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Estas celeumas e discussões serviram apenas por demonstrar que a flexibilização vem se
fazendo imperativa, entretanto, diante da tão complexidade que envolve a questão, bem assim,
ciente das discussões de que o sindicato desempenhará relevante papel em todo processo,
surge uma indagação: de que forma a flexibilização do direito do trabalho vem contribuindo
para a prevalência do sindicato como instrumento de mediação?
Partindo do objetivo geral desta pesquisa, foi elaborada as seguintes hipóteses: Dentre
outros fatores, o capitalismo e a globalização influenciaram na evolução histórica do Direito
do Trabalho no Brasil e no mundo, tendo em vista, que devido estes fatores as relações de
trabalho foram mais exploradas, haja vista a busca de adquirir cada vez mais capital por parte
daqueles que detinham os meios de produção de riquezas; a flexibilização do Direito do
Trabalho contribui para a prevalência do sindicato como instrumento de mediação entre
empregados e empregadores, à medida em que exalta a negociação coletiva; diante da reforma
trabalhista os sindicatos sofreram um enfraquecimento em sua representação sindical perante
a classe trabalhista e, portanto, terão que reinventar novas formas para evitar a diminuição dos
seus índices de filiação, e a nova Consolidação das Leis Trabalhistas restringiu direitos que
protegiam a classe de empregados, tornando-os mais vulnerável nas relações de trabalho em
relação aos empregadores .
Esta pesquisa sem a pretensão de esgotar o assunto, mas apenas buscando trazer breves
considerações acerca da temática, apresentou-se oportuna e adequada, à medida que traz à luz
da reflexão um assunto ímpar, recém emergente no universo jurídico, com escasso material
bibliográfico e, portanto, alvo de controvérsias e discussões.
Apresenta-se válido salientar que este estudo tem sua relevância numa temática que
envolve não apenas normas trabalhistas infraconstitucionais, mas sobretudo a
constitucionalidade, a rigidez de normas e as suas mudanças.
Buscando seguir um rigor metodológico, este projeto de pesquisa teve como enfoque
metodológico a pesquisa qualitativa tendo em vista ser as ciências jurídicas parte do universo
das pesquisas sociais. Dessa forma optou-se pelo viés bibliográfico, procedendo levantamento
em livros e artigos, de forma a promover uma aproximação com os conteúdos já existentes e
fundamentar as argumentações.
Por fim, a conclusão busca trazer de forma sintética os principais pontos abordados no
decorrer da pesquisa, bem assim confirmar a hipótese da pesquisa e, portanto, demonstra que
os seus objetivos foram devidamente atendidos.
1 ASPECTOS DA FLEXIBILIZAÇÃO
O processo de flexibilização das normas trabalhistas, em virtude das modificações
conjunturais contemporâneas, vem sendo altamente discutido por ser motivo de celeumas e
controvérsias no mundo jurídico, como se segue.
1.1 A flexibilização
Logo, não há como dizer que os institutos se confundem até porque o ponto de
divergência entre ambos se assenta na intervenção ou não do aparelho estatal. Ressalta ainda
Sussekind (2017, p.207 que a flexibilização compreende um verdadeiro defensor “ do
princípio da iderrogabilidade das normas de ordem pública, não menos certo é que essa
exceção apenas confirma o princípio protetor”.
No que concerne ao terceiro critério, este que se refere a flexibilização quanto aos
fundamentos, destaca-se a flexibilização neoliberal (visa desregulação do mercado de
trabalho; a liberal (visa o fortalecimento dos sindicatos) e adaptação à crise (ajustamento da
legislação trabalhista sem afetar sua estrutura).
Dessa forma, fica evidenciado que a flexibilização apresenta peculiaridades que devem
ser analisadas com cautela para uma melhor compreensão e aceitação do instituto, entretanto
buscou-se aqui apenas trazer algumas pontuações de forma a clarificar a temática, não
havendo delongas por não se constituir o proposito deste estudo.
Nesse sentido podemos trazer alguns exemplos a título de esclarecimento. Dessa forma
destaca-se o trabalho de sub-empreitada (art. 455 CLT) e o trabalho de locação de mão-de-
obra através do trabalho temporário e o de serviços de vigilância em instituições financeiras,
os quais não se configuram os modelos tradicionais de trabalho, pois o caráter de
subordinação está atrelado a dois entes distintos, fragmentado o poder de comando.
O texto constitucional em seu art. 7º XIII traz claramente outra norma visivelmente
flexibilizadora, no que tange a redução da jornada e o sistema de compensação de horas,
desde que seja mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho, evidenciando, portanto,
uma visível atenuação a rigidez de horários. Nesse diapasão salienta-se o trabalho a tempo
parcial que também é previsto na legislação pátria.
A globalização tem trazido inúmeros impactos na vida do trabalhador tendo em vista ser
considerada a época áurea do capitalismo mundial em que a busca desenfreada por acumulo
de capital vem rompendo fronteiras e atingindo todo o mundo.
Este cenário tem levado estudiosos a um repensar das normas trabalhistas de forma a
favorecer numa melhor adequação do trabalhador nesta realidade, sendo assim se faz
relevante uma análise acerca de como ficam os princípios trabalhistas ante este novo
momento histórico.
No que se refere a função informadora, esta tem por proposito inspirar o legislador de
forma a fundamentar a elaboração das normas jurídicas; a função normativa tem por
finalidade servir o princípio como fonte supletiva para solucionar as lacunas do ordenamento
jurídico; e por fim a função interpretativa que se apresenta fundamental tendo em vista que os
princípios deverão servir de base sempre nas interpretações das normas jurídicas.
Considerando a classificação aludida, a partir de então se fará uma análise de cada qual
dos princípios individualmente.
No que se refere ao princípio destacado por Rodriguez, este é senão o mais importante e
tem na realidade sua opulência no fato de se constituir um viés que busca compensar a
desigualdade econômica existente entre empregado e empregador, outorgando ao trabalhador
uma superioridade jurídica.
O princípio da proteção dispõe de três regras básicas para a sua aplicação, as quais
compreendem: in dúbio pro operário; aplicação da norma mais favorável; observância da
condição mais benéfica.
Quanto a regra in dúbio pro operário, Rodriguez destaca que esta dispõe de um cunho
interpretativo, tendo em vista que caso ocorra uma dúvida pela norma analisada de forma a
permitir mais de uma interpretação, deve-se aplicar aquela que melhor favoreça ao
empregado.
Já no que concerne a regra da norma mais favorável, o doutrinador uruguaio destaca que
se trata da aplicação da norma no espaço, em que caso ocorra a existência de várias normas
relacionadas a uma única relação jurídica, deve-se aplicar ao caso concreto aquela que seja
mais favorável ao empregado, mesmo que as normas sejam de hierarquias diferentes.
No que diz respeito a terceira regra (condição mais benéfica), esta que retrata a
aplicação da norma no tempo, defende que caso exista duas ou mais normas que possam ser
aplicadas na mesma relação jurídica, deve-se identificar que a norma criada posterior se for
mais restritiva de direito que a primeira já existente, a norma posterior somente será aplicada
aos novos empregados, e aos antigos ficam sob a égide da norma mais antiga, evidenciando
uma forte referência aos direitos adquiridos.
Com referência da razoabilidade da conduta jurídica, este demonstra que o ser humano
deve sempre proceder com base na razão, agindo com base em um padrão do homem comum,
enquanto que o princípio da boa fé nos contratos se apresenta como extremamente relevante,
haja vista que na aplicação da norma ao caso concreto o interprete irá observar se houve a
devida boa fé no efetivar da relação jurídica.
A boa fé está intimamente ligada a lealdade recíproca entre as partes contratantes, e que
ambas devem cumprir com suas obrigações.
Fica verificado, que tratar acerca dos Princípios do Direito do Trabalho, demanda que
seja observado o diversos viés sobre a questão de forma a favorecer a uma maior
compreensão do objeto ora estudado.
Nas leituras realizadas identifica-se que os princípios ora retratados não dizem respeito
apenas para o direito do trabalho como destacou Rodriguez, sendo, portanto, considerados
como princípios gerais aplicáveis ao direito do trabalho, assim como em outros ramos do
direito subsidiariamente.
Concerne ainda a classificação que outrora foi destacada, vale salientar que os
princípios da proteção, irrenunciabilidade de direitos, da continuidade da relação de emprego
e da primazia da realidade, estes sim, são considerados os princípios próprios do direito do
trabalho.
Além dos princípios clássicos do direito do trabalho destacado por Rodriguez, vale
salientar que a nova ordem econômica, política e social tem levado ao surgimento de dois
novos princípios, os quais sejam: o da flexibilização e o da prevalência da autonomia privada
coletiva.
Verifica-se que este princípio, há tempos atrás já era avaliado por doutrinadores, pelo
fato da necessidade de pôr fim a rigidez que perfaz as normas laborais, tendo em vista que a
dialética que envolve as relações de trabalho hodierna demanda muito mais flexibilidade.
Não obstante, nos dias atuais, é necessário que as relações de trabalho sejam mais
flexíveis, para assim minimizar a exclusão de pessoas do mercado de trabalho e que, portanto,
busca-se tanto proteger os trabalhadores, mas não se percebe que as mudanças se fazem
necessárias para se adequar ao novo momento histórico.
O direito do trabalho, na modernidade diante das colocações até então pautadas, vem
passando por um momento que requer um efetivo repensar, de forma a não permanecer
destoante do contexto vigente. As vultosas mudanças no mundo sócio econômico e da própria
CLT, vem repercutindo diretamente no mundo do trabalho, em virtude da relação capital –
trabalho, e, portanto, sendo o Direito um instrumento de realização de justiça social, este não
pode ficar alheio a essas mudanças, mas sim criar novas estratégias para que possa de forma
flexível defender os trabalhadores e ao mesmo tempo possibilitar as condições para
minimização da exclusão social.
Ante tal realidade, novas exigências vêm se apresentando, onde para tanto destaca-se
mudanças nas formas de agir dos sindicatos, como uma forma de se fortalecerem mediante a
perda de força por consequência da reforma trabalhista.
Por outro lado, as terceirizações ganharam força no mercado de trabalho, após a reforma
trabalhista. Por um lado, utilizando-se da terceirização, os empregadores e consequentemente
as empresas gastam menos dinheiro com a economia de encargos trabalhistas, por
consequência tornam-se mais competitivas e estimulam a economia do país. Mas do outro
lado da moeda estão os trabalhadores, que parte da doutrina enxerga na terceirização a
precarização das relações de trabalho dos trabalhadores e a fragmentação dos seus direitos
trabalhistas.
A maior liberdade das empresas negociarem com os trabalhadores são enfoques que
precisam ser discutidos de forma transparente e participativa, de forma a viabilizar meios
eficazes para todo esse processo de flexibilização até então considerado preeminente.
Direcionando a presente analise para o objeto especifico deste estudo é que a partir de
então será dada uma atenção especial para a importância da negociação coletiva neste
processo como um todo.
Tratar acerca do novo papel do sindicato que vem perfilando com a defesa da
flexibilização, demanda que inicialmente se proceda algumas breves considerações a respeito
do que conceitualmente compreende o sindicato e sua finalidade originária para a posteriori se
adentrar no enfoque que se pretende.
Atualmente o que se percebe é que o trabalhador está menos submetido a uma rígida
tutela estatal e que a negociação coletiva vem sendo mais estimulada, ao tempo em que uma
imensidão de trabalhadores permanece desprotegidas dessas regras protetoras.
O que se observa é que os sindicatos vêm passando também por um forte momento de
mudanças estruturais diante das novas exigências econômicas e sociais devido, também a
reforma trabalhista.
O que se deve buscar com isso é uma flexibilização negociada, estando o sindicato
intermediando através de um diálogo social com as empresas na busca de soluções eficazes
que beneficiem ambas as partes do sistema produtivo.
Logo, o que se busca não é uma flexibilização desordenada e aleatória, mas sim uma
flexibilização passível de controle sindical, através de uma negociação articulada, sem jamais
deixar ao simples alvedrio da classe empresarial.
Este novo perfil sindical de atraírem novos filiados é essencial para a “sobrevivência”
dos sindicatos, tendo em vista, que os mesmos estão muito enfraquecidos, pois a reforma
trabalhista, segundo Krein, 2018 p. 169 transfere para a empresa, e para o trabalhador
individual, a forma de solucionar os conflitos e regular a relação de emprego. Alguns dos
exemplos da perda de força dos sindicatos são: Está dispensada a participação dos sindicatos
na homologação da rescisão contratual, e a negociação no local de trabalho do trabalhador
pode ser feita por intermédio de comissão de representantes dos trabalhadores, sendo
dispensada representação sindical.
CONCLUSÃO
Tal movimento que está intimamente ligado as rápidas transformações pelas quais o
mundo passa ao longo das últimas décadas atende pelo nome de flexibilização que busca em
síntese reduzir o desemprego a partir de mudanças necessárias ao novo contexto histórico
trabalhista em evidência, bem como re-regulamentar os direitos trabalhistas vigentes. Não se
pretende com isso simplesmente suprimir-se direitos, porém adequá-los à nova ordem vigente
acobertando de proteção não só o trabalhador como o próprio trabalho, aumentando os postos
de emprego.
Para garantir um futuro para o Direito do Trabalho sólido deve-se hoje começar a buscar
não estabilidade de emprego, mas sim uma estabilidade de trabalho, à medida que deverá
haver uma preocupação em proteger o trabalhador das terríveis fases de transição em que
impera o desemprego, oportunizando aos trabalhadores garantias por estes períodos de
escassez.
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