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CATARINA

DE BRAGANÇA
‘GOD (DON’T) SAVE
THE QUEEN’
Diz-se que introduziu o chá, o tabaco e os talheres em Inglaterra.
Mas a mulher de Carlos II era perseguida e caluniada na corte de Londres
Por Luís Almeida Martins

N
a noite de 13 de maio de 1662 de- Catarina de Bragança e Carlos Stuart casa- desde que, no século XVI, Henrique VIII cor-
sembarcou em Portsmouth uma ram-se em Portsmouth em duas cerimónias tara os laços com Roma e se declarara chefe
jovem portuguesa de 22 anos. separadas: uma católica e outra anglicana. da igreja nacional, prerrogativa extensível aos
A viagem durara um mês e dei- A entrada do casal real em Londres, capital e seus sucessores.
xara-a muito abalada, e por isso maior cidade da Inglaterra (teria meio milhão
pediu que a deixassem descansar de habitantes) fez-se com pompa, mas o entu- A diplomacia em ação
antes de seguir para Londres. Ali, as pessoas siasmo popular não era grande. Pairava ainda Quando Catarina nasceu, em 25 de novembro
falavam uma estranha língua. Naquele tem- no ar um cheiro a morte, pois uma recente de 1638, o pai ainda não era rei de Portugal,
po, antes da explosão global britânica dos epidemia de peste fizera numerosas vítimas. mas «apenas» duque de Bragança. A me-
séculos XVIII e XIX, praticamente só os E, depois, aclamar uma «papista» não era coi- nina veio ao mundo no paço ducal de Vila
ingleses sabiam falar inglês. sa que motivasse o povo britânico. Catarina era Viçosa, a residência da casa de Bragança.
A jovem portuguesa chamava-se Catarina. católica, ao passo que os seus novos súbditos Depois da revolução de 1640, D. João subiu
Viajara até à Grã-Bretanha para se casar, mas praticavam maciçamente o culto anglicano, ao trono e o país libertou-se do domínio dos
nunca vira o futuro marido. Só o conheceria reis espanhóis.
quando este a foi visitar a Portsmouth, uma Na Guerra da Restauração, que durante
semana depois. Carlos – assim se chamava o 28 anos (1640-1668) opôs o país restaurado
noivo – vinha acompanhado de uma grande à Espanha, Portugal procurou alianças com
comitiva. Não admira, pois era o rei daquele outros países também interessados em en-
país. Catarina de Bragança, filha do rei por-
Catarina e Carlos II fraquecer o poderoso vizinho. O mais lógico
tuguês D. João IV e da rainha consorte (es- casaram-se pelos ritos seria garantir o apoio da França contra o
panhola) D. Luísa de Gusmão estava, pois, anglicano e católico. inimigo comum. Houve, assim, a ideia de
destinada a ser rainha de Inglaterra. Mas não A portuguesa nunca casar Catarina com um neto bastardo do
sabia ainda que iria ser pouco feliz durante a antigo rei Henrique IV de França, mas as
sua estada de três décadas na Grã-Bretanha.
foi apreciada negociações não resultaram.
Mas, sobretudo, ignorava ainda até que ponto pelos seus súbditos, Em 1659 pensou-se no casamento da
iria influenciar os usos e costumes dos ingleses. por ser «papista» princesa, então com 21 anos, com o próprio

VISÃO H I S T Ó R I A 19

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