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Época Arcaica (formação): vai desde a fundação de Roma (753 aC) até 130 a.C.
Trata-se de uma época caracterizada pela imprecisão, sendo deficientemente
documentada, assinalada pela mistura do jurídico com o religioso e o moral e
constituída por instituições jurídicas rudimentares. É subdividida em duas etapas:
1ª etapa: até 252 aC, o DR foi aplicado exclusivamente nas relações inter cives
romanos; Época do DR nacionalista ou quiritário ou do ius civile
2ª etapa: após 252 aC, com a criação do pretor peregrino, passou a regulamentar
relações entre cives romani e peregrini e entre estes últimos. Época do ius gentium
ou do DR universalista.
Época Clássica (apogeu): iniciando a sua vigência em 130 aC, termina em 230, com
a substituição do processo das formulas pela cognitio extraordinaria e o esgotamento
da jurisprudência. Caracteriza-se pela sua perfeição e subdivide-se em três etapas:
1ª. Época pré-clássica/ clássica inicial: De 130 aC a 30 aC; é caracterizada por
um desenvolvimento ascensional muito significativo da jurisprudência.
2ª. Época clássica central: de 30 aC a 130, é caracterizada pelo esplendor da
jurisprudência, visível na perfeição e na sábia estilização da casuística: pelo equilíbrio
entre o fecundo casuísmo, os princípios doutrinais e as regras jurídicas; e pela criação
de novas actiones que integraram e modernizaram o ius civile.
3ª. Época clássica tardia: de 130 a 250, assinala o inicio da decadência da
jurisprudência, esgotada nas suas forças e preocupada com exposições monográficas
do ius civile. A iurisprudentia burocratizou-se e voltou-se para o ius publicum, com
destaque para os direitos administrativo, militar, fiscal, penal e processual civil.
Noções Fundamentais
O que distingue direito privado romano dos outros direitos?
- Desinteresse pela codificação (escasso relevo das fontes escritas)
- Prioridade da ação sobre o direito: a iurisprudentia preocupou-se fundamentalmente
com a resolução de problemas práticos
- Simplicidade das soluções e ausência de sistema
- Diferenciação de conceitos (separação do jurídico dos usos sociais e das regras
morais. No direito: isolou o direito divino, o direito humano, o direito privado, o
direito público, o direito civil, o direito pretório, o direito das gentes…
Distinções
Ius vs Fas: inicialmente, significavam o que era lícito, o que a vontade divina permitia.
Posteriormente, o ius conheceu um processo de lenta secularização e o fas passou a
identificar-se como o ius divinum (conjunto das normas que estabelecem o que é
permitido pelos deuses e cuja inobservância é sancionada com penas religiosas).
Justiça vs Equidade: Justiça = vontade constante e perpetua de atribuir a cada um o
seu direito. Constituída pela proporcionalidade e a igualdade (tratamento igual dos
casos iguais e desigual dos casos diferentes). Equidade = (justiça do caso concreto)
cumpre a função de adequar a norma geral e abstrata ao caso sub iudice.
O ius gentium não impediu os diferentes povos de se regerem pelos seus próprios
direitos civis. Foram escassas as instituições jurídicas tipicamente romanas a que os
peregrinos tiveram acesso.
A distinção entre ius gentium e ius civile perdeu a importância quando, em 212,
Carcala estendeu a cidadania romana a todos os habitantes do império romano.
Generalizou-se a ideia de que o direito das gentes se funda na razão natural, o que
levou a que se apelidasse direito natural às normas e instituições em cuja origem vêm
a razão natural. A base comum aproximava o direito das gentes do direito natural –
contudo, o direito natural recebeu no direito justinianeu uma base teológica,
afirmando-se que estes direitos eram estabelecidos por providência divina,
permanecendo firmes e imutáveis. É um direito que contém exigências abstratas de
justiça, que transcende o direito positivo. Esta foi a visão que levou à separação
daqueles direitos.
As magistraturas podiam ser ordinárias (que estavam integradas numa certa ordem
hierárquica, o chamado cursos honorum – segundo a sua dignidade e não de acordo
com os respetivos poderes) ou extraordinárias.
As magistraturas ordinárias mais importantes, por ordem decrescente eram as
seguintes: a dos censores (censores – 443 aC), a dos cônsules (cônsules – 510 aC), a
dos pretores (praetores, urbano – 367 aC; peregrino – 242 aC), a dos edis curuis
(aediles curules – 367 aC) e a dos questores (quaestores – 450 aC).
Nota
Do ponto de vista jurídico, a magistratura mais importante era a dos pretores (pois
estes tinham os três poderes abaixo mencionados)
Até finais da época clássica coexistem, com igual eficácia, várias fontes manifestandi.
Depois, assiste-se a um processo de centralização que teve o seu epílogo na época
justinianeia, com a afirmação do imperador como a única fons existendi do direito.
O Corpus Iuris Civilis não deixa de referir as fontes precedentes; porém, a sua eficácia
é dada pelas constituitiones imperiais que promulgaram as suas partes. É conhecida a
evolução: o populus atribuiu a competência legislativa aos comitia; estes perderam-
na para o Senado; e o imperador acabou por esvaziá-lo, transformando a «legislação
senatorial» numa forma de o princeps legislar. Em consequência, os mores maiorum
foram substancialmente incorporados na Lei das XII Tábuas; as leges foram
substituídas por senatusconsulta; e estes, por constituitiones imperiais.
Observar-se-á que o Corpus Iuris Civilis não deixa de referir as fontes precedentes;
porém, a sua eficácia é dada pelas constitutiones imperiais que promulgaram as suas
partes
1. Costume
Mores – eram regras jurídico-religiosas que insensivelmente engrossavam o
património de valores e de crenças a antiga sociedade romana, qua a tradição
conservava.
Mores maiorum: tradição de uma comprovada moralidade, que a interpretatio
jurisprudencial desenvolveu e adaptou às novas exigências de vida. A fonte existendi
dos mores maiorum é o populus. Até à Lei das XII Tábuas, estes constituíram a única
fonte de direito; após esta, subsistiram com autonomia fora do âmbito de aplicação
dessa lei, nomeadamente no âmbito do direito público, perdendo autonomia na época
clássica – com a integração noutras fontes.
Consuetudo: surge muito posteriormente ao conceito de mores maiorum, a afirmar
uma regra estritamente jurídica. É uma prática constante e uniforme, observada
durante um largo período de tempo, pela generalidade de quantos habitualmente
participam numa determinada relação. com a convicção de obrigatoriedade com
mesma força da lei.
Elementos do consuetudo:
- Elemento material: «corpus», traduzido na referida prática;
- Elemento espiritual ou psicológico: «animus», constituído pela convicção de
obrigatoriedade jurídica - «opinio iuris vel necessitatis».
Este, apesar de mencionado em textos atribuídos a juristas clássicos, apenas assumiu
importância significativa na época clássica. Importância de que se revestiu no Baixo
Império (secs. IV-VI), como “corretivo” das constituições imperiais;
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Processo de formação:
1. Promulgatio: afixação da lei em lugar público para ser conhecido (três semanas);
2. Contiones: reuniões informais, na praça pública, para discussão da proposta de lei;
3. Rogatio: pedido de aprovação da proposta, dirigido aos comícios pelo magistrado
proponente;
4. Votação pelos comícios: primeiro, voto oral; a partir de 131 aC (lex Papira
Tabellaria), voto escrito e secreto (sempre por agrupamentos);
5. Aprovação pelo Senado: (conceção da auctoritas patrum) – de inicio tinha lugar
depois da votação pelos comícios; a partir de 339 aC (lex Publilia Philonis) passou
a ser dada antes da votação pelos comitia;
6. Afixação no Forum (em tábuas de madeira ou de bronze): para tornar público o
teor da lei aprovada.
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ano de 287 aC, a lex Hortensia de plebiscitis determinou a sua aplicação também aos
patrícios (ficando, assim, os plebiscitos equiparados às leis comiciais – aexequatio
legibus)
4. Senatusconsultum (senatusconsulto)
Noção: enquanto fonte do direito civil (ius civil), era uma decisão com valor
normativo tomada pelo Senado, sob proposta do imperador.
Evolução: de início, até ao século I aC, os senatusconsultos não tinham força
normativa, eram meros pareceres do Senado; A partir do início do século I aC,
passaram a ser fonte mediata de direito, sobretudo através do edicto do pretor; apenas
se tornaram fonte imediata de direito (ius civile) no inicio do Principado; e
mantiveram a sua autonomia (como autênticas decisões do Senado) até ao fim do séc.
I dC.
A partir de Adriano, princípios do sec. II, já não era o Senado que estabelecia as
normas, mas o imperador, que apresentava a «proposta» através de um discurso feito
perante o Senado, denominado oratio principis (deixaram de ser a expressão da
vontade autónoma e independente do Senado). Em finais do sec. II, a oratio do
imperador perdeu a natureza de proposta, para adquirir o carácter de verdadeira
decisão.
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6. Iurisprudentia (jurisprudência)
Noção: em Roma, era a ciência do Direito, cuja função era a de interpretar,
desenvolver e adaptar o direito à realidade social de cada época; tinha, por isso, um
papel criador.
Funções dos iurisprudentes:
i. respondere: resolver casos práticos, através de pareceres (responsa) dados a
particulares ou a magistrados. É a função mais importante;
ii. cavere: aconselhar os particulares sobre como deviam realizar os seus negócios
jurídicos (v.g., as palavras a proferir, as cláusulas a introduzir)
iii. agere: aconselhar os particulares em matéria processual (v.g., a fórmula a utilizar,
as palavras a proferir, os prazos a respeitar, etc).
Evolução: nos primeiros tempos, a atividade da jurisprudência foi confiada a
pontífices que se tornaram os guardas e os intérpretes dos costumes (mores). Todavia,
no ano 330 aC, a jurisprudência começa a laicizar-se. Como etapa inicial sugere-se a
publicação da compilação de fórmulas.
A iurisprudentia romana não procura a verdade absoluta; preocupa-se com a
determinação do justo e do injusto segundo a consciência social.
Na época republicana, é eminentemente criadora e tem por suporte uma autorictas
(saber socialmente reconhecido), com carácter social (que deriva da sua condição
aristocrática).
No Principado, até aos começos do século II, tem a autorictas de natureza política
(em virtude de Augusto ter concedido a alguns dos juristas mais notáveis o ius
respondendi ex auctoritate principis);
A partir de Adriano, a auctoritas de natureza burocrática, devido à sua integração na
burocracia imperial. Adriano, através de um rescriptum, determinou que os pareceres
dos jurisconsultos aos quais era permitido interpretar o Direito tivessem força de lei
se fossem coincidentes; se houvesse discordância entre eles, o juiz podia escolher
livremente.
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Plano posterior: elaboração de uma compilação de ius e de leges (que viria a ser
designada por Corpus Iuris Civilis no século XVI – em 1583, por Dionísio Godofredo).
c) Partes
Institutiones (Instituições): aprovadas em 21 de novembro de 533, com entrada em
vigor a 30 de dezembro, constituem um manual elementar de direito (DR) destinado
aos estudantes que iniciam o estudo, que serve de introdução elementar às outras
partes (em especial, à segunda); dividem-se sem 4 livros, que se dividem em títulos,
que se dividem em parágrafos (o 1º é o principium).
Digesta ou Pandectae (Digesto): promulgado em 16 de dezembro de 533, com
entrada em vigor a 30 de dezembro, é uma coletânea de fragmentos de obras de juristas
clássicos (ius); divide-se em 50 livros, que se dividem em títulos (exceto os liv. 30-
32), que se dividem em fragmentos, que se dividem em parágrafos (o 1º é o principium)
Codex (Código): aprovado em 17 de novembro de 534, entrada em vigor a 29 de
dezembro, é uma compilação de constituições imperiais (leges); divide-se em 12
livros, que se dividem em títulos que se dividem em constituições, e estas em
parágrafos.
Novellae (Novelas): são constituições imperiais novas (leges novas), promulgadas
depois do Codex (entre 535 e 565) e que não foram recolhidas em qualquer coletânea
oficial. Constituídas pelo prefácio, parte dispositiva (dividida em capítulos, e estes em
parágrafos) e epílogo.
No Oriente
Apesar de Justiniano ter proibido a realização de comentários à sua obra compilatória,
as necessidades da vida prática impuseram que essa proibição não fosse acatada.
Assim, foram redigidos vários comentários, denominados Paráfrases.
No Ocidente
A invasão dos diversos povos germânicos nas regiões romanizadas criou o problema
da coexistência do Direito Romano com os direitos dos invasores de bases
fundamentalmente consuetudinárias. Confrontaram-se os princípios de personalidade
e territorialidade. Através das compilações existentes, o Direito Romano manteve-se
vigente, embora vulgarizado, entre os séculos VI e XII.
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apud iudicem – é presidida pelo juiz privado a quem incumbe emitir uma opinião
sobre o litigio depois de provados ou não provados os factos alegados.
Em suma,
Ordo iudiciorum privatorum
o magistrado declara se o demandante tem um direito, concedendo ou denegando a
actio – fase in iure
um juiz privado aprecia a prova e profere a sentença – fase apud iudicem
1. Leges Actiones (até 1300 Ac)
2. Agere per formulas (até 230)
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Autodefesa Ordo
ou autotutela iudiciorum
privatorum
Cognitio extra
ordinem
Ação pessoal Afirma-se uma obrigação assumida pelo demandado e, por isso
permitem apenas obrigar, por contrato ou delito, a dar (dare); a
fazer (facere), a não fazer (non facere) ou a prestar (praestare)
Ação mista São reais, porque podem ser intentadas contra pessoas
inicialmente indeterminadas; e pessoais, enquanto deduzem uma
obrigação do demandado
Ex: ação de partilha de herança
Ex: divisão de coisa comum
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Ação contrária É também uma ação pessoal, outorgada contra uma das partes
(Actio por obrigações que não surgem inicialmente, mas podem
contraria) eventualmente surgir mais tarde.
Ex: Actio depositi/actio depositi contraria; actio
commodati/actio commodati contraria
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Diferença em face ao direito real: mesmo quando o seu objeto (mediato) é uma coisa,
esta só é obtida pelo credor em consequência do comportamento adotado pelo devedor;
aquele não tem um direito sobre a coisa.
Artigo 397º CC: Obrigação é o vinculo jurídico por virtude do qual uma
pessoa fica adstrita para com a outra à realização de uma prestação.
2. Classificação
- Contrato/delito;
Inst. De Gaio III,88: «Passamos agora às obrigações. A sua principal divisão
faz-se em duas espécies: pois toda a obrigação nasce de contrato ou de delito.”
- Contrato/malefício (delito)/várias figuras de causas;
D.44,7,1pr: «As obrigações nascem de contrato, de malefício (=delito) ou por
certo direito próprio segundo as várias figuras de causas.»
- Contrato/delito/quase contrato/quase delito
l.13,13,2: «A divisão seguinte (das obrigações) faz-se em quatro espécies: pois
elas provêm de contrato, ou de quase contrato, de delito ou de quase delito»
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Ademais, na base dos contratos como fontes das obrigações está uma longa evolução.
Depois desta evolução, é possível definir contrato como o acordo de vontades de duas
ou mais pessoas que, obedecendo a esquemas fixados pelo direito civil, visa constituir
uma relação jurídica obrigacional.
Contrato de boa São protegidos por ações de boa fé (actiones bonae fidei).
fé Portanto, o juiz deve apreciar todas as circunstâncias que tenham
ocorrido e considerar tudo o que é exigível entre pessoas jusras e
leais. São exemplos a compra e venda, a locação, a sociedade, o
deposito, etc.
Contrato de di- São tutelados por ações de direito estrito (actiones stricti iuris) e,
reito estrito portanto, o juiz deve observar rigorosamente o que foi acordado
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Contratos Reais
1. Noções gerais
Contrato real é aquele a cuja perfeição não basta o acordo (conventio) entre as partes
para produzir efeitos jurídicos: é também necessária a prática de certo ato material
(datio ou traditio) em relação à coisa que se refere.
2. Mútuo (mutuum)
Noção: contrato real e unilateral através do qual uma pessoa, que recebe de outra a
propriedade de determinada pecunia ou de outras coisas fungíveis, se obriga a restituir
igual quantidade do mesmo género e qualidade (tantudem).
Elementos essenciais:
Datio rei: transferência da propriedade de determinada pecunia ou de outras coisas
igualmente fungíveis (transferência da propriedade cas coisas);
Conventio: é o acordo das partes cujo objeto consiste na restituição da pecunia ou
de coisas da mesma natureza, qualidade e quantidade.
Exceções à natureza gratuita do mútuo (ou seja, casos em que o mútuo era oneroso)
1. mútuo de mercadorias
2. mútuo concedido por cidades
3. mútuo realizado por bancos
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Tutela – quanto às ações que tutelam as partes, ano existe uma actio particular.
Mutuante:
- actio certae creditae pecuniae: se o mútuo consistisse em dinheiro
- condictio certae rei: se o objeto do mutuum fosse outra coisa fungível
Em suma,
Elementos essenciais:
1. Datio Rei (transferência de propriedade)
2. Conventio (acordo das partes)
Características:
Real, unilateral e gratuito
A eventual obrigação de pagar juros terá de decorrer de uma Stipulatio
Usurarum
Exceções à gratuidade do mútuo:
Mútuo de mercadorias
Mútuo concedido por cidade
Mútuo concedido por bacos
Foenus nauticum
Meios de tutela:
actio certae creditae pecuniae, se o objeto do mutuo fosse dinheiro
condictio certae rei, se o objeto do mútuo fosse outra coisa fungível
3. Fidúcia
Noção: contrato em que uma pessoa (fiduciante), utilizando um negócio jurídico
formal (mancipatio ou in iure cessio), transfere a propriedade de uma coisa para outra
pessoa (fiduciário), que se obriga a restituí-la depois de realizado o fim definido num
acordo não formal designado pacto de fidúcia (pactum fiduciae)
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2. Fiducia cum amico: realizada com um amigo, para alcançar diversas finalidades,
nomeadamente, a que viria a ser a do comodato, quando foi criado (= transferia a
propriedade de uma coisa a uma pessoa leal, com vista à prossecução de diversos fins)
Destacamos:
1. A constituição de deposito (depositum): antes do reconhecimento deste contrato, o
fiduciante transferia a propriedade de uma coisa ao fiduciário para guardar e restituir
decorrido o prazo determinado ou a pedido do fiduciante;
2. Constituição de comodato (commodatum): antes de este contrato ser reconhecido,
o fiduciante transferia a propriedade de uma coisa ao fiduciário, para usar e restituir
decorrido o prazo ficado ou depois da utilização prevista.
Como referimos, o fiduciante era protegido pela actio fiduciae (dita directa) e o
fiduciário pela actio fiduciae (dita contraria), através da qual podia reclamar os gastos
feitos na res e ressarcir-se dos danos eventualmente causados.
4. Depósito
Noção: (na época clássica) é um contrato bilateral imperfeito e de boa fé, em que uma
pessoa (depositante) entrega a outra (depositário) uma coisa móvel para que a guarde
e restitua num determinado prazo ou quando o depositante pedir.
Nota: na época justinianeia admitiu-se que o depositante se obrigasse a pagar uma quantia módica
pela guarda da coisa (nesse caso, o contrato era oneroso e bilateral perfeito).
A gratuidade é um elemento essencial. Se houver uma retribuição atribuída ao
depositário pela custodia da coisa passa a ser, por exemplo, uma locação.
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a) na época clássica, somente de dolo, por se entender que deposito, sendo gratuito,
nenhuma utilidade lhe oferecia. No entanto, responde se não observou a diligencia
que o homem médio teria observado naquelas circunstâncias (fala-se de culpa levis
ou in abstracto), nas seguintes hipóteses: se se assumiu esta responsabilidade num
pacto especial; se se ofereceu para guardar a coisa; ou se o depósito foi feito no seu
interesse exclusivo.
b) na época justinianeia, basta que atue com negligencia excessiva, ou seja, sem a
observância da mais elementar prudência que todos estamos sujeitos (fala-se de culpa
lata)
Obrigações do depositário:
- Obrigação de guardar a coisa sem a deteriorar;
- Obrigação de a restituir nas condições em que a tinha recebido, com todos os frutos
e acessões.
Figuras especiais:
Depósito necessário: mais tarde dito miserável, é o deposito feito em situações
excecionais que não permitem que o depositante escolha livremente o depositário.
Ocorre, v.g., quando há um incendio, um naufrágio, uma sublevação, etc. Se o
depositário recusar restituir a coisa depositada, a sua responsabilidade é agravada: o
depositante dispõe duma actio depositi, na qual aquele será condenado o dobro do seu
valor.
Sequestro: sequestrum, é o deposito de uma coisa litigiosa feito entre vários litigantes
e um terceiro (sequester) da sua confiança, que se obriga a guardar e a entregar a quem
vence o litigio ou vier a encontrar-se nas condições estabelecidas pelos depositantes.
O depositário é considerado possuidor (não simples detentor, como no deposito
regular) e, portanto, goza da proteção que lhe é dada pelos interdicta possessórios.
Depósito irregular: é o deposito que se traduz na transferência da propriedade de
coisas fungíveis, obrigando-se o depositário a restituir outro tanto do mesmo género
e qualidade a pedido do depositante. Durante muito tempo, a iurisprudentia romana
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considerou estes contratos mútuos. Todavia, quiçá por influencia da pratica oriental e
para ultrapassar as dificuldades que o mutuo, porque gratuito, causava às exigências
comerciais, acabou por configurá-los como depósitos, estendendo-lhes a sua tutela
judicial e a vantagem de o depositante poder exigir juros mesmo não estipulados.
5. Comodato
O comodato é um contrato bilateral imperfeito e de boa fé, em que uma pessoa
(comodante) entrega uma coisa móvel ou imóvel a outra pessoa (comodatário) para
que a use gratuitamente, durante certo tempo e segundo o modo acordado, e a restitua.
Como sucede no depósito regular, o comodatário é simples detentor – a propriedade
e a posse pertencem ao comodante.
Tratando-se de empréstimo de uso, o comodato tem por objeto coisas não consumíveis
(isto é, coisas que não deixam de existir com o seu uso), embora não se afaste a
possibilidade de incidir sobre coisas consumíveis se intervierem como específicas,
v.g., para que, no caso de moedas, seja objeto de estudo e posterior restituição.
O comodante é protegido com a actio commodati.
Obrigações do comodatário: o comodatário obriga-se a:
- usar a coisa segundo o que for acordado ( furto de uso)
- não deteriorar a coisa
- restitui-la nas mesmas condições em que a recebeu
Quanto à responsabilidade do comodatário importa distinguir:
a) Na época clássica, rem por base a custodia e, por isso, a coisa se for roubada,
responde perante o comodante e, em consequência, pode demandar o ladrão
com a ação de furto.
b) Na época justinianeia, só responde se não observar a diligencia que o homem
medio teria observado naquelas circunstâncias (culpa levis)
ou
Se o comodato fosse realizado no interesse exclusivo do comodante – a
responsabilidade depende de dolo ou para satisfazer um interesse comum – responde
se no observar a diligencia que habitualmente observa e, portanto, lhe é próprio (fala-
se de culpa in concreto)
Quanto ao comodante:
é obrigado a reembolsar os gastos necessários que o comodatário tenha feito para
conservar a coisa
é obrigado a indemnizar o comodatário dos danos eventualmente causados
Por isso, o comodatário goza da actio commodati contraria e à pretensão do
comodante pode opor o direito de retenção (ius retentionis)
6. Penhor
contrato bilateral imperfeito, em que uma pessoa entrega a outra uma coisa para
garantir uma obrigação própria ou alheia.
O credor da obrigação garantida (aqui devedor) torna-se detentor, mas em nome do
devedor a obrigação principal (aqui credor) que mantém o dominium sobre a res, logo
aquele não podia adquirir a coisa por usucapião.
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Contratos Consensuais
Noção: caracterizam-se pelo facto de a sua perfeição depender unicamente do acordo
das partes, que pode manifestar-se de qualquer modo; portanto, não é necessária uma
forma determinada, como nos contratos verbais e literais, nem a entrega da coisa,
como nos contratos reais.
Origem provável: no direito das gentes, ius gentium
Modos de conclusão: entre presentes ou, estando ausentes os contraentes,
representados por um núncio (nuntius) ou através de carta (per epistulam)
Rescisão: também mediante acordo, em sentido contrário (contrarius consensus)
Enumeração:
1. A compra e venda (emptio-venditio)
2. A locação (locatio-conductio)
3. A sociedade (societas)
4. Mandato (mandatum)
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Obrigações do vendedor
Transferir a posse live e pacífica da res (que se deve encontrar livre de vícios e não
ser precária), é a obrigação fundamental do vendedor.
Responde por evicção: depois de transferir a posse livre e pacifica para o comprador,
o vendedor respondia por evicção sofrida pelo comprador em consequência de uma
sentença que reconhecesse a um terceiro o direito sobre a coisa, privando o comprador
da posse.
Comprador demandado devia exigir a presença do vendedor no processo para o
defender. Se se recusasse ou não evitasse uma sentença desfavorável o comprador
podia demanda-lo com a actio auctoritatis (=condenação no dobro do preço pago).
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Cuidar da coisa vendida até à sua entrega, embora se exija que observe a diligencia
de um homem normal, ou seja, só responde se atuar com culpa levis (ou in abstrato)
Contudo, se a res fosse destruída ou deteriorada por caso fortuito ou força maior,
o comprador mantinha a sua obrigação de pagar o pretium e, em contrapartida, tinha
direito às acessões e frutos desde a conclusão do contrato até à entrega da res.
Responder por vícios ocultos da coisa vendida. Se os defeitos não declarados se
manifestarem depois da compra e venda, o comprador pode demandar o vendedor
(mesmo que este não tenha atuado com dolo) com ações ditas edilícias (actiones
aediliciae), se estiver em causa vícios ocultos de escravos e animais estas ações são
concedidas pelo edil curul:
A actio redhibitoria: produz a resolução da compra e venda e a condenação do
vendedor no pagamento do dobro do preço recebido, a menos eu queira restituir o
preço com juros, caso em que seria condenado apenas o preço. Esta actio deve ser
intentada no prazo de dois meses a partir do momento em que o direito se revele.
A actio aestimatoria (ou quanti minoris): permite que o comprador obtenha a
diminuição do preço proporcionalmente ao valor menor que a coisa tem em
consequência do vicio que a afeta. Deve ser instaurada no prazo de seis meses a partir
do momento em que o defeito se revele. Se o vendedor tivesse garantido a inexistência
de vícios, o prazo era de um ano útil, a contar da realização do contrato.
Obrigações do comprador:
Obrigação de pagar o preço convencionado, está obrigado ao pagamento de juros
se não pagar o preço no prazo acordado, contados desde a entrega da res.
Obrigação de receber a coisa a pedido do vendedor, se se recusar tem de ressarcir
os danos causados pelo atraso.
Obrigação de reembolsar o vendedor pelos gastos feitos para conservar a coisa.
Obrigação de responder pelo risco, embora não seja ainda proprietário, se a coisa
vendida, ainda em poder do vendedor, fosse destruída ou se deteriorasse por caso
fortuito ou foça maior, o comprador mantinha a sua obrigação de pagar o preço. O
vendedor era então obrigado a entregar ao comprador o que restasse da res =
periculum est emptoris.
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2. Locação (locatio-conductio)
Noção: era um contrato consensual pelo qual uma pessoa se obrigava a proporcionar
a outra o gozo temporário de uma coisa, a prestar-lhe determinados serviços ou a
realizar uma obra, mediante o pagamento de uma remuneração (merces).
Locação de coisa (locatio conductio rei)
Locação de trabalho (locatio-conductio operarum)
Locação de obra (locatio-conductio operis)
Elementos essenciais
Consensus (consenso, acordo) das partes;
Objeto: pode ser uma res que o locatário deve usar segundo o modo acordado
durante um certo tempo; uma atividade laboral, que o locador deve realizar no tempo
acordado; ou uma res que o locador entrega ao locatário para fazer uma determinada
obra.
Merces: é a contraprestação devida pelo uso da res, trabalho ou obra realizada.
Tempo: fixado ou, no aso da locação de obra, resultante do tipo de obra a realizar).
Locação de coisa
Contrato consensual pelo qual uma pessoa (locador) se obrigava a proporcionar a
outra (locatário) o gozo temporário de uma coisa mediante o pagamento de uma
retribuição (merces).
Obrigações do locador:
Proporcionar ao locatário (conductor) o gozo livre da coisa locada, durante o tempo
e nas condições acordadas;
Fazer as reparações necessárias para evitar a deterioração ou destruição da coisa;
Reembolsar ao locatário os gastos em despesas feitas com reparações necessárias.
Obrigações do locatário:
Pagar a renda convencionada;
Restituir a coisa findo o prazo estabelecido;
Ressarcir o locador dos danos causados na coisa locada.
Notas:
A responsabilidade das partes depende de culpa levis (ou in abstrato)
O risco onera o locador.
Tratando-se de prédio agrícola, se os frutos forem destruídos ou gravemente
afetados por força maior (vis maior), o arrendatário pode obter a liberação ou
diminuição da renda.
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Posição do locatário quando o locador não fosse proprietário: como mero detentor, o
locatário estava sujeito a ser provado do gozo da coisa, se esta fosse reivindicada pelo
dominus. Nessa eventualidade, o locatário apenas podia obter uma indemnização do
locador (pelos prejuízos sofridos).
Locação de trabalho
Noção: o locador obrigava-se a pôr a sua atividade laboral ao dispor do locatário
durante determinado tempo (normalmente, durante certo número de dias), mediante o
pagamento da merces.
Extinção da locatio-conductio operarum com a morte do locador.
Dispensa de prestação das operae pelo locador em caso de doença (sem obrigação
de pagamento da merces por parte do locatário).
Locação de obra
O locatário obrigava-se a realizar a obra acordada com o locador e a proceder à sua
entrega ao locador no prazo fixado (ou naquele que fosse exigido pela natureza dela);
Era o locador que tinha a obrigação de pagar uma retribuição (merces) ao locatário
– além da obrigação de entregar a res a este, para a realização da obra.
A possibilidade de a obra ser realizada por operários (no caso de o contrato não ter
sido celebrado em atenção às qualidades do locatário).
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3. Sociedade (societas)
Noção: era o contrato consensual e de boa fé pelo qual duas ou mais pessoas (os sócios
– socii) se obrigavam a pôr em comum determinados bens ou o seu trabalho, com
vista à prossecução de um fim patrimonial comum. Inspira-se a fraternidade que
justifica a incomunicabilidade da sociedade; revogabilidade por qualquer socio;
extinção por morte de um sócio.
Elementos essenciais
Consenso – não bastava que o consenso existisse no momento da conclusão do
contrato; a vontade de ser sócio (affectio societatis) tinha de ser permanente; a sua
falta determinava a extinção da sociedade.
Objeto – coisas (res), atividade laboral, manual ou intelectual (operae), ou coisas
e atividade laboral (remissão).
Finalidade – interesse que os sócios visavam prosseguir em comum (remissão).
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Sociedade e terceiros
como o contrato de sociedade não criava uma pessoa jurídica diferente dos sócios,
não havia relações jurídicas entre a sociedade e terceiros (isto é, pessoas diferentes
dos sócios), mas somente relações obrigacionais entre cada um dos sócios e os
terceiros (ações são concedidas a cada um daqueles e cada um destes); no direito
justinianeu admitiu-se, porém, que o terceiro demandasse outros sócios, desde que
tivessem obtido um enriquecimento.
Tutela dos sócios: cada um dos sócios dispunha da actio pro socio (de boa fé) para
responsabilizar os sócios que não cumprissem as obrigações estabelecidas no contrato.
4. Mandato (mandatum)
Noção: era o contrato consensual, bilateral imperfeito e de boa fé pelo qual uma
pessoa (o mandante) encarregava outra (o mandatário) de realizar uma certa atividade
no interesse do mandante, de um terceiro ou de qualquer deles e do mandatário, que
se obrigava a realizar essa atividade gratuitamente.
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Não é necessário que consista num negócio jurídico: qualquer serviço pode ser
objeto de mandato, desde que gratuito.
Contratos Formais
Os negócios formais (solenes) são aqueles cuja existência depende da observância de
uma forma prescrita pelo ordenamento jurídico.
Gaius distingue duas espécies de negócios formais:
Verbais: a vontade manifesta-se através das palavras solenes fixadas pelo direito
civil
Literais: as obrigações nascem de acordo redigido por escrito.
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Stipulatio
É um contrato formal que os Romanos celebravam com muita frequência para
satisfazer fins muito diferentes. E o próprio pretor utilizava-a para proteger
judicialmente relações não tuteladas pelo direito civil.
Dentro da variedade de fins que justificam o recurso à stipulatio, destacamos:
garantir obrigações:
assegurar o uso normal de um direito real sobre coisa alheia;
proteger danos futuros, etc.
Negocio jurídico abstrato = a causa não é um elemento essencial. Pode ser utilizado
para vários fins.
Não é preciso determinar a causa do contrato para que este produzisse efeitos.
Muito utilizada porque permitia acautelar as situações não previstas nas categorias
contratuais plasmadas no direito civil (atualmente há liberdade de criação e fixação
do conteúdo dos contratos – art. 405º CC)
Contratos inominados
Surgimento do vínculo jurídico (em que a obrigação se traduz): quando uma pessoa
já realizou uma determinada prestação – podendo, assim, exigir à outra a prestação a
que se obrigou.
Espécies de acordos:
do ut des (dou para que dês); facio ut des (faço para que dês);
do ut facias (dou para que faças); facio ut facias (faço para que faças).
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Permuta (permutatio)
Noção: era o contrato atípico (inominado) pelo qual uma pessoa dava uma coisa
determinada a outra para que esta lhe desse outra coisa (relação do tipo do ut des) –
autonomizado da compra e venda pelos proculeianos (tutela com actio in factum).
Características que distinguem a permuta da compra e venda:
A permuta era um contrato real (quanto à constituição), por ficar perfeita com a
primeira datio, enquanto a compra e venda era um contrato consensual;
Na permuta, como uma das partes tinha de realizar a transferência da propriedade
(datio) de uma coisa e a outra ficava com a obrigação de transferir a propriedade de
outra, as duas coisas deviam ser propriedade delas.
Na permuta, respondiam por evicção (e pelos vícios ocultos da coisa) as duas partes
(se ambas tivessem cumprido a obrigação de dare), enquanto na compra e venda só
respondia o vendedor;
Na permuta, a parte que deu primeiro uma coisa podia pedir a restituição até que a
outra cumprisse a sua obrigação, enquanto na compra e venda se admitiu, na época
justinianeia, a «lesão enorme» (o vendedor podia pedir a rescisão da venda se fosse
efetuada por preço inferior a metade do seu justo valor).
Precário (precarium)
Noção: era, desde a época pós-clássica, o contrato atípico («inominado») pelo qual
uma pessoa (precario dans) concedia a outra (precario accipiens), gratuitamente, a
pedido desta, o uso de uma coisa ou o exercício de um direito, com a faculdade de
revogar a concessão a todo o tempo.
Distinção entre o precário e o comodato: o precário proporcionava um gozo mais
amplo ao precarista (na medida em que o uso concedido não estava pré-definido) e
permitia ao precario dans que revogasse livremente a concessão; não assim no
comodato, pois o comodatário só podia usar a coisa nos termos e para o fim
convencionados.
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O precarista como mero detentor: o precario dans podia recuperar a posse através
do interdictum quod precario.
Transação (transactio)
Noção: era, desde a época pós-clássica, o contrato atípico («inominado») pelo qual as
partes evitavam ou punham termo a um litígio mediante concessões recíprocas.
Casos em que não era admitida: por ex., depois de proferida a sentença; quando a
dívida objeto do litígio respeitasse a alimentos estabelecidos num testamento.
Delitos
Noção de delito (delictum): era um acto ilícito punido com uma pena.
Espécies de delitos:
públicos (= crimina) – representavam uma ofensa à comunidade romana (ao
populus) e eram punidos com penas públicas (corpóreas ou pecuniárias)
privados (delicta ou maleficia) – ofendiam o indivíduo e eram punidos com penas
privadas (pecuniárias).
Furto
Noção: era definido (em D.47,2,1,3 - PAULUS) como «o apoderamento fraudulento,
com vista à obtenção de um lucro, de uma coisa, do seu uso ou da sua posse».
Atos em que podia traduzir-se o furto (elemento objetivo do furto contrectatio rei):
subtração (ablatio) de uma coisa corpórea e móvel (normalmente, em prejuízo do
seu proprietário; mas também de quem tinha a sua custódia, como sucedia com o
comodatário ou o credor penhoratício);
uso ilícito de uma coisa alheia – furto de uso (furtum usus), que se verificava, por
ex., no caso de o depositário fazer uso da coisa cuja guarda lhe havia sido confiada ou
no de o comodatário usar a coisa para fim diferente do acordado (ou do que era
normal);
privação indevida da posse de uma coisa – furto da posse (furtum possessionis),
que ocorria, nomeadamente, quando aquele que tinha transferido a posse de uma coisa
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Modalidades do furto:
Furto manifesto (furtum manifestum), em que o autor do furto era surpreendido a
praticar o delito (em flagrante) ou imediatamente a seguir, com a coisa em seu poder;
Furto não manifesto (furtum nec manifestum), definido pela negativa, no qual,
por conseguinte, o autor não era encontrado em qualquer das situações que
configuravam furto manifesto.
Penas aplicáveis a cada uma das modalidades de furto (na época clássica), com a
actio furti:
pena pecuniária igual ao quádruplo do valor da coisa furtada, no furto manifesto;
pena pecuniária igual ao dobro do valor da coisa furtada, no furto não manifesto
(já era assim desde a Lei das XII Tábuas).
Cumulação da actio furti com outras ações: com a rei vindicatio (ação de
reivindicação) e com a condictio furtiva (concedida ao proprietário, contra o autor do
furto ou os seus herdeiros, quando não se verificasse a restituição voluntária da coisa
furtada, com a condenação pecuniária do(s) demandado(s), mesmo que a coisa já
tivesse perecido por caso fortuito, em virtude de o autor do furto ficar constituído em
mora, quanto à obrigação de restituição, desde que cometia o delito).
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equidade) ou, nos casos de ofensa grave (iniuria atrox), pelo pretor (com aceitação
normal pelo juiz).
A criminalização de certos tipos de injúrias (com a lex Cornelia de iniuriis, de Sila
– 81 a.C.?): as que consistissem em golpear (a pulsatio) ou em açoitar alguém (a
verberatio), ou em violar o seu domicílio.
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danos causados a quem não era proprietário da res (por ex., usufrutuário, credor
penhoratício, possuidor de boa fé) – concessão de actiones utiles (fictícias), exceto
quando o demandado fosse o proprietário;
danos resultantes de lesões corporais em pessoas livres – concessão de actiones in
factum conceptae.
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