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LINGUAGENS

Linguagens NÃO é interpretação


Linguagens, códigos e
suas tecnologias

AUTORES:
Felipe Pereira Cunha | Gabriel Torres

IMAGENS:
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© FreeImagens.com
© Autores

CAPA:
Humberto Nunes

PROJETO GRÁFICO E
DIAGRAMAÇÃO:
Vânia Möller | Cristiano Marques

DIREITOS RESERVADOS:
© Felipe Pereira
Conteúdo
3 | COMPETÊNCIA 6
9 | Habilidade 18
13 | Habilidade 19
17 | Habilidade 20
21 | Lista de questões

29 | COMPETÊNCIA 5
34 | Habilidades 15, 16 e 17
43 | Lista de questões

52 | COMPETÊNCIA 8
65 | Habilidades 25 e 26
77 | Habilidade 27
85 | Lista de questões

93 | COMPETÊNCIA 4
96 | Habilidades 12, 13 e 14
109 | Lista de questões

119 | COMPETÊNCIA 1
122 | Habilidades 1, 2, 3 e 4
127 | Lista de questões

135 | COMPETÊNCIA 7
141 | Habilidades 21, 22, 23 e 24
154 | Lista de questões

162 | COMPETÊNCIA 3
165 | Habilidades 9, 10 e 11
168 | Lista de questões

175 | COMPETÊNCIA 9
180 | Habilidades 28, 29 e 30
185 | Lista de questões

192 | COMPETÊNCIA 2
196 | Habilidades 5, 6, 7 e 8
220 | Lista de questões INGLÊS
228 | Lista de questões ESPANHOL
COMPETÊNCIA 6

Compreender e usar os sistemas simbólicos das


diferentes linguagens como meios de organização
cognitiva da realidade pela constituição de significados,
expressão, comunicação e informação.
O que é um “sistema simbólico”?
Um “sistema” só é um sistema na medida em que Partindo dos pressupostos até aqui apre-sentados,
se estrutura por si só e apresenta regras internas fica relativamente simples concluir que a palavra
que regem seu próprio funcionamento. O sistema é composta por duas metades: uma concreta
apresenta autonomia; tudo o que ocorre dentro porque sonora (o símbolo), outra abstrata porque
do sistema só pode ser explicado por meio da psíquica (a mensagem do símbolo). Essa metade
observância das leis do próprio sistema. concreta e sonora é chamada, pela linguística
tradicional de “significante”; a outra metade,
Um sistema “simbólico” é, naturalmente, um
sistema formado por “símbolos”. Símbolos são abstrata e psíquica é chamada de “significado”.
formas autônomas que representam outra coisa A ongregação entre “significante” e “significado”
que não é elas próprias. Um símbolo nunca formaria a totalidade do signo linguístico (a
condiz perfeitamente com seu significado; palavra). Por exemplo, o “significante” seriam os
nunca é idêntico àquilo que significa. Para sons da palavra /m-a-r/, e o “significado” seria
exemplificar, sabemos que aquilo a que os sons se referem.
a pomba simboliza a paz, e Numa visão inocente, alguém
“Símbolo (subst. masc.) aquilo
entendemos, sem esforço, que, por um princípio de analogia, pensaria que o significado da
que a pomba (esse animal) e representa ou substitui outra palavra “mar” é simplesmente o
coisa.”
a paz (essa maneira pacífica mar por si, composto por todos
Dicionário Etimológico
de organização social) não Antônio Geraldo da Cunha os seus oceanos. No entanto,
são a mesma coisa. Isto é, essa é uma visão simplista,
“Os sons emitidos pela voz são os
o símbolo é, por si só, uma símbolos dos estados de alma, e as inocente e equivocada, já que,
representação, uma refra-ção, palavras escritas, os símbolos das ao ouvir a palavra “mar”, me
um desencontro, um descola- palavras emitidas pela voz.” sinto remetido a uma série
mento da coisa simbolizada. Da Interpretação, Aristóteles de sensações, lembranças,
O símbolo é o distanciamento palavras, comparações que
da coisa que ele significa extrapolam o próprio mar. O
em nome da elevação dessa coisa significada, mar em si é essa fatia considerável do globo: essa
promovendo nela a vida simbólica, inflando-a de faixa de terra submersa em água salgada. Porém,
sentido e de razão. a palavra “mar” não é exatamente o mar, mas um
símbolo do mar, um bloco de sons que representa
O primeiro, mais profundo e radical sistema
simbólico que há é a língua. As palavras são a o mar dentro do sistema da língua. Uma vez
maior simbologia já criada pela racionalidade e construída essa representação, a palavra “mar”
ao mesmo tempo pela fantasia humanas. Afinal, ganha autonomia para navegar por dentro do
toda palavra é uma representação sonora de mar da língua, por onde navios obscuros cruzam
algo que não é a própria representação sonora. as águas turvas da interpretação. A palavra “mar”
Ou seja, os sons /´ka.za/ não são exatamente “o que acabo de usar na linha anterior já não significa
lugar onde moro”. Há uma evidente diferença mais “mar”, mas ganha um novo significado, uma
entre o lugar que de fato habito e “a palavra que nova recapagem, uma nova carga simbólica, e isso
representa, dentro do sistema da língua, esse é natural na nossa língua e em todas que existem.
lugar”. Se a palavra é um “símbolo” que funciona Assim, chegamos ao primeiro grande postulado
dentro de um “sistema” (chamado ‘língua’), tudo do estudo de qualquer língua: o significado de
o que ocorre na palavra deve ser explicado a uma palavra não condiz com seu referente no
partir das regras desse sistema. mundo real.

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SIGNIFICADO “O signo linguístico une não uma coisa a uma palavra, mas
um conceito (uma concepção) a uma imagem acústica.
Esta ‘imagem’ não é só o som material, coisa puramente
física, mas a impressão (empreinte) psíquica desse som,
a representação que dele nos dá o testemunho de nossos
SIGNO
sentidos; tal imagem é sensorial e, se chegamos a chamá-
la ‘material’, é somente nesse sentido, e por oposição ao
SIGNIFICANTE REFERENTE outro termo associado, o conceito, mais abstrato.”
Triângulo semiótico, Peirce (1827)
Curso de Linguística Geral, Ferdinand de Saussure

Além da língua, quais seriam os outros sistemas simbólicos?


O que nos diferencia de todos os outros animais da ganham representação simbólica. Os sons das
natureza é a língua. Quanto a isso, tanto religião cordas de uma guitarra também são preenchidos
quanto ciência concordam. Noam Chomsky de significado; afinal, não têm a mesma
(importante linguista norte-americano) chega
a chamar a linguagem de “essência humana”,
“No princípio existia a Palavra, e a Palavra
supondo que seríamos pré-determinados estava voltada para Deus, e a palavra era
geneticamente para a comunicação linguística; Deus.”
considerava que todo ser humano nasce com uma Bíblia, Evangelho segundo São João, cap. 1,
versículo 1
“Gramática Universal”.
Uma das interpretações possíveis dessa
Somos seres tão simbólicos e tão escravos do passagem da Bíblia nos permite dizer que
sentido, que damos significado a tudo o que nos Deus também se revela por meio da palavra.
Entre os vários indícios de que Deus exista,
rodeia. É como se a simbolização fosse algo tão um deles seria a própria língua, a palavra.
natural à nossa existência, que precisássemos Isto é, a capacidade comunicativa é algo tão
extraordinário que, para muitos, só se explica
simbolizar tudo, nos marcando por onde como sendo produto da mão divina.
passamos. Não são só os sons das palavras que

simbologia dos sons das cordas de um violão.


Ambos sons remetem a sensações diferentes, a
“A vida nunca faz significados diferentes. E não são só os sons que
mais do que imitar
o livro, e esse livro são dotados de significação. As imagens também
não é ele próprio entram no jogo simbólico, e com as imagens vêm
senão um tecido
de signos, imitação as cores, que invadem nossas roupas, nossos
perdida, infinitamente cabelos, nossas casas. Junto das cores, vêm as
recuada.” pinturas, que se marcam em quadros, paredes
O Rumor da Língua, e braços tatuados. E assim nosso raio de ação
Roland Barthes
simbolizadora não tem limites, e somos capazes,
por meio da língua, de dar um sentido novo a
nós mesmos, contrariando o determinismo

Competência 6 |5
natural e escolhendo nossa própria maneira social, por meio de nossas opiniões, por meio
de nos representar e de existir por meio dessa de nossas roupas, por meio de nossas relações
representação. Como se nos simbolizássemos por interpessoais, enfim, por meio de tudo aquilo que
meio de nossas ações, por meio de nossa função é humano e que só é humano porque é simbólico.

De que modo os sistemas simbólicos funcionam como


meios de organização cognitiva da realidade?
Em primeiro lugar, é preciso definir organização
cognitiva, que pode ser entendida como a A palavra “cognição” deriva da forma latina
“cognoscere”, que também origina “conhecer”,
capacidade de construir conhecimento acerca de que nos leva à palavra “conhecimento”. Isto
algo que observamos na realidade. Por exemplo, é, a atitude cognitiva está intimamente ligada
quando conheço (no sentido mais puro do verbo) à atitude de lançar sobre o “conhecido” um
olhar investigativo, curioso, desejante de saber.
algo no mundo, não significa simplesmente que
eu já tive contato visual com isso que chamo de
“conhecido”. Na verdade, conhecer um lugar,
uma pessoa, um filme não remete simplesmente
ao campo sensorial da visão. “Já vi” não condiz
exatamente com “já conheço”. É perfeitamente
possível ver eventos da vida que não são
conhecidos, e conhecer eventos da vida nunca
vistos.

Conhecer, de fato, remete à construção do pen-


samento acerca do conhecido. Conhecer é posi-
cionar-se, de maneira inteligente e intencional,
diante do conhecido: observá-lo, descrevê-lo,
refletir sobre ele: investir raciocínio. A organiza-
ção cognitiva, portanto, se trata de um esforço
mental na direção da elaboração lógica que nos

6|
permita simbolizar a realidade. Por fim, conhe- que vivemos, nem a classe social da qual fazemos
cer exige uma postura mental ativa diante do que parte, tampouco as relações que estabelecemos,
se vê na vida, para que assim se lance, sobre o mas algo mais. Nossa individualidade – entendi-
mundo, uma maneira de entendê-lo, que sempre da como a essência da cada um de nós – reside
é simbólica (pois é subordinada à língua), e por- no modo como organizamos a realidade por meio
tanto nunca é objetiva, mas sempre é legítima. da cognição, considerando a atividade cognitiva
Perceber que a realidade é organizada de ma- como a estruturação de um saber sobre o mundo,
neira cognitiva é aceitar a variabilidade das ma- acreditando que o saber só se contrói por meio
neiras de pensar sobre a existência. Afinal, todos do pensar, que só se elabora por meio da fala, da
nós podemos ter acesso à mesma realidade, que escrita e da leitura. Isto é, a elaboração do pen-
se apresenta, muita vezes, indiferente às nossas samento passa pelo manuseio bem-sucedido da
escolhas. No entanto, apesar de vermos o mesmo língua e da linguagem, tanto para compreensão
mundo, nunca pensaremos o mesmo sobre o mes- quanto para a criação do saber. Assim, se somos o
mo mundo em que estamos. E é exatamente isso que pensamos, e se só pensamos porque falamos,
que faz cada um de nós seres únicos. O que nos é de se considerar que nossa subjetividade se ori-
torna pessoas inéditas não é somente o lugar em gine apenas na (e por causa da) língua.

“Todos os caracteres da língua: a sua natureza imaterial, o seu funcionamento simbólico, a sua organização
estruturada, o fato de que tem um conteúdo, já são suficientes para tornar suspeita essa compreensão (da
língua) como um ‘instrumento’, o que tende a dissociar do homem a propriedade da linguagem.
É na linguagem e pela linguagem que o homem se constitui como sujeito,
porque só a língua fundamenta o conceito de ‘eu’ na realidade,
na sua realidade que é a do ser eu.”

Da Subjetividade na Linguagem,
Èmile Benveniste

Os sistemas simbólicos, a organização


da realidade e o poder...
A língua e a linguagem não são “empoderadoras” aos outros, é comunicar, interferir, influenciar.
somente no âmbito individual; afinal, é na Falar é deixar escapar um pedaço de nossa
coletividade que a língua se funda e mais subjetividade: até quando tentamos esconder,
claramente se mostra. A língua e a linguagem são acabamos revelando. Por isso, é possível analisar
formas de expressão daquilo que se pensa, de manifestações linguísticas e supor quais eram as
exteriorização do que se organiza na subjetividade, intenções do sujeito que nos dirigiu determinada
no submundo do sujeito. Falar é revelar-se mensagem.

Competência 6 |7
Há que se considerar que as mensagens nos vêm específico por meio dos sistemas simbólicos,
não somente pelas palavras e pela língua, mas que induzem a uma organização cognitiva da
também pelas cores, pelas formas, pelas texturas, realidade. Vejamos alguns exemplos em que se
pelos movimentos, pela composição das imagens, constrõem compreensões absolutamente opostas
enfim, pelas mais variadas linguagens. Por isso, sobre o mesmo evento da vida social, e isso só
podemos influenciar e ser influenciados por meio é possível no momento em que as diferentes
dessa “politransmissão” de significados. Nosso linguagens (palavras, imagens, movimentos)
“eu” contrasta com os outros “eus” do mundo, entram em funcionamento, expressando formas
na medida em que ocorrem os choques entre os específicas de se entender uma realidade social.
sujeitos, entre o “eu” e o “tu”, entre o “locutor” e
o “interlocutor”, entre o que “fala” e entre o que
A palavra “sujeito” deriva da forma latina
“escuta”, entre o que “seleciona a imagem” e o “subjectus”, que também dá origem à
que “vê a imagem”. “subjetividade” e “subjaz”. Ou seja, “sujeito”
está intimamente ligado àquilo que está
A supremacia das propagandas hoje em dia “abaixo”(sub-), àquilo que não se vê, àquilo que
não se explica. A nossa subjetividade (que nos
apenas vem comprovar o poder que as linguagens compõe como sujeitos) é formada por algo que
podem exercer sobre o pensamento coletivo. O está submerso em nós mesmos, com que só
temos raros e curtos contatos e que nos faz ser
que se quer dizer aqui é que é possível levar muitas exatamente quem somos.
pessoas a compreender a realidade de um modo

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HABILIDADE 18
Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a
organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.

dO que é um texto?
Para que se estude com profundidade a estrutura portanto do texto), e nunca a sua totalidade (até
textual, a escritura textual, a análise textual e porque a humanidade ainda não teve tempo para
etc. é necessário, antes de tudo, ir em busca de apresentar uma visão simples, óbvia e facilmente
uma definição para isso que se chama texto. Em aplicável a tudo o que vem da língua). Por isso,
primeiro lugar, não há dúvidas de que um texto é nos limitaremos a compreender a seguinte lógica:
uma congregação de palavras faladas ou escritas. sendo o texto um produto da língua e sendo a língua
Todo texto só nasce na língua, e por isso é (como uma sistema simbólico, concluímos, sem esforço,
tudo o que é na língua) simbólico. Mas em que que todo texto é simbólico, ou melhor: todo texto
momento essa aglomeração de palavras torna- é um símbolo. Isto é, todo texto representa algo
se um texto? O que promove, entre as palavras, que não é o texto em si. Todo texto apresenta
a unidade textual? O que me faz entender que uma estrutura externa, física, visível (que são as
uma palavra se conecta a outra palavra específica próprias palavras interconectadas), e todo texto
(e nunca a qualquer outra)? Em que momento também apresenta uma estrutura submersa,
o milagre da estrutura do sentido se torna parcialmente visível, turva, obscura, (que são
percptível? Como o significado transita entre os os significados, as mensagens, as sensações, as
sujeitos por entre os corpos textuais? interpretações: o próprio ser reagindo a tudo o
que é textual).
A palavra “texto” vem do latim textilis¸ que É possível supor que a verdadeira unidade
estava ligada à ideia de “tecer”, “tecido”. Não
à toa, “têxtil” também é com ‘x’, revelando a mínima da língua seria o texto (e não a palavra,
origem comum. Ou seja, texto – no sentido mais como supõe a maioria). A expressão verdadeira do
puro da palavra – é uma costura de palavra com uso da língua é o texto. Afinal, a palavra, isolada,
palavra, como se houvesse um fio condutor que
conectasse um vócabulo a outro, de modo a não tem muita efetividade semântica; a palavra,
formar um contínuo estruturado, dando origem por si só, é um pacote de sentidos que não se
a algo transcende seu material inicial.
realiza sem estar concatenada a outras palavras.
Sem ancorar-se umas nas outras, as palavras são
Essas são perguntas que podem ser respondidas ilhas utópicas de sentido e não nos dizem nada,
das mais variadas formas, por várias vertentes não se realizam. É no texto que o sentido existe
linguísticas diferentes – todas elas conseguindo e somente em função do texto que a transmissão
compreender sempre um aspecto da língua (e de sentidos acontece por meio da língua.

“Todos os escritos (religiosos, políticos, literários, históricos e etc.) formam um gesto coletivo: é o próprio território do Texto
traçado, colorido. Sigamos um momento, de artigo em artigo, a mão comum que, longe ajudar a escrever a definição do Texto
(que não exsite: o Texto não é conceito), descreve (des-screve) a prática de escrita.

Visto que só se concretiza no significante, o Texto debate-se, frequentemente, com o significado, que tende a fazer ricochete
sobre ele: se o significado triunfa, o texto deixa de ser Texto, e passar a ser um objeto lúdico daquilo que representa.”

O Rumor da Língua, Roland Barthes

Competência 6 |9
dO Texto e a legitimação dos pensamentos
Quando a palavra vira texto, ela ganha vida, for- de que não leem? Absolutamente, não. Todo ser
ma, ação, sentido, causa e efeito; ganha também humano (mesmo não sabendo ler e escrever, mes-
temporalidade, pois é enunciada, se organiza, se mo escrevendo e lendo com pouca frequência e
estrutura: existe. Não se sabe exatamente desde eficiência) tem uma língua, pois apresenta comu-
quando a língua existe. Há poucas evidências his- nicação articulada, sabe se expressar por meio da
tóricas que permitam exatificar quando e onde fala, sabe reconhecer sentimentos e intenções por
surgiu a comunicação por meio de um sistema meio da observação da fala dos outros. Ou seja,
sonoro simbólico; porém, não saber desde quan- todo ser humano, desde que nasce, está em con-
do a língua existe, não nos impede de afirmar, ca- tato com textos, que se apresentam por meio de
tegoricamente, que ela existe e que nos inflencia históricas contadas pelos pais, por meio de men-
individual e coletivamente. As manifestações lin- tiras contadas pelos pais, por meio das histórias
guísticas revelam nossas relações de poder, nossas imaginadas pela criança, que conversa muito so-
formas de compreender o mundo, nossos medos, zinha e só o faz pela língua. Enfim, somos sufoca-
dos por textos de toda ordem que se camuflam e
nossas visões acerca da vida e da morte: enfim,
nos escondem o fato de que são manifestações de
tanto os textos que escrevemos e falamos como o
um sistema simbólico, sistema esse que não tem
que lemos e ouvimos nos fazem ser quem somos:
como compromisso a verdade, mas sim, e ape-
a língua nos ajuda a moldar o caráter e a individua-
nas, uma representação da verdade.
lidade. Estaria eu afirmando que analfabetos não
apresentam existência linguística pelo simples fato Vejamos alguns exemplos de textos...

Esses são textos que tentam formar


uma maneira de compreender a
morte e a vida fora da carne, fora dos
corpos, fora da materialidade. São
textos que lidam com o que estaria
do “lado de lá”. Por isso, ancoram-
se em evidências santas, sagradas,
transcendentais, extracorpóreas.
O que todos têm em comum é,
de alguma forma, pregar o bem,
a paz consigo mesmo e com sua
comunidade, a conservação da vida.
O que importa, para nosso estudo,
é que todos eles se subordinam à
língua e, portanto, à estrutura textual.

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Esses são exemplos de textos que regem (ou buscam reger) o bom funcionamento da sociedade (o bom
comportamento das pessoas). Aquilo que, orgulhosamente, chamamos de nossos direitos e deveres nada mais são
do que registros textuais que, no momento em que deixam de ser Texto, ou no momento em que são trocados por
outros textos, evaporam. Isto é, todos os nossos direitos estão registrados em um texto, e no momento em que esses
registros textuais somem, nossos direitos de fato também somem. Para exemplificar, basta pensar na ditadura militar
vivida no Brasil, em que todas as prisões abusivas e todas as torturas estavam dentro da lei. Isto é, estavam dentro do
texto da lei, que previa total liberdade de ação ao governo, que era, naquele momento, o exército.

Esses são exemplos de textos que se propõem a uma tarefa muito perigosa: definir, descrever, observar a língua.
O perigo dessa atitude é evidente visto que todos aqueles que querem falar sobre língua precisam usá-la para
explicá-la, de modo que a língua nunca será um mero objeto de análise, mas sim um processo por meio do qual
nos revelamos e temos acesso a alguém que se revela pelas frases que escolhe. A língua nunca é simplesmente
aquilo que se analisa, mas também é aquilo por meio do qual se analisa. Isto é, falar e escrever sobre a língua é
voltar a língua sobre ela própria e assim conseguir arrancar dela somente o que ela é capaz de descrever. Por isso,
é preciso cautela para escolher as palavras que compõem os textos que analisam a língua.

Mas o que todos os textos têm em comum?


Haveria uma natureza textual? Uma carac- textos procurando naquilo que há de concreto
terística que apareça em todo e qualquer texto? nos texto, na sua estrutura, no funcionamento do
O que uma bíblia e uma receita de bolo têm em sistema linguístico, na capacidade das palavras de se
comum? Por que posso chamar de texto tanto a referirem umas às outras. A progressão temática e
Constituição Federal, quanto a pixação que vejo a estruturação textual só são explicadas se forem
na parte de uma universidade? observados os mecanismos da língua, o código da
língua, suas regras.
Considerando que os textos têm os mais diferentes
significados e se referem aos mais variados Isto é, só conseguiremos perceber, enquanto
campos da realidade, é preciso deixar claro que lemos, o modo como um texto progride
só conseguiremos achar a essência de todos os tematicamente (avançando no assunto que

Competência 6 | 11
aborda) no momento em que notarmos como é ao próprio texto. A progressão temática também
decisivo conseguir ler o que se está lendo e vincular representa a repetição temática. Isto é, o tema
o que é lido agora ao que já foi lido anteriormente. se repete, reaparece, ressurge envolto às mais
A memória é a grande competência necessária diferentes formas frasais, e nessa reaparição,
à prática textual. Um texto só avança porque se
progride, continua, se espraia, avança: existe.
constrói em uma estrutura autorreferencial. O
que está em um texto sempre está em relação E assim o texto se organiza e se estrutura.

PRONOMES e CONJUNÇÕES
Os maiores exemplos de engranagens linguísticas duas (ou mais) orações que vincula em relação
que funcionam especificamente na pregressão de oposição. Isto é, a conjunção tem certa
temática e na estrutura textual são os pronomes autonomia significativa; no entanto, ela só se
e as conjunções. Afinal, são palavras de um tipo realiza e se mostra relevante para a escritura
muito especial, visto que só têm valor dentro dos textual a partir do momento em que entra no
textos; só existem na sua tecitura, só ganham fluxo textual, fazendo com que haja sentido não
sentido na medida em que estão entre outras só nas frases de um texto, mas também entre
palavras. elas. Nessa conexão frase a frase, também reside
a organização textual. Vejamos um exemplo com
Para exemplificar, observemos o pronome isso. a seguinte frase: “O advogado de defesa tinha
Qual seu significado? Qual sua mensagem? uma teoria genial, mas inédita”. A uma primeira
Quando uso a palavra isso, me refiro a quê? vista, não compreendemos o que levou o autor
Ora, não é difícil notar que a mensagem de isso do texto a escolher a palavra mas. No entanto, no
só se constrói no momento em que essa palavra meio jurídico, as teorias ganham valor à medida
está envolvida entre outras palavras nas quais que se aproximam de outros casos já ocorridos.
se ancora para constituir significado. Isso nunca Isto é, uma defesa tem mais chance de obter
pode ser a primeira palavra de um texto. Isso sucesso ao passo que ancora seus argumentos
sempre sucede outras palavras, das quais precisa, (sempre organizados textualmente) com base em
para ter algo a que se referir. Se escrevo: “A bolsa outras teorias já defendidas. Por isso, defender
está em alta; isso faz diferença para que parcela uma teoria inédita é algo prejudicial a qualquer
da sociedade?”, observe que isso, nessa frase, advogado. E só compreendendo isso é que
significa “a bolsa estar em alta”. Agora se escrevo: conseguiríamos compreender aquele mas, que
“Encontrei cocô de cachorro frente à porta da não carrega só o seu significado, mas também o
minha casa; isso é um absurdo”, o significado de significado das duas frases que conecta, fazendo
isso, agora, é “cocô de cachorro frente à porta com que tenhamos uma leitura complexa, que
da minha casa”, sem nem mencionar os issos englobe a compreensão da frase 1, a compreensão
que usei nesse texto, que são todos issos que se da frase 2 e a compreensão do vínculo entre elas,
referem aos próprios issos. estabelecido pelo mas.

Para trazer um exemplo de uma conjunção, E assim se forma o tecido textual, por meio de
pensemos na palavra mas. Sabe-se que mas mecanismos de autoreferência, por meio de
funciona na língua como um nexo entre frases, palavras que organizam o texto e permitem a
como um funsível entre orações, e que coloca as progressão do tema em questão.

12 |
HABILIDADE 19
Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações
específicas de interlocução

O que são as Funções da Linguagem?


Entender as funções da linguagem é entender de ganha sentido e o referente: a porção de realidade
que maneira se estrutura a comunicação. Quem ou de imaginação a que se refere a mensagem.
são os integrantes necessários para que haja a
A verdadeira intenção do “criador” dessa maneira
transmissão de ideias, pensamentos, opiniões,
de ver a comunicação (Romam Jakobson, 1896–
modos de viver, de pensar, de existir? Como
1982) era definir o que é a literatura, quando
se transmite uma ideia por meio da língua e da
ela acontece. Em que momento deixamos de
linguagem? Por onde a mensagem passa? Ela
usar a língua apenas para viver, de maneira mais
passa por algum lugar?
cotidiana e trivial, e passamos a usá-la com uma
A ideia principal é traçar um mapa do ato intenção artística, de modo a moldar a frase de
comunicativo: a planta do imóvel: onde começa, tal maneira, que seja eternamente lida: palavras
onde termina. Quais os recursos que cabem em que atravessam as épocas. Qual das funções da
uma peça: um home theater aqui, outra ironia ali. linguagem é a função responsável pela produção
Claro que essa aparente concretude da análise literária? Ou em que função entra a língua? A que
da comunicação é uma ilusão, pois sabemos regras estão sujeitas a língua e a literatura? São
que o campo do significado invoca forças que regras distintas? Mais... literatura e língua são
ultrapassam em muito o uso do sistema linguístico. distintas?

Separaremos o ato comunicativo em partes,


como se separa o corpo em membros. Quais
sejam: o emissor da mensagem, o receptor da
mensagem, a mensagem, o canal pelo qual passa
a mensagem, o código pelo qual a mensagem

Função Emotiva da Linguagem (ou expressiva) – o foco comunicativo está no


emissor. Isto é, aquele que emite a mensagem refere-se a si mesmo, à sua
vida, às suas vontades, ao seu eu.

EXEMPLO: A Cinza das Horas, Manuel Bandeira


“Epígrafe Rompeu em meu coração, – Só! – meu coração ardeu:
Levou tudo de vencida,
Sou bem-nascido. Menino, Rugiu como um furacão, Ardeu em gritos dementes
Fui, como os demais, feliz. Na sua paixão sombria...
Depois, veio o mau Turbou, partiu, abateu,
E dessas horas ardentes
destino Queimou sem razão nem
. Ficou esta cinza fria.
E fez de mim o que quis dó –
Ah, que dor!
Veio o mau gênio da vida, Magoado e só, – Esta pouca cinza fria...”

Competência 6 | 13
Função Apelativa da Linguagem (ou Conativa) – a atenção na hora de colocar
a língua em uso está no receptor. Moldamos nossa mensagem para o ouvido
daquele que nos ouve, nos baseando naquilo que supomos que ele esteja
pensando, ou naquilo que queremos que ele pense.

EXEMPLO: Dom Casmurro, Machado de Assis

“Não soltamos as mãos, nem elas se deixaram cair de cansadas ou de esquecidas.


Os olhos fitavam-se e destivam-se, e depois de vagarem ao perto, tornavam a me-
ter-se uns pelos outros... Padre futuro, estava assim diante dela como de um altar,
sendo uma das faces a Epístola e a outra o Evangelho. A boca pode ser o cálix, os
lábios a patena. Faltava dizer a missa nova, por um latim que ninguém aprende, e é
a língua católica dos homens. Não me tenhas por sacrilégio, leitora minha devota;
a limpeza da intenção lava o que puder haver de menos curial no estilo. Estávamos
ali com o céu em nós.”

Função Poética da Linguagem – Essa função representa a grande tentativa de Jakobson


de definir o que é a literatura, estruturá-la, entender seu funcionamento, detectar qual
membro (entre todos) da comunicação que está em relevo no momento da criação literária.
E a resposta dele é que fazer literatura é preocupar-se com a mensagem, com as palavras
escolhidas, harmonizadas a um significado minimamente marcante. Fazer literatura é
mandar uma mensagem (som + sentido) e preocupar-se com a própria mensagem.

EXEMPLO: Desde que o samba é samba, Caetano Veloso e Gilberto Gil


A tristeza é senhora tristeza embora No quando agora em mim
Desde que o samba é A tristeza é senhora Cantando eu mando a
samba é assim Desde que o samba é tristeza embora
A lágrima clara sobre a pele samba é assim
escura A lágrima clara sobre a pele O samba ainda vai nascer
A noite, a chuva que cai lá fora escura O samba ainda não chegou
A noite e a chuva que cai lá O samba não vai morrer
Solidão apavora fora Veja o dia ainda não raiou
Tudo demorando em ser
tão ruim Solidão apavora O samba é o pai do prazer
Mas alguma coisa acontece Tudo demorando em ser O samba é o filho da dor
No quando agora em mim tão ruim O grande poder
Cantando eu mando a Mas alguma coisa acontece transformador

EXEMPLO: Açaí, Djavan


Solidão de manhã, Ira de tubarão, ilusão
Poeira tomando assento O sol brilha por si
Rajada de vento,
Som de assombração, Açaí, guardiã
Coração Zum de besouro um ímã
Sangrando toda palavra sã Branca é a tez da manhã

A paixão puro afã, Açaí, guardiã


Místico clã de sereia Zum de besouro um ímã
Castelo de areia Branca é a tez da manhã

14 |
Função Fática da Linguagem – para que essa
função ocorra, é preciso que o foco da mensagem
seja o canal pelo qual a mensa-gem passa. Seria
como usar a comunicação para colocar a própria
comunicação em funcionamento. A Função Fática
não é responsável pela transmissão de mensagens,
mas é responsável por preparar o terreno linguístico
para que ele transmita mensagens.

EXEMPLO: Sinal fechado, Paulinho da Viola


- Olá! Como vai? bém só ando a cem! beber alguma coisa,
- Eu vou indo. E você, tudo bem - Quando é que você telefona? rapidamente...
- Tudo bem! Eu vou indo, corren- Precisamos nos ver por aí! - Pra semana...
do pegar meu lugar no futuro... E - Pra semana, prometo, talvez - O sinal...
você? nos vejamos...Quem sabe? - Eu procuro você...
- Tudo bem! Eu vou indo, em - Quanto tempo! - Vai abrir, vai abrir...
busca de um sono tranquilo... - Pois é...quanto tempo! - Eu prometo, não esqueço, não
Quem sabe? - Tanta coisa que eu tinha a dizer, esqueço...
- Quanto tempo! mas eu sumi na poeira das - Por favor, não esqueça, não
- Pois é, quanto tempo! ruas... esqueça...
- Me perdoe a pressa - é a alma - Eu também tenho algo a dizer, - Adeus!
dos nossos negócios! mas me foge à lembrança! - Adeus!
- Qual, não tem de quê! Eu tam- - Por favor, telefone - Eu preciso - Adeus!

Função Metalinguística da Linguagem – Essa é a função da linguagem responsável por todo e


qualquer avanço intelectual em qualquer área do conhecimento. A metalinguística tem, por objetivo,
focar-se no código, no sistema comunicativo, na própria língua em si. Então, utilizar a linguagem para
falar sobre linguagem é fazer meta-linguagem. Escrever um livro, e o assunto do livro ser o próprio
livro é fazer metalinguagem. Um programa de tevê que fale sobre o que é, como acontece, o que
causa a tevê, é um programa metalinguístico. É possível notar que momentos metalinguísticos não
são muito comuns na nossa vida em geral, e nos oferecem uma porta de entrada rumo à filosofia,
e portanto à aprendizagem.

EXEMPLO: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis


“Ao Leitor
Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, cousa é que ad-
mira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará, é se este outro livro
não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinquenta, nem vinte, e quando muito, dez. Dez?
Talvez cinco. Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a
forma livre de um Sterne, ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens
de pessimismo. Pode ser. Obra de finado. Escrevia-a com a pena da galhofa e a tinta da me-
lancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio. Acresce que a gente grave
achará no livro umas aparência de puro romance, ao passo que a gente frívola não achará
nele o seu romance usual; ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos,
que são as duas colunas máximas da opinião.”

Competência 6 | 15
Função Referencial da Linguagem – A referencial talvez seja a função mais simples, pois aqui a
linguagem é usada de uma maneira “normal”, “padrão”, “comum”. Quando digo “comum”, não
digo menos complexa, nem menos interessante, digo frequente, corriqueiro, diário. Centrar-se
no referente é produzir frases diretas, focadas no assunto, na ideia, naquilo sobre que se fala.

EXEMPLO: Libertinagem, Manuel Bandeira


“Poema tirado de uma notícia de jornal
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no
morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu
Cantou
Dançou
Depois de atirou na lagoa Rodrigo de Freitas
e morreu afogado.”

“Uma distinção foi feita, na Lógica


moderna, entre dois níveis de linguagem:
a “linguagem-objeto”, que fala de
objetos, e a “metalinguagem”, que fala da
própria linguagem. Mas a metalinguagem
não é apenas um instrumento científico
necessário, utilizado pelos lógicos e pelos
linguistas; desempenha também papel
importante em nossa linguagem cotidiana.
Praticamos a metalinguagem sem nos
dar conta do caráter metalinguístico
de nossas operações. Sempre que o
remetente e/ou o destinatário têm
necessidade de verificar se estão usando
o mesmo código, o discurso focaliza
o CÓDIGO; desempenha uma função
METALINGUÍSTICA (por exemplo, “Não
o estou compreendendo — que quer
dizer?”, pergunta quem ouve). E quem
fala, antecipando semelhantes perguntas,
indaga: “Entende o que quero dizer?”.
Todas essas sentenças equacionais
fornecem informação apenas a respeito
do código lexical do idioma; sua função
é estritamente metalinguística. Todo
processo de aprendizagem da linguagem,
particularmente a aquisição, pela criança,
da língua materna, faz largo uso de tais
operações metalinguísticas.”
Linguística e Poética, Roman Jakobson

16 |
HABILIDADE 20
Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da
memória e da identidade nacional

O que é Patrimônio Linguístico?


É curioso notar que a palavra patri- Isto é, patrimônio não se refere
mônio é usada mais frequentemen- unicamente a bens materiais, mas
te para referir-se a bens materias também à imaterialidade que fica,
de consumo: a casas, a carros, a ao que não vemos e que nos une, ao
terras. Ou a bens materiais de pro- que não tocamos mas que orienta
dução: uma empresa, uma marca, nossa vida. O patrimônio ao qual
uma ideia também são patrimô- temos acesso é tudo aquilo que nos
nios passíveis de serem registrados deixaram: a língua que nos passaram,
Constituição Federal
Art. 216, Da Cultura como propriedade. Patrimônio é os costumes que nos incutiram, os
Constituem patrimônio aquilo que fica, que permanece, modos de entender a realidade,
cultural brasileiro os bens de que é passado de geração em ge- as festividades que nos ensinaram
natureza material e imaterial, ração e vai sendo aperfeiçoado, a amar, os bens de consumo que
tomados individualmente aprendemos a desejar, as relações
ampliado e, por vezes, destruído.
ou em conjunto, portadores
de referência à identidade, É algo que está para além dos ho- e os modos de se relacionar que
à ação, à memória dos mens, mas que é produto exclusivo observamos para depois reproduzir
diferentes grupos formadores da humanidade, afinal nós, huma- e etc. Se eu nasci em uma cidade
da sociedade brasileira, nos interiorana e litorânea, é inevitável
quais se incluem:
nos, temos orgulho do patrimônio
que nos deixam, e lutamos, com to- que esse ambiente me influencie, me
I - as formas de expressão;
das as forças, para que algo de nós modifique e deixe algo dele em mim
II - os modos de criar, fazer e
viver; fique nesse mundo; vivemos para por meio da ação das pessoas que
III - as criações científicas, que tenhamos a capacidade de dei- nele estão. Por mais que eu nunca
artísticas e tecnológicas; mais venha a morar em uma cidade
xar um legado: algo de nós que per-
IV - as obras, objetos,
maneça, que não acabe, que faça do interior, a língua e a linguagem que
documentos, edificações e
demais espaços destinados com que se lembrem de nós. O fim lá me foram passadas sempre farão
às manifestações artístico- último da vida humana é transcen- parte de mim. Os costumes que lá
culturais; aprendi fazem parte do patrimônio
der a si mesmo, conectar-se com os
V - os conjuntos urbanos
outros: poder transformar-se em daquele local e, portanto, de mim.
e sítios de valor histórico,
paisagístico, artístico, patrimônio, e assim sentir que sua Tomo meu caso como um mero
arqueológico, paleontológico, vida valeu a pena. exemplo, porque todo ser humano
ecológico e científico. tem uma existência histórica e
Filosofias à parte, o patrimônio comunitária, o que faz com que
é algo que tem sua importância cada um de nós se forme com sua
reconhecida concreta e coleti- própria forma de existir, de pensar,
vamente, na forma da lei. Há leis a de agir, mas sempre influencia por
respeito de patrimônio, voltadas uma comunidade específica, que
a defini-lo, a declarar que todos os nos passa uma cultura específica. O
cidadãos têm direito de ter acesso reconhecimento de que exista um
ao patrimônio cultural do seu país. patrimônio é a evidência de que nossa

Competência 6 | 17
existência coletiva nos influencia em quem somos, qual nos revelamos aos outros e a nós mesmos é
como pensamos, como agimos. Esse algo que se uma herança. Partindo disso, podemos ampliar a
eterniza é a contribuição das individualidades visão de patrimônio linguístico a tudo aquilo que é
para a construção do coletivo, daquilo que é de consequência da língua: as histórias, as opiniões,
todos que me rodeiam, e justamente por isso os conselhos, os discursos, as expressões, os
me importa e me enche de orgulho. Sentir-se jargões, e tudo aquilo que é língua, que expressa,
parte de, ou ter acesso a um patrimônio é ter que funciona em um sistema estruturado e que
consciência de que meu pai, minha mãe, meus serve de patrimônio a todos que compartilham o
avós e meus bizavós tomavam chimarrão e saber mesmo sistema de comunicação verbal.
que eu estou agora tomando, como se essas
pessoas tivessem me passado o bastão da vida Levar essa visão às últimas consequências é uma
para que eu a continuasse da maneira como eles atitude diabolicamente democrática. Afinal, sem
acreditavam que era o melhor. Não precisamos dúvidas, o livro “Grande Sertão: Veredas” faz
ser reféns do passado, para não repetir os seus parte do patrimônio linguístico brasileiro, porém
erros. Porém, é imperioso reconhecer que o as história da “Turma da Mônica” também fazem.
patrimônio representa a importância do passado Assim, a gravação de um pronunciamento de um
como formador do presente. presidente eleito democraticamente que declara
Considerando essa breve explanação acerca de o fim de uma ditadura é um patrimônio linguístico
patrimônio, podemos nos dirigir especificamente (são palavras que ecoam na história), porém
ao patrimônio linguístico, que pode ser entendido, as histórias que minha vó me contava também
em um primeiro momento, como a própria são. “Iracema”, de José de Alencar, forma
língua. Isto é, a língua é o maior patrimônio que nosso patrimônio histórico (tirano, colonialista,
recebemos. O sistema linguístico (no nosso caso covarde, explorador), no entanto a tradição oral
o português) que nos foi passado e por meio do indígena também forma.

A palavra cultura está relacionada ao sentido


de “cultivo”, “plantio” – tanto que é assim
usada: temos a cultura da cana, da soja,
do arroz. Porém, o sentido metafórico é,
curiosamente, o mais comum. A cultura de
um povo é aquilo que esse povo escolhe
plantar e cultivar, mas esse plantio já não
é mais literal e botânico, mas sim humano,
linguístico, semiótico, significativo, artístico.
A cultura reúne as formas que determinado
grupo humano decidiu utilizar para seu
melhor existir. E essas formas se expressam
por meio dos costumes, das histórias
populares, dos ditados populares, e de tudo
aquilo que é compartilhado em nome da
felicidade da vida coletiva.

18 |
Ministério da Cultura inicia, por meio
do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, política de reconhecimento das diferentes
línguas e dialetos falados no Brasil através de
processos de inventários, apoio a pesquisas,
divulgação e promoção. 23/06/2014,IPEA.

“Iracema, a (índia) virgem Como o patrimônio linguístico preserva


dos lábios de mel, que tinha
os cabelos mais negros que a (constrói) a memória e a identidade nacional?
asa da graúna, e mais longos
que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce A língua é a grande responsável pela em nome da nação. Não estávamos
como seu sorriso; nem a
baunilha recendia no bosque formação da memória coletiva. Do aqui quando os portugueses ini-
como seu hálito perfumado. que nos lembramos? Daquilo que ciaram a sua colonização, porém
A graciosa arara, sua compa- está escrito. O pensamento, quan- temos acesso ao que se escreveu
nheira e amiga, brinca junto do vira palavra, se legitima, se gra- sobre esse período histórico; temos
dela. Às vezes sobe aos ramos
da árvore e de lá chama a vir- dua em verdade social, em registro acesso a livros de literatura sobre
gem pelo nome. histórico. São as palavras que reco- essa época; temos acesso a registros
Rumor suspeito quebra a brem a realidade e transformam-na históricos, temos acesso a relatos
doce harmonia da sesta. Er-
em memória, afinal sabemos muito históricos, e a partir do contato com
gue a virgem os olhos, que o
sol não deslumbra; sua vista bem que há uma grande diferença a língua é que construímos nossa
perturba-se. Diante dela e entre o que de fato vivemos e o que
todo a contemplá-la está um memória acerca do que se viveu.
guerreiro estranho. Tem nas lembramos. Mais ainda, podemos
faces o branco das areias que não viver determinados momentos Isto é, por mais que nunca te-nhamos
bordam o mar; nos olhos o estabelecido um contato profundo
mas podemos nos lembrar deles
azul triste das águas profun-
das. Ignotas armas e tecidos com base nas palavras que lemos so- com um índio, temos uma visão
ignotos cobrem-lhe o corpo.” bre eles. Isto é, a memória nacional sobre esse humano, sobre a maneira
Iracema, José de Alencar é formada pelas palavras emitidas como vive, e temos uma valoração
e coletivizadas nacionalmente ou dessa maneira de ele viver – tudo isso

Competência 6 | 19
não por meio do contato direto com suas formas
de organização social, mas por meio dos textos que “O estímulo inicial para esta reflexão (sobre
a cultura indígena) foram as numerosas
lemos acerca da cultura indígena. referências a uma concepção indígena segundo
a qual o modo como os seres humanos veem os
Falar sobre a cultura indígena e sobre o modo
animais é profundamente diferente do modo
como nossa historiografia a trata é falar da como os animais vêem os humanos e se vêem
memória brasileira, daquilo que nos marca a si mesmos.
historicamente em relação às outras nações. Visto Na nossa cultura, os humanos, em condições
que o índio não foi pacificamente integrado à normais, vêem os humanos como humanos e
vida europeizada, sendo dizimado junto com sua os animais como animais. Entretanto, na cultura
indígena, os animais predadores e os espíritos
cultura, nós, os ocidentalizados, criamos textos
veem os humanos como animais de presa. O
para representá-los, para falar sobre eles, para ser humano se vê a si mesmo como tal. A lua, a
“homenagiá-los”, sem nem percebermos que serpente, o jaguar o veem, contudo, como um
tiramos a voz dos protagonistas da sua própria tapir (animal mamífero de grande porte). Em
cultura por meio do uso da nossa língua e da suma, os animais são gente, ou se vêem como
pessoas. Tal concepção está quase sempre
nossa linguagem. No momento em que não nos associada à idéia de que a forma manifesta de
dedicamos à língua indígena, não nos dedicamos cada espécie é um envoltório (uma ‘roupa’)
à memória indígena, aniquilando-a (a verdadeira a esconder uma forma interna humana,
morte é o esquecimento). Assim, formamos nossa normalmente visível apenas aos olhos da própria
espécie ou de certos seres transespecíficos, como
identidade, excluindo muitas vezes a do outro. É
os xamãs. Essa forma interna é o espírito do
imprescindível ter com que se identificar, no que animal: uma intencionalidade ou subjetividade
se ancorar. É definitivamente decisivo lançar um formalmente idêntica à consciência humana,
olhar inteligente sobre si mesmo, e partindo dis- materializável, digamos assim, em um esquema
corporal humano oculto sob a máscara animal.”
so, reconhecer-se nos outros, identificar-se, ver-se
parte, nunca todo. No entanto, essa identificação Perspectivismo Ameríndio,
com aquele que é próximo de mim nunca pode Eduardo Viveiros de Castro
legitimar a aniquilação daquele com que não me
identifico. Utilizar a língua (por meio da escrita, da
fala, da leitura e da audição) para formar e reco-
nhecer nossa identidade é lindo, profundo e hu-
mano. No entanto, isso não nos dá o direito de,
por meio de nossa língua e de nossa linguagem,
dizimar as outras culturas e as outras identidades,
como se fosse menos legítimas, menos profun-
das, menos valiosas, menos humanas.

A palavra “identidade” vem do latim


e está associada à ideia de igualdade,
semelhança, aproximação. Temos o prefixo
“idem-”, que significa “o mesmo”. Quando
nos identificamos com algo ou alguém, vemos
uma parte de nós mesmos naquilo que é
observado. Conseguir identificar-se é conseguir
expandir-se, reconhecendo que muito da
nossa individualidade e de nosso ineditismo só
nasceram na coletividade e na repetição.

20 |
Lista de questões Competência 6
Habilidades 18, 19 e 20

Linguagens NÃO é interpretação


Questão 01 – E NE M 2017
Essas moças tinham o vezo de afirmar o contrário do que desejavam. Notei a singularidade quando principiaram a
elogiar o meu paletó cor de macaco. Examinavam-no sérias, achavam o pano e os aviamentos de qualidade superior, o
feitio admirável. Envaideci-me: nunca havia reparado em tais vantagens. Mas os gabos se prolongaram, trouxeram-me
desconfiança. Percebi afinal que elas zombavam e não me susceptibilizei. Longe disso: achei curiosa aquela maneira
de falar pelo avesso, diferente das grosserias a que me habituara. Em geral me diziam com franqueza que a roupa não
me assentava no corpo, sobrava nos sovacos.
RAMOS, G. Infância. Rio de Janeiro: Record, 1994.
Por meio de recursos linguísticos, os textos mobilizam estratégias para introduzir e retomar ideias, promovendo a
progressão do tema. No fragmento transcrito, um novo aspecto do tema é introduzido pela expressão
A “a singularidade”.
B “tais vantagens”.
C “os gabos”.
D “Longe disso”.
E “Em geral”.

Questão 02 – ENEM 2017 (2ª APLICAÇÃO )


Doutor dos sentimentos
Veja quem é e o que pensa o português António Damásio, um dos maiores nomes da neurociência atual, sempre
em busca de desvendar os mistérios do cérebro, das emoções e da consciência. Ele é baixo, usa óculos, tem cabelos
brancos penteados para trás e costuma vestir terno e gravata. A surpresa vem quando começa a falar. António Damásio
não confirma em nada o clichê que se tem de cientista. Preocupado em ser o mais didático possível, tenta, paciente-
mente, com certa graça e até ironia, sempre que cabível, traduzir para os leigos estudos complexos sobre o cérebro.
Português, Damásio é um dos principais expoentes da neurociência atual. Diferentemente de outros neurocientistas,
que acham que apenas a ciência tem respostas à compreensão da mente, Damásio considera que muitas ideias não
provêm necessariamente daí. Para ele, um substrato imprescindível para entender a mente, a consciência, os senti-
mentos e as emoções advém da vida intuitiva, artística e intelectual. Fora dos meios científicos, o nome de Damásio
começou a ser celebrado na década de 1990, quando lançou seu primeiro livro, uma obra que fala de emoção, razão
e do cérebro humano.
TREFAUT, M. P. Disponível em: http://revistaplaneta.terra.com.br.
Acesso em: 2 set. 2014 (adaptado).
Na organização do texto, a sequência que atende à função sociocomunicativa de apresentar objetivamente o
cientista António Damásio é a
A descritiva, pois delineia um perfil do professor.
B injuntiva, pois faz um convite à leitura de sua obra.
C argumentativa, pois defende o seu comportamento incomum.
D narrativa, pois são contados fatos relevantes ocorridos em sua vida.
E expositiva, pois traz as impressões da autora a respeito de seu trabalho.

Questão 03 – E NE M 2016
Quem procura a essência de um conto no espaço que fica entre a obra e seu autor comete um erro: é muito melhor
procurar não no terreno que fica entre o escritor e sua obra, mas justamente no terreno que fica entre o texto e seu
leitor.
OZ, A. De amor e trevas. São Paulo: Cia. das Letras, 2005 (fragmento).
A progressão temática de um texto pode ser estruturada por meio de diferentes recursos coesivos, entre os quais
se destaca a pontuação. Nesse texto, o emprego dos dois pontos caracteriza uma operação textual realizada com a
finalidade de
A comparar elementos opostos.
B relacionar informações gradativas.
C intensificar um problema conceitual.
D introduzir um argumento esclarecedor.
E assinalar uma consequência hipotética

22 |
Questão 04 – E NE M 2016
O senso comum é que só os seres humanos são capazes de rir. Isso não é verdade?
Não. O riso básico — o da brincadeira, da diversão, da expressão física do riso, do movimento da face e da voca-
lização — nós compartilhamos com diversos animais.
Em ratos, já foram observadas vocalizações ultrassônicas — que nós não somos capazes de perceber — e que
eles emitem quando estão brincando de “rolar no chão”. Acontecendo de o cientista provocar um dano em um local
específico no cérebro, o rato deixa de fazer essa vocalização e a brincadeira vira briga séria. Sem o riso, o outro pensa
que está sendo atacado. O que nos diferencia dos animais é que não temos apenas esse mecanismo básico. Temos
um outro mais evoluído. Os animais têm o senso de brincadeira, como nós, mas não têm senso de humor. O córtex, a
parte superficial do cérebro deles, não é tão evoluído como o nosso. Temos mecanismos corticais que nos permitem,
por exemplo, interpretar uma piada.
Disponível em: http://globonews.globo.com. Acesso em: 31 maio 2012 (adaptado).
A coesão textual é responsável por estabelecer relações entre as partes do texto. Analisando o trecho “Acontecen-
do de o cientista provocar um dano em um local específico no cérebro”, verifica-se que ele estabelece com a oração
seguinte uma relação de
A finalidade, porque os danos causados ao cérebro têm por finalidade provocar a falta de vocalização nos ratos.
B oposição, visto que o dano causado em um local específico no cérebro é contrário à vocalização dos ratos.
C condição, pois é preciso que se tenha lesão específica no cérebro para que não haja vocalização dos ratos.
D consequência, uma vez que o motivo de não haver mais vocalização dos ratos é o dano causado no cérebro.
E proporção, já que à medida que se lesiona o cérebro não é mais possível que haja vocalização dos ratos

Questão 05 – ENEM 2016 (2ª APLICAÇÃO )


eu acho um fato interessante... né... foi como meu pai e minha mãe vieram se conhecer... né... que... minha mãe
morava no Piauí com toda família... né... meu... meu avô... materno no caso... era maquinista... ele sofreu um aciden-
te... infelizmente morreu... minha mãe tinha cinco anos... né... e o irmão mais velho dela... meu padrinho... tinha dezes-
sete e ele foi obrigado a trabalhar... foi trabalhar no banco... e... ele foi... o banco... no caso... estava...
com um número de funcionários cheio e ele teve que ir para outro local e pediu transferência prum local mais perto
de Parnaíba que era a cidade onde eles moravam e por engano o... o... escrivão entendeu Paraíba... né... e meu... e
minha família veio parar em Mossoró que era exatamente o local mais perto onde tinha vaga pra funcionário do Banco
do Brasil e:: ela foi parar na rua do meu pai... né... e começaram a se conhecer... namoraram onze anos...
né... pararam algum tempo... brigaram... é lógico... porque todo relacionamento tem uma briga... né... e eu
achei esse fato muito interessante porque foi uma coincidência incrível... né... como vieram a se conhecer... namoraram
e hoje... e até hoje estão juntos... dezessete anos de casados…
CUNHA, M. A. F. (Org.). Corpus, discurso & gramática: a língua falada e escrita na cidade de Natal. Natal: EdUFRN, 1998.
Na produção dos textos, orais ou escritos, articulamos as informações por meio de relações de sentido. No trecho
de fala, a passagem “brigaram... é lógico... porque todo relacionamento tem uma briga” enuncia uma justificativa em
que “brigaram” e “todo relacionamento tem uma briga” são, respectivamente,
A causa e consequência.
B premissa e conclusão.
C meio e finalidade.
D exceção e regra.
E fato e generalização

Competência 6: h18, h19, h20 | 23


Questão 06 – (ENEM 2016 - 2ª APLICAÇÃO )
Poema tirado de uma notícia de jornal
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número. Uma noite
ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu
Cantou Dançou Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira: poesias reunidas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980.
No poema de Manuel Bandeira, há uma ressignificação de elementos da função referencial da linguagem pela
A atribuição de título ao texto com base em uma notícia veiculada em jornal.
B utilização de frases curtas, características de textos do gênero jornalístico.
C indicação de nomes de lugares como garantia da veracidade da cena narrada.
D enumeração de ações, com foco nos eventos acontecidos à personagem do texto.
E apresentação de elementos próprios da notícia, tais como quem, onde, quando e o quê.

Questão 07 – (E NE M 2017)
TEXTO I
Fundamentam-se as regras da Gramática Normativa nas obras dos grandes escritores, em cuja linguagem as
classes ilustradas põem o seu ideal de perfeição, porque nela é que se espelha o que o uso idiomático estabilizou e
consagrou.
LIMA, C. H. R. Gramática normativa da língua portuguesa. Rio de Janeiro: José Olympio, 1989.
TEXTO lI
Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sen-
sualidades incorporadas. Talvez porque a sensualidade real não tem para mim interesse de nenhuma espécie — nem
sequer mental ou de sonho —, transmudou-se-me o desejo para aquilo que em mim cria ritmos verbais, ou os escuta
de outros. Estremeço se dizem bem. Tal página de Fialho, tal página de Chateaubriand, fazem formigar toda a minha
vida em todas as veias, fazem-me raivar tremulamente quieto de um prazer inatingível que estou tendo. Tal página, até,
de Vieira, na sua fria perfeição de engenharia sintáctica, me faz tremer como um ramo ao vento, num delírio passivo
de coisa movida.
PESSOA, F. O livro do desassossego. São Paulo: Brasiliense, 1986.
A linguagem cumpre diferentes funções no processo de comunicação. A função que predomina nos textos I e II
A destaca o “como” se elabora a mensagem, considerando-se a seleção, combinação e sonoridade do texto.
B coloca o foco no “com o quê” se constrói a mensagem, sendo o código utilizado o seu próprio objeto.
C focaliza o “quem” produz a mensagem, mostrando seu posicionamento e suas impressões pessoais.
D orienta-se no “para quem” se dirige a mensagem, estimulando a mudança de seu comportamento.
E enfatiza sobre “o quê” versa a mensagem, apresentada com palavras precisas e objetivas.

Questão 08 – (E NE M 2016)
Ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É, a partir do texto, ser capaz de atri-
buir-lhe significado, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo
de leitura que o seu autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a essa leitura, ou rebelar-se contra ela,
propondo uma outra não prevista.
LAJOLO, M. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática, 1993.
Nesse texto, a autora apresenta reflexões sobre o processo de produção de sentidos, valendo-se da metalingua-
gem. Essa função da linguagem torna-se evidente pelo fato de o texto
A ressaltar a importância da intertextualidade.
B propor leituras diferentes das previsíveis.
C apresentar o ponto de vista da autora.
D discorrer sobre o ato de leitura.
E focar a participação do leitor.

24 |
Questão 09 – (E NE M 2015)
14 coisas que você não deve jogar na privada
Nem no ralo. Elas poluem rios, lagos e mares, o que contamina o ambiente e os animais. Também deixa mais
difícil obter a água que nós mesmos usaremos. Alguns produtos podem causar entupimentos:
*cotonete e fio dental;
*medicamento e preservativo;
*óleo de cozinha;
*ponta de cigarro;
*poeira de varrição de casa;
*fio de cabelo e pelo de animais;
*tinta que não seja à base de água;
*querosene, gasolina, solvente, tíner.
Jogue esses produtos no lixo comum. Alguns deles, como óleo de cozinha, medicamento e tinta, podem ser leva-
dos a pontos de coleta especiais, que darão a destinação adequada.
MORGADO, M.; EMASA. Manual de etiqueta. Planeta Sustentável, jul.-ago. 2013 (adaptado).
O texto tem objetivo educativo. Nesse sentido, além do foco no interlocutor, que caracteriza a função conativa da
linguagem, predomina também nele a função referencial, que busca
A despertar no leitor sentimentos de amor pela natureza, induzindo-o a ter atitudes responsáveis que beneficiarão a
sustentabilidade do planeta.
B informar o leitor sobre as consequências da destinação inadequada do lixo, orientando-o sobre como fazer o correto
descarte de alguns dejetos.
C transmitir uma mensagem de caráter subjetivo, mostrando exemplos de atitudes sustentáveis do autor do texto em
relação ao planeta.
D estabelecer uma comunicação com o leitor, procurando certificar-se de que a mensagem sobre ações de sustenta-
bilidade está sendo compreendida.
E explorar o uso da linguagem, conceituando detalhadamente os termos utilizados de forma a proporcionar melhor
compreensão do texto.

Questão 10 – (E NE M 2012)
Desabafo
Desculpem-me, mas não dá pra fazer uma cronicazinha divertida hoje. Simplesmente não dá. Não tem como dis-
farçar: esta é uma típica manhã de segunda-feira. A começar pela luz acesa da sala que esqueci ontem à noite. Seis
recados para serem respondidos na secretária eletrônica. Recados chatos. Contas para pagar que venceram ontem.
Estou nervoso. Estou zangado.
CARNEIRO, J. E. Veja, 11 set. 2002 (fragmento).
Nos textos em geral, é comum a manifestação simultânea de várias funções da linguagem, com o predomínio, en-
tretanto, de uma sobre as outras. No fragmento da crônica Desabafo, a função da linguagem predominante é a emotiva
ou expressiva, pois
A o discurso do enunciador tem como foco o próprio código.
B a atitude do enunciador se sobrepõe àquilo que está sendo dito.
C o interlocutor é o foco do enunciador na construção da mensagem.
D o referente é o elemento que se sobressai em detrimento dos demais.
E o enunciador tem como objetivo principal a manutenção da comunicação.

Competência 6: h18, h19, h20 | 25


Questão 11 – (ENEM 2016 2ª APLICAÇÃO )
O acervo do Museu da Língua Portuguesa é o nosso idioma, um “patrimônio imaterial” que não pode ser, por isso,
guardado e exposto em uma redoma de vidro. Assim, o museu, dedicado à valorização e difusão da língua portuguesa,
reconhecidamente importante para a preservação de nossa identidade cultural, apresenta uma forma expositiva dife-
renciada das demais instituições museológicas do país e do mundo, usando tecnologia de ponta e recursos interativos
para a apresentação de seus conteúdos.
Disponível em: www.museulinguaportuguesa.org.br. Acesso em: 16 ago. 2012 (adaptado).
De acordo com o texto, embora a língua portuguesa seja um “patrimônio imaterial”, pode ser exposta em um mu-
seu. A relevância desse tipo de iniciativa está pautada no pressuposto de que
A a língua é um importante instrumento de constituição social de seus usuários.
B o modo de falar o português padrão deve ser divulgado ao grande público.
C a escola precisa de parceiros na tarefa de valorização da língua portuguesa.
D o contato do público com a norma-padrão solicita o uso de tecnologia de última geração.
E as atividades lúdicas dos falantes com sua própria língua melhoram com o uso de recursos tecnológicos.

Questão 12 – (E NE M 2017)
A língua tupi no Brasil
Há 300 anos, morar na vila de São Paulo de Piratininga (peixe seco, em tupi) era quase sinônimo de falar língua
de índio. Em cada cinco habitantes da cidade, só dois conheciam o português. Por isso, em 1698, o governador da
província, Artur de Sá e Meneses, implorou a Portugal que só mandasse padres que soubessem “a língua geral dos
índios”, pois “aquela gente não se explica em outro idioma”.
Derivado do dialeto de São Vicente, o tupi de São Paulo se desenvolveu e se espalhou no século XVII, graças
ao isolamento geográfico da cidade e à atividade pouco cristã dos mamelucos paulistas: as bandeiras, expedições ao
sertão em busca de escravos índios. Muitos bandeirantes nem sequer falavam o português ou se expressavam mal.
Domingos Jorge Velho, o paulista que destruiu o Quilombo dos Palmares em 1694, foi descrito pelo bispo de Pernam-
buco como “um bárbaro que nem falar sabe”. Em suas andanças, essa gente batizou lugares como Avanhandava (lugar
onde o índio corre), Pindamonhangaba (lugar de fazer anzol) e ltu (cachoeira). E acabou inventando uma nova língua.
“Os escravos dos bandeirantes vinham de mais de 100 tribos diferentes”, conta o historiador e antropólogo John
Monteiro, da Universidade Estadual de Campinas. “Isso mudou o tupi paulista, que, além da influência do português,
ainda recebia palavras de outros idiomas.” O resultado da mistura ficou conhecido como língua geral do sul, uma es-
pécie de tupi facilitado.
ÂNGELO, C. Disponível em: http://super.abril.com.br. Acesso em: 8 ago. 2012 (adaptado).
O texto trata de aspectos sócio-históricos da formação linguística nacional. Quanto ao papel do tupi na formação
do português brasileiro, depreende-se que essa língua indígena
A contribuiu efetivamente para o léxico, com nomes relativos aos traços característicos dos lugares designados.
B originou o português falado em São Paulo no século XVII, em cuja base gramatical também está a fala de variadas
etnias indígenas.
C desenvolveu-se sob influência dos trabalhos de catequese dos padres portugueses, vindos de Lisboa.
D misturou-se aos falares africanos, em razão das interações entre portugueses e negros nas investidas contra o
Quilombo dos Palmares.
E expandiu-se paralelamente ao português falado pelo colonizador, e juntos originaram a língua dos bandeirantes
paulistas.

26 |
Questão 13 – (ENEM 2017 - 2ª APLICAÇÃO )
O último refúgio da língua geral no Brasil
No coração da Floresta Amazônica é falada uma língua que participou intensamente da história da maior região do
Brasil. Trata-se da língua geral, também conhecida como nheengatu ou tupi moderno. A língua geral foi ali mais falada
que o próprio português, inclusive por não índios, até o ano de 1877. Alguns fatores contribuíram para o desapareci-
mento dessa língua de grande parte da Amazônia, como perseguições oficiais no século XVIII e a chegada maciça de
falantes de português durante o ciclo da borracha, no século XIX. Língua-testemunho de um passado em que a Ama-
zônia brasileira alargava seus territórios, a língua geral hoje é falada por mais de 6 mil pessoas, num território que se
estende pelo Brasil, Venezuela e Colômbia. Em 2002, o município de São Gabriel da Cachoeira ficou conhecido por ter
oficializado as três línguas indígenas mais usadas ali: o nheengatu, o baníua e o tucano. Foi a primeira vez que outras
línguas, além do português, ascendiam à condição de línguas oficiais no Brasil. Embora a oficialização dessas línguas
não tenha obtido todos os resultados esperados, redundou no ensino de nheengatu nas escolas municipais daquele
município e em muitas escolas estaduais nele situadas. É fundamental que essa língua de tradição eminentemente oral
tenha agora sua gramática estudada e que textos de diversas naturezas sejam escritos, justamente para enfrentar os
novos tempos que chegaram.
NAVARRO, E. Estudos Avançados, n. 26, 2012 (adaptado).
O esforço de preservação do nheengatu, uma língua que sofre com o risco de extinção, significa o reconhecimento
de que
A as línguas de origem indígena têm seus próprios mecanismos de autoconservação.
B a construção da cultura amazônica, ao longo dos anos, constituiu-se, em parte, pela expressão em línguas de ori-
gem indígena.
C as ações políticas e pedagógicas implementadas até o momento são suficientes para a preservação da língua geral
amazônica.
D a diversidade do patrimônio cultural brasileiro, historicamente, tem se construído com base na unidade da língua
portuguesa.
E o Brasil precisa se diferenciar de países vizinhos, como Venezuela e Colômbia, por meio de um idioma comum na
Amazônia brasileira

Questão 14 – E NE M 2018
“Acuenda o Pajubá”: conheça o “dialeto secreto” utilizado por gays e travestis
Com origem no iorubá, linguagem foi adotada por travestis e ganhou a comunidade
“Nhaí, amapô! Não faça a loka e pague meu acué, deixe de equê senão eu puxo teu picumã!” Entendeu as pala-
vras dessa frase? Se sim, é porque você manja alguma coisa de pajubá, o “dialeto secreto” dos gays e travestis.
Adepto do uso das expressões, mesmo nos ambientes mais formais, um advogado afirma: “É claro que eu não
vou falar durante uma audiência ou numa reunião, mas na firma, com meus colegas de trabalho, eu falo de ‘acué’ o
tempo inteiro”, brinca. “A gente tem que ter cuidado de falar outras palavras porque hoje o pessoal já entende, né? Tá
na internet, tem até dicionário…”, comenta.
O dicionário a que ele se refere é o Aurélia, a dicionária da Ungua afíada, lançado no ano de 2006 e escrito pelo jor-
nalista Angelo Vip e por Fred Libi. Na obra, há mais de 1 300 verbetes revelando o significado das palavras do pajubá.
Não se sabe ao certo quando essa linguagem surgiu, mas sabe-se que há claramente uma relação entre o pajubá
e a cultura africana, numa costura iniciada ainda na época do Brasil colonial.
Disponível em: www.midiamax.com.br. Acesso em: 4 abr. 2017 (adaptado)
Da perspectiva do usuário, o pajubá ganha status de dialeto, caracterizando-se como elemento de patrimônio
linguístico, especialmente por
A ter mais de mil palavras conhecidas.
B ter palavras diferentes de uma linguagem secreta.
C ser consolidado por objetos formais de registro.
D ser utilizado por advogados em situações formais.
E ser comum em conversas no ambiente de trabalho.

Competência 6: h18, h19, h20 | 27


Questão 15 – ENEM 2017 (LIBRAS )
Pode um idioma considerado extinto e pouco documentado ser novamente parte ativa do patrimônio linguístico?
Amelhor maneira de saber como ocorre uma revitalização linguística é examinando um marco na luta indígena: a recupera-
ção da língua pataxó. Eni Orlandi, da Universidade Estadual de Campinas, esteve na equipe que coletou e analisou evidências
linguísticas que ajudaram a reconstituir a variante do pataxó falada mais ao norte da região de Porto Seguro (BA), a hãhãhãe.
“Os pataxós viveram perseguições e movimentos de dispersão. A partir dos anos 1980, entretanto, conseguiram criar
um espaço em que reivindicaram seu direito ao território tradicional que haviam perdido. Outras perdas acompanharam
essa. Entre os bens perdidos, estava a lingua. A posse da língua significa para eles o seu desejo de ser índio, em um
momento de ameaça de extermínio”, diz a pesquisadora. “A pesquisa foi feita em condições difíceis: uma só informante,
Baheta, muito idosa, sem interlocutores reais (só os da memória, imaginados), e experimentando dificuldades de lem-
brar; em condições de guerra à sua cultura; uma parte da identidade estigmatizada, já voltada ao esquecimento”, diz
Orlandi no livro Terra à vista. Graças às reminiscências de Baheta, foram coletados dados suficientes para comparar
as listas de palavras que já se possuia e estabelecer paralelos com linguas próximas.
Disponível em: http://revistalingua.uol.com.br. Acesso em: 28 jul. 2012 (adaptado).
O processo de busca de dados sobre a língua pataxó evidencia a importância da pesquisa voltada para a
A Reconstituição da língua de um povo, por meio de dados históricos
B Preservação da cultura de um povo, por meio do resgate da sua história oral.
C Comparação de línguas consideradas mortas, por meio de registros escritos
D Catalogação do léxico de uma língua, por meio da recuperação de documentos.
E Valorização de povo indígenas, por meio da tentativa de unificação de línguas próximas.

15. B 14. C 11. A 12. A 13. B 10. B 9. B 8. D 7. B 6. E 5. E 4. C 1. D 2. A 3. D


GABARITO

28 |
COMPETÊNCIA 5
Analisar, interpretar e aplicar recursos
expressivos das linguagens, relacionando
textos com seus contextos, mediante a
natureza, função, organização, estrutura das
manifestações, de acordo com as condições de
produção e recepção.
RECURSOS EXPRESSIVOS DAS LINGUAGENS
A competência 5 começa falando em recursos expressivos das linguagens. Quando
falamos em expressão, estamos nos referindo, basicamente, à forma, à parte material
da linguagem. O signo, para Ferdinand de Saussure1, é composto de duas partes:
uma material (o significante) e outra imaterial (o significado). Encontramos o termo
expressão em algumas áreas da semiótica que utlizam o termo para a parte material,
e para a parte imaterial utilizam o termo conteúdo (observe o quadro dos binarismos).

PLANO DA EXPRESSÃO PLANO DO CONTEÚDO

MATERIAL IMATERIAL

PRESENÇA AUSÊNCIA

SIGNIFICANTE SIGNIFICADO

SISTEMATIZADO ABSTRATO

SINTAGMA PARADIGMA

1 Importante pensador suíço, promoveu reflexões linguísticas ainda mal respondidas e determinou postulados, até hoje, inquestio-
náveis, com a publicação do Curso de Linguística Geral (CLG - 1916), obra seminal na linguística estruturalista, resultado dos estudos
de dois linguistas (Charles Bally e Albert Sechehaye) que, a partir das anotações dos alunos de Saussure, elaboraram o CLG, o livro
que marca o início daquilo que se entende por linguística.

30 |
Então, quando nos referimos à expressão, manifestação artística que observamos: o som
estamos focando o olhar na parte material da pode ser manipulado através da métrica e das
linguagem. O som e a imagem são entidades rimas de um poema tradicional, e manipular a
físicas, que podem se apresentar de diferentes forma e a cor das palavras no poema escrito é
maneiras dependendo na natureza da essencial em um poema concreto.

(A VALSA – Casimiro de Abreu)


A valsa Na valsa Quem dera Valsavas: Escuros Que sintas
Tu, ontem, Tão falsa, Que sintas — Teus belos Tão puros, As dores
Na dança Corrias, As dores Cabelos, Os olhos De amores
Que cansa, Fugias, De amores Já soltos, Perjuros Que louco
Voavas Ardente, Que louco Revoltos, Volvias, Senti!
Co’as faces Contente, Senti! Saltavam, Tremias, Quem dera
Em rosas Tranquila, Quem dera Voavam, Sorrias, Que sintas!...
Formosas Serena, Que sintas!... Brincavam P’ra outro — Não negues,
De vivo, Sem pena — Não negues, No colo Não eu! Não mintas...
Lascivo De mim! Não mintas... Que é meu; — Eu vi!...
Carmim; — Eu vi!... E os olhos Quem dera

Beba Coca-Cola (Décio Pignatari) ordem sintática, entonação...) e nem toda


a combinação de seus elementos consegue
Seguindo a análise dessa ser minimamente comunicativa. (Como:
parte da competência, fsdlkinfduidabobvueiusmb,.nfposanadsó´´pp´daa
quando se fala em sddasl,f~p´sçf....çajopvçdmop)
recursos, podemos
pensar em meios, em Utilizamos os recursos expressivos da língua tanto
uma quantidade de quando escrevemos um texto, quanto quando
“matéria” já existente lemos um texto; não existem textos complexos,
e disponível que se é que exigem a utilização de uma “bagagem” de
utilizada para algum formas já conhecidas para compreendê-los?
fim (lembre dos recursos naturais, que existem Devemos, quando pensamos sobre uma mani-
e precisam ser extraídos e manipulados). Os
festação artística, compreender a diferença entre
recursos que estamos estudando são aqueles
análise e interpretação. A análise de um texto é a
que possibilitam alguma forma de expressão
abordagem que busca compreender a parte
por meio da língua, e a língua nos dá inúmeras
mais material do texto, buscando compreender
possibilidades de manipulação de suas formas
e descrever sua composição e seus recursos
existentes e de criação de novas formas, sejam
expressivos. A interpretação busca compreender
essas novas formas criadas intencionalmente (por
o que o texto e seus recursos podem gerar de
meio da literatura, na maior abrangência do termo,
significação, buscando os sentidos possíveis para
como criação cultural) seja sem uma intenção
o texto e seus elementos. Pode-se interpretar
precisa (as mudanças inevitáveis da língua).
um texto de várias maneiras: uma iterpretação
Vale lembrar que, embora a língua nos ofereça histórica de Dom Casmurro nos mostra os vários
inúmeras possibilidades de utilização dos registros que Machado de Assis fez da vida dos
seus recursos expressivos (suas formas), essas ricos no Brasil Império, e uma interpretação
possibilidades não são infinitas, nem sempre subjetiva pode nos mostrar as marcas psicológicas
“possíveis”. Cada língua tem suas “limitações” e emocionais que o ciúme causa em Bentinho e
naturais de expressão (padrão silábico, fonemas, nos seus próximos.

Competência 5 | 31
NATUREZA, FUNÇÃO, ORGANIZAÇÃO
E ESTRUTURA

O conceito de natureza de um texto é, sem dúvida, descaso com o genocídio indígena que vem sendo
o conceito mais aberto desse segmento, e, de feito desde a chegada dos europeus à América.
certa maneira, abarca os outros três conceitos Vale lembrar que a função da obra não é a mesma
que essa parte da competência nos apresenta. coisa que a recepção da obra. A função está
A natureza de um texto pode se referir a que ligada mais ao meio social e suas implicaçãoes, e
características ela carraga de seu contexto de a recepção foca em espectos mais subjetivos (do
surgimento, aos seus objetivos na sociedade em indivíduo) e da leitura propriamente dita da obra
que está inserido e às características formais que (será que todo o leitor brasileiro do século XXI
definem seu gênero. verá preconceito no indianismo?).

Quando falamos em função de uma manifestação Os conceitos de estrutura e organização


artística, o direcionamento da análise é mais estão ligados a características formais das
focado no contexto no qual a manifestação manifestações; logo, seu estudo está no campo
artística está sendo recebida. Podemos pensar da análise. A estrutura do texto está ligada às
na função da arte no seu contexto histórico de suas características “orgânicas” de estruturação;
criação, onde podemos interpretar as intenções ou seja, o texto/obra visto como um todo e quais
e representações do autor perante o mundo em são as marcas formais dessa estrutura completa,
que ele vive e o significado sócio-histórico da obra. formada por várias partes. Enquanto a estrutura
Um exemplo é identificar no indianismo presente olha para o completo (o “macro”), a organização
no romantismo brasieiro como tendo a função de de um texto busca focar nas partes que compõem
criar uma ideia de nacionalidade em uma nação o “todo” do texto (“micro”). Exemplificando,
“recente” tal qual era o Brasil pós-independência. podemos dizer que grande parte dos poemas
Utilizado em outro contexto, um texto pode ter parnasianos brasileiros possuem a estrutura
funções diferentes. Os mesmos textos indianistas de soneto e são organizados em 14 versos
dos româticos, em uma sala de aula do século decassílabos rimados; A Paixão Segundo G.H.,
XXI, podem ter a função de servir como um ótimo de Clarice Lispector, é um romance (macro), mas
exemplo da criação de uma imagem idealizada, não possui uma divisão em capítulos numerados
preconceituosa e, de certa forma, responsável pelo e a narração é digressiva e introspectiva (micro).

32 |
PRODUÇÃO E RECEPÇÃO: CONTEXTOS
Quando analisamos ou interpretamos textos, é se pensamos na produção, é histórico, e, por isso,
essencial localizar se o direcionamento que es- um tanto impreciso e ideológico, algo inerente ao
tamos dando é voltado para a produção ou a re- estudo do nosso passado.
cepção de um texto. Para pensarmos em ambas
O estudo das condições de recepção já não é
categorias de análise, é indispensável relacionar
o texto com seu contexto (de produção ou recep- tão fixo como o das condições de produção. A
ção), pois a leitura e a produção de um texto são recepção de uma obra é o contato direto com a
sempre marcadas historicamente, pois são ope- obra, no caso da literatura é o momento da lei-
radas por sujeitos, sempre inseridos na história2. tura, e podemos pensar na recepção da obra no
contexto em que ela foi escrita e no contexto que
As condições de produção são mais “fixas” do ela é lida. Para pensar as condições de recepção
que as de recepção, e se referem à época em que na época de lançamento da obra, certos aspectos
a obra foi produzida. Aqui entra, de uma forma ou
histórico-sociais são necessários para se entender
outra, a figura do autor, que é necessariamente
a recepção. Por outro lado, se formos analisar as
separada da obra e não deve servir de base es-
condições de recepção de um texto que tem um
sencial para interpretar o texto (e cometer o erro
distanciamento temporal entre a época da pro-
de fazer uma leitura biográfica da obra, normal-
dução e da recepção, devemos levar em conta
mente mais limitada). O tempo de vida do autor e
que esse distanciamento, dependendo dos con-
o ano de lançamento de suas obras são aspectos
textos, pode gerar uma mudança na significação
datados pontualmente, que devem servir de base
da obra. Textos antigos, que guardam marcas de,
para se localizar o contexto de produção (e, em
alguns aspectos, o de recepção) das obras. O foco, por exemplo, racismo e misoginia, podiam ter,
em suas épocas, uma recepção que considerasse
2 Há muita intencionalidade quando se busca historicizar essas marcas como “normais” ou até louváveis.
toda e qualquer análise linguística. Ao colocarmos nosso Como os valores soiciais vão se modificando, o
olhar na história, percebemos o quão influenciado pelo con-
texto sócio-político-cultural é qualquer ato de leitura ou de mesmo texto, lido em um contexto mais próximo
produção de um texto. Ao dar historicidade aos sujeitos au- dos dias de hoje, pode (e deve) possuir uma signi-
tores e sujeitos leitores, promovemos uma análise um pouco
menos utópica, menos inocente, menos idealizada. ficação pejorativa e execrável.

“[...] as periodizações do
desenvolvimento da arte devem ser
buscadas no âmbito da instituição arte e
não no das transformações dos conteúdos
das obras individuais.
Isto implica que a periodização da
história da arte não possa simplesmente
seguir as periodizações da história das
formações sociais e de suas fases de
desenvolvimento; implica que a tarefa da
ciência da cultura deva dar mais relevo
às grandes rupturas no desenvolvimento
de seu objeto.”

(Peter Bürger, Teoria da Vanguarda)

Competência 5 | 33
HABILIDADE 15
Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção,
situando aspectos do contexto histórico, social e político.

“Capítulo 3 – Pressupostos

O fato de ser este um livro de


história literária implica a
conviccção de que o ponto de vista
histórico é um dos modos legítimos
de estudar literatura, pressupondo
que as obras se articulam
no tempo, de modo a se poder
discernir uma certa determinação
na maneira por que são produzidas
e incorporadas ao patrimônio de
uma civilização.

Um esteticismo mal compreendido


procurou, nos últimos decênios,
negar validade a esta proposição
– o que em parte se explica como
réplica aos exageros do velho
método histórico, que reduziu
a literatura a episódio da
investigação sobre a sociedade,
ao tomar indevidamente as obras
como meros documentos, sintomas da
realidade social.”
Antonio Candido, trecho de um dos capítulos iniciais de sua
grande obra Formação da Literatura Brasileira, de 1959.

34 |
TEXTO E CONTEXTO
Relacionar um texto com seu contexto é pensar época, mesmo sendo uma interpretação válida
no texto a partir de seu contexto de produção. pautada em uma visão crítica contemporânea.
A habilidade 15 nos pede, de certa forma, para Relacionar o texto com seu momento de produção
historicizar o texto; ou seja: situar o texto no é um movimento muito produtivo tanto para
momento histórico de sua escrita e analisá-lo e os estudos literários quanto para os estudos
interpretá-lo a partir dessa perspectiva. históricos. Quando buscamos estabelecer essa
relação, podemos descobrir não só o que o
A Odisseia de Homero, por exemplo, um dos
contexto nos diz do texto, mas também o que a
primeiros textos canônicos da literatura leitura e compreensão do texto pode nos dizer
ocidental, necessita que se observe o contexto sobre a época em que foi escrito.
no qual foi escrito para compreender melhor a
estrutura da obra e muitos de seus sentidos e Ao longo do tempo, as obras vão sendo lidas em
diferentes épocas, e, por isso, ganhando novos
valores. Se não pensarmos a Odisseia a partir
significados devido à mudança de seu público
do seu contexto de produção, poderíamos dizer
leitor, que muda tal qual a sociedade e seus
que é a história de um nobre da idade antiga que valores. Da mesma forma, o distanciamento
é assassino, mentiroso, inescrupuloso, egoísta, temporal que o leitor pode ter frente a uma obra
autoritário, adúltero e machista; o que ignora pode acabar fazendo alguns significados caírem no
certos contextos e características que eram esquecimento, devido às diferenças (históricas,
consideradas “heroicas” para a sociedade da linguísticas, sociais) entre texto e leitor.

ESCOLAS LITERÁRIAS
O movimento de relacionar os textos com temos a vantagem de ter uma sistematização
seus contextos é a maneira mais comum cronológica da literatura nacional, mas
que a literatura é (e sempre foi) trabalhada essa sitematização é historicista e muitas
nas enscolas brasileiras. Normalmente, o vezes implica generalizações, ou explicações
caminhar histórico da literatura brasileira é abrangentes demais para poder caracterizar
apresentado através de sucessivas escolas precisamente diversas obras diferentes
literárias. Ao estabelecermos escolas literárias abarcadas em uma mesma escola.

[Citando uma definição tradicional, de Hênio Tavares, uma


escola literária é o conjunto de artistas, irmanados consciente
ou inconscientemente, por semelhantes princípios de criação
estética, que seguem processos ou cânones similares.]

Competência 5 | 35
Entre os movimentos conhecidos (e canônicos) Movimentos como o Pré-Modernismo, o Moder-
da literatura brasileira, o Barroco, o Arcadismo, nismo (com suas três tradicionais fases) e o
o Romantismo, o Realismo (e o Naturalismo), o Teatro Moderno não são escolas. Por vezes,
Parnasianismo e o Simbolismo são alguns que os movimentos do século XX ocorrem em
podemos dizer que são escolas literárias. No momentos históricos muito próximos. O livro
século XX, os movimentos que aparecem já não Serafim Ponte Grande, de Oswald de Andrade é
podem ser chamados de escolas, pois mesmo lançado em 1933 e é considerado da primeira
que se possa identificar procedimentos estéticos fase do modernismo; cinco anos antes, em
semelhantes, um número maior de obras estão 1928, é lançado o romance A bagaceira, de
sendo produzidas em um menor período de tempo, José Américo de Almeida, considerado o marco
por mais autores e com estilos mais variados, inicial da prosa segunda fase do modernismo,
o que não dá o mesmo caráter culturalmente chamada de Romance de 30. A partir do
hegemônico ou dominante da produção e modernismo, o critério temporal é mais frágil do
recepção dos textos dos séculos anteriores. que nas manifestaçoes anteriores.

36 |
MOVIMENTOS LITERÁRIOS BRASILEIROS ATÉ O SÉCULO XIX

DATA/
XVI XVII XVIII XIX(1) XIX(2)
CONTEXTO

(1) Literatura
Informativa – (1) Realismo
PROSA Barroco – Romantismo
(2) Literatura de (2) Naturalismo
Catequese

(1) – (1) Análise


CARACTERÍSTICAS Dualismos, Sentimentalismo –
Descritivismo – Psicológica
DA PROSA religiosidade Indianismo
(2) – Catolicismo (2) Determinismo

(1) Parnasianismo
POESIA – Barroco Arcadismo Romantismo
(2) Simbolismo

(1) Culto à forma,


CARACTERÍSTICAS Dualismos, Sentimentalismo classicismo
– Classicismo
DA POESIA religiosidade – Indianismo (2) Musicalidade,
sugestividade

Exploração da
CONTEXTO Grandes Ciclo do ouro; Independência do
cana-de-açúcar no República
HISTÓRICO Navegações Inconfidência Brasil
nordeste

MOVIMENTOS LITERÁRIOS CANÔNICOS BRASILEIROS DO SÉCULO XX

DATA
REFERÊNCIA/ 1902 1922 1930 1945
CONTEXTO

Modernismo 2ª Fase Modernismo 3ª fase


PROSA Pré-Modernismo Modernismo 1ª fase
(Romance de 30) (“Geração de 45”)

Cientificismo, Inovações formais,


CARACTERÍSTICAS DA Objetividade, denúncia Inovação formal,
Representação do mistura de elementos
PROSA social subjetividade
Brasil culturais brasileiros

Modernismo 2ª fase Modernismo 3ª fase


POESIA Pré-Modernismo Modernismo 1ª fase
(“Poesia Moderna”) (“Geração de 45”)

Consolidação da
CARACTERÍSTICAS DA Inovações formais, Formalismo,
Cientificismo, poética moderna e
mistura de elementos neoconcretismo,
POESIA pessimismo retorno a formas/
culturais brasileiros temáticas sociais
temas tradicionais

CONTEXTO HISTÓRICO República Velha República Velha Estado Novo República Nova

Competência 5 | 37
HABILIDADE 16
Relacionar informações sobre concepções artísticas e
procedimentos de construção do texto literário.

A habilidade 16 vai nos exigir um conhecimento social e ideologicamente os textos de deter-


cultural e analítico. Devemos, a partir do minados autores, mas essa competência nos
conhecimento das concepções artísticas (das pede para compreender materialmente como
ideias e ideais a respeito da arte) de um artista que certos ideais artísticos se manifestam.
ou de um grupo de artistas, identificar, no texto Vejamos como podemos aplicar o que essa
literário, elementos expressivos que caracterizem habilidade nos pede em alguns movimentos
essas concepções. Podemos diferenciar histórica, literários brasileiros:

Os autores do chamado parnasianismo seguiam alguns ideais artísticos


presentes no realismo, como objetividade e verossimilhança. A fim de fazer
uma poesia que não caísse em sentimentalismos e idealizações a respeito da
realidade, como na poesia romântica, os autores parnasianos direcionavam
sua produção para poemas que versassem sobre a antiguidade clássica, o
próprio fazer poético (arte pela arte e metalinguagem) e por uma poesia
por vezes descritiva. O preciosismo linguístico era algo muito presente na
poética dos parnasianos, que utilizavam termos eruditos e arcaicos a fim de
dar um aspecto refinado e técnico para suas poesias.

É um velho paredão, todo gretado, Última flor do Lácio, inculta e bela,


Roto e negro, a que o tempo uma oferenda Éas, a um tempo, esplendor e sepultura:
Deixou num cacto em flor ensangüentado Ouro nativo, que na ganga impura
E num pouco de musgo em cada fenda. A bruta mina entre os cascalhos vela...
Serve há muito de encerro a uma vivenda; Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Protegê-la e guardá-la é seu cuidado; Tuba de alto clangor, lira singela
Talvez consigo esta missão compreenda, Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Sempre em seu posto, firme e alevantado.
Horas mortas, a lua o véu desata, Amo o teu viço agreste e o teu aroma
E em cheio brilha; a solidão se estrela De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Toda de um vago cintilar de prata;
E o velho muro, alta a parede nua, Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”,
Olha em redor, espreita a sombra, e vela, E em que Camões chorou, no exílio amargo,
Entre os beijos e lágrimas da lua. O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
Alberto de Oliveira, O Muro. Olavo Bilac, Língua Portuguesa.

38 |
O simbolismo, movimento muito próximo Enquanto os parnasianos buscavam as palavras
temporalmente ao parnasianismo (fim do século que fossem mais “precisas”/objetivas para
XIX), compartilha algumas concepções estéticas transmitir a mensagem do poema, os simbolistas
do parnasianismo, como o gosto pelo soneto e buscavam as palavras mais “imprecisas”, as que
pela poesia metrificada. O apreço pela escolha das tivessem a capacidade de “abrir” mais o sentido
palavras segue presente no simbolismo, mas de de seus poemas, deixando mais espaço para a
maneira quase que contrária ao parnasianismo. subjetividade do leitor atribuir sentido ao poema.

Ó Formas alvas, brancas, Formas claras


De luares, de neves, de neblinas!...
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras...

Formas do Amor, constelarmente puras,


De Virgens e de Santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras
E dolências de lírios e de rosas...

Indefiníveis músicas supremas,


Harmonias da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...

Visões, salmos e cânticos serenos,


Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes...
Dormências de volúpicos venenos
Sutis e suaves, mórbidos, radiantes...

Infinitos espíritos dispersos,


Inefáveis, edênicos, aéreos,
Fecundai o Mistério destes versos
Com a chama ideal de todos os mistérios.

Do Sonho as mais azuis diafaneidades


Que fuljam, que na Estrofe se levantem
E as emoções, sodas as castidades
Da alma do Verso, pelos versos cantem.

Que o pólen de ouro dos mais finos astros


Fecunde e inflame a rime clara e ardente...
Que brilhe a correção dos alabastros
Sonoramente, luminosamente.

(...)

Cruz e Souza, Antífona.

Competência 5 | 39
Surgindo sob o domínio cultural do parnasia- ao vocabulário erudito, preferiu-se o simples;
nismo, o Modernismo brasileiro – especialmente os exageros retóricos e sintáticos deram lugar a
em sua primeira fase – buscou incorporar, no uma poesia que explora a linguagem quase até
seu procedimento de criação do texto, um ideal seu essencial, deixando o texto fragmentado em
radicalmente oposto ao parnasianismo. Ao verso muitos poemas.
metrificado, deu-se preferência ao verso livre;

ESCAPULÁRIO
No Pão de Açúcar
De Cada Dia
Dai-nos Senhor
A Poesia
De Cada Dia

O GRAMÁTICO
Os negros discutiam
Que o cavalo sipantou
Mas o que mais sabia
Disse que era
Sipantorrou

O CAPOEIRA
- Qué apanhá sordado?
- O quê?
- Qué apanhá?
Pernas e cabeça na calçada

HÍPICA
Saltos records
Cavalos da Penha
Correm jóqueis de Higienópolis
Os magnatas
As meninas
E a orquestra toca
Chá
Na sala de cocktails

40 |
Um dos movimentos literários que mais nos fim, pois a poesia já estava mais ligada à sua
exige relacionar as concepções artísticas de grafia do que a sua oralidade. Eles pregavam que
seus autores com a construção do texto é o a forma do poema (sua cor, seu tamanho, sua
concretismo. Surgido nos anos 1950, e criado disposição espacial) devia estar relacionada com
pelos poetas e estudiosos da linguagem Haroldo sua sonoridade (que não é a mesma coisa que
de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari, oralidade/declamação) e esses aspectos deveriam
o concretismo necessita que saibamos seu “fundo ser representativos de seu significado. O poema
teórico” para uma boa análise de suas poesias. deveria ser uma estrutura verbi-voco-visual, não
dependendo apenas do ritmo e da organização
Os concretistas consideravam que o verso, a sintática das palavras para a composição do seu
unidade rítmica da poesia, havia chegado a seu significado e recepção.

Competência 5 | 41
HABILIDADE 17
Reconhecer a presença de valores sociais e humanos
atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.

Esta habilidade vai exigir que se identifiquem, questões que são presentes na vida de todos:
na produção literária do Brasil, valores que são os sentimentos, as experiências, as angústias
representados. Podemos dizer que a habilidade, e os questionamentos que a vida traz a todos;
ao falar em valores, nos pede para identificar, em são esses valores que podem ser chamados de
última análise, a sociedade que é representada humanos dentro da análise proposta.
na literatura. Devemos analisar quais os juízos
A habilidade pede para considerar os valores
feitos a respeito da realidade representada,
sociais e humanos como sendo atualizáveis
as representações do ser humano e de suas
ou permanentes. Algumas concepções sobre
relações sociais e seus sentimentos, a ideologia
a realidade podem ser, de fato, atualizáveis:
que permeia as manifestações literárias e seus
a escravidão já foi completamente aceitável e
elementos constitutivos.
vista como necessária para o desenvolvimento
Os valores sociais são aqueles ligados a do Brasil, e foi defendida diretamente (e
instituições da sociedade, e são permeados por indiretamente também) por nomes importantes
visões ideológicas. A representação da família, da literatura brasileira como José de Alencar.
por exemplo, é um bom exemplo de valor social Lentamente, o Brasil caminha em direção à uma
presente na literatura; em diferentes obras de consciência maior em relação a seu passado
épocas diversas, podemos encontrar diferentes escravista e seu racismo ainda fortemente
representações da família. Os valores sociais presente nas relações sociais.
são os que representam os costumes, as formas
Os valores que podemos identificar como
de organização social e a caracterização dos
permanentes são aqueles que, ao longo da
grupos sociais. A representação das classes mais
produção literária brasileira, mantêm uma
pobres do Brasil, ao longo da literatura brasileira,
certa constância ou harmonização nas suas
revela valores sociais diferentes dependendo da
representações ao longo do tempo. Existem,
manifestação literária; no Naturalismo, as pessoas
de fato, alguns temas recorrentes na literatura
mais pobres são representadas de maneira
ocidental que se refletem na produção brasileira:
animalizada e, em muitos casos, pejorativa, e
o amor e suas consequências, a passagem do
no Romance de 1930, sua representação é mais
tempo, a angústia de uma vida finita, a solidão,
humanizada, visando uma denúncia política.
o saudosismo... Na literatura brasileira, vemos,
Quando falamos em valores humanos, nos por exemplo, uma representação constante
referimos a atributos “universais”, supostamente de uma sociedade fortemente desigual em sua
inerentes a qualquer ser humano, como os estrutura hierárquica. Desde Gregório de Matos,
direitos compilados na Declaração Universal vemos uma crítica social a certas estruturas
dos Direitos Humanos. Aqui, estamos pensando de poder da sociedade brasileira; essa crítica,
em valores da ordem o indivíduo, que envolvem independentemente de seu direcionamento,
a experiência e a vida de todas as pessoas. segue presente na terceira geração do
Analisando a literatura ao longo do tempo, romantismo, no realismo, no pré-modernismo,
nos identificamos com textos que, embora em todas as três fases do modernismo e em
distantes temporalmente de nós, tocam em diversas manifestações contemporâneas.

42 |
Lista de questões Competência 5
Habilidades 15, 16 e 17

Linguagens NÃO é interpretação


Questão 01 – ENEM 2015 2ª APLICAÇÃO
Vei, a Sol
Ora o pássaro careceu de fazer necessidade, fez e o herói ficou escorrendo sujeira de urubu. Já era de madrugadi-
nha e o tempo estava inteiramente frio. Macunaíma acordou tremendo, todo lambuzado. Assim mesmo examinou bem
a pedra mirim da ilhota para vê si não havia alguma cova com dinheiro enterrado. Não havia não. Nem a correntinha
encantada de prata que indica pro escolhido, tesouro de holandês. Havia só as formigas jaquitaguas ruivinhas.
Então passou Caiuanogue, a estrela da manhã. Macunaíma já meio enjoado de tanto viver pediu pra ela que o
carregasse pro céu.
Caiuanogue foi se chegando porém o herói fedia muito.
— Vá tomar banho! — ela fez. E foi-se embora.
Assim nasceu a expressão “Vá tomar banho” que os brasileiros empregam se referindo a certos imigrantes
europeus.
ANDRADE, M. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Rio de Janeiro: Agir, 2008.
O fragmento de texto faz parte do capítulo VII, intitulado “Vei, a Sol”, do livro Macunaíma, de Mário de Andrade,
pertencente à primeira fase do Modernismo brasileiro. Considerando a linguagem empregada pelo narrador, é possível
identificar
A resquícios do discurso naturalista usado pelos escritores do século XIX.
B ausência de linearidade no tratamento do tempo, recurso comum ao texto narrativo da primeira fase modernista.
C referência à fauna como meio de denunciar o primitivismo e o atraso de algumas regiões do país.
D descrição preconceituosa dos tipos populares brasileiros, representados por Macunaíma e Caiuanogue.
E uso da linguagem coloquial e de temáticas do lendário brasileiro como meio de valorização da cultura popular
nacional.

Questão 02 – E NE M 2016
Primeira lição
Os gêneros de poesia são: lírico, satírico, didático, épico, ligeiro.
O gênero lírico compreende o lirismo.
Lirismo é a tradução de um sentimento subjetivo, sincero e pessoal.
É a linguagem do coração, do amor.
O lirismo é assim denominado porque em outros tempos os versos sentimentais eram declamados ao som da lira.
O lirismo pode ser:
a) Elegíaco, quando trata de assuntos tristes, quase sempre a morte.
b) Bucólico, quando versa sobre assuntos campestres.
c) Erótico, quando versa sobre o amor.
O lirismo elegíaco compreende a elegia, a nênia, a endecha, o epitáfio e o epicédio.
Elegia é uma poesia que trata de assuntos tristes.
Nênia é uma poesia em homenagem a uma pessoa morta.
Era declamada junto à fogueira onde o cadáver era incinerado.
Endecha é uma poesia que revela as dores do coração.
Epitáfio é um pequeno verso gravado em pedras tumulares.
Epicédio é uma poesia onde o poeta relata a vida de uma pessoa morta.
CESAR, A. C. Poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
No poema de Ana Cristina Cesar, a relação entre as definições apresentadas e o processo de construção do texto
indica que o(a)
A caráter descritivo dos versos assinala uma concepção irônica de lirismo.
B tom explicativo e contido constitui uma forma peculiar de expressão poética.
C seleção e o recorte do tema revelam uma visão pessimista da criação artística.
D enumeração de distintas manifestações líricas produz um efeito de impessoalidade.
E referência a gêneros poéticos clássicos expressa a adesão do eu lírico às tradições literárias.

44 |
Questão 03 – E NE M 2016
Antiode
Poesia, não será esse
o sentido em que
ainda te escrevo:
flor! (Te escrevo:
flor! Não uma
flor, nem aquela
flor-virtude — em
disfarçados urinóis).

Flor é a palavra
flor; verso inscrito
no verso, como as
manhãs no tempo.

Flor é o salto
da ave para o voo:
o salto fora do sono
quando seu tecido
se rompe; é uma explosão
posta a funcionar,
como uma máquina,
uma jarra de flores.
MELO NETO, J. C. Psicologia da composição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 (fragmento).
A poesia é marcada pela recriação do objeto por meio da linguagem, sem necessariamente explicá-lo. Nesse frag-
mento de João Cabral de Melo Neto, poeta da geração de 1945, o sujeito lírico propõe a recriação poética de
A uma palavra, a partir de imagens com as quais ela pode ser comparada, a fim de assumir novos significados.
B um urinol, em referência às artes visuais ligadas às vanguardas do início do século XX.
C uma ave, que compõe, com seus movimentos, uma imagem historicamente ligada à palavra poética.
D uma máquina, levando em consideração a relevância do discurso técnico-científico pós-Revolução Industrial.
E um tecido, visto que sua composição depende de elementos intrínsecos ao eu lírico.

Questão 04 – E NE M 2016
Galinha cega
O dono correu atrás de sua branquinha, agarrou-a, lhe examinou os olhos. Estavam direitinhos, graças a Deus, e
muito pretos. Soltou-a no terreiro e lhe atirou mais milho. A galinha continuou a bicar o chão desorientada. Atirou ainda
mais, com paciência, até que ela se fartasse. Mas não conseguiu com o gasto de milho, de que as outras se aprovei-
taram, atinar com a origem daquela desorientação. Que é que seria aquilo, meu Deus do céu? Se fosse efeito de uma
pedrada na cabeça e se soubesse quem havia mandado a pedra, algum moleque da vizinhança, aí… Nem por sombra
imaginou que era a cegueira irremediável que principiava.
Também a galinha, coitada, não compreendia nada, absolutamente nada daquilo. Por que não vinham mais os
dias luminosos em que procurava a sombra das pitangueiras? Sentia ainda o calor do sol, mas tudo quase sempre tão
escuro. Quase que já não sabia onde é que estava a luz, onde é que estava a sombra.
GUIMARAENS, J. A. Contos e novelas. Rio de Janeiro: Imago, 1976 (fragmento).
Ao apresentar uma cena em que um menino atira milho às galinhas e observa com atenção uma delas, o narrador
explora um recurso que conduz a uma expressividade fundamentada na
A captura de elementos da vida rural, de feições peculiares.
B caracterização de um quintal de sítio, espaço de descobertas.
C confusão intencional da marcação do tempo, centrado na infância.
D apropriação de diferentes pontos de vista, incorporados afetivamente.
E fragmentação do conflito gerador, distendido como apoio à emotividade.

Competência 5: h15, h16, h17 | 45


Questão 05 – E NE M 2015
da sua memória
mil
e
mui
tos
out
ros
ros
tos
sol
tos
pou
coa
pou
coa
pag
amo
meu
ANTUNES, A. 2 ou + corpos no mesmo espaço. São Paulo: Perspectiva, 1998.
Trabalhando com recursos formais inspirados no Concretismo, o poema atinge uma expressividade que se carac-
teriza pela
A interrupção da fluência verbal, para testar os limites da lógica racional.
B reestruturação formal da palavra, para provocar o estranhamento no leitor.
C dispersão das unidades verbais, para questionar o sentido das lembranças.
D fragmentação da palavra, para representar o estreitamento das lembranças.
E renovação das formas tradicionais, para propor uma nova vanguarda poética.

Questão 06 – E NE M 2014
Talvez pareça excessivo o escrúpulo do Cotrim, a quem não souber que ele possuía um caráter ferozmente hon-
rado. Eu mesmo fui injusto com ele durante os anos que se seguiram ao inventário de meu pai. Reconheço que era um
modelo. Arguíam-no de avareza, e cuido que tinham razão; mas a avareza é apenas a exageração de uma virtude, e
as virtudes devem ser como os orçamentos: melhor é o saldo que o déficit. Como era muito seco de maneiras, tinha
inimigos que chegavam a acusá-lo de bárbaro. O único fato alegado neste particular era o de mandar com frequência
escravos ao calabouço, donde eles desciam a escorrer sangue; mas, além de que ele só mandava os perversos e os
fujões, ocorre que, tendo longamente contrabandeado em escravos, habituara-se de certo modo ao trato um pouco
mais duro que esse gênero de negócio requeria, e não se pode honestamente atribuir à índole original de um homem o
que é puro efeito de relações sociais. A prova de que o Cotrim tinha sentimentos pios encontrava-se no seu amor aos
filhos, e na dor que padeceu quando morreu Sara, dali a alguns meses; prova irrefutável, acho eu, e não única. Era
tesoureiro de uma confraria, e irmão de várias irmandades, e até irmão remido de uma destas, o que não se coaduna
muito com a reputação da avareza; verdade é que o benefício não caíra no chão: a irmandade (de que ele fora juiz)
mandara-lhe tirar o retrato a óleo.
ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992.
Obra que inaugura o Realismo na literatura brasileira, Memória póstumas de Brás Cubas condensa uma expressi-
vidade que caracterizaria o estilo machadiano: a ironia. Descrevendo a moral de seu cunhado, Cotrim, o narrador-per-
sonagem Brás Cubas refina a percepção irônica ao
A acusar o cunhado de ser avarento para confessar-se injustiçado na divisão da herança paterna.
B atribuir a “efeito de relações sociais” a naturalidade com que Cotrim prendia e torturava os escravos.
C considerar os “sentimentos pios” demonstrados pelo personagem quando da perda da filha Sara.
D menosprezar Cotrim por ser tesoureiro de uma confraria e membro remido de várias irmandades.
E insinuar que o cunhado era um homem vaidoso e egocêntrico, contemplado com um retrato a óleo.

46 |
Questão 07 – ENEM 2020 DIGIT AL
Seixas era homem honesto; mas ao atrito da secretaria e ao calor das salas, sua honestidade havia tomado essa
têmpera flexível da cera que se molda às fantasias da vaidade e aos reclamos da ambição.
Era incapaz de apropriar-se do alheio, ou de praticar um abuso de confiança; mas professava a moral fácil e cô-
moda, tão cultivada atualmente em nossa sociedade.
Segundo essa doutrina, tudo é permitido em matéria de amor; e o interesse próprio tem plena liberdade, desde que
se transija com a lei e evite o escândalo.
ALENCAR, J. Senhora. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 out. 2015.
A literatura Romântica reproduziu valores sociais em sintonia com seu contexto de mudanças. No Fragmento de
Senhora, as concepções românticas do narrador repercutem a
A resistência à relativização dos parâmetros éticos.
B idealização de personagens pela nobreza de atitudes.
C crítica aos modelos de austeridade dos espaços coletivos.
D defesa da importância da família na formação moral do indivíduo.
E representação do amor como fator de aperfeiçoamento do espírito.

Questão 08 – ENEM 2016 2ª APLICAÇÃO


Os que fiam e tecem unem e ordenam materiais dispersos que,
de outro modo, seriam vãos ou quase. Pertencem à mesma linhagem
FIANDEIRA CARNEIRO FUSO LÃ dos geômetras, estabelecem leis e
pontos de união para o desuno. Antes do fuso, da roca, do tear, das
invenções destinadas a estender LÃ LINHO CASULO ALGODÃO LÃ
os fios e cruzá-los, o algodão, a seda, era como se ainda estivessem
TECEDEIRA URDIDURA TEAR LÃ imersos no limbo, nas trevas do
informe. É o apelo à ordem que os traz à claridade, transforma-os
em obras, portanto em objetos humanos, iluminados pelo espírito do
homem. Não é por ser-nos úteis LÃ TRAMA CROCHÊ DESENHO LÃ
que o burel ou o linho representam uma vitória do nosso engenho;
TAPECEIRA BASTIDOR ROCA LÃ sim por serem tecidos, por cantar
neles uma ordem, o sereno, o firme e rigoroso enlace da urdidura, das
linhas enredadas. Assim é que LÃ COSER AGULHA CAPUCHO LÃ
que suas expressões mais nobres são aquelas em que, com ainda
maior disciplina, floresce o ornamento: no crochê, no tapete,
FIANDEIRA CARNEIRO FUSO LÃ no brocado. Então, é como se por uma
espécie de alquimia, de álgebra, de mágica, algodoais e carneiros, casulos,
LÃ TRAMA CASULO CAPUCHO LÃ campos de linho, novamente
surgissem, com uma vida menos rebelde, porém mais perdurável.
LINS, O. Nove, novena: narrativas. São Paulo: Cia. das Letras, 1998.
No trecho, retirado do conto Retábulo de Santa Joana Carolina, de Osman Lins, a fim de expressar uma ideia
relativa à literatura, o autor emprega um procedimento singular de escrita, que consiste em
A entremear o texto com termos destacados que se referem ao universo do tecer e remetem visualmente à estrutura
de uma trama, tecida com fios que retornam periodicamente, para aludir ao trabalho do escritor.
B entrecortar a progressão do texto com termos destacados, sem relação com o contexto, que tornam evidente a
desordem como princípio maior da sua proposta literária.
C insinuar, pela disposição de termos destacados, dos quais uma forma uma coluna central no corpo do texto, que a
atividade de escrever remete à arte ornamental do escultor.
D dissertar à maneira de um cientista sobre os fenômenos da natureza, recriminando-a por estar perpetuamente em
desordem e não criar concatenação entre eles.
E confrontar, por meio dos termos destacados, o ato de escrever à atividade dos cientistas modernos e dos alquimis-
tas antigos, mostrando que esta é muito superior à do escritor.

Competência 5: h15, h16, h17 | 47


Questão 09 – ENEM 2016 2ª APLICAÇÃO
Esaú e Jacó
Ora, aí está justamente a epígrafe do livro, se eu lhe quisesse pôr alguma, e não me ocorresse outra. Não é so-
mente um meio de completar as pessoas da narração com as ideias que deixarem, mas ainda um par de lunetas para
que o leitor do livro penetre o que for menos claro ou totalmente escuro.
Por outro lado, há proveito em irem as pessoas da minha história colaborando nela, ajudando o autor, por uma lei
de solidariedade, espécie de troca de serviços, entre o enxadrista e os seus trebelhos.
Se aceitas a comparação, distinguirás o rei e a dama, o bispo e o cavalo, sem que o cavalo possa fazer de torre,
nem a torre de peão. Há ainda a diferença da cor, branca e preta, mas esta não tira o poder da marcha de cada peça,
e afinal umas e outras podem ganhar a partida, e assim vai o mundo.
ASSIS, M. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1964 (fragmento).
O fragmento do romance Esaú e Jacó mostra como o narrador concebe a leitura de um texto literário. Com base
nesse trecho, tal leitura deve levar em conta
A o leitor como peça fundamental na construção dos sentidos.
B a luneta como objeto que permite ler melhor.
C o autor como único criador de significados.
D o caráter de entretenimento da literatura.
E a solidariedade de outros autores.

Questão 10 – ENEM 2ª APLICAÇÃO


Tenho visto criaturas que trabalham demais e não progridem. Conheço indivíduos preguiçosos que têm faro: quan-
do a ocasião chega, desenroscam-se, abrem a boca e engolem tudo.
Eu não sou preguiçoso. Fui feliz nas primeiras tentativas e obriguei a fortuna a ser-me favorável nas seguintes.
Depois da morte do Mendonça, derrubei a cerca, naturalmente, e levei-a para além do ponto em que estava no
tempo de Salustiano Padilha. Houve reclamações.
-- Minhas senhoras, Seu Mendonça pintou o diabo enquanto viveu. Mas agora é isto. E quem não gostar, paciên-
cia, vá à justiça.
Como a justiça era cara, não foram à justiça. E eu, o caminho aplainado, invadi a terra do Fidélis, paralítico de um
braço, e a dos Gama, que pendengavam no Recife, estudando direito. Respeitei o engenho do Dr. Magalhães, juiz.
Violências miúdas passaram despercebidas. As questões mais sérias foram ganhas no foro, graças às chicanas
de João Nogueira.
Efetuei transações arriscadas, endividei-me, importei maquinismos e não prestei atenção aos que me censuravam
por querer abarcar o mundo com as pernas. Iniciei a pomicultura e a avicultura. Para levar os meus produtos ao mer-
cado, comecei uma estrada de rodagem. Azevedo
Gondim compôs sobre ela dois artigos, chamou-me patriota, citou Ford e Delmiro Gouveia. Costa Brito também
publicou uma nota na Gazeta, elogiando-me e elogiando o chefe político local. Em consequência mordeu-me cem mil
réis.
RAMOS, G. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 1990.
O trecho, de São Bernardo, apresenta um relato de Paulo Honório, narrador-personagem, sobre a expansão de
suas terras. De acordo com esse relato, o processo de prosperidade que o beneficiou evidencia que ele
A revela-se um empreendedor capitalista pragmático que busca o êxito em suas realizações a qualquer custo, igno-
rando princípios éticos e valores humanitários.
B procura adequar sua atividade produtiva e função de empresário às regras do Estado democrático de direito, ajus-
tando o interesse pessoal ao bem da sociedade.
C relata aos seus interlocutores fatos que lhe ocorreram em um passado distante, e enumera ações que põem em
evidência as suas muitas virtudes de homem do campo.
D demonstra ser um homem honrado, patriota e audacioso, atributos ressaltados pela realização de ações que se
ajustam ao princípio de que os fins justificam os meios.
E amplia o seu patrimônio graças ao esforço pessoal, contando com a sorte e a capacidade de iniciativa, sendo um
exemplo de empreendedor com responsabilidade social.

48 |
Questão 11 – ENEM 2017 2ª APLICAÇÃO
Chamou-me o bragantino e levou-me pelos corredores e pátios até ao hospício propriamente. Aí é que percebi que
ficava e onde, na seção, na de indigentes, aquela em que a imagem do que a Desgraça pode sobre a vida dos homens
é mais formidável. O mobiliário, o vestuário das camas, as camas, tudo é de uma pobreza sem par. Sem fazer mono-
pólio, os loucos são da proveniência mais diversa, originando-se em geral das camadas mais pobres da nossa gente
pobre. São de imigrantes italianos, portugueses e outros mais exóticos, são os negros roceiros, que teimam em dormir
pelos desvãos das janelas sobre uma esteira esmolambada e uma manta sórdida; são copeiros, cocheiros, moços de
cavalariça, trabalhadores braçais. No meio disto, muitos com educação, mas que a falta de recursos e proteção atira
naquela geena social.
BARRETO, L. Diário do hospício e O cemitério dos vivos. São Paulo: Cosac & Naify, 2010.
No relato de sua experiência no sanatório onde foi interno, Lima Barreto expõe uma realidade social e humana
marcada pela exclusão. Em seu testemunho, essa reclusão demarca uma
A medida necessária de intervenção terapêutica.
B forma de punição indireta aos hábitos desregrados.
C compensação para as desgraças dos indivíduos.
D oportunidade de ressocialização em um novo ambiente.
E conveniência da invisibilidade a grupos vulneráveis e periféricos.

Questão 12 – E NE M 2016
A partida de trem
Marcava seis horas da manhã. Angela Pralini pagou o táxi e pegou sua pequena valise. Dona Maria Rita de Alva-
renga Chagas Souza Melo desceu do Opala da filha e encaminharam-se para os trilhos. A velha bem-vestida e com
joias. Das rugas que a disfarçavam saía a forma pura de um nariz perdido na idade, e de uma boca que outrora devia
ter sido cheia e sensível. Mas que importa? Chega-se a um certo ponto — e o que foi não importa. Começa uma nova
raça. Uma velha não pode comunicar-se. Recebeu o beijo gelado da sua filha que foi embora antes do trem partir.
Ajudara-a antes a subir no vagão. Sem que neste houvesse um centro, ela se colocara do lado. Quando a locomotiva
se pôs em movimento, surpreendeu-se um pouco: não esperava que o trem seguisse nessa direção e sentara-se de
costas para o caminho.
Angela Pralini percebeu-lhe o movimento e perguntou:
— A senhora deseja trocar de lugar comigo?
Dona Maria Rita se espantou com a delicadeza, disse que não, obrigada, para ela dava no mesmo. Mas parecia
ter-se perturbado. Passou a mão sobre o camafeu filigranado de ouro, espetado no peito, passou a mão pelo broche.
Seca. Ofendida? Perguntou afinal a Angela Pralini:
— É por causa de mim que a senhorita deseja trocar de lugar?
LISPECTOR, C. Onde estivestes de noite. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980 (fragmento).
A descoberta de experiências emocionais com base no cotidiano é recorrente na obra de Clarice Lispector. No
fragmento, o narrador enfatiza o(a)
A comportamento vaidoso de mulheres de condição social privilegiada.
B anulação das diferenças sociais no espaço público de uma estação.
C incompatibilidade psicológica entre mulheres de gerações diferentes.
D constrangimento da aproximação formal de pessoas desconhecidas.
E sentimento de solidão alimentado pelo processo de envelhecimento.

Competência 5: h15, h16, h17 | 49


Questão 13 – E NE M 2015
Tudo era harmonioso, sólido, verdadeiro. No princípio. As mulheres, principalmente as mortas do álbum, eram
maravilhosas. Os homens, mais maravilhosos ainda, ah, difícil encontrar família mais perfeita. A nossa família, dizia a
bela voz de contralto da minha avó. Na nossa família, frisava, lançando em redor olhares complacentes, lamentando
os que não faziam parte do nosso clã. [...]
Quando Margarida resolveu contar os podres todos que sabia naquela noite negra da rebelião, fiquei furiosa. [...]
É mentira, é mentira!, gritei tapando os ouvidos. Mas Margarida seguia em frente: tio Maximiliano se casou com a
inglesa de cachos só por causa do dinheiro, não passava de um pilantra, a loirinha feiosa era riquíssima. Tia Consuelo?
Ora, tia Consuelo chorava porque sentia falta de homem, ela queria homem e não Deus, ou o convento ou o sanatório.
O dote era tão bom que o convento abriu-lhe as portas com loucura e tudo. “E tem mais coisas ainda, minha queridi-
nha”, anunciou Margarida fazendo um agrado no meu queixo. Reagi com violência: uma agregada, uma cria e, ainda
por cima, mestiça. Como ousava desmoralizar meus heróis?
TELLES, L. F. A estrutura da bolha de sabão. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
Representante da ficção contemporânea, a prosa de Lygia Fagundes Telles configura e desconstrói modelos so-
ciais. No trecho, a percepção do núcleo familiar descortina um(a)
A convivência frágil ligando pessoas financeiramente dependentes.
B tensa hierarquia familiar equilibrada graças à presença da matriarca.
C pacto de atitudes e valores mantidos à custa de ocultações e hipocrisias.
D tradicional conflito de gerações protagonizado pela narradora e seus tios.
E velada discriminação racial refletida na procura de casamentos com europeus.

Questão 14 – E NE M 2013
Mal secreto
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;
Se se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!
Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!
Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!
CORREIA, R. In: PATRIOTA, M. Para compreender Raimundo Correia. Brasília: Alhambra, 1995.
Coerente com a proposta parnasiana de cuidado formal e racionalidade na condução temática, o soneto de Rai-
mundo Correia reflete sobre a forma como as emoções do indivíduo são julgadas em sociedade. Na concepção do eu
lírico, esse julgamento revela que
A a necessidade de ser socialmente aceito leva o indivíduo a agir de forma dissimulada.
B o sofrimento íntimo torna-se mais ameno quando compartilhado por um grupo social.
C a capacidade de perdoar e aceitar as diferenças neutraliza o sentimento de inveja.
D o instinto de solidariedade conduz o indivíduo a apiedar-se do próximo.
E a transfiguração da angústia em alegria é um artifício nocivo ao convívio social.

50 |
Questão 15 – ENEM 2020 DIGIT AL
Pessoal intransferível
Escute, meu chapa: um poeta não se faz com versos. É o risco, é estar sempre a perigo sem medo, é inventar o
perigo e estar sempre recriando dificuldades pelo menos maiores, é destruir a linguagem e explodir com ela. Nada no
bolso e nas mãos. Sabendo: perigoso, divino, maravilhoso.
Poetar é simples, como dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena etc. Difícil é não correr com os versos
debaixo do braço. Difícil é não cortar o cabelo quando a barra pesa. Difícil, pra quem não é poeta, é não trair a sua
poesia, que, pensando bem, não é nada, se você está sempre pronto a temer tudo; menos o ridículo de declamar ver-
sinhos sorridentes. E sair por aí, ainda por cima sorridente mestre de cerimônias, “herdeiro” da poesia dos que levaram
a coisa até o fim e continuam levando, graças a Deus.
E fique sabendo: quem não se arrisca não pode berrar. Citação: leve um homem e um boi ao matadouro. O que
berrar mais na hora do perigo é o homem, nem que seja o boi. Adeusão.
TORQUATO NETO.

Melhores poemas de Torquato Neto

São Paulo: Global, 2018.


Expoente da poesia produzida no Brasil na década de 1970 e autor de composições representativas da Tropicália,
Torquato Neto mobiliza, nesse texto,
A gírias e expressões coloquiais para criticar a linguagem adornada da tradição literária então vigente.
B intenções satíricas e humorísticas para delinear uma concepção de poesia voltada para a felicidade dos leitores.
C frases de efeito e interpelações ao leitor para ironizar as tentativas de adequação do poema ao gosto do público.
D recursos da escrita em prosa e noções do senso comum para enfatizar as dificuldades inerentes ao trabalho do
poeta.
E referências intertextuais e anedóticas para defender a importância de uma atitude destemida ante os riscos da
criação poética.

14. A 15. E 13. C 12. E 11. E 7. A 8. A 9. A 10. A 6. B 5. D 1. E 2. B 3. A 4. D


GABARITO

Competência 5: h15, h16, h17 | 51


COMPETÊNCIA 8
Compreender e usar a língua portuguesa como língua
materna, geradora de significação e integradora da
organização do mundo e da própria identidade.
Macau, uma das regiões administrativas da China desde 1999, antes colonizada pelos
portugueses por 400 anos.

Competência 8 | 53
“A língua materna é precisamente a língua da mãe, a língua que cada
pessoa começa a adquirir tão logo nasce e cria o vínculo afetivo-linguístico
com a mãe (ou, na falta dela, com a pessoa que venha a preencher esse
papel). É uma língua puramente oral – falada e ouvida –, mesmo quando
provém da voz de uma pessoa altamente letrada. Língua do afeto, do desejo,
do íntimo, do sonho, vive à margem dos ditames da norma canonizada.
A língua materna é intrinsecamente variável, doméstica, familiar, idioma
particular daquilo que em inglês se chama household, um termo que inclui a
casa, seus ocupantes e todas as atividades ali desenvolvidas por eles.”

Marcos Bagno. Gramática Pedagógica do Português Brasileiro.

54 |
Timor-Leste

Moçambique Angola

Cabo Verde Guiné-Bissau

Competência 8 | 55
Brasil

São Tomé e Príncipe

Portugal

56 |
Nós já tratamos de língua de uma maneira geral (seu “Como afirma Coupland (2010), os
funcionamento simbólico, sua subjetividade constitutiva, sua estudiosos da linguagem custaram a
estrutura organizacional, sua importância para o sujeito e para a perceber a relevância das teorizações

sociedade em geral, etc). Isto é, temos um entendimento amplo sobre a globalização para o campo da
linguagem, diferentemente de outros
do que são, como funcionam e para que servem as línguas, todas
campos das ciências sociais e humanas.
elas. A partir disso, nosso próximo passo é passar a analisar, com
No meu entender, isso se explica por
a instrumentalização desenvolvida na competência 6, o nosso
estarem ainda epistemologicamente
idioma em específico: o português brasileiro. atrelados a teorizações típicas do século
XX, à modernidade linguística na qual
Em primeiro lugar, é preciso buscar circunscrever (nunca de
fomos formados, com ferramentas
forma definitiva) o amplo leque de significações que podem
teórico-analíticas que ignoram as
ser atribuídas ao que se entende por língua portuguesa. Para
avassaladoras teorizações sobre
isso, precisamos partir do pressuposto de que formular uma
globalização, pós-modernidade, pós-
visão acerca de uma língua é inevitavelmente deixar escapar estruturalismo, pós-colonialismo,
o imaginário que alimentamos em torno do idioma analisado. feminismos, sexualidades, antirracismos
É possível tratar a língua portuguesa como integradora da etc., que estremeceram outros campos de
identidade sob diversos prismas, sob diversas “ideologias investigação.
linguísticas” (Lopes, 2013). Por exemplo, podemos associar o Decorrente dessa visão, está a
português brasileiro à chegada dos portugueses em 1500 e à compreensão de que novas teorizações
sua posterior instalação, o que gera uma específica identidade sobre o que consideramos português
para os falantes de português, marcada pelo imaginário passam a ser necessárias para lidar com
eurocêntrico. Essa ideologia linguística é alimentada pela os fenômenos de várias naturezas que o
constroem discursivamente no mundo
crença de o português europeu ser superior, pois veio do
contemporâneo, ou que possibilitam vê-lo
Império, veio de um povo branco, de um povo “vencedor”, de
no passado sob outro olhar, já que uma
um povo antigo (o respeito ao povo “antigo” revela a faceta
língua é ‘um projeto discursivo e não um
conservadora desse tipo de constructo identitário).
fato estabelecido’ (Woolard, 1998).
Por outro lado, também podemos associar nosso idioma às Assim, as ideologias linguísticas são
‘crenças, ou sentimentos sobre as línguas
aproximadamente 300 línguas africanas (banto, quimbundo,
como são usadas em seus mundos sociais
quicongo, umbundo, mandê, etc.) que integram o que hoje
(Kroskrity, 2004)’.”
se entende por português brasileiro. Isto é, as 5 milhões de
pessoas negras que foram, ao longo de 300 anos, trazidas para [O Português no Século XXI: cenário geopolí-
o Brasil à força da África compõem, de forma visceral, o que tico e sociolinguístico. Introdução: Ideologia
Linguística: como construir discursivamente o
hoje se entende por brasileiro1. O fato de o português brasileiro português no século XXI. Luiz Paulo da Moita
ser vocalizado (traço distintivo decisivo na diferenciação Lopes]

entre o português brasileiro e o português europeu) se deve


principalmente à influência das línguas africanas. Esse tipo de
ideologia linguística elabora um novo imaginário acerca de
nosso idioma, promovendo a construção discursiva de uma

1 Há um comportamento facilmente verificável entre boa parte das(os) bra-


sileiras(os). Muitos e muitas orgulham-se de sua origem europeia, alimentan-
do um certo amor pelo seu sobrenome estrangeiro e pela história de seus
bisavôs (estrangeiros). Costumes, trajes, pratos de origem europeia são
reconhecidos como europeus; no entanto, muito do que tem origem africana
é considerado brasileiro: o samba, o batuque, o carnaval, etc.

Competência 8 | 57
nova identidade, que nos aproxima muito mais sistema chamado português brasileiro. Isto é, é
dos colonizados do que dos colonizadores, o uma presença estrutural na nossa língua materna.
que pode nos fazer perceber processos político- Enquanto as línguas indígenas participam da
culturais semelhantes ocorridos na América do formação do português brasileiro apenas com
Sul e na África, como o alto índice de pobreza, composição lexical, evento linguístico típico de
a péssima distribuição de renda, desigualdade línguas estrangeiras que entram em contato
social, exploração desenfreada do meio ambiente, de forma superficial. Sendo assim, é possível
mesmo após as independências nacionais. perceber a presença mais marcante de traços
africanos e menos de traços ameríndios no
É possível, ainda, pensar o papel das centenas de
nosso idioma (e portanto na nossa identidade).
línguas faladas pelos povos originários2 na forma-
Isso seria uma consequência da relação mais
ção identitária do português brasileiro. Inúmeras
estreita entre os povos europeu e africano do
são as palavras do tupi, do ianomâmi, do guarani,
que entre os povos europeu e indígena. Sabe-se
do caiapó, etc. que povoam nossa língua mater-
que a escravidão negra foi sistemática, construída
na: canguçu, Paraguaçu, curumim, xará, açaí, ji-
discursivamente; foi uma prioridade imperial.
boia, Ubatuba, Capão, canjica, capoeira, carambo-
As casas grandes e as senzalas eram separadas
la, Curitiba, Maceió, surucucu, tabajara, Chapecó,
por poucos metros. As ferramentas de tortura,
etc. A presença ameríndia está em nosso sangue,
de controle são amplamente conhecidas e
em nossa língua, em nossa identidade: em toda a
registradas de forma documental. É fundamental
construção discursiva que elaboramos para servir
a presença da cultura negra na formação da
de morada para tudo o que entendemos por “eu”. identidade brasileira. Eu, homem brasileiro
Nossa formação cultural e portanto linguística branco urbanizado, tenho pleno contato com
é resultado da relação, da tensão e da extrema eventos culturais de origem africana na medida
violência entre três grupos majoritários: em que vivo o carnaval, aprecio o samba, luto
ameríndios, africanos e europeus. E, por isso, capoeira, vou ao Candomblé, passo por casas em
poderíamos analisar traços do português Porto Alegre/RS nas quais se veem os calabouços
brasileiro e lançar suposições sobre a formação onde escravos(as) ficavam, etc. Já o contato
da identidade daquelas(es) que falam esse idioma. com a cultura ameríndia é mais rarefeito. Já a
Por exemplo, as línguas africanas constituem, presença da cultura ameríndia é um pouco mais
de forma mais estruturante do que as línguas rarefeita naquilo que se chama de identidade
ameríndias, a formação de nossa língua materna. brasileira, ou pelo menos acreditamos que seja,
O traço fonológico de vocalização (característica por consequência do processo de apagamento
de línguas africanas3) é uma característica do cultural (uma espécie de genocídio simbólico). No
Rio Grande do Sul, temos o chimarrão, a bebida
2 Em muitas construções discursivas contemporâneas, tem- que serve como grande geradora de identidade
se buscado alterar a expressão povos indígenas por povos no estado, e é de origem indígena (não que
originários, na tentativa de desconstruir a visão colonialista
que associa à Índia os povos que viviam no que hoje se chama essa informação seja amplamente conhecida).
Brasil. A figura indígena geralmente aparece de forma
3 Estamos aqui fazendo uma afirmação sobre línguas mais figurativa. Times de futebol brasileiros
africanas. Sim, é verdade. O português do Brasil é vocálico por
influências de línguas africanas. Mas isso possibilita afirmar têm como mascote um índio (ou aquilo que,
que todas as línguas africanas sejam vocalizadas? Seria a de forma estereotipada, se entende por índio).
vocalização um traço de todas as línguas africanas? Não
há nenhuma língua no território africano que seja marcada Veem-se figuras ameríndias representadas
mais pelas consoantes do que pelas vogais? Fizemos uma arquitetonicamente na posição das colunas que
pesquisa? Iremos fazer? Dificilmente. O que não podemos
deixar de fazer é o exercício contínuo da autocrítica. sustentam edifícios, sempre antigos, no centro

58 |
histórico de Porto Alegre, para citar alguns entende por povos indígenas, processo esse
exemplos. Isto é, o que se está tentando defender que compõe todo um projeto de aniquilação,
é que a presença menos estrutural de marcas genocídio, assassinato, exploração, ambição
ameríndias no idioma português brasileiro talvez e maldade (valores alimentados por qualquer
se deva ao apagamento identitário do que se projeto de expansão territorial).

Acabamos de compreender a língua portuguesa como língua materna,


integradora da (nossa) própria identidade.
Mas é só no Brasil que a língua portuguesa funciona como língua materna?

É interessante pensar, de forma transnacional, no que se


entende por língua portuguesa, nunca nos furtando de exercer
a autorreflexão acerca dos mistérios que nos levam a entender “A língua se tornou o principal símbolo,
lusofonia de um modo, e não de outro. recurso e fetiche na reconstrução da
identidade portuguesa, e o Estado
Para exemplificar, peguemos Moçambique, um país que fica
na zona austral da África; está dividido em 11 províncias e 128 português investiu na criação da

distritos. Moçambique tem como língua oficial apenas a língua CPLP (Comunidade dos Países de

portuguesa. No entanto, menos de 10% da população reconhece Língua Portuguesa), e cunhou o


o idioma como sua língua materna. Há aproximadamente 20 termo “lusofonia” para definir essa
línguas moçambicanas (se considerarmos apenas as de origem comunidade transnacional de falantes
banta), sendo 18 delas com ortografia padronizada. O país do português. Nos livros escolares, o
compõe a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CLPL), discurso expansionista e chauvinista foi
e também integra a Organização da Conferência Islâmica e substituído por uma versão universalista
ainda a União Africana (UA). Se levarmos em consideração e humanista, mas que deixa sempre
idiomas mercadologicamente valorizados, precisamos ainda intocado o papel de Portugal como um
levar em consideração o inglês e o francês, que são estudados centro, um ponto de difusão.”
em instituições de ensino formal. Ou seja, a língua portuguesa
[Miguel Vale de Alemeia, 2008]
integra uma pequena parte do que seria a formação identitária
das(os) moçambicanas(os). Não podemos jamais entender
apenas a língua portuguesa como formadora da unidade
nacional moçambicana, visto que esse comportamento
procura apagar a relevância das etnias moçambicanas. No
entanto, sem o português, talvez não houvesse a possibilidade
de moçambicanos e moçambicanas de diferentes etnias se
comunicarem efetivamente.

Pensemos no Timor-Leste, uma República Democrática ao


norte da Austrália e a leste da Indonésia. O Timor-Leste ocupa
a parte oriental da ilha do Timor, tem 14.919km² e uma
população de 1.066.409 habitantes. As línguas oficiais são
o tétum e o português. O Timor não passou por uma guerra

Competência 8 | 59
colonial, e em 25 de abril de 1974, foi pego de As línguas locais foram definidas como línguas
surpresa com a possibilidade de independência4. nacionais5. Isto é, o português timorense está lo-
Até aí, a cenário linguístico era marcado por muita calizado em um complexo cenário identitário no
rigidez, o que definia a língua portuguesa como qual diversidade é a única constante. Dessa for-
única língua de prestígio oficial. O tétum-praça, ma, é preciso perceber a identidade promovida
a língua utilizada principalmente na capital, não pela língua portuguesa não como algo dado e
tinha tanto prestígio, mas tinha relevância nas in- estanque, mas como um devir, um estar sendo,
terações sociais informais e cotidianas. Essa pai- um processo contínuo e dialético, no qual haja
sagem linguística seria radicalmente modificada zonas de conflito e de domínio, outras zonas de
no fim de 1974, quando o povo timorense teve calmaria e reconhecimento. Não podemos nunca
de suportar a invasão do território pela Indoné- reduzir um país de língua portuguesa à influência
sia, que controlou o país por 24 anos. Nesse pe- europeia, sempre representada por tudo o que se
ríodo, um terço da população do país foi morta; a entende por português. A identidade portuguesa,
língua portuguesa foi proibida em 1981, e curio- bem como a língua portuguesa, são apenas par-
samente tornou-se língua de resistência. Assim, tes de um todo um sistema identitário mágico,
o tétum-praça passou por um processo intenso complexo, diverso, impreciso, único, que se
de indoneisificação. Apenas na libertação do Ti- espalha pela América, África e Ásia.
mor, com a Constituição de 2002, a língua por-
tuguesa e o tétum tornaram-se línguas oficiais. 5 Uma atitude governamental que eleja alguns idiomas como
oficiais e outros como nacionais permite perceber uma inten-
cionalidade em criar uma identidade nacional, fazer com que
4 Reação em cadeia às independências coloniais na África o povo se identifique com aquilo que o Estado define como
(Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e Cabo-Verde). valoroso para todo um país.

60 |
Portanto, traçadas essas breves linhas Bandeira, com a poesia arquitetônica de Camões.
transnacionais, é preciso ficar claro que falar Ao ler poetas de Guiné-Bissau, sinto o peso da
de língua portuguesa é tratar de um sistema sua colonização e lembro da minha. Ao ler Os
linguístico de densidade histórico-discursiva. Lusíadas, identifico-me com a falsa sensação de
Nosso ponto de partida (mas não o de chegada) superioridade dos portugueses em relação aos
é o português brasileiro, que é falado por mais outros povos. Ao ler Paulo Leminski, identifico-me
de 207 milhões de pessoas, sendo atualmente a com a contemporaneidade das suas palavras e a
língua românica mais falada no mundo, a segunda profundidade dos seus pensamentos. Também
mais falada do Ocidente, e a quarta mais falada me identifico assistindo a um vídeo no Youtube
do planeta. Como falante nativo do português no qual escute um falante nativo do português
brasileiro do Rio Grande do Sul, sempre sinto cabo-verdiano. Desse modo, a língua portuguesa
um misto de proximidade e de distanciamento me permite uma organização e uma ampliação da
ao ouvir cariocas, catarinas, baianos falando. Do minha própria identidade. Até porque foi esse o
mesmo modo, esse estranhamento aproximado idioma que me foi apresentado pela minha mãe,
se intensifica quando ouço falantes nativas(os) pelas minhas avós, pelo meu pai, pelos meus
do português angolano, ou ainda do português avós. Ouvi-los (e lembrar as palavras dos(as)
macauense6. Consigo compreendê-las(los), e por que não posso mais ouvir) é ouvir os sons da
isso me identifico: percebo, instantaneamente, minha infância, que são sempre os sons da língua
que eles e elas dominam a língua que eu domino, portuguesa brasileira do sul do país, esse sistema
mas usam-na de outro modo (ou seria outra linguístico que está localizado no tempo e no
língua a deles e delas?). A distribuição fonética é espaço e que me permite observar, entender e
totalmente diferente, as construções verbais são organizar o mundo, da mesma forma que o idioma
estranhas (para nós, não para o(a) outro(a)!), o me permite também transitar dentro do próprio
léxico apresenta palavras iguais às que usamos com idioma e da cultura que ele veicula, distinguindo
sentidos diferentes, etc. Por consequência, essa aqueles(as) que falam de maneira mais familiar
percepção da diferença permite a organização da daqueles(as) que falam de forma mais diferente,
minha identidade linguística. Percebo que há, no sabendo-se que nunca haverá alguém que
meu idioma, algo que também está no idioma do fale (ou escreva) igual a mim. Sou o único que
outro, mas que muita coisa que está no idioma do manuseia a língua desse modo como estou
outro não está no meu. Assim, na descoberta do manuseando, e não há nenhum falante nativo
que é meu e do que é dele, passo a me perceber e do português que use o idioma do mesmo modo
a construir uma imagem de mim mesmo, por meio que eu. Todos são únicos, diferentes e inéditos
do uso e da observância da língua portuguesa. dentro do próprio idioma, o que nos permite
nos apropriar do sistema da língua para elaborar
Como falante nativo e leitor de português,
a nossa própria organização de mundo e nossa
também me sinto autorizado a me identificar com
própria identidade, nosso modo de nos entender.
a poesia de Luandino Vieira (escritor angolano),
Nosso olhar inteligente sobre nós mesmos só se
com a prosa psicanalítica de Machado de Assis,
organiza por meio do nosso idioma, no meu caso
com a prosa poética e filosófica de Mia Couto
o português brasileiro do sul do país, e isso tem
(escritor moçambicano), com a profundidade de
um peso histórico sobre mim e me permite agir
Fernando Pessoa, com a simplicidade de Manuel
no mundo historicamente dentro dos limites da
minha expressividade, sempre atrelada à minha
6 Macau é uma região administrativa da China que foi, inicial-
mente, colonizada por portugueses. Por isso, até hoje, as lín- relação com minha língua materna.
guas oficiais de Macau são o português o mandarim.

Competência 8 | 61
“A língua de cada um deveria ser aquela com que se
dizem as primeiras palavras. Sempre pensei que o
tétum fosse a língua dos meus pais. Herdava-se como
a cor da pele ou o tamanho do nariz. Um dia quando
conversavam, julgando estarem longe dos ouvidos
alheios, surpreendi-os a falarem utilizando outra
língua que eu não entendia. Não resisti a perguntar-
lhes que palavras eram aquelas, tão diferentes
das que eu pronunciava. Calaram-se, e minha mãe,
disfarçando, disse que eu é que tinha compreendido
mal. Que estava surdo de tanto ir ao fundo do mar
observar os corais, embora tivesse dito e repetido
que estava a ouvir muito bem, todas as palavras,
inclusive aquelas que me escondiam. Mais tarde,
quando recebemos a visita dos parentes da minha
mãe, oriundos de Fahinihan e que falavam uma língua
que tinham o nome de Iaclei, bem como quando fomos
visitados pelos parentes do meu pai, de Same, que
falavam uma outra língua chamada mambae, tive então
a minha oportunidade soberana de lhes cobrar uma
resposta séria: por que me ensinaram apenas o tétum?
Nunca me deram uma resposta precisa. Apenas que cada
um fala a língua que os pais lhe ensinam. Só mais
tarde pude compreender quão sábios foram eles. O
tétum era a língua da catequese e, depois de batizado,
poderia entrar para a escola dos missionários onde
se leccionava em português. Falando esta última
língua, eu teria um futuro mais promissor do que
maioria dos meus conterrâneos. Por isso, nunca me
ensinaram uma única palavra das respectivas línguas
para onde se retiravam e escondiam os seus segredos.
Um círculo gentio, animista e autônomo.”

Luis Cardoso (escritor timorense)

62 |
“português (s.m.) 1. Indivíduo natural “O discurso herético deve contribuir não somente
ou habitante de Portugal 2. Língua indo- para romper com a adesão ao senso comum,
europeia, do ramo itálico, grupo latino, professando publicamente uma ruptura com a
originária do latim, mais especificamente ordem ordinária, mas também produzir um novo
do latim vulgar.” senso comum e nele introduzir as práticas e as
experiências até então tácitas ou recalcadas de
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa
todo um grupo, agora investidas de legitimidade
É curioso notar os discursos construídos conferida pela manifestação pública e pelo
sobre a língua portuguesa. Antônio reconhecimento coletivo”
Houaiss – que foi filólogo, diplomata, Pierre Bordieu
presidente da Academia Brasileira
de Letras – defende a ideia de que o
português venha direto do latim, quando
Bandeira de Moçambique
na verdade isso é um equívoco histórico.
É possível supor que essa fantasia, que
não é só dele, é resultado de um ímpeto
identitário, de uma intenção de criar
uma identidade própria que se aproxime
da identidade de Roma, o maior império
ocidental da Idade Antiga. Parece
mais interessante, dentro de certos
Hino de Moçambique
critérios, construir uma identidade
que nos assemelhe a romanos, do que Na memória de África e do Mundo Povo unido do Rovuma ao Maputo
Pátria bela dos que ousaram lutar Colhe os frutos do combate pela paz
elaborar uma visão que nos assemelhe Moçambique, o teu nome é liberdade Cresce o sonho ondulando na bandeira
O Sol de Junho para sempre brilhará E vai lavrando na certeza do amanhã
a camponeses de origem céltica que
Moçambique nossa pátria gloriosa Flores brotando do chão do teu suor
viviam a noroeste da Península Ibérica Pedra a pedra construindo um novo dia Pelos montes, pelos rios, pelo mar
(Galícia). Milhões de braços, uma só força Nó juramos por ti, oh Moçambique
Oh pátria amada, vamos vencer Nenhum tirano nos irá escravizar

Meu pai e minha mãe não estão na foto, mas estão em


mim, na minha linguagem, na minha eventual gagueira, nas
palavras que escolho como minhas. Assim como meu pai e
minha mãe, as duas mulheres (minhas irmãs) que compõem
minha família me deram um pouco de si e da sua linguagem e
me ajudaram a formar meu arsenal linguístico. Minha mãe me
ensinou a usar as palavras para pensar sobre elas próprias, e
minha irmãs assistiram ao meu desenvolvimento e deixaram
que eu assistisse ao delas, de modo que fomos compartilhando
os brinquedos, os quartos, as palavras sem nunca deixar de
reconhecer, mutuamente, nossa individualidade. A língua que
carrego nasceu na minha família, além do fato de que nosso
clã sempre usa a língua materna de um jeito único: gírias,
apelidos, referências a momentos marcantes pra família fazem
parte da língua familiar, que é única, irrepetível: formadora da
nossa identidade.
Eu e minhas duas irmãs.

Competência 8 | 63
“Falar um pouco da linguagem, do gosto
das metáforas, da marca machista com que
escrevi a Pedagogia do Oprimido me parece
não só importante mas necessário.

Começarei exatamente pela linguagem


machista que marca todo o livro e de minha
dívida a um sem número de mulheres norte-
americanas que, de diferentes partes dos
Estados Unidos, me escreveu, entre fins
de 1970 e começos de 1971, alguns meses
depois que saiu a primeira edição do livro
em Nova York. (...) É que, diziam elas,
eu usava, porém, uma linguagem machista,
portanto discriminatória, em que não havia
lugar para as mulheres. Quase todas as
que me escreveram citavam um trecho ou
outro do livro, como o que agora, como
exemplo, escolho eu mesmo: “Desta forma,
aprofundando a tomada de consciência da
situação, os homens se ‘apropriam’ dela
como realidade histórica, por isto mesmo,
capaz de ser transformada por eles”*. E
me perguntavam: “Por que não, também, as
mulheres?”.

Me lembro como se fosse agora que


estivesse lendo as duas ou três primeiras cartas que recebi, de como,
condicionado pela ideologia autoritária, machista, reagi. E é importante
salientar que, estando nos fins de 1970 e começos de 1971, eu já havia vivido
intensamente a experiência da luta política, já tinha cinco a seis anos de
exílio, já havia lido um mundo de obras sérias, mas, ao ler as primeiras críticas
que me chegavam, ainda me disse ou me repeti o ensinado na minha meninice: “Ora,
quando falo homem, a mulher necessariamente está incluída”. Em certo momento de
minhas tentativas, puramente ideológicas, de justificar a mim mesmo, a linguagem
machista que usava, percebi a mentira ou a ocultação da verdade que havia na
afirmação: “Quando falo homem, a mulher está incluída”. E por que os homens
não se acham incluídos quando dizemos: “As mulheres estão decididas a mudar o
mundo.”? Nenhum homem se acharia incluído no discurso de nenhum orador ou no
texto de nenhum autor que escrevesse: “As mulheres estão decididas a mudar o
mundo”. Da mesma forma como se espantam (os homens) quando a um auditório quase
totalmente feminino, com dois ou três homens apenas, digo: “Todas vocês deveriam”
etc. Para os homens presentes ou eu não conheço a sintaxe da língua portuguesa
ou estou procurando “brincar” com eles. O impossível é que se pensem incluídos
no meu discurso. Como explicar, a não ser ideologicamente, a regra segundo a
qual se há duzentas mulheres numa sala e só um homem devo dizer: “Eles todos são
trabalhadores e dedicados?”. Isto não é, na verdade, um problema gramatical mas
ideológico.

Neste sentido é que explicitei no começo destes comentários o meu débito àquelas
mulheres, cujas cartas infelizmente perdi também, por me terem feito ver o quanto
a linguagem tem de ideologia.

Escrevi então, a todas, uma a uma, acusando suas cartas e agradecendo a excelente
ajuda que me haviam dado.”

[Pedagogia da Esperança, Paulo Freire]

64 |
HABILIDADE 25
Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que
singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.

Já se sabe que a língua


é um sistema simbólico
individual e ao mesmo
tempo coletivo, que
permite que cada um
de nós elabore sua
própria organização
cognitiva da realidade,
o que implica formular
uma visão sobre o
mundo e sobre si. Toda
essa reflexão acerca
do funcionamento
linguístico é
altamente filosófica e
metalinguística, e nos
servimos muito bem
dela até aqui.

A partir deste ponto passaremos a uma análise linguística


mais vinculada ao uso: à realidade comunicativa “O falante comum não tem uma visão em perspectiva
(protagonizada por sujeitos, que são sempre únicos e nem em prospectiva, de longo prazo, da história
utilizam sua língua de maneira igualmente única). Vamos da sua língua. Não se detém para pensar que, se
tirar algumas conclusões a partir dos enunciados de fato a língua mudou no passado, não tem por que não
mudar também agora, no presente, antecipando
ditos, ouvidos, escritos e lidos, que estão sempre em um
o que ela vai ser no futuro. O futuro da língua, na
tempo/espaço específico. Com a Teoria da Enunciação
imaginação da maioria dos falantes, é um retrato
e a Análise do Discurso, já havíamos nos aproximado do fiel do que a língua é agora. Conseguem visualizar
terreno incerto e complexo dos atos de fala. Porém, é em suas mentes naves espaciais, prédios de vidro
nessa habilidade que passaremos a observar as variedades transparente com oitocentos metros de altura, mas
linguísticas formais e semânticas que nosso idioma nesse mundo de fantasia futurista, todos vão falar
(português brasileiro) apresenta e o modo como podemos exatamente como falam hoje. E isso é simplesmente
impossível. A língua está de tal forma entranhada em
descrevê-las e entendê-las.
cada um de nós que imaginar que ela um dia deixará
Que a língua muda parece-me um fato incontestável. de ser o que é se revela uma ideia insuportável.”
Basta pegarmos um texto escrito hoje, no Brasil ou mesmo Marcos Bagno. Gramática Pedagógica do Português
em Portugal e compararmos com a escrita de Pero Vaz Brasileiro.
de Caminha na Carta a D. Manoel, para percebermos que

Competência 8 | 65
o tempo atua sobre a língua (assim como atua constituída por nossa subjetividade e também
sobre tudo) e a altera; isso é inevitável mesmo na pelo tempo em que vivemos, pelo espaço que
escrita, que já representa um sistema muito mais ocupamos, pela classe social a que pertencemos,
conservador e resistente às mudanças do que a pelo nosso gênero sexual, pela nossa cor,
fala, que se manifesta de modo mais interativo, religião, princípios, etc. Em nossa enunciação
adaptável, surpreendente: em uma palavra, linguística, manifesta-se essa multiplicidade de
variável. características que nos tornam, paradoxalmente,
únicos. Por isso, é necessário, para uma análise
Nosso objetivo, ao estudar variação linguística, é linguística ética e responsável, observarmos
observar as várias maneiras por meio das quais a todos textos escritos e falados com os quais
língua se manifesta sem atribuirmos juízo de valor tivermos contato como manifestações legítimas
a essas manifestações, nem classificá-las de forma da língua portuguesa do Brasil, numa postura
qualitativa. Consideremos o fato de que todos contemplativa e curiosa, sem nunca lançar um
nós somos únicos e que nossa individualidade é olhar preconceituoso, controlador e repressivo.

VARIAÇÃO REGIONAL
“É do uso que se depreende a gramática, é
do discurso que se chega nas regularidades
(sempre instáveis e provisórias) da língua
– uma distinção, é claro que tem aqui uma
perspectiva apenas pedagógica, já que na
prática social mais ampla discurso e sistema
(ou uso e gramática) interagem sem cessar,
são indissociáveis, tanto quanto o oxigênio e
o hidrogênio da água: são os usos frequentes
e regulares de determinada forma linguística
que acabam por transformá-la em regra
gramatical, assim como são as regras
gramaticais as condicionadoras dos usos
linguísticos. Dado que só existe língua se
existirem falantes dessa língua, ou seja, só
existe língua em uso, a prática da linguagem
como atividade constitutiva da própria
natureza humana (natureza cognitiva e
sociocultural) é que ditará os rumos da
gramática da língua, numa processo cíclico
e permanente.”

Marcos Bagno. Gramática Pedagógica do


Português Brasileiro.

Poeta e cordelista baiano Bule-Bule.

66 |
A velocidade, que nada mais é do que o aos dezessete anos, fase da vida altamente mítica
deslocamento no espaço, é encantadora por e marcante, desenvolvi uma linguagem litorânea,
si só. A magia da locomoção nos encanta pela “cantada”, com o /r/ rotativo, o /r/ caipira, mais
própria experiência da velocidade e também por uma série de particularidades, como o uso da
nos oportunizar sentir a presença de diferentes ironia para enaltecer ou depreciar algo ou alguém.
espaços e de tudo o que eles nos impõem. Quando uma menina ou um rapaz eram muito
Quando nos conscientizamos de que, ao irmos belos, se dizia que ela “deu feia” e ele “deu feio”.
de um espaço a outro, mudam as influências a Ou seja, se dizia que a pessoa era “feia” na intenção
que estamos expostos, vamos ampliando nossa de dizer que ela era bonita. Ou então se dizia sobre
capacidade de percepção às mudanças. um jogador muito qualificado que ele “quase não
joga”, num tom irônico novamente. Quando fui
É imprescindível compreender e aceitar que a
morar no litoral (Três Cachoeiras), eram evidentes
língua é um sistema vivo, que só se realiza no
as diferenças existentes entre a minha língua e a
uso, altamente vinculado à subjetividade de cada
língua dos três-cachoeirenses. Com o tempo, eu
um e às particularidades de grupos específicos. E
me acostumei a eles, e eles a mim, mas nunca
exatamente por isso ela está sujeita às mudanças
falei exatamente como eles falavam, até porque
às quais os próprios indivíduos estão expostos.
eu sempre alimentei amizades da capital, pessoas
Consequentemente, qualquer deslocamento no
com quem eu me identificava, e por isso alimentava
espaço pode nos oferecer um contato com uma
traços linguísticos urbanos, mesmo morando no
língua que se diferencia da nossa em algum ponto.
litoral. Aos dezessete anos, voltei a viver em Porto
Evidentemente, quanto maior o deslocamento,
Alegre, mas eu já não era o menino urbanizado de
maiores e mais perceptíveis serão as diferenças.
nove anos atrás, afinal havia vivido grande parte da
Eu, como falante nativo do português brasileiro adolescência no litoral, e a língua litorânea já fazia
do Rio Grande do Sul, morei até os oito anos em parte de mim. Desde que voltei para Porto Alegre,
Porto Alegre, e assim se desenvolveram em mim já passaram oito anos, e hoje em dia, apesar de
os traços linguísticos urbanos, como o /r/ em tepe, ter uma língua urbanizada, meu sotaque não é tão
como em /porto/. Aos oito anos, me mudei para porto-alegrense quanto daqueles que viveram em
o litoral norte do estado, a trinta quilômetros Porto Alegre durante toda a vida, os verdadeiros
da fronteira com o estado de Santa Catarina, a protagonistas do “bah, aham”. Não sou totalmente
duzentos quilômetros de Porto Alegre. Dos oito daqui, nem sou totalmente de lá.

Competência 8 | 67
Florianópolis

Agora pensemos na trajetória


linguística de cada um dos
indivíduos brasileiros. Mesmo
aqueles que viveram toda
a vida em um mesmo lugar
tiveram acesso a diferentes
pessoas, diferentes momentos
sociais, refletiram de modo
único sobre o que viveram e
Porto Alegre
por isso manifestam línguas
sempre de forma única.
Nessa lógica de perceber o
deslocamento espacial como
um fator para a mudança
linguística, vamos percebendo
que, de acordo com a região
que observamos, evidencia-se
uma série de particularidades
daquela região e das suas
proximidades. O português
falado no sul do país se
aproxima, muitas vezes, do
espanhol, ainda mais nas
cidades mais próximas das
fronteiras com o Uruguai. O
português do Rio de Janeiro
tem seus erres e esses
característicos por influência
marcante dos açorianos,
influência essa que também
Rio de Janeiro marca o português da ilha de
Florianópolis, que, porém, já
se apresenta com sotaque,
vocabulário, expressões
totalmente diferentes do
português do Rio.

68 |
VARIAÇÃO SOCIAL
“Problema com escola Gíria não, dialeto. Sente o Negro Drama, vai.
Eu tenho mil [...] Tenta ser feliz.
Mil fita Nóis é isso, é aquilo, o quê? Ei, Bacana.
Cê não dizia? Quem te fez tão bom assim?
Inacreditável mas seu filho me
imita Seu filho quer ser preto! O que cê deu?
Ah! Que ironia! O que cê faz?
No meio de vocêis ele é o mais O que cê feiz por mim?”
Cola o pôster do 2pac, e aí?
esperto
Que tal?
Ginga e fala gíria O que cê diz? Negro Drama, Racionais

Esse tipo de variação linguística está associada mais socioeconômico, são as sensações que temos ao
diretamente à classe social da qual fazemos parte, ouvir e ler manifestações textuais de determinadas
ao nosso consequente nível de escolaridade e aos classes sociais. A construção discursiva da
círculos sociais específicos aos quais temos acesso. memória, da identidade e dos valores sociais se
Ser branco, ser heterossexual, ser professor, revela no modo como se determinam algumas
pertencer à classe média brasileira ascendente do condições sociais como ideais, devendo ser
início do séc. XXI, por exemplo, são traços sociais buscadas por todos: o acúmulo do capital, a
que me permitem circular em determinados estabilidade e a produtividade profissionais, a
ambientes socialmente constituídos, e nunca constituição da família, etc. Por consequência da
em todos. As condições materiais da nossa vida idealização de uma única determinada condição
delimitam nosso raio de possibilidades de escolha, social, amaldiçoam-se as outras. Na medida em
que sempre estão inseridas em uma situação que se enobrece a riqueza, deprecia-se a pobreza,
social específica. Do mesmo modo, a língua, que é em um discurso que vincula o sucesso financeiro
intrínseca ao sujeito, também varia em função da ao sucesso emocional, intelectual, espiritual,
condição social do falante. enfim à boa vida, e vincula o insucesso financeiro
Mais interessantes do que as mudanças na à incapacidade cognitiva, à incompetência
língua evidenciadas pela mudança do círculo profissional, à pobreza intelectual, enfim à má

Competência 8 | 69
vida. Entendendo a língua como um reflexo Há, evidentemente, uma série de ramificações
das intersubjetividades que sustentam nossas sociais que aumentam ou diminuem as diferenças
relações, os princípios construídos e cultivados linguísticas entre as classes sociais dominantes e
socialmente transpassam, com naturalidade, as periféricas. Por exemplo, em cidades menores
de modo irrefletido, à maneira como a língua (com menos de cinquenta mil habitantes), as
é percebida. Se a condição financeira de ricos diferenças entre a linguagem dos patrões e dos
é considerada mais elevada sob vários pontos empregados não são tão perceptíveis. Já em
de vista, se a vida deles é entendida como mais grandes centros urbanos, o dono de uma fábrica e
ampla, mais legítima, mais verdadeira, mais o operário apresentam linguagens extremamente
emocionante, é compreensível que se prolifere diferentes. Apenas se está tomando como
tão fácil e sensivelmente a concepção de que a parâmetro de diferença social a diferença
língua de ricos é melhor que a língua de pobres. econômica, que é um eixo segundo é possível
Essa visão maniqueísta é reducionista, mas a perceber diferenças de condição material de
maioria dos indivíduos que pouco pensam sobre vida, diferenças culturais e (e isto nos interessa)
sua linguagem tendem a pensar assim. diferenças linguísticas.

Que tipo de manifestação linguística você espera


dessa família? Quais palavras você acha que
o pai e a mãe usam ao se comunicar para, por
exemplo, definir os compromissos do dia a dia?
Que tipo de linguagem o casal deve usar para
orientar as crianças? Como você imagina a fala
dessas crianças? E o que você pensa sobre as
palavras que essas crianças falam? É ‘bonitinho’?
Genuíno? Lindamente infantil?

Que tipo de manifestação linguística você


espera dessa família? Quais palavras você acha
que o pai e a mãe usam ao se comunicar para,
por exemplo, definir os compromissos do dia a
dia? Que tipo de linguagem o casal deve usar
para orientar as crianças? Como você imagina
a fala dessas crianças? E o que você pensa
sobre as palavras que essas crianças falam? É
‘bonitinho’? Genuíno?
Lindamente infantil?

70 |
VARIAÇÃO DE REGISTRO
A nomenclatura registro foi usada, primeira- afinal ele está diante de uma turma sobre a qual
mente, por Michel Brèal, um estudioso francês exerce certa autoridade. Esse poder docente
do fim do séx. XIX, que já falava, antes de Saus- é legitimado pelo espaço público construído e
sure, em ‘subjetividade’, em ‘intencionalidade’, respeitado socialmente chamado Escola. Dessa
em ‘transferência de sentido’ das palavras e forma, é presumível esperar que a postura
também em diferenças de ‘registro’. A noção linguística do professor terá certo grau de
de registro está vinculada à ideia de adequação formalidade enquanto dialoga com o aluno no
linguística ao contexto, isto é, trata-se de avaliar intuito de esclarecer a dúvida. No entanto, se
os enunciados e perceber de que modo eles são esse mesmo professor e esse mesmo aluno
construído a partir de determinadas imposições conversassem fora da sala de aula sobre um
externas à língua, resultantes da interação social. assunto mais descontraído e motivador (por
Por exemplo, imagine que um aluno, durante exemplo, a gincana da escola), possivelmente esse
uma explicação do professor, levante a mão professor não usaria o mesmo registro linguístico
no intuito de tirar uma dúvida. Prontamente, o que utilizou dentro da sala. O ambiente social,
professor passa a palavra ao aluno e o escuta. A a expectativa do(s) espectador(es), a intenção
resposta que esse professor vai dar (suas escolhas do falante, as responsabilidades que o falante
lexicais, seu tom de voz, sua estruturação frasal, julga ter, os direitos que o ouvinte acredita ter,
enfim o seu comportamento linguístico) tende tudo isso e ainda outras forças extralinguísticas
a ser minimamente formalizada e monitorada, exercem grande influência sobre os atos de fala.

Competência 8 | 71
HABILIDADE 26
Relacionar as variedades linguísticas a
situações específicas de uso social.

variedades
linguísticas
de uso
social

O acervo do Projeto NURC-RJ (Projeto da Norma Urbana Oral Culta do Rio de Janeiro), ora
disponível on-line, constitui referência nacional para estudos da variante culta da língua
portuguesa. Trata-se de entrevistas gravadas nas décadas de 70 e 90 do século XX, num total de
350 horas, com informantes com nível superior completo, nascidos no Rio de Janeiro e filhos
de pais preferencialmente cariocas. Para garantir a permanência de um dos mais importantes
bancos de dados de oralidade urbana culta, deu-se início à digitalização do material, no sentido
de preservar a memória nacional. A relevância desta tarefa específica foi bem traduzida pelas
palavras de Antenor Nascentes, no Prefácio da primeira edição (1922) de O Linguajar Carioca:
“nosso trabalho não é para a geração atual; daqui a cem anos, os estudiosos encontrarão
nele uma fotografia do estado da língua e neste ponto serão mais felizes que nós, que nada
encontramos do falar de 1822”.

Retirado de <http://www.letras.ufrj.br/nurc-rj/>. Acesso em: 09/04/2016.

72 |
Tratar de usos linguísticos em situações efeitos muito parecidos e seriam, inclusive,
específicas (isto é, reais) significa observar regidos pelas mesmas forças.
a língua em pleno funcionamento, ativa,
Visto isso, fica claro que entender as variedades
interativa, viva: promotora da efervescência da
intersubjetividade. A Pragmática é uma área linguísticas a partir de situações específicas nos
da Linguística desenvolvida justamente com leva a um estudo da língua muito mais empírico,
o objetivo de lançar-se ao estudo dos atos de interativo, incerto, real. Estudo esse que não
fala. Dessa forma, o objeto de análise, aqui, pode desconsiderar a si mesmo como seu próprio
não é mais a língua vista como um sistema de objeto de análise. A variedade linguística usada
símbolos autônomos por si e desvinculados nesse texto é totalmente moldada pela situação
do homem. Além disso, segundo os preceitos em que o texto se insere, pelo objetivo a que o
pragmáticos, também não está em foco a texto se propõe, pela estética que o próprio texto
constituição simbólica do ser, que é pautada nas busca em si e em tudo aquilo que o rodeia.
nossas impressões e expressões linguísticas. Na
Tanto a fala quanto a escrita podem ser vistas
Pragmática, o que importa é a performance,
sob um viés pragmático. Portanto, precisamos
a fala intencional localizada num tempo, num
estar prontos para analisar, com as ferramentas
espaço, numa subjetividade, dirigida a alguém,
enfim numa situação. As palavras não são intelectivas adequadas, os atos de fala, tais qual
mais vistas como representação da realidade, se apresentam. Pensando nisso, vamos nos valer
mas sim como parte da realidade. Por isso, a das amostras de um poderoso banco de dados
nomenclatura “atos de fala” é tão importante. produzido pelo curso de Letras da Universidade
Sempre houve, implicitamente, no estudo dos Federal do Rio de Janeiro. Nesse banco, há
comportamentos humanos, uma diferenciação inúmeras gravações de homens e mulheres em
entre os atos e a fala. O que a Pragmática propõe situação formais e informais de comunicação.
é exatamente a extinção dessa distinção. Falar e Como exemplo, observe abaixo dois diálogos
agir seriam duas manifestações do mesmo tipo gravados com a mesma pessoa; o primeiro
de comportamento. As falas e os atos causariam gravado em 1972, o segundo em 1996.

Competência 8 | 73
“Acredita-se que o aprendizado da linguagem
consiste no fato de que se dão nomes aos objetos:
homens, formas, cores, dores, estados de espírito,
números, etc. Como foi dito, denominar é algo
análogo a pregar uma etiqueta numa coisa. Pode-
se chamar isso de preparação para o uso de uma
palavra. Mas sobre o que se dá a preparação?
‘Denominamos as coisas e podemos falar sobre
elas, podemos nos referir a elas no discurso’. Como
se já fosse entendido, com o ato de denominar,
algo que significasse ‘falar sobre as coisas’, visto
que fazemos as coisas mais diferentes com nossas
frases. Pensemos apenas nas exclamações, com
todas as suas funções distintas:
Água! Fora! Ai! Socorro! Bonito! Não!
Você ainda está inclinado a chamar essas palavras
de ‘denominações de objetos’?”
Ludwig Wittgeinstein. Investigações Filosóficas.
L. Wittgeinstein, 1889-1951.

DIÁLOGOS ENTRE INFORMANTE E DOCUMENTADOR (DID):


Tema: “Família”
Inquérito 007
1Locutor 0083 - Sexo masculino, 56 anos de idade, pais cariocas, advogado. Zona residencial: Sul e Norte
Data do registro: 09 de julho de 1972
Duração: 40 minutos
ENTREVISTADOR: Sim. E atualmente, como é que é a sua família?

LOCUTOR: Bem, minha família atual, como eu já ENTREVISTADOR: Essa diferença de idade
disse a vocês, é constituída de minha mulher e de, entre eles, eh, criou também diferenças no, no
dos quatro filhos. Aí é um, um registro curioso a relacionamento do senhor e da sua mulher com
fazer, que não me parece que seja muito comum, cada um deles?
é que há uma, um intervalo, um intervalo assim
um pouco grande até entre os meus filhos. O meu LOCUTOR: Não, não. Eu acredito que o rela-
filho mais velho tem trinta e dois anos, depois eu cionamento ... Não, não que seja difícil ...
tenho um filho de vinte e oito, aí há um intervalo Evidentemente que o filho mais moço, quer
de oito anos, eu tenho uma filha, e finalmente dizer, que nos pegou portanto mais velhos, quer
com outro intervalo de seis anos tem um garoto, dizer, nasceu quando eu já tinha quarenta e
está com catorze anos agora. De modo que não um para quarenta e dois e minha mulher tinha
é um ... Isso não é muito encontrado assim. Em quarenta pra quarenta e um, evidentemente ...
geral, ou são poucos filhos ou então quando a Não há dificuldade de relacionamento mas eu
família é grande, eh, há uma certa regularidade acredito que represente assim um, uma, um tipo
assim entre uns filhos e outros. de relacionamento um pouco mais difícil. Não,

74 |
não que seja difícil mas um pouco mais difícil do diferença de idade. Minha mulher também com
que, do que o relacionamento com os demais. os pais também os tratava de você e tinha, tinha
Mas felizmente, quer dizer, nós, eh, eu acredito bom relacionamento. É claro que na vida atual as
que nós sejamos realmente uma família assim coisas vão sendo mais ... Há maior liberalização,
unida, uma família que se entende, os meus vamos dizer, de, vamos dizer, nas relações de
filhos tiveram sempre toda liberdade comigo e pais e filhos. Mas no meu caso particular, eu
são muito meus amigos, de forma que, amigos da não, realmente não sinto assim, quer dizer, uma,
mãe também, de modo que nesse particular, eh, uma diferença assim fundamental entre, entre a
o nosso relacionamento é muito bom. maneira pela qual eu fui educado e a que eu quis
educar meus filhos. A não ser que eu sou, vamos
ENTREVISTADOR. - O senhor vê muita diferença
dizer assim, como eu eduquei meus filhos mais
de seu tempo, por exemplo, de, eh, criança,
moço, quer dizer, havia uma possibi... houve uma
depois adolescente, com pessoas da sua família e
possibilidade de uma, de uma maior liberdade
seus filhos, por exemplo, com vocês, na maneira
nossa assim. Não que eu não tivesse essa liberdade
de tratar, por exemplo?
com meu tio-avô, com minha tia-avó, mas eles
LOCUTOR: Não, não vejo muito não. Eu não sei eram pessoas mais idosas, não tinham filhos, de
se porque eu, eu fui criado, como eu disse a modo que era um pouquinho diferente. Mas eu
vocês, por um casal de tios-avós, portanto bem tive essa liberdade, quer dizer, não, não houve,
mais velhos do que meus pais, mas eram pessoas não houve nenhum problema nesse particular.
assim mais ou menos evoluídas, tanto que eu já
ENTREVISTADOR: E os netos?
os tratava de você, coisa que na época não era
muito comum. Eu os tratei de você sempre e tive LOCUTOR: Bem, os netos meus, eh, vocês, vocês
um, um bom relacionamento com eles apesar da viram dois hoje aqui. São três ao todo. (...)

Competência 8 | 75
RECONTATO:
Inquérito 071 (masculino / 80 anos) - (N. 24 - Amostra Complementar)
Tema: Família, ciclo de vida, saúde
LOCAL/DATA: Rio de Janeiro, 17 de julho de 1996
TIPO DE INQUÉRITO: Diálogo entre informante e documentador
DOCUMENTADOR: Y L

DOCUMENTADOR: O senhor estava me contando anos, e meu pai viveu trinta e três. Então eles dois
que a sua senhora não esta passando muito bem. juntos viveram sessenta e cinco. Eu já estou com
Tá fazendo uma fisioterapia, né. O senhor podia setenta e nove, então, eu já estou com com um
nos contar isso? mocado de lucro nesta vida, mas, cada um tem o
seu destino. (...)
LOCUTOR. - Pois não. Ela teve um problema...
Tem um problema neurológico. De forma que... DOCUMENTADOR. - O senhor tem filhos...ou...
com isso... a fala...dela, ficou muito difícil. E além tem netos... tem tudo isso, né, né? Tem tudo isso...
disso a letra, que era uma letra bonita. Ela foi LOCUTOR. - Tenho sim, nós... nós tivemos, eu e
professora primária. Formou-se na escola normal, minha mulher, quatro filhos, graças a Deus, são
aqui do Rio. E a letra dela hoje, no instante depois todos vivos. São três homens, e uma mulher. E
de... escrever, nem ela própria, consegue ler. eu costumo dizer que são... nós tivemos, assim,
Quer dizer, a letra ficou muito pequenininha. muito espaçados, né, do primeiro, do mais
Além disso, tem, tinha uns problemas também velho, que nasceu, realmente, um ano depois
de queda. Que ela já melhorou. Queda assim de nós estarmos casados, um ano e pouco, aí
de desequilíbrio, né. E...isso ela está felizmente tivemos um intervalo de... quatro anos... nasceu
melhor. E uns probleminhas aí, ligados ao quadro, o segundo filho, aí tev... houve um um intervalo
que é um quadro, que não é de doença de de oito anos, nasceu a nossa filha, e... houve
Parkison, mas é de uma doença... mais ou menos, um intervalo grande, que eu até perdi a conta,
da mesma área, da doença de Parkison. nasceu o nosso caçula, que é outro homem.
Então, são... quatro filhos, todos eles casados,
DOCUMENTADOR: Você me parece que está muito
e... todos eles com filhos. De modo que eu tenho
bem. Que não faz tratamento nenhum, não é?
quatro filhos e... tenho dez netos. Desses dez
LOCUTOR. - É. Eu, felizmente, estou a caminho netos, tenho sete homens, e três mulheres. E eu
dos oitenta anos. Farei oitenta anos no ano que costumo dizer que... esses netos... eu tenho dois
vem. E naturalmente tenho... faço um certo segmentos de netos. Quer dizer, eu tenho... um
controle médico. Tomo uns remedinhos aí, mas primeiro segmento, que são os netos, dos meus
nada de importante, graças a Deus. A minha dois filhos mais velhos, que vai de um... o meu
saúde... posso considerar... excelente. O próprio neto mais velho, que fez vinte nove anos, agora,
médico que me atende tem confirmado isso. no dia doze deste mês de julho, até a minha neta,
De modo que eu espero, enfim, acho que já vivi que é do meu segundo filho, que vai fazer vinte e
muito, porque... eu fui... fiquei órfão, aos... cinco dois em novembro, então, esse é o meu primeiro
anos, de minha mãe, e aos sete, de meu pai. De segmento: de vinte nove a vinte dois. Depois vem
modo que a partir dos sete anos, eu fui educado um segundo segmento, que começa com... o filho
por um casal de tios-avós. E eu sempre comento, mais velho de minha filha, fez quatorze anos, e vai
que eu já vivi muito mais, que meu pai e minha até o filho mais moço dela, e o filho mais moço,
minha mãe juntos. Minha mãe viveu trinta e dois do meu filho mais moço, que... estão com...

76 |
HABILIDADE 27
Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa
nas diferentes situações de comunicação.

“Quando, na história de cada sociedade, uma determinada língua – ou mais


precisamente, uma das variedades dessa língua – é alçada à condição de língua
oficial, ocorre uma importante metamorfose: a língua materna se torna língua
paterna, transformada em padrão (do latim patronu, onde está presente a raiz pater,
‘pai’, mesmo vocábulo do qual procedem ‘patrão’ e ‘patrono’). É a língua patrocinada
pelo Estado e, irradiando-se dele, a língua da escola – isso explica o choque que
muitas pessoas (especialmente os falantes de variedades linguísticas estigmatizadas)
experimentam ao tomar contato pela primeira vez com uma língua que, em boa
medida, além de estranha é quase estrangeira. A língua paterna é essencialmente
escrita, ortografizada, normatizada.”
Marcos Bagno. Gramática Pedagógica do Português Brasileiro.

Competência 8 | 77
“A língua paterna é a língua da Lei, sempre associada à figura do pai, inclusive nos postu-
lados de psicanálise freudiana. A língua materna – língua de mulher – sofre na maioria
das sociedades as mesmas depreciações dedicadas ao gênero feminino: é o lugar do
“erro”, do “desvio”, do “frágil’, do pouco confiável, do instável, do inconvenientemente
sensível e sensitivo. Ao pai cabe domar e domesticar esse idioma errático, conferindo-lhe
regras, regimentos, registros, regências, regulamentos – palavras todas derivadas de rex,
regis, ‘rei’, assim como recto, direcção, correcção, régua. É a língua do direito (<directu-,
“o que está reto’), erigida como lei linguística. A língua paterna é a língua da erecção, a
língua do rei, pai da nação, símbolo do Estado.”

Marcos Bagno. Gramática Pedagógica do Português Brasileiro.

A primeira grande tarefa a que precisamos nos nos incute) passava por quatro níveis de evolução
submeter é definir o que se entende por norma do saber: 1) logos, a linguagem portadora de
padrão da língua. Quais são os fundamentos razão, que daria acesso à organização da 2)
dessa normatização dos usos linguísticos? Desde psykhe – a mente, que, se elaborada, levaria
quando se determina o que é certo e o que é à compreensão da organização do 3) physys
errado no manuseio da língua? Para que(m) serve – o mundo natural e o comportamento dos
esse controle? corpos. Uma vez acessado o physis, estaríamos
aptos a conceber a organização do universo
Buscando traçar uma resposta a essas perguntas,
na sua totalidade, o 4)kosmos, palavra que
nos remetemos a Platão (428/427-348/347), um
significa ‘organização’, ‘harmonia’, ‘ordem’. A
dos nomes mais importantes da cultura ocidental.
própria palavra universo carrega uma ideia de
Evidentemente, não vamos nos ater a todos os per-
unidade. O universo é um todo organizado em
cursos filosóficos platônicos, lançando mão apenas
do seu dualismo característico. Para Platão, a opo-
si mesmo, perfeito, harmonioso, e só é possível
sição fundamental estava entre o mundo sensível alcançá-lo abandonando as experiências
(aquele que podemos sentir, tudo o que nos toca terrenas (ou partindo delas) em busca da
e que pode ser por nós tocado: os corpos, os sons, compreensão da magia organizadora da vida
os textos, etc.) e o mundo cognoscível (aquele que universal. É fácil perceber como o discurso
só pode ser apreendido de forma abstrata, sempre religioso se vale das concepções platônicas
desvinculado da realidade: o mundo das ideias, por para comprovar a existência de Deus: a força
isso ideal; um mundo metafísico, intocável, mental). criadora e mantenedora da ordem de todo o
universo, força essa que é única, completa,
O acesso ao conhecimento verdadeiro só se daria autônoma: onipresente, onisciente, onipotente
a partir do exercício da inteligência, do raciocínio – e exatamente por isso é e sempre será incom-
profundo, da meditação cognitiva, do esforço
preensível no nível da vida terrena.
mental; só assim seria possível acessar a essência
real das coisas e de si mesmo. O caminho rumo à O dualismo platônico dá origem a uma série de
verdadeira inteligência (a rota de saída da caverna: dualismos que foram decisivos nos fundamentos
da ilusão e da ignorância que o mundo sensível de toda a cultura ocidental:

78 |
metafísico/físico
natureza/cultura
objetivo/subjetivo
social/individual
razão/emoção
sagrado/profano
universal/particular
virtual/real
etc.

A palavra ‘gramática’ vem do grego ‘grammatiké’,


palavra composta formada por ‘gramma’, ‘palavra’ e
por ‘tékhne’, ‘arte’, ‘técnica’. Isto é, a gramática seria a
‘arte do escrever’, a melhor e mais respeitável maneira
de se manifestar na sua própria língua, o grau máximo
de expressão das suas próprias palavras.

O Cristianismo se apropria de toda essa formação cultural, o modo como entendemos o


lógica dual e contribui para a cristalização do mundo e a nós mesmos.
julgamento dessas duas colunas da existência: a
É à luz desses fundamentos filosófico-religioso-
real (sensível) e a ideal (cognoscível). Atribui-se
ao mundo cognoscível (ideal, sagrado, universal, culturais que precisamos compreender o que se
natural) um valor positivo, e ao mundo sensível entende por língua padrão. Os primeiros a nor-
(real, profano, particular, cultural) um valor matizar a língua de um povo foram os filósofos de
negativo. Esse maniqueísmo corrobora para uma Alexandria do século III a.C., que buscavam criar
visão que demoniza a vida que levamos e santifica leis linguísticas que levariam às manifestações do
uma outra vida: etérea, pura, verdadeira, que é “bem falar” e do “bem escrever”. Para eles, a di-
sempre a vida que deveríamos levar, e nunca a cotomia estava entre a fala e a escrita. A fala seria
vida que levamos. Isso influencia toda a nossa o reino da desordem, dos apetites individuais, das

Competência 8 | 79
incertezas, das forças profanas, da pluralidade: da à criação de normas ideais, superiores, estáveis:
incapacidade de análise. Já a escrita apresentaria formas que corrigiriam a fala espontânea do povo,
uma estrutura muito mais apta ao estabelecimen- desregrada, instável, imperfeita, inferior.
to de normas legítimas e superiores. Na escrita,
Ao elaborar essa visão sobre sua própria língua,
reinava a estabilidade, a unicidade, a perfeição:
os alexandrinos incorrem em um erro técnico
o ideal, o analisável. Desse modo, para formular
aos olhos da Linguística atual: comparar mani-
sua grammatiké, os alexandrinos buscaram uma
festações linguísticas absolutamente diferentes
forma de língua ideal, adequada à elaboração de
entre si:
regrais gerais, inquestionáveis, universais. Para os
estudiosos, o grego falado em Alexandria (Egito, 1. a língua falada espontânea no cotidiano da
África) estava muito diferente do grego usado em Alexandria do século III a.C.
Atenas (Grécia, Europa), uma obviedade; eles es-
2. a língua escrita literária da Atenas do século
tavam tendo contato com o processo de variação
V a . C.
linguística: uma constante em toda e qualquer lín-
gua articulada. Foi a atribuição do valor negativo à E assim nasce o mito de que a língua da gramática
fala espontânea em Alexandria que causou a ne- é mais evoluída, elaborada, complexa, verdadeira
cessidade da criação de uma legislação linguística do que a língua falada, que é incerta, variável,
que determinasse a boa e única maneira legítima plural, inferior. Esse é o pensamento que vigorou
de utilizar a língua. Admiradores das obras gregas por mais de 2 mil anos em todo o Ocidente, e
clássicas, foi em Ilíada e Odisseia (século V a.C.) sabemos muito bem que a maioria das aulas
que os filólogos alexandrinos buscaram as formas de língua a que tivemos acesso na vida foram
linguísticas adequadas para servirem de modelo baseadas nesses preceitos.

80 |
O PRECONCEITO LINGUÍSTICO
“O preconceito linguístico está ligado,
em boa medida, à confusão que foi Desde a primeira gramática da Língua Portuguesa (Grammatica
criada, no curso da história entre língua da Lingoagem Portuguesa, Fernão de Oliveira, 1536), fica
e gramática normativa. Nossa tarefa
claro o objetivo de enaltecer uma língua e um povo como
mais urgente é desfazer essa confusão:
superiores, sempre buscando um português ideal, elevado,
uma receita de bolo não é um bolo, o
perfeito, único. A grande maioria das gramáticas normativas
molde de um vestido não é um vestido,
um mapa-múndi não é o mundo... usadas nas escolas, hoje me dia, são baseadas em parâmetros
Também a gramática não é a língua. linguísticos literários para elaborar as “boas maneiras”
linguísticas. Os modelos de frases adequadas ao padrão que
A língua é um enorme iceberg lemos em gramáticas são Machado de Assis, José de Alencar,
flutuando no mar do tempo, e a Castro Alves, todas amostras de língua escrita de, no mínimo,
gramática normativa é a tentativa 100 anos atrás.
de descrever apenas a parcela mais
visível dele, a chamada norma culta. Em primeiro lugar, é preciso ficar claro que nenhum
Essa descrição, é claro, tem seu valor e falante nativo fala exatamente como a norma gramatical
seus méritos, mas é parcial e não pode determina. Nunca um ato de fala (por mais monitorado que
ser autoritariamente aplicada a todo seja) irá representar piamente todas as regras exigidas pela
o resto da língua. E é essa aplicação gramática tradicional.
autoritária, intolerante, repressiva
que impera na ideologia geradora do O preconceito linguístico entra em cena sempre que se julga
preconceito linguístico.” como inferior alguém que manifeste sua língua de forma
diferente da norma considerada padrão, que é aquela
Marcos Bagno. O preconceito
linguístico. mais próxima (nunca igual) das regras (sempre ideais) da
gramática normativa. Se as regras do português padrão são
desvinculadas da língua verdadeiramente usada, dominar
“Os delinquentes da língua portuguesa essas regras é um desafio para qualquer falante nativo. Isto
fazem do princípio “quem faz a língua é, é preciso estudo sistemático, educação de qualidade,
é o povo” verdadeiro mote para tempo disponível, e sabemos muito bem qual a parcela
justificar o desprezo de seu estudo,
da sociedade que tem condições materiais de alcançar
de sua gramática, de seu vocabulário
o domínio dessas leis linguísticas que não têm nenhum
esquecido de que a fala de escola
compromisso com a realidade linguística de quem as estuda.
é que ocasiona a transformação, a
deterioração, o apodrecimento de uma Sendo assim, a população pobre, de periferia, negra em
língua. Cozinheiras, babás, engraxates, sua maioria, fica desprovida dos instrumentos necessários
trombadinhas, vagabundos, criminosos
para o pleno domínio da norma padrão, e são julgadas
é que devem figurar, segundo esses
inferiores, subdesenvolvidas, incapazes cognitivamente por
derrotistas, como verdadeiros mestres
não dominarem uma variedade linguística completamente
de nossa sintaxe e legítimos defensores
de nosso vocabulário.”
desvinculada da realidade sociolinguística dessas pessoas.
Como não dominam a normal culta, são considerados
Napoleão Mendes de Almeida aculturados.

Na realidade, o preconceito linguístico nada mais é


do que uma das formas, sempre veladas e embasadas

Competência 8 | 81
ideologicamente, de repressão, de apagamento, comida pra nós?” são frases absolutamente
de dominação de determinados povos, que foram, comuns em toda as classes sociais. No entanto,
ao longo do tempo, atacados, escravizados, o uso da forma pronominal “menas” é
desterritorializados, estigmatizados. Dessa completamente julgada, perseguida, pelo fato de
forma, todas aquelas manifestações linguísticas que pertence ao vocabulário da classe mais pobre
que “nos doem os ouvidos” são as usadas por da sociedade brasileira. Mesmo quando alguém
brasileiros que vivem à margem da sociedade da classe média fala “menas” (por distração), é
branca, burguesa, cristã, monetarizada. Exemplos rapidamente corrigida por seus ouvintes, como
de usos linguísticos que fogem às regras da se tivessem dizendo a ela que esse era um mau
gramática normativa são vistos todos os dias em comportamento linguístico, algo que não deve
setores sociais os mais distintos. No entanto, os ser repetido, para que não se aproxime do que há
“desvios” que nos incomodam são os ditos por de pior na estrutura social: a pobreza e as pessoas
determinados tipos de cidadão. Por exemplo, o que dela não conseguem fugir.
uso do verbo “ter” no lugar do verbo “haver” é
Julgar alguém pela sua fala é um dos julgamentos
um erro normativo, mas é amplamente aceito;
mais covardes que se podem fazer, pois,
não nos causa estranheza: “tem gente aí?”, “tem
enquanto fala, todo sujeito entra em um grau de
funcionamento expressivo altamente intuitivo,
simbólico, cognitivo, intencional, potente. E julgar
essa manifestação a partir de regras imutáveis
(sempre temporariamente imutáveis) é um ato
de violência. Ninguém merece ter sua expressão
linguística vigiada, controlada, reprimida. E de
fato não são todos que passam por isso; os sujeitos
advindos das classes dominantes são instruídos
desde cedo pela família, passando pela escola até
a universidade, a utilizar a língua “corretamente”,
a se comportar da forma adequada, a manusear
os instrumentos de ascensão social. O problema

82 |
é que esse discurso, que legitima um tipo de o racismo está impregnado em nossa estrutura
uso social e um tipo de gente que o alcança, cultural.
acaba tirando a dignidade das manifestações
Algumas crenças são chamadas de ‘religiões’,
linguísticas e culturais de certas camadas sociais
outras de ‘macumba’. Algumas práticas sociais são
que sempre foram estigmatizadas. Os casos de chamadas de ‘cultura’, outras de ‘baderna’. Alguns
índios sendo levados a Europa no séc. XVI para manifestantes são chamados de ‘manifestantes’,
ficarem à mostra em praça pública, assim como outros de ‘marginais’. Alguns ‘bandidos’ são
africanos que foram igualmente expostos como chamados de ‘mau-caráter’, outros de ‘vagabundo’.
animais no séc. XX. O modo como negros de Algumas músicas são chamadas de ‘cultura’, outras
periferia são tratados pela polícia brasileira. A de ‘contracultura’. Alguns usos linguísticos são
escassez de alunos negros nos pré-vestibulares chamados de ‘padrão’, outros de ‘gíria’, ‘dialeto’,
de Porto Alegre. Tudo isso são exemplos de como ‘má-expressão’, etc.

Competência 8 | 83
“O plano linguístico admite metáfora hierárquica de primeira ordem: o contato
entre línguas geraria simplificação, enquanto a deriva românica apresenta forças.
Não precisa ir muito longe para perceber que essa metáfora da crioulização como
simplificação das línguas está associada à metáfora de infantilização do negro. O
crioulo como termo pejorativo para a população africana levada para as Américas
é aplicado sem crítica às práticas linguísticas influenciadas por falantes africanos,
para designar explicitamente práticas (tidas como) incompletas. (...)

Fanon (1952/2008) discutiu longamente a infantilização da língua falada pelo


negro, sempre com referência à língua da metrópole. Ele afirma: ‘Não estamos
exagerando: um branco, dirigindo-se a um negro, comporta-se exatamente como
um adulto com um menino, usa a mímica, fala sussurrando, cheio de gentilezas e
amabilidades artificiosas’. Esse autor demonstra que o racismo prende o negro
à sua língua como à sua pele; a pele e a língua se relacionam de forma circular.
Sendo negro, sua língua é sempre pior que a língua do branco; espera-se que ele
fale e compreenda de forma menos completa, e, se ele fala e compreende a língua
padronizada – ainda pior se for na forma escrita – ele é visto como ‘quase branco’.

Dessa forma não é de se estranhar a estratégia de negação da influência


das línguas africanas nos chamados dialetos brasileiros, e, quando há o
reconhecimento, o processo só pode ser nomeado com termos ainda coloniais,
como o faz Lucchesi (2001, p. 101), ao repetir a tradição de interpretação de
‘crioulos’ como ‘um modelo defectivo de português adquirido precariamente como
língua segunda pelos escravos trazidos da África’.

A população brasileira que não aderiu ao padrão do português europeu é ‘popular’


e ‘iletrada’, enquanto a parcela ‘letrada’ e ‘culta’ tem sempre o benefício da dúvida
quando usa estruturas ‘informais’ ou ‘em desacordo com as regras da língua
escrita e da gramática tradicional’. O eurocentrismo organiza a interpretação: a
prefiguração identitária de falantes é o que dá força à diferença entre o ‘culto’ e o
‘popular’: a força do português europeu contra a simplificação africana e indígena.
Há saída? É possível oferecer outro olhar para as práticas linguísticas do português
no Brasil?”
[O Português no Século XXI: cenário geopolítico e sociolinguístico. Prefiguração identitária e hierarquias
linguísticas na invenção do Português. Joana Plaza Pinto]

84 |
Lista de questões Competência 8
Habilidades 25, 26 e 27

Linguagens NÃO é interpretação


Questão 01 – (E NE M 2017)
Naquela manhã de céu limpo e ar leve, devido à chuva torrencial da noite anterior, saí a caminhar com o sol ainda
escondido para tomar tenência dos primeiros movimentos da vida na roça. Num demorou nem um tiquinho e o cheiro
intenso do café passado por Dona Linda me invadiu as narinas e fez a fome se acordar daquela rema letárgica derivada
da longa noite de sono. Levei as mãos até a água que corria pela bica feita de bambu e o contato gelado foi de arre-
piar. Mas fui em frente e levei as mãos em concha até o rosto. Com o impacto, recuei e me faltou o fôlego por alguns
instantes, mas o despertar foi imediato. Já aceso, entrei na cozinha na buscação de derrubar a fome e me acercar do
aconchego do calor do fogão à lenha. Foi quando dei reparo da figura esguia e discreta de uma senhora acompanhada
de um garoto aparentando uns cinco anos de idade já aboletada na ponta da mesa em proseio íntimo com a dona da
casa. Depois de um vigoroso “Bom dia!”, de um vaporoso aperto de mãos nas apresentações de praxe, fiquei sabendo
que Dona Flor de Maio levava o filho Adão para tratamento das feridas que pipocavam por seu corpo, provocando pe-
quenas pústulas de bordas avermelhadas.
GUIÃO, M. Disponível em: www.revistaecologico.com.br.
Acesso em: 10 mar. 2014 (adaptado).
A variedade linguística da narrativa é adequada à descrição dos fatos. Por isso, a escolha de determinadas pala-
vras e expressões usadas no texto está a serviço da
A localização dos eventos de fala no tempo ficcional.
B composição da verossimilhança do ambiente retratado.
C restrição do papel do narrador à observação das cenas relatadas.
D construção mística das personagens femininas pelo autor do texto.
E caracterização das preferências linguísticas da personagem masculina.

Questão 02 – (E NE M 2017)
O homem disse, Está a chover, e depois, Quem é você, Não sou daqui, Anda à procura de comida, Sim, há quatro
dias que não comemos, E como sabe que são quatro dias, É um cálculo, Está sozinha, Estou com o meu marido e uns
companheiros, Quantos são, Ao todo, sete, Se estão a pensar em ficar conosco, tirem daí o sentido, já somos muitos,
Só estamos de passagem, Donde vêm, Estivemos internados desde que a cegueira começou, Ah, sim, a quarentena,
não serviu de nada, Por que diz isso, Deixaram-nos sair, Houve um incêndio e nesse momento percebemos que os
soldados que nos vigiavam tinham desaparecido, E saíram, Sim, Os vossos soldados devem ter sido dos últimos a
cegar, toda a gente está cega, Toda a gente, a cidade toda, o país,
SARAMAGO, J. Ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Cia. das Letras, 1995.
A cena retrata as experiências das personagens em um país atingido por uma epidemia. No diálogo, a violação de
determinadas regras de pontuação
A revela uma incompatibilidade entre o sistema de pontuação convencional e a produção do gênero romance.
B provoca uma leitura equivocada das frases interrogativas e prejudica a verossimilhança.
C singulariza o estilo do autor e auxilia na representação do ambiente caótico.
D representa uma exceção às regras do sistema de pontuação canônica.
E colabora para a construção da identidade do narrador pouco escolarizado.

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Questão 03 – (E NE M 2017)
Zé Araújo começou a cantar num tom triste, dizendo aos curiosos que começaram a chegar que uma mulher tinha
se ajoelhado aos pés da santa cruz e jurado em nome de Jesus um grande amor, mas jurou e não cumpriu, fingiu e
me enganou, pra mim você mentiu, ‘pra Deus você pecou, o coração tem razões que a própria razão desconhece, faz
promessas e juras, depois esquece. O caboclo estava triste e inspirado. Depois dessa canção que arrepiou os cabelos
da Neusa, emendou com uma valsa mais arretada ainda, cheia de palavras difíceis, mas bonita que só a gota serena.
Era a história de uma boneca encantadora vista numa vitrine de cristal sobre o soberbo pedestal. Zé Araújo fechava os
olhos e soltava a voz: Seus cabelos tinham a cor/ Do sol a irradiar/ Fulvos raios de amor./ Seus olhos eram circúnvagos/
Do romantismo azul dos lagos/ Mãos liriais, uns braços divinais,/ Um corpo alvo sem par/ E os pés muito pequenos./
Enfim eu vi nesta boneca/ Uma perfeita Vênus.
CASTRO, N. L. As pelejas de Ojuara: o homem que desafiou o diabo. São Paulo: Arx, 2006 (adaptado).
O comentário do narrador do romance “[ ... ] emendou com uma valsa mais arretada ainda, cheia de palavras
difíceis, mas bonita que só a gota serena” relaciona-se ao fato de que essa valsa é representativa de uma variedade
linguística
A detentora de grande prestígio social.
B específica da modalidade oral da língua.
C previsível para o contexto social da narrativa.
D constituída de construções sintáticas complexas.
E valorizadora do conteúdo em detrimento da forma.

Questão 04 – (ENEM 2017 - 2ª APLICAÇÃO )


Entrei numa lida muito dificultosa. Martírio sem fim o de não entender nadinha do eu vinha nos livros e do que o
mestre Frederico falava. Estranheza colosso me cegava e me punha tonto. Acho bem que foi desse tempo o mal que
me acompanha até hoje de ser recanteado e meio mocorongo. Com os meus, em casa, conversava por trinta, tinha
ladineza e entendimento. Na rua e na escola -- nada; era completamente afrásico. As pessoas eram bichos do outro
mundo que temperavam um palavreado grego de tudo. Já sabia ajuntar as sílabas e ler por cima toda coisa, mas des-
crencei e perdi a influência de ir à escola, porque diante dos escritos que o mestre me passava e das lições marcadas
nos livros, fiquei sendo um quarta-feira de marca maior. Alívio bom era quando chegava em casa.
BERNARDES, C. Rememórias dois. Goiânia: Leal, 1969.
O narrador relata suas experiências na primeira escola que frequentou e utiliza construções linguísticas próprias
de determinada região, constatadas pelo
A registro de palavras como “estranheza” e “cegava”.
B emprego de regência não padrão em “chegar em casa”.
C uso de dupla negação em “não entender nadinha”.
D emprego de palavras como “descrencei” e “ladineza”.
E uso do substantivo “bichos” para retomar “pessoas”.

Questão 05 – (E NE M 2015)
Essa pequena
Meu tempo é curto, o tempo dela sobra/ Meu cabelo é cinza, o dela é cor de abóbora/ Temo que não dure muito a
nossa novela,/ mas Eu sou tão feliz com ela /Meu dia voa e ela não acorda /Vou até a esquina, ela quer ir para a Flórida/
Acho que nem sei direito o que é que ela fala, mas/ Não canso de contemplá-la /Feito avarento, conto os meus minutos
/Cada segundo que se esvai/ Cuidando dela, que anda noutro mundo /Ela que esbanja suas horas ao vento, ai/ Às
vezes ela pinta a boca e sai /Fique à vontade, eu digo, take your time /Sinto que ainda vou penar com essa pequena,
mas /O blues já valeu a pena
CHICO BUARQUE. Disponível em: www.chicobuarque.com.br. Acesso em: 31 jun. 2012.
O texto “Essa pequena” registra a expressão subjetiva do enunciador, trabalhada em uma linguagem informal,
comum na música popular. Observa-se, como marca da variedade coloquial da linguagem presente no texto, o uso de
A palavras emprestadas de língua estrangeira, de uso inusitado no português.
B expressões populares, que reforçam a proximidade entre o autor e o leitor.
C palavras polissêmicas, que geram ambiguidade.
D formas pronominais em primeira pessoa.
E repetições sonoras no final dos versos.

Competência 8: h25, h26, h27 | 87


Questão 06 – (E NE M 2015)
Assum preto
Tudo em vorta é só beleza
Sol de abril e a mata em frô
Mas assum preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dor
Tarvez por ignorança
Ou mardade das pió
Furaro os óio do assum preto
Pra ele assim, ai, cantá mió
Assum preto veve sorto
Mas num pode avuá
Mil veiz a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse oiá
GONZAGA, L.; TEIXEIRA, H. Disponível em: www.luizgonzaga.mus.br. Acesso em: 30 jul. 2012 (fragmento).
As marcas da variedade regional registradas pelos compositores de Assum preto resultam da aplicação de um
conjunto de princípios ou regras gerais que alteram a pronúncia, a morfologia, a sintaxe ou o léxico. No texto, é resul-
tado de uma mesma regra a
A pronúncia das palavras “vorta” e “veve”.
B pronúncia das palavras “tarvez” e “sorto”.
C flexão verbal encontrada em “furaro” e “cantá”.
D redundância nas expressões “cego dos óio” e “mata em frô”.
E pronúncia das palavras “ignorança” e “avuá”.

Questão 07 – (E NE M 2017)
Nuances
Euforia: alegria barulhenta. Felicidade: alegria silenciosa. Gravar: quando o ator é de televisão. Filmar: quando ele
quer deixar claro que não é de televisão. Grávida: em qualquer ocasião. Gestante: em filas e assentos preferenciais.
Guardar: na gaveta. Salvar: no computador. Salvaguardar: no Exército. Menta: no sorvete, na bala ou no xarope. Hor-
telã: na horta ou no suco de abacaxi. Peça: quando você vai assistir. Espetáculo: quando você está em cartaz com ele.
DUVIVIER, G. Folha de S. Paulo, 24 mar. 2014 (adaptado).
O texto trata da diferença de sentido entre vocábulos muito próximos. Essa diferença é apresentada consideran-
do-se a(s)
A alternâncias na sonoridade.
B adequação às situações de uso.
C marcação flexional das palavras.
D grafia na norma-padrão da língua.
E categorias gramaticais das palavras.

88 |
Questão 08 – (E NE M 2016)
De domingo
— Outrossim…
— O quê?
— O que o quê?
— O que você disse.
— Outrossim?
— É.
— O que é que tem?
— Nada. Só achei engraçado.
— Não vejo a graça.
— Você vai concordar que não é uma palavra de todos os dias.
— Ah, não é. Aliás, eu só uso domingo.
— Se bem que parece mais uma palavra de segunda-feira.
— Não. Palavra de segunda-feira é “óbice”.
— “Ônus”
— “Ônus” também. “Desiderato”. “Resquício”.
— “Resquício” é de domingo.
— Não, não. Segunda. No máximo terça.
— Mas “outrossim”, francamente...
— Qual o problema?
— Retira o “outrossim”.
— Não retiro. É uma ótima palavra. Aliás é uma palavra difícil de usar. Não é qualquer um que usa “outrossim”.
VERISSIMO, L. F. Comédias da vida privada. Porto Alegre: L&PM, 1996 (fragmento).
No texto, há uma discussão sobre o uso de algumas palavras da língua portuguesa. Esse uso promove o(a)
A marcação temporal, evidenciada pela presença de palavras indicativas dos dias da semana.
B tom humorístico, ocasionado pela ocorrência de palavras empregadas em contextos formais.
C caracterização da identidade linguística dos interlocutores, percebida pela recorrência de palavras regionais.
D distanciamento entre os interlocutores, provocado pelo emprego de palavras com significados pouco conhecidos.
E inadequação vocabular, demonstrada pela seleção de palavras desconhecidas por parte de um dos interlocutores
do diálogo.

Questão 09 – (E NE M 2012)
O senhor
Carta a uma jovem que, estando em uma roda em que dava aos presentes o tratamento de você, se dirigiu ao
autor chamando-o “o senhor”:
Senhora:
Aquele a quem chamastes senhor aqui está, de peito magoado e cara triste, para vos dizer que senhor ele não é,
de nada, nem de ninguém.
Bem o sabeis, por certo, que a única nobreza do plebeu está em não querer esconder sua condição, e esta nobre-
za tenho eu. Assim, se entre tantos senhores ricos e nobres a quem chamáveis ‘você’ escolhestes a mim para tratar
de senhor, é bem de ver que só poderíeis ter encontrado essa senhoria nas rugas de minha testa e na prata de meus
cabelos. Senhor de muitos anos, eis aí; o território onde eu mando é no país do tempo que foi. Essa palavra “senhor”,
no meio de uma frase, ergueu entre nós um muro frio e triste.
Vi o muro e calei: não é de muito, eu juro, que me acontece essa tristeza; mas também não era a vez primeira.
BRAGA, R. A borboleta amarela. Rio de Janeiro: Record, 1991.
A escolha do tratamento que se queira atribuir a alguém geralmente considera as situações específicas de uso
social. A violação desse princípio causou um mal-estar no autor da carta. O trecho que descreve essa violação é:
A “Essa palavra, ‘senhor’, no meio de uma frase ergueu entre nós um muro frio e triste.”
B “A única nobreza do plebeu está em não querer esconder a sua condição.”
C “Só poderíeis ter encontrado essa senhoria nas rugas de minha testa.”
D “O território onde eu mando é no país do tempo que foi.”
E “Não é de muito, eu juro, que acontece essa tristeza; mas também não era a vez primeira.”

Competência 8: h25, h26, h27 | 89


Questão 10 – (ENEM 2016 - 2ª APLICAÇÃO )
Da corrida de submarino à festa de aniversário no trem
Leitores fazem sugestões para o Museu das Invenções Cariocas
“Falar ‘caraca!’ a cada surpresa ou acontecimento que vemos, bons ou ruins, é invenção do carioca, como também
o ‘vacilão’.”
“Cariocas inventam um vocabulário próprio”. “Dizer ‘merrmão’ e ‘é merrmo’ para um amigo pode até doer um pouco
no ouvido, mas é tipicamente carioca.”
“Pedir um ‘choro’ ao garçom é invenção carioca.”
“Chamar um quase desconhecido de ‘querido’ é um carinho inventado pelo carioca para tratar bem quem ainda
não se conhece direito.”
“O ‘ele é um querido’ é uma forma mais feminina de elogiar quem já é conhecido.”
SANTOS, J. F. Disponível em: www.oglobo.globo.com. Acesso em: 6 mar. 2013 (adaptado).
Entre as sugestões apresentadas para o Museu das Invenções Cariocas, destaca-se o variado repertório linguís-
tico empregado pelos falantes cariocas nas diferentes situações específicas de uso social. A respeito desse repertório,
atesta-se o(a)
A desobediência à norma-padrão, requerida em ambientes urbanos.
B inadequação linguística das expressões cariocas às situações sociais apresentadas.
C reconhecimento da variação linguística, segundo o grau de escolaridade dos falantes.
D identificação de usos linguísticos próprios da tradição cultural carioca.
E variabilidade no linguajar carioca em razão da faixa etária dos falantes.

Questão 11 – (E NE M 2016)
TEXTO I
Entrevistadora — eu vou conversar aqui com a professora A. D. ... o português então não é uma língua difícil?
Professora — olha se você parte do princípio… que a língua portuguesa não é só regras gramaticais… não se você se
apaixona pela língua que você… já domina que você já fala ao chegar na escola se o teu professor cativa você a ler
obras da literatura… obras da/ dos meios de comunicação… se você tem acesso a revistas… é... a livros didáticos…
a... livros de literatura o mais formal o e/o difícil é porque a escola transforma como eu já disse as aulas de língua por-
tuguesa em análises gramaticais.
TEXTO II
Entrevistadora — Vou conversar com a professora A. D. O português é uma língua difícil?
Professora — Não, se você parte do princípio que a língua portuguesa não é só regras gramaticais. Ao chegar à
escola, o aluno já domina e fala a língua. Se o professor motivá-lo a ler obras literárias, e se tem acesso a revistas, a
livros didáticos, você se apaixona pela língua. O que torna difícil é que a escola transforma as aulas de língua portu-
guesa em análises gramaticais.
MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2001 (adaptado).
O Texto I é a transcrição de uma entrevista concedida por uma professora de português a um programa de rádio.
O Texto II é a adaptação dessa entrevista para a modalidade escrita. Em comum, esses textos
A apresentam ocorrências de hesitações e reformulações.
B são modelos de emprego de regras gramaticais.
C são exemplos de uso não planejado da língua.
D apresentam marcas da linguagem literária.
E são amostras do português culto urbano.

90 |
Questão 12 – (E NE M 2014)
Só há uma saída para a escola se ela quiser ser mais bem-sucedida: aceitar a mudança da língua como um fato.
Isso deve significar que a escola deve aceitar qualquer forma da língua em suas atividades escritas? Não deve mais
corrigir? Não!
Há outra dimensão a ser considerada: de fato, no mundo real da escrita, não existe apenas um português correto,
que valeria para todas as ocasiões: o estilo dos contratos não é o mesmo do dos manuais de instrução; o dos juízes
do Supremo não é o mesmo do dos cordelistas; o dos editoriais dos jornais não é o mesmo do dos cadernos de cultura
dos mesmos jornais. Ou do de seus colunistas.
POSSENTI, S. Gramática na cabeça. Língua Portuguesa, ano 5, n. 67, maio 2011 (adaptado).
Sírio Possenti defende a tese de que não existe um único “português correto”. Assim sendo, o domínio da língua
portuguesa implica, entre outras coisas, saber
A descartar as marcas de informalidade do texto.
B reservar o emprego da norma padrão aos textos de circulação ampla.
C moldar a norma padrão do português pela linguagem do discurso jornalístico.
D adequar as formas da língua a diferentes tipos de texto e contexto.
E desprezar as formas da língua previstas pelas gramáticas e manuais divulgados pela escola.

Questão 13 – (E NE M 2012)
Entrevista com Marcos Bagno
Pode parecer inacreditável, mas muitas das prescrições da pedagogia tradicional da língua até hoje se baseiam
nos usos que os escritores portugueses do século XIX faziam da língua. Se tantas pessoas condenam, por exemplo, o
uso do verbo “ter” no lugar de “haver”, como em “hoje tem feijoada”, é simplesmente porque os portugueses, em dado
momento da história de sua língua, deixaram de fazer esse uso existencial do verbo “ter”.
No entanto, temos registros escritos da época medieval em que aparecem centenas desses usos. Se nós, brasi-
leiros, assim como os falantes africanos de português, usamos até hoje o verbo “ter” como existencial é porque rece-
bemos esses usos de nossos ex-colonizadores. Não faz sentido imaginar que brasileiros, angolanos e moçambicanos
decidiram se juntar para “errar” na mesma coisa. E assim acontece com muitas outras coisas: regências verbais,
colocação pronominal, concordâncias nominais e verbais etc. Temos uma língua própria, mas ainda somos obrigados
a seguir uma gramática normativa de outra língua diferente. Às vésperas de comemorarmos nosso bicentenário de
independência, não faz sentido continuar rejeitando o que é nosso para só aceitar o que vem de fora.
Não faz sentido rejeitar a língua de 190 milhões de brasileiros para só considerar certo o que é usado por menos
de dez milhões de portugueses. Só na cidade de São Paulo temos mais falantes de português que em toda a Europa!
Informativo Parábola Editorial, s/d.
Na entrevista, o autor defende o uso de formas linguísticas coloquiais e faz uso da norma padrão em toda a exten-
são do texto. Isso pode ser explicado pelo fato de que ele
A adapta o nível de linguagem à situação comunicativa, uma vez que o gênero entrevista requer o uso da norma
padrão.
B apresenta argumentos carentes de comprovação científica e, por isso, defende um ponto de vista difícil de ser ve-
rificado na materialidade do texto.
C propõe que o padrão normativo deve ser usado por falantes escolarizados como ele, enquanto a norma coloquial
deve ser usada por falantes não escolarizados.
D acredita que a língua genuinamente brasileira está em construção, o que o obriga a incorporar em seu cotidiano a
gramática normativa do português europeu.
E defende que a quantidade de falantes do português brasileiro ainda é insuficiente para acabar com a hegemonia do
antigo colonizado.

Competência 8: h25, h26, h27 | 91


Questão 14 – (E NE M 2018)

Disponível em: www.facebook.com/minsaude. Acesso em: 14 fev. 2018 (adaptado).


A utilização de determinadas variedades linguísticas em campanhas educativas tem a função de atingir o público-
-alvo de forma mais direta e eficaz. No caso desse texto, identifica-se essa estratégia pelo(a)
A discurso formal da língua portuguesa.
B registro padrão próprio da língua escrita.
C seleção lexical restrita à esfera da medicina.
D fidelidade ao jargão da linguagem publicitária.
E uso de marcas linguísticas típicas da oralidade.

Questão 15 – (E NE M 2018)
Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!
Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro dessa flâmula
— “Paz no futuro e glória no passado.”
Mas, se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.
Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada, Brasil!
Hino Nacional do Brasil. Letra: Joaquim Osório Duque Estrada0
.Música: Francisco Manuel da Silva (fragmento).
O uso da norma-padrão na letra do Hino Nacional do Brasil é justificado por tratar-se de um(a)
A reverência de um povo a seu país.
B gênero solene de característica protocolar.
C canção concebida sem interferência da oralidade.
D escrita de uma fase mais antiga da língua portuguesa.
E artefato cultural respeitado por todo o povo brasileiro.

15. B 13. A 14. E 12. D 11. E 9. A 10. D 8. B 7. B 6. B 5. B 1. B 2. C 3. A 4. D


GABARITO

92 |
COMPETÊNCIA 4

Compreender a arte como saber cultural e estético


gerador de significação e integrador da organização do
mundo e da própria identidade.
A competência 4 é a competência que abordará as Saber Cultural
diversas manifestações artísticas que a prova do
enem apresenta. Longe de exigir uma definição X
categórica sobra “o que é arte”, a competência Saber Estético
nos pede que compreendamos a arte antes de Para compreender e definir o que seria o “cultural”
defini-la. É importante observar que a arte é e o “estético” na arte, é proveitoso aproximarmos
definida não como uma área ou um conjunto essas categorias com o os conceitos de significado
de informações, mas como um saber, palavra e significante.
que nos leva mais ao campo da percepção, da
sensibilidade e da experiência e interação direta O saber estético pode se aproximar do significante.
com as manifestações artísticas. Ao olharmos esteticamente para uma obra, busca-
mos suas características formais, a fim de perceber
A arte, sendo um sistema simbólico, molda a nossa o que está presente na composição da obra como
realidade e influencia a nossa visão de mundo; forma, como imagem ou como som, dependendo
podemos notar que grande parte da memória da manifestação artística (pintura, música, teatro,
e da ideologia das sociedades se manifesta e se performance...). Pegando o exemplo da pintura,
perpetua através da arte. Muito da nossa visão devemos olhar para as formas, as tonalidades, o
a respeito do passado (e do presente também) que está sendo representado, se o que a obra nos
é construído através da literatura, da pintura, do mostra busca mostrar algo do mundo real, se a
teatro e da literatura; obras que buscam retratar imagem busca ser verossímil, entre outras caracte-
um momento histórico, e até mesmo aquelas rísticas que podem vir a ser cobradas.
em que não há essa intenção, mas seu contexto
acaba transparecendo, são tão importantes para Por sua vez, o saber cultural pode ser aproximado
pensarmos nosso passado quanto as narrativas com o significado, pois, de certa forma, eles não
“oficiais” da historiografia. estão “presentes” diretamente na obra. A ideia
de cultura nos remete a uma construção prévia
É natural que, tendo a arte como parte ao momento presente e que representa um
importante da construção da nossa memória, as acúmulo de informações, ideologias, narrativas
identidades (sejam de grupos ou de indivíduos) e memórias, por isso o saber cultural nos exige
busquem na arte uma maneira de se manifestar um pouco mais de conhecimento prévio do que o
e de se caracterizar. É através das manifestações saber estético. Ao analisarmos uma obra, a lógica
artísticas que grupos humanos se identificam, do saber cultural deve nos remeter ao contexto
se caracterizam e se identificam com o presente histórico, à figura do autor, aos padrões estéticos
e com o passado. Por exemplo: o samba é uma de toda uma época e não só de uma única obra.
manifestação artística que, por mais abrangente Em suma, o saber cultural nos pede para resgatar
que seja, caracteriza e identifica genericamente o a obra em seu contexto, seja de produção ou de
Brasil; não só como uma arte presente até hoje, aparecimento, pois as manifestações artísticas
mas que ajuda a resgatar as raízes negras da sua podem figurar e ser reproduzidas em contextos
música e, consequentemente, da sua população. diversos daqueles nos quais foram produzidas
(vida a santa ceia de Leonardo da Vinci: produzida
para um refeitório de um convento em Milão e
presente em diversas salas de jantar brasileiras).

94 |
Sobre o saber:
Aqui coloco duas citações de diferentes dicionários de filosofia a respeito do conceito
de “Saber”

“...conhecer uma coisa, uma pessoa ou um objeto qualquer (que significa ter certa
familiaridade com esse objeto), e SABER algo a respeito do objeto (o que significa ter dele
um conhecimento talvez limitado, mas exato, de natureza intelectual ou científica)”; e
“a distinção entre experiência direta e conhecimento sobre é a distinção entre as coisas
que nos estão imediatamente presentes. Na tradição filosófica, a sabedoria (o saber)
significa não só o conhecimento científico, mas a virtude, o saber prático.”

Aplicando os saberes
Analisando a pintura pensando no
saber estético, devemos notar que é
uma imagem que busca representar
algo real, que há claramente um
primeiro plano na imagem e um
fundo de profunda escuridão onde
não há nada representado. As formas
são bem definidas e o quadro preza
pela verossimilhança, pelo realismo;
vemos também, a presença de
alguns personagens de costas para
“o espectador” e que a composição
traz uma sensação de instabilidade e
de assimetria.

Quando buscamos mobilizar o saber


cultural acerca da pintura, devemos
reconhecer que ela pertence ao
movimento estético denominado
barroco (fonte da ideia de dualidade
ou de oposto que o claro e escuro
da pintura mobilizam), que ocorreu
predominantemente no século XVII
na europa; a cena representada é
de cunho religioso: é a crucificação
de São Pedro, considerado primeiro
papa e fundador da igreja de Roma.

Competência 4 | 95
HABILIDADE 12
Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho
da produção dos artistas em seus meios culturais.

A habilidade 12 irá nos exigir que compreenda- tual” da obra) não esteve presente sempre na
mos as obras de arte, majoritariamente, eu seus arte como nos dias de hoje.
contextos de produção. Claramente, temos a ne-
Atualmente, podemos dizer que a arte constitui
cessidade de ativar um saber cultural e histórico,
uma instância com certa “autonomia” na socie-
que poderá nos dar informações acerca da época
dade, dessa forma, não precisamos de um outro
de produção da obra, bem como da sociedade na
evento ou prática social para entrarmos em con-
qual seu autor estava inserido. Vale ressaltar que
tato com manifestações artísticas como em ou-
o que se pede nessa habilidade não se resume a
tras épocas. A arte sacra, por exemplo, não era
uma análise estética ou formalista das obras de
pensada para ser vista fora de um contexto reli-
arte, que, metodologicamente, acaba buscando
gioso ou de espaços dedicados a ela; hoje, temos
conhecimento na obra em si, não nos elementos
consciência que muitas catedrais e obras de arte
que estão “em ausência”, o contexto histórico e,
religiosas são praticamente pontos turísticos de
de certa forma, a figura do autor da obra.
diversos países e são vistas, regularmente, não
O movimento aqui é ver as obras de arte em seus como partes da história da religião ou da arte sa-
meios culturais; por exemplo, temos que com- cra, mas sim como parte de uma outra história, a
preender a obra de Leonardo da Vinci no contexto história genérica e autônoma “da arte”.
em que ela foi produzida (o renascimento italia-
no) e não como é sua circulação nos dias de hoje Os períodos artísticos e os
(suas releituras e seu caráter quase que “turísti- períodos históricos
co”, em espaços como o museu do Louvre).
O enem nos cobra que façamos a relação correta
Podemos questionar a razão de se buscar esses entre uma obra de arte e o momento histórico de
elementos “ausentes” da obra para fazer sua aná- sua produção. As classificações que o Enem cobra
lise: não basta olhar para a obra em sua forma, não são categoricamente as mesmas de uma histó-
em sua realização mais material? Isso depende ria da arte tradicional ou acadêmica. A prova nos
do tipo de análise que se quer fazer, pois, ao ana- pede para correlacionar o momento histórico com
lisarmos uma obra apenas pela sua materialida- certas características da obra, a época e o nome
de, estaremos sempre calcados em uma visão de do movimento artístico comumente são dadas no
mundo e de recepção de obras de arte do nosso comando da questão como forma de contextuali-
presente, e tendemos a ignorar que a produção zação e direcionamento para responder à questão.
e a recepção de obras de arte não foi sempre a
mesma na história de humanidade. Muitos movimentos artísticos que aparecem no
enem se relacionam com aqueles da história da li-
Uma rápida pesquisa sobre a arquitetura da idade teratura. Podemos relacionar com momentos his-
média, por exemplo, nos mostra que alguns luga- tóricos da literatura movimentos como o renasci-
res importantes, como a catedral de Notre-Dame mento, o barroco, o neoclassicismo, o rococó, o
de Paris, não possuem um autor definido, tal qual romantismo o realismo e o naturalismo.
muitas obras do longo período histórico. Isso nos
mostra que a ideia de autoria e do autor como No século 20 as artes moderna e contemporânea
indivíduo criador (de certa forma, “fonte intelec- aparecem de forma relativamente definida se-

96 |
guindo normalmente essas duas nomenclaturas. mance, música contemporânea, instalações, tea-
A arte dita “moderna” são as Vanguardas euro- tro e arte conceitual. A constante que se observa
peias do começo do século XX e seus diferentes nas bastante heterogêneas manifestações artísti-
movimentos, relacionados com as duas guerras cas agrupadas no contemporâneo é a tensão en-
mundiais, ao advento da psicologia e da supe- tre os limites da arte e seu público, ressaltando a
ração do positivismo e dos padrões realistas do participação do espectador na obra e na criação
século XIX. A arte chamada “contemporânea” se de sentidos para ela e a liberdade de criação e ar-
insere no período após a segunda guerra mundial ticulação de sistemas simbólicos.
e abrange diferentes manifestações como perfor-

Renascimento - Vemos a busca de uma


representação harmônica da cena (os
apóstolos estão divididos em grupos de
mesmo número), resgatando ideais estéticos
clássicos. A cena busca ser mais “realista”
em alguns aspectos, como pela ausência de
símbolos sagrados proeminentes e a tentativa
A última ceia. Leonardo da Vinci de criar uma cena sóbria e orgânica

Barroco. Trono de São Pedro. Vemos uma


composição com muito mais detalhes que a
renascentista, com formas que “extrapolam”
os limites da obra. Localizada na basílica de São
Pedro, a escultura mostra uma religiosidade
ligada com o catolicismo.

Catedra de São Pedro - Gian Lorenzo Bernini

Neoclassicismo. Julgamento dos horati. Aqui


temos um quadro que busca verossimilhança
através de uma representação que, em
nível de textura, cor e sombra, busca se
aproximar da realidade objetivo. Os temas
da antiguidade greco-romana são presentes
no neoclassicismo; na obra, vemos os
irmãos Horácios - figuras históricas de Roma
- fazendo seu juramento de fidelidade à
República Romana
Juramento dos Horácios. Jaques-Louis David

Competência 4 | 97
Rococó - Uma representação distanciada da
realidade compõe a arte que é aristocrática
por excelência. A celebração de uma vida
idílica e prazerosa - o carpe diem - é temática
constante no rococó.

O Balanço. Jean-Honoré Fragonard

Romantismo - O culto a personalidade (no


caso da obra em questão a de Napoleão)
e a tentativa de fazer uma representação
heroica e majestosa se apresentam na arte do
romantismo, ligada à burguesia e seus valores
da primeira metade do século XX, época da
ascensão da ideia do indivíduo como potência
criadora e modificadora da realidade.

Napoleão cruzando os alpes. Jaques-Louis David

Realismo - Buscando uma objetividade e uma


verossimilhança maior do que a da pintura
romântica, os quadros realistas de Courbet
normalmente focam em uma coletividade,
para evitar que a representação do mundo
seja feita a partir de um indivíduo ou de um
estado subjetivo

Mulheres peneirando trigo - Gustave Courbet

98 |
Impressionismo - No impressionismo, as
formas e os padrões de verossimilhança
começam a se diluir em quadro que busca
representar a luz a cor e “impressão ótica”
de um momento específico. As formas e os
traços já não buscam uma verossimilhança
“fotográfica”, mas sim uma representação
voltada para a composição de uma cena
orgânica e iluminada.

Banhistas na Grenouillière. Claude Monet

Vanguardas - O dadaíso, o cubismo, o


expressionismo, o surrealismo e o fauvismo,
se valem da “subversão” das regras da arte
novecentista. A pintura busca explorar as
diversas maneiras de representar o mundo
a partir da visão estética de cada vanguarda,
todas buscando explorar a forma e colocando
a criação estética no “plano da expressão”,
distorcendo ou criando novas realidades para
a representação da realidade e dos diferentes
estados de espírito.
(vangogh.jpg, picassso.jpg, dalí.jpg, magritte.jpg)

Arte contemporânea - A arte contemporânea


é o recorte temporal mais difícil de delimitar
características comuns (tarefa talvez impossí-
vel). O que vemos de constante nas obras que
a prova de linguagens do enem nos apresente
é a interação com o espectador ou com siste-
mas simbólicos diversos, quebrando barreiras
entre linguagens e entre público e obra.

Hélio Oiticica / triciclocage.webp - Winter Music. John Cage e


a performance Triciclage de Marcia X e Alex Hamburguer

Competência 4 | 99
HABILIDADE 13
Analisar as diversas produções artísticas como meio de
explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.

A habilidade 13 relaciona a arte com a sociedade, se em material das manifestações artísticas, que
tal qual a habilidade 12. Talvez o que mais diferen- elementos presentes na composição da obra que
cie as duas primeira habilidades da competência podem nos levar a conclusões de ordem cultural.
4 seja o direcionamento das relações entre os ele- Devemos buscar signos e recursos expressivos
mentos relacionados. Na habilidade 12, nós deve- para, a partir deles, buscarmos uma significação
mos olhar para a arte partindo de sua perspectiva cultural para as obras.
histórico-social, buscando ver o que a época na Vamos ver como esse movimento pode ser feito
qual a obra foi produzida pode nos dizer a respei- nos exemplos a seguir
to da obra.
O quadro de Manet mostra uma cena bucólica de
O raciocínio da habilidade 13, se dá de maneira um piquenique entre dois casais. Quando anali-
quase que oposta, pois devemos partir da obra de samos os elementos formais da obra (como é fei-
arte para compreender o que ela diz a respeito da ta a representação e o que está representado no
sociedade que ela pertence ou busca representar. quadro) vemos que há uma distinção gigantesca
Esse movimento coloca a arte no primeiro plano entre a indumentária dos homens e das mulhe-
para analisarmos a sociedade; esse movimento se res, pois os homens estão devidamente trajados
legitima quando percebemos que muitos aspec- e as mulheres nuas. A mulher que figura na parte
tos de uma cultura se manifestam (por vezes de mais central do quadro olha diretamente para o
forma involuntária) nas mais diversas manifesta- espectador.
ções artísticas.
A clara distinção entre homens e mulheres no qual
Para “colocarmos em ação” a habilidade 13 deve- os homens estão vestidos e as mulheres nuas pode
mos primeiramente fazer uso da nossa percepção nos indicar que o ideal de beleza presente no quadro
estética. Precisamos reconhecer, em uma análi- é a nudez feminina e não a masculina. Essa caracte-
rística ainda é presente na cultura
ocidental dos dias de hoje. Ao ana-
lisarmos a linguagem publicitária,
por exemplo, observamos um cla-
ro predomínio da figura feminina,
frequentemente “mais despida” e
(talvez consequentemente) mais
sedutora do que a masculina.
As manifestações artísticas ser-
vem como “rastros” para a nossa
análise cultural. Todas as cultu-
ras vão mudando com o tempo,
mas as manifestações artísticas
do passado, por estarem cristali-
zadas, acabadas e armazenadas,
mantém marcas do tempo no
qual foram concebidas.

100 |
A primeira leitura da letra da música “Mulher Indi- Mulher Indigesta
gesta” de Noel Rosa já causa espanto para um leitor Noel Rosa
minimamente consciente nos dias de hoje, pois há Mas que mulher indigesta!
explicitamente uma “potencial” agressão na letra Merece um tijolo na testa
da música. No Brasil da primeira metade do século Essa mulher não namora
20 talvez a letra não causasse o espanto que, em Também não deixa mais ninguém namorar
muitos, com certeza causa nos dias de hoje. Tanto É um bom center-half pra marcar
a letra da música quanto a reação potencialmente Pois não deixa a linha chutar
causada nos dias de hoje, nos revela aspectos cul- E quando se manifesta
turais do Brasil do passado e do presente. O que merece é entrar no açoite
Ela é mais indigesta do que prato
De salada de pepino à meia-noite
Essa mulher é ladina
Toma dinheiro, é até chantagista
Arrancou-me três dentes de platina
E foi logo vender no dentista

LEITURA COMPLEMENTAR
Introdução à História de Beleza, de Umberto Eco
“Belo - junto de “gracioso” e “bonito”, ou “sublime”, “maravilhoso”,
“soberbo” e expressões semelhantes - é um adjetivo que frequentemente
usamos para indicar algo que gostamos. Dessa forma, parece que o que é
bonito é o mesmo que é bom, e de fato em diversos períodos históricos
houve uma ligação muito próxima entre o Belo e o Bom.”
“... por que essa história da Beleza é documentada somente por obras
de arte? Porque através dos séculos foram artistas, poetas e escrito-
res que nos contaram a respeito das coisas que eles consideravam boni-
tas, e foram eles que nos deixaram exemplos. Camponeses, construtores,
padeiros e alfaiates também fizeram coisas que provavelmente viam como
bonito, mas restam apenas alguns desses artefatos (como vasos, cons-
truções e abrigos, algumas roupas). Principalmente, eles não escreve-
ram nada para nos contar o que eles podem ter considerado tais coisas
como belas, ou para nos explicar o que a beleza natural significava
para eles. Apenas quando artistas retratavam celeiros, ferramentas ou
pessoas usando certa indumentaria que podemos supor que eles podem es-
tar nos dizendo algo sobre as ideias de beleza do povo de sua época,
mas não podemos ter certeza absoluta. Por vezes, ao retratar as pessoas
do seu próprio tempo, os artistas foram inspirados pelas indumentária
do tempo bíblico ou de Homero; em contrapartida, ao retratar persona-
gens Homéricos ou Bíblicos, eles desenharam inspirados pelas modas do
seu tempo. Nunca podemos ter certeza sobre os documentos em que basea-
mos nossas opiniões, mas podemos, apesar disso, arriscar certas infe-
rências com o devido cuidado e prudência.”

Competência 4 | 101
HABILIDADE 14
Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações
de elementos que se apresentam nas manifestações de
vários grupos sociais e étnicos.

“O que atropelava a verdade era a roupa,


o impermeável entre o mundo interior e o
mundo exterior. A reação contra o homem
vestido. O cinema americano informará.

Filhos do sol, mãe dos viventes.


Encontrados e amados ferozmente, com
toda a hipocrisia da saudade, pelos
imigrados, pelos traficados e pelos
touristes. No país da cobra grande.

Foi porque nunca tivemos gramáticas, nem


coleções de velhos vegetais. E nunca
soubemos o que era urbano,suburbano,
fronteiriço e continental. Preguiçosos
no mapa-múndi do Brasil.

Uma consciência participante, uma


rítmica religiosa.

Antes dos portugueses descobrirem o


Brasil, o Brasil tinha descoberto a
felicidade.

Contra o índio de tocheiro. O índio


filho de Maria, afilhado de Catarina de
Médicis e genro de D. Antônio de Mariz.

A alegria é a prova dos nove, no


matriarcado de Pindorama

Contra a Memória fonte do costume.


A experiência pessoal renovada."

[Osvald de Andrade, Manifesto Antropófago, trecho.]

102 |
Uma das primeiras manifestações musicais do A cultura "dominante" é extremamente
ocidente que temos registro é o Canto Gregoriano. padronizada, monofônica e monótona em termos
Embora cantado por um conjunto de cantores de representação das pessoas e suas diferenças,
(um coro), todos cantavam a mesma nota, o que e normalmente não abre espaço para que outras
caracteriza o canto gregoriano como uma música vozes, diferentes do padrão, sejam ouvidas. A
chamada de monofônica. Hoje em dia, a maioria habilidade 14 pede que a diversidade de obras,
das músicas que circulam para um grande público autores, gêneros textuais e elementos estéticos
são polifônicas, pois apresentam várias notas e de diferentes grupos sociais seja valorizada
vários elementos musicais diferentes que operam, (como deve ser!). Devemos ver como que essa
cada um à sua maneira, para a construção do diversidade se apresenta na arte, e refletir sobre
todo musical. aspectos sociais e estéticos.

Vamos olhar para a "cultura de massa", produzida A arte produzida pelo Brasil ao longo da história
pela indústria cultural, e suas diferentes apresenta inúmeras trocas, combinações, fusões
manifestações: Pense em filmes, quadrinhos, e criações de elementos estéticos de diversos
livros, séries, novelas, revistas e propagandas que grupos sociais. Fazemos parte de um país
circulam. É fato que existe uma padronização amaldiçoado pela colonização e seus elementos
da representação dos seres humanos em e abençoado pela miscigenação e diversidade. A
várias manifestações culturais. A maioria dos cultura dominante (veiculada como sendo "boa",
"protagonistas" de obras de ficcção não são "de qualidade") segue sendo majoritariamente
homens? Normalmente magros e brancos elitista, mas as manifestações culturais a que
e supostamente lindos? Quantas escritorAs temos acesso hoje (mesmo sendo muitas vezes
estão presentes na linha do tempo canônica da difíceis o acesso e a divulgação) nos mostram a
literatura brasileira? Quantos negros? diversidade cultural presente no país.

Competência 4 | 103
VOZES NEGRAS “… Às oito e meia da noite eu
Considerada a primeira escritora negra do Brasil, Carolina Maria de já estava na favela respirando o
odor dos excrementos que mes-
Jesus (1914-1977) tem como obra principal o livro Quarto de Despejo cla com o barro podre. Quando
(1960). A obra é o diário de Carolina, e relata o cotidiano da favela que estou na cidade tenho a impres-
são que estou na sala de visita
ela morava em São Paulo; o texto de Carolina é um relato direto de quem com seus lustres de cristais, seus
vê de perto e sofre com a probreza, a fome e a falta de perspectivas. tapetes de viludos, almofadas
de sitim. E quando estou na fa-
vela tenha a impressão que sou
Uma exclente representante da literatura negra brasileira do século XXI um objeto fora do uso, digno de
é a mineira Conceição Evaristo (1946-). Seus romances Ponciá Vicêncio estar num quarto de despejo”

(2003) e Becos da Memória (2006), falam, a partir da perspectiva de [Quarto de Despejo de Carolina
Maria de Jesus]
mulheres negras e de periferia, sobre a memória “transgeracional” dos
descendentes de escravos, da exclusão e da violência que eles sofrem.
Em Ponciá Vicêncio, a personagem principal, que dá nome ao romance,
muda-se de um quilombo para a cidade, inserindo-se na vida urbana
de forma completamente marginalizada, assim como seu irmão e sua
mãe. Os três vão em busca de melhores condições de vida na esperança
de regressarem ao seu lar, onde posteriormente esperavam viver as “...quando voltou a si, ficou
benesses dos anos de trabalho na cidade. O que ocorre, na verdade, é atordoada. O que havia aconte-
cido? Quanto tempo tinha fica-
que experienciam uma vida violenta de muita miséria e muito trabalho. do naquele estado? (...) Sabia
apenas que, de uma hora para
Ponciá alimenta-se das memórias da infância para suportar a agonia outra, era como se um buraco
do cotidiano de trabalho e de violência doméstica. É incomensurável abrisse em si própria, formando
uma grande fenda, dentro e
o sofrimento que sente em virtude do vazio provocado pela ausência fora dela, um vácuo com o qual
se confundia. (...) No princípio,
de sua família, de sua cultura, de seus costumes, de sua terra, de sua quando o vazio ameaçava a
identidade. Assim, preenche-se do vazio que a memória lhe proporciona. encher sua pessoa, ela ficava
com medo. Agora gostava da
ausência”
Em 1982 foi lançado o disco O Canto dos Escravos. Nele, ouvimos
as vozes negras das cantoras Clementina de Jesus e Tia Doca, e o [Ponciá Vicêncio de Conceição
Evaristo]
cantor Geraldo Filme, que interpretam cantos de trabalho de negros
mineradores descendentes de escravos de Minas Gerais, transcritos
por Aires da Mata Machado em seu livro O Negro e a Mineração em
Minas Gerais (1943). Os cantos misturam elementos do português e
dos dialetos africanos herdados dos escravos mineradores.

Clementina de Jesus

104 |
A MÚSICA E A ANTROPOFAGIA
O que podemos chamar de música brasieira pois o Brasil é um país gigantesco que, além de
tem como característica essencial a mistura de se conhecer mal, é bombardeado por influências
elementos de diferentes grupos sociais e étnicos. estrangeiras que são invevitáveis.
O Samba, um dos gêneros que mais retratam a
A Antropofagia e a Tropicália (assumidamente
música brasileira, descende de gêneros musicais
influenciada pela antropofagia de Oswald de
como o Maxixe e o Lundu, nascidos da fusão de
Andrade) operam essa ideia de mistura e de
elementos africanos com europeus.
influências diversas em contextos sócio culturais
A ideia de que a cultura brasileira é fruto quase antagônicos. A Antropofagia, provinda da
da mistura e de diversas influência é semana de arte moderna de 22, encarava uma
destacadamente uma das bandeiras do cultura brasileira dominada por uma elite que
movimento Antropofágico (na literatura) e literária altamente “eurofílica” e que desprezava,
do Tropicalista (na música). A imagem do de certa maneira, as influências locais; essa elite
antropófago, resgatada do imaginário literário era, genericamente, composta pelos autores
brasileiro sobre os indígenas, é a metáfora que parnasianos. Já a Tropicália encara um Brasil
Oswald de Andrade usa para ilustrar seu projeto sob um regime totálitário, e que, na música
político-estético: devorar as influências locais e especificamente, era altamente xenófobo,
estrangeiras e criar sua cultura. Só me interessa principalmente em relação à música americana,
o que não é meu. A cultura brasileira não pode devido à proximidade e patrocínio dos Estados
ficar fechada em apenas um tipo de influência Unidos à ditatuda militar brasileira.

Competência 4 | 105
LITERATURA AFRICANA DE
LÍNGUA PORTUGUESA
LUTA

Para as literaturas escritas em língua portuguesa nos Violência


vozes de aço ao sol
países que foram colônia de Portugal, as independências
incendeiam a paisagem já quente
de várias colônias no período da revolução dos cravos
e os sonhos
(1975) são marcos essenciais nessas literaturas, já que aí se desfazem
é de fato institucionalizada a ideia (bastante ocidental) contra uma muralha de baionetas
de nação. Vale lembrar que algumas obras já tinham sido Nova onde se levanta
os anseios se desfazem
lançadas antes das independências, como Terra Morta, do sobre corpos insepultos
moçambicano Castro Soromenho, lançado em 1949; e o
E a nova onde se levanta para a luta
romance Hora di Bai, lançado em 1962, do caboverdiano e ainda outra e outra
Manuel Ferreira. No período pós-independência, até que da violência
apenas reste o nosso perdão.
destaco as obras do moçambicano Mia Couto (Histórias
[Cadeia de aljube de Lisboa, Setembro de
Abensonhadas, contos; O último voo do flamingo e Terra 1960. Agostinho Neto, angolano que foi
Sonâmbula, romances). poeta, lutou na guerrilha e se tornou o
primeiro presidente de Angola.]
Para os escritores africanos, há certo dilema quanto ao uso
da língua portuguesa, afinal, é a língua do colonizador.
No entanto, é inegável a importância do português como
um idioma que diferencia, por exemplo, Moçambique
dos países fronteiriços. Todos os países africanos que têm “A adoção do português como língua oficial
a língua portuguesa como oficial (Guiné-Bissau, Cabo- do país remonta a 1962, quando foi criada
a Frente de Libertação de Moçambique
Verde, Moçambique, Angola) apresentam, também, (FRELIMO), na luta contra o colonialismo
múltiplas línguas nativas, muitas delas com ortografia português. A apropriação da língua do
colonizador como oficial foi justificada
padronizada, inclusive. Mesmo assim, a literatura
por uma série de argumentos, sendo
ainda é majoritariamente escrita em português, pois a talvez o mais forte deles a identificação de
internacionalização da produção linguística afro-lusitana diferenciação dos moçambicanos dos outros
grupos nacionais na região. Esperava-se que
é um fato que argumenta em favor dessa escolha. Apesar o português forjasse um novo estado-nação.
de haver incentivo ao ensino formal dos idiomas locais, A estratégia era usar a herança linguística
colonial para proteger a integridade da
a maioria dos escritores acabam utilizando a língua
herança territorial, de acordo com a posição
portuguesa (que tem leitores e mercado consolidados), declarada pela FRELIMO em seminário
mas sempre buscando subverter a língua: misturando-a organizado pela UNESCO em julho de 1971,
em Dar-es-Salaam.”
com seus dialetos, inventando e criando novas formas;
[O português no século XXI: cenário
assim, ela é usada como “arma” contra o colonizador, geopolítico e sociolinguístico.
mostrando que aquela modalidade da língua de Camões Cap. O caso do português em
já não é mais deles. Moçambique: unidade nacional com base
em educação bilíngue e intercompreensão,
Samima A. Patel e Marilda C. Cavalcanti]]

106 |
A Guerra dos palhaços
Uma vez dois palhaços se puseram a discutir. As pessoas paravam, divertidas, a vê-los.
- É o quê?, perguntavam.
- Ora, são apenas dois palhaços discutindo.
Quem os podia levar a sério? Ridículos, os dois cómicos ripostavam. Os argumentos eram
simples disparates, o tema era uma ninharice. E passou-se um inteiro dia.
Na manhã seguinte, os dois permaneciam, excessivos e excedendo-se. Parecia que, entre
eles, se azedava a mandioca. (...) Acreditando tratar-se de um espectáculo, os transeuntes
deixavam moedinhas no passeio.
No quinto dia, contudo, um dos palhaços se muniu de um pau. E avançando
sobre o adversário lhe desfechou um golpe que lhe arrancou a cabeleira postiça.
(...) Um dos espectadores, casualmente, foi atingido.
O homem caiu, esparramorto. (...)
No princípio do mês, todos os habitantes da cidade haviam morrido. Todos excepto os
dois palhaços. Nessa manhã, os cómicos se sentaram cada um em seu canto e se livraram
das vestes ridículas. Olharam-se, cansados. Depois, se levantaram e se abraçaram, rindo-se
a bandeiras despregadas. De braço dado, recolheram as moedas nas bermas do passeio.
Juntos atravessaram a cidade destruída, cuidando não pisar os cadáveres.

[Mia Couto, Estórias Abensonhadas (fragmento), Companhia das Letras, São Paulo]

Competência 4 | 107
A LITERATURA DE CORDEL
Oriunda de Portugal, a literatura de cordel chegou no balaio e
no coração dos nossos colonizadores, instalando-se na Bahia
e mais precisamente em Salvador. Dali se irradiou para os
demais estados do Nordeste. A pergunta que mais inquieta
e intriga os nossos pesquisadores é “Por que exatamente no
nordeste?”. A resposta não está distante do raciocínio livre
nem dos domínios da razão. Como é sabido, a primeira capital
da nação foi Salvador, ponto de convergência natural de
todas as culturas, permanecendo assim até 1763, quando foi
transferida para o Rio de Janeiro.

Na indagação dos pesquisadores no entanto há lógica,


porque os poetas de bancada ou de gabinete, como ficaram
conhecidos os autores da literatura de cordel, demoraram
a emergir do seio bom da terra natal. Mais tarde, por volta
de 1750 é que apareceram os primeiros vates da literatura
de cordel oral. Engatinhando e sem nome, depois de relativo
longo período, a literatura de cordel recebeu o batismo de
poesia popular.

Foram esses bardos do improviso os precursores da literatura


de cordel escrita. Os registros são muito vagos, sem consistência
confiável, de repentistas ou violeiros antes de Manoel Riachão
ou Mergulhão, mas Leandro Gomes de Barros, nascido no dia
19 de novembro de 1865, teria escrito a peleja de Manoel
Riachão com o Diabo, em fins do século passado.
(Texto da Academia Brasileira de Literatura de Cordel)

A noção de minoria, com suas remissões musicais, literárias,


linguísticas, mas também jurídicas, políticas, é bastante complexa.
Minoria e maioria não se opõem apenas de uma maneira quantitativa.
Maioria implica uma constante, de expressão ou de conteúdo, como um
metro padrão em relação ao qual ela é avaliada. Suponhamos que a
constante ou metro seja homem-branco-masculino-adulto-habitante-das-
cidades-falante-de-uma-língua-padrão-europeu-heterossexual-qualquer
(o Ulisses de Joyce ou de Ezra Pound). É evidente que o homem tem a
maioria, mesmo se é menos numeroso que os mosquitos, as crianças, as
mulheres, os negros, os camponeses, os homossexuais... etc. É porque
ele aparece duas vezes, uma vez na constante, uma vez na variável de
onde se extrai a constante. A maioria supõe um estado de poder e de
dominação, e não o contrário. Supõe o metro padrão e não o contrário.

(Gilles Deleuze e Felix Guattari, Mil Platôs, v. 2.)

108 |
Lista de questões Competência 4
Habilidades 12, 13 e 14

Linguagens NÃO é interpretação


Questão 01 – E NE M 2018

A imagem integra uma adaptação em quadrinhos da obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Na repre-
sentação gráfica, a inter-relação de diferentes linguagens caracteriza-se por
A romper com a linearidade das ações da narrativa literária.
B ilustrar de modo fidedigno passagens representativas da história.
C articular a tensão do romance à desproporcionalidade das formas.
D potencializar a dramaticidade do episódio com recursos das artes visuais.
E desconstruir a diagramação do texto literário pelo desequilíbrio da composição.

110 |
Questão 02 – ENEM 2016 – 2ª APLICAÇÃO

Disponível em: www.nyu.edu. Acesso em: 30 maio 2016.


A técnica da décollage, utilizada pelo artista Mimmo Rotella em sua obra Marilyn, é um procedimento artístico
representativo da década de 1960 por
A visar a conservação das representações e dos registros visuais.
B basear-se na reciclagem de material gráfico, contribuindo para a sustentabilidade.
C encobrir o passado, abrindo caminho para novas formas plásticas, pela releitura.
D fazer conviver campos de expressão diferentes e integrar novos significados.
E abolir o trabalho manual do artista na confecção das imagens recontextualizadas.

Questão 03 – E NE M 2015
Na exposição “A Artista Está Presente”, no MoMA, em Nova Iorque, a performer Marina Abramovic fez uma re-
trospectiva de sua carreira. No meio desta, protagonizou uma performance marcante. Em 2010, de 14 de março a 31
de maio, seis dias por semana, num total de 736 horas, ela repetia a mesma postura. Sentada numa sala, recebia os
visitantes, um a um, e trocava com cada um deles um longo olhar sem palavras. Ao redor, o público assistia a essas
cenas recorrentes.
ZANIN, L. Marina Abramovic, ou a força do olhar.
Disponível em: http://blogs.estadao.com.br. Acesso em: 4 nov. 2013.
O texto apresenta uma obra da artista Marina Abramovic, cuja performance se alinha a tendências contemporâ-
neas e se caracteriza pela
A inovação de uma proposta de arte relacional que adentra um museu.
B abordagem educacional estabelecida na relação da artista com o público.
C redistribuição do espaço do museu, que integra diversas linguagens artísticas.
D negociação colaborativa de sentidos entre a artista e a pessoa com quem interage.
E aproximação entre artista e público, o que rompe com a elitização dessa forma de arte.

Competência 4: h12, h13, h14 | 111


Questão 04 – (E NE M 2014)

O objeto escultórico produzido por Lygia Clark, representante do Neoconcretismo, exemplifica o início de uma ver-
tente importante na arte contemporânea, que amplia as funções da arte. Tendo como referência a obra Bicho de bolso,
identifica-se essa vertente pelo(a)
A participação efetiva do espectador na obra, o que determina a proximidade entre arte e vida.
B percepção do uso de objetos cotidianos para a confecção da obra de arte, aproximando arte e realidade.
C reconhecimento do uso de técnicas artesanais na arte, o que determina a consolidação de valores culturais.
D reflexão sobre a captação artística de imagens com meios óticos, revelando o desenvolvimento de uma linguagem
própria.
E entendimento sobre o uso de métodos de produção em série para a confecção da obra de arte, o que atualiza as
linguagens artísticas.

Questão 05 - E NE M 2016

A principal razão pela qual se infere que o espetáculo retratado na fotografia é uma manifestação do teatro de rua
é o fato de
A dispensar o edifício teatral para a sua realização.
B utilizar figurinos com adereços cômicos.
C empregar elementos circenses na atuação.
D excluir o uso de cenário na ambientação.
E negar o uso da iluminação artificial.
112 |
Questão 06 – E NE M 2017
TEXTO I

TEXTO II
No verão de 1954, o artista Robert Rauschenberg (n.1925) criou o termo combine para se referir a suas novas
obras que possuíam aspectos tanto da pintura como da escultura. Em 1958, Cama foi selecionada para ser incluída
em uma exposição de jovens artistas americanos e italianos no Festival dos Dois Mundos em Spoleto, na Itália. Os
responsáveis pelo festival, entretanto, se recusaram a expor a obra e a removeram para um depósito. Embora o mundo
da arte debatesse a inovação de se pendurar uma cama numa parede, Rauschenberg considerava sua obra “um dos
quadros mais acolhedores que já pintei, mas sempre tive medo de que alguém quisesse se enfiar nela”.
DEMPSEY, A. Estilos, escolas e movimentos: guia enciclopédico da arte moderna.
São Paulo: Cosac & Naify, 2003.
A obra de Rauschenberg chocou o público na época em que foi feita, e recebeu forte influência de um movimento
artístico que se caracterizava pela
A dissolução das tonalidades e dos contornos, revelando uma produção rápida.
B exploração insólita de elementos do cotidiano, dialogando com os ready-mades.
C repetição exaustiva de elementos visuais, levando à simplificação máxima da composição.
D incorporação das transformações tecnológicas, valorizando o dinamismo da vida moderna.
E geometrização das formas, diluindo os detalhes sem se preocupar com a fidelidade ao real.

Competência 4: h12, h13, h14 | 113


Questão 07 – ENEM 2017 2ª APLICAÇÃO
TEXTO I

TEXTO II
Ao ser questionado sobre seu processo de criação de ready-mades, Marcel Duchamp afirmou:
- Isto dependia do objeto; em geral, era preciso tomar cuidado com o seu look. É muito difícil escolher um objeto
porque depois de quinze dias você começa a gostar dele ou a detestá-lo. É preciso chegar a qualquer coisa com uma
indiferença tal que você não tenha nenhuma emoção estética. A escolha do ready-made é sempre baseada na indife-
rença visual e, ao mesmo tempo, numa ausência total de bom ou mau gosto.
CABANNE, P. Marcel Duchamp: engenheiro do tempo perdido.
São Paulo: Perspectiva, 1987 (adaptado).
Relacionando o texto e a imagem da obra, entende-se que o artista Marcel Duchamp, ao criar os ready-mades,
inaugurou um modo de fazer arte que consiste em
A designar ao artista de vanguarda a tarefa de ser o artífice da arte do século XX.
B considerar a forma dos objetos como elemento essencial da obra de arte.
C revitalizar de maneira radical o conceito clássico do belo na arte.
D criticar os princípios que determinam o que é uma obra de arte.
E atribuir aos objetos industriais o status de obra de arte.

114 |
Questão 08 – E NE M 2016
TEXTO I

TEXTO II
Tenho um rosto lacerado por rugas secas e profundas, sulcos na pele. Não é um rosto desfeito, como acontece
com pessoas de traços delicados, o contorno é o mesmo mas a matéria foi destruída. Tenho um rosto destruído.
DURAS, M. O amante. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
Na imagem e no texto do romance de Marguerite Duras, os dois autorretratos apontam para o modo de repre-
sentação da subjetividade moderna. Na pintura e na literatura modernas, o rosto humano deforma-se, destrói-se ou
fragmenta-se em razão
A da adesão à estética do grotesco, herdada do romantismo europeu, que trouxe novas possibilidades de representação.
B das catástrofes que assolaram o século XX e da descoberta de uma realidade psíquica pela psicanálise.
C da opção em demonstrarem oposição aos limites estéticos da revolução permanente trazida pela arte moderna.
D do posicionamento do artista do século XX contra a negação do passado, que se torna prática dominante na socie-
dade burguesa.
E da intenção de garantir uma forma de criar obras de arte independentes da matéria presente em sua história
pessoal.

Questão 09 – E NE M 2014
FABIANA, arrepelando-se de raiva — Hum! Ora, eis aí está para que se casou meu filho, e trouxe a mulher para
minha casa. É isto constantemente. Não sabe o senhor meu filho que quem casa quer casa... Já não posso, não posso,
não posso! (Batendo com o pé). Um dia arrebento, e então veremos!
PENA, M. Quem casa quer casa. www.dominiopublico.gov.br.
Acesso em: 7 dez. 2012.
As rubricas em itálico, como as trazidas no trecho de Martins Pena, em uma atuação teatral, constituem
A necessidade, porque as encenações precisam ser fiéis às diretrizes do autor.
B possibilidade, porque o texto pode ser mudado, assim como outros elementos.
C preciosismo, porque são irrelevantes para o texto ou para a encenação.
D exigência, porque elas determinam as características do texto teatral.
E imposição, porque elas anulam a autonomia do diretor.

Competência 4: h12, h13, h14 | 115


Questão 10 – E NE M 2014
Era um dos meus primeiros dias na sala de música. A fim de descobrirmos o que deveríamos estar fazendo ali,
propus à classe um problema. Inocentemente perguntei: — O que é música?
Passamos dois dias inteiros tateando em busca de uma definição. Descobrimos que tínhamos de rejeitar todas as
definições costumeiras porque elas não eram suficientemente abrangentes.
O simples fato é que, à medida que a crescente margem a que chamamos de vanguarda continua suas explora-
ções pelas fronteiras do som, qualquer definição se torna difícil. Quando John Cage abre a porta da sala de concerto
e encoraja os ruídos da rua a atravessar suas composições, ele ventila a arte da música com conceitos novos e apa-
rentemente sem forma.
SCHAFER, R. M. O ouvido pensante. São Paulo: Unesp, 1991 (adaptado).
A frase “Quando John Cage abre a porta da sala de concerto e encoraja os ruídos da rua a atravessar suas com-
posições”, na proposta de Schafer de formular uma nova conceituação de música, representa a
A acessibilidade à sala de concerto como metáfora, num momento em que a arte deixou de ser elitizada.
B abertura da sala de concerto, que permitiu que a música fosse ouvida do lado de fora do teatro.
C postura inversa à música moderna, que desejava se enquadrar em uma concepção conformista.
D intenção do compositor de que os sons extramusicais sejam parte integrante da música.
E necessidade do artista contemporâneo de atrair maior público para o teatro

Questão 11 – E NE M 2016

Colcha de retalhos representa a essência do mural e convida o público a


A apreciar a estética do cotidiano.
B interagir com os elementos da composição.
C refletir sobre elementos do inconsciente do artista.
D reconhecer a estética clássica das formas.
E contemplar a obra por meio da movimentação física.

116 |
Questão 12 – ENEM 2014 - 2ª APLICAÇÃO
Se observarmos o maxixe brasileiro, a beguine da Martinica, o danzón de Santiago de Cuba e o ragtime norte-ame-
ricano, vemos que todos são adaptações da polca. A diferença de resultado se deve ao sotaque inerente à música de
cada colonizador (português, espanhol, francês e inglês) e, em alguns casos, a uma maior influência da música religiosa.
CAZES, H. Choro: do quintal ao Municipal. São Paulo: Editora 34, 1998 (adaptado).
Além do sotaque inerente à música de cada colonizador e da influência religiosa, que outro elemento auxiliou a
constituir os gêneros de música popular citados no texto?
A A região da África de origem dos escravos, trazendo tradições musicais e religiosas de tribos distintas.
B O relevo dos países, favorecendo o isolamento de comunidades, aumentando o número de gêneros musicais
surgidos.
C O conjunto de portos, que favorecem o trânsito de diferentes influências musicais e credos religiosos.
D A agricultura das regiões, pois o que é plantado exerce influência nas canções de trabalho durante o plantio.
E O clima dos países em questão, pois as temperaturas influenciam na composição e vivacidade dos ritmos.

Questão 13 – ENEM 2020 DIGIT AL


Durante cinco minutos, a banda norte-americana Atomic Tom deixou de lado microfones, guitarras, baixo e bate-
ria. Mas eles não fizeram um show acústico como pode parecer. Eles utilizaram quatro aparelhos de telefone celular,
cada um substituindo um instrumento, por meio de quatro aplicativos diferentes: Shred, Drum Meister, Pocket Guitar e
Microphone.
Os quatro membros da banda embarcaram no metrô de Nova Iorque, ligaram seus celulares e começaram a tocar
a música Take me Out sem nenhum tipo de anúncio, filmando a apresentação com outros aparelhos de telefone. O
vídeo resultante foi sucesso no YouTube com mais de 2 milhões de visualizações.
Disponível em: www.tecmundo.com.br. Acesso em: 6 jun. 2018 (adaptado).
A apresentação da banda Atomic Tom revela
A alternativas inusitadas para enfrentar a difícil aquisição de instrumentos musicais tradicionais.
B formas descartáveis de produção musical ligadas à efemeridade da sociedade atual.
C maneiras inovadoras de ouvir música por meio de aparelhos eletrônicos portáteis.
D possibilidades de fazer música decorrentes dos avanços tecnológicos.
E soluções originais de levar a cultura musical para os meios de transporte

Questão 14 – ENEM 2020 DIGIT AL

Na obra Campo relampejante (1977), o artista Walter de Maria coloca hastes de ferro em espaços regulares, em um
campo de 1600 metros quadrados no Novo México. O trabalho faz parte do movimento artístico Land Art, que trata da
A constituição da cena artística marcada pela paisagem natural, modificada pela multimídia.
B ocupação de um local vazio sem função específica, passando a existir como arte.
C utilização de equipamentos tradicionais como suporte para a atividade artística.
D divulgação de fenômenos científicos que dialogam com a estética da arte.
E exposição da obra em locais naturais e institucionais abertos ao público.
Competência 4: h12, h13, h14 | 117
Questão 15 – E NE M 2020
TEXTO I

TEXTO II
O grupo Jovens Artistas Britânicos (YABs), que surgiu no final da década de 1980, possui obras diversificadas que
incluem fotografias, instalações, pinturas e carcaças desmembradas. O trabalho desses artistas chamou a atenção
no final do período da recessão, por utilizar materiais incomuns, como esterco de elefantes, sangue e legumes, o que
expressava os detritos da vida e uma atmosfera de niilismo, temperada por um humor mordaz.
Disponível em: http://damienhirst.com. Acesso em: 15 jul. 2015.
FARTHING, S. Tudo sobre arte. Rio de Janeiro: Sextante, 2011 (adaptado).
A provocação desse grupo gera um debate em torno da obra de arte pelo(a)
A recusa a crenças, convicções, valores morais, estéticos e políticos na história moderna.
B frutífero arsenal de materiais e formas que se relacionam com os objetos construídos.
C economia e problemas financeiros gerados pela recessão que tiveram grande impacto no mercado.
D influência desse grupo junto aos estilos pós-modernos que surgiram nos anos 1990.
E interesse em produtos indesejáveis que revela uma consciência sustentável no mercado

15. B 14. B 11. A 12. A 13. D 10. D 9. B 8. B 7. D 4. A 5. A 6. B 1. D 2. D 3. D


GABARITO

118 |
COMPETÊNCIA 1
Aplicar as tecnologias da comunicação e da
informação na escola, no trabalho e em outros
contextos relevantes para sua vida.
OS GÊNEROS TEXTUAIS SÃO TECNOLOGIAS DA
COMUNICAÇÃO E DA INFORMAÇÃO!
A primeira atitude que devemos tomar para encarar esta competência é entender que “tecnologias da
comunicação e da informação”, aqui, se referem a GÊNEROS TEXTUAIS. Existem duas competências que
abordam o termo “tecnologias da comunicação e da informação”: a C1 e a C9. Na C9, esse termo se desdo-
bra, nas habilidades, em “tecnologias da comunicação e da informação”; parece redundante. No entanto,
isso prova que lá, na C9, se está falando do que se entende mais tradicionalmente por TICs: Tecnologias
(digitais) da Informação e da Comunicação. Por outro lado, aqui, na C1, as tecnologias da comunicação
e da informação se convertem, nas habilidades, em SISTEMAS DE COMUNICAÇÃO, que é uma expressão
muito mais abrangente e se refere ao que chamaremos, a partir de agora, de GÊNEROS TEXTUAIS.

Outra pista que contribui para direcionarmos nosso olhar para os GÊNEROS “A psicologia do corpo
TEXTUAIS é a aplicabilidade das tecnologias (que vou chamar aqui de) co- social é justamente o meio
municativas: “aplicar (...) na escola, no trabalho e em outros contextos re- ambiente inicial dos atos de
levantes para a sua vida”. Ou seja, é necessário observar de que forma as fala de toda espécie”
estruturas comunicativas dão origem a textos escolares, jornalísticos, anedó-
Mikhail Bakhtin
ticos, profissionais, etc. Se busca, no empenho desta competência, entender Marxismo e
a aplicação da linguagem no corpo da vida social, sempre historicamente Filosofia da Linguagem

determinado.

Para nos aproximarmos do conceito de GÊNEROS TEXTUAIS, é necessário evocar o primeiro linguista que
usou esse termo de forma mais consistente: Mikhail Bakhtin. Já que nosso objetivo aqui é a prova do Enem
e não o estudo acadêmico, vou me deter a noções básicas do que sejam os GÊNEROS TEXTUAIS, mas saiba
que a base teórica para o que aqui desenvolvo é a obra “Marxismo e Filosofia da Linguagem”1, de 1975.

Peguemos aqui, juntos eu e tu, apenas um trecho (adaptado por


mim) da obra, para conduzir nosso raciocínio:

“(...) abordaremos também o problema dos gêneros linguísticos:


cada época e cada grupo social têm seu repertório de formas de
discurso na comunicação socioideológica. A cada grupo de formas
pertencentes ao mesmo gênero, isto é, a cada forma de discurso
social, corresponde um grupo de temas. Entre as formas de comuni-
cação (por exemplo, relações entre colaboradores num contexto pu-
ramente técnico), a forma de enunciação (‘respostas curtas’ na ‘lin-
guagem de negócios’) e enfim o tema, existe uma unidade orgânica
que nada poderia destruir. Eis por que a classificação das formas
de enunciação deve apoiar-se sobre uma classificação das formas
da comunicação verbal. Estas últimas (as formas de comunicação
verbal) são inteiramente determinadas pelas relações de produção e
pela estrutura sociopolítica.”

1 Acredito ser válido comentar que, nesta obra, o termo “Marxismo” significa, pura e simplesmente, uma concepção filosófica que leva
em conta os aspectos da vida prática e cotidiana para a construção de uma teoria. “Marxismo” pode ser traduzido para “Materialismo
Histórico”, que inclui a realidade concreta em que vivem os indivíduos de determinada sociedade. Isto é, estamos falando de uma
percepção de linguagem que leva em conta as condições reais em que um texto é produzido e é lido para então melhor entendê-lo.

120 |
Observa como Bakhtin parte de uma análise so- O termo GÊNEROS TEXTUAIS nos conduz a uma
cial para, então, chegar a uma análise textual. O percepção genérica dos textos, no sentido de
autor fala em “formas de comunicação” (dando que existem condições sociais tão sólidas na pro-
um exemplo de interação social), para chegar dução textual que dão, aos textos, formas que
às formas de enunciação (dando um exemplo se repetem “genericamente”. Exemplos: todas
de modos de dizer/escrever) e então abordar o as receitas têm determinadas características for-
tema (que seria o assunto de que se trata deter- mais genéricas (o que inclusive permite a elas
minada mensagem). serem chamadas de “receitas”) porque todas de-
rivam de uma determinada realidade social imu-
Pensemos no seguinte gênero textual: REDAÇÃO
tável; todas as redações de vestibular têm de-
DO ENEM. A redação é uma determinada “forma
terminadas características formais genéricas (o
de comunicação” (na qual interagem vestibulan-
que inclusive permite a elas serem chamadas de
do e corretor), dando origem a uma “forma de
“redações de vestibular”) porque todas derivam
enunciação” (texto curto, objetivo e avaliado por
de uma determinada realidade social imutável;
uma grade predeterminada), e aí enfim chega-
todas as poesias têm determinadas caracterís-
mos ao tema (democratização do acesso ao ci-
ticas formais genéricas (o que inclusive permite
nema, ou estigma associado às doenças mentais,
a elas serem chamadas “poesias”) porque todas
ou qualquer outro).
derivam de uma determinada realidade social
Não para de pensar! Está percebendo que existem imutável, etc.
condições SOCIAIS e TEXTUAIS que nunca vão mu-
Nesse sentido, olhar para os textos a partir dos
dar em uma redação do Enem? E que o tema exer-
gêneros a que pertencem significa, na prática, le-
ce um papel superficial nessa estrutura fixa, social,
var em conta as condições sociais que levaram o
interativa, historicamente predeterminada?
texto a ser como é e que o assemelham a outros
A grande virada do pensamento bakhtiniano é textos de mesmo gênero.
olhar o evento TEXTUAL como fruto de um evento
Para finalizar a apresentação da Competência 1
SOCIAL. Isto é, pensar textos como pertencentes a
e para você sentir que esse percurso teórico é
gêneros textuais2 significa analisar a realidade so-
FUNDAMENTAL no entendimento das questões
cial, obviamente externa ao texto, como geradora
do Enem que envolvem essa área, vou colocar
das textualidades: pensar uma notícia é pensar a
aqui embaixo o enunciado de uma questão de
necessidade de informação, pensar um poema é
Linguagens do Enem de 2014. Aprecie:
pensar a necessidade de experiência estética com
a linguagem, pensar uma receita é pensar a trans- “Os gêneros textuais desempenham uma função
missão de saberes culinários, pensar uma piada é social específica, em determinadas situações de
pensar a necessidade do riso e a determinação do uso da língua, em que os envolvidos na intera-
risível em uma sociedade, etc. Os exemplos são ção verbal têm um objetivo comunicativo.”
tão numerosos quanto as realidades sociais que
dão origem a formas textuais.

2 Cabe pontuar que, segundo a teoria de Bakhtin, não haveria


nenhum texto que não fizesse parte de um gênero. Todo tex-
to está condicionado socialmente, e as condições materiais
de comunicação que envolvem determinados agentes comu-
nicativos são a matriz social que dá, ao texto, determinados
formas de dizer e de escrever, sendo essas formas sempre
consequência da realidade social em que estão inseridas.

Competência 1 | 121
HABILIDADE 1
Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como
elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.

O que faz um texto pertencer a um gênero e não a outro?


Identificar as linguagens e os recursos expressi- tuitivamente utilizada e, no geral, confiá-
vos como elementos de caracterização dos gêne- vel. Contudo, é difícil determinar o nome
ros textuais significa construir um olhar para os de cada gênero de texto. Como já notaram
padrões estruturais seguidos por textos de um muitos autores, em especial Bakkhtin, os
mesmo gênero. Além disso, esse reconhecimento gêneros se imbricam e interpenetram para
também vai se dar no momento em que observa- constituírem novos gêneros. Como obser-
mos recursos expressivos comumente mais pre- vamos anteriormente, não é uma boa ati-
sentes em um gênero expressando-se em outro. tude imaginar que os gêneros têm uma
Por exemplo, uma carta com estruturas poéticas, relação biunívoca com formas textuais. E
ou então uma receita de bolo em forma de diá- isso fica comprovado no caso de um gê-
logo (como se fosse carta). Para ilustrar de forma nero que tem a função de outro, como é
mais teórica a questão da intergenericidade, va- típico das publicidades.
mos observar as palavras do professor Luiz An- Em geral, damos nomes aos gêneros
tônio Marcuschi, em seu livro Produção Textual, usando um desses critérios:
Análise de Gêneros e Compreensão. 1. Forma Estrutural (gráfico; rodapé; de-
bate; poema)
“Como é que se chega à denominação dos
2. Propósito Comunicativo (errata; endereço)
gêneros? Com certeza, as designações que
3. Conteúdo (nota de compra; resumo de
usamos para os gêneros não são uma in-
novela)
venção pessoal, mas uma denominação
4. Meio de Transmissão (telefonema; te-
histórica e socialmente constituída. E cada
legrama; e-mail)
um de nós já deve ter notado como cos-
5. Papéis dos Interlocutores (exame oral;
tumamos com alta frequência designar o
autorização)
gênero que produzimos. Possuímos, para
6. Contexto Situacional (carta pessoal)”
tanto, uma metalinguagem riquíssima, in-

122 |
O que o professor Marcuschi está apontando
é que a estrutura textual não é um fator
que determina a que texto pertence um
gênero; no entanto, há que se considerar
que existem estruturas textuais tão
Professor Luiz Antônio Marcuschi características de certos gêneros, que, ainda
que sejam usadas em gêneros diferentes
do seu de origem, são reconhecidas. Vamos
a um exemplo: você concorda que a rima
é uma característica textual bastante
presente em poesias? Perfeito. Imagine
você ler uma redação de vestibular cheia de
rimas! Você não teria dúvidas de que essa
redação é uma redação (por todas as suas
características sociais: abordar um tema de
vestibular, estar em uma folha com critérios
de pontuação, ser avaliada com uma nota,
etc.), apesar de que você reconheceria
que essa é uma redação “poética”, ou
uma redação com marcas de poesia.
Treinar esse tipo de percepção é desenvolver
a habilidade 1; é isto que é reconhecer
recursos expressivos como elementos
que caracterizam os gêneros textuais
(que a habilidade chama de ‘sistemas de
comunicação’).

As questões que empenham a habilidade 1


vão no exigir olhar para um texto e se per-
guntar: a que gênero pertence este texto?
Quais recursos expressivos e textuais me
permitem identificar que este texto perten-
ça a este gênero? Existem traços de outros
gêneros neste texto?

Competência 1 | 123
HABILIDADE 2
Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de
comunicação e informação para resolver problemas sociais.

A que problemática social


este texto está ligado?
Sabe aquelas questões de Linguagens que vão
nos perguntar como que um determinado tex-
to propõe a solução de um problema? Pois é...
Estamos falando de questões da habilidade 2.
Lembrando, sempre, que as habilidades de uma
mesma competência estão totalmente conecta-
das, a habilidade 2 vai exigir que voltemos nos-
so olhar textual para aquilo que gera todo texto:
uma realidade social, mais especificamente aqui:
UM PROBLEMA.

Não pense que estamos nos afastando de uma


análise textual pelo olhar dos gêneros textuais;
muito pelo contrário, estamos apenas exploran-
do uma das principais facetas dessa forma de
analisar os textos: a realidade social!

Perceber todo texto como fruto de uma tensão


social é a essência da teoria dos gêneros. Afinal,
os textos não são atos comunicativos isolados,
nem apresentam independência social como
meras realizações formais; na verdade, todo tex-
to é uma organização linguística que apenas exis-
te para responder a uma determinada tensão
social. Nesse sentido, olhar para os problemas
sociais que os textos tentam resolver é como
olhar para aquilo que dá origem ao texto: a reali-
dade histórica, tensionada pelos problemas – ge-
radores de linguagem.

124 |
HABILIDADE 3
Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e
informação, considerando a função social desses sistemas.

Este texto foi escrito para quê?


Perguntar-se qual é a função social de um texto, que guardam, ali na hora da prova, as informa-
considerando a que gênero ele pertence, significa ções contextuais que vão nos servir de guia para
construir uma ponte entre textualidade e socie- reconstruir a realidade social da qual o texto foi
dade. Isto é, a função social de determinado texto tirado. Afinal, nenhum dos textos que caem na
não se resume àquilo que está escrito em cada prova de Linguagens foi escrito para cair na prova
uma de suas frases; também não se resume à rea- de Linguagens, não é mesmo?
lidade social externa da qual o texto provém. Ob-
E é essa leitura cotextual e contextual (nas pala-
servar a função social de um texto significa lançar
vras de Jean-Michel Adam) que vamos fazer, re-
um olhar ao papel social que os sistemas textuais
lacionando frase com frase e texto com realidade
desempenham em uma dada situação social, co-
social de onde foi tirado, construindo a ideia de
nectando texto e contexto social.
função social.
Relacionar uma frase às outras frases pertencen-
Qual a função de enunciados que estejam em um
tes ao mesmo tempo e relacionar o conjunto tex-
dicionário? Definir.
tual a uma determinada situação social é, em es-
sência, a construção de um olhar complexo sobre Qual a função de enunciados que estejam em um
a linguagem. jornal? Informar.

Nas questões de Linguagens, os textos sempre Qual a função de enunciados que estejam em
vêm ancorados pelas referências (aquelas letri- uma receita? Ensinar.
nhas miúdas embaixo de cada texto), que indicam Qual a função de enunciados que estejam em
se os textos vieram de um jornal, de um blog, de uma redação de vestibular? Pontuar.
um livro de literatura, de um compêndio de re-
E assim por diante...
ceitas, de um dicionário, etc. São as referências

“Todo enunciado, por mais breve ou complexo que ele


seja, tem sempre necessidade de um co(n)texto. (...)
Escrevemos ‘co(n)texto’ para dizer que a interpretação
de enunciados isolados apoia-se tanto na (re)
construção de enunciados à esquerda e/ou à direita
(cotexto) como na operação de contextualização, que
consiste em imaginar uma situação de enunciação
que torne possível o enunciado considerado”
A Linguística Textual, Jean-Michel Adam

Competência 1 | 125
HABILIDADE 4
Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das
linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.

Qual a crítica
que este texto faz?
Geralmente, a última habilidade de uma sequên-
cia de habilidades de mesma competência é
aquela que apresenta o maior grau de complexi-
dade, em relação à necessidade de raciocínio que
precisa ser investido. Enquanto nas habilidades 1,
2 e 3 desenvolvemos a capacidade de análise, a
habilidade 4 exige um pouco mais: o reconheci-
mento de posições crítica, o que significa, no que
se refere à construção do raciocínio, em um pro-
cesso mais complexo. É bastante frequente que as
questões da habilidade 4 se construam em cima
de textos que pertencem a gêneros que, comu-
mente, constroem críticas sobre a realidade social
na qual se inserem: charge, cartum, tirinha, etc.

Para reconhecer um posicionamento crítico, pre-


cisamos observar uma série de componentes tex-
tuais e sociais:

1. Do que o texto está tratando? A que assunto se


refere?

2. Dentro desse assunto, existe uma figura, uma


personagem, uma persona em destaque?

3. Uma vez delimitada a temática exata do texto, a


ideia defendida busca enaltecer ou criticar deter-
minado fato ou comportamento?

4. Esta crítica ou elogio está justificada? Isto é,


sabemos por que se critica aquilo ou aquele que
está sendo criticado?

126 |
Lista de questões Competência 1
Habilidades 1, 2, 3 e 4

Linguagens NÃO é interpretação


Questão 01 - (E NE M 2014)
Mães
Triste, mas verdadeira, a constatação de Jairo Marques — colunista que tem um talento raro — em seu texto “E a
mãe ficou velhinha”.
Aqueles que percebem que a mãe envelheceu sempre têm atitudes diversas. Ou não a procuram mais, porque
essa é uma forma de negar que um dia perderão o amparo materno, ou resolvem estar ao lado dela o maior tempo
possível, pois têm medo de perdê-la sem ter retribuído plenamente o amor que receberam.
Leonor Souza (São Paulo, SP) — Painel do Leitor. Folha de S. Paulo, 29 fev. 2012.
Os gêneros textuais desempenham uma função social específica, em determinadas situações de uso da língua,
em que os envolvidos na interação verbal têm um objetivo comunicativo. Considerando as características do gênero, a
análise do texto Mães revela que sua função é
A ensinar sobre os cuidados que se deve ter com as mães, especialmente na velhice.
B influenciar o ânimo das pessoas, levando-as a querer agir segundo um modelo sugerido.
C informar sobre os idosos e sobre seus sentimentos e necessidades.
D avaliar matéria publicada em edição anterior de jornal ou de revista.
E apresentar nova publicação, visando divulgá-la para leitores de jornal.

Questão 02 - (E NE M 2017 2ª APLIC)


Pra onde vai essa estrada?
- Sô Augusto, pra onde vai essa estrada?
O senhor Augusto:
- Eu moro aqui há 30 anos, ela nunca foi pra parte nenhuma, não.
- Sô Augusto, eu estou dizendo se a gente for andando aonde a gente vai?
O senhor Augusto:
- Vai sair até nas Oropas, se o mar der vau.
Vocabulário Vau: Lugar do rio ou outra porção de água onde esta é pouco funda e, por isso, pode ser transposta
a pé ou a cavalo.
MAGALHÃES, L.L.A.; MACHADO, R. H. A. (Org.). Perdizes, suas histórias, sua gente, seu folclore. Perdizes: Prefeitura Municipal, 2005.
As anedotas são narrativas, reais ou inventadas, estruturadas com a finalidade de provocar riso. O recurso ex-
pressivo que configura esse texto como uma anedota é o(a)
A uso repetitivo da negação.
B grafia do termo “Oropas”.
C ambiguidade do verbo “ir”.
D ironia das duas perguntas.
E emprego de palavras coloquiais.

Questão 03 - (E NE M 2016)
Receita
Tome-se um poeta não cansado, Uma nuvem de sonho e uma flor, Três gotas de tristeza, um tom dourado, Uma
veia sangrando de pavor. Quando a massa já ferve e se retorce Deita-se a luz dum corpo de mulher, Duma pitada de
morte se reforce, Que um amor de poeta assim requer.
SARAMAGO, J. Os poemas possíveis. Alfragide: Caminho, 1997.
Os gêneros textuais caracterizam-se por serem relativamente estáveis e podem reconfigurar-se em função do
propósito comunicativo. Esse texto constitui uma mescla de gêneros, pois
A introduz procedimentos prescritivos na composição do poema.
B explicita as etapas essenciais à preparação de uma receita.
C explora elementos temáticos presentes em uma receita.
D apresenta organização estrutural típica de um poema.
E utiliza linguagem figurada na construção do poema.

128 |
Questão 04 - (E NE M 2016)
Lições de motim
DONA COTINHA -- É claro! Só gosta de solidão quem nasceu pra ser solitário. Só o solitário gosta de solidão.
Quem vive só e não gosta da solidão não é um solitário, é só um desacompanhado. (A reflexão escorrega lá pro fundo
da alma.) Solidão é vocação, besta de quem pensa que é sina. Por isso, tem de ser valorizada. E não é qualquer um
que pode ser solitário, não. Ah, mas não é mesmo! É preciso ter competência pra isso. (De súbito, pedagógica, volta-se
para o homem.) É como poesia, sabe, moço? Tem de ser recitada em voz alta, que é pra gente sentir o gosto. (FAZ
UMA PAUSA.) Você gosta de poesia? (O HOMEM TORNA A SE DEBATER. A VELHA INTERROMPE O DISCURSO E
VOLTA A LHE DAR AS COSTAS, COMO SEMPRE, IMPASSÍVEL. O HOMEM, MAIS UMA VEZ, CANSADO, DESISTE.)
Bem, como eu ia dizendo, pra viver bem com a solidão temos de ser proprietários dela e não inquilinos, me entende?
Quem é inquilino da solidão não passa de um abandonado.
É isso aí.
ZORZETTI, H. Lições de motim. Goiânia: Kelps, 2010 (adaptado).
Nesse trecho, o que caracteriza Lições de motim como texto teatral?
A O tom melancólico presente na cena.
B As perguntas retóricas da personagem.
C A interferência do narrador no desfecho da cena.
D O uso de rubricas para construir a ação dramática.
E As analogias sobre a solidão feitas pela personagem

Questão 05 - (E NE M 2017)
Romanos usavam redes sociais há dois mil anos, diz livro
Ao tuitar ou comentar embaixo do post de um de seus vários amigos no Facebook, você provavelmente se sente
privilegiado por viver em um tempo na história em que é possível alcançar de forma imediata uma vasta rede de con-
tatos por meio de um simples clique no botão “enviar’’. Você talvez também reflita sobre como as gerações passadas
puderam viver sem mídias sociais, desprovidas da capacidade de verem e serem vistas, de receber, gerar e interagir
com uma imensa carga de informações. Mas o que você talvez não saiba é que os seres humanos usam ferramentas
de interação social há mais de dois mil anos. É o que afirma Tom Standage, autor do livro Writing on the Wall - Social
Media, The first 2 000 Years (Escrevendo no mural - mídias sociais, os primeiros 2 mil anos, em tradução livre). Se-
gundo Standage, Marco Túlio Cícero, filósofo e político romano, teria sido, junto com outros membros da elite romana,
precursor do uso de redes sociais. O autor relata como Cícero usava um escravo, que posteriormente tornou-se seu
escriba, para redigir mensagens em rolos de papiro que eram enviados a uma espécie de rede de contatos. Estas
pessoas, por sua vez, copiavam seu texto, acrescentavam seus próprios comentários e repassavam adiante. “Hoje
temos computadores e banda larga, mas os romanos tinham escravos e escribas que transmitiam suas mensagens”,
disse Stand age à BBC Brasil. “Membros da elite romana escreviam entre si constantemente, comentando sobre as
últimas movimentações políticas e expressando opiniões.” Além do papiro, outra plataforma comumente utilizada pelos
romanos era uma tábua de cera do tamanho e da forma de um tablet moderno, em que escreviam recados, perguntas
ou transmitiam os principais pontos da acta diurna, um “jornal” exposto diariamente no Fórum de Roma. Essa tábua, o
“iPad da Roma Antiga”, era levada por um mensageiro até o destinatário, que respondia embaixo da mensagem.
NIDECKER, F. Disponível em: www.bbc.co.uk. Acesso em: 7 nov. 2013 (adaptado).
Na reportagem, há uma comparação entre tecnologias de comunicação antigas e atuais. Quanto ao gênero men-
sagem, identifica-se como característica que perdura ao longo dos tempos o(a)
A imediatismo das respostas.
B compartilhamento de informações.
C interferência direta de outros no texto original.
D recorrência de seu uso entre membros da elite.
E perfil social dos envolvidos na troca comunicativa.

Competência 1: h1, h2, h3 e h4 | 129


Questão 06 - (E NE M 2017 2ª APLIC)
TEXTO I
Frevo: Dança de rua e de salão, é a grande alucinação do Carnaval pernambucano. Trata-se de uma marcha de
ritmo frenético, que é a sua característica principal. E a multidão ondulando, nos meneios da dança, fica a ferver. E foi
dessa ideia de fervura (o povo pronuncia frevura, frever) que se criou o nome frevo.
CASCUDO, L. C. Dicionário do folclore brasileiro.
São Paulo: Global, 2001 (adaptado).
TEXTO II
Frevo é Patrimônio Imaterial da Humanidade
O frevo, ritmo genuinamente pernambucano, agora é do mundo. A música que hipnotiza milhões de foliões e dá o
tom do Carnaval no estado foi oficialmente reconhecida como Patrimônio Imaterial da Humanidade. O anúncio foi feito
em Paris, nesta quarta-feira, durante cerimônia da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (Unesco).
Disponível em: www.diariodepernambuco.com.br. Acesso em: 14 jun. 2015.
Apesar de abordarem o mesmo tema, os textos I e II diferenciam-se por pertencerem a gêneros que cumprem,
respectivamente, a função social de
A resumir e avaliar.
B analisar e reportar.
C definir e informar.
D comentar e explanar.
E discutir e conscientizar.

Questão 07 - (E NE M 2017)
Uma noite em 67, de Renato Terra e Ricardo Calil. Editora Planeta, 296 páginas.
Mas foi uma noite, aquela noite de sábado 21 de outubro de 1967, que parou o nosso país. Parou pra ver a finalís-
sima do IlI Festival da Record, quando um jovem de 21 anos chamado Eduardo Lobo, o Edu Lobo, saiu carregado do
Teatro Paramount em São Paulo depois de ganhar o prêmio máximo do festival com Ponteio, que cantou acompanhado
da charmosa e iniciante Marília Medalha. Foi naquela noite que Chico Buarque entoou sua Roda viva ao lado do MPB-4
de Magro, o arranjador. Que Caetano Veloso brilhou cantando Alegria, alegria com a plateia ao som das guitarras dos
Beat Boys, que Gilberto Gil apresentou a tropicalista Domingo no parque com os Mutantes. Aquela noite que acabou
virando filme, em 2010, nas mãos de Renato Terra e Ricardo Calil, agora virou livro. O livro que está sendo lançado
agora é a história daquela noite, ampliada e em estado que no jargão jornalístico chamamos de matéria bruta. Quem
viu o filme vai se deliciar com as histórias - e algumas fofocas - que cada um tem para contar, agora sem os cortes ne-
cessários que um filme exige. E quem não viu o filme tem diante de si um livro de histórias, pensando bem, de História.
VILLAS, A. Disponível em: www.cartacapital.com.br. Acesso em: 18 jun. 2014 (adaptado).
Considerando os elementos constitutivos dos gêneros textuais circulantes na sociedade, nesse fragmento de re-
senha predominam
A caracterizações de personalidades do contexto musical brasileiro dos anos 1960.
B questões polêmicas direcionadas à produção musical brasileira nos anos 1960.
C relatos de experiências de artistas sobre os festivais de música de 1967.
D explicações sobre o quadro cultural do Brasil durante a década de 1960.
E opiniões a respeito de uma obra sobre a cena musical de 1967.

130 |
Questão 08 - (E NE M 2018)
A trajetória de Liesel Meminger é contada por uma narradora mórbida, surpreendentemente simpática. Ao perce-
ber que a pequena ladra de livros lhe escapa, a Morte afeiçoa-se à menina e rastreia suas pegadas de 1939 a 1943.
Traços de uma sobrevivente: a mãe comunista, perseguida pelo nazismo, envia Liesel e o irmão para o subúrbio pobre
de uma cidade alemã, onde um casal se dispõe a adotá-los por dinheiro. O garoto morre no trajeto e é enterrado por
um coveiro que deixa cair um livro na neve. É o primeiro de uma série que a menina vai surrupiar ao longo dos anos.
O único vínculo com a família é esta obra, que ela ainda não sabe ler.
A vida ao redor é a pseudorrealidade criada em torno do culto a Hitler na Segunda Guerra. Ela assiste à eufórica
celebração do aniversário do Führer pela vizinhança. A Morte, perplexa diante da violência humana, dá um tom leve e
divertido à narrativa deste duro confronto entre a infância perdida e a crueldade do mundo adulto, um sucesso absoluto
— e raro — de crítica e público.
Disponível em: www.odevoradordelivros.com. Acesso em: 24 jun. 2014.
Os gêneros textuais podem ser caracterizados, dentre outros fatores, por seus objetivos. Esse fragmento é um(a)
A reportagem, pois busca convencer o interlocutor da tese defendida ao longo do texto.
B resumo, pois promove o contato rápido do leitor com uma informação desconhecida.
C sinopse, pois sintetiza as informações relevantes de uma obra de modo impessoal.
D instrução, pois ensina algo por meio de explicações sobre uma obra específica.
E resenha, pois apresenta uma produção intelectual de forma crítica.

Questão 09 - (E NE M 2014)
O negócio
Grande sorriso do canino de ouro, o velho Abílio propõe às donas que se abastecem de pão e banana: — Como
é o negócio? De cada três dá certo com uma. Ela sorri, não responde ou é uma promessa a recusa: — Deus me livre,
não! Hoje não... Abílio interpelou a velha: — Como é o negócio? Ela concordou e, o que foi melhor, a filha também
aceitou o trato. Com a dona Julietinha foi assim. Ele se chegou: — Como é o negócio? Ela sorriu, olhinho baixo. Abílio
espreitou o cometa partir. Manhã cedinho saltou a cerca. Sinal combinado, duas batidas na porta da cozinha. A dona
saiu para o quintal, cuidadosa de não acordar os filhos. Ele trazia a capa de viagem, estendida na grama orvalhada.
O vizinho espionou os dois, aprendeu o sinal. Decidiu imitar a proeza. No crepúsculo, pum-pum, duas pancadas fortes
na porta. O marido em viagem, mas não era dia do Abílio. Desconfiada, a moça surgiu à janela e o vizinho repetiu: —
Como é o negócio? Diante da recusa, ele ameaçou: — Então você quer o velho e não quer o moço? Olhe que eu
conto!
TREVISAN, D. Mistérios de Curitiba. Rio de Janeiro: Record, 1979 (fragmento).
Quanto à abordagem do tema e aos recursos expressivos, essa crônica tem um caráter
A filosófico, pois reflete sobre as mazelas sofridas pelos vizinhos.
B lírico, pois relata com nostalgia o relacionamento da vizinhança.
C irônico, pois apresenta com malícia a convivência entre vizinhos.
D crítico, pois deprecia o que acontece nas relações de vizinhança.
E didático, pois expõe uma conduta a ser evitada na relação entre vizinhos.

Questão 10 - (E NE M 2011)
No capricho
O Adãozinho, meu cumpade, enquanto esperava pelo delegado, olhava para um quadro, a pintura de uma senho-
ra. Ao entrar a autoridade e percebendo que o cabôco admirava tal figura, perguntou: “Que tal? Gosta desse quadro?”
E o Adãozinho, com toda a sinceridade que Deus dá ao cabôco da roça: “Mas pelo amor de Deus, hein, dotô! Que
muié feia! Parece fiote de cruis-credo, parente do deus-me-livre, mais horríver que briga de cego no escuro.” Ao que o
delegado não teve como deixar de confessar, um pouco secamente: “É a minha mãe.” E o cabôco, em cima da bucha,
não perde a linha: “Mais dotô, inté que é uma feiura caprichada.”
BOLDRIN, R. Almanaque Brasil de Cultura Popular. São Paulo: Andreato Comunicação e Cultura, nº 62, 2004 (adaptado).
Por suas características formais, por sua função e uso, o texto pertence ao gênero
A anedota, pelo enredo e humor característicos.
B crônica, pela abordagem literária de fatos do cotidiano.
C depoimento, pela apresentação de experiências pessoais.
D relato, pela descrição minuciosa de fatos verídicos.
E reportagem, pelo registro impessoal de situações reais.
Competência 1: h1, h2, h3 e h4 | 131
Questão 11

O cartum faz uma crítica social. A figura destacada está em oposição às outras e representa a
A opressão das minorias sociais.
B carência de recursos tecnológicos.
C falta de liberdade de expressão.
D defesa da qualificação profissional.
E reação ao controle do pensamento coletivo

Questão 12 - (E NE M 2018)

A Internet proporcionou o surgimento de novos paradigmas sociais e impulsionou a modificação de outros já


estabelecidos nas esferas da comunicação e da informação. A principal consequência criticada na tirinha sobre esse
processo é a
A criação de memes
B ampliação da blogosfera
C supremacia das ideias cibernéticas
D comercialização de pontos de vista
E banalização do comércio eletrônico

132 |
Questão 13 - (E NE M 2017)
Exmº Sr. Governador:
Trago a V. Exa. um resumo dos trabalhos realizados pela Prefeitura de Palmeira dos Índios em 1928.
[…]
ADMINISTRAÇÃO
Relativamente à quantia orçada, os telegramas custaram pouco. De ordinário vai para eles dinheiro considerável.
Não há vereda aberta pelos matutos que prefeitura do interior não ponha no arame, proclamando que a coisa foi feita
por ela; comunicam-se as datas históricas ao Governo do Estado, que não precisa disso; todos os acontecimentos po-
líticos são badalados. Porque se derrubou a Bastilha – um telegrama; porque se deitou pedra na rua – um telegrama;
porque o deputado F. esticou a canela – um telegrama.
Palmeira dos Índios, 10 de janeiro de 1929.
GRACILIANO RAMOS
RAMOS, G. Viventes das Alagoas. São Paulo: Martins Fontes, 1962.
O relatório traz a assinatura de Graciliano Ramos, na época, prefeito de Palmeira dos Índios, e é destinado ao
governo do estado de Alagoas.
De natureza oficial, o texto chama a atenção por contrariar a norma prevista para esse gênero, pois o autor:
A emprega sinais de pontuação em excesso.
B recorre a termos e expressões em desuso no português.
C apresenta-se na primeira pessoa do singular, para conotar intimidade com o destinatário.
D privilegia o uso de termos técnicos, para demonstrar conhecimento especializado.
E expressa-se em linguagem mais subjetiva, com forte carga emocional.

Questão 14 - (E NE M 2016 – 2ª APLIC)


Fraudador é preso por emitir atestados com erro de português
Mais um erro de português leva um criminoso às mãos da polícia. Desde 2003, M.O.P., de 37 anos, administrava a
empresa MM, que falsificava boletins de ocorrência, carteiras profissionais e atestados de óbito, tudo para anular mul-
tas de trânsito. Amparado pela documentação fajuta de M.O.P., um motorista poderia alegar às Juntas Administrativas
de Recursos de Infrações que ultrapassou o limite de velocidade para levar uma parente que passou mal e morreu a
caminho do hospital. O esquema funcionou até setembro, quando M.O.P. foi indiciado. Atropelara a gramática. Havia
emitido, por exemplo, um atestado de abril do ano passado em que estava escrito aneurisma “celebral” (com l no lugar
de r) e “insulficiência” múltipla de órgãos (com um l desnecessário em “insuficiência” — além do fato de a expressão
médica adequada ser “falência múltipla de órgãos”). M.O.P. foi indiciado pela 2ª Delegacia de Divisão de Crimes de
Trânsito. Na casa do acusado, em São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo, a polícia encontrou um computador
com modelos de documentos.
Língua Portuguesa, n. 12, set. 2006 (adaptado).
O texto apresentado trata da prisão de um fraudador que emitia documentos com erros de escrita. Tendo em vista
o assunto, a organização, bem como os recursos linguísticos, depreende-se que esse texto é um(a)
A conto, porque discute problemas existenciais e sociais de um fraudador.
B notícia, porque relata fatos que resultaram no indiciamento de um fraudador.
C crônica, porque narra o imprevisto que levou a polícia a prender um fraudador.
D editorial, porque opina sobre aspectos linguísticos dos documentos redigidos por um fraudador.
E piada, porque narra o fato engraçado de um fraudador.

Competência 1: h1, h2, h3 e h4 | 133


Questão 15 - (E NE M 2015)
Posso mandar por e-mail?
Atualmente, é comum “disparar” currículos na internet com a expectativa de alcançar o maior número possível de
selecionadores. Essa, no entanto, é uma ideia equivocada: é preciso saber quem vai receber seu currículo e se a vaga
é realmente indicada para seu perfil, sob o risco de estar “queimando o filme” com um futuro empregador. Ao enviar o
currículo por e-mail, tente saber quem vai recebê-lo e faça um texto sucinto de apresentação, com a sugestão a seguir:
Assunto: Currículo para a vaga de gerente de marketing.
Mensagem: Boa tarde. Meu nome é José da Silva e gostaria de me candidatar à vaga de gerente de marketing.
Meu currículo segue anexo.
Guia da língua 2010: modelos e técnicas. Língua Portuguesa, 2010 (adaptado).
O texto integra um guia de modelos e técnicas de elaboração de textos e cumpre a função social de
A divulgar um padrão oficial de redação e envio de currículos.
B indicar um modelo de currículo para pleitear uma vaga de emprego.
C instruir o leitor sobre como ser eficiente no envio de currículo por e-mail.
D responder a uma pergunta de um assinante da revista sobre o envio de currículo por e-mail.
E orientar o leitor sobre como alcançar o maior número possível de selecionadores de currículos

15. C 14. B 13. E 12. D 10. A 11. E 9. C 8. E 7. E 6. C 5. B 1. D 2. C 3. A 4. D


GABARITO

134 |
COMPETÊNCIA 7

Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as


diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
Viemos até aqui construindo uma bela trajetória teórica. Sabemos “Movimento dos sentidos, errância
que a língua opera como um sistema simbólico individual e coletivo dos sujeitos, lugares provisórios de
(competência 6), que nos permite entender a vida de uma maneira conjunção e dispersão, de unidade
específica. Sabemos também que a língua pode se manifestar das e de diversidade, de indistinção, de
mais variadas formas (competência 8) moldando-se a partir da incerteza, de trajetos de ancoragem
época, da região, da situação social, isto é, do sujeito e de tudo o e de vestígios: isto é discurso,
que lhe compete. A partir de agora, vamos confrontar opiniões e isto é o ritual da palavra. Mesmo
pontos de vista diferentes acerca das manifestações específicas o das palavras que não se dizem.
de uso da língua e da linguagem. De um lado, é na movência, na
provisoriedade, que os sujeitos e os
Por manifestações específicas, entendamos os usos da linguagem sentidos se estabelecem; de outro,
socialmente efetivados: manifestações coletivas de uso da língua eles se estabilizam, se cristalizam,
que visem à construção de uma maneira específica de entender permanecem. Paralelamente, se,
determinado assunto relevante para a sociedade como um todo: de um lado, há previsibilidade na
campanhas publicitárias, divulgações de projetos governamentais, relação do sujeito com o sentido,
campanhas eleitorais, notícias televisivas, textos jornalísticos etc., da linguagem com o mundo, toda
etc., etc. Observe, portanto, que nosso corpus de análise não formação social, no entanto, tem
está no uso individual da língua e da linguagem (como estava na formas de controle de interpretação,
competência 8). O que queremos observar são as manifestações que são historicamente determinadas:
específicas de âmbito coletivo e de interesse social. há modos de interpretar, não é todo
mundo que pode interpretar de acordo
Confrontaremos opiniões diferentes sobre essas manifestações
com sua vontade, há especialistas, há
específicas. Abordaremos os usos linguísticos na sua tensão,
um corpo social a quem se delegam
nas suas contradições, nas diferentes opiniões que possam, a
poderes de interpretar (logo de
partir deles, se originar. “Confrontar” é o grande verbo dessa
“atribuir” sentidos”), tais como
competência. Entenderemos as manifestações linguísticas a partir
o juiz, o professor, o advogado, o
dos vários sentidos que delas derivam (sem nunca abordarmos
padre, etc. Os sentidos estão sempre
todos, evidentemente).
“administrados”, não estão soltos,
Para cumprir essa tarefa, ancoro-me nos preceitos e métodos instados a interpretar, havendo uma
de uma linha teórica específica, chamada Análise do Discurso. injunção ao interpretar.”
Durante nosso caminho percorrido até aqui, já tangenciamos alguns
preceitos daí provenientes, mas será a partir de agora que vamos [Eni Orlandi, Análise de Discurso:
nos aventurar mais profundamente nos percalços do discurso. princípios e procedimentos]
Analisar as manifestações linguísticas constituídas socialmente
a partir da Análise do Discurso (doravante AD) significa partir do
princípio de que nada é óbvio nas palavras, tudo está implícito;
entenderemos a palavra a partir da sua opacidade, a partir das
zonas de silêncio. O não dizer fará parte daquilo que queremos
observar. As não palavras por entre as palavras serão assumidas
como fonte de sentido. Isso é o discurso: todos os possíveis sentidos
submersos naquilo que está no texto e, por consequência, todas as
atitudes que podem ser causadoras ou que podem ser causadas
por aquilo que se diz no texto. Por isso, a língua e a linguagem são
entendidas a partir da sua exterioridade: a partir do veículo por

136 |
meio do qual se veicula a informação, a partir das condução que a língua pode exercer sobre
possíveis intenções de quem produziu o texto, aqueles que a ela se submetem. Entendamos por
a partir dos possíveis interlocutores a quem se “aqueles que se submetem à língua” como “todos
destina um texto específico, etc. os seres humanos”. Ou seja, na competência 7,
nós passaremos a ver, na prática, o modo como
Isso não quer dizer que estejamos ignorando o
o manuseio intencional da língua e da linguagem
texto e sua estrutura interna. Muito pelo contrário.
conduz as pessoas a pensarem de determinada
Estamos levando às últimas consequências o que
forma. Sentiremos na pele a teorização sobre a
a estrutura do texto é e o que ela promove. A
qual já refletimos na competência 6 (livro 1).
questão é que tomaremos o texto como ponto
Lá, nós entendemos a linguagem como meio de
de partida, para então entender a que ele de fato
organização cognitiva da realidade. A partir de
se propõe, quais seriam os objetivos de quem
agora, nós veremos, com nossos próprios olhos, a
o produziu e quais as possíveis consequências
organização cognitiva da realidade, a intencional
naqueles que o leem. Nesse sentido, assumem
construção discursiva a serviço da construção
papel fundamental os recursos argumentativos,
de uma visão, de uma ideologia, de um jeito de
isto é, as estratégias usadas para convencimento
pensar, de um modo de entender a vida.
do leitor, as formar específicas de utilização
linguística que podem levar aqueles que a leiam Espero que o(a) leitor(a) perceba, diante
a pensar de determinada maneira e a entender da base teórica que estamos construindo, a
determinado objeto de análise de uma forma importância, nessa competência, da análise dos
específica. Falaremos, portanto, do poder de discursos das campanhas publicitárias, das

Competência 7 | 137
campanhas governamentais e/ou eleitorais descrever essas notícias) e etc. Buscaremos a
(que são alimentadas pelo discurso publicitário, palavra em movimento, em franco contato com
claro); dos discursos emitidos pelos jornalistas a vida socialmente constituída e com as verdades
(por meio da seleção de notícias e de modos de legitimadas.

A palavra “campanha”, muito antes de ser usada pela publicidade,


já era usada pelo exército. “Campanhas militares” eram assim
chamadas por ocorrerem nos “campos”. Uma campanha militar é
uma estratégia organizada, pensada e construída com a intenção
de vencer o inimigo, de atacar suas fraquezas, de eliminá-lo. É
curioso notar campanha sendo usada na publicidade e na política.
Campanhas publicitárias e campanhas eleitorais pressupõem um
inimigo, alguém a ser vencido, estratégias a serem traçadas, medidas
emergenciais a serem tomadas. Armas: discursos, imagens, palavras!

E você sabe: guerra é guerra!

138 |
AS diferentes LINGUAGENS
Lembremos que, como diz a competência 7, como seu, na cor escolhida para a parede da sala,
vamos confrontar opiniões e pontos de vista no quadro posicionado acima da cabeceira, no
sobre as diferentes linguagens. Isto é, não é só a tapete escolhido pro quarto, na tatuagem feita
palavra que significa: as imagens também dizem, nas costas: em uma palavra, em tudo o que é
os gestos produzem sentido, os corpos1 gritam cultural e, portanto, socialmente construído.
sem que nenhuma palavra precise ser dita. Não
é só a língua que opera como sistema simbólico. Entendendo desse modo, podemos nos tornar
Por isso, fala-se em linguagens e não só em discursivamente poderosos, uma vez que nos
língua. A língua realmente pode ser o primeiro capacitaremos para produzir intencionalmente
sistema simbólico criado pela humanidade, mas, nossos posicionamentos e desvendar as
sem dúvida alguma, não é o único, em especial intencionalidades discursivas dos sujeitos ao
nos tempos em que vivemos. Sabemos muito nosso redor. Aumentar a competência linguística
bem que os significados estão nas roupas, nos significa ampliar a capacidade de influenciar os
bens de consumo, nas imagens que vemos na outros e diminuir as possibilidades de os outros
tevê, nas trilhas sonoras das propagandas, no nos influenciar. Evidentemente, essa evolução
senso estético de uma página virtual, nas fotos discursiva precisa estar acompanhada de um
publicadas em uma rede social, no carro escolhido aprimoramento ético, ou não será evolução de
fato. A boa performance discursiva a que me
1 Entendamos por “corpos” tudo aquilo que é físico e que,
refiro deve sempre ser usada para o bem, para
justamente por isso, pode servir de referência para a con- a liberdade, para a autonomia do indivíduo e da
strução de um sentido. Corpos são o repouso da significação.
Só há significados porque há corpos. sociedade.

O sujeito pragmático – isto é, cada um de nós, os


“simples particulares” face às diversas urgências
de sua vida – tem por si mesmo uma imperiosa
necessidade de homogeneidade lógica: isso se marca
pela existência dessa multiplicidade de pequenos
sistemas lógicos portáteis que são da gestão cotidiana
da existência (por exemplo, em nossa civilização, o
porta-notas, as chaves, a agenda, os papéis, etc.) até
as “grandes decisões” da vida social e afetiva (eu
decido fazer isso e não aquilo de responder X e não
Y, etc.) passando por todo o contexto sociotécnico
dos “aparelhos domésticos” (isto é, a série de objetos
que adquirimos e que aprendemos a fazer funcionar,
que jogamos e que perdemos, que quebramos, que
consertamos e que substituímos).

[Michel Pechêux, Discurso: estrutura e acontecimento]

Competência 7 | 139
Em uma sociedade como a nossa conhecemos, é certo,
procedimentos de exclusão. O mais evidente, o mais familiar
também, é a interdição. Sabe-se bem que não se tem o direito
de dizer tudo, que não se pode falar de tudo em qualquer
circunstância, que qualquer um, enfim, não pode falar de
qualquer coisa. Tabu do objeto, ritual da circunstância,
direito privilegiado ou exclusivo do sujeito que fala: temos
aí o jogo de três tipos de interdições que se cruzam, se
reforçam ou se compensam, formando uma grade complexa que
não cessa de se modificar. Notaria apenas que, em nossos
dias, as regiões onde a grade é mais cerrada, onde os
buracos negros se multiplicam, são as regiões da sexualidade
e as da política: como se o discurso, longe de ser esse
elemento transparente ou neutro no qual a sexualidade se
desarma e a política se pacifica, fosse um dos lugares onde
elas exercem, de modo privilegiado, alguns de seus mais
temíveis poderes. Por mais que o discurso seja aparentemente
bem pouca coisa, as interdições que o atingem revelam logo,
rapidamente, sua ligação com o desejo e com o poder. Nisto
não há nada de espantoso, visto que o discurso – como a
psicanálise nos mostrou – não é simplesmente aquilo que
manifesta (ou oculta) o desejo; é, também, aquilo que é o
objeto do desejo; e visto que – isto a história não cessa
de nos ensinar – o discurso não é simplesmente aquilo que
traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo por
que, pelo que se luta o poder do qual nos queremos apoderar.

[Michel Foucault, A Ordem do Discurso]

140 |
HABILIDADE 21
Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e
não verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar
comportamentos e hábitos.

HABILIDADE 22
Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos
e recursos linguísticos.

As habilidades da prova do ENEM, em geral, têm o propósito de nos fazer


perceber a organização da vida social como nosso objeto de análise. Isto
é, o conhecimento é visto de forma mais prática, mais empírica, mais
vinculada à efetivação da vida agenciada coletivamente. Nesse sentido,
as habilidades 21 e 22 direcionam-se às manifestações específicas das
linguagens (recursos verbais e não verbais) com o propósito de entender
as verdadeiras finalidades dos textos (na verdade, dos sujeitos que os
produzem) a que somos expostos.

Competência 7 | 141
"O falar tem a natureza
divina de inverter
imediatamente o
visar."

George Hegel
Fenomenologia do espírito

Há uma particularidade na habilidade 21, que é o destaque dos


recursos verbais e não verbais que tenham a finalidade de criar e
mudar comportamentos e hábitos. Assim, a língua e a linguagem serão
observadas em franca atividade, a partir das consequências que possam
causar. A língua e a linguagem podem criar e mudar comportamentos;
só precisamos captar os momentos específicos em que isso ocorre
e as engrenagens linguísticas (e portanto simbólicas) usadas para tal
finalidade. A língua cria e altera não somente comportamentos, mas
também hábitos. Até porque os hábitos podem ser entendidos como os
comportamentos relativamente permanentes (sabendo-se que não há
comportamentos absolutamente permanentes).

O poder linguístico de criar e mudar comporta-mentos e hábitos pode


ser usado para o bem e para o mal (sabendo que os conceitos de “bem”
e “mal” são relativos, sendo os dois uma construção linguística). Isto é,
podemos elaborar uma campanha publicitária em nome da igualdade de
gênero, da consciência da desigualdade social, da diminuição do racismo
ou em nome do uso de bebidas alcoólicas, do armamento da população,
da violência, do consumo.

142 |
Competência 7 | 143
144 |
Competência 7 | 145
HABILIDADE 23
Inferir, em um texto, quais são os objetivos de seu produtor
e quem é seu público-alvo,
pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.

“Público-alvo”
O termo “alvo” também é usado
no discurso bélico.
Atiradores têm um alvo:
publicitários, também.

146 |
Nessa habilidade, ganha destaque o público-alvo Quando uma campanha se refere a um
dos textos (verbais e não verbais). Toda produção público específico, não acaba elaborando uma
linguística se constrói com um interlocutor organização cognitiva de quais características
(mesmo que imaginário e mesmo que esse teria esse público? O que lhe agrada? E por quê?
interlocutor seja o próprio enunciador). E será O que cabe a nós, a partir disso, é observar quais
aqui que teremos a oportunidade de analisar os seriam os objetivos do emissor? Que objetivos
mais variados tipos de recursos linguísticos que estão implícitos em determinadas escolhas
nos permitam depreender a quem se destina linguísticas? Quais as intenções daqueles que
determinada mensagem, e que tipo de visão se produzem as campanhas publicitários, os slogans
tem acerca desse interlocutor. de campanha, as frases de efeito? Que frase deve
representar um governo? Que intencionalidades
Isto é, no momento em que se entende a
estariam por trás do que essa frase diz e do
comunicação a partir da tensão entre emissor e
que ela não diz? Que zonas de silêncio ela
receptor, temos a oportunidade de refletir acerca
permite escutar? O que pode ser depreendido
do modo como o emissor percebe seu receptor
de determinadas imagens? De determinados
a partir das escolhas linguístico-simbólicas feitas
efeitos sonoros em peças televisivas? Como
pelo emissor. Escrever para a alguém é deixar
nós acabamos sendo seduzidos por tudo isso?
escapar o que se pensa sobre esse alguém.
O que sentimos quando somos tocados por
Elaborar uma propaganda sobre um produto
uma propaganda? O que fazer quando somos o
específico é deixar implícito a quem esse produto
público-alvo de determinado produto e acabamos
se destina e o que se pensa sobre esse alguém,
sendo acertados? Envenenados pela curiosidade,
que construção simbólica se tem de determinado
contaminados com uma ideia.
público. Por exemplo, as propagandas de cerveja
parecem ser destinadas ao mesmo público a que
as propagandas de produtos de limpeza? (Imagem do filme “Neuras da Semana”, da marca "Veja")

exemplos

Competência 7 | 147
“Veja, marca número um de produtos de limpeza, lança um
novo filme para mostrar ao consumidor que ele pode ficar
sossegado quando o assunto é a limpeza do lar. Com o
título de “Neuras da Semana”, o vídeo mostra, de forma
bem humorada, como os produtos Veja Limpeza Pesada e Veja
Perfumes são capazes de exterminar aquele desânimo que bate
quando as palavras “limpeza” e “faxina” são pronunciadas.
A peça tem o objetivo de comunicar a nova embalagem e as
novas fragrâncias de Veja Perfumes e o novo benefício
(claim) de Veja Limpeza Pesada – três vezes mais poder de
limpeza.

Criado pela agência Havas Worldwide e produzido pela YourMama


Films, o filme começa com uma moça chegando em sua casa e
se deparando com versões dela mesma sentadas no sofá. Ao
indagar quem são elas, uma das mulheres diz ser a neura da
segunda-feira, enquanto as outras são correspondentes aos
dias restantes da semana. Ao olhar para o lado, a dona da
casa se depara também com a neura da faxina pesada, que é
uma versão super musculosa da personagem.

A consumidora, então, dispensa as neuras, pois Veja tem a


melhor solução para ela: Veja Perfumes tem novas fragrâncias
que deixam a casa incrivelmente perfumada na limpeza do
dia a dia.”
[fonte: http://grandesnomesdapropaganda.com.br/anunciantes/veja-lanca-campanha-para-acabar-
com-neuras-da-semana/ Acesso em 26/06/2016]

148 |
A que tipo de público se destina a propaganda da Skol?
A homens? A que tipo de homens?

A que público parece se destinar a máquina de lavar? Esse público parece


não ter tempo livre. Por quê? Com o que se espera que a mulher
esteja ocupando seu tempo (que, lembremos, é sua vida)?

Competência 7 | 149
150 |
HABILIDADE 24
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o
convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
chantagem, entre outras.

Competência 7 | 151
Essa habilidade parece nos levar a observar pensamos sobre a realidade, isto é, a verdade pode
recursos publicitários (ou seja, linguísticos) nos fazer interferir na realidade de determinada
usados para nos convencer, intimidar, seduzir, forma; a linguagem pode, portanto, interferir na
comover, etc. É aqui que deve ficar claro o modo realidade; nesse sentido, a linguagem em si pode
como os discursos (expressos por propagandas, ser vista como a realidade mesma.
por telejornais, por filmes, etc.) conseguem tocar
nas nossas fraquezas a ponto de nos conduzir a É curioso refletir sobre o modo como as
pensar de determinada forma sem que tenhamos propagandas nos tocam, no emocionam, nos
consciência disso. Parece ser isso o verdadeiro fazem associar um determinado sentimento
discurso: o que fica dele nos sujeitos ou ainda a um determinado bem de consumo.
o que há nos sujeitos que faz surgir o discurso. A Coca-Cola, todo fim de ano, nos emociona, nos
O discurso talvez esteja nas suas causas e nas faz associar o Natal às suas propagandas, nos faz
suas consequências. A linguagem parece que associar bons sentimentos ao refrigerante, que
tem a capacidade de influenciar no modo como afinal de contas nos permite “abrir a felicidade”.

152 |
Competência 7 | 153
Lista de questões Competência 7
Habilidades 21, 22, 23 e 24

Linguagens NÃO é interpretação


Questão 01 – E NE M 2017 (2ª APLIC.)

Campanhas de conscientização para o diagnóstico precoce do câncer de mama estão presentes no cotidiano das
brasileiras, possibilitando maiores chances de cura para a paciente, em especial se a doença for detectada precoce-
mente. Pela análise dos recursos verbais e não verbais dessa peça publicitária, constata-se que o cartaz
A promove o convencimento do público feminino, porque associa as palavras “prevenção” e “conscientização”.
B busca persuadir as mulheres brasileiras, valendo-se do duplo sentido da palavra “tocar”.
C objetiva chamar a atenção para um assunto evitado por mulheres mais velhas.
D convence a mulher a se engajar na campanha e a usar o laço rosa.
E mostra a seriedade do assunto, evitado por muitas mulheres.

Questão 02 – E NE M 2016

Nesse texto, a combinação de elementos verbais e não verbais configura-se como estratégia argumentativa para
A manifestar a preocupação do governo com a segurança dos pedestres.
B associar a utilização do celular às ocorrências de atropelamento de crianças.
C orientar pedestres e motoristas quanto à utilização responsável do telefone móvel.
D influenciar o comportamento de motoristas em relação ao uso de celular no trânsito.
E alertar a população para os riscos da falta de atenção no trânsito das grandes cidades.

Competência 7: h21, h22, h23, h24 | 155


Questão 03 – E NE M 2015

Nas peças publicitárias, vários recursos verbais e não verbais são usados com o objetivo de atingir o público-alvo,
influenciando seu comportamento. Considerando as informações verbais e não verbais trazidas no texto a respeito da
hepatite, verifica-se que
A o tom lúdico é empregado como recurso de consolidação do pacto de confiança entre o médico e a população.
B a figura do profissional da saúde é legitimada, evocando-se o discurso autorizado como estratégia argumentativa.
C o uso de construções coloquiais e específicas da oralidade são recursos de argumentação que simulam o discurso
do médico.
D a empresa anunciada deixa de se autopromover ao mostrar preocupação social e assumir a responsabilidade pelas
informações.
E o discurso evidencia uma cena de ensinamento didático, projetado com subjetividade no trecho sobre as maneiras
de prevenção.

Questão 04 – E NE M 2017

Nesse cartaz publicitário de uma empresa de papel e celulose, a combinação dos elementos verbais e não verbais
visa
A justificar os prejuízos ao meio ambiente, ao vincular a empresa à difusão da cultura.
B incentivar a leitura de obras literárias, ao referir-se a títulos consagrados do acervo mundial.
C seduzir o consumidor, ao relacionar o anunciante às histórias clássicas da literatura universal.
D promover uma reflexão sobre a preservação ambiental ao aliar o desmatamento aos clássicos da literatura.
E construir uma imagem positiva do anunciante, ao associar a exploração alegadamente sustentável à produção de
livros.
156 |
Questão 05 – E NE M 2013

O cartaz aborda a questão do aquecimento global. A relação entre os recursos verbais e não verbais nessa pro-
paganda revela que
A o discurso ambientalista propõe formas radicais de resolver os problemas climáticos.
B a preservação da vida na Terra depende de ações de dessalinização da água marinha.
C a acomodação da topografia terrestre desencadeia o natural degelo das calotas polares.
D o descongelamento das calotas polares diminui a quantidade de água doce potável do mundo.
E a agressão ao planeta é dependente da posição assumida pelo homem frente aos problemas ambientais.

Questão 06 – E NE M 2017
TEXTO I
Criatividade em publicidade: teorias e reflexões
Resumo: O presente artigo aborda uma questão primordial na publicidade: a criatividade. Apesar de aclamada pe-
los departamentos de criação das agências, devemos ter a consciência de que nem todo anúncio é, de fato, criativo. A
partir do resgate teórico, no qual os conceitos são tratados à luz da publicidade, busca-se estabelecer a compreensão
dos temas. Para elucidar tais questões, é analisada uma campanha impressa da marca XXXX. As reflexões apontam
que a publicidade criativa é essencialmente simples e apresenta uma releitura do cotidiano.
DEPEXE, S. D. Travessias: Pesquisas em Educação, Cultura, Linguagem e Artes, n. 2, 2008.

Os dois textos apresentados versam sobre o tema criatividade. O Texto I é um resumo de caráter científico e o
Texto II, uma homenagem promovida por um site de publicidade. De que maneira o Texto lI exemplifica o conceito de
criatividade em publicidade apresentado no Texto I?
A Fazendo menção ao difícil trabalho das mães em criar seus filhos.
B Promovendo uma leitura simplista do papel materno em seu trabalho de criar os filhos.
C Explorando a polissemia do termo “criação”.
D Recorrendo a uma estrutura linguística simples.
E Utilizando recursos gráficos diversificados.

Competência 7: h21, h22, h23, h24 | 157


Questão 07 – E NE M 2016
TEXTO I
Nesta época do ano, em que comprar compulsivamente é a principal preocupação d e boa parte da população, é
imprescindível refletirmos sobre a importância da mídia na propagação de determinados comportamentos que induzem
ao consumismo exacerbado. No clássico livro O capital, Karl Marx aponta que no capitalismo os bens materiais, ao
serem fetichizados, passam a assumir qualidades que vão além da mera materialidade. As coisas são personificadas e
as pessoas são coisificadas. Em outros termos, um automóvel de luxo, uma mansão em um bairro nobre ou a ostenta-
ção de objetos de determinadas marcas famosas são alguns dos fatores que conferem maior valorização e visibilidade
social a um indivíduo.
LADEIRA, F. F. Reflexões sobre o consumismo. Disponível em: http://observatoriodaimprensa.com.br. Acesso em: 18 jan. 2015.
TEXTO II
Todos os dias, em algum nível, o consumo atinge nossa vida, modifica nossas relações, gera e rege sentimentos,
engendra fantasias, aciona comportamentos, faz sofrer, faz gozar. Às vezes constrangendo-nos em nossas ações no
mundo, humilhando e aprisionando, às vezes ampliando nossa imaginação e nossa capacidade de desejar, consumi-
mos e somos consumidos. Numa época toda codificada como a nossa, o código da alma (o código do ser) virou código
do consumidor! Fascínio pelo consumo, fascínio do consumo. Felicidade, luxo, bem-estar, boa forma, lazer, elevação
espiritual, saúde, turismo, sexo, família e corpo são hoje reféns da engrenagem do consumo.
BARCELLOS, G. A alma do consumo. Disponível em: www.diplomatique.org.br. Acesso em: 18 jan. 2015.
Esses textos propõem uma reflexão crítica sobre o consumismo. Ambos partem do ponto de vista de que esse hábito
A desperta o desejo de ascensão social.
B provoca mudanças nos valores sociais.
C advém de necessidades suscitadas pela publicidade.
D deriva da inerente busca por felicidade pelo ser humano.
E resulta de um apelo do mercado em determinadas datas.

Questão 08 – E NE M 2014
TEXTO I
Seis estados zeram fila de espera para transplante da córnea
Seis estados brasileiros aproveitaram o aumento no número de doadores e de transplantes feitos no primeiro se-
mestre de 2012 no país e entraram para uma lista privilegiada: a de não ter mais pacientes esperando por uma córnea.
Até julho desse ano, Acre, Distrito Federal, Espírito Santo, Paraná, Rio Grande do Norte e São Paulo eliminaram a lista
de espera no transplante de córneas, de acordo com balanço divulgado pelo Ministério da Saúde, no Dia Nacional de
Doação de Órgãos e Tecidos. Em 2011, só São Paulo e Rio Grande do Norte conseguiram zerar essa fila.
TEXTO II

A notícia e o cartaz abordam a questão da doação de órgãos. Ao relacionar os dois textos, observa -se que o cartaz é
A contraditório, pois a notícia informa que o país superou a necessidade de doação de órgãos.
B complementar, pois a notícia diz que a doação de órgãos cresceu e o cartaz solicita doações.
C redundante, pois a notícia e o cartaz têm a intenção de influenciar as pessoas a doarem seus órgãos.
D indispensável, pois a notícia fica incompleta sem o cartaz, que apela para a sensibilidade das pessoas.
E discordante, pois ambos os textos apresentam posições distintas sobre a necessidade de doação de órgãos.

158 |
Questão 09 - (E NE M 2017)
Sítio Gerimum
Este é o meu lugar [ ... ]
Meu Gerimum é com g
Você pode ter estranhado
Gerimum em abundância
Aqui era plantado
E com a letra g
Meu lugar foi registrado.
OLIVEIRA, H. D. Língua Portuguesa, n. 88, fev. 2013 (fragmento}.
Nos versos de um menino de 12 anos, o emprego da palavra “Gerimum” grafada com a letra “g” tem por objetivo
A valorizar usos informais caracterizadores da norma nacional.
B confirmar o uso da norma-padrão em contexto da linguagem poética.
C enfatizar um processo recorrente na transformação da língua portuguesa.
D registrar a diversidade étnica e linguística presente no território brasileiro.
E reafirmar discursivamente a forte relação do falante com seu lugar de origem.

Questão 10 - E NE M 2016
Qual é a segurança do sangue?
Para que o sangue esteja disponível para aqueles que necessitam, os indivíduos saudáveis devem criar o hábito
de doar sangue e encorajar amigos e familiares saudáveis a praticarem o mesmo ato.
A prática de selecionar criteriosamente os doadores, bem como as rígidas normas aplicadas para testar, trans-
portar, estocar e transfundir o sangue doado fizeram dele um produto muito mais seguro do que já foi anteriormente.
Apenas pessoas saudáveis e que não sejam de risco para adquirir doenças infecciosas transmissíveis pelo san-
gue, como hepatites B e C, HIV, sífilis e Chagas, podem doar sangue.
Se você acha que sua saúde ou comportamento pode colocar em risco a vida de quem for receber seu sangue, ou
tem a real intenção de apenas realizar o teste para o vírus HIV, NÃO DOE SANGUE.
Cumpre destacar que apesar de o sangue doado ser testado para as doenças transmissíveis conhecidas no mo-
mento, existe um período chamado de janela imunológica em que um doador contaminado por um determinado vírus
pode transmitir a doença através do seu sangue.
DA SUA HONESTIDADE DEPENDE A VIDA DE QUEM VAI RECEBER SEU SANGUE.
Disponível em: www.prosangue.sp.gov.br. Acesso em: 24 abr. 2015 (adaptado).
Nessa campanha, as informações apresentadas têm como objetivo principal
A conscientizar o doador de sua corresponsabilidade pela qualidade do sangue.
B garantir a segurança de pessoas de grupos de risco durante a doação de sangue.
C esclarecer o público sobre a segurança do processo de captação do sangue.
D alertar os doadores sobre as dificuldades enfrentadas na coleta de sangue.
E ampliar o número de doadores para manter o banco de sangue.

Questão 11 - (ENEM 2017 - 2ª APLICAÇÃO )


O comportamento do público, em geral, parece indicar o seguinte: o texto da peça de teatro não basta em si mes-
mo, não é uma obra de arte completa, pois ele só se realiza plenamente quando levado ao palco. Para quem pensa
assim, ler um texto dramático equivale a comer a massa do bolo antes de ele ir para o forno. Mas ele só fica pronto
mesmo depois que os atores deram vida àquelas emoções; que cenógrafos compuseram os espaços, refletindo exter-
namente os conflitos internos dos envolvidos; que os figurinistas vestiram os corpos sofredores em movimento.
LACERDA, R. Leitores. Metáfora, n. 7, abr. 2012.
Em um texto argumentativo, podem-se encontrar diferentes estratégias para guiar o leitor por um raciocínio e
chegar a determinada conclusão. Para defender sua ideia a favor da incompletude do texto dramático fora do palco, o
autor usa como estratégia argumentativa a
A comoção.
B analogia.
C identificação.
D contextualização.
E enumeração.
Competência 7: h21, h22, h23, h24 | 159
Questão 12 - (ENEM 2017 - 2ª APLICAÇÃO )
Este mês, a reportagem de capa veio do meu umbigo. Ou melhor, veio de um mal-estar que comecei a sentir na
barriga. Sou meio italiano, pizzaiolo dos bons, herdei de minha avó uma daquelas velhas máquinas de macarrão a
manivela. Cresci à base de farinha de trigo. Aí, do nada, comecei a ter alergias respiratórias que também pareciam
estar ligadas à minha dieta. Comecei a peregrinar por médicos. Os exames diziam que não tinha nada errado comi-
go. Mas eu sentia, pô. Encontrei a resposta numa nutricionista: eu tinha intolerância a glúten e a lactose. Arrivederci,
pizza. Tchau, cervejinha. Notei também que as prateleiras dos mercados de repente ficaram cheias de produtos que
pareciam ser feitos para mim: leite, queijo e iogurte sem lactose, bolo, biscoito e macarrão sem glúten. E o mais incrível
é que esse setor do mercado parece ser o que está mais cheio de gente. E não é só no Brasil. Parece ser em todo
Ocidente industrializado. Inclusive na Itália. O tal glúten está na boca do povo, mas não está fácil entender a real. De
um lado, a imprensa popular faz um escarcéu, sem no entanto explicar o tema a fundo. Do outro, muitos médicos ficam
na defensiva, insinuando que isso tudo não passa de modismo, sem fundamento -- eu sinto na barriga. O tema é um
vespeiro -- e por isso julgamos que era hora de meter a colher, para separar o joio do trigo e dar respostas confiáveis
às dúvidas que todo mundo tem.
BURGIERMAN, D. R. Tem algo grande aí. Superinteressante, n. 335, jul. 2014 (adaptado).
O gênero editorial de revista contém estratégias argumentativas para convencer o público sobre a relevância da
matéria de capa. No texto, considerando a maneira como o autor se dirige aos leitores, constitui uma característica da
argumentação desenvolvida o(a)
A relato pessoal, que especifica o debate do assunto abordado.
B exemplificação concreta, que desconstrói a generalidade dos fatos.
C referência intertextual, que recorre a termos da gastronomia.
D crítica direta, que denuncia o oportunismo das indústrias alimentícias.
E vocabulário coloquial, que representa o estilo da revista.

Questão 13 - (E NE M 2016)
Você pode não acreditar
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que os leitores deixavam garrafinhas de leite do lado de fora
das casas, seja ao pé da porta, seja na janela.
A gente ia de uniforme azul e branco para o grupo, de manhãzinha, passava pelas casas e não ocorria que alguém
pudesse roubar aquilo.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que os padeiros deixavam o pão na soleira da porta ou na
janela que dava para a rua. A gente passava e via aquilo como uma coisa normal.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que você saía à noite para namorar e voltava andando pelas
ruas da cidade, caminhando displicentemente, sentindo cheiro de jasmim e de alecrim, sem olhar para trás, sem temer
as sombras.
Você pode não acreditar: houve um tempo em que as pessoas se visitavam airosamente. Chegavam no meio
da tarde ou à noite, contavam casos, tomavam café, falavam da saúde, tricotavam sobre a vida alheia e voltavam de
bonde às suas casas.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que o namorado primeiro ficava andando com a moça numa
rua perto da casa dela, depois passava a namorar no portão, depois tinha ingresso na sala da família.
Era sinal de que já estava praticamente noivo e seguro.
Houve um tempo em que havia tempo.
Houve um tempo.
SANT’ANNA, A. R. Estado de Minas, 5 maio 2013 (fragmento).
Nessa crônica, a repetição do trecho “Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que...” configura-se como
uma estratégia argumentativa que visa
A surpreender o leitor com a descrição do que as pessoas faziam durante o seu tempo livre antigamente.
B sensibilizar o leitor sobre o modo como as pessoas se relacionavam entre si num tempo mais aprazível.
C advertir o leitor mais jovem sobre o mau uso que se faz do tempo nos dias atuais.
D incentivar o leitor a organizar melhor o seu tempo sem deixar de ser nostálgico.
E convencer o leitor sobre a veracidade de fatos relativos à vida no passado.

160 |
Questão 14 - (E NE M 2016)
A obra de Túlio Piva poderia ser objeto de estudo nos bancos escolares, ao lado de Noel, Ataulfo e Lupicínio. Se
o criador optou por permanecer em sua querência — Santiago, e depois Porto Alegre, a obra alçou voos mais altos,
com passagens na Rússia, Estados Unidos e Venezuela. Tem que ter mulata, seu samba maior, é coisa de craque. Um
retrato feito de ritmo e poesia, uma ode ao gênero que amou desde sempre. E o paradoxo: misto de gaúcho e italiano,
nascido na fronteira com a Argentina, falando de samba, morro e mulata, com categoria. E que categoria! Uma batida
de violão que fez história. O tango transmudado em samba.
RAMIREZ, H.; PIVA, R. (Org.). Túlio Piva: pra ser samba brasileiro. Porto Alegre: Programa Petrobras Cultural, 2005 (adaptado).
O texto é um trecho da crítica musical sobre a obra de Túlio Piva. Para enfatizar a qualidade do artista, usou-se
como recurso argumentativo o(a)
A contraste entre o local de nascimento e a escolha pelo gênero samba.
B exemplo de temáticas gaúchas abordadas nas letras de sambas.
C alusão a gêneros musicais brasileiros e argentinos.
D comparação entre sambistas de diferentes regiões.
E aproximação entre a cultura brasileira e a argentina.

Questão 15 - (E NE M 2014)
O Brasil é sertanejo
Que tipo de música simboliza o Brasil? Eis uma questão discutida há muito tempo, que desperta opiniões extrema-
das. Há fundamentalistas que desejam impor ao público um tipo de som nascido das raízes socioculturais do país. O
samba. Outros, igualmente nacionalistas, desprezam tudo aquilo que não tem estilo. Sonham como império da MPB de
Chico Buarque e Caetano Veloso. Um terceiro grupo, formado por gente mais jovem, escuta e cultiva apenas a música
internacional, em todas as vertentes. E mais ou menos ignora o resto.
A realidade dos hábitos musicais do brasileiro agora está claro, nada tem a ver com esses estereótipos. O gênero
que encanta mais da metade do país é o sertanejo, seguido de longe pela MPB e pelo pagode. Outros gêneros em
ascensão, sobretudo entre as classes C, D e E, são o funk e o religioso, em especial o gospel. Rock e música eletrônica
são músicas de minoria.
É o que demonstra uma pesquisa pioneira feita entre agosto de 2012 e agosto de 2013 pelo Instituto Brasileiro de
Opinião Pública e Estatística (Ibope). A pesquisa Tribos musicais —o comportamento dos ouvintes de rádio sob uma
nova ótica faz um retrato do ouvinte brasileiro e traz algumas novidades. Para quem pensava que a MPB e o samba
ainda resistiam como baluartes da nacionalidade, uma má notícia: os dois gêneros foram superados em popularidade.
O Brasil moderno não tem mais o perfil sonoro dos anos 1970, que muitos gostariam que se eternizasse. A cara musical
do país agora é outra.
GIRON, L. A. Época, n. 805, out. 2013 (fragmento).
O texto objetiva convencer o leitor de que a configuração da preferência musical dos brasileiros não é mais a mes-
ma da dos anos 1970. A estratégia de argumentação para comprovar essa posição baseia-se no(a)
A apresentação dos resultados de uma pesquisa que retrata o quadro atual da preferência popular relativa à música
brasileira.
B caracterização das opiniões relativas a determinados gêneros, considerados os mais representativos da brasilida-
de, como meros estereótipos.
C uso de estrangeirismos, como rock, funk e gospel, para compor um estilo próximo ao leitor, em sintonia com o ata-
que aos nacionalistas.
D ironia com relação ao apego a opiniões superadas, tomadas como expressão de conservadorismo e anacronismo,
com o uso das designações “império” e “baluarte”.
E contraposição a impressões fundadas em elitismo e preconceito, com a alusão a artistas de renome para melhor
demonstrar a consolidação da mudança do gosto musical popular.

14. A 15. A 12. A 13. B 10. A 11. B 9. E 8. B 7. B 6. C 5. E 4. E 1. B 2. D 3. B


GABARITO

Competência 7: h21, h22, h23, h24 | 161


COMPETÊNCIA 3
Compreender e usar
a linguagem corporal
como relevante para a
própria vida,
integradora social e
formadora da identidade.

162 |
A competência da área 3 tem como foco o corpo, não apenas como corpo, mas como algo “suges-
e busca compreendê-lo a partir de sua dimensão tivo” (belo, ofensivo, agressivo) que remete a um
significativa. Dessa forma, o corpo deve ser anali- significado, o corpo, além de corpo, passa a ser
sado a partir das relações que ele estabelece com um signo.
a sociedade e como essas relações são traduzidas
Por vezes a linguagem do corpo, não falada, pode
em linguagem a partir da corporeidade ou a partir
se manifestar sem a intenção de quem a “emite”;
de discursos sobre o corpo. Por vezes, a compe-
difere da escrita e da oralidade, ela pode se fazer
tência 3 é tida como a que aborda a “educação
presente e significante independente da nossa
física”, pois apresenta questões sobre esportes e
vontade. O corpo fala, mas fala sua própria língua,
atividades físicas, direcionadas para a construção
que não pode ser traduzida perfeitamente em pa-
de uma noção de saúde corporal e de socialização
lavras e se manifesta e se faz compreender por
por meio de atividades esportivas/lúdicas.
vezes sem qualquer mediação verbal.
Dentro da prova cujo elemento central são dife-
Pensando em situações que a linguagem corporal
rentes formas de linguagem, é essa a competên-
se apresenta de forma motivada, com o corpo se
cia que especifica o foco para a linguagem corpo-
tornando significante de forma intencional, ob-
ral. Nesse contexto, como podemos definir o que
servamos esse movimento presente nas diversas
seria, de forma ampla, essa linguagem corporal?
manifestações artísticas que utilizam o corpo como
Considerando linguagem como um sistema com-
suporte ou meio de construção da arte. De certa
posto de elementos codificados que possibilitam
forma, a produção de uma obra de arte é intencio-
a significação e a comunicação, devemos consi-
nal; seu significado pode não corresponder a sua
derar, no caso da linguagem corporal, o corpo
intenção, mas sua produção é sempre motivada.
como o elemento material a ser codificado/de-
No teatro, na dança, na performance e até no es-
codificado. Um olhar, um tom de voz, um mo-
porte, o corpo é inserido em uma situação onde
vimento brusco, um braço cruzado ou um dedo
suas ações (seu movimento e presença) busca cor-
erguido... todos esses elementos são possibilida-
responder a uma codificação específica, buscando
des materiais que o corpo pode reproduzir; no
se adequar a um funcionamento definido de ante-
momento que um desses elementos é percebido
mão, mas sempre necessário de ser performado.

“Até o momento, ninguém, na


verdade, determinou o que pode
o corpo... Pois ninguém, até o
momento, conheceu a estrutura
do corpo”.

(B. Espinoza)

Competência 3 | 163
O corpo e sua linguagem são os elementos primários de nossa interação com o mundo, da nossa com-
preensão sobre ele e sobre nós mesmos. Desde que nascemos, antes de pensar por palavras, nós sentimos
pelo corpo; e a conexão do corpo com a linguagem só não é mais primordial do que a do corpo com a vida,
em sentido mais amplo. O trecho abaixo expõe essa essencialidade do corpo para a existência, usando
termos semelhantes aos presentes nas competências e nas questões do ENEM:
As ações que tecem a trama da vida cotidiana, das mais fúteis ou das menos
concretas até aquelas que ocorrem na cena pública, envolvem a mediação da
corporeidade; fosse tão somente pela atividade perceptiva que o homem desenvolve
a cada instante e que lhe permite ver, ouvir, saborear, sentir, tocar e, assim, colocar
significações precisas no mundo que o cerca.
Moldado pelo contexto social e cultural em que o ator* se insere, o corpo é o vetor
semântico pelo qual a evidência da relação com o mundo é construída: atividades
perceptivas, mas também expressão dos sentimentos, cerimoniais dos ritos de
interação, conjunto de gestos e mímicas, produção da aparência, jogos sutis da
sedução, técnicas do corpo, exercícios físicos, relação com a dor, com o sofrimento,
etc. Antes de qualquer coisa, a existência é corporal.
Os usos físicos do homem dependem de um conjunto de sistemas simbólicos. Do corpo
nascem e se propagam as significações que fundamentam a existência individual e
coletiva; ele é o eixo da relação com o mundo, o lugar e o tempo nos quais a existência
toma forma através da fisionomia singular de um ator, Através do corpo, o homem
apropria-se da substância de sua vida traduzindo-a para os outros, servindo-se dos
sistemas simbólicos que compartilha com os membros da comunidade.
(A Sociologia do Corpo – David le Breton)

*A palavra “ator” é usada nesse contexto de análise sociológica como ator social, para se referir ao
indivíduo perante a sociedade.

"Qual é a estrutura de um corpo?


O que pode um corpo?
A estrutura de um corpo é a
composição da sua relação.
O que pode um corpo é a natureza
e os limites do seu poder de ser
afetado"
(G. Deleuze)

164 |
HABILIDADE 9
Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de
necessidades cotidianas de um grupo social.

Em primeiro lugar, chama a atenção a expressão A medicina não era, a esse título simplesmen-
“manifestações corporais”, que possui um significa- te concebida como uma técnica de intervenção
do muito abrangente; pode ser tanto uma obra de que, em caso de doença, empregaria remédios
arte quanto uma corrida no parque para melhorar e operações. Ela também devia, sob a forma
a saúde. O foco da habilidade não são as diversas de um corpus de saber e de regras, definir uma
manifestações, mas seu surgimento como oriundo maneira de viver, um modo de relação refletida
de uma necessidade cotidiana de algum grupo so- consigo, com o próprio corpo, com o alimento,
cial. Independente da manifestação, a habilidade com a vigília e com o sono, com as diferentes
9 exige a compreensão da gênese/origem de algu- atividades e com o meio.
mas manifestações que hoje já estão sedimentadas (História da Sexualidade v.3 – Michel Foucault)
e reconhecidas como originárias de algum grupo
social em algum contexto histórico. Os esportes podem aparecer nas questões da habi-
lidade 9, mas em um viés voltado para a sociedade.
As necessidades cotidianas podem ser das mais di- As regras ou o funcionamento de um esporte espe-
versas, não sendo limitadas a atividades físicas in- cífico não é o foco aqui (presentes nas questões da
tensas ou artísticas. Lazer, cultura, educação, bem habilidade 11), mas as transformações que as mo-
como as possibilidades que são possibilitadas em dalidades sofrem ao longo do tempo e as conse-
diferentes lugares e para diferentes grupos sociais. quências sociais e econômicas dessas mudanças.
Aspectos relativos à saúde do corpo podem ser Essa habilidade concentra um grande número de
mobilizados, bem como a percepção social do que questões a respeito de manifestações culturais
significa ser saudável. É notório que essa percep- oriundas de populações negras ou periféricas, como
ção vai se modificando ao longo do tempo; como o rap, o hip hop, o funk e elementos da chamada
padrões corporais e de comportamento, a saúde, black muisic. Muitas dessas manifestações não en-
o que caracteriza um corpo saudável e a relação volvem apenas o corpo, mas elementos de música,
da sociedade com a saúde e a enfermidade vão se dança e artes visuais, sendo eles essenciais para a
modificando dependendo do contexto histórico e definição da atuação do corpo em cada contexto
social. Foucault comenta diferentes percepções cultural.
em relação à medicina e ao seu compromisso com
os corpos e com a saúde:

Competência 3 | 165
HABILIDADE 10
Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em
função das necessidades cinestésicas.

Em primeiro lugar, devemos observar a diferen- As classes populares mantêm uma relação mais
ciação entre as necessidades apresentadas aqui instrumental com o corpo. A doença, por exemplo,
(necessidades cinestésicas) e na habilidade 9 (ne- é ressentida como um entrave à atividade física,
cessidades cotidianas. Na habilidade anterior, dire- principalmente profissional. A doença retira dos
ciona-se a análise para necessidades mais ligadas membros dessa camada social a possibilidade de
ao conjunto social. Na habilidade 10, se foca em fazer do corpo um uso (profissional, sobretudo) ha-
necessidades cinestésicas, que significam necessi- bitual e familiar. Dessa forma, não prestam nenhu-
dades do corpo, em sua dimensão de organismo ma atenção especial ao corpo e o utilizam sobre-
organizado que possui funcionamentos e necessi- tudo como um "instrumento" ao qual demandam
dades específicas. boa qualidade de funcionamento e de resistência.

É nessa habilidade que direcionamos para a saúde As classes mais privilegiadas têm tendência a es-
do corpo, sendo ela ou o “bem-estar” uma forte tabelecer uma fronteira mais tênue entre saúde
necessidade cinestésica. A palavra “cinestésia” (de e doença e a adotar, com relação a esta última,
origem grega: “Kinesis”, movimento) é considerada uma atitude mais preventiva para evitar qualquer
sinônimo de “propriocepção”. Ou seja, é a palavra surpresa. Quando a atividade profissional é essen-
usada para identificar a percepção do corpo em cialmente uma atividade intelectual que não exige
movimento, em situações em que ele é exigido. nem força nem competência física particular, os
sujeitos sociais tendem a estabelecer uma relação
Esse foco no funcionamento e na percepção (cons-
consciente com o corpo e a tomar mais cuidado
ciente) do corpo, se aproxima de uma visão de edu-
com as sensações orgânicas e à expressão dessas
cação física como mobilizadora de uma percepção
sensações e, em segundo lugar, a valorizar a “gra-
corporal voltada à saúde. O “bem-estar” relativo
ça”, a “beleza”, a “forma física” em detrimento da
a um corpo saudável é, sem dúvida, uma necessi-
força física.
dade cinestésica, pois um corpo saudável não está
ligado necessariamente a uma percepção estética É nessa habilidade que nos deparamos com ques-
(com “aparência de saudável”), mas sim a uma tões que destacam a representação do corpo e suas
conscientização sobre as necessidades que o corpo consequências cognitivas e para a saúde. Imagens
de cada possui, e como elas devem ser encaradas veiculadas em diferentes mídias acabam moldando
de forma saudável. nossa percepção sobre o corpo e sobre a necessida-
de social de buscar um padrão corporal dentro de
Vale lembrar que aspectos sociais sempre são de-
padrões estéticos que influenciam na percepção do
terminantes da nossa relação com os aspectos do
que é um corpo considerado bonito e saudável. A pu-
mundo que nos cerca. A percepção do corpo e sua
blicidade veicula imagens do corpo padronizadas e
devida “manutenção” não é a mesma para todos,
massificadas que reforçam uma homogeneização da
sendo dependente de determinações histórico-
expectativa a respeito dos corpos, seja ela ligada ou
-sociais que possibilitam ou não certas atividades
não ao corpo (uma propaganda de um produto para
físicas ou percepções corporais. Um exemplo de
emagrecimento pode exibir corpos semelhantes aos
diferenciação entre a relação com o corpo entre
presentes em uma publicidade de cerveja, ou qual-
classes sociais é um estudo de campo na França,
quer outro produto alimentício que não é considera-
do sociólogo Luc Boltansky, citado no livro A Socio-
do saudável).
logia do Corpo:

166 |
HABILIDADE 11
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social,
considerando os limites de desempenho e
as alternativas de adaptação para diferentes indivíduos.

Essa habilidade pode ser interpretada como um di-


recionamento para se pensar limites de desempe-
nho como uma forma de inclusão de pessoas com
corpos diversos em situações sociais e esportivas.
Algumas questões abordam adaptações para pes-
soas com necessidades especiais, abordando moda-
lidades esportivas e eventos com as paraolimpíadas,
mas vale destacar que não é esse o foca da maioria
das questões relativas a essa habilidade.

O que se observa é que as “adaptações” que a ha-


bilidade se refere são mais focadas no desenvolvi-
mento de modalidades esportivas e outras manifes-
tações corporais ao longo do tempo. Por vezes as
questões descrevem jogos, danças e tradições do
passado para que se analise as relações estabeleci-
das com o corpo.

Pertencem a essa habilidade as questões que abor-


dam questões mais técnicas a respeito de diferentes
modalidades esportivas, diferenciando-as e caracte-
rizando-as. As questões nos colocam para análise,
em linhas gerais, os seguintes aspectos: 1) especi-
ficidades de uma mesma modalidade quando com-
parada em diferentes níveis (amador, profissional,
alto rendimento); 2) questões técnicas e classifica-
tórias dos esportes, seja dentro de uma modalidade
(regras de um certo esporte, posturas institucionais
como o fair play); 3) reconhecimento de estruturas
que podem ser observados em diferentes esportes,
com o objetivo de classificar e caracterizar diversas
modalidades em categorias abrangentes (como es-
portes com ou sem contato entre os adversários).

Competência 3 | 167
Lista de questões Competência 3
Habilidades 9, 10 e 11

Linguagens NÃO é interpretação


Questão 01 – E NE M 2016
O filme Menina de ouro conta a história de Maggie Fitzgerald, uma garçonete de 31 anos que vive sozinha em
condições humildes e sonha em se tornar uma boxeadora profissional treinada por Frankie Dunn.
Em uma cena, assim que o treinador atravessa a porta do corredor onde ela se encontra, Maggie o aborda e, a cami-
nho da saída, pergunta a ele se está interessado em treiná-la. Frankie responde: “Eu não treino garotas”. Após essa fala,
ele vira as costas e vai embora. Aqui, percebemos, em Frankie, um comportamento ancorado na representação de que
boxe é esporte de homem e, em Maggie, a superação da concepção de que os ringues são tradicionalmente masculinos.
Historicamente construída, a feminilidade dominante atribui a submissão, a fragilidade e a passividade a uma “natureza fe-
minina”. Numa concepção hegemônica dos gêneros, feminilidades e masculinidades encontram-se em extremidades opostas.
No entanto, algumas mulheres, indiferentes às convenções sociais, sentem-se seduzidas e desafiadas a aderirem
à prática das modalidades consideradas masculinas. É o que observamos em Maggie, que se mostra determinada e
insiste em seu objetivo de ser treinada por Frankie.
FERNANDES, V.; MOURÃO, L. Menina de ouro e a representação de feminilidades plurais. Movimento, n. 4, out.-dez. 2014 (adaptado).
A inserção da personagem Maggie na prática corporal do boxe indica a possibilidade da construção de uma femi-
nilidade marcada pela
A adequação da mulher a uma modalidade esportiva alinhada a seu gênero.
B valorização de comportamentos e atitudes normalmente associados à mulher.
C transposição de limites impostos à mulher num espaço de predomínio masculino.
D aceitação de padrões sociais acerca da participação da mulher nas lutas corporais.
E naturalização de barreiras socioculturais responsáveis pela exclusão da mulher no boxe.

Questão 02 – E NE M 2016
No Brasil, a origem do funk e do hip-hop remonta aos anos 1970, quando da proliferação dos chamados “bailes
black” nas periferias dos grandes centros urbanos. Embalados pela black music americana, milhares de jovens encon-
travam nos bailes de final de semana uma alternativa de lazer antes inexistente. Em cidades como o Rio de Janeiro
ou São Paulo, formavam-se equipes de som que promoviam bailes onde foi se disseminando um estilo que buscava
a valorização da cultura negra, tanto na música como nas roupas e nos penteados. No Rio de Janeiro ficou conhecido
como “Black Rio”. A indústria fonográfica descobriu o filão e, lançando discos de “equipe” com as músicas de sucesso
nos bailes, difundia a moda pelo restante do país.
DAYRELL, J. A música entra em cena: o rap e o funk na socialização da juventude. Belo Horizonte: UFMG, 2005.
A presença da cultura hip-hop no Brasil caracteriza-se como uma forma de
A lazer gerada pela diversidade de práticas artísticas nas periferias urbanas.
B entretenimento inventada pela indústria fonográfica nacional.
C subversão de sua proposta original já nos primeiros bailes.
D afirmação de identidade dos jovens que a praticam.
E reprodução da cultura musical norte-americana.

Questão 03 – E NE M 2018
Encontrando base em argumentos supostamente científicos, o mito do sexo frágil contribuiu historicamente para
controlar as práticas corporais desempenhadas pelas mulheres. Na história do Brasil, exatamente na transição entre os
séculos XIX e XX, destacam-se os esforços para impedir a participação da mulher no campo das práticas esportivas.
As desconfianças em relação à presença da mulher no esporte estiveram culturalmente associadas ao medo de mas-
culinizar o corpo feminino pelo esforço físico intenso. Em relação ao futebol feminino, o mito do sexo frágil atuou como
obstáculo ao consolidar a crença de que o esforço físico seria inapropriado para proteger a feminilidade da mulher
“normal”. Tal mito sustentou um forte movimento contrário à aceitação do futebol como prática esportiva feminina. Leis
e propagandas buscaram desacreditar o futebol, considerando-o inadequado à delicadeza. Na verdade, as mulheres
eram consideradas incapazes de se adequar às múltiplas dificuldades do “esporte-rei”.
TEIXEIRA, F. L. S.; CAMINHA, I. O. Preconceito no futebol feminino: uma revisão sistemática. Movimento, Porto Alegre, n. 1, 2013 (adaptado).
No contexto apresentado, a relação entre a prática do futebol e as mulheres é caracterizada por um
A argumento biológico para justificar desigualdades históricas e sociais.
B discurso midiático que atua historicamente na desconstrução do mito do sexo frágil.
C apelo para a preservação do futebol como uma modalidade praticada apenas pelos homens.
D olhar feminista que qualifica o futebol como uma atividade masculinizante para as mulheres.
E receio de que sua inserção subverta o “esporte-rei” ao demonstrarem suas capacidades de jogo.
Competência 3: h9, h10, h11 | 169
Questão 04 – E NE M 2011
A dança é um importante componente cultural da humanidade. O folclore brasileiro é rico em danças que repre-
sentam as tradições e a cultura de várias regiões do país. Estão ligadas aos aspectos religiosos, festas, lendas, fatos
históricos, acontecimentos do cotidiano e brincadeiras e caracterizam-se pelas músicas animadas (com letras simples
e populares), figurinos e cenários representativos.
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Proposta Curricular do Estado de São Paulo: Educação Física. São Paulo: 2009 (adaptado).
A dança, como manifestação e representação da cultura rítmica, envolve a expressão corporal própria de um povo.
Considerando-a como elemento folclórico, a dança revela
A manifestações afetivas, históricas, ideológicas, intelectuais e espirituais de um povo, refletindo seu modo de expres-
sar- se no mundo.
B aspectos eminentemente afetivos, espirituais e de entretenimento de um povo, desconsiderando fatos históricos.
C acontecimentos do cotidiano, sob influência mitológica e religiosa de cada região, sobrepondo aspectos políticos.
D tradições culturais de cada região, cujas manifestações rítmicas são classificadas em ranking das mais originais.
E lendas, que se sustentam em inverdades históricas, uma vez que são inventadas, e servem apenas para a vivência
lúdica de um povo.

Questão 05 – ENEM 2016 - 2ª APLICAÇÃO


Brinquedos cantados
Os brinquedos cantados são atividades diretamente relacionadas com o ato de cantar e ao conjunto dessas can-
ções, a que chamamos de cancioneiro folclórico infantil. É difícil determinar sua origem. Parece que essas canções
sempre existiram, sempre encantaram o povo e embalaram as criancinhas. A maioria parece ter chegado com os colo-
nizadores portugueses, sofrendo influência ameríndia e africana, devido à colonização e posteriormente ao tráfico de
escravos para o Brasil.
Analisando as letras de alguns brinquedos cantados, podemos observar que elas desenvolvem várias habilidades
motoras, como: motricidade ampla, ritmo, equilíbrio, direcionalidade, lateralidade, percepção espaço-temporal, tônus
muscular, entre outras. E no cognitivo, as letras e coreografias ajudam a criança a desenvolver a atenção, a imaginação
e a criatividade.
ZOBOLI, F.; FURTUOSO, M. S.; TELLES, C. O brinquedo cantado na escola: Uma ferramenta no processo de aprendizagem. Disponível em: www.efdeportes.com. Acesso
em: 14 dez. 2012 (adaptado).
O brinquedo cantado é um importante componente da cultura corporal brasileira, sendo vivenciado com frequência
por muitas crianças. Identifica-se o seu valor para a tradição cultural no(a)
A ampliação dada à força motora das crianças devido ao uso da música e das danças.
B condição educativa fundamentada no uso de jogos sem regras previamente estabelecidas.
C histórico indeterminado dessa forma de brincadeira representativa do cancioneiro folclórico.
D uso de técnicas, facilmente adotadas por qualquer criança, que intensificam a motricidade esportiva.
E possibilidade de contribuição para o desenvolvimento integral do indivíduo.

Questão 06 - E NE M 2015
Riscar o chão para sair pulando é uma brincadeira que vem dos tempos do Império Romano. A amarelinha original
tinha mais de cem metros e era usada como treinamento militar. As crianças romanas, então, fizeram imitações redu-
zidas do campo utilizado pelos soldados e acrescentaram numeração nos quadrados que deveriam ser pulados. Hoje
as amarelinhas variam nos formatos geométricos e na quantidade de casas. As palavras “céu” e “inferno” podem ser
escritas no começo e no final do desenho, que é marcado no chão com giz, tinta ou graveto.
Disponível em: www.biblioteca.ajes.edu.br. Acesso em: 20 maio 2015 (adaptado).
Com base em fatos históricos, o texto retrata o processo de adaptação pelo qual passou um tipo de brincadeira.
Nesse sentido, conclui-se que as brincadeiras comportam o(a)
A caráter competitivo que se assemelha às suas origens.
B delimitação de regras que se perpetuam com o tempo.
C definição antecipada do número de grupos participantes.
D objetivo de aperfeiçoamento físico daqueles que a praticam.
E possibilidade de reinvenção no contexto em que é realizada.

170 |
Questão 07 – E NE M 2017
Apesar de muitas crianças e adolescentes terem a Barbie como um exemplo de beleza, um infográfico feito pelo
site Rehabs.com comprovou que, caso uma mulher tivesse as medidas da boneca de plástico, ela nem estaria viva.
Não é exatamente uma novidade que as proporções da boneca mais famosa do mundo são absurdas para o mun-
do real. Ativistas que lutam pela construção de uma autoimagem mais saudável, pesquisadores de distúrbios alimenta-
res e pessoas que se preocupam com o impacto da indústria cultural na psique humana apontam, há anos, a influência
de modelos como a Barbie na distorção do corpo feminino.
Pescoço
Com um pescoço duas vezes mais longo e 15 centímetros mais fino do que o de uma mulher, a Barbie seria inca-
paz de manter sua cabeça levantada.
Cintura
Com uma cintura de 40 centímetros (menor do que a sua cabeça), a Barbie da vida real só teria espaço em seu
corpo para acomodar metade de um rim e alguns centímetros de intestino.
Quadril
O índice que mede a relação entre a cintura e o quadril da Barbie é de 0,56, o que significa que a medida da sua
cintura representa 56% da circunferência de seu quadril. Esse mesmo índice, em uma mulher americana média, é de
0,8.
Disponível em: http://oglobo.globo.com. Acesso em: 2 maio 2015.
Ao abordar as possíveis influências da indústria de brinquedos sobre a representação do corpo feminino, o texto
analisa a
A noção de beleza globalizada veiculada pela indústria cultural.
B influência da mídia para a adoção de um estilo de vida salutar pelas mulheres.
C relação entre a alimentação saudável e o padrão de corpo instituído pela boneca.
D proporcionalidade entre a representação do corpo da boneca e a do corpo humano.
E influência mercadológica na construção de uma autoimagem positiva do corpo feminino.

Questão 08 - E NE M 2012

A partir dos efeitos fisiológicos do exercício físico no organismo, apresentados na figura, são adaptações benéficas
à saúde de um indivíduo:
A Diminuição da frequência cardíaca em repouso e aumento da oxigenação do sangue.
B Diminuição da oxigenação do sangue e aumento da frequência cardíaca em repouso.
C Diminuição da frequência cardíaca em repouso e aumento da gordura corporal.
D Diminuição do tônus muscular e aumento do percentual de gordura corporal.
E Diminuição da gordura corporal e aumento da frequência cardíaca em repouso.

Competência 3: h9, h10, h11 | 171


Questão 09 – ENEM 2016 - 2ª APLICAÇÃO
A educação física ensinada a jovens do ensino médio deve garantir o acúmulo cultural no que tange à oportuni-
zação de vivência das práticas corporais; a compreensão do papel do corpo no mundo da produção, no que tange ao
controle sobre o próprio esforço, e do direito ao repouso e ao lazer; a iniciativa pessoal nas articulações coletivas relati-
vas às práticas corporais comunitárias; a iniciativa pessoal para criar, planejar ou buscar orientação para suas próprias
práticas corporais; a intervenção política sobre as iniciativas públicas de esporte e de lazer.
Disponível em: www.portal.mec.gov.br. Acesso em: 19 ago. 2012.
Segundo o texto, a educação física visa propiciar ao indivíduo oportunidades de aprender a conhecer e a perceber,
de forma permanente e contínua, o seu próprio corpo, concebendo as práticas corporais como meios para
A ampliar a interação social.
B atingir padrões de beleza.
C obter resultados de alta performance.
D reproduzir movimentos predeterminados.
E alcançar maior produtividade no trabalho.

Questão 10 - E NE M 2016
É possível considerar as modalidades esportivas coletivas dentro de uma mesma lógica, pois possuem uma estru-
tura comum: seis princípios operacionais divididos em dois grupos, o ataque e a defesa. Os três princípios operacionais
de ataque são: conservação individual e coletiva da bola, progressão da equipe com a posse da bola em direção ao
alvo adversário e finalização da jogada, visando a obtenção de ponto. Os três princípios operacionais da defesa são:
recuperação da bola, impedimento do avanço da equipe contrária com a posse da bola e proteção do alvo para impedir
a finalização da equipe adversária.
DAOLIO, J. Jogos esportivos coletivos: dos princípios operacionais aos gestos técnicos — modelo pendular a partir das ideias de Claude Bayer.
Revista Brasileira de Ciência e Movimento, out. 2002 (adaptado).
Considerando os princípios expostos no texto, o drible no handebol caracteriza o princípio de
A recuperação da bola.
B progressão da equipe.
C finalização da jogada.
D proteção do próprio alvo.
E impedimento do avanço adversário.

Questão 11 – E NE M 2014
O boxe está perdendo cada vez mais espaço para um fenômeno relativamente recente do esporte, o MMA. E o
maior evento de Artes Marciais Mistas do planeta é o Ultimate Fighting Championship, ou simplesmente UFC. O rin-
gue, com oito cantos, foi desenhado para deixar os lutadores com mais espaço para as lutas. Os atletas podem usar
as mãos e aplicar golpes de jiu-jitsu. Muitos podem falar que a modalidade é uma espécie de vale-tudo, mas isso já
ficou no passado: agora, a modalidade tem regras e acompanhamento médico obrigatório para que o esporte apague
o estigma negativo.
CORREIA, D. UFC: saiba como o MMA nocauteou o boxe em oito golpes. Veja, 10 jun. 2011 (fragmento).
O processo de modificação das regras do MMA retrata a tendência de redimensionamento de algumas práticas
corporais, visando enquadrá-las em um determinado formato. Qual o sentido atribuído a essas transformações incor-
poradas historicamente ao MMA?
A A modificação das regras busca associar valores lúdicos ao MMA, possibilitando a participação de diferentes po-
pulações como atividade de lazer.
B As transformações do MMA aumentam o grau de violência das lutas, favorecendo a busca de emoções mais fortes
tanto aos competidores como ao público.
C As mudanças de regras do MMA atendem à necessidade de tornar a modalidade menos violenta, visando sua intro-
dução nas academias de ginástica na dimensão da saúde.
D As modificações incorporadas ao MMA têm por finalidade aprimorar as técnicas das diferentes artes marciais, favo-
recendo o desenvolvimento da modalidade enquanto defesa pessoal.
E As transformações do MMA visam delimitar a violência das lutas, preservando a integridade dos atletas e enqua-
drando a modalidade no formato do esporte de espetáculo.

172 |
Questão 12 – E NE M 2018
TEXTO I

TEXTO II
Imaginemos um cidadão, residente na periferia de um grande centro urbano, que diariamente acorda às 5h para
trabalhar, enfrenta em média 2 horas de transporte público, em geral lotado, para chegar às 8h ao trabalho. Termina o
expediente às 17h e chega em casa às 19h para, aí sim, cuidar dos afazeres domésticos, dos filhos etc. Como dizer a
essa pessoa que ela deve praticar exercícios, pois é importante para sua saúde? Como ela irá entender a mensagem
da importância do exercício físico? A probabilidade de essa pessoa praticar exercícios regularmente é significativa-
mente menor que a de pessoas de classe média/alta que vivem outra realidade. Nesse caso, a abordagem individual
do problema tende a fazer com que a pessoa se sinta impotente em não conseguir praticar exercícios e, consequente-
mente, culpada pelo fato de ser ou estar sedentária.
FERREIRA, M. S. Aptidão física e saúde na educação física escolar: ampliando o enfoque. RBCE, n. 2, jan. 2001 (adaptado).
O segundo texto, que propõe uma reflexão sobre o primeiro acerca do impacto de mudanças no estilo de vida na
saúde, apresenta uma visão
A medicalizada, que relaciona a prática de exercícios físicos por qualquer indivíduo à promoção da saúde.
B ampliada, que considera aspectos sociais intervenientes na prática de exercícios no cotidiano.
C crítica, que associa a interferência das tarefas da casa ao sedentarismo do indivíduo.
D focalizada, que atribui ao indivíduo a responsabilidade pela prevenção de doenças.
E geracional, que preconiza a representação do culto à jovialidade.

Questão 13 – ENEM 2017 - 2ª APLICAÇÃO


“Orgulho de ser nordestino”: esse é o lema de uma das torcidas organizadas do Ceará -- a Cangaceiros Alvinegros
-- que retrata bem qual o sentimento dos torcedores desse clube, um dos mais expressivos do Nordeste. Há entre os
torcedores aqueles que torcem apenas para o Ceará e aqueles que torcem por um time do Sudeste também. Estes são
denominados de “torcedores mistos”, e estamos definindo aqui como pertencentes ao campo da bifiliação clubística.
Em geral, a bifiliação clubística permite que torcedores se engajem aos times do Rio de Janeiro, por exemplo,
sobretudo pela histórica projeção política e posteriormente midiática da então capital do Brasil. Contudo, no interior
da Cangaceiros Alvinegros, sustenta-se a autoafirmação como nordestinos, rechaçando aqueles que deixam de torcer
pelo time local para se apegarem aos clubes mais distantes. Ao serem questionados sobre como encaravam a bifilia-
ção, um dos diretores da Cangaceiros foi enfático ao afirmar: “Você já viu algum paulista ou carioca torcer pra time do
Nordeste? Então por que eu vou torcer pra time do Sul?”.
CAMPOS, F.; TOLEDO, L. H. O Brasil na arquibancada: notas sobre a sociabilidade torcedora. Revista USP, n. 99, set.-out.-nov. 2013 (adaptado).
O texto apresenta duas práticas distintas de filiação aos clubes de futebol. Nesse contexto, o significado expres-
sado pelo lema “Orgulho de ser nordestino” representa o(a)
A apreço pela manutenção das tradições nordestinas por meio da bifiliação clubística.
B aliança entre torcidas dos clubes do Sudeste e Nordeste por meio de bifiliação clubística.
C orgulho dos torcedores do Ceará por torcerem para um dos clubes mais expressivos do Nordeste.
D envaidecimento dos torcedores do Ceará por enfrentarem clubes do Sudeste em condições de igualdade.
E resistência de torcedores dos clubes nordestinos à tendência de bifiliação clubística com clubes do Sudeste.
Competência 3: h9, h10, h11 | 173
Questão 14 – 02. (E NE M 2016)
Entrevista com Terezinha Guilhermina
Terezinha Guilhermina é uma das atletas mais premiadas da história paraolímpica do Brasil e um dos principais
nomes do atletismo mundial. Está no Guinness Book de 2013/2014 como a “cega” mais rápida do mundo.
Observatório : Quais desafios você teve que superar para se consagrar como atleta profissional?
T erezinha Guilhermina: Considero a ausência de recursos financeiros, nos três primeiros anos da minha carreira,
como meu principal desafio. A falta de um atleta- guia, para me auxiliar nos treinamentos, me obrigava a treinar sozinha
e, por não enxergar bem, acabava sofrendo alguns acidentes como trombadas e quedas.
Observatório : Como está a preparação para os Jogos Paraolímpicos de 2016?
T erezinha Guilhermina: Estou trabalhando intensamente, com vistas a chegar lá bem melhor do que estive em
Londres. E, por isso, posso me dedicar a treinos diários, trabalhos preventivos de lesões e acompanhamento psicoló-
gico e nutricional da melhor qualidade.
Revista do Observatório Brasil de Igualdade de Gênero, n. 6, dez. 2014 (adaptado).
O texto permite relacionar uma prática corporal com uma visão ampliada de saúde. O fator que possibilita identifi-
car essa perspectiva é o(a)
A aspecto nutricional.
B condição financeira.
C prevenção de lesões.
D treinamento esportivo.
E acompanhamento psicológico.

Questão 15 - ENEM 2014 - 2ª APLICAÇÃO


Os esportes podem ser classificados levando em consideração critérios como a quantidade de competidores e
a interação com o adversário. Os chamados Esportes individuais em interação com o oponente são aqueles em que
os atletas se enfrentam diretamente, tentando alcançar os objetivos do jogo e evitando, concomitantemente, que o
adversário o faça, porém sem a colaboração de um companheiro de equipe. Os Esportes coletivos em interação com
o oponente são aqueles nos quais os atletas, colaborando com seus companheiros de equipe, de forma combinada,
enfrentam-se diretamente com a equipe adversária, tentando atingir os objetivos do jogo, evitando, ao mesmo tempo,
que os adversários o façam.
GONZALES, F. J. Sistema de classificação de esportes com base nos critérios: cooperação, interação com o adversário, ambiente, desempenho comparado e objetivos táticos
da ação.EFDeportes, n. 71, abr. 2004.
São exemplos de “esportes individuais em interação com o oponente” e “esportes coletivos em interação com o
oponente”, respectivamente,
A judô e futebol americano.
B lançamento de disco e polo aquático.
C remo e futebol.
D badminton e nado sincronizado.
E salto em distância e basquetebol.

15. A 14. B 13. E 12. B 11. E 8. A 9. A 10. B 7. D 6. E 1. C 2. D 3. A 4. A 5. E


GABARITO

174 |
COMPETÊNCIA 9
Entender os princípios, a natureza, a
função e o impacto das tecnologias
da comunicação e da informação
na sua vida pessoal e social,
no desenvolvimento do conhecimento,
associando-o aos conhecimentos
científicos, às linguagens que lhes
dão suporte, às demais tecnologias,
aos processos de produção e aos
problemas que se propõem solucionar.

Competência 9 | 175
Entender a natureza das
tecnologias da
comunicação e da informação...

Ao unir as palavras “natureza” e “tecnologia”, surge


a necessidade de um cuidado com o significado de
ambas para que se aproximem de um modo que seja
compreensível. A natureza das tecnologias não parece
referir-se aos polímeros que formam as carcaças de A palavra “virtual” vem do latim
computadores e celulares, tampouco ao sistema binário “virtualis”: potência, força, virtude.
(bytes1) que forma a linguagem virtual. Falar em natureza “Virtual” e “virtuoso” têm a mesma
das tecnologias remete a uma tentativa de estruturar a
origem, revelando que, na trajetória
ontologia2 das tecnologias, isto é, aquilo que haveria de
pleno, inerente e essencial na composição do que se da língua, há uma aproximação entre
chama de “tecnologias da comunicação e da informação”. os imaginários suscitados por essas
Uma investigação desse calibre exigiria ampla pesquisa e
palavras, que, por pertencerem à mesma
abordagem interdisciplinar, o que envolveria profissionais
das mais variadas áreas: antropologia, psicologia, família, suscitam campos de sentido
filosofia, sociologia, publicidade, T.I., linguística, etc. fronteiriços no imaginário das pessoas
Ainda assim, não haveria a garantia de que chegássemos
que as usam.
a entender completamente a natureza das tecnologias
da comunicação e da informação, visto que somos fruto
do início do séc. XXI (o século das TIC´s) e por isso somos
suspeitos para falar tão objetivamente de algo que nos
afeta de forma tão direta.

1 Os bytes são o tecido por meio do qual se forma a linguagem de um computador. Trata-se de um sistema binário por ser formado
por duas unidades mínimas: 0 e 1: ausência e presença. Bytes são uma unidade de medida de informação. Cada byte é formado pela
combinação de 8 bits (ex: 00110101); as diferentes combinações traduzem as diferentes informações.
2 Para Aristóteles (384-322 A.C.), a ontologia tem como seu objeto o ser enquanto tal. Isto é, uma busca ontológica é aquela que
se empreende na investigação daquilo que há de mais inerente aos entes: tudo o que é no mundo. Ir em busca de uma concepção
ontológica parece ser uma atividade que tenta desentranhar a natureza do objeto de análise.

176 |
“O poder produz saber [...], A partir dessa introdução, que nos posiciona do ponto de vista epistemo-
não há relação de poder sem lógico3, consideraremos que “entender a natureza das TIC´s” é um con-
constituição correlata de um vite para uma reflexão filosófica, que nunca se furta em ser também ob-
campo de saber, nem saber que
jeto de seu próprio estudo. Considerando ainda que o fim último desse
não suponha e não constitua ao
texto é a capacitação para os estudos de nível do ensino médio, vamos
pensar a competência de entender a natureza TIC´s como um exercí-
mesmo tempo relações de poder.”
cio contínuo do pensamento (auto)crítico, como um “poder/saber”4
[FOUCAULT, M. Vigiar e Punir:
nascimento da prisão. Petrópolis, RJ: que nos leva a um domínio mais pleno das Tic´s e que nos possibilita
Vozes, 2010.] maior intervenção na realidade e mais compreensão sobre esse intervir.

“Civilização da Imagem

O primeiro mito suscitado pela imagem,


sem dúvida o mais insistente, é o do
conflito entre a técnica e o homem, o
progresso material e os valores espirituais.
[...] por um lado, a difusão das imagens
pertence ao mundo moderno, é um
produto da sociedade tecnológica, de
tal modo que condenar a imagem é
parecer condenar a modernidade; por
outro lado, a imagem não é só veículo de
pulsões, tabus, afetos, forças irracionais
e instintivas, mas sobretudo dissemina-
se de modo incontrolado, o que só pode
organizar toda ideologia organizada.”

[Barthes, Roland. Imagem e moda. Capítulo:


civilização da imagem, de 1961. São Paulo:
Martins Fontes, 2005.]

Sabendo que nossa base teórica é a Linguística5,


poderíamos considerar que as Tic´s apresentam
natureza simbólica, já que todo o ambiente das comu-
nicações virtuais se utiliza de palavras e imagens.
Lembrando que toda palavra e toda imagem carregam
uma parcela imaterial, abstrata, invisível, que é o seu
significado: a parcela da cultura6 ali depositada.
3 Epistemologia: do grego eπιστήμη (episteme), área da filosofia que se propõe a estruturar os limites e as possibilidades de uma
ciência. Teoria do Conhecimento.
4 Conceito criado por Michel Foucalt (1926 – 1984), que aproxima as dimensões do poder e do saber. O autor considera o poder
uma das dimensões da verdade; a dimensão específica do poder se diferencia visto que é ancorada em discurso, em linguagem. E
o bom domínio dos discursos é um dos grandes saberes, senão o maior.
5 Área de estudos científicos que têm por objeto a “língua”. A origem da linguística formal remete a 1916, ano de publicação do
“Curso de Linguística Geral” (Ferdinand de Saussure), obra seminal para a criação de uma concepção do signo linguístico – teoria
amplamente produtiva nos estudos da Tic´s.
6 Umberto Eco (1932 – 2016), em seu “Tratado Geral de Semiótica” (1975), defende que uma teoria da informação e da comuni-
cação (isto é, uma teoria completa dos símbolos que permitem a comunicação humana) é, em essência, uma teoria da cultura.

Competência 9 | 177
O curioso da simbologia das Tic´s é que ela não se diferencia apenas por aquilo que
informa, mas por como informa. A maneira como as Tic´s organizam a informação
e o conhecimento é de tal forma improvável, interconectada, hipertextual,
imprevisível e estamos tão recentemente submetidos a essa estruturação das
informações, que se torna improvável uma análise geral das Tic´s.

A linguagem das Tic´s é talvez, entre todas as linguagens, a que tem mais potência
em tornar-se outra. E possivelmente seja essa a sua natureza: a potencialidade
de ser o que não é. Ou seja, é inerente às Tic´s a possibilidade de ser, amanhã,
diferente do que é hoje.

178 |
As demais tecnologias e
os processos de produção...
As Tic´s são um tipo muito específico de tecnologia, sendo possível relacioná-las a
outras tecnologias, no intuito de melhor entender a evolução das tecnologias em
geral e o modo como sempre estiveram conectadas à comunicação. A primeira
grande tecnologia comunicativa inventada pelo ser humano é a língua falada:
esse sistema simbólico de sons arbitrários no qual repousa qualquer imaginário
que seja socialmente construído. A língua escrita é outra grande tecnologia,
evidentemente muito posterior à fala, porém muito mais influente na formação
do que hoje entendemos por sociedade (quando se fala em sociedade ocidental/
eurocêntrica/grafocêntrica). Considerando que os sistemas comunicativos
pautados na escrita ampliaram exponencialmente seu poder de influência a partir
da invenção da imprensa7, poderíamos pensar que as Tic´s causam uma ampliação
desse poder de influência iniciado por Gutemberg. A hiperdemocratização da
informação que vivemos hoje causou, com certeza, muitas influências em nossa
vida do ponto de vista individual e social. Pelo fato de sermos cognitivamente
afetados pelas Tic´s, qualquer análise que consigamos desenvolver sobre as
influências das Tic´s em nossa maneira de compreender será afetivamente
suspeita. O que se pode fazer de um modo mais objetivo é perceber as alterações
provocadas pelas Tic´s nos processos de produção. As Tic´s reorganizaram a
maneira de produzir e aquilo que se produz. Em nosso tempo, a maior empresa de
transporte privado não tem nenhum carro (Uber); a maior empresa de aluguéis
não tem nenhum apartamento (Airbnb); a maior empresa de informações não é
um jornal (Google). Os processos de produção estão profundamente alterados;
há uma horizontalização do poder, de modo que uma parcela da sociedade que
permaneceria anônima, agora, com as Tic´s, vê a possibilidade de ascensão ao
título de celebridade em segundos. A publicidade direciona seus investimentos
às Tic´s. Vendas e compras (as duas atividades fundadoras de nosso sistema
econômico) são feitas em ambiente digital. A vida social está estruturamente
alterada, e ainda não tivemos tempo o suficiente para perceber que alterações
são essas. É possível que, quando alcancemos a capacidade de compreender por
completo tudo o que está agora nos acontecendo, novas mudanças já estejam
em curso.

7 Johannes Gutemberg (1398 – 1468) inventou a sua primeira imprensa em 1455. Seu invento permitiu que livros, que só existiam
manuscritos, passassem a ser produzidos através da impressão de tipos ou caracteres no papel, o que possibilitou a produção de
uma quantidade até então inimaginável de livros. A imprensa de Gutemberg teve impacto direto na propulsão da Reforma Protes-
tante, que, por meio da imprensa, pulverizou ideias de forma incontrolável e incontornável.

Competência 9 | 179
HABILIDADE 28
Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da
comunicação e informação.

HABILIDADE 29
Identificar, pela análise de suas linguagens, as tecnologias
da comunicação e informação.

Reconhecer o impacto social das


diferentes
tecnologias da comunicação e da informação...
“Na medida em que a geração amamentada pela rede ingressa em seus primeiros anos
de namoro, o namoro pela internet está decolando. E não se trata de um último re-
curso. É uma atividade recreativa. É diversão.”
Assim pensa Louise France. Para os atuais corações solitários, as discotecas e
bares para solteiros são uma recordação distante, conclui ela. Eles não adquiriram
(e não temem não ter adquirido) o suficiente em termos de ferramentas de sociabi-
lidade que fazer amigos em tais lugares exigiria. Além disso, o namoro pela inter-
net tem vantagens que os encontros pessoais não têm: nestes últimos, o gelo, uma
vez quebrado, pode permanecer quebrado ou derreter-se de uma vez por todas, mas
no namoro pela internet é muito diferente. Como confidenciou um entrevistado de
28 anos da Universidade de Bath: “Você sempre pode apertar a tecla para deletar.
Deixar de responder um e-mail é a coisa mais fácil do mundo.” France comenta: os
usuários dos recursos de namoro on-line podem namorar com segurança, protegidos
por saberem que sempre podem retornar ao mercado para outra rodada de compras. Ou,
como o insinua o dr. Jeff Gavin, da Universidade de Bath, citado por France: na
internet pode-se namorar “sem medo de repercussões’ no mundo real”. Ou, de qual-
quer maneira, é assim que a pessoa se sente ao conseguir parceiros na internet. É
como folhear um catálogo de reembolso postal que traz na primeira página o aviso
“compra não obrigatória” e a garantia ao consumidor da “devolução do produto caso
não fique satisfeito”.
Terminar quando se deseje — instantaneamente, sem confusão, sem avaliação de per-
das e sem remorsos — é a principal vantagem do namoro pela internet. Reduzir riscos
e, simultaneamente, evitar a perda de opções é o que restou de escolha racional
num mundo de oportunidades fluidas, valores cambiantes e regras instáveis. E o
namoro pela internet, ao contrário da incômoda negociação de compromissos mútuos,
se ajusta perfeitamente (ou quase) aos novos padrões de escolha racional.
Zygmunt Bauman, Amor Líquido

180 |
Os impactos causados pelas Tic´s são os mais va- onde eu moro, com quem me relaciono, onde es-
riados possíveis: desde mudanças bruscas e gri- tou em certos dias da semana, qual minha profis-
tantes nos bens de consumo e nos meios de pro- são. Com um olhar perspicaz, é fácil concluir meu
dução até alterações mais sutis (mas não menos posicionamento político, que tipo de concepção
profundas) no modo como pensamos. eu tenho sobre meu trabalho, se tenho uma rela-
ção próxima com meus pais, quais os gostos que
É preciso que fique claro que os impactos sociais
me movem.
causados pelas Tic´s estão em curso nesse ins-
tante, e é muito possível que haja novos impactos O modo como as relações profissionais são esta-
entre o momento de produção deste texto e o de belecidas está profundamente impactado. Pes-
sua leitura e que não há nenhuma garantia de que soas perdem trabalhos por conta daquilo que
este texto descreva todos os impactos sociais cau- postam; ganham empregos por conta daquilo
sados pelas Tic´s, e nem acreditamos que isso seja que postam. São orientadas pelos chefes a pos-
possível. Por isso, para que não se corra o risco de tar determinados conteúdos; são cobradas se
construir uma estrutura textual limitada e gerado- não o fazem. Precisam responder judicialmente
ra de certezas (tão perigosas ao exercício da boa por aquilo que postam; sentem-se angustiadas
ciência), é preciso que fique clara a verdadeira caso alguém de seu meio profissional comen-
intencionalidade de nosso estudo: perscrutar a te negativamente alguma postagem. Por vezes,
nós mesmos e nos perceber como seres sociais
uma discussão virtual é mais angustiante do que
e tecnológicos, dependentes das tecnologias da
uma discussão ao vivo.
informação e da comunicação, imbricados a elas
e amplamente suspeitos para tecer qualquer co- O modo como gastamos dinheiro está profunda-
mentário crítico em relação ao que sejam e ao mente impactado. Consumimos pelo Facebook;
que causam. fazemos compras no MercadoLivre; serviços
como educação e psiquiatria (profissões que pri-
Estabelecidos os limites de nossa análise, pode-
mam pela presença humana) são feitos online.
mos considerar alguns impactos sociais de modo
que consigamos refletir sobre nossa própria rea-
O modo como pensamos está profundamente
lidade de forma mais autônoma para, então, po-
impactado. Perdemos a paciência facilmente;
tencializarmos mudanças em nosso modo de agir.
perdemos a capacidade para longas leituras; per-
O modo como as relações interpessoais são es- demos a capacidade de concentração em algo
tabelecidas está profundamente impactado. Em único. Ao mesmo tempo, ganhamos a capacidade
poucos cliques, uma pessoa desconhecida pode de pensar em muitas coisas diferentes de diversas
ter acesso a diversas informações privadas como formas diferentes concomitantemente.

Competência 9 | 181
HABILIDADE 30
Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao
desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem.

O desenvolvimento das sociedades...


Talvez esse seja o sintagma mais complexo desta poder, de modo que, quando relacionamos as
habilidade: o desenvolvimento das sociedades. O Tic´s ao desenvolvimento das sociedades e ao
que se entende por “desenvolvimento”? Parte- conhecimento que elas produzem, precisamos
se do pressuposto de que seja algo positivo? Se nos curvar à potência de um Smartphone com
for algo positivo, é para a sociedade como um acesso à internet. Ele se torna uma câmera que
todo ou apenas para uma parcela da sociedade? pode registrar momentos históricos que figurarão
O desenvolvimento pode ser medido a partir da as páginas dos livros didáticos de daqui a cem
quantidade de tecnologia que um país produz? anos (se é que haverá livros didáticos).

Evidentemente, esse texto não se propõe a Portanto, associar os vocábulos “desenvolvi-


responder a essas perguntas de modo definitivo; mento”, “tecnologias” e “sociedade” nos parece
fazê-las já nos parece o suficiente para levantar um desafio que precisamos enfrentar. Cair na
os questionamentos necessários para o bom cilada romântica de que “vivemos um milagre
desenvolvimento desta habilidade. Assim tecnológico” soa onírico e utópico, visto que
sendo, ser hábil em relacionar as Tic´s ao seguimos enfrentando os mesmos problemas há
desenvolvimento da sociedade requer ampla 200 anos. Crer que “o mundo nunca mais será
capacidade de questionamento. o mesmo” e que “não sabemos o que será do
futuro” soa absurdo e fictício, visto que seguimos
Há uma fetichização das tecnologias que as associa enfrentando os mesmos problemas há 200 anos.
diretamente a algo bom, inovador e promotor Acreditar que nada faz diferença e que tudo será
da qualidade de vida. No entanto, com todas como sempre foi soa absolutamente derrotista e
as tecnologias de comunicação e informação não científico, já que, sim, temos em nossas mãos
a que temos acesso hoje, os problemas sociais um instrumento que ultrapassa a imaginação de
enfrentados em pleno século XXI parecem ser nossos antepassados. Sim, operamos um milagre
os mesmos desde a formação de estruturas comunicativo a cada clique, rompendo a fronteira
republicanas posteriores à Revolução Francesa: do espaço/tempo. Não, isso não significa que
má distribuição de renda, fome, falta de moradia, nossos problemas acabaram. Não, não sofreremos
falta de segurança pública, corrupção, etc. menos, porque essa felicidade instantânea, assim
como vem do nada, volta a ele.
Obviamente, seria absurdo negar que a
hiperdemocratização da informação não Nos restam o pensamento crítico, o uso do
afetou de modo algum a organização do poder. senso se investigação, a atenção ao dia a dia.
Democratizar a informação é democratizar o As perguntas, sempre!

182 |
Desenvolvendo as habilidades:
16/04/2013 17h06 - Atualizado em 16/04/2013 17h37

‘Twitteratura’ seduz autores


como alternativa para
publicar histórias
Obras são escritas no Twitter,
em posts de até 140 caracteres.
Instituto de Twitteratura Comparada
organizou festival do ‘gênero’.
Da AFP

A hiperbreve “twitteratura” está cada vez mais de “novela/shosetsu” e “móvel/keitai”). Eles são
reivindicando seu lugar na história literária, redigidos e enviados por SMS.
mas este exercício de artístico limitado a 140
Dessa forma, os escritores da “twitteratura”
caracteres é visto por muitos como um artifício
reivindicam seu lugar em uma história da qual
digital efêmero.
também fazem parte os haikus japoneses –
O Twitter nasceu em 2006. Em sua origem, esta poemas breves formados geralmente por sete
plataforma de microblogs gratuita, que reúne versos, sem rima – e os contos em três linhas do
agora 500 milhões de pessoas, foi concebida para crítico e jornalista francês Félix Fénéon.
difundir textos ou mensagens com um máximo de
“Este gênero, antes de mais nada, traduz a
140 caracteres.
ideia de que os limites são fecundos, como
Mas, pouco a pouco, a chamada “twitteresfera” demonstra também a poesia”, observou o
foi invadida por um uso alternativo, mais criativo, autor de twitteratura Jean-Yves Fréchette (@
com fórmulas que se assemelham aos textos pierrepaulpleau), para quem “a origem da
japoneses keitai shosetsu (um termo que provém literatura é lapidária, se escreve na pedra”.

Competência 9 | 183
Em 2010, este ex-professor de literatura de Quebec Monterroso, autor de um brevíssimo conto:
fundou com Jean-Michel Le Blanc (@centquarante), “Quando despertou, o dinossauro ainda estava
de Bordeaux, no sul da França, o Instituto de lá”.
Twitteratura Comparada (ITC) Bordeaux-Quebec,
“A twiteratura é um espaço de liberdade, onde
destinado a promover o gênero.
diferentes formas de expressão são possíveis”,
O instituto organizou, no final de março, o assinala Jean-Yves Fréchette. No México, um
segundo Festival Internacional de Twitteratura, romance foi escrito de forma coletiva no Twitter,
que teve sua primeira edição realizada em e Mauricio Montiel Figueiras desenvolveu seu “O
Quebec, em 2012. Galinha assassina protagoniza homem de tweed” através de sua conta na rede
o 1º romance no Twitter. de microblogs.

Microcontos eróticos, “twillers” (thrillers no Alguns escritores afirmam que a internet os levou
Twitter, inventado pelo americano Matt Ritchell) a procurar outras formas de criar e consideram
e microrrelatos são gêneros que nasceram no que este novo gênero têm futuro. Mas há outros
Twitter, explica o especialista Alexandre Gefen. artistas, como o romancista americano Jonathan
Ele menciona, inclusive, a existência de uma Franzen, que resistem e rejeitam a literatura das
proposta para escrever uma ópera interativa redes sociais.
no Twitter, lançada pela Royal Opera House de
O escritor Thierry Crouzet, que fez um romance
Londres.
noire em 5,2 mil tuítes e depois foi publicado
O primeiro romance espanhol no Twitter foi “Serial pela editora Fayard, expressa suas dúvidas sobre
chicken”, sobre uma galinha assassina. Seu autor a capacidade deste gênero subsistir em longo
é o escritor e jornalista Jordi Cervera, que a incluiu prazo.
no concurso de romance noire de Barcelona em
Para ele, o principal aporte do Twitter está na
2010, e a divulgou em microcapítulos diários. A
“interação” com os leitores, que participam
história é protagonizada por uma galinha má e
na composição da obra em tempo real através
pode ser acompanhada em espanhol no endereço
de tuítes. “Acho que este instrumento pode
twitter.com/bcnegracast.
causar cansaço”, comenta Alexandre Gefen. Ele
“O estilo curto, breve, incisivo, é muito antigo”, acredita, no entanto, que por ora o novo processo
prossegue Gefen, que evocou a tradição moralista. “corresponde a uma tendência muito profunda
E não se pode esquecer do guatemalteco Augusto da literatura”.

184 |
Lista de questões Competência 9
Habilidades 28, 29 e 30

Linguagens NÃO é interpretação


Questão 01 - (ENEM 2017 - 2ª APLICAÇÃO )
O jornal vai morrer. É a ameaça mais constante dos especialistas. E essa nem é uma profecia nova. Há anos a frase
é repetida. Experiências são feitas para atrair leitores na era da comunicação nervosa, rápida, multicolorida, performática.
Mas o que é o jornal? Onde mora seu encanto? O que é sedutor no jornal é ser ele mesmo e nenhum outro formato de
comunicação de ideias, histórias, imagens e notícias. No tempo das muitas mídias, o que precisa ser entendido é que
cada um tem um espaço, um jeito, uma personalidade. Quando surge uma nova mídia, há sempre os que a apresen-
tam como tendência irreversível, modeladora do futuro inevitável e fatal. Depois se descobre que nada é substituído e o
novo se agrega ao mesmo conjunto de seres através dos quais nos comunicamos. Os jornais vão acabar, garantem os
especialistas. E, por isso, dizem que é preciso fazer jornal parecer com as outras formas da comunicação mais rápida,
eletrônica, digital. Assim, eles morrerão mais rapidamente. Jornal tem seu jeito. É imagem, palavra, informação, ideia,
opinião, humor, debate, de uma forma só dele. Nesse tempo tão mutante em que se tuíta para milhares, que retuítam
para outros milhares o que foi postado nos blogs, o que está nos sites dos veículos on-line, que chance tem um jornal de
papel que traz uma notícia estática, uma foto parada, um infográfico fixo? Terá mais chance se continuar sendo jornal.
LEITÃO, M. Jornal de papel. O Tempo, n. 5 684, 8 jul. 2012 (adaptado).
Muito se fala sobre o impacto causado pelas tecnologias da comunicação e da informação nas diferentes mídias.
A partir da análise do texto, conclui-se que essas tecnologias
A mantêm inalterados os modos de produção e veiculação do conhecimento.
B provocam rupturas entre novas e velhas formas de comunicar o conhecimento.
C modernizam práticas de divulgação do conhecimento hoje consideradas obsoletas.
D substituem os modos de produção de conhecimentos oriundos da oralidade e da escrita.
E contribuem para a coexistência de diversos modos de produção e veiculação de conhecimento.

Questão 02 - (E NE M 2016)
Até que ponto replicar conteúdo é crime? “A internet e a pirataria são inseparáveis”, diz o diretor do instituto de
pesquisas americano Social Science Research Council. “Há uma infraestrutura pequena para controlar quem é o dono
dos arquivos que circulam na rede. Isso acabou com o controle sobre a propriedade e tem sido descrito como pirataria,
mas é inerente à tecnologia”, afirma o diretor. O ato de distribuir cópias de um trabalho sem a autorização dos seus
produtores pode, sim, ser considerado crime, mas nem sempre essa distribuição gratuita lesa os donos dos direitos au-
torais. Pelo contrário. Veja o caso do livro O alquimista, do escritor Paulo Coelho. Após publicar, para download gratuito,
uma versão traduzida da obra em seu blog, Coelho viu as vendas do livro em papel explodirem.
BARRETO, J.; MORAES, M. A internet existe sem pirataria? Veja, n. 2 308, 13 fev. 2013 (adaptado).
De acordo com o texto, o impacto causado pela internet propicia a
A banalização da pirataria na rede.
B adoção de medidas favoráveis aos editores.
C implementação de leis contra crimes eletrônicos.
D reavaliação do conceito de propriedade intelectual.
E ampliação do acesso a obras de autores reconhecidos.

Questão 03 - (E NE M 2013)
O que é bullying virtual ou cyberbullying?
É o bullying que ocorre em meios eletrônicos, com mensagens difamatórias ou ameaçadoras circulando por emails,
sites, blogs (os diários virtuais), redes sociais e celulares. É quase uma extensão do que dizem e fazem na escola, mas
com o agravante de que as pessoas envolvidas não estão cara a cara. Dessa forma, o anonimato pode aumentar a
crueldade dos comentários e das ameaças e os efeitos podem ser tão graves ou piores. “O autor, assim como o alvo,
tem dificuldade de sair de seu papel e retomar valores esquecidos ou formar novos”, explica Luciene Tognetta, doutora
em Psicologia Escolar e pesquisadora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br. Acesso em: 3 ago. 2012 (adaptado).
Segundo o texto, com as tecnologias de informação e comunicação, a prática do bullying ganha novas nuances de
perversidade e é potencializada pelo fato de
A atingir um grupo maior de espectadores.
B dificultar a identificação do agressor incógnito.
C impedir a retomada de valores consolidados pela vítima.
D possibilitar a participação de um número maior de autores.
E proporcionar o uso de uma variedade de ferramentas da internet.

186 |
Questão 04 - (E NE M 2015)
A emergência da sociedade da informação está associada a um conjunto de profundas transformações ocorridas
desde as últimas duas décadas do século XX. Tais mudanças ocorrem em dimensões distintas da vida humana em
sociedade, as quais interagem de maneira sinérgica e confluem para projetar a informação e o conhecimento como
elementos estratégicos, dos pontos de vista econômico, produtivo, político e sociocultural. A sociedade da informação
caracteriza-se pela crescente utilização de técnicas de transmissão, armazenamento de dados e informações a baixo
custo, acompanhadas por inovações organizacionais, sociais e legais. Ainda que tenha surgido motivada por um con-
junto de transformações na base técnico-científica, ela se investe de um significado bem mais abrangente.
LEGEY, L.-R.; ALBAGLI, S. Disponível em: www.dgz.org.br.
Acesso em: 4 dez. 2012 (adaptado).
O mundo contemporâneo tem sido caracterizado pela crescente utilização das novas tecnologias e pelo acesso à
informação cada vez mais facilitado. De acordo com o texto, a sociedade da informação corresponde a uma mudança
na organização social porque
A representa uma alternativa para a melhoria da qualidade de vida.
B associa informações obtidas instantaneamente por todos e em qualquer parte do mundo.
C propõe uma comunicação mais rápida e barata, contribuindo para a intensificação do comércio.
D propicia a interação entre as pessoas por meio de redes sociais.
E representa um modelo em que a informação é utilizada intensamente nos vários setores da vida.

Questão 05 - (ENEM 2016 - 2ª APLICAÇÃO )


O que é Web Semântica?
Web Semântica é um projeto para aplicar conceitos inteligentes na internet atual. Nela, cada informação vem
com um significado bem definido e não se encontra mais solta no mar de conteúdo, permitindo uma melhor interação
com o usuário. Novos motores de busca, interfaces inovadoras, criação de dicionários de sinônimos e a organização
inteligente de conteúdos são alguns exemplos de aprimoramento. Dessa forma, você não vai mais precisar minerar a
internet em busca daquilo que você procura, ela vai passar a se comportar como um todo, e não mais como um monte
de informação empilhada. A implementação deste paradigma começou recentemente, e ainda vai levar mais alguns
anos até que entre completamente em vigor e dê um jeito em toda a enorme bagunça que a internet se tornou.
Disponível em: www.tecmundo.com.br. Acesso em: 6 ago. 2013 (adaptado).
Ao analisar o texto sobre a Web Semântica, deduz-se que esse novo paradigma auxiliará os usuários a
A armazenar grandes volumes de dados de modo mais disperso.
B localizar informações na internet com mais precisão.
C captar os dados na internet com mais velocidade.
D publicar dados com significados não definidos.
E navegar apenas sobre dados já organizados.

Questão 06 - (E NE M 2017)
Mas assim que penetramos no universo da web descobrimos que ele constitui não apenas um imenso “território”
em expansão acelerada, mas que também oferece inúmeros “mapas”, filtros, seleções para ajudar o navegante a orien-
tar-se. O melhor guia para a web é a própria web. Ainda que seja preciso ter a paciência de explorá-la. Ainda que seja
preciso arriscar-se a ficar perdido, aceitar “a perda de tempo” para familiarizar-se com esta terra estranha. Talvez seja
preciso ceder por um instante a seu aspecto lúdico para descobrir, no desvio de um link, os sites que mais se aproxi-
mam de nossos interesses profissionais ou de nossas paixões e que poderão, portanto, alimentar da melhor maneira
possível nossa jornada pessoal.
LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.
O usuário iniciante sente-se não raramente desorientado no oceano de informações e possibilidades disponíveis
na rede mundial de computadores. Nesse sentido, Pierre Lévy destaca como um dos principais aspectos da internet o
(a)
A espaço aberto para a aprendizagem.
B grande número de ferramentas de pesquisa.
C ausência de mapas ou guias explicativos.
D infinito número de páginas virtuais.
E dificuldade de acesso aos sites de pesquisa.

Competência 9: h28, h29, h30 | 187


Questão 07 - (E NE M 2016)
O hoax, como é chamado qualquer boato ou farsa na internet, pode espalhar vírus entre os seus contatos. Falsos
sorteios de celulares ou frases que Clarice Lispector nunca disse são exemplos de hoax. Trata-se de boatos recebidos
por e-mail ou compartilhados em redes sociais. Em geral, são mensagens dramáticas ou alarmantes que acompanham
imagens chocantes, falam de crianças doentes ou avisam sobre falsos vírus. O objetivo de quem cria esse tipo de
mensagem pode ser apenas se divertir com a brincadeira (de mau gosto), prejudicar a imagem de uma empresa ou
espalhar uma ideologia política.
Se o hoax for do tipo phishing (derivado de fishing, pescaria, em inglês) o problema pode ser mais grave: o usuário
que clicar pode ter seus dados pessoais ou bancários roubados por golpistas. Por isso é tão importante ficar atento.
VIMERCATE, N. Disponível em: www.techtudo.com.br. Acesso em: 1 maio 2013 (adaptado).
Ao discorrer sobre os hoaxes, o texto sugere ao leitor, como estratégia para evitar essa ameaça,
A recusar convites de jogos e brincadeiras feitos pela internet.
B analisar a linguagem utilizada nas mensagens recebidas.
C classificar os contatos presentes em suas redes sociais.
D utilizar programas que identifiquem falsos vírus.
E desprezar mensagens que causem comoção.

Questão 08 - (ENEM 2017 - 2ª APLICAÇÃO )


Como se apresentam os atos de ler e escrever no contexto dos canais de chat da internet? O próprio nome que
designa estes espaços no meio virtual elucida que os leitores-escritores ali estão empenhados em efetivar uma conver-
sação. Porém, não se trata de uma conversação nos moldes tradicionais, mas de um projeto discursivo que se realiza
só e através das ferramentas do computador via canal eletrônico mediado por um software específico. A dimensão
temporal deste tipo de interlocução caracterizase pela sincronicidade em tempo real, aproximando-se de uma conversa
telefônica, porém, devido às especificidades do meio que põe os interlocutores em contato, estes devem escrever suas
mensagens. Apesar da sensação de estarem falando, os enunciados que produzem são construídos num “texto falado
por escrito”, numa “conversação com expressão gráfica”. A interação que se dá “tela a tela”, para que seja bem-suce-
dida, exige, além das habilidades técnicas anteriormente descritas, muito mais do que a simples habilidade linguística
de seus interlocutores. No interior de uma enorme coordenação de ações, o fenômeno chat também envolve conhe-
cimentos paralinguísticos e socioculturais que devem ser partilhados por seus usuários. Isso significa dizer que esta
atividade comunicacional, assim como as demais, também apresenta uma vinculação situacional, ou seja, não pode a
língua, nesta esfera específica da comunicação humana, ser separada do contexto em que se efetiva.
BERNARDES, A. S.; VIEIRA, P. M. T. Disponível em: www.anped.org.br. Acesso em: 14 ago. 2012.
No texto, descreve-se o chat como um tipo de conversação “tela a tela” por meio do computador e enfatiza-se a
necessidade de domínio de diversas habilidades. Uma característica desse tipo de interação é a
A coordenação de ações, ou atitudes, que reflitam modelos de conversação tradicionais.
B presença obrigatória de elementos iconográficos que reproduzam características do texto falado.
C inserção sequencial de elementos discursivos que sejam similares aos de uma conversa telefônica.
D produção de uma conversa que articula elementos das modalidades oral e escrita da língua.
E agilidade na alternância de temas e de turnos conversacionais.

Questão 09 - (ENEM 2017 - 2ª APLICAÇÃO )


A tecnologia está, definitivamente, presente na vida cotidiana. Seja para consultar informações, conversar com
amigos e familiares ou apenas entreter, a internet e os celulares não saem das mãos e mentes das pessoas. Por esse
motivo, especialistas alertam: o uso excessivo dessas ferramentas pode viciar. O problema, dizem os especialistas,
é o usuário conseguir diferenciar a dependência do uso considerado normal. Hoje, a internet e os celulares são ferra-
mentas profissionais e de estudo.
MATSUURA, S. O Globo, 10 jun. 2013 (adaptado).
O desenvolvimento da sociedade está relacionado ao avanço das tecnologias, que estabelecem novos padrões de
comportamento. De acordo com o texto, o alerta dos especialistas deve-se à
A insegurança do usuário, em razão do grande número de pessoas conectadas às redes sociais.
B falta de credibilidade das informações transmitidas pelos meios de comunicação de massa.
C comprovação por pesquisas de que os danos ao cérebro são muito maiores do que se pode imaginar.
D subordinação das pessoas aos recursos oferecidos pelas novas tecnologias, a ponto de prejudicar suas vidas.
E possibilidade de as pessoas se isolarem socialmente, em razão do uso das novas tecnologias de comunicação.

188 |
Questão 10 - (E NE M 2015)
Embora particularidades na produção mediada pela tecnologia aproximem a escrita da oralidade, isso não significa
que as pessoas estejam escrevendo errado. Muitos buscam, tão somente, adaptar o uso da linguagem ao suporte utili-
zado: “O contexto é que define o registro de língua. Se existe um limite de espaço, naturalmente, o sujeito irá usar mais
abreviaturas, como faria no papel”, afirma um professor do Departamento de Linguagem e Tecnologia do Cefet-MG.
Da mesma forma, é preciso considerar a capacidade do destinatário de interpretar corretamente a mensagem emitida.
No entendimento do pesquisador, a escola, às vezes, insiste em ensinar um registro utilizado apenas em contextos
específicos, o que acaba por desestimular o aluno, que não vê sentido em empregar tal modelo em outras situações.
Independentemente dos aparatos tecnológicos da atualidade, o emprego social da língua revela-se muito mais signifi-
cativo do que seu uso escolar, conforme ressalta a diretora de Divulgação Científica da UFMG: “A dinâmica da língua
oral é sempre presente. Não falamos ou escrevemos da mesma forma que nossos avós”. Some-se a isso o fato de os
jovens se revelarem os principais usuários das novas tecnologias, por meio das quais conseguem se comunicar com
facilidade. A professora ressalta, porém, que as pessoas precisam ter discernimento quanto às distintas situações, a
fim de dominar outros códigos.
SILVA JR., M. G.; FONSECA, V. Revista Minas Faz Ciência, n. 51, set.-nov. 2012 (adaptado).
Na esteira do desenvolvimento das tecnologias de informação e de comunicação, usos particulares da escrita
foram surgindo. Diante dessa nova realidade, segundo o texto, cabe à escola levar o aluno a
A interagir por meio da linguagem formal no contexto digital.
B buscar alternativas para estabelecer melhores contatos online.
C adotar o uso de uma mesma norma nos diferentes suportes tecnológicos.
D desenvolver habilidades para compreender os textos postados na web.
E perceber as especificidades das linguagens em diferentes ambientes digitais.

Questão 11 - (ENEM 2016 - 2ª APLICAÇÃO )


Como escrever na internet
Regra 1 – Fale, não GRITE!
Combine letras maiúsculas e minúsculas, da mesma forma que na escrita comum. Cartas em papel não são escri-
tas somente com letras maiúsculas; na internet, escrever em maiúsculas é o mesmo que gritar! Para enfatizar frases
e palavras, use os recursos de _sublinhar_ (colocando palavras ou frases entre sublinhados) e *grifar* (palavras ou
frases entre asteriscos). Frases em maiúsculas são aceitáveis em títulos e ênfases ou avisos urgentes.
Regra 2 – Sorria :-) pisque ;-) chore &-( ...
Os emoticons (ou smileys) são ícones formados por parênteses, pontos, vírgulas e outros símbolos do teclado.
Eles representam carinhas desenhadas na horizontal e denotam emoções. É difícil descobrir quando uma pessoa
está falando alguma coisa em tom de brincadeira, se está realmente brava ou feliz, ou se está sendo irônica, em um
ambiente no qual só há texto; por isso, entram em cena os smileys. Comece a usá-los aos poucos e, com o passar do
tempo, estarão integrados naturalmente às suas conversas on-line.
Disponível em: www.icmc.usp.br. Acesso em: 29 jul. 2013.
O texto traz exemplos de regras que podem evitar mal-entendidos em comunicações eletrônicas, especialmente
em e-mails e chats. Essas regras
A revelam códigos internacionalmente aceitos que devem ser seguidos pelos usuários da internet.
B constituem um conjunto de normas ortográficas inclusas na escrita padrão da língua portuguesa.
C representam uma forma complexa de comunicação, pois os caracteres são de difícil compreensão.
D foram desenvolvidas para que usuários de países de línguas diferentes possam se comunicar na web.
E refletem recomendações gerais sobre o uso dos recursos de comunicação facilitadores da convivência na internet.

Competência 9: h28, h29, h30 | 189


Questão 12 - (E NE M 2017)
Textos e hipertextos: procurando o equilíbrio
Há um medo por parte dos pais e de alguns professores de as crianças desaprenderem quando navegam, medo
de elas viciarem, de obterem informação não confiável, de elas se isolarem do mundo real, como se o computador
fosse um agente do mal, um vilão. Esse medo é reforçado pela mídia, que costuma apresentar o computador como
um agente negativo na aprendizagem e na socialização dos usuários. Nós sabemos que ninguém corre o risco de
desaprender quando navega, seja em ambientes digitais ou em materiais impressos, mas é preciso ver o que se está
aprendendo e algumas vezes interferir nesse processo a fim de otimizar ou orientar a aprendizagem, mostrando aos
usuários outros temas, outros caminhos, outras possibilidades diferentes daquelas que eles encontraram sozinhos ou
daquelas que eles costumam usar. É preciso, algumas vezes, negociar o uso para que ele não seja exclusivo, uma vez
que há outros meios de comunicação, outros meios de informação e outras alternativas de lazer. É uma questão de
equilibrar e não de culpar.
COSCARELLI, C. V. Linguagem em (Dis)curso, n. 3, set.-dez. 2009.
A autora incentiva o uso da internet pelos estudantes, ponderando sobre a necessidade de orientação a esse uso,
pois essa tecnologia
A está repleta de informações confiáveis que constituem fonte única para a aprendizagem dos alunos.
B exige dos pais e professores que proíbam seu uso abusivo para evitar que se torne um vício.
C tende a se tornar um agente negativo na aprendizagem e na socialização de crianças e jovens.
D possibilita maior ampliação do conhecimento de mundo quando a aprendizagem é direcionada.
E leva ao isolamento do mundo real e ao uso exclusivo do computador se a navegação for desmedida.

Questão 13 – (ENEM 2017 – 2ª APLICAÇÃO )


A inteligência está na rede
Pergunta: Há tecnologias que melhoram a vida humana, como a invenção do calendário, e outras que revolu-
cionam a história humana, como a invenção da roda. A internet, o iPad, o Facebook, o Google são tecnologias que
pertencem a que categoria?
Resposta: À das que revolucionam a história. O que está acontecendo no mundo de hoje é semelhante ao que se
passou com a sociedade agrária depois da prensa móvel de Gutenberg. Antes, o conhecimento estava concentrado
em oligopólios. A invenção de Gutenberg começou a democratizar o conhecimento, e as instituições do feudalismo
entraram num processo de atrofia. A novidade afetou a Igreja Católica, as monarquias, os poderes coloniais e, com o
passar do tempo, resultou nas revoluções na América Latina, nos Estados Unidos, na França. Resultou na democracia
parlamentar, na reforma protestante, na criação das universidades, do próprio capitalismo. Martinho Lutero chamou
a prensa móvel de “a mais alta graça de Deus”. Agora, mais uma vez, o gênio da tecnologia saiu da garrafa. Com a
prensa móvel, ganhamos acesso à palavra escrita. Com a internet, cada um de nós pode ser seu próprio editor. A im-
prensa nos deu acesso ao conhecimento que já havia sido produzido e estava registrado. A internet nos dá acesso ao
conhecimento contido no cérebro de outras pessoas em qualquer parte do mundo. Isso é uma revolução. E, tal como
aconteceu no passado, está fazendo com que nossas instituições se tornem obsoletas.
TAPSCOTT, D. Entrevista concedida a Augusto Nunes. Veja, 21 abr. 2011 (adaptado).
Segundo o pesquisador entrevistado, a internet revolucionou a história da mesma forma que a prensa móvel de
Gutenberg revolucionou o mundo no século XV. De acordo com o texto, as duas invenções, de maneira similar, provo-
caram o(a)
A ocorrência de revoluções em busca por governos mais democráticos.
B divulgação do conhecimento produzido em papel nas diversas instituições.
C organização das sociedades a favor do acesso livre à educação e às universidades.
D comércio do conhecimento produzido e registrado em qualquer parte do mundo.
E democratização do conhecimento pela divulgação de ideias por meio de publicações.

190 |
Questão 14 - (E NE M 2016)
BONS DIAS!
14 de junho de 1889
Ó doce, ó longa, ó inexprimível melancolia dos jornais velhos! Conhece-se um homem diante de um deles. Pessoa
que não sentir alguma coisa ao ler folhas de meio século, bem pode crer que não terá nunca uma das mais profundas
sensações da vida, — igual ou quase igual à que dá a vista das ruínas de uma civilização. Não é a saudade piegas,
mas a recomposição do extinto, a revivescência do passado.
ASSIS, M. Bons dias! (Crônicas 1888-1889). Campinas: Editora da Unicamp; São Paulo: Hucitec, 1990.
O jornal impresso é parte integrante do que hoje se compreende por tecnologias de informação e comunicação.
Nesse texto, o jornal é reconhecido como
A objeto de devoção pessoal.
B elemento de afirmação da cultura.
C instrumento de reconstrução da memória.
D ferramenta de investigação do ser humano.
E veículo de produção de fatos da realidade.

Questão 15 - (ENEM 2016 - 2ª APLICAÇÃO )


O Google Art é uma ferramenta on-line que permite a visitação virtual dos mais importantes museus do mundo e a
visualização de suas obras de arte. Por meio da tecnologia Street View e de um veículo exclusivamente desenvolvido
para o projeto, fotografou-se em 360 graus o interior de lugares como o MoMA, de Nova York, o Museu Van Gogh, em
Amsterdã, e a National Gallery, de Londres. O resultado é que se pode andar pelas galerias assim como se passeia
pelas ruas com o Street View. Além disso, cada museu escolheu uma única obra de arte de seu acervo para ser foto-
grafada com câmeras de altíssima resolução, ou gigapixel. As imagens contêm cerca de sete bilhões de pixels, o que
significa que é mais de mil vezes mais detalhada do que uma foto de câmera digital comum. Além disso, todas as obras
vêm acompanhadas de metadados de proveniência, tais como títulos originais, artistas, datas de criação, dimensões e
a quais coleções já pertenceram. Os usuários também podem criar suas próprias coleções e compartilhá-las pela web.
Disponível em: http://oglobo.globo.com. Acesso em: 3 out. 2013 (adaptado).
As tecnologias da computação possibilitam um novo olhar sobre as obras de arte. A prática permite que usuários
A guiem virtualmente um veículo especial através dos melhores museus do mundo.
B reproduzam as novas obras de arte expostas em museus espalhados pelo mundo.
C criem novas obras de arte em 360 graus, consultem seus metadados e os compartilhem na internet.
D visitem o interior e as obras de arte de todos os museus do mundo em 3D e em altíssima resolução.
E visualizem algumas obras de arte em altíssima resolução e, simultaneamente, obtenham informações sobre suas
origens e composição

15. E 14. C 12. D 13. E 11. E 10. E 6. A 7. B 8. D 9. D 4. E 5. B 1. E 2. D 3. B


GABARITO

Competência 9: h28, h29, h30 | 191


INGLÊS
COMPETÊNCIA 2
Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s)
moderna(s) como instrumento de acesso a
informações e a outras culturas e grupos
sociais.

192 |
Que o inglês, ao longo do século XX, tornou-se a em inglês. Grandes obras contemporâneas são
LEM (Língua Estrangeira Moderna) mais influente traduzidas primeiramente para o inglês, para
no mundo é evidente. Com as expansões depois serem passadas para o idioma local.
econômica, armamentista, territorial dos EUA Power, stop, ok, wherever, fuck you, head and
após a Segunda Guerra Mundial, a língua inglesa showldears, closed, open, wifi, trident, now etc.
tomou proporções globais antes inimagináveis. são termos absolutamente cotidianos nos grandes
O inglês é hoje a língua mais estudada do centros urbanos brasileiros. Há, inclusive, quem
planeta. Dominando-o, temos um poderosíssimo diga que “inglês é mais fácil que português”. Isto
instrumento de acesso a informações e a outras é, a nebulosidade da compreensão linguística
culturas, e essas outras culturas a que teremos é tão densa que alguns e algumas supõem que
acesso não são necessariamente culturas que dominam melhor um idioma estrangeiro do que
sejam falantes nativas do inglês. seu idioma nativo.

Basicamente, em qualquer grande centro urbano Isso tudo só nos mostra o quão multicultural
do planeta, ao dominar o inglês, conseguimos ter
é o idioma inglês, a língua oficial da Inglaterra,
acesso a todas as informações necessárias para
da Irlanda, da Austrália, da Nova Zelândia, dos
nossa sobrevivência e para uma boa estadia:
Estados Unidos e ainda de outros 55 países
alimentação, transporte, interação social,
espalhados em todos os continentes da Terra.
expansão de repertório cultural etc. Nós, como
brasileiros, sentimos o peso do domínio ianque Além disso, em se tratando de ciência, o inglês

cotidianamente. Frases como “saber inglês é é absolutamente fundamental. Determinados

fundamental”, “dominar o inglês é o mínimo”, textos científicos (das mais diferentes áreas)

“sem inglês, não se consegue um bom emprego” só são encontrados em inglês. Quem domina

são comumente proferidas nos meios sociais inglês tem acesso a um leque muito maior de

letrados do Brasil. O inglês nos chega por meio informações disponíveis na rede internacional

de nossos objetos de consumo. Mesmo quando de computadores (internet). A linguagem dos

algo é feito na China, a informação vem em sistemas operacionais digitais geralmente é o

inglês (made in China). A maioria dos jogos de inglês. Enfim, a língua inglesa definitivamente

videogame ou virtuais estão configurados em abre portas; amplia a construção de uma

inglês. Na nossa cidade (no nosso caso, Porto cidadania internacional, permite a expansão de
Alegre/RS), há placas de trânsito em português repertório cultural, dá autonomia comunicativa
e em inglês. Manuais de instrução de produtos em diversos lugares do planeta, aumenta o acesso
comprados pela internet, muitas vezes, são a informações, revela facetas multiculturais.

Competência 9 | 193
ESPANHOL
COMPETÊNCIA 2

Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s)


moderna(s) como instrumento de acesso a
informações e a outras culturas e grupos
sociais.

194 |
Toda competência linguística se constitui a partir assunto que elas estejam tratando é uma forma
do uso. Isto é, a construção de uma proficiência de desligamento cultural. Não sei praticamente
em LEM (língua estrangeira moderna) passa nada sobre elas, nem o que estão dizendo. Por isso,
pelas ideias de domínio, segurança, plenitude a partir do momento em que me lanço ao estudo
no campo da expressão (fala e escrita) e da de um idioma estrangeiro, passo a desvendar
compreensão (leitura de atos de fala e leitura de os sistemas simbólicos por meio dos quais um
textos escritos). Esse uso linguístico, obviamente, grupo humano se comunica, se constitui, se
não tem importância em si; de nada nos adianta elabora, interage: existe. Assim, consigo penetrar
entender as apócopes do espanhol ou as no reino mágico da cultura estrangeira e passo
heterogenéricas se não compreendermos que a compartir com determinados grupos sociais
esses saberes estruturais do sistema linguístico aquilo que há de mais comunitário em todos nós:
servem, na verdade, de instrumento de acesso a as infraestruturas materiais e as superestruturas
outras culturas. simbólicas que gerenciam a vida coletiva de

Usar uma língua estrangeira é desvendar uma determinada(s) comunidade(s).

cultura estrangeira. O espanhol é o idioma mais Desse modo, a prova do ENEM quer que
falado na América Latina. Para nós, brasileiros, entendamos um idioma não apenas a partir de
saber espanhol é um modo de nos aproximar seus aspectos gramaticais, nem apenas por meio
dos nossos irmãos e irmãs latino-americanos, de determinados textos escritos em língua formal,
que passaram por processos de colonização e mas na verdade o Exame Nacional busca incutir,
pós-colonização bastante similares aos nossos. em nós, a compreensão da língua estrangeira em
No Brasil, falamos em “ir à América Latina”; o
uma dimensão muito mais interativa, multicul-
que não percebemos é que já nascemos nela.
tural e histórica. Saber espanhol é desvendar o
Apenas nos sentimos estrangeiros a ela por não
universo de escritores latino-americanos como
sermos hispanohablantes. O desconhecimento
Gabriel García Marquez, Eduardo Galeano,
de uma língua cria barreiras; o desinteresse por
Mario Vargar Llosa, Pablo Neruda, mas também
um idioma torna o falante nativo desse idioma
é descobrir a hospitalidade do povo colombiano,
um completo estranho para mim. E assim torno-
os desejos dos argentinos e das argentinas que
me alheio a toda uma determinada experiência
passam o verão em Torres (RS), as surpresas dos
cultural.
hispanohablantes que invadem Santa Catarina, os
Observar duas pessoas falando entre si de forma conflitos ideológicos dos uruguaios e uruguaias
natural e interativa, expressando-se com surpresa, que viam, em Pepe Mujica, um líder popular, ou
angústia, humor, tristeza, e não ter sequer ideia do impopular.

Competência 9 | 195
HABILIDADE 5
Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.

A habilidade essencial para uma boa leitura é a da associação:


estabelecer relações é a mola propulsora do ato de ler e, por
isso, é fundamental para o exercício da cognição. Nesse sentido,
a habilidade de associar é basicamente o que funda o que
entendemos por inteligência.

Dito isso, associar vocábulos de um texto ao seu tema é uma


habilidade que exige levar em conta os vocábulos de um texto
(unidades mínimas textuais) e relacioná-los ao campo referencial1
do texto (seu tema). Lembremos que o assunto de um texto não
é o texto; é algo externo a ele e ao qual ele se refere.

De certo modo, o que essa habilidade nos está pedindo é que A palavra inteligência vem do
relacionemos o que há de microestrutural (os vocábulos ou latim intelligere: “discernir,
expressões) ao que há de macroestrutural em um texto (seu
entender, compreender”. Formada
assunto, sua temática, a porção de realidade a que o texto se
refere). A categoria texto não é o objeto principal da habilidade, por “inter-” (entre) + “legere”
e sim as categorias palavra e tema. Ou seja, o texto é visto, (escolher). “Legere” também
sob essa perspectiva, como um caminho a ser percorrido, o
qual teria como ponto de partida o vocábulo e como ponto de forma “ler”. Isto é, a ideia de
chegada o tema. inteligência está diretamente ligada
Portanto, nos é exigido um determinado tipo de leitura, no qual à compreensão, ao entendimento,
ganhará destaque a unidade lexical2, o vocábulo. No entanto, o à capacidade de entender as
vocábulo não deve ser visto autonomamente, mas de um modo
diferenças e as semelhanças entre
que o associe ao tema, ao contexto, ao enunciador, ao público-
alvo, à época. os entes do mundo.

Tudo isso levado ao terreno das línguas estrangeiras apenas


potencializa as possibilidades de leitura e, concomitantemente,
de associação. Os vocábulos e as temáticas em inglês e espanhol
rompem as fronteiras lusófonas e nos conduzem a universos
linguísticos estranhos a nós, falantes nativos do português
brasileiro.

1 Roman Jakobson (1896-1982), em sua obra “Linguística e Comunicação”, busca


estabelecer uma teoria da comunicação, por meio da qual estabelece as suas
conhecidas funções da linguagem. Em seu mapeamento, Jakobson define como
o referente tudo o que é externo à comunicação e que a promove. O campo
referencial é o assunto, o contexto, a situação, em uma palavra: a temática de
um texto, seja ele falado ou escrito, verbal ou não verbal.
2 Léxico é o agrupamento de palavras que uma língua comporta. O termo
“léxico” também pode ser usado para classificar a linguagem de um indivíduo,
nomeando algo que poderíamos chamar “dicionário mental”. Assim, a “unidade
lexical” é a palavra, vista não como algo per si, mas como uma parte de um todo
muito maior: a língua.

196 |
HABILIDADE 6
Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de
ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.

Mais uma vez, a língua estrangeira é vista como meio de ampliar


as possibilidades1. Esse tipo de abordagem busca promover, nos
estudantes, o interesse pela língua estrangeira, já que podem
passar a perceber, nela, um instrumento de ampliação do repertório
cultural, por meio de acesso a novas informações, conhecimentos,
tecnologias e todo e qualquer tipo de instrumentalização que sirva ao
desenvolvimento da cognição, o que inevitavelmente modifica nossa
A palavra “elaborar” percepção de mundo e de si.
vem do latim laborare: Desse modo, é necessário elaborar um modo de entender a língua
“trabalhar”, daí vêm estrangeira por meio do qual se consiga percebê-la como uma chave
também “labuta” e que nos possibilita acessar outras culturas, outros modos de existir
no mesmo tempo/espaço em que existimos. E essa elaboração exige
“lavoura”. Isto é, a
esforço, desconstrução, mobilidade.
elaboração requer esforço,
investimento de energia, Ver a língua estrangeira sob a perspectiva das culturas e das tecnologias
a que ela nos leva é uma forma de historicizá-la. Isto é, é uma forma
fuga da zona de conforto,
de colocá-la na (nossa) história, ampliando nossa capacidade de lidar
problematização daquilo com o estranho e de nos perceber também como estranhos àqueles
que se pensa e do modo que julgávamos estranhos. Uma língua não é uma sequência de sons
como se pensa. ‘bizarras’; na verdade, é um sistema simbólico que soa tão natural aos
seus falantes nativos quanto o nosso idioma soa a nós. Observar uma
língua estrangeira com respeito é um grande exercício de alteridade2,
que pode nos possibilitar ampliar nossos horizontes sem cruzar
qualquer fronteira geográfica.

1 Esse tipo de habilidade revela uma concepção moderna de língua: interdisciplinar


e ampliadora de cidadania. Assim sendo, é possível perceber, nos padrões de
formulação das competências e habilidades da prova de Linguagens, uma lógica que
está em conformidade com o que há de mais contemporâneo em estudos linguísticos.
2 Do latim alter: “outro”. A alteridade é basicamente o respeito ao outro. Para um bom
exercício da alteridade, é preciso ver no outro um eu tão complexo e contraditório
quanto o eu que sinto em mim. Além desse movimento, é preciso aceitar que o outro
vê em mim um estranho tão bizarro quanto vejo nele. Esse processo de aceitação do
outro como eu e de mim mesmo como um outro pode ser uma das maiores dificuldades
da humanidade, exageradamente narcísica.

Competência 2 | 197
HABILIDADE 7
Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas,
sua função e seu uso social.

O ensino de língua estrangeira moderna (LEM), ao menos no Brasil, em


grande parte dos casos, se estrutura por meio de níveis1. Isto é, a língua é
recortada, dividida em tópicos (dos mais simples aos mais complexos) e
se submete a(o) estudante a esse percurso, sempre de forma linear, fixa,
normatizada, como se assim fosse o desenvolvimento de competências a
habilidades em um idioma (seja materno, seja estrangeiro). “É preciso não tomar o poder
como um fenômeno de dominação
Já habilidade 7 do Enem quer que relacionemos um texto em LEM à sua
maciço e homogêneo de um
função social. Isto é, não há o destaque da categoria linguística palavra,
indivíduo sobre os outros, de um
e sim da categoria texto, e ainda relacionada à sociedade. O que se exi-
grupo sobre os outros, de uma
ge da(o) candidata(o) é que saiba lidar com textos em LEM que estarão
classe sobre as outras; mas ter
vinculados a uma realidade socialmente constituída: a uma intenção, a
bem presente que o poder não
uma recepção, a um momento. A sociedade é vista, assim, como uma
arena onde entram em contato diferentes textos e diferentes pessoas por é algo que se possa dividir entre

meio da tensão intertextual. Assim, os textos passam a ser vistos como es- aqueles que o possuem e o detém

truturas linguísticas nas quais se expressam as mais diversas finalidades, exclusivamente e aqueles que

sempre vistas como consequência de determinadas relações sociais (isto não o possuem. O poder deve ser

é, relações de poder). analisado como algo que circula, ou


melhor, como algo que só funciona
O uso social de um texto é toda atividade que envolve desde a produção em cadeia. Nunca está localizado
até a recepção de um texto: os(as) autores(as) e o modo como se aqui ou ali, nunca está nas mãos de
marcam através das escolhas linguísticas; os(as) receptores(as), isto é, alguns, nunca é apropriado como
leitores(as) e as suas possíveis interpretações, reações ao ler o texto; uma riqueza ou um bem. O poder
o local social que serve de suporte ao texto (uma placa de trânsito,
funciona e se exerce em rede. Nas
um periódico, um livro didático, um muro, um veículo, etc). Levando
suas malhas, os indivíduos não só
essa compreensão até o universo das línguas espanhola e inglesa,
circulam mas estão sempre em
chegamos a pichações em Barcelona, a livros de Eduardo Galeano2 ou
posição de exercer este poder e de
de Chimamanda Ngozi Adichie3, a cardápios nova-iorquinos, a textos so-
sofrer sua ação; nunca são o alvo
bre bilinguismo produzidos na Inglaterra, etc.
inerte ou consentido do poder, são
A função social é a finalidade de um texto. A que propósito ele serve? Por sempre centros de transmissão.
que se escreveu o que se escreveu? Por que está escrito assim e não de Em outros termos, o poder não se
outro modo? Que efeito nas pessoas pode gerar esse texto? aplica aos indivíduos, passa por
eles.”

1 Para citar um exemplo, a coleção Leer em español, da editora Santillana, é dividida em [Michel Foucalt, Microfísica do poder]
6 níveis, considerado o mais simples o que apresenta o menor número de palavras, e o
mais complexo, o maior número de palavras. Notamos, assim, um critério basicamente
léxico-quantitativo.
2 Autor uruguaio, perseguido e exilado durante a ditadura civil-militar iniciada por Juan
María Bordaberry. Os textos mais famosos de Galeano eram chamados de microrrelatos.
Com uma linguagem simples, direta, poética, o autor conseguiu expressar, de forma sutil,
muitos dos horrores da sociedade latino-americana pós-colonial.
3 Autora nigeriana, romancista de alto nível. Escreveu seus livros todos em inglês, apesar de
ter como língua materna o igbo. Em seus romances, revela extrema capacidade de análise do
comportamento das famílias e da alta sociedade nigerianas, em um contexto pós-colonial.

198 |
Todo texto irradia significado e pode, por isso, Partindo desses pressupostos, podemos lançar
afetar comportamentos, e é isso que faz com que nosso olhar especificamente a textos em LEM. O
todo texto tenha função social. A função e o uso campo textual a que podemos chegar é tão vasto
social são grandezas constitutivas daquilo que que seria impreciso, aqui, buscar uma delimitação
se entende por texto. Evidentemente, a função daquilo que alcançaríamos ao tratar da função
de um texto pode acabar sendo exatamente o social de textos escritos em inglês ou espanhol. Em
contrário daquilo que seu(sua) autor(a) havia um mundo hiperglobalizado, hiperinformatizado,
planejado1. Mas não há texto sem uma função e onde as relações intra e internacionais se dão de
um uso. Se não houver por que funcionar e como forma multimodal, não linear, não organizada,
ser usado, um texto não existe. pensar em textos em inglês e espanhol é tratar
de estruturas comunicativas de relevância global,
1 Para citar um exemplo brasileiro, em 2016, a repórter Juliana nas microesferas sociais e nas grandes trocas
Linhares, da revista Veja, lançou um texto “enaltecendo” supranacionais. O que nos resta, portanto, é
a figura da “quase primeira dama” Marcela Temer. No
texto, se destacavam os 43 anos de diferença entre aceitar a nossa incapacidade de apreender tudo
Marcela e Michel Temer, e o fato de ele ser “seu primeiro a que podem nos remeter os textos em LEM e
namorado”. Intitulado “Bela, Recatada e do Lar”, o texto
tem uma intencional função social bastante clara: reforçar o buscar alguns poucos exemplos de textos com os
estereótipo feminino de subjugação dócil e de subordinação quais consigamos desenvolver a habilidade de
ao marido. O que ocorreu, na verdade, foi que a publicação
do texto apenas incendiou os discursos de empoderamento enxergar, em um texto, uma função social, nos
feminino, que ironizaram o título do texto, fazendo com que capacitando, assim, para lidar com qualquer texto
surgisse uma função social completamente inversa à que o
texto inicialmente propunha. em LEM.

“Tal posición (estereotipada de la lengua espanhola) ha tenido dos de sus indicios


más contundentes, por un lado, en el enunciado que hasta no hace mucho era posible
oír en boca de no pocos brasileños: Estudar espanhol... ?! Precisa mesmo? y,
por otro, en la producción del portunhol, esa lengua singularmente ‘famosa’ en
Brasil, que es expresión de la postura de la que hablamos y, también, es la lengua
de salida o alternativa en la que desemboca, desde la perspectiva del brasileño,
la secuencia cuya representación comienza con los términos: español - lengua
parecida - lengua fácil. (...)
De hecho, aún en el transcurso de la presente década, el concepto de lengua
española presente en la visión que acabamos de describir, tuvo la capacidad de
servir de punto de partida de algunas reflexiones en el campo de la investigación
e, inclusive, alentó varios proyectos editoriales, con distintos niveles de
envergadura que se dedicaron a un trabajo de comparación “término a término”,
especialmente, en el nivel lexical. Y lo que nos interesa aquí es justamente
destacar el hecho de que, en ciertos casos, en buena parte de esos trabajos, la
capacidad explicativa de tal concepción aparece sobredimensionada, pues llega a
ocupar un papel protagónico en el escenario de la reflexión y a adquirir el valor
de una especie de clave que nos daría acceso al control de la diferencia entre la
lengua española y el portugués.
En los casos en que esto ocurre, ambas lenguas sufren – por ilusión del analista
– un efecto de cosificación. Desde el punto de vista del tratamiento del plano
lexical (que es el que concentra la atención de esos trabajos), quedan reducidas
a un stock de palabras o a una nomenclatura y, consecuentemente, el léxico pasa a
ser el presupuesto lógico de todo acto de lenguaje (Pêcheux, 1988: 290-1).

[Maria Teresa Celada / Neide Maia González. O ensino do Espanhol no Brasil. Cap. 6: El espanhol en Brasil: un intento
de captar el orden de la experiencia. ]

Competência 2 | 199
DESENVOLVENDO A HABILIDADE
Texto 1

¿Consumidores o ciudadanos?
La ciudadanía no consiste únicamente en tener
derechos, sino también en tener la capacidad y
las oportunidades efectivas que garanticen su ejercicio.

En la actualidad hay personas que entienden soledad. Las cosas, –como dice Galeano–, “tienen
que ejercer los derechos políticos de votar y atributos humanos: acarician, acompañan,
ser votado o tener derechos sociales esenciales comprenden, ayudan, el perfume te besa y el
como la educación o la salud gratuitas no es tan auto es el amigo que nunca falla”. Y las cosas no
importante para el ejercicio de la ciudadanía solamente pueden abrazar, embellecerte, hacerte
como la posibilidad de consumir bienes mejor persona… ellas también pueden ser
materiales, incluso cuando para tenerlos queden símbolos de ascenso social, salvoconductos para
menoscabados los derechos políticos. Hemos moverse en una sociedad de clases, llaves de
convertido el espacio sociopolítico o la “ciudad”, acceso a identidades soñadas: ¿En quién
entendida como espacio donde ejercer y disfrutar quiere usted convertirse comprando este coche?.
la ciudadanía, en un mercado. Ya no somos
El problema es que el acceso a los bienes o
ciudadanos y ciudadanas, sino consumidores, es
a esta forma de vivir y consumir que se ha
decir, una nueva especie con dos patas cuya
instaurado en los países ricos no es una forma de
finalidad fundamental en la vida consiste en ser
vida universalizable, no puede ser para todos… La
un tragaldabas.
quinta parte de la población del mundo consume
En una sociedad que con precisión se el 85% de los bienes mundiales y el quintil más
denomina “de consumo”, podríamos decir que pobre ha de conformarse con menos del 2%.
consumir, o no consumir, o consumir de una
Por otra parte, detrás de nuestras compras
determinada manera, es una forma de participar.
y consumos hay una historia personal,
Incluso podría decirse, en más de un sentido,
cultural, social, económica, política y
que nuestra capacidad de consumir es lo que nos
.
medioambiental Están nuestros deseos y
constituye en sujetos políticos. Esto significa que
necesidades, el entorno social, las condiciones
el poder ciudadano se limita al poder adquisitivo.
laborales y de vida de quienes fabrican y
Es decir, que quien no tiene capacidad de acceder
producen bienes, los recursos naturales gastados,
a los objetos de consumo no es nadie, es,
las empresas beneficiadas y su influencia política,
literalmente insignificante. Es invisible. Se diría
los residuos y contaminación generados… Y con
que en la sociedad de consumo el mercado
frecuencia escuchamos apelaciones a nuestra
es ahora el auténtico detentador de ciudadanía.
condición de consumidores para tratar de
Hoy, los expertos saben convertir a las transformar el mundo en que vivimos. Se nos
mercancías en mágicos conjuntos contra la recuerda que con nuestras decisiones de

200 |
consumo contribuimos a generar y perpetuar eficaz contra la sociedad de consumo, habría
estructuras opresivas para los trabajadores, o que lograr un estatus de ciudadano preocupado
destructivas del medio ambiente, que el que por las cosas públicas. Ahí es donde también las
unos pocos consumamos tantos recursos hace organizaciones y redes de consumo tendrían
que otros no puedan disponer de lo mínimo que centrar su atención. Menos en lo que un
necesario, que el consumismo fomenta la consumidor individual debería hacer (aunque no
injusticia y la desigualdad y se nos recuerda que deja de ser importantísimo que el consumidor sea
si cambiásemos nuestras pautas de consumo consciente y crítico), y centrarse más en lo que
individual orientándolas con criterios éticos y –como ciudadanos organizados– pueden
responsables, estaríamos facilitando la formación exigir políticamente en relación al consumo. En
de un mundo más justo y habitable. Pero este definitiva, exigir el derecho a ser ciudadanos, o
planteamiento no es del todo acertado. Con él se sea, a decidir cómo se producen, se distribuyen
está sugiriendo una salida individual y privada a y se usan los bienes en beneficio de todos, en
algo que está reclamando a voces una respuesta todos los lugares del planeta, sin orillados y sin
colectiva y de carácter público. Si se quiere ser excluidos del pastel.

[Manuela Aguillera. Consumo e Cidadania. Revista crítica.


Disponível em: http://www.revista-critica.com/la-revista/editoriales/269-consumo-y-ciudadania.
Acesso em 20/02/2017]

Questões motivadoras:
1. Qual a função social do texto em relação à construção da cidadania?
2. Que tipo de visão acerca do consumo o texto busca incutir no(a) leitor(a)?
3. Sendo oriundo de uma revista, a linguagem está adequada ao suporte no qual o texto foi publicado?

Competência 2 | 201
Texto 2

What would Brexit mean for immigration?


Some of the coverage of our Brexit report has honed in on the
conclusion that, in order for Britain to make the most of life outside
the EU and reach either of our optimistic scenarios where UK GDP
is 0.6% or 1.55% of GDP higher in 2030 post-Brexit, one of the many
things Britain would need to do is maintain a “liberal policy for
labour migration.” But what does this mean exactly?
Brexit, EU Referendum, Immigration, UK Politics

Question 1: Would the EU offer comprehensive Question 2: How is the UK going to compete post-
access to the single market if the UK did not Brexit if it adopts policies that restrict the supply
accept similar free movement arrangements as it of workers?
does now?
The answer to the second question would not
Our modelling suggests that establishing some necessarily mean accepting current UK policies
form of free trade agreement is vital to offset on either EU free movement or immigration
some of the cost of withdrawal (our model from the rest of the world as they are now.
actually provides for relatively open access to EU Clearly, free movement of labour does not
markets, somewhere between that of Norway preclude immigration and border control policies.
and Switzerland). However, the Norwegian and However, our analysis does suggest that if these
Swiss models of EU association (which are the policies were to restrict the UK labour supply or
most advanced trade arrangements the EU has the services provided by that labour, this would
with any non-members) illustrate that accepting have a negative impact.
the principle of EU free movement of people may
Outside of the EU, and depending on its negotiations
be the ‘price’ the UK has to pay in order to gain
with the EU (see Question 1), the UK could
liberal access to the single market.
potentially adopt different immigration policies
Switzerland is in the middle of trying to negotiate to alter the mix of imported skills, nationalities
quotas and restrictions on EU migrants while and enforce border control, such as a new visa
retaining its other EU trade agreements, without regime or rules on intra-company transfers. This is
much joy so far. The UK-EU negotiation might broadly the position Douglas Carswell takes on the
be different, but it seems unlikely that the EU’s issue, for example, which is entirely consistent and
attitude will change on this issue. However, if coherent. In his recent article for The Times on the
Switzerland is somehow successful, Better Off subject he noted that: “Perhaps the greatest failing
Outers will potentially have their answer to this of the immigration system is that it discriminates
first question. against precisely the

202 |
sort of people who, in a world of increasing labour prices. If this happened at the same time as the
mobility, we might actually want to attract.” UK opened up to free trade and new low-cost
(Douglas Carswell, The Times, 24 February 2015.) competition from emerging markets in India and
China, some UK-based businesses could find it
The big question is whether large parts of his
even harder to compete.
party and those who might vote for withdrawal
in a referendum share his economically liberal Another way to increase the UK labour supply
views on immigration and free trade – as Carswell is to boost the numbers of UK-born people in
notes, in today’s globalised world, the two are employment – through better education and
increasingly linked. skills. This is another policy lever already available
to the UK – one which has very little to do with
From a trade policy perspective, placing
the EU. Better Off Outers need to explain how it
restrictions on the movement of labour is likely to
would be different outside.
be negative since restricting the potential labour
supply would mean that the UK economy would To sum up, our findings are broadly consistent
react differently to future growth opportunities. with the liberal Eurosceptic case for withdrawal as
For example, limiting labour supply could make set out by the likes of Carswell. The final question
the UK less competitive by raising wages and is whether that case would win a referendum.
[Stephen Booth, director of Policy and Research. Open europe. Disponível em:
http://openeurope.org.uk/today/blog/what-would-brexit-mean-for-immigration/.
Acesso em 20/02/2017]

Questões motivadoras:

1. A estrutura de perguntas e respostas são estruturas linguísticas que correspondem à função social
desse texto?

2. O assunto é abordado de forma mais técnica ou antropológica? Pense em trechos específicos do


texto para orientar seu posicionamento.

3. O texto é mais informativo ou opinativo? Ser informativo significa isentar-se de possíveis opiniões
que podem se revelar por meio da escolha das informações?

Competência 2 | 203
Texto 3

Clandestino
Manu Chao

Solo voy con mi pena Sola va mi condena Correr es mi destino Para burlar la ley
Perdido en el corazón De la grande babylon Me dicen el clandestino Por no llevar papel
Pa' una ciudad del norte Yo me fui a trabajar
Mi vida la dejé Entre ceuta y gibraltar
Soy una raya en el mar Fantasma en la ciudad Mi vida va prohibida Dice la autoridad
Solo voy con mi pena Sola va mi condena Correr es mi destino Por no llevar papel
Perdido en el corazón De la grande babylon Me dicen el clandestino Yo soy el quiebra ley
Mano negra clandestina Peruano clandestino Africano clandestino
Marijuana ilegal Solo voy con mi pena Sola va mi condena
[…]
Argelino clandestino Nigeriano clandestino Boliviano clandestino Mano negra ilegal
https://www.letras.mus.br/manu-chao/7354/

Desaparecido
Manu Chao

Me llaman el desaparecido Que cuando llega ya se ha ido Volando vengo,


volando voy Deprisa deprisa a rumbo perdido
Cuando me buscan nunca estoy Cuando me encuentran yo no soy El que
está enfrente porque ya Me fui corriendo más allá
Me dicen el desaparecido Fantasma que nunca está Me dicen el
desagradecido Pero esa no es la verdad
Yo llevo en el cuerpo un dolor Que no me deja respirar
Llevo en el cuerpo una condena Que siempre me echa a caminar
Me dicen el desaparecido Que cuando llega ya se ha ido Volando vengo,
volando voy Deprisa deprisa a rumbo perdido
Me dicen el desaparecido Fantasma que nunca está Me dicen el
desagradecido Pero esa no es la verdad
Yo llevo en el cuerpo un motor Que nunca deja de rolar
Yo llevo en el alma un camino Destinado a nunca llegar
Me llaman el desaparecido Cuando llega ya se ha ido Volando vengo,
volando voy Deprisa deprisa a rumbo perdido
Perdido en el siglo... siglo XX... rumbo al siglo XXI
https://www.letras.mus.br/manu-chao/7356/

204 |
Questões motivadoras:

1. Que uma música é um texto sabemos. Mas qual seria a função social do texto música? A que objetivo
serve? Quais as funções mais visíveis e as menos visíveis que se podem perceber no texto?

2. Que importância têm as rimas e as construções sintáticas repetidas para a função social que o texto
música exerce?

Competência 2 | 205
Texto 4

Will brazilans cancel carnival?


SÃO PAULO, Brazil — At least 48 towns or cities in eight Brazilian
states have canceled Carnival festivities this year because they are
suffering from the worst recession in the country’s recent history.

In Porto Ferreira, a small town in São Paulo state, year-end bonus. There are many reports of state
the local assembly has voted to call off Carnival, employees who don’t have enough money to pay
and use the money to buy a new ambulance. rent or buy food. For a while now, state hospitals
The mayor of Taquari, in Rio Grande do Sul, have been unable to afford equipment, supplies
has decided to use the money that would have and salaries. The education budget has also been
gone to the celebrations to speed up the waiting slashed. Even police officers and firefighters have
line for health exams in public hospitals, as well threatened to strike over late paychecks.
as to fund a project for children with special
The budget disaster in Rio could be attributed
needs. Last year, the city of Guaraí, in Tocantins,
to many factors, such as the fall in the oil prices,
canceled New Year festivities to renovate two
the expansion of the government payroll and
public schools.
the general recession. But there’s no doubt that
But this is not a moralistic fable about the lavish reckless spending on the World Cup and the
waste of funds and the duty of helping poor Olympics played a role. The city of Rio will be
children instead of partying in a giant baby paying off the debts it amassed for years, while it
costume. I just find it remarkable that, amid our also now has to maintain the arenas it built.
national recession, the region that seems to be
As a result of all this, Rio’s governor is trying
in the worst shape is Rio de Janeiro, where the
to pass more than 20 austerity measures. He
Olympics took place last year with great buzz and,
seems to have decided that the population had
the government said, a priceless surge in tourists.
effectively joined the party and now wants to
Now both the city and the state of Rio are in split the cost of the beer. The measures include
trouble. The new mayor is projecting an almost salary reductions and higher social security
$1 billion budget shortfall this year, and the state payments for civil servants, tax hikes, an increase
budget is expected to fall more than $6 billion in public transportation fees and the end of
short. The state also owes $10 billion in loans many social programs such as rental subsidies for
guaranteed by the federal government. the homeless. The state has also signaled it will
sell off the public water supply and sanitation
Around two years ago, the state government
department to private investors.
started delaying civil servants’ salaries and
pension checks. Right now public employees, Meanwhile, it keeps granting significant tax
such as professors from the State University of exemptions to telephone companies and other
Rio de Janeiro, are still receiving part of their businesses. According to a report from the Agência
wages for December, with no expectations for a Pública, a Brazilian investigative journalism

206 |
agency, just 50 companies received $8 billion of In addition to this uproar in the streets, a few
tax exemptions between 2007 and 2010. They months ago, two former governors of the state
include luxury jewelry brands, beauty salons and of Rio were arrested on corruption and voter
massage parlors. Others are online retailers that fraud charges. Anthony Garotinho is suspected of
barely generate jobs. The suspicion is that these attempted vote rigging, and Sergio Cabral, whose
companies have given big donations to political term ended in 2014, is accused of demanding
campaigns. The Federal Public Prosecutor’s $64 million in bribes in return for infrastructure
Office is investigating whether some of the tax contracts for World Cup and other projects.
exemptions given to jewelry companies were
Just six months after the mega-event, the Barra
related to money laundering.
Olympic Park looks like a ghost town; visitors say
Naturally, Cariocas — the residents of Rio — are that the pool is filled with mud. Maracanã Stadium
taking to the streets in protest and are being is damaged and completely abandoned. The
received by the police with the customary niceties. Radical Park of Deodoro Sports Complex, whose
In December, police officers entered a church near swimming pool and grounds were supposed to
the state legislative building and shot rubber remain open to the public, is closed. Guanabara
bullets at rioters from a window. (Their paychecks Bay, where sailing and windsurfing events were
are also overdue.) Early this month a bus was set held during the Games, is still polluted. The
on fire and exploded downtown. On the same Olympic euphoria is definitely gone, as pensions
day, a civilian police officer fired at the military and salaries are held up indefinitely and police
riot police during a protest. Sanitation workers officers fight against one another in the streets.
are on strike. More rallies are scheduled for the But tourists should not worry: Rio’s Carnival is still
next weeks. On Tuesday, 9,000 army soldiers guaranteed.
were deployed to patrol the streets of Rio, where
*Vanessa Barbara is the author of two novels and two nonfiction
they could remain until March. books in Portuguese.

[New York Times, disponível em: https://www.nytimes.com/2017/02/19/opinion/will-brazilians-cancel-


carnival.html?action=click&pgtype=Homepage&clickSource=story-heading&module=opinion-c-col-
left-region&region=opinion-c-col-left-region&WT.nav=opinion-c-col-left-region&_r=0. Acesso em:
20/02/2017]

Questões motivadoras:

1. Ao falar em valores financeiros, no terceiro parágrafo, o texto revela uma de suas funções?

2. A função primordial do texto se volta às necessidades dos moradores brasileiros ou dos turistas que
vão ao Brasil? Justifique sua resposta pensando em estruturas linguísticas específicas do texto.

Competência 2 | 207
Texto 5

Barcelona, num local chamado "Bunker del Carmel", nas proximidades do parque Guell.

Questões motivadoras:

1. Isso pode ser considerado um texto? Por que não?

2. Qual seria a função social desse texto? A que propósito serve?

3. Para compreender esse texto e seu uso, basta termos como referência a nossa experiência cultural?
Uma pichação “foda-se o Brasil” significaria a mesma coisa para nós do que “fuck spain” significa pra
eles(as)? Ou precisamos buscar entender a realidade textual do(a) outro(a) a partir do seu ponto de
vista?

208 |
Texto 6

[Pichação feita dia 08/08/2016, na cidade de Nova Odessa, interior de São Paulo]

Questões motivadoras:

1. É preciso perguntas para entender a função social desse texto?

2. São apenas as palavras que atuam como formadoras de sentido? Ou há outros sistemas simbólicos
colocados em uso?

Competência 2 | 209
HABILIDADE 8 INGLÊS
Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como
representação da diversidade cultural e linguística.

Produção cultural em LEM como representação da diversidade...

Produções culturais em inglês ocorrem todo dia ele me ensinaria: norte-americano ou britânico?
nos mais variados lugares do mundo, em países E a resposta dele foi a melhor possível: ‘vou te
que têm o inglês como língua nativa e em países ensinar inglês brasileiro’. A resposta de meu
que não têm. O grande diferencial que essa professor elucida muito bem o que é colocado em
habilidade exige é a compreensão da diversidade debate nessa habilidade: a diversidade cultural e
como constitutiva da língua, especialmente linguística da língua inglesa.
da língua inglesa, que é territorialmente tão
vasta. Certa vez, em uma aula de inglês com um A Inglaterra, durante as grandes navegações
professor particular, perguntei a ele que inglês dos séculos XVI e XVII, não teve atuação muito

210 |
expressiva, sendo uma das últimas nações a de pessoas). Nesse período, enquanto a Europa
navegar; o destaque ficou mesmo com Portugal e sucumbia com bombardeios e campos de
Espanha, que chegaram à América, ao Oriente e à concentração, os Estados Unidos fortaleciam
África. Foi apenas no séc. XIX, como consequência sua indústria armamentícia e tinham os países
da expansão do capitalismo, que a Inglaterra europeus como seus consumidores. Ao final da
ganhou destaque nos domínios ultramarinos, Segunda Grande Guerra, os EUA saem muito
em busca de rotas comerciais e mercados fortalecidos economicamente e passam a exercer
consumidores. Durante a segunda metade do séc. forte domínio geopolítico sobre todo o planeta.
XIX, como parte de um processo que historiadores
Todo esse percurso histórico é um processo
chamam de neocolonialismo1, a Inglaterra chegou
complexo que vai delineando a força simbólica
a dominar 1/3 do território do planeta.
do idioma inglês e a sua expansão territorial.
O domínio inglês é plenamente exercido até Uma visão materialista-dialética2 nos permite
1914 (início da Primeira Grande Guerra). De entender melhor o caminho histórico que levou
1914 a 1945, ocorrem as duas guerras mundiais o inglês aonde está hoje em dia, início do séc.
(que vitimaram aproximadamente 56 milhões XXI. Toda diversidade linguística e cultural que
se encontra hoje é resultado de diversas relações
1 A Segunda Revolução Industrial (1850) marcou um pro- de poder e dos mais variados tipos de discursos,
cesso de grande expansão para os países europeus. Com o que vai lapidando aquilo que a maioria das
o amplo desenvolvimento da eletricidade, do uso do aço e
do petróleo, a Inglaterra passou a buscar matéria-prima di-
sponível e ampliar seus mercados, chegando à Oceania, 2 Termo cunhado por Karl Marx, por meio do qual se elabora
África e Ásia. Todo esse processo de domínio, que envolve uma compreensão das superestruturas simbólicas e abstra-
exploração de matéria-prima e genocídios nos territórios tas (como a cultura, a língua, as religiões) através de análises
dominados é chamado neocolonialismo. A língua inglesa das forças infraestruturais (como os meios de produção, os
surge como uma língua de vencedores! bens de consumo, as guerras, as revoluções industriais)

Competência 2 | 211
pessoas pensam sobre um idioma e sentem todas e todos falantes nativas(os). E se cada ser
quando o falam. humano é único, há uma diversidade de verdades
sobre um mesmo idioma, não sendo nenhuma
As famílias nigerianas, por exemplo, indepen-
delas a verdade absoluta em si, mas talvez a união
dentemente de classe social, tendem a usar, no
de todas possa nos levar a algo mais pleno e ideal3.
ambiente familiar, as línguas locais, enquanto
Para isso, precisamos aceitar todas, sem exceção,
em momentos de sociabilização, aí sim
como iguais. Todas formas de usar o inglês e todas
principalmente em meios letrados e portanto
as maneiras de pensar o inglês devem ser aceitas
privilegiados economicamente, é o inglês que
como dignas de serem objeto de análise. Isso é,
é usado. Há diversos músicos de todo o mundo
de forma profunda, reconhecer a importância da
que, quando escolhem um idioma estrangeiro
produção cultural em LEM como representação
para gravar uma canção, escolhem, na maioria
da diversidade linguística e cultural4.
dos casos, o inglês. Ao observar o escritório onde
estudo, não tenho dificuldades em encontrar um
cofre em que vem escrito “I love you”, “money
baggs”, “show me the money”. Isto é, mesmo
para quem não compreende o inglês, ele se faz
3 O termo ideal pode ser aqui compreendido no sentido
presente, se impõe, impera, se faz relevante, platônico. Platão defende que haja uma verdade absoluta
inquestionavelmente. O que devemos é entender (o mundo ideal), a qual não temos a capacidade de com-
preender sem que nos esforcemos de maneira sobre humana
um idioma com mente aberta, com criticidade para alcançá-la. Unir, em uma só verdade, todas as verdades
e não apenas aceitá-lo como “algo que será individuais é algo aparentemente impossível, mas temos di-
reito de tomar a atitude de supor que essa supraverdade (a
importante para uma viagem”. É preciso entender verdade das verdades) exista.
a língua estrangeira como uma verdade, e de fato
4 Habilidade 8 da prova de Linguagens, que envolve o estudo
é o que todo idioma é: uma verdade absoluta para de línguas estrangeiras.

212 |
CECÍLIA LEMOS
More than words (or at least more than a language!)
I like to think I am more than a language teacher. Those who know
me also know that I don’t say this because I think being a lan-
guage teacher is a lesser job. Quite the contrary, to tell you
the truth. I am very proud of it. But when I think about what I
do with my students I can see so much more than (just) a language
being developed in the classroom.
See, more than a teacher I dare consider me an educator, in the
full sense of the word. A language (English in my case) is what my
students come to the lessons for. But I think I have an unspoken
duty of doing anything I believe will make my students better sui-
ted for the world they live in. A couple of things that happened
recently can illustrate that.
The first happened in a lesson about traveling and places to vi-
sit in a city. The students in this group range between 12 and
13 years old, and they were supposed to review a few common sites
found in a city as well as learn a couple of new ones. One of the
places listed in the coursebook was “church”. The vocabulary list
on the book also mentions “mosque” and “temple” – both a welco-
med addition (I usually only see “church” in books). So of course
students asked about these unknown words, and I explained. I also
added synagogue. But instead of just explaining, after each ex-
planation I asked SS what they knew about each religion. Students
felt safe enough to ask me my own religion and tell me theirs. And
that’s when the lesson became something more than just “places to
see / visit in a city. I asked the students who felt comfortable
about talking about their own faith to think together about simi-
larities between their faiths. I explained what I know about the
ones that aren’t represented in this group. And then we had a very
(surprisingly!) discussion about assumptions about other reli-
gions, respecting different views (different doesn’t mean wrong!)
and the role of tolerance in the world we live today. I asked SS
about problems happening in the world because of religious into-
lerance, and how the simple acceptance of differences would mean
so many less deaths, so much less aggressiveness. In the end, the
students had learned the intended vocabulary and hopefully left
the room a little more open to differences.
Living in the globalized world we do today, I think it’s our
role to prepare students to deal with the different cultures and
thinking they will come across when venturing in the world. If we
are teaching them a language to enable them to engage in interac-
tions with people from other countries and cultures it would be
hypocritical not to. Wouldn’t it?
And as a side bonus, I like to think I am also helping them become
more tolerant, understanding and open people. Which, in my belief,
will also make the world a bit better.
[retirado de http://www.richmondshare.com.br/more-than-words/. Acesso em 10/02/2017]

Competência 2 | 213
214 |
HABILIDADE 8 ESPANHOL
Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como
representação da diversidade cultural e linguística.

Produção cultural em LEM como


representação da diversidade...
Perceba que a habilidade 8 da prova de reproduzir. Vale mencionar que essa crença
Linguagens fala em produção cultural, e não (como a maioria das crenças) não está pautada
somente produção linguística. Toda língua em avaliações práticas da realidade, visto que, na
precisa, definitivamente, ser vista como um própria Espanha, o espanhol não é nem uniforme
sistema no qual repousam a identidade, a e nem o único idioma falado. Na Catalunha1, por
cultura, os costumes, as crenças, os conflitos exemplo, é muito mais comum ouvirmos Catalão
ideológicos, isto é, todo o constructo simbólico do que Espanhol. O mesmo ocorre no país Basco
imensamente amplo que só a coletividade e em Anda Luzia: regiões da Espanha que têm seu
humana faz surgir. próprio idioma e, por vezes, identificam-se mais
com a cultura e a língua locais do que nacionais.
Por isso, falar de língua estrangeira é falar de
diversidade cultural e linguística, de mudança
constante, ainda mais quando se fala de um
idioma tão disseminado pelo planeta como o
espanhol. Para fazer um quadro comparativo,
a prova de espanhol da UFRGS (Universidade
Federal do Rio Grande do Sul) aborda quase
que exclusivamente o espanhol europeu,
valendo-se, na maioria dos casos, de autores
espanhóis para a escolha dos textos que
compõem a prova. Além disso, o vestibular
da universidade – representante das provas
tradicionais brasileiras produzidas a partir
da segundo metade do séc. XX – pauta pelo
menos metade das suas questões em aspectos
estritamente gramaticais, levando em conta
apenas a variedade padrão do idioma. Já
o ENEM faz um recorte muito mais latino-
americano e variacionista, por isso muito
mais conectado com a nossa realidade,
brasileira: isto é, igualmente latino-americana
1 Em Barcelona, capital da Catalunha, é muito mais comum
e diversificada. Existe um mito de pureza encontrarmos a bandeira catalã do que a bandeira espan-
linguística que faz muitas pessoas acreditarem hola. Existe, inclusive, a bandeira catalã separatista – repre-
sentante do desejo de muitos catalães de se separarem do
que realmente haja o “bom espanhol”, o “mais restante do país. Em determinados pontos turísticos de Bar-
puro”, “mais verdadeiro”, “mais autêntico”. celona, vê-se a pichação “fuck Spain”. Há gramáticas catalãs;
nas escolas, estuda-se literatura catalã; nas ruas, as placas de
Isso não passa de uma grande ilusão criada pela trânsito estão primeiramente em catalão, depois em espanhol.
cultura eurocêntrica, que nós tão bem sabemos Ou seja, a pureza linguística seguida na América em relação ao
espanhol não faz sentido sequer no país europeu.

Competência 2 | 215
É válido fazermos uma comparação da habilidade 8 com as habilidades 25, 26 e 27 (que
virão no livro 2), as quais abordam exatamente a questão da variedade linguística em língua
materna, isto é, no português brasileiro. O ENEM, conforme a leitura das competências e
habilidades da prova de Linguagens, quer que os candidatos e as candidatas estejam abertos
e abertas à diversidade linguística, à diversidade cultural; exige-se, assim, uma visão mais
ampla do que é a língua e do que ela representa. É necessário entendermos os fenômenos
humanos (e a língua é o maior e mais antigo de todos).

216 |
México
República España
Cuba
Dominicana

Puerto Rico
Costa
Rica
Guatemala Venezuela
El Salvador Guinea
Panamá
Honduras Ecuatorial
Colombia
Nicarágua
Ecuador

Bolívia
Perú

Paraguay

Uruguay

Chile
Argentina

A língua espanhola é o idioma oficial de 21 países espalhados


pela América do Sul, América do Norte, América Central,
África e Europa. Além disso, é o segundo idioma com mais
falantes nativos no planeta (440 milhões), atrás apenas
do Mandarim. É também o segundo idioma mais estudado
como língua estrangeira no mundo, atrás apenas do inglês.
Isto é, falar do espanhol é falar de um sistema simbólico que
nos dá acesso a uma diversidade cultural incomensurável.
Com o espanhol, conseguimos sobreviver nas principais capi-
tais da América Latina, bem como em quase todos os países
da América Central e ainda em alguns estados dos Estados
Unidos, principalmente os do sul, próximos ao México.

Competência 2 | 217
Qué español enseñar:
elección de un modelo e
introducción de la variedad
Aurora Martín de Santa Olalla   |   5 de março de 2014

Al final del primer artículo de esta serie, Mencionaremos, aunque muy brevemente, otra
hablábamos de la necesidad de elegir un posibilidad que Moreno Fernández (2000: 81)
modelo de lengua para nuestras clases. Hecho define como una norma culta general, abstraída
perfectamente compatible con la posibilidad de de las normas cultas existentes. El referido autor
ir incluyendo rasgos no pertenecientes a dicho habla de un «español general» y lo define como
modelo a lo largo del proceso de enseñanza- «un modelo lo más general posible, una norma
aprendizaje. lingüística abarcadora».

¿Cuál podría ser ese «modelo de español» para


las clases de ELE? ¿Qué criterios podríamos seguir
para incluir «la variación» en nuestros programas Criterios para introducir
de español?
la variación
El artículo de hoy tratará de responder a estas dos
cuestiones. Como decíamos, la elección de un modelo no
debería impedir la introducción de elementos
no pertenecientes a dicho modelo. Lo que sigue

Propuestas de modelos es una propuesta de criterios que podrían guiar


la introducción de estos elementos distintos a
Se trata de elegir el español que resulte nuestro modelo.
más próximo al alumno, por sus intereses o
necesidades personales – intención de viajar o
1. Diferenciación entre la competencia activa
establecerse en un determinado país, por ejemplo
– relacionada con la expresión oral y escrita
– o por una situación de hecho – contacto directo
– y competencia pasiva – relacionada con la
con una zona –.
comprensión oral y escrita.
¿Español rioplantense? ¿Centroamericano?
¿Español del centro norte peninsular o El objetivo, en este caso, es competencia activa
castellano?… En principio, al hablar de diferentes en un modelo de lengua y competencia pasiva
modelos, nos planteamos distintas variantes en la mayor cantidad de modelos posibles.
geográficas y las anteriores bien podrían ser Como señala Anadón Pérez (2005), «se trata
diferentes opciones para distintos públicos. de proporcionar muestras de lengua a nuestros

218 |
alumnos no con el objetivo de reproducirlas producir un solo modelo que estará determinado
o imitarlas, sino más bien con el objetivo por sus intereses y necesidades.
de familiarizarse con ellas, reconocerlas,
3. Necesidad de establecer una programación
comprenderlas y discriminarlas».
que vaya incorporando más elementos en los
niveles más altos.
2. Necesidad de ofrecer muestras de lengua que
ejemplifiquen los elementos que describimos. Según Anadón Pérez (2005), «en la primeras
etapas de aprendizaje se trabajará con un modelo
Martín Perís (2001: 31) distingue entre textos-
de lengua y el conocimiento de variantes es un
fuente –aquellos que presentamos al alumno–
proceso de maduración lingüística que puede
frente a textos-producto –aquellos que el
alcanzar grados muy diversos».
alumno debe ser capaz de producir–. Al hablar
de variedades geográficas caracteriza a los Según el Plan curricular del Instituto
primeros con los rasgos de «máximo localismo» Cervantes (2006:60), la presencia de rasgos
–los textos deben estar claramente identificados de variedades dialectales «debe responder a
en lo que se refiere a su localización geográfica– una proporción adecuada en relación con las
y «gran diversidad», y a los segundos como muestras del modelo de la variedad que se
«opción del alumno» y «un solo modelo», en el describe y el incremento de dominio de lengua
sentido de que el alumno deberá ser capaz de que se supone con el nivel de estudio».

Lecturas adicionales
Anadón Pérez, María José (2005): Hispanoamérica y el español de América en la enseñanza
de español a alumnos ingleses, en Biblioteca Virtual Redele 3, primer semestre, http://
www.mecd.gob.es/redele/Biblioteca-Virtual/2005/memoriaMaster/1-Semestre/
ANADON-P.html

Martín Peris, Ernesto (2001): «Textos, variedades lingüísticas y modelos de lengua en la


enseñanza de español como lengua extranjera», en Carabela 50, 103-136, http://preview2.
awardspace.com/ernestomartin.com/wp-content/uploads/2008/12/variedade.pdf

Moreno Fernández, F., ¿Qué español enseñar?, Madrid, Arco/Libros, 2000.

Plan curricular del Instituto Cervantes (2006). Madrid-Biblioteca Nueva. http://cvc.


cervantes.es/Ensenanza/biblioteca_ele/plan_curricular/default.htm

[Retirado de http://www.espaciosantillanaespanol.com.br/que-espanol-ensenar-
eleccion-de-un-modelo-e-introduccion-de-la-variedad/. Acesso em 10/01/2017]

Competência 2 | 219
Lista de questões Competência 2 (Inglês)
Habilidades 5, 6, 7 e 8

Linguagens NÃO é interpretação


Questão 01 – ENEM 2018 2ª APLICAÇÃO

Tendo em vista a procura por atividades de lazer em períodos de recesso escolar, esse fôlder
A divulga uma proposta de acampamento com abordagem temática.
B anuncia a exibição de uma série de filmes sobre tradições culturais.
C comunica a abertura de inscrições para um curso de música folclórica.
D encoraja a realização de oficinas de contação de história para crianças.
E convida para a apresentação de uma peça teatral sobre cultura indígena.

Questão 02 – E NE M 2018

No cartum, a crítica está no fato de a sociedade exigir do adolescente que


A se aposente prematuramente.
B amadureça precocemente.
C estude aplicadamente.
D se forme rapidamente.
E ouça atentamente.

Competência 2 (Inglês): h5, h6, h7 e h8 | 221


Questão 03 - E NE M 2017
Letters
Children and Guns
Published: May 7, 2013
To the Editor: Re “Girl’s Death by Gunshot Is Rejected as Symbol” (news article, May 6):

I find it abhorrent that the people or Burkesville, Ky., are not willing to learn a lesson from the tragic shooting of a
2-year-old girl by her 5-year-old brother. I am not judging their lifestyle of introducing guns to children at a young age, but
I do feel that it’s irresponsible not to practice basic safety with anything potentially lethal justify leaving guns lying around,
unlocked and possibly loaded, in a home with two young children? I wish the family of the victim comfort during this
difficult time, but to dismiss this as a simple accident leaves open the potential for many more such “accidents” to occur.
I hope this doesn’t have to happen several more times for legislators to realize that something needs to be changed.
EMILY LOUBATON
Brooklyn, May 6, 2013
Disponível em: www.nytimes.com. Acesso em: 10 maio 2013.
No que diz respeito à tragédia ocorrida em Burkesville, a autora da carta enviada ao The New York Times busca
A reconhecer o acidente noticiado como um fato isolado.
B responsabilizar o irmão da vítima pelo incidente ocorrido.
C apresentar versão diferente da notícia publicada pelo jornal.
D expor sua indignação com a negligência de portadores de armas.
E reforçar a necessidade de proibição do uso de armas por crianças.

Questão 04 – ENEM 2017 2ª APLICAÇÃO


Synopsis
Filmed over nearly three years, WASTE LAND follows renowned artist Vik Muniz as he journeys from his home
base in Brooklyn to his native Brazil and the world’s largest garbage dump, Jardim Gramacho, located on the outskirts
of Rio de Janeiro. There he photographs an eclectic band of “catadores” — self-designated pickers of recyclable mate-
rials. Muniz’s initial objective was to “paint” the catadores with garbage. However, his collaboration with these inspiring
characters as they recreate photographic images of themselves out of garbage reveals both the dignity and despair of
the catadores as they begin to re-imagine their lives. Director Lucy Walker (DEVIL’S PLAYGROUND, BLINDSIGHT and
COUNTDOWN TO ZERO) and co-directors João Jardim and Karen Harley have great access to the entire process and,
in the end, offer stirring evidence of the transformative power of art and the alchemy of the human spirit.
Disponível em: www.wastelandmovie.com. Acesso em: 2 dez. 2012.
Vik Muniz é um artista plástico brasileiro radicado em Nova York. O documentário Waste Land, produzido por ele
em 2010, recebeu vários prêmios e
A sua filmagem aconteceu no curto tempo de seis meses
B seus personagens foram interpretados por atores do Brooklyn.
C seu cenário foi um aterro sanitário na periferia carioca.
D seus atores fotografaram os lugares onde moram.
E seus diretores já pensam na continuidade desse trabalho.

222 |
Questão 05 – ENEM 2ª APLICAÇÃO

Pelas expressões do it yourself e How-Tos, entende-se que a pesquisa realizada na página da internet revela uma
busca por
A agendamento de serviços autorizados.
B instrução para a realização de atividades.
C esclarecimento de dúvidas com outros usuários.
D inscrição em cursos para elaboração de projetos.
E aquisição de produtos para a execução de tarefas.

Questão 06 – E NE M 2018
Don’t write in English, they said,
English is not your mother tongue...
... The language I speak
Becomes mine, its distortions, its queerness
All mine, mine alone, it is half English, half
Indian, funny perhaps, but it is honest,
It is as human as I am human...
...It voices my joys, my longings my
Hopes...
(Kamala Das, 1965:10)
GARGESH, R. South Asian Englishes. In: KACHRU, B. B.; KACHRU, Y.; NELSON, C. L.
(Eds.). The Handbook of World Englishes. Singapore: Blackwell, 2006.
A poetisa Kamala Das, como muitos escritores indianos, escreve suas obras em inglês, apesar de essa não ser
sua primeira língua. Nesses versos, ela
A usa a língua inglesa com efeito humorístico.
B recorre a vozes de vários escritores ingleses.
C adverte sobre o uso distorcido da língua inglesa.
D demonstra consciência de sua identidade linguística.
E reconhece a incompreensão na sua maneira de falar inglês.
Competência 2 (Inglês): h5, h6, h7 e h8 | 223
Questão 07 – E NE M 2017
Israel T ravel Guide
Israel has always been a standout destination. From the days of prophets to the modern day nomad this tiny slice
of land on the eastern Mediteranean has long attracted visitors. While some arrive in the ‘Holy Land’ on a spiritual quest,
many others are on cultural tours, beach holidays and eco-tourism trips. Weeding through Israel’s convoluted history is
both exhilarating and exhausting. There are crumbling temples, ruined cities, abandoned forts and hundreds of places
associated with the Bible. And while a sense of adventure is required, most sites are safe and easily accessible. Most
of all, Israel is about its incredibly diverse population. Jews come from all over the world to live here, while about 20%
of the population is Muslim. Politics are hard to get away from in Israel as everyone has an opinion on how to move the
country forward — with a ready ear you’re sure to hear opinions from every side of the political spectrum.
Disponível em: www.worldtravelguide.net. Acesso em: 15 jun. 2012.
Antes de viajar, turistas geralmente buscam informações sobre o local para onde pretendem ir. O trecho do guia
de viagens de Israel
A descreve a história desse local para que turistas valorizem seus costumes milenares.
B informa hábitos religiosos para auxiliar turistas a entenderem as diferenças culturais.
C divulga os principais pontos turísticos para ajudar turistas a planejarem sua viagem.
D recomenda medidas de segurança para alertar turistas sobre possíveis riscos locais.
E apresenta aspectos gerais da cultura do país para continuar a atrair turistas estrangeiros.

Questão 08 – ENEM 2017 2ª APLICAÇÃO


The Four Oxen and the Lion
Oxen used to live. Many a time he tried to attack them; but whenever he came near, they turned their tails to one
another, so that whichever way he approached them he was met by the horns of one of them. At last, however, they
quarreled among themselves, and each went off to Lion attacked them one by one and soon made an end of all four.
Disponível em: www.aesopfables.com. Acesso em: 1 dez. 2011.
A fábula The Four Oxen and the Lion ilustra um preceito moral, como se espera em textos desse gênero. Essa
moral, podendo ser compreendida como o tema do texto, está expressa em:
A O mais forte sempre vence.
B A união faz a força.
C A força carrega a justiça nas costas.
D O ataque é a melhor defesa.
E O inimigo da vida é a morte.

Questão 09 – ENEM 2020 DIGIT AL


Women in Theatre: Why Do So Few Make It to the T op?
An all-female Julius Caesar (A Shakespeare play) has just hit the stage, but it’s a rarity intheatre. In a special report,
Charlotte Higgins asks leading figures why women are still underrepresented at every level of the business — and what
needs to change.
HIGGINS, C. Disponível em: www.guardian.co.uk. Acesso em: 12 dez. 2012.
O vocábulo “rarity” tem um papel central na abordagem do assunto desse texto, que destaca a
A falta de público feminino na plateia dos teatros.
B ausência de roteiros de autoria feminina.
C resistência dos diretores a personagens femininas.
D escassez de representação feminina no meio teatral.
E desvalorização da performance feminina no palco.

224 |
Questão 10 – ENEM 2017 2ª APLICAÇÃO

A proposta da capa da revista, associando aspectos verbais e visuais, transmite a seguinte mensagem:
A O combate aos problemas decorrentes do aquecimento global é visto como uma guerra.
B O aquecimento global é mundialmente considerado um problema insuperável e irreversível.
C O problema do aquecimento global poderá ser solucionado com a ajuda do Exército.
D As grandes guerras provocaram devastação, o que contribuiu para o aquecimento global.
E O Exército está trabalhando no processo de reposição de árvores em áreas devastadas.

Questão 11 – E NE M 2018
Lava Mae: Creating Showers on Wheels for the Homeless
San Francisco, according to recent city numbers, has 4,300 people living on the streets. Among the many problems
the homeless face is little or no access to stalls to accommodate them. San Francisco only has about 16 to 20 shower
stalls to accommodate them.
But Doniece Sandoval has made it her mission to project that aims to change thar. The 51-years-old former mar-
keting executive starter Lava Mae, a sort of showers on wheels, a new Project that aims to turn decommissioned city
buses into shower stations for the homeless. Each bus will have two shower stations and Sandoval expects that they’ll
be able to provide 2,000 showers a week.
ANDREANO, C. Disponível em http://abcnews.go.com Aceso em: 26 jun. 2015 (adaptado)
A relação dos vocábulos shower, bus e homeless, no texto refere-se a
A empregar moradores de rua em lava a jatos para ônibus.
B criar acesso a banhos gratuitos para moradores de rua.
C comissionar sem-teto para dirigir os ônibus da cidade
D exigir das autoridades que os ônibus municipais tenham banheiros.
E abrigar dois mil moradores de rua em ônibus que foram adaptados.

Competência 2 (Inglês): h5, h6, h7 e h8 | 225


Questão 12 – ENEM 2020 DIGIT AL
Vogue Magazine’s Complicated Relationship with Diversity
Edward Enninful, the new editor-in-chief of British Vogue, has a proven history ofaddressing diversity that many
hope will be the start of an overhaul of the global Vogue brand.
In March, he responded sublimely when US President Donald Trump nominated SupremeCourt judge Neil Gor-
such, who allegedly does not care much about civil rights: Enninful styled ashoot for his then employer, the New York-
based W magazine, in which a range of ethnically diverse models climb the stairs of an imaginary “Supreme Court”. In
February, after Trumpinitiated the much-debated immigration ban, Enninful put together a video showcasing thevarious
fashion celebrities who have immigrated into the US. Even before his first official dayin Vogue ’s Mayfair offices, Enninful
had hired two English superstars of Jamaican descent in anattempt to diversify the team. Model Naomi Campbell and
make-up artist Pat McGrath bothshare Enninful’s aim of championing fashion as a force for social change. One can only
hope that Enninful’s appointment is not a mere blip, but a move in the rightdirection on a long road to diversity for the
global brand.
Disponível em: www.independent.co.uk. Acesso em: 11 ago. 2017 (adaptado).
Considerando-se as características dos trabalhos realizados pelo novo editor-chefe da Vogue
inglesa, espera-se que a revista contribua para a
A integração da moda a questões sociais e raciais.
B ampliação do número de concursos de modelos.
C padronização de desfiles de moda internacionais.
D expansão da moda em países pouco retratados em editoriais.
E priorização de assuntos relacionados a imigrantes jamaicanos.

Questão 13 – ENEM 2019 2ª APLICAÇÃO


Classifying
Philip and Annie wear glasses
and so do Jim and Sue,
but Jim and Sue have freckles,
and Tracey and Sammy too.
Philip and Jim are in boy’s group
but Philip is tall like Sam
whilst Jim is small like Tracey and Sue
and Clare and Bill and Fran.
Sue is in Guides and football
whilst Helen fits in most things —
except she’s a girl and quite tall.
Jenny is curly and blonde and short
whilst Sally is curly but dark;
Jenny likes netball, writing and maths
but Sally likes no kind of work.
Philip and Sam are both jolly,
Fran’s best for a quiet chat:
now I
have freckles, like joking, am tall, curly, dark, in Guides, football
and play penny whistles and the piano…
how do I fit into all that?
NICHOLS, J. In: COLLIE, J.; LADOUSSE, G. Paths into Poetry.
England: Oxford University Press, 1993.
No poema Classifying, a escritora inglesa Judith Nichols compara várias pessoas com o objetivo de
A enumerar a diversidade de características físicas.
B classificar as preferências de diferentes pessoas.
C ilustrar a relação entre tipo físico e estilo de vida.
D destacar as singularidades de cada ser humano.
E denunciar a intolerância às diferenças físicas.

226 |
Questão 14 – ENEM 2019 2ª APLICAÇÃO

O infográfico aborda a importância do inglês para os negócios. Nesse texto, as expressões but e yet only evidenciam
A um impedimento às transações comerciais em contexto internacional.
B o desinteresse dos funcionários nos cursos oferecidos pelas empresas.
C uma comparação entre as visões dos executivos sobre o aprendizado do inglês.
D a necessidade de inserção de funcionários nativos no mercado de trabalho globalizado.
E um contraste entre o ideal e o real sobre a comunicação em inglês no mundo empresarial.

Questão 15 – ENEM 2018 2ª APLICAÇÃO


Most people today have a mobile phone. In fact, many people can’t imagine how they ever got along without a por-
table phone. However, many people also complain about cell phone users. People complain about other people loudly
discussing personal matters in public places. They complain when cell phones ring in movie theaters and concert halls.
They complain about people driving too slow, and not paying attention to where they are going because they are talking
on a cell phone. And they complain about people walking around talking to people who aren’t there.
Whenever a new communications technology becomes popular, it changes the way society is organized. Society
has to invent rules for the polite way to use the new devices. Our social etiquette, our rules of politeness for cell phones,
is still evolving.
Disponível em: www.indianchild.com. Acesso em: 28 fev. 2012 (adaptado).
O uso de celulares em lugares públicos tem sido prática corrente. O texto aponta que essa prática tem gerado
A anseios por recursos para ampliar os benefícios dos dispositivos.
B reclamações sobre a falta de normas no comportamento dos usuários.
C questionamentos a respeito da dependência constante dessa tecnologia.
D discussões acerca da legislação para a comercialização de telefones.
E dúvidas dos usuários em relação ao manuseio de novos aparelhos.

15. B 14. E 13. D 12. A 11. B 10. A 9. D 8. B 7. E 6. D 5. B 4. C 1. A 2. B 3. D


GABARITO

Competência 2 (Inglês): h5, h6, h7 e h8 | 227


Lista de questões Competência 2 (Espanhol)
Habilidades 5, 6, 7 e 8

Linguagens NÃO é interpretação


Questão 01 – (E NE M 2013)
Duerme negrito
Duerme, duerme, negrito,
que tu mamá está en el campo,
negrito...
Te va a traer
codornices para ti.
Te va a traer
carne de cerdo para ti.
Te va a traer
muchas cosas para ti [...]
Duerme, duerme, negrito,
que tu mamá está en el campo,
negrito...
Trabajando, trabajando duramente, trabajando sí.
Trabajando y no le pagan,
trabajando sí.
Disponível em: http://letras.mus.br. Acesso em: 26 jun. 2012. (fragmento)
Duerme negrito é uma cantiga de ninar da cultura popular hispânica, cuja letra problematiza uma questão
social, ao
A destacar o orgulho da mulher como provedora do lar.
B evidenciar a ausência afetiva da mãe na criação do filho.
C retratar a precariedade das relações do trabalho no campo.
D ressaltar a inserção da mulher no mercado de trabalho rural.
E exaltar liricamente a voz materna na formação cidadã do filho.

Questão 02 – (E NE M 2014)

As marcas de primeira pessoa do plural no texto da campanha de amamentação têm como finalidade:
A Incluir o enunciador no discurso para expressar formalidade.
B Agregar diversas vozes para impor valores às lactantes.
C Forjar uma voz coletiva para garantir adesão à campanha.
D Promover uma identificação entre o enunciador e o leitor para aproximá-los.
E Remeter à voz institucional promotora da campanha para conferir-lhe credibilidade.
Competência 2 (Espanhol): h5, h6, h7 e h8 | 229
Questão 03 – (E NE M 2015)

Disponível em: www.lacronicadeleon.es. Acesso em: 12 mar. 2012 (adaptado).


A acessibilidade é um tema de relevância tanto na esfera pública quanto na esfera privada. A exploração desse
tema destaca a importância de se:
A Estimular os cadeirantes na superação de barreiras.
B Respeitar o estacionamento destinado a cadeirantes.
C Identificar as vagas reservadas aos cadeirantes.
D Eliminar os obstáculos para o trânsitos de cadeirantes.
E Facilitar a locomoção de cadeirantes em estacionamentos.

Questão 04 - (E NE M 2016)
La Sala II de la Cámara de Casación Penal ordenó que Marcela y Felipe Noble Herrera, los hijos adoptivos de
la dueña de Clarín, se sometan “a la extracción directa, con o sin consentimiento, de mínimas muestras de sangre,
saliva, piel, cabello u otras muestras biológicas” que les pertenezcan de “manera indubitable” para poder determinar
si son hijos de desaparecidos. El tribunal, así, hizo lugar a un reclamo de las Abuelas de Plaza de Mayo y movió un
casillero una causa judicial que ya lleva diez años de indefinición. Sin embargo, simultáneamente, fijó un límite y sólo
habilitó la comparación de los perfiles genéticos de los jóvenes con el ADN de las familias de personas “detenidas o
desaparecidas con certeza” hasta el 13 de mayo de 1976, en el caso de Marcela, y hasta el 7 de julio del mismo año
en el de Felipe. La obtención del material genético no será inmediata, ya que algunas de las partes apelarán y el tema
inevitablemente desembocará a la Corte Suprema, que tendrá la palabra final sobre la discusión de fondo.
“Es una de cal y otra de arena, es querer quedar bien con Dios y con el diablo”, resumió la presidenta de Abuelas, Es-
tela Carlotto, su primera impresión de la resolución que firmaron Guillermo Yacobucci, Luis García y Raúl Madueño. Aun
así la evaluó como “un paso importante” porque determina que “sí o sí la extracción de sangre o de elementos que con-
tengan ADN debe proceder”. “Lo que nos cayó mal”, acotó, es “la limitación” temporal que permitirá que la comparación se
haga sólo con un grupo de familias. “Seguimos con la historia de que acá hay de primera y de segunda. ¿Por qué todos
los demás casos siempre se han comparado con el Banco (de Datos Genéticos) completo y en éste no?”, se preguntó.
HAUSER, I. Disponível em: www.pagina12.com.ar. Acesso em: 30 maio 2016.
Nessa notícia, publicada no jornal argentino Página 12, citam-se comentários de Estela Carlotto, presidente da
associação Abuelas de Plaza de Mayo, com relação a uma decisão do tribunal argentino. No contexto da fala, a ex-
pressão “una de cal y otra de arena” é utilizada para:
A referir-se ao fato de a decisão judicial não implicar a sua imediata aplicação.
B destacar a inevitável execução da sentença.
C ironizar a parcialidade da Justiça nessa ação.
D criticar a coleta compulsória do material genético.
E enfatizar a determinação judicial como algo consolidado.

230 |
Questão 05 - (E NE M 2011)
El tango
Ya sea como danza, música, poesía o cabal expresión de una filosofía de vida, el tango posee una larga y va-
liosa trayectoria, jalonada de encuentros y desencuentros, amores y odios, nacida desde lo más hondo de la historia
argentina.
El nuevo ambiente es el cabaret, su nuevo cultor la clase media porteña, que ameniza sus momentos de diversión
con nuevas composiciones, sustituyendo el carácter malevo del tango primitivo por una nueva poesía más acorde con
las concepciones estéticas provenientes de Londres y París.
Ya en la ‘década del 20’ el tango se anima incluso a traspasar las fronteras del país, recalando en lujosos salones
parisinos donde es aclamado por públicos selectos que adhieren entusiastas a la sensualidad del nuevo baile. Ya no es
privativo de los bajos en salones elegantes, clubs y casas particulares.
El tango revive con juveniles fuerzas en ajironadas versiones de grupos rockeros, presentaciones en elegantes
reductos de San Telmo, Barracas y La Boca y películas foráneas que lo divulgan por el mundo entero.
Disponível em: http://www.elpolvorin.over-blog.es. Acesso em: 22 jun. 2011 (adaptado).
Sabendo-se que a produção cultural de um país pode influenciar, retratar ou, inclusive, ser reflexo de acontecimen-
tos de sua história, o tango, dentro do contexto histórico argentino, é reconhecido por:
A manter-se inalterado ao longo de sua história no país.
B influenciar os subúrbios, sem chegar a outras regiões.
C sobreviver e se difundir, ultrapassando as fronteiras do país.
D manifestar seu valor primitivo nas diferentes camadas sociais.
E ignorar a influência de países europeus, como Inglaterra e França.

Questão 06 – (E NE M 2018)
Mayo
15
Que mañana no sea otro nombre de hoy
En el año 2011, miles de jóvenes, despojados de sus casas y de sus empleos, ocuparon las plazas y las ca-
lles de varias ciudades de España.
Y la indignación se difundió. La buena salud resultó más contagiosa que las pestes, y las voces de los indignados
atravesaron las fronteras dibujadas en los mapas. Así resonaron en el mundo:
Nos dijeron “¡a la puta calle!”, y aquí estamos.
Apaga la tele y enciende la calle.
La llaman crisis, pero es estafa.
No falta dinero: sobran ladrones.
Ellos toman decisiones por nosotros, sin nosotros.
Se alquila esclavo económico.
Estoy buscando mis derechos. ¿Alguien los ha visto?
Si no nos dejan soñar, no los dejaremos dormir
GALEANO, E. Los hijos de los dias. Buenos Aires: Siglo Veintiuno, 2012.
Ao elencar algumas frases proferidas durante protestos na Espanha, o enunciador transcreve, de forma direta, as
reivindicações dos manifestantes para
A provocá-los de forma velada.
B dar voz ao movimento popular.
C fomentar o engajamento do leitor.
D favorecer o diálogo entre governo e sociedade.
E instaurar dúvidas sobre a legitimidade da causa.

Competência 2 (Espanhol): h5, h6, h7 e h8 | 231


Questão 07 – (E NE M 2017 2ª APLIC)

O texto publicitário objetiva a adesão do público a uma campanha ambiental. A relação estabelecida entre o enun-
ciado “Lo que le haces al planeta, te Io haces a ti” e os elementos não verbais pressupõe que as atitudes negativas do
homem para com o planeta
A aceleram o envelhecimento da pele.
B provocam a ocorrência de seca.
C aumentam o dano atmosférico.
D prejudicam o próprio homem.
E causam a poluição industrial.

Questão 08 – (E NE M 2018)
¿Cómo gestionar la diversidad lingüística en el aula?
El aprendizaje de idiomas es una de las demandas de la sociedad en la escuela los alumnos tienen que finalizar
la escolarización con un buen conocimiento, por lo menos, de las tres lenguas curriculares: catalán, castellano e inglés
(o francés, portugués...).
La metodología que promueve el aprendizaje integrado de idiomas en la escuela tiene en cuenta las relaciones
entre las diferentes lenguas: la mejor enseñanza de una lengua incide en la mejora de todas las demás. Se trata de
educar en y para la diversidad lingüística y cultural.
Por eso, la V Jornada de Buenas Prácticas de Gestión del Multilingüismo, que se celebrará en Barcelona, debatirá
sobre la gestión del multilingüismo en el aula. El objetivo es difundir propuestas para el aprendizaje integrado de idio-
mas y presentar experiencias prácticas de gestión de la diversidad lingüística presente en las aulas.
Disponível em: www10.gencat.cat. Acesso em: 15 set. 2010 (adaptado).
Na região da Catalunha, Espanha, convivem duas línguas oficiais: o catalão e o espanhol. Além dessas, en-
sinam-se outras línguas nas escolas. De acordo com o texto, para administrar a variedade linguística nas aulas, é
necessário
A ampliar o número de línguas ofertadas para enriquecer o conteúdo.
B divulgar o estudo de diferentes idiomas e culturas para atrair os estudantes.
C privilegiar o estudo de línguas maternas para valorizar os aspectos regionais.
D explorar as relações entre as línguas estudadas para promover a diversidade.
E debater as práticas sobre multilinguismo para formar melhor os professores de línguas.

232 |
Questão 09 – (E NE M 2017 2ª APLIC)
En la República Democrática del Congo menos del 29% de la población rural tiene acceso al agua potable, y me-
nos del 31% cuenta con servicios de saneamiento adecuados. En un país cuya situación ha sido calificada como “la
peor emergencia posible de África en las últimas décadas”, Ias enfermedades hacen estragos entre la población. La
diarrea provoca cada ano la muerte del 14% de los ninos menores de cinco anos, y los brotes epidêmicos de cólera
causan más de 20 000 muertes anuales, sobre todo en Ias provincias de Katanga Oriental, Kivu del Norte y del Sur. Con
el objetivo de paliar esta situación, la Fundación We Are Water ha llevado a cabo un proyecto de Unicef en los distritos
del sur y el este del país para mejorar el acceso al agua potable, la higiene y el saneamiento en las comunidades rurales
y semirrurales donde el cólera es endêmico. Gracias a la excavación de pozos, el establecimiento de instalaciones para
la extracción de agua y la formación de agentes de salud para mejorar las prácticas de higiene de estas comunidades,
10 000 ninos, 5 000 mujeres y 5 000 hombres de 30 aldeas y áreas cercanas a las ciudades han mejorado su acceso
al agua potable y se verán libres de la amenaza del cólera.
VAN DEN BERG, E. Disponível em: www.nationalgeographic.com.es. Acesso em: 27 jul. 2012.
A partir das informações sobre as condições de saneamento básico na República Democrática do Congo e do
gênero escolhido para veiculá-las, a função do texto ê
A divulgar dados estatísticos sobre a realidade do país.
B levar ao conhecimento público as práticas que visam a melhoria da saúde na região.
C alertar as pessoas interessadas em conhecer a região sobre os problemas de saneamento.
D oferecer serviços de escavação de poços e acesso à água para a população da região.
E orientar a população do país sobre ações de saúde pública.

Questão 10 – (E NE M 2017 2ª APLIC)


CIUDAD DE MÉXICO — José Rodríguez camina junto a su nieto frente al altar gigante con ofrendas del Día de los
Muertos en el Zócalo de la capital mexicana, una tradición prehispánica que ocurre el 1 y 2 de noviembre de cada ano.
“Vengo con mi nieto porque quiero que vea que en México la muerte no sólo es lo que ve en los noticieros”, comenta.
México consagra los dos primeros días de noviembre a homenajear a sus muertos. Las familias disponen coloridas
mesas con las bebidas, platillos, frutas o cigarrillos favoritos de sus difuntos. Algunas incluso lo hacen directamente en
los cementerios, a cuyas puertas se agolpan músicos para llevar serenatas a los muertos. Toneladas de cempazuchitl,
una flor amarilla, son usadas para tapizar los panteones.
Es una fiesta para celebrar a quienes se han ido. Aunque cada vez es más palpable la influencia de Halloween,
México se resiste a las tendencias que llegan del vecino Estados Unidos y conserva una de las fiestas más coloristas
de su calendario, el Día de los Muertos.
Un estudio de la Procuraduría de Defensa del Consumidor (Profeco) elaborado en octubre de 2009 reveló que el
81 por ciento de los casi 300 encuestados en 29 de los 32 estados mexicanos celebran el Día de los Muertos, frente al
cuatro por ciento que se decantó por Halloween.
SANTACRUZ, L. A. Disponível em: http://noticias.univision.com.
Acesso em: 16 jan. 2011 (adaptado).
O Día de los Muertos é uma tradicional manifestação cultural do México. De acordo com a notícia, essa festa
perdura devido
A à homenagem prestada às pessoas que morreram pela glória do país.
B aos estudos que reafirmam a importância desse dia para a cultura mexicana.
C à reação causada pela exposição da morte de forma banalizada pelos noticiários.
D à proibição da incorporação de aspectos da cultura norte-americana aos hábitos locais.
E ao engajamento da população em propagar uma crença tradicional anterior à colonização.

Competência 2 (Espanhol): h5, h6, h7 e h8 | 233


Questão 11 – (E NE M 2016 3ª APLIC)
Dejad a Ia gente correr
No habrá maratón en los próximos años en Ia que los corredores no sientan Ia mezcla de temor y de respeto por
las víctimas que se desprende, inevitablemente, del atentado terrorista perpetrado en Boston el 15 de abril de 2013.
Ello es un acto casi reflejo de inquietud, de perdida de cierta inocencia en un evento convocado para unir a personas
de procedencias muy distintas, sin importar mas circunstancias, ideologias o credos.
Antes de Ia Primera Maratón de Cisjordania, los organizadores y participantes de esta se reunieron en Belén en
una vigilia en Ia que, con velas, homenajearon a las víctimas de Ia masacre orquestada por los hermanos Tsarnaev.
“Toda Ia gente tiene el derecho a correr”, se Ieía en sus pancartas.
La Primera Maratón de Cisjordania, organizada por el grupo independiente Derecho al Movimiento, Iucía como
lema una breve cita de Ia Declaración Universal de los Derechos Humanos: “Toda persona tiene derecho a circular
libremente”. Los agentes de policia palestinos habían redoblado Ia seguridad, en una medida más de puro acto reflejo
que otra cosa.
Muchas son las cargas del pueblo palestino, a nivel de gobernanza interna y por imposiciones en Israel, pero un
ataque terrorista a los corredores no era realmente una posibilidad. Finalmente participaron con total normalidad 650
corredores, de 28 países. EI 70% eran palestinos. Necesariamente, Ia maratón discurrió en varios tramos frente al muro
erigido por Israel, y atravesó dos campos de refugiados.
ALANDETE, D. Disponivel em: http://blogs.e|pais.com. Acesso em: 22 abr. 2013 (adaptado).
No texto são abordadas as circunstâncias em que aconteceu a primeira maratona realizada na Cisjordânia (Pales-
tina). Os envolvidos nessa maratona propuseram um lema e confeccionaram faixas nas quais reivindicavam a
A garantia de segurança em provas de atletismo e no cotidiano.
B melhoria das vias de acesso e das instalações esportivas.
C presença dos palestinos em competições internacionais.
D punição dos culpados por atos de terrorismo.
E liberdade de ir e vir e de praticar esportes.

Questão 12 – (E NE M 2016 3ª APLIC)

Essa charge tem a função de denunciar ironicamente o(a)


A rebeldia dos filhos em relação à alimentação.
B contaminação dos alimentos ingeridos pela sociedade.
C inadequação dos hábitos alimentares da sociedade atual.
D autoritarismo das mães na escolha da alimentação dos filhos.
E falta de habilidade da mulher moderna no preparo das refeições.

234 |
Questão 13 – (ENEM 2016 3 APLIC)
De tal palo, tal astilla
Cuando Michael Acuña ingresó en la Academy of Cuisine, en el estado de Maryland, ya hacía muchos soles que
era un excelente cocinero. Es que sus padres, Manuel y Albita, fueron propietarios de El Mesón Tico, en Madrid, y,
desde niño, Michael no salía de la cocina.
Ya graduado, trabajó en Washington, en Filomena’s Four Seasons, entre otros prestigiosos lugares. Cuando su fa-
milia regresó a su país, Costa Rica, y abrió Las Tapas de Manuel, al este de San José - la capital -, pronto se les reunió.
El éxito no se hizo esperar: inmediata ampliación, primero, y luego un segundo restaurante, esta vez al oeste de la
ciudad, con tablado flamenco y un alegre bar.
Más de veinticinco tapas, clientes fieles que llegan una y otra vez, y una calidad constante, testimonian la razón
de su éxito.
ROSS, M. American Airlines Nexos, n. 1, mar. 2003.
O título do texto traz uma expressão idiomática. Essa expressão, vinculada às informações do texto, reforça que o
sucesso alcançado por Michael Acuna deve-se ao fato de ele ter
A estudado em uma instituição renomada.
B trabalhado em restaurantes internacionais.
C aberto seu primeiro empreendimento individual.
D voltado às raízes gastronômicas de seu país de origem.
E convivido desde a infância no universo culinário da família.

Questão 14 – (E NE M 2016 2ª APLIC)


La excelente cosecha literaria latinoamericana de la segunda mitad del siglo XX puede resumirse en unos cuantos
nombres: los del colombiano Gabriel García Márquez, el peruano Mario Vargas Llosa, los argentinos Jorge Luis Borges
y Julio Cortázar, el cubano Alejo Carpentier, el chileno José Donosco, los mexicanos Octavio Paz y Carlos Fuentes…
Hay más escritores dignos de figurar en ese cuadro de honor, por supuesto. Pero en él no podría faltar ninguno de
los mencionados. Carlos Fuentes, fallecido ayer a los 83 años em Ciudad de México, se labró a pulso su puesto en
él. Novelista, ensayista, dramaturgo, guionista de cine, profesor en las más destacadas universidades americanas y
europeas, Fuentes supo reflejar en su obra el espíritu de México, forjado en el mestizaje y en la red de complejidades
que comporta. Pero no sólo eso. En todo momento, Fuentes fue un paladín de la libertad, tanto en lo relativo a la ima-
ginación y el talento creativo que impregna sus obras, como en lo referente al compromiso social.
Disponível em: www.lavanguarda.com. Acesso em: 27 jul. 2012.
Apesar da proximidade entre as línguas portuguesas e espanhola, muitas expressões não são equivalentes. No
texto, a expressão “a pulso” indica que Carlos Fuentes
A trabalhou em suas obras as questões relativas ao contexto social de seu país.
B escreveu suas principais obras com base no princípio da liberdade de criação.
C integrou o quadro dos escritores latino-americanos mais destacados do século XX.
D alcançou o devido reconhecimento literário dentro e fora de seu país por mérito próprio.
E tratou em suas obras dos principais assuntos da cultura mexicana do passado e do presente.

Competência 2 (Espanhol): h5, h6, h7 e h8 | 235


Questão 15 – (E NE M 2016 2ª APLIC)
Canción con todos
Salgo a caminar
Por la cintura cóscimica del sur
Piso en la región
Más vegetal del tiempo y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de América em mi piel
Y anda en mi sangre un río
Que libera em mi voz
Su caudal.
Sol de alto Perú
Rostro Bolivia, estaño y soledad
Un verde Brasil besa a mi Chile
Cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña América y total
Pura raíz de un grito
Destinado a crecer
Y a estallar.
Todas las voces, todas
Todas las manos, todas
Toda la sangre puede
Ser cancíon en el viento.
¡Canta conmigo, canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz!
GÔMEZ, A.T. Mercedes Sosa: 30 años. Buenos Aires: Polygran, 1994.
Canción con todos é uma canção latino-americana muito difundida e consagrada pela voz da cantora argentina
Mercedes Sosa. Com relação à América Latina, seus versos expressam
A desejo de integração entre os povos.
B entusiasmo por caminhar pela região.
C valorização dos recursos naturais.
D esforço para libertar os oprimidos.
E vontade de cantar os tipos humanos.

15. A 14. D 12. B 13. E 11. E 8. D 9. B 10. E 7. D 4. C 5. C 6. B 3. B 2. D 1. C


GABARITO

236 |
Linguagens NÃO é interpretação

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