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Weiner, H. (1964). Conditioning history and human fixed-interval performance. Journal of the
Experimental Analysis of Behavior, 7(5), 383-385.
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Figura 1. Registros cumulativos dos 15 últimos minutos da fase de teste (após 15 horas de exposição ao FI) dos participantes da pesquisa de Weiner
(1964). O painel superior exibe os registros dos participantes do Grupo 1 (história de FR) e o painel inferior exibe os registros dos participantes do Grupo
2 (história de DRL) (reproduzido com a permissão de John Wiley and Sons).
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15 horas de exposição ao FI, os participan- tória (FR para S1, S2 e S3; DRL para S4, S5 e
tes que tinham sido expostos ao FR emi- S6) e a taxa de respostas nas cinco últimas
tiam taxas de respostas mais altas quando sessões do experimento.
comparadas às taxas de respostas dos parti-
cipantes que tinham sido expostos ao DRL. Observa-se na Figura 2 que a taxa de
respostas nas cinco últimas sessões de FI
A pesquisa de Weiner (1964) é inte- dos participantes com história de FR foram
ressante por demonstrar que, mesmo em sempre superiores às taxas de respostas dos
um delineamento simples, no qual a res- participantes com história de DRL. Todavia,
posta selecionada era pressionar um botão, há que se considerar que houve diminuição
o comportamento dos participantes no es- na taxa de respostas dos participantes ex-
quema de FI sofreu influências da histó- postos a história de FR e aumento na taxa
ria comportamental que foi construída no de respostas dos participantes com história
laboratório. Sobre estes resultados, Weiner de DRL, quando expostos ao FI.
afirmou que o “ponto importante é que a
história de condicionamento deve ser con- Durante as três últimas sessões de
siderada como um possível determinante
do responder de humanos em FI” (p. 385).
comportamento presente.
exposição ao FR, os participantes S1 e S3
Os resultados apresentados por Wei- emitiram, em média, 412 e 240 respostas
ner (1964) nos permitem ainda outras con- por minuto. Na última sessão de FI, eles
siderações. A Figura 2 abaixo foi construída emitiam 64 e 55 respostas por minuto, res-
a partir da Tabela 1 do artigo. O eixo y apre- pectivamente. Ou seja, depois de 15 horas
senta a taxa de respostas (R/min) em escala de exposição ao FI, houve uma redução na
logarítmica e o eixo x exibe a média da taxa taxa de respostas de aproximadamente 85%
de respostas das três últimas sessões de his- para S1 e de 77% para S2, em relação à li-
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nha de base. Uma análise parecida também tamental dos indivíduos, explicaria o de-
pode ser realizada para os participantes S5 sempenho dos participantes da pesquisa de
e S6, que foram expostos à história de DRL. Weiner (1964) durante a fase de teste? Assim
Durante as três últimas sessões do DRL, S5 como no estudo de Simonassi et al. (1984),
e S6 emitiam, em média, três respostas por provavelmente o leigo utilizaria conceitos
minuto. A taxa de respostas na última ses- mentalistas, como “ansiosas”, “hiperativas”
são do FI foi de seis e nove respostas por (para os participantes com história de expo-
minuto, respectivamente. Pode parecer sição ao FR) ou “preguiçosas”, “depressivas”
pouca coisa, mas trata-se de um aumen- (para aqueles com história de exposição ao
to na taxa de respostas de 100% para S5 e DRL), ignorando completamente a história
200% para S6! comportamental dos participantes!
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“Por mais que um padrão compor- ses e especular com base em dados empí-
tamental esteja trazendo problemas ricos é mais do que muitas abordagens em
a alguém, por mais que este alguém Psicologia têm oferecido.
esteja insatisfeito com sua forma de
agir, tal comportamento foi reforçado
no passado em um ou mais contextos” CONSIDERAÇÕES FINAIS
(p. 41).
A pesquisa de Weiner (1964) foi uma
Conhecer a história é conhecer o das primeiras tentativas de análise sistemá-
comportamento. Para que se possa compre- tica do efeito de histórias comportamentais
ender o comportamento atual do paciente, é no laboratório. Seus resultados ressaltam a
imprescindível que se conheçam elementos importância do papel da história comporta-
de sua história de vida, e que estes elemen- mental na determinação do comportamen-
tos possam ser relacionados às contingên- to atual. Ao constatar este fato, o analista do
cias atuais. Portanto, para a condução de comportamento deve tomar cuidado com
uma análise funcional do comportamento dois pontos. Primeiramente, a história com-
adequada, é necessária a análise sistemáti- portamental – especialmente quando ela
ca da história do paciente. não é conhecida – não deve ser transforma-
da em uma explicação genérica do compor-
Todavia, é importante esclarecer tamento ou, como ressalta Cirino (2001), em
alguns pontos. Em primeiro lugar, quan- uma “lata de lixo” da Análise do Comporta-
do conversamos com um cliente não te- mento. Todo comportamento é explicado a
mos acesso a sua história. Temos acesso ao partir das contingências às quais o indiví-
comportamento verbal que pode estar sob o duo foi exposto, mas para lançar mão desta
controle da história, pode estar sob o con- explicação histórica o analista do compor-
trole da audiência (o terapeuta) ou ambos. tamento deve conhecer a história e quais
Os estudos sobre história comportamental elementos desta história possuem relação
não nos dão uma ferramenta para a atuação com seu comportamento atual.
aplicada da Análise do Comportamento. As
pesquisas empíricas sobre história compor- Em segundo lugar, é importante não
tamental nos permitem fazer especulações atribuir à história comportamental um efei-
mais bem fundamentadas (i.e., baseadas em to definitivo e imutável sobre o compor-
dados empíricos), mas que não passam de tamento atual (cf. Costa, Cirino, Cançado
especulações, até que a intervenção seja & Soares, 2009). Ainda que a explicação
feita e, eventualmente, o comportamento Behaviorista Radical seja essencialmente
mude na direção “esperada” (pelas especu- histórica, não podemos negligenciar o papel
lações). Isso não é pouco! Levantar hipóte- das contingências presentes. Uma análise
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