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RESUMO
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Enfermagem: desafios e perspectivas para a integralidade do cuidado
INTRODUÇÃO
Diabetes Mellitus (DM) é uma doença crônica que afeta diversas faixas etárias em todo
o mundo. Por esse motivo, é considerado um problema de saúde pública mundialmente re-
conhecido, responsável pelo aumento da morbidade e mortalidade da população. Segundo
a Sociedade Brasileira de Diabetes, esse crescimento se dá, em grande parte, pelo enve-
lhecimento da população, com alguns hábitos de saúde peculiares, como a obesidade e o
sedentarismo (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2014). Se re-
ferindo à mortalidade, só no ano de 2017 houveram 4 milhões de mortes por diabetes no
mundo, e, 11% desses eram constituintes da América Central e do Sul.
Quando analisamos os dados com DM no mundo, nota-se que anualmente gasta-se
29,3 bilhões de dólares, em uma doença que poderia ser, em grande parte, controlada com
hábitos de vida mais saudáveis. O Brasil ocupa o 6° lugar entre os países que mais gastam
com diabetes no mundo, entretanto, quando analisados os dados por pessoa, ele não está
nem entre os 10 primeiros (ATLAS DE LA DIABETES, 2013; STANDARDS OF MEDICAL
CARE IN DIABETE, 2019).
Sendo uma das doenças crônicas de maior relevância atualmente, o DM vem crescen-
do. Hoje, estima-se que cerca de 425 milhões de pessoas já possuam a doença em todo o
mundo, e, até 2040, estima-se que esse número ultrapasse os 629 milhões de indivíduos
(ATLAS DE LA DIABETES, 2013; CUIDADOS INOVADORES, 2003). Para o Brasil, os da-
dos mostram que hoje há cerca de 12,5 milhões de pessoas com diagnóstico de DM, o que
lhe dá o 4° lugar no ranking dos 10 países com maior número de indivíduos com diabetes.
Ocupa também o 5° lugar no ranking quando os pacientes são idosos com mais de 65 anos,
o que aponta para um envelhecimento da população com uma qualidade de vida já reduzida
(ATLAS DE LA DIABETES, 2013). Já, quando se tratando de crianças diagnosticadas com
Diabetes Mellitus do tipo 1, o Brasil ocupa o 3° lugar entre os países com mais casos de DM.
Esse trabalho tem como objetivo tratar das complicações do DM, em especial o pé
diabético, sendo um fator recorrente nos portadores de diabetes. Aborda-se a importância do
enfermeiro na identificação e classificação do pé diabético e a importância dessa parcela de
profissionais de saúde (enfermeiros) em identificar, conhecer e entender sobre as diversas
classes de medicamentos utilizados para o tratamento. Pois, são esses profissionais que
irão estar em contato direto com o paciente na maioria do tempo, responsáveis por avaliar
se houve ou não melhora no quadro e sanar as dúvidas de seus clientes.
O pé diabético possui uma prevalência global média de 6,4% dentre os portadores, mas,
se tratando de amputações, quando comparado a indivíduos saudáveis, o número cresce
em 20 a 30 vezes (DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2014).
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Foi escolhido esse tema, pela pouca discussão e evidência que o pé diabético possui nas
discussões entre profissionais da saúde.
MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa metodológica. Para sua realização foi necessária uma busca
ativa de artigos nas bases de dados PubMed, SciELO e Scopus, utilizando os descritores:
enfermagem; diabetes mellitus; complicações; e, pé diabético. Também foi realizada uma
busca ativa nos principais livros bases e sociedades que abordam o assunto, de modo a
buscar conhecimentos atualizados sobre o assunto.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para apresentação e discussão dos resultados, o trabalho foi dividido em seções, são
elas: Pé Diabético; Osteomielite e Pé Diabético; Neuropatia e Pé Diabético; Doença arte-
rial periférica e Pé Diabético; Teste Vascular do pé diabético; Classificação do pé diabéti-
co; O manejo de Enfermagem; Papel do enfermeiro; e, Tratamento Adjuvante com curativos
para lesões do Pé Diabético.
Pé diabético
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Para o pé diabético o risco de morte é outro fator importante e que deve ser discuti-
do. Em menos de 1 ano, estima-se que, nas infecções mais graves, 1 em 4 pacientes hos-
pitalizados acabem vindo ao óbito. Essa característica, se dá em grande parte devido ao
aumento da resistência microbiana dos patógenos que infectam as feridas do pé diabético
(CHASTAIN, 2019). Característica que evolui e causa o comprometimento da biomecânica
corporal, a doença do pé diabético surge do DM e de processos patológicos como a doença
arterial periférica e a neuropatia. Um dos principais problemas relacionados ao pé diabético,
úlcera pé diabético (CHASTAIN, 2019; DEL CORE, 2018).
Três são os principais fatores responsáveis pela formação do pé diabético: neuropatia,
isquemia e infecção, ambos que, através da hiperglicemia prolongada, são os formadores
das úlceras do pé diabético. Normalmente, as ulcerações do pé diabético, tendem a evoluir
para a cronicidade. Fatores como a diminuição da acuidade visual, da neuropatia, que faz
com que haja a diminuição da sensibilidade, contribuem para essa evolução (CAMPOS,
2016; NEVES, 2013).
Para ser possível classificar um pé diabético, é necessário entender como é a sua
apresentação clínica. Na face plantar, a apresentação manifesta-se através da dor, onde o
paciente sente o agravo quando a pressão plantar aumenta. Posteriormente iniciam-se os
sinais flogísticos de infecção, como eritema e rubor no local afetado, a figura 1 evidencia
essa característica (CAMPOS, 2016; NEVES, 2013).
Após essa fase, com o agravo da infecção, ela pode evoluir, dando lugar para uma
necrose cutânea, a figura 2 demonstra a evolução da necrose cutânea. Quando a infecção
chega nessa fase, há a apresentação de sinais de sistêmicos da infecção, como febre, náu-
seas, vômitos, confusão mental e hiperglicemia de difícil controle (NEVES, 2013).
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Figura 2. Pé diabético com necrose cutânea.
Osteomielite e pé diabético
O trauma repetitivo das articulações e ligamentos dos pedais por perda da sensação
da dor, causa osteoartropatia. Ela normalmente ocorre a longo prazo em diabéticos que pos-
suem neuropatia periférica e vascular, e pode causar variados graus de destruição óssea,
cartilagens e deformidades, além de aumentar a instabilidade nas articulações. Por tudo isso,
podem acontecer calos, ulcerações e infecções causando potencialmente amputações dos
membros (CAMPOS, 2016; LEONE, 2019; MANUAL DO PÉ DIABÉTICO, 2016).
A partir dessas lesões causadas pelo trauma repetitivo, pode ocorrer a osteomielite,
resultado da contaminação direta de uma lesão do tecido mole, frequentemente de uma úlcera
que adquire infecção. Por tal razão, é frequente a solicitação da avaliação do pé diabético para
a osteomielite, porque sinais e sintomas podem ser mascarados devido à doença vascular
periférica relacionada à diabetes e neuropatia periférica (CAMPOS, 2016; LEONE, 2019;).
Se há presença de osteomielite, o tratamento torna-se complicado e reduz as hipóte-
ses de ter um resultado promissor. Por tal razão, diagnóstico imediato e terapia adequada
são chaves para que evite complicações futuras e poder chegar a complicações extre-
mas (LEONE, 2019).
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Para se ter um bom entendimento da situação do paciente, é preciso que se faça um
diagnóstico médico com biópsia óssea, exame histopatológico e microbiológico, no intuito de
encontrar o organismo responsável e a sua sensibilidade para os antibióticos (LEONE, 2019).
Neuropatia e pé diabético
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Quadro 2. Diferenças entre úlceras neuropáticas e úlcera isquêmica.
Classificação do pé diabético
Classificação de Wagner
Grau
Descrição
Presença de sintomas ou deformidades ósseas, com risco de ulceração, mas com pele intacta e ausência
0
de úlceras.
Ulceração superficial com perda total de pele e sem infecção. Normalmente ocorre em locais de pressão,
1
como extremidades metastáticas.
Ulceração profunda, frequentemente penetrando no tecido subcutâneo. Há a presença de infecção, mas não
2
acomete o tecido ósseo.
3 Úlceras com osteomielite, sepse articular ou abscesso.
4 Gangrena localizada no ante pé.
5 Gangrena afetando o pé inteiro.
Fonte: CORE, 2018.
Grau
0 1 2 3
Ferida superficial, sem
Completamente epitelizado ou Ferida que penetra e invade Ferida que penetra em
A envolvimento de cápsula,
pré lesão pós-ulcerativa. cápsula ou tendão. articulação ou osso.
tendão ou osso.
Ferida superficial, sem
Completamente epitelizado ou Ferida que penetra e invade Ferida que penetra em
envolvimento de cápsula,
B pré lesão pós-ulcerativa com cápsula ou tendão com articulação ou osso com
tendão ou osso com
infecção. infecção. infecção.
infecção.
Ferida superficial, sem
Completamente epitelizado ou Ferida que penetra e invade Ferida que penetra em
envolvimento de cápsula,
C pré lesão pós-ulcerativa com cápsula ou tendão com articulação ou osso com
tendão ou osso com
isquemia. isquemia. isquemia.
isquemia.
Ferida superficial, sem
Completamente epitelizado ou Ferida que penetra e invade Ferida que penetra em
envolvimento de cápsula,
D pré lesão pós-ulcerativa com cápsula ou tendão com articulação ou osso com
tendão ou osso com infecção
infecção e isquemia. infecção e isquemia. infecção e isquemia.
e isquemia.
Fonte: CAMPOS, 2016; CORE, 2018.
O manejo de enfermagem
A avaliação do pé diabético deve ser constante e têm muita importância para a pre-
venção de lesões que levarão a piora do quadro do paciente. É de extrema atenção que
a avaliação seja feita rotineiramente, principalmente nos pacientes que possuem DAP ou
neuropatia. Como um dos papéis do enfermeiro é o de educação, é responsabilidade desse
profissional educar seus pacientes quanto a avaliação do pé diabético.
Em uma avaliação inicial, feita principalmente pelo enfermeiro, é necessário que ocorra
uma anamnese completa. Nela, devem ser considerados todos os fatores relacionados à
diabetes, como histórico completo, com data de diagnóstico e o uso ou não de insulina. Com
relação aos cuidados de saúde, deve ser considerado comorbidades existentes, história
familiar, social e operatória, uso de álcool, tabaco e outras drogas, e medicamentos atuais.
Deve ser avaliada a presença ou não de neuropatia, já que ela é responsável por quadros
de agravamento e aumento do risco das lesões do pé diabético. No exame físico, deve ser
feita a avaliação de sensibilidade, através dos monofilamentos de Semmes-Weinstein de
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10 gramas, de percepção vibratória, através do diapasão de 128Hz (CHASTAIN, 2019; DEL
CORE, 2018; PARENTES, 2021).
Teste de monofilamento Semmes-Weinstein: utilizado, com grande recomendação,
para o rastreamento de neuropatia diabética. A tabela 3, mostra como o enfermeiro deve
realizar o teste (MANUAL DO PÉ DIABÉTICO, 2016).
Papel do enfermeiro
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Tabela 4. Orientações para o autocuidado no Pé Diabético.
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Tabela 5. Relação dos tipos de cobertura com o tipo de tecido.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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