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net/publication/344886568
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All content following this page was uploaded by Angela Helena Marin on 26 October 2020.
Resumo
Abstract
1
Angela Helena• Marin é psicóloga, especialísta em psicologia clínica (INFAPA), mestre e ·
doutora pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e professora do Programa de Pós.,
-graduação em Psicologia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).
2 Débora Sílva de Oliveira é psicóloga, especialista em psicologia clínica (INFAPA),· mestre e
doutora pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e professora do Complexo de Ensino
Superior de Cachoeirinha (CESUCA- Faculdade lnedi) e da Fundação Escola Superior do
the theory and practice, a/so assumes the therapist's fite experíences, theír
individual therapy and clinic supervision, which implies that therapists may
teel differently each ot his patients, as we/1 as these can relate in different
ways with yours therapists.
Keywords: tamily fite cycle; therapist; systems theory.
terapeuta à família , com vistas a alcançar sua união com ela. Nesse sen-
tido, a mudança ocorre através do processo de associação do terapeuta
à família e da reestruturação desta. Assim , o terapeuta sistémico deve ser
considerado como um membro-agente e reagente do sistema terapêutico,
pois enfatiza os aspectos de sua personalidade e de sua experiência para
se vincular à família. Frente a tal compreensão, os ciclos de vida da família
e do terapeuta podem se combinar de três maneiras principais, de acordo
com Simon (1995): 1) o terapeuta ainda não experienciou o estágio do ciclo
de vida da família; 2) o terapeuta está experienciando o mesmo estágio do
ciclo de vida da família; e, por fim, 3) o terapeuta já passou pelo estágio do
ciclo de vida da família.
Um terapeuta jovem que ainda não experienciou o estágio do ciclo
de vida da família pode se ajustar a uma família mais velha através das
lembranças de sua própria infância e adolescência. Em geral, o subsiste-
ma fraterno gosta desses terapeutas, mas seu rapport pode ter limitações
com o subsistema parental (Simon, 1995). Pode haver uma identificação
com os filhos, no sentido de se posicionar a favor destes, sem considerar
o ponto de vista dos pais. Também é possível ocorrer de o terapeuta estar
vivenciando em sua família situação semelhante a que recebe para aten-
dimento, como , por exemplo, estar enfrentando o divórcio entre os pais
e receber um casal de meia-idade prestes a se separar. Tais situações
podem acionar emoções difíceis de o terapeuta manejar e é possível que
alguma manifestação reativa em relação à família seja observada (Simon ,
1995). Contudo, tais aspectos não se constituem em um fator negativo para
a carreira do terapeuta. Pelo contrário, uma boa resolução dos eventos
traumáticos ou a autodiferenciação, conforme Bowen (1978), pode levar
a uma empatia e a entendimento valiosos para o paciente. Nesse mesmo
sentido, Simon (1995) aponta que o desenvolvimento desses recursos nos
terapeutas possa ser uma dádiva da experiência de supervisão clínica, além
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de consistir em uma questão de treinamento .
A segunda combinação possível é o terapeuta estar no mesmo estágio
do ciclo de vida da família, o que pode proporcionar a este, em função de
sua própria experiência pessoal, a não patologização das questões proble-
máticas vivencíadas pela família (Simon, 1995). Todavia, também pode ser
difícil para o terapeuta manejar a carga emocional que implica acompanhar
uma família que esteja vivendo situações de vida semelhantes as suas. É
possível que o terapeuta não consiga considerar questões importantes de
serem discutidas ou se comporte de forma reativa à família, podendo até
mesmo desprezá-la. No entanto, estar vivenciando o mesmo momento do
ciclo de vida familiar pode levar o terapeuta a estabelecer um entendimento
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222 Ciclo de Vida da Família e do Terapeuta -A. H. Marin; D. S. de Oliveira
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Simon, 1995). Colombo (2009) refere que a experiência do outro pode ser
considerada como uma coautoria na construção de si mesmo. Ela acredita
que o "ser terapeuta" consiste em uma construção conjunta de sua própria
história e da escuta de diferentes interlocutores através da experiência
exterior.
Em suma, ser terapeuta pressupõe formação teórica e prática, além de
um processo de dar-se conta da interferência de suas próprias experiências
e história de vida no processo de mudança da família por ele atendida. Tais
aspectos têm implicações importantes para a formação de especialistas em
terapia familiar sistêmica, bem como para a vivência da terapia individual
e de supervisão.
Conforme Grandesso (2000), o sistema terapêutico está apoiado em
torno dos princípios de imprevisibilidade e incerteza, da impossibilidade de
um conhecimento objetivo e da autorreferência. Constantemente, o tera-
peuta se depara com diferentes histórias de vidas. Cada família atendida
traz consigo uma nuance que se entrelaça com a pessoa do terapeuta e
forma um novo sistema. Caso, em algum momento, o terapeuta não se der
conta de sua vulnerabilidade e emoção, ele poderá se distanciar de sua
voz interna e se desconectar do seu próprio self terapêutico. Quando isso
acontece, corre-se o risco de ele perder sua condição íntegra e espontâ-
nea na relação com a família, que é imprescindível para um real encontro
humano (Colombo, 2009).
Considerações finais
são efetivas através dele, ou seja, quando filtradas pela sua personalidade.
Especificamente quanto ao ciclo de vida, destaca-se que as implica-
ções do ajuste entre a etapa da família e a do terapeuta permeiam a prática
clínica e de pesquisa. Embora seja um tema de fundamental importância
para o processo terapêutico, poucos estudos atuais foram encontrados,
principalmente no contexto nacional. Portanto, essa discussão convida a
reflexão sobre a prática da terapia sistêmica com famílias, pois na medida
em que os terapeutas estiverem cientes dos aspectos e das demandas
envolvidas no processo terapêutico será possível um melhor ajuste com
vistas à mudança da disfuncionalidade familiar.
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Enviado em18/03/2012
1ª revisão em 14/05/2012
Aceito em 28/06/2012