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FILOSOFIA E ÉTICA NOS NEGÓCIOS – ESTUDO DE CASO 1

O homem que deixou o mundo em choque1

Em julho de 1961, um psicólogo de 28 anos da Yale University, Dr. Stanley Milgram, ex-aluno
da Harvard com PhD em psicologia social, iniciou uma série de experimentos destinados a chocar a
comunidade de psicologia e revelar algumas ideias inquietantes sobre a capacidade da raça humana
de infligir mal uns aos outros. Os participantes eram membros do público em geral que tinha
respondido a um anúncio de jornal solicitando voluntários para um experimento sobre punição e
aprendizagem.
O “professor” (um dos pesquisadores de Milgram) instruiu os participantes a infligir choques
elétricos cada vez mais fortes em um “aluno” toda vez que ele desse uma resposta incorreta a uma
tarefa de associação de palavras. Os choques começavam, teoricamente, no baixo nível de 15 volts
e aumentavam em incrementos de 15 volts, até um choque potencialmente fatal de 450 volts. Na
realidade, a máquina de voltagem era um elaborado adereço, e o aluno era um ator que gritava e
fingia sofrimento físico à medida que o nível de voltagem de cada choque parecia aumentar. Os
participantes foram informados sobre a inautenticidade do aparelho no final do experimento, mas,
durante ele, foram levados a acreditar que a voltagem e a dor infligida eram reais. O professor não
usou força ou intimidação no experimento, exceto por manter um ar de seriedade acadêmica.
O experimento foi repetido mais de 20 vezes usando centenas de participantes. Em todos os
casos, a maioria dos sujeitos não parava de dar choques nos alunos, mesmo quando eles
acreditavam estar infligindo uma voltagem potencialmente fatal e o aluno tinha aparentemente
parado de gritar de dor. Alguns, de fato, pediam para interromper o teste, e outros discutiam com o
professor que o experimento não estava dando certo, mas, no fim das contas, a maioria obedecia às
instruções do professor ao pé da letra.
É importante lembrar que os participantes dessa pesquisa não eram criminosos ou psicopatas
com um histórico documentado de comportamento sádico. Eles eram norte-americanos comuns que
responderam a um anúncio e vieram participar. O que a pesquisa de Milgram parece nos dizer é que
as pessoas são capazes de suspender sua própria moralidade individual diante de alguma
autoridade – até mesmo chegando a matar alguém simplesmente porque foram instruídos a fazê-lo.
A pesquisa de Milgram foi um choque para o mundo acadêmico e gerou um acalorado debate
sobre a conduta ética do estudo e o valor dos resultados em comparação ao mal infligido sobre os
participantes da pesquisa, que foram levados a acreditar que tudo estava realmente acontecendo.
Esse debate continua até hoje, embora subsequentes repetições do teste em vários formatos
tenham validado as descobertas originais de Milgram. Quase 50 anos depois, estamos diante de
dados de pesquisa que sugerem que seres humanos comuns são capazes de realizar atos
destrutivos e desumanos quando não há qualquer ameaça física de danos a eles próprios. Como
Thomas Bass comentou, “gostaríamos de acreditar que, ao enfrentar um dilema moral, agiremos
como manda nossa consciência, mas os experimentos de obediência de Milgram nos ensinam que,
em uma situação concreta com restrições sociais de poder, nosso senso moral pode facilmente ser
esmagado”.

Perguntas:
1. Críticos da pesquisa de Milgram discutiram que a separação física entre o participante e o
professor em uma sala e o aluno em outra facilitava que o participante infligisse os choques.
Você acha que isso fez alguma diferença? Por que ou por que não?
2. O tratamento dos participantes do estudo levantou tantas críticas quanto os resultados que o
estudo gerou. Foi ético enganá-los, levando-os a acreditar que estavam realmente infligindo
dor aos alunos? Por quê?
3. Os participantes foram apresentados aos alunos como participantes iguais do estudo – isto é,
voluntários, assim como eles. Você acha que isso fez alguma diferença na decisão de
continuar aumentando a voltagem? Por quê?
4. O que você acha que a pesquisa de Milgram nos diz sobre nossos padrões éticos individuais?
5. Você teria concordado em participar desse estudo? Por quê?
6. Você acha que, se o estudo fosse repetido hoje, obteríamos os mesmos tipos de resultados?
Por quê?

1 Fontes: A. Cohen, “Four Decades after Milgram, We’re Still Willing to Inflict Pain”, The New York Times, 29 de dezembro de
2008; e A. Altman, “Why We’re OK with Hurting Strangers”, www.time.com, 19 de dezembro de 2008.

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