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AGRICULTURA URBANA E PERIURBANA: LIMITES E POSSIBILIDADES DE CONS-


TITUIÇÃO DE UM SISTEMA AGROALIMENTAR LOCALIZADO NO MUNICÍPIO DE
TERESINA – PI

Urban and peri-urban agriculture: limits and possibilities of setting up of agrifood


system in the municipality of Teresina-PI
Sergio Luiz de Oliveira Vilela
Embrapa Meio-Norte, Área de Socioeconomia, Engenheiro Agrônomo, Pesquisador Dr. em Ciências Sociais. Teresina-Piauí, Brasil.
E-mails: sergiovilela13@yahoo.com.br; sergio.vilela@embrapa.br.

Maria Dione Carvalho de Moraes


Universidade Federal do Piauí, Departamento de Ciências Sociais, Socióloga, Profa. Dra em Ciências Sociais. Teresina-Piauí, Brasil.
E-mail: mdione@superig.com.br.

Resumo: Este artigo trata da importância da Abstract: This article call the attention to the importance
Agricultura Urbana e Periurbana (AUP), em especial, of Urban and Periurban Agriculture – UPA in particular
dos desafios de sua gestão e a decorrente necessidade the challenges of management and the resulting need
de institucionalização de um Sistema Agroalimentar for institutionalizing a Agrifood System Located –
Localizado (SAL) como instrumento desta gestão, SAL – as a tool of this management, aiming to situate
visando a situar esta atividade produtiva na agenda this productive activity on the agenda of development
de políticas de desenvolvimento. Em Teresina, a policies. In Teresina, the concentration of 46 gardens,
concentração de 46 hortas, ocupando quase 140 occupying almost 140 acres within the same city,
hectares, no interior de uma mesma cidade, apresenta presents the basic requirements for the establishment of
os requisitos básicos para a constituição de um a SAL. The relevant literature, combined with empirical
SAL. A pesquisa bibliográfica pertinente, aliada ao knowledge of reality, made ​​it possible to conclude that
conhecimento empírico da realidade, possibilitou the adoption of a SAL – not reducible to the case of
concluir que a adoção de um SAL – não redutível ao Teresina – puts as fruitful measure to this city, to face
caso de Teresina – coloca-se como medida profícua the necessary changes within the UPA, as significant
para, nesta cidade, fazer frente a transformações part of the agenda of municipal planning.
necessárias no âmbito da AUP, como parte significativa
da agenda de planejamento municipal. Key words: Urban and Peri-urban Agriculture; Public
Policy; Food Security; Local Agri-food System.
Palavras-chave: Agricultura Urbana e Periurbana;
Políticas Públicas; Segurança Alimentar; Sistema
Agroalimentar Localizado.

Recebido em 11 de outubro de 2013 Rev. Econ. NE, Fortaleza, v. 46, n. 1, p. 97-114, jan. - mar., 2015
Aprovado em 2 de maio de 2014
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Sergio Luiz de Oliveira Vilela e Maria Dione Carvalho de Moraes

1 Introdução alimentar nos países em desenvolvimento. A isto,


somavam-se investidas baseadas na perspectiva de
A abordagem da temática Agricultura Urbana reduzir o gap protéico” (SALAY, 1993).
e Periurbana, na perspectiva de constituição de um Na primeira metade dos anos 1970, a Con-
Sistema Agroalimentar Localizado, deve conside- ferência Mundial da Alimentação, realizada em
rar que políticas de alimentação/nutrição, datam da Roma, em 1974, propôs tratar o problema nutricio-
segunda metade do século XX. Para Salay (1993) nal em contexto multidisciplinar, relacionando-o à
as ações, neste campo, podem ser, em larga medi- pobreza, e sugerindo soluções como a inclusão de
da, categorizadas em três períodos: um primeiro, objetivos nutricionais nas políticas de desenvolvi-
o das “abordagens estreitas”, vigoraria até início mento. “Ultrapassavam-se os limites do princípio
dos anos 1970 e, com predominância de propostas do efeito trickle-down, com diversas linhas volta-
de ações governamentais de teor limitado seja no das a pensar objetivos sociais nas políticas eco-
que tange à percepção das causas seja pelas medi- nômicas. Assim, crescimento com distribuição,
das sugeridas; um segundo momento, que a autora satisfação das necessidades básicas da população,
denomina “período da nutrição no contexto mul- ecodesenvolvimento, etc, passaram a fazer parte
tidisciplinar”, já nos anos 1970, quando se tentou dos debates na arena pública” (SALAY, 1993). A
a inclusão de objetivos nutricionais na política de FAO e a OMS desenvolveriam a Metodologia de
desenvolvimento, numa perspectiva multidisci- Estratégias de Alimentação e Nutrição no Desen-
plinar, fosse na apreensão da situação nutricional, volvimento Econômico que variou desde emprego
fosse na indicação de medidas de correção, com de classificação nutricional, a planejamento buttom
o foco nas causas da desnutrição como base para up. Nos anos 1980, observam-se respostas opera-
ações públicas de corte alimentar; em um terceiro cionais às dificuldades políticas e administrativas
momento, o dos “sistemas alimentares limitados e de implantar o planejamento nutricional integrado,
abrangentes”, nos anos 1980, o foco – com vistas além de novas variáveis na análise do problema
a uma política de alimentação – recaía na análise alimentar, como urbanização rápida, e participa-
de como os sistemas alimentares influenciavam na ção da mulher na força de trabalho. O foco passa a
desnutrição. ser segurança alimentar, com análises ora mais es-
Até os anos 1970, nos países em desenvolvi- treitas, ora mais abrangentes, do sistema alimentar
mento, modalidades diferenciadas de ações ocor- (SALAY, 1993).
reram, nos prenúncios do que hoje conhecemos A partir dos anos 1990, o conceito de seguran-
como Política de Segurança Alimentar. Algumas, ça alimentar e nutricional, usado pela primeira vez
pontuais: programas de suplementação alimentar, nos países europeus no pós-Segunda Guerra Mun-
em especial, através da merenda escolar – medidas dial, entra para a agenda de ações para redução
tomadas por países europeus no final do século de- da fome no período de ajuste estrutural (SOUZA;
zoito – e programas para grupos específicos, como BELIK, 2012), na América Latina, quando a re-
mães e crianças. Outras, desenvolvidas por orga- cessão econômica atingiu, com muita força, áreas
nismos internacionais no fomento a linhas de ação rurais desta região.
pública, voltaram-se para a oferta alimentar, em A partir de 2003, o governo brasileiro institu-
termos quantitativo e qualitativo, com o foco no cionalizou medidas baseadas em um conjunto de
déficit protéico. Por exemplo, o Plano Mundial In- discussões que vinham sendo desenvolvidas pela
dicativo para o Desenvolvimento Agrícola da FAO sociedade civil, sob a coordenação do Sociólogo
que investiria, ainda, na formulação de programas Herbert de Souza, Betinho, culminando na elabo-
de produção de alimentos, buscando situar os pla- ração do Projeto Fome Zero. A proposta original
nos de desenvolvimento agrícola no contexto de do projeto era a adoção de ações estruturadas e
planos de desenvolvimento econômico e social. estruturantes voltadas a um combate sistemático à
Assim, “o processo da Revolução Verde passou a fome, como mostra o quadro 1.
ser visto, tecnicamente, como resolução da crise

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Quadro 1 – Esquema das propostas do Projeto Pela primeira vez, no Brasil, o conceito de se-
Fome Zero gurança alimentar deixou de se restringir a ações
pontuais de combate à fome e passou a incorporar
Políticas Estruturais e institucionalizar um conjunto de instrumentos,
- Geração de renda e emprego
- Intensificação da reforma agrária programas, ações estruturantes (Programa “Luz
- Previdência social universal para Todos”; construção de cisternas no semiárido
- Bolsa escola e renda mínima brasileiro; aumento real do salário mínimo, de 350
- Incentivo à agricultura familiar
dólares em 2003, para 650 dólares em 2012) que se
Políticas específicas propunham a movimentar a estrutura da pirâmide
- Programa Cupom de Alimentação social, estreitando a sua base e alargando seu meio.
- Ampliação do PAT Embora dados atuais apontem para êxitos desta es-
- Doação cestas básicas emergenciais
- Combate à desnutrição infantil e materna
tratégia, ainda há programas que carecem de me-
- Manutenção de estoques de segurança lhor desempenho, dentre eles, os de abastecimen-
- Ampliação da merenda escolar to, educação alimentar e nutricional, e agricultura
- Segurança e qualidade dos alimentos
urbana (BELIK, 2012).
- Educação para o consumo e Educação alimentar
Nesta direção, a agricultura no meio urbano,
Áreas rurais Pequenas e Metrópoles segundo o Comitê de Agricultura (COAG, 1999),
- Apoio à agricul-
médias cidades
- Restaurantes pode contribuir significativamente para aumentar
tura familiar - Banco de ali- populares a quantidade de alimentos disponíveis, otimizar
- Apoio à mentos - Banco de ali- a oferta de alimentos frescos, oferecer oportuni-
produção para - Parcerias com mentos
autoconsumo varejistas - Parcerias com
dades de geração de ocupação e renda, ampliar
- Modernização varejistas a segurança alimentar, seja pelos alimentos que
dos equipamen- - Modernização possa produzir, seja por – através da geração de
tos de abasteci- dos equipamen- renda – possibilitar a aquisição dos não produ-
mento tos de abasteci-
- Novo relacio- mento zidos. Daí, ser um tema incorporado na agenda
namento com - Novo relaciona- pública voltada às questões relativas às novas re-
supermercados mento com as lações rural/urbano, das cidades e seu entorno, do
- Agricultura redes de super-
urbana mercados
desenvolvimento territorial, enfim, da produção e
consumo de alimentos, abastecimento, e sistemas
Fonte: Instituto Cidadania (2001). agroalimentares localizados.
Consoante com o exposto, o objetivo deste ar-
No início do primeiro governo (2003-2006) tigo é analisar limites e possibilidades da adoção/
do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi cria- incremento de políticas públicas de suporte à agri-
do o Ministério Extraordinário de Segurança Ali- cultura urbana e periurbana, de maneira a poten-
mentar e Combate à Fome (MESA). O principal cializar seu desenvolvimento. A abordagem, aqui
instrumento de intervenção deste ministério foi desenvolvida, é ilustrada a partir da experiência do
a reunião de vários mecanismos de transferência município de Teresina e busca oferecer bases para
de renda (Programas Bolsa Escola, Auxílio Ali- o debate público sobre a incorporação, pelos po-
mentação, e Vale Gás) em um único que passou deres públicos (municipal, estadual e federal), da
a se chamar Programa Bolsa Família, a partir de agricultura urbana e periurbana no planejamento
2003. Paralelamente, outros ministérios passaram territorial, na perspectiva de constituição de siste-
a construir novos instrumentos de intervenção, mas agroalimentares localizados.
como ocorreu no Ministério do Desenvolvimento A metodologia utilizada contempla uma trian-
Agrário, onde o principal programa voltado para a gulação de dados, a partir de revisão de literatu-
agricultura, o Pronaf1, foi ampliado e vários outros ra, pesquisa documental (dados secundários), e
foram criados. conhecimento empírico da realidade. Na revisão
de literatura, pela qual se organiza o referencial
1 Os recursos para financiamento da produção agrícola vinculados
ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
teórico sobre a temática, a categoria agricultura
(Pronaf) foram ampliados de cerca de R$ 2,5 bilhões, na safra urbana e periurbana foi conceituada com base em
2002/2003 para mais de R$ 21 bilhões, na safra 2013/2014, de fontes como: Margiotta (1997); Mougeot (2000);
acordo com http://www.fetaesc.org.br/noticias/plano-safra-traz-
Companioni, Páez, Ojeda e Murphy (2001); Dres-
mudancas-para-a-safra-201314/.

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cher (2001); Cabannes Y Dubbeling (2001); Aqui- processo, sobretudo, na medida em que a proble-
no (2002); GNAU (2002); Roese (2003); Silva mática da falta de alimentos entrou na agenda das
(2006); Aquino e Assis (2007); Locatel e Azere- grandes instituições mundiais e dos governos (PE-
do (2010); Rosa (2011); Vilela e Moraes (2013), REIRA et al., 2011). Nestas circunstâncias, dentre
PNUD (2013); RUAF Foundation, ([s/d]). No que as diversas possibilidades de combater a miséria e
concerne à categoria Sistema Agroalimentar Loca- a fome, as atividades desta agricultura tornam-se
lizado (SAL), esta tem base conceitual em Much- ferramentas estratégicas no enfrentamento de cer-
nik e Sautier (1999); Lins (2006); Specht e Rückert tas dimensões da questão social, sobretudo, rela-
(2008); Vilela e Moraes (2013). Fontes documen- cionadas à promoção de trabalho, emprego, renda,
tais: Teresina (1999); IBGE (2000; 2010); Teresi- e ao suprimento de carências alimentares. Práticas
na “Agenda-2015” (2002); Teresina/SDR (2011) e agrícolas urbanas, em suas variadas possibilidades
dados secundários de pesquisas Trajano e Lopes de produção de alimentos através de técnicas de
(2009), possibilitaram construir argumentos atra- hidroponia e de organoponia, em áreas com so-
vés do uso de quadros e tabelas. No que tange los poluídos ou de aterros, hortas caseiras, hortas
ao conhecimento empírico da realidade, visitas coletivas, produção de vegetais utilizando cercas
a hortas comunitárias em Teresina, reuniões com que circundam comunidades, cultivo hortícola em
horticultores e técnicos, e elaboração de projetos, vasos, em pneus, em garrafas tipo pet, criação de
possibilitaram levantamentos de informações para pequenos animais, existem, hoje, em várias cida-
construção de dados, com apoio da equipe técnica des do Brasil e do mundo, em escala que não mais
da Superintendência de Desenvolvimento Rural, pode ser subestimada.
da Prefeitura Municipal de Teresina, sob gestão/ Trata-se de uma atividade que aproveita espa-
coordenação de um dos autores deste artigo, para o ços domésticos e públicos para a produção de ali-
Programa de Desenvolvimento Rural – PDR (TE- mentos, plantas medicinais e ornamentais, além da
RESINA, 2011), de cuja elaboração ambos autores criação de pequenos animais. O conceito de agri-
participaram. cultura urbana amplia-se quando se incorporam as
O artigo está organizado em três seções, além contribuições desta prática para o meio ambiente
desta introdução: Na seção 2 são analisados os li- e para a saúde humana, para a segurança alimen-
mites e as possibilidades de utilização do conceito tar, para o desenvolvimento da biodiversidade, e
de “Sistemas Agroalimentares Localizados”, no melhor aproveitamento dos espaços (MACHA-
âmbito da agricultura urbana e periurbana, ten- DO; MACHADO, 2002). Dentre as categorias de
do como referência a prática desta atividade no produtos criados ou cultivados, observam-se múl-
município de Teresina. Na seção 3, focalizam-se tiplas possibilidades (Quadro 2).
condições concretas de implantação de um siste- Em que pese a presença incontornável da
ma agroalimentar localizado no município de refe- agricultura urbana e periurbana, no mundo con-
rência (Teresina), avançando-se para a proposição temporâneo, persiste a tradicional associação en-
de uma agenda de políticas públicas. Na seção 4, tre agricultura e meio rural no imaginário social,
são feitas as considerações finais na perspectiva de promovendo, nos dias atuais, certa “impressão de
uma síntese da análise proposta. incompatibilidade entre agricultura e meio urba-
no” (AQUINO; ASSIS, 2007, p. 138). Os concei-
2 Agricultura urbana como sistema tos de agricultura urbana e agricultura periurbana,
constituem um campo ainda difuso, sobretudo, no
agroalimentar localizado
que tange à efetivação de políticas públicas, em
que pese a inegável importância e presença desta
2.1 Sobre a importância crescente da agri-
agricultura no mundo contemporâneo, despertan-
cultura urbana e periurbana do crescente interesse de gestores públicos, pes-
quisadores e responsáveis por elaboração dessas
No contexto atual de progressiva intensifica- políticas2.
ção da urbanização, a presença da agricultura ur-
bana e periurbana ressurge, no mundo, como uma 2 Ver: http://www.agriculturaurbana.org.br/RAU/AUrevista.html,
das respostas a problemas gerados por este mesmo Machado e Machado (2002), FAO (1999).

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Quadro 2 – Sistemas de produção e produtos da agricultura urbana e periurbana

Sistemas Produtos Localização Técnicas


Peixes, frutos do mar, algas Lagos, riachos, estuários, Criação em gaiolas ou
Aquicultura
marinhas lagunas e zonas pantanosas em viveiros
Agrícolas, frutos, flores e Jardins, parques, espaços Cultivo protegido, hortas,
Horticultura
medicinais urbanos rurais e peri-urbanos hidroponia e canais de cultivo
Combustíveis, frutas, Ruas, jardins, áreas de
Arborização de ruas
Agrofloresta sementes, compostos, encostas, cinturões verdes,
Implantação de pomares
materiais para construção parques e zonas agrícolas
Leite, ovos, carne, estrume, Áreas de encostas e
Criações Criação em confinamento
peles e pelo espaços periurbanos
Cultivo protegido, plantas
Plantas ornamentais,
Diversificados Serras e parques envasadas e canteiros
flores e plantas exóticas
suspensos

Fonte: Vilela e Moraes (2013), com base em Margiotta (1997).

De todo modo, são categorias identificáveis paradoxo entre a tendência de adensamento habi-
em um lugar no qual a agricultura integra-se ao tacional no espaço urbano que traz consigo a cres-
sistema econômico e ecológico urbano e, ao mes- cente valorização do solo urbano, a poluição do ar
mo tempo, interrelaciona-se à agricultura rural nos grandes centros, a pressão sobre o uso da água
(ADAM, 1999; MOUGEOT, 2000). Sobretudo potável, a violência urbana crescente, a intensa
nos grandes centros, a dificuldade de definição pressão política favorecida pela proximidade do
acentua-se pelo fato de o ambiente rural ser per- aparelho estatal.
cebido, ainda, de forma distorcida como espaço Esta realidade contemporânea traz desafios
homogêneo e subdesenvolvido, atrasado, rústico, práticos, políticos, socioeconômicos, culturais os
rude ou simplesmente agrário (ALBUQUERQUE; quais, por sua vez interpelam as teorias a produ-
PIMENTEL, 2004; MORAES, 2011). zirem novas ferramentas conceituais na aborda-
Ao mesmo tempo, em especial, no campo das gem deste fenômeno de significativa relevância
ciências sociais (WANDERLEY, 2000; SILVA, multidimensional. Impõe-se refletir sobre esta re-
2002; VEIGA, 2002; CARNEIRO, 2012; MORA- alidade, buscando pistas para o debate público do
ES, 2011; MORAES; VILELA, 2013; WANDER- tema, alinhavando novas possibilidades de melhor
LEY; FAVARETO, 2013), a relação urbano-rural compreensão da situação com vistas à construção
vem recebendo novas análises, no sentido de estes de políticas públicas consequentes. O desafio am-
espaços não serem mais vistos de forma dicotômi- plia-se, principalmente, quando se tem em conta
ca mas, sim, complementar: cidade e seu entorno; a multiplicidade de características da agricultura
campo e cidade. Neste contexto, temas como agri- urbana e periurbana, em função da localização ge-
cultura urbana, agricultura periurbana, e agricul- ográfica, do caráter de pertencimento do solo (pú-
tura rural, também entram em diálogo, no plano blico ou privado), das especificidades sociocultu-
conceitual, para além das tentativas simplistas de rais de produtores envolvidos, da sua relação com
opor políticas sociais e políticas econômicas, res- o poder público em cada local, entre outros fatores.
pectivamente, relacionadas à agricultura urbana As nuances contemporâneas da agricultura urba-
e à agricultura rural. A existência de redes como na e periurbana, como objeto de estudo, provocam o
a Resource Center on Urban Agriculture & Food debate político e acadêmico, na perspectiva de inserir
Security (RUAF) é um exemplo desta mirada, tan- tal atividade, definitivamente, nas agendas de plane-
to pela própria existência da rede quanto pela pu- jamento e gestão pública, bem como contribuir para
blicação da Revista de Agricultura Urbana (Urban ampliação da reflexividade sobre o tema, com base
Agriculture Magazine), digital, que funciona como em casos concretos. Sobretudo, considerando que a
plataforma de trocas de informações (pesquisas, prática da agricultura urbana e periurbana dá-se em
experiências, projetos, análises de políticas) e de- um ambiente sociopolítico diferente do da agricul-
bates sobre agricultura urbana e periurbana. tura rural e, ao mesmo tempo, em uma situação de
A complexidade do tema recrudesce no atual complementaridade, porquanto não se trata de subs-
momento histórico tendo em vista um aparente tituir a agricultura rural pela urbana e periurbana.

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2.2 Desafios à prática da agricultura urba- trabalho. Essa população, em situação de limina-
na e periurbana ridade socioeconômica, busca estratégias de so-
brevivência, dentre as quais práticas provenientes
No imaginário social – incluindo-se o da ges- de modos de vida rurais, como o cultivo agrícola,
tão pública – perdura até os dias atuais uma visão com vistas à sobrevivência na cidade3 (LOCATEL;
dicotômica da relação rural-urbano, no Brasil, via AZEREDO, 2010).
de regra, demarcado pela hierarquia que hegemo- Estudo publicado pelo PNUD, em 1996, sob o
niza o urbano, associado a serviços e industrializa- título Urban Agriculture: food, Jobs, and sustaina-
ção, em oposição ao rural, visto como espaço es- ble cities, registra a persistência de obstáculos ao
tritamente agrícola e de dependência dos serviços desenvolvimento de práticas consideradas rurais,
urbanos. De fato, como lembra Favaretto (2007), é como a agricultura, no ambiente urbano, vistas
notória a prevalência histórica do rural como cen- como heranças do passado, anacrônicas, e que de-
tro ideológico do mundo luso-brasileiro, até fins veriam ser substituídas por atividades de outra es-
do século XIX, quando emergia uma sociedade pécie. No entanto, tais práticas tornam-se cada vez
crescentemente urbanizada. As cidades, no pro- mais presentes em vários países do mundo4, sendo
cesso de urbanização nacional, guardam relações vistas como novos elementos da paisagem urbana
com o mundo rural, as quais se expressam tanto e não mais como arcaísmo. Inclusive, no Brasil,
como realidades físicas, quanto materializadas em observa-se mudança de mentalidade no sentido
formas de vida e de mentalidade. Esse processo de de integrar as referidas práticas ao planejamento
integração, que redunda da dominância do mundo urbano de geração de trabalho, emprego e renda,
urbano, ganha contornos de uma síntese peculiar de abastecimento, de melhoria alimentar e nutri-
da diluição e persistência do rural no urbano. No cional, e de sustentabilidade ambiental. Assim, o
caso, uma constante interpenetração demarcada conceito de agricultura urbana e periurbana, gra-
por vieses patrimonialistas e patriarcalistas das dualmente, passa a referir um conjunto de práticas
instituições, na forma de ideologias que interagem, agrícolas no espaço urbano (VILELA; MORAES,
dialeticamente, presididas pelo polo urbano. 2013).
Uma das cristalizações deste imaginário é um Esta agricultura varia de acordo com os tipos
contrabando ideológico que incide de forma desas- de atividades econômicas, localização, tipos de
trosa no planejamento da gestão pública do espaço áreas onde é praticada, escala, sistema de pro-
urbano. Em que pesem significativas mudanças ob- dução, categorias de produtos e sua destinação.
servadas na relação rural/urbano no Brasil, a gestão De acordo com Mougeot (2000), ela é praticada
pública, muitas vezes, ainda ignora os problemas da dentro (intra-urbana) ou na periferia (periurbana)
cidade concreta, preferindo deter-se na regulamen- dos centros urbanos (pequenas, médias, grandes
tação/legislação rigorosa do uso do solo e zonea- cidades), onde se cultiva, produz, cria, processa,
mento urbanos voltados para o mercado imobiliá- e distribui, uma variedade de produtos alimentí-
rio. Em decorrência, observa-se pouco interesse na cios, (re)utilizando, largamente, recursos humanos
busca de soluções para problemas enfrentados por e materiais, produtos e serviços encontrados na e
quem habita o espaço citadino em ocupações ilegais em torno da área urbana. Tais atividades oferecem
de terras; constrói sua casa sem atender às exigên- recursos humanos e materiais, produtos e serviços
cias urbanísticas; utiliza seu lote urbano; periurbano para essa mesma área urbana. Na tentativa de di-
para exploração agrícola. E tudo isto, observa-se ferenciá-la da agricultura rural, Roese (2003) des-
em muitas cidades, sobretudo, naquelas que exer- 3 De acordo com o recálculo do Banco Mundial, em 2008 a linha
de pobreza passou de U$1,00 por dia para U$1,25. Para maiores
cem atração e cujo contingente habitacional está se informações, consultar: http://web.worldbank.org/WBSITE/
ampliando (LOCATEL; AZEREDO, 2010). EXTERNAL/TOPICS/EXTPOVERTY/EXTPA/0,,contentMDK:
É conhecido, no Brasil, o processo que promo- 20153855~menuPK:435040~pagePK:148956~piPK:216618~the
veu o deslocamento populacional do campo para SitePK:430367,00.html.
4 Países, como Cuba, além de outros do Continente Africano,
as cidades, sem que muitos dos centros urbanos são exemplos de casos bem sucedidos na prática da agricultura
tivessem a capacidade para absorção dessa popu- urbana e periurbana. A propósito ver, dentre outros, Ruaf
lação que, na sua grande maioria, encontra-se sem Foundation (s/d); Aquino (2002); Cabannes y Dubbeling (2001);
Companioni, Páez, Ojeda y Murphy (2001); Drescher (2001);
acesso à infraestrutura básica de serviços (educa-
GNAU (2002). Para uma comparação entre Brasil e EUA, ver
ção, saúde, saneamento básico) e ao mercado de Branco e Alcântara (2012).

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taca que a área disponível para o cultivo é restrita; diretamente envolvidos, o desconhecimento (ou
o conhecimento técnico dos agentes produtores negligência) da importância deste fenômeno pelo
envolvidos diretamente é escasso; não há possibi- poder público local.
lidade de dedicação exclusiva; a produção destina-
-se, via de regra, ao consumo próprio; há grande 2.3 Agricultura urbana e periurbana como
diversidade de cultivo e; normalmente não é requi- sistema agroalimentar localizado: o
sito para este padrão de agricultura a obtenção de
caso de Teresina-PI
lucro. No entanto, não se pode ignorar a existência
de produtores de hortaliças os quais produzem em
Nesta abordagem que supõe uma revisão da
terrenos urbanos, dedicando-se, exclusivamente, a
espacialidade urbana, o desafio é pensar como
essa atividade com finalidade comercial lucrativa.
uma determinada localidade insere-se nesta espa-
Como diversos outros elementos da cidade, a
cialidade, no jogo político dos processos de terri-
AUP é fruto da ação humana e objeto de represen-
torialização e territorialidades. Assim, impõe-se a
tações e sentidos, em construções simbólicas nem
questão de quais limites e possibilidades de inser-
sempre conscientes. Para Aquino e Assis (2007),
ção de grupos sociais e econômicos, de locais e de
não é a localização urbana que distingue esta agri-
regiões, em um ambiente produtivo e de consumo
cultura da rural, senão o fato de estar integrada
redefinido pelas transformações sociais globais as
e interagir com o ecossistema urbano. Um olhar
quais incidem na relação rural/urbano, gerando
sobre as práticas desta agricultura e de suas im-
novas atribuições à cidade e suas populações. Uma
bricações pode servir de fonte para compreensão
dessas novas atribuições é a agricultura urbana e
das injunções políticas, econômicas, sociais e ur-
periurbana que pode ser vista, territorialmente,
banísticas das quais as cidades são objeto (SILVA,
como Sistema Agroalimentar Localizado (LINS,
2006).
2006; SPECHT; RÜCKERT, 2008), categoria que
Analisadas singularmente, as várias experiên-
emerge, em 1998, na França, na esteira dos deba-
cias de agricultura urbana e periurbana representam
tes sobre arranjos produtivos locais.
pequenas porções de território e podem expressar
Por Sistema Agroalimentar Localizado, enten-
movimentos políticos contemporâneos que se rela-
dem-se ambientes propícios à difusão do conhe-
cionam com outras lutas socioespaciais (estrutura
cimento e a processos de inovação decorrentes da
fundiária urbana e rural), socioeconômicas (gera-
proximidade entre os agentes. Tal proximidade
ção de renda e ocupação) e socioambientais (busca
apresenta-se como potencialidade para as intera-
por alimentos mais saudáveis). Individualmente,
ções, o que não dispensa um tecido institucional
ou através de grupos organizados, atores sociais
voltado para a promoção de vínculos cooperativos.
buscam a ressignificação das suas relações com o
Assim, a constituição de um sistema agroalimentar
meio, seja por fatores econômicos (autoconsumo),
localizado supõe investimentos com vistas a uma
ou culturais (representação das práticas agrícolas).
[...] aprendizagem institucionalmente organizada
Assim, a revalorização da AUP sofre a influência [...], realçando o compartilhamento de visões e
positiva desses fatores, bem como da emergência condutas sobre problemas e oportunidades, assim
da consciência ecológica por que passa a civiliza- como de hábitos, rotinas e conhecimentos [...], as-
ção contemporânea (ROSA, 2011). sinalando o potencial para realizar inovações, [o
Esta complexa teia de atores, relações, e pro- que] implica chamar a atenção para o território5
(LINS, 2006, p. 315, grifo do autor).
cessos, desafia a literatura especializada no que
tange a uma abordagem das relações sociopolíti- O termo designa processos de desenvolvimen-
cas contemporâneas que envolvem a relação cam- to em áreas locais, demarcados por fatores histó-
po/cidade e suas agriculturas. Seja positivamente, ricos, sociais e culturais os quais geram especifi-
no âmbito das políticas públicas de segurança ali- cidades.
mentar e de meio ambiente, seja negativamente, [...] Dessa percepção decorre a noção de terri-
torialidade, que evoca a conjugação, numa cer-
no âmbito dos fenômenos sociais contemporâneos
ta área, de ativos específicos não, ou raramente,
que se transformam em gargalos para o desenvol- observados do mesmo modo em outros locais.
vimento, como a valorização crescente do solo ur- Esses aspectos – território, territorialidade, ati-
bano, os problemas relativos à segurança pública,
5 Sobre a abordagem territorial referida a um Sistema Agroalimentar
o insuficiente empoderamento de grupos sociais
Localizado, ver Vilela e Moraes (2013).

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vos específicos – despontam em derivação dessa custo e as vantagens comparativas ligadas à locali-
abordagem (LINS, 2006, p. 316, grifo do autor). zação deste território, minimizando as distâncias-
Assim, aponta para redes que se constituem -custo. Sem dúvida, esta racionalização da relação
de organizações de produção e serviço, estas, as- custo-benefício não pode ser ignorada, sobretudo,
sociadas a um território específico, em suas carac- no contexto de gestão de recursos escassos.
terísticas próprias e em seu funcionamento. Nesta Esta premissa requer um diagnóstico com base
perspectiva, em um mapeamento das áreas e grupos de produ-
[...] o território condiciona o funcionamento dos ção, com vistas a se definir uma logística. Em Tere-
SAL por disponibilizar os ativos específicos (ou sina, como se vê, adiante (Figura 1), observam-se,
externalidades) de que se valem os seus agen-
por um lado, uma concentração de hortas comuni-
tes. Representando a territorialidade, esses ati-
vos são essenciais às atividades produtivas dos tárias em espaços cedidos pela Companhia Hidro-
SAL e, mostrando-se imbricados com os compo- elétrica do São Francisco (CHESF) e, por outro,
nentes sociais e culturais da área, são insepará- certa dispersão em relação às hortas instaladas em
veis da história local. (LINS, 2006, p. 316, grifo espaços cedidos pela prefeitura. Por se tratar de
do autor). um conjunto de 46 hortas no interior de uma mes-
Por ativos específicos, diz o autor, enten- ma cidade, pode-se admitir – a partir desta con-
dem-se os centração numérica de expressões de uma mesma
[...] recursos colocados em relevo na maioria dos atividade – um Sistema Agroalimentar Localizado.
estudos sobre aglomerações produtivas especiali- Mas a dimensão estritamente econômica, com
zadas, como o conhecimento tácito difundido lo- seus pressupostos de racionalização, não esgota a
calmente (ativo específico de tipo cognitivo, com
compreensão do sistema. Deve-se-lhe agregar uma
influência nas inovações), a identidade sociocul-
tural (vinculada ao passado comum dos agentes segunda abordagem: a das relações entre ativida-
e fonte de confiança e de encorajamento à ação des agroalimentares e territoriais, considerando-
coletiva e à reciprocidade, com reflexos na apren- -as como portadoras de um patrimônio cultural.
dizagem e na inovação) e o tecido institucional Este território-campo deve então, ser encarado
(que sustenta as atividades econômicas locais e do ponto de vista da valorização de uma herança
favorece a coordenação e a autoajuda.” (LINS,
específica, onde se mesclam elementos da cultura
2006, 316, grifo do autor).
(determinados produtos, formas de produzir, sabe-
Nesses sistemas, ganham destaque os ativos res, etc) e da natureza (potencialidades naturais),
específicos próprios ao setor agroalimentar, não em diálogo com outras formas culturais. Procedi-
somente em áreas rurais, uma vez que seu conte- mentos de proteção jurídica, como as apelações
údo não é tão somente geográfico. Assim, devem de origem, têm frequentemente esta visão como
ser vistos, como “[...] espaço elaborado, constru- ponto de partida, na valorização dos sujeitos, sa-
ído socialmente, marcado em termos culturais e beres, produtos, e territórios. Nesta direção, nem
regulado institucionalmente [...] [e cuja] “localiza- sempre a racionalização referida, acima, pode-
ção” encontra-se na interseção do território com a rá ser conjugada a esta perspectiva, na definição
cadeia de produção-distribuição-consumo do ali- dos territórios, exigindo, assim, um olhar para a
mento de que se trata” (LINS, 2006, p. 316, grifo complexidade trazida pela contemplação da diver-
e aspas do autor). sidade e das singularidades. Assim, o mapa poderá
Em uma perspectiva econômica, a proposição ganhar novas legendas, a partir das virtualidades e
de Muchnik e Sautier (1999) é de uma abordagem potências locais dadas pelos traços específicos dos
que deve compreender a ligação entre as ativida- grupos e áreas a serem identificados, em Teresina
des agroalimentares e o território, segundo a capa- (VILELA; MORAES, 2013).
cidade de acesso aos fatores de produção a menor

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Agricultura urbana e periurbana: limites e possibilidades de constituição de um sistema agroalimentar ...

Figura 1 – Distribuição geográfica de hortas comunitárias urbanas e periurbanas de Teresina

Fonte: Vilela e Moraes, 2013, com base em Prefeitura Municipal de Teresina/SDR (2011).

Lembram Vilela e Moraes (2013) que, ao de premente de um tecido institucional eficiente e


contrário do que possa parecer à primeira vista, eficaz, e a inadiável necessidade de mudança na
esta perspectiva não caracteriza fechamento, mas concepção da agricultura urbana e periurbana pelo
abertura. E pode ser associada a uma terceira que poder público municipal, reclamam a urgente as-
considera não só a dotação do território por fatores sociação de recursos internos (dos grupos e territó-
de produção ou de patrimônio, mas também a sua rios) e externos de várias ordens.
capacidade de recombinar esses fatores e associar Estas perspectivas implicam um redireciona-
recursos próprios e externos, a fim de inovar e se mento político no trato da agricultura urbana e pe-
adaptar. Esta ênfase é, então, posta sobre as ma- riurbana. Do ponto de vista da gestão pública, im-
neiras de proceder à cooperação, à aprendizagem e põe-se que esta agricultura entre para a agenda das
à criação – portanto, envolvendo criatividade – de prioridades, como atividade regular capaz de fazer
recursos nos sistemas localizados. A noção de Sis- parte do panorama socioeconômico e cultural. Na
tema Agroalimentar Localizado busca dar conta cidade de Teresina, ela necessita sair do lugar de
desta dinâmica, ao mesmo tempo em que contribui política de amortecimento das tensões sociais e
para evitar a generalização, tão heuristicamente ocupar a de política pública de desenvolvimento
inadequada, neste momento. Sobretudo, em Tere- territorial, no melhor sentido do termo.
sina, onde a variedade de situações, a necessida-

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3 A construção de um SAL em Teresi- (TERESINA AGENDA 2015, 2002).


Teresina insere-se no contexto de várias e va-
na: diagnóstico, desafios e proposi-
riadas experiências brasileiras com agricultura ur-
ções para uma agenda de políticas bana8. O Programa Hortas Comunitárias, estimu-
públicas lado pela Prefeitura Municipal, na segunda metade
dos anos 1980, teve demanda crescente até o início
3.1 Diagnóstico e desafios dos anos 2000, em especial, nas áreas de expansão
do perímetro urbano que concentram famílias de
Com um IDH de 0,783, Teresina é a capital baixa renda. Este Programa evoluiu para o “Pro-
brasileira com um dos menores PIB per capita: R$ jeto Multissetorial Integrado Vila-Bairro”, viabili-
10.841,20 (TERESINA AGENDA 2015, 2002), zando o aproveitamento de áreas improdutivas e
ocupando a 27ª posição entre as capitais, a sexta atendendo a 2.503 famílias com renda entre 1 a 2
entre os municípios piauienses, e a 2.032ª entre os salários mínimos, em 117 ha de 38 hortas, através
5.565 municípios brasileiros. O município possui de um sistema de co-gestão entre prefeitura e co-
bioma de cerrados e clima tropical semiúmido. munidade (TERESINA, 1999).
Localizado no Centro-Norte Piauiense, a 366 km Em 2012, conforme diagnóstico participativo
do litoral é, portanto, a única capital da Região realizado no Loteamento Ana Gonzaga, sob coor-
Nordeste que não se localiza às margens do Oce- denação da ONG Assessoria e Serviços a Projetos
ano Atlântico. Teresina está conurbada com o em Agricultura Alternativa, a agricultura urbana e
município maranhense de Timon aglomerando, periurbana, em Teresina, contava com 46 hortas
ambos, cerca de 953.172 habitantes. Toda a Re- comunitárias (135,8 ha) e 12 campos agrícolas pe-
gião Metropolitana da Grande Teresina aglomera riurbanos (79,2 ha), como apresentado na fig. 1.
mais de 1.136.000 habitantes. A Região Integrada Este conjunto envolve 2.943 famílias em condi-
de Desenvolvimento da Grande Teresina (RIDE) ções de pobreza, em bairros, vilas, favelas e zona
compreende 13 municípios piauienses e um mara- periurbana do município (TERESINA, 2011).
nhense6. (IBGE, 2010). O meio rural do município A produção destina-se a famílias que moram
de Teresina é o maior dentre as capitais brasileiras, perto destes terrenos, mas os objetivos extrapolam
com uma área territorial em torno de 139 mil hec- este consumo. Segundo a Prefeitura Municipal de
tares e uma população de quase 47.000 pessoas. Teresina/SDR (2011) visam, mais amplamente, ao
O município de Teresina ocupa uma área de desenvolvimento local, valorizando a produção
1.391.974 Km2, com uma população de 814.439 de alimentos e outras plantas úteis, medicinais e
habitantes (IBGE, 2010), e com densidade popu- ornamentais; à criação de oportunidades para o
lacional de 584,95 hab/km². A população no mu- associativismo e formação de lideranças locais; à
nicípio distribui-se da seguinte forma: 767.777 troca de experiências e saberes entre pessoas, co-
(94,27%) habitantes na zona urbana e 46.662 munidades e técnicos; à promoção da segurança
(5,73%) na zona rural (IBGE, 2010)7. É a 19ª alimentar, favorecendo o controle total de todas as
maior cidade do Brasil, sendo a 15ª maior capital fases de produção e eliminando o risco de se con-
de estado no País. Segundo o Censo Demográfico sumir ou manter contato com plantas que possuam
(IBGE, 2000), entre 1970 e 1980, Teresina apre- resíduos de agrotóxicos; à formação de microcli-
sentou enorme fluxo migratório, com crescimento mas e manutenção da biodiversidade, através da
populacional de 5,4%. Entre 1980 e início de 1990, construção de quintais agroecológicos, proporcio-
a taxa foi de 4,4%. Entre os anos 1991 a 2000, o
8 A exemplo, Belo Horizonte-MG, com sua produção agrícola
crescimento populacional reduziu-se para 2,18%. em espaços urbanos com vistas à melhoria do padrão alimentar,
De 1991 a 1999, observa-se um grande aumento sobretudo com cultivos sem contaminações de origem química
no número de vilas e favelas, que passam de 56 ou biológica, com qualidade da água utilizada na irrigação, além
de ganhos econômicos; Rio de Janeiro-RJ, com suas práticas de
para 150, em uma taxa de crescimento de 176% produção alimentar em quintais domésticos; Belém-PA, cuja
atividade agrícola intra-urbana tanto ajuda na subsistência de
6 Altos, Benedinos, Coivaras, Curralinhos, Demerval Lobão,
famílias de baixa renda, quanto reduz gastos das classes médias
José de Freitas, Lagoa Alegre, Lagoa do Piauí, Miguel Leão,
com o consumo; Brasília (Programa de Verticalização da Pequena
Monsenhor Gil, Pua D`Arco, Teresina, União (PI); Timon (MA).
Produção Agrícola- PROVE, criado em 1995) com o objetivo de
7 Lembramos, com Veiga (2002), as controvérsias sobre as
promover a pequena produção agrícola (hortas, frutas e criação de
definições de rural e urbano no Brasil e suas consequências nas
animais) em áreas urbanas e periurbanas do Distrito Federal.
políticas de desenvolvimento.

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Agricultura urbana e periurbana: limites e possibilidades de constituição de um sistema agroalimentar ...

nando sombreamento, odores agradáveis e contri- No tocante à renda auferida na atividade, ob-
buindo para a manutenção da umidade; a favorecer serva-se o seguinte (Figura 4):
a infiltração de água no solo, diminuindo o escor-
rimento de água nas vias públicas, e contribuindo Figura 4 – Distribuição de horticultores, segundo
para diminuição da temperatura, devido à amplia- renda mensal
ção da área vegetada; a ser uma fonte/incremento
de renda familiar, pela possibilidade de produção
em escala comercial especializada.
No entanto, apesar das duas décadas de exis-
tência do Programa de Hortas Comunitárias em
Teresina, dados de pesquisa recente (TRAJANO;
LOPES; ROCHA, 2009) ajudam a delinear desa-
fios importantes para sua dinamização e transfor-
mação em um setor mais ativo do bem-estar social
e da economia. Analisando a faixa etária das pes-
soas envolvidas (Figura 2), observa-se que 61% Fonte: Vilela e Moraes (2013), com adaptações formais (aspecto grá-
encontram-se entre os 31 e os 55 anos, o que apon- fico), a partir de Trajano, Lopes e Rocha (2009).
ta para a possibilidade/necessidade de investir no
incentivo e na capacitação de jovens. Os dados da Figura 3 associados aos da figura
4 indicam algumas relações importantes à melhor
Figura 2 – Percentual de horticultores por faixa etária compreensão do funcionamento deste universo, e
de mecanismos voltados para sua otimização: 1)
antes de tudo, muito provavelmente, trata-se de
um cálculo feito sem mensurar o auto-consumo,
não informado na pesquisa-fonte; 2) em seguida, o
lugar que esta atividade ocupa como fonte de ren-
da familiar. No caso de famílias com a presença do
casal, não é incomum que o homem exerça outra
atividade e a mulher cuide da horticultura como
fonte de alimentação e /ou renda complementar,
na esteira da tradicional divisão sexual de domí-
Fonte: Vilela e Moraes, 2013, com adaptações formais (aspecto gráfico)
nios e tarefas dentre populações rurais; 3) por fim,
a partir de Trajano, Lopes e Rocha, 2009.
a possível existência de número significativo de
famílias chefiadas por mulheres as quais têm a ati-
Convergindo com vários casos descritos na li-
vidade hortícola como importante meio de vida e
teratura sobre o tema, no que tange à inserção de
de aprovisionamento familiar (TERESINA, 2011).
gêneros, observa-se o predomínio do gênero femi-
As informações acima ganham relevância ten-
nino na atividade (Figura 3).
do em vista que Teresina importa cerca de 92% das
hortaliças e frutas de outros estados (TERESINA,
Figura 3 – Percentual de horticultores e horticulto-
2011), o que acarreta grande evasão de divisas do
ras nas hortas comunitárias de Teresina
município, sendo crescente a procura da popula-
ção da cidade pela oferta de alimentos nutritivos
e saudáveis, o que vem provocando mudanças na
cadeia produtiva de alimentos. Some-se a isto que
o processo de produção de hortaliças, devido aos
tratos culturais que lhes são peculiares, favorece a
sua contaminação por microorganismos (parasitas,
bactérias e vírus), capazes de provocar enfermida-
Fonte: Moraes e Vilela, 2013, com adaptações formais (aspecto gráfico) des em humanos.
a partir de Trajano, Lopes e Rocha, 2009. Sem dúvida, existe um potencial produtivo
da agricultura familiar no município de Teresina,

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com produtos diversificados, incluindo-se aí, os possibilidade de oferecerem produtos com maior
hortícolas de hortas urbanas e periurbanas, com frescor; 6) demandas de suplementação alimentar
capacidade não só de participar da oferta local de e nutricional do Programa de Alimentação Esco-
produtos no mercado como de fazer funcionar um lar e outros programas sociais locais, o que abre a
sistema de compra direta para atendimento a de- possibilidade de compra direta governamental de
mandas específicas de complementação alimentar produtos oriundos das hortas comunitárias; 7) pos-
e nutricional. sibilidade de ofertar produtos saudáveis e sanitiza-
Mas o Programa de Horta Comunitária implan- dos, para suplementação nutricional, aos diversos
tado pela Prefeitura Municipal de Teresina, em que programas sociais locais (PMT/SDR, 2011).
pesem os referidos 25 anos de existência, ainda Aspectos que já foram de difícil solução, como
convive com problemas que limitam uma melhor o acesso a mercados – seja no âmbito privado (con-
performance. Dentre estes: descapitalização; fra- correncial), seja público, no que tange às compras
gilidade no tecido associativo, com consequentes governamentais Programa de Aquisição de Alimen-
prejuízos no que tange a ações coletivas na busca tos (PPA) e Programa Nacional de Alimentação Es-
de soluções para problemas de gestão da produção/ colar (PNAE), hoje tendem a ter sua magnitude sig-
comercialização; inobservância de recomendações nificativamente reduzida. No caso do PNAE, existe
técnicas apropriadas, resultando em produtividade regulamentação que obriga gestores municipais a
inferior ao que seria possível atingir; pouca diver- adquirirem de produtores familiares locais (rurais
sificação da produção, que se concentra em poucas e urbanos) um percentual de, no mínimo, 30% dos
hortaliças folhosas (coentro, cebolinha e alface); au- recursos destinados à merenda escolar.
sência de garantia da segurança sanitária do produto Porém, observam-se sérias dificuldades na
e, mesmo, precariedade na qualidade sanitária, não agricultura urbana e periurbana em Teresina, em
atendendo, muitas vezes, a exigências de consumo que pese o significativo número de fatores posi-
e de mercado; ausência de entrepostos que viabili- tivos que demonstram sua evidente viabilidade,
zem a recepção e a distribuição dos produtos oriun- tanto no aspecto econômico quanto no social e no
dos da agricultura familiar, sobretudo, com vistas ambiental. Dentre as atuais deficiências podem ser
ao atendimento da demanda gerada pelo Programa elencadas: 1) problemas relativos à organização
Nacional de Alimentação Escolar (PNAE); alto ín- política de produtores e produtoras. Mesmo após
dice de violência urbana, com constantes furtos de 25 anos de início da experiência, não há, na esfera
produtos, equipamentos e danos às estruturas de uso pública, uma categoria socialmente reconhecida;
comum das hortas, como destruição de cercas e can- 2) inexistência de oferta de financiamento para
teiros. (TERESINA, 2011). a produção; 3) deficiência na infraestrutura das
Por outro lado, há fatores positivos favore- hortas; 4) insegurança patrimonial com constante
cedores de implementação de ações com vistas à depredação e furto no interior das hortas; 5) ine-
reversão dos problemas referidos: 1) retorno eco- xistência de sistemas automatizados de irrigação;
nômico e social significativo: quase 50% das fa- 6) problemas relativos à capacitação técnica de
mílias horticultoras obtêm renda mensal regular e produtores, muitos desconhecendo padrões míni-
significativa, demonstrando a viabilidade técnica e mos de técnicas de manejo das culturas, com con-
econômica da atividade e apontando para a neces- sequentes problemas com a tecnologia emprega-
sidade de ampliar este contingente; 2) preferência da. Por outro lado, o desconhecimento de saberes
por parte de feirantes e consumidores por produ- e práticas dos atores sociais envolvidos; 7) tecido
tos locais; 3) demonstração de interesse de grande institucional de apoio, precário, denotando o insig-
parte de horticultores por atividades de capacita- nificante grau de importância da agricultura urba-
ção; 4) mercado local com alta potencialidade de na e periurbana para o poder público municipal.
consumo de hortaliças produzidas com melhores No que tange ao ultimo ponto, estreitamente
padrões de qualidade, portanto pagando melho- relacionado à temática deste artigo, a agricultura
res preços; 5) alto índice de importação de hor- urbana/periurbana em Teresina, de fato, mesmo
taliças, cuja qualidade e vida de prateleira ficam contando com um extenso espaço físico de quase
prejudicadas pelo prazo decorrido entre colheita e 140 hectares, com os quais estão envolvidas quase
entrega dos produtos no local de comercialização. três mil famílias, carece de institucionalidade, de
Esta condição favorece a horticultores locais pela fato. Em que pesem os projetos referidos, estes

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Agricultura urbana e periurbana: limites e possibilidades de constituição de um sistema agroalimentar ...

sofreram solução de continuidade em decorrência de movimentos sociais urbanos.


da mudança de gestão, o que se traduz, hoje, na O desafio, portanto, na esfera analítica socio-
inexistência de programas específicos de apoio a política, é decifrar e explicar o aparente paradoxo
esta atividade. Em decorrência, os recursos muni- entre a disponibilidade de condições socioeconô-
cipais destinados para apoiá-la são insignificantes micas e de instrumentos de políticas públicas do
e as hortas comunitárias, por exemplo, vivem em Governo Federal e a fragilidade da agricultura
situação de absoluta insustentabilidade. urbana e periurbana municipal em Teresina, ativi-
Quando se considera que Teresina é capital de dade ainda pouco estudada na academia e mesmo
um dos estados mais pobres da Federação, e com em instituições de pesquisa tecnológica como a
um enorme contingente de imigrantes oriundos do Embrapa.
meio rural e da atividade agropecuária, o seu ter-
ritório urbano passa a ser arena de enfrentamentos 3.2 Proposições para uma agenda de políti-
do conjunto de desafios da agricultura urbana e cas públicas
periurbana no sentido do seu reconhecimento no
âmbito das políticas públicas. Mas a gestão mu- Constitui-se em um desafio político a supera-
nicipal patina, institucionalmente, no apoio a esta ção da visão urbano-urbanística sobre o rural, seja
agricultura, embora, como referido, ela ocupe ex- do ponto de vista espacial/territorial, seja do ponto
pressivos contingente populacional e espaço físico de vista socioeconômico e de políticas públicas.
(aproximadamente, 140 hectares) ao longo dos úl- O pensamento urbanístico conservador não incor-
timos 25 anos (TERESINA, 2011). pora na sua concepção a realização de atividades
No entanto, sem o reconhecimento institucio- de agricultura urbana e periurbana no interior do
nal destas atividades, no âmbito das políticas pú- espaço urbano. Mesmo nas cidades onde esta ativi-
blicas municipais, as quase três mil famílias envol- dade é “aceita”, raramente é integrada oficialmen-
vidas com esta agricultura encontram-se relegadas te ao planejamento urbano, sendo, sua ocorrência
a uma atuação de forma improvisada e de acordo em muitos casos, apenas, tolerada.
com estratégias de sobrevivência criadas por elas Assim, não é incomum que grande parte dos
mesmas. Nem mesmo os avanços verificados no espaços ocupados pela agricultura urbana e periur-
âmbito do Governo Federal com a disponibiliza- bana sejam cedidos por companhias distribuidoras
ção de recursos financeiros sem reembolso, desti- de energia elétrica com o intuito de ocupar áreas
nados às prefeituras, têm sido aproveitados, recur- de servidão das linhas de transmissão, visando evi-
sos estes, destinados à estruturação da agricultura tar o acúmulo de lixo ou iniciativas que ponham
urbana e periurbana em todo o País. em risco a segurança da rede de distribuição de
Por outro lado, Teresina, assim como outras energia. Como nenhuma companhia de transmis-
capitais brasileiras, têm sofrido, nas duas últimas são e distribuição de energia elétrica no Brasil é
décadas, impactos positivos e negativos do proces- municipal, a prática da agricultura, nestes espa-
so de crescimento econômico do Brasil. Assim, a ços, não tem origem no planejamento urbanístico
pressão imobiliária tem aumentado proporcional- municipal, mas sim em iniciativas de empresas
mente ao aumento das demandas sociais por ha- privadas ou públicas federais, cujo objetivo não
bitação e da consequente valorização do solo ur- é desenvolver a agricultura urbana e periurbana,
bano, o que por si só, constitui faceta importante mas resolver o problema da proteção das linhas de
do tema estudado e da sua relação com políticas distribuição.
públicas de direito à cidade9, uma luta continuada Nas áreas de domínio do poder municipal, esta
9 A ideia de direito à cidade, concebida por Henri Lefebvre, em
prática agrícola surgiu, em grande parte dos casos,
1968, realiza a crítica ao urbanismo modernista, não ignorando os a partir de iniciativas de moradores desemprega-
limites da capacidade do planejamento racionalista, mas criticando dos ou desocupados que necessitavam de uma
a alienação de citadinos tratados mais como objetos do que como
fonte de renda. Oriundos do meio rural, decidiram
sujeitos do espaço social. Tal espaço é tido pelo autor como fruto
de relações econômicas de dominação e de políticas urbanísticas produzir produtos agroalimentares em espaços de-
por meio das quais o Estado ordena e controla a população. Assim, socupados da cidade. A experiência da ONG Cida-
nem todos os citadins (habitantes da cidade) são tratados como des sem Fome, na cidade de São Paulo registra que
citoyens (cuja cidadania política é reconhecida pelo Estado). [...] o primeiro passo é a obtenção de permissão
Para este autor, o direito à cidade é de todos os seus habitantes.
para uso dessas áreas (áreas desocupadas na zona
(LÉFÈBVRE, 1969).

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leste da cidade) junto à prefeitura, o que é um seja ocupacional, em sua dimensão cultural, seja
processo lento e trabalhoso. O longo tempo para econômica (sobrevivência material). Assim, estes
obtenção de uma área, em alguns casos, gera nas
atores vêem-se no embate pela apropriação social
comunidades um sentimento de frustração das
expectativas em relação ao projeto. Isso leva à do espaço ocupado, de forma definitiva e institu-
desistência de algumas pessoas da comunidade cionalizada, bem como buscando a sua inclusão
(BRANCO; ALCÂNTARA, 2012, p. 31). no planejamento urbano e, em decorrência nos
instrumentos de políticas públicas de apoio. Este
Em outros casos, o poder público municipal território rasurado precisa ser transformado em um
adotou a prática não como alternativa de produção território de reconhecimento dos atores sociais,
de alimentos, mas sim como terapia ocupacional como cidadãos e cidadãs, e da atividade que reali-
para jovens em situação de vulnerabilidade social, zam como parte da vida socioeconômica e cultural
caso de Teresina, como referido. da cidade.
Denota-se que as atividades de agricultura ur- Considerando que a prática desta atividade
bana e periurbana não encontram espaço no plane- produtiva dá-se, comumente, em um espaço pri-
jamento nem na paisagem urbanística municipal, vilegiado, devido à proximidade com um grande
a não ser quando é adotada como política social número de instituições governamentais, não-go-
de terapia ocupacional. No entanto, iniciativas de vernamentais, e empresas privadas que, de várias
ONGs, movimentos espontâneos de trabalhadores maneiras, exercem ou podem exercer influência ao
(quase sempre desempregados), iniciativas indivi- longo da cadeia de produção, a utilização da noção
duais, e a recente disponibilidade de programas e de Sistema Agroalimentar Localizado como ferra-
recursos financeiros do Governo Federal têm esti- menta metodológica de gestão parece profícuo e
mulado o fortalecimento das iniciativas em ope- apropriado para realizar a gestão destes territórios
ração, bem como o início de novas experiências constituídos a partir da agricultura urbana e periur-
em vários municípios brasileiros. No plano federal bana. A aproximação geográfica entre produtores,
brasileiro, conquistas importantes já foram obti- consumidores, equipamentos públicos, instituições
das, como a criação do Departamento de Agricul- públicas e empresas privadas, facilita os processos
tura Urbana e Periurbana, no âmbito da Secretaria de aglutinação social e política, bem como de ino-
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional vação tecnológica e organizacional que venham
(SESAN), que integra a estrutura do Ministério do a favorecer um melhor desempenho econômico e
Desenvolvimento Social (MDS). maior adequação aos preceitos ambientais.
Neste contexto, a noção de território, ganha re- Em consequência, uma agenda de políticas
levo tanto na análise do objeto de estudo, quanto públicas deve incluir ações visando a administrar
na formulação de políticas de desenvolvimento, e superar os maiores gargalos do sistema agroali-
as quais necessitam ser pensadas à luz do direito mentar. Em Teresina, esta situação tornou-se obje-
à cidade. Nesta direção, a tensão entre processos to de programas de desenvolvimento, entre 2011 e
de territorialização e de territorialidade necessita 2012, sob a coordenação da Superintendência de
ascender ao debate público, no sentido de um pla- Desenvolvimento Rural da Prefeitura Municipal
nejamento urbano inclusivo, no qual as interven- de Teresina. Na esteira de um embrião de um Siste-
ções urbanísticas sejam capazes de contribuir para ma Agroalimentar Localizado foram elaborados os
a cidadania, no sentido do que Oliveira (2006, p. projetos: Reestruturação das Hortas Comunitárias;
19) denomina “moral do reconhecimento”. Modernização do Sistema de Irrigação das Hortas
Sem dúvida, trata-se de um contexto no qual a Comunitárias, Unidades para Processamento Mí-
pressão política incide sobre um importante espa- nimo de Hortaliças; Unidades de Compostagem
ço físico urbano, ocupado para a produção agro- para Apoio à Produção Orgânica de Hortaliças;
alimentar, envolvendo significativo contingente Unidades de Recepção/Distribuição de Alimentos
populacional de pessoas em situação de vulnera- da Agricultura Familiar nas Quatro Regiões da Ci-
bilidade social e com origens rurais. Tal espaço, dade; Capacitação de Famílias Horticultoras Urba-
ressignificado, ganha sentido de pertencimento nas e Periurbanas10.
por parte destes grupos sociais envolvidos, muitos Alguns destes projetos obtiveram financia-
dos quais já incorporaram a agricultura urbana e mento no âmbito do Governo Federal e outros, se
periurbana nas suas estratégias de sobrevivência,
10 Ver Teresina. Prefeitura Municipal. SDR (2011).

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bem conduzidos pela nova gestão municipal, po- de assumir um ângulo de visão capaz de incorporar
derão lograr importantes resultados. No entanto, o a agricultura urbana e periurbana municipal no rol
processo de constituição e institucionalização de das políticas públicas e, em consequência, no pla-
um Sistema Agroalimentar Localizado ainda de- nejamento urbano, o que talvez dependa da ação
manda esforços que devem ser coordenados pelo de movimentos sociais nas lutas pela passagem
gestor municipal, tendo em vista sua legitimidade de citadinos a cidadãos. Como ocorre em diversas
como indutor do processo de desenvolvimento. cidades, no Brasil e em vários outros países, a in-
corporação desta agricultura na paisagem urbana
4 Considerações finais vem-se tornando traço de modernidade, de cidades
contemporâneas de um tempo no qual ruralidades/
A incursão teórica em um tema de tão recente urbanidades são ressignificadas, inclusive, no que
reinserção, do ponto de vista acadêmico, impõe a respeita à produção de alimentos.
necessidade de busca de recursos analíticos capa-
zes de apreender seus contornos contemporâneos. Referências
No caso da agricultura urbana e periurbana, as
transformações na relação rural-urbanas requerem ADAM, M. G. Definitions and boundaries
um novo olhar sobre um fenômeno antigo, porém, of the periurban interface: patterns in the
marcado, na atualidade, por uma recrudescência patchwork. Paper presented at IBSRAM
da sua importância no contexto sócio-espacial, International Workshop on Urban and Peri-Urban
econômico e cultural, das modernas cidades. Agriculture, Accra, Aug., 1999.
A agricultura urbana e periurbana tem dado
uma contribuição relevante para a segurança ali- ALBUQUERQUE, F. J. B.; PIMENTEL, C. E.
mentar, não só no Brasil como em vários outros Uma aproximação semântica aos conceitos de
países. Esta contribuição materializa-se na oferta urbano, rural e cooperativa. Psicologia: Teoria
de alimentos frescos, na geração de empregos pro- e Pesquisa. Brasília, DF, v. 20, n. 2, p. 175-182,
dutivos, na geração de renda, possibilitando aos mai./ago. 2004.
agricultores urbanos e periurbanos a aquisição de
outros alimentos e/ou produtos que não são produ- AQUINO, A. M. de. Agricultura urbana de
zidos no seu interior. Cuba: análise de alguns aspectos técnicos.
Em Teresina, a concentração de 46 hortas, ocu- Embrapa Agrobiologia, 2002. 25 p. (Série
pando quase 140 hectares, no interior de uma mes- Documento, n. 160).
ma cidade, apresenta os requisitos básicos para a
constituição de um Sistema Agroalimentar Locali- AQUINO, A. M. de; ASSIS, R. L. Agricultura
zado. Assim, o recurso a este instrumento de ges- orgânica em áreas urbanas e periurbanas com
tão de políticas públicas busca dar conta de uma base na agroecologia. Revista Ambiente e
dinâmica que opera na realidade de Teresina, ainda Sociedade. Campinas, v. 10, n. 1, p. 137-150,
que de forma dispersa. Conclui-se, portanto, que a jan./jun. 2007. Disponível em: <http://www.
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dança na concepção da agricultura urbana e periur-
bana pelo poder público municipal, reclamam a ur- BELIK, W. A política brasileira de segurança
gente associação de recursos internos (dos grupos) alimentar e nutricional: concepção e resultados.
e externos de várias ordens, ou seja, a consolida- Revista Segurança Alimentar e Nutricional.
ção do Sistema Agroalimentar Localizado latente, Campinas, v. 19, n. 2, p. 94-110, 2012.
como instrumento de gestão de políticas públicas.
Em Teresina, esta agricultura não foi, ainda, BRANCO, M. C.; ALCÂNTARA, F. A. de.
inserida na agenda oficial do planejamento urbano, Hortas comunitárias: experiências do Brasil
como política de desenvolvimento, na perspectiva e dos Estados Unidos. Brasília, DF: Embrapa,
do direito à cidade. Tem sido, quando muito, obje- 2012. 120 p.
to de políticas sociais, cuja ineficiência é patente.
Assim há um desafio ao poder público municipal,

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