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S-Qualis

Educação Pesquisa e Tecnologia


Dados I nt er naci onai s de Cat al ogação na Publ i cação ( CI P)
( Câmar a Br as i l ei r a do Li vr o, SP, Br as i l )

Lopes , Ot ávi o Sér gi o


Si mpl i f i c ando a Der mat o [ l i vr o el et r ôni c o] / Dr .
Ot ávi o Sér gi o Lopes , Cat ar i na Nóbr ega Lopes . - -
J oao Pes s oa, PB : Chama o Der mat o : I nf oEduc , 2021.
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Bi bl i ogr af i a
I SBN 978- 65- 994927- 1- 6

1. Der mat ol ogi a 2. Der mat ol ogi a - As pec t os


es t ét i c os 3. Der mat ol ogi a - As pec t os genét i c os
4. Pel e - Anat omi a 5. Pel e - Cui dados e hi gi ene
6. Pel e - Saúde I . Lopes , Cat ar i na Nóbr ega.
I I . Tí t ul o.

21- 67691 CDD- 616. 5


NLM- WR 100
Í ndi ces par a cat ál ogo s i s t emát i co:

1. Der mat ol ogi a : Medi c i na 616. 5

Mar i a Al i c e Fer r ei r a - Bi bl i ot ec ár i a - CRB- 8/ 7964

Produção:

S-Qualis
Educação Pesquisa e Tecnologia

Editoração:

João Pessoa
2021
SIMPLIFICANDO A DERMATO
Apresentação............................................ 5

Introdução................................................ 6

Capítulo I: Manchas da Pele........................... 7


MANCHAS:......................................................................... 7
PINTAS:............................................................................. 7
SARDAS:...........................................................................10
MANCHAS SENIS:................................................................11
PÚRPURA SENIL:.................................................................11
LEUCODERMIA PUNTUADA:....................................................12
LENTIGO SIMPLES:..............................................................13
LENTIGO MALIGNO:.............................................................14
MELASMA:........................................................................15
MELANOSE PERIORBITÁRIA FAMILIAR (OLHEIRAS):........................16
VITILIGO:..........................................................................17

Capítulo II: Doenças Infecciosas da Pele ......... 18


INFECÇÕES BACTERIANAS:....................................................18
IMPETIGO:........................................................................18
FURÚNCULO:.....................................................................19
ERISIPELA:........................................................................20
INFECÇÕES POR FUNGOS:.....................................................21
PITIRÍASE VERSICOLOR (PANO BRANCO)....................................24
CANDIDOSE.......................................................................25
INFECÇÕES VIRAIS...............................................................26
HERPES SIMPLES:................................................................26
HERPES ZOSTER.................................................................28
VERRUGA VULGAR:..............................................................29
CONDILOMA ACUMINADO.......................................................29
MOLUSCO CONTAGIOSO........................................................30
PARASITOSES.....................................................................31
ESCABIOSE........................................................................31
TUNGÍASE (BICHO DE PÉ)......................................................33
LARVA MIGRANS (BICHO GEOGRÁFICO, GERME DE CACHORRO)........33
PIOLHO............................................................................34

3
Capítulo III: Acne...................................... 35
ACNE (ESPINHAS)................................................................35
TRATAMENTO ....................................................................38

Capítulo IV: Doenças Sexualmente Transmissíveis .40


GONORREIA.......................................................................40
SÍFILIS.............................................................................41
CANCRO MOLE...................................................................42

Capítulo V: Doenças Eritemato-Descamativas... 44


PSORÍASE.........................................................................44
IMPACTO PSICOSOCIAL DA PSORÍASE:.......................................45
TRATAMENTO: ..................................................................45
DERMATITE SEBORREICA.......................................................46
DERMATITE ATÓPICA............................................................47

Capítulo VI: A Pele e o Sol........................... 48


RADIAÇÕES SOLARES...........................................................48
EFEITOS BENÉFICOS DA RADIAÇÃO SOLAR..................................49
CÂNCER DE PELE E SOL........................................................51
CARCINOMA BASOCELULAR....................................................52
CARCINOMA ESPINOCELULAR.................................................53
MELANOMA.......................................................................54
FILTROS SOLARES...............................................................55

REFERÊNCIAS:.......................................... 56

4
Apresentação
Este livro se destina ao leigo que ama o conhecimento e ao público de paramédicos que, por estar
em contato com pacientes, precisa ter o conhecimento mínimo dos vários órgãos humanos. A pele
é o maior órgão do corpo humano e as doenças dermatológicas estão entre as mais frequentes
entre todas as faixas etárias, da infância à senectude. Este livro não tem a pretensão de propor
tratamentos ou esmiuçar alguma doença em específico, ele pretende levar o conhecimento
necessário para que o leitor possa identificar algumas doenças mais frequentes da pele e fazer o
devido encaminhamento em tempo adequado.

5
Introdução
A pele é um dos órgãos vitais do corpo humano, tão importante quanto o coração, o pulmão,
o fígado, os rins ou o cérebro. Não é possível sobreviver sem a nossa pele, um exemplo disso
é verificado na prática médica diária, quando nos deparamos com os grandes queimados, cuja
mortalidade vai aumentando de acordo com a extensão da área de tecido acometida.

A pele, por ser um órgão de alta complexidade, com inúmeras funções, a exemplo de manter a
homeostasia1, é uma das responsáveis pelo equilíbrio do nosso organismo. Para entender como ela
realiza tais tarefas, precisamos enumerar as suas funções, sendo elas:

• Proteção física às agressões do meio ambiente;


• Barreira contra a entrada de micro-organismos;
• Manutenção da temperatura do corpo;
• Síntese de vitamina D e de alguns hormônios, entre outras.

A pele é também nossa apresentação para o mundo, nosso melhor cartão de visita. A beleza física
do ser humano passa, inexoravelmente, pela integridade da sua pele. Por isso, o cuidado se faz
necessário em todas as idades e quanto mais cedo temos essa consciência, melhor será o resultado
no futuro. Sabemos que o envelhecimento precoce, formação de lesões pré-malignas e até mesmo
surgimento de vários tipos de cânceres de pele são frutos da má alimentação, tabagismo, uso de
drogas, associada à negligência à exposição solar, principalmente na 1ª e na 2ª décadas de vida.

A dermatologia é uma especialidade muito complexa porque ainda desconhecemos muitas das suas
propriedades fisiopatológicas frente às doenças, principalmente no que diz respeito à interação do
sistema imunológico e às células da pele. Além desse cenário proporcionado pela incompreensão,
ainda temos os vários espectros das doenças dermatológicas, tanto do ponto de vista clínico quanto
do anatomopatológico. Tendo em vista que a maioria das doenças de pele não tem repercussão
interna, para o seu diagnóstico, o dermatologista geralmente utiliza-se de biópsia cutânea2. A
biópsia está para o dermatologista assim como a radiografia está para o pneumologista (nem
sempre esclarece, mas ajuda muito).

A biópsia, por ser um procedimento simples, não apresenta riscos para integridade física do
paciente, quando é realizada por profissional habilitado. O paciente não precisa ter medo de
passar por esse procedimento. É importante entender que a biópsia não é sinônimo de câncer.
A intenção deste livro é trazer ao leitor esclarecimentos a respeito de assuntos como envelhecimento
cutâneo, câncer de pele e doenças infecciosas. É um manual prático que vai tentar, de forma
simples, sem linguagens rebuscadas ou excessivamente técnicas, descomplicar alguns temas.

1 Homeostasia: O termo se refere ao equilíbrio entre todos os componentes que compõe os


órgãos.
2 Biópsia cutânea: Ato cirúrgico que consiste em colher um fragmento de pele para análise mi-
croscópica das células
6
Capítulo I: Manchas da Pele
MANCHAS:
Manchas são alterações da coloração da pele. Elas são classificadas de acordo com a cor, tamanho,
bordas e localização. Como veremos, muitas doenças têm seu diagnóstico estabelecido pelo
padrão de sua cor, que podem ser pretas, brancas (Figura 1), vermelhas, roxas, etc. Falaremos
agora sobre as principais alterações da pele onde a mancha é a lesão elementar mais importante.

Figura 1: Manchas brancas, acrômicas3, comprometendo cabeça e tronco.


Fonte: acervo pessoal do autor.

PINTAS:
As pintas também são chamadas de “sinais”, que podem ser planas ou elevadas, e sua coloração
varia do castanho claro ao negro. O tamanho também é variável, de poucos milímetros a vários
centímetros. Podem comprometer qualquer área da pele, até mesmo as mucosas4. O aparecimento
dessas lesões pode acontecer em qualquer fase da vida (Figura 2), desde o nascimento até a
velhice (Figura 3 e Figura 4), com grande influência genética no seu surgimento, a exemplo do
nevo5 melanocítico congênito presente na coxa da artista Angélica.

3 Acrômicas: Mancha branca marmórea, resultado da perda total de melanina.


4 Mucosa: O tecido superficial das cavidades, boca, nariz e genitais.
5 Nevo: Termo dado ao acúmulo de um determinado tipo celular na pele ou mucosas, por exem-
plo, nevo melanocítico, acúmulo de células de melanócitos
7
Figura 2: Múltiplos nevos melanocíticos congênito, aparece desde o nascimento.
Fonte: acervo pessoal do autor.

Figura 3: Um tipo especial de nevo, com halo vitiligoide em sua volta. Isso caracteriza uma reação imunológica
contra o nevo.
Fonte: acervo pessoal do autor.

Figura 4: Mancha debaixo da unha, situação relativamente comum nas pessoas de pele negra, mas também devemos
ficar atentos para possibilidade de melanoma debaixo da unha.
Fonte: acervo pessoal do autor.
8
A importância dessa alteração reside no fato de que um tipo de câncer de pele chamado melanoma
pode surgir a partir dessas “inocentes” pintas. Algumas características são consideradas cruciais
quando julgamos uma pinta com potencialidade de malignização como: pessoas com múltiplas
pintas (Figura 5), histórico familiar ou pessoal de câncer de pele, pintas nas extremidades (pés,
mãos e embaixo das unhas) (Figura 6), pintas de grandes dimensões (nevo melanocítico gigante),
que estão mudando de cor (Figura 7), coçando ou ferindo.

Figura 5: Nevo melanocítico congênito na fase adulta, ele pode evoluir com crescimento de pelos.
Fonte: acervo pessoal do autor.

Figura 6: Nevo melanocítico congênito, na fase adulta evoluindo com crescimento de inúmeras pápulas.Fonte:
acervo pessoal do autor.

9
Figura 7: Múltiplos nevos melanocíticos, alguns com aspecto displásico (alterações de cor, assimétrica e diâmetro
maior que 1cm), o que expressa risco de desenvolver melanoma.
Fonte: acervo pessoal do autor.

SARDAS:
É necessário que pessoas de qualquer tipo de pele, clara ou escura, conscientizem-se da necessidade
de se autoavaliar e, percebendo qualquer alteração nas suas pintas, procurem esclarecimentos
com seu dermatologista. Ele, além de dispor de seu olho experiente, tem equipamentos que
possibilitam enxergar detalhes que não são vistos a olho nu.

As sardas, também chamadas de efélides, são lesões enegrecidas, cuja coloração varia do castanho
claro ao negro, seu tamanho e forma são variáveis, mas, de uma maneira geral, essas lesões são
ovais, medem até 5mm e comprometem apenas as áreas expostas ao sol (face, dorso, braços, e
região anterior do tórax) (Figura 8).

Figura 8: Múltiplas sardas no dorso. Observem que há uma lesão totalmente diferente das demais, sugestiva de
melanoma.
Fonte: acervo pessoal do autor.
10
São classificadas como lesões benignas por só trazerem prejuízo estético. O fato de indivíduos
gostarem dessas marcas demonstra o caráter subjetivo da questão. Os ruivos são os que mais sofrem
com o seu aparecimento devido à predisposição genética. Não há necessidade de tratamento, mas,
se quisermos preveni-las, a proteção contra a radiação solar é um pré-requisito indispensável, o
que pode ser feito com bloqueadores solares (protetor solar). É importante termos em mente que
pessoas predispostas às sardas não conseguem bronzeamento e se queimam com muita facilidade
estando, também, propensas a desenvolverem câncer de pele.

MANCHAS SENIS:
Manchas senis são as lesões de pele que surgem com a velhice. Elas podem ter sua gênese ligada ao
envelhecimento e tempo de radiação solar, como, por exemplo, as púrpuras senis, que aparecem
em uma idade mais avançada ou pela negligência no cuidado da pele ao longo dos anos, como as
melanoses solares, leucodermia puntuada e o lentigo maligno.

PÚRPURA SENIL:
Púrpura senil (Figura 9) mancha vermelha violácea, às vezes com aspecto enegrecido, de tamanho
e forma muito variados, podendo ser de alguns milímetros até vários centímetros e que surge
principalmente nos membros superiores. Decorre de traumas ocasionalmente imperceptíveis sobre
a pele atrofiada, o que deixa seus vasos sanguíneos vulneráveis. Esta lesão é totalmente benigna,
não tendo nenhuma conotação de gravidade. Todavia, algumas vezes, é necessário diferenciá-la
das púrpuras por alteração da coagulação. O tratamento pode ser feito com aplicação tópica de
vitamina K, mas com resultado variável.

Figura 9: Púrpura senil, fragilidade capilar cutânea.


Fonte: acervo pessoal do autor.
11
LEUCODERMIA PUNTUADA:
Lesão bastante frequente, branca, variando do discreto até o totalmente sem cor (acrômico). O
tamanho da lesão é variável, desde um pequeno ponto até alguns centímetros, todavia as menores
lesões são mais prevalentes. O local mais comum são os membros (Figura 10), acometendo áreas
onde houve exposição solar continuada. Estas lesões às vezes precisam ser diferenciadas de outras
disfunções, como o vitiligo e pitiríase versicolor (pano branco).

Figura 10: Leucodermias solares, manchas brancas pontuadas no braço.


Fonte: acervo pessoal do autor.

O tratamento pode ser feito com nitrogênio líquido e técnicas de dermoabrasão6, o que pode ser
bastante satisfatório.

6 Dermoabrasão: Ato de abrasar a pele com uma lixa, tem a finalidade de tratar as imperfei-
ções da superfície da pele, como rugas, cicatrizes e manchas
12
LENTIGO SIMPLES:
É uma lesão benigna muito frequente, que acomete as pessoas geralmente a partir dos 40 anos.
Tem como característica clínica ser uma mancha castanha, ovalada, bem delimitada e que
surge nas áreas de fotoexposição (Figura 11). Apesar de ser antiestética, é uma doença de fácil
tratamento, tendo como pilar a fotoproteção rigorosa que pode ser associada à criocauterização,
laser, dermoabrasão e eletrocauterização.

Figura 11: Lentigo Simples, também chamado de melanose solar.


Percebam os pequenos pontos pretos no dorso das mãos.
Fonte: acervo pessoal do autor.
13
LENTIGO MALIGNO:
Apesar de ser uma lesão de natureza maligna, trata-se de uma forma inicial de um câncer de pele
chamado melanoma cutâneo. Seu aspecto é de uma mancha, cuja coloração varia do castanho ao
negro (Figura 12) e, muitas vezes, na mesma lesão identificamos tons da cor escura. Comprometendo,
preferencialmente, a face. Sua forma também é muito variável, mas a superfície é sempre lisa.
Apresentar-se lobulada, ou mesmo com feridas, é um forte indicador de câncer avançado. A
evolução dessa mancha é lenta e não há sintomatologia associada com o avanço da lesão, fato que
pode protelar a visita do paciente ao consultório dermatológico. A informação é uma ferramenta
importante na prevenção de quase todas as formas de cânceres, o reconhecimento por parte do
paciente evita o avanço da doença.

Figura 12: Lentigo maligno (mancha mais escura), a mancha enegrecida, exibindo múltiplas cores e assimetria. As
menores e mais claras são lentigos simples.
Fonte: acervo pessoal do autor.
14
MELASMA:
Melasma, também chamado cloasma, é uma mancha escura, cujo tom varia do castanho claro
ao castanho escuro (Figura 13), tendo forma e tamanho bastante diversificados. Compromete
predominantemente as mulheres, durante o período de gravidez, ou as que estão usando
anticoncepcionais. A face é o local com maior incidência de acometimento. Manifestando-se nos
homens com menor frequência, em ambos os sexos essa alteração nunca é sinal de gravidade e o
único incômodo é a estética desagradável.

Figura 13: Melasma, percebam a mancha acastanhada na região malar.


Fonte: acervo pessoal do autor.

A causa dessas manchas é um aumento da sensibilidade dos melanócitos7à radiação solar,


seguramente influenciada por alterações hormonais. Diante disso, é perceptível que para tratarmos
essa mancha é indispensável a proteção rigorosa contra as radiações, sobretudo o espectro de
luz ultravioleta A e parte da luz visível, dando preferência aos protetores solares com cor. Como
forma de tratamento, podemos ainda associar drogas despigmentantes, como a hidroquinona, e
lançar mão dos recursos estéticos, como os lasers.

7 Melanócitos: Célula da pele que produz a melanina, pigmento que confere cor escura a pele
15
MELANOSE PERIORBITÁRIA FAMILIAR (OLHEIRAS):
As olheiras são alterações da pigmentação que ocorrem nas regiões periorbitárias (em volta do
olho) (Figura 14) de pessoas com a predisposição familiar. Essa pigmentação fica mais intensa em
situações de estresse físico, como noites maldormidas, trabalhos noturnos, uso excessivo de bebida
alcoólica ou outras drogas. Apesar de não se compreender na totalidade a formação da melanose
periorbitária familiar, estudos apontam para um defeito vasomotor localizado exclusivamente
nessa área.

Figura 14: Olheira.


Fonte: acervo pessoal do autor.

O tratamento ainda é um desafio para a medicina, entretanto atualmente utiliza-se substâncias


como vitamina C ou vitamina E tópicas, com resultados bastante variados. Outro recurso é a
utilização do laser de Rubi, apresentando resultado satisfatório. Enxerto de gordura, preenchimento
e microagulhamento são outras alternativas aplicadas.

16
VITILIGO:
Doença que pode comprometer qualquer pessoa em qualquer idade e tem como seu grande
estigma, manchas totalmente brancas (Figura 15), que surgem em qualquer parte do corpo,
desde os órgãos genitais até o couro cabeludo. Elas podem ser localizadas ou comprometer áreas
extensas (e até toda a pele). A causa desse distúrbio ainda é desconhecido, todavia sabemos da
participação do sistema imunológico na destruição descontrolada das células responsáveis pelo
pigmento (melanócitos). Outro fator de grande importância é, ocasionalmente, sua associação
com outras doenças autoimunes, como tireoidite, diabetes e lúpus.

Figura 15: Múltiplas manchas acrômicas, vitiligo.


Fonte: acervo pessoal do autor.

É válido ressaltar que, muitas vezes, o vitiligo tem seu surgimento coincidindo com grandes
traumas emocionais, sendo salutar a importância da saúde orgânica, psicológica e espiritual no
equilíbrio geral do ser humano.

Por causa da não aceitação do quadro clínico, esta enfermidade pode desencadear impactos
emocionais bastante variados, desde distúrbios leves de ansiedade à depressão grave. Este
contexto pode ocorrer devido a dois aspectos: a desinformação, tanto em relação ao paciente
como no que se refere à população, e a pouca disponibilidade de tratamento. Os pacientes
sentem-se rejeitados e estigmatizados, por isso é essencial trabalhar questões psicológicas para
o sucesso terapêutico. O médico precisa passar segurança, confiança e dedicação para o paciente
e familiares, oferecendo-se não só como profissional, mas como alguém disposto a ajudá-los a
compreender e conduzir a questão.

A evolução desse distúrbio é muito imprevisível: podemos ter quadros que se arrastam por anos
com pouca resposta ao tratamento e outros que evoluem com a cura completa. Existem vários
métodos de tratamento, que vão desde o uso de drogas exclusivamente tópicas até a cirurgia
com implante de melanócito, mas o tratamento principal continua sendo a fototerapia. Cuidado!
Apesar das muitas especulações em relação ao vitiligo, sobretudo do ponto de vista terapêutico,
sempre escute seu dermatologista. Lembre-se: seu médico deve ser uma pessoa que você confiou
o tratamento, seu amigo.
17
Capítulo II: Doenças Infecciosas da
Pele
INFECÇÕES BACTERIANAS:
Aqui, elencamos as mais frequentes infecções da pele: bacterianas, virais, fúngicas e parasitárias.
Essas doenças são tão frequentes que, dificilmente, encontramos um adulto que nunca tenha tido.

IMPETIGO:
O impetigo (Figura 16) é uma erupção de bolhas de tamanhos variados, com conteúdo purulento.
O número de lesões, de poucas a centenas, envolve qualquer área do corpo (até a sua totalidade),
sendo comum em crianças (Figura 17), mas também compromete adultos. Os sintomas associados
são geralmente discretos: coceira, mal-estar leve e, às vezes, febre, apesar de também poder
desenvolver um quadro infeccioso sistêmico grave.

Figura 16: Impetigo, percebam as inúmeras pústulas comprometendo axila.


Fonte: acervo pessoal do autor.

18
Figura 17: Impetigo em sua forma clássica, presença de crostas amareladas na face de criança.
Fonte: acervo pessoal do autor.

Por ser uma infecção bacteriana, os estreptococos8 são os principais agentes, o tratamento depende
da extensão das lesões, mas é sempre com antibióticos, que podem ser de uso local ou sistêmico.
A doença renal, secundária a esta enfermidade, chama-se glomerulonefrite pós-estreptocócica,
podendo levar a quadros tão graves como a insuficiência renal crônica, confirmando-nos a
importância de um diagnóstico correto e um tratamento eficaz.

FURÚNCULO:
Furúnculo é uma infecção bacteriana da estrutura pilosa9, causada por Staphylococcus aureus.
Acomete, preferencialmente, adultos jovens e caracteriza-se por nódulo vermelho-violáceo
(Figura 18) centrado por pelo. É bastante doloroso e compromete, em especial, áreas de atrito
com roupas, podendo ser único ou vários, chamado, neste caso, de furunculose. Habitualmente, o
tratamento é simples e requer apenas a terapia tópica; outras vezes pode ser difícil, em especial
nos quadros de furunculose, que tendem a retornar apesar da terapêutica correta.

8 Estreptococos: são bactérias em forma de cocos gran Positivas aeróbicas que causam inúmeras
doenças, como as infecções de pele, pneumonia, amidalite e outras
9 Estrutura pilosa: Local por onde sai os pelos.
19
Figura 18: Furúnculo, nódulo, centrado por ponto necrótico10 e halo de eritema11.
Fonte: acervo pessoal do autor.

Acredita-se que o Staphylococcus, responsável por essa doença, habita as fossas nasais e região
perianal, levando a recomendação profissional ao paciente de uso medicamentoso nessas áreas.
Um fato de grande importância nas crises dessa doença é a presença do portador, que convive
de forma mais íntima com o doente e é contaminado, porém não tem a expressão do furúnculo,
então o tratamento bem-sucedido passa também pelo tratamento do portador.

ERISIPELA:
Erisipela é uma doença de natureza bacteriana que compromete a região mais superficial da
pele, pode atingir qualquer local do corpo e tem como sítio mais comum as pernas. O quadro
pode ser de fácil tratamento, mas também pode ser gravíssimo, levando até à morte por infecção
generalizada. Muitas bactérias podem provocar a erisipela, porém a mais frequentemente
envolvida nesse processo é o Streptococcus, habitante natural da nossa flora cutânea. Quando há
uma solução de continuidade (úlceras, fissuras, arranhões, frieiras, etc.), elas invadem o interior
da pele desencadeando a erisipela.

Os sintomas são: febre, mal-estar, calafrios, dor moderada à intensa na perna, surgimento
de mancha vermelha extensa, que evolui com edema e surgimento de bolhas (Figura 19). A
antibioticoterapia sistêmica é necessária para cessar o processo infeccioso, podendo ser via oral,
intramuscular ou intravenosa. Repouso é um ponto importante no tratamento.

10 Ponto necrótico: Área desvitalizada, sem suprimento sanguíneo.


11 Halo de eritema: Mancha vermelha em volta de uma estrutura.
20
Figura 19: Erisipela bolhosa, a lesão é bastante dolorosa e cursa com febre e calafrios.
Fonte: acervo pessoal do autor.

Uma pergunta frequente: “Já tive erisipela, sou portadora?” MITO!

Uma vez tratada corretamente, extinguimos a doença. Porém, o indivíduo é susceptível à


reinfecção, ou seja, a erisipela voltará caso encontre um ambiente favorável.

Existe um quadro mais profundo de infecção, muito parecido com a erisipela, o qual chamamos
de celulite e não se relaciona com a gordura localizada, também conhecida como celulite. Trata-
se de infecção dos planos mais profundos da pele, mas de caráter mais localizado. Pode ser ou
não acompanhada por febre e requer tratamento com antibióticos sistêmicos para seu efetivo
controle e cura.

INFECÇÕES POR FUNGOS:


Também chamadas de micoses, os fungos são estruturas de natureza microscópica que, quando se
aglomeram, formam estruturas visíveis a olho nu. No meio ambiente, temos centenas de espécies
de fungos como o mofo, que surge nos locais úmidos. Além disso, há várias espécies que provocam
doenças em seres humanos e animais, algumas, inclusive, atingem a ambos. Assim, podemos nos
contaminar com os animais, com a terra e com outras pessoas.

Os fungos são micro-organismos que podem ser responsáveis por doenças graves, como
paracoccidioidomicose (infecção fúngica que pode comprometer tanto a pele como todos os
órgãos internos), criptococose (pode afetar pele, pulmão e cérebro), aspergilose (pode atingir
pele e vários órgãos internos) e micoses superficiais. Neste livro, abordaremos apenas as micoses
superficiais, pois são as doenças fúngicas mais frequentes e são as afecções dermatológicas de
maior incidência no mundo.

21
Dessa forma, as micoses superficiais se caracterizam por comprometer a camada mais superficial
da pele, as unhas e os cabelos. Chamamos de Tinea corporis (Figura 20), se a doença acomete
o tronco (Figura 21) e os membros, Tinea pedis, quando atinge os pés, Tinea cruris, ao afetar a
região inguinal, Tinea capitis (Figura 22), se atinge o couro cabeludo, e Tinea manus, quando há
comprometimento das mãos.

Figura 20: Tinha do corpo (Corporis), lesão vermelha com crescimento periférico e tendendo a cura central.
Fonte: acervo pessoal do autor.

Figura 21: Tinha Corporis, máculas eritematosas circinadas no tronco de uma criança.
Fonte: acervo pessoal do autor.

22
Figura 22: Tinha capitis, placas de alopecia e inflamação no couro cabeludo.
Fonte: acervo pessoal do autor.

Caracterizadas por placas vermelhas descamativas, que crescem centrifugamente, deixando o


centro com aspecto normal, podem ser de vários tamanhos e formas e, quando não tratadas
ou tratada incorretamente, por exemplo, com corticoides, podem assumir grandes extensões.
Um ponto importante são os diagnósticos diferenciais, cujas lesões podem ser confundidas com
doenças como: hanseníase, vários tipos de eczemas, psoríase e outras mais.

Além disso, é oportuno destacar o quanto os cuidados com a higiene local (enxugar os pés após o
banho) são fundamentais para prevenir as micoses dos pés. O tratamento das micoses superficiais
se faz tanto com drogas sistêmicas como com drogas tópicas, a escolha depende da região
comprometida e da extensão da área atingida.

Para micose do couro cabeludo, faz-se necessário sempre utilizar medicação oral, pois com
medicações tópicas o índice de cura é muito baixo. As onicomicoses (micoses das unhas) (Figura
23) têm uma terapêutica por vezes difícil, resposta lenta às medicações tópicas – que podem ser
usadas desde que a área afetada da unha seja inferior a 50% – o tempo de tratamento deve ser
por volta de 4 meses. Em comprometimento mais extenso, é necessário o uso de medicação oral,
geralmente, por até 6 meses.

23
Figura 23: Onicomicose no halux (dedão), perceba mancha branca e descamação embaixo da unha.
Fonte: acervo pessoal do autor.

PITIRÍASE VERSICOLOR (PANO BRANCO)


A pitiríase versicolor é chamada de pano branco porque a principal forma de apresentação da
doença é com manchas brancas que descamam finamente quando tracionada a pele. Sendo
infrequente em crianças, em geral, esse fungo habita o couro cabeludo (sua melhor área de
crescimento), pois é rico em gordura, e, por ter muita umidade, estabelece um ambiente ótimo
para a disseminação no restante do corpo, principalmente tronco (Figura 24) e braços.

Figura 24: Pitiríase versicolor, notar manchas castanhas múltiplas descamativas no tronco.
Fonte: acervo pessoal do autor.

Usualmente, o tratamento dessa enfermidade é feito com medicações tópicas à base de esfoliantes
e antifúngicos. As medicações orais também são indicadas quando o quadro for muito extenso.

24
CANDIDOSE
Em nossa pele e em algumas mucosas, como a da boca e a genital, habita, naturalmente e
sem causar doença, um micro-organismo denominado Candida albicans. Todavia, pessoas com
algum tipo de deficiência imunológica (imunodeficientes), como portadores da AIDS, diabetes
descompensada e pacientes em uso de drogas que agridem o sistema imunológico, podem
desenvolver, por meio desse micro-organismo, doença grave ou crônica. É importante ressaltar,
porém, que a presença de candidíase não expressa necessariamente problema grave do sistema
imune. A doença pode acontecer, por exemplo, por uma alteração no equilíbrio da flora cutânea,
como ocorre em pacientes que usam antibióticos de largo espectro e têm, como consequência, a
infecção por cândida.

Em bebês é muito comum a candidíase oral, chamada de “sapinho” e às vezes não precisa
de tratamento. Entretanto, nos adultos, a candidíase oral pode denunciar doença grave de
imunodeficiência (como a AIDS), com expressão clínica de placas brancas aderidas em toda mucosa
oral e, ainda, pode comprometer as áreas de dobras (Figuras 25 e 26) e as unhas. Naquela, é
expressa como área vermelha, úmida, bastante pruriginosa e, nesta, observamos inchaço em sua
volta e unhas brancas distróficas.

Figura 25: Candidíase, perceba a mancha vermelha macerada na virilha e lesões satélites na periferia.
Fonte: acervo pessoal do autor.

25
Figura 26: Candidíase na criança, local frequente desta infecção.
Fonte: acervo pessoal do autor.

O tratamento, algumas vezes, requer a melhora da doença de base, quando está ligada à
imunodeficiência, como em um paciente diabético descompensado. É imprescindível o controle
da glicemia para o sucesso no tratamento da cândida, o qual pode ser feito com antifúngicos
tópicos e/ou sistêmicos.

INFECÇÕES VIRAIS

HERPES SIMPLES:
A herpes simples (Figura 27) é causada pelo Herpes virus (bastante comum no meio ambiente)
que provoca o herpes labial e o herpes genital (Figura 28). Há dois tipos de herpes: o tipo I, que
compromete preferencialmente os lábios, e o tipo II, que atinge em especial os órgãos genitais.

26
Figura 27: Herpes simples, uma mancha vermelha (eritema) encimada por vesículas agrupadas.
Fonte: acervo pessoal do autor

Figura 28: Herpes genital, pequenas feridas agrupadas na região peniana.


Fonte: acervo Dr Edilson Pinheiro Egyto.

A doença é caracterizada pela formação de pequenas bolhas de bases eritematosas (vermelhas)


tanto nos lábios quanto nos órgãos genitais, que retornam com certa frequência, variando entre
pacientes. A primeira crise de herpes pode vir acompanhada de febre e intenso mal-estar e as
crises subsequentes não apresentam sintomas gerais, apenas no local podemos ter sensação de
queimação ou coceira precedendo o aparecimento da bolha.

27
Vale salientar que as crises de herpes surgem após alguns fatores desencadeantes como o
sol, no herpes labial; o ato sexual traumático, no herpes genital; e as situações que levam à
imunodepressão, como trauma emocional, infecções e algumas drogas. O meio de diagnóstico
é eminentemente clínico, todavia, em algumas situações é necessário recorrermos aos meios
laboratoriais, a exemplo da biópsia com anatomopatologia e reações sorológicas para herpes.

Até o momento, não dispomos de recurso terapêutico definitivo para a cura dessa doença. Um
fato curioso: herpes simples é uma infecção viral comum, para a qual 99% da população adulta já
adquiriu imunidade na infância e na adolescência, tendo infecção subclínica (assintomática) ou
um único episódio, obtendo resistência ao vírus para toda a vida.

HERPES ZOSTER
Apesar do nome desta doença, Herpes Zoster (Figura 29), ela não se relaciona com o herpes
comentado anteriormente, trata-se de outra enfermidade, provocada pelo herpes vírus varicela
zoster, que durante a nossa infância e adolescência provoca a catapora (varicela). Na 5ª década
de vida em diante, quando nosso sistema imunológico tem uma queda, este vírus recrudesce
provocando o H. Zoster, quanto mais extensa for a infecção do zoster mais frágil está nosso
sistema imunológico.

Figura 29: Herpes zoster com sua distribuição típica, segue o trajeto do nevo intercostal.
Fonte: acervo pessoal do autor.

O diagnóstico dessa doença é baseado iminentemente nos aspectos clínicos, devemos ficar atentos
para não o retardar, pois é importante para a boa condução terapêutica. O quadro, geralmente,
começa com dor, por vezes, tão intensa que simula algumas doenças mais graves. Depois de alguns
dias, surgem manchas vermelhas que se distribuem no trajeto de um nevo e, logo depois, surgem
pequenas bolhas (vesículas) sobre as manchas.

O tratamento dessa situação sempre será com medicações orais à base de aciclovir e seus derivados
(valaciclovir e Fanciclovir).

28
VERRUGA VULGAR:
Verruga vulgar (Figura 30) é muito comum nas crianças. O agente etiológico é o HPV (papiloma
vírus humano, do inglês Human Papiloma Virus), um vírus de DNA que está ligado também ao
condiloma acuminado, Infecção Sexualmente Transmissível (IST). As verrugas são classificadas
em verrugas vulgares, as que acometem crianças e adultos jovens e as verrugas genitais, ou
condilomas, que têm forte relação com cânceres genitais em mulheres e homens.

Figura 30: Localização muito comum da verruga vulgar, apresenta minúsculos pontos enegrecidos na superfície.
Fonte: acervo pessoal do autor.

O tipo vulgar de verruga pode comprometer qualquer área, mas as extremidades são mais
frequentemente atingidas, inclusive as mucosas e debaixo das unhas. A característica clínica dessa
doença se apresenta por pequenas elevações (pápulas), de superfície “caspenta” (ceratósica) e
com alguns pontos escuros acima, podendo se apresentar isolada ou em grande número, ao ponto
de centenas.

Já a gravidade do condiloma acuminado reside na extensão e no fato de sabermos que muitos tipos
de HPV são vírus oncogênicos (com capacidade de provocar câncer). Existem diversas maneiras
de tratar as verrugas e quase todos possuem uma receita para isso, porém a maioria é puro
folclore. Do ponto de vista científico, o tratamento está alicerçado sobre dois pilares: melhorar a
imunidade, com possível uso do sulfato de zinco em doses altas; e fazer a cauterização, que pode
ser elétrica, química e por congelação com nitrogênio líquido, sendo as duas últimas opções com
melhores resultados.

CONDILOMA ACUMINADO
A verruga genital (Figura 31), condiloma acuminado, conhecida popularmente por crista de galo
(devido à sua aparência com a crista dessa ave), é uma doença bastante frequente, que acomete
ambos os sexos, com uma incidência maior nos homens. O período de incubação12 varia de 2
semanas a 10 meses e apresenta graves repercussões sociais de saúde pública, tendo em vista
que há uma relação íntima entre o condiloma acuminado e o aparecimento de cânceres de colo
de útero e de pênis. Quando não tratada, ou tratada inadequadamente, pode levar a grande
destruição da região genital, tanto do homem quanto da mulher.

12 Período de incubação: Tempo que o microrganismo leva no corpo do hospedeiro antes de ini-
ciar os sintomas da doença.
29
Figura 31: Condiloma acuminado gigante, provocado por HPV oncogênico.
Fonte: acervo Dr Edilson Pinheiro Egyto.

Suas características clínicas são a presença de verrugas genitais nos homens e nas mulheres,
tendo um espectro amplo de apenas uma a centenas ou milhares de lesões. Infelizmente, nem
todos os pacientes exibem uma lesão verificável sem o uso de lentes ou instrumentos ópticos, e,
nesses casos, precisamos fazer uma penioscopia ou vulvoscopia. Tais procedimentos consistem na
aplicação de ácido acético na região a examinar, tornando brancas as áreas que têm a doença,
mas ela ainda não está visível a olho nu. Esses exames são fundamentais no diagnóstico desses
tipos de pacientes e também como critério de cura.

Geralmente, não há sintomas associados. Todavia alguns pacientes reclamam de coceira. As regiões:
anal, perianal e retal também podem ser acometidas, principalmente em homens homossexuais.
O tratamento depende da extensão do quadro, mas costuma ser feito através de aplicações de
ácidos, eletrofulguração, criocauterização com nitrogênio líquido e fulguração com laser de CO2.
Cada caso deve ser avaliado de forma criteriosa para que se indique a melhor opção.

MOLUSCO CONTAGIOSO
Molusco contagioso (Figura 32) trata-se de uma infecção viral caracterizada por pequenas pápulas
(bolinhas) da cor da pele, que acomete principalmente tronco e raiz dos membros, sendo muito
comum nas crianças. Alguns pacientes apresentam coceira associada, a qual tem potencial para
provocar escoriações e infecção secundária. O tratamento pode ser a simples observação, pois
com o tempo as lesões somem, ou fazer uma curetagem (raspagem) de todos os moluscos, mesmo
assim, é uma infecção com recidiva frequente.

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Figura 32: Molusco contagioso, múltiplas pápulas no tronco.
Fonte: acervo pessoal do autor.

PARASITOSES

ESCABIOSE
A escabiose (Figuras 33 e 34) é uma doença provocada por um micro-organismo da família
dos aracnídeos (esses microrganismos possuem tal nomenclatura por parecem uma aranha
microscópica). O parasita que infecta o homem é chamado de Sarcoptes scabiei var hominis, por
ser própria do ser humano, mas existem também a catis, canis e outras. Quando essas outras
espécies comprometem o homem, o quadro clínico é muito localizado. Já no caso da Sarcoptes
scabiei var hominis, principalmente quando ela atinge pessoas imunodeficientes e/ou com higiene
precária, temos uma extensa variedade de situações graves, até coceira leve nas áreas típicas da
escabiose, como nádegas, abdome inferior, axilas, região mamária e dorso das mãos.

31
Figura 33: Escabiose, lesões pápulo escoriadas, bastante pruriginosas.
Fonte: acervo pessoal do autor.

Figura 34: Escabiose, forma nodular, bastante pruriginosa.


Fonte: acervo pessoal do autor.

O diagnóstico dessa enfermidade é, na maioria das vezes, estabelecido clinicamente, mas


pode ser necessário recorrer à pesquisa direta do micro-organismo na pele ou fazer uma prova
terapêutica. Atualmente, dispõe-se de medicação oral para tratar essa doença o qual requer três
medidas importantes: primeiro, o paciente deve usar a medicação corretamente; segundo, mudar
as roupas da cama e lavá-las no dia seguinte ao uso da medicação; e terceiro, tratar as outras
pessoas do domicílio da mesma forma.

32
TUNGÍASE (BICHO DE PÉ)
Conhecida popularmente como “bicho de pé”, a tungíase é provocada também por um micro-
organismo da família dos aracnídeos, uma pulga chamada de Tunga penetrans. O nome popular da
doença deixa óbvia a preferência pelos pés, mas qualquer parte do corpo pode ser infestada. Nas
crianças é comum observarmos comprometimento das nádegas e até mesmo região perineal13, já
que os pequenos se divertem brincando em áreas potencialmente contaminadas e sem os cuidados
básicos de higiene.

As pessoas ao andarem descalças nos locais com sombra nas praias e pocilgas podem ter a penetração
dessas pulgas na superfície da pele, pois esse é o seu habitat preferencial. Provocando, depois
de alguns dias, uma(s) bolinha(s) amarela(s) centrada(s) por um ponto preto (pápula de aspecto
amarelado centrado por um ponto enegrecido), com bastante coceira. O tratamento é feito com
a retirada das lesões e deve ser realizado por uma pessoa capacitada, em ambiente limpo e com
material esterilizado. Quando o quadro é muito extenso, pode ser utilizado um antiparasitário,
ivermectina, de uso oral. Vale salientar que a tungíase pode ser “porta de entrada” para doenças
bastante graves, como a erisipela e o tétano.

LARVAMIGRANS (BICHO GEOGRÁFICO, GERME DE CACHORRO)


A larva migrans (Figuras 35 e 36) é uma doença causada por um verme do gênero Ancylostoma que
infecta cachorro e gato, tendo, nesses animais, seu ciclo biológico completo, ou seja, penetra
pela pele dos animais, vai à corrente sanguínea, pulmão e, finalmente, intestino, completando
o ciclo. No ser humano esse verme não consegue penetrar na corrente sanguínea, ficando só na
superfície da pele, local onde faz um túnel de formas variadas, bastante pruriginoso.

Figura 35: Larva Migrans, percebam as lesões de distribuição linear, serpiginosa.


Fonte: acervo pessoal do autor.

13 Região perineal: Região em volta do ânus.


33
Figura 36: Larva Migrans, local mais comum do acometimento desta doença.
Fonte: acervo pessoal do autor.

Ainda que seja autolimitada, pois morre caso não conclua seu ciclo biológico em aproximadamente
30 dias, devemos tratá-la, devido ao grande incômodo da coceira local e pela vulnerabilidade de
ser “porta de entrada” de algumas infecções secundárias, como impetigo, erisipela e celulite.
O tratamento pode ser feito com comprimidos anti-helmínticos a exemplo do albendazol e da
ivermectina, oral ou em forma de pomadas, ainda podendo utilizar a compressa de gelo ou
aplicação de nitrogênio líquido.

PIOLHO
O piolho é uma parasitose bastante frequente também, principalmente em crianças, mas pode
afetar qualquer idade. Existem basicamente três espécies de piolhos que comprometem os
humanos, o Pedicullus capitis, o qual causa o piolho do couro cabeludo, o Pedicullus corporis,
responsável pelo piolho do corpo, e o Phytirus púbis, que origina o piolho na região genital. Todas
as formas de piolho têm um sintoma comum: a coceira no local de acometimento e a capacidade
de transmitirem bactérias que provocam doenças em outros órgãos. O tratamento é sempre
necessário e é feito com parasiticidas tópicos, permetrina, ou sistêmico, como a ivermectina.

34
Capítulo III: Acne
ACNE (ESPINHAS)
A acne (Figuras 37, 38 e 39) é uma das enfermidades mais comuns da dermatologia nos adolescentes
e adultos jovens, sendo a principal causa de consulta dermatológica nessa fase da vida. Pode ser
uma entidade patológica muito simples e fácil de tratar, como na maioria dos casos, todavia,
podem haver ocorrências graves, cursando com cicatrizes perversas e, em uma situação extrema,
a acne fulminante, que pode comprometer a vida (mas, são raras).

Figura 37: Acne comendônica ou grau I.


Fonte: acervo pessoal do autor.

35
Figura 38:Acne pápulo-pustulosa ou grau II..
Fonte: acervo pessoal do autor.

Figura 39:Acne conglobata ou grau IV..


Fonte: acervo pessoal do autor.

36
A acne atinge qualquer idade, desde o lactente até os idosos, mas a adolescência, disparadamente,
é a fase em que mais acontece. Do ponto de vista físico, a acne pode deixar sequelas e cicatrizes
às vezes de grande relevância. Psicologicamente, pode trazer consequências dramáticas para o
jovem, pelo grau de severidade clínica das cicatrizes e aceitação da doença. Casos de suicídio
em adolescentes têm sido atribuídos à acne grave, a qual deixa o rosto deformado, levando-os
a um quadro depressivo importante (PEREIRA, 2018). O impacto no adolescente pode ser muito
adverso, tanto a curto como a longo prazo, pois, nessa fase, o jovem está vivendo uma verdadeira
revolução do ponto de vista físico e mental e, quase sempre, não está preparado para enfrentar
as dificuldades que a genética impõe.

É uma doença de causa multifatorial, ou seja, não há um único agente a motivá-la, mas alguns que
se somam, dando como resultado final a acne. Para entendermos como se estabelece, é necessário,
antes de tudo, que montemos em nossa mente a imagem anatômica da estrutura pilossebácea.
É fácil! Basta olhar de perto a sua pele e logo vocês verão várias estruturas puntiformes: são os
poros! De todos eles saem pelos. Na face, eles são tão minúsculos, que não vemos a olho nu. Desses
poros, além dos pelos, emana uma substância oleosa chamada de sebo, um material produzido
por uma glândula sebácea, encontrada ao lado do folículo piloso. O sebo é muito importante para
manter nossa pele sempre lubrificada, tem efeito também de barreira à perda de água e contra
micro-organismos. A quantidade de sebo secretado por essas glândulas varia de pessoa a pessoa e
depende da estimulação hormonal.

Como fatores causais, temos a ação dos hormônios masculinos aumentando a produção de sebo,
e, provavelmente, intensificando a produção de células dentro do folículo. Assim, esse processo
leva à obstrução das estruturas pilosas, que são vistas externamente como os comelões (cravos).
A invasão desses folículos por uma bactéria chamada Propionibacterium acnes, acarreta um
processo inflamatório, que é percebido por uma pápula eritematosa, cuja evolução termina em
uma pústula ou até mesmo no abscesso14.

Diante disso, devemos entender que todo o mecanismo de agressão da acne ocorre ao nível da
unidade pilossebácea, ou seja, folículo piloso (estrutura por onde sai o pelo) e glândula sebácea
(secretando sebo dentro do folículo piloso). O rosto, as costas e a região anterior do tórax são os
locais que têm uma maior quantidade de glândulas sebáceas e por isso são áreas de predileção
em todas as idades.

É na adolescência, influenciada pela secreção hormonal e por fatores genéticos, que as glândulas
sebáceas começam a funcionar e se observa a obstrução dos folículos pilosos, condicionada por
uma produção exagerada de células em seu interior. Obstruídos, os folículos podem ser invadidos
pela bactéria P. acnes que, por sua vez, agem sobre o sebo, resultando em ácidos graxos livres,
irritantes para a estrutura folicular. Nesse contexto, é promovida uma reação inflamatória bem
característica da acne: as pápulas eritematosas (vermelhas). Esse cenário não aconteceria se o
folículo não tivesse sido obstruído por grande quantidade de queratina (substância secretada pela
pele, que faz parte de sua camada mais superficial), gerando os cravos. Dessa forma, concluímos
que se não tivermos formação de cravo, não teremos acne. Guarde bem essa frase, pois vai ser
muito importante para o tratamento.

O exposto acima como causa de acne se refere à acne clássica do adolescente. Todavia, temos
alguns outros tipos de acne, cuja causa é um pouco diferente da primeira. Por exemplo, a acne
neonatal, que acomete bebês do nascimento até o terceiro mês de vida, é provocada por hormônios
maternos transferidos pela placenta que, quando totalmente metabolizados pelo fígado do bebê,
resultam na melhora da acne por volta do 3º mês.

14 Abscesso: Lesão infecciosa, marcada por acumulo de pus, dor e calor no local afetado, quan-
do se rompe, drena secreção amarelada, amarelosanguinolenta.
37
A acne cosmética é provocada pelo uso de produtos bastante oleosos que obstruem os poros,
mostrando melhora quando se suspende a aplicação. Alguns medicamentos podem agravar e até
mesmo desencadear quadros de acne, como exemplos: corticoides, vitaminas do complexo B,
iodetos, etc.

A alimentação também é um ponto importante. Não há provas conclusivas que relacionem


determinados alimentos ao desenvolvimento ou piora da acne, mas percebemos que alguns deles,
como chocolate, frituras e condimentados, acentuam esse cenário. Assim, nos posicionamos contra
a ingestão desses itens quando o paciente refere agravamento do seu quadro. Em contrapartida,
muitos pacientes não expressam qualquer piora com a ingestão desses alimentos, então, para
eles, não fazemos esse tipo de restrição.

TRATAMENTO
O tratamento da acne será estabelecido de acordo com sua classificação:

Acne não inflamatória:

1º. Acne comedônica ou grau I: caracteriza-se pela grande quantidade de cravos, quase que
exclusivamente.

Acne inflamatória:

2º Acne pápulo-pustulosa ou grau II: apresenta além dos cravos, pústulas (vesículas com pus) e
pápulas (elevação vermelha firme).

3º Acne nódulo-abscedante ou grau III: além do descrito anteriormente, adicionam-se cistos


(lesões maiores que as pápulas e mais profundas) que na involução podem deixar sequelas graves
do ponto de vista estético, cicatrizes.

4º Acne conglobata ou grau IV: é a forma nódulo-cística bastante deformante do ponto de vista
estético.

5º Acne fulminante ou grau V: mostra-se como a forma mais grave (e rara). Não abordaremos seu
tratamento, para não fugirmos do interesse deste livro.

Uma vez estabelecida a classificação, podemos abordar a terapêutica a partir de medicações de


uso tópico e/ou sistêmico. As medicações de uso tópico reservam-se ao tratamento das acnes
grau I e II, já as drogas de uso sistêmico (oral), como os antibióticos (tetraciclinas, minociclina,
limeciclina, azitromicina, entre outros) e isotretinoína, prestam-se ao tratamento dos outros
tipos de acne, associadas às medicações tópicas.

O livro não tem o propósito de prescrever tratamentos, até porque a melhor escolha da medicação
só pode ser feita a partir de uma consulta com seu dermatologista, mas enumeramos algumas
medicações usadas nas respectivas fases.

1º Acne comedônica ou grau I: Podemos fazer tratamento tópico com retinoides (tretinoina),
antimicrobianos (peróxido de benzoíla,) e ácido salicílico, de maneira isolada ou em combinação.
Recursos adicionais são: a limpeza de pele, o peeling, a crioterapia e a microdermoabrasão, entre
outros.

38
2º Acne pápulo-pustulosa ou grau II:
• Leve: pode-se fazer o tratamento tópico e complementar, como feito no grau I.
• Moderada: seguir para tratamento tópico e complementar ou administrar antibióticos orais,
como a tetraciclina, doxiciclina, minociclina, entre outros.
• Severa: Uso de medicação tópica mais as medidas complementares e uso de antibióticos
orais.

3º Acne conglobata ou grau IV:


• Moderada: Nesta fase, sempre consideramos a utilização de isotretinoina, desde que não
haja nenhuma contraindicação, lembrando, também, da importância de fazer uma pesquisa
hormonal nas mulheres.
• Severa: Isotretinoína associada ou não a corticoide sistêmico e/ou antibióticos sistêmicos,
menos as tetraciclinas, devido ao risco de efeitos colaterais graves.

A isotretinoína (Roacutan) mudou a história natural dos pacientes com acne, trouxe uma
verdadeira revolução na resposta terapêutica deste distúrbio, mas também foi muito falsamente
propagada como uma droga com efeitos colaterais severos e difícil de usar, contudo o tempo e o
uso corriqueiro desfizeram este mal-entendido. Quando os exames pré-tratamento estão normais
e não há possibilidade de gravidez, esta medicação é extremamente segura.

Como última mensagem para os portadores de acne: tenham paciência, não alimentem falsas
expectativas quanto ao tratamento, a resposta de cura clínica acontece dentro de alguns meses
e a chance de cura completa é muito grande.

39
Capítulo IV: Doenças Sexualmente
Transmissíveis
GONORREIA
Conhecida como pingadeira, a gonorreia (Figura 40) trata-se, na verdade, de uma infecção
bacteriana que acomete frequentemente a uretra das pessoas que fazem sexo com parceiros
contaminados com a Neisseria gonorrhoeae. Tem por característica clínica, depois de um período
de incubação de 3 a 10 dias, o aparecimento de secreção purulenta saindo do meato urinário,
acompanhada de ardor, às vezes intenso, à micção. Nas mulheres é possível termos um quadro
assintomático.

Figura 40: Gonorreia, secreção purulenta, e bastante ardor ao urinar.


Fonte: acervo Dr Edilson Pinheiro Egyto.

Na maioria das vezes, no homem não é necessário nenhum exame para diagnóstico, pois o quadro
clínico é muito característico, mas, na dúvida, podemos realizar a pesquisa direta e cultura
bacteriana do material colhido. Já no sexo feminino, faz-se necessária a pesquisa da bactéria nas
secreções da endocérvice (fundo vaginal), porém a bactéria pode atingir qualquer área do corpo.
Nos homossexuais, é comum a contaminação do reto, provocando a chamada proctite gonocócica
e também a faringite gonocócica que podem ser bastante graves. Na mulher grávida, há uma
atenção especial para o momento do parto, porque esta pode ser a ocasião para a contaminação
do recém-nascido, podendo levá-lo à cegueira.

O tratamento é sempre feito com antibióticos via parenteral15 ou oral, com orientação pertinente
do seu médico.

15 Via parenteral: São estruturas por onde injetamos medicamentos, tais como, via intramuscu-
lar, intravenosa, via subcutânea e outras.
40
SÍFILIS
A sífilis é uma doença milenar que acomete muitas pessoas no mundo todo. Na era pré-antibiótica
podemos chamá-la como a AIDS da época, pois era temida, mas também muito negligenciada e,
por isso, matou milhares de pessoas. Na verdade, essa doença teve sua disseminação por volta
da época dos descobrimentos, período em que os grandes navegadores, levados pelo espírito
aventureiro, fizeram consideráveis descobertas geográficas e, por outro lado, tiveram contato
com enfermidades até então desconhecidas.

É uma doença bacteriana, provocada pelo Treponema pallidum, cujo período de incubação é
de 4 a 6 semanas. Na dermatologia, costumamos chamá-la de “a grande imitadora”, pois sua
apresentação clínica pode imitar quase todas as doenças dermatológicas. Entretanto, na maioria
das vezes, seu diagnóstico não é de difícil execução. A primeira manifestação dessa doença é
chamada sífilis primária (Figura 41) e se caracteriza pelo surgimento de uma pequena lesão elevada,
endurecida e encimada por uma úlcera, em geral indolor, localizada preferencialmente no pênis
e acompanhada de um gânglio na virilha. Essa lesão pode involuir de modo espontâneo ou se
transformar, depois de 30 dias, na chamada sífilis secundária (Figura 42). Assim, as características
clínicas da sífilis secundária são muito variadas, mas a pele ainda continua sendo o maior alvo de
agressão: espessa, avermelhada (infiltrada) e difusamente comprometida.

Figura 41: Cancro duro, forma primária da sífilis.


Fonte: acervo Dr Edilson Pinheiro Egyto.

41
Figura 42: Sífilis secundária, lesões papulosas infiltradas (avermelhadas) disseminadas por todo corpo.
Fonte: acervo pessoal do autor.

Ambas as fases são bastante contagiosas, contudo, até mesmo sem tratamento, a fase de sífilis
secundária cura-se espontaneamente e pode levar o paciente a uma situação de sífilis latente, ou
seja, assintomática. Dessa forma, sem o paciente expressar qualquer queixa, a doença evolui até
que, em algum momento, um teste sorológico seja realizado ou se manifeste a sífilis terciária,
última fase do distúrbio (e também a mais grave). Neste ponto, ela pode comprometer desde a
pele até o sistema cardiovascular e sistema nervoso central, deixando sequelas irreversíveis ou
ocasionando a morte.

O diagnóstico da sífilis passa então por duas condições:

1ª. A suspeita clínica deve ser levantada no momento em que vemos o paciente.

2ª. Suspeita clínica confirmada laboratorialmente.

Como vimos, o indivíduo com sífilis primária apresenta uma ferida em seu órgão genital
(principalmente) e, assim sendo, procedemos com o colhimento de secreção dessa ferida para
pesquisa direta do treponema, no microscópio de campo escuro. No primeiro momento, o exame
sorológico geralmente é negativo, porém, no segundo instante, o teste sorológico é bastante
esclarecedor, como também na fase tardia. O exame sorológico solicitado geralmente é o VDRL
(Venereal Disease Research Laboratory) e o FTA- ABS (Fluorescent Treponemal Antibody Absorption).
O tratamento é sempre realizado com antibióticos sistêmicos por via parenteral ou via oral, sendo
as penicilinas as drogas de escolha. Quando existe alguma contraindicação, pode-se utilizar outros
antibióticos, como a eritromicina e as tetraciclinas.

CANCRO MOLE
Chamada de cancroide e/ou cancro venéreo, é uma doença venérea muito parecida com a sífilis
primária quanto ao aspecto clínico inicial, porém é menos frequente. O agente etiológico dessa
doença é uma bactéria Gram negativa, chamada Haemophilus ducreyi, cujo período de incubação
é muito curto, de 2 a 4 dias.

42
A lesão característica é uma úlcera de bordas finas, dolorosa, fundo limpo, podendo ser única, mas
geralmente é múltipla, comprometendo principalmente os órgãos genitais de homens e mulheres.
No entanto, pode ser inoculada em qualquer área do corpo que entre em contato com os fluídos
contaminados.

Assim, quando todo cortejo sintomático está presente, não há dificuldade diagnóstica, mas, como
nem sempre é tão objetivo, podemos nos valer da ajuda laboratorial, pela pesquisa direta da
bactéria na ferida. O cultivo dessa bactéria é realizado em um meio de cultura chamado de
Thayer-Martin, o qual é desprovido de antibióticos, tornando-se pouco acessível para a maioria
dos laboratórios.

O tratamento deve ser efetivado de preferência com antibióticos por via oral ou via sistêmica e,
mais uma vez, prescrito por profissionais com conhecimentos integrados, dado que uma terapêutica
mal feita, sem a cura do paciente, pode levar a complicações graves do indivíduo e do seu (a)
parceiro (a).

43
Capítulo V: Doenças Eritemato-
Descamativas
PSORÍASE
A psoríase (Figuras 51 e 52) é uma enfermidade bastante frequente, acomete a pele e as
articulações, atinge cerca de 1% a 3% da população brasileira e mundial. Estima-se, só no Brasil,
algo em torno de 5 milhões de psoriásicos. Você pode se perguntar: “Então se é tão frequente,
por que eu não conheço uma pessoa com essa doença?” Simples, é porque o espectro clínico dessa
doença vai desde pequenas placas nos cotovelos, imperceptíveis a maioria das pessoas, até o
comprometimento do corpo inteiro. É uma doença crônica, atinge ambos os sexos, pode aparecer
em qualquer idade, contudo é mais frequente na terceira e quarta década de vida.

Figura 51: Psoríase grave, comprometendo 80% do corpo.


Fonte: acervo pessoal do autor.

44
Figura 52: Psoríase leve, localizada nos cotovelos, local mais comum de acometimento.
Fonte: acervo pessoal do autor.

A causa desta doença permanece desconhecida, apesar do avanço da medicina. É uma doença
multifatorial, com parcela importante de participação da genética, do sistema imunológico e de
algum antígeno ambiental. Nos últimos anos, os dermatologistas pesquisadores desvendaram muito
do processo inflamatório envolvido nesta enfermidade. Tal fator possibilitou o desenvolvimento de
inúmeros medicamentos, que desligam pontos chaves deste complexo sistema, o que resultou em
um salto gigante no controle da doença.

A psoríase é marcada por erupções eritemato-escamosas (vermelhas descamativas), que


compromete principalmente as dobras flexurais (cotovelos e joelhos), mas pode comprometer
qualquer área do corpo até mesmo a região genital. Lembramos que o couro cabeludo é um local
bastante frequente de acometimento, e algumas vezes é confundida com Dermatite Seborreica
(caspa).

O diagnóstico é quase sempre fundamentado no aspecto clínico, mas a biopsia da pele com análise
histopatológica pode e deve ser feita, quando o dermatologista achar importante para exclusão
de outras doenças que parecem com a psoríase.

IMPACTO PSICOSOCIAL DA PSORÍASE:


Esta doença tem forte impacto no bem-estar de seus portadores, alguns estudos demonstram que
na psoríase grave os índices de qualidade de vida são tão ruins como os doentes renais crônicos,
os hepatopatas e cardiopatas graves. O dermatologista deve olhar com particular atenção para a
qualidade de vida destes pacientes e não medir esforços para devolver a sua alegria e o seu bem-
estar.

TRATAMENTO:
O tratamento da psoríase é bastante variado e vai desde o uso de medicações tópicas, fototerapia
e até o uso de drogas injetáveis, que têm a capacidade de desligar alguns dos componentes
do processo inflamatório. O dermatologista escolhe o método curativo, principalmente, levando

45
em consideração a extensão do quadro. Por ser uma doença crônica é comum que os pacientes
passem por vários tipos de tratamento. Em João Pessoa, dispomos de toda tecnologia para tratar
a psoríase, e quase todos disponíveis na rede pública, com exceção, da fototerapia, que só tem
disponível em clínica particular e credenciadas aos convênios. A fototerapia é a terapêutica de
primeira escolha nos casos de psoríase moderada à grave.

DERMATITE SEBORREICA
A dermatite seborreica (DS) (Figura 53) é um distúrbio de um amplo espectro clínico que vai desde
descamações finas no couro cabeludo (capas), a forma mais frequente, até quadro de vermelhidão
e descamação que envolve cabeça, face e tronco. Ela pode ser assintomática ou apresentar prurido
bastante desconfortável, observamos com grande frequência que os pacientes com DS também
apresentam grande oleosidade. Este distúrbio, quando intenso, pode levar a graves consequências
psicológicas. A etiologia dessa condição ainda está desconhecida, contudo sabe-se da participação
de um fungo, o Pitirosporum ovalle, na piora do quadro.
O tratamento pode ser feito com xampus que combatam o fungo e diminuam a secreção sebácea,
como também use de cremes, géis ou loção à base de corticoides.

Figura 53: Dermatite seborreica acometendo orelha e raiz dos cabelos.


Fonte: acervo pessoal do autor.

46
DERMATITE ATÓPICA
A dermatite atópica (Figura 54) trata-se de uma doença alérgica, muito frequente na faixa
pediátrica, caracterizada por coceira e manchas vermelhas no corpo, principalmente nas dobras
dos cotovelos e joelhos. Pode ser uma doença leve ou apresentar formas severas, com graves
prejuízos psicossocial e familiar. Ela se inicia, geralmente, na primeira infância e melhora após 7
anos, contudo, a doença pode se prolongar pela fase da adolescência e da vida adulta.

O diagnóstico geralmente é clínico, mas precisamos solicitar exames gerais e de imunidade que
ajudam na condução do caso. O tratamento, quando a doença é leve, é feito com medicações tópicas
à base de corticoides e de hidratantes, nas formas mais extensas pode ser indicado medicação
imunomoduladora de alta complexidade, onde requer grande experiência do dermatologista.

Figura 54: Dermatite atópica comprometendo os membros superiores e abdome.


Fonte: acervo pessoal do autor.
47
Capítulo VI: A Pele e o Sol
RADIAÇÕES SOLARES
As radiações solares compreendem um espectro de ondas eletromagnéticas (Figura 43) emitidas
pelo Sol (Figura 44) que são carreadas de certa quantidade de energia, chamadas de fótons,
apresentando-se maior quanto menor for seu comprimento de onda. Por exemplo: a luz visível
(cujo comprimento de onda varia de 400nm a 700nm) tem uma baixa quantidade de energia, desta
forma, sua interação com a matéria biológica é de pouco impacto, pelo menos do ponto de vista
patológico. O Sol emite outras ondas eletromagnéticas, como raios cósmicos, gama e até raios X,
que são absorvidas completamente pela atmosfera terrestre e não serão discutidas neste livro.

Figura 43: Ilustração da radiação solar e seus comprimentos de onda.


Fonte: Google Imagens.

48
Figura 44: Mostra a radiação incidente na superfície da Terra.
Fonte: Google Imagens.

Assim, das radiações emitidas, 37% correspondem à luz visível (do vermelho ao violeta), 60% à
radiação infravermelha (as ondas de calor) e 3% a radiações ultravioleta (UV). O espectro luminoso
possui papel fundamental para o homem no que diz respeito à visão e ao relógio biológico,
que controla o horário de secreção de diversos hormônios. As ondas de calor têm um cargo
importantíssimo na manutenção da temperatura na Terra e nos efeitos biológicos relacionados
diretamente a esta função.

Levando em consideração seu comprimento de onda, a radiação UV pode ser dividida em UVC
(comprimento de onda de 200nm a 280nm), UVB (comprimento de onda de 281nm a 320nm) e
UVA (comprimento de onda de 320nm a 400nm). Os raios UVC são todos absorvidos pela atmosfera
terrestre, principalmente pela camada de ozônio, por isso não chegam à superfície da Terra. Os
outros dois espectros de radiação atingem a superfície do planeta e têm grandes efeitos biológicos.
Sabe-se que a relação entre as radiações UVA/UVB ao meio-dia mostra-se 100/1, ou seja, para
cada 100 UVA, temos 1 UVB, entretanto, a pouca quantidade de radiação UVB é suficiente para
provocar na pele desprotegida grandes traumas agudos e crônicos, dependendo da cor da pele e
do tempo de exposição. Como e por qual motivo acontecem esses traumas?

Para responder a essa pergunta, é preciso lembrar o que falamos anteriormente dos fótons.
Para que esta energia tenha seu efeito biológico, algumas substâncias da pele, chamadas de
“cromóforos”, devem absorvê-la. Os cromóforos geralmente são constituintes das células, do DNA,
ou do espaço intercelular, proteínas. Uma vez absorvida a energia, teremos seus efeitos, como
eritema (queimadura solar), bronzeamento e formação de vitamina D3. Com efeito cumulativo,
ao longo de anos, vemos a formação de rugas, lesões pré-malignas e até mesmo alguns tipos de
cânceres de pele.

EFEITOS BENÉFICOS DA RADIAÇÃO SOLAR


Existe uma dependência direta ou indiretamente da radiação solar, tornando-a imprescindível
para a vida na Terra. Nesse sentido, a luz e a plena harmonia fisiológica dos seres convivem de
49
maneira íntima. As plantas, por exemplo, utilizam-na na fotossíntese, meio pelo qual produzem
oxigênio; o equilíbrio do corpo dos animais é regulado pela radiação solar, no que trata da secreção
de centenas de substâncias; e os seres humanos necessitam da luz para o funcionamento do seu
relógio biológico e para a síntese de vitamina D. Há pessoas que experimentam uma sensação de
bem-estar quando o dia está ensolarado, o que se relaciona à ação da luz sobre o sistema nervoso
central, através dos olhos. O bronzeamento também é um efeito benéfico e será comentado
adiante, assim como o espessamento da pele.

A síntese de vitamina D3 (colecalciferol) faz-se através da pele por uma reação fotoquímica que
envolve o colesterol como substrato. Porém, não é só a pele a fonte desta vitamina, a dieta pode
ser parte importante devido à ingestão de vitamina D2 (ergocalciferol), encontrada ricamente em
vários suplementos alimentares. Em relação à atividade biológica, as duas são equivalentes, pois
ambas precisam passar pelo fígado e depois pelos rins para serem ativadas e, assim, agirem ao
nível do intestino, aumentando a absorção de cálcio.

Para as mulheres na menopausa, cuja incidência de osteoporose aumenta bastante com o avançar
da idade, os médicos não dermatologistas recomendam, como parte do tratamento, banhos de sol
diários, com o objetivo de aumentar a formação de vitamina D3 pela pele. Já os dermatologistas,
não aconselham banhos de sol de modo indiscriminado, para todos, pelo risco de complicações
como cânceres de pele, sendo a suplementação de vitamina D3 uma das alternativas de nossa
preferência.

Dermatologistas que orientam o paciente a não tomar sol de forma nenhuma, sob o argumento
de que sua pele é bastante sensível ao sol, incorrem no mesmo equívoco do exagero relatado
anteriormente, salvo nas doenças de pele que cursam com fotossensibilidade, como lúpus
eritematoso, albinismo, xeroderma pigmentoso e outras.
É desnecessário tentar passar a ideia de que a radiação solar é uma vilã, tendo em vista que com
certeza colheremos bons frutos se soubermos entender sua grandiosidade. Certo dia, em meu
consultório, escutei a história de uma paciente que há mais de três anos não ia à praia, porque
tivera um CBC (tipo de câncer de pele) na face. A paciente vivia bastante angustiada e isto é
um exagero. Existem vários bloqueadores solares com eficácia perto dos 100% para a radiação
incidente na nossa pele. O Brasil, mais precisamente o Nordeste, é ensolarado praticamente o ano
inteiro, as atividades de recreação acontecem quase sempre ao ar livre, então não devemos nos
privar desses encantos, mas sim nos protegermos.

BRONZEAMENTO
O bronzeamento é uma resposta fisiológica de escurecimento da pele, dada quando o indivíduo se
expõe às radiações ultravioleta (UVA, UVB). Buscando minimizar o efeito agressivo destas radiações,
a pele começa a escurecer logo após, ou tardiamente, à exposição. Esse rápido escurecimento,
que se deve à oxidação da melanina armazenada na pele, é chamado de bronzeamento imediato ou
fenômeno de Meirowsky. Nas peles mais escuras, observamos esse efeito de modo mais intenso. Já
o bronzeamento tardio, provocado pela UVB, decorre da produção de melanina pelos melanócitos,
sendo notado geralmente a partir do 3° dia e podendo durar até meses.

A resposta de bronzeamento é expressa geneticamente. Existe uma classificação dermatológica


(pode ser vista no quadro a seguir) dos tipos de pele, que leva em consideração a resposta
da pele ao bronzeamento. Esta classificação é bastante útil, simples e prática não só para os
dermatologistas, mas também para a população, pois conhecendo seu tipo de pele, não cometerá
o erro de fotoexposições desnecessárias sob a alegação de que quer se bronzear.

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Quadro de fototipo de pele segundo Fitizpatrick modificada, avalia a
resistência à radiação solar
TIPO I Pele Branca, nunca se bronzeia, queima com muita
facilidade
TIPO II Pele Branca, queima com muita facilidade, se
bronzeia muito leve
TIPO III Morena clara, queima relativamente fácil, se bron-
zeia pouco
TIPO IV Morena moderada, bronzeia fácil e se queima pou-
co
TIPO V Morena escura, bronzeia muito fácil e dificilmente
se queima
TIPO VI Pele Negra, nunca se queima

Dessa maneira, a pele tipo I nunca se bronzeia e sempre se queima, tem uma facilidade enorme
ao envelhecimento precoce e formação de cânceres de pele. Não adianta pessoas com esse tipo
de pele buscar bronzeamento, elas só encontrarão manchas. No outro extremo, temos a pele tipo
VI, a qual sempre bronzeia e nunca se queima: são os da pele negra. Ou seja, o aparecimento de
doenças relacionadas com a exposição solar é infrequente.
As câmaras de bronzeamento artificial e o bronzeamento natural devem ser desencorajados pelo
risco de contribuir para o surgimento dos cânceres de pele.
CÂNCER DE PELE E SOL
Sendo o Sol o responsável pelos principais tipos de lesões pré-malignas e cânceres de pele,
quanto mais branca for a pele e maior o tempo de exposição sofrido pela pessoa, maior será a
probabilidade de desenvolvê-los. Atividades que se faz com exposição prolongada e diária ao sol,
oferecem maior risco de desenvolvimento dos cânceres de pele. No ano 2020, no Brasil, tivemos
uma estimativa de 176.930 novos casos, sendo 83.770 homens e 93.160 mulheres para cânceres
não melanomas (CBC e CEC), já em relação ao melanoma, estima-se 8.450 casos novos, sendo
4.200 homens e 4.250 mulheres (BRASIL, 2021).

Em nosso país, nas duas últimas décadas, vimos aumentar muito a incidência de câncer de pele,
isso talvez se deva a três razões:

1º À desinformação;
2º Ao culto ao corpo bronzeado;
3º Aos novos hábitos de atividade ao ar livre em todas as fases da vida.

Há mais de uma década, a sociedade brasileira faz uma campanha de âmbito nacional para alertar
as pessoas sobre o risco de cânceres de pele e como identificá-los precocemente. No site da
Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), podemos encontrar o índice ultravioleta diário que
expressa o risco de queimaduras (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA, 2020).

O câncer de pele é o mais frequente entre todos os tipos de cânceres e, felizmente, pela sua
relativa benignidade (a maioria não implica metástases), não tem tanto impacto psicológico na
vida do paciente e de sua família como teria, por exemplo, um câncer de pulmão, de mama ou
outro órgão interno. Os principais tipos de câncer de pele são: Carcinoma Basocelular (CBC),
Carcinoma Espinocelular (CEC) e Melanoma. Destes, o mais comum, menos agressivo e que quase
nunca gera metástase, é o CBC, responde por 75% do total dos cânceres de pele, em seguida
temos o CEC, que pode ser bastante agressivo, inclusive gerando metástases, principalmente
51
quando acomete o lábio inferior, orelhas ou se encontram acima de 2 cm, estes respondem por
20%. Ocupando o terceiro lugar em frequência, há o Melanoma, responde por 4%, doença de
bastante impacto psicossocial, pois além de acometer amplo espectro etário, tem alta capacidade
de gerar metástases, quando se retarda o diagnóstico. O restante, 1% dos outros cânceres de
pele, são representados pelas outras células da pele, aí temos: Angiossarcomas, fibrossarcomas,
carcinomas de glândulas anexas, etc.

CARCINOMA BASOCELULAR
O Carcinoma Basocelular (Figuras 45 e 46) corresponde a 75% dos cânceres de pele, pode ter
início como um pequeno nódulo vermelho, geralmente em áreas onde o Sol incide amiúde, como
a face. Essas lesões, geralmente vão crescendo devagar, mas podem chegar a grandes extensões,
provocando destruições severas. Frequentemente, é uma lesão elevada de aspecto brilhante em
relação à pele normal. Outra apresentação bastante comum é a presença de uma ferida que não
consegue cicatrizar. Diante de qualquer lesão que o paciente julgue suspeita deve procurar de
imediato seu dermatologista. Lembre-se que quanto mais rápido for o diagnóstico, melhor será o
resultado do ponto de vista oncológico e estético.

Figura 45: CBC nodular, notar o aspecto brilhante do nódulo, como também pequenos vasos em sua superfície.
Fonte: acervo pessoal do autor.

Figura 46: CBC, lesão nódulo-ulcerada.


Fonte: acervo pessoal do autor.
52
O tratamento mais adequado para o CBC é a cirurgia, todavia, em algumas situações especiais,
podemos usar quimioterápicos tópicos.

CARCINOMA ESPINOCELULAR
O Carcinoma Espinocelular (Figuras 47 e 48) equivale a 20% dos cânceres de pele e comporta-se,
na sua apresentação inicial, semelhante ao CBC. Como particularidade, o CEC pode comprometer
qualquer área do corpo, inclusive a boca. Tem relação não só com a radiação solar, mas também
com outras situações carcinogênicas (que estimulam o câncer), a exemplo do tabagismo, do
trauma repetido no mesmo local, do uso de algumas substâncias químicas (derivados do petróleo)
sobre a pele e de alguns vírus (ver capítulo sobre HPV). Pode ser bastante agressivo a depender
do local comprometido, do agente agressor e do tamanho da tumoração. Quando formados em
áreas de fotoexposição e menores que 1cm, raramente geram metástase, com exceção do CEC
desenvolvido no lábio inferior e orelhas, cuja capacidade metastática é expressiva. O tratamento
precoce é a melhor arma para o sucesso terapêutico, que predominantemente é cirúrgico.

Figura 47: CEC nodular na região nasal.


Fonte: acervo pessoal do autor.

Figura 48: CEC na perna.


Fonte: acervo pessoal do autor.
53
MELANOMA
O Melanoma (Figuras 49 e 50) é o menos comum dos três tipos de cânceres, todavia, é o mais grave
entre eles quando diagnosticado tardiamente. As metástases são a regra nos quadros avançados. É
uma enfermidade que pode comprometer desde jovens a idosos. No início da doença é verificada,
comumente, uma pinta escura que o paciente já possui há muito tempo e que agora está crescendo,
coçando e, ocasionalmente, com uma ferida sobre ela. Em alguns casos, o paciente procura o
dermatologista com outras queixas que não são a sua pinta e, no exame físico da pele, o médico
a encontra.

Figura 49: Melanoma extensivo superficial.


Fonte: acervo pessoal do autor.

Figura 50: Melanoma nodular, lesão avançada.


Fonte: acervo pessoal do autor.

É muito comum nos consultórios, pacientes apresentarem uma reclamação, por exemplo, de uma
alteração na face, e quando vamos examinar toda a sua pele, o maior problema não está na
sua queixa, mas em uma de suas pintas escondidas, julgada por ele e por seus familiares como
inocente. Alguns deles, com ar de surpresa até exclamam: “Dr., meu problema é só na face, por
que o senhor quer ver a minha pele inteira?”. É bom esclarecer esse fato, porque não são poucos
os casos de melanomas diagnosticados em um simples exame de rotina, muitas dessas lesões são
totalmente assintomáticas.

Algumas características devem ser levadas em consideração quanto ao risco de desenvolver essa
doença, como múltiplas pintas (ver capítulo de Nevos), antecedente pessoal ou familiar de câncer
de pele, assim como histórias de múltiplas queimaduras solares ao longo da vida.

54
O diagnóstico precoce é essencial, pois desse modo a possibilidade de cura é praticamente de 100%.
Assim, exijam e façam um exame completo e não apenas o tratamento de suas queixas. As pintas
suspeitas devem, se possível, ser extirpadas ou fotografadas (com dermatoscópio) para posterior
análise. O tratamento é sempre cirúrgico e só em alguns casos é necessário a quimioterapia.

FILTROS SOLARES
Os filtros solares são substâncias químicas capazes de absorver ou refletir as radiações do Sol na
superfície da pele. Estão disponíveis no mercado brasileiro há pelo menos três décadas e meia.
Os filtros ditos químicos são aqueles que absorvem as radiações, já os filtros físicos são aqueles
que as refletem. Nos últimos anos, vimos um grande desenvolvimento e o surgimento de vários
filtros solares, cuja capacidade de fotoproteção estendeu-se até o espectro ultravioleta A (UVA) e
às radiações infravermelhas.

As substâncias fotoprotetoras podem ser veiculadas em várias bases: cremes, géis, loções, batons,
pó e até em produtos para os cabelos. De acordo com a característica física (pele oleosa ou pele
seca), será escolhida a base para o filtro. Para uma pele oleosa, o veículo gel é o de melhor
aceitação, já para as peles secas os cremes são melhor tolerados. Nas peles normais, as loções
cremosas são mais apropriadas do ponto de vista cosmético.
Na hora da escolha do filtro, duas importantes considerações dizem respeito ao FPS e à capacidade
que tem o produto de resistir à água (pois protetores solares que não são resistentes são facilmente
eliminados, até mesmo pelo suor).

O FPS significa fator de proteção solar e, em termos práticos, é a expressão da quantidade de


radiação solar que o indivíduo pode receber até surgir a queimadura. Por exemplo: se alguém
de pele branca leva uma hora para desenvolver uma vermelhidão, estando ao Sol sem protetor
solar, esta mesma pessoa, usando um protetor solar FPS 8, precisaria 8 vezes mais tempo para
desenvolver igual eritema, em idênticas condições descritas. Um protetor solar, cujo FPS é de 15,
consegue bloquear até 94% da radiação solar, e, o de 30, 96%.

Há aproximadamente 10 anos, nós achávamos que protetores solares acima de 30 não ofereciam
tanta vantagem na fotoproteção, e serviam apenas para encarecer o produto. Com o tempo este
conceito foi mudando, e hoje está consolidada a vantagem dos bloqueadores solares acima de
30 em várias situações. O que consolidou de vez o uso de FPS acima de 30 foi perceber que sua
eficiência se mantém por um longo período, garantido um tempo maior de proteção solar.

Os produtos de proteção solar, hoje disponíveis, são enormes, vai desde os tradicionais bloqueadores
solares até medicação oral com efeito de fotoproteção. Os bloqueadores solares tópicos também
evoluíram muito em termos de eficiência, existindo alguns que dispõem de tecnologia para reparo
do dano celular.

55
REFERÊNCIAS:

BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer (INCA). Tipos de câncer: Câncer de pele
não melanoma. 2021. Disponível em: <https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-de-pele-
nao-melanoma> Acesso em: 29/04/2021.

JÚNIOR, W. B.; CHIACCHIO, N. D.; CRIADO, P. R. Tratado de Dermatologia, 3ª Ed. Atheneu, 2018.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA. Dezembro Laranja. Disponível em: <https://www.sbd.
org.br/dezembroLaranja/noticias/como-prevenir/> Acesso em: 29/04/2021

56
Dr. Otávio Sérgio Lopes
• Membro Titular da Sociedade Brasileira de
Dermatologia(SBD).
• Membro Titular da Sociedade Brasileira de
Cirurgia Dermatológica.
• Membro Titular do Grupo de Estudo para
Melanoma (GBM).
• Ex-preceptor da Residência de Clínica Médica
do Hospital Heliópolis-SP.
• Ex-preceptor da Residência de Dermatologia
do Hospital do Servidor Público Municipal de
SP.
• Ex-chefe e fundador do serviço de oncologia
cutânea do Hospital do Câncer Napoleão
Laureano-PB.
• Professor de Dermatologia da Faculdade de
Ciências Médicas(FCM) da Paraíba.
• Doutor em Ciências da saúde pela Faculdade
de Medicina da Santa Casa de SP.
• Diretor presidente da S-Qualis, Educação
Pesquisa e Tecnologia.

Catarina Nobrega Lopes


• Fundadora do programa de Aprendizado Chama
o Dermato
• Ex ligante, por 2 anos, da Liga de Dermatologia
(LADERM JP)
• Ex extensionista do Projeto Muito Além do
Autismo
• 11° período do curso de medicina da Faculdade
de Ciências Médicas da Paraiba.

S-Qualis
Educação Pesquisa e Tecnologia

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