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Quando terminei nosso encontro passado fiz alusão a certo texto, e por
isso houve quem achasse que devesse correr a ler Mário de Andrade e seu
Macunaíma, o herói sem nenhum caráter. Claro que se deve lê-lo, até se ler
houve um equívoco que não deixou de ser provocado, quando se supôs que se
para se saber, de algum modo, aquilo que Macunaíma exprime com o seu “Ai!
Que preguiça!”, esse “não querer saber de nada” que, quando é considerado,
desejo de sono, que ele exprime com “Ai! Que preguiça!”, que é estritamente
o mesmo desejo expresso pelo sonho, quer dizer, certa realidade. Desejo que
faz Macunaíma dormir a toda hora, mesmo na hora de dormir com alguém –
ele “não quer saber” nem mesmo no meio da foda –, enfim ele dorme no meio
da dormida.
Escrevi isto com ph, que na química tem um sentido muito interessante de
analítica” –, que não se equivoque o que é dito com o barato literário de Mário
de Andrade, que, de modo algum, deixa de apontar para o objeto a... Para
terminar, citarei o próprio Mário de Andrade em Macunaíma. No período final do texto, diz o
narrador: “...e eu fiquei para vos contar a História. Por isso que
vim aqui. Me acocorei em riba destas folhas, catei meus carrapatos, ponteei na
Andrade termina dizendo que “tem mais não”, e a gente tem que terminar aqui
Da próxima vez, falarei sobre certas rãs que coaxam em Pessoa. (Ad Sorores, pp48/49)
FI-MENINA
– uma coisa que a gente talvez não dê muita importância no texto, mas o
Macunaíma, que para muitos seria uma tentativa de levantamento desse sintoma,
herói de nossa gente”. É melhor ressaltar essa palavra herói para depois. E
aí se diz: “No momento de seu nascimento era preto retinto e filho do medo
Quer dizer, se a mãe era índia, Macunaíma era preto. É claro que ele
vai mudando de cor, pode ficar até louro de olhos azuis, como todo crioulo
nacional aspira, quer dizer, são nesses embates das culturas pelo privilégio de
Por que será que Mário de Andrade fez esse nascimento como preto?
Lacan define, raça como repetição discursiva) desse que no texto é chamado o
herói da nossa gente – ou seja, aquele que poderia arcar com a posição
paterna – certamente, tivesse ganho, às avessas, a batalha discursiva?
aquela que tinha um buraco na nuca, quer dizer, o que caracterizava a Uiara é
o buraco na nuca.
em várias coisas, sobretudo nos culhões, os “cocos da baía” como diz Mário,
perde também um perna (um membro) e no fim da peripécia toda, sobe aos céus,
e se constitui numa constelação chamada Ursa Maior. Quer dizer, é uma espécie
terra, sem saúde e com muita saúva, se aborreceu de tudo, foi-se embora e
o campo de todas as inscrições, onde o Real comparece, mas que é lido como
questões que vão ficar suspensas, já que o Seminário sobre esse feminino, deste
como podemos acoplar isto com essa possibilidade de pensar o que quis chamar,
signifi cante. O bebê, ele lida com pedaços, é suposição minha, ou é da Melanie
Klein. Ele fi ca chupando uma coisa, naquele movimento que é uma máquina,
como diz Deleuze. Mas este pode se deslocar, nomeado, como letra da minha
corpo, tal como o concebemos, não pareceria de modo algum com nenhuma
mapear, que é o seu percurso pulsional e que não está adstrito, de modo algum,
aos objetos de carne, disso que chamamos corpo humano no sentido anatômico
da medicina. Posso ter, por exemplo, um corpo com um seio que liga direto
numa tomada de ventos que é fomentada por um livro que é órgão de uma biblioteca
que tem por baixo um rio que corre e o sol não se pôs ainda. Um corpo
A NATUREZA DO VÍNCULO
pelo fato de ser essa dilaceração entre as diferenças. Então, às vezes, por
certo horror, terror, começa a supor que seu referencial deve ser externo. Aí,
tomar o delirante do Lacan e achá-lo genial, mas o Magno, este não, pois é
estaremos dizendo quem é eu, para nós e para qualquer parte do mundo.
A certeza desse sujeito – se é que precisamos deste nome –, ou melhor,
aí na dilaceração da diferença.
Para que serve isso? Que destino – se não o temos, segundo a neurose
que pode ser a razão do século XX1, que o tal do pós-moderno apenas sugere,
mas não consegue realizar. Apenas sugere o quê? O lugar onde caiba de tudo,
convivência disso para além do racismo terminal do século XX. Acho, enfim,
PSICANÁLISE NOVAMENTE
nosso psiquismo funciona de modo que tudo que se coloca diante dele, se ele
não faz imediatamente o exercício de virar pelo avesso, pelo menos pode muito
bem fazê-lo. Ao que quer que compareça para nossa mente, pode ser posto
o contrário. Em última instância, ao que quer que compareça, posso dizer não
mental é a competência de revirar pelo avesso o que quer que se nos apresente.
Por isso, chamo de Revirão a cambalhota que desenhei da vez anterior, que
Digo, então, que aposto declarada e fortemente naquilo que, no campo da ciência,
é porque o universo está informado de maneira a vir nos produzir para fazermos
profetiza ex-culturas.