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NUTRIÇÃO
BÁSICA
Ivonilce Venturi
Biodisponibilidade
de nutrientes
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 Reconhecer conceitos sobre a biodisponibilidade de nutrientes.
 Identificar os fatores que afetam a biodisponibilidade dos nutrientes.
 Discutir maneiras de diminuir ou eliminar fatores antinutricionais
presentes nos alimentos.
Introdução
Os alimentos vegetais são dotados de micronutrientes, e a compreensão
sobre a biodisponibilidade é essencial para que se possa melhorar o valor
nutricional, principalmente em países em desenvolvimento. A biodis-
ponibilidade depende principalmente das sinergias alimentares, e estas
podem ser usadas para diminuir a deficiência de micronutrientes em
populações mais carentes.
Avaliar corretamente a adequação das ingestões de nutrientes de
uma dieta requer não apenas conhecer o conteúdo de nutrientes dos
alimentos ingeridos, mas também verificar até que ponto o nutriente
está disponível para absorção e utilização no corpo humano. Sabe-se
que a biodisponibilidade dos macronutrientes (carboidratos, proteínas e
lipídios) geralmente é alta, sendo que mais de 90% da quantidade ingerida
é absorvida e utilizada pelo corpo. Por outro lado, os micronutrientes,
como as vitaminas, minerais e compostos fitoquímicos bioativos, como
os flavonoides e carotenoides, podem ter seu processo de absorção e
utilização bastante variado após a ingestão. Esse fato pode ocorrer devido
às interações entre nutrientes e à presença de fatores antinutricionais, o
que afeta diretamente a biodisponibilidade desses nutrientes, reduzindo
seus efeitos benéficos no corpo.
Neste capítulo, você vai estudar conceitos relacionados à biodis-
ponibilidade de nutrientes, identificando os fatores que afetam essa
biodisponibilidade e verificando as diferentes maneiras de diminuir ou
eliminar os fatores antinutricionais que estão presentes nos alimentos.
Conceitos básicos
O termo biodisponibilidade de nutrientes foi defi nido pela primeira vez nos
Estados Unidos pela Food and Drug Administration (FDA) como uma maneira
de compreender a proporção em que as substâncias consideradas ativas são
absorvidas, tornando-se disponíveis no sítio de ação do órgão-alvo. Também
se desejava verifi car a forma química, o tamanho e quanto era absorvido,
além de sua disponibilidade no organismo. Após a década de 1980, o termo
biodisponibilidade passou a ser usado também na área da Farmácia. Passou a
integrar a Nutrição, uma vez que, por meio dela, compreende-se que a ingestão
de um alimento não garante sua utilização, e que alguns fatores podem interferir
diretamente na absorção e utilização dos nutrientes pelo organismo, conforme
Cozzolino (2009). Podem exercer interferência no processo de utilização
desses nutrientes fatores como sexo, idade, estado fi siológico e nutricional,
além da matriz alimentar em que os nutrientes estão inseridos, a interação
entre nutrientes e condições de preparo, entre outros fatores.
Entendido como um conceito-chave, o termo biodisponibilidade corres-
ponde a uma fração de um determinado nutriente que, após ser consumida,
digerida e absorvida, torna-se disponível para encontrar o órgão-alvo e de-
sempenhar suas funções no organismo humano, conforme Mota et al. (2015).
Portanto, o termo biodisponibilidade significa “[...] grau de absorção de um
nutriente ingerido e o quanto ele está disponível para ser usado pelo corpo”,
como resumido por Wardlaw (2013, p. 331). A biodisponibilidade visa a des-
crever os efeitos de uma sequência de eventos metabólicos, incluindo digestão,
solubilização, absorção, liberação, transformações enzimáticas, secreção e
excreção na utilização de nutrientes, conforme Schönfeldt, Pretorius e Hall
(2016).
Outros conceitos são importantes para a compreensão da biodisponibilidade:
 Fatores antinutricionais: compostos naturais ou sintéticos que inter-
ferem na absorção de vários nutrientes (como vitaminas ou minerais)
no corpo humano. Por exemplo, fitato e oxalato, que podem interferir
na absorção de minerais, como cálcio, ferro, magnésio e zinco.
Biodisponibilidade de nutrientes2
 Bioacessibilidade: fração de nutriente que é liberada da matriz alimentar
e está disponível para absorção intestinal.
 Biodisponibilidade: fração de nutrientes ingeridos que está disponível
para utilização em funções fisiológicas normais e para armazenamento.
 Bioatividade: efeito de um determinado agente, como alimento, drogas
ou vacina, em um organismo vivo ou em tecido vivo.
 Alimentos excipientes: alimento projetado especificamente para au-
mentar a biodisponibilidade de compostos bioativos.
 Fitoquímicos: produtos químicos de plantas não nutrientes que têm
propriedades protetoras ou preventivas de doenças em seres humanos.
Há mais de mil fitoquímicos conhecidos, conforme Chang (2018).
A biodisponibilidade de nutrientes é amplamente estudada, não só devido
à capacidade dos nutrientes em suprir a demanda fisiológica do organismo,
mas devido ao comprometimento da absorção de nutrientes, em função dos
fatores de interação entre eles. Esses fatores podem intensificar ou impedir
a absorção e a utilização pelo organismo, comprometendo, assim, o correto
funcionamento do metabolismo e influenciando o desenvolvimento de doenças,
conforme Dupont et al. (2018). Então, ao prescrever uma dieta, é necessário
observar não só a quantidade de alimentos, incluindo os macronutrientes e os
micronutrientes, mas a biodisponibilidade no organismo e suas interações com
outros nutrientes, otimizando, assim, a dieta e as recomendações nutricionais.
Estudos laboratoriais in vitro e in vivo vêm sendo desenvolvidos com a
finalidade de se obter os mecanismos de ação dos nutrientes, simulando o
sistema digestório humano e avaliando os parâmetros de absorção de dife-
rentes nutrientes. O objetivo é avaliar como ocorre a absorção dos nutrientes,
associando-os aos parâmetros bioquímicos e hematológicos. Estudos em
humanos são de difícil controle, pois há uma infinidade de variáveis que
interferem no processo de digestão, absorção e utilização dos nutrientes e que
variam de um indivíduo para outro.
Nesse sentido, a avaliação da absorção de nutrientes em um indivíduo
humano pode ser realizada com o uso de métodos de isótopos estáveis, quan-
tificação sanguínea antes e após a ingestão de nutrientes e quantificação de
nutriente ingerido e excretado. Esses métodos são importantes, principalmente,
para estudar possíveis causas de determinadas doenças relacionadas à dispo-
nibilidade de nutrientes.
A biodisponibilidade de nutrientes tem fundamental importância sobre
os micronutrientes, incluindo os compostos bioativos. Exercem efeito na
disponibilidade dos nutrientes as propriedades físico-químicas, a forma de
3Biodisponibilidade de nutrientes
processamento e preparo dos alimentos, a presença ou ausência de outros com-
ponentes alimentares que melhoram ou inibem a absorção e a matriz alimentar,
além da mistura entre os alimentos. Fatores referentes ao indivíduo também
influenciam na biodisponibilidade do nutriente, como estado de saúde, idade,
fatores genéticos e estilo de vida, conforme apontam Nair e Augustine (2018).
A biodisponibilidade aborda duas características essenciais:
1. a taxa de absorção (a rapidez com que o agente bioativo entra na cir-
culação sistêmica);
2. a extensão da absorção (quanto do composto bioativo atinge a circulação
sistêmica).
A baixa biodisponibilidade significa a falha do ingrediente em atingir uma
concentração mínima eficaz no sangue para produzir os resultados biológicos
desejados, conforme Jafari e McClements (2017).
Normalmente, várias etapas diferentes determinam o destino biológico dos
agentes bioativos após a ingestão, conforme Jaworski e Fabisiak (2018); são elas:
 liberação do agente bioativo da matriz dietética;
 digestão por enzimas no intestino;
 adesão e absorção pela camada mucosa do intestino;
 transferência através da parede intestinal (passagem e/ou entre o epitélio
das células) para o sistema linfático ou a veia porta;
 distribuição sistêmica;
 deposição sistêmica (armazenamento);
 uso metabólico e funcional;
 excreção (via urina ou fezes).
Além das etapas determinantes do destino biológico dos compostos bio-
ativos, é observada a presença de intensificadores e inibidores de nutrientes
que podem interagir uns com os outros e com outras dietas e componentes
no local de absorção, afetando uma mudança na biodisponibilidade que pode
ser potencializadora ou inibidora; essa última pode causar um efeito nulo.
Os intensificadores podem agir de diferentes maneiras, como manter um
nutriente solúvel ou protegê-lo da interação com inibidores. Os inibidores,
por outro lado, podem reduzir a biodisponibilidade, ligando o nutriente em
uma forma que não é reconhecida por sistemas de captação na superfície das
células intestinais, deixando o nutriente insolúvel e, portanto, indisponível
Biodisponibilidade de nutrientes4
para absorção, ou promovendo a competição pelo mesmo sistema de captação,
conforme Jafari e McClements (2017).
A microestrutura dos alimentos é um dos principais fatores que regem
a biodisponibilidade de vários nutrientes e fitoquímicos. Alimentos podem
ter em sua composição macromoléculas, como proteínas e polissacarídeos,
lipídios, açúcares e micronutrientes, fitoquímicos e água. Esses componentes
estão dispostos em diferentes matrizes alimentares naturalmente ou devido
ao processamento.
A biodisponibilidade de compostos bioativos é afetada pela digestão no
sistema gastrointestinal, que inclui transformação, transporte e absorção em
diferentes locais (estômago, intestino delgado e intestino grosso). A Figura 1
apresenta diferentes condições específicas do trato digestivo que influenciam
a digestibilidade dos alimentos e, consequentemente, a biodisponibilidade dos
nutrientes e compostos bioativos, conforme aponta Chang (2018).
Figura 1. Influência de diferentes condições específicas do trato digestivo que
influenciam
a digestibilidade dos alimentos e, consequentemente, a biodisponibilidade de
nutrientes
e compostos bioativos.
Fonte: Adaptada de Christos Georghiou/Shutterstock.com; Chang (2018).
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A desintegração alimentar durante a digestão resulta na liberação de nu-
trientes, que estarão disponíveis para manter a homeostase. A fase oral é
crucial, especialmente para alimentos sólidos e semissólidos. A mastigação,
o primeiro passo mecânico da digestão, transforma o alimento em partículas
menores, prontas para serem lubrificadas. A saliva agrega a comida mastigada
em um bolo antes de engolir e protege a superfície da mucosa de danos por
alimentos grosseiros. Também atua como um solvente de compostos de sabor
e contém atividades enzimáticas que iniciam a digestão de macronutrientes,
particularmente a hidrólise de carboidratos. A amilase salivar pode hidroli-
sar uma grande proporção de amido antes de o alimento atingir o intestino
delgado, dependendo da capacidade de tamponamento de alimentos — sendo
capaz de manter o pH gástrico dentro de uma faixa em que essa enzima ainda
está ativa — e da perda dramática da organização estrutural dos grânulos de
amido (gelatinização) em resposta ao tratamento térmico. A fase oral também
permite a liberação de moléculas responsáveis pelo sabor, que podem atuar
como sinais biológicos e gerar saciedade.
Quando o alimento entra no estômago, o bolo alimentar vai encontrar
um conjunto de diferentes condições físico-químicas diferentes da cavidade
oral. As secreções ácidas produzidas pela mucosa gástrica e pelas enzimas
digestivas, como a lipase gástrica ou a pepsina, transformarão o bolo em um
quimo, afetarão a estrutura dos alimentos e modularão a taxa de esvaziamento
gástrico. A taxa de esvaziamento gástrico depende da carga calórica da refeição
e da osmolaridade e das estruturas do quimo. A hidrólise de macronutrientes
é iniciada no estômago para proteínas e lipídios e na boca para carboidratos,
sendo concluída no intestino delgado, sob a ação de enzimas altamente efi-
cientes, como lipase pancreática, tripsina, quimiotripsina, elastase e A-amilase
pancreática. É também aí que ocorre a maior parte da absorção de nutrientes,
devido à estrutura do epitélio intestinal, que é coberto por vilosidades que
aumentam a superfície de absorção.
O epitélio intestinal libera uma grande quantidade de enzimas que ajudam
a completar a quebra de nutrientes antes de sua absorção. O epitélio também é
coberto por uma camada de muco, cujo efeito protetor contra bactérias patogê-
nicas deriva da presença de glicoproteínas, as mucinas, e também de grânulos
de DNA gerados por apoptose de células epiteliais. Os sais biliares facilitam
a capacidade de uma partícula alimentar passar por essa camada protetora.
Finalmente, constituintes não digeridos, em particular as fibras solúveis
(pectina, alginato, carragenina, etc.) e insolúveis (celulose, hemicelulose,
lignina), atingirão o intestino grosso, onde serão metabolizados pela micro-
biota intestinal. Todo o processo digestivo é regulado por hormônios gas-
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trointestinais, que podem retardar ou acelerar a motilidade intestinal. Por
exemplo, um excesso de triglicérides atingindo o íleo (parte distal do intestino
delgado) terminará na produção de peptídeos GLP1 e PYY, que retardarão o
esvaziamento gástrico, permitindo a melhor hidrólise e a absorção de lipídios.
Sensores são visivelmente encontrados ao longo de todo o trato gastrointestinal
(especialmente no duodeno), onde são capazes de ligar peptídeos dietéticos,
ácidos graxos livres e micronutrientes para regular o processo, conforme
Dupont et al. (2018).
Macronutrientes, como lipídios, carboidratos e proteínas, têm sido utili-
zados para aumentar a biodisponibilidade de compostos bioativos. Tem sido
demonstrado que esses macronutrientes inf luenciam na biodisponibilidade
de fitoquímicos de várias fontes. Carboidratos, sejam eles açúcares simples
ou polissacarídeos, podem afetar a biodisponibilidade de compostos bioativos
por numerosos mecanismos. Por exemplo, os polissacarídeos podem afetar o
processo de digestão e absorção de lipídios em todo o trato gastrointestinal,
impedindo a interação de enzimas, como a lipase; assim, a taxa de digestão
lipídica é afetada. Os lipídios incorporados em hidrogéis à base de amido
proporcionam maior biodisponibilidade de b-caroteno, com maior taxa de
digestão lipídica. Possivelmente isso acontece porque o amido é capaz de
prevenir a formação dos agregados de moléculas lipídicas no trato gastroin-
testinal, aumentando a acessibilidade da lipase.
Proteínas e peptídeos possuem capacidade antioxidante, o que pode impedir
a degradação de fitoquímicos no trato gastrointestinal. Como exemplos, as
antocianinas do mirtilo ligadas a proteínas têm uma melhor taxa de absorção,
enquanto a presença de proteína láctea, a lactoferrina, reduz a biodisponibili-
dade do b-caroteno. Alguns compostos fitoquímicos, como quercetina, curcu-
mina, piperina e algumas catequinas, têm sua biodisponibilidade aumentada
quando consumidos na presença de proteínas, pois esses fitoquímicos interagem
com os transportadores nas membranas celulares do epitélio e podem afetar
potencialmente a biodisponibilidade de compostos bioativos.
O cálcio desempenha um papel importante na digestão da gordura do
leite. No sistema digestivo, o cálcio aumenta a lipólise, a liberação de ácidos
graxos de triacilgliceróis, mas também limita a absorção de ácidos graxos
saturados. Estudos realizados in vitro com queijos demonstraram que diferentes
estruturas de queijo levam a comportamentos diferentes durante a digestão,
demonstrando o potencial papel da matriz de queijo como um modulador de
liberação de lipídios. Queijos do tipo cheddar, com diferentes níveis de cálcio
e diferentes tipos de gorduras lácteas (com diferentes teores de ácidos graxos
de cadeia longa), tiveram seu perfil de bioacessibilidade lipídica observado
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durante um modelo de digestão no trato gastrointestinal simulado in vitro,
conforme Chang (2018).
Fatores que afetam a biodisponibilidade dos nutrientes
Vários fatores na dieta podem infl uenciar a biodisponibilidade de nutrientes.
A magnitude dessa biodisponibilidade dependerá de inibidores ou promo-
tores em qualquer refeição, que estão relacionados ao tipo de nutriente, à
matriz alimentar, às ligações moleculares dos nutrientes e à quantidade que
será consumida pelo indivíduo. Ressalta-se também a infl uência dos fatores
relacionados ao próprio indivíduo que podem afetar a biodisponibilidade de
nutrientes, como o estado nutricional do mesmo, os fatores genéticos e as
interações com outros nutrientes, drogas ou fatores antinutricionais, conforme
Schönfeldt, Pretorius e Hall (2016).
Em 1996, na Conferência Internacional da Biodisponibilidade, foi adotado o
termo mnemônico SLAMANGHI para facilitar a memorização dos potenciais
fatores que afetam a biodisponibilidade, cujo significado representa todos os
aspectos que devem ser considerados nos estudos de biodisponibilidade. Nele,
cada letra tem um significado, conforme Cozzolino (2009):
 S = species (especiação do nutriente);
 L = linkage (ligação molecular);
 A = amount in the diet (quantidade na dieta);
 M = matrix (matriz onde o nutriente está incorporado);
 A = attenuators of absorption and bioconversion (atenuadores da
absorção e bioconversão);
 N = nutrient status (estado nutricional do indivíduo);
 G = genetic factors (fatores genéticos);
 H = host related factors (fatores relacionados ao indivíduo);
 I = interactions (interações).
As recomendações de ingestão dietética ou dietary recommended intakes
(DRIs) utilizam em sua elaboração a biodisponibilidade de nutrientes, ou seja,
considera-se que nas refeições usuais, em média, no mínimo 90% da quantidade
ingerida será aproveitada pelo organismo. Essa aproximação pode ser adequada
para os macronutrientes. Por outro lado, micronutrientes, fitoquímicos e outros
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compostos bioativos variam amplamente na extensão em que são absorvidos
e utilizados (THE EUROPEAN FOOD INFORMATION COUNCIL, 2010).
A otimização das recomendações desses nutrientes, em particular, pode
contribuir com a melhora das práticas e a manutenção e recuperação do estado
nutricional. Portanto, considerar a biodisponibilidade dos nutrientes em função
da alimentação e da nutrição característica de cada indivíduo é de grande valia
para a terapia nutricional, conforme Reis (2004).
Como já citado anteriormente, a retenção dos nutrientes no organismo é
dependente de condições relacionadas aos alimentos e nutrientes, conhecidas
como fatores extrínsecos, ou relacionadas ao indivíduo (hospedeiro), conhe-
cidas como fatores intrínsecos. Esses fatores serão descritos a seguir.
Fatores extrínsecos que afetam a biodisponibilidade de nutrientes
Em geral, os fatores relacionados à dieta (ou fatores extrínsecos) apresentam
menor infl uência na biodisponibilidade de macronutrientes do que de micronu-
trientes. Desses últimos, a biodisponibilidade de ferro e zinco é especialmente
afetada. Para alguns micronutrientes (por exemplo, iodo, vitamina C, tiamina),
o efeito de fatores dietéticos na biodisponibilidade parece ser muito limitado,
e para micronutrientes como ribofl avina, vitamina B12, magnésio e cromo,
os estudos são escassos. Em alguns casos (por exemplo, o da vitamina B6),
os dados de biodisponibilidade existentes são difíceis de serem interpretados,
devido às difi culdades metodológicas, conforme Marze (2017). A seguir serão
descritos os fatores extrínsecos.
Especiação
A especiação está relacionada com a forma química na qual o elemento se
encontra no alimento ou na dieta, que é o primeiro passo para se determinar a
sua retenção e utilização pelo organismo. Os nutrientes podem estar presentes
nos alimentos na forma livre ou combinada, necessitando ou não de digestão
para serem absorvidos. O estado de oxidação é também um fator importante,
conforme aponta Cozzolino (2009).
Um exemplo clássico da forma química é o ferro. Há dois tipos de ferro
na dieta: ferros heme e não heme. O primeiro é encontrado apenas em carne,
peixe e aves, enquanto o último ocorre em alimentos de origem vegetal. O
ferro heme decorre principalmente das moléculas de hemoglobina e mioglobina
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