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& MERCADOS
Relatório Iº Semestre 2018
Departamento de Estudos, Estratégia e Desenvolvimento
Agosto, 2018
Nota Editorial
Por seu lado, o inquérito acerca dos empréstimos bancários do Banco Central
Europeu mostrou que o crédito continuou a crescer ao longo do quarto trimestre
de 2017. Este crescimento foi apoiado pelo aumento da procura em todos os
segmentos e pela melhoria das condições de acesso ao mesmo.
Adicionalmente, segundo o mesmo inquérito, o contexto favorável das taxas de
juros e uma maior confiança apoiaram o crescimento desta procura, além disso,
as famílias puderam beneficiar de maiores facilidades no acesso ao crédito
habitação. Por sua vez, nos mercados emergentes, é esperado manter-se a
turbulência em torno dos países com maiores desequilíbrios externos
principalmente para os dependentes das commodities energéticas.
Disclaimer: Este documento foi elaborado com base em informação obtida em fontes consideradas fiáveis, mas a sua precisão não pode
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2
ENQUADRAMENTO
Macroeconómico
Estados Unidos
3
Estados Unidos
4
A economia americana, influenciada pelo massivo estímulo fiscal, desfrutou de um bom
desempenho no primeiro semestre do ano em curso, tendo registado um crescimento de 4,1%
no segundo trimestre em taxa anualizada, representando a melhor performance da sua
economia desde o terceiro trimestre de 2014. Para além do estímulo fiscal, contribuíram
também para este crescimento o aumento dos níveis de consumo, em particular de bens
duráveis (Automóveis) na ordem dos 9,3% bem como o aumento das exportações na ordem
dos 9,3%, sendo este último, motivado pela aceleração dos embarques de soja para a china
por parte dos fazendeiros antes da entrada em vigor das tarifas comerciais da China.
No que diz respeito ao mercado de trabalho, a maior economia do mundo também evoluiu de
forma positiva, tendo a taxa de desemprego observado uma tendência decrescente de Janeiro
a Maio, saindo de 4,1% para os 3,8%, respectivamente, embora tenha subido ligeiramente em
6,0
Taxa de inflaçãoJunho para os 4%. Este comportamento pode ser explicado pelo bom momento que a
EUA
5,0
economia americana tem apresentado, contribuindo assim para o aumentado de forma
considerável e sustentada do número de empregos fora do sector agrícola.
4,0
De acordo com os dados divulgados pelo Departamento do Trabalho, a tendência de aumento
3,0 da inflação manteve-se ao longo do semestre tendo atingido os 2,9% em Junho, o nível mais
alto desde Fevereiro de 2012. Esta tendência poderá motivar a Reserva Federal (FED) a
2,0
prosseguir com o processo de ajuste gradual das taxas de juros no segundo semestre, tendo
1,0 em conta que os dados sobre a inflação são determinantes para a definição do rumo da política
monetária.
0,0
dez/03 dez/05 dez/07
Esta melhoriadez/09 dez/11
da economia dez/13
norte americana dez/15a FED a elevar as taxas de juros em duas
levou
-1,0 ocasiões ao longo do semestre, tendo a última ocorrido em Junho, deixando-a entre 1,75% e
2%.
-2,0
5 12 5
Taxa de Taxa de
Desemprego Taxa de inflação
(eixo a Crescimento 4 EUA
4
do PIB EUA
10
direita)
(eixo a
3
3 esquerda) 8
2
2 6
1
1 4
0
0 2
-1
-1 -
-2
5
Zona Euro
6
A economia da zona Euro verificou um ritmo de crescimento de 0,5% no final do primeiro
semestre de 2018, correspondendo a uma diminuição de 0,1 p.p em relação ao valor observado
no final do semestre anterior. A combinação na diminuição das exportações e das importações,
em 0,4% e 0,1%, respectivamente, estiveram na base do crescimento moderado na região. Por
outro lado, o aumento da volatilidade que se verificou nos mercados financeiros deveu-se a
tensão comercial provocada pela política proteccionista do Presidente americano, Donald
Trump.
Outrossim, a taxa de inflação registou uma evolução positiva, situando-se em torno de 2%,
acima dos 1,4% verificados no início do semestre, atingindo a meta estabelecida pelo Banco
Central Europeu (BCE) de 2%. A impulsionar o comportamento da inflação estiveram o
comportamento do preço do petróleo e o enfraquecimento do Euro.
jun/10
jun/11
jun/13
jun/14
jun/15
jun/16
jun/17
jun/18
dez/09
dez/10
dez/11
dez/12
dez/13
dez/14
dez/15
dez/16
dez/17
jun/09
jun/10
jun/11
jun/12
jun/13
jun/14
jun/15
jun/16
jun/17
jun/18
dez/10
dez/09
dez/11
dez/12
dez/13
dez/14
dez/15
dez/16
dez/17
Fonte: Bloomberg
7
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS)
8
Ao longo do primeiro semestre de 2018, as economias emergentes tiveram comportamentos
díspares apesar do aumento do preço das commodities verificados ao longo do referido
período.
Rússia
O bom momento vivido pela economia russa, desde que saiu da crise no primeiro trimestre
A procura por um de 2017, contribuiu favoravelmente para a queda da taxa de desemprego em Maio para os
Crescimento mais 4,7%, nível mais baixo desde Outubro de 1992.
robusto continua… Por outro lado, é consensual entre a Reuters / Bloomberg que a taxa de crescimento anual
do PIB projectada para o segundo trimestre é de 1,8%.
No fim do semestre a taxa de inflação situou-se nos 2,4%, 0,6 p.p abaixo da observada no
fim do semestre anterior.
9
A economia indiana cresceu a uma taxa anualizada de 7,7% no primeiro trimestre de 2018,
superando as previsões de crescimento inicialmente avançadas pelo governo de 7,3% a
maior taxa de crescimento desde o segundo trimestre de 2016. Este crescimento foi
suportado maioritariamente pelo aumento dos gastos do governo que registou a maior taxa
de crescimento (16,8%) e pela formação bruta de capital fixo (14,4%).
Índia
Segundo o Escritório Nacional de Estatística do país, o PIB da China registou uma taxa de
crescimento de 6,7% no segundo trimestre de 2018, representando 0,2 p.p acima do
China crescimento projectado pelo governo para o referido periodo. Todavia, apesar de situar-se
acima das projecções do governo, este indicador desacelerou levemente em relação ao
Crescimento acima do
crescimento de 6,8% registrado no primeiro trimestre, sendo os principais contribuintes para
esperado …
este crescimento o comércio externo (7,9%) e as vendas a retalho (9%).
10
BRICS I Taxa de Crescimento do PIB e Taxa de Inflação
15 10
15 20
15 10 5
10
10
5 5 0
5
0 0 0 -5
jun/09
jun/10
jun/11
jun/12
jun/13
jun/14
jun/15
jun/16
jun/17
jun/18
dez/11
dez/09
dez/10
dez/12
dez/13
dez/14
dez/15
dez/16
dez/17
Taxa de Crescimento PIB África do Sul (eixo esquerda)
Taxa de Inflação África do Sul
4 14
3 12
2 10
1 8
0 6
jun/09 jun/10 jun/11 jun/12 jun/13 jun/14 jun/15 jun/16 jun/17 jun/18
-1 4
-2 2
-3 0
11
Angola
12
Desempenho do Produto e da Inflação
Depois de ter observado dois anos consecutivos de recessão económica (2016 e 2017), de acordo com
os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) as estimativas mais recentes, feitas no
âmbito da programação macroeconómica do Executivo para este ano, apontam para um crescimento do
Produto Interno Produto (PIB) na ordem dos 2,2%. Entretanto, esta projecção representa, por um lado,
que o país sairá da recessão dos últimos dois anos e por outro lado, um corte em mais de metade do
crescimento (4,9%) inicialmente avançado no Orçamento Geral do Estado (OGE) para o exercício
económico de 2018.
A melhoria nas projecções, comparativamente aos exercícios passados é sustentada pelo facto de o
preço médio do barril de petróleo ter-se situado acima do projectado no Orçamento Geral do Estado
(OGE) para o exercício económico de 2018, comportamento que tem viabilizado a gestão da política
económica em Angola.
Quanto ao nível de preços, de acordo com os dados divulgados pelo (INE), a semelhança da tendência
que se observou no semestre anterior, ocorreu um comportamento decrescente no seu ritmo de
crescimento ao longo do semestre em análise, tendo o semestre encerrado com uma taxa de 19,52%, o
que significou um decréscimo de 17,53% em relação ao valor observado no final do semestre anterior e
36,02% em relação a taxa observada no período homólogo de 2017. Ao manter-se a actual tendência no
segundo semestre, ficará abaixo da meta estabelecida (23%) pelo Executivo até o final do ano, embora
continue ainda em dois dígitos devido à actual situação macroeconómica.
46,00
41,12
41,00
36,00
31,00
29,72
26,00
21,00 19,52
16,00
11,00
6,00
jun/16 set/16 dez/16 mar/17 jun/17 set/17 dez/17 mar/18 jun/18
Fonte: INE
13
Política Monetária
O período em análise ficou marcado pela unificação por parte do Comité de Política Monetária (CPM)
do Banco Nacional de Angola (BNA) das taxas de juro de facilidade permanente de cedência de liquidez
e da taxa básica de juro, passando a designar-se apenas por Taxa BNA – que passa a reflectir o custo
efectivo da cedência de liquidez aos bancos comerciais pelo BNA.
Durante este período, a taxa BNA permaneceu inalterada nos 18% enquanto o coeficiente das
Reservas Obrigatórias em moeda nacional reduziu para 19%. Esta postura por parte do BNA reflecte a
sua intenção de reduzir as restrições de liquidez do sistema bancário.
No que diz respeito as reservas internacionais líquidas, de acordo com os dados preliminares do BNA,
estas permaneceram relativamente estáveis situando-se em USD 13,3 mil milhões em Junho,
representando uma variação negativa de apenas 0,69% em relação ao valor observado no final do
período anterior (USD 13,4 mil milhões em Dezembro de 2017) e de cerca de 21% em relação ao valor
observado no final do período homólogo de 2017 (USD 16,8 mil milhões em Junho de 2017). Este
comportamento pode ser explicado pelo novo modelo de colocação de divisas adoptado pelo BNA, que
tem resultado na melhoria gradual da utilização das mesmas bem como na redução da diferença entre
o câmbio formal e o informal.
Política Fiscal
Comparativamente ao ano anterior, o actual cenário fiscal afigura-se mais optimista, tendo em conta
as metas de crescimento assumidas no actual OGE. Não obstante a quebra que se observou na
quantidade exportada de petróleo ao longo do semestre, a subida dos preços no mesmo período
compensou este efeito, de modo que, de acordo com os dados preliminares do Ministério das finanças
as receitas petrolíferas no período tiveram uma evolução positiva totalizando AOA 1,470 biliões, sendo
este o melhor semestre em termos de receitas petrolíferas para o tesouro desde a segunda metade de
2014, altura em que o preço desta commodity registou uma queda considerável.
O OGE prevê encaixar, até ao final do ano, AOA 2,4 biliões com as receitas fiscais provenientes da
exportação de petróleo, pelo que até Junho já ultrapassou os 60% dessa meta, de modo que o
comportamento do preço do petróleo que se verificou ao longo do semestre tem concorrido
favoravelmente para concretização da meta de crescimento (2,2% após a revisão) assumida no OGE
de 2018.
Até o final do período em análise, o preço médio por barril exportado de petróleo foi de 67,80 dólares,
o mais alto desde 2015, fruto do acordo entre alguns países produtores de petróleo, com vista a reduzir
a produção para provocar o aumento da cotação do barril de crude.
14
Reservas Internacionais Líquidas, mM USD
17,54
18,00 16,78
15,64 15,29 15,27
16,00 14,25 14,40
13,34 13,16 12,90 13,19 12,80 13,26
14,00
12,00
10,00
8,00
6,00
4,00
2,00
0,00
jun/17 jul/17 ago/17 set/17 out/17 nov/17 dez/17 jan/18 fev/18 mar/18 abr/18 mai/18 jun/18
Juros 8%
Subsídios e Transferências 6%
Despesa de
capital ; 48,97%
Despesa
corrente ;
51,07%
15
DESEMPENHO
dos Mercados
No segundo Semestre assistiu-se uma considerável volatilidade nos mercados financeiros. O
abrandamento das economias emergentes, a recuperação anémica da Zona Euro, os
conflitos no Médio Oriente e a expectativas sobre o fim dos estímulos monetários nos
Estados-Unidos e no Reino Unido, condicionaram a evolução das várias classes de activos,
desde as acções às obrigações, passando pelas commodities.
.
O abrandamento das economias
emergentes e as expectativas do fim dos
estímulos monetários nos EUA
condicionaram em parte o desempenho
dos mercados financeiros
16
Mercado Accionista
O índice europeu Eurostoxx50 registou uma variação negativa de 3% entre Janeiro a Junho de
2018. Esta variação negativa foi impulsionada pelo aumento das taxas de juro americanas, pelas
tensões EUA – China, bem como pela instabilidade política no velho continente, fruto das eleições
realizadas na Itália e da tensão política vivida na Alemanha. No entanto, apesar dos
acontecimentos negativos ao longo do semestre, o índice apresentou desempenho positivo em
alguns momentos motivado pelo bom desempenho do sector tecnológico e pela depreciação do
euro face ao dólar (verificada no mês de Abril) contribuindo positivamente para o aumento das
exportações.
Por último, o índice MSCI dos mercados emergentes teve uma variação negativa de 7,6% de
Janeiro a Junho deste ano. Esta variação foi fundamentalmente motivada pela guerra comercial
entre os EUA e a China.
Mercado Accionista
4000
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
jan/18 fev/18 mar/18 abr/18 mai/18 jun/18
Fonte: Bloomberg
17
Mercado Cambial
No primeiro semestre de 2018, a taxa de câmbio USD/AOA fixou-se em AOA 254,545 no final de
Junho, representando uma depreciação do Kwanza face ao Dólar Americano na ordem dos 52,7%.
Esta variação foi influenciada pelo modelo cambial adoptado pelo Banco Nacional de Angola (BNA).
260,0
1,22
240,0
1,17 220,0
1,12 200,0
180,0
1,07
160,0
1,02 140,0
jun/17 set/17 dez/17 mar/18 jun/18
Fonte: Bloomberg
18
Mercado Interbancário
Em 2018, a taxa de juro a 1 dia (Luibor overnight) sofreu uma ligeira subida de 19,45% em Janeiro
para 21,94% em Junho, representando uma variação positiva na ordem dos 12,8%.
A Luibor para as maturidades de 30, 90, 180, 270 e 360 dias registaram uma diminuição nas 3
primeiras e aumento nas 2 últimas, passando de 18,65%, 19,82%, 20,93%, 22,51%, 23,47% para
19,24%, 20,02%, 21,01%, 21,96% e 22,87%, respectivamente, entre Janeiro a Junho do ano em
análise.
No mercado internacional, a taxa Libor 6M (Londres) registou um aumento de 31%, tendo-se fixado
no final do período em 2,50%. Por outro lado, a Euribor 6M (Zona Euro) registou uma variação
positiva de 3,45%. A inversão da tendência decrescente desta taxa, apesar de ainda continuar
negativa, foi influenciada pela expectativa do crescimento da taxa de inflação da zona euro
alcançando o valor estabelecido de 2,00% pelo Banco Central Europeu (BCE).
2,70% 22%
2,20%
21%
1,70%
1,20% 20%
0,70%
19%
0,20%
Fonte: Bloomberg
19
Mercado de Dívida Pública
Na Zona Euro, o rendimento dos títulos a 10 anos (yields) das economias avançadas continuam
a transaccionar em níveis muito reduzidos. A yield das obrigações alemãs a 10 anos fixou-se em
0,3%, representando uma variação negativa de 56% no final do semestre. Para Espanha, Itália
e Portugal as yields fixaram-se em 1,33%, 2,69% e 1,79%, respectivamente. Representando uma
variação negativa de 6,33% e 8,6% para Espanha e Portugal, respectivamente e uma variação
positiva de 33% para Itália no final do semestre. A rentabilidade das obrigações a 10 anos dos
Estados Unidos registou uma variação positiva de 5,5%, fixando-se em 2,86% no final do
semestre.
Em Angola, no primeiro semestre de 2018, verificou-se de um modo geral uma variação negativa
na emissão da divida pública. O Tesouro Nacional, segundo dados preliminares do BNA, colocou
em Junho no mercado primário AOA 86,4 mil milhões em Títulos do Tesouro. Deste valor, AOA
22,08 mil milhões correspondem a Bilhetes do Tesouro (BT), AOA 64,3 mil milhões a Obrigações
do Tesouro (OT) o que representa uma diminuição de 55% no final do semestre. Relativamente
as OT, os meses com maior e menor emissão foram Fevereiro e Março atingindo AOA 178,1 e
22,1 mil milhões respectivamente, representando uma variação mensal negativa de 88%. Para
as BT Abril e Junho foram os meses com maior e menor emissão com AOA 142,2 e 22,08 mil
milhões, respectivamente, representando uma variação negativa na ordem dos 84% nos meses
em análise.
Fonte: Bloomberg
20
Evolução do volume de negócios transacionados na BODIVA (AOA, mil milhões)
140 3,0%
120 2,5%
100
2,0%
80
1,5%
60
1,0%
40
20 0,5%
0 0,0%
jun/17 ago/17 out/17 dez/17 fev/18 abr/18 jun/18
Fonte: BNA e BODIVA
Mercado de Commodities
No que concerne aos metais preciosos, o Ouro registou uma variação negativa na ordem dos 5%, fixando-
se em 1.252,60 Ouro/onça no final do primeiro semestre de 2018. A diminuição do preço deste metal
precioso deveu-se a volatilidade do mercado face as tensões existentes, aumentando a procura do activo
seguro.
Relativamente as commodities agrícolas, o trigo registou uma variação positiva na ordem dos 15,6% no final
do período. Esta variação foi motivada principalmente pelo aumento da procura desta commodity como
consequência da baixa oferta motivada pela má condição climática em grandes zonas de cultivo em todo o
mundo.
devido a redução da oferta desta commodity por parte dos grandes produtores.
s
21
Evolução das Commodities
1400 80
75
1200
70
1000 65
800 60
55
600
50
400 45
200 40
jun/17 set/17 dez/17 mar/18 jun/18
Fonte: Bloomberg
22
VISTO DE PERTO
Num contexto de queda dos preços do petróleo nos mercados internacionais e de uma queda da oferta
de moeda estrangeira na economia nacional, o Banco Nacional de Angola (BNA) confrontado com as
pressões inflacionistas decidiu restringir a política monetária, oque resultou no início de um ciclo de
elevação da taxa básica de juro (taxa BNA) a partir de Outubro de 2014, tendo saído de 8,75% para
16%.
s
Como é bem sabido, em regime de metas de inflação o instrumento básico da política monetária é a
taxa básica de juros. Em outras palavras, o Banco Central fixa periodicamente o valor da taxa de juros
23
com o objectivo de garantir a convergência no médio prazo da taxa de inflação ao valor estipulado
como meta para a referida variável. Nesse sistema, a meta da política monetária é a taxa de inflação,
A realidade dos Bancos Comerciais face ao novo aviso de aumento de capital do
BNA
Um olhar crítico para o estado da economia nacional torna-se imprescindível na medida em que depois de
quase uma década de crescimento consecutivo, a mesma tem experimentado um período desafiante desde
o Segundo de 2014, provocado pela acentuada queda do preço do barril de petróleo no mercado
internacional. Desde então, o PIB tem sofrido uma grande desaceleração tendo atingido uma recessão na
ordem dos 0,7% e 2,5% em 2016 e 2017, respectivamente.
6,8%
5,2% 4,8%
3%
2,3%
-0,7%
-2,5%
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018P
Fonte: INE/PDN
Perante este cenário, o sector bancário angolano, atravessa provavelmente, o maior desafio das últimas
décadas como impulsionador da actividade económica, devido aos níveis relativamente altos de inflação, a
retracção do investimento privado como consequência dos níveis de riscos e de alta das taxas de juros.
Adicionalmente, o processo de modernização e alinhamento com as melhores práticas internacionais faz
com que se olhe com algum cuidado para os riscos a que os bancos estão expostos.
Adicionalmente, importa destacar que o capital social é a base de sustentação para o crescimento futuro
de um banco proporcionando uma capacidade de absorção de perdas inesperadas. Ou seja, bancos
adequadamente capitalizados e geridos são mais capazes de resistir a perdas e de conceder crédito aos
consumidores e às empresas ao longo do ciclo económico, incluindo durante períodos de crise como a que
o país vive. Consequentemente, níveis adequados de capital ajudam a promover a confiança do público no
sistema bancário.
Com isto, os níveis de solidez financeira dos bancos constituí um tópico de preocupação fundamental tanto
para os credores como para os accionistas, depositantes e supervisores (BNA).
Nesta ordem, o BNA tem estado a manter um papel de maior intervenção e supervisão, procurando não
apenas preservar a estabilidade no sector como também em linha com as melhores práticas, reforçar a sua
reputação junto da comunidade bancária internacional com a emissão de um conjunto de directivas e avisos
referentes a política monetária e cambial.
s
24
Assim, considerando a necessidade de se adequar o valor mínimo do capital social e dos fundos próprios
regulamentares dos Bancos comerciais ao actual contexto macroeconómico e financeiro, o BNA
recomendou o aumento do capital social dos bancos comerciais até 31 de Dezembro de 2018, por via do
Aviso n.º 2/ 2018, segundo o qual, o valor mínimo do capital social integralmente realizado em moeda
nacional passa a ser de AOA 7.5 mil milhões, actualizando desta forma um outro aviso, de 2013, que
colocava essa exigência em AOA 2.5 mil milhões.
Adicionalmente, o mesmo aviso esclarece que o referido aumento de capital pode ser feito quer através da
incorporação no capital social de reservas legais, reservas livres ou resultados do exercício desde que
auditados como pela emissão e subscrição de novas acções.
Entretanto, como se pode observar na tabela abaixo, dos 18 bancos autorizadas a exercer a sua actividade
no Mercado de Valores Mobiliários pela Comissão do Mercado de Capitais 9 encontram-se abaixo do limite
exigido pelo BNA, necessitando no total de um montante acima dos AOA 35 mil milhões para se adequar
ao referido aviso.
Capital Social
Bancos
(Milhares de Kwanzas)
Dentre os 9 bancos abaixo do limite estabelecido pelo BNA, os bancos Sol, KEVE, BFA e BCA têm a
possibilidade de efectuar o referido aumento por via da incorporação no capital social de reservas ou de
resultados do exercício, pelo facto destes apresentarem alguma folga neste quesito.
Na eventualidade de os bancos acima citados não optarem pelo aumento de capital por via da possibilidade
s
referida anteriormente e adicionando a estes os bancos que estão incapacitados de aumentar o capital
social pela mesma via (SCBA, Banco YETU e o BANC), por não apresentarem nos seus balanços reservas
25
suficientes, coloca-se uma questão:
Como o Mercado de Capitais angolano pode ajudar os bancos a atender a
solicitação do Aviso 02/2018 do Banco Nacional de Angola?
Face a actual situação económica e financeira que os bancos vivem e a necessidade dos mesmos em se
adequar ao aviso do BNA, entendemos apresentar uma alternativa de aumento de capital, tal como o próprio
aviso do BNA faz menção, a emissão e subscrição de novas acções via Bolsa de valores de Angola
(BODIVA).
Assim sendo, julgamos que, um dos caminhos que pode contribuir decisivamente para o aumento de capital
dos Bancos é a dispersão de parte do seu capital em bolsa, ou seja, por via da BODIVA.
Com a dispersão do capital em bolsa, os bancos para além de satisfazer o aviso do BNA, poderão conhecer
um conjunto de benefícios tangíveis e intangíveis que poderão contribuir para melhorar a actual
performance dos mesmos, nomeadamente:
Maior acesso a capital. Pela diversidade de investidores que a BODIVA poderá proporcionar os
bancos poderão ter acesso a mais recursos para financiar projectos de investimento;
Maior liquidez patrimonial, ou seja, os sócios dos bancos poderão caso entenderem transformar
parte das acções em liquidez, alienando as suas acções na bolsa;
Referencial de avaliação de negócio, ou seja, com abertura de capital a cotação das acções no
mercado passará a ser um identificador do valor de mercado do banco; e
Aumento da credibilidade e melhoria da imagem institucional dos bancos;
Portanto, com base nos benefícios acima mencionados, entendemos ser de mais - valia para os bancos
não apenas para satisfazer o aviso da entidade reguladora como também contribuir para melhorar a
performance dos mesmos, olharem para a alternativa da dispersão de capital na BODIVA.
26
s
27