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Ponte sobre o Rio Sebou - Projecto e Construção de uma ponte para a alta
velocidade ferroviária
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António J. Reis
GRID International Consulting Engineers
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SUMÁRIO
Apresentam-se na primeira parte deste artigo a descrição geral da obra e os principais
aspectos do Projecto de Execução, destacando-se os estudos associados ao tráfego
ferroviário de alta velocidade e os estudos sísmicos. Caracteriza-se também as soluções e
pormenorizações utilizadas para o pré-esforço aderente e exterior dos tabuleiros.
1. INTRODUÇÃO
A primeira ligação de alta velocidade no continente africano situada entre Tanger e Kenitra,
inclui a ponte para atravessamento do Rio Sebou. O concurso para a sua construção incluiu
a apresentação do Projecto de Execução pelo Adjudicatário, a partir de um Estudo Prévio da
responsabilidade do consultor Systra. A construção foi atribuída à empresa marroquina
SGTM, que adjudicou à GRID,SA a realização do Projecto de Execução e todos os Estudos
necessários para apoio da construção. O Projecto de Execução foi realizado entre Maio de
2012 e Dezembro de 2013, tendo a construção da estrutura decorrido entre Agosto de 2012
e Agosto de 2014. Decorre actualmente a fase de instalação e teste da via-férrea.
Fig. 1 – Ponte sobre o Rio Sebou: Vista da construção da obra e corte longitudinal
2.1 Tabuleiros
Os tabuleiros simplesmente apoiados com 12.75 m de largura possuem ao longo de todo o
comprimento uma secção em caixão unicelular com duas almas de 0.45 m de espessura e
2.855 m de altura. Sobre os pilares P4 e P5 a secção transversal em caixão possui 5.125 m
de altura e duas almas de 0.60 m de espessura sobre os pilares centrais, P4 e P5 (Fig. 3).
Nas extremidades de cada tabuleiro executa-se diafragmas com 2 m de espessura e sobre
os pilares P4 e P5 existem diafragmas de 1.45 m de espessura sobre o qual se colocam
zonas maciças para ancoragem dos numerosos cabos de pré-esforço exterior. A 18.5 m
para cada lado destes pilares existem septos para desvio dos cabos exteriores.
Fig. 4 – Pilares
e encontros em
construção
Os encontros são constituídos por uma viga de estribo de 2.0x2.5 m2 de secção apoiada por
três colunas de 1.8x1.0 m2 e 3.8 m de altura. Todas as fundações são executadas por
grupos de 4 ou 8 estacas com 20 a 25 m de comprimento e 1.5 m de diâmetro, moldadas no
terreno constituído por areias e argilas siltosas a lodosas. Os materiais estruturais
adoptados e as principais quantidades são resumidas no Quadro 1.
Quadro 1 – Materiais Estruturais e Principais Quantidades
Betões:
3
Estacas e Maciços (C30/37 XC2 XS2) 3 419 m
3
Fustes de Pilares (C35/45 XC4 XF1 XS3) 1 240 m
3
Tabuleiro (C40/50 XC4 XF1 XS1) 2 719 m
Aços:
3
Armaduras passivas (A500NR) 1 067.5 t – 145 kg/m
Armaduras activas longitudinais (A1680/1860):
3
- aderente 61.24 t – 22.5 kg/m
3
- exterior 29.71 t – 10.9 kg/m
3. PROCESSOS CONSTRUTIVOS
A construção decorreu durante dois anos, dos quais sensivelmente um ano correspondeu à
execução das infraestruturas. Para apoio da construção foi projectado, a jusante do
alinhamento da ponte, um pontão composto por tubos metálicos cravados e contraventados
no topo sobre os quais se dispôs uma grelha de perfis em que apoiaram painéis de laje pré-
fabricados em betão armado. As fundações dos pilares foram executadas a partir dos
aterros executados dentro de ensecadeiras, constituídas por estacas pranchas com
comprimentos livres que chegaram a ser de 11 m no caso dos pilares P4 e P5 e 3 níveis de
contraventamentos interiores (Fig. 5a). As estacas moldadas foram construídas com tubo
molde na zona do aterro e utilizando lamas bentoniticas para estabilizar as paredes laterais
da escavação, na zona do terreno natural. Após a execução das estacas procedeu-se à
escavação do aterro no interior das ensecadeiras e à betonagem dentro de água de uma
laje de tamponamento que, no caso dos pilares P4 e P5, teve 7 m de espessura. Esta laje
permitiu executar a seco os maciços de fundação e os fustes dos pilares (Fig. 5a).
A partir de cada uma das margens, foram executados aterros com cerca de 30 m para o
interior do leito menor do rio. Estes aterros requereram um estudo geotécnico e hidráulico
específico para avaliar a sua estabilidade e as condições de escoamento do rio durante o
período de construção, e foram protegidos com enrocamentos de grandes dimensões. Estes
aterros facilitaram os acessos para a construção das infraestruturas e possibilitaram o apoio
dos cimbres utilizados na execução dos 4 tramos laterais (Fig. 5b).
Os 3 tramos centrais do tabuleiro foram executados por avanços sucessivos com recurso a
dois pares de “carros” inferiores de suporte das cofragens. Estes equipamentos montados
em Fevereiro de 2014, após a construção das aduelas de arranque com 9 m de
comprimento, executaram sucessivamente 8 aduelas em avanço a partir dos pilares P4 e P5
com comprimentos típicos de 3.6 m, realizando-se de seguida o fecho central, em Junho de
2014. Para atingir os pilares P3 e P6 procedeu-se de seguida com os carros de avanços
sucessivos à execução de mais uma aduela de 3.6 m em cada um dos tramos laterais e aos
fechos laterais em Agosto de 2014 com um cimbre apoiado nos maciços destes pilares.
Para proceder aos fechos, e tendo em conta as amplitudes térmicas diárias elevadas
registadas, utilizaram-se aparelhos de fecho compostos por perfis metálicos de travamento
dos banzos inferiores e superiores (Fig. 5d).
Durante a fase de avanços sucessivos procedeu-se ao travamento provisório dos apoios
definitivos dos pilares P4 e P5 com blocos de betão com chapas metálicas no apoio nos
pilares e no tabuleiro, e oito barras de pré-esforço vertical 50 na ligação do tabuleiro aos
pilares. Para libertar a rotação do tabuleiro nestes pilares, após a execução do fecho do
tramo central, procedeu-se à desinstalação das barras e ao levantamento do tabuleiro com
seis macacos hidráulicos de 260 ton por apoio (Fig. 5e). Esta operação permitiu retirar os
blocos de betão e transmitir as cargas verticais para os aparelhos de apoio definitivos
(Fig. 5f).
a)
b)
c)
e)
3.5
Envolvente Máx HSLM Envolvente Min HSLM
3.0
2.5
Aceleração vertical (m/s2)
2.0
1.5
1.0
0.5
0.0
-0.5
-1.0
-1.5
-2.0
-2.5
-3.0
-3.5
0
0 50
50 100
100 xx(m)
(m) 150
150 200
200 250
250 a)
-100000
Env HSLM Min Env HSLM Max Env LM71+SW2 Min Env LM71+SW2 Máx
-80000
Momento flector (kNm)
-60000
-40000
-20000
20000
40000
b)
Fig. 6 – a) Acelerações verticais máximas no tabuleiro para a passagem dos HSLMs; e
b) Envolvente de momentos flectores para a sobrecarga ferroviária
Se é certo que, para os efeitos de gradientes térmicos de +30 / –40ºC definidos nas
especificações de projecto, tem todo o interesse limitar o comprimento “dilatável” da
estrutura, já para a acção da frenagem sobre o carril o facto do tabuleiro está subdividido em
5 segmentos impossibilita uma melhor repartição das forças longitudinais pelos apoios, o
que incrementa os deslocamentos longitudinais das várias “partes” da estrutura, para esta
acção. Assim, tornou-se necessário realizar um modelo que considere a ligação flexível
entre o carril e o tabuleiro, devido à existência do balastro, utilizando molas longitudinais
com rigidez de 60 kN/m de via, nas zonas carregadas, e 20 kN/m nas zonas restantes, e
com um patamar plástico quando o deslocamento excede os 2 mm. Este modelo inclui a
ligação da via ao terrapleno numa extensão de 350 m para cada lado da ponte.
Simulando as acções das variações uniformes de temperatura e da sobrecarga LM71
condicionante em duas vias, incluindo a possibilidade de ocorrência de frenagem e arranque
em simultâneo, obtêm-se deslocamentos longitudinais dos tramos simplesmente apoiados
que chegam a ser de 4.6 cm, o que mostra a dificuldade da estrutura em repartir os efeitos
da retracção + arranque pelos diversos apoios, como resultado do tabuleiro ser composto
por 5 torços independentes.
Adicionalmente, nas juntas entre tabuleiros, para a acção conjunta das cargas verticais e
gradientes térmicos, que produzem deformações verticais e portanto um afastamento entre
as faces superiores dos tabuleiros, com os efeitos diferidos, que produzem deslocamentos
relativos entre tabuleiros, estima-se um deslocamento total de 7.3 mm, nas juntas sobre os
pilares P3 e P6.
Por fim, utilizando o mesmo modelo de interação via-estrutura estimam-se as tensões em
serviço nos carris para a acção conjunta de frenagem com as variações uniformes de
temperatura na estrutura. Na Fig. 7 apresentam-se as envolventes destas tensões com um
máximo a ocorrer no meio vão central, resultante da variação uniforme de temperatura
negativa em conjunto com o efeito da frenagem de uma composição LM71 ou SW2.
100
(Temperatura + Ferroviária) Min (Temperatura + Ferroviária) Máx
80 Temperatura Min Temperatura Máx
Ferroviária Min Ferroviária Máx
60
Tensões no carril MPa)
40
20
-20
-40
-60
-80
0 50 100 150 200 250
x (m)
Fig. 7 – Envolvente de tensões nos carris para: max {Sobrecarga ferroviária + frenagem, Sobrecarga
ferroviária + arranque} + Variação uniforme de temperatura [MPa]
A verificação das fundações para a acção sísmica de projecto imposta no EC7, com um
coeficiente de comportamento unitário, e as regras de pormenorização das armaduras
propostas pelo guia do SETRA para estruturas em zonas sísmicas [5], conduziram a
elevadas densidades de armaduras, tanto nas estacas como nos fustes dos pilares, e
especialmente nos maciços de fundação (Fig. 8).
As imposições associadas ao sismo de serviço condicionaram também fortemente o
Projecto de Execução tendo em conta que o tabuleiro é composto por 5 troços com
comportamento dinâmico distinto e a acção sísmica correspondente a 58.5% do sismo de
projecto é elevada, gerando esforços elásticos que, com coeficiente de comportamento
unitário, conduzem a quantidades de armadura superiores às necessárias em ELU, para
garantir a não plastificação das armaduras.
A consideração da fissuração das infraestruturas, que reduz a inércia a cerca de 30% da
inércia geométrica das secções das bases dos pilares na direcção longitudinal, permite
reduzir os esforços para a acção do sismo de serviço, mas torna a estrutura mais flexível o
que dificulta a verificação do limite de 20 mm de deslocamento longitudinal imposto entre o
tabuleiro e os encontros. Apresentam-se na Fig. 9 os deslocamentos da estrutura para a
acção do sismo de serviço e as acelerações verticais máximas registadas no tabuleiro para
a mesma acção.
a)
2.5
Aceleração vertical (m/s 2)
1.5
0.5
0
0 50 100 x (m) 150 200 250 b)
Fig. 11 – Traçado de cabos de pré-esforço longitudinal aderente e exterior dos tramos executados por avanços sucessivos
14
5as Jornadas Portuguesas de Engenharia de Estruturas
7. CONCLUSÃO
Apresentaram-se na primeira parte deste artigo a descrição geral da obra e os principais
trabalhos realizados no âmbito do Projecto de Execução, destacando-se os aspectos de
concepção que condicionaram de forma importante os estudos associados ao tráfego
ferroviário de alta velocidade e os estudos sísmicos. Caracteriza-se também as soluções e
pormenorizações utilizadas para o pré-esforço aderente e exterior dos tabuleiros.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a todos os envolvidos no Projecto de Execução e na Construção,
nomeadamente aos engenheiros da SGTM, Yacoubi Yassir e Mohamed Mokhtari, e aos
engenheiros da GRID, Tiago Santos, Carla Garrido, Armando Pereira e Ricardo Afecto.
REFERÊNCIAS
[1] European Committee for Standardisation – “EN1991-2. Eurocode 1 : Actions on
structures - Part 2: Traffic loads on bridges”. September 2003, CEN, Brussels.
[2] UIC Code 774-3R – “Track/bridge Interaction. Recommendations for calculations”. 2nd
edition, October 2001, 70 p.
[3] ONCF – “Annexe à la Note d´Application de l´Action Sismique sur la LGV Maroc
destinées aux Entreprises de Travaux GC ”. March 2012.
[4] European Committee for Standardisation – “Eurocode 8: Design of structures for
earthquake resistance - Part 1: General rules, seismic actions and rules for buildings”.
December 2004, CEN, Brussels.
[5] SETRA – “Ponts en zone sismique – Conception et dimensionnement selon l’Eurocode
8 – Guide méthodologique”. Février 2012, 274 p.
SUMÁRIO
Na segunda parte deste artigo apresentam-se os principais aspectos da análise e
verificação estrutural, referindo-se as metodologias utilizadas, baseadas em modelos globais
e locais de elementos finitos para estudar o comportamento da obra em fase de exploração
e durante a construção, mas também em modelos de campos de tensões para estudar as
zonas de descontinuidade dos elementos de betão estrutural, fundamentais para justificar as
pormenorizações de armaduras adoptadas no Projecto. Referem-se em particular as
verificações de segurança dos elementos de betão armado do tabuleiro e dos pilares e os
estudos associados à fase construtiva.
Palavras-chave: Avanços sucessivos, pré-esforço, campos de tensões, eurocódigos.
1. INTRODUÇÃO
A realização do Projecto de Execução de uma obra ferroviária de Alta Velocidade, baseada
nas disposições tanto dos Eurocódigos como do Caderno de Encargos, envolveu um
variado conjunto de estudos relativamente ao comportamento estrutural da obra.
Apresentam-se nos capítulos seguintes as análises e verificações de segurança mais
relevantes do conjunto de estudos efectuados.
Modelo de elementos finitos de casca para a análise transversal do tabuleiro (Fig. 2);
Figura 3. Diagrama de forças instaladas num cabo de pré-esforço com puxe e repuxe, após
as perdas instantâneas e, a longo prazo, após as perdas diferidas.
Figura 4. Tensões normais de flexão no banzo superior na fase de betonagem das aduelas
desequilibradas VG9 e VD9.
Refere-se ainda que a verificação aos Estados Limites Últimos de flexão transversal do
tabuleiro, na zona vizinha às almas, teve em conta os efeitos da flexão simples provocada
pelas cargas transversais e das tensões de corte entre as almas e os banzos. Contudo, de
modo a não somar as áreas de armaduras resultantes dos dois efeitos, o que seria muito
conservativo tendo em consideração que estes efeitos resultam de acções não
concomitantes, teve-se em conta as regras de acumulação e repartição de armadura
transversal apresentadas nas equações (1) a (5) (esta repartição foi definida para este
projecto uma vez que é omissa na regulamentação em vigor).
O cálculo da área de difusão efectuou-se a partir da força aproximada de difusão dada pela equação 6.
Vsd
f difusão, sd (6)
4 ebanzo halma
Figura 5. Modelo de campos de tensões para uma carlinga de J.D. entre tabuleiro isostático
e hiperestático para a acção das cargas verticais e de torção.
(a)
(b)
Figura 6. Modelo de campos de tensões para o capitel dos pilares P2 e P7 para a acção
sísmica transversal: em planta (a) e elevação (b).
Com base nos modelos realizados foram calculados as forças nas bielas e tirantes e
realizadas as correspondentes verificações de segurança de acordo com a EN1992-1-1 [3]:
1. Cálculo da armadura para verificação das forças nos tirantes;
2. Verificação da compressão nas bielas de betão através da definição da sua largura -
definição dos campos de tensão;
3. Verificação dos nós CCT, CCC e CTT.
No Capítulo 3 apresentam-se as pormenorizações de Projecto resultantes destes estudos.
dAs | |
(7)
d f yd
Desta forma, definem-se as secções SA e SN, respectivamente, secção inicial onde são
aplicados os cabos e a secção em que começa a ser válido o princípio de Navier (Fig. 7 (a)).
Para cada plano de corte genérico, deve “procurar-se” no plano crítico as forças V* e N* – e
analogamente t* e σ* – resultantes do equilíbrio do elemento isolado (Fig. 7 (b)).
(a) (b)
Figura 7. (a) Condição de fronteira do troço de betão em análise; (b) corte de um elemento e
equilíbrio local para análise das armaduras de equilíbrio global.
| V * | N * | * | *
As (0.2 0.8 ) (8)
f yd f csd
Fsd
As1 (0.15 sin ( 1)) (9)
f yd
(a) (b)
Figura 8. (a) Parâmetros geométricos que condicionam a quantidade de armadura de
primeira regularização; (b) distribuição em profundidade das armaduras de regularização e
de equilíbrio global.
2.3.1 Aplicação do método proposto pelo SETRA a uma carlinga sujeita à aplicação
de pré-esforço interior
Apresenta-se a aplicação do método utilizado a uma carlinga com geometria definida na
Figura 9. O cálculo é exemplificado para as armaduras verticais. A carlinga é sujeita à
aplicação de 5 cabos 6-19 com uma força de puxe de F0 = 3976 kN/cabo. Tem-se, desta
forma, uma força de dimensionamento de Fsd = 4770 kN/cabo.
(a) (b)
Figura 9. Geometria e pontos de aplicação dos cabos de uma carlinga em corte:
(a) longitudinal e (b) transversal.
Figura 10. (a) Aplicação de forças no elemento isolado; (b) definição dos cortes.
1.2
y [m]
1.2 1.2
y [m]
y [m]
2 2 2
(a) (b)
Figura 13. (a) Pormenorização de Projecto; (b) Colocação de armaduras em Obra.
4. CONTROLO DE GEOMETRIA
O Projecto de Execução incluiu também os cálculos associados ao controlo de geometria da
obra durante a construção e o acompanhamento técnico ao Empreiteiro de todas as etapas
construtivas. Por se tratar de uma ponte construída por aduelas betonadas “in-situ” foi
realizado um plano detalhado de operações de controlo geométrico. Deste modo, em
colaboração mutua entre o Projecto e a Obra definiu-se um plano de contraflechas com o
objectivo final de cumprir a rasante teórica da via ferroviária.
Para efectuar este controlo de geometria são diversos os parâmetros ater em conta:
planeamento da obra, reologia do betão, condições atmosféricas (temperatura média,
humidade relativa e variações térmicas diárias), e deformações dos cimbres e equipamentos
de avanços sucessivos. O modelo numérico realizado teve em conta todos estes aspectos.
Apresentam-se na Figura 15 o plano de contraflechas fornecido à obra e na Figura 16 o
comportamento teórico durante a construção das aduelas, onde se pode observar o
comportamento evolutivo da geometria. Este modelo foi sendo ajustado às alterações
durante a construção. Note-se por exemplo que o plano inicial de contraflechas teve em
consideração uma contraflecha inicial do carro de avanços de 25 mm, definida pelo
Fornecedor deste equipamento. Logo após a betonagem das primeiras aduelas em avanço
verificou-se que a deformabilidade era bastante menor, tendo o Fornecedor reduzido esta
contraflecha a 13mm.
12.525
12.500
12.475
Cota Absolute [m]
12.450
12.425
12.400
12.375
0.00 4.00 8.00 12.00 16.00 20.00 24.00 28.00 32.00 36.00 40.00 44.00 48.00 52.00 56.00 60.00 64.00
x [m]
Profil Théorique Camber Line Bet V2 PE V2 EQ V2 Bet V3
PE V3 EQ V3 Bet V4 PE V4 EQ V4 Bet V5
PE V5 EQ V5 Bet V6 PE V6 EQ V6 Bet V7
PE V7 EQ V7 Bet V8 PE V8 EQ V8 Coff VF1
Bet VF1 PE VF1 EQ VF1 Bet V9 PE V9 Enlevation Eq. Mobile
40
35
30
25
CF[ mm]
20
15
10
0
0.00 10.00 20.00 30.00 40.00 50.00 60.00 70.00 80.00 90.00 100.00 110.00 120.00 130.00
x [m]
A influência do gradiente térmico diário ficou bem evidente durante as operações de fecho
central em que se registou uma variação da ordem dos 20mm, valor que corresponde a
cerca de metade da contraflecha máxima utilizada. Esta variação pode conduzir a
imprecisões na introdução das contraflechas nos carros de avanços, e justifica grande parte
dos desvios verticais ocorridos. Na Figura 17 é apresentada a comparação dos resultados
teóricos com o levantamento topográfico após os fechos laterais da ponte. Os fechos foram
realizados no final de Julho e de Agosto, o que justificou a adoptação de aparelhos de fecho
que permitiram uniformizar e quase eliminar os deslocamentos verticais entre consolas.
5. CONCLUSÃO
Foram apresentados diversos estudos realizados no âmbito do Projecto de Execução da
Ponte sobre o Rio Sebou, em Marrocos, destacando-se: a) a modelação longitudinal com
inclusão do pré-esforço com traçado tridimensional, b) as análises de tensões ao longo das
fases construtivas, c) a verificação da flexão local tendo em conta a influência das tensões
de corte na ligação alma/banzo, d) a análise das zonas de descontinuidade por meio de
modelos de campos de tensões, e) a análise de difusão de cargas concentradas pelo
método proposto pelo SETRA [4], f) a pormenorização das armaduras resultantes das
análises estruturais efectuadas por meio de desenhos do tipo “shop-drawing” e, por fim, g) o
controlo de geometria da obra.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a todos os envolvidos no Projecto de Execução e na Construção,
nomeadamente aos engenheiros da SGTM, Yacoubi Yassir e Mohamed Mokhtari, e aos
engenheiros da GRID, Tiago Santos, Carla Garrido, Armando Pereira e Ricardo Afecto.
REFERÊNCIAS
[1] CEB-FIP Model Code 90 – Design Code. Comité International du Béton, 1991, 460 p.
[2] Eurocode 2 – Design of concrete structures – Part 2: Concrete Bridges. CEN. Brussels.
2005, 100 p.
[3] Eurocode 2 – Design of concrete structures – Part 1.1: General rules and rules for
buildings. CEN, 2010, 259 p.
[4] Guide Méthodologique – Diffusion des efforts concentrés – Efforts de précontrainte et
des appareils d’appui. SETRA, 2006, 158 p.