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A INFLUÊNCIA DA PSICOLOGIA DE VYGOTSKY NA RELAÇÃO ENSINO-

APRENDIZAGEM: NOTAS CRÍTICAS

THE INFLUENCE OF VYGOTSKY’S PSYCHOLOGY ON THE TEACHING-


LEARNING RELATIONSHIP: CRITICAL NOTES

Emilly Darah F. Sales1


Leiliana Rebouças Freire2
RESUMO

Este estudo tem como tema a influência de Lev Vygotsky na psicologia da aprendizagem. Seu
objetivo fundamental é analisar as contribuições teóricas de Vygotsky. Para compreender sua
influência e implicações, a metodologia deste estudo utiliza uma abordagem analítica.
Começa com uma revisão da literatura centrada nas teorias de Vygotsky, em seguida
examinando estudos e aplicações práticas de suas ideias. Além disso, este artigo realizará uma
análise crítica para identificar desafios e limitações na aplicação das teorias de Vygotsky,
proporcionando uma compreensão abrangente da importância de suas contribuições. O estudo
tem como objetivo destacar o legado duradouro de Vygotsky na psicologia do
desenvolvimento e enfatizar a relevância contínua de suas ideias na educação e na
compreensão do aprendizado. Além disso, visa contribuir para uma compreensão mais
profunda das teorias de Vygotsky e seu impacto na prática pedagógica, conhecida por meio de
suas capacidades para informar abordagens futuras na aplicação de suas teorias e melhorar o
sistema educacional. Os possíveis resultados deste estudo incluem uma análise mais precisa
das contribuições de Vygotsky, bem como uma identificação mais clara dos desafios
enfrentados na aplicação de suas teorias, fornecendo informações perspicazes a
pesquisadores, educadores e àqueles que criam políticas educacionais.

Palavras-chave: Vygotsky, Psicologia da Aprendizagem, Contribuições Teóricas, Análise


Crítica, Educação.

ABSTRACT

This study focuses on the influence of Lev Vygotsky on the psychology of learning. Its
fundamental objective is to analyze Vygotsky's theoretical contributions. In order to
understand his influence and implications, the methodology of this study uses an analytical
approach. It begins with a literature review focusing on Vygotsky's theories, then examines
studies and practical applications of his ideas. In addition, this article will conduct a critical
analysis to identify challenges and limitations in the application of Vygotsky's theories,
providing a comprehensive understanding of the importance of his contributions. The study

1
Discente do curso de Letras Português/Inglês e suas respectivas Literaturas | emilly.sales07@aluno.ifce.edu.br
2
Docente do curso de Letras Português/Inglês e suas respectivas Literaturas | leiliana.reboucas@ifce.edu.br

1
aims to highlight Vygotsky's enduring legacy in developmental psychology and emphasize
the continued relevance of his ideas to education and the understanding of learning.
Furthermore, it aims to contribute to a deeper understanding of Vygotsky's theories and their
impact on pedagogical practice, known through their capacities to inform future approaches in
applying his theories and improving the educational system. Possible outcomes of this study
include a more accurate analysis of Vygotsky's contributions, as well as a clearer
identification of the challenges faced in applying his theories, providing insightful
information to researchers, educators and those creating educational policy.

Keywords: Vygotsky, Psychology of Learning, Theoretical Contributions, Critical Analysis,


Education.

1. Introdução

É indiscutível que o teórico Lev Vygotsky (1896-1934) possui grande relevância no


âmbito da Psicologia da Aprendizagem, uma vez que seus estudos contribuíram e contribuem
até os dias atuais para a construção da compreensão acerca do processo de aprendizagem dos
indivíduos. Dentre suas colaborações-chave estão a Zona de Desenvolvimento Proximal
(ZDP) e a Mediação Cultural.

No que se refere à Zona de Desenvolvimento Proximal, compreende-se que é “a


distância entre o nível de desenvolvimento real [...] e o nível de desenvolvimento potencial”
(VYGOTSKY, 2007, p. 97). Em outras palavras, é no intervalo do espaço entre o ponto de
desenvolvimento real (nível no qual a criança necessita da orientação de um indivíduo mais
apto do que ela) e o potencial (nível no qual a criança consegue solucionar um problema sem
ajuda) que a criança supera suas dificuldades com o auxílio de um adulto, ou até mesmo de
uma criança que possua mais capacidade.

Já no que diz respeito ao conceito de Mediação Cultural, opostamente a Piaget que


entende a equilibração como elemento base para explicar o desenvolvimento cognitivo,
Vygotsky compreende que esse desenvolvimento não acontece separadamente do contexto
social, histórico e cultural. Ademais, o estudioso não faz distinção por meio de estágios de
desenvolvimento como propõe Piaget.

Diante da inegável influência de Lev Vygotsky através da Psicologia a Aprendizagem,

2
este artigo tem como objetivo realizar uma análise crítica de suas contribuições e identificar
desafios na aplicação de suas teorias na educação escolar. A educação tem como um de seus
maiores desafios, o desenvolvimento da aprendizagem, assim, entendemos que as
contribuições dessa teoria ampliam as possibilidades de aperfeiçoamento do trabalho
pedagógico. Segundo dados do último relatório (2023) do Plano Nacional de Educação
(PNE), cerca de 90% das metas desse plano provavelmente não serão cumpridas no prazo.
Esse estudo mostra que 13 das 20 metas estão em retrocesso, especialmente afetando
populações negras e pobres. Isso evidencia a necessidade urgente de aprimorar o sistema
educacional no Brasil, tornando a discussão sobre como aplicar efetivamente as teorias de
Vygotsky ainda mais relevante.

O desafio fundamental da educação é garantir um aprendizado de alta qualidade para


todos, independentemente de raça, condição socioeconômica ou origem, conforme
demonstram os objetivos do PNE. Para enfrentar esse desafio, é essencial que o aprendizado
seja organizado de forma a permitir que cada aluno assuma um papel ativo e se torne o criador
de seu próprio processo de aprendizado. Essa ênfase na participação do aluno, inspirada nas
ideias de Vygotsky, torna-se especialmente pertinente em uma situação em que as metas
educacionais estão em risco, com 90% delas podendo não ser alcançadas dentro do prazo
designado.

Ao adotar abordagens que colocam o aluno no centro do processo de aprendizagem,


podemos vislumbrar uma solução para os desafios educacionais e, ao mesmo tempo,
proporcionar o crescimento das habilidades, das qualidades e de uma educação inclusiva que
atenda a todos os setores da sociedade, inclusive aqueles que foram particularmente
prejudicados, como as populações negras e economicamente desfavorecidas. A aprendizagem
nessa perspectiva precisa ser conduzida a partir de interações que possibilite que o aluno seja
ativo, protagonista e construtor desse processo. Dessa forma, dialogar com as ideias de
Vygotsky é uma necessidade imperativa, visto que ele esclarece como deve acontecer esse
processo.

A metodologia nos orienta a uma análise bibliográfica, que de acordo com Marconi
(2003, p. 44), é uma análise desenvolvida com base em material já pronto, construído em sua
maior parte de livros e artigos científicos. A metodologia nos leva a desenvolver um caráter
qualitativo, tendo como técnica fundamental, a revisão de literatura, buscando compreender
alguns conceitos fundamentais da teoria, relacionando-os ao trabalho docente e a

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aprendizagem. A análise possui teor exploratório, uma vez que Marconi (2003, p. 41),
considera que estas pesquisas:

Têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a
torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas têm
como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições.

O artigo está disposto da seguinte maneira: na primeira sessão, será discutido a


aprendizagem no contexto educacional brasileiro, a luz de documentos oficiais como a
legislação educacional, a BNCC e os relatórios do MEC. Em seguida, explicitaremos a
importância dos principais conceitos da teoria. Faremos a relação entre os conceitos teóricos e
o ensino aprendizagem.

À medida que nos aprofundamos nas complexidades da influência de Vygotsky na


Psicologia da Aprendizagem, convido você leitor a acompanhar este estudo, explorando as
nuances de suas teorias, seus impactos na educação e as reflexões críticas que desafiam o
status quo. Prepare-se para descobrir como um teórico do passado ainda consegue ser tão
atual e condizente com o presente e o futuro da aprendizagem.

2. A Aprendizagem e fracasso escolar no contexto educacional brasileiro: algumas


considerações

“É por meio de uma ação partilhada que o conhecimento


pode ser construído, no qual se deve considerar tanto a
relação dos indivíduos entre si, como com o meio em que
estão inseridos” (VYGOTSKY, 2007).

A aprendizagem é um processo social, colaborativo e situado. De acordo com Vygotsky


(2007) o aprendizado do indivíduo não pode ser dissociado do contexto histórico, social e
cultural em que está inserido. Para aprender, elaborar conhecimentos e para se autoconstruir, o
ser humano precisa interagir com outros membros de sua espécie, com o meio e também com a
cultura. Vygotsky acreditava também que a aprendizagem ocorre quando os alunos recebem
apoio adequado e orientação de um instrutor mais experiente, permitindo-lhes progredir em
direção a um nível mais avançado de desenvolvimento cognitivo.

A LDB, estabelecida em 1996, tem como objetivo regulamentar a educação no país,


promovendo a igualdade de acesso e a qualidade do ensino. Em consonância com a LDB, a
BNCC, que foi aprovada em 2017, define as diretrizes para a elaboração dos currículos
escolares em todo o Brasil. Desta forma, tomando como referência esses dois pilares para a
estrutura educacional no Brasil, é fulcral destacar que a LDB (Lei 9.394/96) e a BNCC (2017),
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tal como o estudioso Vygotsky reconhecem a importância do ambiente escolar como um
espaço de interação social, no qual os alunos têm a oportunidade de construir e aprimorar
conhecimento e competências por meio da colaboração e da comunicação.
Outrossim, a BNCC reconhece dez competências gerais que devem ser incorporadas na
educação básica, tais competências referem-se à capacidade de mobilizar habilidades, atitudes,
recursos, valores e conhecimentos para resolver problemas e muitas outras demandas da vida
cotidiana e, no futuro, do local de trabalho, são elas: conhecimento, pensamento científico,
crítico e criativo, repertório cultural, comunicação, cultura digital, trabalho e projeto de vida,
argumentação, autoconhecimento e autocuidado, empatia e cooperação, responsabilidade e
cidadania.

Sendo assim, na visão do teórico a construção do conhecimento está estreitamente


concatenada com o pensamento científico. Ideias desenvolvidas por Lev Vygotsky, nos levam
a considerar a conjectura de como o pensamento científico envolve a abordagem sistemática e
crítica para adquirir e interpretar estaria ligada ao conhecimento, pois para Vygotsky, é o
pensamento verbal que nos ajuda a organizar a realidade em que vivemos.

Além disso, a teoria vigotskiana possui uma abordagem sociointeracionista que destaca
a influência do contexto cultural na aprendizagem. A BNCC também faz menção da relevância
de obter um amplo repertório cultural, pois ao inteirar-se de seus costumes, valores, tradições e
obras literárias, é possível estabelecer conexões, evitar estereótipos, promover a criticidade e
fundamentalmente tornar os cidadãos conscientes de sua identidade cultural.

A competência que prevê a comunicação como um elemento indispensável na educação


básica, por sua vez, faz contato direto com as ideias discutidas por Vygotsky, pois ambos
concordam que a comunicação é de extrema importância para a construção do conhecimento,
trabalho em grupo e para a constituição de confraternidade, outras competências importantes
existentes na BNCC. Em um mundo cada vez mais tecnológico, a cultura digital tornou-se
fundamental na vida dos alunos. Segundo Santana (2023):

As pessoas precisam compreender, não só na escola, mas na vida, que o acesso aos
meios tecnológicos e digital pode ser bom. Esse é o caminho que nós queremos
construir, porque não tem mais retorno. É importante que a cidadania digital seja
construída dentro das escolas, desde cedo.

A cultura digital depende da interação com a tecnologia, que pode ser considerada uma
ferramenta cultural; portanto, Vygotsky e a BNCC convergem de certa forma ao considerarem
explicitamente que a interação possui um papel imperioso na aprendizagem. Embora Vygotsky
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não tenha abordado explicitamente as competências da BNCC, suas teorias sobre
desenvolvimento cognitivo, interação social e cultura fornecem uma base sólida para a
compreensão e promoção dessas competências na educação moderna, destacando a
importância constante de suas ideias na pedagogia moderna.

Criadas em 2014 durante o governo de Dilma Rousseff, as metas do PNE (Plano


Nacional de Educação) estabelecidas pela Lei nº 13.005/2014 não serão cumpridas dentro do
prazo estipulado: junho de 2024. Dentre as principais causas para o atraso das propostas estão a
pandemia, cortes de orçamento na educação, que têm contribuído para uma 'falta de primazia'
atribuída à educação, resultando em desafios significativos na entrega dessas propostas.
Segundo o balanço do CNDE (Campanha Nacional pelo Direito à Educação) apenas 4 das 20
metas definidas têm chance de serem concluídas, ou seja, a maior parte das metas não devem
ser atingidas até o final de vigência do PNE. De acordo com Rosas (2023):

Como professora de formação, vejo o descumprimento das metas como um grande


retrocesso nos últimos anos, constatando que somos um país que não valoriza a
educação e que nos últimos 10 anos não foram cumpridas metas básicas como as de
inclusão de crianças e pessoas com deficiência.

Essas metas visam todos os níveis de educação, desde a Educação Infantil até o Ensino
Superior, visando também a educação inclusiva, a melhoria da taxa de escolaridade média dos
brasileiros, a formação e planos de carreira dos professores, bem como a gestão e
financiamento da educação. Dados do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais) mostram que a maior parte dos alunos matriculados do segundo ano do ensino
fundamental ainda não estão alfabetizados, das propostas mais avançadas estão direcionadas à
educação profissional no ensino médio, ampliação de mestres e doutores no ensino superior e a
formação de professores em pós-graduação.

Em conclusão, a interação social desempenha um papel fulcral no processo de


educação, como abordado por Vygotsky, e é uma ideia que reflete nas diretrizes da BNCC.
Tais diretrizes reconhecem a importância da construção do conhecimento por meio da
colaboração e da comunicação, o que, por sua vez, está alinhado com as competências gerais
da BNCC. No entanto, o sistema educacional brasileiro encontra desafios significativos, apesar
dos avanços teóricos, das metas educacionais e competências estabelecidas. Para garantir um
futuro mais promissor para a educação no Brasil, é necessário abordar o problema da "falta de
prioridade" na educação.

3. A importância da interação e da Zona de Desenvolvimento Proximal para a relação


ensino-aprendizagem.

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A interação e a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) são dois conceitos centrais e
recorrentes na obra de Lev Vygotsky, deste modo, faz-se imprescindível discutir a importância
desses conceitos para a relação ensino-aprendizagem. A interação é essencial para o
aprendizado porque permite que as pessoas compartilhem experiências e conhecimentos, e
criem novos significados juntos. Os indivíduos podem aprender uns com os outros, bem como
com a sociedade e a cultura em que vivem. A ZDP, por sua vez, é útil para a construção do
saber porque explicita o potencial de aprendizagem de uma pessoa. Um indivíduo na ZDP pode
aprender com a ajuda de um indivíduo mais experiente, dessa forma, permitindo que as pessoas
alcancem níveis de desenvolvimento que não poderiam alcançar por conta própria. Vygotsky
(1989, p. 93) define a interação social como um processo de mediação, em que as pessoas
usam instrumentos e signos para se comunicar e resolver problemas. A linguagem é um meio
de comunicação que permite que as pessoas aprendam uns com os outros e compartilham seus
pensamentos. Em conformidade com Vygotsky, a interação social não é apenas um processo de
comunicação, mas um processo de construção de conhecimento, a interação social ocorre em
um contexto cultural e histórico, e que os indivíduos aprendem com os outros a partir dos
instrumentos e signos que são disponibilizados por sua cultura.

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