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º 3, CSC
PROF. DOUTOR MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA
Resumo: O disposto no artigo 6.º, n.º 3, CSC tem suscitado algumas dúvidas inter-
pretativas. No texto defende-se que o preceito contém a presunção (de direito) de
que a prestação de garantias a dívidas de terceiros é contrária aos fins da sociedade
garante. Procura-se demonstrar que esta interpretação é a única que é compatível
com parâmetros indiscutíveis na área da distribuição do ónus da prova.
Abstract: There have been doubts on the correct interpretation of Article 6.3
of the Portuguese Companies Code. This text advocates that this rule sets forth a
legal presumption that guaranteeing debts of third parties is contrary to the inte-
rests of the guarantor company. It aims at showing that this interpretation is the
only one compatible with undisputed rules on the burden of proof.
b) Analisado o artigo 6.º, n.º 3, CSC por esta perspectiva, está clara a repar-
tição do ónus da prova que decorre do preceito:
Não se nega que, em certos regimes legais, a pessoa que praticou o acto
pode vir a invocar a sua invalidade. Exemplo típico: o maior pode invocar,
durante um certo prazo após atingir a maioridade, a invalidade dos actos que
praticou enquanto menor (artigo 125.º, n.º 1, al. b), CC). Supõe-se, no entanto,
que não há nenhuma analogia com a situação de uma sociedade garante: esta
sociedade não tem nenhum tempo de menoridade e não muda, com o tempo,
a sua capacidade de discernimento. É por isso que não tem sentido permitir à
sociedade um venire contra factum proprium, admitindo que ela possa vir a negar a
validade do que ela própria praticou.
A solução legal é, como já se acentuou, completamente outra. O artigo 6.º,
n.º 3, CSC estabelece a regra de que a prestação da garantia a uma dívida alheia
é contrária aos fins da sociedade. Isto é um ponto de partida que a lei impõe (e
não algo que constitua objecto de prova); logo, o que pode constituir tema de
prova é o contrário deste ponto de partida, como se vai procurar demonstrar.
5. Em suma:
– O artigo 6.º, n.º 3, CSC contém uma norma que se destina a proteger a
sociedade (inclusivamente, da actuação dos seus próprios órgãos);
– Esta protecção espelha-se no plano probatório, dado que essa norma
estabelece a presunção de que a prestação de garantias a dívidas alheias é
contrária aos fins da sociedade;
– Esta presunção pode ser ilidida por um terceiro, mediante a prova de que
a sociedade garante tem justificado interesse na prestação da garantia ou
de que se trata de uma sociedade em relação de domínio ou de grupo;
– Qualquer outra interpretação do disposto no artigo 6.º, n.º 3, CSC é
contrária a parâmetros indiscutíveis na área da distribuição do ónus da
prova.