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FACISA Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi

Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva

O NORMAL E O PATOLÓGICO - GEORGES CANGUILHEM (RESUMO)

I EXISTEM CIÊNCIAS DO NORMAL E DO PATOLÓGICO?


Em uma breve introdução ao problema o autor Canguilhem conversa com demais
autores sobre atualizações dos conceitos de normal e de patológico no que se refere a suas
respectivas ciências. Blondel descreve casos de alienação em que os doentes se
apresentavam ao mesmo tempo como incompreensíveis os outros e incompreensíveis para
si próprio, situação a qual o médico procurava explicação na impossibilidade que esses
doentes tèm de transpor o conceito de doença em sua linguagem usual.
D.Lagache e Jaspers buscam distinguir as psicoses não compreensíveis das
psicoses compreensíveis, acreditando que a personalidade do doente é heterogênea da
personalidade anterior. Lagache não admite a identificação da doença com a
experimentação, ele acha que a desorganização mórbida não é o simétrico inverso da
organização normal. Jaspers diz que é o médico que menos procura o sentido das palavras
“saúde e doença”.
Para Ribot a doença é substituto espontâneo e metodologicamente equivalente da
experimentação, pois atinge o inacessível e respeita a natureza dos elementos normais nos
quais ela decompõe as funções psíquicas. Não sendo possível comparar os sintomas
patológicos com elementos da consciência normal, porque um sintoma só tem sentido
patológico no seu contexto clínico que exprime uma perturbação global. Cita como exemplo
a uma alucinação psicomotora verbal que está contida em um delírio, e o delírio, em uma
alteração de personalidade.
E. Minkowski pensa que o fato da alienação não pode ser reduzido unicamente a um
fato de doença, pois o alienado “não se enquadra” não tem tanta relação aos outros
homens, mas relação à própria vida; não é tanto desviado, mas sobretudo diferente, e é pela
anomalia que o ser humano se destaca do todo formado pelo homens e pela vida. Sendo
inteiramente singular, a alienação ou a anomalia psíquica apresenta caracteres próprios, e
que o conceito de doença não contém. Minkowski destaca que o mal se destaca da vida e
que o bem se confunde com o dinamismo vital, de sentido único em progressão constante
destinada a ultrapassar qualquer fórmula conceitual, pois para ele a alienação é uma
categoria mais imediatamente vital do que a doença, o doente é o que ele é para si próprio e
o anormal psíquico não tem consciência do seu estado.
Não compartilhando da opinião de Minkowski, Leriche diz que a saúde é a vida no
silêncio dos órgãos. Para Sigerist a doença isola, e esse isolamento não afasta os homens

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mas, ao contrário, os aproxima do doente. E por fim Goldstein em matéria de patologia diz
que que a norma é antes de tudo uma norma individual.
Em resumo, o texto considera a vida uma potência dinâmica de superação e que são
os doentes que geralmente se julgam. O texto traz exemplos de acidente de trabalho os
quais o trabalhador passa por adaptação do novo (limitação de movimento), e que o médico
muitas das vezes limita-se a entrar em acordo com seus clientes para definir o normal e o
anormal. Estar doente significa ser nocivo, ou indesejável, ou socialmente desvalorizado.

II EXAME CRÍTICO DE ALGUNS CONCEITOS: DO NORMAL, DA NORMALIDADE E DA


DOENÇA, DO NORMAL E DO EXPERIMENTAL.
Para Littré e Robin o normal é regra, é regular, já Larande é mais explícito e diz
que é normal, etimologicamente, já que para ele norma é esquadro, é aquilo que não se
inclina nem para a esquerda nem para a direita. Sendo justo o meio termo, normal é o que
deve ser, é o que encontramos na maior parte dos casos. Desta forma existe uma confusão
análoga à medicina, em que o estado normal designa ao mesmo tempo, o estado habitual
dos órgãos e seu estado ideal.

III NORMA E MÉDIA


Neste capítulo, Canguilhem destaca a diferença entre o conceito de média, que
representa um valor médio ou um ponto central em uma distribuição estatística, e o conceito
de norma, que é uma referência ideal para a saúde e a funcionalidade de um organismo. O
autor argumenta que a normalidade não pode ser reduzida a uma simples média estatística,
pois a diversidade e as variações individuais são inerentes à condição humana.
Canguilhem critica a noção de que o normal é determinado pelo que é
estatisticamente comum, apontando que a saúde e a funcionalidade de um organismo não
podem ser resumidas apenas a medidas estatísticas. Ele enfatiza a importância de
considerar a capacidade de adaptação e equilíbrio do organismo em relação ao seu
ambiente, rejeitando a ideia de que a normalidade é simplesmente o ponto médio da
distribuição estatística.
Assim Canguilhem aborda a diferença entre os conceitos de média estatística e
norma, destacando a importância de compreender a normalidade como algo mais complexo
e contextual, indo além das simples medições estatísticas para considerar a capacidade de
adaptação e equilíbrio dos organismos em relação ao ambiente.
Portanto, a normalidade, para Canguilhem, está vinculada à capacidade do
organismo de manter um estado de equilíbrio dinâmico, de adaptação e funcionalidade em

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relação ao ambiente em que se encontra, indo além de simples medidas estatísticas para
considerar a saúde como um estado de equilíbrio dinâmico e funcional.
Canguilhem aponta que a fronteira entre o normal e o patológico – sadios e doentes
– frequentemente se dá por uma comparação com uma norma resultante da média
esperada para uma população específica. Ainda que consideradas as exigências e o rigor
do método científico, o autor afirma que uma média, obtida estatisticamente, não permite
afirmar que determinado indivíduo é normal ou não. Existencialmente, o relevante não é a
norma estatística, mas os desdobramentos e desencontros impostos à vida da pessoa e as
consequências biopsicossociais que as intervenções focadas estritamente na dimensão
biológica podem gerar.
O indivíduo é quem avalia a transformação do normal em patológico, porque é ele
quem sofre as consequências no momento em que se sente incapaz de realizar as tarefas
que a nova situação lhe impõe. É a partir do julgamento individual de estar doente que cada
pessoa sente a necessidade de procurar assistência.

IV DOENÇA, CURA, SAÚDE

O autor destaca que se atribui ao próprio ser vivo a responsabilidade de distinguir o


ponto em que começa a doença, pois, em matérias de normas biológicas, é sempre o
indivíduo que devemos tomar como ponto de referência. Em outras palavras, é o próprio
indivíduo e sua experiência que devem ser considerados como a autoridade primária para
determinar quando algo está errado em seu estado de saúde. Cada organismo possui suas
próprias características, limitações e formas de funcionar. Portanto, a avaliação da saúde e
da doença deve levar em conta a situação e a experiência específicas de cada indivíduo.
Canguilhem argumenta contra uma abordagem estritamente normativa e estatística
para definir o que é considerado normal e patológico ao afirmar que uma média, obtida
estatisticamente, não permite dizer se determinado indivíduo é normal ou não. Em vez disso,
ele enfatiza a importância de considerar a experiência subjetiva do próprio organismo ao
determinar o estado de sua saúde.
Um exemplo citado pelo autor é de que Napoleão teria um pulso de 40 e, apesar de
muito distinto do número médio de 70 pulsações por minuto, que é considerado normal,
essa característica não o limitava a cumprir as exigências que lhe eram impostas.
Outro exemplo citado pelo autor são as experiências de simpatectomia realizadas
com animais, os quais perdem a capacidade de termorregulação e, embora pareçam

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normais dentro do ambiente controlado do laboratório, eles perdem o poder de se adaptar às


mudanças do meio, ficando incapazes de lutar por seu alimento ou contra os seus inimigos.
Para definir o estado normal de um organismo, ele leva em conta o “comportamento
privilegiado”, o qual corresponde ao fato de serem realizadas e, de certa forma, preferidas
apenas algumas das reações de que um organismo é capaz, em condições experimentais.
Ou seja, o ser vivo responde melhor às exigências de seu ambiente, vive em harmonia com
o seu meio, comportando mais ordem e estabilidade.
Canguilhem introduz o conceito de "reações catastróficas" para descrever as
respostas extremas e desorganizadas que um organismo pode apresentar diante de
situações de estresse ou desafio. Essas reações são caracterizadas pela perda da
capacidade de adaptação e pela incapacidade de manter o equilíbrio com o ambiente.
O autor coloca que a doença é ao mesmo tempo privação e reformulação. A ideia de
privação refere-se ao fato de que a doença envolve uma perda ou um desvio em relação ao
estado de saúde considerado normal. Em outras palavras, na presença de uma doença, há
a privação de uma função normal do corpo. Porém, ele coloca que a doença também
envolve a reorganização e a adaptação do organismo diante da condição patológica. O
organismo, ao se deparar com uma situação de doença, busca reajustar seus mecanismos e
processos internos para lidar com a nova realidade. Ele cita exemplos de pacientes afásicos,
que, embora não consigam pronunciar o nome de determinado objeto, conseguem
descrevê-lo, ou seja, altera a estrutura da linguagem considerada convencional para a sua
nova condição.
Em suma, ele coloca que “o doente deve sempre ser julgado em relação com a
situação à qual ele reage e com os instrumentos de ação que o meio próprio lhe oferece”.
A doença não cria nada, apesar de ser uma reformulação de um resto e não apenas
a perda de um bem; como diz Cassirer, ela faz o doente regredir "a uma etapa anterior no
caminho que a humanidade teve de abrir lentamente, por um esforço constante". Ora, é
verdade que, segundo Goldstein, a doença é um modo de vida reduzido, sem generosidade
criativa, já que é desprovido de audácia, mas apesar disso, para o indivíduo, a doença não
deixa de ser uma vida nova, caracterizada por novas constantes fisiológicas, por novos
mecanismos para a obtenção de resultados aparentemente inalterados.
A regressão da capacidade não reproduz exatamente um estágio passado, mas dele
se aproxima (distúrbios da linguagem, da percepção etc.).
A doença não é apenas o desaparecimento de uma ordem fisiológica, mas o
aparecimento de uma nova ordem vital. Não há desordem, há substituição de uma ordem

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esperada ou apreciada por uma outra ordem que de nada nos serve e que temos de
suportar.
"Ser sadio, diz Goldstein, é ser capaz de se comportar ordenadamente, e isso pode
ocorrer apesar da impossibilidade de certas realizações que antes eram possíveis. No
entanto... a nova saúde não é a mesma que a antiga”.
Curar, apesar dos déficits, sempre é acompanhado de perdas essenciais para o
organismo e, ao mesmo tempo, do reaparecimento de uma ordem. A isso corresponde uma
nova norma individual. Pode-se compreender o quanto é importante reencontrar uma ordem
durante a cura se atentarmos para o fato de que o organismo parece, antes de tudo, querer
conservar ou adquirir certas peculiaridades que lhe permitirão construir essa nova ordem.
Essas novas constantes garantem a nova ordem. Só podemos compreender o
comportamento do organismo curado se prestarmos atenção a isso. Não temos o direito de
tentar modificar essas constantes, só criaríamos, assim, uma nova desordem.
A vida não conhece a reversibilidade. No entanto, apesar de não admitir
restabelecimentos, a vida admite reparações que são realmente inovações fisiológicas. A
redução maior ou menor dessas possibilidades de inovação dá a medida da gravidade da
doença.
A expressão "infidelidades do meio" se refere às mudanças e perturbações que o
ambiente pode apresentar, tais como variações de temperatura, exposição a agentes
patogênicos, alterações na dieta, entre outros fatores externos que podem afetar o
organismo. Essas "infidelidades" representam as condições não constantes e muitas vezes
imprevisíveis do ambiente em que vivemos.
Ao dizer que a saúde é uma "margem" a essas infidelidades, Canguilhem está
enfatizando a capacidade adaptativa e regulatória do organismo. Uma pessoa saudável é
capaz de lidar com uma variedade de condições e desafios ambientais sem entrar em
estado de desequilíbrio patológico.
Essa perspectiva destaca a ideia de que a saúde não é uma condição estática, mas
sim um processo dinâmico de adaptação contínua ao ambiente. A capacidade de manter um
estado de equilíbrio mesmo diante das variações do meio é um sinal de saúde funcional.
O homem só se sente em boa saúde — que é, precisamente, a saúde — quando se
sente mais do que normal, isto é, não apenas adaptado ao meio e às suas exigências, mas,
também, normativo, capaz de seguir novas normas de vida.
A possibilidade de abusar da saúde faz parte da saúde. Não foi, evidentemente, com
a intenção expressa de dar aos homens essa impressão que a natureza fez seus
organismos com tal prodigalidade: rim demais, pulmão demais, paratireóides demais,

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pâncreas demais, até mesmo cérebro demais, se limitássemos a vida humana à vida
vegetativa. Tal modo de pensar expressa o mais ingênuo finalismo. No entanto, a verdade é
que, sendo feito assim, o homem se sente garantido por uma superabundância de meios
dos quais lhe parece normal abusar.
Se deixarmos, agora, essas análises para voltar ao sentimento concreto do estado
que elas procuraram definir, compreende-se que, para o homem, a saúde seja um
sentimento de segurança na vida, sentimento este que, por si mesmo, não se impõe
nenhum limite.

V FISIOLOGIA E PATOLOGIA

Definir a fisiologia como ciência das leis ou das constantes não é rigorosamente
exato por duas razões:
1)O conceito de normal não é um conceito de existência e por isso não pode ser medido
objetivamente.
2)O patológico deve ser compreendido como uma espécie do normal, porque o anormal é
um normal diferente.
A fisiologia é uma ciência e é fácil definir por meio de seu método o modo como ela
é uma ciência. Mas não é fácil definir por meio de seu objeto de que ela é a ciência.
Woelfflin diz que o artista barroco vê o olhar e não olho, vê na natureza o que está
inacabado.O homem da época barroca não se interessa pelo que é, e sim pelo que vai ser.
Do mesmo modo, Sigerist diz sobre o médico: “ele não vê o músculo, mas sua contração e o
efeito que ela produz”. Eis como nasceu a fisiologia, tendo como objeto o movimento,
abrindo portas ao ilimitado e sendo a ciência dos ritmos estabilizados da vida.
O doente foi o primeiro a constatar um dia que alguma coisa não ia bem. Se não
houvesse obstáculos patológicos não haveria também fisiologia, pois não haveriam
problemas fisiológicos a serem resolvidos.

O autor menciona a concepção de Virchow, que definia a patologia como uma


"fisiologia com obstáculos", ou seja, a doença era vista como um desvio das funções
normais devido a fatores externos. No entanto, Canguilhem critica essa visão,
argumentando que essa abordagem desconsidera o papel fundamental da doença na
geração de novos conhecimentos e na evolução da ciência.
Canguilhem sugere que a patologia não pode ser subestimada, pois foi a experiência
de obstáculos, vivida por pacientes, que deu origem à patologia, tanto em termos de

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semiologia clínica quanto na interpretação fisiológica dos sintomas. Ele enfatiza que o
obstáculo é o que chama o médico e que as normas só são reconhecidas como tal quando
infringidas. Ele argumenta que a vida só se torna consciente e científica de si mesma por
meio da inadaptação, do fracasso e da dor.
O autor também destaca exemplos históricos, como a descoberta da função das
glândulas supra-renais após a remoção acidental em um cão. Ele argumenta que muitas
descobertas em fisiologia e imunologia surgiram de acidentes e observações clínicas.
Canguilhem defende a importância da patologia na geração de conhecimento
científico e na compreensão das funções normais do organismo, destacando que a doença
desempenha um papel crucial na evolução da medicina e da fisiologia.
O autor explora se a patologia deve ser uma ciência puramente natural, eliminando
considerações teleológicas (ou seja, finalidades ou objetivos) da análise patológica, ou se a
teleologia é útil e inevitável na compreensão da doença.
Argumenta que a patologia não pode ser separada da teleologia, uma vez que as
considerações teleológicas são úteis na prática médica, como no caso de determinar se um
tumor é maligno ou benigno. Eliminar completamente a teleologia da patologia pode
prejudicar a medicina prática e a compreensão dos processos patológicos.
Ele também menciona que muitos patologistas modernos aceitam a importância da
teleologia na patologia, pois se relaciona com a totalidade do organismo e seu
comportamento, o que é essencial para uma compreensão completa da doença. Portanto, a
divisão rígida de trabalho proposta por alguns autores, que separa completamente a
patologia da medicina e da fisiologia, pode ser impraticável e prejudicial para a medicina.
O texto destaca a importância de considerar a teleologia na patologia, pois ela
desempenha um papel fundamental na prática médica e na compreensão das doenças. A
divisão rígida entre ciências naturais e medicina pode não ser viável, e a teleologia pode ser
útil na compreensão dos processos patológicos.

Conclusão
Na conclusão o autor discute a natureza do conceito de "normal" e "patológico" no
contexto da patologia e da medicina. Argumenta que o estado mórbido no organismo vivo
não pode ser meramente considerado uma simples variação quantitativa dos fenômenos
fisiológicos que definem o estado normal. Em vez disso, ele defende a importância de
entender a patologia em relação à polaridade dinâmica da vida.

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O autor introduz o conceito de "normatividade biológica", que implica que a vida


estabelece valores tanto no meio ambiente quanto no próprio organismo. Isso significa que o
estado patológico não pode ser considerado idêntico ao estado normal fisiológico, pois
esses dois estados estão relacionados a normas diferentes.
O texto também enfatiza que o estado fisiológico está mais ligado ao estado de
saúde, pois é capaz de admitir mudanças para novas normas, enquanto o estado patológico
reflete a redução das normas de vida toleradas pelo organismo, indicando a precariedade do
normal estabelecido pela doença.
A cura é vista como a busca de um estado de estabilidade das normas fisiológicas,
mas o autor ressalta que a cura não implica uma volta à inocência biológica, pois envolve a
criação de novas normas de vida, às vezes superiores às antigas. Há uma irreversibilidade
na normatividade biológica.
O conceito de "norma" é considerado original e não pode ser reduzido a um conceito
objetivamente determinável por métodos científicos. Assim, não existe uma ciência biológica
do normal, mas sim uma ciência das situações e condições biológicas consideradas
normais, que é a fisiologia.
O texto também enfatiza a relação entre a medicina e a atividade normativa da vida,
destacando que a medicina utiliza os resultados de todas as ciências em prol das normas da
vida. A medicina existe porque as pessoas se sentem doentes, e só então elas sabem em
que consiste sua doença.
Em última análise, o autor argumenta que qualquer conceito empírico de doença
mantém uma relação com o conceito axiológico (relativo aos valores) da doença. Portanto,
não é apenas um método objetivo que qualifica um fenômeno biológico como patológico,
mas sim a relação com o indivíduo doente, por meio da clínica, que justifica essa
qualificação. O autor sugere que não é possível falar em "patologia objetiva" de forma
absolutamente lógica, pois o objeto da patologia é inerentemente subjetivo e ligado a
valores.

Novas reflexões referentes ao normal e ao patológico


"Novas Reflexões sobre o Normal e o Patológico" é uma continuação das reflexões
de Georges Canguilhem sobre a filosofia da medicina e a distinção entre o normal e o
patológico. No livro, Canguilhem explora questões relacionadas à biologia, medicina e
epistemologia, aprofundando sua análise sobre a relação entre a saúde e a doença. Alguns
pontos que devem ser lembrados nessa obra.

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1. Continuação da Filosofia da Medicina: Canguilhem continua a análise que iniciou


em seu livro anterior, "O Normal e o Patológico." Ele explora como as definições de
normalidade e patologia não são apenas questões objetivas, mas também são influenciadas
por fatores históricos, culturais e filosóficos. Ele aprofunda a ideia de que a saúde e a
doença são conceitos complexos e dinâmicos.
2. A Relação Entre Biologia e Medicina: O autor destaca a importância de
compreender a interseção entre a biologia e a medicina. Ele argumenta que a medicina não
deve ser reduzida a uma mera aplicação de princípios biológicos, mas deve ser vista como
uma disciplina que lida com a vida e a qualidade de vida das pessoas.
3. Variação Biológica: Canguilhem enfatiza que a variação biológica é um aspecto
intrínseco à natureza e que a saúde e a doença devem ser compreendidas em relação a
essa variação. Ele argumenta que a variação biológica não deve ser patologizada, mas sim
entendida como parte integrante da biologia e da condição humana.
4. O Conceito de Normatividade: Canguilhem introduz o conceito de "normatividade"
como uma forma de compreender a relação entre o organismo e seu ambiente. Ele explora
como os organismos têm a capacidade de estabelecer normas internas para manter a
homeostase e se adaptar às mudanças ambientais.
5. A Filosofia da Biologia: O livro também aborda questões filosóficas mais amplas
relacionadas à biologia, à medicina e à epistemologia. Canguilhem argumenta que a biologia
é uma ciência rica e complexa que merece um exame filosófico profundo.
Em resumo, "Novas Reflexões sobre o Normal e o Patológico" de Georges
Canguilhem é uma obra que expande e aprofunda suas reflexões sobre a distinção entre o
normal e o patológico na medicina e na biologia. O livro destaca a complexidade desses
conceitos e a importância de considerar a variação biológica, a normatividade e a filosofia da
biologia ao abordar questões de saúde e doença.
Um dos termos citados pelo autor durante sua abordagem sobre o normal e o
patológico refere-se sobre a homeostasia genética. Quando associado a esse termo
puramente biológico a filosofia compreendemos que trata principalmente das questões de
normalidade, patologia e adaptação em um contexto biológico e médico.
Trazendo para o lado técnico do termo sabemos que a homeostasia genética
refere-se à capacidade dos organismos de manter a estabilidade genética ao longo do
tempo. Isso envolve processos biológicos, como a replicação precisa do DNA e a correção
de erros genéticos. A estabilidade genética é fundamental para a sobrevivência e a
reprodução das espécies, pois as mudanças genéticas descontroladas podem levar a
mutações prejudiciais e à patologia.

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A estabilidade genética desempenha um papel na manutenção do equilíbrio interno


dos organismos, que é um dos principais tópicos do livro. A homeostasia genética contribui
para a normalidade do funcionamento dos organismos, enquanto as mutações genéticas ou
instabilidade genética podem estar associadas à patologia.
Portanto, a homeostasia genética pode ser vista como um aspecto subjacente da
normalidade biológica discutida por Canguilhem em seu livro. O equilíbrio genético
desempenha um papel importante na manutenção da normalidade biológica, enquanto a
instabilidade genética pode ser vista como um fator que contribui para a patologia.

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