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Profª Samhira Franco samhira.souza@prof.eteshjs.faetec.rj.gov.

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O CALOR E O FRIO COMO AGENTES TERAPÊUTICOS

I) INTRODUÇÃO

A utilização de agentes físicos é antiga. A história referencia a utilização


(pelos gregos e romanos) da luz solar, da água, do calor, das massagens, na cura
e alívio das doenças.

II) DEFINIÇÃO

* Aplicação do calor - compreende o uso de um agente mais quente que a pele.


* Aplicação do frio - compreende o uso de um agente mais frio que a pele.

Ambos podem ser feitos sob a forma úmida ou seca.

III) TIPOS

a.1) Calor úmido: a exposição excesiva pode causar maceração, porém


reduz o ressecamento da pele
- Banhos (cirurgia retal, hemorróidas, episiotomia no parto,
inflamação vaginal): implica em colocar o corpo todo ou em parte, na água.
- Embebições: imersão de parte do corpo (pés, mãos) ou
envolvimento de partes em gaze saturada com líquido.
- Cataplasma: massa quente e úmida, de substância leve capaz de
conservar o calor. Ex: farinha.
- Empanamentos, saturações, fomentações e compressas -
aplicações de panos úmidos (ou gaze) a uma parte do corpo.

a.2) Calor seco:


- Bolsa de água quente
- Almofada, cobertor elétrico
- empanamento (envoltórios quentes industrializados que aplicam
calor a seco numa área lesionada)

b.1) Frio úmido:


- Compressas frias
- Banhos de esponja
- Empanamento

b.2) Frio seco:


- Bolsa de gelo

OBS: As aplicações úmidas (frias ou quentes) são mais penetrantes que as secas.
O calor seco por sua vez retém a temperatura por um maior tempo, pois não é
influenciado pela evaporação.

Fonte: Google imagens


IV) Efeitos

* Do calor:
# Promove vasodilatação (absorve edema)
# Aumenta a circulação local
# Acelera a cicatrização
# Aumenta a supuração
# Torna o exsudato mais fluido
# Aquece as partes frias, aumenta a temperatura
# Alivia a dor
# Relaxa os tecidos

Exemplo de Indicações

- Torcicolos;
- Lombalgias;
- Cólicas menstruais e nos bebês;
- Antes dos exercícios para relaxamento muscular;

Exemplo de Contra-indicações

- Feridas cirúrgicas;
- Hemorragias;
- Lesões abertas;
- Lesões por pressão (antigas escaras);
- Luxações ou traumas antes de 24horas;
- Presença de fenômenos tromboembólicos nos MMII (membros
inferiores) e
- Pacientes hemofílicos, com fragilidade capilar ou em tratamento com
anticoagulantes.

* Do frio:
# Promove vasoconstricção - evita ou reduz a formação de edema
# Diminui a temperatura
# Estanca a hemorragia
# Diminui o metabolismo
# Lentifica processos inflamatórios como por ex. dos olhos
# Diminui a dor (porque diminui a circulação do sangue e dos
líquidos tissulares)
# Embota os receptores da dor e serve como anestésico local
# Diminui a inflamação local
# Detém processos supurantes e a absorção de líquidos tissulares
Exemplo de Indicações

- Febre;
- Traumas (tecidos moles, tecido muscular, articular e ósseo);
- Luxações e
- Contusões.

Exemplo de Contra-indicações

- Estase circulatória;
- Locais cianóticos (coloração tecidual azulada) e necrosados (morto);
- Pacientes debilitados, desnutridos e muito idosos, com pouco tecido subcutâneo,
fragilidade capilar e pouco colágeno e elastina que fragilizam o sistema
tegumentar.

OBS: Pode-se utilizar o calor e o frio de forma intermitente com o objetivo de


estimular a circulação (TERAPIA DE CONTRASTE).
O efeito procurado nas aplicações rápidas dos extremos de temperatura é a
contração seguida do relaxamento quando se suspenda a aplicação. Este efeito
tônico estimula os tecidos para drenagem de edema em caso de lesões
osteomusculares distais.

V) Princípios Científicos

Anatomia e fisiologia - a aplicação do calor e do frio pode influenciar todas


as partes do corpo, através das conexões entre os vasos e nervos da pele com os
vasos e nervos do resto do corpo.

A pele consiste de duas camadas: epiderme - composta de células córneas


em constante descamação; derme - contém nervos, vasos sanguíneos, glândulas
sebáceas e folículos pilosos.

Os órgãos terminais dos nervos sensitivos transmitem as sensações de frio,


calor, dor e pressão que são interpretadas no cérebro. Em casos de danos aos
nervos ou ao cérebro, a transmissão dos impulsos pode ser interrompida,
possibilitando a ocorrência de lesões cutâneas pelas aplicações do calor ou do
frio.

A pele é dotada de abundante irrigação sanguínea e linfática. O calor


aplicado a uma área é levado pelo sangue a outras áreas. A intensidade dos
efeitos do calor ou do frio depende da diferença entre as temperaturas da
aplicação e da pele.
O calor moderado quando aplicado à pele, produz um aquecimento geral;
dilata os vasos superficiais provocando maior afluxo de sangue para a área,
estimulando a neoformação de tecido e proporcionando melhor nutrição às
células. O maior suprimento sanguíneo aumenta o número de leucócitos,
contribuindo para a cicatrização. O calor promove à supuração, levando maior
quantidade de sangue a área inflamada ou removendo-o de uma área
congestionada. O calor relaxa os músculos, aliviando a rigidez e a fadiga. Amolece
o tecido fibroso, aumenta a troca de oxigênio e acelera a absorção dos exsudatos.
A ação do calor sobre os tecidos pode ser anti-espasmódica, analgésica,
descongestionante ou sedativa. A área, devido ao aumento do suprimento
sanguíneo, torna-se vermelha. O calor moderado aumenta a perspiração.

O calor produz vasodilatação periférica, aumenta a pressão sangüínea


capilar e, pelo relaxamento dos capilares, aumenta a área disponível para as
trocas líquidas.

O frio reduz a formação e a absorção dos venenos bacterianos. A aplicação


de frio pode baixar a temperatura dos tecidos a ponto de permitir o controle dos
microorganismos causadores da infecção.

O frio é um depressor vital direto. Diminui as atividades de todas as coisas


vivas e, às vezes, modera em parte as atividades das células. O frio detém o
crescimento e, às vezes a atividade das bactérias, pois estas como as células do
corpo, são feitas de protoplasma. Como o frio diminui a circulação local, um
processo inflamatório será diminuído, se aquele for aplicado, todos os sintomas
desaparecerão. O mesmo acontecerá com os processos de supuração, pois o frio
impede a ação das bactérias.

O frio atua nas terminações nervosas deprimindo suas atividades, logo, há


diminuição da sensibilidade e da dor. Se os nervos estiverem completamente
entorpecidos, não poderão transmitir sensações ao centro vasomotor e este centro
perderá contato com os vasos sangüíneos da pele. A circulação será retardada. A
membrana delgada dos vasos primeiro se torna esgotada, congesta-relaxada; isto
permite uma estase do sangue venoso e impede a entrada do sangue arterial. O
local torna-se azulado ou purpúreo. Se há continuação desta ação interferindo no
suprimento de oxigênio para as células, há diminuição da resistência das células,
o que prejudica o tratamento e, às vezes causa a morte do tecido no local.

ATENÇÃO

# Temperatura acima de 48.8oC provoca contração dos músculos involuntários e


dos vasos sangüíneos superficiais produzindo dor.
# Os extremos de calor e de frio podem destruir os tecidos quando aplicado por
tempo prolongado.
# Ao fazer aplicação do calor não se deve exercer pressão porque a redução das
camadas de ar aumenta o risco de queimaduras.
# A temperatura da água da bolsa deve ser de 48.8oC a 57.2oC.
# A fricção produz calor, por isso não deve ser usada nos banhos cuja finalidade é
reduzir a temperatura corporal.
# Contra-indicações para a aplicação de calor: quando a vasodilatação aumenta a
dor ou quando a expansão de líquidos e gazes traz maiores incômodos ao cliente.
A vasodilatação cerebral aumenta a pressão e consequentemente a dor. É contra-
indicada quando é necessário evitar a supuração como em apendicites. Neste
caso, aplica-se gelo.

CUIDADOS ESPECÍFICOS

* Na aplicação de calor:
# Não ultrapassar 20 minutos;
# Proteger a pele para evitar queimaduras;
# Lubrificar a pele posteriormente (com óleo de amêndoa, cremes
hidratantes sem essência).
# Não expor demasiadamente o local para evitar penetração de ar frio;
# Quando usar material elétrico certificar-se de que está em perfeito
estado e com isolamento para evitar choques.
# Observar vermelhidão, formação de bolhas

* Na aplicação do frio:
# Aplicar durante 20 minutos;
# Trocar sempre que necessário;
# Proteger o local evitando molhar a roupa do cliente (e roupas de cama se
for o caso);
# Enxugar a área após terminar a aplicação.
# Observar dormência ou queimação, formigamento, vermelhidão,
descoloração azulada;

TÉCNICA

BOLSA DE ÁGUA QUENTE

Material: Bandeja com - bolsa de borracha, envoltório de pano, jarro com


água, toalha, termômetro de água.

Método: verificar se a bolsa está integra e as condições da rolha; verificar a


temperatura da água; encher a bolsa até a terça parte; retirar o ar com a bolsa
deitada sobre a mesa deixando a água aparecer na sua abertura; arrolhar e
enxugar; colocar o envoltório de pano e aplicar no cliente.
Cuidados após o uso: lavar a bolsa com água e sabão, escorrer bem e
enxugar, colocar talco, guardar com um pouco de ar, em lugar fresco e pendurada
se possível.

COMPRESSAS QUENTES

Material: Bandeja com - jarro com água quente, bacia, torcedor de pano,
compressas, impermeável, toalha.

Método: colocar a área do corpo que receberá a compressa sobre o


impermeável; colocar a água na bacia; envolver a compressa no torcedor de pano;
mergulhar a compressa dentro da água quente segurando o torcedor pelas
pontas; retirar a compressa da água e torcer com o auxílio do torcedor; aplicar a
compressa no cliente tendo o cuidado de não queimá-lo.

BOLSA DE GELO

Material: Bandeja com bolsa de gelo, envoltório de pano, impermeável,


toalha.

Método: Verificar as condições da bolsa e da rolha; quebrar o gelo se


necessário; colocar o gelo na bolsa até a terça parte, expelir o ar e fechar a bolsa;
enxugar e colocar o envoltório de pano; aplicar no cliente. Forrar o local com
impermeável e toalha.

COMPRESSAS GELADAS NOS OLHOS

Cuidados: a compressa deve ser maior que os olhos; usar uma para cada
olho e não repeti-las (usar uma só vez); cuidado para não colocá-las em cima do
nariz para não causar congestão nasal.

O principal mecanismo de atuação do gelo é contrair os vasos sanguíneos do local em que é


aplicado. Dessa forma, a sensação é de um efeito anestésico, com menor fluxo de sangue e
redução do inchaço e da inflamação. Ideal para traumas que são provocados por pancadas.
Nessas situações, é comum que vasos sanguíneos e linfáticos se rompam, formando
hematomas e edemas. É aí que a compressa gelada pode ajudar. Quando utilizada logo após
o impacto, ela é capaz de conter o inchaço e minimizar a dor, já que o gelo reduz a
sensibilidade local e a dor.

Quando usado no esporte, o objetivo é recuperar o atleta da fadiga e tensão muscular.


Mesmo sendo indicada para diversos tipos de trauma, não se deve abusar da compressa fria,
pois peles mais sensíveis podem ter problemas com baixas temperaturas. O tempo de
aplicação recomendado, segundo Severo, é de aproximadamente 20 minutos, ou de acordo
com a orientação do profissional de saúde, mas sempre com pausas de, no mínimo, 30
minutos entre as aplicações. Além disso, a aplicação sobre feridas ou queimaduras deve ser
evitada.

PODE USAR O GELO EM CASOS DE:

*Trauma – a mais tradicional das aplicações da compressa fria é em situações de trauma,


queda ou pancada. Com o gelo combinado ao tratamento, a recuperação acelera.

*Dor de dente – resfrie a bochecha após procedimentos odontológicos para evitar o


inchaço. É importante utilizar sempre uma proteção na pele, como uma toalha, por
exemplo, em caso de utilizar bolsa de gelo.

*Depois do exercício – após exagerar na academia, aposte na compressa fria para afastar o
risco de lesões. A ação contem o processo inflamatório inicial e acelera a cicatrização das
microlesões

Pré-treino, dores nas costas, torcicolo, cólicas menstruais e do bebê

Segundo Regis, o aquecimento aumenta a circulação e deixa toda a musculatura mais


relaxada e alongada. Agindo justamente ao contrário da compressa fria, o calor dilata vasos
sanguíneos. Com o aumento de fluxo de sangue, a região se recupera mais rápido e as
tensões musculares diminuem, consequentemente reduzindo a dor. Talvez a mais comum
delas seja a cólica. Há gerações, a conhecida bolsa de água quente ajuda mulheres no
período menstrual, uma vez que reduz a tensão nos músculos do ventre.

A terapia de calor também requer cuidados como: não exagerar na temperatura da água
para não causar queimaduras na pele e não utilizá-la por tempo prolongado, respeitando os
intervalos determinados pelo profissional de saúde.

PODE USAR A ÁGUA QUENTE EM CASOS DE:

*Dor nas costas e torcicolo – se a sensação é de travamento, o calor ajuda a soltar os


músculos. Nessas regiões em que é mais comum o acúmulo de tensão, o leve aquecimento
já traz alívio.

*Cólicas menstrual e no bebê – A cólica é resultante da tensão muscular da parede


abdominal (musculos abdominais), que quando tensos causam dor (como em qualquer outra
parte do corpo). O calor irá relaxar os músculos e aliviar a tensão local, reduzindo a dor. É
imprescindível verificar se a temperatura da bolsa térmica está adequada antes de colocá-la
sobre a barriga.

*Antes do exercício – um calorzinho pré-treino relaxa a musculatura a ponto de aumentar a


mobilidade, a flexibilidade muscular e facilitar o alongamento. É nisso que os atletas
investem, principalmente no inverno. Assim, a chance de lesão durante a prática esportiva
também diminui.
TERAPIA MISTA

Dependendo da situação, a técnica mais indicada não é nem com gelo, nem com água
quente, mas sim utilizando a combinação dos dois. Chamada de terapia contraste, este tipo
de aplicação alterna as compressas para gerar uma sequência de contração e dilatação de
vasos sanguíneos, o que faz o sangue circular melhor pela região. A aplicação é mais
indicada em casos de distensões musculares, inflamações e alguns tipos de dor de cabeça.

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BIBLIOGRAFIA

ALVIM, N A. T.; FERREIRA, M. A.; FARIA, P. G.; AYRES, A. V. Tecnologias na


enfermagem: o resgate nas práticas naturais no cuidado. In: IGUEIREDO, N. M. A.
(Org.). Tecnologias e técnicas em saúde: como e porque utiliza-las no cuidado de
enfermagem. São Paulo: Difusão Editora, 2013. p. 338-355.

CASTRO, I. B.; BAPTISTA, S. S. & FIGUEIREDO, N. M. A. de. Manual de


procedimentos de enfermagem. Rio de Janeiro: UFRJ, 2010.

FIGUEIREDO, N. M. A. (Org.). Tecnologias e técnicas em saúde: como e porque


utiliza-las no cuidado de enfermagem. São Paulo: Difusão Editora, 2004

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