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“Em 1900 Rondon foi nomeado para chefiar os trabalhos da Comissão Construtora de
Linhas Telegráficas de Mato Grosso, cujo objetivo era estender o telégrafo pela fronteira
de Mato Grosso, abrindo estradas, favorecendo a colonização e ampliando o
desenvolvimento agropecuário local (Rondon, 1949).” (p.107)
Rondon foi nomeado para liderar uma comissão que faria uma extensão da rede
telegráfica do Mato Grosso ao Amazonas. Ele realizou a exploração de regiões do Mato
Grosso e da Amazônia realizando importantes ações no mapeamento dessas regiões.
2 .O regime tutelar
“O SPI foi a primeira agência leiga do Estado brasileiro a gerenciar povos indígenas.
Embora em muitos momentos os seus ideólogos enunciem os seus princípios de acordo
com uma linguagem positivista (e mesmo com uma retórica anticlerical), o modelo
indigenista adotado retoma – como herdeiro – formas de administração colonial
empregadas desde os tempos dos missionários jesuítas.” (p.112)
“O convite a Rondon para dirigir o SPILTN derivou de sua competência no trato com
povos indígenas demonstrada nos trabalhos das Comissões de Linhas Telegráficas e das
idéias positivistas sobre os índios, convergentes com os projetos de colonização e
povoamento definidos na criação do MAIC. Seria instaurado, assim, um novo poder
estatizado a ser exercido sobre populações indígenas e territórios, voltado para assegurar
o controle legal e as ações incidentes sobre esses povos. Tal poder foi formalizado no
SPILTN e sua malha administrativa dirigida por um código legal mínimo (regimentos,
decretos, código civil etc.).” (p.113)
“Cabia aos inspetores do órgão aplicar a técnica de contato difundida por Rondon,
mantendo atitudes defensivas até estabelecer amizade com os índios e consolidar a
pacificação. pacificação. A partir de então, buscava-se junto aos governos estaduais
garantir uma reserva (terras) para a sobrevivência física dos índios.” (p.115)
“Outros sertanistas adotaram as técnicas rondonianas de atração fora do SPI. Foi o que
ocorreu com os irmãos Cláudio, Orlando e Leonardo Villas Bôas, subordinados à
Fundação Brasil Central. Os Villas Bôas desenvolveram inovações importantes no
período do pós-contato e que os tornaram mundialmente famosos.” (p.118)
“Áreas propostas para futura demarcação como reserva indígena, como a do projeto do
Parque Indígena do Xingu (1952), foram consideradas pelo governo de Mato Grosso
terras devolutas e, conseqüentemente, invadidas e registradas. No cômputo geral, o SPI
reservou pequenas áreas que funcionavam mais como reserva de mão-de-obra do que
favoreciam a reprodução socioeconômica dos índios (Pacheco de Oliveira, 1998).”
(p.122)
“Nas primeiras décadas do séc. XX, esta realidade não foi alterada: nos grupos recém-
contatados pelo SPI, aldeias inteiras foram destruídas por doenças pulmonares. Ao
causar mortalidade, o pós-contato iniciava o desequilíbrio das condições de
sobrevivência de um povo, que já enfrentava doenças endêmicas, como verminoses e
malárias: havia desnutrição, dificuldade de produção de alimentos, pioravam os
cuidados sanitários.” (p.123)
“Com o apoio do Correio Aéreo Nacional (CAN) e da Força Aérea Brasileira (FAB),
Nutels implantou unidades volantes que trabalhavam junto às populações rurais e
indígenas para prevenir doenças infecciosas, realizando vacinações em massa nessas
comunidades. Dessa experiência nasceu o SUSA – Serviço de Unidades Sanitárias
Aéreas, dirigido por Nutels, que trabalhava na rota do CAN combatendo endemias
rurais, surtos epidêmicos e a tuberculose entre os índios. Era a realidade que se
contrapunha ao SPI nos anos 60, uma vez que este órgão não possuía servidores na área
médico-sanitarista, mantendo alta a mortandade indígena no pós-contato, como ocorreu
com os índios Pakaa Nova (RO).” (p.123-124)
“Dos antigos aldeamentos missionários aos postos indígenas do SPI, passando pelos
índios contatados pela Comissão Rondon, a alfabetização de crianças e adultos
procurava consolidar a sedentarização de um povo indígena. Era parte de um processo
pedagógico que envolvia esses cultos cívicos, e o aprendizado de trabalhos manuais, da
pecuária e de novas práticas agrícolas. Envolvia também novos cuidados corporais,
como o uso de vestimentas e o aprendizado de práticas higiênicas.” (p.124)
“De 1955 a 1967, quando foi extinto, o CNPI foi presidido pela antropóloga Heloísa
Alberto Torres. Foi o período em que o Conselho contou com inúmeros cientistas
sociais como membros, entre os quais Darcy Ribeiro e Roberto Cardoso de Oliveira. A
presença indígena no meio urbano, assim como a integração com o indigenismo latino-
americano estiveram entre as principais polêmicas do CNPI. Foi no âmbito do Conselho
que foram gestados os planos para uma nova política indigenista a ser implementada na
FUNAI a partir de 1968.” (p.130-131)
“Criada para continuar o exercício da tutela do Estado sobre os índios, a FUNAI tem os
seus princípios de ação baseados no mesmo paradoxo fundador do SPI: o “respeito à
pessoa do índio e às instituições e comunidades tribais” associado à “aculturação
espontânea do índio” e à promoção da “educação de base apropriada do índio visando
sua progressiva integração na sociedade nacional” (Magalhães, 2003:85-86).” (p.131)
“Em meados dos anos 90, o processo de identificação e demarcação de terras indígenas
sofreria nova interferência, com a edição do Decreto no 1.775 (8/1/1996)
regulamentando novamente o procedimento administrativo de demarcação de terras
indígenas, estabelecendo a introdução do “contraditório” ainda no correr do processo
administrativo. Por esse princípio, os procedimentos de demarcação de terras devem ser
transparentes e levar em consideração os argumentos e a documentação coligida e
apresentada à FUNAI pelas partes que se sentem prejudicadas em seus direitos.” (p.135)
“Independente do que acontecia no Brasil, a Santa Sé, através dos Papas Pio IX e Leão
XIII, voltava a estimular os projetos missionários da Igreja, devido à nova expansão
colonialista européia e ao surgimento de movimentos anticlericais estimulados por
forças políticas liberais. O final do século XIX foi marcado pela expansão missionária,
pela grande imigração de religiosos para a América do Sul, principalmente o Brasil
(Alves, 1979; Miceli, 1988). Com a Proclamação da República e a separação de poderes
entre Estado e Igreja, os religiosos católicos lutaram pela defesa de alguns direitos
ameaçados, entre os quais a manutenção de seu patrimônio (Miceli, 1988).” (p.139)
“No final do séc. XX, o SIL, a Missão Novas Tribos e outras missões evangélicas
fundamentalistas continuavam a traduzir a Bíblia junto a muitos povos indígenas da
Amazônia. Suas atividades contrastaram com as de outras igrejas protestantes que
realizavam trabalhos assistenciais e de defesa de direitos humanos junto aos índios,
sendo reprimidas pelo regime militar, como ocorreu com a Igreja Evangélica de
Confissão Luterana do Brasil (IECLB).” (p.148)