas ferramentas:

 Análise do ambiente: conhecer bem todas as características do ambiente e do seu


funcionamento, tais como sua estrutura física, o comportamento das pessoas que
nele vivem e a sua história.

 Sistemas de informação: organizar em sistemas de fácil acesso todas as


informações de risco de desastres, tais como as áreas mais vulneráveis, os
sistemas de alerta e alarme existentes, os monitoramentos em funcionamento e os
recursos disponíveis.

 Educação e sensibilização: divulgação das informações necessárias ao


desenvolvimento de capacidades pessoais de redução do risco; pode ser executada
por meio de impressos ou palestras.

 Normas: Aprovação de leis, decretos e outros regulamentos de uso e ordenamento


do ambiente, segurança em construções, manejo de produtos perigosos - dentre
outros.

 Planejamento: incluir a preocupação com a gestão de riscos em todos os planos,


projetos e programas de qualquer natureza.

 Intervenção física no território: obras de infraestrutura para melhoria das


estruturas físicas, inclusive com remanejos, e intervenção nos ambientes
deteriorados.

 Alerta e alarme: monitoramento das ameaças do tempo, dos sismos, do mar, dos
reservatórios d'água e das encostas e organização de sistemas de alerta e de
alarme.

 Preparação: organização de planos de emergência e de recuperação.

 Gestão financeira: manutenção de fundos financeiros para situações emergenciais


e criação de seguros para a proteção dos bens e serviços.

91
Percebe-se então que são muitas as ferramentas e instrumentos de redução do risco.
Identificar e mapear as áreas de risco de desastres é uma das primeiras ações de gestão
de riscos a serem realizadas.

2- MAPEAMENTO DE ÁREAS DE RISCO

A incorporação do mapeamento no processo de gerenciamento de risco do município deve


levar em conta os seguintes pressupostos:

 A gestão de risco deve ser visto como um processo e não como um produto (fim);

 O mapeamento deve ser uma ferramenta de prevenção e redução de risco de


caráter permanente, contínuo e com a necessária revisão a cada período como
forma de garantir sua sustentabilidade;

 Deve promover a ativa participação social (em especial da população das áreas de
risco) no processo de gestão;

 A gestão de risco deve ter uma relação com o desenvolvimento territorial do


município, devendo incorporar transversalmente todos os setores que estejam direta
e indiretamente relacionadas com a questão do risco.

2.1- Elaboração de Mapas de Risco

O ideal é que o órgão municipal articule-se com os demais órgãos setoriais para a
elaboração deste tipo de estudo, garantindo sua multidisciplinaridade, incluindo assim os
aspectos ambientais, geológicos, hidrológicos, sociais, de infraestrutura e outros, conforme
o caso.

Inicialmente deve ser realizado o diagnóstico da comunidade por meio da coleta de


informações relacionadas ao Município:

 topografia;

 clima;

 população;

 temperatura;

 principais atividades econômicas;

 registros históricos dos desastres (em jornais, reportagens, entrevistas com


moradores antigos e atuais);

92
 mapas;

 volume pluviométrico mensal e anual.

Para confeccionar o mapeamento das áreas de risco do Município, o gestor de Proteção e


Defesa Civil, de posse das informações básicas coletadas, deverá identificar:

 As ameaças: fenômeno adverso, atividade humana ou qualquer condição que


possa ocorrer com intensidade ou severidade suficiente para causar perda de vidas,
danos ou impactos à saúde humana, à economia, à infraestrutura e ao meio
ambiente. (Decreto nº 7.257/2010)

 As vulnerabilidades: conjunto de características da sociedade, das infraestruturas,


dos meios de subsistência e ecossistemas, que causam a predisposição ou
susceptibilidade física, econômica, política, social ou ambiental de uma comunidade
a ser afetada ou sofrer efeitos adversos quando uma ameaça se manifestar. (ITC-
ILO, 2012)

 Capacidades: combinação de todas as fortalezas e recursos disponíveis que


podem reduzir o nível de risco ou os efeitos de um desastre. (ITC-ILO, 2012)

Após o levantamento das informações, deve-se fazer a relação entre as variáveis


estudadas e a hierarquização dos riscos, considerando alguns aspectos principais na
análise dos riscos:

 a frequência;

 a magnitude; e

 a vulnerabilidade das pessoas e das edificações.

O balanço realizado entre esses aspectos é que permitirá mapear os Municípios em


modelos de setorização. Os riscos ainda podem ser subdivididos em graus: muito alto, alto,
médio e baixo, devendo ter o macromapeamento dos municípios, com uma visão geral das
áreas; e o micromapeamento dos bairros, com a identificação real das áreas atingidas;
inclusive com o detalhamento das ruas e das residências em risco, se for o caso.

O mapeamento pode ser feito com recursos de tecnologia como sensoriamento remoto,
estudos cartográficos, utilizando especialistas como geógrafos, geólogos e engenheiros.
Contudo, considerando a realidade brasileira de municípios pequenos, com poucos
habitantes e com reduzido recurso orçamentário para esse fim, o mapeamento pode ser
realizado inclusive por pessoas sem conhecimentos técnicos específicos. Essas pessoas
poderão utilizar bases e mapas já existentes na prefeitura e na plataforma aberta de
mapas digitais (Google Earth).

93
Foto: Mapa de risco para prevenção de desastres naturais em Angra dos Reis
Fonte:http://fractaleng.com.br.

Um mapa de risco serve para a elaboração de planos de ação e prioridades de ajuda. que
devem ser integradas na política de defesa civil, que sejam exequíveis e eficazes.

3- PLANO DE GESTÃO DE RISCO DE DESASTRES

Um plano de gestão de risco de desastres não deve se restringir somente às comunidades


afetadas por desastres, que ocupam as áreas de risco, mas deve abranger toda a cidade e
sua periferia, envolvendo, em alguns casos, o meio rural.

No processo de gestão de risco devem estar envolvidos todos os órgãos da administração


pública (especialmente aqueles vinculados à defesa civil, obras e serviços urbanos,
planejamento, habitação, assistência social, saúde e educação), a Câmara Municipal, o
Ministério Público e a sociedade civil organizada, em especial ênfase aos moradores das
áreas de risco. Neste sentido, o envolvimento da comunidade se faz com o objetivo de
melhor informar e orientar os moradores dos assentamentos precários sobre as situações
de risco existentes na sua comunidade, as condições de vulnerabilidades, as causas
determinantes e os fatores de agravamento do risco, as ações de minimização necessária
para redução do risco e as alternativas de obras.

A participação da população no processo de gestão de risco representa a garantia de


continuidade das políticas sociais, dificultando, com isso, os desvios no cumprimento de
metas ou quebra de acordos firmados. Os compartilhamentos das responsabilidades de
monitoramento e de ações de prevenção junto à comunidade são condições essenciais
para a redução de risco de desastres.

94
Por parte do município, há a necessidade de controle e fiscalização do território,
independente do número de habitantes, bem como de focar os aspectos sociais, além dos
físicos e estruturais, na elaboração do mapeamento das áreas de risco. O reconhecimento
destas áreas é de importância crucial para definir a estratégia de manejo e gerenciamento
do risco, priorizando ações de minimização e controle. Em contrapartida, as ações de
gerenciamento de risco exigem dos governantes o compromisso político de implementar
políticas de ordenamento territorial, determinado por legislação própria (Leis Ambientais e
Plano Diretor da Cidade).

Segundo os princípios do Marco de Ação de Hyogo, a Gestão Integrada do Risco de


Desastres envolve a responsabilidade do poder público municipal nos seguintes aspectos:

1. O município tem a responsabilidade de identificar, avaliar e observar in loco os


riscos a que está exposto, tendo a necessidade de possuir instrumentos de
monitoramento e alerta, em todo seu território, com especial atenção às áreas de
risco onde se encontram as populações mais vulneráveis. O Programa deve ser
desenvolvido em conjunto com o Estado e a União;

2. O município deve ter o compromisso humano e político de trabalhar para reduzir


o risco de desastres, institucionalizando o processo de gerenciamento de risco
como prática política obrigatória em todos os projetos de desenvolvimento rural e
urbano;

3. O município deve garantir a participação da comunidade e oferecer informações


relevantes sobre o risco de desastres e meios de proteção, em especial para os
moradores que habitam nas áreas de risco.

O gerenciamento de risco tem como objetivo direcionar ações de transversalidade entre


diversas secretarias do município junto ao órgão municipal de Proteção e Defesa Civil
(COMDEC), incorporando a Redução de Risco de Desastres (RRD) no processo de
planejamento e ordenamento territorial. A eficácia do plano de gestão de risco de
desastres depende da inclusão das questões relacionadas ao gerenciamento de riscos:

1. Nas políticas urbanas municipais;

2. No Orçamento Municipal Anual;

3. No Plano Diretor e Legislação Municipal;

4. No Plano Plurianual de Investimento Municipal;

5. Nos Programas de Urbanização e Regularização Fundiária de Assentamentos


Precários;

6. Nos programas de recuperação de áreas degradadas.

95
O Plano de Gestão de Risco de Desastres deve considerar os seguintes aspectos:

 Escolha das áreas mais propícias para assentamentos humanos, em


especial para a construção de habitações para famílias de baixa renda;

 Formulação de um Programa de Gerenciamento das áreas degradadas e


das mais danificadas por inundação e alagamento;

 Elaboração de um Projeto de Contenção das Inundações ou de Prevenção


para Evacuação e Socorro da População Afetada;

 Plano de drenagem urbana;

 Proposta para elaboração de Projeto de Mudança Cultural: inclusão nos


currículos de programa de educação ambiental e prevenção; projeto de
sensibilização, percepção de risco, mobilização, organização e participação
comunitária com ênfase na prevenção de risco de desastres.

 Proposta para elaboração de Projeto de treinamento do corpo técnico da


Defesa Civil Municipal e dos funcionários das diversas secretarias
municipais diretamente ligados à questão dos desastres;

 Avaliação, intervenção, monitoramento e atualização sobre todas as


situações de risco de forma quantitativa e qualitativa, principalmente as
classificadas como risco alto e muito alto.

Construindo um Plano de Gestão de Risco de Desastres, o Poder Público


Municipal/Estadual estará melhor preparado para captar e gerenciar recursos junto à
Defesa Civil Nacional e ao Ministério das Cidades para projetos de prevenção, programas
de urbanização, regularização e integração de assentamentos precários e programas de
recuperação de áreas degradadas por desastres, construindo um ambiente mais seguro
para se viver e em melhores condições de desenvolvimento. Mas é preciso entender o que
é desenvolvimento para escolher bem as ferramentas de redução do risco.

3.1- Desenvolvimento

Desenvolvimento é o aumento acumulativo e durável da qualidade e quantidade de bens,


serviços e recursos de uma comunidade. Relacionado com as mudanças sociais, o
desenvolvimento tende a manter e melhorar a segurança e a qualidade da vida humana
sem comprometer as futuras gerações.

Neste sentido, deve-se compreender que o desenvolvimento é diferente de crescimento. O


simples crescimento da economia, da população e dos padrões de vida podem estimular o
aumento do risco de desastres em todas as regiões do planeta, desastres estes
resultantes de fenômenos relacionados às mudanças climáticas, por exemplo.

96
As alterações na concentração de gases na atmosfera, como o aumento da quantidade de
gás carbônico (CO2) resultante da atividade humana, e as formas de uso do solo e das
águas contribuem para as mudanças climáticas.

Entende-se então que as ações de Gestão de Risco de Desastres devem ser alicerçadas
em estudos que não apenas identifiquem os riscos e as melhores ferramentas para reduzi-
los, mas também no compromisso com o desenvolvimento e sustentabilidade do planeta.

Você chegou ao final da Unidade 8, aqui, você aprendeu acerca das


ferramentas para identificar e reduzir o risco de desastre. Viu a
importância de mapear as áreas de risco. Viu também para elaborar o
mapeamento é preciso conhecer as ameaças, vulnerabilidades e
capacidades do município. Observou que se faz necessário, não
conhecer os riscos, mas hierarquizá-lo, e por último, viu que é preciso
preparar um plano de gestão de risco e envolver toda a população para
que possa obter êxito na gestão de risco de desastre.

97
UNIDADE 9

GESTÃO DE RISCO URBANO PARA A CONSTRUÇÃO DE


CIDADES RESILIENTES

1- INTRODUÇÃO

Mais da metade da população mundial vive hoje em cidades e centros urbanos, fazendo
com que as concentrações urbanas determinem a rotina da sociedade do século XXI.
Esses espaços servem como motores econômicos e centros de tecnologia e inovação de
uma nação, e são exemplos de nosso patrimônio cultural.

Entretanto as cidades também podem se transformar em elementos geradores de novos


riscos: infraestrutura e serviços deficientes, degradação do ambiente urbano, aumento das
ocupações irregulares, e quase um bilhão de moradores de favelas em todo o mundo. Isto
faz com que muitos cidadãos sejam mais vulneráveis às ameaças naturais.

A redução de riscos urbanos, baseada em ações de Redução do Risco de Desastres,


apresenta diversos benefícios. Quando aplicada com êxito como parte de uma urbanização
sustentável, as cidades resilientes reduzem a pobreza; incrementam a geração de
empregos, a equidade social, e as oportunidades comerciais; tornam os ecossistemas
mais equilibrados; e favorecem melhores políticas de saúde e educação.

Essa aula apresenta as principais características de uma cidade resiliente a desastres e


identifica como se constituem os riscos urbanos. O texto fornece fatos e dados importantes
sobre riscos de desastres e descreve em detalhes o que é Campanha Construindo
Cidades Resilientes, da EIRD (Estratégia Internacional para a Redução de Desastres).
Destinada a prefeitos, gestores públicos locais e outros atores, a campanha pretende
informar sobre o que cada um pode fazer para tornar sua cidade mais segura frente aos
desastres.

2- POR QUE AS CIDADES ESTÃO EM RISCO?

A rápida urbanização trouxe prosperidade e oportunidades a muitas pessoas. Este é o


caso de cidades bem planejadas e bem administradas, que se mantêm com a expansão
necessária de infraestrutura e serviços essenciais. Existem muitas cidades que cresceram
rapidamente onde vulnerabilidades foram reduzidas ou controladas com um bom governo.
Um bom exemplo é a cidade de Curitiba, no Paraná: uma cidade que pulou de uma
população de 150 mil habitantes em 1950 para quase dois milhões em 2010. A cidade

98
inovou em políticas ambientais – incluindo proteção a enchentes – e em qualidade de vida
e meio ambiente.

Outra cidade brasileira, Porto Alegre, no Rio Grande do Sul cresceu sete vezes desde
1950, e tem hoje uma população de 3,5 milhões de cidadãos, incluindo toda a região
metropolitana. Ali organizações da sociedade civil compartilham uma gestão participativa
que demonstra como a inclusão cidadã nos governos locais pode valer a pena. Os
indicadores ambientais, e a expectativa de vida dos porto-alegrenses, por exemplo, são
hoje comparáveis aos índices de cidades da Europa Ocidental ou América do Norte.

Mas estas são exceções, histórias de sucesso. Uma visão mais ampla torna-se alarmante.
Quando o crescimento das cidades combina-se aos impactos de eventos climáticos
extremos e ao aumento da pobreza – um bilhão de pessoas vive hoje em favelas ou em
extrema pobreza – surgem novos conflitos e dificuldades. Mais e mais pessoas instalam-se
em áreas de risco, como encostas instáveis, entorno de vulcões, áreas de inundação ou
costeiras.

São áreas ocupadas em decorrência de planos diretores falhos ou pela ausência de


alternativas, quando cidadãos não têm condições de adquirir propriedades seguras ou
necessitam estar próximos de suas fontes de renda.

As ameaças naturais deveriam constituir-se na principal preocupação de gestores públicos,


pois os impactos desses eventos são cada vez mais caros. Desastres climáticos como
inundações, enchentes, ciclones tropicais, secas, incêndios florestais e ondas de calor
afetam hoje populações em todo o mundo. As mudanças climáticas têm-se acelerado e o
derretimento de geleiras tem consequências graves. De acordo com o IPCC (Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), o aumento do nível do mar transformará
centenas de cidades localizadas em zonas costeiras, e ilhas baixas em áreas de risco de
desastres.

3- A ORIGEM DO RISCO DE DESASTRES EM AMBIENTES URBANOS

Hoje mais de 3 bilhões de pessoas – metade da população mundial – vive em áreas


urbanas. Populações estão migrando para cidades mais do que em qualquer outro
momento na história, impelidas pela esperança de melhores oportunidades ou expulsas de
áreas rurais por conta da pobreza, degradação ambiental, conflitos, enchentes ou seca.
Altos índices de densidade populacional configuram-se como uma causa significativa de
riscos em locais onde a qualidade de vida, infraestrutura e serviços essenciais são
escassos.

Mas as coisas não precisam ser assim. Muitas áreas de alta densidade populacional na
Europa, Japão e América do Norte, por exemplo, são de fato seguras e seus cidadãos
protegidos de tempestades e terremotos. Este não é o caso, entretanto, de locais onde a

99
ocupação irregular prevalece. Estimativas apontam que, em meados do século XXI, o total
da população urbana já tenha dobrado, passando de 2,3 bilhões em 2005 para 5,3 bilhões
em 2050. Aproximadamente três quartos dessa população e a maioria das grandes
cidades fazem parte das nações de baixa e média renda: sete vezes mais do que em
1950.

4 GOVERNANÇA DEBILITADA

A maneira como essa população que cresce rapidamente é atendida e governada tem
importantes implicações no seu desenvolvimento e na redução de riscos de desastres. Em
nações ricas, a qualidade dos serviços essenciais, infraestrutura e instituições de apoio
contribuem para a redução dos desastres e seus impactos. Nessas localidades as
populações têm garantidos o acesso a todo tipo de serviço, além de uma boa legislação
que as protege de desastres, sejam provocados por condições meteorológicas extremas,
inundações, incêndios ou acidentes tecnológicos. Essas instituições também realizam o
atendimento de necessidades cotidianas: serviços de atenção a saúde integrados a
serviços de emergência, e sistemas de drenagem que suportam igualmente tempestades e
necessidades diárias.

Mas a parcela dos centros urbanos, seja dos países desenvolvidos ou em


desenvolvimento, que possuem esse tipo de redes ainda é pequena. No caso de governos
de países pobres, as autoridades locais permanecem incapazes de prover infraestrutura,
serviços essenciais ou segurança. O que se vê são recursos locais mal administrados, e
gestores públicos que não se engajam em uma gestão participativa. Assim, deixam de lado
o planejamento urbano e espacial estratégico, que deveria focar nos cidadãos de baixa
renda e em áreas de risco. Em situações como essa, as cidades não irão vencer o desafio
da resiliência, aumentando a vulnerabilidade de boa parte de sua população.

5- DESENVOLVIMENTO URBANO SEM PLANEJAMENTO

Os desafios impostos pelo rápido crescimento de muitas cidades e o declínio de outras,


pela expansão da economia informal e pelo papel de cidades tanto nas causas como na
mitigação das mudanças climáticas, exigem um sólido planejamento urbano. Muitas
cidades na América Latina, África e Ásia dobraram de tamanho em menos de 30 anos. Em
muitos casos a expansão urbana ocorre em desacordo com determinações legais,
recomendações oficiais de construção, e regulamentações para uso e ocupação do solo.

A urbanização sustentável requer o cumprimento de soluções para gestão do risco e


planos de emergência; e atendimento das regulamentações de planejamento urbano para

100
construções com base em padrões realistas e sem excluir as pessoas em situação de
pobreza.

6- ÁREAS PARA POPULAÇÕES DE BAIXA RENDA

A maior parte da população em situação de pobreza urbana está mais exposta a ameaças
e desastres porque vive em áreas ocupadas desordenadamente, caracterizadas como de
risco e onde serviços básicos estão sempre ausentes.

Em países em desenvolvimento uma em quatro famílias vive na pobreza, sendo que 40%
delas estão em cidades da África. Nos países em desenvolvimento, 25% a 50% da
população instalou-se por meio de ocupações irregulares ou favelas, localizadas dentro ou
nos arredores dos centros urbanos, e esse número cresce em 25 milhões a cada ano.

7- CONSTRUÇÕES VULNERÁVEIS

Construções vulneráveis colocam milhões de pessoas em risco desnecessariamente.


Muitos morrem ou ficam seriamente feridos quando construções colapsam após
terremotos, deslizamentos de terra, tempestades severas, inundações ou tsunamis.

Padrões e regulamentações para construção preveem, em muitos países, requisitos


mínimos de segurança, incluindo proteção ao fogo e resistência a desastres naturais.
Práticas de construção que apliquem tais regulamentações são essenciais, embora
frequentemente esquecidas. A necessidade de reduzir custos e a ausência de incentivos,
associados à corrupção, são as principais razões para que até mesmo prédios bem
projetados sejam afetados por desastres.

Ocupações irregulares e construções sem projetos técnicos abrigam a maior parte dos
habitantes de cidades em países em desenvolvimento. Mesmo que possam investir,
pessoas que ocupam áreas sem direitos de propriedade, dificilmente aplicam recursos
próprios em melhorias para segurança estrutural de suas residências.

As soluções são conhecidas. Melhorar prédios públicos de infraestrutura crítica é um


requisito mínimo para uma urbanização sustentável e resiliente. Escolas e hospitais
seguros oferecem abrigo e serviços sempre que preciso. A drenagem de águas pluviais
reduz enchentes e deslizamentos de terra, a baixo custo.

101
8- DECLÍNIO DOS ECOSSISTEMAS

Os ecossistemas proporcionam benefícios substanciais e serviços para cidades e


governos locais. No entanto, como resultado de falta de planejamento no desenvolvimento
urbano e crescimento da economia, muitos ecossistemas foram significativamente
alterados e explorados, levando a um desequilíbrio perigoso.

As invasões às margens de rios e a escassez de sistemas de drenagem adequados


expuseram muitas áreas urbanas a inundações. O desflorestamento levou a erosão de
encostas, tornando muitas pessoas vulneráveis a deslizamentos de terra provocados por
fortes chuvas. Além disso, o uso do concreto mudou a capacidade do solo em absorver
enchentes. 60% dos serviços ambientais estão em declínio, enquanto que o consumo
aumenta a uma taxa de mais de 80%. Menos da metade das cidades do mundo têm
planos ambientais para ocupação urbana.

9- O QUE É UMA CIDADE RESILIENTE A DESASTRES?

Há muitas ações que governos locais, cidadãos e o setor privado podem promover para
tornar uma cidade mais resiliente. Ameaças naturais sempre irão ocorrer em diferentes
magnitudes e severidade, mas não precisam causar devastação. Sua cidade está
preparada?

9.1- Uma cidade resiliente

Uma cidade resiliente é aquela onde a população participa, decide e planeja sua cidade
junto com as autoridades locais, tendo em conta suas capacidades e recursos.

 Possui um administrador público competente e responsável que garante uma


urbanização sustentável com a participação de todos os grupos populares.

 É onde muitos desastres são evitados em função de que toda sua população vive
em residências e bairros providos de infraestrutura adequada (abastecimento de
água, saneamento básico, eletricidade, drenagem e estradas em boas condições)
e serviços básicos (escolas, coleta de lixo, serviços de emergência). Suas
estruturas atendem aos padrões de construção e não geram a necessidade de
ocupação desordenada em áreas de encosta, ou sujeitas a inundação.

 Entende seus riscos e desenvolve um forte trabalho de educação com base nas
ameaças e vulnerabilidades a que seus cidadãos estão expostos.

102
 Toma medidas de prevenção e preparação a desastres com objetivo de proteger
seus bens – pessoas, residências, mobiliários, herança cultural e capital
econômico – e está preparada para minimizar perdas físicas e sociais decorrentes
de eventos climáticos extremos.

 Realiza investimentos necessários em redução de riscos e é capaz de se organizar


antes, durante e depois de um desastre.

 Está apta a restabelecer rapidamente seus serviços básicos, bem como retomar
sua atividade social, institucional e econômica depois de um desastre.

 Entende que as mudanças climáticas também devem ser consideradas em seu


planejamento urbano.

Fonte: Brasil, 2011. Construindo Cidades Resilientes: Minha Cidade Está se Preparando.

9.2- Dez passos essenciais para construir cidades resilientes

A campanha Construindo Cidades Resilientes propõe uma lista de passos essenciais para
construção de cidades resilientes que podem ser implantados por prefeitos e gestores
públicos locais. A lista origina-se das cinco prioridades do Quadro de Ação de Hyogo, um
instrumento chave para ações de redução de riscos de desastres. Alcançando todos, ou
mesmo alguns dos dez Passos, as cidades passarão a adotar uma postura resiliente.
Estruture seu Conselho Municipal e, junto aos gestores públicos locais, participe agora
mesmo da Campanha.

103
 Estabeleça mecanismos de organização e coordenação de ações com base
na participação de comunidades e sociedade civil organizada, por meio, por
exemplo, do estabelecimento de alianças locais. Incentive que os diversos
segmentos sociais compreendam seu papel na construção de cidades mais
seguras com vistas à redução de riscos e preparação para situações de
desastres;

 Elabore documentos de orientação para redução do risco de desastres, a


exemplo do folder Prevenindo Desastres elaborado pela CEDEC-CE (figura
abaixo), e ofereça incentivos aos moradores de áreas de risco: famílias de
baixa renda, comunidades, comércio e setor público, para que invistam na
redução dos riscos que enfrentam;

Fonte: Folder Prevenindo Desastres, CEDEC, 2011.

 Mantenha informação atualizada sobre as ameaças e vulnerabilidades de


sua cidade; conduza avaliações de risco e as utilize como base para os
planos e processos decisórios relativos ao desenvolvimento urbano.
Garanta que os cidadãos de sua cidade tenham acesso à informação e aos
planos para resiliência, criando espaço para discutir sobre os mesmos;

 Invista e mantenha uma infraestrutura para redução de risco, com enfoque


estrutural, como por exemplo, obras de drenagens para evitar inundações;
e, conforme necessário invista em ações de adaptação às mudanças
climáticas;

 Avalie a segurança de todas as escolas e postos de saúde de sua cidade, e


modernize-os se necessário;

104
 Aplique e faça cumprir regulamentos sobre construção e princípios para
planejamento do uso e ocupação do solo. Identifique áreas seguras para os
cidadãos de baixa renda e, quando possível, modernize os assentamentos
informais;

 Invista na criação de programas educativos e de capacitação sobre a


redução de riscos de desastres, tanto nas escolas como nas comunidades
locais;

Foto: Simulado de Preparação para Desastres em Fortaleza.


Fonte: CEDEC-CE, 2013

 Proteja os ecossistemas e as zonas naturais para atenuar alagamentos,


inundações, e outras ameaças às quais sua cidade seja vulnerável. Adapte-
se às mudanças climáticas recorrendo a boas práticas de redução de risco;

 Instale sistemas de alerta e desenvolva capacitações para gestão de


emergências em sua cidade, realizando, com regularidade, simulados para
preparação do público em geral, nos quais participem todos os habitantes;

Foto: Sirene para Alerta de Desastres instalada em municípios do


Rio de Janeiro.
Fonte: CEDEC-RJ, 2012

105
Depois de qualquer desastre, vele para que as necessidades dos sobreviventes
sejam atendidas e se concentrem nos esforços de reconstrução. Garanta o apoio
necessário à população afetada e suas organizações comunitárias, incluindo a
reconstrução de suas residências e seus meios de sustento.

9.3- Redução de riscos urbanos como uma oportunidade – quais são os


benefícios?

Ao investir esforços em urbanização sustentável, as cidades – além de reduzir riscos de


desastres – têm a oportunidade de conquistar diversos benefícios, como por exemplo:

 Conquistam ganhos em desenvolvimento e aplicam menos recursos em


resposta e reconstrução após o desastre.

 Abrem espaço à gestão participativa e organização comunitária.

 Ao reduzir as perdas com desastres, podem ampliar os investimentos em


casas, prédios e outras propriedades.

 Têm possibilidade de ampliar os investimentos em infraestrutura, incluindo


obras estruturais de adaptação, renovação e reparação.

 Ampliam as oportunidades de negócios, crescimento econômico e geração de


empregos, atraindo grande número de investidores.

 Garantem a saúde de sua população, com ecossistemas equilibrados, e


respeito às diferenças culturais.

 Garantem qualidade de vida e bem estar, associados à saúde.

 Promovem a melhoria na educação, pelo investimento em escolas seguras.

9.4- Prefeitos e gestores públicos locais – as chaves para construção de


cidades resilientes

Prefeitos e gestores públicos locais são peças chave para a construção de cidades
resilientes a desastres. São eles os responsáveis pelo bem estar de seus cidadãos.
Governos locais fornecem serviços essenciais como saúde, educação, transporte e
abastecimento de água. Eles gerenciam as permissões de construção e administram os
serviços públicos, além de planejar e controlar o desenvolvimento urbano. Juntos, todos
esses recursos podem garantir o desenvolvimento seguro das cidades com vistas a reduzir a
vulnerabilidade a desastres de suas comunidades.

106
Governos locais respondem pelo desenvolvimento que afeta milhões de pessoas nas
cidades ao redor do mundo. Por isso, gestores públicos locais devem trabalhar iniciativas de
redução de risco em seus processos de planejamento estratégico como uma maneira de se
prepararem para os futuros riscos de desastres com confiança e resiliência.

Prefeitos e governos locais podem desempenhar um papel fundamental auxiliando as


cidades a se tornarem aptas para enfrentar os futuros desastres. Por sua vez, governos
nacionais, comunidades, associações profissionais, ONGs regionais e internacionais,
universidades e cidadãos também devem engajar-se nesse processo. Todos esses setores
precisam trabalhar suas respectivas responsabilidades na construção de cidades resilientes
a desastres, e para isso os governos locais devem definir metas.

o Participando e trabalhando com base nos Dez Passos Essenciais para


Construção de Cidades Resilientes.

o Promovendo eventos públicos e compartilhando suas experiências, boas


práticas e conquistas com os participantes da campanha e com outra cidades.

o Trabalhando alinhados e próximos aos governos estaduais e federal na


implantação de um plano nacional que integre o planejamento urbano e o
desenvolvimento local para a redução de riscos de desastres.

o Criando parceiras e alianças locais com seus cidadãos e grupos comunitários.

o Firmando parcerias com universidades nacionais e locais para realização de


pesquisas nas áreas de mapeamento de risco, monitoramento, alerta e alarme,
e demais estratégias que contribuam para construção de cidades resilientes.

Foto: Assinatura do Convênio para criação do Centro de Estudos e Pesquisas sobre


Desastres - CEPED do Ceará.
Fonte: CEDEC-CE, 2011

107
o Focando em comunidades menos favorecidas e de alto risco e propondo
metas para a campanha a serem compartilhadas com os movimentos
comunitários.

o Organizando audiências públicas, discussões, exercícios e outras ações de


sensibilização durante a Semana Nacional de Redução de Riscos de
Desastres (no Brasil, realiza-se na segunda semana de outubro), ou em outras
datas comemorativas.

o Utilizando a campanha e seus Dez Passos para introduzir o tema nos espaços
que já discutem questões relacionadas à mudança do clima e meio ambiente.

9.5- Participe da Campanha Construindo Cidades Resilientes

Se você é um gestor público que está iniciando o trabalho em redução de risco em seu
município, investindo no planejamento e na gestão de risco local, assuma o compromisso de
ampliar a resiliência e segurança frente a desastres e faça parte da campanha Construindo
Cidades Resilientes.

Fonte: Brasil, 2013. http://www.integracao.gov.br/cidadesresilientes.

Se você integra um grupo comunitário, ONG ou membro de outra organização em seu


município e deseja apoiar a campanha, comprometa-se como os objetivos da campanha
trabalhando com o governo local para aumentar a resiliência a desastres em sua cidade.

Você chegou ao final da Unidade 9, aqui, você aprendeu sobre o


conceito de resiliência e a campanha criada pela Secretaria Nacional de
Proteção e Defesa Civil “Construindo Cidades Resilientes”, assim
como os dez passos para tornar sua cidade resiliente ante aos
desastres. Viu também que os Prefeitos e profissionais de proteção e
defesa civil são a chave para a construção de uma cidade resiliente.

108
UNIDADE 10

PLANEJAMENTO DA RECUPERAÇÃO PRÉVIA PÓS-DESASTRE

1- CONTEXTO

Uma observação retrospectiva da última década nos faz reafirmar que os desastres vão
aumentando e são eventos recorrentes. Esta situação faz que muitos territórios e
comunidades vivam em um contexto de permanente recuperação. Não terminam de se
recuperarem de um desastre que tenha ocorrido quando voltam a ver‐se impactados
novamente por outro desastre e… desde esse momento dá‐se início, ou melhor, se reinicia a
recuperação que, no geral, levará muitos anos.

A experiência evidencia que “a recuperação” são processos em geral totalmente


espontâneos, em resposta à situação pós crise que se apresenta, reagindo à situação pós
crise que se apresenta, implementando e improvisando ações, muitas delas pontuais e de
maneira desarticulada e, em geral, restabelecendo as condições de risco que existiam antes
do desastre. São as populações e a sociedade afetada as que acabam assumindo a
recuperação através de seus próprios meios, de forma anárquica e desorganizada, devido
às decisões não tomadas a tempo e diante da pouca atenção e falta de resposta eficaz por
parte de governos e organismos. São processos postergados e muitas vezes (se não a
maioria) inconclusivos, onde não se atende e tampouco se dá privilégio à recuperação dos
meios de vida das populações afetadas.

Em contextos ou situações de crise é muito difícil, ou quase impossível, planejar ações


adequadas de forma oportuna, onde quase sempre se recai no exercício de criar novas
instituições paralelas às já existentes, duplicar funções e competências que
consequentemente trazem confusão sobre as responsabilidades de cada instituição,
estabelecer novas políticas e marcos legais sem coerência ou articulação às já
preexistentes, contratação de novos funcionários de forma reativa e pouca capacidade dos
governos nacionais e/ou locais para organizar e coordenar o apoio humanitário e a
participação de agentes externos e a cooperação internacional.

São diversos os processos e experiências de recuperação vividas, muitas lições do que se


deve fazer e, além disso, do que não se deve fazer. Uma das reflexões na qual se coincide é
que não estamos preparados para assumir e conduzir estes processos de forma planejada e
eficaz e que existe a necessidade e urgência de planejar a recuperação e, para isto,
fortalecer as capacidades dos governos e das populações em prol disto, ou o que é
equivalente à preparação da recuperação.

No entanto, é muito pouco o que já se avançou, são muito poucos os governos nacionais
e/ou locais preparados para realizar uma recuperação pós‐desastre e direcionar as
comunidades e populações afetadas para que voltem à normalidade, recuperando seus

109
meios de vida e sua qualidade de vida no tempo mais curto possível. Por isto, esta aula
pretende abranger em parte esta necessidade de melhorar as capacidades para os
preparativos e planejamento da recuperação.

2- PREPARANDO AÇÕES DE REABILITAÇÃO E DE RECUPERAÇÃO

Decretada uma Situação de Emergência ou Estado de Calamidade Pública, as principais


preocupações no primeiro momento são: proteger as vidas e salvaguardar os bens. Os
desastres afetam de forma simultânea várias dimensões da vida social das comunidades,
muitas vezes superando sua capacidade de resposta. Podem ser visualizadas na figura a
seguir algumas dessas dimensões:

Fonte: Curso de Gestão de Desastres e Ações de Recuperação, CEPED, UFSC, 2014..

O impacto dos desastres difere de lugar para lugar em razão de inúmeros fatores, que
perpassam aspectos relacionados à magnitude e à intensidade da ameaça, à preparação e
ao desenvolvimento socioeconômico de cada unidade territorial. A necessidade de cada país
contar com um programa de resposta que priorize ações de reabilitação e de recuperação é
fundamentalmente importante, como forma de restabelecer a normalidade e a segurança da
população em situação de desastre. (BRASIL, 2013)

Normalmente, as ações de recuperação iniciam-se tão logo a situação esteja estabilizada


pelas ações emergenciais de resposta. As ações de recuperação de infraestrutura, por sua
vez, estão divididas em reconstrução e restauração de obras afetadas por desastre,
conforme segue:

110
 Ações de reconstrução: ações de caráter definitivo destinadas a restabelecer o
cenário destruído pelo desastre, como a reconstrução ou recuperação de unidades
habitacionais, infraestrutura pública, sistema de abastecimento de água, açudes,
pequenas barragens, estradas vicinais, prédios públicos e comunitários, cursos
d’água e contenção de encostas, entre outras estabelecidas pelo Ministério da
Integração Nacional. (BRASIL, 2010) As ações de reconstrução são caracterizadas
pela execução de obras com caráter definitivo (naturalmente, associado a uma vida
útil adequada), voltadas para a restauração do cenário (reconstrução de pontes,
residências, contenções, trechos de estradas etc.). São passíveis de licenciamentos,
contratadas com base em projeto básico detalhado, mesmo quando a dispensa de
licitação se aplicar. Se for preciso, essa reconstrução deverá incluir esforços para
reduzir a exposição da estrutura a um patamar de risco aceitável, indo além da
simples reprodução da estrutura destruída. É possível, dentro dessa visão de
segurança, que a obra seja reconstruída em local distinto do inicial, mantendo-se
atendidos os beneficiários originais.

 Ações de restauração: aplicam-se às estruturas públicas destruídas ou interditadas


em definitivo (total ou parcialmente) por ocasião de desastre, com danos pouco
significativos frente ao seu valor original. Compreendem o conjunto de serviços
necessários para recompor a obra danificada, aproveitando grande parte da estrutura
existente. Como exemplo, podemos citar a recomposição de aterros de cabeceiras e
substituição de muros de ala de pontes danificados por desastre.

Fonte: Curso de Gestão de Desastres e Ações de Recuperação, CEPED, UFSC, 2014..

3- A IMPORTÂNCIA DE DESENVOLVER A REABILITAÇÃO E A


RECUPERAÇÃO PRIORIZANDO AÇÕES DE PREVENÇÃO

Cada país define suas políticas e seus programas para desenvolver ações de preparação,
de resposta e de recuperação, organizando seu próprio sistema de gestão e se articulando a
um conjunto de instituições públicas, privadas, comunitárias e organizações não
governamentais, com o objetivo de assistir às populações afetadas por desastres. A

111
reabilitação e a recuperação pós-desastre se caracterizam por processos multidimensionais
que devem ser guiados por princípios cujos os propósitos catalisem oportunidades de
desenvolvimento sustentável e, fundamentalmente, reduzam a desigualdade social e as
condições de vulnerabilidade das populações. Aborda a restauração dos serviços básicos,
meios de vida, moradia, governabilidade, segurança, normas legais, meio ambiente, dentre
outros fatores.

De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD, 2012), de
forma geral, o plano de reabilitação tem como base quatro linhas de ação:

 Fortalecimento das capacidades de gestão de risco: busca garantir que a reabilitação


e reconstrução se realizem em condições de segurança e o reconhecimento das
zonas de risco.

 Recuperação dos meios de vida (desenvolvimento produtivo e emprego).

 Reabilitação e reconstrução de infraestrutura: moradias, saúde, educação,


recuperação das linhas vitais, etc.

 Recuperação do meio ambiente buscando restituir: abastecimento de água potável,


gestão dos resíduos sólidos, recuperar degradação de ecossistemas terrestres,
aplicar ou definir o plano de ordenamento territorial, entre outros.

A etapa de recuperação ocorre após o evento, depois de executadas as medidas de


reabilitação, nas quais se inicia o processo de restabelecimento das condições normais de
vida de uma comunidade, de forma permanente. Essa etapa engloba dois grandes aspectos:

 restabelecer permanentemente os serviços básicos indispensáveis; e

 avançar para uma solução permanente, de médio a longo prazo, que busca restituir
as condições normais de vida da população afetada, priorizam-se as ações de
reconstrução.

Nesse sentido, o objetivo nesta etapa deve ser restabelecer, reintegrar e recuperar ou
melhorar as condições de vida da comunidade afetada, no tempo necessário para o retorno
da normalidade. (EIRD, 2009)

Um cuidado importante que deve-se ter com relação à realização das ações de recuperação
é o de considerar a variável do risco presente e futuro, caso contrário, estaremos mantendo
ou aumentando as condições de vulnerabilidade e possibilitando a criação de novos riscos.

A recuperação das estruturas essenciais pós-desastres deve ser realizada protegendo,


devidamente, as populações contra os riscos de médio e longo prazo. Ao mesmo tempo,
essa fase deve priorizar o restabelecimento das condições adequadas e sustentáveis de
vida mediante ações de prevenção. Representa a oportunidade para desenvolver e executar
medidas de redução de risco de desastres aplicando princípios de como responder às ações
e recuperá-las priorizando ações de proteção e de prevenção.

112
3.1- Ações de Reconstrução

As ações de reconstrução fazem parte da etapa de recuperação pós-desastre. Como


dependem de recursos disponíveis, evidencia-se a necessidade de priorizar determinada
reserva de recursos financeiros para esta última etapa do ciclo de gerenciamento de
desastres. De acordo com Cruz Roja (2009), o alcance da execução dessa etapa se baseia
nos seguintes aspectos:

 natureza do desastre (magnitude, intensidade);

 escala de danos;

 localização e extensão do evento;

 setores afetados;

 perdas resultantes (diretas e indiretas);

 cursos humanos disponíveis;

 capacidades institucionais e locais; e

 compromisso político.

As ações de reconstrução devem ser totalmente integradas aos planos de ordenamento


territorial e aos planos de desenvolvimento local, considerando os riscos de desastres
futuros. Essa fase é muito mais intensa, com alto custo, sendo de médio a longo prazo. O
processo de reconstrução deve priorizar ações de recuperação dos danos físico, social e
econômico, sempre que possível a um nível de desenvolvimento superior ao existente antes
do evento. É importante conduzir a reconstrução de forma que ela contribua para a redução
do risco de desastres, seja reduzindo a probabilidade de ocorrência do evento adverso ou
garantindo que as consequências desse evento não sejam tão graves.

De acordo com Prieto (2007), o processo de reconstrução não deve ser um processo que
priorize restaurar e reconstruir somente o que existia previamente, mas sim um processo
que desenvolve estratégias para reconstituir serviços e renovar as estruturas essenciais,
dando ênfase à redução das vulnerabilidades. É a oportunidade de construir as estruturas
físicas com novos padrões de segurança e de proteção, conjuntamente com uma nova
consciência social que incorpore a proposta de redução do risco e reconheça a importância
dos processos de conhecimentos locais, tomando em conta os anseios das populações.

Reconstruir é a oportunidade de planejar melhor, com maior consciência sobre as


debilidades e as fortalezas do território, considerando os aspectos históricos e culturais,
identificando os vazios existentes, planejando melhor os recursos e considerando a
importância de reconhecer o cenário de risco e sua complexidade. Nesse contexto, o estudo
do cenário de risco proporciona a obtenção de informações importantes, as quais subsidiam
as decisões e estratégias a serem tomadas. Por essa razão, as informações sobre esses
cenários de risco devem ser claras, relevantes e úteis para oferecer uma eficaz resposta

113
individual e coletiva diante das possíveis situações de emergência ou de desastres. (CRUZ
ROJA, 2009) Na reconstrução, as estruturas e os serviços danificados, que são essenciais à
sociedade, devem ser reparados e construídos considerando os riscos presentes e os
futuros.

Vale a pena destacar que, para uma parcela da população afetada, o desastre significa
perda da propriedade e do trabalho; tornando-se uma perda de oportunidade econômica e
de sustento de vida. Na maioria das vezes, isso representa um retrocesso econômico e
social com graves consequências de médio a longo prazo, já que a capacidade de
enfrentamento nesses casos é bastante comprometida e quase nula.

Saiba que uma proposta de reconstrução torna-se insuficiente se não é capaz de:

 remover parcial ou totalmente as condições de risco de desastre;

 implicar a participação institucional e comunitária que estimule sinergias baseadas na


identidade local;

 considerar os direitos das populações afetadas à vida digna, com segurança, acesso
a serviços básicos, trabalho e renda, moradia, entre outros;

 apropriar-se das tecnologias de construção de forma a assegurar moradias de


qualidade, em lugares e condições seguras; e

 fortalecer capacidades e recursos locais, com foco na prevenção do risco.

Além disso, a carência de apoio ou suporte inadequado e ineficiente do poder público,


instituições e sociedade civil, no processo de recuperação pós-desastre, fere os direitos
fundamentais dos cidadãos, expondo-os a um processo gradual de deterioração econômica,
social e ambiental, incluindo o agravamento de novas condições de riscos diante de futuros
desastres.

4- A IMPORTÂNCIA DE ELABORAR O DIAGNÓSTICO IDENTIFICANDO


OS DANOS E AS ANÁLISES DAS NECESSIDADES NA ETAPA DE
REABILITAÇÃO E DE RECUPERAÇÃO

Elaborar um diagnóstico da área afetada por um evento adverso é definir ações para
identificar as necessidades básicas da população impactada durante emergências e orientar
ações de reabilitação e recuperação.

Sabe-se que alguns municípios têm dificuldade para organizar as informações relacionadas
ao desastre, como identificar o número de pessoas afetadas, prover os requisitos legais de
realocação de moradias ou liderar processos de reconstrução em geral. Por isso, elaborar o
diagnóstico é fundamental para gerenciar as informações e planejar as ações necessárias.

114
O Formulário de Informações do Desastre (FIDE), o qual deve ser preenchido na ocorrência
de um desastre, solicita um conjunto de informações sobre o evento, possibilitando um
diagnóstico inicial da situação. O FIDE deve ser atualizado sempre que novas informações
forem coletadas sobre o cenário do desastre. Os formulários utilizados para o levantamento
dos danos dos desastres devem estar em formato simples e de fácil entendimento, a fim de
que seu preenchimento pelo profissional designado seja feito de maneira rápida e eficaz.

O planejamento da avaliação de danos e das necessidades, posterior a uma situação de


desastre, pode ser utilizado para determinar as necessidades no sentido de definir o plano
de resposta e de recuperação, servindo de orientação para ações de reabilitação e
reconstrução. (GFDRR, 2010) os métodos para recolher informações depois do impacto do
evento podem ser obtidos das seguintes formas:

 Observação aérea: com voos de baixa altura como forma de proporcionar


informações sobre a extensão geográfica do desastre e a dimensão dos danos
sofridos, como estrago de pontes, de rodovias e de vias de comunicação.

 Informações das comunidades e de trabalhadores de campo: as informações que


recebem as lideranças comunitárias, as equipes de resgates, os administradores e as
autoridades locais podem ser importantes na definição das necessidades de atenção
imediata.

 Um diagnóstico rápido: realizado por parte dos profissionais, permite o acesso a


informações qualitativas e quantitativas sobre os danos e as necessidades no pós-
desastres.

Outros aspectos importantes para um bom diagnóstico, além da identificação dos danos
físicos, se refere:

 ao mapeamento dos riscos existentes ou futuros;

 à identificação das capacidades e disponibilidades institucionais e organizacionais


para atuação conjunta; e

 à disponibilidade de materiais. Considere, também, as diferenças dos locais afetados,


do ponto de vista: econômico, cultural, político, étnico, religioso, etc.

A experiência mostra que a reconstrução em áreas urbanas se difere bastante das áreas
rurais, pois, nesta última, há grandes espaços disponíveis e suficientes recursos naturais,
diferente das cidades. No entanto, nas zonas rurais há mais limitações no acesso, na
comunicação, nos mercados e nos serviços.

Sabe-se que boas práticas reconstrutivas buscam se pautar na lógica da autoconstrução,


incorporando tecnologias que possibilitem melhorar a qualidade das moradias e gerar
capacidades locais e institucionais que promovam a sustentabilidade deste processo.

Alguns países têm utilizado a força de trabalho local, os recursos da própria comunidade,
agregando as lideranças comunitárias no processo de reconstrução, de modo a favorecer a

115
recuperação mais rápida das localidades afetadas por desastre. De que maneira pode ser
feito?

 Contratam mão de obra da própria comunidade, de modo a produzir emprego e renda


entre as pessoas afetadas pelo desastre.

 Elaboram projetos de reconstrução de moradias a partir da tomada de decisão


coletiva, com forte participação comunitária. Esses projetos respeitam um
zoneamento e distribuição adequada das casas; as características e tradições da
cultura local; respeitam as diferenças familiares e de necessidades entre a população
afetada; pautam-se em projetos flexíveis, porém replicáveis, ofertando opções de
desenho e materiais para as moradias.

 Fomentam alianças entre diferentes atores e organizações locais, comprometendo-os


na gestão permanente do risco a desastre.

 Incorporam princípios da economia solidária, da segurança alimentar e da proteção


ambiental, incentivando o consumo e cultivo de alimentos orgânicos; a formação de
cooperativas locais para geração de renda; a preservação dos recursos naturais;
entre outros.

No processo de reconstrução, cada país deve considerar as ações de redução de risco de


forma particular, pontual e no seu conjunto, avaliando as diversidades locais quanto às
condições políticas, econômicas, sociais, ambientais e a própria condição geofísica do risco
de cada espaço socioterritorial. Medidas de redução de risco e de recuperação podem ter

êxitos em alguns lugares, mas também podem não funcionar em outros.

Um fator importante, nesse contexto, é respeitar as diversidades culturais reconhecendo as


diferenças de cada grupo social e, também, sua relação histórica com a natureza e o meio

116
ambiente. Considerar as relações de etnias, as religiosas, as de gênero e as redes
comunitárias torna-se aspecto fundamental. Sempre que possível deve-se reconhecer e
considerar as boas práticas comunitárias de reconstrução já existentes.

Para finalizar esta aula, enfatiza-se a importância de o processo de reconstrução se pautar


em indicadores de resiliência, ou seja, na perspectiva de reconstruir melhor, reconstruir
prevenindo riscos futuros.

Você chegou ao final da Unidade 10, aqui, você aprendeu sobre a


importância de realizar um bom planejamento no processo de
recuperação. Viu que as ações de reabilitação e recuperação devem ser
focadas com caráter preventivo futuro. Viu que é importante elaborar
um diagnóstico identificando os danos para realizar as etapas de
recuperação com eficiência, e por último, viu que se faz necessário
definir ações para identificar as necessidades básicas da população
impactada durante emergências.

117
119
UNIDADE 11

ADMINISTRAÇÃO DE ABRIGOS PROVISÓRIOS

1- PRINCÍPIOS GERAIS PARA A ADMINISTRAÇÃO DE DESASTRES

A administração de desastres está ligada ao processo de gerenciamento de uma crise e faz-


se necessário sua aplicabilidade sempre que o município, estado ou país é acometido por
um desastre.

No caso de um grande desastre, inúmeros fatores estão presentes, desde o socorro e


assistência às vítimas até o devido remanejamento destas a um local seguro. Envolve
também o gerenciamento de recursos humanos, materiais, logísticos e financeiros.

Num ambiente de desastre é preciso o profissional ter uma percepção holística da situação e
contar com pessoal de apoio das mais diversas áreas, tais como salvamento, socorro pré-
hospitalar, geógrafos, engenheiros etc. O administrador de desastres é o profissional
habilitado a lidar com tais cenários envolvendo modelos complexos de decisão
multidisciplinar que irá gerenciar a situação, devendo ser capaz de coordenar diversos
atores num cenário calamitoso.

Deve-se considerar que, além dos recursos operacionais, é importante buscar os recursos
logísticos de apoio, como alimentação, estrutura para descanso, incluindo parcerias com
hotéis, pousadas, quartéis e montagem de barracas para áreas com pouca infraestrutura.

O gestor de Proteção e Defesa Civil deve preparar as condições administrativas e


financeiras necessárias para o recebimento de aporte de recursos complementares a serem
empregados na resposta a desastres.

A administração de desastres tem sua máxima na ação de resposta e compreende as


seguintes fases:

 Mobilização de acordo com o plano de contingência;


 Estabelecimento de posto de comando nos moldes do Sistema de Comando de
Operações;

120
 Socorro e assistência às vítimas;
 Reabilitação do cenário do desastre;
 Avaliação de danos;

1.1- Mobilização de acordo com o plano de contingência

Nesta fase o administrador de desastres deve reunir-se com sua equipe e dar início à
organização dos recursos definidos no plano. O pilar do gerenciamento de um desastre
repousa sobre a elaboração do plano de contingência, que num cenário de sinistro muda
sua nomenclatura para plano de emergência, sendo este o documento que servirá como
guia para lidar com a situação, estabelecendo procedimentos, definindo recursos materiais e
capital humano.

1.2- Estabelecimento do Posto de Comando nos moldes do SCO

A primeira equipe a chegar num cenário de desastre deve montar um Posto de Comando
que abrigará todos os responsáveis pelos órgãos envolvidos na emergência, à medida em
que estes forem chegando ao local de reunião, intitulado de sala de situação ou de crise. O
Posto de Comando faz parte da estrutura da ferramenta gerencial chamada de Sistema de
Comando de Operações (SCO) que facilita a gestão de todas as etapas de um desastre.

O Sistema de Comando em Operações é uma ferramenta gerencial, utilizada por diversos


países com larga experiência em cenário de desastres, que é utilizada nas etapas de
comando, controle e coordenação de todas as operações de resposta em situações de crise,
ofertando a possibilidade de articulação dos esforços de todos os atores envolvidos no
gerenciamento da crise, buscando-se estabilizar uma situação crítica, protegendo vidas,
patrimônio e o ecossistema. O tema SCO será detalhado na aula 15 desta apostila.

1.3- Socorro e assistência às vítimas

A fase de Socorro compreende a atenção voltada à população vitimada e é subdividida em:

121
 Pré-impacto: Intervalo de tempo que ocorre entre o prenúncio e o desencadeamento
do desastre.
 Impacto: Momento em que o evento adverso atua em sua plenitude máxima.
 Limitação de Danos: Situação imediata ao impacto, na qual os efeitos do evento
iniciam o processo de atenuação.

No momento de socorro as atenções se voltam para a utilização dos meios necessários para
resgatar as pessoas que se encontram feridas, graves ou não, sendo estas as que requerem
maiores cuidados, assim como aquelas com dificuldades de se retirar do local sinistrado
para um local seguro.

Considerando que, em caso de situações críticas, o atendimento hospitalar é uma das ações
de assistência para salvar vidas, quanto maior for a velocidade no atendimento
especializado, com equipamentos adequados, maior será a chance de sobrevivência da
vítima. Durante as atividades de preparação, o conhecimento da capacidade de resposta
hospitalar do Município, sua estrutura e especialidades do corpo clínico, otimiza o serviço de
assistência às pessoas atingidas e aumenta a chance de êxito.

Numa situação de desastre com muitas vítimas, os profissionais da saúde encontram


dificuldades para realizar a triagem das vítimas e podem sofrer pressão de familiares e de
amigos, dificultando ainda mais as ações de tratamento, que já possuem suas complicações
em si mesmas.

O gestor deve se reunir com a direção da saúde e dos estabelecimentos para verificar:

 A capacidade de atendimento emergencial de cada hospital;

 A possibilidade de expansão em caso de grave desastre;

 O estabelecimento de um plano de chamada para profissionais da área de


saúde; e

 A utilização de médicos, enfermeiros e voluntários especializados para apoiarem


uma situação de emergência vivenciada pelo Município.

Além de conhecer a estrutura local, é preciso estudar e contatar as unidades de saúde de


polos municipais da região para verificar a capacidade de apoio e de estrutura, no sentido de
estabelecer um fluxo de acionamento emergencial em tempo integral.

122
Já a fase de assistência compreende as seguintes atividades:

 logísticas;
 assistenciais;
 de promoção da saúde;
 Estabelecimento de abrigo provisório.

Essas atividades serão detalhadas a seguir.

1.4- Reabilitação do Cenário do Desastre

Esta é a fase posterior às ações de resposta. Nesta etapa se continua com a atenção a
população vitimada, buscando restabelecer os serviços essenciais, como: a energia elétrica,
a água, as vias de acesso, comunicações e outros serviços básicos como: saúde e
alimentação.

Outras ações são executadas na fase de reabilitação, tais como:

 Avaliação de danos;
 Vistoria e elaboração de laudos técnicos;
 Desmontagem de estruturas danificadas, desobstrução e remoção de escombros;
 Sepultamento, limpeza, descontaminação, desinfecção e desinfestação do ambiente;
e,
 Recuperação de unidades habitacionais de famílias de baixa renda.

Após o restabelecimento dos serviços essenciais procede-se a desmobilização dos recursos


contingenciados para o desastre, a confecção de relatório final de atuação do contingente
empregado e posterior divulgação do relatório aos órgãos envolvidos.

1.5- Avaliação de danos

Nesta fase é feita uma avaliação dos danos e prejuízos ocasionados pelo desastre
adotando-se os parâmetros definidos pela legislação brasileira, no caso, a Instrução

123
Normativa nº 01, de 24 de agosto de 2012, que trata dos procedimentos para decretação de
situação de emergência (SE) ou estado de calamidade pública (ECP).

É necessário que o avaliador reúna-se com os diversos representantes das secretarias de


governo para levantar os números reais da situação.

No processo de avaliação de danos, o agente de defesa civil deve considerar tudo o que foi
afetado em decorrência do desastre, atentando para os danos humanos, ambientais e
materiais e os consequentes prejuízos, sejam públicos ou privados.

Essa avaliação será primordial no processo de tomada de decisão do gestor local quanto à
necessidade de decretar SE ou ECP, bem como buscar recursos em outras esferas de
governo, caso ultrapasse sua condição orçamentária. Este tema será detalhado na aula 13
desta apostila.

2- ADMINISTRAÇÃO DE ABRIGOS PROVISÓRIOS

Abrigo provisório é o local utilizado

Abrigo Provisório montado em um ginásio


Foto: Paiva Jr; Catanho. Rondônia, 2014
pelos profissionais na fase de resposta
a desastres para alocar as pessoas que
ficaram desabrigadas, ou seja, tiveram
sua residência atingida pelos efeitos do
em Porto Velho
desastre e não têm onde se abrigar.
Geralmente são utilizadas como
espaços de abrigos: escolas, igrejas, clubes dentre outros. Esses locais improvisados, na
maioria das vezes, não oferecem os recursos necessários à condição de convivência básica
dos abrigados. Ademais, o uso desse tipo de espaço como abrigo interrompe a prestação de
serviço comumente ofertada à população.

Durante o processo de confecção do plano de contingência deve-se prever os possíveis


locais para abrigamento, priorizando os estabelecimentos públicos que estão em desuso no
momento, mas que oferecem condições mínimas para funcionar como local de recepção das
famílias desabrigadas. Pode-se também prover um local aberto para montagem de barracas,

124
devendo-se prover os equipamentos básicos de uso comunitário, tais como cozinha,
banheiros, áreas de lazer e de serviços etc.

O planejamento dos recursos necessários ao bom funcionamento do abrigo deve ser


pensado para cada 7 dias, devendo ser reorganizado a cada ciclo de dias, de acordo com a
necessidade de manutenção do abrigo até o retorno das famílias às suas residências ou
encaminhamento a casa de parentes ou residências locadas pelo poder público.

Ao conduzir as famílias para o abrigo deve-se levar em consideração os laços afetivos das
mesmas para evitar conflitos no local. É preciso reunir-se com os abrigados num primeiro
momento para providenciar a escolha, entre eles, de um representante. Logo após faz-se
necessário definir as regras de convívio do abrigo, dividindo as tarefas de limpeza, cozinha e
horários de abertura e fechamento dos portões de acesso.

O administrador do desastre deve designar uma equipe para gerenciar o abrigo. As


principais funções a serem desenvolvidas pela equipe que compõe o abrigo são:

 Gerência geral
 Controle
 Segurança
 Entrada
 Triagem
 Cadastramento
 Alimentação
 Atendimento Psicológico
 Recreação Foto: Paiva Jr; Catanho. Rondônia, 2014
Abrigo Provisório montado em uma escola em Porto Velho

 Atendimento Médico
 Limpeza

O agente de proteção e defesa civil deve considerar alguns pontos quando for montar um
abrigo provisório, são eles:

 Participação das comunidades no processo de tomada de decisão em relação


aos abrigos provisórios;

125
 Determinação de abrigos de acordo com as normas humanitárias. Sugere-se as
recomendações do “Projeto Esfera” da ONU, que trata dos procedimentos de
ajuda humanitária em casos de desastres;

 Informação compartilhada sobre o local dos abrigos provisórios e seus


responsáveis;

 Garantia, sempre que possível, do direito das crianças e dos adolescentes à


manutenção das aulas e do ano letivo.

2.1- Classificação de Abrigo

Os abrigos podem ser classificados em:

 Permanentes: Instituições públicas ou privadas destinadas à assistência para


pessoas desamparadas socialmente.

 Temporários: Organizado em uma instalação fixa e adaptada para esta


finalidade por um período determinado.

2.2- Tipos de Instalação

Os abrigos podem ter instalação:

 Fixa: Edificações públicas ou privadas


adaptadas para a habitação temporária.
Exemplos: escolas, ginásios, clubes, hotéis,
quartéis, entre outras.

Foto: Paiva Jr; Catanho. Rondônia, 2014


Abrigo Provisório montado em uma escola em Porto Velho

 Móvel: Constituídos por barracas de Campanha para a habitação temporária, em


área pré-determinada.

126
Exemplos: campo de futebol, quadra poliesportiva sem cobertura fixa, descampados
horizontais, entre outros.

Foto: Paiva Jr; Catanho. Rondônia, 2014


Abrigo Provisório montado em uma quadra poliesportiva em Porto Velho

2.3- Instalação do Abrigo

Na escolha de uma área fixa para servir de abrigo temporário devem ser considerados os
seguintes critérios para a instalação:

 Tipo e característica da edificação: quantidade de pavimentos, compartimentação


do espaço, quantidade de sanitários, reservatórios de água potável, entre outros.

 Condições de higiene e limpeza: lavanderias, lavabos, secagem de roupas,


chuveiros, entre outros. Devem-se distinguir os espaços masculinos e femininos de
asseio pessoal.

 Infraestrutura: água, luz, banheiros, cozinha, dormitórios, área de recreação,


ventilação, entre outros.

 Delimitação do espaço físico por pessoa.

Os desabrigados devem dispor de um espaço coberto suficiente para se proteger das


adversidades climáticas, com condições adequadas de temperatura, segurança e
privacidade. Segundo o Projeto Esfera, em seu manual Carta Humanitária e Normas
Mínimas para a Resposta Humanitária, a área coberta total estabelecida para cada pessoa é
de 4,00m², em média, atentando para os indicadores mínimos abaixo:

 Alojamentos: 2,00 m² por pessoa;

 Cozinha: 15,00 m² para cada fogão industrial de 6 bocas, que atendem a até 250
pessoas;

127
 Banheiros: 1 lavatório para cada 10 pessoas; 1 latrina para cada 20 pessoas; e 1
chuveiro para cada 25 pessoas;

 Setor de Triagem: 20,00 m²;

 Área de serviço: 1 tanque de lavar roupas para cada 40 pessoas;

 Refeitório: 1,50 m² por pessoa;

 Espaço recreativo: 1,50 m² por criança.

Já na escolha de uma área móvel para montar o abrigo temporário, segundo o Manual de
Abrigos Temporários (SEDEC-RJ), devem ser considerado os seguintes critérios:

 Tipo de barraca e característica do


terreno: topografia, possibilidade de
fazer muita lama, proximidade com
mananciais e reservatórios da água
potável, entre outros;

Foto: Paiva Jr; Catanho. Rondônia, 2014


Abrigamento tipo barraca de campanha montado em um parque de
tancagem em Porto Velho

 Condições de higiene, limpeza e prevenção de vetores biológicos: lavanderias,


lavabos, secagem de roupas, chuveiros, isolamento de insetos, animais peçonhentos,
entre outros;

 Infraestrutura: água, luz, banheiros, cozinha, dormitórios e área de recreação;

Foto: Paiva Jr; Catanho. Rondônia, 2014


Áreas comuns do abrigamento provisório montado em um parque de tancagem em Porto Velho

128
 Delimitação do espaço físico por família em cada barraca: 10,00 m²;

 Distância mínima entre as barracas: 3,00m.

3- O VOLUNTARIADO

Em momento de emergência, o trabalho voluntário é necessário, especialmente aquele que


é qualificado, ou seja, com formação específica para atender às demandas ou que tenha
recebido uma capacitação prévia pelo órgão de Proteção e Defesa Civil local com
conhecimentos básicos. Os principais profissionais a serem cadastrados como recursos
humanos para situação de emergências e/ou desastres são:

 Médicos;
 Enfermeiros;
 Psicólogos;
 Educadores;
 Geólogos;
 Engenheiros;
 Cozinheiras;
 Assistentes sociais;
 Nutricionistas;
 Membros do clube de jipeiros; Fonte: http://www.cruzroja.cl/images/noticias/VOLUNTARIOS.jpg

 Condutores de barcos;
 Tratoristas;
 Motoristas de categoria especial;
 Pilotos de helicópteros;
 Socorristas;
 Radioamadores, entre outros.

O voluntário precisa trabalhar com segurança e técnica, deve voltar-se à uma função
específica e necessária. O gestor do desastre não pode mobilizar os, comumente, escassos
recursos que possui para monitorar constantemente o trabalho voluntário.

129
Os voluntários devem ser cadastrados previamente junto ao órgão de Proteção e Defesa
Civil, assinando o termo de adesão, no qual deve constar a forma de execução das suas
atividades.

Devemos, ainda, estabelecer um protocolo de acionamento emergencial dos voluntários,


pois, no momento dos desastres, o tempo de resposta é fundamental para o sucesso das
operações.

Dessa forma, criar grupos de apoios voluntários para a Proteção e Defesa Civil é uma forma
moderna e cidadã de incentivar a contribuição da comunidade com o próximo, de aumentar
o senso de pertencimento e de criar apoio mútuo e maximização dos recursos existentes em
áreas vulneráveis para o fortalecimento da atividade de proteção.

Faz-se necessário estimular a implantação de NUDECs, pois é o elo mais importante na


interação da comunidade com os Órgãos que compõem o SINPDEC.

O Brasil possui legislação específica que trata do assunto, a Lei nº 9.608, de 18 de fevereiro
de 1998. Além disso, a ONU possui diretrizes definidas para o trabalho voluntário, sugerindo
um código de conduta, direitos e deveres, tanto do voluntário como das organizações
promotoras envolvidas na atividade.

4- PLANEJAMENTO DAS CAMPANHAS DE ARRECADAÇÃO DE

MATERIAIS DE ASSISTÊNCIA HUMANITÁRIA

Pode-se minimizar os efeitos negativos


I/AAAAAAAABjo/RFwzfOM4r_s/s1600/alimentos2010.JPG

dos desastres relacionados aos prejuízos


e danos humanos e materiais através de
campanhas de arrecadação. Estas tem
por finalidade a sensibilização da
Fonte:http://1.bp.blogspot.com/-
GdCLnURaQ6I/TxQRbLet2-

população para compartilhar, por meio


de doação, os bens necessários ao
atendimento de uma comunidade
vitimada por desastre.

130
A arrecadação de produtos e de bens não exime o ente federado, seja município, estado ou
governo federal de adotarem as medidas necessárias para garantir os direitos básicos e a
dignidade humana, previstos na Carta Magna, à pessoa afetada por desastres. Tem-se de
envidar esforços para propiciar a construção de políticas públicas específicas para atender
as garantias fundamentais minimizando o sofrimento humano decorrente desses eventos.

Há algumas entidades de apoio que possuem ampla


experiência na atividade, como no caso da Cruz
Vermelha, que trabalha na mobilização de recursos,
utilizando voluntários para montagem dos kits de
Assistência Humanitária voltados ao atendimento de
catástrofes.
Fonte:http://www.cubatao.sp.gov.br/arquivos/editor/images
/DSC06026(1).JPG

Devem-se observar as peculiaridades de cada localidade e a caracterização do desastre no


momento de compor o kit assistencial.

Ex: No caso do desastre Seca, por exemplo, o atendimento emergencial humanitário


pode ser feito com o caminhão pipa, cisternas/tanques para armazenamento de água e
cestas básicas. Pode-se também propiciar a transferência de renda no intuito de permitir ao
afetado a composição de sua alimentação conforme suas preferências, além do que essa
ação ajuda na movimentação do comércio local.

Para que uma campanha de arrecadação seja bem-sucedida, torna-se necessário o


planejamento adequado das atividades da seguinte forma:

 Identificar o gestor da arrecadação, responsável pelo controle do material que entra e


sai do local de depósito;
 Definir o local adequado para recepção das doações, longe de intempéries e das
ações de roedores e de insetos;
 Divulgar o tipo de material assistencial que será útil, de acordo com a necessidade
das vítimas;
 Estabelecer um canal de comunicação com os doadores, seja por mídia televisiva,
radiofônica ou internet;
 Mobilizar uma equipe para coordenar a montagem dos kits a serem distribuídos,
dependendo do nível de intensidade do desastre e do número de afetados pode-se
convocar voluntários na execução;

131
 Organizar e controlar o acesso ao local de arrecadação;
 Controlar o estoque de materiais, atentando para a segurança do local,
principalmente no horário noturno;
 Acompanhar o prazo de validade dos materiais perecíveis;
 Cadastrar os desabrigados e os desalojados e realizar a triagem socioeconômica
para verificar o enquadramento no beneficiamento;
 Definir o meio e o local de distribuição;
 Confeccionar relatórios referentes à arrecadação e entrega dos materiais doados para
futuras prestações de contas com a sociedade e órgãos de controle.

Tais procedimentos visam minimizar o desvio de materiais, dando transparência a essa


atividade. Normalmente, os órgãos de Assistência Social estão preparados para exercer
essa atividade por meio do emprego de seus profissionais com formação em Serviço Social.
É importante, entretanto, que o gestor de proteção e defesa civil desenvolva a articulação
com as equipes e a mobilização dos demais órgãos de apoio.

Algumas instituições que já organizaram campanhas de doação são resistentes a esse tipo
de ação, justamente por cometerem falhas no processo de administração de tal atividade.
Daí a importância de se planejar com antecedência para este momento, definindo todos os
passos para instalação de um centro de recepção de doações.

Na maioria dos casos de desastres, as pessoas doam o que não lhes servem mais, e isso,
normalmente, não atende às vítimas de desastres. Há diversos casos divulgados pela mídia
nacional de pessoas que doaram roupas sujas, apenas um pé de sapatos, alimentos
vencidos, materiais de higiene pessoal usado, grandes móveis velhos que necessitam de
transporte, entre outras situações, por isso é salutar utilizar-se dos veículos de comunicação
para divulgar a relação dos materiais necessários a serem doados.

Quando as doações acontecem em grande quantidade, há o risco ainda de desvios, pois o


controle é muito difícil nesses casos. Por vezes há ainda a dificuldade de se fazer chegar as
doações ao local sinistrado. No terremoto do Haiti em 2010, por exemplo, houve grandes
dificuldades para conseguir transporte para todas as doações brasileiras efetuadas,
considerando o alto custo que inviabilizava a ação, ao se analisar o investimento em
detrimento ao resultado prático.

132
Em alguns casos, para se evitar a inviabilidade da ação, opta-se por realizar campanha de
arrecadação financeira, pois nos casos de alta complexidade no envio das doações,
apresenta-se como a melhor solução.

A expectativa de quem doa é a de que o recurso chegue à vítima, e qualquer impedimento


ou desvio do donativo gera frustração e revolta no doador, podendo ser extremamente
desagradável para o gestor do desastre. Tal frustração pode ser causada por excesso de
doações, perfil do material inadequado para a comunidade atingida, dificuldades na seleção
e no transporte, por questões de logística ou acesso de vias interrompidas.

5 AQUISIÇÃO E ARMAZENAMENTO DE MATERIAIS DE ASSISTÊNCIA

HUMANITÁRIA

O gestor da COMDEC deve organizar a aquisição e o armazenamento de materiais de


Assistência Humanitária, com recursos do poder público local, para serem utilizados em
casos de desastres.

O ideal é que cada município tenha recursos mínimos de assistência humanitária estocados
para o primeiro atendimento, até nova aquisição ou a chegada de aporte complementar dos
órgãos estaduais e federais.

Alguns Municípios menores optam pela compra em supermercados locais para o suprimento
emergencial, o que permite não mobilizar recursos financeiros antes da ocorrência do
desastre. O problema desse tipo de aquisição, muitas vezes, é o entrave burocrático, pois o
gestor municipal, devido a Lei de Responsabilidade Fiscal, fica impedido de comprar os
suprimentos caso o valor pecuniário ultrapasse a cota definida pela Lei nº 8.666/93, que
versa sobre as licitações de modo geral. Além disso, existe a possibilidade dos
supermercados serem atingidos em casos de desastres.

Diante desse cenário, os Municípios mais preparados montam alguns kits de Assistência
Humanitária para o atendimento aos desabrigados ou aos demais afetados. No Japão, por
exemplo, os kits são regionalizados e estocados em contêineres no interior de escolas, que
são referências e funcionam como abrigos.

133
A SEDEC/MI, por meio do CENAD, instituiu o Estoque Estratégico para Assistência
Humanitária. Essa foi a forma encontrada pelo órgão para assistir complementarmente os
governos municipais e estaduais com ações de assistência humanitária, no caso de
atendimento emergencial das comunidades afetadas por desastres em todo o território
nacional.

O público-alvo são pessoas desabrigadas ou desalojadas atingidas por desastres. Os kits


são confeccionados para famílias com até cinco pessoas, com tempo médio de utilização de
15 dias (exceto kit dormitório, que é individual e por tempo indeterminado), sendo eles:

 kit de alimentos;

 kits de limpeza;

 kit de higiene pessoal;

 kit dormitório; e,

 Galões de 5 litros de água mineral.


Kit Alimentos: Kit Limpeza:

 Arroz (2 pacotes de 5 kg).  Saco plástico de lixo (1 pacote com 30


 Feijão (3 pacotes de 1 kg). unidades).
 Óleo vegetal (2 embalagens pet de 900  Vassoura.
ml).  Rodo.
 Macarrão (4 pacotes de 500 g).  Pá de lixo.
 Açúcar (1 pacote de 1 kg).  Sabão em barra (1 pacote com 5
 Leite em pó (2 pacotes de 500g). unidades de 200 g).
 Farinha de mandioca (2 pacotes de 500  Pano de limpeza.
g).  Balde.
 Doce em massa (2 embalagens de 500  Luva de borracha.
g).  Sabão em pó (1 pacote de 500 g).
 Esponja de limpeza multiuso (1 pacote
com 4 unidades).
 Esponja de aço (1 pacote com 8
unidades).
Kit Higiene Pessoal: Kit Dormitório:

 Sabonete (1 pacote com 5 unidades).  Colchão de solteiro.


 Pasta dental (2 tubos).  Cobertor de solteiro.
 Toalha de banho (1 pacote com 5  Lençol de solteiro.
unidades).  Fronha.
 Papel higiênico (1 pacote com 8  Travesseiro.
rolos).  Barracas: barraca desmontável (piso
 Absorvente higiênico (3 pacote com e cobertura de PVC e estrutura
10 unidades). tubular de duralumínio).

134
Além desses materiais de ajuda humanitária, a SEDEC também disponibiliza barracas que
comportam até 10 pessoas. Este material encontra-se estrategicamente guardado em
quartéis do exército nas cinco regiões brasileiras.

A distribuição e armazenagem dos kits são realizadas por meio de logística integrada da
Empresa de Correios e Telégrafos, sendo disponibilizados em cinco Centros de Distribuição
para formação dos estoques estratégicos, contemplando todo o território nacional.

Conforme consta no site da SEDEC/MI, a prestação de contas dos Kits Emergenciais de


Assistência Humanitária deve ser enviada em até 30 dias após o recebimento do material.
Para a conclusão do processo de recebimento dos kits mencionados, faz-se necessário o
envio dos seguintes documentos:

 Plano de Detalhado de Resposta (PDR) com Formulário RM (formulário de solicitação


de Recursos Materiais);
 Termo de Compromisso (se o Plano Detalhado de Resposta for enviado, o Termo de
Compromisso estará contemplado no documento);
 Termo de Recebimento Definitivo;
 Relatório Fotográfico;
 Relação de Beneficiários (planilha); e
 Parecer Técnico.

Você chegou ao final da Unidade 11, aqui, você aprendeu os princípios


gerais da administração de desastres. Viu que se faz necessário montar
um Posto de Comando ao chegar ao local de um desastre. Aprendeu os
passos para um bom gerenciamento de abrigos provisórios. Viu
também o voluntariado como braço de apoio em situações de
emergências, e por fim conheceu como realizar o planejamento para
uma campanha de arrecadação de materiais de assistência
humanitária.

135
UNIDADE 12

PLANOS DE CONTINGÊNCIA E PLANOS DE AÇÃO

1- INTRODUÇÃO

Observa-se que os municípios do país estão constantemente sujeitos a ameaças das mais
diversas ordens, que dependendo da vulnerabilidade do local onde esta se concretize, pode
vir a ocasionar um desastre. Em decorrência desse fato, as populações estão em risco
constante. Ainda que se tenha um geomonitoramento eficaz, não é possível precisar os
acontecimentos catastróficos. Essa situação faz com que se busquem meios de prevenção e
mitigação dos efeitos dos sinistros, já que não é possível eliminá-los por completo. É preciso
desenvolver ferramentas para conscientizar e preparar a população e os profissionais que
lidam com a gestão do risco e do desastre.

O planejamento em defesa civil deve refletir uma preocupação dos que labutam nesta área,
pois de nada adiantará ter pessoal capacitado, se não tiver uma ferramenta eficaz para a
disposição dos recursos diversos que devem ser aplicados de forma efetiva no atendimento
às vítimas dos desastres. Os cenários afetados por desastres, segundo Coelho (2010, p.3)
são caracterizados por alto risco, por instabilidade, por complexidade e por confusão. Diante
disso, as ações de enfrentamento dos desastres devem primar pelo planejamento,
afastando-se do improviso e das decisões sem fundamento técnico.

A melhor forma de se planejar em defesa civil dentro do processo de gestão de risco e de


desastre é feita através da elaboração de um plano de contingência, que requer uma
sequencia de atividades resultando no produto final. É preciso, inicialmente, realizar um
trabalho de mapeamento de áreas de risco, para se levantar as vulnerabilidades do
município, estado ou país em sua totalidade, pois somente por meio dessa primeira
atividade se torna possível a elaboração de um plano para cada ameaça (CASTRO, 2009,
p.3).

Com um plano específico para cada tipo de desastre, bem elaborado e difundido, busca-se a
facilidade de atuação dos agentes no cenário de desastre, o uso racional dos recursos
disponíveis, e perante a população, a minimização dos efeitos do desastre.

2- FINALIDADE DOS PLANOS DE CONTINGÊNCIA PARA DESASTRE

Segundo Castro (2009, p 2), “denomina-se de contingência a uma situação de incerteza,


quanto a um determinado evento, fenômeno ou acidente, que pode se concretizar ou não,
durante um período de tempo determinado”.

136
O plano de contingência é o planejamento tático que é elaborado a partir de uma
determinada hipótese de desastre e está ligado à necessidade de preparação de todos os
envolvidos para o entendimento, dentro do planejamento estratégico, das ações que serão
desempenhadas por todos, no caso da probabilidade de uma ameaça vir a se concretizar
como desastre. Na grande maioria dos casos, o que se observa é que as populações
afetadas diretamente possuem uma baixa percepção de risco, elevando o grau de
vulnerabilidade, de exposição às ameaças e para completar o ciclo de despreparo, os
gestores não têm definidas suas ações no caso de ocorrência de desastre.

Vê-se que uma população vulnerável está suscetível a danos e prejuízos de menor a maior
proporção, pois o ecossistema em que vivem está em constate ameaça de ocorrência de
desastres, seja natural, antropogênico ou misto e observa-se que a mesma precisa
desenvolver o senso de diminuição de suas vulnerabilidades, aumentando sua percepção de
riscos. Porém esta é uma tarefa difícil de realizar, pois na maioria das vezes a própria
população é que produz suas vulnerabilidades, mediante atitudes de total descaso com o
seu habitat natural, com o próximo e até consigo mesma.

Para se trabalhar questões como essa, os órgãos que trabalham em prol da segurança
global da população precisam buscar meios de conhecer as áreas de risco do estado para
poder construir os planos de contingência. O objetivo é aplicar mudanças culturais e
comportamentais junto aos indivíduos, de modo que estes, em conjunto com aqueles,
disseminem a cultura da percepção de riscos.

Em Estados como Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná, onde a percepção de risco
vem sendo difundida há alguns anos, os planos vem sendo elaborados e implementados de
forma maciça junto à população e têm surtido efeito, como se viu no desastre ocorrido no
Vale do Itajaí, em Santa Catarina, no ano de 2008, palco de um dos maiores desastres
naturais ocorridos no país, que contou com inundações, enxurradas e deslocamentos de
massa. Foram afetadas 80.000 pessoas e registrados 135 óbitos (CEDEC-SC). Nesse tipo
de desastre, geralmente se espera um quantitativo bem maior de afetados e de óbitos,
porém não foi o que se viu na catástrofe do Vale do Itajaí, quando os números foram bem
menores que os esperados. Isso traz à tona a reflexão sobre a necessidade de se elaborar
um planejamento prévio voltado à organização das ações no cenário de desastre, sendo
possível tal intento através dos planos de contingência a fim de se lidar com situações de
catástrofes.

No caso relatado existia um plano específico para um desastre com altos índices de
precipitações pluviométricas, A população foi alertada, possibilitando a evacuação do maior
número de pessoas, sendo as mesmas deslocadas para abrigos temporários montados para
o atendimento às vítimas. Deve-se levar em consideração o papel da mídia local, que teve
uma atuação primordial na emissão de alerta e alarme à população.

O plano de contingência para desastres dá ao gestor a condição de otimizar o uso dos


recursos, seja material, humano ou financeiro, pois nele é definido onde buscá-los e como
utilizá-los de maneira eficiente. Outro ponto importante do plano de contingência é a

137
possibilidade de realização de simulados no intuito de se testar os procedimentos e
aperfeiçoar o planejamento.

Em países com a cultura de prevenção bastante arraigada, cite-se aqui o Japão, constantes
simulados são realizados como forma de testar e aperfeiçoar os planos de contingência
voltados para o enfrentamento dos desastres, principalmente os planos direcionados a
terremotos. Além dos simulados, são investidos recursos em medidas estruturais, como no
caso das edificações, que são preparadas para suportar os efeitos de tais eventos.

Fazendo um comparativo entre um país que investe em prevenção e outro que não o faz, o
Japão e o Haiti, respectivamente, observe o quadro abaixo referente aos terremotos
ocorridos em 2010 e 2011 nestas localidades:

País Evento Magnitude Nº de Óbitos


Haiti Terremoto-jan/2010 8,9 222.570
Japão Terremoto-Jan/2011 9.0 10.035
Quadro 1 – Número de Óbitos nos Terremotos do Haiti e Japão
1
Fonte: UNISDR (2010)/Estadão(2011).

Observa-se que o número de óbitos no Japão foi bem menor que no Haiti, mesmo sendo um
terremoto com magnitude superior. A diferença está no fato de o país nipônico estar sempre
colocando a população em treinamento preventivo, através de simulados, bem como
fazendo uso de planos de contingência voltados para eventos desta natureza.

Contrariamente, no Haiti, não se observou a existência da referida ferramenta gerencial, pois


o evento de proporção menor causou mais danos e prejuízos. Pode-se ver esse fato por
conta do número de óbitos, bem como das imagens de destruição que foram veiculadas pela
mídia por todo o mundo, demonstrando que os gestores não apresentavam preocupação
com a prevenção.

A finalidade do plano de contingência é, portanto, facilitar as atividades de preparação para


emergências e desastres, como também, otimizar as atividades de resposta aos desastres.
O objetivo é manter previamente cadastrados os recursos disponíveis e informações de
onde e como usá-los no caso de se concretizar o desastre para o qual o mesmo foi
idealizado.

De acordo com Castro (2009), um Plano de Contingência deve contemplar alguns pontos
que são cruciais para a eficiência das ações a serem desempenhadas, bem como o bom
atendimento às vítimas. São eles:

 Implantação de um grupo de trabalho, composto por todos os atores, que atuarão no


cenário do desastre para o qual está se montando o plano;

1
UNISDR: Estratégia Internacional de Redução de Desastres das Nações Unidas.

138
 Interpretação da missão, com a finalidade de definir os objetivos relativos ao
planejamento operacional e estabelecer as diretrizes gerais de planejamento;
 Caracterização dos riscos, quando é feita análise e avaliação mais profunda de risco,
direcionada às circunstâncias que individualizam o desastre específico. Inicia-se com
o estudo da ameaça específica e do grau de vulnerabilidade do cenário local,
findando com a hierarquização do risco de maior importância. Nesta etapa são
definidas as hipóteses firmes de planejamento;
 Necessidades de monitorização: com o objetivo de prever a ocorrência de um
desastre determinado, com o máximo de antecipação possível, buscando reduzir o
fator surpresa, os danos e prejuízos, otimizar as ações de resposta aos desastres e
minimizar as vulnerabilidades da população em risco;
 Definição das ações a realizar, visando a colocar no papel todas as ações que serão
desempenhadas por cada ator no cenário de desastre;
 Atribuição de missões aos órgãos do SINPDEC: nesta fase procura-se selecionar,
dentre os órgãos (setoriais ou de apoio) do SINPDEC, em nível local, aqueles
melhores vocacionados para executar as ações previstas na etapa anterior;
 Estabelecimento de mecanismos de coordenação: nesta fase são designados um
gerente de projeto e um grupo de trabalho em cada um dos órgãos setoriais e de
apoio que tenham recebido atribuições na etapa anterior. Uma vez instituído, o grupo
de trabalho passa a atuar como ponto focal do SINPDEC no órgão apoiador e seu
gerente passa a integrar o grupo de trabalho do órgão central;
 Detalhamento do planejamento: busca-se com essa etapa repassar as informações
de tudo o que foi decidido. É neste ponto onde todos os gerentes, com suas equipes,
relatam qual serão as atribuições de seus órgãos no cenário de desastre. Ao final da
elaboração do plano, anexam-se os detalhes do apoio logístico, a mobilização dos
recursos e a atuação dos órgãos setoriais e de apoio;
 Difusão e aperfeiçoamento do planejamento: o processo do planejamento em
desastres é altamente dinâmico, estando sujeito a periódicas revisões e atualizações,
por isso o mesmo deve ser difundido a fim de capacitar as equipes responsáveis
pelas ações a serem executadas. Deve-se, nessa etapa, buscar a aproximação com a
imprensa, para facilitar o processo de disseminação do planejamento em
contingência. Ao final desse processo deve-se testar o plano, através de simulados,
no intuito de realizar as análises de viabilidade e aplicação do plano, contribuindo
para o processo de aperfeiçoamento do planejamento.
Para gerenciar melhor o cenário de desastre e preparar um Plano de Contingência
consistente, voltado para cada tipo de ameaça de desastre, deve-se buscar atingir tais
etapas em sua totalidade a fim de preparar todos os envolvidos.

Além disso, deve-se difundir o referido plano junto à população, para que esta, em situação
real de ocorrência do desastre contingenciado, possa começar o processo de evacuação de

139
suas casas e procurar por um abrigo seguro, enquanto os agentes envolvidos no Plano de
Contingência chegam ao local sinistrado para dar continuidade às ações.

3- COMPONENTES DE UM PLANO DE CONTINGÊNCIA

Um Plano de Contingência formaliza uma visão geral das organizações envolvidas na


resposta a desastres e suas responsabilidades. A SEDEC/MI, em seu material de divulgação
sobre o assunto, sugere que a ferramenta utilize a seguinte estrutura mínima:

 Material de introdução;
 Descrição da finalidade do plano;
 Situação e pressupostos básicos;
 Operações: o que é preciso ser feito;
 Atribuição de responsabilidades: quem faz o quê;
 Administração e logística: com que recursos o plano será implementado;
 Instruções para uso do plano;
 Instruções para manutenção do plano;
 Distribuição.

Podem-se incluir no compêndio, caso necessário:

 Os anexos funcionais, que servirão para organizar as ações relacionadas a uma


determinada funcionalidade das operações em emergências; e,

 Os apêndices para ameaças ou perigos específicos, que podem ser incluídos para
fornecer informações adicionais mais detalhadas aplicadas à execução de
funcionalidades específicas nas operações envolvendo uma ameaça ou perigo em
particular. Eles são utilizados quando as características ou a legislação referentes a
esta ameaça ou perigo exigirem algum procedimento específico.

Você chegou ao final da Unidade 12, aqui, você aprendeu sobre os


planos de contingência e de ação, assim como sua finalidade. Viu
também os componentes que compõem um planejamento de
contingência.

140
UNIDADE 13

NOTIFICAÇÃO, AVALIAÇÃO DE DANOS E DECLARAÇÃO DE


SITUAÇÃO ANORMAL

1- INTRODUÇÃO

Ocorrido o desastre no município, é preciso saber como proceder com a avaliação dos
danos e prejuízos, assim como o preenchimento da documentação de notificação de
desastres, que servirá de base a uma possível decretação de Situação de Emergência ou
Estado de Calamidade Pública.

Conhecer os procedimentos dispostos na Instrução Normativa nº 01/2012 – SEDEC/MI será


importantíssimo para que a situação de emergência (SE) ou estado de calamidade pública
(ECP) possa ser homologado e reconhecido pelos órgãos estadual e federal.

O coordenador da COMDEC deve possuir, com sua equipe, a capacidade de avaliar bem os
danos e prejuízos a fim de notificar a ocorrência aos órgãos de defesa civil das demais
esferas administrativas e embasar tecnicamente o gestor municipal no momento de declarar
SE ou ECP, evitando possíveis equívocos no preenchimento da documentação que
retardará a ratificação da situação ora apresentada pelo município, quando não,
ocasionando o indeferimento da solicitação, dificultando e/ou atrasando a chegada da ajuda
necessária.

O processo de declaração de SE ou ECP, a ser elaborado logo que se constate a situação


anormal, deve seguir a seguinte ordem:

1 – Notificação da ocorrência do desastre;


2 - Avaliação dos danos e dos prejuízos;
3 – Declaração de SE ou ECP.

Saliente-se que todas as etapas devem observar os seguintes prazos, a fim de se tornar
possível o reconhecimento da SE ou ECP:

 Desastres súbitos: 10 dias a contar da data da ocorrência;


 Desastres graduais: 10 dias a contar da data do Decreto Municipal.

O intuito desta unidade é dirimir as dúvidas sobre o processo de declaração de SE ou ECP e


auxiliar tecnicamente o trabalho dos coordenadores das COMDECs e de suas equipes no
momento da elaboração da documentação exigida pela legislação de defesa civil vigente no
país após a ocorrência de um desastre.

141
2- NOTIFICAÇÃO DE DESASTRES

Logo que ocorre o desastre, o coordenador do órgão de defesa civil deve informar aos
órgãos de defesa civil das demais esferas sobre o ocorrido. É através dessa informação que
os órgãos estadual e federal tomam conhecimento da situação ocorrida no município e
começam a preparar a atuação complementar junto ao ente afetado, trabalhando
conjuntamente com a COMDEC para restabelecer a normalidade.

A adequada atuação dos demais integrantes do SINPDEC em complementação ao primeiro


atendimento desenvolvido pelo ente municipal depende da qualidade das informações
produzidas desde o início da ocorrência culminando com o possível processo de declaração
de SE ou ECP.

O formulário utilizado para notificar qualquer evento adverso ocorrido no município é o


mesmo utilizado para a avaliação de danos, no caso o Formulário de Informações sobre
Desastres - FIDE. Vale salientar que todo e qualquer evento adverso ocorrido deve ser
notificado a fim de compor o banco de dados nacional de desastres, ainda que o mesmo não
seja suficientemente grave para que o ente federado declare SE ou ECP.

O formulário FIDE contém campos que subsidiam o órgão informado na decisão sobre as
equipes de apoio adequadas ao atendimento de cada tipo de desastre.

Exemplo: Se o desastre for por elevado incremento de precipitação hídrica, como no


caso de uma enxurrada com desabamento de casas e outras edificações, as equipes
mobilizadas serão: bombeiros, policiais, engenheiros civis, psicólogos etc. Já no caso de
estiagens, as equipes serão outras: assistentes sociais, engenheiros agrônomos, técnicos
em hidrologia etc.

A partir de 06 de setembro de 2012, por meio da Portaria nº 526, a SEDEC/MI homologou os


procedimentos para a solicitação de reconhecimento de SE ou ECP por meio do Sistema
Integrado de Informações sobre Desastres - S2ID. Desta forma, a única maneira de informar
os órgãos estaduais e federal da situação de desastres é através desse sistema, sendo
necessário o coordenador da COMDEC solicitar junto ao Governo Federal seu login e senha
de acesso.

IMPORTANTE!!!

Caso não haja usuário cadastrado no município coordenador


municipal de proteção e defesa civil deverá solicitar à SEDEC o acesso
ao S2ID. A solicitação é feita por meio de Ofício (modelo disponível no
site www.defesacivil.ce.gov.br) a ser enviado à SEDEC pelos Correios
e, para agilizar, em meio eletrônico (escaneado) ao e-
mail: cadastroparareconhecimento@integracao.gov.br.

142
3- AVALIAÇÃO DE DANOS

Exame sistemático de um equipamento, sistema, instalação, comunidade ou área


geográfica, com o objetivo de definir e quantificar danos e prejuízos provocados por um
desastre.

3.1- Finalidade

Registro qualiquantitativo das causas do desastre (evento adverso e vulnerabilidade do


cenário), bem como dos seus efeitos (danos e prejuízos).

Tipos:

 Inicial: Busca-se levantar dados preliminares, portanto é estimada.


 Geral: Bem mais precisa, cerca-se de diversos dados para sua conclusão.

A finalidade específica da avaliação é mensurar danos e prejuízos, alimentar o sistema de


informações sobre desastres ocorridos no país e auxiliar no gerenciamento adequado das
ações de resposta.

Como forma de melhor organizar as informações colhidas no cenário de desastre, deve-se


preencher o FIDE. Nesse formulário procura-se estudar o evento adverso causador do
desastre, o cenário onde ocorreu o desastre, os danos humanos, materiais e/ou ambientais
e os prejuízos econômicos e sociais.

Ao final de um desastre e consequente avaliação realizada com qualidade de informações é


possível se definir um estudo epidemiológico metódico, organizar mapas temáticos,
produção de relatórios confiáveis, conhecimento da realidade brasileira acerca dos
desastres e planejamento das atividades de proteção e defesa civil.

3.2- Equipe de Avaliação de Danos


Fonte: Curso de Avaliação de Danos –

A definição do número de pessoas da equipe


dependerá da tipologia, intensidade e abrangência
do desastre. A tipologia do desastre determinará
também a qualificação dos componentes da equipe.
CADAN – Fortaleza, 2009

Considerando que a base das informações que


determinam a intensidade dos desastres,
encontram-se nos campos dos danos humanos,
materiais e ambientais e prejuízos econômicos e

143
sociais, conclui-se que teríamos um avaliador para cada item, portanto a equipe mínima
necessária para uma boa avaliação de danos é de no mínimo cinco pessoas.

O perfil do avaliador deve levar em consideração a experiência anterior, a capacidade


técnica, o conhecimento da área afetada e da estrutura funcional dos órgãos
governamentais, o conhecimento das características do desastre e que seja um profissional
idôneo.

A Equipe deve seguir alguns passos para proceder uma avaliação de danos com qualidade,
são eles:

 Identificar o tipo de desastre;

 Contato com demais órgãos;

 Realizar reunião da equipe;

 Pesquisar os registros anteriores;

 Apresentar o resultado ao prefeito;

 Preencher o FIDE;

 Elaborar relatório - parecer técnico, recomendando nenhum ato, SE ou ECP;

 Assessorar e orientar o prefeito na elaboração do decreto;

 Preparar mapa/croqui da área afetada;

 Registrar FIDE no banco de dados, atualizando-o.

3.2.1- Composição da Equipe

A formação da equipe de avaliação de danos depende da magnitude do evento e pode ser:

 Pequena: Tem a vantagem de mobilização rápida e custo baixo e sua limitação é


percorrer uma área menor em maior tempo e a avaliação é mais demorada.
 Grande: Tem a vantagem de percorrer maior área em menor tempo, ser
multidisciplinar. A avaliação se torna mais rápida. Já as limitações são: custo alto e
mobilização demorada.
 Grupo de Especialistas: Sua vantagem está no baixo custo, pois é composta por
atores de diversos órgãos e há facilidade e qualidade da informação. As limitações
estão na dificuldade para coordenar capacitação, dificuldade para reunir o grupo e
desconhecimento da realidade local.

144
 Equipe Local: Tem a vantagem de ação mais imediata, oportuna, custo mínimo,
conhecimento da situação anterior. As limitações são: vínculos afetivos (família,
amigos), compromete a objetividade, confundem-se função de avaliação e resposta
(socorro e assistência).
 Equipe Externa: as vantagens são: objetividade e função específica de avaliar,
porém suas limitações são: custo maior e demora no traslado, não conhecem
situação anterior e pode significar sobrecarga para a situação local (hospedagem,
alimentação, etc.).

3.3- Técnicas e Instrumentos de Avaliação de Danos

Deve-se realizar a avaliação de danos por meio de técnicas ou procedimentos específicos,


assim como utilizar-se de instrumentos que auxiliarão a equipe na momento de captação
das informações relativas aos danos e prejuízos.

3.3.1- Avaliação Aérea

 Vantagens: Avaliar grande área em pouco tempo, visualização global do evento,


identificação de acessos terrestres, estabelecer prioridades na avaliação terrestre, e
facilita registros fotográficos para estudo de estratégia de atuação.
 Desvantagens: Necessita de condições técnicas de voo, ausência de detalhes
(precisão), necessita de complementação terrestre e alto custo.

3.3.2- Avaliação Fluvial

 Vantagens: Riqueza de detalhes, avaliação dos acessos terrestres, acesso as áreas


inundadas e baixo custo.
 Desvantagens: Trabalho demorado e necessidade de mais equipes.

3.3.3- Avaliação Terrestre

 Vantagens: Baixo custo, riqueza de detalhes e entrevistas pessoais.


 Desvantagens: Dificuldade de acesso, trabalho demorado e necessidade de mais
equipes.

3.3.4- Avaliação de Imagens por Satélite

 Vantagens: Visualização global do evento, dimensionamento da extensão total e


acompanhamento da evolução do desastre..
 Desvantagens: Depende de condições atmosféricas e alto custo.

145
3.3.5- Kit para Avaliação de Danos

O avaliador deve se encaminhar ao local do sinistro levando consigo alguns


materiais a fim de proceder ao levantamento das informações necessárias ao preenchimento
do FIDE e posterior decretação.

a) Básicos: FIDE, borracha, bloco de anotações, câmera fotográfica, caneta,


mapas, celular, lápis, manuais, régua e trena de 50m.

b) Identificação: identidade, boné, crachá e colete.

c) Complementares: computador portátil, bússola, lanterna, GPS e rádio de


comunicação (HT).

4 DECLARAÇÃO DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA OU ESTADO DE


CALAMIDADE PÚBLICA

Para se chegar ao embasamento legal de uma possível decretação de SE ou ECP, a equipe


de avaliação de danos deve ter levantado os dados preliminares de danos humanos,
materiais e/ou ambientais, além dos respectivos prejuízos econômicos públicos e privados
provenientes desses danos, seguindo a Instrução Normativa nº 01/2012 – SEDE-MI, pois o
fiel cumprimento de seus artigos propiciará uma perfeita decretação conforme manda a
doutrina.

4.1 Nível do Desastre

Estimados os danos e prejuízos, segue-se com a caracterização do desastre que pode ser:

1- Nível I – Situação de Emergência, e:


2- Nível II – Estado de Calamidade Pública.

O desastre de nível I é caracterizado pela ocorrência de pelo menos dois danos (tabela 1)
que, no seu conjunto, importem no prejuízo econômico público superior a 2,77% ou no
prejuízo econômico privado superior a 8,33% da receita corrente líquida anual do ente
atingido, relacionados com o colapso dos serviços essenciais (tabela 2) que
comprovadamente afetem a capacidade do poder público local de responder e gerenciar a
crise instalada.

146
Tabela 1: Danos humanos, sociais e ambientais para o nível I
DANOS HUMANOS
I – de um a nove mortos.
II – até noventa e nove pessoas afetadas.
DANOS SOCIAIS
I – De uma a nove instalações públicas de saúde, de ensino ou prestadoras de outros
serviços danificadas ou destruídas.
II – De uma a nove unidades habitacionais danificadas ou destruídas.
III – De uma a nove obras de infraestrutura danificadas ou destruídas.
IV – De uma a nove instalações públicas de uso comunitário danificadas ou
destruídas.
DANOS AMBIENTAIS
I – poluição ou contaminação, recuperável em curto prazo, do ar, da água ou do solo,
prejudicando a saúde e o abastecimento de 10% a 20% (dez a vinte por cento) da
população de municípios com até dez mil habitantes e de 5% a 10% (cinco a dez por
cento) da população de municípios com mais de dez mil habitantes.
II – Diminuição ou exaurimento sazonal e temporário da água, prejudicando o
abastecimento de 10% a 20% (dez a vinte por cento) da população de municípios
com até 10.000 (dez mil) habitantes e de 5% a 10% (cinco a dez por cento) da
população de municípios com mais de 10.000 (dez mil) habitantes.
III – Destruição de até 40% (quarenta por cento) de Parques, Áreas de Proteção
Ambiental e Áreas de Preservação Permanente Nacionais, Estaduais ou Municipais.

Tabela 2: serviços essenciais


SERVIÇOS ESSENCIAIS
I - assistência médica, saúde pública e atendimento de emergências médico-
cirúrgicas.
II - abastecimento de água potável.
III - esgoto de águas pluviais e sistema de esgotos sanitários.
IV - sistema de limpeza urbana e de recolhimento e destinação do lixo.
V - sistema de desinfestação e desinfecção do habitat e de controle de pragas e
vetores.
VI - geração e distribuição de energia elétrica.
VII – telecomunicações.
VIII - transportes locais, regionais e de longas distâncias.
IX - distribuição de combustíveis, especialmente os de uso doméstico.
X - segurança pública.
XI - ensino.

O desastre de nível II é caracterizado pela ocorrência de pelo menos dois danos (tabela 3)
que, no seu conjunto, importem no prejuízo econômico público superior a 8,33% ou no
prejuízo econômico privado superior a 24,93% da receita corrente líquida anual do Município
atingido, relacionados com o colapso dos serviços essenciais (tabela 2) e comprovadamente
afetem a capacidade do poder público local de responder e gerenciar a crise instalada.

147
Tabela 3: Danos humanos, sociais e ambientais para o nível II
DANOS HUMANOS
I – dez ou mais mortos.
II – cem ou mais pessoas afetadas.
DANOS SOCIAIS
I – dez ou mais instalações públicas de saúde, de ensino ou prestadoras de outros
serviços danificadas ou destruídas; ou
II – dez ou mais unidades habitacionais danificadas ou destruídas; ou
III – dez ou mais obras de infraestrutura danificadas ou destruídas; ou
IV – dez ou mais instalações públicas de uso comunitário danificadas ou destruídas.
DANOS AMBIENTAIS
I - poluição e contaminação recuperável em médio e longo prazo do ar, da água ou do
solo, prejudicando a saúde e o abastecimento de mais de 20% (vinte por cento) da
população de municípios com até 10.000 (dez mil) habitantes e de mais de 10% (dez
por cento) da população de municípios com mais de 10.000 (dez mil) habitantes.
II – Diminuição ou exaurimento a longo prazo da água, prejudicando o abastecimento
de mais de 20% (vinte por cento) da população de municípios com até dez mil
habitantes e de mais de 10% (dez por cento) da população de municípios com mais
de 10.000 (dez mil) habitantes.
III – Destruição de mais de 40% (quarenta por cento) de Parques, Áreas de Proteção
Ambiental e Áreas de Preservação Permanente Nacionais, Estaduais ou Municipais.

Para fixar:

DESASTRE NÍVEL I: SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA


Prejuízos econômicos públicos > 2,77%
Prejuízos econômicos privados > 8,33%
DESASTRE NÍVEL II: ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA
Prejuízos econômicos públicos > 8,33%
Prejuízos econômicos privados > 24,93%

Vale lembrar que os prejuízos econômicos descritos na tabela acima devem ser comparados
com os danos e colapso dos serviços essenciais para caracterização do nível do desastre.

4.2 Declaração de Situação Anormal através do Sistema de Informações

sobre Desastres (S2ID)

Concluída a avaliação dos danos e dos prejuízos decorrente do desastre e definido o nível
de intensidade do mesmo, se caracterizada a necessidade de declarar SE ou ECP, deve-se
elaborar a documentação que irá compor o processo de decretação. O rol de documentos
encontra-se descrito na Instrução Normativa nº 01/2012 – SEDE/MI e devem ser
preenchidos no sistema S2ID. São eles:

148
a) Ofício Requerimento: Neste expediente preenchido pelo gestor do ente afetado,
é esclarecida a situação e solicitado o reconhecimento;

b) Decreto original, ou sua cópia autenticada ou ainda sua cópia com carimbo e
assinatura de confere com original: Documento confeccionado pelo gestor
máximo do ente afetado. Este expediente também servirá para o ente justificar
suas ações junto aos órgãos de controle em caso de contratações por meio de
dispensa de licitação;

c) Formulário de Informações sobre Desastres – FIDE: Formulário necessário à


notificação ou ao processo de avaliação de danos;

d) Declaração Municipal de Atuação Emergencial - DMATE, ou Declaração


Estadual de Atuação Emergencial – DEATE: Documento que demonstra as
medidas e ações em curso, capacidade de atuação e recursos humanos,
materiais, institucionais e financeiros empregados pelo ente federado afetado para
o restabelecimento da normalidade;

e) Parecer do Órgão Distrital ou Estadual de Proteção e Defesa Civil: Este


documento fundamentará a declaração de SE ou ECP pelo Município e a
necessidade de reconhecimento federal;

f) Relatório fotográfico. As fotos devem ser atuais e incluídas na aba “relatório


fotográfico” do S2ID. No campo legenda deve-se descrever a situação registrada,
informando localidade, distrito ou logradouro. No campo longitude e latitude devem
ser fornecidas as coordenadas geográficas em graus ou em UTM. Para finalizar o
processo, deve-se gerar o mapa da localidade afetada. Ao se clicar em “gerar
mapa” é aberto um mapa do Google para que se proceda a marcação do ponto
exato onde a foto foi registrada;

g) Outros documentos ou registros que esclareçam ou ilustrem a ocorrência do


desastre, tais como laudos, relatórios, declarações e reportagens.

O sistema S2ID possui uma aba intitulada de “anexos” para que sejam inclusos o Decreto,
parecer da COMDEC e Oficio Requerimento, assim como os laudos, relatórios, declarações
e outros documentos complementares ao processo.

Caso as pessoas que farão os documentos para inclusão na aba “anexos” tenham dúvida
sobre como confeccioná-los, o S2ID disponibiliza modelos desses expedientes na aba
“modelos de documentos”.

Observe que as informações fornecidas através dos referidos documentos, preenchidos no


sistema S2ID, servem para embasar tanto a homologação estadual, bem como o
reconhecimento federal, não sendo necessário confeccionar dois processos distintos.

149
É bom que se frisem os prazos pré-estabelecidos para o devido envio do processo via
sistema S2ID, sob pena de indeferimento do pedido de homologação e de reconhecimento,
são eles:

 Desastres súbitos: 10 dias a contar da data da ocorrência;

 Desastres graduais: 10 dias a contar da data do Decreto Municipal.

Você chegou ao final da Unidade 13, aqui, você aprendeu os passos


para realizar a notificação de danos. Viu que é preciso constituir uma
equipe multidisciplinar para realizar a tarefa de avaliação de danos.
Aprendeu sobre a finalidade, técnicas e equipe ideal para proceder com
uma avaliação precisa. Conheceu os procedimentos para decretação
de situação de emergência ou estado de calamidade pública. Viu
também que é necessário possuir login e senha de acesso do Sistema
Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID) para cadastrar a
documentação de decretação.

150
UNIDADE 14

SOLICITAÇÃO DE RECURSOS FINANCEIROS PARA DEFESA


CIVIL

1- INTRODUÇÃO

Os municípios e estados podem solicitar recurso financeiro à SEDEC para subsidiar suas
ações voltadas à gestão de risco e de desastres. Essa solicitação pode ser atendida através
de duas modalidades: por meio de transferências voluntárias ou obrigatórias.

2- TRANSFERÊNCIAS VOLUNTÁRIAS

São firmadas por meio de convênios e realizadas através do


Fonte: WWW.mi.gov.br/sedec - solicitação de recursos

Portal de Convênios do Governo Federal (SICONV). São


destinadas a ações preventivas de desastres.

Pode-se conseguir recurso para custear a execução de projetos


e obras para redução de riscos de inundações, enxurradas,
alagamentos, deslizamentos, processos erosivos e escassez
hídrica, dentre outros. É possível solicitar recurso para realizar
mapeamento das áreas de risco, entre outros estudos e planos
que objetivem a redução de risco.

O ente interessado em pleitear recurso por essa modalidade


deve enviar a proposta pelo SICONV, devendo apresentar informações que justifiquem o
objeto proposto, sempre levando em consideração a ação preventiva de desastres. A
proposta será analisada e caso a SEDEC autorize a liberação do recurso financeiro, as
demais etapas deverão ser realizadas no portal.

A SEDEC disponibiliza em seu site um Caderno de Orientações sobre Convênios para


auxiliar aos beneficiários dessa modalidade de recurso. No manual constam todos os passos
necessários a perfeita utilização do recurso solicitado, assim como o processo para
prestações de contas parcial e final.

151
3- TRANSFERÊNCIAS OBRIGATÓRIAS

As transferências obrigatórias são a forma de o governo

Fonte: WWW.mi.gov.br/sedec - solicitação de recursos


federal atender complementarmente os municípios ou
estados afetados por desastres, com processo de
decretação de SE ou ECP reconhecidos pela SEDEC. Esse
atendimento é obrigatório e previsto pela Constituição
Federal, voltado as ações de resposta e recuperação.

Note que o atendimento federal não atende a totalidade de


necessidades do município ou estado afetado. Ele é
complementar ao realizado pelo ente.

3.1- Transferências obrigatórias para ações de recuperação

As ações de recuperação são destinadas à reconstrução das áreas destruídas por um


desastre. Para ser contemplado com o recurso, o ente afetado deve ter a SE ou ECP
reconhecida pela SEDEC e enviar o Plano de Trabalho (PT) num prazo de 90 dias,
contemplando prazos e recursos necessários para a consecução de cada meta com seus
respectivos itens ou etapas. Deve ser revisto sempre que o escopo, prazos ou custos
previstos forem modificados.

Os recursos das ações de recuperação são liberados de forma parcelada. À medida que o
beneficiário vai apresentando as prestações de contas parciais, as parcelas subsequentes
vão sendo liberadas até o esgotamento do valor solicitado.

3.2- Transferências obrigatórias para ações de resposta

Já as ações de resposta compreendem ações de socorro, assistência às vítimas e


restabelecimento de serviços essenciais no cenário de desastre. Esse tipo de recurso tem a
finalidade de atender imediatamente as vítimas do desastre. O ente afetado deve ter a SE
ou ECP reconhecida pela SEDEC para se habilitar ao recebimento do recurso e deve enviar
o Plano Detalhado de Resposta (PDR) para subsidiar o aporte de recurso pela SEDEC. As
ações de resposta contemplam aquisição de cestas básicas, medicamentos, aluguel social e
obras provisórias, entre outras.

152
Desde o ano de 2012 a única forma de receber o

Fonte: www.mi.gov.br/sedec
recurso de transferência obrigatória voltada às ações de
resposta é o município ou estado apresentar os dados
da conta e do Cartão de Pagamento de Defesa Civil
(CPDC) no momento da solicitação do recurso, pois
somente com o cartão será possível efetuar o
pagamento dos fornecedores.

De acordo com a SEDEC, caso o ente afetado não disponha de recurso suficiente à gestão
do desastre e necessite do apoio federal para complementar as ações de proteção e defesa
civil, deverá ser apresentada a seguinte documentação:

 Obtenção do reconhecimento federal de situação de emergência ou estado de


calamidade pública;

 As ações já realizadas e justificar a necessidade do apoio federal;

 Dados da conta do Cartão de Pagamento de Defesa Civil;

 O Plano Detalhado de Resposta (intenções).

Os recursos das ações de resposta são liberados em parcela única, voltados para a
resposta imediata ao desastre, tendo natureza de despesa de custeio. Os indicadores que
norteiam as ações da SEDEC nesse tipo de liberação são os definidos pelo CENAD.

Havendo a necessidade de alteração das informações do PDR, após o repasse de recursos,


o ente beneficiário deverá apresentar uma justificativa da alteração e o PDR readequado.

Já para solicitação de valores para complemento dos recursos iniciais repassados, o ente
beneficiário deverá apresentar o PT, o relatório de gastos do Plano de Ações e a justificativa
da precisão de mais recursos.

O prazo de vigência para a execução dos recursos contemplados para ações de resposta é
de 365 dias, contados da publicação no Diário Oficial da União (DOU) da Portaria de
autorização da transferência dos recursos.

A SEDEC disponibiliza em seu site um Caderno de


Fonte: www.mi.gov.br/sedec - solicitação de recursos

Orientações para transferências Obrigatórias a fim de nortear


aos beneficiários dessa modalidade de recurso.

No caso das ações de resposta voltadas às secas ou


estiagens, a SEDEC, por meio do Departamento de
Reabilitação e Reconstrução (DRR), desenvolveu o manual
Restabelecimento de Serviços Essenciais que trata das
diversas ações a serem executadas para atender a
população vitimada por esse tipo de desastre.

153
Este manual contém informações a fim de garantir aos entes afetados informações
suficientes para a implantação de Sistema de Abastecimento Simplificado por Poços
Profundos.

4- PRORROGAÇÃO DO PRAZO PARA EXECUÇÃO

Em regra geral não é permitido prorrogação de prazo para execução de ações emergenciais.
Porém, caso haja necessidade, o ente beneficiário deverá solicitar à SEDEC, com
antecedência mínima de 60 dias do término da vigência da execução dos recursos,
encaminhando um relatório de gastos atualizado, mostrando o desenvolvimento da ação, a
motivação dos atrasos e a justificativa para o novo prazo pleiteado. Essa concessão de
prorrogação está condicionada à aprovação da área técnica da SEDEC.

Se for necessária a devolução total ou parcial de recursos que não foram utilizados, além de
rendimentos gerados, o ente beneficiário deverá emitir uma Guia de Recolhimento da União
(GRU).

5- PRESTAÇÃO DE CONTAS

Aos beneficiários de recursos federais cabe a devida prestação de contas para comprovar a
regular utilização do aporte financeiro, sob pena de incorrer em sanções legais caso
descumpra as normativas do órgão concedente.

O ente beneficiário dos recursos repassados pela SEDEC/MI devem apresentar a prestação
de contas em até 30 dias após o fim da vigência da execução das ações implementadas,
sob pena de incorrer em omissão no dever de prestar contas. O não cumprimento acarretará
na devolução dos recursos devidamente atualizados, ficando o ente sujeito ao processo de
tomada de contas especial, além de outras sanções cabíveis, de acordo com a legislação
vigente.

A SEDEC disponibiliza em seu site na aba “Prestação de Contas” todos os modelos de


documentos necessários à prestação de contas, seja parcial, que ocorre durante a execução
do objeto e deve ser enviada a cada três meses, ou a total, quando executado em sua
totalidade o objeto definido no Plano de Trabalho.

Você chegou ao final da Unidade 13, aqui, você aprendeu os passos


para solicitação de recursos da defesa civil, assim como a diferença
entre transferências voluntárias e obrigatórias. Viu também como
proceder com a prestação de contas parcial e final. Conheceu o
processo para solicitar prorrogação de prazos dos termos de
compromisso.

154
UNIDADE 15

SISTEMA DE COMANDO DE OPERAÇÕES – SCO

1- INTRODUÇÃO

O sistema difundido pela SEDEC a ser utilizado pelos órgãos de defesa civil é denominado
Sistema de Comando em Operações (SCO), que foi adaptado à realidade brasileira pelo
Tenente Coronel Carlos Alberto de Araújo Gomes Júnior, da Polícia Militar do Estado de
Santa Catarina, baseado no Incident Comand System (ICS), modelo norte-americano criado
na década de 70 pelo Firefighting Resources of California Organized for Potential
Emergencies (FIRESCOPE).

Após analisarem-se os resultados desastrosos da atuação de órgãos e jurisdições nos


incêndios florestais que praticamente destruíram o sudoeste da Califórnia em 1970,
concluiu-se que o maior problema não estava na quantidade nem na qualidade dos recursos
envolvidos. Havia muitos recursos materiais e humanos mobilizados. O problema estava na
dificuldade em coordenar as ações de diferentes órgãos e jurisdições de maneira articulada
e eficiente. O FIRESCOPE identificou vários problemas comuns sobre respostas a eventos
envolvendo múltiplos órgãos e circunscrições, tais como:

 Falta de uma estrutura de comando clara, definida e adaptável às situações;

 Dificuldade em estabelecer prioridades e objetivos comuns;

 Falta de uma terminologia comum entre os órgãos envolvidos;

 Falta de integração e padronização das comunicações;

 Falta de planos e ordens consolidados.

Os esforços para resolver esse problema resultaram no ICS que passou a ser adotado por
todos os órgãos atuantes em emergência nos Estados Unidos.

Os problemas apontados pelo FIRESCOPE não são uma particularidade dos EUA. Todos os
países que são acometidos por situações críticas e necessitam de uma ação coordenada
sofre com as mesmas questões.

No Brasil, como ainda não existe uma padronização de uma ferramenta gerencial para
coordenar e controlar as ações em um ambiente de desastre, cada estado adapta seu
próprio sistema de comando, porém todos que são utilizadas provêm do ICS norte-
americano, conforme pode se ver no quadro abaixo.

155
ESTADO MODELO

Rio de Janeiro SCI

São Paulo SICOE

Santa Catarina SCO


Fonte: Curso Operacional de Defesa Civil, CEDEC, 2010

O Sistema de Comando em Operações é uma ferramenta gerencial para comandar,


controlar e coordenar as operações de resposta em situações críticas, fornecendo um meio
de articular os esforços de agências individuais quando elas atuam com o objetivo comum
de estabilizar uma situação crítica e proteger vidas, propriedades e o meio ambiente (UFSC,
2004).

A dinâmica de funcionamento do SCO é adotada a partir de alguns princípios,


recomendados para evitar os problemas de gerenciamento, mas, seu foco central, adotado
como princípio básico, é a integração de todos os envolvidos na resposta ao desastre em
uma estrutura única, garantindo unidade de comando e integração das comunicações.

O comando unificado é composto por representantes dos órgãos em operação, que se


reúnem em um posto de comando único e elaboram um Plano de Ação com objetivos
comuns a todos os presentes.

Uma dos princípios a serem observados pelo pessoal do SCO é o controle dos recursos
operacionais e de equipes que atuam na operação. Estes recursos devem ser direcionados
para uma área de reunião onde um controlador fará a recepção, o cadastramento e a
orientação dos integrantes desses recursos.

A maior parte das funções que compõem a estrutura do SCO é previamente padronizada.
Dessa forma, o SCO pode ser aprendido e utilizado pelas diversas organizações que
respondem a emergências e desastres no seu cotidiano.

2- ESTRUTURA DO SCO

Para ser usado com flexibilidade, o SCO se utiliza de uma estrutura modular, e as funções
são implementadas ou desativadas de acordo com a necessidade da resposta e a
disponibilidade de meios, permitindo que a estrutura aumente sua configuração desde o
primeiro momento, quando uma equipe recebe a notícia ou chega ao local da emergência e
inicia o gerenciamento, até o momento de maior envolvimento de órgãos e recursos
operacionais. Veja a seguir uma estrutura de um SCO.

156
Fonte: Curso de Capacitação em Defesa Civil – SCO, Santa Catarina, 2010

3- FUNÇÕES DO SCO

As principais funções de um SCO são:

• Comando: responsável pelas operações como um todo, incluindo o


desenvolvimento e a implementação do Plano de Ação e a requisição e
liberação de recursos. Pode ser único ou unificado, conforme a participação de
órgãos no sistema.

• Coordenador de Segurança: membro do Staff do Comando. É o


responsável por monitorar e avaliar situações inseguras, desenvolvendo
medidas para garantir a segurança das pessoas envolvidas na operação.

• Coordenador de Ligações: membro do Staff do Comando. É o ponto de


contato para os representantes dos órgãos que estão auxiliando e cooperando
com a operação.

• Porta-voz: membro do Staff do Comando. É responsável pela formulação e


divulgação de informações sobre a situação crítica e as operações para a
mídia.

• Secretário: a função do Secretário é apoiar diretamente as tarefas


administrativas do Comando, organizando o Posto de Comando, preparando
reuniões, registrando as decisões e outras atividades necessárias.

• Coordenador de Operações: membro do Staff principal. É o responsável


pela execução do Plano de Ação. O Coordenador de Operações ativa e
supervisiona os elementos operacionais, de acordo com o Plano de Ação, e
dirige a sua execução. Ele ainda supervisiona a preparação de planos
operacionais pelas seções ou setores, podendo solicitar ou dispensar recursos

157
com o Controlador. É sob a Coordenação de Operações que os recursos
operacionais são reunidos e utilizados para executar o plano. Para tanto, eles
são organizados em seções, agrupando funções por afinidade (seção de
abrigos, seção de evacuação e seção de socorro são alguns exemplos), ou
setor, agrupando os recursos operacionais por área geográfica (setor norte,
setor central e setor sul, por exemplo).

• Encarregado pela área de espera: é responsável pela Área de Reunião,


cujos recursos vão se apresentar ao chegar à operação, o controlador fará a
verificação para se integrar ao sistema e aguardará até receber a atribuição de
uma tarefa por parte do Coordenador de Operações.

• Coordenador de Planejamento: membro do Staff principal. É responsável


pela reunião, avaliação, disseminação, registro e uso das informações sobre o
desenvolvimento da situação crítica e do status dos recursos. Logo, o
coordenador de planejamento deve ser capaz de compreender a situação,
identificá-la e observar como ela evolui e auxilia na elaboração do Plano de
Ação.

• Coordenador de Logística: membro do Staff principal. É responsável pelo


fornecimento de instalações, serviços e materiais para o suporte das
operações. O Coordenador de Logística participa do desenvolvimento e da
implementação do Plano de Ação.

• Coordenador de Administração: é responsável por todos os aspectos


relacionados à compra, locação, contratação e pagamento de materiais e
serviços, além de controlar o emprego dos recursos humanos para efeito de
hora extra.

4- PRINCÍPIOS DO SCO

O SCO é um sistema de gerenciamento. Como tal, ele possui uma série de princípios e
conceitos que, colocados em prática, torna-o uma ferramenta adequada para coordenar a
atuação integrada de múltiplos órgãos em situações críticas.

Por isso, é importante destacar que o SCO é mais do que um organograma. Aliás, você
perceberá que a organização é apenas um dos seus princípios.

O SCO se baseia em nove princípios:

 Gerenciamento por objetivos;

 Plano de Ação;

158
 Estrutura modular e flexível;

 Unidade e cadeia de comando;

 Nível de controle;

 Controle de recursos no SCO: pessoas, equipes e unidades;

 Terminologia comum;

 Comunicações integradas; e,

 Definição de áreas e instalações.

4.1- Gerenciamento por objetivos

O gerenciamento de situações críticas no SCO é baseado em uma linha de administração


denominada Administração por Objetivos (APO) ou Management by Objectives (MBO). O
estabelecimento de prioridades e objetivos comuns, de forma clara, específica e mensurável,
é utilizado para articular os recursos e esforços e acompanhar a evolução da operação.

4.2- Plano de Ação

A ferramenta para consolidar o gerenciamento por objetivos na coordenação de situações


críticas onde o SCO é utilizado é o Plano de Ação. Elaborado pelo Comando, o Plano de
Ação fornece aos órgãos, agências e equipes envolvidas o conhecimento das prioridades e
objetivos que devem ser atingidos em um determinado período, permitindo a otimização dos
esforços.

O Plano de Ação começa a ser elaborado assim que as informações fluem para o Comando.
Uma operação terá tantos planos de ação quanto forem necessários para resolver a
situação, e eles podem ser mais ou menos formais conforme a situação. Nos primeiros
momentos, ou em situações menos complexas, o Plano de Ação é verbal.

Em outras situações, ele pode ter um grau maior de formalidade, com as principais
informações registradas em um quadro de forma esquemática. Finalmente, em situações
complexas, podem ser produzidos planos escritos.

De qualquer forma, independentemente do grau de formalidade, o Plano de Ação deve


estipular um período para ser executado, os objetivos a serem alcançados e as tarefas a
serem cumpridas.

159
4.3- Estrutura modular e flexível

Ao implementar o SCO, apenas as funções necessárias para alcançar os objetivos são


ativadas. Dessa forma, a estrutura pode ser adaptada a várias situações, pois a tarefa
designada para uma função que não foi ativada é executada pelo nível superior até que a
complexidade da operação exija.

Isso significa dizer que, quando uma unidade de emergência chega ao local de uma situação
crítica, e o mais graduado da equipe assume o comando, todas as funções gerenciais e
seus desdobramentos estão sendo exercidas por ele, ou seja, ele está coordenando
Operações, Planejamento, Logística e Administração, além do próprio Comando. Ao
constatar que uma determinada função demandará uma atenção especial, ele ativa a
função, e a estrutura se amplia para se adaptar à situação.

4.4- Unidade e cadeia de comando

Dentro do SCO cada elemento que se integra ao sistema deve reportar-se apenas a uma
pessoa, e todos no sistema devem se reportar a alguém. É muito importante que não haja
organizações ou pessoas “desgarradas” na operação, pois o sucesso nas operações em
situações críticas está associado ao trabalho em equipe.

4.5- Nível de controle

O nível de controle refere-se ao número de pessoas que um coordenador pode coordenar


com segurança em uma situação crítica. Nessas situações, manter um nível de controle
adequado sobre as equipes envolvidas é fundamental. Por isso, o SCO estabelece que um
único coordenador deve atuar com um limite entre três e sete equipes ou funções.

Se alguém no SCO está coordenando menos do que três ou mais do que sete equipes ou
funções, é possível que um ajuste na estrutura seja necessário.

4.6- Controle de recursos no SCO: pessoas, equipes e unidades

Como você verá adiante, o conceito de recursos no SCO é operacional: abrange pessoas,
equipes e unidades, com os respectivos equipamentos e prontas para o emprego imediato.

160
Assim, uma guarnição de atendimento pré-hospitalar incluindo pessoal, equipamentos e
viatura é considerada um recurso.

Por outro lado, uma ambulância sem motorista não é considerada um recurso.

Todos os recursos operacionais empregados no SCO devem estar integrados ao sistema.


Para isso, ao chegar ao local das operações, as pessoas, equipes e unidades irão passar
por uma área previamente designada, denominada Área de Reunião, onde se submeterão a
um check-in (procedimento de recepção). Neste check-in os recursos são cadastrados, e
então as pessoas, equipes e unidades recebem orientação sobre como proceder. A partir
desse momento, todas as designações dadas ao recurso são monitoradas: quando ele
recebe uma tarefa, retorna para a Área de Reunião, está indisponível ou é liberado da
operação.

4.7- Terminologia comum

Outra característica importante no SCO é a adoção de uma terminologia comum, que


possibilite a compreensão entre os órgãos envolvidos.

A terminologia comum envolve em primeiro lugar as expressões relacionadas ao próprio


SCO. Se por exemplo a expressão que designa o local onde o comando desenvolve suas
atividades é Posto de Comando, haverá confusão se alguém solicitar a localização do QG,
Sala de Situação ou Escritório de Crise.

Envolve também os equipamentos e recursos utilizados. Imagine chegar uma solicitação


urgente de uma aeronave de asa móvel ao Posto de Comando e este responde que não
será possível atender, pois só há helicópteros disponíveis (e aeronave de asa móvel é uma
forma de designar o helicóptero!).

Finalmente, recomenda-se que não sejam usados códigos na conversação por rádio,
principalmente aqueles que são peculiares a determinada atividade ou órgão.

4.8 Comunicações integradas

A capacidade de se comunicar com os elementos do SCO é absolutamente essencial.

Isso nem sempre é fácil, pois de um modo geral a comunicação entre os órgãos que
respondem normalmente a emergências é dificultada pela incompatibilidade entre
equipamentos e frequências.

161
Por isso, é absolutamente necessário que o SCO desenvolva um Plano de Comunicações
prevendo “quem conversará com quem e como”. Para garantir a integração, pode ser
necessário distribuir, trocar ou programar equipamentos.

De acordo com a necessidade, o Plano de Comunicações pode prever o estabelecimento de


diferentes redes de comunicação:

 Rede de comando: A rede de comando integra as funções básicas do SCO;

 Rede tática: Poderão ser montadas tantas redes táticas quanto necessárias, para
garantir a conversação dentro de um mesmo setor ou seção.

 Rede administrativa: Em operações mais complexas o tráfego de comunicações


administrativas pode ser tão intenso que atrapalharia a comunicação operacional.
Como você pode imaginar, isso seria muito prejudicial (e até perigoso) para a
operação. Imagine uma equipe policial precisando de reforço por estar em uma
situação perigosa e não conseguir entrar em contato com o coordenador de
operações, pois o rádio está sendo utilizado para solicitar marmitas para o Posto de
Comando. Por isso, de acordo com a necessidade, pode ser estabelecida uma rede
de comunicação destinada às comunicações ligadas ao apoio logístico.

 Rede terra–ar: Estabelecida para controle do tráfego aéreo, normalmente a rede


terra–ar é operada por um técnico com conhecimento das normas de segurança e
tráfego aéreo.

 Rede ar–ar: A rede ar–ar é estabelecida para comunicação entre as aeronaves


integradas ao SCO, visando à segurança e articulação dos equipamentos envolvidos.

 Rede de suporte médico: No caso específico de situações críticas envolvendo


múltiplas vítimas, pode ser estabelecida uma rede de comunicação específica para
interligar o SCO com os hospitais ou centro de referência, a fim de organizar a
remoção, transporte e transferência das vítimas para unidades hospitalares
referenciadas.

 Rede estratégica: Pode ser ainda necessário estabelecer uma ligação entre o SCO,
por meio do Comando, e o nível de autoridade superior. Essa rede, denominada
estratégica, deve ser confiável, acessível e permitir privacidade na troca de
informações.

4.9 Definição de áreas e instalações

Outra característica importante do SCO é ordenar o espaço físico, delimitando áreas de


trabalho. As principais são: Área Quente, Área Morna, Área Fria, Área de Reunião, Posto de
Comando e Bases de Apoio.

162
Fonte: Curso Operacional de Defesa Civil – Sistema de Comando de operações, Fortaleza, 2010

Você chegou ao final da Unidade 15 e do curso, aqui, você aprendeu


como utilizar a ferramenta gerencial para administração de desastres
chamada Sistema de Comando de Operações (SCO). Viu os princípio,
estrutura e funções que compõem o SCO. Ao final, viu que é possível
integrar a ferramenta ao planejamento de defesa civil, buscando
preparar-se e saber onde alocar os recursos previamente cadastrados
no plano de contingência.

163
ANEXOS

LEGISLAÇÃO
EM PROTEÇÃO E DEFESA
CIVIL
LEI Nº 12.608, DE 10 DE ABRIL DE 2012. (Conversão da Medida Provisória nº 5478, de 2011)
Institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil - PNPDEC; dispõe sobre o Sistema
Nacional de Proteção e Defesa Civil - SINPDEC e o Conselho Nacional de Proteção e
Defesa Civil - CONPDEC; autoriza a criação de sistema de informações e monitoramento
de desastres; altera as Leis nºs 12.340, de 1º de dezembro de 2010, 10.257, de 10 de julho
de 2001, 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.239, de 4 de outubro de 1991, e 9.394, de
20 de dezembro de 1996; e dá outras providências.
O VICE–PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no exercício do cargo de PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço
saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 1º Esta Lei institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil - PNPDEC, dispõe sobre o Sistema Nacional
de Proteção e Defesa Civil - SINPDEC e o Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil - CONPDEC, autoriza a
criação de sistema de informações e monitoramento de desastres e dá outras providências.
Parágrafo único. As definições técnicas para aplicação desta Lei serão estabelecidas em ato do Poder Executivo
federal.
Art. 2º É dever da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios adotar as medidas necessárias à redução
dos riscos de desastre.
§ 1º As medidas previstas no caput poderão ser adotadas com a colaboração de entidades públicas ou privadas e da
sociedade em geral.
§ 2º A incerteza quanto ao risco de desastre não constituirá óbice para a adoção das medidas preventivas e
mitigadoras da situação de risco.
CAPÍTULO II
DA POLÍTICA NACIONAL DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL - PNPDEC
Seção I
Diretrizes e Objetivos
Art. 3º A PNPDEC abrange as ações de prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação voltadas à proteção
e defesa civil.
Parágrafo único. A PNPDEC deve integrar-se às políticas de ordenamento territorial, desenvolvimento urbano, saúde,
meio ambiente, mudanças climáticas, gestão de recursos hídricos, geologia, infraestrutura, educação, ciência e
tecnologia e às demais políticas setoriais, tendo em vista a promoção do desenvolvimento sustentável.
Art. 4º São diretrizes da PNPDEC:
I - atuação articulada entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios para redução de desastres e apoio
às comunidades atingidas;
II - abordagem sistêmica das ações de prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação;
III - a prioridade às ações preventivas relacionadas à minimização de desastres;
IV - adoção da bacia hidrográfica como unidade de análise das ações de prevenção de desastres relacionados a corpos
d’água;

166
V - planejamento com base em pesquisas e estudos sobre áreas de risco e incidência de desastres no território
nacional;
VI - participação da sociedade civil.
Art. 5º São objetivos da PNPDEC:
I - reduzir os riscos de desastres;
II - prestar socorro e assistência às populações atingidas por desastres;
III - recuperar as áreas afetadas por desastres;
IV - incorporar a redução do risco de desastre e as ações de proteção e defesa civil entre os elementos da gestão
territorial e do planejamento das políticas setoriais;
V - promover a continuidade das ações de proteção e defesa civil;
VI - estimular o desenvolvimento de cidades resilientes e os processos sustentáveis de urbanização;
VII - promover a identificação e avaliação das ameaças, suscetibilidades e vulnerabilidades a desastres, de modo a
evitar ou reduzir sua ocorrência;
VIII - monitorar os eventos meteorológicos, hidrológicos, geológicos, biológicos, nucleares, químicos e outros
potencialmente causadores de desastres;
IX - produzir alertas antecipados sobre a possibilidade de ocorrência de desastres naturais;
X - estimular o ordenamento da ocupação do solo urbano e rural, tendo em vista sua conservação e a proteção da
vegetação nativa, dos recursos hídricos e da vida humana;
XI - combater a ocupação de áreas ambientalmente vulneráveis e de risco e promover a realocação da população
residente nessas áreas;
XII - estimular iniciativas que resultem na destinação de moradia em local seguro;
XIII - desenvolver consciência nacional acerca dos riscos de desastre;
XIV - orientar as comunidades a adotar comportamentos adequados de prevenção e de resposta em situação de
desastre e promover a autoproteção; e
XV - integrar informações em sistema capaz de subsidiar os órgãos do SINPDEC na previsão e no controle dos
efeitos negativos de eventos adversos sobre a população, os bens e serviços e o meio ambiente.
Seção II
Das Competências dos Entes Federados
Art. 6º Compete à União:
I - expedir normas para implementação e execução da PNPDEC;
II - coordenar o SINPDEC, em articulação com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
III - promover estudos referentes às causas e possibilidades de ocorrência de desastres de qualquer origem, sua
incidência, extensão e consequência;
IV - apoiar os Estados, o Distrito Federal e os Municípios no mapeamento das áreas de risco, nos estudos de
identificação de ameaças, suscetibilidades, vulnerabilidades e risco de desastre e nas demais ações de prevenção,
mitigação, preparação, resposta e recuperação;
V - instituir e manter sistema de informações e monitoramento de desastres;
VI - instituir e manter cadastro nacional de municípios com áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande
impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos;
VII - instituir e manter sistema para declaração e reconhecimento de situação de emergência ou de estado de
calamidade pública;

167
VIII - instituir o Plano Nacional de Proteção e Defesa Civil;
IX - realizar o monitoramento meteorológico, hidrológico e geológico das áreas de risco, bem como dos riscos
biológicos, nucleares e químicos, e produzir alertas sobre a possibilidade de ocorrência de desastres, em articulação
com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
X - estabelecer critérios e condições para a declaração e o reconhecimento de situações de emergência e estado de
calamidade pública;
XI - incentivar a instalação de centros universitários de ensino e pesquisa sobre desastres e de núcleos
multidisciplinares de ensino permanente e a distância, destinados à pesquisa, extensão e capacitação de recursos
humanos, com vistas no gerenciamento e na execução de atividades de proteção e defesa civil;
XII - fomentar a pesquisa sobre os eventos deflagradores de desastres; e
XIII - apoiar a comunidade docente no desenvolvimento de material didático-pedagógico relacionado ao
desenvolvimento da cultura de prevenção de desastres.
§ 1º O Plano Nacional de Proteção e Defesa Civil conterá, no mínimo:
I - a identificação dos riscos de desastres nas regiões geográficas e grandes bacias hidrográficas do País; e
II - as diretrizes de ação governamental de proteção e defesa civil no âmbito nacional e regional, em especial quanto à
rede de monitoramento meteorológico, hidrológico e geológico e dos riscos biológicos, nucleares e químicos e à
produção de alertas antecipados das regiões com risco de desastres.
§ 2º Os prazos para elaboração e revisão do Plano Nacional de Proteção e Defesa Civil serão definidos em
regulamento.
Art. 7º Compete aos Estados:
I - executar a PNPDEC em seu âmbito territorial;
II - coordenar as ações do SINPDEC em articulação com a União e os Municípios;
III - instituir o Plano Estadual de Proteção e Defesa Civil;
IV - identificar e mapear as áreas de risco e realizar estudos de identificação de ameaças, suscetibilidades e
vulnerabilidades, em articulação com a União e os Municípios;
V - realizar o monitoramento meteorológico, hidrológico e geológico das áreas de risco, em articulação com a União
e os Municípios;
VI - apoiar a União, quando solicitado, no reconhecimento de situação de emergência e estado de calamidade pública;
VII - declarar, quando for o caso, estado de calamidade pública ou situação de emergência; e
VIII - apoiar, sempre que necessário, os Municípios no levantamento das áreas de risco, na elaboração dos Planos de
Contingência de Proteção e Defesa Civil e na divulgação de protocolos de prevenção e alerta e de ações
emergenciais.
Parágrafo único. O Plano Estadual de Proteção e Defesa Civil conterá, no mínimo:
I - a identificação das bacias hidrográficas com risco de ocorrência de desastres; e
II - as diretrizes de ação governamental de proteção e defesa civil no âmbito estadual, em especial no que se refere à
implantação da rede de monitoramento meteorológico, hidrológico e geológico das bacias com risco de desastre.
Art. 8º Compete aos Municípios:
I - executar a PNPDEC em âmbito local;
II - coordenar as ações do SINPDEC no âmbito local, em articulação com a União e os Estados;
III - incorporar as ações de proteção e defesa civil no planejamento municipal;
IV - identificar e mapear as áreas de risco de desastres;
V - promover a fiscalização das áreas de risco de desastre e vedar novas ocupações nessas áreas;

168
VI - declarar situação de emergência e estado de calamidade pública;
VII - vistoriar edificações e áreas de risco e promover, quando for o caso, a intervenção preventiva e a evacuação da
população das áreas de alto risco ou das edificações vulneráveis;
VIII - organizar e administrar abrigos provisórios para assistência à população em situação de desastre, em condições
adequadas de higiene e segurança;
IX - manter a população informada sobre áreas de risco e ocorrência de eventos extremos, bem como sobre
protocolos de prevenção e alerta e sobre as ações emergenciais em circunstâncias de desastres;
X - mobilizar e capacitar os radioamadores para atuação na ocorrência de desastre;
XI - realizar regularmente exercícios simulados, conforme Plano de Contingência de Proteção e Defesa Civil;
XII - promover a coleta, a distribuição e o controle de suprimentos em situações de desastre;
XIII - proceder à avaliação de danos e prejuízos das áreas atingidas por desastres;
XIV - manter a União e o Estado informados sobre a ocorrência de desastres e as atividades de proteção civil no
Município;
XV - estimular a participação de entidades privadas, associações de voluntários, clubes de serviços, organizações não
governamentais e associações de classe e comunitárias nas ações do SINPDEC e promover o treinamento de
associações de voluntários para atuação conjunta com as comunidades apoiadas; e
XVI - prover solução de moradia temporária às famílias atingidas por desastres.
Art. 9º Compete à União, aos Estados e aos Municípios:
I - desenvolver cultura nacional de prevenção de desastres, destinada ao desenvolvimento da consciência nacional
acerca dos riscos de desastre no País;
II - estimular comportamentos de prevenção capazes de evitar ou minimizar a ocorrência de desastres;
III - estimular a reorganização do setor produtivo e a reestruturação econômica das áreas atingidas por desastres;
IV - estabelecer medidas preventivas de segurança contra desastres em escolas e hospitais situados em áreas de risco;
V - oferecer capacitação de recursos humanos para as ações de proteção e defesa civil; e
VI - fornecer dados e informações para o sistema nacional de informações e monitoramento de desastres.
CAPÍTULO III
DO SISTEMA NACIONAL DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL - SINPDEC
Seção I
Disposições Gerais
Art. 10. O SINPDEC é constituído pelos órgãos e entidades da administração pública federal, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios e pelas entidades públicas e privadas de atuação significativa na área de proteção e defesa
civil.
Parágrafo único. O SINPDEC tem por finalidade contribuir no processo de planejamento, articulação, coordenação e
execução dos programas, projetos e ações de proteção e defesa civil.
Art. 11. O SINPDEC será gerido pelos seguintes órgãos:
I - órgão consultivo: CONPDEC;
II - órgão central, definido em ato do Poder Executivo federal, com a finalidade de coordenar o sistema;
III - os órgãos regionais estaduais e municipais de proteção e defesa civil; e
IV - órgãos setoriais dos 3 (três) âmbitos de governo. Parágrafo único. Poderão participar do SINPDEC as
organizações comunitárias de caráter voluntário ou outras entidades com atuação significativa nas ações locais de
proteção e defesa civil.

169
Seção II
Do Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil - CONPDEC
Art. 12. O CONPDEC, órgão colegiado integrante do Ministério da Integração Nacional, terá por finalidades:
I - auxiliar na formulação, implementação e execução do Plano Nacional de Proteção e Defesa Civil;
II - propor normas para implementação e execução da PNPDEC;
III - expedir procedimentos para implementação, execução e monitoramento da PNPDEC, observado o disposto nesta
Lei e em seu regulamento;
IV - propor procedimentos para atendimento a crianças, adolescentes, gestantes, idosos e pessoas com deficiência em
situação de desastre, observada a legislação aplicável; e
V - acompanhar o cumprimento das disposições legais e regulamentares de proteção e defesa civil.
§ 1º A organização, a composição e o funcionamento do CONPDEC serão estabelecidos em ato do Poder Executivo
federal.
§ 2º O CONPDEC contará com representantes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e da
sociedade civil organizada, incluindo-se representantes das comunidades atingidas por desastre, e por especialistas de
notório saber.
CAPÍTULO IV
DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 13. Fica autorizada a criação de sistema de informações de monitoramento de desastres, em ambiente
informatizado, que atuará por meio de base de dados compartilhada entre os integrantes do SINPDEC visando ao
oferecimento de informações atualizadas para prevenção, mitigação, alerta, resposta e recuperação em situações de
desastre em todo o território nacional.
Art. 14. Os programas habitacionais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios devem priorizar a
relocação de comunidades atingidas e de moradores de áreas de risco.
Art. 15. A União poderá manter linha de crédito específica, por intermédio de suas agências financeiras oficiais de
fomento, destinada ao capital de giro e ao investimento de sociedades empresariais, empresários individuais e pessoas
físicas ou jurídicas em Municípios atingidos por desastre que tiverem a situação de emergência ou o estado de
calamidade pública reconhecido pelo Poder Executivo federal.
Art. 16. Fica a União autorizada a conceder incentivo ao Município que adotar medidas voltadas ao aumento da
oferta de terra urbanizada para utilização em habitação de interesse social, por meio dos institutos previstos na Lei nº
10.257, de 10 de julho de 2001, na forma do regulamento.
Parágrafo único. O incentivo de que trata o caput compreenderá a transferência de recursos para a aquisição de
terrenos destinados a programas de habitação de interesse social.
Art. 17. Em situações de iminência ou ocorrência de desastre, ficam os órgãos competentes autorizados a transferir
bens apreendidos em operações de combate e repressão a crimes para os órgãos de proteção e defesa civil.
Art. 18. Para fins do disposto nesta Lei, consideram-se agentes de proteção e defesa civil:
I - os agentes políticos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios responsáveis pela direção
superior dos órgãos do SINPDEC;
II - os agentes públicos responsáveis pela coordenação e direção de órgãos ou entidades públicas prestadores dos
serviços de proteção e defesa civil;
III - os agentes públicos detentores de cargo, emprego ou função pública, civis ou militares, com atribuições relativas
à prestação ou execução dos serviços de proteção e defesa civil; e
IV - os agentes voluntários, vinculados a entidades privadas ou prestadores de serviços voluntários que exercem, em
caráter suplementar, serviços relacionados à proteção e defesa civil.

170
Parágrafo único. Os órgãos do SINPDEC adotarão, no âmbito de suas competências, as medidas pertinentes para
assegurar a profissionalização e a qualificação, em caráter permanente, dos agentes públicos referidos no inciso III.
Art. 19. Aplicam-se ao Distrito Federal as competências atribuídas nesta Lei aos Estados e aos Municípios.
Art. 20, 22 e 23 - Alterações da Lei nº 12.340. (Vide Lei nº 12.340).
Art. 23. É vedada a concessão de licença ou alvará de construção em áreas de risco indicadas como não edificáveis no
plano diretor ou legislação dele derivada.
Art. 24. O inciso VI do art. 2º da Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, passa a vigorar acrescido da seguinte alínea
h:
“Art. 2º ......... VI - .................................................................................................................................
h) a exposição da população a riscos de desastres. ................................................” (NR).
Art. 25. O art. 41 da Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, passa a vigorar acrescido do seguinte inciso VI: “Art. 41.
............................................................................................
VI - incluídas no cadastro nacional de Municípios com áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande
impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos............................................(NR)
Art. 26. A Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 42-A e 42-B:
“Art. 42-A. Além do conteúdo previsto no art. 42, o plano diretor dos Municípios incluídos no cadastro nacional
de municípios com áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou
processos geológicos ou hidrológicos correlatos deverá conter:
I - parâmetros de parcelamento, uso e ocupação do solo, de modo a promover a diversidade de usos e a
contribuir para a geração de emprego e renda;
II - mapeamento contendo as áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inundações
bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos;
III - planejamento de ações de intervenção preventiva e realocação de população de áreas de risco de desastre;
IV - medidas de drenagem urbana necessárias à prevenção e à mitigação de impactos de desastres; e
V - diretrizes para a regularização fundiária de assentamentos urbanos irregulares, se houver, observadas a Lei
nº 11.977, de 7 de julho de 2009, e demais normas federais e estaduais pertinentes, e previsão de áreas para
habitação de interesse social por meio da demarcação de zonas especiais de interesse social e de outros
instrumentos de política urbana, onde o uso habitacional for permitido.
§ 1º A identificação e o mapeamento de áreas de risco levarão em conta as cartas geotécnicas.
§ 2º O conteúdo do plano diretor deverá ser compatível com as disposições insertas nos planos de recursos
hídricos, formulados consoante a Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997.
§ 3º Os Municípios adequarão o plano diretor às disposições deste artigo, por ocasião de sua revisão, observados
os prazos legais.
§ 4º Os Municípios enquadrados no inciso VI do art. 41 desta Lei e que não tenham plano diretor aprovado terão
o prazo de 5 (cinco) anos para o seu encaminhamento para aprovação pela Câmara Municipal.”
“Art. 42-B. Os Municípios que pretendam ampliar o seu perímetro urbano após a data de publicação desta Lei
deverão elaborar projeto específico que contenha, no mínimo:
I - demarcação do novo perímetro urbano;
II - delimitação dos trechos com restrições à urbanização e dos trechos sujeitos a controle especial em função de
ameaça de desastres naturais;
III - definição de diretrizes específicas e de áreas que serão utilizadas para infraestrutura, sistema viário,
equipamentos e instalações públicas, urbanas e sociais;
IV - definição de parâmetros de parcelamento, uso e ocupação do solo, de modo a promover a diversidade de
usos e contribuir para a geração de emprego e renda;
V - a previsão de áreas para habitação de interesse social por meio da demarcação de zonas especiais de
interesse social e de outros instrumentos de política urbana, quando o uso habitacional for permitido;

171
VI - definição de diretrizes e instrumentos específicos para proteção ambiental e do patrimônio histórico e
cultural; e
VII - definição de mecanismos para garantir a justa distribuição dos ônus e benefícios decorrentes do processo
de urbanização do território de expansão urbana e a recuperação para a coletividade da valorização imobiliária
resultante da ação do poder público.
§ 1º O projeto específico de que trata o caput deste artigo deverá ser instituído por lei municipal e atender às
diretrizes do plano diretor, quando houver.
§ 2º Quando o plano diretor contemplar as exigências estabelecidas no caput, o Município ficará dispensado da
elaboração do projeto específico de que trata o caput deste artigo.
§ 3º A aprovação de projetos de parcelamento do solo no novo perímetro urbano ficará condicionada à
existência do projeto específico e deverá obedecer às suas disposições.”
Art. 27. O art. 12 da Lei nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979, passa a vigorar com a seguinte redação, renumerando-
se o atual parágrafo único para § 1º:
“Art. 12. .................................................................................................................
§ 1º O projeto aprovado deverá ser executado no prazo constante do cronograma de execução, sob pena de
caducidade da aprovação.
§ 2º Nos Municípios inseridos no cadastro nacional de municípios com áreas suscetíveis à ocorrência de
deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos, a
aprovação do projeto de que trata o caput ficará vinculada ao atendimento dos requisitos constantes da carta
geotécnica de aptidão à urbanização. Vigência
§ 3º É vedada a aprovação de projeto de loteamento e desmembramento em áreas de risco definidas como não
edificáveis, no plano diretor ou em legislação dele derivada.” (NR)
Art. 28. O art. 3º da Lei nº 8.239, de 4 de outubro de 1991, que regulamenta os §§ 1º e 2º do art. 143 da Constituição
Federal, que dispõem sobre a prestação de Serviço Alternativo ao Serviço Militar Obrigatório, passa a vigorar
acrescido dos seguintes §§ 4º e 5º:
“Art. 3º .......................................................................................................................
§ 4º O Serviço Alternativo incluirá o treinamento para atuação em áreas atingidas por desastre, em situação de
emergência e estado de calamidade, executado de forma integrada com o órgão federal responsável pela
implantação das ações de proteção e defesa civil.
§ 5º A União articular-se-á com os Estados e o Distrito Federal para a execução do treinamento a que se refere o
§ 4º deste artigo.” (NR)
Art. 29. O art. 26 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional, passa a vigorar acrescido do seguinte § 7º:
“Art. 26 ........................................................................................
§ 7º Os currículos do ensino fundamental e médio devem incluir os princípios da proteção e defesa civil e a
educação ambiental de forma integrada aos conteúdos obrigatórios.” (NR)
Art. 30. Ficam revogados os arts. 1º, 2º e 17 da Lei 12.340, de 1º de dezembro de 2010.
Art. 31. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, com exceção do disposto no § 2º do art. 12 da Lei nº
6.766, de 19 de dezembro de 1979, que entrará em vigor após decorridos 2 (dois) anos da data de sua publicação
oficial.
Brasília, 10 de abril de 2012;
191º da Independência e 124º da República.
MICHEL TEMER
José Eduardo Cardozo
Luiz Antonio Rodríguez Elias
Izabella Mónica Vieira Teixeira
Alexandre Navarro Garcia
Alexandre Cordeiro Macedo
(Este texto não substitui o publicado no DOU de 11.4.2012)

172
LEI Nº 12.340, DE 1º DE DEZEMBRO DE 2010.
Dispõe sobre as transferências de recursos da União aos órgãos e entidades dos Estados,
Distrito Federal e Municípios para a execução de ações de prevenção em áreas de risco de
desastres e de resposta e de recuperação em áreas atingidas por desastres e sobre o Fundo
Nacional para Calamidades Públicas, Proteção e Defesa Civil; e dá outras providências.
(Redação dada pela Lei nº 12.983, de 2014)
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º-A. A transferência de recursos financeiros para a execução de ações de prevenção em áreas de risco de
desastres e de resposta e de recuperação em áreas atingidas por desastres aos órgãos e entidades dos Estados, Distrito
Federal e Municípios observará as disposições desta Lei e poderá ser feita por meio: (Incluído pela Lei nº 12.983, de
2014)
I - de depósito em conta específica mantida pelo ente beneficiário em instituição financeira oficial federal; ou
(Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)
II - do Fundo Nacional para Calamidades Públicas, Proteção e Defesa Civil (Funcap) a fundos constituídos pelos
Estados, Distrito Federal e Municípios com fim específico de execução das ações previstas no art. 8º e na forma
estabelecida no § 1º do art. 9º desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)
§ 1º Será responsabilidade da União, conforme regulamento: (Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)
I - definir as diretrizes e aprovar os planos de trabalho de ações de prevenção em áreas de risco e de recuperação em
áreas atingidas por desastres; (Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)
II - efetuar os repasses de recursos aos entes beneficiários nas formas previstas no caput, de acordo com os planos de
trabalho aprovados; (Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)
III - fiscalizar o atendimento das metas físicas de acordo com os planos de trabalho aprovados, exceto nas ações de
resposta; e (Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014) IV - avaliar o cumprimento do objeto relacionado às ações previstas
no caput. (Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)
§ 2º Será responsabilidade exclusiva dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios beneficiados: (Incluído pela
Lei nº 12.983, de 2014)
I - demonstrar a necessidade dos recursos demandados; (Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)
II - apresentar, exceto nas ações de resposta, plano de trabalho ao órgão responsável pela transferência de recursos, na
forma e no prazo definidos em regulamento; (Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)
III - apresentar estimativa de custos necessários à execução das ações previstas no caput, com exceção das ações de
resposta; (Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)
IV - realizar todas as etapas necessárias à execução das ações de prevenção em área de risco e de resposta e de
recuperação de desastres, nelas incluídas a contratação e execução das obras ou prestação de serviços, inclusive de
engenharia, em todas as suas fases; e (Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)
V - prestar contas das ações de prevenção, de resposta e de recuperação ao órgão responsável pela transferência de
recursos e aos órgãos de controle competentes. (Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)
§ 3º A definição do montante de recursos a ser transferido pela União decorrerá de estimativas de custos das ações
selecionadas pelo órgão responsável pela transferência de recursos em conformidade com o plano de trabalho
apresentado pelo ente federado, salvo em caso de ações de resposta. (Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)
§ 4º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)

173
§ 5º A União, representada pelo órgão responsável pela transferência de recursos, verificará os custos e as medições
da execução das ações de prevenção e de recuperação em casos excepcionais de necessidade de complementação dos
recursos transferidos, devidamente motivados. (Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)
§ 6º As referências de custos da União para as hipóteses abrangidas nos §§ 3º a 5º poderão ser baseadas em valores
pagos pela administração pública em serviços e obras similares ou na avaliação do custo global da obra, aferida
mediante orçamento sintético ou metodologia expedita ou paramétrica, nos termos do regulamento. (Incluído pela Lei
nº 12.983, de 2014)
§ 7º Os dispêndios relativos às ações definidas no caput pelos entes beneficiários serão monitorados e fiscalizados
por órgão ou instituição financeira oficial federal, na forma a ser definida em regulamento. (Incluído pela Lei nº
12.983, de 2014)
§ 8º Os entes beneficiários deverão disponibilizar relatórios nos prazos estabelecidos em regulamento e sempre que
solicitados, relativos às despesas realizadas com os recursos liberados pela União ao órgão responsável pela
transferência de recursos e aos órgãos de controle. (Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)
§ 9º Os entes federados darão ampla divulgação, inclusive por meio de portal na internet, às ações inerentes às obras
ou empreendimentos custeadas com recursos federais, em especial destacando o detalhamento das metas, valores
envolvidos, empresas contratadas e estágio de execução, conforme condições a serem estabelecidas em regulamento.
(Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)
§ 10. No caso de haver excedente de recursos transferidos, o ente beneficiário poderá propor sua destinação a ações
correlatas àquelas previstas no caput, sujeitas à aprovação do órgão responsável pela transferência dos recursos.
(Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)
§ 11. Os Estados poderão apoiar a elaboração de termos de referência, planos de trabalho e projetos, cotação de
preços, fiscalização e acompanhamento, bem como a prestação de contas de Municípios com população inferior a
50.000 (cinquenta mil) habitantes. (Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)
Art. 3º O Poder Executivo federal apoiará, de forma complementar, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios em
situação de emergência ou estado de calamidade pública, por meio dos mecanismos previstos nesta Lei.
§ 1º O apoio previsto no caput será prestado aos entes que tiverem a situação de emergência ou estado de calamidade
pública reconhecidos pelo Poder Executivo federal.
§ 2º O reconhecimento previsto no § 1º dar-se-á mediante requerimento do Poder Executivo do Estado, do Distrito
Federal ou do Município afetado pelo desastre.
Art. 3º-A. O Governo Federal instituirá cadastro nacional de municípios com áreas suscetíveis à ocorrência de
deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos, conforme
regulamento. (Incluído pela Lei nº 12.608, de 2012)
§ 1º A inscrição no cadastro previsto no caput dar-se-á por iniciativa do Município ou mediante indicação dos demais
entes federados, observados os critérios e procedimentos previstos em regulamento. (Incluído pela Lei nº 12.608, de
2012)
§ 2º Os Municípios incluídos no cadastro deverão: (Incluído pela Lei nº 12.608, de 2012)
I - elaborar mapeamento contendo as áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inundações
bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos; (Incluído pela Lei nº 12.608, de 2012)
II - elaborar Plano de Contingência de Proteção e Defesa Civil e instituir órgãos municipais de defesa civil, de acordo
com os procedimentos estabelecidos pelo órgão central do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil - SINPDEC;
(Incluído pela Lei nº 12.608, de 2012)
III - elaborar plano de implantação de obras e serviços para a redução de riscos de desastre; (Incluído pela Lei nº
12.608, de 2012)
IV - criar mecanismos de controle e fiscalização para evitar a edificação em áreas suscetíveis à ocorrência de
deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos; e (Incluído
pela Lei nº 12.608, de 2012)

174
V - elaborar carta geotécnica de aptidão à urbanização, estabelecendo diretrizes urbanísticas voltadas para a
segurança dos novos parcelamentos do solo e para o aproveitamento de agregados para a construção civil. (Incluído
pela Lei nº 12.608, de 2012)
§ 3º A União e os Estados, no âmbito de suas competências, apoiarão os Municípios na efetivação das medidas
previstas no § 2º. (Incluído pela Lei nº 12.608, de 2012)
§ 4º Sem prejuízo das ações de monitoramento desenvolvidas pelos Estados e Municípios, o Governo Federal
publicará, periodicamente, informações sobre a evolução das ocupações em áreas suscetíveis à ocorrência de
deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos nos
Municípios constantes do cadastro. (Incluído pela Lei nº 12.608, de 2012)
§ 5º As informações de que trata o § 4º serão encaminhadas, para conhecimento e providências, aos Poderes
Executivo e Legislativo dos respectivos Estados e Municípios e ao Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 12.608,
de 2012)
§ 6º O Plano de Contingência de Proteção e Defesa Civil será elaborado no prazo de 1 (um) ano, sendo submetido a
avaliação e prestação de contas anual, por meio de audiência pública, com ampla divulgação. (Incluído pela Lei nº
12.608, de 2012)
§ 7º São elementos a serem considerados no Plano de Contingência de Proteção e Defesa Civil, a ser elaborado pelo
Município: (Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)
I - indicação das responsabilidades de cada órgão na gestão de desastres, especialmente quanto às ações de
preparação, resposta e recuperação; (Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)
II - definição dos sistemas de alerta a desastres, em articulação com o sistema de monitoramento, com especial
atenção dos radioamadores; (Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)
III - organização dos exercícios simulados, a serem realizados com a participação da população; (Incluído pela Lei nº
12.983, de 2014)
IV - organização do sistema de atendimento emergencial à população, incluindo-se a localização das rotas de
deslocamento e dos pontos seguros no momento do desastre, bem como dos pontos de abrigo após a ocorrência de
desastre; (Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)
V - definição das ações de atendimento médico-hospitalar e psicológico aos atingidos por desastre; (Incluído pela Lei
nº 12.983, de 2014)
VI - cadastramento das equipes técnicas e de voluntários para atuarem em circunstâncias de desastres; (Incluído pela
Lei nº 12.983, de 2014)
VII - localização dos centros de recebimento e organização da estratégia de distribuição de doações e suprimentos.
(Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)
Art. 3º-B. Verificada a existência de ocupações em áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande
impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos, o município adotará as providências
para redução do risco, dentre as quais, a execução de plano de contingência e de obras de segurança e, quando
necessário, a remoção de edificações e o reassentamento dos ocupantes em local seguro. (Incluído pela Lei nº 12.608,
de 2012)
§ 1º A efetivação da remoção somente se dará mediante a prévia observância dos seguintes procedimentos: (Incluído
pela Lei nº 12.608, de 2012)
I - realização de vistoria no local e elaboração de laudo técnico que demonstre os riscos da ocupação para a
integridade física dos ocupantes ou de terceiros; e (Incluído pela Lei nº 12.608, de 2012)
II - notificação da remoção aos ocupantes acompanhada de cópia do laudo técnico e, quando for o caso, de
informações sobre as alternativas oferecidas pelo poder público para assegurar seu direito à moradia. (Incluído pela
Lei nº 12.608, de 2012)
§ 2º Na hipótese de remoção de edificações, deverão ser adotadas medidas que impeçam a reocupação da área.
(Incluído pela Lei nº 12.608, de 2012)

175
§ 3º Aqueles que tiverem suas moradias removidas deverão ser abrigados, quando necessário, e cadastrados pelo
Município para garantia de atendimento habitacional em caráter definitivo, de acordo com os critérios dos programas
públicos de habitação de interesse social. (Incluído pela Lei nº 12.608, de 2012)
Art. 4º São obrigatórias as transferências da União aos órgãos e entidades dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios para a execução de ações de prevenção em áreas de risco de desastres e de resposta e de recuperação em
áreas atingidas ou com o risco de serem atingidas por desastres, observados os requisitos e procedimentos
estabelecidos pela legislação aplicável. (Redação dada pela Lei nº 12.983, de 2014)
§ 1º A liberação de recursos para as ações previstas no caput poderá ser efetivada por meio de depósito em conta
específica a ser mantida pelos órgãos e entidades dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios em instituição
financeira oficial federal, observado o disposto em regulamento. (Redação dada pela Lei nº 12.983, de 2014)
§ 2º Para as ações previstas no caput, caberá ao órgão responsável pela transferência de recursos definir o montante
de recursos a ser transferido de acordo com sua disponibilidade orçamentária e financeira e desde que seja observado
o previsto no art. 1º-A. (Redação dada pela Lei nº 12.983, de 2014)
§ 3º No caso de execução de ações de recuperação e de resposta, serão adotados os seguintes procedimentos:
(Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)
I - para recuperação, o ente beneficiário deverá apresentar plano de trabalho ao órgão responsável pela transferência
dos recursos no prazo de 90 (noventa) dias da ocorrência do desastre; (Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)
II - para resposta, quando compreender exclusivamente socorro e assistência às vítimas, o Governo Federal poderá,
mediante solicitação motivada e comprovada do fato pelo ente beneficiário, prestar apoio prévio ao reconhecimento
federal da situação de emergência ou estado de calamidade pública, ficando o ente recebedor responsável pela
apresentação dos documentos e informações necessárias para análise do reconhecimento; (Incluído pela Lei nº
12.983, de 2014)
III - para as ações de resposta, fica dispensada aos Municípios em situação de emergência ou calamidade pública, em
que a gravidade do desastre tenha tornado inoperante e impossível a realização de atos formais da Administração, a
prévia emissão de nota de empenho, na forma do § 1º do art. 60 da Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964; (Incluído
pela Lei nº 12.983, de 2014)
IV - o disposto no inciso III não elimina a necessidade de emissão da nota de empenho, em até 90 (noventa) dias do
restabelecimento das condições operacionais do Município, em contemporaneidade com a execução da despesa e
dentro do prazo estabelecido no plano de trabalho. (Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)
Art. 5º O órgão responsável pela transferência do recurso acompanhará e fiscalizará a aplicação dos recursos
transferidos na forma do art. 4º. (Redação dada pela Lei nº 12.983, de 2014)
§ 1º Verificada a aplicação de recursos em desacordo com o disposto nesta Lei, o saque dos valores da conta
específica e a realização de novas transferências ao ente beneficiário serão suspensos.
§ 2º Os entes beneficiários das transferências de que trata o caput deverão apresentar ao órgão responsável pela
transferência do recurso a prestação de contas do total dos recursos recebidos, na forma do regulamento. (Redação
dada pela Lei nº 12.983, de 2014)
§3º Os entes beneficiários manterão, pelo prazo de 5 (cinco) anos, contado da data de aprovação da prestação de
contas de que trata o § 2, os documentos a ela referentes, inclusive os comprovantes de pagamentos efetuados com os
recursos financeiros transferidos na forma desta Lei, sendo obrigados a disponibilizá-los, sempre que solicitado, ao
órgão responsável pela transferência do recurso, ao Tribunal de Contas da União e ao Sistema de Controle Interno do
Poder Executivo federal. (Redação dada pela Lei nº 12.983, de 2014)
Art. 5º-A. Constatadas, a qualquer tempo, nas ações de prevenção, de resposta e de recuperação, a presença de vícios
nos documentos apresentados, a inexistência de risco de desastre, da situação de emergência ou do estado de
calamidade pública declarados ou a inexecução do objeto, o ato administrativo que tenha autorizado a realização da
transferência obrigatória perderá seus efeitos, ficando o ente beneficiário obrigado a devolver os valores repassados
devidamente atualizados. (Redação dada pela Lei nº 12.983, de 2014)

176
Parágrafo único. Sem prejuízo do disposto no caput, ocorrendo indícios de falsificação de documentos pelo ente
federado, deverão ser notificados o Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual respectivo, para
adoção das providências cabíveis. (Incluído dada pela Lei nº 12.608, de 2012)
Art. 6º Ficam autorizados o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - DNIT e o Ministério da
Defesa, mediante solicitação do ente federado interessado, a atuar, em conjunto ou isoladamente, na recuperação,
execução de desvios e restauração de estradas e outras vias de transporte rodoviário sob jurisdição dos Estados, do
Distrito Federal ou dos Municípios afetadas por desastres.
Art. 7º O Fundo Nacional para Calamidades Públicas, Proteção e Defesa Civil (Funcap), instituído pelo Decreto-Lei
nº 950, de 13 de outubro de 1969 , passa a ser regido pelo disposto nesta Lei. (Redação dada pela Lei nº 12.983, de
2014)
Art. 8º O Funcap, de natureza contábil e financeira, vinculado ao Ministério da Integração Nacional, terá como
finalidade custear, no todo ou em parte: (Redação dada pela Lei nº 12.983, de 2014)
I - ações de prevenção em áreas de risco de desastre; e (Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)
II - ações de recuperação de áreas atingidas por desastres em entes federados que tiverem a situação de emergência ou
o estado de calamidade pública reconhecidos nos termos do art. 3º. (Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)
Art. 9º Constituem recursos do Funcap: (Redação dada pela Lei nº 12.983, de 2014)
I - dotações consignadas na lei orçamentária anual da União e seus créditos adicionais; (Redação dada pela Lei nº
12.983, de 2014)
II - doações; e (Redação dada pela Lei nº 12.983, de 2014)
III - outros que lhe vierem a ser destinados. (Redação dada pela Lei nº 12.983, de 2014)
§ 1º Os recursos do Funcap serão transferidos diretamente aos fundos constituídos pelos Estados, pelo Distrito
Federal e pelos Municípios cujos objetos permitam a execução das ações a que se refere o art. 8º, após o
reconhecimento federal da situação de emergência ou do estado de calamidade pública ou a identificação da ação
como necessária à prevenção de desastre, dispensada a celebração de convênio ou outros instrumentos jurídicos.
(Redação dada pela Lei nº 12.983, de 2014)
§ 2º São obrigatórias as transferências a que se refere o § 1º, observados os critérios e os procedimentos previstos em
regulamento. (Redação dada pela Lei nº 12.983, de 2014)
§ 3º O repasse de recursos do Funcap deverá observar o disposto em regulamento. (Redação dada pela Lei nº 12.983,
de 2014)
§ 4º O controle social sobre as destinações dos recursos do Funcap será exercido por conselhos vinculados aos entes
beneficiados, garantida a participação da sociedade civil. (Redação dada pela Lei nº 12.983, de 2014)
Art. 10. Os recursos do Funcap serão mantidos na Conta Única do Tesouro Nacional e geridos por 1 (um) Conselho
Diretor, que deverá estabelecer os critérios para priorização e aprovação dos planos de trabalho, acompanhamento,
fiscalização e aprovação da prestação de contas. (Redação dada pela Lei nº 12.983, de 2014)
I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.983, de 2014)
II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.983, de 2014) III - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 12.983, de
2014)
§ 1º (revogado). (Redação dada pela Lei nº 12.983, de 2014) § 2º O Poder Executivo regulamentará o funcionamento,
as competências, as responsabilidades e a composição do Conselho Diretor, bem como a forma de indicação de seus
membros (Redação dada pela Lei nº 12.983, de 2014)
Art. 15. Fica proibida a cobrança de juros de mora, por estabelecimentos bancários e instituições financeiras, sobre
títulos de qualquer natureza, cujo vencimento se dê durante o período de suspensão do atendimento ao público em
suas dependências em razão de desastres, quando caracterizadas situações de emergência ou estado de calamidade
pública, desde que sejam quitados no primeiro dia de expediente normal, ou em prazo superior definido em ato

177
normativo específico. contratos destinados à execução de ações de prevenção em áreas de risco de desastres e de
resposta e de recuperação em áreas atingidas por desastres. (Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)
Art. 15-B. As empresas exploradoras de serviço móvel pessoal são obrigadas a transmitir gratuitamente informações
de alerta à população sobre risco de desastre, por iniciativa dos órgãos competentes, nos termos de regulamento.
(Incluído pela Lei nº 12.983, de 2014)
Art. 16. O caput do art. 1º da Lei nº 9.077, de 10 de julho de 1995, passa a vigorar com a seguinte redação: “ Art. 1º
É o Poder Executivo autorizado a doar estoques públicos de alimentos, in natura ou após beneficiamento,
diretamente às populações carentes, objetivando o combate à fome e à miséria, bem como às populações atingidas por
desastres, quando caracterizadas situações de emergência ou estado de calamidade pública, mediante proposta
conjunta do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, do Ministério da Integração Nacional e da Casa
Civil da Presidência da República. ................................................................................................................” (NR)
Art. 18. Ficam revogados:
I - o art. 51 da Lei nº 11.775, de 17 de setembro de 2008;
II - o Decreto-Lei nº 950, de 13 de outubro de 1969.
Art. 19. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 1º de dezembro de 2010;
189º da Independência e 122º da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Guido Mantega
Paulo Sérgio Oliveira Passos
Paulo Bernardo Silva
João Reis Santana Filho

178
DECRETO Nº 7.257, DE 4 DE AGOSTO DE 2010.
Regulamenta a Medida Provisória nº 494 de 2 de julho de 2010, para dispor sobre o
Sistema Nacional de Defesa Civil - SINDEC, sobre o reconhecimento de situação de
emergência e estado de calamidade pública, sobre as transferências de recursos para ações
de socorro, assistência às vítimas, restabelecimento de serviços essenciais e reconstrução
nas áreas atingidas por desastre, e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 84, incisos IV e VI, alínea “a”, da
Constituição, e tendo em vista o disposto na Medida Provisória nº 494, de 2 de julho de 2010, DECRETA:
Art. 1º O Poder Executivo federal apoiará, de forma complementar, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios em
situação de emergência ou estado de calamidade pública, provocados por desastres.
Art. 2º Para os efeitos deste Decreto, considera-se:
I - defesa civil: conjunto de ações preventivas, de socorro, assistenciais e recuperativas destinadas a evitar desastres e
minimizar seus impactos para a população e restabelecer a normalidade social;
II - desastre: resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem sobre um ecossistema vulnerável,
causando danos humanos, materiais ou ambientais e conseqüentes prejuízos econômicos e sociais;
III - situação de emergência: situação anormal, provocada por desastres, causando danos e prejuízos que impliquem o
comprometimento parcial da capacidade de resposta do poder público do ente atingido;
IV - estado de calamidade pública: situação anormal, provocada por desastres, causando danos e prejuízos que
impliquem o comprometimento substancial da capacidade de resposta do poder público do ente atingido;
V - ações de socorro: ações imediatas de resposta aos desastres com o objetivo de socorrer a população atingida,
incluindo a busca e salvamento, os primeiros-socorros, o atendimento pré-hospitalar e o atendimento médico e
cirúrgico de urgência, entre outras estabelecidas pelo Ministério da Integração Nacional;
VI - ações de assistência às vítimas: ações imediatas destinadas a garantir condições de incolumidade e cidadania aos
atingidos, incluindo o fornecimento de água potável, a provisão e meios de preparação de alimentos, o suprimento de
material de abrigamento, de vestuário, de limpeza e de higiene pessoal, a instalação de lavanderias, banheiros, o
apoio logístico às equipes empenhadas no desenvolvimento dessas ações, a atenção integral à saúde, ao manejo de
mortos, entre outras estabelecidas pelo Ministério da Integração Nacional;
VII - ações de restabelecimento de serviços essenciais: ações de caráter emergencial destinadas ao restabelecimento
das condições de segurança e habitabilidade da área atingida pelo desastre, incluindo a desmontagem de edificações e
de obras-de-arte com estruturas comprometidas, o suprimento e distribuição de energia elétrica, água potável,
esgotamento sanitário, limpeza urbana, drenagem das águas pluviais, transporte coletivo, trafegabilidade,
comunicações, abastecimento de água potável e desobstrução e remoção de escombros, entre outras estabelecidas
pelo Ministério da Integração Nacional;
VIII - ações de reconstrução: ações de caráter definitivo destinadas a restabelecer o cenário destruído pelo desastre,
como a reconstrução ou recuperação de unidades habitacionais, infraestrutura pública, sistema de abastecimento de
água, açudes, pequenas barragens, estradas vicinais, prédios públicos e comunitários, cursos d'água, contenção de
encostas, entre outras estabelecidas pelo Ministério da Integração Nacional; e
IX - ações de prevenção: ações destinadas a reduzir a ocorrência e a intensidade de desastres, por meio da
identificação, mapeamento e monitoramento de riscos, ameaças e vulnerabilidades locais, incluindo a capacitação da
sociedade em atividades de defesa civil, entre outras estabelecidas pelo Ministério da Integração Nacional.

179
CAPÍTULO I
DO SISTEMA NACIONAL DE DEFESA CIVIL - SINDEC
Art. 3º O Sistema Nacional de Defesa Civil - SINDEC tem como objetivo planejar, articular e coordenar as ações de
defesa civil em todo o território nacional.
Art. 4º Para o alcance de seus objetivos, o SINDEC deverá:
I - planejar e promover ações de prevenção de desastres naturais, antropogênicos e mistos, de maior prevalência no
País;
II - realizar estudos, avaliar e reduzir riscos de desastres;
III - atuar na iminência e em circunstâncias de desastres; e
IV - prevenir ou minimizar danos, socorrer e assistir populações afetadas, e restabelecer os cenários atingidos por
desastres.
Art. 5º O SINDEC será composto pelos órgãos e entidades da União responsáveis pelas ações de defesa civil, bem
como pelos órgãos e entidades dos Estados, Distrito Federal e Municípios que a ele aderirem.
§ 1º As entidades da sociedade civil também poderão aderir ao SINDEC, na forma a ser disciplinada pelo Ministério
da Integração Nacional.
§ 2º Compete à Secretaria Nacional de Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional a coordenação do SINDEC,
ficando responsável por sua articulação, coordenação e supervisão técnica.
§ 3º Para o funcionamento integrado do SINDEC, os Estados, Distrito Federal e Municípios encaminharão à
Secretaria Nacional de Defesa Civil informações atualizadas a respeito das respectivas unidades locais responsáveis
pelas ações de defesa civil em suas jurisdições, de acordo com o art. 2º da Medida Provisória nº 494, de 2 de julho de
2010.
§ 4º Em situações de desastres, os integrantes do SINDEC na localidade atingida, indicados nos termos do § 3º,
atuarão imediatamente, instalando, quando possível, sala de coordenação de resposta ao desastre, de acordo com
sistema de comando unificado de operações adotado pela Secretaria Nacional de Defesa Civil.
§ 5º O SINDEC contará com Grupo de Apoio a Desastres - GADE, vinculado à Secretaria Nacional de Defesa Civil,
formado por equipe multidisciplinar, mobilizável a qualquer tempo, para atuar nas diversas fases do desastre em
território nacional ou em outros países.
§ 6º Para coordenar e integrar as ações do SINDEC em todo o território nacional, a Secretaria Nacional de Defesa
Civil manterá um centro nacional de gerenciamento de riscos e desastres, com a finalidade de agilizar as ações de
resposta, monitorar desastres, riscos e ameaças de maior prevalência;
§ 7º A Secretaria Nacional de Defesa Civil poderá solicitar o apoio dos demais órgãos e entidades que integram o
SINDEC, bem como da Administração Pública federal, para atuarem junto ao ente federado em situação de
emergência ou estado de calamidade pública.
§ 8º As despesas decorrentes da atuação de que trata o § 7º, correrão por conta de dotação orçamentária de cada órgão
ou entidade.
§ 9º O SINDEC mobilizará a sociedade civil para atuar em situação de emergência ou estado de calamidade pública,
coordenando o apoio logístico para o desenvolvimento das ações de defesa civil.
Art. 6º O Conselho Nacional de Defesa Civil - CONDEC integra o SINDEC como órgão colegiado, de natureza
consultiva, tendo como atribuição propor diretrizes para a política nacional de defesa civil, em face dos objetivos
estabelecidos no art. 4º.
§ 1º O CONDEC será composto por um representante e suplente de cada órgão a seguir indicado: I - Ministério da
Integração Nacional, que o coordenará; II - Casa Civil da Presidência da República; III - Gabinete de Segurança
Institucional da Presidência da República; IV - Ministério da Defesa; V - Ministério do Planejamento, Orçamento e
Gestão; VI - Ministério das Cidades; VII - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; VIII -
Ministério da Saúde; IX - Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República.

180
§ 2º Além dos representantes previstos no § 1º, comporão, ainda, o CONDEC: I - dois representantes dos Estados e
Distrito Federal; II - três representantes dos Municípios; e III - três representantes da sociedade civil.
§ 3º A Secretaria Nacional de Defesa Civil exercerá a função de Secretaria-Executiva do CONDEC, fornecendo o
apoio administrativo e os meios necessários à execução de seus trabalhos.
§ 4º A participação no CONDEC será considerada prestação de serviço público relevante, não remunerada.
§ 5º Os representantes dos Estados, Distrito Federal, Municípios e da sociedade civil, serão indicados e designados na
forma a ser disciplinada pelo Ministério da Integração Nacional.
§ 6º O CONDEC poderá convidar representantes de outros órgãos da administração pública, de entidades privadas, de
organizações não-governamentais, de conselhos e de fóruns locais para o acompanhamento ou participação dos
trabalhos.
CAPÍTULO II
DO RECONHECIMENTO DA SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA E DO ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA
Art. 7º O reconhecimento da situação de emergência ou do estado de calamidade pública pelo Poder Executivo
federal se dará mediante requerimento do Poder Executivo do Estado, do Distrito Federal ou do Município afetado
pelo desastre.
§ 1º O requerimento previsto no caput deverá ser realizado diretamente ao Ministério da Integração Nacional, no
prazo máximo de dez dias após a ocorrência do desastre, devendo ser instruído com ato do respectivo ente federado
que decretou a situação de emergência ou o estado de calamidade pública e conter as seguintes informações:
I - tipo do desastre, de acordo com a codificação de desastres, ameaças e riscos, definida pelo Ministério da
Integração Nacional;
II - data e local do desastre;
III - descrição da área afetada, das causas e dos efeitos do desastre;
IV - estimativa de danos humanos, materiais, ambientais e serviços essenciais prejudicados;
V - declaração das medidas e ações em curso, capacidade de atuação e recursos humanos, materiais, institucionais e
financeiros empregados pelo respectivo ente federado para o restabelecimento da normalidade; e
VI - outras informações disponíveis acerca do desastre e seus efeitos.
§ 2º Após avaliação das informações apresentadas no requerimento a que se refere o § 1º e demais informações
disponíveis no SINDEC, o Ministro de Estado da Integração Nacional reconhecerá, por meio de Portaria, a situação
de emergência ou estado de calamidade, desde que a situação o justifique e que tenham sido cumpridos os requisitos
estabelecidos na Medida Provisória nº 494, de 2010, e neste Decreto.
§ 3º Considerando a intensidade do desastre e seus impactos social, econômico e ambiental, o Ministério da
Integração Nacional reconhecerá, independentemente do fornecimento das informações previstas no §1º, a situação
de emergência ou o estado de calamidade pública com base no Decreto do respectivo ente federado.
CAPÍTULO III
DAS TRANSFERÊNCIAS DE RECURSOS
Art. 8º As transferências obrigatórias da União aos órgãos e entidades dos Estados, Distrito Federal e Municípios para
a execução de ações de socorro, assistência às vítimas, restabelecimento de serviços essenciais e reconstrução,
observarão os requisitos e procedimentos previstos na Medida Provisória nº 494, de 2010, e neste Decreto.
Art. 9º Reconhecida a situação de emergência ou o estado de calamidade pública, o Ministério da Integração
Nacional, com base nas informações obtidas e na sua disponibilidade orçamentária e financeira, definirá o montante
de recursos a ser disponibilizado para a execução das ações especificadas nos incisos V, VI e VII do art. 2º.
Parágrafo único. A transferência dos recursos se dará mediante depósito em conta específica do ente beneficiário em
instituição financeira oficial federal.

181
Art. 9º-A. O pagamento das despesas realizadas pelo ente beneficiário com os recursos transferidos pelo Ministério
da Integração Nacional para a execução das ações especificadas nos incisos V, VI e VII do art. 2º será efetuado por
meio do Cartão de Pagamento de Defesa Civil - CPDC, vinculado à conta específica mantida em instituição
financeira oficial federal, nos termos deste Decreto. (Incluído pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
Parágrafo único. O CPDC é instrumento de pagamento, emitido em nome do órgão ou entidade do Estado, Distrito
Federal ou Município beneficiário, operacionalizado por instituição financeira oficial federal contratada e utilizado
exclusivamente pelo portador nele identificado, respeitados os limites deste Decreto. (Incluído pelo Decreto nº 7.505,
de 2011)
Art. 9º-B. O representante legal do órgão ou entidade do Estado, Distrito Federal ou Município beneficiário será a
autoridade responsável pela administração dos recursos com o uso do CPDC, competindo-lhe, além de outras
responsabilidades estabelecidas na legislação e na regulamentação específica: (Incluído pelo Decreto nº 7.505, de
2011)
I - definir os servidores ou empregados públicos, com vínculo permanente, portadores do CPDC; (Incluído pelo
Decreto nº 7.505, de 2011)
II - definir o limite de utilização e o valor disponível para cada portador do CPDC; (Incluído pelo Decreto nº 7.505,
de 2011)
III - alterar o limite de utilização e o valor disponível para cada portador do CPDC; e (Incluído pelo Decreto nº 7.505,
de 2011)
IV - expedir a ordem para disponibilização dos limites, eletronicamente, junto à instituição financeira. (Incluído pelo
Decreto nº 7.505, de 2011)
§ 1º Poderá haver delegação das competências previstas no caput a secretários estaduais ou municipais, bem como a
servidor ou empregado público com vínculo permanente no âmbito estadual ou municipal. (Incluído pelo Decreto nº
7.505, de 2011)
§ 2º A autoridade responsável pela administração dos recursos com o uso do CPDC, assinará Termo de
Responsabilidade de Administrador de Recursos Federais de Defesa Civil, que conterá suas obrigações e deveres no
uso do cartão, conforme especificação contida em ato do Ministro de Estado da Integração Nacional. (Incluído pelo
Decreto nº 7.505, de 2011)
§ 3º Para a operacionalização do CPDC, será firmado: (Incluído pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
I - acordo de cooperação técnica entre a União e a instituição financeira oficial federal, que conterá a obrigação de
envio, por meio eletrônico ou magnético, das informações de movimentação do CPDC ao Ministério da Integração
Nacional e à Controladoria-Geral da União, bem como disciplinará a forma e a periodicidade desse envio. (Incluído
pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
II - contrato específico entre a instituição financeira oficial federal e o órgão ou entidade do Estado, Distrito Federal
ou Município beneficiário, que concederá expressa autorização de acesso aos extratos de movimentação do CPDC ao
Ministério da Integração Nacional e à Controladoria-Geral da União, para fins de controle e divulgação no Portal da
Transparência, instituído pelo Decreto no 5.482, de 30 de junho de 2005. (Incluído pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
§ 4º O uso do CPDC não dispensará o órgão ou entidade do Estado, Distrito Federal ou Município beneficiário da
apresentação ao Ministério da Integração Nacional da prestação de contas do total de recursos recebidos, nos termos
da legislação vigente. (Incluído pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
Art. 9º-C. Na execução dos recursos transferidos pela União, são vedados: (Incluído pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
I - a aceitação de qualquer acréscimo no valor da despesa decorrente da utilização do CPDC; (Incluído pelo Decreto
nº 7.505, de 2011)
II - a utilização do CPDC no exterior; (Incluído pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
III - a cobrança de taxas de adesão, manutenção, anuidades ou quaisquer outras despesas decorrentes da obtenção ou
do uso do CPDC; e (Incluído pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
IV - a realização de saque em dinheiro por meio do CPDC. (Incluído pelo Decreto nº 7.505, de 2011)

182
Art. 9º-D. A autoridade responsável pela administração dos recursos será o principal portador do CPDC do órgão ou
entidade do Estado, Distrito Federal ou Município beneficiário. (Incluído pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
§ 1º Poderão ser autorizados como portadores do CPDC os agentes referidos no inciso I do art. 9º- B e os secretários
estaduais e municipais, que firmarão Termo de Responsabilidade do Portador perante a autoridade responsável pela
administração dos recursos do ente ou entidade beneficiária, o qual conterá suas obrigações e deveres. (Incluído pelo
Decreto nº 7.505, de 2011)
§ 2º O órgão ou entidade do Estado, Distrito Federal ou Município beneficiário remeterá ao Ministério da Integração
Nacional e à Controladoria-Geral da União listagem contendo os seguintes dados dos portadores do CPDC: (Incluído
pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
I - nome; (Incluído pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
II - cargo, emprego ou função, além de sua matrícula funcional no ente ou entidade; (Incluído pelo Decreto nº 7.505,
de 2011)
III - endereço residencial; e (Incluído pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
IV - número no Cadastro de Pessoa Física - CPF. (Incluído pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
§ 3º São deveres do portador do CPDC, além de outros definidos no termo de responsabilidade, referido no § 1º deste
artigo: (Incluído pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
I - guarda e zelo do cartão; (Incluído pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
II - bom emprego dos valores nele contidos; (Incluído pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
III - proibição de autorização de uso por outra pessoa; (Incluído pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
IV - comunicação às autoridades sobre perda ou roubo; e (Incluído pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
V - guarda de notas fiscais, recibos ou qualquer outro documento que comprove a despesa paga com o CPDC, e que
contenha, no mínimo: (Incluído pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
a) o nome do beneficiário do pagamento; (Incluído pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
b) o número no Cadastro de Pessoa Física - CPF ou Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica - CNPJ; (Incluído pelo
Decreto nº 7.505, de 2011)
c) o endereço da pessoa física ou do estabelecimento comercial; (Incluído pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
d) o valor pago; e (Incluído pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
e) a descrição sumária do objeto do pagamento, com quantitativos. (Incluído pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
Art. 10. As transferências de recursos voltadas à execução de ações de reconstrução deverão ser precedidas da
apresentação de Plano de Trabalho pelo ente beneficiário no prazo de até quarenta e cinco dias após o
reconhecimento da situação de emergência ou do estado de calamidade pública.
§ 1º O Plano de Trabalho conterá:
I - levantamento de danos materiais causados pelo desastre;
II - identificação das ações de reconstrução, acompanhadas das respectivas estimativas financeiras;
III - etapas ou fases de execução;
IV - plano de aplicação dos recursos financeiros;
V - cronograma de desembolso; e
VI - previsão de início e fim da execução das ações, bem como da conclusão das etapas ou fases programadas.
§ 2º Independentemente da apresentação do Plano de Trabalho de que trata o §1º, o Ministério da Integração Nacional
poderá antecipar a liberação de parte dos recursos destinados às ações de reconstrução.
§ 3º As ações implementadas com os recursos antecipados na forma do § 2º deverão estar contempladas no Plano de
Trabalho previsto no caput.

183
§ 4º No caso de recuperação ou reconstrução de edificações no mesmo local do desastre, tratando-se de posse mansa
e pacífica, poderá ser dispensada a comprovação da propriedade do imóvel pelos respectivos beneficiários.
Art. 11. A utilização dos recursos transferidos nos termos dos arts. 9º e 10 pelo ente beneficiário está vinculada
exclusivamente à execução das ações previstas neste Decreto, além das especificadas pelo Ministério da Integração
Nacional quando da liberação dos recursos.
§ 1º Constatada a presença de vícios na documentação apresentada, malversação, desvios ou utilização dos recursos
transferidos em desconformidade com o disposto na Lei nº 12.340, de 2010, e neste Decreto, o Ministério da
Integração Nacional suspenderá a liberação dos recursos e não efetuará novas transferências ao órgão ou entidade do
Estado, Distrito Federal ou Município beneficiário até que a situação seja regularizada, bem como suspenderá a
utilização do CPDC, quando for o caso. (Redação dada pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
§ 2º A utilização dos recursos em desconformidade com as ações especificadas pelo Ministério da Integração
Nacional acarretará ao órgão ou entidade do Estado, Distrito Federal ou Município beneficiário a obrigação de
devolvê-los devidamente atualizados, conforme legislação aplicável. (Redação dada pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
§ 3º O Ministério da Integração Nacional notificará o órgão ou entidade do Estado, Distrito Federal ou Município
beneficiário, cuja utilização dos recursos transferidos for considerada irregular, para que apresente justificativa no
prazo de trinta dias. (Redação dada pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
§ 4º Se as razões apresentadas na justificativa de que trata o § 3º não demonstrarem a regularidade na aplicação dos
recursos, o Ministério da Integração Nacional dará ciência do fato ao órgão ou entidade do Estado, Distrito Federal
ou Município beneficiário, que deverá providenciar a devolução dos recursos no prazo de trinta dias. (Redação dada
pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
§ 5º Na hipótese de não devolução dos recursos pelo órgão ou entidade do Estado, Distrito Federal ou Município
beneficiário notificado, o Ministério da Integração Nacional deverá comunicar o fato aos órgãos de controle interno
ou externo competentes para adoção das medidas cabíveis. (Redação dada pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
§ 6º Nos casos em que as hipóteses de malversação, má utilização e desvio dos recursos transferidos forem
constatadas pelo próprio órgão ou entidade do Estado, Distrito Federal ou Município beneficiário, o CPDC deverá ser
imediatamente bloqueado em relação ao portador responsável pela conduta, podendo as autoridades referidas no
caput e no § 1º do art. 9º-B, designar novo portador. (Incluído pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
§ 7º O processo administrativo instaurado para fins disciplinares nas hipóteses previstas no § 6º deverá ser
reproduzido em meio físico ou eletrônico para imediata comunicação ao Ministério da Integração Nacional e à
Controladoria-Geral da União. (Incluído pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
Art. 12. O planejamento e a execução das ações de prevenção previstas no inciso IX do art. 2º são de
responsabilidade de todos os órgãos integrantes do SINDEC e dos demais órgãos da Administração Pública federal,
estadual, distrital e municipal que setorialmente executem ações nas áreas de saneamento, transporte e habitação, bem
assim em outras áreas de infraestrutura.
CAPÍTULO IV
DA PRESTAÇÃO DE CONTAS E DA FISCALIZAÇÃO
Art. 13. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios beneficiários das transferências de que trata o art. 4º da
Medida Provisória nº 494, de 2010, apresentarão ao Ministério da Integração Nacional a prestação de contas do total
dos recursos recebidos.
Art. 14. A prestação de contas de que trata o art. 13 deverá ser apresentada pelo ente beneficiário no prazo de trinta
dias a contar do término da execução das ações a serem implementadas com os recursos transferidos pelo Ministério
da Integração Nacional e será composta dos seguintes documentos:
I - relatório de execução físico-financeira;
II - demonstrativo da execução da receita e despesa, evidenciando os recursos recebidos e eventuais saldos;
III - relação de pagamentos e de bens adquiridos, produzidos ou construídos;

184
V - extrato da conta bancária específica do período do recebimento dos recursos e conciliação bancária, quando for o
caso;
VI - relação de beneficiários, quando for o caso;
VII - cópia do termo de aceitação definitiva da obra ou serviço de engenharia, quando for o caso; e
VIII - comprovante de recolhimento do saldo de recursos, quando houver.
§ 1º A autoridade responsável pela prestação de contas que inserir ou fizer inserir documentos ou declaração falsa ou
diversa da que deveria ser inscrita, com o fim de alterar a verdade sobre o fato, será responsabilizada na forma da lei.
§ 2º Os entes beneficiários manterão, pelo prazo de cinco anos, contados da data de aprovação da prestação de contas
de que trata o art. 13, os documentos a ela referentes, inclusive os comprovantes de pagamentos efetuados com os
recursos financeiros transferidos na forma deste Decreto, ficando obrigados a disponibilizá-los, sempre que
solicitado, ao Ministério da Integração Nacional, ao Tribunal de Contas da União e ao Sistema de Controle Interno do
Poder Executivo federal.
Art. 15. O Ministério da Integração Nacional acompanhará e fiscalizará a aplicação dos recursos transferidos na
forma prevista no art. 8º, e poderá expedir normas complementares para o cumprimento do disposto neste Decreto.
(Redação dada pelo Decreto nº 7.505, de 2011)
Art. 16. Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 17. Ficam revogados os Decretos nºs 5.376, de 17 de fevereiro de 2005, e 6.663, de 26 de novembro de 2008.
Brasília, 4 de agosto de 2010;
189º da Independência e 122º da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Paulo Bernardo Silva
João Reis Santana Filho

185
PORTARIA Nº 607, DE 18 DE AGOSTO DE 2011 (Regulamenta o uso do Cartão de Pagamento de Defesa Civil –
CPDC)
O MINISTRO DE ESTADO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL, no uso das atribuições
que lhe confere o art. 87, parágrafo único, inciso II da Constituição Federal, e
considerando o disposto no art. 3º do Decreto nº 7.505 de 27 de junho de 2011, resolve:
Título I
Das Disposições Preliminares
Art. 1º Ficam definidas, por esta Portaria, as regras para a utilização do Cartão de Pagamento de Defesa Civil -
CPDC.
Art. 2º O CPDC é destinado ao pagamento de despesas com os recursos transferidos pela União, por intermédio do
Ministério da Integração Nacional, para execução de ações de socorro, assistência às vítimas e restabelecimento de
serviços essenciais, definidas pelo Decreto nº 7.257, de 4 de agosto de 2010, realizadas pelos órgãos ou entidades dos
Estados, Distrito Federal e Municípios, exclusivamente em situações de emergência ou estado de calamidade pública
reconhecidos pela Secretaria Nacional de Defesa Civil.
Parágrafo único. O CPDC é instrumento de pagamento, isento de taxa de adesão e anuidade, emitido em nome do
órgão ou entidade do Estado, Distrito Federal ou Município beneficiário, operacionalizado por instituição financeira
oficial federal, utilizado exclusivamente pelo portador nele identificado.
Art. 3º Para os fins desta Portaria, considera-se:
I - CPDC: Cartão de Pagamento de Defesa Civil, com a função débito, válido em todo território nacional, emitido por
instituição financeira oficial federal que tenha firmado acordo de cooperação técnica com a União, com bandeira
parceira, destinado a Unidades de Governo dos Estados, Distrito Federal e Municípios; (Redação dada pela Portaria
nº 274, de 3 de julho de 2013)
II - Instituição financeira: instituição financeira oficial federal que tenha firmado acordo de cooperação técnica com a
União para operacionalização do CPDC;
III - Unidade de Governo: órgão do Estado, Distrito Federal ou Município, com CNPJ próprio, ou filial ao do ente ao
qual é subordinado, detentor ou não de atribuição de unidade gestora de orçamento, que adere ao contrato de
prestação de serviços firmado pelo ente federado beneficiário com a instituição financeira responsável pela
operacionalização do CPDC, e que mantém a Conta de Relacionamento na qual serão creditados os recursos
repassados pelo Ministério da Integração Nacional; (Redação dada pela Portaria nº 274, de 3 de julho de 2013)
IV - Conta de Relacionamento: conta corrente específica para uso do CPDC, aberta em nome da Unidade de
Governo; (Redação dada pela Portaria nº 274, de 3 de julho de 2013)
V - Proposta de adesão: formulário de adesão ao CPDC, assinado pelo Representante Legal da Unidade de Governo,
que se responsabiliza pelas transações efetuadas com os cartões emitidos, em que consta campo específico para
informação sobre o contrato de prestação de serviços firmado pelo ente federado beneficiário com a instituição
financeira responsável pela operacionalização do CPDC;
VI - Representante Autorizado do Centro de Custos: pessoa autorizada pelo Representante Legal da Unidade de
Governo a gerir o Centro de Custos a que pertence, cadastrando e excluindo portadores vinculados exclusivamente a
este Centro de Custos e aplicando-lhes o limite para uso do CPDC;
VII - Portador: agente público autorizado a utilizar o CPDC pelo Representante Legal da Unidade de Governo ou
pelo Representante Autorizado do Centro de Custos;
VIII - Limite: valor máximo de recursos disponível para utilização do CPDC, de forma diferenciada, para cada
Unidade de Governo, Centro de Custos e Portador.

186
IX - Instrumento: corresponde ao número gerado pelo SIAFI para o repasse de recursos pelo Ministério da Integração
Nacional, relativos às transferências obrigatórias de que tratam a Lei 12.340, de 1º de dezembro de 2010, e o Decreto
nº 7.257, de 4 de agosto de 2010.
X - Centro de Custos: subdivisão interna na estrutura de cadastramento de cartões, empregada para a distribuição de
limites de utilização aos beneficiários. (Incluído pela Portaria nº 274, de 3 de julho de 2013)
Título II
Da Implementação do CPDC
Art. 4º O pagamento das despesas realizadas pelo ente beneficiário com os recursos transferidos pelo Ministério da
Integração Nacional para a execução das ações de socorro, assistência às vítimas e restabelecimento de serviços
essenciais, definidas pelo Decreto nº 7.257, de 4 de agosto de 2010, será efetuado apenas por meio do CPDC. (NR)
Título III
Da Utilização do CPDC
Art. 5º O CPDC somente poderá ser utilizado para aquisição de materiais ou contratação de serviços relacionados a
ações de socorro, assistência às vítimas e restabelecimento de serviços essenciais. Parágrafo único. Os gastos com o
CPDC poderão ser realizados em locais credenciados pela bandeira do cartão, por meio de terminais de compras e
maquinetas manuais.
Art. 6º São vedados com a utilização do CPDC:
I - a aceitação de qualquer acréscimo no valor da despesa decorrente da utilização do cartão;
II - a utilização do cartão no exterior;
III - a cobrança de taxas de adesão, manutenção, anuidades ou quaisquer outras despesas decorrentes da obtenção ou
do uso do cartão;
IV - a realização de saque em dinheiro ou de compras parceladas.
Art. 7º O uso do CPDC não dispensará o Estado, Distrito Federal ou Município beneficiário da apresentação ao
Ministério da Integração Nacional da prestação de contas do total de recursos recebidos, nos termos da legislação
vigente.
Título IV
Da Operacionalização do CPDC
Art. 8º Para a operacionalização do CPDC, será firmado acordo de cooperação técnica entre a União, por intermédio
do Ministério da Integração Nacional, e instituição financeira oficial federal, que conterá a obrigação de envio, por
meio eletrônico ou magnético, das informações de movimentação do CPDC ao Ministério da Integração Nacional e à
Controladoria-Geral da União, bem como disciplinará a forma e a periodicidade desse envio.
Art. 9º Os entes federados beneficiários de transferências obrigatórias da União para execução de ações de socorro,
assistência e restabelecimento de serviços essenciais deverão observar os seguintes procedimentos para a
operacionalização do CPDC:
I - Firmar contrato de prestação de serviços com a instituição financeira responsável pela operacionalização do
CPDC, estabelecendo as respectivas cláusulas e condições, dentre as quais autorização expressa de acesso aos
extratos de movimentação do CPDC ao Ministério da Integração Nacional e à Controladoria-Geral da União, para
fins de controle e divulgação no Portal da Transparência, instituído pelo Decreto nº 5.482, de 30 de junho de 2005;
II - Providenciar a abertura ou formalização da Conta de Relacionamento junto à instituição financeira, em nome da
Unidade de Governo, responsabilizando-se por todas as transações efetuadas com o uso do CPDC, nos termos do art.
13. (NR) (Redação dada pela Portaria nº 274, de 3 de julho de 2013)
Parágrafo único. Para cada Instrumento deverá ser aberta uma Conta de Relacionamento específica.

187
Art. 10. Para a abertura da Conta de Relacionamento, o Representante Legal da Unidade de Governo deverá realizar
seu cadastramento na agência de relacionamento da instituição financeira responsável pela emissão do CPDC, onde
apresentará os seguintes documentos:
I - Contrato do Cartão de Pagamento de Defesa Civil;
II - Proposta de Adesão ao CPDC;
III - Cadastro de Centro de Custos; IV - Cadastro do(s) Portador(es);
V - Inclusão de Representante Autorizado (se for o caso), para cada Centro de Custos; e
VI - Cartões de autógrafo para o Representante Legal e Representante(s) Autorizado(s). Parágrafo Único. Após a
formalização do CPDC, o ente federado beneficiário deverá comunicar à Secretaria Nacional de Defesa Civil o CNPJ
da Unidade de Governo, o número da agência, da Conta de Relacionamento, e o número identificador do(s) Centro(s)
de Custos, fornecidos pela instituição financeira. (NR) (Redação dada pela Portaria nº 274, de 3 de julho de 2013)
Art. 11. A Secretaria Nacional de Defesa Civil – SEDEC poderá providenciar a abertura da conta do CPDC, em nome
dos entes federados, junto à agência bancária em que estes já mantenham conta de relacionamento com a instituição
financeira oficial federal responsável pela operacionalização do CPDC.
§ 1º A conta terá como Representante Autorizado o Representante Legal do ente federado.
§ 2º Os números da conta e do Centro de Custos serão informados ao ente federado pela SEDEC.
§ 3º A conta e o CPDC permanecerão bloqueados para movimentação até que o Representante Legal do ente federado
providencie a respectiva formalização junto a sua agência de relacionamento, por meio da apresentação dos
documentos listados no art. 10, caput. (NR) (Redação dada pela Portaria nº 274, de 3 de julho de 2013)
Art. 12. O Ministério da Integração Nacional comunicará o ente federado beneficiário, quando o crédito for efetuado
na Conta de Relacionamento.
Título V
Da Gestão dos Recursos pelo Ente Federado Beneficiário
Art. 13. O Representante Legal do Estado, Distrito Federal ou Município beneficiário será a autoridade responsável
pela administração dos recursos com o uso do CPDC, competindo-lhe, além de outras responsabilidades estabelecidas
na legislação e na regulamentação específica:
I - providenciar a abertura da Conta de Relacionamento junto à instituição financeira, em nome da Unidade de
Governo, ou sua formalização, na hipótese prevista no art. 11; (Redação dada pela Portaria nº 274, de 3 de julho de
2013)
II - definir os servidores ou empregados públicos, com vínculo permanente, Portadores do CPDC;
III - definir e/ou alterar o limite de utilização e o valor disponível para cada Centro de Custos e cada Portador do
CPDC;
IV - expedir a ordem para disponibilização dos limites, eletronicamente, junto à instituição financeira.
§ 1º Poderá haver delegação das competências previstas no caput ao Representante Legal da Unidade de Governo,
desde que atendidos os requisitos previstos no § 1º do art. 9º-B do Decreto nº 7.257/2010.
§ 2º As obrigações e deveres da autoridade responsável pela administração dos recursos com o uso do CPDC, a que
se refere o § 2º do art. 9º-B do Decreto nº 7.257, de 4 de agosto de 2010, estarão contidas no contrato a ser firmado
entre o ente federado beneficiário e a instituição financeira responsável pela operacionalização do CPDC. (NR)
(Redação dada pela Portaria nº 37, de 31 de janeiro de 2012)
Título VI
Dos Limites de Utilização do CPDC
Art. 14. Quando os recursos forem destinados diretamente para o Município, o limite da Unidade de Governo é o
valor total dos recursos transferidos pelo Ministério da Integração Nacional.

188
Art. 15. Nos casos de recursos destinados diretamente ao Estado ou Distrito Federal, em que não haja previsão de
repasse para Municípios, o limite da Unidade de Governo é o valor total dos recursos transferidos pelo Ministério da
Integração Nacional.
Art. 16. Nos casos previstos nos arts. 14 e 15, o Representante Legal da Unidade de Governo cadastrará apenas um
Centro de Custos para cada Conta de Relacionamento e definirá os limites individuais de cada Portador do CPDC.
Art. 17. Quando os recursos forem transferidos a Estado, com previsão de sub-repasse a Municípios, cada Município
corresponderá a um Centro de Custos distinto, porém vinculado a uma mesma Conta de Relacionamento.
§ 1º O Representante Legal da Unidade de Governo do Estado fornecerá à instituição financeira as seguintes
informações, por meio do formulário de Cadastramento de Centro de Custos, para cada Município:
I - nome, data de nascimento, RG e CPF do Representante Autorizado do Centro de Custos; (Redação dada pela
Portaria nº 274, de 3 de julho de 2013)
II - endereço e CNPJ do Município;
III - número do Instrumento;
IV - código SIAFI do Município;
V - limite destinado ao Centro de Custos gerado para o Município.
§ 2º O limite do Centro de Custos do Estado repassador diminui à medida em que for disponibilizado aos Centros de
Custos gerados para os Municípios.
§ 3º A soma dos limites dos Centros de Custos não pode exceder o limite da respectiva Conta de Relacionamento da
Unidade de Governo do Estado.
§ 4º Cada Centro de Custos terá um Representante Autorizado, que deverá:
I - controlar o limite de utilização destinado ao Centro de Custos a que se vincula;
II - cadastrar ou excluir Portadores vinculados ao seu Centro de Custos; e
III - definir e acompanhar o limite de utilização do cartão de cada Portador. Art. 18. Após a liberação de recursos pelo
Ministério da Integração Nacional, o limite do valor máximo de transação do CPDC será alterado, automaticamente,
para o valor repassado.
§ 1º Os recursos liberados serão automaticamente aplicados, pela instituição financeira, em fundos de investimentos
destinados ao mercado do setor público e constituirão o limite de utilização do CPDC, com aplicação e resgate
automático.
§ 2º Quando houver necessidade de alteração do limite do Portador, o novo limite será o resultado do acréscimo ou
redução do valor a alterar, deduzindo todas as compras já efetuadas.
Art. 19. O limite de cada Centro de Custos será atualizado diariamente, deduzindo-se o valor das transações efetuadas
pelos Portadores, no momento da autorização da transação pelo Portador.
Art. 20. O limite do Portador é individual e será estipulado pelo Representante Legal da Unidade de Governo ou pelo
Representante Autorizado do Centro de Custos, não podendo ultrapassar o limite do respectivo Centro de Custos.

Título VII
Do(s) Portador(es) do CPDC
Art. 21. A autoridade responsável pela administração dos recursos, indicada no art. 13, será o principal Portador do
CPDC.
§ 1º Poderão ser autorizados como Portadores do CPDC servidores ou empregados públicos, com vínculo
permanente, e os secretários estaduais e municipais, que firmarão Termo de Responsabilidade do Portador, o qual
conterá suas obrigações e deveres, conforme modelo constante no Anexo Único. (Redação dada pela Portaria nº 37,
de 31 de janeiro de 2012)

189
§ 2º A autoridade referida no caput será responsável pela guarda dos Termos de Responsabilidade dos Portadores
referidos no parágrafo anterior, devidamente assinados, devendo disponibilizá-los sempre que solicitados pelo
Ministério da Integração Nacional ou por órgãos de controle da Administração Pública. (Redação dada pela Portaria
nº 37, de 31 de janeiro de 2012)
§ 3º São deveres do Portador do CPDC, além de outros definidos no termo de responsabilidade, referido no § 1º deste
artigo:
I - guarda e zelo do cartão;
II - bom emprego dos valores nele contidos;
III - proibição de autorização de uso por outra pessoa;
IV - comunicação às autoridades no caso de perda ou roubo, e solicitação de bloqueio à instituição financeira; e
(Redação dada pela Portaria nº 274, de 3 de julho de 2013)
V - guarda de notas fiscais, recibos ou qualquer outro documento que comprove a despesa paga com o CPDC, e que
contenha, no mínimo:
a) o nome do beneficiário do pagamento;
b) o número no Cadastro de Pessoa Física - CPF ou Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica - CNPJ;
c) o endereço da pessoa física ou do estabelecimento comercial;
d) o valor pago; e
e) a descrição sumária do objeto do pagamento, com quantitativos.
Art. 22. No momento do preenchimento da Proposta de Adesão pelo Representante Legal da Unidade de Governo,
serão definidas as permissões de uso do CPDC pelo(s) Portador(es). Esta opção irá autorizar ou bloquear a utilização
do cartão em compras a distância (internet/telefone).
§ 1º Na eventualidade de não permissão ao nível de Unidade de Governo, o impedimento se estenderá todos os
Centros de Custos e Portadores.
§ 2º No caso de permissão ao nível de Unidade de Governo, o Representante Autorizado de cada Centro de Custos,
poderá, se necessário, bloquear a sua utilização pelos Portadores vinculados ao seu respectivo Centro de Custos.
Art. 23. O Portador cadastrado deve se dirigir a uma agência da instituição financeira para registro da senha de
utilização do CPDC. (NR) (Redação dada pela Portaria nº 274, de 3 de julho de 2013)
Parágrafo único. O CPDC somente será gerado após o cadastramento da senha pelo Portador.
Art. 24. O Portador terá um cartão correspondente a cada Centro de Custos ao qual esteja vinculado.
Título VIII
Disposições Finais
Art. 25. Caso haja saldo financeiro remanescente na Conta de Relacionamento após o término da execução das ações
de socorro, assistência às vítimas e restabelecimento de serviços essenciais, inclusive referente a rendimentos de
aplicação financeira, o ente federado beneficiário deverá devolvê-lo à União por meio de pagamento com o CPDC, de
Guia de Recolhimento, mediante a utilização de procedimento e código específico estabelecido pela instituição
financeira emissora do cartão, no prazo fixado para a prestação de contas, nos termos da legislação pertinente.
(Redação dada pela Portaria nº 37, de 31 de janeiro de 2012)
Art. 26. (Revogado pela Portaria nº 274, de 3 de julho de 2013)
Art. 27. Os dados referentes aos gastos realizados com o CPDC serão divulgados no Portal da Transparência,
mensalmente, pela Controladoria Geral da União - CGU.
Art. 28. Os casos omissos e demais instruções que se fizerem necessários serão dirimidos pelo Secretário Nacional de
Defesa Civil.
Art. 29. Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
FERNANDO BEZERRA DE SOUZA COELHO

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ANEXO ÚNICO
CARTÃO DE PAGAMENTO DE DEFESA CIVIL
TERMO DE RESPONSABILIDADE DE PORTADOR
Eu, ________________________________________________, portador do RG nº _________ e CPF
nº_____________________, ciente do conteúdo da Lei nº 12.340, de 1º de dezembro de 2010, do Decreto nº 7.257,
de 04 de agosto de 2010, e suas alterações, e da Portaria do Ministério da Integração Nacional nº 607, de 19 de agosto
de 2011, assumo a responsabilidade pela utilização do Cartão de Pagamento de Defesa Civil - CPDC em
conformidade com a citada legislação, comprometendo-me a: I - utilizar o CPDC exclusivamente para aquisição de
materiais ou contratação de serviços relacionados a ações de socorro, assistência às vítimas e restabelecimento de
serviços essenciais, de acordo com os limites definidos pelo Representante Legal do ente beneficiário; II - manter a
guarda e uso pessoal e intransferível do Cartão; III - comunicar às autoridades sobre perda ou roubo do Cartão e
solicitar o respectivo bloqueio à instituição financeira; IV - não utilizar o CPDC no exterior; V - não realizar saque
em dinheiro; VI - guardar notas fiscais, recibos ou qualquer outro documento que comprove a despesa paga com o
CPDC, e que contenha, no mínimo: a) o nome do beneficiário do pagamento; b) o número no Cadastro de Pessoa
Física - CPF ou Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica - CNPJ; c) o endereço da pessoa física ou do estabelecimento
comercial; d) o valor pago; e e) a descrição sumária do objeto do pagamento, com quantitativos. VII - prestar contas
dos gastos realizados com o CPDC ao Representante Legal do ente beneficiário.
Data
Assinatura
Nome
Cargo
(Redação do Anexo Único dada pela Portaria nº 274, de 3 de julho de 2013, que altera a redação dada pela Portaria nº
37, de 31 de janeiro de 2012)

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Histórico da Defesa Civil no Mundo e no Brasil. Disponível


em:<http://www.integracao.gov.br/historico-sedec>. Acesso em: 8 de maio de 2014.

______. Ministérios das Relações Exteriores. Disponível em:


<http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/2005/01/14/conferencia-
mundial-sobre-prevencao-de-desastres>. Acesso em: 07 de maio de 2014.

______. Ministério da Integração Nacional. (MI). Secretaria Nacional de Defesa Civil.


(SEDEC). Conferência geral sobre desastres: para prefeitos, dirigentes de instituições
públicas e privadas e líderes comunitários. Brasília: MI., 2007. 23p. Disponível em: <
http://www.integracao.gov.br/c/document_library/get_file?uuid=3ade3b52-fa33-4aec-af1e-
1f7d17c3df1d&groupId=10157>. Acesso em: 08 de maio de 2014.

______. Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, Universidade Federal de Santa


Catarina. Gestão de Desastres e Ações de Recuperação. Florianópolis: Centro
Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres, 2014.

______. Lei nº 12.608, de 10 de abril de 2012. Dispões sobre Institui a Política Nacional de
Proteção e Defesa Civil - PNPDEC; dispõe sobre o Sistema Nacional de Proteção e Defesa
Civil - SINPDEC e o Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil - CONPDEC;

______. Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Defesa Civil. Instrução


Normativa nº 01, de 24 de agosto de 2012. Dispões sobre procedimentos e critérios para
Decretação de Situação de Emergência ou Estado de Calamidade Pública.

_______. Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Defesa Civil. Sistema


Integrado de Informações sobre Desastres – S2ID. Brasília: CEPED/UFSC, 2012.

______. Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil. Curso de Capacitação para


Ações de Redução do Risco de Desastres. Brasília: Departamento de Minimização de
Desastres, 2011.

______. Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil. Construindo Cidades Resilientes:


Minha Cidade Está se Preparando. Brasília: Departamento de Minimização de Desastres,
2011.

_______. Ministério a Integração Nacional. Secretaria Nacional de Estudos e Pesquisas


sobre Desastres. Universidade Federal de santa Catarina. Centro Universitário de Estudos e
Pesquisas sobre Desastres. Guia de orientações para elaboração de exercícios
simulados de preparação para os desastres. Florianópolis: CEPED, 2011.

______. Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Defesa Civil. Curso de


Gestão Integrada em Defesa Civil. Brasília - DF, 2010.

_______. Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Defesa Civil.


Universidade Federal de Santa Catarina. Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre

192
Desastres. Comunicação de riscos e de desastres. Curso à distância. Florianópolis:
CEPED, 2010.

_______. Ministério a Integração Nacional. Secretaria Nacional de Defesa Civil.


Universidade Federal de Santa Catarina. Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre
Desastres. Gestão de riscos e desastres: contribuições da Psicologia. Curso à
distância. Florianópolis: CEPED, 2010.

______.1ª Conferência Nacional de Defesa Civil e Ajuda Humanitária: por uma ação integral
e contínua: Diretrizes aprovadas. Brasília: Secretaria Nacional de Defesa Civil, 2010.
Disponível em: <http://www.conferenciadefesacivil.org/ downloads/1_cndc/CNDC_caderno_
diretrizes.pdf>. Acesso em 20 mai 2010.

_______. Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Defesa Civil.


Universidade Federal de Santa Catarina. Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre
Desastres. Construindo comunidades mais seguras: preparando para a ação cidadã
em Defesa Civil. Curso à distância. Florianópolis: CEPED, 2009.

______. Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Defesa Civil. Manual de


Planejamento em Defesa Civil. Brasília - DF, 2009.

______. Secretaria Nacional de Defesa Civil, 2006. In: Marco de Ação de Hyogo para
2005-2015: Aumento da Resiliência das Nações e das Comunidades frente aos Desastres.
p. 6.

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Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2013. 358 p. – (Serie legislação; n. 94).
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BRÜGGEMAN, Fábio. Percepção de risco : a descoberta de um novo olhar : livro do


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