Você está na página 1de 97

O QUE É TEOLOGIA?

Prof. Antonio Carlos G. Affonso

2º SEMESTRE DE 2023
CENTRO DE EDUCAÇÃO BATISTA DO ESPÍRITO SANTO
Sumário
APRESENTAÇÃO ............................................................................. 3
1- DEFINIÇÃO DE TEOLOGIA ................................................ 4
I) Uma ciência divina ................................................................. 4
II) A abrangência da Teologia ..................................................... 4
2- A IMPORTÂNCIA E A NECESSIDADE............................... 6
3- A METODOLOGIA ................................................................ 7
I) Métodos mais usados .............................................................. 7
II) Considerações ......................................................................... 8
4- RAMOS DA TEOLOGIA........................................................ 9
O QUE É TEOLOGIA CETEBES - 2023

APRESENTAÇÃO
O objetivo aqui é fazer uma pequena apresentação do que seja Teologia
Sistemática. Faremos uma comparação com outras formas de se fazer Teologia e
nos métodos que são usados para o estudo teológico.
A Teologia Sistemática aborda os principais assuntos que podem ser
levantados pela Teologia como um todo.

3
O QUE É TEOLOGIA CETEBES - 2023

1 - DEFINIÇÃO DE TEOLOGIA

Entende-se como Teologia o estudo sobre e a respeito de Deus. As


expressões gregas theos e logos (Deus e Palavra) dão o significado ao termo.
A Teologia não deve ser vista como sem importância, se temos dentro de
nós a ideia de sã doutrina, esta é a base da Teologia. Podemos considerá-la como
divina e humana.

I) Uma ciência divina


Apesar de seu conteúdo ser muito dependente da fé, a Teologia não deixa de
ser uma ciência. Severa, citando Clodovis Boff, afirma que a teologia tem em
comum com as ciências é o modelo formal, caracterizado por criticidade,
sistematicidade e dinamicidade (SEVERA, 2012, p. 2).

“... a teologia é um saber crítico, que procura criar um corpo de saber


unificado, e que tende sempre a crescer, tanto em extensão quanto em
compreensão” (SEVERA, 2012, p. 2)

Segundo Erickson a teologia é uma ciência porque se comporta em alguns


aspectos como tal (1997, p. 18):
1) Tem um objeto definido de estudo;
2) Tem um método de investigação;
3) Tem objetividade;
4) Tem coerência em suas proposições.

A teologia, segundo Severa, “é a fé cristã vivenciada levada a conceitos”


(2012, p. 3). O teólogo é um cientista que procura facilitar a compreensão daquilo
que foi revelado por Deus nas Escrituras.

II) A abrangência da Teologia


A teologia tem como abrangência o estudo de Deus, suas obras e os efeitos
delas sobre o homem e a natureza. Todavia, em função da grandeza de Deus, jamais
iremos alcançar toda abrangência da teologia.
É fundamental compreendermos que estamos diante de um ser único e sem
igual. O ser humano tem a tendência de “criar” Deus segundo sua imagem e
semelhança, mas na realidade foi o contrário. Logo, é o homem que tem que se
curvar diante da grandeza de Deus.
Imagem agora o tamanho do universo. Suas estrelas e galáxias. Pense em
você dentro de tudo. Quem você é? Mario Cortela, filósofo e educador, disse em

4
O QUE É TEOLOGIA CETEBES - 2023

certo vídeo que nós não passamos do “vice treco do subtroço”. Salomão afirma que
o céu, e o céu dos céus, não podem conter a glória de Deus (2Cr 2:6).
Com isso, concluímos que poderemos chegar a um determinado momento e
aceitarmos o que disse o próprio Deus através de Moisés:
“As coisas encobertas são para o SENHOR, nosso Deus; porém as
reveladas são para nós e para nossos filhos, para sempre, para
cumprirmos todas as palavras desta lei” (Dt 29:29)

5
O QUE É TEOLOGIA CETEBES - 2023

2 - A IMPORTÂNCIA E A NECESSIDADE

A teologia ajuda o cristão a defender a sua fé (apologética) e ao mesmo


tempo expô-la com mais clareza. Não podemos negligenciar o estudo da teologia,
isto inclusive dever ser o alvo do pastor para com sua igreja. Mark Dever entende
que uma teologia bíblica é uma das marcas de uma igreja saudável (DEVER, 2007,
p. 58-79).
A teologia é importante para o conhecimento da religião. Embora não sejam
a mesma coisa, elas se completam e uma não existe sem a outra. Para Severa, a
teologia se preocupa com o conteúdo doutrinal da religião (Op. Cit, p. 5).

Os perigos de se negar a necessidade e a importância

Há uma tendência, motivada pelo período pós-moderno, de reduzir a


importância da teologia e principalmente a sua necessidade.
A teologia não pode substituir a vida prática do cristão, mas ela ajuda a
fundamentar uma fé de fato racional (Rm 12:1,2). Um dos grandes perigos de negar
a necessidade da teologia reside em dificultar o conhecimento de Deus.
A busca pelo conhecimento de Deus deve sempre passar pelas Escrituras.
Mas se não estudarmos também o que outros pensam não poderemos combatê-los.
Se olharmos o Novo Testamento com atenção, e até mesmo alguns profetas
do Antigo, veremos que eles estão combatendo heresias. Por que isso ocorria? Será
que era uma mera revelação de Deus de forma sobrenatural? De forma alguma. Eles
combatiam porque sabiam de sua existência. Paulo, por exemplo, era um estudioso
que sabia o que estava acontecendo.
Mesmo alguns sem muita cultura, como João, eram pessoas que buscavam
combater coisas que estavam observando no meio do povo de Deus. Logo, o estudo
da teologia é uma necessidade, pois serve para alimentarmos melhor o povo de
Deus e nos capacitarmos contra as heresias.

6
O QUE É TEOLOGIA CETEBES - 2023

3 - A METODOLOGIA

A metodologia vai determinar a seriedade e a veracidade do que está sendo


estudado. Claro que todos os métodos estão sujeitos a falhas, não por serem mais
ou menos frágeis, embora isso possa ocorrer com um deles, mas por serem sempre
influenciados por quem os utiliza.

I) Métodos mais usados


Para o estudo de teologia há pelo menos 4 métodos mais conhecidos
(SEVERA, 2012, p. 12 a 13):
i. Dedutivo
ii. Hipotético-Dedutivo
iii. Fenomenológico (místico)
iv. Indutivo

a) Dedutivo
Parte do princípio de algo que se julga verdadeiro. Por exemplo: Deísmo,
teísmo, panteísmo, racionalismo, etc.
Este método normalmente é utilizado para análise de crimes. Por exemplo,
parte de um suspeito e assim começa-se a investigar coisas como álibi, evidências,
testemunhas, etc.
Pode ser usado, mas é perigoso pois pode ferir a própria verdade bíblica em
detrimento daquilo que o teólogo acredita.

b) Hipotético-Dedutivo
Propõe como caminho testes de hipóteses para que se possa chegar às
conclusões. A grande diferença para o dedutivo é que este método não parte de algo
que julga verdade, mas testará tudo o que de fato se diz verdade. Assim a visão do
método em questão seria mais ou menos assim:

✓ Expectativas e teorias existentes;


✓ Formulação de problemas em torno de questões teóricas e
empíricas;
✓ Solução proposta, consistindo numa conjectura; dedução das
consequências na forma de proposições passíveis de teste sobre
os fenômenos investigados;
✓ Teste de falseamento: tentativas de refutação, entre outros meios,
pela observação e experimentação das hipóteses criadas sobre
o(s) problema(s) investigado(s).

7
O QUE É TEOLOGIA CETEBES - 2023

Este método oferece mais segurança que o anterior, mas ainda assim pode
incorrer em erros por levantar hipóteses erradas. É muito comum nos dois métodos
vistos até aqui confundir a causa com o efeito. Isso precisa sempre ser testado e
retestado.

c) Fenomenológico
Também é conhecido como método místico. Tem sua base em experiências
sobrenaturais que trazem dogmas e entendimentos a textos bíblicos. Algumas
denominações que hoje existem surgiram desta forma. Coloca-se a experiência
acima da doutrina ou como reposta a uma doutrina. O entendimento teológico deve
existir em conformidade com as Escrituras, não com experiências pessoais.

d) Indutivo

Parte de premissas e dados particulares para se chegar a uma verdade.


Todavia, procura-se isentar-se de suposições e verdades pré-existentes. É o método
mais usado pois é desta maneira que muitas ciências fazem suas pesquisas. Mas na
realidade é um método que ninguém consegue ser fiel absolutamente. Sempre
somos levados a conclusões e suposições com base em nossa experiência e
observação particulares.
Exemplo prático:
Antônio é mortal. João é mortal. Paulo é mortal. Carlos é mortal. Ora,
Antônio, João, Paulo e Carlos são Homens. Logo, TODOS os homens
são mortais.

II) Considerações
Ao se trabalhar com os métodos o mais importante é saber se se crer ou não
na Bíblia como a Palavra de Deus.
Os métodos dedutivos e indutivo podem ser os mais usados, desde que
princípios sejam observados com neutralidade, mas sem o abandono da fé.
Ainda existem outros métodos, como o estatístico, que também pode ser
usado para estudos bíblicos.
Além disso, pode-se trabalhar com a união de vários métodos, excetuando o
místico. Este sempre será um perigo para se chegar às conclusões corretas.

8
O QUE É TEOLOGIA CETEBES - 2023

4 - RAMOS DA TEOLOGIA
Há quatro ramos básicos na teologia que podem ser vistos separadamente,
mas que se completam:
i. Teologia Bíblica
ii. Teologia Histórica
iii. Teologia Prática
iv. Teologia Sistemática

Erickson afirma que a Teologia Sistemática (TS) se alimenta das outras, mas
no lugar da Teologia Prática ele usa a Filosófica (ERICKSON, 2015, p. 24-28).
Apesar da envergadura do autor, fico com a tradicional concepção.
Também não concordo com ele quando afirma que a TS se alimenta das
outras. Na realidade o que podemos ver que há uma autoalimentação, ou seja, elas
se alimentam uma da outra, mas o ponto de partida sempre será a Teologia Bíblica
(TB) no sentido de olharmos pelas lentes exegéticas e hermenêuticas de cada livro
e testamentos bíblicos. Sendo assim, é fundamental que se entenda que nenhum dos
ramos se sobrepõe um ao outro, mas todos se completam.
A Teologia Sistemática, como o próprio nome já propõe, sistematiza os
assuntos encontrados e discutidos nos outros ramos.

a) Teologia Bíblica
É o estudo da exposição do conteúdo bíblico dentro de cada segmento (ou
livro). Ela pode ser dividida em Teologia do Antigo Testamento e Teologia do
Novo Testamento. E cada divisão ainda pode ser subdivida em categorias de livros.
Ex.: Pentateuco, histórico, proféticos, etc...

b) Teologia Histórica
Estuda o desenvolvimento da doutrina da Igreja no decorrer da história. E as
diversas teologias que surgiram, bem como seus ícones principais.
Suas subdivisões atuais são:
➢ Teologia patrística;
➢ Teologia Medieval;
➢ Teologia dos reformadores;
➢ Teologia contemporânea.

Claro que ainda pode haver outras divisões e subdivisões. Dependendo


principalmente da ótica que o autor deseja tratar.

9
O QUE É TEOLOGIA CETEBES - 2023

c) Teologia Prática
É o tratamento dado para o cotidiano das informações oriundas das outras
teologias. Este tratamento compreende principalmente na forma como é aplicada a
teologia no dia a dia das pessoas e da igreja de um modo geral.

d) Teologia Sistemática
É a apresentação ordenada dos temas que aparecem nas Escrituras com o
objetivo de esclarecer as verdades do cristianismo. Pode ser chamada também de
dogmática, principalmente quando o estudo é baseado em um credo já existente.
Toda teologia sistemática tem caráter dogmático que reflete aquilo que crê
o teólogo. E ela se utiliza dos outros ramos, em especial a bíblica, para formar suas
ideias.
Principais áreas estudadas pela Teologia Sistemática são:
➢ Teontologia (Doutrina de Deus);
➢ Cristologia (Doutrina de Cristo);
➢ Pneumatologia ou Paracletologia (Doutrina do Espírito Santo);
➢ Bibliologia (Doutrina da Bíblia);
➢ Eclesiologia (Doutrina da Igreja);
➢ Soteriologia (Doutrina da Salvação);
➢ Harmatiologia (Doutrina do Pecado);
➢ Antropologia (Doutrina do Homem);
➢ Escatologia (Doutrina das últimas coisas);
➢ Angelologia ou Angeologia (Doutrina dos Anjos);
➢ Demonologia (Doutrina dos Anjos caídos ou demônios).

10
O QUE É TEOLOGIA CETEBES - 2023

Bibliografia
− DEVER, Mark. Nove Marcas de uma Igreja Saudável. São José dos
Campos/SP: FIEL, 2007.
− Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento - vol. II. São
Paulo: Vida Nova.
− Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento - vol. IV. São
Paulo: Vida Nova.
− ELLISEN, Stanley A.. Conheça Melhor o Antigo Testamento. São Paulo:
Vida, 1995.
− ERICKSON, Millard J.. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo:
Vida Nova, 1997.
− ERICKSON, Millard J.. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova,
2015.
− FERREIRA, Franklin, MYATT, Alan. Teologia Sistemática: uma análise
histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida
Nova, 2007.
− GEISLER, Norman. Teologia Sistemática – introdução à teologia, a
Bíblia, Deus – A criação. Rio de Janeiro: CPAD.
− MCGRATH, Alister E.. Teologia Sistemática, histórica e filosófica: uma
introdução a teologia cristã. São Paulo: Shedd Publicações, 2005.
− PACKER, James I.. O Conhecimento de Deus. São Paulo: Mundo Cristão.
− SEVERA, Zacarias de Aguiar. Manual de Teologia Sistemática. A. D.
Santos, 2012.
− STURZ, Richard J.. Teologia Sistemática. Vida Nova: São Paulo, 2012.
− THIESSEN, Henry Clarence. Palestras em Teologia Sistemática. São
Paulo: Imprensa Batista Regular 2013.

11
BIBLIOLOGIA
(DOUTRINA DA BÍBLIA)
Prof. Antonio Carlos G. Affonso

2º SEMESTRE DE 2023
CENTRO DE EDUCAÇÃO BATISTA DO ESPÍRITO SANTO
Sumário
APRESENTAÇÃO ....................................................................................... 3
1. A REVELAÇÃO...................................................................................... 4
I) A REVELAÇÃO UNIVERSAL ................................................................. 4
II) A REVELAÇÃO PARTICULAR ............................................................... 5
2 - AS ESCRITURAS ................................................................................... 6
I) INSPIRAÇÃO ......................................................................................... 6
II) A INERRÂNCIA DAS ESCRITURAS ....................................................... 7
III) A SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS...................................................... 7
3 - A FORMAÇÃO DO CÂNON ................................................................. 9
I) CRITÉRIOS DE CANONICIDADE ......................................................... 9
II) O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO ...............................................10
III) AS DIFERENÇAS ENTRE O CÂNON CATÓLICO E PROTESTANTE...11
IV) O CÂNON DO NOVO TESTAMENTO ...................................................11
V) ADIÇÕES À BIBLIA ..............................................................................11
BIBLIOGRAFIA .........................................................................................12
BIBLIOLOGIA CETEBES - 2023

APRESENTAÇÃO
Nosso principal objetivo é conhecer a Palavra de Deus e os caminhos que
ela tomou até chegar a nós.
Conhecer a Palavra de Deus é fundamental para o teólogo, compreender sua
história e sua jornada facilita ainda mais o entendimento.
Não se pode dizer que é teólogo sem um conhecimento da Palavra de Deus
que possa permitir manuseá-la com destreza e qualidade (2Tm 2:15).

3
BIBLIOLOGIA CETEBES - 2023

1. A REVELAÇÃO
Como revelação entende-se a operação divina que possibilita que Deus seja
conhecido ao homem dada a impossibilidade deste o conhecer apenas pela razão.
“As coisas encobertas são para o SENHOR, nosso Deus; porém as
reveladas são para nós e para nossos filhos, para sempre, para
cumprirmos todas as palavras desta lei” (Dt 29:29)

E ainda:
“Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não
ouviu, e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou
para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito;
porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de
Deus” (I Co 2:9,10)

Duas coisas precisam ficar claras (HODGE, p. 252 a 259):


i. Deus pode ser conhecido;
ii. Deus não pode ser totalmente conhecido;

I) A REVELAÇÃO UNIVERSAL
Entende-se como aquela que Deus se utiliza da sua criação para se mostrar
e se fazer conhecer.

“porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque


Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação
do mundo, tanto o seu eterno poder como a sua divindade, se entendem
e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles
fiquem inescusáveis” (Rm 1:19,20)
O ser humano sempre procurou entender as coisas através de uma realidade
transcendente.
Considerando a infinitude de Deus não nos é capaz o conhecimento dEle se
assim Ele não o quisesse. Erickson afirma: “A revelação geral refere-se à auto
manifestação de Deus por meio da natureza, da história e da personalidade do
homem” (p. 41).
Os meios da revelação geral ou universal de Deus:
i. Natureza;
ii. História;
iii. Personalidade do homem.

A Bíblia já propõe que existe uma revelação geral de Deus na própria


natureza: “Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das
suas mãos” (Sl 19:1).

Grudem afirma:
4
BIBLIOLOGIA CETEBES - 2023

“... Deus se comunica com as pessoas mediante diferentes tipos de


‘revelação geral’... A revelação geral inclui tanto a revelação de Deus
por meio da natureza como ... mediante a consciência do certo e do
errado (Rm 2:15)” (p. 27, nota 1).

II) A REVELAÇÃO PARTICULAR


A revelação particular compreende aquela feita de forma especial para
pessoas específicas e chamadas pelo próprio Deus.
Tornou-se necessária pela perda de comunhão que a humanidade teve com
o pecado.

Meios para revelação particular:


i. Discurso divino direto
ii. A encarnação divina
iii. As Escrituras

Erickson fala de evento histórico, mas é difícil classificar isso como


revelação particular ou especial, salvo quando vemos claramente um cumprimento
profético.

a) DISCURSO DIVINO DIRETO


No início tudo era feito de forma oral e a revelação de Deus não era
diferente. Homens chamados por Ele recebiam e transmitiam suas palavras.

b) A ENCARNAÇÃO DIVINA
Em Cristo Deus fez sua revelação máxima: “Havendo Deus, antigamente,
falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos,
nestes últimos dias, pelo Filho” (Hb 1:1). O texto deixa claro as duas formas de
revelação particular. Outra Deus falou pelos profetas. Este fala englobava diversas
maneiras, algumas talvez até inclusas na revelação geral.

c) AS ESCRITURAS
Apesar de Cristo ser a maior revelação, é nas Escrituras que encontramos
toda base que precisamos para conhecermos a Deus.

5
BIBLIOLOGIA CETEBES - 2023

2 - AS ESCRITURAS
A revelação geral e a do filho não são suficientes. O pecado cega o homem
e o impede de compreender a Deus. Torna-se necessária uma revelação mais
específica daquilo que Deus é e deseja do ser humano. Isto é a Bíblia.

I) INSPIRAÇÃO1
Definimos como a influência sobrenatural do Espírito Santo sobre os
escritores das Escrituras que possibilita que os escritos sejam realmente a Palavra
de Deus.
“Por todas as Escrituras há uma pressuposição de sua equivalência
com o discurso real do Senhor” (ERICKSON, 1997, p. 68)

A origem divina não é uma questão de comprovação, mas de fé. Há muitas


opiniões na própria Bíblia de sua origem divina, II Pedro 1:20,21 talvez seja a mais
precisa.
“Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é
de particular interpretação; porque a profecia nunca foi produzida
por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram
inspirados pelo Espírito Santo.” (2Pe 1:20,21)

É fundamental compreender que a inspiração está na Palavra e não no autor,


embora este receba o dom (gr. Theospneustos – Deus sopra a palavra).
Também importante saber que a inspiração está no texto original, não nas
traduções.

a) TEORIAS SOBRE A INSPIRAÇÃO


São elas basicamente:
i. Intuição - Compreende a genialidade do autor que reflete
experiências espirituais.
ii. Iluminação - A influência foi apenas um reforço às capacidades
individuais
iii. Dinâmica - O Espírito Santo dirigiu o autor para os conceitos que
devia ter, deixando a participação da personalidade do autor.
iv. Verbal - A obra do Espírito Santo foi tal que cada Palavra é a
palavra do próprio Deus.
v. Ditado - Cada Palavra foi ditada ao autor. Diferencia da anterior
que cada Palavra é a vontade de Deus, mas o autor tinha seus
pensamentos.

1ERICKSON, 1997, P. 67-77

6
BIBLIOLOGIA CETEBES - 2023

É muito difícil assumir apenas uma teoria. Parece que uma união entre II a
IV compreendem uma verdade, mas é muito difícil. Aparentemente podemos
descartar a I e a V.

II) A INERRÂNCIA DAS ESCRITURAS


Compreende que a Bíblia não contém erros de ordem doutrinária e fatuais,
embora não esteja isenta de discrepâncias científicas dada a informação de sua
época. Por exemplo, quando a Bíblia diz que o sol parou, sabe-se hoje que isto não
é verdade, mas não tira a veracidade da Palavra uma vez que Deus não tinha como
preocupação esclarecimentos científicos.
Se cremos que a Bíblia é a Palavra de Deus, por Ele inspirada, não pode
haver dúvida na inerrância de seu ensino.
Conforme o entendimento da inspiração pode variar também o entendimento
sobre inerrância.
Myatt e Ferreira mostra o quadro de Wayne House sobre as várias visões
sobre inerrância conforme a visão da inspiração (2014). São elas:
Inerrância Plena – Tudo que a Bíblia descreve é verdadeiro estendido para
a história e demais ciências
Inerrância Limitada – A Bíblia é inerrante somente no ensino salvífico. Ela
não foi concebida para ensinar ciências
Inerrância de propósito – A Bíblia é inerrante no sentido de levar as pessoas
a uma comunhão com Cristo, ou seja, em seu propósito.
Irrelevância da Inerrância – é um conceito irrelevante por ser negativo, por
não conter na Bíblia, pelo erro de ser uma questão espiritual e não intelectual, por
ser presa demais a detalhes e se esquecer do essencial, por impedir uma avaliação
honesta da Bíblia, e produz desunião na igreja.
Severa define como absoluta aquela que é dada por Myat e Ferreira (2014,
p. 34,35). A plena, para Severa, reflete algo próximo à limitada, mas acrescenta
que, do ponto de vista de sua época, a Bíblia realmente não contêm erros.

III) A SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS


A suficiência compreende que as Escrituras são completas em termo de
ensino para a Salvação e o viver dos discípulos de Cristo. Grudem (1999) define
que suficiência compreende que as Escrituras contêm todas as palavras divinas que
Deus quis comunicar ao seu povo.
Também compreende a suficiência da autoridade que a Bíblia tem para nos
ensinar acerca da pessoa de Deus. Por ser suficiente a Bíblia é a nossa regra de fé e
conduta2.

2 O preâmbulo da Declaração Doutrinária da CBB contêm seis princípios, o primeiro deles é a afirmação

de que as Escrituras são suficientes.


7
BIBLIOLOGIA CETEBES - 2023

a) APLICAÇÕES PRÁTICAS DA SUFICIÊNCIA 3


i. Incentiva a descobrir o que devemos saber e fazer;
ii. Lembra que não devemos acrescentar nada às Escrituras;
iii. Não precisamos de mais nada para crer na obra redentora fora
das Escrituras;
iv. Nenhuma revelação equipara-se à autoridade da Bíblia;
v. Deus não exige nada além do que está explícito ou implícito na
Bíblia;
vi. Nosso ensino deve se ater ao que a Bíblia diz e enfatiza.

3 GRUDEM, 1999, p. 89-93

8
BIBLIOLOGIA CETEBES - 2023

3 - A FORMAÇÃO DO CÂNON
Entende-se como cânon os livros que foram canonizados pela própria
tradição da igreja desde seus primórdios.
O termo “cânon” vem do grego “kana” que compreendia vara reta para
medir ou aferir.
É fundamental que não tenhamos dúvidas quanto ao cânon sagrado.
A Bíblia nos apresenta os judeus como sendo responsáveis pelos oráculos
de Deus (Rm 3:1,2). Isso significa que eles são autoridade com relação a formação
do cânon do Antigo Testamento.
O Antigo Testamento foi fixado entre os séculos III e IV d.C.. Antes disso
não havia a ideia de um livro sagrado, embora já se usassem os livros atuais.
O Novo Testamento começa a se formar a partir da destruição de Jerusalém
em 70 d.C.. Não houve um concílio ou reunião específica para a formação do cânon.

I) CRITÉRIOS DE CANONICIDADE
Entende-se como critérios de canonicidade os elementos que podem
comprovar que um livro é ou não canônico.
A igreja católica apoia-se no concílio de Trento, 1546, para afirmar a
canonicidade dos livros bíblicos. Afirma ainda que os livros têm que ser
inicialmente aprovados pela igreja e que esta que deve determinar também a sua
interpretação.
De um modo geral, aceita-se como critérios de canonicidade pelos
protestantes os seguintes:

a) Autoridade apostólica
Os livros da Bíblia devem ter sido escritos por um profeta ou apóstolo
reconhecido pela igreja primitiva como uma autoridade divinamente inspirada. Isso
significa que os escritos devem ter sido reconhecidos como autoridade espiritual
por aqueles que estavam em posição de discernir tal inspiração.

b) Conteúdo doutrinário
Os livros da Bíblia devem estar em conformidade com a doutrina bíblica já
estabelecida. Isso significa que eles devem ser consistentes com os ensinamentos
dos escritos anteriores da Escritura.

9
BIBLIOLOGIA CETEBES - 2023

c) Testemunho interno do Espírito Santo


Os livros da Bíblia devem ser reconhecidos pela igreja como tendo o
testemunho interno do Espírito Santo. Isso significa que o Espírito Santo deve
atestar a inspiração divina do livro à consciência da comunidade cristã.

II) O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO


Foram os Massoretas que colocaram em ordem o cânon do AT. Eles eram
judeus estudiosos que se dedicavam à tarefa de guardar a tradição oral (massora)
da vocalização e acentuação correta do texto. À medida que um sistema de
vocalização foi sendo desenvolvido, entre 500 e 950 AD, o texto consonantal que
receberam dos soferim foi sendo por eles cuidadosamente vocalizado e acentuado.
A referência mais antiga ao cânon hebraico é do historiador judeu Josefo (37-95
AC). Em Contra Apionem ele escreve:
“Não temos dezenas de milhares de livros, em desarmonia e conflitos,
mas só vinte e dois, contendo o registro de toda a história, os quais,
conforme se crê, com justiça, são divinos”.
Os soferins eram escribas zelosos que fizeram trabalhos de crítica textual até
o ano de 400 a.C. Eles copiavam e davam a sua interpretação. Era tão zelosos que
contavam cada parágrafo, palavra e letra.
O protestantismo ortodoxo segue o cânon massorético, porém a ordenação
dos livros e as divisões são diferentes.
i. O Pentateuco (Torá): Gênesis, Êxodo, Levítico, Números,
Deuteronômio.
ii. Os Profetas (Neviim): Anteriores: Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e
2 Reis. Posteriores: Isaías, Jeremias, Ezequiel e Profetas Menores.
iii. Os Escritos (Kêtuvim): Poesia e Sabedoria: Salmos, Provérbios e
Jó. Rolos ou Megilloth (lidos no ano litúrgico): Cantares (na
Páscoa), Rute (no pentecostes), Lamentações (no quinto mês),
Eclesiastes (na festa dos tabernáculos) e Ester (na festa de Purim).
iv. Históricos: Daniel, Esdras, Neemias e 1 e 2 Crônicas.

Havia ainda a divisão consonantal. A divisão e ordem dos livros no cânon


hebraico consonantal (anterior) era a mesma. O número de livros, entretanto, era
diferente. O conteúdo era o mesmo, mas agrupado de modo a formar apenas vinte
e quatro livros. Os livros de 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis e 1 e 2 Crônicas eram unidos,
formando apenas um livro cada (o que implica em três livros a menos em relação
ao nosso cânon). Os doze profetas menores eram agrupados em um só livro (menos
onze livros). Esdras e Neemias formavam um só livro, o Livro de Esdras (menos
um livro).

10
BIBLIOLOGIA CETEBES - 2023

III) AS DIFERENÇAS ENTRE O CÂNON CATÓLICO E


PROTESTANTE
A Bíblia católica tem sete livros a mais que não foram compilados pelos
massoretas. Tais livros surgem junto com a LXX entre os séculos III e I a.C.. Alguns
livros não foram aceitos como sendo de origem divina. São os chamados apócrifos
(do grego apokriphov = ocultos).
São livros aceitos pela Igreja Católica: Tobias, Judite, Eclesiástico,
Sabedoria de Salomão, 1° e 2° Macabeus. Além de adições aos livros de Ester e
Daniel.
O protestantismo de um modo geral não aceita estes livros pelos seguintes
motivos:
i. Nunca foram reconhecidos pelos judeus;
ii. Nunca foram citados por Jesus;
iii. Não foram reconhecidos pela Igreja primitiva;
iv. A própria igreja Católica só os aceitou em 1546;
v. Contêm doutrinas que os outros livros rejeitam.

IV) O CÂNON DO NOVO TESTAMENTO


Os livros foram sendo aceitos gradativamente pela igreja primitiva e por
volta de meados do primeiro século somente Tiago e Apocalipse ainda eram
discutidos. Nunca houve um concílio para aceitar os 66 livros que concordam a
maioria das linhas protestantes.
O combate a heresias foi o que deu realmente maior base para que a Bíblia
fosse ganhando o formato que hoje temos.

V) ADIÇÕES À BIBLIA
Os capítulos e versículos e parágrafos foram inseridos no século XI. Títulos
nos capítulos só existem mesmo em salmos, nos outros foram acréscimos. As
Bíblias de Estudo ainda contêm notas, itálicos, negritos, colchetes e parêntesis,
além de explicações do texto conforme a crença do editor ou tradutor.

11
BIBLIOLOGIA CETEBES - 2023

BIBLIOGRAFIA
- ANGUS, Joseph. História, Doutrina e Interpretação da Bíblia. São Paulo:
Editora Hagnos, 2003. 797p.
- BANCROFT, Emery H.. Teologia Elementar. São Paulo: Batista Regular do
Brasil, 2011. 473p
- BERKHOF, Louis. Teologia sistemática. Campinas: Luz Para o Caminho, 2e.
- DAGG, John L.. Manual de Teologia. São Paulo: Editora FIEL, 1998. 301p.
- ERICKSON, Millard J.. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo:
Edições Vida Nova, 1997. 540p.
- FERREIRA, Franklin e MYAT, Alan. Teologia Sistemática - uma análise
histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Edições
Vida Nova, 2007. 1218p.
- GEISLER, Norman. Teologia Sistemática – introdução à teologia, a Bíblia,
Deus – A criação. Rio de Janeiro: CPAD.
- GRUDEN, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Edições Vida Nova,
1999. 1046p.
- HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2001. 1711p.
- KAISER, Walter C.. Jr. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Mundo
Cristão, 2007. 318p.
- LANGSTON, A. B. Esboço de teologia sistemática. Rio de Janeiro: JUERP,
1999. 312p.
- MCGRATH, Alister E.. Teologia Sistemática, história e filosófica uma
introdução à Teologia Cristã. São Paulo. Shedd Publicações, 2005. 664p.
- SEVERA, Zacarias de Aguiar Severa. Manual de Teologia Sistemática.
Curitiba: A. D. Santos Editora, 2014. 424p.
- STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática Vol 1. São Paulo:
Hagnos, 2002. 680p.
- ________________________. Teologia Sistemática Vol 2. São Paulo:
Hagnos, 2003. 880p.
- THIESSEN, Henry Clarence. Palestras em Teologia Sistemática. Rio de
Janeiro: Imprensa Batista Regular, 2010. 399p.
- TEIXEIRA, Alfredo Borges. Dogmática evangélica. São Paulo, 1958. 334p.

12
BIBLIOLOGIA CETEBES - 2023

- URETA, Floreal. Elementos de teologia cristã. Rio de Janeiro: JUERP,


1995.243p.

13
TEONTOLOGIA
(DOUTRINA DE DEUS)
Prof. Antonio Carlos G. Affonso

2º SEMESTRE DE 2023
CENTRO DE EDUCAÇÃO BATISTA DO ESPÍRITO SANTO
Sumário
APRESENTAÇÃO ..................................................................................... 3
1 - A EXISTÊNCIA DE DEUS ................................................................... 4
I) Argumento da “Intuitividade” ou “Crença Universal” ...................... 4
II) Argumentos Racionais sobre a existência de Deus ............................. 4
III) A “congruência” ou “harmonia com os fatos” .................................. 5
2 - DEFINIÇÕES DE DEUS ...................................................................... 6
I) Definição Filosófica de Platão ........................................................... 6
II) Definição Cristã do Breve Catecismo ................................................. 6
III) Definição Combinada ........................................................................ 6
IV) Definições Bíblicas ............................................................................ 6
3 - Várias posições sobre Deus.................................................................... 7
I) ATEÍSMO .......................................................................................... 7
II) AGNOSTICISMO ............................................................................... 7
III) PANTEÍSMO (= Monismo) ................................................................ 7
IV) POLITEÍSMO .................................................................................... 8
V) DUALISMO ....................................................................................... 8
VI) TEÍSMO ABERTO.............................................................................. 8
4 - ESSÊNCIA OU NATUREZA DE DEUS .............................................. 9
I) Substância de Deus: ........................................................................... 9
II) Atributos de Deus: ............................................................................. 9
5 - CLASSIFICAÇÃO DOS ATRIBUTOS.............................................. 10
I) Atributos Naturais ............................................................................ 10
II) Atributos Morais .............................................................................. 16
6 - SANTIDADE - O ATRIBUTO REGULADOR.................................. 22
I) A natureza da santidade ................................................................... 22
II) A manifestação da santidade ............................................................ 23
7 - OS NOMES DE DEUS ........................................................................ 26
I) Conceito Bíblico............................................................................... 26
II) O significado de alguns nomes ......................................................... 26
8 - O ÚNICO DEUS .................................................................................. 28
I) Uma imagem falsa do Deus verdadeiro ............................................ 29
9 - O TRINO DEUS .................................................................................. 31
I) A unidade de Deus ........................................................................... 31
II) A doutrina da Trindade .................................................................... 31
III) A trindade implícita no Antigo Testamento ....................................... 32
IV) As declarações neotestamentárias .................................................... 33
10 - AS OBRAS E OS DECRETOS DE DEUS .................................... 36
I) As obras de Deus ............................................................................. 36
II) Os Decretos de Deus ........................................................................ 36
III) O plano de Deus em relação ao universo e aos homens .................... 37
Bibliografia................................................................................................ 38
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

APRESENTAÇÃO
Passaremos a estudar agora a parte da Teologia Sistemática que estuda sobre
Deus. O principal objetivo deste estudo é ter um maior conhecimento sobre este ser
magnífico que nos criou à sua imagem e semelhança e agiu com seu amor para
salvar homens sem nenhum merecimento.
A Doutrina de Deus carrega em si o esplendor de nos fazer pensar sobre os
atributos do Senhor. Conheceremos um pouco mais sobre sua santidade, seu amor,
suas obras e decretos. Claro que, por mais que estudemos, sempre estaremos muito
aquém de conhecer este ser maravilhoso e incomparável.
É importante que neste estudo nos concentremos em buscar em várias fontes.
Tudo que podemos estudar sobre, até mesmo no meio secular, é importante para
aumentar ainda mais o nosso conhecimento sobre ele.
Que Deus nos abençoe e nos dê sabedoria para conhecermos cada vez mais
dele.

3
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

1 - A EXISTÊNCIA DE DEUS

I) Argumento da “Intuitividade” ou “Crença Universal”


(Rm 2:15; 1:19-20 1:19-23,28,32; Jó 32:8; At 17:28-29)
A Crença na existência de Deus é universal; é também necessária (no sentido
de que é a “posição normal do pêndulo”: qualquer desvio dela é temporário e contra
nossa natureza); portanto, esta crença é intuitiva, inata; não é mero resultado de
tradições, educação, raciocínio acurado e educado (“Eu sempre soube que Ele
existe, somente não sabia Seu nome!” Helen Keller);
Portanto, a crença na existência de Deus foi colocada no coração do homem;
Só Deus poderia fazê-lo; Logo, Deus existe.

II) Argumentos Racionais sobre a existência de Deus


Pois toda casa é edificada por alguém, mas aquele que edificou todas
as coisas é Deus. (Hb 3:4)

O poder, a inteligência, os propósitos evidentes na natureza exigem e


provam que Deus existe e que tem infinitos poder, inteligência e propósito. O fato
do homem ser uma pessoa e ser moral, exige e prova que Deus existe e que é a
perfeição do saber, do sentir, do decidir, e do bem.
Poderíamos dividir em 4 os argumentos principais:

a) Argumento Ontológico
Consiste na causa da ideia de Deus – desenvolvido por Anselmo (1033-
1109). Todo homem, mesmo que sufocada e vagamente, tem a ideia de um deus
infinito e perfeito (At 17:21-23 [“ao deus desconhecido”]; Rm 1:18-20); esta ideia,
por ser infinitamente superior ao homem e ao universo, neles não pode ter se
originado; logo ela só pode ter se originado em Deus, que existe e é infinito e
perfeito.

b) Argumento Cosmológico
Consiste na causa do universo, desenvolvida por Tomás de Aquino (1255-
1274). Embutido em Hb 3:4: 1) A 2a. Lei da Termodinâmica diz que a entropia do
universo sempre aumenta (o caos e desordem do universo aumentam, sua energia
disponível diminui); Daí: 1) Se o universo fosse eterno, sua energia utilizável, na
eternidade passada, teria que ter sido infinita, o que é impossível; Logo o universo
teve origem; 2) No universo, todo efeito tem que ter tido uma causa apropriada; 3)
Logo o universo é o efeito de uma causa sem causa, transcendente (fora do universo
e em tudo seu superior): Deus.

4
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

c) Argumento Teleológico
Consiste na causa da ordem e propósito no universo (Sl 19:1-3; Rm 1:20; Sl
8:3-5; 94:9; Rm 1:18-23). Telos significa fim, propósito ou desígnio:
i. A ordem e propósito num sistema implicam inteligência e propósito
na sua causa;
ii. Há assombrosa ordem e propósito no universo (o “ateu” Galeno criou
“hino” de louvor a Deus, ao dissecar anatomia humana; Isaac Newton
tapou a boca de “ateu” ao deslumbrá-lo com miniatura do sistema
solar e dizer “não teve designer”);
iii. Logo, o universo tem um designer transcendente, um originador e
mantenedor das suas leis, inigualavelmente inteligente e com
propósito: Deus.

d) Argumento Antropológico ou da Causa da Moral


[Rm 2:14-15] (Gn 39:9 [José e a esposa de Potifar]; Sl 32:3-5; 38:1-4; Ec
12:14; Mq 6:8; Rm 1:19-32; 2:14-16): Uma voz não silenciável fala
incessantemente à consciência, exige-lhe obediência e assevera de um Juiz que
punirá cada desobediência [“Não fora esta voz ... e eu seria ateu” cardeal Newman];
Esta voz sobre a consciência não é nem imposta pelo indivíduo nem pela sociedade
(frequentemente lhes é contrária!); Portanto, existe alguém que fala à nossa
consciência, que é bom, justo juiz, senhor, autor e mantenedor de uma lei moral
permanente, absoluta e mandatória: Deus.

III) A “congruência” ou “harmonia com os fatos”


Se um postulado é o Único que (ou, de longe, o que mais) se harmoniza
com (e explica) uma série de fatos, então ele é crido e tomado como verdadeiro
(exemplo: a teoria subatômica). A existência de deus é a única (ou, de longe, a
melhor) explicação para a: crença universal na sua existência, nossa natureza Moral
e mental, nossa natureza religiosa, os fatos e as leis do universo. (ateísmo,
panteísmo, Agnosticismo etc. Não proveem uma explicação adequada, nem
satisfazem nosso coração). Portanto, Deus existe, é bom e santo, e todo-poderoso.

5
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

2 - DEFINIÇÕES DE DEUS

I) Definição Filosófica de Platão


Deus é o começo, o meio e o fim de todas as coisas. Ele é a mente ou razão
suprema; a causa eficiente de todas as coisas; eterno, imutável, onisciente,
onipotente; tudo permeia e tudo controla; é justo, santo, sábio e bom; o
absolutamente perfeito, o começo de toda a verdade, a fonte de toda a lei e justiça,
a origem de toda a ordem e beleza e, especialmente, a causa de todo o bem.

II) Definição Cristã do Breve Catecismo


Deus é um Espírito, infinito, eterno e imutável em Seu Ser, sabedoria, poder,
santidade, justiça, bondade e verdade.

III) Definição Combinada


Deus é um espírito infinito e perfeito em quem todas as coisas tem sua
origem, sustentação e fim (Jo 4:24; Ne 9:6; Ap l:8; Is 48:12; Ap.1:17).

IV) Definições Bíblicas


A Bíblia não tem uma preocupação quanto à definição de Deus. As
expressões “Deus é Espírito” (Jo 4:24) e “Deus é Luz” (1Jo 1:5), são expressões da
natureza essencial de Deus, enquanto a expressão “Deus é amor” (1Jo 4:7) é
expressão de Sua personalidade. (1Tm 6:16).

6
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

3 - Várias posições sobre Deus

I) ATEÍSMO
Aquele que afirma que Deus não existe. Há 3 tipos de ateus: Ateu dogmático:
“Deus não existe, não quero nem considerar o assunto”; Ateu na prática: “talvez
Deus exista..., mas toda religião é fraude…, viverei ignorando o assunto”; Ateu
virtual: “Sim, acredito em Deus, mas é impessoal, é a força da....”
O Ateu normalmente é:
- Tremendamente infeliz (Is 57: 20 ou 21); contrário à sua própria natureza
(o ateu virtual testifica disso, ao adotar uma abstração tentando satisfazer sua
natureza), portanto instável;
- Extremamente arrogante (Sl 10:4) - Dogmatizar que Deus não existe é
clamar ter o conhecimento de todas as coisas, inteligências, espaços e tempos.

II) AGNOSTICISMO
Trabalha com a ideia de que Deus não pode ser conhecido e muito menos
experimentado. Não aceita as experiências religiosas fugindo da presença de igrejas
ou templos. Uma vez que não é possível compreender Deus empiricamente,
também não o é de forma alguma.
Agnóstico vem do grego a+gnostos, ou seja, não-conhecimento, aquele que
não conhece.

III) PANTEÍSMO (= Monismo)


“Deus é tudo e tudo é Deus; todas as coisas são meros aspectos,
modificações ou partes de Deus”. Os 5 principais tipos de panteísmo são:
- Materialismo Panteístico: “Deus é o universo; este é impessoal e só
material, é eterno e vida gera-se espontaneamente.”
- Hilozoísmo ou Panpsiquismo: “Cada partícula de matéria tem um princípio
de vida, uma pequenina alma-mente [para muitos, a realidade final]. Deus é só um
nome para a alma-mente do universo.”
- Neutralismo: “Só existe uma substância neutra, que é aparente ora como
matéria, ora como mente. Deus é só um nome para a totalidade dessa substância.”
- Idealismo: “A realidade final é: a) minha mente [então o universo só existe
na minha mente, só eu existo!]; ou b) uma mente infinita, que pode ser impessoal
ou pessoal.”
- Misticismo filosófico: “Após muito esforço místico-moral... (Oh o
nirvana!), descubro que eu e Deus, o universo inteiro, somos um só. Desaparece a
noção de ‘eu e os outros’, ‘interior e exterior’, etc. Todos e tudo somos um”.
Panteísmo é inaceitável porque:
- Viola os argumentos de causa-e-efeito, vistos acima;

7
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

- É determinista, enquanto nossa consciência grita que somos livres e


responsáveis pelos nossos atos (por isso punimos criminosos...);
- Destrói as bases da moral, implicando que não existe pecado, errado,
condenação etc., violando nossa consciência (Rm 2:15). Crer que Deus [também] é
mau foi que levou pagãos a honrarem o mal!
- Torna religião impossível: se eu sou Deus, como adorar e servir a mim
mesmo?!...
- Deífica e envaidece o homem, tornando-o [parte de] Deus.
- Contraria a realidade concreta: o universo que não se auto mantém tem que
ter tido um início; ferro não demonstra nenhuma vida nem alma; não há pensamento
sem pensador; etc.

IV) POLITEÍSMO
Crê na existência de mais de um deus. Violenta a razão: como poderiam
existir 2 deuses todo-poderosos? Como poderiam cada um ser a origem, o
mantenedor e o fim de todas as outras coisas? ... A única explicação para o
politeísmo é a de Rm 1:18-32.

V) DUALISMO
Admite a coexistência de dois princípios contrários em si mesmo: espírito e
matéria, o bem e o mal, entre outras coisas. O bem e o mal são coeternos e Deus
não quer, ou não pode eliminar o mal.

a) DEÍSMO
“Deus ‘deu a partida’ em tudo e retirou-se para não mais interferir”. Um
deus desses não satisfaz o coração mais que nenhum deus existindo! Deísmo não
pode explicar as profecias e fatos científicos na Bíblia, nem os milagres
testemunhados, nem as respostas a orações.

VI) TEÍSMO ABERTO


Tenta explicar a onisciência de Deus com o livre-arbítrio do ser humano.
Este seria totalmente livre e se Deus realmente conhecesse o futuro não haveria esta
liberdade, logo, Deus não é onisciente no sentido absoluto da Palavra. Usa-se muito
os textos que falam do arrependimento de Deus e dEle ter mudado de ideia (Gn 6:6;
22:12; Êx 32:14; Jn 3:10).

8
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

4 - ESSÊNCIA OU NATUREZA DE DEUS


Quando falamos em essência de Deus, queremos significar tudo o que é
essencial ao Seu Ser como Deus, isto é, substância e atributos.

I) Substância de Deus:
1) Há duas substâncias: matéria e espírito.
2) Deus é uma substância simples: A substância de Deus é puro espírito,
sem mistura com a matéria (Jo 4:24).

II) Atributos de Deus:


Sua substância é Espírito e Seus atributos são as qualidades ou propriedades
dessa substância. Atributos é a manifestação do Ser de Deus. Podemos dizer que
atributo é aquilo que descreve ou qualifica um ser.

9
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

5 - CLASSIFICAÇÃO DOS ATRIBUTOS


Existem várias classificações dos atributos de Deus aqui escolheremos uma
para que possamos nos basear. Entretanto não cremos que este ou aquele sistema
seja melhor.
Também podem ser chamados de “intransitivos e transitivos”,
“incomunicáveis e comunicáveis”, “absolutos e relativos”, “negativos e positivos”
ou “imanentes e emanantes”.
Classificamos aqui como Naturais aqueles que pertencem à natureza de
Deus. E Morais aqueles que dizem respeito ao comportamento de Deus.

I) Atributos Naturais

a) Vida
Deus tem vida e é vida; Ele ouve, vê, sente e age, portanto, é um Ser vivo
(Jo 10:10; Sl 94:9,10; 2Cr 16:9; At 14:15; 1Ts 1:9). Quando a Bíblia fala do olho,
do ouvido, da mão de Deus etc., fala metaforicamente. A isto se dá o nome de
antropomorfismo. Deus é vida (Jo 5:26; 14:26) e o princípio de vida (At 17:25,28).

b) Espiritualidade
Deus, sendo Espírito, é incorpóreo, invisível, sem substância material, sem
partes ou paixões físicas e, portanto, é livre de todas as limitações temporais (Jo
4:24; Dt 4:15-19,23; Hb 12:9; Is 40:25; Lc 24:39; Cl 1:15; 1Tm 1:17; 2Co 3:17)

c) Personalidade
Existência dotada de autoconsciência e autodeterminação (Ex.3:14; Is
46:11).
a) Volição ou vontade = querer (Is 46:10; Ap 4:11).
b) Razão ou intelecto = pensar (Is 14:24; Sl 92:5; Is 55:8).
c) Emoção ou sensibilidade = sentir (Gn 6:6, IRs.11:9, Dt 6:15; Pv 6:16; Tg
4:5)

d) Triunidade
Eis uma doutrina que até nossos dias tem trazido grandes dificuldades. O
maior problema é que se tenta compreender pela ótica e limitações humanas.

Unidade do Ser
Há no Ser divino apenas uma essência indivisível. Deus é um em sua
natureza constitucional. A palavra hebraica que significa um no sentido absoluto é
yacheed (Gn 22:2), isto é, uma unidade numérica simples. Essa palavra não é
empregada para expressar a unidade da divindade. A unidade da divindade é
10
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

ensinada nas palavras de Jesus: Eu e o Pai somos um (Jo 10:30). Jesus está falando
da unidade da essência e não de unidade de propósito. (Jo 17:11,21-23, 1Jo 5:7)

Trindade de Personalidade
Há três Pessoas no Ser divino: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. A palavra
hebraica que significa um no sentido de único é echad que se refere a uma unidade
composta. Esta palavra é empregada para expressar a unidade da divindade. Esta
palavra é usada em Dt 6:4; Gn 2:24 e Zc.14:9 (Veja também Dt 4:35;32:39; 1Cr
29:1; Is 43:10;44:6;45:5; I Rs.8:60; Mc 10:9;12:29; 1Co 8:5,6; 1Tm 2:5; Tg 2:19;
Jo 17:3; Gl 3:20; Ef 4:6).
Acredita-se que Elohim determine a ideia da trindade ou da triunidade. Isto
porque ele está no plural e não concorda com o verbo no singular quando
designativo de Deus (Gn 1:26; 3:22; 11:6,7;20:13;48:15; Is 6:8).
Há também distinção entre as Pessoas na Divindade. Algumas passagens
mostram uma das Pessoas divinas se referindo à outra (Gn 19:24; Os 1:7; Zc 3:1,2;
2Tm 1:18; Sl 110:1; Hb 1:9).

e) Auto Existência
Deus é o eterno “Eu sou” não criado, não gerado, mas sempre existente.
Jerônimo disse: “Deus é a origem de Si mesmo e a causa de Sua própria
substância”. Jerônimo estava errado, pois Deus não tem causa de existência, pois
não criou a Si mesmo e não foi causado por outra coisa ou por Si mesmo; Ele nunca
teve início. Ele é o Eterno EU SOU (Êx 3:14), portanto Deus é absolutamente
independente de tudo fora de Si mesmo para a continuidade e perpetuidade de Seu
Ser. Deus é a razão de sua própria existência (Jo 5:26; At 17:24-28; 1Tm 6:15,16).

f) Infinidade ou Perfeição
É o atributo pelo qual Deus é isento de toda e qualquer limitação em seu Ser
e em seus atributos (Jó 11:7-10; Mt 5:48). A infinidade de Deus se contrasta com o
mundo finito em sua relação tempo-espaço. Este atributo pode ser observado em
outros que o compõe.

Eternidade
A infinidade de Deus em relação ao tempo é denominada eternidade. Deus
é Eterno (Sl 90:2; 102:12,24-27; Sl 93:2; Ap.1:8; Dt 33:27; Hb 1:12). A eternidade
de Deus não significa apenas duração prolongada, para frente e para traz, mas sim
que Deus transcende a todas as limitações temporais (2Pe 3:8) existentes em
sucessões de tempo. Deus preenche o tempo. Nossa vida se divide em passado,
presente e futuro. Mas não há essa divisão na vida de Deus. Ele é o Eterno EU SOU.
Deus é elevado acima de todos os limites temporais e de toda a sucessão de
momentos, e tem a totalidade de sua existência num único presente indivisível (Is
57:15).
11
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

Imensidão
A infinidade de Deus em relação ao espaço é denominada imensidão ou
imensidade. Deus é imenso (Grande ou Majestoso; Jó 36:5,26; Jó 37:22,23; Jr
22:18; Sl 145:3). Imensidão é a perfeição de Deus pela qual Ele transcende
(ultrapassa) todas as limitações espaciais e, contudo, está presente em todos os
pontos do espaço com todo o seu Ser PESSOAL (não é panteísmo). A imensidão
de Deus é intensiva e não extensiva, isto é, não significa extensão ilimitada no
espaço, como no panteísmo. A imensidão de Deus é transcendente no espaço
(intramundano ou imanente = dentro do mundo - Sl 139:7-12; Jr 23:23,24) e fora
do espaço (supramundano = acima do mundo; extramundano = além do mundo;
emanente = fora do mundo – 1Re 8:27; Is 57:15).

Onipresença
É quase sinônimo de imensidão, porém esta denota a transcendência no
espaço enquanto a onipresença denota a imanência no espaço. Deus é imanente em
todas as Suas criaturas e em toda a criação. A imanência não deve ser confundida
com o panteísmo (tudo é Deus) ou com o deísmo que ensina que Deus está presente
no mundo apenas com seu poder (per portentiam) e não com a essência e natureza
de seu Ser (per essentiam et naturam) e que age sobre o mundo à distância. Deus
ocupa o espaço completamente porque preenche todo o espaço e não está ausente
em nenhuma parte dele, mas tampouco está mais presente numa parte que noutra
(Sl 139:11,12). Deus ocupa o espaço variavelmente porque Ele não habita na terra
do mesmo modo que habita no céu, nem nos animais como habita nos homens, nem
nos ímpios como habita nos piedosos, nem na igreja como habita em Cristo (Is 66:1;
At 17:27,28; Compare Ef 1:23 com Cl 2:9).

Imutabilidade
É o atributo pelo qual não encontramos nenhuma mudança em Deus, em sua
natureza, em seus atributos e em seu conselho.
a) A “base” para a imutabilidade de Deus: É Sua simplicidade,
eternidade, auto existência e perfeição. Simplicidade porque sendo Deus uma
substância simples, indivisível, sem mistura, não está sujeito a variação (Tg 1:17).
Eternidade porque Deus não está sujeito às variações e circunstâncias do tempo,
por isso Ele não muda (Sl 102:26,27; Hb 1:12 e 13:8). Auto existência porque uma
vez que Deus não é causado, mas existe em Si mesmo, então Ele tem que existir da
forma como existe, portanto, sempre o mesmo (Êx 3:14). E perfeição porque toda
mudança tem que ser para melhor ou pior e sendo Deus absolutamente perfeito
jamais poderá ser mais sábio, mais santo, mais justo, mais misericordioso, e nem
menos. Por isso Deus é imutável como a rocha (Dt 32:4).
b) Imutabilidade não significa imobilidade: Nosso Deus é um Deus de
ação (Is 43:13).

12
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

c) Imutabilidade implica em não arrependimento: Alguns versículos


falam de Deus como se Ele se arrependesse (Êx 32:14, 2Sm 24:16, Jr 18:8; Jl 2:13).
Trata-se de antropomorfismo (Nm 23:19; Rm 11:29; 1Sm 15:29; Sl 110:4).
d) Imutabilidade de Deus em Sua natureza: Deus é perfeito em sua
natureza por isso não muda nem para melhor nem para pior (Ml.3:6).
e) Imutabilidade de Deus em Seus atributos: Deus é imutável em suas
promessas (1Re 8:56; 2Co 1:20); em sua misericórdia (Sl 103:17; Is 54:10); em sua
justiça (Ez 8:18); em seu amor (Gn 18:25,26).
f) Imutabilidade de Deus em Seu conselho: Deus planejou os fatos
conforme a sua vontade e decretou que este plano seja concretizado. Nada poderá
se opor à sua vontade. O próprio Deus jamais mudará de opinião, mas fará conforme
seu plano predeterminado (Is 46:9,10; Sl 33:11; Hb 6:17).

g) Onisciência
Atributo pelo qual Deus, de maneira inteiramente única, conhece-se a Si
próprio e a todas as coisas possíveis e reais num só ato eterno e simples. O
conhecimento de Deus tem suas características:
a) É arquétipo: Deus conhece o universo como ele existe em Sua própria
ideia anterior à sua existência como realidade finita no tempo e no espaço; e este
conhecimento não é obtido de fora, como o nosso (Rm 11:33,34).
b) É inato e imediato: Não resulta de observação ou de processo de
raciocínio (Jó 37:16).
c) É simultâneo: Não é sucessivo, pois Deus conhece as coisas de uma vez
em sua totalidade, e não de forma fragmentada uma após outra (Is 40:28).
d) É completo: Deus não conhece apenas parcialmente, mas plenamente
consciente (Sl 147:5).
e) Conhecimento necessário: Conhecimento que Deus tem de Si mesmo e
de todas as coisas possíveis, um conhecimento que repousa na consciência de sua
onipotência. É chamado necessário porque não é determinado por uma ação da
vontade divina. (Por exemplo: O conhecimento do mal é um conhecimento
necessário porque não é da vontade de Deus que o mal lhe seja conhecido (Hc 1:13)
Deus não pode nem quer ver o mal, mas o conhece, não por experiência, que
envolve uma ação de Sua vontade, mas sim por simples inteligência, por ser ato do
intelecto divino (veja 2Co 5:21 onde o termo grego ginosko é usado).
f) Conhecimento livre: É aquele que Deus tem de todas as coisas reais, isto
é, das coisas que existiram no passado, que existem no presente e existirão no
futuro. É também chamado visionis, isto é, conhecimento de vista.
g) Presciência: Significa conhecimento prévio; conhecimento de antemão.
Como Deus pode conhecer previamente as ações livres dos homens? Deus decretou
todas as coisas, e as decretou com suas causas e condições na exata ordem em que
ocorrem, portanto, sua presciência de coisas contingentes (1Sm 23:12; 2Re 13:19;
Jr 38:17-20; Ez 3:6 e Mt 11:21) apoia-se em seu decreto. A presciência de Deus é

13
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

muito mais do que saber o que vai acontecer no futuro, e seu uso no N.T. é
empregado como na LXX que inclui Sua escolha efetiva (Nm 16:5; Jz 9:6; Am 3:2).
Veja Rm 8:29; 1Pe 1:2; Gl 4:9. Como se processou o conhecimento
necessário de Deus nas livres ações dos homens antes mesmo que Ele as decretasse?
A liberdade humana não é uma coisa inteiramente indeterminada, solta no ar, que
pende numa ou noutra direção, mas é determinada por nossas próprias
considerações intelectuais e caráter (lubentia rationalis = autodeterminação
racional). Liberdade não é arbitrariedade e em toda ação racional há um porquê,
uma razão que decide a ação. Portanto o homem verdadeiramente livre não é o
homem incerto e imprevisível, mas o homem seguro. A liberdade tem suas leis -
leis espirituais - e a Mente Onisciente sabe quais são (Jo 2:24, 25). Em resumo, a
presciência é um conhecimento livre (scientia libera) e, logicamente procede do
decreto, “...segundo o decreto sua vontade” (Ef 1:11).
h) Sabedoria: A sabedoria de Deus é a Sua inteligência como manifestada
na adaptação de meios e fins. Deus sempre busca os melhores fins e os melhores
meios possíveis para a consecução dos seus propósitos. H.B. Smith define a
sabedoria de Deus como o Seu atributo através do qual Ele produz os melhores
resultados possíveis com os melhores meios possíveis. Uma definição ainda melhor
há de incluir a glorificação de Deus: Sabedoria é a perfeição de Deus pela qual Ele
aplica o seu conhecimento à consecução dos seus fins de um modo que o glorifica
o máximo (Rm 11:33-36; Ef 1:11, 12; Cl 1:16). Encontramos a sabedoria de Deus
na criação (Sl 19:1-7; Sl 104), na redenção (1Co 2:7; Ef 3:10). A sabedoria é
personificada na Pessoa do Senhor Jesus (Pv 8 e 1Co 1:30; Jó 9:4; veja também Jó
12:13,16).

h) Onipotência
É o atributo pelo qual encontramos em Deus o poder ilimitado para fazer
qualquer coisa que Ele queira. A onipotência de Deus não significa o exercício para
fazer aquilo que é incoerente com a natureza das coisas, como, por exemplo, fazer
que um fato do passado não tenha acontecido, ou traçar entre dois pontos uma linha
mais curta do que uma reta. Deus possui todo o poder que é coerente com Sua
perfeição infinita, todo o poder para fazer tudo aquilo que é digno dEle. O poder de
Deus é distinguido de duas maneiras: Potentia Dei absoluta = absoluto poder de
Deus e potentia Dei ordinata = poder ordenado de Deus. Hodge e Shedd definem
o poder absoluto de Deus como a eficiência divina, exercida sem a intervenção de
causas secundárias, e o poder ordenado como a eficiência de Deus, exercida pela
ordenada operação de causas secundárias.
Chanock define o poder absoluto como aquele pelo qual Deus é capaz de
fazer o que Ele não fará, mas que tem possibilidade de ser feito, e o poder ordenado
como o poder pelo qual Deus faz o que decretou fazer, isto é, o que Ele ordenou ou
marcou para ser posto em exercício; os quais não são poderes distintos, mas um e
o mesmo poder. O seu poder ordenado é parte do seu poder absoluto, pois se Ele
não tivesse poder para fazer tudo que pudesse desejar, não teria poder para fazer
14
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

tudo o que Ele deseja. Podemos, portanto, definir o poder ordenado de Deus como
a perfeição pela qual Ele, mediante o simples exercício de Sua vontade, pode
realizar tudo quanto está presente em Sua vontade ou conselho. É óbvio, porém,
que Deus pode realizar coisas que a Sua vontade não desejou realizar (Gn 18:14; Jr
32:27; Zc 8:6; Mt 3:9; Mt 26:53). Entretanto há muitas coisas que Deus não pode
realizar. Ele não pode mentir, pecar, mudar ou negar-se a Si mesmo (Nm 23:19;
1Sm 15:29; 2Tm 2:13; Hb 6:18; Tg 1:13,17; Hb 1:13; Tt 1:3), isto porque não há
poder absoluto em Deus, divorciado de Suas perfeições, e em virtude do qual Ele
pudesse fazer todo tipo de coisas contraditórias entre Si (Jó 11:7). Deus faz somente
aquilo que quer fazer (Sl 115:3; Sl 135:6).
A onipotência de Deus se expressa no nome hebraico El-Shaddai traduzido
por Todo-Poderoso (Gn 17:1; Êx 6:3; Jó 37:23 etc.).
A onipotência de Deus abrange todas as coisas (1Cr 29:12), o domínio
sobre a natureza (Sl 107:25-29; Na 1:5,6; Sl 33:6-9; Is 40:26; Mt 8:27; Jr 32:17;
Rm 1:20), o domínio sobre a experiência humana (Sl 91:1; Dn 4:19-37; Ex.7:1-5;
Tg 4:12-15; Pv 21:1; Jó 9:12; Mt 19:26; Lc.1:37), o domínio sobre as regiões
celestiais (Dn 4:35; Hb 1:13,14; Jó 1:12; Jó 2:6). Deus manifestou o seu poder na
criação (Rm 4:17; Is 44:24), nas obras da providência (1Cr 29:11,12) e na
redenção (Rm 1:16; 1Co 1:24).

i) Soberania ou Supremacia
Atributo pelo qual Deus possui completa autoridade sobre todas as coisas
criadas, determinando-lhe o fim que desejar (Gn 14:19; Ne 9:6; Ex.18:11; Dt 10:14,
17; 1Cr 29:11; 2Cr 20:6; Jr 27:5; At 17:24-26; Jd 4; Sl 22:28; 47:2,3,8; 50:10-12;
95:3-5; 135:5; 145:11-13; Ap 19:6).
a) Vontade ou Autodeterminação: A perfeição de Deus pela qual Ele, num
ato sumamente simples, dirige-se à Si mesmo como o Sumo Bem (deleita-se em Si
mesmo como tal) e às Suas criaturas por amor do Seu nome (Is 48:9,11,14; Ez
20:9,14,22,44; Ez 36:21-23). A vontade de Deus recebe variadas classificações,
pois a ela são aplicadas diferentes palavras hebraicas (chaphets, tsebhu, ratson) e
gregas (boule, thelema).
Vontade Preceptiva: Na qual Deus estabeleceu preceitos morais para reger
a vida de Suas criaturas racionais. Esta vontade pode ser desobedecida com
frequência (At 13:22; 1Jo 2:17; Dt 8:20).
Vontade Decretória: Pela qual Deus projeta ou decreta tudo o que virá a
acontecer, quer pretenda realizá-lo causativamente, quer permita que venha a
ocorrer por meio da livre ação de suas criaturas (At 2:23; Is 46:9-11). A vontade
decretória é sempre obedecida. A vontade decretória e a vontade preceptiva
relacionam-se ao propósito em realizar algo.
Vontade de Eudokia: Na qual Deus deleita-se com prazer em realizar um
fato e com desejo de ver alguma coisa feita. Esta vontade, embora não se relacione
com o propósito de fazer algo, mas sim com o prazer de fazer algo, contudo

15
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

corresponde àquilo que será realizado com certeza, tal como acontece com a
vontade decretória (Sl 115:3; Is 44:28; Is 55:11).
Vontade de Eurestia: Na qual Deus deleita-se com prazer ao vê-la
cumprida por Suas criaturas. Esta vontade abrange aquilo que a Deus apraz que
Suas criaturas façam, mas que pode ser desobedecido, tal como acontece com a
vontade preceptiva (Is 65:12).
A vontade de eudokia não se refere somente ao bem, e nela não está sempre
presente o elemento de deleite (Mt 11:26). A vontade de eudokia e a vontade de
eurestia relacionam-se ao prazer em realizar algo.
Vontade de Beneplacitum: Também chamada Vontade Secreta. Abrange
todo o conselho secreto e oculto de Deus. Quando esta vontade nos é revelada, ela
torna-se na Vontade do Signum ou Vontade Revelada.
A distinção entre a vontade de beneplacitum e a vontade de signum encontra-
se em Deuteronômio 29:29. A vontade secreta é mencionada em Sl 115:3; Dn
4:17,25,32,35; Rm 9:18,19; Rm 11:33,34; Ef 1:5,9,11, enquanto a vontade revelada
é mencionada em Mt 7:21; Mt 12:50; Jo 4:34; Jo 7:17; Rm 12:2). Esta vontade está
mui perto de nós (Dt 30:14; Rm 10:8). A vontade secreta de Deus pertence a todas
as coisas que Ele quer efetuar ou permitir, tal como acontece na vontade decretória,
sendo, portanto, absolutamente fixa e irrevogável.

j) Liberdade
A perfeição de Deus no exercício de Sua vontade. Deus age necessária e
livremente. Somente Deus é absolutamente livre.
Assim como há conhecimento necessário e conhecimento livre, há também
uma voluntas necessaria = vontade necessária e uma voluntas libera = vontade
livre. Na vontade necessária Deus não está sob nenhuma compulsão, mas age de
acordo com a lei do Seu Ser, pois Ele necessariamente quer a Si próprio e quer a
Sua natureza santa. Deus necessariamente se ama a Si próprio e Suas perfeições.
As Suas criaturas são objetos de Sua vontade livre, pois Deus determina
voluntariamente o que e quem Ele criará; e os tempos, lugares e circunstâncias de
suas vidas. Ele traça as veredas de todas as Suas criaturas, determina o seu destino
e as utiliza para Seus propósitos (Jó ll:10; Jó 23:13,14; Jó 33:13. Pv 16:4; Pv 21:1;
Is 10:15; Is 29:16; Is 45:9; Mt 20:15; Ap 4:11; Rm 9:15-22; 1Co 12:11).

II) Atributos Morais

a) Santidade:
É a perfeição de Deus, em virtude da qual Ele eternamente quer manter e
mantém a Sua excelência moral, aborrece o pecado, e exige pureza moral em suas
criaturas. Ser Santo vem do hebraico qadosh que significa cortar ou separar. Neste
sentido também o Novo testamento utiliza as palavras gregas hagiazo e hagios.

16
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

É a santidade que faz a ligação entre os atributos naturais e os morais.


Podemos dizer que somente Deus é absolutamente santo. Sendo assim, ele é infinito
em sua santidade e perfeito nela.
A santidade de Deus possui dois diferentes aspectos, podendo ser positiva
ou negativa (Hb 1:9; Am 5:15; Rm 12:9).

Santidade Positiva
Expressa excelência moral de Deus na qual Ele é absolutamente perfeito,
puro e íntegro em Sua natureza e Seu caráter (1Jo 1:5; Is 57:15; 1Pe 1:15,16; Hc
1:13). A santidade positiva é amor ao bem.

Santidade Negativa
Significa que Deus é inteiramente separado de tudo quanto é mal e de tudo
quanto o aborrece (Lv 11:43-45; Dt 23:14; Jó 34:10; Pv 15:9,26; Is 59:1,2; Lc
20:26; Hc 1:13; Pv 6:16-19; Dt 25:16; Sl 5:4-6). A santidade negativa é ódio ao
mal.
Além de possuir dois aspectos a santidade de Deus possui também duas
maneiras diferentes de se manifestar: Retidão e Justiça.

Retidão
Também chamada justiça absoluta, é a retidão da natureza divina, em virtude
da qual Ele infinitamente Reto em Si mesmo (santidade legislativa). Sl 145:17; Jr
12:1; Jo 17:25; Sl 116:5; Ed 9:15.

Justiça
Também chamada justiça relativa, é a execução da retidão ou a expressão
da justiça absoluta (santidade judicial). Strong a chama de santidade transitiva. A
retidão é a fonte da Santidade de Deus, a justiça é a demonstração de Sua santidade.
A justiça de Deus pode ser retributiva e remunerativa. A justiça retributiva
se divide em punitiva e corretiva. A justiça punitiva é aquela pela qual Deus pune
os pecadores pela transgressão de Suas leis. Esta justiça de Deus exige a execução
das penalidades impostas por Suas leis (Sl 3:5; 11:4-7; Dt 32:4; Dn 9:12,14; Êx
9:23-27;34:7). A justiça corretiva é aquela pela qual Deus “pune” Seus filhos para
corrigi-los (Hb 12:6,7). Aqueles que não são Seus filhos, Deus pune como um Juiz
Severo (Rm 11:22; Hb 10:31), mas aos Seus filhos, Deus “pune” (corrige) como
um Pai Amoroso (Jr 10:24;30:11;46:28; Sl 89:30-33; 1Cr 21:13) A justiça
remunerativa é aquela pela qual Deus recompensa, com Suas bênçãos, aos homens
pela obediência de Suas leis (Hb 6:10; 2Tm 4:8; 1Co 4:5;3:11-15; Rm 2:6-10; 2Jo
8).

17
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

A Justiça de Deus e o sacrifício de Cristo


Quando falamos de justiça de Deus na maioria das vezes pensamos na
condenação que ele dará aos ímpios. Nem sequer nos lembramos que a maior prova
da justiça divina está não na condenação, mas na salvação do homem. Esta justiça
não é baseada em nosso próprio merecimento, ao contrário, baseia-se tão somente
no próprio Deus, mediante o sacrifício de Cristo.
Em Jeremias encontramos um texto que nos mostra algo muito sublime. Ele
nos apresenta o Messias como sendo o Renovo de Davi. Mas acima disto nos
apresenta este Renovo como sendo a própria Justiça (Jr 33:15). Este título ser-lhe-
ia tão apropriado que ele seria chamado O Senhor Justiça Nossa (Jr 33:16). Por
trás desta expressão existe toda a verdade de nossa salvação. Jesus passou a ser
nossa justiça, isto implica em dizer que muito mais do que salvador, Cristo passa a
ser nosso justificador, ou melhor ainda: ele passa ser a nossa justificação. Desta
forma ele fez com que nós passássemos a ser a própria justiça de Deus em ação
(2Co 5:21).
O que não pode acontecer é que por sabermos que somos parte da justiça de
Deus venhamos a nos acomodar à situação em que estamos vivemos. Ao que nos
parece o crente do século vinte parece estar cômodo em seu próprio lugar, como
que estando convencido de seu merecimento da salvação. Jesus tornou-se nossa
justiça, não somos justos de modo algum, antes somos justificados pelo sangue
precioso de Jesus (Rm 5:9). Aí está a grande verdade da união da justiça de Deus e
do sacrifício de Jesus na cruz.

Ira
Esta deve ser considerada como um aspecto negativo da santidade de Deus,
pois em Sua ira Deus aborrece o pecado e odeia tudo quanto contraria Sua santidade
(Dt 32:39-41; Rm 11:22; Sl 95:11; Dt 1:34-37; Sl 95:11). Podemos, então, dizer
que a ira é a manifestação da santidade negativa de Deus (Rm 1:18; 2Ts 1:5-10;
Rm 5:9 etc.). A ira é também designada de severidade (Rm 11:22).

A justiça e a ira de Deus


Apesar da nossa salvação está baseada na justiça de Deus, isto não quer dizer
que somos merecedores, antes quer dizer que Jesus pagou para nós o preço de nossa
liberdade. Não é algo, como já dissemos, que veio de graça. Consequentemente, se
não somos merecedores logo existe algo mais na justiça divina que temos que
compreender. E isto é a sua ira.
De todos os atributos divinos este é o que menos se estuda. Consegue-se
estudar menos do que a santidade de Deus. Entretanto, de todos os atributos
comunicáveis de Deus, este é o que mais merecemos. No século em que vivemos
temos a tendência de querer resolver as coisas de maneiras mais amenas. Não
gostamos de tocar em assuntos como estes, que nos fazem pensar, conforme diriam

18
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

alguns, negativamente. Entretanto, o que não podemos tirar de nossa mente é que
quando se faz justiça muitas vezes torna-se necessária a manifestação de ira.
A ira de Deus não é impulsiva e descontrolada como a ira humana. Aliás,
nenhum dos atributos comunicáveis de Deus são semelhantes aos similares dos
homens. Nem mesmo o amor de Deus é igual ao amor humano. Este normalmente
é provido de imoralidade e interesse. Aquele de responsabilidade racionalidade e
altruísmo.
Quando lemos texto como Naum 1:2-8 vemos como realmente é a ira de
Deus:
1º) Ele tem um zelo muito grande pela santidade, por isto não aceita o
pecado (v. 2);
2º) Embora não deixe o culpado sem castigo, sua ira é tardia em ocorrer
(v. 3);
3º) Sua ira é totalmente devastadora (v. 4,5);
4º) Ninguém pode deter o Senhor quando ele derramar a sua ira (v. 6);
5º) Apesar de tudo ele conhece os que confiam nele e jamais os
abandonará (v. 7);
6º) Retirará diante destes a sua angústia, e não deixará em paz os
inimigos de seu povo (v. 8).
Esta foi apenas uma pequena lição que podemos tirar da ira de Deus. Ela
existe e é viva, apenas aguarda o momento certo de manifestar de maneira
definitiva.

b) Bondade
É uma concepção genérica incluindo diversas variedades que se distinguem
de acordo com os seus objetos. Bondade é perfeição absoluta e felicidade perfeita
em Si mesmo (Mc 10:18; Lc.18:18,19; Sl 33:5; Sl 119:68; Sl 107:8; Na 1:7). A
bondade implica na disposição de transmitir felicidade. Ela pode ser vista em sua
benevolência, beneficência, complacência, longanimidade, misericórdia, graça e
amor.

Benevolência
É a bondade de Deus para com Suas criaturas em geral. É a perfeição de
Deus que O leva a tratar benévola e generosamente todas as Suas criaturas (Sl
145:9,15,16; Sl 36:6; 104:21; Mt 5:45;6:26; Lc.6:35; At 14:17). Thiessen define
benevolência como a afeição que Deus sente e manifesta para com Suas criaturas
sensíveis e racionais. Ela resulta do fato de que a criatura é obra Sua; Ele não pode
odiar qualquer coisa que tenha feito (Jó 14:15), mas apenas àquilo que foi
acrescentado à Sua obra, que é o pecado (Ec 7:29).

19
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

Beneficência
Enquanto a benevolência é a bondade de Deus considerada em sua intenção
ou disposição, a beneficência é a bondade em ação, quando seus atributos são
conferidos.

Complacência
É a aprovação às boas ações ou disposições. É aquilo em Deus que aprova
todas as Suas próprias perfeições como também aquilo que se conforma com Ele
(Sl 35:27; Sl 51:6; Is 42:1; Mt 3:17; Hb 13:16).

Longanimidade ou Paciência
O hebraico emprega a palavra erek'aph que significa grande de rosto e daí
também lento para a ira. O grego emprega makrothymia que significa ira longe.
Portanto longanimidade é o aspecto da bondade de Deus em virtude do qual Ele
tolera os pecadores, a despeito de sua prolongada desobediência. A longanimidade
revela-se no adiamento do merecido julgamento (Êx 34:6; Sl 86:15; Rm 2:4; Rm
9:22; 1Pe 3:20; 2Pe 3:15)

Misericórdia
Também expressa pelos sinônimos: compaixão, compassividade, piedade,
benignidade, clemência e generosidade. No hebraico usam-se as palavras chesed e
racham e no grego eleos. É a bondade de Deus demonstrada para com os que se
acham na miséria ou na desgraça, independentemente dos seus méritos (Dt 5:10; Sl
57:10; Sl 86:5; 1Cr 16:34; 2Cr 7:6; Sl 116:5; Sl 136; Ed 3:11; Sl 145:9; Ez 18:23,32;
Êx 33:11; Lc.6:35; Sl 143:12; Jó 6:14).
A paciência difere da misericórdia apenas na consideração formal do objeto,
pois a misericórdia considera a criatura como infeliz, a paciência considera a
criatura como criminosa; a misericórdia tem pena do ser humano em sua
infelicidade, a paciência tolera o pecado que gerou a infelicidade. A infelicidade e
sofrimento derivam-se de um justo desagrado divino, portanto exercer misericórdia
é o ato divino de livrar o pecador do sofrimento pelo qual ele justamente e
merecidamente deveria passar, como consequência do desagrado divino.

Graça
É a bondade de Deus exercida em prol da pessoa indigna. Portanto graça é
o ato divino de conceder ao pecador toda a bondade de Deus a qual ele não merece
receber (Êx 33:19).
Na misericórdia Deus suspende o sofrimento merecido, na graça Deus
concede bênçãos não merecidas. Todo pecador merece ir para o inferno; assim Deus
exerce Sua misericórdia livrando o pecador da condenação. Nenhum pecador
merece ir para o paraíso; assim Deus exerce a Sua graça doando ao pecador o
privilégio de ir gratuitamente para o paraíso. Essa diferença entre misericórdia e
20
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

graça é notada em relação aos anjos que não caíram. Deus nunca exerceu
misericórdia para com eles, posto que jamais tiveram necessidade dela, pois não
pecaram, nem ficaram debaixo dos efeitos da maldição. Todavia eles são objetos
da livre e soberana graça de Deus pela qual foram eleitos (1Tm 5:21) e preservados
eternamente de pecado e colocados em posição de honra (Dn 7:10; 1Pe 3:22).

c) Amor
A perfeição da natureza divina pela qual Ele é continuamente impelido a se
comunicar. É, entretanto, não apenas um impulso emocional, mas uma afeição
racional e voluntária, sendo fundamentada na verdade e santidade e no exercício da
livre escolha. Este amor encontra seus objetos primários nas diversas Pessoas da
Trindade. Assim, o universo e o homem são desnecessários para o exercício do
amor de Deus. Amor é, portanto, a perfeição de Deus pela qual Ele é movido
eternamente à Sua própria comunicação. Ele ama a Si mesmo, Suas virtudes, Sua
obra e Seus dons.

d) Verdade
É a consonância daquilo que é asseverado com o que pensa a Pessoa que fez
a asseveração. Neste sentido a verdade é um atributo exclusivamente divino, pois
com frequência os homens erram nos testemunhos que prestam, simplesmente por
estarem equivocados a respeito dos fatos, ou então por pura incapacidade fracassam
em promessas que fizeram com honestas intenções.
Mas a onisciência de Deus impede que Ele chegue a cometer qualquer
equívoco, e a Sua onipotência e imutabilidade asseguram o cumprimento de Suas
intenções (Dt 32:4; Sl 119:142; Jo 8:26; Rm 3:4; Tt 1:2; Nm 23:19; Hb 6:18; Ap
3:7; Jo 17:3; 1Jo 5:20; Jr 10:10; Jo 3:33; 1Ts 1:9; Ap 6:10; Sl 31:5; Jr 5:3; Is 25:1).
Ao exercê-la para com a criatura, a verdade de Deus é conhecida como sua
veracidade e fidelidade.
A verdade implica em dois aspectos inseparáveis: veracidade e fidelidade.

Veracidade
Consiste nas declarações que Deus faz a respeito das coisas, conforme elas
são, e se relaciona com o que Ele revelou sobre Si mesmo. A veracidade
fundamenta-se na onisciência de Deus.

Fidelidade
Consiste no exato cumprimento de Suas promessas ou ameaças. A fidelidade
fundamenta-se na Sua onipotência e imutabilidade (Dt 7:9; Sl 36:5; 1Co 1:9; Hb
10:23; Dt 4:24; 2Tm 2:13; Sl 89:8; Lm 3:23; Sl 119:138; Sl 119:75; Sl 89:32,33;
1Ts 5:24; 1Pe 4:19; Hb 10:23).

21
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

6 - SANTIDADE - O ATRIBUTO REGULADOR


Passaremos a fazer uma análise separada da santidade de Deus.
A palavra do Antigo Testamento para a santidade de Deus vem da raiz de
qad e é normalmente encontrada como qadosh. Esta palavra não descreve apenas o
que ele faz, mas também o que ele é. No Antigo Testamento de um modo geral há
uma preocupação em mostrar que Deus é santo, que seu culto é santo, que sua nação
é santa, enfim, tudo que rodeia a pessoa divina é santo (Êx 19:12,13; 26:33; Nm
23:9; Lv 8-10; 1Re 6:16, etc.). Já no Novo Testamento a preocupação sai do âmbito
cultual e divino e passa para o lado pessoal, mas não abandona o caráter da
santidade de Deus (1Pe 1:15,16; 2:9). Com isto queremos dizer que o Antigo
Testamento se detém em declarar o que Deus é como santo, e o Novo adverte o que
ele quer que sejamos como santos. O Antigo Testamento temos o exemplo de
santidade divina; o Novo nos traz o dever da santidade humana.

I) A natureza da santidade
Quando falamos em santidade na Bíblia encontramos dois aspectos básicos:
O primeiro diz respeito ao próprio Deus, é o que vamos focar; O segundo ao homem
e sua relação com Deus. Este seria alvo de outro estudo, mas de antemão queremos
dizer que a santidade do homem nem sempre quer dizer separação como a maioria
afirma, antes ela está relacionada também com o modo de apresentar-se diante de
uma divindade, que em nosso caso seria o Deus verdadeiro (BROWN, 1982b, p.
365).
Em Êxodo 15:11 encontramos Moisés declamando seu cântico, neste trecho
ele afirma que a santidade de Deus é majestosa. Observamos aqui toda
grandiosidade da santidade de Deus e através desta grandiosidade podemos
perceber que nosso Deus de fato é muito zeloso (Êx 20:5; Js 24:19), este zelo de
Deus faz com que nós sejamos separados dele, conforme Josué falara a seu povo
no texto acima citado. Também Isaías teve que ser purificado para poder se
aproximar do Deus que é santo, santo, santo (Is 6:1-7). O próprio profeta
reconheceu isto. No Novo Testamento encontramos o apóstolo Paulo afirmando:
“Para que seja confirmados vossos corações em santidade, irrepreensíveis diante
de Deus pai” (1Ts 3:13). Na mesma carta encontramos: “Pois Deus não nos chamou
para vivermos em imundícia, senão em santidade” (1Ts 4:7). Podemos resumir isto
no que diz o autor de Hebreus quando afirma que sem a santificação ninguém verá
a Deus (Hb 12:14).
Depois desta pequena e rápida análise concluímos que a natureza da
santidade de Deus requer perfeição (Mt 5:48). A santidade não é apenas uma
separação das coisas erradas, antes é viver certo em meio às coisas erradas.
Não encontramos outra palavra para definir a santidade de Deus do que a
manifestação plena de sua perfeição divina. Por isto ele nos pediu: “Sede santos
porque eu sou santo” (Lv 11:44; 19:2; 20:7; 1Pe 1:16). Ele reconhece a dificuldade

22
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

do homem, por isto pediu para sermos santos porque ele é, e não como ele é, isto
para nós aqui neste mundo é impossível.
Berkof também mostra que na natureza da santidade de Deus encontramos
um lado ético. Neste lado ético Deus exige do homem santidade. Deus não aceita o
pecado exatamente por causa de sua santidade (Jó 34:10; Hb 1:13). Assim sendo a
palavra santidade aponta para a imponente majestade moral de Deus. Para o autor
citado, a santidade moral de Deus pode ser definida como sendo:
“aquela perfeição divina em virtude da qual Deus eternamente quer
e mantêm a sua excelência moral, aborrecendo o pecado e exigindo
pureza de suas criaturas morais”. (BERKHOF, 1949, p. 86).

Com tudo isto podemos afirmar que a natureza da santidade de Deus aponta
para sua perfeição e para sua moralidade absoluta. Nada do que existe consegue ser
perfeitamente santo como o é nosso Deus. Tudo que podemos fazer é medido pela
santidade de Deus, daí o fato de ser o atributo regulador, tanto das ações do homem
como também as do próprio Deus.

II) A manifestação da santidade


Quando falamos em manifestação da santidade de Deus nos vem logo uma
incógnita: Será que podemos notar de fato a manifestação desse atributo?
Realmente quando começamos a estudar sobre a santidade de Deus não
encontramos nada que poderíamos dizer com toda a afirmação que isto ou aquilo é
obra da santidade divina. Mas quando fazemos uma análise mais detalhada das
Escrituras nos curvamos diante de certas verdades inegáveis.

a) O caráter de Deus é santo


Muitas vezes quando queremos dizer que conhecemos alguém precisamos
conhecer o seu caráter, ou seja, sua índole diante de outros. Quando Deus nos pede
santidade (Lv 11:44; 1Pe 1:16), ele está falando que esta deve fazer parte de nosso
caráter, e se deve fazer parte do nosso, também faz parte do dele.
O Salmo 22 reflete o sofrimento a aflição do messias, entretanto, apesar de
saber que sofria e sentir-se abandonado por Deus (v. 1), ele ainda assim consegue
lembrar-se que o Senhor é santo (v. 3). Talvez se soubéssemos da santidade do
caráter de Deus, não teríamos tantas dúvidas de sua vontade para com as nossas
vidas. Se verdadeiramente conhecêssemos a santidade que se encontra no caráter
de Deus buscaríamos viver mais dentro de sua vontade.
Outro texto que transmite uma ideia maravilhosa da santidade de Deus é
1Sm 2:2. Neste pequeno versículo Ana declara que não existe ninguém santo como
o Senhor (en qadosh). Estas expressões transmitem uma profundidade imensa. Este
termo descreve da impossibilidade de alguém conseguir imitar o nosso Deus. O
Diabo tentou imitar a majestade de Deus, ele queria ser glorioso como Deus, e a
Bíblia afirma que ele o era majestoso antes da queda. Mas em nenhum momento
ele tornou-se santo como Deus. Nada pode ser como o Deus; definitivamente nada.
23
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

b) A santidade de suas palavras


Quando nos referimos a santidade de suas palavras não queremos dizer que
existe mais de uma revelação de Deus, mas queremos afirmar que tudo que foi dito
por Deus foi e é santo.
O rei Davi sabia muito bem como eram puras as palavras de Deus. No Salmo
12 ele compara a falsidade do homem com a veracidade de Deus. Ele mostra
realmente como somos enganosos com as nossas palavras, mas a palavra do Senhor
é pura (Sl 12:6). E esta pureza da Palavra nos traz proteção (Pv 30:5). Davi conhecia
muito bem as palavras de Deus, e sabia que o Senhor lhe falava em sua santidade
(Sl 60:6). Deixamos tanto a desejar neste sentido. Falhamos tanto em compreender
as palavras do nosso Deus. Ignoramos que suas palavras são proferidas dentro de
sua própria santidade; e por isto temos vivido tão distantes de Deus, tão longe de
sua vontade santa. Como hoje a terra está cheia de adúlteros da palavra de Deus (Jr
23:10). Jeremias sentia tristeza por causa disto pois sabia que proferia as palavras
santas de Deus (Jr 23:9). Ele tinha ciência de que a palavra de Deus era pura (Sl
33:4) e precisava ser respeitada e transmitida com pureza. Será meu irmão que você
tem respeitado a palavra de Deus? Será que o significado santo da palavra tem
estado em sua mente constantemente?

c) O seu governo é santo


Mais do que qualquer coisa o reinado de Deus é santo. Esta santidade reflete
em todas as coisas. A sua soberania é santa, logo, tudo que ele decide é baseado em
sua sabedoria, que também é santa. A Bíblia afirma que ele reina assentado sobre o
seu trono santo (Sl 47:8). Isto prova que tudo que procede de seu governo revela a
sua santidade, e esta será tão manifestada no futuro que nada impuro será permitido
diante do trono de Deus (Ap 21:27).
Além de um governo baseado em santidade teremos um julgamento
abalizado nesta (Am 4:2). Tudo que ocorrerá naqueles últimos dias serão dentro da
vontade santa de Deus. Nada escapará do julgamento puro que vem da parte do
governo de Yahweh.
Por isto é que a nossa submissão ao reino deve ser de uma maneira santa (Js
24:19; Sl 93:5). O problema é que não temos vivido esta submissão santa. Aliás,
tudo o que diz respeito a santidade tem sido negligenciado pelo povo de Deus do
século XXI. Precisamos despertar deste sono espiritual que temos vivido, para que
possamos crescer ainda mais dentro do contexto divino. Se nós reconhecêssemos o
governo santo de Deus e procurássemos imitá-lo, teríamos mais amor, mais justiça,
mais alegria, enfim, tudo seria melhor se buscássemos viver também dentro da
santidade de Deus.

d) O nome de Deus é santo


Uma das maiores dificuldades para o pensamento humano são os nomes de
Deus. Ficamos estarrecidos quando passamos a procurar estudar e compreender os
24
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

significados do nome de Deus. Seria alvo de um estudo separado e completamente


à parte. Todavia, apesar da Bíblia referir-se a muitos nomes de Deus. E Estes
transmitirem a ideia de Deus com significados diferentes. Deparamos na Palavra
momentos em que este termo se encontra no singular. Isto não quer dizer que os
nomes de Deus não têm valor, mas quer dizer que naquele momento a manifestação
de Deus é plena (Êx 20:7; Sl 8:1; Sl 48:10; Pv 18:10).
A santidade do nome de Deus começa pelo fato de não poder ser profanado
(Lv 21:6 cf. Êx 20:7). O povo de Israel procurava respeitar ao máximo o nome de
Deus para que não falasse de qualquer modo. Tanto é assim que até hoje não se
sabe a pronúncia correta do nome pactual de Deus (Jeová, Yahweh, Javé, Yehwah
etc.). Tudo isto ocorreu por causa da referência que tinha o povo de Israel para com
o nome de Deus. Hoje muito nos tem faltado para compreendermos o sentido real
do nome desse Deus maravilhoso e santo.
O salmista Davi, no Salmo 33, reflete a ideia de confiança que tinha em
Deus. E no verso 21 ele mostra que toda esta certeza de vitória e de paz vinha na
confiança que tinha no nome santo do Senhor. O nome de Deus transmite a ideia
de poder, qualquer que seja o seu significado entre os muitos nomes de Deus. Eles
nos transmitem esta ideia; e principalmente a ideia de segurança e paz. Jeremias
sabia que grande é o poder do seu nome (Jr 10:6).
Além de tudo isto, devemos buscar a cada dia desejar a santificação do nome
de Deus. Foi exatamente isto que Jesus queria dizer quando nos ensinou a orar (Mt
6:9, Lc 11:2). Quantas vezes temos manchado o precioso nome de Deus com as
nossas vidas!? Quantas e quantas vezes temos enlameado o poderoso nome do
Senhor com a nossa falta de testemunho!? Tudo isto ocorre porque não conhecemos
a santidade que encontramos no nome de Deus (Is 57:15; Lc 1:49).

25
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

7 - OS NOMES DE DEUS

I) Conceito Bíblico
Quem é, e o que é Deus? A melhor definição é a que se encontra no
Catecismo de Westminster: “Deus é Espírito, infinito, eterno e imutável em seu ser,
sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade e verdade.” A definição bíblica pode
formular-se pelo estudo dos nomes de Deus. O “nome” de Deus, nas Escrituras,
significa mais do que uma combinação de sons; representa seu caráter revelado.
Deus revela-se a si mesmo fazendo-se conhecer ou proclamando seu nome. (Êx 6:3;
33:19; 34:5,6).
Adorar a Deus é invocar seu nome (Gn 12:8); temê-lo (Dt 28:58); louvá-lo
(2Sm 22:50); glorificá-lo (Sl 86:9). É sacrilégio tomar seu nome em vão. (Êx 20:7),
ou profaná-lo ou blasfemá-lo (Lv 18:21; 24:16). Reverenciar a Deus é santificar ou
bendizer seu nome (Mt 6:9). O nome do Senhor defende o seu povo (Sl 20:1), e por
amor do seu nome não os abandonará (1Sm 12:22).

II) O significado de alguns nomes


Os seguintes nomes de Deus são os mais comuns que encontramos nas
Escrituras:

a) Elohim (traduzido “Deus”).


Esta palavra emprega-se sempre que sejam descritos ou implícitos o poder
criativo e a onipotência de Deus. Elohim é o Deus-Criador. A forma plural significa
a plenitude de poder e representa a trindade.

b) Jeová (traduzido “Senhor” na versão de Almeida).)


Elohim, o Deus-Criador, não permanece alheio às suas criaturas.
Observando Deus a necessidade entre os homens, desceu para ajudá-los e salvá-los;
ao assumir esta relação, ele revela-se a si mesmo como Jeová, o Deus da Aliança.
O nome JEOVÁ tem a sua origem no verbo SER e inclui os três tempos desse verbo
- passado, presente e futuro. O nome, portanto, significa; Ele que era, que é e que
há de ser; em outras palavras, o Eterno. Visto que Jeová é o Deus que se revela a si
mesmo ao homem, o nome significa: Eu me manifestei, me manifesto, e ainda me
manifestarei.
O que Deus opera a favor de seu povo acha expressão nos seus nomes, e ao
experimentar o povo a sua graça, desse povo então pode se dizer: “conhecem o seu
nome”. A relação entre Jeová e Israel resume-se no uso dos nomes encontrados nos
concertos entre Jeová e seu povo.
Aos que jazem em leitos de doença manifesta-lhes como JEOVÁ-RAFA,
“O Senhor que cura” (Êx 15:26).

26
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

Os oprimidos pelo inimigo invocam a JEOVÁ-NISSI, “O Senhor nossa


bandeira” (Êx 17:8-15).
Os carregados de cuidados aprendem que ele é JEOVÁ-SHALOM, “o
Senhor nossa paz” (Jz 6:24).
Os peregrinos na terra sentem a necessidade de JEOVÁ-RA'AH, “o Senhor
meu pastor” (Sl 23:1).
Aqueles que se sentem sob condenação e necessitados da justificação,
esperançosamente invocam a JEOVÁ-TSIDKENU, “o Senhor nossa justiça” (Jr.
23:6).
Aqueles que se sentem desamparados aprendem que ele é JEOVÁ-JIREH,
“o Senhor que provê” (Gn 22:14).
E quando o reino de Deus se houver concretizado na terra, será ele conhecido
como JEOVÁ-SHAMMAH, “o Senhor está ali” (Ez 48:35).

c) El (Deus)
É usado em certas combinações. Não se chegou ainda a um consenso sobre
a tradução de El. Há uma grande possibilidade de significar aquele que existe por
si mesmo. Suas combinações trazem:
EL-ELYON (Gn 14:18-20), o “Deus altíssimo”, o Deus que é exaltado
sobre tudo o que se chama deus ou deuses.
EL-SHADDAI, o Deus que é suficiente para as necessidades do seu povo”
(Ex. 6:3).
EL-OLAM, “o eterno Deus” (Gn 21:33).

d) Adonai
Pode significar “Senhor” ou “Mestre” e dá a ideia de governo e domínio.
(Ex. 23:17; Is 10:16,33.) Por causa do que Deus é e do que tem feito, ele exige o
serviço e a lealdade do seu povo. Este nome no Novo Testamento aplica-se ao
Cristo Glorificado. Esta expressão aparece no Novo Testamento como kurios
(Senhor). Aqui ela significa que ele é o controlador de todas as coisas que merece
toda obediência.

27
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

8 - O ÚNICO DEUS
Ao lermos em Êxodo 20:4 encontramos a primeira parte do segundo
mandamento que diz: “Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do
que há em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.”.
Hodge, citado por Packer, afirmou que a idolatria consiste não apenas na adoração
de deuses falsos, mas também na adoração do verdadeiro Deus através de imagens.
A princípio não parece haver lógica em tudo isto. Não se observa mal algum em
colocar imagens que elevam os nossos pensamentos a Deus. As pessoas que usam
tais coisas tentam justificar-se dizendo que são apenas uma lembrança, e que não
fazem nada que desagrade a Deus, pois ele é o único Deus. O problema é que Deus
queria que nem sequer imaginássemos ou inventássemos alguma coisa por nossa
conta. É exatamente isto que a palavra hebraica (temonah) está transmitindo no
versículo 4.
Podemos tirar disto tudo algumas conclusões interessantes. A primeira delas
é que não podemos nem ao menos criar uma imagem do próprio Deus em nossa
mente (do que há em cima nos céus). A segunda é que não devemos procurar fazer
imagem nem mesmo do Deus encarnado, Jesus Cristo (nem em baixo na terra).
Nem tão pouco representá-lo por criatura alguma, nem mesmo tirada da nossa
imaginação (nem figura alguma ou ainda nem semelhança alguma).
Além disto o texto nos remete a ideias ainda mais profundas. Quando
começamos a fazer concepções de Deus, mesmo sendo Deus verdadeiro, estamos
criando imagem de Deus. Isto estaria proibido, segundo o mandamento da Palavra
de Deus. Como exemplo queremos citar alguns grupos que afirmam que Deus é o
grande arquiteto do universo. Isto é uma concepção limitada e figurada de Deus; é
fazer uma imagem do criador. Três coisas tornam-se claras quando fazemos
concepções imaginativas de Deus:
Desonramos a Deus - Por mais simbólica e metafórica que seja esta
ideia, se não for com a citação antropomórfica Bíblica. Nós não temos
autoridade para concebermos o deus que queremos. É uma ideia muita
espiritualista esta, ou seja, cada um concebe a Deus como quiser. Que
falsa afirmativa!

Enganamo-nos a nós mesmos - É procurar viver em uma ilusão muito


grande. Certo dia uma pessoa me chamou atenção porque não ensinava
a minha filha a respeito de Papai Noel, eu respondi que por mais que
uma criança goste de se divertir ou brincar ela não precisa ser engana.
Também nós não podemos nos enganar a respeito de Deus, por mais
que cada um tenha sua experiência com ele, continua sendo o único.

Limitamos a Deus em nossas vidas - Muitas pessoas só recebem de


Deus aquilo que creem que podem receber. Mas o que ocorre é que
Deus passa a ser limitado. Se creio que Deus é apenas amor, ficarei
magoado quando ele lançar sua justiça, ou mesmo sua ira. Por isto
28
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

muitos se afastam do evangelho depois que descobrem que a imagem


que fizeram de Deus não é aquela que a Bíblia traça.

No meio evangélico fazemos muitas vezes nossas próprias concepções de


Deus. Quero usar como exemplo a área da música. Em nossa denominação durante
muito tempo foi usado o Cantor Cristão. Muitos cresceram usando este recurso de
louvor em nossas igrejas. Estas pessoas não aceitam o fato de poderem existir outros
meios de louvar ao Senhor como os cânticos, ou mesmo outros hinos. Chegam ao
ponto de afirmar que o Cantor é único inspirado por Deus para o louvor. O único
material inspirado por Deus é a sua Palavra. Hoje podemos ter pessoas iluminadas
ou guiadas por Ele. Em contrapartida, existem jovens que concebem a ideia de que
somente em cânticos ou corinhos podemos de fato nos encontrar com Deus. Ambos
os casos é fazermos uma imagem de Deus. Logo, criamos uma imagem de Deus
segundo nosso ponto de vista.
Mesmo o que falamos acima sendo uma ideia do Deus verdadeiro, de acordo
com o segundo grande mandamento, ainda é uma idolatria, pois fazemos de acordo
com as nossas limitações. Soren Kierkergaard, teólogo e filósofo dinamarquês,
afirma: Deus Criou o homem a sua imagem e semelhança, e este Lhe retribuiu o
favor. Muitas vezes é isto que temos feito com a nossa concepção tão limitada de
Deus.
Deus é único, e nem mesmo a sua imagem é permitida duplicar, ou inventar.

I) Uma imagem falsa do Deus verdadeiro


Em Êxodo 32 encontramos uma passagem muito singular. O povo estava
impaciente pela volta de Moisés e pede a Arão que lhes faça uma imagem de um
bezerro. É interessante notar que estes afirmavam que aquela imagem era para fazer
uma festa ao Senhor (v. 5). Todavia vemos que Deus não se agradou daquela festa,
e muito menos daqueles sacrifícios (v. 8).
Muitas vezes estamos criando imagem de “bezerros” em nossa vida.
Queremos adorar a Deus de nossa própria maneira. Julgamos que nossa concepção
de Deus é suficiente para agradá-lo. A única coisa que agrada a Deus é fazermos
conforme seus mandamentos, que por sinal não são difíceis (Dt 30:11).
Moisés era a pré-figuração de Cristo. Muitas vezes, na maioria
inconscientes, não temos paciência de esperar o retorno de Cristo. Assim como
aquele povo esperava por Moisés, aguardamos a segunda volta de Jesus. No
entanto, em nossa impaciência, buscamos criar nossas próprias imagens do Deus
que nos resgatou do “Egito” espiritual em que estávamos antes. Assim fazemos a
nossa religiosidade.
Quando forjamos uma imagem de Deus também somos idólatras. Estamos
criando uma figura. Precisamos nos libertar disto e nos tornarmos adoradores em
Espírito e em verdade, conforme nos pede a Palavra de Deus (Jo 4:24).
Hoje, assim como naqueles dias, estamos fazendo “muitas festas ao Senhor”
como símbolo de gratidão. Porém, muitas destas “festas”, não passam de
29
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

demonstração de nosso próprio meio de compreender a Deus. Quantos cultos, ou


formas de cultos! Quantas noites de louvor! Quantas coisas que não passam de
“bezerros de ouro” que fabricamos por nossa própria conta com a ideia de estarmos
prestando adoração a Deus.

30
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

9 - O TRINO DEUS
O Antigo Testamento tem uma preocupação toda especial em provar que
Deus é o único realmente (Dt 4:35,39; 1Re 8:60; Is 45:5,6,ss; Zc 14:9). Porém,
embora alguns tentem desmentir, esta verdade é sustentada pelo Novo Testamento
(Mc 12:29-32; Jo 17:3; 2Co 8:4-6; 1Tm 2:5). O homem de um modo geral tende à
idolatria, pois o ser humano é fraco em seu aspecto espiritual. Daí a necessidade de
Deus enfatizar isto em sua Palavra.
Dizer que esta questão é simples seria hipocrisia. Fico triste por alguns
líderes e teólogos que tentam impor esta doutrina de maneira aberrante sem uma
devida explanação do assunto ao neófito. Isto tem trazido muitos problemas para
nossas igrejas. Talvez por isto é que seitas que não aceitam esta verdade bíblica
estejam crescendo tanto. Pois confundem menos a mente do discípulo.
Vale a pena ressaltar aqui que a palavra Trindade não existe na Bíblia. Mais
que foi usada pela primeira vez por Teófilo de Antioquia (181 d.C.) em sua forma
grega, Trias, e usada pela primeira vez em sua forma latina, trinitas, por Tertuliano
(220 d.C.). Apesar de não ser uma doutrina declarada explicitamente na Palavra de
Deus. Ainda assim encontramos base nesta para chegarmos a essa conclusão e isto
vamos tentar explicar neste estudo.

I) A unidade de Deus
Precisamos lembrar em primeiro lugar que Deus é indivisível (Dt 6:4; Jr 5:9;
Mc 12:29). Com isto queremos dizer que Ele não é constituído por partes, ou em
partes. O ser chamado Deus é de natureza simples, não é composto como o homem,
que tem uma parte material e outra imaterial.
Com a unidade de Deus podemos afirmar que só há um Ser Divino. A Bíblia
nos ensina que há somente um único Deus, conforme já estudamos.
Apesar desta unidade, o conceito de trindade não fica fora da ideia central
da Bíblia. Ela pode ser demonstrada de várias formas. A questão principal aqui é o
fato da Bíblia afirmar as duas coisas, ou seja, Deus é uma unidade, porém também
é uma trindade. Não adianta nossa fútil mente tentar compreender isto (Dt 29:29).
O que precisamos acima de tudo é: Ou aceitamos esta doutrina; ou a rejeitamos.
Não vejo outra saída. Deus é único, mas é trino. É exatamente isto que a palavra
nos demonstra.

II) A doutrina da Trindade


Thiessen afirma: “
“...a doutrina da trindade não é algo da teologia natural, mas sim da
revelação, citando Strong ele diz: A razão mostra a Unidade de Deus;
apenas a revelação nos mostra a trindade de Deus. Vemos nestas
expressões que não conseguiremos nunca compreender esta doutrina
à luz de nosso entendimento” (THIESSEN, 1997, p. 87)

31
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

Quando conheci o evangelho, esta foi uma das mais difíceis questões que
enleavam a minha mente. A princípio criei para mim um conceito que mais tarde
descobri que outros no passado haviam criado. Foi a existência do triteísmo baseado
no henoteísmo1.
Depois tentava explicar que a doutrina da trindade era somente de revelação
e não de natureza, isto é, Deus simplesmente se manifestou de formas diferentes,
mas não quer dizer que seja um Deus, mas continuava a ser o mesmo Yahweh. No
passado também pessoas pensavam assim, dentre elas encontramos Sabélio que
acabou tendo seu nome usado para definir este pensamento, sabelianismo. A
Doutrina de Sabélio, negava a Trindade das pessoas em Deus e professava haver
uma única pessoa divina, apenas, com nomes diversos, segundo os vários modos
de se revelar. O modalismo, criado por Fótino, bispo de Esmirna, também era
semelhante.
O grande problema para estas doutrinas, é que elas não resistem diante de
tantos textos que demonstram pelo menos a divindade do Messias com tanta
clareza.

III) A trindade implícita no Antigo Testamento


Já afirmamos que o grande tema do Antigo Testamento é a unidade de Deus.
Apesar, disto alguns teólogos muito sérios creem que existam insinuações fortes
sobre a trindade veterotestamentária.
Alguns afirmam que o fato do nome de Deus está no plural nos traz a ideia
da pluralidade divina dentro da trindade por nós hoje aceita. Encontramos isto em
Gn 1:1,26; 48:15,16. Nestas passagens o nome de Deus encontra-se no plural
(Elohim), todavia os verbos encontram-se no singular. Em outras passagens (Gn
3:22; 11:6,7; 20:13; Is 6:8) a grande dificuldade está em provar que talvez neste
plural não estejam sendo colocados os anjos.
Em compensação temos algumas coisas no Antigo Testamento que nos
trazem à mente a ideia triúna de Deus. Em Gênesis 19:24 encontramos: “Então fez
o Senhor chover enxofre e fogo, da parte do Senhor, sobre Sodoma e Gomorra.”
É muito interessante este trecho. Ao que parece, ou o escriba cometeu um erro de
concordância gramatical, ou são duas pessoas fazendo duas coisas distintas. Por que
será que o escritor não escreveu: “Fez o Senhor chover enxofre em Sodoma e
Gomorra”? Ou ainda: “Fez o Senhor chover enxofre de sua parte sobre Sodoma e
Gomorra”. São perguntas que à luz da razão humana fica muito difícil de
compreender.
Não creio que o Antigo Testamento tenta provar realmente a trindade,
entretanto quando fazemos alguns paralelos entre um Testamento e outro chegamos
a fazer realmente esta distinção.

1Henoteísmo - Segundo Max Muller, orientalista alemão (1823-1900), forma de religião em que se cultua

um só Deus sem que se exclua a existência de outros.


32
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

IV) As declarações neotestamentárias


O Novo Testamento traz consigo uma ideia mais clara da Trindade. Nós
estaremos a partir de agora fazendo quadros distintos para analisarmos a Trindade.
Com estes paralelos vamos procurar provar a existência desta doutrina.

a) A divindade de Cristo
Podemos afirmar que a divindade de Cristo é mais fácil de provar do que a
do Espírito Santo. E que Jesus é Deus por causa de seus atributos:

ATRIBUTOS PASSAGENS
Onipresente e onisciente Mt 18:20; 28:20; Jo 2:24,25; 3:13; 16:30; 21:17; Ef
1:2,3;
Onipotente Mc 5:11-15; Lc 4:38-41; Jo 5:19; Hb 1;3; Ap 1:8
Imutabilidade Hb 1:12; 13:8

Escolhemos apenas algumas passagens e alguns atributos. Mas creio que a


princípio é suficiente. Outra coisa que observamos é que ele possui algumas
prerrogativas divinas:

PRERROGATIVA PASSAGENS
Criador Jo 1:3; Cl 1:16; Hb 1:10
Sustentador Cl 1:17; Hb 1:3
Perdoador Mt 9:2,6; Mc 2:7; Lc 7:47
Ressuscitava os mortos Jo 6:39,40,54; 11:25; 20:25,28
Redentor e salvador Mt 1:21; Lc 1:76-79; 2:17; Jo 4:42; At 5:3; Gl 3:13;
4:5; Fl 3:30; Tt 2:13,14
Alvo de adoração Ap 4:11; 5:12

Todas estas prerrogativas acima são bem claras no Antigo Testamento. Com
isto vemos que ambos os Testamentos se completam, e negar a divindade de Cristo
é também negar a unidade Bíblica.
Além destes argumentos encontramos algumas provas da deidade de Cristo
com algumas comparações do Antigo Testamento:

FUNDAMENTO V.T. N.T.


Jesus é comparado como o Is 40:3 Mt 3:3
Senhor do Antigo Testamento
(Jeová)
Senhor da Glória Sl 24:7,10 1Co 2:8; Tg 2:1
Justiça Nossa Jr 23:5,6 1Co 1:30
Acima de todos Sl 97:9 Jo 3:31

33
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

Deus e Salvador Os 1:7 Tt 2:13


O verdadeiro Deus Jr 10:10 1Jo 5:20
Noivo da Igreja Is 54:5; 65:2 Ef 5:25-32; Ap
21:2,9

Este pequeno quadro acima é mais que suficiente para provar a divindade de
Cristo. Sem falar que a Bíblia afirma que o sangue de Cristo é o mesmo de Deus
(At 20:28). Não temos como discutir esta questão. Aqueles que não creem nisto
estão manipulando a Palavra para tentar criar uma aceitação de sua doutrina. A
questão é que temos que a admitir que a Trindade é um mistério divino, e devemos
encará-la como tal.

b) A divindade do Espírito Santo


É preciso reconhecer que há grande dificuldade em se aceitar ou provar a
divindade do Espírito Santo. Não são tantos textos, como no caso de Cristo, que
provam isso, mas eles existem, e nós vamos procurar mostrá-los.
Antes, porém, temos que procurar provar que o Espírito Santo é uma pessoa.
Isto porque existem grupos que não admitem nem sequer isto. Torna-se difícil
provar que Ele é Deus se não provarmos que é uma pessoa, ou seja, que tem
personalidade.
Uma das características nos escritos bíblicos que mostram que o Espírito
Santo é uma pessoa está no fato de que é apresentado com pronomes pessoais (Jo
14:17; 16:13). Em nosso idioma não existe diferenças marcantes, entretanto, no
idioma em que foi escrito a Bíblia fica mais fácil. Assim como no inglês, no grego
podemos diferenciar um objeto inanimado de uma pessoa, é exatamente isto que
ocorre com o Espírito Santo.
Outra prova de sua divindade encontra-se em sua missão bem semelhante à
de Cristo. Como exemplo citamos João 14:16 onde Jesus afirma que o Espírito
Santo seria um outro consolador. A missão de Jesus é pessoal, logo se vai ser
exercida pelo Espírito Santo este também é pessoal. Em I João 2:1 a palavra
traduzida por advogado é a mesma que em João 14:16 é traduzida como consolador
( - paracletos).
O Espírito Santo tem características de personalidade: Intelecto (1Co
2:11), Sensibilidade (Rm 8:27; 15:30), Vontade (1Co 12:11), Tristeza (Ef 4:30).
Outra prova da personalidade do Espírito Santo está no fato de que ele tem
funções pessoais: Trabalha (1Co 2:10; 12:11), Fala (At 13:2; Ap 2:7), Testifica (Jo
15:26), Ensina (Jo 14:26), Reprova (Jo 16:8-11), Glorifica a Cristo (Jo 16:14).
Vale ressaltar o tratamento pessoal que ele recebe nas Escrituras: pode ser
tentado (At 5:9), ser alvo de mentira (At 5:3), sentir tristeza (Ef 4:30; Is 63:10),
resistido (At 7:51); insultado (Hb 10:29), além de ser blasfemado (Mt 12:31,32).

34
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

Como podemos até agora observar, o Espírito Santo tem comportamento


pessoal, logo ele é uma pessoa. Agora vamos passar a analisar a base bíblica para
sua deidade.
Vamos começar observando que ele tem atributos divinos: eternidade (Hb
9:14), onisciência (1Co 2:10-11; Jo 14:26; 16:12,13), onipotência (Lc 1:35) e
onipresença (Sl 139:7-10). Os atributos caracterizam um ser, assim sendo, podemos
afirmar que os atributos do Espírito Santo o caracterizam como sendo pessoa
divina.
Também são atribuídas ao Espírito Santo, obras que em outras partes da
Bíblia são atribuídas ao Pai e ao Filho: ele é tido como criador (Sl 104:30; Gn 1:2;
Jó 33:4), regenerador (Jo 3:5), inspirador das Escrituras (2Pe 1:21), ressuscitador
dos mortos (Rm 8:11).
A forma como Ele é associado ao Pai e ao Filho provam, não somente a sua
personalidade, como também a sua divindade. Que motivo teriam os escritores
bíblicos de colocarem o Espírito Santo ao lado de duas pessoas que formam a
divindade se este não fosse uma outra pessoa? (Mt 28:19, 2Co 13:13).
E por último, ele é literalmente chamado de Deus duas vezes nas Escrituras
(At 5:3,4 e 2Co 3:17,18 - a maioria de nossas traduções não inserem o artigo
definido no termo “o Senhor é o Espírito”).
Creio que estes argumentos são suficientes para provar a deidade do Espírito
Santo. Como já falamos, reconhecemos a dificuldade e o mistério que envolve a
Trindade, mas quando examinamos as Escrituras chegamos à conclusão de que isto
é real, e não podemos fazer muita coisa senão aceitarmos. Não podemos acreditar
no Deus que a Bíblia diz sem aceitarmos a Trindade.

35
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

10 - AS OBRAS E OS DECRETOS DE DEUS

I) As obras de Deus
Vejamos onde podemos encontrar as obras de Deus

a) Na criação
1) Em Deus foram criadas todas as cousas, visíveis e invisíveis (Cl 1:16)
2) Deus criou os céus e a terra: Gn 1:1;
3) De modo todo especial, Deus criou o homem, adão, do pó da terra:
Gn 2:7.

b) Na preservação
Deus preserva, mantém e sustém tudo que trouxe à existência. Podemos
então concluir:
1) Nele tudo subsiste (Cl 1:17);
2) Ele preserva todas as coisas: os homens e animais (Sl 36:6); o
caminho dos seus santos (Pv 2:8); o céu e seus exércitos, a terra,
mares, e tudo que neles há (Ne 9:6)

c) Na sua providência
Deus antevê, guia, dirige e governa todos os eventos para os seus santos
propósitos (Sl 103:19). O universo Js 10:12-14 (parou o sol); Sl 147:16-18. Os
animais e plantas Jn 1:17 (a baleia); Mt 6:30, 33 (os lírios do campo). As nações
(Sl 66; Dn 2:21). O homem (Êx 10:27 – faraó - Sl 75:7). O crente (Sl 4:8; 1Co
10:13).

II) Os Decretos de Deus


O decreto (conselho) de Deus é o eterno e infalível propósito ou plano
pelo qual ele tem declarado fixas todas as coisas. O decreto de Deus abrange sua
vontade eficaz e sua vontade permissiva. Dentro do seu plano soberano, Deus deu
ao homem a liberdade de escolher, este é responsável por suas decisões (Jz 21:25;
At 2:23). Seu decreto é eterno (Sl 33:11); sábio (Sl 104:24); Livre - sem obrigação
interna ou externa, mas em harmonia com sua natureza - (Is 40:13-14; Sl 135:6).
Eficaz - tudo que Deus decretou acontecerá – (Is 14:24,27); traz glória a si mesmo
(Ap 4:11).

Concluímos assim que podemos descansar no seu poder e promessas


(Rm 8:28-32).

36
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

III) O plano de Deus em relação ao universo e aos homens


1) O plano de Deus cobre tudo e todos (Sl 46:10; 119:89-91; Is 14:26-
27; 46:10-11; Dn 4:35);
2) Cobre nossa salvação (Ef 1:4,5,9,11);
3) Os tempos e limites da habitação da raça humana (At 17:26);
4) A extensão da vida humana (Jó 14:5,14; Sl 139:16);
5) As boas obras do crente (Ef 2:10; Fp 2:12-13);
6) O mal que Deus torna em bem (Gn 50:20);
7) O reino de cristo (Sl 2:6-8; Mt 25:34);

37
TEONTOLOGIA CETEBES - 2023

Bibliografia
− BERKHOF, L.. Teologia Sistematica. 1949.
− BROWN, Colin. Dicionário Internacional de Teologia do Novo
Testamento - vol. II. São Paulo: Vida Nova, 1982a.
− ______________. Dicionário Internacional de Teologia do Novo
Testamento - vol. IV. São Paulo: Vida Nova, 1982b.
− CHAMPLY, Russell Normam. O Novo Testamento Interpretado -
versículo por versículo - vol. II. Millenium. São Paulo.
− DEVER, Mark. Nove Marcas de uma Igreja Saudável. São José dos
Campos/SP: FIEL, 2007.
− ELLISEN, Stanley A.. Conheça Melhor o Antigo Testamento. São Paulo:
Vida, 1995.
− ERICKSON, Millard J.. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo:
Vida Nova, 1997.
− ERICKSON, Millard J.. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova,
2015.
− FERREIRA, Franklin, MYATT, Alan. Teologia Sistemática: uma análise
histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida
Nova, 2007.
− GEISLER, Norman. Teologia Sistemática – introdução à teologia, a
Bíblia, Deus – A criação. Rio de Janeiro: CPAD.
− MCGRATH, Alister E.. Teologia Sistemática, histórica e filosófica: uma
introdução a teologia cristã. São Paulo: Shedd Publicações, 2005.
− PACKER, James I.. O Conhecimento de Deus. São Paulo: Mundo Cristão.
− SEVERA, Zacarias de Aguiar. Manual de Teologia Sistemática. A. D.
Santos, 2012.
− STURZ, Richard J.. Teologia Sistemática. Vida Nova: São Paulo, 2012.
− THIESSEN, Henry Clarence. Palestras em Teologia Sistemática. São
Paulo: Imprensa Batista Regular, 1989.

38
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA
(DOUTRINAS DO HOMEM E DO
PECADO)
Prof. Antonio Carlos G. Affonso

2º SEMESTRE DE 2023
CENTRO DE EDUCAÇÃO BATISTA DO ESPÍRITO SANTO
Sumário
APRESENTAÇÃO ..................................................................................... 3
1 - INTRODUÇÃO A ANTROPOLOGIA .............................................. 4
2 - A ORIGEM DO HOMEM ................................................................. 5
I) CRIAÇÃO X EVOLUÇÃO .................................................................. 5
II) O PAPEL DO HOMEM NA CRIAÇÃO .............................................. 8
3 - A IMAGEM E SEMELHANÇA COM DEUS ................................. 11
I) CONCEPÇÕES DE IMAGEM ......................................................... 11
II) A NATUREZA ORIGINAL DO HOMEM .......................................... 13
4 - UNIDADE E CONSTITUIÇÃO DO HOMEM ............................... 15
I) A UNIDADE DA RAÇA.................................................................... 15
II) A CONSTITUIÇÃO DO HOMEM .................................................... 16
5 - A ORIGEM DA ALMA .................................................................... 23
I) PRÉ-EXISTENCIALISMO................................................................ 23
II) TRADUCIONISMO.......................................................................... 23
III) CRIACIONISMO.............................................................................. 23
IV) CONSIDERAÇÕES SOBRE A ORIGEM DA ALMA ......................... 24
6 - INTRODUÇÃO À HARMATIOLOGIA ......................................... 25
I) UMA DEFINIÇÃO ........................................................................... 25
7 - A NATUREZA DO PECADO .......................................................... 27
I) PECADO É UMA INCLINAÇÃO INTERIOR ................................... 27
II) PECADO É REBELIÃO E DESOBEDIÊNCIA ................................. 27
III) PECADO IMPLICA EM INCAPACIDADE ESPIRITUAL ................ 27
IV) PECADO É O NÃO CUMPRIMENTO DOS PADRÕES DE DEUS .. 27
V) PECADO É DESALOJAR A DEUS .................................................. 27
8 - A FONTE DO PECADO .................................................................. 28
I) TEOLOGIA EVOLUCIONISTA........................................................ 28
II) TEOLOGIA DE REINHOLD NIEBUHR .......................................... 28
III) TEOLOGIA DE LEIBNITZ E SPINOZA ........................................... 28
IV) TEOLOGIA DE PAUL TILLICH ...................................................... 28
V) TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO ........................................................ 29
VI) UMA ANÁLISE BÍBLICA ................................................................. 29
9 - O PECADO ORIGINAL .................................................................. 30
I) TEORIAS SOBRE A IMPUTAÇÃO DO PECADO ............................ 30
10 - OS EFEITOS DO PECADO ............................................................ 32
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 33
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

APRESENTAÇÃO
Este material contêm os pontos principais de duas matérias da Teologia
Sistemática: Antropologia e Harmatiologia. A primeira diz respeito ao homem, sua
criação, natureza e queda. A segunda parte da queda e analisa consequências e
causas do pecado. Esperamos que este pequeno material possa lhe ajudar a
compreender melhor a nós mesmos.

3
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

1 - INTRODUÇÃO A ANTROPOLOGIA
A Palavra Antropologia significa “Estudo do Homem” é uma composição
Grega formada de:

ANTROPOS = Homem
LOGOS = Estudo

A Antropologia estuda a história natural do homem, é a ciência que estudo


o homem. Há várias ciências que se preocupam em estudar o homem, dentre elas
a Antropologia científica que tem como objetivo estudar o homem por suas
características físicas.
A Antropologia Religiosa entende que o homem não é apenas um ser vivo
(animal, vegetal, Biologia), mas que o homem é um ser Espiritual, é assim deve ser
estudado de forma física-espiritual, o que chamamos de Antropologia Religiosa.
A Antropologia Bíblica se preocupa com a criação do homem, sua existência
e natureza, além da constituição e semelhança com Deus.
A compreensão desta matéria nos ajuda a entender melhor o projeto de Deus
para a humanidade.
A Antropologia como ciência da Teologia Sistemática ganha força com o
iluminismo e principalmente com a ideia evolucionista de Darwin. A procura pelo
“elo perdido” fez com que aumentasse muito o interesse neste campo.
Com o surgimento da sociologia, a antropologia ganha uma força e
dimensão extras.

4
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

2 - A ORIGEM DO HOMEM
Desde a antiguidade há no homem um fascínio por saber de onde veio, sua
origem, seu destino. A procura por respostas para todas estas perguntas, fez surgir
muitas teorias, onde muitos acreditavam que seus antepassados foram deuses
diversos, uns com características totalmente diferentes dos outros, isto explica o
porquê que muitos povos adoravam tantos deuses estranhos na antiguidade.
Dos povos antigos somente os Hebreus não adoravam nenhum animal ou
astro celeste, eles se identificavam como povo de Jeová, por possuir um único Deus,
invisível, soberano, e criador de tudo, inclusive do homem.
Os Hebreus se diferenciavam dos demais povos por possuir sua base de fé
nas escrituras sagradas, Ketubiyn, que também se diferencia dos demais escritos
antigos, por atribuir a Deus Jeová a criação do homem sendo do pó da terra.
Mas a ciência sempre procurou respostas. O homem não se satisfazer em
saber que existe algo ou alguém maior do que ele. A busca de conhecer este mistério
é constante.

I) CRIAÇÃO X EVOLUÇÃO
A partir do século XIX começa uma batalha intelectual e empírica para se
provar a criação ou a evolução do homem. Charles Darwin, juntamente com Alfred
Wallace, publicaram a Teoria da Evolução, após apresentarem em 01/07/1858. O
relato bíblico parece ir em choque com aquilo que a ciência propõe.
Há dois tipos de evolucionismos:
i) Ateísta – nega a existência de Deus;
ii) Teísta – que aceita a existência de Deus.

O segundo acaba por trazer certa confusão para o meio religioso. Ele ainda
pode ser subdivido em:
a) Evolucionismo teísta - Deus cria o primeiro organismo vivo
e vai intervindo na evolução das espécies apenas
ocasionalmente.
b) Criacionismo progressista - Deus criara todas as espécies e
tudo que existe de uma forma um tanto quanto primitiva, e
sua criação foi evoluindo gradativamente.

Darwin parece ficar entre um evolucionismo teísta ou um criacionismo


progressista. Tudo indica, pelos seus próprios escritos, que Darwin teve muita
dúvida entre o evolucionismo que passou a ser pregado como sendo seu, e o
criacionismo progressista. Até porque, vale ressaltar que por mais de 800 vezes ele
parece mostrar que tinha dúvida daquilo que fazia quando se expressava: “podemos
bem supor”. Estas palavras do famoso cientista traduzem uma incerteza que reinava
5
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

(e reina) no mundo da ciência com relação ao tema. Hoje ainda não é diferente.
Quantos programas de TV especulam sobre a criação? Quantos falam do “primeiro”
homem como sendo descoberto neste ou aquele continente? Quantos homens mais
ligados aos macacos já foram encontrados? (THIESSEN, 2010, p. 147). Além disso,
quantas espécies comprovadamente vieram de outras espécies? Nada há na ciência
que comprova, apenas teorias. Crê, ainda que seja em uma teoria, também é uma
questão ideológica.
As provas levantadas a favor da evolução mais confundem do que
respondem qualquer coisa. É muito difícil assumir isto como provas reais. Da
mesma forma que existem estas provas, também existem grandes abismos que nos
separam dos primatas que afirmam ser nossos parentes mais próximos. Um dos
grandes abismos, por exemplo, encontramos na inteligência. Se as diversas espécies
de macacos são provas de uma evolução. Por que o gorila não é o mais inteligente?
Por que o mais inteligente, o chimpanzé, que é tão diferente do homem, fisicamente
falando? Por que o animal mais inteligente da face da terra, depois do homem, não
é um primata, mas um mamífero aquático, o golfinho?
Três são os argumentos normalmente que tentam “provar” a evolução:
1) Paleontológico;
2) Embriológico;
3) Anatomia comparada.

a) ARGUMENTO PALEONTOLÓGICO
A variação da fauna e da flora no decorrer dos anos, com o desaparecimento
de algumas espécies e o surgimento de outras seria uma prova da evolução das
espécies.
A forma de algumas espécies de seres vivos que se apresentavam de um jeito
em determinado período e depois passou a se apresentar de outro.
A possível existência de formas intermediárias que fazem com que certos
seres sofressem mutações terríveis para se adaptarem às mudanças de clima entre
outras coisas.
Parece impossível retrucar estas coisas todas. Mas devemos ter em nossa
mente que de certa forma existiu uma evolução de adaptação. Por isto temos
pessoas com cores diferentes. Mas são pessoas. A evolução para adaptação
consistiu na permissão do Criador de que suas criaturas “se encaixassem” melhor
ao meio em que estavam sendo inseridas. Não vemos na evolução dos organismos
nada que comprove a evolução que transforme uma espécie em outra. Muito menos
um ser irracional na coroa da criação.

6
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

b) ARGUMENTO EMBRIOLÓGICO
Estas provas se caracterizam por certas semelhanças observadas em
determinados embriões de alguns seres vivos. Como exemplo citamos:
✓ A semelhança entre o coração do mamífero com o do peixe;
✓ Arcos branquiais formados dos mamíferos que lembram também os
peixes;
✓ O desenvolvimento esquelético dos mamíferos também faz lembrar o
dos peixes

Apesar destas provas serem muito fortes, não podemos afirmar que tais
semelhanças nos façam ter um parentesco distante com certos animais. Quando um
homem inventa uma máquina nova, quase sempre se baseia em alguma coisa que
já existia ou que já havia sido criada antes. Citamos como exemplo um veículo
como planador. O sistema que o faz voar ou flutuar lembra muito ao sistema de voo
usado por certos pássaros gigantes. Nem por isto podemos dizer que o planador é
parente de uma destas aves.
Na informática, quando um programador vai criar um programa costuma
usar códigos fontes (linguagem básica que dá origem aos programas) de outros
programas que muitas vezes nada tem a ver com o programa que ele está fazendo.
Nem por isto os programas são parentes um do outro. Apenas foi usado um processo
que já existia para criar um completamente diferente. Em muitos casos, um
programa novo nada mais é do que um mistura de diversos programas já existentes
que nada tem a ver com aquele que está sendo criado.
Deus é um ser racional. E ao criar os seres vivos ele usou a lógica junto com
seu poder. Podemos ver a lógica de Deus trabalhando nas semelhanças e nas
diferenças entre os seres vivos. O código genético (DNA) é o grande trunfo de Deus
para criar todas as criaturas vivas. Por que não dizer que Deus usou um código
inicial como base para criação de todos os outros? Claro que é uma especulação,
mas pelo menos não fere a verdade da Palavra de Deus.

c) ARGUMENTO DA ANATOMIA COMPARADA


São as características de certos ossos e órgãos de determinados seres que
lembram os de outros seres.
✓ Os ossos dos membros Anteriores de certos mamíferos que tem uma
organização muito semelhante entre si;
✓ O apêndice humano lembra muito um órgão muito desenvolvido nos
herbívoros para conter bactérias celulolíticas;
✓ Os Cetáceos (rãs, sapos etc.) são desprovidos de patas posteriores, mas
neles há ossos que ocupam a posição que deveriam ter estes ossos.

7
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

Assim como no item anterior muita coisa existente Deus pode ter usado para
poder criar outras coisas ainda não existentes. Mas, além disto, não podemos
descartar nunca o fato de existir uma evolução de cada espécie para a adaptação ao
meio. Assim como o homem tem cores diferentes como meio de se proteger do
calor ou do frio. Assim como os pinguins são aves que “esqueceram” como se voa
por causa da adaptação às regiões gélidas. Muitos outros animais foram se
adaptando às diversas formas de clima e de geografia que a Terra lhes oferecia.
Todavia estes dados não fazem disto uma evolução no sentido de todos terem
partido de um único ser.
A verdade é que tudo partiu de uma única mente - a de Deus. Como mente
imutável e perfeita, é natural que muitas coisas criadas por Deus se pareçam entre
si, porém não quer dizer que tenha se desenvolvido uma das outras. É claro também
que certos animais que existem em determinados continentes parecem oriundos de
uma única espécie, que teria se adaptado a determinadas regiões de uma forma
diferente (citamos como exemplo o leopardo, a chita e o jaguar, bem como todos
os felinos de um modo geral).
O que precisa se ter em mente é que o sistema de grande parte das criaturas
vivas é extremamente complexo. Dificilmente surgiria do nada ou se auto
combinariam sem uma coordenação de uma mente Superior. Dizer que Deus usou
a evolução para criar o homem é muito perigoso. É rebaixar a onipotência de Deus.
Em contrapartida, negar a existência de certas verdades científicas é tornar Deus
um ser ilógico (coisa que de fato não é).
O que nunca devemos esquecer é que Deus acima de tudo é um ser racional
e que tem um planejamento universal. Ainda vale lembrar que o homem foi
formado de matéria já existente. A formação do homem foi detalhada, enquanto a
Bíblia não entra no mérito sobre os animais.

II) O PAPEL DO HOMEM NA CRIAÇÃO


Erikcson destaca sete pontos que devem nos fazer pensar (1997, p. 211-214):

a) O HOMEM NÃO TEM EXISTÊNCIA PRÓPRIA


Nosso valor é derivado e a nós conferido por um valor superior, Deus. Tudo
que Deus criou depende unicamente dele. Nosso valor é derivado e a nós conferido
por um valor superior, Deus.

b) O HOMEM FAZ PARTE DA CRIAÇÃO


Apesar de ser a coroa da Criação, o homem faz parte dela e não vive sem
ela. Apesar da diferença que temos com relação aos outros seres criados, não somos

8
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

distintos deles, principalmente ao ponto de não termos uma relação com eles. Nesse
ponto podemos dizer que a questão ecológica deveria estar latente nos corações dos
homens que conhecem a Deus

c) A HUMANIDADE OCUPA UM LUGAR SINGULAR


A imagem e semelhança com Deus confere esta singularidade (Sl 8). Os
animais, conforme relato do livro de Gênesis, foram feitos segundo a sua espécie,
do homem, em contrapartida, afirma-se que foi feito a imagem e semelhança de
Deus.

d) TODOS OS HOMENS ESTÃO RELACIONADOS ENTRE SI


Nossa herança adâmica deve produzir em nossos corações este senso de
comunidade. Todos os homens estão relacionados entre si - o fato de descendermos
de um único par nos lembra que de certa forma todos somos filhos rebeldes de Deus
(como o filho pródigo). Este fato deveria produzir em nós o interesse um pelo outro,
fazendo com que possamos estar mais próximos do nosso semelhante.

e) O homem foi feito com limites


Deus é o único perfeito e ilimitado, nossos limites nos põem em nosso lugar.
Quando falamos que Senhor criou seres imperfeitos não queremos dizer que ele
criou seres para pecar. A perfeição compreende um dos atributos absolutos de Deus,
ou seja, só ele pode ter. Se outro ser fosse perfeito, ele também seria Deus. E isto,
definitivamente não existe.

f) A LIMITAÇÃO NÃO É MÁ
Nossas limitações são de ordem prática, não moral. Não pecamos por sermos
imperfeitos moralmente ou limitados fisicamente, mas porque não soubemos
escolher aquilo que o Senhor colocou à nossa frente.

g) A HUMANIDADE É MARAVILHOSA
Apesar de criaturas, somos os mais elevados de todos os seres criados na
terra. Deus é o mais elevado de todos, mas isto não significa que o homem não seja
especial. Aliás, o brilho e a magnitude do homem são o reflexo do grande ser que
o criou.

9
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

Lendo o Salmo 8 vemos como Deus colocou tudo debaixo dos pés do
homem. Este fato não significa que o Senhor queria que o homem destruísse sua
criação, mas que cuidasse dela. O homem como coroa da criação deve procurar
reinar sobre ela no sentido de mantê-la diante do Senhor.

10
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

3 - A IMAGEM E SEMELHANÇA COM DEUS


O que há de mais relevante na doutrina do homem é sua imagem e
semelhança com o seu criador.

I) CONCEPÇÕES DE IMAGEM
Como imagem e semelhança devemos fugir das concepções materiais e
humanas que se fazem, antes devemos nos concentrar no que dizem as Escrituras.
Há três modos gerais de entender este conceito:
i. Substantiva
ii. Relacional
iii. Funcional

a) SUBSTANTIVA
Esta é a concepção mais aceita. Ela afirma que a imagem consiste em certas
semelhanças, tanto de ordem psicológica como física. Claro que esta última não
concordamos, conforme item posterior. O ponto mais forte desta concepção é a
razão. Ela é o ponto mais significativo da natureza do homem.
Claro que dentro da concepção substantiva há muita divergência. Mas em
uma coisa todos que aceitam esta ideia concordam: a imagem está colocada dentro
do homem, sendo uma qualidade ou capacidade que reside em sua natureza.

b) RELACIONAL
Há teólogos que concebem a ideia de que a imagem de Deus no homem diz
respeito ao relacionamento que a criatura tem com seu criador. Emil Brunner e Karl
Barth seriam dois teólogos que pensam desta forma. Embora haja discordância
entre eles de muitas coisas, basicamente é assim que veem:
a. Conhece-se a natureza do homem estudando a pessoa de Jesus;
b. O entendimento de imagem vem através de revelação divina;
c. O conceito de imagem é um aspecto dinâmico do relacionamento
do homem com Deus e diz respeito às experiências da
humanidade com o Senhor;
d. O reflexo do relacionamento do homem com Deus está no
relacionamento do homem entre si;
e. O relacionamento existe em qualquer época ou lugar, podendo
ser tanto de aspecto positivo como negativo;

11
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

f. Nada há de necessário no homem que possa manter este


relacionamento com Deus, nem requisito estrutural ou qualquer
outro tipo.
Segundo este pensamento, não é uma entidade que possuímos ou mesmo
alguma característica, mas é a nossa experiência com Deus que mostra a imagem.

c) FUNCIONAL
Esta concepção não está presa a algum tipo de relacionamento do homem
com Deus ou consigo mesmo, nem atrelada a algo que o homem venha possuir
dentro de si que o caracteriza como divino. O conceito funcional observa que o
homem foi feito a criatura mais elevada de toda criação divina, e colocado sobre
esta para governar, assim como Deus governa sobre todo universo (somos
mordomos de Deus nesta vida).
Segundo este ponto de vista, defendido por teólogos como Norman Snaith e
Leonard Verduim, Gênesis 1:26 destaca o fato de que Deus relata que o homem
seria à sua imagem e semelhança e “tenha domínio sobre os peixes do mar”. Logo,
segundo os defensores desta concepção, este domínio caracteriza-se como a
imagem de Deus no homem. O Salmo 8 seria uma declaração perfeita e completa
sobre esta questão. Aonde os versos 7 e 8 seriam a comprovação do texto de Gênesis
(Leia o salmo).
Do ponto de vista desta concepção o homem foi comissionado por Deus para
dominar, assim como os discípulos foram comissionados por Jesus para pregar.

d) ANALISANDO OS CONCEITOS
Quando fazemos um estudo mais aprofundado sobre cada uma das
concepções supracitadas, descobrimos que todas trazem um certo grau de verdade
em suas ideias.
A concepção funcional carrega em si uma ideia perfeita no que tange à
ordem de Deus para que o homem tivesse domínio sobre as outras criaturas. Claro
que existe em certo sentido uma relação entre a imagem e o domínio dado por Deus
aos homens. Apesar disto, não podemos de forma alguma afirmar que a imagem de
Deus esteja relacionada somente no fato do homem ter poder sobre as outras
criaturas. O Salmo 8 não parece identificar Gênesis 1, caso contrário teríamos que
ter dentro do conceito do salmista a ideia latente de imagem e semelhança. O que
de fato não ocorre.
A ideia da concepção relacional de que somente o homem pode relacionar-
se com Deus está absolutamente correta quando olhamos para a consciência
absoluta, ou seja, somente o homem tem consciência de seu relacionamento com
seu criador.
12
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

Não podemos concordar que a imagem de Deus seja mera experiência. Um


experimento não faz de algo uma substância de outra coisa. Principalmente no caso
do homem que o relato Bíblico mostra a imagem sendo concebida na mente do
criador. Desta forma fica difícil para se compreender uma ideia de imagem sendo
apenas no sentido de um relacionamento experimental.
Na questão substantiva creio que está a grande verdade da Palavra de Deus.
Apesar disto, devemos tomar certos cuidados quando achamos que a
intelectualidade faz do homem a imagem de Deus. Existem pessoas ímpias
intelectualmente mais capacitadas do que muitos santos do Senhor. Nem por isto
aqueles estão mais próximos da imagem de Deus do que estes. Para
compreendermos melhor o que significa isto passemos agora a analisar a natureza
original do homem.

II) A NATUREZA ORIGINAL DO HOMEM


O homem só foi a exata imagem e semelhança de Deus antes da queda. O
pecado distorceu esta ideia, embora de alguma maneira ela ainda está presente. É
esta imagem e semelhança, embora distorcida, que nos faz diferentes das outras
criaturas (ERIKSON, 1997, p. 216).
Para Thiessen a ideia de imagem e semelhança compreende (THIESSEN,
2010, p. 150-152):
I. Não é física - Apesar do termo imagem (selem) significar cópia ou
estátua e o termo semelhança (demût) significa figura ou forma, isto
não quer dizer que Deus tenha algo de físico. A Bíblia é bem clara em
afirmar que Deus é Espírito (Jo 4:24). Com esta afirmação cai por terra
a ideia de um ancião de barba branca que mora no céu, ou a ideia
mórmon de que Deus era homem, sendo ele o primeiro Adão.
II. É mental - Este ponto parece ser contrário a todo sentido sobrenatural
do Cristianismo, ou até mesmo de todo sentido de fé. Mas Paulo afirma
que devemos buscar o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele
que nos criou (Cl 3:10). O autor em questão afirma que na santificação
é que o homem se aproxima desta imagem. A consciência da
santificação nos faz ter uma semelhança mental muito grande com
Senhor.
III. É moral - Como semelhança moral queremos dizer do estado inicial
do homem - reto e santo (Ec 7:29). Podemos afirmar que o homem,
apesar de sua natureza corrupta, tem tendências que fazem com que ele
se assemelhe ao criador. Estas tendências estão vinculadas ao sentido
moral. Principalmente a identificação do certo e errado.
IV. É Social - Com a criação de todas as hostes bem como com o constante
diálogo da Trindade, percebe-se nitidamente que Deus é um ser social.
13
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

Ao criar o homem ele viu que não era bom para o homem ficar só (Gn
2:18). Tal fato revela o lado social de Deus, assim como demonstra que
o homem é um ser social.

14
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

4 - UNIDADE E CONSTITUIÇÃO DO HOMEM


É fundamental se ter um conhecimento do que é ou quem é o homem. A
sociologia, como bem disse Franklin Ferreira e Alan Myatt, mostra que o homem
moderno tem se alienado cada vez mais. Isto inclui também o autoconhecimento.
O estudo da Antropologia, dentro da Teologia Sistemática, abre o horizonte
para compreendermos as questões éticas que envolvem a humanidade (FRANKLIN
& MYAT, 2007, p. 385).

I) A UNIDADE DA RAÇA
As Escrituras declaram que a humanidade descende de um único casal
inicial (Gn 1:27,28; 2:7,22; 3:20). Paulo demonstra isto através da ideia do pecado
original tendo vindo também de um único indivíduo (Rm 5:12,19, 1Co 15:21,22).
A ideia da unidade da raça não diz respeito a Adão somente, mas do casal
inicial (Gn 1:27). Strong apresenta alguns argumentos sobre a unidade da raça que
vale a pena conhecer (STRONG, 2003, p. 35-43):

a) O ARGUMENTO DA HISTÓRIA
Por mais que se discuta sobre evolução ou criação, sabe-se hoje que o
homem teve uma origem única. Com relação a esta unidade, Strong afirmou que a
história e a ciência colaboram para que possamos compreender esta origem única.
Ao que tudo indicava até certo ponto o homem teria tido uma origem única.
Claro que isto hoje tem caminhado para diversas posições. Muitos já afirmaram que
o primeiro homem veio da África, outros que é oriundo da Europa ou da Ásia. Este
argumento tem sido muito contestado por cientistas que acham vestígios de homens
em diversos lugares.
Apesar desta discussão, há grandes pistas de que o homem europeu, os
índios americanos e brasileiros, entre outros povos do Velho e Novo Continente
que nitidamente parecem ter vindos da Ásia.

b) O ARGUMENTO DA LINGUAGEM
Tem havido uma certa unanimidade sobre o fato da linguagem ter sido única.
A filologia parece estar unânime em afirmar que a linguagem teve seu início
comum em algum tempo da história. As diversas palavras comuns que encontramos
em diversos idiomas e dialetos tendem a colaborar ainda mais para esta prova.
Senão vejamos um pequeno exemplo: Deus, Dios, Deo, Theos, Zeus etc.

15
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

c) O ARGUMENTO DA PSICOLOGIA
As evidências morais e mentais existentes em diversos povos, em meio as
suas famílias, comprovam a ideia de um início único. Há tradições sobre a queda
do homem, de longevidade, do dilúvio e da torre de Babel em diversos povos.
Alguns em continentes completamente diferentes. Como exemplo citamos o dilúvio
que é mencionado tanto na China, como também em povos da América do Sul e do
Norte.

d) O ARGUMENTO DA FISIOLOGIA
Este argumento baseia-se no conceito de que os zoologistas preferem traçar
uma linha para homem de modo monogênito, ou seja, que a raça humana teria vindo
de um único casal. Ao contrário do poligênito.
Claro que estes argumentos são muito debatidos e estudados pela ciência
natural e cristã. Mas, apesar do homem continuar buscando sua origem nos macacos
e até fora deste planeta, prefiro ficar com a ideia de que o homem teve uma origem
única. Concordo com Strong que a singularidade da raça humana deveria ser
suficiente para provar isto.

e) ARGUMENTO GENÉTICO
Há pouco tempo tem surgido a ideia do argumento genético. Compreende
que o homem tenha vindo de um único DNA mitocondrial (mtDNA). Um ancestral
comum (Eva Mitocondrial) foi proposto nestes estudos. Segundo pesquisadores
nesta área, em algum ponto da história tivemos um ancestral comum, sendo possível
rastrear isso através do DNA mitocondrial.

II) A CONSTITUIÇÃO DO HOMEM


De um modo geral concorda-se que o homem é formado por uma parte
material e outra imaterial. Todavia, há certa discussão no que tange a parte
imaterial. Vejamos algumas teorias:

a) O TRICOTOMISMO
Esta teoria tornou-se a mais popular no meio evangélico conservador.
Segundo seus adeptos o homem seria composto de três elementos, tendo cada uma
sua função na concepção geral do homem. O primeiro elemento seria a natureza
física. Aquilo que é composto por matéria que é chamado de corpo.

16
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

O segundo elemento seria a alma. Este seria o elemento psicológico. Ela


seria a base de toda razão, das emoções, das relações sociais, do questionamento
humano etc. Este elemento é possuído, em um grau menor, por animais chamados
irracionais.
O terceiro elemento seria a fonte da religiosidade do homem e aquilo que o
leva a conhecer o seu criador, adorá-lo e louvá-lo, a saber - o espírito. Neste
elemento reside toda sensibilidade espiritual do homem.

A BASE BÍBLICA DO TRICOTOMISMO


Três são os textos mais usados pelos defensores desta linha:
(1Ts 5:23; Hb 4:12; I Co 2:14-16).
“E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso
espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados
irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” (1Ts 5:23)

“Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais penetrante do que


qualquer espada de dois gumes, e penetra até à divisão da alma, e do
espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os
pensamentos e intenções do coração” (Hb 4:12)

Os dois textos iniciais tratam do homem como um todo. Pode-se perceber


que Paulo usa uma hipérbole para se referir a uma vida aos pés do Senhor e ao poder
da Palavra de Deus. Se formos pensar desta forma, temos que aceitar que Jesus
divide em quatro partes:
“Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a
tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força” (Mc 12:30)
“A isto ele respondeu: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu
coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu
entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lc 10:27)
Jesus usa a mesma estrutura linguística que Paulo e o autor aos Hebreus usa.
“14 Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de
Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque
17
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

elas se discernem espiritualmente. 15 Mas o que é espiritual discerne


bem tudo, e ele de ninguém é discernido. 16Porque quem conheceu a
mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente
de Cristo” (I Co 2:14-16)

Este último de um modo geral compreende um erro grave. Paulo não tem
essa preocupação e o texto fala da ideia de relacionamento íntimo com Deus.
Paulo estava falando para um povo que tinha conhecido o poder de Deus.
Ele os chamara de santificados em Cristo e irmãos (I Co 1:2,10; 2:1; 3:1, etc.). Desta
forma, podemos concluir que cada divisão aqui descrita retrata a natureza humana
em três estágios a saber:
O estágio natural - este estágio descreve aquele homem não conhece a Jesus.
Ele não tem uma experiência de salvação.
O estágio carnal - é daquele homem que conhece as Escrituras e que não a
vive. Podemos dizer que este homem seria aquele que tem uma experiência de
salvação, mas sua vida está longe da vontade de Deus1; ou ainda de alguém que está
dentro da igreja, mas não foi de fato salvo, encaixando-se em Mt 7:21-23.
A estágio espiritual - corresponde aquele homem que tem uma experiência
de salvação e tem buscado uma vida de santificação.
Sendo assim, podemos notar que o texto aos coríntios nada tem a ver com
a constituição do homem. Antes corresponde às fases que pode passar o homem
diante do Senhor em sua vida.

b) O DICOTOMISMO
Afirma que o homem é constituído de uma parte material e outra imaterial
sendo alma e espírito a mesma coisa.

1 Alguns afirmam que não existe este homem. Mas o contexto que Paulo descreve parece

ser muito claro.


18
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

A BASE BÍBLICA DO DICOTOMISMO


Aqueles que defendem a teoria se baseiam principalmente nos seguintes
pontos:
1. Deus soprou no homem um só princípio ativo - a alma vivente (Gn 2:7)
lembrando que pneuma e nefesh traduz-se como sendo espírito ou
sopro.
2. O intercambiamento dos termos que parecem existir na Bíblia;
3. Tanto espírito e alma são citados como pertencentes a animais
irracionais (Ec 3:21; Ap 16:3)
4. Deus também é descrito como tendo alma (Am 6:8 - literalmente deve
ser traduzido por “jurou o Senhor pela sua alma”; Jr 9:9; Is 42:1; 53:10-
12; Hb 10:38)
5. O lugar mais nobre da religião é dado à alma (Mc 12:30; Lc 1:46; Hb
6:18,19; Tg 1:21)
6. O corpo e alma constituem todo o ser humano (Mt 10:28; 16:26; Mc
8:36,37; I Co 5:3; III Jo 2)

Os textos citados no sexto item não parecem provar aquilo que os


dicotomistas de fato querem. Eles simplesmente comprovam a questão do valor da
salvação para o homem.

c) O MONISMO
Esta teoria, embora não muito defendida, parte do princípio de que o homem
é indivisível. O monismo não aceita que o homem possa existir em partes. Sendo
assim, não há possibilidade de uma existência desencarnada após a morte. Esta
teoria não só elimina a total possibilidade de existência após a morte, como também
rechaça a ideia de qualquer tipo de estado intermediário entre a morte e a
ressurreição (ERICKSON, 1997, P. 230).
O monismo surgiu mais para rebater a ideia liberal da imortalidade da alma.
Foi muito popular na neo-ortodoxia e no movimento da teologia bíblica.

19
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

A BASE BÍBLICA DO MONISMO


Parte do pressuposto de que na Bíblia o homem é tratado como um todo. O
monismo não procura se preocupar com textos que venham comprovar a sua
realidade. Ao contrário, ele parte do pressuposto de que na Bíblia o homem é tratado
como um todo. Desta forma, segundo o monismo, há um tratamento unitário para
com a constituição humana.
Observam os seguidores deste pensamento que o Velho Testamento trata o
homem sempre como ser unitário em uma forma psicofísica, ou seja, a carne é
vivificada pela alma.

d) A UNIDADE CONDICIONAL
Ela foi defendida inicialmente por Millard Erickson como um modelo
plausível diante das dificuldades das outras teorias. Parte do princípio de que o
homem realmente é indivisível, sendo a morte um estado excepcional (condição).
Eis o pensamento básico de Erickson:
Podemos pensar que cada ser humano é um composto unitário de um
elemento material e outro, imaterial. O elemento espiritual e o físico
nem sempre são distinguíveis, pois o homem é um ser unitário; não há
conflito entre a natureza material e a imaterial. O composto pode,
porém, ser dissociado; a dissociação ocorre na morte. Na ressurreição
será formado um novo composto, com a alma (se escolhermos este
nome) voltando a ser inseparavelmente ligado ao homem.
(ERICKSON, 1997, p. 232)

20
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

A BASE BÍBLICA DA UNIDADE CONDICIONAL


Usa-se muito como base 1Coríntios 15 e 2Coríntios 5:2-4 como prova da
anormalidade da morte. Como falamos esta teoria parte do princípio de que a Bíblia
não mostra uma divisão na constituição humana. Eles usam como base o texto que
Paulo escreve aos coríntios mostrando a ressurreição futura que nos está reservada
na volta de Cristo (1Co 15). Afirma-se ainda que quando fala do estado
intermediário Paulo mostra que nitidamente é um estado fora da normalidade do
homem (2Co 5:2-4).

e) CONSIDERAÇÕES SOBRE AS ARGUMENTAÇÕES


i) Devemos levar em contar algumas coisas:
ii) A Bíblia não se preocupa com o assunto;
iii) É uma doutrina que não afeta a fé;
iv) Nenhum texto usado é sobre o assunto;
v) Os textos tricotomistas tratam todos, exceto 1Corintios, da totalidade
do homem;
vi) A alma como fonte de vida e razão e o espírito como fonte de
religiosidade parece não funcionar em textos como (Lc 1:46,47;
1Re17:21);
vii) As composições básicas do homem parecem diferir em textos como
Mt 6:25 e 10:28 comparando com Ec 12:7 e principalmente 1Co
5:3,5 (Os dois primeiros textos comparados ao último parecem
afirmar que alma ou espírito são a mesma coisa).

21
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

Creio que a solução ainda está longe de ser totalmente desvendada. Acredito
firmemente que não poderemos chegar a uma conclusão aqui neste mundo. Nossas
convicções precisam ser moldadas e baseadas tão somente na Palavra de Deus.
Particularmente creio muito na unidade condicional, entretanto reconheço
que parece ser falha diante da lógica, embora humana, que é apresentada pela
dicotomia. Quando falamos em lógica humana, queremos dizer não há textos
suficientes que comprovam tanto uma como qualquer das teorias aqui apresentadas.
Mas acredito, mui respeitosamente, que o caminho mais simples do entendimento
humano parece ser uma unidade condicional que reconheça uma divisão do homem,
sem, no entanto, negligenciar o estado intermediário que parece ser um caso à parte
de um modo geral. O fato do homem receber um novo corpo parece confirmar
precisamente que o ser humano existe com uma unidade total, sem o corpo e a parte
imaterial (seja em uma ou duas), via de regra, não há homem.

22
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

5 - A ORIGEM DA ALMA
Este não tem sido atualmente um ponto muito discutido. Os antigos gregos
é que lançavam ideias que acabaram por ser assimiladas pela cristandade.
Três conceitos são mais discutidos:
1) Pré-existencialismo;
2) Traducionismo;
3) Criacionismo.

I) PRÉ-EXISTENCIALISMO
Parte do princípio de que a alma humana já existia antes da existência do
homem em si. Orígenes, Escoto Erígena e Júlio Müller foram grandes defensores
deste ponto de vista.
Orígenes chegou ao ponto de pregar uma reencarnação disfarçada. Segundo
ele as irregularidades e imperfeições do corpo são resultados de falhas cometidas
em vidas passadas. Escoto sustentava que o pecado entrou no mundo em um estágio
pré-temporal.
É a teoria muito defendida pelos espíritas kardecistas e de religiões orientais
espiritualistas.

II) TRADUCIONISMO
Afirma que a alma do homem se propaga através das gerações, por esta ter
sido a ordem do Senhor no Éden (Gn 1:27,28). Logo, esta doutrina apregoa que a
alma é também uma geração da união entre homem e mulher. Tertuliano, Rufino,
Apolinário, Lutero e A. H. Strong são alguns dos defensores desta ideia.
Este ponto de vista tenta se manter firme com a ideia de que Deus cessou a
criação. Logo as leis criadas por Deus fazem com que tudo se mantenha firme. O
grande problema com este ponto é começarmos a achar que Deus se mantêm a
distância (deísmo) sem se preocupar com que está ocorrendo com suas criaturas.

III) CRIACIONISMO
Afirma que cada alma é criada por um ato imediato de Deus. Desta forma,
cada ser humano criado tem uma participação da mão divina em sua criação de uma
forma direta e não indireta como no traducionismo.
Esta teoria não afirma que alma e corpo são criados em tempos separados,
mas que a alma, embora unida ao corpo no ato da concepção, tem uma procedência
puramente divina.

23
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

IV) CONSIDERAÇÕES SOBRE A ORIGEM DA ALMA


A teoria criacionista parece se encaixar melhor ao que encontramos em
algumas passagens das Escrituras (Sl 119:73; 139:14). Todavia não podemos logo
de início aceitar qualquer que seja. Claro que a teoria da pré-existência parece ser
a mais absurda, muito embora talvez tenha faltado quem a pudesse encaixar em um
pensamento menos herético do que a reencarnação.
A teoria traducionista parece ser humanamente mais lógica do que a
criacionista, todavia há sérias objeções que precisam ser observadas:
i) Não oferece embasamento bíblico em nenhum ponto das Sagradas
Escrituras;
ii) Não explica como se processa a criação da alma a partir da concepção
da mulher.

Em contrapartida também encontramos sérias objeções à teoria criacionista:


i) Parece colocar Deus como sendo o responsável pelo pecado do
homem, ele criou a alma que já vem contaminada pelo pecado;
ii) Tende a colocar Deus como em contínuo trabalho criador sendo que
parece claro que ele já cessou sua obra criadora

O que podemos dizer diante desta tão grande dificuldade é que Deus nos
coloca em frente de um dilema que ele mesmo não se preocupou em resolver para
nós. A verdade parece muito está entre o traducionismo e criacionismo, mas não
parece ser tão simples assim. Muitos ortodoxos acham que algum tipo de
criacionismo deve ser aceito como mais provável, mas creio que não é tão fácil
assim. (BERKHOF, p. 232)

24
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

6 - INTRODUÇÃO À HARMATIOLOGIA
A Palavra HARMATIOLOGIA significa “Estudo do Pecado” é uma
composição Grega formada de:

HARMATIA = Pecado
LOGOS = Estudo

Entende-se pela doutrina que estuda o pecado e suas consequências. É


fundamental compreender que o pecado é algo inerente à natureza humana, ou seja,
faz parte da nossa natureza. O pecado é mais do que coisas exteriorizadas,
compreende algo que brota de cada um de nós. Podemos pecar sem que ninguém,
humanamente falando, saiba. Há pessoas que não se acham pecadoras por não
cometerem atos externos de maldade. Acreditam que por viverem vidas tranquilas
e pacatas com relação a outros homens, ou mesmo a Deus, exclui-os de serem
pecadores. Entretanto a verdade bíblica nos mostra algo bem diferente.

I) UMA DEFINIÇÃO
Podemos definir como sendo a falta de conformidade com a vontade divina
tanto no âmbito do fazer, pensar ou ser.

a) A TERMINOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO

chattath ou chet – errar o alvo / falhar (Êx 32:30; Sl 51:9)


pesha – rebelião ativa (Pv 28:13)
shagah – desviar-se (Lv 4:13)
awon – perversidade / depravação (I Re 17:18)
(SEVERA, 2012, p. 152)

b) A TERMINOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO


asebeia – impiedade (Rm 1:18; Tt 2:12)
adikia – injustiça e falta de retidão (Rm 1:18; 3:5; I Co 6:8)
parabasis – transgressão da lei (Rm 2:23; 5:14)
anomia – ilegalidade (Rm 4:7; 6:19; I Jo 3:4)
parakoe – desobediência a Deus (Rm 5:19)
(ibid.)

25
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

A palavra mais utilizada é harmatia, que aparece mais de 40 vezes só em


Romanos.

26
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

7 - A NATUREZA DO PECADO
Podemos enxergar de uma forma simples a ideia da natureza do pecado
(ERICKSON, 1997, p. 238-240).

I) PECADO É UMA INCLINAÇÃO INTERIOR


Não consiste somente em atos errados, mas a inclinação interior que nos
impulsiona ao ato também o é (Mt 5:21, 22, 27, 28). Não somos pecadores porque
pecamos, mas pecamos porque somos pecadores.

II) PECADO É REBELIÃO E DESOBEDIÊNCIA


É uma rebelião contra o ser supremo e sua vontade, mesmo que se saiba que
nada pode ser maior que Ele. Este fato pode ser notado mesmo dentro do meio
gentio, conforme Paulo (Rm 2:14,15). O fato de não se crer na mensagem quando
ela é apresentada de forma clara e expressiva já significaria pecado. Adão e Eva se
rebelaram contra Deus quando não aceitou a sua prerrogativa (Gn 2:16, 17).

III) PECADO IMPLICA EM INCAPACIDADE ESPIRITUAL


Ele altera nossa condição interior, nosso caráter. Somente através de uma
renovação de vida que o homem pode sair desta condição.

IV) PECADO É O NÃO CUMPRIMENTO DOS PADRÕES DE


DEUS
Cumprir a Lei pelos motivos errados caracteriza fugir dos padrões de Deus.

V) PECADO É DESALOJAR A DEUS


Quando se coloca qualquer coisa no lugar que deveria ser de Deus, estamos
desalojando a Deus.

27
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

8 - A FONTE DO PECADO
Há diversas visões sobre a fonte do pecado:

I) TEOLOGIA EVOLUCIONISTA
O pecado é o resultado da persistência de nossos instintos animais. Tennant
crê dessa forma.
Temos que lutar para nos livrar destes velhos instintos. Tais pensamento são
ratificados, segundo os que creem desta forma, quando nos deparamos com
anomalias que existem na natureza de alguns animais. Como exemplo citamos o
fato que alguns animais têm relações homossexuais.
O erro aqui é se esquecer que o pecado de Adão contaminou toda a natureza.
Deus disse: “... maldita é a terra por causa de ti...” (Gn 3:17)

II) TEOLOGIA DE REINHOLD NIEBUHR


A ideia de pecado parte da finitude da natureza humana e consequência de
uma ansiedade inerente a natureza. Para nos livrarmos desta situação devemos
aceitar as nossas limitações e confiarmos em Deus. Logo, a conversão é o remédio
que cura a pessoa deste mau.
Não podemos dizer que nossa limitação nos faz pecadores. Somente Deus é
ilimitado, até os anjos são limitados.

III) TEOLOGIA DE LEIBNITZ E SPINOZA


Nossas limitações faziam nascer o pecado, sendo este uma situação
necessária para comprovar nossa limitação. O homem pode até ter sido criado com
limitações físicas, mas não morais. Sem falar que se não tivéssemos limitações
seriamos iguais a Deus.

IV) TEOLOGIA DE PAUL TILLICH


O pecado seria a alienação da existência fundamental do homem. O pecado
estaria ligado também ao fato sermos criaturas. A diferença é que não dependeria
de uma conversão, mas de uma mudança de atitude.

28
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

V) TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO
A fonte do pecado é a luta pelo poder econômico regente na humanidade. A
solução estaria em eliminar a opressão e a desigualdade que existe na humanidade.
A grande luta da igreja não seria da evangelização do indivíduo, mas pela igualdade
social e econômica do mundo.

VI) UMA ANÁLISE BÍBLICA


Analisando as teorias anteriores, elas lançam toda culpa do pecado nas mãos
de Deus. Quando lemos textos como Tiago 1:13-15, vemos que o problema do
pecado está no próprio ser criado.
As tentações externas não tiram a responsabilidade de quem comete o
pecado. Leia Gn 3 e veja que Deus não ameniza para Adão, mesmo ele jogando a
culpa em Eva. E assim sucessivamente.
Somos inteiramente responsáveis pelos nossos atos. Isto é o que podemos
ver por toda Escritura.

29
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

9 - O PECADO ORIGINAL
Não estamos nos referindo aqui de onde surgiu o pecado, mas é bom saber
que não foi no Éden. O pecado teve origem no coração de Satanás e tudo começou
no ambiente celestial.
Em Is 14:11-23 o rei da Babilônia é comparado com a estrela da manhã,
filha da alva, astro que os cananeus consideravam como um deus que desejava
colocar-se acima dos demais deuses (v. 13). Esse deus, segundo criam os cananeus,
habitava num monte localizado em um distante ponto do Norte. Com essa figura, o
autor ridiculariza o orgulho e a arrogância do rei da Babilônia, insinuando que
também ele deverá cair como aquele deus pagão.
Ez 28.11-19 retrata o rei de Tiro, mas este é um tipo que aponta para o
antítipo maior, Lúcifer.
Quando Adão pecou ele imputou o pecado em toda humanidade.

I) TEORIAS SOBRE A IMPUTAÇÃO DO PECADO


Existem algumas teorias que precisam ser analisadas:

a) NOVA ESCOLA
Todos os homens nascem com a predisposição para pecar, tanto física como
moralmente. Logo que vem a consciência moral ao homem ele começa a pecar.
Claro que não é possível determinar quando começa esta consciência moral.

b) ARMÍNIO
O homem está doente como resultado da transgressão adâmica. Homem está
destituído da retidão original e é incapaz de conseguir por seus próprios meios.
Como esta capacidade de pecar é involuntária, Deus concede uma influência
especial a cada indivíduo para que possa ter oportunidade de voltar (Graça
Preveniente). Desta forma cada um colabora com o Espírito Santo para que ele
possa ajudar a transformar o indivíduo.

c) TEORIA FEDERATIVA
Como Adão pecou, todos os homens tornam-se pecadores pela sua
representatividade. Defendida principalmente por Cocceius (catedrático holandês),
Adão foi escolhido como representante da humanidade. O próprio Deus cria todo
homem corrupto.

30
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

Parece haver um certo grau de verdade nesta afirmação quando se vê a


maldição dada pelo próprio Deus, mas é preciso analisar com mais profundidade.

d) TEORIA DE IMPUTAÇÃO IMEDIATA


Deus imputa esta natureza como sendo uma consequência do pecado de
Adão, desta forma quando a alma se junta com o corpo o indivíduo se torna pecador.
A teoria de imputação imediata foi defendida por Placeus, catedrático de
Saumur. Ele partia do princípio de que de fato do homem é naturalmente depravado.
Na federativa a imputação é a causa da depravação nesta invertem-se os
papeis.

e) TEORIA NATURAL
O pecado de Adão nos é imputado como algo inerente à natureza humana.
A teoria natural teve seu precursor em Agostinho. Esta teoria afirma que somos
pecadores pela natureza de Adão. Logo, o homem não consegue ficar livre do
pecado porque este faz parte de sua natureza, antes mesmo de nascer para o mundo.

f) CONSIDERAÇÕES
Apesar da teoria natural parecer a mais próxima da verdade, não podemos
descartar a federativa e a imputação imediata como possibilidades.
Não quer dizer que praticamos as mesmas coisas que Adão, mas estamos em
uma atitude de desobediência constante.

31
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

10 - OS EFEITOS DO PECADO
Não há muitas discussões nesta área entre os estudiosos. Erikcson afirma
que pecado traz três tipos de efeitos (ERICKSON, 1997, p. 245-257):
i. Os que afetam o relacionamento com Deus;
ii. Os que recaem sobre nós mesmos;
iii. Os que recaem sobre nosso relacionamento com o próximo;

Zacarias de Aguiar Severa destaca seis aspectos importantes (SEVERA,


2012, p. 158-161):

i) SEPARAÇÃO DE DEUS - Faz parte da essência do pecado, sendo o


efeito primário da queda.
ii) CORRUPÇÃO DA NATUREZA HUMANA - O ser humano passa a
ter uma tendência natural (inerente) para o pecado.
iii) CONSCIÊNCIA DE CULPA - O homem passa a tentar se esconder
de Deus, logo, ele sabe que tem culpa diante do criador, ainda que não
reconheça isso.
iv) DISTÚRBIOS SOCIAIS - Ainda no Éden se manifesta o distúrbio
quando um tenta jogar a culpa para o outro.
v) SOFRIMENTO - Faz parte da própria maldição de Deus sobre o
homem. Somente pela obra da cruz isto é amenizado nesta vida e
sanado na vindoura.
vi) MORTE - É a mais drásticas das consequências sendo de alcance
tríplice:
a. Espiritual (Ef 2:1,4; Cl 2:13; Jo 3:36; 1Jo 5:11,12) –
Compreende o fato que já nascemos mortos pelo pecado.
b. Física (Gn 3:19; Rm 5:12-14; Hb 2:14,15) - é a morte
propriamente dita como separação da parte material da imaterial.
c. Eterna (2Ts 1:9; Ap 20:11-15) – É o castigo eterno dado por Deus
para aqueles que não aceitam a mensagem de redenção.

“Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos foram


feitos pecadores, assim, pela obediência de um, muitos serão feitos
justos” (Rm 5:19)

32
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

BIBLIOGRAFIA
- BANCROFT, Emery H.. Teologia Elementar. São Paulo: Batista Regular do
Brasil, 2011. 473p
- BERKHOF, Louis. Teologia sistemática. Campinas: Luz Para o Caminho, 2e.
- DAGG, John L.. Manual de Teologia. São Paulo: Editora FIEL, 1998. 301p.
- ERICKSON, Millard J.. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo:
Edições Vida Nova, 1997. 540p.
- FERREIRA, Franklin e MYAT, Alan. Teologia Sistemática - uma análise
histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Edições
Vida Nova, 2007. 1218p.
- GEISLER, Norman. Teologia Sistemática – introdução à teologia, a Bíblia,
Deus – A criação. Rio de Janeiro: CPAD.
- GRUDEN, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Edições Vida Nova,
1999. 1046p.
- HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2001. 1711p.
- KAISER, Walter C.. Jr. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Mundo
Cristão, 2007. 318p.
- LANGSTON, A. B. Esboço de teologia sistemática. Rio de Janeiro: JUERP,
1999. 312p.
- MCGRATH, Alister E.. Teologia Sistemática, história e filosófica uma
introdução à Teologia Cristã. São Paulo. Shedd Publicações, 2005. 664p.
- SEVERA, Zacarias de Aguiar Severa. Manual de Teologia Sistemática.
Curitiba: A. D. Santos Editora, 2014. 424p.
- STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática Vol. 1. São Paulo:
Hagnos, 2002. 680p.
- ________________________. Teologia Sistemática Vol. 2. São Paulo:
Hagnos, 2003. 880p.
- THIESSEN, Henry Clarence. Palestras em Teologia Sistemática. Rio de
Janeiro: Imprensa Batista Regular, 2010. 399p.
- TEIXEIRA, Alfredo Borges. Dogmática evangélica. São Paulo, 1958. 334p.
- URETA, Floreal. Elementos de teologia cristã. Rio de Janeiro: JUERP,
1995.243p.
33
ANTROPOLOGIA E HARMATIOLOGIA CETEBES - 2023

34

Você também pode gostar