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O que é lógica? Lógica é a ciência do processo do pensamento em conexão com todos os demais
processos do universo. Os lógicos investigam o processo do pensamento que se produz nas mentes
humanas e formular as leis, formas e interrelações desses processos mentais. Tem como função a
compreensão de todo tipo de proposição.
O desenvolvimento da lógica? A lógica formal foi o primeiro grande sistema de conhecimento científico
do processo do pensamento. Os primeiros filósofos gregos fizeram importantes descobertas sobre a
natureza do processo de pensamento e seus produtos, com Aristóteles recompilando, classificando e
sistematizando esses resultados positivos, criando a lógica formal. A lógica aristotélica manteve seu
predomínio durante dois mil anos, quando foi derrotada pela lógica dialética. A dialética é o resultado do
trabalho intelectual dos filósofos da revolução burguesa da Europa Ocidental, tendo Hegel como o
revolucionador da ciência lógica ao expor as formas gerais de funcionamento da dialética e Marx/Engels
como revolucionadores da lógica hegeliana ao assentar a dialética sobre bases materiais concretas.
O que é a lógica formal? É o processo do pensamento dominado pelas leis da identidade, da contradição
e do terceiro excluído.
Lei da Identidade: A é igual a A. Uma coisa é sempre igual ou idêntica a si mesma; sob qualquer
condição permanece única e a mesma; uma determinada coisa existe absolutamente para todo
momento. Assim, uma coisa exclui as diferenças dentro da essência das coisas ou do pensamento.
Lei da Contradição: A não é não-A. Significa a exclusão da diferença na essência das coisas e do
pensamento. Diferença e identidade são características distintas, desconectadas e excludentes.
Lei do Terceiro Excluído: Se A é igual a A, não pode ser igual a não-A. As coisas são e devem ser uma de
duas mutuamente excludentes.
2) As limitações da lógica formal: traços da realidade que as leis da lógica formal não abrangem ou
distorcem e onde termina sua utilidade.
Lei da Identidade: na realidade objetiva, nada corresponde exatamente ao conteúdo desta lei, mas
encontramos seu oposto (A nunca é igual a A).
A lei da identidade tem duas faces: é verdadeira e falsa. Julga corretamente as coisas enquanto
estas podem ser consideradas fixas e imutáveis ou enquanto a quantidade de mudança nelas
pode ser descartada ou considerada nula. Portanto, esta lei só dá resultados dentro de certos
limites e deve-se usar outras leis para corrigir seus erros.
Exemplo: uma nota de um dólar é um dólar, mas um dólar hoje não é mais o mesmo dólar que
antes; todo operário sabe que é impossível fazer dois objetos completamente iguais e é
permitida uma margem de erro.
A lei da identidade pode acabar usando a tolerância dialética: se o dólar dobra seu valor como
resultado da deflação, então A não é mais igual a A, mas maior que A; se cai como resultado da
inflação, novamente A não é igual a A, mas menor. Em vez de A igual a A, temos A igual a 2A ou a
½A.
Necessidade de aplicar a lei da dialética: as mudanças quantitativas destroem a qualidade velha e
trazem uma nova.
A é extremamente complexo e contraditório: não é só A, mas tem algo mais que o torna esquivo
e volúvel. Nunca terminamos de compreendê-lo, porque quando estamos por fazê-lo começa a
se converter em outra coisa mais ou menos diferente. A é A e não-A: tomar A como A é abstração
que nunca pode ser encontrada ou realizada na realidade.
A se diferenciou de si mesmo: A está sempre mudando em diferentes direções, se tornando mais
ou menos a si mesmo, se aproximando ou distanciando. Neste processo de criação e perda de
identidade, A se torna outra coisa diferente da que começou.
Enquanto a lei da identidade reflete corretamente certas partes da realidade, as distorce ou falha
ao refletir outras; os aspectos que distorce ou não pode expressar são mais profundas que os que
descreve.
3) Algo mais sobre as limitações da lógica formal: cinco erros básicos inerentes às leis da lógica formal.
A lógica formal requer um universo estático: as leis da lógica formal excluem de si mesmas o
movimento e a mudança.
A lei da identidade diz que tudo é sempre igual a si mesmo e a lei da contradição diz que nada
pode ser diferente de si mesmo. No entanto, a diferença implica a presença e a atuação de uma
mudança; onde a diferença está excluída, não pode haver mudança ou movimento real. Portanto,
o movimento não pode ser incluído nesse reino de formas rígidas onde tudo está congelado em
seu lugar.
No movimento, tudo leva continuamente à contradição de estar em dois lugares distintos. Assim,
a lei da contradição não expressa a verdadeira natureza da contradição (é a identidade de forma
negativa).
Porém, a lógica não consegue excluir a contradição do mundo real e acaba sendo incapaz de
explicar a essência do movimento, pois é explicitamente contraditório: contém em si dois
momentos opostos, A não é simplesmente igual a A, mas também é não-A.
Nada é permanente: a realidade nunca descansa, sempre muda, sempre fui. “´[…] a totalidade da
natureza do menor elemento ao maior […] transcorre sua existência entre um eterno chegar a ser
e deixar de ser, em um movimento e mudança sem descanso” (Engels).
A lógica formal eleva barreiras entre as coisas, entre sucessivas fases do desenvolvimento de uma
mesma coisa e na imagem objetiva da realidade em nossas mentes.
Entre a verdade e a falsidade não há pontos intermediários, não há transições aos escalões que
as conectam.
Se tomarmos as leis da lógica formal ao pé da letra, temos que assumir que cada coisa ou estado
de uma coisa é absolutamente independente de qualquer outra coisa ou estado. Pressupõe-se
um mundo em que tudo é isolado.
Cada coisa está sempre passando a ser e transformando-se em outra. Para isso, é necessário
romper e enfrentar as barreiras que anteriormente as separavam dessa outra coisa. A ruptura de
barreiras, a passagem de uma coisa a outra, sucede continuamente dentro e em torno de nós.
A lógica formal exclui a diferença da identidade: enquanto a lógica formal coloca barreira insuperáveis
entre os diferentes, o diferente acaba se convertendo em idêntico e o idêntico se torna diferente. Essa
transformação da identidade em diferença e da diferença em identidade tem lugar em todas as relações.
Apesar das leis da lógica formal, a identidade material real não exclui de si a diferença, mas a
contém como parte essencial. Da mesma forma que a diferença real não exclui a identidade, mas
a inclui como elemento essencial.
O caráter absoluto das leis da lógica formal: essas leis regem o mundo do pensamento de forma
totalitária, exigindo inquestionável obediência e reclamando autoridade soberana.
As leis absolutas não têm lugar no mundo real: todo objeto real se origina e se apresenta sob
condições históricas e materiais específicas em conexão com outras coisas.
Se tudo existe sob limitações históricas e materiais definidas, evolui e se diversifica, muda e
desaparece, uma lei absoluta não pode ser aplicada no mesmo grau, em todo tempo e sob
qualquer condição.
A lógica formal não pode explicar a si própria: os lógicos formais dizem que suas leis são independentes
da razão e sua lógica é eterna. No entanto, a lógica formal surgiu em uma etapa definida da evolução da
sociedade humana, evoluindo paralelamente ao crescimento da sociedade e suas forças produtivas, e foi
assimilada e suplantada pela dialética.
A dialética pode não só explicar a existência da lógica formal, mas também dizer porque a supera
e explicar a si mesma.
A dialética surgiu como resultado de uma revolução social: a dialética revolucionária é que
prevaleceu na prática política; na esfera do conhecimento, o formalismo foi levado à mesma
crise.
Hegel revolucionou a ciência do pensamento demonstrando as limitações das leis da lógica formal e
criou, com base em novos princípios, um sistema superior de lógica conhecido como dialética.
Contexto histórico
A revolução da lógica feita por Hegel é parte do movimento revolucionário que transformou o
mundo ocidental entre os séculos XVI e XIX, culminando na substituição de todos os aspectos da
vida social do feudalismo e formas pré-capitalistas pelo sistema burguês.
Os movimentos revolucionários democrático-burgueses originados pelo crescimento e expansão
do capitalismo transformaram radicalmente as relações políticas, os métodos de produção, a
moral e as mentalidades. Os avanços do pensamento na prática industrial e científica
estabeleceram, assim, a necessidade de uma forma mais evoluída de lógica e uma teoria do
conhecimento superior para enfrentar a nova acumulação do conhecimento.
Hegel propôs um novo método apropriado ao novo contexto histórico: Hegel era consciente da
necessidade de um método apropriado de pensamento e da incapacidade da lógica formal em satisfazer
as necessidades dos novos conhecimentos. Assim, Hegel se propôs a formular uma lógica adequada ao
desenvolvimento da ciência e necessária para assegurar o progresso científico.
Durante o século XVI até a aparição de Hegel, as novas forças do capitalismo haviam
questionado, enfrentado ou derrotado todas as instituições e relações estáveis. O feudalismo
havia sido minado ou subvertido pelo crescimento das relações capitalistas. As condições
históricas demandavam a criação de novo método de pensamento que estivesse de acordo com
as necessidades do desenvolvimento do pensamento científico. Bacon e Descartes buscaram
fazer sua lógica mais científica, mas foi Hegel quem conseguiu consumar a revolução na lógica.
Novas ideias científicas acompanharam o surgimento da economia capitalista e à fermentação
política da revolução democrático-burguesa. Os cientistas de distintos campos procuraram
conciliar os novos temas de conhecimento que haviam coletado ou as novas leis que haviam
descoberto com as velhas categorias de pensamento. Revolucionaram suas práticas científicas
antes de revolucionar seus hábitos e métodos de pensamento.
Os pensadores burgueses haviam começado já no século XVI a se rebelar contra as restrições da
lógica formal. Os mais destacados filósofos europeus procuraram formular um método próprio
para superar a lógica formal: o “Novum Organum” de Bacon, o “Discurso do método” de
Descartes, o método mecânico de Descartes, o método geométrico de Espizona, o “Ensaio sobre
o entendimento humano” de Locke representam marcos nesse caminho. A tentativa mais exitosa
foi feita por filósofos alemães começando por Kant, seguido por Fichte e Schelling e culminando
em Hegel, que consumou a revolução na lógica.
O aspecto negativo da realidade: “Todas as coisas encontram seu fim” (Hegel). As coisas existem e
persistem, mas também evoluem e desaparecem; as coisas se afirmam, mas também se negam e são
negadas por outras.
A ação destrutiva da vida está presente em tudo: no movimento das coisas, no crescimento dos seres
vivos, na transformação das substâncias, na evolução da sociedade e na mente humana que reflete
todos estes processos objetivos.
“A existência é em parte mera aparência e só em parte realidade” (Hegel). Nem tudo o que é real deve
existir. A existência divide a si mesma em aspectos opostos de aparência e essência.
Aparência e essência. Uma coisa é autenticamente real se é necessária, se sua aparência corresponde
totalmente à sua essência e somente enquanto prove ser necessária. Hegel buscou a origem desta
necessidade na Ideia Absoluta e os materialistas nas condições materiais e nas forças conflitantes que
criam, sustentam e destroem todas as coisas.
Alguma coisa adquire realidade porque as condições necessárias para sua produção estão presentes e
operando objetivamente. Torna-se real com as mudanças nas circunstâncias externas e internas de sua
evolução. Permanece real quando for necessária, sob as condições dadas. Logo, quando as condições
mudam, perde sua necessidade e sua realidade, se dissolvendo em mera aparência.
Exemplo: o capitalismo foi em seu momento um sistema real e necessário. Chegou a existir por conta
das condições sociais existentes e do crescimento das forças produtivas; apareceu e continuou a se
estender pelo mundo, subordinando ou suplantando as relações sociais anteriores; provou sua
necessidade e inevitabilidade na prática histórica. Hoje em dia, o capitalismo está pronto para ser
superado, pois este antiquado sistema de produção é não-necessário, irreal e irracional; tem que ser
abolido ou negado se a humanidade vai viver e progredir. Será negado por uma força social dentro do
capitalismo, mais necessária e racional: o proletariado socialista.
A negação não é algo estéril ou autodestrutivo, mas também é afirmativo e positivo. A afirmação se
transforma em negação e, por sua vez, a negação mostra seu lado positivo (negação da negação), uma
afirmação inteiramente nova que contém já sua negação.
Toda evolução real ocorre de maneira contraditória, pelo conflito entre forças opostas que rodeiam e
formam parte de todo o existente. Tudo termina no curso da evolução. A necessidade se converte em
ausência da necessidade, em contingência ou mudança.
“Acima de todas as coisas, a contradição é a que move o mundo; é ridículo dizer que a contradição é
impensável. O correto nesta proposição é que a contradição não é o fim da questão, mas invalida a si
própria” (Hegel).
Categoria aparência. A essência de uma coisa nunca aparece por si mesma e independente. Sempre se
manifesta com e por meio de seu oposto, a aparência. É através de uma série de aparências acidentais
que a essência manifesta seu conteúdo interno e adquire cada vez mais realidade, até exibir completa e
perfeitamente como lhe é possível sob as condições materiais dadas. A essência de uma coisa é o
necessário para sua aparência, a totalidade de qualidades sem as quais não poderia existir.
Qualidade e quantidade. A essência, em vez de ser algo fixo e simples em sua natureza, se compõe de
vários graus que constituem uma hierarquia da essência.
As coisas avançam do menos essencial ao mais essencial: a qualidade de uma essência pode tornar-se
quantitativamente maior ou menor, pode crescer em extensão e em conteúdo, podendo se determinar
ou definir em diferentes graus ou formas de seu ser. Ex.: o pré-requisito para a aparição quantitativa do
dinheiro como uma nova propriedade econômica é um desenvolvimento quantitativo específico do
intercâmbio. A nova qualidade de dinheiro aparece como o resultado necessário da acumulação
quantitativa de atos de intercâmbio.
Também pode ocorrer um salto de quantidade à qualidade. Ex.: quando os seres humanos começaram a
dizer no mercado “isto vale tanto” e a trocar os produtos de seu trabalho em termos equivalentes,
estavam dadas as condições prévias para a produção do dinheiro. Dada uma suficiente quantidade de
mercadorias diferentes e de atos de troca, se faz necessário encontrar uma mercadoria entre elas que
possa servir como dinheiro.
O processo continua com a nova qualidade se transformando em nova quantidade. Ex.: uma vez que a
qualidade dinheiro faz sua aparição na sociedade, tende a estender-se indefinidamente, a penetrar em
todas as partes e a transformar todas as demais relações econômicas. Esta quantificação leva à produção
de uma nova qualidade econômica. O dinheiro se transforma em capital, que é uma forma superior de
dinheiro.
Existe um processo incessante de transformação de quantidade em qualidade, de possibilidade em
inevitabilidade e de inevitabilidade em possibilidade.