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CAPÍTULO 5
Na Figura 5.2 (a), pode-se perceber que após um distúrbio sofrido, a esfera tem a tendência
natural de retornar a sua posição de equilíbrio, indicando claramente uma condição de estabilidade
estática, para a Figura 5.2 (b), nota-se que após qualquer distúrbio sofrido, a esfera possui a tendência
de se afastar cada vez mais de sua posição de equilíbrio, indicando assim uma condição de
instabilidade estática e para a Figura 5.2 (c), a esfera após qualquer distúrbio sofrido atinge uma nova
posição de equilíbrio e ali permanece indicando um sistema estaticamente neutro.
Para o caso de um avião, é fácil observar a partir dos comentários realizados que
necessariamente este deve possuir estabilidade estática, garantindo que após qualquer distúrbio quer
seja provocado pela ação dos comandos ou então por uma rajada de vento, a aeronave possua a
tendência de retornar a sua posição de equilíbrio original.
A estabilidade de uma aeronave pode ser maior ou menor dependendo da aplicação desejada
para o projeto. Aviões muito estáveis demoram mais para responder a um comando aplicado pelo
piloto e aviões menos estáveis respondem mais rápido a qualquer comando ou distúrbio ocorrido.
Geralmente, maior estabilidade é encontrada em aviões cargueiros e menor estabilidade é encontrada
em caças supersônicos, nos quais pelo próprio objetivo da missão devem possuir uma capacidade de
manobra elevada e rápida.
Dessa forma, pode-se dizer que um corpo é dinamicamente estável quando após uma
perturbação sofrida retornar a sua posição de equilíbrio após um determinado intervalo de tempo e lá
permanecer.
Ainda considerando o mesmo exemplo, caso após ocorrer a tendência inicial da aeronave
retornar a sua posição de equilíbrio devido a sua estabilidade estática, o avião passe a oscilar com
aumento de amplitude, a sua posição de equilíbrio não será mais atingida, resultando em um caso de
instabilidade dinâmica, como mostram as Figuras 5.5 e 5.6.
Caso após ocorrer a tendência inicial da aeronave retornar a sua posição de equilíbrio devido a
sua estabilidade estática, o avião passe a oscilar com a manutenção da amplitude inicial, a sua
posição de equilíbrio não será mais atingida, resultando em um caso de instabilidade dinâmica neutra,
como mostram as Figura 5.7 e 5.8.
Pela análise realizada, é muito importante observar que um avião pode ser estaticamente
estável, porém dinamicamente instável, e assim, uma análise pura de estabilidade estática não garante
a estabilidade dinâmica da aeronave. Dessa forma, um avião estaticamente estável pode não ser
dinamicamente estável, mas com certeza um avião dinamicamente estável será estaticamente estável.
Uma redução da perturbação em função do tempo indica que existe resistência ao movimento
do corpo e conseqüentemente energia está sendo dissipada. Quando ocorrer dissipação de energia, o
movimento é caracterizado por um amortecimento positivo e quando mais energia for adicionada ao
sistema (aumento de amplitude), o amortecimento é considerado negativo.
Particularmente um ponto muito importante para o projeto de um avião é a definição do grau
de estabilidade dinâmica, que geralmente é representado pelo tempo necessário para que o distúrbio
sofrido seja completamente amortecido.
Para o propósito da competição AeroDesign, uma análise bem feita dos critérios de
estabilidade estática garantem excelentes resultados operacionais para a aeronave. Como o estudo da
estabilidade (estática e dinâmica) envolve uma álgebra mais pesada, é aconselhável que as equipes
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iniciantes na competição estejam atentas apenas aos critérios de estabilidade estática, deixando a
pesquisa mais avançada de estabilidade dinâmica para as equipes que já possuem experiência no
projeto.
x CG =
∑W ⋅ d (5.1)
∑W
Para a aplicação da Equação (5.1), é necessário adotar uma linha de referência onde a partir
desta é possível obter as distâncias características da localização de cada componente da aeronave
permitindo assim a determinação dos momentos gerados por cada um desses componentes em
relação a esta linha de referência. Uma vez encontrados os momentos individuais, realiza-se a
somatória de todos esses momentos e então divide-se o resultado obtido pelo peso total da aeronave.
No presente livro, a linha de referência é adotada no nariz da aeronave como mostra a Figura 5.9.
( xCG − x w )
CG % c = ⋅ 100% (5.2)
c
Com base nos dados da tabela, determine de forma aproximada a posição do centro de
gravidade desta aeronave em relação à linha de referência e também como porcentagem da corda.
Considere c = 0,37m.
Solução:
A posição do centro de gravidade para a aeronave vazia pode ser calculada com a aplicação
da Equação (5.1) apresentada a seguir.
x CG =
∑W ⋅ d
∑W
A partir dos dados fornecidos na tabela, tem-se que:
17,649
x CG =
33,3535
x CG = 0,529 m
Com relação a corda média aerodinâmica, a Equação (5.2) pode ser aplicada, e de acordo com
a figura mostrada a seguir é possível verificar posição do bordo de ataque da asa em relação a linha
de referência.
( x CG − x w )
CG % c = ⋅ 100%
c
(0,5307 − 0,37318)
CG % c = ⋅ 100%
0,45
CG % c = 35% da cma
mCG
C mCG = (5.4)
q⋅S ⋅c
Dessa forma, pode-se concluir a partir da análise da Figura 5.13 e das considerações
apresentadas que um dos critérios necessários para se garantir a estabilidade longitudinal estática de
uma aeronave é relacionado ao coeficiente angular da curva do coeficiente de momento ao redor do
CG em função do ângulo de ataque que obrigatoriamente deve ser negativo, resultando, portanto em
uma curva decrescente, assim.
dC m
= C mα < 0 (5.6)
dα
dC m C − C m1
= C mα = m 2 <0 (5.7)
dα α 2 − α1
dC m
= C mα < 0 (5.8)
dα
C m0 > 0 (5.9)
Geralmente os três componentes que são analisados para a obtenção dos critérios de
estabilidade longitudinal estática de uma aeronave são a asa, a fuselagem e a superfície horizontal da
empenagem.
cos α w = 1 (5.11)
senα w = α w (5.12)
L >> D (5.13)
Essas aproximações são válidas, pois geralmente o ângulo αw é muito pequeno e a força de
sustentação é bem maior que a força de arrasto, e como para a maioria dos aviões a posição ZCG do
centro de gravidade possui um braço de momento muito pequeno, a Equação (5.10) pode ser reescrita
em sua forma simplificada desprezando-se a contribuição da força de arrasto e do braço de momento
ZCG do seguinte modo:
A Equação (5.15) pode ser reescrita na forma de coeficientes através da divisão de todos os
termos pela relação q ∞ ⋅ S ⋅ c , portanto:
h h
C MCGw = C Mac + C L ⋅ CG − ac (5.17)
c c
CL = CL0 + a ⋅ α w (5.18)
Onde CL0 representa o coeficiente de sustentação para ângulo de ataque nulo (αw = 0°) e a
representa o coeficiente angular da curva CL versus α da asa.
Substituindo a Equação (5.18) na Equação (5.17), tem-se que:
h h
C MCGw = C Mac + (C L 0 + a ⋅ α w ) ⋅ CG − ac (5.19)
c c
Aplicando-se as condições necessárias para se garantir a estabilidade longitudinal estática é
possível observar que o coeficiente de momento para uma condição de ângulo de ataque αw = 0° é:
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h h
C M 0 w = C Mac + C L 0 ⋅ CG − ac (5.20)
c c
E o coeficiente angular da curva de momentos gerados pela asa ao redor do CG é dado por:
dC M h h
= C Mαw = a ⋅ CG − ac (5.21)
dα c c
Analisando a Equação (5.21) é possível observar que para o coeficiente angular ser negativo
e, portanto, contribuir positivamente para a estabilidade longitudinal estática da aeronave, é
necessário que o centro de gravidade esteja localizado a frente do centro aerodinâmico, porém,
geralmente, em aeronaves convencionais não é isto que ocorre e, portanto, a asa isolada se caracteriza
por um componente desestabilizante na aeronave, e daí a importância da presença da superfície
horizontal da empenagem.
2,5 0 ,3
Coeficiente de sustentação
2 0 ,2
coeficiente de momento
0 ,1
1,5
0
1 0 5 10 15
-0 ,1
0,5
-0 ,2
0
0 5 10 15 -0 ,3
Solução:
O coeficiente angular da curva cl x α do perfil é dado por:
dc c − c l1
a0 = l = l 2
dα α 2 − α 1
a 0 = 0,0766 /grau
a0
a=
1 + (57,3 ⋅ a 0 / π ⋅ e ⋅ AR )
0,0766
a=
1 + (57,3 ⋅ 0,0766 / π ⋅ 0,98 ⋅ 6,7)
a = 0,0631 grau-1
Assim, o valor de CL0 da asa finita pode ser obtido considerando um ângulo de ataque para
sustentação nula de aproximadamente -10° para o perfil Eppler 423, da seguinte forma:
C L = a ⋅ (α − α L =0 )
C L = 0,0631⋅ (0 − (−10))
h h
C M 0 w = C Mac + C L 0 ⋅ CG − ac
c c
0,1587 0,1225
C M 0 w = −0,24 + 0,631 ⋅ −
0,37 0,37
C M 0 w = −0,178
E o coeficiente angular da curva de momentos gerados pela asa ao redor do CG é obtido com a
aplicação da Equação (5.21) da seguinte forma:
dC M h h
= C Mαw = a ⋅ CG − ac
dα c c
dC M 0,1587 0,1225
= C Mαw = 0,0631 ⋅ −
dα 0,37 0,37
dC M
= C Mαw = 0,00617 /grau
dα
Portanto, a equação que define a variação do coeficiente de momento em função do ângulo de ataque
é:
C mCGw = C m 0 w + C mαw ⋅ α
α (graus) CmCGw
0 -0,178
1 -0,17183
2 -0,16566
3 -0,15949
4 -0,15332
5 -0,14715
6 -0,14098
7 -0,13481
8 -0,12864
9 -0,12247
10 -0,1163
0,2
0,15
Coeficiente de momento
0,1
0,05
0
0 2 4 6 8 10 12
-0,05
-0,1
-0,15
-0,2
ângulo de ataque (graus)
Como citado anteriormente é possível observar que a asa isoladamente possui um efeito
desestabilizante na aeronave, pois nenhum dos dois critérios necessários são atendidos, ou seja, o
primeiro ponto da curva é negativo e o coeficiente angular é positivo contribuindo de maneira
negativa para a estabilidade da aeronave.
Dessa forma, se faz necessário a adição da superfície horizontal da empenagem para garantir a
estabilidade da aeronave. Na próxima seção será apresentada e desenvolvida a formulação
matemática para se avaliar a contribuição da empenagem na estabilidade longitudinal estática de uma
aeronave.
Figura 5.16 – Influência da esteira de vórtices na empenagem em uma condição de voo reto e
nivelado – ensaio qualitativo realizado em túnel de vento com um modelo em escala 1:3 da aeronave
real.
Figura 5.17 – Influência da esteira de vórtices na empenagem em uma condição de voo com elevado
ângulo de ataque – ensaio qualitativo realizado em túnel de vento com um modelo em escala 1:3 da
aeronave real.
Através do estudo detalhado da Figura 5.18, é possível observar que a soma dos momentos da
superfície horizontal da empenagem em relação ao CG da aeronave pode ser escrito
matematicamente da seguinte forma:
M CGt = −l t ⋅ Lt + z t ⋅ Dt (5.22b)
M CGt = −l t ⋅ Lt t (5.23)
1
Lt = ⋅ ρ ⋅ v 2 ⋅ S t ⋅ C Lt (5.24)
2
Lt
C Lt = (5.25)
q∞ ⋅ S t
Nesta equação é importante lembrar que q∞ representa a pressão dinâmica atuante dada pela
1
relação q ∞ = ⋅ ρ ⋅ v 2 .
2
1 2
M CGt = −l t ⋅ ⋅ ρ ⋅ v t ⋅ S t ⋅ C Lt = −l t ⋅ q ∞t ⋅ S t ⋅ C Lt (5.26)
2
M CGt − l ⋅ q ⋅ S ⋅ C Lt
= t ∞t t (5.27)
q ∞w ⋅ S w ⋅ c q ∞w ⋅ S w ⋅ c
− lt ⋅ S t
C MCGt = ⋅ C Lt ⋅ η (5.28)
Sw ⋅ c
1 ⋅ ρ ⋅v 2
q
η = ∞t = 2
t
(5.29)
q ∞w 1 ⋅ ρ ⋅ v w 2
2
Também é importante observar que o termo presente no lado direito da Equação (5.28), a
relação − l t ⋅ S t representa um volume característico da dimensão e da posição da cauda e o termo
c ⋅ S w representa um volume característico da dimensão da asa. A razão entre esses dois volumes
representa o conceito de volume de cauda horizontal estudado para o dimensionamento aerodinâmico
da empenagem, portanto:
− lt ⋅ S t
VH = (5.30)
Sw ⋅ c
α t = α w − i w − ε + it (5.32)
dC Lt
C Lt = ⋅ α t = at ⋅ α t (5.33)
dα
C Lt = at ⋅ (α w − i w − ε + ii ) (5.33a)
at = C Lαt (5.34)
dε
ε = ε0 + ⋅αw (5.35)
dα
57,3 ⋅ 2 ⋅ C Lw
ε= (5.36)
π ⋅ ARw
57,3 ⋅ 2 ⋅ C L 0
ε0 = (5.37)
π ⋅ ARw
dC Lw
dε 57,3 ⋅ 2 ⋅ dα = 57,3 ⋅ 2 ⋅ C Lαw
= (5.38)
dα π ⋅ ARw π ⋅ ARw
dε
C Lt = C Lαt ⋅ α w − i w + ii − ε 0 + ⋅ α w (5.39)
dα
dε
C Lt = C Lαt ⋅ α w − C Lαt ⋅ i w + C Lαt ⋅ ii − C Lαt ⋅ ε 0 − C Lαt ⋅ ⋅αw (5.39a)
dα
dε
C Lt = C Lαt ⋅ α w ⋅ 1 − − C Lαt ⋅ (i w − ii + ε 0 ) (5.39b)
dα
dε
C MCGt = −VH ⋅ η ⋅ C Lαt ⋅ α w ⋅ 1 − − C Lαt ⋅ (i w − ii + ε 0 ) (5.40)
dα
dε
C MCGt = −V H ⋅ η ⋅ C Lαt ⋅ α w ⋅ 1 − + VH ⋅ η ⋅ C Lαt ⋅ (i w − ii + ε 0 ) (5.40a)
dα
A Equação (5.40a) pode ser expressa em termos de uma equação linear que permite a
determinação do coeficiente de momento ao redor do CG da aeronave em função do ângulo de ataque
do seguinte modo:
C M 0t = VH ⋅η ⋅ C Lαt ⋅ (i w − ii + ε 0 ) (5.42)
dε
C Mαt = −VH ⋅ η ⋅ C Lαt ⋅ 1 − (5.43)
dα
Solução:
O coeficiente angular da curva cl x α do perfil Eppler 169 utilizado no estabilizador horizontal
é dado por:
dc c − c l1
a0 = l = l 2
dα α 2 − α 1
a 0 = 0,133 /grau
a0
a=
1 + (57,3 ⋅ a 0 / π ⋅ e ⋅ AR )
0,133
a=
1 + (57,3 ⋅ 0,133 / π ⋅ 1 ⋅ 3,15)
a = 0,0751 grau-1
C M 0t = VH ⋅ η ⋅ C Lαt ⋅ (i w − ii + ε 0 )
57,3 ⋅ 2 ⋅ C L 0
ε0 =
π ⋅ ARw
57,3 ⋅ 2 ⋅ 0,62
ε0 =
π ⋅ 6,70
ε 0 = 3,37º
Portanto:
C M 0t = 0,268
dε
C Mαt = −VH ⋅ η ⋅ C Lαt ⋅ 1 −
dα
dε 57,3 ⋅ 2 ⋅ 0,0631
=
dα π ⋅ 6,70
dε
= 0,343
dα
Portanto:
C Mαt = −0,0211
Assim, a equação de estabilidade longitudinal estática do estabilizador horizontal pode ser escrita da
seguinte forma:
C MCGt = C M 0t + C Mαt ⋅ α
α (graus) CmCGw
0 0,268
1 0,2469
2 0,2258
3 0,2047
4 0,1836
5 0,1625
6 0,1414
7 0,1203
8 0,0992
9 0,0781
10 0,057
0,3
0,2
Coeficiente de momento
0,1
0
0 2 4 6 8 10 12
-0,1
-0,2
Ângulo de ataque (graus)
(k 2 − k1 )
⋅ ∫ w f ⋅ (α 0 w + i f )dx
lf 2
CM 0 f = (5.44)
36,5 ⋅ S w ⋅ c 0
(k 2 − k1 ) x =l f
⋅ ∑ w f ⋅ (α 0 w + i f ) ⋅ ∆x
2
CM 0 f = (5.45)
36,5 ⋅ S w ⋅ c x =0
1 lf 2 ∂ε
C M αf = ⋅ ∫ w f ⋅ u dx (5.46)
36,5 ⋅ S w ⋅ c 0
∂α
x =l
1 f
2 ∂ε
C Mαf = ⋅ ∑ w f ⋅ u ⋅ ∆x (5.47)
36,5 ⋅ S w ⋅ c x = 0 ∂α
Figura 5.21 – Representação dos segmentos da fuselagem para a determinação de CM0f e CMαf.
Na análise da Figura 5.21, para os segmentos de 1 até 3 que antecedem a asa, a relação
∂ε u é estimada pela Figura 5.20a, para o segmento 4 a relação ∂ε u é estimada pela Figura
∂α ∂α
5.20b, para a região localizada entre o bordo de ataque e o bordo de fuga da asa assume-se que não
∂ε
existe influência do escoamento gerado pela asa e portanto u = 0 e para os segmentos de 5 até
∂α
13 a relação ∂ε u é estimada pela Equação (5.48) apresentada a seguir.
∂α
∂ε u x i ∂ε
= ⋅ 1 − (5.48)
∂α l h ∂α
Como forma de compreender a aplicação das equações propostas nesta seção e determinar os
coeficientes CM0f e CMαf, a seguir é apresentado um exemplo de cálculo para uma aeronave destinada
a participar da competição AeroDesign.
O subscrito a utilizado na Equação (5.49) representa uma análise realizada para a aeronave
completa, neste ponto entende-se por aeronave completa a junção da asa e da empenagem na
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fuselagem, e, dessa forma, o cálculo da contribuição total para a estabilidade longitudinal estática
pode ser realizado a partir da soma das contribuições de cada elemento isoladamente, assim, a
Equação (5.49) pode ser desmembrada e o cálculo de CM0a e CMαa podem ser determinados da
seguinte forma:
C M 0 a = C M 0 w + C M 0 f + C M 0t (5.50)
e
Desse modo, uma vez conhecidos os valores de CM0 e CMα para cada um dos componentes
isolados da aeronave cujas equações estão apresentadas nas seções 5.5.1, 5.5.2 e 5.5.3 do presente
capítulo, torna-se imediato o cálculo e a determinação da curva do coeficiente de momento ao redor
do CG da aeronave em função do ângulo de ataque para a aeronave completa.
O resumo das equações que permitem a determinação da contribuição de cada um dos
componentes de uma aeronave para a determinação dos critérios de estabilidade longitudinal estática
está apresentado a seguir:
a) Asa
(
C M 0 w = C Macw + C L 0 w ⋅ hCG − hac ) (5.52)
(
C Mαw = C Lαw ⋅ hCG − hac ) (5.53)
Nas Equações (5.52) e (5.53) é importante citar que as variáveis hCG e hac foram utilizadas
para simplificar a notação usada nas Equações (5.20) e (5.21), portanto, considere que:
hCG
hCG = (5.54)
c
hac
hac = (5.55)
c
b) Estabilizador horizontal
C M 0 t = V H ⋅ η ⋅ C Lαt ⋅ (i w − it + ε 0 ) (5.56)
c) Fuselagem
(k 2 − k1 ) x =l f
⋅ ∑ w f ⋅ (α 0 w + i f )⋅ ∆x
2
CM 0 f = (5.58)
36,5 ⋅ S w ⋅ c x =0
x =l f
1 2 ∂ε
C Mαf = ⋅ ∑ w f ⋅ u ⋅ ∆x (5.59)
36,5 ⋅ S w ⋅ c x = 0 ∂α
A partir da aplicação da Equação (5.49), é possível construir o gráfico que mostra a variação
do coeficiente de momento para a aeronave completa em função do ângulo de ataque, um modelo
deste gráfico está apresentado na Figura 5.22 e é similar ao gráfico da Figura 5.13.
A análise da Figura 5.22 permite comentar que o ângulo de ataque necessário para a trimagem
da aeronave αtrim, representa o ângulo necessário para se manter a aeronave em condições de
equilíbrio estático (∑ M CG = 0 ) quando livre de qualquer perturbação, quer seja externa ou então por
movimentação de comando.
A determinação do ângulo de trimagem está diretamente envolvida com o controle da
aeronave e por ser algo de extrema importância para o voo estável de uma aeronave esse conceito
será discutido em maiores detalhes na seção destinada ao controle longitudinal da aeronave.
A partir dos conceitos apresentados, as equações completas para o cálculo de CM0a e CMαa
podem ser escritas do seguinte modo:
( )
C M 0 a = C Macw + C L 0 w ⋅ hCG − hac + V H ⋅ η ⋅ C Lαt ⋅ (i w − it + ε 0 )
(k 2 − k1 ) x=l f
(5.60)
⋅ ∑ w f ⋅ (α 0 w + i f ) ⋅ ∆x
2
+
36,5 ⋅ S w ⋅ c x=0
x =l f
dε 1 2 ∂ε
( )
C Mαa = C Lαw ⋅ hCG − hac − V H ⋅ η ⋅ C Lαt ⋅ 1 − + ⋅ ∑ w f ⋅ u ⋅ ∆x (5.61)
dα 36,5 ⋅ S w ⋅ c x = 0
∂α
hCG
hCG = (5.62)
c
h PN
h PN = (5.63)
c
A Figura 5.24 mostra as posições do CG e do ponto neutro de uma aeronave necessárias para
se garantir a estabilidade longitudinal estática.
Matematicamente a posição do ponto neutro pode ser obtida fazendo-se CMαa = 0 na Equação
(5.61), e assim, tem-se que:
dε
( )
0 = C Lαw ⋅ hCG − hac + C Mαf − V H ⋅ η ⋅ C Lαt ⋅ 1 − (5.64)
dα
Nesta equação é possível observar que a posição do ponto neutro depende da posição do
centro de gravidade e das características aerodinâmicas da aeronave, dessa forma, considerando que o
centro de gravidade está exatamente sobre o ponto neutro hCG = hPN , a Equação (5.64) pode ser
solucionada de acordo com a dedução apresentada a seguir.
dε
0 = hCG ⋅ C Lαw − hac ⋅ C Lαw + C Mαf − V H ⋅ η ⋅ C Lαt ⋅ 1 − (5.64a)
dα
dε
− hPN ⋅ C Lαw = −hac ⋅ C Lαw + C Mαf − V H ⋅ η ⋅ C Lαt ⋅ 1 − (5.64b)
dα
C Mαf V H ⋅ η ⋅ C Lαt dε
h PN = hac − + ⋅ 1 − (5.64d)
C Lαw C Lαw dα
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Na equação (5.64d) é importante citar que não se realizou nenhum processo de correção no
volume de cauda horizontal VH devido a movimentação do CG. Esta movimentação provoca uma
mudança imediata no comprimento de cauda lh, porém como esta diferença geralmente é muito
pequena, o seu efeito pode ser desprezado no cálculo fornecendo ainda assim resultados confiáveis.
A localização do ponto neutro obtida com a solução da Equação (5.64d) é chamada de ponto
neutro de manche fixo, essa nomenclatura é utilizada para aeronaves que possuem superfícies de
comando que podem ser fixadas em qualquer ângulo de deflexão desejado, ou seja, quando o piloto
realiza uma movimentação nos comandos da aeronave, a superfície de controle acionada se desloca
para a posição desejada e lá permanece até que um novo comando seja aplicado.
Ainda em relação à Equação (5.58d), o resultado obtido será um valor que referencia a
porcentagem da corda média aerodinâmica e é medido como citado anteriormente a partir do bordo
de ataque da asa além de representar a posição mais traseira do CG para o qual ainda é possível se
garantir a estabilidade longitudinal estática, portanto, torna-se claro e intuitivo observar que enquanto
o CG da aeronave estiver localizado antes do ponto neutro a aeronave será longitudinalmente
estaticamente estável e portanto CMαa < 0, quando o CG coincidir com o ponto neutro a aeronave
possuirá estabilidade longitudinal estática neutra e portanto CMαa = 0 e quando o CG estiver
localizado após o ponto neutro a aeronave possuirá instabilidade longitudinal estática e portanto CMαa
> 0.
De acordo com a análise da Figura 5.23, é possível observar que quando o CG coincidir com
o ponto neutro, o coeficiente de momento CMCG em função do ângulo de ataque α é constante, pois
CMαa = 0, e, dessa forma, fazendo-se uma analogia com o centro aerodinâmico de uma asa, que
representa o ponto sobre o perfil no qual o momento é constante e independe do ângulo de ataque, o
ponto neutro pode ser considerado como o centro aerodinâmico do avião completo.
As aeronaves são projetadas para uma posição fixa do CG, quando o mesmo é deslocado para
trás da posição de projeto, o coeficiente angular CMαa torna-se cada vez mais positivo e a aeronave
torna-se menos estável, na posição específica em que CMαa = 0 significa dizer que o CG da aeronave
atingiu o ponto neutro e portanto tem-se uma condição de estabilidade longitudinal estática neutra.
Margem estática: representa um elemento importante para se definir o grau de estabilidade
longitudinal estática de uma aeronave, a margem estática ME representa a distância entre o ponto
neutro e o CG da aeronave e pode ser determinada analiticamente a partir da aplicação da Equação
(5.65).
Pela análise da Figura 5.26 é possível observar que o aumento da margem estática
proporciona um coeficiente angular CMαa cada vez mais negativo contribuindo para o aumento da
estabilidade estática, pois neste ponto é muito importante comentar que o deslocamento excessivo do
CG para frente pode trazer complicações de controlabilidade e manobrabilidade da aeronave como
será discutido na próxima seção do presente capítulo.
Para exemplificar os conceitos de ponto neutro e margem estática, é apresentado a seguir um
exemplo de cálculo para a determinação dessas duas quantidades para uma aeronave destinada a
participar da competição AeroDesign.