O documento explica os conceitos de operações de crédito, despesas de capital e a Regra de Ouro constitucional. A Regra de Ouro proíbe que as operações de crédito excedam as despesas de capital, mas permite que as receitas de crédito sejam usadas para despesas correntes desde que o montante de despesas de capital seja maior. O documento ilustra isso com um exemplo de orçamento de um ente público.
Descrição original:
Um estudo detalhado do artigo 167
Título original
A REGRA DE OURO -ARTIGO 167 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
O documento explica os conceitos de operações de crédito, despesas de capital e a Regra de Ouro constitucional. A Regra de Ouro proíbe que as operações de crédito excedam as despesas de capital, mas permite que as receitas de crédito sejam usadas para despesas correntes desde que o montante de despesas de capital seja maior. O documento ilustra isso com um exemplo de orçamento de um ente público.
O documento explica os conceitos de operações de crédito, despesas de capital e a Regra de Ouro constitucional. A Regra de Ouro proíbe que as operações de crédito excedam as despesas de capital, mas permite que as receitas de crédito sejam usadas para despesas correntes desde que o montante de despesas de capital seja maior. O documento ilustra isso com um exemplo de orçamento de um ente público.
Para avançar no entendimento do texto é importante conhecer algumas
definições trazidas pela LRF[2] em relação à dívida e endividamento, que serão detalhadas mais adiante, bem como outras que se relacionam com os controles de dívida:
Operações de Crédito
Operações de crédito correspondem a compromissos assumidos com
credores situados no País ou no exterior, em razão de mútuo, abertura de crédito, emissão e aceite de título, aquisição financiada de bens, recebimento antecipado de valores provenientes da venda a termo de bens e serviços, arrendamento mercantil e outras operações assemelhadas, inclusive com o uso de derivativos financeiros.
Despesas de Capital
Para entender a chamada Regra de Ouro constitucional é importante
conhecer o conceito de Despesas de Capital que são aquelas despesas orçamentárias efetuadas pela Administração Pública com a intenção de adquirir ou constituir bens de capital (máquinas, veículos, equipamentos, imóveis, entre outros) que enriquecerão o patrimônio público ou serão capazes de gerar novos bens e serviços. Também são despesas de capital aquelas referentes a amortizações de dívidas. Assim, de acordo com o classificador orçamentário as despesas de capital estão divididas em três grupos de natureza da despesa:
A) Investimentos: são despesas relativas ao planejamento e à
execução de obras públicas, inclusive as destinadas à aquisição de imóveis necessários à realização destas últimas, bem como para os programas especiais de trabalho, aquisição de instalações, equipamentos e material permanente e a constituição ou aumento do capital social de empresas que não sejam de caráter comercial ou financeiro.
B) Inversões Financeiras: são dotações destinadas a aquisições de
imóveis, ou de bens de capital já em utilização na economia; aquisição de títulos representativos do capital de empresas ou entidades de qualquer espécie, já constituídas, quando a operação não importe aumento do capital social; e constituição ou aumento do capital de empresas ou entidades que buscam objetivos comerciais ou financeiros, inclusive operações bancárias ou de seguros.
C) Amortização da Dívida: Despesas com o pagamento e/ou
refinanciamento do principal e da atualização monetária ou cambial da dívida pública interna e externa, contratual ou mobiliária.
2 - Regra de Ouro
A Constituição Federal de 1988 adota uma visão realista diante do déficit
orçamentário. Nas classificações orçamentárias brasileiras, é possível verificar que o déficit pode aparecer embutido nas contas públicas por meio das contas denominadas Operações de Crédito.
Essas operações acabam se transformando em operações de longo prazo
com a colocação de títulos e obrigações emitidos pelos tesouros das três esferas de governo.
Art. 167. São vedados
.................
III - a realização de operações de créditos que excedam o montante das
despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta; (Grifo Autor)
No exemplo anterior as operações de crédito somam $1.000 unidades
monetárias e o montante das despesas de capital é nulo. Assim, caso um determinado ente propusesse um orçamento nos moldes da situação I, este seria considerado inconstitucional, pois estaria violando a Regra de Ouro estabelecida na Constituição.
É importante salientar que a Regra de Ouro não veda a utilização de
receitas oriundas de operações de crédito para realização de despesas correntes, mas determina que o montante das operações de crédito não pode exceder o montante das despesas de capital. Nesse sentido, poderíamos ter a seguinte situação:
Exemplo
RECEITAS DESPESAS
Correntes 2.000 Correntes 1.900
Impostos 900 Pessoal 900
Taxas 300 Juros da Dívida
Contribuições 800 Outras Despesas Correntes 1.000
Capital 1.000 Capital 1.100
Alienação de Bens Investimento 300
Operações de Crédito 1.000 Inversão Financeira
Transferências de Capital Amortização da Dívida 800
Total 3.000 Total 3.000
No exemplo, a utilização da receita de operações de crédito para
realização de outras despesas correntes foi compensada pela utilização de receitas de taxas e contribuições para despesas de investimento e amortização da dívida, respectivamente.
Nesse caso o montante das despesas de capital ($1.100) é maior do que as
receitas de operações de crédito ($1.000). Portanto, o ente estaria cumprindo a Regra de Ouro, apesar de estar aplicando receitas de operações de crédito em despesas correntes. A essência da Regra de Ouro é estabelecer que o ente poderá se endividar, mas em montante que não seja superior aos valores previstos para investimento, inversão Financeira e amortização de dívidas. Isso não significa que as receitas de operações de crédito somente possam ser gastas para estes grupos de despesas.
Para entender melhor pode-se fazer o seguinte paralelo com a família.
Imagine que o pai de uma determinada família decidiu tomar um empréstimo (operação de crédito) de $40 mil unidades monetárias, junto à uma instituição financeira para comprar um carro (investimento) e no dia 10 o gerente da instituição financeira informou que o dinheiro do empréstimo havia sido depositado na conta bancária. Entretanto, o pai ao chegar em casa viu que necessitava fazer compras para alimentação da família e o único dinheiro disponível no momento era oriundo do financiamento. Decidiu, diante da situação, utilizar $1.000 unidades monetárias do saldo bancário para fazer as compras do mês. No dia 20, quando recebeu o salário retirou os $1.000 para juntar com o saldo do empréstimo e comprou o carro. Sob a ótica de controle das finanças da família o pai fez algo de errado ao utilizar dinheiro de endividamento para fazer compras no supermercado? Não, pois o que interessa para análise é o montante, e neste caso o valor do financiamento é menor ou igual ao valor do investimento (carro). O que aconteceu na prática foi apenas uma troca de fonte de recursos e neste contexto o pai estaria cumprindo a Regra de Ouro.
Autor: Paulo Henrique Feijó - Professor, Escritor e Contador