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2023
Revista do NU-SOL — Núcleo de Sociabilidade Libertária
verve
verve
Revista Semestral do Nu-Sol — Núcleo de Sociabilidade Libertária
44
2023
VERVE: Revista Semestral do NU-SOL - Núcleo de Sociabilidade Libertária/
Nº44 (Outubro 2023). São Paulo: Nu-Sol, 2023 - semestral
ISSN 1676-9090
Editoria
Nu-Sol
Conselho Editorial
Conselho Consultivo
ISSN 1676-9090
verve
verve
incontornável anarquia
62 unavoidable anarchy
Edson Passetti
inferno na terra
201 hell on earth
Alexander Berkman
14 de maio de 1925
may 14, 1925
210 [Página única 2]
Kaneko Fumiko
pena de morte
225 death penal
Elisée Reclus
18 de julho de 1925
232 july 18, 1925
[Página única 3]
Kaneko Fumiko
resenhas
em defesa da democracia!
237 in defense of democracy
Acácio Augusto
nu-sol
1
Fita versus transcrição foi um debate presente nos primórdios da História
Oral contemporânea, quando, devido à praticidade na consulta e à
economia, ao dispor da segunda se apagava a primeira. Para uma crítica
desse extermínio da palavra falada, ver Portelli, 1997.
2
Maneira divertida pela qual Foucault se refere ao objeto-livro em A
arqueologia do saber.
3 de janeiro de 1973
Nesta primeira aula, após breve exposição sobre Tristes
Trópicos — livro no qual Lévi-Strauss afirma que as socie-
dades se dividem em antropofágicas (assimilam o que há
de hostil) e antropoêmicas (excluem-no ou o “vomitam”)
—, embora não rechace a hipótese do etnólogo e reco-
nheça dela já ter feito uso (e talvez abuso), Foucault não a
considera operacional para uma análise histórica.
Nesse aspecto, apreende-se uma das coerências3 fou-
caultianas: o filósofo frisa que a noção de exclusão fora
útil para contrapor-se a noções psicológicas, sociológicas
ou psicossociológicas — como desvio, inadaptação, ano-
malia —, tendo possuído até certo momento uma função
de “inversão crítica”; presentemente, contudo, ela só nos
ofereceria o estatuto de indivíduos ou grupos excluídos
“no campo das representações sociais” (Foucault, 2015, p.
4), sendo incapaz de analisar as relações de poder a partir
das quais a própria exclusão se efetua. Tal noção parece
referir-se, ademais, a uma espécie de “consenso social”
veiculado por um ato global, ao passo que talvez existam
“várias instâncias perfeitamente especificadas, por con-
seguinte definíveis, de poder que são responsáveis pelos
mecanismos de exclusão” (Idem, p. 5).
Um motivo adicional para o descarte da noção remete
ao par assimilar versus rejeitar, “metáfora digestiva” inca-
3
É quase onipresente a estratégia foucaultiana de conceder valor a conceitos
ou procedimentos até certo ponto do tempo, para rejeitá-los quando,
modificadas as condições, não mais se mostram politicamente úteis.
4
Além da transcrição feita por Jacqueline Germé, a edição se baseou no
manuscrito preparatório.
31 de janeiro de 1973
Foucault sublinha a impossibilidade de derivar a pri-
são da literatura jurídica do século XVIII. Em nova varia-
ção quanto a posturas anteriores, especialmente quanto a
Teorias e Instituições Penais (TIP), observa: “Até agora, es-
tudávamos [...] de que modo, no interior do sistema penal
[...], se interligam ideias ou instituições. Agora, trata-se
de descobrir quais foram as relações de poder que possi-
bilitaram a emergência histórica de algo como a prisão.
Após uma análise de tipo arqueológico, trataremos de fa-
zer uma análise de tipo dinástico, genealógico, sobre filia-
ções a partir das relações de poder” (Ibidem, p.78).
Ao longo dessa aula, rejeitando análises representati-
vo-simbólicas — a prisão como um análogo laico do con-
vento —, Foucault se volta para certos movimentos sociais
ingleses que, em suas ações de enquadramento moral de
populações, inauguram um exercício de poder que se pode
chamar, como faziam metodistas e quakers, de “penitenci-
ário”: “Termo incrível. Com efeito, como se pode falar de
penitência numa época em [...] que só pode haver crime
quando a sociedade é lesada, e só pode haver pena quando
a sociedade tem de se defender, não podendo haver rela-
ção fundamental entre pecado e crime, pena e penitência?”
(Ibidem, p. 83).
Não acompanharemos Foucault nos detalhes relativos
a essa “cristianização do crime”, contentando-nos em res-
saltar que ela não se faz por derivação lógico-proposicional,
mas pelas formas propagativas, e quase sempre paradoxais,
que caracterizam as relações de poder. Nosso interesse é
sublinhar momentos do “andar” foucaultiano através dos
quais ele compõe os seus (e os nossos) “caminhos”. No
21 de fevereiro de 1973
Foucault revê posições que defendera em TIP: a emer-
gência da prisão fora, na época, associada à repressão pela
burguesia da “plebe sediciosa”, articulando-se o par políti-
co repressão-plebe ao par conceitual prisão-delinquência.
As objeções foucaultianas a categorias pautadas na ne-
gatividade são acompanhadas, nessa aula, pela substitui-
ção da ideia de plebe sediciosa pela de ilegalismos populares.
Como assinala o filósofo: “... parece-me que o mecanismo
que trouxe a formação desse sistema punitivo é, em certo
sentido, mais profundo e mais amplo do que o mecanismo
de simples controle da plebe sediciosa. [...]; até o fim do
século XVIII, certo ilegalismo popular era não só compa-
tível com o desenvolvimento da economia burguesa, como
também útil a ele; chegou um momento em que esse ile-
galismo [...] tornou-se incompatível com ele” (Foucault,
2015, p. 130).
Foucault assevera que, no século XVII, havia três tipos
principais de ilegalismo: o popular, o comercial e o privi-
legiado. Mas considera primordial um quarto, que fazia o
sistema funcionar: o ilegalismo do próprio poder. A res-
peito, adenda: “Os representantes diretos do poder — in-
tendentes, subdelegados, tenentes de polícia —, [...] mais
que agentes da arbitrariedade ou da legalidade estrita, [...]
eram árbitros do ilegalismo [...]; o poder intervinha como
regulador desses ilegalismos” (Idem, p. 132).
O termo “ilegalismo” — objeto de gestão mais que de
interdição — foi desconsiderado pelas perspectivas pouco
matizadas de parte dos tradutores de Foucault no Brasil,
que muitas vezes o transformaram em “ilegalidade” —
caso da tradução de Vigiar e punir, por exemplo. Cumpre
28 de fevereiro de 1973
A aula dá seguimento ao debate sobre os ilegalismos
populares, a partir de certo momento sob cerrada vigilân-
cia da burguesia, ao contrário do que ocorrera no perío-
do pré-revolucionário, quando lhe eram primordialmente
benéficos e, em consequência, amplamente tolerados. O
que mais nos interessa nessa lição, porém, são detalhes
metodológico-conceituais situados nas últimas páginas.
Não é difícil perceber em ASP um curso corajoso e,
por esse motivo, incômodo para muitos. Ao longo da li-
ção em pauta, Foucault dá realce a brochuras anônimas,
arquivos departamentais e/ou escritos de juristas do início
do século XIX. Depois de análise detida da maneira como,
28 de março de 19735
Como não lhe era incomum, Foucault parece que
usará a aula de encerramento à guisa de resumo. Nessa
direção, reativa a pergunta “por que a prisão?”. Sim, pois
era (e ainda é) preciso perguntar por que, dado que ela é
historicamente nova (nasce no começo do século XIX),
teoricamente estranha (indedutível das teorias penais do
5
A última aula de ASP foi publicada no Brasil em 1979, sob o título “O
poder e a norma” (Foucault, 1979a).
7
Gros nos parece preciso ao ligar certas expectativas quanto à análise
foucaultiana do poder a História da Loucura (1961): já na primeira aula do
curso O poder psiquiátrico (1973-1974), Foucault (2006a) efetua uma análise
crítica de inúmeros aspectos de sua tese doutoral.
8
O procedimento permite internar pessoas sem julgamento legal, bastando
que o tenente de polícia forneça uma carta com selo real. Pesquisas
documentais de Foucault mostraram que as lettres de cachet foram menos um
dispositivo do absolutismo contra adversários políticos do que uma prática
disseminada entre pessoas comuns contra desafetos. Consultar Foucault e
Farge, 1982.
12
A sequência dentro-fora seria assim tão evidente em Foucault? Seria tão
nítida, ademais, a distinção dentro-fora?
13
“Eu sou um pirotécnico” é o título de uma entrevista concedida por
Foucault (2006, pp. 67-100), em 1975, a Jean-Paul Droit.
14
Foucault enfatiza serem os “textos nunca lidos” mais importantes nas
lutas discursivas do que qualquer “não-dito”. Ao definir genealogia no curso
Em defesa da sociedade (1976), situa seu gosto por esse nunca lido como
“maçonaria da erudição inútil” (Foucault, 1999, p. 7). Avaliamos que ela seria
bem útil, hoje, no que tange à relação dos comentadores com o próprio
Foucault.
15
Fala-se de um acerto de contas, em ASP, de Foucault com Louis Althusser.
Mas também é necessário frisar que a amizade entre eles foi preservada,
mesmo quando do opróbrio de Althusser devido ao suposto assassinato da
esposa, Helène, e consequente internação psiquiátrica. Ver Eribon, 1996.
16
Como se vê, a abelha é desqualificada seja por Marx, seja por membros
do aparato ditatorial brasileiro – rever texto da carteira de trabalho –, por
não se submeter à equivalência entre vida e trabalho.
17
As vicissitudes associadas a esses títulos enganadores estendem-se de
problemas editoriais aos prazos estabelecidos pelo Collège de France para
o anúncio de futuros cursos.
19
Entre eles, salienta-se Segurança, território, população (1978), onde “o
homem”, estudado arqueologicamente em As palavras e as coisas, é posto
em correspondência genealógica com a ideia de população e a biopolítica
(Foucault, 2008, p. 103).
20
O seminário de 1973 foi dedicado ao caso Pierre Rivière. Deleuze
participou dos encontros, embora não tenha contribuição escrita no dossiê
resultante, publicado no mesmo ano (Foucault,1988).
23
No sentido adotado por Haraway, 2016.
24
Essas alternativas, à época, incluíam: a criação de estabelecimentos-
modelo; a redução de suas dimensões, facultando o controle das penas pelos
próprios prisioneiros; o sursis em penas curtas, com liberdade condicional;
a liberdade vigiada com utilização de dispositivos eletrônicos. Não sendo
Foucault partidário de nenhuma delas, afirma-se que ele não seria um
abolicionista (Ferri, 2022, pp. 74-75.). Para um debate crítico permanente
relativo às formas que o abolicionismo pode assumir, consultar a coleção da
revista Verve, do Nu-Sol.
26
Foucault considera, inclusive, que isso pode não configurar um incômodo
para o capitalismo contemporâneo. Relembrando os “rapazes corajosos”
(Foucault, 2022a, p. 46) do GIP – uma delinquência ainda forjada pela
prisão tradicional –, supõe que dificilmente estariam aptos a responder por
tráficos internacionais de armas, drogas, dinheiro etc.
Referências bibliográficas
Becker, Howard. Métodos de pesquisa em ciências sociais.
Tradução de Marco Estevão e Renato Aguiar. São Paulo,
Hucitec, 1994.
Chartier, Roger. “O poder, o sujeito, a verdade. Foucault
leitor de Foucault”. In: À beira da falésia: a história entre
incertezas e inquietudes. Tradução de Patrícia Chittoni
Ramos. Porto Alegre, Ed. da UFRGS, 2002.
Deleuze, Gilles. Foucault. Tradução de Claudia Sant’Anna
Martins. São Paulo, Brasiliense, 1988.
Resumo:
A sociedade punitiva, curso de Michel Foucault no Collège de
France, é abordado como acontecimento, no intuito de fortalecer
suas ressonâncias no presente.
Palavras-chave: oralidade em Foucault, comentadores de
Foucault, inflexões metodológico-conceituais, Deleuze e
Foucault.
Abstract:
The punitive society, Michel Foucault’s lectures at the Collège
de France, is approached as an event, in order to strengthen its
resonances in the present.
Keywords: orality in Foucault, Foucault’s commentators,
methodological-conceptual inflections, Deleuze and Foucault.
incontornável anarquia
edson passetti
1
Rodrigues, Heliana B. de C. “Michel Foucault no Brasil – Esboços da
história do presente”. In Verve 19. Nu-Sol: São Paulo, 2011, pp. 93-112.
Disponível em: https://www.nu-sol.org/wp-content/uploads/2018/01/
verve19.compressed_compressed.pdf e, em definitivo, em Heliana B. de C.
Rodrigues (2016).
um pesquisador
Na aula inaugural desse curso, Foucault situa as quatro
formas de táticas punitivas que abordará: exclusão;
2
Lei 10.792 de 1º de dezembro de 2003.
Referências bibliográficas
Binet, Laurent. Quem matou Roland Barthes?. Tradução de
Rosa F. d’Aguiar. São Paulo, Companhia das Letras, 2016.
Char, René. O nu perdido e outros poemas. Tradução de
Contador Borges. São Paulo, Iluminuras, 1993.
Deleuze, Gilles. Sobre o teatro: um manifesto de menos, o es-
gotado. Tradução de Fatima Saadi, Ovídio Abreu, Roberto
Machado. Rio de Janeiro, Zahar, 2010.
Dostoiévski, Fiódor. Os demônios. Tradução de Paulo
Bezerra. São Paulo, 34 Letras, 2004.
Foucault, Michel. Isto não é um cachimbo. Tradução de
Jorge Coli. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1988.
Resumo:
Um percurso anarquista em Michel Foucault a partir de A
sociedade punitiva até a sociedade sem penas e castigos.
Palavras-chave: anarquismos, ilegalismos, punição, sociedade
civil, abolicionismo penal.
Abstract:
An anarchist course in Michel Foucault from The punitive
society to the society without penalties and punishments.
Keywords: anarchisms, ilegalisms, punishment, civil society,
penal abolitionism.
medidas socioeducativas:
o sentido produtivo da punição
Referências bibliográficas
Arantes, Esther M.M. “Dos livres e dos cativos - Breves
apontamentos sobre a História das Crianças no Brasil”. In:
Serviço Social Em Debate, 5(1), 2022, pp. 6-18. Disponível
em: https://revista.uemg.br/index.php/serv-soc-debate/arti-
cle/view/6346 (acesso em 10 de junho de 2023).
Batista, Vera Malaguti. “Adeus às ilusões “re””. In: Coimbra,
C. M.; Ayres, S.M.L.; Nascimento, M.L. Pivetes. Encontros
entre a psicologia e o judiciário. Rio de Janeiro, Ed. Juruá, 2008.
Brasil. Código de Menores, 1927.
Brasil. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei 8.069 de
1990.
Brasil. Relatórios Ministeriais (1921-1960). Brazilian
Government Documents. Disponível em: https://www.crl.
edu/brazilian-government-documents (acesso em 10 de ju-
nho de 2023).
Curi, Tatiane V. Proteção Integral ao Adolescente a acusado
de ato infracional no Estado do Rio de Janeiro: Uma análi-
se da Confusão de Vias no âmbito do Poder Judiciário. Tese de
Resumo:
A pesquisa genealógica apresentada no curso de Michel Foucault A
sociedade punitiva é uma expressiva contribuição ao debate sobre
o sentido produtivo da punição e, em especial, da prisão. Longe do
moralismo contido no ideário liberal, Foucault apresenta as práticas
punitivas, com foco nas institucionalizadas, como instrumentos
do Estado; como tecnologias de governo. A atualidade do seu
discurso, no debate sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente
de 1990, está no fato de ele ser assumido internacionalmente
como uma legislação transformadora, malgrado propor “medidas
socioeducativas” que não são mais que modulações de um discurso
carcerário, incorporando explicitamente a educação formal à arte
do bem punir.
Palavras-chave: Medidas socioeducativas, punição, Estatuto
da Criança e do Adolescente.
Abstract:
The genealogical research presented in Michel Foucault’s
course The punitive society is an expressive contribution
to the debate about the productive sense of punishment and,
specially, of the prison. Far from the moralization of the
liberal thought, Foucault presents the punitive practices,
above all the institutionalized ones, as State instruments; as
governmental technologies. The actuality of his discourse is in
the debate about the Child and Adolescent Statute of 1990,
assumed internationally as a transformed legislation, despite
it proposes the “socioeducational measures”, that are nothing
else than modulations of a prisoning speech, incorporating
explicitly formal education to the art of the good punishment.
Keywords: Socioeducational measures, punishment, Brazilian
Child and Adolescent Statute.
Socio-educational measures: the productive sense of
punishment, Estela Scheinvar & Esther Maria de
Magalhães Arantes.
azucrinar dissidências:
estrondos em constelações libertárixs
1
Os quakers avançaram pelo século XX envolvidos com a questão penal.
Na década de 1980, organizaram a primeira Conferência Internacional
para a Abolição da Prisão (ICOPA). Foi uma importante procedência
para os movimentos abolicionistas anglófonos, propiciando espaços de
articulação das estratégias abolicionistas, nos quais Louk Hulsman teve
presença decisiva (Salles, 2011). “Hulsman soube destacar com precisão
a conduta religiosa da atitude dos quakers como abolicionistas” (Passetti,
2020, p. 5). Foucault, em um período entre Voltairine de Cleyre e Louk
Hulsman, fechou o cerco contra os quakers estancando como reforçaram a
autoridade do Estado no intuito de corrigir imoralidades e “dominar o mal
na sociedade” (Foucault, 2015, p. 157).
2
No Brasil, Margareth Rago em Do cabaré ao lar: a utopia da cidade disciplinar
e a resistência anarquista – Brasil 1890- 1930 (2014); na Argentina, Laura
Cordero Fernandez em Amor y anarquismo: experiencias pioneras que pensaron
y ejercieron la libertad sexual (2017); na Espanha, Richard Cleminson em
Anarquismo y sexualidad (España, 1900-1939) (2008) e Piro Subrat em
Invertidos y rompepatrias: marxismo, anarquismo y desobediencia sexual y de
género en el estado español (1868-1982) (2019); nos Estados Unidos, Terence
Kissack em Free Comrades: Anarchism and Homosexuality in the United States,
1985-1917 (2008).
Referências bibliográficas
Baigorria, Osvaldo. “¿Prólogo? Preferiría no escribirlo” in
Baigorria (Org.) Con el sudor de tu frente: argumento para
la sociedad del ocio. Buenos Aires, Interzona Editora, 2014,
pp. 09-20.
Clastres, Pierre. A sociedade contra o Estado – ensaio de
antropologia política. Tradução de Theo Santiago. São
Paulo, Cosac Naify, 2012.
Resumo:
A partir do curso A sociedade punitiva de Michel Foucault,
apresenta-se uma constelação de práticas libertárias de
combate à moral, seus indissociáveis castigos e recompensas, e às
penalizações da existência. Não há sossego entre xs libertárixs,
nem síntese, dissidência ou hegemonia possível, mas uma
multiplicidade de lutas em invenções de vidas livres.
Palavras-chave: penalizações, castigos, dissidência,
resistências, anarquistas.
Abstract:
Michel Foucault’s course The punitive society, presents a
constellation of libertarian practices to combat morality, its
inseparable punishments and rewards, and the penalisations
of existence. There is no peace among libertarians, no synthesis,
dissidence, or possible hegemony, but a multiplicity of struggles
in inventions of free lives.
Keywords: penalisations, punishments, dissidence, resistances,
anarchists.
articulações:
a sociedade punitiva e os
cancelamentos midiáticos
introdução
Diante das inúmeras leituras e “aplicações” que a obra
de Michel Foucault nos oferece, neste texto exploraremos
algumas articulações entre, de um lado, vários insights
que o filósofo desenvolveu no curso La société punitive —
ministrado no Collège de France, no primeiro trimestre
de 1973 —, e, de outro lado, o atual fenômeno midiático
conhecido sob a denominação geral de cancelamento
midiático. Entendemos que, especialmente no Brasil,
tais articulações se ampliaram e se reforçaram graças aos
1
Usamos o neologismo sindemia, criado por Singer (2009) na década de
1990, para designar uma pandemia cujos efeitos resultam da combinação
entre um agente patogênico e diversos fatores socioeconômicos, culturais
e geográficos. Tais fatores em geral se reforçam (sinergismo positivo); mas
às vezes se anulam (sinergismo negativo). Para detalhes, vide Swinburn et
al (2019).
cancelamentos midiáticos
Para começar, aqui não nos interessa entrar nos debates
acerca das possíveis diferenças entre as expressões mídias
sociais e redes sociais. Basta compreendermos que ambas
assumem a praticidade, a potência e a plasticidade das
comunicações telemáticas via internet. Também não
nos interessam os detalhes sobre o funcionamento e a
qualidade das diferentes plataformas eletrônicas sobre as
quais operam tais comunicações.
O nosso interesse é explorar a produtividade e os efeitos
dos dispositivos envolvidos nas mídias e redes, na forma
daquilo que chamamos de tribalização telemática para, a
partir daí, fazermos as conexões entre os cancelamentos
midiáticos — ou, simplesmente, cancelamento — e o curso
A sociedade punitiva.
A potência, versatilidade, rapidez e o baixo custo
daqueles dispositivos funcionam como condições de
possibilidade para a formação de grupos afinados e coesos
em torno de crenças, princípios e objetivos comuns. Assim,
usamos as expressões “tribos telemáticas” e “tribalização
telemática” para nos referirmos, respectivamente, àqueles
grupos e aos processos envolvidos na sua formação e
funcionamento.
Por si só, a tribalização não é um conceito novo para
a Sociologia, a Psicologia Social, a Antropologia etc. O
que é novo agora é a ampla propagação e o fortalecimento
desse fenômeno, graças à combinação entre, de um lado,
as facilidades oferecidas pela telemática e, de outro lado,
o crescimento dos conflitos sociais e políticos de toda or-
dem, no âmbito planetário.
enfim...
Em sintonia com os argumentos de Veiga-Neto (2017),
em Gloria victis,aqui sugerimos que os cancelamentos midiáticos
baseados em decisões radicais e aderentes à negação abstrata
hegeliana são um caso de “glória aos vencidos”4. Afinal, tais
4
Em latim, esta exaltação, conhecida como gloria victis — “glória aos
vencidos” — , aponta para o fato de que o heroísmo não está implicado
necessariamente com a vitória de um herói, mas sim com a sua capacidade
de enfrentar, contornar ou suportar as dificuldades que se lhe interpõem.
Assim, a glória não decorre propriamente da vitória, mas do enfrentamento
corajoso e estratégico diante das adversidades.
5
Para uma abordagem detalhada do Tradicionalismo como ideologia
reacionária, vide Teitelbaum (2020).
Referências bibliográficas
Cunha, Ana Carolina; Baroni, Lívia; Teixeira, Carla.
“Cultura do cancelamento: punição e controle das redes
sociais a partir da análise do caso Pugliesi”. In: 43º
Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Salvador,
Intercom, 2020, pp. 1-14. Disponível em: https://www.
portalintercom.org.br/anais/nacional2020/lista_area_IJ-
DT6.htm (acesso em 10 de julho de 2023).
6
A autora e o autor agradecem ao Prof. Dr. Sandro Bortolazzo, pelas
sugestões e pelo material disponibilizado.
140 verve, 44: 129-143, 2023
verve
articulações: a sociedade punitiva e os cancelamentos midiáticos
Resumo:
O texto aborda o fenômeno dos cancelamentos midiáticos como
atualização das práticas punitivas, articulando insights de
Foucault no curso La société punitive, ministrado no Collège
de France em 1973, com este fenômeno contemporâneo. Naquele
curso, Foucault explicita a exclusão como uma tática punitiva com
tríplice função: punição, higienização e exemplaridade. No Brasil,
os cancelamentos foram potencializados nos recentes anos de
governo fascista, em cenários marcados pela sindemia covídica.
As exclusões geradas pelos cancelamentos midiáticos podem tanto
gerar a eliminação do outro que diverge quanto produzir a glória
dos vencidos a partir da união e revolta dos cancelados.
Palavras-chave: exclusão, cancelamentos midiáticos, punição.
Abstract:
The text addresses the phenomenon of media cancellations
as a way of updating punitive practices,articulating
insights developed by Foucault in the course La société
punitive, taught at the Collège de France in 1973, with this
phenomenon of contemporary cancellation. In that course,
Foucault explains excluding as a punitive tactic fulfilling a
triple function: punishment, hygiene and exemplarity. I In
Brazil, media cancellations were enhanced in recent years
of fascist government, in scenarios marked by the covid-19
syndemics. The exclusions generated by media cancellations
can both generate the elimination of the other that diverges
and produce the glory of the vanquished from the approach
and revolt of the cancelled.
Keywords: exclusion, media cancellations, punishment.
The punitive society and media cancellations, Maura
Corcini Lopes & Alfredo Veiga-Neto.
impedimento e interdição:
a problemática da sexualidade na era
da sociedade punitiva
ernani chaves
1
Já existe uma bibliografia significativa no Brasil acerca das relações entre
Foucault e Thompson. Entretanto, salvo engano, a grande maioria desses
trabalhos foram escritos antes da publicação de A sociedade punitiva na França,
em 2013, e no Brasil, em 2016. O estudo das fontes de Foucault é um projeto
que desenvolvo há alguns anos, como uma maneira de auxiliar na compreensão
do seu pensamento. Uma referência elogiosa à “escola histórica de Cambridge”
se encontra em “Sobre os modos de escrever a história”, entrevista de Foucault
em 1967 (Dits et écrits, I, 1994, p. 585). Todas as traduções de textos em língua
estrangeira são de minha inteira responsabilidade.
2
O volume III de A formação da classe operária inglesa se abre com a história
posterior desse “radicalismo popular”, que “não se extinguiu quando foram
dissolvidas as sociedades de correspondência, suspenso o habeas corpus e
proscritas todas as manifestações ‘jacobinas’” (Thompson, 1989, p. 9).
3
Quase um mês depois, na aula de 28 de março de 1973, Foucault mais
uma vez destaca o papel singular da prisão, na medida em que, após a
sua criação, as outras formas de punição clássica, tais como o pelourinho,
o esquartejamento, o enforcamento e a fogueira, foram desaparecendo
(Foucault, 2013, p. 228).
4
Ver em especial o capítulo VIII (Hobsbawm, 1970).
5
Segundo Patrick Colquhoun, que escreveu uma história da
polícia de Londres, publicada em 1797, na virada do século
XVIII para o XIX, havia em Londres “50.000 prostitutas, mais
de 5.000 taberneiros e 10.000 ladrões” (Thompson, 1997, p. 57).
Um dos mestres de Thompson, Christopher Hill, escreveu um
livro fundamental a respeito dos mesmos temas, o do cruzamento
entre religião e moralidade, com destaque às questões sexuais, que
Foucault, infelizmente, não cita: O mundo de ponta-cabeça. Ideias
radicais durante a Revolução Inglesa de 1640.
6
Esse trecho se encontra nas anotações de Blake para a Bíblia do Bispo
Watson (1797). Agradeço a Edesio Fernandes por ter me indicado a
referência precisa desse trecho.
Referências bibliográficas
Foucault, Michel. La société punitive. Paris, Gallimard/
Seuil, 2013.
________. Vigiar e punir. Tradução de Raquel Ramalhete.
Petrópolis, Vozes, 1977.
________. A verdade e as formas jurídicas, 3ª ed. Tradução
de Roberto Cabral de Melo Machado e Eduardo Jardim
de Moraes. Rio de Janeiro, Nau Editora/Editora Trarepa
Ltda., 2002.
________. “Sur les façons de’écrire l’histoire”. In: Dits et
écrits I. Paris, Gallimard, 1994.
Harcourt, Bernard. “Situation du cours”. In: Foucault,
Michel. La société punitive. Paris, Gallimard/Seuil, 2013.
Hobsbawm, Eric. Rebeldes Primitivos. Tradução de
Waltensir Dutra. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1970.
Hill, Cristopher. O mundo de ponta-cabeça. Ideias
radicais durante a Revolução Inglesa de 1640. Tradução
Resumo:
O objetivo deste artigo é mostrar que a questão da sexualidade
é um tema necessariamente presente, quando se trata de
pensar o modo pelo qual se constituiu na nossa cultura um
modo de exercício do poder, relacionado à constituição do
que Foucault chamou de “sociedade punitiva” e que chamará
de “poder disciplinar”. Trata-se, no fundo, de entender duas
coisas: em que medida os argumentos de Foucault devem aos
historiadores anglo-saxões, em especial Edward Thompson, a
propósito do processo de moralização das penas e por qual razão
será justamente a escola a instituição encarregada de tornar
a questão da sexualidade parte fundamental dos processos de
normalização das condutas.
Palavras-chave: penalidade, moral, religião, sexualidade,
escola.
Abstract:
The purpose of this article is to show that the issue of sexuality
is a necessarily present theme when it comes to thinking about
the way in which a way of exercising power was constituted
in our culture, related to the constitution of what Foucault
called a “punitive society”. and what he will call “disciplinary
power”. Basically, it is a matter of understanding two things:
to what extent Foucault’s arguments owe to Anglo-Saxon
historians, especially Edward Thompson, regarding the process
of moralization of penalties and why school will be precisely
the institution in charge of making the issue of sexuality is a
fundamental part of the processes of normalization of conduct.
Keywords: penalty, morals, religion, sexuality, school.
Impediment and interdiction: the problem of sexuality in
the age of the punitive society, Ernani Chaves.
a sociedade punitiva:
entre o cinismo dos ilegalismos
burgueses e as lutas anárquicas
propósito geral
Em largos traços, é quase imediato associar o nome de
Michel Foucault à autoria de Vigiar e Punir. No Brasil, o
aparecimento deste livro se deu em 1977, dois anos após a
sua publicação original. A recepção do texto não pode ser
desprezada do contexto da ditadura civil-militar pela qual
estávamos atravessados. Os componentes sócio-históricos
das violências perpetradas pelo regime ditatorial logo fi-
zeram que o acolhimento das ideias de luta em torno da
dissolução da punição ganhasse contornos de sentido. De
imediato, denunciar as formas pelas quais se pulverizavam
táticas punitivas, para além das torturas habituais, seques-
Referências bibliográficas
Filordi de Carvalho, Alexandre. “Sociedade capitalista e
produção disciplinar excludente: a atualidade de Vigiar e
Punir na compreensão da função-sujeito contemporânea”.
In Alexandre Filordi de Carvalho; Silvio Gallo (org.).
Repensar a educação: 40 anos após Vigiar e Punir. São Paulo,
Editora da Física, 2015.
Filordi de Carvalho, Alexandre; Ribeiro, Carlos Eduardo.
“Como nos tornamos uma sociedade punitiva?”. In:
Revista Cult, n. 293, maio de 2023, São Paulo, Editora
Bregantini, pp. 39-42.
Foucault, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Tradução
de Roberto Cabral de Melo Machado e Eduardo Jardim
Morais. Rio de Janeiro, NAU/PUC-Rio, 1996.
___________. “O Anti-Édipo: uma introdução à vida
não fascista”. In Cadernos de Subjetividade. Tradução de
Fernando José Fagundes Ribeiro. São Paulo, número
especial, junho de 1996, p. 200.
___________. Vigiar e Punir. História da violência nas
prisões. Tradução de Raquel Ramalhete. Petrópolis,
Vozes, 1997.
____________. Do governo dos vivos. Tradução de Eduardo
Brandão. São Paulo, WMF Martins Fontes, 2014.
____________. A sociedade punitiva. Tradução de Ivone
C. Benedetti. São Paulo, WMF Martins Fontes, 2015.
Harcourt, Bernard. “Situação do curso”. In: Michel
Foucault. A sociedade punitiva. Tradução de Ivone C.
Benedetti. São Paulo, WMF Martins Fontes, 2015, pp.
243-281.
Resumo:
Neste texto, analisamos o curso de Michel Foucault no Collège
de France em 1973, A sociedade punitiva, como um dos pontos
de inflexão em sua analítica do poder, propondo que ele pode ser
relido hoje a partir dos cursos posteriores, em que se marcaria
a mudança de uma analítica saber-poder para o contexto do
governo dos humanos pela verdade. Na primeira parte, o
enfoque recai sobre a compreensão de alguns elementos fundantes
das “escolhas” privilegiadas historicamente para se fundar e se
manter a sociedade punitiva; na segunda, analisamos as possíveis
resistências à sociedade punitiva, constituindo-se também como
lutas contra o capitalismo, em uma forma anárquica de desconfiar
e resistir dos micropoderes que enredam a teia social.
Palavras-chave: sociedade punitiva, poder disciplinar, resistência.
Abstract:
In this paper we analyze Michel Foucault’s course at the Collège de
France in 1973, The punitive society, as one of the inflection points
in his analysis of power, proposing that it can be read today from
the later courses, which would mark the change from an analytical
knowledge-power to the context of the government of humans by
truth. In the first part, the focus falls on the understanding of some
founding elements of the historically privileged “choices” to found
and maintain the punitive society; in the second, we analyze
the possible resistance to the punitive society, also constituting
struggles against capitalism, in an anarchic way of distrusting
and resisting the micropowers that entangle the social web.
Keywords: punitive society, disciplinary power, resistance.
The punitive society: between the cynicism of bourgeois
illegalisms and anarchic struggles, Alexandre Filordi de
Carvalho e Silvio Gallo.
P: E a sua família?
1
O Grande Terremoto aconteceu em 1923 na região de
Kanto e devastou Tóquio e as cidades próximas.
tenha sido tão idiota a ponto de aceitar bebês
impingidos como seus imperadores.
inferno na terra…1
alexander berkman
3
Western Penitentiary, como era conhecida a penitenciária do Estado da
Pensilvânia localizada no oeste do estado, esteve em funcionamento de
1826 a 2017. Em 1882, a prisão mudou de localização, e o antigo prédio foi
transformado em Aviário Nacional. Atualmente, o lugar da penitenciária é
alugado para produção de filmes, e utilizado para treino de cães policiais.
A prisão também abriga uma grande colônia de gatos, que acredita-se que
estejam na localidade desde o início (https://www.pghprisoncats.org/)
(N.T.).
5
A referência aqui é a companhia mineradora Anaconda Copper Mining,
conhecida na época como Amalgamated Copper Company (N.T.).
(abertura omitida)
1
Nome mais conhecido da cidade de Seul, capital da
Coreia, até 1946, ano do fim do domínio japonês.
(N.E.)
o cortejo de casamento fosse realizado em um
futuro próximo. Lembro que foi por causa disso
que Pak foi para Gyeong-seong, para que eu
tivesse uma bomba a tempo para essa incrível
oportunidade.
2
Sang-ok foi integrante da resistência à invasão
da Coreia no começo do século XX, lançou uma bomba
contra a polícia de Jongno em Seul em janeiro de
1923. Morreu baleado pela polícia alguns dias
depois.
4
Uma rede de lojas de departamentos japonesa.
P10: Pak tinha o mesmo objetivo principal
de jogar uma bomba em Sua Majestade?
R: Ele tinha.
5
A Era Meiji era dividida entre classes formais,
como a nobreza — os descendentes dos samurais — e
a plebe.
que representa o que acabei de escancarar:
o direito divino dos imperadores. Qualquer
pessoa que nasce em solo japonês recebe
essa ideia, até mesmo os alunos do ensino
fundamental. Com o objetivo de impressionar as
pessoas inocentes com noções de que o próprio
Imperador é descendente dos deuses, ou que
seu direito de governar é algo concedido por
decreto dos deuses, ou então que o Imperador
é alguém que controla o poder do Estado para
realizar a vontade dos deuses, e, portanto,
a lei é a vontade dos deuses. Isso é baseado
em lendas fantásticas, e eles se vangloriam e
oferecem solenemente louvores às coisas como
um espelho, uma espada e uma joia6 como se estes
tivessem sido dados pelos deuses, enganando
completamente as pessoas. As pobres pessoas
enganadas, envolvidas nessas lendas absurdas,
consideram coisas como o governo e o Imperador
como deuses incríveis e sem comparação. Mas
se o próprio Imperador fosse um deus ou
descendente dos deuses, se o povo estivesse
sob a proteção desses deuses, existindo sob
os espíritos de gerações sucessivas desses
imperadores-deuses, nenhum soldado japonês
deveria morrer em tempos de guerra, nenhum
avião japonês deveria cair do céu, e algumas
6
Itens conhecidos como os Três Tesouros Sagrados
(sanshi no jingi). De acordo com a lenda, eles
foram trazidos para a Terra pela linhagem imperial
japonesa.
dezenas de milhares de súditos leais não
deveriam morrer pelos deuses em seu próprio
quintal devido a um desastre natural como o do
ano passado7.
7
Referência ao Grande Terremoto de 1923, quando
mais de 140.000 pessoas morreram, muitas delas por
conta do fogo que se seguiu após o tremor.
ou não, em todo caso, é uma tão grande honra
ser governada por uma única linhagem? Já ouviu
falar de um imperador que se afogou e virou
comida de peixe, Antoku,8 ou algo assim, que
assumiu a responsabilidade de governante do
Japão com apenas dois anos de idade? Será que
vangloriar-se de um ser humano tão incapaz
como seu governante é realmente a glória dos
governados? Em vez disso, conceder a uma linha
imperial de dez mil anos o poder de governar,
mesmo como uma formalidade, é a mais profunda
vergonha das pessoas nascidas em solo japonês
e a prova da ignorância do povo japonês.
8
Imperador Antoku (1178–1185) foi afogado por sua
avó quando ela pulou com ele no mar durante uma
batalha, para que ele não fosse capturado.
autoridade ou não. E esse padrão é a lei e a
moralidade criadas pelo homem.
pena de morte
elisée reclus
P2: Idade?
1
Este foi o primeiro interrogatório desde que Kaneko foi
indiciada por acusações adicionais.
2
O crime de alta traição de acordo com o Código Penal
Meiji.
a verdade, também não acredito. E mais, não
preciso acreditar. Não importa quantos anos
eu tenha, isso não tem nada a ver com como eu
vivo minha vida agora.
R: Prisão de Tóquio.
R: Cidade de Yokohama.
P8: Você possui algum posto, condecoração,
insígnia de serviço militar, aposentadoria,
pensão ou cargo público?
R: Eu li.
R: Não.
R: Nenhuma objeção.
R: Não.
verve
em defesa da democracia!
Resenhas
Em defesa da democracia!
ACÁCIO AUGUSTO
Expansão de vida.
O querido Zé Maria é uma presença de saúde imensa
e incessante no nu-sol e na verve. Uma saúde amiga sem
tamanho nem medida na nossa existência.
O livro continua. Para além desta resenha. Na canção,
coração é o quintal da pessoa. E há momentos na vida que,
como diz o dito popular, coração é terra aonde ninguém vai.
Ouviu o farfalhar das folhas?
O Zé? O Zé é todo coração.
NU-SOL
Publicações do Núcleo de Sociabilidade Libertária.
Aulas-teatro
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O autor deve enviar minicurrículo, de no máximo 03 linhas,
para identificá-lo em nota de rodapé, com endereço de e-mail
para contato.
Resumo:
Os artigos devem vir acompanhados de resumo de até 800
caractéres (aproximadamente 8 linhas) — em português e inglês
— e de três palavras-chave (nos dois idiomas).
Notas explicativas:
As notas, concisas e de caráter informativo, devem vir em
rodapé e não conter mais do que 4 linhas. Resenhas não devem
vir com notas explicativas.
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verve
Citações:
Para as referências bibliográficas ao longo do texto, use:
(Sobrenome do autor, data), (Sobrenome do autor, data, página),
(Sobrenome do autor, data, on-line);
As referências bibliográficas devem estar ao final do texto
observando o padrão a seguir:
I) Para livros:
Sobrenome, nome do autor. Título do livro. Cidade, Editora,
Ano.
Ex: Nascimento, Rogério. Florentino de Carvalho: pensamento
social de um anarquista. Rio de Janeiro, Achiamé, 2000.
259
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