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Paulo Guerra Soares, Carlos Eduardo Costa

Somos todos produtos


da nossa história
comportamental

Paulo Guerra Soares


Universidade Norte do Paraná; Núcleo Evoluir

Carlos Eduardo Costa


Universidade Estadual de Londrina

Weiner, H. (1964). Conditioning history and human fixed-interval performance. Journal of the
Experimental Analysis of Behavior, 7(5), 383-385.

“O hoje é apenas um furo no futuro, por onde o passado começa a jorrar”


Raul Seixas e Marcelo Nova

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Capítulo I | História Comportamental

INTRODUÇÃO À ÁREA DE PES- ner, o Behaviorismo Radical enfatiza o es-


QUISA E CONTEXTUALIZAÇÃO tudo do comportamento de cada indivíduo
DO EXPERIMENTO (e não apenas os padrões típicos de cada
espécie). Assim, fazendo jus à analogia com
Uma das principais afirmações da te- a teoria da evolução de Darwin, o compor-
oria da evolução por seleção natural é que tamento atual dos indivíduos é produto de
as gerações atuais de indivíduos de uma um conjunto de relações entre o compor-
determinada espécie são produto de um tamento do indivíduo (selecionado na his-
constante processo de variação e seleção. tória individual) e o ambiente atual. Nesse
Assim, ao longo da história de evolução sentido, Skinner afirma que “Coube a Da-
de uma espécie, indivíduos com caracte- rwin descobrir a ação seletiva do ambien-
rísticas menos adaptativas morreram, en- te, assim como cabe a nós [behavioristas]
quanto aqueles mais bem adaptados sobre- completar o desenvolvimento da ciência do
viveram, passando seus genes às próximas comportamento com uma análise da ação
gerações. É importante lembrar que mais ou seletiva do meio”. (Skinner, 1974, p.60-61).
menos adaptativa significa que, sob certos
aspectos do ambiente, certas características Como funciona essa relação entre a
favorecem mais certos indivíduos de uma ação do indivíduo e as variáveis ambien-
espécie do que outras. Não há característi- tais? Skinner propõe que em determinadas
cas intrinsecamente melhores do que ou- circunstâncias, nos comportamos no mun-
tras. Aquelas cuja consequência seja maior do de diversas maneiras (variação) e uma
chance de sobrevivência e procriação irão ou algumas dessas maneiras de nos com-
aumentar de frequência na espécie. Portan- portar produzem alterações no ambiente.
to, para explicar por que os indivíduos de Estas alterações podem produzir mudanças
uma espécie exibem alguma forma de com- na probabilidade futura do comportamento
portamento típico (como espirros, bocejos, (seleção). Se as consequências do compor-
náuseas ou salivação, no caso do ser huma- tamento forem reforçadoras, produzirão
no), é imprescindível uma análise da histó- um aumento na probabilidade desse com-
ria de seleção dessa espécie. portamento ocorrer sob circunstâncias se-
melhantes no futuro. Se as consequências
Este modelo de variação e seleção forem punidoras, produzirão uma diminui-
dos aspectos biológicos, proposto por Char- ção na probabilidade da ocorrência do com-
les Darwin no seu livro Origem das Espécies portamento. Neste último caso, o indivíduo
(1859), é reconhecidamente uma das inspi- pode se comportar em função da situação
rações de B. F. Skinner na formulação do que indica que uma consequência nociva é
Behaviorismo Radical (Baum, 2006; Lau- provável e, assim, aprende também a evitar
renti, 2009; Skinner, 1974; 1981). Para Skin- estas situações. Assim, cada indivíduo, ao

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entrar em contato com experiências únicas a história comportamental de crianças ten-


ao longo da vida, vai aprendendo determi- diam a explicar seu comportamento atual
nadas maneiras de agir a partir das conse- a partir de um viés mentalista. Por outro
quências que esse comportamento produz. lado, quando os observadores conheciam
a história comportamental das crianças,
A noção de seleção do comporta- tenderam a leva-la em consideração na ex-
mento por consequências sugere que, para plicação do comportamento atual em detri-
que possamos explicar os comportamentos mento das causas mentais. Assim, Skinner
dos indivíduos, é imprescindível uma aná- (1953/2003) afirmou que o “hábito de bus-
lise da história comportamental de cada car dentro do organismo uma explicação
um (Aló, 2005; Chiesa, 1994; Costa, Cirino, do comportamento tende a obscurecer as
Cançado & Soares, 2009; Freeman & Lattal, variáveis que estão ao alcance de uma aná-
1992; Skinner, 1974; Soares, Costa, Cança- lise científica. Estas variáveis estão fora do
do & Cirino, 2013). Skinner já apontava que organismo, em seu ambiente imediato e em
“uma análise do comportamento é (...) ne- sua história ambiental” (p. 33).
cessariamente ‘histórica’” (1974, p. 236), pois
os comportamentos atuais são produto de A afirmação de Skinner (1953/2003)
uma história de seleção que ocorre ao longo levanta a seguinte questão: Como podemos
da vida de cada indivíduo. analisar cientificamente os efeitos da histó-
ria ambiental sobre o comportamento atu-
Neste sentido, é relativamente se- al? Sidman (1960) afirmou que, em um con-
guro afirmar que pessoas que passaram texto experimental, a “melhor maneira de
por experiências diferentes ao longo da um experimentador especificar a história
vida, quando expostas a situações pareci- comportamental de um organismo, na me-
das no presente, se comportam de manei- dida em que é importante para um deter-
ras distintas. Contudo, o que se observa é minado problema, é construir deliberada-
que a grande maioria das explicações do mente essa história no organismo” (p. 290,
senso comum negligencia a história com- itálico adicionado). Ou seja, o experimenta-
portamental na determinação do compor- dor interessado no estudo da história com-
tamento atual (Aló, 2005; Chiesa, 1994). portamental deveria ser capaz de construir
Valendo-se de uma terminologia dualista/ diferentes histórias para seus participantes
mentalista, o senso comum explica o com- no laboratório (Wanchisen, 1990).
portamento dos indivíduos recorrendo a
conceitos como “personalidade” ou “cará- Porém, até meados da década de
ter”. A pesquisa de Simonassi, Pires, Ber- 1960 não havia, na literatura analítico-com-
gholz e Santos (1984), por exemplo, identi- portamental, um conjunto de dados siste-
ficou que observadores que desconheciam máticos que permitisse a análise do efeito

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Capítulo I | História Comportamental

de diferentes contingências passadas sobre trução da história), os participantes do Gru-


o comportamento atual. Nesse contexto, po 1 (n=3) foram expostos a um esquema de
mais precisamente em 1964, foi publicado razão fixa (FR) 40 e os do Grupo 2 (n=3) a
um dos primeiros estudos cujo objetivo era um esquema de reforçamento diferencial
a análise do efeito de diferentes histórias de baixas taxas (DRL) 20 segundos, por 10
comportamentais (construídas no laborató- sessões de 60 min. Para os participantes
rio, como sugerido por Sidman, 1960) sobre expostos ao FR, 100 pontos eram credita-
o comportamento atual. dos no contador a cada 40 pressões ao bo-
tão. Para os participantes expostos ao DRL,
cada resposta emitida após a passagem de
DESCRIÇÃO DO EXPERIMENTO 20 segundos da última resposta produzia
100 pontos no contador. Respostas emiti-
Objetivo e Método das antes do fim do intervalo reiniciavam o
A pesquisa de Weiner (1964) era sim- intervalo do DRL.
ples, porém engenhosa. O objetivo do estudo
foi avaliar o efeito da exposição a diferentes Esquemas de FR, em geral, selecio-
contingências históricas sobre o compor- nam altas taxas de respostas, pois há uma
tamento atual. Como estratégia metodoló- relação direta entre taxa de respostas e taxa
gica, foram arranjados esquemas de refor- de reforços sob esse esquema. Por outro
ço, programações de contingência muito lado, o esquema DRL geralmente selecio-
utilizadas em pesquisas experimentais em na baixas taxas de respostas, pois respos-
Análise do Comportamento, que permitem tas emitidas antes de terminado o intervalo
a seleção de padrões estáveis de comporta- programado produzem o reinício do inter-
mento (Ferster & Skinner, 1957; Lattal, 1991; valo. E este era exatamente o objetivo de
Souza Júnior & Cirino, 2004). Os participan- Weiner nesta primeira fase do experimen-
tes da pesquisa foram seis enfermeiros de to: estabelecer duas linhas de base - ou duas
um hospital psiquiátrico. Eles se sentavam histórias comportamentais diferentes - nas
em frente a um monitor e a tarefa experi- quais padrões de comportamento distintos
mental consistia em pressionar um botão. (altas e baixas taxas de respostas) fossem
As consequências para esse comporta- selecionados.
mento eram pontos que apareciam em um
contador de pontos no monitor. Em cada Após construir histórias compor-
sessão, os participantes também recebiam tamentais diferentes para cada grupo, era
uma quantia fixa de dinheiro, que não era hora de testar o efeito da exposição a estas
contingente ao seu desempenho. Os parti- diferentes contingências sobre o comporta-
cipantes foram distribuídos em dois grupos: mento atual, quando as contingências mu-
durante a primeira fase da pesquisa (cons- dassem. Na segunda fase do experimento

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(teste), os participantes de ambos os grupos valo do FI. Portanto, expor os participantes


foram expostos à um mesmo esquema de a este esquema de reforço na fase de teste
reforçamento de intervalo fixo (FI) 10 se- permitiu observar se a exposição prévia ao
gundos por 10 sessões de 60 min e, depois, FR ou ao DRL teria alguma influência no
10 sessões de 30 min. Sob o esquema de FI modo como eles se comportariam quando
10 s, a primeira resposta que ocorresse após as contingências mudassem (ou seja, quan-
o intervalo de 10 segundos produzia 100 do o FI estivesse em vigor).
pontos no contador. Respostas que ocorres-
sem ao longo desse intervalo não tinham
consequências programadas (diferente do Resultados e discussão
que ocorria na fase anterior sob o esquema E foi exatamente o que aconteceu! A
de DRL). Assim, no esquema de FI, não im- Figura 1 exibe os registros cumulativos dos
porta se o indivíduo responde em altas ou participantes do Grupo 1 (S1, S2 e S3) e do
baixas taxas, pois ambos os padrões con- Grupo 2 (S4, S5 e S6), durante os 15 últimos
tinuam a produzir pontos, desde que uma minutos da fase de teste (FI). A análise da
resposta ocorra após transcorrido o inter- Figura 1 permite constatar que, mesmo após

Figura 1. Registros cumulativos dos 15 últimos minutos da fase de teste (após 15 horas de exposição ao FI) dos participantes da pesquisa de Weiner
(1964). O painel superior exibe os registros dos participantes do Grupo 1 (história de FR) e o painel inferior exibe os registros dos participantes do Grupo
2 (história de DRL) (reproduzido com a permissão de John Wiley and Sons).

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Capítulo I | História Comportamental

15 horas de exposição ao FI, os participan- tória (FR para S1, S2 e S3; DRL para S4, S5 e
tes que tinham sido expostos ao FR emi- S6) e a taxa de respostas nas cinco últimas
tiam taxas de respostas mais altas quando sessões do experimento.
comparadas às taxas de respostas dos parti-
cipantes que tinham sido expostos ao DRL. Observa-se na Figura 2 que a taxa de
respostas nas cinco últimas sessões de FI
A pesquisa de Weiner (1964) é inte- dos participantes com história de FR foram
ressante por demonstrar que, mesmo em sempre superiores às taxas de respostas dos
um delineamento simples, no qual a res- participantes com história de DRL. Todavia,
posta selecionada era pressionar um botão, há que se considerar que houve diminuição
o comportamento dos participantes no es- na taxa de respostas dos participantes ex-
quema de FI sofreu influências da histó- postos a história de FR e aumento na taxa
ria comportamental que foi construída no de respostas dos participantes com história
laboratório. Sobre estes resultados, Weiner de DRL, quando expostos ao FI.
afirmou que o “ponto importante é que a
história de condicionamento deve ser con- Durante as três últimas sessões de
siderada como um possível determinante
do responder de humanos em FI” (p. 385).

Mas é possível ir mais além, e supor


que a história comportamental não seja ape-
nas determinante do responder em FI, mas
de qualquer comportamento, dentro e fora
do laboratório. Se este for o caso, os resulta-
dos da pesquisa de Weiner (1964) permitem
Figura 2. Taxa de respostas (R/min) em escala logarítmica na fase de
inferir (baseado em dados empíricos) que as construção da história experimental (Hist - FR para S1, S2 e S3; DRL
experiências vivenciadas pelas pessoas ao para S4, S5 e S6) e nas cinco últimas sessões do experimento. Ver mais
detalhes no texto. (Figura construída especialmente para este capítulo
longo de sua vida podem, sim, influenciar o com dados apresentados em Weiner, 1964, p. 384, Tabela 1).

comportamento presente.
exposição ao FR, os participantes S1 e S3
Os resultados apresentados por Wei- emitiram, em média, 412 e 240 respostas
ner (1964) nos permitem ainda outras con- por minuto. Na última sessão de FI, eles
siderações. A Figura 2 abaixo foi construída emitiam 64 e 55 respostas por minuto, res-
a partir da Tabela 1 do artigo. O eixo y apre- pectivamente. Ou seja, depois de 15 horas
senta a taxa de respostas (R/min) em escala de exposição ao FI, houve uma redução na
logarítmica e o eixo x exibe a média da taxa taxa de respostas de aproximadamente 85%
de respostas das três últimas sessões de his- para S1 e de 77% para S2, em relação à li-

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nha de base. Uma análise parecida também tamental dos indivíduos, explicaria o de-
pode ser realizada para os participantes S5 sempenho dos participantes da pesquisa de
e S6, que foram expostos à história de DRL. Weiner (1964) durante a fase de teste? Assim
Durante as três últimas sessões do DRL, S5 como no estudo de Simonassi et al. (1984),
e S6 emitiam, em média, três respostas por provavelmente o leigo utilizaria conceitos
minuto. A taxa de respostas na última ses- mentalistas, como “ansiosas”, “hiperativas”
são do FI foi de seis e nove respostas por (para os participantes com história de expo-
minuto, respectivamente. Pode parecer sição ao FR) ou “preguiçosas”, “depressivas”
pouca coisa, mas trata-se de um aumen- (para aqueles com história de exposição ao
to na taxa de respostas de 100% para S5 e DRL), ignorando completamente a história
200% para S6! comportamental dos participantes!

A partir da pesquisa de Weiner (1964),


DESDOBRAMENTOS diversos estudos foram conduzidos para
analisar os efeitos da história de exposição a
Os resultados da pesquisa de Weiner diferentes contingências históricas sobre o
(1964) sugerem evidências de que: (a) é es- comportamento atual, manipulando variá-
sencial a análise da história de exposição a veis como controle de estímulos, reforçador
contingências passadas para a compreen- empregado e custo da resposta, utilizando
são do comportamento atual, assim como não-humanos (e.g. Cole, 2001; Doughty, Ci-
proposto por Skinner (1981), em analogia à rino, Mayfield, da Silva, Okouchi, & Lattal,
seleção natural; (b) que os efeitos da história 2005; Freeman & Lattal, 1992; LeFrancois &
comportamental podem ser estudados em Metzger, 1993) e humanos (e.g. Costa, Ba-
laboratório, desde que haja controle sobre naco, Longarezi, Martins, Maciel, & Sudo,
a construção da história comportamental 2008; Costa, Soares & Ramos, 2012; Okou-
dos indivíduos (Sidman, 1960; Wanchisen, chi, 2003a; 2003b; Soares, Costa, Cançado
1990). & Cirino, 2013).

Especular sobre as influências da As pesquisas em laboratório sobre


história de vida sobre o comportamento história comportamental tiveram desdo-
presente pode parecer óbvio. Todavia, como bramentos interessantes, também, para a
apontado anteriormente, o senso comum aplicação da Análise do Comportamento
frequentemente negligencia a história com- (como na clínica comportamental). Neste
portamental quando se propõe a explicar o contexto, Marçal (2013) ressalta que
porquê as pessoas se comportam da manei-
ra como o fazem. Por exemplo, como um
leigo, que não conhece a história compor-

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Capítulo I | História Comportamental

“Por mais que um padrão compor- ses e especular com base em dados empí-
tamental esteja trazendo problemas ricos é mais do que muitas abordagens em
a alguém, por mais que este alguém Psicologia têm oferecido.
esteja insatisfeito com sua forma de
agir, tal comportamento foi reforçado
no passado em um ou mais contextos” CONSIDERAÇÕES FINAIS
(p. 41).
A pesquisa de Weiner (1964) foi uma
Conhecer a história é conhecer o das primeiras tentativas de análise sistemá-
comportamento. Para que se possa compre- tica do efeito de histórias comportamentais
ender o comportamento atual do paciente, é no laboratório. Seus resultados ressaltam a
imprescindível que se conheçam elementos importância do papel da história comporta-
de sua história de vida, e que estes elemen- mental na determinação do comportamen-
tos possam ser relacionados às contingên- to atual. Ao constatar este fato, o analista do
cias atuais. Portanto, para a condução de comportamento deve tomar cuidado com
uma análise funcional do comportamento dois pontos. Primeiramente, a história com-
adequada, é necessária a análise sistemáti- portamental – especialmente quando ela
ca da história do paciente. não é conhecida – não deve ser transforma-
da em uma explicação genérica do compor-
Todavia, é importante esclarecer tamento ou, como ressalta Cirino (2001), em
alguns pontos. Em primeiro lugar, quan- uma “lata de lixo” da Análise do Comporta-
do conversamos com um cliente não te- mento. Todo comportamento é explicado a
mos acesso a sua história. Temos acesso ao partir das contingências às quais o indiví-
comportamento verbal que pode estar sob o duo foi exposto, mas para lançar mão desta
controle da história, pode estar sob o con- explicação histórica o analista do compor-
trole da audiência (o terapeuta) ou ambos. tamento deve conhecer a história e quais
Os estudos sobre história comportamental elementos desta história possuem relação
não nos dão uma ferramenta para a atuação com seu comportamento atual.
aplicada da Análise do Comportamento. As
pesquisas empíricas sobre história compor- Em segundo lugar, é importante não
tamental nos permitem fazer especulações atribuir à história comportamental um efei-
mais bem fundamentadas (i.e., baseadas em to definitivo e imutável sobre o compor-
dados empíricos), mas que não passam de tamento atual (cf. Costa, Cirino, Cançado
especulações, até que a intervenção seja & Soares, 2009). Ainda que a explicação
feita e, eventualmente, o comportamento Behaviorista Radical seja essencialmente
mude na direção “esperada” (pelas especu- histórica, não podemos negligenciar o papel
lações). Isso não é pouco! Levantar hipóte- das contingências presentes. Uma análise

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cautelosa dos resultados de Weiner (1964) gências presentes.


ajuda a sustentar esta conclusão. Dois dos
três participantes expostos à história de FR Espera-se que o leitor possa ter com-
emitiram, na última sessão de FI, uma taxa preendido a importância da consideração
de respostas mais baixa em relação à linha dos eventos históricos sobre o comporta-
de base (Ver Figura 2, neste capítulo). Por mento atual e como o fenômeno pode ser
isso, procuramos sempre lembrar: somos estudado em laboratório. Dessa forma, des-
produtos da nossa história, mas não escra- taca-se um modelo causal (Skinner, 1981)
vos dela! que é uma alternativa a qualquer tipo de
explicação mentalista/dualista. Quando
Essas análises demonstram que, de- queremos entender – e modificar – o com-
finitivamente, não se pode negligenciar a portamento de um indivíduo, o primeiro
contingência presente. A contingência de passo, sem dúvida, é conhecer a sua histó-
FI 10 s, programada por Weiner (1964) du- ria comportamental!
rante a fase teste, estabelece um desem-
penho “ideal” de seis respostas por minuto
(pois uma resposta a cada 10 segundos pro- PARA SABER MAIS
duz reforço). Uma taxa média de respostas
como as de S1 e S2 garantiam que muitos Weiner (1969). Conjunto de cinco experi-
pontos fossem produzidos durante o FR, mentos com humanos nos quais Weiner
mas a grande maioria dessas respostas não explora diferentes estratégias na constru-
produzia consequências programadas du- ção da história comportamental. Os deli-
rante o FI, o que estabelece uma diminui- neamentos apresentados são em grupos ou
ção na taxa de respostas como algo desejá- com a exposição do mesmo participante a
vel. Durante o DRL, uma taxa média de três diferentes esquemas de reforço em fases
respostas por minuto (S4 e S5) garantia que sucessivas. Em linhas gerais, o artigo inves-
os reforços continuassem a ser produzidos tiga os determinantes do comportamento
e que poucas perdas ocorressem. Contu- humano em um esquema de FI. O desem-
do, respostas emitidas durante o intervalo penho de humanos neste esquema de re-
do FI não reiniciavam o intervalo como no forço foi a base de muita controvérsia sobre
DRL, o que estabelece um aumento na taxa a diferença de humanos e não humanos se
de respostas como algo desejável. Os resul- comportamento em esquemas de reforço. A
tados de pesquisas posteriores sobre histó- ênfase de Weiner, é claro, é na importância
ria comportamental (e.g., Freeman & Lattal, da história comportamental.
1992; Soares et al., 2013) indicaram que o
comportamento é produto da história, mas, Freeman & Lattal (1992). Avaliação dos
gradualmente, fica sob controle das contin- efeitos da história sobre o comportamento

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Capítulo I | História Comportamental

atual de pombos usando um delineamento REFERÊNCIAS


no qual o sujeito é seu próprio controle (co-
nhecido como Delineamento Experimental Aló, R. M. (2005). História de reforçamento.
de Caso Único ou delineamento intrasujei- In J. Abreu-Rodrigues & M. R. Ribeiro (Eds.).
to). Nessa pesquisa, o mesmo organismo foi Análise do comportamento: Pesquisa, teo-
exposto a duas histórias comportamentais ria e aplicação (pp. 45-62). Porto Alegre:
de maneira relativamente simultânea, sob Artmed.
diferentes controles de estímulo. O resulta-
do geral, apontou que a história exerce efei- Baum, W. M. (2006). Compreender o Beha-
to sobre o comportamento atual, mas que viorismo: comportamento, cultura e evolu-
esse efeito é transitório. ção. Porto Alegre: ArtMed.

Okouchi (2003b). Também utilizando um Chiesa, M. (1994). Radical behaviorism: The


delineamento intrassujeito (esquemas de philosophy and the Science. Boston: Autors
reforçamento múltiplo), com humanos, a Cooperative.
pesquisa de Okouchi apontou que os efeitos
da história ficam sob o controle de estímu- Cirino, S. D. (2001). Detecção da história de
los e que esses efeitos podem se generalizar reforçamento: Problemas metodológicos
para outras situações semelhantes no pre- para lidar com a história passada. In H. J.
sente. Guilhardi, M. B. B. P. Madi, P. P. Queiroz &
M. C. Scoz (Orgs.), Sobre comportamento
Soares, Costa, Cançado, & Cirino (2013). e cognição: Vol 8. Expondo a variabilidade
Replicação sistemática da pesquisa de Fre- (pp. 137-147). Santo André: ESETec.
eman e Lattal (1992) com humanos. Os re-
sultados corroboram o de outras pesquisas Cole, M. R. (2001). The long term effect of
sugerindo que os efeitos da história ficam high and low rate responding histories on
sob o controle de estímulos; são transitórios fixed-interval responding in rats. Journal of
(embora possam ser de longa duração) e que the Experimental Analysis of Behavior, 75,
a regularidade nos resultados de pesquisas 43-54.
com humanos em esquemas de reforça-
mento depende do controle experimental, Costa, C. E., Banaco, R. A., Longarezi, D. M.,
não requerendo, portanto, mudanças no Martins, E. V., Maciel, E. M., & Sudo, C. H.
modelo de causalidade quando falamos do (2008). Tipo de reforçador como uma vari-
comportamento humano e não humano. ável moduladora dos efeitos de história em
humanos. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 24,
251-262.

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