Você está na página 1de 234

PARTE – I

INTRODUÇÃO, OBJECTIVOS E PRINCIPAIS HIPOTESES DE TRABALHO


PARA ANÁLISE

1
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO, OBJECTIVOS E PRINCIPAIS HIPÓTESES DE
TRABALHO

1.1. Introdução

A importância das questões referentes à segurança alimentar, aos mais variados níveis, é hoje cada
vez mais, uma preocupação presente na definição das políticas de desenvolvimento. Importa
melhorar a qualidade da vida da população num quadro sustentável de desenvolvimento, onde a
qualidade ambiental, a defesa dos consumidores, a melhoria dos indicadores de bem estar seja uma
realidade e onde a organização e coesão territorial, seja ela também, um factor de progresso e base
para o crescimento e modernização de qualquer sociedade.

Na Guiné-Bissau, a preocupação básica com a segurança alimentar não foi ultrapassada e coloca-se
com a maior pertinência a necessidade de dar uma especial atenção às questões ligadas aos
problemas da segurança alimentar (situação alimentar, nutricional e qualidade da vida da
população), tendo em conta as possibilidades de melhorar aspectos fundamentais para a promoção
económico-social das populações.

Nesse sentido, torna-se imprescindível conhecer em pormenor três questões ligadas à problemática
do desenvolvimento em termos de segurança alimentar, no qual se centra o nosso trabalho:
1ª) – Analisar e avaliar a situação alimentar e nutricional, assim como o impacto das
estratégias e políticas de segurança alimentar implementadas nos últimos anos;
2ª) – Analisar a situação da vulnerabilidade alimentar e qualidade da vida das familias;
3ª) – Avaliar a importância e a contribuição dos produtos locais sub-valorizados (não
convencionais) e a sua promoção para a melhoria da situação alimentar e nutricional da população.

Em suma, é sobre este conjunto de preocupações que o presente trabalho de investigação se realiza a
partir de um estudo de caso na Guiné-Bissau. Dentro do possível analisa-se a evolução da situação
actual da “Segurança/vulnerabilidade alimentar e qualidade da vida das famílias”, destacando-se o
conjunto de políticas económicas e estratégias que se adoptaram a realidade e perspectivar as

2
intervenções possíveis e capazes de fazer a população alvo ultrapassar o nível de mera subsistência,
principalmente das camadas mais vulneráveis.

O presente trabalho está estruturado em dez capítulos que são os seguintes:


- Capítulo I - Introdução, objectivos e principais hipóteses do trabalho;
- Capítulo II – Guiné-Bissau, o meio físico e humano, potencialidade e situação socio-económica
pós a independência;
- Capítulo III – Segurança alimentar: conceito, perspectivas e principais desafios;
- Capítulo IV – Alimentação e nutrição: fome e seus principais problemas;
- Capítulo V – Ajuda alimentar e produtos doados à Guiné-Bissau;
- Capítulo VI – Abordagem metodológica do trabalho (material e método);
- Capítulo VII - Análise e avaliação da situação alimentar e nutricional na Guiné-Bissau – Impacto
das estratégias e politicas da segurança alimentar implementadas;
- Capítulo VIII – Vulnerabilidade alimentar e qualidade da vida (bem estar) das famílias;
- Capítulo IX – A promoção e a contribuição dos produtos locais subvalorizados na Guiné-Bissau;
- Capítulo X – Conclusões e considerações finais.

No capítulo I que constitui a parte I do trabalho, descreve-se a importância do estudo para o


desenvolvimento sócio económico da Guiné-Bissau e definem-se os principais objectivos gerais e
específicos do trabalho, assim como as principais hipóteses enumeradas para análise a partir dos
objectivos preconizados e do nosso conhecimento sobre a realidade.

Os capítulos II, III, IV e V, que constituem a parte II pretendem enquadrar teoricamente as


principais questões em análise situando-as no contexto do debate científico actual (tendo em conta a
situação do país no contexto histórico, cultural, socio-económico, politico e agro ecológico), assim
como os conceitos da segurança alimentar (alimentação, nutrição) e principais desafios.

Analisa-se a situação da segurança alimentar, vulnerabilidade do país e do sector agrário em termos


de produção, importações e consumo, assim como a fraca contribuição das estratégias e politicas
implementadas, nos últimos anos, na melhoria da situação da segurança alimentar e nutricional no
país.

3
Traça-se uma ideia geral (caracterização) da Guiné-Bissau no plano histórico, socio-económico,
político e agro ecológico. Com base nessa informação foi possível contextualizar o trabalho, em
termos geográficos (limite, área e divisão administrativa), climáticos, demográficos, ambientais etc.
Faz-se ainda um breve enquadramento da situação económica do país, através da análise das suas
potencialidades e recursos, abordando também o modelo político traçado e seguido pós
independência. Por último, mencionam-se os principais problemas da alimentação e nutrição, tendo
em conta os inquietantes dados provocados pela fome no mundo e suas verdadeiras causas,
principalmente nos países menos desenvolvidos.

Os capítulos VI, VII, VIII, e IX, constituem a parte central deste trabalho (parte III), sendo neles
que se pretende desenvolver e testar as principais hipóteses definidas, assim como a metodologia
traçada no capítulo VI, no qual se descreve o processo de pesquisa (material e método dos capítulos
VII, VIII e IX) a partir dos objectivos, das principais hipóteses enumeradas de cada um desses
capítulo.

No capítulo VII apresenta-se um conjunto de dados estatísticos, a partir dos quais podem ser
identificados os principais factores da fraca contribuição do sistema produtivo agrário e a limitada
capacidade de obtenção e gerir divisas para comprar alimentos no mercado internacional em relação
às necessidades do consumo da população. Ainda nesse capítulo, apresentam-se os dados sobre a
disponibilidade alimentar dos produtos de base, tendo em conta grau de auto-suficiência e da
segurança alimentar, as necessidades alimentares e a disponibilidade proteica e calórica que permite
entender o panorama da situação nutricional do país no geral e da população em particular.

No capítulo VIII, apresentam-se os resultados dos inquéritos e sua discussão de forma descritiva e
analítica com objectivo de identificar, localizar e caracterizar as regiões e famílias mais vulneráveis,
em termos de acesso aos bens de serviços e produtos alimentares, a fim de traçar um perfil das
regiões e famílias mais vulneráveis e identificar a situações de insegurança alimentar. Faz-se a
análise separada das regiões e das famílias inqueridas, tentando mostrar de forma pormenorizada a
situação das regiões e famílias em relação a cada um dos itens escolhidos para análise. Apresentam-
se, ainda neste capítulo as principais estratégias de sobrevivência das famílias segundo grupos

4
vulneráveis, por elas sempre adoptadas quando enfrentam uma situação de crise alimentar.
Apresentam-se também as conclusões e futuras perspectivas sobre as medidas para melhorar a
situação de vulnerabilidade alimentar das famílias na Guiné-Bissau.

No capítulo IX, demonstra-se a contribuição dos produtos locais subvalorizados (não convencionais)
e a suas importância e promoção para alimentação humana (em termos nutricionais). Em primeiro
lugar, apresenta-se os dados referentes ao valor energético, e a composição química, elementos
minerais, assim como o conteúdo em ácido ascórbico e em beta-caroteno (vitamina A), aminoácidos
totais e essenciais, o teor em niacina etc., que demonstra a importância desses produtos em termos
nutricionais. Em segundo lugar, apresentam-se as razões comparativas dos teores em aminoácidos
essenciais dos produtos em análise com a proteína do ovo (FAO, 1979) como o padrão de referência
da FAO/WHO (1973), que permite entender o grau e qualidade nutricional desses produtos. Por
último, são apresentadas as recomendações, assim como as conclusões e considerações finais.

Para terminar, no capítulo X, apresentam-se as conclusões e considerações gerais do trabalho, tendo


em conta as conclusões e considerações finais apresentadas em cada capítulo. Ainda, nesse capítulo
apresenta-se também as perspectivas futuras e recomendações sobre as medidas a ter em
consideração e suas implementações para melhoria da situação nutricional, vulnerabilidade
alimentar e de qualidade da vida das famílias na Guiné-Bissau.

1.2. Objectivos e hipóteses de trabalho

Os objectivos gerais do presente trabalho consistem, essencialmente em:

1) Analisar e perspectivar as tendências e padrões de comportamento da economia da Guiné-


Bissau no período de 1990 a 2006 em termos de segurança alimentar;

2) Avaliar a situação alimentar e nutricional da população (vulnerabilidade alimentar e


qualidade da vida dos familiares);

3) Identificar oportunidades de introdução de mudanças tecnológicas, tanto do ponto de vista da


produção, transformação, assim como, do consumo, olhando para qualidades nutricionais de
alguns produtos locais subvalorizados e que são mais acessíveis economicamente.

5
Como objectivos específicos deste estudo acrescenta-se os seguintes pontos essenciais:

 Analisar e perspectivar o impacto das estratégias e da política alimentar implementada. Tendo


em conta os aspectos ligados a saúde, a produção alimentar, a importação e a exportação de bens
alimentares, os preços, a “cobertura” alimentar, entre outros indicadores socio-económicos, que
podem servir de base para uma boa compreensão da situação alimentar e nutricional do país e da
população em particular

 Identificar e caracterizar as regiões e famílias mais vulneráveis, em termos do acesso aos bens
alimentares, equipamentos e serviços, a fim de traçar um perfil das regiões e famílias mais
vulneráveis em termos alimentares e com carências nutricionais, a partir de características
observáveis com vista a responder a três questões fundamentais: Quem são? Onde estão? E
como vivem?

 Analisar e caracterizar o funcionamento dos mercados nacionais em termos de abastecimento


dos produtos básicos, tendo em conta a produção, exportação e importações (comerciais e
ajudas) dos bens alimentares, assim como os preços praticados nas diferentes localidades;

 Analisar e avaliar o impacto da migração em termos de qualidade da vida dos guineenses:


causas, consequências e oportunidades;

 Identificar e desenvolver um conjunto de indicadores e informações que permitam


monitorizar e avaliar a situação da segurança e vulnerabilidade alimentar das famílias e das
zonas, a fim de perspectivar e montar um dispositivo de seguimento constante das famílias. Um
sistema que pode contribuir para o fortalecimento dos processos da tomada de decisão,
formulação e implementação de políticas e programas da intervenção multi-sectoriais, que visam
reduzir a pobreza e minimizar todas as vertentes a ela associada (entre as quais, a fome, a
insegurança alimentar e nutricional e a vulnerabilidade em geral);

 Identificar inovações institucionais ao nível de abastecimento e funcionamento do mercado,


com as medidas concretas que apoiam as organizações capazes de melhorar o funcionamento do
sistema de mercado e na melhoria da qualidade da vida das populações. Isto é, um sistema que

6
contribui para a defesa não só dos consumidores, mas também na melhoria das condições dos
principais operadores económicos do sector (comerciantes e planeadores económicos em termos
de segurança alimentar);

 Identificar algumas variáveis de alerta para poder apontar possíveis soluções, que possam ser
adaptadas e implementadas para o reforço da capacidade institucional e contribuir para a
melhoria da qualidade de vida na Guiné-Bissau. Isto é, para que todas as pessoas ou população, a
qualquer momento e meio, possam ter acesso físico e económico a bens alimentares, de forma a
poderem usufruir de uma vida sadia, olhando também para qualidades nutricionais de alguns
produtos nacionais subvalorizados e que oferecem oportunidades para uma alimentação mais
equilibrada e economicamente mais acessível.

Ainda com o presente trabalho visa testar as seguintes principais hipóteses de investigação:

H1. A política de desenvolvimento actual do país, em especial do sector agrário, em termos de


segurança alimentar, tem impacto profundo nos sistemas produtivos e institucionais e contribui
para a insegurança alimentar da população em geral e das mais vulneráveis em particular;

H2. As características da população tais como os hábitos alimentares, nível de escolaridade,


dimensão de agregado familiar, acesso aos bens alimentares e serviços têm grande influência no
regime alimentar e nutricional da população em termos da segurança alimentar;

H3. A Formação/Educação alimentar, designadamente dos elementos femininos no agregado


familiar, é um dos factores determinantes e fundamentais no desenvolvimento, na
implementação e na melhoria de dieta alimentar e qualidade da vida da população de uma
determinada sociedade;

H4. A identificação e melhor aproveitamento de recursos alimentares locais despontáveis pode


trazer um enorme valor acrescentado para uma boa alimentação;

H5. As ajudas externas em bens alimentares têm um papel determinante no desenvolvimento em


termos da segurança alimentar.

7
PARTE – II

ENQUADRAMENTO TEORICO E PRINCIPAIS ASPECTOS A SABER.

 Guiné-Bissau: meio físico, humano, potencialidade e situação socio-económica


pós a independência;

 Segurança alimentar: conceito, perspectivas e principais desafios;

 Alimentação e nutrição: fome e seus principais problemas;

 Ajuda alimentar e produtos doados na Guiné-Bissau;

8
CAPÍTULO II - GUINÉ-BISSAU: MEIO FISICO, HUMANO, POTENCIALIDADE E
SITUAÇÃO SOCIO-ECONÓMICO PÓS A INDEPENDÊNCIA

Neste capítulo, em primeiro lugar, faz-se uma caracterização geral da Guiné-Bissau no plano histórico,
socio-económico, político e agro-ecológico. Com base nessa informação foi possível contextualizar o
trabalho, em termos geográficos (limite, área e divisão administrativa), climáticos, demográficos, ambientais
etc.,.

Em seguida, faz-se um breve enquadramento da situação económico do país, através da análise da sua
potencialidade e recurso, abordando também o modelo político da segurança alimentar traçado e seguido
pós da independência.

2.1. Meio geográfico, população, clima e o ambiente.

A Guiné-Bissau situa-se na costa ocidental africana (Figura 1). O território é limitado ao Norte pelo
Senegal e Este e Sul pela Guiné-Conakry e formado por uma parte continental com algumas ilhas
adjacentes (Jeta, Picixe, Bissau, Bolama, Caiar, Komo e Melo) e outra insular, constituida por um
grupo de cerca de 40 ilhas relativamente próximas: o Arquipelago de Bijagós (zona 4) das quais só
20 estão habitadas (Figura 2). Cerca de 1/4 desta área são periodicamente influênciados pelas marés
e braços de mar (Teixeira, 1962).

9
Figura 1 – Guiné-Bissau no contexto do continente Africano, limitada a Norte pelo Senegal, a Este e a Sul
pela Guiné Conakry, e a Oeste pelo oceano Atlântico entre os paralelos 10º 59´ e 12º 20´ N e os medianos 13º
40´W Gr. Tem uma área de 36.125 km2. O Oeste é constituido por planícies costeiras recortadas por rios.

A população da Guiné-Bissau foi estimada em 1.493 mil habitantes em 2002, dos quais 68,8% se
encontra nas zonas rurais. A taxa de crescimento da população é estimada em cerca de 3,0% com
uma densidade populacional de 41,3 hab/km2. A taxa de alfabetização é apenas cerca de 32% com
uma taxa de escolaridade das crianças (7-12 anos) de cerca de 40% (INEC, 2002).

Figura 2 - Divisão administrativa segundo a politica agrária em zonas (MDRA/DEA, 1995)

Administrativamente a Guiné-Bissau encontra-se dividida em oito regiões (concelhos) e 39 sectores


(freguesias). Em termos da política agrária foi dividida em quatro zonas agrícolas. Estas zonas são
denominadas zona 1, 2, 3 e 4 respectivamente a zona Norte ( abrangendo a região de Cacheu,
Biombo e Oio), Leste (Bafata e Gabu), Sul (Tombali e Quinará) e Ilhas de Bolama ou região de
bolama (Figura 2)

10
No que se refere os grupos etno-linguisticos segundo Koos Neefjes (1991) na Guiné-Bissau existem
mais de trinta grupos étnicos, dos quais se destacam os Balantas, Fulas, Manjacos, Beafadas,
Bijagós, etc. O Português é considerado como a língua oficial embora seja falado por uma
percentagem reduzida da população, sendo o crioulo a língua nacional.

A Guiné-Bissau tem clima tropical húmido com temperaturas médias de 24ºC – 27ºC, com uma
constância ao longo do ano (Koos Neefjes, 1991). As precipitações são altas no geral, variando entre
1500 mm a Norte e 3000 mm a Sul, mas nos últimos anos nota-se uma diminuição gradual desse
intervalo na ordem de 2% ao ano. A Guiné-Bissau não está isenta dos problemas ambientais que a
zona do Sahel enfrenta hoje. Os indicadores ambientais tornam-se cada vez mais preocupantes. A
taxa de desflorestação anual é estimada em 3,5%, o que significa uma perda por ano de cerca de
150.000 ha de floresta (UICN, 1996 cit. in Bock, 2001). O mais preocupante ainda é que o país tem
um índice de reflorestação muito baixo, apenas de 1,5% ou cerca de 6.000 ha/ano. As principais
causas desta destruição florestal são o corte da madeira, a exploração de lenha e carvão e a prática
da agricultura itinerante com efeito de constantes queimadas.

2.2. Recursos e suas potencialidades

A agricultura é a actividade económica principal do país, representando mais de 60% do PIB total,
Emprega cerca de 82% da população economicamente activa e contribui com mais de 90% das
divisas provenientes das exportações (BCGB, 2005).

O potencial de terras aráveis é de 1,2 milhões de hectares, dos quais apenas 50% estão a ser
utilizados. O arroz é base da alimentação na Guiné-Bissau com um consumo per capita de 105
kg/ano (França, 1995). Outras culturas locais importantes são: a mandioca, os milhos, a batata doce
e os feijões. Também se encontram produtos como a castanha de cajú, o amendoim, a manga, o
algodão e a madeira que são importantes na exportação. Das culturas de exportação, a castanha de
cajú é a principal fonte de receitas, com um volume de 105,415 toneladas e um montante em divisas
de 63,8 milhões de dólares (CNC/MC, 2006), seguindo-se os produtos florestais e algodão com as
receitas de 1,5 e 1,39 milhões de dólares respectivamente e as frutas tropicais, a ganhar alguma
expressão, com destaque para a manga (BCEAO, 2006).

11
É importante sublinhar que houve recentemente alterações significativas no sector. O periodo de
1987-97 foi muito marcado pelas medidas de liberalização económica, dinamização do sector
agricola empresarial e surgimento de uma camada dos chamados pequenos agricultores tradicionais
em que as culturas de renda (fruteiras-cajú, manga e banana) começaram a ocupar um lugar cada vez
maior na lógica de agricultura guineense.

Do nosso ponto de vista, pela análise de documento de varios autores, o sector agrícola enfrenta hoje
em dia várias ameaças e debilidades, consideramos como problemas mais relevantes os seguintes
constrangimentos:

a) Do ponto de vista agronómico:

(i) A fragilidade do sistema de bolanha salgada e que depende muito da quantidade da precipitação,
representa cerca de 70% da produção local; (ii) O baixo índice de fertilidade dos solos de planalto,
baseado no uso de sistemas de cultura não-regeneradores, pela intensificação da agricultura
itinerante que conduz cada vez mais à degradação desses solos e à destruição das florestas; (iii) Os
sistemas de cultura (fruteira e hortícolas) apresentam deficientes índices tecnológicos e os sistemas
de cultura tradicionais (cereais, leguminosas, raízes e tubérculos) revelam níveis de rendimento
muito baixos e uma reduzida capacidade produtiva; (iv) Todos os sistema de produção de arroz de
bolanha salgada ou doce, assim como os sistemas de produção de arroz de sequeiro, fazem-se com
uma deficiente utilização e gestão dos recursos hídricos disponíveis; em consequência disso, a
agricultura guineense está muito penalizada pela diminuição das chuvas; (v) fraca ou falta da
politica de promoção de iniciativas privadas e de experiência na produção de animais de ciclo curto
(aves, coelhos e suínos), que responda às solicitações crescentes de proteína dos mercados urbanos,
principalmente Bissau, Bafatá e Canchungo.

b) Do ponto de visto socio- económico:

(i) A elevada taxa do êxodo rural dos jovens para os centros urbanos e países vizinhos para vender a
sua força de trabalho que inicia um processo de “êxodo rural” e diminuição da força de trabalho nas

12
famílias; (ii) A omnipresença do arroz nos hábitos alimentares dos guineenses (consumo muito alto)
que desaloja outras culturas locais tais como mandioca, batata doce, milhos, feijões, etc., (Bock,
2001); (iii) A inexistência de um sistema nacional de crédito agrícola coerente, eficaz, sustentável e
permanente, que sirva para melhorar a capacidade produtiva dos agricultores e os objectivos
concretos de uma política agrícola; (iv) A debilidade ou falta de circuitos de comercialização de
produtos agrícolas, não só para as culturas alimentares, mas também para os produtos de boas
cotações nos mercados regionais e internacionais nomeadamente manga, castanha de caju e algodão.

c) Do ponto de vista político e institucional:

(i) Ausência de uma definição clara dos objectivos para o desenvolvimento do sector agrícola (Carta
Política Agraria, 1996). Embora se tenham fixado intenções demasiado gerais (auto-suficiência
alimentar/ segurança alimentar e promoção de culturas de exportação), não houve uma clarificação
quanto às metas quantitativas e qualitativas a atingir ; (ii) A agricultura não desempenhou o papel do
sector motriz do desenvolvimento do país. Isto é agricultura guineense não foi capaz de dinamizar
os outros sectores (industrias e serviços); (iii) Tem sido prática comum basear a política de
exportação apenas num produto agrícola (mancarra, depois algodão e agora castanha de cajú) o que,
devido as flutuações bruscas de preço e de mercado, se torna um factor de instabilidade da economia
(situação de “mono-exportação). Simultaneamente, tem havido sempre uma preferência para os
mercados mais longinquos (Europa e Asia), desvalorizando os mercados regionais (subregião
africana), mais constantes e acessiveis e menos exigentes; (iv) Os serviços oficiais MDRA passam
por periodo em que, à indefinição do seu papel se junta uma profunda crise das suas estruturas e a
completa desmotivação dos seus recursos humanos; (v) O movimento das ONGs e organismos
Estatais é incipiente e não mostra ainda capacidade para, a curto prazo, assumir um papel
determinante na dinamização e no desenvolvimento do mundo rural; (vi) A postura de grande parte
dos parceiros tem sido muitas vezes mais um elemento perturbador e desequilibrador que um factor
de promoção do sector agrícola.

Apesar de todos estes estrangulamentos, os agricultores guineenses conseguem produzir, de uma


forma geral, o suficiente para as suas próprias necessidades alimentares, na medida em que os
sistemas de produção lhes permitem obter uma grande diversidade de alimentos, complementados

13
pela pesca, caça e as pequenas actividades comerciais. O sector familiar é largamente maioritário,
vocacionado principalmente para a produção alimentar (arroz, milho, sorgo, raízes e tubérculos) e
para a produção em pequena escala, das chamadas culturas comerciais (algodão, amendoim, manga
e caju).

A aplicação do Programa de Ajustamento Estrutural (PAE), apoiado financeiramente pelo Banco


Mundial e Fundo Monetário Internacional em 1987 com os objectivos de corrigir os desequilíbrios
macro-económicos, pretendia melhorar a produtividade do investimento público e criar incentivos a
prossecução de um crescimento sustentável, assim como a criação de novos postos de trabalho nas
zonas rurais, oferecendo aos jovens possibilidades e alternativas de emprego, evitando assim o
êxodo rural destes para as cidades (PAE,1987).

Em consequência disso, modificou-se a situação das mulheres nos agregados familiares. Isto é, a
responsabilidade das mulheres em encargar sustentar a família aumentou. Indirectamente na altura,
as mulheres sentiam as consequências do PAE através da alteração da situação dos membros
masculinos das suas famílias a saírem na produção de bens alimentares e a diminuição do poder de
compra. Isto se justifica de que, nas famílias em que o homem passou a trabalhar como funcionário
público, a sua contribuição para o rendimento da família reduziu-se ( por ter salário baixo), mesmo
que o seu dinheiro fosse utilizado para as despesas da mesma. Isto demonstra que o governo através
da sua política agrícola de PAE, apoiou o afastamento dos homens da agricultura de subsistência,
apesar de ter considerado este sector como primário e prioritário, que tinha como objectivo a tal
famosa política de auto-suficiência alimentar que nunca chegou a atingir minimamente os seus
objectivos.

2.3. Situação socio-económica da Guiné-Bissau pós independência

Após a independência o Estado da Guiné-Bissau seguiu de facto um modelo de economia de


direcção central, tal como os países do Leste europeu, onde o Estado passou a comandar quase todos
os segmentos da economia, incluindo os do domínio micro económico, criando e gerindo ele próprio
as empresas, nacionalizando as poucas estruturas empresariais deixadas pelo colonialismo,
controlando os processos e as actividades de importação (arroz e outros bens de primeira

14
necessidade, bens de equipamentos, etc.) e exportação (mancarra ou amendoim, algodão, coconote,
etc.), redistribuindo, sob preços controlados, as mercadorias destinadas ao consumo interno,
mediante, por exemplo, o armazéns do povo. Tal política agravou, destruindo as poucas empresas
privadas intermediárias ou fornecedoras transitadas da época colonial, além de toda a iniciativa
privada que o colonialismo tinha lançado e que se encontrava à espera de oportunidade para emergir
e desenvolver-se.

Por volta de 1977, o país mergulhou numa grande crise económica, provavelmente reflexo da
conjugação de situações conjunturais desfavoráveis, como a seca que afectou as colheitas agrícolas,
o reflexo da crise petrolífera mundial da primeira metade da década e a irregularidade na importação
dos bens da primeira necessidade, talvez por dificuldades de tesouraria do Estado. Segundo Cardoso
& Imbali (1993), observam que este período coincide com a 2ª vaga de emigração dos guineenses,
sobretudo para Portugal (a primeira foi no período pós-independência). Tal situação viria a repetir-
se no início da década de 80 devido às vicissitudes políticas do país, ao agravamento da situação
económica mundial e ao 2º choque petrolífero do final da década de 70. Nesta década, alguns dos
projectos empresariais públicos, fugiram à realidade e culminaram naquilo a que se designa mega -
projectos mal concebidos - cujos casos mais paradigmáticos são o Complexo de Cumeré, Projecto
Açucareiro de Gambiel, Projecto de desenvolvimento agrário de Comcaiar em Catio e Olaf palmo
em Bula, etc.,.

No entanto, projectos bem adaptados à realidade podem ser bem sucedidos, como demonstra o
recente projecto agrícola chinês no Leste do país, de que é possível produzir e fazer colheita de arroz
na Guiné-Bissau duas vezes por ano. Contudo o Estado guineense, tem pelo contrário desperdiçado
recursos escassos (divisas) na importação de arroz e outros produtos de bens alimentares, ao invés
de criar condições e estimular a produção privada nacional deste produto e de outros produtos agro-
pecuários e piscatórios que abastecessem, de forma regular e equilibrada, o mercado interno e,
também, de forma progressiva, o mercado sub-regional e internacional, em prol da economia e da
sociedade guineense.

Nos meados dos anos 80, sob pressão do Banco Mundial e do FMI e a sua política de Ajustamento
Estrutural, e perante o descontrolo da crise económica, procedeu-se à liberalização da economia, que

15
acabou por, na realidade, “aliviar a dramática situação económica e social em que se encontrava a
esmagadora maioria das famílias guineenses”. Isto é, apesar de este facto ser uma realidade, torna-se
difícil demonstrar, pela complexidade da situação actual e conjuntura económico do país, que esse
programa de Ajustamento Estrutural através da liberalização da economia ajudou a melhorar as
condições e qualidade da vida das populações (Cardoso & Imbali, 1993).

Na década de 90, a situação não melhorou, bem pelo contrário, apesar de algumas famílias do
interior do país que se dedicam à plantação de caju, e os comerciantes ligados ao sector virem a sua
situação melhorar em razão da valorização deste produto no mercado internacional. O conflito
político-militar de 1998-99 deu uma machadada final na frágil situação económica já existente,
cujos efeitos se fazem sentir até a data presente, tendo como consequência a redução da taxa do
crescimento do PIB real para (-28%) em 1998 (Banco de Portugal, 2004).

Contudo, a sua recuperação e melhoria progressiva não são de todo impossíveis. Para isso é
necessário ter uma determinação política, com programas consistentes e coerentes e projectos
empresariais executáveis. A verdade é que se trata de algo quase a começar de raiz devido à
exiguidade e à fragilidade do tecido empresarial nacional. Um outro problema é a falta de uma
mentalidade de poupança interna tanto por parte do Estado como por parte das famílias e dos demais
actores económicos. Trata-se de um problema agravado com a precariedade, ou mesmo inexistência,
das instituições financeiras nacionais (Bancas). Tal constitui um dos factores que faz divergir a
trajectória da economia guineense da dos chamados tigres asiáticos onde a taxa de poupança interna
é, relativamente elevada o que lhes faculta uma enorme capacidade interna de investimento e
reinvestimento.

Apesar que na realidade, há países onde o dirigismo económico tem funcionado e funciona, países
que, curiosamente, podemos considerar capitalistas genuínos, como são os casos de Singapura,
Coreia do Sul, Taiwan, Malásia, etc., e até mesmo da própria China (oficialmente comunista).
Nestes países, além da formação dos recursos humanos necessários, são os governos que, entre
outras iniciativas, definiam e, na maior parte dos casos, ainda definem os sectores em que se deve
investir, contribuem para a criação e consolidação das empresas privadas, estimulam a rivalidade

16
interna (competição) entre elas e suportam-nas na conquista dos mercados internacionais e na
competição a esse nível. É escusado dizer que os resultados têm ultrapassado as expectativas.

Todavia, há alguns factores que estão subjacentes à eficácia de tais dirigismos económicos: a
generalização de um sistema educação exigente, de qualidade e voltado para a excelência,
particularmente nos domínios da matemática e ciências naturais modernas aliada a valores como
ordem e disciplina (incluindo o cumprimento dos horários), honestidade, apego ao trabalho,
humildade, redes de cooperação e entreajuda por parte das empresas inclusive na conquista dos
mercados externos e na competição internacional. Tudo isto demonstra as pré-condições para a
sustentabilidade das economias capitalistas fortemente dirigidas, aquilo que podíamos considerar
economias “dirigidas para mercado”.

17
CAPÍTULO III - SEGURANÇA ALIMENTAR: CONCEITOS, PERSPECTIVAS
FUTURAS E PRINCIPAIS DESAFIOS

Através deste capítulo, apresenta-se um conjunto de preocupações ao nível mundial em termos da segurança
alimentar, aspectos críticos e principais desafios.

Em primeiro lugar, faz-se uma abordagem do enquadramento teórico do conceito da segurança alimentar e
definições, que permitem entender as diferentes preocupações entre os países mais desenvolvidos e menos
desenvolvidos em termos de segurança alimentar e as medidas politicas a serem implementadas. Em segundo
lugar, apresenta-se um conjunto de dados, que permitem entender o panorama crítico social e económico do
mundo e da população em particular, principalmente dos PMD como as mais atingidas.

Por último, descrevem-se os modelos desenvolvimento a ser implementados nos dos países bem sucedidos em
termos da segurança alimentar (exemplo do caso de Cabo-Verde e Moçambique nos últimos anos)
permitindo assim olhar e adaptar os melhores mecanismos e acções politicas de alternativas aceitáveis como
medidas fundamentais para melhorar o tecido económico e a situação politica alimentar na Guiné-Bissau.

3.1. Segurança Alimentar: conceitos e definições

Actualmente é significativo o uso de grande quantidade de palavras de origem inglesa na


comunicação e até mesmo a sua influência na construção da frase e do discurso. Na língua
portuguesa, como aliás em muitas outras, essa intervenção é por demais evidente, até porque os
portugueses são cada vez mais protagonistas activos nos contactos internacionais, mas certamente
Luís de Camões ou D. Francisco Manuel de Melo sentiriam evidentes dificuldades de entender a
arrumação das palavras neste português técnico e científico, fortemente influenciado pela prática
internacional (Ferrão, 1987).

Segundo Ferrão (1987), o mundo continua com novos conhecimentos, novas tecnologias, novos
avanços científicos que vão exigindo a introdução e vulgarização de termos novos, principalmente
entre a comunidade cientifica e a actividade tecnológica onde os seus cultores se têm de preocupar
muito mais em se fazerem entender e acompanharem o progresso internacional do que em avaliarem
as novas maneiras de se exprimirem ou não, na clássica língua portuguesa.

18
Vem isto a propósito do tema sobre as preocupações para entender melhor a terminologia da
“Segurança alimentar”. Na linguagem de comunicação internacional a que nos referimos (inglês),
criaram-se a food security e a food safety para designar coisas com uma certa relação entre si, mas
estruturalmente diferentes. Em português, por falta de palavras adequadas, os dois conceitos
confundem-se sob a designação da segurança alimentar.

Com essa ideia Ferrão (1987), chamou a atenção de que se o conceito básico das duas palavras
implica efectivamente uma segurança dos alimentos, ou mais precisamente da alimentação, na
realidade na comunidade internacional estão em causa coisas diferentes e o uso da mesma palavra
para designar as duas situações, tem naturalmente dado origem entre nós a certa confusão ou
melhor, à necessidade de se entender que tipo de «segurança alimentar» temos em cima da mesa de
trabalho. Ainda explicou que no dicionário de Collins, exactamente preparado para o referido «basic
english», o termo «segurança» verte-se por safety, security e protection. O mesmo dicionário traduz
safety por segurança e security por segurança, garantia, defesa e protecção. Estas considerações são
muito importantes e servem para nos integrarmos num campo determinado do vasto e diversificado
domínio abrangido pela noção portuguesa da «segurança alimentar».

Ainda Ferrão (1987), tentou clarificar que os problemas de segurança alimentar senso lato, que se
vivem nos países mais pobres são da mesma natureza, muito mais prioritários que os que preocupam
actualmente os países mais desenvolvidos. Aqueles que se referem ao food safety que hoje muito
justamente preocupam mais os segundos porque já têm orientados aqueles que se referem à food
security tal como os definimos, colocam-se também nos países pobres, mas quando nestes a fome
está instalada e a carência de alimentos é a regra, food security assume prioridade porque está em
causa a sobrevivência. As preocupações de qualidade cederam o seu lugar à luta contra a fome. Isso
não significa que os primeiros problemas não sejam importantes e que até alguns deles se não
coloquem de forma muito mais grave e merecedores de redobrada atenção.

Nesse sentido, segundo Ferrão (1987), a food safety nos PMD (pobres) desenvolve-se
principalmente em três campos interrelacionados: (i) o dos alimentos que chegam aos países como
resultados das importações ou das ajudas alimentares; (ii) o dos produtos alimentares de produção

19
local e destinado ao consumo interno e o (iii) das matérias primas que exportam para os países ricos,
às quais é normalmente exigido um mais elevado padrão de qualidade.

Em primeiro lugar, quanto aos alimentos que chegam em grande quantidade do exterior, perante a
situação por vezes extrema de sobrevivência, pode dizer-se que quem tem fome não escolha e
quantas vezes esses países, economicamente muito dependentes, se vêm obrigados a receber
produtos de qualidade tal que já dificilmente circulam nos mercados dos países de origem, muito
embora possam satisfazer os princípios básicos de qualidade tal como são definidos pelo Codex
Alimentarius.

Estes países de menores recursos, segundo Ferrão (1987), não tendo ou não mantendo em
funcionamento estruturas adequadas de controlo de qualidade, o que intrinsecamente é indesejável,
tornam-se por isso campo aberto a certo lixos em termos de qualidade e até garantia de genuinidade
de alguns produtos que lhes são enviados. Na maior parte das vezes, porque pode não ser possível
verificar a concordância entre aquilo que dizem os rótulos ou os certificados e as reais características
dos produtos, alguns daqueles que se movimentam nesta áreas, se forem agentes menos
escrupulosos, podem muito mais facilmente retirar proventos acrescidos do comércio dos produtos,
mesmo dos alimentares.

Ainda chamou a atenção em complemento, que no geral ou não existem nestes países estruturas
suficientes e adequadas ou elas não funcionam regularmente que garantam a qualidades dos
produtos durante a sua conservação e circulação, incluindo o nível do pequeno comercio e até os
locais onde são consumidos, mesmo que a tenham à partida. Em climas quentes e húmidos, muito
favoráveis às alterações dos produtos, torna-se muito mais difícil garantir a manutenção da
qualidade.

Estes e outros estrangulamentos, sobre este ponto, alguns admissíveis e outros inimagináveis para a
maioria daqueles que não têm contacto directo com estas situações, agravam, e de que maneira, os
problemas de food safety.

20
Em segundo lugar, “dos produtos alimentares de produção local e destinados ao consumo interno”,
é certo que uma grande parte dos alimentos básicos provém de um tipo de agricultura que pelas suas
características poderá dar origem a alimentos ecológicos. Como aspectos negativos há, por um lado,
a carência de estruturas de circulação e armazenamento aceitáveis e, por outro a frequente aplicação
em certa parte do circuito, de pesticidas, alguns dos quais de uso proibido ou fortemente
condicionado nos países de alta tecnologia mas que nestas terras de pobreza e subdesenvolvimento
são ainda aplicados e geralmente sem os devidos cuidados. Podem tomar-se como exemplos as
aplicações de DDT sem devidos cuidados nas hortaliças e outros produtos frescos, assim como a
nebulização das ruas, casas, vegetação e pessoas para se tentar controlar os mosquitos portadores do
paludismo (MDRA/DSPV, 1996).

Ainda se analisarmos a forma como muitos destes produtos alimentares são produzidos, circulam
nos mercados destes países e como são conservados, expostos para a venda e consumidos!, até
parece que os consumidores destes países adquiriram uma rusticidade notável, possuindo uma
defesa geneticamente transmitida.

Em terceiro lugar, “as matérias-primas que exportam para os países ricos” nem sempre obedecem
as exigências de qualidade . Isto é, nem sempre se tem garantia de que as matérias-primas
provenientes dos países pobres não contenham pesticidas ou não os contenham em doses superiores
às autorizadas nos países compradores, e até que tenham sido sujeitas a tratamentos com pesticidas
cuja presença nos alimentos foi interdita.

E no comércio entre os países ricos e os pobres não se ignora que nalguns destes os certificados de
qualidade dão uma garantia muito relativa porque são, por vezes, preenchidos por um qualquer
amanuense sentado na secretaria da sua Repartição e sem ter havido um efectivo controlo de
qualidade dos produtos a que aquele documento se refere. É por isso que, para certos produtos de
origem nestes países mais pobres e principalmente quando proveniente de pequenos agricultores ou
de exportadores a quem se sabe escassearem os meios indispensáveis de controlo. Assim o
comprador pode ele próprio verificar com muito maior rigor a qualidade dos produtos que adquire.

21
Como se pode avaliar por este sintético panorama, também nos países pobres os problemas de food
safety são importantes, podem ser muito mais graves e envolver aspectos que noutros países já
foram ultrapassados. Como neles a prioridade é assegurar quantitativamente e tanto quanto possível
a alimentação dos seus povos, já que a fome e a subnutrição são preocupantes, há o perigo de se
subestimarem todos estes e outros aspectos da food safety.

Historicamente o termo da “Segurança alimentar” foi originalmente utilizado na Europa no final da I


Guerra Mundial, como consequência de preocupações que estavam profundamente ligadas ao
conceito de “Segurança nacional” e à capacidade de cada país produzir sua própria alimentação de
forma a não ficar vulnerável a possíveis cercos, embargos ou boicotes de motivação política ou
militar. Esta visão fortaleceu a teoria que prevalecia entre certos economistas no final do séc XIX;
de que seria prudente uma orientação de encontro à auto-suficiência em alimentos de cada país, com
a formação de stocks “estratégicos” de alimentos mais facilmente conserváveis, como os cereais
(KEYNES, 1919 cite in FAO, 1989).

No entanto, o conceito de segurança alimentar irrompe com força no cenário internacional a partir
da crise de alimentos de 1972-1974 e dos acordos estabelecidos na Conferência Mundial de
Alimentação de 1974 (Ferrão, 1987b). Naquela época, a segurança alimentar afastava-se do pano de
fundo dos direitos humanos e dentro de uma visão essencialmente produtivista e neo malthusiana
que se conceituava como “uma oferta de alimentos segura e adequada com base em critérios de
necessidade fisicamente estabelecidos.” Isto implicava que Segurança Alimentar fosse conceituada
como uma política de armazenamento estratégico e de oferta segura e adequada de alimentos, e não
como um direito de todo de ter acesso a uma alimentação saudável.

Assim em 1983, a FAO apresentou um novo conceito de Segurança Alimentar que se baseava em
três objectivos: (i) oferta adequada de alimentos; (ii) estabilidade da oferta e dos mercados de
alimentos; (iii) segurança no acesso aos alimentos oferecidos ou doados (FAO, 1983).

Nesse sentido, em 1998 na Jornada Mundial de Alimentação em Roma, FAO definiu Segurança
Alimentar como: “o acesso por parte de todos, durante todo o tempo, a quantidades suficiente de
alimentos para levar uma vida activa e saudável.” A partir de então, os debates e as discussões

22
passaram a considerar que a Segurança Alimentar não podia ser vista como uma decorrência
exclusiva de auto-suficiência em termos alimentares, mas que ela pressupunha também a garantia do
poder aquisitivo da população, do crescimento económico, da redistribuição de renda e da redução
da pobreza, isto é o conceito de risco associado à alimentação (acesso aos alimentos) ou
vulnerabilidade alimentar. Neste enquadramento a questão da vulnerabilidade aparece para que se
possa melhor entender como dispor de formas para reagir a situação críticas.

Em resume segundo FAO, no final da década 80 e início dos anos 90 observou-se mais uma
modificação no conceito de Segurança Alimentar: incorporam-se as noções de alimento seguro (não
contaminado biológica ou quimicamente); de qualidade de alimento (nutricional, biológica, sanitária
e tecnológica); do balanceamento da dieta, da informação e das opções culturais (hábitos
alimentares) dos seres humanos.

Ao mesmo tempo, entrou em cena a questão da equidade e da justiça, especialmente no que tange as
relações éticas entre a geração actual e as futuras gerações, o uso adequado e sustentável dos
recursos naturais, do meio ambiente e do tipo de desenvolvimento adoptado. O direito à alimentação
passou a inserir-se no contexto do direito à vida, dignidade, à autodeterminação e à satisfação de
outras necessidades básicas.

Na Conferência Internacional de Nutrição a (FAO & OMS, 1992) consolideraram que esse conceito
nos compromissos assumidos, dando uma face humana ao conceito de Segurança Alimentar.
Fortaleceu o conceito de Segurança Alimentar Domiciliar, incorporando a assistência básica à saúde
(abastecimento de água, saneamento público) e o cuidado promovido no lar aos membros da família
(carinho, atenção, preparo do alimento, aleitamento materno, estimulação psicossocial, informação,
educação, etc.).

Mais recentemente, emergiu um movimento internacional em defesa da segurança alimentar como


direito humano básico, ligado a alimentação e a nutrição à cidadania. Os defensores desse novo
conceito ampliado chamam a atenção para alguns aspectos, nomeadamente:
1. A questão da segurança alimentar deve ser entendida como um direito humano básico à
alimentação e nutrição;

23
2. Esse direito deve ser garantido por políticas públicas, o público entendido aqui por uma esfera
onde agem tanto agentes públicos como privados;
3. O papel do Estado é o de proteger estes direitos (durante as quebras de produção, calamidades
naturais, desemprego, baixa de salários reais, quebra nas relações de troca, etc.) e o da promoção da
cidadania.
4. A necessidade fundamental da participação activa e parceria da sociedade civil através de
organizações próprias neste esforço com entidades públicas, especialmente nas áreas onde o Estado
é incapaz de agir com eficiência, por falta de flexibilidade, capacidade de organização, falta de
motivação etc.

3.2. Segurança alimentar: perspectivas futuras e principais desafios.

Em prol de um desenvolvimento sustentável desde 1950, o crescimento económico tem sido


significativo: a produção mundial dos bens e serviços foi multiplicada por 7. Durante este mesmo
período, apesar de população mundial ter duplicado, a quantidade de peixe capturado e a produção
da carne quintuplicaram, bem como a procura da energia. O consumo de petróleo aumentou 7 vezes
e as emissões de dióxido de carbono, principal responsável pelo efeito de estufa e pelo aquecimento
global, quadruplicaram. Desde 1900, o consumo de água doce aumentou 6 vezes, principalmente
devido à agricultura (FAO & OMS, 2004).

No entanto, 20% da população mundial não dispõem da água potável, 40% não tem acesso as
instalações sanitárias, 40% não tem electricidade, 826 milhões de pessoas encontram-se numa
situação de subnutrição, metade da população vive com menos de 2 dólares por dia, um em cada 120
habitantes da planeta é refugiado, cerca de 90% da população mundial nunca fez uma chamada
telefónica e mais de mil milhões de pessoas no nosso planeta não possui decentes condições básicas
de vida (FAO & OMS, 2004).

Por outras palavras, um quinto da população vive em países industrializados, produz e consome
excessivamente, gerando assim uma poluição massiva. Os restantes quatro quintos vivem em países
menos desenvolvidos e, na sua maioria, num estado de pobreza. Para satisfazer as suas necessidades,
exercem grande pressão sobre os recursos naturais do planeta, nomeadamente a água doce, a água

24
dos oceanos, as florestas, o ar, as terras aráveis e os espaços abertos, provocando a constante
degradação dos ecossistemas.

Prevê-se que antes de 2050, a população da terra tenha mais 3000 milhões de habitantes que
viverão, na sua maioria, em países menos desenvolvidos. À medida que estes países se forem
desenvolvendo, o seu crescimento económico entrará em concorrência com o dos países
industrializados nos limites do ecossistema da terra (FAO & OMS, 2004).

O estado da terra não é irreversível mas algumas mudanças devem ser implementadas o quanto
antes. Podemos optar para um desenvolvimento sustentável, que permita uma melhoria das
condições da vida dos cidadãos no mundo e a satisfação das necessidades das gerações vindouras, e
que esteja assente num crescimento económico que respeita o ser humano e os recursos naturais do
nosso único planeta.

Um desenvolvimento desta natureza requer uma melhoria dos métodos da produção e de uma
alteração dos nossos hábitos de consumo. Com a participação activa dos cidadãos do mundo inteiro,
podemos contribuir assim para que o futuro da terra e da humanidade seja melhor, começando
agora.

Com esses desafios e para conseguir uma verdadeira segurança alimentar, oferecer trabalho e
registar melhorias modestas nos padrões de vida, as economias dos PMD (Sub-Sahrianas) devem
crescer pelo menos 4-5% ao ano (Carvalho, 1996a). Ao comparar esse desempenho necessário com
o que se tem verificado nas últimas décadas, conclui-se que têm sido observados, em alguns casos,
resultados relativamente positivos, pelos quais, na maioria desses países, a agricultura foi
responsável pelo maior sucesso desse crescimento. Por outro lado, segundo Carvalho (1996b) o
ambiente propício ao uso eficiente de recursos (infra-estruturas) e politicas macro-económicas
adequadas não é condição suficiente, embora necessária, assim como desenvolver a capacidade
humana (população mais sadia e melhor formada).

África defronta-se com enormes dificuldades e, para atingir esses objectivos necessita de mais
acções concretas entre todos os agentes de desenvolvimento, os governos africanos, as instituições

25
multilaterais, o sector privado, os doadores oficiais e não governamentais, etc. A necessidade de
maior integração regional parece continuar a merecer o consenso. Ao longo prazo, é preciso reduzir
a dependência da ajuda e da assistência técnica externa, transformando a ajuda em projecto de
investimento de interesse mútuo. Contudo, no futuro imediato, as necessidades continuarão a
aumentar.

Também devemos sublinhar que “o clima de competição” entre blocos de influência foi, por vezes,
um enorme incentivo que alguns países habitualmente souberam aproveitar entre os quais (nos
PALOPs), talvez o melhor exemplo seja o de Cabo-Verde, principalmente no que diz respeito à boa
performance e gestão da ajuda pública ao desenvolvimento, e também Moçambique, pela notável
mudança e sucesso em termos de segurança alimentar nos últimos anos depois do fim da guerra
civil.

3.2.1. Perspectivas futuras: Decisões políticas e os factores determinantes do sucesso.

Nos últimos anos, os Governos dos países menos desenvolvidos tem vindo a implementar um
conjunto de políticas económicas e alimentares que constituem uma verdadeira reforma dos seus
sistemas económicos. O objectivo principal é transformar os seus sistemas económicos numa
economia moderna orientada para o mercado e pelo mercado, em que a intervenção do Estado se
deverá restringir ao estritamente necessário.

Nesse sentido, na maioria desses países, houve uma redução substantiva do número de empresas
públicas e semi-públicas nos últimos anos (FAO, 1997). Ainda segundo FAO (1997) conclui-se que
dentro dos objectivos e programas de privatização nesses países, um número significativamente
reduzida de empresas privadas implementou-se em consequência directa e indirecta deste processo.
Por outro lado, foi possível obter uma melhoria evidente da capacidade de gestão das próprias
empresas públicas remanescentes. O processo de privatização deve continuar, mantendo os
Governos uma intervenção em sectores considerados estratégicos ou claramente fornecedores de
"bens públicos."

De acordo com uma taxa de crescimento populacional cerca de 3% (FAO, 1996b) nesses países,
apesar de que a emigração ser um fenómeno histórico e profundo e uma realidade desses países há

26
decénios. A crise mundial é dada como o principal factor de redução actual da emigração e também
há que considerar as dificuldades postas pelos países que tradicionalmente são zonas de imigração
(Europeus).

O crescimento da população, com uma taxa de fecundidade de 5 em média (OMS, 1995), não
reflecte os esforços de educação e política de controlo de natalidade que esses países desenvolvem
há anos com o objectivo de reduzir do número de filhos por família. Relacionado com o tema
observa-se os sucessos em alguns PMD (Sub-Sahrianos) em termos de segurança alimentar. O
melhor exemplo seja o de “Cabo-Verde, principalmente no que diz respeito à boa performance e
gestão da ajuda pública ao desenvolvimento”.

Desde a sua independência, em 1975, Cabo Verde tem contado com a ajuda internacional para a
promoção do seu desenvolvimento e para a cobertura do défice alimentar, provocado pela reduzida
área de terras aráveis e pelos prolongados períodos de seca. A forma criteriosa como desde sempre
geriu essas ajudas, a estabilidade política e social, bem como o sucesso e a consciência das reformas
políticas e económicas que vem promovendo desde 1991, permitiram a Cabo Verde reunir um
capital de crédito apreciável junto da Comunidade Internacional, o que lhe assegura a continuidade
e, pelo menos, a não redução deste apoio indispensável à sua sobrevivência.

A ajuda ao desenvolvimento de Cabo Verde, entre 1990 e 1994, por doador, permitindo verificar os
seguintes factos: a) a participação dos donativos em bens alimentares e serviços, que atingiu 98%
em 1991, desceu para 83% em 1994; b) a ajuda bilateral é dominante registando um peso médio de
69% entre 1990 e 1994; c) como parceiro individual, Portugal assume a liderança mantendo desde
1990 uma posição estável, entre os 14% e os 15% (INE, 2004).

Outros factores importantes a considerar nesta análise são as medidas e acções políticas e técnicas
implementadas no sector rural (agrário), aquele onde se concentra a maior parte da população activa
do país, os índices mais significativos de desemprego e sub emprego, as mais elevadas taxas de
analfabetismo, as mais importantes faixas da população auferido com os mais baixos rendimentos e
vivendo em condições de pobreza extrema.

27
O sector agrario, em Cabo-Verde, é caracterizado por uma grande vulnerabilidade. Segundo o
último recenseamento agrícola realizado em 1988, no total da superfície agrícola cultivável cerca de
90% é do regime pluvial/sequeiro. Nota-se assim a absoluta dependência do regime de chuvas,
predominantemente, escassas e irregulares e que não permite determinar uma tendência para a
agricultura de sequeiro em Cabo Verde, variando as produções anualmente, consoante a quantidade
e distribuição pluviométrica (PLPR, 2002).

Nos últimos anos verificaram-se progressos significativos no sector. Nessa ordem de ideias, Cabo
Verde tem definido os seus objectivos e prioridades em termos de Segurança Alimentar de acordo
com 3 vectores principais de orientação: primeiro, disponibilidade de bens essenciais; segundo, a
estabilidade de preços e terceiro, a acessibilidade aos bens essenciais. Existe uma clara orientação
estabelecida pela Agência Nacional da Segurança alimentar (ANSA), responsável por toda a política
de Segurança Alimentar do país (Langworrethy, 1995).

A ANSA apresenta 3 aspectos fundamentais a cumprir: primeiro, actuar como agência reguladora da
oferta, evitando actividades especulativas e garantindo a disponibilidade da oferta em termos
geográficos por todo o país; segundo, actuar como agência que garanta o cumprimento das normas
de qualidade e normas comerciais num ambiente de mercado livre mas regulamentado; e no terceiro
aspecto, manter o estatuto de observatório do "Mercado Alimentar," estabelecendo de forma
contínua um conjunto de parâmetros para análise do funcionamento dos mercados.

Estas acções terão que ser realizadas num ambiente de mercado livre, tendo em atenção os 3
vectores de acção acima mencionados. O estabelecimento de uma política adequada e de uma
estrutura organizacional e normativa que permita de uma forma eficiente atingir os objectivos
mencionados constitui as principais tarefas a serem equacionadas no contexto da prestação de
serviços de consultoria solicitados.

Nesse sentido, a ANSA delineou as seguintes acções e actividades como programa do estudo a
cumprir: em primeiro lugar, recolher e tratar a informação disponível em Cabo Verde em relação os
seguintes aspectos fundamentais: a segurança alimentar e as possibilidades da sua evolução no
futuro, visando identificar com clareza os caminhos possíveis do ponto de vista de inovação e

28
mudança institucional. A particular ênfase foi colocada nos projectos que visam a segurança
alimentar para limitar as importações, aumentar a produção nacional (agrícola, pecuária, pesca) e
desenvolver indústrias agro-alimentares e promover a exportação.

O estudo sobre o desenvolvimento do mercado de produtos alimentares foi também um dos vectores
principais de análise e que incluiu forçosamente os seguintes aspectos: (i) o nível de informação
sobre o mercado, as necessidades de informação para um bom funcionamento dos mercados, isto é
condições necessárias para um bom funcionamento dos sistemas de informação; (ii) a determinação
das necessidades (ou não) de estoques de garantia para regularização da oferta, para um bom
funcionamento dos mercados de forma estável; (iii) o estabelecimento de normas de qualidade e de
defesa do consumidor de forma clara, objectiva e susceptível de fiscalização, de forma a evitar
distorções de mercado; (iv) o papel da ajuda internacional no funcionamento dos mercados, em
especial da ajuda alimentar (PLPR, 2002).

A questão da gestão da Ajuda Alimentar é um tema a merecer uma atenção especial de sucesso do
Governo caboverdiano em segurança alimentar, dada a sua enorme importância relativa no
abastecimento alimentar do país. Em destaque, para além das questões relativas ao funcionamento
dos mercados, estará a problemática da interface com o sistema de produção nacional e as
possibilidades de mecanismos de apoio ao desenvolvimento económico e social (Langworrthy,
1995).
Por exemplo, em Cabo Verde, o projecto da Frente de Alta Intensidade de Mão-de-obra (FAIMA)
que faz parte duma das estratégias de implementação de politicas agrárias é muito importante na
segurança alimentar das famílias no meio rural caboverdiana (famílias que não têm acesso à terra e
outros meios de produção e que não recebem nenhum apoio do exterior), garantindo as suas
necessidades alimentares básicas, e a continua do fenómeno do êxodo rural e consequentemente a
mitigação da pobreza.

Segundo Langworrthy (1995), a concessão de micro créditos por parte de alguns projectos/
instituições criados, sobretudo direccionados para mulheres (na produção e comercialização
agrícola) permitiram aumentar os seus rendimentos no sentido de satisfação das necessidades

29
alimentares básicas das famílias, tendo em conta que a maioria das mulheres cabo-verdianas são
chefes de famílias.

Para terminar, um outro exemplo a considerar é “o caso do sucesso de Moçambique em termos de


segurança alimentar nos últimos anos”. Isto é, em Moçambique cerca de uma década após o início
da liberalização económica, após o fim da devastadora guerra civil no país, mantém-se entre os
países mais pobres do mundo. A fome continua a ser um facto consumado para um grande número
de famílias. Não obstante, este panorama esconde um progresso dramático em direcção a uma
segurança alimentar sustentável, nos últimos anos.

Os factores determinantes desse progresso em Moçambique e a sua sustentabilidade nos últimos


anos são evidentes em três dimensões: 1) aumento da disponibilidade de calorias per capita de 1935
em 1980 para 2620 em 2000 (FAO, 2000) face a reduções drásticas da ajuda alimentar, 2) preços
mais estáveis e inferiores para o principal alimento básico produzido internamente, o milho branco,
e 3) um sistema alimentar que agora fornece aos consumidores um leque maior de alimentos básicos
de baixo custo por onde escolher (FAO, 1995c).

Segundo FAO (2000) esta disponibilidade crescente tem sido acompanhada por preços inferiores e
mais estáveis de alimentos básicos nos principais centros urbanos. O milho branco na capital,
Maputo, demonstra mais esta tendência.

O fim da guerra (paz no país) foi também uma das condições para a melhoria da segurança alimentar
em Moçambique. No entanto, o rápido progresso que o país teve nos últimos anos está baseado em
mais que o fim da guerra; as políticas escolhidas antes do acordo de paz criaram condições para a
recuperação rápida após o fim das hostilidades. As principais mudanças de política relacionam-se
com a política geral de comercialização de alimentos e com políticas específicas sobre a
comercialização da ajuda alimentar do milho amarelo (FAO, 2000)

O comércio activo de alimentos através da fronteira já era evidente em Maputo, assim como outras
províncias, bem antes do fim da guerra e servia para aumentar a disponibilidade de alimentos para
os consumidores pobres (MAM/DE, 1993). Este comércio com a África do Sul continuou a

30
desenvolver-se depois do acordo de paz, tornando-se aquele país na primeira fonte de fornecimento.
Tal comércio jogou um papel chave na contenção das subidas de preços durante a época de fome de
1995/96, no Sul de Moçambique. A facilidade na troca de dinheiro no mercado informal das divisas
tem sido um factor importante na agilização deste comércio. A importação formal de arroz, do
mercado internacional, também contribuiu para a segurança alimentar por manter uma
disponibilidade constante deste produto, pequena porção do qual é produzido no país.

3.2.2. Principais desafios

Apesar do progresso impressionante de Cabo-Verde e de Moçambique, assim como dos outros


países como do modelo de Botsuana a ter em consideração como exemplo a seguir, ainda
permanecem desafios significativos para esses PMD (Sub-Sahrianas). A continuação da evolução
em direcção a uma segurança alimentar sustentável que dependerá de seguintes aspectos essenciais:
1) consolidação das reformas no sector comercial; 2) investimentos em infra-estruturas de
comercialização que reduzam os custos; 3) investimentos na capacidade desses países em identificar
e difundir tecnologias de produção melhoradas ou adaptadas e 4) continuação de investimentos na
melhoria da base de informação (e capacidade analítica da população desses países para a usar)
sobre produção, comercialização, preços e consumo de alimentos, bem como sobre as características
socio-económicas das famílias desfavorecidas, têm que ser as apostas como principais desafios..

A continuação da reabilitação da rede rodoviária, especialmente das estradas rurais secundárias, é


fundamental para reduzir os custos de comercialização dos produtos provenientes das áreas rurais
produtivas mas isoladas. A consolidação da reforma comercial que permite incentivar os
comerciantes a realizarem investimentos com vista a aumentar a sua escala de operação e reduzir os
custos de funcionamento é também uma das medidas a considerar.

A médio e longo prazo, a segurança alimentar de cada um desses países dependerá cada vez mais do
crescimento da produtividade agrícola que requere investimentos substanciais nos sistemas de
pesquisa e extensão num sistema privado de distribuição de factores de produção capaz de facilitar o
uso destes para aumentar a produção e o rendimento de culturas alimentares. Depois de longos anos,
os sistemas de investigação e extensão agrícolas nesses países estão excepcionalmente fracos. É

31
claro que, para um país qualquer atingir as melhorias necessárias na sua base produtiva, a tecnologia
e os sistemas de abastecimento de meios de produção têm que ter um desenvolvimento simultâneo.

Os Governos desses PMD têm sido muito programáticos ao discutir numa base empírica a política
alimentar e agrícola. Com o apoio de longo prazo de vários doadores, organizações seleccionadas
pelo governo começaram a desenvolver bases de dados sobre mercados, participantes e problemas
no sector rural. Esta informação foi especialmente importante nas discussões sobre como usar as
importações em ajuda alimentar para alcançar os objectivos de segurança alimentar dos
consumidores sem criar grandes desincentivos aos agricultores locais.

Tal informação será fundamental para analizar as consequências e beneficios nos consumidores
quando os doadores procurarem cada vez mais a comprar produtos de produção locais (caso do
milho local) para programas de ajuda alimentar de emergência como é o caso observado nalguns
países (São Tomé e Príncipe). Essa medida incentivou a produção local do milho no país durante o
período em qua o PAM comprava o aos produtores envés de importar como sempre faziam nas suas
políticas de ajudas alimentares para esses PMD (Carvalho, B.P. 2000). Mas, segundo Carvalho
(2000) esta estratégia falhou na medida que o PAM parau de comprar o minlho nas mões dos
produtores a produção do milho local caiu drasticamente em São Tome e Principe.

32
CAPÍTULO IV - ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO: FOME E SEUS PRINCIPAIS
PROBLEMAS

Através deste capítulo, apresenta-se um conjunto de preocupações ao nível mundial em termos de


alimentação e nutrição, descrevendo princípios básicos da fome e seus principais problemas.

Em primeiro lugar, faz-se uma abordagem do enquadramento teórico dos problemas da fome no mundo e
causas da restrição dos alimentos, assim como as medidas politicas a serem equacionadas. Em segundo
lugar, apresenta-se um conjunto de dados, que permitem entender os paradoxos da existência da fome no
mundo e da população em particular, principalmente dos PMD com grande potencial da produção agrícola
e ao mesmo tempo a serem os mais atingidos. Por último, faz-se uma abordagem da deficiência dos
nutrientes, tendo em conta as consequências patogénicas que pode ser provocadas pela fome.

4.1. Alimentação e principais problemas da fome

“Resolver o problema da fome não depende só dos países menos desenvolvidos”


Alberto Garuti

O Secretario Executivo, da comissão económica das Nações Unidas para Africa na reunião do G8
em Okinawa (cit. in MUNDO E MISSÃO, 2004), referindo que “uma ajuda não uma esmola”
defendia a ideia de Garuti de que “Embora o futuro de África deve passar essencialmente pelos
africanos, mas os países mais desenvolvidos não se devem libertar das suas obrigações para o
continente”.

Figura 3 – Condições da agricultura de subsistência (MUNDO E MISSÃO, 2004)

33
Todo o ser vivo precisa de se alimentar. Alimentação é essencial à vida! Entre outras necessidades
primárias, só de “estômago vazio” o homem tem limitada capacidade de raciocinar correctamente
sobre o “desenvolvimento” de uma sociedade no seu sentido completo. Daí funciona o provérbio
português que diz “na casa onde não há pão, todo mundo ralha e ninguém tem razão”. Isto é,
ninguém com fome se preocupa com a democracia. A alimentação e nutrição respondem pela
manutenção do organismo e seu desenvolvimento, e realizam-se a expensas do meio em que aquele
vive. Ao homem são indispensáveis para a sua sobrevivência o oxigénio, que lhe chega por via
respiratória e os alimentos que ingere por via digestiva.

Estas substâncias são assimiladas por meio das funções de nutrição, cujos resíduos são eliminados
do nosso organismo. A natureza proporciona-nos misturas dessas substâncias em animais e vegetais,
que juntamente com outras preparadas artificialmente pelo homem constituem o que se chama de
alimento. Infelizmente, na Guiné-Bissau, esta preocupação esta a ser pouco tomada em
consederação pelos decisores e planiadores economicos em termos de segurança alimentar. Daí
torna-se necessário reflectir melhor sobre sobre “o discurso” de Nelson Mandela, dizendo que:

“Os meus heróis são os homens e mulheres humildes que se encontram em todas as comunidades
e que lutam contra a pobreza, a doença, a iletracia, a falta de escolas, a fome e a violência. Se
algum chefe de estado fizer isso, então ele é o meu herói”.

Nelson Mandela Julho de 2000 (discurso de encerramento da XII


Conferencia sobre SIDA em Durban na Africa do Sul)

Ao debruçarmos sobre a fome e segundo os dados (FAO, 2004), decifrando de que (i) em cada 3,5
segundos morre um ser humano à fome; (ii) calcula-se que 815 milhões, em todo o mundo sejam
vítimas crónica ou grave de subnutrição, a maior parte das quais são mulheres e crianças dos PMD;
(iii) cerca de 11 mil crianças morrem de fome diariamente; (iv) um terço das crianças dos PMD
apresentam atraso no crescimento físico e intelectual; (v) 1,3 milhão de pessoas no mundo não
dispõe de água potável.

Segundo FAO & OMS (1973) durante a Conferência Mundial sobre Alimentação, as Nações Unidas
estabeleceram que “todo homem, mulher, criança, tem o direito inalienável de ser livre da fome e da

34
desnutrição”. Portanto, a comunidade internacional deveria ter como maior objectivo a segurança
alimentar, isto é, “o acesso, sempre, por parte de todos, a alimento suficiente para uma vida sadia e
activa”.

Pela análise, discute-se as opiniões de varios autores, concluindo-se que o acesso ao alimento: é
condição necessária, mas ainda não suficiente; sempre: e não só em certos momentos; por parte de
todos: não bastam que os dados estatísticos sejam satisfatórios é necessário que todos possam ter
essa segurança de acesso aos alimentos; alimento para uma vida sadia e activa: é importante que
o alimento seja suficiente tanto do ponto de vista físico (quantitativo) como económico (qualitativo)
(FAO & OMS, 2004).

Os dados acima referenciados mostram que estamos ainda muito longe para satisfazer o problema de
segurança alimentar para todos os habitantes do planeta. A situação precisa como solução, centra-se
em conhecer e perceber bem as causas da fome, essencialmente os aspectos socio-económico da
fome que por vezes muitos acham que as conhecem, mas não percebem. Porque quando falam delas,
se limitam, muitas vezes, a repetir o que tantos já disseram e a apontar causas que não têm nada a
ver com o verdadeiro problema. Por exemplo: (i) muitos afirmam que a fome é causada porque o
mundo não pode produzir alimentos suficientes. Não é verdade! A terra tem recursos suficientes
para alimentar a humanidade inteira, principalmente nos trópicos onde a falta de alimentos é mais e
a fome é mais sentida – um paradoxo (Carvalho, 1995); (ii) a fome é devida ao facto de que somos
“demais”. Também não é verdade! Há países muito populosos, como a China, onde todos os
habitantes têm, todo dia, pelo menos uma quantidade mínima de alimentos e países muito pouco
habitados, como a Bolívia e a maioria dos países Sub-Sahrianas onde os pobres de verdade padecem
de fome!; e (iii) no mundo há poucas terras cultiváveis! Também não é verdade. Por enquanto, há
terras suficientes que, infelizmente, são cultivadas, muitas vezes, para fornecer alimentos aos países
ricos, onde o problema de quantidade de alimentos não está em causa!

Para nós “as verdadeiras causas da fome” no mundo são várias que não podem ser reduzidas a uma
só. Entre elas indicamos:
 As monoculturas: o produto interno bruto (PIB) de vários países com problemas depende, em
muitos casos, de uma cultura só, como acontecia, alguns anos atrás, com o Brasil, cujo único

35
produto de exportação era o café, assim como o caso da Guiné-Bissau até agora a castanha de
caju é o único produto de exportação. Sem produções alternativas, a economia desses países
depende muito do preço do produto, que é fixado em outros lugares, e das condições climáticas
para garantir uma boa colheita;
 Diferentes condições de troca entre os vários países: alguns países, ex-colónias, estão
precisando cada vez mais de produtos manufacturados e de alta tecnologia, que eles não
produzem e cujo preço é fixado pelos países que exportam. Os preços das matérias-primas,
quase sempre o único produto de exportação dos países pobres, são fixados, de novo, pelos
países que importam;
 Dívida externa: segundo a FAO (2004), a dívida está paralisando a possibilidade de PMD de
importar os alimentos dos quais precisam ou de dar à própria produção agrícola o necessário
desenvolvimento. A dívida é contraída com os bancos particulares e com Institutos
internacionais como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. Para poder pagar os
juros, tenta-se incrementar as exportações. Em certos países, 40% do que se arrecada com as
exportações são gastos somente para pagar os juros da dívida externa (FAO, 2004). A dívida,
infelizmente, continua inalterada ou a aumentar;
 Conflitos armados: o dinheiro necessário para providenciar alimento, água, sobre a educação,
saúde e habitação de maneira suficiente para todos, durante um ano, corresponde a quanto o
mundo inteiro gasta em menos de um mês na compra de armas (FAO, 2004). Além disso, os
conflitos armados presentes em muitos PMD causam graves perdas e destruições em seu sistema
produtivo primário;
 Desigualdades sociais: a luta contra a fome é lutar pela justiça social. Isto é, as politicas das
elites no poder que controlam o acesso aos alimentos. Paradoxalmente, os que produzem
alimento são os primeiros a sofrer por sua falta (Carvalho, 1998). Na maioria dos países, é muito
mais fácil encontrar pessoas que passam fome em contextos rurais do que em contextos urbanos;

Concluiu-se que, quando um país vive numa situação dificil, como o caso da guiné-Bissau, podemos
dizer que praticamente, todas essas causas estão agindo ao mesmo tempo e estão na origem da fome
de seus habitantes. Algumas delas dependem da situação do país, como o regime de monocultura, os
conflitos armados, as desigualdades sociais, etc.,. Elas serão eliminadas, quando e se o mesmo país
conseguir um verdadeiro desenvolvimento. Mas outras causas já não dependem do próprio PMD, e

36
sim da situação em nível internacional. Refiro-me às condições desiguais de troca entre as várias
nações, à presença das multinacionais, ao peso da dívida externa e ao neocolonialismo. Isso quer
dizer que os PMD, não conseguirão sozinhos vencer a miséria e a fome, a não ser que mudanças
verdadeiramente importantes aconteçam no relacionamento entre essas nações e as mais
industrializadas (FAO, 2003)1.

Na maioria dos encontros mundiais sobre a fome, a maior parte dos países desenvolvidos são
representada não pelos seus líderes, mas sim por outras autoridades, uma amostra, para os críticos,
do pouco caso com que os países ricos tratam o problema da fome. "Isso mostra como a tragédia da
fome não é uma prioridade política para alguns países. Estou desapontado", explicou Jacques
Diouf, director da FAO (FAO, 2003).

Para terminar, as consequências socio-económicas da fome constituem, sem dúvida, uma das suas
faces mais impressionantes, traduzindo-se em reacções sóciais diversas, que vão desde o egoísmo, à
diminuição do sentido social. Isto explica de certa forma a indiferença de multidões por quadros que
chocam, como crianças a comer no lixo, indivíduos deitados na rua, …, frequentes nos países em
crise alimentar, onde perante a necessidade de comer muitos perdem a dignidade social.

Determinados países podem dominar outros se tiverem o controlo sobre o seu fornecimento de
alimentos. Esta é uma arma poderosa, principalmente se aplicada por uma potência sobre um país
mais fraco tanto no plano militar, como alimentar. Portanto, até o termo “Segurança alimentar” que
surgiu logo após o fim da 1ª Guerra Mundial (Plínio, 2000 citado in FAO, 1996a) é de facto, em sua
origem um termo militar, porque trata-se de uma questão de defesa nacional para todos os países.

Apesar da divisão desigual dos alimentos poder provocar conflitos políticos e até guerra, o número
de óbitos provocados pela fome é muito superior aos causados por guerra (Ferrão, 1990); estes
números ainda assim são pequenos se comparados com o número de pessoas que não têm acesso a
1
- Em Dezembro de 2003 foi realizado um encontro para se traçar estratégias no combate à fome no mundo
em Roma, na Itália, contando com a presença dos líderes de países de todo o mundo (relatório da reunião
FAO, 2003). A reunião, organizada pelas Nações Unidas, tem como objectivo fazer com que os países
cumpram o compromisso, estabelecido há cinco anos, de reduzir o número de pessoas com fome no mundo
pela metade até 2015. Mas enquanto os principais líderes dos Países Menos Desenvolvidos são esperados,
somente apenas dois líderes de Países Desenvolvidos compareceram no encontro.

37
uma dieta adequada para manter a saúde (John Boyd Orr, cit. in FAO, 1996b). A fome leva a
depressão e à apatia, e os que são afectados por estes sintomas perdem a vontade, a motivação e a
energia para trabalhar. Daí aceita-se a ideia de Pierre Delbet, afirmando que:

“Nenhum modo de actividade humana, mesmo a Medicina, tem tanta


importância para a saúde como a agricultura”

Pierre Delbet.

Estas sintómas são consideradas consequências patológicas da fome. Os quadros clínicos que as
fomes são susceptíveis de provocar são variáveis em função das condições etiológicas, nem sempre
comparáveis. Tratando-se de indivíduos que desde a infância estão submetidos a um regime
alimentar restrito, como é o caso de maior parte dos habitantes dos PMD, como o caso da Guiné-
Bissau, onde a fome determina estados complexos cuja clínica será o reflexo das deficiências mais
ou menos marcadas em determinado factor, continuando ainda hoje, a ser o elemento principal, o
défice calórico-azotado e insegurança alimentar da maioria da população (FAO & OMS, 1973).

CAPÍTULO V – AJUDA ALIMENTAR E PRODUTOS DOADOS NA GUINÉ-BISSAU

38
Através deste capítulo, pretende-se demonstrar o conjunto de preocupações, direito e deveres de qualquer
estado, como o da Guiné-Bissau, a ser responsável na implementação de medidas possíveis para aliviar a
insegurança alimentar do seu país e da sua população, através da uma boa gestão da ajuda alimentar como
instrumento de apoia à segurança alimentar.

Em primeiro lugar, faz-se uma apresentação dos dados referente aos principais países doadores na Guiné-
Bissau ao longo período de análise. Em segundo lugar, descreve-se mecanismo de distribuição, efectuado
gratuitamente aos seus beneficiários através da única entidade (PAM) e os seus colaboradores que gere
directo ou indirectamente as ajudas que o país recebem. Em terceiro lugar, são apresentados os vantagens e
incovinências dos alimentos doados.

Por ultimo, algumas recomendações pelo aperfeiçoamento da gestão das ajudas para atingir as camadas
mais necessitadas e ter um impacto no desenvolvimento social sustentável, são apresentadas.

5.1. Ajuda alimentar como instrumento de apoio à segurança alimentar.

“Ensinar a pescar em vez de dar o peixe”- a lógica consiste em que


seria melhor “emprestar o dinheiro para que a pessoa possa
comprar a cana e não para a oferecer sempre o peixe”

Maria Ana Barroso


(Representante PlaNet finance em Portugal)

Compete sem dúvida a qualquer estado, assim como ao estado da Guiné-Bissau, ter preocupações e
ser responsável aos diferentes níveis a salvaguardar tanto a sobrevivência como as condições de vida
da sua população. Mas, perante a incapacidade do Governo em fazer face com meios e recursos
próprios a presente crise alimentar, cabe aos parceiros da Comunidade Internacional a obrigação
moral que lhes assiste, manifestarem-se através de gestos positivos no sentido de encorajar a
implementação de medidas para aliviar a insegurança alimentar no país. A gravidade da situação das
condições da vida dos guineenses tem sensibilizado e motivado o longo envolvimento da
Comunidade Internacional na assistência humanitária com bens alimentares, cuja eficiência só será
efectiva se for apoiada numa avaliação objectiva da realidade e boa gestão dessas ajudas.

Definido de uma forma mais conceptual, como “o acesso em termos físicos e económicos de
alimentos adequados, a uma população referencial”, é sem dúvida uma das preocupações básicas de
qualquer sociedade em termos da sua sobrevivência e de desenvolvimento (Carvalho, 1999). Mas na

39
nossa opinião e face à realidade da Guiné-Bissau, este conceito deve transcender a abordagem
clássica, baseada em parâmetros objectivos, para passar a incluir também, indicadores mais
subjectiveis, tais como a complexidade das estratégias de sobrevivências em ambientes de
dificuldades e incertezas, os hábitos alimentares locais e a aceitabilidade cultural.

Portanto, um conceito de segurança alimentar adequado à realidade guineense deve contemplar as


noções de alimentação e nutrição, enfatizando o acesso suficiente, regular e a preços acessíveis aos
alimentos básicos para o conjunto da população, em simultâneo com o desenvolvimento de meios
mais eficazes de produção e de aumento dos rendimentos, da melhoria das condições de vida no que
concerne à habitação, saneamento básico, saúde, educação e sustentabilidade ecológica. Nessa
perspectiva, a ajuda alimentar como instrumento de apoio à segurança alimentar e ao
desenvolvimento da Guiné-Bissau, só será efectiva quando se restabelecer um contexto político e
socio-económico estável e incentivador. O seu êxito, dependerá também da sua orientação precisa
em termos de tempo, espaço, grupos sociais alvo (mais vulneráveis) e integração nos hábitos
alimentares dos beneficiários.

A maior parte das acções de ajuda alimentar na Guiné-Bissau, têm vindo a ser asseguradas pela
Programa de Alimentação Mundial (PAM), para os quais a CE tem contribuído com uma parte
significativa dos fundos, e outros doadores bilaterais com destaque para os EUA, Alemanha, e Itália
(Quadro 1).

Quadro 1. Ajuda alimentar dos principais doadores de (PAM, 2006). Unid.: 1000 T.

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
País/ano
CE 303 - - - 420 503 4211 2038 534 620 829 537
EUA 1357 1300 2955 11315 198 521 3678 750 2982 2856 2830 2931
Canadá - - - - 530 - - - - - - -
Alemanha 332 790 120 1770 1010 995 1132 2930 1600 1710 2153 1895
Itália - 3000 - 4690 - 142 108 6565 6764 - 3850 5067
Outros* 3261 5146 534 9920 4485 1272 3140 1633 1023 1232 965 1532
Total 5253 10236 3609 23005 6643 4759 12269 11878 12903 6418 10627 11962
Fonte: FAO STAT (2006)
* - Incluindo França, Japão, Dinamarca, países Baixos e outros
(-) – Dados não disponíveis

5.1.1. Ajuda alimentar e mecanismo de distribuição.

40
O Programa de Alimentação Mundial (PAM) através da sua delegação na Guiné-Bissau, gere directa
ou indirectamente as ajudas do país, assim como acções de emergência na distribuição de sementes,
adubos, ferramentas e outros inputs agrícolas, roupas, utensílios domésticos e intervenção a nível de
saúde e do saneamento básico (cujo supervisão tem sido confiada as diversas ONGs), que pela sua
natureza, localização e características da população envolvida (rural e urbana) assumem já um
carácter de reabilitação. Por último, existem ainda contribuições estritamente financeiras para a
execução de uma política de apoio à segurança alimentar do país.

Os produtos distribuídos a título de ajuda à Guiné-Bissau estão agrupados em diversos categorias.


Por ordem de importância, encontram-se em primeiro lugar os cereais (arroz, milho e trigo), que
constituem por excelência os produtos de base para fazer face aos situações de fome e de carência
alimentar. Além de que estão presentes em todos os regimes alimentares dos guineenses, têm
qualidades nutritivas e economicamente mais acessíveis. Em seguida, vêm as leguminosas,
especialmente os feijões, que são produtos com elevado teor em proteínas, e estão especialmente
indicados divido a sua adequação aos regimes das populações beneficiárias. Depois vêm os produtos
tais como o óleo vegetal, açúcar e leite em pó incluídos na categoria “outros produtos”. O óleo
vegetal enriquece em elementos gordos os regimes alimentares, enquanto que o açúcar é
essencialmente utilizado como contributo energético, em benefício de populações com graves
carências, tais como os grupos mais vulneráveis. Quanto ao leite e outros, só são utilizados em
programas específicos da alimentação, tais como programas de nutrição e saúde, grupos especiais de
crianças, cantinas escolares, programas de alimentação colectiva nos hospitais, centros de saúde etc.
Na Guiné-Bissau, todos os produtos doados são distribuídos gratuitamente pela PAM e seus
colaboradores aos seus beneficiários finais.

5.1.2. Vantagens e inconvenientes dos alimentos doados.

Os produtos doados, como qualquer gesto de boas intenções, apresenrtam um conjunto não
exaustivo de características em termos nutricionais que devem merecer algumas ponderações. Isto é,
apresentam suas vantagens e inconveniências aos beneficiários.
 Vantagens

41
a) – Sendo gratuitos, e quando distribuídos atempadamente, podem ser fornecidos alimentos de
qualidade a famílias pobres mal nutridas, transformando-se em milagre para uma pessoa que
realmente necessita de ser apoiada;

b) – Escolas, hospitais e instituições de caridade podem receber alimentos gratuitos ou a um preço


reduzido;

c) - Os alimentos são às vezes fortificadas com vitaminas e minerais, e portanto nutritivos;

d) – Estão normalmente disponíveis em grandes quantidades com a possibilidade de atingir muitas


famílias necessitadas (camadas mais vulneráveis).

 Inconvenientes

a) – São dados durante um período limitado, nem sempre alcançam o efeito programado, e acabam
muitas vezes por beneficiar os menos necessitados (população citadina);

b) – Necessitam de condições especiais de armazenamento, transporte e distribuição, nem sempre


existentes, de tal modo que, quando chegam aos grupos destinatários o resultado final é um produto
com o mesmo aspecto, mas com certeza, com reduzida qualidade ou valor nutritivo;

c) – Podem desencorajar a produção local de alimentos, pelas quantidades a que chegam, e constituir
uma grave ameaça em termos de segurança alimentar nacional, porquanto é volátil a definição de
prioridades definidas externamente;

d) – Podem provocar mudanças nos hábitos alimentares, não sustentáveis a longo prazo. As pessoas
começam a preferir o alimentos estrangeiros ou a pensar que são melhores que os locais, o que nem
sempre corresponde a verdade;

e) – Pode ser um vício da dependência das pessoas. Isto é, as pessoas podem querer que o governo
sempre continue a fornecer alimentação após ter parado a doação dos alimentos.

5.2. Alguns aspectos a considerar

42
A experiência dos longos anos da má performance das estratégias e politicas da segurança alimentar
e do desenvolvimento após a independência na Guiné-Bissau já mostrou que, a desigualdade social,
diferença das regiões em termos de desenvolvimento, êxodo rural das camadas jovens para as zonas
suburbanas e urbanas das grandes cidades, abandono das áreas cultivadas por falta de mão de obra
etc., os leva a necessitar continuadamente de ajuda alimentar, por vezes ou sempre não suficiente
para garantir condições de vida aceitáveis e condignas.

A permanência indeterminada dessas populações (jovens) nas áreas suburbanas e urbanas, reflecte-
se negativamente sobre a população local, devido à concorrência do espaço, mercado de trabalho e
recursos alimentares disponíveis, uma vez que na generalidade a situação sócio económica dos
residentes é igualmente precária, o que só contribui para o empobrecimento da população no seu
conjunto e, para o alargamento das áreas de instabilidade e insegurança.

É fundamental definir estratégias que minimizem esta situação, e que ofereçam à população das
zonas rurais alternativas diferentes, diminuindo o êxodo rural dos jovens para as grandes cidades
que continua a ser um problema ao ponto de ver o motivo para o abandono de algumas terras de
cultivo. É necessário, que os organismos da administração do Estado a quem compete definir a
politica de descentralização do poder em termos de desenvolvimento (autarquias), orientando os
programas do apoio ao desenvolvimento regionais. A intervenção dos parceiros de cooperação deve
moldar-se também a essa estratégia.

É importante que os beneficiários não fiquem com o sentimento de dádiva, porque a sobre
protecção, longe de facilitar a sua reintegração, leva a comportamentos de dependência, que
ameaçam a viabilidade das acções de ajuda alimentar. Por isso, a par das ajudas da emergência, é
fundamental prestar às populações apoio necessário à criação de actividades produtivas, que possam
concorrer para a sua auto-sustentabilidade. Por exemplo, todos os produtos doados deviam ser
vendidos (em vez de distribuição gratuita) ou seja atribuído sempre um preço, dentro do que as
populações pudessem pagar e o dinheiro obtido pode servir como um fundo de apoio ao
desenvolvimento em benefício dessa comunidade (construir uma escola, hospital, estrada etc.). Isto

43
é, ao basear do princípio da vida que se diz “Se é necessário salvaguardar o presente, é imperativo
acautelar o futuro; o que torna vital, ensinar a organizar os meios, antes de criar a necessidade”.

È assim que se faz em alguns países Africanos tal como em Cabo-Verde. Por exemplo em Cabo-
Verde a ajuda alimentar é vendida às populações e com os fundos gerados (dinheiro) constitui-se
um “Fundo de Apoio ao Desenvolvimento” que permite criar projectos e apoiar ageração de postos
de trabalho como é o caso de “Frente de Alta Intensidade de Mão-de-obra (FAIMO) ” e reorientar a
economia. Nessa ordem de ideias, a Guiné-Bissau precisa de seguir esses exemplos, reorientando as
suas estratégias de acordo as condições e necessidades prioritárias do país para reorientar a sua
economia.

44
PARTE - III

Conhecer/Compreender, Avaliar e Perspectivar as acções nos seguintes pontos


fundamentais:

 Análise e avaliação da situação alimentar e nutricional na Guiné-Bissau


– Impacto das estratégias e politicas da segurança alimentar implementadas;

 Vulnerabilidade alimentar e qualidade da vida das famílias na Guiné-


Bissau;

 A promoção e a contribuição dos produtos locais subvalorizados (não


convencionais) na Guiné-Bissau.

45
CAPÍTULO VI - ABORDAGEM METODOLOGICA (MATERIAL E METODO)

Neste capítulo descreve-se o processo de pesquisa, através das principais hipóteses defenidas e enumeradas
no capítulo I a partir dos objectivos e do nosso conhecimento sobre a realidade e “background” técnico
científico.

Para uma melhor compreensão, descrevem-se separadamente em pormenor as diferentes metodologias de


trabalho e métodos aplicados nos capítulos que se seguem (VII, VIII e IX) que constituem a parte central
deste trabalho.

6.1. Metodologia de trabalho

Num dos seus trabalhos sobre métodos de pesquisa empírica, Ernest Greenwood (1965) chama a
atenção para a necessidade de adaptar os métodos e as técnicas de qualquer investigação científica
ao tipo de problema ou problemas que se pretendem estudar. Isto é, para clarificar os contornos do
problema ou problemas que se querem investigar, a definição metodológica torna-se importante para
qualquer trabalho de investigação científica, na medida em que, com base na teoria, ela ajuda a
reduzir a “taxa de erros possíveis”, ajudando também o investigador a definir os melhores
procedimentos de recolha e análise das informações, diminuindo desta forma “o arbitrário e/ou a
ingenuidade das boas intenções e do bom senso” (Ghiglione e Malaton, 1992).

No nosso trabalho, com o objectivo de definir o melhor procedimentos de recolha e análise dos
dados, amostras e das informações pretendidas para este estudo, foi necessário utilizar diferentes
métodos e técnicas de investigação, nomeadamrntr a revisão bibliográfica, inquéritos, recolha de
amostras, questionários e entrevistas semi-estruturadas dirigidas aos diferentes grupos alvo
seleccionados. Por outra parte, procurou-se definir as zonas de trabalho de forma a ter uma
abrangência e representatividade das amostras direccionada a vários grupos alvo.

Nesse sentido, as unidades de análise a considerar segundo as hipóteses, material e métodos nos três
capítulos, acima referidos, que constituem a parte central do trabalho (parte III) são as seguintes:

No capítulo VII “Análise e avaliação da situação alimentar e nutricional na Guiné-Bissau:


Impacto das estratégias e políticas da segurança alimentar implementadas” foram realizadas

46
entrevistas nos diversos Ministérios, que se encontram envolvidos no processo de desenvolvimento
económico do país em várias vertentes. Ainda para uma melhor percepção deste trabalho foram
entrevistadas ou contactadas várias instituições2 Estatais e não Estatais.

A situação da segurança alimentar foi examinada à escala nacional através da análise de como os
recursos naturais e as doações (ajudas) são utilizados para satisfazer as necessidades alimentares das
populações. Efectuou-se uma análise e avaliação retrospectiva da situação alimentar e nutricional. A
avaliação retrospectiva3 é um método vantajoso, por ser de baixo custo e rápido em termos de
recolha e tratamento das informações.

Mas esse método (Banco Mundial, 1994), apresenta alguns inconvenientes que põe em causa a sua
fiabilidade, principalmente nos países onde existem grandes dificuldades de encontrar os dados
necessários em termos de quantidade e qualidade, arquivos em más condições, falta de arquivadores,
base de dados não informatizadas, desaparecimento de dados por vários factores, dificuldade de
tratamento e análise estatística etc. Para minimizar estes inconvenientes os dados foram recolhidos
nas fontes de informação mais credíveis4 dos quais salietamos.

A análise dos dados recolhidos permitiu fazer o apuramento de indicadores que serviram para medir
o nível da variação da produção agrícola e pesqueira, dos efectivos pecuários e da produção
agropecuária, a evolução da taxa das importações comerciais e das ajudas alimentares no período
referenciado (1990-2006).

2
- Estatais, ONGs e Embaixadas existentes no país, no qual concretamente salientamos: Delegação da União
Europeia, Programa de Alimentação Mundial (PAM), Delegação de FAO, PNUD; projectos e ONGs ligados
ao desenvolvimento Rural, Saúde, Indústrias de transformações e Comércio, e finalmente, população de
diversas camadas sociais, imigrantes, Câmara do Comércio, Indústria e Agricultura.
3
- Este método é utilizado frequentemente no âmbito da avaliação de projectos de desenvolvimento de longos
prazos (Banco Mundial, 1994). A metodologia assenta fundamentalmente na recolha, tratamento e
interpretação de dados de produção, importação, exportação e ajudas alimentares já disponíveis (históricos).
4
- Instituto Nacional de Estatística e Censo (INEC), Direcção Geral de Estatística do Ministério de
Desenvolvimento Rural e Agricultura (DGE-MDRA), Programa de Alimentação Mundial (PAM), Direcção
Geral das Alfandegas (DGA), Banco Central da Guiné-Bissau (BCGB) actual Banco Central dos Estados da
Africa Ocidental (BCEAO. Utilizaram-se também as referências da FAO no seu site da Internet
nomeadamente os dados da FAO.STAT e FAO. SMIAR para analisar e fazer a comparação com os dados
obtidos em diferentes fontes acima mencionadas.

47
A importação comercial (compras) dos bens alimentares essenciais durante o período de referência
são os dados em conformidade com a autorização de importação formulada pela Direcção de
Serviços de Comércio (DSC). Enquanto os dados relativos à ajuda alimentar para a distribuição
gratuita, foram facultados pelo PAM, a única entidade que recebe e gere as ajudas alimentares
recebidas no país. Foram consideradas as ajudas de cada ano civil, de acordo com as guias de
entrada, sem ter em conta o ano da programação e a quantidade anunciada pelo doador. Efectuou-se
ainda o resumo dos dados da importação total (importação comercial + ajudas).

Agruparam-se ainda os dados estatísticos fornecidos pelo INEC, DSC e DGF, que segundo a nossa
percepção, reflectem a evolução da exportação dos principais produtos da exportação, permitindo
avaliar, conhecer e perspectivar o panorama da exportação dos produtos de bens alimentares,
agrícolas e pesqueiros como fonte de receitas.

Apresenta-se também um conjunto de dados sobre o consumo, nomeadamente a evolução da


disponibilidade alimentar e das necessidades de consumo em produtos alimentares de base, a
disponibilidade per capita, a taxa da dependência da importação, a taxa de auto-suficiência e a
disponibilidade proteica e calórica que permita entender o panorama da situação alimentar e
nutricional do país no geral e da população em particular.

Os principais itens em análise foram calculados através das seguintes formulas:

 Consumo per capita (Cpc)


Cpc = Cap./H ; Onde: Cap – consumo aparente ou disponibilidade total (kg/ano);
H - nº total de habitantes.
Cpc - consumo per capita anual (kg/hab/ano).

 Indicadores de consumo alimentar ( Índice de consumo calórico (calorias) em kcal e de


consumo proteico (proteínas) em gr)
Kcal ou Proteínas = Cpc*Fc/100; Onde: Fc - factor de conversão para todos produtos básicos
seleccionados, calaculado en nº kcal em 100 g de
produto, assim como também nº de g de proteínas em
100g de produto), segundo o critério da FAO (2003)
cit. no fao.stat.com.

48
 O cálculo da necessidade alimentar (Nal), através da necessidade calórica.

;
Nal(g) = Dt(g)*Fp/Dt(kcal) Onde: Fp - factor de ponderação (3500 kcal/hab/dia) para uma
pessoa adulta activa;
Dt(g) - disponibilidade total (g/hab/dia);
Dt(kcal) - disponibilidade total de calorias (kcal/hab/dia).
Ou Dt (g) – disponibilidade total de proteínas (g/hab/dia)

 A Taxa Geométrica de Crescimento (TGC) ao longo período de análise (1990 -2006)


r = (Vf/Vi)1/n – 1 ; Onde: r – Taxa de Crescimento Geométrica;
Vf e Vi – Valor final e inicial;
n - número de ano em analise

No Capítulo VIII, no tema “Vulnerabilidade alimentar e qualidade da vida (bem estar) das
famílias na Guiné-Bissau” foram utilizados materiais e métodos a seguir referenciados:

 Aspectos gerais e Amostragem

O Índice de Vulnerabilidade Alimentar das Famílias (IVAF) foi elaborado a partir do tratamento dos
dados sociais e económicos de Inquéritos realizados sobre Seguimento da Vulnerabilidade
Alimentar e estado da pobreza das Famílias (ISVAF). As famílias de diferentes estratos socio-
económico nas diferentes realidades foram “transformadas” num número apenas (o índice de
vulnerabilidade das famílias) que pudesse reflectir, no conjunto das famílias, a situação de
vulnerabilidade alimentar e nutricional daquela população que habita aquele espaço geográfico.

As informações sobre o agregado familiar e crianças de 0 a 5 anos foram recolhidas através de um


inquérito representativo das famílias (220 famílias ou agregados familiares) escolhidas de forma
aleatória (estratificada). As 8 regiões administrativas do país foram abrangidas e estratificadas
segundo o seu grau de vulnerabilidade. Cada classe na região constituiu um estrato de amostragem
diferente: 100 para Sector Autónomo de Bissau (SAB-Bairro Belem) e 120 para as restantes regiões
e respectivos bairos (Gabu/Bafata – Bairro Nema e Ribada, respectivamente; Canchungo –
Catacumba; Catio- Bairro Praça e Bolama – Bariro de Bolama de baixo). Para cada estrato
procedeu-se também à selecção aleatória das famílias num universo de 220 famílias. Os
questionários foram testados de forma a garantir e minimizar as futuras externalidades que possam

49
comprometer os resultados. A amostra determinada para análise (220 agregados familiares e nº de
crianças de 0 a 5 anos) foi extraída do universo populacional de 156.003 chefes de agregado familiar
e 232.107 crianças da idade compreendida entre 0 a 5 anos de idade (Quadro 2)

Quadro 2. Nº de observações por cada amostra extraída do universo populacional (INEC, 2002)
Universo (INEC, 2002)
Nº de observações,
Região População Chefe de agregado Nº de crianças de 0 - 5 anos
amostra (n)
(Nº de pessoas) Nº de CF (N) % Nº das crianças (N) %
SAB 305.686 44.822 28,7 51.661 22,3 100
Outras
875.955 111.180 71,3 180.446 77,7 120
Regiões
Total 1.181.641 156.003 100,0 232.107 100,0 220

Com o ISVAF pretende-se dar uma informação exacta, integrando um nível de erro nas estimativas
compatível com o nível de significância do fenómeno que se quer medir, tendo em conta o custo a
um nível aceitável visando assegurar a sustentabilidade do sistema.

O trabalho no campo5 ou seja o inquérito foi realizado em 60 dias, período que compreende as
diferentes etapas do inquérito até a apresentação dos resultados. A equipa de terreno foi composta
por 4 pessoas (3 inquiridores e um supervisor). Os três inquiridores receberam a formação adequada
para realização dos inquéritos através do supervisor.

Foi feito o levantamento dos preços dos produtos alimentares de base nos diferentes principais
mercados de cada região, tais como o arroz, milho, trigo, óleo alimentar, açúcar, etc. Os preços
baseiam-se no período da referência em que os inquéritos foram realizados. Convém realçar que o
apoio dos delegados do MDRA em diferentes regiões foi essencial para o bom desempenho da
equipe no terreno.

 Calculo de Índice da Vulnerabilidade Alimentar das Famílias (IVAF)


5
- A recolha de dados no terreno decorreu nos dois anos. No primeiro ano, os inquéritos foram realizados de
15 de Maio a 17 de Julho de 2004 e a segunda recolha foi realizada de Agosto a Setembro de 2005, períodos
de referências que coincidiram com os trabalhos relativos à campanha agrícola ou seja também considerados
períodos de carências alimentares. Foram utilizadas uma viatura durante os trabalhos no terreno e/ou por
vezes transporte puúblico, balanças e equipamentos de medição da antropometria das crianças.

50
Para o cálculo de Índice de Vulnerabilidade Alimentar das Famílias (IVAF), segundo JAEGHER et
ROCHA (2001), em primeiro lugar, foi determinado Nível de Conforto representado em índice
(Índice de Conforto (IC)) – é um indicador utilizado para determinar o grau de conforto de um
agregado familiar, baseado na posse de 10 bens/equipamentos e acesso aos principais serviços. O
Índice de Conforto foi construído, utilizando as variáveis ligadas ao fenómeno da pobreza ou
vulnerabilidade alimentar crónica, nomeadamente:
- ligação à rede pública de água;
- acesso a electricidade;
- posse de frigorífico;
- posse de rádio;
- posse de televisão;
- posse de automóvel;
- posse de videocassetes e DVD;
- posse de casa de banho & retrete/latrina;
- numero médio de pessoas por quarto de dormir;
- utilização de gás na cozinha.

A partir do IC, que varia de 0 a 100, em termos percentuais em função da posse de alguns destes 10
bens/equipamentos, será também a decisão de fixar o limiar de vulnerabilidade 6. Fixou-se uma
escala de valores para níveis de conforto:
muito baixo – classificados pelos valores de «IC ≤20»;
baixo - classificados pelos valores de «IC >20 e ≤40»;
médio - classificados pelos valores de «IC >40 e ≤60» ;
alto - classificados pelos valores de «IC >60 e ≤80»;
muito alto - classificados pelos valores de «IC >80 e ≤100».

O Índice de Conforto (IC) foi determinado pela seguinte fórmula:


IC = f (v1, v2,..., vn) - que pode ser traduzida por:
IC ou Υ = ((Σ v1, v2, …, vn)/ N)*100
6
- Critério do Instituto Nacional de Estatística e Censo (INEC, 2002), adoptado e utilizado nos países
membro de UEMOA do qual a Guiné-Bissau faz parte.

51
Onde: v1 a vn - são variáveis socio-económicas ligadas ao fenómeno da pobreza ou vulnerabilidade alimentar crónica
f - é uma função simples com valores entre 0 e 100, e que possa ser recalculada com ferramentas simples em
qualquer lugar na Guiné-Bissau.
N – numero total de variáveis em análise (N=10)

Os critérios de classificação de grupos de vulnerabilidade compreendem os sistemas de subsistência


e as estratégias elaboradas pelas famílias para fazerem face a situações de crise e características dos
CF segundo os fenómenos ligados da pobreza absoluta e o baixo nível de poder económico das
famílias.

Foram construídas três grupos de famílias de acordo com a realidade do país com base na
metodologia JAEGHER et ROCHA (2001)7. Segundo esses autores, as características dos grupos
populacionais que residem numa zona ou região diferem fortemente pelo grau de exposição destes a
uma situação de crise e consequentemente o carácter da vulnerabilidade. Isto implica, um
seguimento diferenciado que permite avaliar o grau da vulnerabilidade das famílias e agrupa-las em
classes. Assim temos os seguintes grupos: “Famílias menos vulneráveis”, “Famílias mais
vulneráveis” e as intermedias ou vulnerabilidade média, a qual denominamos “Famílias outros
vulneráveis”.

Para o cálculo do IVAF estudou-se em primeiro o grau de correlação das diferentes variáveis com o
nível de conforto, transformado em índice (Índice de Conforto). Entendeu-se que estas dez variáveis
socio-económicas estudadas estariam altamente correlacionadas com o mencionado Índice de
Conforto e que afectam directamente a vulnerabilidade e o baixo nível de poder económico das
famílias (pobreza). Seriam elas:
- Mulher como CF com mais de três filhos menores de 0 a 14 anos;
- CF analfabeto;
- CF acima de 65 anos e sem activos entre 15 e 65 anos (incapacitados para trabalhar, deficientes);
- CF desempregados;
- CF e seu agregado com rendimento inferior ou igual a 50 mil FCFA;
- CF com dimensão de agregado igual ou superior a cinco pessoas;
7
- Proposition d’une méthodologie d’analyse de la vulnérabilité de Jaegher et Rocha (2001). A metodologia
recomendada pela FAO (2000), adaptada e utilizada pela INEC na Guiné-Bissau e pelos países membros da
CEDEAO.

52
- CF que utilizam petróleo ou vela para iluminação caseira;
- CF com percentagem de pessoas na unidade com a dependência8 igual ou superior a quatro
individuos;
- CF com número de refeições inferior ou igual a duas vezes por dia;
- CF com nível de conforto “Baixo” e “Muito Baixo”.

De seguida, fixou-se o limiar de vulnerabilidade alimentar utilizando um “Modelo de Análise


Factorial” em componentes principais, tendo em conta a mesma importância ou mesmo peso das
variáveis, agrupando-se as diversas famílias em três blocos conforme o resultado total do índice de
vulnerabilidade. Também através de critério de Jaegher et Rocha (2001), foi fixado o limiar de
vulnerabilidade alimentar (IVAF) nos valores de 0 a 100. Isto é todas as famílias com um índice de
vulnerabilidade maior que 40 serão consideradas famílias vulneráveis:

Famílias menos ou não vulneráveis classificadas pelos valores de «IVAF ≤ 40»;


Famílias outros vulneráveis classificadas com valores de «IVAF> 40 e ≤60»
Famílias mais vulneráveis classificadas com valores de «IVAF> 60 e ≤100»

Daí, foi definido o IVAF também através da expressão matemática 9 acima utilizado para determinar
o Índice de Conforto (IC). Em termos de vulnerabilidade alimentar das famílias nas principais
regiões, este índice permitirá uma comparação universal e coerente entre quaisquer zonas do país,
permitindo classificar todas as regiões administrativas, em função do grau de vulnerabilidade. É
importante sublinhar que dada as dificuldades e limitações em termos de tempo e finaceira deste
estudo o melhoramento da metodologia proposta e alargamento do estudo mais perenorizada são as
linhas de investigação a ter em consideração.

A avaliação do estado nutricional das crianças foi efectuada através do levantamento de parâmetros
antropométricos: o peso e a altura ou o comprimento das crianças (crianças com menos de 2 anos de
idade foram medidas deitadas). Conforme as recomendações da OMS, a análise das relações dos

8
- Dependência - equivale ao número de pessoas pertencentes ao mesmo agregado familiar e que estejam
totalmente dependentes do chefe de família, a nível económico.
9
- IVAF = f (v1, v2,..., vn) ou IVAF = ((Σ v1, v2, …, vn)/ N)*100

53
parâmetros peso/altura (P/A), peso/idade (P/I) e altura/idade (A/I) permitam a definir o grau de
desnutrição infantil (OMS, 1995).

Segundo a mesma fonte, a utilização de dados antropométricos, constitui um importante instrumento


para a avaliação do estado nutricional de crianças em relação a uma população de referência,
definida pela National Center for Health Statistics (NCHS). O estado nutricional foi expresso em
coeficiente “Z”10, considerando-se como desnutrição grave aqueles com um Z igual ou inferior a -3,
desnutrição moderada quando este valor estiver entre -2 a -2.9, desnutrição leve entre -1 e -1.9, e
acima de -1 considera-se eutrófico. De acordo com a curva normal, esperar-se-ia de uma população
sadia menos de 1% de desnutrição grave e cerca de 2% de desnutrição moderada.

As pesagens foram efectuadas utilizando balanças digitais portáteis de precisão com capacidade de
130 kg e graduação 100g (modelo: Philips Osaca). As crianças de colo foram pesadas primeiro com
a mãe ou com o responsável e pesando-se depois a mãe ou o responsável, sem a criança. O peso da
criança obteve-se a partir da diferença dos registos efectuados. A medição do comprimento ou altura
foi feita com uma fita métrica de 2 metros.

Por último, utilizou-se, na análise de preço, os dados de preços apurados nos principais mercados no
período de estudo e preços médios do INEC desses produtos ao longo do ano (Maio de 2003 e Abril
de 2004). A definição do período de abrangência das séries temporais utilizadas deu-se em função
da disponibilidade de produtos ao longo do ano nas diferentes localidades, procurando incluir no
estudo o maior número dos principais produtos e mercados possível.

Por último, para o capítulo IX denominado “A promoção e a contribuição dos produtos locais
subvalorizados” apresenta-se o seguinte material e métodos:

As amostras estudadas e os valores determinados neste trabalho, são o resultado de limitações


financeiras, laboratoriais, de tempo e de heterogeneidade do próprio material. O nosso objectivo,
nesse capítulo, não foi fazer um estudo exaustivo de todos os produtos localmente consumíveis ou

10
- Z= MC-Ň/∂N. Onde: MC – Medida da criança em observação; Ň – Média das medidas das crianças da
população e ∂N – Desvio padrão das medidas da população.

54
considerados não convencionais, devido por um lado a falta de tempo e meio financeiro, mas sim
alguns deles com grande relevância em termos de consumo para demonstrar a importância do estudo
e a necessidade de dar continuidade (futuro estudo) da identificação e análise de todos estes
produtos considerados não convencionais.

Todos os resultados apresentados (média de 3 determinações por região) estão referidos à matéria
seca, com um total de 96 amostras, salvo quando indicação em contrário. Ainda foi realizada a
repetição das análises dos mesmos produtos (4 amostras ou produtos em 8 regiões).

Em termos de amostragem foram seleccionados os produtos considerados mais importantes na


alimentação, entre o conjunto de produtos não convencionais utilizados localmente. O material
estudado era constituído por 4 amostras de produtos de origem vegetal e animal provenientes das 8
regiões da Guiné-Bissau, na sua maioria de natureza espontânea e sub espontânea. As amostras
foram adquiridas nos mercados rurais, urbanos e suburbanos, recolhidas sob a forma como
alimentos comercializados e utilizados para alimentação afim da sua preparação.

A recolha das amostras para avaliação da composição nutricional foi realizada para a determinação
da composição química, valor energético e alguns parâmetros nutricionais. Entre os produtos
identificados e seus potenciais de utilização para a alimentação através do inquérito, foram
seleccionados 4 diferentes produtos para análise: (Bagre Fumado (Protopterus A. B. Poll), Djagatu
(Solanum Sp.), Candja (Hibiscus esculentus L.) e Baguitch (Hibiscus sabdariffa L), pelo qual
pretende-se ampliar para outros restantes produtos, considerados não convencionais, como futuras
linhas de investigação.

Cada produto constituiu um estrato de amostragem diferente, tendo sido colhidas 3 amostras por
cada produto seleccionado nas diferentes regiões e localidades em que se justifique, uma vez que o
primeiro trabalho foi a selecção destes alimentos junto das unidades familiares. Fizemos uma
avaliação prévia dos produtos não convencionais utilizados, de forma a termos um equilíbrio entre
diversidade e relevância nacional, trabalho que foi realizado a partir de inquéritos ao consumo.

55
As amostras secas (peixes fumados) foram acondicionadas em recipientes hermeticamente fechados,
enquanto que as frescas (folhas e frutos) foram embaladas em sacos de plástico poroso, e
transportados em caixa térmica para Bissau (onde foram realizados algumas análise) e alguns
posteriormente para Lisboa, onde foram fotografadas e conservadas à temperatura de -18º C.

Para melhor sistematização do trabalho, apresentamos as amostras em nomes vulgares conhecidos


localmente e científicos (ver quadros e fotos que se seguem no capítulo IX), com base dos produtos
que apresentam maior interesse, frequência do consumo e sua importância nutricional.

Métodos

a) Composição química global e valor energético

As determinações físicas e químicas que decorreram no Laboratório Nacional de Saúde Pública da


Guiné-Bissau (LNSP) em Bissau e parte em Portugal no laboratório do Instituto de Consumidor de
Lisboa, para determinação de aminoácidos, proteínas e perfil de ácidos gordos, foram realizadas na
parte edível das amostras, convenientemente fraccionadas, moídas e homogeneizadas, utilizando os
seguintes métodos:
 Humidade – água (H): determinou-se por secagem até massa constante a 100ºC – 105ºC em
estufa eléctrica (Netto, 1959), e a 60ºC – 70º em estufa eléctrica com circulação de ar no caso
das frutas e folhas (AOAC, 1980)
 Proteína bruta (PB): O azoto total foi determinado pelo método de Beldade e convertido em
proteína bruta usando o factor 6,25 (AOAC, 1984 e Netto, 1959).
 Gordura bruta – Lípidos (G): a gordura bruta foi extraída de acordo com o método de Netto
(1959), usando éter de petróleo (P.E. 40-60ºC) em aparelho de Soxhloet durante 36 horas.
 Cinza total (C): obteve-se por incineração na mufla a 450ºC (Netto, 1959). A cinza foi
digerida em HCl 3N.
 Celulose (Ce): foi determinado pelo método de Kramer e Ginkel (1952) cit. in Acton &
Rudd 1987)
 Glúcidos totais (GT): os extractivos não azotados foram obtidos por diferença, usando a
expressão: GT (%) = 100 – %(PB + G + C + Ce).

56
 Valor energético (VE): Os valores energéticos dos alimentos foram calculados, segundo
FAO (1970), de acordo com a seguinte equação:
VE (kcal/100g) = 4* (teor proteico) + 9* (teor em gordura) + 4* (teor em glúcidos totais)

b) Composição em elementos minerais

Os elementos minerais tais como o Cálcio (Ca), Magnésio (Mg), Ferro (Fe), Cobre (Cu), Zinco (Zn),
Manganés (Mn), Potássio (K) e Sódio (Na) – foram determinados por Espectrofotometria de
absorção atómica, tendo sido utilizado um Espectrofotómetro u.v. HITACHI. O Fósforo (P) foi
determinado colorimetricamente, usando o reagente vanadomolibdato de amónio.

c) Vitaminas

 Ácido ascórbico (vitamina C): foi determinado pelo método titrimétrico, segundo a Norma
Portuguesa – 3030 (1985), usando como solução de extracção, uma solução de ácido
metafosfórico (H3P04) a 3%.
 Niacina (expressa em ácido nicotínico): foi doseada por Cromotografia Liquida de Alta presão
(HPLC), com coluna Merk Lichrospher 100 RP-18, no Cromatógrafo Beckman Gold, equipado
com detector de fotodíodos, a 263nm, após extracção segundo AOAC (1984), seguida faz-se a
purificação com a concentração do extrato por liofilização. A fase móvel usada foi KH 2P04 0,05 M
(pH 4,5) e H20 (10:90) com um fluxo de 1,5 ml min -1. A quantificação foi feita pelo método do
padrão externo.
 Beta-caroteno (percursor da vitamina A): As amostras foram homogeneizadas num misturador e
extraídas com acetona-éter de petróleo (50:50) de acordo com o método de Hsieh e Karel (1983),
foi quantificado por HPLC, com coluna Merck Lichrospher 100 RP-10, no Cromatógrafo Waters,
equipado com detector de UV – vis, a 436 nm. A fase móvel usada foi clorofórmio-acetonitrilo
(8:92) com um fluxo de 1,0 ml min-1. A quantificação foi feita pelo método de padrão externa.

d) Composição em aminoácidos:

57
Para a determinação dos aminoácidos totais com a excepção do triptofano, seguiu-se a metodologia
descrita em AOAC (1984), à qual se introduziu algumas adaptações, como a seguir se descrevem.
Procedeu-se, previamente, a hidrólise ácida das proteínas com HCl 6N (contendo 0,1% de fenol) a
110ºC, durante 24 horas em tubos fechados e atmosfera inerte, criada através da injecção de azoto.
Os hidrolisados foram a seguir filtrados e secos por liofilização.

O triptofano foi determinado seguindo a metodologia descrita em AOAC (1998), procedendo-se a


hidrólise alcalina das proteínas com NaOH 4,2 N (contendo 3 gotas de 1 Octanol) a 110ºC durante
20 horas, igualmente em tubos fechados e atmosfera inerte. Mas o perfil em aminoácidos foi
determinado por cromatografia líquida de troca iónica num analisador automático de aminoácidos
Biochrom-20, por aplicação sucessiva de três tampões de citrato de sódio e de três temperaturas de
acordo com um programa analítico previamente estabelecido.

Após a separação e reacção com ninidrina, os aminoácidos foram doseados por espectrofotometria a
440 e 570 nm. A identificação e quantificação dos aminoácidos, obteve-se por comparação com
padrões de aminoácidos, usando o Modelo 2600 Chromatography “software”, versão 5.0 da Nelson
Analytical Inc. A recuperação dos aminoácidos foi sempre corrigida pela utilização de norleucina
como padrão interno, que foi adicionado às amostras antes da hidrólise.

e) Composição proteíca

A composição em aminoácidos foi utilizada para calcular o valor nutricional das proteínas, segundo
métodos químicos, através dos seguintes parâmetros:
 Razão C/A, segundo Acton & Rudd (1987) obteve-se determinando a razão entre a
composição de cada aminoácido essencial presente na proteína da amostra, e a concentração do
mesmo aminoácido presente na proteína do ovo referida pela FAO (1970). Esta razão que é
multiplicada por 100 foi calculada para todos os oito aminoácidos essenciais.
 Razão C/B, segundo Acton & Rudd (1987), calculou-se, como no caso anterior, utilizando
como referência o padrão de aminoácidos essenciais da FAO/OMS (1973). O Aminoácido que
apresentar menor valor para estas duas razões é considerado como limitante.

58
 Índice de Aminoácidos Essenciais, também segundo Acton & Rudd (1987) neste parâmetro
determinaram-se os logaritmos (base 10) de todas as razões calculadas com a proteína do ovo
FAO (1970) e somaram-se. O total foi dividido pelo número de razões, calculando-se o anti-
logaritmo, que se tomou como o índice de aminoácidos essenciais. Geralmente, os valores
encontrados para este parâmetro, que afecta o facto de outros aminoácidos se poderem
apresentar em concentrações limitantes mostram uma melhor correlação com os valores
determinados por métodos “in vivo” do que as razões anteriores (Acton & Rudd (1987).

f) Perfil em ácido gordos

Para a análise de ácidos gordos nos peixes (bagre fumado), as amostras foram convertidas em
ésteres metílicos, segundo o método de Lepage & Roy (1986) modificado por Cohen et al. (1988)
cit. in (AOAC, 1998). Ao material previamente moído foi adicionada a mistura metanol, cloreto de
acetilo (95: v/v), num recipiente protegido da luz sob atmosfera de azoto e aquecido durante uma
hora a 80ºC. O conteúdo do recipiente foi arrefecido, tendo sido adicionado 1 ml de água e 2 ml de
n-heptano. A fase orgânica foi evaporada à secura e novamente dissolvida em n-heptano.

A análise dos ésteres melíticos foi efectuada num cromatógrafo de gás líquido VARIAN 3400
(USA), equipado com injector automático, detector de ionização de chama e injector de “split” com
uma razão de 100:1, ambos à temperatura de 250ºC. A separação foi efectuada utilizando hélio
como gás de arrastamento, numa coluna capilar CP-sil 88 (0,25mm d.i.* 50m, chrompack,
Holanda).

Segundo a metodologia a temperatura de análise variou entre 180-210ºC, com duas rampas de
aquecimento. Á primeira de 180ºC a 200ºC, com um aumento de 4ºC/min, mantendo-se a 200ºC
durante 10 minutos, seguiu-se a segunda rampa com o mesmo incremento até atingir os 210ºC,
tendo-se mantido neste temperatura durante 14,5 minutos. Cada valor foi a média de três injecções.

Os ácidos gordos esterificados foram identificados por comparação dos respectivos tempos de
retenção com os dos padrões da Sigma. As percentagens das área dos picos foram obtidas,
recorrendo à utilização do software da Varian.

59
Nas restantes amostras, procedeu-se a extracção dos ésteres metílicos com éter de petróleo e a
alimentação deste por evaporação. Nesta análise recorreu-se a metilação e extracção rápidas,
referida no NP-974. O equipamento utilizado para a separação dos ácidos gordos foi um
cromatógrafo de gás liquido de Pekin-Elmer Auto-System com coluna capilar SP-2380 TM (60 m,
0,25 mm ID, 0,20µm espessura filme, da supelco refª 2-4111), nas seguintes condições: i)-
temperatura no forno: 175ºC, durante 33 min. (gradiente de 7,5ºC/min); ii) – temperatura final no
forno: 220ºC; iii) – temperatura no injector: 240ºC; iv) – temperatura no detector: 250ºC; v) –
pressão do gás de arrastamento: 20 psi; vi) – quantidade de amostra injectada 0,75µl.

Os ésteres metílicos dos ácidos gordos foram identificados por comparação com outros
cromatogramas obtidos nas mesmas condições. As percentagens das áreas dos picos foram obtidas,
recorrendo ao integrador do equipamento utilizado. Cada valor foi a média de duas injecções.

CAPÍTULO VII – ANÁLISE E AVALIAÇÃO DA SITUAÇÃO ALIMENTAR E


NUTRICIONAL NA GUINÉ-BISSAU

60
Através deste capítulo, pretende-se apresentar um conjunto de dados estatísticos, a partir dos quais podem
ser identificados os principais factores da fraca contribuição do sistema produtivo agrário e limitada
capacidade de obtenção e gestão de divisas para comprar alimentos no mercado internacional em relação às
necessidades do consumo da população.

Em primeiro lugar, faz-se uma apresentação de dados referentes às superfícies cultivadas, rendimento
unitário das culturas, às pluviometrias, às temperaturas e aos recursos hídricos disponíveis no período de
1990 a 2005 que permitem entender as limitações ao aumento da produção e da produtividade . Em segundo
lugar, apresenta-se um conjunto de dados e indicadores socio-económicos, que permitem entender o
panorama social e económico do país no geral (equilíbrio macro - económico). Em terceiro lugar, referem-
se os dados sobre os preços dos bens alimentares e inflação, permitindo assim vislumbrar com maior
facilidade a evolução dos preços nos cinco principais mercados de consumo (Bissau, Canchungo, Bafata,
Gabu e Catió) no período em referência.

Apresentam-se ainda os dados sobre a disponibilidade alimentar dos produtos de base, tendo em conta o
grau de auto-suficiência alimentar, as necessidades alimentares e a disponibilidade proteica e calórica que
permite perceber o panorama da situação nutricional do país e da população em particular.

Por último, são apresentadas as estratégias e políticas alimentares de luta contra a pobreza implementadas
ao longo dos anos e seus impactos no desenvolvimento sócio económico, assim como as conclusões e
considerações finais.

7.1. Resultados e Discussão

Os problemas alimentares são tão antigos como a própria humanidade, e a nutrição só conseguiu
individualizar-se como ciência no século XIX. Os seus aspectos nos Países Menos Desenvolvidos
(PMD) começaram a receber uma atenção especial a partir do termo do último conflito mundial
(Reis, 1973). Para melhor empenho nesse aspecto, as medidas concretas têm que estar presentes nos
momentos em que os governos dos PMD começarem a dar mais atenção e apoio à manutenção e
desenvolvimento dos organismos de investigação ligados as áreas necessárias para aperfeiçoar os
conhecimentos sobre as necessidades alimentares, o estado nutricional das populações, etc., a fim de
se poder encontrar as melhores soluções através de medidas políticas e técnicas concretas. Na
Guiné-Bissau, o problema da segurança alimentar (situação alimentar e nutricional) tem sido pouco
estudado. No entanto, destacam-se alguns trabalhos, nomeadamente de Boissy (2002), INEC (2002)
e Temudo (1998).

Para tal, é de realçar que, qualquer tentativa para contribuir para a redução da insegurança alimentar
e na perspectiva da luta contra a pobreza na Guiné-Bissau, deve começar por analisar as causas e a

61
natureza das restrições da produção alimentar e da procura, da capacidade da população de acesso
aos bens alimentares e da mal nutrição da população em geral, bem como os factores que tendem a
agravar estes constrangimentos. A sistematização dos dados disponíveis que permita melhor
compreender e modelar comportamentos dos principais agentes intervenientes no processo é uma
das nossas principais preocupações nessa análise.

A Guiné-Bissau é um país que enfrenta um problema de desequilíbrio estrutural resultante do


balanço (negativo) entre a produção nacional e a despesa interna em termos do consumo alimentar,
(estes valores reflectem-se a nível macro-económico e são facilmente observados na balança de
transacções correntes e constantes das últimas décadas (INEC, 2002). O défice resulta basicamente
da fragilidade dos sistemas produtivos agrícolas aliada ao (quase) inexistente sector industrial e
muitas das vezes com enormes ineficiências do mercado. A situação é atenuada com as importações
de bens alimentares essenciais que constituem a grande parte do aprovisionamento e a consequente
disponibilidade alimentar do país.

Em síntese, a situação alimentar da Guiné-Bissau é definida por três constrangimentos fundamentais


da economia nacional: primeiro, o défice estrutural da produção nacional de alimentos em relação às
necessidades de consumo da população; segundo, a limitada capacidade de gerir divisas para
comprar alimentos no mercado internacional; e terceiro, política alimentar inadequada na gestão das
ajudas alimentares.

A produção nacional dos alimentos básicos (arroz, milhos, feijões e tubérculos) não ultrapassa em
média 60% das necessidades alimentares nos melhores anos agrícolas (MDRA/GAPLA, 2003). Por
outro lado, as duas principais fontes de receitas privadas, em conjunto com a exportação e as
remessas dos emigrantes – cobrem apenas 25 a 30% do valor total das importações (BCEAO, 2005).
A diferença tem sido coberta com recurso à ajuda externa e aos créditos concessionais de doadores
internacionais. Estas três características, o défice alimentar estrutural, a fraca capacidade de gerir
meios de pagamento externos e inadequada política alimentar, marcaram profundamente a história
do país e, provavelmente, vão continuar a impor sérios limites no horizonte da segurança alimentar
nos próximos 10 anos, e muito provavelmente, num período mais longo.

62
7.1.1. Situação sócios económicos e perfil da insegurança alimentar e da pobreza

A situação socio-económico da Guiné-Bissau nas últimas décadas tem sido caracterizada por uma
fragilidade e deterioração permanente do tecido económico. A queda da produção agrícola em cerca
de 20%, resultado de vários factores, sendo um dos mais marcantes a guerra que paralisou o país
entre Junho de 1998 a Maio de 1999 cujos efeitos se fazem sentir até à data presente, tem como
consequência a redução da taxa do crescimento do PIB para (-28%) em 1998 (INEC, 2002).

7.1.1.1. Ambiente estrutural sócio económico (indicadores macro-económicos)

 População, emprego, desemprego e inflação

Com este sub capítulo pretende-se, com base nos dados disponíveis, evidenciar as estruturas da
população em função de meio de residência, sexo, idade, instrução e ocupação, tanto para toda a
população e como também, para os chefes do agregados familiares (CF) inquiridos.

 População residente

O Quadro 3 mostra que cerca de 26% da população vive na cidade de Bissau. Os outros 74%
encontram-se dispersos nas outras regiões, sendo de 14,7 e 14,6% nas regiões de Oio e Bafatá
respectivamente. Biombo e Bolama constituem regiões menos povoados, apenas com 9,1% de todo
o universo populacional do país. O fluxo migratório que se verifica justifica-se pela intensificação
do processo de migração da população guineense para as grandes cidades, principalmente para
cidade de Bissau com uma taxa de crescimento cerca de 4,1% que ultrapassa o dobro do crescimento
anual da população, considerada a volta de 1,9% (INEC, 2002).

Quadro 3 - Evolução da população por região (projecções base - censo 1991) cit. no (INEC, 2002)

Unid: nº de pessoas (1000 hab)

63
Taxa de
1990 1995 2002
Região/Ano Crescimento
Anual Habitantes % Habitantes % Habitantes %
Cacheu 0,9 14,5 1,5 152,5 14,4 160,3 13,6
Biombo 0,5 59,5 6,2 61,0 5,7 62,6 5,3
Oio 1,1 153,6 16,0 162,9 15,3 172,9 14,7
Bafata 1,8 142,5 14,8 156,4 14,7 172 14,6
Gabú 2,1 133,2 13,9 148,5 14,0 165,5 14,1
Quinará 1,5 42,3 4,4 45,8 4,3 49,6 4,2
Tombali 2.0 69,6 7,2 77,2 7,3 85,7 7,3
Bolama 0,3 26 2,7 27,3 1,4 27,9 2,4
S.Bissau 4,1 187,4 19,5 237,5 22,4 303,1 25,8
Total (Nacional) 1,9 960,6 100,0 1062 100,0 1175,4 100,0

 Emprego e desemprego

O Quadro 4 mostra os indicadores da população segundo o ramo das actividades e a taxa de


desemprego. Verifica-se que a taxa de desemprego é mais aguda em Bissau cerca de 9% superior ao
resto do país, sendo ao nível nacional é de 12,4% se nos limitarmos à população com idade de maior
de 15 anos.

A agricultura, pecuária, silvicultura e pesca representam os principais sectores que fornecem o


emprego (63,5%), representando o comércio apenas 10,8%. A Indústria e a Administração Pública
empregam respectivamente 8,9% e 6,1% dos trabalhadores. Esta repartição varia segundo a área de
residência. O ramo “Agricultura, Pecuária, Silvicultura e Pesca” representa 77,7% no interior do
país contra apenas 8,5% em Bissau. O Comércio e outros serviços empregam relativamente mais
pessoas em Bissau, (44,6%) do que nas outras regiões (8,3%).

Quadro 4 - Indicadores segundo as actividades e emprego (INEC, 2002 e CILSS, 2000).


Actividade Bissau Outras regiões Nacional

64
População com idade de ≥ 15 anos 59,1 53,0 54,6

Estatuto na actividade dos chefes de agregados familiares (%)


Activos ocupados 83,9 79,2 80,6
Desempregados 6,0 5,3 5,5
Inactivos 10,1 15,5 14,0
Ramo de actividade do emprego principal dos ocupados (%)
Agricultura/silvicultura/pesca 8,5 77,7 63,5
Industria 11,1 8,4 8,9
Urbanismo e obras públicas 8,5 2,6 3,8
Transporte 3,5 0,4 1,1
Comércio 29,3 6,1 10,8
Outros serviços 15,3 2,2 4,9
Educação /saúde 2,3 0,4 0,8
Administração 21,5 2,2 6,1
Estatuto no emprego dos ocupados (%)
Assalariado 42,9 5,2 12,9
Empregador/Independente 48,7 60,9 58,4
Outro 8,5 34,1 28,8
Estatuto no emprego dos chefes de agregados familiares ocupados
Assalariado 57,4 10,1 24,3
Empregador/Independente 39,5 79,9 67,8
Outro 3,0 10,2 8,1

A maior parte dos efectivos da Administração está concentrado na capital, o mesmo acontecendo em
relação ao pessoal dos sectores da educação e da saúde. Observa-se também que, se nos
restringirmos aos chefes de agregados familiares, a taxa de emprego é mais elevada (cerca de 80%)
ao nível nacional e a taxa de desemprego fica mais baixa (menos de 6%) do que as taxas do conjunto
da população em idade de trabalhar.

 Evolução e decomposição do PIB por sector e inflação.

Na Figura 4 observa-se que antes do conflito armado ocorrido em 1998, o PIB real tem vindo a
subir gradualmente desde 1994. No período da guerra (1998) registou-se uma forte queda, devido
vários factores dos quais a grande parte da indústria ter estado inactiva e os bancos estavam
fechados. O investimento, principalmente público, manteve-se baixo, devido à inexistência de uma
administração com plenos poderes até aos finais do ano 1999. O PIB, médio anual, registou uma
recuperação de 35,9%, isto é atingindo um acréscimo de 7,8% no final do ano, apoiado na melhoria
da oferta de bens alimentares (BCEAO, 2004). Esta evolução ficou a dever-se à recuperação do

65
investimento público, após a reconstituição e estabilização da administração do país, e com a
contínua expansão das exportações.
PIB real
15
7,8 9,3
10 4,6 5,1
3,2 4,4 3,1 2,8
5 2,4
0,2
0
-5
-4,3
-10 -7
-15
-20
-25
-30 -28,1

Figura 4- Evolução do PIB real (em %), (Banco mundial, 2004, Banco de Portugal, 2004 e BCEAO, 2006).

Uma das condicionantes macro-económicas é o forte aumento da procura de importação


(maioritariamente de mercadorias). O nível de preços deve subir um pouco, sendo o objectivo do
governo manter a taxa de inflação abaixo dos 3% em termos médios anuais.

Inflação
10 9,1
7,6
8 7
Percentagem (%)

6 5 5
4 4 4,2
4
2
0
-2 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
-2,1
-4 Ano

Figura 5. Evolução da Inflação (em %), (Banco mundial, 2004, Banco de Portugal, 2004 e BCEAO, 2006).

Este cenário ou seja a forte recuperação económica, que se seguiu à guerra de 1999, parou e reverteu
a tendência, tendo para esta situação contribuído significativamente o clima de estabilidade politica.
Após o crescimento real do PIB de 7,8 e 9,3% em 1999 e 2000, e em 2001 a economia cresceu
apenas em 0,2%, tendo registado contracções de 4,3 e 7,0 em 2002 e 2003 respectivamente. Novo
impulso na economia iniciou-se em 2004 com um crescimento de 2,4% e 3,1% em 2005). A inflação
que tem sido uma das prioridades desde que o país aderiu a zona de franco, permanecerá elevada
com 5% em 2004 e a cerca de 4% como foi previsto em 2005 (ver Figura 5).

66
Verifica-se no Quadro 5 que o sector primário (agropecuária, silvicultura e pesca) é o sector chave
da economia da Guiné-Bissau, sendo responsável por 62% do PIB, totalizando 85078,4 milhões de
CFA em 1999.

Quadro 5 - Decomposição do PIB por sector em (%). (FAO, 2004 e BCEAO, 2006)
Sector 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Sector Primário 61.7 62.6 62.7 59.0 58.8 67.0 63.8 60.7
Sector Secundário 12.5 12.1 12.1 11.3 12.1 12 12.0 12.5
Sector Terciário 24.7 23.8 23.8 28.1 27.6 21 24.2 26.8

No sector secundário, o ramo da indústria tem um peso reduzido, representando cerca de 12% do
PIB, confrontando-se com muitas dificuldades, onde a maioria das indústrias funciona muito abaixo
da sua capacidade, devido à falta de capital e a escassez de trabalhadores especializados. No sector
terciário, destaca-se o ramo do comércio, restauração e hotelaria, que até ao início do conflito tinha
uma evolução muito positiva, devido à abertura destes à iniciativa privada (ver os anexos 4, 5, e 6
para mais pormenores).

Na Guiné-Bissau, pela análise, decorre um conjunto de constrangimentos11 estruturais evidentes.


Pois o país enfrenta um grande leque de obstáculos e problemas no seu processo de
desenvolvimento para garantir um crescimento económico durável.

A economia é caracterizada por dificuldades estruturais ligadas à fraca capacidade de produção


(fragilidade do sector agrícola, insipiência da indústria) e à exiguidade do mercado. Por conseguinte,
uma incapacidade em gerar empregos e uma forte dependência do exterior e o desequilíbrio do
comércio externo são os principais desafios que decorrem dos condicionalismos, constrangimentos e
limitações da estrutura económica guineense.

Apesar do progresso económico registado, desde a independência, desequilíbrios estruturais


permanecem. Os progressos não foram suficientes para gerar um sector económico dinâmico e
próspero, capaz de acompanhar a dinâmica, as inovações e a concorrência internacionais. Regista-se
11
Os estragulamentos consisteem em - falta de recursos naturais, reduzida dimensão territorial, insularidade,
descontinuidade territorial, secas prolongadas nalgumas regiões, escassos e má aproveitamento dos recursos
hídricos, nível de conhecimentos tecnológicos baixos, forte ritmo de crescimento demográfico, desequilíbrio
acentuado entre o valor das importações e das exportações.

67
ainda uma fraca capacidade produtiva e competitiva do país, uma fraca capacidade de exportação, o
atraso tecnológico e a ausência de tecnologias, como consequência da falta de um tecido empresarial
forte, moderno e dinâmico.

O potencial produtivo do país, apesar dos esforços empreendidos, é ainda assim muito fraco. Os
progressos são de longe insuficientes para se falar duma mudança estrutural relevante da economia
guineense modena. O país continua confrontado com o problema macro-económico fundamental,
que consiste no desequilíbrio estrutural entre a produção nacional e a despesa interna, ou absorção
(consumo privado, formação de capital e despesas do estado). Ou seja, o nível de produção, muito
aquém da procura interna, é a causa primária do défice permanente da balança das transacções
correntes e de outros desequilíbrios que têm caracterizado a macroeconomia guineense. O
crescimento não se fez acompanhar de uma redução significativa do desemprego que permanece
elevado para um país como a Guiné-Bissau.

 Sector de educação, saúde, infra-estruturas, água/saniamento e sector agrário

 Educação

A Educação é um sector nevrálgico na problemática da pobreza na Guiné-Bissau. Apesar dos


esforços envidados, os resultados estão ainda além do desejável. Contudo, o acesso ao ensino
primário tem vindo a evoluir positivamente. Segundo o INEC (2002), os dados apontam para um
crescimento da taxa bruta da escolarização de 82% para 97%, assim como da taxa líquida de
escolarização de 43% para 45%, no período entre 2002 a 2004 (INEC, 2004). De modo em geral, a
escolaridade pública obrigatória a partir dos 7 anos de idade, e é gratuita até à 4ª classe. O sector é
caracterizado por um desempenho fraco e uma carência de recursos humanos, materiais e
financiamento disponível.

Ainda segundo a mesma fonte, apesar de constatar um aumento considerável nas taxas de matrícula,
o desempenho e o rendimento interno do sistema continuam a ser fracos. A taxa de conclusão do
Ensino Primário foi de 66% em 2004, enquanto que as taxas de abandono escolar se situam na
ordem de 25 e 20% respectivamente.

68
O analfabetismo, como factor determinante da pobreza, contribui para o aumento de desigualdades
de oportunidades dos cidadãos no acesso aos benefícios do desenvolvimento social. A população de
15 anos, ou mais, que não sabe ler nem escrever foi estimada, em 2002, em cerca de 63%, sendo o
analfabetismo feminino de 79% e masculino de 47% ( INEC, 2004).

Os recursos afectos à educação no Orçamento Geral do Estado têm crescido nos últimos anos
passando de 9,1% em 2002, para 12,7% em 2004. Todavia, as despesas da Educação em relação ao
PIB reduziram ligeiramente de 4,9% para 4,4%, entre 2002 e 2004. Não obstante aos esforços
envidados pelo governo, o sector ainda continua a depender dos recursos externos para assegurar a
educação primária universal. Ainda segundo INEC (2004) a proporção de despesas correntes em
relação ao total de despesa do sector reduziu-se de 70% para 57% no período em análise (2002 –
2004).

Pela análise, conclui-se que a qualidade da educação tem uma correlação directa com muitos
aspectos diferentes. Estes incluem os níveis de qualificação dos professores e a relevância dos
círculos de ensino com o ambiente económico, social e cultural da Guiné-Bissau. Outros factores
que têm impacto são a qualidade dos manuais escolares e outros materiais de ensino, metodologia
para o ensino do português (a língua de instrução), e instalação de infra-estruturas, o equipamento, e
para a sustentabilidade, a integração escola-comunidade.

 Saúde e prevalência VIH & SIDA

A situação da pobreza na Guiné-Bissau de uma forma específica vem sendo reflectida nos diferentes
sectores que constituem o tecido social nas suas diferentes formas. Desta maneira os indicadores
sanitários (de saúde) tais como: Esperança de Vida à Nascença, Mortalidade Materna, Infantil e
Infanto-juvenil (de crianças menores de cinco anos), Vacinação Infantil, Rácio de disponibilidade de
Recursos Humanos, Prevalência do VIH/SIDA, Casos de Malária, Acesso a Planeamento Familiar,
Taxa de Fertilidade, Estado de subnutrição, entre outros, demonstram de uma forma subjacente
como a pobreza tem incidido negativamente no aspecto de prestação de cuidados sanitários às
populações, particularmente as mais vulneráveis -essencialmente as crianças e as mulheres nas

69
zonas rurais. Isto é todos esses parâmetros situam-se bem abaixo da média para a Africa sub-
sahriana, com as taxas de mortalidade mais elevadas entre as mulheres e as crianças (PNUD, 2006).

Quadro 6 - Outros indicadores socio-económicos (indicadors sanitários) (INEC, 2004)


Anos
Indicadores
2002 2004
Mortalidade Infantil 130/1000 126/1000
Mortalidade de menores de cinco anos 215/1000 204/1000
Mortalidade Materna 822/100.000 700/100.000
Taxa de Cobertura da Vacinação Infantil completa (%) 57 70
Taxa de prevalência do VIH/SIDA (%) 3 4
Fonte: INEC, 2004

O Quadro 6 ilustra os principais indicadores da saúde. Observa-se que a Taxa de Cobertura da


Vacinação Infantil completa subiu 13% em dois anos, ou seja saiu de 57% (2002), para 70% (2004),
superando a média Africana que é de 46%. A Prevalência do VIH/SIDA que em 2002 era de 3%
passou para 4% em 2004, que nos tempos recentes vem sendo muito associado à Tuberculose como
doença oportunista, merece uma especial atenção, pelo que se vem tomando providências com o
objectivo do seu estancamento até 2015 e começar o processo de sua diminuição. Mas apesar de
preocupante a taxa de prevalência encontra-se abaixo da média africana que é de 8% (OMS/SNLS,
2006).

Ainda, segundo a OMS/SNLS (2006) a Guiné-Bissau com cerca de 50.000 casos de VIH, foi
classificada pelo Banco Mundial como um país com epidemia “generalizada” com a transmissão a
espalhar-se de grupos de alto risco para as populações locais. Todavia, o VIH/SIDA continua a ser
um assunto “tabu” na Guiné-Bissau. O estigma, a discriminação e a falta de conhecimento sobre a
doença estão a dificultar os esforços do Governo e da sociedade civil para conter a infecção. Nessa
ordem de ideia, o Governo reconhece a necessidade duma gestão apropriada de recursos e a
melhoria do acesso a medicamentos, incluindo ARV, maior sensibilização sobre a prevenção e
mudanças de comportamento, maior apoio as pessoas infectadas e aos órfãos de doenças
relacionadas com a SIDA.

O Acesso a Planeamento Familiar com 18% (2002), ainda constitui uma preocupação a superar, se
tivermos em consideração o crescimento da Taxa de Fertilidade na ordem de 0,3% (6,8% em 2002

70
para 7,1% em 2004). Para fazer face a todos estes pressupostos, urge apostar na valorização e
formação contínua dos recursos humanos, melhorar o desempenho dos indicadores, como
consequência do aumento da esperança de vida dos Guineense e, aumentar a taxa de cobertura dos
Cuidados Básicos de Saúde, que em 2002 se situava em 80% (INEC, 2004).

Ainda segundo a INEC (2004), o paludismo continua ser a primeira causa da mortalidade nos
hospitais. Isto é, cerca de 15% da morte entre crianças abaixo dos 5 anos de idade. A sua alta taxa de
incidência tem repercussões graves na mortalidade, absentismo e produtividade. É a doença que
acarreta o custo social mais elevado na Guiné-Bissau.

 Necessidades básicas & infra-estruturas

A insuficiência da rede rodoviária é um obstáculo ao desenvolvimento de base da produção agricula


do país. Os parceiros que intervém neste domínio consideram que é prioritário financiar o programa
de investimento rodoviário, em particular a reabilitação, manutenção das estradas com vista a
facilitar o transporte e eliminar obstáculos à evacuação dos produtos e a sua comercialização.

A Guiné-Bissau sofreu imenso durante o conflito armado de 1998. Aproximadamente 5000 casas
foram danificadas, cerca de 500 salas de aulas foram destruídas e 2000 secretárias foram partidas
(INEC, 2002). Embora tenha disponibilizado investimento para minimizar estes efeitos, mas o país
continua a ter falta de apoio para a satisfação de necessidades básicas das infra-estruturas adequadas.
Nesse sentido, o Governo aposta nas infra-estruturas de transporte como uma das condições
imperativas para o desenvolvimento equilibrado do país. Traçando um plano especifico de
reabilitação e melhoramento global, mais de que metade, das infrastuturas rodoviária nacional até
2010 (BCEAO, 2006).

Ainda segundo BCEAO (2006), muitas pistas rurais de desenvolvimento das regiões produtoras
serão executadas, afim de promover o desenvolvimento das comunidades através de trocas
comerciais e acesso mais fácil aos serviços sociais (saúde e educação). No referente a política
sectorial, as infra-estruturas de apoio às actividades económicas estão fracamente desenvolvidas. As
infra-estruturas rodoviárias contam com o total de 2.755 km de estradas classificadas, sendo

71
1.985kms de estradas em terra por reabilitar e apenas 770 km de estradas revestidas ou asfaltadas,
necessitando de conservação periódica e reabilitação.

 Água e saneamento

De acordo com os resultados do inquérito do INEC em 2002 mais de 95% das pessoas, percorrem
em média, cerca de 30 minutos para ter acesso à água. Contudo, a nível nacional só 54,6% da
população tem acesso à água potável (canalizada, torneira ou fontanário público, poço protegido e
cisterna) do qual apenas 5,1% estão conectadas à rede pública de água. Os restantes 45,5% utilizam
a água não protegida proveniente dos poços, rios, ribeiras etc. A rede de canalização na sua maioria
é de fibrocimento e data das décadas 50 e 60 com fortes perdas acima de 50% e representa risco para
saúde pública.

Em relação ao saneamento, cerca de 35% da população nacional não têm retretes, há uma massiva
utilização de latrinas/fossas mal concebidas que representam um grande perigo para saúde pública, o
que contribui para o agravamento da incidência das doenças gastrointestinais que afectam sobretudo
as crianças. Não existe a rede de esgoto de águas negras e sistema organizado de recolha, evacuação
e tratamento do lixo urbano (aterro sanitário).

Em termos de perspectivas, segundo a mesma fonte, o governo pertendeu concentrar a sua


intervenção nas questões de regularização de intervenção do sector privado. Com efeito, seria
urgente a actualização de esquema director do sector e, com ênfase: a descentralização de serviço, a
consolidação do quadro jurídico e regulamentar, aumento da taxa de cobertura de aproveitamento da
água potável através da reabilitação do poços de água, educação, animação e sensibilização das
populações, atribuindo uma atenção particular ao aproveitamento da água potável nos centros
urbanos e peri urbanos e de forte densidade da população.

 Sector agrário (agricultura e desenvolvimento rural) e segurança alimentar

A Guiné-Bissau possui excelentes condições para o desenvolvimento da agricultura, mas verifica-se


enormes constrangimentos de ordem técnica e organizacional, observando assim a fraca

72
produtividade que obstam a afirmação de uma agricultura competitiva como eixo central do
desenvolvimento e crescimento económico do país. O sector agrícola da Guiné-Bissau continua a
ser o sector chave na economia, empregando a cerca de 80% da população. Por outro lado, 90% das
exportações provêm desse sector e cerca de 97% deste total é da castanha de caju. Embora a Guiné-
Bissau tenha florestas abundantes e potencial agrícola, o investimento e “Know How” existentes são
insuficentes para utilizar eficazmente esta fonte de riqueza.

Como objectivo estratégico do governo, o alcance da segurança alimentar permitirá ao país melhorar
as condições das populações rurais, melhorar os indicadores nutricionais, fomentar o comércio e a
circulação dos produtos agrários e dinamizar pequenas industrias alimentares, que garantirão o
emprego no campo. Todas estas acções deverão contribuir significativamente para a melhoria da
qualidade de vida dos cidadãos, sobretudo nas áreas rurais.

Em 2000 o Governo identificou 4 objectivos prioritários para a sua estratégia Nacional de Redução
da Pobreza: Garantir a segurança alimentar; aumentar e diversificar as explorações agrícolas;
garantir a gestão racional de recursos (na agricultura, florestas e pecuária) e melhorar os padrões de
qualidade de vida das populações rurais (MDRA/GGE, 2006).

Nessa ordem de ideias, o governo pretende reactivar a produção agrícola, através de introdução de
medidas de ordem organizacional, institucional, económica, incentivar os pequenos agricultores e
logística dentro dos padrões e procedimentos legais, que estimulem a produção agro-pecuária e
florestal com vista a garantir a segurança alimentar e a alimentação segura das populações bem
como para relançar a economia rural.

 Biodiversidade/ ambiente, Turismo e desenvolvimento economico

 Biodiversidade e ambiente

73
Apesar da sua pequena massa territorial, a Guiné-Bissau tem recursos naturais extensivos incluindo
zonas costeiras cobertas de tarrafe, florestas tropicais ricas, e recursos de petroleo, entre outros, por
explorar. Mais de 70% do território nacional é coberto por florestas, metade das quais são florestas
primárias (MDRA/DAS, 1996).

Mas hoje em dia o país esta a enfrentar sérias problemas em termos ambientais, nomeadamente a
desflorestação, erosão do solo, e níveis excessivos de pastagem e pesca. A agricultura itinerante,
queimadas, a produção de carvão, incêndios, abate de árvores para a produção de carvão e corte de
madeira resultaram na perda de áreas florestais e sujeitaram a Guiné-Bissau a uma séria degradação
e erosão do solo em algumas zonas. A caça furtiva, ameaça a vida selvagem em todas as zonas.

 Turismo e desenvolvimento económico

A guerra civil de 1998 fez regredir muito do processo económico alcançado e agravou a condição já
de si precária do sector social que o país atravessava.

O sucesso da nova tecnologia de crescimento económico e redução da pobreza dependerá em


primeiro lugar da capacidade das autoridades em identificar as fontes do crescimento através da
concertação com as pessoas. A agricultura continuará a ser a principal fonte de crescimento, em
conjunto com os outros sectores tais como o turismo. O Governo reconhece a necessidade da
implementação continua de politicas económicas estratégicas que permite estabelecer um ambiente
mais favorável ao desenvolvimento do sector privado. Na Guiné-Bissau o turismo é um sector a
considerar nessa análise.

 Sociedade civil, boa governação e consilidação da paz

 Sociedade civil

74
Há uma concentração significativa dos esforços da sociedade civil na luta contra a insegurança
alimentar e luta contra a pobreza. A sociedade civil guineense é jovem, dinâmica e diversa. As
ONGs e as organizações de base têm um papel importante no desenvolvimento sustentável do país.
Apesar de algumas fraquezas observadas devidas à sua inexperiência e deficiências ao longo do seu
percurso, essas ONGs têm sido parceiros valiosos do Governo nas áreas de intervenção em
necessidades básicas, nomeadamente na luta contra a pobreza, a insegurança alimentar.

Pelas acções no terreno, acreditamos que no futuro essas ONGs, terão um papel chave na
implementação das estratégias do Governo para reduzir a pobreza e insegurança alimentar. A
formação de ONGs parceiras numa variedade de técnicas participativas assegurará uma maior
apropriação de actividades e promoverá a sustentabilidade, reforçando assim a sociedade civil na
Guiné-Bissau.

 Boa governação e consolidação da paz

Reconhecendo o impacto que a governação teve no passado, o Governo definiu a prossecução de


boa governação como um requisito mínimo para o sucesso dos seus esforços. A pobreza na Guiné-
Bissau está directamente relacionada com o aumento rápido do desemprego e sub-emprego,
resultante da má governação, aliadas a uma afectação inadequada de recursos públicos, corrupção e
falta de transparência. A maioria da força laboral activa que não possui nem formação académica
nem aptidões técnicas, está desempregada e sobrevive no contexto da rede de solidariedade
tradicional.

As principais estratégias e medidas do Governo nesta área focam-se na eficiência e transparência do


sistema de governação: a sua capacidade de gestão económica, um sistema judicial moderno, a
capacidade das instituições centrais, autoridades e associações locais e abordagens participativas ao
processo de tomada de decisão.

Em termos de consilidação da paz, nota-se que a sociedade guineense foi muito afectada por varios
conflitos num passado recente, especialmente o conflito de 1998 que destorceu as formas fraternais
e hábitos de convivências dos guineenses. Reconstruir a sociedade após conflitos requer mais do que

75
reconstruir as infra-estruturas. A consolidação da paz é um processo complexo e longo que requer o
estabelecimento de um clima de tolerância e respeito pela verdade. Isto é, na Guiné-Bissau, a
consolidação da paz engloba uma vasta gama de programas políticos, de desenvolvimento,
humanitários e direitos humanos e mecanismos. Eles incluem a reintegração de soldados e
refugiados, desminagem e remoção de escombros de guerra, ajuda de emergência, reparação de
estradas e infra-estruturas e reabilitação economica e social. Em Julho de 2007 foi lançado o
projecto de pesquisa na Guiné-Bissau sobre “A Conselidação da Paz – Voz da Paz” através do
INEP, financiado no âmbito do programa de cooperação dos Governos da Suiça e Guiné-Bissau.

 Direitos humanos, género/equidade e grupos vulneráveis

 Direitos humanos e Género/equidade

O sucesso da missão das organizações de direitos humanos na Guiné-Bissau, principalmente a


organização “Liga Guineense dos Direitos Humanos”, depende da sua capacidade em reforçar e
manter a sua legitimidade em relação à população em geral, e construir relações mais sólidas
possivel com as organizações internacionais de direitos humanos que actuam na Guiné-Bissau.

Quanto a questão de genero/equidade, embora a Constituição e a lei proibam a discriminação na


base do sexo, raça e religião, é dificil, na prática, fazer cumprir efectivamente essas directivas. Os
problemas sociais enfrentados pelas mulheres incluem a violência fisica, que permanece como um
meio aceitável de resolver questões domesticas. A discriminação é um problema, particularmente
nas zonas rurais, onde as leis ou normas tradicionais são dominantes. As mulheres são responsaveis
pela maioria do trabalho nas unidades agrícolas de subsistência e têm um acesso limitado à
educação, especialmente nas zonas rurais. As mulheres não têm acesso igual ao emprego e, entre
certos grupos étnicos, as mulheres não podem possuir e gerir terra ou herdar propriedade, pela regra
tradicional da maioria das étnias da Guiné-Bissau (INEP, 2007).

A questão da mutilação genital feminina continua a ser, um problema chave nas acções programas
de combate da ONG “Liga Guineense dos Direitos Humano”, largamente practicada no seio de
certos grupos étnicos. A prática está a aumentar à medida que uma maior porção da população se

76
torna muçulmana, e está a ser efectuada não somente em raparigas adolescentes mas também em
bebés com apenas quatro meses de idade (INICEF, 2005). Segundo a mesma fonte embora a prática
não seja banida pela lei, o comité nacional MGF, assim como as ONGs internacionais continuam a
realizar uma campanha de educação cívica a nível nacional para desencorajar a practica da
mutilação genital feminina.

 Grupos vulneráveis (mulheres e juventude)

O Governo identificou como grupos vulneráveis os que carecem das necessidades básicas para
viver, devido a um rendimento inadequado ou recursos limitados. Os grupos vulneraveis são
identificados não somente em termos dos seus fracos meios de subsistência, mas também em termos
da sua região geografica de residência, porque a maioria vive em zonas rurais e periferias urbanas.
Os grupos vulneráveis incluem categorias sociais específicas tais como crianças, mulheres, os
deficientes fisicos (especialmente as vitimas de minas e outros engenhos explosivos), jovens,
veteranos de guerra e os anciãos.

As mulheres são um grupo chave vulnerável e marginalizado na Guiné-bissau. Elas sofrem de


desvantagem económica, vivem predominantemente nas zonas rurais e são virtualmente
insignificantes em termos da voz política e têm uma contribuição minima no melhoramento da
situação económica e social do país (INICEF, 2007).

A pesquisa efectuada a nível mundial confirmou que a forma mais eficaz para começar a melhorar a
vida das mulheres é através da sua situação económica. Uma estratégia chave para melhorar a
situação social, económico e jurídico das mulheres consiste em aumentar a sua participação no
desenvolvimento nacional, reduzindo a sua carga de trabalho ao mesmo tempo que se aumenta os
seus rendimentos. Estratégias adicionais visam encorajar as mulheres no seu papel no seio da familia
e da comunidade. Ainda segundo a UNICEF (2007), na Guiné-Bissau as cianças também são alvo
de vulnerabilidade e de exploração desumana. As crianças guineenses nas áreas urbanas trabalham
muitas vezes vendendo artigos na rua e as que se encontram nas comunidades rurais fazem trabalho
doméstico e de campo sem qualquer remuneração (pagamento). Normalmente, as crianças fazem
esses trabalhos para ajudar ou apoiar a familia ou porque carecem de oportunidades de educação.

77
Observa-se que muitos jovens das zonas rurais enfrentam demaseadas vezes imensas deficuldades
em integrar-se na sociedade tradicional. Para aliviar o êxodo rural subsequente dos jovens para a
cidade, as estratégias visam melhorar as condições de vida nas zonas rurais. Essas estratégias
envolvem melhor educação e melhor acesso aos cuidados de saúde e água, a criação de um sistema
de crédito legal para os jovens e o melhoramento dos seus rendimentos agrícolas (receitas). Existe
também a necessidade de sensibilização da população para facilitar o acesso dos jovens à terra.

 Dívida externa e serviço da dívida

A situação do endividamento externo do país é ilustrada pela dívida contratada, que atingiu em 2005
US$ 41 milhões de dólares, ou seja 97,5% do PIB, enquanto a dívida efectiva acumulada no mesmo
ano é de US$ 29 milhões de dólares, representando o serviço da dívida 9,7% da exportação de bens
e serviços, relatrio de “The Economist Intelligence Unit Limited” cit. in (BCEAO, 2005).

A carteira de créditos da Guiné-Bissau é constituída por créditos contraídos pelo governo para
financiamento de projectos de investimento bem como da balança de pagamentos. É bem vista uma
evolução significativa durante os últimos cinco anos passando de $US 867,2 Milhões em finais de
1999 para se situar em finais de 2004 no montante de $US1.062,5 Milhões (anexo 8). Esta carteira é
composta por credores multilaterais e bilaterais, sendo que os bilaterais se decompõem entre os
membros do Clube de Paris e os seus membros. Em termos percentuais estes apresentam a seguinte
composição: multilaterais, 49,8%, Bilaterais 50,0% e outros apenas 0.2%.

Como os pressupostos de estratégia da redução da divida externa, Segundo BCEAO (2005) em


Dezembro de 2004, o Banco Mundial e o FMI aprovaram um pacote da redução de divida dos países
considerados “Heavily Indebted Poor Countries (HIPC)” do qual a Guiné-Bissau faz parte. Através
dessa iniciativa a Guiné-Bissau beneficiou de uma redução de cerca de 85% do total da dívida
externa do país. Essas duas Instituições chegaram esse acordo, reconhecendo a limitada capacidade
do governo no pagamento de serviço da dívida. Assim, o total a dívida externa do país caiu
drasticamente para US$5 milhões de dólares em 2001, na expectativa de dar apoio a Guiné-Bissau,

78
assim como os países considerados pobres com alta taxa de divida externa, a implementar com
sucesso o programa de luta contra a pobreza e facilidade de crescimento económico.

A Dívida Interna da Guine Bissau, representa também um dos principais problemas para o país. Em
Dezembro de 2004, a Divida Interna assumia o valor de US$ 75,2 Milhões de dólares o que
representa 6,29 % da divida total e 23,3% do Produto Interno Bruto (BCEAO, 2004). A acumulação
dos atrasados internos não tem somente afectado a credibilidade do Estado vis-a-vis aos
fornecedores e outros parceiros internos, o que contraria a política definida pelo Governo tendente a
sanear o ambiente económico e a mobilização da poupança interna.

No Quadro 7 podemos referir que não houve progressão na liquidação dos atrasados internos,
motivada pelas dificuldades da política da tesouraria induzida pela queda das receitas fiscais e a
diminuição dos apoios externos.

Quadro 7 - Situação da dívida interna da Guiné-Bissau (BCEAO, 2004)


Unidade: XOF (Franco CFA)
RUBRICAS MONTANTE
Salários 1.356.000.000
Indemnização 40.000.000
Perdiam de viagens e missões de serviços 45.000.000
Renda de casa 250.000.000
Decisão judicial 43.000.000
Atrasados comerciais antes conflito 1.264.000.000
Atrasados comerciais durante o conflito 1.878.000.000
Atrasados comerciais - requisições 16.927.000.000
Atrasados da tesouraria 4.230.000.000
Divida monetária 8.259.000.000
TOTAL 34.292.000.000
Nota: Câmbio $1 por 450 XOF (Franco CFA)

7.1.1.2. Ambiente físico, produção, comércio externo e a disponibilidade dos bens alimentares

Segundo o SCET-AGRI (1992) e MDRA/DEA (1995), aproximadamente 66% da superfície total do


país, reúne condições adequadas para a prática agrícola, das quais 12% representa a superfície total

79
cultivada sendo só cerca de 3% explorada em regime de regadio. Isto justifica a predominância de
uma agricultura itinerante com fraca utilização de recursos hídricos disponíveis que podiam ser
aproveitados para uma agricultura intensiva como aposta no aumento da produção e da
produtividade.

 Ambiente físico (área cultivada, pluviometria, temperatura e hidrografia)

 Área cultivada

O Quadro 8 apresenta a evolução da superfície cultivada com os principais produtos agrícolas.


Constata-se um aumento substancial da área cultivada em quase todas as culturas em análise com
uma média de 5,7%, com os cereais em mais destaque, principalmente o milho na ordem dos 4% e o
arroz com cerca de 4% até 1997 e uma drástica diminuição entre 1997 e 2000 no valor de (-5,3%).
Observa-se também que ao longo do período houve um aumento em média cerca de 50% da área
total cultivada com as principais culturas em análise, das quais os cereais têm mais destaque na
ordem de 48%.

Quadro 8 - Evolução da área cultivada com as principais culturas de base (SCET-AGRI, 1992) e
MDRA, 1995)
Unid.: 1000 ha
Anos centrados Taxa de Crescimento
Produto Geométrica (%)
1993 1996 1999 2002 2005
Média anual 1992 - 06
Arroz 54.3 66.0 72.5 65.1 64.7 1.2 10.7
Milho 44.4 65.7 63.6 90.6 91.6 4.1 37.2
Fundo 2.5 3.1 4.7 3.8 3.7 0.1 0.9
Total dos
101.2 134.9 140.9 159.6 160.0 5.4 48.6
cereais
Outros 13.5 16.2 18.6 20.0 22.1 0.3 3.0
Total 114.7 151.1 159.5 179.6 182.1 5.7 51.6
Ainda pelo quadro, os dados monstram que o ecossistema do país nesses últimos anos tem sido
frágil, condicionado fortemente pelas condições climáticas, nomeadamente precipitações irregulares
e mal distribuídas ao longo do ano. Infelizmente, o clima actual da Guiné-Bissau é influênciado pela
zona do Sahel com mudanças de certos parâmetros do clima típico do país.

80
 Pluviometria e temperatura e hidrografia

As Figuras 6 e 7 mostram a evolução das pluviometrias e temperaturas médias anuais. Verifica-se


que ao longo dos anos em análise, até 1997, quase não se observou variação pluviometrica e das
temperaturas ao nível nacional em termos percentuais. Ao contrário nos últimos anos de análise
(1997-2004) nota-se um aumento cerca de 14% das precipitações, e na ordem de 3% da temperatura
(aproximadamente cerca de 1 ºC). Apesar do aumento anual de precipitação em termos de
quantidade (ver também anexo 7) nos últimos anos observou-se uma diminuição da época das
chuvas de 6 para 5 meses ou menos (DSNM, 2004).

Figura 6 – Evolução das pluviometrias médias anuais nos principais postos meteorológicos (DSNM, 2004)

Como na sua maioria os sistemas agrícolas guineenses são de sequeiro, isto faz com que o ciclo
cultural tenha que se adaptar ou corresponder a duração da época das chuvas. Ainda, pelo anexo 7
verifica-se que a temperatura média anual foi de 27ºC sendo estável durante todo o ano, com fraca
amplitude térmica (2 a 3 ºC) (DSNM, 2004).

81
Figura 7. Evolução das temperaturas médias anuais nos principais postos meteorológicos (DSNM, 2004)

Observa-se também que a fraco aproveitamento dos recursos hídricos na agricultura (sistemas de
regadio) constitui uma das principais causas da baixa produtividade agrícola. Segundo a DGRN
(1998), a disponibilidade hídrica do país, em média anual, foi cerca de 45 000 milhões de m3
(1600mm), variando de 61 000 x106 m3 (2.200 mm) em anos considerados húmidos a 34 000x10 6
m3 (1200 mm) para os anos secos. De acordo com a mesma fonte, os recursos hídricos subterrâneos
foram estimados em 195,1 milhões de m3 anuais, dos quais 146,3 milhões de m3/ano ou cerca de
75%, (65% utilizado em arroz), são tecnicamente exploráveis, principalmente na agricultura.

 Produção local, comercio externo e a disponibilidade dos bens alimentares

 Produção e rendimento agrícola

A produção nacional de cereais cobre cerca de 50% da necessidade da população em bens


alimentares, dos quais o arroz, como principal produto da dieta alimentar, tem uma cobertura de
cerca de 60% das necessidades. Observa-se que o sistema produtivo guineense assenta em pequenas
unidades familiares fechadas que utilizam técnicas tradicionais com baixa utilização dos inputs
modernos, de economia de subsistência, pouco organizadas e descoordenadas. As actividades são
praticadas por agentes que se relacionam entre si pela posição ocupada em relação ao património
(basicamente a terra como meio dominante de produção e forma particular de riqueza).

82
As explorações agrícolas são de muita pequena dimensão com uma superfície média de 3 ha na
agricultura pluvial e quase nulo (0,08 ha) em cultura regada que representa cerca de 10% do total
das explorações (MDRA/DAS, 2000).

A área agrícola das diferentes culturas agrícolas tem vindo a aumentar nos últimos anos associado
provavelmente ao crescimento da população rural que precisa de mais alimentos. Este crescimento
tem por objectivo o aumento da produção, embora actualmente nalgumas zonas do país, já não
existam áreas disponíveis para esse efeito (Carta politica agrária, 1996). Futuramente, o aumento da
produção agrícola, tem que passar obrigatoriamente pelo aumento da sua produtividade, ao contrário
do que tem sucedido até ao momento na Guiné-Bissau, o que exige grandes medidas de inovação
nalgumas práticas agrícolas cuja implementação também exige grandes investimentos nos domínios
de formação técnica, pesquisa agrícola, crédito e infra-estruturas.

As informações sobre a produção agrícola referenciadas no Quadro 9, mostram que no período de


análise, houve um aumento substancial da produção, na ordem de 4% em média para todas as
culturas em análise. O milho, assim como as outras culturas, nomeadamente as raízes e tubérculos
(mandioca, inhame, batatas etc.) e algumas leguminosas (feijões) são as menos penalizadas ou
menos vulneráveis com este aumento em média anual cerca de 3%, justificado pelo aumento das
áreas cultivadas de mandioca e batata nos últimos anos de análise.

Ao contrário de outras culturas (cereais), particularmente nos sistemas de orizicultura (arroz) com
mais considerável índice da vulnerabilidade, nota-se uma diminuição da produção na ordem de
(-2%) contra (-1.4%) para todos os cereais. Conhecida as características da agricultura guineense,
dominada por pequenas explorações agrícolas de tipo familiar, em que a mão-de-obra provém do
seu próprio agregado, embora por vezes se recorra á força de trabalho ocasional e sempre temporária
de jovens, torna-se por vezes difícil, em termos estatísticos, fazer a previsão em termos da produção
anual, o que sempre gera incerteza na planificação das necessidades alimentares do país e no
parâmetros quantitativos a atingir em termos da produção por culturas.

83
O objectivo dessas unidades familiares é a produção de culturas alimentares para autoconsumo e a
produção de pequenos excedentes ligados a uma económia de troca. Ainda, o baixo índice de
fertilidade dos solos de planalto, baseado no uso de sistemas de cultura não-regeneradores pela
intensificação da agricultura itinerante que conduz cada vez mais à degradação desses solos e à
destruição das florestas é um factor a tomar em consideração, assim como deficientes índices
tecnológicos em que os sistemas de cultura tradicionais (cereais, leguminosas, raízes e tubérculos)
revelam níveis de rendimento muito baixos e uma reduzida capacidade produtiva.

Quadro 9 - Evolução da produção dos principais produtos agrícola de base (MDRA/DGE, 2006 e FAO,
2004.
Unid: 1000 ha
Taxa de Crescimento
Anos centrados
Geométrica (%)
Produto
1993 1996 1999 2002 2005 Média anual 1992 - 06
Arroz 119,3 130,0 97,1 89,1 91,4 -1,9 -17,3
Milho 43,1 58,4 58,0 71,8 73,2 0,5 4,4
Fundo 1,3 2,0 2,7 2,9 3,2 0,0 0,0
Total dos cereais 163,8 190,4 157,8 163,7 167,8 -1,4 -12,9

Raízes e tubérculos 83,0 86,3 117,7 129,2 138,1 2,7 25,0

Legumes 21,5 23,0 24,3 25,0 25,3 0,08 0,8


Total 268,3 299,7 299,8 317,9 331,2 0,5 4,3

No que se refere às culturas de exportação, nos meados da década de 80 começaram a surgir os


agricultores de tipo empresarial (ponteiros) que introduziram nas suas explorações um avançado
grau de motorização baseado no uso de tractores, motabombas, etc (Bock, 2001). Segundo o autor,
esse grupo são os que podem ser considerados a classe superior dos camponeses, começando a dar
mais importância às culturas comerciais (caju, manga, banana, por exemplo) e em que a lógica do
mercado começou a sobrepor-se à lógica tradicional de subsistência. Estes agricultores poderão vir a
desempenhar no futuro um papel de relevo no relançamento da agricultura guineense e contribuir
decisivamente para uma agricultura com produção virada para a exportação no mercado regional e
internacional, bem como iniciar um processo de capitalização no mundo rural (Bock, 2001).

Infelizmente, observa-se a falta de apoio para esta classe de agricultores nomeadamente em crédito
não só por parte do Governo, assim como por parte da entidade oficial promotora de caixa de crédito

84
na Guiné-Bissau (Promocaixa). Portanto, nesse sentido não se verificou uma mudança bem marcada
desses agricultores no meio dos chamados pequenos exploradores agrícolas de tipo familiar, que
produzem a maior parte do volume dos produtos agrícolas da exportação, assim como os produtos
do consumo interno (MDRA/DGE, 1995).

Cultivam-se fruteiras em todo o território nacional. O potencial produtivo do país nas zonas
agroecológicas tropical (de baixa altitude) e temperada permite aprovisionar o mercado doméstico
com uma gama bastante diversificada das fruteiras nos diferentes períodos. O calendário de
produção das fruteiras é variável com as espécies e as mais populares como a banana, manga e
papaia, goiaba, caju têm uma estação longa. A banana é produzida durante todo o ano. No entanto, a
estimativa das produções continua extremamente aleatória e os dados podem ser sempre de
aproximações. Essa incerteza dos dados reflecte as variações anuais da área de cultivo
(MDRA/DGE, 2006).

No que concerne a produção hortícola, nos últimos anos tem-se verificado a evolução contínua e
rápida em termos da produção nacional, embora se verifique uma baixa taxa de consumo per capita
desses produtos. A razão desse baixo consumo está associada não só à disponibilidade, mas sim ao
factor hábito alimentar dos guineenses (o consumo muito alto dos cereais, principalmente arroz) que
desaloja outros produtos (Bock, 2001).

O sector florestal contribui significativamente para a segurança alimentar, embora de forma


indirecta, na luta contra a desertificação, na geração do emprego, na conservação dos recursos
naturais, solo e água, coberto vegetal e ainda no fornecimento de lenha, carvão e material forrageiro.

 Produção pecuária e pesqueira

O sistema agrícola guineense concentra a sua actividade principal na agricultura, desempenhando a


pecuária um papel económico secundário, raramente entrando nos grandes circuitos comerciais e
sendo na maior parte das vezes os animais (caprinos, ovinos, suínos e aves de capoeira) destinados
para serem sacrificados em cerimónias de culto, para pagamento de imposto e para hóspedes
especiais (Ghersie, 1988). No caso dos bovinos considera-se dois grandes grupos de sistemas de
criação dessa espécie: o sistema “fula” em que o objectivo principal é o da acumulação de “capital

85
prestígio”, se bem que representa também um “capital poupança” e uma mercadoria; e o sistema
animista “balanta” em que o objectivo da criação do gado é o da sua utilização preferencial em
cerimónias de ordem cultural, religiosa e fúnebre, embora também o considerem como capital
prestígio (Bock, 2001).

Segundo Bock (2001), as explorações com espécies pecuárias pequenas vocacionadas para
autoconsumo e poupança no sector familiar, tinham e continuam a ganhar expressão na economia
familiar dos guineenses como fonte de rendimento. Apesar da fraca dinamização do sector, a
pecuária contribui com cerca de 32% do PIB agrícola e 17% do PIB total (FAO, 1987).

Em geral, observa-se que a produção e produtividade pecuária nacional são fracas devido a factores
estruturais e à fraca utilização de técnicas modernas de criação. Não obstante a sua fraca
participação na formação do PIB, a pecuária guineense desempenha um papel particularmente
importante na satisfação das necessidades das populações em proteínas e gordura animal,
assegurando quase 100% do abastecimento do mercado nacional em carne e ovos e em menor escala
de leite, para além de ser geradora de empregos.

O efectivo pecuário é fonte de riqueza, estatuto social, poupança utilizada nos períodos difíceis,
rendimento e elemento nutritivo. A pecuária na Guiné-Bissau está estreitamente associada à
agricultura praticada nas explorações familiares. Isto é, mais de 90% das unidades de exploração
pecuária são do tipo familiar tradicional, considerando a como actividade complementar à
agricultura. (MDRA/DSP, 2006). Ainda pela análise, observa-se que existem poucas unidades de
exploração pecuária do tipo empresarial ou cooperativo, as quais na sua maioria se concentram,
sobretudo, em Bissau e Bafatá

O Quadro 10 mostra a evolução dos efectivos pecuários ao longo período em análise. Verifica-se
que o efectivo de bovinos aumenta em média cerca de 2% anualmente, sendo o aumento do efectivo
dos suínos e caprinos cerca de 2 e 3% respectivamente, enquanto para os efectivos ovinos se observa
um decréscimo anual (cerca de -3%). Em termos globais ao longo período de análise houve um
aumento dos efectivos pecuários, cerca de 10%, com excepção dos ovinos com uma queda brusca
nos últimos três anos como foi referido acima.

86
As outras espécies, nomeadamente pequenos animais (coelhos, patos, aves, etc) têm pouca
importância. Estas deveriam ser encaradas como alternativas, por serem animais de ciclo curto em
termos de produção, para satisfazer o aumento da procura de carne como fonte proteica afim de
corrigir o baixo consumo observado no país

Quadro 10 - Evolução do efectivo pecuária (MDRA/DSP, 2006)


Unid: 1000 cabeças
Anos centrados Taxa de Crescimento
Espécie Geométrica (%)
1993 1996 1999 2002 2005
Média anual 1992 -06
Bovinos 413,4 441,6 475,6 505,8 526,1 2,3 20,8
Suínos 293,3 318,3 335,0 345,0 363,2 1,6 14,2
Caprinos 226,0 278,3 305,0 325,4 345,6 3,2 29,0
Ovinos 245,7 260,0 275,0 182,5 154,2 -2,7 -2,4
Total 1178,4 1298,2 1390,6 1358,7 1389,2 1,1 10,0

No Quadro 11 verifica-se um aumento da produção de carne, em média, cerca de 2% anualmente


em todos anos do periodo de análise. Ainda nos anos centrados observa-se o aumento da produção
de ovos, assim como do leite, cerca de 6 e 1% respectivamente. Este resultado está de acordo com as
perspectivas da produção de carne nos países de menor desenvolvimento que, segundo a FAO
(1998), mantêm uma tendência de crescimento de produção estando fortemente ligado ao aumento
de número de efectivo por espécie (ver Quadro 10).

Quadro 11 - Evolução da produção pecuária (MDRA/DSP, 2006)


Unid: 1000 T
Anos centrados Taxa de Crescimento
Produto Geométrica (%)
1993 1995 1999 2002 2005
Média anual 1992 - 06
Carne 14,5 15,8 17,0 17,9 18,3 2,3 20,7
Leite (m3) 15,9 16,8 17,3 17,6 17,9 1,2 10,4
Ovos 0,6 0,6 0,8 1,0 0,9 6,5 58,9

Ainda pela análise, nota-se o sector pesqueiro desempenha um papel de grande importância na
económia e na dieta alimentar da população guineense. A pesca industrial é praticada

87
fundamentalmente por barcos estrangeiros, e por um número reduzido dos barcos das empresas
nacionais, geralmente munidos de licenças de pesca. Segundo MP/DGE (2000), as capturas feitas
pelos barcos estrangeiros destinam-se quase na sua totalidade à exportação, e das capturas das
empresas nacionais, uma parte é comercializada no país. A pesca artesanal destina-se sobretudo ao
abastecimento do mercado nacional

O inquérito realizado por MP/DGE (2000) e os dados da FAO (1992) revelam que o consumo per
capita de peixe, na Guiné-Bissau, em média é de 30 kg/hab/ano. Segundo os mesmos autores, o
abastecimento dos mercados nacionais é assegurado em mais de 40% pela pesca de subsistência
praticada geralmente pelas mulheres nas bolanhas, rios e nos braços de mar. Na Guiné-Bissau, a
pesca entre outras actividades, constitui uma importante fonte de acesso aos alimentos. Cerca de
20% dos agregados rurais praticam a pesca para o consumo familiar, principalmente os das regiões
de Bolama, Biombo e Quinara. Nas outras regiões essa percentagem é relativamente inferior
(MP/DGE, 2000).

No Quadro 12 apresenta-se a evolução da pesca artesanal e industrial (captura por espécie).


Verifica-se que houve um aumento da captura por espécie, principalmente destinado a alimentação
na ordem de 5%. Em todas as espécies em análise destinadas a exportação, houve uma diminuição
sistemática em termos percentuais quanto às quantidades capturadas.

Quadro 12 - Evolução da pesca artesanal e industria (captura total/ espécies), (MP/DGE, 2000)
Unid:1000/T
Espécie 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
Camerão 4,5 3,4 3,7 3,8 2,6 2,8 2,3 1,3 - - -
Cefalópodes 7,0 3,2 1,4 2,2 1,4 1,8 1,9 1,8 - - -
Demersais + Pelágicos 83,7 52,1 18,7 21,3 13,5 13,6 14,8 13,8 - - -
Cap. Tot. p/ aliment. 23,6 24,5 25,0 25,4 26,0 26,5 27,1 27,7 28,2 28,8 28,4
( - ) – Dados não disponíveis

Na pesca industrial de alto mar, praticada em zonas costeiras da Guiné-Bissau principalmente nas
ilhas de Bijagós, observa-se grande concorrência entre frotas pesqueiras nacionais – EU, China,
Japão, de forma ilegal pela maioria das frotas e sem controlo aparente desse estado, visando explorar
ao máximo os recursos marinhos e entra cada vez mais em conflito territorial e económico com a

88
zona da pesca artesanal (Fernandes, 2007). Segundo Fernandes (2007), Esses conflitos podem
efectuar-se por vários mecanismos: pela utilização de métodos de pesca que capturam os peixes na
zona dedicada à pesca artesanal, pela utilização de frotas de pesca composta por pirogas a motor que
passam a ser «operárias» dos barcos de pesca industriais, pela captura massiva de cetáceos pelos
pescadores com piroga a motor com vista a cortar as barbatanas para os mercados asiáticos (como se
tratasse de uma pesca industrial) ou mesmo através de mecanismos de mercado pela colocação no
mercado nacional pelos navios de pesca industrial de uma determinada quantidade de peixe
capturado.

Essa quota é fixada nos acordos de pesca pelo estado nacional. Este pescado entra em concorrência
com o pescado capturado pelos pescadores artesanais. Estas operações de pesca para além de
envolverem os pescadores «autóctones» e «alógenos», segundo Fernandes (2007) há muito
instalados nas ilhas, desde a época colonial, como é o caso dos pescadores Nhiominkas, vindos das
ilhas de Siné-Saloum, no Senegal, implicam cada vez mais a instalação de acampamentos
provisórios que tendem a aumentar de número e cuja população é variável entre dezenas a uma ou
duas centenas de pescadores provenientes de países vizinhos – Senegal, Guiné Conakry, Libéria,
Serra Leoa - em determinadas regiões do país, principalmente, no arquipélago dos Bijagós. Esses
acampamentos são verdadeiras vilas onde novas sociedades se criam assim como novos sistemas de
intercâmbio com as comunidades residentes (Fernandes, 2007).

Ainda pela essa análise observa-se que a pesca que aí se pratica está associada às actividades de
captura, de transformação de pescado, secagem e fumagem, sendo estas últimas realizadas sobretudo
por mulheres. Na actividade de fumagem tem-se usado como fonte de energia o “mangrove” que é
a vegetação aquática essencial para a reprodução de várias espécies de peixes criando deste modo
um risco imediato para a sobrevivência dessas espécies.

A pesca artesanal motorizada cria por sua vez uma pressão sobre a pesca costeira exercida pelos
pescadores das comunidades autóctones utilizadores de pirogas movidas a remo que também se
transformam em «operárias» das pirogas a motor. A colecta de moluscos e crustáceos (ostras,
ameijoas, lingeirão, caranguejos, encontra-se a cargo das mulheres e destina-se sobretudo à
economia doméstica para a preparação de refeições diárias com alguma venda ocasional no mercado

89
local. Esta pesca costeira apesar de ter um valor nutritivo essencial para a manutenção da
comunidade, realiza-se numa esfera económica não-monetária muitas vezes desqualificada pelas
classificações económicas oficiais (Fernades, 2005).

Segundo Fernandes (2005) essa modalidade de pesca integra o conjunto dos «trabalhos domésticos»
que alguns economistas designam por economia «invisível» e que não são nunca levados em conta
pelas contabilidades nacional e internacional. Essa desvalorização é tanto mais grave quanto essa
«economia invisível» se realiza na maioria dos locais nas zonas de reprodução das principais
espécies marinhas. Ainda segundo Fernandes (2005) é interessante notar que nas ilhas Bijagós existe
um tabu sobre o combê, principal molusco, recolhido pelas mulheres ou seja a crença de que o
transporte deste molusco pelas pirogas pode ocasionar o seu naufrágio o que dificulta a sua venda no
mercado externo às ilhas

Dado o papel desempenhado pelo Estado e pelas empresas internacionais de pesca é fácil perceber
que a evolução desses processos dominados por uma monocultura da produção conduzirá a uma
situação crítica idêntica à do país vizinho, o Senegal, que aliás já exporta para as nossas zonas
costeiras, principalmente para as ilhas Bijagós, uma parte da sua crise (Fernandes, 2005).

O quotidiano oficial senegalês, segundo Sène (2006) considera-se que o sector de pescas está em
crise profunda, o que destruiu várias empresas e levou outras à agonia e relaciona esta situação com
o lançamento de inúmeras famílias no «abismo do desemprego». Entre as causas dessa crise o artigo
identifica «la raréfaction de la ressource, liée notamment à la destruction de l´écosystèm ... Cette
raréfaction est aussi due à l´augmentation de l´effort de pêche (augmentation du nombre de navires
et conversion de ceux-ci en congélateurs pour une meilleure rentabilité et confinement des flottes
dans les eaux sénégalaises)».

 Comercio externo: Importação comercial, ajuda e exportação dos bens alimentares.

A fragilidade da base produtiva interna faz com que o consumo interno de bens alimentares
essenciais bem como o abastecimento às indústrias nacionais seja fundamentalmente garantido pela
importação. O comércio externo é caracterizado pela incipiência das exportações que se mantêm a

90
um nível bastante reduzido. O seu desenvolvimento defronta-se com problemas ligados à fraca base
produtiva, à irregularidade e elevado custo de transportes, à insuficiência de infra-estruturas
económicas e à inexistência de uma classe empresarial nacional bem vocacionada com capacidade
financeiras para a exportação.

Apesar das vantagens potenciais e facilidades oferecidas pelo Acordo de Cotounou, para o mercado
da União Europeia, pelo tratado revisto da CEDEAO no que concerne aos produtos originários da
comunidade, assim como no quadro do sistema generalizado de preferências, a Guiné-Bissau não
consegue aumentar a sua taxa de cobertura das importações pelas exportações (CILSS, 2000). Os
principais produtos de exportação são a castanha de caju, manga, madeira, algodão e pescado. A
importação de produtos alimentares diversos, em geral, constitui uma forma de satisfazer as
necessidades de procura no mercado consumidor. As quantidades importadas são variáveis de ano
para ano, dependendo, entre outros factores, das quantidades produzidas a nível nacional e da
própria procura no mercado (BCEAO, 2004).

As importações cerealíferas atingem cerca de 50% do consumo nacional e a factura alimentar


representa quase 1/3 das importações do país, ou seja uma factura de 14.400 milhões de FCFA em
2004, ou seja, aproximadamente, 24 milhões de dólares (BCEAO, 2004). A mesma fonte afirma
ainda, que o país é, em absoluto, dependente da importação de bens de primeira necessidade como o
trigo, açúcar, óleo e outros bens alimentares.

 Importações comerciais e ajuda (doação) dos bens alimentares de base

No Quadro 13 apresenta-se a evolução das importações comerciais dos principais produtos básicos.
Os valores demonstram que as importações comerciais não estão definidas de acordo com o
planeamento ou seja as necessidades do país, mas sim pela disponibilidade e possibilidade de o fazer
(Bock, 2001). O pior período foi o que incluiu o ano1999, principalmente nos cereais, com uma
redução na ordem de 12,5% em relação ao ano de 1996. Essa queda deveu-se ao conflito armado
que abalou o país em 1998, altura em que a importação comercial dos cereais caiu cerca de 52% em
comparação ao ano anterior. Depois houve uma tendência de recuperação, sendo que no ano 2002 se
conseguiu atingir uma diferença apenas de 10,6%.

91
Quadro 13 - Evolução das importações comerciais dos produtos básicos (INEC, 2006)
Unid: 1000/T
Anos centrados Taxa de Crescimento
Produto Geométrica (%)
1992 1996 1999 2002 2005
Média anual 1991-2006
Arroz 59,5 61,8 56,4 68,3 69,2 1,8 16,3
Milho/ Out. cereais 4,6 5,2 7,1 6,1 8,4 3,9 35,4
Farinha trigo 5,1 6,3 8,0 10,6 14,5 9,2 82,9
Total dos cereais 69,2 73,3 71,5 85,0 92,1 2,5 22,3
Leite em pó/ outros 0,3 0,6 0,8 0,9 1,6 5,9 53,7
Óleo / Azeite (L) 12,4 13,2 12,7 13,8 14,2 1,2 11,3
Açúcar 1,8 2,6 5,9 8,4 14,5 19,1 171,6
Total 82,7 89,7 90,4 107,5 122,4 7,2 64,7

Em termos globais, ainda pelo Quadro 13 nota-se o aumento das importações comerciais em
médias anuais e ao longo do período de análise a cerca de 7 e 64% respectivamente. O açúcar,
farinha trigo e leite em pó são os produtos mais destacados em termos de aumento.

Quadro 14 - Evolução das ajudas (doações) dos produtos básicos (INEC, 2006 e PAM, 2006)
Unid: 1000/T
Taxa de crescimento
Anos centrados
Produto Geométrica %
1992 1996 1999 2002 2005 Média anual 1991- 06
Arroz 7,35 3,85 3,81 5,61 5,22 -0,1 -0,9
Mil./ out. cereais 1,56 1,80 5,94 0,49 7,20 17,0 153,3
Farinha trigo 1,36 1,40 0,88 2,0 1,50 -14,9 -134,3
Total /cereais 10,29 7,06 10,62 6,09 13,92 -2,6 -23,5
Leite em pó/ out. 0,29 0,14 0,70 0,02 0,01 -19,3 -174,1
Óleo / Azeite (L) 0,59 0,40 0,48 0,58 1,00 0,9 8,3
Açúcar 0,10 0,12 0,09 0,06 0,08 -3,9 -35,4
Carne/derivados 0,25 0,35 0,36 0,09 0,08 -3,5 -31,5
Total 11,52 8,16 12,25 6,84 15,09 -5,7 -51,3

O cenário inverso observa-se no Quadro 14, onde se apresenta a evolução das ajudas alimentares e
doações dos produtos básicos. Verifica-se que no ano de 1999 as ajudas dos bens alimentares
aumentaram mais de 50% em comparação aos bons anos em que o país beneficiou das doações no

92
período da análise principalmente nos cereais. Isto é, felizmente, apesar da queda das importações
comerciais neste ano as necessidades em bens alimentares na sua maioria foram cobertas pelas
ajudas (ver anexos 10, 11 e 12). Isto demonstra uma boa colaboração por parte da comunidade
internacional em ajuda humanitária no período da guerra que paralisou o país quase durante um ano.

Ainda pelo Quadro 14 nota-se que durante o período de análise as ajudas alimentares e doações têm
vindo a diminuir em média anual cerca de 3% para os cereais com excepção do milho. Os produtos
mais penalizados são o leite e a farinha de trigo, com médias anuais na ordem de (-19) e (-15%)
respectivamente.

 Exportação dos bens alimentares e balança comercial

A segurança alimentar em qualquer sociedade deve basear-se fundamentalmente, na exploração das


vantagens comparativas no domínio da exportação de produtos alimentares no mercado mundial. Na
Guiné-Bissau, apesar da evolução positiva da produção alimentar e importação dos bens
alimentares, o défice alimentar tem vindo a aumentar nos últimos anos de análise. A forte taxa de
crescimento demográfico assim como os outros indicadores socio-económicos também são factores
em consideração. Como vimos atrás, as medidas económicas, entre outras, contribuíram sem dúvida
para o aumento da produção dos bens alimentares. Constata-se ainda que o aumento registado não
foi suficiente, nem no tocante aos bens alimentares, nem tão pouco no que diz respeito às culturas de
exportação (PNUD, 2005).

O Programa de Ajustamento Estrutural (PAE) aplicado pelo governo a partir de 1987 pretendia
corrigir distorções e obter um processo de estabilização da economia até 1989, de tal forma que o
crescimento futuro fosse sustentável. As prioridades estabelecidas continuaram a dar alguma
relevância ao sector agrícola, e a apontar para uma maior liberalização da economia (França, 1995).
Os preços dos principais produtos acabaram, de facto, por ser totalmente liberalizados.

A Figura 8 apresenta a evolução de castanha de caju como a principal cultura de exportação. Nota-
se a situação privilegiada desta cultura na Guiné-Bissau que beneficiou de uma conjuntura favorável
do mercado externo, reagiu positivamente aos incentivos internos (escoamento, preços, troca com

93
arroz), com um volume de exportação de cerca de 100 mil/T em 2005 e que atingiu quase 112 mil/T
em 2007, com o aumento mais do dobro da área cultivada, com uma taxa de crescimento médio
anual cerca de 16% (INEC, 2006).

Nos últimos anos, a castanha de caju preencheu um lugar muito importante no quadro da segurança
alimentar guineense, dada a sua aceitação na conjuntura económica do país. O cajueiro é uma
cultura perene, pouco consumidora de mão-de-obra para a sua manutenção, com menos exigências
hídricas do que o arroz. Isto é, os guineense descobriram uma forma de segurança alimentar pouco
exigente, aparentemente mais segura, pelo menos no que diz respeito à influência do clima, pragas,
solos, etc. Ocorreu uma queda brusca de preço a partir de 2006, devido a má politica do Governo no
sector, em consquência da retirada dos grandes empresarios no sector. Desta queda ainda hoje se
sentem as suas implicações não só no meio dos camponeses assim como na económia do país em
geral.
Unidade: 1000 T e XOF

400
350
300
Valores

250
200
150
100
50
0

Anos

A rea cultivada (1000 ha) Produção (1000 T) Exportação (1000 T) Preço

Figura 8 - Evolução da área, produção, exportação e preço de castanha de caju na Guiné-Bissau (BCGB, 1995,
BCEAO, 2005 e FAO/STAT, 2007)

O Quadro 15 mostra a evolução da balança comercial da Guiné-Bissau entre 1995 e 2005. Nota-se
que a Guiné-Bissau é um país que se encontra dependente do exterior, importando grande parte dos
bens de consumo (BCEAO, 2005). O total de importações excedeu em 1999 cerca de 58.169
milhões de FCFA, enquanto que as exportações se cifraram apenas em 32 210,2 milhões de FCFA.

94
A balança comercial guineense tem sido sempre deficitária, mas com valores em marcha
decrescente. No entanto prevê-se um novo aumento do défice da balança comercial para os
próximos anos, devido a uma tendência para o aumento das importações, resultante da falta de uma
politica coerente com a preocupação da queda da produção local dos principais produtos básicos
(principalmente o arroz).

Quadro 15 - Balança comercial da Guiné-Bissau (milhões de US $). (BCEAO, 2005)


Actividade 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Balança Comercial -35,4 -35,2 -24,6 - - - -25,4 -11,6 -8,6 -14,7 -22,8
Exportações(FOB) 23,9 21,6 48,5 - - - 26,7 48,1 51,0 67,3 72,0
Exp.Castanha/caju 20,5 18,6 45,6 23,9 49,5 69,4 47,0 43,8 46,2 59,9 64,4
Importações(FOB) -59,3 -56,8 -73,1 - - - -52,1 -59,7 -92,6 -82,0 -94,9

Os países fornecedores no período da referência 1990 - 2005, em grande percentagem são a China
6,9%, a Holanda 15,9% e Portugal com 35,5%. Por outro lado, o país para quem a Guiné-Bissau
exporta mais é a Índia com 82,5%, nomeadamente castanha de caju para o grande benefício
(BCEAO, 2005).

 Aprovisionamento dos bens alimentares e taxa de dependência das importações

O Sub-capítulo que agora se apresenta reflecte a situação alimentar em termos da disponibilidade


anual dos bens alimentares de base, tendo como base a recapitulação dos dados referentes à
produção, ao nível nacional, de bens alimentares (produção agrícola, pecuária e pesqueira) e à
importação (ajuda e importação comercial) de bens alimentares ( ver Figura 9 e anexos 9 e 10 com
mais pormenores).

 Disponibilidade dos principais bens alimentares

A Figura 10, mostra a disponibilidade aparente dos produtos básicos. Nota-se importantes variações
anuais nas quantidades de produtos disponíveis, as quais originam disponibilidades per capita
diferentes de um ano para outro, bem como para certos anos, as quantidades disponíveis de
determinados produtos alimentares apresentam-se deficitárias, quando comparadas com as

95
necessidades do consumo do mesmo ano (ver anexo 11). Estas situações demonstram a ocorrência
de rupturas no abastecimento do país, que induzem a uma situação de crise alimentar. Na
disponibilidade alimentar integram-se ainda, os stocks existentes no início do ano, o que não
consideramos na nossa análise pela simples razão, de ter pouco significado anualmente, em termos
de quantidade.
400
350
300
Valores

250
200
150
100
50
0

Ano

Produção Importações comerciais Ajudas e doações #REF!

Figura 9 - Evolução da produção, importações comerciais e ajudas dos bens alimentares (1000/T) (INEC, 2006)

Em termos globais, nota-se um elevadíssimo grau de dependência da população dos cereais,


principalmente do arroz que representa cerca de 50% do consumo total. Segundo Bock (2001) nos
últimos anos, apesar de uma forma pouco nítida, houve a diminuição favorável dessa dependência
de arroz em média cerca de 5%. Essa queda justifica-se por um lado, pela fragilidade do sistema
produtivo de arroz nos últimos anos e abandono dos campos do cultivo, principalmente arroz da
bolanha da água salgada em que cerca de 70% da produção local de arroz provem deste sistema de
cultura, e por outro, devido ao grande fluxo da entrada dos produtos importados tais como a farinha
de trigo, açúcar, óleo importado, etc. que em certo grau contribui para a mudança dos hábitos e dieta
alimentar não só da população urbanas, mas também das rurais.

96
Unidade: 1000 T

Figura 10 - Evolução de consumo aparente dos produtos básicos

As Figuras 11 e 12 assim como os anexos 11 e 12, mostram a evolução da disponibilidade calórica


e proteica per capita por produto, verificando-se que cerca de 50% de fonte de energia assim como
proteica provem de cereais principalmente arroz e milho.

Unidade: (kcal/hab/dia)

Figura 11 - Evolução de disponibilidade calórica Per Capita

Apesar desses estrangulamentos na Guiné-Bissau, os resultados mostram que os níveis médios de


consumo calórico e proteico são adequados ou moderadamente aceitáveis, com uma média cerca de
2.700 calorias por dia e 77 gramas de proteína por dia.

97
Unidade: G/hab/dia

Figuara 12 - Evolução de disponibilidade proteica Per capita

As médias recomendadas pela FAO & OMS (1974) são de 3.050 - 3.500 calorias por dia para um
adulto activo. Estes números estão próximos da média de consumo calórico na Guiné-Bissau e
mostram-se positivos quando comparados com as quantidades dietética diária necessária, segura e
adequada para um adulto saudável, segundo FAO (1998) no anexo 17.

 Taxa de dependência das importações e balança alimentar

O Quadro 16 mostra a evolução da taxa de dependência de importações comerciais e ajudas


alimentares. Nota-se que durante esse período de análise, a produção de cereais cobriu apenas 50%
em média do consumo total dos cereais contra 64% do arroz. A taxa de dependência de importações
ronda em média cerca de 49% para totais dos cereais e de 36% para o arroz.
Quadro 16 - Evolução da taxa de dependência de importações
Unidade: %
Produto 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Arroz 30.6 37.1 42.8 36.3 32.3 31.6 29.3 50.7 28.9 37.3 44.4
Milho/ outros cereais 14.1 11.6 12.0 13.8 14.5 7.6 12.5 15.2 24.5 7.7 11.3
Total dos cereais 44.7 48.7 54.8 50.1 46.8 39.2 41.8 65.9 53.4 45.0 55.7
Leite em pó/ outros 3.4 3.5 3.5 4.9 3.9 3.9 3.7 2.4 0.7 1.6 1.5
Carne e derivados 2.7 3.8 7.9 7.0 5.2 3.5 6.5 4.7 3.5 3.9 3.4

No que se refere as ajudas alimentares observou-se apenas 4,3% em média do total das importações,
dos quais 44,7% é da importação comerciais. Durante esse período, o ano de 1988 foi o ano em que
a cobertura das ajudas alimentares atingiu quase o dobro do melhor ano em que o país beneficiou
mais de ajudas alimentar principalmente nos cereais (ver Anexo 10).

98
Os números da produção nacional mostram igualmente uma alta variabilidade de ano para ano 12. Na
Guiné-Bissau, tanto a importação comercial como a ajuda alimentar geralmente não se ajustam aos
níveis de produção nacional, acontecendo que em anos de boa produção as importações não
decrescem e vice-versa, não estando directamente correlacionadas o que podia servir sempre como
mecanismo de regulação do mercado (procura e oferta). Na realidade o alto coeficiente de variação
da produção não afecta muito o abastecimento do mercado quanto aos bens alimentares.

A observação do Quadro 17 que apresenta a evolução do balanço do défice cerealífero, mostra que
nos últimos anos o abastecimento em cereais ainda esta muito longe face às necessidades. O deficit
registou uma tendência crescente ao longo do período de análise que atingiu cerca de 112 mil
toneladas em 2000. Ao longo período de análise a taxa de auto-suficiência em termos percentuais
corresponde em média a cerca de 57% com um decréscimo desde 1995, que foi o melhor ano.

Quadro 17 - Balanço de défice cerealífero


Unidade: (1000 T)
Produto 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
Necessidade 278 282 294 305 301 312 247 303 304 305 368
Produção Nacional 163 160 169 181 190 201 144 161 169 168 164
Importação + ajuda 52,8 75,8 90,5 79 69,3 65,4 64,9 94,3 60,6 68,4 92,5
Défice total 61,9 46,8 34,4 44,8 41,2 46,4 37,4 48,5 74,9 68 112
Taxa/Auto-suficiencia (%) 58,7 56,6 57,5 59,4 63,2 64,2 58,5 52,9 55,4 55,2 44,5

Isto significa que, além de altamente dependente das importações, a Guiné-Bissau ainda não está no
limite da satisfação das necessidades alimentares básicas nesses últimos anos de análise, vendo a
média per capita em termos calóricos e proteicos da população.

12
- O coeficiente de variação da produção nacional dos cereais totais e arroz é muito alto, situando-se nos
0,15 e 0,09 respectivamente, o que quer dizer que a variação da produção real de um ano para outro de um
dado período gira à volta de 15% ou mais para os cereais totais. A variabilidade da produção torna
parcialmente difícil a programação da importação, afim de poder controlar o abastecimento do mercado em
bens alimentares.

99
7.1.2. Impacto das estratégias e políticas da segurança alimentar e da luta contra
a pobreza implementadas

7.1.2.1. Estratégias e políticas implementadas

A garantia da segurança alimentar às populações tem constituído desde sempre, um dos objectivos
estratégicos e prioritários dos Governos guineenses traduzida nos sucessivos planos de
desenvolvimento e programas de Governo (Carta politica ágraria, 1996).

O sistema de segurança alimentar implementado, segundo o Gabinete da Segurança Alimentar


(GSA) na Direcção do Plano do Ministério da Economia e Finanças integrava, essencialmente, os
cinco seguintes eixos essenciais: (i) a estabilidade do aprovisionamento alimentar, tanto a nível do
país como a nível das regiões e localidades; (ii) a melhoria da produção de alimentos; (iii) a
acessibilidade aos produtos alimentares pelas famílias mais desfavorecidas e das regiões
"periféricas"; (iv) a integração da ajuda alimentar no desenvolvimento do país e (v) a informação
para a segurança alimentar.

Logo após a independência, a mobilização e a gestão da ajuda elementar constituiu o primeiro


elemento da política de segurança alimentar do país. O Governo decidiu-se pela distribuição gratuita
da ajuda alimentar para as populações mais carenciadas, organizada e realizada pelo Programa
Mundial para a Alimentação (PAM).

A estabilidade do aprovisionamento, com um abastecimento regular do país e sua disponibilidade


nas diferentes regiões em produtos alimentares essenciais foi garantida pelo estado (empresa pública
ARMAZEM DO POVO) e pelos vários empresários colaboradores do estado, como único
importador, nomeadamente DJAQUITÉ, DJABI, CADOGO PAI, etc. em regime de exclusividade
de importação desses géneros (importação comercial e ajuda alimentar). Essas entidades garantiam
em conjunto com o seu estoque de exploração, denominado estoque de segurança alimentar gerido
pela PAM .

A acessibilidade aos produtos alimentares foi garantida através dos seguintes instrumentos:

100
1) uma política de estabilidade dos preços dos alimentos essenciais baseada em preços uniformes em
todo o território nacional, esta política era considerada com um elemento de redistribuição dos
rendimentos, conduzindo a uma transferência de rendimentos do meio urbano para o meio rural;

2) a criação de emprego e de rendimentos pelo sistema de trabalhos públicos de funcionários do


MDRA inseridos no Programa Desenvolvimento Rural Integrada (PDRI) nas diferentes zonas, para
15 mil trabalhadores rurais tornados excedentários pela fraqueza do sector agrícola e falta da
continuidade dos projectos, os sistemas dos projectos visavam também fazer a ligação entre o curto
e o longo/médio prazo com a criação de condições para uma segurança alimentar sustentável e
facilitar a integração das regiões no processo do desenvolvimento global do país (MDRA/DEA,
1995);

3) a assistência alimentar aos grupos da população ditos "vulneráveis", cobrindo algumas categorias
de pessoas em situação de insegurança alimentar crónica, foi garantida, esta assistência é apoiada
pelo PAM;

4) nos ultimos anos em 1994, o Governo reorientou a sua política para soluções mais duráveis de
luta contra a pobreza, através de um documeto denominado “Documento Estratégico Nacional da
Redução da Pobreza (DENARP) elaborado e iniciou-se logo a sua implementação;

5) nos anos 90, a avaliação das recolhas da informação e a montagem de um sistema de alerta rápida
passaram a constituir elementos adicionais da política de segurança alimentar, ainda durante esse
período e sobretudo depois da entrada do país na UEMOA em 1997, a Guiné-Bissau iniciou um
processo de reformas visando a liberalização da económia, este processo provocou grandes
alterações no contexto sócio-económico da segurança alimentar no país que se deverá adaptar para
responder aos desafios colocados pela retirada do Estado enquanto interventor directo e pela
atribuição de um papel acrescido ao sector privado na realização e orientação da segurança
alimentar.

A actual reforma do sistema de segurança alimentar baseia-se essencialmente na reformulação da


sua gestão, coordenação e quadro institucional no contexto da economia de mercado. Realizou ainda

101
o seu plano visando: em primeiro lugar, a redução dos custos e do sistema, através da melhoria da
sua eficiência, que poderá provir a entrada de operadores privados no mercado de produtos
alimentares de primeira necessidade e da concorrência dos agentes; e em segundo lugar,
maximização do impacto dos recursos, através de promoção e valorização dos produtos localmente
produzidos. Tendo em conta os impoctos que a politica da liberlização das importações dos produtos
de base (milho, arroz, açúcar, óleo). Essa politica visa o comprimisso do governo com o programa
do PNUD 199713

O processo de liberalização e de privatização do mercado dos produtos de base em curso na Guiné-


Bissau originará importantes modificações na organização dos aprovisionamentos dos produtos
alimentares e no funcionamento dos mercados. Isto é, hoje na Guiné-Bissau é permitida a entrada de
privados no circuito de comercialização dos produtos alimentares de base. A importação de farinha
de trigo pelos industriais que a utilizam como matéria-prima na laboração dos seus produtos, já esta
liberalizada, sendo o mercado da importação e venda a grosso do trigo e da farinha de trigo
totalmente liberalizado desde Março de 1997 (ME/DSC, 1997).

A manutenção do preço único a nível nacional, tendo em conta os custos de distribuição díspares
entre os principais mercados nacionais – Bissau e as outras regiões, era mantida à custa das altas
margens de comercialização do preço de mercado de Bissau com a possibilidade de obtenção de
economia de escala, derivada da situação de monopólio.

No domínio da política de preços, o Decreto-lei dos regimes de preços dos bens e serviços na Guiné-
Bissau, estabelece um compromisso prudente entre a liberalização total dos preços e a manutenção
de preços administrados para "ter em conta a descontinuidade do território, as imperfeições do
mercado e o peso de certos bens (incluindo os produtos alimentares) no cabaz de compra das
populações mais vulneráveis" e prevenir eventuais desequilíbrios nas ilhas (Bolama, Bubaque, Jeta e
Pexice) e regiões periféricas (Tombali e Quinara). Ainda sobre essa politica, o novo regime de
13
- O programa trianual do PNUD 1997/2000 - tinha fixado como objectivos da política de segurança
alimentar a garantia da disponibilidade de bens alimentares, a estabilidade dos preços dos produtos essenciais
e o acesso de todos os cidadãos aos bens alimentares. Um programa específico para a segurança alimentar
que inclui 5 subprogramas a ter em consideração: a informação para a segurança alimentar, a garantia e
melhoria da segurança alimentar, a qualidade dos alimentos, a educação alimentar e nutricional e a assistência
alimentar às populações mais vulneráveis.

102
preços consagra o regime dos preços maximos para os produtos alimentares de base para garantir o
acesso das populações tanto nos mercados centrais como nos mercados periféricos aos produtos
alimentares de base.

Na Guiné-Bissau, as medidas tarifárias prevalecem sobre as medidas administrativas, sendo as taxas


de direitos escalonados entre 0% e 50%. As maiores taxas incidem sobre os produtos de luxo e os
produtos agrícolas concorrentes da produção nacional (arroz, cebola, milho, etc.). As taxas de
direitos aduaneiras dos produtos agro-alimentares variam entre 20 e 50% (taxa máxima de direitos).
Os produtos de primeira necessidade pagam a taxa mínima de 5% de direitos, enquanto que as
sementes são livres de direitos (DGA, 2005).

O sector da promoção social engloba vários intervenientes, organismos e organizações públicas e


privadas de solidariedade social, constituindo uma vasta rede de serviços a favor dos mais
desfavorecidos, afectados por situações diversas, de pobreza, de desemprego, marginalização ou
exclusão social. Os chamados “grupos vulneráveis” são constituídos por pessoas e famílias que
vivem em situações de grande carência e/ou de risco, muitas vezes agravadas pela doença, velhice
ou invalidez. São pessoas que comprovadamente não podem, por si sós, assegurar a sua subsistência
e que vêm beneficiando dos programas de assistência, tanto públicos como privados, cada vez mais
desempenhados pelas organizações não-governamentais com insuficiente ou quase nulo apoio por
parte do Governo.

As acções de promoção social desenvolvidas têm-se traduzido em respostas diversas


fundamentalmente de carácter assistencial, prestações pecuniárias e em espécie, ajudas alimentares e
outras para fazer face a situações de carência temporária ou permanente, prestação de serviço de
atendimento a diferentes grupos da população, nomeadamente doentes, idosos, crianças em risco,
etc. A assistência alimentar vem assegurando um complemento necessário à sobrevivência de
milhares de pessoas e vem encorajando as famílias mais pobres a enviar as crianças à escola,
contribuindo para a elevada taxa de frequência escolar na Guiné-Bissau.

As acções de assistência alimentar aos grupos vulneráveis são conduzidas por um apreciável número
de organizações públicas e privadas, destacando-se o programa de assistência aos grupos

103
vulneráveis, crianças em idade pré - escolar, crianças mal - nutridas, pessoas idosas e deficientes,
doentes crónicos e famílias pobres, e o programa de cantinas escolares. Das diversas ONG e
associações, destaca-se a Cruz Vermelha Nacional de Guiné-Bissau e a Cruz Vermelha
Internacional afiliada em Bissau, em particular, através dos seus programas que visam directa ou
indirectamente a segurança alimentar, que vem ajudando um número elevado de famílias
carenciadas e de agricultores pobres.

 Mercado: preços, restrição da oferta/procura e garantia de qualidade dos bens


alimentares

Nos últimos anos o governo da Guiné-Bissau tem-se empenhado numa profunda mudança das
políticas económicas. Uma das medidas foi a formação de um governo orientado para a reforma e a
liberalização da economia. Desde 1987, o Governo eliminou a maior parte dos monopólios públicos,
liberalizou a importação e levantou a restrição no acesso a divisas. Mas, o governo não foi capaz de
conseguir incentivar activamente o investimento estrangeiro através do marketing das vantagens de
investir na Guiné-Bissau (atrair os investidores) e a situação deteriorou-se depois do conflito armado
de 1998.

De forma em geral, não havia até agora uma política bem definida sobre a concessão de incentivos
fiscais aos investidores assim como o preço dos principais produtos básicos em defesa dos
consumidores. Todavia, os preços dos produtos básicos (arroz, óleo, farinha, etc.) nos últimos anos
são mais ou menos uniformes e estáveis em todo o país, o que se justifica pela boa política de
liberalização económica e pela estabilidade da nova moeda franco CFA em termos da inflação
(BCEAO, 2004).

Na procura de estabilidade de alimentos no mercado, o sistema alimentar deve ser estável, evitando
as flutuações da oferta e da procura de alimentos, assegurando a satisfação das necessidades
alimentares da população. Na Guiné-Bissau, este componente (preços) confronta-se com as
flutuações da produção agrícola e com a forte dependência do exterior, nomeadamente a falta de
divisas para a aquisição de mercadorias, problemas ligados aos transportes (vias de acesso aos
campos de produção). Isto é, a debilidade ou falta de circuitos de comercialização de produtos

104
agrícolas, não só para as culturas alimentares, mas também para os produtos de boas cotações nos
mercados regionais e internacionais como o caso de castanha de caju.

Não podemos falar de estabilidade de segurança alimentar sem falar da sustentabilidade, pois o
sistema agro-alimentar deve ser sustentável de modo a preservar os recursos naturais e a
disponibilidade de alimentos tanto para geração actual como para as futuras. Vários autores (SCET-
AGRI, 1992 e Banco Mundial, 1990) argumentam que a disponibilidade garantida quando à
satisfação das necessidades vitais, como por exemplo a alimentação, a curto prazo, não se consegue
com o sacrifício dos recursos naturais, tendo assim mais probabilidades de garantir a disponibilidade
de alimentos a longo prazo e preservar o ambiente.

O abastecimento do mercado nacional em produtos de bens alimentares importados de primeira


necessidade (arroz, milho, trigo, etc.) e as suas comercializações a grosso eram feitos em regime de
exclusividade pelo estado e seus colaboradores até 1997 (ME/DGC, 2005). Pois, o estado e seus
colaboradores asseguravam a colocação destes produtos no mercado e a sua estabilidade durante o
ano, a preços homogéneos e não especulativos nos diferentes pontos do país. Mas nos primeiros
anos depois da liberllização os privados vêm prestando de forma cada vez mais expressiva um
contributo valioso no aprovisionamento alimentar do país. Em 2003, mais de 60% da importação
comercial dos produtos alimentares de base corresponderam à importação privada (ME/DGC, 2005).

A ajuda alimentar tem constituído, ao longo dos anos, um elemento fundamental dos dispositivos de
luta contra a insegurança alimentar e tem permitido o desenvolvimento de programas de assistência
e promoção social destinado aos grupos vulneráveis. Ela desempenha um papel importante no
acesso aos bens alimentares de base por parte das populações, em particular das camadas mais
carenciadas, contribuindo para a melhoria do estado nutricional da população.

A política de estabilidade dos preços dos produtos de base era baseada num sistema regulador
através de preços uniformes em todo o território nacional fixados administrativamente a um nível
médio abaixo do custo, o que significou uma transferência real de rendimentos do meio urbano para
o meio rural, e se traduziu numa subvenção indiscriminada dos preços, com um custo financeiro
crescente do sistema implementado. Assim, os preços dos produtos de base sofreram aumentos

105
sucessivos a partir de aplicação da política de liberalização do comércio, visando eliminar
gradualmente as subvenções.

Cabe aqui destacar, no plano interno, o papel importante dos privados, nomeadamente dos pequenos
comerciantes que, ao venderem “a retalho”, proporcionam acesso aos alimentos a muitas famílias.
Uma prática existente no campo é o empréstimo alimentar por parte dos comerciantes em benefício
dos agricultores interessados, amortizado depois do fim da campanha agrícola.

Em termos de garantia de qualidade, observa-se que os produtos agro-alimentares e industriais são


de importação livre, carecendo contudo da autorização prévia dos Ministérios da Agricultura e das
Pescas, no que concerne a autorização fitossanitária.

Em 2003, segundo MP (2003) foi criada a autoridade competente em matéria de inspecção sanitária
e controlo de qualidade dos produtos pesqueiros com um laboratório no Ministério das Pescas e
aprovado o regulamento das normas sanitárias aplicáveis à produção e colocação no mercado dos
produtos de pesca destinados ao consumo humano, no intuito de colmatar os problemas relacionadas
com a exportação de produtos pesqueiros, ligados sobretudo, às exigências da UE, no respeitante às
normas de qualidade da produção, da transformação e da colocação dos produtos pesqueiros no
mercado europeu e de um modo geral de promover a melhoria da qualidade dos produtos nacionais
da pesca.

Quanto ao impacto das estratégias e políticas implementadas é importante relembrar-se que a


história do país é marcada por séries de fomes que vitimaram um grande número da população. As
políticas implementadas procuram respostas às dimensões estrutural e conjuntural da segurança
alimentar. A forte percepção da natureza do problema implicou a primazia dos aspectos estruturais
de tal modo que as acções definidas como conjunturais, por exemplo o PDRI e a DEPA, acabaram
por não ter a continuidade e serem integradas numa perspectiva de médio e longo prazo.

Os aspectos como o aprovisionamento do país, largamente dependente do exterior, principal


elemento da disponibilidade e do acesso das populações aos bens alimentares encontraram um lugar
importante nas políticas de segurança alimentar e da luta contra a pobreza.

106
Desde 1985, através da União Internacional da Conservação da Natureza (UICN), através do filial
na Guiné-Bissau e outras instituições, as autoridades guineense vêm implementando medidas
inerentes à preservação dos recursos naturais, nomeadamente o solo, a água e a vegetação, através
de intervenções técnicas relacionadas com construção de dispositivos mecânicos e biológicos, bem
como formas de abordagem susceptíveis de garantir o envolvimento das comunidades, de modo a
possibilitar a utilização duradoura e sustentável desses recursos.

Com efeito, a persistência da seca em algumas regiões e o desemprego decorrente dessa situação no
meio rural aceleraram a tomada de medidas que levaram à realização de grandes programas e
projectos no domínio da florestação, recuperação das “bolanhas” salgadas, conservação da fauna e
flora, pesquisa, capacitação de quadros técnicos, agricultores e trabalhadores rurais.

As infra-estruturas rurais nomeadamente a melhoria das vias de acesso e dos meios de transporte,
têm contribuído significativamente para o aumento da produção, da produtividade, e
consequentemente da estabilidade. As obras hidráulicas - canais de rega, reservatórios, as diversas
formas de captação de água, tais como, diques de captação, furos e poços - construídas um pouco
por toda a parte do país e nas pequenas aldeias, constituem exemplos do esforço que se tem feito
com a utilização dos recursos hídricos e melhorar as técnicas de rega, com vista a uma boa produção
e o começo da prática da agricultura intensiva moderna e sustentável.

A componente de formação, formal e informal, seja para técnicos, como para camponeses, nos
domínios de protecção integrada, culturas hortícolas, rega, pecuária, florestação, entre outros, tem
merecido especial atenção, contribuindo desta forma para o aumento da produção e
consequentemente da melhoria da situação da segurança alimentar.

Ao longo de anos depois da independência, através da DEPA e actual INPA, os resultados concretos
foram alcançados tanto a nível do conhecimento e preservação das principais floras e faunas
endémicas do país como na selecção de variedades melhoradas de hortícolas, tubérculos e raízes e a
sua adaptação ao clima do país, o que tem contribuído para o aumento da produção. Para as culturas
tradicionais de regadio e sequeiro, o ênfase foi posto na identificação de material genético e

107
tecnologias mais adaptadas, às condições tradicionais de produção. Actividades de investigação
foram desenvolvidas nas áreas de caracterização dos recursos naturais – solos, recursos hídricos,
vegetação, produção agrícola, protecção integrada contra as pragas e doenças, entre outros.

Contudo, o camponês não tem beneficiado grandemente desses resultados, sobretudo devido à
deficiente coordenação entre a investigação e a vulgarização dos resultados obtidos.

No sentido de facilitar a sua disseminação houve uma tentativa da criação de uma linha de crédito
para financiamento de projectos agrícolas através da ex-Caixa de Crédito Agrícola (CCA), para
grupos solidários ou associações de agricultores interessados, que infelizmente deixou de funcionar,
devido a vários factores, nomeadamente a falta de recuperação de crédito.

São reconhecidos os avanços no âmbito do programa de desenvolvimento da horticultura (Cintura


Verde) e fruticultura (INPA em Coli, Québu), mediante a utilização das técnicas de rega gota-a-gota
que permitem a economia da água e aumento substancial do rendimento por hectare cultivado. Em
decorrência da utilização dessas técnicas é bem visivel o aumento dos produtos hortícolas no
mercado e a melhoria da gestão da água a nível das parcelas.

Não há dúvida, estamos a referir um sistema como alternativas para o aumento das áreas de regadio
e das produções unitárias das culturas. Porém, falta desenvolver estudos no sentido de determinar os
parâmetros de rega, baseados em dados agro - climáticos, a montante do sistema hidráulico, para a
intensificação da produção nas áreas de regadio, quer nos sistemas modernos de rega quer nos
sistemas tradicionais.

É de realçar que, nos últimos tempos, se notam sérias melhorias no sector agrícola como: i) o
constante crescimento das formas directas de exploração da terra; ii) a absorção e utilização de
técnicas modernas de cultivo; iii) o conhecimento e utilização mais disseminado de factores de
produção e iv) experiências acumuladas e técnicas absorvidas em áreas como a avicultura, a criação
de gado, apicultura, etc.

108
A liberalização da importação dos produtos de base põe fim ao monopólio detido pela empresa
estatal (ex- ARMAZEM DO POVO) e seus colaboradores que, em contrapartida, são eles que
abasteciam os bens alimentares de base a todas as regiões e sectores ao mesmo preço. Nessa ordem
da ideia, de monopólio sem concorrência, por vezes com muita dificuldade conseguem atingir os
objectivos traçados, sem ter em conta prejuízos de custos adicionais da distribuição e
comercialização que sempre sai à custa do Estado e não dos seus colaboradores.

Os mercados continuam a ser correctamente abastecidos, em termos de regularidade e preços. As


importações comerciais permitiram, no entanto, evitar rupturas de estoque até aí frequentes, devido
ao calendário incerto das chegadas da ajuda alimentar.

Contudo, apesar das exigências impostas pelos diplomas para o acesso a esta actividade
(comercialização dos produtos de base), os privados a operar neste sector, têm que ter armazéns e
representantes em todas as regiões e garantirem um estoque de segurança mínimo. Mas na prática,
na grande maioria do abastecimento às regiões periféricas não está a ser tomado em conta esse
critério e essas localidades são penalizados em termos de abastecimento, devido a elevado prejuízos
nos transportes, fraco poder de compra da população local e preços não atractivos aos comerciantes
(paradoxo).

As disponibilidades alimentares para o consumo humano têm aumentado, indiciando um consumo


alimentar médio aparente bastante elevado, sobretudo se comparado com o continente africano.
Contudo, as cifras escondem as dificuldades. Esta disponibilidade média calculada sobre o balanço
alimentar nacional reflecte, na realidade, situações muito diversas.

A acessibilidade física não representa um problema maior na Guiné-Bissau. O aprovisionamento das


regiões é assegurado regularmente. Em cada uma das regiões, as distâncias entre as aldeias e os
centros de abastecimento não são grandes: algumas horas de marcha no máximo, apesar das más
condições das infrastruturas rodoviárias.

7.1.2.3. O perfil da insegurança alimentar e da pobreza: causas e factores agravantes

109
Os inúmeros constrangimentos e os factores que explicam a insegurança alimentar e a pobreza na
Guiné-Bissau atestam o grau de vulnerabilidade de numerosas famílias.

Destaca-se, de entre as limitações relacionadas com o desenvolvimento sustentável da agricultura


guineense que se descreve, adiante, em mais pormenores: (1) o regime das precipitações muito
variáveis e aleatórias; (2) escassos e inadequados recursos em solos e água; (3) pressão demográfica
elevada por unidade de áreas cultivadas; (4) fracas condições económicas e financeiras das pessoas
que vivem no meio rural o que condiciona a transferência de novas tecnologias; (5) escassez de
recursos naturais e económicos aliada à falta de infra-estruturas de conservação, de mercados e de
exportação; (6) ausência de grandes e médias infra-estruturas hidráulicas de armazenamento e
gestão de água e de conservação do solo; (7) políticas de investimento no sector pouco corajadoras;
e outros factores de caracter sócio cultural (Carta política agrária, 1996).

A principal causa da fraqueza da produção nacional deve-se à situação geográfica do país que
determina o clima (tropical árido) em algumas zonas o que, associado à exiguidade dos solos,
compromete seriamente a produção alimentar. Acrescenta-se o fenómeno da erosão e desertificação,
a elevada pressão demográfica e a ineficácia de medidas de vária ordem, que fazem com que a
exploração agrícola do país não se processe de forma mais racional de modo a garantir, embora em
escala reduzida, uma produção agrícola estável (MDRA/DAS, 1996).

Decorrente desses constrangimentos e de factores de índole económica, a situação alimentar, em


termos gerais, é caracterizada por um défice estrutural da produção nacional de alimentos, em
particular de cereais (base da dieta alimentar dos guineenses) e pela fraca capacidade de gerar
divisas para aceder aos bens alimentares no mercado internacional, como foi referido atrás. A
segurança alimentar confronta-se, portanto, com as flutuações da produção agrícola e com a forte
dependência do exterior (atrasos na recepção das ajudas, falta de divisas para a aquisição das
mercadorias, problemas ligados com os transportes). Acresce-se ainda o défice em termos de
procura de bens alimentares, dada a precária situação económica de grande parte da população.
Dessa forma, pela análise conclui-se que o país apresenta assim dois níveis de insegurança
alimentar: o primeiro é caracterizado por um défice estrutural na produção nacional de alimentos,

110
levando à necessidade de importar a maior parte dos alimentos para fazer face às suas necessidades e
o segundo pelo défice de procura que está intimamente ligado ao alto nível de pobreza.

A situação é pois de vulnerabilidade, fortemente dependente do exterior para o aprovisionamento do


mercado, confrontando-se com a exiguidade de recursos e uma balança de pagamentos cronicamente
deficitária. Essa dependência, mais a fraqueza do aparelho produtivo nacional e o défice crónico da
balança de pagamentos, tudo isso são factores de risco para a segurança alimentar nacional.

 O perfil da insegurança alimentar: causas e factores agravantes

 A pressão demográfica - Uso, pressão sobre os recursos

Existe um acentuado desequilíbrio entre os recursos e a população, trazendo consequências


imediatas sobre a alimentação ou seja sobre a cobertura das necessidades alimentares do país. A
pressão demográfica sobre os recursos naturais já elevada, tende a aumentar devido ao crescimento
rápido da população agravando mais ainda uma estrutura fundiária extremamente defeituosa.

A densidade populacional, em certas zonas, ultrapassa os 50 hab/km2, particularmente elevada para


um país com zonas áridas ou semi-áridas (MDRA/DEA, 1995). Ainda segundo a mesma fonte, essa
pressão ascenderia a 300 hab/km2 caso fossem consideradas apenas as superfícies agrícolas
cultiváveis e os perímetros florestais destinados à produção. Estes números estão a aumentar e os
níveis de produtividade, receitas e mesmo malnutrição podem agravar-se se não for dedicado mais
atenção aos sérios problemas que afectam o mundo rural.

Pela análise, a situação agravou-se através do êxodo rural acentuado dos jovens para o centros
urbanos com grandes dificuldades em enquadramento, provocando a desertificação das zonas rurais
do seu factor fundamental em termos de desenvolvimento. Esta situação tem levado a uma redução
da actividade agricola e o abondono das terras agricolas, tendo como consequência o aumento da
vulnerabiliddae alimentar das populações em geral e o seu maior empobrecimento.

111
Em consequência da situação economica actual, regista-se em todas as regiões do país uma forte
tendência para a migração masculina para os centros urbanos e para o estrangeiro (à procura de
melhor condição da vida) o que tem provocado o aumento de número de lares chefiados por
mulheres, com maior incidência para as zonas rurais (INEC, 2002). A familia grande continua a ser
preferência de muitos guineenses apesar das variações entre as zonas rurais e urbanas, os serviços de
planeamento familiar não estão ao alcance de todos, atingindo em média cerca de 7 filhos por um
agregado familiar o que pode ainda dificultar mais a situação de segurança alimentar a nível de um
agregado familiar (INEC, 2002).

Outro factor a ter em conta é o crescimento demográfico. Apesar da densidade demográfica na


Guiné-Bissau ser considerada muito baixa, é um aspecto a considerar na oferta e procura de
alimentos, já que a disponibilidade alimentar no país não tem conseguido compensar o crescente
aumento populacional. Na nossa opinião, entende-se que uma forma de abordar esta questão
consiste em valorizar a contribuição da mulher, principalmente rural, no desenvolvimento e elaborar
projectos orientados para o aumento da sua capacidade produtiva com objectivo de melhorar as
condições físicas e sociais dessas mulheres, levando a redução da taxa da mortalidade infantil.

 O desequilíbrio ambiental, vulnerabilidade da agricultura guineense e principais


constragimentos

As secas constituem também o principal factor de risco da insegurança alimentar. Nos últimos anos
registou-se uma redução progressiva da frequência de precipitações e aumento da desertificação.
Tais factos têm conduzido a uma degradação qualitativa e quantitativa dos recursos naturais e, por
conseguinte, da produção agrícola. Segundo MDRA/DEA (1995) ao longo de séculos, o país
enfrentou vários episódios de insegurança alimentar, mesmo quando detinha uma população
reduzida, portanto com fraca pressão sobre o ambiente e os recursos naturais. Ainda segundo a
mesma fonte, a Guiné-Bissau, apesar de apresentar uma área favoravel a agrícultura a cerca de 60%
do total do país, apenas cerca de 12% está a ser aproveitada, sendo explorações extremamente
pequenas, as famílias caem facilmente na pobreza e não é de se esperar que tenham grande respeito
pelo ambiente quando a alternativa se põe a nível da sobrevivência.

112
Nessa ordem deideias, conclui-se que a escassa biodiversidade que o país hoje em dia detem está
ameaçada pela acção perversa do homem. Esta situação é dolorosa porque tem um impacto
significativo sobre os meios de subsistência de muita gente. Nos últimos anos, foram criadas ONGs
por exemplo: Alternag, Teninguena, UICN, AD, SWISSAID, etc. com objectivos de proteger o
ambiente, lutar contra a pobreza e participar no desenvolvimento local ou comunitário, com uma
estratégia baseada na abordagem comunitária e na flexibilidade nas formas de intervenção. Também
houve grandes iniciativas dos movimentos associativos no meio rural, apresentando uma dinâmica
interessante, apesar de apresentar constrangimentos diversos, quer do ponto de vista metodológico,
organizacional e de execução.

Tudo isso, apesar de grandes esforços feitos é necessario sublinhar que a degradação do ambiente, a
procura de lenha para combustivel e fabrico de carvão, a desmatação para fins agricolas
(Sardinha,1992) assim como as queimadas por hábitos ancestrais têm provocado a destruição do
coberto vegetal próximo aos assentamentos humanos com todos os prejuizos ambientais (Correia &
Makinda, 1992). É necessário perceber que as árvores são fundamentais para proteger a qualidade
da água, do solo, e da vida das populações (Réffega, 1999). As árvores são necessárias como
recursos produtivos, sublinhou o autor, além de que a maior parte dos sistemas agrários tropicais
resultam insustentáveis sem elas. A degradação ecológica na Guiné-Bissau tem refletido mais ainda
as assimetrias devido à estratégia da sobrevivencia da população, uma vez que as pequenas
explorações agrícolas e a agricultura de subsistência é o ramo de actividade que emprega mais de
70% da população rural.

Uma outra questão a ter em consideração é o escasso e mau aproveitamento dos recursos hídricos
“água”existentes. Ás precipitações fracas correspondem produções insuficientes ou seja a
disponibilidade de água no meio rural é o factor que determina os rendimentos. A dependência do
sistema produtivo agrícola e pecuário em relação ao clima aleatório (nível das chuvas e sua
repartição espacial e temporal) é um grande factor de vulnerabilidade das práticas agrícolas
guineense. Em consquencia disso, a agricultura guineense caracteriza-se por produções muito
flutuantes e imprevisíveis, não satisfazendo, em geral, as necessidades básicas da população. Nos
anos em que as chuvas são regulares e bem distribuídas, a produção aumenta consideravelmente e
regista boa recarga dos aquíferos (INEC, 2002).

113
O desequilíbrio entre a população e os fracos recursos em solos têm forçado à expansão de
actividades agrícolas aos solos marginais, de declives muito acentuados (MDRA/DAS, 1996). Uma
parte significativa do cultivo de sequeiro é feita em terrenos impróprios. Ainda segundo
MDRA/DAS (1996) o cultivo permanente dos solos com declives superiores a 30%, o sobre
pastoreio e a ausência generalizada de práticas anti-erosivas são considerados os factores de
degradação dos solos mais importantes na Guiné-Bissau. A longo prazo, a perda de solos (derivada
da degradação vegetal) por acção dos ventos e da água é um dos problemas mais críticos que a
agricultura guineense enfrenta hoje.

Os efeitos dessa degradação dos solos provocada pelos agentes erosivos, bem como a própria
intervenção desacertada do homem que, ao longo dos anos, contribuiu para a devastação de áreas
consideráveis de coberto vegetal, para satisfazer as suas necessidades domésticas. Isto é. a má
utilização dos recursos hídricos tem reduzido as probabilidades de colheitas, os rendimentos e as
produções no sequeiro. A capacidade de carga das áreas de vocação silvo - pastorícia e os efectivos
pecuários, também, têm sido drasticamente reduzidos. A alternativa mais viável de produção
agrícola tem sido a agricultura de regadio que começa a ficar seriamente comprometida com a
redução dos caudais das nascentes, furos e outros pontos de água agravada pelo aumento da procura
de água para consumo doméstico como resultado do crescimento populacional (MDRA, DAS,
1996).

Os efeitos da degradação das terras são mais graves onde as pessoas são mais dependentes dos
recursos naturais e onde ocupam uma posição marginal no contexto da economia. Para as pessoas
vivendo nas regiões secas, a degradação das terras significa confrontar-se com níveis muito baixos
de produtividade. Nessas áreias, a vocação agrícola é limitada, por exemplo a zona Leste do país
(Bafatá e Gabu) é das mais afectadas nessa análise devido a influência do efeito do deserto de
Sahara no clima típico guineense. A agricultura tradicional guineense que se practicam actualmente
não pode contribuir muito para o desenvolvimento global do país uma vez que a sua capacidade
produtiva é baixa e a maior parte do output produzido é consumido pelos próprios produtores
(PNUD, 2002)

114
A estes factores inibidores de produção, acresce ainda a falta de infra-estruturas de conservação e de
potenciais mercados que são, sem dúvida, elementos estimuladores de produção. De igual modo, os
custos elevados de transporte provocado pela descontinuidade geográfica e má condição das infra
estruturas rodoviárias e fluviais, constituem por si só, uma desvantagem em termos de concorrência
para o mercado nacional e internacional.

O sector pecuário, devido aos factores limitadores, nomeadamente falta de pasto e água em certo
período do ano, elevado custo das rações, a existência insuficiente de animais de raça melhorados,
predomínio da tecnologia tradicional, vê a sua contribuição situar-se a quém das suas
potencialidades. O problema principal dessa limitação é a irregularidade da produção forrageira que
depende das chuvas (MDRA/DSP, 2006).

 Dependência do exterior, vulnerabilidades e estratégias de sobrevivências das famílias

Na Guiné-Bissau, o fosso entre a procura e a oferta (que sempre existiu) e a incapacidade de obter
divisas necessárias para aumentar a produção de alimentos localmente levou a uma acentuada
dependência do exterior em ajuda em bens alimentar. O recurso à ajuda alimentar internacional e a
importação de produtos alimentares tem sido a via encontrada para colmatar as necessidades
alimentares da população. A segurança alimentar do país é e foi sempre direccionada neste contexto,
apesar da fragilidade financeira do Estado em gerar divisas para aceder aos bens alimentares no
mercado internacional (UEMOA, 1993).

A problemática da insegurança alimentar gira quase exclusivamente à volta da questão do acesso


das populações mais pobres aos alimentos. Este problema esta intimamente ligado à varios factores,
dos quais as questões do acesso à saúde ou à educação. A pobreza é o factor explicativo principal
desta situação e que esta ligado à acesso económico dos indivíduos e das famílias aos alimentos. A
insegurança alimentar é simultaneamente uma das principais causas da pobreza extrema e a sua
principal consequência (PNUD, 2006).

Segundo o PNUD (2006) o fenómeno da pobreza condiciona a aquisição dos bens alimentares e
condiciona também o acesso de muitas famílias a uma alimentação adequada, tanto em quantidade
como em qualidade. Em termos sócio-económicos, o acesso aos bens alimentares disponíveis

115
afigura-se ao poder de compra das familias, do desemprego, do emprego precário proporcionando
magros salários, (caso da maioria das famílias dos funcionários da função pública), e do elevado
preço de alguns produtos alimentares associados a uma prole numerosa nas famílias pobres, o poder
de compra da maioria é fraco, nomeadamenta as populações pobres que não têm capacidade de
trabalhar: velhos, deficientes, etc. e os que beneficiam ou não de subsídios. Esta classe depende
portanto essencialmente das ajudas públicas.

O carácter muito aleatório do regime de chuvas é um importante factor de risco e, por conseguinte,
de vulnerabilidade das populações. O frágil nível de rendimento das famílias condiciona
significativamente as possibilidades de acesso dos bens alimentares de base. A elevada taxa de
desemprego aliada a um acentuado nível de pobreza faz acentuar a vulnerabilidade de parcelas
significativas da população. A maioria das famílias, incluindo a totalidade das famílias mais pobres
aprovisionam-se nos mercados onde são vendidos essencialmente produtos importados. A economia
das famílias é portanto fortemente monitorizada para o conjunto das categorias sociais, sendo
preponderante a questão da acessibilidade económica versus rendimentos das famílias.

Para grande parte da população, particularmente aqueles que vivem nos meios rurais, sem terra ou
cujos sistemas de produção são constituídos fundamentalmente por culturas de sequeiro sobretudo
em zonas semi-áridas, a produção é modesta e consequentemente, bastante insuficiente para fazer
face às necessidades alimentares de uma família numerosa. A classe mais vulnerável é constituída
pela população para quem a produção agrícola e a pecuária contribuem marginalmente para o
rendimento das famílias num ano normal. Mesmo em caso de bom ano agrícola, estas famílias nunca
atingem a auto-suficiência alimentar.

A população rural, na Guiné-Bissau, é pois uma população vulnerável por excelência. Contudo, o
grau e a intensidade desta vulnerabilidade não é uniforme, dependendo de vários factores, como por
exemplo: a) forte êxodo rural dos jovens para grandes cidades; b) a situação de encravamento e a
distância dos centros de aprovisionamento; c) as más zonas agro-ecológicas; d) As dificuldades do
acesso à terra; e) a baixa taxa de escolarização e o tamanho de agregado familiar; f) a inexistência de
actividades alternativas à agricultura nas zonas. Pois, como alternativas, os guineenses encontraram
na emigração uma válvula de escape às pressões sociais e à instabilidade da sua segurança alimentar

116
e uma estratégia de combate à pobreza. Uma vez que as oportunidades de saída para o exterior
reduz-se significativamente essa instabilidade da insegurança alimentar da sua família.

Quanto a estratégia de sobrevivência, no meio rural a sobrevivência é derivada da existência de


rendimentos fora da agricultura, designadamente o comércio de produtos de diferentes actividades
de iniciativas individuais. O comércio representa o primeiro recurso a que fazem fé as famílias para
garantir a satisfação das suas necessidades alimentar básicas, mesmo antes do ajustamento da dieta
alimentar, da venda de animais ou artigos pessoais, bens móveis e imóveis, artigos de estimação ou
mesmo da mobilidade geográfica.

 Os mercados e hábitos alimentares

Deve-se sublinhar ainda que os mercados agrícolas guineense são muito instáveis. Os factores
inerentes são aliados, por um lado, das variações na oferta derivadas das condições climáticas e
fitossanitárias adversas, por outro lado, das bruscas variações derivadas de choques externos que
podem afectar a procura alimentar (CILSS, 2000).

Segundo a CILSS (2000) o aumento dos preços nos mercados mundiais podem afectar as famílias de
diversas maneiras com o aumento dos preços internos. As implicações são mais gravosas no meio
rural, em ano de má colheita, sem a existência, muitas vezes, de alternativas. Isto é, a instabilidade
dos preços nos mercados constitui um elemento da insegurança alimentar das famílias. Para os bens
alimentares como hortícolas, frutas e pescado, constata-se uma relativa instabilidade, havendo
períodos de excedentes aparentes em algumas localidades e de penúria noutras, devido ao sistema
ineficaz de comercialização e armazenamento (circuitos de distribuição longos e complexos,
inexistência ou inoperacionalidade de infra-estruturas de conservação, meios de transporte
inadequados para produtos perecíveis).

Os mercados guineense caracterizam-se portanto por enormes flutuações de preços com incidência
negativa no poder de compra dos consumidores guineenses. Os custos de distribuição são também
agravados pela insularidade do país e as más condições das infra-estruturas rodoviárias. O
escoamento dos produtos é precário devido ao facto do país ter, por um lado, fraca rede de estradas e

117
caminhos vicinais, e por outro, pela insularidade, o que dificulta o acesso aos sistemas de produção.
Este facto constitui um forte desincentivo à produção no fornecimento dos factores de produção.
Ainda um outro factor essencial a considerar, o baixissimo nível económico-social da maior parte
população, proporcionando o poder limitado ou quase nulo de compra e o acesso aos alimentos pela
falta de recursos monetários e pelo preço proibitivo dos géneros no mercado, sobretudo nos periodos
de escassez.

Os hábitos alimentares são condicionados pela disponibilidade física dos alimentos e pelo
rendimento familiar. Os hábitos alimentares (regime alimentar essencialmente cerealífero,
representando 58% da repartição energética e proteica). O arroz ocupa lugar cimeiro na dieta
alimentar dos guineenses. Contudo, tem-se verificado no meio rural e sobretudo nos centros urbanos
uma tendência para a sua substituição em termos de frequência do consumo por outros cereais, tais
como o milho e o trigo, este último sob a forma de pão e massa.

O regime alimentar no país é hipocalórico, apresentando deficiências em alguns micro - nutrientes e


cobre as necessidades em algumas vitaminas. No que concerne às proteínas, a disponibilidade
alimentar por habitante é geralmente hipoproteica. A situação das carências em vitamina A e iodo
não está suficientemente estudada na Guiné-Bissau. Contudo, a prevalência de anemia aparece
elevada sobretudo em crianças e mulheres grávidas em idade fértil. Existe um risco grande de
carência de ferro pois que, de acordo com a tipologia das refeições, o conteúdo em ferro bio-
disponível é deficiente (UNICEF, 1995).

A urbanização galopante que se regista no país, principalmente nas grandes cidades (Bissau, Bafatá
e Gabu) vem contribuindo para uma perda de valores tradicionais, de solidariedade e de hábitos
alimentares que acabam por expor as pessoas a riscos acrescidos de contracção de doenças
relacionadas com uma alimentação deficiente ou pouco equilibrada. O novo estilo de vida urbano
pode conduzir à redução de exercícios físicos e ao consumo de açúcares, sal e gorduras saturadas,
facilitando o surgimento dessas novas doenças.

O consumo de produtos de origem animal varia segundo o poder de compra das famílias. Muito
embora se diga que a produção de carne e peixe, frutas e hortaliças possa cobrir maior parte das

118
necessidades de consumo, nota-se que a satisfação nacional destes produtos está directamente ligada
à procura, que, por sua vez, encontra-se em estreita ligação com o nível de rendimentos das famílias.
Pode se afirmar que os legumes e as frutas são praticamente ausentes na dieta da maior parte das
populações, dada à sua baixa disponibilidade, em certo periodo de tempo, e ao seu alto preço no
mercado.

A malnutrição constitui ainda um grave problema de saúde pública, sobretudo a crónica, que reflecte
um estado de carências de uma boa parte da população e é uma causa importante de morbi-
mortalidade ligado a várias patologias (MS/PNDS, 1998).

Segundo o MS/UNICEF (1995) as crianças de 0 a 5 anos de idade à nível nacional, cerca de 14%
eram cronicamente malnutridas (relação altura/idade). Esta percentagem eleva-se para 20% para as
zonas rurais. Para a malnutrição aguda (relação peso/altura), o estudo revelou 4,3% de malnutrição,
desta vez com uma taxa de 3,2% no meio rural. Esta taxa é importante porque revela uma situação
de alto risco de morbilidade e mortalidade.

Em conclusão, apesar da pequena mudança dos hábitos alimentares da população guineense pela
entrada de grande diversidade de produtos importados (Bock, 2001), no geral, na Guiné-Bissau, o
regime habitual de grande massa da população é de baixa biodisponibilidade (OMS, 1995). Isto é,
uma dieta simples, monótona, composta basicamente por cereais (arroz), raizes e/ou tubérculos e
quantidade insignificantes de carne, de peixe e de alimentos ricos em vitaminas e sais minerais.

Portanto, uma dieta em regra geral demasiada volumosa com fraco valor nutritivo; terceiro,
preconceitos ou tabus em termos de utilização ou distribuição dos alimentos no meio de uma familia
como notou Felix (2000) no seu trabalho sobre Angola. Geralmente, também nas sociedades
tradicionais guineenses, se houver apenas um pedaço de carne disponível, é normal reservar-se para
o chefe da família, em detrimento da “mulher grávida, da mãe em amamentamento e até da criança
adolescente que tem maior necessidade dele”. Por outro lado, também existem, certos tabus que
impedem que à população rural utilize ovos na alimentação, particularmente rapazes e raparigas em
idade fértil, a quem está interdita a ingestão desta preciosa fonte de proteína animal, por se temer
que provoque a esterilidade.

119
Por último, como factor agravante, a deficiência de cuidados de saúde é o aspecto a ter em
consideração no agravamento da situação nutricional. Observando alguns indicadores de saúde,
nomeadamente a taxa de mortalidade infantil e materna, o país encontra-se entre os mais
carenciados da África Ocidental (OMS, 2004). A nível individual, a saúde é influênciada pelo estilo
de vida, nível de instrução, qualidade dos serviços disponiveis, etc e acesso de certos bens essenciais
(água potável, electricidade, frigorifico, etc.), razão pela qual a escassez ou a fraca capacidade de
acesso desses bens e serviços, pode provocar a nível dos hábitos alimentares mudanças negativas do
ponto de vista nutricional, na medida em que conduz muitas vezes a preparação dos alimentos a uma
só refeição por dia (ver capítulo VIII).

 O Perfil da pobreza: causas e factores determinantes da pobreza

A pobreza na Guiné-Bissau é de natureza estrutural devido à fragilidade do tecido produtivo e às


características próprias da economia e à desigual distribuição de recursos e rendimentos. A estrutura
produtiva não consegue gerar empregos para absorver a força laboral disponível, bastante limitada
em termos de formação profissional (INEC, 2002).

A incidência da pobreza tem sido preocupante e constitui um factor condicionante do


desenvolvimento dos recursos humanos nacionais. Embora estrutural, ela apresenta oscilações que
estão intimamente ligadas com o resultado da produção agrícola.

Na Guiné-Bissau a pobreza atinge, de forma especial, determinados grupos da população, cuja


caracterização ajuda a melhor traçar o perfil da pobreza. As principais causas da pobreza na Guiné-
Bissau derivam da não propriedade de meios de produção, do acesso limitado a fontes de
rendimento, do acesso desigual aos serviços sociais de base e da ausência ou deficiente formação
técnico - profissional para integrar no mercado do trabalho. A falta de acesso à terra e à água, a
dependência de rendimentos agrícolas em decréscimo ou inexistentes, uma instrução deficiente
aliada à falta de qualificação profissional, a situação de mãe solteira e chefe de família, etc.,
explicam, fundamentalmente a pobreza na Guiné-Bissau.

120
Fica provada a forte correlação entre, por um lado, a falta de instrução e qualificação, a ausência de
ocupação, o sexo do chefe de família (nesse caso mulher), a grande dimensão da família e o
isolamento e, por outro lado, a pobreza. Segundo INEC (2002), concluiu que a extensão da pobreza
na Guiné-Bissau, isto é, a percentagem da população guineense que vive abaixo do limiar da
pobreza de 2$ USA é de 64%. Incluída nesta, a percentagem dos muito pobres, os que vivem abaixo
do limiar da pobreza de 1$ USA que representa acerca de 20,8%. A pobreza é mais extensa no meio
rural onde vivem 69,7% dos pobres dos quais 51,3% são de classe muito pobres (INEC, 2002).

Ainda pela mesma fonte, observa-se que a incidência da pobreza é maior nas famílias chefiadas por
mulheres e é ainda elevada entre os desempregados (43,7%) e os inactivos (47%). Ainda o mesmo
estudo, estimou que cerca de 44% das famílias cujos chefes eram desempregados (considerados
pobres) e cerca de 20% muito pobres. Os níveis de pobreza variam muito e em sentido inverso com
o grau de instrução. Cerca de 46,4% das famílias chefiadas por analfabetos é considerada pobre. A
situação dos analfabetos agrava-se quando consideramos os muito pobres (3 vezes mais do que para
as pessoas com o nível primário de instrução).

Na Guiné-Bissau, a pobreza é uma questão eminentemente rural. Há que ter em conta que cerca de
70% dos pobres vivem no meio rural, o que demonstra a sua extensão no campo, embora o êxodo
rural dos últimos anos possa significar uma maior urbanização da pobreza. As condições de vida
desses individiuos são mais difíceis e é onde os indicadores sócio - económicos são mais baixos e a
pobreza tem incidência mais preocupante. O mundo rural continua privado de postos de trabalho, o
que faz com que haja uma elevada taxa de desempregados e pessoas sem uma qualificação
profissional. A vocação, posse e uso das terras continuam não sintonizadas e respondem, em larga
medida, pela elevada taxa de pobreza no mesmo meio. Cerca de 80% das famílias pobres cujo chefe
é analfabeto reside no meio rural.

Verifica-se um incremento vertiginoso da taxa de urbanização, provocando uma tendência para a


urbanização da pobreza, isto é, uma transferência da pobreza do meio rural para o meio urbano,
agravando as condições de vida nas principais cidades, tendo em conta que as infra-estruturas
sociais não acompanham esta evolução. A degradação contínua das condições de vida no meio rural
e a intensificação do grau de empobrecimento das populações rurais e, em última instância, a sua

121
deslocação para os centros urbanos causa a expansão da pobreza aos centros urbanos, sobretudo às
“periferias” dos mesmos.

Esta situação de uma rápida urbanização é caracterizada pelo surgimento de bairros degradados e de
anéis peri-urbanos de pobreza, onde a população não encontra suficientes condições de
sobrevivência, predominando altas taxas de desemprego, falta de água potável, ausência de
instalações sanitárias, entre outros. A pobreza atinge com maior gravidade e profundidade as zonas
peri-urbanas e suburbanas.

O limiar da extrema pobreza (INEC, 2002) foi definido em 18.000 FCFA por pessoa/mês ou seja
cerca de 30 Euros/pessoa/mês, ou seja duas vezes o salário mensal de um trabalhador da função
pública não qualificado.

122
7.2. Conclusões e algumas considerações

O estudo de análise e avaliação da situação alimentar e nutricional realizado, tendo em conta o


impacto das estratégias políticas implementadas nos últimos anos na Guiné-Bissau permite tirar as
seguintes conclusões e algumas considerações finais:

7.2.1. No ponto de vista da situação alimentar e nutricional

1. Pela evolução do balanço do défice alimentar, nomeadamente cerealífero, conclui-se que nos
últimos anos o abastecimento em cereais como produtos básicos da dieta alimentar na Guiné-Bissau
ainda está muito longe das necessidades, com uma cobertura em média a cerca de 57% da
necessidade total ao longo período de análise. Portanto, essa dificudade reflete não só no que refere
a quantidade consumida, mas sim em termos nutricionais (disponibilidade per capita em termos
calóricos e proteicos).

1.2. O arroz é o produto determinante na alimentação da população e tem importância relevante em


termos da segurança alimentar, sendo também a principal fonte de energia e proteína da população.
Por isso, gerir o sistema em termos de abastecimento do mercado nacional desse produto básico da
dieta alimentar tem que ser uma das preocupações prioritárias dos planeadores económicos em
termos de segurança alimentar.

1.3. Observa-se um inadequado regime alimentar (hábito alimentar) com o problema da cobertura
das necessidades alimentares e nutricionais. Na Guiné-Bissau, sem excepção o regime habitual de
grande massa da população é de baixa diversidade. Isto é, uma dieta simples, monótona, composta
basicamente por cereais (arroz), raizes/tubérculos e quantidades insignificantes de carne, de peixe e
assim como de outros alimentos ricos em vitaminas e sais minerais. Por isso, a estrategia e
divulgação e promoção dos outros produtos locais subvalorizados em termos de hábitos alimentares
deve ser uma das apostas a ter em consideração na melhoria do estado nutricional da população e
das crianças em particular.

123
2. - Excluindo o sistema de produção de arroz de bolanha salgada, quase todos os outros sistemas de
produção fazem-se sem a utilização e gestão dos recursos hídricos disponiveis (regadio). Em
consequência disso, a agricultura guineense está muito penalizada pela diminuição e distribuição das
chuvas, obrigando à prática da aleatoridade da produção agrícola (uma agricultura com forte
dependencia das chuvas). Por isso, o plano para apoiar e incentivar populações para a agricultura de
caracter intensivo na base de regadio tem de ser uma das medidas ou aposta em consideração pelos
investigadores, governo e planeadores económicos em termos da segurança alimentar.

3. - Os serviços oficiais do MDRA passam por um periodo em que, à indefinição do seu papel se
junta uma profunda crise das suas estruturas e a completa desmotivação dos seus recursos humanos.
Observa-se ainda a ausência de uma definição clara dos objectivos atingir para o desenvolvimento
do sector agrícola.

3.1. Neste contexto, embora se tenham fixado intenções demasiado gerais (auto-suficiência
alimentar, promoção das culturas de exportação etc), mas não houve uma clarificação quanto às
metas quantitativas a atingir, e em consequência disso, a agricultura guineense não desempenhou o
papel do sector motriz do desenvolvimento do país. Pela historia da humanidade, devemos ter em
consideração que a agricultura foi e continua a ser sector mãe do desenvolvimento.

3.2. A agricultura guineense não foi capaz de dinamizar os outros sectores, originando grandes
desequilibrios macro-económicos. Em particular, o movimento das ONGs nacionais é incipiente e
não mostra ainda capacidade para, a curto prazo, assumir um papel determinante na dinamização de
desenvolvimento no mundo rural e luta contra a pobreza onde está concentrado a maior parte da
população cerca de 73%.

4. Particular ênfase deve ser posto nos projectos cujos objectivos visam garantir a segurança
alimentar, especificamente para diminuir as importações, aumentar a produção nacional,
desenvolver indústrias agro-alimentares e promover as culturas de exportação, diversificando-as.
Mas na Guiné-Bissau tem sido prática comum baseada a política de exportação apenas num produto
agrícola (amendoin, depois algodão e agora castanha de cajú) ou seja situação de “mono-
exportação”, o que, devido as flutuações bruscas de preço e de mercado internacional se torna um

124
factor de instabilidade incalculavel para a economia. Simultaneamente, tem havido sempre uma
preferência para os mercados mais longinquos (Europa e Asia), desvalorizando os mercados
regionais (sub-região africana), mais constantes e acessiveis e menos exigentes.

5. O êxodo rural dos jovens para os centros urbanos e países vizinhos, para vender a sua força de
trabalho que inicia um processo de “desertificação” do mundo rural e diminuição da capacidade de
força de trabalho nas famílias, continua a ser um problema ao ponto de construir o motivo para o
abandono de algumas terras de cultivo. Por isso, as medidas concretas em apoiar esses jovens,
criando os mecanismos e condições adequadas afim de se poderem fixar nos seus locais tem que ser
uma das estratégias a ter em consideração na politica do desenvolvimento regional (autarquias).

6. Apesar de todos estrangulamentos apontados, a agricultura guineense desempenhou e tem grande


possibilidade de desempenhar um papel fundamental e mais activo na economia da Guiné-Bissau. O
sistema produtivo nacional tem capacidade de promover a auto-suficiência em determinados
produtos. Urge reforçar as medidas de protecção e valorização da produção nacional (agrícola,
pecuária, silvícola, etc.), nomeadamente do arroz, do feijão, da cebola, de frangos e de ovos em
certas épocas do ano.

7. Para uma política de segurança alimentar sustentável é necessário considerar as medidas a longo
prazo, baseadas no maior apoio às actividades destinadas ao aumento de abastecimento de água e da
produção agrícola, através da melhoria de espécies e técnicas culturais de sequeiro e regadio.
Contudo, ter-se à em conta que, estas estratégias só produzem efeitos depois de decorrido algum
tempo.

7.1. Por isso no curto prazo, haverá apenas duas opções como elementos sensíveis da problemática
da segurança alimentar na Guiné-Bissau.
a). Primeiro, uma estratégia de negociação com os doadores actuais e potenciais baseada em
argumentação muito sólida com o objectivo de conseguir ajuda adicional para garantir a segurança
alimentar mínima nos próximos anos;
b). A segunda estratégia de muito curto prazo é obter novos empréstimos externos para cobrir os
custos de importação de alimentos, isto se forem tomadas medidas efectivas para garantir que haverá

125
possibilidades para reembolsar os empréstimos. Como é de prever, os privados não estão
interessados em financiar importações correntes. Fica então o recurso a negociações com Governos
e agências internacionais de crédito.

8. – Observa-se o baixo nível económico-social ou poder limitado ou quase nulo de compra da


maior parte da população que impede-a o acesso aos alimentos no mercado, sobretudo nos periodos
de escassez. Contribuições para melhorar a situação da população e o desenvolvimento sustentável,
direccionada a gerar o emprego e aumentar a renda familiar, aumentando a capacidade de poder de
compra (acesso aos alimentos) devem ser as medidas prioritárias na luta contra pobreza e melhoria
da qualidade da vida da população.

8.1. Em primeiro lugar, é necessário a introdução de técnicas e formas de exploração dos recursos
naturais apropriadas, criando os mecanismos e formas de exploração que não comprometam o
ambiente. Em segundo lugar, criar meios para um bom funcionamento do mercado, tendo em conta
a capacidade da produção nacional em bens alimentares, para poder planear de melhor forma e
determinar anualmente o défice alimentar em termos da necessidade alimentar a nível nacional dos
principais produtos básicos.

7.2.2. No ponto de vista das estratégias e politicas da segurança alimentar implementadas

1. Em primeiro lugar, quanto a ajuda alimentar, de imediato, o Governo da Guiné-Bissau deve


decidir e optar pela comercialização das ajudas alimentares, gerando fundos de contrapartida da
ajuda alimentar que devem ser utilizados para o financiamento de programas de investimentos
públicos, directa ou indirectamente relacionados com as actividades de produção de alimentos.

2. Durante os anos 80 e sobretudo na segunda metade do decénio, o país iniciou um processo de


reformas visando a liberalização da economia. Este processo provoca grandes alterações no contexto
sócio-económico da segurança alimentar no país que deverá se adaptar para responder aos desafios
colocados pela retirada do Estado enquanto interventor directo e pela atribuição de um papel
acrescido ao sector privado na realização de programas da segurança alimentar e da luta contra a
pobreza.

126
2.1. Dentro do processo de liberalização, por um lado, deverão ser publicados dispositivos legais
execuiveis sobre o regime de preços, a defesa da concorrência, a liberalização das importações, a
definição do regime jurídico do sector do comércio e o perfil do importador de produtos alimentares
de base, incluindo a protecção do consumidor. Estas normas são muito importante para organização
e regulamentação do mercado. Por outro lado, um conjunto de normas deverão ser revistas e/ou
elaboradas, relativamente à importação por parte dos emigrantes, o problema do controle de
qualidade e a protecção dos consumidores. Também a lei deve prever ainda mecanismos
simplificados para o desalfandegamento de produtos agro-alimentares perecíveis

3. O PNUD através do seu programa especial do milénio para a segurança alimentar estabelece os
objectivos para garantir a disponibilidade de bens alimentares, a estabilidade dos preços dos
produtos essenciais e o acesso de todos os cidadãos aos bens alimentares. Na Guiné-Bissau têm que
ser criadas as condições para o acesso aos privados, as actividades de comercialização dos produtos
de base. Isto é, os privados a operar neste sector, têm que ter armazéns e representantes em todas
regiões e garantirem um estoque de segurança mínimo. Na prática, a grande maioria das regiões
periféricas continua a ser penalizado, em especial o abastecimento dos bens alimentares, com
prejuízos evidentes para os consumidores, seja em termos de desponibilidade abastecimento
atempada, seja a nível de preços e qualidade de produtos.

3.1. Conclui-se que para a melhoria dos índices de malnutrição das crianças no país, aumentar a
frequência escolar e combater o abandono escolar o Governo deve promover e apoiar, através dos
seus parceiros financeiros, os projectos com programas da assistência às cantinas escolares.

4. Em termos das instituições, conclui-se que é importante e indispensável, o dispositivo


institucional da segurança alimentar com objectivos e estratégias politicas precisas com metas bem
definidas e claras a atingir para uma segurança alimentar sustentável na Guiné-Bissau no curto,
médio e longo prazo. Entende-se que o mercado por si só não pode garantir o acesso à alimentação a
todos; a importância do combate aos fenómenos de pobreza é determinante neste aspecto. A
segurança alimentar é, consequentemente, uma prorrogativa que não pode ser relegada apenas ao

127
sector privado. A garantia da segurança alimentar, enquanto bem público essencial, é antes de tudo
uma responsabilidade do Estado.

4.1. A implementação das reformas comporta, todavia, alguns riscos para a segurança alimentar. Isto
é, as desponibilidades do abastecimento das zonas periféricas onde as margens comerciais são
baixas podem levar ao aumento dos preços nas regiões onde os custos de transporte são elevados,
originando à degradação do poder de compra das camadas mais desfavorecidas. Portanto é um
desafio que pode trazer deficuldades às camadas mais pobres em determinadas circonstâncias
abrigando à implementação de mecanismos complementares, principalmente quando não se obtem o
mercado a funcionar bem.

4.2. Na Guiné-Bissau há uma necessidade da criação de uma ou mais instituições inter-sectoriais de


carácter privado ou não. Agências ou Gabinetes, vocacionados para o estudo e difusão de dados no
domínio da segurança alimentar e nutricional do país, assim como a reorganização do sistema da
segurança alimentar e seus aspectos envolventes, tais como as direcções, agências, associações dos
comerciantes etc. Em termos de transparência, a priori deve haver necessidade de transferência de
responsabilidades ao sector privado no domínio da segurança alimentar e um papel de regulação
acrescido ao mercado. Nessa ordem de ideias é necessária a criação de uma Agência Nacional da
Segurança Alimentar, a que denominamos “ANSA” tendo assim o papel de acompanhar,
aprovisionar o país e regularizar o mercado nos produtos alimentares de base.

4.4. Essa agência deve ser o braço executivo da politica do Governo no que diz respeito à regulação
do sector, gestão dos estoques de segurança e publicação de informação relevante. Deve servir
também como a instituição responsável pela recepção da ajuda alimentar dos doadores,
desempenhando as actuais funções desempenhadas pelo PAM. Deve ser uma agência expressamente
definida como uma autoridade que regula o mercado de bens de primeira necessidade, abrangendo o
núcleo central do sector da segurança alimentar. Deverá intervir no mercado para garantir a
estabilidade do aprovisionamento do mercado de géneros alimentícios de base e assegurar
igualmente uma certa estabilidade nos preços desses produtos.

128
4.5. A função principal dessa agência é pois garantir a segurança alimentar do país em bens de
primeira necessidade, em qualidade, quantidade, bem como no que se refere à política de preços dos
mesmos. A agência deve ter ou criar silos e armazéns em vários pontos estratégicos do país como
património, administrativamente com autonomia financeira. Deverá funcionar como um
observatório no que concerne ao seguimento do mercado interno e externo, preços, disponibilidade
de produtos, comportamento de todos os agentes intervenientes no domínio da segurança alimentar,
volume de estoques privados no conjunto do território nacional. Deverá ainda apoiar os operadores
comerciais e assessorar o Governo (política de preços, abastecimento e defesa do consumidor).

4.6. A agência no quadro de garantia da segurança alimentar pode, em casos excepcionais,


devidamente justificados, proceder à importação e distribuição dos produtos de primeira
necessidade. Assim como em termos normativas deve ser criada legilação que dê o poder de
controlo da qualidade dos bens alimentares de primeira necessidade, que será levado a cabo pela
agência reguladora. Também há necessidade de definir as modalidades de constituição e
funcionamento do estoque estratégico de segurança.

5. Em termos de sistemas de informação, há necessidade de serem criadas as bases funcionais de um


sistema nacional de informação sobre a segurança alimentar de modo a implementar uma estrutura
fiável de informação para a segurança alimentar e de alerta rápida. O actual sistema de informação
existente a partir da Direcção da Estatística Agrícola (DEA) criada no seio do Ministério
Desenvolvimento Rural e Agricultura (MDRA) em colaboração com Gabinete da Segurança
Alimentar (GSA) do Ministério da Economia e Plano (MEP) com objectivo de avaliação do ano
agrícola, o qual agrupava todos os serviços técnicos destes Ministérios, tinha algumas limitações
pois acentuava o seguimento da campanha agrícola, funcionando apenas durante a estação das
chuvas. Este sistema de informação baseava-se pois na programação das necessidades alimentares
para a coordenação dos donativos em ajuda alimentar no país em coordenação com a PAM.

5.1. Concluiu-se que é fundamental a criação e institucionalização de um sistema nacional de


informação “Base de dados” que deve ser concebido e terá de incluir três vectores essenciais: a
produção nacional, o aprovisionamento alimentar e a situação epidemiológica e nutricional. Nessa
ordem de ideias, deverá tentar publicar-se um boletim mensal ou anual que assegure o

129
acompanhamento de preços, da campanha agrícola, estabeleça o balanço alimentar e participe na
planificação das importações e das ajudas alimentares. Este sistema de informação pode evitar a
ruptura no abastecimento do mercado em bens alimentares de primeira necessidade.

5.3. O principal papel do Sistema de Informação sobre a Segurança Alimentar, que denominamos
“SISA” - será naturalmente de providenciar para a difusão regular de uma informação fiável sobre a
produção, importação, as ajudas, os preços, os estoques e os consumos. Ainda com as limitações que
já reconhecemos do país, para um bom funcionamento realista, cabe à Guiné-Bissau, através dos
seus parceiros em termos técnicos, fazer um projecto realista denominado “Sistema de Informação e
Alerta Rápido sobre a Segurança Alimentar” cujo principal objectivo é o de apoiar a instalação
duma estrutura nacional permanente de seguimento da situação alimentar.

130
CAPÍTULO VIII – VULNERABILIDADE ALIMENTAR E QUALIDADE DA VIDA
DAS FAMÍLIAS NA GUINÉ-BISSAU

Neste capítulo, apresentam-se os resultados dos inquéritos e sua discussão de forma descritiva e analítica
com objectivo de identificar, localizar e caracterizar as regiões e famílias mais vulneráveis, em termos de
acesso aos bens e serviços e consumo alimentares, a fim de traçar um perfil das regiões e famílias mais
vulneráveis a situações de insegurança alimentar. Fizemos a análise separada das regiões e das famílias
inqueridas, tentando mostrar de forma pormenorizada a situação das regiões e famílias em relação a cada
um dos itens escolhidos para análise.

Em primeiro lugar, faz-se uma apresentação de dados referentes à caracterização demográfica e socio-
económica dos agregados familiares por região e assim como dos grupos vulneráveis, nomeadamente tendo
em consideração a habitação e acesso aos bens e serviços (acesso a água potável, electricidade, telefone,
etc.) Em segundo lugar, apresentam-se os resultados de indicadores socio-económicos, que permitem
entender o panorama social e económico do país no geral e da população em particular, tais como
emprego/desemprego, principais fontes de rendimento e das despesas das famílias, assim como a relação de
preços de bens alimentares de base nos principais mercados do país, vislumbrando com maior facilidade a
diferença dos preços nos seis mercados de consumo (Bissau, Canchungo, Bafatá, Gabu, Catió e Bolama) no
período de referência. Em terceiro lugar, faz-se uma abordagem à análise do consumo em todas regiões e
famílias inqueridas, tendo em conta os hábitos alimentares, saúde e a situação nutricional das crianças que
permite entender o panorama da situação nutricional do país no geral e das crianças em particular.

Apresentam-se ainda os dados sobre o nível de conforto (índice de conforto) e qualidade de vida das
famílias, baseado na posse de 10 bens/equipamentos e acesso aos principais serviços através dos quais se
pode avaliar o fenómeno da pobreza ou da vulnerabilidade alimentar crónica.

Por último apresenta-se as principais estratégias de sobrevivência das famílias segundo grupos vulneráveis,
por elas sempre adoptadas quando enfrentam uma situação de crise alimentar. Apresentam-se ainda as
conclusões e futuras perspectivas sobre as medidas pretendidas e suas implementações para melhoria da
situação de vulnerabilidade alimentar das famílias na Guiné-Bissau.

8.1. Resultados e discussão

O estado da vulnerabilidade alimentar e a pobreza de muitas famílias e alguns outros factores, (tais
como a organização social, acesso aos bens e serviços publicos, a dimensão e constituição do
agregado familiar, hábitos alimentares, etc.) são aspectos que devem ser tomados em consideração
para a melhoria da situação alimentar e do nível de vida da população guineense em geral.

Tendo em conta o relatório de desenvolvimento humano de 2002, o PNUD classifica a Guiné-Bissau


no 167° lugar do Índice do Desenvolvimento Humano (IHD). Verifica-se uma descida para 172º
lugar em 2004. Assim, o país encontra-se entre aqueles no mundo cujo nível de desenvolvimento
humano é dos mais baixos, tendo piorado nos últimos anos. Esta situação é consequência da má

131
“performance” das políticas económicas e sociais aplicadas ao longo dos anos antes e muito em
particular depois da independência. A tentativa de melhorar esta situação, levou o Governo da
Guiné-Bissau a adoptar Programas de Ajustamento Estrutural (PAE) entre 1987 e 1992 na
perspectiva de instaurar uma economia de mercado e iniciar reformas sociais, monetárias e
financeiras. Estes PAE foram depois suspensos na sequência da não satisfação das condições a
preencher. Em 1993, a implementação do "Programa Sombra" deu resultados positivos ao nível
macro-económico, nomeadamente com uma taxa de crescimento do PIB de 3% e de queda da taxa
de inflação (87% em 1992 para 32% em 1993) (Cardoso & Imbali, 1993).

Ainda segundo Cardoso & Imbali (2003) a consolidação destes resultados e a diversificação das
importações permitiram ao Governo obter do FMI apoio através de Programas de Ajustamento
Estrutural Reforçado para o período (1994 – 1997). Ao ano de 1997 que marca a entrada da Guiné-
Bissau no seio dos países da UEMOA e da Zona Franca, seguiu-se a implementação de reformas,
nomeadamente a melhoria da situação das finanças públicas, a redução do nível de inflação, a
diminuição do saldo negativo da balança comercial, etc. Estas reformas concorreram para a
construção de uma base sólida de convergência durável e crescimento equilibrado da economia
assim como em termos da segurança alimentar.

Ainda em busca de soluções, neste contexto, entende-se que todas as políticas públicas de segurança
alimentar deve debruçam-se fundamentalmente sobre o acesso físico e económico de toda a
população ao mencionado aprovisionamento alimentar nacional. Na Guiné-Bissau em termos socio-
económicos, o maior problema de acesso aos alimentos surge a nível das famílias definidas como
mais vulneráveis da sociedade. Aquelas que, segundo (FAO, 2000) face a uma crise alimentar,
apresentam maior “risco de insegurança alimentar”, ou seja, estão sujeitas a um maior” grau de
exposição perante os factores de risco” e tem”menor capacidade de resposta face a esses riscos”.

8.1.1. Índice de Conforto: Caracterização do chefe de agregado por regiões

Como foi referido atrás na metodologia para a determinação de IVAF, em primeiro lugar, foi
determinado o Índice de Conforto (IC) como indicador baseado na posse de 10 bens/equipamentos e

132
acesso aos principais serviços, variáveis que estão ligadas ao fenómeno da pobreza ou
vulnerabilidade alimentar crónica.

8.1.1.1. - Características demográficas e socio-económicas dos agregados familiares

 Demografia e estado civil.

O quadro 18 ilustra a situação matrimonial dos chefes de agregado familiar (CF) inquiridos,
notando-se a predominância dos casados/união de facto com 79,5% de pessoas abrangidas. Observa-
se uma diferença notável entre Bissau, onde os solteiros são cerca de 5% contra 2,5% nas outras
regiões. Os casados monógamos são 59,1% da população contra 22,7% para aqueles que optaram
pela união polígama. Observa-se que em Bissau, 65% dos CF casados são monogâmicos contra
apenas 14,2% de poligâmicos. A poligamia é relativamente mais frequente nas outras regiões,
abrangendo cerca de 31% dos inqueridos, mas as uniões monogâmicas predominam com 52,9%.
Com relação ao sexo do CF, segundo os nossos inquéritos, verifica-se que apenas cerca de 16% são
do sexo feminino.

Quadro 18. Estado civil dos chefes de agregado familiar inquiridos (%)
Estado Civil
Chefe de
Agregado Casado (a) ou União de Facto Divorciado/a
Solteiro(a) Viúvo (a) Total
familiar Separado (a)
Total Monógamo Polígamo14
Homem 3,0 70,9 40,4 22,7 1,7 8,3 83,9
Mulher 1,0 8,6 18,7 0,0 3,9 2,6 16,1
Total 4,0 79,5 59,1 22,7 5,6 10,9 100
S. A. Bissau 5,3 75,0 65,3 14,2 8,5 11,3 100
Outras Regiões 2,5 84,1 52,9 31,2 2,8 10,6 100

A percentagem dos CF divorciados/separados ou viúvos é mais elevada em Bissau (8,5 e 11,3%


respectivamente), do que nas outras regiões, com apenas cerca de 3 e 10% respectivamente, sendo a

14
- Poligamia – é quando um homem se casou com duas ou mais mulheres, considerado tradicionalmente
união de facto e legalmente reconhecida e aceite na sociedade guineense, principalmente nas etnias
pertencentes a religião muçulmana.

133
nível nacional cerca de 6 e 11%. Ainda pelo Quadro 18 nota-se que nos 16,1% das mulheres como
CF, cerca 8% são casadas por união de facto.

Quadro 19. Repartição e dimensão do agregado familiar por regiões (%)


Tamanho de Agregado Nº de pessoas no agregado (E/H)
Regiões Total
1-4 5-8 9-11 12+ Total Filhos
SAB (Bissau) 20,4 54,0 18,4 7,2 100 8,0 6,1
Outras Regiões 15,7 46,2 21,8 16,3 100 12,4 8,5
Total 18,1 50,1 20,1 11,8 100 10,2 7,3 dos quais 2 imigram

No Quadro 19, apresenta-se a repartição da dimensão do agregado familiar. No geral, os agregados


familiares inquiridos são de grande tamanho, com uma média de 8 a 12 pessoas, sendo a média de
filhos por família de 7, dos quais 2 imigram. Mais de 30% dos agregados familiares apresentam
mais de 9 pessoas, e só cerca de 18,0% em média têm no máximo 4 pessoas. Os agregados
familiares de pequeno tamanho (menos de 5 membros) são mais frequentes em Bissau (20,4%) do
que nas outras regiões (15,7%).

Quadro 20. Faixa etária dos chefes de agregado familiar por regiões (%)
S. Autónomo Média
Grupos Etários Outras Regiões
de Bissau Nacional
15 -19 0,0 0,0 0,0
20 -24 3,0 8,0 5,5
25 – 29 28,0 30,5 29,2
30 -59 64,0 50,5 57,3
60 e + 5,0 11,0 8,0
Total 100 100 100

O modo de organização, cultura, nível de instrução e regras tradicionais são factores em


consideração nessa análise que privilegia a existência das famílias alargadas. O fenómeno parece
estar a recuar com a urbanização e a mudança da mentalidade dos guineenses ou seja com aumento
de nível de instrução em termos de planeamento familiar (INEC, 2002). O Quadro 20, ilustra a
distribuição dos CF inquiridos por região segundo a faixa etária. Nota-se que a maioria dos CF
pertence a faixa etária da idade compreendida entre 30 e 59 anos de idade com 57% ao nível

134
nacional e cerca de 64 e 50% respectivamente em Bissau e outras regiões. Também se observa que
os jovens da idade compreendida entre 20 e 24 anos assumem a sua independência mais cedo como
CF com 8% em relação aos dos outras regiões contra apenas cerca de 3% aos jovens do SAB.

 Nível de Instrução do CF e taxa de abandono escolar das crianças

O desenvolvimento do sistema educativo, apesar de várias limitações e problemas nos últimos anos,
tem mostrado uma progressiva melhoria em termos de acesso com um alargamento acentuado do
ensino pré-escolar, a universalização do ensino básico e o seu alargamento de 4 para 6 anos bem
como uma progressiva expansão do ensino secundário para todas as regiões. Os dados de dois
censos 1979 e 1991 demonstram essa melhoria do aumento da taxa de escolarização subiu de 32%
para 49%, sendo em média de 27% para os homens e 24% para as mulheres.

Quadro 21. Nível de Instrução dos chefes de agregados familiares por regiões (%)
Nível de Instrução S. Autónomo Outras Média
de Bissau Regiões Nacional
Não Sabe Ler 41,4 70,2 55,7
Pré-escolar 19,2 21,4 20,3
EBE/ EBC (4ª - 6ª classe) 10,1 5,4 7,8
E.S. (9ª -11ª classe) 16,1 0,8 8,5
Médio & Superior 10,4 0,3 5,3
Outros 2,8 1,3 2,0
Total 100 100 100

Pelos resultados de inquéritos no Quadro 21 nota-se que mais de metade (55,7%) da população
inquirida como CF nunca frequentou a escola. Esta população atinge 7 pessoas em cada 10
inquiridos nas outras regiões (70%) e cerca de 40% em Bissau. No outro extremo, apenas 5% destes
inquiridos é que atingiram o nível médio/superior.

A maior percentagem dos CF inquiridos centra-se no nível de instrução pré-escolar e ensino básico,
cerca de 28% ao nível nacional e com uma diferença não acentuada entre os de Bissau e das outras
regiões. Convém reter que 5,3% dos inquiridos têm um nível universitário com 10,4% em Bissau e
apenas 0,3% no resto do país.

135
Quadro 22. Taxa de abandono escolar das crianças por regiões (%)
Abandono S. Autónomo Outras Média
De Bissau Regiões Nacional
Rapazes 3,4 4,4 3,9
Raparigas 5,2 5,6 5,4
Rapazes/Raparigas (Média) 4,3 5,0 4,6

O quadro 22 indica a taxa de abandono escolar das crianças, mostrando que, entre as crianças da
faixa etária da idade escolar, sem distinção de sexo, inscritas nas escolas, 4,6% abandonaram a
escola antes do fim do ano lectivo. Essa taxa é de 4,3% em Bissau e 5,0% no interior do país.
Observa-se no entanto uma discriminação entre os rapazes e raparigas. O número de raparigas que
abandonam os estudos é relativamente mais elevado (5,4%) do que do nos rapazes (3,9), seja qual
for o lugar de residência.

Quadro 23. Razões de abandono dos estudos das crianças (%)


Motivos de abandono S. Autónomo Outras Média
De Bissau Regiões Nacional
Escola distante 6,1 10,4 8,25
Estudos caros (impossibilidade dos pais) 28,4 26,0 27,2
Trabalho infantil (casa/emprego) 0,9 4,8 2,9
Sem interesse 40,6 25,5 33,1
Doença/Gravidez 18,7 23,5 21,1
Outros motivos 5,3 9,8 7,5
Total 100,0 100,0 100,0

As razões que estiveram na base da desistência (Quadro 23) foram obtidas a partir das declarações
dos pais como CF assim como as respostas das próprias crianças inqueridas. A ausência de interesse
pela escola é a principal razão do abandono escolar apontado com 33,1%, seguindo-se os elevados
custos da escolaridade com 27,2%. A distância a percorrer e a doença/gravidez são também motivos
de grande relevância com 8.3 e 21,1% respectivamente.

O resultado referente à falta de interesse pela escola é bastante inquietante, porquanto mesmo em
Bissau atinge o nível de 40,6%. A preocupação é tanto maior quanto se percebe que o investimento

136
para o ensino parece constituir uma estratégia eficaz de luta contra a pobreza cíclica e
vulnerabilidade em geral. As autoridades devem empenhar-se para que esta imagem da escola seja
banida nas mentalidades dos jovens guineenses. Finalmente tendo em conta “outros motivos” não
especificados no estudo e que ainda representam em média cerca de 8% como razões de abandono
escolar das crianças (por exemplo falta um bom aproveitamento, imigração etc.), sugere-se um
estudo mais exaustivo e pormenorizado sobre o assunto.

8.1.1.2. Índice de Conforto: habitação e acesso aos bens/equipamentos e serviços das famílias

Neste capítulo vai-se determinar o Índice de Conforto (IC) como indicador compósito cujo princípio
se baseia na posse ou acesso dos agregados familiares de dez bens de equipamentos ou serviços,
como foi referido anteriormente na metodologia. As variáveis utilizadas estão ligadas directa ou
indirectamente ao fenómeno da pobreza ou da vulnerabilidade alimentar crónica.

 Características da Habitação, acesso a água potável e aos sistemas de saneamento

Na análise dos resultados do ISVAF, no que se refere as características da habitação, o Quadro 24


revela que, ao nível nacional, cerca de 80% das casas ocupados pelos CF inquiridos são de
construção precária e 65,8% são casas arrendadas.

O tipo de cobertura e pavimentação é em zinco e cimento, com cerca de 83 e 76% respectivamente.


Cerca de 26% da ocupação das casas nas outras regiões são em casa própria contra apenas 15% em
Bissau. As divisões da casa em quartos exclusivos para dormir são de 4 quartos, numa família com
tamanho médio de 11 a 12 pessoas, representando uma média de 3 pessoas a dormir num quarto.

Por outro lado, a água constitui uma necessidade de todos os dias e talvez uma fonte de doença se
ela não for posta à disposição das populações em condições requeridas. Pelo Quadro 25 nota-se que
na Guiné-Bissau não falta água.

137
Quadro 24. Conforto da habitação de CF por regiões (%)
S. Autónomo Outras Média
Habitação de Bissau Regiões Nacional
Materiais da Parede
Construção definitiva 21,8 12,4 17,1
Construção precária 74,1 86,3 80,2
Barraca e outras 4,1 1,3 2,7

Tipo de Cobertura
Zinco 79,6 87,1 83,4
Telha 20,4 10,5 15,5
Palha 0,0 2,4 1,2
Lata, cartão, saco 0,0 0,0 0,0

Tipo de Pavimento
Cimento 79,4 73,6 76,5
Terra 12,4 24,0 18,2
Madeira 0,0 0,0 0,0
Mosaico 8,1 3,4 5,8
Outro 0,0 0,0 0,0
Regime de Ocupação e divisão da casa
Casa Própria 15,1 26,3 20,2
Arrendada/aluguer 60,5 65,6 65,8
Outro 24,4 8,1 17,0
Total 100,0 100,0 100,0
Nº de quartos excl. para dormir 3,6 4,1 3,9

Com efeito, mais de 80% de agregados familiares têm acesso à água em menos de 30 minutos. Esta
taxa atinge 88.2% na capital. Contudo, existe uma diferença entre o facto de ter acesso a água e
dispor daquela própria ao consumo15.

Quadro 25. Modo de abastecimento e acesso a água por regiões (%)


S. Autónomo Outras Média
Modo de abastecimento de Bissau Regiões Nacional

Água de rede 43,1 28,4 35,8


Poço 54,8 66,0 62,4
Nascente e outros 2,1 5,6 1,8
Total 100,0 100,0 100,0
População a menos de 30 min. a acesso de água (%) 88,2 76,4 82,3

15
- Acesso à água potável - é definido relativamente aos agregados familiares que se abastecem por meio de
uma torneira interna ou pública da rede de canalização ou seja de um poço protegido ou de uma cisterna
privada ou público com as condições de saneamento básicas.

138
Ainda o Quadro 26 representa a posse de casa de banho e retrete (serviços saneatarios) dos CF
inquiridos. Nota-se o estado de carência no domínio do saneamento básico, verifica-se que mais de
30% das familias a nível nacional não têm casa de banho e nem retrete, atingindo o máximo com
cerca de 40% no interior do país.

Quadro 26. Posse de casa de banho e retrete por regiões (%)


Casa de banho e Tipo WC S. Autónomo Outras Média
de Bissau Regiões Nacional
Casa de banho 29,9 20,5 25,2
Latrina/Retrete 26,4 35,2 30,8
C. banho/Latrina ou Retrete 22,2 5,3 13,8
Outros/Sem nenhum 21,5 39,0 30,3
Total 100,0 100,0 100,0

 Fonte de energia para iluminação e preparação dos alimentos

Segundo os resultados obtidos no Quadro 27 verifica-se um elevado uso de petróleo/vela como


fonte de energia para iluminação quer nas zonas rurais quer urbanos. Nas zonas urbanas assim como
nas rurais cerca de 50% da população tem acesso à electricidade, com ligeira vantagem (aliás
surpreendentemente pequena) para as zonas urbanas.

Quadro 27. Uso de petróleo/vela para iluminação por regiões (%)


Meios S. Autónomo Outras Média
de Bissau Regiões Nacional l
Petróleo/vela 48,2 44,6 46,4
Electricidade 51,2 48,6 49,9
Outros 0,6 6,8 3,7

Ainda, segundo os inquiridos quase 100% dos utentes que têm acesso a electricidade como fonte de
iluminação utilizam também a vela, devido à irregularidade do abastecimento da energia do país,
tanto em Bissau assim como nas outras regiões. O Quadro 27 mostra que cerca de 50% da
população inquirida recebe a iluminação por via de electricidade. Este modo de iluminação serve
51,2% da população de Bissau e 48,6% daquela no resto do país.

139
Quadro 28. Principal energia utilizada na preparação dos alimentos por regiões (%)
S. Autónomo Outras Média
Fonte de Energia
de Bissau Regiões Nacional
Carvão 73,4 86,8 80,1
Lenha apanhada 0,3 4,2 2,2
Gás 10,6 2,5 6,6

O Quadro 28 mostra que mais de 80% das famílias utilizam o carvão como principal combustível
na preparação dos alimentos e apenas 16% dos inquiridos têm e utilizam o gás na cozinha. Nota-se
também que há pouca utilização de lenha apanhada na preparação de alimentos, a nível nacional.

 Bens e Equipamentos que possui o CF e acesso aos principais serviços públicos

A qualidade de vida em qualquer sociedade é apreciada através de bens e equipamentos que um


indivíduo ou agregado familiar possui e a sua capacidade e meios a acesso em certos meios de
serviços tais como o acesso à electricidade, a conexão à rede de saneamento, da presença do
aparelho televisor e o acesso à água potável que faz parte dos indicadores de saúde.

O acesso à informação pela magia da televisão abrange apenas 27,9% dos inquiridos, sendo 43,5%
dos habitantes da capital e apenas 12,4% no resto do país. O saneamento que é um problema de
saúde pública não está muito expandido. A taxa de acesso de água potável 16 ainda não atingiu os
50% da população (INEC, 2002). Na capital, apenas 43% das populações beneficiam deste serviço.

Os dados do nosso inquérito confirmam essa baixa taxa, já que apenas 36% dos inquiridos têm
acesso a água potável. A existência de bens duradouros de consumo nos agregados familiares
associada ao acesso das famílias aos serviços de base (conforto da habitação, cobertura em meios
sanitários, etc.) possibilita uma avaliação do nível de bem-estar da família. A posse de determinados
bens duradouros de consumo pode ser, para a maioria das família, uma estratégia de sobrevivência
para fazer face a determinadas situações de crises, uma vez que, estes bens podem ser vendidos.

16
- Água potável – é considerado a água da rede ou de poço se sofreu tratamento antes de ser utilizado ao
consumo.

140
Porém, a posse dos bens como rádio, fogão e televisão, por si só não nos possibilita inferir sobre o
nível de pobreza ou vulnerabilidade das famílias.

Ainda pelos inquéritos, nota-se que mais de 90% dos CF inqueridos possuem rádio. Não se
verificam diferenças significativas entre os agregados das outras regiões e da capital (Bissau) quanto
à posse desse bem.

Quadro 29. Principais bens e equipamentos que possui o agregado familiar por regiões (%)
Bens e Equipamentos S. Autónomo Outras
Nacional
de Bissau Regiões
Ligação da agua à rede (água potável) 43,1 28,4 35,6
Posse de rádio 86,2 97,6 91,9
Posse de televisão 43,5 12,4 27,9
Posse de automóvel 22,1 4,5 13,3
Posse de videocassete/DVD 18,1 12,8 15,5
Posse de telefone 64,6 23,1 43,9
Posse de casa de banho 78,5 61,0 69,8
Nº de pessoas por quarto a dormir ≤ 2 66,0 34,0 50,0
Acesso a electricidade 51,2 48,6 49,4
Posse de frigorífico 50,3 36,2 43,3
Utilização de gás na cozinha 26,4 9,0 17,7

O fogão a gás é encontrado apenas em 17% dos domicílios dos agregados familiares inquiridos. A
posse de fogão a gás não significa necessariamente que a principal fonte de energia utilizada para
cozinhar seja o gás. A nível nacional cerca de 11% dos agregados inquiridos que possuem gás
utilizam alternadamente as duas fontes de energia (gás e carvão) na preparação dos alimentos. Essa
associação constitui eventualmente uma estratégia das famílias em estudo para diminuírem os custos
relativos à preparação dos alimentos.

A nível nacional, apenas 13,3% das famílias possui automóvel, sendo essa percentagem maior em
Bissau (22%). No meio rural prevalece o burro/cavalo, bicicleta, motos, etc., como meios de
transporte na posse das famílias. Observa-se que, somente 4% das famílias inquiridas nas outras
regiões têm automóvel.

141
Anda no Quadro 30 apresentam-se os resultados de acesso da população aos principais serviços
públicos (telefone, polícia, posto de correios, centros de saúde, escola e mercado). Observa-se que
em Bissau a distância percorrida pelas famílias para terem acesso a esses serviços é de menos de 1
km com cerca de 70%, para além dos chamados pequenos mercados informais ou mesas de “culca”.
Enquanto que nas outras regiões o mercado encontra-se em média a uma distância de 3 km dos
domicílios da maioria dos inquiridos, sendo considerado o serviço mais distante. Esta situação
condiciona o acesso das famílias que vivem nas outras regiões ao mercado, aos géneros alimentícios
(verduras, peixe e carnes frescas, entre outros), que não são vendidos nas pequenas lojas locais.

Quadro 30. Acesso aos serviços públicos por regiões em quilómetros, (%).
Telefone Estrutura Polícia & Escola &
Regiões Público Sanitária Correios Mercado
≤ km > 1km ≤ 1km > 1Km ≤ 1km > 1km ≤ 1km > 1km
Nacional 91,0 9,0 56,5 43,5 27,8 72,2 69,3 30,8
SAB 96,6 3,4 45,8 54,2 38,7 61,3 76,4 23,6
Out. regiões 85,4 14,6 67,2 32,8 16,9 83,1 62,1 37,9

As crianças percorrem mais de uma hora a pé para chegar a escola em mais de 30% dos inquiridos.
Em Bissau a percentagem das crianças que percorrem (mais de 1 km) para chegar a escola é menor
(23,6%) contra 37,9% nas outras regiões. Ainda nas outras regiões, essa distância até quadruplica
em certos casos, principalmente para as crianças das escolas secundárias, que por vezes chegam a
percorrer cerca de 5 km ou mais.

Serviços como a polícia e os correios estão a uma distância de 2 km no meio rural, percorrida por
83,1% dos inquiridos, enquanto que em Bissau só cerca de 38% dos CF inquiridos percorrem mais
de 1 km para ter acesso a esses serviços

As estruturas sanitárias localizam-se em média a 2 km dos agregados inquiridos residentes nas


outras regiões. Enquanto que em Bissau essa distância é ligeiramente maior devido à expansão da
cidade de Bissau nos últimos anos. O telefone público dista em média menos de 1 km do domicílio
dos agregados inquiridos, não havendo diferenças significativas entre Bissau e as regiões. Apesar

142
deste facto, observa-se a ausência total da rede telefónica nos últimos tempos principalmente no
momento em que os inquéritos foram realizados, por exemplo em Bolama, Catio e Cacheu.
 Nível de conforto (Índice de conforto) e qualidade da vida

A qualidade de vida em qualquer sociedade pode ser apreciada e avaliada de várias formas. Na
grande maioria dos casos, a qualidade da vida de um agregado familiar é avaliada através de bens e
equipamentos e infra-estruturas de que se dispõe e a sua capacidade e meios de acesso a certos
serviços nomeadamente acesso à electricidade, a conexão à rede de saneamento, aparelho televisor,
acesso à água potável, etc.

O Quadro 31 mostra que apenas 17,3% da população inquirida apresentam o IC como indicador de
qualidade da vida “alto e muito alto”. Este índice atinge 29% no SAB e apenas cerca de 6% nas
outras regiões. Segundo os resultados do inquérito realizado, mais de metade (71,5%) dos agregados
famíliares inquiridos apresentam o nível de conforto “muito baixo e baixo”. Verificam-se diferenças
apreciáveis (25,6%) entre os agregados das outras regiões e da capital, isto é, em média, cerca de
59% em Bissau contra 84,3% nas outras regiões. Por outro lado, não se observa diferença acentuada
quanto ao nível de conforto “médio” entre as famílias que vivem em Bissau em relação aos das
outras regiões.

Quadro 31. Agregados familiares segundo Índice de Conforto (IC) e qualidade da vida (%)
Muito baixo Alto
Região Total Médio
& Baixo & Muito alto
Nacional 100 71,5 11,2 17,3
SAB 100 59,0 12,0 29,0
Outras regiões (média) 100 84,3 10,1 5,6
Bafatá 100 80,8 12,3 6,9
Gabu 100 78,7 11,0 10,3
Canchungo 100 85,7 9,1 5,2
Catió 100 85,7 10,3 4,0
Bolama 100 91,1 7,3 1,6

Comparando entre as regiões nota-se que as regiões de Canchungo/Catió e Bolama são as mais
desfavorecidas nessa análise, atingindo 85,7 e 91,1% respectivamente dos CF com índice de

143
conforto “muito baixo e baixo”, sendo também as regiões com menor percentagem dos CF com
índice de conforto “alto e muito alto”.

8.1.1.3. Meio de vida: principais fontes de rendimento e despesas das famílias

 Ramos de actividade dos chefes de agregados: emprego e desemprego

O Quadro 32 ilustra os principais ramos de actividades de emprego como meios de vida dos chefes
de agregados familiares inquiridos. Nota-se que a maioria das ocupações de CF inquiridos trabalham
na “Agricultura/Silvicultura” com 29,7% dos inquiridos ao nível nacional e cerca de 55% no interior
do país, contra apenas 4,1% em Bissau. O Comércio com uma média nacional de 20%, ocupa o 2º
lugar como actividade que gera mais emprego.

Quadro 32. Principal meio de vida dos CF segundo ramo de actividade e emprego (%)
S. Autónomo Outras Média
Sectores de emprego/ramo de actividade
De Bissau Regiões Nacional
Agrário 9,1 76,4 42,8

Sector Primário Agricultura/Silvicultura 4,1 55,3 29,7


(Agrário) Pecuária 1,5 5,3 3,4
Pesca 3,5 15,8 9,6
Sector Secundário
Industrias 12.4 7.6 10
(Industria)
Serviços 78,5 16,0 47,2
Comércio 30,1 8,4 19,2
Educação/Saúde 4,1 0,8 2,5
Sector Terciário (Serviços) Administração 24,2 3,1 13,6
Transporte 2,8 0,6 1,7
Construção Civil 9,4 1,8 5,6
Outros serviços 7,9 1,3 4,6
Total 100,0 100,0 100,0

O sector “agrário” representa 76,4% no interior do país contra apenas 9,1% em Bissau. A indústria e
a administração pública empregam respectivamente 10.0% e 13,65% dos trabalhadores inquiridos.
O sector de serviços emprega muito mais pessoas em Bissau, (78,5%) do que nas outras regiões,

144
(apenas 16.0%). O essencial do efectivo da administração está concentrado na capital, o mesmo
acontecendo em relação ao pessoal exercendo suas actividades nos sectores da educação e da saúde.

Portanto, conclui-se que a taxa de desemprego é um indicador extremamente importante no contexto


da problemática da insegurança alimentar e da vulnerabilidade, uma vez que é uma condicionante
fundamental no nível de rendimento das famílias e, consequentemente, na sua capacidade de acesso
a bens alimentares. Ela adquire uma importância acrescida nessa análise e no contexto como o da
Guiné-Bissau, em que a produção nacional dos alimentos é insuficiente para superar as necessidades
alimentares e as outras fontes de rendimento (como a remessa de emigrantes, por exemplo) têm
pouca expressão.

Figura 13. Estatuto de emprego dos chefes de agregado familiar por regiões (%)

A Figura 13 ilustra o estatuto do emprego do CF. A maioria dos inquiridos tem o seu rendimento
através de actividade independente, pois são indivíduos que trabalham por conta própria,
principalmente no interior do país, com cerca de 70% dos inquiridos, e apenas a cerca de 30% em
Bissau. A percentagem de assalariados atinge no entanto 56,2% em Bissau contra 20,4% nas outras
regiões. A taxa de desemprego é mais elevada em Bissau, cerca de 20% contra apenas 10,8% nas
outras regiões, estabelecendo-se ao nível nacional cerca de 14% dos CF inquiridos.

 Receitas e despesas mensais de agregado familiar

145
A contabilização das receitas tanto no âmbito do agregado familiar, assim como as individuais é
extremamente difícil de executar. Nas sociedades em análise as receitas provêm de múltiplas
origens, como pequenas actividades de produção, transformação, comercialização, pesca entre
outras actividades que nunca são totalmente declaradas. Por vezes, as pessoas de tais sociedades têm
medo ou preferem não dizer abertamente as suas receitas. Estes obstáculos dificultam não só o
cálculo exacto das receitas, assim como das despesas. Como referiu Bock (2001), as obrigações
tradicionais, parentescos, religiosos e de solidariedade social extra familiares, são factores que
podem dificultar também essa análise.

Compreendemos contudo, que se torna mais fácil estimar as receitas individuais, ou de um agregado
familiar através das suas despesas, ignorando as suas poupanças, que por razões óbvias são muito
pequenas (alias como é o procedimento “universal” em qualquer país considerado de baixo
rendimento).

Quadro 33. Receitas (rendimento) mensais de agregado familiar por regiões (1000 FCFA17)
Total de Região (%) Percentagem
Receita FCFA
agregado SAB Outras regiões Total acumulada
≤10 12 0 5,5 5,5 5,5
10 - 20 18 1,3 6,9 8,2 13,7
21 - 30 26 2,3 9,5 11,8 25,5
31 -40 38 5,1 12,2 17,3 42,8
41 - 50 67 22,4 8,0 30,4 73,2
51 - 60 38 10,2 7,1 17,3 90,5
≥ 60 21 7,4 2,1 9,5 100,0
Total 220 48,7 51,3 100,0 100,0

A tentativa de cálculo de um orçamento familiar através dos dados do inquirito realizado, Quadro
33, mostra que só apenas cerca de 9% dos inquiridos fazem receitas iguais ou superiores a 60.000
FCFA por mês. Portanto, isto justifica a fraca capacidade da população no poder de compra segundo
a realidade do país e até demonstra a impossibilidade de fazer poupanças.

17
- Câmbio: 1,00 € equivale 650,00 Francos CEFA (câmbio do dia 10 de Agosto de 2005)

146
Cerca de 25% dos inquiridos não conseguem fazer receitas mensais superior a 30.000 FCFA, o que
se pode concluir que nesse grupo de famílias dada a situação e custa da vida no país, a situação de
sobrevivência se torna mais alarmante.

Figura 14. Chefe de agregado familiar com rendimento extra (remessa de emigrantes) em (%)

Na Figura 14 observa-se que quase a metade dos agregados inquiridos recebem ajuda como fonte
de rendimento extra dos familiares que vivem fora do país, o que acontece com a maior percentagem
dos residentes de Bissau com 58%, contra 35% das outras regiões. A reconstituição das rúbricas das
despesas de consumo NCOA18 (Nomenclatura Principal dos Países da UEMOA) revela a ausência
de recolha de informação para os grupos “lazeres, espectáculos e cultura” e “hotéis, cafés e
restaurantes”19, por se considerar terem os valores pouca importância nas despesas dos chefes de
agregado familiar guineenses.

Todavia, nestas estruturas de consumo (Quadro 34) nota-se a predominância das despesas
consagradas à alimentação e bebidas. O “coeficiente orçamental” desta rúbrica é igual a 58,2% em
Bissau, atingindo 74,6% nas outras regiões, e a média nacional situa-se a 66,4%. Seguem-se por
ordem de importância as despesas relativas ao alojamento (16,6% ao nível nacional, 24,4% em
Bissau e apenas 8,8% nas outras regiões) e ao vestuário (não se observa grandes variações) que se
situa em média a 4% e de cerimónias “actos tradicionais” (5,4%, 2,4% e 8,3 respectivamente). O

18
- Esta nomenclatura é directamente derivada da nomenclatura internacional COICOP (Classification of
Individual Consumption by Purpuse - Sistema de Contabilidade Nacional revisão IV de 1993).
19
- Estas duas rubricas (subsectores) tomadas juntas representam entre 5,6 % (Dakar) e 14,8 % (Lomé) em
1996 nas capitais dos países da UEMOA (INEC, 2002)

147
mais preocupante é que nessa análise observa-se a alta taxa de dependência. Isto é, mais de 80% de
chefes de agregados familiares inquiridos apresenta mais de 4 indivíduos em média, sem trabalho,
que vive à sua conta.

Em conclusão, os padrões de consumo na Guiné-Bissau são convergentes com o perfil da pobreza.


O indicador mais relevante é o grande peso suportado pelas famílias pobres para a alimentação
(66,4%) de tal forma que poucos recursos sobram para outras necessidades mesmo quando são
considerados essenciais. Mais grave, é o fraco peso atribuído às despesas com educação e sobretudo
com a saúde, com apenas cerca de 3%.

Quadro 34. Estrutura das despesas de consumo dos chefes de famílias por regiões (%)

Necessidade das Despesas S. Autónomo Outras


de Bissau Regiões Nacional
Alimentação e Bebidas 58,2 74,6 66,4
Vestuários e Calçados 4,2 3,5 3,85
Alojamento/Elect./Mobiliário e outros Equip. do lar 24,4 8,8 16,6
Saúde 2,8 2,4 2,6
Ensino 3,6 0,6 2,1
Transporte e Comunicação 0,5 0,1 0,3
Cerimónias 2,4 8,3 5,35
Outros bens e Serviços 3,9 1,7 2,8
Total 100,0 100,0 100,0
CF mulher com mais de três filhos menor de 0-14 anos 6,0 8,5 7,2
CF com taxa de dependência de nº pessoas ≥4 84,2 81,3 82,7
CF sem activos entre 15 e 65 (deficientes) 4,7 2,4 3,5

8.1.1.4. Análise de relações de preços de produtos de base nos principais mercados

Este sub capítulo tem como principal objectivo analisar as relações entre os preços dos produtos de
base comercializados em diversas localidades na Guiné-Bissau. De forma mais específica, procurou-
se identificar, através dessa análise, os efeitos que uma variação de preço de um produto, em uma
localidade, tem sobre os preços desse produto em todas as outras localidades que o comercializam.
Entende-se que o aumento ou descida do preço de um produto numa região afecta os preços desse

148
produto nas demais regiões, e é um indicador do nível de arbitragem e da instabilidade dos preços,
assim como do abastecimento dos principais mercados.

A Figura 15 ilustra a diferença de preço dos principais cereais de base nos diferentes mercados.
Observam-se grandes variações de preços, principalmente do milho e trigo, nos diferentes mercados
em estudo. O trigo considerado produto da importação na sua totalidade é mais caro em todos os
mercados em relação ao preço efectuado em Bissau, com mais destaque em Catió e Bolama, onde se
vende quase ao dobro do preço. Por outro lado, verifica-se o contrário quanto ao milho que se
encontra quase três vezes mais barato (em Catió) em relação ao preço efectuado em Bissau.

Figura 15. Diferenças de preços absolutos dos princip. cereais em FCFA (Base = preço de Bissau).

Em relação aos outros produtos importados, nomeadamente leite em pó, óleo e açúcar (Figura 16)
nota-se grandes variações de preços nesses mercados em análise. Observa-se o elevadíssimo preço
em todos mercados em estudo em comparação aos preços efectuados em Bissau. O leite em pó é o
produto com mais destaque, vendido a mais do dobro do preço nas outras localidades em relação ao
preço estabelecido em Bissau, seguindo-se o óleo/azeite e açúcar com cerca de 70 e 50%
respectivamente.

149
Figura 16. Diferenças de preço absolutos de outros prod. importados em FCFA, (Base = p/Bissau)

No que se refere aos produtos localmente produzidos, por exemplo tomate, cebola, carne e peixe.
(Figura 17) nota-se uma nítida diferença de preços absolutos entre as zonas consideradas
tradicionalmente grandes produtoras e zonas apenas consumidoras. Por exemplo: a carne é mais
barata cerca de 15% em Gabu e Bafata em relação aos preços praticados em Bissau, por serem zonas
de grandes criadores de gado bovino. O inverso observa-se para a aquisição de um quilo de peixe
em Gabu e Bafata pode custar quase o triplo do preço praticado em Bolama e o dobro de Bissau.

Figura 17. Diferenças de preços absolutos de outros produtos da produção locais (Base = preço de Bissau)

Em alguns casos, os preços médios nas localidades analisadas estabelecem-se em níveis bastante
diferenciados, chegando a ser observadas variações acima de 150%. As maiores diferenças
verificadas referem-se aos preços de peixe entre Bafata e Gabu em relação a Bolama (10 vezes) e
entre Canchungo e Bolama (5 vezes); e aos do tomate entre Bafatá e Bolama (14 vezes) e entre

150
Gabu e Catió (15 vezes). Diferenciais expressivos foram também observados no caso da carne (entre
Bissau e Catió), do trigo (entre Bissau e Catió e também entre Gabu e Catió), do milho (entre Bissau
e Catió) e do arroz (entre os mercados de Canchungo, Bolama, Bafatá em relação ao mercado de
Catio), sendo as diferenças, para quaisquer desses casos, superiores ou igual a 100% (ver anexo 15).

As variações de preços observadas nas diferentes localidades podem estar associadas com altos
custos de comercialização, tendo em conta também a fraca e diferente capacidade de poder de
compra nas diferentes regiões em estudo e ineficácia do mercado (escoamento de produto, caso de
baixo ou preço não atractivo nas algumas localidades, caso concreto em Catió nos produtos da
produção local).

A assimetria de impactos de variações de preços entre duas localidades, traduzida em valores pouco
semelhantes para as variações estimadas, poderia estar associada à importância dos mercados no que
diz respeito aos fluxos do produto. Assim, variações de preços em mercados mais abrangentes
tendem a ter impacto maior em preços de outras localidades do que as variações de preços que se
estabelecem em mercados locais. Como exemplo dessas relações assimétricas, podem ser citados os
casos do tomate (entre Catio e Gabu ou Bissau) e o do peixe (entre Bolama e Gabu), entre outros
observados no estudo.

Por último deve-se considerar que as diferenças negativas observadas, principalmente nas Figuras
15, 16 e 17, podem estar associadas com oscilações de custos de comercialização. É importante
mencionar que algumas dessas situações podem ocorrer de forma não exclusiva e que a interacção
entre elas pode mascarar alguns efeitos esperados.

8.1.1.5. Consumo: hábitos alimentares e acesso aos bens alimentares.

 Hábitos alimentares e origem de principais produtos consumidos

Neste sub capítulo, a análise recai essencialmente sobre os hábitos alimentares das famílias e a
capacidade de acesso aos bens alimentares de base, em função da vulnerabilidade da região. A

151
análise centra-se sobre três aspectos, a saber: (i) a frequência do consumo de alimentos; (ii) a origem
dos alimentos; e (iii) o número diário de refeições.

Cerca de 43% das famílias inquiridas têm como principal meio de subsistência a agricultura, e
apenas 16% dos agregados conseguem ser auto-suficientes nos principais produtos de base
produzidos localmente, arroz e milhos. O Quadro 35, mostra que no grupo de cereais, o arroz é o
cereal mais consumido ao nível nacional, no que diz respeito a quantidade consumida, assim como
na frequência do consumo diário. O milho é o cereal menos consumido pelas famílias, o que
confirma a tendência nacional de consumo de cereais, traduzida pelo aumento do consumo,
principalmente de trigo em detrimento do consumo de milho e outros produtos alimentares locais.

Quadro 35. Frequência do consumo diário de principais bens alimentares por regiões (%)
S. Autónomo Outras Média
Produto
de Bissau Regiões Nacional
Arroz 93,5 97,3 95,4
Milho 10,4 16,2 13,3
Trigo (pão e esparguete) 43,4 36,4 39,9
Raízes e tubérculos 46,3 67,2 56,7
Óleo e Azeite 97,4 74,2 86,8
Açúcar 82,2 53,1 68,7

Com relação aos outros bens alimentares considerados de base (açúcar, leite em pó e óleo
alimentar), ainda no Quadro 35 observam-se as seguintes tendências: mais de 80% das famílias ao
nível nacional consomem diariamente óleo alimentar, e cerca de 70% açúcar.

A maior parte dos géneros alimentícios de base consumidos pelas famílias ao nível nacional provem
da produção local (60%) contra cerca de 45% de importações, o que se explica pelas características
específicas da situação alimentar na Guiné-Bissau, caracterizada por um défice alimentar estrutural,
que faz com que o país dependa fortemente do exterior para satisfazer as suas necessidades
alimentares (INEC, 2002).

Quadro 36. Origem de produtos de base consumidos (%)


Produto Comprado Produzido Misto Doado

152
Arroz 36,2 54,3 9,5 4,2
Milho 48,1 24,6 26,6 0,7
Raízes e tubérculos 58,8 38,0 3,2 0,0

Ao analisarmos a origem dos dois principais produtos alimentares de base (arroz e milho)
produzidos no país (quadro 36), observa-se que o arroz consumido pelas famílias é essencialmente
produzido (54%) contra apenas 36% comprado. Cerca de 10% das famílias compra e produz o arroz
que consome (mista). Somente 4% do consumo de arroz é doado. Em contrapartida, o milho é
sobretudo adquirido no mercado (48%) e somente 24,6% das famílias consomem o que produzem.
Cerca de 26% das famílias combinam as duas formas de acesso (compra e produção).

O número de refeições que a família consome por dia pode constituir um bom indicador de alerta,
caso a diminuição das refeições diárias seja uma estratégia adoptada pelas famílias para fazer face a
situações de crise.

Quadro 37. Número diário de refeições segundo agregado familiar por regiões (%)
S. Autónomo Outras Média
Nº de Refeições
de Bissau Regiões Nacional
1 Vez 16,7 15,6 16,1
2 Vezes 56,2 58,3 57,3
3 Vezes 27,1 26,1 26,6

A análise dos dados relativos ao número diário de refeições ingeridas pelas famílias revela pouca
variação, independentemente do grau de vulnerabilidade das regiões (Quadro 37). Isto é, os dados
obtidos demonstram que mais de metade das famílias das regiões em análise faz duas refeições por
dia, sendo esta situação ligeiramente mais expressiva nas outras regiões em comparação aos dados
observados em Bissau. Pelos inquéritos realizados verifica-se que a diminuição do número de
refeições “uma refeição por dia” faz parte das estratégias de sobrevivência que a famílias adoptam
em caso de crise alimentar, alegando inúmeros vantagens de adoptar essa estratégia, dos quais com
grande relevância, é que para além de não possuir quantidade de alimentos suficiente, também lhes
permite poupar o dinheiro na compra de carvão, lenha ou gás para preparar duas ou mais refeições
diariamente.

153
8.1.2. Índice de Vulnerabilidade: caracterização do chefe de agregado família
segundo grupos vulneráveis

Segundo a FAO (2000), qualquer sistema de informação sobre segurança alimentar deve integrar um
dispositivo de seguimento dos grupos vulneráveis 20. Esse dispositivo deve fornecer informações
precisas e rápidas que permitam identificar e localizar os grupos vulneráveis, assim como
compreender a evolução da vulnerabilidade e definir as intervenções a serem implementadas. Para
tal é necessário identificar e caracterizar os grupos populacionais que vivem no seio da unidade de
análise, neste caso, da zona ou região, de acordo com o perfil socio-económico, os sistemas de
subsistência e as estratégias de sobrevivência (coping strategies). É de relembrar como foi referido
atrás na metodologia, que segundo o grau da vulnerabilidade foram construídos os três seguintes
grupos: “Famílias menos vulneráveis”, “Famílias mais vulneráveis” e as intermediárias ou
vulnerabilidade média, que denominamos “Famílias outros vulneráveis”.

8.1.2.1. Caracterização de agregado familiar segundo grupos vulneráveis

 Características demográficas e socio-económico do agregado familiar

Através do ISVAF de acordo com o perfil socio-económico e os sistemas de subsistência das


famílias, constata-se que mais de metade da população inquirida (67%) pertence aos dois grupos
(mais e outros vulneráveis), sendo o grupo de famílias mais vulneráveis com maior
representatividade (38,9%), conforme ilustra o Quadro 38.

20
- grupos populacionais são os mais susceptíveis de se confrontarem com situações de insegurança
alimentar e vulnerabilidade face a uma crise.

154
Quadro 38. Estado de chefe de agregado familiar segundo grupo vulneráveis por região (%)
S. Autónomo de
Grupo Vulneráveis Outras regiões Média Nacional
Bissau
Mais Vulneráveis 36 41,5 38,9
Outros Vulneráveis 26 32,1 28,7
Menos Vulneráveis 38 26,4 32,4
Total 100,0 100,0 100,0

Analisando a situação do nível de instrução do CF (Quadro 39) depreende-se que, a taxa de


analfabetismo no seio do grupo “Famílias mais vulneráveis” é de 65,8%, sendo mais baixa no grupo
“Menos vulneráveis” (12.1%).

Quadro 39. Nível de instrução do chefe de agregado familiar segundo grupos vulneráveis (%)
Nível de instrução
Grupos vulneráveis
Não Ensino Pré- EBE/ EBC E.S/E.C Médio &
Sabe Ler escolar (4ª - 6ª classe) (9ª - 11ª classe) Superior
Mais Vulneráveis 65,8 36,1 8,2 2,5 0,0
Outros Vulneráveis 45,4 48,9 11,4 3,5 5,7
Menos Vulneráveis 12,1 5,9 18,7 19,6 10,4

Constata-se também que 8,2% das pessoas que compõem o grupo “Famílias mais vulneráveis”
atingiram o ensino básico elementar/complementar e apenas 2,5% o secundário/complementar. No
grupo “Famílias menos vulneráveis” é onde se encontra a maior taxa 10,4% dos agregados com grau
de nível de instrução médio/superior, sendo esse percentual mais reduzido no grupo das “Famílias
outros vulneráveis” (5,7%).

155
Figura 17. Taxa de abandono escolar das crianças segundo grupos vulneráveis (%)

Pela Figura 17 observa-se que a taxa de abandono escolar é mais expressiva no grupo “Famílias
mais vulneráveis” (6,2%) e quase o dobro da percentagem observada no grupo “menos vulneráveis”
(3,4%). No grupo “Famílias mais vulneráveis” e “Outros vulneráveis”o abandono escolar ocorre
sobretudo no ensino básico e secundário. Esse fenómeno verifica-se em todas as faixas etárias da
idade escolar, tendo maior incidência no grupo etário dos 9 aos 11 anos, o que reflecte o fraco
acesso das famílias mais vulneráveis ao ensino secundário. Pelos inquéritos o abandono escolar no
seio deste grupo é mais observado a partir dos 12 anos, principalmente nas crianças do sexo
feminino.

Este cenário, induz-nos a pressupor que o abandono escolar pode ser uma estratégia de
sobrevivência adoptada pela famílias mais vulneráveis quando confrontadas com situações de crise,
visto os principais motivos de abandono apontados pelas famílias inquiridas estarem relacionados
com o rendimento familiar, reflectindo-se na fraca motivação e incentivo das crianças a ir à escola
por parte dos pais.

Quadro 40. Faixa etária dos chefes de agregado familiar segundo os grupos vulneráveis (%)
Mais Outros Menos
Grupos Etários
Vulneráveis Vulneráveis Vulneráveis
15 -19 0,0 0,0 0,0
20 -24 3,6 0,0 1,8
25 - 29 16,3 3,2 10,0
30 -59 13,6 23,2 20,1
60 e + 5,4 2,3 0,5
Total 38,9 28,7 32,4

No Quadro 40 nota-se que no grupo das famílias vulneráveis, os CF são maioritariamente da faixa
etária compreendida entre 25-59 anos de idade, cerca de 30% para grupo “Famílias mais
vulneráveis”, assim como cerca de 26 e 30% para os grupos das “Famílias outros e menos
vulneráveis” respectivamente. No entanto, na faixa etária dos 15 aos 24 anos apresenta a maior
percentagem no grupo de famílias mais vulneráveis cerca de 4%. Também como se verifica na faixa
dos 60 anos e mais, com maior percentagem cerca de 5% do total dos inqueridos dessa fixa etária.

156
 Caracterização de habitação do CF e acesso aos bens de serviços/equipamentos

Considerando o conforto da habitação dos chefes de famílias (Figura 18) constata-se que o grupo de
famílias mais vulneráveis habita na sua maioria em casas alugadas (81,1%), sendo os que possuíam
casa própria de apenas 15%. As casas são na sua maioria de paredes de construção precária (74,1%),
com pavimentos de cimento (79,4%) e cobertas de zinco (68,4%). O pavimento de terra é
encontrado em 20% dos domicílios pertencentes a esse grupo.

Figura 18. Conforto da habitação de CF segundo grupos vulneráveis (%)

No grupo de famílias outros vulneráveis, 26% das casas são individuais e cerca de 66% são
arrendadas. As casas com pavimento de terra é menor nas famílias menos vulneráveis (4%), assim
como cerca de 26% das casas cobertas de telha pertencem esse grupo.

A Figura 19 ilustra o acesso da população a água potável e consumo da água não tratada segundo
grupos vulneráveis. Observa-se que apenas 11% da água consumida pelas famílias consideradas
mais vulneráveis é canalizada e aproximadamente 60% da água consumida é a agua que provêm de

157
poço. Ainda, nota-se que mais de 50% da água consumida por este grupo não é tratada. A
percentagem de famílias pertencentes ao grupo denominada “Outros vulneráveis”, com acesso á
água canalizada é cerca de 24%. Uma menor proporção de famílias pertencentes a esse grupo
consome água não tratada, enquanto que nas famílias menos vulneráveis 43,7% tem acesso à água
canalizada e apenas cerca de 8% que utilizam a água não tratada para beber.

Figura 19. Acesso a água potável e consumo de água não tratada segundo grupos vulneráveis (%)

O cenário não é muito diferente nos agregados do grupo “Outros vulneráveis”, onde cerca de 24%
dos domicílios não possuem nenhuma cobertura em sistemas de evacuação dos dejectos humanos, e
apenas 25% das casas pertencentes a esse grupo de famílias possuem casa de banho (Figura 20).

Figura 20. Posse de casa de banho e com sistemas de evacuação de dejectos segundo grupos vulneráveis (%)

Cerca de 15% das casas ocupadas por famílias pertencentes ao grupo de famílias mais vulneráveis
possuem casa de banho, o que traduz a fraca cobertura em meios sanitários de evacuação de dejectos

158
humanos e das águas residuais a nível das famílias desse grupo. Observa-se que aproximadamente
42% das famílias desse grupo não tem qualquer sistema de evacuação dos dejectos humanos.

Figura 21. Fonte de Energia para iluminação segundo grupos vulneráveis (%)

Analisando o Figura 21, observa-se que o acesso das famílias mais vulneráveis a electricidade é
precário, pois, apenas 20% dos domicílios das famílias mais vulneráveis possuem electricidade
contra 28,4% do grupo das “famílias outros vulneráveis”, o que ilustra o nível de marginalização e
da pobreza das famílias mais vulneráveis. Enquanto que no grupo “famílias menos vulneráveis”
apenas cerca de 27% das famílias que utilizam petróleo ou vela para iluminação caseira e cerca de
70% possuem electricidade para a iluminação das suas casas.

159
Figura 22. Fonte de energia para preparação dos alimentos segundo grupos vulneráveis (%)

Quanto à principal fonte de energia utilizada na preparação dos alimentos, os resultados


demonstraram que em todo o universo dos chefes das famílias inquiridos, e em todas as regiões,
existe uma taxa muito elevada de utilização do carvão na preparação dos alimentos, com maior
incidência nos grupos mais vulneráveis com mais de 80% (Figura 22). O uso de gás na preparação
dos alimentos é muito reduzido, sendo apenas de 4,0% no seio das famílias mais vulneráveis contra
40% do grupo das famílias menos vulneráveis.

Analisando a Figura 23 que ilustra os bens e equipamentos que possui o agregado familiar,
depreende-se que as famílias que integram o grupo “famílias mais Vulneráveis” são as mais
despojadas de bens e equipamentos com cerca de 18%. A situação é relativamente melhor no grupo
“Outros vulneráveis” com cerca de 29%. As mais privilegiadas são as famílias do grupo menos
vulneráveis, mas apenas mais de 50% possuem esses bens e equipamentos.

A rádio é o bem mais encontrado no seio dos grupos mais vulneráveis (82,4%), seguido do acesso a
electricidade e posse de casa de banho com 31,8 e 16,7% respectivamente (ver anexo 13). A posse
de bens como o automóvel e videocassete/DVD no seio das famílias mais vulneráveis é muito
reduzida, cerca de 2% para ambas.

Figura 23. Posse de principais bens e equipamentos (em média) segundo grupos vulneráveis (%)

Nas famílias do grupo “mais” e “outros vulneráveis”, o valor é maior, sendo apenas cerca de 11% e
15% das famílias respectivamente possuem esses bens. A posse de televisão é um privilégio para
apenas 14% das famílias pertencentes ao grupo “Famílias mais vulneráveis” e 25% do “Outros

160
vulneráveis”. Isso deve-se em parte ao deficiente acesso a rede eléctrica nesse grupo e sobretudo ao
fraco poder de compra das famílias.

Quanto ao acesso aos bens de serviços públicos, tais como o mercado, a polícia, os correios e a
escola secundária são considerados os serviços mais distantes para os agregados familiares
pertencentes aos dois grupos mais e outros vulneráveis. Também se observa que apesar da maioria
das famílias terem que percorrer em média 2 km para terem acesso ao telefone público, cerca de
15,1% das famílias do grupo “Famílias mais vulneráveis” possuem telefone, seja ele móvel ou fixo,
contra 53,4% do grupo “Outros vulneráveis”. No grupo “Famílias menos vulneráveis” esse valor
aumenta para 63,2%.

8.1.2.2. Meio de vida: principais fontes de rendimento e despesas das famílias

 Fonte de rendimento e emprego/desemprego dos chefes de agregado familiar

Analisando os principais meios de sobrevivências dos inquiridos segundo os grupos vulneráveis,


(Quadro 41) observa-se que a agricultura é o principal meio de vida para qualquer um dos grupos
vulneráveis: Mais vulneráveis – 42,1%, Outros vulneráveis – 31,2% e Menos vulneráveis – 15,8%.

Quadro 41. Meio de vida de chefe de agregado familiar segundo os grupos vulneráveis (%)

Meio de vida Mais Vulneráveis Outros vulneráveis Menos vulneráveis


Agricultura/Silvicultura 42,1 31,2 15,8
Pecuária 4,6 3,1 2,5
Pesca 12,4 15,1 1,5
Reforma 5,5 2,4 0,0
Salário 16,3 20,6 11,6
Remessa emigrante 10,8 5,0 43,1
Comércio 8,0 20,4 23,4
Outro 0,8 7,2 2,1

O trabalho por conta de outrem (salários) é o segundo meio de subsistência no seio dos grupos
vulneráveis. As famílias menos vulneráveis são aquelas que menos dependem do emprego por conta
de outrem, recorrendo poucos a outros meios de vida como alternativa face a qualquer crise (mais e

161
outros vulneraveis). Esta fonte de rendimentos é menos significativa para os grupos de famílias
menos vulneráveis apenas com cerca de 1,5% contra 12 e 15% respectivamente das famílias mais e
outros vulneráveis.

Figura 24. Principais meios de vida dos chefes das famílias mais vulneráveis (%)

Pelas Figuras 24, 25 e 26 observa-se que quase 50% dos CF pertencentes ao grupo de famílias mais
vulneráveis e outros vulneráveis dependem da agricultura. O salário é a segunda a fonte de
rendimento dessas famílias, representando apenas cerca de 10% e 20% respecitivamente da sua
receita total. Ainda, nota-se que os chefes das familias do grupo “menos vulneráveis” são os que
mais beneficiam das remessas dos emigrantes, isto é são os que mais recebem ajuda por parte dos
familiares do exterior, representando cerca de 43% contra 10 e 5% respectivamente das famílias de
grupo mais e outros vulneráveis.

162
Figura 25. Principais meios de vida do CF das famílias de grupo outros vulneráveis (%)

O comércio constitui o principal meio de subsistência para a maioria dos chefes das familias menos
vulneráveis com cerca de 23% e seguindo com 20% nos outros. Para o grupo de famílias mais
vulneráveis o comércio representa apenas cerca de 8% das famílias inquiridas.

Figura 26. Principais meios de vida dos chefes das famílias menos vulneráveis (%)

Em resumo, sublinha-se que a agricultura e a pecuária associadas é uma das actividades fndamental
nas estratégias para o combate e alívio da pobreza na Guiné-Bissau, dado o seu peso como meio de
sobrevivencia das populações, e devem ser considerados sectores prioritários em termos de
investimentos, principalmente nas zonas rurais.

163
Figura 27. Taxa de desemprego de chefe de família segundo grupo vulneráveis (%)

A situação de desemprego generalizado no país, (Figura 27) atinge de forma particular os grupos de
famílias vulneráveis, especialmente, os que têm ligação com o grupo das “Famílias mais e outros
vulneráveis”. No período em que decorreu o inquérito a situação dos funcionários, principalmente
da função pública, ficaram vários meses com os salários em atraso. Portanto nessa altura esses dois
grupos são os mais atingidos, principalmente os mais vulnerável. Isto é cerca de 21,6% das famílias
é afectada pelo desemprego. Em consquência de isso, tiveram que abandonar os seus emprego da
função pública, temporariamente à procura de alternativa. Esse valor representa quase o dobro da
taxa da média nacional (14%) é três vezes superior à taxa do grupo das famílias menos vulneráveis
(8,6%). A taxa no grupo das “Famílias outros vulneráveis” é também elevada (18,7%).

 Receitas e despesas mensais dos chefes de agregado familiar

O Quadro 42 representa as receitas e despesas dos CF segundo grupos vulneráveis. Observa-se que
a maior percentagem das famílias que fazem receitas inferiores a 30 mil FCFA pertencem ao grupo
“Famílias mais vulneráveis”. Estas famílias são consideradas (segundo critério do PNUD) a viver no
limiar de pobreza, com disponibilidade inferiores a 1US$/dia. Provavelmente são aquelas que
apresentam as maiores dificuldades face à crise alimentar e precisam de ajudas para suprirem as suas
necessidades alimentares de base

Quadro 42. Receitas dos agregados familiares segundo grupos vulneráveis (1000 FCFA/ Mês)21

21
Câmbio: 1,00 € equivale 650,00 Francos CEFA (câmbio do dia 10 de Agosto de 2005)

164
Nº de agregado Receitas (%)
Grupo Vulneráveis
Nº % ≤ 30 30 - 60 ≥ 60
Mais Vulneráveis 86 38,9 18,3 19,3 1,3
Outros Vulneráveis 63 28,7 7,16 19,3 2,1
Menos Vulneráveis 71 32,4 0.0 26,3 6,2
Total 220 100 25.46 64,9 9,6

A percentagem de famílias que factura mais de 60 mil FCFA/mês, é menor no grupo “Famílias mais
vulneráveis” (1,3%), e maior nas “Famílias menos vulneráveis” (6,2%). Ainda pelo quadro nota-se
também que a maior percentagem dos inquiridos independentemente do grupo apresenta um
rendimento médio entre 30 e 60 mil FCFA.

8.1.2.3. Consumo: hábitos alimentares e acesso aos bens alimentares

 Hábitos alimentares e origem de principais produtos consumidos

Em termos do consumo de cereais, existem diferenças importantes entre os grupos vulneráveis em


análise. Na Figura 28 observa-se que o arroz, independentemente da camada social é o cereal mais
consumido diariamente, seguido o trigo e o milho. A proporção de famílias que consome de arroz é
muito alta, isto é acima de 90% dos inquiridos consomem arroz diariamente.

Com relação ao consumo do trigo, a menor percentagem do consumo observa-se no grupo das
famílias mais vulneráveis com um consumo diário cerca de 24%. Em relação aos outros grupos
(outros e menos vulneráveis) os valores aumentam para 37,5% e 58,3% respectivamente. No caso do
milho, a proporção do consumo diário é maior no grupo das famílias mais vulneráveis (26,6%)
contra apenas 11% e 2% no grupo das famílias “Outros e menos vulneráveis” respectivamente.

165
Figura 28. Frequência de consumo diário de cereais de base segundo grupos vulneráveis (%)

No que concerne a frequência do consumo dos outros produtos alimentares de base (óleo alimentar,
açúcar e leite em pó) são considerados os bens menos consumidos no meio das famílias mais
vulneráveis (Figura 29).

A proporção de famílias do grupo”Famílias mais vulneráveis” que consome diariamente o óleo, o


açúcar e o leite em pó é inferior à dos outros grupos. O grupo “Outros vulneráveis” tem uma maior
proporção de famílias que consomem diariamente açúcar (87,9%) e leite em pó (cerca de 15%)
contra 40.1 e 5,9% respectivamente no grupo das famílias mais vulneráveis.

Figura 29. Frequência de consumo de outros alimentos de base segundo grupos vulneráveis (%)

No entanto, essa diferença é menor no que se refere ao consumo do óleo entre esses dois grupos
(apenas 17%) a favor do grupo das famílias Outros vulneráveis.

166
Figura 30. Origem de Arroz consumido segundo grupo vulneráveis (%)

Quanto ao consumo de raízes e tubérculos, quase metade dos inquiridos pertencentes ao grupo de
famílias vulneráveis consomem diariamente esses produtos com um consumo em média cerca de
49% contra 72,6% do grupo das famílias menos vulneráveis. Independentemente dos grupos
vulneráveis, na (Figura 30) observou-se quase a metade das famílias produz o arroz que consome.
A proporção das famílias que produz o arroz que consome é maior no seio dos grupos de famílias
mais vulneráveis (65%) contra 57,8 e 39,6% respectivamente das famílias “Outros e menos
vulneráveis”. Nota-se ainda que a percentagem das famílias que combina as duas formas de acesso
(compra e produção) é muito maior no grupo das famílias mais vulneráveis. Estas famílias são
provavelmente aquelas que produzem, mas não atingem a auto-suficiência. Portanto, são obrigadas a
recorrer ao mercado para suprirem as suas necessidades alimentares destes produtos de base.

Figura 31. Qualidade proteica da dieta alimentar segundo grupo vulneráveis (%)

167
Ao analisar a Figura 31, depreende-se que mais de 75% das famílias de qualquer dos grupos
vulneráveis consomem algum tipo de proteína. Note-se que é no grupo das famílias mais vulneráveis
é que há uma maior proporção de famílias que consome refeições com baixo teor proteico (24,5%
contra 12% das Outras vulneráveis e 11% das menos Vulneráveis).

A diversidade proteica é inversamente proporcional ao nível de vulnerabilidade das famílias, isto é,


à medida que aumenta o grau de vulnerabilidade diminui a percentagem de famílias que combina
alimentos de proteína animal com os de proteína de origem vegetal. Nas menos vulneráveis a taxa é
de 31%, nas outras vulneráveis 28% e nas mais vulneráveis é de 19%. Ao consumo da proteína de
origem animal, observa-se que no grupo das famílias menos vulneráveis a taxa é maior (28,3%)
contra 21,6 e 14,7% respectivamente no grupo das famílias outros e mais vulneráveis.

Quadro 43. Número de refeições diário segundo grupo vulneráveis (%)


Nº de refeições Mais Vulneráveis Outros Vulneráveis Menos Vulneráveis
Uma 16,4 12,3 4,8
Duas 41,8 78,2 51,7
Três 20,8 31,7 42,3

Segundo o Quadro 43 mais de metade das famílias, independentemente do grupo vulnerável a que
pertencem, faz duas refeições por dia. Em qualquer um dos grupos vulneráveis, a proporção de
famílias que consome apenas uma refeição por dia não atinge os 20%. A maior parte das famílias
apesar de grande desejo de manter o mesmo número de refeições diárias, pelo menos duas vezes por
dia, mas são obrigadas a diminuir o número de refeições diárias, alegando que para eles é estratégia
para fazer face a eventuais situações de crise.

8.1.2.4. Estado de saúde e situação nutricional das crianças.

A diarreia é responsável por 3,3 milhões de óbitos anuais de crianças menores de cinco anos de
idade em todo o mundo segundo Bertrand (2003) cit. in (MS/PNDS, 1998). Na Guiné-Bissau, as
doenças infecciosas e parasitárias constituem a principal causa de mortalidade infantil. No ano de
1995, mais de 15% dos óbitos registados foram devidos a infecções intestinais (MS/PNDS, 1998).

168
As Ocorrências de Infecções Respiratórias Agudas ocupam o segundo lugar como principais causas
de morte das crianças na Guiné-Bissau, com cerca de 15%, estando o paludismo em primeiro lugar
com 35% (MS/PNDS, 1998). Dores de ouvido, pneumonia e dificuldade respiratória foram as outras
doenças mais apontadas pelas mães das crianças nos últimos meses e no decorrer dos inquéritos 22.
Analisando essas doenças em relação ao índice de vulnerabilidade das famílias, verifica-se que nos
grupos de famílias menos vulneráveis a situação é menos preocupante.

Quadro 44 Taxa de desnutrição das crianças 0 a 5 anos segundo os grupos vulneráveis (%)
Grau de Desnutrição Mais Outros Menos Total
Vulneráveis Vulneráveis Vulneráveis (média)
Relação (Peso/Idade)
Moderada 9,3 14,4 11,2 11,6
Grave 7,1 6,3 4,0 5,8
Relação (Altura/Idade)
Moderada 7,5 6,7 8,4 7,6
Grave 6,2 2,3 3,2 3,9

Relação (Peso/Altura)
Moderada 5,2 1,3 8,4 4,9
Grave 3,9 2,5 2,1 2,8

Analisando a situação nutricional em relação ao Peso/Idade (Quadro 44) nota-se que a taxa de
desnutrição grave é de 5,8% e de desnutrição moderada de 11,6%, totalizando cerca de 17% de
desnutrição global. Nas famílias mais vulneráveis a taxa de desnutrição grave é maior, com mais de
7%. Ainda pelo mesmo quadro observa-se que a taxa de desnutrição crónica (Altura/Idade) nas
famílias vulneráveis é de 11,5%. Entre as famílias mais vulneráveis e as menos vulneráveis não
existem diferenças significativas de desnutrição crónica.

Observando também a relação Peso/Altura no mesmo quadro, nota-se que a taxa de desnutrição
moderada é de 5% e a de desnutrição grave é cerca de 3%, totalizando 8% de crianças com
desnutrição aguda. Em relação a taxa de desnutrição grave não se verificam diferenças significativas
nos três grupos de famílias, oscilando entre 2 e 4%. Observa-se uma situação inquietante, dada que
cerca de 8% dessas crianças com desnutrição aguda, ou seja são magras, com uma relação
22
O inquérito foi realizado entre meses de Abril e Julho de 2004.

169
peso/altura abaixo de -2DP – valores referencial do “National Centre for Health Statistics” e
infelizmente correm risco de morte ou de grave afectação do seu crescimento.

Entretanto, no que diz respeito ao estado nutricional das crianças menores de cinco anos, um
indicador fulcral na análise da insegurança alimentar, (Quadro 45) observa-se que a situação da
Guiné-Bissau é preocupante, na medida em que a taxa de desnutrição aguda 7,7, indicador de perda
de massa corporal recente, se aproxima da taxa máxima classificada pela OMS como situação
alarmante nos países africanos, ou seja, igual a 10% do total das crianças menores de cinco anos.

Quadro 45. Situação nutricional das crianças inquiridas menores de cinco anos na Guiné-
Bissau
Nacional Guiné-Bissau
Grau de Desnutrição Classificação OMS (UNICEF /MS 1995) (ISVAF realizado)

10% - taxa máxima para situação


Desnutrição Aguda (peso/altura) 4,3 7,7
alarmante no Continente Africano

Desnutrição Crónica (Altura/Idade) - 14,0 11,5

Desnutrição Global (Peso/Idade) Muito relevante entre 10% e 19% (-) 17,4

8.1.2.5. Estratégias de sobrevivência das famílias segundo grupos vulneráveis

As estratégias de sobrevivência adoptadas pelas famílias segundo os grupos vulneráveis variam


conforme o grau de vulnerabilidade das famílias e resumem-se nos seguintes formas:

Como já foi referido as famílias de grupo “famílias mais vulneráveis” apresentam poucas manobras
como alternativas de sobrevivência para fazer face à crise alimentar. Observa-se que em cerca de
50% dos inquiridos, a venda dos seus bens e a intensificação de pequenas actividades agrícolas
seriam as primeiras estratégias de sobrevivência para fazer face ás diferentes situações de crise. Isso
demonstra que as pequenas actividades agrícolas constituem um meio de subsistência fundamental,
para muitas famílias, principalmente, nos maus anos agrícolas. Regra geral, a maioria das famílias
pertencentes ao grupo “Famílias mais vulneráveis” tem como principal meio de vida a agricultura

170
associada a pequena criação de animais. Isso faz com que as situações de crise ligadas ao sector
agrário, tenham um maior impacto no rendimento destas famílias, que são sempre a camada mais
atingida.

A segunda estratégia seria o recurso aos familiares “Ajuda dos parentes” com 10% dos inquiridos,
principalmente os que têm familiares fora do país. E a “ajuda por parte das autoridades” seria uma
das estratégias importante para qualquer um desses grupos considerados vulneráveis, o que pouco
acontece, isto é não existe uma política estratégica bem definida da protecção social por parte do
governo nesse sentido de apoiar a população em defesa de camadas mais vulneráveis.

Os resultados demonstram que na análise das respostas, em nenhuma situação de crise os CF que
possuem animais pensam em “matar animais para o auto consumo”, mas sim, para vender, afim de
adquirir outros bens essenciais. Isso leva-nos a concluir que, a criação de animais também é uma
estratégia de prevenção de riscos praticada pelas famílias para fazer face as situações de crise. A
venda de animais (vivo ou morto), como estratégia de sobrevivência das famílias deste grupo, seria
adoptada com menor frequência, isto é, somente em determinadas situações de crise, tais como, seca
e perda de animais ocasionada por epidemias.

O comércio informal é uma das estratégias utilizada por uma percentagem significativa de famílias
face à perda de emprego e crise alimentar, principalmente das famílias dos grupos outros e menos
vulneráveis com cerca de 20 e 23% respectivamente. Essa estratégia tem mais impacto, segundo os
nossos inquéritos, principalmente no meio dos chefes de família mulheres. Ao contrário do que
acontece no grupo de famílias mais e outros vulneráveis, a “Ajuda dos parentes” é a primeira
estratégia utilizadas pelas famílias menos vulneráveis com mais de 43% dos inquiridos.

As estratégias menos utilizadas pelos dois grupos mais e outros vulneráveis são: a diminuição das
refeições e a emigração. A diminuição das refeições é uma opção apontada somente em situações de
crise específicas: (i) não dispor de alimentos em quantidade suficiente; e (ii) perda da colheita ou
seja pelo resultado de mau ano agrícola. Isso nos leva a concluir que a “diminuição do número de
refeições” também faz parte do conjunto de estratégias de sobrevivência que essas famílias adoptam
face as diferentes situações de crise. Mas de forma geral, constata-se que a diminuição de número de

171
refeições é o sinal ou indicador de alerta de insegurança alimentar num agregado familiar. Observa-
se também que a emigração, principalmente para a Europa, é uma estratégia mais utilizada pelas
famílias menos vulneráveis, em comparação com os outros grupos, que não tem meios para tal.

8. 2. Estatística e modelação

Segundo as conclusões tiradas a partir dos nossos inquéritos sobre o estado da vulnerabilidade
alimentar e da pobreza das famílias e alguns outros factores, (tais como a organização social, acesso
aos bens alimentares e serviços publicos, a dimensão do agregado familiar, hábitos alimentares,
etc.). Os cereais nomeadamente o arroz destacam-se como o principais produtos da dieta alimentar
da população. Mais de 50% do consumo alimentar total em termos nutritivos (calóricos e proteicos)
é obtido na base destes cereais (arroz, milho e trigo), razão pela qual procuramos determinar quais
os factores que mais influenciam sobre a situação da insegurança alimentar e qualidade da vida da
população.

Recorremos à análise de regressão linear múltipla, modelando o consumo de acordo com as nossas
expectativas e variáveis disponíveis (ver apêndice B e C). Em primeiro lugar começamos por
construir o modelo mais abrangente tendo em conta todas as variáveis pelo qual consideramos
modelo I, (Y= f (x1, x2, x3, x4, x5). O consumo per capita (Y) é a variável dependente e as restantes
varáveis (x1, x2, x3,..…. x5) são variáveis independentes.

Modelo I: Modelo Geral (especificação)


Yj = ßo + ß1 x1 + ß2 x2 + ßi xi + …..+ßm xm
i = 1……m
j = 1……n

Y= f (x1, x2, x3, x4, x5)

Em que Y – Consumo per capita;


a - Intercepto
x1 – “Dummy” Índice da Vulnerabilidade do Agregado;
x2 – “Dummy” Índice de Conforto do Agregado;
x3 – Auto consumo (%);
x4 - Rendimento per capita;
x5 - Dimensão do agregado (E/H).

172
Resultados de ajustamento econométrico com os respectivos valores da estatística "t" de student.
Valores:
R2 (adj) = 0,6980; “ f “ = 98, 928; n = 220

Estimativas de Betas:
b0 = b1 = - 0,1420* b2 = 0,5148 b3 = -0,0797
“t” =16,2107 ("t" = -2,9511) ("t" =11,7223) ("t" = -1,9806)

B4 = - 0,0768* b5 = -0,4977
("t" = -1,6161) ("t" = -11,7065)
* - Estatisticamente significativo ao nível de 5% de probabilidade.
** - Estatisticamente significativo ao nível de 1% de probabilidade.
O resultado obtido evidencia variáveis altamente significativas como se pode verificar nos
resultados apresentados. Os valores das estimativas dos parâmetros ("ß"), indicam a relação entre a
variável dependente e a variável independente. Considerando o coeficiente de determinação o R2
(ajustado), os valores encontrados permitem-nos afirmar que cerca de 70% das variações do
consumo per capita (Cal/hab/dia) podem ser explicados pelo modelo. Os valores do teste "f"
confirmam a capacidade do modelo para explicar as variações do consumo per capita de forma
estatisticamente significativa.

Com os valores obtidos para poder vislumbrar melhor as relações existentes, testamos os outros
modelos com as variáveis que mais se relacionam com o consumo (Y) ou seja com as estimativas
dos “betas” significativos e são elas: dimensão de agregado familiar -EH (-), “Dummy” Índice da
vulnerabilidade (-), “Dummy” Índice de conforto (+), Rendimento per capita (+). Nota-se ainda que
a variável rendimento per capita não é um variável considerado menos significativo nesse modelo
geral com índice inferior a 50% de significância.

Modelo II - Especificação:

Y= f (x1, x2, x3, x4)


Y – Consumo per capita

173
a - Intercepto
x1 – “Dummy” Índice da Vulnerabilidade do Agregado;
x2 – “Dummy” Índice de Conforto do Agregado;
x4 - Rendimento per capita;
x5 - Dimensão do agregado (E/H).

Valores:
R2 (adj) = 0,6924; “ f “ = 121, 03; n = 220

Estimativas de Betas:
b0 = b1 = - 0,1453* b2 = 0,5337 b3 = -0,0749
“t” =16,1028 ("t" = -3,0016) ("t" =12,3645) ("t" = -1,5669)

B4 = - 0,5133
("t" = -12,2003)

Nota-se pelos valores das estimativas dos parâmetros "ß", que a dimensão de agregado familiar tem
um efeito de diminuição do consumo per capita, isto é quanto maior for o número de pessoas num
agregado familiar menor será o consumo per capita de bens alimentares em todos os agregados
familiares inqueridos, assim também inversamente correlacionado com o índice de vulnerabilidade.
É importante também sublinhar que o rendimento per capita, assim como o índice de conforto estão
altamente correlacionados com o consumo per capita. Isto é, o rendimento per capita e índice de
conforto têm efeitos significativos no aumento do consumo per capita de bens alimentares.

Finalmente, o interessante é ressaltar que o rendimento per capita que estamos a referir provem do
rendimento das pequenas actividades principalmente na época da seca variando de um agregado
familiar para agregado familiar tal como foi acima analisado. Mas, é importante destacar, nessa
análise, que o rendimento per capita parece ser uma variável relativamente importante apesar não ser
muito significativa estatisticamente em dois modelos analisados em comparação com os outros
variáveis.

174
8.3. Conclusões e algumas considerações

O estudo do inquérito realizado sobre a vulnerabilidade alimentar e qualidade de vida das famílias
permite tirar as seguintes conclusões e algumas considerações finais:

8.3.1. Aspecto geral

1. Os dados ISVAF realizado mostram que a problemática da insegurança alimentar a nível das
famílias prende-se principalmente com a capacidade económica de acesso aos bens alimentares e
serviços básicos, pois a maior parte das famílias (mais de 50%) vive da agricultura, somente uma
minoria destas consegue produzir o suficiente de arroz, milho e outros bens alimentares que
consome.

175
2. A alta taxa de desemprego (15%) dos CF inquiridos, assim como outros factores, condiciona
consideravelmente o acesso das famílias aos bens alimentares e serviços, apesar da melhoria de
alguns indicadores, comparando com os dados do (INEC, 2002). O acesso à energia eléctrica, por
exemplo, passou dos 32% para os 49%. O mesmo se pode dizer da posse de telefone, principalmente
com a entrada de duas operadores da rede móvel: a taxa dobrou em relação a 2002, mas verificou-se
a situação contrária no que concerne o acesso a água potável, por exemplo, que se reduziu de 54%
para os 34%, justifica do pela situação da crise das instituições pública do país que a maioria dos
sectores atravessa actualmente. Por isso, a politica da privatização paulatina de alguns sectores
públicos, permitindo assim a concorrência de carácter empresarial pode ser um instrumento
fundamental para o desenvolvimento do país e a melhoria das condições e qualidade de vida dos
familiares.

3. O auto-abastecimento continua a ser o principal meio de obtenção da maior parte dos bens
alimentares consumidos pelas famílias inquiridas (54%), contra 36% comprados e cerca de 8% das
famílias combinam essas duas formas de acesso e só apenas 2% é que obtem esses bens pela doação.
Ainda, no que concerne aos hábitos alimentares, os números revelam que o arroz é o cereal mais
consumido no país, sobrepondo-se ao milho e ao trigo (pão), sendo um produto determinante em
termos de segurança alimentar, como principal fonte de energia e proteína da população. Por isso,
gerir o sistema em termos de produção e abastecimento do mercado nacional desse produto básico é
fundamental em termos de segurança alimentar.

4. Considera-se que esta análise preliminar de preços feita, indica a possibilidade de existir algum
grau de ineficiência no processo de comercialização dos produtos agrícolas na Guiné-Bissau. Um
estudo aprofundado com mais análise estatística com mais modelações sobre as causas que
determinam as altas diferenças observados seria importante no sentido de fundamentar propostas
que visem a tornar o processo de comercialização entre essas localidades mais eficiente. Espera-se
que na ausência de barreiras e admitindo-se conhecimento de informações de mercado, os preços
entre as localidades devam diferir apenas pelos custos de comercialização. Nesse sentido, um
primeiro passo para superar dificuldades associadas ao processo de comercialização seria propiciar

176
aos operadores e consumidores as informações sobre produção, importação e preços dos produtos
comercializados nas diferentes localidades.

5. No que diz respeito ao estado nutricional das crianças menores de cinco anos, como um indicador
fulcral na análise da insegurança alimentar, a situação do país é preocupante. Isto é, cerca de 8% da
taxa de desnutrição aguda, é quase igual a taxa máxima classificada pela OMS como situação
alarmante, ou seja, igual a 10% do total das crianças em análise. Conclui-se que a taxa de
desnutrição aguda e crónica das crianças são mais elevadas fora da capital e nas famílias mais
vulneráveis. Por isso, a implementação de certos planos de acção educacional nas escolas, no seio
das famílias, principalmente para as mulheres, no sentido de melhorar conhecimentos e princípios
básicos de alimentação adequada do recém-nascido em termos nutricionais deve ser uma das
estratégias em consideração em termos de segurança alimentar.

8.3.2. Ao nível das regiões e estado da vulnerabilidade das famílias

1. Os dados de ISVAF confirmam que a insegurança alimentar e a vulnerabilidade não atingem de


forma homogénea as diferentes regiões do país, uma vez que a situação de precariedade que
caracteriza o país é mais acentuada nas zonas rurais (outras regiões). Convém, no entanto, referir
que, em virtude do seu carácter generalizado no país, o desemprego atinge de forma indiscriminada
as diferentes regiões. Esses valores atingem 18% em Bissau e 11% nas outras regiões, não se
tratando de uma diferença bem marcante.

2. Conclui-se também que os dois grupos de famílias classificados como vulneráveis “mais e outro
vulneráveis”, constitui cerca de 68% do total dos CF inquiridos. O grupo “Famílias mais
vulneráveis”, é composta por famílias residentes na sua maioria nas zonas rurais que dependem e
vivem essencialmente da agricultura, em que, num ano normal, a produção agro-pecuária contribui
de forma marginal no rendimento familiar, e que mesmo nos bons anos agrícolas essas famílias não
ou com dificuldades alcançam a auto-suficiência alimentar. As famílias pertencentes a esta classe
não têm capacidade de recorrer a outros meios sempre que enfrentarem uma situação de crise
alimentar.

177
2.1. Também o grupo “Famílias outros vulneráveis”, é constituído, na sua maioria, por agregados
chefiados por idosos com mais de 65 anos e sem activos entre 15 e 65 anos (incapacitados para
trabalhar, deficientes), e por mulheres com mais de três filhos menores de 0 a 14 anos. Este grupo
estima-se em cerca de 28% do total das famílias inquiridos, qual apenas 9% são chefiadas por
mulheres. Nesse sentido, reforçar a implementação de certas acções (protecção social) devem ser as
medidas das prioridades por parte do Governo e ONGs na luta contra a pobreza e protecção social
mais efectiva.

3. Os dados do inquérito revelam ainda que, nas outras regiões as condições de acesso das famílias
aos serviços básicos são mais precárias, por exemplo: A proporção dos agregados das outras regiões
com acesso ao telefone é duas vezes inferior em relação a Bissau (capital); faz-se a mesma leitura ao
abastecimento com água canalizada (28%) que é quase menos da metade da dos agregados de
Bissau (43%); assim como a proporção dos agregados que utiliza gás na cozinha é de 9% nas outras
regiões, ao passo que em Bissau esse valor triplicou (cerca de 27%). Nesse sentido, é necessário a
implementação de uma política de descentralização em termos de desenvolvimento (investimento)
nas outras regiões mais periféricas em termos de melhorar as condições e qualidade da vida das
famílias.

4. Também os dados revelam diferenças entre os dois grupos de famílias classificadas como
vulneráveis “mais e outros vulneráveis” e o das “menos vulneráveis” no que se refere ao acesso aos
serviços sociais de base: Em primeiro lugar, o desemprego, tanto da população activa no seu todo
ou então dos chefes de famílias, é duas vezes maior no seio das famílias mais vulneráveis do que nas
menos vulneráveis e também se verifica que mais de metade (56%) dos CF dos grupos mais e outros
vulneráveis são analfabetos, ao passo que a taxa de analfabetismo nas menos vulneráveis é apenas
de 12%; Em seguida, observa-se que a taxa de abandono escolar das crianças verificada no seio das
famílias mais vulneráveis é de 5% acima da encontrada nas menos vulneráveis, tal como a soma da
proporção de famílias com água canalizada nos grupos de famílias mais vulneráveis (10,8%) é três
vezes menor que a proporção correspondente às menos vulneráveis (43,7%); Por último, enquanto
que em cada um dos grupos mais vulneráveis a proporção de agregados com casa de banho não
ultrapassa a faixa dos 15%, enquanto que a taxa nas menos vulneráveis é de 43,2%. Isto é, nota-se
uma diferença acentuada entre nível da vida das populações, por isso as estratégias realistas da luta

178
contra a pobreza devem ser as prioridades em defesa das camadas mais desfavorecidas em termos de
segurança alimentar.

5. Do ponto de vista do consumo alimentar, as diferenças manifestam-se sobretudo, no que concerne


a frequência de consumo dos alimentos de base, em particular dos cereais. Quanto ao número de
refeições diárias não se registam diferenças importantes entre os grupos em análise. Mas, aliado ao
facto de que a diminuição do número de refeições é uma estratégia de sobrevivência adoptada pelas
famílias, servindo de sinal de alerta quando um agregado familiar é confrontadas com situações de
crise. Poderemos concluir que o número de refeições pode ser um viável indicador de alerta precoce
face a situação da crise alimentar de um agregado familiar.

6. O consumo alimentar apresenta um perfil variado em função dos grupos. A diversidade proteica
dos alimentos consumidos é inversamente proporcional ao nível de vulnerabilidade das famílias, ou
seja, à medida que aumenta o grau de vulnerabilidade, diminui a percentagem de famílias que
combina alimentos de proteína animal com de proteína de origem vegetal.

CAPÍTULO IX - A PROMOÇÃO E A CONTRIBUIÇÃO DOS PRODUTOS LOCAIS


SUBVALORIZADOS NA GUINÉ-BISSAU

Através deste capítulo, pretende-se demonstrar a contribuição dos produtos locais subvalorizados e a suas
importância para alimentação humana e seus valores em termos nutricionais.

Em primeiro lugar, faz-se uma apresentação de dados referentes ao valor energético, e a composição
química, assim como em elementos minerais que demonstra a importância desses produtos e elevada
composição nutricional. Apresenta-se ainda o conteúdo em ácido ascórbico e em beta-caroteno (vitamina A),
aminoácidos totais e essenciais, assim como o teor em niacina.

Em segundo lugar, apresentam-se as razões comparativas dos teores em aminoácidos essenciais dos
produtos em análise com a proteína do ovo (FAO, 1979) e com o padrão de referência da FAO/WHO (1973),
que permitem entender o grau nutricional desses produtos no padrão consideravelmente aceitável em termos
nutricionais.

Por último, as recomendações, assim como as conclusões e considerações finais são apresentadas.

9.1. Resultados e discussão

179
Identificar as oportunidades de introdução de mudanças tecnológicas, tanto do ponto de vista da
produção, transformação, assim como, do consumo, olhando para a qualidade nutricional de alguns
produtos locais subvalorizados e que são muito mais acessíveis economicamente é um aspecto
fundamental para a melhoria da dieta alimentar da população.

A Guiné-Bissau tem enfrentado dificuldades cada vez maiores para satisfazer as necessidades
alimentares da sua população, é urgente procurar soluções alternativas, visto que, nos últimos anos,
tem persistido a escassez de alimentos, a fome e a mal nutrição generalizada, sobretudo entre os
grupos de famílias considerados mais vulneráveis (MS/PNDS, 1998). Por isso, a adopção de
medidas para ampliar a base de alimentos mediante a valorização de produtos localmente
disponíveis, constitui um importante aspecto com vista à melhoria da situação alimentar. Além dos
produtos em cuja produção o homem interfere mais ou menos activamente, na Guiné-Bissau, a
natureza oferece uma enorme variedade de recursos (folhas, frutas, raízes, sementes, insectos e
outros animais silvestres) que podem ser aproveitado para equilibrar a economia alimentar da
população, oferecendo-lhes também uma dieta mais equilibrada em termos nutricionais.

Entende-se que, todos os produtos comestíveis podem ser aproveitados como parte integrante de
uma dieta equilibrada, na medida em que nenhum alimento por si só é “bom” ou “mau”, sendo
necessário saber de que forma se podem complementar ou associar-se a outros a fim de satisfazer as
necessidades energéticas e nutritivas do ser humano. Por exemplo, apesar de o arroz ser o cereal
mais consumido na Guiné-Bissau, sendo apreciado pela população de todas as camadas sociais e
desempenhando o papel fundamental na dieta humana (por ter proteína que contem oito
aminoácidos essenciais), apresenta algumas limitações (pobre em lisina) que devem ser balanceadas
(Juliano et al., 1987 cite in Castro et al, 1999).

Nessa ordem de ideias, a feijoada, como um dos pratos guineenses tipicos em que o feijão
acompanha o arroz, configura-se como uma complementação eficiente, tendo em conta que o arroz é
pobre no aminoácido essencial lisina e rico em cisteína e metionina, enquanto que o feijão, por sua
vez, é rico em lisina e pobre nos outros dois aminoácidos citados. Por outro lado, o arroz é

180
considerado uma fonte excelente de hidrato de carbono, contendo quantidades desprezíveis de
gordura e colesterol (Castro et al., 1999).

9.1.1. Determinação de valores nutricionais dos principais produtos de base

A discussão dos resultados será orientada essencialmente no sentido de definir a contribuição dos
produtos estudados como fonte de calorias, proteínas, vitaminas e sais minerais para alimentação
humana, assim como o perfil em gorduras de Bagre Fumado (Protopterus A..B. Poll) (ver Figuras
32, 33, 34,e 35 que se segue). Assim, apresenta-se nos Quadros 46 e 47 os resultados relativos à
composição química aproximada e valor energético, e a composição em elementos minerais. O
conteúdo em ácido ascórbico e em beta-caroteno, convertido este ultimo em UI de vitamina A,
assim como o teor em niacina, estão referidos no Quadro 48.

No anexo 16, apresenta-se a composição em aminoácidos totais dos produtos analisados. Também a
composição em aminoácidos essenciais e os parâmetros de avaliação nutricional encontram-se
apresentados nos Quadros 49 e 50 respectivamente, enquanto que o perfil em ácidos gordos de
Bagre Fumado (Protopterus A..B. Poll) apresenta-se no Quadro 51.

Por último, nos anexos 18, 19, 20 e 21, apresentam-se as razões comparativas dos teores em
aminoácidos essenciais dos produtos em análise com a proteína do ovo (FAO, 1979) e com o padrão
de referência da FAO/OMS (1973).

Figura 32. Bagre Fumado (Protopterus A. B. Poll) Figura 33. Djagatu (Solanum sp.)

181
Figura 34. Quiabo “Candja” (Hibiscus esculentus L.) Figura 35. Baguitch (Hibiscus sabdariffa L.)

Quadro 46. Composição química aproximada e valor energético por 100g da parte edível.
VE
Amostra H (%) PB (%) G (%) C (%) Ce (%) GT (%)
(Kcal)
Bagre Fumado (Protopterus A. B. Poll) 14,9 78,5 8,3 12,8 0,2 0,2 389,5
Djagatu (Solanum sp.) 89,3 16,0 0,3 4,6 2,6 76,5 372,7
Candja (Hibiscus esculentus L.) 88,9 17,8 0,1 7,3 5,6 69,2 348,9
Baguitch (Hibiscus sabdariffa L) 91,1 24,5 0,3 6,7 1,1 67,4 370,3
Abreviatura: H – humidade; PB – proteína bruto; G – Gordura bruta (lípidos); C – Cinza total; Ce – Celulose;
GT - Glucido total; VE - Valor energético.

A vasta gama de produtos consumíveis (não convencionais) identificados, segundo os nossos


inquéritos, demonstra a importância e a potencialidade da fauna e flora que o país apresenta. Como
foi referido no início, para além dos produtos em cuja produção o homem interfere mais ou menos
activamente, a natureza oferece uma enorme variedade de recursos (folhas, frutas, raízes e
tuberculos, sementes, insectos e outros animais silvestres) que podem equilibrar a economia
alimentar dos guineenses (ver exemplo, figura 36 e 37).

182
Figura 36 - Cacho de chebeu, atravez do qual Figura 37 – Processo de extração de Óleo de palma
se extrai o óleo de palma (Palmeira de dendem)

Quadro 47. Composição em elementos minerais por 100g da parte edível.


Mg Ca Na K P Cu Fe Mn Zn
Amostra
Valores (%) Valores (mg/100g)
Bagre Fumado (Protopterus A. B. Poll) 1,71 35,02 2,96 9,53 21,85 0,85 29,10 2,81 6,48
Djagatu (Solanum sp.) 2,40 2,42 0,60 13,91 4,02 0,42 9,36 1,03 2,36
Candja (Hibiscus esculentus L.) 4,85 9,72 0,29 16,01 2,95 1,53 18,03 3,63 4,89
Baguitch (Hibiscus sabdariffa L.) 4,50 12,71 1,00 8,47 3,25 1,39 48,01 30,12 4,11
Abreviatura: Ca – Cálcio; Mg – Magnésio; Fe – Ferro; Cu – Cobre; Zn – Zinco; Mn – Manganés; K – Potássio;
Na – Sódio; P – Fósforo.

Das 4 amostras analisadas (Bagre fumado, Djagatu, Candja e Baguitch), apesar de alguns dosearem
quantidade significativas de proteína, como a baguitch e o djagatu, o valor nutritivo destes produtos
está sobretudo associado a sua riqueza em vitaminas (ácido ascórbico e beta-caroteno), minerais
essenciais e fibra, com especial destaque para o teor de ácido ascórbico do baguitch que doseia cerca
de 100% da DDS (Quadro 48).

Quadro 48. Teor em ácido ascórbico por 100g da matéria original (base húmido) e conteúdo em
nicicina e Beta-catrateno por 100g da parte edível
Ácido Por 100g da parte edível
Amostra Ascórbico (mg)
Beta-caroteno Vitamina A Conteúdo em
(mg) (UI) Niacina (mg)
Bagre Fumado (Protopterus A. B. Poll) * * * 0.221
Djagatu (Solanum sp.) 8 2.242 4 *
Candja (Hibiscus esculentus L.) 42 8,830 15 *

183
Baguitch (Hibiscus sabdariffa L.) 70 250,220 416 *

No entanto, apesar do consumo de legumes verdes e frutas, alimentos importantes pela sua riqueza
em vitaminas e sais minerais, não ser tão reduzido como se julga, o valor nutritivo de muitos dos
que se utilizam tem sido limitado pelas formas de acesso, utilização e conservação. Pelo quadro
Quadro 48 obseva-se a baguitch em termos nutritivo, além de ser uma boa fonte de caroteno é
muito rica em ácido ascórbico (Vitamina C).

Quadro 49. Composição em aminoácidos essenciais, valores expressos em g/100g de proteína da


parte edível (FAO & OMS, 1973)
Bagre Fumado Candja Baguitch
Djagatu
Aminoacido (Protopterus A.. (Hibiscus (Hibiscus Proteína do ovo*
(Solanum sp.)
B. Poll) esculentus L.) sabdariffa L.) (padrão da FAO)
Treonina 3,6 2,4 3,1 3,5 5,1
Valina 3,3 3,9 3,6 4,1 6,9
Metionina 2,0 2,0 0,9 1,1 3,4
Isoleucina 3,3 3,1 2,5 2,7 6,3
Leucina 5,1 4,7 4,8 5,1 8,8
Fenilalanina 2,8 3,5 3,7 3,4 5,6
Lisina 3,1 3,1 3,6 4,6 7,0
Histidina 1,9 2,2 2,2 2,0 2,4
Arginina 5,6 2,9 4,9 5,1 6,1
Triptofano 1,3 0,2 0,1 0,4 1,5
TOTAL 32,0 28,8 29,4 33,0 53,1

Para o bagre fumado, das determinações efectuadas destaca-se o excelente teor proteico cuja
proteína de grande qualidade representa em média mais de 80% do seu valor energético e mais de
100% da DDR. Pelo Quadro 47 nota-se que o bagre fumado é uma excelente fonte de minerais
essenciais fundamentalmente Ca, P e Fe, em relação os quais doseia valores superiores às DDS
(mais de 100%). O bagre fumado fornece quantidades significativas de niacina. Na sua composição
em relação ácidos gordos é de notar no geral a riqueza em ácido palmítico, oleico, esteárico, linoleíco
e mirístico (Quadro 51).

184
Quadro 50. Parâmetros de avaliação nutricional da proteína dos principais produtos em análise
Bagre Fumado Candja Baguitch
Djagatu
Parâmetros Nutricionais (Protopterus A.. (Hibiscus (Hibiscus
(solanum Sp.)
B. Poll) esculentus L.) sabdariffa L.)
Aminoácido 67,9 10,3 24,9 32,3
Limitantea Val Try Try Try
Aminoácido 50,1 6,6 11,5 20,2
Limitanteb Val Try Try Try
Índice de aminoácidos
c 62,4 21,5 32,6 49,5
essenciais
a – Calculado segundo Acton & Rudd (1987), utilizando o padrão de referência da FAO/OMS (1973);
b – Calculo segundo Acton & Rudd (1987), utilizando a proteína do ovo FAO (1970);
c – Calculado Segundo Acton e Rudd (1987).

Quadro 51. Composição em ácidos gordos de Bagre Fumado (Protopterus A..B. Poll), (%)
Ácidos Gordos Ácidos Gordos Ácidos Gordos
Saturados Monoinsaturados Polisaturados
14:0 Mirístico 2,87 16:1w7 Palmitoleico 14,82 18:2w6 Linoleico 5,02
15:0 Pentadecanóico 0,41 18:1w9-t n Elaidico 0,35 18:3w3 α-Linoilénico 3,98
16:0 Palmítico 25,9 18:1w9-c Oleico 11,02 18:4w3 Steradónico 0,28
17:0 Heptadecanoico 2,04 18:1w7 Vacénico 7,32 20:4w6 Araquidónico 1,68
18:0 Esteárico 7,01 20:1 Gadoleico 0,32 20:5w3 Timnodónico 0,98
20:0 Arquídico 0,30 22:1 Erúcico 0,00 22:5w3 Decosapentaenóico 0,81
22:0 Beénico 0,00 22:1 Tetracocenoico 0,38 22:6w3 Docosahexaenóico 2,01
Sub-total identificados 38,53 Sub-total identificad 34,21 Sub-total identificados 14,76

Total identificados 87,5


Total não identificados 12,5

De uma maneira geral, verificamos que mais de 50% do conteúdo energético dos alimentos tal como
o bagre fumado, provém da fracção proteica bruta, a qual, por sua vez, é um importante veículo de
aminoácidos essenciais.

Apesar das condições de crescimento, período de colheita (estado de maturação), tempo e condição
de conservação, bem como as porções e os métodos de análise poderem condicionar os resultados
analíticos e os valores obtidos ( Acton & Rudd (1987), mas podemos afirmar que os resultados obtidos
por nós se encontram dentro do intervalo de valores referenciados por diferentes autores,
nomiadamente os valores de referencias segundo FAO/OMS (1973).

185
9.3. Conclusões e algumas considerações

O estudo realizado através do presente capítulo permite-nos tirar as seguintes principais conclusões
e considerações finais:

1. Apesar destes produtos (recursos) constituírem, cada vez mais, alimento básico tradicional de
muitos guineenses, muitos permanecem ocultos, isto é, não são tomados em consideração pelas
diferentes instituições envolvidas em actividades que visam a melhoria das condições alimentares da
população, incluindo as instituições da investigações, serviços de extensão e, mais particularmente,
pelas organizações e agentes que intervêm directa ou indirectamente na distribuição e
comercialização dos alimentos.

Parte desse descuido (subvalorização) deve-se com certeza, em primeiro lugar, ao desconhecimento
da importância destes recursos e seus potenciais em termos nutricionais e em segundo lugar,
acreditamos que também devido aos preconceitos “tabu”, por parte de certos indivíduos, já que
muitos destes recursos são conectados como alimentos de pobres. Estes dois factos têm contribuído
significativamente para a baixa aceitabilidade destes produtos. Um melhor aproveitamento dos
recursos localmente disponíveis é fundamental para equacionar o problema alimentar no país numa
forma mais realista e prática. Trata-se portanto de uma questão de convenções e a promoção do
potencial local teria, sem dúvida, as suas vantagens e são seguintes: (i) a constituição de uma dieta
diversificada, mais equilibrada com maior riqueza nutritiva; (ii) as populações aprendiam que os
alimentos locais são bons, baratos e de fácil aquisição; (iii) evitava-se a dependência de alimentos
doados, encorajando ao mesmo tempo a produção local de alimentos e contribuindo assim para
atenuar as crises alimentares das populações.

2. Conclui-se também que apesar da fome nos países menos desenvolvidos, assim como na Guiné-
Bissau, ter assumido um carácter quantitativo, sempre foi qualitativo. Por isso, é necessário agir do
lado da oferta (aumentando e diversificando a produção) e da procura (mediante politicas especificas
da população). Neste sentido, a interacção entre crescimento demográfico, migração do campo para
a cidade, dimensão de agregado familiar e responsabilidade das mulheres nas acções é um aspecto
fundamental para equacionar de uma forma eficaz a oferta e a procura de alimentos.

186
3. A educação (nível de instrução) é fundamental ou um pilar basilar para um desenvolvimento
sustentável para qualquer sociedade. Por isso, a realização de campanhas de educação alimentar (em
nutrição), tendentes a demonstrar à população que uma alimentação adequada não consiste
necessariamente em ser volumosa, mas sim na regularidade, qualidade e equilíbrio dos seus
componentes. De antemão, reconhecemos que não é uma tarefa fácil. Segundo Xabregas (1959), é
também da nossa opinião, que a base da partida seja a escola. Portanto, “há que investir no capital
humano, de modo a promover a mobilidade social e oportunidades económicas mais igualitárias”.
Isto quer dizer, mesmo que se melhore a oferta de alimentos, a distribuição dos rendimentos e da
riqueza, a persistência de determinados hábitos culturais e costumes alimentares, podem conduzir a
marginalização de importantes segmentos sociais.

4. Considerando a situação da fome e carência alimentar que se verificam em muitos países menos
desenvolvidos, dos quais a Guiné-Bissau faz parte, as pequenas quantidades dos alimentos
tradicionais (não convencionais) usados pela população guineense atenuam de uma forma
significativa essas necessidades. Sendo alimentos, de um lado, simples e pouco dispendiosos em
termos de aquisição, e por outro lado, serem considerados como complemento eficiente de uma
dieta equilibrada, por serem uma boa fonte de proteínas, minerais e vitaminas. Nesse sentido,
recomenda-se esses alimentos como alternativos, por serem alimentos que estão profundamente
integrados nos hábitos alimentares e costumes das populações guineenses e com simples tecnologia
caseira pode ultrapassar situações de fome e de carências alimentares.

CAPÍTULO X – CONCLUSÕES, PERSPECTIVAS FUTURAS E CONSIDERAÇÕES


FINAIS DO TRABALHO

Neste capítulo as recomendações, assim como as conclusões e algumas considerações finais do trabalho
foram apresentadas. Apresenta-se também as perspectivas e estratégias a ter em consideração na melhoria
da situação alimentar e nutricional, assim como das condições e qualidade de vida das populações.

Por último, as notas finais (ideias chaves) sobre o trabalho a ter em consideração, assim como as principais
limitações do trabalho e futuras linha de investigação são apresentadas.

187
10.1. Conclusões e perspectivas futuras

O conceito de Segurança Alimentar e Nutricional na perspectiva da melhoria de Qualidade de Vida


das populações possuirá necessariamente, um conteúdo abrangente, incorporando as dimensões da
técnica, da cultura, da política e do território. Ele engloba problemas distintos, porém
interrelacionados, que vão desde as questões estruturais ligadas à capacidade produtiva do sector
agrícola e aos problemas de sustentabilidade, passando pelos processos de (re) produção das
desigualdades sociais e das deficiências no abastecimento e no acesso aos alimentos. Incluiu-se
ainda a descrição e análise dos aspectos relacionados com a saúde, práticas, hábitos e cultura
alimentares, assim como as questões institucionais (na formulação, implementação das políticas
públicas, sistemas de informação, e entre outros) que, sem dúvida, condicionam a eficácia e a
sustentabilidade do sistema em termos de segurança alimentar.

Neste sentido na Guiné-Bissau, através deste trabalho, podemos concluir e perspectivar-se as


seguintes estratégias políticas e medidas técnicas concretas a ter em consideração:

1. Conclui-se que o problema da fome, desnutrição e a situação da pobreza (vulnerabilidade


alimentar) na Guiné-Bissau, que atinge parcelas expressivas da população, é hoje em dia
preocupante. A situação manifesta-se de forma mais visível no quadro das profundas desigualdades
sociais e vem-se agravando mais ao longo dos últimos anos. Sendo um problema complexo,
resultado de vários factores parciais de extrema importância para a economia do país que devemos
analisá-los separadamente, mas sempre equacionados na óptica de sistemas e da sua respectiva
sustentabilidade.

2. Conclui-se que a insegurança alimentar e a vulnerabilidade não atingem de forma homogénea as


diferentes regiões do país, uma vez que a situação de precariedade que caracteriza o país é mais
acentuada nas zonas rurais (outras regiões). Conclui-se ainda que cerca de 70% das familias são
considerados vulneraveis com pouca capacidade de resposta em caso de crise. A diminuição de

188
número de refeições diárias parece ser a única estratégia, servindo também como um indicador de
alerta precoce face a situações de crise alimentar de um agregado familiar.

3. O auto-abastecimento é o principal meio de aquisição da maior parte dos bens alimentares


consumidos pelas famílias inqueridas (54%), contra 36% comprados e cerca de 8% das famílias
combinam essas duas formas de acesso e só apenas 2% é que adquirem esses bens pela doação. Os
números revelam que o arroz é o cereal mais consumido no país, sobrepondo-se ao milho e ao trigo
(pão), sendo um produto determinante em termos de segurança alimentar, como principal fonte de
energia e proteína da população. Por isso, gerir o sistema em termos de produção e abastecimento do
mercado nacional desse produto básico é fundamental em termos de segurança alimentar.

4. Em termos de produção, observa-se que excluindo o sistema de produção de arroz de bolanha


salgada, quase todos os outros sistemas de produção fazem-se sem o aproveitamento dos recursos
hídricos disponiveis (regadio). Em consequência disso, a agricultura guineense está muito
penalizada pela diminuição e distribuição das chuvas, obrigando a uma pratica de produção aleatória
com forte dependencia das chuvas. Por isso, o plano para apoiar e incentivar populações para uma
agricultura de caracter mais intensivo com base no regadio deve ser uma das apostas a ter em
consideração pelos planeadores economicos e no âmbito das estrategias e políticas da segurança
alimentar.

5. Observa-se um inadequado regime alimentar (hábitos alimentares) para suprar as necessidades


alimentar e nutricionais. De modo em geral, na Guiné-Bissau, o regime habitual da grande massa da
população é de baixa ou pouca de divercidade de alimentos. Isto é, uma dieta simples, monótona,
composta basicamente por arroz e quantidade insignificantes de carne, de peixe e assim como de
outros alimentos ricos em vitaminas e sais minerais. Em consquência distes habitos alimentares não
se aproveitam possibilidades apartir de desaloja outras culturas locais (mandioca, batata doce,
milhos, feijões etc.). Por isso, a estratégia de promoção e divulgação dos outros produtos locais
subvalorizados tem que ser uma aposta séria na educação alimentar a ter em consideração na
melhoria do estado nutricional da população e das crianças em particular.

189
6. Observa-se o baixo nível económico-social da população com o poder limitado ou quase nulo de
compra que impede o acesso aos alimentos, em grande parte como resultado da falta de recursos
monetários e do preço proibitivo dos produtos no mercado, sobretudo nos periodos de escassez.
Nesse sentido, a contribuição para melhorar a situação e o bem estar da população tem que passar
por promoção das actividades que geram emprego e aumentam o rendimento familiar, aumentando o
poder de compra (acesso aos alimentos). Estas medidas devem ser prioritárias na luta contra a
pobreza e na promoção da melhoria da qualidade da vida da população no geral e das zonas rurais
em particular.

7. Conclui-se que existem ineficiência significativas no processo de comercialização dos produtos


de bens alimentares nos principais mercados. Observa-se altas diferenças de preços nas diferentes
localidades. Admite-se que o melhor conhecimento e disponibilidade de informações de mercado, os
preços entre as localidades devem diferir apenas pelos custos de comercialização. Nesse sentido,
para superar essas dificuldades associadas ao processo de comercialização sconsiste em propiciar
aos operadores e consumidores as melhores informações sobre produção, importação e preços dos
produtos comercializados nas diferentes localidades.

8. Conclui-se que o Governo da Guiné-Bissau, de imediato, deve decidir e optar pela


comercialização das ajudas alimentares que o país beneficia, ao contrário do que tem sido praticado
(distribuição gratuita), e os fundos de contrapartida dessa ajuda podem e devem ser utilizados para o
financiamento de programas de investimentos públicos que reforçam a capacidade do país em
termos de segurança alimentar de forma sustentavel.

9. Conclui-se que na Guiné-Bissau a situação de saúde da população em geral e em particular das


crianças menores de cinco anos é preocupante com uma taxa de desnutrição aguda elevada (cerca de
8%) ou seja próximos dos 10%, que segundo a OMS (1995) é a taxa máxima de referência para se
considerar alarmante. Verifica-se que a taxa de desnutrição aguda e crónica das crianças são mais
elevadas nas outras regiões (interior) que em Bissau e nas famílias mais vulneráveis. Por isso, a
implementação de acção educacional nas escolas, no seio das famílias, principalmente para as
mulheres, no sentido de melhorar conhecimentos e princípios básicos de alimentação adequada do

190
recém-nascido em termos nutricionais deve ser uma das estratégias a considerar em termos de
segurança alimentar.

10. No que se refere aos produtos locais subvalorizados, conclui-se que apesar destes produtos
(recursos) constituírem, cada vez mais, alimento básico tradicional de muitos guineenses, muitos
permanecem ocultos, isto é, não são tomados em consideração pelas diferentes instituições
envolvidas em actividades que visam a melhoria das condições alimentares da população. Parte
desse descuido (subvalorização) deve-se com certeza, em primeiro lugar, ao desconhecimento da
importância destes recursos e suas potencialidades em termos nutricionais e em segundo lugar,
acreditamos que também é devido aos preconceitos “tabu”, por parte de certos indivíduos, já que
muitos destes recursos são conectados como alimentos de pobres. Estes dois factos têm contribuído
significativamente para a baixa aceitabilidade destes produtos.

10.1. Nesse sentido, um melhor aproveitamento dos recursos localmente disponíveis é fundamental
para equacionar o problema alimentar no país numa forma mais realista e prática. Trata-se, portanto,
de uma questão de convenções e a promoção do potencial local com as seguintes vantagens: (i) a
constituição de uma dieta diversificada, mais equilibrada com maior riqueza nutritiva; (ii) as
populações aprendiam que os alimentos locais são bons, baratos e de fácil aquisição; (iii) evitar a
dependência de alimentos doados, encorajando a produção local de alimentos e contribuindo assim
para atenuar as crises alimentares das populações.

11. A educação (nível de instrução) é fundamental e é um pilar basilar para um desenvolvimento


sustentável para qualquer sociedade. A introdução de programas de educação alimentar nas escolas,
demonstrando à população que uma alimentação adequada não consiste necessariamente em ser
volumosa, mas sim na regularidade, qualidade e equilíbrio dos seus componentes. De antemão,
reconhecemos que não é uma tarefa fácil. Segundo Xabregas (1959), e também da nossa opinião,
que a base da partida seja a escola. Portanto, “há que investir no capital humano, de modo a
promover a mobilidade social e oportunidades económicas mais igualitárias”. Isto quer dizer,
mesmo que se melhore a oferta de alimentos e a distribuição dos rendimentos e da riqueza, a
persistência de determinados hábitos culturais e costumes alimentares podem conduzir a

191
marginalização de importantes segmentos sociais e a situação “Sub-optimas” face aos recursos
disponiveis.

12. Em termos das instituições, conclui-se que é importante e indispensavel criar um dispositivo
institucional de segurança alimentar (Agência ou Gabinete) com objectivos e estratégias
técnica/politicas precisas com metas bem definidas e claras a atingir para uma segurança alimentar
sustentável no curto e longo prazo. Entende-se que o mercado não pode garantir o acesso à
alimentação a todos, havendo muitos outros factores a considerar, designadamente a importância
dos fenómenos de pobreza. A segurança alimentar é, consequentemente, uma prerrogativa que não
pode ser relegada apenas ao sector privado. A garantia da segurança alimentar, enquanto bem
público essencial, é antes de tudo uma responsabilidade do Estado.

13. Conclui-se também que na Guiné-Bissau há necessidade da criação de uma ou mais instituições
inter-sectoriais de carácter privado ou não, vocacionados para o estudo e difusão de dados no
domínio da segurança e vulnerabilidade alimentar das famílias. Isto é, um sistema de informação
que providencia o seguimento e a difusão regular e permanente informações fiáveis sobre a
produção, importação, as ajudas, os preços, os estoques e os consumos (necessidade alimentar),
sistema a que podemos chamar “Sistema de Informação e Alerta Rápida sobre a Segurança
Alimentar” ao nível nacional.

4. – Na Guiné-Bissau, de acordo com as suas potencialidades agrícolas e economicas, a particular


ênfase deve ser posta na ideia de criar um modelo próprio de segurança alimentar devidamente
adaptado as circonstancia país, cujos objectivos e etratégias politicas visem garantir a segurança
alimentar , especificamente no sentido de diminuir as importações, aumentar a produção nacional,
desenvolver indústrias agro-alimentares e promover as culturas de exportação, diversificando-as, em
síntese promovendo o dessenvolvimento sustentavel.

10.2. Considerações finais e futuras linha de investigação

192
Tendo em conta as limitações do presente trabalho, apontam-se os seguintes aspectos como futuras
linhas de investigação a considerar:

1. Finalizar o pacote metodológico do dispositivo de seguimento das zonas e grupos vulneráveis,


tendo em conta os seguintes pontos: a) afinar a metodologia de definição dos grupos vulneráveis; b)
aperfeiçoar os instrumentos de anotação (questionários sobre família e zona e manuais de
supervisores e inquiridores); c) consolidar o plano de modelação e o de análise;

2. Testar as melhorias introduzidas, realizando inquéritos por cada região e respectiva zona para
poder fazer um mapa cartográfico de vulnerabilidade por zonas mais aperfeiçoado;

3. Criar as condições necessárias para o alargamento do dispositivo de seguimento da


vulnerabilidade alimentar das famílias em todas regiões. Isto é, por um lado, o reforço da capacidade
institucional a nível central e local, e por outro lado, mobilizar recursos humanos, materiais e
financeiros afim de assegurar a perseveração do dispositivo em questão;

4. Perspectivar e implementar o dispositivo de informações sobre segurança alimentar a que vamos


chamar “Sistema de Informação sobre Segurança Alimentar e Vulnerabilidade das famílias
(SISA&VF) ” em Bissau no período mais curto possivel e expandir para as outras regiões do país ou
seja perspectivar-se o reforço da articulação do sistema de informação sobre a segurança alimentar
com o observatório da pobreza e outras iniciativas parceiros, quer a nível central como a nível local;

5. Prevê-se ainda, a constituição de uma equipa pluridisciplinar especializada na análise da


in/segurança alimentar e vulnerabilidade das famílias a nível central e local, com base na criação de
uma agência de regulação do mercado.

6. Continuar a identificar, analisar e promover a utilização e aproveitamento de outros produtos


locais subvalorizados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

193
Acton, J. C. & Rudd, C. L., 1987. Protein quality methods for seafood. In: Seafood Quality
Determination. (eds) Donald E. Kramer. John Liston. Elsevier Science Publishers. Amsterdam.
AOAC, 1980. Official methods of analysis. 13th ed. Association of Official Analytical Chemistry.
Washington. DC.
AOAC, 1984. Official methods of analysis. 14th ed. Association of Official Analytical Chemistry.
Washington. DC.
AOAC, 1998. Official Method 988.15 – Tryptophan in food and feed ingredients. Official methods
of analysis. 4th Revision. Association of Official Analytical Chemistry. Washington. DC.
Armenteros, J. Mª. Clavera, 1947. Los problemas de la alimentación. Introdutção a la
Bromatologia. Análisis Bromatológiscas. Granada.
BCEAO, 2004. Anúario Estatistico da Situação economico dos países membros da UEMOA,
Bissau, 86 pp.
BCEAO, 2005. Anúario Estatistico da Situação economico dos países membros da UEMOA, Bissau
78 pp.
BCEAO, 2006. Anúario Estatistico da Situação economico dos países membros da UEMOA,
Bissau, 94 pp.
BCGB, 1995. Anúario Estátistico sobre receitas de exportação e situação socio-economico da
Guiné-Bissau, Bissau , nº 36, 121 pp.
Banco de Portugal, 2004. Relatorio anual da situação económica da CPLP “The Europe World
Yearbook of country profile”, nº 85, p. 23-84.
Banco Mundial, 1990. África Subsariana crise ao crescimento sustentável. Washington. 332 pp.
Banco Mundial, 1994. Avaliação retrospectiva “metódo de pesquisa sobre inquerito quantitativa e
qualitativa das informações” Washington. 332 pp.
Bock, A. J., 2001. Segurança alimentar: A cultura de arroz e a Inovção Técnologica na Guiné-
Bissau, ISA/UTL, Lisboa, “Tese do Mestrado”.
Câmara, N. J. G., 1958. As principais dificiencias da produção. comercialização e consumo dos
alimentos de origem animal e vegetal que convém remediarem. Gaz. Agric. 10 (112): 258-261; 10
(113): 290-295.
Câmara, N. J. G., 1957. A propósito da campanha sobre a Nutrição do homem em Moçambique.
Gaz. Agric. 9 (98): 194-197.
Cardoso, C. & Imbali, F. 1993. "As questões institucionais e o Programa de Ajustamento
Estrutural na Guiné-Bissau" In: os Efeitos Sócio-Económicos do Programa de Ajustamento
Estrutural na Guiné-Bissau. INEP, Bissau, 34 pp
Correia. A. M.. 2000. Condicionamentos Africanas face ao incremento das necessidades
alimentares no próximo milénio: estratégias. ISA. Lisboa.
Carta Política Agrária, 1996. Plano de Acção da carta política de desenvolvimento agrária da
Guiné-Bissau. MDRA/ GAPLA, Bissau, 123-127 pp.

194
Carvalho, B. P., 1995. Programa de ajustamento estrutural politica economica e produção
agricola. 1 (4). ISA. Lisboa.
Carvalho, B. P., 1996a. Food Security. hedonic behaviour and economic development. 2. (9):17-20.
ISA. Lisboa.
Carvalho, B. P., 1996b. Economia e desenvolvimento agronomia tropical e segurança alimentar. 2
(2). ISA. Lisboa.
Carvalho, B. P., 1997. Investigação agronómica e segurança alimentar. ISA. Lisboa. ano 3. 2:3 -5.
Carvalho, B. P., 1998. Mudança tecnologica e segurança alimentar. 4 (4). ISA. Lisboa.
Carvalho, B. P., 1999. Food Aid management: International challenge to Food security and global
development. ISA, Lisboa, ano 5, nº 1.
Carvalho, B. P., 2000. Segurança alimentar e desenvolvimento económica na África Sub-
Sahariana. Colóquio populações. ambiente e desenvolvimento. Lisboa, ano 7, nº 3.
Correia, M. & Makinda, A., 1991. Women and food security. The experience of the SADCC
countries.
CDEAOA, 2000. Les Enjeux de l’Accord de Cotounou pour la sécurité alimentaire dans les pays
sahéliens et le processus d’integration régionale en Afrique de l’Ouest. Cotounou.
CILSS, 2000. Cadre Stratégique de Sécurité Alimentaire durable dans une perspective de lutte
contre la pauvreté au Sahel - Sahel 21 - Document Final - Décembre 2000 - Secrétariat Exécutif –
CILSS, Tchad 126 pp.
CILSS, 2001. Termes de référence pour le niveau national. Secretariat Executif. Sahel 21.
Rencontre régionale de lancement du processus d´élaboration des stratégies et des programmes
opérationnels. Annexe 4. Dakar 28 au 30 Mai 2001, p. 22-27.
CNC/MC, 2007. Relatório anual da Comissão Nacional de Caju sobre “a evolução de exportação de
castanha de caju” na Guiné-Bissau, Bissau, 34 pp.
Correia. A. M.. 1992. As queimadas e a desertificação. Agricultura e desertificação. AIJE e
APORJEL. Lisboa.
DGA, 2005. Normas, critérios e medidas de desalfadigação dos produtos da primeira necessidade,
Bissau, n. 3 /95, 83 pp.
DGRN, 2005. Estudo da Direcção Geral dos Recursos Naturais sobre a disponibilidade hidrica na
Guiné-Bissau “Águas superficiais e subteranias” Editora Escolar, Bissau. 64 pp.
DSNM, 2004. Bolitim informativo da Direcção do Serviço Nacional de Meteriologia sobre a
Evolução pluviometrica ao longo do ano nos principais postos meteriológicos, Bissau.
DSSA, 1999. Anuário Estatístico – Segurança Alimentar. Período 1986 a 1998. 1ª Edição,
Ministerio da Agricultura da Direcção de Serviços de Segurança Alimentar. Praia.
FAO, 1962. La nutricion y el rendimento en el trabalho. Roma, 48 pp.
FAO, 1970. Amino acid content of food and biological data on proteins. FAO Nutritional Studies
(24). Rome.
FAO, 1971. Educación alimentaria en la escuela primaria. Roma.

195
FAO, 1979. Aliments traditionnels et non traditionnels. Rome 49 pp.
FAO, 1983. Jornada Mundial de alimentação, nº 40/3 Roma.
FAO, 1989. Assistance au Bureau de Planification de la Sécurité alimentaire sobre a Guiné-Bissau.
Phase III, Rome, 74 pp.
FAO, 1990a. Utilisation des Aliments Tropicaux: Racines et Tubercules. Étude FAO-Alimentation
et Nutrition. Nº 47/2. Rome
FAO, 1990b. Utilisation des Aliments Tropicaux:Arbre. Étude FAO-Alimentation et Nutrition. Nº
47/3. Rome
FAO, 1990c. Utilisation des Aliments Tropicaux: Légumineuses Tropicales. Étude FAO-
Alimentation et Nutrition. Nº 47/4. Rome
FAO, 1990d. Utilisation des Aliments Tropicaux: Graines Oléagineuses. Étude FAO-Alimentation
et Nutrition. Nº 47/5. Rome
FAO, 1990e. Utilisation des Aliments Tropicaux: Sucres. Épices et Stimulants. Étude FAO-
Alimentation et Nutrition. Nº 47/6. Rome
FAO, 1990f. Utilisation des Aliments Tropicaux: Produits Animaux. Étude FAO-Alimentation et
Nutrition. Nº 47/8. Rome
FAO, 1992. Food. nutrition and agriculture. Rome.
FAO, 1995a. The vitamin A program. Fifth summary progress Report 1993-1994. Rome.
FAO, 1995b. El estudo mundial de la agricultura y la alimentacion. Roma.
FAO, 1996a. Relatório da Cimeira Mundial da Alimentação. Nº 53/3, Outubro, Roma.
FAO, 1996b. Alimentação para todos, Roma.
FAO, 1998. Les fammes nourrissent le monde. Journée mondiale de l`alimentation. Rome nº 86/1.
FAO, 2000. Manuel de détermination et mise en place d’un système d’information pour la sécurité
alimentaire et l’alerte rapide (SISAAR). Série FAO : Politiques agricoles et développement
économique. Rome, 130 pp.
FAO, 2003. Relatório da Cimeira Mundial da Alimentação, Dezembro, Roma.
FAO, 2004. Relatorio da FAO cit in “A terra vista do céu”. Situação alimentar e nutricional no
mundo nº 83/7, Roma.
FAO & OMS, 1973. Energy and protein requirements. Report of a Joint FAO/WHO Ad HOC
Expert Committee. Tech. Rept. Series. nº 52. Geneva. Switzeland.
FAO & OMS, 1974. Human nutritional requirements. Rome. 346 pp.
FAO & OMS, 1991. Evoluacion de la calidad de las proteinas. Estudo FAO. Alimentacion y
Nutricion. Nº 51. Roma.
FAO & OMS, 2004. Anúario Estatisticos sobre a Situação alimentar e Nutricional, Roma, 46 pp.
Felix, M., 2000. Alimentação e Nutrição em Angola: O paradoxo da Potencialidade, ISA, UTL.,
Lisboa.

196
FERNANDES, R. Jr., 2001. Memorando sobre o financiamento. realizações. constrangimentos e
perspectivas do Programa Nacional de Luta contra a Pobreza. Praia. 14 de Maio de 2001.
FERNANDES, R. Jr., 2005. A pesca artesanal na Guiné-Bissau: Analise e perspectivas, Atalie
sobre a potencialidade dos recursos maritimas na Guiné-Bissau, Bissau p. 24-36
FERNANDES, R. Jr., 2007. “The First Grantees Meeting of the Volkswagen Foundation´s
Initiative in Sub-Saharan Africa about Local Experiences of Conflit Management “Guinea-bissau
case estudy”, Bamaco, Mali, p. 230-237.
Ferrão, J. E. M., 1982. A pressão sobre os recursos alimentares. C. N. FAO. Lisboa.
Ferrão, J. E. M., 1986. «Agricultura e ambiente. Investir na agricultura tropical. O caso da Guiné -
Bissau (1) ». África Hoje, Lisboa, 17,1986, P. 38-39 [PT] IICT ( P 4325).
Ferrão, J. E. M., Ferrão. A. M. B. C. & Antunes. A. M. G., 1987. A mancarra dos bijagos (vigna
subterrânea). Aspectos do seu valor nutricional. Lisboa.
Ferrão, J. E. M., 1987. Uma medida para a fome e malnutrição. À guerra dos cereais entre os
países excedentários. C. N. FAO. Lisboa.
Ferrão, J. E. M., 1988. População e alimentos. O presente e o futuro proximo. C. N. FAO. Lisboa.
Ferrão, J. E. M., 1990. A fome no mundo. Causas e soluções. C. N. FAO. Lisboa.
Ferrão, J. E. M., 1992. Meditações sobre os alimentos e as populações mundiais. Lisboa.
Ferrão, J. E. M., 1994. A fome no mundo. Um problema de gestão de recursos e distribuição de
meios. Lisboa.
Ferrão, J. E. M., 1995. Alimentos e fontes de energia no mundo. O presente e o futuro. Brotéria 1
(140). Lisboa.
Ferrão, J. E. M., 1996. Os alimentos são suficientes para todos os homens? Lisboa.
Ferrão, J. E. M., 1999. A boa gestão dos recursos. Uma necessidade dos nossos tempos e a
garantia da perenidade da vida. Lisboa.
Ferreira, F. A. G., 1980. Alimentação – Nutrição – Saúde. V-2.
Ferreira, F. A. G., 1983. Nutrição Humana. Fundação Caulouste Gulbenkian. Lisboa.
Finglas, P. M., & Faulks, R. M., 1984. Nutricional composition of UK retail patatoes, both raw
and cooked “journal of the science of food and agricultura”, 35 (12): 1347-1356.
França, F. M. C., 1995. Agro-negócio do arroz na Guiné-Bissau. Bissau. Novembro, 22 pp.
GALLI, E. R., 1989., Estratégia de desenvolvimento na Guiné-Bissau: uma contribuição da
Comunidade Europea (CE), Bissau, 1989, p.52
GARAVANI¸ M., 1997. La définition du concept de risque dans le cadre d’un système d’alerte
précoce. Programme AGRHYMET- Project Alerte Précoce et Prévision des Production Agricoles.
Comité Permanent Inter-Etats Pour la Lutte Contre la Sécheresse dans le Sahel (CILSS)/Ministère
Italien des Affaires Etrangers. Rome.
Genders, R., 1988. Plantas silvestres comestibles. Frutos. boyas. raíces e brotes. Blume S.A..
Barcelona.

197
Ghersie, M., 1988. Modelos de Consumo em África Sub-Sahariana. 24 pp.
Ghiglione, R. & Malaton, B., 1992. O inquérito. Teoria e prática. Celta Editora. Oeiras. 43 pp.
Gossweiller, J., 1953. Plantas espontâneas e cultivadas pelos indígenas para efeitos de alimentação.
Anais Inst. Med. Trop.. Lisboa.
Greenwood, E., 1965. " Métodos de investigação empírica em sociologia. in: Análise social.
Lisboa. 11: 315.
Guimarães, C. 1957. «As chuvas na Guiné Portuguesa». Bolitim Cultural Guiné Port.. Bissau. 12
(47): 315-332.
Harrison, 1998. Medicina Interna. 14ed.. 1: 457 – 503. Washington. DC.
Hsieh, Y. & Karel, M., 1983. Rapid extraction and determination of alfa and beta carotenes In
food. “Journal of Chromatography”, 259: 515-518.
IICT, 1996. Garcia de Orta. Série de Botânica. 13 (1). Lisboa.
INE, 2004. Anuário Estatistico, Cabo-Verde, praia
INEC, 2002. Inquerito ligero sobre a vunerabilidade alimentar e qualidade da vida das familias,
Bissau, 185 pp.
INEC, 2004. “Guiné-Bissau em número - dados compilados”, Bissau
INEC, 2006. Estimatitivas da população residente do Censo de 1979 e 1991, Bissau
INEP, 2008. Experiências Locais de Gestão de Conflitos, Revista de Estudos guineenses
SORONDA, Numero especial 2008.Bissau, 373 pp.
Jafegher, C. et Rocha, A., 2001. Proposition d’une méthodologie d’analyse de la vulnérabilité
alimentaire. Juillet 2001. A metodologia recomendada pela FAO (2000). utilizada e adaptada e
utilizada pela INE da maioria dos países membros da CEDEAO Guiné-Bissau, 140 pp.
Koos Neefies, 1991. Gestão da água na orizicultura da Guiné-Bissau. PDRI-Z1 e Projecto de
Recuperação de Bolanha. Bissau. pp 22-36.
Langworrthy, M., 1995. Cabo Verde: Avaliação de Necessidade de ajuda Alimentar. Departamento
de Agricultura e Económia Universidade de Arizona. Arizona. 47 pp.
MAM/DE, 1993. Anúario Estatistico sobre a situação alimentar em Momçamque da direcção Geral
de Estatistica do Ministério de Agricultura de Moçabique, Maputo.
Martins, S. J. & Soares, A. M., 1981. Possibilidade da cultura de cajueiro na Guine-Bissau,
Fevereiro, Bissau, 45 pp..
MDRA/DAS, 1996. Zonas potenciais agrícola e recursos naturais na Guiné-Bissau, 34 pp.
MDRA/DEA, 1995. Divisão Administrativa das Zonas agrícolas da Direcção de Estatística Agrícola
no Ministério do Desenvolvimento Rural e Agricultura.. Bissau. 4:22-27.
MDRA/DGE, 2002. Bolitim de Informação sobre a agricultura e sistema pecuório da Guiné-Bissau
7/3, Bissau,
MDRA/DGE, 2006. Bolitim de Informação sobre a agricultura e sistema pecuório da Guiné-Bissau,
21/8, Bissau.

198
MDRA/DSP, 2006. Bolitim de Informação sobre a agricultura e sistema pecuório da Guiné-Bissau,
42/9, Bissau.
MDRA/GAPLA, 2003. Planificação para a agricultura sustentavel na Guiné-Bissau, Bissau, 48 pp
ME/DSC, 1987. Guiné-Bissau no espaço de UEMOA: Politica e Estratégias da liberlização
economica na Guiné-Bissau, 97 pp.
Melo, M. R. C., 1999. Guia prático da alimentação e ao terapêutica natuaral. Lisboa.
MP/DGP, 1998. Plano de Gestão dos recursos da Pesca Industrial para o ano 1998. Direcção
Geral das Pescas do Ministério das pescas. Bissau, 168 pp.
MS/SNLS, 1995. Estado nutricional da população e das crianças de 0 a 5 anos de idade, Bolitim
anual nº 16 do Serviso Nacional de Saúde no Ministerio de Saúde, Bissau, 45 pp
MS/PS-PNUD, 1996. A saúde das crianças menores de cinco anos em Cabo Verde Ministério da
Saúde e Promoção Social. Fundo das Nações Unidas para a Infância. Cabo Verde. 1996. Tomo I
Estudo Epidemiológico. Tomo II Estudo Etnográfico.
MS/PNDS, 1998. Plano Nacional de Desenvolvimento Sanitário (1998-2000). Mission Française de
coopération et d´action culturelle de Guinée-Bissau. Bissau.
MUNDO E MISSÃO, 2004. Missão para o desenvolvimento no mundo. Revista nº 68, p. 25.
Netto. I. C., 1959. Análise de géneros alimentício. Métodos físicos e químicos. IQA. Lisboa.
Norberto. T. S., 1974. Avaliação nutricional da população infantil Banto (0 – 5 anos) de uma zona
suburbano da cidade de Lourenço Marques, Lourenço Marques.
NP – 3030, 1985. Frutas. produtos hortícolas e seus derivados. Determinação do teor de àcido
ascórbico. Processos correntes. Lisboa. Direcção Geral de Qualidade.
Oliveira, J., 1991. "Desenvolvimento da Agricultura e a Lei da Terra". Bula. (Comunicação
apresentada na 1ª Conferência Nacional sobre a Lei da Terra. Bula. 32 pp.
OMS, 1995. Avaliação do estado nutricional de crianças em relação a uma população de referência.
definida pela National Center for Health Statistics (NCHS). Washigton DC.
OMS, 1994. Xerophtalmia Club Bulletin. nº 61. Março.
OMS, 1988. Atlas de nutrição e saúde, Fundação Caloustre Gulbenkian, Lisboa.
OMS, 2000. Julho de 2000 Relatório da XII Conferencia sobre SIDA em Durban na Africa do Sul,
Durban, 48 pp
OMS, 2004. “Human nutritional requirements”. Guinea-Bissau case study. Rome. 85 pp.
OMS/SNLS, 2006. Relatorio anual de Avaliação dos Projectos do Ministerio de Saude na Guiné-
Bissau, Bissau, 64 pp.
PAE, 1987. Documento sobre Programa de Ajustamento Estrutural na Guiné-Bissau, Bissau, 83 pp.
PAM, 2006. Ajudas e produtos alimentares doados na Guiné-Bissau, Bissau, 43 pp.
Plano Nacional de Desenvolvimento, 1999. “Programa de Saneamento”. Consulta com os
parceiros de desenvolvimento. República de Cabo Verde. Plano Nacional de Desenvolvimento
1997/2000. avaliação a meio percurso. Praia. 10 a 11 de Junho de 1999.

199
PLPR, 2002. Programme National de Lutte contre la Pauvreté en Milieu Rural (PLPR). Aide
Memoire. Mission de Supervision du 7 au 19 Avril 2002. Praia.
PNUD, 1992. Relatório sobre o desnvolvimento humano. Washington. DC, p 24-31.
PNUD, 2002. Relatório de desenvolvimento humano. Washington. DC, p. 18-27.
PNUD, 2004. Relatório de desenvolvimento humano. Washington. DC, p. 37-41.
PNUD, 2006. Relatório de desenvolvimento humano. Washington. DC, p. 48-52.
Reffega, A. A. G., 1999. Consrvação, uso sustentavel do solo e agricultura tropical, IICT, Lisboa.
Reis, C. S., 1974. A nutrição no ultramar português. Vol. II. IHMT. Lisboa.
Reis, C. S., 1973. A nutrição no ultramar português. Vol. I. IHMT. Lisboa.
Relatório, 2001. Relatórios dos Grupos Temáticos no âmbito da elaboração das Grandes Opções
do Plano. particularmente os referentes aos temas: «Melhoria da Qualidade de Vida»; «População»;
e «Segurança Alimentar e Pobreza». Outubro 2001. Praia.
Rocha, L. A. C., 1987. O estado de nutrição das populações de Cabo-Verde. IHMT. Lisboa.
Said, A.R., 1993. Perfil ambiental da Guiné-Bissau : elementos para redificação da intervação dos
projectos Suecos da Cooperação, Bissau.
Sardinha, R. M. A., 1992. A desertificação e o uso da terra nos tropicais. AIJER e APORJEL.
Lisboa.
SCET-AGRI, 1992. Bolitin de informação sobre a situação de serviço agrícola do GAPLA/MDRA
nº 3, 48 pp, Bissau.
Schifer, U. & Havik, P. J., 1992. Inquérito ligeiro junta às familiares e dados preliminar do INEC
sobre a Guiné-Bissau., RGP 1979 e 1991, Bissau. p.13.
SÉNE, J. B., 2006. «Sénegal: secteur de la pêche, les professionnels à la recherche de solutions de
sortie de crise», artigo nº 5, Abril, Senegal, Dakar.
Teixeira, A. J. S., 1962.«Os solos da Guiné Portuguesa. Carta geral. Características. formação e
utilização». Lisboa. junta de investigações do ultramar. (Estudos de casos). Lisboa. 100:397.pp.
Temudo, M. P., 1998. Inovação e mudança em Sociedades Rurais Africanos Gestão dos recursos
naturais. saber local e Instituições de Desenvolvimento Induzido (estudo de caso na Guiné-Bissau).
Vol. I: 131 pp.
UEMOA, 1993. Rubricas das despesas de consumo. Sistema de Contabilidade Nacional (SCN)
utilizado nos INE dos países membros. revisão IV de 1993. Uagadugú.
UEMOA, 2001. «Ateliers Sous-Régionaux du PMEDP sur la Pêche artisanale. la pauvreté et le
Code de Conduite pour une Pêche responsable». Cotonou. Bénin. November 2001.
UNICEF, 1994. O progresso das nações, 98/5, Washignton DC.
UNICEF, 2005. Estudo de caso sobre direito das crianças da Guiné-Bissau, Bissau 86 pp.
UNICEF, 2007. Abuso e a Exploração Sexual de Menores na Guiné-Bissau. Instituto de Mulheres e
Criança, Bissau, 82 PP.
Walker, D. J., 1992. World food programme. Food storage manual. NRI, 181 pp.

200
Williams, C. D.. 1933. A nutritional disease of children associates with maize diete.
Xabregas, J. & Fonseca, D. F., 1956. Problemas de nutrição de Angola. aspectos de Luanda. Bol.
Inst. Ang. Nº 8. Luanda.
Xabregas, J. & Nunes, P., 1959. As leguminosas na alimentação do Indigina Angolano. Luanda
Bol. Inst. Agr. Nº 8, Luanda.
Xabregas, J., 1959. Nutrição agronomia e educação alimentar. Bol. Inst. Ang. nº 12: 67-74. Luanda.
Ylva, L. 1996. Cashew in Guinea-Bissau “The small producers perspective. Uppsala. 26-28 pp.
http://www.fao.smiar.com . Comprendre l’insécurité alimentaire et la vulnérabilité. SICIAV.
(Brochure). Guinée-Bissau.
http://www.fao.stat.com .Anuário Estatística das principais culturas alimentares e de exportação na
Guiné-Bissau .
http://www.ifpri.org . Situação de segurança alimentar. disponibilidade e aspectos nutricionais
http://www.ipeadata.gov.br/ipeaweb.dlll/dicionario. Balanço de pagamento e Balança comercial.
http://www.uemoa.izf.net . Politica comum dos países membro da UEMOA nos sistemas de
contabilidade nacionais.

201
ANEXOS

202
ANEXO 1 - Evolução da população por região (INEC, 2006 )
Unidade:
nº de pessoas (1000 habitantes)
Tax
Zonas/região 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
C.A
Cacheu 0,9 143,9 14,5 14,7 148,0 149,5 151,0 152,5 154,0 155,6 157,1 158,7 160.3
Zona Biombo 0,5 59,2 59,5 59,8 60,1 60,4 60,7 61,0 61,3 61,6 62,0 62,3 62.6
I
Oio 1,1 151,9 153,6 155,3 157,2 159,1 161,0 162,9 164,9 166,8 168,8 170,9 172.9
Bafata 1,8 139,9 142,5 145,1 147,8 150,7 153,5 156,4 159,4 162,4 165,0 168,7 172.0
Zona
II Gabú 2,1 130,4 133,2 136,1 139,1 142,2 145,3 148,5 151,7 155,1 158,5 162,0 165.5
Quinará 1,5 41,7 42,3 43,0 43,6 44,3 45,1 45,8 46,5 47,3 48,0 48,8 49.6
Zona
III Tombali 2,0 68,2 69,6 71,1 72,6 74,1 75,6 77,2 78,8 80,5 82,2 83,9 85.7

Z - IV Bolama 0,3 26,7 26,0 26,9 27,0 27,1 27,2 27,3 27,4 27,5 27,7 27,8 27.9

Z - 0 S.Bissau 4,1 179,4 187,4 195,4 205,2 215,4 226,2 237,5 249,4 261,0 274,9 288,7 303.1
Total 1.9 942,0 960,6 979,2 999,3 1019,8 1040,7 1062,0 1083,8 1106,0 1128,7 1151,8 1175,4

ANEXO 2 - Evolução da População por sexo (INEC, 2006)


Unidade: nº de pessoas (1000 habitantes)
Taxa de Cresc.
População 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
Anual
População total 901 923 946 971 997 1025 1052 1078 1102 1126 1149 1173 1199 2,31

Homens 443 454 465 478 491 504 518 531 543 555 566 578 591

Mulheres 458 469 481 493 507 520 534 547 559 571 583 595 608

Popul. urbana 201 213 225 238 252 267 282 297 313 328 344 361 378 5,18

População rural 700 710 721 733 745 758 770 780 790 798 806 813 821 1,2

Pop. Activa 428 436 446 456 467 479 490 500 510 520 529 538 549

Pop. Agrícola 773 790 808 826 846 867 887 906 924 941 958 975 993

Pop. não agrícola 128 133 139 145 151 158 164 171 178 184 191 198 206

ANEXO 3 - Repartição da população por grupo etário. censo de 1979/91( INEC, 2006)

Unidade: nº de pessoas e % do
total
Censo 1979 1991
Grupo etário Total % Masculino Feminino Total % Masculino Feminino

203
0-14 anos 342,2 44,9 22,7 22,2 454,4 46,4 23,5 22,9
15-64 anos 388,6 50,9 23,0 27,9 471,6 48,1 21,9 26,2
65 e mais 31,9 4,2 2,9 2,1 54,3 5,5 2,9 2,6
Total 762,7 100,0 48,6 52,1 980,4 100,0 48,3 51,7
ANEXO 4 - Evolução do PIB. (P. do Mercado/ preços constantes de 1986) (INEC,2002)
Unidade: 1000 milhões de FCFA )
SECTORES 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

42,9 45,2 45,6 48,4 51,0 54,6 58,0 63,0 50,4 54,2 56,4 57,3 54,7
Sector Primário

Agricultura. pecuária.. silvic. e pesca 42,9 45,2 45,6 48,4 51,0 54,6 58,0 63,0 50,4 54,2 56,4 57,3 54,7

Sector Secundário 14,7 15,4 17,4 16,3 14,5 15,4 16,0 17,2 10,2 10,4 11,1 10,9 11,2

Indust. (água e elec.) 10,3 10,5 10,6 11,0 11,3 11,5 11,8 12,2 7,9 8,1 8,4 8,3 8,5
Construção 4,3 4,9 6,8 5,3 3,2 4,0 4,2 5,0 2,2 2,3 2,7 2,6 2,8

Secteur terceário 31,7 32,9 32,6 31,8 33,4 32,6 33,9 34,5 22,3 24,0 27,1 27,3 25,7

Comérc.. restaur. e hotéis 21,6 21,8 21,2 21,2 23,1 22,8 24,3 25,2 12,6 13,2 14,0 14,2 13,8
Transp. e comunicações 2,2 2,4 2,4 2,4 2,5 2,5 2,7 2,8 2,1 2,3 2,3 2,4 2,5
Banc. segur. e outos serv. 0,8 0,9 0,9 0,8 0,8 0,8 0,8 0,9 0,4 0,4 0,4 0,3 0,3
Seviços Governamentais 7,1 7,8 8,0 7,5 7,0 6,5 6,1 5,6 7,2 8,2 10,5 10,4 9,1

PIB de custos de facturas 89,3 93,5 95,6 96,5 98,9 102,7 107,9 114,7 82,9 88,6 94,6 95,5 91,6
Impostos indirecto 1,0 1,4 0,8 1,0 1,8 1,8 1,6 2,0 0,9 1,6 2,3 1,6 1,4
Total 90,3 94,9 96,4 97,5 100,7 104,5 109,5 116,7 83,8 90,2 96,9 97,1 93,0
Fonte: INEC, 2002

ANEXO 5 - Evolução do Produto Interno Bruto. (preços constantes de 1986), (INEC,2002)


Unidade: Estrutura % do
total)
SECTORES 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

47,5 47,7 47,3 49,6 50,7 52,3 53,0 54,0 60,2 60,2 58,2 59,0 58,8
Sector Primário
Agricult.. pecuária. silvicult/ pesca 47,5 47,7 47,3 49,6 50,7 52,3 53,0 54,0 60,2 60,2 58,2 59,0 58,8

Sector Secundário 16,2 16,2 18,1 16,8 14,4 14,8 14,6 14,7 12,1 11,5 11,4 11,3 12,1
Industria (incl.água e electricid.) 11,4 11,1 11,0 11,3 11,3 11,0 10,8 10,5 9,5 8,9 8,6 8,5 9,1
Construção 4,8 5,2 7,1 5,4 3,2 3,8 3,8 4,3 2,7 2,6 2,8 2,7 3,0

Sector terceário 35,1 34,7 33,8 32,6 33,2 31,2 30,9 29,6 26,6 26,6 28,0 28,1 27,6
Comércio. restaurantes e hotéis 23,9 23,0 22,0 21,7 22,9 21,8 22,2 21,6 15,0 14,6 14,4 14,7 14,9
Transportes e comunicações 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 2,4 2,5 2,4 2,6 2,5 2,4 2,4 2,7
Bancos. seguros e outos serviços 0,9 0,9 0,9 0,8 0,8 0,8 0,8 0,7 0,4 0,4 0,4 0,3 0,3

204
Seviços Governamentais 7,8 8,3 8,3 7,7 6,9 6,2 5,5 4,8 8,5 9,0 10,8 10,7 9,8

PIB de custos de facturas 98,8 98,5 99,2 98,9 98,2 98,3 98,5 98,3 98,9 98,2 97,6 98,3 98,5
Impostos indirecto 1,2 1,5 0,8 1,1 1,8 1,7 1,5 1,7 1,1 1,8 2,4 1,7 1,5
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

ANEXO 6 - Evolução do Produto Interno Bruto. (Preços constantes de 1986) (INEC,2002)


Unidade: % Variações anuais)
SECTORES 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

5,3 0,8 6,1 5,5 7,1 6,2 8,6 -20,0 7,7 6,5 5,4 5,0
Sector Primário
Agricultura. pecuária. silvicultura e pesca 5,3 0,8 6,1 5,5 7,1 6,2 8,6 -20,0 7,7 6,5 5,4 5,0

Sector Secundário 4,9 13,3 -6,3 -11,2 6,5 3,7 7,3 -40,8 2,2 13,7 5,1 7,5
Industria (incluindo água e electricidade) 1,6 1,4 3,8 2,6 1,3 3,0 3,3 -35,0 2,0 5,5 4,0 4,5
Construção 12,9 39,0 -22,1 -40,0 24,8 5,8 18,7 -55,0 3,0 42,4 8,0 15,0

Sector terceário 3,8 -1,0 -2,4 5,0 -2,3 3,8 1,7 -35,5 7,7 6,2 13,6 13,3
Comércio. restaurantes e hotéis 1,1 -2,7 -0,3 9,2 -1,5 6,8 3,6 -50,0 4,5 6,1 6,4 6,5
Transportes e comunicações 7,5 2,8 -2,0 3,8 2,0 5,8 3,9 -23,0 6,0 4,3 3,5 3,5
Bancos. seguros e outos serviços 6,0 0,9 -11,6 8,0 1,7 -0,5 2,0 -57,7 2,0 4,7 -3,0 -2,0
Seviços Governamentais 10,7 2,5 -6,8 -6,8 -6,8 -6,8 -6,8 26,6 14,0 6,9 28,5 25,0

PIB de custos de facturas 4,7 2,3 0,9 2,5 3,9 5,0 6,3 -27,8 6,9 7,3 7,5 7,6
Impostos indirecto 31,9 -44,7 35,2 72,4 0,9 -11,2 4,8 -52,4 70,8 27,5 28,5 27,9
PIB do preços constantes do ano 1986 5,0 1,6 1,2 3,2 3,8 4,8 6,3 -28,2 7,6 7,5 7,8 8,0

ANEXO 7 - Evolução das pluviometrias e temperaturas (registos, principais postos). (DSNM,2000)


Unidade: média/ano
Precipitação (mm3) Temperatura (tº)
Ano Média
Bissau Bafata Bolama Média Bissau Bafata Bolama
Nacional
1990 1209,2 1372,9 1358,7 1313,6 27,2 28,4 27,2 27,6
1991 1771,8 1202,4 2368,5 1780,9 27,3 28,3 27,0 27,5
1992 1448,2 1245,9 2246,8 1647,0 27,0 27,7 26,9 27,2
1993 1223,4 911,3 1635,4 1256,7 27,2 28,1 26,9 27,4
1994 1945,1 1373,6 2420,1 1912,9 27,2 27,3 26,6 27,0
1995 1474,7 1109,5 1883,3 1489,2 26,9 27,7 27,0 27,2
1996 1558,3 1230,4 1871,8 1553,5 27,6 27,6 27,2 27,5
1997 1319,1 1038 1794,3 1383,8 28,0 28,1 26,9 27,6
1998 - - - 887,0 28,5 27,6 26,9 27,7
1999 1877,4 1187 1813,9 1626,1 - - - -
2000 1781,8 1275,2 2091,4 1716,1 28,9 29,1 27,4 28,5

205
Média 1560,9 1194,62 1948,42 1506,073 27,58 27,99 27 27,52

ANEXO 8. Evolução da divida Externa em Milhões de dólares ($US), (BCEAO. 2005)


2000 2001 2002 2003 2004
CREDORES
STOCK Atrasados STOCK Atrasados STOCK Atrasados STOCK Atrasados STOCK Atrasados
Tot. Crédito 933.086.12 244.611.07 959.712 364.494 850.607 190.226 897.556 235.917 1.062.557 275.851

Multilateral 381.252.61 23.354.56 403.016 23.360 418.992 25.008 431.953 28.980 529.313 32.141
IDA 211.501.84 0.00 228.690 0 231.722 0 237.830 0 290.698 0
AfDB/AfDF 113.359.02 0.00 116.130 0 128.766 0 132.887 0 151.109 0
Outros 56.391.75 23.354.56 58.196 23.360 58.504 25.008 61.236 28.980 87.505 32.141

Bilateral 544.002.66 221.256.51 556.696 341.134 431.615 165.219 465.603 206.936 533.244 243.711
Club de Paris 409.624.03 156.957.15 448.242 279.752 295.438 109.394 324.394 144.222 388.926 175.765
Belgium 9.192.56 3.591.82 9.193 3.591.82 9.298 641 9.673 1.018 13.175 1.622
Brazil 20.715.86 4.963.19 31.295 16.186.33 24.349 11.139 25.851 13.578 27.188 14.150
France 15.422.27 9.399.25 15.422 9.399.25 14.009 5.582 14.413 7.119 20.495 9.796
Germany 4.378.60 2.768.12 4.379 2.768.12 1.121 200 1.167 266 1.822 462
Italy (OTB) 55.185.07 1.559.96 78.206 42.341.03 73.011 34.286 78.169 41.937 93.682 48.462
Rússia 143.315.08 120.564.54 119.960 119.679.47 18.532 2.146 19.452 3.420 20.290 3.839
Portugal 87.740.75 8.066.91 112.975 55.936.31 71.898 13.004 84.016 17.603 105.111 23.482
Italy 65.490.30 3.859.45 68.841 25.660.15 70.861 40.944 78.761 57.016 93.995 70.872
Spain 8.183.54 2.183.91 7.972 4.189.60 12.359 1.452 12.893 2.264 13.168 3.080
N.Club/Paris 134.378.63 64.299.36 108.454 61.382 136.177 55.824 141.209 62.715 144.318 67.946
S. Fund 19.524.34 2.081.72 13.965 6.625 14.505 7.176 14.860 8.031 15.250 8.078
Kuwait 30.657.07 1.838.97 18.946 15.952 44.584 1.581 46.021 3.402 48.027 4.056
Taiwan 32.252.00 3.402.00 38.673 8.668 39.711 13.939 42.046 17.986 44.385 19.155
Outros 51.945.22 56.976.67 36.869 30.137 37.378 33.128 38.282 33.296 36.656 36.656

206
ANEXO 9 - Evolução da produção dos produtos agrícola (INEC, 2002 e MDRA/DGE, 2006)
Unidade: 1000 T
Produto 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

A. Sequeiro 31,8 35,2 31,6 35,7 40,1 42,1 27,9 38,8 42,2 40,8 30,7 20,6

A.B. Salgada 61,1 53,6 63,6 55,2 63,3 61,1 28,9 36,6 35,5 34,8 32,6 30,3

A.B. Doce 26,0 23,5 31,6 25,0 27,5 30,1 23,7 28,8 28,8 30,5 25,8 21,1

Sub-total 118,8 112,3 126,8 125,9 130,9 133,3 80,5 104,2 106,5 106,1 89,1 72,0

M. Preto 17,4 23,7 20,3 26,4 28,6 34,7 37,1 28,1 21,1 21,1 28,6 36,1

M. Bacil (Z.Maize) 13,7 11,2 9,8 12,5 13,8 15,3 9,2 9,2 25,7 25,7 28,1 30,5

M.Cavalo (Sorgo) 11,3 11,5 10,5 13,9 14,2 15,5 15,4 16,7 11,3 11,3 15,1 18,9

Sub-total 42,4 46,4 40,7 52,8 56,7 65,6 61,8 54,0 58,1 58,1 71,8 85,5

Fundo 1,6 1,1 1,4 2,0 2,4 1,7 1,8 2,3 3,9 3,9 2,9 1,8

Total cereais 162,8 159,7 168,8 180,7 190,1 200,5 144,2 160,5 168,5 168,1 163,7 159,3

Feijões 2,2 2,4 2,5 3,2 - - - - - - - -

Raízes e tuberc ulos 69,5 65,9 69,7 70,7 71,8 72,7 81,1 92,7 94,5 97,0 97,2 97,4

Mandioca 17,5 11,9 14,7 14,4 14,8 14,7 21,1 31,7 32,0 32,0 32,0 32,0

Banana 3,0 4,0 4,8 4,5 4,2 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0

Legumes 21,0 21,5 22,0 22,5 23,0 23,5 24,0 24,5 24,5 25,0 25,0 25,0
Fonte:

ANEXO 10 - Evolução das ajudas e doações dos produtos básicos (INEC, 2002 e PAM, 2006)
Unidade: 1000 Kg
Produto 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
Arroz 3380 10418 8256 6075 - 1634 5766 2078 3574 992 10216
Milho/outr cereais 2182 1558 953 2810 1704 877 618 877 16308 251 717
Total dos cereais 7562 13346 9928 11324 2594 3388 6384 3832 19882 1243 10935
Farinha trigo 2000 1370 719 2439 890 877 - 877 - - 2
Leite em pó/ outr. 402 229 229 308 30 75 178 2 2 29 12
Óleo/Azeite (L) 536 644 584 1 712 500 796 128 509 872 288
Açúcar 59 55 175 146 124 100 86 - - 48 67
Carne e derivados 65 202 467 408 326 299 512 197 - 88 -
peixes e derivados 435 28 - 92 - 76 - - - - -

207
ANEXO 11 - Evolução de disponibilidade calórica per cápita
Unidade: Kcal/hab/dia
Produto 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Arroz 1217,9 1479,9 1506,5 1498,2 1370,4 1383,3 1334,5 1133,3 996,1 1130,4 1244,6
Milho/ outros cereais 424,7 472,9 502,8 445,0 574,0 561,3 660,6 631,8 614,7 543,5 -
Farina trigo 74,8 63,1 59,4 83,2 91,2 48,7 78,1 106,1 39,4 48,5 131,5

Total dos cereais 1717,4 2015,9 2068,6 2026,4 2035,5 1993,3 2073,2 1871,2 1650,2 1722,3 1376,0

Outros raizes/ tuberc. 418,2 426,1 425,2 426,5 423,2 422,0 427,7 426,1 427,8 436,0 428,6
Mandioca 54,4 36,2 43,9 42,1 42,6 41,4 58,1 85,6 84,7 83,0 81,3
Legumes 10,2 10,2 10,3 10,3 10,3 10,3 10,3 10,3 10,1 10,1 9,9
Leite em pó/ outros 28,2 28,0 28,0 28,9 28,0 27,4 27,7 26,7 26,0 26,0 25,3
Óleo/Azeite (L) 306,8 274,8 378,4 304,0 313,0 333,8 297,7 284,1 283,2 285,6 311,2
Açúcar 22,9 29,1 11,2 15,0 42,6 26,2 59,8 90,6 22,3 44,8 109,6
Carne e derivados 98,1 100,1 105,7 105,9 104,6 102,5 106,5 106,0 104,5 105,0 103,0
Peixes e derivados 18,9 35,4 16,7 19,6 18,5 16,1 18,6 25,6 33,0 43,8 -
Ovos 2,7 2,8 2,7 2,7 2,6 2,5 3,0 3,8 3,7 3,9 3,8

Total per capita 2677,8 2958,4 3090,7 2981,3 3020,8 2975,5 3082,6 2930,0 2645,5 2760,5 2453,5

ANEXO 12 – Evolução de disponibilidade proteica per cápita


Unidade: Gr/hab/dia
Produto 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
26,1 31,7 32,3 32,1 29,4 29,6 28,6 24,3 21,4 24,2 26,7
Arroz
12,1 13,5 14,3 12,7 16,4 16,0 18,9 18,0 17,5 15,5 15,8
Milho/ outros cereais
2,2 1,9 1,8 2,5 2,7 1,5 2,3 3,2 1,2 1,5 3,9
Farinha trigo
40,5 47,1 48,4 47,3 48,5 47,1 49,8 45,5 40,1 41,2 46,4
Total dos cereais
20,9 21,3 21,3 21,3 21,2 21,1 21,4 21,3 21,4 21,8 21,4
Outros raizes/ tuberc.
0,5 0,3 0,4 0,4 0,4 0,3 0,5 0,7 0,7 0,7 0,7
Mandioca
0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5
Legumes
1,5 1,5 1,5 1,6 1,5 1,5 1,5 1,5 1,4 1,4 1,4
Leite em pó/ outros
0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Óleo/Azeite (L)
0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Açúcar
6,6 6,7 7,1 7,1 7,0 6,9 7,2 7,1 7,0 7,1 6,9
Carne e derivados
7,5 8,1 7,4 7,6 7,6 7,4 7,4 7,5 7,8 8,0
peixes e derivados
0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,3 0,3 0,3 0,3
Ovos

208
Total per capita 78,1 85,7 86,7 85,9 86,7 85,0 88,4 84,3 79,1 80,9 77,5

ANEXO 13 - Principais bens e equipamentos que possui o agregado familiar por regiões (%)

Posse de Televisão

Posse de Telefone
Ligação de agua à

Utilização de gás

Vídeo cassete ou
Casa de banho e

quarto a dormir
Posse de Rádio

Nº Pessoas por
retrete/latrina

Electricidade
rede publica

Automóvel

na cozinha
frigorifico
Acesso a
Posse de

Posse de
Região

DVD
Nacional 35,75 91,9 27,9 13,3 69,8 2,64 49,4 43,3 17,7 43,9 15,5
SAB 43,1 97,6 43,5 22,1 78,5 2,22 51,2 50,3 26,4 64,6 18,1
Out. regiões 28,4 86,2 12,4 4,5 61,0 3,02 48,6 36,2 9,0 23,1 12,8
Bafata 43,4 93,3 15,3 6,5 63,1 3,1 58,1 43,5 9,4 40,1 13,1
Gabu 47,4 92,5 12,6 6,2 62,5 3,2 67,0 53,6 12,7 42,8 22,4
Canchungo 32,1 82,1 10,2 5,1 65,2 2,9 57,4 51,2 11,4 54,6 18,8
Catio 0,0 82,0 8,4 2,0 52,1 3,1 20,3 17,6 6,9 0,0 6,4
Bolama 20,1 81,1 15,5 1,7 62,1 2,8 40,2 15,1 4,6 0,0 5,3

ANEXO 14. Posse de bens e equipamentos segundo grupos vulneráveis (%)


Equipamentos Mais Vulneráveis Outros Vulneráveis Menos Vulneráveis
A ligação à rede publica de agua 9,8 31,2 66,3
A posse de rádio 82,4 95,8 97,5
A posse de televisão 14,2 18,0 51,2
A posse de automóvel 2,2 11,3 26,4
A posse de videocassete/DVD 1,8 15,2 29,5
A posse de casa de banho 16,7 25,3 74,9
Nº de pessoas por quarto a dormir 3,4 2,8 1,72
Posse de telefone 15,1 53,4 63,2
O acesso a electricidade 31,8 42,3 74,1
A posse de frigorífico 15,3 31,2 83,4
A utilização de gás na cozinha 2,5 15,4 35,2
Média 18,01 28,85 54,02

209
ANEXO 15. Preços médios e suas relações nos diferentes mercados com o mercado de base
(Bissau) e entre os mercados nas diferentes localidades

Preço nos diferentes localidades (Kg ou Litros)


Óleo/ Leite
Localidade Arroz Milho Trigo azeite em pó Açúcar Tomate Carne Peixe
Bissau 250 300 75 500 1500 200 250 1500 500
Bafatá 275 250 100 750 2000 250 300 1300 1000
Gabu 250 250 100 750 2000 250 300 1250 1000
Canchungo 275 160 120 750 2000 300 150 1250 500
Catió 150 100 200 1000 2300 500 50 750 250
Bolama 285 250 175 1100 2500 450 100 1500 100

Relações de preços nos principais mercados (Base = Mercado de Bissau)


Bafatá /Bissau 1,1 0,8 1,3 1,5 1,3 1,3 1,2 0,9 2,0
Gabú /Bissau 1,0 0,8 1,3 1,5 1,3 1,3 1,2 0,8 2,0
Canch. /Bissau 1,1 0,5 1,6 1,5 1,3 1,5 0,6 0,8 1,0
Catió /Bissau 0,6 0,3 2,7 2,0 1,5 2,5 0,2 0,5 0,5
Bolama /Bissau 1,1 0,8 2,3 2,2 1,7 2,3 0,4 1,0 0,2
Relações de preços (Base = Mercado de Bafatá)
Gabu /Bafatá 1,1 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0
Canch. /Bafatá 1,0 1,6 0,8 1,0 1,0 0,8 2,0 1,0 2,0
Catió /Bafatá 1,8 2,5 0,5 0,8 0,9 0,5 6,0 1,7 4,0
Bolama /Bafatá 1,0 1,0 0,6 0,7 0,8 0,6 3,0 0,9 10,0
Relações de preços (Base = Mercado de Gabú)
Canch. /Gabú 0,9 1,6 0,8 1,0 1,0 0,8 2,0 1,0 2,0
Catió /Gabú 1,7 2,5 0,5 0,8 0,9 0,5 6,0 1,7 4,0
Bolama /Gabú 0,9 1,0 0,6 0,7 0,8 0,6 3,0 0,8 10,0
Relações de preços (Base = Mercado de Canchungo)
Catió /Canch. 1,8 1,6 0,6 0,8 0,9 0,6 3,0 1,7 2,0
Bolama /Canch. 1,0 0,6 0,7 0,7 0,8 0,7 1,5 0,8 5,0
Relações de preços (Base = Mercado de Bolama em relação ao mercado de Catió)
Catió /Bolama 0,5 0,4 1,1 0,9 0,9 1,1 0,5 0,5 2,5

Rp = Pi /PB ou Pi /Pib Onde: Rp – Relações de precos


Pi - preços nos diferentes localidades;
Pib – preço de base entre as localidades
PB – preço de mercado de Base. mercado de Bissau.

210
ANEXO 16 - Composição em aminoácidos totais (g/100g de proteína) dos
produtos analisados.
Bagre Fumado Candja Baguitch
Djagatu
Aminoácido (Protopterus A.. (Hibiscus (Hibiscus
(Solanum sp.)
B. Poll) esculentus L.) sabdariffa L.)
ASP 7,5 10,3 10,5 10,7
THR 3,6 2,4 3,1 3,5
SER 2,9 2,4 2,8 3,4
GLU 12,3 11,3 10,2 10,6
PRO 4,1 3,5 3,1 3,5
GLY 7,1 3,0 3,2 3,7
ALA 4,8 3,3 4,2 4,6
VAL 3,3 3,9 3,6 4,1
CYSS 0,0 1,0 0,3 0,9
MET 2,0 2,0 0,9 1,1
ILE 3,3 3,1 2,5 2,7
LEU 5,1 4,7 4,8 5,1
TYR 2,4 2,1 2,2 1,7
PHE 2,9 3,5 3,7 3,4
LYS 3,1 3,1 3,6 4,6
HIS 1,9 2,2 2,2 2,0
TRY 1,3 0,2 0,1 0,4
ARG 5,3 2,7 3,1 4,8
TOTAL 72,9 65,7 64,1 72,8

ANEXO 17- Ingestão dietética equilibrada diária. adequada e recomendada para adultos
Saudáveis segundo o National Reserch Council. (Harrison, 1998 e FAO & OMS, 1973)

Ingestão diária segura Homens Mulheres


Energia alimentar (calorias)* 2.400 2.400
Proteína (g) 45 – 63 44 - 50
Vitamina A (UI) 1.000 800
Vitamina C (mg) 50 – 60 50 – 60
Niacina (mg) 15 – 20 13 - 15
Cálcio (mg) 800 – 1.200 800 – 1.200
Fósforo (mg) 800 – 1.200 800 – 1.200
Magnésio (mg) 270 – 400 280 - 300
Ferro (mg) 10 – 12 10 - 15
Zinco (mg) 15 12
Cobre (mg) 1.5 – 3 1.5 - 3
Manganês (mg) 2–5 2-5
Potássio (mg) 1.800 – 3.600 1.800 – 3.600
Sódio (mg) 1.100 – 3.300 1.100 – 3.300
* - Critério da FAO & OMS.

211
ANEXO 18 - Razões comparativas dos teores em aminoácidos essenciais do B. Fumado
(Protopterus A.B. Poll) com a proteína do ovo (FAO. 1970) e com padrão da FAO/OMS (1973).
Proteína do Padrão B. Fumado
Razão Razão Log.10
Aminoácido ovo (FAO)a (FAO/ 2005 a b b
C/B*100 C/A*100 (C/A*100) b
A WHO)aB C
Treonina 5,12 4,00 3,6 90,0 70,3 1.8470
Valina 6,85 4,96 3,3 66,5 48,2 1.6828
Metionina+Cistina 5,79 3,52 2,0 56,8 34,5 1.5384
Isoleucina 6,29 4,00 3,3 82,5 52,5 1.7199
Leucina 8,82 7,04 5,1 72,4 57,8 1.7621
Fenilalanina+Tirosin 9,89 6,08 5,3 87,2 53,6 1.7291
Lisina 6,98 5,44 3,1 57,0 44,4 1.6475
Triptofano 1,49 0,94 1,3 138,3 87,2 1.9408
62,4 c índice
67,9 50,1
Parâmetros de
---- Aminoácid Aminoácido
nutricionais Aminoac.
o Limitante Limitante
Essenciais
a – g/100g proteína
b – Calculado segundo Acton & Rudd (1987)
c – Anti-log T/8

ANEXO 19 - Razões comparativas dos teores em aminoácidos essenciais de Djagatu


(Solanum sp.) com a proteína do ovo (FAO. 1970) e com padrão de referência da FAO/OMS (1973).
Proteína do Padrão Djagatu Razão Razão Log.10
a a a b b
Aminoácido ovo(FAO) (FAO/WHO) 2005 C/B*100 C/A*100 (C/A*100) b
A B C
Treonina 5,12 4,00 2,4 60,0 46,9 1.6709
Valina 6,85 4,96 3,9 78,6 56,9 1.7554
Metionina+Cistina 5,79 3,52 3,0 85,2 51,8 1.7143
Isoleucina 6,29 4,00 3,1 77,5 49,3 1.6927
Leucina 8,82 7,04 4,7 66,8 53,3 1.7266
Fenilalanina+Tirosina 9,89 6,08 5,6 92,1 56,6 1.7528
Lisina 6,98 5,44 3,1 57,0 44,4 1.6475
Triptofano 1,49 0,94 0,2 21,3 13,4 1.1278
21,5 c
10,3 6,6
Parâmetros índice de
---- Aminoácido Aminoácido
nutricionais Aminoac.
Limitante Limitante
Essenciais
a – g/100g proteína
b – Calculado segundo Acton & Rudd (1987)
c – Anti-log T/8

212
ANEXO 20 - Razões comparativas dos teores em aminoácidos essenciais do Candja (Hibiscus
esculentus L.)com a proteína do ovo (FAO. 1970) e com padrão de referência da FAO/OMS (1973).
Proteína do Padrão Candja Razão Razão Log.10
Aminoácido ovo(FAO)a (FAO/WHO)a 2005 a C/B*100 b C/A*100 b (C/A*100) b
A B C
Treonina 5,12 4,00 3,1 77,5 60,5 1.7821
Valina 6,85 4,96 3,6 72,6 52,6 1.7206
Metionina+Cistina 5,79 3,52 1,2 34,1 20,7 1.3165
Isoleucina 6,29 4,00 2,5 62,5 39,7 1.5993
Leucina 8,82 7,04 4,8 68,2 54,4 1.7358
Fenilalanina+Tirosina 9,89 6,08 5,9 97,0 59,6 1.7752
Lisina 6,98 5,44 3,6 66,2 51,6 1.7124
Triptofano 1,49 0,94 0,1 10,6 6,7 0.8268
32,6 c
24,9 11,5
Parâmetros índice de
---- Aminoácido Aminoácido
nutricionais Aminoac.
Limitante Limitante
Essenciais
a – g/100g proteína
b – Calculado segundo Acton & Rudd (1987)
c – Anti-log T/8

ANEXO 21 - Razões comparativas dos teores em aminoácidos essenciais do Baguitch (Hibiscus


sabdariffa L.) com a proteína do ovo (FAO. 1970) e com padrão de referência da FAO/OMS (1973).

Proteína do Padrão Baguitch Razão Razão Log.10


Aminoácido ovo(FAO)a (FAO/WH)a 2005 a C/B*100 b C/A*100 b (C/A*100) b
A B C
Treonina 5,12 4,00 3,5 87,5 68,4 1.8348
Valina 6,85 4,96 4,1 82,7 59,9 1.7771
Metionina+Cistina 5,79 3,52 2,0 56,8 34,5 1.5378
Isoleucina 6,29 4,00 2,7 67,5 42,9 1.6327
Leucina 8,82 7,04 5,1 72,4 57,8 1.7621
Fenilalanina+Tirosina 9,89 6,08 5,1 83,8 51,6 1.7126
Lisina 6,98 5,44 4,6 84,6 65,9 1.8189
Triptofano 1,49 0,94 0,4 42,6 26,8 1.4289
49,5 c
32,3 20,2
Parâmetros índice de
---- Aminoácido Aminoácido
nutricionais Aminoac.
Limitante Limitante
Essenciais
a – g/100g proteína
b – Calculado segundo Acton & Rudd (1987)
c – Anti-log T/8

213
ANEXO 22. Questionários da vulnerabilidade alimentar das famílias

Inquérito de Seguimento da Vulnerabilidade Alimentar e estado da Pobreza das Famílias na


Guiné-Bissau (I.S.A – D.A.I.A.T.)

FICHA Nº - |_______|. LOCAL: ----------------------------.

I. DADOS DO ENTREVISTADOR.

1.1. Nome de entrevistador: ---------------------------------------------------------------.


1.2. Data da entrevista: -------/------/2004.
1.3. Local: -----------------------------. Área: ---------------------------. Hora: ------H------Minutos.

II. APRESENTAÇÃO DOS OBJECTIVOS DO INQUÉRITO.

2.1. Realização de estudo importante para melhorar o conhecimento sobre a situação da vulnerabi-
lidade alimentar e estado nutricional, tendo em conta os hábitos alimentares da população.
2.1. Garantir de confidencialidade nas respostas que foram dadas.
2.3. Apoio estatal do Governo da Guiné-Bissau que pede a colaboração de cidadãos nesse estudo

III. CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS E SÓCIO ECONÓMICO DO AGREGADO FAMILIAR.

1. Demografia (dimensão do agregado)


1.1 Estado civil de chefe do agregado, dimensão do agregado e imigração
1. Estado civil Solteiro. |__|; Casado; |__|Divor. |__|; União de facto |__|
2. Número de pessoas no agregado Homens |___|; Mulheres |___|; Total no agreg. |___|
3. Número dos filhos no agregado Homens |___|; Mulheres |___|; Total no agreg. |___|
4. Numero dos filhos que imigram Homens |___|; Mulheres |___|; Total no agreg. |___|
5. Destino da imigração dos filhos (X) Campo |___|; Cidade |___|; Estrangeiro |___|
6.Face etaria 0 - 14 |__|; 15-19 |__|; 20- 59 |__|; > 60 anos |__|

214
2. Caracterização de habitação, bens e equipamentos que possui o agregado.
2.1 Alojamento ou a casa que ocupa é
1. casa própria |__|
2. Cedida/ herança |__|
3. Arrendada/ sub-arrendada |__|
4. Parte da casa |__|

2.2. Tipo de alojamento e parede da casa é de:


1. Construção definitiva |__|
2. Construção precária |__|
3. Barraca |__|

2.3. A casa é coberta de:


1. Zinco |__|
2. Telha |__|
3. Palha |__|

2.4. O pavimento da casa é de:


1. Cimento |__|
2. Terra |__|
3. Mosaico |__|
4. Outro |__|

2.5. Divisão e condição da casa.


1. Quantas divisões têm a casa? |__|
2. Quartos exclusivamente para dormir |__|
3. Quantas camas usam o agregado? |__|
4. A casa tem cozinha? Sim |__| Não |__|
5. Acasa tem casa de banho? Sim |__| Não |__|

2.6. Qual é a principal fonte de energia que utiliza para preparar os alimentos.
1. Carvão |__|
2. Lenha apanhada |__|
3. Petróleo |__|
4. Gás |__|
5. Electricidade |__|

2.7. Tipo WC
1. Retrete |__|
2. Latrina |__|
3. Outros |__|

215
2.7. Qual é a origem da água que usam.
1. Agua de rede |__|
2. Cisterna domiciliaria |__|
3. Poço |__|
4. Nascente |__|
5. Outras |__|

2.7. Qual é o tempo que leva para chegar no local de abastecimento da água. ( em min.)
1. Menor ou =15 min. |__|
2. 15 – 29 min. |__|
3. 30 – 45 min. |__|
4. Mais do que 45 min. |__|

2.8. Costuma fazer tratamento de água para beber? e se fosse “SIM” como é feito?
1. Faz tratamento da agua?. Sim |__| Não |__|
a). Lexivia |__|
b). Ferve |__|
c). Filtro (escoar) |__|
d). Outro (especificar) |__|

2.9. Qual é o principal modo de evacuação de águas residuais


1. Fossa séptica |__|
2. Rede de esgotos |__|
3. Ao redor da casa |__|

2.10. Qual é a principal fonte de energia utilizada para iluminação


1. Gás |__|
2. Electricidade |__|
3. Petróleo |__|
4. Vela |__|
5. Outras |__|

2.13. Acesso a comunicação e serviços


1. Estrada alcatroada Pertinho |__|: a 1 Km. |__|; a 5 Km |__|; +5 Km. |__|
2. Estrada terra batida Pertinho |__|: a 1 Km. |__|; a 5 Km |__|; +5 Km. |__|
3. Estrutura sanitária Pertinho |__|: a 1 Km. |__|; a 5 Km |__|; +5 Km. |__|
4. Mercado Pertinho |__|: a 1 Km. |__|; a 5 Km |__|; +5 Km. |__|
5. Polícia Pertinho |__|: a 1 Km. |__|; a 5 Km |__|; +5 Km. |__|
6. Correios Pertinho |__|: a 1 Km. |__|; a 5 Km |__|; +5 Km. |__|
7. Telefone público Pertinho |__|: a 1 Km. |__|; a 5 Km |__|; +5 Km. |__|
8. Escola primaria/ básico Pertinho |__|: a 1 Km. |__|; a 5 Km |__|; +5 Km. |__|
9. Escola Secundário Pertinho |__|: a 1 Km. |__|; a 5 Km |__|; +5 Km. |__|

216
2.11. Bens e equipamentos que o agregado possui
1. Fogão eléctrico/ Gás----------------------------------------------------- Sim |__| Não |__|
2. Micro-ondas-------------------------------------------------------------- Sim |__| Não |__|
3. Frigorifico---------------------------------------------------------------- Sim |__| Não |__|
4. Arca congeladora ------------------------------------------------------- Sim |__| Não |__|
5. Maquina de lavar roupa----------------------------------------------- Sim |__| Não |__|
6. Telefone------------------------------------------------------------------- Sim |__| Não |__|
7. Televisão ----------------------------------------------------------------- Sim |__| Não |__|
8. Rádio ---------------------------------------------------------------------- Sim |__| Não |__|
9. Aparelhagem ------------------------------------------------------------- Sim |__| Não |__|
10. Vídeo --------------------------------------------------------------------- Sim |__| Não |__|
11. Computador.------------------------------------------------------------ Sim |__| Não |__|

2.12. Indique se o agregado possui os seguintes meios de transportes


1. Bicicleta Sim |__| Não |__|
2. Motorizada Sim |__| Não |__|
3. Moto Sim |__| Não |__|
4. Automóvel (ligeiro/ misto) Sim |__| Não |__|
5. Burro/ cavalo Sim |__| Não |__|

2. Escolarização e Formação profissional do CF, 1º complementar e crianças (a


partir dos 6 anos).

3.1. Grau de educação do chefe de agregado e 1º complementar


Chefe do agreg 1º complenrar

1. Sabe ler e escrever Sim |__| Não |__| Sim |__| Não |__|

2. Pré-escolar |__| |__|


3. Ensino Básico elementar (4ª classe) |__| |__|
4. Ensino básico complementar (6ª classe) |__| |__|
5. Ensino Secundário (9º classe) |__| |__|
6. Ensino complementar (pré –Universitária -11º ano) |__| |__|
7. Universitária |__| |__|

217
3.2. Estado escolar das crianças a partir dos 6 anos
1. Todos os filhos estão a frequentar escola agora? Sim |__| Não |__|
2. Alguns abandonaram escola neste período lectivo Sim |__| Não |__|
3. Motivo de abandono Longe |__| Fal dinheiro |__| Outros |__|
4. Possuem alguma formação profissional Sim |__| Não |__|
5. Qualq. deles é portador de deficiên. física/ mental Sim |__| Não |__|
6. Que tipo de cobertura social beneficia Nenhum |__| Pensão |__|

4. Actividade e ocupações de chefe do agregado familiar e 1º complementar


4.1. Actividade e estado do emprego
Chefe do agregado

1. Profissão e ocupação |__________________________|


2. Estado de trabalho ou vinculo salarial Con. própria |__|; C. de outrem |__|
3. Você ou alguém da família trabalha na função Publica Sim |__|; Não |__|
3. O seu trabalho é fixo Sim |__|; Não |__|

1º Complementar

1. Profissão e ocupação |__________________________|


2. Estado de trabalho ou vinculo salarial Con. própria |__|; C. de outrem |__|
3. Você ou alguém da família trabalha na função Publica Sim |__|; Não |__|
4. O seu trabalho é fixo Sim |__|; Não |__|

5. Fonte de Rendimento da Família.


5.1. Produção Agrícola (Últimos 12 meses)
1. Produz alimentos, quais e proporção Venda Auto-consumo
para o auto-consumo em % QTD, Kg Preço, Kg QTD %
- Arroz Sim |__| Não |__| |______| |______| |______| |______|
- Milhos Sim |__| Não |__| |______| |______| |______| |______|
- Feijões Sim |__| Não |__| |______| |______| |______| |______|
- Hortícolas Sim |__| Não |__| |______| |______| |______| |______|
- Caju Sim |__| Não |__| |______| |______| |______| |______|
- Outras fruteiras Sim |__| Não |__| |______| |______| |______| |______|
- Tubérculos Sim |__| Não |__| |______| |______| |______| |______|
- Outros Sim |__| Não |__| |______| |______| |______| |______|
2. Tem pomar de caju Sim |__| Não |__| |______| |______|

3. Total de receitas |_________________, FCFA|

218
5.2. Produção Pécuaria (Últimos 12 meses)
1. Faz cria dos animais , quais e proporção Venda Auto-consumo
para o auto-consumo em % QTD, Preço, QTD %
Cabeça Cabeça
- Bovinos Sim |__| Não |__| |______| |______| |______| |______|
- Suínos Sim |__| Não |__| |______| |______| |______| |______|
- Caprinos Sim |__| Não |__| |______| |______| |______| |______|
- Ovinos Sim |__| Não |__| |______| |______| |______| |______|
- Galinhas Sim |__| Não |__| |______| |______| |______| |______|
- Patos Sim |__| Não |__| |______| |______| |______| |______|
- Outros Sim |__| Não |__| |______| |______| |______| |______|

2. Total de receitas |_________________, FCFA|

5.3. Pesca (último 12 meses)


1. Pratica a pesca Sim |__|; Não |__|
2. O agregado possui esses meios:
- Bote Sim |__|; Não |__|; Quantidade |_____|
- Rede Sim |__|; Não |__|; Quantidade |_____|
- Motor Sim |__|; Não |__|; Quantidade |_____|
- Canoa Sim |__|; Não |__|; Quantidade |_____|
- Outros Sim |__|; Não |__|; Quantidade |_____|
3. Proporção da utilização de pescado (em %) Auto-consumo |_____|; Venda |_____|
4. Total de receitas anual de Venda de pescado |___________________|,FCFA|

5.4. Trabalhos assalariados e outros fontes de rendimento


1. Rendimento do agregado (em FCFA) Chefe de agreg. Mês |______| Este ano |______|
1º Compl. Mês |______| Este ano |______|
2º Compl. Mês |______| Este ano |______|
Total /agreg. Mês |______| Este ano |______|
2. Red. de pomar de cajú (em caso têm) Ano |________|; Últimos 5 |________|
3. Outras acti. geradores de rendim.(AGR) Mês |________|; Ano |________|

4. Recebe remessas de famil. do estrangeiro Sim |____|; Não |_____|

1. Frequência do envios (nº de vezes) 1 mensal |__|; 1 anual |__|;


2. Tipo de envios e valor em FCFA:
a) – Alimentos ______________, FCFA
b) – Vestuários ______________, FCFA
c) - Utilidades ______________, FCFA
d) – Dinheiro ______________, FCFA
e) – Outros ______________, FCFA
3. Recebe ajudas de assistência social Sim |__|; Não |__|; Quant/mês _________, CFA

219
6. Despesas do agregado.
6.1. Despesas globais (últimos 12 meses)
1. Despesas FCFA /Mes

- Alimentação |___________________|
- Saúde |___________________|
- Educação |___________________|
- Equip. Produtivos |___________________|
- Equip. Domésticos |___________________|
- Vestuários |___________________|
- Cerimonias |___________________|
- Lazer |___________________|
- Diversos |___________________|

6.2. QTD consumido e preço pago /Kg dos proincipais produtos


Produto Consumo Número QTD/ Semana Preço/Kg
Kg/dia vezes/semana
- Arroz |________| |________| |________| |________|
- Milho |________| |________| |________| |________|
- Pão |________| |________| |________| |________|
- Raízes e tubérculos |________| |________| |________| |________|
- Legumes |________| |________| |________| |________|
- Óleo e azeite |________| |________| |________| |________|
- Açúcar |________| |________| |________| |________|
- Leite em pó e outros |________| |________| |________| |________|
- Carne e derivados |________| |________| |________| |________|
- Peixes |________| |________| |________| |________|
- Ovos |________| |________| |________| |________|

220
7. Situação sanitária e nutricional das crianças (só para crianças até 5 anos de idade)

Principais itens Peso em kg com uma


casa decimal
No Nome Idade em Tem cartão Quando foi a Onde nasceu a Qual foi o A criança teve Diga no Diga no último A criança Criança Mãe sem
linha da meses PMI? última vez que criança peso ao nascer algum último mês mês se houve foi pesada com mãe criança Altura
criança controlou a sua da criança problema de quantas vezes ocorrência de e medida ou criança (em Cm)
1 – Sim criança no serviço 1 –Casa (transcreve o saúde no teve diarreias? alguma dessas só.
2 – Não de saúde? 2 – Hospital peso do último mês? doenças? 1-Sim
3- Centro de Saúde cartão) 2-Não»fim
1- Menos de 1 mês 4- Posto Sanitário 1- Sim 1=IRAS
2- 1 a 2 meses 5- Outro 2- Não 2=Conjuntuvite
3- 3 a 6 meses 3=Febre
4- mais de 6 meses 4=Outros
G1 G2 G3 G5 G6 G7 G8 G9 G10 G11 G12 G13 G14 G15
1
2
3
4
5
6

221
ANEXO 23 – Dez (10) variáveis socio-económicas da posse de bens/equipam.,
Correlacionadas com (IC) e que afectam directamente IVF

N/VAR 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 %
1 1 1 1 1 0 1 1 1 1 0 80
2 1 1 0 0 0 1 1 0 0 0 40
3 0 1 0 0 1 1 0 1 1 1 60
4 0 1 0 0 0 1 1 1 0 0 40
5 1 1 1 0 0 1 1 1 0 0 60
6 0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 20
7 0 1 1 1 0 1 1 1 1 1 80
8 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
9 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
10 1 0 1 1 1 0 0 1 1 1 70
11 0 1 0 0 0 1 1 1 0 0 40
12 0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 20
13 1 1 1 1 0 1 1 1 1 1 90
14 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
15 1 1 1 0 1 0 0 1 1 1 70
16 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
17 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
18 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70
19 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
20 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
21 1 0 1 0 0 0 0 1 1 1 50
22 0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 20
23 0 1 1 0 0 1 0 0 0 0 30
24 1 1 1 1 0 1 1 1 1 1 90
25 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
26 1 1 1 1 0 1 1 1 1 0 80
27 0 1 1 0 0 1 1 1 0 0 50
28 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
29 1 1 1 0 0 1 0 1 1 1 70
30 0 1 0 0 0 1 1 0 1 0 40
31 1 1 0 0 0 1 1 0 0 0 40
32 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 10
33 1 0 1 1 1 0 1 1 1 0 70
34 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 10
35 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
36 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
37 1 1 1 1 0 1 1 1 0 1 80
38 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
39 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 10
40 1 1 1 1 0 1 1 1 1 1 90
41 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
42 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
43 1 0 1 1 1 0 0 1 1 1 70
44 0 1 0 0 0 1 1 0 1 0 40
45 0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 20
46 1 1 1 0 0 1 1 1 0 1 70

222
(Cont.)
47 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
48 0 1 1 0 0 0 1 0 0 0 30
49 1 1 1 1 1 0 0 1 1 1 80
50 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
51 0 1 1 1 0 1 1 1 1 0 70
52 0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 20
53 0 1 0 0 0 1 1 0 1 0 40
54 0 1 1 0 0 1 0 1 1 1 60
55 1 1 0 0 0 1 1 0 0 0 40
56 1 1 1 0 1 1 1 1 1 0 80
57 1 0 1 0 0 0 0 1 1 0 40
58 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 100
59 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
60 1 0 1 0 0 0 0 1 1 0 40
61 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
62 1 1 1 0 0 1 1 1 0 0 60
63 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
64 0 1 1 0 1 1 1 1 0 0 60
65 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 10
66 1 0 0 0 0 0 1 0 1 0 30
67 1 1 1 1 0 1 1 1 1 1 90
68 1 1 0 0 0 1 1 0 0 0 40
69 0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 20
70 0 1 0 0 0 1 1 0 1 0 40
71 1 1 1 0 1 1 0 1 0 1 70
72 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
73 0 1 1 1 0 1 1 1 1 0 70
74 1 1 1 0 0 0 0 1 0 0 40
75 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 20
76 1 1 1 0 0 1 1 1 1 0 70
77 0 1 0 0 0 1 1 0 1 0 40
78 0 1 0 0 1 1 0 1 1 1 60
79 1 1 0 0 0 1 0 0 1 0 40
80 1 1 1 1 1 1 0 1 1 1 90
81 0 1 0 0 0 1 1 0 1 0 40
82 0 1 0 1 0 1 1 1 0 0 50
83 0 1 0 0 0 1 1 0 1 0 40
84 1 1 1 1 0 1 1 1 1 1 90
85 1 1 0 0 0 1 0 0 1 0 40
86 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 30
87 1 0 0 0 0 1 0 1 1 0 40
88 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 100
89 1 1 1 0 1 0 0 1 1 1 70
90 1 1 0 0 0 0 0 1 1 0 40
91 0 1 1 0 0 1 1 1 0 0 50
92 1 1 0 0 0 1 1 1 1 0 60
93 1 1 1 0 1 0 1 1 1 1 80
94 0 1 0 1 0 1 1 1 0 1 60
95 1 1 0 0 0 0 0 1 1 0 40

223
(Cont.)
96 1 1 1 1 1 1 1 1 1 0 90
97 0 1 0 0 0 1 1 0 1 0 40
98 0 1 0 0 0 1 0 1 1 0 40
99 1 1 1 1 0 1 1 1 1 1 90
100 0 1 0 0 0 1 1 0 1 0 40
101 1 1 0 1 0 1 0 1 1 1 70
102 1 1 0 0 0 0 0 1 0 1 40
103 1 1 0 0 0 0 0 1 1 0 40
104 1 0 0 0 0 1 1 0 0 0 30
105 0 1 1 0 0 1 1 1 0 1 60
106 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 20
107 1 1 0 0 1 0 0 0 0 0 30
108 1 1 0 0 0 1 0 0 0 0 30
109 0 1 1 1 1 1 1 1 1 1 90
110 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 20
111 0 1 0 0 0 0 0 1 1 0 30
112 1 1 0 0 0 0 0 1 0 0 30
113 1 1 1 0 0 0 0 1 1 1 60
114 1 1 0 0 0 1 0 0 0 0 30
115 0 1 0 0 0 0 0 1 1 0 30
116 1 1 0 0 0 0 0 0 0 1 30
117 0 1 0 0 0 0 0 1 1 0 30
118 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 20
119 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 100
120 1 1 0 0 0 0 0 1 0 0 30
121 0 1 0 0 0 0 0 1 1 0 30
122 1 1 0 0 0 0 0 1 0 0 30
123 0 1 0 0 1 0 0 0 0 0 20
124 0 1 0 0 0 1 0 1 1 0 40
125 1 1 0 0 0 0 0 1 0 0 30
126 1 1 1 0 0 0 0 1 1 0 50
127 1 1 0 0 0 1 0 0 0 0 30
128 0 1 0 0 0 1 0 1 1 0 40
129 0 1 0 0 0 0 0 1 1 0 30
130 0 1 0 0 1 1 0 1 0 0 40
131 1 1 0 0 0 0 0 1 0 0 30
132 1 1 0 0 0 1 0 0 0 0 30
133 0 1 1 0 1 1 0 1 1 0 60
134 1 1 0 0 0 1 0 0 0 0 30
135 1 1 0 0 0 1 0 0 0 0 30
136 0 1 0 0 0 1 0 1 1 0 40
137 0 1 0 0 0 1 0 1 1 0 40
138 1 1 0 0 0 1 1 0 0 0 40
139 1 1 0 0 1 0 1 0 1 0 50
140 1 1 0 0 0 1 0 0 0 0 30
141 0 1 0 0 0 1 0 1 0 0 30
142 0 1 0 0 0 1 0 1 0 0 30
143 1 1 0 0 0 0 1 1 0 0 40

224
(Cont.)
144 1 1 0 0 0 1 0 0 0 0 30
145 1 1 0 0 0 1 1 0 0 0 40
146 0 1 1 0 1 1 0 1 0 0 50
147 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 10
148 0 1 0 0 0 1 0 1 0 0 30
149 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
150 0 1 0 0 0 0 1 1 1 0 40
151 0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 20
152 0 1 0 0 0 1 1 1 0 0 40
153 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 10
154 0 0 1 0 1 1 1 0 1 1 60
155 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 10
156 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
157 0 1 0 0 0 0 1 1 1 0 40
158 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 10
159 0 1 0 0 0 0 1 1 1 0 40
160 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
161 1 1 1 0 0 1 0 1 1 0 60
162 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
163 0 1 0 0 0 0 0 1 1 0 30
164 0 1 0 0 0 0 0 1 1 0 30
165 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
166 0 1 0 0 0 0 0 1 1 0 30
167 0 1 0 0 0 0 0 1 1 0 30
168 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
169 1 1 0 1 0 1 1 1 1 1 80
170 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 10
171 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
172 0 1 0 0 0 0 0 1 1 0 30
173 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
174 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 20
175 0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 20
176 0 1 1 0 1 1 1 1 0 0 60
177 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 10
178 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
179 0 1 0 0 0 0 0 1 1 0 30
180 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 10
181 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
182 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
183 1 1 1 0 1 0 0 1 1 0 60
184 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
185 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
186 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
187 0 1 0 0 0 0 0 1 1 0 30
188 0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 20
189 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
190 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
191 0 1 0 0 0 0 0 1 1 0 30

225
(Cont.)
192 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
193 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
194 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
195 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 100
196 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
197 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
198 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
199 0 1 0 0 0 0 0 1 1 0 30
200 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
201 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
202 1 1 0 0 1 1 0 1 1 0 60
203 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
204 0 1 0 0 0 0 1 1 1 0 40
205 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
206 0 1 0 0 0 0 0 1 1 0 30
207 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
208 0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 20
209 0 0 1 0 1 1 0 1 1 0 50
210 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
211 0 1 0 0 0 1 0 1 1 0 40
212 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
213 0 1 0 0 0 1 0 1 1 0 40
214 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
215 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
216 1 1 1 0 1 1 1 1 1 0 80
217 0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 20
218 0 1 0 0 0 0 1 1 1 0 40
219 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 30
220 0 1 1 0 0 0 1 1 1 1 60

Posse de 10 Bens/Equipamentos que caracteriza o IC de agregado familiar:

1- A ligação à rede publica de água


2 - A posse de rádio
3 - A posse de televisão
4 - A posse de automóvel
5 - A posse de videocassete e DVD
6 - A posse de casa de banho & retrete/latrina
7 - Numero médio de pessoas por quarto de dormir
8 - O acesso a electricidade
9 - A posse de frigorífico
10 - A utilização de gás na cozinha

Legenda: 1. Índice de Conforto “muito baixo e baixo” <=40


2. Índice de Conforto “médio” > 40 e <=60
3. Índice de Conforto “alto e muito alto” >60 e <=100

226
ANEXO 24 - 10 principais váriaveis utilizados para a determinação de Índice de
Vulnerabilidade das Famílias (IVF) e outros váriaveis do CF.
N/VAR Variaveis de IVF % IC & Outros variaveis de CF
(IVF) % IC C . P/C Red. CF Equiv. H
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
1 0 1 0 0 1 1 1 1 1 0 50 80 4.307 48902.12 5.0
2 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 40 3.818 37092.21 10.2
3 0 0 0 0 0 1 1 1 1 0 40 60 4.666 96984.33 5.6
4 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 40 5.667 43090.80 9.3
5 0 0 0 1 0 0 0 1 1 0 30 60 3.846 62140.21 3.4
6 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 20 6.461 37007.09 11.0
7 0 0 0 0 0 1 1 1 1 0 40 80 4,986 74000.45 5.8
8 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 3.111 31453.00 12.0
9 0 0 0 1 0 1 0 0 0 1 30 30 2.947 51342.00 6.0
10 0 1 0 0 1 1 1 1 1 0 60 70 4.363 44543.56 6.5
11 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 50 40 2.625 57032.92 11.4
12 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 50 20 2.947 56034.44 9.8
13 0 1 0 0 1 1 1 1 1 0 60 90 3.200 44762.11 11.8
14 0 0 0 0 0 1 0 1 0 1 30 30 2.064 85321.87 6.7
15 0 1 0 0 1 1 1 1 1 0 60 70 4.444 45980.43 3.9
16 0 0 0 1 0 1 0 0 0 1 30 30 2.857 52056.32 7.2
17 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 2.333 31543.39 13.1
18 0 0 0 0 0 1 1 1 1 0 40 70 3.076 58043.00 4.0
19 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 3.594 44897.02 9.0
20 0 0 0 1 1 0 0 1 0 1 40 0 1.111 10432.55 3.6
21 0 1 0 0 1 1 1 1 1 0 60 50 3.532 30231.44 7.4
22 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 50 20 2.431 51231.00 10.6
23 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 50 30 3.692 50210.01 9.1
24 0 1 0 0 1 1 1 1 1 0 60 90 4.875 49021.00 17.1
25 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 50 30 3.086 56804.03 11.3
26 0 0 0 0 0 1 0 1 0 0 20 80 3.984 60569.54 5.8
27 0 1 0 0 1 1 1 1 1 0 60 50 2.674 35983.55 7.9
28 0 0 0 0 0 1 0 1 0 1 30 30 2.846 52104.22 9.2
29 0 0 0 0 0 1 1 1 1 0 40 70 3.818 91543.90 8.0
30 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 40 2.210 32334.21 13.2
31 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 20 40 3.428 57092.20 10.4
32 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 20 10 3.845 51078.99 9.2
33 0 1 0 0 1 1 1 1 1 0 50 70 4.333 48934.21 4.0
34 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1 20 10 1.777 52904.04 3.2
35 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 2.375 42131.22 15.0
36 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 50 30 0.736 53067.97 8.5
37 0 0 0 0 0 1 1 1 1 0 40 80 4.416 81665.34 11.1
38 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 1.538 47321.54 13.4
39 0 0 0 1 0 0 0 1 0 1 30 10 0.666 57903.90 4.3
40 0 0 0 0 0 1 1 1 1 0 40 90 4.332 54903.86 11.5
41 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 50 30 1.538 50856.67 11.0
42 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 50 30 1.090 56675.65 8.7
43 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 10 70 4.769 61676.00 2.8
44 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 40 2.888 39021.04 5.2
45 0 0 0 1 0 1 0 0 0 1 30 20 2.631 53212.22 10.4
46 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 10 70 4.321 53209.39 5.8
47 0 0 0 1 0 0 0 1 0 1 30 30 2.843 54032.02 3.2

227
(Cont.)
48 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 2.307 38902.93 4.1
49 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 10 80 3.818 57083.08 16.3
50 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 50 30 2.666 53728.09 13.7
51 0 0 0 0 0 1 1 1 1 0 40 70 5.607 51902.04 5.4
52 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 50 20 2.846 54930.00 10.5
53 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1 20 40 3.461 53043.03 7.1
54 0 1 0 0 1 1 1 1 1 0 60 60 4.002 46894.33 6.0
55 0 0 0 1 0 1 0 0 0 1 30 40 2.111 56904.39 6.6
56 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 10 80 5.947 56094.05 3.7
57 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 50 40 2.554 56784.09 6.7
58 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 20 100 4.625 146889.3 3.6
59 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 2.363 43961.56 12.2
60 0 0 0 1 0 0 0 1 0 1 30 40 3.243 50894.08 4.0
61 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 50 30 2.893 50435.35 11.3
62 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 20 60 4.444 51093.00 3.2
63 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 2.857 39321.64 15.0
64 0 0 0 0 0 1 1 1 1 0 40 60 3.333 52012.90 7.3
65 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 50 10 1.076 50362.90 10.9
66 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 0.576 34062.12 9.9
67 0 0 1 1 0 0 0 1 0 0 30 90 4.111 102956.3 3.0
68 0 0 0 1 0 1 0 0 0 1 30 40 3.509 57073.09 7.6
69 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 20 2.054 45943.00 10.2
70 0 0 0 0 0 1 0 1 0 1 30 40 3.692 52902.04 7.8
71 0 0 0 0 0 1 1 1 1 0 40 70 4.834 53193.03 8.2
72 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 50 30 2.243 56434.90 11.0
73 0 0 1 1 0 1 0 0 0 0 30 70 3.976 56483.03 8.9
74 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 40 1.324 37841.21 8.5
75 0 0 0 1 0 1 0 1 0 1 40 20 1.846 52123.12 8.7
76 0 0 0 1 0 1 0 0 0 0 20 70 3.818 56328.00 8.5
77 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 40 2.210 49321.67 5.2
78 1 0 1 0 0 1 0 0 0 0 30 60 3.428 53291.12 5.2
79 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 40 3.811 37852.12 13.1
80 0 0 1 1 0 1 0 0 0 0 30 90 3.933 96732.67 5.9
81 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 40 1.777 44009.23 5.3
82 1 0 1 0 0 1 0 0 0 0 30 50 2.375 56849.00 11.1
83 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 40 0.736 46984.00 14.3
84 0 0 1 1 0 1 0 0 0 0 30 90 4.416 53873.22 9.1
85 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 40 1.538 15543.22 14.2
86 1 0 0 0 0 0 0 1 0 1 30 30 0.666 45389.00 4.1
87 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 40 2.543 44239.02 5.9
88 0 1 1 0 0 0 0 1 0 0 30 100 4.538 245900.5 2.6
89 0 1 0 1 1 1 1 1 1 0 70 20 1.090 24453.56 6.8
90 1 1 0 0 0 1 1 1 1 1 70 40 2.769 53928.00 16.4
91 0 1 0 0 1 1 1 1 1 0 60 50 2.321 23891.34 6.6
92 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0 30 60 2.631 83664.33 3.3
93 0 1 0 0 1 1 1 1 1 0 60 80 4.672 17892.00 11.8
94 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0 30 60 2.431 53425.09 10.1
95 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 40 0.986 27892.67 6.0
96 0 0 0 0 0 1 1 1 1 0 40 90 4.675 76008.90 7.5
97 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 50 40 1.765 53821.44 9.9

228
(Cont.)

98 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 40 2.307 18902.23 7.1


99 0 1 1 0 0 0 0 1 0 0 30 90 3.818 98675.00 4.2
100 1 1 0 0 0 0 0 1 0 1 40 40 2.666 53421.11 2.3
101 0 1 1 1 1 1 1 1 1 0 80 10 0.621 11002.02 14.3
102 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 40 1.846 53645.08 7.7
103 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 40 2.461 23156.90 8.8
104 1 0 0 1 1 0 0 0 1 1 50 30 1.864 24513.89 4.2
105 0 1 0 0 1 1 1 1 1 0 60 60 3.111 12432.99 10.2
106 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 20 1.947 53762.89 11.2
107 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 30 2.570 53784.02 9.3
108 0 1 1 0 0 1 1 1 1 1 70 30 2.625 51532.22 12.0
109 0 0 0 1 0 0 1 1 0 0 30 90 4.363 58934.22 4.1
110 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 20 1.221 21143.34 11.6
111 0 0 1 1 0 0 0 1 0 1 40 30 2.567 52941.93 2.8
112 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 30 1.444 54902.02 8.4
113 0 1 0 0 0 1 0 1 1 0 40 60 2.857 56084.00 11.8
114 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 1.333 16092.99 8.1
115 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 30 0.876 57043.09 11.0
116 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 30 1.598 54073.29 10.5
117 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 1.131 29001.34 5.3
118 0 1 1 0 0 0 1 1 0 1 50 20 1.521 53074.39 3.4
119 0 1 1 0 0 1 0 1 1 0 50 100 5.323 202085.2 11.0
120 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 1.692 27980.13 13.4
121 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 30 2.845 55904.00 5.5
122 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 30 1.433 52043.03 5.8
123 0 0 1 1 0 0 0 0 0 1 30 20 0.983 56832.12 4.3
124 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 40 2.314 22314.54 6.6
125 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 30 2.836 50453.00 6.1
126 0 1 0 0 0 1 1 1 1 0 50 50 3.818 57054.88 6.8
127 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 30 2.210 57930.33 11.2
128 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 40 3.428 23541.00 13.2
129 0 0 1 1 1 0 1 0 0 1 50 30 2.843 17008.26 4.0
130 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 40 1.333 52643.03 7.0
131 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 30 1.776 50845.34 10.3
132 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 30 1.355 52845.01 7.6
133 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 20 60 3.747 51063.99 3.1
134 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 0.436 26008.21 10.3
135 0 0 1 1 0 0 1 0 0 1 40 30 1.538 57453.05 2.1
136 1 1 0 0 1 1 0 1 1 1 70 40 1.667 13452.67 14.4
137 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 40 1.322 53092.02 7.9
138 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 40 1.538 51008.89 8.9
139 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 20 50 1.090 57893.90 2.3
140 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 2.769 14342.67 8.4
141 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 30 1.652 59043.23 8.1
142 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 2.631 19534.88 5.0
143 0 0 1 0 0 0 0 1 0 1 30 40 1.765 57984.00 2.2
144 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 0.987 18892.91 17.5
145 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 40 1.213 59032.12 5.8
146 0 1 0 0 0 1 0 1 1 0 40 50 2.875 53214.32 5.3
147 0 0 1 1 0 0 0 1 0 1 40 10 0.543 53281.03 1.2

229
(Cont.)

148 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 1.307 24090.12 6.8


149 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 30 1.818 56432.04 6.1
150 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 40 2.666 52213.23 6.0
151 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 20 1.632 13452.19 12.5
152 0 0 1 1 0 0 0 0 0 1 30 40 1.836 54732.10 2.3
153 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 10 0.421 51011.11 11.2
154 0 1 1 0 0 1 0 1 1 0 50 60 4.332 82341.00 7.7
155 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 10 1.121 13742.22 11.0
156 0 0 1 1 0 0 0 1 0 1 40 30 2.147 57389.02 2.6
157 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 40 2.565 56093.04 7.3
158 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 10 1.025 22341.81 10.5
159 0 0 0 1 0 0 0 1 0 1 30 40 2.363 57902.02 4.2
160 0 0 1 0 0 0 0 1 0 1 30 30 1.232 58032.11 3.2
161 1 1 0 0 1 1 1 1 1 0 70 60 3.231 29903.00 12.3
162 0 0 1 0 0 0 0 1 0 1 30 30 2.434 59030.00 4.0
163 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 30 2.857 58094.03 8.3
164 1 0 1 0 0 0 0 0 0 1 70 30 2.313 54754.04 3.9
165 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 3.126 17823.12 6.4
166 0 0 1 0 0 1 0 0 0 1 30 30 3.534 53902.03 5.5
167 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 30 3.321 53213.11 6.2
168 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 1.532 13090.23 13.4
169 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 10 80 5.322 65432.89 3.4
170 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 10 0.652 11234.12 11.0
171 1 0 0 1 0 0 0 0 0 1 30 30 2.482 53892.12 4.1
172 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 1.323 25872.43 6.7
173 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 30 2.543 52123.84 7.3
174 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 20 20 1.523 54632.05 8.3
175 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 20 1.746 21341.90 8.1
176 0 1 0 0 0 1 0 1 1 0 40 60 3.908 54834.02 7.7
177 1 0 0 0 0 1 0 0 0 1 30 10 0.221 53094.94 8.0
178 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 0.448 12341.23 7.6
179 1 0 0 1 0 1 0 0 0 1 40 30 2.800 51043.09 5.0
180 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 10 0.413 26213.21 11.3
181 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 30 1.743 56342.11 5.4
182 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 1.335 23651.11 6.1
183 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 10 60 3.776 73226.99 7.2
184 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 0.432 21768.00 8.0
185 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 1.548 15756.12 8.9
186 1 0 0 0 0 1 0 0 0 1 30 30 0.628 52123.96 7.7
187 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 0.982 29002.12 6.3
188 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 20 1.538 54328.98 5.8
189 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 1.090 24090.00 8.5
190 1 0 0 0 0 1 0 0 0 1 30 30 2.769 56432.23 7.5
191 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 1.322 23516.10 6.4
192 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 30 2.341 54632.16 5.4
193 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 1.654 19342.13 8.3
194 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 0.980 25761.90 12.2
195 0 1 1 0 0 1 1 1 1 0 10 100 4.896 121665.3 6.2
196 1 0 0 0 1 1 0 0 0 1 30 30 0.987 48090.00 8.3
197 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 0.987 24814.00 7.2

230
(Cont.)

198 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 30 1.307 53034.03 6.3


199 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 1.238 28651.31 5.1
200 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 2.643 16842.90 5.0
201 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 20 30 2.632 63986.22 6.4
202 0 1 0 1 1 1 1 1 1 0 70 50 2.326 23903.21 7.3
203 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 30 1.431 56721.00 8.9
204 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 40 1.324 18432.00 8.0
205 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 2.134 20123.12 7.5
206 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 1.547 17546.09 13.8
207 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 1.532 23541.12 6.4
208 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 20 20 1.625 51382.04 5.4
209 0 1 0 0 1 1 1 1 1 0 60 50 2.332 46762.22 5.2
210 1 0 0 0 0 1 0 0 0 1 30 30 1.322 53647.15 6.2
211 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 40 2.765 17932.00 16.1
212 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 1.432 26093.22 8.3
213 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 40 2.357 13765.12 7.5
214 1 0 0 0 0 1 0 0 0 1 30 30 1.323 58031.03 5.5
215 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 50 30 1.096 5389.21 5.8
216 0 1 1 0 1 1 1 1 1 0 70 30 1.654 13425.71 7.3
217 1 0 0 0 0 1 0 0 0 1 30 20 0.982 57228.99 6.2
218 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 40 2.509 25842.11 8.3
219 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 70 30 2.064 35090.89 8.0
220 0 1 0 0 1 1 1 1 1 0 50 60 3.652 47986.22 5.0

Principais 10 variáveis que caracteriza o estado da vulnerabilidade (IVF) do agregado


familiar:

1 - Mulher como CF com mais de três filhos menores de 0 a 14 anos;


2 - Chefe de agregado familiar analfabeto;
3 - CF acima de 65 anos e sem activos entre 15 e 65 anos (incapacitados para trabalhar. deficientes);
4 - Chefes de agregado familiar desempregados;
5 - CF e seu agregado com receita inferior ou igual a 50 mil FCFA;
6 - Chefe de agregado familiar com dimensão de agregado igual ou superior a 5 pessoas;
7 - Chefe de agregado familiar que utilizam petróleo ou vela para iluminação caseira;
8 - CF com percentagem de pessoas com taxa de dependência igual ou superior a 4 individuo;
9 - CF com número de refeições inferior ou igual a dois vezes por dia;
10 - CF com nível de conforto “Baixo” e “Muito Baixo”.

Legenda: Famílias menos vulneráveis <=40


Famílias outros vulneráveis >40 e <=60
Famílias mais vulneráveis >60 e <=100

231
ANEXO 25 Questionários sobre o consumo dos bens alimentares e produtos
locais subvalorizados (não convencionais)

Inquérito sobre o consumo dos principais bens alimentares e produtos locais subvalorizados
das Famílias na Guiné-Bissau (I.S.A – D.A.I.A.T.)

FICHA Nº - |_______|. LOCAL: ----------------------------. Área ---------------------


I. DADOS DO ENTREVISTADOR.
3.1. Nome de entrevistador: ---------------------------------------------------------------.
3.2. Data: -------/------/2005; Hora: ------H------Minutos.
Objectivo: Realização de estudo importante para melhorar o conhecimento sobre o consumo.
essencialmente dos principais produtos não convencionais (subvalorizados). tendo em conta os
hábitos alimentares da população.

II. CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS E SÓCIO ECONÓMICO DO AGREGADO FAMILIAR.

1. Demografia (dimensão do agregado) e educação


1.2 Estado civil de chefe do agregado. dimensão do agregado e imigração
1. Estado civil Solteiro. |__|; Casado; |__|Divor. |__|; União de facto |__|
2. Número de pessoas no agregado Homens |___|; Mulheres |___|; Total no agreg. |___|
3. Número dos filhos no agregado Homens |___|; Mulheres |___|; Total no agreg. |___|
4.Faixa etária 0 - 14 |__|; 15-19 |__|; 20- 59 |__|; > 60 anos |__|

1.2. Grau de educação do chefe de agregado e 1º complementar


Chefe do agreg 1º complenrar

1. Sabe ler e escrever Sim |__| Não |__| Sim |__| Não |__|

2. Pré-escolar |__| |__|


3. Ensino Básico elementar (4ª classe) |__| |__|
4. Ensino básico complementar (6ª classe) |__| |__|
5. Ensino Secundário (9º classe) |__| |__|
6. Ensino complementar (pré – Universitária -11º ano) |__| |__|
7. Universitária |__| |__|

232
1.3. Estado escolar das crianças a partir dos 6 anos
1. Todos os filhos estão a frequentar escola agora? Sim |__| Não |__|
2. Alguns abandonaram escola neste período lectivo Sim |__| Não |__|
3. Motivo de abandono Longe |__| Fal dinheiro |__| Outros |__|
4. Possuem alguma formação profissional Sim |__| Não |__|

4. Consumo de principais bens alimentares e produtos não-convencionais

2.1. Frequência de consumo /semana


Tod Produtos não Tod
Produtos da base 3-5 2-3 1-2 Rar 3-5 2-3 1-2 Rar
dias convencionais dias
- Arroz |__| |__| |__| |__| |__| - Baguitchi |__| |__| |__| |__| |__|
- Milho |__| |__| |__| |__| |__| - Bridi |__| |__| |__| |__| |__|
- Pão |__| |__| |__| |__| |__| - Djambó |__| |__| |__| |__| |__|
- Feijão/out. leg. |__| |__| |__| |__| |__| - Djagatu |__| |__| |__| |__| |__|
- Raízes e tubér. |__| |__| |__| |__| |__| - Óleo de palma |__| |__| |__| |__| |__|
- Legumes |__| |__| |__| |__| |__| - Candja |__| |__| |__| |__| |__|
- Óleo e azeite |__| |__| |__| |__| |__| - polpa de chebeu |__| |__| |__| |__| |__|
- Açúcar |__| |__| |__| |__| |__| - Peixe seco |__| |__| |__| |__| |__|
- Leite pó/outros |__| |__| |__| |__| |__| - Peixe fumado |__| |__| |__| |__| |__|
- Carne e deriv. |__| |__| |__| |__| |__| - Cacri |__| |__| |__| |__| |__|
- Peixes |__| |__| |__| |__| |__| - Ostra |__| |__| |__| |__| |__|
- Ovos |__| |__| |__| |__| |__| - |__| |__| |__| |__| |__|
- Frutas |__| |__| |__| |__| |__| - |__| |__| |__| |__| |__|

2.2. QTD consumido e preço pago /Kg ou L dos principais produtos e não convencionais
Produtos da Cons. Cons. Cons Preço Produtos não Cons. Cons. Cons Preço
base Kg/dia L/dia Un/dia Un/ Kg convencionais Kg/dia L/dia Un/dia Un/ Kg
- Arroz |____| |____| |____| |____| - Baguitchi |____| |____| |____| |____|
- Milho |____| |____| |____| |____| - Bridi |____| |____| |____| |____|
- Pão |____| |____| |____| |____| - Djambó |____| |____| |____| |____|
-Feij./out/leg. |____| |____| |____| |____| - Djagatu |____| |____| |____| |____|
- Raízes/ tub. |____| |____| |____| |____| - Óleo de palma |____| |____| |____| |____|
- Legumes |____| |____| |____| |____| - Candja |____| |____| |____| |____|
- Óleo/azeite |____| |____| |____| |____| - polpa /chebeu |____| |____| |____| |____|
- Açúcar |____| |____| |____| |____| - Peixe seco |____| |____| |____| |____|
- Leite po/outr. |____| |____| |____| |____| - Peixe fumado |____| |____| |____| |____|
- Carne/deriv. |____| |____| |____| |____| - Cacri |____| |____| |____| |____|
- Peixes |____| |____| |____| |____| - Ostra |____| |____| |____| |____|
- Ovos |____| |____| |____| |____| - |____| |____| |____| |____|
- Frutas |____| |____| |____| |____| - |____| |____| |____| |____|

233
3. Problema de saúde no consumo de produtos não convencionais
Produto Problemas Diarreia Problemas Problemas Hiper Outros
Digestivos Respiratório Circulatório tenção
1-
2-
3-
4-
5-

4. Despesas globais do agregado (últimos 12 meses).


Despesas em: Despesas em 1000/FCFA
≤ 10 10-20 20-30 30-40 40-50 50-60 >60 Total
- Alimentação/bebidas
- Saúde
- Habitação
- Educação
- Transp./ Comunicação
- Equipamento produtivos
- Vestuários
- Cerimonias
- Lazer
- Outros bens/serviços
- Total das Despesas ≤ 10 10-20 20-30 30-40 40-50 50-60 >60

234

Você também pode gostar