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Resumo
Este artigo aborda conceitos de organização industrial e otimização de layout através de
estudos de fluxos produtivos, utilizando um método de análise do processo produtivo baseado
em tecnologias de grupo. A aplicação da metodologia proposta é demonstrada através de um
estudo de caso em uma empresa metalúrgica em expansão do setor metal-mecânico, de médio
porte, com processo produtivo de grande variedade de produtos, lotes pequenos e médios.
Observaram-se ótimos resultados operacionais e da metodologia para identificação de
agrupamentos.
Palavras-chave: Otimização de Layout, Arranjo Físico e Tecnologia de Grupo.
1. Introdução
Empresas industriais estão constantemente avaliando a necessidade de reorganizar os seus
processos a fim de otimizar recursos e melhorar os seus fluxos produtivos dando suporte as
suas prioridades competitivas da manufatura e atendendo a demandas flutuantes. O mercado
automotivo é conhecido pelos seus desafios em flexibilidade, custos, qualidade, alta dinâmica
e competitividade. Em especial, o mercado agrícola teve uma enorme expansão nos últimos
anos, até o final de 2004, provocando um aumento desordenado da capacidade produtiva de
muitos fornecedores da cadeia produtiva gaúcha (ALBERTIN, 2003). Segundo o mesmo
autor, o desafio é maior quando se trata de empresas com grande variedade de peças, lotes
relativamente pequenos característico do parque automotivo tradicional do Rio Grande do Sul
composto de fabricantes de tratores, colheitadeiras, ônibus e motores, entre outros e seus
fornecedores. Este trabalho descreve a otimização e resultados obtidos da reorganização
industrial através da utilização do uso de metodologia desenvolvida para Tecnologia de
Grupo.
3. Revisão Bibliográfica
Nesta seção são apresentados conceitos de Tecnologia de Grupo, os princípios básicos de
arranjo físico, diferentes tipos de layouts e a relação destes com tipos de processos, volumes e
variedades de produtos.
Tecnologia de Grupo é uma filosofia que define a solução de problemas explorando
semelhanças, para se obter vantagens econômicas e operacionais mediante tratamento de
grupo. O agrupamento em famílias é determinado por meio de metodologias, identificando
processos ou produtos com características semelhantes. A vantagem é obtida quando estes
produtos considerados de pequeno lote são tratados no planejamento produtivo como família
de peças ou como produção seriada (LORINI, 1993).
O layout de um processo produtivo preocupa-se com a localização física dos recursos
incluindo o posicionamento de pessoas, instalações, máquinas e equipamentos na produção
(SLACK et al., 1997).
Segundo Lorini (1993), modificações no layout podem influenciar uma organização na forma
como ela atende as suas prioridades competitivas facilitando os fluxos de materiais e de
informações aumentando a eficiência da utilização de recursos, reduzindo riscos de acidentes
do trabalho, elevando a moral dos trabalhadores e a comunicação entre as áreas envolvidas.
A literatura pesquisada identifica os seguintes quatro tipos básicos de layouts: arranjo físico
posicional, por processo, celular e por produto (SLACK, 1997). O mesmo autor relaciona os
tipos de arranjos aos tipos de processo, variedade e quantidade de produto.A Figura 1 mostra
que um tipo de processo não implica necessariamente em um tipo específico de arranjo físico.
O volume e a variedade de produtos estão fortemente relacionados com o tipo de layout. A
Figura 2 exemplifica esta relação. O layout por produto é apropriado para altos volumes e
baixa variedade; layout funcional para baixo volume e alta variedade; layout celular para
níveis intermediários de volume e variedade e layout fixo para volume e variedade menores.
Desta maneira, pode-se afirmar que o tipo de layout mais adequado para cada organização vai
depender da variedade e quantidade dos produtos produzidos. Observa-se, entretanto que uma
planta industrial poderá combinar mais de um tipo de layout. A seguir são descritos dois tipos
de layout estudados neste trabalho, o layout por processos e o layout celular. O layout
funcional ou por processo agrupa processos operacionais ou equipamentos similares fazendo
P ro ce sso p o r p ro je to
L a yo u t p o sicio n a l
P ro ce sso tip o jo b b in g
L a yo u t p o r p ro ce sso
P ro ce sso e m m a ssa
L a yo u t p o r p ro d u to
P ro ce sso co n tín u o
Baixo
Arranjo físico
produto
Variedade Arranjo físico
celular
Arranjo físico
processo
Arranjo físico
Alta posicional
O layout por processo é aplicado para produtos com fluxos que se repetem de forma
intermitente, isto é, lotes pequenos e repetitivos (LORINI, 1993).
Arranjo físico celular é aquele em que os recursos necessários para uma determinada classe
ou família de produtos são agrupados. As máquinas são arranjadas em grupos de tipos
diversos, destinadas a atender inteiramente a fabricação de uma família de peças (LORINI,
1993). Desta maneira, os recursos transformados, entrando na operação, são pré-selecionados
para movimentar-se para uma parte específica da operação (ou célula) na qual todos os
recursos transformadores necessários a atender as necessidades de processamento se
encontram. A célula em si pode ser arranjada segundo um arranjo físico por processo ou por
produto (SLACK,1997). Quando os recursos são destinados a estes agrupamentos utilizamos
neste trabalho a expressão mini-fábricas.
A célula de manufatura, em comparação aos layouts tradicionais, pode proporcionar aumentos
de 10 a 20% na produtividade da mão-de-obra direta. Também produzem benefício de
diminuição de 70 a 90% dos equipamentos de movimentação e manuseio de materiais, a
redução de 95% dos estoques em processo e a diminuição de 50% na área de fabricação
(BARBOSA,1999).
M1 M2 M3 M4 M5 M6 M7
Peça A 1 1 0 1 0 0 1
B 0 0 1 0 1 1 0
C 1 1 0 1 0 0 1
D 0 0 1 0 1 1 0
E 1 1 0 1 0 0 1
F 0 0 1 0 1 1 0
G 1 1 0 1 0 0 1
2- Aplicação do algoritmo de ROC (Ranked Order Clustering) ou de King: Nesta etapa usa-se
a técnica de algoritmos descrita por Lorini (1993) com auxílio de uma planilha eletrônica.
Esta técnica permite visualizar agrupamentos de produtos ou peças com fluxos ou roteiros de
produção semelhantes. Este método trabalha com uma matriz, considerando cada linha e
coluna como uma palavra binária e ordenando-as de acordo com o seu valor decimal
correspondente.O algoritmo estabelece uma ponderação binária, onde “1” representa a
incidência da peça na máquina e “0”, o caso oposto, conforme Figura 3. Um valor decimal
correspondente a cada palavra binária é atribuído para linhas e colunas. Com estes valores o
algoritmo rearranja as linhas e colunas da matriz até que as mesmas fiquem dispostas em
ordem decrescente possibilitando identificar agrupamentos, conforme Figura 4 (LORINI,
1993).
M1 M2 M4 M7 M3 M5 M6
A 1 1 1 1 0 0 0
C 1 1 1 1 0 0 0
E 1 1 1 1 0 0 0
G 1 1 1 1 0 0 0
B 0 0 0 0 1 1 1
D 0 0 0 0 1 1 1
F 1 1 1
3- Análise dos resultados: Nesta etapa são analisados os grupos de produtos com fluxos
semelhantes, a abrangência e semelhança dos grupos e as quantidades de produtos nos
diferentes agrupamentos. Observa-se que na prática não existem agrupamentos perfeitos e que
alguns agrupamentos devem ficar mais próximos, pois compartilham as mesmas operações ou
máquinas.
4- Escolha dos arranjos físicos: Depois da visualização dos possíveis agrupamentos procura-
se definir os arranjos físicos possíveis, as vantagens e desvantagens de cada tipo considerando
prioridades competitivas. È recomendado o acompanhamento e comprometimento dos
responsáveis da produção e dos operadores.
5- Seleção das máquinas e produtos que serão utilizados no layout: Para cada layout escolhido
são definidos os equipamentos e os produtos considerando as capacidades produtivas,
gargalos e demandas específicas.
6- Seleção de indicadores de desempenho: È importante comparar melhorias e resultados
obtidos através de indicadores como lead time, estoque em processo, área utilizada, entre
outros.
7- Implantação do projeto: Nesta etapa utiliza-se apoio de aplicativos informatizados e
maquetes para planejar cada etapa de reorganização industrial. Não é finalidade deste trabalho
descrever esta etapa.
8- Análise e comparação de resultados: Através de indicadores e entrevistas é possível
quantificar os benefícios proporcionados do processo produtivo reorganizado.
No exemplo da Figura 4, observam-se dois agrupamentos perfeitos. O primeiro agrupamento
está entre as máquinas M1, M2, M4 e M7 com as peças A,C,E,G. O segundo agrupamento
está entre as máquinas M3,M5 e M6 com as peças B,D e F. Na prática observam a existência
de agrupamentos não perfeitos.
5. Estudo de caso
A seguir são descritas as principais etapas de aplicação da metodologia em uma empresa
metalúrgica desenvolvidas ao longo do ano 2004 por uma equipe de apoio composta por um
pesquisador, um especialista em layout e um estagiário juntamente com um grupo de
representantes da empresa, incluindo gerente, líder e operadores.
serras e retíficas. O resultado foi um agrupamento mais homogêneo, mas com fluxos ainda
muito distintos. Na análise por fluxos conclui-se que a empresa possui a maioria das peças
com fluxos diferentes e com pouca semelhança.
Média de
Lead Distância Distância
N° de N° de peças N° de Área
Operadores
Time máxima mínima
Máquinas em fluxos utilizada
médio percorrida percorrida
processo
Média de
N° de Lead Distância Distância
Operadores N° de peças N° de Área
Time máxima mínima
máquinas em Fluxos utilizada
Médio percorrida percorrida
processo
Média de
Lead Distância Distância
N° de N° de peças N° de Área
Time Máxima Mínima
Operadores máquinas em Fluxos utilizada
Médio percorrida percorrida
processo
Três meses após a reorganização do layout realizaram-se entrevistas sob a percepção dos
benefícios do novo layout. Foram entrevistados aproximadamente 10% dos envolvidos com
perguntas abertas.
7. Conclusão
A matriz binária de peças e máquinas mostrou a variedade de fluxos utilizados na empresa,
sendo que para cada 1,47 peças havia um fluxo diferente. A utilização do algoritmo de King
confirmou a não existência de agrupamentos, ou seja, a não homogeneização dos processos
produtivos (roteiro). Embora existia uma grande quantidade de peças por famílias bem
definidas estas percorriam caminhos diversos devido à especificidade das máquinas ou
detalhes de desenhos. O fato de ter rodado o algoritmo de King por agrupamentos de fluxos
(máquinas foram substituídas na matriz binária por operações, ex. tornos mecânicos de
diferentes capacidades foram substituídos por operações do tipo facear e tonear) ajudou na
identificação de agrupamentos de peças por fluxos possibilitando a reorganização do
processo produtivo em mini-fábricas, organizadas por layout de processos e do tipo celular.
Neste caso, a metodologia e o algoritmo de King se mostraram eficazes.
A identificação das peças nas mini-fábricas e o cálculo de capacidades por operações
proporcionaram a identificação de gargalos e facilitou enormemente a programação e,
provavelmente a diminuição de quantidades de peças atrasadas e prazos não atendidos.
Referência
ALBERTIN, M. “O processo de governança em arranjos produtivos: o caso da cadeia
automotiva do RGS”. Porto Alegre: UFRGS, 2003. Tese de Doutorado, PPGEP.
ARRUDA, P. E. S. (1994), “Levantamento do estágio atual de implantação de tecnologia
de grupo e Células de manufatura no estado de São Paulo”, Dissertação de Mestrado, São
Carlos.
BARBOSA, S. A. (1999), “Um estudo da implantação da filosofia Just in Time em uma
empresa de grande porte e sua integração ao MRPII”, Dissertação de Mestrado, São
Carlos.
LORINI, F. J. (1993), “Tecnologia de grupo e organização da Manufatura”, Ed. Da UFSC.
SLACK, N; CHAMBERS, S; HARLAND, C; HARRISON, A; JOHNSTON.R. (1997),
“Administração da Produção”, Ed. Atlas S.A.
KOSTROW, P. “The Facilities Planning Process”. Facilities Planning, Executive, p. 10-14,
May-June, 1996.