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Antónia percebeu cedo que o que a sepa-

Retrato rava do marido era maior do que aquilo que


Óleo de D. Antónia, os unia. A vida de luxo e de ostentação e as
já septuagenária, pintado
grandiosas festas que António Bernardo or-
por Manuel António
de Moura em 1888 ganizava deram-lhe a alcunha de «Farrobo do
Porto». A fama de dandy quase fez esquecer o
impulso que imprimiu ao negócio, aumentan-
do a exportação de vinho, adquirindo novas
terras e investindo na área financeira (foi
um dos fundadores e maiores acionistas do
primeiro banco da cidade, o Banco Comercial
do Porto). A sua gestão deu projeção social
ao nome da Casa Ferreira, como sustentam
Gaspar Martins Pereira e Maria Luísa de
Olazabal, em Dona Antónia (ed. Casa das
Letras/Sogrape, 2011).
Quanto morreu de sífilis, em novembro
de 1844, com apenas 32 anos, já o casal vivia
vidas separadas. Antónia estava em casa dos
pais com os filhos, apenas saindo da Quinta
de Travassos para ir a banhos. O marido con-
tinuava a habitar a Casa de Vilar, no Porto,
onde mandara construir um teatro privado
para representações e «principescas festas».

Viúva e abastada
Viúva aos 33 anos, D. Antónia enfrentará so-
zinha as adversidades do Douro. Em meados
dos anos 1840, marcados pela instabilidade
política e pela guerra civil da Patuleia, a di-
versificação e a orientação para o risco que o
primeiro marido imprimiu à Casa Ferreira
serão substituídas por uma estratégia mais
prudente, assente na atividade que conhecia
melhor: a produção e venda de vinho.
Conservando apenas as quintas e os enor-
mes stocks de vinho nos armazéns de Gaia,
desfez-se de tudo o que lhe lembrava a vida
faustosa do falecido marido: o casarão de
Vilar com o seu teatro privado, os cavalos, as
carruagens, as mobílias, os quadros e a biblio-
teca com mais de dois mil volumes. Atingido
o equilíbrio financeiro a partir da década de
1850, o seu espírito de iniciativa deu-lhe a
visão que faltava a outros para acreditar e
investir na região.
«Apesar de ser católica, era calvinista. Era
austera e tinha hábitos de trabalho muito
incutidos. Ia acumulando riqueza mas não
esquecia a caridade para com os pobres. Le-
vava uma vida muito simples para uma pessoa
tão rica», considera Francisco de Olazabal,
trineto de D. Antónia.

VISÃO H I S T Ó R I A 29

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