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INTRODUÇÃO

A República de Angola é um Estado da África agora com 48 anos de independência, que se viu
refém durante anos pelo regime colonial português que perdurou até meados da década de 1970.
Três foram os movimentos que lutaram para a conquista da independência de Angola: MPLA
(Movimento Popular de Libertação de Angola, liderado por Agostinho Neto 1922/1979), FNLA
(Frente Nacional de Libertação de Angola, liderado por Holden Roberto 1923/2007) e a UNITA
(União Nacional para Independência Total de Angola, liderado por Jonas Savimbi 1934/2002).
Nos primeiros anos após a independência, a economia angolana estava à beira da bancarrota, isto
porque ainda não se havia arrumado a casa para a implementação do novo sistema e também
devido à guerra civil entre (MPLA e a UNITA) que teve a duração de mais de duas décadas.
Mas, podemos notar que a partir dos anos 1980 a economia angolana passou a ter um ligeiro
crescimento graças às grandes empresas estatais com destaque para as petrolíferas, que
contribuíram para o crescimento econômico do país. Em 1991 tivemos o acordo de Bicesse que
juntou os líderes do MPLA que representava o governo e a UNITA como representante da maior
força de oposição. O acordo serviu para a abertura legislativa democrática e o calar das armas
que muito contribui para a deterioração da economia nacional. No ano de 1992 tivemos as
primeiras eleições legislativas presidenciais, isso depois dos partidos (MPLA e UNITA) terem
cessado as guerras. As eleições terminaram com a vitória do MPLA, quando os líderes da
UNITA alegaram uma suposta fraude eleitoral e consequentemente o reatar da guerra civil, só
que desta vez com maior intensidade e que, se estendeu até o ano de 2002.

A economia angolana entrava então assim para aquilo que seria o “virar da página”. Falamos do
período de 2002, que representa um marco histórico para a economia e política de Angola,
representada pelo final da guerra civil e a política interventiva do Estado angolano, “visto que o
país que acabara de sair da “década perdida” iniciou os anos 2000 com uma nova dinâmica na
economia [...] abriam-se perspectivas para melhorias e avanços substanciais na economia
angolana” (ABRANTES, 2005, p. 7).

Foi neste período (4 de abril 2002) que as tropas do MPLA e da UNITA cessaram as suas
diferenças com o acordo de paz que possibilitaria melhorar o ambiente econômico do país “o
governo local poderia dar início a uma série de medidas destinadas a recuperar a economia”
(ABRANTES, 2005, GOULART FILHO; CHIMBULO, 2014, p. 7). O país tinha muito
trabalho pela frente, sabendo das mazelas deixadas pela guerra “cabia ao Estado por intermédio
de intervenção na economia com política econômica intervencionista revitalizar a economia”.
Com a conquista da paz em Angola, em 2002, o Governo Angolano definiu uma estratégia de
desenvolvimento a curto, médio e longo prazo com objetivo de normalizar a vida
social, consolidar a Paz, a reconciliação nacional e lançar as bases do desenvolvimento
económico e social sustentado (BESSA, 2013), o que desafiaria as empresas em território
nacional neste que era o objectivo traçado pelo país, uma vez que o mesmo começara a abraçar o
que ficou conhecido pelo mundo como globalização.

A globalização no mundo actual intensificou a competitividade entre as empresas quer para o


reconhecimento e sucesso econômico-financeiro, como para a sobrevivência das mesmas. Daí
que, torna-se necessário às empresas a utilização da análise económica e financeira baseada em
informações extraídas de documentos contabilísticos tais como: Balanço, Demonstrações de
Resultados, Demonstrações de Fluxo de Caixa, etc., para que se possa detectar a sua real
situação, e assim permitir aos gestores tomarem decisões mais assertivas com perspectivas
futuras.

A análise financeira permite que as empresas avaliem sua saúde financeira, identifiquem
pontos críticos e tomem decisões estratégicas para melhorar sua situação. É por meio da análise
financeira que é possível entender a capacidade de pagamento da empresa, verificar sua
rentabilidade, identificar despesas excessivas e oportunidades de investimento, entre outras
informações valiosas.

Além disso, a análise financeira é importante também para acompanhar a evolução da empresa
ao longo do tempo e fazer projeções para o futuro. Com base em indicadores financeiros como
fluxo de caixa, lucro líquido e retorno sobre investimento, é possível traçar planos de ação para
garantir o equilíbrio financeiro em longo prazo.

Toda a empresa tem como um dos principais Objectivos o alcance do equilíbrio financeiro,
independentemente do seu porte ou segmento de actuação. Conseguir manter as finanças em
ordem, honrar compromissos e investir em novos projetos é fundamental para o sucesso a longo
prazo. E para alcançar esse equilíbrio financeiro, a análise financeira se mostra como uma
ferramenta indispensável.
Problemática

O problema é constituído por um conjunto de questões lógicas e delimitadas que se colocam


ao tema, tendentes a encontrar através das hipóteses, uma solução e esclarecimento do mesmo.
Formular o problema consiste em dizer, de maneira explicada, clara compreensível e
operacional, qual a dificuldade com a qual nos defrontamos e pretendemos resolver
(ZASSALA, 2013).

Muitas empresas, principalmente as pequenas e médias, apresentam um quadro com risco de


falência, pelo facto de muitas delas não aplicarem adequadamente os princípios da análise
financeira. Isso acontece por diversos motivos, como falta de conhecimento técnico, falta de
recursos para contratar profissionais especializados ou mesmo por acreditar que apenas o
controle do fluxo de caixa é suficiente para manter as finanças em ordem. Porém, sem uma
análise financeira adequada, as empresas podem estar perdendo oportunidades de reduzir
custos, identificar novas fontes de receita e se preparar para enfrentar imprevistos financeiros.
Além disso, sem uma visão holística das finanças da empresa, pode haver desequilíbrios no
pagamento de dívidas e investimentos, comprometendo a saúde financeira da organização.

Para a elaboração do presente trabalho, formulou-se a seguinte questão: Será que a empresa
XYZ apresenta uma estrutura financeira equilibrada?

Hipótese

Segundo Carvalho (2009, p. 122) a hipótese propõe uma resposta suposta, provável e
provisória para o problema formulado. Com base nesta teoria formulamos algumas hipóteses
que servirão de fundamento á investigação:
H: A empresa XYZ, apresenta uma estrutura financeira equilibrada.
H2: A empresa XYZ, não apresenta uma estrutura financeira equilibrada.

Objectivo Geral

Analisar a estrutura financeira da empresa XYZ.

Objectivo Específico

Descrever os conceitos gerais sobre análise financeira;


Elucidar os indicadores do equilíbrio financeiro;
Apresentar a análise e interpretação dos resultados da empresa XYZ e demonstrar sua
condição de equilíbrio.
Justificativa
Considerando o facto de que umas análises baseadas apenas em resultados contabilísticos levam
os gestores a enfrentarem dificuldades relacionadas com a gestão e manutenção dos seus
negócios, bem como a tomarem decisões erróneas por conta da limitação dos mesmos, a escolha
deste tema justifica-se pela necessidade que as empresas têm em analisar a sua situação
financeira e assim, facilitar os gestores na tomada de decisão. Permitindo a elaboração de
diagnósticos, para o bom aperfeiçoamento do controlo financeiro e o crescimento empresarial.
Além disso, essa pesquisa pode contribuir para a ampliação do conhecimento sobre finanças
empresariais e estimular a adoção de boas práticas de gestão financeira pelas empresas,
especialmente as pequenas e médias.

Instrumento de investigação
Para a realização da pesquisa de investigação utilizamos os seguintes instrumentos:
Balanço patrimonial;
Demonstração de resultado; Demonstração
de fluxo de caixa.

Tratamento dos dados


Os dados foram tratados da seguinte forma:
Cálculos no Excel,
Tabelas,
Gráficos.

Delimitação do tema
O presente trabalho delimita-se na análise do equilíbrio financeiro de uma empresa. O estudo
será feito analisando as demonstrações financeiras da empresa XYZ. Para o período de 2019 à
2020.

Importância do tema
O tema em questão é bastante importante na medida em que permite aos gestores assim como
aos outros utilizadores da informação financeira conhecerem a viabilidade, a estabilidade bem
como a lucratividade de um negócio através da utilização de um conjunto de instrumentos e
métodos que permitem realizar diagnósticos sobre a situação financeira de uma empresa, e assim
averiguar se a estratégia adotada pela empresa lhe permite alcançar o equilíbrio financeiro caso
contrário, partir por uma que lhe permita alcançar tal equilíbrio.
Metodologia

Segundo a descrição de Gil (2010, p16), a metodologia é o estudo dos métodos, isto é, o estudo
dos caminhos para se chegar a um determinado fim com o Objectivo de analisar as características
dos vários métodos indispensáveis, tais como: avaliar capacidade, limitações e críticas aos
pressupostos quanto a sua utilização.
Método: Segundo Ortega (p11), é o conjunto de diversas etapas ou passos que devem ser
dados para a realização da pesquisa.
Para o sucesso dos objectivos do presente trabalho, utilizou-se os seguintes métodos:
Método comparativo, advém da investigação de indivíduos, classes, fenómenos ou factos, com
vista ressaltar as diferenças e as similaridades entre eles. Este método vai ajudar-nos a analisar e
comparar as demonstrações de resultados bem como os balanços da empresa XYZ nos anos em
análise a fim de se determinar a estrutura da empresa. Gil (2010, p16).
Método de Exploração, tem como objectivo identificar o problema, suas características e
comparar os quocientes obtidos por um período determinado de tempo. Por meio da mesma
busca-se conhecer com maior profundidade o assunto de modo a torná-lo mais claro ou construir
questões importantes para a conclusão da pesquisa. (LAKATOS E MARCONI,2003, P.80).

Tipos de pesquisa

Pesquisa: Investigação e estudo sistemático, cujo objetivo é adquirir conhecimento a respeito de


um determinado assunto. Utiliza-se a pesquisa para buscar uma resposta ou solução de um
problema (teórico ou prático), utilizando-se o método científico. Ortega (p10). Quanto aos tipos
de pesquisas, neste trabalho usamos as seguintes:
Pesquisa bibliográfica: Segundo Gil (2010, p.28), denomina-se pesquisa bibliográfica quando
elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de livros, revistas,
publicações em períodos e artigos científicos, jornais, boletins, monografias, dissertações, teses,
material cartográfico, internet, com o objectivo de colocar o pesquisador em contacto directo
com todo o material já escrito sobre o assunto da pesquisa. A pesquisa Bibliográfica, foi usada
para se ter uma visão mais firme de diversos autores da área em estudo, de forma a interpretar
com precisão os relatórios da empresa.
Pesquisa descritiva: Observa, registra e analisa fatos ou variáveis colhidos na própria realidade.
Procura classificar, explicar e interpretar os fenômenos que ocorrem. Ortega (p.12). Para Gil
(2010, p.24), a pesquisa descritiva tem como objectivo primordial a descrição de
característica de determinada população ou ainda o estabelecimento de relação entre variáveis.
Pesquisa Exploratória: Tem como objectivo proporcionar maior familiaridade com o problema
para torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Na maioria dos casos essas pesquisas
envolvem: levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas relacionadas a pesquisa e análise
de exemplos. (Gil,2008). Esta pesquisa baseou-se nas demonstrações financeiras obtidas na
empresa, cuja análise assenta nos indicadores financeiros e económicos (método dos rácios), bem
como no equilíbrio financeiro da empresa XYZ.

Estrutura do trabalho

O presente trabalho está constituído por três capítulos:

 Capítulo I: Introdução a Análise Financeira

Este capítulo trata de modo geral dos conceitos básicos e objectivos da análise financeira,
instrumentos de analise, bem como os métodos e técnicas utilizadas nos processos de análise
financeira.

 Capítulo II: Método de análise de equilíbrio financeiro

Neste capítulo, apresentamos os principais indicadores de equilíbrio financeiro, sua importância,


métodos de análise e o impacto que estes causam na estrutura financeira da empresa quer a curto
prazo, quer a médio longo prazo.

 Capítulo III: Estudo de caso

Fizemos uma breve apresentação sobre a empresa, apresentamos também os resultados obtidos
pela mesma ao longo do período em análise e demonstramos a situação financeira desta,
determinando a sua condição de equilíbrio financeiro,
INDICE
CAPÍTULO I – CONCEITOS SOBRE ANÁLISE FINANCEIRA

A análise financeira a uma empresa, permite avaliar a situação e evolução da empresa assim
como antecipar o seu comportamento futuro. Então, a “(…) análise financeira relaciona-se com
a avaliação da viabilidade de um negócio ou projeto e a capacidade deste gerar lucro (…)
“(Roda, 2011, pág.27).
A análise financeira é o estudo feito através da comparação das demonstrações financeiras e
dos cálculos dos rácios atinentes a vida financeira, com vista a conhecer a real situação da
empresa. As demonstrações financeiras são representações financeiras esquematizadas da
posição financeira e das transações de uma entidade. São por essa razão, uteis, como forma de
proporcionar informação acerca da posição financeira, desempenho e alterações na posição
financeira de uma entidade a um vasto leque de utentes na tomada de decisões económicas.
Para o conhecimento da posição financeira a gestão terá de recorrer ao auxílio da função
financeira, através de uma análise financeira que engloba o seguinte:
 Estudo da estrutura do ativo;
 Financiamento;
 Autofinanciamento

Em suma, a análise financeira permite o controlo financeiro da empresa pela gestão através da:
 Realização da política financeira;
 Equilíbrio financeiro;
 Rendibilidade;
 Risco;
 Valor criado pela gestão.
A FUNÇÃO FINANCEIRA E A ANÁLISE FINANCEIRA

A função financeira é o ponto de encontro entre as origens e aplicações de fundos na empresa.


Poderá dizer-se que faz parte do campo de acção de todas as decisões de ordem estrutural a
nível de empresas.
A função ocupa um lugar importante entre a empresa no seu conjunto, através de várias
técnicas: Contabilidade, tesouraria, auditoria, fiscalidade, etc., que servem de base à
informática, a estatística, controlo de gestão, etc., e aos acionistas credores, fisco, etc.

Função financeira: Segundo Benzinho e Rodrigues (Pág. 12, 1995), é um conjunto de pessoas
e serviços que, numa organização assumem a sua gestão financeira, através de preparação e
execução das decisões financeiras.

Esta função prepara e executa as decisões financeiras e o seu poder de decisão depende da
dimensão e estrutura da empresa. O poder da função financeira está associado a orientação e
metas a atingir, não podendo pôr em causa a política financeira da empresa. O que nos permite
distinguir a preparação e decisão é o papel da função financeira na definição da política geral e
financeira.

Em norma, a função financeira ocupa um lugar importante junto da administração, através da


informação das acções previstas e realizadas por outras funções, essencialmente a comercial e
industrial. A função financeira está normalmente ligada a tomada de decisão. É através desta
função que é feita a síntese de todos os investimentos e operações financeira.

Compete a função financeira:


 Salvaguardar a integridade do património e autonomia financeira da empresa;
 Participar nas atividades de desenvolvimento no âmbito financeiro, e fazer uma
gestão eficiente na aplicação de fundos.
OBJECTIVO DA ANÁLISE FINANCEIRA NA GESTÃO

Segundo Aires Lousã, a análise financeira compreende um conjunto de técnicas destinas a


estudar as situações económicas e financeiras das empresas fundamentalmente a sua estrutura,
a sua situação financeira, a solvabilidade e rendibilidade. Através de documentos
contabilísticos e financeiros fundamentais e das demais informações disponíveis, cabe-lhe
determinar em que medida é conseguida os objectivos gerais e particulares que correspondem
ao conjunto das tarefas que integram a função financeira.

A análise financeira tem como objectivo analisar o desempenho histórico da empresa e avaliar
a sua saúde financeira, para que esta alcança o desenvolvimento pretendido e a sua
sobrevivência no seu ambiente concorrencial. Como todas as empresas atuam num dado
contexto sectorial, também se pode verificar se está se encontra dentro dos parâmetros médios
do sector, e qual o grau de cumprimento dos objectivos traçados. As informações
contabilísticas e financeiras têm grande importância na medida em que permitem que as
empesas determinem o seu posicionamento face ao respectivo sector de actividade.

Assim, é de salientar que a análise financeira pode ser realizada tendo em vista a situação da
empresa num dado momento – análise estática – ou, avaliar a empresa do ponto de vista
evolutivo – análise dinâmica – sendo importante investigar o que aconteceu nos exercícios
económicos anteriores, para melhor se puder diagnosticar e compreender a situação da
empresa um dado momento e prever o que irá acontecer no futuro.

Todas as empresas necessitam de meios financeiros. Alguns desses meios são próprios, os
restantes são provenientes do exterior e constituem os chamados capitais alheios quer exigíveis
a curto prazo, quer a médio e longo prazo. Portanto, a análise financeira, é um dos objectivos
da função financeira, a qual, por sua vez, se insere na gestão financeira (que tem por objetivo a
gestão das tarefas/objectivos que integram a função financeira) e global da empresa ao lado da
gestão da produção, comercial de recursos humanos, gestão de stock etc.

No âmbito de atuação a análise financeira tem como objectivos mais restritos, podendo ser
desenvolvida em duas perspetivas diferente interna e externa. Análise financeira interna pode
ser inserida no próprio departamento financeiro ou numa área de controlo de gestão e visa
acompanhar a evolução da empresa (equilíbrio financeiro, rendibilidade e respectivos
condicionantes). Análise financeira externa visa, no essencial, fornecer informações a
investidores e credores atuais.
DOCUMENTOS DE BASE PARA A ANÁLISE FINANCEIRA

Entende-se como Demonstrações financeiras, o conjunto das componentes capazes de dar


resposta às necessidades de informação financeira, para efeitos externos. E são elas:

 O balanço;
 A demonstração de resultados;
 A demonstração dos fluxos de caixa;
 Demonstrações das alterações do capital próprio;
 Notas anexas.

As componentes das Demonstrações financeiras atrás referidas inter-relacionam-se porque


refletem diversos aspectos dos mesmos factos, razão pela qual é provável que nenhuma
componente responda por si só, de forma isolada, a cada uma das referidas necessidades.

OBJECTIVOS DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Segundo Carlos Baptista, os objectivos das demonstrações financeiras são o de proporcionar


informações acerca da posição financeira (proporcionada pelo balanço), do desempenho
(proporcionada pela demonstração de resultados) e das alterações da posição financeira
(proporcionada pela demonstração dos fluxos de caixa) de uma empresa que sejam úteis a um
leque variado de utentes na tomada de decisões económicas.

OS UTENTES E AS NECESSIDADES DE INFORMAÇÃO FINANCEIRA

Investidores - Avaliar o retorno do investimento. Auxiliar na tomada de decisão sobre


comprar, deter ou vender. Determinar a capacidade da empresa de pagar dividendos.

Empregados - Avaliar a capacidade da entidade de proporcionar emprego, remuneração e


benefícios de reforma.

Financiadores - Determinar a capacidade da entidade em solver, dentro do prazo, os


compromissos com eles assumidos: os empréstimos e juros.

Fornecedores e outros credores - Determinar se as quantias que lhes são devidas serão pagas
dentro do prazo. Avaliar a capacidade da entidade em operar de forma continuada, caso
estejam dependentes da entidade.
Clientes - Avaliar a capacidade da entidade em operar de forma continuada, caso haja
assumido compromissos de longo prazo com a entidade ou dela estejam dependentes.

Governo e seus departamentos - Avaliar a capacidade de alocação de recursos.


Regulamentar a actividade das entidades. Estabelecer políticas de tributação. Servir de base ao
apuramento do Rendimento Nacional e de Estatísticas semelhantes.

Público - Ajudar a avaliar a utilidade da entidade em diversos níveis como por exemplo a
capacidade de emprego e de desenvolvimento de negócios como cliente.

Gestão - Auxiliar o cumprimento das suas responsabilidades de planeamento, tomada de


decisões e controlo.

O BALANÇO

De acordo o PGCA, o Balanço é uma demonstração contabilística destinada a evidenciar,


quantitativamente e qualitativamente, numa determinada data, a posição patrimonial e
financeira de uma entidade.

Para Aires Lousã, balanço é um mapa que representa a situação patrimonial da empresa num
determinado momento, em termos da sua composição e valor.

Na óptica da gestão, balanço é um quadro onde se encontram representadas as aplicações de


fundos (investimentos) e as origens de fundos (fontes de financiamentos).

O balanço divide-se em três massas patrimoniais gerais:

Capital Próprio

Activo

Passivo

Activo: Representa o total das aplicações de recursos realizados pela empresa. Aplicações
essas que dependem de origens de fundo. Por sua vez, as origens de fundo são os capitais
alheios e os capitais próprios ou situação líquida (que resultam da diferença entre o activo e
capitais alheios).
No balanço, o activo representa a soma entre capital de terceiro e o património líquido:
 Activo = Capitais alheios + Situação líquida

Numa óptica financeira, o activo corresponde as aplicações de fundos ou investimentos. Estes


bens e direitos da empesa são financiados quer por capitais próprios, quer por capitais alheios.
Neste contexto, também podemos chamar 2º membro do balanço como origens de fundos ou
financiamentos. O total das aplicações de fundos iguala a todo momento o total das origens de
fundos, podendo enunciar-se a equação fundamental do balanço.

Activo = Passivo + Situação líquida

Activo = Capitais alheios + Capitais próprios Aplicações de fundos = Origens de fundos

O activo divide-se em duas categorias principais: Activos não correntes, compreende todas as
contas necessárias ao correcto funcionamento da empresa e se espera que permaneçam na
posse da entidade por um período superior a um ano.
O activo não corrente é constituído pelos seguintes elementos:
 Imobilizações corpóreas: Fazem parte deste grupo, todos os bens materiais (móveis
ou imóveis) utilizados na actividade operacional da empresa e que não se destinam a
transformação ou comercialização e apresentam um caracter de permanência na
empresa por um prazo superior a um ano. Ex: Terrenos, edifícios, máquinas etc.

 Imobilizações incorpóreas: Fazem parte deste grupo elementos intangíveis,


igualmente necessários ao correcto funcionamento da empresa, tais como marcas,
patentes, despesas de constituição, etc.

 Investimentos financeiros: É o conjunto de aplicações financeiras detidas por um


período superior a um ano, como partes de capital, obrigações e títulos de participação
em empresas subsidiárias, empresas associadas e outras empresas, empréstimos de
financiamento, investimentos em imóveis, etc.

 Amortizações acumuladas: Está conta está integrada na rúbrica das imobilizações, e a


sua movimentação, resulta do registo contabilístico da depreciação sofrida pelos bens
do imobilizado corpóreo, incorpóreo bem como dos investimentos financeiros em
imóveis.
Activos correntes, composto por um conjunto de elementos heterogéneos que se esperam que
permaneçam na empresa num período igual ou inferior a um ano. Fazem parte desta lista os
seguintes:

 Existência: Tidas como mercadorias pelas empresas comerciais, são todos os bens
adquiridos pela empresa no intuito de revendê-los, e que não se destinam a
transformação. Nas empresas industriais, são consideradas existências, as matérias-
primas, subsidiárias e de consumo destinadas a transformação durante o processo
produtivo para aquisição de produtos finais.

 Contas a receber: são os direitos que a empresa possui para receber em um futuro
próximo. Expressam as contas a receber de clientes, a provisão para devedores
duvidosos e os descontos de duplicatas.

 Disponibilidades – são compostas por recursos financeiros possuídos pela empresa


que podem ser utilizados imediatamente, sem restrições, tais como: caixa, bancos conta
movimento, aplicações de liquidez imediata.

Capital próprio e passivo

Capital próprio: É composto pelo capital inicial e pelo capital adquirido ou ainda, é o interesse
residual nos activos da entidade depois de deduzir todos os seus passivos. É o valor
patrimonial da organização. O capital próprio é composto pelas seguintes contas:

 Capital Social: Representa os valores disponibilizados pelos accionistas para compor o


capital próprio das empresas.

 Reservas de lucro: São contas formadas com a apropriação dos lucros das empresas.

 Reservas para contingências: São aquelas constituídas pelas empresas para


compensar redução do lucro em exercícios futuros, decorrentes de evento julgado
provável. A reserva será revertida no período em que deixarem de existir as razões que
a justifiquem ou em que ocorrer a perda.
 Reservas de reavaliação: É aquela constituída com as contrapartidas de aumentos de
valor em função de novas avaliações atribuídas a elementos do activo.

 Reservas de capital: São constituídas por todos os valores que ingressaram na empresa
sem transitar pelas contas de resultados. São registados como reservas de capital, por
exemplo: as doações e subvenções para investimento, o ágio na emissão de acções e o
prémio na emissão de debêntures.

 Lucros ou prejuízos acumulados; É a conta que obrigará os resultados acumulados da


actividade empresarial e que não foram objecto de distribuição. Neste sentido, são
reservas de lucro sem destinação específica

Passivo: Obrigações presentes da entidade provenientes de acontecimentos passados, do


pagamento dos quais se espera que resultem exfluxos de recursos da empresa incorporando
benefícios económicos. Estas obrigações podem dividir-se em duas categorias principais:

 Passivos não correntes, que se espera que venham a ser pagos pela entidade num
período superior a um ano.

 Passivos correntes, que se espera que venham a ser liquidados pela entidade num
período até um ano.

Demonstração de Resultados

A demonstração de resultados é um documento contabilístico que fornece um resumo financeiro


dos resultados das operações financeiras da empresa durante um determinado período específico,
o qual pretende retratar os proveitos e custos desse mesmo período de exercício. Em suma, trata-
se de um mapa financeiro que permite a avaliação do desempenho da empresa no ano actual
face ao ano anterior.

A Demonstração de Resultados é uma demonstração financeira, de carácter obrigatório, na


qual se pretende dar uma visão econômico-financeiro, simplificada, de uma organização. Esta
ferramenta não é mais que um filme da actividade da empresa, explicando e demonstrando como
foi gerado o Resultado Líquido num dado período contabilístico.
A demonstração de Resultados é constituída pelas seguintes classes:
 Proveitos: São considerados os aumentos nos benefícios económicos durante o período
contabilístico na forma de influxos ou aumento de activos ou diminuições de passivos,
que resultem em aumentos do capital próprio, que não sejam os relacionados com as
contribuições dos sócios.

 Custos: Traduzem-se das diminuições nos benefícios económicos durante o período


contabilístico, na forma de exfluxos ou de reduções de activos, ou na incorrência de
passivos que resultam em diminuição do capital próprio, que não seja as relacionadas
com as distribuições aos sócios.

 Resultado líquido corresponde ao lucro ou prejuízo que a empresa obteve com o seu
desempenho durante um determinado exercício económico e define-se como a
diferença entre proveitos e custos.

Existem duas formas de elaboração da demonstração de resultados:

 Demonstração de resultados por natureza


 Demonstração de resultados por função

Demonstração de resultados por natureza


A demonstração de resultados por natureza que é de elaboração obrigatória, é a demonstração
financeira que apresenta resultados das operações de uma empresa durante um determinado
período em que os custos e as perdas e os proveitos e os ganhos são classificados de acordo com
as respectivas naturezas.

A demonstração de resultado por natureza é composta pelas seguintes rubricas:


 Resultados Operacionais: Referem- se aos lucros e prejuízos resultantes da actividade
principal da empresa. São geralmente obtidos pela venda de bens; prestações de
serviços e outros proveitos operacionais. Resultados operacionais, resultam da
diferença entre os proveitos operacionais e os custos operacionais.

 Resultados Financeiros: Evidencia os lucros ou prejuízos decorrentes das decisões


financeiras, quer no que diz respeito à aplicação dos excedentes como ao
financiamento das necessidades financeiras. Resultados financeiros, resultam da
diferença entre proveitos financeiros e os custos financeiros.
 Resultados correntes = Resultados Operacionais + Resultados financeiros.

 Resultados extraordinários: Refere-se a valores meramente ocasionais ou eventuais,


isto é, valores que não estão ligados a operação normal da empresa. Resultados
extraordinários = Proveitos e ganhos extraordinários – Custos e perdas extraordinárias.

 Resultado antes do imposto: Evidencia os resultados globais ou gerais antes de ser


deduzido o imposto. Resultado antes do imposto = Resultados correntes + Resultados
extraordinários.

 Resultado restante depois de deduzido o imposto sobre o lucro. Resultado líquido do


exercício = Resultado antes do imposto – Imposto sobre o lucro

Demonstração de resultados por funções

Embora sem carácter obrigatório, conforme mostra Fernandes et al (2016), pode adicionalmente
ser apresentada a Demonstração dos Resultados por Funções. Nesta demonstração os gastos
distribuem- se pelas diferentes funções da empresa, sendo possível determinar margens líquidas e
brutas sobre o volume de negócios. Atende-se fundamentalmente a quem consome dentro da
entidade e não ao tipo (natureza) do consumo. Os elementos são agregados de modo a
evidenciar os gastos das funções clássicas da empresa: produção, administrativa, distribuição e
financeira.

Demonstração de fluxos de caixa


Segundo o PGC (2019) a Demonstração de Fluxos de caixa é uma demonstração contabilística
destinada a evidenciar como foi gerado e utilizado o dinheiro no período em análise.
Demonstração dos Fluxos de Caixa tem como objectivo principal a apresentação de informação
sobre os recebimentos e os pagamentos de uma empresa, ocorridos durante um determinado
período. Por conseguinte segundo o mesmo autor, esta Demonstração pode auxiliar os
investidores, os credores e outros a aceder a informações relativas a:
 Capacidade de gerar fluxos de caixa positivos no futuro;
 Capacidade da empresa em solver os compromissos e pagar dividendos;
 Necessidade de recurso ao financiamento externo;
 Explicação das variações ocorridas na situação financeira entre o início e o final de um
período contabilístico.
Para melhor se compreender a Demonstração dos Fluxos de Caixa, transcreve-se o significado
específico dos termos de caixa, equivalente de caixa, fluxos de caixa, actividades operacionais,
actividades de investimento e actividades de financiamento:
Caixa: compreende o dinheiro em caixa e em depósitos à ordem.
Equivalentes de caixa: são investimentos financeiros a curto prazo, altamente líquidos que sejam
prontamente convertíveis para quantias conhecidas de dinheiro e que estejam sujeitos a um risco
insignificante de alterações de valor.
Fluxos de caixa: são influxos (recebimentos, entradas) e exfluxos (pagamentos, saídas) de caixa e
seus equivalentes.

Actividades operacionais: são as principais actividades produtoras de rédito da entidade e outras


actividades que não sejam de investimento ou de financiamento.
São exemplos de fluxos de caixa de atividades operacionais:

 Os recebimentos de caixa provenientes da venda de bens e da prestação de serviços;

 Os recebimentos de caixa provenientes de royalties, honorários, comissões e outros


réditos;

 O pagamento de caixa a fornecedores de bens e serviços;

 O pagamento de caixa e por conta de empregados;

 Os pagamentos ou recebimentos de caixa por restituições de impostos sobre rendimento,


a menos que estes se relacionem com as outras atividades;

 Os recebimentos e pagamentos de caixa de contratos detidos com a finalidade de


negócio.

Actividades de investimento: são a aquisição e alienação de activos a longo prazo e de outros


investimentos não incluídos em equivalentes de caixa.
São exemplos de fluxos de caixa provenientes de atividades de investimento:
 Pagamentos de caixa para aquisição de ativos fixos tangíveis, intangíveis e outros ativos
a longo prazo. Estes pagamentos incluem os relacionados com custos de
desenvolvimento capitalizados e ativos fixos tangíveis autoconstruídos;

 Recebimentos de caixa por vendas de ativos fixos tangíveis, intangíveis e outros ativos a
longo prazo;

 Pagamentos de caixa para aquisição de instrumentos de capital próprio ou de dívida de


outras entidades e de interesses em empreendimentos conjuntos;

 Recebimentos de caixa de vendas de instrumentos de capital próprio ou de dívida de


outras entidades e de interesses em empreendimentos conjuntos (que não sejam
recebimentos dos instrumentos considerados como equivalentes de caixa e dos detidos
para as finalidades do negócio);
 Pagamentos e recebimentos de caixa para contratos de futuros, contratos de forward,
contratos de opção e contratos de swap, exceto quando os contratos sejam mantidos para
as finalidades do negócio, ou os pagamentos sejam classificados como atividades de
financiamento

Actividades de financiamento: são as actividades que têm como consequência alterações na


dimensão e composição do capital próprio contribuído e nos empréstimos obtidos pela entidade.

São exemplos de fluxos de caixa provenientes de atividades de financiamento:

 Recebimentos de caixa provenientes da emissão de ações ou de outros instrumentos de capital


próprio;

 Pagamentos de caixa por aquisição de ações (quotas) próprias, redução do capital ou


amortização de ações (quotas);

 Recebimentos provenientes da emissão de certificados de dívida, empréstimos, livranças,


obrigações, hipotecas e outros empréstimos obtidos a curto ou longo prazo;

 Desembolsos de caixa de quantias de empréstimos obtidos;

 Pagamentos de caixa por um locatário para a redução de uma dívida em aberto relacionada com
uma locação financeira.
METÓDOS OU TÉCNICAS DE ANALISE FINANCEIRA

Tendo por base informação contabilística, nomeadamente o balanço, a demonstração dos


resultados, a demonstração de variações no capital próprio, a demonstração de fluxos de caixa,
a demonstração origens e aplicações de fundos, e informação extra contabilística, como o
anexo às demonstrações financeiras, dados disponibilizados por outras centrais de informação
financeira (BNA, por exemplo), por centrais de estatísticas (INE, etc.), entre outras, é possível
ao analista fazer um acompanhamento do desempenho económico-financeiro de uma empresa.
Sendo possuidor da informação anteriormente referida, o analista deve concentrar-se na
escolha do método de análise. Existem vários métodos ou técnicas de análise que ajudam a
compreender a linguagem dos números, destacando como os mais utilizados:

Comparação de balanços e demonstrações dos resultados de exercícios sucessivos - ao


comparar as demonstrações financeiras de uma empresa ao longo de um determinado período,
é possível medir a evolução e a tendência das rubricas das demonstrações financeiras.

Método dos indicadores ou rácios - a construção de rácios económico e financeiros como


indicador do desempenho de uma empresa é uma das técnicas mais utilizadas. De facto, a
construção destes indicadores muitas vezes permite uma leitura mais fácil das demonstrações
financeiras e comparações que de outro modo seria mais perigoso efetuar.

Análise rubrica a rubrica ou por leitura direta - o recurso aos métodos atrás enunciados
não exclui a análise rubrica a rubrica das demonstrações financeiras. Esta permite a deteção de
saldos de natureza anómala ou que não seriam plausíveis de encontrar.

A análise dos indicadores económico-financeiros é a técnica mais utilizada no processo de


análise financeira de uma empresa. Este método possibilita o estudo da evolução da situação
económico-financeiro de uma empresa através do estabelecimento de relações entre contas e
agrupamento de contas do balanço, da demonstração dos resultados, da demonstração dos
fluxos de caixa ou outros documentos contabilísticos.
Santos (1981) destaca a importância de fazer a distinção entre rácios e indicadores. Para o
autor, rácio consiste numa relação entre dois elementos característicos da situação, atividade,
ou rendimento da empresa, podendo ser expressos sob a forma de quociente ou percentagem,
enquanto que os indicadores abrangem não só as relações anteriormente descritas, como
também relações que podem não se encontrarem expressas da mesma forma, mas que
confrontam elementos relevantes à análise da empresa, como por exemplo a margem bruta das
vendas.
A interpretação dos indicadores económico-financeiros construídos, há que ter em
consideração que estes não representam por si só a situação económico-financeira da empresa,
ou seja, tratam-se apenas de resultados numéricos que devem ser interpretados da forma mais
apropriada. Denota-se assim a importância de o analista ser possuidor de conhecimentos
prévios em matérias de análise financeira e contabilidade, bem como o conhecimento que o
analista detém sobre a empresa em estudo e do sector.

A classificação mais comum divide os variados indicadores existentes de acordo com a sua
natureza, podendo esta ser, por exemplo, financeira, económica, econômico-financeira ou
técnica. Assim, uma forma de agrupar os indicadores poderá ser a seguinte:

Indicadores financeiros: que se debruçam sobre aspetos exclusivamente financeiros,


relacionando as diversas rubricas do balanço. Analisam-se aspetos como a estrutura financeira,
a capacidade de endividamento e a solvabilidade.

Indicadores económicos: têm por base as grandezas incluídas na demonstração dos


resultados, focando-se por isso estritamente em aspetos relacionados com a situação
económica da empresa. Abordam, portanto, aspetos como a estrutura de ganhos e gastos, as
margens de rendibilidade ou a capacidade de autofinanciamento.

Indicadores económico-financeiros: expressam relações económico-financeiras, recorrendo


para isso a rúbricas do balanço e da demonstração dos resultados.

Indicadores de funcionamento ou de atividade: estes possibilitam a avaliação da eficiência


com que a empresa gere os ativos que possuí, permitindo, portanto, explicar alguns impactos
financeiros da gestão ao nível do ciclo de exploração. Estes estão intimamente relacionados
com a natureza da atividade da empresa em análise.

Indicadores técnicos: relacionam-se com aspetos relativos à produção e às atividades em


geral, encontrando-se normalmente expressos em unidades físicas. Torna-se possível através
destes estudar, por exemplo, o rendimento do equipamento ou a produtividade da mão-de-
obra.

Indicadores de mercado: este tipo de rácios não é aplicável a todo o tipo de empresas,
restringindo-se àquelas que se encontram cotadas em bolsa. Estes relacionam grandezas do
balanço ou da demonstração de resultados com as cotações das ações das empresas, que se
traduzem em informações essenciais para todos os interessados em investir no mercado de
capitais.

Uma vez que não seria viável enumerar todos os indicadores, no presente trabalho serão
enunciados apenas os indicadores económico-financeiros bem como os indicadores de atividade
utilizados na análise do equilíbrio financeiro de uma organização.

Vantagens e limitações dos rácios

Na abordagem dos rácios podemos citar as seguintes vantagens:


 São práticos e fáceis de elaborar pois, os dados encontram-se nas demonstrações
financeiras da empresa e os seus cálculos são simples de aplicar;
 A informação é utilizada de forma sintética e objetiva;
 É possível interligar vários indicadores;
 É possível fazer comparações dos rácios entre vários anos e com isto analisar crescimento
ou decréscimo de forma a avaliar o seu impacto;
 É possível obter respostas quantitativas

Algumas das limitações são:


 Não têm em consideração fatores qualitativos;
 Ausência de uma definição homogénea a nível nacional e muito menos a nível
internacional de cada rácio;
 Têm por base valores contabilísticos passíveis de distorções; o Um rácio individual não
nos “diz” nada por si mesmo, necessita sempre de ser comparado no seu contexto;
 A comparação de rácios entre empresas do mesmo setor, ou com média de setor pode ser
falseada pelas diferenças das práticas contabilísticas das empresas;
 A análise de rácios baseada em dados publicados e a sua comparação com a empresa
assenta na pesquisa de conhecimento sobre o passado.
 Se existir algum erro nas demonstrações financeiras, os rácios irão refletir esse erro;
Preparação das demonstrações financeira para analise financeira

A preparação da informação financeira para efeitos de análise consiste em organizar a informação


de forma tal que a sua utilização seja mais eficaz e eficiente no intuito de obtenção da informação
pretendida na forma de indicadores. Contudo, esse trabalho deve ter sempre subjacente um
cuidado especial no que concerne aos pressupostos e princípios que estão subjacentes à
informação financeira prestada. Para além disso, a própria informação contabilística encerra, em si
mesma, algumas limitações que dificilmente são ultrapassáveis no âmbito da análise financeira.
Vejam-se, a título de exemplo, as seguintes situações:

Os princípios contabilísticos, critérios valorimétricos ou métodos de custeio podem sofrer


alterações de um período para o outro. Embora tal afecte decisivamente o princípio da
comparabilidade, o que é facto é que tais regras devem ser alteradas sempre que essa alteração
melhore a qualidade da informação contabilística e financeira produzida ou por imposição
normativa. Assim sendo, o analista deve prestar especial atenção a essas alterações, que deverão
ser cuidadosamente divulgadas no Anexo às Demonstrações Financeiras, sob pena de se poderem
tirar conclusões precipitadas sobre a evolução económica e financeira em exercícios consecutivos.
Para além desse facto, o analista não deve ser alheio ao facto de que a contabilidade não relata
tudo. De facto, existem valores extra-patrimoniais não contabilizados e, na melhor das hipóteses,
apenas divulgados (como por exemplo, garantias prestadas). Assim, um relatório de análise
financeira poderá ter as limitações que decorrem de omissões ao nível de activos ou passivos
contingentes e extrapatrimoniais.

Por fim, uma limitação evidente ao nível da análise financeira que deriva de metodologias de
contabilização tem a ver com o facto de certas realidades patrimoniais serem consideradas como
meios financeiros, quando em substância são empréstimos de curto prazo, como seja, por exemplo
a letras descontadas. Este facto gera inevitáveis distorções ao nível da análise da liquidez e do
equilíbrio financeiro. Enfim, as conclusões permitidas pela análise dos indicadores não devem ser
interpretadas como verdades absolutas, mas antes o devem ser num determinado contexto
específico, do sector, da empresa e das práticas contabilísticas seguidas e, bem assim, sujeitas à
subjectividade inevitável que decorre dos pressupostos assumidos por um dado analista, que não
são necessariamente iguais aos pressupostos que outro analista poderia assumir.
CAPÍTULO II: ANÁLISE DO EQUILIBRIO FINANCEIRO

Neste capítulo será tratada a importância do equilíbrio financeiro para uma empresa, tendo por
base tanto a abordagem patrimonial, como também uma abordagem mais informativa para a
empresa, a funcional. Será analisada a forma de gestão, as razões e as vantagens em obter este
equilíbrio através das duas vertentes referidas, e, por outro lado, os efeitos negativos que um
desequilíbrio financeiro pode trazer a uma empresa,

Avaliar e interpretar a situação económica da empresa é um processo fundamental para os


diversos intervenientes no ciclo de exploração da mesma. Os gestores carecem de acompanhar
a evolução daempresa e controlar os planos para agir com o pensamento no futuro, os credores
antes de concederem crédito necessitam de conhecer a situação actual e a tendência futura, os
trabalhadores pretendem assegurar o seu emprego, os investidores exigem conhecer o valor da
empresa para decidirem realizar ou não o investimento ou para desinvestirem, o Estado tem
interesse na situação da empresa pelo contributo que esta poderá dar para as suas contas e os
clientes (e os fornecedores)têm a intenção de conhecer o poder da empresa.

Introdução ao equilíbrio financeiro


Para tomar decisões financeiras é necessário avaliar e interpretar a situação económica e
financeira da empresa. Esta análise da situação financeira da empresa manifesta-se mediante a
análise do equilíbrio financeiro, autonomia financeira, solvabilidade e ciclo de exploração,
enquanto a avaliação da situação económica através da análise dos resultados e da própria
atualidade económica (Esperança e Matias, 2009). Os gestores têm a necessidade de
acompanhar a evolução e controlar o planeamento, de modo a conhecer a situação atual da
empresa e ao mesmo prever a atividade no futuro. Para Baptista e Andrade (2004), a existência
de equilíbrio financeiro é considerada vital para se aferir da estabilidade econômico-financeiro
da empresa. De destacar que o equilíbrio da estrutura financeira proporciona um aumento da
capacidade competitiva. Os gestores responsáveis têm que estar conscientes desta realidade, de
forma a garantir a salvaguarda de todos estes interesses e a visibilidade da empresa.

O equilíbrio financeiro apresenta-se como uma das ações base da gestão de uma empresa.
Toda a administração de uma empresa em conjunto com o seu departamento financeiro
pretende alcançar a estabilidade financeira. Para isso é necessário existir uma preocupação
constante em manter um equilíbrio funcional entre os recursos que a empresa detém e as
aplicações que realizou ao longo dos seus ciclos financeiros. O equilíbrio financeiro é um
conceito que acompanhou a evolução de uma abordagem patrimonial para uma abordagem
funcional, desde as noções de fundo de maneio à introdução da importância da tesouraria nesse
mesmo equilíbrio.

Se a estrutura financeira de uma empresa se encontrar equilibrada, a empresa possuirá


capacidade para cumprir todas as suas obrigações atempadamente, e consequentemente,
adquire capacidade para negociar com os fornecedores de capitais permanentes e com os
fornecedores de exploração, bem como a capacidade para negociar com clientes as condições
de compra e venda. Este equilíbrio proporciona à empresa um nível elevado de credibilidade
junto das entidades que intervêm no ciclo económico de exploração, como fornecedores,
credores, investidores, clientes ou Estado.
O estudo do equilíbrio financeiro pode ser efectuado em termos de análise estática, usando
para o efeito duas abordagens:

A primeira é a Abordagem Tradicional, em que Moreira (1997) define como sendo a “mais
recente e em ascendente importância no seio da análise financeira, propõe o estudo do
equilíbrio financeiro a partir da confrontação da temporalidade dos recursos e aplicações da
empresa ou, o que é o mesmo, a partir da confrontação temporal da exigibilidade das
responsabilidades da empresa com a liquidez dos respectivos activos” (p.135).

A segunda é a designada Abordagem Funcional, que Moreira (1997) descreve como sendo a
“mais recente e em ascendente de importância no seio da análise financeira, propõe o estudo a
partir da consideração, adicional à temporalidade dos recursos e aplicações, dos diversos ciclos
de negócios da empresa: ciclo de operações de capital, ciclo de exploração e ciclo de
operações de tesouraria” (p.135 e 136). Esta abordagem tem como principal indicador a
Tesouraria Líquida (TL), determinada a partir das Necessidades de Fundo de Maneio (NFM) e
do Fundo de Maneio Funcional (FMF). As Abordagens Tradicional e Funcional têm como
base as massas de capitais e de activos do balanço.

A escolha de um tipo de técnica: dinâmica ou estática, dentro desta última, a escolha por um
lado da Abordagem Tradicional utilizando o Fundo de Maneio (FM) e por outro lado a
abordagem funcional via Tesouraria Líquida (TL). O ideal será a análise conter ambas as
abordagens. Iniciaremos com a Abordagem Tradicional e depois passaremos à Abordagem
Funcional.

EQUILIBRIO FINANCEIRO DE CURTO PRAZO

Entende-se por liquidez a capacidade que a empresa tem para solver os seus compromissos de
curto prazo. Sempre que existe liquidez considera-se que a empresa está em equilíbrio de curto
prazo, já que o equilíbrio financeiro de médio e longo prazo (solvabilidade) aparece como
resultante da sequência de equilíbrios de curto prazo. Associado ao equilíbrio financeiro de
curto prazo, existe a possibilidade de ser analisado de acordo com duas perspectivas: a
Abordagem Tradicional e a Abordagem Funcional. Começaremos por abordar, como referido
primeiramente, a Abordagem Tradicional.
O estudo do equilíbrio financeiro de curto prazo pode ser feito recorrendo aos conceitos de
Tesouraria (numa perspectiva de números absolutos) ou de Liquidez (numa vertente de
números relativos ou rácios).

Abordagem patrimonial do equilíbrio financeiro


A abordagem patrimonial ou tradicional do equilíbrio financeiro tem por objetivo primordial
avaliar a solvabilidade e a estrutura financeira da empresa e visa calcular a sua capacidade para
fazer face às suas obrigações nas datas de vencimento destas (Nabais e Nabais, 2011),
permitindo adicionalmente avaliar se a estrutura financeira da empresa é equilibrada, ou seja,
se consegue liquidar as origens de fundo que vão sendo exigíveis com as aplicações de fundos
que vão ficando disponíveis. Esta teoria estabelece ainda que, se a estrutura financeira de uma
empresa se apresentar consistente e se estiver, simultaneamente, garantida a rendibilidade em
comparação com o custo do capital alheio, a empresa reúne condições de estabilidade (Neves,
2004).

Mediante esta análise patrimonial, o equilíbrio financeiro poderá alcançar-se através das
seguintes situações:

 No médio e longo prazo, quando os capitais permanentes, respeitantes ao conjunto dos


capitais próprios e dos capitais alheios de médio e longo prazo, são equivalentes ao
investimento em ativos fixos, englobando o imobilizado corpóreo e incorpóreo e os
investimentos financeiros, possuindo um baixo grau de liquidez. Quando tal premissa
não se verifica, a empresa encontra-se num desequilíbrio financeiro, estando a financiar
investimentos de exigibilidade superior a um ano com capitais de curto prazo.

 No curto prazo, no momento em que o ativo circulante, composto pelas


disponibilidades, pelos inventários e pelas dívidas de curto prazo, com um elevado grau
de liquidez, possui um valor superior ao passivo circulante, correspondente aos capitais
alheios de curto prazo.

Daqui resulta o conceito de fundo de maneio. O fundo de maneio é o indicador do equilíbrio


financeiro da análise patrimonial da empresa. Este define-se pela diferença entre o ativo
circulante e o passivo circulante ou entre os capitais permanentes e o ativo fixo. Este fundo
representa uma margem de segurança, uma vez que assegura a capacidade da organização em
honrar as suas obrigações no curto prazo (Nabais e Nabais, 2011). Na sua gestão financeira,
uma empresa pretende manter um nível de fundo de maneio positivo, mas não
demasiadamente elevado, com intuito de não implicar mais custos de exploração. Por outro
lado, um fundo de maneio nulo ou negativo poderá indicar que a empresa se encontra com
dificuldades no cumprimento de compromissos a curto prazo. Posto isto, para uma empresa
executar uma gestão eficiente do fundo de maneio deve garantir que as suas dívidas são
cobradas de forma célere, que as suas disponibilidades apresentem apenas um valor necessário
para cobrir eventuais despesas, bem como uma gestão cuidada do seu inventário.

Uma empresa deve ter como exigibilidade própria o equilíbrio financeiro mínimo. Para o
conseguir, necessita que o seu grau de liquidez das aplicações seja pelo menos igual ao grau de
exigibilidade das origens, procurando garantir uma primeira condição de rutura de tesouraria,
ao não consentir que se vençam mais depressa os capitais postos à disposição da empresa do
que fiquem disponíveis os ativos que aqueles financiam (Mota e Custódio, 2008). Assim, a
empresa deve garantir que os capitais utilizados para financiar os seus ativos permaneçam à
sua disposição durante o período de duração desses mesmos ativos. Contudo, a regra do
equilíbrio financeiro mínimo não assegura o equilíbrio da estrutura financeira da empresa. Para
tal acontecer, é necessário que se verifique a situação referida acima, o ativo circulante tem de
exceder o valor do passivo circulante, pois é possível que alguns destes não possuam um grau
de liquidez suficiente para permitir fazer face às obrigações de curto prazo. A não verificação
desta regra pode resultar na asfixia da empresa, uma vez que o conjunto de ativos com maior
liquidez será insuficiente para liquidar as obrigações com prazo inferior a um ano (Esperança e
Matias, 2009).

Porém, numa análise conclusiva, retira-se que o fundo de maneio se apresenta como um
indicador estático na abordagem patrimonial, visto que é calculado com base nos valores do
balanço para determinada data. Desta forma, afasta da sua determinação fatores importantes
dentro de uma empresa, como o tipo de atividade da empresa e o seu dinamismo, ignorando
também a especificidade da atividade e dos ativos e passivos de curto prazo.

Martins (2002) diz-nos que na regra de ouro da gestão financeira “os capitais utilizados pela
empresa no financiamento dos seus activos devem ter uma maturidade (período durante o qual
estão ao seu dispor) igual, ou superior, à vida económica destes (período de permanência na
empresa) ” (p.89). Se assim não for, o desequilíbrio nas opções de financiamento conduzirá,
mais tarde ou mais cedo, a dificuldades de tesouraria, dada a diferença entre os ciclos de
recursos e aplicações.

Fundo de Maneio

O Fundo de Maneio, como já foi anteriormente referido, é o indicador por excelência da


Abordagem Tradicional. O FM é dado pela diferença entre o Activo Circulante e os Capitais
Alheios de Curto Prazo ou em alternativa, pela diferença entre o Capital Permanente e o
Activo Fixo. A regra de equilíbrio financeiro visa avaliar em que medida os interesses dos
credores de curto prazo estão assegurados. Os credores desejam que a empresa tenha Activos
de Curto Prazo muito superiores aos Passivos de Curto Prazo, garantindo assim o reembolso
do capital cedido a curto prazo. Mas, no entanto, isto não é aquilo que a empresa mais deseja.
Certamente que não existirá financiamento se a empresa tiver mais obrigações a curto prazo do
que tem bens para pagar. Neste seguimento, se o FM é maior que zero, a empresa consegue
cumprir a regra do equilíbrio mínimo e da margem de segurança, o que implica que em
princípio a empresa terá capacidade para solver os seus compromissos de curto prazo nas
respectivas datas de vencimento. Este facto constitui aparentemente uma situação favorável
quanto ao equilíbrio financeiro de curto prazo, no entanto não é condição suficiente para o
garantir, devido às possíveis divergências entre a possibilidade de realização dos seus activos,
ou seja, à sua transformação em liquidez e a exigibilidade dos seus passivos de curto prazo. No
entanto, o facto do FM ser positivo poderá não bastar ainda para garantir o equilíbrio
financeiro se o prazo de realização dos activos circulantes for muito superior ao prazo de
exigibilidade dos débitos de curto prazo. Se o FM é menor que zero, então a empresa terá
capitais exigíveis a curto prazo a financiar activos fixos, cuja capacidade de se transformarem
em dinheiro rapidamente é reduzida. Assim, a empresa está numa situação de desequilíbrio
financeiro, que temporariamente poderá ser controlado se o prazo de realização dos activos
circulantes for muito menor que o prazo de exigibilidade dos débitos de curto prazo.

O fundo de maneio pode ser calculado de duas formas distintas, partindo da equação
fundamental do balanço:

AC + AF = ECP + CP’
FM = CP’ – AF
FM = AC – ECP

EQUILIBRIO FINANCEIRO

É geralmente aceite que só uma estrutura financeira equilibrada permite à empresa um


funcionamento normal, sem grandes sobressaltos, em laboração contínua, independente de
credores, e em posição de negociar, sem aceitar pressões, a cobertura das suas necessidades
operacionais.

Com efeito, é necessário que os capitais utilizados por uma empresa para financiar um
elemento do activo, devem poder ficar à sua disposição durante o período que corresponda,
pelo menos, ao da duração do elemento activo adquirido com esses mesmos capitais. Estamos,
assim, a respeitar um importante princípio de equilíbrio: regra do equilíbrio financeiro
mínimo.

A regra do equilíbrio financeiro mínimo é satisfeita quando o grau de liquidez das aplicações
é, pelo menos, igual ao prazo de exigibilidade dos fundos utilizados no seu financiamento. Por
outras palavras: Qualquer elemento patrimonial da empresa deve ser financiado por capitais
postos à sua disposição por um período, pelo menos, igual ao da permanência desse elemento na
empresa.

A aquisição de um equipamento cujo grau de liquidez é lento não se deverá efectuar com base
num crédito exigível a curto prazo, mas sim através de capitais permanentes. Na verdade, é
essencial que os recursos financeiros utilizados na compra de uma máquina permaneçam na
empresa o tempo necessário para que sejam criados, através de mecanismos das amortizações e
dos lucros gerados e retidos no seu interior, os meios líquidos para fazer face ao respectivo
reembolso, no caso obviamente, do financiamento ser garantido através de recursos alheios.

A compra de matérias primas ou materiais diversos é viável, pelo menos parcialmente, através do
recurso ao crédito a curto prazo, pois, geralmente e neste período, as matérias primas são
transformadas, os produtos acabados vendidos e as respectivas receitas cobradas, de modo a
fazer face em tempo oportuno ao pagamento das dívidas contraídas.

Indicadores de liquidez

A analise do equilíbrio financeiro da empresa também pode ser feito, recorrendo aos números
relativos ou rácios. Para o efeito, procede-se, geralmente, o exame de liquidez (ou solvabilidade
a curto prazo).

A liquidez representa a capacidade que a empresa dispõe para fazer face aos seus compromissos
de curto prazo. Ou seja, para além de atender à sua capacidade de endividamento temos também
de analisar o grau de liquidez do negócio. A liquidez dos activos da empresa deve ser suficiente
para fazer face às obrigações de curto prazo.
A liquidez pode ser avaliada através do montante de fundo de maneio:
 Se é pequeno não assegura uma boa liquidez;
 Se é exagerado diminui a rendibilidade da empresa.
Entretanto, o mais comum é o estudo da liquidez através de três rácios: liquidez geral, reduzida e
imediata.

LIQUIDEZ GERAL

A Liquidez Geral representa a capacidade da empresa para solver os seus compromissos de curto
prazo, utilizando para o efeito o seu Activo Circulante e se representa pela seguinte expressão
analítica:

O rácio de LG será maior, menor ou igual a 1, conforme a empresa tenha FM positivo,


negativo e nulo, respectivamente.

É frequente afirmar-se que este rácio não deve ser inferior a 2, contudo convém salientar que a
liquidez da empresa depende:

Da relação entre os montantes dos AC e ECP;

Dos prazos de recebimento e de pagamento (exigibilidade).


O rácio de LG, embora importante, é insuficiente, na medida em que ele não permite, só por si,
uma informação completa sobre a verdadeira liquidez da empresa, pelo que é necessário
recorrer a outros indicadores: liquidez reduzida ou de tesouraria.

LIQUIDEZ REDUZIDA

A Liquidez Reduzida é muito semelhante à Liquidez Geral, porque esta também permite medir
a capacidade da empresa para solver os seus compromissos de curto prazo. Contudo, a liquidez
reduzida excluí as existências, ou seja, exclui a parte do Activo Circulante que tem um menor
grau de liquidez, admitindo assim que as existências não poderão ser transformadas de
imediato em dinheiro.

Como podemos observar, não figuram no numerador os stocks, ou seja, o componente do


capital circulante caracterizado por um menor grau de liquidez, o que proporciona um melhor
julgamento sobre a situação de tesouraria da empresa do que a liquidez geral.

É usual considerar-se que o valor deste rácio não deve ser inferior a 1,5. Contudo, devido a
vários factores, poderá dizer-se que, em empresas bem geridas, são suficientes os valores entre
0,9 e 1,1.

LIQUIDEZ IMEDIATA

Este indicador, expressa a capacidade de solver responsabilidades de forma imediata. É muito


redutor nas conclusões que dele se podem retirar, sendo de todo impossível definir
aprioristicamente que valores o mesmo deve assumir para efeitos de uma análise favorável
sobre o tema liquidez. A liquidez imediata é, aliás, fortemente criticada numa numa óptica de
gestão financeira, pois como se sabe, volumes elevados de meios financeiros líquidos (por
exemplo, dinheiro em caixa e depósitos bancários) indiciam más práticas ao nível da gestão
financeira (aplicações de capital não reprodutivas).

O indicador de LI evidencia a percentagem do ECP com a cobertura imediata de


disponibilidades.
O raciocínio costuma ser conduzido da seguinte forma: havendo fundo de maneio positivo e
considerando que, em termos de grandes massas, os graus de liquidez do activo circulante e de
exigibilidade do passivo circulante oscilam dentro do mesmo período (menos de um ano) é de
presumir que, quando o valor de liquidez geral é superior a 1, a massa dos capitais circulantes
é suficiente, em termos globais, para cobrir o exigível a curto prazo.

Indicadores de atividade de curto prazo

De acordo com Martins (2004), os indicadores de funcionamento ou de atividade de uma empresa


proporcionam informação relativa às características específicas da atividade operacional da mesma,
sendo fundamentais para avaliar a eficiência com que a organização está a gerir os recursos aplicados.

Prazo médio de recebimentos

Poder-se-á considerar este indicador como um dos mais importantes no grupo dos indicadores de
atividade. O principal objetivo deste indicador é o de medir o tempo médio que os clientes demoram
a pagar à empresa.

A principal vantagem apontada à utilização deste indicador refere-se ao facto de permitir identificar
possíveis necessidades de alterações associadas ao comportamento do departamento de cobranças
da empresa, nomeadamente se se estiver perante um valor elevado, como refere Neves (2012).
Através deste também é possível retirar algumas conclusões acerca do poder negocial da empresa
perante os seus clientes. No entanto, na construção deste indicador vários aspetos fulcrais deverão
ser tidos em consideração. Por exemplo, o construtor do indicador deverá ter presente que a base do
numerador e denominador deve ser a mesma. Uma vez que o saldo contabilístico da conta clientes
inclui IVA, também no denominador deverá ter incorporado este imposto. Um outro aspeto a ter em
atenção quando se procede à comparação deste indicador com o de outra empresa, é o ramo de
atividade em que a empresa se insere, uma vez que este está largamente dependente do sector. Uma
limitação apontada a este indicador deve-se ao facto de, maioritariamente, ser considerado o saldo
de clientes do final do exercício. Na opinião de Neves (2012), este indicador traduzir-se-á num valor
mais próximo da realidade se se optar por considerar um saldo médio de clientes.

Prazo médio de pagamentos

Este indicador é muito semelhante ao indicador anterior, apresentando vantagens e limitações


idênticas. Este indicador devolve-nos informação relativa ao tempo médio que a empresa demora a
pagar a suas dívidas aos seus fornecedores.
A principal vantagem da utilização deste indicador prende-se com a possibilidade de se retirarem
conclusões relativamente ao poder negocial da empresa junto dos seus fornecedores. Tal como no
cálculo do PMR, deve ter-se em atenção que os dois montantes devem ter a mesma base, ou seja, a
rubrica de fornecedores contabilisticamente incluí IVA, logo dever-se-á incluir IVA no denominador do
indicador. Mais uma vez, alguns autores defendem uma aproximação à realidade da empresa se se
recorrer ao saldo médio de fornecedores e não ao saldo do fim do exercício. Caso este indicador
devolva um valor demasiado elevado isto poderá revelar dificuldades financeiras.

Duração média de inventários e rotação dos inventários

Os indicadores de atividade mais utilizados que permitem retirar ilações relativamente à permanência
de inventários em armazém são: a duração média de inventários, que se traduz no tempo médio que
os inventários ficam em armazém, e a rotação dos inventários, que transmite informação
relativamente ao número de vezes que o inventário é renovado num determinado período de tempo,
normalmente o ano contabilístico.

No que diz respeito às vantagens na utilização destes indicadores, poderemos considerar como um
aspeto positivo do primeiro indicador (DMI) o facto de a análise do tempo de permanência média em
armazém permitir identificar se a empresa apresenta “monos” em stock, o que alerta para a
necessidade de se desfazerem deles, assim como inferir acerca da eficiência da gestão de inventários.
A eliminação dos “monos” poderá ser apenas uma solução de curto prazo, havendo a necessidade de
identificar e corrigir uma ineficiente gestão de stocks para obter melhorias de médio/longo prazo,
evitando-se assim a criação de novos “monos”. Conforme as características da empresa, a análise da
duração média de inventários poderá ser decomposta, avaliando-se apenas a permanência de
matérias-primas ou de mercadorias, por exemplo. Relativamente ao indicador de rotação de
inventários, uma das vantagens que apresenta é o facto de permitir fazer uma avaliação da gestão de
stocks da empresa, identificando-se através destas possibilidades de redução de custos de
armazenagem e de ações que permitam um aumento na eficiência, por exemplo, evitar ruturas de
stock. Os principais aspetos a ter em atenção na utilização destes indicadores relacionam-se com a
atividade desenvolvida pela empresa, a duração do processo produtivo e as políticas de gestão de
stocks adotadas. Alguns autores consideram como limitativo o uso do saldo de inventários de final de
exercício no cálculo destes indicadores, devendo optar-se pela utilização do saldo médio de
inventários. Em empresas que operam com algum grau de sazonalidade poderá acontecer, por
exemplo, que para fazer face a grandes encomendas no período de final de ano (época festiva), sejam
obrigados a aumentar os stocks, o que poderá não se verificar na época de verão, e vice-versa, não
correspondendo, por isso, o valor de inventários de final de ano à realidade da empresa.

Abordagem funcional do equilíbrio financeiro


Esta é uma abordagem idealizada para colmatar algumas das limitações que se verificavam na
determinação do equilíbrio financeiro através da vertente patrimonial. Apresenta como
principal característica a associação entre os movimentos e origens de fundos aos ciclos
financeiros da empresa. Esta abordagem tem por base uma forma diferente de olhar para o balanço
da empresa, dando ênfase na autonomização dos ciclos financeiros: investimento, exploração e
tesouraria. Esta abordagem utiliza o rácio Tesouraria Líquida (TL) e recorre a outros dois indicadores
no seu cálculo: o Fundo de Maneio Funcional (FMF) e as Necessidades de Fundo de Maneio (NFM).

Fundo de maneio funcional

O FMF representa a parte dos capitais permanentes de uma empresa que não é absorvida no
financiamento dos ativos não correntes, e como tal poderá ser canalizado para o financiamento (parcial
ou total) das necessidades do ciclo de exploração. Neste âmbito destaca-se que o capital permanente
deve financiar o ativo não corrente e servir de margem de segurança necessária para fazer face a
imprevistos ou diferenças relevantes entre os prazos de exigibilidade do passivo e de realização do
ativo. Segundo Breia et al. (2014, p.74) «(…) deverá ainda cobrir as rubricas de curto prazo afetas ao
ciclo de exploração e não cobertas pela própria exploração (fornecedores) dado que tem caraterísticas
de «imobilização» (renovação de forma mais ou menos continuada)». Constata-se no FM uma natureza
essencialmente estática, dado que a sua evolução temporal depende de variáveis empresariais de
natureza essencialmente estrutural: as políticas de investimento em ativos não correntes, as políticas de
amortização do imobilizado, a rendibilidade global, a política de distribuição de dividendos e também
as políticas de financiamento (Silva, 2010). Desta forma e de modo a ser coerente com o princípio de
continuidade em que assenta a realização das demonstrações financeiras, a sua análise não deve ser
dissociada da natureza e nível de atividade, da rendibilidade e da tesouraria de exploração empresarial,
conferindo assim um maior valor à sua avaliação.

O fundo de maneio funcional está relacionado com os recursos estáveis da empresa e é o


resultado de políticas de investimento e financiamento a médio e longo prazo. Representa a
margem de segurança que uma empresa tem no seu financiamento sobre as aplicações
permanentes, evitando também possíveis ruturas de tesouraria. Este fundo de maneio é então
determinado pela diferença entre os capitais permanentes e o ativo fixo da empresa. Se este
diferencial for positivo, torna-se uma garantia de equilíbrio financeiro para a empresa, pois
existe uma parte dos recursos estáveis que financia o ciclo de exploração. Numa análise
contrária, um diferencial negativo sugere os recursos estáveis da empresa não são suficientes
para fazer face às necessidades de financiamento do ativo fixo. De realçar ainda que o fundo
de maneio funcional é um indicador com impacto da estratégia e no planeamento financeiro,
fornecendo dados sobre a solvabilidade da empresa a médio e longo prazo, assim como sobre o
risco e o custo de capital.
Quando positivo, o FM representa a parte dos capitais permanentes que se encontra disponível
para financiar o ciclo de exploração. Apresentando um valor negativo, significa que parte dos
fundos não estáveis estão a financiar ativos não correntes, o que, por si só, é um fator de
fraqueza da estrutura financeira, que acarreta riscos (Neves, 2012). Porém um FM negativo
não significa necessariamente desequilíbrios financeiros, dado que os níveis de FM têm de
estar em linha com as exigências de capital do ciclo de exploração. Ora, por vezes o ciclo de
exploração é totalmente financiado pelos fornecedores, de modo que não é necessário a
existência de uma margem de segurança para fazer face ao desfasamento temporal existente
entre a aquisição de existências e o recebimento de vendas efetuadas.

Nesse caso o FM poderá ser negativo desde que as NFM sejam ainda mais negativas (é o caso
frequente, por exemplo, das empresas da grande distribuição).

A avaliação da variável FM assume particular ênfase quando se procura analisar o resultado de


empresas quer no que respeita à sua qualidade, quer relativamente à sua sustentabilidade. Ora é
nesta linha que a determinação de um FM ajustado ao volume e à natureza da atividade
empresarial reveste-se de grande importância, seja para o desenvolvimento das atividades de
gestão, seja, consequentemente, pela importância que tem na determinação do valor da
empresa (Pires, 2006).

Porém, embora a necessidade de adequação do FM seja de grande importância para o sucesso


empresarial, na prática torna-se difícil a definição de limites ideais para esta variável. Essa
dificuldade, segundo Pires (2006), prende-se no facto de a quantificação de forma ajustada do
FM ao nível e volume de operações, ser condicionada por um conjunto de fatores, de onde se
destacam:

 A duração do ciclo de exploração - nas empresas industriais será, por princípio,


superior ao das empresas comerciais, dado a necessidade de financiar o intervalo de
tempo consumido pelo ciclo de produção;
 A natureza da atividade - poderá determinar, por exemplo, a necessidade de se recorrer
a trabalhos especializados ou de se efetuarem determinados adiantamentos para
garantir a compra de certas matérias-primas;
 Os PMR e PMP - mesmo em empresas do mesmo setor de atividade, com uma
dimensão similar e volume de negócios idênticos, estes prazos podem determinar
necessidades de FM diferenciadas;
 O grau de maturidade e/ou desenvolvimento em que se encontra a empresa;
 O preço dos diferentes fatores de produção - este determinará um ciclo de exploração
mais ou menos oneroso.

A possibilidade de ocorrerem situações extraordinárias que influenciem o ciclo de exploração,


como avarias técnicas, greves, absentismo, conjuntura desfavorável, etc.

Assim sendo, a adequação do FM pressupõe uma análise prévia à estrutura do ativo circulante,
quer sob a perspetiva do equilíbrio financeiro, quer sob a perspetiva económica ou da
maximização da sua rendibilidade.

Salienta-se que a eficácia da avaliação estática do FM é estreitamente condicionada pela


evolução a curto prazo do autofinanciamento e do nível e estrutura das aplicações de fundos,
dado que grandes variações destes parâmetros poderão provocar problemas de liquidez não
detetáveis pela análise do FM existente num determinado momento. Assim sendo, o estudo
isolado do FM sem qualquer comparação com as NFM e com a evolução da tesouraria de curto
prazo, apenas nos faculta meras indicações sobre a situação de liquidez da empresa num
momento perfeitamente localizado (Menezes, 2008).

A inexistência de uma correta adequação do FM pela sua insuficiência, poderá levar a um peso
exagerado dos créditos de funcionamento (fornecedores, outros credores e créditos de curto
prazo), fazendo com que a estrutura financeira das empresas esteja permanentemente sob
pressão, dando lugar ao incumprimento das responsabilidades assumidas e à diminuição dos
proveitos operacionais porquanto do consumo exagerado de recursos pela função financeira.
Referem Pires (2006) e Ferreira e Macedo (2011), que embora uma situação de desequilíbrio
financeiro de curto prazo não traduza, necessariamente, uma situação de fracasso empresarial
na medida que este desequilíbrio poderá ser resultante de uma estrutura de financiamento
desadequada, é importante ter a noção que não raras vezes, processos de insolvência iniciam-se
com desequilíbrios financeiros de curto prazo que vão deteriorando a exploração e, numa
espiral de dependência de recursos de curto prazo insuficientes, entram em processo de
insolvência.

Por outro lado, o excesso de FM dado pelo FM superior ao que é exigido pelas condições
normais de funcionalidade, leva a uma quebra nas rendibilidades quer seja porque representa
capitais subaproveitados, quer porque se incorreu em financiamentos desnecessários e,
consequentemente se está a suportar incorretamente o custo desse financiamento. Por tudo
isso, conclui-se que o FM só assume a sua eficácia na avaliação do equilíbrio financeiro de
curto prazo, quando a sua análise estiver associada aos níveis de capitais exigidos pelo ciclo de
exploração, assegurando a manutenção da atividade normal da empresa. Salienta-se ainda que
é fundamental a correta adequação dos níveis de FM, dado 19 que um FM desajustado
influencia negativamente a tesouraria, os resultados e consequentemente o valor da empresa
(Baños-Caballero et al. 2013b).

Necessidades de fundo de maneio

No que toca à introdução do conceito de necessidades de fundo de maneio, este representa o


principal indicador do ciclo de exploração de uma empresa, sendo composto pelas
necessidades financeiras que não se encontram a ser garantidas através de capitais de curto
prazo. Estas necessidades podem ser influenciadas por variações existentes ao nível da
atividade da empresa, assim como políticas da empresa, nomeadamente na concessão de
crédito (Ferreira et al, 2010). A sua determinação é estimada através da diferença entre as
necessidades cíclicas da empresa e os seus recursos cíclicos.

O nível das NFM é influenciado pela capacidade de financiamento da empresa.


Especificamente, as NFM estão positivamente relacionadas com o fluxo de caixa operacional e
com o tamanho da empresa e negativamente relacionadas com a taxa de market-to-book e com
a probabilidade de dificuldades financeiras. Em conjunto, estes resultados sugerem que as
empresas com fraca capacidade interna de financiamento, acesso limitado mercado de capitais,
e maiores custos de financiamento externo usarão mais agressivamente contas a pagar
relativamente a contas a receber e existências

As necessidades cíclicas de uma empresa são compostas por todas as contas relacionadas com
operações do ciclo de exploração e que necessitam de financiamento, como clientes,
inventários, adiantamentos a fornecedores e pagamentos ao Estado. Estas necessidades
representam investimentos com carácter de permanência dependentes da gestão operacional
realizada e são financiadas pelos recursos financeiros de exploração da empresa, os recursos
cíclicos. Estes recursos têm por base as dívidas a terceiros que a empresa contraiu a curto
prazo, abrangendo aos adiantamentos a clientes, os créditos obtidos tanto de fornecedores
como do Estado, e também diferimentos e possíveis descontos de letras. Posto isto, a análise
de uma empresa às suas necessidades de fundo de maneio proporciona uma avaliação
financeira a nível operacional, sendo que o valor ideal deste indicador dependerá da
capacidade negocial da empresa, das práticas de gestão e do tipo de negócio.

Consoante o tipo de negócio que uma empresa exerça, o seu ciclo de exploração terá variações
na sua duração. Quanto mais longo for este ciclo, maior tendência haverá para o valor das
necessidades ser mais elevado. Quando se verifica um valor positivo, a empresa encontra-se
num momento em que necessita de aumentar os seus recursos cíclicos para fazer face às
necessidades cíclicas que já possui. Pelo contrário, em empresas como um ciclo de exploração
curto, nomeadamente quanto executam vendas a pronto e apenas realizam pagamentos num
prazo mais alargado, as necessidades de fundo de maneio tornam-se negativas, o que significa
que existem excedentes no ciclo de exploração e este terá capacidade para libertar fundos.

Tesouraria líquida

Por último, e ao contrário da vertente patrimonial, a abordagem funcional oferece um relevo


significativo à tesouraria no equilíbrio financeiro da empresa. A tesouraria líquida é um
indicador de liquidez fiável e completo, já que demonstra à empresa que o alcance do
equilíbrio financeiro resulta da qualidade e da coerência das suas políticas estratégicas e
operacionais. Sendo assim, a premissa da tesouraria líquida advém da diferença entre o fundo
de maneio funcional e as necessidades de fundo de maneio. Uma empresa atinge o seu
equilíbrio financeiro no momento em que a tesouraria líquida é nula ou positiva, ou seja, o
fundo de maneio funcional cobre as necessidades de fundo de maneio (Neves, 2011). Porém,
um nível de tesouraria líquida positiva poderá indicar que a empresa possui excedentes
passíveis de prejudicar a sua rentabilidade final. Noutra visão, um défice de tesouraria poderá
indicar que a empresa se encontra com dificuldades para cumprir os seus compromissos
financeiros de curto prazo.

Como o resultado final da tesouraria líquida dependente de toda a atividade da empresa, seja a
curto ou a médio e longo prazo, existem vários cenários com que a empresa se pode deparar.

 A tesouraria líquida apresenta um valor positivo:

 Se o valor do fundo de maneio funcional for superior a zero, a empresa


encontra-se numa situação financeiramente favorável, embora se nesse caso
as necessidades de fundo de maneio forem negativas, pode significar uma
gestão deficiente da otimização dos seus recursos.

Como já foi referido anteriormente, existem casos em que estes indicadores são negativos,
fruto de um ciclo de exploração da empresa de duração reduzida. Este panorama possui um
risco financeiro associado dado que o valor do fundo de maneio é negativo e poderá levar à
incapacidade de gerar meios para liquidar as exigibilidades de curto prazo.
 A tesouraria líquida apresenta um valor negativo

 Se ambos os indicadores denotarem valores positivos, significa que as


necessidades de fundo de maneio são superiores ao fundo de maneio
funcional, sendo que a empresa se encontra a financiar parte das suas
necessidades cíclicas de exploração com operações de tesouraria. Por outro
lado, se apenas o valor do fundo de maneio funcional for negativo, serão os
recursos estáveis da empresa a encontrarem-se dependentes da tesouraria,
sendo esta uma situação propícia a uma rutura financeira.

Por fim, quando ambos apresentam indicadores negativos, a empresa encontra-se numa situação
financeira com risco elevado, dado que existe a possibilidade de o ativo fixo ser financiado pela
tesouraria da empresa, significando um desequilíbrio financeiro na sua estrutura. Sempre que a
tesouraria se encontra negativa, recomenda-se que a empresa tome medidas que garantam o
equilíbrio financeiro no futuro (Carrilho et al, 2005).

O FM representa um indicador essencialmente estático, pelo que a sua análise não deve ser
dissociada da natureza e nível de atividade empresarial, devendo-se promover uma análise
comparativa com o nível das NFM. Da diferença entre estes dois conceitos (FM e NFM)
resulta a TL.

TL = FM - NFM

Figura 1: Equação fundamental da tesouraria

Essa relação sugere que para um maior equilíbrio estrutural da situação de tesouraria, o FM
deverá no mínimo igualar as NFM, ou seja, TL=0. É claro que o caso da rigorosa igualdade entre
o FM e as NFM, não é mais do que uma hipótese académica, sendo na realidade o seu
acontecimento, algo casual e necessariamente passageiro.

Porém, manter uma tesouraria próxima de zero, é a expressão de uma lógica de gestão financeira
coerente. A prática da tesouraria zero protege a empresa contra riscos simétricos que constituem
por um lado, a eliminação do excesso de liquidez duradoura e, por outro lado, a dependência face
às entidades que concedem empréstimos a curto prazo (Duarte, 2009).

A análise da TL quando comparada com outros indicadores da liquidez é um indicador mais


fiável e completo, demonstrando que o equilíbrio financeiro resulta da coerência das políticas
estratégicas e políticas operacionais da empresa. Segundo Neves (2012), a TL (pela sua relação
com FM e NFM) é o indicador que quantifica e carateriza de uma forma mais rigorosa a
definição de equilíbrio financeiro. Na análise da TL, verifica-se que quanto mais elevadas forem
as NFM, maior será a pressão sobre a TL. Então grandes quantidades de existências, saldo de
clientes elevados resultantes de períodos de créditos excessivos atribuídos aos clientes, atrasos
no pagamento e deficiências no processo de cobrança, poderão provocar graves problemas
de tesouraria, que em última instância, no caso de não se verificar o reforço estável dos capitais
permanentes, poderão conduzir a processos de insolvência. Todavia, tendo em consideração que
o balanço reproduz a situação da empresa num determinado momento, há que se perceber se a
situação da tesouraria atual (positiva ou negativa) resulta de situações
pontuais, ou se pelo contrário está-se perante uma situação recorrente. Segundo Breia et al.
(2014, p.80) «(…) problemas pontuais poderão ter soluções pontuais, enquanto que os problemas
mais graves, recorrentes, implicarão soluções estruturais (alterações a nível das origens de
fundos ou alterações a nível económico, políticas de gestão)».

É importante salientar que a situação de tesouraria excedentária traduz equilíbrio financeiro, com
a existência de margem de segurança, mas não necessariamente significa ausência de
dificuldades financeiras, pois isso depende do relacionamento entre o prazo de realização do
ativo circulante e de exigibilidade das dívidas correntes. Nesta linha salienta Breia et al. (2014),
que em termos financeiros não é razoável considerar que, quer a tesouraria quer o FM, serão
melhores quanto mais elevados forem os respetivos montantes. Estas questões prendem- se com
a dificuldade de definição de um nível ótimo de liquidez. Apesar da análise da relação
fundamental da tesouraria proporcionar um diagnóstico mais adequado sobre a situação de
equilíbrio estrutural comparativamente a análise isolada do FM, ou ainda a outros indicadores de
liquidez (LG e LR) justamente pela sua capacidade de avaliar a adequação do FM aos
níveis de NFM, salienta-se que importa também verificar as verdadeiras causas originadoras
de eventuais desequilíbrios, e a forma como os fluxos financeiros evoluirão no futuro. Nesta
linha Breia et al. (2014) referem que é necessário o analista financeiro rever elementos
financeiros de vários anos, de modo a perceber a evolução e respetivas razões/condicionantes da
situação estrutural da tesouraria.

O Balanço funcional de uma empresa


O Balanço Funcional é um instrumento de gestão e análise financeira, preparado a partir do
balanço patrimonial.
A análise financeira moderna preocupa-se com o equilíbrio funcional das origens e aplicações de
fundos pelo que se passou a designar de análise funcional.
O balanço funcional mostra numa certa data, as aplicações e recursos relacionados com os ciclos
financeiros da empresa, qualquer que seja a sua situação jurídica. Os ciclos financeiros são a
resultante financeira das decisões tomadas na empresa aos diferentes níveis: estratégico,
operacional e financeiro.
Em termos práticos, a apresentação mais comum do balanço funcional é a seguinte:

Fonte: CEFTORM – Escola de formação prática

Ao agregado Activos Fixos e Necessidades de Fundo de Maneio (NFM) dá-se o nome de Activo
Económico. Ao agregado Capital Permanente e Tesouraria Líquida dá-se o nome de
Financiamento Líquido.

Conceitos
Ativo Fixo: Corresponde aos ativos com permanência prevista na empresa superior a um ano.
Compreende os Ativos Fixos Tangíveis e Intangíveis, investimentos financeiros, dívidas de
terceiros a médio e longo prazo, adiantamentos a fornecedores de imobilizado.

Necessidades cíclicas: Compreendem todas as contas que se relacionam com o ciclo de exploração
e que implicam necessidades de financiamento. Decompõe-se em existências; adiantamentos a
fornecedores; clientes; Estado e outros entes públicos; outras dívidas de exploração a receber;

Tesouraria ativa: Respeita aos ativos líquidos e quase líquidos. Inclui depósitos bancários, caixa e
títulos negociáveis.
Capital Permanente: corresponde ao capital próprio e ao capital alheio estável:

Capital Próprio: utiliza-se também a denominação de fundos próprios, corresponde à noção


contabilística de capital próprio (Capital Social deduzido das ações ou quotas próprias, reservas e
resultados) é frequente incluírem as contas correntes de sócios e acionistas e a parte das provisões
para riscos e encargos quando estas se equiparam a reservas.
Capital alheio estável: Aqui se inclui todas as dívidas de médio e longo prazo, como por exemplo,
os empréstimos por obrigações, por títulos participativos, bancários, etc.

Recursos Cíclicos: Compreendem as contas relacionadas com operações do ciclo de exploração,


que implicam criação de recursos financeiros e que são: Adiantamentos de clientes, Fornecedores,
Estado e outros entes públicos (financiamento fornecido pelo Estado resultante dos prazos de
pagamento de impostos), Outros credores de exploração.
Tesouraria passiva: Respeita ao passivo imediato ou quase imediato, que resulte de decisões de
financiamento.

Classificação dos ciclos financeiros


Ciclo de investimento – Engloba o conjunto de atividades e decisões respeitantes à análise e
seleção de investimentos ou desinvestimentos. As operações que a empresa efetua neste ciclo
conduzem ao volume de imobilizações com que esta funciona.

Ciclo de exploração – Corresponde às atividades e decisões ao nível do aprovisionamento,


produção e comercialização. Trata-se de operações efetuadas pela empresa no ciclo de exploração
que conduzem aos consumos e obtenção de recursos da empresa que vão corresponder aos custos
e proveitos operacionais na DR.

No balanço vai provocar necessidades de recursos para financiar clientes e existências, obtendo
em consequência, alguns recursos como seja o crédito de fornecedores.
Ciclo das operações financeiras – Corresponde às atividades de obtenção de fundos destinados a
financiar os investimentos e às necessidades de financiamento do ciclo de exploração. Decompõe-
se em:
Ciclo de operações de capital – visa obter fundos estáveis para financiar os ativos estáveis;
Ciclo de operações de tesouraria – visa gerir as disponibilidades e as quase disponibilidades, com
como assegurar a cobertura financeira a curto prazo, no caso de insuficiência dessas
disponibilidades.
Em termos práticos e de forma detalhada, podemos apresentar os ciclos financeiros da seguinte forma:

Fonte: CEFTORM – Escola de formação prática.


Através da análise e do tratamento de todos as noções da abordagem funcional, a empresa poderá
elaborar o seu balanço funcional, tanto a curto prazo, como a médio e longo prazo, tendo uma
ideia mais clara da atividade da empresa ao longo do ano (Mota e Custódio, 2008). A
determinação do fundo de maneio funcional e das necessidades de fundo de maneio irá resultar
no nível de tesouraria líquida, que assim proporcionará à empresa uma abordagem equilibrada e
com bases em todas as atividades da empresa do equilíbrio da sua estrutura financeira.

Idealizando a determinação do equilíbrio da estrutura financeira da empresa, têm-se que:

Através desta avaliação e do cálculo desta equação, a empresa perceberá se se encontra numa
situação de equilíbrio ou desequilíbrio financeiro, sendo que, para registar esse equilíbrio, terá
de forçosamente obter um nível de tesouraria líquida igual ou superior a zero.

ANALISE DE CENÁRIOS AO NIVÉL DO EQUILIBRIO FINANCEIRO

É possível esquematizar a problemática do equilíbrio financeiro, definindo os seguintes


quadrantes em termos gráficos:
As zonas sombreadas correspondem a áreas em que a Tesouraria Líquida (TL) é negativa, e as
zonas não sombreadas correspondem a áreas em que a TL é positiva. Assim, a análise do
gráfico, permite a definição das seguintes situações, partindo do quadrante 1:

FM>0, NFM>0, TL>0 – corresponde a um cenário coincidente com a estratégia defensiva


atrás analisada, não ocorrendo situações em que a tesouraria líquida seja negativa, ou seja,
havendo sempre um excedente ao nível de fundo de maneio. Este cenário revela a existência
de folgas ao nível financeiro.

FM>0, NFM>0, TL <0 – trata-se de uma situação em que o fundo de maneio sendo positivo,
não é suficiente para financiar as necessidades cíclicas de exploração, sendo parte destas
financiadas por recursos alheios de curto prazo.

FM<0, NFM>0, TL<0 – trata-se de uma situação particularmente gravosa em termo de


equilíbrio financeiro, na qual não existem quaisquer recursos permanentes disponíveis para
financiar necessidades cíclicas. Esta situação é bastante arriscada, porquanto necessidades
estáveis são financiadas com recursos de curto prazo, o que pode gerar insustentabilidade a
prazo.

FM<0, NFM<0, TL<0 – apesar deste cenário configurar uma situação gravosa tal como no
caso anterior, existem neste caso excedentes cíclicos de exploração que financiam parte da
insuficiência de capitais permanentes. Contudo, tal como no cenário anterior, o desequilíbrio
financeiro é inequívoco, e traduz-se na insuficiência de capitais permanentes.

FM<0, NFM<0, TL>0 – neste cenário, apesar da situação ser substancialmente idêntica ao
caso anterior, os excedentes cíclicos de exploração superam as insuficiências ao nível do fundo
de maneio. Sendo uma situação em que existem excedentes de tesouraria, trata-se de um
cenário de risco extremo.

FM>0, NFM<0, TL>0 – trata-se da situação ideal ao nível do potencial de geração de


excedentes de tesouraria, em que não só existem recursos libertos ao nível de capitais estáveis,
como também existem excedentes criados pela atividade cíclica de exploração, configurando
níveis de tesouraria tendencialmente elevados.

Em face dos cenários que se colocam, é possível caracterizar as seguintes estratégias ao nível
do equilíbrio financeiro:

Estratégia Ortodoxa: na qual o FM é igual às NFM totais (permanentes e cíclicas), ou seja,


toda a necessidade de capitais cíclicos é financiada com capitais permanentes. Tal irá gerar
períodos de excedentes de tesouraria, quando as NFM cíclicas não ocorrerem.
Estratégia Defensiva: na qual o FM é sempre superior às NFM totais (permanentes e
cíclicas), ou seja, toda a necessidade de capitais cíclicos é financiada com capitais
permanentes, havendo em termos permanentes um excedente de tesouraria líquida.

Estratégia Agressiva: na qual o FM é igual às NFM Permanentes, ou seja, os capitais


permanentes apenas financiam os activos fixos e as NFM permanentes. Neste caso, em
períodos de em que as NFM são mais elevadas, as NFM cíclicas são financiadas por tesouraria
passiva, ou seja, capitais alheios à exploração, de curto prazo.

Estratégia Arriscada: na qual o FM é inferior às NFM Permanentes. Neste caso, a tesouraria


líquida é sempre negativa, ou seja, passiva.

Em termos de equilíbrio financeiro, trata-se sempre de um tema em que releva, sobretudo, um


compromisso entre o possível e o ideal. Contudo, uma conclusão óbvia pode ser retirada:
existindo insuficiências ao nível da tesouraria (tesouraria passiva), tal configura uma situação
arriscada em termos de estratégia de financiamento porquanto as necessidades cíclicas, e, por
vezes, permanentes, são financiadas por capitais alheios com carácter de curto prazo, que
podem nem sempre estar disponíveis, e sendo passivos bancários, são por regra remunerados a
taxas elevadas, afectando decisivamente a rendibilidade dos capitais investidos. Numa outra
perspectiva sobre este tema, a existência de excedentes elevados de tesouraria pode indiciar
uma gestão financeira pouco equilibrada, no sentido da não optimização dos capitais
associados ao negócio.

ESTABILIDADE FINANCEIRA

A estabilidade financeira duma empresa dependerá, em cada momento, do equilíbrio existente


entre as diversas parcelas do activo e as suas fontes de financiamento.

Embora não se possam estabelecer regras fixas que ditem genericamente a composição
correspondente a perfeita estabilidade, podem-se indicar algumas bases de orientação,
nomeadamente:

A empresa tem que se financiar maioritariamente com capitais próprios e dentro dos capitais
alheios tem de preferir os de maior permanência;

A empresa deve procurar financiar os activos de maior permanência com capitais próprios;

Na escolha das fontes de financiamento externos tem que verificar se a rentabilidade do


investimento total supera o custo médio do capital alheio.
EQUIILIBRIO FINANCEIRO DE MÉDIO LONGO PRAZO

Seguidamente prosseguiremos com à análise do equilíbrio financeiro, mas agora a médio e longo
prazo. Neste equilíbrio, o que está em causa é a independência da empresa face aos credores, a sua
capacidade para negociar dívidas e ainda o próprio acesso aos empréstimos. Pretende-se com isto
analisar o grau de solidez patrimonial da empresa em períodos longos, que é a capacidade que a
empresa possui para solver os seus compromissos em prazos dilatados.

Uma empresa tem equilíbrio financeiro numa perspectiva de médio e longo prazo, quando
existem condições para a manutenção ano após ano, das condições genéricas de equilíbrio de
curto prazo, ou, por outras palavras, quando tem solvabilidade e se encontram cobertos os
riscos inerentes à actividade que a possam comprometer.

Ou, por outras palavras os capitais permanentes deverão garantir a cobertura financeira do
imobilizado líquido e do fundo de maneio necessário. Na verdade:

FM = C.Perm. – IL

Se: FM = FMN

Teremos: C. Perm. = IL + FMN

O equilíbrio financeiro de uma empresa não pode ser estudado apenas numa perspectiva de
curto prazo.

Uma empresa pode ter um fundo de maneio suficiente, que lhe permita estar equilibrada
financeiramente a curto prazo, e não pode possuir perspectivas de manutenção desse equilíbrio
nos anos subsequentes.

A existência de equilíbrio financeiro a médio e longo prazo assenta, prioritariamente, nos


seguintes pressupostos:

• Margem de segurança constituída pelos capitais próprios, em que montante assegure à


empresa uma capacidade de endividamento para funcionamentos a médio e longo
prazos;

• Cobertura, por capitais próprios, dos riscos inerentes à actividade, como garantia da
sobrevivência da empresa;

• Exploração rentável

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