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SEBENTA DE HISTÓRIA DA CULTURA PORTUGUESA

I. INTRODUÇÃO GERAL

O 1º pilar da cultura de um povo é o ensino. Esta é uma preocupação dominante de qq sociedade


evoluída. Programa:
 Cultura, Civilização e Identidade
 Instituições escolares e Universidade – Como surge a universidade portuguesa e em que
contexto (mosteiros, escolas paroquiais, etc.). Depois voltaremos a este tema para falar do
ensino no tempo de marques de Pombal e no estado novo.
 Arte – é uma necessidade sociológicas e psicológicas. É preciso ver o que está por trás de cada
estrutura artística. Assim:
o Arte Românica
o Gótica
 Século XV:
o Prosa doutrinal da corte
o Aparecimento das crónicas – uma crónica é um trabalho laudatório, ou seja, em louvor
do titular. Esquece-se o que fez de mal e só se comentam boas acções. Por isso, tem que
ser visto com alguma reserva.
o Pintura – painéis de S. Vicente de Fora (arte no mosteiro da Batalha e de Alcobaça)
 Século XVI
o Renascimento – 1ª revolução cultural. Essa revolução toca Portugal através de um dos
segmentos fundamentais que se chama “Humanismo”. Mas o humanismo não se
confunde totalmente com o renascimento; este é mais amplo. Tivemos grandes
humanistas em Portugal.
o Actividade literária:
 Luís de Camões desde uma perspectiva política e sociológica. Quais as suas
perspectivas? O que prevê? O que denuncia e pq denuncia?
 Fernão Mendes Pinto
 Século XVII-XVIII:
o A literatura:
 Rodrigues Couto – homem mto optimista – resistir ao máximo a tudo o que viesse
de Espanha pq voltaríamos a ser independentes
 Padre António Vieira – um diplomata incansável ao serviço de Portugal sendo mto
critico
o Ensino – a reforma de Marques de Pombal – pela 1ª vez temos uma rede de escolas
estruturadas. A universidade tb é renovada. Vai entregar os estatutos com os “curricula”
dos cursos. Mas a sociedade portuguesa não estava preparada. Não funcionam as
rupturas abismais mas pequenos saltos.
 Século XIX:

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o Movimento romântico e suas divergências
o As transformações artísticas – polo de Sintra com o Palácio da Pena – com a abolição das
ordens religiosas em Portugal o que é que isso representa. Não havia romantista de
qualidade na europa que não tivesse visitado o Palácio da Pena.
 Século XX:
o 1ª República – foi uma revolução sem revolucionários. Não foi ninguém que a ganhou.
Dá-se numa situação esquisita. Período delicado para a europa pensante. Crise de
identidade colectiva. Cristãos colocam dúvidas, cientistas a mesma coisa, protestantes
tb, etc. Onde está o problema? Tudo o que foi utilizado em prol do homem é utilizado
para matar o homem com a 1ª guerra mundial. Ora isto, provoca mta confusão. Desde
1905 o ministério da defesa alemão tinha os planos em cofre de invadir a França. Há aqui
uma descaracterização completa do homem. Isto vai levar ao “modernismo”.
o Aparecimento do cinema em Portugal – foi visto como uma nova área de investigação
económica. Mais não se deselvolveu pq o pais não estava electrificado.
o A cultura durante o Estado Novo – tb aqui o cinema foi usado pois perceberam que era
um óptimo meio de difusão. No entanto, os filmes feitos pelo Governo, não tiveram
grande aceitação pelo povo portugues. No entanto, os outros filmes sim, Ex. Pátio das
Cantigas, etc.
o Censura
 Século XXI – estado da questão hoje

Introdução geral à cultura portuguesa


A cultura portuguesa representa tudo aquilo que paulatinamente se foi acumulando
intencionalmente ou não, desde os primórdios da nacionalidade "para uso, defesa, conforto e
realização superior, plástica e literária, religiosa e conceptual da população(...).Assim, resulta que
temos como elementos culturais a linguagem, os usos, os costumes, a música, a dança, os padrões
comportamentais ou as técnicas que os portugueses desenvolveram secularmente e que assumem
como o seu património cultural.

O elemento fundamental da cultura é, indiscutivelmente, a língua que plasma todos os outros


elementos, quer sejam de ordem material ou simbólica. é ela que dá acesso aos domínios do espírito
e da cultura; ela que nos fornece a chave dos bens espirituais objectivos depositados nas obras
escritas

A cultura portuguesa expande-se, comprime-se, para voltar a expandir-se e, de quando em vez,


passar por períodos de menor entusiasmo. Não há uma constante, uma linha de força. A autonomia,
propriamente dita, da cultura portuguesa começa a desenhar-se de forma irreversível, no século
XV, cuja estatura assegura um lugar ao lado das outras culturas, nomeadamente da castelhana, cuja
tendência hegemónica e expansionista na Península era bem visível. Mas com a expansão, os que
partem levam consigo a sua cultura – crenças, tradições, hábitos e a língua e será este fenómeno
que permite hoje falar de uma cultura vasta espalhada que da África, ao Oriente e ao Brasil iria

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transformar-se numa empresa de impulsos extraordinários que dominará a Nação, desde o século
XVI ao nosso tempo.

O desafio que se nos oferece à entrada no novo milénio é saber como consolidar também a cultura
nos tão apregoados “200 milhões de falantes. Mas se quisermos manter as raízes nacionais, os
valores pelos quais, de formas diferentes, sempre nos batemos, ao longo da História, isso significa
que, independentemente da formação académica, ou vida profissional, devemos ter consciência de
que a cultura que nos gerou não pode ou não deve desaparecer, até por que, quaisquer tipos de
relações bilaterais têm subjacentes relações culturais.

II. DOS PRIMÓRDIOS DA NACIONALIDADE AO FIM DO SÉCULO XV

1. CONCEITOS DE CULTURA, CIVILIZAÇÃO E IDENTIDADE

Conceito de cultura – Aproximação

1. Definições:
 Harriot – “cultura é o que resta depois de tudo se ter esquecido”. O que significa isto? Hoje, há
mtas coisas que já não as tenho presentes, mas já ouvi falar delas; ora, isso é o que resta. O que
resta é o que nos fica registado, ainda que não sistematicamente. Se precisar posso ir buscar e
aprofundar sobre isso. É uma definição no sentido do individuo culto, elitista, erudito, pois tem
por base algo já aprendido.
 Conselho de Europa – “a cultura é tudo o que permite ao indivíduo situar-se em relação ao
mundo e também em relação ao seu património natal; é tudo o que contribui para o homem
compreender melhor a sua situação tendo em vista a eventual mudança desta”. É uma definição
tripartida: respeitar a cultura do outro (relação ao mundo: o património do outro, língua,
religião, costumes, etc.); depois relativamente a mim próprio (património Natal), mas sp abertos
a um mundo em constante mutação.

2. Conceito de cultura ao longo do tempo: etapas/fases


A génese do conceito de cultura é relativamente jovem mas, apesar disso, não dispensa uma
genealogia que demonstre como surgiu – primeiro a palavra e depois o conceito. Para uma melhor
compreensão fenomenológica do termo, vamos apresentar o processus evolutivo.

1ª etapa: da Grécia antiga ao sec XVII


Para uma ciência se afirmar diante das outras procura-se sp a sua genealogia ao longo do tempo.
Na Grécia, sobretudo Atenas a partir do sec V A.C teve um grande desenvolvimento
cultural/filosófico, dedicando-se mto à contemplação, reflexão, filosofia. A Grécia era constituída
pelas cidades Estado.

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Ainda não se usava a palavra cultura mas “culto” (no sentido individual). Para o Grego ser culto
significava um individuo que fosse capaz de dominar uma determinada matéria que exigisse esforço
intelectual sendo capaz de expô-la e esta ter aceitação social. Ex. Aristóteles, Platão, Fídias…

Roma´
Os romanos são mto diferentes dos atenienses, são mto pragmáticos por isso, inventam palavras
para as acções se elas não existirem. Ex. Horácio, Cícero (foi um dos maiores oradores de Roma…).

Idade Média
Esta ideia de “culto” continua a funcionar numa série de autores: S. Agostinho; S. Tomás de
Aquino,…

Renascimento (sec XVI)


Nesta altura vai-se resistir à democratização ou vulgarização da palavra “culto” pois consideravam
que culto é qq individuo que domina uma matéria especifica. Ex. Pintor – domina a técnica da
pintura; poeta; medico; geógrafo; construtor de naus; etc.

Século XVII
Na Alemanha surge a palavra “Bildung” que significa “formação do espírito”. Estes autores diziam
que nós ao nascermos somos indivíduos (não temos nada gravado na mente), então, o individuo é
livre de permanecer nesse estádio, mas se quiser pode crescer no evoluir dessa memoria formando
o seu espírito. O que acabam por dizer é que todos podem ser elitistas e desenvolverem-se e não
apenas uns poucos. Pretende-se, contudo, afirmar que o ser humano nasce indivíduo
transformando-se numa pessoa, isto é, através de um processo educativo-formativo, o indivíduo
transformar-se-á num ser culto. Aqui já estamos a aproximar-mo-nos de uma visão diferente do
homem.

2ª Etapa: sec XVIII-XIX


O século XVIII significa tb a 2ª grande revolução cultural da Europa, caracterizada pelo “Iluminismo”
com a rejeição total e absoluta dos valores aceites no século XVII: dogma, normas, moral, etc. A sua
grande base assentava na técnica e na ciência que era o que levava à felicidade. O que está
subjacente é uma outra revolução, ou seja, a revolução industrial. Assim, com o advento do
Iluminismo, o significado de cultura, já não se limita à formação do espírito, mas tende cada vez
mais a abranger o património universal dos conhecimentos e valores ao longo da história da
humanidade.

O problema mais grave na altura era a fome e a sub-nutrição. A revolução industrial e a capacidade
de armazenamento favorecia superar as crises. O problema é que salvo poucos, a grande maioria
da população vivia ainda pior pois a pobreza era mta (horas nas minas e nos teares além de que era
mto perigoso pois haviam mtos acidentes de trabalho). Esse encantamento relativo à técnica e
ciência dura apenas 56 anos. Surgem então, diferentes formas de desencanto, entre os quais, textos
escritos: afinal de contas nem a técnica nem a ciência melhoraram a qualidade de vida, mais além
de a umas poucas pessoas.
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Outro aspecto importante é que o iluminismo desperta o gosto pelas viagens o que vai ter
consequências/vantagens mto grandes. Começa a dar-se o alargamento do planisfério, ou seja, da
sociedade até aqui conhecida. Isto vai colocar em contacto sistemático os europeus com uma
infinidade de culturas. Cada vez mais se começa a olhar para o social em vez do individual. Falamos
da cultura A,B, ou C referindo-nos ao povo A, B ou C em vez de falar de pessoas ou autores
importantes. É nesta época que começa a vulgarizar-se a palavra cultura. Assim, nesta altura, os
termos Cultura ou Civilização, começam a vulgarizar-se para se contrapor aos termos de barbarismo,
selvajaria ou primitivismo.

Em 1871 por Edward Tylor surge uma 1ª definição universalista da cultura: “cultura ou civilização,
no seu sentido mais lato… conjunto das normas, regras, direito… adquirido pelo homem, mas
enquanto membro de uma sociedade”. "Cultura ou civilização, no sentido mais lato do termo, é
esse complexo que compreende o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, o direito, os costumes
e as outras capacidades ou hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade”. Esta
dimensão da sociedade é fundamental nesta definição.

Segundo a sua definição parece que a cultura e a civilização são sinónimos, mas será mesmo assim?
Isto vai provocar um dinamismo que leva à renovação do conceito. É que dentro de uma civilização
(ocidental, oriental, inca, chinesa, etc) podemos ter uma infinidade de culturas. Como resolver
então o problema dado que na definição de Tylor, cultura e civilização são sinónimos? O problema
resolve-se na 3ª etapa pela diferenciação das culturas de onde vem o relativismo cultural. Isto
significa que o conceito deixaria de ser considerado universalista para centrar-se mais numa
dimensão estrutural, ou seja a concepção relativista da cultura.

3ª Etapa – Sec XX: Relativismo cultural


Apesar de se começar a por o assento no relativismo cultural, o conceito de cultura é tao vasto que
não é fácil reduzi-lo a uma definição. Importante é desde já ter em conta que a história cultural é
social já que está ligada ao que diferencia um grupo de outro.

Neste sentido, todas as culturas são relativas, são autonomizadas, isto é, não dependem da outra.
Então, como podem conviver umas com as outras? Como resolver o problema da convivência
pacífica? Como sendo tão diferentes podemos conviver? É preciso mecanismos de equilíbrio para
que o dialogo seja possível entre culturas diferentes. A resposta dá-se respeitando todas as culturas
de igual forma – cultura A = B = C = D = N em termos da respeitabilidade. Considera-se que não há
uma cultura superior nem inferior. Para respeitar é preciso identificar.

Relativismo cultural – interpretações:


 Franco Crespi – tem em conta diferentes dimensões da cultura. Segundo os acentos em cada
dimensão vamos ter diferentes tipos de definição da cultura. Assim, temos:
o Dimensão subjectiva – valores, modelos de comportamento, e critérios normativos
interiorizados. Algo que não é possível quantificar.
o Dimensão objectiva – parte material da cultura, história, monumentos, etc.
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o Dimensão descritiva-cognitiva – as duas dimensões anteriores justapostas levam-nos a
esta. Aqui temos: as crenças, representações sociais da realidade natural e social, etc.
o Dimensão prescritiva – designa as normas de acção e regras numa sociedade (aquilo que
nos permite viver em sociedade – os autores das ideias politicas preocuparam-se com
isto desde os primórdios da vida em sociedade, a partir do momento em que duas
pessoas queriam o mesmo, era necessário formular regras. Ex. Semáforos. Não é o
policia que vai punir, quem pune é o agente mandado por nós – por isso a regra
prescritiva é a coluna dorsal da sociedade), acção.
 Spencer – cultura é o produto da mente humana. Um produto é a combinação óptima de um
conjunto de factores. Ex. Caneta – se acrescentar mais plástico já não interessa. Se é uma
combinação, é tb um produto psicológico e por isso depende da mente que analisa e produz.
Esta perspectiva tende a uma noção meramente abstracta de cultura, seccionada de acordo com
os elementos intervenientes mais significativos na sua produção. Por isso, secciona-se não se
tomando todos os elementos culturais.
 Geertz – a cultura não é uma ciência experimental mas interpretativa na busca constante do seu
significado, por isso, como um sistema essencialmente semiótico. Se misturo duas substâncias
em ciência, seja onde for, o resultado é exactamente o mesmo. Mas na cultura, isto não é assim,
pois é uma ciência interpretativa, na busca constante do seu significado.
 Luis Pina – “a cultura não é um dado natural, não existe inata ao individuo, não é genética – a
cultura é super-orgânica, é uma resultante da vida social”. Não interessa a pessoa individual
neste conceito, mas esta integrada e em interacção com a sociedade.

Factores de cultura
O que contribui para formar os elementos de cultura:
 Antrophos = individuo – é o elemento fundamental. Sem ele não há cultura. Faz referencia ao
homem na sua realidade individual e pessoal.
 Ethos = sociedade (grupo social de pertença) – cada um está integrado num determinado grupo.
 Oikos – Habitad = território geográfico, País, Nação. Esse grupo de pertença não vive no ar. Uma
unidade cultural é a nação, isto é, eu só consigo dizer que a cultura A é igual à B se eu conseguir
identificar a A, B, C e D.
 Chronos – perspectiva do tempo com o passado, presente e futuro:
o Passado é um tempo longo, até hoje.
o O presente é o tempo do individuo que em termos sociais é a EMV (esperança media de
vida – H: 75; M: 78);
o Futuro (qual o comprimento do futuro? Há-de ser aquilo que nós quisermos que seja –
em 100/150 anos, desde a revolução industrial para cá, destruímos mais o habitat do
que todo em todo o passado, por isso, há uma preocupação grande com a herança que
deixaremos aos que estão a nascer. Temos a obrigação de deixar alguma herança para
os vindouros. Não podemos desfazer rapidamente as condições de vivencia para o ser
humano).

Conceito de Identidade

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O conceito de identidade é complexo pois é um conceito que atravessa uma multiplicidade de
disciplinas. O conceito neste contexto, surge da necessidade de distinguir uma cultura da outra.
Como é que distingo uma cultura da outra? Através da sua própria identidade. O B.I. deriva daqui.
O relativismo ao considerar que todos temos a mesma validade, tb trouxe a necessidade de
identificar cada um. O problema é que não se pode atribuir uma identidade à toa. Só faz sentido
falar em grupo de pertença se esse grupo existir. Por isso, este é um conceito que nos permite
identificar cada um de nós no exterior (de fora para dentro saber quem somos).

Convém sobretudo distinguir do conceito de cultura, pois cultura e identidade só aparentemente


são irmãos gémeos, a cultura pode ser anterior à identidade e não tem necessariamente que estar
subjacente a uma formulação identitária. Por outro lado, a identidade vai moldar a cultura. A
cultura, na sua essência, não tem consciência do seu percurso. Ao contrário, a identidade conduz
inevitavelmente a uma norma de pertença consciente, que tem por objectivo proceder
conscientemente à distinção entre nós/eles, com base nas diferenciações culturais. Por isso, uma
importante diferença entre a cultura e identidade é que enquanto a cultura é voluntária e livre a
identidade não o é. Assim, a identidade molda os cadinhos culturais e promove aqueles segmentos
culturais que identificam o País, que o promovem e que lhe poderão eventualmente dar alguma
força no exterior. A identidade é uma espécie de instrumento disciplinador da cultura. Os elementos
identitários são elementos impostos pelo poder político à época. Nenhum de nós é português por
usar a bandeira, mas pq há elementos impostos de uma forma coerciva.

Pressupostos relativos ao conceito de identidade – é importante encontrar um certo número de


aspectos que nos conduzam a critérios objectivos. Assim, não se pode falar em identidade sem:
 Território delimitado
 Poder político consolidado
 A autonomia política e o seu âmbito territorial devem permanecer de forma continua durante
um período razoável de tempo.
 Exemplos:
o Identidade afegã – não pq não há um poder consolidado;
o Identidade iraquiana – não pq o poder político não domina todo o território;
o Identidade israelita – não pq o território não está completamente definido.

Duas formas de analisar o conceito de identidade:


 Corrente objectiva – o poder político fixa os elementos identitários e tudo fica por aí. Um
exemplo é o que acontece no mundo islâmico onde há leis eternas a partir do alcorão. Uma vez
fixados os elementos, esses permanecem constantes, por isso, com um carácter estático e
rígido.
 Corrente subjectiva (típica dos países democráticos) – a identidade não é outorgada somente
de uma vez podendo haver flexibilidade e evolução ao longo do tempo. O poder político à
medida que há uma evolução vai-se actualizando de acordo com essa evolução. Assim, a
identidade nacional é o resultado de um processo histórico que de diferentes formas vai
moldando a sociedade. Por exemplo, em Portugal ao longo do século XX:

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o Até 1910 – Monarquia Constitucional: Rei; Bandeira; Língua; Moeda: réis
o 1910 – 1926 – 1ª República: Presidente da República; Bandeira (já alterada); Língua; hino
Nacional; Escudo
o 1926 – 1974 – Estado Novo: Presidente (sem nenhum poder); Presidente do Conselho
de Ministros (aquele que detém o poder – Salasar); Hino Nacional; Bandeira; Língua;
Corporativismo; Censura; Regime de partido único; Escudo. Dá-se a negação de tudo o
que era aceite na 1ª República (segunde estes, os elementos essenciais da 1ª República
era para esquecer, pois deram cabo de Portugal).
o 1974 – 2011 – Estado Democrático: Presidente; Assembleia da República; Vários
Partidos; Língua; Integração Europeia (impensável no regime anterior pois implicaria a
perda das colónias); Euro…

Ex. Português apanhado no Canadá a roubar – Londres – Lisboa – Porto – R. Sta Catarina – esta é
a lógica e processo da identificação. Ideia das bonecas russas.

O elemento mais poderoso não só quanto à cultura, mas tb relativamente à identidade é a língua.
Daí as dificuldades em alguns países – Ex. Para escolher em Espanha uma língua, houve imensos
problemas. É necessário fazer uma opção: Espanha precisava de uma língua oficial, pois é o elo de
ligação da nação.

Conceito de Civilização
No século XVIII não era fácil distinguir os conceitos de cultura e civilização. No entanto, a cultura
começa a ser entendida mais ligada a progressos individuais, enquanto que a civilização mais ligada
aos progressos colectivos. Neste sentido, a civilização diz respeito a uma vasta área geográfica, onde
várias culturas e povos podem compartilhar a mesma civilização. Ex. Civilizaçao ocidental, oriental,
etc.

Com o avanço do relativismo cultural este conceito de Civiliaçao vai perdendo força. É sobretudo a
partir da 2ª grande guerra a humanidade deu um grande passo que levou a mudança qualitativa no
conceito de Civilização, precisamente ao fundar a ONU.

Tomando como base que uma nação é uma unidade de cultura, ainda que haja mtos elementos
culturais dentro desta unidade. Ao conjunto das unidades de cultura podemos fazer equivaler à
totalidades das unidades de cultura. O que tb pode ser igual à totalidade das geografias; o que por
sua vez corresponde ao nosso Planeta. Isto corresponde à Civilização. É a civilização humana. Ao
conjunto das culturas vou dizer que estão metidas numa só civilização. A diferença qualitativa, é
precisamente por em evidencia que só há uma Civilizaçao, a humana, onde todos têm os mesmos
direitos e deveres.

Neste sentido, a ONU, tende a ser constituída por todos os povos, por todas as culturas, que quer
dizer pela Civilizaçao humana. A ONU hoje, corresponde à totalidade das geografias (com excepção
de dois países que não fazem parte da ONU). Neste sentido, a Civilizaçao, ou a ONU que a representa

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de forma oficial, tem como objectivo melhorar as instituições, a legislação, a educação, a saúde, o
respeito pelos direitos e liberdades fundamentais, o respeito mútuo, justiça e equidade entre todos
os povos. Assim, procura-se também a paz sem a qual o progresso não é possível.

Passos da ONU:
 Acabar com a corrupção política que se dá nos regimes políticos autoritários (família que
governa para si só e esquece a identidade cultural) – através da imposição de regimes
democráticos. Neste sentido o regime democrático permite combater e verificar o que é de cada
um e de todos ao mesmo tempo, de uma forma mais eficaz que nos regimes autoritários.
Dificuldade – levar à democracia quem não a quer.
 A ONU interfere no terreno diariamente através das suas agências:
o FAO – Organização para alimentação e agricultura – relativamente à alimentação
sabemos que tem-se feito algo, mas mtas vezes os alimentos não chegam a quem tem
mais necessidade. Por outro lado, ao nível da agricultura o que temos ouvido? Se num
país pobre quisermos promover a agricultura o que é necessário? Carta de solos;
perfuração; canais de irrigação; redes de estradas; silos; mão de obra qualificada (Engº
agrónomos; enólogos;… supõe ir para a Universidade). A pergunta é: tem-se feito isto?
Não!!!
o OMS – o que têm feito? Vacina; Medicamentos; Prevenção – o que se tem feito têm sido
medidas avulsas.
 O problema fundamental está na educação – ora não conhecemos programas
que têm sido feitos pela OMS nesse sentido.
 Emprego – desenvolvimento – tem-se feito? Não!
 O único local onde se fez um programa completo foi em Timor Leste. A
determinada altura alguém disse: isto é um projecto mto caro e o país é mto
pobre e suspenderam o programa.

Há condições hoje para promover a igualdade de todos os países do planeta. Há uma instituição da
qual todos fazem parte, onde pode haver fórum/diálogo. Qdo um dia todas as crianças forem à
escola, qdo 90% poderem frequentar a universidade é óbvio que haverá mais possibilidades. Isto
significa que se deveria aproveitar mais o facto de uma haver uma Instituiçao que represente a
Civilizaçao humana para se lutar com mais empenho diante de uma série de problemas mundiais,
que antes de serem económicos, sociais ou religiosos, são essencialmente culturais, pq o homem é,
desde a sua origem, um ser cultural.

2. AS INSTITUIÇÕES ESCOLARES

Introdução
Começamos por aqui pela importância enorme dada que tem a educação para um país, sendo esta
um barómetro cultural de um povo. Falaremos das origens do nosso ensino e depois mais à frente
na viragem do Marques de Pombal. Portugal nasce de norte para sul. Nasce com um poder político
militar, (desde 1128, até 1249, altura em que o Algarve é conquistado). Este é o poder das normas.

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Mas para fixar as populações há outro poder, o poder da Igreja. A igreja divide o território em
parcelas, ou seja, em Bispados. No ano 476 o império romano cai e é divido numa infinidade de
impérios políticos. No entanto, algo comum a todos era o latim. Como a Igreja era a única instituição
organizada, e com base no latim, resistiu à fragmentação política. Desta forma conseguiu resistir e
vai patrocinar o desenvolvimento e fixação dos povos nos locais.

As instituições escolares
As primeiras instituições escolares surgem ligadas à Igreja. Em cada local era necessário colocar um
responsável pelo desenvolvimento espiritual. Por isso, era necessário dar formação a todas as
pessoas pertencentes a um território. Primeiras instituições:
 Escolas catedrais ou escolas urbanas – funcionavam próximas da Sé – ao início era ao ar livre
mas como isto não era mto viável depois passou-se para o claustro, depois em salas com palha,
só mais tarde passa-se às cadeiras.
o À frente estava o mestre escola responsável pela educação dos miúdos
o Acompanhado por um mestre de gramática e o chantre para o canto litúrgico
o Matérias (7 artes liberais):
 Trivium – gramática, dialéctica, retórica
 Quadrivium – música, aritmética, geometria, astronomia.
o Mais antiga: Braga, Porto, Coimbra, Guimarães, Lisboa.
 Escolas paroquiais – são mais incipientes pq o pároco colocado no seu local está sozinho. No
entanto precisa de auxiliares. Para atender os fregueses ele não ia sozinho. As viagens eram
longas e ir sozinho era bastante complicado. Para isso vai promover o ensino e a formação de
outros. Estas foram medidas promovidas pelo Concílio de Latrão: 1179; 1215.
 Escolas capitulares – derivam de um grupo de indivíduos que se juntam e têm à sua cabeça um
prior. Retiram-se e dedicam-se à oração, ensino. A mais conhecida é a escola colegiada de Nossa
Senhora da Oliveira. Há poucos elementos escritos sobre isto. Sabemos apenas que este tipo de
escolas funcionou.
 Escolas monacais – os mosteiros foram as grandes células vivas da cultura. A maior parte situam-
se no norte. Houve uma implantação mto grande no norte por uma lado pq a conquista foi de
norte para sul. Por outro lado, grande parte dos mosteiros são de origem familiar. Na altura no
Norte a densidade populacional era elevada. As famílias nobres bem posicionadas (com 7 ou 8
filhos não tinham património para dar a todos – por isso, uma das formas era colocar os filhos à
frente dos mosteiros: forma de preservar a família e o poder da família sobre o terreno).
Podemos destacar dois mosteiros:
o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra – fundado em 1131. Esteve D. João Peculiar (pessoa
mto interessante); D. Telmo, D. Miguel – cônegos que pediram autorização ao Bispo D.
Bernardo e lançaram-se à obra. Os reis pediam ao mosteiro para que eles elaborassem
os documentos régios.
o Mosteiro de Alcobaça – os monges não só estudavam e formavam-se, como copiavam
obras em mau estado e preocupavam-se em reproduzir obras que estavam a surgir no
estrangeiro. Foi possível catalogar cerca de 500 códices.

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 Colégios – Colégio dos Santos Paulo, Elói e Clemente fundado pelo Bispo D. Domingos Anes
Jardo. Foi subsidiado pelo Bispo com uma condição: que todos os anos os responsáveis
deixassem entrar estudantes pobres. Tratava-se de dar oportunidade a estudantes pobres
(bolsas). Preocupação antiga de promover possibilidades.

Todas estas escolas tem características religiosas, mas é um facto que ajudaram notavelmente a
nação, pois fizeram um trabalho civil a vários níveis.

Fundação da Universidade

O ensino ministrado nas rudimentares escolas-catedrais não tinha capacidade de resposta face à
crescente procura da instrução. As primeiras universidades fundadas na Europa datam do século
XIII: Angers, Bolonha, Oxford, Cambridge, Paris, Orleães, Vallodolid, Salamanca, Montpellier,
Toulouse, Vercelli, Vicência, Pádua, Arezzo, Siena, Roma, Nápoles e finalmente a universidade de
Lisboa

Depois da conquista do Algarve em 1249 o Rei quer agora tomar o papel que estava a realizar a
Igreja. Agora é o Rei que quer participar no desenvolvimento, na fixação e organização do pais,
sendo necessário para isso a aplicação da lei em todos os lugares da mesma forma. Para isso é
necessário pessoas qualificadas e em quantidade suficiente para distribui-los pelo país. Era
fundamental o direito, daí a necessidade da Universidade. É a necessidade de querer organizar
administrativamente o pais que leva ao surgimento da universidade.

A tarefa e o empenhamento deste instituto era, agora, o de se tornar um instrumento de


reprodução social e mental da sociedade em que se enquadra. Por outro lado, a principal força
interessada na criação da universidade era precisamente o alto clero, muito embora esta instituição
escolar fosse crucial para o desenvolvimento administrativo de Portugal.

Assim, os fundamentos enraizadores da universidade portuguesa encontram-se na criação do


Estudo Geral de Lisboa. Etapas:
 1288 (12 de Novembro) – cerca de 33 pessoas entre Abades, Priores e Reitores redigem uma
petição e dirigem-na ao Papa Nicolau IV, informando-o que os signatários estavam interessados
na fundação de um Estudo Geral, localizado em Lisboa. O papa não responde.
 1 de março de 1290 – D. Dinis funda a universidade (por alvará régio) no bairro de Alfama. As
principais motivações eram: necessidade de indivíduos formados em Direito para fazer face às
crescentes exigências do Estado (a Escola Superior fazia parte da engrenagem política do Estado)
e para permitir uma formação mais sólida ao corpo clerical, que mtas vezes tinha que ir formar-
se ao estrangeiro. Desta forma surgiu o Estudo Geral aberto a todos os que o desejassem
frequentar contrariamente às escolas-catedrais que eram mais restritas.
 Assim, sendo, o Papa responde, mas no dia 05 de Agosto: acho mto bem que se funde o Estudo
Geral, com tal que se facultem as universidades lícitas. Correcção ao livro: Pag 38 do livro – Tese
de José Antunes (em vez de 09 de Agosto é 05 de Agosto).

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 Dúvida dos investigadores: será que em 1288 foi feita a petição ou se optou directamente por
fundar a universidade. D. Dinis, foi um homem que interferiu do ponto de vista administrativo
de forma bastante dura. Por isso, possivelmente, quer o Papa dissesse sim ou não, a decisão já
estava tomada.
 Em 1309 – D. Dinis vai elaborar a Magna Charta Privilegiorum que é considerada o 1º estatuto
conferido à universidade portuguesa:
o Estudantes e suas famílias ficam sobre a protecção régia – não seriam julgados na justiça
ordinária, pois eram protegidos do rei. A preocupação do rei era: eu protejo-te mas qdo
eu precisar de ti, estás à minha disposição. O rei iria precisar colocar juízes, tabliões, etc.,
ao longo de todo o país. É este o peso que se paga por esta protecção.
o Os estudantes podem participar na eleição do reitor
o Os estudantes podem participar na eleição e construção dos estatutos.
o No início a nossa universidade era uma universidade democrática – todo o seu corpo
humano é chamado a participar na sua construção. Essa característica vai desaparecer
na reforma de D. Manuel em 1500. Isto tem a ver com a autoridade que a institui – neste
caso é o rei e é o rei que manda.

Relativamente à fundação da Universidade portuguesa, surgem várias interpretações que derivam


fundamentalmente de dois aspectos:
 Da confusão entre Estudo Geral e Universidade
 Da Inclusão ou não da leccionação da Teologia

Quatro diferentes interpretações:


 Tese clássica – dizem que não foi fundada a universidade em 1290 mas em 1400. Dizem que em
1290 não foi fundada a universidade mas o Estudo Geral. O que distingue o Estudo Geral da
universidade era a inclusão da faculdade de teologia. Dizem estes autores que o que foi pedido
era o Estudo Geral. Como só em 1400 é que há um documento a dizer que está a funcionar a
faculdade de teologia, só a partir daí, consideram que começou oficialmente a universidade.
Assim, de Univesidade plena somente seria lícito falar a partir do ano de 1400.
 Tese de José Antunes – relê o testo da Bula – apesar de não encontrarmos na descrição das
faculdades, a de Teologia, ela está lá: no fim da Bula há uma referência explicita à teologia e por
isso a Universidade foi fundada em 01 de Março. A pergunta que surge é então a seguinte: onde
era leccionada a Teologia? Quem a podia fundar a faculdade de Teologia? Bispo, Papa, Rei,
Cidade (Burguesia)? Se foi o Rei que fundou a Universidade, esta depende do Rei. Tudo o que se
passa na universidade depende do seu fundador. Mas como poderia o Papa autorizar o Rei a
ensinar e a fundar algo que não lhe compete? Daqui se conclui, que efectivamente era ensinada
a teologia mas não no Bairro de Alfama. A teologia era ensinada nos Mosteiros pois estes
dependem do Papa.
 Frei António da Purificação – coloca a data antes, em 1284 a pedido de D. Dinis ao papa Martinho
IV para a autorização do Estudo Geral em Lisboa. O papa morreu e o seu sucessor durou apenas
dois anos não havendo assim condições da parte da Cúria romana para analisar e satisfazer o
pedido.

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 Rui de Pina – diz que o nosso rei fez a petição a João XXII (pontificado de 1316-1325). Está
enganado pq há documentos que dizem outra coisa, mas apresenta uma ideia que é curiosa,
pois poem em evidencia que o Rei não é indiferente à localização do Estudo Geral. Neste sentido
diz que a petição foi feita para Coimbra: pois é o local equidistante, que fica no meio do Reino;
é abundante (Lisboa nunca tem nada e está dependente dos milhares de barcos que atracam –
Lisboa só come: trigo vem de fora, tecidos vêem de fora; etc.); está longe das pestilenças (as
condições em Coimbra eram mais sãs e favoráveis).

Universidade de Lisboa-Coimbra
Não há universidades em Portugal, só há a Universidade. Só a partir de 1911 é que surgem as
universidades. De facto a Universidade na Idade Média, não é de Lisboa mas Lisboa-Coimbra, pois
o seu berço deu-se na cidade de Lisboa, mas até 1537 está num sucessivo vai e vem (5 vezes) entre
Lisboa e Coimbra, onde se instala definitavamente no século XVI por ordem D. Joao III.
 1290 – Foi fundada em Lisboa, mas por ser uma cidade demasiado cosmopolita oferecia um
universo de diversões que prejudicavam a aprendizagem. Por outro lado, os estudantes faziam
mto barulho, não deixavam dormir e por causa das pestes vão enviar a universidade a Coimbra.
 Coimbra (1308) – em 1338 D. Afonso IV faria regressar novamente o Estudo Geral para Lisboa.
 Lisboa (1338) – como os estudantes armavam mta confusão, em casos roubavam e pelas
queixas, a universidade volta para Coimbra.
 Coimbra (1354) – o ambiente pacato da cidade não agradou a mtos dos professores, que na
maioria eram estrangeiros e não se deram bem com a cidade de Coimbra. A universidade volta
para Lisboa.
 Lisboa (1377) – Como não havia condições o Papa fecha a universidade. Volta a abrir por volta
de 1380. Em Lisboa permaneceu até 1537.
 Coimbra (1537) – estabelece-se em Coimbra.

3. A ARTE ROMÂNICA

Introdução
Após a morte de Carlos Magno (por volta de 814), gera-se uma nova etapa na mentalidade europeia,
apoiada pelo sistema feudal. O que acontece após a morte de Carlos Magno? Dos três filhos de
Carlos Magno, nenhum teve a vocação do Pai. Era preciso encontrar um sistema que permitisse a
sobrevivência do império. Isto levou ao desenvolvimento do sistema feudal baseado num conjunto
de relações de fidelidade, vassalagem como forma de subdivisão do lucro. O grupo tem que
trabalhar para aqueles que estão encarregados da sua defesa. O facto de o povo obedecer ao seu
senhor (o senhor da localidade) é mais uma inovação. Por isso, dizia-se que estamos perante uma
nova civilização, pois gera-se uma nova etapa na mentalidade europeia apoiada pelo sistema feudal.

Não percebi qual a ligação do sistema feudal com a arte românica? São estes senhores dos ducados
que depois irao patrocinar a arte. É a primeira sociedade que começa a organizar-se em termos de
reino. Começam-se a formar unidades politicas que vao incrementar a arte, assim como outros

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factores sociais. Este é um sistema que começa a abrir fronteiras pq o anterior estava fechada nas
Villa.

Dada a destreza de Carlos Magno (notável cavaleiro da época) o certo é que o Papa Leao III, vai
perceber que tem aqui um individuo que poderá ser muito útil para travar o sucessivo avanço dos
árabes sobre o território europeu acabando por coroa-lo imperador da cristandade. Carlos Magno
não percebeu o pq da sua coroação, e como aceita o convite forçado, fez uma leitura própria do
acontecimento: eu não queria, mas já que insiste, considero-me enviado de Deus, não tendo por
isso que responder directamente ao Papa. No entanto, a sua política é encarada como um
instrumento da unificação da fé.

Esta coroação vai ter consequências a vários níveis: arte, organização eclesiástica, formação do
clero, etc. Carlos Magno vai querer interferir na preparação do clero, apesar de saber que estava a
interferir numa esfera que não lhe era permitido. A razão é que vê um clero local com pouca
preparação. Naturalmente influenciado por Alcuino vai interferir ao nível da preparação do clero.
Vao haver novas casas para conter esta gente que será preparada. Esta sua preocupação com a
organização eclesiástica e preparação do Clero levou tb à construção de mosteiros, o que por sua
vez teve uma forte repercussão na arte. Para além disto, a sua política ao serviço da Igreja (após a
sua morte, a partir de meados do século IX) contribuiu para que surgisse uma nova mentalidade
religiosa que teve reflexos profundos na arte e arquitectura. A ruptura artística mostra que,
definitivamente, uma nova dimensão arquitectural de natureza religiosa, está a emergir: há uma
nítida separação entre a ”arte nova” e a velha arte carolíngia.

No contexto da época é preciso ter em conta a queda do império romanos desde o ano de 476. Nos
últimos anos antes da queda os grandes senhores nobres fogem para as suas localidades,
centrando-se nas suas Villae, Quintas e Casais. Por isso, pouco se produz e o império estagna. Como
os grandes fogem, a economia romana torna-se mto fechada sobre si própria. Neste contexto de
estagnação a vários níveis (tb constructiva), para construir era necessário criar e reinventar. Assim:
 Anos 910 – Mosteiro de Cluny. O seu Abade S. Bernou mandou construir uma nova abadia dando
assim origem a Cluny II.
 Cluny II (963-981) – este mosteiro que dava alojamento a cerca de 70 membros influenciou mto
a arte românica em Portugal. Nesta da-se uma nítida ruptura com a arte carolíngia. Ao crescer
ainda mais partiu-se para construção de Cluny III.
 1050 Cluny III – a construção foi dirigida pelo abade Hugo de Semur e projectado pelo monje-
arquitecto Guinzo. A sua Igreja tornou-se um símbolo de grandiosidade e referencia para a
Cristandade.

Causa mais imediatas ao surgimento da arte românica:


 Há autores que relacionam o nascimento da arte românica com o provável evento escatológico.
Com a proximidade do ano 1000 havia uma preocupação escatológica com o fim do mundo e o
juízo final. Com a passagem do milénio, o alivio de que nada passou e ao mesmo tempo melhores
condições económicas as Igrejas começam a multiplicar-se. Ainda por cima, o poder político tb

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está interessado nesta envolvência, pois a religião envolve a comunidade. Deste crescimento,
nasce a expressão: olhando para o horizonte vemos “um manto branco de Igrejas” (Raul Glabe).
Além de mtas, a Igreja é colocada no alto duma localidade para que se possa ver ao longe. Uma
dificuldade em relação a esta teoria é que não há registos de que o Papa, ou o Bispo A, B ou C
se tenha preocupado com o ano mil (nos concílios do séculos X). Nas crónicas tb não há uma
referencia explicita a esse ano 1000. As que há não se referem ao ano mil. Se esse elemento é
frágil era necessário encontrar outros elementos.
 As condições da europa são as causas fundamentais, pois estamos paulatinamente a assistir a
uma mudança de mentalidade:
o Fronteiras da europa começam a estabilizar nas áreas de leste – qdo estabilizo com o
vizinho não me preciso de preocupar mais com ele. Cada vez mais há condições para que
a civilização urbana comece a surgir.
o O comércio começa a expandir-se e por isso há bolsas de desenvolvimento que fazem
que sobre dinheiro para que se possa investir noutros aspectos.
o A europa central começa a ter alguma estabilidade política com Otão (imperador do
sacro império Romano-Germanico) e Hugo Capeto (eleito rei de França – 987).
 Peregrinações – esta é outra causa que motiva as construções de natureza rural. As
peregrinações produzem uma espécie de movimento internacional. Favorecia-se as
peregrinações entre os cristãos, pois considerava-se que ao menos uma vez na vida deveriam
visitar estes lugares: Jerusalém; Roma; Santiago de Compostela. Há uma movimentação supra-
local, supra-regional. As peregrinações ao fazerem-se em grupo influenciavam assim a
mentalidade do grupo. Perante a grandiosidade de Santiago de Compostela, o grupo rural fica
espantado e diz: pq não fazemos isto na nossa terra. Boa ideia! Vamos fazer! As peregrinações
geram a solidariedade.

Terminologia
A arte surge a partir do ano mil, no entanto, o termo “românica” foi assim designado no congresso
de 1825, na Normandia pelo autor Adrien Gerville, que ao estudar começa a considerar que esta é
uma arte grosseira, é uma arte pesada. Considera que é uma arte desnaturada ou sucessivamente
degradada. Por isso, o termo românico é um termo pejorativo. O Gerville não percebeu que a partir
do século X foi preciso adaptar o que havia na antiguidade dando-lhe uma nova expressão.

Modelo arquitectónico
O que se pretende é um edifício contrário do típico edifício religioso antigo. O edifício dos deuses
romanos, é para que os deuses estejam dentro, sendo inacessível o acesso a essas divindades. Agora
pretende-se o contrário: quer-se ouvir a Deus por meio do seu ministro. Não são salas para a
habitação do próprio deus; neste caso é preciso estar lá dentro ao invés dos edifícios anteriores
onde estava-se lá fora e os deuses deveriam ser adorados desde o exterior.

As igrejas são construídas tendo por base a cruz romana ou latina. Ver anexo – desenho na folha
Como os edifícios religiosos antigos não podiam servir de modelo pq não eram habitáveis no seu
interior, e agora era necessário construir grandes espaços religiosos, servem de modelo e inspiração

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a Antiga basílica romana (usada para fins públicos) agora adaptada para fins religiosos. No entanto,
o espaço sofre transformações para melhor se adaptar aos fins religiosos. Aspectos mais
significativos:
 Abside – na extremidade frente à entrada tinham um arco de forma arredondada – esta torna-
se a parte principal do lugar de culto e onde se guardava as reliquias dos mártires.
 Abóboda em pedra (inovação mais forte) – a abóboda em pedra em todos os elementos do
edifício é a inovação mais forte. Esta era sustentada por contrafortes.
 Os pilares românicos, espessos e seguros dividem longitudinalmente, o corpo da Igreja em
naves.

Outras fontes de inspiração da arquitectura românica:


 A ordem religiosa mais activa (Beneditina) e as suas igrejas – conjunto de indivíduos que se unem
tendo em comum um regulamento, neste caso uma regra, à que se deve respeitar.
 Antiguidade pagã: grega e romana
 Oriente: vegetalismo
 Povos bárbaros e da Irlanda

O românico português: evolução e interpretações


A arquitectura religiosa românica portuguesa conta ainda com cerca de duas centenas de
exemplares, melhor ou pior conservadas pertencentes a cenóbios, igrejas paroquiais e seis sés. A
igreja românica portuguesa emana de um ambiente ruralizante. As famílias nobres participam na
construção dos edifícios religiosos. O grosso das construções surgiu a partir de meados do século XI.
Os edifícios românicos portugueses não obedecem a um cânone único, mas inserem-se nos
circunstancialismos regionais.

Escolas românicas:
Uma escola significa que temos um mestre e uns discípulos que por sua vez serão mestres de outros
discípulos. Há uma reprodução no tempo seguindo os mesmos moldes. Assim temos as seguintes
escolas românicas:
 Lombarda
 Primitivo Catalã
 Aquitânia
 Poiton
 Normandia
 Borgonha – a que mais influenciou Portugal
 Alto Reno
 Sicula - --------

Portugal é sobretudo influenciado pela Escola de Borgonha (ordem de Cluny ou cluniacenses).


Podemos ver os pressupostos religiosos/estéticos patentes na Sé de Braga, Sé do Porto, Sé de
Coimbra, Sé de Lamego…

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Sé de Coimbra (1160 época de reconquista e por isso tb há a preocupação pela defesa onde se vê
pela sua característica amuralhada) – é a única que se manteve intacta e resistiu ao tempo e por
isso é a que nos serve de modelo:
 Autores – mestre Roberto, mestre Bernardo e o mestre Soeiro
 Elementos:
o Virada para Oriente – para Jerusalém
o Planta cruciforme, abside (2 absidíolos)
o Transepto
o Torre lanterna
o 3 naves: central, lateral esquerda/direita
o Abóbada de berço (nave central e transepto)

Decoração nas colunas.


 Animais – Porque no espaço sagrado estava representado este tipo de animais? Só faz sentido
adorar a Deus se houver os meios de subsistência sem o qual não pode haver adoração e culto.
O que permite a própria subsistência tem que ter a bênção divina. Animais domésticos são
fundamentais para a subsistência.
 Ligação do sagrado ao profano – são estes elementos que nos vão formando e influenciando a
nossa cultura. Ex. Gado que vai à fonte beber desta água para ser abençoado.
 A razão das colunas terem diferentes ornamentos fitomórficos é para chamar a atenção e por
uma questão estética.

Românico rural
Em Portugal não há escolas românicas puras, o que há são regiões. O que se produz é típico de uma
certa região. Cada Igreja é diferente da outra? Não, mas há mtos regionalismos. Isso, é o que é
comum a todos os autores. Aqui nota-se as vantagens e influencias das peregrinações pois à medida
que nos aproximamos de Santiago de Compostela o número de construções aumenta, pois os que
iam voltavam com a vontade de fazer o mesmo. Havia indivíduos autorizados a pedir esmola para a
construção. Aspectos mais comuns:
 Pórtico de entrada – elemento mais importante – resume Cristo, o Evangelho é a linha de
fronteira entre o profano e sagrado. Diferença entre o que sou e o ideal ao qual estou chamado;
por isso, com um impacto psicológico.
 Porta – Cristo: simboliza o centro do Evangelho que a Igreja está chamada a servir.

Alguma simbologia:
 Macaco – significava a luxúria
 Duas cabeças – guardiães (símbolo relativo ao apocalipse)
 Tema da anunciação
 Aves em afrontamento num espaço mto pequeno – o individuo que fez é um analfabeto. Somos
uma cultura oralizante, podem-lhe ter dito o que fazer oralmente e o interpretou à sua maneira.
É um experiencialismo onde se mudou o símbolo inicial.

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A escultura decorativa
 Portal de entrada – O portal de entrada é uma representação ou a visualização possível da porta
da Vida Celeste, de Jerusalém, que o cristão irá transpor um dia. Aí se encontra normalmente
Cristo sentado, em majestade.
 Iconografia – A iconografia do portal principal (ou de outros) é um recorte de uma composição
que recorre aos motivos fitomórficos, zoomórficos, antropomórficos ou às representações
geométricas.
 Igreja – O templo ou a igreja é, neste mundo, o símbolo, em pedras reais, do templo de glória
construído na Jerusalém celeste, na qual a Igreja exulta numa paz constante.

4. ARTE GÓTICA

Contexto cultural Europeu


Século XIII – A Europa está em expansão, dando-se um notável progresso, sobretudo a expansão
comercial, sendo mto significativo os seguintes países e cidades:
 Alemanha – Frankfurt, Nuremberga
 Flandres – Bruges, Gand
 Inglaterra: Bristol, Londres e York
 França – Paris, Marselha
 Itália – Florença, Génova, Pisa e Veneza
 Universidade – tb tem sido mto importante o grande desenvolvimento na Universidade, nesta
época

O homem sente-se grato por Deus não ter destruído o mundo no ano 1000. Diante dessa gratitude
vão-se construir edifícios de agradecimento, o mais alto possível, com a simbologia de estar mais
próximo de Deus. Não só não acabou o mundo, como este está em expansão e com dinheiro para
investir.

Outro factor importante foi o notável crescimento da universidade pois esta veio trazer mais
conhecimento e pessoas preparadas o que proporcionou outra vitalidade aos próprios negócios.
Assim, com o crescimento económico e a influencia da universidade, estavão criadas as condições
para o surgimento de uma nova mentalidade que faz esquecer o românico.

Gótico Urbano (O gótico surge mto ligado ao desenvolvimento da cidade)


Numa primeira análise, a arte gótica é essencialmente uma manifestação artística oriunda das
cidades (elemento galvanizador da vida ocidental) e para servir as cidades enquadrando os seus
perímetros geográficos em torno de alguns elementos identitários de uma nova era: a câmara
municipal, o mercado e a catedral. Assim:
 Elementos identificativos da cidade:
o Catedral – nesta época há outro poder além do político e da Igreja que é o poder
económico. Por isso, são os burgueses os querem construir as catedrais. Não é o papa
nem os bispos mas os burgueses (ricos mercadores e grémios artesanais) os que fazem
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que surgem as catedrais desde o sentido da gratidão pela expansão que estavam a ter.
Pode-se dizer que o elemento mais significativo da arte gótica é sem dúvida ao nível da
arquitectura religiosa, e neste caso, da catedral (as grandes catedrais urbanas).
o Mercado
o Câmara
o Universidade
 É tb importante referir que há o gótico monacal, ou seja, o gótico religioso não é unicamente
uma expressão urbana.

Diferenças do Gótico em relação ao românico:


 Nova concepção da luz – Deus é mistério e não o posso abarcar – como é que posso fazer para
que esse espaço seja uma representação do Deus mistério? O espaço tem que convidar e
convencer o individuo que entra. É um espaço que convida à reflexão e meditação, ou seja, ao
contacto com o mistério. Como é que se consegue isso? Através do vitral – Tem que haver uma
diferença entre o exterior e o interior; isso dá-se através da luz. A função do vitral é criar um
ambiente diferente.
 Polo protagonizador deste novo estilo:
o Catedral de Sens (1130-1162) – Paris, Ilha de França – aqui percebe-se a utilização de
meios diferentes daqueles que utilizávamos para o românico.
o Abadia de Saint Denis (1130-1140 e 1140-1144)
 Expansão – dá-se primeiro na região francesa e depois pela Europa fora.
 O abade Suger da Abadia de St. Denis para distingui-lo do românico chama-lhe opus novum, ao
românico chamava-lhe opus antiquum.

A catedral gótica surgiu como uma evolução estética das formulações românicas. Os seus principais
elementos estruturais foram a planta basilical, a abóbada de cruzaria de ogivas e o arco quebrado
em ogivas. Mas não há “qualquer solução de continuidade entre o românico e o gótico. Trata-se de
dois mundos diferentes e de dois modos de construir antagónico.

Terminologia
Ninguém diz eu sou um construtor românico, nem gótico. O término gótico surge:
 Lorenzo Valla (1440) – usa esta palavra para designar a grafia utilizada na Idade Média.
 Sec XVI - Giorgio Vasari
 Gótico – atribui aos Godos toda a arquitectura do período medieval, assim, trata-se de artes dos
godos (bárbaros) – arte alemã. Assim, a arte gótica foi considerada para os humanistas uma arte
bárbara situada entre o Clássico e o Renascimento. Por isso, gótico, é um termo pejorativo =
idade Média = idade das trevas. É uma arte sem respeito. Mas os humanistas tb não perceberam
o pq desta evolução.
 Assim, hoje aceita-se sem contestação “a expressão arte gótica para designar as manifestações
artísticas, ao longo de três séculos, na Europa Ocidental.

Gótico monacal (A ordem de Cister, São Bernardo e a fundação de Claraval)

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A ordem de Cister
No final de século X em Cluny, Borgonha surge a ideia de purificar a Regra de S. Bento (817). Surge
uma reacção à ordem de Cluny (Beneditinos). Porque?
 Os Beneditinos interpretam a Regra, ou seja, fizeram algumas alterações, acrescentando umas
coisas e omitindo outras. Por isso, são criticados.
 Fractura – A Consequência é que surge a fractura pois há um grupo que não concorda e vai reagir
nesse sentido. A sua preocupação é interpretar a regra como São Bento a deixou.

Assim, duas dezenas de indivíduos foram levados por Roberto (fundamentalista da regra de São
Bento) ao Dijon, tendo depois a abadia ficado com o nome de Cister. Roberto, considerava que nesta
última fase, os monjes beneditinos comiam e bebiam mto e por isso pôs um forte assento no jejum.
O seguimento da regra à risca levou à fome, à doença, e à morte precoce. Como, a maioria deles
pertencia a famílias bem conceituadas, estas questionavam-se: como é possível que um filho que
vai para o Mosteiro morre mais cedo do que os que ficam? Sem meios de subsistência, acontece a
primeira cisão em Cister e Roberto regressa a Molesmes levando consigo alguns companheiros.

Continuação da história:
 Abade Alberico – sucessor de Roberto fez a ruptura definitiva com Cluny, lançando as bases da
legislação cisterciense (novos estatutos – tao rigorosos como a própria regra beneditina) e para
isso mudou a cor do hábito – de negro passou para branco (pureza e rigor).
 Este fundamentalismo vai levar a que a fome, peste e morte precoce aumentem cada vez mais.
Perigo: que um dia não haja candidatos, pois entravam cada vez menos.
 Étienne Harding – ainda mais rigoroso, o que teve como consequências:
o Morte e privações
o Falta de novos candidatos – as famílias não metiam lá os filhos. À imortalidade que se
abate sobre esta comunidade associa-se a incapacidade de recrutar novos elementos.
o São criticados pelos beneditinos – não metam lá os vossos filhos.
o Cister entra numa situação desesperante, sendo a sua maior crise entre 1109 e 1112.

São Bernardo e a fundação de Claraval


Contra a corrente dos acontecimentos, a vida dos cistercienses iria mudar com a chegada de
Bernardo. Nasceu em 1090 e morreu em 1153. Era de descendência rica.
São Bernardo – estando a estudar direito começa-se a questionar sobre a verdade. Dizia ele: falam-
me na verdade, mas afinal o que é a verdade? Concluiu que há duas verdades: a verdade eterna e a
verdade dos homens que é efémera e mto limitada. Bernardo, por isso, decide optar pela verdade
que não muda com o sabor das vontades humanas. Então, ao optar por entregar a sua vida a Deus,
coloca-se um problema: a onde ir? Beneditinos ou Cistercienses? Perante dois grupos que estão
chamados a reproduzir a Verdade, qual dos dois o faz da melhor maneira? Se os Cistercienses são
tão criticados é pq devem ter algo de diferente e autêntico. Tb acreditava que a calúnia e
perseguições acontecem aos verdadeiros discípulos de Xto. Assim, vai para o Cister em 1112 (com
21 anos) com o tio; 4 irmãos, 25 amigos; mais tarde o irmão mais novo e o pai (quando ficou viúvo)
tb entraram. Obviamente a sua entrada vai ter consequências enormes.

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Em 1115 – é encarregado pelo abade Ètienne Harding, de fundar o mosteiro de Claraval, à frente de
12 religiosos. Assim, funda uma nova abadia (ainda não era mosteiro). Vai para Claraval que ficará
a ser a nova casa Mãe dos Cistercienses. Este é o edifício que vai ficar para o futuro. Bernardo, acaba
por ser o segundo fundador de Cister. Em 1153, no ano que morreu, tinha recebido 188 religiosos
em Claraval e fundado 68 abadias, filiais de Claraval.

O conceito de arte de São Bernardo e a sua função nos mosteiros


As suas ideias que o separavam de Cluny, estão bem patentes no que respeita à arte e ás
construções. Cria, um novo perfil de abadia, um gótico com características peculiares, que irao estar
presentes em várias abadias entre as quais, na abadia de Santa Maria de Alcobaça. Assim, o amor a
Deus, a austeridade e o ascetismo religioso são transferidos para a arte. É importante remarcar que
Bernardo tem uma concepção religiosa diferente da maioria o que vai ter grande repercussão a
vários níveis, entre eles a arte: a religião é para servir a comunidade dos cristãos. Não se pode ter
um cálice de luxo se a comunidade está necessitada. A sua concepção sui generis na arte, reflecte-
se nas construções. Assim, Bernardo reage contra:
 Torres
 Altura dos oratórios
 Decorações excessivas e caras
 Pinturas com motivos profanos que desviavam a atenção de quem reza
 Representação zoomórfica no interior das igrejas
 Elementos pagãos

Como é possível dar tanto dinheiro para coisas que não tem interesse algum. Por isso, para ele há
que retirar tudo isso da arte, sendo que as abadias devem ser ornadas unicamente pela oração.
Tinha uma motivação moral (o que não ajudasse à oração devia ser retirado) e uma motivação
económica (não se pode gastar dinheiro aqui, quando há tantas pessoas necessitadas).
Consequências:
 É contra o gosto profano
 Contra a beleza material dos templos
 A beleza não deve ser nos edifícios mas interior ao individuo
 Acabou por purificar a Regra de S. Bento

Cistercienses em Portugal (Mosteiro de Alcobaça)


A ordem expande-se às diferentes comunidades cristãs pela Europa. Portugal recebe os monges de
Cister em pleno período da Reconquista.
 1152 – D. Afonso Henriques doa, aos regrantes vestidos de branco, um certo território enfaixado
entre os rios Alcoa e Baça, com o propósito de fixar a Ordem no território e promover o seu
povoamento. Datam de 1152 as primeiras referências ao abade de Alcobaça.
 1153 – Carta de couto de certas terras entres os rios Côa e Baça (daí Alcobaça). A abadia de
Santa Maria de Alcobaça é a primeira obra em estilo absolutamente gótico edificado em
Portugal. Este mosteiro será imagem do desígnio de S. Bernardo: simplicidade e funcionalidade.
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Quando iniciou a construção do mosteiro de Alcobaça?
 Alcobaça I – começou em 1153, ainda que o seu plano já estava preparado desde o ano anterior.
O atraso deveu-se ao clima de instabilidade em Portugal pelas guerras com os mouros. O seu
arquitecto foi Didier da escola de Borgonha.
 Alcobaça II (actual mosteiro) – começou em 1178 e acabou em 1252. Arquitecto – Desidério:
provavelmente proveniente do norte de França. Inspira-se na abadia de Claraval III.

Características do Mosteiro de Alcobaça – não é preciso saber isto de cor


 Plano – cruz latina
 Três naves – uma central e duas laterais
 Os edifícios são mais altos e por isso é preciso encontrar estruturas arquitectónicas que os
possam suportar – daí as abobadas
 Transepto e deambulatório em torno da capela-mor
 Fachada inicial sem torres (inicialmente)
 Pórtico de entrada sem decoração
 Sala do capítulo, parlatório (sala de estar para acolher as famílias), dormitório, refeitório, sala
de trabalho…

Desiderio foi um homem com mta visão – o edifício é mto largo e alto – então Desiderio coloca os
pilares no interior da Igreja começando mais fino e depois alargando para não tirar a visibilidade das
pessoas que estão dentro da Igreja. Aqui Desidério fez algo inédito, pois o normal é que a base dos
pilares seja mais grossa e depois diminua.

Os vidrais são transparentes; os capiteis são mto simples, não há quase decoração lá dentro. Isto só
se vê nos edifícios Cistercienses, influenciado por São Bernardo.

Mosteiro da Batalha
É completamente diferente do mosteiro anterior. A origem do mosteiro foi o voto de D. João I e
com a vitória em Aljusbarrota (14 de Agosto de 1385) quis cumprir o seu voto. D. João I foi um
individuo bastante medroso, de facto relativamente à batalha de Aljusbarrota, foi o mestre D’Avis
que partiu para a batalha sendo desobediente ao Rei.

Ao mosteiro foi dado o nome de Mosteiro de Santa Maria da Vitória. Estávamos na véspera de Santa
Maria de Agosto. Talvez por isso, D. João I quisesse dar mais um passo na religiosidade medieval,
determinando esta construção mariana.
Localização – para a sua construção foi adquirida a Quinta do Pinheiro (pertença de Egas Coelho e
Maria Fernandes de Meira). Uma questão que surgiu foi a quem devia ser entregue o mosteiro? Foi
entregue à ordem religiosa de S. Domingos (1388). Nesta construção surge pela 1ª vez o “ponto dos
operários” (curiosidade)

O mosteiro da Batalha é completamente diferente do mosteiro de Alcobaça:

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 Ao olhar para ele vemos que não é uma mentalidade portuguesa – o 1º mestre foi o Afonso
Domingues (inglês). O edifício é relativamente baixo e nós gostamos de altura – influencia
inglesa pq toda a decoração é uma decoração inglesa. Provavelmente convidados de Dona Filipa
de Lencastre esposa de D. Joao I.
 Por ser tão baixo, tudo é decorado – é quase um hino à decoração
 Três naves em forma de cruz latina: 80m de comprimento e 22m de largura.
 Alguns autores dizem que há duas mentalidades em conflito.
 Assim, as influencias ou modelos inspiratórios não colhem unanimidade entre os investigadores.
o Reynaldo dos Santos – o plano do mosteiro é naturalmente português
o Vergilio Correia – não exclui a origem Levantina
o Mario Chicó – sustenta que se baseia primeiro na Catedral de Lisboa e depois influências
inglesas.

A direcção da obra foi entregue sucessivamente a vários mestres. Dos mestres é preciso saber:
 Mestre Afonso Domingues (1388-1402)
 Mestre Huguete (1402-1438)

Estética
Dialéctica entre duas estéticas e duas mentalidades que se completam:
 Portuguesa – mestre Afonso Domingues – responsável pela planta – ao ser o arquitecto régio
recai sobre si o privilégio de conceber os planos para a construção do edifício.
 Inglesa – mestre Huguet – responsável pelo desenho e fachada (representa a Igreja triunfante)
com características mto diferentes de Afonso Domingues. Huguet faz a transposição de uma
visão arcaizante para um novo fôlego moderno, onde a cultura tipicamente portuguesa se torna
europeia e, com isso, ganha uma componente universal. A fachada do mosteiro da batalha é
uma síntese de valores estéticos, religiosos, mentais, sociais e políticos. Nela se afirma a
arquitectura, a escultura, a religião e o poder político de uma época rica no contexto da cultura
portuguesa.

Conclusão – “a Batalha está para D. Joao I, como os Jerónimos para D. Manuel e Mafra para D. Joao
V, ou se procurarmos exemplos além fronteira, o Escorial para Filipe II e Versalhes para Luis XIV”.
Pode-sedizer que o mosteiro da Batalha é um dos mais importantes e mais originais monumentos
da Europa desse tempo.

A ARTE TUMULAR: TÚMULOS DE ALCOBAÇA DE D. INÊS E D. PEDRO


A escultura gótica portuguesa tem uma infinidade de pontos de interesse, entre eles, os chamados
Túmulos de Alcobaça – referentes a D. Pedro e a D. Inês Pires de Castro. Não se sabe exactamente
qual a origem destes túmulos. A arte desta jóia da escultura tumular medieval portuguesa pode ser
francesa, italiano-gótica, castelhana, aragonesa, catalã, gótico-mudéjar ou muçulmana. O mais
provável é que nestas arcas funerárias trabalhassem vários mestres. Observar Pedro e Inês assim
coroados é poder desfrutar de uma das mais belas páginas da nossa História. Religião/profano,

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amor/ódio, política/reino, mentalidade/execução artística, de um século em crise. O estudo dos
túmulos de Alcobaça apoiam-se em diversas fontes: documentais, cronisticas, literárias e
monumentais ou tumulares (vamos centrar-nos nestas).

O que esta por tras? Um problema político ligado a uma questão amorosa. Rei e Rainha encontram-
se num espaço dedicado aos vivos mas também à memória dos mortos. D. Pedro envolveu-se com
D. Inês, envolvimento este que era condenável. A família de D. Ines era poderosa. Começam a surgir
rumores que a sua família queriam que se casassem. Há quem diga que houve casamento em
segredo. No entanto, quando chamaram as testemunhas, ninguém sabia as datas do casamento, o
que era mto estranho. Na idade média haviam mtos casamentos clandestinos – casamentos a furto,
onde as pessoas fugiam para casar. Como foram mtos os casos, a certa altura, considerou-se que
como não há nada a fazer o melhor é aceitar esses casamentos. Então a pergunta era: quando é que
se casaram? Podiam não saber o dia, mas dizia-se sp a 01 de Janeiro. Neste caso de D. Inês as
testemunhas nem disso sabiam. A questão política é que se ele se casasse, se matassem a Fernando
(o que seria bem possível), poderia haver uma ligação com Espanha o que por sua vez poderia
provocar a perda da independência. Por isso, deu-se morte a D. Ines. Os indivíduos que o fizeram
foram recambiados para Espanha: Diogo Lopes Pacheco – conseguiu fugir; Pêro Coelho; Álvaro
Gonçalves

Assim, D. Pedro ordena a construção de dois túmulos. Tudo isto retrata a história de um drama… É
um tema que incomoda… Encontramos a roda da fortuna ou a roda da sorte, onde temos o apogeu
e a decadência dos implicados. D. Pedro e Inês. Temos uma obra prima internacional – Tema que
deve ser visto na perspectiva político-passional mas tb do ponto de vista artístico. Características e
simbologia:
 Não se sabe quem são os autores.
 O túmulo de D. Inês é concluído em 1361 e o túmulo de D. Pedro foi construído entre 1361-
1366.
 Estátua jacente, depois passa a jazente (aqui jaz).
 A temática principal destes túmulos é um hino à inocência. Isto nota-se pelo tema principal
desenhado nos edículas, que retratam a vida, paixão e morte de Xto. A razão é que Xto amou e
teve a morte, com Inês passou o mesmo, fazendo assim, de certa forma uma referencia ao
martírio de Inês. Por isso, transmite-se a ideia de uma Inês calma, serena, rodeada por anjos,
 Apresenta-se a Inês com um símbolo régio chamado o Baldaquino (é um símbolo de majestade).
Com este símbolo, de alguma forma quis-se dizer que a senhora foi rainha, senão em vida, o é
em morte.
 Há uma representação de um macaco (que representa a luxúria) o que de alguma forma foi uma
crítica e forma de dizer que ela tb foi culpada pela sua morte. Significa que alguém estava a
condenar a relação de D. Ines com o Rei…
 Na base do túmulo estão os conselheiros do rei que provavelmente estiverem presentes na
morte
 Topo dos pés (facial dos pés) – juízo final: por um lado a ressurreição (à direita em direcção a
Jerusalém Celeste) e em baixo e à esquerda as pessoas estavam a cair para o Leviatã (Leviatà –

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monstro marinho descrito no livro de Job – representa o inferno). Isto pretende transmitir uma
mensagem na época onde a peste negra tinha devastado a mtas pessoas. Isto tinha como
objectivo trazer à lembrança a necessidade da proximidade com Deus pq de repente, com tantas
crises mta gente desaparece. Uma das interpretações que se fazia é que a peste era um sinal
enviado por Deus por terem morto a Xto inocentemente – a culpa era dos judeus.
 D. Pedro – tem um ar vigilante e atento pronto a intervir em qq momento para que Ines não
corra novamente perigo, pois sp disse que não deixaria que ninguém fizesse mal à D. Inês.
Ladeado de anjos e com um cão (lebreu – especialista em detectar lebres)
 Aparece tb na escultura S. Bartolemeu padroeiro dos gagos pois dizia-se que D. Pedro era
bastante gago
 No facial dos pés aparece D. Pedro a receber os últimos sacramentos.
 Numa parte do facial de cima percebe-se a forma como foi decapitada – um nobre é nobre até
ao fim, por isso, a morte de um nobre é sp a decapitação; não poderia ser o enforcamento, etc.
No entanto, a representação da sua morte, no túmulo de D. Pedro, sugere que este tb se sentiu
culpado pela sua morte.
 D. Pedro expressou a sua vontade que os dois túmulos fossem colocados na igreja do mosterio
de Santa Maria de Alcobaça, mas lado a lado, como se de uma sepultura conjugal se tratasse.
Houve um iluminado que nos anos 60 separou-os e agora um está numa ponta e outro na outra.
 O tumulo de D. Ines foi profanado por três vezes – profanar é mto forte pq no cpo não se toca
(uma no tempo de D. Miguel; outra na época de D. Sebastiao; e por fim pelos invasores franceses
no inicio do século XIX)

5. A CULTURA NO SÉCULO XV

Dividi o século XV em três pontos:


 A Prosa doutrinal da corte
 A cronística do século XV
 A pintura: os painéis de São Vicente

1. A Prosa doutrinal da corte


Com o advento da centúria de Quatrocentos, entrámos num período extraordinário de produção
literária extra-muros universitários. O “império da oralidade” até então dominante vai,
paulatinamente, perder terreno face ao incremento dos trabalhos escritos, tanto mais que, nesta
altura, já estavam implantadas as corporações dos livreiros e dos escribas. Para isso, a corte
desempenhou um papel fundamental, o que está relacionado com o casamento de D. João I com a
inglesa D. Filipa de Lencastre (proveniente de um ambiente cultural mais evoluído e diversificado).
Vamos assistir a algo novo do ponto de vista cultural em Portugal. Antigamente havia uma corte
mto vulgar, onde os serões eram simplesmente baseados nas cantigas de amigo e amor… D. Filipa
de Lancastre reage contra este estado de coisas pela sua cultura. Começou a introduzir um clima
intelectual bastante elevado, favorecendo que os temas nacionais fossem discutidos na corte
(questões de índole teórica, doutrinária, religiosa, política, moral ou psicológica). O mesmo fazendo
com a educação dos seus filhos. Chamou-se-lhes de feliz geração pela qualidade intelectual. Desde

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os reis (D. Joao I e D. Duarte) aos infantes D. Pedro e D. Henrique, todos se tornaram escritores ou
homens empenhados na tradução directa ou indirecta de obras. Até aqui mtos dos reis assinavam
com uma cruz. Estávamos na época da pancada e da conquista, por isso, o importante era que
soubessem combater, pois para escrever e interpretar estavam os conselheiros do rei que eram os
bispos. Estamos perante um momento novo. Vamos analisar alguns dos trabalhos desses autores
para conhecer um pouco do ambiente da época.

a) D. João I (1357-1433) – Obra: Livro da Montaria


É um tratado sobre o desporto da caça abordando a sua actividade lúdica e a sua vertente
paramilitar. Monteiro era o homem que vigiava os montes do rei. Um dos lazeres principias da época
era a caça. Na altura, quando iam caçar estavam dois a três meses fora de casa. O livro retrata as
experiencias da caça. A caça como uma actividade meramente lúdica. Mas na caça havia tb uma
actividade para-militar. A guerra iniciava-se com a primavera e acaba qdo começam as chuvas pq a
infantaria e cavalaria eram os pilares de qualquer batalha. Enquanto não havia guerra, a caça era
uma forma de manter o cavaleiro em forma (e tb a cavalgadura). Na caça grossa, enquanto
perseguia as presas a cavalo, favorecia esta preparação do cavaleiro. É provável que a iniciativa do
livro tenha surgido nas longas conversas tidas entre caçadores.

Assim:
 Este livro é verdadeiramente um monumento sobre a caça
 Descrição de António Saraiva: era necessário procurar o porco (javali)… persegui-lo a cavalo por
montes e vales… Fala dos cheiros, dos trilhos, e de toda a experiencia relativa à caça.
 Descrição do Professor Anibal Pinto de Castro: relata como D. João gostava de contar as façanhas
próprias e alheias.
 O livro tb nos dá um quadro da vida social portuguesa na década de 400. Isto pq nestas caçadas,
uma imensa população ia com o Rei. Nos diferentes lugares onde iam, as povoações eram
obrigadas a dar roupa de cama, lenha e alimento para as bestas. Isto era canalizado pelos
responsáveis locais. Assim, tb vai descrevendo um pouco dessas localidades.
 O livro está dividido em três partes com 70 capítulos onde encontramos duas linhas de força: o
entusiasmo e a sua experiencia pessoal. Sendo um homem de religião (membro e mestre da
Ordem de Avis) não deixa de revelar esta dimensão na sua obra.

b) D. Duarte (1391-1438)
D. Duarte esteve desde muito cedo associado ao ofício da governação (Finanças e Justiça), estando
ao lado do pai, D. João I, e desta actuação recebeu, uma vasta experiência em matéria do
funcionamento das alavancas do poder e do Estado, que certamente lhe foram úteis quando
assumiu em definitivo o poder: 15 de Agosto de 1433. Do ponto de vista literário e artístico D. Duarte
foi ainda mais importante que D. João I

Na sua Biografia escrita pelo cronista Rui de Pina este descreve a D. Duarte da seguinte maneira:
alto e forte… homem mto humano… no campo da Corte, na paz e na guerra um perfeito Príncipe…

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tinha um horário mto rígido… era uma pessoa ponderada e madura… pessoa cheia de humor,…,
cavaleiro de ambas as artes (brida e ginete)… foi um príncipe mto católico e amigo de Deus

Este retrato poderia ser pintado de outra maneira, pois o seu curto reinado foi marcado por algumas
vicissitudes que não ajudam mto, concretamente:
 Batalha de Tanger – o irmão mais novo, o infante D. Fernando queixava-se que o Pai não lhe
tinha deixado bens, por outro lado achava que não tinha feito nada de glorioso. Assim,
influenciado pelo infante D. Henrique, seu irmão, queria partir para a conquista no Norte de
Africa. D. Duarte sp resisitiu a esta iniciativa. Ao fim de 2 anos, por fim, cedeu… Fez o plano da
retaguarda, antecipando um possível fracasso – se corressem mal, sai-se por Ceuta e volta-se
para Portugal. Foi uma derrota rotunda, D. Henrique, comandante da expedição é obrigado a
aceitar a rendição imposta pelos mouros. D. Duarte fez tudo para libertar o infante D. Fernando
que acabara prisioneiro. D. Duarte sente-se culpado pela morte do irmão mais novo D. Fernando
e acaba por morrer pouco tempo depois…
 O rei acaba assim a sua vida amargurado, triste e desiludido, algo não relatado pelo cronista Rui
de Pina.

Obras principais:
Ensinança de bem cavalgar toda a Sela
O autor expõe uma instrução didáctica, pedagógica e social. Pretende criar um padrão de conduta
moral destinado à nobreza pq ele diz que esta estava desleixava e a nobreza deveria fazer o papel
de ser referência para o povo. O que acontecia é que ao passarem em vez de serem referência eram
motivo de burla. Considera que a nobreza pelo seu comportamento não pode ser motivo de
desprezo e escárnio. Escreve para relembrar os que já souberam e ensinar os que não sabem
(educar e reeducar). É uma preocupação do autor, relativamente ao cuidado com a imagem, pois
considerava que o exterior reflecte o interior (nota-se aqui a influência e educação da mãe). Por
outro lado, da uma verdadeira receita pedagógica relativamente ao livro: tem que ser lido devagar,
tem que ser relido e bem apontado.

Leal Conselheiro
Composto por 46 capítulos que foram recopilados nos dois últimos anos de vida do autor (1437-
1438). É considerado para mtos o primeiro tratado de filosofia em português. É um repositório de
conselhos de índole diversa (ideias morais e filosóficas); o rei vai abordar uma série de assuntos,
alguns dos quais não tem autoridade para tocar (virtudes, pecados, etc.). D. Duarte vai reflectir
sobre quase tudo até chegar a fazer um pouco de especulação. Ele vai escrever este livro por
insistência de sua mulher, rainha D. Leonor. O livro ao ser uma colecção de retalhos, ou seja, vários
apontamentos que foi tomando ao longo da vida, não está mto bem orgazinado, ou seja, há
matérias que se repetem, umas desenvolvem-se mto, outras pouco. De facto, pediu desculpas por
isto. É um ABC da lealdade sendo três as suas linhas mestres:
 Os poderes e as paixões de cada um
 O bem que percorre os servidores das virtudes e bondades
 Os males e os pecados

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Um problema para ele é a tristeza – considera que um nobre não pode andar triste – para andar
triste basta o povo pq esse tem uma carga demasiadamente pesada nas costas. Faz uma leitura da
seguinte forma: se um individuo anda triste, isso só pode ter uma causa: é pecado. A tristeza é a
manifestação visual do pecado. Propõe a confissão – por isso, o nobre obrigatoriamente deveria
passar por aí. Faz uma lista de 7 ou 8 tipos de tristeza… O individuo tem que ser Kai kalos agathos –
bom por dentro e belo por fora. Outro elemento fundamental é a lealdade… Leal conselheiro é o
próprio D. Duarte pq ele tem a experiencia suficiente sobre todos os assuntos que fala. Se aquilo
sobre o qual fala deu resultado com ele, está em condições de poder ajudar a outros.

Os seus trabalhos não tiveram aplicação pratica pq a mensagem não chegou aos destinatários. As
obras foram com a rainha D. Leonor, primeiro para Castela e depois para França, onde
permaneceram por séculos.

c) Infante D. Pedro (1392-1449) – Obra: Virtuosa Benfeitoria


Teve impacto na vida política portuguesa, não só como conselheiro do seu irmão, mas sobretudo
enquanto regente do Reino durante a menoridade do futuro D. Afonso V, filho de D. Duarte. D.
Pedro é o homem mais viajado do seu tempo, tb chamado, Príncipe das 7 partidas. É alguém com
uma visão mto avançada para a sua época (mentalidade universal, conhecedor de cortes, reis e
imperadores). Mandou uma carte a D. Duarte, carta de Bruges, em que aconselha o irmão a fazer
uma reforma completa a este pais.

A Virtuosa Benfeitoria, tinha como destinatários os príncipes e os grandes senhores do reino. Este
livro mostra a virtuosa ligação da base ao topo (foi o que aconteceu a seguir a Carlos Magno), do
povo até Deus. No entanto, possivelmente esta não é uma obra de um só homem. Sendo D. Pedro,
um homem avançado para a época, como é possível ter escrito um tratado mto tradicional. Onde
está o problema? Provavelmente, o livro não é dele. Razões:
 Seu irmão, diz-lhe: sei que estás a escrever um livro seria bom que o acabasses. Responde: não
terei tempo de o acabar, por isso, dei o livro ao meu confessor (Frei D. João Verba), com a
liberdade de acrescentar, cortar ou fazer o que bem entender.
 Possivelmente o confessor, sendo uma pessoa tradicional censura as novidade do livro que
achava que não se iriam adaptar à mentalidade portuguesa.

Ele era tao avançado que a sociedade se revoltou contra ele, pelas propostas que fez enquanto
regente. A sociedade vai gravitar em torno do Rei, promovendo um ódio em torno a D. Pedro. Isto
vai levar à Batalha de Alfarrobeira (1449), que durou meia hora e só morreu um individuo: D. Pedro
(há um arqueiro que atirou a flecha e acertou-o no peito). Tinham tanto ódio que nem queriam
depois tomar os restos do corpo. Todos os seus apoiantes e amigos foram expropriados.

2. A cronística no século XV (completar com o livro…)

Vamos abordar de forma especial os seguintes autores:

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 Fernão Lopes
 Gomes Eanes de Zurara
 Rui de Pina

Uma Crónica significa um trabalho em honra de, um trabalho laudatório relativamente ao


personagem ali contemplado. É um trabalho que visa essencialmente o registo da memória dos reis.
Registar para não se perder. Esta organizada em pequenos capítulos para que estes possam ler lidos
nos serões da corte. Uma crónica só trata os elementos positivos do Rei. Não descreve o que é
menos bom. Mas de vez em quanto sp há alguma fuga, deixando algumas pontas soltas.

Fernão Lopes
Nomeado cronista mor do Reino por D. Duarte em 1434, pq ele era guarda mor da Torre do Tombo
(Tombo significa registo). Na Torre do Tombo estavam registos das propriedades, doações,
sentenças, etc. Todos esses registos eram guardados pelo Fernão Lopes, numa torre do Castelo. Daí
Torre do Tombo, que significa Torre do Castelo. Devido à sua experiencia, Fernão seria o homem
que melhor conhece estes documentos.

Fernão Lopes fez três crónicas:


 Crónica de D. Fernando
 Crónica de D. Pedro
 Crónica de D. Joao I (a mais fundamental) - É considerado por Alexandre Herculano o 1º trabalho
de história pq não fala apensas de D. Joao I mas de Portugal nos finais do século XIV e inícios do
século XV. É por ele que sabemos dos impostos (sisa nova e velha); das dificuldades económicas
da época; da inflação galopante; dos problemas com a moeda; de vários motins; assaltos à
judiaria grande e pequena (pq os judeus poupavam mais). Conclusão Fernão, ultrapassa o limite
da crónica para falar de algo mto mais abrangente que é Portugal.

Fernão Lopes, deixou-se tb arrastar emocionalmente pela situação que Portugal vive, e nalguns
capítulos desta crónica toma posição subjectiva sobre tudo isto. Ex. Página 110 do livro – no capítulo
60 divide o país em portugueses de 1ª e de 2ª. Quer dizer que os bons portugueses foram os que
ficaram junto do mestre D’Avis; os portugueses de 2ª, enxertados, são os que tomaram o partido
de Castela. Ao ser subjectivo, perde a objectividade que deve ser própria da história.

António José Saraiva – chama o Evangelho português, pelo excesso comparativo qdo Fernão Lopes
faz um paralelo entre D. João I e Xto e Nuno Álvares Pereira e São Pedro. São estes os excessos que
limitam a sua historicidade.

Gomes Eanes Zurara


Fernão Lopes ao ficar velho é substituído por Gomes Eanes Zurara. Escreveu:
 Crónica da tomada de Ceuta – era um trabalho já adiantado por Fernão Lopes (pretendia ser a
3ª parte da Crónica previamente elaborada por Fernão Lopes)
 Crónica do Conde D. Pedro – não vamos falar mto

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 Crónica do Filho de D. Duarte – não vamos falar mto.
 Crónica do descobrimento e conquista da Guiné – Uma crónica é em honra de alguém, no
entanto, um descobrimento é colectivo. Então, quem está implícito? Neste caso, o Infante D.
Henrique, que é um individuo ambíguo. É Ele que esteve presente na derrota em Tanger; depois
da derrota não veio avisar ao irmão (rei), mas ficou em Lagos. Qdo o irmão morreu, não veio ao
seu funeral. Até negou uma crónica para si. No entanto, foi fundamental a chegada à Mina da
Guiné pq virou a nossa economia a partir do ouro, malagueta ou falsa pimenta, o marfim e os
escravos. De tudo o que era trazido, o infante D. Henrique tinha direito a 1/5.

Ver o texto da página 114… : chegada dos escravos e a sua distribuição – perdiam a sua dignidade e
começavam a ser considerados como peças…Caiam em qq lugar; mtas vezes eram chicoteados….
Antes que o acusássemos que estava a exagerar, ele próprio diz: que escreveu sempre por defeito
e nunca por excesso. É um quadro desumano.

Os ingleses acusam-nos de ser os pais da escravatura moderna… não é verdade; mas tivemos grande
parte de culpa. Nós comprávamos os escravos com bugigangas (sobretudo espelhos, e o sal). Foi
mto fácil negociar com eles. Consideravam que com o espelho, viam o seu próprio espírito. Se o
espelho se partisse e ficasse rendilhado, isto para os mágicos tinha um forte sentido. Se algum
marinheiro se descaísse e falasse do segredo sal, então era assassinado. Quando chegamos à Índia,
achávamos que seria a mesma coisa. Mas não foi assim, eram indivíduos tão ou mais evoluídos que
nós. O que queriam nós não tínhamos, por isso, teríamos que ir ao norte da Europa comprar. Mas
isto não era rentável do ponto de vista económico.

Cultura geral (Anacronismo histórico) – quando nós analisamos o passado com os olhos do presente.
Há mtos assuntos que não temos solução para eles a nível ético e moral… Hoje em dia, há mtos
assuntos em que não sentimos horror, no entanto, possivelmente no futuro venham a dizer: que
horror!!!

Rui de Pina
É um homem mto esclarecido que goza da confiança de D. Joao II e D. Manuel. Representou-nos em
embaixadas diplomáticas e vai suceder ao Gomes Eanes Zurara.

Qual o problema ou a questão polémica relativamente a ele? É precisamente o número de crónicas


que ele escreve: como é possível que um homem só faça tantas crónicas? Alguns dos autores por
isso, tem feito uma crítica literária. Provavelmente, algumas não foram escritas por ele,
possivelmente foram feitas por outros e ele pôs o seu nome, o que é criticável do ponto de vista
ético. Não há capacidade para escrever tanta coisa em tão pouco tempo.

3. PAINÉIS DE SÃO VICENTE DE FORA (Completar com o livro)


É um dos temas mais apaixonantes de toda a nossa história pq não se sabe exactamente o que esta
representado. Provavelmente são da 2ª metade do século XV, entre 1460 e 1480. Foram encontrado

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em 1---------- e estavam a servir de pranchas para uma obra em Lisboa. Foram recolhidas e tratadas
no museu de arte antiga. Hoje, permanecem no museu de arte antiga de Lisboa.

Atribuíram estes painéis a Nuno Gonçalves. Esta atribuição baseava-se no que fora dito por um autor
do século XVI… ---------- Visitando a capela mor da Igreja do Mosteiro de são Vicente de Fora ficou
encantado com os peineis de Nuno Gonçalves.

O curioso é que não são painéis de um santo; pois nestes sempre se trata 4 pontos essenciais:
 Nascimento – acompanhado com algo extraordinário (um cometa…)
 Infância – onde se nota que o miúdo é diferente dos outros
 Milagres
 Suplicio
Aqui não temos nada disto. Mas tb ninguém garante que os painéis encontrados estejam completos.

Questões que se levantam:


 Mutos autores fizeram leituras e interpretações diversas dos painéis em questão. A maioria
tende para afirmar que se trata do Infante Santo ou São Vicente de Fora (pq é que ele é de fora
– ver numa enciclopédia). Aqui falta qq coisa…
 Estes painéis não cabem na Igreja de São Vicente de Fora, por isso, não podiam ter sido estes --
------
 Não sabemos quem é o autor. Se é Nuno Gonçalves, então a data não coincide… Por outro lado,
estas tabuas que são do Báltico, nunca podiam ter sido pintadas em 1445 pq chegaram em 1430.
Num espaço tão pequeno, não é suficiente pois a madeira precisa de 30, 40 ou 50 anos e só
depois é que poderia ter sido utilizada para estes fins. (Dendroenologia – estuda a idade das
madeiras). Há uma idade de 1445 escrita na bota do individuo. Mas não é verdade, é uma falsa
interpretação.
 Não é o povo que está ali representado, é a elite da sociedade portuguesa.

Tese tradicional ou antiga


Os painéis leiem-se da esquerda para a direita.
1. Painel dos frades
2. Painel dos pescadores
3. Painel do infante
4. Painel do arcebispo (de Lisboa ou de Braga)
5. Painel dos cavaleiros (ajoelhados numa posição de ----)
6. Painel da relíquia

Todos os rostos são idênticos (espalmados). Mas há ali um rosto diferente. Foram restaurados no
tempo do Salazar. O palerma que fez a restauração apagou um rosto e pôs o rosto do Salazar.

Nuno Gonçalves consegue através da cor ---------------

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Tese moderna
Na década de 1980, o professor ---------- diz, como é que as pessoas não sabem o que isto é? É a
descida do Espírito Santo. Vai estudar nas cortes europeias, qual a adoração preferida da corte nessa
época. Chegou à conclusão que o que mais adoravam não era o Santo António, ou outro santo, mas
o Espírito Santo. Assim, vai dar outra interpretação:
1. Frades Cistercienses –
2. Cofrarias do Espírito Santo – as cofrarias tinham como objectivo dar dignidade no funeral e
ajudar a auxiliar as viúvas e órfãos dos membros da comunidade.
3. Aliança no Espírito Santo – pq toda a família real está presente
4. Missão das ordens de Avis e de Xto – no entanto este painel traz confusão pq não há ninguém
que se pareça com o infante…
5. Cavaleiro
6. Relíquia

Almada Negreiros
Almada negreiros mudou a organização dos dois trípticos. ----------
Um tríptico tem um quadro principal e dois rolantes. Um Poliptico – São dois trípticos, mas não se
feicham

Procura-se tentar saber qual é o primeiro desenho.


Mtas vezes o pintor pinta pouco a pouco pq não tem mto dinheiro e funciona por encomenda… ????
Há mtas duvidas e aspectos não claros em relação a estes painéis
Faltava a perspectiva área. À frente noivo, padrinho e pais (como um casamento) e atrás o resto do
pessoal.
Toda esta parte tem que ser completada com o livro…

III. A CULTURA DO SÉCULO XVI

I. INTRODUÇÃO AO RENASCIMENTO
É um momento áureo de expansão cultural na europa. A cultura expandiu-se chegando a domínios
nunca antes imaginados. Há uma reacção onde começam a aparecer, no tecido medieval, algumas
rupturas com a mentalidade dominante até então.

Temos duas correntes em relação ao fenómeno do Renascimento:


 Uma que diz que o renascimento surge no inicio do séc XVI pois é diferente de todos os
fenómenos de revivescência ocorridos ao longo da Idade Média.
 Outra que diz que o Renascimento é a explosão dum vulcão – a europa já não pode calar esta
explosão de vozes divergentes. Neste sentido, o renascimento é qq coisa que se começou a
forjar antes. Já no último quartel do século XV, se prevê uma nova perspectiva pela influência
que começa a ter o humanismo. Neste sentido, o O Renascimento é um período de revivescência
das artes e das letras sob a influência dos modelos clássicos que começou na Itália no século

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XIV, continuou o seu percurso durante o século XV e acabaria por se consolidar na primeira
metade do século subsequente.

Bases do Renascimento (Renascimento Retrospectivo)


A primeira metade do século XVI consolida a procura incessante de novas formas intelectuais que
se manifestam essencialmente com os seguintes valores:
 Redescoberta da antiguidade clássica – O renascimento é a redescoberta da antiguidade
clássica. Que valores se descobrem aqui? A total liberdade de pensamentos, sem barreiras nem
limitações.
 Rejeição do teocentrismo e substituição pelo Homocentrismo – A Redescoberta não é suficiente,
isso é apenas uma parte. O renascentista rejeita tb os valores produzidos pela idade media pq
esta tem um padrão: o teocentrismo (sociedade marcada e definida por Deus). O homem está
formatado pq Deus é resposta e medida para todas as coisas. Para isso, era precisa deitar abaixo
o teocentrismo.
 As paixões e os impulsos – O renascimento não nega que o homem possa ser feito à imagem e
semelhança de Deus. Não se nega esta herança. No entanto, acrescenta-lhe dois elementos: as
paixões e os impulsos. São estas que anima o homem e aquilo que distingue cada um de nós
influenciando a maneira de ser e de estar na sociedade. No resto somos semelhantes. O que faz
com que a pintura, poesia, teatro, literatura, seja completamente diferente, é precisamente esta
liberdade na interacção entre as paixões e impulsos.

Esta mentalidade de rejeição do teocentrismo da Idade Média e ao mesmo tempo o


redescobrimento da Antiguidade clássica traduz-se nas diversas dimensões sociais e culturais:
Pintura; Escultura; Arquitectura; Teatro; Poesia. A esta redescoberta chama-se Renascimento
Retrospectivo - este renascimento é feito pela via dos humanistas.

Renascimento Prospectivo
O Renascimento não é só um movimento retrospectivo. Nesse sentido vai mto mais do que o
humanismo que o influenciou, pois tem tb um dinamismo prospectivo com todo um manancial de
dimensões culturais que surgem neste século e com grandes implicações para o futuro,
concretamente:
 A reforma de Lutero
 Concílio de Trento – Contra-reforma
 O racionalismo
 Nova concepção da vida
 Expansão ultramarina (portuguesa e espanhola)
 Progressos da técnica

HUMANISMO
O Humanismo é uma das componentes essenciais que veio influenciar o surgimento do
Renascimento. Mas o que é? Não há universidade humanista, não há uma escola humanista, nem

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ninguém a si próprio se chamou de humanista, até pq o termo só surgiu na 2ª metade do século
XIX. Assim:
 O humanismo foi uma tentativa de reconstrução estética e filosófica a partir do recurso directo
à fonte do saber antigo (antiguidade clássica): os clássicos da literatura e do pensamento. Assim,
o culto da antiguidade aparece como uma moda cultural. Daí a importância em dominar o grego
e o latim.
 Novo estilo de vida com uma exaltação do valor do homem (homem completo. Ex. Leonardo da
Vinci – pintor, escultor, cientista, etc.). É o individualismo que está na base do humanismo, onde
o homem torna-se o centro do mundo. É uma cultura laica (que vem da cultura pagã) e por isso,
oposta à Teologia.
 Idade Média = ignorância, época bárbara, longa noite.
 Os focos mais significativos do Humanismo e dos humanistas foram sem dúvida, Pádua e
Florença, que se transformaram nas capitais da cultura humanista.
 Não foram capazes de ver o que havia de positivo na cultura medieval.

No renascimento vai-se dar a passagem do Teocentrismo para o Homocentrismo ou


Antropocentrismo. No entanto, nem todos os renascentistas tiveram esta perspectiva. Um exemplo,
é Erasmo de Roterdão.

II. HUMANISMO EM PORTUGAL


É difícil situar, com precisão, o momento em que o Humanismo, como corrente cultural entrou em
Portugal. É porém, no reinado de D. João II que na corte portuguesa se fixaram três eruditos
italianos: Mateus de Pisano, Estêvão de Nápoles e Cataldo Parísio. Uma coisa é certa – o Humanismo
português tem uma origem italiana.

O humanismo português foi introduzido por Cataldo Parisio que vem para Portugal em 1485. Acaba
o seu curso em 1484 na Universidade de Ferrara, e a sua obsessão era ser professor universitário.
Para isso, é preciso ter boas notas. Mas ele foi um estudante mediano, sofrível. Não teve nunca um
lugar entre a academia. Tentou várias vezes e nunca o conseguiu. Por isso, andava absolutamente
desencantado.

Como veio parar a Portugal? Cataldo foi persuadido por Fernando Coutinho, futuro bispo de Lamego
e pelo italiano António Corsetti, seus amigos, mas também pelo rei D. João II. Vem servir a corte e
educar os filhos D. Joao II (D. Afonso e D. Jorge) por isso, vem para ser preceptor dos filhos do Rei.
Mas nem D. Afonso foi rei, porque morreu prematuramente, devido a uma queda de cavalo e D.
Jorge também não seria rei, porque estava ferido de ilegitimidade.

Actividades e obras
Cataldo é um homem que desenvolveu uma actividade extraordinária para a época:
 Foi professor de príncipes (D. Afonso e D. Jorge)

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 Realiza um papel importante na corte, diante das senhoras, onde se formou um verdadeiro
circulo intelectual feminino. Infelizmente não há trabalhos destas senhoras que tenham ficado
registados.
 Escreveu bastante documentação diplomática, o que mostra que o rei tinha confiança nele.
 Obra principal: Epístolas – Uma epístola, é uma carta aberta e intemporal (o que é diferente de
uma missiva). Estas epistolas, são pequenos trabalhos, todos eles em latim, onde o tema central
é a sua amada Itália.
 Escreveu inúmeros poemas – alguns em louvor de Portugal outros queixando-se.

Mas na altura, tínhamos grandes crânios humanistas em Portugal. Alguns reitores, outros
responsáveis pelas cadeiras (regentes) e que uma vez regressados do estrangeiro estavam
convencidos que o Rei iria convida-los para trabalhar na corte. Como corte só temos uma e
universidade só temos uma, vão surgir rivalidades de outros humanistas portugueses com Cataldo
Parisio. Este queixou-se ao Bispo de Braga, que a certa altura tb se cansa de tanta queixa.

A certa altura começam a haver atrasos sucessivos no pagamento do seu vencimento, a tença (que
era um salário pago, durante 3 vezes ao ano, à terça feira: no Natal, na Páscoa e em São João ou S.
Maria em Agosto).

Todos estes acontecimentos levam a que Cataldo sinta que não era tratado com a consideração que
merecia. Assim, sente Portugal como uma Nação que lhe prometeu, mas afinal não lhe deu nada.
Expressa claramente a sua mágoa no poema que dedica à sua Bolonha:
Deixei a pátria natal pelo Rei
Deixei o doce lar por este reino.
Deixei-te pelo Rei, veneranda Bolonha!
Perdoa-me, alma mater óptima,
Perdoa-me – eu te peço!
Neste quinteto vê-se a essência do humanista:
 Deixei a pátria natal pelo Rei – isto significa que Cataldo só aceitou o convite pq iria educar o
futuro rei, o que desde a perspectiva humanista era o maior privilégio que um individuo poderia
ter. Aqui vê-se a teoria política da antiguidade clássica de Platão: um bom governante só é bom
se é filosofo ou é educado por um filosofo. No entanto, o que Cataldo afirma, entre linhas, se
não fosse para educar um príncipe, futuro Rei, não teria deixado a pátria, acaba por não ser
verdade pois: pois por um lado a sua pátria não lhe dera trabalho como professor universitário;
por outro lado, acabou por não educar o futuro rei, mas apensa príncipes.
 Deixei o doce lar por este reino – o seu lar nunca foi doce, pelo contrario expulsou-o (de
professor académico) pois era apenas um intelectual mediano.
 Deixei-te pelo Rei – aqui estaria um ideal, tornar um Rei humanista.
 Perdoa-me alma mater óptima – arrependimento tb influenciado pelas dificuldades que
passou… não é fácil ser estrangeiro… Pq é que ele diz perdoa-me alma mater e não perdoa-me
alma pater? O pai é um individuo que perdoa mais rigidamente… o chamar aqui a mãe é pq esta

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perdoa qq tipo de ofensa. É a mãe que vai logo visitar o filho à cadeia, e a mãe diz logo: é assim,
mas é o meu filho.

O humanismo português teve grandes figuras, algumas delas relevantes no panorama cultural
europeu, por exemplo, Pedro Nunes, grande matemático português, um crânio que depois foi mal
tratado pela inquisição. No entanto, o maior vulto português da cultura humanista na Europa foi
António Gouveia.

III. ATIVIDADE LITERÁRIA

1. O pensamento político de Camões na sua obra épica (1524-1580)


Vamos analisar Camões numa perspectiva diferente do que estudamos no secundário. Não
pretendemos fazer um estudo exaustivo da Obra de Camões, mas sim, a sua perspectiva crítica
relativamente à diáspora cultural. O século XVI teve coisas mto boas, mas tb as suas limitações, por
isso, é preciso ter em conta as críticas. Camões teve uma visão social e económica e vai denunciar
essa situação com a qual não está de acordo. Possivelmente a sua denuncia foi tb é influenciada
pelo facto de se ter sentido mal tratado pelo próprio poder. A esperança manifesta no rosto dos
que partiam transformava-se num conjunto de problemas do ponto de vista político, económico,
social, moral, religioso e educacional.

Formou-se em Coimbra. Em 1542 vai para Lisboa e permancece até 1545, altura em que o Rei o
envia para Ceuta por questões passionais (amores impossíveis). O rei manda-o para uma guerra, e
perdeu o olho. Volta boémio, e alguns desacatos levaram-no à prisão. Depois o Rei envia-o assim,
para a India, onde permaneceu de 1553 a 1567. Volta em 1568 e chega a Lisboa em 1570. Dedica a
sua obra ao rei D. Sebastião, tendo esta sido publicada em 1572.

Vai escrever a epopeia à boa maneira humanista. Aspectos fundamentais para a melhor
compreensão da sua obra:
 O mar tem na sua obra um papel fundamental e estruturante
 Os homens sabem que arriscam a sua vida na aventura marítima
 Dialéctica terra/mar onde um povo está dilacerado entre dois mundos:
o A terra que se conhece representa a conservação, a defesa e o passado, o agasalho, como
uma mãe. A terra impõe o limite, a proibição de partir.
o O mar é um misto de incerteza dúvida e receio, fonte de obstáculos, perigos e limitações.
Os navegantes infringem os limites que a natureza lhes traçara. O mar apela à aventura,
o futuro e desafia a virilidade. A água é incerta (pq não sabemos o que vamos encontrar),
o mar está povoado por monstros (Adamastor…). Havia a mentalidade de que se o
individuo passasse o Equador ficaria queimado…

O drama d'Os Lusíadas é o drama de um homem, ou de um povo que se entrega apaixonadamente


à aventura sem a certeza do êxito e por isso, as consequências poderiam ser incontroláveis. A
mensagem que nos interesse tem a ver com o aspecto político-cultural e a visão prospectiva de

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Camões que está bem descrita no Velho do Restelo. O Velho do Restelo reflecte de forma notável o
conflicto de mentalidades do século XVI: todos queriam partir em busca de fama, riqueza e glória,
mas o preço é demasiado alto. Os Lusíadas estão divididos em Cantos. O Velho do Restelo está no
Canto 4, estrofes 94 a 104:

94 «Mas um velho, de aspeito venerando


Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
C'um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:

1ª Estrofe – individuo que já foi onde mtos quererão ir, sabe o que vão encontrar e não augura nada
de bom:
 Cerca de 2/3 dos que partiam já não voltavam por diversos motivos: ou por escorbuto, ou
ficavam por lá ou morriam nas batalhas.
 Camões esta a falar para quem já esta a embarcar, reprovando esse facto, ou tentando que
pensem duas vezes sobre isso. Mas normalmente quem já tomou uma decisão já não volta atrás.

95 «– Ó glória de mandar! Ó vã cobiça


Desta vaidade a quem chamamos fama!
Ó fraudulento gosto que se atiça
Cũa aura popular que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles esp'rimentas!

2ª Estrofe – aqui começamos com a chave do problema:


 Vamos à Índia pq? Pq queremos mandar, queremos adquirir fama, honra e gloria (Cua aura
popular que honra se chama). Isto consegue-se através dum estatuto económico.
 Para comprar, negociar, fez-se mta corrupção, matou-se… E depois regressavam bem cheirosos,
com os melhores perfumes, tecidos, cordas de viola (tb vinham da India), além das especiarias.
Camões critica a forma como os particulares enriquecem, pois é na base da fraude que se fazem
estes negócios. Foram as armas de fogo que nos deram sp vantagem no Oriente.

96 «Dura inquietação d'alma e da vida,


Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios!

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Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
Sendo digna de infames vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!

3ª Estrofe
 Camões põe aqui em evidência a dura inquietação da alma provocada por tantas viagens e
partidas – A dura inquietação da alma, neste contexto, vê-se pela procura constante de Deus
devido à preocupação de mtos pelos seus familiares que partiram. Faziam-se assim, mtas
promessas: se ele regressar eu pago a promessa a,b, c ou d. O que se nota de diferente, em
relação a outros tempos é que há uma constância nesta procura e nestas promessas superior ao
que era normal, exactamente pelo medo a que os familiares não voltassem. As pessoas vão
buscar alguma esperança pela oração…
 Toda a sociedade que fica é uma sociedade pouco equilibrada pq grande parte dos seus vão-se
embora e isso tem várias consequências:
o Fonte de desamparos e de adultérios – fonte faz referença a algo continuo. Fonte de
adultério pelo mto tempo de separação e fonte de desamparo pq mta gente não tinha
dinheiro para pagar as viagens e os impostos, então pedem, mas deixando a quem fica
desamparados pela pressão económica… Qtas mais pessoas iam, mais aumentava o
choro, a viuvez, a orfandade e o adultério.
o Consumidora de Fazendas – pq havia drenagem de dinheiro.
o Consumidora de reinos e impérios – ele percebe que se assim continuarmos vamos
acabar mal. É a Nação que corre perigo de morte. Ele via perfeitamente este desenrolar
dos acontecimentos.

97 «A que novos desastres determinas


De levar estes Reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas,
Debaixo dalgum nome prominente?
Que promessas de reinos e de minas
De ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? que histórias?
Que triunfos? que palmas? que vitórias?

4ª Estrofe – dirige-se ao Rei: afinal o que prometes a toda esta gente que parte… como é possível
que ainda haja gente que queira partir… Isto acontece pq o povo facilmente se deixa enganar…

98 «Mas, ó tu, geração daquele insano,


Cujo pecado e desobediência
Não somente do reino soberano
Te pôs neste desterro e triste ausência,
Mas inda doutro estado mais que humano,

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Da quieta e da simples inocência,
Da idade de ouro, tanto te privou,
Que na de ferro e de armas te deitou:

5ª Estrofe – idade de ouro é a idade da infância. Ele denuncia o desespero da guerra… Nós
demograficamente sp fomos deficitários. Como somos poucos e como a guerra se alimenta da
morte cada vez somos menos. Ele quer transmitir o desespero da governação. O desespero faz com
que cada vez se comece a recrutar indivíduos com menor idade. Assim, estamos a prejudicar
seriamente o pais, além de que o Rei não tem esse direito… Fazendo a aplicação ao hoje, trata-se
da exploração do trabalho infantil…

99 «Já que nesta gostosa vaidade


Tanto enlevas a leve fantasia,
Já que à bruta crueza e feridade
Puseste nome esforço e valentia,
Já que prezas em tanta quantidade
O desprezo da vida, que devia
De ser estimada, pois que já
Temeu tanto perdê-Ia quem a dá,

6ª Estrofe – O miúdo é transformado em herói (para compensar)… Mas ninguém tem o direito de
tirar a vida a ninguém… ninguém tem o direito a mandar para a guerra a quem não tem idade, pois
a guerra normalmente leva à morte… nem o próprio nem o outro têm o direito de atentar contra a
vida…

100 «Não tens junto contigo o Ismaelita


Com quem sempre terás guerras sobejas?
Não segue ele do Arábio a lei maldita,
Se tu pela de Cristo só pelejas?
Não tem cidades mil, terra infinita,
Se terras e riqueza mais desejas?
Não é ele por armas esforçado,
Se queres por vitórias ser louvado?

7ª Estrofe – Já que não se pode fazer nada, faça-se uma guerra justa… Era consciente que o perigo
estava mto perto, à porta. O único esforço que merece a pena implicar o sacrifício da vida é pela fé
cristã… O ismaelita está às portas… significa o árabe… Árabio é Maomé… e a lei maldita é o Alcorão…
As guerra sobejas significam que cada árabe isolado e individualmente pode potencialmente ser um
exercito. Estamos a falar dos árabes fundamentalistas. Pq ele actua na base do medo colectivo (hoje
pelos indivíduos bombistas suicidas…).

D. Sebastião ao fazer incursões em Africa de forma imprudente, à rebelia de todos e ao perder em


1578 a batalha de Álcacer Quibir moreu, o que levou sucessivamente a perder o reino e com a união
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ibérica perde-se o império. Depois de um período de grande prosperidade, Portugal torna-se uma
pequena parcela territorial, sem autonomia, desprezado pela Europa e saqueado por esta. Camões,
percebe 30 ou 40 anos antes o que viria a acontecer mais tarde. É um visionário. O poema épico de
Camões é um verdadeiro memorando sobre a política, a sociedade, a religião e a cultura
portuguesas nesse longo século. Camões morre a 10 de Junho de 1580, hoje, consagrado dia de
Portugal e das comunidades.

2. A literatura de viagens: Fernão Mendes Pinto (1509-1583)


O século XVI foi marcado de forma muito forte, em todos os seus aspectos, pelo multiculturalismo
e o contacto de novos povos levou a uma ânsia de conhecer sempre mais. Neste sentido, a literatura
de viagens é extremamente rica. Vamos centrar-nos em Fernão Mendes Pinto, autor da obra
Peregrinação em 1614 que até finais do xéculo XVII teve 19 ediçoes em seis idiomas diferentes, o
que demonstra a curiosidade europeia pela cultura oriental. A sua obra tem uma história, neste caso
mto ligada à vida e às viagens do seu autor. Escrita entre 1569/70 e 1578/80 tem por trás as suas
longas peregrinações. Assim, a sua vida peregrina pode ser dividida em 3 períodos:
 1509/1514 – 1537 – Era filho de uma família pobre e sonhou ser rico. Vai para Lisboa onde tinha
alguns familiares que estavam mais ou menos bem sucedidos. Vai acabar ao serviço, de D. Jorge,
mestre da ordem D’Avis e de Santiago. Mas como lhe pagava pouco, optou por ter embarcado
para Índia e logo nas 1ª páginas do seu livro, vai descrever a viagem.
 1537 – 1558 (Viagens pelo Oriente) – Parte e regressa afamado e honrado, por isso, contradiz
as ideias de Camões.Por razões que nós desconhecemos vai entrar para a Companhia de Jesus
e apoia a Francisco Xavier. Com a fortuna de Fernão Mendes Pinto vai-se construir a 1ª Igreja
Cristã no Japão. Depois sai da Companhia de Jesus e volta a enriquecer e volta a Lisboa com
pompa e bem rico.
 1558 – 1583 (Regresso a Portugal e fixação em Almada) – Faz parte daqueles 1/3 de indivíduos
que regressa vivo. Ele esperava que a regente D. Catarina, o recompensasse… No entanto, ela
não o recompensa pq considerava que ele já tinha sido recompensado, ao voltar rico. Ele amuou
e retirou-se da Corte, compra uma Quinta nos Alredores de Almada (Quinta de Palença), casa, e
aí vai exercer cargos que só a Pompa pode realizar: foi eleito juiz de vila; vai servir como
Mamposteiro (individuo autorizado a pedir esmola). Isto era uma honra, não qq pessoa poderia
faze-lo. O ter este cargo era uma dignidade pela sua influência na região. Na Quinta Palença é
qdo escreve a Peregrinação.

Peregrinação
O que ele escreve é o ambiente dos povos portugueses nos ambientes orientais. Fê-lo de uma forma
tão descritiva que mtas vezes foi chamado Fernão Mendes Minto. No entanto, há pouco tempo foi
confirmado como certo tudo aquilo que ele lá escreveu. Os seus escritos são um manancial
inesgotável de informação sobre os costumes dos japoneses, dos chineses e dos portugueses em
terras estrangeiras. Ex: biombos da época, das tapeçarias, das arcas ornamentadas etc. Mostra-nos
um pouco daquilo que nós fomos e fizemos no Oriente, daí a sua importância, no contexto da
literatura de viagens desta época.

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O seu trabalho é publicado por volta de 1614. Depois foi publicado em quase toda a Europa. O
grande interesse pelo seu trabalho, mais do que cultural é económico. O império espanhol faliu em
1586, o português, por volta de 1580. As grandes potências eram agora a França, Holanda e
Inglaterra, que estavam mto interessadas em conhecer a cultura e ambiente da época no oriente.

IV. A ÉPOCA BARROCA: SÉCULOS XVII-XVIII

I. SURGIMENTO DO BARROCO
Qdo falamos do Renascimento Prospectivo, fizemos referência a alguns fenómenos que nasceram
no século XVI e que tiveram perspectiva futura, por exemplo:
 Reforma de Lutero – sai da Igreja Católica e funda o protestantismo. Essa corrente vai alastrar-
se aos chamados estados alemães e à Inglaterra. O certo é que deu um jeito à acção política este
movimento religioso contra a Igreja Católica. Pq? Pq os países católicos pagavam um senso ao
Papa quintenalmente. Qto mais ricos, mais pagavam. Ora, os mais ricos eram a Inglaterra e a
Alemanha. Interessava-lhes por isso que esse dinheiro ficasse dentro de portas.
 Contra Reforma – A Igreja católica, que estava em crise, com lutas entre papas (papas eleitos
pela imposição de grandes famílias italianas), falta de dinheiro, etc., faz uma reflexão realizada
a partir do Concílio de Trento, em 3 fases:
o 1ª Fase composta pelos Cardeais e Bispos convocados para o Concílio
o 2º período – onde foram convocados os juristas do direito canónico e vários teólogos.
o 3º período – regressam os bispos e Cardeiais para a aprovação e escrita final dos
documentos.

O Barroco surge neste contexto da Contrareforma, onde de forma excessiva tenta-se atrair a todos
à fé – Neste movimento de Contra Reforma, a Igreja católica (e muito activamente os jesuítas) vai
travar o progresso do protestantismo, desde a preocupação espiritual de retornar às origens, pondo
assim em relevo os santos mártires. Assim, a Igreja católica vai educar os católicos decorando as
Igrejas pelo interior e exterior com a história dos santos mártires. Em território católico tem que se
ser católico. Dai o surgimento dos cristãos-novos ou seja, aqueles que foram forçados a isso. A este
movimento excessivo, resolveu chamar-se de Barroco. Continuamente tocava o sino, via-se por
todo o lado imagens com uma perspectiva espiritual, ou seja, há todo um ambiente onde se respira
cristianismo.

A segunda metade do século XVI é dominada pelo primeiro Barroco ou maneirismo, onde os jesuítas
pretendem levar a religião aos seus fundamentos iniciais. A vida dos santos mártires são os temas
preferidos para pintar os interiores das igrejas.

II. A LITERATURA COMO REFLEXO DOS PROBLEMAS PORTUGUESES


A segunda metade do século XVI deixou marcas demasiadamente profundas na consciência
colectiva dos portugueses. Sem rei, sem reino, sem império, o que nos restava agora? A literatura
vem dar-nos uma imagem das metamorfoses culturais que se vão instalando no povo português.

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1. Francisco Rodrigues Lobo (1574-1621)
Autor importante na literatura portuguesa na época, morreu em 1621 num naufrágio fluvial. De
carácter optimista, percebeu que a perda da independência poderia levar à perda da identidade.
Por isso a importância de a cuidar e defender. A Corte Oficial vai para Madrid, ali é onde estão as
pessoas importantes. Fica o povo e alguns nobres. Rodrigues Lobo vai voltar-se para os nobres por
considerar que essa baixa nobreza rural são aqueles que podem ser os baluartes para manter a
cultura portuguesa, a partir das cortes nas aldeias. Nesse sentido, vai escrever um trabalho
chamado, Corte da Aldeia, em 1619, com 16 cartas, à boa maneira humanista. São 16 diálogos
correspondentes a uma série de serões de Inverno, passados em casa de Leonardo juntamente com
outras "figuras" representativas da sociedade da época (padre, militar, fidalgo, estuante
universitário, especialista em história das humanidades).

Esta obra é uma verdadeira obra pedagógica que apregoa uma ideia renovadora, de uma certa ética
cultural nacionalista, devido à situação em que Portugal caiu face ao domínio Filipino. Assim, tem a
preocupação de manter os hábitos e costumes da cultura portuguesa vivos para que se mantenha
mantém acesa a chama da cortesia e com ela a esperança de manter vivo um espaço cultural, longe
da corte de Madrid, para onde muitos partiram porque não foram capazes de compreender a
importância de ficar em cortes mais pequenas. Esta obra continua a manter uma enorme
actualidade. Da análise da Corte na Aldeia elegemos alguns temas identificativos das preocupações
de Rodrigo Lobo. Esses temas são:

a) A linguagem
Línguagem falada e escrita – Ele diz que a língua é composta por uma dupla identidade: a oralidade
(elemento fundamental, mais nobre, antiga e excelente) e a escrita (filha da oralidade, é a forma da
oralidade se poder reproduzir, é fundamental para o suporte da língua). Um não pode sobreviver
sem o outro.

Cartas missivas e sua funcionalidade


Aborda os vários tipos de cartas missivas e as suas múltiplas funções. Não deixa de referir o modo
de apresentação das mesmas. Francisco Lobo dá o exemplo de uma carta que tem dois elementos:
o envelope e o suporte da escrita. Pelo envelope percebemos se o individuo domina a língua ou se
é um ignorante (remetente, destinatário e o selo). A forma como nos dirigimos ao destinatário
permite reconhecer se estamos na presença de um ignorante ou de uma pessoa culta. Isto faz
diferença. Em todos os géneros é indispensável usar certos apelativos de acordo com as normas de
cortesia. Estas observações conferem ao emissor o estatuto de homem de Corte

Como deve ser escrita? Aquilo que pode ser escrito com 100 palavras não deve ser escrito com 1000.
Nem 8 nem 80. Não se deve escrever termos técnicos fora de contexto. Não se devem utilizar
estrangeirismos, pois a língua portuguesa não é manca nem coxa. Há uma série de recomendações
que ele faz…. Põe um grande cuidado na escrita, pois aquele que escreve é um privilegiado.

b) O papel da historiografia e o oficio do historiador


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O nacionalismo de Rodrigo Lobo está igualmente presente quanto à sua opção pela história; prefere
uma história verdadeira, a do reino em que viveu e da terra onde nasceu. Este autor contraria os
mitos históricos narrados por certos autores porque, muitas vezes, o que se contava acerca dos
heróis eram tão grandes mentiras, que essas histórias imaginadas não traziam vantagens para os
seus autores. Rodrigo Lobo mostra-nos ser possuidor de um espírito aberto, crítico e atento,
reconhecendo que a actividade do historiador é um ofício importante no contexto da cultura. Neste
aspecto, estamos perante um pensamento pleno de actualidade.

c) A sociabilidade
As relações sociais são um bom exemplo do grau cultural aquirido pelo cortesão. Por isso, Rodrigues
Lobo aponta uma espécie de cartilha de sociabilidade, discorrendo acerca dos vários tipos de
cortesia. Considera mto importante:
 Saber estar à mesa – Se um amigo convida-nos e vamos jantar a casa dele diz que pela forma
como estamos à mesa percebe-se se o individuo tem condição ou não tem condição. Diz que
não se deve comer à bruta; não se deve mostrar demasiado apetite, não se deve beber
exageradamente; não se deve dizer coisas que enojem o estômago enquanto se está à mesa.
 Saber rir é um acto cultural – O riso tb é fundamental. Não se devem dar gargalhadas
exageradas. Cuidado para que as pessoas não pareçam cavalos a rirem-se. O cortesão é o nobre
rural, o qual carrega a responsabilidade de alguma cultura. Riso firme e não mole e afeminado.
 Contacto sóbrio com os eclesiásticos devido à sua condição de guias espirituais.

d) Militares
Os militares, constituem uma das classes dominantes na época, sendo por isso, objecto de reflexão
de Rodrigo Lobo. Lobo sabe que os soldados são necessários mas apresenta-os como as duas faces
de uma mesma moeda. Assim:
 Lado positivo – A criação do exército forja quatro fundamentos: a honra, o rigor, o sofrimento e
a paciência militar e a oportunidade de conhecer várias nações e gentes. Este autor esforça-se
em apresentar um soldado ideal, diferente do soldado castelhano e uma vez que o estado não
pode sobreviver sem exército, torna-se evidente a criação de um código de conduta militar,
susceptível de ser útil em tempo de paz e de guerra.
 Lado negativo – Ele está bem formado qdo sai da academia, o problema é depois, o problema é
que como enviado de guerra comporta-se de forma completamente diferente, o que é execrável
de acordo com o autor. Considera que um exercito teve e tem sp o mesmo comportamento. “A
Milícia é um homicídio comum, uma escola de todos os vícios, um depósito de todos os vadios e
ociosos do mundo (…)”.

e) O papel da Universidade e a crítica aos letrados


Os letrados constituem um grupo preponderante na sociedade portuguesa do primeiro quartel do
séc. XVII. As Universidades funcionam como que o coração dos Reinos. A aprendizagem começa pela
gramática que é para Rodrigo Lobo o primeiro degrau das letras, a porta por onde se entra para as
outras ciências. À gramática sucede a lógica (a arte que ensina a distinguir entre o falso e o
verdadeiro). A lógica segue-se a retórica (a arte que ensina a falar bem e a persuadir os ouvintes).

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Depois vem a poesia e a matemática, em especial a geometria, sendo a astrologia e a filosofia os
percursos seguintes, designadamente a filosofia cristã repartida pela física, ética, economia, política
e a metafísica.

Conclusão – é importante referir o sentido de urbanidade e a actualidade da sua obra.


Este autor morreu afogado qdo ia para Santarém pois não sabia nadar.

2. Padre António Vieira (1609-1697)


Cobre a segunda metade do século XVII. O padre António Vieira deixou um espólio notável ao nível
epistolar: 500 cartas e cerca de 200 sermões, que & confirmam como o maior orador sacro de todos
os tempos. Qdo criança vai para o Brasil, com 6 anos. Estudou nos colégios dos jesuítas. Ouvindo
um sermão do Pe. Manuel Couto, descobriu a sua vocação, e contra a sua família traçou o seu
caminho nesse sentido. É ordenado Padre em 1634. Sendo apresentado a D. João IV imediatamente
se tornou no seu conselheiro favorito e pregador régio. Foi enviado em diversas missões
diplomáticas à Holanda, França e Itália.

Sermão da Sexagésima
António Vieira distingue-se como orador, por isso, os seus sermões veiculam as suas preocupações
quer de natureza religiosa, política, diplomática, missionária, social, literária, entre outras. É no
Sermão da Sexagésima, proferido na capela Real em 1655 que encontramos toda a teoria
sermorária do tempo de António Vieira e daí a importância deste discurso. No Sermão da
Sexagésima, ele critica audaciosamente o papel da igreja na sua missão de conversão dos indígenas:
 Nunca houve tantos pregadores, mas o crescimento da Igreja é nulo. De quem é a culpa do
pouco fruto? Do emissor? Do receptor? A culpa está na forma como se prega. Ele vai explicar
esse falhanço:
o Prega-se palavras e pensamentos e não palavras e obras – Os discursos não são claros e
com um estilo violento e tirânico. Tem que ter uma linguagem simples e clara senão
chateia as pessoas e não tem sucesso. As pessoas não estão incentivadas e ainda por
cima são obrigados a ir. Não é possível que haja crescimento numa instituição se os
membros vão sem interesse nem vontade.
o A forma não era a mais eficaz – colocar num sermão 40 temas não facilita a quem escuta.
Só se devia abordar um tema por sermão. A pregação não passa pq há um atropelar de
matérias dadas no espaço onde só deveria dar-se uma. É um homem pragmático. Basta
reparar nos exemplos da Sagrada Escritura. Toma por isso, o exemplo de Jonas.
o Critica também os pregadores por se servirem do púlpito de forma desprezível como
comediantes, donde resulta que a pregação é uma comédia que se repercute
negativamente nos ouvintes.
 O Sermão da Sexagésima é uma crítica à oratória religiosa da época, atingindo muitos
pregadores eminentes da época que não lhe perdoaram quando o puderam apanhar.

Direitos humanos (Sermão de Santo António aos peixes)

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Outro aspecto com o qual o Padre António Vieira se preocupa são os direitos humanos. Não admite
que uns poucos indivíduos explorem os outros. defende a liberdade e direitos dos indios no Brasil,
alvo de mtas injustiças por parte dos colonos. No Sermão de Santo António aos Peixes, pregado em
S. Luís do Maranhão em 1654, António Vieira assume uma posição de total frontalidade criticando
os vícios dos colonos.
 Não aceite que os senhores do Brasil, os da industria do açúcar se aproveitem e explorem os
outros.
 Critica os oficiais do tribunal, do fisco, os grandes senhores, etc., e cada pessoa que se aproveita
de outra.

“Morreu algum deles homens, vereis logo tantos sobre o miserável a despedaçá-lo e a
comê-lo. Comem-no os herdeiros, comem-no os testamenteiros, comem-no os legatários;
comem-no os credores; comem-no os oficiais dos órfãos e dos defuntos ausentes, come-o o
médico que o curou ou ajudou a morrer; come-o o sangrador que lhe tirou o sangue; come-o
a mesma mulher, que de má vontade lhe dá para a mortalha o lençol mais velho da casa;
come-o o que lhe abre a cova, o que lhe tange os sinos, e os que, cantando, o levam a
enterrar, enfim ainda o pobre defunto o não comeu a terra, e já o tem comido toda a terra

Comentário:
 O sangrador era o cirurgião (barbeiro – limpava a pele; sangrador – que abre e o cirurgião – o
que diz se está bem ou se tem que cortar mais).
 Come-o a mesma mulher, que de má vontade lhe dá para a mortalha o lençol mais velho da casa
– o povo já é pobre, se uma mulher ficasse viúva ficaria pobre por 2ª vez pq ainda tinha menos
subsistência. Assim, ficaria com uma dupla responsabilidade. O “lençol” fazia parte do espólio
que a senhora levava para o casamento para sua própria protecção. “Perder os lençóis” ou a
“roupa de cama” era perder a dignidade humana (hoje, seria como perder o andar…), ou seja,
aqueles aspectos que estavam guardados apenas para situações de necessidade extrema. Isto
significa que numa situação de injustiça quem já era tão pobre tentava safar-se como podia,
cometendo tb injustiças.
 O que lhe tange os sinos – Como é que é possível um cristão, que durante a sua vida deu esmola,
sp participou em todos os actos e que agora ao ser enterrado tenha que pagar? Um dos nossos,
como é possível que tenha que pagar? Por isso, critica estes aspectos, pq a sua preocupação é
precisamente a dignidade humana.
Isto valeu-lhe ser preso. Os próprios jesuítas, tb não gostaram de mtas das suas intervenções.

Condenou o excessivo zêlo da Inquisição defendendo a moderação. Fomentou a união dos Três
Estados: o clero, a nobreza e o povo, em torno do novo monarca D. João IV. Defende uma economia
como os holandeses (com a burguesia a comandar os sectores da actividade económica), mas não
era possível pois a economia possível em Portugal era a economia de guerra.
Foi um homem mto avançado para a sua época, mostrando que não é assim (pela força) que se
convertem os índios ou os judeus… Da para compreender a actualidade destes autores…

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III. O ENSINO: A REFORMA DO MARQUÊS DE POMBAL

1. Antecedentes
O inicio do século XVII corresponde a um boom económico. Alguns booms da sociedade portuguesa:
 1º Boom – Pimenta da índia
 2º Boom – Ouro do Brasil

Depois da paz com Espanha D. João V, vai querer mostrar o nosso valor, querendo reforçar a
sociedade portuguesa. O século XVIII – o século do Iluminismo, da ciência e da técnica, da
experiência e da exegese, das ideias políticas e das revoluções, não tinha eco em Portugal. Assim,
tomou algumas medidas significativas:
 Imposição do poder régio – não é bom que haja um poder fraco. Quem manda e quem
representa Portugal é o rei.
 Animação da política externa portuguesa – estava desactivada pois desde 1640 ninguém
acreditava em nós e por isso sem significado nas nações europeias. Desde o Padre António Vieira
que houve um esforço grande para integrar Portugal na Europa. O certo é que nós não tivemos
qq tipo de reconhecimento. Será com D. João V que surgirá esse reconhecimento, sobretudo
pela questão do Ouro do Brasil. Aquilo que a palavra não convenceu, convenceu as arcas de
ouro oferecidas por D. João V ao Papa.
 Modernização da economia portuguesa – apesar da sua ideia, não foi possível leva-la a cabo,
pois para isso, era preciso mais formação. Ainda hoje se discute se Portugal teve ou não
revolução industrial. Máquinas efectivamente tivemos, mas a revolução mental que a
acompanhava careceu. Não foi possível modernizar Portugal pq faltava pessoas qualificadas
para usar as maquinas e modernizar o campo.
 Modernizar o ensino – para que isso acontecesse era necessário uma grande metamorfose na
sociedade portuguesa, ou seja, a expulsão dos jesuítas que estavam em Portugal desde 1555 até
à data de 1759, qdo foram expulos por Marques de Pombal. D. João V não faz esta reforma pq
entretanto fica hemiplégico. É a própria rainha que pede à nação que rezem pelo seu monarca.
Como os jesuítas tinham tb um importante papel a nível espiritual, não os podia expulsar qdo
lhes estava a pedir que rezassem pelo seu marido.
 Qdo morre D. João V ascende ao trono D. José, seu filho, que vai convidar para seu ministro
Marques de Pombal.

2. O quadro mental dos jesuítas


Os jesuítas na altura estavam parados no tempo em relação a uma europa protestante, mais aberta,
que não era tão dogmática. Estavam parados e obsoletos pois o que se ensinava em 1565 ensina-se
tb em 1690. Por isso, toda a evolução na Europa não estava a ser considerada pelos jesuítas nesta
altura do ensino em Portugal.

Questão da Medicina (crítica aos Jesuítas)


Há algo que sp mexe com todos e por isso, com grande repercussão, a questão da saúde. A medicina
estava parada há 200 anos. Desde o século XV, que na Europa já se faziam autopsias, mas para os

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jesuítas isto era impensável, pois não se podia profanar o corpo. Sendo assim, faziam-se autopsias
com carneiros. Conclusão: na altura havia mto pouco conhecimento do corpo humano em Portugal.

Congregação do oratório (crítica aos jesuítas)


Tb na altura os jesuítas eram criticados pela Congregação do Oratório, pois estes estavam mais
adaptados em questão do ensino, mostrando grande modernidade contraposta à mentalidade
escolástica dos jesuítas. Ensinavam o latim, mas com uma gramática mto mais simples, leve e
pratica. A Gramática simples, os textos actuais para a época, em vez de ensinarem o Latim a partir
da Bíblia tal como faziam os Jesuítas.

3. Luís António Vernei e as suas críticas aos Jesuítas


Um dos maiores opositores aos Jesuítas é Luís António Verney (possivelmente o maior vulto da
cultura portuguesa na época). Verney considerava urgente uma reforma científica e pedagógica da
Universidade de Coimbra. É neste sentido que seria projectado através da sua obra, Verdadeiro
Método de Estudar, em 1746, editada em Nápoles. São 16 cartas, dirigidas a um hipotético docente
da Universidade de Coimbra, onde cada uma é uma verdadeira unidade curricular.

4. A criação da Aula do Comércio


O rei vai criar à volta das actuais faculdades de Economia, a Aula do Comércio (nome da escola) em
1759. Esta escola destinava-se a suprir lacunas graves, na formação daqueles que tinham por
objecto profissional o desempenho de actividades no campo comercial. O motivo é que diante do
desenvolvimento comercial era necessário indivíduos que soubessem fazer a equivalência dos
câmbios das moedas. É preciso gente capacitada para as contas, que saibam fazer inventários. O
curso estava aberto a 20 alunos praticantes, podendo chegar até 30 provindo os outros de
diferentes sectores. Isto era uma reivindicação da burguesia. A idade mínima era 14 anos e tinha
uma duração de 3 anos.

5. Marquês de Pombal
Sebastião José de Carvalho e Melo passou dez anos em Londres e em Viena de Áustria, tempo em
que o futuro marquês de Pombal terá observado, lido, discutido e sobretudo teve tempo para
comparar a Europa culta com o panorama nacional enraizado há séculos em Portugal, tendo como
mola axial a Universidade de Coimbra. Era uma pessoa com mta visão. Vai promover as reformas
considera necessárias. Para isso, julga que não é possível fazer reforma sem qualificar os
portugueses. A educação deve ser para todos, pois é a Nação que lucra com isto. Pode-se dizer que,
no século XVIII tudo mudou, quer do ponto de vista científico quer do ponto de vista político: a
Revolução Americana e a Revolução Francesa são os marcos políticos que mudaram o mundo
europeu e Marques de Pombal era mto sensível a estas mudanças.

6. O Colégio dos nobres


Uma segunda instituição é o chamado Colégio Real dos Nobres, fundado em 1761. Era necessário,
senão imperativo, educar a juventude proveniente da nobreza para a tornar útil ao País. O plano de
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estudos foi influenciado por Antonio Nunes Ribeiro Sanches, que escreve em 1760, uma obra
chamada Cartas Sobre a Educação da Mocidade. No entanto, Marques de Pombal tomou uma base
curricular e programática um pouco diferente. Há matérias que são especificamente da formação
do nobre, mas mtas outras matérias são da área estritamente científica. Assim:
 Diplomacia e temas de cultura geral – O nobre que tinha que tb ser formado na área diplomática,
tinha que ter uma cultura geral em todos estes temas, que na altura eram motivo de conversa.
 Línguas – o diplomata devia ser um individuo bem formado nas línguas. Por isso, primeiro era o
estudo exaustivo da língua vernácula, mas tb do grego e latim pq a nossa cultura deriva da grega
e latina. Depois o italiano e o francês.
 Actividades físicas (dança, esgrima e equitação)

Esta escola não teve um êxito mto longo por falta de professores e corpo docente, ao pouco zelo e
actividades dos mestres cuja pensão era altíssima.

7. A reorganização dos Estudos Menores


Marques de Pombal é indiscutivelmente o primeiro que tem de facto uma visão de Portugal (no sue
conjunto). Considerava que Portugal só poderia desenvolver-se se toda a sua população fosse
escolarizada. É a escola que tem que ir ao encontro do aluno e não o aluno ao encontro da escola.
Por isso, vai conceber a 1ª rede de escolas em Portugal. 529 escolas do ensino primário; 405 escolas
do ensino secundário (com metade da população que temos hoje). Ele tem esta ideia: é necessário
gente formada no seu próprio local.

Ao expulsar os jesuítas, vai ter que por professores no seu lugar; para isso vai ser necessário forma-
los e paga-los. A Direcção-Geral dos Estudos foi incapaz de realizar a tarefa que lhe fora imputada.
Em 5 de Abril de 1768 foi criado um novo instituto – a Real Mesa Censória. Fizeram o levantamento
sociológico, o nº de filhos, para depois criar um ponto imaginário nesse localidade onde todos os
alunos pudessem ir à escola e voltar no mesmo dia, ainda à luz do dia. A unidade geográfica era a
comarca. O novo corpo docente sairia do conjunto dos candidatos que se apresentavam para a
realização de provas. Se de facto esse projecto fosse levado à prática, hoje não estaríamos na
situação em que estamos, estaríamos à frente de toda Europa.

Para sustentar semelhante número de professores foi criado o Subsídio Literário que consistia na
colecta proveniente do imposto de um real por canada de vinho, quatro reis por canada de
aguardente e 160 réis por pipa de vinagre. Obviamente os resultados do imposto variavam das
cidades para o interior, razão pela qual ninguém queria ir para esses lugares.

8. A reforma da Universidade
Os conteúdos programáticos e as práticas pedagógicas dos jesuítas estavam completamente
ultrapassadas. Além disso, era necessário adoptar todo um vocabulário científico e técnico
modernos, ensinar novos e diversificados conceitos. Depois, as críticas demolidoras de Verney e de
Ribeiro Sanches, dois estrangeirados que ridicularizavam a instituição e o que nela se ensinava e
sobretudo quem ensinava. Tudo estava obsoleto. Era necessário acabar, por exemplo, com o

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barbeiro – sangrador, transformado e diplomado em cirurgião pelo simples facto de assistir a uma
ou duas aulas de anatomia tendo por objecto a dissecação de um carneiro!

A ideia de reformar a Universidade de Coimbra foi forjada no seu pensamento ao longo de uma
década. Para a concretização deste passo foi criado um organismo intitulado Junta da Providencia
Literária onde diferentes especialistas fizeram um estudo de cada faculdade e a respectiva proposta
de actualização. Em 8 meses fizeram o seu trabalho e Marques de Pombal apresenta a D. José a
proposta em Agosto de 1771. Possivelmente a sua lógica foi a seguinte: se anunciasse que iria fazer
uma reforma, a resistência seria enorme. Por isso, fez este trabalho no escondido. Em Agosto de
1872, Marques de Pombal, entrega os novos estatutos à Universidade de Coimbra, onde a maior
parte dos antigos docentes foram postos na rua.

Para fazer tantas mudanças, tinha que justificar e explicar socialmente os passos que estava a dar.
É neste sentido que surge, o Compêndio Histórico do Estado da Universidade de Coimbra (não é
preciso saber de cor). É constituído por duas partes e um apêndice onde se fundamenta e justifica
o que se faz, tendo por base uma forte crítica aos jesuítas:
 Dizem que os jesuítas tomavam partido de Filipe II e por isso, são anti-portugueses
 Considera que houve um aniquilamento de 2000 cientistas pelos jesuítas. Os jesuítas
reconhecem o direito de Filipe II, e por isso, se os professores não reconhecessem esse direito,
eram condenados.
 Houveram mtos estragos feitos na medicina pela influencia dos jesuítas – toda a gente sofre e
por isso, toda a gente quer ser curada. Os jesuítas não colaboraram com isto pela questão da
não autorização da autopsia.

O Marquês de Pombal vai mandar construir, para dar apoio à Faculdade Medicina, o Hospital
Escolar, o Teatro Anatómico e o Dispensário Farmacêutico. Para a Faculdade de Matemática, o
Observatório Astronómico. Para a Faculdade de Filosofia, o Gabinete de História Natural, o Jardim
Botânico, o Gabinete de Física Experimental e o Laboratório Químico.

Conclusão
Este plano foi repentinamente suspenso, com a morte de D. José, a 23 de Fevereiro de 1777. Assume
o poder D. Maria, demite o Marques, que foi julgado e condenado a prisão domiciliária. A rainha D.
Maria e com ela a reacção anti-pombalina requer ao reitor a Relação Geral do Estado da
Universidade de Coimbra. Esta era a imagem real da Nova Universidade: Faculdades sem alunos ou
com um número bastante reduzido, o que demonstra a pouca receptividade às novas correntes, ou
a falta de adaptabilidade à mentalidade europeia. O problema é que a sociedade não aceitou a
reforma e qdo a sociedade não aceita a reforma, esta não tem futuro. Sp que um poder hegemónico
luta contra a religião estabelecida não tem sucesso (isto aconteceu na 1ª república, que se
proclamava anti-clerical.

Uma reforma deve ser lenta mas persistente, uma reforma de uma vez só não tem futuro. Por isso,
a sociedade não aceita. Em todo ocaso, a reforma fez vingar entre nós o espírito experimental do

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ensino e, se outros méritos não pudessem ser reconhecidos, restitui-se à Universidade a dignidade
que lhe está implícita: a investigação científica e a sua divulgação.

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