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ENCONTRO DE CAPACITAÇÃO DE FORMADORES


(ECFOR-MG) UNIDADE DIDÁTICA 03

INTELIGÊNCIAS E FORMAS DE APRENDIZAGEM

OBJETIVOS:

Identificar as diversas inteligências


Identificar as principais formas de aprendizagem
Identificar ações pedagógicas que melhor respondam às
peculiaridades dos cursantes.

Conteúdos a serem abordados:

As inteligências múltiplas de Howard Gardner


As formas de apreensão
Adequação da ação pedagógica
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INTELIGÊNCIAS E FORMAS DE APRENDIZAGEM

Howard Gardner, à frente de uma equipe de pesquisadores da


Universidade de Harvard, lançou, em 1983, seu livro Frames of mind
(Estruturas da mente: a teoria das inteligências múltiplas primeira
edição brasileira em 1994), obra que representou uma quebra de
paradigma no que até então se concebia como inteligência.

Com a teoria das inteligências múltiplas, Gardner buscou


ultrapassar tanto a noção de que inteligência pudesse ser uma
capacidade que cada ser humano possuísse em maior ou menor
quantidade, quanto a suposição de que tal capacidade pudesse ser
medida e quantificada por testes padronizados. Como ele diria
posteriormente, procurou sair do modelo mental centrado no
pensamento e cultura ocidentais, na testabilidade quantificável de
capacidades humanas e na competitividade (os melhores escores nos
testes seriam indicadores de melhores condições de êxito), voltando-se
para a exploração da variedade das competências humanas e de suas
combinações (GARDNER, 1995).

Baseando-se na definição de inteligência que formulou, como


r produtos que sejam

p.x) tendo ainda o potencial para encontrar ou criar problemas e em


evidências biológicas e antropológicas, Gardner introduziu critérios para
caracterizar uma inteligência, e propôs sete (depois oito) capacidades
humanas como satisfazendo tais critério. Apontou, ainda, que outros
pesquisadores, trabalhando com diferentes parâmetros, podem
identificar dez, vinte ou trezentas inteligências candidatas.
Posteriormente, Gardner refinaria seu conceito de inteligência como
sendo:
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[...] um potencial biopsicológico para processar informação, que


pode ser ativado em um ambiente cultural, para resolver
problemas ou criar produtos valorizados em uma cultura. [...]
Inteligências não são coisas que podem ser vistas ou contadas.
Antes, são potenciais presumivelmente, neutros que serão ou
não ativados, dependendo dos valores de uma cultura particular,
das oportunidades disponíveis naquela cultura, e as decisões
pessoais feitas pelos indivíduos e/ou suas famílias, professores ou
outros (GARDNER, 1999a, p.33-34, tradução nossa).

Gardner ressalta, ainda, que a pessoa sempre manifestará o


uma inteligência em
forma pura só seria observável num excêntrico. Cada ser humano elege
suas formas preferenciais de perceber, processar, dar respostas e
problematizar o mundo. Elege como? Pelas suas propensões neurológicas
combinadas à influência do meio social.

Inteligência relaciona-se à capacidade de solucionar problemas


tidos como relevantes num certo contexto sociocultural; o que é
valorizado de uma forma no universo escolar pode ser diferentemente
valorizado, por exemplo, no cenário empresarial. Por outro lado, é bom
lembrar que totalmente orientado para o

sorte que o educando careceria de uma base humanística, que é a que


lhe dá mais sólidos elementos para associação cognitiva e para a conduta
ética.

Gardner e seus colegas buscaram indicar a diferença entre


inteligência e domínio; este é compreendido como uma área de
habilidades e conhecimentos na qual um indivíduo ou grupo pode
progredir, e aquela como a forma de processar informações para resolver
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problemas; assim, problemas em um mesmo domínio podem ser


resolvidos por formas diferentes. O domínio é construído pelo entorno
cultural, enquanto a presença da inteligência independe desse contexto
dependerá, sim, o seu maior ou menor emprego, conforme a valorização
de domínios que privilegiam esta ou aquela forma de processamento. Não
obstante Gardner (1994; 1995; 1999a) referir-se às inteligências como

apresenta, conforme citado linhas acima, de intelig


-34); competência é mais bem
definida como esse potencial posto em atividade.

Assim, pode-se perceber o encadeamento de conhecimento,


inteligências, domínios e competências: as inteligências são potenciais,
são formas de processar conhecimento; são passíveis de aplicação a um
ou mais domínios (campos do conhecimento), no(s) qual(is) a pessoa será
competente; ou seja, a competência é a manifestação da articulação de
inteligências em um ou mais domínios para resolução de problemas, cujo
exercício produzirá algo culturalmente valorizado.

Identificando as inteligências

As sete inteligências inicialmente identificadas foram reunidas


por Gardner (1994, p.213) em três grupos. O primeiro deles é o das

passíveis de modelagem pela estruturação do universo físico com o qual


o indivíduo tem contato; este grupo abrange as inteligências lógico-
matemática, espacial e corporal-cinestésica. O segundo é o das

de linguagem e música específicas, sem estarem sujeitas a modelagem


ou à canalização pelo mundo físico; neste grupo inserem-se as
inteligências linguística e musical. E o terceiro grupo é o das
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do eu, próprias e influenciadas pela cultura: as inteligências intrapessoal


e interpessoal. A posteriormente acrescentada inteligência naturalista
(GARDNER, 1999a) s

Inteligência lógico-matemática

A inteligência lógico-matemática baseia-se no encadeamento de


ideias, comparações, padrões, estimativas numéricas, classificação,
relações causais, reconhecimento da natureza das ligações entre
proposições, planejamento, cálculos em geral. Pode expressar-se não
apenas em linguagem matemática, mas também, por exemplo, na
construção de arrazoados por encadeamentos de silogismos, ou na
capacidade de fazer estimativas numéricas ou de praticar jogos de
raciocínio estratégico encadeado, como xadrez ou caravana. Pode-se
mencionar também o caso de Einstein, que, por meio de metaforização
matemática, tocava violino (processava linhas melódicas como se fossem
equações). Casos de excelência no emprego desta inteligência encontram-
se em matemáticos, enxadristas e cientistas.

Inteligência espacial

A inteligência espacial envolve: percepção de espaço; capacidade


de orientar-se e navegar; reconhecer e/ou reproduzir imagens, rostos,
paisagens, rotas e organização física do espaço ocupado; produção,
reconhecimento e manejo de formas; projeto, montagem e/ou
desmontagem de equipamentos e mecanismos. Não é necessariamente
visual. É de se ressaltar que o cego tende a ter uma espacialidade bem
desenvolvida mercê da necessidade de gerenciar o espaço de maneira
não-visual para deslocar-se dum lugar a outro e para manipular seu
entorno; o reconhecimento dos traços fisionômicos pelo tato baseia-se no
raciocínio espacial. Associada a uma boa coordenação motora fina, esta
forma de processamento mental permite proficiência nas artes plásticas.
Um dos seus mais conhecidos campos de aplicação é o de jogos como o
xadrez e o gamão, que envolvem a percepção da distribuição das peças
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no tabuleiro e as projeções dos futuros movimentos (aliando-se ao


raciocínio lógico-matemático no estabelecimento da lógica da sequência
das jogadas). O é um treinamento eminentemente espacial.
Casos de excelência no emprego desta inteligência encontram-se em
pilotos, navegadores, enxadristas, engenheiros/arquitetos, artistas
plásticos e desportistas em certas modalidades.

Inteligência corporal-cinestésica

A inteligência corporal-cinestésica envolve atividades físicas,


comunicação pela expressão corporal, trabalhos de precisão, criação e
imitação de movimentos e expressões. Seu sistema simbólico baseia-se
na atividade corporal, nas posturas, nas sensações. Envolve uma forma
própria de processar e articular tempos, ritmos, amplitude de
movimentos, equilíbrio, destreza, expressividade e mesmo elementos
cognitivos traduzidos em movimentos, posturas e sensações. São formas
maduras de expressão corporal a dança, a representação cênica e a
atividade atlética. O corpo pode ser um objeto de comunicação e pode ser
sujeito que manipula, organiza e transforma objetos no mundo. Casos de
excelência no emprego desta inteligência encontram-se em atores,
mímicos, dançarinos, artistas plásticos e desportistas.

Inteligência linguística

A inteligência linguística envolve a capacidade de comunicação,


transmissão e recepção de mensagens, aprendizagem de idiomas;
argumentação, memorização, uso dos recursos estilísticos, articulação de
ideias; uso de linguagens cifradas e recursos de expressão. Justamente
por ligar-se à capacidade de comunicação, pela qual o ser humano troca,
compara, acrescenta e perpetua informação, é a mais amplamente
reconhecida e estudada. Suas manifestações iniciais estão no balbucio
das crianças, na apreensão de fonemas e palavras e nas brincadeiras que
fazem com eles, evoluindo para as construções frasais e narrativas
qualquer que seja o idioma. O desenvolvimento da inteligência linguística
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favorece a aquisição de alfabetização em sistema baseado na fonologia,


como o ocidental a alfabetização na escrita ideográfica relaciona-se mais
com a inteligência espacial, como no sistema chinês ou japonês, em que
novas palavras são formadas pela combinação de símbolos que,
isoladamente, representam cada um uma palavra própria. Uso bastante
eficaz desta inteligência pode ser exemplificado na capacidade de
repentistas construírem sequências rimadas e ritmadas, sintática,
semântica e pragmaticamente coerentes para conduzir um duelo verbal,
e em processos mnemônicos do tipo acróstico, como o das MILINCEM
inteligências múltiplas (lógico-Matemática, Intrapessoal, Linguística,
Interpessoal, Naturalista, Corporal-cinestésica, Espacial e Musical).

Inteligência musical

A inteligência musical, também ligada ao trato auditivo-oral, liga-


se a um domínio conexo ao da linguagem, envolvendo a emissão e
percepção de sons em suas variações de tom, volume, timbre e ritmo.
Como na aquisição da linguagem, a aquisição do domínio musical
começa com o balbucio e as primeiras brincadeiras da criança com sons,
e expande-se e aprimora-se na identificação de sons característicos e
ritmos, na aprendizagem de idiomas, no reconhecimento de
características do cantar da fala, em trabalhos musicais. Esta capacidade
de processar musicalmente, apesar de ligada ao trato auditivo-oral, não
depende dele, pois pode-se perceber e processar informações
musicalmente por meio doutros sentidos, por exemplo, o tato, pela
sensibilidade ao ritmo ou às variações nas vibrações das ondas sonoras.
Casos de excelência no emprego desta inteligência encontram-se em
grandes músicos (como Beethoven ou Mozart), ou em peritos em acústica.

Inteligências pessoais (intrapessoal e interpessoal)

Ao abordar as inteligências pessoais, Gardner apresentou-as


juntas para evitar ser repetitivo com os elementos comuns a ambas.
Como ele diz, as inteligências, conquanto relativamente independentes,
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interferem-se mutuamente, máxime se nos lembrarmos do caráter social


do ser humano.

A inteligência intrapessoal parte do autoconhecimento, avaliação


de suas reais possibilidades e limitações, capacidade de lidar com os
próprios sentimentos; permite à pessoa mergulhar profundamente dentro
de si própria, reconhecer e administrar seus sentimentos e condutas para
alcançar objetivos.

A inteligência interpessoal parte do conhecimento das


características dos outros, capacidade de relacionar-se, percepção,
compreensão e capacidade de lidar com os sentimentos e motivações dos
outros, estabelecimento de alianças quer seja para manipular os outros,
quer seja para promover a evolução. Também no romance Kim, de Kipling
(1972), pode-se encontrar um exemplo da proficiência nesta inteligência,

sensibilidade para ler e interpretar as características de seu interlocutor


e portar-se de forma condizente para atingir seus fins fosse para
manipular em proveito próprio, fosse para prestar auxílio.

O uso da inteligência intrapessoal reflete-se no da interpessoal, e


vice-versa, trazendo, ainda, para a interação, as outras inteligências;
para transmitir mensagens interpessoalmente, temos de usar de forma
competente elementos linguísticos, cinestésicos, matemáticos, espaciais
e/ou musicais. A modulação musical da voz com que a mãe se dirige ao
bebê dá a ele indicações da relação naquele momento, transmite
mensagens sobre o estado emocional, a ligação estabelecida etc. As
formas de manifestação das inteligências pessoais, assim como a ênfase
no individualismo (sociedades de tipo partícula, como a ocidental) ou no
coletivismo (sociedades campo, como quase todas as sociedades
tradicionais e muitas não-ocidentais modernas) são variáveis pelo
entorno cultural.
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As pressões sociais por um emprego adequado das inteligências


pessoais, assim como os reflexos de patologias nestas inteligências são
muito maiores que para qualquer das outras; veja-se os casos de um
manipulador, de um demagogo ou de um sociopata.

Inteligência naturalista

A inteligência naturalista compreende a capacidade de dissecar


até a estrutura mais íntima, identificar espécies e os relacionamentos
entre elas, ambientes, atração e sensibilidade para interagir com o
mundo natural, obter e operacionalizar informações a partir do ambiente,
identificação de padrões e categorização. Sua importância está bem
estabelecida na história evolutiva, quando a sobrevivência de um
organismo depende de sua capacidade de identificar entre seres
semelhantes, evitando as espécies predadoras e preando outras, ou
diferenciando os vegetais comestíveis dos venenosos. O naturalista exibe
um talento para interagir com as várias formas de vida, ou uma
adaptação aos seus padrões comportamentais necessária a caçadores,
pescadores, veterinários, agricultoresou jardineiros. Isto pode ser
representado também pela identificação de características de seres
inanimados da natureza (pedras caso do geólogo) ou artigos
manufaturados. Campos de estudo, como a Botânica ou a Entomologia,
desenvolveram-se a partir de habilidades naturalistas. A Física, também,
na sua busca de determinação dos padrões dos fenômenos naturais,
desenvolveu-se a partir desta competência.

Gardner ainda chega a aventar uma possível inteligência


existencial, mas ressalta não haver esta atendido a todos os requisitos
para ser inteiramente caracterizada como uma inteligência distinta;
segundo ele, menos ainda foram atendidos os critérios para o
reconhecimento de uma cogitada inteligência moral, pois Gardner
considera problemática a evidência de habilidades no reino moral,
independendo dos usos particulares para os quais tais habilidades sejam
postas; e, a partir do momento em que se considere inteligente uma
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competência, sob a condição de que seja usada de uma forma moralmente


recomendável, sai-se do campo da inteligência em sentido estritamente
acadêmico, científico, e entra-se nas distintas esferas dos valores e da
conduta social e com estes argumentos, questiona a inclinação
moralista igência

Articulações das inteligências

Segundo Gardner, todos os seres humanos nascem com o


espectro das várias inteligências, e de acordo com os estímulos, o
ambiente sociocultural, a história de vida e as experiências pessoais
modela-se o espectro individual, no qual algumas inteligências tornar-se-
ão mais desenvolvidas e outras serão menos trabalhadas; não obstante,
todas elas podem ser usadas, estimuladas e desenvolvidas. As
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inteligências interagem, interferem-se e propiciam a metaforização dos


problemas para resolução pelas formas preferenciais do indivíduo. A
associação de informações para processamento e resolução será feita pelo
sistema mais estimulado por aquela informação; se a solução for
insatisfatória, pode-se metaforizar a abordagem para outra linguagem,
adequada a outro sistema.

Apresentamos, a seguir, alguns limitados exemplos de


articulações com diferentes inteligências sendo tomadas como ponto
focal.

A inteligência linguística articula-se com a musical na


identificação dos sons que constituem as palavras, na
entonação vocal, na aquisição dos padrões verbais
linguísticos; com a lógico-matemática, na identificação dos
padrões lógicos que regem as construções linguísticas; com
a espacial, na identificação da articulação dos símbolos de
forma convencionada para representar expressões
linguísticas, bem como em formas artísticas de uso dos
símbolos linguísticos, do que há alguns exemplos com a
caligrafia ocidental e muitos com a caligrafia árabe, com as
letras e palavras construindo conjuntos harmônicos de
figuras.
No despontar de líderes, pode-se ver articulação entre as
inteligências pessoais e alguma outra; pode-se exemplificar
com a espacial e a corporal no caso do capitão de uma
equipe de futebol, que legitima sua aptidão para coordenar
pela competência em perceber o espaço e a movimentação
que podem conduzir ao gol. Mas a que mais
caracteristicamente se associará aos líderes será a
inteligência linguística, pois, conforme Gardner, o líder

seu discurso, contará sua história e a personificará


valendo-se da interpretação das características e detecção
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das aspirações dos liderados. Não será necessariamente a


história mais sofisticada a que prevalecerá, mas aquela que
tocar, pelo assunto ou abordagem, os
dos outros (GARDNER, 1996, p.41-65). De todo modo,
demanda do storyteller a capacidade de tocar os afetos das
pessoas; segundo Gardner, de usar com proficiência suas
ferramentas de processamento intrapessoal e interpessoal,

O blend de inteligências de cada pessoa é único, o que inviabiliza


, baseada na teoria gardneriana,
ou a pretensão de criar baterias de testes que categorizem (rotulem) as
pessoas. O desafio é como obter o melhor dessa unicidade. É preciso
saber adequar o processo educativo às inteligências predominantes no
indivíduo e ao momento de vida, além de apresentar conteúdos por
processos de várias inteligências para viabilizar a aprendizagem. A
apreensão é melhor se tanto o conteúdo quanto a abordagem são
adequados às capacidades e interesses do aprendente mais ainda em
se tratando de adultos, que usualmente procuram apoiar a aprendizagem
naquilo que enxergam como aplicabilidade do conteúdo abordado (a
informação deve ser claramente útil ao aprendente em tempo
mensurável). A motivação e atenção partem de estímulos acordes com o
histórico pessoal e o tipo de inteligência predominante.

Inteligência emocional?

Na percepção de Daniel Goleman (1995), seriam consideradas

emoções das pessoas para serem estáveis ou se portarem de maneira

Para Gardner, as inteligências são ferramentas, e sua existência


ou funcionamento não são condicionados moralmente. Conforme
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Gardner, um manipulador das massas como Goebbels é tão

Churchill um contando histórias de superioridade racial e de


extermínio, outro contando histórias de reconciliação e igualitarismo
perante a lei, e outro contando histórias de tenacidade e perseverança
para resistir à opressão. A ferramenta inteligências pessoais é a
mesma; a forma de empregá-la e os seus objetivos é que podem ser
moralmente recomendáveis ou inaceitáveis.

Quem poderia ser definido como inteligente?, é pergunta que se


poderia fazer, considerando a abertura deixada pela ideia de diversas
inteligências. Gardner buscou apresentar uma concepção de inteligência
que fosse humanamente justa, ou seja, não se orientando para rotular
ou hierarquizar as pessoas pela sua proficiência neste ou naquele
domínio, nesta ou naquela inteligência, mas sim reconhecendo as
diferenças e os variados potenciais de cada sistema de processamento e
de suas combinações.

O que importa, para Gardner, é que as inteligências sejam usadas


para realizar tarefas valorizadas numa sociedade; o que é culturalmente
valorizado são os produtos, não o processo intelectivo. Assim, uma
avaliação das inteligências predominantes num indivíduo poderia ser
feita pela observação de como ele maneja situações-problema nas várias
esferas, em situações reais ou simulações, para o que tecnologias
interativas disponíveis e processos de dinâmica de grupo podem ser
valioso instrumental.

O conhecimento não precisa ser competitivo; pode, sim, ser


expandido pela interação e integração das diferentes capacidades das
pessoas, sem necessidade de lançar-se a jogos de soma zero. Para
Gardner, as inteligências devem ser mobilizadas para ajudar as pessoas
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a aprenderem, e não ser usadas para categorizar indivíduos, inspirando

Cabe ao educador buscar compreender a diversidade das


inteligências, com toda a riqueza de possibilidades que as diferentes
combinações podem trazer, e pôr de lado a tentação de discriminar o que
não se enquadra em construtos pré-concebidos. É preciso reconhecer que
há diversas formas de captar, processar, agir sobre o que está ao redor e
de aprender, cada qual tão boa quanto as outras. A tarefa não é achar
quem pode ir para o céu por apresentar proficiência maior nesta ou
naquela inteligência, num pensamento excludente, mas fazer o céu com
o que se apresenta, aproveitando a variedade de combinações possíveis.

Formas de apreensão e de aprendizagem

É preciso atender às diferentes formas de apreensão que os


treinandos apresentam. Segundo os estudiosos da programação
neurolinguística (PNL), as pessoas têm, basicamente, três formas de
apreensão: visual, auditiva e cinestésica.

As pessoas nas quais predomina a apreensão visual são melhor


estimuladas por imagens e escritos; têm a compreensão facilitada por
figuras, esquemas e gráficos, ou por verem uma demonstração, ou pelo
uso de linguagem com expressões conexas à visão.

Os indivíduos com predominância da apreensão auditiva


conseguem captar, processar e sintetizar com maior proficiência
mensagens verbais e sonoras, e assim tendem a ser suas formas
preferenciais de expressão

As pessoas com predominância da apreensão cinestésica obtêm


melhores resultados quando tocam, movimentam, executam tarefas com
caráter sensorial e motor ou usam a expressão corporal.
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o, haverá
uma combinação dessas formas de apreensão, com a predominância
variando para cada indivíduo.

Os tipos de apreensão de conhecimento podem condicionar a


aprendizagem, e são diferentemente predominantes em cada indivíduo e
em cada situação.

O Formador, ao montar sua sessão, deverá ter em vista essa


diversidade. Poderá combinar métodos de ensino e recursos didáticos de
forma a estimular mais de uma forma de processamento e mais de uma
forma de apreensão. Com isso, não apenas tirará dos cursantes a
expecta
aqueles que usualmente processam, por exemplo, linguisticamente a
treinarem uma percepção espacial do conteúdo.

Considerando-se também as formas de registrar informações,


anotações em tópicos, mapas mentais, desenhos ou modelos, todas elas
refletem a diversidade de caminhos para apreender conhecimentos e para
processá-los.

Jogos e simulações são excelentes ferramentas de ensino e


aprendizagem; tais processos exigem que o treinando se torne agente e
busque suas próprias formas de perceber, processar e resolver
problemas; apelam, portanto, às diversas inteligências e suas
combinações.
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Palavras finais

O blend de inteligências e de formas de apreensão é único para


cada ser humano. O nosso método educacional Escoteiro, sendo
predominantemente vivencial, oferece grandes possibilidades para que
atendamos a essa diversidade de possibilidades e demandas dos
teinandos não apenas os jovens, mas também os nossos quadros de
educadores adultos. Essa versatilidade pode fazer a diferença nas mais
inusitadas situações de vida.

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