Você está na página 1de 11

CÚPULA DO ROCHEDO

IGOR DIAS, Nº75210


IARA BEATRIZ, Nº75233

Licenciatura em Património Cultural e Arqueologia


Unidade Curricular: Arte Islâmica
2.º Semestre
2021/2022

MARÇO DE 2022
Índice

Introdução ..........................................................................................................................3

Contexto histórico .............................................................................................................4

Características arquitetónicas ............................................................................................6

Decoração ..........................................................................................................................7

Conclusão ........................................................................................................................10

Bibliografia ......................................................................................................................11

2
Introdução
A Cúpula do Rochedo é um edifico extremamente relevante da arquitetura
islâmica na medida em que se apresenta como uma das primeiras construções na
formação do Islão. A arquitetura da Cúpula do Rochedo é algo original e próprio da
mesma, é portadora de séculos históricos importantes que estão representados a partir de
inscrições nas suas paredes pois é partir das inscrições presentes que se pode
compreender a magnitude do Califado Omíada, Abássida e Fatímida.
Na vertente deste trabalho irá ser introduzido o contexto histórico em que a
Cúpula do Rochedo se encontra, as características arquitetónicas bem como decorativas,
as teorias envolventes e os argumentos de Oleg Grabar.

3
Contexto histórico
Situado no Haram al-Sharif (Monte do Templo) simboliza para muitas pessoas um
dos sítios mais religiosos do mundo. Imensos turistas visitam anualmente a Cúpula do
Rochedo. Haram significa local sagrado o que projeta a importância do local geográfico
em que a Cúpula do Rochedo se situa sendo, portanto, uma construção importante para a
arquitetura islâmica.

Figura 1. Haram al-Sharif

Os guias turísticos oferecem a explicação tradicional da Cúpula do Rochedo que


foi estabelecida em meados de 1300 na época dos Mamluk (soldados de uma milícia
egípcia constituída por escravos turcos). Segundo a história tradicional, a Cúpula do
Rochedo foi construída por cima da pedra onde o Profeta Maomé ascendeu aos céus na
sua Viagem Noturna juntamente com o seu burro Buraq que é relatada no primeiro
versículo do 17º surat do Alcorão. É visível as marcas das patas onde Buraq esperou na
pedra.

Figura 2 – Pedra Fundadora Figura 3 – Ilustração da Ascensão de


Maomé
4
É acreditado pelos muçulmanos que Kaaba e a Cúpula do Rochedo irão juntar-se
no final dos tempos. Esta ideia de junção de ambos o edifício ressalta a importância e
pode simbolizar a ideia da ligação entre Jerusalém e Meca. Jerusalém da época dos
Mamluk está bem abastada de monumentos, inscrições, textos, descrições e waqfiyahs
(doações religiosas como lotes de terra, edifícios, dinheiro, entre outros...).
A Cúpula do Rochedo é um monumento bem documentado com uma inscrição datada a
691/692 durante o califado do quinto califa omíada Abd al-Malik.

Figura 4 - Edifício de Kaaba em Meca

À exceção de alguns pormenores, a forma arquitetónica básica do edifício não foi


modificada, continua a ser uma cúpula cilíndrica com dois ambulatórios octogonais e
quatro entradas idênticas. As inscrições são um elemento fundamental e maior parte da
zona exterior incluindo os revestimentos cerâmicos (azulejos) não são elementos originais
da construção da Cúpula.

As intervenções e reparações feitas na Cúpula do Rochedo estão registadas, são


maioritariamente inscrições, porém não existe registos de necessariamente tudo, e,
portanto, cabe aos técnicos de história da arte, património cultural e arqueologia (entre
outros) efetuar investigações que possam determinar a extensão e datas dessas mesmas
intervenções.

Segundo Oleg Grabar a Cúpula do Rochedo é um edifício “falante” ou “gravador”,


na medida em que foram registados no próprio edifício (não necessariamente em zonas
visíveis ao público) imensas inscrições ao longo dos anos, por parte do califado omíada,
abássida e fatímida de modo a relatar a sua história.

A data de construção e o porquê da existência do edifício são claros, uma inscrição


com a data de construção é precedida com a frase “Construiu esta cúpula o servo de Deus
Abd al-Malik, Comandante dos Fiéis (...) que Deus aceite dele e fique satisfeito com ele”.

5
Figura 5 – Mosaicos com escritura de Abd al-Malik

Se recuarmos no espaço socioeconómico, o Jerusalém da época não era


necessariamente um grande centro onde houvesse uma grande indústria de construção ou
que fosse uma cidade cujo artesãos procurassem emprego, e, portanto, pode-se concluir
que a construção da Cúpula do Rochedo foi algo que exigiu um grande investimento
financeiro, apoio logístico e uma organização responsável pelo projeto.
É, portanto, a partir daqui que se pode questionar a origem monetária para a construção
da Cúpula, pois durante 12 anos após a morte de Mu‘awiyah (primeiro califa omíada) em
680, foram anos de disputas incessantes entre grupos na Península Arábica. Estas disputas
só acabaram com a derrota de Ibn al-Zubayr (Califa de Meca que rivalizou com os
omíadas) por parte de Al-Hajjaj (governador importante omíada) em 692, quando a
construção da Cúpula do Rochedo já estava concluída.

Na envolvente desta questão formula-se a teoria que a Cúpula do Rochedo teria


sido então construída mais cedo, não na época de Abd al-Malik mas sim no tempo de
Mu'awiyah. Esta teoria é elaborada na medida em que Mu'awiyah está muito mais
conectado a Jerusalém do que Abd al-Malik. Neste contexto, existe uma explicação para
o nome de Abd al-Malik estar na inscrição da construção da Cúpula do Rochedo, esta
teoria define que o edifício foi de facto construído na época de Mu'awiyah, mas que mais
tarde a decoração dos mosaicos tenha sido escolhida por Abd al-Malik e, portanto, o
próprio ordenou que o nome do mesmo estivesse na inscrição.

Características arquitetónicas
A Cúpula do Rochedo possui uma planta octogonal cujas medidas são
aproximadamente 35 metros de altura e 54 metros de diâmetro. A planta é dividida pela
zona do ambulatório tanto interno como externo, por cima encontra-se o tambor que faz
a ligação para a cúpula no cimo sustentando-a respetivamente. O deambulatório faz parte
da planta da Cúpula para que as pessoas possam andar em volta para ver o interior. A
Cúpula do Rochedo apresenta uma arquitetura totalmente simétrica onde todos os seus
eixos são iguais inclusive as portas correspondem entre si as mesmas medidas estando

6
organizadas para os quatro pontos cardiais. A fachada da Cúpula do Rochedo tem o
objetivo de dar destaque à mesma, é importante frisar que apesar dos antecedentes
tipológicos existentes, o edifico da cúpula diferencia-se desses mesmos antecedentes.

Figura 6 - 1ª Representação da planta da Figura 7 - 2ª Representação da planta


Cúpula do Rochedo da Cúpula do Rochedo

É a partir das características arquitetónicas e decorativas da Cúpula do Rochedo


que se entende influências exteriores, é importante ressaltar que influência é algo que
existe sempre em todas as manifestações artísticas. A estrutura técnica e fonética é
baseada na linguagem de formas predominantes no mediterrâneo cristão primitivo, ao
contrário dos edifícios em paralelos onde encontra-se separação entre feitos exteriores e
interiores.

Decoração
Em termos decorativos, com uma análise mais profunda pode-se afirmar que a
maior parte dos temas decorativos dos mosaicos são de origem mediterrânica e é possível
observar tipos de mosaicos constituídos por motivos vegetais. Dentro dos seus conjuntos
existe pedras valiosas e madrepérolas, puramente decorativas, é possível ver joias como
brincos, braceletes, colares e coroas, introduzidos na decoração dos mosaicos que podem
ajudar a explicar o motivo da construção da Cúpula. As joias estão presentes
exclusivamente na fachada interna do colonato octogonal e do tambor, são adaptadas e
colocadas nas bases do esquema decorativo. Relativamente à decoração interna, as
paredes são cobertas por mosaicos com motivos vegetais, geométricos e inscrições.

7
Figura 8 - Foto do interior da Cúpula do Rochedo

A sua linguagem visual através da arte nas copas e na parte superior dos pilares
pois mosaicos e pinturas foram utilizados para mensagens visuais na arte cristã e clássica.
Verifica-se na decoração uma ausência de seres vivos nas suas decorações, com isso gera
várias teorias que tipo de mensagem se quer passar para o observador.

Figura 9 - Pintura da Cúpula do Rochedo com motivos vegetais

De acordo com Oleg Grabar há conjunto de formas, e influência bizantina que


podemos identificar nas colunas coríntias, recuperadas de edificações conquistadas, nos
mosaicos de fundo dourado presentes na parte inferior do edifício e no mármore
empregado como revestimento decorativo. Os mosaicos e azulejos azuis foram inseridos
numa época posterior pelos otomanos, por isso não é original da Cúpula do Rochedo.

8
O autor refere que a escolha dos símbolos bizantinos deu-se pelo desejo de mostrar
a derrota dos infiéis conduzidos ao grémio da verdadeira fé. No total seriam três inscrições
que foram analisadas, e o autor chega à conclusão de que o Califa (seja Abd al-Malik ou
Mu'awiyah) na época pretendeu consagrar o Islão como a nova fé.

Comparando algumas construções realizadas pelo império bizantino, observa-se


que as estruturas octogonais estavam presentes na Basílica de São Vital em Ravena (540
a.C.), que vale ressaltar que são edifícios com planta centralizada pois as superfícies
destacam-se relativamente às restantes, na Igreja da Ascenção em Jerusalém e no Qalat
Siman (476) na Síria. É importante referir também a semelhança no interior da Cúpula do
Rochedo e da Hagia Sophia (construção tipicamente bizantina).

Figura 10 - Basílica de São Vital em Ravena Figura 11 - Igreja de Ascensão


em Jerusalém

Figura 12 - Interior de Hagia Sophia

9
Conclusão
A Cúpula do Rochedo é então o exemplo perfeito de cruzamentos culturais e
interações históricas, na medida em que demonstra como o Islão interagiu cedo com as
culturas vizinhas e, portanto, tirou inspiração.
O facto de a Cúpula do Rochedo ter tido influências arquitetónicas exteriores como já foi
visto anteriormente, não pode ser visto como uma forma de menosprezar valor espiritual
do monumento. Aliás, um dos segredos para o grande poder do Califado Umayyad e
Abaasid foram a sua predisposição de poder aprender com os seus concorrentes.

10
Bibliografia
GRABAR, Oleg – The Formation of Islamic Art. USA: Yale University, 1973. ISBN 0-
300-02187-9.
GRABAR, Oleg - The Meaning of the Dome of the Rock in Jerusalem. In Constructing
the Study of Islamic Art. Hampshire: Ashgate Publishing Limited, 1998. pp. 143-158.

11

Você também pode gostar