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Ensaios de Sociologia

Material Teórico
A Sociologia Política de Anthony Giddens

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. João Elias Nery

Revisão Textual:
Profa. Ms. Fatima Furlan
A Sociologia Política de Anthony Giddens

• Introdução

• 1. Trajetória: Sociologia e Política

• 2. Anthony Giddens: Vida e Obra

··O tema desta unidade é a obra do sociólogo ANTHONY


GIDDENS, que tem extensa produção em torno de temas da
modernidade e desenvolveu a SOCIOLOGIA REFLEXIVA.
··No material didático, você encontrará informações acerca dos
temas abordados pelo sociólogo, aspectos das metodologias
utilizadas e sua relação com o mundo das ideias no Brasil,
incluindo os livros aqui editados.

Nesta unidade da disciplina estudaremos a vida e a obra do sociólogo ANTHONY


GIDDENS, que desenvolveu sua obra na Inglaterra, tendo trabalhado também nos EUA.
Giddens desenvolveu duas linhas de trabalho relevantes: no campo sociológico, sua
sociologia reflexiva inovou em diversos aspectos, retomando o debate com os clássicos
da área; no campo da política criou a terceira via, adotada por políticos de relevância na
Inglaterra, nos EUA e no Brasil. A radicalização da modernidade é seu principal tema de
pesquisa, incluindo, também, a globalização, a tradição e a família como questões essenciais
para entendermos a sociedade do final do século 20.
Suas ideias alcançaram grande repercussão por seu acesso às mídias audiovisuais e
participação na política, obtendo apoios relevantes e críticas também importantes, na medida
em que, principalmente no campo da política, suas ideias foram incorporadas às práticas de
governantes e suscitaram críticas à direita e à esquerda.

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Unidade: A Sociologia Política de Anthony Giddens

Contextualização

Nesta unidade, analisaremos a obra do sociólogo ANTHONY GIDDENS. A apresentação


inclui os principais conceitos desenvolvidos, as obras publicadas e a repercussão de seu trabalho,
tanto no âmbito propriamente acadêmico no campo da sociologia, quanto na política.
O trabalho de Giddens tem como principal foco o que ele definiu como radicalização da
modernidade. Abordando temas variados, como globalização, família e tradição, o autor
desenvolve análises posicionando-se em relação aos clássicos da sociologia – Marx, Weber e
Durkheim – e à sociologia funcionalista desenvolvida ao longo do século 20.
No campo da política, de significativa reflexão de Giddens, as análises partem das radicalizações
direita-esquerda representados, respectivamente, pelo neoliberalismo e pelo socialismo do século
20 e chegam à proposta da terceira via, incorporada ao discurso e à prática política de inúmeros
líderes, entre eles Fernando Henrique Cardoso, presidente do Brasil entre 1995 e 2002.
Sociologia e política cruzam-se na obra desse autor, que, além das atividades de pesquisa
e docência, assumiu funções como consultor e gestor, ampliando, dessa forma, o alcance de
suas ideias, que têm lugar de destaque, tanto para a crítica contrária, quanto para posições de
concordância.
A Sociologia de Anthony Giddens faz parte do que ele denominou mundo em descontrole,
característica do mundo em que vivemos.

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Introdução

Cientistas sociais e demais pensadores que se dedicaram a analisar a vida em sociedade


ao longo ou em parte do século 20 enfrentaram diversos desafios, sendo o principal deles
identificar os reflexos para a sociedade das mudanças e rupturas resultantes das ações humanas
no período contemporâneo, marcado por revoluções sociais e técnicas.
Diante dos clássicos do pensamento sociológico, pensadores daquele século passaram
a desenvolver novas metodologias para apreender a realidade do seu tempo e apresentar
interpretações visando oferecer à sociedade explicações científicas para fenômenos extremos,
desde guerras de grande magnitude, até comportamentos previsíveis, como o suicídio.
Tais percursos sociológicos ocorrem no que autores de diversas áreas definem como período
moderno, caracterizado pelas inovações do modo de produção capitalista, em oposição ao
antigo regime, superado por aquele e tendo progressivamente substituídas suas práticas sociais,
culturais, políticas e econômicas. A oposição entre tradição e inovação, antigo e novo, será,
desde o século 18, uma constante nas análises das sociedades humanas e exigirá dos cientistas
grande esforço para compreender os movimentos de sociedades cada vez mais complexas em
um mundo habitado por um número cada vez maior de seres humanos.
Novas realidades proporcionadas por inovações tecnológicas e mudanças estruturais na
sociedade alteraram o cotidiano das pessoas, interferindo diretamente tanto nas questões
públicas quanto nas privadas. Na sociedade de consumo na qual as pessoas se orientam pela
aquisição de bens e serviços instala-se um frenesi que leva a posicionar o consumo como centro
da vida em um mundo definido pelo marketing e pelas marcas.
Esse “marcado mundo novo” passou por significativas rupturas e entre os anos 1970 e
1990 as mais significativas faziam parte do universo da política e da economia: a ascensão do
neoliberalismo fortaleceu conglomerados econômicos e financeiros, enfraquecendo os estados
nacionais; o fim da URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – e do socialismo no leste
Europeu abriu caminho para expansão do capitalismo naqueles países; as novas tecnologias da
comunicação realizaram a “aldeia global”. Esses acontecimentos, entre outros, modificaram o
modo de viver das maiorias e trouxeram novos desafios às ciências da sociedade.

Você Sabia ?
O fim da segunda guerra mundial marca a ascensão do Estado como organizador da sociedade
e da economia, ampliando sua participação no planejamento e execução das atividades a partir da
ideia de “Estado de bem estar social” desenvolvida pelo economista J. M. Keynes. A reconstrução
da Europa deu-se nesse contexto e diversos outros países adotaram as estratégias preconizadas
pelas políticas de Estado keynesianas.

Em oposição a essa estratégia o neoliberalismo toma impulso nos anos 1970, atravessa os anos
1980 como força poderosa e torna-se hegemônico nos anos 1990, alterando profundamente
o quadro desenhado desde os anos 1940, ou seja, o Estado deixa de ter papel central na
política e na economia, revertendo-se a tendência de ampliação de sua participação. O discurso
neoliberal reforça o papel do mercado, restringe o Estado ao “mínimo” e lança às sociedades o
desafio de desenvolver-se a partir dos interesses dos agentes que atuam nos mercados.

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Unidade: A Sociologia Política de Anthony Giddens

O neoliberalismo alterou profundamente as sociedades nas quais foi implantado e, se obteve


apoio das forças hegemônicas, também recebeu críticas e suscitou que surgissem novas ideias
como alternativa a ele. A Inglaterra teve, entre os países centrais do capitalismo, a primeira e mais
relevante experiência neoliberal, liderada pela primeira ministra Margarete Thatcher (1979-1990).
Foi, também, naquele país, que Tony Blair, como primeiro-ministro (1997-2007), defendeu a
“terceira via”, ideia do sociólogo Anthony Giddens, como alternativa ao neoliberalismo.
A Inglaterra apresenta ao mundo o neoliberalismo de Margaret Thatcher e este é substituído
pelo trabalhismo de Blair. Inovando na economia e na política o país desenvolve esforço para
manter status de grande potência - não participa da União Europeia buscando via própria no
contexto da Grã Bretanha - e alinha-se à política externa dos EUA em questões estratégicas,
como a guerra contra o Iraque ou os conflitos no Oriente Médio. No campo das ideias, o
sociólogo apresentado neste texto reforça a relevância do país no qual a Revolução Industrial
teve início e que, mesmo perdendo a hegemonia política para os EUA, procura situar-se no
debate acerca dos rumos da humanidade.
O Brasil, no período de ascensão do neoliberalismo, viveu uma ditadura que apostou na
organização de um Estado centralizador na política e com forte intervenção na economia,
atuando na contramão do que ocorria em outras partes do mundo. Com o fim da ditadura,
em meados dos anos 1980 a sociedade brasileira procurou reorganizar a vida social, política e
econômica em novos parâmetros.
Até o final da década de 1980, o país trilhou diversos caminhos nessas áreas para, nos anos
1990, embarcar na onda neoliberal, com privatização e reposicionamento do Estado como
árbitro para as disputas que ocorrem na sociedade. Isso ocorreu na prática, porém o discurso
dos ocupantes do Estado na década de 1990 aproxima-se do que foi denominado por Anthony
Giddens como “terceira via”.

1. Trajetória: Sociologia e Política


Há razões fortes e objetivas para se acreditar que estamos atravessando um
período importante de transição histórica. Além disso, as mudanças que nos
afetam não estão confinadas a nenhuma área do globo, estendendo-se quase
por toda parte. (GIDDENS, 1999, p. 13).

Como os clássicos da área em que atua, Anthony Giddens, pelas ideias que defende, tem
grande influência no contexto sócio político europeu, principalmente na Inglaterra, onde suas
ideias associam-se ao trabalhismo do primeiro ministro Tony Blair mas não apenas ali. Fora
da Europa Bill Clinton, presidente dos EUA (1993 - 1999) participou de discussões acerca da
criação de alternativas ao neoliberalismo. No Brasil, sua influência sobre a trajetória do PSDB
e, particularmente, sobre Fernando Henrique Cardoso, igualmente sociólogo e presidente do
Brasil de 1995 a 2002, é reconhecida. Em visita ao Brasil no ano 2000, os dois jantaram juntos
e FHC declarou ser admirador da “terceira via”, tese defendida por Giddens.

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O livro “Mundo em descontrole – o que a globalização está fazendo de nós”, que reúne ideias
apresentadas em palestras realizadas em diversos países no final dos anos 1990, é um exemplo
da popularização das ideias de Giddens. A Editora Record, responsável pela publicação do livro
no Brasil, apresenta na capa que este é “o novo livro do mais importante pensador britânico
contemporâneo”, utilizando uma linguagem próxima àquela de divulgação dos best sellers
publicados pela empresa.
A influência de Giddens no mundo acadêmico pode ser medida por sua produção, que inclui
mais de três dezenas de livros e duas centenas de artigos publicados em revistas, além de atuar como
professor convidado ou palestrante em universidades em praticamente todas as regiões do mundo.
Seu prestígio acadêmico o levou a ocupar a posição de diretor da London School of Economics e a
atuar como docente na Universidade de Cambridge e a receber diversos prêmios acadêmicos.

A teoria da reflexividade proposta por Giddens é importante contribuição do autor


para a discussão sociológica. Para ele (1991, p.45) “A reflexividade da vida social
moderna consiste no fato de que as práticas sociais são constantemente examinadas
e reformuladas à luz de informação renovada sobre essas próprias práticas, alterando
assim seu caráter”.

A principal consequência desse processo é a ausência da tradição, substituída recorrentemente


pela novidade, o que determinaria para a sociedade do final do século 20 a submissão ao novo e
a recusa ao já estabelecido, levando à ruptura entre as gerações, uma vez que as experiências do
passado nada dizem para o presente, de tal forma que a reflexividade é “introduzida na própria
base da reprodução do sistema, de forma que o pensamento e a ação estão constantemente
refratados entre si.” (GIDDENS, 1991, p. 45).
Nossos tempos são de incertezas e riscos manufaturados e a reflexividade insere-se como
elemento dessa sociedade que, ao mesmo tempo em que potencialmente poderia produzir
maior autonomia do sujeito, introduz riscos à humanidade, presa a crenças de uma racionalidade
incapaz de apresentar respostas às questões de uma modernidade radicalizada.
Para além do mundo acadêmico, Giddens expandiu as influências de suas ideias para o
mundo político, seguindo a trilha de outro sociólogo, Karl Marx, um dos clássicos da área e que
construiu ideias e as defendeu na arena política. A ideia de uma terceira via – alternativa ao
socialismo e ao neoliberalismo – ganhou espaço na agenda política dos anos 1990 e levou seu
autor a participar do debate acerca das questões políticas da última década do século 20.
Em sua formulação para uma nova política há críticas à direita e à esquerda e uma tentativa
de reformular as questões postas pela social democracia desde o século 19. A construção de tal
alternativa parte da avaliação de Giddens sobre a impossibilidade de controle sobre a realidade,
ideal, segundo o autor, tentado pela ciência, porém não atingido no que ele define como mundo
em descontrole. Para o autor (1999, p. 16),
Precisamos democratizar mais as instituições existentes, e fazê-lo de modo a
atender às exigências da era global. Nunca seremos capazes de nos tornar os
senhores de nossa própria história, mas podemos e devemos encontrar meios
de tomar as rédeas do nosso mundo em descontrole.

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Unidade: A Sociologia Política de Anthony Giddens

A partir dessa concepção Giddens procura demonstrar que as ideias tradicionais defendidas,
tanto no campo do socialismo, quanto no do capitalismo em suas vertentes liberal e neoliberal,
não são capazes de apresentar soluções para a vida em sociedade, na medida em que a
modernidade apresenta novas questões, como a ecológica e a crescente desigualdade social
entre ricos e pobres em um mundo crescentemente definido pelo consumo, além de aspectos
importantes no que tange aos sistemas políticos e à emergência da guerra como padrão de
solução para conflitos.
A terceira via procura recuperar valores da social democracia e do Estado de Bem Estar
Social, porém renova ao identificar questões como a ecológica e a necessidade não apenas
de dar garantias às pessoas, como aconteceu, principalmente na Europa da pós-segunda
guerra mundial. Trata-se, segundo Giddens, de associar proteção e atitudes ativas das pessoas,
dividindo a responsabilidade com o Estado, sem, no entanto, jogar o cidadão nas arenas em que
a globalização neoliberal transformou a vida das maiorias e, no plano geral, de conter a ação
predatória desse mercado, incapaz de orientar a produção, a circulação e consumo de bens e
serviços de maneira equilibrada em relação ao meio ambiente.
Vivemos em uma sociedade de risco e a terceira via propõe planejar a vida para evitar que
alguns se efetivem e que outros causem menos impacto. Para Giddens(1999, p. 33) é preciso
identificar o risco como característica de nossa civilização, pois,
As culturas tradicionais não tinham um conceito e risco porque não precisavam
disso. Risco não é o mesmo que infortúnio ou perigo. Risco se refere a infortúnios
ativamente avaliados em relação a possibilidades futuras. A palavra só passa a
ser amplamente utilizada em sociedades orientadas para o futuro – que veem
o futuro precisamente como um território a ser conquistado ou colonizado. O
conceito de risco pressupõe uma sociedade que tenta ativamente romper com seu
passado – de fato, a característica primordial da civilização industrial moderna.

Entre o planejamento total vivido nos países nos quais houve o “socialismo real” no século 20
e a ausência total de planejamento do neoliberalismo a sociologia política de Giddens propõe a
terceira via como alternativa, tendo o desenvolvimento sustentável e a modernização ecológica
como fatores centrais para o enfrentamento às questões da modernidade: os riscos, as incertezas
manufaturadas que resultam das ações humanas, das atividades realizadas pelo conjunto das
sociedades envolvendo a própria sociedade e a natureza. Guerras nucleares, desequilíbrio
ambiental e desigualdades sociais crescentes estão na ordem do dia do pensamento desse autor.
Para Giddens (2003, p. 38),
O risco manufaturado é resultado da intervenção humana na natureza e nas
condições da vida social. As incertezas (e as oportunidades) que ele cria são
amplamente novas. Elas não podem ser tratadas como remédios antigos; mas
tampouco respondem à receita do Iluminismo: mais conhecimento, mais controle.

Nesse “mundo em descontrole”, de incertezas e riscos, a globalização é questão central e


Giddens participa do debate acerca de sua caracterização iniciando pelo próprio termo. Para ele
(1999, p. 18), “até o final da década de 1980 o termo quase não era usado, seja na literatura
acadêmica ou na linguagem cotidiana. Surgiu de lugar nenhum para estar em quase toda
parte”. Ele divide os analistas da globalização em dois grupos: os céticos, para os quais não
há globalização e os radicais, para os quais tudo é globalização. De acordo com Giddens o
equívoco de ambos os grupos é pensar a globalização apenas no campo econômico, quando,

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na verdade, seria (1999, p. 21) “...política, tecnológica e cultural, tanto quanto econômica. Foi
influenciada acima de tudo por desenvolvimentos nos sistemas de comunicação que remontam
ao final da década de 1960”.
Daí a necessidade de pensarmos, seguindo o autor, na globalização tanto naquilo que a
define, ou seja, os eventos em escala global, quanto no que se refere à influência dela sobre o
cotidiano, pois,
...a globalização influencia a vida cotidiana tanto quanto eventos que ocorrem
em escala global. É por isso que este livro inclui uma extensa discussão sobre
sexualidade, casamento e a família. Na maior parte do mundo, as mulheres
estão reivindicando mais autonomia que no passado e ingressando na força de
trabalho em grandes números. Esses aspectos da globalização são pelo menos
tão importantes quanto os que têm lugar no mercado global. (1999, p. 15-16).

Seguindo sua perspectiva de análise da sociedade, em que critica o que entende serem os
problemas do sistema capitalista em sua etapa neoliberal – a incapacidade de planejar e de
usar recursos dentro de limites aceitáveis, a tendência à ampliação das desigualdades e o uso
da guerra – Giddens procura apreender a globalização como fenômeno múltiplo e complexo,
reconhecendo aspectos positivos e negativos no processo, porém, para além disso, busca as
determinações e os agentes que conduzem seu desenvolvimento, pois,
A globalização está reestruturando o modo como vivemos, e de uma maneira
muito profunda. Ela é conduzida pelo Ocidente, carrega a forte marca do
poder político e econômico americano e é extremamente desigual em suas
consequências. Mas a globalização não é apenas domínio do Ocidente sobre os
demais; afeta os Estados Unidos tanto quanto outros países. (1999, p. 15-16).

Como cidadão do mundo, Giddens utiliza as tecnologias da informação e da comunicação e


as têm como elemento fundamental da configuração da modernidade globalizada. Ampliando
sua ação para além do mundo acadêmico, utilizou o rádio e a tevê e, desde os anos 1990, a
internet, como suportes para apresentação e discussão de suas ideias, como ocorreu em 1999,
quando apresentou palestras sobre temas cruciais de sua obra a públicos de diversos países, com
transmissão por sistemas de tevê e disseminação pela internet, com a possibilidade de interação
entre o palestrante e internautas, realizando o que Giddens entende como um debate eletrônico
global sobre os temas, entre os quais globalização, mas, também, democracia, risco, família,
tradição, todos, de alguma forma, conectados, como a audiência que participou dos eventos.

Dessa forma, os sistemas de comunicação estão no centro do processo de globalização e


interferem fortemente em sua construção, pois conectam pessoas, fatos e ideias em praticamente
todos os lugares e,
Num mundo globalizante, em que informação e imagens são rotineiramente
transmitidas através do mundo, estamos todos regularmente em contato com outros
que pensam, e vivem, de maneira diferente de nós. Os cosmopolitas acolhem essa
complexidade cultural com satisfação e a abraçam. Os fundamentalistas a veem
como perturbadora e perigosa. (GIDDENS,1999, p. 16).

A oposição entre tradição e inovação, apresentada pelo autor em termos de “cosmopolitas”


e “fundamentalistas” não pode ser mais ignorada, pois os sistemas de comunicação, a despeito

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Unidade: A Sociologia Política de Anthony Giddens

da recusa que possa haver, fazem chegar a todos as mesmas informações e imagens, atuando
diretamente sobre a opinião pública e sobre a cultura dos habitantes desse mundo interconectado.
A onipresença desses sistemas altera as relações de produção, a política e a vida cotidiana, o que
é analisado por Giddens como fator dessa complexa etapa em que vivemos esse “mundo em
descontrole” repleto de mudanças em todos os segmentos da vida.
Colocando-se no campo do esclarecimento e da cultura ocidental, mais como uma crença
que pela análise, Giddens afirma ter esperança na vitória dos valores cosmopolitas sobre os
tradicionais. Segundo o autor (1999, p. 16),
Podemos legitimamente alimentar a esperança de que uma perspectiva
cosmopolita acabará por vencer. Tolerância à diversidade cultural e democracia
está estreitamente vinculadas, e a democracia está atualmente se espalhando
por todo o mundo. A globalização está por trás da expansão da democracia. Ao
mesmo tempo, paradoxalmente, ela expõe os limites das estruturas democráticas
mais conhecidas, isto é, as estruturas da democracia parlamentar.

2. Anthony Giddens: Vida e Obra

Primeiro estudo realizado por Giddens, nos anos 1960, tinha como tema o suicídio, no
qual confronta Durkheim e Hursserl. Já na obra capitalismo e moderna teoria social, revisa os
clássicos e defende que Marx, Weber e Durkheim são os fundadores da sociologia.
Apresentamos a seguir algumas informações relevantes relativas à vida e à obra de Anthony
Giddens:
• Nasceu em 1938, em Londres, Inglaterra. É cofundador da Editora Polity Press, estudou
na Universidade de Cambridge e na London School of Economics and Political Science.
• Formação: Sociologia.
• Instituições nas quais atuou: Universidade de Leicester, Universidade da Califórnia,
Universidade de Cambridge, London School of Economics and Political Science.
• Livros publicados no Brasil: cerca de 30 obras, publicadas por diversas editoras, entre elas
Editora da Unesp, Record, Edusp, Zahar, com destaque para: Mundo em descontrole;
Modernidade e identidade; A terceira via; As consequências da modernidade; A constituição
da sociedade; A transformação da intimidade.
• Temas de pesquisa e ideias relevantes: globalização, risco, democracia, reflexividade,
terceira via, modernidade tardia.
• Atualidade: obra e intervenção no âmbito da política têm grande relevância, tanto acadêmica
quanto social. É polêmico e criticado, principalmente pelos sociólogos marxistas.
• Polêmicas e curiosidades: conheceu Norbert Elias na Universidade de Leicester. Em
1997, foi eleito reitor da London School of Economics and Political Science - Escola
de Economia e Ciência Política de Londres; realiza palestras em universidades e outras
instituições em diversos países do mundo; recebeu vários prêmios acadêmicos como
reconhecimento por sua obra.
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Material Complementar

Nesta unidade, estudamos a obra do sociólogo ANTHONY GIDDENS. No material


desenvolvido para a unidade apresentamos as ideias e obras desse autor e evidenciamos
as relações entre seu trabalho de pesquisa acadêmica no campo da sociologia, com o
desenvolvimento da SOCIOLOGIA REFLEXIVA e sua intervenção no campo da política, com
a criação do que ficou conhecido como TERCEIRA VIA. Em ambos os campos suas ideias têm
grande repercussão, inclusive no Brasil.
As pesquisas incluem temas como globalização, família e tradição, no campo da sociologia, e têm
o neoliberalismo e o socialismo do século 20 como referências para a construção da terceira via.
Atualmente a obra de ANTHONY GIDDENS está disponível em livros e em trabalhos
acadêmicos sobre ele ou que utilizam seus conceitos como referência.
Além do que disponibilizamos no material didático, você pode obter informações sobre a
obra de ANTHONY GIDDENS em livros ou artigos disponíveis na internet. Dos livros existentes,
sugerimos “Mundo em descontrole”, publicado pela Editora Record e que resume de maneira
didática alguns dos temas mais relevantes de sua obra. Disponível na internet, sugerimos a
participação de Giddens no programa Roda Viva da TV Cultura no ano 2000. A entrevista
está disponível, texto, na íntegra. No vídeo, apenas um trecho: http://www.rodaviva.fapesp.br/
materia/286/entrevistados/anthony_giddens_2000.htm

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Unidade: A Sociologia Política de Anthony Giddens

Referências

GIDDENS, Anthony. A transformação da intimidade – sexualidade,


amor e erotismo nas sociedades modernas. São Paulo: Unesp, 2003.

GIDDENS, Anthony. Modernidade e Identidade. Rio de Janeiro: Jorge


Zahar Ed., 2002.

GIDDENS, A. Política da Sociedade de Risco. In: GIDDENS, Anthony &


PIERSON, Christopher (eds). Conversas com Anthony Giddens: O Sentido da
Modernidade. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2000a.

GIDDENS, Anthony. Mundo em descontrole. Rio de Janeiro: Record, 2000b.

GIDDENS, Anthony. A terceira via. Rio de Janeiro: Record, 1999.

GIDDENS, A. Risco, Confiança, Reflexividade. In: BECK, U.; GIDDENS, A.


& LASH, S. (eds). Modernização Reflexiva. São Paulo: UNESP, 1997.

GIDDENS, Anthony. Novas Regras do Método Sociológico. Lisboa:


Gradiva, 1996a.

GIDDENS, Anthony. Para Além da esquerda e da direita. São Paulo:


UNESP, 1996b.

GIDDENS, Anthony. As Consequências da Modernidade. São Paulo:


EDUSP, 1991.

GIDDENS, Anthony. A Constituição da Sociedade. São Paulo: Martins


Fontes, 1989.

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Anotações

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