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11. No que se refere ao cenário externo, cabe notar que a economia mundial
continua evidenciando pressões conflitantes, com sinais mais nítidos de
desaceleração acompanhados por taxas de inflação ainda elevadas. A visão
dominante continua apontando para a expansão, em ritmo moderado, da
economia mundial em 2008 e em 2009, mas os dados divulgados nas últimas
semanas apontam para um enfraquecimento mais intenso da atividade nas
economias maduras, em especial a Área do Euro, o Reino Unido e o Japão, ao
passo em que estímulos fiscais e monetários vinham sustentando a atividade nos
Estados Unidos (EUA), que, todavia, também deu sinais de debilitação nas
últimas semanas. Há evidências de que o enfraquecimento mais pronunciado da
atividade econômica na Europa e partes da Ásia deveu-se em importante medida
ao choque negativo de termos de troca ocasionado pela elevação dos preços de
commodities, que poderia estar sendo revertido. Os efeitos secundários da
elevação dos preços de matérias-primas, e as pressões da demanda aquecida
sobre a capacidade de expansão da oferta, que são particularmente evidentes
nas economias emergentes, têm mantido taxas de inflação corrente em
patamares elevados, com conseqüências significativas, em diversos casos, sobre
as expectativas inflacionárias. A esse quadro macroeconômico difícil soma-se, no
caso dos EUA e, em menor medida, da Europa, uma severa crise financeira.
Nesse contexto, ainda que a existência de pressões inflacionárias seja objeto de
preocupação para um número importante de autoridades monetárias, as reações
de política têm sido heterogêneas, situação que tende a persistir.
Especificamente, a economia dos EUA entrou em período de desaceleração
desde o último trimestre de 2007 e continua sofrendo o impacto da crise no setor
imobiliário, com efeitos sobre o mercado de trabalho, cujo enfraquecimento, em
combinação com a elevação dos preços de derivados de petróleo, tem afetado a
confiança dos consumidores, contribuindo de forma importante para deprimir o
dispêndio. Ainda que a influência de estímulos monetários e fiscais tenha limitado
o risco de uma contração significativa da atividade, o cenário dominante continua
apontando para uma recuperação mais consistente apenas a partir de 2009.
Mesmo depois de um significativo reforço da base de capital de instituições
financeiras relevantes, permanece a incerteza sobre a extensão e a amplitude
dos desdobramentos da crise hipotecária americana sobre o sistema bancário
nos EUA e na Europa, bem como quanto ao impacto que estes terão sobre as
condições de acesso ao crédito por parte de empresas e famílias nessas regiões.
A percepção de risco sistêmico permanece elevada, à medida que os problemas
financeiros vêm sendo agravados por uma deterioração cíclica na qualidade do
crédito, o que tende a reforçar a contração das condições financeiras e, por
conseguinte, o risco de intensificação da desaceleração. Nesse contexto, a
intervenção do governo dos EUA em grandes empresas de financiamento
imobiliário pode ser vista como condição necessária, mas provavelmente não
suficiente, para a superação da crise. A opinião majoritária entre os analistas
parece sugerir que a atividade na Europa e no Japão deve continuar
apresentando perda de dinamismo ao longo do segundo semestre. Nas
economias centrais, portanto, as perspectivas para a adoção de políticas
contracionistas parecem limitadas. Por outro lado, ainda que mostrando certa
moderação na margem, o crescimento das economias emergentes continua forte
e, até agora, aparentemente foi afetado de forma limitada pela crise hipotecária
nos EUA, constituindo contraponto aos efeitos da desaceleração das economias
maduras. De fato, diante da pressão sobre a disponibilidade de fatores de
produção, a elevação da inflação apontava para a continuidade de políticas de
contração monetária em diversas economias emergentes. As perspectivas para a
política monetária nas economias emergentes tornaram-se ainda mais complexas
nas últimas semanas, quando diversas moedas, não somente de países
exportadores de commodities, sofreram expressiva depreciação frente ao dólar
americano, em meio a elevação dos indicadores de volatilidade e de aversão ao
risco nos mercados financeiros internacionais. Não obstante, as políticas voltadas
para reduzir a vulnerabilidade externa da economia têm se mostrado bem
sucedidas, contribuindo para mitigar, mas não eliminar, os efeitos das
dificuldades que caracterizam o cenário externo sobre a atividade econômica no
Brasil, cujo dinamismo vem sendo sustentado essencialmente pela demanda
doméstica.
17. O Copom avalia que a política monetária deve contribuir para a consolidação
de um ambiente macroeconômico favorável em horizontes mais longos. Os
dados referentes à atividade econômica indicam que o ritmo de expansão da
demanda doméstica continua bastante robusto e responde, ao menos
parcialmente, pela aceleração inflacionária observada desde o final de 2007, a
despeito do forte crescimento das importações e do comportamento benigno do
investimento. Mesmo no contexto de uma desaceleração da economia mundial
neste ano e da maior volatilidade que vem caracterizando os mercados globais
desde meados do ano passado, o Comitê acredita, com as informações
disponíveis até o momento, que o balanço de pagamentos não deve apresentar
risco significativo para o cenário inflacionário. Em linhas gerais, a influência do
cenário externo sobre a trajetória prospectiva da inflação brasileira continua
sujeita a efeitos contraditórios e envolta em considerável incerteza. Por um lado,
a perspectiva, que está aparentemente se consolidando, de desaceleração mais
generalizada da atividade ao longo dos próximos meses, aponta para uma
acomodação tanto dos preços de commodities quanto da demanda externa,
podendo também influenciar as condições financeiras locais. Por outro lado, essa
tendência de desaquecimento tem ocasionado aumento da aversão ao risco,
afetando a demanda por ativos brasileiros e ocasionando depreciação de seus
preços. Nesse cenário, pode ocorrer redução adicional das exportações líquidas,
com efeito similar sobre o comportamento dos preços de certos ativos brasileiros.
Note-se, também, que a trajetória dos índices de preços ainda evidencia a
presença de descompassos entre o crescimento da oferta e da demanda, e,
conseqüentemente, de riscos inflacionários significativos, em diversas
economias, mesmo que com intensidade possivelmente menor do que em
meados do ano. Diante da deterioração ocorrida nos últimos meses nas
perspectivas para a inflação, em ambiente de maior incerteza, o Comitê avalia
que o risco de materialização de um cenário inflacionário menos benigno segue
elevado. O Copom enfatiza que o principal desafio da política monetária nesse
contexto é garantir que os resultados favoráveis obtidos nos últimos anos sejam
preservados. Em particular, cabe à política monetária atuar para que impactos
inicialmente localizados sobre os índices de inflação, parcialmente derivados de
ajustes de preços relativos em escala global, não levem, por meio de uma piora
das expectativas, a uma deterioração persistente da dinâmica inflacionária. O
Comitê entende que a preservação da estabilidade monetária é condição
necessária para que o sistema de preços relativos continue sinalizando
eficientemente os ajustes necessários nos padrões de consumo e produção
vigentes na economia.
20. O Copom considera fundamental ressaltar, mais uma vez, que há defasagens
importantes entre a implementação da política monetária e seus efeitos tanto
sobre o nível de atividade como sobre a inflação. Dessa forma, a avaliação de
decisões alternativas de política monetária deve concentrar-se, necessariamente,
na análise do cenário prospectivo para a inflação e nos riscos a ele associados,
em vez de privilegiar os valores correntes observados para essa variável.
21. Ao longo dos próximos meses, o crescimento do crédito, ainda que com
alguma moderação, ocasionada pela elevação dos custos de captação, e a
expansão da massa salarial real devem continuar impulsionando a atividade
econômica. A esses fatores de sustentação da demanda devem ser acrescidos
os efeitos das transferências governamentais esperadas para este e para os
próximos trimestres. Essas considerações se tornam ainda mais relevantes
quando se levam em conta os nítidos sinais de demanda doméstica aquecida, a
disseminação de pressões derivadas de ajustes de preços relativos, inclusive
sobre o mercado de trabalho, e o fato de que as decisões de política monetária
terão impactos concentrados em 2009.
25. Parte do Comitê avalia que, desde a última reunião, acumularam-se sinais de
acentuada deterioração da atividade nas economias centrais, acarretando certa
melhora nas perspectivas inflacionárias globais, em parte em função da queda
dos preços de commodities. Esse cenário teria possíveis impactos
contracionistas, inclusive por meio dos desdobramentos da desalavancagem
financeira sobre as condições creditícias, que se somariam aos efeitos defasados
da política monetária sobre a atividade econômica no país, com implicações para
o cenário inflacionário prospectivo. Dessa forma, esses membros do Copom
consideraram que seria mais apropriado, já neste momento, elevar a taxa básica
em 50 p.b.
26. A maioria do Comitê, entretanto, considera neste momento que, em que pese
a deterioração das perspectivas para o crescimento econômico mundial, os
riscos para a materialização de um cenário inflacionário benigno no país não
apresentaram ainda melhora suficientemente convincente. Em particular, esses
membros do comitê avaliam que não se acumularam até o momento sinais
consistentes de redução do descompasso entre o ritmo de expansão da
demanda e da oferta, como evidencia o uso intenso dos fatores produtivos, e que
a ancoragem das expectativas à trajetória de metas precisaria ser reforçada.
Nesse contexto, esses membros do Copom consideraram ser mais adequado
incrementar a taxa básica em 75 p.b.
Inflação
Atividade econômica
Expectativas e sondagens
43. Ainda segundo a FGV, o Índice de Confiança da Indústria (ICI) atingiu 122,8
pontos em agosto, ante 121,5 em julho. O indicador situou-se 0,9 p.p. acima do
nível registrado em igual mês de 2007, refletindo as elevações respectivas de
1,4% e 0,4% nos componentes relativos às expectativas e à situação atual. Dos
quesitos relacionados à situação presente, o nível de demanda, sobretudo a
doméstica, e a situação atual dos negócios continuam com avaliação favorável.
Os empresários mantêm-se confiantes quanto ao aumento da produção no
trimestre agosto-outubro.
Mercado de trabalho
47. De acordo com a mesma pesquisa, o rendimento médio real habitual das
pessoas ocupadas aumentou 0,1% em julho, em relação a junho, e 3%
comparativamente a julho de 2007. A massa salarial real recuou 0,1% em julho,
ante o mês anterior, e cresceu 6,5% no ano, situando-se 7,2% acima da
verificada em julho de 2007.
Crédito e inadimplência
51. O prazo médio das operações de crédito referenciais situou-se em 373 dias
em julho, mantendo-se praticamente estável desde janeiro, quando superou, pela
primeira vez, a marca de um ano. Nas operações com pessoas jurídicas, o prazo
médio atingiu 299 dias, enquanto nas operações realizadas com pessoas físicas,
467 dias.
Ambiente externo