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; Judo : EDUSP/Jonlatemsa Ofnalsp) dio do sistema colonial ou por outras formas de articulação. Enten-
do por agricultura camponesa a praticada por homens e mulheres —
que chamarei de cultivadores pobres livres, instalados fora dos pe-
' Hualie YQ ú rimetros das plantations agucareiras, com emprego de forga de tra-
balho familiar, centrada na produção de subsisténcia mas com
entradas significativas nos circuitos mercantis internos e externos
ra
através do cultivo de géneros coloniais. Nesta acepção, agricultu
camponesa inclui dentro de si a “agricultura de subsisténcia”, mas
| não se restringe a ela. Por outro lado, a peculiaridade de estar si-
i ê tuada fora do território formal dos engenhos e fazendas escravistas
i Í The permite ostentar, até o final do perfodo, significativos traços de
E í autonomia e independência.
; Como todos sabemos, os “livres” e “pobres” constituem segmen-
tos espremidos entre os dois extremos fundamentais da formação
escravista. Essa aparente falta de substância sistêmica os faz objeto
de referências quase sempre oblíquas e indefinidas, se tanto, numa
y
Sylvia arv
de Carvalho Franco.>. Homens Livres na O rdem Escravocrata. 2.º ed.
Sao Paulo: Atica. 1975; Eni de Mesquita Samara. O papel do agreglzdoemz
regido de Itu. São Paulo: Museu Paulista. 1977. 1 Este assunto é objeto de análise detalhado na minha tese de doutora-
* Cf.- Douglas Libby. “ Transformação e Trabalho i do, na qual o presente trabalho está baseado. Cf. Palacios, Campesinato
em uma E
aeom cuitia,
i à história dos cultivadores
& escravidão no Brasil, 1700-1817. Uma contribuição
|
São Paulo: Brasiliense. 1988, p. 361. University, 1992.
livres pobres da Capitania Geral de Pernambuco. Princeton
i
Ê
os portos de Alagoas,
tidades de tabaco clandestino que deixam
, sem controle nem se-
O processo formativo Pernambuco e Paraiba, com direção à Africa
século, a vee-
legao®. Conforme nos aproximamos da metade do
í mente retérica das queixas convence finalmente a
o
Coroa de que
A agricultura camponesa surge intimamente vinculada, desde | por cente-
do fumo
0s seus inicios, a0 mercado mundial. A entrada dos cultivadores assunto é sério: a produção e comercialização
pobres livres na história — isto é, nos registros oficiais — processa- nas, talvez milhares de pequenos cultivadores, ;familiares-a0 longo_
se a partir da sua vinculação com o comércio internacional por in- do litoral nordes esorganiza o mercado do tabaco na Costa
termédio do cultivo e contrabando de tabaco, em primeiro lugar. "d’ Africa — pois, contrariando a norma, comercializa variedades
o de es-
Em menor medida, é possivel localizé-los cumprindo papéis rele- de primeira qualidade — e coloca em risco o próprio trafic
nte
vantes no abastecimento alimentar do porto do Recife e do com- cravos que, como se sabe, tinhano tabaco um importante refere
plexo inter-oceanicodo qual este é parte. nonetário”. ,
o regis-
Por “complexo inter-oceanico” entendo — pobremente — o con- Assim, o campesinato do Nordeste Oriental nasce para
própr ias ori-
junto da demanda de alimentos e outros insumos Passíveiá de se- tro histórico como um grupo social ilegítimo nas suas
a condi-
rerl_fxrprodu;idps pela economia regional — af incluída a agricultu- gens. Essa natureza duplamente marginal — pois junta
ialme nte perifé rica desses segme ntos a práticas
rá camponesa — proveniente do movimento das volumosas frotas ção social e espac
cristaliza-se
portuguesas que chamavam ao porto do Recife. Isto inclui o abas- ilegais no contexto dos códigos oficiais da época —
ção. Esta é uma
tecimento de frotas militares — as Naus da India —, frotas mercan- nos esquemas do capital que dinamiza essa produ
mento desse
tis, e frotas ou embarcações particulares engajadasao longo do sé- questão central para fixar os caminhos do desenvolvi
ou na orga-
o no traslado massivo de imigrantes para as minas do centro- tipo de agricultura, não apenas nos aspectos técnicos
esferas
$ul. Inclui também o abastecimento de navios negreiros em rota nização social que a acompanha, mas também em outras
— que com-
para os portos do sul da Colônia. Existem inúmeros registros dos — cultura e ideologia, para usar termos totalizantes
os gosta m de
problemas causados por essa demanda — de satisfação prioritária põem, a partir desse momento, o que os antropólog
entaç ão
numa área tributária do mercado mundial, como o Nordeste Orien- chamar de “lógica” camponesa. De fato, embora.a docum
penetrar no in-
tal — nos níveis de abastecimento não apenas do Recife, como de não contenha afirmações explícitas que. permitam
r dela o papelcru-
importantes vilas do interior, próximas dos centros produtores, e terior dessas formas produtivas, é possivel inferi
cial desempenhado pelos comissdrios volantes n rticulação da
inclusive em outras capitanias subsidiárias”. Mas, carecemos de
dos. exter-.
uma visão exacta. agricultura dos cultivadores pobres livres com os merca
A produção de tabaco por parte de famílias e comunidades de R aa t SR
cultivadores pobres livres está já em plena expansão quando Antonil em
¢ Algumas das queixas, mormente de comerciantes da Bahia, estdo
escreve Cultura e Opulência. Seguindo-lhe a pista, encontramos uma Vasco E C. de Menezes a Ouvidor Geral da Capitania de
buco. Pernam
cadeia ininterrupta de documentos reclamatórios que nos levam 1, em DH, v. 85, p. 68-9; idem a Mestre de Campo- Gover-
Bahia, 19.8.172
18.8.172 1, em loc.cit.; Idem a Go-
até a década de 1750, produzidos pelos representantes legítimos nador D. Francisco de Souza. Bahia,
Pernam buco, D. Manuel Rolim de Moura. Bahia, 18.8.172 2,
vernador de
dos interesses comerciais metropolitanos, contra as enormes quan-
em ibid, p. 117; Carta do Vice-Rei representando queixas dos negocian-
tes da Costa da Mina, Bahia, 20.4.1723, em ibid, p. 254.
niza-
O pagamento em ouro era também um instrumento de desorga o
dades”, “Informação Geral”, “Idéa da População”; veja-se também ção do mercado . Cf. Carta do Capitã o-Mor da Paraiba sobre comérci
Pereira
Wenceslao
Mappas Estatísticos de Pernambuco. Recife, 1763. de escravos. Paraiba, 6.3.1725, em ibid, v. 99, p. 221;
da Silva, “Parecer [...] para suspender a ruina dos trés principais géne-
8 Cf._Vasco Fernandes C. de Menezes a Oficiais da Cémara da Vila de Bahia, 12.2.1738, em
Goiana. Bahia, 6.2.1721. DH, v. 85, p. 97-8; Ibid a Manoel Rolim de ros do comércio do Brasil, açúcar, tabaco e solla”.
31, p. 28.
Moura, Governador de Pernambuco, Bahia, 26.2.1724. Idem, p. 117. “Inventério dos documentos relativos ao Brasil”, ABN,
|
Agricultura camponesa e plantations escravistas durante o século XVIII
41
40 | Guillermo Palacios
segmento, e sim ape-
nosº. A inferência se fundamenta no paralelismo dos registros que ração não implica no desaparecimento desse
economia camponesa
dão conta da expansão das atividades desses pequenos comer- nas numa nova situação de disponibilidadeda
— entendida como o conjunto do: rsos e esquemas produtivos
Ciantes/contrabandistas e do crescimento das exportações clan- or — para © mercado.
dgstin_as de tabaco, e se ;eforça com a simultaneidade existente en- acumulados ao longo da experiéncia anteri
ligados ao comércio in-
tfe o banimento das suas práticas comerciais e a desaparicão dos Essa articulação a mecanismos mercantis
XVIII prepara e
registros sobre culturas de tabaco nas áreas mencionadas, a partir ternacional durante a primeira metade do século
s livres como um siste ma produtivo
de 1759°. O anterior permite tecer algumas considerações. A pri- capacita a agricultura dos pobre
a outros empre endim entos , da econo-
meira diz respeito ao encaixe particular da agricultura camponesa passível de ser incorporado
ao; de fato uma altern ativa sistêmica,
na economia regional e nas suas extenses em diregdo ao mercado í Ihia colonial. Essa nova situag
primeiro Capi-
mundial. Nessa primeira fase de conformação de uma base produ- H (ai ser constatada — com o devido espanto — pelo
tiva de natureza mercantil — tinica dimens&o que o registro permi- | tão-Geral da fase pombalina, Luis Diogo Lôbo da
Silva.
I
te vislumbrar com certa clareza — o sistema cultivadores pobres/
comissarios volantes se beneficia não apenas da crise do escravis-
!
mo, como também da inadequagio do aparelho fiscal colonial, evi- Transição para um novo padrão
“dentemente desenhado para lidar com a economia agraria formal,
marquês
Í Em uma longa correspondência endereçada ao futuro
11
isto é, sobretudo — para o caso do Nordeste Oriental — com a pro-
sobre o extraordinário
dução escravista de açúcar. 5 de Pombal, em 1759, Lôbo da Silva advertia
~“Em segundo lugar, a desaparição de registros — e o silenciar das Í acúmulo de pobres livres nas zonas do litoral. A
falta de menções a
o do cultivo de
queixas — referentes à produgao e exportacao clandestina de taba- Í| qualquer atividade produtiva confirmava o colaps
representada pela
co a partir das primeiras medidas pombalinas dirigidas a recupe- tabaco, e significava a relativa disponíbilidade
rar o controle metropolitano sobre a economia agraria regional, faz
: força de trabalho de famílias camponesas que,
com o fechamento
É a agricultura de
supor que o sistema cultivadores pobres/ comissérios volantes en- Í do mercado externo, retrocediam novamente para
r pressões demo-
trou em colapso no final da década de 1750. A data coincide com a Í subsistência. Mas a advertência, além de sugeri
restauragdo do monopólio através da criação da Companhia Geral f gráficas sobre as áreas de plantation e a ocupa
ção de espaços aber-
ziam por aquela
de Comércio de Pernambuco e Parafba. Daí que seja possivel infe- Í tos por empreendimentos madeireiros que produ
também uma impor-
rir um perfodo de freio ou desaceleragio no processo de expanséo da época enorme devastação florestal, sinalizava
, e na sua percepção
agricultura camponesa — na medida em que o seu canal dindmico, tante mudança na ótica do poder observador
o contrabando para o mercado exportador, se fecha. Mas, a desacele-
Í da pobreza rural. No contexto do processo
de lenta conformação
s entraves jurídi-
de massas de trabalhadores “liberados” de antigo
outros muitos
! co-ideológicos em andamento em Pernambuco e em
ada em importan-
pontos do planeta, essa nova percepção, embas
* Para uma introdução às atividades dos comissérios volantes, veja-se
K. Maz(well, “Pombal and the nationalization of the lusobrazilian eco-
ÍÉ tes mudanças teóricas e metod ológi cas nas instân cias organizativas
súbita metamorfose
nomy”, HAHR, v. XLVIII, n.° 4 (Nov. 1968). do núcleo do mercado mundial, operava uma
até, que o câm-
Representagéo dos homens de negdcios da praga de Pernambuco a El- dos cultivadores pobres livres. É possível especular,
na perce pção do fenômeno — e
Rei. s/d, anexa a carta de Luiz Diogo Lôbo da Silva a Sebastido Carva- bio fundamental acontecera antes
Tho de Mello. Recife, 18.5.1757, em Arquivo do Conselho Ultramarino, v. 1 não em mutações do fenômeno em si"º.
14, fl: 7@; Alvará com forca de lei “proibindo passarem ao Brasil os
Comissarios volantes”. 6.12.1755; Alvará com forga de lei “contra os ——
lt:'r;:‘.u:Zquue_ í;e vinham verificando com relação & proibigao de passa-
e os comissariosReNO tes”. 7.3.1760. Coleçãoac das leys, decre - José de Carvalho e Mello. Recife,
1 Luiz Diogo Lôbo da Silva a Sebastdosião Gover
rasil volantes”. 7.3.
9.5.1759, in “Correspondência nadores de Pernambuco”,
XVIIl |
Agricultura camponesa e plantations escravistas durante o século
44 | Guillermo Palacios 45
décadas
A aceptabilidade da proposta entre as comunidades de cultiva- adquirir, como derradeira tábua de salvação, nas últimas
dores pobres livres foi extraordinária, superando todas as expecta- de passage m,~
da sua existência,(UmgAmodeuúdade.,que,rdiga—se
tivas e pegando de surpresa o conjunto do fragilizado sistema pro- estava paradoxalmente ancoradana incorporagéo dos sistemas pro-
dutivo regional. Em poucos anos, os plantios camponeses de algo- dutivos dos cultivadores livres e pobres a uma economia regional
dão no Litoral do Nordeste Oriental — isto é, nas áreas tradicional- caracterizada, embora cada vez menos nessas décadas, pelos
gran-
mente conhecidas como zonas de plantation — converteram-se nu-
des estabelecimentos.escravistas.
ma verdadeira praga, reduziram ao mínimo a produção mercantil De fato, os programas de apoio ao plantio de algoddo por parte
de gêneros de primeira necessidade, e provocaram o colapso do de cultivadores pobres livres — e pequenos produtores escravistas
antigo sistema de abastecimento alimentar, que constituía a infra- — foram acompanhados de instrumentos que procuravam implan-
estrutura do complexo agroexportador escravista centrado no por- tar sistemas de racionalização da agricultura camponesa. Assim,
to do Recife"!, A rápida reação dos camponeses ante um nov‘o};i\l- propuseram-se metodologias de controle e verificação das exten-
tivo legal que oferecia brechas para penetrar no metcado interna- s6es plantadas, com levantamentos minuciosos do niimero de
cional adquiriu então tons sombrios no discurso oficial, e a incor- cultivadores envolvidos, cálculos de produtividade, registros de
poração das comunidades de pobres livres ao seu plahri; comegou consumo doméstico e produção mercantil, modelos de ajuste entre
a ser_conhecida nos circulos dirigentes da Capifania Geral como “a dig‘ponibilid ade de forca de trabalho, produgao de alimentos e pro-
ambição do algodão”. : : : ) dução de algodao, além, é claro, de disposições tornando o plantio
: Não que os programas de difusão e estímulo ao plantio da fibra obrigatério para todos os que trabalhassem terras apropriadas. Al-
tivessem sido implantados sem salvaguardas contra possíveis efei- mejavam-se trés objetivos principais: expandir a cultur: ontrolar
tos adversos. Pelo contrário, a experiência de uma “ambição” simi- a relação entre oferta e demand a, para “se regular em 0s prezos
Jar relacionada com o cultivo.do tabaco por agricultores de alimen- ia a produç ão de subsist éncia para
delle”, e manter sob vigilanc
tosno Recéncavol i na primeira metade do século, e os sérios imento aliment ar’.
impedir problemas no abastec
p_roblemas de abastecimento de géneros de primeira necessidade à Ao lado dessas inovações no gerenciamento da produgd
o cam-
cidade da Bahia que se seguiram, dotaram as operagGes de apoio ponesa, criaram-se, dentro dos préprio s esquem as monop6 licos da
pela
ao e_:lgodio de várias medidas cautelares®. Estas medidas, e asP ri- CGCPP, mecanismos de comercializagdo que, salvo engano,
meiras providências adotadas pelo governo de Pemamb;xco pf;ra éo dos
primeira vez levavam em consideração a escala de produg
as
Teconstituir o sistema alimentar do complexo agroexportador após
cultivadores pobres livres, sistemas capacitados “para receber
o abalo provocado pela entrada da agricul'tú.ra camponesano n?er- s que os pobres lavrado res recolhd o
miudas e differentes parcela
cado exportador, merecem um exame mais cuidadoso, póis mos-; das suas plantagdes, e receben do-as semelh anteme nte dos outros,
tram os patamares de modernidade que o sistema colonial tentava a
que não tiverem comodidade e meios para fazerem a remessa
direcção da companhia””. Era, de fato, a tentativ a para colocar em
funcionamento um novo modelo de produção na agricultura do
meio após o
™ Notícias sobre
obre oo : sur| preendente sucesso do algodão
ã podem ses - Nordeste Oriental. Em 1778, escassamente um ano e
tradas em “Ouvidor das Alagoas a Governador de I’Izrnambucroe"n lc'ª(g;- deslanche das campanhas de fomento, extensas áreas do litoral das
to Calvo, 8.4.1778, em ACU, v. 15, fls. 227-8. : Alagoas estavam já tomadas pelo algodão. Por volta de 1780,
os
** Asprovidências estão detalhadas em m ”. “Auto de Veração situado s no vértice da zona
distritos de cultivadores pobres livres
â);oceder o Doutor Ouvidor Geral”. Penedo, 15.12,?[772,11:5 mA?ÍnIͺ:
= élss0 85-6. Sobre a Bahia veja-se Stuart B. Schwartz, “Colonial Brazil,
C. > .-1750:.Plantahon.? and Peripheries”, em Leslie Bethell
(ed.), The,
Cambridge History oj]'LaéhÉ Ámerica Cambridge, Cambridge Universit y 16 “Providencias que ficão para a Camara”. Penedo, 15.12.17
76, em ACU,
B ; Peaat
. V. n1 , e 10
Jos: oberto Amaral Lapa, Economiai Colonial.
ial. São
Sã v. 15, fls. 89-91.
17 Quvidor das Alagoas a Governador de Pernambuco, doc. cit.
48 Guillermo Palacios
Agricultura camponesa e plantations escravistas durante o século XVIll | 49
algoddo
se de sérios. riscos de conflito social que começavam a ser detecta- Ao que parece, as medidas de represélia aos plantios de
outras coisas, das re-
dos entre a popqlação urbana da capital do complexo. tiveram efeitos desiguais, dependendo, entre
e o gover-
— Assim, em fevereiro de 1786, esgotadas as possibilidades de im- lacoes de poder estabelecidas entre as oligarquias locais
do mercado
por o poder do Estado apelando apenas à sua própria legitimida- no central da Capitania e, sobretudo, das conjunturas
o êxodo
de, o Governador José Cézar de Menezes autorizou o emprego de mundial. Mas, abundam na documentação relatos sobre
tropas do exército colonial no auxilio às Câmaras Municipais que pe-
“de famílias e povoados inteiros, fugindo das proibições e dasmais
alegassem “falta de meios” para reprimir eficientemente os culti-
nalidades, e transferindo seus pequenos algodoais para áreas
vos camponeses de algodao®. Diante de novo fracasso em abril, o l
distantes do Interior. Outros produtores resistiram nas áreas do
Go-vemo decretou uma intervengao de fatonos distritos do I:\ted(;r' 1795 pelo cres-
toral, momentaneamente reestimulados a partir de
es varie-
retirou da Jurisdição das Câmaras a competéncia para controlar .; cimento da demanda inglesa, até que o cultivo de melhor
agricultura dos pobres livres, e transferiu-a para os comandantes os,
dades no Agreste, e sobretudo no Sertão, retirou-lhes os mercad
de armas de cada freguesia da zona açucareira, os Capitães-Mor, difícil foi conven cê-
já nas primeiras décadas do novo século. Mais
ou para os capitães de ordenanças no caso dos distritos campone—, adores estamen -
los a retomar 4 sua antiga situação de simples cultiv
ses dos sertões colindantes com a zona da mata. As proibições do oca sem atentar pa-
tais de subsistência, e forçá-los a plantar mandi
plantio do algodão estavam acompanhadas por ordens que torna- ti-
ra as condições do mercado. Sobretudo porque esses segmentos
vam novamente obrigatério o plantio da mandioca e a fabricagdo de constit uição e cres-
nham desenvolvido ao longo do seu processo
cimento canais de resposta a estimulos mercantis que faziam com
de farinha, e por um plano dirigido aos proprietérios, lavradores,
rendeiros e foreiros dos engenhos?. A versão mais acabada do pla—, a
que repetidamente, assim que os preços da mandioca chegavam
no conferia aos senhores-de-engenho poderes para controlar, não e voltas-
Jeterminados niveis, reduzissem os espagos do algodão
apenas os plantios dos seus subordinados e dependentes, comé “de
sem ao fornecimento de alimentos®. Semelhantemente, tinham
todas aquelas propriedades q. ficarem contiguas aos d:ifos Enge- iva
construfdo mecanismos de autonomia e de solidariedadecolet
nhqs”ºª. Dessa maneira, no bojo da crise, ficava institucíona]iza%io das plantat ions como
que impediam a subordinag&o aos interesses
o_chr.eito dos grandes proprietários de terras e de escravos de su- de uma
resultado de um mero desenho de relagdes de poder ou
Eervlsio?'nar e controlar a vida social e econômica dos cultivadores dada pela forga.
demanda de legitimidade que não estivesse respal
pobres livres instalados nas áreas de plantation, embora agrupados explici tada num pe-
Esta condição de autonomia foi claramente |
em comunidades tecnicamente fora dos domínios formais dos es- contra pds planta dores
queno porém significativo incidente, que )
|
tabelecimentos escravistas. ; : do na rica
de mandioca e algoddo a senhores-de-engenho, ocorri
freguesia agucareira do Cabo em junho de 1784. O conflito decor-
suas 7
# o
“Governador reu da negativa dos cultivadores livres de desmancharem as
À a Câmara
: de Olinda”. . Recif e, 22.2.1786, em ibid,
il "Cart
rogas de algodão para satisfazer necessidades de abastec imento ali- {
%% , fl. 150; idem a idem. Recife, 27.2.1786, em ibid, “Carta 431”. Éstª
última carta recomhend‘a que o emprego da força armada seja feito com mentar dos engenhos. O argumento era que o grupo, dedicad o como |
T
cautela e moderação, “de sorte q. sirva mais de exemplo e medo do -.
inteiramente a arruinar os seus Moradores”. e
* “Governador
e a Cap""
C Mor de Goiana”.a”. Recife,
Reci 11.4.1786, em ibid, “Car- mandioca teve
;a 446", f1. 156; Govfel"nador a Officiaes da Camara de Goiana”. Reci- 2 Por exemplo, nos anos de 1788 e 1789, até setembro, a
não faltou.
e, mesma dãta, em ibid, “Carta 447”, fl. 156r; os fundamentos do pla- preços remunerativos no mercado do Recife e o produto
de atraves sadores , a docume ntação oficial
2(3 ésotio emd Govgmad:z a Cap*" Mor de Itamaracá”. Recife, 8.8.1786, Descontando a especulação
a que as boas cotaçõe s conven ciam os pequeno s agricultores a
ernador a confirm
Cap"" Mor de Goiana”. Amb: ibid, “ ” a Ouvidor
<53, . 100 ABT i 509 plantar e vender. Cf., entre outros, “D.Thomas José de Melo
2
o o o da Paraíba”. Recife, 23.9.1788, em OG 3, fl. 148; “idem a Ouvido
r das
“Rellagéo de que faz menção a carta enfi em ibid, fl. 149; “idem a Ouvidor Geral”.
" i i Alagoas”. Recife, 23.9.1788,
Cartas, anexa À “Carta 5347, 0,108, 1 ecte 16111786, in Recife, mesma data, loc. cit.
50 | |
Guillermo Palacios
Agricultura camponesa e plantations escravistas durante o século XVIII 51
estava a plantar algodão, propunha-se produzir apenas a mandio- ; produtores pobres do alcance do Estado, mas também dos merca-
ca necessária para a sua própria sobrevivência. Diante da negativa, dos dos principais mercados consumidores”, Outro, de orientação
o comandante de armas da freguesia, pedira autorização ao Gover- * contraditória, resultou num processo massivo de conversão de
FmA
nador para obrigar os camponeses “a desfazer as suas roscas”. O cultivadores independentes em moradores das propriec?ades escra-
Governador informou-se do mérito e passou um atestado de coe- vistas da região. Uns preservaram por mais algumas décadas a sua
são comunitária explícita, negando o pedido dos senhores: autonomia, mas perderam os mercados, entrando num longo pe-
ríodo de pauperizacão; outros mantiveram a proximidade dos cen-
“por não ser compatível com a boa razam que os referidos lavra- tros consumidores, mas perderam a liberdade. Ambos processos
dores sejão constrangidos a vender ou desmanchar as suas ros- “são centrais para entender os caminhos da consolidação do Estado
cas q. talvez conservem para suprir as suas necessidades, pº re- nacional na região, e as peculiaridades da transição ao traball?o li-
mediarem aquelas pessoas q. ou por preguiço ou desmazelo não vre no Nordeste Oriental ao longo da segunda metade ao século
quizerão plantar”?, XIX.
À guisa de conclusão