Você está na página 1de 25

RESUMO

O presente trabalho que versa sobre a flexibilização do Direito do Trabalho e o sindicato


como instrumento de mediação nas negociações entre empregado e empregador, teve por
objetivo geral analisar a contribuição da flexibilização ante a perda de força dos sindicatos no
processo de negociação coletiva. Assim sendo, desenvolveu-se essa pesquisa com base em um
estudo bibliográfico, sob o manto de uma análise dialética tendo em vista a natureza do
objetivo do estudo, bem assim pode-se apresentar apropriado para uma análise de fatos e
fenômenos dentro do contexto social. Ficou identificado que a globalização socioeconômica
vem trazendo inúmeras consequências para o mundo do trabalho, haja vista o avanço
tecnológico e a sociedade da informação que demanda hodiernamente trabalhadores altamente
qualificados, caso contrário o destino certo é exclusão do processo produtivo. Torna-se
necessário, então, a criação de um novo paradigma jurídico que permita maiores condições de
negociação, ou melhor, uma re-regulação. Portanto, visando garantir a defesa da classe
trabalhadora é que se defende uma flexibilização negociada, com fortalecimento sindical, o
qual desempenhará relevante papel para que, mediante negociação coletiva, os graves
problemas decorrentes da realidade sócio econômica atual sejam minimizados. Então de
forma democrática o sindicato fortalecido lutará por melhores condições para o trabalhador,
tendo em vista o elevado índice de desemprego. Assim, o novo perfil sindical deverá não
apenas se preocupar com aqueles que se encontram no mercado de trabalho formal, mas
também com os que se encontram a margem deste.

Palavras-chave: Flexibilização. Negociação. Sindicato.


LISTA DE SIGLAS

CLT – Código das Leis Trabalhistas


CF – Constituição Federal
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO------------------------------------------------------------------------------------------07
1 ASPECTOS DA FLEXIBILIZAÇÃO----------------------------------------------------------—-09
1.1. A flexibilização-------------------------------------------------------------------------------------09
1.2. A flexibilização x desregulamentação ----------------------------------------------------------10
1.3 A classificação da flexibilização------------------------------------------------------------------11
1.4.A flexibilização do Direito do Trabalho no mundo --------------------------------------------12
1.5. A flexibilização na realidade brasileira-------------------------------------------------------—14
2 A GLOBALIZAÇÃO E OS DIREITOS TRABALHISTAS---------------------------------—15
2.1 A globalização frente os princípios do Direito do Trabalho----------------------------------15
2.1.1 Princípios específicos do Direito do Trabalho------------------------------------------------16
2.1.1.1. Princípio da proteção--------------------------------------------------------------------------17
2.1.1.2. Princípio da Irrenunciabilidade de Direitos------------------------------------------------18
2.1.1.3.Princípio da Continuidade da relação de empregos-------------------------------------—18
2.1.1.4. Princípio da razoabilidade da Conduta Jurídica e da Boa Fé-------------------------—18
2.1.1.5. Princípio da Primazia da Realidade------------------------------------------------------—19
2.1.1.6. Princípio da flexibilização----------------------------------------------------------------—-19
3.O DIREITO DO TRABALHO FRENTE AS NOVAS EXIGENCIAS ------------------—-20
3.1. O sindicato como instrumento de mediação ------------------------------------------------—-21
CONCLUSÃO--------------------------------------------------------------------------------------------24
REFERÊNCIAS------------------------------------------------------------------------------------------26
INTRODUÇÃO

O presente trabalho de iniciação científica que versa sobre a flexibilização do Direito do


Trabalho e o sindicato como instrumento de mediação, se constituiu o nosso objeto de
pesquisa em virtude de inúmeras celeumas e discussões que vem se apresentando no âmbito
do direito material do trabalho, tendo em vista a nova ordem sócio econômica mundial.

Estas celeumas e discussões serviram apenas por demonstrar que a flexibilização vem se
fazendo imperativa, entretanto, diante da tão complexidade que envolve a questão, bem assim,
ciente das discussões de que o sindicato desempenhará relevante papel em todo processo,
surge uma indagação: de que forma a flexibilização do direito do trabalho vem contribuindo
para a prevalência do sindicato como instrumento de mediação?

Partindo do objetivo geral desta pesquisa, foi elaborada as seguintes hipóteses: Dentre
outros fatores, o capitalismo e a globalização influenciaram na evolução histórica do Direito
do Trabalho no Brasil e no mundo, tendo em vista, que devido estes fatores as relações de
trabalho foram mais exploradas, haja vista a busca de adquirir cada vez mais capital por parte
daqueles que detinham os meios de produção de riquezas; a flexibilização do Direito do
Trabalho contribui para a prevalência do sindicato como instrumento de mediação entre
empregados e empregadores, à medida em que exalta a negociação coletiva; diante da reforma
trabalhista os sindicatos sofreram um enfraquecimento em sua representação sindical perante
a classe trabalhista e, portanto, terão que reinventar novas formas para evitar a diminuição dos
seus índices de filiação, e a nova Consolidação das Leis Trabalhistas restringiu direitos que
protegiam a classe de empregados, tornando-os mais vulnerável nas relações de trabalho em
relação aos empregadores .

Esta pesquisa sem a pretensão de esgotar o assunto, mas apenas buscando trazer breves
considerações acerca da temática, apresentou-se oportuna e adequada, à medida que traz à luz
da reflexão um assunto ímpar, recém emergente no universo jurídico, com escasso material
bibliográfico e, portanto, alvo de controvérsias e discussões.

Apresenta-se válido salientar que este estudo tem sua relevância numa temática que
envolve não apenas normas trabalhistas infraconstitucionais, mas sobretudo a
constitucionalidade, a rigidez de normas e as suas mudanças.
Buscando seguir um rigor metodológico, este projeto de pesquisa teve como enfoque
metodológico a pesquisa qualitativa tendo em vista ser as ciências jurídicas parte do universo
das pesquisas sociais. Dessa forma optou-se pelo viés bibliográfico, procedendo levantamento
em livros e artigos, de forma a promover uma aproximação com os conteúdos já existentes e
fundamentar as argumentações.

Visando oportunizar um melhor esclarecimento acerca da temática estudada, este foi


sinteticamente estruturado da seguinte maneira:

O primeiro capítulo versa acerca da evolução histórica do direito do trabalho, enfocando


sobremaneira o contexto mundial, contexto brasileiro e como este se encontra na
contemporaneidade. Concernente ao segundo capítulo, este foi direcionado para esclarecer os
aspectos que envolvem a flexibilização das normas trabalhistas, desde o que compreende a
flexibilização, sua diferença para desregulamentação, bem assim trouxe sua classificação e
como esta vem se processando no mundo e no Brasil.

O terceiro capítulo trata sobre a globalização e os direitos trabalhistas e como esta


realidade tem interferido nos princípios específicos do direito, trazendo para tanto, desde uma
visão clássica até uma visão mais vanguardista. O quarto e último capítulo foi direcionado
para o objetivo de estudo propriamente dito, tendo em vista tratar das novas exigências para o
Direito do Trabalho e como a flexibilização tem contribuído para construção de um perfil
sindical como intermediador das negociações coletivas.

Por fim, a conclusão busca trazer de forma sintética os principais pontos abordados no
decorrer da pesquisa, bem assim confirmar a hipótese da pesquisa e, portanto, demonstra que
os seus objetivos foram devidamente atendidos.
1 ASPECTOS DA FLEXIBILIZAÇÃO
O processo de flexibilização das normas trabalhistas, em virtude das modificações
conjunturais contemporâneas, vem sendo altamente discutido por ser motivo de celeumas e
controvérsias no mundo jurídico, como se segue.

1.1 A flexibilização

A flexibilização em sua amplitude compreende na verdade um processo pelo qual as


pessoas na sua vida social e econômica devem modificar alguns hábitos de forma a se adaptar
a uma nova realidade mais exigente e, portanto, os indivíduos devem ter capacidade de
reflexões para poder caminhar junto com as mudanças do contexto em que se encontram
inserido.

Ora, se o Direito prescinde as ciências sociais para a sua própria existência, as


transformações impostas dentro deste contexto, mais adequado ao Direito do Trabalho, fazem
com que os sujeitos se adequem as mudanças cotidianamente inseridas na ordem mundial,
independentemente do dualismo que sempre pautará tais relações.

Assim, ciente da relevância que envolve a temática e direcionando as análises para o


universo jurídico, vale destacar a posição de alguns doutrinadores da seara trabalhista e, para
tanto, destaca-se a posição de Nassar (1991, p.20):

Podemos definir a flexibilização das normas trabalhistas como parte integrante do


processo maior de flexibilização do mercado de trabalho, consistente no conjunto de
medidas destinadas a dotar o Direito Laboral de novos mecanismos capazes de
compatibilizá-lo com as mutações decorrentes de fatores de ordem econômica,
tecnológica ou de natureza diversa exigentes de pronto ajustamento.

Leva-se, portanto, ao entendimento de que o Direito não deve apresentar-se estanque,


mas sim flexível, espacialmente para acompanhar as mudanças conjunturais de forma a não se
tornar obsoleto e ineficaz.

Segundo apresenta o então estudioso do Direito do Trabalho Amauri Mascaro (2016,


p.68) a flexibilização compreende um processo pelo qual se visa acabar a rigidez de algumas
normas de forma a possibilitar ás partes envolvidas na relação capital- trabalho a dispor de
maior elasticidade para alterar ou reduzir “ os seus comandos”. Para ele a flexibilização seria
apenas um meio para favorecer uma minoria em detrimento de uma imensidão de
trabalhadores que tanto já sofreram no processo produtivo.

Para Robortella (1998, p.25) a flexibilização do Direito do trabalho na verdade


compreende um meio pelo qual as normas jurídicas devem se adaptar as mudanças
econômicas sociais com intensa participação de trabalhadores e empregadores de forma a
regular o mercado trazendo desenvolvimento econômico e por consequência progresso no
âmbito social. Defende que a maneira mais adequada é a flexibilização negociada em que haja
efetiva participação dos trabalhadores.

A flexibilização normativa pode fazer emergir muitas atividades que se colocam


fora das instituições econômicas oficiais. Até porque a pior das flexibilidades é o
mero descumprimento da lei. Se a realidade impõe, é preferível que a flexibilização,
venha pelos caminhos da formalidade, plenamente integrada ao ordenamento
jurídico, para que seja efetivo seu controle e regulação. (ROBORTELLA, 1998,
p.148).

Logo, averígua-se da assertiva acima que há uma necessidade da flexibilização de forma


legal, para que se evite problemas que por ventura possam vi a ocorrer.

Ante as argumentações apresentadas verifica-se que não se deve discutir a flexibilização


no aspecto de concordância ou não da mesma, mas sobretudo de que é unânime entre os
doutrinadores que a mesma deriva de um processo histórico de mudanças na conjuntura sócio-
econômica e que inclusive vem prevista no texto constitucional de 1988.

1.2 A Flexibilização X Desregulamentação

Se faz necessário um comparativo entre flexibilização e desregulamentação. Em se


tratando de desregulamentação, Vólia Bomfim Cassar (2018, p.33) conjectura a ausência do
Estado, ou seja, a ideia do Estado Mínimo, destacando a inexistência de direitos impostos pela
lei, ausência de proteção legislativa, estabelecendo-se a livre manifestação de vontade entre as
partes interessadas, que devem negociar de forma individual ou coletiva a relação trabalhista
da forma que melhor lhe convier, trazendo os princípios do liberalismos, que admite a livre
contratualidade, sendo Estado mero espectador.
Para Sergio Pinto Martins (2020) a flexibilização das condições de trabalho tem por
objetivo criar mecanismos que possam compatibilizar as questões ou divergências
econômicas, tecnológicas e sociais entre o capital e o trabalho, ao afirmar que:

O fenômeno da flexibilização dos direitos trabalhistas surgiu como forma de


adequação entre os dinamismos das mudanças do mundo e o direito laboral. A
flexibilização das condições de trabalho é um conjunto de regras que têm por
objetivo instituir mecanismos tendentes a compatibilizar as mudanças de ordem
econômica, tecnológica ou social existentes na relação entre o capital e o trabalho.
(MARTINS, 2020, p.498)

A flexibilização como já dito anteriormente compreende a necessidade das normas


trabalhistas em se adaptarem as mudanças que vem ocorrendo na realidade econômica e
social. Entretanto muitos discutem que estas necessidades de mudanças podem ser não uma
flexibilização, mas sim, uma desregulamentação, entretanto os intuitos não se confundem.

Com efeito vale esclarecer de forma a favorecer na presente análise que a


desregulamentação compreende segundo posicionamento de Sussekind(2019,p.78) um meio
pelo qual as representações de classe passem a regular as condições e direitos dos
trabalhadores. Enquanto que a flexibilização está relacionada a intervenção estatal, à medida
que há leis direcionadas ao trabalhador devendo estas apenas ter sua aplicação mais flexíveis
e alternativas.

Logo, não há como dizer que os institutos se confundem até porque o ponto de
divergência entre ambos se assenta na intervenção ou não do aparelho estatal. Ressalta ainda
Sussekind (2017, p.207 que a flexibilização compreende um verdadeiro defensor “ do
princípio da iderrogabilidade das normas de ordem pública, não menos certo é que essa
exceção apenas confirma o princípio protetor”.

1.3 A Classificação da Flexibilização

A flexibilização segundo alguns estudiosos pode ser classificada, e, portanto, configura-


se pertinente abordar a questão para melhor favorecer na compreensão do fenômeno. Assim
sendo, considerando o que trata Nassar (2018), esta se classifica seguindo os seguintes
critérios: a) quanto ao objeto; b) quanto ao modo; c) quanto ao fundamento; d) quanto a
extensão.
Quanto ao primeiro critério este refere-se aos aspectos do Direito do Trabalho que estão
sendo atingidos pela flexibilização, como o modelo clássico de emprego (assalariado, estável,
tempo integral, salários rígidos, empregador único, etc), os salários (se tornam mais flexíveis
para evitar desemprego) e também as formas de despedidas (não como punição do
empregado, mas, como redução de pessoal).

O segundo critério refere-se “ à flexibilização das normas trabalhistas pode resultar de


iniciativa unilateral do empregador, ou do Estado; de negociação entre os parceiros sociais ou
entre estes e o Estado’. No momento em que se destaca a flexibilização por iniciativa
unilateral do empregador, esta refere-se exclusivamente aos meios disciplinados nas relações
de trabalho dentre da empresa, quanto que, quando decidida pelo Estado refere-se as medias
legislativas de regras trabalhistas. Já a flexibilização negociada decorre dos acordos
estabelecidos entre sindicatos e empregadores.

No que concerne ao terceiro critério, este que se refere a flexibilização quanto aos
fundamentos, destaca-se a flexibilização neoliberal (visa desregulação do mercado de
trabalho; a liberal (visa o fortalecimento dos sindicatos) e adaptação à crise (ajustamento da
legislação trabalhista sem afetar sua estrutura).

Quanto ao último critério estabelecido que concerne à extensão, esta se divide em


externa ou interna, a externa diz respeito á liberalidade do empregador na contratação e
despedida de seus empregados, já a interna refere-se à liberalidade do empregador de
modificar condições contratuais relacionados a alteração de horários, atribuições, etc.

Dessa forma, fica evidenciado que a flexibilização apresenta peculiaridades que devem
ser analisadas com cautela para uma melhor compreensão e aceitação do instituto, entretanto
buscou-se aqui apenas trazer algumas pontuações de forma a clarificar a temática, não
havendo delongas por não se constituir o proposito deste estudo.

1.4 A Flexibilização do Direito do Trabalho no Mundo

A nível mundial abordar a flexibilização, demanda que apenas se traga pequenas


considerações acerca das experiências existentes para melhor compreendermos e aceitarmos a
flexibilização como algo necessário e urgente diante das novas exigências no mercado
mundial e ao mesmo tempo perceber que esta é possível e poderá trazer mais benefícios ao
trabalhador do que se manter normas estatísticas que não caminham juntos com a dialética
conjuntural e estrutural.

A experiência francesa tem a flexibilização vinculada a negociação coletiva e a


flexibilização legal. Com relação a primeira forma destaca-se que em sua maioria ocorre com
os acordos celebrados entre empregadores e sindicatos acerca do tempo de trabalho trazendo
experiências que vem dando certo de forma a beneficiar os dois lados, um exemplo claro é a
empresa Moet et Chandon, produtora de champanhe em que estabeleceu em acordo coletivo
uma sensível diminuição da jornada de trabalho permanecendo o pagamento dos salários
integra e a existência de 01 hora de repouso. A empresa em questão tinha a flexibilidade
acentuada na organização da produção, pois, em épocas de muitas demandas, os trabalhadores
poderiam chegar a dar 41 horas de trabalho, entretanto, em períodos em que a atividade se
apresentava mais fraca as horas trabalhadas ficavam em torno de 34 horas tendo uma média
anual de 37 horas e trinta minutos sem que houvesse o pagamento de horas extras.

Existe ainda a flexibilização do tempo do trabalho com a possibilidade do desemprego


parcial tendo em vista os momentos de dificuldades econômicas da empresa. Estas
apresentam apenas alguns exemplos da flexibilização no cenário Francês.

Na Alemanha, observa-se a presença da flexibilização negociada. Como exemplo têm-


se o da Wolksvagen em que se previu a redução da hora semanal de 40 horas para 38 horas e
30 minutos a medida em que em contrapartida implantou nove equipes extras de trabalhadores
remuneradas ao longo do ano. No aspecto legal destaca-se que o ordenamento Alemão traz
em seu bojo a Lei de estímulo ao emprego mediante o aumento dos contratos por tempo
determinado, o trabalho a tempo parcial, bem assim o “Kapovaz” que compreende a variação
do tempo de trabalho considerando as necessidades da empresa.

Na realidade Espanhola observa-se também a presença da flexibilização negociada a


medida que sindicatos junto com empregadores estabelecem a necessidade de redução de
horas extras em benefício do aumento de postos de trabalho. Outro exemplo relevante é o
estímulo à aposentadoria com o fim de suprimir postos de trabalho com suavidade. No
aspecto legal, a flexibilização ocorre em relação a ampliação dos contratos de trabalho por
prazo determinado, trabalho à domicílio, a contratação a tempo parcial, horário de trabalho
flexível, aposentadorias antecipadas, o trabalho por turnos.
A experiência Belga de flexibilização negociada traz como exemplo relevante a da
General Motors da cidade de Anvers, na qual os sindicatos acordaram a reorganização do
horário em troca da reestrutura da produção evitando a despedida de mais de três mil
empregados. Este acordo funda-se na criação de três equipes de trabalho em dois turnos em
sistema de dez horas de serviço durante quatro dias na semana, sendo que, a cada três
semanas terá que trabalhar um sábado pela manhã e em contrapartida a empresa se
comprometeu a não efetivar nenhuma despedida e caso tivesse necessidade de redução de
pessoal, esta deveria se dar a partir de aposentadorias antecipadas ou consultas prévias aos
sindicatos.

Dentre outras experiências, não menos importante, destaca-se na América do Sul, a da


Colômbia, no momento em que os sindicatos através da negociação coletiva abriram mão de
aumentos salariais já ajustados em prol de evitar o estado de falência de determinada empresa
têxtil e em contrapartida a empresa se comprometeu a não despedir mais de 7.900
trabalhadores estáveis.

No Peru, um exemplo claro da flexibilização refere-se a possibilidade de contratar por


prazo determinado para serviços de caráter permanente desde que os empregados ao final do
contrato recebam indenização especial.

1.5 A flexibilização na Realidade Brasileira

No ordenamento jurídico brasileiro a flexibilização não se constitui em algo


desconhecido, haja vista o que trata a própria Consolidação das Leis Trabalhistas e até mesmo
a Constituição Federal de 05/10/1988.

Nesse sentido podemos trazer alguns exemplos a título de esclarecimento. Dessa forma
destaca-se o trabalho de sub-empreitada (art. 455 CLT) e o trabalho de locação de mão-de-
obra através do trabalho temporário e o de serviços de vigilância em instituições financeiras,
os quais não se configuram os modelos tradicionais de trabalho, pois o caráter de
subordinação está atrelado a dois entes distintos, fragmentado o poder de comando.

O texto constitucional em seu art. 7º XIII traz claramente outra norma visivelmente
flexibilizadora, no que tange a redução da jornada e o sistema de compensação de horas,
desde que seja mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho, evidenciando, portanto,
uma visível atenuação a rigidez de horários. Nesse diapasão salienta-se o trabalho a tempo
parcial que também é previsto na legislação pátria.

Verifica-se sobremodo das colocações acima que o sistema de compensação de horas, já


é pacífico na jurisprudência em que pode ser realizada com um acordo entre patrão e
empregado desde que obedeça aos requisitos legais, e de qualquer forma evidencia contumaz
um forte viés flexibilizador.

A flexibilização é visível ainda com a possibilidade de redução de salários no caso de


força maior (art. 503 CLT) e o art.7º VI CF/88 que traz essa possibilidade mediante
convenção e acordo coletivo, demonstrando descarte a quebra da regra da irredutibilidade
salarial. Ressalta-se também que nos moldes do artigo 71 CLT é permitido mediante acordo
escrito ou contrato coletivo se flexibilizar o intervalo para o almoço.

É notório, quando se encontra materiais que versam sobre flexibilização, uma


preocupação dos doutrinadores em traçar um paralelo desta com a Constituição Federal
vigente, de forma a buscar averiguar a constitucionalidades desse novo paradigma. Aqueles
que se manifestam contrariamente sempre direcionaram suas argumentações de forma a
defender ser a flexibilização favorável apenas aos interesses, da classe hegemônica, sem,
todavia, perceber que o Direito do Trabalho sempre oscilou entre o econômico e o social e
que, portanto, diante da realidade hodierna se faz necessário mudanças que não quer dizer
desconstituir mas reconstruir soluções para uma maior emancipação do trabalhador. Desta
maneira, vislumbra-se que a flexibilização do direito do trabalho possui duas correntes
doutrinadoras, uma que acredita que referida flexibilização é benéfica apenas para os
empregadores, enquanto a outra pensa que é positiva para os empregados, empregadores e
para o crescimento econômico e social de uma sociedade.

2 A GLOBALIZAÇÃO E OS DIREITOS TRABALHISTAS


A nova realidade econômica em curso, conforme já mencionado anteriormente, vem
trazendo inúmeras repercussões no mundo do trabalho principalmente em virtude do
desenfreado avanço tecnológico.

A globalização tem trazido inúmeros impactos na vida do trabalhador tendo em vista ser
considerada a época áurea do capitalismo mundial em que a busca desenfreada por acumulo
de capital vem rompendo fronteiras e atingindo todo o mundo.
Este cenário tem levado estudiosos a um repensar das normas trabalhistas de forma a
favorecer numa melhor adequação do trabalhador nesta realidade, sendo assim se faz
relevante uma análise acerca de como ficam os princípios trabalhistas ante este novo
momento histórico.

2.1 A Globalização frente os Princípios do Direito do Trabalho

Considerando o sentido etimológico da palavra princípio, identifica-se que o mesmo se


refere a início, origem, onde se compra algo, ponto de partida, todavia, para a ciência jurídica,
a palavra princípio dispõe de uma conotação mais ampla e profunda, à medida que se refere
aos elementos fundamentais que integram o ordenamento jurídico, se constituindo
sobremaneira a base das normas jurídicas.

Assim sendo, ante a relevância da questão em análise, faz-se adequado e oportuno


destacar o posicionamento de Martins(2002, p.73) quando destaca que; “São, portanto os
princípios as proposições básicas que fundamentam as ciências. Para o Direito, o princípio é
seu fundamento, a base que irá informar e inspirar as normas jurídicas. ”

As colocações ora em destaque, evidenciam a preeminência que os princípios têm para a


ciência jurídica, no momento em que se constituem no norte fundamental e necessário para a
aplicação da justiça ao caso concreto. Portanto, o princípio que possui um cunho axiológico
fazendo com que o aspecto valorativo adentre no Direito, dispõe de algumas funções as quais
compreendem função informadora, normativa e interpretativa.

No que se refere a função informadora, esta tem por proposito inspirar o legislador de
forma a fundamentar a elaboração das normas jurídicas; a função normativa tem por
finalidade servir o princípio como fonte supletiva para solucionar as lacunas do ordenamento
jurídico; e por fim a função interpretativa que se apresenta fundamental tendo em vista que os
princípios deverão servir de base sempre nas interpretações das normas jurídicas.

Fica identificado sobremodo, que os princípios devido ás funções supramencionadas são


de fundamental importância ante a falta de disposição legal, se constituindo em fontes
supletivas, à medida que leva o interprete em casos de lacuna socorrer-se nos princípios gerais
do Direito ou mesmo nos princípios específicos que circundam a cada ramo dando-lhes
identidade e autonomia.
Assim, ciente da importância dos princípios, é que a partir de então direcionaremos a
análise para os princípios específicos do Direito do Trabalho.

2.1.1 Princípios específicos do Direito do Trabalho

O direito do trabalho como um ramo autônomo possui princípios próprios, os quais


segundo Américo Plá Rodrigues (2018, p.25) podem ser entendidos como:

[...] os Princípios do Direito do Trabalho constituem o fundamento do ordenamento


jurídico do trabalho; assim sendo, não pode haver contradição entre eles e os
preceitos legais. Estes acima do Direito Positivo, enquanto lhe servem de inspiração,
mas não podem tornar-se independentes dele.

A assertiva em destaque salienta a importância dos princípios do Direito do Trabalho


evidenciando a necessária sintonia entre estes e o ordenamento jurídico vigente. Este mesmo
renomado estudioso quando trata acerca da temática ora em comento, destaca a seguinte
classificação para os princípios norteadores do Direito do Trabalho: a) o princípio de proteção
que pode ser concretizado mediante o; in dubio pro operário; mediante a norma mais
favorável e também as condições mais benéficas; b) irrenunciabilidade de direitos; c)
continuidade de relação de emprego; d) da primazia da realidade; e) da razoabilidade; f) da
boa fé.

Considerando a classificação aludida, a partir de então se fará uma análise de cada qual
dos princípios individualmente.

2.1.1.1 Princípio da Proteção

No que se refere ao princípio destacado por Rodriguez, este é senão o mais importante e
tem na realidade sua opulência no fato de se constituir um viés que busca compensar a
desigualdade econômica existente entre empregado e empregador, outorgando ao trabalhador
uma superioridade jurídica.

Pedreira da Silva (2019, p.29) procede a seguinte definição:

Podemos definir o princípio de proteção como aquele em virtude do qual o Direito


do Trabalho, reconhecendo a desigualdade de fato entre os sujeitos da relação
jurídica de trabalho, promove a atenuação de inferioridade econômica, hierárquica e
intelectual dos trabalhadores.

O princípio da proteção dispõe de três regras básicas para a sua aplicação, as quais
compreendem: in dúbio pro operário; aplicação da norma mais favorável; observância da
condição mais benéfica.

Quanto a regra in dúbio pro operário, Rodriguez destaca que esta dispõe de um cunho
interpretativo, tendo em vista que caso ocorra uma dúvida pela norma analisada de forma a
permitir mais de uma interpretação, deve-se aplicar aquela que melhor favoreça ao
empregado.

Já no que concerne a regra da norma mais favorável, o doutrinador uruguaio destaca que
se trata da aplicação da norma no espaço, em que caso ocorra a existência de várias normas
relacionadas a uma única relação jurídica, deve-se aplicar ao caso concreto aquela que seja
mais favorável ao empregado, mesmo que as normas sejam de hierarquias diferentes.

No que diz respeito a terceira regra (condição mais benéfica), esta que retrata a
aplicação da norma no tempo, defende que caso exista duas ou mais normas que possam ser
aplicadas na mesma relação jurídica, deve-se identificar que a norma criada posterior se for
mais restritiva de direito que a primeira já existente, a norma posterior somente será aplicada
aos novos empregados, e aos antigos ficam sob a égide da norma mais antiga, evidenciando
uma forte referência aos direitos adquiridos.

3.1.1.2 Princípio da irrenunciabilidade de direitos

Quanto ao princípio da irrenunciabilidade de direito, ressalta-se que os direitos


trabalhistas são indisponíveis não podendo, portanto, o trabalhador por espontaneidade
renunciar a direitos e garantias laborais.

2.1.1.3. Princípio da continuidade da relação de emprego

Com referência ao princípio da continuidade da relação de emprego, este refere-se ao


fato de que as normas trabalhistas defendem que os contratos de trabalho devam dispor da
maior duração possível, tendo em vista que é do labor que o trabalhador retira toda a
subsistência do seu núcleo familiar, se constituindo uma exceção a regra, o contrato por prazo
determinado. Este princípio busca favorecer ao trabalhador de forma que este disponha de
uma estabilidade.

Portanto, sendo o contrato de trabalho de trato sucessivo, este deve se prolongar no


tempo tendo como regra o contrato por prazo indeterminado.

2.1.1.4. Princípio da razoabilidade da conduta jurídica e o da boa fé

Com referência da razoabilidade da conduta jurídica, este demonstra que o ser humano
deve sempre proceder com base na razão, agindo com base em um padrão do homem comum,
enquanto que o princípio da boa fé nos contratos se apresenta como extremamente relevante,
haja vista que na aplicação da norma ao caso concreto o interprete irá observar se houve a
devida boa fé no efetivar da relação jurídica.

A boa fé está intimamente ligada a lealdade recíproca entre as partes contratantes, e que
ambas devem cumprir com suas obrigações.

2.1.1.5 Princípio da primazia da realidade

O princípio da primazia da realidade, demostra que no direito do trabalho o que tem


valor realmente são os fatos da realidade concreta. A aplicação deste princípio ocorre como
afirma Pinto (2000, p.74) quando há “ confrontos que, entre a concepção jurídica da relação e
a realidade de fato da execução, exijam considerar-se o favorecimento do empregado.
Ocorrendo o oposto.[...] deixa de dar-se aplicação ao princípio. ” Assim, evidencia a relação
direta entre este e o princípio da proteção.

Fica verificado, que tratar acerca dos Princípios do Direito do Trabalho, demanda que
seja observado o diversos viés sobre a questão de forma a favorecer a uma maior
compreensão do objeto ora estudado.

Nas leituras realizadas identifica-se que os princípios ora retratados não dizem respeito
apenas para o direito do trabalho como destacou Rodriguez, sendo, portanto, considerados
como princípios gerais aplicáveis ao direito do trabalho, assim como em outros ramos do
direito subsidiariamente.

Concerne ainda a classificação que outrora foi destacada, vale salientar que os
princípios da proteção, irrenunciabilidade de direitos, da continuidade da relação de emprego
e da primazia da realidade, estes sim, são considerados os princípios próprios do direito do
trabalho.

Além dos princípios clássicos do direito do trabalho destacado por Rodriguez, vale
salientar que a nova ordem econômica, política e social tem levado ao surgimento de dois
novos princípios, os quais sejam: o da flexibilização e o da prevalência da autonomia privada
coletiva.

2.1.1.6 Princípio da flexibilização

Verifica-se que este princípio, há tempos atrás já era avaliado por doutrinadores, pelo
fato da necessidade de pôr fim a rigidez que perfaz as normas laborais, tendo em vista que a
dialética que envolve as relações de trabalho hodierna demanda muito mais flexibilidade.

O princípio da flexibilização deriva do reconhecimento de que a forma heterônoma


de proteção se mostrou insuficiente e muitas vezes inadequada. A rigidez da
legislação laboral conspira muitas vezes contra os que pretende proteger. O caráter
imutável das cláusulas contratuais no que toca a salários, função, jornada, conduziu
a uma situação paradoxal. (SOUZA, 2002, p.62).

Não obstante, nos dias atuais, é necessário que as relações de trabalho sejam mais
flexíveis, para assim minimizar a exclusão de pessoas do mercado de trabalho e que, portanto,
busca-se tanto proteger os trabalhadores, mas não se percebe que as mudanças se fazem
necessárias para se adequar ao novo momento histórico.

3. O DIREITO DO TRABALHO FRENTE AS NOVAS EXIGÊNCIAS

O direito do trabalho, na modernidade diante das colocações até então pautadas, vem
passando por um momento que requer um efetivo repensar, de forma a não permanecer
destoante do contexto vigente. As vultosas mudanças no mundo sócio econômico e da própria
CLT, vem repercutindo diretamente no mundo do trabalho, em virtude da relação capital –
trabalho, e, portanto, sendo o Direito um instrumento de realização de justiça social, este não
pode ficar alheio a essas mudanças, mas sim criar novas estratégias para que possa de forma
flexível defender os trabalhadores e ao mesmo tempo possibilitar as condições para
minimização da exclusão social.

Ante tal realidade, novas exigências vêm se apresentando, onde para tanto destaca-se
mudanças nas formas de agir dos sindicatos, como uma forma de se fortalecerem mediante a
perda de força por consequência da reforma trabalhista.

Por outro lado, as terceirizações ganharam força no mercado de trabalho, após a reforma
trabalhista. Por um lado, utilizando-se da terceirização, os empregadores e consequentemente
as empresas gastam menos dinheiro com a economia de encargos trabalhistas, por
consequência tornam-se mais competitivas e estimulam a economia do país. Mas do outro
lado da moeda estão os trabalhadores, que parte da doutrina enxerga na terceirização a
precarização das relações de trabalho dos trabalhadores e a fragmentação dos seus direitos
trabalhistas.

A maior liberdade das empresas negociarem com os trabalhadores são enfoques que
precisam ser discutidos de forma transparente e participativa, de forma a viabilizar meios
eficazes para todo esse processo de flexibilização até então considerado preeminente.

Direcionando a presente analise para o objeto especifico deste estudo é que a partir de
então será dada uma atenção especial para a importância da negociação coletiva neste
processo como um todo.

3.1 O sindicato como instrumento de mediação

Tratar acerca do novo papel do sindicato que vem perfilando com a defesa da
flexibilização, demanda que inicialmente se proceda algumas breves considerações a respeito
do que conceitualmente compreende o sindicato e sua finalidade originária para a posteriori se
adentrar no enfoque que se pretende.

A palavra sindicato etimologicamente deriva do latim syndicus, que diz respeito a


justiça comunitária, tendo em vista que o síndico era considerado uma pessoa capaz de
representar coletividade. A palavra syndicat surge especificamente na França, em que a Lei
Lê Chaptllier dava uma referência a palavra para designar trabalhadores que se associavam
clandestinamente após a Revolução Francesa. Somente a partir de 1830 na Europa é que se
presenciava a palavra sindicato referindo-se associação de trabalhadores de um mesmo ramo
de atividade. Atualmente o sindicato não se refere tão somente empregados, mas também a
empregadores.

Na década de 40 é criada a consolidação das Leis Trabalhistas, mais especificamente em


1º de maio de 1943 com decreto-lei nº 5.452, em que os sindicatos eram considerados órgãos
de colaboração estatal. Somente a partir da década de 70 é que se visualiza lideranças
sindicais mais modernas, mas ainda como estruturas muito obsoletas. No ano de 1978 é que
em São Paulo surge o sindicalismo mais organizado, como metalúrgicos e muitas greves,
levando o governo militar a reagir intervindo nos sindicatos e afastando dirigentes.

Este remanescente histórico do sindicalismo no Brasil repercutiu também na


Constituição de 1988 que segundo Robortella (2001) esta Carta Magna, embora exalte a
negociação coletiva em algumas situações, ainda permanece cometendo erros drásticos
quando preserva a unicidade sindical e outras situações em detrimento de ter estimulado
soluções alternativas para os conflitos trabalhistas. Entretanto não se pode deixar de
mencionar que a Constituição imprimiu uma certa flexibilidade quando possibilitou os
acordos e convenções coletivas para redução de salários e a reavaliação de jornadas de
trabalho, proporcionando inclusive mudanças significativas na Consolidação das Leis
Trabalhistas.

Atualmente o que se percebe é que o trabalhador está menos submetido a uma rígida
tutela estatal e que a negociação coletiva vem sendo mais estimulada, ao tempo em que uma
imensidão de trabalhadores permanece desprotegidas dessas regras protetoras.

Com o desemprego estrutural proveniente da globalização, o que se observa é um


elevado nível de exclusão social e o crescimento acelerado do mercado informal, levando-se a
percepção de que os trabalhadores estão deixando de ser vítimas da exploração capitalista e
passando inclusive a nem sequer fazer parte do sistema produtivo, gerando uma verdadeira
crise no emprego.

Hoje, vivencia-se a Era da informática, a sociedade da informação em que há uma


exigência cada vez maior por mão-de-obra altamente qualificada, que constantemente tem
aperfeiçoado seus conhecimentos para fazer frente as novas demandas, caso contrário seu fim
é o desemprego.
A globalização e a reforma trabalhista por todas as suas exigências tem levado ao
crescimento desenfreado do desemprego, a precarização das condições de trabalho e
visivelmente estimulando o individualismo em detrimento da valorização sindical. Dessa
forma se faz necessário que os sindicatos repensem seus propósitos, se aproximem dos
trabalhadores em busca de uma consciência coletiva que favoreça a ascensão das negociações.

Em relação aos sindicatos, segundo Amauri Mascaro Nascimento (2015, p.88), o


desemprego resultado do excelente avanço tecnológico coloca os Sindicatos definitivamente
em uma posição defensiva, que não é mais reivindicatória de melhores condições de trabalho,
concentrando suas forças na sustentabilidade dos postos de trabalho, preocupação que decorre
das demissões e suspensões coletivas dos contratos de trabalho, com destaque para a
ampliação do mercado informal e terceirização, com o consequente processo de
recrudescimento dos índices de filiação.

O que se observa é que os sindicatos vêm passando também por um forte momento de
mudanças estruturais diante das novas exigências econômicas e sociais devido, também a
reforma trabalhista.

Esta realidade de mudanças no âmbito juslaboral também se fundamenta na


Constituição Federal de 1988 que prega em seu preâmbulo a defesa de uma sociedade
fraterna, fundada na harmonia social e comprometida com a solução pacífica das
controvérsias, bem assim prega a flexibilização de direitos como o efetivo controle exercido
pelos sindicatos como se averigua no artigo 7º.

O que se deve buscar com isso é uma flexibilização negociada, estando o sindicato
intermediando através de um diálogo social com as empresas na busca de soluções eficazes
que beneficiem ambas as partes do sistema produtivo.

Logo, o que se busca não é uma flexibilização desordenada e aleatória, mas sim uma
flexibilização passível de controle sindical, através de uma negociação articulada, sem jamais
deixar ao simples alvedrio da classe empresarial.

Este novo perfil sindical de atraírem novos filiados é essencial para a “sobrevivência”
dos sindicatos, tendo em vista, que os mesmos estão muito enfraquecidos, pois a reforma
trabalhista, segundo Krein, 2018 p. 169 transfere para a empresa, e para o trabalhador
individual, a forma de solucionar os conflitos e regular a relação de emprego. Alguns dos
exemplos da perda de força dos sindicatos são: Está dispensada a participação dos sindicatos
na homologação da rescisão contratual, e a negociação no local de trabalho do trabalhador
pode ser feita por intermédio de comissão de representantes dos trabalhadores, sendo
dispensada representação sindical.

Desta maneira, com a perda da capacidade de negociação dos sindicatos, é fundamental


que os mesmos cada qual com suas peculiaridades próprias, com base em realidades concretas
buscarem soluções funcionais com o objetivo de aumentarem a representação sindical, e
consequentemente, formas de melhorarem o seu poder financeiro para conseguirem se manter,
haja vista, que também estão enfraquecidos financeiramente agora que a contribuição sindical
passa a ser facultativa para o trabalhador filiado ao respectivo sindicato.

CONCLUSÃO

O Direito do Trabalho que teve na revolução industrial o seu nascedouro, reconhecido


como um ramo da Ciência Jurídica, não poderia jamais se apresentar alheio ás mudanças
estruturais e conjunturais pelas quais obrigatoriamente a relação capital-trabalho vem
apresentado nos dias atuais.

A partir da necessária absorção destas mudanças no âmbito das relações de emprego,


fica evidenciado que a rigidez das normas trabalhistas anteriormente em vigor vinha sendo
responsável não mais pela tão preconizada proteção ao trabalho, mas inversamente pela
disseminação do desemprego, pois tão somente as classes mais politicamente organizadas em
sindicatos fortes conseguiam por vez fazer valer o seus direitos em detrimento da maioria dos
trabalhadores que mesmo sob a égide de dispositivos legais e normatizadores ficam à mercê
dos humores econômicos oriundos da globalização irremediável e insana que faz da classe
trabalhadora na maioria das vezes meros coadjuvantes nesse processo.
Dessa forma ampliava-se o desemprego no país e verifica-se que o Direito do Trabalho
deve desempenhar o seu papel de elemento aglutinador de interesses renunciando às práticas
obsoletas inserindo-se naturalmente à nova ordem mundial que vem paulatinamente se
rendendo à necessidade de modificar determinados direitos trabalhistas adquiridos em épocas
remotas onde a realidade laboral era outra completamente desassociada da atual.

Tal movimento que está intimamente ligado as rápidas transformações pelas quais o
mundo passa ao longo das últimas décadas atende pelo nome de flexibilização que busca em
síntese reduzir o desemprego a partir de mudanças necessárias ao novo contexto histórico
trabalhista em evidência, bem como re-regulamentar os direitos trabalhistas vigentes. Não se
pretende com isso simplesmente suprimir-se direitos, porém adequá-los à nova ordem vigente
acobertando de proteção não só o trabalhador como o próprio trabalho, aumentando os postos
de emprego.

Tal proteção se dará obrigatoriamente no âmbito das negociações coletivas e individuais


de trabalho, onde se evidenciará a prevalência da autonomia privada coletiva, restando aos
sindicatos um papel nesse cenário menos importante do que o de antigamente, tendo em vista
a perda de representatividade sindical devido a reforma trabalhista.

Portanto, os sindicatos devem reavaliar seus propósitos, libertando-se de uma postura


conflituosa para angariar benefícios à classe trabalhadora e para si mesmo, voltando-se para
uma atuação democrática visando mediante um diálogo pacífico com a classe empresarial
proceder negociações de forma a assegurar condições dignas ao trabalhador, em que nesse
processo as categorias envolvidas saibam renunciar e avançar no momento oportuno.

Para garantir um futuro para o Direito do Trabalho sólido deve-se hoje começar a buscar
não estabilidade de emprego, mas sim uma estabilidade de trabalho, à medida que deverá
haver uma preocupação em proteger o trabalhador das terríveis fases de transição em que
impera o desemprego, oportunizando aos trabalhadores garantias por estes períodos de
escassez.

No Brasil, as empresas já se encontram cientes da importância da competitividade no


mercado global, e que, portanto, devem tomar medidas constantes que favoreçam na
qualidade de seus produtos de forma a lhes oportunizar poder competitivo, e para tanto,
devem negociar com os sindicatos, investir em tecnologias avançadas, bem assim na
formação e aperfeiçoamento do potencial de seus trabalhadores.
Ante as argumentações aqui apresentadas, verifica-se a importância do novo perfil dos
sindicatos, à medida que intermediando as negociações coletivas poderá fazer a diferença em
todo o processo de flexibilização, visto que, com a reforma trabalhista alguns direitos
trabalhistas foram retirados. Desta maneira, os sindicatos devem oportunizar um diálogo
aberto e democrático que favoreça as melhores condições ao trabalhador.

Pode-se inferir assim que o Direito do Trabalho e os sindicatos no momento presente


vem passando por um efetivo repensar para adequar-se às novas exigências, bem assim para
não deixar de cumprir sua função social, descobrindo, portanto, paradigmas jurídicos que
favoreçam os trabalhadores e minimize todo o processo de exclusão social que vem se
perfilando em escala ascendente.

Nesse processo é que o sindicato como instrumento de mediação entre os sujeitos


sociais que fazem a relação capital-trabalho, desempenhará um preeminente papel de
reinventar-se, criando maneiras de oportunizar meios eficazes de enfrentamento desse novo
momento histórico que vem apresentando-se perverso e desumano

REFERÊNCIAS

BARBAGELATA, Héctor- Hugo. O particularismo do Direito do Trabalho. Tradução


Edílson Alkmim Cunha. São Paulo: LTr,1996.

BRASIL. Constituição(1988). Constituição da República Federativa do Brasil:


promulgada em 5 de outubro de 1988: atualizada até a Emenda Constitucional nº45 de 08-12-
2004.21.ed. São Paulo: Saraiva, 2015.

________. Consolidação das Leis trabalhistas.31.ed.atual.e aum. São Paulo: Saraiva,


2019.

BUENO, Francisco da Silva. Dicionário da língua portuguesa. Ed. Ver. E atul. São Paulo:
FDT; LISA,2019.

CASSAR, Vólia Bonfim. Direito do Trabalho. 3. ed. São Paulo: Impetus, 2019

CUNHA, Sérgio Sérvulo da. Dicionário jurídico. São Paulo; saraiva, 2012.

DINIZ, José Janguiê Bezerra. O direito e a justiça do trabalho diante da globalização. São
Paulo:LTr,2019.
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. São Paulo: LTr,2020.

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 15. ed. São Paulo: LTr,
2016.

DELGADO, Maurício Godinho. A reforma trabalhista no Brasil. São Paulo: LTr, 2017.

GRZYBOWSKI, Cândido. Alternativas à globalização. In; democracia. Revista do IBASE.


Nov/dez 2000.

JÓIA, Luiz Antônio. Reengenharia e tecnologia da informação: o paradigma do


camaleão. São Paulo: Pioneira, 1999.

KREIN, José Dari. Dimensões críticas da reforma trabalhista no Brasil. São Paulo: Curt
Nimuendajú, 2018.

MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho. 19.ed. São Paulo: Atlas, 2004.

MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho,24. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

MACHADO, José Manoel. A fiscalização do trabalho frente á flexibilização das normas


5.5.05. Disponivel em:< http://www.jus.com.br/doutrina/texto.asp¿id=6599.>. Acesso em: 20
nov. 2018

MENDONÇA, Sérgio. O desemprego estrutural. In: globalização em debate [ s/local],


nov.1999.p.375-378.

NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito ao trabalho. 29. ed. São Paulo:
LTr,2003.

NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 40.ed, São Paulo:


LTr, 2015.

_________. Tendências de flexibilização das normas reguladores das relações se


trabalho de Brasil. In: GALVÃO JUNIOR, Juraci; AZEVEDO, Gelson de (coord). Estudos
de direito do trabalho e processo do trabalho. São Paulo: LTr, 1998.

NASSAR, Rosita de Nazaré Sidrim. Flexibillização do direito do trabalho. São Paulo;


LTr,1991.

PINTO, José Augusto Rodrigues. Curso de direito do trabalho.4.ed.São Paulo: LTr,2000.

ROBORTELLA, Luiz Carlos Amorim. Flexibilização da norma constitucional e garantia


de emprego. In: SILVA NETO, Manoel Jorge ( coord.). Constituição e trabalho. São
Paulo:LTr,1998.

___________ Prevalência da negociação coletiva sobre a lei. In; FREDIANI, Yone; SILVA,
Jane Granzoto Torres da (coord). O direito do trabalho na sociedade contemporânea. São
Paulo:Jurídica Brasileira,2001.

RODRIGUEZ. Américo Plá. Princípios de direito do trabalho. São Paulo:LTr,1996.


SILVA, Luiz de Pinho Pedreira. Principiologia do direito do trabalho. São Paulo:
LTr,1999.

SILVA, Reinaldo pereira e. O mercado de trabalho humano: a globalização econômica, as


políticas neoliberais e a flexibilização dos direitos sociais no Brasil. São Paulo:LTr, 1998.

SILVA, Walkure Lopes Ribeiro da; Heloani, J.Roberto. “ Estado democrático, tecnologia e
relações de trabalho. ” In:VARGAS, Luiz Alberto de ( coord). Democracia e direito do
trabalho. São Paulo: LTr,1995.

SIQUEIRA NETO, José Francisco. Princípios de direito do trabalho e economia de


mercado. In: FREDIANI, Yone; SILVA, Jane Granzoto Torres da (coord). O direito do
trabalho na sociedade contemporânea. São Paulo: Jurídica Brasileira, 2001.

SOUZA, Otavio Augusto Reis de. Nova teoria geral do direito do trabalho. São Paulo:
LTr,2002.

SUSSEKIND, Arnaldo; et al. Instituições de direito do trabalho. (vol I). 16.ed.São Paulo:
LTr,1996.

Você também pode gostar