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Saúde Coletiva

ISSN: 1806-3365
editorial@saudecoletiva.com.br
Editorial Bolina
Brasil

Castor de Freitas, Paula; Silva Pestana, Carlos Luiz da


O manejo dos resíduos de saúde: riscos e consequências à saúde do trabalhador
Saúde Coletiva, vol. 7, núm. 41, 2010, pp. 140-145
Editorial Bolina
São Paulo, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=84213511004

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manejo de resíduos de saúde
Freitas PC, Pestana CLS. O manejo dos resíduos de saúde: riscos e consequências à saúde do trabalhador

O manejo dos resíduos de saúde: riscos e


consequências à saúde do trabalhador
Os Resíduos de Serviço de Saúde (RSS) são um problema de Saúde Pública, pois propiciam o risco de contaminação dos tra-
balhadores e do ambiente. A presente pesquisa objetiva analisar os RSS, conhecer seu trajeto, identificar se os profissionais
conhecem o protocolo para manuseio correto do lixo e verificar se este é seguido no Hospital das Clínicas de Teresópolis Cons-
tantino Otaviano (HCTCO). Utilizou-se a abordagem quantiqualitativa. Os resultados evidenciaram que há uma lacuna entre os
conhecimentos acumulados e determinados sobre o manejo dos RSS e a prática. Conclui-se que ações urgentes precisam ser
tomadas para equacionar este grave problema de Saúde Pública.
Descritores: Resíduos de serviço de saúde, Contaminação ambiental, Saúde do trabalhador.

The Waste of Health Service (RSS) is a public health problem for it offers the risk of contamination of workers and the environ-
ment. This study aims to analyze the RSS, know its path, identify if professionals know the protocol for a proper handling of
waste and whether it is followed at Hospital das Clinicas Teresópolis Constantino Octaviano (HCTCO), Rio de Janeiro, Brazil. It
was used the quantitative and qualitative approach. The results showed that there is a gap between the knowledge accumulated
and determined on the management of RSS and practice. It was concluded that urgent action must be taken to consider this se-
rious public health problem.
Descriptors: Waste of health service, Environmental pollution, Occupational health.

Los residuos de los Servicios de Salud (RSS) son un problema de salud pública que ofrece el riesgo de contaminación de los
trabajadores y el medio ambiente. Este estudio tiene como objetivo analizar los RSS, conocer su camino, identificar el conoci-
miento de los profesionales a cerca del protocolo para el manejo adecuado de los residuos y si se sigue en el Hospital das Clí-
nicas de Teresópolis Constantino Octavio (HCTCO), Rio de Janeiro, Brasil. Se utilizó el enfoque cuantitativo y cualitativo. Los
resultados mostraron que existe un espacio entre el conocimiento acumulado y la gestión de los RSS y la práctica. Se concluye
que son urgentes acciones para considerar este grave problema de salud pública.
Descriptores: Residuos de servicio de salud, Contaminación ambiental, Salud ocupacional.

riais biológicos capazes de causar infecção, produtos químicos


Paula Castor de Freitas perigosos, objetos perfurantes-cortantes efetiva ou potencial-
Enfermeira Formada pela UNIFESO. mente contaminados, e mesmo rejeitos radioativos, requerem
cuidados específicos de acondicionamento, transporte, armaze-
Carlos Luiz da Silva Pestana namento, coleta, tratamento e disposição final2”.
Enfermeiro. Especialista em Saúde da Família. Também os lodos provenientes dos sistemas de tratamento de
Especialista em Enfermagem em Saúde do Trabalhador. água, os produzidos por equipamentos e instalações de controle
Mestre em Enfermagem. Docente do Curso de Medicina de poluição, bem como alguns líquidos que não podem ser jo-
da Fundação Educacional Serra dos Órgãos - UNIFESO. gados na rede pública de esgoto ou corpos d’água3”.
neipestana@gmail.com O Brasil gera cerca de 149 mil toneladas de resíduos urbanos
por dia. Estima-se que a geração de RSS represente de 1% a 3 %
deste volume (entre 1,49t e 4,47t)4.
Recebido: 20/10/2009 Os resíduos produzidos pelos serviços de saúde, apesar de
Aprovado: 15/05/2010 representarem uma pequena parte de todo o lixo produzido
por uma comunidade, são importantes tanto para a segurança
INTRODUÇÃO dos profissionais que o manipulam como para a saúde públi-

O s resíduos de serviço de saúde (RSS) segundo a Associação


Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) são definidos como “o
produto residual, não utilizável, resultante de atividades exer-
ca e para o meio ambiente, por isso a necessidade do bom
gerenciamento5.
A disposição inadequada do resíduo sólido no meio ambien-
cidas por estabelecimentos prestadores de serviços de saúde”1. te, como descarga a céu aberto ou em rios, aterros onde não
Os RSS são conceituados como: “todo aquele resíduo gerado se aplicam regras de drenagem de líquidos e gases, conferem
por prestadores de assistência médica, odontológica, laborato- a estes um caráter de poluentes de água, solo e ar, atuando por
rial, farmacêutica e instituições de ensino e pesquisa médica re- meio de fatores físicos, químicos e microbiológicos2.
lacionados tanto à população humana quanto veterinária que, Os dejetos gerados por unidades de saúde, necrotérios, con-
possuindo potencial de risco, em função da presença de mate- sultórios e até clínicas veterinárias, se não receberem manejo

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adequado representam um grande perigo, tanto para a saúde das e transporte adequado dos resíduos é de responsabilidade de
pessoas quanto para o meio ambiente4. cada unidade de saúde onde eles foram gerados. Dados da Pes-
Os RSS constituem um ambiente favorável para inúmeros or- quisa Nacional de Saneamento Básico mostram que 63% dos
ganismos, que se tornam vetores e reservatórios de diversas pato- municípios brasileiros possuem coleta de Resíduos de Serviços
logias transmissíveis por roedores, insetos e outros animais. Mas, de Saúde. Dessas cidades, apenas 18% utilizam algum tipo de
muitos autores afirmam que a maioria dos microorganismos cau- tecnologia de tratamento para os RSS, enquanto 36% queimam
sadores de doenças não sobrevive no lixo, devido às altas tem- esses materiais a céu aberto, e quase 35% não adotam qual-
peraturas geradas pelo processo de decomposição dos resíduos. quer tipo de tratamento4.
Em 1978, a Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambien- Se os resíduos de saúde são depositados de forma correta,
tal (CETESB) realizou diversos estudos que comprovam a presen- como determina a norma da ANVISA, não há riscos para o meio
ça de micro-organismos patogênicos em resíduos dos serviços ambiente ou para a população. Segundo as normas do Minis-
de saúde. Sendo os mais comuns: bacilos gram-negativos en- tério da Saúde, materiais hospitalares perfuro-cortantes devem
téricos (coliformes, Salmonella typhi e Shigella sp, Pseudo- ser encaminhados para aterros sanitários que não permitem a
monas sp), cocos gram-positivos (Streptococcus, Staphylo- presença de catadores.
coccus aureus), fungos (Candida albicans) e vírus (vírus da Os resíduos constituem um problema, não por falta de in-
hepatite A e B, vírus entéricos, pólio tipo 1)6. formação e propostas apresentadas, mas por não serem colo-
O Jornal da Mídia7 publicou em sua matéria “Saúde: lixo hos- cadas em prática.
pitalar exige cuidados especiais” que em São José do Rio Preto Para ter uma maior segurança no ambiente de trabalho e di-
(SP), duas crianças se feriram com agulhas que haviam sido jo- minuir o impacto no meio ambiente, ao ser gerado os resíduos
gadas em um terreno baldio, e que em Olinda (PE), uma catado- sólidos de serviços de saúde, são indispensáveis que tenha pre-
ra de lixo e seu filho comeram uma mama amputada. viamente equacionado seu adequado gerenciamento.
Existem regras para o descarte dos RSS. Elas estão dispos- As práticas adequadas diminuem os riscos ocupacionais ofe-
tas na Resolução n° 306 de dezembro de 2004, da Agência recidos aos profissionais de saúde, de infecção hospitalar e ao
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Entre elas, uma meio ambiente3.
estabelece que a segregação, tratamento, acondicionamento Este trabalho emerge do interesse de conhecer o trajeto dos

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resíduos de saúde do município de Teresópolis. Há uma gran-


de preocupação com os resíduos de saúde dentro do ambien- Gráfico 1. Local de trabalho dos pesquisados. Rio de
te hospitalar, riscos de acidente, local para desprezar cada Janeiro, 2009.
tipo de material. Mas será que esse cuidado se estende fora
do hospital? Há o descarte correto do lixo hospitalar pós-saí-
da da unidade?
A relevância do presente trabalho está em perceber o aumen- 10,0
to da quantidade dos resíduos sólidos, e consequentemente, os
resíduos de saúde, propiciando assim, o risco de contaminação
7,5
do ambiente, e favorecendo a proliferação de vetores e riscos de
acidentes de trabalho. Neste aspecto, definiram-se como objeto
de estudo os resíduos de saúde do Hospital das Clínicas de Tere- 5,0
sópolis Constantino Otaviano - HCTCO.
A presente pesquisa objetiva analisar os resíduos de saúde 2,5
do HCTCO, conhecer o trajeto desses resíduos, identificar se os
profissionais conhecem o protocolo para manuseio correto do 0
lixo, e verificar se é seguido esse protocolo. Local de Trabalho

METODOLOGIA Fora do hospital


Dentro do hospital
Este estudo teve como método a abordagem quantiqualitativa,
pois “esse método associa análise estatística à investigação dos
significados das relações humanas, privilegiando a melhor com-
preensão do tema a ser estudado8”. Gráfico 2. Faixa etária dos pesquisados. Rio de Janeiro,
O cenário do estudo é o HCTCO do município de Teresópolis 2009.
- RJ, localizado na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro.
Os sujeitos estudados foram nove profissionais dos serviços
gerais do HCTCO e dois profissionais que fazem a coleta e en-
caminham para o destino final.
10,0
Os métodos e técnicas utilizados neste trabalho têm como
objetivo principal interpretar o fenômeno que se observa.
Procurou-se descrever a realidade pelo método da obser- 7,5
vação participante, onde o observador se integra ao grupo,
com a finalidade de vivenciar o fenômeno no cenário da
5,0
pesquisa9.
Paralelamente, através dos dados colhidos mediante um
questionário semiestruturado direcionado aos sujeitos da pes- 2,5
quisa, triangulou-se esses dados com o diário de campo da
observação e o protocolo para manuseio correto dos resíduos 0
de saúde e se este é cumprido em todo seu trajeto desde o Idade
hospital até seu descarte final, e daí foi elaborada a análise
dos dados. 50 a 64 anos 31 a 36 anos 26 anos
Com relação à pesquisa com seres humanos, o estudo obede-
ceu a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, atra-
vés da assinatura do termo de consentimento livre e aprovado
pelo Comitê de Ética do Centro Universitário Serra dos Órgãos e 64 anos, sendo um com 26 anos, seis com de 31 a 36 anos e
(UNIFESO). O período destinado a coleta de dados foi agosto três sujeitos com idade de 50 a 64 anos.
de 2009. Os sujeitos estudados foram oito com o ensino fundamental
incompleto, um com ensino fundamental completo e um com o
RESULTADOS ensino médio completo.
Perfil dos sujeitos Dos sujeitos entrevistados, dois trabalham hà menos de um
Foram entrevistados 12 sujeitos, sendo dois trabalhadores que ano, três entre um e quatro anos, um com cinco anos, dois com
manuseiam o lixo fora do ambiente hospitalar, e 10 trabalhado- sete anos, um com 12 anos, e um com 21 anos de trabalho com
res dentro do ambiente hospitalar. resíduos de saúde.
Os dois trabalhadores fora do ambiente hospitalar são do
sexo masculino, de idade de 57 e 63 anos, escolaridade 4ª série Conhecimento do protocolo de manuseio dos resíduos de
e 3ª série, com tempo de trabalho de quatro anos e 24 anos, saúde pelos sujeitos
respectivamente. Dos 12 sujeitos entrevistados, quatro dos que trabalham
Os trabalhadores dentro do ambiente hospitalar foram nove dentro do ambiente hospitalar informaram que conhecem o
do sexo feminino e um do sexo masculino, com idade entre 26 protocolo, seis que trabalham dentro do ambiente hospitalar

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informaram que não conhecem o protocolo, e os dois que


trabalham fora do ambiente hospitalar informaram que não Gráfico 3. Nível de escolaridade dos pesquisados. Rio de
conhecem o protocolo. Janeiro, 2009.
Durante a pesquisa questionou-se a existência ou não do
referido protocolo dentro do ambiente hospitalar para o ma-
nuseio correto dos resíduos de saúde, pois as pessoas que res-
ponderam sim, não sabiam ao certo o que seria um protocolo, 10,0
e não conheciam os protocolos da ANVISA e do CONAMA.
O CONAMA nº 005 de 05/08/199310 aponta que os estabe- 7,5
lecimentos devem elaborar gerenciamento de seus resíduos,
contemplando os aspectos referentes à geração, segregação,
5,0
acondicionamento, coleta, armazenamento, transporte, tra-
tamento e disposição final, e ainda o CONAMA nº 283/01
acrescenta que é de responsabilidade dos estabelecimentos 2,5
de saúde implantarem o Plano de Gerenciamento dos Resí-
duos de Serviço de Saúde11. 0
Todo gerador deve elaborar um Plano de Gerenciamento de Escolaridade
Resíduos de Serviços de Saúde - PGRSS, baseado nas caracterís-
Fundamental Fundamental Ensino médio
ticas dos resíduos gerados e na classificação constante do Apên-
incompleto completo
dice I, estabelecendo as diretrizes de manejo dos RSS.
O PGRSS a ser elaborado deve ser compatível com as normas
locais relativas à coleta, transporte e disposição final dos resí-
duos gerados nos serviços de saúde, estabelecidas pelos órgãos Gráfico 4. Tempo de trabalho dos pesquisados. Rio de
locais responsáveis por estas etapas. Outrossim, deve-se manter Janeiro, 2009.
uma cópia para consulta das autoridades, funcionários, pacien-
tes e públicos em geral12.

Treinamento para manusear os resíduos de saúde 5,00


10,0
Dos 12 sujeitos entrevistados, nove que trabalham dentro do
ambiente hospitalar informaram que receberam treinamento
,5 para manusear corretamente os resíduos de saúde, um que tra- 3,75
balha dentro do ambiente hospitalar respondeu que não, e dois
que trabalham fora do ambiente hospitalar informaram que não 2,50
0
receberam treinamento.
Os sujeitos responderam que o treinamento recebido foi pela
5 1,25
equipe da CCIH (Comissão de Controle de Infecção Hospitalar),
e que foram informados sobre o uso de EPIs (Equipamentos de
Proteção Individual), sobre a separação do lixo, levar o lixo sem- 0
Tempo de trabalho
pre afastado do corpo, colocar o lixo em recipientes separados
por tipos (Tipo A: Infectantes, Tipo B: Químico; Tipo C: Radio-
ativo, Tipo D: Comum). Os funcionários que trabalham fora do Menos de 1 ano 1 a 4 anos 5 anos
ambiente hospitalar não receberam treinamento para trabalhar
7 anos 12 anos 21 anos
com esse tipo de material, trabalham em regime de escala, e que
neste momento foram direcionados para o trabalho com lixo
hospitalar. O desconhecimento dos potenciais de infecção dos
resíduos de saúde faz com que os mesmos sejam ignorados, ou teção individual (EPI) para lidar com os resíduos de saúde, todos
recebam tratamento com excesso de zelo, aumentando ainda os sujeitos entrevistados responderam que utilizam os equipa-
mais os custos das instituições13. mentos para se proteger.
O treinamento da equipe é fundamental para diminuir impac- Em observação, verificou-se, no entanto que não é sempre
tos ambientais e assegurar a saúde dos trabalhadores, e faz parte que o EPI é utilizado pelos funcionários, eles utilizam na
do gerenciamento adequado dos resíduos de saúde2. maioria das vezes as luvas de borracha e as botas de plásti-
Deve-se prover capacitação inicial e contínua da equipe en- co, preocupam-se apenas em não encostar-se em sangue e
volvida no gerenciamento dos resíduos de saúde12. secreções, mas não se preocupam em inalar substâncias tó-
A maioria dos acidentes de trabalho ocorre porque os profis- xicas, e só utilizam máscaras quando há suspeita de doença
sionais não acreditam nos riscos a que estão expostos, resultado respiratória no setor.Ainda não utilizam avental de borracha,
da falta de conhecimento e preparo14. óculos e gorro.
A capacitação dos trabalhadores deve abordar a importância
Utilização dos equipamentos de proteção e o uso correto dos equipamentos de proteção individual (unifor-
Quando questionados quanto ao uso dos equipamentos de pro- me, luvas, avental impermeável, máscara, botas e óculos) de se-

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Gráfico 5. Conhecimento do protocolo de RSS por parte Gráfico 7. Uso de EPIs por parte dos pesquisados. Rio de
dos pesquisados. Rio de Janeiro, 2009. Janeiro, 2009.

10,0 15,00

7,5 11,25

5,0
7,50

2,5
3,75

Sim
0
0
Conhecimento do Protocolo Sim Utilização dos EPIs
Não

Gráfico 6. Treinamento para manuseio de RSS por parte Gráfico 8. Ocorrência de acidentes de trabalho. Rio de
dos pesquisados. Rio de Janeiro, 2009. Janeiro, 2009.

10,0 10,0

7,5 7,5

5,0 5,0

2,5 2,5

0 0
Treinamento para manuseio dos resíduos Sim
Acidente de trabalho
Sim Não Não

gurança específica para cada atividade, bem destinado, e a maioria dos acidentes foi por
como mantê-los limpos e bem conservados1. materiais perfuro cortantes. Os funcionários
A supervisão à utilização dos EPIs é de “OS FUNCIONÁRIOS NO no interior do hospital fizeram exames após
responsabilidade do empregador, portanto INTERIOR DO HOSPITAL acidente, tomaram remédios e vacinas. Já
há uma lacuna neste tipo de ação por par- fora do ambiente hospitalar, não tiveram
te dos responsáveis, podendo comprome- FIZERAM EXAMES APÓS esse cuidado, não foram ao hospital, não
ter a saúde dos trabalhadores. ACIDENTE, TOMARAM fizeram exames, e consequentemente, não
sabem se foram contaminados ou não.
Acidente de trabalho manuseando os resí-
REMÉDIOS E VACINAS. JÁ FORA Os resíduos de saúde apresentam riscos
duos de saúde DO AMBIENTE HOSPITALAR, para quem o manipula, como profissionais
Quando questionados se já haviam sofrido de saúde e empregados do serviço de lim-
algum acidente de trabalho manuseando os
NÃO TIVERAM ESSE CUIDADO, peza e higienização das unidades15.
resíduos de saúde, dos 12 sujeitos, cinco que NÃO FORAM AO HOSPITAL, Os trabalhadores que lidam com esses re-
trabalham dentro do ambiente de hospitalar NÃO FIZERAM EXAMES, síduos devem ser imunizados e submetidos
informaram que não, cinco que trabalham periodicamente a exames12.
dentro do ambiente hospitalar informaram E CONSEQUENTEMENTE, Fica evidente que as falhas no proces-
que sim, e dois que trabalham fora do am- NÃO SABEM SE FORAM so de proteção à saúde do trabalhador
biente hospitalar informaram que sim. precisam ser equacionadas. Os acidentes
Os acidentes ocorrem geralmente por- CONTAMINADOS OU NÃO” perfuro-cortantes devem seguir com rigor
que um material foi jogado fora do local o protocolo do Ministério da Saúde.

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O trajeto feito pelos resíduos de saúde CONCLUSÃO


Observou-se que os resíduos de saúde são separados dentro do Esse trabalho mostra a importância dos resíduos de saúde no ge-
ambiente hospitalar em sacos plásticos diferenciados, lixo infec- renciamento hospitalar, pois o gerenciamento inadequado dos
tante e comum. Os funcionários recolhem os lixos dos setores em mesmos pode causar grande prejuízo ao meio ambiente e à saú-
latões específicos para cada material, e o mesmo são levados a de da população. A preocupação com os resíduos de saúde deve
um depósito onde contem vários compartimentos, mantendo o existir não só dentro do ambiente hospitalar, mas se estender até
lixo separado (infectante, tóxico, comum, e perfuro cortantes e seu descarte final. Todos os profissionais que lidam com esses re-
comum), e ficam armazenados até que ocorra o recolhimento dos síduos merecem uma atenção especial, treinamento, educação
resíduos pela Prefeitura, local onde os mesmos são levados para permanente, oferta de EPI e supervisão, e essas considerações são
o aterro sanitário em carro aberto e todos deveres do empregador quando da utiliza-
misturados. No aterro, são colocados com ção de materiais biológicos, químicos e de
outros lixos e enterrados, sofrem um processo irradiação. A comissão de medicina do tra-
de compactação realizado por tratores de es- “FICA EVIDENTE QUE AS FALHAS balho e da CCIH são os setores responsáveis
teiras e rolos compactadores, além de serem pela execução destas ações na tentativa de
cobertos por uma camada de solo. NO PROCESSO DE PROTEÇÃO eliminar e/ou minimizar acidentes do tra-
Segundo as normas técnicas, os resíduos À SAÚDE DO TRABALHADOR balho e contaminação. Faz-se necessária a
devem ser segregados, com o objetivo de capacitação de todos os funcionários, princi-
fazer encaminhamento específico de cada PRECISAM SER EQUACIONADAS. palmente do enfermeiro, que deve conhecer
material, evitando a mistura dos mesmos, OS ACIDENTES PERFURO- as medidas de segurança e reivindicá-las aos
e diminuindo os gastos com tratamento de responsáveis na instituição14.
materiais sem necessidades. O acondicio-
CORTANTES DEVEM SEGUIR É de responsabilidade de todos da
namento deve ser em locais apropriados, COM RIGOR O PROTOCOLO DO equipe prevenir e reduzir os riscos a saú-
onde devem ser separados de acordo com de e ao meio ambiente, fazendo o correto
seu tipo e características. A coleta interna
MINISTÉRIO DA SAÚDE” gerenciamento dos resíduos. A falta de
deve ser feita, se possível, em horários com organização e a disposição inadequada
pouco fluxo de pessoas (evitando acidentes), impõem riscos às pessoas, dentro e fora
e em recipientes apropriados até o local de armazenamento dos da instituição, e ao meio ambiente, contaminando a rede de
resíduos, onde ficariam esperando o recolhimento pelos respon- esgoto, água e atmosfera.
sáveis da coleta, seguindo para o tratamento e disposição final14. Assim, o presente estudo evidenciou lacunas no manuseio
A coleta dos resíduos infectantes deve ser feita por equipa- de resíduos hospitalares no HCTCO, e recomenda à CCIH e
mentos e veículos específicos, e atender as normas vigentes, ao Serviço de Medicina do Trabalho a observância das ques-
NBR 12.810 e NBR 14.652. Devem receber tratamento, a fim tões aqui elencadas, para que possam, a partir deste estudo,
de alterar as características dos resíduos antes da sua disposição potencializar ações urgentes no menor tempo possível, ob-
final. Os infectantes deverão ser esterilizados para não se tor- jetivando-se equacionar problemas de saúde do trabalhador
narem perigosos, e daí serem desprezados juntos com resíduos e ambiental.
domésticos em aterros sanitários15.

Referências
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