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Resumo
Tem sido proposto que a atividade física e exercícios físicos seriam um meio eficiente e de baixo custo para a
prevenção dos déficits cognitivos vistos no processo de envelhecimento. Nesse contexto, a atual revisão objetiva
avaliar as evidências dos benefícios da atividade física e dos exercícios físicos sobre a memória de idosos. Foram
acessados artigos que analisaram os efeitos de um estilo de vida ativo sobre a memória, bem como a resposta
aguda e crônica da memória aos exercícios aeróbios e resistidos, as comparações dos efeitos destas modalidades de
exercícios sobre a cognição e as diferentes combinações dos componentes do exercício sobre a memória. Conclui-
se que existem fortes evidências de que a atividade física e os exercícios promovem benefícios à memória, porém
ainda existem lacunas no conhecimento.
Palavras chave: atividade física; exercício físico; memória; cognição; envelhecimento.
Abstract
Has been proposed that physical activity and physical exercise can promove an effective means with low cost for the
prevention of cognitive deficits in the ageing process. In this context, the current review aim to assess the evidences
of benefits from physical activity and exercise to aging memory. Were accessed studies that examine the effects of
an active lifestyle on memory as well as the acute and chronic, aerobic and resistance exercise on memory’s answer,
the effects’ comparisons of these exercises modalities on cognition and the different combinations of exercise
components on the memory. Concluded that there is compelling evidence that physical activity and exercises
promoting benefits to memory but there are many gaps in knowledge.
Key Words: physical activity, physical exercise, memory, cognition, ageing.
Resumen
Ha sido propuesto que la actividad física y los ejercicios físicos serían eficientes y de bajo costo en al prevención
de los déficits cognoscitivos observados en el proceso de envejecimiento. En este contexto, la presente revisión
tiene como objetivo evaluar pruebas de las ventajas de la actividad física y de los ejercicios físicos en la memoria
Programa de Mestrado em Psicologia, UCDB - Campo Grande, MS
de ancianos. Han sido revisados artículos que han analizado los efectos de un estilo de vida activo en la memoria,
así como la respuesta aguda y crónica de la memoria a los ejercicios aeróbicos y de resistencia, las comparaciones
de los efectos de estas clases de ejercicios en la cognición y las diferentes combinaciones de los ejercicios sobre la
memoria. Se ha concluido que ha fuertes evidencias de que la actividad física y los ejercicios promueven beneficios
a la memoria, sin embargo todavía hay vacíos en el conocimiento.
Palabras clave: actividad física; ejercicio físico; memoria; cognición; envejeciéndo.
era relacionar as ATF, como caminhadas e atividades e demonstraram que os melhores desempenhos nas
de baixa intensidade (alongamentos e yoga, por tarefas cognitivas estavam relacionados aos maiores
exemplo), com o funcionamento cognitivo. Além níveis de ATF. No estudo de Newson e Kemps (2006)
dos questionários para avaliação cognitiva e de ATF foram aplicados testes cognitivos de complexidade
os pesquisadores estimavam ainda o gasto calórico diferentes e os pesquisadores observaram que o bom
despendido em atividades de vida diária. Os resultados desempenho nas tarefas mais complexas estavam
demonstraram uma relação inversa entre os níveis fortemente associadas às maiores freqüências de ATF
de ATF e declínio cognitivo. Especificamente, as e de atividades cognitivas.
voluntárias com altos níveis de ATF pareciam serem
três anos de idade mais jovem e tinham 20% menos Efeitos do exercício aeróbio sobre a memória
chances de desenvolver déficits cognitivos. Tem sido proposto que mesmo uma sessão de
Estudos ainda sugerem que os benefícios da ATF exercício aeróbio é capaz de alterar o funcionamento
sobre a memória sejam mais evidentes após a 5ª da memória. Netz, Tomer, Axelrad, Argov e Inbar
década de vida. Pesquisadores avaliaram a freqüência (2007) observaram melhoras cognitivas em idosos
de atividades de lazer e ATF de 1.919 sujeitos a partir cinco minutos após a realização de exercícios aeróbios
dos 36 anos de idade que foram submetidos a testes em intensidade de 60 ou 70% da Freqüência Cardíaca
cognitivos aos 43 e 53 anos. Aos 43 anos observou- Reserva (FCR) durante 35 minutos. Recentemente,
se que àqueles com piores desempenhos cognitivos Kamijo, Nishihira, Higashiura e Kuroiwa (2009)
eram os voluntários que menos praticavam atividades avaliaram a memória dois minutos depois de idosos
de lazer e ATF. Além disso, embora os participantes e jovens realizaram 20 minutos de exercícios a
que praticavam atividades de lazer tivessem melhor 30 e 50% do VO2máx em dias separados. Como a
desempenho do que aqueles que praticavam ATF magnitude dos benefícios pós exercício em relação ao
foi a associação entre ambas as atividades que pré exercício foram similares entre jovens e idosos, os
demonstraram os melhores resultados. No entanto, autores propuseram que o efeito agudo do exercício
quando os voluntários foram avaliados aos 53 sobre a cognição pode ser observado em todas as
anos de idade, aqueles que praticavam exercícios, faixas etárias.
independente das atividades de lazer, apresentavam Por sua vez, o treinamento com exercícios
as menores taxas de declínio da memória (Richards, aeróbios tem demonstrado algumas controvérsias.
Hardy & Wadsworth, 2003). No estudo de Kara, Pinar, Uğur e Oğuz (2005),
45 mulheres saudáveis com idades entre 60 e 80
Estudos transversais anos que foram submetidas ao treinamento aeróbio
As diversas variáveis nos estudos transversais com exercícios calistênicos, três vezes por semana
demonstram que os benefícios da ATF sobre a durante quatro meses, apresentaram uma correlação
memória podem estar relacionados com a manutenção significante entre a melhora da capacidade aeróbia e
da saúde cardiovascular, estilo de vida (Gallucci et da cognição. Fabre, Chamari, Mucci, Massé-Biron e
al., 2009), ou com a funcionalidade. Kimura et al. Préfaut (2002) compararam quatro grupos de idosos:
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(2009) mediu esse último parâmetro em 147 idosos exercícios aeróbios, treinamento mental, combinado
com idade de 60 anos ou mais e encontrou uma (treinamento mental e exercícios aeróbios) e um
correlação significante com a memória. Entendeu-se grupo controle. O grupo de exercícios aeróbios e
por funcionalidade neste estudo, o tempo necessário o grupo combinado realizaram seus treinamentos
para os voluntários se levantarem de uma cadeira e com intensidade equivalente ao limiar ventilatório
caminharem naturalmente por três metros, retornarem um por uma hora semanal durante dois meses. No
e sentarem novamente na cadeira. Os pesquisadores mesmo período, o grupo de treinamento mental e o
concluíram que a manutenção da mobilidade física combinado foram submetidos a 90 minutos semanais
pode diminuir a velocidade de declínio da memória de uma terapia que visava estimular a memória a
no processo de envelhecimento. partir de estímulos auditivos e visuais. O grupo
Metodologia semelhante foi utilizada por Nieto, controle realizou várias outras atividades como
Albert, Morrow e Saxton (2008), que observaram que pintar ou cantar. Ao final do estudo, somente o grupo
os voluntários com os menores índices de memória e controle não apresentou melhoras na memória, sendo
funções executivas apresentavam valores até quatro que os melhores resultados foram obtidos pelo grupo
vezes menores de função dos membros inferiores. de atividades combinadas (exercício e treino mental).
Nos estudos de Lambourne (2006) e de Newson e Porém, quando comparada à evolução da memória
Kemps (2006), a freqüência de ATF (corrida, natação entre os grupos de atividades aeróbias e mentais, os
e jogos) e de atividades de lazer (prática de leitura melhores resultados foram observados no grupo que
de livros, caça-palavras e estudo) foram avaliadas realizou exercícios.
por meio de questionários em voluntários de ambos A controvérsia fica por conta do estudo de Madden,
os gêneros, com idades entre 18 e 92 anos. Os Allen, Blumenthal e Emery (1989), que apesar de
resultados foram comparados aos testes cognitivos utilizarem um programa de treinamento similar ao de
Tabela 1
Efeitos do treinamento com exercício aeróbio sobre a memória
Autor Voluntários Prog. treino Resultados
4 meses, 3Xsem
Mulheres
Kara et al, 2005 20-30 min melhora aeróbia = melhora cognição
60-80anos
60-70% FCmáx
Ambos melhora condição aeróbia = melhora
Fabre et al, 2002 2 meses, 1h/semana, LV1
60-70 anos memória
4 meses
Madden et al, Ambos 3Xsem, 45min melhora VO2
1989 65-83 anos (30’esteira e 15’ jogos porém sem melhoras cognitivas
lúdicos), 70%FCmáx
No entanto, este achado não foi corroborado em tempo que os participantes pedalaram, fato que não
um estudo mais recente com idosos saudáveis de ocorreu quando os sujeitos pedalaram por 23, 57 e 110
ambos os gêneros, com 60 a 85 anos, não participantes minutos a 50% da FCmáx (Higashiura et al., 2006).
de programas de treinamento físico (sedentários). Os Porém, uma associação entre a freqüência do treino
voluntários foram distribuídos aleatoriamente em e melhoras cognitivas foi encontrada em 71 sujeitos
três grupos que foram submetidos a nove semanas de com idades entre 18 e 70 anos que completaram 10
exercícios aeróbios, exercícios de força ou ausência semanas de treinamento aeróbio. Os voluntários
de exercício. O programa de exercícios aeróbios praticaram exercícios de três a quatro ou de cinco a
consistia de caminhada na esteira em intensidade de seis dias por semana a uma intensidade de 70-85% da
70% da FCR, três dias por semana. A duração dos FCmáx durante 30 a 45 minutos. Durante o mesmo
exercícios iniciou com 20 minutos e foi aumentada período, 20 sujeitos que reportaram realizar exercícios
em cinco minutos a cada sessão até que os voluntários menos de duas vezes por semana serviu como grupo
pudessem caminhar por 50 minutos. O programa controle. Ao final do estudo aqueles que praticavam
de exercício resistido consistia de 12 repetições de três a quatro e de cinco a seis vezes por semana
de sete aparelhos diferentes que foram realizados demonstraram significante melhoras cognitivas,
em duas séries na primeira semana e três séries a incluindo da memória. No entanto, as melhoras de
partir da segunda semana. A carga, que inicialmente maior magnitude foram observadas naqueles que se
representava 60% de 1RM, foi incrementada em 5% a exercitaram mais de cinco vezes por semana (Masley,
cada duas semanas até que fossem atingidos 80% de Roetzheim & Gualtieri, 2009).
1RM. Ambos os grupos de exercício melhoraram seu Em outro estudo, foram analisados os efeitos do
desempenho cognitivo, porém, os melhores resultados exercício realizado em dias separados em intensidade
foram vistos no grupo que realizou exercícios leve, moderada e alta. Sujeitos com idades entre 22 e 30
resistidos (Özkaya et al., 2005). anos foram avaliados através de eletroencefalograma
durante testes cognitivos em níveis de dificuldades
Componentes para o planejamento de um diferentes, realizados antes e imediatamente depois
programa de treinamento: intensidade, freqüência dos exercícios. Os resultados demonstraram que
e duração dos exercícios após os exercícios realizados em intensidade leve e
De forma geral algumas considerações são moderada, a atividade eletroencefalográfica teve um
necessárias quanto à intenção de planejar e prescrever aumento de sua amplitude em relação ao período pré
atividades físicas, seja às pessoas saudáveis ou em exercício, fato que não ocorreu após o exercício em
casos especiais. As diferentes combinações entre intensidade alta, indicando que deve haver um ponto
estes exercícios implicarão em diferentes resultados. A na intensidade de execução do exercício em que a
freqüência do exercício refere-se ao número de vezes resposta cognitiva deva alcançar seu ápice e a partir
que o indivíduo se exercita por semana. A duração daí, iniciar um declínio (Kamijo et al., 2009). Fato
refere-se ao tempo despendido na execução de um semelhante aconteceu com atletas recreacionais (não
exercício específico ou de uma sessão de exercícios. competitivos) submetidos a um protocolo de exercício
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A intensidade, por sua vez, implica no componente em cargas crescentes até atingir o VO2máx. Após o
qualitativo do treinamento, que está envolvido com exercício, houve uma queda no desempenho cognitivo,
a quantidade de trabalho realizado por unidade de sobretudo da memória quando comparados com os
tempo, assim, quanto mais trabalho em uma unidade resultados pré exercício ou com o grupo controle
de tempo fechada, maior será a intensidade (Dantas, (Covassin, Weiss, Powell & Womack, 2007).
2003).
Neste sentido, alguns estudos objetivaram Discussão e conclusão
identificar quais destes parâmetros influenciam a
cognição. Um deles comparou as respostas sobre ATF Existem fortes evidencias de que a ATF exerce
com testes cognitivos de 1.972 sujeitos com idades efeitos benéficos sobre a memória. Seja em idosos ou
entre 45 e 70 anos. Com base nas respostas dadas nos adultos, os resultados são favoráveis à afirmação de
questionários, era possível presumir a intensidade e o que um estilo de vida que inclui ATF deve ser adotado
tempo total com que os voluntários realizavam suas para a prevenção dos declínios cognitivos vistos no
ATF semanalmente. Os resultados demonstraram processo de envelhecimento. Tal afirmação corrobora
que os melhores desempenhos cognitivos estavam os resultados da revisão de Jedrziewski, Lee e
relacionados significantemente à intensidade e não à Trojanowski (2007), que vai mais além, incluindo que
duração da ATF (Angevaren et al., 2007). A mesma a caminhada parece ser uma atividade aeróbia efetiva
conclusão havia sido encontrada anteriormente para uma cognição saudável. Na mesma direção,
quando adultos jovens pedalaram a 80% da FCmáx Hillman, Erickson e Kramer (2008) apontam que a
durante sete, 20 e 40 minutos em dias diferentes. Os ATF é o grande segredo para o bem estar cognitivo
pesquisadores encontraram melhoras cognitivas em de todas as faixas etárias. Peters (2006) revisou o
relação ao período pré exercício, independente do que se deve fazer para um envelhecimento biológico
saudável e levantou que dentre a alimentação (2009) confrontam-se com os de Pontifex et al (2009),
adequada, baixo ou moderado consumo de bebida Angevaren et al. (2008) e Kamina et al. (2007).
alcoólica, abstinência de fumo e a ATF, a última A comparação entre programas de exercícios
ocupa um lugar de destaque, mostrando-se capaz de resistidos e exercícios aeróbios foi feita por Özkaya et
amenizar o declínio celular no cérebro. al. (2005) e Blumenthal e Madden (1988). Apesar de
Por sua vez, programas de exercícios aeróbios ambos os estudos demonstrarem que tanto o exercício
têm demonstrado algumas divergências quanto a aeróbio quanto o resistido resultam em benefícios
seu benefício sobre a memória de idosos. Enquanto na memória dos voluntários, o primeiro encontrou
em alguns estudos (Kara et al., 2005; Peters, 2006), superioridade no programa de exercícios resistidos
três meses de um protocolo de treinamento foram sobre os aeróbios e o segundo, não encontrou
suficientes para melhorar a cognição em outro estudo, diferença alguma entre os exercícios aeróbios e
umprotocolo similar de seis meses não demonstrou os anaeróbios realizados com halteres. Portanto,
evolução positiva (Madden et al., 1989). Apesar disso, apesar destas comparações deixarem poucas e vagas
em sua revisão, Angevaren, Aufdemkampe, Verhaar, evidências, pesam em favor dos exercícios resistidos
Aleman e Vanhees (2008), encontraram evidências para o benefício da memória de idosos.
de que a melhora cardiovascular se relaciona às Por sua vez, apenas um trabalho, realizado com
melhoras cognitivas eenfatizando que as diferenças jovens, comparou os efeitos agudos promovidos pelo
entre os testes utilizados para acessar os domínios exercício resistido e aeróbio sobre a memória. Os
cognitivos nos estudos anteriores podem responder resultados demonstraram que apenas os exercícios
pelos resultados contraditórios encontrados. aeróbios melhoraram a memória. Apesar da
As mesmas afirmações têm sido feitas por autores impossibilidade de evidenciar a superioridade de um
que avaliam os resultados agudos do exercício aeróbio tipo de exercício sobre o outro quanto ao benefício
sobre a cognição (Kamijo et al., 2007; Pontifex et à memória, o estudo suporta a hipótese de que a
al., 2009), justificando que os resultados dependem intensidade do exercício resulta em funcionamento
da intensidade do exercício e exigência cognitiva da cognitivo diferente em função da complexidade
tarefa. Além disso, Higashiura et al. (2006) levantam a da tarefa exigida (Pontifex et al., 2009), portanto,
hipótese da existência de uma curva em “U” invertida contrariando a hipótese de que pode haver respostas
no desempenho da memória em relação à intensidade diferentes segundo a complexidade dos testes em
do exercício realizado, fato que, se confirmado, relação à intensidade do exercício (Kamijo et al., 2007;
mudará o rumo dos estudos em exercícios físicos, Higashiura et al., 2006). Fato comum é que ambas
memória e indivíduos idosos. No entanto, é plausível (e reforçam a crença na existência de uma interveniência
seguro) afirmar que os exercícios aeróbios realizados não controlada que levanta a necessidade de revisar
em intensidades moderadas apresentam resultados na literatura os tipos de testes usados para acessar
positivos sobre a memória em qualquer faixa etária os diferentes domínios cognitivos e comparar suas
(Netz et al., 2007; Kamijo et al., 2009). respostas pareadas pela intensidade. Contudo, este
Trabalhos que acessaram os efeitos dos programas não era o objetivo do trabalho atual.
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de treinamento com exercícios resistidos sobre a Quanto aos componentes para planejamento e
memória são escassos e apenas o rigor metodológico prescrição adequada de um programa de treinamento/
do trabalho conduzido por Cassilhas et al. (2007), tratamento com exercícios para beneficiar a memória,
contribuiu para afirmar o benefício do treinamento nota-se que ainda não há elementos suficientes para
com exercícios resistidos sobre a memória. Apesar fazer recomendações. Os trabalhos são escassos e
das diversidades metodológicas, em sua revisão, Liu- ainda não há como comparar os resultados para inferir
Ambrose e Donaldson (2009), concluem que existem duração, freqüência ou intensidade.
evidências de que programas de exercícios resistidos O treinamento aeróbio proposto por Masley et
atuam de forma positiva sobre a memória de idosos. al. (2009), concluiu que a freqüência de cinco a seis
Quanto às respostas agudas do exercício vezes por semana traz o melhor benefício quando
resistido sobre a memória, apenas dois trabalhos combinado a uma intensidade de 70-85% da FCmáx e
foram encontrados. Assim, apenas Chang e Etnier a duração 30-45 minutos, porém, os resultados ainda
(2009), demonstraram que uma sessão de exercícios são únicos e podem até ser vistos como controversos,
resistidos, com intensidade de 75% de 1RM é se levarmos em conta que Angevaren et al (2007)
suficiente para promover melhoras na memória e calculou o tempo semanal despendido na realização
alguns outros domínios cognitivos. Há, porém, a da ATF e quando comparado com a intensidade,
necessidade de chamar a atenção ao fato de não terem concluiu que a manipulação deste segundo traz mais
sido observadas melhoras em todos os domínios benefícios à cognição do que o tempo semanal gasto
cognitivos, despertando, a hipótese de que pode haver na ATF .
uma especificidade de resposta para alguns deles. É De outra forma, é proposto a existência de um
importante para o momento, que seja atentado a tal ponto ideal da intensidade para as melhores respostas
evento, uma vez que os achados de Chang e Etnier agudas da memória ao exercício aeróbio. Tal ponto
parece surgir em uma intensidade entre moderado e and Geriatrics, 48 (3), 284-286.
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Há de se destacar, no entanto, que até o momento Guzowski, J. F., Lyford, G. L., Stevenson, G. D., Houston,
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Por fim, conclui-se que existem fortes evidências of Neuroscience, 20 (11), 3993–4001.
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Sobre os autores
Helder Chiari - Centro de Estudos em Psicobiologia e Exercício - CEPE, Universidade
Federal de São Paulo, UNIFESP
Agradecimentos
Os autores agradecem o apoio técnico e financeiro da AFIP, CEPE, CEMSA, CEPID-
SONO/FAPESP (processo número: 1998/14303-3) CNPq, INSTITUTO DO SONO e a
FADA/UNIFESP.