Você está na página 1de 2

Imprimir Noticia Página 1 de 2

OPINIãO

Emprego vs empregabilidade
02 Agosto 2010 | 11:47
Luís Todo Bom -

A temática do Emprego tem assumido uma importância crescente nos últimos tempos
A temática do Emprego tem assumido uma importância crescente nos últimos tempos, não só por força da
crise económica e financeira que assola o País, como pela reflexão legal que tem sido desenvolvida em
torno desta variável de competitividade, com posições a extremarem-se, suportadas essencialmente numa
leitura político-partidária e não na realidade competitiva nacional.

Sumantra Ghoshal desenvolveu um conjunto de princípios e reflexões teóricas sobre este tema, no seu
livro "The Individualized Corporation", em que define uma nova doutrina de gestão suportada em quatro
acções essenciais:
• Alteração das fontes de vantagem competitiva das organizações, de activos e recursos para conhecimento
e criatividade;
• Alteração do contrato moral com as pessoas, de segurança do emprego para empregabilidade;
• Alteração da filosofia da organização, do homem da organização para a empresa dos indivíduos;
• Alteração do papel dos quadros de topo, da estratégia, estrutura e sistemas para propósito, processo e
pessoas (dos 3 Ss para os 3 Ps).

Em relação ao contrato moral com as pessoas, o autor defende uma alteração clara do paradigma actual
para um novo paradigma, caracterizados do seguinte modo:
No paradigma actual, os gestores de topo asseguram a competitividade, através do controlo sobre a
estratégia e assim garantem a segurança do emprego dos seus empregados; os empregados implementam
a estratégia dos gestores de topo com lealdade e obediência; e a segurança do emprego é conseguida
através da lealdade e obediência.

No novo paradigma, os empregados assumem a responsabilidade pela competitividade da empresa e pela


sua própria aprendizagem; os gestores de topo criam o contexto para a renovação e asseguram a
empregabilidade permanente dos seus empregados; a empregabilidade é garantida através da
responsabilidade na performance e aprendizagem contínua.

A ambição de todas as sociedades desenvolvidas reside na garantia de empregabilidade de todos os seus


cidadãos, assegurando a sua plena realização pessoal e profissional, num ambiente de elevada
competitividade e de capacidade de criação de riqueza das suas unidades empresariais.

A questão que se coloca é a seguinte: esta visão é realista ou é utópica?

Regressando ao modelo teórico de Sumantra Goshal, as quatro acções ou comportamentos que integram
uma nova doutrina de gestão constituem um sistema, pelo que a teoria só é válida se se verificarem
simultaneamente todos os seus pressupostos.

Começando pelo princípio, o novo modelo de empregabilidade está associado à alteração das fontes de
vantagem competitiva, que evoluem para o conhecimento e criatividade, ou seja, a empregabilidade exige
conhecimento e formação aprofundada em áreas específicas que permitam a criação de valor pelo
empregado que possui essas características e que deste modo se torna imprescindível para qualquer
organização.

A quarta acção do modelo contempla um "processo" através do qual as organizações evoluem do velho
para o novo paradigma, no qual se constrói a empresa dos indivíduos com empregabilidade assegurada.

Este modelo é, aliás, o primeiro modelo de gestão estratégica que eleva "o processo" a variável
estratégica, estabelecendo dum modo definitivo que não basta definir os objectivos estratégicos para onde
a organização decide caminhar, e que a estrutura e os sistemas não são suficientes, por si sós, para
garantir o sucesso destas acções.

http://www.jornaldenegocios.pt/imprimirNews_v2.php?id=437727 23-05-2012
Imprimir Noticia Página 2 de 2

O modelo estabelece, finalmente, que é necessária uma alteração significativa das características e
conhecimentos dos gestores de topo, ou seja, a existência de gestores de terceira geração com capacidade
de direcção e de transmissão de conhecimento, ensinando a fazer.

O caminho que o País deve percorrer é definitivamente este. As questões que se colocam residem no ritmo
de evolução e no processo de adopção desta nova filosofia de gestão empresarial.

As decisões sobre o esforço que estamos disponíveis para aceitar são nossas. Mas não vale a pena insistir
no velho paradigma do emprego garantido, sem uma base de conhecimento e de criatividade
permanentemente actualizada.
Porque esse modelo já não existe e não voltará a existir.

Professor Associado Convidado do ISCTE


Assina esta coluna mensalmente à segunda-feira

http://www.jornaldenegocios.pt/imprimirNews_v2.php?id=437727 23-05-2012

Você também pode gostar